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PROPÓSITO
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, acesse o Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural no website
do IPHAN, os artigos 215 e 216 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, as Cartas
Patrimoniais traduzidas em português e as legislações do patrimônio disponíveis no website do IPHAN.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Foi no sentimento de afirmação nacional dos projetos do século XIX, especialmente após a independência
do país em 1822, e os do início do século XX, que as ações sistemáticas de preservação do patrimônio se
apoiaram e a partir dele surgiram em um contexto político-estratégico e estatal.
Ainda nesse contexto cultural, podemos tomar como importante referência a criação de alguns museus,
que compartilhavam também dos objetivos de criação de uma história e de construção de uma memória
nacional por meio da exposição da riqueza cultural do Império (SANTOS, 2004). São alguns exemplos:
Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Halley Pacheco de Oliveira, 2011.
Fonte:
Halleypo/wikimedia.
MUSEU NACIONAL
Fonte: Halleypo/wikimedia.
Fonte: Dornicke/wikimedia.
MUSEU GOELDI
Belém (1866)
Fonte: JLPizzol/Wikimedia.
Fonte: Webysther/Wikimedia.
Outro aspecto que merece destaque nesse contexto introdutório é a contribuição que a Academia Imperial
de Belas Artes, criada em 1816 e inaugurada em 1826, traz ao projeto político do Império de
construção da nação e da sua identidade cultural, liderado pelo Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, conhecido como IHGB (PEREIRA, 2012). Sua criação representou uma estratégia oficial
importante para o estabelecimento de parâmetros para o programa político e cultural que se pretendia,
especialmente em termos de construção de uma narrativa sobre a história do país.
O IHGB era o lugar de onde se falava e escrevia sobre o Brasil. Com isso, podemos afirmar que o projeto
de construção da nação foi retomado por sucessivas gerações, com diferentes formas de pensar
e projetar o futuro do Brasil (PEREIRA, 2012), no século XIX e no século XX.
Projeto da Academia Imperial de Belas Artes, Jean-Baptiste Debret, Arquivo Nacional, século XIX e Obras
na Academia Imperial de Belas Artes, Marc Ferrez, Instituto Moreira Salles, século XIX. Fonte:
Joalpe/Wikimedia e Ederporto/Wikimedia.
A proteção de patrimônios históricos e artísticos nacionais é, portanto, uma prática característica dos
Estados modernos que, por meio de determinados agentes, recrutados entre os intelectuais, e com base
em instrumentos jurídicos específicos, delimitam um conjunto de bens no espaço público. É pelo valor que
lhes são atribuídos, em defesa da sua permanência para as gerações futuras, que esses bens e essas
manifestações culturais passaram a ser vistos como símbolos da nação, ou seja, seu valor passou a ser
de interesse público e social, perante o compromisso e a proteção regulados e assumidos pelo Estado.
Dentro da prática de atribuir valor de patrimônio aos bens culturais (ou valoração) – inicialmente materiais
(1937) e, posteriormente, imateriais (2005) no Brasil ‒, um conjunto de conceitos e instrumentos normativos
foi estruturado e passou a fundamentar e garantir o desenvolvimento das atividades técnico-operacionais
no campo da preservação, como veremos daqui por diante.
MÓDULO 1
Para começar os seus estudos, veja uma breve explicação da professora Flávia Miguel, mestre em
história, e especialista em educação patrimonial.
CONTEXTOS
Rodrigo Melo Franco de Andrade, autor desconhecido, Arquivo Nacional, 1955.
Fonte: Joalpe/Wikimedia
Peço-lhe com grande empenho o favor de me dar uma palavra de resposta com a maior urgência.
(Carta de Rodrigo Melo Franco de Andrade para Mário de Andrade, enviada em 5 de abril de 1937.
Acervo do Arquivo Central do IPHAN, seção Rio de Janeiro, Série Arquivo Técnico e Administrativo,
Relatório de Atividade do IPHAN, 1936-1937, grifo nosso)
Rodrigo Melo Franco de Andrade, primeiro diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
SPHAN, órgão federal criado para proteger o patrimônio cultural no Brasil, em 1937, envia a Mário de
Andrade uma carta pedindo ajuda para contratar um assistente técnico que atuasse na seleção dos bens
para fins de tombamento.
ESTADO NOVO
Getúlio Vargas, ao assumir o poder, ansiava por uma ampla renovação política, econômica e cultural.
Esse anseio reflete-se na criação, por exemplo, do Ministério da Educação e Saúde Pública, em
1930, tendo como preceito uma ação voltada para o futuro e a formação do novo homem
brasileiro (CAVALCANTI, 1999, p. 65).
SAIBA MAIS
Importa destacar que outro grupo, liderado por José Mariano Filho e Gustavo Barroso, também se envolveu
na defesa do patrimônio. De acordo com Sena (2011), eles eram declaradamente adversários dos
modernistas e integravam a “corrente neocolonial”. Barroso, fundador e diretor do Museu Histórico Nacional
(MHN) desde 1922, também participou das atividades de proteção do patrimônio por meio da inspeção de
monumentos nacionais e comércio de objetos artísticos mediante uma inspetoria nacional integrada ao
MHN.
MÁRIO DE ANDRADE
LÚCIO COSTA
BELOW, Irene. Jene wider-sinnige Leichtigkeit der Innovation (Aquela contraditória facilidade de inovação)
– A Crítica científica, a Sociologia da Arte e a Mediação da Arte. Consultado em meio eletrônico em: 15
jun. 2006.
HANNA LEVY
Historiadora da arte e do patrimônio, judia-alemã, atuou durante as décadas de 1930 e 1940 na difusão e
produção de conhecimento sobre a produção artística.
BELOW, Irene. Jene wider-sinnige Leichtigkeit der Innovation (Aquela contraditória facilidade de inovação)
– A Crítica científica, a Sociologia da Arte e a Mediação da Arte. Consultado em meio eletrônico em: 15
jun. 2006.
Segundo Andrade (apud GONÇALVES, 2002), a defesa de uma tradição para civilizar foi um dos
argumentos utilizados por Rodrigo Melo Franco de Andrade em seus discursos relativos à criação do
Serviço do Patrimônio.
Nessas ocasiões, seu objetivo era advertir que o Brasil só passaria a existir na medida em que possuísse
um passado ou uma tradição, e esse passado valorizado teria essencialmente o papel de civilizador. Para
ele, a apropriação do patrimônio histórico e artístico foi a solução encontrada de se apropriar do passado.
RESUMINDO
Ao analisarmos a história institucional do SPHAN, situando-a no contexto das ações políticas e culturais do
Estado Novo, também estamos analisando a constituição desse campo de estudo uma vez que, no caso
brasileiro, essas narrativas se fundem. Em síntese, a história institucional se confunde ou se mistura ao
que estamos nomeando de constituição do campo do patrimônio.
