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Políticas Sociais

e Questões
Contemporâneas
Material Teórico
Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Mauricio Vlamir Ferreira

Revisão Técnica:
Prof. Me. Priscila Beralda Moreira de Oliveira
a

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Políticas Sociais e Questões
Contemporâneas

• Contexto Global e Nacional;


• Gestão e Financiamento;
• Análise da Conjuntura Econômica e Política na Contemporaneidade
e seus Desdobramentos no Campo das Políticas Sociais;
• Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Explicar de que forma o neoliberalismo contribuiu para desestabilizar
o sistema econômico mundial, fragilizando as relações trabalhistas
também no Brasil e aumentando os fatores da exclusão social.
· Identificar de que forma a lógica do Estado Mínimo prejudica o
desenvolvimento de países periféricos como o Brasil.
· Evidenciar como a instabilidade política e econômica afetam o
desenvolvimento e a ampliação das Políticas Sociais no Brasil.
· Elucidar de que forma o modelo de Proteção Social e a Seguridade
Social do Brasil funcionam e quais são as prioridades de suas ações.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
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estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
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Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

Contextualização
Atualmente o Serviço Social desafia a ordem vigente e coloca para sua meta
de ação o trabalho dialético do sujeito, considerando as relações sociais em que
se inserem os trabalhadores. Vai além, define marcos e conceitos que permitem a
meta de uma sociedade que viverá em um sistema que só será possível e imaginável
com o fim da relação capital do trabalho da forma como o conhecemos nos
dias atuais.

Enquanto essa perspectiva parece distante, o Assistente Social deve lutar pela sua
valorização contínua, enquanto sujeito técnico da classe trabalhadora, que, em sua
ação do dia a dia, preserva sua integridade ética e contribui para a conscientização
do sujeito em sua transformação social diante das condições desfavoráveis que esse
mesmo sujeito encontra no momento do atendimento.

De acordo o ideário neoliberal, o interesse por políticas de inclusão e geração de


renda não vão ao encontro dos interesses do capital especulativo, uma vez que a
prática das políticas sociais não almeja o lucro para o investidor que exige o retorno
de um Estado que vise ao enxugamento de gastos e que honre primeiramente com
os débitos de seus credores.

As políticas sociais nos últimos anos mudaram o cenário da situação de


desigualdade no Brasil dos últimos temos, graças à implantação da Política Nacional
da Assistência Social e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).

As garantias da proteção social da assistência social são determinadas pela:


segurança da acolhida; segurança social de renda; segurança do convívio ou
convivência familiar, comunitária e social; além da segurança de desenvolvimento
da autonomia individual, familiar e social, segurança de sobrevivência a riscos
circunstanciais, de acordo com a recomendação da NOB/SUAS (2012).

As garantias da proteção social estão divididas entre a proteção social básica


(PSB) e a proteção social especial (PSE).

A Proteção Social Básica é a garantia da proteção social que determina a inclusão


das famílias para o fortalecimento dos seus vínculos, inclusive em sua comunidade,
tendo como o maior fim o direito à cidadania e o acesso aos serviços públicos.

A Proteção Social Especial tem como meta principal a contribuição para


a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, o fortalecimento de
potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o
enfrentamento das situações de riscos pessoais e sociais, por violação de direitos.

A seguridade social brasileira, instituída com a Constituição brasileira de 1988,


incorporou princípios dos modelos bismarckiano (alemão) e beveridgiano (inglês)
ao restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizando a saúde
e limitando a assistência social a quem dela necessitar.

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Contexto Global e Nacional
Dentro das perspectivas encontradas e diante da lógica de um sistema excludente
e consumista em que o corporativismo das profissões, num mundo capitalista, é a
ordem imposta no mercado de trabalho e, consequentemente, diante das classes de
trabalhadores representados em seus conselhos, sindicatos e associações, o Serviço
Social tem a sua origem nas damas da caridade e no berço da igreja conservadora
da primeira metade do século XX.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

Porém, atualmente o Serviço Social desafia a ordem vigente e coloca como sua
meta de ação o trabalho dialético entre os sujeitos, considerando as relações sociais
em que se inserem os trabalhadores e indo além, definindo marcos e conceitos que
permitam a construção de uma sociedade que viva em um sistema que só é possível
e imaginável com o fim da relação capital/trabalho da forma como conhecemos
nos dias atuais.

Dessa forma, trazer a ação da profissão, dentro de sua concepção ético-política,


é o grande desafio do Serviço Social, uma vez que a sua atuação isolada não
contemplará os anseios urgentes da massa da população excluída e tão sedenta de
políticas sociais que transformem seu cotidiano de opressão para uma perspectiva
de mudança e de uma sociedade mais igualitária.

