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SILVER WOLF

Algumas coisas são inevitáveis, mesmo com um


companheiro predestinado.
Como futura alfa dos Lobos Prateados, minha vida foi
cuidadosamente planejada: ficar escondida e aprender a lutar.
Mas isso não aconteceu. Minha matilha foi massacrada e agora
estou correndo para salvar minha vida.
Na minha busca por segurança, descubro outra coisa.
Meu companheiro predestinado.
O belo idiota alfa pode me oferecer algo que ninguém mais
pode: proteção.
Quanto mais tento lutar contra o nosso vínculo de
companheiro, mais o destino nos une, mas temo que o preço
possa ser muito alto para nós dois.
Enquanto um inimigo oculto me persegue, decisões difíceis
devem ser tomadas. Escolhas que alterarão minha vida para
sempre ou acabarão com ela completamente.
Um grito ecoou em meus ouvidos, fazendo meu sangue
gelar. O barulho se originou a cerca de três quilômetros de
distância, onde minha matilha morava, nas profundezas da
floresta montanhosa nos arredores de Chattanooga,
Tennessee.
Eu me acalmei. Isso foi estranho. O gotejar do turvo rio
Tennessee à minha frente voltou à minha consciência.
Talvez algumas crianças estivessem brincando ou papai
estivesse fazendo rituais de treinamento com os shifters mais
jovens. Mas, isso me surpreenderia, porque esta noite era lua
nova. Normalmente, pegamos leve neste dia do mês, quando
nossa espécie está mais fraca, mas talvez esse fosse o ponto.
Eu esperava que ninguém tivesse se machucado.
Afastando a preocupação, inclinei-me sobre a margem
lamacenta do rio e mergulhei os dedos na água fria. A forte
tempestade de alguns dias atrás havia deixado o líquido mais
turvo do que o normal, mas ainda conseguia ver meu reflexo.
Meu longo cabelo prateado, que significava meu futuro como
alfa, movia-se com a brisa, e o tom verde-oliva da minha pele
contrastava com meus olhos claros roxo-prateados.
O sol do meio-dia aqueceu minha nuca e a tensão se
dissipou em meu corpo.
“Ataquem!” O comando fraco e desesperado ressoou à
distância. “Mate quantos puder.”
Meu corpo congelou.
Isso não era um exercício. Não gritávamos
freneticamente, mesmo quando queríamos, durante o
treinamento. Demonstrar preocupação denotava fraqueza.
Como lobos prateados e protetores, tínhamos que transmitir
confiança o tempo todo.
Girei nos calcanhares e corri em direção à vizinhança.
Droga, eu não deveria ter escapado e caminhado três
quilômetros para longe de casa, mas este era o único dia do
mês em que eu podia ficar sozinha por algumas horas.
O único dia em que tive um alívio sobre ter de aprender
sobre minhas responsabilidades futuras, que herdaria de meu
pai.
O que está acontecendo? Conectei-me com meu bando,
mas houve apenas silêncio. Como se eu tivesse sido impedida
de me comunicar com eles.
Isso nunca tinha acontecido antes. Eu sondei minha
mente novamente em busca da conexão enquanto o pânico
arranhava minha garganta. O único consolo que eu tinha era
que meu peito ainda estava aquecido devido ao meu laço com
a matilha.
Os animais correram na direção oposta à minha e, meu
já frenético coração, batia ainda mais forte.
Algo estava errado. Os lobos prateados se adaptaram ao
mundo, mas mantivemos nossa localização e o tipo de lobo
que éramos, escondidos de todos, inclusive de outros
membros da raça dos lobos. A única vez que permitimos que
alguém de fora entrasse em nosso bando, era quando um dos
nossos encontrava seu companheiro predestinado. Para
mantermos nosso segredo sobre o bando, o companheiro
predestinado sempre se tornava um de nós. Era a lei do nosso
bando e uma forma de garantir que a raça dos lobos prateados
permanecesse escondida. Então, ser atacado não deveria ter
sido possível.
Tiros foram disparados, e eu invoquei a magia da minha
loba, aumentando minha velocidade com o animal dentro de
mim. Eu precisava voltar para o meu bando o mais rápido
possível, mas não podia arriscar uma transformação. Na
forma animal, revelaríamos o tipo de lobo que éramos para
nossos agressores, nosso pêlo prateado era inconfundível. Eu
não podia correr o risco de alertá-los sobre a nossa existência,
caso eles pensassem que éramos só mais uma outra matilha
de lobos comuns. Os agressores poderiam pertencer a uma
matilha liderada por um alfa demasiadamente ambicioso, que
tentaria nos forçar a nos submetermos a ele, e formar uma
matilha maior. Papai havia me dito repetidamente que algo
assim poderia acontecer.
Era uma possibilidade, mas não podia ter certeza até
alcançá-los.
Partes do meu peito ficaram mais frias conforme os
membros do bando começaram a desaparecer, assim como na
época em que meu avô faleceu.
Não.
Eles não poderiam estar morrendo.
Em qualquer outro dia do mês, eu poderia correr duas
vezes mais rápido, mas com a lua escondida esta noite, minha
magia estava ainda mais enfraquecida do que a dos outros
membros do bando, porque o sangue alfa era o mais conectado
à lua. Mesmo na forma de lobo, eu não seria capaz de correr
mais rápido.
Hoje não.
Os lobos prateados eram muito mais fortes que os lobos
comuns, especialmente à noite e na lua cheia. Quanto mais
cheia a lua, mais fortes e maiores éramos. Mas neste dia do
mês, éramos essencialmente como qualquer outro lobo no
mundo.
Nada especial.
Mais tiros foram disparados, e eu me esforcei ainda mais,
fazendo com que cãibras surgissem ao lado do meu corpo.
Eu tinha que respirar, ou estaria totalmente sem fôlego
para ajudar meu bando quando finalmente os alcançasse.
As árvores foram ficando borradas enquanto eu corria, e
meus pés afundavam no chão coberto de palha, me
desacelerando. Eu queria gritar de frustração.
Respirando fundo o ar da primavera, tentei usar os
aromas florais da floresta para me manter racional. A
respiração profunda era um dos rituais calmantes que foram
incutidos em mim desde jovem. Aprender o controle das vias
aéreas era uma das melhores armas que alguém poderia ter.
Isso me ajudou a pensar racionalmente e a não tomar decisões
estúpidas sob pressão. Nada era mais poderoso.
Não importa o quanto eu me esforçasse, não parecia ser
o suficiente. Parecia que o tempo havia parado enquanto eu
tentava, desesperadamente, chegar aos meus amigos e
família.
A cada passo que eu dava, os sons da luta ficavam mais
claros. Eu tinha que acreditar que era um bom sinal. Afinal,
nascemos guerreiros.
Agarrei-me a essa esperança e não deixei meu medo
tomar conta.
À medida que as árvores diminuíam, quase gritei de
triunfo. Eu consegui! Mas o cheiro de cobre atingiu meu nariz.
Sangue.
O cheiro preencheu minha garganta, tornando difícil
engolir.
Meus pés tropeçaram e me segurei antes que pudesse
cair de joelhos. Eu não tinha tempo de perder o controle. Eu
era uma alfa, caramba, e meu povo precisava de mim.
Abri a boca e respirei sem usar o nariz. O cheiro ainda
era forte, mas não tão ruim. Minha loba veio à tona em minha
mente, me ajudando a me manter emocionalmente forte.
À medida que me aproximava de casa, modestas casas de
tijolos espreitavam por entre as árvores. Corri diretamente
para a casa alfa, com seu quintal, conectado à floresta. Eu
tinha que encontrar meus pais e ver o que papai precisava que
eu fizesse. Ele teria um plano. Ele sempre tinha.
Precisando ficar o mais silenciosa possível, diminuí a
velocidade, não querendo dar de cara com algum dos
atacantes. Não era como se eles estivessem transmitindo sua
localização para mim.
O confronto soava como um tambor batendo.
Assustador.
Devastador.
Desolador.
Quando cheguei perto de ultrapassar as árvores, um
fedor almiscarado desconhecido quase me fez engasgar, me
fazendo parar no meio do caminho.
Os atacantes eram definitivamente lobos shifters, mas eu
não conhecia seus cheiros.
Agachei-me e removi a faca que mantinha no coldre em
volta do meu tornozelo. Tê-la me trazia conforto, e eu nunca
saía de casa sem a arma. Nem mesmo quando Zoe, minha
melhor amiga, me criticou, perguntando que tipo de bicho
teria coragem de nos atacar.
Aposto que ela mudou de ideia agora.
“A garota tem que estar aqui em algum lugar,” um homem
sussurrou. “Eu acho que encontrei o cheiro dela indo para a
floresta.”
“Talvez ela tenha fugido,” alguém com uma voz mais
profunda respondeu. “Talvez o alfa, Arian, pode ter dito a ela
para ir embora.”
Espiei por trás de uma árvore e vi dois homens vestidos
de preto e usando máscaras de esqui, parados no meu quintal.
Ambos tinham mais de um metro e oitenta de altura, como
papai, e eram musculosos e robustos, bem mais do que a
maioria dos shifters. Quem quer que fossem esses idiotas, eles
se exercitavam muito, o que me alarmou. Isso poderia
significar que eles estavam treinando intensamente para
alguma coisa.
Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi que
eles poderiam saber o que éramos.
Mas, novamente, isso não deveria ser possível. Todos fora
do nosso bando pensavam que nossa espécie havia morrido.
Ainda assim, eles sabiam o nome do meu pai.
Respire, Sterlyn. Se eu deixasse minhas emoções
tomarem conta de mim, eles me encontrariam e fariam sabe-
se lá o que mais. Agarrei o cabo da faca, segurando-o de modo
que pudesse usar a lâmina facilmente, se necessário.
Eu não conseguia ver mais ninguém da posição em que
estava, o que me irritou. Eu não queria me transformar – pelo
menos, não ainda – caso eles não soubessem o que éramos.
Pai? Tentei me conectar com ele novamente.
Em vez de uma resposta, mais gritos encheram o ar,
parecendo que vinham da frente da minha casa. A brisa
mudou de direção, soprando contra mim e na direção dos dois
cretinos.
Droga, eu tinha que agir rápido.
“O cheiro dela fica mais forte nessa direção.” O que falou,
ergueu a máscara preta, revelando um cavanhaque castanho-
avermelhado, e o parou na altura do nariz. Ele farejou o ar
com mais intensidade. “Ela cheira a frésia.”
“Você está falando sério?” O outro cara estendeu a mão e
arrancou a máscara do rosto do primeiro homem. “Frésia? O
que você fez? Foi pintar as unhas com sua mãe antes de vir
para cá?”
Minha matilha estava sendo massacrada por idiotas que
se vestiam de preto durante o dia e discutiam sobre cheiros.
O inimigo nem se sentia mal por dizimar meu bando. Que
tipo de bastardos sem coração eles eram? A raiva cresceu
tanto ao meu redor, que eu cravei minhas unhas na palma da
minha mão livre, fazendo uma poça de sangue na ponta dos
meus dedos.
Eu dei alguns passos mais para dentro da floresta e então
me movi em direção a eles, esperando pegá-los desprevenidos.
“Não seja um idiota, Earl,” Cavanhaque zombou. “Estou
dizendo que ela cheira bem. Talvez eu tenha uma chance de
procriar com ela.”
Náusea embrulhou meu estômago. Por que ele estava
falando sobre reprodução?
“Então diga isso. Isso é pelo menos aceitável, e não tenha
muitas esperanças. Eles já têm alguém em mente para ela.” O
outro cara balançou a cabeça. “Pare de ser idiota. Eu coloquei
você nesta equipe, e é melhor você não me fazer passar
vergonha. Mais um movimento estúpido e eu mesmo te mato.”
Ele olhou em minha direção.
Eu me agachei atrás de alguns arbustos. Assim que eles
chegassem perto, eu atacaria o mais esperto, Earl, antes de ir
atrás de Cavanhaque.
Forçando-me a respirar devagar, deixei a calma
atravessar todo o meu corpo.
Earl ergueu a mão, sinalizando para Cavanhaque parar.
Ele caminhou em minha direção, seus olhos amarelos
perscrutando o arbusto.
Ele estava a cerca de três metros de distância, mas eu
precisava dele mais próximo. Com Cavanhaque por perto, eu
precisava atacar rápido e com força. Derrubá-lo na primeira
tentativa seria crucial. Caso contrário, seriam dois contra um,
e eu não gostava nada dessa probabilidade.
Cavanhaque movia-se graciosamente ao lado de Earl.
Talvez ele não fosse tão estúpido quanto eu pensei.
Earl olhou para o amigo. “Ela está perto.”
A distração dele era tudo que eu precisava. Eu me lancei
para a frente e enfiei a faca no peito de Earl, apunhalando-o
no coração.
“O que...” Suas palavras ficaram distorcidas, enquanto
ele virava a cabeça para trás, em minha direção. Seus olhos
se arregalaram e ele olhou para o próprio peito, o sangue já
encharcando sua camisa.
“Merda!” Cavanhaque guinchou.
Eu envolvi minhas mãos ao redor do cabo da faca e puxei
para trás com força. Um som doentio de sucção, seguido por
um estalo, soou antes que a faca deslizasse de seu peito.
O sangue jorrou quando Earl pressionou as mãos na
ferida, tentando estancar o sangramento.
Passando por ele, preparei a faca em minha mão
enquanto Cavanhaque atacava.
“Sua cadela,” ele rosnou enquanto estendia a mão em
direção a minha garganta.
Eu me esquivei dele e me endireitei, batendo meu cotovelo
na parte de trás de sua cabeça. Ele caiu de joelhos e eu agarrei
o tecido e o cabelo na parte de trás de sua cabeça.
“Você me paga,” ele rosnou.
Raiva irracional. Perfeito. Isso significava que eu tinha a
vantagem.
Ele se levantou de um salto e agarrou meu cabelo.
Droga, eu deveria tê-lo prendido. Eu tentei afastar minha
cabeça, mas ele segurou firme e me puxou de volta.
Então seria uma luta suja.
Fingi tropeçar e cair em sua direção. Ele se inclinou para
frente, seu peito ajudando a me firmar, e então abriu as
pernas.
Assim que meus ombros colidiram com ele, eu levantei
minha perna, e dei uma joelhada bem nas bolas do idiota. Não
senti muita coisa, mas ele me soltou e agarrou suas bolas,
como se realmente tivesse algumas.
Interessante. De qualquer maneira, meu plano tinha
funcionado.
Dei um soco nele e ele tombou, caindo de cara. Incapaz
de matar o cuzão agora que ele era o único que restava, eu o
chutei na cabeça, nocauteando-o.
Examinei a área, antecipando outro ataque, mas tudo o
que pude ver foi o homem que matei momentos atrás. A
histeria cresceu dentro de mim vendo o que eu tinha acabado
de fazer.
Nós treinávamos para lutar, mas eu nunca tinha matado
ninguém. Eu rezava todas as noites para que nunca
precisasse. Obviamente, minhas preces não foram atendidas.
“Sterlyn!” Meu pai chamou.
Sua voz reconfortante me trouxe de volta ao presente. Eu
me virei para encará-lo... e quase desejei não o ter feito.
Sangue manchava sua camisa branca, e ele segurava a
lateral do corpo, fazendo caretas a cada movimento que fazia
ao vir em minha direção. “Você precisa ir agora.” Seus olhos
normalmente prateados pareciam mais como aço, e seu cabelo
parecia um cinza manchado. O homem bonito que eu havia
visto hoje cedo parecia velho.
“O quê?” Eu corri em direção a ele, não querendo que ele
se machucasse mais. “Não. Eu preciso ajudar a proteger nosso
bando.”
“Olhe.” Ele estendeu a mão manchada de sangue. “Eles
estão aqui atrás de você, e eu não posso deixá-los te levar.”
“Atrás de mim?” Meu cérebro se anuviou. “Por quê?”
“Eu acho que eles querem forçá-la a um vínculo de
companheiro.” Ele olhou por cima do ombro.
Meu olhar seguiu o dele, e meu mundo desmoronou ao
meu redor. Eu não conseguia respirar enquanto tentava
entender o que eu via.
Corpos espalhados pelo chão. Todos do meu bando.
Meu pai e eu usávamos as árvores grossas da floresta
para nos esconder a mais de 100 metros de distância,
enquanto minha melhor amiga Zoe, rastejava pela estrada até
a grama, tentando sair do caminho dos atacantes. Sangue
escorria por seus braços, e eu podia ver que ela estava usando
todas as forças para sobreviver.
Um homem vestido de preto correu até ela e colocou uma
arma em sua têmpora.
Eu tenho que impedi-lo. Eu me movi para intervir, mas
mãos quentes e fortes envolveram minha cintura e me
puxaram para trás. Papai colocou as mãos em meus ombros
e ficou cara a cara comigo.
O disparo alto da arma fez meu estômago revirar.
O cheiro pungente de medo emanava do meu pai
enquanto ele estremecia. “Sterlyn, concentre-se em mim.”
“Mas...” Eu lutei contra seus braços. Eu tenho que salvá-
los.
Ele grunhiu de dor. “Esses homens não têm intenção
nenhuma de deixar qualquer um de nós viver, exceto você. Há
muitos deles para lutarmos. A maioria das conexões do bando
agora estão frias. Quase todo mundo está morto.”
“O quê?” Meu corpo congelou. “Mãe?”
“Sim, e eu também irei em breve.” Ele indicou com a
cabeça o lado do corpo.
Agora que ele não estava segurando, eu podia ver a ferida.
O corte era tão profundo que o músculo era visível, e pela
forma como o sangue escorria dele, eu sabia que deviam ter
atingido a artéria principal. Mesmo com a cura shifter,
ninguém poderia sobreviver a isso. “Não. Vou levar você para
o hospital.”
“Eu mal estou aguentando do jeito que está.” Uma
lágrima desceu por sua bochecha. “Eu tive que me controlar
tempo suficiente para encontrar você. Você tem que correr. Vá
para Shadow City. O alfa, Atticus Bodle, irá protegê-la, mas
confie apenas nele sobre o que você realmente é.”
“Pai, como sabemos que não é ele que está nos
atacando?” Minha voz falhou. Atticus era a única pessoa fora
do bando que sabia de nossa existência, então faria sentido se
este ataque estivesse sendo sob suas ordens.
“Atticus é um bom homem. Nunca senti nenhuma
intenção negativa nele. Tenho certeza de que ele não está por
trás disso, mas tome cuidado e não confie em mais ninguém.
Um dos atacantes disse que eles estão aqui para encontrá-la.
Não podemos deixar que eles peguem você.”
“Eu... eu não quero te deixar.” Ele não apenas esperava
que eu o deixasse para trás, mas também queria que eu fosse
para uma cidade sobre a qual eu sabia muito pouco.
“Minha garotinha, eu te amo, mas você tem que ir.” Ele
beijou minha bochecha. “Eles estão reunindo um pequeno
grupo para procurar por você. Vá, antes que seja tarde
demais.”
“O alfa sumiu,” alguém gritou não muito longe. “Ele pode
estar procurando pela garota.”
Olhei para meu pai uma última vez, tentando me lembrar
de seu cheiro, seu rosto, seu toque. “Papai.”
“Sinto muito, mas tenho que protegê-la.” Seus olhos
brilharam em um tom prateado mais intenso, enquanto
convocava o que restava de sua força. Sua voz carregava
autoridade de Alfa. “Vá embora. Agora. E não volte mais.”
Meu eu lobo uivou em protesto quando me virei e meus
pés se moveram por conta própria, seguindo o comando do
nosso alfa. Olhei por cima do ombro para o observar mais uma
vez. “Amo você, papai.” Coloquei a faca de volta no coldre em
meu tornozelo e parti enquanto o ouvia cair.
“Ele está aqui,” outro cara gritou.
Meu eu lobo avançou, ajudando-me a correr enquanto os
soluços sacudiam meu corpo. Eu não queria ir embora, mas
não podia desobedecer a meu alfa.
As vozes ficaram mais altas conforme vários passos
avançaram em direção ao meu pai.
“Sinto o cheiro dela!” Alguém exclamou. “Ela está na
floresta!”
Respirando fundo novamente para me acalmar,
concentrei-me em colocar um pé na frente do outro. Eu tinha
que sair daqui antes que eles pudessem me pegar. O sacrifício
do meu bando não poderia ter sido em vão.
“O cheiro dela está forte,” um dos homens gritou. “Ela
não deve estar longe.”
Droga, eu não tinha nem meio quilometro de vantagem à
frente deles. Eu tinha que colocar minha cabeça no lugar ou
eles me capturariam.
A urgência da minha situação pedia foco. Pelo menos, tive
um breve alívio da dor avassaladora que queria me sufocar.
Limpando a umidade dos olhos e o ranho do nariz,
aumentei o ritmo. Eles podiam estar em maior número, mas
eu conhecia o terreno.
Virei para a esquerda, entrando fundo o suficiente na
floresta para não ser vista, caso eles passassem dirigindo pela
estrada. Fiz uma rota esporádica, esperando que eles não
adivinhassem que eu estava indo para a cidade mais próxima,
a cerca de seis ou oito quilômetros de distância. Por sorte, a
estrada seguia para o sudoeste em direção à Shadow City e
me permitia ficar perto da civilização. Isso forçaria as pessoas
que estavam me perseguindo a manterem seus lados animais
sob controle.
Afinal, os humanos não deveriam saber sobre seres
sobrenaturais. Se alguém deixasse isso ser descoberto, a
punição seria a morte.
Passos soaram atrás de mim, me forçando a me mover
mais rápido. Eu corria frequentemente para treinar, então
deveria ser capaz de despistá-los. Contanto que eu me
mantivesse à frente, eu ficaria bem.
Uma vez que eu chegasse perto da cidade, descobriria o
que fazer.

Minhas pernas ficaram pesadas e foi preciso o dobro de


energia para continuar correndo, mas me forcei para além do
cansaço. Pelo que pude estimar, eu havia corrido cerca de
vinte e quatro quilômetros, o que significava que Shadow City
não estava muito longe agora. Se mantivesse minha
velocidade atual, chegaria à cidade nos próximos trinta
minutos.
Eu estava progredindo bem, mas os idiotas que estavam
atrás de mim, não ficaram para trás como eu havia esperado.
Eu tinha que despistá-los.
Examinando a área, procurei por algo que pudesse
atrasá-los. Ficar perto da estrada não era mais uma opção
viável.
Cortei para a direita, mais longe da estrada, esperando
que a mudança de direção os desorientasse por um tempo, e
examinei meus arredores. Eu não estava familiarizada com
esta parte da floresta. Embora nosso bando vivesse um pouco
perto de Shadow City, sempre nos mantivemos bem afastados
dela, propositalmente evitando qualquer um que morasse
perto de lá.
Tentei me lembrar de tudo que sabia sobre Shadow City.
Era um refúgio criado há mais de mil anos. Qualquer um que
precisasse de ajuda ou asilo poderia ir para lá. Todas as raças
shifter viviam juntas lá, além de anjos, vampiros, bruxas,
quase todas as raças sobrenaturais existentes.
Quando a cidade foi fundada, os lobos prateados foram
seus protetores até que a corrupção tomou conta. Incapazes
de lutar contra os líderes corruptos e sem vontade de morrer
por eles, os lobos prateados escolheram partir.
Na época, o lobo alfa de Shadow City havia prometido
limpar o lugar e pediu que não fôssemos muito longe. Então,
logo após a partida dos lobos prateados, a cidade entrou em
lockdown, não permitindo a entrada ou saída de ninguém até
os últimos anos.
Meu pai tinha ido lá cerca de dois anos atrás, para se
encontrar com o atual lobo alfa, Atticus, mas ele me deixou
para trás, dizendo que precisava examinar a situação e que eu
deveria ficar com o bando caso as coisas dessem errado. Eu
tinha dezesseis anos na época, idade suficiente para assumir
o papel de alfa, se necessário.
Apesar da promessa do alfa de que as coisas tinham
melhorado, papai estava desconfiado de alguns dos outros
líderes da cidade, especificamente o anjo Azbogah e algumas
das bruxas. Atticus tinha dito para lhe dar tempo, que
veríamos mais mudanças. No entanto, papai nunca mais
ouviu falar dele.
Para ele me dizer para ir para lá, significava que o bando
de Shadow City era minha única esperança de um lugar
seguro. Isso não me agradava, mas era um problema para
outro dia.
Agora, eu tinha que tirar esses idiotas do meu rastro.
A correnteza do rio me ajudou a ter uma ideia. Eu
provavelmente deveria ter feito isso há algum tempo, mas
pensei tolamente que conseguiria fugir deles.
Erros eram perdoáveis, desde que você pudesse fazer algo
a respeito. E, felizmente, eu ainda estava viva e me movendo,
o que significava tudo na minha situação atual. Ninguém mais
no meu bando podia dizer isso.
“Ela está mudando de direção,” alguém bufou. “Ela está
indo para o rio.”
Ao menos, eles também mostravam sinais de cansaço.
Teria sido uma droga se eles não estivessem tão cansados
quanto eu.
“Não a deixe chegar lá,” gritou outro. “Estou pedindo
reforços. Não podemos perdê-la.”
A coisa boa sobre mudar de direção, era que isso fazia
com que o peso mudasse sob os pés. Eu não tinha sido capaz
de obter uma boa leitura de quantos estavam me perseguindo,
mas com eles girando, parecia que cerca de dez estavam me
perseguindo.
Isso era mais do que eu esperava. Eu esperava por um
punhado. Com tantos, minhas chances de escapar eram
muito menores.
Um problema para depois que chegasse à água.
Observando o chão de perto, procurei por trechos de
lama, raízes e galhos de árvores que pudessem me fazer
tropeçar ou cair. Infelizmente, isso me desacelerou, mas era
um pouco mais seguro do que cair. Outra razão pela qual eu
tinha ficado perto da estrada, o terreno mais estável.
A inclinação descendente me ajudou a correr mais
rápido. Galhos de árvores cortaram meus braços, causando
um pouco de sangramento, mas nada que me incomodasse.
Eu mal senti a queimação e a dor, mas o que era fácil demais
de sentir, era que eu era a porra da presa deles. Algo que
irritou tanto minha loba quanto a mim.
Seus passos ficaram mais altos, me alertando que eles
estavam se aproximando. Eles eram maiores do que eu, então
a gravidade trabalhava a seu favor.
Eu não tinha pensado no plano ainda, mas o rio estava
se aproximando.
Contanto que eu chegasse lá antes que eles me
alcançassem, eu estaria bem. Meu plano era mergulhar e
nadar o máximo possível para que eles me perdessem de vista
e perdessem meu cheiro.
“Eu estou vendo ela!” Um deles gritou, muito perto para
o meu gosto.
Ignorando o desejo irresistível de olhar por cima do
ombro, eu continuei avançando.
A água turva apareceu entre algumas árvores quando o
rio Tennessee alcançou a vista. A água não parecia se mover
rápido, mas isso poderia ser um engano. Na primavera, chovia
tanto que a correnteza era forte. Felizmente, nessa direção
aqui embaixo não tinha tráfego pesado. Os barcos
costumavam ficar principalmente ao norte de onde estávamos,
então não era arriscado nadar por aqui.
A respiração dos meus atacantes era tão alta que eu
poderia dizer que eles estavam praticamente em cima de mim.
Se as coisas não mudassem drasticamente, eles me pegariam
antes mesmo que eu chegasse ao rio.
Eu não tinha corrido mais de vinte e quatro quilômetros
para ser capturada agora.
Concentrando-me no meu objetivo, joguei a cautela ao
vento e disparei com tudo, sem mais me preocupar com meu
equilíbrio. Balancei os braços ao lado do corpo, tentando fazer
com que meus pés se movessem ainda mais rápido.
Quando cheguei no barranco, a cobertura se transformou
em pedra lamacenta, e eu saltei.
“Não,” um cara gritou enquanto algo agarrou meu
tornozelo direito.
Torcendo meu corpo para a direita, usei meu pé esquerdo
para chutar o cara no rosto. Sua cabeça foi arremessada para
trás, e seu aperto em mim afrouxou.
Caí de costas, quase na água, com a cabeça pendurada
na beirada do barranco. Ergui a cabeça e vi nove homens se
aproximando há apenas alguns metros de mim.
Se eu não fizesse alguma coisa, eles me pegariam antes
que eu caísse na água.
O cara que eu chutei estava desacordado, então subi em
cima dele e peguei sua arma. Eu odiava usar armas, mas
agora era uma necessidade. Eu me levantei e atirei no resto
dos homens, que estavam próximos demais de mim.
“Protejam-se,” gritou um deles enquanto os outros nove
se dispersavam. Esperei um segundo antes de atirar
novamente, mantendo um padrão aleatório na esperança de
que eles esperassem para garantir que eu tinha acabado de
atirar, antes de correr atrás de mim novamente.
Não muito longe, o rio fazia uma curva acentuada. Se eu
conseguisse prender a respiração por tempo suficiente, ainda
poderia despistá-los. Depois de mais alguns tiros aleatórios,
eu me agachei para que eles não pudessem ter uma boa visão.
Eu atirei mais uma vez, então deixei meus instintos naturais
assumirem. Eu saltei para trás e entrei na água com os pés
primeiro, afundando sob a superfície, e nadei o mais rápido
que pude, usando a corrente a meu favor.
Nadei mais para o fundo, esperando que a nebulosidade
extra da água, deixada pelas tempestades, me escondesse.
Algumas bolhas atingiram minha perna, informando-me que
pelo menos alguns deles haviam pulado na água, mas também
que eu havia ganhado alguma distância.
Nadar era um dos meus passatempos favoritos, algo pelo
qual eu era grata agora, enquanto eu nadava o mais rápido
que podia com a corrente, para chegar o mais longe possível.
Meus pulmões começaram a queimar, buscando por oxigênio.
Eu exalei um pouco, tentando prolongar o tempo antes de eu,
inevitavelmente, precisar voltar à superfície.
Depois de mais algumas braçadas, eu tive que emergir.
Tentando ser cuidadosa, permiti que apenas a parte superior
do meu rosto emergisse da água, esperando continuar
escondida.
“Olha, lá está ela,” um deles gritou.
Droga. Submergi mais uma vez e deixei o pânico me
empurrar com mais força do que antes. Eu não podia deixar
que eles me pegassem. Se o fizesse, todas as vidas sacrificadas
por mim teriam sido em vão.
Eu não poderia viver com isso.
A cada braçada, eu esperava ser agarrada, mas não
aconteceu, pelo menos não ainda.
Nadei na diagonal, esperando pegar uma correnteza mais
forte. Quando meus pulmões começaram a gritar novamente,
a água empurrou minhas costas, me impulsionando para
frente.
Bom, mas eu precisava reabastecer meu suprimento de
ar.
Esperei o máximo que pude antes que meus instintos
assumissem e meus braços me empurrassem em direção à
superfície. No entanto, a correnteza não me liberava e eu
estava muito fraca para conseguir subir à superfície.
O pânico tomou conta do meu corpo e minha mente ficou
zonza. Se eu não me controlasse, eu me afogaria.
Rapidamente, virei de costas e estiquei meu corpo, com os pés
primeiro. Todos os artigos que li sobre segurança em rios
diziam para flutuar com a cabeça contra a correnteza e as
pernas para baixo. Ficar na horizontal em relação à água
deveria ajudar, pelo menos marginalmente.
Surpreendentemente, entrar nessa posição foi fácil, uma
vez que eu não estava tentando voltar à superfície.
Algo roçou minha mão e eu a agarrei. Pelo que eu sabia,
eu poderia estar de mãos dadas com um cadáver, mas eu
estava desesperada o suficiente para usar o que estivesse
disponível como alavanca. Esperançosamente, era um tronco.
Puxei-o para minha direção com o pouco de energia que me
restava. As bordas da minha visão começaram a escurecer, e
eu empurrei o talvez-tronco para baixo em direção ao leito do
rio, tentando usá-lo para me impulsionar para cima.
O ímpeto me afastou da correnteza e, assim que
atravessei a superfície da água, respirei fundo. Minha cabeça
ainda estava confusa e eu me virei, procurando pelos idiotas
que me colocaram nessa situação, para começar. Um grande
galho de árvore flutuava ao meu lado, então joguei meus
braços sobre ele, sem forças o suficiente para me manter
flutuando sozinha.
Meus olhos ficaram pesados de exaustão. Lutando para
me manter consciente, virei meu pescoço, mas não vi os
babacas.
Eu estava segura por enquanto, então apoiei minha
cabeça e corpo no galho da melhor maneira que pude e, fechei
os olhos para descansar por um momento.

Um braço envolvia minha cintura, fazendo minha


respiração e coração acelerarem. Abri os olhos e percebi que
eu havia estupidamente adormecido. Eu não tinha ideia de
quanto tempo, mas obviamente foi o suficiente para eles me
alcançarem.
Eu continuei segurando o galho e bati meu cotovelo no
estômago do idiota. “Solte-me!”
“Whoa,” uma voz profunda exclamou e então gemeu.
“Você vai se afogar. Estou tentando te salvar.” Seu aperto em
torno da minha cintura afrouxou.
Ele achava mesmo que eu cairia nessa? Ele não cheirava
a mentira, mas isso não significava que ele tinha boas
intenções.
Já que ele estava distraído com a dor no estômago, eu dei
uma cabeçada nele com a parte de trás da minha cabeça. Um
estalo doentio me informou que quebrei alguma coisa.
“Porra!” Ele reclamou enquanto empurrava o tronco em
direção ao barranco.
Minhas pernas tocaram o leito do rio e coloquei meu peso
sobre elas antes de cair de volta na água com um grande
splash.
“Ei, espere,” disse o cara enquanto nadava até mim.
“Afaste-se.” Com as mãos trêmulas, puxei minha faca da
bainha e a segurei na minha frente enquanto o encarava. “Eu
vou te machucar.”
“Obviamente.” Ele gesticulou para o sangue que escorria
de seu nariz. “Você já o fez.” Gotas de água caíam de seu
cabelo curto e escuro e pingavam em uma camisa e jeans
outrora azul-celeste. O calor dos olhos cor de chocolate me
fizeram perder o foco, e minha mão desceu alguns
centímetros. Ele tinha um forte cheiro de um shifter, mas ele
estava em sua forma humana.
Ele não estava vestido de preto, mas ainda poderia ser
um deles, mexendo comigo. Eu não tinha ideia de quanto
tempo eu fiquei apagada, e ele poderia ter trocado de roupa e
pulado atrás de mim.
Eu ergui meu queixo e levantei a faca. “Quem é você?” Eu
não tinha ideia de como eu sairia daqui. Eu não tinha nem
forças para permanecer de pé, pelo amor de Deus.
“Eu sou Killian.” Ele moveu lentamente a mão em direção
ao nariz e apertou a ponte. “Killian Green. Eu vi você
flutuando em um galho de árvore e pensei que você poderia
estar em apuros.”
“Porque você pensaria isso?” Mantive meu corpo virado
para a frente enquanto procurava por outros possíveis
atacantes. Eles provavelmente estavam escondidos na
floresta, esperando o sinal.
“Você não ouviu o que eu disse?” Os cantos de sua boca
se inclinaram para cima. “Você estava desmaiada, flutuando
em um galho de árvore no meio do rio. É perigoso nadar agora
depois das fortes tempestades que caíram.”
“E você, coincidentemente, estava por aqui?” Eu tinha
certa dificuldade em acreditar nisso.
Ele apontou para uma árvore na beira da água.
“Pescando.”
A contragosto, meu olhar seguiu para onde ele havia
apontado. E com certeza o suficiente, uma vara estava
encostada em uma árvore com uma minhoca pendurada no
anzol. O pobre verme se mexia como se tivesse alguma chance
de sobreviver.
“Então você não está tentando me capturar?” As palavras
saíram de meus lábios antes que eu pudesse impedi-las.
Suas sobrancelhas franziram, ele soltou o nariz e limpou
o sangue. “Não, mas agora eu entendo porque você me deu
uma surra.” Ele riu.
“Você acha isso engraçado?” Ele tinha que ser algum tipo
de idiota doente para achar divertido o fato de eu quase ter
sido sequestrada.
Ele fez uma careta. “Não, me desculpe. É só que existe
apenas uma garota que já me deu uma surra como você fez.”
Ele inclinou a cabeça enquanto me examinava. “E
curiosamente, você me lembra ela.” Ele franziu a testa como
se estivesse se lembrando de alguém que não queria.
Isso estava ficando desconfortável e, para mim, ficar perto
da água não era muito inteligente. Eles estariam vasculhando
a área, procurando por mim. “Olha, eu tenho que ir. Não é
seguro para mim aqui.” Coloquei as duas mãos na minha
frente para suportar parte do peso do meu corpo enquanto me
levantava. Lentamente, me levantei, embora minhas pernas
quisessem ceder novamente. Dei um passo e caí.
Antes que eu pudesse tocar o chão, um braço forte me
envolveu pela cintura.
“Deixe-me ajudá-la.” Ele olhou ao redor da área. “Você
não vai conseguir ir longe nesta condição.”
Eu odiava o fato dele estar certo. “Certo.” Eu segurei
minha faca com força, pronta para usá-la a qualquer
momento.
Lentamente saímos da água e chegamos à linha das
árvores. Mas eu não me sentiria melhor até estar escondida.
Depois de alguns passos em terra, tropecei na floresta.
“Ei, onde você pensa que está indo?” Killian perguntou.
“Você não pode ir embora assim.”
E lá estava. Ele não estava me ajudando, afinal de contas.
Girei nos calcanhares e tentei não cair. Quase me afogar
havia me deixado exausta, mas eu tinha que me recompor e
chegar em segurança antes que pudesse desabar.
Meu braço tremeu quando levantei a faca em sua direção
novamente. “Então, você está trabalhando com eles?”
“Com quem?” Sua testa enrugou e ele ergueu a mão.
“Você mal consegue andar.”
“Não se preocupe.” Eu dei um passo lento em sua direção
e quase levantei meu punho em comemoração quando meus
joelhos não cederam. Quem se importava que era preciso toda
a concentração para conseguir isso? A confiança fazia
maravilhas. “Eu ainda posso chutar o seu traseiro.”
“Para ser justo, eu não lutei contra você,” disse ele
esfregando o nariz, enfatizando a parte torta que eu quebrei.
“Você mal consegue ficar em pé, e mesmo que você tenha me
pego desprevenido, eu não te machuquei.”
“Pare de tagarelar e vamos acabar logo com isso.” Eu não
queria ouvir sobre o quão patética eu estava. Se ele ia me
forçar a ir com ele, poderíamos evitar o papo furado.
“Olhe...” Ele caminhou lentamente em minha direção
como se eu fosse algum tipo de animal encurralado.
A adrenalina percorreu meu corpo, deixando meu corpo
um pouco mais resistente. Eu balancei meu braço, tentando
cortar seu peito.
Ele rosnou enquanto saltava para trás, a ponta afiada
quase o acertando. “Você precisa se acalmar.”
O ímpeto de ter errado o golpe desequilibrou meu corpo,
mas eu me segurei antes que pudesse cair. “Não vai rolar.”
Fiquei de pé, pronta para atacar novamente.
“Estou tentando te dizer...” Ele começou, mas eu pulei em
sua direção.
Ele girou para longe do meu ataque, e eu caí com força
sobre meus pés, machucando meu pescoço.
Antes que eu pudesse encará-lo novamente, uma mão
agarrou o pulso que segurava a faca e um braço serpenteou
em volta do meu pescoço. Ele empurrou seu peso sobre mim,
me forçando a me ajoelhar.
Ali estava. O que eu estava esperando. Minha respiração
ficou mais rápida enquanto me esforçava para ouvir algum
sinal dos outros.
“Acalme-se,” ordenou Killian. “Eu não vou te machucar.”
“Sério?” Eu cuspi. “Porque isso não está nada bom.” Eu
nunca havia me sentido tão fraca assim. Eu odiava essa
sensação e nunca mais queria experimentá-la.
“Você obviamente está com alguém te caçando, e você
quase se afogou.” Ele soltou um suspiro. “Eu estava tentando
ser compreensivo, mas você forçou a barra.”
“Onde estão os outros?” Eu levantei minha cabeça,
examinando a floresta.
“Não há outros,” disse ele, exasperado. “Eu continuo
tentando te dizer isso. Você está segura. Ninguém está aqui
para te pegar.”
Esperei que o cheiro sulfúrico de uma mentira me
atingisse, mas nada veio. “Então você veio aqui sozinho na
forma humana para pescar?”
“Sim.” Ele suspirou. “Era o lugar favorito da minha irmã.”
Era.
Ela deve estar morta.
O rosto do meu pai passou pela minha mente. Mãe. Zoe.
A dor tentou tomar conta de mim, mas eu não podia permitir.
Pelo menos, não ainda. Eu não estava segura. “Sinto muito
por quebrar seu nariz, mas preciso ir embora.”
“Eu entendi isso,” disse ele, mas seu aperto não afrouxou.
“Eles estarão vasculhando o rio e não demorarão muito
para chegarem aqui.” Na verdade, eu não tinha ideia de onde
estava. “Se você me soltar, eu irei embora sem lhe causar mais
problemas.”
Seu braço afrouxou ligeiramente. “Estamos bem agora?”
“Sim.” Larguei a faca, deixando-o saber que não tinha
mais a intenção de usá-la.
“Graças a Deus.” Ele me soltou e se levantou. “Quem
diabos está atrás você?”
Essa foi uma pergunta que eu mesma me fiz. “Não tenho
ideia.”
Peguei minha faca, deixando-o tenso.
“Eu pensei que você tivesse dito que nós estávamos numa
boa.” Seus olhos brilhavam fracamente, seu lobo espreitando.
Segurei seu olhar enquanto me abaixei e coloquei a faca
de volta na minha bainha. “Estamos, mas não vou deixar isso
para trás.” Coloquei a mão no tronco de uma árvore, deixando-
a segurar meu peso enquanto me levantava. Quando me senti
firme o suficiente sobre meus pés, caminhei mais para dentro
da floresta.
Quanto mais cedo eu saísse da área, mais rápido meu
cheiro se dissiparia, o que tornaria mais difícil de me
encontrar.
“Ei, espere,” Killian chamou enquanto o ouvi correr de
volta para o rio.
De jeito nenhum que eu iria esperar. Considerando o
quão lenta eu estava me movendo, ele seria capaz de me
alcançar rapidamente.
Não importava o quanto eu me esforçasse, minha
velocidade nunca aumentava. Aposto que uma maldita
tartaruga poderia ter me ultrapassado.
“Claro que ela não esperou por mim,” ele resmungou. “Ela
é muito teimosa, como Olive.” Ele caminhou em minha
direção.
Em questão de segundos, ele me alcançou, sua vara de
pesca pendurada no ombro. Ele mordeu o lábio inferior.
“Então, onde você está indo?”
“Eu não deveria te contar.” Se de alguma forma eles
descobrissem que ele tinha me encontrado, eles o torturariam
para obter informações. “Quanto menos você souber, mais
seguro você estará.”
“Ok, então, se você não sabe quem, você sabe por que eles
estão atrás de você?” Ele diminuiu o passo para caminhar ao
meu lado.
“Mais uma vez, é melhor se você não souber.” O que havia
com todas essas perguntas? “Então, onde exatamente eu
estou?”
“Você não sabe?” Ele franziu os lábios. “Quanto tempo
você ficou desacordada?”
Eu não conseguia manter o veneno fora de minhas
palavras. “Se eu soubesse disso, não estaria perguntando
onde estou, não é?” Eu fiz uma careta, imediatamente
arrependida por ter sido agressiva. Soltei um estalo com a
boca. “Olha, me desculpe.”
Um sorriso apareceu em seu rosto. “Pelo que exatamente?
Ter me socado no estômago, quebrado meu nariz, tentado me
esfaquear ou por ser rude?”
Ouch. “Para ser justa, pensei que você fosse um dos
atacantes. Então, neste caso, estou falando puramente por ter
sido agressiva.”
Ele riu. “Justo.”
“Seria minha punição reter informações?” Eu me sentia
confortável perto dele, o que era estranho. Normalmente,
quando eu estava perto de outros lobos shifters, eu ficava
nervosa e ansiosa, com medo de falhar e dar a eles uma dica
do que eu era.
“Talvez.” Ele balançou as sobrancelhas. “Mas falando
sério, você está em Shadow Ridge.”
Meus ombros relaxaram com alívio. Sem chance. Eu
realmente poderia ter tido essa sorte? É verdade que, depois
de um dia como hoje, eu merecia algum tipo de pausa. “A
cidade lobo shifter que faz fronteira com Shadow City?”
“A mesma.” Ele inclinou a cabeça. “Você parece aliviada.”
“Eu estou.” Achei que não havia sentido em não contar a
ele agora. Talvez ele possa me ajudar. “Fui instruída a vir para
Shadow City, então tudo que preciso fazer é chegar lá.”
“Você sabe que não pode entrar na cidade sem permissão,
certo?” Ele torceu a bainha da camisa como se tirar o excesso
de água fosse melhorar sua situação.
“Atticus Bodle vai me receber.” Deve ser por isso que
papai mencionou o nome do alfa. Ele seria minha passagem
de entrada.
“Uh.” Ele coçou a nuca. “Atticus não poderá ajudá-la.”
Meu estômago revirou. “Por quê?” Algo ruim deve ter
acontecido. Deve ter sido por isso que papai não ouviu falar
dele nos últimos dois anos. “Ele está em apuros?”
“Essa é uma maneira de se dizer.” Killian limpou a
garganta. “Ele morreu há quase dois anos.”
Este dia continuava ficando cada vez pior. “Não.” Esse era
todo o meu plano. Eu tinha apostado tudo em entrar na cidade
e ver Atticus. Eu nem havia considerado a possibilidade de
que as instruções do meu pai tivessem alguma falha. Ele
sempre sabia o que fazer, mas a partir de hoje, isso mudou
oficialmente. O pior é que eu não o tinha aqui para me
aconselhar. “Isso não é possível.”
“Eu garanto que sim.” Ele mordiscou o lábio inferior. “Os
residentes de Shadow City que compareceram ao seu funeral
viram seu corpo. Era um caixão aberto.”
“Você não compareceu?” Meu estômago apertou ainda
mais.
“Não.” Ele balançou sua cabeça. “Eu não tenho permissão
para entrar ainda. Eles estão lentamente abrindo a cidade.”
“Como ele morreu?” Eu perguntei, mesmo que a resposta
não ajudasse na minha situação.
Ele bufou. “Ataque cardíaco.”
Devo ter ouvido mal. Não havia como. “Ele não era
jovem?” Shifters viviam bem mais de cem anos, e papai fez
parecer que Atticus era apenas um par de anos mais velho.
Um ataque cardíaco era algo muito incomum.
“Foi isso que tornou tudo tão chocante.” Killian deu
alguns passos. “Mas ser o alfa em Shadow City é um trabalho
difícil. Pelo que me disseram, navegar na política do bando e
tentar representar todas as raças shifter de forma justa
enquanto trabalha com os membros do conselho é mais
estressante do que qualquer um pode imaginar. O estresse
extremo fez com que seu coração parasse.”
Eu parei no meio do caminho enquanto meu estômago se
revirava. Eu não tinha para onde ir. Nenhum plano para
executar.
Nada.
Meu coração disparou. Minha cabeça girou e minha
garganta se fechou.
“Ei!” Killian disse. “O que está acontecendo?”
Incapaz de responder, tentei me concentrar em encher
meus pulmões, mas era como se meu corpo tivesse congelado.
“Garota.” Ele resmungou para si mesmo: “Eu nem mesmo
sei o nome dela.”
Dobrei os joelhos, incapaz de ficar de pé por mais tempo.
Eu tinha que controlar esse ataque de pânico ou desmaiaria
de novo, mas não sabia como. Eu nunca me senti tão patética
antes.
“Isso vai me machucar mais do que a você,” disse ele.
Um tapa duro atingiu o lado do meu rosto. A dor
atravessou a névoa sufocante. Respirei fundo, enchendo meus
pulmões.
“Você está bem?” Ele se inclinou sobre mim enquanto
examinava meu rosto.
“Não, eu não estou.” A severidade da verdade explodiu
como uma bomba. Eu não deveria ter admitido, mas ele
saberia se eu tivesse mentido. “Atticus era minha única
esperança. Não tenho dinheiro nem roupas em meu nome.
Não sei o que fazer.” Aqui estava eu, abrindo meu coração para
um estranho, mas de alguma forma parecia certo.
“Bem, então acho que foi uma coisa muito boa eu ter te
encontrado.” Ele acariciou minha bochecha no lugar em que
ele havia me batido. Seus dedos eram ásperos e quentes.
Eu nunca tinha sido tocada assim por ninguém, exceto
por meus pais, mas as diferentes sensações que eu esperava
sentir não vieram. “O que você quer dizer?”
“Meu melhor amigo pode ser capaz de ajudá-la.” Ele
piscou para mim. “E eu tenho uma casa enorme só para mim.”
“Você tem uma casa?” Eu perguntei com descrença. Ele
não podia ser muito mais velho do que eu, mas isso não
significava nada. Como eu morava em uma comunidade tão
pequena e unida, onde gerações de famílias viviam juntas na
mesma casa, qualquer um que tivesse sua própria casa era
algo bem importante. As situações de vida provavelmente
eram bem diferentes fora do nosso mundinho escondido.
Seu rosto se contraiu. “Eu a herdei quando minha família
morreu, três anos atrás.”
Lágrimas queimaram meus olhos. “Sinto muito. Eu
também perdi minha família.” E se eu não começasse a me
mover, eu iria desmoronar. O coitado já tinha me visto ansiosa
e fraca depois de quase me afogar. Eu não precisava adicionar
o ‘emocionalmente quebrada’ a isso. Talvez eu pudesse adiar
meu colapso por mais uma hora.
Ele facilmente acompanhou meu ritmo quando a parte de
trás de um bairro apareceu por entre as árvores. As casas
pareciam ser o trabalho de um artesão, e uma delas tinha uma
grande piscina no quintal.
Ele franziu a testa. “Há quanto tempo?”
“Hoje mais cedo.” Minha voz doía de tristeza. “Os homens
que estão me perseguindo, eles mataram todo mundo. Meu
pai me disse para correr e encontrar Atticus. É por isso que
vim até aqui e o porquê de eu ter pensado que você queria me
pegar.”
“Bom, isso resolve tudo.” Ele sorriu, mas o sorriso não
alcançou seus olhos. “Você ficará comigo.”
“Eu não poderia.” Eu não queria ser um fardo. “Isso é
pedir demais.”
“Em primeiro lugar, você não pediu.” Ele levantou um
dedo, em seguida, acrescentou um segundo. “E segundo, você
não tem para onde ir. Você não está muito bem desde que
quase se afogou, e você não tem dinheiro. Sem falar que tem
pessoas te caçando.” Ele tocou meu braço. “E honestamente,
é solitário em casa, mas eu não consigo me mudar. Você
estaria me fazendo companhia.”
A palavra sim estava na ponta da minha língua, mas não
queria tirar vantagem dele. “Tem certeza?”
“Sim.” Ele acenou com a mão na minha frente. “Além
disso, você está encharcada. Você não será capaz de ir a lugar
nenhum sem levantar suspeitas.”
Ele estava certo. Eu não poderia ir a lugar algum sem ser
notada, não que eu tivesse dinheiro, de qualquer forma. “Tudo
bem, mas não quero que ninguém saiba sobre mim ou o que
aconteceu com minha família.” Se a notícia vazar, pode ajudar
quem quer que esteja me caçando a me localizar.
“Entendi. Você pode confiar em mim.” Ele me levou até o
quintal que tinha uma grande piscina com um trampolim e
toboágua. “Esta é a nossa parada.”
“Você mora perto.” O local de pesca dele na margem do
rio ficava apenas cerca de um quilômetro de sua casa.
Ele passou pela piscina e subiu algumas escadas de
tijolos que levavam a uma varanda coberta nos fundos.
Felizmente, o chão da varanda era de cimento, então eu não
estragaria nada pingando por toda parte.
“Deixe-me pegar uma toalha, e tenho certeza que as
roupas da minha irmã servirão em você.” Ele abriu a porta,
que estava destrancada.
“Sua irmã?” Eu me encolhi, ao pensar em usar as roupas
de sua irmã morta. “Tem certeza?”
“Sim. Quero dizer, elas devem fazer algum bem a
alguém.” Seus ombros caíram e ele sorriu tristemente. “Eu
volto já.” Ele deslizou para dentro, deixando-me sozinha.
Um arrepio percorreu minha espinha e me virei para a
floresta. Esfreguei meus braços e avaliei meus arredores. Eu
precisava sentir a área e planejar um plano de fuga caso eles
me encontrassem aqui. Eu não podia ficar e colocar vidas
inocentes em risco.
A casa ao lado parecia ter o mesmo layout que esta, mas
em vez da cor verde caçador da casa de Killian, era branco
puro. Um grande buraco para fogueira havia sido cavado nos
fundos com latas de cerveja espalhadas ao redor. Quem quer
que morasse lá parecia gostar de beber, ou talvez eles
recebessem pessoas frequentemente. Isso poderia ser uma
coisa boa, iria misturar meu cheiro com vários outros e
ajudaria a obscurecê-lo.
Os passos de Killian se aproximaram da porta e me virei
quando ela se abriu.
Ele havia trocado para uma camisa branca e calça jeans.
Depois de me entregar uma grande toalha de praia, ele indicou
uma cozinha impecável, passando pela ampla sala de estar
com uma foto dele e de sua família pendurada acima do sofá,
em direção a um corredor do outro lado da casa. “Se você for
para o segundo quarto à esquerda, encontrará o quarto de
Olive. Você pode vasculhar o armário dela e escolher algo para
se trocar. Quando terminar, saia e vamos comer alguma
coisa.”
“Obrigado.” Mesmo que eu quisesse discutir, não poderia.
Ele estava sendo generoso e me ajudando. Enxuguei-me o
melhor que pude e me apressei para o quarto.
Lá dentro, fechei a porta e encostei minha cabeça nela.
Eu esperava que a dor me atingisse novamente, mas ao invés
disso, a dormência me preencheu.
Bom. Primeiro passo, me secar. Tirei minhas roupas e
caminhei em direção à cama de dossel queen-size branca com
um edredom ameixa, notando as mesinhas brancas
combinando e a cômoda. As paredes eram de lavanda, quase
da cor do roxo dos meus olhos. O tapete creme felpudo parecia
incrível sob meus pés enquanto eu caminhava em direção ao
armário ao lado da cama.
Enquanto eu inspecionava o quarto, uma foto na mesa de
cabeceira chamou minha atenção. Era de um Killian mais
jovem e uma garota que devia ser sua irmã, pescando juntos,
na margem do rio. Eles quase poderiam se passar por gêmeos.
Killian tinha o braço envolvido nos ombros dela.
O fato dele ter perdido a própria família e agora ter me
encontrado tinha que ser algo do destino. Nós dois podíamos
entender a dor da perda.
Optando por não usar uma calcinha dela, vesti uma
camisa preta grossa e uma calça de moletom cinza. Meu
estômago roncou, e eu peguei minhas roupas molhadas e a
toalha e voltei para a cozinha.
Killian não estava à vista, então coloquei minhas roupas
na mesa circular de vidro da cozinha e usei a toalha para secar
a água que tinha pingado no piso de madeira. Eu tinha me
agachado para terminar de limpar o chão quando o ouvi do
lado de fora na varanda dos fundos.
“Ei, cara,” ele sussurrou. “Sim, eu não vou conseguir ir
hoje à noite. Aconteceu algo.”
Ótimo, eu já estava interferindo na vida social dele. Eu
teria me sentido mal, mas ele insistiu em que eu ficasse.
Depois de um momento, ele falou novamente. “Sim, tem
uma garota sobre a qual eu quero te contar.”
Não. Ele havia prometido que não contaria a ninguém.
Era hora de dar o fora daqui. Se ele já estivesse contando
às pessoas sobre mim, esses homens me encontrariam
facilmente. Deixando a toalha no chão, juntei minhas roupas
molhadas e fui em direção à porta da frente, meus pés batendo
na madeira. Então parei abruptamente.
Droga. Eu não estava usando sapatos.
Devo sair sem pegar meus tênis encharcados ou
aproveitar o tempo extra e pegá-los?
Quanto mais tempo eu passasse contemplando minhas
opções, mais provável era que ele me pegasse antes que eu
fosse embora. Eu precisava me decidir logo.
Estar descalça chamaria mais atenção, então reservar
um tempo para ir pegá-los era a melhor opção.
Correndo desesperadamente de volta para o quarto da
irmã de Killian, tentei me concentrar em uma tarefa de cada
vez. Papai sempre dizia: Se você der muitos passos à frente,
cometerá erros nos mais urgentes. Eu quase podia ouvir sua
voz.
Quase.
E meu coração de alguma forma se partiu um pouco
mais.
Concentre-se, Sterlyn, eu me repreendi enquanto colocava
os sapatos. A água escorreu ao redor dos meus dedos dos pés,
me fazendo parar.
A porta dos fundos se abriu e Killian entrou.
Lá se foi meu plano de fugir. No entanto, isso não mudou
minha necessidade de sair. Eu já estava desconfiada de ficar
aqui, e saber que não podia confiar nele tornou a decisão de
ir muito mais fácil. Eu odiava que meus instintos estivessem
errados, mas lidaria com isso mais tarde.
Evolua e aprenda com seus erros.
Seus passos ecoaram em direção ao quarto. “Você ainda
não se trocou?” Killian riu. “Achei que você estaria aqui,
andando de um lado para o outro.”
O pavor se acumulou em meu estômago. Tive muitos
confrontos hoje, mas posso acrescentar mais um. Adiar isso
só pioraria as coisas.
Segurei as roupas com mais força contra mim, e mais
líquido foi absorvido pela camisa escura que eu havia vestido.
Parece que não adiantou de nada eu me trocar, afinal de
contas.
“Uh...” Ele fez uma pausa. “Dove1?”
Dove? Talvez ele não tivesse falado comigo todo esse
tempo. Tinha mais alguém aqui? Eu farejei, mas tudo que eu
senti foi o cheiro dele.
Ele bateu. “As roupas de Olive não estão servindo?”
“Sim, elas estão boas.” Afastei minha covardia e abri a
porta.
Suas sobrancelhas se ergueram e ele sorriu. “O objetivo
de trocar a roupa era ficar seca.” Ele apontou para as roupas
molhadas contra o meu peito.