Uma das principais referências em termos do estudo da constituição desse campo foi feita pela
historiadora Márcia Chuva, em 2009, resultado de sua tese defendida em 1998 sob o título:
Márcia Chuva considerou a produção impressa, o exercício das práticas administrativas e a arquitetura dos
monumentos como as diferentes formas de registro dos discursos produzidos pelo SPHAN. A autora
destaca que:
(...) as práticas de preservação cultural no Brasil devem ser consideradas como dispositivos de
integração de segmentos de uma população contida no território delimitado como nacional. Essa
modalidade de integração cultural e territorial, que, acionada pelo exercício do poder de definição do
patrimônio histórico e artístico nacional, instituiu-se a partir do SPHAN, foi um dos meios de construção
da nação, pela materialização no espaço de uma “história nacional”. Tratava-se, portanto, de se
construir, associadamente ao processo de formação do Estado, uma “biografia” da nação que lhe desse
profundidade histórica. Se havia, no Brasil, desde fins do século XIX, ideias nesse sentido (AZZI, 1980),
somente como o projeto de nacionalização, implementado pelo Governo Vargas, aglutinaram-se as
medidas no sentido da construção efetiva de uma “memória nacional”. A amplitude do que viria a
ser designado patrimônio histórico e artístico nacional abrangeria, sem dúvida, uma porção ínfima do
imenso território desconhecido e delimitado como nacional por linhas imaginárias, no qual o SPHAN
identificou a “porção edificada” do Brasil, ajudando a “edificar” o País. (CHUVA, 2009, grifo nosso)
Dentro dos mesmos propósitos, porém com objetos de pesquisa distintos, vale destacar as contribuições
feitas pelas autoras Marcia Sant’Anna e Maria Cecília Londres Fonseca, resultantes de investigações em
dissertação de mestrado e tese de doutorado.
Marcia Sant’Anna (1995), pesquisadora e arquiteta, traz à tona uma análise do ponto de vista
instrumental/normativo por meio de sua dissertação intitulada:
DA CIDADE-MONUMENTO À CIDADE-DOCUMENTO: A
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DE ÁREAS
URBANAS NO BRASIL (1937-1990)
Ela se dedica a interpretar e discorrer sobre a preservação das áreas urbanas consideradas patrimônios
no Brasil, especialmente com a elevação de Ouro Preto à categoria de monumento nacional, em 1933.
Segundo ela, essa elevação marcou o início da trajetória do SPHAN, pois Ouro Preto foi considerada
cidade-paradigma da nacionalidade, berço da nossa cultura e obra de arte, a ser conservada em
sua total integridade. A autora ainda destaca que “a preservação do patrimônio é uma prática em
constante transformação, estendendo-se continuamente a novos objetos, a imutabilidade – ou a pouca
complementação – da legislação torna-se um fato digno de nota e, sem dúvida, revelador sobre a prática
preservacionista no Brasil” (SANT’ANNA, 1995), visto que o Decreto-Lei 25/1937 rege até os dias atuais a
formação de proteção dos bens culturais imóveis, móveis e integrados.
Maria Cecília Londres Fonseca, considerada uma das principais referências sobre a constituição do
IPHAN, destaca na obra, produto de sua tese de doutorado defendida em 1994, que:
“[...] o objeto dessa análise não é um produto – o conjunto de bens culturais que compõem o patrimônio
histórico e artístico nacional no Brasil, ou os discursos que legitimam essa produção – e sim o próprio
processo de construção desse patrimônio, ou seja, as práticas institucionais desenvolvidas por
determinados atores, que podem ser mais ou menos democráticos. A perspectiva do trabalho é
primordialmente histórica: procurei montar uma narrativa a partir da qual seja possível distinguir
categorias universais como memória, tradição, monumento, de formulações particulares – como
patrimônio e preservação – e continuidades de diferenças”(FONSECA, 2005, grifo nosso).
Os propósitos observados até aqui relativos à criação do SPHAN, atualmente IPHAN, unem-se aos
propósitos das práticas do campo da preservação do patrimônio cultural implementadas no Brasil, uma vez
que, à medida que o órgão se consolidou, instrumentos técnico-operacionais e normativos foram redigidos
e implementados. Outrossim, conceitos que explicam (e esclarecem) esses processos de identificação,
valoração e proteção também foram se consolidando, dando origem a um conjunto de termos que nos
ajuda a compreender as principais ações que atualmente são realizadas.
PRESERVAR OU PRESERVAÇÃO
Compreendida no Brasil como qualquer ação dedicada aos bens culturais. Segundo Sonia Rabello (2009),
jurista especialista no estudo do instrumento do tombamento como forma de proteção do patrimônio
material, comumente, costuma-se entender e usar, como se fossem sinônimos, os conceitos de
preservação e de tombamento.
É importante, porém, distingui-los, uma vez que diferem quanto aos seus efeitos no mundo jurídico,
particularmente para apreensão mais rigorosa do que seja o ato de tombamento. Para ela, preservação é
um conceito genérico, do qual se pode compreender toda e qualquer ação do Estado que vise conservar a
memória de fatos ou valores culturais de uma Nação.
PROTEÇÃO
Tem um sentido legal, vinculado ao instrumento e seus efeitos quando da utilização em um bem cultural
valorado.
“O ato do tombamento, conforme previsto no Decreto-Lei 25/1937, caracteriza-se como ato administrativo
[...]. Sendo ato administrativo, é mister que tenha os pressupostos técnicos que constituirão sua
motivação” (RABELLO, 2009, grifo nosso).
A norma prevê a proteção por meio do tombamento dos bens móveis e imóveis que sejam de interesse
público por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (Cf. artigo 1º
do Decreto-Lei 25/1937), desde que sejam explicitados e justificados os valores culturais dos bens.
CONSERVAR
Trata-se de um conjunto de ações e processos destinado à manutenção do patrimônio cultural ou natural,
sem alteração de suas características, visando à preservação do seu significado.
Exemplo dessas ações realizadas com o propósito de conservar um bem protegido como patrimônio
cultural são os chamados planos de conservação preventiva, como os realizados para acervos e
coleções que cumprem o objetivo de desacelerar ou minimizar o processo de degradação dos bens
culturais, sendo, portanto, uma ação fundamental a ser desenvolvida por qualquer museu (IBRAM,
s.d.), tais como a verificação dos principais agentes de deterioração, a avaliação das condições
ambientais, os protocolos de manuseio, higienização e transporte.
RESTAURAR
Trata-se de uma ação interventiva, realizada por meio de um conjunto de atividades para o
restabelecimento (estrutural) ou reparação dos danos físicos (pela ação do tempo ou pelo homem) de um
bem cultural protegido, móvel ou imóvel, visando à sua permanência por mais tempo para as gerações
futuras.
Toda ação de restauração ou intervenção física em um bem cultural deve seguir as orientações técnicas
previstas para cada tipo de construção ou material, conforme protocolos e autorizações emitidos por
órgãos responsáveis pelo patrimônio cultural e pelas orientações previstas nas cartas patrimoniais.
REQUALIFICAR
Também é considerado parte das ações dedicadas aos bens imóveis, especialmente as cidades com
conjuntos ou sítios urbanos protegidos e valorados no âmbito do patrimônio cultural.
Diz respeito a um conjunto articulado de ações destinado à requalificação (conhecida também por
revitalização e reabilitação) para conversão de espaços degradados ou subutilizados, com a criação de
novos usos, ou à recuperação de espaços antigos, em estreito diálogo com o urbanismo e o planejamento
urbano das cidades.
Preza pela integração dos espaços com os diferentes interesses de uso, a melhoria da qualidade de vida
e das atividades produtivas nesses espaços e nas cidades, bem como para o atendimento às demandas
de circulação, lazer e habitação.
Os conceitos práticos identificar e salvaguardar dizem respeito a duas medidas utilizadas pelos órgãos
de preservação – federal, estadual e municipal – para identificar os bens culturais passíveis de valoração
para fins de proteção, como o tombamento (bens materiais, móveis ou imóveis) ou o registro (bens
imateriais).