Passam pela lógica do Serviço Social, portanto, o trabalho conjunto


interdisciplinar, intersetorial e multiprofissional, onde as políticas públicas devem se
integrar e interagir em ações de trabalho materializado.

Esse processo acontece no atendimento ao usuário, na urbanização de favelas,


na articulação das políticas de inclusão social ou ainda na inserção do protagonismo
popular como ferramenta de transformação de uma sociedade passiva no que diz

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

respeito a essas políticas para uma sociedade onde o sujeito defina, em conjunto
com a sua família, com os seus vizinhos, com governos, com os técnicos, a
materialização dos seus anseios.

As prerrogativas atuais são importantes para que no futuro o Serviço Social não
seja mais dependente de políticas assistencialistas ou de emergência, e sim defina
em conjunto com os seus pares, que habitam o território, as melhores medidas e
soluções para fazer valer o direito de realmente poder exercer sua cidadania.

Enquanto essa perspectiva parece distante, o Assistente Social deve lutar pela
sua valorização contínua enquanto sujeito técnico da classe trabalhadora, que em
sua ação do dia a dia preserva sua integridade ética, contribui para a conscientização
do sujeito em sua transformação social diante das condições desfavoráveis que ele
encontra no momento do atendimento.

As condições dadas aos profissionais do Serviço Social devem ser consolidadas para a
sua ação plena e para a preservação da saúde física e mental de seus profissionais, na
perspectiva de uma ação de garantia de conquistas e de direitos desses profissionais.

Assim como nas 30 horas semanais, a definição do piso para a categoria


foi implementado e conquistado, além do reconhecimento da importância dos
profissionais do Serviço Social para a sociedade. Essa foi uma conquista tanto nas
áreas gerais de atuação (Assistência, Saúde, Educação, Empresas, etc.), como para
os desafios da área acadêmica da pesquisa científica e na utilização e aproveitamento
dos recursos tecnológicos, tanto para a capacitação à atualização, quanto na ação
teórica e prática da profissão.

Para tanto, o avanço do projeto ético-político do Serviço Social passa


impreterivelmente pela organização, unidade de luta e pelo avanço da participação
da categoria. Tanto nas discussões como na participação efetiva de conquistas,
garantias e implementações de direitos e ações que permitam de fato a amplificação
das marcas e vozes da categoria num avanço coletivo dentro da perspectiva do
avanço social e de uma sociedade mais justa e participativa.

No mundo atual, há ações que precisam ser iniciadas no sentido de diminuir a


violência da pobreza. Essa violência passa, obrigatoriamente, pelo enfraquecimento
das leis de caráter social procurando proteger não apenas às famílias em
venerabilidade social dos países como também passa pela fragmentação das
relações entre o capitalismo e os trabalhadores.

O neoliberalismo cria em suas entranhas um conjunto de ações que propiciam o


enfraquecimento dos direitos da classe trabalhadora e a ampliação da pobreza em
favor de uma classe dominante sustentada exatamente na exploração de classes
menos desfavorecidas de trabalhadores.

A pouca ou inexistente garantia de direitos sociais em países periféricos forma


uma grande camada de pessoas que trabalham exaustivamente. Esses trabalhadores

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são mal remunerados e atuam por mais de 12 horas, alguns em condições sub-
humanas, com instalações precárias e má alimentação. Os seus ganhos são irrisórios
e, na maioria das vezes, esses não ganham para conseguir se libertar de dívidas
estratosféricas criadas pelos seus superiores para eternizar esses trabalhadores em
uma infinita linha de produção.

Um exemplo disso são as péssimas condições de trabalho nas quais se encontram


pessoas vindas de países vizinhos ao Brasil, principalmente da Bolívia. Além do
fato de trabalharem irregularmente por serem imigrantes, esses trabalhadores são
pagos irrisoriamente por um dia de produção em fábricas de roupas precariamente
instaladas em porões e cortiços de casas alugadas em bairros periféricos,
principalmente na cidade de São Paulo.

Mas por que em pleno século XXI isso acontece?

Isso acontece pelo fato do capitalista, dono dos meios de produção, procurar
obter o máximo do lucro. Se em um sistema direto de produção o dono do capital
pode lucrar o máximo sem precisar ser o dono dos meios de produção, então ele
usa de um instrumento que é a peça mágica principal para o aumento de seus
lucros: a terceirização.

A terceirização é o meio mais eficiente de redução de custos de produção, porém


também é o mais injusto, de precarização nas relações trabalhistas. Isso porque,
com a terceirização, o dono do capital não investe na produção. Na terceirização,
pequenas empresas, muitas vezes ilegalmente e precariamente constituídas, são
responsáveis pela produção de materiais para as grandes empresas.

