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SOLITUDE

Existe um lugar chamado Floresta negra , fica na parte mais hostil e selvagem do velho mundo, é de
onde eu vim quando caminhava pela terra sem rumo. Onde o musgo cresce sob as pedras como erva
daninha, onde as brumas nunca nos abandonam por completo, onde eu me sentia em casa. Todas as
noites a nevoa gélida acariciava meu corpo suavemente, me comovia àquela relação. Mantive-me longe
do inferno de suas almas, porque não queria participar de seus ritos, porque trair a mim mesmo seria
morrer novamente. E eu não queria morrer de novo, alias, eu ainda não superara o fator morte, no
entanto ela se mostrou uma amante formidável. Caminhar pela floresta, sentir o perfume inebriante das
coisas vivas era sustentar uma leveza fugaz em minha alma sedente por vida. Encravado no meio do
bosque mais fechado meu lar, rústico, feito com as madeiras da própria floresta. Uma pequena clareira,
eu curvara as arvores pra que mantivessem a sombra sobre minha cabeça. O chão sempre fora forrado
de um espessa camada de folhas secas, era úmido frio e solitário.

Deitado sob a cama, ouvi o vento norte uivar sob o topo das árvores, elas se curvavam, se agitava por
dias até que vento cessava e então uma nevoa densa se apossava do lugar. Eu poderia descrever o gosto
que tinha aquela nevoa, eu poderia... Mantive-me sob cativeiro de meus demônios por décadas, 7
demônios rondavam minhas trilhas, sopravam-me aos ouvidos e mantinha-me lúcido. Era sempre bom
ter alguém com quem conversar, mesmo que esse alguém não quisesse nada de você, exceto, tudo que
você tinha e tudo que teria. Ouvia a voz de meus anseios entre grilhões ensurdecerem meus ouvidos em
gritos silenciosos, colocava as mãos sob as têmporas tentando inutilmente os calar, mas meus anseios
perturbavam-me mais que qualquer coisa. Em algum momento do ano, depois que haviam secado os
vales, uma atmosfera cinzenta possuía o vale inteiro, com seus longos braços abraçava-me a mim e a
tudo que me cercava.

Chovia muito, o frio poderia matar um humano em poucas horas, mas eu nem mesmo poderia ser
tocado por isso, se não, no profundo de minha existência algo sofria calado. Estar sozinho não era a
melhor coisa a se fazer, eu garanto. Quando o silencio invade sua não vida, o silencio rasga sua alma
dilacerando qualquer lucidez que sobre, para uma criatura das trevas como eu, isso era torturante.
Mantinha-me ativo, eu era rápido e podia alimentar-me bem, embora poucas vezes. Aprendi a manter
minha sede sob controle, aprendi a observar e me adaptar ao todo. Eu era a chuva, eu era os ventos do
norte soprando sob nuvens negras do inferno de minha alma. Eu aprendi coisas que faria tremer as
terras baixas, eu poderia arrancar sua cabeça sem sair do lugar, pelo menos assim veria. Aprendi a
dançar com o vento com espadas curtas e adagas afiadas, eu era uma criatura a se temer, e eu temia-
me.

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