IDENTIFICAR
No âmbito da identificação, um instrumento técnico-operacional de extrema importância é o inventário,
que tem o objetivo de levantar, arrolar, pesquisar e conhecer os bens culturais alvo dessa ação para fins de
proteção legal por meio do tombamento ou do registro.
SALVAGUARDAR
Diz respeito às "medidas que visam garantir a viabilidade do patrimônio cultural imaterial, tais como a
identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a
transmissão, e a revitalização desse patrimônio em seus diversos aspectos” (UNESCO, 2003).
EXEMPLO
Um exemplo prático que levou à consolidação desses conceitos foi o tombamento das arquiteturas
religiosas, representantes de grande parte da proteção legal feita pelo IPHAN desde a sua criação, que
fizeram parte do Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados, INBMI, em 1986, para conhecimento,
levantamento e fiscalização de todos os elementos constitutivos desses espaços, tais como elementos
artísticos decorativos e devocionais, móveis, imaginárias, quadros, entre outros. Uma associação entre a
proteção e a identificação.
A efetividade da salvaguarda dos bens imateriais reconhecidos pelo IPHAN, por sua vez, demandou a
elaboração e o estabelecimento de diretrizes para sua manutenção e reprodução. Daí a promulgação da:
A portaria vai de encontro à necessidade de viabilizar com o envolvimento dos segmentos sociais que
cultivam o bem, com respaldo e consentimento das bases sociais envolvidas. Sem as bases
sociais, o bem cultural não subsiste seja como prática ou referência (IPHAN, 2016).
A portaria expressa as seis linhas de diretrizes do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, PNPI,
apoiando e fomentando a documentação e a produção de conhecimento sobre o bem registrado.
Proteção, identificação e salvaguarda associadas à elaboração de um instrumento normativo e técnico-
operacional no contexto dos bens imateriais.
ATENÇÃO
A descrição dos conceitos relacionados anteriormente, bem como casos de sua aplicabilidade e
associação entre si, mostrou-nos que a criação de um órgão federal de preservação do patrimônio cultural
(inicialmente histórico e artístico) levou ao estabelecimento de práticas que conduziram à formulação de
instrumentos técnicos e normativos, estruturando um conjunto de esquemas explicativos de ações
implementadas desde 1937, e aqui compreendidas como conceitos práticos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PRÁTICA INSTITUCIONAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL FAZ USO
DE TERMOS QUE PODEM SER COMPREENDIDOS ERRONEAMENTE COMO
SINÔNIMOS, POR ISSO A DIFERENCIAÇÃO ENTRE ELES CONFERE NITIDEZ AOS
CONCEITOS POR TRÁS DE CADA PROCESSO. EM RELAÇÃO AOS CONCEITOS
DE PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO, PODEMOS AFIRMAR QUE:
B) A proteção de bens culturais trata-se de uma atividade descentralizada, ou seja, específica das
comunidades detentoras.
E) A proteção patrimonial é histórica e uma herança portuguesa, por isso o nome tombamento, e visa gerar
a memória nacional.
C) O tombamento aplica-se exclusivamente aos bens reconhecidos pela sua imaterialidade, ao dispor
processos de preservação que levam em consideração a mutabilidade dos bens culturais.
D) A preservação de bens de natureza imaterial tem por instrumento jurídico de proteção o tombamento, e
contempla os processos de salvaguarda.
GABARITO
1. A prática institucional de patrimônio cultural no Brasil faz uso de termos que podem ser
compreendidos erroneamente como sinônimos, por isso a diferenciação entre eles confere
nitidez aos conceitos por trás de cada processo. Em relação aos conceitos de preservação e
proteção, podemos afirmar que:
“(...) sendo o bem cultural um semióforo, ele cria uma dialética própria entre materialidade e
imaterialidade que marca o seu trato, com todos os paradoxos decorrentes dessa sua nova
natureza, revelados por uma série de práticas que passam então a se associar ao bem, desde
técnicas especiais para sua conservação (com suas diferentes especialidades em função da
natureza física do bem) até aquelas associadas à proteção jurídica desse tipo de bem.”
(CARSALADE, Flávio. bem. Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural, v. 1, 2015, p. 17, grifo do
autor).
Ao confrontarmos o trecho acima com a política federal de patrimônio cultural, percebemos que a
dialética materialidade/imaterialidade de cada bem ainda encontra-se majoritariamente separada
nas linhas de gestão, sendo uma dedicada aos bens de natureza material, e a outra dedicada aos
bens de natureza imaterial - cada qual com sua respectiva fundamentação legal e processos de
atuação. Considerando o exposto, podemos afirmar que:
Na publicação Saberes, Fazeres, Gingas e Celebrações: ações para a salvaguarda de bens registrados
como Patrimônio Cultural do Brasil, de 2018, o IPHAN conceitua a salvaguarda como o “cenário
sociopolítico” no qual as partes envolvidas se dedicam à “reflexão sobre os contextos nos quais os bens
culturais estão inseridos com o objetivo de propor e realizar ações de salvaguarda para sua promoção e
apoio à sustentabilidade cultural” (p. 21). Portanto, a salvaguarda é um processo em contínua
construção/reconstrução, e que conceitualmente se alinha à mutabilidade da dimensão imaterial dos bens
culturais.
MÓDULO 2
CONTEXTO INTERNACIONAL
(CHOAY, 2001)
Françoise Choay (2001), na epígrafe acima, ao situar o nascimento do monumento histórico em Roma por
volta de 1420, lembra-nos de que os recortes cronológicos por vezes optados requerem ser modulados em
função de exceções, antecipações e sobrevivência.
A exemplo disso, o autor comenta que o interesse intelectual e artístico atribuído por uma pequena elite do
Quattrocento aos monumentos da Antiguidade era produto de uma longa maturação e tivera precedentes
desde o último quartel do século XIV.
QUATTROCENTO
RESUMINDO
De modo geral, ao longo dos séculos XV ao XVIII, sobretudo na cultura ocidental, inúmeras foram as
tentativas de intervir e “salvaguardar” objetos da Antiguidade, edifícios, obras de arte, entre outros. Essas
ações esporádicas – dos estudos às interferências físicas propriamente ditas – despontaram em vários
países a partir do século XV até o início do XVIII e, em especial, dedicando-se mais às obras construídas.
(Fonte: Shutterstock).
O século XV na Itália, por exemplo, marcado pelas primeiras ordenanças papais, foi palco de grandiosas
encomendas. Estas, por sua vez, representavam muitas vezes a atualização de uma obra ao gosto da
época, como a da fachada de igrejas, a manutenção de pontes e vias, a preservação dos remanescentes
da Antiguidade, entre outras encomendas, como as feitas por Leon Battista Alberti, Michelangelo
Buonarroti, Rafael Sanzio e Gian Lorenzo Bernini. Veja alguns exemplos:
SAN FRANCISCO
(1450)
Rimini
SAIBA MAIS
Segundo Fonseca (2005), foi no século XV que ocorreram as primeiras medidas de preservação
empreendidas por papas através de bulas, visando à proteção de edificações antigas e cristãs. Nesse
momento também ocorreu, no tratamento dos vestígios da Antiguidade greco-romana, o cruzamento de
três discursos: o da “perspectiva histórica”, o da “perspectiva artística” e o da “conservação”. E os
interesses pelas antiguidades foram objeto de duas abordagens:
Artística (arquitetos e escultores) – interessados nas formas e, por eles, consideradas testemunhos
involuntários e, por esse motivo, mais reveladores.