Nesse círculo de produção terceirizado, o dono do capital da grande empresa tem


apenas o trabalho de remunerar, ou seja, pagar para as pequenas empresas pela
produção do material manufaturado. Consequentemente, as pequenas empresas
não precisam estar legalmente constituídas, pois, se estivessem, necessariamente
deveriam pagar direitos aos trabalhadores, além de pagar impostos pela produção
das mercadorias. Nesse sistema ilegal de produção, os trabalhadores são o elo mais
frágil e os que menos terão direitos.

Em um sistema neoliberal, a desregulamentação dos direitos dos trabalhadores


gera uma insegurança social sem precedentes, uma vez que a troca de uma política
de garantias de desenvolvimento social pelo Estado pela política do Estado Mínimo
neoliberal faz com que o sistema de direitos sociais também seja atingido.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre o neoliberalismo, recomendamos que você assista
ao vídeo sobre o tema do programa Brasilianas.org. O programa discute a crise do sistema
neoliberal com o economista da Universidade Estadual da Paraíba, José Carlos de Assis,
e o físico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Francisco Antonio Doria.
O link desse vídeo pode ser encontrado no material complementar para atividades de
aprofundamento.

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

Gestão e Financiamento
O sistema econômico vigente, baseado na especulação financeira, mostra que
essa forma de economia está desgastada. As provas de que os desgastes nessa
frágil economia baseada na especulação financeira existem são as intermináveis
recessões por todas as regiões do mundo, onde não há perspectivas para um
rápido crescimento.

Na Europa, países periféricos da zona do Euro (€), ou seja, os de menor


influência foram sufocados em acordos de recessão para ajustes de contas públicas
e quitações de débitos com os países mais ricos.

E quem paga o preço de uma política de recessão?

Os contribuintes, que são, em sua maioria, os trabalhadores assalariados.

Em alguns países, como no caso do Brasil, essas políticas


de recessão são pagas com o desemprego e o aumen-
to de impostos. Assim, aumentando-se os impostos, o
Governo encontrará caixa para quitar o rombo de suas
contas públicas, uma vez que essas são contratos feitos
entre o Governo e os seus fornecedores.

Se o Governo não paga a quem deve, ele não consegue realizar novos contratos
e, não realizando novos contratos, a administração pública para de governar. Se
não há governo, também não há investimentos em educação, saúde, segurança,
infraestrutura e, tampouco, investimentos na área social.

Essa situação de endividamento dos governos e a falta de investimentos fazem


com que o governo seja obrigado a emitir títulos de dívida pública e oferecer esses
títulos para poder vendê-los no mercado e pagar aos investidores no futuro. Assim,
com a venda desses títulos em curto prazo, o Estado acaba se curvando à lógica do
capital especulativo e, consequentemente, acaba por não priorizar as políticas sociais.

A Lógica do Neoliberalismo é a Lógica do Estado Mínimo


Por isso, de acordo com essa perspectiva, o interesse por políticas de inclusão
e geração de renda não vai ao encontro do interesse do capital especulativo, uma
vez que a prática das políticas sociais não almeja o lucro para o investidor, que
exige o retorno de um Estado que vise ao enxugamento de gastos e que honre
primeiramente os débitos com seus credores.

Essa lógica perversa faz com que as políticas sociais sejam criticadas e combatidas
pela elite burguesa, assim como por setores conservadores da sociedade. Programas
sociais do governo brasileiro, como o programa Bolsa Família, são cada vez mais

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contestados e, diante do agravamento da crise política nacional e seus rumos
indefinidos, tem-se a perspectiva de cortes drásticos no financiamento de programas
de distribuição de renda no país.

Em países onde o grau de desenvolvimento e inclusão social ainda não atingiu


um padrão minimamente satisfatório, há um sistema de proteção social embasado
na lógica das desigualdades sociais, com ações inclusivas, porém com outras
financiadas por empresas privadas. É uma constatação que se faz não apenas na
área social, mas também na área da saúde, educação, saneamento básico, entre
outras políticas públicas.

O grande problema da interferência do capital privado, seja em ações


independentes, seja em parcerias e convênios com o Estado, é que elas (as ações)
acabam por expor a fragilização que ainda encontram as políticas públicas. E, por
muitas vezes, o grande interesse do capital privado é gerir diretamente essas ações,
uma vez as políticas públicas podem gerar lucro em funções que deveriam haver
uma intervenção direta do Estado.