1 Dove em português significa pomba. Então basicamente o apelido que ele deu a ela é Pomba ou
Pombinha, para soar de um jeito mais carinhoso.
“E o objetivo de pedir para você não contar a ninguém
sobre mim era para você não ligar para alguém na primeira
oportunidade e contar meus segredos.” Minha voz aumentou
enquanto minha raiva escorria. Passei por ele, marchando em
direção à porta da frente.
“Ei, espere,” disse ele enquanto me seguia e gentilmente
agarrou meu braço. “Não é o que você pensa.”
“Aah, então todo o ‘há uma garota sobre a qual eu quero
te contar' não era realmente sobre mim?” Eu ergui meu
queixo, desafiando-o a negar.
“Dê-me uma chance de explicar.” Ele levantou a mão e
me deu olhos de cachorrinho.
E a parte mais insana foi que funcionou. Minha
determinação desmoronou. “Você tem um minuto.”
“Você se lembra de quando você falou sobre como você
não se sentia bem em ficar aqui?” Ele foi direto ao ponto.
“Sim.” Isso devia ser algum tipo de armadilha, e eu estava
caindo direto nela.
Seus olhos escuros ficaram cor de chocolate ao leite. “E,
se você ficar aqui também me ajudar?”
“Como assim?” Eu odiava admitir que estava intrigada.
Ele esfregou as mãos. “Namore comigo.”
Eu recuei. “O quê?” Eu devo ter ouvido errado.
“Namore.” Ele tocou o peito. “Comigo.”
“Você parece ótimo.” Ele havia perdido a cabeça. Talvez
quando eu o soquei, eu tenha causado uma lesão cerebral.
“Mas minha família e todo o bando foram massacrados esta
manhã, e estou meio que correndo para salvar minha vida.
Namorar não está no topo da lista de prioridades.” Aproximei-
me da porta. Eu não queria assustá-lo. Eu ouvi que
movimentos rápidos podiam agravar a insanidade.
“Não haverá compromissos, apenas exclusividade.” Ele
acenou entre nós. “Você precisa de um lugar para morar e eu
preciso que a pressão de namorar alguém vá embora. É uma
situação em que todos saem ganhando.”
“Você não quer namorar ninguém, mas me pediu para
namorar com você?” Minha cabeça girava, e eu tinha certeza
que não era por quase ter me afogado.
“Eu posso entender o porquê de você estar se
aproximando da porta.” Ele balançou a cabeça. “Mas não é tão
insano quanto parece. Como eu disse, nós namoraríamos e
seríamos exclusivos, mas seríamos amigos sem a pressão
romântica. Tem essa garota de olho no meu melhor amigo, e
ela está me empurrando a melhor amiga dela. Eu não estou
interessado, mas não consigo que Luna me deixe em paz.”
Uau, tanta informação de uma só vez, mas eu não tinha
outro lugar para ir. “Então, você quer namorar comigo de
verdade, mas somos apenas amigos. Nada seria realmente
esperado de mim, de qualquer forma - fisicamente ou não.”
“Exatamente.” Ele soltou um suspiro. “Quero dizer, você
é linda, é forte e direta, o que me lembra Olive, minha irmã. É
bom estar perto de você. Não parece que ela se foi.”
Um pouco do desconforto saiu do meu peito e,
surpreendentemente, suas palavras não feriram meus
sentimentos. Ele era bonito, mas eu também não gostava dele
desse jeito. “Se eu concordar, o que isso tem a ver com a
conversa com quem quer que seja de antes?” Se ele pensava
que sua estranha proposta iria me distrair disso, não iria.
“Bem, é aqui que fica esquisito.” Ele puxou a orelha. “Eu
contei ao Griffin, que é meu melhor amigo, sobre você, no
sentido de que eu disse que não poderia sair com aquela
garota esta noite porque eu estava com você.”
“Você assumiu que eu diria sim?” Minhas emoções
estavam saltando por todo o lugar; eu não conseguia me
concentrar só em uma. Fiquei igualmente horrorizada, irritada
e lisonjeada. Era um conflito de sentimentos.
“Na verdade, meio que escapou, e espero que você diga
sim, ou estou meio que ferrado.” Ele gesticulou para a casa.
“Mas este lugar é grande o suficiente para nós dois. Você pode
ficar no quarto de Olive. Faça-o seu, e eu ficarei no meu.”
“Isso é um tanto quanto louco.” E o engraçado é que eu
estava minimizando isso ao chamar de louco. “Não tenho nada
em meu nome.”
“O que torna este plano ainda melhor.” Ele pegou as
minhas roupas da minha mão. “Sou o alfa de Shadow Ridge e
tenho conexões. Posso ajudá-la a conseguir uma identidade
falsa e conseguir um emprego na cafeteria da Universidade de
Shadow Ridge. Você teria uma identidade secreta com
dinheiro e um lugar para viver.”
Ele era tão jovem para ter tal papel de liderança, mas às
vezes o destino nos forçava a isso. Sua ajuda parecia um
pouco boa demais para ser verdade. “Se você é alfa, isso
significa que outros estarão por perto. Eu estou tentando me
misturar.” A menos que, talvez, sua alcateia por perto
ajudasse com isso. “Além disso, por que você não diz àquela
garota que você não está interessado? Seria muito mais fácil
do que fazer todas essas outras coisas.”
“Não se preocupe com o bando. Honestamente, eu meio
que fico fora do caminho deles. Mesmo que eu seja
tecnicamente o alfa, estou fazendo um hiato e o beta do meu
pai está preenchendo esse lugar no momento. Eles estão me
dando espaço para ir para a faculdade e lamentar por minha
família, então você estará mais fora do radar aqui do que em
qualquer outro lugar. A tristeza invadiu sua voz. “Em relação
à garota, eu tentei.” Ele soltou um suspiro. “O problema nem
é ela, é a melhor amiga dela que continua insistindo para que
saiamos juntos. A melhor amiga é próxima de Griffin porque
o pai dela trabalha com ele. Griffin não vê que ela está
tentando força-lo a se estabilizar. Então, ter uma namorada,
vai facilitar as coisas e vai haver bem menos drama, do que
continuar recusando constantemente.”
Ele não tinha ideia de como as garotas funcionavam. Isso
causaria ainda mais drama. Garotas assim não recuavam sem
lutar. Mas uma identidade falsa seria uma coisa incrível de se
ter, e talvez a vida bagunçada dele pudesse me distrair da
minha. “E eu ficaria com a identidade falsa?” Com isso, eu
poderia conseguir uma passagem de avião ou qualquer outra
coisa que precisasse quando fosse necessário verificar minha
identidade.
“Sim,” disse ele e sorriu como se soubesse que tinha
ganhado. “Eu sei que estamos sendo discretos, então nem me
preocupei em perguntar seu nome. Mas há algum nome que
você queira na identidade?”
“Uh...” Eu mordi meu lábio. Eu tinha tanto em mente;
não tinha mais capacidade mental nenhuma para acrescentar
mais coisas. “Surpreenda-me?” Eu sussurrei.
“Posso fazer isso.” Ele coçou o pescoço. “Alguma outra
informação que eu deva saber?”
“Não.” Percebi que ele estava curioso, mas eu disse a ele
o suficiente por um dia. “Por enquanto já estou saturada das
coisas.”
“Então, deixe-me tornar isso oficial.” Ele se ajoelhou e
ergueu a mão. “Você poderia, por favor, ter a honra de ser
minha namorada?”
De alguma forma, ele não parecia completamente
ridículo. “Sim, aceito, mas por que eu? Você é atraente. Tenho
certeza que você poderia encontrar alguém para namorar sem
me subornar.”
“Eu serei sincero. Como eu disse, também perdi toda a
minha família. Eu sei como é, e talvez, ajudando você, eu
encontre um pouco de paz. Porque ainda não consigo me olhar
no espelho.” Seus olhos brilharam, e ele se virou para a sala
de estar, fungando.
Eu estava em busca de uma absolvição. Se eu não
estivesse inclinada a dizer sim a essa altura, isso teria me feito
mudar de ideia.
Ele fingiu coçar o nariz enquanto enxugava o olho antes
de me encarar novamente. “Nosso grupo é bastante estável.
Não há muitos rostos novos, então eu ter uma namorada será
mais convincente com uma novata na cidade. Especialmente
porque eu meio que já dormi com quase todo mundo aqui.”
Claro que ele tinha. “Uau. É bom que o sexo esteja fora
de cogitação.” Eu queria o fazer sorrir de novo. “Nem sei que
tipos de DSTs eu poderia ter contraído, caso contrário.”
“Ha. Ha.” Ele franziu o cenho. “Nós não podemos pegar
DSTs.”
“Então, você já tentou?” Eu brinquei em resposta,
sentindo-me estranhamente à vontade.
“Eu acredito em tentar qualquer coisa que seja divertida.”
Ele piscou enquanto se dirigia de volta para a cozinha. “Agora,
vá se trocar de novo. Preciso tirar uma foto sua para enviar ao
meu amigo para sua nova identidade, e então vou preparar
uns sanduíches. Precisamos te alimentar.”

Um alarme soou, despertando-me do sono. Minhas


pálpebras estavam tão pesadas que quase tive que abri-las
com os dedos. Eu dormi bastante, mas não bem, a noite
inteira.
Os sonhos me assombraram.
Perdi a conta do número de vezes que matei o cara atrás
da minha casa. A cada vez, a dor parecia fresca. Sendo uma
protetora, eu cresci sabendo que a chance de matar alguém
estava sempre presente. Mas fazê-lo foi diferente do que eu
esperava.
Quando eu não estava sonhando em matar, as imagens
do meu bando massacrado estavam lá.
Tanto sangue.
Tanto ódio.
Todos que eu amava se foram. Quase como se nunca
tivessem existido.
E a parte mais assustadora era que alguém estava me
caçando, e a única pista que eu tinha do porquê disso, era
quando Cavanhaque mencionou sobre procriar comigo. A
ideia de ser forçada a dar à luz, a mais lobos prateados, me
petrificou.
A memória do meu pai sangrando enquanto me mandava
fugir, encerrava cada ciclo. Todas às vezes, esse foi o golpe
final. A última gota que me fazia desmoronar.
Sem eles, eu não sabia mais quem eu era.
Uma loba solitária sem ter para onde ir. O lugar em que
havia conexões com meu bando, agora estava frio.
Completamente frio. O tipo de frio onde não se haviam
sobreviventes. Se eu não me conectasse novamente logo, a
insanidade começaria a se instalar e, pelo que ouvi, poderia
levar apenas algumas semanas até que a loucura tomasse
conta. Eu tinha que encontrar um bando rápido, mas isso
significaria deixar alguém saber sobre o meu segredo.
Isso não era possível. Pelo menos não agora.
A realidade foi a perfuração final, no meu coração já
instável.
Eu não tinha tempo para isso. A vida seguia em frente. O
mundo ainda girava. E meu coração ainda batia, mesmo
quando parecia que não deveria.
De alguma forma, encontrando força em meu interior,
estendi a mão e desliguei o alarme. Mesmo que meus olhos
continuassem pesados, eu me forcei a sair da cama
confortável. Eu não estava pronta para enfrentar aqueles
sonhos novamente.
Arrumei a cama, tentando afastar os pensamentos
negativos. Fazer uma tarefa rotineira era reconfortante. Alisei
a colcha antes de me virar para o armário, tentando decidir o
que vestir para uma entrevista em uma cafeteria.
Surpreendentemente, a noite passada não foi horrível.
Killian sabia o que fazer para me ajudar a processar as coisas.
Ele não perguntou sobre minha família ou matilha, mas ao
invés disso me contou histórias sobre a sua própria, incluindo
suas trágicas mortes.
Com os olhos cheios de lágrimas, ele recapitulou todo o
pesadelo. Ele deveria ter ido com seus pais, irmã e alguns
outros shifters para um lago próximo para investigar alguns
acontecimentos estranhos que haviam ocorrido lá, mas era no
mesmo horário de algum tipo de festa de último ano do ensino
médio. Ele desistiu no último minuto para poder ir à festa, e
todos os que foram, foram atacados e mortos. Assim que seu
bando ouviu através de suas conexões que eles estavam em
perigo, as pessoas correram para ajudá-los. Mas eles estavam
longe o suficiente para que ninguém os alcançasse a tempo.
Não houve sobreviventes.
Era similar à minha própria história.
Ele culpou a si mesmo. Se ele tivesse ido com eles, talvez
as coisas tivessem sido diferentes. Por causa desse fracasso,
ele não estava mentalmente pronto para liderar o bando de
Shadow Ridge como seu pai, Orion. Ele só participava de
reuniões e tomava decisões quando absolutamente
necessário, e confiava em seu beta, Billy, para cuidar dos
assuntos do dia-a-dia da matilha. Ele se manteve um tanto
isolado do bando porque sentiu que já havia falhado com eles.
Parte de mim queria confortá-lo, mas como eu poderia
quando me sentia da mesma forma? Além do mais, eu
entendia exatamente de onde ele estava vindo.
Quando eu fiquei quieta, ele fez pipoca e colocou uma
comédia apresentando a pura angústia de um
relacionamento. Sem matança, sem gatilhos familiares, nada
além de uma menina e um menino procurando o próprio
caminho para se encontrarem.
Franzindo os lábios, eu vasculhei o armário. A irmã dele
tinha gostos drasticamente diferentes dos meus. Havia vários
vestidos, saias e tops esvoaçantes em vez dos jeans e camisas
que eu sempre usava. Todos os outros itens eram camisas
velhas e gastas que pareciam ter sido usadas para arrumar a
casa.
Um café universitário deveria ser algo bem casual, mas
eu não queria usar roupas largas. Eca. Eu ia ter que engolir
isso e usar algo que eu não queria. A melhor opção que
encontrei foi um vestido damasco com babados. As mangas
eram três quartos de comprimento, o que era adequado para
a primavera, e a bainha parava alguns centímetros acima dos
meus joelhos. Combinei o vestido com sapatilhas pretas que
eram um pouco grandes demais para os meus pés.
Quando eu recebesse meu primeiro salário, iria comprar
roupas.
Tentando não pensar no meu infortúnio, me olhei no
espelho. O fato dele não ter quebrado me surpreendeu. Meu
cabelo estava um enorme ninho de rato. Meus olhos estavam
vermelhos e com olheiras.
O cabelo era culpa minha. Tomei banho e caí na cama
sem o secar. Agora eu teria que me esforçar para ficar um
pouco apresentável.

Alguns minutos depois, Killian bateu na minha porta.


“Dove?”
Essa foi a segunda vez que ele me chamou assim. Que
merda é essa?
Dei uma última olhada no espelho, aliviada por parecer
quase normal depois de desfazer os nós dos meus cabelos.
Respirando fundo, abri a porta e encontrei Killian encostado
na parede à minha frente.
“Por que você continua me chamando de Dove?”
“Você nunca me disse seu nome, então eu improvisei.”
Ele apontou para o meu cabelo. “E seu cabelo é cinza, me
lembrando penas de pombo. Aposto que é difícil manter essa
cor.”
Meu nome estava na ponta da minha língua, mas não
deixei sair. E o fato dele pensar que meu cabelo estava tingido
facilitava as coisas para mim. Eu nunca tive um apelido antes,
e era mais seguro para nós dois se ele não soubesse meu
verdadeiro nome. “Faz sentido.”
“Você gosta?” Ele sorriu. “É único, como você. Você já se
tornou Dove na minha cabeça, então mesmo se você me
dissesse seu nome verdadeiro, ainda ficaria com ele.”
No meu bando, todos me tratavam como sua líder,
embora eu ainda não tivesse assumido essa posição. A única
que me tratou como uma pessoa normal era Zoe, mas ela
nunca chegou a me dar um apelido carinhoso.
A imagem da minha melhor amiga sem vida tomou minha
mente, seu lindo cabelo cor de café desgrenhado e o sangue
escorrendo de sua boca. O que eu teria feito para ser capaz de
salvá-la. Para ouvi-la me encher de broncas mais uma vez.
“Ei,” Killian murmurou. “Você está comigo?”
“Uh... sim.” Essa foi uma pergunta tão estranha. “Estou
bem na sua frente.”
“Eu quis dizer mentalmente.” Ele deu um tapa no meu
nariz. “Você parecia distante.”
Isso não era bom. Eu precisava pelo menos dar a ilusão
de que estava presente. Por não estar em alerta, eu já estava
falhando em ser uma boa protetora. “Sim, já estou pronta.”
“Então sua carruagem a espera.” Ele virou as mãos na
direção da cozinha. “A garagem é por aqui.”
Na garagem, encontrei uma caminhonete preta que
parecia nova. Em segundos, estávamos dentro dela, partindo
em direção à Universidade de Shadow Ridge.
Killian olhou em minha direção e percebi que minha
perna estava sacodindo inquietantemente contra o couro
preto. Forcei-me a parar e examinei o interior da caminhonete.
Este era um modelo mais novo que tinha todos os recursos
possíveis. Em um dia frio, o aquecedor do assento pareceria o
paraíso.
Enquanto dirigíamos pelo pitoresco centro da cidade,
examinei os prédios. A estrada tinha duas faixas e estava
cercada por parquímetros do lado de fora de lojas de tijolos
que se estendiam por alguns quilômetros. Havia restaurantes,
bancos e um cinema. Tudo o que você esperaria encontrar em
uma cidade.
Quando paramos em um sinal vermelho, a porta de um
restaurante de café da manhã se abriu, e um cara todo vestido
de preto com um cavanhaque ruivo saiu.
Meu coração congelou quando ele fixou os olhos em mim.
O carro começou a se fechar ao meu redor e meus
pulmões pararam de funcionar. A manhã assumiu uma
qualidade surreal. Se os atacantes tivessem encontrado meu
rastro, eu esperaria que eles me rastreassem direto para a
casa de Killian, não que fossem tomar café da manhã em uma
lanchonete no meio da cidade.
Qual era o objetivo deles afinal? Talvez eles precisassem
se reabastecer antes de vir atrás de mim novamente.
Minha força estava voltando agora que a lua nova tinha
passado, mas isso não era nem um pouco reconfortante. Eles
deveriam ter atacado com tudo e rápido enquanto eu ainda
estava fraca.
Killian falou, mas não consegui entender suas palavras.
Minha atenção estava totalmente focada no homem que eu
tinha certeza que era o Cavanhaque. Nossos olhares ainda
estavam presos, e o cabelo na parte de trás do meu pescoço se
arrepiou. Poderíamos resolver isso no meio da praça da
cidade?
Minhas mãos se apertaram quando a porta da lanchonete
se abriu e três homens se juntaram a Cavanhaque no meio-
fio.
“Precisamos ir.” Eu disse com os dentes cerrados
enquanto Cavanhaque desviava o olhar e se concentrava em
seus amigos.
Esse era o momento em que ele avisaria seus
companheiros e atacariam. Eu não trouxe minha faca por
causa desse vestido estúpido, e acabo de me arrepender. Eu
não tinha nenhuma arma contra esses idiotas, o que provou
que meu treinamento estava correto. Aprendíamos a ter
sempre algo à mão.
“Vai!” Eu gritei. Ainda estávamos parados no sinal
vermelho como dois idiotas.
“Não posso.” Killian gesticulou para as pessoas que
passavam pela faixa de pedestres à nossa frente. “Ou eu vou
atropelar alguém.”
Claro que ficaríamos presos em um sinal vermelho. Era
como se o universo estivesse me empurrando direto pra esses
idiotas, e eu não sabia o porquê. Eu já tinha perdido tudo. Já
não era o suficiente?
Tudo que eu podia fazer era sentar aqui e esperar.
Esperar pelos gestos e gritos.
Esperar que eles me arrancassem do carro.
Esperar que eles terminassem o trabalho e, com sorte, me
matassem logo também.
Prefiro morrer a ser forçada a um relacionamento cujo
único propósito era o de produzir filhos. Eu conseguiria amar
crianças que vieram de uma união forçada? Eu estava com
medo de que a resposta fosse sim, o que significaria que vê-
los crescer e se tornar pessoas horríveis seria a tortura final
que meus pretensos sequestradores poderiam me submeter.
“Dove?” Killian se inclinou para olhar para os quatro
caras, que se viraram e se afastaram casualmente.
Minha respiração falhou. Eles estavam indo embora. Eu
balancei minha cabeça e inspirei o ar que eu precisava tão
desesperadamente.
A névoa começou a se dissipar enquanto eu piscava. Se
fossem meus atacantes, não teriam simplesmente ido embora
assim. As pessoas que me perseguiam estavam determinadas
a me pegar. Eles teriam atacado imediatamente.
Eu estava sendo paranoica. Certamente havia mais de
uma pessoa ruiva no mundo que usava um cavanhaque.
Enquanto meu corpo relaxava, a caminhonete seguiu
adiante.
Killian tocou meu braço suavemente, mas sua voz
continha uma ponta de preocupação. “Aqueles caras fizeram
alguma coisa com você?”
“Não.” Se ele já não pensava que eu tinha enlouquecido
até agora, certamente pensaria depois dessa. “Mas aquele cara
que tinha saído primeiro me lembrou de um dos atacantes. Eu
pensei...” Minha voz falhou, e eu fiquei ali com minha boca
aberta.
“'Ei, você vai ver os rostos deles e provavelmente os rostos
de seus companheiros esporadicamente.” A dor envolvia suas
palavras. “Acredite em mim. É parte do processo de negação,
ou talvez o trauma de tudo isso. E não fui nem eu quem
encontrou minha família morta. Você vai ter um sofrimento
muito pior que o meu.”
“Então isso era algo normal?” Eu fiz uma careta. Eu não
queria que isso se tornasse normal para mim, a sobrevivente
de um trauma. Mas ninguém jamais escolheria esse caminho.
Papai costumava dizer que nossas provações nos
tornavam mais fortes. Sempre acreditei nele, até agora. Como
meu bando ser dizimado tornou qualquer um de nós mais
forte?
Eles estavam mortos.
Não havia justificativa para o que aconteceu, além da
brutalidade. Algo que fez meu sangue ferver mais do que a luz
do luar jamais havia feito.
“Sim, é normal.” Ele colocou as duas mãos de volta no
volante. “E é uma merda. É uma das razões pelas quais Griffin
tenta não voltar para Shadow City. Há tantas memórias de seu
pai lá e todos os planos que eles fizeram juntos para as
matilhas.”
“Griffin?” Espera, esse era o cara com quem ele estava
conversando ontem à noite. “Seu melhor amigo.”
“O mesmo.” Killian riu. “Seu pai morreu pouco tempo
depois da morte de meus pais, deixando-o com muitas
responsabilidades, assim como eu. Apesar de nos
conhecermos há apenas alguns anos atrás, quando Shadow
City abriu novamente, nossas perdas rapidamente nos
uniram.”
“Então por que você se sente responsável por me ajudar?”
“Eu não me sinto responsável.” Ele inclinou a cabeça em
minha direção. “Eu quero ajudar você. Há uma enorme
diferença. Além disso,” Ele se recostou no banco e colocou o
pulso sobre o volante. “Você está me ajudando em troca, então
é benéfico para ambos.” Ele mexeu as sobrancelhas.
Eu ri. Tão estranho. Dez segundos atrás, eu estava à
beira de um colapso, e agora ele estava me fazendo sorrir.
Talvez eu fosse louca. “Nada de mexer as sobrancelhas para
mim. Este é um namoro completamente platônico que, por
acaso, é exclusivo.”
Ele bufou e revirou os olhos. “Você não é nada
engraçada.”
“Não, eu não sou.” E assim, a tristeza tomou conta do
meu peito novamente. “Eu perdi muita coisa para ser
engraçada.” Acrescente o fato de que meu pai estava me
preparando desde o nascimento para ser a alfa perfeita. Ele
repetia que, se eu fosse menino, seria muito mais fácil. Os
tempos estavam mudando, com mais mulheres liderando
matilhas, mas, não rápido o suficiente. Para não ser desafiada,
tive que ser ainda mais forte e equilibrada.
Por causa disso, ninguém jamais se aproximou de mim
para ter um encontro. Todos da minha idade ou achavam que
eu era perfeita demais ou ficavam intimidados. Zoe tinha sido
minha única e verdadeira amiga, capaz de ver além da maioria
das fachadas. Embora nem todas.
“Ei, vai ficar tudo bem.” Sua mão apertou o volante,
fazendo com que os nós dos dedos dele ficassem brancos.
“Tem que ficar.”
O silêncio caiu entre nós, nos deixando perdidos em
nossos próprios pensamentos. Aqueles que eu não queria ter,
mas não tinha forças para afastar. Arian e Cassie Knight
foram pais incríveis, mesmo quando eram duros comigo.
Mamãe tinha um jeito de tornar as coisas melhores sempre
que eu ficava sobrecarregada com as expectativas ou com o
treinamento. E papai fez eu me sentir mais forte e me ensinou
a acreditar em mim mesma. Por causa deles, não fui
capturada e encontrei forças para fugir mesmo quando o
inimigo estava muito perto de me capturar.
Ao virarmos em direção à floresta e ao rio, vários grandes
edifícios de tijolos, a cerca de um quilômetro de distância,
surgiram à vista. Eles pareciam bem novos.
“Essa é a universidade.” Killian respondeu à minha
pergunta silenciosa.
Era pitoresca, com área o suficiente onde minha loba
correria alegremente por vários quilômetros. O gramado da
frente quase parecia artificial com a grama verde saudável.
“Este lugar é lindo.”
Ele sorriu. “Realmente é. Todos os prédios foram
construídos ao mesmo tempo, então o campus tem uma
sensação coesa e memorável.”
“Os humanos também frequentam aqui?” Pelo pouco que
ouvi sobre isso, presumi que Shadow City era habitada apenas
por sobrenaturais, mas não tinha certeza sobre as cidades
vizinhas.
“Não.” Ele balançou a cabeça. “É somente para os
sobrenaturais, mas para manter as aparências, permitimos
que os humanos se inscrevam. Temos um processo de triagem
completo para eliminá-los de serem realmente aceitos.
Queremos que esta seja uma faculdade onde os sobrenaturais
recebam o tipo de educação da qual precisarão para seus
futuros, seja liderando, lutando, curando e assim por diante.”
“Então também não há humanos em Shadow Ridge?”
Estar perto apenas de seres sobrenaturais me perturbava.
Todas as minhas experiências visitando a pequena cidade
perto do lar do meu bando, envolveram uma presença
humana, e quaisquer outros sobrenaturais que pudessem
viver ou visitar a cidade, sempre tinham que ser cuidadosos
para não fazer certas perguntas. Aqui, seria mais difícil de
manter minha herança escondida. Eu não podia correr o risco
de correr na forma animal porque, se alguém tivesse pelo
menos uma vaga lembrança dos lobos prateados, eles me
reconheceriam facilmente. Ficar na forma humana seria uma
droga porque eu já estava acostumada a me transformar
diariamente. Fazia parte do nosso regime de treinamento,
lutar tanto na forma de lobo quanto na forma humana. Mas
eu ia conseguir.
Eu precisava.
“Nenhum humano vive aqui, mas os turistas vêm à
cidade.” Ele franziu os lábios. “É bom para as empresas, já
que eles gastam bastante dinheiro, e tê-los por perto, nos
ajuda a lembrar de nosso lado humano.”
A escolha de palavras dele parecia estranha, mas deixei
passar. Os prédios estavam se aproximando e eu podia ver
agora que um portão de ferro forjado circundava o campus.
Ao nos aproximarmos da cerca de ferro forjado que servia
como entrada principal, pude ver o emblema de uma cidade
gravado nela com as palavras Universidade de Shadow Ridge
embaixo.
“Isso é um desenho de Shadow City?” O emblema tinha
edifícios modernos com a impressão de uma pata e um
símbolo anexado no topo.
“Sim, é.”
“Então você já esteve lá?” Se ele tinha um jeito de entrar
na cidade, talvez eu pudesse descobrir outra pessoa para
contatar. Eu poderia descobrir quem substituiu Atticus.
“Ah, não. Há um grande muro e uma cúpula que mantém
a cidade fora de vista. Para entrar, você precisa da permissão
de um dos membros do conselho. Eles estão deixando os
moradores saírem livremente agora, mas ainda é difícil de
entrar se você não mora lá.” Ele diminuiu a velocidade da
caminhonete quando nos aproximamos de uma guarita
situada entre as pistas de entrada e saída. “Mas me disseram
que essa é a vista da cidade.”
Os portões da universidade estavam fechados e Killian
abaixou a janela ao parar.
O guarda deu um passo em nossa direção enquanto
Killian pegava um cartão-chave e o passava no leitor. O portão
fez um clique e se abriu lentamente.
“O tráfego não fica congestionado se todos tiverem que
parar para fazer o scanner?” Olhei por cima do ombro e não
encontrei ninguém atrás de nós.
A que horas as aulas começam? Já eram quase nove da
manhã. Eu imaginei que este lugar estaria muito mais
movimentado.
“Metade dos alunos fica nos dormitórios daqui.” Ele
acelerou e fechou o vidro. “Os outros duzentos ou mais, como
eu, vivem fora do campus em Shadow Ridge, Shadow Terrace
ou na própria Shadow City.”
“Shadow Terrace?” Nunca tinha ouvido falar dessa
cidade.
“Sim, essa é a cidade que fica do outro lado do rio. A
princípio não tínhamos uma população grande o suficiente
para proteger os dois lados, então os vampiros assumiram o
controle.” Ele deu de ombros. “Os lobos protegem nosso lado
de Shadow City, já que todos os membros do conselho shifter
são lobos. Os vampiros precisam de sangue humano, e
proteger o outro lado ajuda a mantê-los sob o radar e a
canalizar sangue para os residentes.”
“Espere...” O pensamento revirou meu estômago. “Você
está dizendo que todos vocês permitem que os vampiros
matem humanos?”
“Não.” Ele balançou sua cabeça. “De jeito nenhum. Eles
enfeitiçam e obrigam os humanos visitantes a doar sangue sob
a fachada de um banco de sangue local. Eles não são
autorizados a se alimentar diretamente de humanos, pois isso
os faz eventualmente perder sua humanidade e pode atrair o
tipo de atenção que não queremos para nossa área. O objetivo
é se misturar.”
Havia tanto que eu não sabia. “Então, apenas os lobos
estão no conselho?” Isso era surpreendente com todas as
raças que ali viviam.
“Não, são doze representantes. Três de cada raça,”
explicou Killian. “Três vampiros, três anjos, três bruxas e três
lobos que representam todas as raças shifter.”
Refleti sobre isso enquanto descíamos a estrada
arborizada, direto para um grande prédio de tijolos que devia
ter pelo menos uns cem metros de comprimento e dois
andares de altura. Na frente, havia um gramado verde onde
alguns alunos estavam sentados com o café da manhã e livros,
enquanto outros entravam no prédio.
À medida que nos aproximamos, a estrada virou à direita
em direção a um largo estacionamento que parecia
praticamente lotado.
Isso estava mais de acordo com o que eu esperava.
Killian entrou no estacionamento e estacionou embaixo
de uma árvore. “Eu tenho uma aula sobre estratégia de
batalha às dez horas, então vamos no café.”
“Quão longe é?” Eu não queria reclamar, mas esses
sapatos não eram dos mais confortáveis.
“Naquele prédio.” Ele acenou com a cabeça para o prédio
ao nosso lado. “É na parte de trás, então não muito longe. Eu
quero ir lá para apresentá-la ao gerente da cafeteria, Carter.
Ele é um dos membros do meu bando, e ele me deve uma por
ajudá-lo em seu trabalho de inglês.” Ele saiu da caminhonete.
Pelo menos não era do outro lado do campus.
Eu me virei para abrir minha porta e encontrei Killian já
ao lado de fora. Ele abriu a porta e estendeu a mão para mim.
“O que você está fazendo?” Eu era mais do que capaz de
sair da caminhonete sozinha.
Seus olhos se voltaram para o prédio. “Lembre-se,
estamos namorando.” Ele pegou minha mão e me ajudou a
descer. “Então, estou tratando você como trataria uma
namorada.”
“Ah, certo.” Isso fazia sentido. Minha irritação diminuiu.
“Então isso começa agora?”
“Sim.” Ele riu e entrelaçou nossos dedos. “Esse é o
acordo, certo?”
“Eu sei. Eu esqueci.” Não foi algo inteligente, admitir isso
para ele.
Ele fechou a porta e me guiou na direção do prédio. “Bom,
vamos tentar não esquecer na frente das pessoas, ok?”
Ele estava contando comigo. Eu não podia decepcioná-lo.
“Pode deixar.” Eu me aproximei dele, nossos braços se
roçando. Eu esperava estar fazendo isso direito, porque nunca
namorei ninguém em toda a minha vida. Observei-o segurar
minha mão, e acabei sacodindo a dele. Havia tantas maneiras
que eu poderia estragar tudo.
O fato da presença dele ser reconfortante, nada além
disso, me surpreendeu. Ele era muito bonito. Provavelmente o
cara mais atraente que eu já vi, além de ser gentil. Por que
não o achava mais desejável?
Minha pele começou a formigar, e eu não tinha certeza do
porquê. Antecipação? Algo parecia me puxar em direção ao
prédio, mas talvez fosse o nervosismo. As coisas estavam
ficando estranhas ultimamente, então, talvez esse fosse meu
novo normal.
O vento soprou, levantando minha saia. Consegui usar
minha mão livre para pegá-la antes que minha calcinha
emprestada fosse revelada ao mundo. Eu odiava usar a roupa
íntima de outra pessoa, mas com um vestido, eu não queria
arriscar mostrar minhas partes íntimas. “Quantas aulas você
tem hoje?” Eu resmunguei enquanto encarava o ar ao meu
redor.
“Em primeiro lugar, estou pensando que o vento não tem
medo de você.” Ele sorriu e grandes covinhas apareceram em
ambos os lados de suas bochechas. “E eu tenho duas,
Estratégia de Batalha e História Sobrenatural. Aulas essas
que são esperadas de mim, já que meu bando é o responsável
por defender Shadow City.”
Bem ciente da ironia, eu olhei para aquelas covinhas. Não
é de se admirar que tantas garotas tenham ido para a cama
com ele. “E o que devo fazer enquanto você estiver ocupado?”
A ideia de ficar sozinha com todos esses sobrenaturais me
alarmava.
“Confie em mim.” Ele piscou.
Passamos por uma garota que prendeu a respiração. Eu
virei minha cabeça em sua direção e imediatamente me
arrependi da decisão.
Se olhares pudessem matar, eu estaria morta.
Minha piada interna perdeu a graça. A morte não era
engraçada.
“Você está bem?” Ele perguntou.
“Aquela garota está me olhando com ódio.” Eu indiquei
com a cabeça para trás de mim. “Eu não tenho a mínima ideia
do que eu fiz para ela não gostar de mim.” Cheirei na direção
de cada uma das minhas axilas, me perguntando se eu estava
cheirando mal.
Ele riu alto. “Você não está fedendo, é que eu fiquei com
ela no fim de semana passado, então provavelmente é por isso.
Eu não quero me prender, sabe?”
“Sério?” Não é à toa que ela estava chateada. Se fosse eu,
eu teria dado uma surra nele. “Como diabos vamos fazer com
que todos acreditem que você mudou drasticamente seus
hábitos?”
“Quando você sabe, você sabe.” Ele sorriu ternamente
para mim e acariciou com os dedos a minha bochecha.
“Guarde isso para todas as outras.” Eu enruguei meu
nariz, tentando como o inferno esconder meu riso.
Chegamos às grandes portas duplas e ele abriu uma
delas.
Desta vez, eu soube esperar. Quando ele acenou para que
eu entrasse, entrei e olhei ao meu redor. As paredes eram de
um bege padrão com piso de ladrilho marrom. O corredor que
se ramificava à esquerda, continha escritórios que pareciam
ser para admissões, ajuda financeira e todos os tipos de
departamentos administrativos necessários para uma
faculdade deste tamanho.
À minha frente havia uma entrada traseira que levava a
mesas de piquenique e ao rio. À direita estava uma livraria
com uma cafeteria acoplada e, ligeiramente à esquerda, havia
uma cafeteria com assentos internos.
“Por aqui.” Killian pegou minha mão novamente e me
levou ao Café Shadow Ridge.
Havia um tema óbvio por aqui.
Por dentro parecia uma cafeteria comum. Havia algumas
mesas que já haviam sido ocupadas por alunos e, no centro,
haviam duas máquinas de café expresso e alguém recebendo
pedidos. A fila se estendia para além da entrada até a
cafeteria.
Arrastando-me atrás dele, Killian foi para a frente da fila,
onde um cara atraente que parecia ter por volta de vinte anos,
estava anotando os pedidos. Seu cabelo castanho
desgrenhado pendia sobre seus olhos e o suor formava
gotículas em sua testa. Ele mordia o lábio inferior como se
fosse um chiclete. O fato reconfortante era de que ele tinha
um cheiro almiscarado profundo que o identificava como um
shifter lobo, o que fazia eu me sentir melhor.
“Carter.” Killian encostou o quadril no balcão.
“Cara, eu não tenho tempo agora.” Ele apertou alguns
botões na máquina e franziu a testa. “É a hora do rush, e
aquela vadia da Deissy ligou dizendo que está doente. Agora
eu tenho que trabalhar na caixa registradora, e um demônio
mora nela.”
“Um demônio?” Inclinei-me sobre o balcão, mas nada fora
do comum parecia estar acontecendo. Eu não sabia que
demônios viviam na Terra.
“Sim, porque ela não funciona comigo.” Ele apertou os
botões como se isso tornasse as coisas melhores e então
parou. Ele olhou para as minhas mãos entrelaçadas com as
de Killian. “Uh... isso tem que ser algum tipo de pesadelo
maluco. Você está de mãos dadas com uma garota?”
“Bem, sim, mas não vim aqui para falar sobre meu status
de relacionamento. Preciso de um favor.” Killian colocou um
braço frouxamente em volta dos meus ombros. “Dove precisa
de um emprego, e você me deve uma.”
“O nome dela é Dove?” Sua testa franziu.
A garota que estava na frente cruzou os braços e bateu o
pé. “Você vai pegar meu café ou não?”
Os olhos verde-musgo de Carter focaram em mim. “Você
sabe como operar uma caixa registradora?”
“Não deve ser difícil de descobrir.” Tinha botões com
palavras escritas.
“Então você está contratada.” Ele estendeu a mão. “Não é
como se eu pudesse dizer não, já que Killian é meu alfa. Dê-
me sua identidade para que eu possa inserir suas informações
e você possa começar a trabalhar.”
Merda, eu não tinha pensado nisso. Eu não tinha nada
para dar a ele e, se eu fosse embora, as pessoas ficariam
desconfiadas. Qualquer um que estivesse procurando um
emprego traria sua identidade consigo.
Como diabos eu iria sair dessa situação?
Meus olhos se voltaram para Killian. Fiquei sem saber o
que dizer. O fato de eu já estar contando tanto com ele era
enervante. Não havia nem vinte e quatro horas que eu o
conhecia. Eu esperava que minha confiança não estivesse
sendo equivocada por uma tentativa desesperada de
encontrar alguém para me proteger, só para dessa forma, não
ficar sozinha.
Killian suspirou exasperado. “Cara, podemos entregar
para você amanhã? É minha culpa que ela não esteja com isso
no momento.”
“Claro que é, mas não quero detalhes. Não dá para dizer
o que vocês dois fizeram para isso acontecer.” Carter revirou
os olhos. “Estou desesperado, então estou disposto a abrir
uma exceção. Mas preciso disso logo pela manhã ou nada
feito.”
Graças a Deus. Eu não esperava que ele fosse cair nessa.
“Então eu posso começar amanhã?”
“Nem fodendo.” Carter apontou para a parede atrás do
balcão onde vários aventais pretos estavam pendurados em
um gancho no centro. “Coloque um desses e venha aqui.
Vamos trabalhar nisso juntos.”
Movi-me rapidamente e peguei um avental antes que ele
mudasse de ideia.
“Tudo bem então.” Disse Killian. “Eu vou deixar você
começar a trabalhar. Passo aqui depois das minhas aulas para
pegar você.” Ele beijou minha bochecha. “Até mais.”
Minhas bochechas esquentaram. Eu nunca tinha
recebido esse tipo de atenção antes, e algumas garotas na fila
ficaram boquiabertas com sua demonstração de afeto,
tornando toda a situação ainda mais desconfortável.
“Gosto quando você fica corada.” Ele acariciou meu rosto
com o dedo indicador. “Mas vou sair do seu caminho.”
“Por favor, faça isso.” Carter fez uma careta. “Tenho
certeza de que a DPA vai contra as regras de higiene, sem
mencionar a briga que pode começar.”
“Até logo.” Eu o olhei com firmeza. Eu não queria que meu
chefe ficasse chateado comigo no meu primeiro minuto de
trabalho. Bom, eu tinha certeza de que ele era meu chefe, já
que foi ele que me contratou.
Killian saiu pela entrada, e a garota que estava exigindo
seu café com leite inclinou a cabeça. Seus cabelos lisos,
longos, de cor de mogno caíram sobre seus ombros,
contrastando com sua pele clara e imaculada. “Você realmente
conquistou o Killian?” Ela se inclinou sobre a caixa
registradora e seu perfume de rosas atingiu meu nariz,
enquanto suas lindas íris roxo-escuros, da cor de pó de
estrelas, se fixaram em mim.
Ela de alguma forma cheirava ainda melhor do que a
própria flor. Ela era de tirar o fôlego, mas eu não tinha ideia
de que tipo de sobrenatural ela era. “Conquistar?”
Ela jogou o cabelo sobre o ombro e segurou as bordas de
seu suéter coral, puxando-o sobre sua elegante camisa
branca. “Uau. Você é só mais uma loira estúpida como as
outras garotas com quem ele já se envolveu. E aqui estava eu
intrigada com você. Obviamente, você não é diferente e não
vale a pena conversar.” Ela franziu o nariz.
Que idiota. Eu não suportava ser menosprezada. “Uau,
isso doeu,” eu disse, enfatizando meu sarcasmo. “Quero dizer,
uma garota gritando com um pobre cara que está tentando
atendê-la é sempre super elegante. Eu realmente não dou a
mínima para o que pensa de mim.”
“Dove!” Carter engasgou e seus ombros caíram. “Sinto
muito, Rosemary. Ela é nova.”
“Sim, eu estava aqui quando toda aquela conversa
aconteceu. Eu sei que ela é nova.” Ela lambeu o lábio inferior
e colocou a mão no quadril. “Mas estou feliz que você
finalmente contratou alguém que tem coragem de não aceitar
qualquer desaforo.” Ela sorriu para mim enquanto a
aprovação irradiava dela. “Você acha que pode me atender
melhor do que ele?”
“Claro.” Garotas como ela respeitavam os outros apenas
quando eles exigiam isso. É verdade, eu não tinha certeza de
como ela reagiria aqui na frente de todos, mas segui meu
instinto. Talvez eu não estivesse tão fora de mim, afinal.
Respirei fundo e olhei para a caixa registradora. Eu
descobriria como trabalhar com isso. Outra coisa que me
derrubasse, não era uma opção.