ENCOMENDAS
As intervenções feitas em muitos edifícios eram ditadas pelos interesses da época, assim como do
encomendante e/ou arquiteto. Sendo assim, as intervenções desse período não podem ser
consideradas como restauração, não no sentido de restauração que se consolidou em fins do século
XIX.
Autores como Choay, Fonseca, Kühl e Pinheiro consideram que essas ações foram embrionárias no
processo de formação de uma consciência histórica e preservacionista.
(Fonte: Shutterstock).
COMENTÁRIO
Nesse sentido, é prudente esclarecer que se utiliza a expressão monumentos históricos, não como obras
grandiosas isoladas, mas vinculadas ao sentido etimológico de monumento e como interpretada por Riegl,
ou seja: como instrumentos da memória coletiva e como obras de valor histórico que, mesmo não sendo
“obras de arte”, são sempre obras que possuem uma configuração, uma conformação (KÜHL, 2006).
Segundo Beatriz Kühl (2006), a noção de historicidade evoluiu de forma lenta e gradual, remontando
ao Renascimento, quando houve um crescente interesse pelas construções da Antiguidade.
Ainda nesse sentido, ressalta que a noção de História, como entendida atualmente, é produto em formação
no final do século XVIII.
Outro fator a ser considerado é a questão do valor, que começou a despontar, especialmente a partir do
austríaco Alöis Riegl, juntamente com Erwin Panofsky, Heinrich Wölfflin e Sir Ernst Gombrich, todos ligados
à iconologia anglo-saxã. Segundo Fonseca (2005), esses autores, assim como Giulio Carlo Argan,
chamam a atenção não só por uma atividade acadêmica desenvolvendo pesquisas científicas,
mas pela experiência em agências estatais voltadas para a preservação de monumentos.
A institucionalização dessa prática de preservação pelo Estado efetivou-se com a criação da primeira
Comissão dos Monumentos Históricos, na França, em 1837, cabendo ao escritor e historiador francês
Prosper Mérimée o cargo de inspetor. Ao percorrer toda a França, Merimée realizou um notável inventário,
não só dos bens, mas também das atitudes da população em relação ao patrimônio, o que foi considerado
majestoso e inovador.
PROSPER MÉRIMÉE
Prosper Mérimée, foi um historiador, arqueólogo, senador e escritor romântico francês, célebre pelo
conto que resultou na ópera Carmen.
Fonte:Wikipédia
Nesse processo de amadurecimento, muitos posicionamentos, por vezes opostos, foram sem dúvida
significativos para a formação de vertentes teóricas, especialmente no que diz respeito à definição da
restauração como área de conhecimento e à formação das características próprias do campo da
preservação dos bens culturais.
É no contexto oitocentista, marcado pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial, e resultante do
mesmo processo – o Iluminismo –, que surgiram então as primeiras ações sistemáticas referentes à
preservação dos monumentos históricos, sobretudo pelas significativas mudanças políticas, sociais e
principalmente culturais.
A efetivação da preservação dos bens culturais concretizou-se quando esses bens apareceram como:
FATO SOCIAL
Quando o Estado assumiu a sua proteção, regulamentando o seu uso, sua finalidade e seu caráter;
outrossim, quando ele faz uso dos instrumentos jurídicos específicos para tratar das questões relativas à
propriedade, ao zoneamento, ao uso e à ocupação (MILET apud FONSECA, 2005)
É dentro desse propósito que identificar as cartas patrimoniais, compreender o contexto dessas
elaborações e a sua aplicabilidade são atitudes que contribuirão para o conhecimento dos efeitos desses
documentos nas práticas de preservação do patrimônio cultural.
RESPOSTA
Podemos definir direitos culturais como um conjunto de normas e instrumentos jurídicos pertencentes a
diversos ramos do Direito com a função de disciplinar a relação entre o homem e a cultura.
Considera-se ainda que o conteúdo jurídico dos direitos culturais é composto por algumas dimensões,
dentre elas:
Fonte: photography/Shutterstock
DIREITO À MEMÓRIA - ARTISTAS PROTESTAM
CONTRA A DITADURA MILITAR, ARQUIVO NACIONAL,
1968.
Portanto, o patrimônio cultural, por ser um dos portadores de referência à identidade e à memória, integra
uma das vertentes dos direitos culturais.
É pertinente apontar a trajetória e o próprio “conceito” de direito cultural vinculado às ações de organismos
internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas
para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), uma vez que foi a partir da Declaração Universal
dos Direitos Humanos da ONU, artigo 22, que a expressão direitos culturais foi internacionalmente
reconhecida. Aos poucos, esses conceitos vão aparecendo em outros instrumentos, como as cartas
patrimoniais, tanto no que diz respeito aos direitos culturais quanto à preservação do patrimônio cultural.
Fonte: Luketaibai/Shutterstock
Fonte: Luketaibai/Shutterstock
INTERNACIONALMENTE
Artigo XXII: Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à
realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e os
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. (ONU, 1948)
Desde a primeira, em 1931, conhecida como Carta de Atenas, centenas de documentos dessa natureza
foram publicados e são, até os dias atuais, importantes guias para tomadas de decisões por parte dos
países-membros que participam dos debates e ratificam as indicações em suas legislações específicas,
como é o caso do Brasil, que se atualiza das discussões promovidas por esses documentos por meio das
sucessivas ratificações dos atos internacionais.
Em que pese o seu caráter não vinculante, o soft law assume um papel norteador, que orienta as ações dos
diversos atores da sociedade internacional e nacional. É o que ocorre, por exemplo, no Direito
internacional do meio ambiente e na seara do patrimônio cultural, com a existência de inúmeras
declarações e cartas que contêm normas técnicas, que são voluntariamente adotadas e guiam as
práticas de preservação do patrimônio.
Passaremos agora a listar e explicar os principais documentos internacionais relacionados aos temas que
estamos tratando e ao contexto de suas elaborações.
CARTA DE ATENAS
O primeiro documento é a Carta de Atenas, elaborada pelo Escritório Internacional dos Museus e pela
Sociedade das Nações, que considera patrimônio cultural as grandes obras arquitetônicas que assumiram
o status de monumentos. Cita-se nela a necessidade de uma sociedade educada, desde a infância e a
juventude, para evitar a destruição e o vandalismo dos monumentos.
CARTA DE ATENAS
O segundo documento que merece destaque é também chamado de Carta de Atenas, mas resultante do
Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em Atenas. Essa carta é considerada
um dos mais importantes documentos do movimento modernista e marca a “tendência” da arquitetura e do
urbanismo a partir de então, ponderando que a cidade deve atender às quatro necessidades básicas dos
indivíduos: habitar, trabalhar, circular e recrear. Nela, há ainda menção ao patrimônio, com o entendimento
de monumento (edificação isolada) e conjunto urbano, com duas formas de valorização: histórica e
artística.
Essa recomendação foca as pesquisas arqueológicas e destaca a importância de ações para a educação
do público, um primeiro entendimento da educação patrimonial. Além disso, destaca a importância do
turismo por meio da organização de circuitos.