Assim, cria-se uma relação muitas vezes promíscua em que, ao longo do tempo,
poder-se-á criar uma dependência do Estado em relação às ações de políticas,
incluída aí a área social.

Mais uma vez dentro dessa perspectiva, o assistencialismo e a filantropia, por


muitas vezes, vão substituindo as ações que deveriam ser planejadas e executadas
pelo poder público.

No Brasil, quanto mais alinhado o governo com as posições dos conceitos


neoliberais, maior será a ingerência das ações da iniciativa privada no planejamento
e no freio do custeamento de recursos destinados diretamente às mãos dos usuários
da assistência social. Cria-se assim um sistema de política social por diversas
vezes terceirizado, onde por diversas vezes existe a precarização do trabalho e a
desvalorização salarial dos assistentes sociais.

Por diversas vezes as nomenclaturas dos assistentes sociais são mascaradas em


termos como “Agente de Proteção Social”, “Articulador Social”. Essas novas
nomenclaturas acabam por desvalorizar os direitos garantidos e regulamentados
aos assistentes sociais. Criam-se assim brechas mercadológicas que garantem
a contratação de profissionais muitas vezes despreparados e sem uma devida
graduação universitária e técnica para desempenhar as mesmas funções e tarefas,
deslegitimando assim os profissionais do Serviço Social.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre o assunto, recomendamos que você assista ao vídeo
da palestra do Professor José Paulo Netto. O vídeo discute a “Formação profissional
na consolidação do projeto ético-político do Serviço Social brasileiro: fundamentos,
resistências e desafios conjunturais”. O link desse filme pode ser encontrado no material
complementar para atividades de aprofundamento.

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Análise da Conjuntura Econômica e Política na


Contemporaneidade, e seus Desdobramentos
no Campo das Políticas Sociais
Após as eleições de 2014 reelegerem a presidente Dilma Rousseff para mais
um mandato presidencial, o momento histórico do Brasil pós-2015 remete ao
retorno do pensamento conservador e a uma sociedade dividida entre a opção de
um governo de coalizão de centro-esquerda contra a oposição de centro-direita.

Figura 2 - Protestos a favor e contra o impeachment de Dilma Rousseff


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

A disputa de forças varia de acordo com o interesse da classe dominante. A


turbulência na condução do governo atinge a sociedade e o país como um todo.
As alianças político-partidárias é que determinam as conjunturas e o futuro político,
econômico e social. A forma como acontecem essas alianças é o grande entrave para
que o país possa ter um crescimento em que a justiça social seja levada em conta.

O fisiologismo de partidos sem compromisso com o povo dá ao Brasil um


Estado totalmente aparelhado por uma estrutura de corrupção e desvio de poder,
prejudicando e muitas vezes inviabilizando políticas de desenvolvimento econômico
e social. Essa amarração política do regime presidencialista torna por muitas vezes
refém o representante máximo do poder, ou seja, a presidência da República.

O presidencialismo atual é um modelo de governo que gerencia crises, pois


muitas vezes fica amarrado em sua incapacidade de ação – como um mediador de
conflitos e de crises institucionais, em que a fidelidade partidária significa a troca de
cargos e a garantia de influência do poder central.

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Hoje a República brasileira possui um universo de mais de 30 partidos políticos,
com bancadas representativas no congresso nacional dos mais diversos interesses
corporativos, o que se torna contrário muitas vezes aos avanços nas políticas de
inclusão social.

Bancadas representadas por interesses oligárquicos e religiosos se unem e


recriminam por diversas vezes projetos e leis que poderiam ampliar os direitos de
trabalhadores, da população indígena, rural e urbana, sem-terra e sem-teto, das
políticas em defesa das mulheres e da população LGBT, entre outros setores da
sociedade que merecem condições de igualdade.

A chamada bancada “BBB” (do Boi, da Bíblia e da Bala) é um grande


exemplo da disparidade da força de atração de interesses comuns de legislação
corporativista, que possui um enorme poder de influenciar e desestabilizar um
regime democraticamente eleito pelo voto das eleições de 2014.

A base aliada dos governos brasileiros historicamente canibaliza os ministérios e


os cargos de confiança, levando os governos a realizarem longas negociações por
apoio em praticamente todo o tempo dos mandatos.

O governo Dilma Rousseff, principalmente em seus últimos anos, precisou


negociar cada votação no Congresso Nacional, que é composto pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado. Essa situação de ingerência levou à queda o poder
de Dilma por meio de um processo de impeachment, ocasionado também por
investigações de uma operação da Polícia Federal, denominada “Lava-Jato”.