As próximas duas horas passaram em um borrão. Depois


de lutar inicialmente com a caixa registradora, finalmente
conquistei a fera e Carter parou de reclamar da minha má
atitude. Ele estava feliz ajudando a preparar as bebidas,
deixando-me sozinha na frente.
Estávamos trabalhando sem parar, mas a fila finalmente
estava diminuindo. Todo tipo de sobrenatural vinha para essa
escola; era um pouco enervante. Eu tinha visto quase todo tipo
de shifter, além de vampiros e bruxas. Existiam vários que eu
não consegui identificar, o que significava que eu nunca havia
encontrado aquela espécie antes. Meu palpite era que a
maioria das raças desconhecidas vivia em Shadow City e só
agora estavam se integrando de volta ao mundo.
Eu precisava aprender mais sobre esta cidade se quisesse
sobreviver e permanecer fora do radar.
Algo dentro de mim puxou, e eu desviei o olhar da caixa
registradora em direção à entrada. O cara mais lindo que eu
já havia visto entrou no meu campo de visão.
Seus cabelos castanhos claros eram um pouco mais
compridos no topo e havia um pouco de gel que os deixavam
para o lado. As luzes fluorescentes da loja refletiam em suas
mechas loiras. Sua barba dourada deixava seu rosto esculpido
perfeito. Ele se destacava sobre todos, provavelmente era meio
metro mais alto do que eu, e sua camisa polo verde caçador
abraçava seu corpo, revelando um abdômen definido.
E meu coração despencou quando notei que seu braço
estava em volta de uma garota.
Por que diabos eu estava chateada com alguém que
acabei de ver pela primeira vez na minha vida?
Eu devia estar de boca aberta porque seu olhar castanho
claro pousou em mim. Sua camisa enfatizava os pontos verdes
em suas íris. Ele deixou cair a mão ao seu lado, e a garota fez
beicinho com os lábios excessivamente vermelhos.
Seus longos cabelos loiros dourados ondulavam sobre
seu apertado cropped marrom avermelhado. Ela deslizou um
dedo por baixo de sua minissaia dourada, puxando-a um
pouco para baixo para revelar mais de seu abdome. Ela fingiu
tropeçar em seus saltos altos prateados. “Oh, Griffin.” Ela
colocou as mãos no peito dele, usando-o para se firmar.
Ambos tinham um cheiro almíscar, alertando-me de que
eram shifters lobos, o que provou ainda mais que o incidente
dela foi forçado.
Ele gentilmente a empurrou para longe e passou direto
pela fila vindo em direção a mim. Um sorriso torto se espalhou
em seu rosto. “Ei, você.”
“Uh. Oi?” O que ele estava fazendo aqui?
Esfregando o polegar contra o lábio inferior, ele assentiu.
“Vou querer um café.”
Isso era uma piada? Tinha que ser. Continuei esperando
pela piada, mas ele continuou me encarando com expectativa.
Não era assim que as coisas funcionavam. “A fila começa
lá atrás.” Apontei para onde sua namorada estava, com a boca
aberta.
“Está bem.” Ele olhou para o cara na frente da fila ao lado
dele, que por acaso também era um lobo. “Diga a ela.”
“Uh... ok.” O cara desviou o olhar, se submetendo ao
babaca.
“A fila é lá atrás,” eu disse com firmeza.
“Dove.” Carter correu e fez uma careta. “Por favor, perdoe
ela. Ela é nova no trabalho e na cidade. Vou pegar seu café.
Você quer creme?”
O alfa idiota se inclinou em minha direção e piscou. “Eu
só gosto do meu creme em um lugar.”
“Eca.” Isso realmente funcionava com ele? “Por favor,
pare. Deus.”
“Alguns me confundem com ele, mas garanto, não sou.”
Ele deu um passo para mais perto de mim. “Tudo bem, você
estará me chamando pelo nome novamente antes da noite...”
Afastei-me dele e me concentrei no cara na frente da fila.
“O que você estava dizendo que queria mesmo?”
“Ei, estou falando com você.” O idiota bonitão disse
enquanto estendia a mão em direção ao meu braço.
Meu coração disparou com o pensamento dele me
tocando. Eu tinha que me controlar. Esse cara era claramente
do tipo conquistador, e sua namorada não estava nada feliz
com a cena que estava acontecendo. Mas eu não conseguia
parar de antecipar o toque dele.
“Dove!” A voz reconfortante de Killian chamou da entrada.
Meu torturador parou quando Killian caminhou em
minha direção.
Os olhos de Killian se arregalaram quando ele olhou para
o cara. “Ei, vocês dois já se conhecem?”
Espera. Este tinha de ser o melhor amigo dele, Griffin.
Quase vomitei na minha boca. Mas Killian disse que ele
dormia por aí, e claramente esse cara também, então talvez
fizesse sentido.
“Nós dois?” Griffin apontou para mim e depois de volta
para ele. “Eu estava pedindo uma xícara de café.”
“Então você furou a fila de novo?” Killian sorriu e se
aproximou de mim, beijando-me na bochecha. “Isso facilita
toda a questão do primeiro encontro. Esta é a garota de quem
eu estava te falando ontem.”
Griffin franziu a testa enquanto suas mãos se fechavam.
“Claro que é.” Ele deu um passo em minha direção, e meu
coração traidor acelerou.
Ele sentiu o puxão também? O pensamento animou tanto
quanto me petrificou.
“Você quer dizer aquela pela qual você deixou a Jessica
esperando?” A namorada de Griffin disse enquanto se
aproximava de nós e entrelaçava seu braço no de Griffin,
impedindo-o de se aproximar de mim.
“Aqui está o seu café.” Carter voltou correndo e entregou
uma xícara a Griffin. “E Dove, talvez você devesse sair. A fila
está menor e você está causando uma cena.”
“Quando devo trazê-la aqui de novo?” Killian pegou
minha mão e me puxou para ele.
Um rosnado baixo emanou de Griffin enquanto suas
narinas dilatavam, mas ninguém além de mim pareceu notar.
“Amanhã. Ela teve um começo difícil com a Rosemary,
dentre todas as pessoas, mas se redimiu e se saiu muito bem,
até o Griffin aparecer.” Carter estendeu a mão. “Dê-me o
avental e esteja aqui amanhã às nove. É quando as coisas
ficam loucas.”
Olhei para Killian. Eu não poderia me comprometer com
esse horário porque estaria contando com ele para me trazer
aqui.
“Ela estará aqui.” Killian desamarrou meu avental e o
puxou sobre minha cabeça. “Obrigado, cara.”
“Por favor...” Carter juntou as palmas das mãos, as
pontas dos dedos apontadas para cima como em uma oração
“comporte-se um pouco melhor amanhã.”
“Ei, eu me comportei bem hoje.” Eu me recusava a ser
pressionada por um aluno pomposo que achava que seus
peidos não fediam, não importa o quanto eu me sentisse
atraída por ele.
“Era disso que eu tinha medo.” Ele suspirou. “Vejo você
amanhã.”
Killian riu enquanto sorria para mim. “Essa é a minha
garota.”
A loira arqueou uma sobrancelha perfeitamente estilizada
e estendeu a mão para mim. “Eu sou Luna. A namorada de
Griffin.”
“Amiga.” Griffin virou a cabeça na direção dela e bufou.
“Apenas amiga. Quantas vezes eu tenho que te dizer isso?”
“Sim, você deixou isso bem claro quando deu em cima da
garota de Killian, não foi?” Luna mudou seu peso para uma
perna.
“Você deu em cima dela?” Killian sorriu e entrelaçou
nossos dedos.
“Deus, eu espero que não.” Eu não conseguia tirar meu
olhar do imbecil sexy, então disse as próximas palavras com
aspereza. “Porque se esse é o jogo dele, está bem fraco.”
“Eu nem me esforcei muito.” Seus olhos brilharam
levemente, destacando o tom castanho-esverdeado enquanto
seu lobo avançava. “Se eu quisesse você, você não seria capaz
de me negar.”
O problema era que eu já não queria negá-lo, o que
significava que eu tinha que estabelecer limites claros, mais
para mim do que para ele. “Não significa não.” Coloquei um
braço na frente do meu corpo. “Mesmo que você tente impor
sua vontade alfa em alguém.”
“Eu nunca forcei ou forçaria ninguém.” Griffin ergueu o
queixo. “Todas elas vêm até mim de bom grado, e algumas até
imploram.”
Luna limpou a garganta e franziu a testa.
“Uau, tudo bem.” Killian mexeu os ombros. “Nós já
entendemos. Griffin não estava dando em cima de você, e você
não gostou da forma como ele se apresentou. Vamos começar
de novo.”
Se eu não me sentisse tão em dívida com ele, não estaria
disposta a deixar isso de lado. Mas, por ele, eu me esforçaria.
Pelo menos por enquanto. “Claro. Qualquer coisa por você.”
Consegui desviar minha atenção de Griffin e voltar meu foco
para ele.
“Vocês querem comer alguma coisa?” Killian gesticulou
para o refeitório. “Estou morrendo de fome e podemos evitar a
multidão do almoço.”
“Sério?” Luna suspirou. “Aqui?”
“Por que não vamos para o bar do Dick fora do campus?”
Griffin perguntou enquanto continuava a me encarar. “Eu
gostaria de uma cerveja.”
“Isso soa muito melhor.” Luna passou uma mão pelo topo
dos seios. “Papai tem um pouco de wolfsbane que podemos
usar para misturar nas bebidas também. Estou louca para
ficar chapada se todo mundo quiser também.”
“Tá tranquilo por mim.” Killian me encarou. “E por você?”
Não, mas eu não queria ser rude. “Por que vocês não vão?
Não quero atrapalhar a “onda” dos seus amigos.”
“Eu insisto,” Griffin interrompeu. “Afinal, você é a
namorada do meu melhor amigo. Claramente, a gente tem de
se conhecer.” Ele sorriu, mas havia algo faiscando
perigosamente por trás de seus olhos.
Ele sabia que estava me deixando desconfortável.
Que babaca.
Mas o lobo dentro de mim se recusou a ceder. Vontade
Alfa e tudo mais. Tinha que ser isso. Não podia ser uma
vontade de passar mais tempo perto dele. “Eu acho que já te
conheci muito bem no primeiro minuto em que você falou
comigo.”
“Ei, pensei que estávamos começando do zero.” Killian
olhou de mim para Griffin com as sobrancelhas franzidas.
“Isso durou apenas dez segundos.”
“Eu tenho que concordar.” Luna pegou meu braço e me
puxou em direção a saída da cafeteria. “Estamos fazendo uma
cena aqui, e vai ser muito mais divertido com você lá.”
A maneira como ela disse essas palavras me fez
estremecer. Seu tom era quase malicioso, como se ela tivesse
gostando de assistir Griffin e eu brigarmos. Mas por que ela
estava gostando? Eu precisava entender o que ela ganharia
com isso.
Ela nos levou até a porta da frente, mantendo um aperto
firme em mim.
“Cara, qual é o seu problema?” Killian disse calmamente.
Se eu não tivesse uma audição melhor do que a maioria
dos lobos, sua voz teria sido muito baixa para ouvir, mas com
a lua crescente, eu consegui ouvir precariamente. Em poucos
dias, eu poderia ouvi-los sem nenhum problema.
“Ela foi rude comigo,” Griffin resmungou. “Ela se recusou
a me servir.”
Killian bufou. “É disso que se trata toda essa
animosidade entre vocês dois?”
“Não se preocupe.” Griffin suspirou. “Ela é sua garota.
Vou ser simpático. Afinal, é parte do diploma político o que
está sendo imposto a mim.”
“Obrigado,” disse Killian, parecendo sincero. “Significa
muito. Ela é importante para mim. E é um curso de diplomacia
política.”
“Eles são a mesma coisa.” Griffin suspirou. “Tudo o que
estou aprendendo é a ser falso e puxa saco.”
Eu poderia concordar com isso. Eu odiava política. Seja
direta e tenha um coração bondoso, e o mundo será um lugar
muito melhor.
“Ela é sua companheira predestinada?” Griffin perguntou
com desconfiança. “Você não disse uma palavra sobre ela até
a noite passada, e de repente, você parece meio que obcecado
por dela.”
“Só porque eu desisti de você ontem à noite e depois a
busquei na cafeteria?” Killian parecia estar se divertindo. “Isso
é um pouco exagerado, você não acha? E não, ela não é minha
companheira. Mas ei, talvez eu nunca encontre a minha, e
além do mais ela é linda.”
Parceiros predestinados eram o que todo sobrenatural
cobiçava. Era o tipo mais puro de vínculo, e no meu bando, os
pares predestinados que se encontraram, claramente amavam
seus companheiros incondicionalmente. Esse tipo de amor era
de tirar o fôlego e, uma vez, eu já quis isso. Mas agora, a dor
que senti ao perder minha matilha me deixou hesitante. Se
doía tanto perder meu bando, eu não poderia imaginar como
seria perder meu companheiro.
“Então, de onde você é?” Luna gesticulou para a porta,
indicando-a para eu abrir para ela.
Uau. Bem arrogante não acha?
Mas eu já tinha me incomodado com o Griffin. Eu
provavelmente deveria engolir meu orgulho e só fazer isso.
Odiando a mim mesma, abri a porta para ela e cerrei os
dentes. “É ao norte daqui.”
Ela sorriu brilhantemente quando passou, batendo com
o ombro em mim.
Ela estava declarando guerra entre nós duas. Ela enlaçou
o braço no meu novamente e me puxou para frente, colocando
mais distância entre nós e os garotos.
“Eu vou ser clara com você.” Ela me lançou um olhar
cortante. “Griffin é meu. Ele ter dado em cima de você antes,
não te torna especial. Ele dá em cima de todas as garotas que
são relativamente bonitas.”
Isso foi um elogio falso. Não só isso, mas ela também
estava tentando mexer comigo porque estava claro que Griffin
não estava a fim dela, e ela estava tentando forçar a situação.
“Eu não tinha pensado muito sobre isso, mas já que você
tocou no assunto novamente, talvez eu devesse dar uma
chance a ele.”
Ela riu sem humor. “Olha, você está namorando Killian,
o que é trágico, mas tanto faz. Não banque a engraçadinha.”
“Se ele dá em cima de toda garota que encontra, por que
você ainda o quer?” Uma coisa em que os lobos prateados
eram bons era em ler intenções, e a dela era totalmente
negativa. A escuridão de sua alma a cobria em ondas. Ela não
era uma boa pessoa e gostava do poder.
“Isso não é da sua conta.” Ela olhou para frente,
rebolando a bunda a cada passo, sem dúvida para o caso de
Griffin estar olhando.
É justo. “Olha, ele é um idiota egoísta. Pode ficar com ele.”
Qualquer que fosse o puxão entre nós, eu aprenderia a
ignorar.
“Ah, você acha que eu estava pedindo sua permissão?”
Ela riu. “Eu não estava. Eu só estava tentando ajudá-la já que
Killian parece apaixonado por você. Se vamos ser civilizadas
uma com o outra, é sempre bom saber as regras básicas. Eu
odiaria que você cometesse um erro e algo trágico
acontecesse.”
A ameaça velada me fez perder o fôlego. Talvez este lugar
não fosse tão seguro afinal.
Killian subiu na caminhonete e fechou a porta. Ele se
virou e me observou colocar o cinto.
Eu podia sentir ele me analisando e não gostei disso.
Papai sempre fazia isso quando estava prestes a fazer uma
pergunta e queria ler minha linguagem corporal antes,
durante e depois.
“Então...” Ele tamborilou com os dedos no volante. “Você
e Griffin não parecem gostar um do outro. O que aconteceu?”
Pelo menos, ele não foi sutil. “Ele me disse que gosta do
seu creme em apenas um lugar. Fique feliz por eu ter
autocontrole, ou eu teria dado uma puta surra nele.”
“Ele deu em cima de você.” Killian riu tão alto que
machucou meus ouvidos, suas covinhas à mostra. “A
propósito, essa é a cantada favorita dele na cafeteria.”
Ai que nojo. “Você pensaria que depois que não funcionou
da primeira vez, ele teria parado e não continuado a se
envergonhar.”
“Você é a primeira garota que isso não funciona.” Killian
ligou a ignição e balançou a cabeça. “Pela primeira vez, não só
Griffin foi rejeitado, como também consegui uma garota que
ele não escolheu.”
“Escolheu?” Eu me arrependeria de ter perguntado.
“Todo mundo o quer em vez de mim. Em parte, devido ao
seu papel em Shadow City.” Killian deu de ombros como se
não fosse grande coisa, mas seus ombros caíram um pouco.
“Então, eu geralmente acabo com as garotas que ele não olha.”
“Por que, em nome de Deus, alguém escolheria ele, ao
invés de você?” Killian era leal e gentil. Muito melhor do que o
babaca sexy em quem eu me recusava a pensar.
Ele riu. “Você não precisa ser gentil comigo quando
estivermos a sós.”
“Não é nada disso.” Ele obviamente não se via do jeito
certo. “Ele é arrogante e irritante.” Consegui deixar o
mortalmente sexy fora da descrição, mas, infelizmente, ele era
isso. E eu odiava pensar nele daquele jeito.
“Você percebe que é assim que as pessoas me veem
também?” Ele olhou por cima do ombro e saiu da vaga de
estacionamento.
A maneira como aquela garota tinha me encarado mais
cedo, meio que confirmou seu ponto. Eu meio que esperava
que ela viesse e agarrasse meu cabelo para iniciar uma briga.
“Talvez, mas você não agiu assim comigo.” E eu não poderia
julgá-lo por outra coisa, além disso.
Ele colocou o carro em marcha e se dirigiu para a saída
do campus. “Não seja tão dura com ele. Griffin é um cara legal.
Ele estava lá por mim e me ajudou naquele primeiro ano,
depois de perder minha família. Ele me forçou a levantar a
bunda da cama e ir à corridas. Não apenas isso, mas ele cuida
da mãe dele, Ulva, ela mora sozinha em um enorme
condomínio desde que o pai dele faleceu, apesar dele odiar
ficar lá. Ele não mostra esse lado para ninguém,
principalmente para Luna. Graças a Deus.”
Meus pés estavam me matando, então tirei os sapatos e
esfreguei os calcanhares onde as bolhas se formaram. Elas se
curariam em algumas horas, principalmente porque
estaríamos sentados no restaurante.
“Qual o problema?” Ele olhou para onde eu estava
esfregando. “Os sapatos dela não servem em você. Por que
você não me disse?”
“Eu posso me virar até receber meu primeiro salário.”
Alisei a saia do vestido. “Sua irmã e eu temos gostos
extremamente diferentes.” Fiz uma careta.
A mandíbula de Killian se contraiu, mas sua expressão
suavizou um momento depois. “Deixe-me adivinhar, você é o
do tipo 'jeans e camiseta'”, disse ele.
“Sim.” Eu assenti. “Vestidos e saias são tão restritivos. O
que acontece quando você precisa lutar? Tentar evitar que
meu oponente não visse minha calcinha, prejudicaria minhas
habilidades.”
“Primeiro, você sempre se mete em brigas?” Ele se
recostou na porta. “E em segundo lugar, mesmo se você se
metesse em uma briga, você estaria mais focada em sua
aparência ao invés de dar uma surra em seu oponente?”
“Parte do nosso regime de treinamento era lutar todos os
dias, geralmente várias vezes. E, sim, eu me importaria se
alguém visse minha calcinha.” Papai me ensinou a ser
conservadora e a me vestir de forma adequada para uma
batalha. Poderia acontecer a qualquer momento.
Ele estava certo sobre isso.
“Você é...” Ele fez uma pausa e me encarou. Ele examinou
meu rosto e sua boca se abriu. “Você é virgem, não é?”
A maioria dos sobrenaturais eram bastante abertos
quanto a gostar de transar o quanto quisessem, então o fato
de eu não ter dormido com alguém, provavelmente era algo
chocante. Só que, com a minha posição intimidando todo
mundo, eu nunca tinha encontrado alguém com quem me
identificasse, e também não queria fazer sexo só por fazer.
“Você faz isso soar como se fosse alguma coisa ruim.”
“De jeito nenhum.” Ele perscrutou meu corpo. “Isso te
deixa ainda mais gostosa. Como isso é possível?”
“Bem, você sabe, eu mantenho minhas pernas bem
fechadas e apertadas.” Que tipo de pergunta foi essa? Além
disso, sua atenção estava me deixando desconfortável.
“Você é um sopro de ar fresco.” Ele voltou a se concentrar
na estrada. “Nos primeiros segundos em que te conheci, você
me deu uma cotovelada no estômago e quebrou meu nariz. E
você diz o que pensa sem nenhum interesse oculto. É legal.”
Eu tinha esquecido do nariz dele. Ele não tinha falado
muito sobre isso quando voltamos para sua casa, mas agora
que ele mencionou, eu podia ver que estava um pouco torto.
Seus ossos se curaram assim. “Sinto muito. Devíamos ter
tentado endireitá-lo.”
“Você está brincando comigo?” Ele flexionou o braço mais
próximo de mim, fazendo seu bíceps saltar. “Você oficialmente
me deixou mais sexy. Nenhuma garota será capaz de me
rejeitar agora.”
“Lembre-se, somos exclusivos.” Eu o provoquei. “Eu vou
cortar seu pau fora se você trapacear e me fizer parecer idiota.”
“Acho que não tenho medo.” Ele riu. “Você provavelmente
não saberia o que fazer com ele depois que o tivesse cortado.”
“Oh, haha.” Ele estava certo, mas eu nunca admitiria isso
para ele.
Nós dirigimos em direção ao movimentado centro da
cidade de novo, e ele parou em um pequeno estacionamento
ao lado de um prédio de tijolos que ficava separado dos outros.
Uma enorme placa na frente dizia Dick’s Bar2.
“Sério?” Fiz um gesto para o nome. “Esse é o nome do
bar? Deixe-me adivinhar. Griffin o nomeou.”
“Acredite ou não, esse é o nome do pai da Luna, e ele é o
dono do bar.” Ele estacionou em uma vaga ao lado de um
Navigator preto do meu lado. “E quer ouvir o sobrenome deles?
Isso torna tudo ainda mais épico.”
Eu estava oficialmente com medo. Não de que minha vida
estivesse em perigo, mas que eu me arrependeria de deixar
nas mãos de Killian. “O quê?”
“Harding.” Ele explodiu. “O nome dele é Dick Harding3.”
Eu bufei. “Não. Diga-me que ele atende por Richard.”
“Não.” Ele abriu a porta e piscou. “É isso o que torna
ainda mais épico. Apenas um alerta, ele é o Beta de Griffin.
Isso foi bom saber.
Observei Killian se mover em minha direção, mas minha
porta se abriu, me assustando. Eu estava tão envolvida em
minha conversa com Killian, que não notei Griffin vindo até a
porta ao meu lado e abrindo-a. Eu ofeguei quando aquele
puxão estranho apertou dentro do meu peito.
Griffin se inclinou sobre mim e soltou meu cinto de
segurança. “Vocês dois estão se divertindo?”
Seus dedos roçaram meu braço e minha pele formigou.
Inspirei profundamente, sentindo seu aroma almiscarado de
mirra e couro. Meu corpo aqueceu. O que diabos estava

2 Dick em inglês se refere a pênis. Traduzindo ficaria “Bar do Pau.”


3 Dick Harding em tradução literal seria “Pau durinho”, ou “Pau duro.”
acontecendo entre nós? Talvez fosse luxúria. Era só isso que
poderia ser.
Não. Não vai rolar. Vou acabar com isso.
Eu agarrei seu braço e puxei-o para longe de mim
enquanto o cinto de segurança deslizava. “Obrigado, mas
tenho tudo sob controle.”
Seus olhos cor de avelã pareciam brilhar, deixando a
palma das minhas mãos suadas. “Ei, você é a namorada do
meu melhor amigo. Eu tenho que ter certeza de que você está
bem.”
“Cara, se afaste,” disse Killian enquanto empurrava
Griffin para longe. “Ela é minha. Vá encontrar outra garota
para passar a noite.”
Griffin encostou-se ao Navigator enquanto eu saía do
carro e pegava a mão de Killian. Eu não só estava enfatizando
para ele que estava com Killian, mas fazendo isso
relutantemente, para lembrar a mim mesma.
Uma carranca se formou no rosto de Griffin, e seus
ombros caíram, fazendo eu me sentir culpada por segurar a
mão de Killian. Eu não tinha feito nada de errado, mas não
conseguia me livrar da sensação.
Os saltos altos estalaram no cimento quando o perfume
excessivamente maduro de Luna anunciou sua chegada. Ela
fez um beicinho com lábio inferior e olhou para Griffin. “Que
diabos, Griff? Você me abandonou. Pensei que viríamos
juntos.”
“Desculpe.” Sua atenção permaneceu em mim. “Eu tenho
algumas coisas para fazer depois disso, então você precisava
vir separadamente.”
“Você poderia ter me dito isso e, além disso, não estou
ocupada.” Ela roçou uma mão em seu ombro. “Eu posso ir
com você.”
Meu corpo ficou tenso com a proximidade dela com ele,
mas afastei a sensação. Ele podia deixar quem ele quisesse
tocá-lo.
Griffin removeu a mão dela. “Não, você não pode.”
A maneira como ele a dispensou me deixou muito feliz.
“Então, enquanto vocês dois decidem o que vão fazer,
Dove e eu vamos indo lá para dentro.” Killian passou um braço
em volta da minha cintura e me levou em direção a entrada.
Um rosnado baixo emanou atrás de mim, e eu me forcei
a manter meus olhos para frente e não olhar para trás para
ver com o que Griffin estava chateado. Se eu confirmasse que
ele também sentia, o que quer que fosse esse puxão entre nós,
só tornaria mais difícil para mim manter distância.
“Não se atreva a se afastar de mim,” Luna gritou
enquanto seus saltos estalavam atrás dele. “Você vai falar
comigo. Qual é o seu problema?”
“Depressa, vamos sair daqui,” Killian sussurrou perto do
meu ouvido.
Griffin suspirou. “Você pode parar de bancar a rainha do
drama?”
Oh, isso não foi inteligente. Chamar uma mulher de a
rainha do drama era equivalente a chamar uma pessoa louca,
de bem louca.
“Eu vou te mostrar a rainha do drama,” Luna sussurrou
ameaçadoramente.
Killian e eu entramos no prédio. O bar era um grande
espaço aberto com um balcão de madeira de cerejeira no meio
da parede à direita. Três pessoas trabalhavam atrás do balcão
e parecia que tinham várias torneiras de cervejas junto a um
armário cheio de vinhos e licores. Copos de tamanhos variados
foram colocados em prateleiras abaixo dos armários. Haviam
banquetas alinhadas no bar, e cerca de vinte mesas redondas
estavam espalhadas pelo andar principal. As paredes eram
feitas de tijolos com tons neutros variados, com cabines
montadas contra elas. Televisores pendiam em todos os
cantos da sala, mas não faziam muito barulho.
“Na real, até consigo me ouvir pensando.” Isso não era tão
ruim quanto eu pensava. Entre o nível de ruído tolerável e a
falta de fumaça, comer aqui não seria tão ruim assim. Bom,
se Griffin e Luna não viessem se juntar a nós.
“Este bar é propriedade de lobos shifters, em uma cidade
praticamente sobrenatural.” Killian esbarrou no meu ombro.
“Nenhum de nós gosta de barulhos altos.”
Ponto justo.
Uma linda garota de cabelos loiros veio em nossa direção.
Ela usava uma camisa branca de botão e calça cinza que
combinava com seus olhos. Ela era alguns centímetros mais
baixa do que eu, mas andava com tanta pose que parecia mais
alta. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo com
mechas emoldurando seu rosto. “Ei, Killian.” Ela sorriu
quando sua atenção pousou em mim. “Quem é?”
“Sierra, esta é Dove.” Ele beijou minha bochecha e se
afastou, gesticulando para a garota. “Dove, esta é Sierra. Uma
das poucas garotas na cidade que sabe como lidar com Griffin
e comigo.”
“Lidar?” Ela riu. “Não sei se iria tão longe, mas devo dizer,
você nunca foi do tipo que sai com uma garota no dia seguinte
a uma noite de sexo.”
“Ela é diferente.” Ele passou um braço em volta da minha
cintura. “Ela domou meus modos selvagens.”
“Essa é das minhas.” Sierra se inclinou para mim. “Você
vai ter que me contar suas habilidades secretas mais tarde,
mas por enquanto, são só vocês dois?”
“Não, infelizmente, Griffin e o diabo encarnado se
juntarão a nós dois em instantes.” Killian estremeceu. “Você
trouxe a água benta?”
“Entre ela e o pai, sempre tenho uma extra à mão.”
“O pai dela é tão ruim quanto ela?” Eu não queria
imaginar isso.
Sierra pegou quatro menus laminados e revirou os olhos.
“Ele é pior de uma maneira diferente. Ele quer que tudo seja
perfeito, mas ele é super legal. Luna exige toda a atenção. Ela
está de olho em Griffin desde que ela era criança.”
“Tanto tempo assim?” Eu meio que podia ver isso.
“Sim, todo esse tempo.” Ela acenou para que a
seguíssemos. “De onde você é? Eu nunca te vi por aqui.”
“Ah, isso é porque eu sou nova.” Eu não tinha ideia do
que mais dizer. Eu não queria contar a ela como cheguei aqui
e não podia mentir, principalmente porque ela saberia. “Killian
me encontrou, e o resto é história.”
“Ele tenta ser um sedutor como Griffin, mas nunca
consegue.” Ela parou em uma cabine e se virou para Killian,
apertando suas bochechas. “E agora ele tem uma namorada.
Meu amiguinho está crescendo.”
“Vocês dois agem como irmão e irmã.” Eu deslizei para
dentro da cabine e me movi em direção a parede.
Killian entrou do meu lado e pegou minha mão,
colocando-a sobre a mesa. “Nós praticamente somos. Ela era
a melhor amiga da minha irmã. Sierra tem a minha idade, mas
ela se deu bem com a minha irmã mais nova porque elas
tinham o mesmo nível de maturidade.”
“Sim, Olive era muito mais madura que Killian.” Sierra
projetou seu quadril. “Se ela estivesse aqui, ela estaria
chutando a bunda dele pra que ele agisse. Talvez você possa
fazer esse trabalho, já que ele não ouve mais ninguém.”
“Olive tinha seu jeito,” disse Killian com saudade.
O puxão me pegou mais uma vez, e minha atenção foi
para a porta da frente quando ela se abriu e Luna e Griffin
marcharam para dentro. Eles irradiavam tensão e evitavam
olhar na direção um do outro.
Um homem entrou e andou ao redor deles, sentando-se
no final do balcão perto de um pequeno corredor que tinha
uma placa de saída.
Sierra franziu a testa e soltou um suspiro. “Eu ainda
sinto tanto a falta dela.”
“Oh Deus.” Luna suspirou enquanto deslizava para
dentro da cabine do lado oposto. “Toda vez que Sierra nos
atende, temos que falar sobre Olive. Ela está morta; é uma
merda. Temos que seguir em frente.”
“Então, quando você morrer, você quer que seus amigos
ou familiares nunca mais pensem em você?” Eu encarei a
patricinha arrogante. “Devemos revirar os olhos e dizer a todos
para seguir em frente?”
Um lado dos lábios de Griffin se repuxou para cima até
que Killian passou um braço em volta dos meus ombros. O
sorriso desapareceu do rosto de Griffin, e ele olhou para nós.
“Aproveitarei todas as oportunidades para falar sobre
minha irmã e celebrar sua vida e seus amigos.” Killian franziu
o nariz. “Se isso te incomoda, você pode ir se sentar em uma
mesa diferente.”
“Você está sendo uma vadia,” Griffin disse enquanto
sentou ao lado dela. “Não descarregue sua raiva de mim
neles.”
“Tudo bem.” Luna cruzou os braços, sua linguagem
corporal deixando claro que ela não iria se desculpar. A tensão
aumentou entre nós.
A imagem dos membros do meu bando, sangrando e
morrendo, surgiu em minha mente. Meus olhos queimaram
com lágrimas não derramadas, e eu sufoquei um soluço.
Limpei a garganta, desesperada para que minhas palavras
soassem normais. “Eu preciso ir ao banheiro.” Cutuquei o
braço de Killian, certificando-me de que ele tinha me ouvido.
“Ah sim.” Killian se levantou.
Deslizei para fora e olhei ao redor da sala, procurando por
uma placa de banheiro.
“É ali, antes da saída dos fundos.” Sierra apontou para o
pequeno corredor que eu havia notado antes. “Há um
banheiro masculino e feminino em ambos os lados do
corredor.”
“Obrigada.” Corri naquela direção, desesperada por
algum tempo sozinha para me recompor. Eu não queria
desabar na frente de Griffin e definitivamente não na de Luna.
Eu não queria que nenhum deles pensasse que eu era fraca.
“Ela está bem?” Sierra perguntou à mesa.
Killian limpou a garganta. “Tenho certeza que ela está
bem.”
O corredor estava escuro, não que importasse com meus
olhos de lobo, e era mais longo do que parecia. O banheiro
feminino era a porta da direita. Algumas lágrimas caíram e
rolaram pelo meu rosto.
Droga. Meu torpor estava passando rápido. Concentrada
em entrar no banheiro para poder esconder meu colapso
iminente, abri a porta.
Uma mão calejada agarrou meu braço e puxou. Outro
braço serpenteou em volta do meu pescoço e colocou uma faca
contra minha garganta.
“Solte um piu, e eu vou cortar sua garganta,” uma voz
profunda assobiou.
Ele enfiou a faca mais fundo em minha pele. Um líquido
quente escorreu pelo meu pescoço enquanto o cheiro de cobre
do sangue atingiu meu nariz. Este idiota estava se divertindo.
“O que você quer?” Eu perguntei, tentando manter meu
medo sob controle, tentando aprender alguma coisa, qualquer
coisa, sobre o porquê de eu ser um alvo.
“Absolutamente nada.” Ele riu sombriamente, “Além
disso, você precisa ir para a saída agora.” Ele me empurrou
para frente e eu tropecei, fazendo com que a faca cavasse um
pouco mais fundo.
Idiota.
Prefiro morrer ali mesmo do que ir embora. Com uma faca
no meu pescoço, só havia um jeito disso acontecer.
Mantendo meus braços perto do meu corpo, levantei
minhas mãos em direção ao braço da faca e relaxei meu corpo
em seu peito. Ele afrouxou seu aperto e eu agarrei seu pulso
com ambas as mãos e puxei para baixo e para longe do meu
pescoço.
“O que...” Ele sibilou.
Seu aperto afrouxou e eu deslizei sob seu braço,
mantendo meu aperto firme em seu pulso. Quando me libertei,
empurrei a mão que segurava a faca de volta para ele, de modo
que a lâmina cortasse o lado do seu corpo.
“Sua cadela estúpida,” ele gritou enquanto tentava me
recapturar com o braço livre. Usando seu ângulo caído a meu
favor, chutei seu rosto e torci seu pulso, manipulando um
ponto de pressão em seu polegar para fazê-lo soltar a faca. Ele
cambaleou para trás e eu chutei a faca para longe.
“Dove!” Killian gritou, mas não tive tempo de responder.
Esse cara não cairia sem lutar.
Quando ele se levantou e me encarou, pude ver o ponto
onde meu pé tinha encontrado sua mandíbula. Pela primeira
vez, tive uma boa visão dele.
Era o cara que tinha entrado no bar atrás de Griffin e
Luna.
Seu cabelo estava tingido de um horrível loiro
acinzentado, exceto pelos lados castanho-escuros. Sua longa
barba batia no topo da gola de sua camisa preta, conectando-
se com os pelos do peito que se espalhavam por ali. Seus
braços peludos eram quase tão grossos quanto sua barba. Eu
já suspeitava que ele era um shifter urso, e seu cheiro de
grama confirmou isso.
“Você vai pagar por isso.” Ele agarrou meu braço
novamente e me arrastou em direção à saída.
Os shifters ursos eram fortes, mas sua arrogância
trabalhava contra eles.
“Deixe-a ir,” Griffin comandou, o comando Alfa
impregnando suas palavras.
Ele era um completo idiota se achava que isso funcionaria
com um urso, e extremamente egocêntrico se achava que o
urso iria ouvi-lo em primeiro lugar. Ele não tinha autoridade
sobre eles.
Confirmando minhas suspeitas, o shifter urso não
afrouxou seu aperto em mim. Em vez disso, ele apertou e me
arrastou com mais força.
Talvez eu não tivesse mais uma faca no pescoço, mas isso
não significava que não corria o risco de ser levada. Fazendo
a primeira coisa que me veio à mente, enfiei meus dedos em
um de seus ferimentos de faca e coloquei minhas mãos em
forma de garras, atravessando gordura e músculos. A ferida
precisava ficar pior, então eu enterrei meus dedos com força,
tentando fazer seu cérebro registrar a dor. Com toda a
adrenalina bombeando em seu corpo, ele provavelmente nem
percebeu que havia sido esfaqueado.
Ele balançou a mão livre, tentando alcançar meu rosto,
mas eu facilmente o bloqueei.
Meu pai estava certo o tempo todo. Se não soubéssemos
como nos proteger, estávamos ferrados. Eu gostaria de poder
retirar todas aquelas vezes em que falei mal dele ou reclamei.
Por causa dele, eu ainda estou aqui, sobrevivendo.
Quando me endireitei, tirei minhas mãos de sua lateral e
chutei o idiota no estômago. Ele caiu contra a parede de
tijolos.
“Podemos assumir daqui,” disse Killian ao se aproximar.
Ah não, inferno. Isso tudo era culpa minha.
Peguei a faca do chão enquanto Killian e Griffin me
alcançaram. Eles agarraram o cara pelos braços enquanto eu
corria atrás do shifter urso e colocava a faca em sua garganta.
Inclinei-me e vi sangue saindo por baixo da lâmina. “Quem é
você, e o que você quer de mim?”
“Vá para o inferno.” Ele cuspiu na minha cara.
Não, eu não aceitaria isso. Dei-lhe uma cotovelada com
força na têmpora, deixando-o inconsciente, e o deixei cair no
chão. “Idiota estúpido.”
“Uh. Uau.” Killian bufou quando ele e Griffin soltaram o
cara, deixando-o cair no chão.
Usei a manga do meu vestido para limpar a saliva. Eu
precisava de um banho agora.
Sierra engasgou, “Ela é bem durona.”
“Durona?” Luna zombou. “Os homens deveriam ser os
protetores, não nós. Isso foi extremamente grosseiro.”
Uau. Suas crenças eram bem arcaicas. Ainda bem que
não fui criada assim, ou já teria sido capturada ou morta.
“Ei, você está ferida?” Killian correu para me examinar.
“Olhe para o pescoço dela,” Griffin disse com os dentes
cerrados. “O bastardo a cortou. Vou fazer ele pagar.”
“Estou bem.” Ambos estavam sendo um pouco demais.
“Além disso, eu o nocauteei. Tudo vai ficar bem, mas eu quero
respostas.”
Olhei para o meu vestido e me encolhi. Não só eu estava
usando essa coisa esquecida por Deus, mas eu também não
tinha minha faca comigo por causa da roupa. Eu precisava de
roupas melhores pra ontem.
Passos soaram em nossa direção. “O que está
acontecendo aqui?” Perguntou uma voz profunda e rouca.
“Papai!” Luna parecia aliviada. “Um homem atacou
Dove.”
O bom e velho Dick Harding estava aqui.
“Dove?” Um homem alto entrou no corredor e seus olhos
de ébano pousaram em mim. Ele passou a mão pelo cabelo
curto grisalho. Uma ruga surgiu em seu rosto esculpido, que
estava coberto por uma barba por fazer de cor marrom escura.
“Você é nova na cidade.”
“Sim.” Ele estava mais focado em eu ser nova aqui do que
no cara deitado no chão? Isso foi um pouco estranho. “Eu
sou.”
“Eu juro, Griffin.” Dick olhou além de mim para o shifter
urso e balançou a cabeça. “Temos que fazer algo sobre isso.
Obviamente, as pessoas estão ficando mais cautelosas em
deixar os moradores saírem de Shadow City, e agora você está
tentando me fazer promover a entrada das pessoas. Essa ideia
é tão horrível por esse motivo aqui. Mais um ataque contra
lobos.”
“Não há nada que possamos fazer sobre isso, mesmo que
eu queira desfazer a decisão do meu pai.” Griffin manteve sua
atenção em mim. “Todo o conselho votou e houve maioria.”
Meu cérebro lutou para entender. Nada do que eles
diziam fazia sentido. “Você faz parte de um conselho?”
“Sim, ele faz,” Luna disse e se aproximou, colocando a
mão no ombro de Griffin. “Ele é o alfa de Shadow City.”
O riso quase escapou de mim. Isso tinha que ser algum
tipo de piada de mau gosto. Pelo que eu tinha visto, ele estava
mais interessado em entrar nas calças de várias mulheres do
que em ser um líder. Talvez seu objetivo fosse ser o líder dos
idiotas?
Griffin se afastou de Luna, fazendo sua mão cair. Ele
limpou a garganta. “Meu pai era o alfa e faleceu pouco antes
da faculdade ser construída. O poder e o título de alfa
recaíram sobre mim, mas Dick gentilmente deu um passo à
frente para ajudar a liderar a cidade enquanto eu frequentava
a faculdade e colocava minhas prioridades em ordem.”
As coisas se encaixaram e eu gemi. Eu não tinha
percebido que tinha esperança de que o novo alfa de Shadow
City fosse meu aliado. Griffin não iria me ajudar. Pelo menos,
entendi por que Luna o queria e estava disposta a fazer o que
fosse necessário para tê-lo. Inferno, quase ninguém iria
recusá-lo. Pelo que papai disse, a cidade havia se tornado o
lar de alguns dos sobrenaturais mais fortes que ele já vira, e
Atticus era um farol de puro poder. Se fosse esse o caso, isso
significava que Griffin era um dos lobos mais poderosos do
mundo, e conquistá-lo garantiria uma vida confortável para
sua companheira.
Killian se agachou ao lado do shifter urso e vasculhou
seus bolsos. “Ele não tem identificação com ele ou qualquer
coisa do tipo.”
“Isso faz sentido. Tem que ser assim para que ninguém
possa identificar os atacantes se algo der errado.” Dick
suspirou, mas parecia estranho.
O que ele disse tinha razão, mas, por algum motivo, não
acreditei. Este urso era arrogante. Ele literalmente pensou que
me tinha. Ele não pensaria em deixar suas coisas no carro ou
onde quer que fosse, então devia haver outro motivo para ele
não ter identidade. Eu mantive minha boca fechada, já que
não estava sozinha com Killian.
“Harold.” Dick olhou em direção a frente do restaurante
e bateu palmas. “Leve esse idiota que atacou essa pobre garota
para a prisão de Shadow City. Ele já foi maltratado o
suficiente, então tente não o machucar muito mais.
Precisamos que ele seja capaz de falar.”
Um shifter lobo verde-oliva mais ou menos da altura de
Killian apareceu e passou por nós, mas evitou o contato
visual. Ele se abaixou, pegou o urso ferido e passou direto pela
porta de saída.
Ele se foi em segundos, como se não suportasse ficar
perto de nós ou estivesse com medo. Muito estranho.
“Estou impressionado que você lidou com ele sem se
machucar.” Dick ajeitou sua gravata preta enquanto se dirigia
a Killian e Griffin, ignorando minha presença. “E graças a
Deus não há outros clientes. Isso poderia ter sido um pesadelo
publicitário.”
“Na verdade, Dove acabou com o cara, sozinha.” Sierra
sorriu e fez um gesto para mim. “Griffin e Killian não chegaram
a tempo.”
“Você está falando sério?” O olhar de Dick pousou em
mim, fazendo minha pele se arrepiar. “Isso é interessante.”
Sua energia negativa quase roubou meu fôlego. Mas eu
não podia me dar ao luxo de alertá-lo sobre esse pequeno fato.
Papai havia me dito que em algum momento da minha vida eu
conheceria alguém realmente ruim. E que eu não podia deixar
transparecer que podia sentir sua escuridão porque essa era
uma característica que apenas os lobos prateados tinham. Se
eu revelasse minha reação, poderia colocar não apenas a mim
mesma em perigo, mas também as pessoas com quem eu me
importava. Na verdade, neste momento, o total de pessoas com
quem eu me importava havia diminuído para um, Killian. Mas
eu tinha que continuar a jogar até conseguir um Royal flush,
só então eu poderia revelar minha mão. “O que eu posso
dizer?” Forcei minhas palavras a soarem leves e sorri. Se meu
instinto não tivesse me avisado, eu teria pensado que ele
estava preocupado. “Acredito que todos devem saber como se
proteger. Se eu não tivesse sido treinada, esta situação
poderia ter sido muito diferente.”
“Isso é verdade.” Ele sorriu. “Embora os homens sejam
normalmente os guardas, não as mulheres.”
Minha pele se arrepiou com seu sorriso assustador. Não
apenas isso, ele me repreendeu, mas de alguma forma
conseguiu não soar muito crítico. Então ele era o pior tipo de
vilão, um manipulador, o que significava que Killian e Griffin
não tinham noção. “Neste caso em particular, é uma coisa boa
que eu não precisei de um homem, ou ele teria me levado porta
a fora.” Eu recusei a me curvar como Dick queria.
Algo ilegível cruzou o rosto de Dick antes que suas feições
voltassem ao normal. “Bom, eu provavelmente deveria voltar
para Shadow City. Eu planejei trabalhar com os livros aqui
por um tempo hoje, mas isso obviamente não vai acontecer.”
“Eu vou com você,” disse Griffin com a testa franzida. Ele
me examinou antes de olhar para Killian. “E por que você não
a leva para algum lugar seguro?” Sua voz continha
preocupação, o que me chocou.
“Essa é uma boa ideia.” Killian passou um braço em volta
dos meus ombros e apontou para a saída. “Você se importa se
sairmos por aqui?”
“Claro.” Dick acenou para ele, mas seus ombros ficaram
tensos. Ele se virou para Griffin. “Fique aqui com Luna e
almoce. Eu posso lidar com o atacante.”
“Não, eu vou com você.” Griffin estreitou os olhos.
“Tecnicamente, é o meu lugar, não o seu. E ele atacou a na...”
Ele parou como se não pudesse dizer a palavra e inspirou
bruscamente. “Dove. Ele atacou Dove bem na nossa frente.
Isso é o equivalente a ele me mostrar o dedo do meio. Eu quero
ouvir o que ele tem a dizer.”
“Mas...” Dick começou.
Luna tocou o braço de seu pai. “Ainda bem que ele quer.”
Ele a cortou com um olhar. “Obviamente, não posso dizer
não, mas acho que seria mais prudente você ficar aqui e
desfrutar de uma refeição.”
Griffin franziu os lábios enquanto considerava as
palavras de Dick.
“Claro.” Dick descaradamente não queria que Griffin
fosse com ele, a ponto de desencorajá-lo abertamente.
“Almoçar é muito mais importante do que cumprir os deveres
de alfa.” Eu disse docemente enquanto sorria e batia meus
cílios.
“Não se preocupe, não estou pronto para intervir de forma
permanente.” Griffin se endireitou. “Mas, como eu disse, ele a
atacou bem na minha frente, é quase como um desafio. Um
dia, vou retomar o papel em tempo integral e preciso mostrar
a todos que não vou aceitar nenhum desaforo.”
“Vamos.” Killian pegou minha mão e abriu a porta dos
fundos. “Nos vemos mais tarde.”
Deixei que ele me puxasse porta a fora, mas eu não queria
sair. Dick estava tentando fazer Griffin se afastar e, por
alguma razão, Griffin quase permitiu. Se eu não tivesse me
intrometido, tive a sensação de que ele teria perdido a
coragem. Mas se Griffin era o verdadeiro alfa e queria fazer
parte do interrogatório, não cabia a Dick dizer não ou
desencorajá-lo.
“Você está bem?” Killian perguntou, levando-me para sua
caminhonete.
“Sim, por quê?” Concentrei-me em Killian. Tudo dentro
de mim estava me dizendo para voltar para Griffin, o que eu
não entendia. A sensação puxava e coçava dentro de mim,
quase ao ponto de ser avassaladora. Ele tinha algum tipo de
controle sobre mim, e eu não gostava nem um pouco disso.
“Vamos ver, você lutou contra o Dick.” Ele riu. “E você
também foi atacada.”
“Qual é o problema do Dick?” Tentei soar casual, mas
queria desesperadamente saber.
“Bem, ele odeia uma mulher respondendo a ele, mas ele
é um cara legal fora isso.” Killian abriu a porta do passageiro.
“Quando Atticus morreu, toda a matilha de lobos de Shadow
City caiu sobre os ombros de Griffin. Ele tinha dezessete anos.
Minha matilha é grande, cerca de oitocentos lobos, mas ele é
o alfa, não apenas entre os seiscentos que vivem em Shadow
City, mas também representa os mais de mil e quinhentos
shifters que vivem do lado de fora. Não apenas toda a
responsabilidade caiu sobre ele, mas ele estava de luto por seu
pai enquanto ainda aprendia a ser um homem, assim como
eu. Dick se ofereceu para ser seu representante. Ele aceitou
muitas das responsabilidades de alfa para permitir que Griffin
tivesse uma experiência seminormal na faculdade antes de
Dick devolver as rédeas a ele. É por isso que Griffin está se
formando em Ciências Políticas, preparando-se para seu papel
inevitável.”
Então esse era o ângulo pelo qual o velhote estava
trabalhando. Tive a sensação de que ele não tinha intenção de
devolver o poder a Griffin. “Griffin também não é seu Alfa?” Se
o bando de Killian fosse o único a proteger a cidade, faria
sentido que eles estivessem conectados.
Ele riu. “Não. Com a gente morando fora, temos nossa
própria matilha. Funciona melhor assim. Além disso, se não o
fizéssemos, então teríamos que obter a aprovação do conselho
para quaisquer decisões que nós, ou melhor, eu tomasse. É
mais fácil ficar separado.”
“Entendo. E por que você não me disse quem era Griffin?”
Isso meio que me magoou, mas eu não tinha o direito de ficar
chateada. Nós nos conhecíamos há apenas um dia, e eu tinha
uma tonelada de segredos que não havia compartilhado com
ele. Eu deslizei em meu assento.
“Porque Griffin prefere fingir que ninguém sabe, embora
isso seja realmente impossível.” Ele puxou a orelha. Percebi
que era um sinal de que ele estava desconfortável. “Esse tipo
de papel não é daqueles do qual você pode se esconder.”
“O que está acontecendo com os ataques?” Parecia que
havia mais por trás do ataque do shifter urso em mim hoje.
Talvez o ataque de hoje a mim tenha sido apenas coincidência,
mas parecia conveniente. Algo sobre tudo aquilo me
incomodava.
Killian tamborilou com os dedos no volante. “Desde que
Shadow City começou a reabrir e a faculdade foi construída,
houve pelo menos um ataque a lobos por mês. Achamos que
é porque Atticus foi quem comandou o ataque.” Ele deu de
ombros. “De qualquer forma, sua melhor aposta é ficar
comigo, especialmente porque você foi atacada duas vezes em
dois dias.”
“Achei que Shadow City era um lugar de refúgio. Como
isso se tornou tão volátil?” Essa era a peça que faltava e que
eu não conseguia entender.
“Pelo que Griffin me disse em uma noite de bebedeira,
essa era a intenção, mas eles começaram a recrutar seres
poderosos e aprovando apenas os mais fortes para se
mudarem para lá antes que a fronteira fechasse.” Ele deu de
ombros. “Eu não o pressionei por mais informações, mas
essencialmente, apenas os mais fortes dentre as raças foram
autorizados a entrar na cidade.”
Tanta história escondida. Mas o problema não era meu.
Eu tinha algo mais urgente em minha mente. “Eu preciso de
roupas.” Eu levantei o tecido da saia. “Isso não está dando
certo. Eu preciso do jeans para poder carregar minha faca. Eu
odeio ter que perguntar, mas você pode me cobrir até eu
receber meu primeiro pagamento?”
“Normalmente, eu discutiria com você, mas depois de
hoje, não vou mais.” Ele fez beicinho. “Então, acho que isso
significa que vou levar você para fazer compras.”