CARTA DE VENEZA
A Carta de Atenas, de 1933, e a Carta de Veneza, de 1964, foram os dois documentos mais utilizados nas
primeiras décadas de atuação do IPHAN, contribuindo significativamente para as práticas de preservação
empreendidas por essa Instituição, como o tombamento de cidades históricas para além dos monumentos
isolados.
RECOMENDAÇÃO DE PARIS
A Recomendação de Paris, resultante da 13ª sessão da Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, trata especificamente de medidas destinadas a proibir e
impedir a exportação, a importação e a transferência de propriedades ilícitas de bens culturais
(UNESCO, 1964).
Essa recomendação está voltada para a responsabilidade com a circulação (lícita e ilícita) dos bens
culturais móveis dos países, orientando os membros a adotarem medidas específicas para evitar perdas
irreparáveis com a exportação de bens culturais. No Brasil, veremos que o IPHAN adotou medidas jurídicas
específicas sobre essa questão.
NORMAS DE QUITO
Por intermédio da Organização dos Estados Americanos (OEA), temos as Normas de Quito. É
considerado um importante documento no âmbito do turismo, pois relaciona o patrimônio monumental ao
desenvolvimento econômico, por intermédio do turismo cultural.
Em outras reuniões, ocorridas nos anos 1960, já se destacava a necessidade de vincular a preservação ao
desenvolvimento econômico por meio do turismo, como na 13ª e 14ª Reunião Geral da UNESCO (1965 e
1966) e na Conferência das Nações Unidas sobre Viagens Internacionais e Turismo (1963). Mas também
já havia ressalvas sobre o potencial destrutivo ao patrimônio material e imaterial ao vincular o turismo ao
desenvolvimento econômico.
Observe que, com o passar do tempo, o número de documentos internacionais aumentou bastante. Veja os
mais importantes dos anos 1970:
COMPROMISSO DE BRASÍLIA
No âmbito nacional, temos dois documentos de magnitude dos documentos internacionais fundamentais
para as práticas de preservação no Brasil. O primeiro é o Compromisso de Brasília, decorrente do 1º
Encontro dos Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de Municípios
Interessados, Presidentes e Representantes de Instituições Culturais, realizado em Brasília, DF.
Na carta, vemos a política de preservação do patrimônio brasileiro, dos anos 1970, centrada em
programas de reconstrução de cidades históricas para fins de utilização turística.
Destacam-se ainda as propostas para criação de organismos de patrimônio nas esferas municipais e
estaduais, considerando a importância do compartilhamento de responsabilidades entres os diversos
entes.
COMPROMISSO DE SALVADOR
CONVENÇÃO SOBRE A SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO
MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL
Convenção ocorrida em virtude da 17ª Conferência Geral da UNESCO, realizada em Paris. É nela que
vemos a necessidade explícita de também considerar o patrimônio cultural (monumento histórico) como
algo de valor para humanidade, para além da sua vinculação à civilização, e grupo responsável pela
construção ou concepção.
Cabe ainda destacar que é nela que foram incluídos o entendimento de Patrimônio Mundial – cultural e
natural – e a Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, particularmente depois da construção da
Barragem de Assuã, no Egito, que colocou em risco os templos de Abu Simbel e Philae, de interesse de
preservação excepcional da humanidade.
DECLARAÇÃO DE AMSTERDÃ
MANIFESTO AMSTERDÃ
RECOMENDAÇÕES DE NAIRÓBI
CARTA DE FLORENÇA
1981 - Do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.
DECLARAÇÃO DE NAIRÓBI
1982 - Da Assembleia Mundial dos Estados, no Quênia.
DECLARAÇÃO TLAXCALA
1982 - Do 3º Colóquio Interamericano sobre a Conservação do Patrimônio Monumental.
DECLARAÇÃO DO MÉXICO
1985 - Da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais.
CARTA DE WASHINGTON
1986 - Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas.
CARTA DE PETRÓPOLIS
1987 - Do 1º Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos.
CARTA DE WASHINGTON
1987 - Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas.
RECOMENDAÇÃO DE PARIS
1989 - Da 25ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura
Tradicional e Popular.
RESUMINDO
A Declaração de Nairóbi, que associa a proteção dos conjuntos históricos à função na vida
contemporânea;
CARTA DE LAUSANNE
CARTA DO RIO
1992 - Decorrente da Conferência Geral das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
CARTA DE NARA
CARTA DE BRASÍLIA
RECOMENDAÇÃO EUROPA
1995 - Uma recomendação sobre a conservação integrada das áreas de paisagens culturais com as
políticas paisagísticas, adotada pelo Comitê de Ministros por ocasião do 543º encontro de vice-ministros.
DECLARAÇÃO DE SOFIA
CARTA DE FORTALEZA
CARTAGENA DE ÍNDIAS
1999 - Decisão nº 460 sobre proteção, recuperação de bens culturais do patrimônio arqueológico,
histórico, etnológico, paleontológico e artístico da Comunidade Andina.
RECOMENDAÇÃO DE PARIS
2003 - Decorrente da 32ª Sessão da Conferência Geral das Nações Unidas, de 17 de outubro de 2003 -
Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
CARTA DE BRASÍLIA
2010 - Resultante do Fórum Juvenil de Patrimônio Mundial acerca da proteção e promoção do patrimônio
mundial.
CARTA DOS JARDINS HISTÓRICOS BRASILEIROS (CARTA
DE JUIZ DE FORA)
2010 - Dedicada ao estabelecimento de definições, diretrizes e critérios para a defesa e salvaguarda dos
jardins históricos brasileiros.
CARTA DE BURRA
ATENÇÃO
Dessas, vale destacar os documentos dedicados aos bens imateriais (intangíveis), nos anos de 1997,
1999 e 2003. O tema ainda era pouco apresentado, como vimos nas décadas anteriores, e aqui aparece
como uma grande potência, assim como outros temas focados nos debates contemporâneos relativos ao
patrimônio cultural e à sociedade, como:
• Diversidade cultural;
• Turismo;
• Educação;
• Autenticidade.
UNESCO
IPHAN
Universidades
Agora a professora Flávia Miguel, mestre em história, e especialista em educação patrimonial, comenta os
movimentos de valorização do patrimônio cultural e o seu papel no novo século.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) São uma modalidade de proteção jurídica, assim como o tombamento e o registro, e no Brasil são
aplicadas pelo órgão federal de patrimônio cultural, o IPHAN.
B) Independem do contexto local de cada patrimônio para aplicação de suas disposições, que são válidas
justamente por serem construídas coletivamente entre representantes de diferentes países.
C) Podem ter suas disposições revistas ou adaptadas às realidades sociais, culturais e econômicas de
cada local.
E) São instrumentos intervencionistas e internacionalistas que tentam impor regras gerais para discussões
sobre o patrimônio e sua gestão.
D) Recomendou que a presidência do IPHAN propusesse a edição de instrumento legal dispondo sobre a
criação de instituto jurídico denominado registro, voltado para a preservação dos bens culturais de natureza
imaterial.
E) Recomendou que o Brasil rompesse com o modelo internacional entendendo que o Brasil precisava de
uma política de características singulares.
GABARITO
1. Considere o trecho abaixo:
“As cartas patrimoniais são fruto da discussão de determinado momento. Antes de tudo, não têm
a pretensão de ser um sistema teórico desenvolvido de maneira extensa e com absoluto rigor,
nem de expor toda a fundamentação teórica do período. As cartas são documentos concisos e
sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de
caráter geral. Seu caráter, portanto, é indicativo ou, no máximo, prescritivo. Obviamente, cartas
internacionais, como a de Veneza, não podem ter caráter normativo, pois suas indicações devem
ser reinterpretadas e aprofundadas para as diversas realidades culturais de cada país, e ser, ou
não, absorvidas em suas propostas legislativas.” (KUHL, Beatriz Mugayar. Notas sobre a Carta de
Veneza. In: An. mus. paul., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 287-320, dez. 2010.)