Com a movimentação dessas investigações, houve um efetivo aumento da


pressão de movimentos financiados pela iniciativa privada. Esses movimentos
contrários aos avanços das políticas sociais materializadas – e que melhoraram a
vida de milhões de brasileiros que se encontravam abaixo da linha da pobreza –,
fortalecidos pela mídia, colaboraram no processo de impeachment, que fez surgir
um novo governo, conduzindo ao poder o vice-presidente Michel Temer.

Como presidente, Temer promove uma mudança radical com uma guinada
extrema ao conservadorismo, onde prega como meta o corte dos gastos públicos,
de programas sociais e também dos incentivos às pequenas produções, seja no
setor agropecuário, pesqueiro ou ainda em programas habitacionais. Seu governo,
em sua política recessiva, prega ainda o aumento do tempo de contribuição para a
aposentadoria, bem como a redução de benefícios e direitos da classe trabalhadora.
Visando ainda reduzir sensivelmente a distribuição de renda através de cortes
no Programa Bolsa Família, numa demonstração clara de ruptura entre o novo
governo do PMDB e o antigo governo liderado pelo PT.

Essa ruptura fica clara uma vez que, junto com à reeleição do governo Dilma, foi
reeleito também um projeto social que buscou manter, e em alguns casos ampliar, o
leque de programas sociais, bem como o sistema de proteção social ancorado nas
políticas de consolidação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), tendo
o Ministério do Desenvolvimento Social um efetivo organismo governamental de
implantação desses programas.

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

Para além dos programas sociais, a nova realidade também impõe uma nova
subordinação econômica ao tradicional domínio externo do capital privado, onde
o Brasil se realinha aos seus antigos dominadores imperialistas – no casom os
Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia.
Nesse caso, as políticas de aproximação do Brasil com países como China
e Rússia também ficarão fragmentados e, com isso, perdem-se anos de construções
econômicas e vias alternativas de novos negócios brasileiros de exportação
pelo mundo.
Sendo assim, a situação do país, em meio ao momento turbulento de crise
econômica, remete ao desmonte de estruturas essenciais de combate à pobreza e
à miséria. Esse novo movimento pode gerar um retrocesso do Serviço Social, uma
vez que Michel Temer cogitou até que sua esposa possa comandar efetivamente as
políticas da Assistência Social no Brasil. Esse é um fato muito grave, uma vez que
pode significar o retorno do “primeiro-damismo” na esfera federal de governo. Essa
antiquada prática é recorrente ainda em muitos municípios do país e combatida
pelos órgãos de defesa do Serviço Social – como o Conselho Regional de Serviço
Social (CRESS) e o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). No Governo do
Estado de São Paulo, por exemplo, a primeira-dama Lú Alckmin detém o comando
do Fundo Social de Solidariedade, o que remete à prática da filantropia e do
assistencialismo das antigas senhoras conservadoras da caridade dos anos 1930.

Caracterização do Modelo de Proteção Social em Vigor no Brasil,


na Atualidade, a partir da Análise Crítica de Características
Comuns aos Vários Sistemas Constitutivos da Seguridade Social:
Seus Limites e Potencialidades
Segundo Aldaísa Sposati, o sistema de proteção social brasileiro foi analisado
sob o conceito de “Estado de Bem Estar Ocupacional”, em que “as relações de
direitos universais constitucionalmente assegurados” são substituídas pelas de direito
contratual: “É o contrato de trabalho que define, imediatamente, as condições
de reprodução do trabalhador no mundo da previdência ou no da assistência”,
cabendo à última “como mecanismo econômico e político, cuidar daqueles que
aparentemente ‘não existem para o capital’” (SPOSATI, 1991, p. 15).

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

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Historicamente, a Assistência Social no Brasil tinha, principalmente em seu
início, ações vinculadas à filantropia realizadas por grupos de mulheres da alta
sociedade que promoviam a caridade como práticas pontuais de ação solidária.

Esse tipo de ação promoveu certa qualificação dos beneficiários dessas ações
como pessoas “necessitadas”, havendo assim ações de assistência descontinuada,
e não como políticas públicas garantidoras dos direitos dos usuários a políticas
efetivas de distribuição e geração de renda.

A eventualidade dessas ações deixava a população cada vez mais dependente de


fatores políticos e arraigados às vontades das oligarquias e de uma elite cada vez
mais exploradora de cidadãos excluídos, sem garantia nenhuma do acesso dessas
pessoas à inclusão social.

Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas realizou algumas ações de


inclusão de trabalhadores a determinados benefícios sociais, como as instituições
de previdência, que nas décadas seguintes formariam o modelo de previdência
social de forma contributiva o qual hoje é conhecido.