O resto do dia voou, apesar de eu olhar por cima do


ombro o tempo todo, esperando ser atacada novamente. Eu
tinha comprado dois pares de jeans, algumas camisas, um par
de tênis e botas em um brechó local, então amanhã eu me
sentiria mais eu mesma.
Uma vez que minhas coisas novas foram lavadas, eu as
guardei e então andei pelo pequeno quarto. Eram quase onze
da noite e eu estava inquieta. Minha loba estava nervosa, não
tendo um bando, e além disso aquele maldito puxão estava me
afetando novamente. Eu estava esperando que Killian se
acomodasse durante a noite para que eu pudesse sair para o
quintal e ficar sob a luz da lua por alguns minutos. A lua
sempre parecia acalmar minha alma e falava com minha loba
de uma forma quase inexplicável. Não era tão eficaz quanto
correr na forma animal, mas ajudaria a aliviar o tumulto
interno.
O mais silenciosamente possível, abri a porta e me
arrastei até a varanda dos fundos. Murmúrios baixos da
televisão do quarto de Killian me informaram que ele já estava
na cama. Meu coração desacelerou quando uma sensação de
calma caiu sobre mim. Eu precisava ficar sozinha. Ele e eu
estivemos juntos o dia todo e, embora gostasse de sua
companhia, precisava de espaço para funcionar normalmente.
Desci os degraus de tijolos e contornei a área de concreto
da piscina até que meus pés tocassem a grama ao lado do
quintal. Levantei meu rosto para a lua, sentindo um pouco de
seu poder me inundar. Mesmo que fosse uma gota em
comparação com a lua cheia, foi o suficiente para fazer meu
sangue ferver.
Foi quando ouvi o estalo de um galho. Eu fiquei tensa.
Eu não estava sozinha.
Girei nos calcanhares e olhei na direção da casa branca
ao lado. O cheiro de couro e mirra encheu meu nariz, e o puxão
de antes reapareceu.
Griffin estava perto.
Droga. Eu vim aqui pela paz, e o babaca apareceu aqui.
Talvez ele tenha vindo nadar. De qualquer maneira, eu tinha
que ficar longe dele. Por alguma razão, ele me irritou por estar
tão próximo. O fato de eu ser atraída por seu jeito de playboy
me irritou ainda mais.
Nenhuma garota que se preze iria querer alguém como
ele. E me recusava a ser só mais uma das garotas que ele
conquistou, mesmo que eu quisesse descobrir o gosto de sua
boca.
Essa era outra razão pela qual eu não precisava estar
perto dele. Eu nunca provaria seus lábios. Nunca.
Esperando que ele não tivesse me visto, me virei para
voltar para dentro.
“O que você está fazendo aqui sozinha?” Ele perguntou
quando ultrapassou a linha das árvores.
Eu fiz uma careta para ele. “Cuidando da minha vida, ao
contrário de você.” Eu gostaria que houvesse uma cerca
protetora ao redor da piscina para que eu pudesse me
esconder, mas shifters instintivamente sabiam nadar, então
se afogar não era um perigo.
“Anotado.” Ele enfiou as mãos nos bolsos e parou a cerca
de um metro e meio de mim. Ele ainda usava as mesmas
roupas desta tarde, mas parecia um pouco pior pelo desgaste.
“Você deu uma surra naquele shifter urso. Mas eu não ficaria
muito convencida. Você provavelmente não conseguiria fazer
isso de novo.”
“Por que, porque eu sou uma garota?” A malícia escorria
de cada palavra.
Griffin riu. “O cara não esperava que você revidasse,
então você teve o elemento surpresa.”
Que bastardo arrogante. Na real, eu já tinha notado isso
sobre ele desde cedo, mas sua presunção parecia piorar a cada
vez que eu o via, e isso tinha acontecido apenas duas vezes
até agora. O que aconteceria na próxima vez? Talvez ele
tentasse provar seu ponto me jogando na frente de um carro.
“Nós poderíamos lutar agora.” Eu chutaria a bunda dele,
e isso seria o fim.
Eu espero.
“Você acha que poderia me vencer?” Ele tocou seu peito
com um sorriso enorme. Seus olhos foram para a minha boca,
e eu lambi meus lábios em resposta.
Argh, eu tinha que parar. Eu endireitei meus ombros e
levantei meu queixo. “Eu sei que posso.” Especialmente com
a lua brilhando sobre mim, eu poderia dar uma surra nele de
olhos fechados.
“Você quer que a gente se transforme em lobo?” Ele
agarrou a bainha de sua camisa, pronto para removê-la.
Isso era um enorme e gordo não. Se eu me transformasse,
ele provavelmente saberia o que eu era. “Não, eu não preciso
do meu animal para fazer você gritar como uma menina.”
“Bom, tudo bem então.” Ele investiu contra mim sem
avisar, lutando sujo.
Eu não estava surpresa. Ele se moveu para envolver seu
braço em volta da minha cintura, e eu girei para a direita fora
de seu alcance. Ele passou correndo por mim e quase caiu,
pois havia planejado que meu corpo parasse seu ímpeto.
Ele bufou e me encarou enquanto seus olhos castanhos
brilhavam. “Você teve sorte.”
“Você continua dizendo isso.” Eu não pude deixar de
provocá-lo. Seu primeiro movimento me disse tudo o que eu
precisava saber sobre como ele lutava. Ele era forte, mas
confiava em sua força para vencer. Além disso, ele não tinha
forma, nenhuma técnica de luta e uma má consciência no
geral de como se mover. Talvez Shadow City tenha ficado
estragada desde que eles tinham guardas. Este alfa estava
mais focado em estudos políticos e alianças do que em
combate, embora eu imaginasse que com o treinamento
adequado, ele poderia ser uma força no campo de batalha.
Girando os ombros, ele alongou o pescoço de um lado
para o outro, como se isso fizesse diferença.
Inclinei-me para trás como se não tivesse nenhuma
preocupação no mundo. Eu gostava de provocá-lo. Meu corpo
aqueceu, mas fingi que era por causa da briga e não por causa
do homem lindo parado na minha frente.
“Para começo de conversa, eu estava tentando pegar leve
com você, mas não mais.” Ele balançou as mãos ao lado do
corpo e se mexeu. “Começou.” Ele se lançou para mim, se
abaixando enquanto chutava com um de seus pés com a
intenção de me fazer cair.
Querendo acabar com isso, deixei a lua aquecer meu
sangue e saltei por cima de sua perna. Aterrissei atrás dele e
abaixei meu cotovelo para que tocasse a parte de trás de seu
pescoço e ombro, mas não pressionei com força. “Se eu
quisesse, eu poderia te nocautear. Você ainda acha que eu só
tive sorte antes?”
Ele se virou, e seu peito roçou em minha lateral.
Arrepios se espalharam por todo o meu corpo enquanto
meu corpo formigava. Tem que ser a lua, menti para mim
mesma. Mas a mentira era inútil. Essa sensação estranha
tinha a ver com o cara sexy bem na minha frente. Se eu não o
conhecesse melhor, pensaria que ele era meu companheiro
predestinado. Mas um idiota como ele não poderia ser isso.
Sua cabeça baixou para a minha, e eu não queria me
mover. Algo aconteceu entre nós e deixou minha cabeça
confusa.
Isso era o que eu precisava para sair de qualquer feitiço
que estivesse nos cativando. Eu dei três grandes passos para
longe dele. O calor desapareceu. “O que você está fazendo
aqui?”
“Saí para correr e estava voltando para casa.” Ele acenou
com a cabeça para a casa branca ao lado.
Suas palavras não fizeram sentido por um momento.
“Espere, você é vizinho de Killian?”
“Fico bem do lado.” Ele apontou para a casa com todas
as latas de cerveja espalhadas pelo quintal. “Seu namorado
não mencionou isso? Eu moro ao lado dele há dois anos.”
“Por que ele mencionaria?” Normalmente os homens que
possuíam egos superinflados, eram baixos para os padrões
shifter, então com a altura de Griffin, eu não tinha certeza de
qual poderia ser sua desculpa. Talvez a síndrome do pau
pequeno. Meu olhar desceu até sua virilha, e pude ver o
contorno em seu jeans azul.
Nenhum pau pequeno. Talvez insegurança então.
“Porque eu sou o melhor amigo dele.” Ele zombou como
se isso fosse óbvio. “E nós somos inseparáveis desde que saí
de Shadow City.”
“Tem certeza?” Inclinei a cabeça e dei de ombros. “Porque
parece que você está mais ocupado saindo com Luna e o pai
dela do que tentando ser amigo de Killian.”
“Ah.” Ele riu. “É fofo que você esteja tão preocupada.”
Ele estava gostando de me provocar. Eu queria responder
a ele, mas eu já tinha dito e feito muito. Eu vim aqui para ficar
sozinha e me acalmar. Brigar com ele resultou no oposto
completo.
Chegou a hora de eu assumir o controle. Dei alguns
passos em direção à casa de Killian, determinada a deixar sua
idiotice para trás.
“Dove.” Ele suspirou e me alcançou, em seguida, deu um
passo na minha frente. “Dê-me um momento, por favor.”
Uau, ele estava sendo legal, exceto por ter me bloqueado.
“Você tem um minuto.”
Um rosnado emanou de seu peito diante da minha
exigência, mas seus olhos se suavizaram. “Eu quero saber
como você realmente está.”
A preocupação em sua voz me pegou desprevenida. Eu
não gostava que ele soasse como um cara legal, especialmente
quando eu recebia vibrações confusas dele. Não havia
maldade dentro dele, o que provava que ele era uma boa
pessoa, ao contrário de Luna e Dick. Mais uma vez, eu estava
grata pela vantagem de ser uma loba prateada, ser capaz de
sentir a verdadeira intenção de alguém. Odiá-lo não era
possível, apesar dele me irritar. Era por isso que eu precisava
que ele fosse o babaca de alguns minutos atrás. “Estou bem.”
O cheiro horrível de uma mentira exalou de mim.
“Você está tentando mentir para mim?” Ele tossiu e
acenou com a mão na frente do nariz. “Você acha que eu não
posso sentir o cheiro ou algo assim?”
Cara, eu odiava que ele tivesse me pego. “As palavras
escaparam.”
E agora eu não tinha nenhuma delas. O buraco no meu
coração se abriu ainda mais. Até agora, meu status de lobo
solitário não tinha me fraturado mentalmente, mas a
inquietação era um sinal desse começo. Eu precisava
descobrir meus próximos passos, que deveriam envolver
encontrar outro bando, mas não podia correr o risco. Pelo
menos, não naquele momento. Assim que eu entrasse em um,
o link alertaria a todos que eu era diferente de um lobo normal.
Os dedos de Griffin roçaram meu braço. “Ei, você está
bem? É como se você estivesse em outro lugar.”
“Sim, desculpa.” Eu me esforçaria mais para me manter
inteira. Eu não podia quebrar, especialmente na frente dele.
“E eu vou ficar bem.” Eu me encolhi internamente, esperando
que o cheiro da mentira voltasse a aparecer, mas
reconfortantemente, o ar permaneceu fresco. Eu acreditava
naquilo.
Estranho.
Eu não esperava por isso.
“O que posso fazer para melhorar?” Ele se aproximou de
mim. “Quero facilitar as coisas para você.”
Meu corpo me traiu, e eu me inclinei para ele. Eu tinha
que esquecer seu toque, cheiro e proximidade. “Diga-me o que
você descobriu com o shifter urso.” Lá estava. Mesmo que ele
me afetasse, consegui manter nossa conversa estritamente
profissional.
“Bom, foi uma merda.” Sua mandíbula se contraiu e sua
mão caiu enquanto ele olhava para o céu noturno.
Uau, que útil. “Se importa em ser mais específico?”
Griffin encontrou meu olhar. “Eu vim para contar a
Killian o que aconteceu, e ouvi vocês dois jantando juntos.”
Eu o analisei, perdida. “Por que você não chamou?” Ele
não parecia o tipo que se importaria se estivéssemos jantando.
Ele invadiria.
“Eu esperava que ele estivesse sozinho,” disse ele
firmemente. “Então, eu estava esperando você sair, mas aqui
está você no quintal de pijama. Você está morando com ele?”
“Só um lembrete, fui eu quem foi atacada, não ele.” Fiz
um gesto para a casa. “E como é que eu ficar aqui é da sua
maldita conta?”
“Não é.” Ele ergueu as mãos. “Fiquei curioso. E queria
falar apenas com ele porque estava tentando não te ver.”
Suas palavras doeram, o que me deixou ainda mais
irritada. Ele não deveria ter tanto efeito sobre mim. Na
verdade, eu deveria estar em êxtase por ele não querer me ver,
mas o fato de o ar não cheirar mal me disse tudo o que eu
precisava saber. “Então por que você veio falar comigo?” Se ele
não queria estar perto de mim, então ele não deveria ter dito
nada em primeiro lugar. “Eu estava prestes a entrar, e você
não teria sido forçado a ter essa conversa.”
“Porque eu pensei sobre isso, e achei que você deveria
saber também.” Ele soltou um suspiro e estreitou os olhos.
Querendo voltar ao ponto principal, cruzei os braços.
“Então me diga, o que aconteceu com o shifter urso?”
“Não há muito o que contar.” Griffin passou a mão pelo
cabelo com gel, bagunçando-o.
Eu fiz uma careta. Ele era de alguma forma, capaz de ficar
ainda mais bonito.
Mas eu me recusei a me distrair. Nada de bom viria disso.
“Bem, então esta deve ser uma conversa muito curta.” Eu
retruquei. Em um minuto, eu estava tentando ser legal com
ele e, no próximo, estava com raiva. Minhas emoções se
tornaram um ioiô, e eu não sabia por quê.
“Lembra como aquele cara que trabalha para Dick,
Harold, estava levando o shifter urso para a prisão de Shadow
City?” Ele perguntou.
“Sim.” Talvez se eu fosse breve, ele chegaria ao ponto
mais rápido.
“O shifter urso de alguma forma o deixou inconsciente e
fugiu.” Ele cerrou os punhos. “O que significa que não temos
pistas se ele foi a única pessoa no ataque ou se foi um
movimento calculado organizado por outros. De qualquer
forma, o idiota está solto de novo, em algum lugar por aqui.”
“Ele não estava algemado?” Certamente o cara não teria
colocado o urso na parte de trás de um carro sem restrições.
Griffin riu sem humor. “Na verdade, ele não estava.
Harold o amarrou com uma corda, mas o shifter urso fingiu
estar inconsciente e a arrancou. Ele atacou Harold, fazendo-o
cair da ponte que leva à Shadow City.”
“Uma ponte?” Eu não tinha visto mais do que o centro de
Shadow Ridge e a universidade, então não tinha idéia de
quantas maneiras havia de entrar em Shadow City.
Ele gesticulou com a mão em um movimento circular. “O
rio circunda a grande ilha onde Shadow City foi construída. A
ponte leva ao portão de entrada. As bruxas enfeitiçaram a
cidade para que o rio Tennessee ao redor pareça mais estreito
do que realmente é, e é por isso que não há muito tráfego
fluvial por aqui.” Ele revirou os olhos. “Felizmente, Harold
acordou antes que o carro se enchesse de água, mas o shifter
urso já tinha ido embora. Seu cheiro era indetectável. Lamento
que eu tenha metido você nessa confusão. Ele te atacou
porque você estava comigo. Eles estão tentando me assustar,
então vou tentar fechar as fronteiras novamente.”
“Então por que você estava aqui sozinho?” Se o urso
pudesse estar em qualquer lugar, fazia sentido que ele
tentasse me atacar novamente, mas não sabíamos se eu era o
alvo ou o lobo próximo mais conveniente no momento.
“Você também estava.” Griffin apontou para mim. “Então,
acho que isso é um pouco hipócrita.”
“Eu pensei que ele estava preso.” Pra ser justa, se eu
soubesse que ele havia escapado, meu primeiro instinto teria
sido rastreá-lo. Mas eu precisava ficar parada um pouco mais.
Eu não precisava que meus caçadores me encontrassem,
tanto quanto não queria que ninguém mais sofresse um
ataque. “Qual é a sua desculpa?”
“Minha desculpa não é boa.” Ele diminuiu a distância
entre nós novamente, e estava tão perto que seu hálito de
menta atingiu meu rosto.
Minha respiração acelerou, quase igualando a batida
acelerada do meu coração. “Não perguntei se era boa.
Perguntei o que era.”
“Eu queria ter certeza de que o urso não tinha vindo
procurar por você. Eu ia perguntar a Killian onde você morava.
Quando percebi que você estava aqui, planejava segui-la até
em casa.” Ele suspirou como se o que fosse dizer a seguir, lhe
custasse admitir. “Ver você se machucar antes, quase me
deixou louco.”
Suas palavras ameaçaram derrubar minhas barreiras,
mas isso não poderia acontecer. Fosse o que fosse. “Estou com
Killian.” Ajudou o fato de termos concordado em ser
exclusivos, então isso não era mentira. Além disso, Killian
tinha me ajudado, e eu não podia deixar minha reação
inconveniente a um cara gostoso estragar meu relacionamento
com o único amigo que eu tinha.
“Sim, estou bem ciente.” Uma veia entre suas
sobrancelhas saltou. “Obrigado por lembrar.”
“Qual diabos é o seu problema?” Eu não sabia o que
estava acontecendo entre nós. Luxúria? Fazer sexo com ele
acabaria com essa energia? Absolutamente não. De jeito
nenhum que minha primeira vez seria com um playboy, que
ficava louco falando sobre seu creme e onde ele gostava que
fosse colocado.
“Nada,” ele disse um pouco alto demais. “Absolutamente
nada. Quero dizer, estou pronto para ele superar os
sentimentos dele por você, e chutar sua bunda no meio-fio.”
“Diz o idiota que deu em cima de mim na frente da garota
que está tentando manipulá-lo para se estabilizar.” Se ele
quisesse me machucar, eu poderia retribuir o favor.
“Ela não está.” Ele zombou. “Não seja louca.”
Oh, diabos não. Ele tinha um desejo pela morte. Eu bati
meu pé, impersonificando Luna. “Griffin,” eu choraminguei e
fiz beicinho, esticando meu lábio inferior o máximo que podia.
“Você me abandonou.” Eu me endireitei, incapaz de manter a
farsa, dei um tapinha no meu peito e revirei os olhos. “Você
está certo. Foi mal. Ela totalmente não está tentando
manipular você.”
“Ciúme cai bem em você.” Ele passou um braço em volta
da minha cintura e me puxou com força contra seu peito. “Na
verdade, é sexy. Talvez eu devesse irritar você com mais
frequência.”
O puxão se fortaleceu até o ponto em que parecia que dois
ímãs estavam se atraindo um para o outro.
Meu corpo se aqueceu de uma forma como nunca antes,
e eu nem tentei me afastar.
“Você também se sente atraída por mim.” Ele abaixou a
cabeça e o mundo ao nosso redor desapareceu, a conexão
entre nós forte demais para ser ignorada. Seus lábios se
direcionaram para os meus quando meu raciocínio me deixou.
Eu não conseguia me lembrar por que isso era uma má ideia.
A porta dos fundos tilintou e se abriu. “Dove?” Killian
chamou.
Empurrei Griffin para longe e recuei quando Killian pisou
na varanda dos fundos. Ele fez uma pausa e esfregou o queixo
enquanto nos observava.
“Vocês dois estão tentando acordar a vizinhança?” Ele
perguntou.
“Não.” Eu sabia que estávamos sendo barulhentos, mas
não tinha percebido a extensão.
Griffin puxou sua camisa e olhou para mim. “Por que
diabos você me empurrou?”
“Porque você estava muito perto de mim.” E eu adorei
cada segundo disso. Eu nem queria considerar o que teria
acontecido se Killian não tivesse saído. Os lábios de Griffin
estavam a apenas um suspiro dos meus, e eu não tive coragem
de me afastar.
Eu não poderia ficar sozinha com ele. Inferno, eu não
deveria estar perto dele, mas definitivamente não sozinha.
“Você não estava reclamando alguns segundos atrás.”
Griffin sorriu.
“Que diabos isso significa?” Killian ficou tenso e desceu
correndo as escadas, juntando-se a nós no quintal.
Meu corpo parecia estar pegando fogo, e não o do tipo que
senti momentos atrás. Esse era o tipo que me fazia querer
cobrir meu rosto de vergonha. Quase quebrei uma promessa
feita à única pessoa em quem podia confiar. Eu tinha que
descobrir uma maneira de salvar isso. “Ele e eu brigamos.”
Isso não era mentira.
“Brigaram?” Killian repetiu, e sua testa ficou marcada
pela confusão.
“Ele não achava que eu poderia chutar o traseiro dele.”
Evitei o olhar de Griffin, não querendo ver sua expressão.
“Então, eu tive que provar a ele que posso me cuidar.”
“Cara, eu poderia ter te dito isso.” Killian apontou para o
rosto dele. “Ela quebrou meu nariz ontem.”
“Tanto faz,” Griffin resmungou. “Mas é culpa dela que
estamos brigando. Eu estava aqui certificando-me de que o
shifter urso não estava por perto, e ela saiu sozinha. Você não
acha que não deveria deixar sua namorada sair à noite
sozinha?”
“Ele não é meu pai, então não preciso da permissão dele.”
Deus, eu queria bater em Griffin. Eu olhei para ele. “Então por
que você não vai para o inferno?”
Bem, eu me irritei rapidamente, mas não conseguia
controlar minhas emoções perto dele. Isso ia ser um problema.
“Ah, está claro que ele não é seu pai.” Griffin riu
loucamente. “Você não tem que me dizer isso, mas se ele se
preocupa tanto com você, então ele precisa não deixar você
sair sozinha no meio da noite. Você pode ser capturada ou
pior.”
“Precisamos refazer isso de novo?” Meu corpo tremia de
tanta raiva. “Eu posso cuidar de mim mesma.”
Killian tocou meu ombro e Griffin rosnou.
“Cara.” Killian tirou a mão de cima de mim. “Você está
bem?”
“Estou bem.” Griffin endireitou os ombros e estufou o
peito. “Mais do que bem. Ótimo.” O cheiro horrível de mentira
atingiu nossos narizes.
“Sim, certo. Se for esse o caso, então por que vocês dois
estão aqui, gritando um com o outro?” Killian olhou para mim
antes de se concentrar em seu amigo novamente. “Quero
dizer, você diz que ela não deveria estar aqui fora, mas se
alguém estivesse nas proximidades, eles viriam verificar o
barulho, e vocês dois poderiam estar em apuros.”
Droga, ele estava certo. “Parte de sua preocupação é que
o shifter urso escapou antes que eles pudessem levá-lo para a
prisão.”
“O quê?” A boca de Killian caiu. “Como isso é possível?”
Os ombros de Griffin desinflaram, e ele pareceu a pessoa
confusa que eu me senti momentos antes. Ele esfregou a mão
no rosto. “Aparentemente, Harold não seguiu o protocolo
padrão da polícia, e o cara o atacou e fugiu.” Griffin começou
a história do zero, contando a Killian tudo o que ele já havia
me contado.
“Por que você não nos contou isso antes?” Killian franziu
a testa. “Ele poderia tentar novamente.”
“É por isso que estou aqui fora.” Griffin olhou por cima
do ombro para a floresta. “Eu queria ter certeza de que
ninguém estava à espreita.”
“Nós nem sabemos se ele estava atrás de mim.” Se o urso
fosse um dos homens que mataram meu bando, ele saberia
que eu era habilidosa e forte. Ele teria reforços, especialmente
porque não era lua nova. Achei que devia ser alguém diferente,
o que tornava as coisas ainda mais complicadas. “Eu poderia
ter sido apenas o lobo mais próximo do alcance.”
“Ela está certa.” Killian passou um braço em volta da
minha cintura enquanto observava Griffin. “O grupo que está
infeliz está atacando os lobos em geral. Qualquer um de nós
pode ser o próximo.”
“Eu não entendo o que está acontecendo.” Eu absorvi
muito antes, mas ainda faltavam peças cruciais do quebra-
cabeça. “Entendo que os lobos estão sendo atacados porque
todos vocês abriram a cidade de volta, mas ainda não entendo,
por que apenas lobos?”
“Pouco antes de meu pai morrer, ele liderou a iniciativa
de abrir as fronteiras, para grande desgosto de um dos
membros do conselho dos anjos e de todos os três
representantes das bruxas. A votação foi lançada e meu pai
obteve a maioria por apenas um voto. Mesmo que ele tenha
morrido, não havia como parar a decisão.” Griffin estremeceu
de dor. “O poder alfa foi transferido para mim após a morte
dele. Às vezes, sentir todo mundo, chega a ser demais. É por
isso que as coisas desmoronaram desde então.”
“Qualquer transição tem seus problemas.” Killian tentou
tranquilizá-lo. “Já conversamos sobre isso.”
“E eu disse a você que não estou pronto para ser alfa. Eu
nunca poderia ser o tipo de líder que meu pai era.” Griffin
esfregou as mãos. “A única razão pela qual não entreguei as
rédeas a Dick permanentemente é todo o tumulto que está
acontecendo. Uma vez que as coisas estejam resolvidas, vou
descobrir meus próximos passos.”
Todos ficaram em silêncio e, depois de um longo
momento, forcei um bocejo. Eu vim aqui para encontrar
conforto e refúgio, mas tudo o que consegui foi drama e
angústia. “Estou exausta. Vou para a cama.”
“Você não deveria ir para casa?” Griffin murmurou.
“Cara,” disse Killian, “ela vai ficar comigo por um tempo.”
Ele levantou as duas mãos. “Eu estava pensando que se
o urso a atacou porque ela estava conosco, ficar longe seria a
melhor ideia.”
“Eu cansei de ter a mesma conversa com você de novo e
de novo.” Eu olhei para ele. “Eu já te dei uma surra, então
esqueça.” Subi os degraus até a varanda dos fundos e entrei
na casa, deixando os dois idiotas do lado de fora.
Quando a porta se fechou, encostei-me na parede,
tentando encontrar algum tipo de calma.
“Por que você está sendo tão idiota com ela?” Killian
rosnou e eu me assustei, percebendo que estava no lugar
perfeito para escutar. Prendi a respiração, tentando ter certeza
de que ouviria tudo. Killian continuou: “É porque eu a
encontrei primeiro?”
“O quê?” Griffin disse, parecendo surpreso. “Não.”
“Então o que diabos é isso?” Killian pressionou com mais
força.
Prendi a respiração enquanto esperava ansiosamente sua
resposta. Eu não sabia por que, mas sua resposta era muito
importante para mim.
“Cara, eu não sei.” Griffin suspirou. “Ela me irrita, e eu
não tenho idéia do porquê.”
“Pode ser porque ela te rejeitou quando você tentou dar
em cima dela?” Killian perguntou.
“Talvez. Eu não sei, cara.” Griffin parecia em conflito.
“Quero dizer, não me interprete mal. Estou feliz que ela me
rejeitou desde que ela está com você, e eu nunca teria dado
em cima dela se soubesse que ela era a garota que você
mencionou ontem à noite. Eu acho que é em parte porque ela
apareceu do nada e agora está dormindo na sua casa. O
quanto você sabe sobre ela?”
Virei-me para a porta, pronta para voltar lá fora para
interromper a conversa. Eu não precisava de Griffin
descobrindo sobre tudo. Ele usaria isso a seu favor. Minha
mão alcançou a maçaneta quando Killian disse: “Olha, eu
aprecio você cuidar de mim. E há uma razão para isso ter
acontecido tão rápido. Mas não é meu papel dizer a você. Dê-
lhe uma folga.”
Minha mão caiu ao meu lado enquanto meu coração se
partia novamente. Killian manteve sua palavra, mas meu
instinto disse que Griffin começaria a cavar mais. Eu tinha
que ter certeza de que não deixaria nada escapar.
Afinal, minha vida dependia disso.

Uma batida na porta me trouxe de volta ao presente.


Sentei-me na cama e olhei em volta, esperando que alguém
aparecesse debaixo da cama ou saísse do armário.
“Dove?” Killian disse e bateu novamente.
“Entre.” Puxei as cobertas sobre mim por algum motivo
idiota. Eu estava com uma calça de pijama e uma camisa. Na
verdade, eles eram os mesmos que eu tinha usado durante
toda a estranha conversa com Griffin. Se é que eu podia
chamar isso de conversa. Foi mais como raiva, tensão sexual
e eu lutando contra o desejo de lamber seu corpo inteiro.
Que diabos? Por que eu estava pensando em lambê-lo?
Isso estava errado em todos os níveis possíveis.
A porta se abriu e Killian entrou. Ele fez uma pausa e
olhou ao redor da sala, e me perguntei se ele estava pensando
em mim morando entre as coisas de sua irmã.
“Você quer que eu saia ao invés disso?” Eu nem tinha
pensado sobre ele não querer entrar aqui. Ele geralmente
ficava no corredor ou na sala de estar.
“Não, está bem.” Ele sorriu tristemente. “É bom ter você
no quarto dela. Traz um pouco de alegria para o espaço, da
mesma forma que era quando ela estava viva. Embora ela
choraria sabendo que você não aprova o guarda-roupa dela.
Ela e mamãe adoravam ir às compras juntas.” Ele riu.
“Suas roupas são ótimas, mas não fazem meu estilo. Eu
dormi demais?” Se ele fosse como eu, ele não gostaria de
continuar naquele tipo de conversa. Olhei para o relógio na
mesa lateral e vi que eram sete da manhã.
“Não, mas precisamos correr e pegar sua identidade
falsa.” Ele riu. “Carter vai perder a cabeça se você aparecer
sem ela de novo, então não vamos agitar a fera por dentro.”
Eu tinha esquecido tudo sobre isso. “Sim, parece ótimo.”
Ter uma identidade significaria que eu poderia abrir uma
conta corrente e outras coisas. “Eu vou me vestir agora.”
Em trinta minutos, estávamos entrando na lanchonete
onde eu tinha visto o homem de barba ruiva ontem. Tentei
acalmar meu coração acelerado, mas não havia muito que eu
pudesse fazer a respeito. No passado, quando eu ficava
nervosa, eu usava minha ligação com o bando para me ajudar
a me acalmar, mas não tinha isso agora. Claro, isso só me
deixou ainda mais em pânico.
“O que há de errado?” Killian perguntou enquanto
estacionava em um local com parquímetro ao lado da estrada.
“Seu coração está batendo tão forte que eu posso ouvi-lo sobre
a música. Eu não acho que poderia bater mais rápido sem
você ter um ataque cardíaco.”
Sim, não me diga. “Não é nada,” eu disse com a voz
embargada enquanto o cheiro de ovos podres enchia o carro.
“Não, sério.” Ele engasgou com o cheiro. “O que há de
errado, e por favor, não minta. Eu não comi, então não vai
demorar muito para fazer meu estômago enjoar.”
“Lembra quando eu surtei ontem?” Fiz um gesto para o
sinal vermelho em que estávamos parados.
Ele assentiu.
“Bem, esse é o restaurante de onde aqueles caras
saíram.” Eu estava sendo ridícula, mas não conseguia me
conter. Flashes de apenas dois dias atrás se repetiam na
minha cabeça, e o ataque no bar não ajudou. Eu não queria
entrar lá. Quase me senti congelada no lugar.
“Eu vou estar lá com você.” Killian pegou minha mão e
gentilmente me puxou para que eu o encarasse. “Eu não vou
sair do seu lado.”
Ele pretendia que isso fosse reconfortante, mas não podia
fazer esse tipo de promessa. Eu odiava me sentir tão fraca e
patética, mas minha loba batia com as patas contra minha
cabeça.
“Ei.” Ele segurou minha bochecha. “Respire.”
Mas não consegui, nem quando tentei. Eu tinha que fugir
e me conectar com minha loba. Era a única maneira de ficar
calma. “Eu tenho que ir. Desculpe-me.” Eu me afastei de
Killian e abri a porta. “Eu tenho que ir embora. Por favor, não
me siga. Eu preciso de um momento, sozinha. Apenas... pegue
minha identidade, por favor. Eu te encontrarei aqui em vinte
minutos.”
“Droga, Dove.” Killian sibilou quando eu bati a porta.
Eu pediria desculpas mais tarde, mas as bordas da
minha visão estavam começando a escurecer. Corri o mais
rápido que pude na direção de onde viemos, em direção à
floresta mais próxima. Talvez eu me arrependesse se fosse
pega, mas estava prestes a me perder.
Minha cabeça girava enquanto eu empurrava minhas
pernas para continuar correndo pela última estrada antes da
linha das árvores. Meus olhos se fixaram no meu destino final.
Uma buzina alta atingiu meus ouvidos, seguida por
pneus cantando e o cheiro de borracha queimada. Eu congelei
e encarei o carro quando um homem mais velho colocou a
cabeça para fora e perguntou: “Você está bem, senhorita?”
Eu não tinha o luxo de responder, ou desmaiaria antes
que pudesse me transformar. Em vez disso, comecei a correr
e continuei, agradecendo aos deuses por não ter sido atingida.
“Senhorita!” O cara gritou atrás de mim.
Assim que corri longe o suficiente na floresta para ficar
fora de vista da estrada, tirei minha camisa do meu corpo
enquanto chutava meus sapatos e depois tirei o resto. Joguei
as roupas em um monte enorme para poder encontrá-las
facilmente. Então chamei minha loba.
Ela saltou para frente sem hesitação, e eu me movi mais
rápido do que nunca. Quando caí no chão de quatro, corri
para mais fundo na floresta, precisando manter minha forma
de lobo escondida. Cheirei o ar, certificando-me de que não
havia ninguém por perto.
Nada cheirava a outros shifters ou sobrenaturais.
Os animais farfalhavam ao redor da floresta, aliviando
um pouco minha inquietação. Nesta forma, eu podia respirar,
mas a paranoia ainda estava muito próxima para o meu
conforto. Eu estava sem uma matilha há pouco mais de dois
dias, e isso já estava começando a cobrar seu preço.
Eu tinha ouvido histórias sobre como alguns lobos
podiam passar meses antes de chegar a esse ponto, então por
que eu era tão diferente? A resposta surgiu na minha cabeça,
porque eu era uma alfa sem bando para liderar.
Provavelmente teria ajudado se eu tivesse ficado sob a lua por
mais tempo ontem à noite, mas com Griffin lá, não tinha sido
possível.
Um coelho saltou de trás de uma árvore, aterrissando no
meu caminho, e minha loba ficou excitada. Ela queria ser a
predadora e deixar que nossos instintos naturais assumissem
o controle. Para perder nossa cabeça um momento.
Eu persegui o coelho, o animal pulando, correndo para
salvar sua vida. Eu não planejava comê-lo, apenas aproveitei
a caçada como a natureza pretendia.
O pequeno otário saltou mais rápido do que eu esperava,
e minhas pernas queimaram com o exercício. A paranoia
diminuiu quando me perdi na tarefa.
Minutos depois, asas bateram, quebrando minha
concentração. Eu derrapei até parar enquanto tentava
descobrir de onde vinha o barulho. Eu estava acostumada a
me preocupar com criaturas no chão, não no céu.
O trovão de grandes asas ficou mais alto, e um cheiro
familiar de rosa atingiu meu nariz. Olhei para cima a tempo
de ver Rosemary descer entre duas árvores, lindas asas de
penas escuras estendidas atrás de suas costas.
Eu não estava acostumada a me preocupar com anjos,
visto que nunca havia encontrado um antes dela. Eu tinha
que sair daqui. Eu girei e corri na direção das minhas roupas.
Eu deveria ter prestado mais atenção em ficar escondida, mas
estava tentando me controlar antes de ficar presa na cafeteria
por horas.
Esperando perdê-la, corri de volta para a estrada. Mas de
repente, algo estava bem no meu caminho. Eu derrapei até
parar, pesando minhas opções.
“Bem, isso é um tanto interessante,” disse Rosemary
enquanto cruzava os braços. “Pensei ter sentido o cheiro de
um lobo estranho aqui embaixo.”
Não.
Ninguém poderia saber quem eu era.
Se eu pudesse ter me punido por meu descuido, eu teria.
Eu sabia que não devia mudar, mas estava perdendo a cabeça
e precisava de uma válvula de escape. Ao deixar minha loba
assumir o controle, eu não tinha me concentrado em meus
arredores como deveria. Eu estava me divertindo perseguindo
um coelho saltitante.
As asas de carvão de Rosemary se abriram, fazendo com
que seu cabelo esvoaçasse ao redor de seu rosto. Ela era de
alguma forma ainda mais deslumbrante nesta forma, e eu
estava quase agradecida por estar na forma animal, ou eu
estaria boquiaberta.
Esta foi a primeira vez que vi um anjo com asas, e agora
seu perfume de rosa fazia sentido. Mas eu não tinha ideia de
como seu suéter cinza não estava rasgado em fios.
Felizmente, eu não podia falar com ela na forma de lobo,
então não era como se eu fosse capaz de responder a nenhuma
das perguntas que estavam crescendo em sua mente. Eu só
podia esperar que ela não soubesse quem eu era. Certo, quer
Rosemary soubesse ou não que era eu, a notícia de um lobo
prateado sendo visto correndo perto da cidade causaria muita
comoção e inevitavelmente chegaria às pessoas que me
perseguem.
“O que um lobo prateado está fazendo aqui? Eu pensei
que eles estavam extintos.” Ela arqueou uma sobrancelha
enquanto examinava meu corpo. “Você precisa mudar de volta
para a forma humana antes que alguém o veja.”'
De todos os cenários possíveis, não vi esse chegando.
Achei que ela estaria ansiosa para expor minha existência.
“Isso significa que é melhor você se apressar agora.” Ela
acenou com a mão para dar mais ênfase. “Mais pessoas
correm nesta seção da floresta, então quanto mais tempo você
ficar assim, mais provavelmente os outros o verão.”
Ela estava certa. Esses bosques ficavam perto do centro
e perto do campus. Meu pai estava me ensinando sobre eu não
pensar como um líder, e isso provou que ele estava certo.
Cometer erros idiotas como esse só provava que eu precisava
dele aqui comigo. Não morto. Eu não estava nem perto de estar
pronta para liderar ou mesmo sobreviver sozinha sem um
bando.
A histeria chegou mais perto da superfície, e eu respirei
fundo, tentando manter as emoções negativas sob controle.
Eu não podia me dar ao luxo de fazer outra coisa estúpida.
Não querendo chegar perto de Rosemary, eu balancei a
cabeça e saí, dando-lhe um amplo espaço. Eu nunca tinha
estado perto de anjos antes, mas tinha a sensação de que eles
teriam um excelente olfato como a maioria dos sobrenaturais,
então quanto mais longe eu ficasse, menos provável que ela
descobrisse quem eu era.
Sem alterar meu plano, corri de volta na direção de
minhas roupas. No entanto, desta vez, mantive meus olhos e
ouvidos atentos a sons vindos de qualquer ângulo. Felizmente,
tudo o que ouvi foram os animais que viviam naturalmente na
floresta.
Ao me aproximar da orla da floresta perto do centro da
cidade, diminuí a velocidade para um trote. Quando alcancei
minhas roupas, examinei a área mais uma vez antes de voltar
à minha forma humana e me vestir. Passei a mão pelo meu
cabelo, certificando-me de que não havia nenhum galho ou
grama preso nele. Puxei minha blusa preta para baixo sobre
meu jeans e forcei minhas pernas a me impulsionar para
frente.
Eu precisava sair daqui antes que Rosemary me
encontrasse novamente. Eu não precisava ajudá-la a conectar
os pontos.
Desta vez, em vez de quase ser atropelada, verifiquei os
dois lados antes de atravessar a rua. Se aquele carro não
tivesse parado antes, eu poderia ter morrido.
O que me assustou foi que morrer não parecia horrível.
Se Zoe pudesse ouvir o que eu estava pensando agora, ela
me daria um soco. Mas a depressão era uma merda e eu
estava à mercê dela.
Voltei para a lanchonete quando Killian saiu. Seus olhos
imediatamente encontraram os meus, e ele correu para mim.
“Estava muito preocupado,” disse ele quando me
alcançou. “Você me assustou.”
Isso descrevia em cheio minhas ações. “Sim, sinto muito.
Os últimos dias meio que me afetaram, incluindo não fazer
mais parte de um bando. Estar solitária está começando a
cobrar seu preço.”
“Merda.” Ele passou a mão pelo cabelo e balançou a
cabeça. “Eu nem tinha pensado sobre você estar solitária.
Talvez você possa se juntar ao meu bando. Não que eu queira
ser seu alfa, mas é um bom bando, e você tem habilidades de
luta.”
“Meus problemas não são sua responsabilidade.” Ele já
havia feito tanto me dando um lugar para ficar, encontrando
um emprego para mim, me conseguindo uma identidade falsa
e sendo um amigo quando eu não tinha ninguém. Ele estava
assumindo tudo isso como se meus problemas também
fossem dele. “E, obrigada. Vou pensar sobre isso.” A resposta
era não, mas eu não queria ferir seus sentimentos.
“Não, não são,” ele concordou e deu de ombros. “Mas
estou envolvido, e não tem como se livrar de mim. Afinal, você
é minha bruxa velha.”
Uma risada escapou, me surpreendendo. Olhei ao redor
e abaixei minha voz para que ninguém além de Killian pudesse
me ouvir. “Bruxa velha? Uau. Não é de admirar que você tenha
tido que me enganar para interpretar esse papel.”
“Enganar.” Ele ofegou e colocou a mão no peito. “Isso
doeu.”
“Mas me chamar de bruxa velha não é?” Empurrei seu
braço enquanto sorria. “Seu idiota.”
“Você continua me xingando, mas veja o que eu trouxe
para você.” Ele tirou uma identidade do bolso e a segurou fora
do meu alcance. “Agora me diga o quanto você me ama, ou
você não vai ganhar isso.”
Aproveitando o momento alegre, entrei em ação e dei uma
cotovelada no estômago dele, fazendo com que ele se
inclinasse para frente enquanto tentava me bloquear. Eu girei,
agarrando a identidade enquanto me movia. Olhei para a foto,
que era a que Killian havia tirado naquela primeira noite em
seu telefone, e li o nome.
Dove Davis.
Eu bati meu dedo na identidade e fiz uma careta. “Dove
Davis?”
“Sim.” Killian assentiu e balançou as sobrancelhas.
“Duplo D4, bem aí.”
A insinuação sexual soou clara. “É por isso que você
escolheu Davis?”
“Pense nisso como uma piada interna.” Seu sorriso estava
carregado de orgulho. “Quero dizer, não é como se você tivesse
que usar isso sempre que conhecer alguém.”
“Mesmo se eu tivesse, tenho certeza que a maioria não
pensaria em peitos.” Pelo menos, eu esperava que não.
“Venha, vamos.” Ele pegou minha mão e me levou até a
caminhonete. “Antes que você se atrase e Carter cague um
tijolo.”
“Uau, sua eloquência está no ponto hoje.” Eu mostrei
minha língua, tentando manter a conversa leve.
Quando nos acomodamos no carro, Killian saiu do
estacionamento e olhou para mim. “Você percebe que quanto
mais tempo você ficar solitária, mais sua mente vai
enfraquecer?”
“Eu sei, mas o que devo fazer?” Olhei para minhas mãos.
“Não é como se encontrar um bando que funcione para mim
fosse uma coisa simples de se fazer. Eu sou uma alfa.” Eu não
seria capaz de me submeter a outro alfa. Meu pai era o alfa
quando eu nasci, e ele também era meu pai, então aceitar sua
autoridade sobre mim não foi um problema. Mas nasci para
liderar, o que complicou toda essa situação. Eu não seria
capaz de me juntar a um bando a menos que pudesse ser o
alfa. Minha loba não me deixaria, e não haveria um alfa atual
que abaixaria a cabeça, especialmente por uma garota. Os
alfas masculinos tendiam a desaprovar as mulheres em papéis

4 Duplo D pode significar também seios grandes.


de liderança, embora isso me deixasse ainda mais
determinada a provar meu valor.
Eu entendia que Killian não queria ser um alfa, pelo
menos não ainda, mas eu não queria assumir o controle de
seu bando. Isso não seria certo. Eu conseguia dizer que ele foi
feito para liderar.
“Por que não estou surpreso com isso? Isso torna as
coisas muito mais complicadas. Talvez devêssemos tentar
correr juntos,” sugeriu.
“Não!” Eu disse rapidamente.
Seu rosto caiu e suas mãos se remexeram no volante.
Ótimo, eu ferira seus sentimentos. Não era minha
intenção. Rosemary já sabia a verdade; talvez eu devesse
deixá-lo saber também. “Há outra razão pela qual não posso
correr com você ou me juntar ao seu bando.”
“E o que é?” Sua testa se enrugou em confusão. Ele
estava deixando bastante claro que ele não deixaria isso de
lado, e para ser justa, com o tanto que ele estava me ajudando,
ele tinha o direito de saber. “Você não consegue se transformar
ou algo assim?”
“Você tem que jurar que se eu te contar isso, ficará
somente entre nós. Ninguém mais pode saber. Nem Griffin.
Ninguém.” A última coisa que eu precisava era que Griffin ou
Luna descobrissem, a menos que tivessem que saber do meu
segredo mais tarde. Ou se Rosemary descobrisse quem eu era
e contasse às pessoas.
“Se eu não provei minha confiabilidade até agora, não
tenho certeza do que mais posso fazer.” Killian fez uma careta.
Tudo bem, mas eu o conhecia há apenas dois dias. Era
meio insano pensar em revelar o que eu era para alguém
depois de viver toda a minha vida em segredo, mas tudo o que
recebi foram boas vibrações dele. Eu teria que seguir meu
instinto.
“Você já ouviu falar dos lobos prateados?” Talvez ele
pudesse descobrir por conta própria, em vez de eu ter que
dizer as palavras reais.
“A raça de lobos que uma vez serviu como protetores de
Shadow City e estava ligada à lua?” Ele assentiu. “Atticus
criou Griffin com histórias sobre eles. Eles pareciam durões.
É uma pena que eles morreram. Ouvi dizer que eles eram
poderosos.”
“Bem, todos eles morreram, dois dias atrás. Exceto um,
que conseguiu escapar.” Eu disse as palavras calmamente, me
preparando para sua reação.
Ele piscou algumas vezes, olhando para a frente
enquanto as palavras caíam sobre ele. Ele inspirou. “Você é
um lobo prateado?” Ele se virou para mim. “Como diabos isso
é possível? Sua raça deixou a cidade há mais de mil anos atrás
e desapareceu.”
Tinha que estar faltando um pedaço da história. “Atticus
conhecia meu pai, que era o alfa do nosso bando. Meu pai até
visitou a cidade pelo menos uma vez porque Atticus queria
que voltássemos.”
“Por que seus ancestrais partiram?” Ele ajeitou os
ombros. “Quem quer que te atacou, sabia qual era o seu
bando?”
“Tudo o que sei é que saímos de lá porque as coisas
estavam mudando e nossa raça estava sendo usada para
coisas corruptas.” Papai nunca entrava em detalhes. Ele disse
que me contaria mais quando chegasse a hora de eu liderar o
bando. Mas isso não era relevante agora. “E as pessoas que
mataram meu bando sabiam. Eles atacaram na lua nova
quando estamos mais fracos e mais alinhados com a força de
um shifter lobo normal. O que posso imaginar é que eles
queriam me capturar viva, então eles poderiam me levar até
alguém, para fazer bebês com ele.”
“Por que alguém iria querer ser forçado a um vínculo de
companheiro?” Ele ergueu a mão. “Não que você não seja
linda. Eu estaria muito na sua se você não me lembrasse da
minha irmã.”
Pela primeira vez, fiquei sem palavras. Um carro buzinou,
assustando-me. Killian e eu olhamos pelo para-brisa e nos
vimos correndo pela pista errada em direção a um enorme
SUV.
“Porra!” Killian gritou enquanto virava o volante com
força para a direita.
Prendi a respiração quando minha cabeça virou para o
lado. Fechei os olhos, me preparando para o impacto, e forcei
meu corpo a relaxar, lembrando-me de um dos exercícios de
treinamento que papai nos obrigava a fazer regularmente.
Quando seu corpo estava relaxado, você não ficava tão ferido
como se estivesse tenso. Essa era uma das razões pelas quais
motoristas bêbados tantas vezes escapavam de um acidente
sem se machucar.
Depois de alguns segundos, nada aconteceu, e abri meus
olhos para encontrar Killian enxugando a testa e apertando o
volante com mais força.
Ele olhou para mim. “Você está machucada?”
“Olhos na estrada.” Eu rebati, não querendo
experimentar aquilo de novo. “Se você não consegue manter o
foco, podemos conversar mais tarde.”
“Estou bem agora.” Ele deu um tapinha no peito. “Eu
sabia que você tinha segredos, mas eu nunca teria imaginado
isso.”
Ninguém teria. “Para responder a sua pergunta, qualquer
criança que eu tiver será um lobo prateado de sangue puro.”
“Como isso é possível?” Ele fez uma careta. “Quero dizer,
isso não seria apenas se você acasalasse com outro lobo
prateado?”
“Deixe-me repetir.” Eu ri. “Qualquer criança que eu tiver
será cem por cento um lobo prateado. Tem a ver com nossa
conexão com a lua.”
“Como você poderia saber disso, a menos que...” Ele
parou. “Seu bando se envolveu com lobos normais? Você não
estava escondida todo esse tempo? Por que nenhum de nós
ouviu falar da sua existência?”
Ele estava fazendo muitas perguntas boas nas quais eu
nunca havia pensado antes. “Sim, às vezes, embora
ficássemos escondidos tanto quanto possível. Nós nos
integramos à sociedade para encontrar nossos companheiros
predestinados, ninguém fora do nosso bando tinha permissão
para ser levado para casa, a menos que fosse o companheiro
predestinado de um membro do bando. Por causa dessa
conexão e a necessidade de continuar aumentando nossa
matilha, essas eram as exceções. No entanto, íamos ao
supermercado e à escola como qualquer outro lobo faria. Nós
apenas não nos transformávamos com os lobos de fora ou
sequer os convidávamos para nossas casas. Mantínhamos
uma distância segura deles.”
“Isso é insano.” Killian virou a caminhonete em direção à
entrada da Universidade Shadow Ridge. “Então quem quer
que seja essa pessoa, quer você para que ele possa gerar lobos
prateados. Isso é muito pior do que eu esperava.”
E foi quando tudo isso me atingiu. Agora que ele sabia
toda a minha história, ele poderia não me querer por perto.
Eu não podia culpá-lo, com o perigo pairando sobre mim. “Eu
entendo se você quiser que eu vá embora.”
“Claro que não quero.” Ele estendeu a mão e deu um
tapinha no meu braço. “Você é apenas a segunda pessoa com
quem eu realmente me conectei desde que minha família
morreu. E honestamente, a razão de eu viver em Ridge é
porque minha matilha se tornou a protetora quando os lobos
prateados partiram. Talvez com você ao meu lado, eu poderia
me tornar o tipo de alfa que meu bando precisa e nós dois
poderíamos trabalhar juntos.”
“Sério?” Nunca pensei que Shadow City nos substituiria.
“E você sente falta de estar perto de sua matilha.”
“Sim, então eu acho legal que a história tenha meio que
se completado.” Ele abaixou a janela e escaneou seu cartão.
“E eu sinto, mas é tão difícil olhar para os membros do meu
bando, sabendo que falhei não apenas com eles, mas com
minha família. De certa forma, isso tem de ser o destino.”
Meu coração se quebrou. “Meus pais e bando serem
massacrados foi o destino?”
“Droga. Eu não quis dizer isso.” Ele limpou a garganta
enquanto fechava a janela. “Vamos falar mais sobre isso mais
tarde.”
“Ok, mas há algo mais que você precisa saber.” Olhei para
o prédio à nossa frente. “Quando eu meio que perdi o controle
antes, corri para a floresta mais próxima e me transformei.”
“Enquanto eu estava pegando sua identidade?” Ele
perguntou, suas palavras cuidadosas, não transmitindo
nenhum tipo de emoção.
“Sim, e alguém me viu.” Se ele ficasse chateado comigo,
ele tinha o direito. Já que ele estava fornecendo abrigo para
mim, quando eu fizesse qualquer coisa estúpida, poderia
recair sobre ele.
Sua mandíbula apertou. “Griffin?”
“O quê?” De todas as pessoas que ele pudesse imaginar,
eu não esperava por isso. “Não, ele não.”
“Graças a Deus.” Seus ombros relaxaram. “Então quem?”
“Rosemary.” As próximas palavras saíram da minha boca
mais rápido do que nunca. “Mas ela não me viu em forma
humana, então talvez ela não saiba que fui eu.”
“Retiro o que eu disse.” Ele ficou tenso. “Eu preferiria que
tivesse sido o Griffin, afinal. Se Rosemary descobrir, isso será
um problema ainda maior.”
“Por quê?” Se ela era uma ameaça maior, então não havia
como dizer no que estaríamos nos metendo ao estarmos
entrando no campus.
O relógio do carro marcava dois minutos para as nove.
Eu odiava interromper essa conversa, no entanto, eu
precisava do trabalho. Esperava que Rosemary não estragasse
tudo para mim, mas não podia me esconder como uma
covarde. Parecia que ela não queria que os outros soubessem
sobre mim, então eu me agarraria a isso até que ela provasse
o contrário. “Temos que nos apressar ou vou me atrasar.”
“Tem certeza que é inteligente entrar lá?” Killian estalou
os dedos. “Rosemary não é conhecida por ser paciente. E se
ela descobrir, vai alertar sua mãe, Yelahiah, que por acaso é
membro do conselho de Shadow City.”
O que significava que todos os líderes da cidade
descobririam sobre mim. Droga. “Se eu não aparecer, isso
pode confirmar o que ela suspeita. E se você estiver certo e ela
não ficar de boca fechada, então vou parecer culpada por não
ter vindo trabalhar.” Se ela começasse a falar, eu precisaria
saber o mais rápido possível. Quanto mais ela falasse e eu não
soubesse, mais risco eu estaria correndo de quem quer que
estivesse me caçando.
Meu estômago revirou.
Ser um lobo solitário já estava cobrando seu preço,
mesmo com Killian ao meu lado. Eu não conseguia imaginar
como seria tudo sozinha, sem nem mesmo um amigo.
Relacionamentos eram importantes demais para os lobos.
“Tudo bem, mas um olhar esquisito, e damos o fora de
lá.” Ele me olhou severamente. “Você tem que pelo menos me
prometer isso.”
Eu tinha muita sorte de tê-lo encontrado. “Pode deixar.”
“Promete?” Ele insistiu.
Ele já conhecia a minha teimosia muito bem. “Sim,
prometo.”
Ele deve ter visto o que procurava porque abriu a porta e
saiu. Normalmente ele correria e abriria a minha, mas eu
tinha um minuto para entrar. Saí e me juntei a ele atrás da
caminhonete. Sem perder o ritmo, nós dois corremos para
dentro do prédio e fomos até a cafeteria.
Quando nos aproximamos da loja, a fila já estava fora da
porta e adentrando o corredor. Eu não deveria ter ficado
surpresa, a maioria das pessoas na fila parecia que poderiam
dormir ali mesmo.
Eu corri para o balcão onde Carter estava mal-humorado
na frente da caixa registradora enquanto um shifter corvo
esguio fazia bebidas.
Carter fungou quando me aproximei e soltou um grande
suspiro, “Já era hora de você chegar aqui.”
“Ah vamos lá.” Killian riu enquanto me alcançava. “Ela
está um minuto atrasada. Tenho certeza que essa fila não
apareceu milagrosamente durante o último minuto.”
“Não, mas Deissy disse que estava doente de novo.”
Carter franziu a testa. “Eu disse a ela para não se incomodar
em vir nunca mais.”
“Você despediu ela?” Killian parecia levemente
impressionado. “O que fez você finalmente fazer isso?”
“Porque você encontrou alguém para substituí-la.” Carter
levantou um dedo para o cliente parado na frente. “Por favor,
espere um segundo.” Ele se virou para mim. “Mas eu preciso
dessa identidade agora. O RH gritou comigo por deixar você
trabalhar ontem.”
O fato de que ele planejava me manter ajudou com um
pouco da minha confusão. Pelo menos, eu tinha algo que
poderia meio que chamar de meu.
“Ah, aqui.” Graças a Deus Killian veio até mim. Entreguei
a Carter minha identidade e coloquei um avental. “Algo mais?”
Pelo menos, ele estava agindo normalmente, não que ele
tivesse ouvido as últimas fofocas com a loja insanamente
ocupada.
“Sim.” Carter sibilou para a caixa registradora como se
fosse o demônio que ele disse que vivia nela. “Trabalhe nessa
maldita coisa.”
Eu sorri enquanto chegava no caixa. Carter já parecia
confiar em mim, o que me emocionou.
“Que horas ela sai?” Killian perguntou.
“Venha buscá-la depois do rush5 do meio-dia, mas vou
querer ela aqui amanhã cedo,” respondeu Carter.
Killian me soprou um beijo enquanto saía pela porta, e
então me concentrei na minha tarefa.