O Seminário Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção, realizado pelo IPHAN em 1997, e a
elaboração da Carta de Fortaleza foram importantes marcos na trajetória da elaboração da política de
patrimônio imaterial no Brasil. A referida carta recomendava a criação de grupo de trabalho para elaborar
uma proposta para o estabelecimento de critérios e diretrizes para o acautelamento de bens imateriais,
além de defender a criação de instrumento jurídico que fosse complementar ao tombamento: o registro. A
proposta elaborada pelo grupo de trabalho instituído em 1998 serviu de base para a criação do Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial, que foi posteriormente sancionado pelo Decreto 3.551/2000, que institui
o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial.
MÓDULO 3
Ao lado da criação do SPHAN (atual IPHAN), vimos também a promulgação do Decreto-Lei 25/1937.
Esse instrumento normativo estava voltado, basicamente, para garantir ao órgão que surgia os meios
legais para a sua atuação num campo extremamente complexo: a questão da propriedade. Por esse
motivo, ele se tornou um marco na evolução do ordenamento jurídico brasileiro.
Essa questão adquiriu novo escopo depois que a Constituição Federal de 1934 restringiu a propriedade
privada. Portanto, a utilização do tombamento como dispositivo de proteção do patrimônio cultural
brasileiro, vigente até os dias atuais, decorre de interesses, ideais e conceitos presentes já na
Constituição de 1934.
Quanto à diferenciação dos conceitos, vejamos um comparativo:
Capa da Constituição da República do Brasil, Assembleia Nacional Constituinte, Arquivo Nacional, 1934
Fonte: Joalpe/Wikimedia.
Capa da Constituição da República do Brasil, Assembleia Nacional Constituinte, Arquivo Nacional,
1934
Fonte: Joalpe/Wikimedia.
A Constituição de 1934 cita a proteção dos objetos de interesse histórico e o patrimônio artístico do país,
assim como a garantia do direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou
coletivo, na forma que a lei determinar.
O Decreto-Lei amplia e define o conceito de patrimônio histórico e artístico nacional como o conjunto dos
bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico. Também estão sujeitos à proteção os monumentos naturais, bem
como os sítios e as paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido
dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.
Na seara das normas que criam um sistema de regras e obrigações, como as leis e os decretos, temos
como exemplos:
LEI DA ARQUEOLOGIA
LEI DO PERÍODO MONÁRQUICO
LEI DA ARQUEOLOGIA
A Lei 3.924/1961, conhecida como a Lei da Arqueologia, que dispõe sobre os monumentos
arqueológicos e pré-históricos, definindo esses bens, as condições de realização de pesquisas e
escavações, bem como delimitando que a posse e salvaguarda constituem direito imanente do Estado.
A Lei nº 4.845 de 19 de novembro de 1965, conhecida como Lei do Período Monárquico, trata do
impedimento da saída, para o exterior, de obras de arte e ofícios produzidos no país, até o fim do período
monárquico. Há ainda outras medidas relativas à circulação dos bens culturais móveis tombados,
regulamentando a saída apenas temporária, para fins de exposição.
Ambas as normas passaram a lançar proteção por força de lei aos bens móveis de interesse arqueológico
ou “pré-histórico”, e aos bens produzidos ou incorporados ao Brasil até o final do período monárquico.
CONVENÇÃO DE HAIA
CONVENÇÃO DA UNESCO
CONVENÇÃO DE HAIA
O Decreto Legislativo 32/1956 aprovou a Convenção para Proteção de Bens Culturais em Caso de
Conflito Armado, conhecida como Convenção de Haia de 1954.
CONVENÇÃO DA UNESCO
Embora seja perceptível uma vasta gama de categorias contempladas pelo tombamento ao longo de mais
de setenta anos de atuação do IPHAN, a proteção legal privilegiou numericamente aquilo que prescreve o
instrumento normativo que rege as ações do órgão: os bens móveis e imóveis. Porém, algumas
mudanças conceituais e consequentemente nos bens protegidos são observadas à medida que conceitos
de outros campos do conhecimento, a exemplo das Ciências Sociais e da Geografia, foram incorporados
à atuação do órgão.
A ampliação do conceito de patrimônio é vivida mundialmente a partir dos anos 1970 e 1980 – como
vimos nas Cartas Patrimoniais –, passando a incluir uma gama bastante variada de bens culturais pouco
contemplados anteriormente. Isso culminou na ampliação do conceito de patrimônio, que foi incorporada
na Constituição Federal de 1988, especialmente nas redações dos artigos 215 e 216.
ATENÇÃO
As discussões contemporâneas relativas aos bens culturais intangíveis e à diversidade cultural foram
implementadas na forma de um novo instrumento legal do IPHAN, o Decreto 3.551/2000, que institui o
Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, antes mesmo da Convenção para a Salvaguarda do
Patrimônio Cultural Imaterial elaborada no âmbito internacional pela UNESCO, em outubro de 2003. Tal
iniciativa colocou o Brasil como vanguarda na preservação do chamado patrimônio intangível, utilizando o
registro como meio para sanar as lacunas porventura existentes no Decreto-Lei nº 25 para a proteção do
patrimônio cultural em sua diversidade.
A mudança regimental de 2003, instituída pelo Decreto 4811/2003, no qual se pode observar a introdução
do Departamento Imaterial e Documentação de Bens Culturais e do Departamento de Patrimônio
Material e Fiscalização, este substituindo o Departamento de Proteção (THOMPSON, 2015).
Em 2004, uma nova mudança que substituiu o Decreto 4811/2003 pelo Decreto 5040/2004, e criou as
Coordenações Gerais de Promoção e a de Pesquisa, Documentação e Referência e, ainda, renomeou o
Departamento Imaterial e Documentação de Bens Culturais para Departamento de Patrimônio Imaterial,
nome pelo qual o departamento é conhecido até os dias atuais.
Desde 2002, temos acompanhado inúmeros registros, totalizando atualmente 48 bens culturais, divididos
entre os quatro livros previstos no Decreto 3551/2000 – Livro de Registro dos Saberes, Livro de
Registro das Celebrações, Livro de Registro das Formas de Expressão e Livro de Registro dos
Lugares. Esse novo momento da proteção do patrimônio cultural da dimensão imaterial, para Marly
Rodrigues, demonstra que:
2002
A autora nos mostra a mudança de paradigma ocorrida nos últimos anos no campo da preservação do
patrimônio no Brasil, especialmente em termos de conceito, instrumentos jurídicos e gestão. Na citação de
Rodrigues (2009), vemos que um dos pontos centrais está na transmissão de saberes como aspecto
fundamental no processo de construir memórias, logo, inerente ao patrimônio cultural.
Os saberes, as celebrações, as formas de expressões e os lugares encontram-se, por sua vez, dentro
dessas “novas práticas” de patrimonialização empreendidas pelo Brasil, quantitativamente observados no
gráfico seguinte:
Fonte:Shutterstock
Distribuição de registros por livros X ano.
Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro vão utilizar as mesmas premissas para proteção e ainda
estruturas deliberativas semelhantes como os Conselhos Consultivos, responsáveis pelas
deliberações/aprovações ou indeferimentos dos pedidos de tombamento e registro.
Portarias são atos administrativos internos por meio dos quais os chefes dos órgãos, das repartições ou
dos serviços expedem orientações e determinações gerais ou específicas no contexto da atuação
institucional que representam.
No caso do IPHAN e do patrimônio cultural brasileiro, há inúmeras portarias relevantes e que disciplinam
as atividades técnicas e operacionais dos diversos componentes da preservação. Trataremos de quatro
exemplos, pois se referem a particularidades do campo a que cabe uma atenção especial. Veja a seguir:
PORTARIA 200/2016
Dispõe sobre a regulamentação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI). A portaria teve
como objetivo regulamentar o art. 8º do Decreto 3551/2000, como instância de implantação e
execução de política específica de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial em nível federal.
Na portaria, ainda constam definições conceituais, operacionais e técnico-orçamentárias, estruturadas por
eixos e diretrizes do PNPI para salvaguarda dos bens culturais imateriais. Essa é uma portaria que
regulamenta as atividades finalísticas do Departamento de Patrimônio Imaterial, particularmente a
definição dos eixos das ações empreendidas pelo Instituto nessa temática.
PORTARIA 137/2016
Também é um importante exemplo de definição e deliberação de diretrizes na condução do tema
Educação Patrimonial (EP). Essa portaria trata das ações no âmbito do IPHAN e das Casas do
Patrimônio, cujo objetivo é se tornar um marco referencial para a EP como prática transversal aos
processos de preservação e valorização do patrimônio cultural.
PORTARIA 134/2015
Dispõe sobre o estabelecimento da poligonal de entorno da Casa de Chico Mendes, situada no Município
de Xapuri (AC), bem objeto de tombamento federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), e fixa critérios para intervenções nos bens inseridos na referida área. Esse tipo
de portaria, delimitando áreas de preservação, disciplinando algumas atividades compartilhadas ou
tratando de diretrizes relativas aos efeitos do tombamento ou à gestão do bem, é comum e habitual dentro
das normas de preservação. Há diversos exemplares, desde tombamentos isolados a conjuntos e sítios
urbanos.
O destaque aqui se deve também ao tombamento da Casa de Chico Mendes, em 17 de outubro de 2011,
no Livro do Tombo Histórico, como um momento importante de discussões sobre os personagens
significativos da história nacional e os locais de vivência, referência e memória ou de situação
emblemática, como essa que foi a casa onde Chico Mendes foi assassinado. De acordo com a portaria,
referendando o processo de tombamento:
“Os valores históricos reconhecidos na Casa de Chico Mendes, enquanto lugar do assassinato desse líder
defensor da floresta amazônica e seus povos, símbolo emblemático da luta dos movimentos
socioambientalistas amazônicos ocorridos a partir da década de 1970, e que se expressam nas estruturas
físicas da casa e em seus bens móveis associados ao modo de habitar do seringueiro” (PORTARIA
134/2015).
PORTARIA 420/2010
Trata dos procedimentos que devem ser observados para concessão de autorização para realização de
intervenções em bens edificados tombados e nas respectivas áreas de entorno. Nesse tipo de
portaria, ficam estabelecidas as diretrizes para autorização do ponto de vista técnico, ao mesmo tempo em
que esclarece para o cidadão requerente quais são os procedimentos que devem ser adotados.
Em todos os casos mencionados, pode-se observar que há uma delimitação específica ou umas
orientações gerais nos diversos processos relativos à gestão do patrimônio cultural pelo órgão federal.
Um exemplo “espelho” de atuação dos entes estaduais e federais na redação dos seus instrumentos é o
mesmo entendimento do artigo 7º do Decreto 3.551/2000, no qual consta que o IPHAN fará a reavaliação
dos bens culturais registrados, pelo menos a cada dez anos, e a encaminhará ao Conselho Consultivo
do Patrimônio Cultural para decidir sobre a revalidação do título de Patrimônio Cultural do Brasil,
atualmente regido pelos procedimentos estabelecidos na Resolução 5/2019, em normas estaduais,
conforme a tabela a seguir.
(...)
Lei “institui, no âmbito da administração pública estadual, as formas de registros de
13.427, de bens culturais de natureza imaterial ou intangível que constituem patrimônio cultural
30 de do Ceará”.
dezembro (...)
de 2003 o art. 10 prevê a “reavaliação dos bens registrados a cada dez anos, para
decisão sobre a revalidação do título” (grifo nosso).
Decreto (...) “institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
24.290, de Patrimônio Cultural do Distrito Federal”.
(...) sendo de competência da Diretoria de
11 de Patrimônio Histórico e Artístico (DePHA) “reavaliar os bens culturais
dezembro registrados, pelo menos a cada 10 anos, para decidir sobre a revalidação do
setembro (...)
SAIBA MAIS
Após isso, houve a promulgação do Decreto 3.551/2000, que instituiu o Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, no Brasil, e a Convenção
para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, da UNESCO, de 17 de outubro de 2003, ratificado
pelo Brasil em 1º de março de 2006. Vamos conhecer um trecho do decreto a seguir:
DECRETO 3.551/2000
Art. 1o Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural
brasileiro.
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no
cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência
coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias,
musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais
espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.
§ 2o A inscrição num dos livros de registro terá sempre como referência a continuidade histórica do bem e
sua relevância nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira.
§ 3o Outros livros de registro poderão ser abertos para a inscrição de bens culturais de natureza imaterial
que constituam patrimônio cultural brasileiro e não se enquadrem nos livros definidos no parágrafo primeiro
deste artigo.
Vamos relembrar!
NO MUNDO
Inspirado pelo ideário iluminista, surge no mundo o movimento de construção de identidades culturais. Com
a intenção de construir um passado e uma identidade cultural, os Estados começam a valorizar a arte e os
monumentos antigos, pois passam a entender a sua importância para a construção da memória cultural de
uma nação.
Disso, surgem os direitos culturais, com a proposta de preservação dos bens culturais e a proteção do
patrimônio cultural.
1945 - Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Em meio ao debate entre as diversas noções de patrimônio é criada uma série de documentos
colaborativos para proteção do patrimônio cultural. Nesse momento há uma mudança das perspectivas
sobre patrimônio e memória que passam, cada vez mais, a ser discutidas nos debates e noções mais
atualizados. Elencamos alguns de maior relevância, entre tantos outro, como:
Fonte: Autor/Shutterstock
NO BRASIL
Com base no desenvolvimento do conceito de identidade cultural no mundo, é possível observar a evolução
das leis no país, especialmente quando comparamos:
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Além disso, são criadas Leis, Decretos, Portarias e Resoluções, como:
LEI 3.924/1961
Lei da Arqueologia
LEI Nº 4.845/1965
DECRETO-LEI 25/1937
Define a constituição do patrimônio histórico e artístico nacional, bem como a sua forma de proteção por
meio do tombamento
DECRETO 72.312/1973
Convenção da UNESCO
DECRETO 3.551/2000
Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou Programa Nacional do Patrimônio Imaterial
DECRETO 4811/2003
PORTARIA 200/2016
PORTARIA 137/2016
PORTARIA 134/2015
PORTARIA 420/2010
RESOLUÇÃO 5/2019
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, LOCALIZADO NO ESTADO DO
PIAUÍ, FOI CRIADO POR MEIO DO DECRETO 83.548/1979, COM ÁREA DE 100.000
HECTARES. LOCALIZADO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO, FRONTEIRA ENTRE
DUAS FORMAÇÕES GEOLÓGICAS, COM SERRAS, VALES E PLANÍCIE, O
PARQUE ABRIGA FAUNA E FLORA ESPECÍFICAS DA CAATINGA. SOBRE ESSE
SÍTIO ARQUEOLÓGICO RECAI O TOMBAMENTO FEDERAL, QUE PODE SER
QUALIFICADO COMO:.