Além desse tipo de proteção social, após a II Guerra Mundial, formou-se a Legião
Brasileira de Assistência (LBA) como estratégia de proteção social aos familiares
dos pracinhas que participaram do combate na Europa.

Esse órgão, nas décadas seguintes, seria conduzido por ações políticas pontuais
em enfrentamentos a possíveis crises sociais em locais específicos do país, como,
por exemplo, as grandes secas da região nordeste no fim da década de 1950.
Também seria utilizado para ações das primeiras-damas durante a ditadura militar,
como também no período de redemocratização, até ser envolvido em escândalos de
corrupção no governo de Fernando Collor de Mello e, posteriormente, ser extinto
no primeiro governo presidencial de Fernando Henrique Cardoso, em 1995.

A década de 1990 é um marco importante para a Assistência Social no Brasil,


uma vez que as políticas sociais passam a existir como políticas de garantias de
direito de acordo com o que estabeleceu a Constituição de 1988, de forma que
essas políticas pudessem ser definitivamente instaladas dentro de um sistema
legítimo de garantia de direitos.

Esse novo sistema de garantia social passa pelo arcabouço constituído pela
seguridade social, pela saúde e pela assistência social.

As políticas sociais nos últimos anos mudaram o cenário da situação de


desigualdade no Brasil nos últimos anos, graças à implantação da Política Nacional
da Assistência Social e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Assim, a
universalidade da Assistência Social como política pública acontece de fato, de
acordo com os artigos 203 e 204 da constituição federal.

Em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) institui a Assistência


Social como um direito do cidadão e um dever do Estado e, para tanto, faz valer
seu caráter regulatório e tende a privilegiar um modelo de atenção básica e genérica

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

aos usuários, necessitando de planejamento e de ações mais incisivos de combate


de fato à exclusão social.

A partir de 2004, no governo Lula, há a implantação da Política Nacional de


Assistência Social (PNAS) seguida da Norma Operacional Básica do Sistema Único
de Assistência Social (NOB/SUAS), em 2005 (atualizada em 2012), da Norma
Operacional Básica/Recursos Humanos (NOB/RH), em 2006, e da Resolução
109/2009, que unificariam e tipificariam as ações da Assistência, criando um
modelo único de atendimento da Assistência Social em todos os lugares do Brasil.

Tabela 1 - Benefícios e serviços públicos ofertados (2001-2014)

Benefícios, bens e serviços 2001 2014


Assistência Social
Famílias beneficiadas pelo Bolsa Família 3,6 milhões (2003) 14 milhões
Beneficiários do BPC (Benefício de
Prestação Continuada) e RMV 2,3 milhões 4,3 milhões
(Renda Mensal Vitalícia)
Previdência
Beneficiários do Regime Geral da
18,9 milhões 27,8 milhões
Previdência Social
Trabalho e Renda
Beneficiários do seguro-desemprego 4,8 milhões 8,9 milhões (2013)
Beneficiários do abono salarial 6,5 milhões 21,9 milhões (2013)
Desenvolvimento Urbano
Moradias do Minha Casa Minha Vida - 2 milhões
Desenvolvimento Agrário
R$ 2,4 bilhões R$ 24,1 bilhões
Plano Safra da Agricultura Familiar*
(2002-2003) ( 2014-2015)
Fonte: MEC, MS, MDS, Mcidades, MDA e MTE
*Plano Safra da Agricultura Familiar 2015/2016 Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2015

A tabela acima descreve um aumento considerável de pessoas assistidas pelas


políticas de assistência social.

Podemos considerar que a universalidade do atendimento deve respeitar as


especificidades de cada região e as ações socioassistenciais devem existir em todos
os municípios do país, o que acabou delineando a padronização do atendimento
social no Brasil, contribuindo para limitar casos de disparidades nas políticas da
Assistência, uma vez que existe uma normatização para todas as localidades.

Mas o que difere o SUAS da Previdência Social?

O SUAS é um sistema de assistência não contributiva universal.

Isso significa que qualquer cidadão brasileiro pode ser atendido, independente se
é trabalhador ativo, se está desempregado ou se é aposentado.

Outra diferença é que, no caso do SUAS, torna-se importante a participação da


população na fiscalização e no controle das políticas sociais.

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A Política Nacional de Assistência Social estabelece que haja no país uma rede
de serviços socioassistenciais para as famílias constituídas em territórios de alta
vulnerabilidade e risco social.

De acordo com a PNAS (2004), a proteção social deve garantir as seguranças


de sobrevivência (de rendimento e de autonomia), de acolhida e de convívio ou
vivência familiar.