Durante a primeira hora, meu coração acelerava toda vez


que alguém entrava na loja. Cada vez, eu esperava ver o lindo
5 Horário de pico
anjo negro que me encontrou na floresta esta manhã. Mas ela
nunca apareceu. Talvez ela não tivesse ideia de quem eu era,
afinal. Ou talvez ela não se importasse.
Os anjos eram sobrenaturais e podiam voar, e tinham
superforça e outras habilidades mágicas, mas seus narizes
não eram tão sensíveis quanto os de um lobo ou urso.
Talvez eu estivesse segura, afinal. Talvez eu não tivesse
precisado revelar meu segredo para Killian. Com medo, corri
para contar a ele, não querendo que ele ouvisse isso de outra
pessoa. Saber o que eu era o colocava em perigo, mas eu não
podia voltar no tempo e mudar o passado.
Mas cara, eu gostaria muito de poder. Teria sido tão bom
ter essa habilidade. Minha matilha ainda estaria viva e eu
estaria com meu pai, treinando para o dia em que eu
assumisse o controle da matilha.
Alguém limpou a garganta e eu olhei para cima para ver
um homem que parecia alguns anos mais velho que eu. “Você
está bem, senhorita?” Seu rosto anguloso realçava os suaves
olhos azuis que estavam cheios de preocupação. Ele tirou a
carteira da calça cáqui e coçou o cabelo castanho-dourado.
Ele possuía uma presença majestosa, e ele cheirava a xarope
de bordo, que gritava vampiro.
“Sim, desculpe.” Forcei uma pequena risada que soou
como uma tosse. “Eu viajei por um minuto.”
“Viajou?” Seu rosto se enrugou com confusão.
“Eu estava sonhando acordada.” Deus, isso soou horrível.
“Mas não se preocupe, não era sobre você.” Vamos, Sterlyn. Se
recomponha.
O vampiro riu e me entregou seu cartão de crédito. “Eu
pedi um café preto.”
“Claro.” Inspirei profundamente, forçando meu corpo a
relaxar. Peguei o cartão dele, passei-o e corri para encher um
copo.
Eu nem sabia que vampiros bebiam café. Obviamente,
eles bebiam, ou ele não estaria aqui, pedindo por isso.
Geralmente, os vampiros que encontrávamos estavam focados
em uma coisa, sangue. Tivemos que proteger a cidade vizinha
várias vezes por causa de surtos de vampiros. Quando um
vampiro perdia sua humanidade, eles se tornavam mortais,
drenando humanos até a morte, e o sol começava a machucá-
los. Cada morte enfraquecia sua alma a ponto de até mesmo
o luar poder machucá-los.
Enquanto o copo enchia, um aroma de rosa atingiu meu
nariz, e a sensação de paz que eu encontrei evaporou como se
o sentimento tivesse sido uma invenção da minha imaginação.
Minhas mãos tremiam quando coloquei a tampa no café.
Surtar só pioraria a situação. Eu me virei, colocando um
sorriso falso no rosto, e entreguei a bebida ao homem atraente.
“Você precisa de mais alguma coisa?”
“Não, obrigado.” Ele piscou e saiu pela porta,
caminhando até o que tinha que ser um shifter. Eu mantive
meu olhar nele, não querendo encontrar o olhar dela.
Rosemary estalou a língua enquanto apoiava o quadril
contra o balcão. “Eu estou pensando que Killian não aprovaria
você verificando Alex assim.”
“Alex?” Do que ela estava falando? Eu esperava que ela
jogasse suas acusações em mim. Não falasse comigo como se
nada tivesse acontecido.
“O príncipe vampiro que pegou café e foi embora. Aquele
que você viu sair pela porta como se fosse a única coisa em
que você pudesse se concentrar?” Ela bateu um dedo contra o
lábio e, em seguida, abanou-o para mim. “Isso mesmo. Você
não é de Shadow City ou Shadow Ridge. De onde exatamente
você veio mesmo?”
“Um lugar não muito longe daqui.” A emoção que
emanava dela era confusão. Como se ela estivesse tentando
descobrir alguma coisa. Eu tinha que ter muito cuidado como
eu jogava isso.
“Quão longe?” Ela se aproximou de mim. “Como uma
hora ou várias?”
Infelizmente, não havia como mentir agora, então eu
estava presa nessa conversa. “Cerca de trinta quilômetros.
Quer beber alguma coisa?” Dar a ela uma quilometragem
aproximada não era a melhor ideia, mas seria difícil para ela
saber precisamente. E se ela estivesse farejando lobos
prateados, ninguém diria nada. Os únicos que sabiam, além
de mim, Killian e um bando de assassinos, estavam mortos.
“Sim.” Ela olhou ao redor da caixa registradora para
Carter. “Que tal um mocha com quatro doses extras de café
expresso?”
“É pra já.” Ele assentiu como se aquele pedido não fosse
estranho.
Eu quase quis dizer algo sobre o coração dela não gostar
disso, mas imaginei que a piada não funcionaria, e com ela
sendo um dos sobrenaturais mais fortes ao redor, não havia
muito o que machucasse seu coração, para começo. Eu
processei o pedido dela e rezei para que ela não continuasse a
investigação.
“Uma coisa engraçada aconteceu esta manhã,” ela
sussurrou. “Eu voei sobre a floresta e peguei algum shifter
perseguindo um coelho.”
Sim, ela pensou que era eu, mas a confusão dela me
acalmou. Ela estava observando minha reação, tentando
extrair algo de mim.
“Dependendo do shifter, isso faria sentido.” Olhei para ela
e sorri. Ela queria que eu escorregasse e dissesse lobo para
confirmar que era eu.
Os cantos de sua boca se inclinaram para baixo por um
segundo antes dela esconder sua expressão em uma máscara
de indiferença.
“São $6,73,” eu disse, forçando minha voz a soar
uniforme. Eu precisava que ela desistisse de toda essa
conversa, mas não podia deixá-la perceber que estava me
afetando.
Ela se balançou nos calcanhares enquanto tirava algum
dinheiro do bolso de trás. “Sabe, eu amo seu cabelo. Você
tinge?” Seu olhar permaneceu em mim.
Felizmente, eu pintei meu cabelo uma vez. Eu estava tão
cansada de ter o cabelo prateado que sempre lembrava as
crianças da minha idade de que eu era a futura líder. Eu
queria me misturar, mas para meu horror, a cor não pegou.
Meu cabelo ficou exatamente do mesmo tom que era agora.
“Sim, eu pinto.”
“Interessante.” Ela me entregou o dinheiro.
Fiz questão de manter minhas mãos firmes enquanto
pegava o troco. “Seu cabelo é natural?” Tudo dentro de mim
queria que eu mudasse de assunto, o que significava que eu
não podia.
Seus olhos se arregalaram marginalmente. “Sim, esta é a
minha cor natural de cabelo. Anjos normalmente não alteram
sua aparência. Nós nem usamos maquiagem.” A superioridade
de seu tom irritou meus nervos.
“Achei que os caídos pudessem pensar de forma
diferente.” Eu estava provocando-a de propósito. Se eu a
deixasse brava, talvez ela parasse com o intenso
interrogatório. Na realidade, eu não tinha certeza se ela havia
caído ou nascido de pais caídos.
“Bem, você obviamente não sabe muito sobre anjos, não
é?” Ela ergueu o queixo em desafio antes que algo se
estabelecesse sobre ela.
Ela parecia mais confusa agora do que quando entrou.
“Aqui está, Rosemary,” Carter disse enquanto entregava
a ela o mocha enquanto me olhava de soslaio.
Eu receberia um sermão sobre ser mais profissional
quando ela se fosse, meu segundo, e eu estava no cargo há
apenas dois dias. Essa garota Deissy devia ser horrível se ele
ficou emocionado em me contratar em seu lugar.
“Obrigada.” Rosemary pegou a bebida, mas não foi
embora. “Há algo sobre você, Dove. Talvez não seja o que eu
pensei, mas isso não significa que eu não vá descobrir.”
Uma pequena quantidade de respeito me encheu por esta
linda garota. Ela foi direta quase ao extremo, mas eu apreciei
saber exatamente a que ponto eu estava com ela. Um dos
poderes únicos que os lobos prateados obtiveram da lua foi a
capacidade de lermos a intenção de alguém. Rosemary queria
ser alguém honrável, mas ainda não havia percebido isso.
Ela se virou para sair, e meu olhar pousou onde suas
asas estavam antes. Notei duas fendas na parte de trás de seu
suéter, largas o suficiente para que as asas saíssem. O
material quase os escondeu.
Outro fato interessante que aprendi hoje, os anjos tinham
roupas especiais.
“Quantas vezes vamos ter essa conversa?” Carter gemeu.
“Você não pode antagonizar os clientes, especialmente aqueles
ligados ao conselho.”
Ele continuou a divagar, mas meu foco permaneceu em
Rosemary quando ela saiu da loja. Por enquanto, ela não tinha
entendido que eu era o lobo prateado. Ela suspeitava, mas
consegui não confirmar. Eu tinha que continuar assim, ou
Killian e eu poderíamos estar em um mundo de dor.

A próxima semana e meia passou em um borrão. A cada


dia, eu ficava mais nervosa, entre a falta do meu bando e,
perturbadoramente, não ver Griffin. O que mais me
incomodava era que sentir falta do idiota sexy o mantinha
constantemente em minha mente e em alerta sobre ele.
Eu não o via desde a noite do nosso quase beijo. Tentei
não procurá-lo, mas não pude evitar. Seu rosto, seu cheiro,
sua presença, ficar sem ele deixou um buraco dentro de mim,
me deixando desesperada para vê-lo novamente.
Ele não parecia estar em sua casa, e Killian resmungou
que também não tinha ouvido falar de seu melhor amigo. A
última vez que ele ouviu, Griffin estava indo para Shadow City
para passar um tempo com sua mãe e tentar determinar quem
estava por trás dos ataques aos lobos, mas toda vez que Killian
ligava, Griffin não atendia.
A parte mais preocupante era que Luna também tinha
desaparecido. Eu não queria considerar o que aqueles dois
estavam fazendo. Isso me dava vontade de vomitar.
“Dove?” Carter chamou.
Eu estava me acostumando com o nome. Eu nunca teria
esperado isso, mas tornou-se levemente reconfortante.
Provavelmente porque Killian havia me dado.
A cafeteria estava morta. Eu vinha trabalhando há mais
dias e agora eram quase duas da tarde e estávamos fechando.
“Você se importa de levar o lixo para fora?” Ele apontou
para a lata de lixo.
Carter agiu como se eu não fosse fazer isso sem que ele
me lembrasse. “Eu o tirei nos últimos cinco dias.” Terminei de
contar a gaveta do dinheiro, fui até o lixo e amarrei a sacola.
“Eu volto já.”
Ele assentiu e continuou limpando os balcões. “Grite se
precisar de alguma coisa.”
Atravessei a cozinha, onde as duas copeiras estavam
limpando a bagunça de comida do dia, e fui direto para a
lixeira. O cheiro rançoso de comida em decomposição me
invadiu. Como eu era nova ali, cabia a mim lidar com isso.
Algo a ver com hierarquia e, depois da primeira vez, entendi o
porquê. Ninguém, nem mesmo um humano, gostaria de vir
aqui e cheirar isso.
Prendendo a respiração, corri para a grande lixeira azul
do lado de fora da porta dos fundos e joguei a sacola lá dentro.
Eu me virei e a tinta prateada no tijolo chamou minha
atenção.
Não.
Isso não poderia ser.
Por que Rosemary faria isso comigo? Minha respiração
acelerou. Fiquei tão chateada que nem senti mais o cheiro
horrível de lixo.
Corri e tracei o desenho na parede. Era de um lobo em
tinta prateada, a combinação indicava. Não poderia ser uma
coincidência. Isso seria muito conveniente neste momento.
Minha visão ficou nebulosa. Eu tinha que conseguir algo
para limpar isso, ou tinta para borrifar sobre. Ninguém
poderia ver isso.
O tempo estava passando e eu precisava voltar para
dentro. Mas não podia arriscar deixar esse desenho aqui onde
alguém pudesse ver. Esta era uma mensagem oculta para
mim; tinha que ser. A maioria das pessoas provavelmente não
pensaria muito sobre isso, mas eu não queria arriscar
qualquer tipo de conversa sobre um lobo prateado pintado
neste prédio. As pessoas que me caçavam podiam ouvir sobre
isso e vir conferir.
Estremeci, lembrando que para quem quer que eles
trabalhassem, queria que eu tivesse seus filhos.
Uma reprodutora.
O pensamento do que isso implicaria fez um arrepio
percorrer minha espinha.
Todas as noites, eu sonhava que eles me encontraram, e
eu acordava suando frio e não conseguia voltar a dormir. Uma
corrida melhoraria as coisas, mas não podia arriscar depois
da semana passada na floresta.
Para piorar as coisas, Rosemary me cutucava todos os
dias, quando pegava seu café da manhã. Talvez essa pintura
fosse um meio dela de me forçar a agir. Ela estava ficando
frustrada com minha evasão, então ela queria que eu reagisse
e confirmasse que era eu. Ela deve estar muito dedicada a
conseguir me atingir a ponto de pintar o lobo aqui enquanto
suporta o cheiro, mesmo que seu nariz não seja tão sensível.
Eu odiava admitir que seu plano era eficaz. Mas eu lidaria
com aquela vadia mais tarde. Eu tinha que me concentrar no
problema mais imediato para não ficar sobrecarregada.
O problema era que eu não tinha ideia de como remover
ou encobrir o lobo. Eu procurei na área, tentando encontrar
algo, qualquer coisa, para me ajudar a resolver esta situação.
Relaxei meus braços e ombros, tentando tirar o pânico da
minha mente. Se eu deixasse o medo tomar conta, não seria
capaz de encontrar uma solução, se é que havia uma.
Ignorando o cheiro pútrido, contornei a beira do cimento,
olhando para longe, mas não havia nada que pudesse ajudar.
Tudo o que havia aqui era a grande lixeira azul, lixo e cimento.
Havia algumas árvores não muito longe, mas isso não me
ajudaria em nada.
Droga.
Talvez a pessoa tenha jogado a tinta spray na lixeira.
Prendendo a respiração, levantei a tampa e enfiei a
cabeça pela abertura, mas nada além de sacos plásticos com
comida estragada e pó de café podia ser visto. Eu me levantei
e me agachei, olhando sob a pequena fenda entre o fundo da
lixeira e o chão.
Rodas pequenas em ambas as extremidades da lixeira
chamaram minha atenção. Eu poderia rolá-la mais pra perto
da porta, pelo menos temporariamente. Poucas pessoas
voltavam aqui, então não havia um risco enorme de mais
alguém ver, mas eu não precisava arriscar. A lixeira era
grande o suficiente para bloquear a visão da pintura.
A ideia de tocar naquela lixeira nojenta me deu ânsia de
vômito, mas minha vida era muito mais importante. Além
disso, a existência da pintura também colocava Killian em
risco. Não se tratava somente de me manter segura.
Com determinação renovada, caminhei para trás da
lixeira e a empurrei em direção à parede, me conectando com
minha loba. No primeiro empurrão, algo marrom respingou de
uma das fendas e quase caiu no meu sapato. Tirei meu pé do
caminho bem na hora.
Mesmo sabendo ser algo estúpido, inclinei-me para
examinar mais o líquido. Isso me lembrava o marrom escuro
do rio Tennessee, o que era nojento por si só. Fingi que o
líquido era café, embora meu nariz gritasse como eu estava
errada.
Passos soaram de dentro do prédio em direção à porta
externa. Empurrei com mais força, precisando empurrar a
lixeira para bloquear a pintura e rápido. No entanto, mesmo
com a minha força, foi lento.
Eu não tinha coberto o lobo ainda quando a porta se
abriu. Felizmente, o perfume almiscarado de sândalo de
Killian cobriu uma parte do mau cheiro.
Ele saiu e agarrou seu nariz. “Oh, Deus. Carter não
estava brincando quando ele me disse para prender a
respiração.”
Ele tinha um talento para o drama. “Você pode sentir o
cheiro do corredor, então você deveria saber.”
“Não estava tão ruim lá. É como se alguém tivesse
enfeitiçado o corredor para derrubar seus inimigos, atraindo-
os através dele e, em seguida, empurrando-os porta a fora.”
Killian estremeceu. “Carter disse que você está aqui há um
tempo e que eu deveria vir ver você. Achei que ele estava
exagerando até agora.”
Eu entendi que ele estava tentando ser fofo e engraçado,
mas agora não era a hora. “Estou com um problema.”
“Esse cheiro...”
“Não, estou falando sério.” Eu não estava tentando ser
uma idiota, mas precisava que ele se concentrasse. “Olha.” Fiz
um gesto para a parede.
Ele beliscou o nariz, mantendo suas travessuras, até que
seu olhar caiu sobre o lobo prateado na parede. “Puta merda.”
Ele olhou ao redor e então suspirou. “Isso pode ser uma sorte
terrível.”
“Vamos ver.” Quanto mais eu pensava sobre a situação,
mais percebia que isso foi feito de propósito. “Fui a única
pessoa levando o lixo para fora nos últimos cinco dias em que
trabalhei. Alguém pintou isso aqui atrás, onde cheira a merda.
E Rosemary anda farejando ao meu redor desde que me
encontrou na floresta na semana passada.”
“Você me convenceu quando falou que eles voltariam aqui
e sentiriam o cheiro dessa merda por conta própria.” Killian
respirou fundo e fingiu vomitar. “Eu tenho que parar de fazer
isso.”
“Você vai me ajudar?” Eu balancei a cabeça em direção
ao outro lado da lixeira. “A única solução é usar isso para
cobri-lo até que eu possa voltar e pintar com spray.”
“Claro. Vamos fazer isso.” Ele agarrou a outra ponta da
lixeira e me ajudou a guiá-la até a parede. Uma vez
posicionada sobre o desenho, ele franziu a testa. “Entre antes
que Carter volte aqui. Vou correr para uma das lojas de
ferragens e comprar um pouco de tinta spray. Há uma, não
muito longe daqui. Vou pintar por cima do lobo e encontrar
você lá na frente.”
Ele já estava fazendo muito. “Se Rosemary descobrir que
você sabe meu segredo, então ela pode incluir você nisso
também. Eu não quero que o conselho venha atrás de você.”
“Se ela sabe, vai presumir que eu também sei.” Ele
colocou a mão no meu braço. “Especialmente com a forma
como uma namorada apareceu de repente.”
Ugh, eu não tinha pensado nisso. Mas ele estava certo.
“Tudo bem, eu vou entrar antes que alguém venha aqui e
bisbilhote.”
“Eu vou voltar e aí te encontro lá na frente.” Killian tirou
as chaves do bolso. “Termine de fechar a loja.”
“Tem certeza?” Deixá-lo para limpar minha bagunça não
era legal para mim, mas, ao mesmo tempo, ter alguém
voltando aqui e vendo a pintura parecia pior. “Obrigada.”
“Claro.” Ele beijou minha bochecha. “Você é uma das
minhas melhores amigas agora. Eu faria qualquer coisa por
você.” Ele caminhou ao redor do prédio, indo para sua
caminhonete.
Como eu gostaria que sentíssemos uma conexão
romântica um com o outro. Ele era o tipo de cara que meu pai
teria ficado tão orgulhoso de eu ter encontrado. Ele era gentil,
atencioso e leal. Embora, se meu pai ainda estivesse vivo,
Killian e eu provavelmente não teríamos nos tornado amigos,
mesmo que os lobos prateados tivessem voltado para Shadow
City. Nós nos unimos pela perda de nossas famílias e criamos
uma conexão por meio disso.
Forçando-me a voltar para o prédio, corri para o banheiro
para lavar as mãos. Ao me olhar no espelho, quase não
reconheci a garota que me encarava. Meu cabelo prateado
estava preso em um coque, e meus olhos roxo-prateados
escureceram para praticamente um cinza-aço. Inferno, com a
palidez da minha pele, eu quase poderia me passar por um
vampiro.
Minhas roupas estavam um pouco largas em mim, devido
a todo o estresse. Toda vez que tentava comer, perdia o apetite
depois de algumas mordidas. Ultimamente, eu vivia de café, o
que acabava me deixando ainda mais agitada. Em algum
momento, eu teria que arriscar mudar e correr.
Afastando-me do espelho, acionei o dispensador de papel
toalha e sequei minhas mãos e rosto. Joguei a toalha de papel
no lixo e belisquei minhas bochechas, tentando adicionar um
pouco de cor à minha pele, depois saí do banheiro.
As duas garotas na cozinha tinham ido embora, e quando
saí na frente, apenas Carter permaneceu.
Ele se inclinou, tentando ver atrás de mim, e cheirou.
“Como você despistou Killian? Eu preciso que você me ensine
esse pequeno truque.”
Carter e Killian adoravam infernizar um ao outro, mas
percebi que havia respeito mútuo de ambos os lados.
“Ele estava reclamando do cheiro e disse que precisava
correr até a loja, então foi embora.” Coloquei a mão no quadril
e forcei um sorriso, tentando agir de maneira um tanto
normal. No entanto, minha mente continuou vendo a obra de
arte que deixei para trás. “Estou assumindo que o cheiro é o
motivo pelo qual você o mandou para lá em primeiro lugar.”
“Talvez.” Ele encolheu os ombros. “Ele me deixou bêbado
em uma festa algumas semanas atrás com uma garota que eu
não suporto, grudada em mim.” Ele estremeceu com a
memória. “Todas as coisas que ela fez comigo naquela noite eu
não posso desfazer. Mas eu esperava que ele vomitasse.”
“Você sabe que ele é um shifter.” Na verdade, aquele
cheiro era horrível lá fora, mas nossos estômagos eram
resistentes.
“Mas a dor é real.” Ele acenou com a cabeça em direção
à porta. “Vamos sair daqui.”
Quando saímos do prédio, um certo anjo negro chamou
minha atenção. Rosemary estava do lado de fora sozinha,
deitada em cima de uma mesa de piquenique como se
estivesse tomando banho de sol. Ela tinha uma bolsa apoiada
no pescoço e nos ombros enquanto lia algum tipo de livro.
A raiva se espalhou por mim como um incêndio. “Vejo
você amanhã,” eu disse a Carter enquanto me dirigia para ela.
“Uh, sim. Até mais.” Ele parecia confuso, mas eu não
tinha tempo para me concentrar nisso.
Claro, ela estaria empoleirada do lado de fora da cafeteria
para observar minha reação. Eu não deveria confrontá-la, era
isso que ela queria, afinal - mas eu estava farta desse jogo de
gato e rato com ela.
Isso acabava agora.
Eu marchei diretamente para ela, acolhendo a raiva
justa. A emoção foi um alívio reconfortante para o estresse, a
ansiedade e a dor que eu sentia na maior parte do tempo.
Quando a alcancei, fiquei de modo que minha sombra
bloqueasse seu sol.
Ela largou o livro e suspirou. “Posso ajudar?” Mesmo que
ela parecesse desconcertada, o interesse parecia brilhar em
seus olhos.
“Você tinha que fazer isso, não é?” Minha loba roçou
minha mente. Ela estava lutando e confinada, o que era uma
combinação perigosa para o meu eu já fragmentado.
“Fazer o quê?” Ela colocou o livro ao lado dela e sentou-
se totalmente ereta. Ela examinou meu rosto e inclinou a
cabeça.
“Não se faça de inocente.” Eu levantei minhas mãos.
“Você está conseguindo o que queria. Uma reação.”
“Dove, o que aconteceu?” Ela perguntou, parecendo
perplexa.
“Você quer que eu soletre para você, não é?” Minhas
emoções giravam tanto dentro de mim que eu não conseguia
lê-las. Eu estava perdendo o controle e não sabia como
controlá-las.
Ela mordeu o lábio inferior. “Você está bem?”
“Você desenhou um lobo prateado na lixeira, sabendo que
eu levaria o lixo para fora e o veria,” eu sibilei enquanto
minhas mãos tremiam. “E você está me perguntando se eu
estou bem?”
“O quê?” Ela se levantou de um salto e olhou ao nosso
redor. “Eu não fiz tal coisa.”
“Hã?” Eu não estava acreditando. “Você espera que eu
acredite nisso depois que você me interrogou em todas as
oportunidades na semana passada?”
“Você é um lobo.” Ela bateu no meu ombro. “Você saberia
se eu estivesse mentindo.”
Droga. Ela estava certa. “Mas se não foi você...” Minha
mente circulou e me levou de volta à última lua nova do meu
bando.
Eles me encontraram. Mas como? Eu tinha sido tão
cuidadosa. Inferno, Killian nem sabia meu nome verdadeiro
porque eu estava com medo que ele pudesse cometer um
deslize.
Eu tinha que sair daqui, e agora. Este seria um excelente
momento para ter um carro ou asas. “Você tem alguma ideia
de quem poderia ter feito isso, você notou alguém à espreita?
Você esteve aqui todos os dias.”
“De jeito nenhum.” Suas asas saltaram de suas costas,
espalhando-se. “Vou ver se consigo descobrir alguma coisa.
Enquanto isso, fique fora de vista.”
“Espere!” A última coisa que eu precisava era que mais
pessoas soubessem sobre mim. “Pra quantas pessoas você vai
contar?”
“Zero.” Sua testa enrugou.
Claramente, eu a entendi mal. “Zero? Esse é o número de
pessoas que você não vai contar?” Eu não conseguia esconder
o sarcasmo que envolvia cada palavra.
“Acredite ou não, eu não quero que ninguém descubra
sobre você também.” Rosemary tamborilou com os dedos na
perna. “Já tem o suficiente acontecendo com os ataques de
lobo e outra guerra civil se formando. A última coisa de que
precisamos é a história de um lobo prateado extinto voltando
dos mortos. Muitos a considerarão uma traidora; isso
aumentaria a tensão.”
“Uma traidora?” Que tipo de história ela estava tentando
inventar? “Saímos porque as pessoas estavam nos usando
para cometer crimes!”
“Nós?” Seu rosto caiu. “Quantos de vocês ainda existem?”
“Não é da sua conta.” Se eu desse a ela um número, ela
perceberia que eu estava mentindo. Mas eu não queria que ela
pensasse que poderia me matar agora e eliminar o problema.
Ela revirou os olhos. “Olha, eu irei te encontrar quando
descobrir tudo o que há para saber.”
Sim, aposto que vai. “Por que você não tenta me matar
agora?” Papai me contou histórias sobre anjos não serem
grandes fãs de lobos prateados.
“Eu não quero você morta.” Ela riu. “Você pode ser um pé
no saco, mas eu não preciso de Griffin e Killian como inimigos
dos anjos. Além do mais, as raças precisam começar a
trabalhar juntas. Não faça nada estúpido até nos falarmos
novamente.”
Ela disparou para o céu, deixando-me com meus
pensamentos, o que não era uma coisa boa neste momento.
Um uivo soou na floresta a apenas alguns metros de
distância, fazendo meu coração parar. Eu me virei e encontrei
olhos brilhando para mim através dos galhos das árvores.
Bom. Vamos acabar com isso. Cerrei os punhos, pronta
para lutar.
O lobo avançou, inquieto e pronto para lutar. Entre a
ameaça iminente e não treinar todos os dias, meus lados
humano e animal eram facilmente excitáveis, e não no bom
sentido.
Dei um passo em direção à floresta, mas o lobo
desapareceu de vista. O barulho das patas ficou fraco
enquanto ele se afastava.
Droga. Aquele lobo pode ter ouvido toda a minha conversa
com Rosemary. E eu não sabia de sua presença porque estava
muito dominada por minhas emoções. Papai tinha me avisado
que era isso que acontecia quando você não pensava com a
cabeça no lugar. Estar sem um bando estava claramente
afetando minha capacidade de ser racional.
A vontade de mudar quase me dominou, mas empurrei
minha loba para trás e parei um momento para pensar. Eu
não podia permitir que meu eu animal tirasse o controle do
meu lado humano. Se eu deixasse acontecer, a parte rebelde
com a qual eu já estava lutando ficaria ainda pior.
Pelo que eu sabia, o shifter lobo poderia ter sido quem
desenhou a pintura e estava observando meus próximos
movimentos para confirmar que era eu.
Bem, se esse era seu objetivo final, com certeza facilitei
para ele.
Eu deveria ter ignorado Rosemary e esperado por Killian
na frente do prédio, mas algo dentro de mim estalou. Agora eu
gostaria de poder voltar atrás. Se aquele lobo fosse alguém que
estava me vigiando para os homens que atacaram minha
matilha, eu havia colocado uma luz neon piscando acima da
minha cabeça que basicamente dizia: “Estou aqui.”
Papai deve estar balançando negativamente a cabeça
para mim no céu. Eu continuava fazendo besteira. Tudo o que
ele me ensinou eu abandonei abertamente.
Talvez eu não ser a alfa do meu bando fosse uma coisa
boa. Eu não era sábia o suficiente para liderar.
Recusando-me a cometer outro maldito erro, inalei,
enchendo meus pulmões, e cautelosamente me aproximei da
floresta. Eu não iria longe, apenas tentaria pegar melhor o
cheiro do lobo. Pelo menos, assim, eu o reconheceria quando
o encontrasse novamente.
Quando me aproximei da linha das árvores, parei e
escutei qualquer coisa que indicasse que havia mais shifters
por perto ou alguém que pudesse pular em mim. Meus
momentos de burrice acabam aqui e agora.
Nada parecia ou cheirava fora do comum, então eu
avancei para frente na direção onde os olhos estiveram.
Quanto mais perto eu chegava, mais forte o cheiro dele ficava,
mas o cheiro era estranho. O almíscar que confirmava que era
um shifter lobo estava lá, mas era só isso. Não havia nada de
único nisso, o que significava que ele havia usado algo para
mascarar parte de seu cheiro.
O que me disse tudo o que eu precisava saber.
Ele pode fazer parte do bando que massacrou minha
família e amigos.
Eu tinha que sair daqui antes que ele voltasse e trouxesse
reforços.
Girando em meus calcanhares, fiz meu caminho de volta
para o prédio principal, passando por quatro garotas vampiras
que estavam tomando sol. O fato de estarem sentadas sob a
luz direta do sol significava que ainda tinham sua
humanidade. Isso me garantiu que elas não matavam por
prazer e eram capazes de controlar seus instintos. Isso era um
requisito para frequentar a escola aqui, provavelmente devido
aos visitantes humanos que vinham caminhar pela incrível
floresta.
Uma delas torceu o nariz ao me ver, provando que, assim
como os anjos, os vampiros não gostam de se misturar fora de
sua espécie.
Ou poderia ser só eu. Eu tentei dar uma vibe de foda-se.
Quanto mais as pessoas falavam comigo, maior a
probabilidade de eu deslizar e dizer algo que pudesse sugerir
qualquer um dos meus segredos.
Fingindo que não notei sua expressão azeda, empurrei as
portas duplas e fui direto para o corredor.
A voz muito familiar de Luna soou em meu ouvido das
mesas em frente ao refeitório. “Ah, Killian deixou você?”
Eu estava há pouco mais de uma semana sem vê-la, e
ainda não havia passado tempo suficiente. Parei, deixando
claro que não tentaria fugir dela. “Não, ele precisava resolver
algumas coisas, e então voltará.” Forcei um sorriso doce que
parecia estranho. A única reação que eu queria dar a ela era
o dedo do meio.
“E ele não levou você com ele?” Luna se aproximou, sua
saia maxi de sálvia escura fluindo ao seu redor. Ela inclinou
a cabeça, fazendo com que o cabelo caísse na frente dos
ombros, roçando o top creme. “Soa como um problema no
paraíso.” Ela se virou para uma garota, alguns centímetros
mais baixos que eu, que a seguia. “Jessica, você pode ficar
com Killian mais cedo ou mais tarde, afinal.”
Os olhos verde-floresta da garota focaram em mim, e ela
me deu um sorriso desconfortável enquanto torcia o cabelo
castanho com pontas naturais de caramelo em um dedo. Seu
modesto top rosa pálido complementava sua tez morena.
“Tenho certeza que ele precisava de algo, e as coisas estão bem
entre eles.”
Uau. Eu não esperava isso.
Eu esperava que essa garota fosse tão odiosa ou até mais
do que Luna, mas a energia positiva emanava dela.
“Ah, você não precisa ser legal com ela.” Luna me
dispensou. “Ela não mora na cidade e nunca morará se eu
tiver algo a dizer sobre isso.”
Eu nunca detestei alguém tanto quanto Luna antes na
minha vida. Bem, correção. Eu odiava completamente as
pessoas que me caçavam, mas ela estava muito próxima disso.
“Killian também não mora na cidade.”
“Seu melhor amigo, meu futuro companheiro...” Luna
disse enquanto dava um tapinha no peito “vai levá-lo para a
cidade que é onde ele pertence. É apenas uma questão de
tempo.”
Isso foi uma coisa estranha de se dizer, mas tanto faz. Eu
não tinha tempo para lidar com seus jogos mentais. “Ótimo,
boa sorte com isso.”
“Eu não te dispensei.” Ela se aproximou de mim e ergueu
o queixo. “Eu não terminei de falar com você.”
Ela estava me dando nos nervos. Eu entrei para que o
lobo não pudesse me vigiar, mas preferia ser capturada do que
ter que lidar com ela. No entanto, eu tinha que ter cuidado,
não queria que ela me seguisse para fora. “O quê?” Eu não
conseguia esconder meu aborrecimento.
“Olha, eu estou tentando ser legal.” Ela bufou e cruzou
os braços. “Eu queria dizer obrigada.”
Ela estava determinada a me dizer tudo o que estava em
sua mente. No entanto, eu não daria a ela a satisfação de
perguntar. “De nada.”
“Você não quer saber por que estou te agradecendo?” Ela
fez beicinho.
Como se isso fosse funcionar. “Não, mas não acho que
isso importe. Claramente, você quer me contar.”
“Griffin tem passado muito mais tempo em Shadow City,
o que tem sido incrível para mim. Fiquei tão chateada quando
ele comprou aquela casa de Killian, mas agora que ele está
evitando ficar lá, estou domando ele mais rápido do que o
originalmente planejado.” Ela passou as mãos pelos cabelos.
“Eu estou pensando que você teve algo a ver com isso.”
Minha loba uivou na minha cabeça tão malditamente alto
que eu quase choraminguei. Meu coração parecia estar
quebrando, mas isso não fazia sentido. Eu tinha visto o cara
apenas algumas vezes, e ele tinha sido um idiota na maior
parte do tempo.
Eles eram uma combinação feita no céu. Eu deveria ter
ficado feliz por ele ter um motivo para ficar longe, mas eu não
estava. Eu gostava de fingir que era porque Killian sentia falta
de seu melhor amigo, mas isso não era verdade. Eu queria
Griffin por perto também.
Uma parte do meu coração ficou mais fria ao pensar nele
com Luna. Não querendo arriscar soar magoada, eu balancei
a cabeça e olhei para Jessica. Forcei minhas palavras a serem
suaves. “Foi bom conhecê-la.” E eu me virei e voltei para as
portas da frente.
“Que vadia,” Luna bufou. “Eu estava agradecendo a ela.”
“Bem, você disse a ela que ela nunca se mudaria para
Shadow City e, em seguida, disse que o namorado dela o
faria,” disse Jessica, “estou pensando que isso a atingiu
fortemente.”
Não querendo ouvir mais nada, saí e caminhei até o
gramado em frente ao prédio. As garotas vampiras agora
estavam assistindo a um grupo de shifters de urso jogando
futebol sem capacetes. Eles estavam sem camisa, o que quase
me fez rir porque os pêlos do peito eram tão grossos que nem
dava para ver os mamilos.
Precisando ficar perto do barulho para não ouvir a
conversa de Jessica e Luna, sentei-me contra um tronco de
árvore próximo e observei os idiotas se enfrentarem
repetidamente.

Passos familiares fizeram seu caminho até mim, e o


cheiro de Killian fez cócegas em meu nariz. Olhei em direção
ao prédio e encontrei seu olhar em mim.
“Você está pronta para ir?” Ele perguntou enquanto seus
olhos se voltavam para os shifters ursos, que estavam dando
um show para as garotas sentadas ao redor deles.
Quanto mais tempo eu ficava sentada lá fora, mais
garotas se reuniam. Eu tinha que admitir que os shifters ursos
eram sexys por si só, e eles estavam devorando a atenção.
Mesmo alguns anjos, seus aromas florais denunciando-os,
estavam parados perto dos vampiros, fingindo querer assistir
ao jogo.
“Sim.” Eu sabia que soava concisa, mas odiava estar
perto de pessoas agora. Minha pele estava formigando.
Sempre que um deles fazia contato visual comigo, eu sentia
que eles conheciam meus segredos.
Eu precisava controlar minhas emoções porque estar
solitária, estava começando a causar ainda mais problemas.
Minhas mãos ficavam suadas e minha mente ficava nebulosa
com mais frequência. Às vezes, eu sentia uma conexão de
bando fantasma que deixava minha loba inquieta. Mas
desaparecia quase tão rapidamente quanto aparecia. Minha
loba e eu precisávamos sentir uma conexão com alguma coisa,
e o vazio frio parecia estar se expandindo e colocando uma
parede entre meu animal e meu lado humano. Se eu não
encontrasse um bando logo, poderia enlouquecer. Mesmo a
presença reconfortante de Killian estava tendo menos efeito
sobre mim. Mas se eu me tornasse parte de seu bando, me
conectaria com todas as outras centenas, o que não era uma
opção. E o fato dele tentar manter distância de sua matilha
dizia muito. Eu duvidava que eles me aceitassem, uma
estranha, tão facilmente.
Eu não tinha ideia de qual era a resposta, mas precisava
descobrir algo logo.
“Bem, vamos lá,” disse ele e estendeu a mão.
O fedor de tinta spray atingiu meu nariz. Quase tossi,
mas consegui me controlar. Se o lobo estava me observando,
eu não queria avisá-lo do que Killian tinha feito. Ele poderia
descobrir isso sozinho. Na verdade, ele provavelmente não se
importaria que a imagem estivesse coberta. Ele pintou para
obter uma reação minha, e eu já caí na armadilha.
Colocando minha mão na de Killian, deixei que ele me
levantasse, e nós dois nos dirigimos para a caminhonete.
Mantivemos um silêncio amigável até sairmos da
universidade.
“Você conseguiu cobrir?” Tentei não o deixar saber o quão
nervosa eu estava, mas ele me conhecia muito bem.
Ele assentiu. “Sim, eu consegui. Desculpe por ter
demorado tanto, mas eu tinha que ter certeza de que não seria
pego.”
“Não, está bem.” Suas palavras pesaram sobre mim.
“Você não deveria ter feito isso. Você está colocando muito em
risco ao me hospedar e ser meu amigo.”
“Pare com isso.” Ele apontou para mim em advertência.
“Isso é o que amigos fazem uns pelos outros, e vamos lá, você
sabe que eu penso em você como uma irmã.”
“Porque eu te lembro dela.” Talvez ele estivesse investindo
demais em mim por causa disso. “Mesmo que tenhamos
gostos diferentes para roupas.”
“Olive queria se encaixar com Luna e Jessica.” Ele
suspirou. “Ela se vestia mais como você até o último ano ou
mais, antes de sua morte, mas para ser claro, não estou
ajudando você só porque você me lembra dela. Talvez no
começo fosse por isso, mas não mais. Você se tornou uma
verdadeira amiga.”
Eu adorava que ele pudesse ser honesto comigo. Eu devia
o mesmo a ele. “Não quero que nada aconteça com você. Havia
um lobo me observando quando fui até a Rosemary.”
“Do que você está falando?” Suas sobrancelhas
franziram.
Eu contei a ele sobre minha exibição embaraçosa.
“Isso não muda nada, exceto que precisamos descobrir
quem é o lobo.” Ele deu um tapinha no meu braço enquanto
dizia com firmeza: “E vamos superar isso juntos. Somos a
família um do outro agora. Isso é definitivo.”
Mas o problema era que eu não podia concordar com isso.
Se eu estivesse no lugar dele, diria a mesma coisa. Mas ele
havia perdido sua família também. E por minha causa, seu
melhor amigo não estava por perto.
Pensar na noite anterior ao desaparecimento de Griffin foi
como um soco no estômago. Em um segundo, estávamos na
garganta um do outro e, no segundo seguinte, eu queria
arrancar a roupa dele e fazer coisas que nunca tinha feito com
ninguém. Eu ainda tinha memórias intensas de minhas
emoções daquela noite.
A pior parte era que não vê-lo estava me deixando louca.
E saber que ele estava passando um tempo com Luna era
como misturar mentos com Coca-Cola. Eu estava prestes a
explodir, ou implodir, e eu não tinha nenhuma porra de ideia
do porquê.
Decidi mudar de assunto, de algo que não queria falar
para algo que ele não queria. Isso o faria se distrair, pelo
menos por um tempo, e eu poderia usar o indulto. “Jessica
não parece tão ruim assim.” Eu levantei uma sobrancelha
para ele. “Na verdade, ela é de tirar o fôlego.”
“Como você a conheceu?” Killian franziu os lábios
enquanto olhava para mim.
“Bom, envolve a Luna, o que foi muito desagradável.” Em
tantos níveis. “Jessica estava com ela. Ela parece doce.”
“Jessica não é o problema.” Ele tamborilou com os dedos
no volante. “É mais sobre quem é a melhor amiga dela.
Embora, honestamente, o que isso diz sobre ela escolher ser
amiga íntima de Luna?” Ele estremeceu.
Ele tinha razão. “Elas são do bando de Griffin, certo?”
“Sim, e seus pais são próximos. Elas cresceram juntas,
mas ainda assim. Além disso, meus pais eram companheiros
predestinados e eu quero encontrar a minha própria. Não
quero me contentar com outra coisa senão isso. Uma
companheira escolhida está fora de jogo para mim. Por que
tentar construir um relacionamento com alguém que o destino
sabe que não é para você? Por que perder tempo em um
relacionamento com alguém quando eu sei como isso vai
acabar?”
E ele tinha um bom ponto nisso também. Se ele soubesse
o que queria, pressioná-lo a fazer o contrário só resultaria em
dor de cabeça.
De qualquer maneira, com meu segredo sendo revelado e
o lobo agora me observando, eu sabia exatamente o que tinha
que fazer para proteger Killian e a mim.

A lua brilhava pela janela, alertando-me que era por volta


da meia-noite. Eu estava deitada na cama por horas,
precisando descansar, mas o sono não vinha. Cada vez que
fechava os olhos, imagens do meu bando morto saltavam
vividamente em minha mente, mas, surpreendentemente,
essa não era a pior parte. A pior parte foi Killian deitado sem
vida com eles também.
Levantei-me e andei de um lado para o outro na beira da
cama, tentando encontrar alguma sensação de calma, mas foi
inútil.
Minha loba uivou em minha mente, querendo assumir o
controle, desesperada para sair, e o rosto sem vida de Killian
estava em cada sombra da sala. Algo puxou dentro de mim,
fazendo meu juízo se dispersar, a sensação aumentando meu
senso de perda de controle.
O terror tomou conta de mim e não consegui recuperar a
calma. Minha loba avançou, resistindo contra o meu aperto.
Ficar aqui não era mais uma opção, mas partir partiria
meu coração. Eu prometi a Killian que estaríamos juntos
nisso. No entanto, se eu não fizesse alguma coisa, eu não tinha
certeza de quanto tempo mais eu poderia manter minha loba
sob controle.
Na mesinha de cabeceira havia um papel de carta branco
liso e uma caneta. Peguei-o rapidamente e escrevi uma nota.