B) Proteção por força do decreto para que sejam preservadas todas as áreas com possibilidades
arqueológicas.
B) O registro das tradições doceiras abre caminho para os processos de conservação patrimonial dos
produtos alimentícios.
D) O tombamento e o registro abriram caminho para a integração das linhas de gestão que existiam no
IPHAN, gerando uma única linha de atuação e conjugando conservação arquitetônica e salvaguarda.
E) O instrumento de tombamento é fruto de uma relação recente – após 1988 – e permitiu que as duas
manifestações pudessem enfim ser reconhecidas e tombadas.
GABARITO
1. O Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado no estado do Piauí, foi criado por meio do
Decreto 83.548/1979, com área de 100.000 hectares. Localizado no semiárido nordestino, fronteira
entre duas formações geológicas, com serras, vales e planície, o parque abriga fauna e flora
específicas da caatinga. Sobre esse sítio arqueológico recai o tombamento federal, que pode ser
qualificado como:.
O Parque Nacional Serra da Capivara foi tombado em 1993, passando a constar no Livro de Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Mas além da proteção conferida pelo tombamento, esse sítio
arqueológico é também protegido por força da Lei 3924/1961, que dispõe sobre os monumentos
arqueológicos e pré-históricos e que apresenta dentre suas medidas a proibição, em todo o território
nacional, do aproveitamento econômico, da destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas
arqueológicas. A título de reconhecimento, o parque também foi inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da
UNESCO.
“As Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas (Arroio do Padre, Capão do Leão,
Morro Redondo, Turuçu) foram inscritas pelo IPHAN no Livro de Registro dos Saberes, em maio
de 2018, após a reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em Brasília (DF). Pela
primeira vez, os conselheiros analisaram, a um só tempo, os dois instrumentos de proteção –
tombamento e registro – que abrangem os aspectos arquitetônicos e artísticos associados ao
modo de fazer os doces nessa região. A integração entre o material e o imaterial é imprescindível
para a compreensão da dimensão das tradições, memórias e identidade da nação brasileira.
Todos esses aspectos são fruto de uma rica diversidade étnica, cultural e religiosa, que interage e
se integra perfeitamente no patrimônio cultural material e nas manifestações culturais imateriais.
Pelotas encontra-se no epicentro de uma região doceira que abarca uma multiplicidade de
saberes e identidades sob a forma de duas tradições: a de doces finos e a de doces coloniais.”
(IPHAN, Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas (RS), online).
Em 2018, o IPHAN analisou simultaneamente, pela primeira vez, a aplicação do tombamento e do registro
para o mesmo complexo cultural: o tombamento do centro histórico de Pelotas (RS), e o registro das
tradições doceiras locais, considerando a inter-relação entre essas duas instâncias. A tradição doceira foi
registrada no Livro dos Saberes – considerando a continuidade das trajetórias das famílias doceiras e sua
relação com os produtores de doces de frutas; e o conjunto histórico de Pelotas foi tombado – constando
nos livros de Belas Artes, Histórico, e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico –, considerando sua
relevância para a história da ocupação no Sul do Brasil, pela qualidade das composições e dos elementos
decorativos remanescentes da arquitetura colonial luso-brasileira e da arquitetura eclética, e pela relação
entre a regularidade do traçado urbano com a vegetação e os equipamentos de abastecimento e
esgotamento pluvial.
Apesar de terem sido aplicados na mesma ocasião, cada instrumento teve por consequência a criação de
dois bens jurídicos distintos, portanto cada qual com sua linha específica de gestão de preservação: uma
contemplando atividades ligadas à fiscalização e conservação para o bem tombado; e outra para a
salvaguarda do bem registrado.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O campo do patrimônio cultural, especialmente no Brasil, foi marcado por diversos interesses, políticos,
culturais e educacionais. Vimos que particularmente aqui o movimento de modernizar associou-se ao de
“construir memórias” por meio da seleção de bens materiais, considerados representativos da identidade
nacional. É nesse campo de práticas, instituído inicialmente por intelectuais modernistas, que um conjunto
de ações e procedimentos passam a ser adotados, com a definição de conceitos, a elaboração de
normas, a adoção de medidas e a participação em debates nacionais e internacionais.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. M. F. Rodrigo e seus tempos. Rio de Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória, 1986.
BRASIL. Decreto legislativo nº 32, de 21 de agosto 1956. Aprova a Convenção para Proteção de Bens
Culturais em caso de conflito armado, assinada na Conferência Internacional reunida em Haia, de 21 de
abril a 12 de maio de 1954. Brasília, 1956.
BRASIL. Lei nº 4.845, de 19 de novembro de 1965. Proíbe a saída, para o exterior, de obras de arte e
ofícios produzidos no país, até o fim do período monárquico. Brasília, 1965.
BRASIL. Decreto nº 72.312, de 31 de maio de 1973. Promulga a Convenção sobre as Medidas a serem
Adotadas para Proibir e Impedir e Importação, Exportação e Transferência de Propriedades Ilícitas dos
Bens Culturais. Brasília, 1973.
BRASIL. Decreto nº 83.548, de 5 de junho de 1979. Cria, no Estado do Piauí, o Parque Nacional da Serra
da Capivara, com os limites que especifica e dá outras providências. Brasília, 1979.
COSTA, L. Arquitetura Jesuítica no Brasil. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1941,
n. 5, p. 7-103.
KÜHL, B. M. História e ética na conservação e restauração dos monumentos históricos. In: Revista
CPC, v. 1, n. 1, p. 16-40, São Paulo, 2006.
PEREIRA, S. G. Revisão historiográfica da arte brasileira do século XIX. In: Revista IEB, v. 54, p. 87-
106, 2012.
PINHEIRO, M. L. B. Trajetória das ideias preservacionistas no Brasil: as décadas de 1920 e 1930. In:
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 35, p. 13-31, 2017.
RABELLO, S. O Estado na preservação dos bens culturais: o tombamento. Rio de Janeiro: IPHAN,
2009.
SANTOS, M. M. V. Nasce a Academia SPHAN. In: Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, v. 1, p. 27-37, 2004.
THOMPSON, A. et al. (orgs.) Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 1. ed. Rio de Janeiro; Brasília:
IPHAN/DAF/Copedoc, 2015.
EXPLORE+
Na página do IPHAN, conheça os bens culturais protegidos por meio do tombamento. Além disso, um
banco de pareceres apresenta o registro e os pareceres de decisões sobre a proteção do
patrimônio cultural (ou indeferimento).
Em 2018, o Itaú Cultural realizou o seminário Proteção e Circulação de Bens Culturais. Trata-se de
um evento importante sobre a circulação lícita e ilícita dos bens culturais. As palestras encontram-se
disponíveis na plataforma Itaú Cultural, na internet.
CONTEUDISTA
CURRÍCULO LATTES