As garantias da proteção social da assistência social são determinadas pela:


segurança da acolhida; segurança social de renda; segurança do convívio ou
convivência familiar, comunitária e social; além da segurança de desenvolvimento
da autonomia individual, familiar e social, segurança de sobrevivência a riscos
circunstanciais, de acordo com a recomendação da NOB/SUAS (2012).

As garantias da proteção social estão divididas entre a proteção social básica


(PSB) e a proteção social especial (PSE).

Proteção Social Básica (PSB)


É a garantia da proteção social que determina a inclusão das famílias para o
fortalecimento dos seus vínculos, inclusive em sua comunidade, tendo como o
maior fim o direito à cidadania e o acesso aos serviços públicos.

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) deve, segundo o SUAS,


desenvolver preferencialmente ações socioassistenciais de proteção social básica.
Assim, o CRAS se constitui em um equipamento público controlado pelo Estado.

Seu objetivo é contribuir para: a prevenção e o enfrentamento de situações


de vulnerabilidade social; a inclusão de grupos e/ou indivíduos em situação de
risco social nas políticas públicas, no mundo do trabalho bem como sua inclusão
social. Esse equipamento público tem como função prioritária proteger as famílias,
seus membros e indivíduos, cujos direitos fundamentais foram negados, mas que
mantêm os vínculos ou laços familiares.

Para atingir os propósitos instituídos pelo PNAS, a intersetorialidade do Estado


deve estar disponível para garantir aos usuários a efetiva proteção social dos
usuários do CRAS. Para almejar esse objetivo, o CRAS não pode estar longe e
nem se situar em locais de difícil acesso para a população.

Além disso, deve estar localizado em locais de expressiva vulnerabilidade social, o


que é fundamental para o bom atendimento e para o compromisso de atendimento
aos usuários pela equipe técnica, fator de suma importância para a implantação
do CRAS nos territórios. Dessa forma, pode-se garantir o acompanhamento dos
casos e aproximar o Estado da realidade do território.

O fato da implantação do CRAS nos territórios dos municípios garante que as


ações da Assistência Social aconteçam de forma descentralizada e permanente.

Programas vinculados à Assistência – como o Programa de Atenção Integral à


Família (PAIF), que tem como função principal a proteção à família – também são
atribuições de implantação e acompanhamento do CRAS.

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

As famílias participantes do PAIF são atendidas de acordo com os critérios


estabelecidos pelos programas de transferência de renda – como o Bolsa Família
–, mas também as pessoas com benefícios assistenciais – como o Benefício de
Prestação Continuada (BPC) –, idosos e deficientes físicos que se encontram em
condições de fragilidade social.

No PAIF, há o trabalho social desenvolvido com as famílias através do


desenvolvimento de oficinas, grupos de convivência, visita domiciliar às famílias,
colaborando assim para um acompanhamento mais amplo da inclusão social e da
conquista dos seus direitos.

Proteção Social Especial (PSE)


Trata-se da garantia social de proteção que organiza a oferta de serviços, programas
e projetos de tipificação especializada.

A Proteção Social Especial tem como meta principal a contribuição para a recons-
trução de vínculos familiares e comunitários, o fortalecimento de potencialidades e
aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações
de risco pessoal e social, por violação de direitos.

Na organização das ações de PSE, é preciso entender que o contexto socioe-


conômico, político, histórico e cultural pode incidir sobre as relações familiares,
comunitárias e sociais, gerando conflitos, tensões e rupturas, demandando, assim,
trabalho social especializado.

A atuação da Proteção Social Especial promove a utilização de recursos em


ações de prevenção e superação de situações graves de violação de direitos, como
em casos de violência física, psicológica, abandono, afastamento da vida em
família, violência sexual (casos de exploração e/ou abuso), negligência, trabalho
infantil, situação de rua, ato infracional por parte de crianças e adolescentes,
rompimento e/ou fragilização de vínculos, dentre outras situações que requerem
atenção protetiva especial.

O norteador principal da PSE tem como premissa o resgate dos vínculos dos
usuários dos serviços, tanto em relação às famílias como em novas articulações
referenciais, sempre considerando os riscos pessoais e sociais, bem como as
complexidades do território vivido.

Os serviços da Proteção Social Especial necessitam de equipes técnicas e


funcionários operacionais preparados para as especificidades de cada situação, a
qual norteará o tipo de atendimento de cada serviço.

Assim a atenção aos serviços da Proteção Social Especial possui duas


complexidades específicas:

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Proteção Social Especial de Média
e Alta Complexidade
Essa modalidade tem a função de organizar o fluxo de serviços, programas e
projetos de caráter especializado que demandam a maior estruturação técnica e
operativa, com competências e atribuições definidas, destinados ao atendimento
a famílias e sujeitos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos,
que pedem articulação com a rede social, com trabalhos de atenção especializado,
individualizado e continuado.