Killian,
Mais cedo, quando você disse que eu era sua família,
sei que eu não disse nada em resposta. Mas quero que
saiba que sinto o mesmo por você. Você tem sido o único
ponto brilhante desde aquele dia horrível em que me
encontrou no rio.
Planejei ficar como prometi, mas percebi esta noite
que não posso colocar você em risco. Seria egoísta da
minha parte ficar e arriscar o futuro incrível que você
merece.
Desculpe-me, por estar me despedindo assim, mas
não sou forte o suficiente para dizer isso na sua cara. Você
se tornou minha casa, e eu te amo.
Sua irmã sempre,
Dove

Coloquei o bilhete no travesseiro e um soluço se formou


no fundo da minha garganta. Engoli enquanto abria a janela,
tomando cuidado para não fazer barulho. A bolsa que eu havia
feito antes estava no chão com algumas mudas de roupa,
identidade e algum dinheiro. Claro, minha fiel faca estava
presa ao meu tornozelo.
Depois de pegar a bolsa e jogá-la lá fora, deslizei pela
janela e caí sobre os dois pés. Obrigando-me a ficar calma,
examinei a área.
Tudo parecia limpo.
Suspirando, peguei a bolsa e a pendurei no ombro. Meu
plano era simples. Ir até o rio e usá-lo para encontrar outra
cidade ou vila. Eu alugaria um carro e ficaria o mais longe
possível daqui. Ficar perto do meu antigo local deve ter
facilitado para eles me encontrarem.
Enquanto eu corria em direção aos fundos da casa, a luz
da varanda dos fundos da casa de Griffin acendeu e a porta
dos fundos se abriu.
O puxão foi tão forte que quase caí de joelhos. Eu parei
no meio do caminho quando emoções que eu não entendia,
surgiram através de mim – uma mistura de desejo,
necessidade e desespero.
“Dove, o que diabos você está fazendo?” Griffin rosnou.
“Aquele shifter urso pode estar aqui. Leve seu traseiro de volta
para dentro.”
Minhas pernas traiçoeiras moveram-se em sua direção.
De todos os cenários que imaginei, Griffin estar em casa não
era um deles. Ele tinha desaparecido por semanas, e de
repente, ele apareceu esta noite? Típico. Essa tem sido minha
sorte ultimamente.
Pelo menos, ele não sabia lutar muito bem, e a lua já
estava me recarregando. Eu chutaria a bunda dele para fugir
se precisasse.
Sem me preocupar em dar atenção a sua existência, eu
me aproximei, apesar de tudo dentro de mim estar gritando
para correr até ele e beijar sua boca sexy e tocar seu peito duro
e musculoso.
Minha estranha atração por ele me deixou sem fôlego. O
tempo que passamos separados um do outro apenas tornou
esse desejo irracional ainda mais forte. E aquelas emoções que
eu sentia por ele em cima do caos já girando dentro de mim
fizeram minha garganta secar enquanto as lágrimas
queimavam meus olhos.
Eu também não queria deixá-lo.
Idiota estúpido, sempre aparecendo nos piores
momentos. O destino tinha um jeito de me torturar.
“Dove,” disse ele, e soou como um aviso. Seus pés
bateram no chão, vindo atrás de mim. “Não me ignore.”
Ele se moveu mais rápido do que eu esperava, como se
estivesse igualmente ansioso para chegar até mim. Mas isso
tinha que ser porque ele queria me atormentar ou me insultar
ainda mais. Minhas pernas estúpidas não se moveram nem
um pouco mais rápido, quase como se quisessem que ele me
alcançasse. Logo ele agarrou meu braço, forçando-me a virar
para ele.
Tentei socá-lo, mas parei com seus olhos castanhos que
me distraíram. Eles brilhavam, seu lobo sangrando e fazendo-
o parecer ainda mais sexy. Precisei de todas as minhas forças
para me impedir de pular em seus braços.
“Killian sabe que você está aqui sozinha no meio da
noite?” Suas palavras continham tanta preocupação: “Tenho
a sensação de que não.” Ele tirou a bolsa do meu ombro.
“Ele não é meu pai.” Essa única palavra combinada com
o toque de Griffin liberou o soluço que eu segurava, e as
lágrimas caíram livremente pelo meu rosto.
A tristeza das duas últimas semanas caíram com força
dentro do meu peito. Eu ainda não tinha desmoronado de
verdade; Eu tentei focar em permanecer viva. Mas a partir
desta noite, eu realmente perdi todos com quem me
importava, de uma forma ou de outra. Eu não conseguia nem
dizer pai sem desmoronar.
“Ei,” Griffin disse suavemente enquanto enxugava as
lágrimas do meu rosto. “Qual é o problema?”
Minha pele esquentava e zumbia onde quer que ele me
tocasse, e de alguma forma, o bastardo me acalmou o
suficiente para controlar minhas emoções e parar de chorar.
Sua ternura me pegou desprevenida, e a vontade de fugir,
de escapar de qualquer influência que ele exercesse sobre
mim, voltou. Eu gostava mais quando estávamos brigando. Eu
poderia canalizar o ódio para afastar o puxão em sua direção.
“Eu preciso ir.” Quanto mais eu ficasse, mais difícil seria
partir.
“Diga-me o que há de errado.” Suas palavras continham
um apelo. “Ou eu vou ter que chamar Killian?” Seu nariz
enrugou.
Droga, se ele chamasse Killian, descobriria que eu estava
indo embora e arruinaria minha fuga. “Por favor, não. Estou
fazendo isso para protegê-lo.” Eu não queria revelar muito,
mas precisava que Griffin me deixasse ir.
“Como é que sair tarde da noite estará o protegendo?”
Suas sobrancelhas franziram e ele olhou para a casa de
Killian.
“Eu pensei que você mal podia esperar até que eu
terminasse com ele.” Eu mordi as palavras, tentando não
deixá-lo ver o quanto isso machucava.
“Você sabe que eu estava sendo um idiota.” Seu telefone
tocou, ele o tirou do bolso e rejeitou a ligação. “De qualquer
forma, você não pode fazer isso com ele. Você tem que pelo
menos dizer adeus. Você sabe o que seu desaparecimento faria
com ele? Ele já perdeu muitas pessoas na vida.”
Eu não precisava desse palhaço tentando me fazer sentir
mal. Ele tratava as pessoas como merda e teve a audácia de
me repreender? Eu já tinha sofrido com essa decisão, então
não precisava dele esfregando isso em mim também. “As
pessoas estão me caçando. Eu me importo muito com Killian
para deixá-lo ser pego no fogo cruzado.”
“O shifter urso teria atacado qualquer um perto de nós
naquele dia,” ele rosnou. “Você não precisa se sentir mal por
isso.”
“Eu gostaria que fosse só ele.” Se eu tivesse apenas uma
pessoa com quem me preocupar, não ficaria tão nervosa ou
assustada. Eu chutei a bunda daquele urso naquele dia
sozinha, e eu ainda estava me segurando.
“O que você está tentando dizer?” Griffin se inclinou para
mim.
Se eu quisesse sair dessa graciosamente, teria que abrir
minha alma para ele. “Eu conheci Killian apenas algumas
semanas atrás.” Parei, precisando me preparar para as
perguntas inevitáveis que viriam.
Para minha surpresa, Griffin não me apressou. Em vez
disso, ele esperou pacientemente que eu continuasse.
“Na realidade, ele provavelmente salvou minha vida.” E
eu nunca tinha agradecido a ele por isso. Outra coisa que não
lidei corretamente. “Quase me afoguei enquanto tentava
escapar de um grupo de homens que me perseguia desde o lar
do meu bando.”
“Afogou?” Seu corpo ficou tenso quando um rosnado
baixo retumbou. “Por que eles estavam perseguindo você?”
“Eu pulei no rio, tentando esconder meu cheiro para que
eles não pudessem continuar me seguindo. Eles pularam
atrás de mim e encontrei uma corrente subterrânea que me
ajudou a fugir, mas quase não consegui me libertar.”
“Mas seu bando. Por que eles não ajudaram?” Ele
perguntou. “É por isso que você está indo embora? Para voltar
para as pessoas que a abandonaram?”
Eu ri sem humor. A parte sombria da minha alma
queimou. “Não, eu nunca vou voltar para casa, mas minha
matilha não me abandonou.” Eu olhei para a lua, precisando
encontrar conforto na única coisa que eu nunca teria que
desistir. “Aqueles homens que me perseguiram, eles
massacraram meu bando antes de correrem atrás de mim.”
Seus olhos se suavizaram quando ele deu um passo em
minha direção. “Como você escapou?”
Eu contei a ele a história de como eu não estava lá no
começo e ouvi os gritos. “Veja...” Eu parei, me preparando para
cuspir a verdade. “Meu bando se manteve isolado. Ficamos à
distância de todos os outros sobrenaturais para manter nossa
identidade escondida. Mas, de alguma forma, alguns lobos
descobriram o que éramos e que uma mulher havia nascido
para ser o próximo alfa.”
“Então eles não queriam uma mulher para liderar?” Ele
balançou sua cabeça. “Isso não faz sentido porque eles
matariam o bando inteiro.”
“Não, eles queriam a mulher para alguém.” Eu desviei
meu olhar para o chão. “Não tenho certeza de quem, mas não
importa. Eles querem que ela tenha filhos com este homem
para que ele possa liderar sua raça.”
“Por que não liderar o bando atual?” Griffin inclinou a
cabeça. “Você está escondendo informações importantes. Eu
preciso entender como você saindo agora, no meio da noite,
protege meu melhor amigo.”
Ele estava certo. Eu estava dançando em torno da
verdade quando precisava ir direto ao ponto. “A razão pela
qual ele matou o bando é porque nenhum deles, incluindo eu,
jamais apoiaria alguém corrupto. Quero dizer, essa foi a razão
pela qual meu povo deixou Shadow City séculos atrás.”
“Nunca houve uma raça que deixou Shadow City.” Ele
olhou para mim.
Interessante. Mas então como Rosemary sabia sobre os
lobos prateados? “Havia. Seu pai sabia sobre nós. Ele
convidou meu pai para fazer uma visita há cerca de dois anos.”
“Seu pai...” Ele parou, pensativo. “Tinha o cabelo
prateado, como o seu?”
“Sim.” Ele deve ter visto papai durante sua visita, mas
por que seu pai não lhe contou sobre nossa existência? Ele,
como meu pai, pensou que teria mais tempo? A morte de
Atticus estava começando a parecer convenientemente
cronometrada. “Seu pai queria que nosso bando voltasse e
morasse na cidade.” Minha mente voltou no tempo para a
última vez que vi meu pai, e passei meus braços em volta de
mim. “Na verdade, com seu último suspiro, meu pai me disse
para ir para Shadow City e encontrar Atticus. Que ele iria me
proteger.” Eu respirei fundo. “Que ele era um aliado dos lobos
prateados.”
Griffin manteve-se completamente imóvel. “Você está
dizendo que os lobos prateados são reais?” Ele olhou para a
lua e depois de volta para mim. “E você é a única ainda viva,
o que significa que você é a alfa que eles querem.” Ele passou
as mãos pelos cabelos, deixando-os despenteados, o que o
tornou ainda mais fascinante. “Mas seus filhos seriam apenas
meio prateados.”
Nosso legado era um segredo tão bem guardado que nem
Rosemary sabia disso. “Não. Qualquer filho que eu tiver será
um lobo prateado puro. É devido ao poder da lua.”
“E você está fugindo... porque você ama Killian.”
“Sim. Ele já fez muito por mim. Não posso deixá-lo acabar
morto como o resto do meu bando.” E aqui foi o gran finale. O
último pedaço de lógica que alimentaria seu lado egoísta. “E
eu vou estar fora do seu caminho. Você não terá que me ver
novamente, e você e Killian podem voltar para a forma como
as coisas eram antes da minha vida tão bagunçada interferir.
Será como se eu nunca tivesse existido.” Droga, dizer isso
doía, mas eu tinha que fechar as contas com ele.
“Como se você nunca tivesse existido,” disse ele. Ele
examinou meu rosto como se estivesse procurando por algo.
Eu mantive minha cabeça erguida, tentando retratar
confiança. “Tudo o que você tem a fazer é me deixar ir.”
“Não.” Ele balançou sua cabeça. “Absolutamente não.”
Alívio me encheu. “Obriga...” Espere, ele disse que não.
“O quê? Por que não?” Ele me odiava.
“Chame-me de egoísta, mas eu não quero que você vá.”
Ele suspirou enquanto seus olhos brilhavam levemente e ele
deu um passo para mais perto de mim. “Não posso.”
Meu corpo aqueceu com antecipação quando me
aproximei dele também. Minha mão coçava para tocá-lo, mas
a segurei perto do meu corpo.
“Por que não?” Nada disso fazia sentido. “Você sumiu por
semanas.”
“Com os ataques aos lobos e algumas decisões do
conselho sendo tomadas, eu tive que ficar em Shadow City por
um tempo. Além disso, minha mãe precisava da minha ajuda
para limpar as coisas velhas do meu pai. E, para ser
completamente honesto, eu estava tentando ficar longe de
você.” Ele soltou um suspiro. “Eu sinto algo por você, e é
errado em todos os níveis diferentes.”
Meu coração disparou. “O que você quer dizer?” Eu não
deveria pedir ou incentivá-lo a me dizer como se sentia, mas
uma parte de mim precisava saber se o que ele sentia era
semelhante ao que eu estava sentindo.
“Eu não consigo tirar você da minha cabeça, e vendo você
tentar fugir...” Ele cerrou as mãos. “E a ideia de nunca mais
ver você...” Ele fez uma pausa. “Isso mataria Killian.”
Nós dois sabíamos que ele não se referia a Killian, mas
estávamos de mãos atadas. Ele estava com Luna, e Killian e
eu deveríamos ser exclusivos. “Mas eu não quero que nada
aconteça com ele.”
“Eu sou o alfa de Shadow City, e se meu pai tivesse
protegido você, então é isso que eu vou fazer.” Ele segurou
minha bochecha, e minha pele parecia estar pegando fogo.
Seu toque aqueceu as partes mais frias de mim por dentro, e
eu quis que ele nunca se afastasse. “Eu tenho adiado agir
como o alfa por muito tempo, e com você aqui, é hora de eu
fazer algumas mudanças.”
“Eu não quero que você mude por mim.” Eu nunca
pediria isso a ninguém. “Se você não está pronto para essa
responsabilidade, então eu ficar aqui é pedir muito.”
“Você não pediu.” Seu olhar pousou em meus lábios. “Eu
quero fazer isso. Além disso, vou me certificar de que estar
comigo seja o lugar mais seguro para você.”
O ar entre nós ficou carregado e minha mente gritou para
eu me afastar. Correr como planejei. Mas eu estava à sua
mercê. “Como? Alguém já me ameaçou na universidade.”
“O que você quer dizer?” Sua mão caiu.
Eu o atualizei sobre a pintura, Rosemary e o lobo na
floresta. “É isso que estou tentando dizer. Não estou
paranoica. Eles me encontraram aqui e é por isso que preciso
fugir.”
Ele desbloqueou o telefone e vi que ele tinha mais de vinte
e cinco chamadas perdidas. Eu odiava olhar, mas não pude
evitar. Ele limpou o registro, puxou um contato e começou a
enviar mensagens de texto. “Estou trazendo alguns guardas
de Shadow City aqui para protegê-la com mais alguns do
bando de Killian. Vamos garantir que haja quatro
posicionados ao redor da casa o tempo todo.”
Meu coração acelerou. Ele estava cuidando de mim, e isso
me emocionou mais do que deveria.
De nosso lugar no quintal, observei um táxi entrar na
garagem de Griffin.
“Oh inferno.” Ele resmungou e abaixou a cabeça. “Ela é
louca pra caralho.”
“De quem você está falando?” Para ele ter esse tipo de
reação me preocupou, mas certamente o grupo procurando
por mim não pegaria um táxi e pararia na garagem do alfa de
Shadow City.
A porta de um carro abriu e fechou.
“Griffy!” A voz de unhas raspando em um quadro-negro
de Luna, gritou. Ela fungou alto.
“Ugh, acho que Griffy e Dove fizeram as pazes.” O “s” se
enrolou na última palavra, enfatizando seu estado
embriagado.
“Sinto muito por isso.” Ele encontrou meus olhos. “Mas
você precisa voltar para dentro, e eu tenho que lidar com
minha confusão bêbada.”
Aposto que ele iria lidar com ela. Aposto que ele lidaria
com ela muitas vezes. A raiva acendeu dentro de mim com o
pensamento. Mas eu não tinha o direito. Eles estavam juntos,
e sexo era parte da equação.
Aposto que ele era muito bom nisso também. “Sim, ok.
Divirta-se.”
“Diversão não é a palavra que eu usaria.” Ele estremeceu.
“Ela é um desastre ambulante.”
E, no entanto, ele estava namorando com ela. Alguns
caras se sentiam atraídos por pessoas assim.
Luna tropeçou entre as casas e parou quando seus olhos
vidrados focaram em mim.
Ela estava chapada, o que significava que ela tinha
bebido uma tonelada e adicionado wolfsbane à mistura. Eu
não tinha ideia de por que ela se deixou chegar a esse nível.
“Você,” ela falou arrastada e deu um passo vacilante em
minha direção. “Claro, que ele estaria aqui com você.” Ela se
inclinou para frente, um de seus dedos de unhas afiadas
apontando para mim.
Griffin parou na minha frente, bloqueando-me de sua
visão. “O que você está fazendo aqui Luna?”
“Você não atende minhas ligações.” Ela balançou o dedo
na cara dele. “O que meu papaaaai diria?”
Ela o estava ameaçando?
“Eu não dou a mínima para o que ele diria.” Griffin cruzou
os braços, parecendo sem graça. “Eu sou o alfa, não ele.”
Ela riu. “Para algueeein tão gostoooso,” ela continuou,
cutucando-o no peito, “voxê é estúpido.”
Como ela ousa falar com ele assim? Eu não conseguia
segurar minha língua por mais tempo. “Você veio até aqui para
insultá-lo?”
Griffin ficou tenso quando Luna mostrou os dentes para
mim.
“Vadxia, naum fale comigo.” Ela acenou com a mão com
desdém para mim. “Não vale o meu tempo.”
“Não fale com ela assim.” Griffin rosnou. “Foi você quem
apareceu aqui bêbada. Você me ligou mais de vinte vezes e eu
não atendi. Talvez você devesse ter entendido a indireta.”
“Você não vai ficar assim com elaaa.” Seus ossos
começaram a quebrar e pelos brotaram por todo o corpo.
Eu engasguei, nervosa. Ela era louca o suficiente para me
atacar neste estado de embriaguez? Eu não gostava dela, mas
isso não significava que eu queria brigar com ela. Eu queria
que ela me deixasse em paz.
Em segundos, ela mudou para sua forma de lobo,
deixando suas roupas rasgadas em torno de suas patas.
“Luna, o que você está fazendo?” Griffin disse
severamente. “Você precisa se afastar.”
Ela balançou sua grande cabeça de lobo
desafiadoramente e correu em nossa direção. Seus olhos
estavam fixos no meu pescoço.
Ela pretendia me matar.
Minha loba avançou, mas desta vez, para minha proteção
em vez de tentar assumir o controle, eu permiti que a
mudança acontecesse enquanto Luna investia contra mim.
Minha pele formigou quando meu pelo brotou, e eu
rapidamente removi a bainha segundos antes de minhas
roupas se rasgarem e caírem do meu corpo.
Eu odiava trocar ou estragar minhas roupas, mas ela
teria mais facilidade em me machucar se eu não mudasse
também.
“Luna, pare.” Griffin rosnou, enquanto ele ficava
protetoramente na minha frente. Ele abriu as pernas em uma
pose de lutador e enrijeceu os ombros. “Não me faça forçar
você com meu comando de alfa.”
Seu lobo fez um ruído sufocante que deve ter sido uma
risada. Ela obviamente não achava que ele tinha coragem de
forçá-la a parar. Dada a maneira como Griffin permitia que
Dick o tratasse, não era de admirar que ela não pensasse que
tinha que ouvi-lo. Ela continuou a avançar, claramente não
preocupada com a ameaça revelada.
“Tudo bem,” ele rosnou enquanto se agachava.
O idiota ia se machucar, o que me enfureceu. Se aquela
vadia o machucasse de alguma forma, eu a mataria. Minha
loba uivou de acordo.
Luna correu ao redor dele e investiu, mas em sua névoa
bêbada, ela calculou mal, e seus dentes estalaram no ombro
de Griffin em vez de mim. Ele estendeu os braços como se isso
evitasse ferimentos, mas tudo o que fez foi dar a ela um alvo
melhor para os dentes.
Se meu pai estivesse aqui agora, teria ficado horrorizado
com a falta de noção desses dois shifters na arte da batalha.
Pelo menos, desta vez, minha cabeça estava no jogo.
Em uma tentativa de evitar adicionar outra morte à
minha lista e acabar no lado ruim de um dos membros do
conselho de Shadow City, dei uma cabeçada na bunda de
Griffin, fazendo-o tropeçar para fora do caminho.
“Não!” Ele gritou. “Eu estava cuidando disso!”
Se ele me deixasse focar, eu derrubaria a psicopata
bêbada em segundos.
Um grunhido rasgou dela quando ela abriu mais a boca,
indo para o meu pescoço. Fiquei de pé nas patas traseiras e a
deixei cair, errando completamente o alvo. Ela conseguiu se
segurar com as patas dianteiras, mas elas cederam e ela caiu
no chão.
Para evitar que a luta continuasse, pulei em suas costas
e coloquei meus dentes em sua nuca, pressionando-os em seu
pêlo, mas não o suficiente para tirar sangue. Se ela se
movesse, ela se machucaria.
Aparentemente, isso não foi um impedimento porque ela
se debateu contra mim, determinada a se levantar. O gosto
metálico de seu sangue atingiu minha língua.
Ela não estava pensando com clareza e provavelmente
nem sentiu a dor. Eu esperava que isso fosse fácil, mas
claramente, eu estava enganada.
“Luna,” Griffin gritou. “Pare com isso!”
Ela nem parou porque estava desesperada demais para
me machucar.
Eu ia ter que nocautear ela. Não havia raciocínio com ela
neste estado. Pulei de cima dela e ela se levantou
imediatamente.
A piscina me deu uma ideia e corri para ela. Ouvi Luna
me seguindo, tropeçando o caminho todo. Obriguei-me a
desacelerar para que ela não percebesse meu plano. Na real,
em seu estado, isso era improvável, mas eu sabia que não
deveria subestimar minha oponente.
Pela primeira vez em semanas, minha mente clareou e
consegui me concentrar. Teria sido ótimo hoje cedo com
Rosemary e o desenho, e saber o que causou a mudança,
também seria bom.
Eu me concentraria nisso mais tarde.
Quando cheguei ao fundo da piscina, girei e rolei para
fora do caminho.
Luna tentou parar, se arrastando e balançando na
beirada por um segundo antes de seu corpo cair. Seus olhos
se arregalaram quando ela bateu na água, fazendo com que
um grande respingo me atingisse e encharcasse meu pêlo.
Ela subiu para respirar, remando como cachorrinho no
centro da piscina. Mas ela pisou na água e depois afundou em
vez de nadar para o lado.
A porta dos fundos da casa de Killian se abriu e ele correu
para fora. “Que diabos está acontecendo aqui?” Ele primeiro
olhou para Griffin e depois para mim em minha forma de lobo.
“Uh...” Preocupação brilhou em seus olhos. “Dove, o que está
acontecendo?”
Como se eu pudesse responder a ele na forma de animal,
mas sua mensagem era clara. De todas as pessoas, porque eu
estava na forma de lobo logo na frente de Griffin e Luna?
Luna choramingou, tirando seu foco de mim. Olhei para
a piscina para encontrá-la lutando para se manter à tona. Eu
não esperava isso. Achei que ela poderia sair, ela estava
consciente o suficiente para me atacar. Sua cabeça mergulhou
na água novamente e ficou claro que ela não seria capaz de se
debater na água o suficiente para chegar ao topo.
Isso não deveria acontecer.
“Eu a pego,” Killian gritou enquanto corria para a piscina
e pulava.
Enquanto ele nadava até ela, ela não subiu acima da
superfície. Corri para a beira da piscina, ganindo. O objetivo
era que eu não matasse mais ninguém e, no entanto, aqui
estava ela, quase se afogando.
“Ei, ele vai salvá-la.” Griffin se ajoelhou ao meu lado. O
cheiro de mirra que envolvia ele todo, encheu meu nariz. Entre
isso e seu toque, minha loba e eu nos acalmamos. Inclinei-me
para ele, precisando senti-lo mais perto.
Killian envolveu Luna com os braços, mantendo a cabeça
dela acima da água.
Meu corpo cedeu e meus pulmões se encheram de ar mais
uma vez.
Eu não gostava dela, mas isso não significava que eu a
queria morta.
O som de um motor ficou mais alto e Griffin me soltou.
“Precisamos levá-la de volta à sua forma humana antes que
alguém a veja.”
Isso foi mais fácil falar do que fazer, visto que minhas
roupas estavam em frangalhos.
“Vamos.” Griffin se levantou, pegou a bainha da minha
adaga e bolsa, e acenou para que eu o seguisse.
Ele abriu a porta dos fundos de Killian para mim.
Correndo para dentro, corri para a porta do quarto de Olive,
mas a realidade me atingiu. Eu a tranquei mais cedo para que
Killian não invadisse e descobrisse que eu tinha ido embora.
Na época, parecia a coisa mais inteligente a se fazer, mas não
tanto agora.
“Qual o problema?” Griffin estremeceu ao apontar para o
quarto de Killian. “Vá se trocar. Apresse-se antes que eles
venham nos procurar.”
Ugh, isso causaria tantas perguntas, mas minhas mãos
estavam atadas. Eu corri para o quarto onde eu estava e
choraminguei, olhando para o topo da moldura da porta onde
eu sabia que a pequena chave de emergência de metal estava
localizada.
“Uau! Espere.” A testa de Griffin se enrugou em confusão.
Ele seguiu meu olhar até o topo do batente da porta, então
pegou a chave e destrancou a porta. Ao entrar no quarto, ele
olhou para os lençóis tortos na cama. “Você está ficando no
quarto de Olive?”
E as perguntas já começaram. Eu deveria ter colocado
um conjunto extra de roupas no quarto de Killian no caso de
algo assim acontecer. Mas eu nunca sonhei com isso
acontecendo. Pelo menos, não precisei tentar explicar direito,
já que estava na forma animal.
Passando por ele, vasculhei o armário, não encontrando
nada para vestir.
Sua risada me forçou a virar para encontrar minha bolsa
no chão e abrir o zíper. Sem olhar para ele, vasculhei a bolsa
cuidadosamente, pegando com a boca jeans, sutiã e camisa
branca.
Assim que juntei minhas coisas, virei-me para encontrar
Griffin sentado na cama, me observando. Um canto de sua
boca se ergueu, e ele parecia quase satisfeito.
Em outras palavras, ele parecia mortalmente sexy, e o
puxão dentro de mim parecia se enrolar e apertar.
As portas do carro se fecharam, alertando-me que os
guardas haviam chegado. Agradecendo a deixa, corri porta
afora, não querendo tentar fazer com que ele saísse do meu
quarto. Do jeito que ele estava agindo, ele não se moveria,
esperando pelo show. Então, entrei no banheiro para ter um
pouco de privacidade.
Meu corpo formigou quando empurrei minha loba para
longe, e logo, eu estava de pé sobre duas pernas. Olhei no
espelho e, por um segundo, quase me senti como eu, o que foi
uma mudança bem-vinda. Minhas emoções estavam mais
centradas e, da mesma forma, as olheiras que existiam há
menos de uma hora haviam desaparecido. A mudança e a lua
devem ter feito maravilhas para minha estabilidade mental.
Na verdade, a sensação avassaladora de estar sozinha que eu
tinha anteriormente, não era tão sufocante no momento.
Afundei contra a pia de granito escuro e olhei ao redor do
grande banheiro. O azulejo bege complementava as paredes
amarelas claras. A banheira e o vaso sanitário ficavam contra
uma parede, e do outro lado da pia havia um grande armário
de roupas de cama que Killian mantinha abastecido com
toalhas. Peguei uma toalha de mão limpa, joguei água no rosto
e sequei.
Eu podia ouvir vagamente os guardas conversando com
Killian. Eles viriam logo, então me vesti rapidamente.
Griffin bateu na porta do banheiro. “Você está bem aí?”
Sua voz causou arrepios em meus braços. Senhor, eu
estava passando mal, mas tinha que manter minha cabeça no
lugar. “Sim, estou quase terminando.” Coloquei meu sutiã e
puxei a camisa branca sobre o meu jeans. Eu levei um
momento e fechei os olhos. Não havia como dizer em que tipo
de estado Luna estaria, e eu esperava que ela não tentasse me
bater de novo. Eu me senti mal por jogá-la na piscina, já que
ela obviamente estava ainda mais bêbada do que eu
imaginava.
Eu ouvi Griffin andando pelo corredor. Quanto mais ele
se afastava de mim, mais desesperada eu me sentia para me
aproximar dele novamente. Isso não poderia continuar
acontecendo. Eu não precisava chegar ao ponto de confiar
nele.
A porta dos fundos se abriu. “O que diabos aconteceu lá
fora?” Ouvi Killian murmurar quando quatro pares de passos
entraram atrás dele. “E por que há guardas de Shadow City
aqui?”
Peguei algumas toalhas de banho no armário e corri para
a sala. Como eu esperava, a loba Luna estava encharcada.
Killian a carregava em seus braços passando pelos guardas
enquanto a água pingava por todo o piso de madeira.
“Aqui,” eu disse e estendi minhas mãos para tirá-la de
Killian para que ele pudesse se secar.
“Uh, porra nenhuma,” Griffin rosnou e tirou as toalhas
de mim, o calor de seu corpo fazendo os pelos dos meus braços
se arrepiarem enquanto eu balançava em direção a ele. Droga.
“Você está vestindo uma camisa branca, e eu estaria
amaldiçoado se você der um show a eles.”
Minhas bochechas queimaram, e eu quase quis tomá-la
de qualquer maneira para provar um ponto.
Quase.
Mas eu não queria entreter os novos homens, então deixei
para lá.
No entanto, quando Griffin tirou Luna de Killian, um
ciúme intenso me atingiu. A raiva irracional que surgiu
através de mim quando ele a tocou me assustou pra caralho e
felizmente me acordou o suficiente para manter minha cabeça
sob controle. A menina quase morreu. Eu tinha que me
lembrar disso.
Killian pegou uma toalha das minhas mãos e se secou,
enquanto eu jogava as outras duas toalhas no chão, tentando
limpar a bagunça da água antes que seu piso fosse arruinado.
“O que devo fazer com ela?” Griffin torceu o nariz.
Só havia uma opção. “Coloque-a na banheira, e eu vou
pegar algumas roupas para o caso dela mudar de volta.”
Ele seguiu minhas instruções, o que me surpreendeu.
Normalmente, ele era mais combativo.
“Mais uma vez, por que diabos você estava lá fora quando
deveria estar dormindo em segurança na cama, e por que há
quatro guardas aqui?” Os olhos escuros de Killian se fixaram
em mim e então olharam para os quatro guardas parados na
porta dos fundos.
Respirei fundo, lembrando-me dos cheiros dos guardas,
e estava prestes a dizer a Killian o que podia quando Griffin se
juntou a nós na área da cozinha. Ele contou para Killian e aos
guardas sobre meu perseguidor e tudo o que estava
acontecendo.
Bem, quase tudo. Não a parte do lobo prateado.
“Vamos proteger o perímetro,” disse um guarda careca.
“Ninguém vai passar.”
“Bom, vou ficar aqui com eles.” Griffin fez um gesto para
Killian e para mim. “Avise-me se você precisar de alguma
coisa, e eu quero que você faça um relatório para mim a cada
hora.”
“Sim, Alfa.” O guarda mais velho assentiu e saiu pela
porta.
Quando os quatro saíram, Killian esfregou os braços.
“Você estava fugindo?” Ele parecia magoado quando tocou
meu ombro, fazendo-me encontrar seu olhar.
“Eu não quero que nada aconteça com você.” Ele tinha
que entender isso. “Pense nisso, se alguém estivesse caçando
você, e eles estivessem dispostos a me matar para ter sucesso,
o que você faria? E eu não poderia te dizer adeus. Se eu
tentasse, eu sabia que não conseguiria partir.” Eu me senti
uma grande idiota. Se ele já estava tão chateado por eu ter
pensado nisso, o que teria acontecido se eu tivesse conseguido
seguir adiante?
“Não importa.” Killian deu um passo em minha direção,
seu rosto cheio de determinação. “Você é uma das pessoas
mais importantes da minha vida agora, e eu me recuso a
deixar alguns idiotas tirarem isso de mim. Você entendeu?”
“Sim. Desculpe-me. Mas eu não estava tentando te
machucar.” Eu queria que ele soubesse disso. “Foi só... toda
vez que eu fechava meus olhos, eu via você morto, junto com
todos os outros que eu amo.”
Killian me puxou para seus braços e beijou o topo da
minha cabeça. “Eu também conheço esse sentimento, mas
você não vai se livrar de mim. Ok?”
Um rosnado profundo emanou de Griffin quando ele se
aproximou, puxando a atenção de Killian para longe de mim.
“Cara, que diabos?” Killian franziu a testa.
Griffin deve ter sentido a mesma coisa que tomou conta
de mim quando o vi levar Luna para longe. Saí dos braços de
Killian, tentando acalmar a situação.
“Tem sido uma longa noite.” Griffin murmurou, como se
tentando suavizar sua reação.
“Deixe-me ir pegar Luna para beber água e comer alguma
coisa, ou ela vai se sentir péssima pela manhã.”
“E eu vou me secar.” Killian tocou a camisa que estava
colada em seu peito. “Vou me trocar e voltar aqui para fazer
algo para ela comer.”
Ele ficou com a melhor opção no final de tudo. Eu o
observei sair, me sentindo ainda pior por quase ter saído sem
me despedir.
Eu dei um passo em direção ao quarto de Olive para pegar
algumas roupas para Luna quando Griffin me cortou.
Seus olhos castanhos brilharam, enfatizando as
manchas verdes quando ele se aproximou o suficiente para
que seu hálito de menta batesse em meu rosto. “Se você sair,
eu vou te encontrar. Vou usar todos os recursos que tenho até
que você volte aqui, onde você pertence.” Ele colocou uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha, o que me fez
estremecer. “Se você respirar do jeito errado, um dos guardas
vai me alertar. Não há como escapar de mim agora, Dove.”
Minha respiração engatou e meu corpo ficou quente por
toda parte. Nunca sonhei que palavras possessivas me
excitariam, mas aqui estava eu, errada.
O doce aroma de excitação exalava do meu corpo traidor.
Eu tinha que desligar o que quer que estivesse se formando
entre nós antes que ele pensasse que eu estava disposta a um
caso de uma noite. Eu ainda não tinha mudado de ideia sobre
isso e, para ser honesta, se eu me permitisse ultrapassar esse
limite com ele, não tinha certeza se conseguiria juntar os
cacos depois.
Ele tinha um domínio sobre minha mente, corpo e alma.
Eu o desprezava por isso.
Um sorriso arrogante apareceu em seu rosto esculpido.
Ele sabia exatamente o que estava fazendo comigo.
Humilhada, girei para contorná-lo, mas ele contra-
atacou, ficando na minha frente. Ele colocou a mão na minha
cintura e o puxão ficou ainda mais forte.
“O que você está tentando provar?” Eu perguntei
baixinho. “Meu namorado está no outro quarto.”
“Namorado?” Ele se aproximou.
Seu cheiro sobrecarregou minha mente, me
transformando em uma pilha de nervos. Seu próprio cheiro
doce me invadiu, deixando claro que eu tinha um efeito sobre
ele também.
“Hummm...” Ele sussurrou enquanto colocava um dedo
sob meu queixo, inclinando minha cabeça para cima.
Lambi meus lábios quando meu cérebro parou de
funcionar. “O quê?” Eu não conseguia lembrar o que ele
perguntou.
“Killian é seu namorado?” Seu nariz enrugou enquanto
suas mãos envolveram minha cintura.
“Somos exclusivos.” Eu balancei a cabeça. Ele já sabia
disso. Por que ele estava fazendo a pergunta de novo?
Seu rosto caiu, mas ele estava perto o suficiente agora
que seu peito roçou em mim. “Você se sente atraída por ele
como se sente por mim?”
Não havia absolutamente nenhuma maneira de sair disso
graciosamente, e ele sabia disso. O idiota estava armando para
mim, para eu admitir isso tanto com minhas palavras ou com
o cheiro de uma mentira. “Não importa.” De alguma forma,
encontrei forças para recuar, colocando distância entre nós,
apesar do meu corpo e da minha loba guerreando dentro de
mim.
“Sério?” Ele riu. “Porque isso meio que importa para
mim.” Ele avançou para perto de mim e me beijou, me pegando
de surpresa. Seus lábios eram macios e quentes, tão
malditamente convidativos. Meu corpo formigava, querendo
mais dele.
Quando ele enfiou a língua na minha boca, seu sabor
delicioso dominou meus sentidos e um gemido escapou da
minha garganta. Felizmente, o barulho me assustou o
suficiente para me tirar do momento.
Empurrei contra seu peito, com força. “Pare,” eu disse
enquanto o instinto e a emoção guerreavam dentro de mim.
Uma grande parte de mim queria beijá-lo novamente e deixá-
lo fazer coisas comigo que nunca haviam sido feitas antes,
mas outra parte de mim sentia muita culpa. Embora Killian e
eu fôssemos apenas amigos, havíamos prometido ser
exclusivos. Eu quebrei sua confiança com minha fraqueza
momentânea.
“Por quê?” Ele perguntou, lambendo meu gosto em seus
lábios.
“Estou com seu melhor amigo.” Ele sabia por quê.
Tivemos essa conversa nem cinco minutos atrás. “Você não
pode me beijar quando estou com ele.”
Griffin deu de ombros. “Termine com ele.”
“E ter um caso com você?” Veja só. Seu lado babaca
estava aparecendo novamente. Com isso eu poderia lidar. Eu
o circulei lentamente, me preparando para fugir para ajudar
Luna. “Você está dizendo que faria isso com seu melhor amigo
e com Luna?”
Eu nunca tinha desprezado alguém tanto quanto eu o
desejava antes. Eu queria dar um tapa nele e beijá-lo ao
mesmo tempo.
“Eu não faria nada com eles.” Ele driblou meus
movimentos, permanecendo perto. “Então, eu vou
perguntar...”
Um gemido escapou do banheiro, nos alertando que Luna
estava se mexendo.
Pela primeira vez, fiquei em êxtase ao ouvi-la. Passei por
ele e corri para o banheiro. Qualquer coisa que me desse
distância de Griffin para que minha mente pudesse se
concentrar mais uma vez.
Ela tossia enquanto estava deitada, com a cabeça
erguida, no chão de plástico da banheira. Seu pelo marrom
estava encharcado e sua cabeça balançava como se estivesse
tonta.
Eu nunca estive nessa condição antes, mas Zoe sim, uma
noite quando seus pais saíram da cidade. Ela convidou a mim
e mais algumas pessoas para sair, e todos ficaram tão bêbados
que vomitaram no chão. Eu me recusei a me juntar a eles
porque meu pai teria perdido a cabeça, os alfas não se
comportam de forma estúpida.
Uau, se ele pudesse me ver agora. Comportar-me
estupidamente foi tudo o que fiz, apesar de não querer.
Esfregando uma pata no rosto, Luna gemeu.
“Deixe-me pegar algumas roupas para você e já volto.” Eu
disse as palavras, embora duvidasse que ela se importasse.
Lembrei-me de como era quase me afogar. Talvez estar
embriagada ainda por cima, fosse uma bênção disfarçada para
ela.
Corri para o quarto de Olive e peguei uma calça de
moletom preta que tinha Juicy escrito na bunda e uma blusa
combinando. Parecia uma roupa que Luna usaria sozinha,
então pelo menos tinha isso. Se eu tivesse roupas de sobra,
eu teria feito ela usar as minhas por despeito, então
provavelmente era uma coisa boa eu ter apenas um par de
calças entediantes em meu nome.
Quando me virei em direção à porta, encontrei Griffin
parado contra a parede, me observando. Seus olhos eram tão
escuros que eu não conseguia ver nada do verde. Sua
expressão ardente enviou calafrios de cima a baixo em meu
corpo.
Foco, Sterlyn. Ele pode quebrar você, e você já está lutando
para manter suas porcarias sob controle.
Tentei ignorá-lo enquanto passava marchando, voltando
para Luna, mas era tão difícil. O puxão agora era quase um
esticão, e cada uma das minhas células parecia estar pegando
fogo. A necessidade que surgiu através de mim quase me
dominou.
A porta de Killian se abriu e ele saiu para o corredor. Ele
franziu a testa, mas não disse nada, o que me fez sentir ainda
mais culpada pelo beijo roubado.
“Você precisa de ajuda?” Ele perguntou.
“Uau,” Griffin disse sarcasticamente. “Essa é a sua
maneira de dizer a Dove que você quer ver outras pessoas
nuas?”
“Cara,” Killian disse enquanto encarava seu melhor
amigo. “Que diabos? Eu não quis dizer isso!”
“Tem certeza?” Griffin ergueu as duas mãos. “Porque você
sabe que ela está tentando fazer Luna se trocar e se vestir,
então não tenho certeza de como isso poderia ser interpretado
de outra maneira.”
Ótimo. Eles iam ter uma partida de quem mijava mais
alto. Eu não queria fazer parte disso. “Estou bem. Obrigada.”
Fiquei um pouco chocada por Griffin não ter se oferecido para
ajudar a trocar Luna, mas não pensei muito sobre isso. Eu
desprezava a ideia dele estar perto dela de qualquer maneira.
Deixei-os carrancudos um para o outro e entrei no
banheiro, fechando a porta atrás de mim. Coloquei as roupas
na pia do banheiro e fui até ela.
Desta vez, ela estava sentada com a cabeça de lobo
encostada na lateral do plástico frio. Quando ela me sentiu,
ela se virou para mim e soltou um rosnado baixo.
Ótimo. Pelo que eu sabia, ela tentaria me atacar
novamente. “Vamos, você precisa comer e beber alguma coisa.
Caso contrário, você vai ficar mal de novo.” Tentei usar um
tom legal, mas não exagerado, com ela.
Ela bufou e balançou a cabeça.
Eu não tinha ideia do que ela estava tentando me dizer
para fazer, mas se eu apostasse nisso, diria que ela estava me
dizendo para ir para o inferno. “Estou tentando te ajudar.”
Ela rosnou novamente em resposta e ficou com as pernas
trêmulas. Seus olhos passaram da porta para mim e de volta
para a porta.
Claro, ela não queria minha ajuda. “Ok, eu vou lá fora.
Coloquei as roupas na pia, caso você queira se trocar.” Eu
apontei para elas. “Avise-me se você precisar de alguma coisa.”
Quando abri a porta, ela bufou, deixando claro que não pediria
minha ajuda mesmo que precisasse.
Tudo bem, deixe ela se ferrar. Eu me recusava a cair na
dela.
Quando voltei para o corredor, Killian e Griffin estavam
na sala, ainda olhando um para o outro. O drama estava
ficando avassalador. Nesse ponto, tudo que eu queria fazer era
tirar Luna daqui e ir para a cama.
“Você não consegue suportar que eu a encontrei
primeiro.” Killian zombou. “Bem, que pena. Você precisa parar
de farejar ao redor dela.”
Ótimo, eles estavam brigando por minha causa. A última
coisa que eu queria fazer, era ficar entre os dois. Nenhuma
garota deveria fazer isso.
“Se eu não estivesse farejando, ela teria escapado esta
noite, já que você obviamente não estava prestando atenção
nela.” Griffin ergueu o queixo, desafiando o amigo a discordar.
“Então talvez um 'obrigado' fosse uma boa.”
Oh, querido Deus. Griffin achou que essa lógica
funcionaria? Na verdade, ele piorou toda a situação. Decidi
intervir antes que as coisas ficassem ainda mais de cabeça
para baixo. “Ei, vocês dois, parem com isso.” Aproximei-me
deles, evitando o olhar de Killian. Cada segundo que passava
fazia com que mais culpa se instalasse sobre mim. “Temos
muita coisa acontecendo para estarmos na garganta um do
outro.”
“Agora eu posso concordar.” Killian agarrou minha mão e
me puxou para o lado dele.
Griffin mostrou os dentes, deixando claro que não
gostava de Killian me tocando.
Droga. Luna era a namorada dele, e ele me beijou. Não
apenas traí Killian, mas o que isso dizia sobre Griffin? Ele
tinha influência demais sobre mim. Inferno, ele me fez
concordar em ficar.
Não podíamos deixar que nossas emoções tomassem
conta de nós. “O dia inteiro foi um show de merda.” Essa era
a única maneira que eu conhecia de explicar. “Nossas emoções
estão por toda parte, e entre eu quase indo embora e Luna
quase se afogando, todos nós precisamos de um tempo.”
Larguei a mão de Killian, não querendo provocar Griffin mais
do que ele já estava, o que era muito revelador. Eu deveria
estar mais preocupada com Killian do que com ele, mas
analisaria isso mais tarde. Naquele momento, eu precisava de
espaço. “Eu vou para o meu quarto por um segundo.” Fiz uma
careta, percebendo que isso levaria a mais perguntas.
“Falando nisso.” Griffin apontou o dedo para nós dois. “Se
vocês dois estão juntos, por que ela está dormindo no quarto
da sua irmã?”
A porta do banheiro se abriu e Luna pisou no corredor.
Quando ela viu nós três, ela suspirou com o que parecia ser
alívio. Ela se aproximou de Griffin e jogou os braços ao redor
dele. “Obrigada por salvar minha vida.”
Cerrei os punhos enquanto tentava me impedir de
agarrá-la pelos cabelos. Eu queria puxá-la para longe de
Griffin, e eu odiava que ela pudesse sentir seu cheiro delicioso.
“Não fui eu.” Ele tirou os braços dela e deu um passo para
trás. Ele limpou a mancha em sua camisa que ela havia
molhado de seu cabelo. “Você pode agradecer a Killian por
isso.”
“O quê?” Ela perguntou e piscou, virando-se para encarar
Killian e eu. Quando seu olhar pousou em mim, a raiva
encheu seus olhos. “Isso é tudo culpa sua.” Ela balançou a
cabeça com força de um lado para o outro. “Você me atacou, e
sua pele era praaata.”
Ótimo. Mesmo bêbada, ela lembrou que eu tinha pelo
prateado, mas não que não fosse Griffin quem a salvou. Ela
tinha algo contra mim, e eu não tinha ideia do porquê. “Você
acha que eu tinha pelo prateado?” Forcei uma risada,
tentando fazer soar como se fosse a coisa mais engraçada que
já ouvi.
Seu rosto ficou azedo e ela passou os dedos pelos cabelos.
Eles foram pegos no meio do caminho, onde havia um grande
nó. “Eu não me sinto muito bem.”
Sim, aposto que não.
“Vamos.” Griffin caminhou até a porta dos fundos.
“Vamos cuidar de você.”
Seus olhos se iluminaram com suas palavras enquanto
pura raiva corria por mim. Minha respiração acelerou,
atraindo os olhos de Killian para mim.
Muito bem, Sterlyn
"Ta,” ela disse ansiosamente e passou o braço pelo de
Griffin.
Seu rosto se contorceu, mas ele não se soltou de suas
garras.
Eu não tinha certeza se isso era melhor ou pior. Pelo
menos, ele não parecia estar gostando do contato, mas estava
deixando que ela o tocasse. E se ele continuasse a deixá-la
tocá-lo quando voltassem para sua casa?
Minha loba avançou, uivando de mágoa e raiva, e eu
cerrei meus punhos com tanta força que minhas unhas
cravaram na palma da minha mão. No entanto, foi o suficiente
para fazer com que algum raciocínio voltasse à minha mente.
O que diabos estava acontecendo comigo?
“Voltarei pela manhã,” disse Griffin ao abrir a porta. “E
eu vou deixar você por dentro da programação dos guardas.”
Ele piscou para mim antes de conduzir Luna porta a fora e
fechá-la atrás deles.
O idiota piscou para mim enquanto levava outra garota
para sua casa. Mas que diabos? E por que isso me enfureceu
tanto? Ele me beijou, e eu disse a ele que não. Além disso, isso
meio que era parcialmente minha culpa, mas eu fiz uma
promessa a Killian.
“Ei, o que há de errado?” Killian perguntou, e ele tocou
meu braço.
Como se eu fosse responder a essa pergunta. Eu não
podia admitir para ele o que sentia por seu melhor amigo por
tantos motivos, embora, admito, ele provavelmente tivesse
uma suspeita baseada nos cheiros de nossa atração anterior.
Mas Griffin era um mulherengo, e eu tinha que me lembrar
disso.
“Dove?” Ele apertou meu braço confortavelmente. “Você
está bem?”
“Não.” Eu não estava bem por muitos motivos. “Toda a
minha vida continua desmoronando. Bem quando eu senti
alguma sensação de normalidade, encontrei uma pintura
minha perto de uma lixeira. Então eu confirmei as suspeitas
de Rosemary enquanto deixei algum lobo aleatório me ouvir
admitir tudo!” Ele já sabia de tudo isso, mas eu não conseguia
parar. “Então eu tento sair e sou pega por aquele palhaço.” Eu
apontei para a casa de Griffin “e então sua namorada bêbada
me ataca. Não há nenhuma parte disso que esteja bem.” Sem
falar no beijo, sobre o qual eu teria que contar para Killian.
“Olha, eu entendo que somos mais amigos do que
amantes.” Killian colocou as mãos em meus ombros, me
fazendo olhar para ele. “Mas Griffin não é bom para você. Isso
não sou eu sendo ciumento, estou dizendo isso a você como
um amigo. Ele não quer se prender e faz questão de provar
isso em todas as oportunidades. Eu não quero ver você se
machucar. Ele tem um jeito de fazer uma garota se sentir
especial, e ele parece estar focando em você, o que me irrita
porque somos melhores amigos, e você deveria ser minha
garota.”
Suas palavras foram como um tapa na cara, embora eu
já soubesse que eram todas verdadeiras. E aqui estava. Eu
tinha que contar a verdade a Killian. Eu tinha feito uma
promessa a ele e a quebrei. Eu tinha que assumir a culpa e
lidar com as consequências. Eu não queria arruinar a amizade
deles. “Killian, eu preciso te dizer uma coisa.”
Ele inclinou a cabeça e respirou fundo. “O quê?”
“Griffin e eu nos beijamos.”
Um silêncio tenso nos engoliu por inteiro.
Sua mandíbula se contraiu enquanto ele processava
minhas palavras, e eu me preparei para o golpe inevitável.
“Quem iniciou?” Killian bufou. “Foi ele?” Ele começou a
andar.
Essa era a pergunta exata que eu esperava que ele não
fizesse. Já havia uma tonelada de tensão entre eles, e eu não
queria causar mais, mas quebrei minha promessa a Killian e
tive que contar a ele. “O que importa é que acabou quase no
mesmo instante em que começou, e sinto muito por ter traído
sua confiança.” Na verdade, o beijo durou segundos, mas eu
ainda podia sentir seus lábios nos meus.
“Então ele te beijou.” Killian parou e olhou para mim.
“Dove, ele é má notícia.”
Algo estalou dentro de mim. “Ele trouxe quatro guardas
aqui para nos proteger. Que más notícias são essas?”
Suas sobrancelhas franziram enquanto ele suspirava.
“Não, quero dizer, ele é uma má notícia para as garotas. Olha,
além de seus hábitos de namoro, Griffin é um cara legal e um
bom amigo. Bem, pelo menos ele era antes de te beijar.” Ele
riu sem humor. “De qualquer forma, ele deixou bem claro que
não quer sossegar e não quero que você se machuque.”
Ele estava certo. De alguma forma, eu me permiti ser
machucada por Griffin, mas não pude evitar. Não importa o
quão alto minha cabeça gritasse, meu coração e lobo queriam
estar ao lado dele. Eu estava em guerra por dentro e meu
cérebro estava perdendo. “Não, eu entendo. Ele deu em cima
de mim horrivelmente no meu primeiro dia no café.”
“Eu não estou tentando ser rude ou mau.” Killian tocou
meu braço. “Mas temo que ele fez isso porque eu reivindiquei
você primeiro. E não se esqueça que ele partiu com Luna.”
Isso foi como um soco no meu estômago, mas às vezes a
verdade era difícil de ouvir. Tudo o que ele dizia fazia sentido,
mas não apagava a conexão maluca que eu tinha com Griffin.
“Eu sei.”
“Olha, eu sei que você está me ajudando com a coisa do
relacionamento fingido, e se o seu companheiro predestinado
ou algum outro cara legal aparecesse, nós acabaríamos com o
acordo imediatamente. Mas esse cara não é o Griffin.” Ele
beijou minha testa. “E eu não quero ver você se machucar
mais do que já se machucou, perdendo sua família e bando.”
“Sem mencionar que tem algum maluco me ameaçando.”
Eu tinha que parar de pensar em Griffin e no que ele e Luna
provavelmente estavam fazendo neste momento.
O pensamento deles fazendo sexo, ou Deus sabe o que
mais, continuou tentando adentrar minha mente, me fazendo
querer ir até lá e chutar Griffin na bunda. Pelo menos então,
ele estaria sofrendo e pensando em mim.
Uau. Esse foi um pensamento violento. E por que eu me
importava se ele queria ficar com Luna? Eu precisava manter
minha cabeça nivelada.
E isso por si só já dizia muito.
Minha reação a Griffin não foi racional, o que confirmou
meu medo persistente. “Olha, eu quero ser honesta com você.
Griffin e eu... temos uma conexão estranha, e mesmo que seja
provavelmente uma péssima ideia, visto que ele saiu com
Luna, preciso explorá-la.”
“Dove...” Seu rosto se contorceu.
“Entendo.” Cara, eu entendia, mas depois de passar duas
semanas sem ver Griffin, meu coração doía por querer estar
perto dele. “Mas prefiro ter sua bênção do que fazer algo pelas
suas costas.”
“Tudo o que estou dizendo é que você merece alguém que
vai tratá-la com respeito, lealdade e bondade.” Killian me
abraçou. “E se isso é algo que você precisa explorar...” Ele
suspirou e passou a mão pelo rosto. “Então você tem minha
bênção. Mas se ele te machucar, vou dar uma surra nele e não
ter mais nenhum tipo de envolvimento com ele.”
Eu ri, mas soou um pouco forçado. “Estou tão feliz por
ter conhecido você. Você é como um pedaço da minha família
que eu não sabia que estava faltando.”
“E eu meio que te amo também.” Ele se afastou e arqueou
uma sobrancelha. “Mas chega de fugir, ou você vai dormir
comigo na minha cama. Entendeu?”
“Talvez eu me comporte mal então.” Eu pisquei,
totalmente brincando com ele.
“Yeah, yeah.” Ele revirou os olhos. “Mas sério. O fato de
você estar planejando fugir dói. Somos uma família. Se você
for, então é melhor me levar.”
“Mas você tem sua vida aqui, e seu bando.” Embora... ele
não falasse muito sobre seu bando, agora que pensei sobre
isso.
“É o bando do meu pai. Tudo o que fiz foi decepcioná-los
e permitir que perdessem seu alfa antes do tempo.” Ele franziu
a testa.
Eu odiava que ele se sentisse responsável, mas isso era
algo que ele teria que resolver sozinho. “Você sabe que é o alfa,
e não se demitiu por um motivo. Vejo como Sierra e Carter
olham para você, e não é com ódio ou nojo. Eles amam e
respeitam você, o que mostra que você está fazendo algo
certo.”
“Talvez, mas não estou pronto.” Ele bocejou. “Olha, estou
exausto. Vou para a cama. Temos que chegar cedo na
universidade amanhã.”
Merda, eu tinha esquecido tudo sobre o trabalho. Eu
estaria morta e enterrada. “Você está certo. Sinto muito por
tudo isso.” Se eu não tivesse tentado fugir, então nada desta
noite teria acontecido, incluindo o beijo.
“Não, na verdade é uma coisa boa.” Killian acenou com a
cabeça em direção à porta dos fundos. “Agora temos quatro
guardas nos protegendo, então saberemos se alguém tentar
alguma coisa.”
Isso era verdade. “Sim, Griffin disse que eu estaria mais
segura aqui do que fugindo sozinha.”
“Eu odeio admitir isso, mas ele está certo.” Killian bocejou
novamente, e ouvi sua mandíbula estalar. “Agora vamos
descansar um pouco.”
Caminhamos até os quartos e ele abriu totalmente a
porta. “Estou deixando isso aberto para ter certeza de que vou
pegar você da próxima vez que tentar fazer alguma coisa.”
“Esperto? Altruísta?” Eu interrompi. “Amoroso?”
“Tolice.” Ele apertou meu braço com ternura. “Boa noite.”
“Noite.” Deixei minha porta entreaberta também e rastejei
para a cama. Surpreendentemente, caí no sono.

Murmúrios da cozinha me acordaram.


“Senhor, ela precisa ficar aqui e não ir para a
universidade.” Uma voz que eu não reconheci falou. “Vai ser
muito difícil tentar mantê-la segura com todas aquelas
pessoas ao seu redor.”
Senhor? Griffin já estava aqui? Olhei para o relógio. Eram
quase sete.
“Você está certo,” respondeu a voz de Killian. “Aquele café
está sempre ocupado. Vou me conectar com Carter e informá-
lo e depois passar por lá e me certificar de que está tudo certo
com a pintura.”
Sim, eu tinha que fazer parte da conversa sobre o que
estaria fazendo o dia todo. Levantei-me e fui em direção às
vozes.
Um homem alto que devia estar na casa dos trinta estava
parado na frente de Killian. Ele estava com os braços
cruzados, enfatizando seus bíceps musculosos através da
camisa preta. Ele tinha duas armas amarradas em volta da
cintura, e seus olhos cor de âmbar se fixaram em mim. Uma
sobrancelha preta arqueada alta o suficiente para que seu
cabelo comprido combinando a escondesse. “Imagino que seja
Dove?” Sua atenção voltou para Killian.
Sim, isso não iria acontecer. Eu poderia responder
perguntas sobre mim mesma muito bem. “Sim, sou eu. E você
é?”
“Lucas,” ele disse secamente. “Eu faço parte do bando de
Killian. Estávamos discutindo sua segurança.”
“Vocês estavam?" Tentei manter o sarcasmo longe da
minha voz, mas falhei miseravelmente. “Eu não sabia que
qualquer um de vocês poderia tomar decisões em meu nome.”
Eu provavelmente estaria disposta se o idiota não tivesse dito
o que eu faria sem discutir isso comigo.
“Não foi bem assim.” Killian olhou furioso para o homem.
“Lucas fez algumas observações muito boas sobre você ficar
em casa. A cafeteria estará tão lotada que qualquer um pode
entrar e chegar até você. Vai ser difícil ficar de olho em todo
mundo, sem deixar óbvio que você está sob guarda.”
Estabelecer medidas de segurança seria difícil; Eu não
poderia discutir com eles lá. “Carter vai ficar chateado.” Mas
honestamente, eu não queria voltar lá ainda. Chame-me de
covarde, mas tirar um dia para me recuperar pode ser uma
coisa boa. Um dia para resolver meus problemas, em vez de
tomar decisões erradas continuamente. Eu não tinha sentado
e refletido sobre nada.
“Eu cuidarei dele.” Killian piscou. “Não se preocupe com
isso. E é melhor eu ir andando, porque eu queria verificar a
pintura que fiz e ter certeza de que nada vazou.”
“Existe mais alguma coisa que precisamos discutir,
senhor?” Lucas perguntou.
“Não, certifique-se de que ninguém entre para machucá-
la.” Killian deu um tapinha no meu braço enquanto passava,
me deixando sozinha com o guarda.
Eu não gostava de estar perto de pessoas que não
conhecia, mas não podia ser rude quando esse cara estava me
protegendo.
“Bem, é melhor eu voltar lá para fora.” Lucas abriu a
porta da varanda. “Nos avise, se você precisar de alguma
coisa.”
“Farei isso.” Caminhei até o sofá e peguei o controle
remoto, em seguida, liguei a televisão.

Eu estava lá sozinha por trinta minutos e já estava


inquieta. Eu me joguei no sofá, tentando ficar confortável, mas
nada ajudou.
Passos soaram na varanda dos fundos e a porta se abriu
mais uma vez. Entre o ritmo dos pés e o puxão, eu já sabia
quem era, e odiava.
Apesar dele não ser o enorme canalha que parecia ser no
outro dia, eu ainda não estava muito empolgada que o destino
o tivesse escolhido de todas as pessoas. Ele saiu com Luna na
noite passada, então o que isso diz sobre nossa conexão? Algo
tinha que estar errado, e eu tinha que estar interpretando mal
a situação.
O problema era que, depois de me virar na cama a noite
toda, eu tinha quase certeza de que sabia o que era essa
conexão avassaladora e horrível.
Griffin tinha que ser meu companheiro predestinado.
O que não fazia sentido e não deveria ser possível. Na
verdade, eu odiava que o pensamento tivesse passado pela
minha cabeça, e ainda assim ressoou com a minha alma.
Claro, ele apareceria agora, depois que Luna deve ter ido
embora. A raiva dentro de mim pelo que eles poderiam ter feito
me deixou em um estado de espírito combativo.
Quando ele entrou na sala, de alguma forma me impedi
de me levantar e correr em sua direção. Ele tinha um ar fresco,
com o cabelo com gel virado para o lado e sua camisa marrom,
ajustando-se a ele como uma segunda pele. Ele colocou as
mãos nos bolsos da calça jeans enquanto me examinava da
cabeça aos pés.
Meu corpo aqueceu.
“Ei, você,” ele falou lentamente enquanto caminhava até
mim. “Um passarinho me disse que você ia ficar em casa hoje.”
“Eu sei que aquele passarinho não seria Killian.” Tinha
que ser um dos guardas. “Ele está chateado com você.”
“Oh?” Ele parecia divertido. “Por quê?”
Sentei-me, surpresa com sua atitude arrogante. “Porque
eu disse a ele que nos beijamos.”
Ele deu de ombros e sentou ao meu lado, jogando o braço
sobre meus ombros. “Estou pensando que há mais nessa
história entre você e Killian.”
“Você está tentando ser engraçado?” Eu me afastei dele,
precisando que ele não me tocasse. Eu perdia a cabeça assim.
“Até onde você sabe, ele e eu estamos namorando.” Eu queria
ver como ele reagia às minhas palavras.
Ele sorriu. “Eu não acho que vocês realmente estão. Eu
iria tão longe a ponto de dizer que vocês dois se veem mais
como irmãos do que qualquer coisa.”
“O quê?” Eu disse com uma voz muito aguda. “Eu não
tenho que explicar nada para você.” Merda, por que ele diria
isso? Não fomos convincentes? “Além disso, não é apenas
Killian que faz parte dessa equação. Falando nisso, como está
Luna?”
“Provavelmente de ressaca pra caramba.” Ele riu. “O pai
dela não gostou. Ele me ligou, desculpando-se profusamente
quando ela chegou em casa.”
“Bem, tenho certeza que ela compensou o inconveniente
que lhe causou, muitas vezes.” Cruzei os braços e virei a
cabeça, as bochechas queimando, recusando-me a encontrar
seus olhos. Eu não queria ver o que estava refletindo de volta
para mim.
“Do que você está falando?” Ele parecia confuso. “Quando
saí daqui, deixei-a na casa dela e saí imediatamente.”
Meu coração pulou de alegria e eu disse para ele se
acalmar. Eu não ia cair na farsa de playboy inocente. Levantei-
me, precisando ficar longe dele, mas ele agarrou minha
cintura e me trouxe para baixo ao lado dele, o puxão nos
puxando juntos.
“Eu te fiz uma pergunta,” ele murmurou.
“Ela é sua namorada.” Eu inalei bruscamente, tentando
manter minha atuação intacta. Eu queria explorar as coisas
com ele, eu não podia deixar de querer estar com meu
companheiro predestinado, mas não enquanto ele estivesse
com outra pessoa. “Está tudo bem. Mas você não deveria estar
aqui comigo sozinho.”
“Por que diabos você acha que ela é minha namorada?”
Ele perguntou enquanto segurava meu rosto e me virou para
olhar para ele.
Eu esperava ver malícia, desprezo ou algo assim, mas, em
vez disso, encontrei preocupação. Seus olhos eram ternos, e o
homem arrogante que conheci naquele dia na cafeteria parecia
ter ido embora.
“Porque ela me disse que, durante aquelas semanas em
que você esteve fora, você as passou com ela.” Aquela conversa
havia me devastado, embora eu não gostasse de admitir. “Que
ela conseguiu fazer você sossegar mais cedo do que ela
esperava.”
“Você está falando sério?” Ele rosnou. “Ela é uma cadela.
Killian ficou de olho nela o tempo todo.”
“Então vocês não estão juntos?” Eu queria retirar isso
porque a resposta era muito importante para mim. Mas lá
estava eu, esperando que ele respondesse e que
potencialmente me quebrasse.
Ele sorriu. “Não, mas ela estava parcialmente correta
sobre isso.” Ele se inclinou para que seus lábios pairassem
sobre os meus. “Pela primeira vez, eu quero sossegar.”
Meu coração disparou e borboletas voaram em meu
estômago. “Isso é engraçado, depois de tudo que ouvi sobre
você.”
“Oh, tudo o que você ouviu é verdade, mas essa garota de
cabelos prateados entrou na minha vida, virando tudo de
cabeça para baixo.” Ele roçou seus lábios contra os meus. “A
primeira vez que a conheci, ela me desafiou, me enfureceu e
foi tão sedutora. No primeiro momento em que coloquei os
olhos nela, e ela cortou todas as minhas idiotices, eu fiquei
perdido.”
“Você espera que eu acredite nisso?” Minha cabeça não
acreditou nele, mas meu coração e loba acreditaram. O terrível
mal cheiro de uma mentira estava faltando. Minha loba
choramingou, querendo se aproximar. “Você brigou comigo
constantemente e desapareceu até ontem à noite. Você nem
sequer entrou na loja.”
“Quando perdi meu pai, foi o pior dia de toda a minha
vida,” disse ele enquanto pegava minha mão. “E eu jurei que
nunca iria me aproximar de ninguém novamente. Mas então
você veio aqui, e não só eu me importei com você, mas eu me
apaixonei por você com tanta força que o pensamento de
perdê-la me deixa louco.”
A felicidade surgiu através de mim roubando minha
respiração. Eu nunca pensei que sentiria uma fração disso
novamente, mas esse era o tipo de efeito que esse homem
tinha sobre mim.
“Então você fugiu?” Ele e eu éramos mais parecidos do
que eu pensava.
“Sim, mas a cada dia, o desejo de ver você de novo ficava
cada vez mais forte. Observar você com Killian teria me
matado.” Ele virou seu corpo totalmente para mim. “Mas
ontem, eu não consegui mais ficar longe. Foi como se algo me
puxasse de volta aqui na hora certa. Eu só tinha chegado em
casa alguns minutos antes de algo me dizer que você estava lá
fora. E lá estava você, fugindo.”
“Griffin...” Eu comecei, mas ele colocou um dedo sobre
meus lábios.
“Por favor, deixe-me continuar falando.” Suas íris
escureceram para um marrom.
Eu assenti, querendo ouvir o que ele tinha a dizer.
“Entre você me confidenciando seu segredo e Luna
tentando te machucar, eu sabia que meu coração estava
perdido. Que eu teria que assistir você com Killian, a
distância.” Ele esfregou o polegar no meu pulso. “Mas então
eu vim para a casa para ajudá-la a se transformar de volta e
percebi que, não só você estava dormindo no quarto de Olive
sozinha, mas você não ama Killian do jeito que eu temia que
você amasse, e eu não precisava mais me preocupar sobre
trair meu amigo. Você é um jogo justo.”
“Do que você está falando?” Não havia como ele saber que
Killian e meu relacionamento com ele, eram baseados em pura
amizade.
“Porque eu encontrei isso.” Ele tirou um pedaço de papel
do bolso e o desdobrou.
Prendi a respiração quando ele me mostrou a carta que
escrevi para Killian. Griffin sabia de tudo. “É por isso que você
me beijou.”
“Sim.” Ele balançou as sobrancelhas. “A única coisa entre
você e eu não era um problema afinal. Eu não estaria traindo
meu melhor amigo, e eu tinha que ver se você sentia o mesmo
por mim.”
“E o que você determinou?” Minha respiração ficou presa
quando olhei para seus lábios.
“Que você sente.” Ele me beijou, não se segurando mais.
Meu estômago vibrou e minha cabeça ficou tonta quando sua
língua deslizou dentro da minha boca. Suas mãos foram para
minha cintura, me colocando em seu colo. Ele começou a
sussurrar contra meus lábios.
“A princípio, pensei que não era possível, que esse
sentimento fosse luxúria. Cada vez que te vejo, toco, beijo
você, não consigo me concentrar em mais nada.” Ele se
afastou e seus olhos fitaram minha alma enquanto ele
sussurrava: “Somos companheiros predestinados. Diga-me
que você sente isso?” Ele espalhou beijos pelo meu rosto.
Suas palavras destruíram todas as paredes que eu
construí ao redor do meu coração. Talvez ele já tivesse jogado
antes, mas tudo dentro de mim me dizia que havíamos
mudado um ao outro. O puxão entre nossas almas era
dolorosamente maravilhoso, como se precisássemos nos
conectar para nos tornarmos inteiros. “Eu me sinto da mesma
forma.”
Eu montei nele, precisando estar mais perto, mas ainda
não consegui chegar perto o suficiente. Meu corpo pegou fogo
quando deslizei minha língua em sua boca, e ele me igualou a
cada investida. O doce aroma de excitação percorria entre nós.
Entre seu gosto de menta e seu cheiro, minha cabeça
girava de um jeito que eu nunca queria que acabasse. Eu gemi
quando seus dedos roçaram a pele nua do meu estômago, e
minha necessidade por ele cresceu através de mim.
Sua mão deslizou sob minha camisa, segurando meu seio
enquanto eu me esfregava nele. Eu não tinha ideia do que
estava fazendo, mas ele se lançou contra mim, me fazendo
sentir como se estivesse fazendo algo certo.
Enquanto eu beijava seu pescoço, ele suspirou. “Espere.
Não podemos fazer isso.”
A rejeição doeu quando me afastei. “O quê? Mas eu
pensei...”
“Eu quero fazer.” Ele tirou as mãos de debaixo da minha
camisa e rosnou. “Mas você merece mais do que isso. Não
quero tomar você na casa de Killian enquanto ele está fora.
Você merece ser cortejada e mimada. Quero te dar toda a
minha atenção e voltar para uma casa vazia onde possamos
tomar nosso próprio tempo em minha cama.” Ele me beijou e
passou os dedos pelo meu cabelo. “Quero que nossa primeira
vez juntos seja a melhor lembrança possível, porque será o
início de toda a nossa vida juntos.”
“Você quer isso?” O puxão havia se tornado uma
sensação saltitante avassaladora, que me fez ansiar por cada
centímetro dele. Para ele querer esperar, fez eu me apaixonar
ainda mais.
“Não há dúvida nenhuma em minha mente.” Ele
gentilmente pressionou seus lábios nos meus. “Então, Dove, o
que você vai fazer hoje à noite?”
“Sterlyn,” meu nome saiu de meus lábios.
“O quê?” Suas sobrancelhas franziram. “Sterlyn?”
“É o meu nome verdadeiro.” Ninguém me chamava assim
há tanto tempo. “Eu não disse a Killian meu nome, então ele
começou a me chamar de Dove.”
“É lindo.” Ele roçou seus lábios contra os meus. “Então,
o que você vai fazer esta noite, Sterlyn?”
“Tenho certeza que algum alfa desesperado vai acabar
aparecendo na minha porta, me implorando para ser dele esta
noite,” eu o provoquei, incapaz de me conter. Neste momento,
eu estava tão malditamente feliz.
“É melhor fazê-lo suplicar.” Ele suspirou e encostou a
testa na minha.
A porta da garagem se abriu, indicando que Killian havia
chegado em casa.
“Bem, é uma coisa boa que não tenhamos elevado o nível
das coisas agora,” disse Griffin enquanto ele beijava meus
lábios. “Acho que não há tempo melhor do que agora, para
informar ao meu melhor amigo protetor que vou sair com a
irmã dele hoje à noite.”
Eu fiquei tensa. Griffin agia confiante de que tudo iria dar
certo, mas eu não tinha tanta certeza.
Pulei de pé, não querendo que Killian desse de cara em
mim montada em seu melhor amigo.
Ah, querido Deus. Isso tinha soado horrível, e o que
Killian disse para mim ontem à noite sobre Griffin não ser o
cara certo para mim tornou toda essa situação surreal. Mas
fui honesta com ele, e ele sabia que eu queria explorar as
coisas com Griffin. Na verdade, eu tinha certeza que completar
o vínculo de companheiro com ele esta noite, explorar não era
tanto quanto se comprometer um com o outro.
Minhas entranhas gritavam que algo desconfortável era
iminente, mas isso era algo que Griffin e eu deveríamos fazer
juntos. De qualquer maneira, Griffin estava determinado que
eu seria dele.
O pensamento tanto me animou quanto me aterrorizou.
Griffin riu enquanto estava ao meu lado, pegando minha
mão.
Uma pausa nos passos de Killian me disse que ele
descobriu que Griffin estava aqui. Um rosnado baixo emanou
dele quando ele correu para a sala e parou.
“O que está acontecendo?” Killian endireitou os ombros
enquanto olhava para seu melhor amigo.
“Eu vim para convidar a Ster... Dove para sair hoje à
noite.” Griffin se aproximou de mim.
“Griffin, ela é importante para mim,” disse Killian. “Eu
não quero vê-la se machucar.”
Eu odiava que esses dois estivessem discutindo sobre
mim novamente.
“Isso é justo. E eu sei que tenho me comportado como um
idiota, mas isso vai mudar de agora em diante.” Griffin
levantou nossas mãos unidas. “Ela é minha companheira
predestinada.”
Killian fechou os olhos e exalou. Ele olhou para cima e
encontrou primeiro os meus olhos, depois os de Griffin. “Eu
não posso ficar entre algo especial como isto, mas sem mais
malditos jogos.” Os ombros de Killian se afundaram. “Ela já
perdeu demais.”
“Não haverá.” Eu endireitei meus ombros, ficando de pé
ao lado de Griffin. Eu não podia deixá-lo ser o único lutando
por nós. “Eu disse a você ontem à noite que senti uma
conexão. É real.”
A mandíbula de Killian apertou quando ele olhou para
seu amigo. “Lembra quando você me disse que não é o tipo de
cara que 'se acomoda'?”
Uau, imaginei que isso ia ser tenso, mas não esperava
que Killian encarasse seu amigo diretamente. Embora eu
achasse que não deveria me surpreender que ele fosse protetor
comigo depois de tudo que passamos.
“Sim, eu me lembro, mas desde que ela entrou em nossas
vidas, eu fui puxado em sua direção.” Griffin me encarou.
“Aquele maldito puxão me fez entrar naquele café no primeiro
dia sem Luna ter que me importunar. Então eu vi a garota
mais bonita parada atrás do balcão, e eu congelei, então agi
como um saco de merda.”
“Eu não posso discutir com você nesse ponto.” Se ele
queria que eu o confortasse, ele procurou a pessoa errada. Ele
tinha sido um idiota naquele dia.
“Ele dá em cima de todas as mulheres desse jeito.” Killian
largou a mochila no chão e me encarou. “Ele tenta transar
com qualquer coisa com duas pernas quando está de bom
humor.”
“Isso é diferente,” Griffin murmurou. “Quando eu percebi
o que ela era para você, isso me deixou louco. Toda vez que
você a tocava, eu queria dar um soco em você. Essa é uma das
razões pelas quais eu fiquei fora por tanto tempo. Eu tinha
uma tonelada de coisas que eu precisava fazer com minha mãe
e o conselho, mas também, eu não suportava vê-la com você
e não queria ser tentado a interferir. Você é meu melhor amigo.
Se ela te fazia feliz, eu tinha que me afastar para poder
respeitar isso.”
Killian revirou os olhos e cruzou os braços. “Cara.”
Mas eu não tinha certeza se isso era a única coisa. Talvez
seu pensamento fosse um pouco egoísta. “Griffin e eu
decidimos prosseguir com isso, mas saiba que você nunca
perderá nenhum de nós.”
“Se vocês terminarem, eu irei.” Killian abaixou a cabeça,
mas então ele se aproximou e me abraçou. “Você é minha
família agora, e eu não quero arriscar isso.”
Griffin rosnou, mas não fez mais do que isso. “Cara, eu
nunca iria machucá-la. Eu sei que tenho um histórico ruim,
mas estou falando sério sobre Dove. Ela é tudo para mim.”
“Se você estava sendo todo nobre e saiu por respeito ao
relacionamento que você pensou que ela e eu tínhamos, então
por que você voltou ontem à noite?” Killian me soltou e
encarou seu amigo.
“Eu não podia mais ficar longe. Inferno, minha mãe me
disse que se eu não parasse de franzir a testa e reclamar, ela
me colocaria pessoalmente na prisão de Shadow City. Eu mal
conseguia prestar atenção nas reuniões do conselho porque
tudo que eu queria fazer era voltar aqui para ela.” Griffin
suspirou. “Eu não ia fazer nada. Eu só queria vê-la por alguns
minutos para subjugar qualquer que fosse esse desejo dentro
de mim. Mas então toda a coisa da Luna aconteceu, e eu
encontrei este bilhete que nossa pequena fugitiva deixou para
você.” Ele puxou o pedaço de papel de volta do bolso.
Eu inalei e prendi a respiração, imaginando como Killian
reagiria.
“Bilhete?” Killian perguntou e pegou dele. Seus olhos o
examinaram, e eu vi quando a compreensão caiu. “Era assim
que você iria me dizer adeus?”
“Já passamos por isso.” Eu não queria falar sobre isso
novamente. “Eu não poderia dizer isso na sua cara porque eu
não seria capaz de ir embora. Mas eu tinha que ter certeza de
que você soubesse que eu saí por minha própria vontade, e o
quanto sua amizade significa para mim.”
“Não a faça se sentir mal,” Griffin disse enquanto tocava
meu braço. “Ela pensou que estava fazendo a coisa certa.”
A mandíbula de Killian se apertou e ele dobrou minha
carta e a colocou no bolso de trás. “Posso falar com você a sós
por um minuto?” Ele apontou para Griffin.
“O que quer que você tenha a dizer, pode dizer na frente
de Dove.” Griffin apertou seu toque em mim. “Ela e eu somos
um só.”
“Não, está bem.” Griffin já estava agindo como se
estivéssemos juntos, e embora eu adorasse o som disso, eu
tinha que ter certeza de que Killian estava bem com isso.
Afinal, ele esteve lá por mim primeiro. “Vou sair e tomar um
pouco de ar fresco.”
“Fique perto, por favor, e certifique-se de que os guardas
estejam à vista,” disse Griffin. Ele beijou minha bochecha e
soltou minha mão. “Já houve atentados o suficiente contra
sua vida, que valeria por toda sua existência.”
Essa foi uma afirmação muito verdadeira. “Não pretendo
me aventurar para longe.” Sem querer atrapalhar a conversa,
saí pela porta dos fundos e dei a volta na lateral da casa perto
da sala de estar. Eles ainda não tinham ideia de quão forte era
minha audição, e eu não pude deixar de querer ouvir o que
eles tinham a dizer.
“Você percebe o quanto ela é importante para mim?”
Killian perguntou. “Se você alguma vez a machucar...”
“Eu não poderia. Não é possível.” Griffin parecia tão
sincero. “A conexão é real. Eu juro que é.”
A esperança floresceu em meu estômago. A verdade
assustadora era que eu estava à mercê de nossa conexão. Eu
não tinha ideia de quão forte o vínculo nos afetaria, mas
quanto mais tempo eu passava com ele, mais difícil era sair
do seu lado. Cada beijo e toque tornavam o puxão muito mais
forte.
“Oh, eu acredito que você pensa isso.” Killian suspirou.
“Essa é a única razão pela qual sua bunda não foi espancada
até virar uma polpa sangrenta.”
Um sorriso apareceu e eu fiz meu caminho em direção à
borda da floresta, não querendo ouvir mais nada. Eles
estavam chegando a um acordo, e Killian não queria que eu
ouvisse.
Concentrei-me nos sons dos animais na floresta e olhei
para o sol. Era meio-dia quando o sol estava em seu ponto
mais alto no céu e a lua mais distante, o que significava que
eu estaria mais fraca nas próximas horas. Em algum
momento, eu queria poder mudar e correr livremente.
Um estalo soou a cerca de um quilômetro de distância e
eu parei bruscamente. Isso foi um tiro? Examinei a área,
percebendo que os guardas não estavam em posição. Eu
estava tão envolvida com Killian e Griffin que não prestei
atenção.
O barulho me levou de volta ao dia em que minha matilha
foi assassinada. Examinei a área, procurando um dos guardas
para alertar, mas não consegui encontrar nenhum.
Isso era estranho. Eles deveriam estar cercando a casa.
Outro tiro ecoou, desta vez mais próximo, seguido por um
grunhido baixo.
Alguém estava com problemas. Comecei a correr na
direção do tiro, mas parei. Eu não podia deixar Killian e Griffin
e fugir sozinha. Eles ficariam chateados, e com razão.
Corri para a porta dos fundos e a abri. “Alguém está com
problemas e os guardas desapareceram.” Eu enfiei minha
cabeça para encontrá-los correndo em direção à cozinha.
Ótimo, eles estavam se movendo. “Peça reforços. Vou ver o que
posso fazer.”
“Não,” Griffin disse absoluto. “Você vai ficar aqui. Pode
ser uma armadilha.”
Ah, inferno não. “Posso me sentir atraída por você, mas
isso não significa que vou entregar minhas decisões a você.
Estou indo para lá. Cabe a você decidir se vai ou não para o
passeio.”
Um grito perfurou o ar, incitando-me a voltar para fora.
“Dove!” Griffin gritou enquanto seus passos batiam atrás
de mim. “Pare. Precisamos esperar pelos reforços.”
“Eles podem nos encontrar seguindo o barulho.” Eu me
virei para encará-lo. “Faremos o reconhecimento primeiro.
Precisamos ver o que estamos enfrentando.”
Killian saiu de casa. “Mais dos meus guardas estão a
caminho.”
“Assim como os guardas de Shadow City,” disse Griffin.
“Ótimo, vamos lá.” Eu saí de novo e ouvi Griffin
resmungar alguma coisa, embora eu não pudesse entender as
palavras.
Papai havia me ensinado a nunca ir para a missão sem
que pelo menos uma outra pessoa soubesse para onde eu
estava indo.
Eu puxei a magia da minha loba e acelerei meu ritmo,
com os garotos em meu encalço, enquanto as árvores voavam.
Estávamos indo na direção do local de pesca de Killian
naquele dia, não muito tempo atrás.
Quando cruzei um caminho que parecia ter sido feito
recentemente, o cheiro dos guardas atingiu meu nariz, junto
com pelo menos seis outros. A julgar pela forma como os
galhos foram quebrados e espalhados, alguém foi arrastado
para onde quer que fosse. Alguém tinha saltado sobre os
guardas?
Tinha que ser os mesmos idiotas que atacaram meu
bando.
A área ao redor estava assustadoramente silenciosa agora
que chegamos na trilha. Eu diminuí a velocidade e levantei
minha mão, girando em direção aos dois garotos. Eu coloquei
um dedo em meus lábios e gesticulei para o caminho aberto.
Killian assentiu enquanto se aproximava e tocava a
grama onde estava achatada. Agachei-me ao lado dele e
levantei quatro dedos, um para cada guarda. Como diabos eles
levaram os quatro caras?
“O que...” Griffin começou a perguntar baixinho, mas eu
cobri sua boca com minha mão. Não havia como dizer o quão
perto alguém estava.
Esse era o momento em que um vínculo de bando teria
sido útil.
“Saia, Sterlyn,” a voz do homem de barba ruiva me
chamou. Ele devia estar a pelo menos oitocentos metros de
distância, mas eu podia ouvi-lo claro como o dia. “Ou devo
dizer Dove? Nós sabemos que você e aqueles dois caras que
estão sempre farejando você, não estão longe.”
Ótimo, esses idiotas sabiam meus nomes.
Para eles saberem que estávamos aqui significava que
alguém estava ouvindo nosso progresso ou nos observando.
Toquei mais em minha loba e examinei a área com precisão.
Foi quando notei um corvo sentado em um galho de árvore
não muito longe. Cheirei o ar, procurando um cheiro humano
misturado com o de baunilha do animal.
Quando o pássaro bateu as asas e grasnou, isso
confirmou tudo o que eu precisava saber. Ele estava exultante,
sabendo que não havíamos o percebido.
Droga. Os shifters corvos normalmente se reuniam em
pequenos grupos e ficavam fora dos problemas, a menos que
isso os beneficiasse. O que no mundo meus caçadores
estavam oferecendo a todos esses diferentes tipos de shifters
para fazê-los trabalhar para eles? Eles devem ter algum plano
incrivelmente atraente para fazer com que outros os sigam,
através das raças.
Outra peça para o quebra-cabeça cada vez maior.
Não adiantava de nada fingir que não estávamos ali.
“Como você sabe meu nome?”
“O que você está fazendo?” Killian sussurrou. “E quando
você planejou me dizer seu nome?”
“Aquele corvo...” Eu apontei para ele, “já nos viu e
reportou ao cara de cavanhaque ruivo.” Não fazia sentido
fingir que poderíamos fazer o reconhecimento agora.
Estávamos todos nessa, e eu esperava que os novos guardas
nos alcançassem logo. “Eu ia contar, mas me distraí um
pouco.”
Patas avançaram em nossa direção, e presumi que os
lobos estavam circulando para nos prender. A melhor coisa
que podíamos fazer era tentar fazê-los falar. Precisávamos
ganhar tempo para que o reforço nos encontrasse. Se
corrêssemos, eles poderiam nos derrubar antes que os outros
pudessem nos alcançar.
“Por favor, venha e junte-se a nós.” Cavanhaque riu, sem
dúvida amando ter a vantagem.
“Eu irei se você deixar os outros dois irem.” Se eu pudesse
proteger Griffin e Killian, eu o faria.
“Nem fodendo.” Griffin pegou minha mão e balançou a
cabeça. “De maneira nenhuma que eu vou deixar você.”
Killian arqueou uma sobrancelha e sua boca caiu um
pouco antes de ele mudar sua expressão para uma de
indiferença. “Estou com ele. Não vamos embora.”
“Vocês precisam ir. Eles me querem, vocês não podem me
ajudar se eles capturarem todos nós.” Se eu os perdesse, não
tinha certeza se conseguiria me manter sã. “Vocês dois são
alfas, pelo amor de Deus. Vocês têm que ficar seguros por suas
matilhas.”
“Pare de brigar,” ordenou Cavanhaque. “Eles não vão a
lugar nenhum e não estão se transformando.”
Quatro lobos passaram por duas árvores e nos cercaram.
O que estava logo atrás de nós rosnou e acenou com a cabeça
para a frente, seu pelo marrom leitoso balançando com a brisa
leve.
Ótimo, eles estavam nos conduzindo para Cavanhaque.
Começamos a andar, devagar, Killian e Griffin me
flanqueando como se pudessem me proteger melhor do que eu
mesma. Eles devem estar se conectando com suas matilhas,
puxando mais guardas para nós. Mas pode levar algum tempo
até que eles cheguem aqui. Eu não sabia quais habilidades
cada um tinha, mas acho que Killian poderia ter sido treinado
para lutar de forma semelhante a mim, já que ele era o filho
do alfa do bando protetor. Griffin não parecia ter treinamento
formal, mas ele era forte.
O rio ficou mais barulhento e, depois de mais alguns
minutos, as árvores ficaram mais ralas à medida que nos
aproximávamos do barranco, perto do local onde Killian
gostava de pescar. Os quatro guardas e Lucas jaziam mortos
no chão coberto de palha, com buracos de bala entre os olhos.
A imagem atual fundiu-se com a memória do meu bando
e minhas pernas ficaram trêmulas.
“O que há de errado?” Cavanhaque riu sombriamente.
“Isso te lembra alguma coisa?”
O idiota estava exultante. Ele sabia exatamente o que isso
estava fazendo comigo. Provavelmente foi por isso que ele
mandou matar esses cinco guardas dessa maneira. Ele queria
me quebrar e ostentar o que eles haviam feito com o meu
bando. Ele não tinha remorso. “Você tinha vinte guardas
nesses cinco aqui. Do meu ponto de vista, foi um movimento
bem covarde como as armas que você usou contra meu
bando.”
“Ao invés de me insultar, você deveria estar me
agradecendo. Afinal, nós não matamos você ou seus dois
namorados.” Cavanhaque estalou a língua. “E essas cinco
mortes, bem, elas são sua culpa.”
“Como assim?” Eu queria entender sua justificativa
delirante. A próxima coisa que ele iria me dizer era que eu era
a culpada pela morte do meu bando também, mas eu não era
uma loba de mente fraca. Nada disso foi minha culpa, e eu
não deixaria nenhum idiota egoísta me dizer o contrário.
“Porque você fugiu.” O cara zombou e deu alguns passos
em minha direção. “Você sabe o quão difícil foi te encontrar?”
Killian e Griffin se moveram na minha frente como se
realmente pudessem me proteger. Uma risada quase
borbulhou de mim, principalmente devido ao que eu tinha
visto das habilidades de luta de Griffin. Eu precisaria treiná-
lo se conseguíssemos sair daqui vivos.
Aqui estava eu, duvidando de mim mesma. Eu tinha que
acreditar que sairíamos dessa respirando, nós três, ou eu
poderia me entregar e desistir. Mas precisávamos de reforços,
então tive que protelar.
“Tenho certeza que você me encontrou naquele segundo
dia.” Deve ter sido ele saindo da lanchonete naquela manhã
quando tive meu colapso. “Na verdade, você me fez duvidar
quando você saiu sem olhar duas vezes.”
“Estávamos perdidos até aquele momento.” Cavanhaque
fez uma careta. “Na verdade, estávamos passando pela cidade
e não achávamos que você correria para cá, de todos os
lugares, com o número suficiente de pessoas aqui que
poderiam identificar um lobo prateado. Foi uma boa
estratégia, mas obviamente era o destino. A propósito, o que
você achou do pequeno cartão de visitas que deixamos para
você?”
Claro. Isso explica encontrar esse lobo logo depois que
encontrei a pintura na parede. “Foda-se,” eu cuspi.
“Com prazer,” riu Cavanhaque. “Mas podemos chegar a
essa parte assim que você se instalar em sua nova casa.”
Minha pele se arrepiou com a insinuação.
“Ela não é sua,” Griffin disse com ameaça. “Ela é minha,
e você não vai levá-la a lugar nenhum.”
“Você não tem influência sobre mim, garoto alfa.” O
cavanhaque esfregou as mãos e gesticulou para os cinco
guardas mortos.
“Se você machucar Sterlyn ou ferir outro do meu povo,
você terá feito de Shadow City uma inimiga.” Griffin endireitou
os ombros, ficando ereto. “Se você se retirar agora, podemos
chegar a um acordo. Eu tenho o poder de protegê-lo da
punição que você merece e receberá se tentar pegar Sterlyn ou
prejudicar qualquer um de nós. Diga-nos o que você está
procurando. Entrada para Shadow City? Um lugar em um
novo bando?”
“Ah não.” Cavanhaque colocou a mão sobre a boca e
forçou seu corpo a tremer. “O que devo fazer?” Ele olhou por
cima do ombro quando mais dez homens deslizaram por entre
as árvores atrás dele e se juntaram a nós. “Não temos outra
escolha senão sair agora. Afinal, o grande e poderoso alfa de
Shadow City pode não gostar de nós. Oh, espere. Ele já não
gosta, e Shadow City só permite a entrada de lobos que podem
beneficiá-los. Então eu acho que isso significa que não dou a
mínima sobre negociar com você.”
Alguns de seus homens riram, claramente gostando de
ver o lobo Alfa da cidade em questão, sendo ridicularizado.
Griffin tinha que entender que esse grupo de idiotas não
tinha medo das consequências. Ou seu próprio alfa ordenou
que eles me recuperassem, ou eles estavam recebendo muito
dinheiro. Não havia como negociar com eles porque não
trabalhavam de maneira diplomática, então fui direto ao
ponto. “Eu não vou com você. Eu me recuso a ser a
procriadora pessoal de algum idiota.”
Um rosnado baixo escapou de Griffin. “Você vai ter que
me matar primeiro para levá-la.”
O fato deles não terem matado Griffin, tanto me
preocupou quanto me aliviou. Eles obviamente não o queriam
morto, mas por quê? Tinha que haver mais coisas
acontecendo do que imaginávamos originalmente.
“Nós podemos providenciar isso,” Cavanhaque arrulhou.
“Ou podemos sair daqui como amigos, e você supera sua
paixão de garotinho. De qualquer maneira, ela virá conosco.”
“Minha irmã não vai ser escrava sexual de um cara
qualquer,” disse Killian. “Griffin está certo; você terá que
matar a nós dois.”
Eu não podia deixar que eles se sacrificassem por mim.
Isso seria algo com o qual eu não poderia viver. “Se você não
os machucar, eu irei de bom grado com você.” O fato deles
ainda não terem ferido ou matado nenhum dos caras me fez
pensar que havia uma razão, que talvez eles tivessem ordens
para não fazê-lo. Se eu fosse de bom grado e desempenhasse
o papel por um tempo, eles possivelmente deixariam Killian e
Griffin irem, e eu poderia encontrar uma maneira de escapar.
Sem dúvida seria difícil, mas sob a lua, talvez eu pudesse
conseguir.
“Não.” Griffin balançou a cabeça. “Você não vai com eles.
Absolutamente não.” Ele cerrou os punhos, e um pouco de
pêlo castanho-claro brotou em seus braços. Ele estava
perigosamente perto de se transformar.
Ainda não era o momento certo para começar a luta. Não
consegui ouvir nenhum guarda adicional correndo em nossa
direção. E aquele corvo estúpido provavelmente saberia que
eles estavam vindo muito antes de nós, por estar empoleirado
naquela maldita árvore alta a menos de dez metros de
distância.
“Viu, é por isso que eu tentei sair ontem à noite.” Se
conseguisse que Griffin se concentrasse em mim, isso deveria
impedi-lo. “Eu não queria que você e Killian estupidamente se
machucassem por minha causa.”
“Bom, então, te devo um obrigado.” Cavanhaque esfregou
as mãos. “Ela teria conseguido nos despistar, desde que eu
estava reunindo as tropas depois de confirmar que era ela na
universidade ontem.”
Claro, ele tinha feito o desenho e me visto fazer papel de
idiota com Rosemary. A memória do lobo na floresta disparou,
ele estava nas sombras, e eu não tinha notado que seu pêlo
tinha uma tonalidade vermelha, mas pensando bem, estava
bem claro.
O corvo voou do galho, gritando: “Caw! Caw! Caw!”
Foi quando o barulho de vários pés martelando no chão,
vindo em nossa direção.
“Eles chamaram reforços.” Um dos caras esguios nos
fundos gritou enquanto se levantava, puxando uma
metralhadora.
Querido, e bom Jesus. Isso não ia acabar bem, e não
haviam guardas suficientes vindo para cá. Talvez mais
estivessem chegando, mas os homens de Cavanhaque
tentariam abatê-los um de cada vez, o que significava que uma
luta era inevitável. Teríamos que distrair o máximo possível
para que os guardas não acabassem como esses outros cinco.
Fazendo a única coisa em que pude pensar neste
momento, trouxe minha loba à tona. Eu não tinha arma
porque tolamente não tinha me preparado para sair, então
meu animal era a única opção que eu tinha.
Eu nasci para a batalha. Eu tinha que confiar em meus
instintos.
Minha pele formigou quando meu pelo prateado brotou
por todo o meu corpo, e meus ossos quebraram, contorcendo-
me em minha forma animal. Minhas roupas se rasgaram
quando minhas quatro patas atingiram o chão.
“Droga, ela mudou.” O metamorfo esquelético apontou a
arma em minha direção. “O que nós fazemos?” Sua voz
continha um leve tremor.
Bom, pelo menos, eles não estavam confortáveis comigo.
Cavanhaque girou e jogou a arma para longe da minha
direção. “Você não atira nela a menos que não haja
absolutamente nenhuma outra escolha. Entendeu? Se não a
pegarmos viva, você estará levando a culpa.”
Essa pequena informação foi música para os meus
ouvidos. Eles não queriam me matar, o que significava que eu
tinha um pouco de liberdade antes que eles estivessem
dispostos a fazer isso.
Decidindo usar a distração a meu favor, passei por Killian
e Griffin e me concentrei no cara magricela que tinha sido tolo
o suficiente para mostrar fraqueza. Isso faria os outros
pararem ao meu redor.
O que eu queria era atacar Cavanhaque, mas ele estava
no controle desse pequeno bando, o que significava que eu
tinha que ser esperta.
Alguns dos homens congelaram quando passei por eles.
Ficou claro que eles nunca estiveram perto de um lobo
prateado em forma de lobo antes. Como estávamos perto da
lua cheia, eu era maior que todos eles. Minha matilha
chamava a lua cheia de lua prateada, em comemoração à força
de nossa conexão.
Killian e Griffin seguiram meu exemplo e se moveram
atrás de mim enquanto os outros permaneceram focados em
mim. Eu odiava que eles estivessem aqui comigo, mas eu sabia
que eles não iriam embora.
Embora o tempo parecesse passar devagar, apenas
alguns segundos haviam se passado. Eu me lancei sobre o
cara esguio e afundei meus dentes em seu pescoço, virei
minha cabeça para o lado e o matei na hora. Sangue escorria
pela minha boca, cobrindo meu pêlo enquanto o gosto de
cobre grudava na minha língua e o cheiro metálico chegava ao
meu nariz.
Meu estômago revirou. Eu odiava a morte e ser a
causadora dela, mas tinha que me manter calma. Éramos nós
ou eles, e haviam vinte e três inimigos em forma humana,
quatro lobos e um corvo. Eu sabia do que eles eram capazes e
me recusei a deixar alguém que eu amava morrer por causa
de um momento de hesitação.
Papai havia me dito que nunca deveríamos comemorar
por ter matado alguém e fazer isso apenas quando for
absolutamente necessário.
Eu o desafiei, perguntando como você saberia se era
necessário ou não. E ele deu um tapinha no meu braço e
respondeu que eu saberia. Que nossos lobos nos guiariam
porque eram bons e, portanto, feitos de pura luz também. Que
éramos um reflexo do poder dentro de nós.
Eu nunca havia acreditado nele até agora, mas não havia
dúvida em minha mente, de que esses idiotas tinham que
morrer. Eles começaram a machucar os outros e a afirmar o
seu domínio, e eu me recusava a deixar esse ciclo continuar.
O custo de seus pecados eram suas vidas.
“O que você está esperando?” Cavanhaque gritou.
“Ataque para incapacitar. Não mate a garota.”
Um pêlo escuro passou por mim enquanto Killian entrava
no modo de batalha. Ele saltou sobre um dos homens mais
próximos, cravando os dentes no braço que estava indo para
a arma.
Killian tomava decisões como um lutador, então era uma
pessoa a menos para se preocupar.
Um braço envolveu meu pescoço, cortando um pouco do
meu oxigênio. O homem que me segurava me puxou
abruptamente, me deixando de pé sobre minhas patas
traseiras. Virei a cabeça, tentando morder alguma parte de
seu braço, mas o inimigo me segurava com força. Cravei
minhas garras dianteiras em seu braço, o que o fez gemer. Mas
não importa o quão fundo eu cravasse as garras em sua pele,
seu aperto não diminuía.
“Você não vai sair tão facilmente,” o cara cacarejou. “Você
não é a única que sabe lutar.”
Eu adorava ter um adversário arrogante. Não havia nada
tão motivador quanto provar que seus traseiros estavam
errados e vê-los se contorcer quando percebiam que estavam
em desvantagem.
O inimigo riu como se tivesse levado vantagem. Essa foi
a minha deixa para empurrar para trás e deixar todo o meu
peso cair em seu peito. Ele não estava preparado para isso,
então caiu de costas comigo por cima. Eu rolei para longe dele
rapidamente e fiquei em cima dele.
Seus olhos sem alma se arregalaram quando ele percebeu
que eu o havia enganado. Não lhe dando chance de reagir,
arranhei seu pescoço profundamente, deixando o sangue
escorrer pelo chão. Pelo menos, eu não tive que sentir o gosto
desta vez.
Olhei na direção de Griffin e quase chorei de alívio
quando percebi que ele estava se segurando contra três
guardas. Seu lobo era muito forte e sabia o que fazer. Então
lutar era uma fraqueza apenas em sua forma humana. Eu
poderia trabalhar com isso.
Um guarda agachado entre duas árvores a um metro e
meio de distância levantou sua arma na direção de Griffin.
Minha loba uivou e corremos com uma velocidade estonteante
em direção ao cara enquanto seu dedo apertava o gatilho.
Abaixei minha cabeça e a enfiei entre suas pernas,
levantando-o como se estivesse montando um touro.
Ele caiu para frente quando a arma disparou, e a bala
errou o alvo por um metro a menos, e o cara caiu de cara.
Um farfalhar forçou minha atenção de volta para
Cavanhaque. Ele carregou uma espécie de dardo
tranquilizante em uma arma e apontou para mim. “Isso já
durou por muito tempo.”
Merda. Eu tinha que cronometrar meu movimento, ou a
luta estaria terminada. Avancei em direção a uma árvore,
enquanto ele apontava diretamente para mim.
Respirando fundo, tentei manter a calma e agir com
medo, como se tivesse desistido. Baixei a cabeça, mas não o
suficiente para não ver o que ele estava fazendo. Seu dedo
puxou o gatilho e eu canalizei cada grama de velocidade para
correr para trás da árvore.
A brisa do dardo atingiu minha cauda quando escapei por
pouco do impacto.
“Porra!” Cavanhaque gritou enquanto seu rosto ficava
vermelho. “O tranquilizante errou o alvo, então todos vocês
precisam colocar suas bundas em marcha.”
Cavanhaque atacou Killian, que estava lutando contra
um homem com uma faca.
Ficou claro que todos eram shifters que se sentiam mais
confortáveis usando suas armas do que seus animais, o que
era um bom presságio para nós de certa forma. Não importa o
quão ruim as coisas ficassem, eles mudariam apenas se essa
fosse sua última opção.
Meu animal sabia que Cavanhaque estava tentando me
enganar. Ela notou que ele não estava se movendo o mais
rápido que podia, e ele tinha a cabeça ligeiramente virada em
minha direção como se esperasse que eu atacasse. Tudo isso
me disse que ele não tinha intenção de atacar Killian.
Eu não poderia deixá-lo saber que eu notara o seu plano.
Corri em direção a ele como ele esperava, mas quando o
alcancei, girei para fora do caminho.
Ele girou nos calcanhares e apontou uma faca para onde
deveria estar meu ombro. No entanto, tudo o que ele fez foi
acertar o ar ao girar em um círculo completo, esperando um
impacto. Ele zombou de mim enquanto sua respiração
acelerava.
“Sua cadela estúpida,” ele rosnou. “Você não vai escapar
desta vez, não importa que tipo de jogo você tente jogar.”
Jogo? Era assim que ele chamava isso? Este jogo não era
apenas sobre o fato de que minha vida estava em risco, mas
envolvia a vida de duas pessoas que eu amava. Eu arriscava
perder tudo. Isso era sobre sobrevivência.
Eu me agachei e mostrei meus dentes para ele. Nossos
guardas estavam se aproximando, pelo menos, nos dando
mais apoio. Olhei ao redor e notei que todos os quatro lobos e
oito shifters inimigos estavam desaparecidos, provavelmente
tinham ido impedir nossos guardas. Eu odiava que os guardas
estivessem sendo emboscados, mas no momento isso ajudava
Killian, Griffin e eu. Com o bando de Killian e Griffin se
conectando com os guardas, eles deveriam estar um pouco
preparados para o que estariam enfrentando.
Tiros foram disparados e uma dor aguda perfurou minha
perna traseira. Cambaleei alguns passos para trás, tentando
manter o equilíbrio, mas colocar o peso na perna machucada
me fez desabar. A dor aguda se transformou em fogo, como se
minha perna estivesse sendo queimada. Eu me virei para
encontrar sangue escorrendo pelo meu pelo prateado.
Eu fui baleada.
“Nós tentamos fazer isso da maneira legal.” Cavanhaque
se agachou ao meu lado e segurou a faca na frente do meu
rosto. “Mas você não aceitou numa boa. Então você está nos
forçando a isso, de novo.”
Meu coração martelava. Talvez eles não precisassem me
capturar viva, afinal.
Meu foco se concentrou na faca que Cavanhaque
empunhava em meu rosto enquanto meu treinamento entrou
em ação. Esse cara era louco, e havia um brilho em seus olhos,
me informando que ele amava o poder que tinha sobre mim.
Ele colocou a faca contra minha garganta, deixando-a cortar
meu pelo e cortar minha pele.
Minha pele queimou, mas esse foi o alerta de que eu
precisava. Ele iria me machucar pouco a pouco, o que me
levaria a perder a cabeça.
O medo poderia paralisar e tornar alguém irracional, o
que significava que, se eu não me controlasse, estaria fazendo
o jogo dele.
Eu me recusava a fazer isso.
Facilitar para ele.
Eu tinha que fazê-los pagar pelo que fizeram. Ser mais
esperta do que eles não deveria ser difícil. Eles contavam com
terror, armas e ataques surpresa.
Na minha visão periférica, pude ver Killian e Griffin
resistindo, mas cada um de nós estava lutando contra vários
inimigos. Os homens de Cavanhaque nos sobrepunham em
onze, bem mais numerosos que nós, e os inimigos estavam
atacando Griffin e Killian em grupos de cinco, enquanto
quatro estavam focados em mim. Mas isso era bom e ruim.
Bom porque eles pensariam que teríamos reforços em breve,
então eles queriam acabar com a luta rapidamente, e ruim
porque eles fariam o que fosse necessário para acabar com ela
o mais rápido possível.
Cavanhaque tinha que ser minha primeira prioridade. Eu
precisava sair de suas garras para ajudar meus garotos e os
outros guardas que estavam a caminho.
Os outros três homens me cercaram, observando seu
líder me subjugar. Ou foi o que eles pensaram.
“Não se preocupe.” Cavanhaque se inclinou para a frente
como se estivesse me contando um segredo. “Eles não vão nos
ver levando você. Vamos nocauteá-los antes de arrastá-la para
longe. E vamos matá-los se for preciso, se você não cooperar.”
Nem fodendo que isso aconteceria. Recusei-me a ser uma
marionete neste jogo doentio. Mas esse era o problema. Eu
não tinha a menor ideia de que jogo eles estavam jogando, o
que nos colocava em desvantagem. Quem era o homem por
trás de tudo isso, que me queria desesperadamente como sua?
A faca afrouxou contra o meu pescoço quando
Cavanhaque virou a cabeça para ver o que estava acontecendo
com Griffin e Killian.
Essa era a distração que eu precisava. Indo por puro
instinto, mordi com tudo o pulso da mão de Cavanhaque que
segurava a faca até meus dentes baterem no osso. Esta era a
minha oportunidade de igualar a luta.
Ele sibilou enquanto seu sangue escorria pelo meu
queixo, misturando-se com o do cara esguio que eu matei
apenas alguns minutos antes e meu próprio sangue onde o
cavanhaque me cortou. Minha boca ficou tensa enquanto
esperava que ele puxasse em desespero para liberar sua mão,
mas seu rosto apenas se contorceu de raiva.
Merda. Eu calculei mal. Talvez ele tivesse algum cérebro,
afinal.
Seu braço livre se moveu em direção ao meu corpo
enquanto ele apontava para o meu ferimento de bala, mas
como eu estava na forma de lobo, fui um pouco mais rápida.
Eu o soltei e rolei para fora do caminho enquanto sua
mão apenas roçava meu pelo. Fiquei de quatro, colocando a
maior parte do meu peso nas três pernas ilesas.
Os outros três homens começaram a se mover em minha
direção, mas Cavanhaque gritou: “Pare! Essa cadela é minha.”
Ele queria declarar algo, não apenas com relação a mim,
mas também com relação a seus homens. Ele poderia
derrubar um lobo prateado sozinho.
“Você teve sorte.” Cavanhaque apertou a mão ferida perto
do corpo enquanto se abaixava e pegava a faca. “Mas não se
preocupe. Posso usar minha mão esquerda também.”
Tive a sensação de que ele não estava blefando, o que
significava que eu tinha que machucar aquela mão também.
Vamos nessa.
Eu rosnei, querendo que ele soubesse que ele não me
assustava. Estávamos em terreno plano, embora eu não
gostasse de admitir que minha perna traseira era uma
desvantagem estratégica tanto quanto sua mão machucada.
Ele apontou a faca para mim, deixando claro que não
estava com medo. Esta não era apenas uma batalha de
habilidade, mas de provar algo um ao outro.
Subjugar-me era seu objetivo final, enquanto o meu era
provar que ele não podia.
Eu tropecei para trás, evitando o golpe, mas essa era sua
verdadeira intenção. Coloquei mais peso do que podia
suportar na perna de trás e quase caí.
Cavanhaque fez uma careta quando consegui ficar nas
quatro patas.
Minhas habilidades de cura de lobo prateado
funcionavam mais rápido do que outros lobos, o que
funcionou a meu favor. Minha perna ainda doía como uma
filha da puta, mas eu já podia senti-la se curando e consegui
colocar mais peso nela. Infelizmente, a bala ainda estava
alojada lá dentro, o que significava que eu teria que reabrir a
ferida para retirá-la, mas isso era problema para mais tarde.
Precisando atacar primeiro, mirei em seu lado direito. Ele
estaria mais fraco lá e não seria capaz de contra-atacar
também. Antes de me conectar com ele, notei uma árvore com
um galho baixo a alguns metros de distância e mudei meu
plano no meio do caminho. A essa altura, eu não me importava
em fazê-lo sofrer, só queria que tudo isso acabasse para poder
ajudar os outros.
Abaixei a cabeça e o derrubei no galho. O som de pele
rasgada e um gemido de dor me disseram que eu tinha
acertado o alvo. Dei alguns passos para trás e vi a ponta do
galho atravessando seu ombro. Minha intenção era espetar
seu coração, mas pelo menos ele estava pior do que eu agora.
Embora a ferida parecesse não ter atingido a artéria principal,
havia tanto sangue que sua subclávia pode ter sido cortada.
“Ataquem ela!” Exigiu Cavanhaque. “Ela não pode fugir.
Desde que ela possa sobreviver, faça o que for necessário para
fazê-la partir conosco. Derrube-os e mate-os se ela não ceder.”
Os três guardas inimigos entraram em ação como se
estivessem esperando por esse momento. Além disso, um
guarda de Killian e Griffin girou em minha direção com fome
em seus próprios olhos. Cada um queria reivindicar a derrota
da quase extinta linha de lobos prateados. Pelo menos, isso
favoreceu Griffin e Killian em suas próprias batalhas.
Um apontou a arma para o lado do meu corpo que não
estava ferido. Eles iam tentar enfraquecer os dois lados.
Merda, eu não sabia como sair dessa. Examinei a floresta
desesperadamente em busca de uma ideia, mas não havia
absolutamente nada em que pudesse pensar. Minha melhor
aposta era correr e fazê-los me perseguir. Pode doer pra
caramba, mas contanto que eu sobreviva, tudo bem.
Eu saí correndo em direção à água enquanto mais tiros
ecoavam mais longe de onde os guardas adicionais de Griffin
e Killian estavam chegando.
Alguém atirou em mim, errando por meros centímetros.
A bala se alojou na terra, fazendo-a respingar.
Eu tive que correr mais rápido.
Árvores passavam como borrões, enquanto eu avançava
com mais afinco. A cada passo, minha perna ficava um pouco
mais forte, o que era uma bênção nessa situação infernal.
Quando uma abertura entre duas árvores apareceu, fiz
uma curva acentuada à esquerda, planejando voltar para
onde Killian e Griffin estavam. Os cinco homens que me
perseguiam estavam ficando para trás.
Enquanto eu corri em direção a Griffin e Killian, um dos
inimigos gritou: “Eu vou me transformar. Caso contrário, ela
vai nos ultrapassar.”
Mesmo que fosse ruim, pelo menos, seria uma pessoa a
menos com uma arma ou faca.
Quando atravessei a clareira, um inimigo tinha uma
arma apontada para a cabeça de Killian enquanto outros dois
riam, apesar de um deles estar morto a seus pés. Era como se
a vida de seu amigo não significasse nada.
Meu mundo queria parar, mas eu avancei através do
bloqueio mental, correndo em direção ao inimigo. Eu rosnei
baixo e ameaçadoramente, fazendo-o parar e olhar em minha
direção. Sua boca caiu, em choque, como se ele não esperasse
me ver, e os outros dois tropeçaram alguns metros para trás.
Eles não eram tão arrogantes quando eram eles a serem
surpreendidos.
Essa era a distração que Killian precisava para girar e
atacar seu oponente. O homem gritou em agonia quando
Killian o cortou ao meio, enquanto seus dois amigos estavam
lá, assistindo o horrível ataque com a boca aberta.
Meu coração doía ao ver tanta morte e destruição, mas
essa era a cruel necessidade da guerra. Eu passei por Killian,
indo em direção Griffin e os outros. Tínhamos que nivelar as
probabilidades o mais rápido possível. Quanto mais eles nos
superassem em número, mais mortes haveriam do nosso lado.
A um metro de distância, Griffin estava lutando contra
dois homens que tinham facas em vez de armas. Ele conseguiu
derrubar dois durante minha corrida, o que significava que
nossos números estavam ficando mais favoráveis a cada
minuto.
Tiros ainda estavam sendo disparados não muito longe.
O fato dos caçadores inimigos não terem retornado significava
que os guardas de Killian e Griffin não estavam sendo
dizimados como eu temia.
Meus olhos moveram-se para onde Cavanhaque estava,
para descobrir que ele havia sumido. O galho permaneceu
coberto de sangue com pedaços de músculo e pele. O bastardo
estava determinado a se libertar, eu tinha que reconhecer isso.
Mas naquele momento, eu precisava ajudar Griffin. Eu
ataquei o inimigo mais próximo de mim, mordendo sua perna.
O cara gritou quando voltou sua atenção para mim. Ele
balançou a faca em direção a minha lateral, mas Griffin
atacou, afundando os dentes na jugular do cara. Os olhos do
homem se arregalaram quando ele largou a faca e agarrou sua
garganta como se isso fosse evitar a fatalidade de seu
ferimento.
O outro homem usou nossa distração para pegar a faca
descartada de seu amigo. Soltei meu aperto, permitindo que
Griffin terminasse o trabalho, e voltei minha atenção para o
cara ileso, aproveitando o ângulo e mordendo profundamente
em sua lateral. A ferida me lembrou aquela que eles fizeram
ao meu pai.
Justiça poética.
Griffin me cheirou, concentrando-se na minha ferida.
Seus olhos castanhos se encheram de preocupação quando
ele aninhou sua cabeça contra mim. Sua proximidade me
centrou, trazendo-me de volta da memória horrível. O puxão
reconfortante de nossa conexão me fez sentir inteira.
“Ah, que fofo. Você acha que pode realmente ganhar, mas
meus homens e eu estamos nos segurando.” Cavanhaque
resmungou e acenou para seus homens fossem em sua
direção, quando ele apareceu junto com os quatro homens
restantes em forma humana, e um lobo solitário. “Mas isso
acabou.” O sangue escorria por sua camisa, encharcando-a.
Killian rosnou e deu um passo na minha frente, seus
flancos ofegantes. Griffin flanqueou meu lado ferido,
arreganhando os dentes através do sangue cobrindo seu
focinho. Aqueles dois estavam mostrando que me protegeriam
custe o que custar.
Os dois homens que estavam lutando contra Killian se
juntaram a Cavanhaque enquanto se reagruparam e nos
encararam. Cada um tenso e pronto, esperando por suas
instruções.
“Foda-se as ordens. Mate-os.” Cavanhaque olhou para
seu ferimento fatal e suas narinas dilataram. Puro ódio
refletido quando ele fixou os olhos em mim. “Eu quero que ela
os veja morrer.”
Neste momento, havia sete deles e apenas um lobo contra
os nossos três. No ritmo que estávamos indo, poderíamos ter
continuado diminuindo seus números, desde que
continuássemos a aguentar. Mas nós, tolamente, demos a eles
tempo para se reagruparem, e eles nos cercaram com armas.
Balancei a cabeça negativamente. Eu faria qualquer coisa
para ter certeza de que Griffin e Killian viveriam. Pelo menos,
eles teriam uma chance de felicidade, e eu descobriria uma
maneira de escapar. Pode levar dias ou meses, mas,
eventualmente, essas pessoas baixariam a guarda.
“Não?” Cavanhaque caminhou até mim e agarrou meu
focinho. “Você vai se comportar então?”
Griffin rosnou enquanto avançava em direção ao
bastardo.
“Não se aproxime nem mais um passo ou você vai se
arrepender,” ameaçou o Cavanhaque.
Griffin o ignorou, mas eu o afastei.
“Eu tentei avisá-lo.” Cavanhaque suspirou enquanto
envolvia sua mão ilesa em volta da minha perna, enfiando um
dedo no buraco da bala.
Uma dor intensa percorreu meu corpo e, mesmo na forma
animal, meu estômago se embrulhou com a intensidade. Um
gemido queria escapar, mas eu o contive, recusando-me a
mostrar fraqueza.
“Eu tenho que dizer, eu gosto que você me force a fazer
essas coisas.” Cavanhaque sorriu quando o motor de um
barco ronronou em nossa direção. “Você me deu uma
desculpa plausível para eu dar para o meu alfa, quando ele
exigir saber por que eu fiz isso com você.”
Droga, o veículo de fuga estava a caminho. Se não
descobríssemos algo rápido, então eu seria levada.
Cavanhaque enfiou o dedo mais fundo na minha ferida,
determinado a me fazer gritar. Ele queria que esses dois caras
ouvissem minha dor. Ele estava brincando comigo, tentando
me fazer acreditar que eles poderiam sair vivos se eu
cooperasse.
Reunindo todas as minhas forças, afastei a dor e me
concentrei. Foi quando percebi que ele realmente estava
aberto para um ataque. Ele apostava que eu estava muito
dominada pela dor para tentar atacá-lo.
A arrogância era uma bênção.
Mordi o ombro do braço que ele tinha em volta de mim e
rasguei sua pele, mordendo o mais fundo possível. Desta vez,
ele não pôde ignorar, e sua mão escorregou para fora da minha
ferida enquanto ele gritava e se jogava para frente, tentando
enfiar o dedo ensanguentado no meu olho.
“Jimmy,” um de seus homens gritou. “O que nós
fazemos?”
A incerteza deles alimentou minha adrenalina, e eu o
derrubei de costas, deixando-o sem fôlego.
Um uivo alto feriu meus ouvidos enquanto eu observava
Griffin atacar um dos inimigos que estava segurando uma
arma. A arma caiu, e quando o cara se abaixou para pegá-la,
Griffin investiu, enfiando os dentes na parte de trás do pescoço
do cara, rasgando-o, com um estalo doentio. O cara caiu.
Cavanhaque usou minha distração contra mim, quando
enfiou seu dedo no meu olho. À medida que a pressão
aumentava, meu coração afundava e percebi que poderia
perder meu olho.
Killian atacou outro homem com uma arma enquanto
Griffin corria em minha direção.
Eu odiava que ele estivesse correndo para mim em vez de
atacar o outro guarda, mas agora, eu estava em grande
desvantagem, e o guarda parecia confuso se deveria ajudar
Cavanhaque ou lutar contra Griffin.
O motor do barco ficou mais alto e o cheiro pungente de
gasolina flutuava ao nosso redor. Estava muito perto.
“Atire na outra perna dela antes que ela me mate.”
Cavanhaque gritou quando sua voz começou a ficar pastosa
devido à perda de sangue. A pressão de seu dedo diminuiu em
meu olho quando sua força finalmente começou a diminuir.
“Agora!”
A arma estalou quando foi engatilhada, e eu me preparei
para a dor. Eu só esperava que o cara errasse o alvo e me
matasse.
A morte seria mais bem-vinda do que viver o que quer que
eles planejavam fazer comigo.
Um uivo alto e comovente atingiu meus ouvidos quando
Griffin pulou na minha frente.
Não, o que ele estava fazendo? O cara ia atirar!
Quando a arma disparou, eu me afastei de Cavanhaque,
desesperada para tirar Griffin do caminho. Considerando o
ângulo em que o guarda inimigo estava tentando atirar em
mim, e a maneira como Griffin caiu na minha frente, seria um
tiro mortal para ele.
Mas minhas pernas cederam embaixo de mim, e o corpo
lupino de Griffin levou a bala em seu peito. O impulso o
derrubou para trás e ele caiu com força ao lado das minhas
pernas.
Tinha que ser algum sonho maluco. Um pesadelo horrível
do qual eu poderia acordar. Eu não poderia ter perdido Griffin
antes mesmo de termos a chance de abraçar nosso
relacionamento.
Vê-lo sangrar me forçou a perceber meu maior
arrependimento.
Ter muito medo de me vincular com ele.
Um uivo alto vibrou ao nosso redor e demorei um
momento para perceber que o grito vinha de mim. Meu
desgosto despedaçou minha alma e o ódio fluiu pelo meu
corpo.
Eu estaria amaldiçoada se partisse com esses idiotas.
Depois de tudo que eles tiraram de mim, eu preferia morrer a
dar a eles o que eles queriam.
O zumbido do motor do barco indicava que ele estava
quase chegando. Estávamos ficando sem tempo, ninguém
mais do que Griffin.
“Ssseee,” a voz de Cavanhaque se arrastou, mal
conseguindo manter os olhos abertos. “Nós sempre iremos
venceerr.”
Não se eu tiver algo a ver com isso.
A raiva alimentou meu corpo, e reuni determinação
suficiente para colocar peso em minhas patas dianteiras e
alcançar seu pescoço para rasgar sua garganta. Pela primeira
vez, não senti remorso. A dormência tomou conta.
Grandes asas negras passaram por mim, ajudando a
raiva a afastar a estranha névoa na qual eu estava trancada.
Aquele maldito pássaro estava no topo da minha lista de
problemas, já que ele provavelmente estava me observando
por mais tempo do que eu imaginava. Eu arrancaria pena por
pena dele, até que ele não aguentasse mais e voltasse à sua
forma humana.
Eu me virei para atacar antes que o corvo pudesse
machucar Griffin ainda mais, mas parei quando meu olhar
pousou em Rosemary. Todos os guardas inimigos jaziam
mortos no chão, exceto dois. Um estava envolvido em uma
batalha com Killian enquanto o outro apontava sua arma na
direção do lobo negro, pronto para atirar.
Não. Não posso perdê-lo também.
Tentei ficar de pé com as duas pernas, mas caí com força,
de barriga. Quer eu quisesse admitir ou não, Cavanhaque
tinha ganhado um ponto sobre mim. Tudo o que pude fazer
foi ficar ali em agonia enquanto o último homem se preparava
para atirar em Killian.
Quando a arma disparou, Rosemary circulou suas asas,
fazendo com que suas penas se misturassem e a envolvessem.
Ela se colocou entre a bala e Killian.
Ela tinha vontade de morrer? Eu assisti com horror
quando a bala a atingiu e ricocheteou em suas asas.
“O que...” O cara gaguejou enquanto largava a arma.
Ela desdobrou suas asas, um sorriso no rosto. “Anjos são
difíceis de matar.” Ela saltou, voando diretamente para ele, e
o cara teve o bom senso de se virar e correr.
O idiota correu na direção do barco, como se isso o
protegesse.
Antes que ele pudesse escapar de vista, Rosemary o
alcançou e o agarrou pelo pescoço. Um estalo alto se seguiu e
seu corpo caiu no chão, claramente morto com o impacto.
Graças a Deus ela estava aqui porque Killian estaria
morto se ela não tivesse chegado.
Killian.
Eu me virei para encontrar seu pelo escuro encharcado
de sangue, mas o último inimigo jazia morto a seus pés. No
momento, estávamos seguros, então rastejei em direção a
Griffin e deitei minha cabeça perto da dele. Eu choraminguei
enquanto minha loba e eu lamentávamos pelo homem ao meu
lado.
Ele roçou sua cabeça contra a minha e acariciou meu
rosto.
Isso estava errado. Não podíamos nem nos comunicar
dessa forma. Eu não poderia dizer a ele meus
arrependimentos, ou como eu gostaria que as coisas tivessem
acontecido de maneira diferente. Tudo o que pude fazer foi
deitar ao lado dele enquanto ele morria.
“Eu preciso que você se mova,” Rosemary disse enquanto
se agachava do outro lado de Griffin. Ela estendeu as mãos
para ele, e eu rosnei.
Ninguém além de mim poderia tocá-lo agora. Eu
precisava ser aquela com quem ele estava quando ele fizesse
a transição.
Rosemary arqueou uma sobrancelha e inclinou a cabeça.
“Você rosnou para mim?”
Eu mostrei meus dentes, enfatizando meu ponto. Minha
loba avançou. Eu não tinha certeza de quanto mais claro eu
poderia conseguir.
“Você quer que eu o salve ou não?” Ela balançou a cabeça
enquanto batia os dedos em seu jeans. “Depois que ele estiver
morto, não posso trazê-lo de volta.”
Eu levantei minha cabeça e olhei para ela. Ela poderia
salvá-lo? Isso era algum tipo de piada? Olhei para Killian,
querendo que ele me desse um sinal.
Ele assentiu, aliviando um pouco da minha preocupação.
A respiração de Griffin começou a desacelerar e suas
pálpebras se fecharam. Ele estava morrendo e eu tinha que
colocar sua vida antes de minhas próprias tendências
possessivas.
Tudo dentro de mim gritava para eu não permitir que ela
o tocasse, mas eu controlei meu animal. Claro, estar ferido
tornou as coisas mais difíceis para mim. Se ela fizesse algo
com ele, eu não seria capaz de protegê-lo, e isso me tornava
mais volátil.
“Vou tentar de novo.” Rosemary estreitou os olhos para
mim. “E se você me morder, esta será a última vez que eu a
ajudarei.”
Ela pode não ser a pessoa mais legal do mundo, mas ela
era franca, e eu sabia onde ela queria chegar. Eu a respeitava
por isso. Poucas pessoas eram tão diretas. Eu me afastei,
deixando-a saber que eu não seria um problema.
“Boa menina,” ela riu.
Ótimo, ela já tinha ficado convencida o suficiente para
fazer piadas de cachorro, mas se isso fosse necessário para
salvar Griffin, eu aceitaria com prazer.
Ela colocou uma mão no ferimento de Griffin e a outra no
meu quadril. Sua pele começou a brilhar.
Uma luz branca emergiu de seus dedos, e uma sensação
quente de zumbido me atingiu direto no peito, uma sensação
vibrante de segurança e proteção como se tudo estivesse bem.
Isso me lembrou de quando eu era uma garotinha e minha
mãe me segurava em seus braços.
As íris de poeira estelar de Rosemary brilharam com um
branco brilhante enquanto seu poder preenchia tudo ao nosso
redor. Se eu pensava que ela era de tirar o fôlego antes, eu
estava errada. Agora ela era transcendente.
Eu assisti com admiração quando o peito de Griffin subiu
mais uma vez. Depois de um longo momento, a pele de
Rosemary começou a desbotar em sua tez pálida normal. Ela
baixou as mãos e me encarou. “Sua perna também deve estar
melhor.”
Foi por isso que me senti tão segura. Ela curou Griffin e
eu ao mesmo tempo. Eu tinha ouvido falar que os anjos eram
seres poderosos, mas isso era subestimar suas habilidades.
Griffin sentou-se lentamente sobre as patas traseiras, e o
alívio que explodiu em meu coração foi chocante. Eu pulei
sobre ele, forçando-o a ficar de costas. Eu estava tão feliz que
ele estava bem. Ele lambeu meu rosto enquanto rolava em
cima de mim, sua língua pendurada para fora de sua boca.
“Por mais que eu odeie interromper seu joguinho, seus
guardas ainda estão sob ataque, e um barco parou para
esperar que os idiotas fugissem.” Rosemary se levantou e
limpou a sujeira do jeans.
Ela estava certa. Precisávamos ajudar os outros. Não
havia tanto tiroteio, mas ninguém chegou até nós. Nossa nova
prioridade era proteger as matilhas de Killian e Griffin.
Eu balancei minha cabeça na direção onde os outros
deveriam estar e saí correndo. Não havia absolutamente
nenhuma dor na minha perna, o que me surpreendeu.
Rosemary conseguiu curar minha perna completamente,
removendo até a bala.
A única pergunta era: Por que ela nos ajudou? Em geral,
as pessoas não iam para a batalha de bom grado por alguém
do qual não fosse amigo ou aliado. Mesmo não sendo inimigos,
nossas interações não foram das melhores. Ela deve ter um
motivo para ajudar. Mais uma questão para resolver mais
tarde.
Rosemary bateu as asas, ascendendo ao céu. “Eu te
encontro lá.” Ela voou na direção oposta mais rápido do que
minhas quatro pernas poderiam me levar.
Enquanto seguíamos nossa trilha de volta para os
guardas, o som da luta ficava mais alto. Eu não tinha certeza
se deveria estar aliviada ou não, mas pelo menos alguns de
seus guardas ainda deviam estar de pé.
O corvo voou para o céu novamente, grasnando sem
parar, deixando os guardas inimigos saberem que estávamos
nos aproximando.
Forçando-me a não desperdiçar mais energia negativa
com aquela coisa estúpida, examinei a área, observando o
dano. Havia corpos espalhados por toda parte.
Todo esse ataque foi estranhamente semelhante ao que
sofri em casa. Talvez eu devesse ter ido com Cavanhaque e
mantido todas essas pessoas seguras.
Killian assumiu a liderança, correndo em direção a um
lobo que estava cercado por outros três. Ele rosnou alto,
chamando a atenção dos inimigos de seu alvo.
Eu segui o exemplo de Killian com Griffin correndo ao
meu lado. Os atacantes não se sobrepunham mais em
número, o único guarda sobrevivente. Na verdade, agora eram
eles que estavam em desvantagem.
Correndo para o lado, mirei no grande lobo marrom
leitoso que esteve com Cavanhaque mais cedo. O brilho cruel
em seus olhos combinava com o abismo profundo dentro dele,
revelando uma doença ainda pior que a do Cavanhaque.
Talvez Cavanhaque não fosse aquele em quem eu deveria estar
mais focada. Encontrar duas almas tão cheias de ódio me
deixou ainda mais preocupada com quem quer que estivessem
trabalhando.
Pelo menos, eu poderia me livrar de mais um idiota.
Ele me encarou em um claro desafio. Ele sabia quem eu
era e zombou de mim com determinação, examinando-me,
esperando para prever meu próximo movimento. Ele era
provavelmente o lutador mais habilidoso de seu grupo.
Não querendo revelar meu plano, diminuí a velocidade
como se não tivesse nada a provar. Tecnicamente, não, mas
queria sobreviver.
Killian e Griffin atacaram dois dos lobos enquanto eu me
sentava na frente do maior, fingindo que não estava nem um
pouco perturbada. Estávamos em um impasse. Ele queria ver
o que estava enfrentando, enquanto eu queria ver qual
estratégia ele usaria.
A melhor maneira de irritar um homem que estava
tentando provar a si mesmo era menosprezá-lo. Forcei meus
ombros a tremer e fiz o som sufocante de um lobo rindo.
Ele bufou e balançou a cabeça, dando-me um sinal de
que eu o estava irritando. Sua respiração acelerada me deixou
saber que sua raiva estava começando a tomar conta dele.
Olhei para Griffin e Killian, certificando-me de que eles
estavam bem, mas também para indicar que não estava
perturbada pelo lobo cada vez mais furioso me observando.
Mesmo que eu pudesse vê-lo com minha visão periférica, não
prestar atenção nele foi a gota d'água.
Aproximando-se de mim, ele manteve os olhos fixos no
meu rosto. Fingi não notar sua aproximação, apesar de todo o
meu foco agora estar nele, já que Griffin e Killian estavam se
segurando.
A cada passo em minha direção, ele ficava mais ousado e
furioso quando eu não piscava. Seu corpo ficou rígido e eu
sabia que ele atacaria a qualquer momento. Como ele me
atacaria me contaria muito sobre ele.
Agora a apenas três metros de distância, ele rosnou,
querendo que eu reconhecesse que ele estava lá. Quando virei
minha cabeça em sua direção, ele investiu.
Força bruta. Esse era o plano dele, que era o que eu
suspeitava.
Eu rolei para fora do caminho quando ele pousou nas
quatro patas onde eu estava. Ele rosnou e girou, dentes à
mostra, baba escorrendo pelo queixo. Ele me lembrou um
cachorro raivoso.
Inferno, ele pode estar verdadeiramente com raiva.
Sem se preocupar em mudar de estratégia, ele se lançou
sobre mim mais uma vez, mirando no meu ombro. Como
Cavanhaque, ele não queria me matar, apenas me ferir
gravemente. Mas ele não estava pensando nisso porque Killian
e Griffin também estavam aqui. Mesmo se ele me derrubasse,
como ele conseguiria colocar a si mesmo e meu corpo ferido
no barco enquanto os dois estavam aqui?
O único guarda sobrevivente do nosso lado veio na minha
direção. Ele estava vindo para me ajudar a lutar contra esse
lobo.
O que diferia entre esse lobo enlouquecido e Cavanhaque,
era que eu não tinha que provar a mim mesma. Eles gostavam
de dominar os outros para chegar ao topo, mas os verdadeiros
protetores lutavam para vencer, não para sair por cima.
Proteger era fazer o que era melhor para todos, deixando de
lado a vaidade e a autoestima. Não havia espaço para o ego.
Agradeceria a ajuda desde que impedisse que mais inocentes
morressem.
O lobo inimigo nem se incomodou em virar na direção do
guarda. Ele estava focado apenas em mim, o que era estúpido
e assustador. Como alguém pode ter uma mente tão limitada
quando sua morte pode ser iminente?
Mas era isso; ele não via nada além de mim.
O guarda pulou nas costas do lobo de cor chocolate e
enfiou as garras em seu lado enquanto seus dentes
afundavam no ponto entre o pescoço e o ombro.
Como se percebesse a magnitude de seus ferimentos, o
lobo inimigo ficou em pé sobre as duas patas traseiras,
tentando cair sobre o guarda para que ele o soltasse.
Recusei-me a permitir-lhe a oportunidade, pulei para
frente e afundei meus dentes na frente de seu pescoço, pronto
para que toda essa maldita luta acabasse. Os olhos do cara se
arregalaram e eu balancei minha cabeça com força,
garantindo que ele morreria instantaneamente.
Nesse ponto, eu não me importava com eles pagando por
seus pecados. Eu queria a luta terminada.
Com o peso do guarda nas costas, o lobo caiu de cara,
mas já estava morto antes do impacto.
O mundo pareceu parar enquanto eu examinava a área e
percebi que todos os inimigos estavam mortos. Mas o fato
doloroso foi que Killian, Griffin, este único guarda e eu éramos
os únicos sobreviventes do nosso lado. Eu não tinha ideia de
quantos de seu bando vieram nos ajudar e morreram.
Um crocitar e o bater de asas chamaram minha atenção
quando o corvo voou alto, longe da bagunça no chão.
Tínhamos que pegá-lo antes que ele alertasse quem
estava por trás dessa emboscada.
Claro, o maldito pássaro estava voando de volta para o
barco, provavelmente para alertar as pessoas a bordo de que
todos estavam mortos. Não havia como conseguirmos vencê-
lo.
Mas caramba, tínhamos que tentar. Eu uivei e corri na
direção do rio mais uma vez, Griffin, Killian e o guarda logo
atrás de mim.
Mantive meus olhos para a frente, recusando-me a olhar
para os corpos enquanto passava. Tanta morte e destruição, e
tudo por minha causa. Se eu tivesse ido voluntariamente, isso
teria acontecido de forma diferente?
Eu tinha que colocar esses pensamentos de lado.
Concentre-se no aqui e agora.
Em segundos, passei por entre as árvores e o rio
apareceu. Pisei em poças do que só poderia ser sangue, o
cheiro metálico confirmando minhas suspeitas.
Mas eu passei.
Os três lobos atrás de mim ofegavam, tentando
acompanhar, mas eu não conseguia diminuir. Se eu quisesse
ter uma chance de pegar as pessoas no barco, tínhamos que
chegar rápido.
Um grasnido alto soou novamente, mais perto do que eu
esperava. Foi um chamado de medo e desespero. Olhei para o
céu apenas para ver o corvo voar sobre nossas cabeças na
direção de onde tínhamos vindo.
O que diabos teria causado isso?
Grandes asas voaram atrás de mim, respondendo à
minha pergunta. Olhei por cima do ombro, surpresa ao ver
Rosemary pousando a alguns metros de distância.
O sangue cobria seus braços e o ombro de sua camisa
estava rasgado. “Os shifters no barco estão mortos.” Ela
acenou com a cabeça na direção da água. “Achei que poderia
eliminá-los enquanto o resto de vocês se concentrava em
salvar seus homens e a si mesmos.”
Eu não poderia falar com ela desta forma para lhe dizer
que estava agradecida. Tudo o que pude fazer foi acenar com
a cabeça.
Mesmo que eu odiasse que o pássaro tivesse fugido, pelo
menos o barco não conseguiu sair.
“Por que vocês quatro não voltam e se transformam em
humanos para que possam obter mais ajuda para limpar os
corpos?” Rosemary disse com autoridade. “Te encontro em
casa em alguns minutos.”
Normalmente, ser dito o que fazer me irritava, mas depois
do jeito que ela nos ajudou e de toda a luta, transformar de
volta e reagrupar parecia uma boa ideia. Precisávamos cuidar
de nossos mortos e descobrir nossos próximos passos, mas,
no momento, não precisávamos nos preocupar com outro
ataque.
Eu me virei e encontrei Griffin esperando por mim e
Killian e o guarda indo embora trotando juntos, deixando nós
dois voltarmos sozinhos.
Meu coração se aqueceu e deu as boas-vindas à sensação
do puxão. Por um minuto, pensei que nunca mais teria a
chance de andar ao lado dele. Corri para ele, não querendo
ficar aqui mais nem um segundo.
Sair do chuveiro foi uma das coisas mais difíceis que tive
de fazer. Entre a necessidade de lavar o sangue do meu corpo,
as mortes que causei e apenas estar dolorida por não treinar
como deveria, tudo que eu queria fazer era ficar debaixo do
jato de água quente.
Mas isso não era uma opção, por causa de um certo anjo
negro andando pela sala.
“Por que diabos ela está demorando tanto?” Rosemary
reclamou. “Quando ela disse que estava tomando banho, não
pensei que ficaria aqui com vocês dois idiotas por tanto
tempo.”
“Em primeiro lugar, esta é a minha casa,” Killian rosnou.
“E segundo, ela está lá há cinco minutos. Dê um tempo para
ela.”
Ugh, talvez eu devesse ligar a água novamente. Ela
parecia estar de mau humor.
Na verdade, ela sempre foi assim, então eu não deveria
ter ficado surpresa. Sequei-me rapidamente e me vesti.
“Você sabe o que eu arrisquei ajudando você a lutar
contra aqueles lobos?” O tom de Rosemary ficou zangado. “Se
aquele idiota do Azbogah descobrir o que eu fiz, ele vai
infernizar meus pais. Eu arrisquei muito...”
A raiva de Griffin era palpável quando ele disse: “A água
já foi desligada, então você pode se acalmar. Ninguém pediu
para você ajudar, então não venha aqui, exigindo certas
coisas. Se minha companheira...”
“Sua companheira?” Rosemary bufou. “Você está
brincando comigo? Isso está ficando cada vez melhor.”
“O que há de tão engraçado nisso?” Griffin murmurou.
“Você nem quer ser alfa, e agora você está vinculado com
um lobo como ela.” Ela suspirou. “Você pode ter ainda mais
sorte?”
Inalando profundamente, vesti rapidamente o jeans e a
camisa que usei no dia em que Killian me encontrou. Eu
estava evitando usar essas roupas, mas depois de destruir as
novas, não tive muita escolha. Abri a porta e entrei na sala.
Eu endireitei meus ombros e encarei o anjo. “Obrigada
por lutar ao nosso lado e ajudar, mas você não pode vir aqui
e nos tratar como se fôssemos inúteis.” Ela e eu tínhamos um
relacionamento muito estranho, para dizer o mínimo. Eu não
desgostava dela, mas ela era abrasiva e imprudente.
“Veja, é por isso que eu gosto de você.” Rosemary virou
as costas para Killian e Griffin. “Você vai direto ao ponto sem
tentar provar que tem pau.”
Um sorriso surgiu em meu rosto. “É meio difícil provar
que tenho um, quando a coisa está faltando.”
“As coisas ficam mais fáceis assim.” Rosemary riu.
“Uh... o que está acontecendo?” Killian perguntou a
Griffin.
"Não faço ideia, cara.” Griffin balançou a cabeça
enquanto caminhava até mim e pegava minha mão. “Mas ela
agindo de forma legal, está me assustando.”
“E eles se perguntam por que não quero me incomodar
em falar com eles.” Ela balançou a cabeça. “Mas estou
assumindo que eles são uma espécie de bando?”
“Sim, eles são.” Aproximei-me de Griffin, precisando
senti-lo. “Então, como você sabia que estávamos em apuros?”
“Eu não sabia.” Rosemary caminhou até as janelas que
davam para a piscina e o quintal. “Na verdade, eu estava indo
procurá-la para falar sobre nossa conversinha do outro dia.”
Meus olhos moveram-se para a linha das árvores onde
vários shifters estavam voltando para cuidar dos mortos.
Depois que voltamos para a casa e nos transformamos, mais
shifters de Shadow Ridge e de Shadow City, chegaram.
Felizmente, eu já havia entrado, então nenhum deles me viu
em minha forma de lobo prateado. No entanto, eu precisava
me apressar e sair para ajudá-los. Afinal, essa carnificina foi
toda minha culpa. “Bem, você encontrou mais do que
esperava.”
“Você percebe que precisa dizer a Zac que ele não pode
contar a ninguém sobre o que ela é.” Rosemary fez uma careta
para Griffin. “Quanto mais pessoas perceberem que ela é uma
loba prateada, mais ela correrá riscos.”
“Já tratamos disso.” Griffin estava em pé ao meu lado.
“Eu o comandei com a vontade de alfa. Ele não pode contar a
ninguém, nem mesmo a sua família.”
Killian encostou-se na parede do outro lado da janela.
“Não que ele quisesse de qualquer maneira.”
“Não tenha tanta certeza.” Rosemary revirou os ombros.
Ela olhou para mim. “Mas não é por isso que estou aqui.
Felizmente, se você conseguir manter esses dois e o guarda
quietos, parece que ninguém mais saberá que você, uma loba
prateada voltou à nossa sociedade. Pelo menos, não do lado
dos anjos.”
“Essa é uma boa notícia, certo?” Quanto menos pessoas
soubessem sobre mim mais seguros estaríamos.
“Por agora.” Rosemary gesticulou para Griffin enquanto
continuava, “Mas se vocês dois são companheiros
predestinados, quanto tempo você acha que seu pequeno
segredo pode durar?”
Meu coração afundou. Eu nem tinha pensado nisso.
“Eu vou embora com ela.” Griffin fez parecer tão simples.
Eu balancei minha cabeça em direção a ele. “Você não
pode fazer isso.” Especialmente se o que Rosemary disse sobre
uma guerra civil se formando for verdade. “Você é o líder deles.
O destino determinou isso. Você não pode partir quando há
tanto em jogo, e os lobos estão sendo atacados.”
“Você é mais importante.” Ele passou os dedos ao longo
da minha bochecha. “Eu prefiro fazer isso, do que perder
você.”
“Dove está certa,” disse Rosemary, me fazendo
estremecer.
Eu estava tão malditamente cansada desse nome. “É
Sterlyn.” Ela pelo menos merecia saber disso depois de tudo
que aconteceu.
“Graças a Deus. Porque Dove é um nome horrível.”
Rosemary gemeu.
“Não é.” Killian franziu a testa. “Eu pensei que era
apropriado por causa de seu cabelo.”
“Claro que ele te deu esse nome.” Rosemary tirou o
telefone do bolso e olhou para Griffin. “Com os ataques aos
lobos, se você renunciasse, isso causaria anarquia, e você
sabe disso. A melhor coisa que podemos fazer é descobrir
quem está atrás de Sterlyn e partir daí.”
“Aquele corvo está voltando para quem a quer.” As mãos
de Killian se fecharam em punhos. “E estamos em
desvantagem, mas espero encontrar algo no barco que possa
nos apontar na direção certa.”
“Eu tenho que ir, mas você vai trabalhar amanhã?”
Rosemary me encarou.
Não havia razão para não fazê-lo agora. Se eu não
entrasse, as coisas ficariam ainda mais suspeitas. “Sim, vou.
Precisamos fingir que tudo está o mais normal possível depois
do show de horrores de hoje.”
“Concordo.” Ela assentiu. “Eu vou passar lá para falar
com você então. Eu tenho que voltar para Shadow City,
mamãe está procurando por mim.” Ela correu porta a fora e
foi para o céu.
Griffin franziu os lábios. “Foi só eu, ou foi como se nem
estivéssemos na sala?”
“Acostume-se com isso.” Killian apontou para mim.
“Desde que ela entrou na minha vida, eu sou o motorista.”
Isso era verdade. “Por mais divertido que seja, vou sair e
ajudar os outros.”
“Não, você não vai.” Griffin me puxou para seus braços.
“Eles têm gente suficiente e sabem o que estão fazendo. Depois
de quase morrer, eu gostaria de levar você nesse encontro.”
“Não estou com vontade de sair.” Eu estava tão animada
em passar um tempo com ele, mas entre o que tínhamos
passado e minha roupa inferior, tudo que eu queria fazer era
rastejar para a cama.
“Então vocês dois vão lá para o Griffin e relaxem
enquanto eu vou ajudar os outros.” Killian gesticulou para a
porta. “Entre você se machucar e Griffin quase morrendo, eu
digo que você já fez o suficiente hoje. Além disso, estou
pensando que é hora de Griffin e eu começarmos a assumir
nossas responsabilidades.”
Em outras palavras, era hora de serem os alfas que
estavam destinados a ser.
“Ele tem razão.” Griffin começou a me puxar em direção
à porta dos fundos.
Incapaz de dizer não, eu balancei a cabeça, mas parei na
frente do homem que eu via como meu irmão agora. “Tem
certeza de que não precisa de mim lá? Não me importo de
ajudar.”
“Eu sei.” Ele deu um peteleco no meu nariz. “Mas eu
quero que você o conheça, o lado dele que eu conheço. Estou
lhe dando meu selo de aprovação.”
“Com o mulherengo?” Eu perguntei e apontei para Griffin.
“Ei,” Griffin rosnou.
“Ele levou um tiro por você,” disse Killian enquanto abria
a porta dos fundos, acenando para que saíssemos. “Acho que
se isso não provar que ele quis dizer o que disse, nada
provará.”
A verdade de suas palavras fizeram meu coração bater
forte, e eu me virei para encarar o homem sexy que agora
segurava meu coração. Minha loba uivou e meu corpo
esquentou, deixando o cheiro de excitação exalando de mim.
Eu encarei os olhos do meu companheiro. “Sem mais espera.”
Eu tive o suficiente. Entendo que ele queria fazer as coisas
direito, mas eu precisava dele. E agora.
“Ah, meu Deus.” Killian fechou a porta e se dirigiu para
as árvores. “Essa é a minha deixa para sair.”
Um sorriso fixou no rosto de Griffin enquanto ele me
levava para sua casa. Em segundos, estávamos entrando em
sua cozinha. Eu não tinha ideia de como era o quarto e não
me importava. Ele fechou a porta, e eu colei meus lábios nos
dele.
Ele rosnou enquanto agarrava minha bunda, e eu
envolvia minhas pernas em volta de sua cintura. A sensação
de suas mãos e boca em mim fez meu corpo e minha loba
enlouquecerem.
Eu passei meus braços ao redor de seu pescoço,
agarrando seu cabelo. Ele cambaleou pelo corredor. Em meu
estado semi lúcido, percebi que a casa dele era exatamente
igual à de Killian.
Entramos no quarto principal, e ele chutou a porta atrás
de nós, então me jogou na cama. O azul frio das paredes era
como a sombra do oceano. Corri minhas mãos sobre lençóis
cinza claros que me lembravam o céu em um dia nublado.
Mas quando Griffin pairou sobre mim, meus olhos viram
apenas ele. Ele olhou para mim, seus olhos castanhos
brilhando, e tirou a camisa. Seu abdômen parecia ainda mais
musculoso do que eu imaginava enquanto eles se juntavam e
enrolavam. Ele se inclinou sobre mim, me prendendo entre
seus braços.
“Você é tão bonita,” disse ele, com a voz rouca.
Minha respiração ficou presa quando ele me beijou, e
seus dedos pressionaram minha cintura, me excitando ainda
mais. “Você também não é nada mal.”
“Nada mal, hein?” Ele riu quando seus lábios
pressionaram contra minha garganta e sua mão levantou
minha camisa. “Você já viu mais bonito?”
“Defina bonito,” eu provoquei enquanto ele desabotoava
meu sutiã e o tirava junto com minha camisa do meu corpo.
Então fiquei tensa, percebendo que tínhamos mais uma
coisa para discutir.
“Pare.” Ele congelou, e eu sorri para tranquilizá-lo. Odiei
interromper nosso momento, mas antes de fazermos isso,
tínhamos que ter certeza de que estávamos na mesma página.
Normalmente, quando companheiros predestinados
completavam sua conexão, eles se ligavam ao bando de lobos
mais forte. Se o par fosse dois alfas, os bandos permaneciam
separados, a menos que os dois alfas concordassem em se
unir com apenas o vínculo do companheiro predestinado que
ligava-os. Mas já que eu não tinha um bando, isso significava
que eu estaria ligada ao dele, a menos que eu colocasse uma
barreira propositalmente. “Eu quero completar nosso vínculo,
mas não posso me submeter a você e me tornar parte de seu
bando.” Eu esperava que isso não o irritasse, mas era melhor
ter essa conversa antes. Minha loba não se submeteria a ele,
e mesmo que ela pudesse, o resto de sua matilha perceberia
que eu era diferente. Meu segredo não estava pronto para ser
revelado.
Pelo menos, ainda não.
“Eu quero você de qualquer forma que eu puder te ter.
Meu objetivo não é ser seu alfa.” Ele beijou meus lábios
docemente. “Eu estou completamente comprometido. Nada vai
mudar isso.”
Meu estômago se agitou com suas palavras e, de alguma
forma, meu desejo por ele ficou ainda mais forte.
Quando sua boca capturou meu mamilo, um prazer como
eu nunca tinha experimentado antes ondulou pelo meu corpo.
Engoli em seco quando meus dedos afundaram em suas
costas fortes e musculosas.
Minha cabeça girava com seu cheiro único, e a mão que
ele percorria lentamente pelo meu corpo. Eu nunca tinha sido
tocada dessa maneira e não queria que ele parasse.
Deslizando minha mão entre nossos corpos, desabotoei
sua calça jeans, precisando senti-lo por inteiro.
“Estou tentando cuidar de você.” Ele suspirou, sua
respiração quente contra a minha pele.
Mas o problema era que eu precisava dele. “Podemos ir
devagar da próxima vez.” O puxão dentro de mim estava
desesperado, ele tinha que me tornar inteira, agora. “Por
favor.”
“Tudo bem.” Ele se levantou e tirou minha calça de ioga
e minha calcinha. “Mas vamos devagar da próxima vez.” Ele
gemeu enquanto examinava meu corpo e tirava o resto de suas
roupas.
Ele era ainda mais delicioso do que eu jamais imaginara.
Seu corpo estava duro em todos os lugares certos, e eu
realmente quis dizer tudo.
Ele deslizou as mãos entre as minhas pernas e esfregou.
Minha respiração ficou presa quando ondas de prazer me
dominaram. Meu corpo convulsionou quando ele deslizou os
dedos para dentro.
A cada movimento, ele fazia com que chamas lambessem
meu corpo. “Oh, Deus,” eu gritei, prestes a perder a cabeça.
Sua língua circulou um seio e passou rapidamente sobre
meu mamilo, fazendo com que as sensações disparassem
através de mim e me levassem perigosamente ao limite. Eu o
empurrei para trás e nos virei, precisando assumir o controle.
Ele estava me dominando, e eu adorava isso, mas era a minha
vez. Eu montei nele e comecei a deslizá-lo, lentamente, para
dentro de mim.
“Uau... espera.” Suas íris brilharam ainda mais quando
ele ficou imóvel. “Você é... você é...?”
Eu me contorci e comecei a pressionar para baixo, mas
suas mãos na minha cintura me impediram. “Eu sou o quê?”
Mas então eu percebi o que ele quis dizer, e minhas bochechas
ficaram vermelhas.
“Você é virgem. Nós precisamos...”
“Não, eu preciso de você.” Minha loba uivou. Já havíamos
esperado o suficiente. Deslizei-o para dentro, me
preenchendo, fazendo com que a conexão entre nós crescesse.
“Espere,” ele murmurou enquanto nos arrastava para a
cabeceira da cama e se apoiava. Suas mãos acariciaram meus
seios quando comecei a montá-lo. Cada vez, ele me enchia
mais, indo cada vez mais fundo.
Movendo me mais rápido, ele começou a se contorcer
debaixo de mim, e minha loba avançou, precisando
concretizar o vínculo entre nós. Minha boca foi para seu
pescoço e meus dentes arranharam sua pele, mas eu não
queria mordê-lo totalmente, até que ele me desse permissão
para reivindicá-lo.
“Faça isso,” ele gemeu. “Por favor.”
Era tudo que eu precisava ouvir. Meus dentes rasgaram
sua pele, e seu sangue se infiltrou na minha língua enquanto
uma parte da minha alma se estendia e tocava nele.
“Minha vez,” ele rosnou, e eu inclinei minha cabeça de
bom grado, oferecendo meu pescoço.
“Sim,” eu suspirei, dando-lhe o meu consentimento.
Quando seus dentes entraram em mim, seus sentimentos
e emoções colidiram com os meus.
Se eu tinha alguma dúvida sobre como ele se sentia sobre
mim antes, elas se foram. Tudo o que ele via era eu, e ele daria
sua vida para me proteger novamente sem um momento de
hesitação.
Meu coração ficou quente mais uma vez agora que eu não
estava sozinha, e minha loba colocou uma barreira para
impedir a conexão com o bando.
O prazer cresceu dentro de nossos corpos, e logo, os
orgasmos irromperam de nós dois, nosso prazer nos moldando
em um.
Algo estalou dentro de nossos peitos e nossa conexão se
fortaleceu enquanto nossas emoções se misturavam. O amor
nos uniu em um só ser, aquecendo meu peito e preenchendo
o espaço que esteve frio por muito tempo.
Eu não mereço você, Griffin se conectou.
Sua voz na minha cabeça fez a felicidade surgir através
de mim. Não, você não merece, eu provoquei. E, no entanto,
você ainda me tem. Eu beijei seus lábios, tão feliz por estar em
seus braços.
Completamente exausta e saciada, rolei para o lado e ele
me puxou para seus braços fortes e reconfortantes. Seus
dedos roçaram meu braço, para cima e para baixo, e logo eu
adormeci.

Se eu achava estranho entrar na Universidade de Shadow


Ridge com Killian, isso era uma questão totalmente diferente.
Todos por quem passamos se viraram e olharam,
enquanto Griffin, o alfa de Shadow City, segurava minha mão
e me levava até a cafeteria.
Claro, não ajudou em nada o fato de ontem eu estar
namorando o melhor amigo dele.
Enquanto passávamos pela longa fila do café, o queixo de
Carter caiu e ele apontou de Griffin para mim. “Que diabos,
Dove? Não consigo descobrir se estou impressionado ou
enojado. Você não estava com Killian ontem?”
Um rosnado emanou do peito de Griffin.
Comporte-se. Eu entendi que comentários como esses não
eram divertidos para Griffin, mas nós dois sabíamos que isso
aconteceria. “Killian e eu éramos mais amigos do que qualquer
coisa.”
“Com assim amigos...”
Griffin rosnou. Eu nunca gostei dele de qualquer maneira.
Eu posso matá-lo.
Eu ri, incapaz de esconder minha felicidade.
“Pare,” eu avisei Carter. “Ele é meu companheiro
predestinado. Ele não está gostando de seu comentário.”
“O quê?” Ele disse alto, fazendo com que todos no café
ficassem em silêncio. “Griffin completou o vínculo de
companheiro com você?”
“Sim.” Griffin parou na minha frente e olhou para cada
pessoa na fila. “Ela é minha companheira, oficialmente, de
todas as maneiras possíveis. Nada de dar em cima dela ou,
dar em cima de mim.”
Bem, isso era praticamente equivalente a ele fazer xixi em
mim, mas pelo menos ele se incluiu nessa equação.
Algumas garotas fizeram beicinho, irritando minha loba,
mas eu a empurrei para baixo. Não havia razão para deixá-la
ficar muito excitada. Se alguém tentasse algo estúpido, nós os
mataríamos. Fácil, fácil.
Detesto fazer isto, mas tenho de ir para a aula de História
Política e depois para a de Relações Internacionais. Ele me
beijou um pouco mais do que o necessário. Volto quando as
aulas acabarem.
Estarei contando os segundos. Eu me afastei e dei-lhe um
sorriso.
Ele lambeu os lábios e piscou antes de sair do café
enquanto eu apreciava a vista.
“Uh... Terra para Dove.” Carter me puxou de volta para o
presente. “Essa caixa registradora não funciona sozinha.”
Eu me virei e comecei a trabalhar.

Algumas horas depois, quando a fila finalmente se


acalmou, Carter deu um tapinha no meu ombro. “Ei, você se
importa de ir lá atrás e pegar mais grãos torrados italianos?
Está acabando.”
“Ah, sim, claro.” Normalmente, outra colega de trabalho
pegava o grão porque eu estava sempre muito ocupada no
caixa, mas Susan estava de folga. Lembrei-me de ter visto o
grão torrado italiano, quando Carter me mostrou o local no
primeiro dia em que comecei a trabalhar aqui.
Passei pela cozinha até o pequeno armário do corredor ao
lado da porta externa que levava ao beco onde guardavam
aquela lixeira fedorenta. Abri a porta do depósito e comecei a
dar uma olhada no inventário.
“Isso é estranho,” eu sussurrei para mim mesma. “Estava
nesta prateleira da última vez que a vi.” A terceira prateleira
continha alguns dos grãos escuros, mas não o italiano.
Eu tinha acabado de me agachar para verificar a
prateleira de baixo quando ouvi passos vindo em minha
direção. Carter deve ter precisado de algo mais ou se
perguntado por que eu estava demorando tanto.
“Ei, Carter. Você mexeu no grão torrado italiano? Não
está na prateleira de cima.” Eu perguntei, procurando nos
rótulos perto do chão.
Senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem quando ele
deu um passo atrás de mim, e então algo pontiagudo se enfiou
no meu pescoço, logo acima da minha clavícula. Uma voz
familiar que eu não conseguia identificar sussurrou: “Sinto
muito.”
Tentei me virar, mas o mundo começou a girar.
Minha visão ficou nebulosa e tudo que consegui fazer foi
me conectar a Griffin. Socorro.

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