Os serviços oferecidos na média complexidade são:


· Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS):
Unidade pública e estatal de abrangência municipal ou regional.

Esse equipamento inclui obrigatoriamente o Serviço de Proteção e Atendimento


Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI).
· Centro de Referência Especializado para População em Situação de
Rua (Centro POP): Unidade pública e estatal de abrangência municipal.
Oferta, obrigatoriamente, o Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua.

Dentro da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais são identifi-


cados os serviços da Proteção Social Especial de Alta Complexidade:
· O Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
(PAEFI);
· O Serviço Especializado em Abordagem Social;
· O Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto (SMSE/MA), de Liberdade Assistida
(LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC);
· O Serviço de Proteção Social Especial a Pessoas com Deficiência,
Idosos(as) e suas Famílias; e
· O Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

A superestrutura de serviços e as complexidades de trabalhos na Proteção Social


Especial demandam a contratação de técnicos especialistas em funções complexas.

Em grandes cidades, como a cidade de São Paulo, muitas ONGs participam de


contratos de parceria, executando serviços sob a supervisão dos gestores públicos
da Prefeitura.

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Essas parcerias na prática demonstram a falta de condições de organização por


parte do Estado em assumir efetivamente os serviços da Proteção Social Especial.

Com o governo federal instituído em 2016, o corte de verbas pode ocasionar


uma avalanche de contratos e parcerias com as ONGs no Brasil, dentro da política
de gestão do Serviço Social. A preocupação é grande, uma vez que tais políticas
podem gerar uma oferta de serviços precários, com uma desqualificação das novas
equipes técnicas, o que pode levar à perda da excelência de qualidade dos serviços
destacados pelo SUAS até aqui.

Uma outra grande preocupação é a intenção de um provável governo conservador


deixar as garantias e os direitos sociais de lado em detrimento de outras políticas,
desarticulando o SUAS e as redes de articulação e proteção da Assistência Social.

Na parte que toca na questão da seguridade social, historicamente, o acesso


ao trabalho sempre foi condição para garantir o acesso à seguridade social. A
seguridade social brasileira, instituída com a Constituição brasileira de 1988,
incorporou princípios dos modelos bismarckiano (alemão) e beveridgiano (inglês),
ao restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizando a saúde
e limitando a assistência social a quem dela necessitar.

Os direitos da seguridade social, sejam aqueles baseados


no modelo alemão bismarckiano ou aqueles influen-
ciados pelo modelo beveridgiano inglês, têm como
parâmetro os direitos do trabalho, visto que desde sua
origem esses assumem a função de garantir benefícios
derivados do exercício do trabalho para os trabalhadores
que perderam, momentânea ou permanentemente, sua
capacidade laborativa.

Por isso, muitos trabalhadores desempregados não têm acesso a muitos direitos
da seguridade social, sobretudo à previdência, visto que essa se move pela lógica
do contrato ou do seguro social.

Se a ameaça das políticas neoliberais chegarem ao nível máximo, a luta dos


profissionais da comunidade acadêmica do Serviço Social e de demais trabalhadores
da Assistência Social, juntamente com a população, deve ser efetiva pela manutenção
e ampliação dos direitos sociais no país, uma vez que seria evidenciado um duro
retrocesso e a volta do conservadorismo no comando das Políticas Sociais no Brasil.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre o assunto, recomendamos que você assista ao
vídeo da palestra da Professora Aldaíza Sposati. O vídeo discute os desafios da Proteção
Social no Brasil. O link desse filme pode ser encontrado no material complementar para
atividades de aprofundamento.

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Em Síntese Importante!

Atualmente o Serviço Social desafia a ordem vigente e coloca como sua meta de ação o
trabalho dialético entre os sujeitos, considerando as relações sociais em que se inserem
os trabalhadores e indo além, definindo marcos e conceitos que permitam a construção
de uma sociedade que viva em um sistema que só é possível e imaginável com o fim da
relação capital/trabalho da forma como conhecemos nos dias atuais
Enquanto essa perspectiva parece distante, o Assistente Social deve lutar pela sua
valorização contínua, enquanto sujeito técnico da classe trabalhadora, que, em sua ação
do dia a dia, preserva sua integridade ética e contribui para a conscientização do sujeito
em sua transformação social diante das condições desfavoráveis que esse mesmo sujeito
encontra no momento do atendimento.
De acordo o ideário neoliberal, o interesse por políticas de inclusão e geração de renda
não vão ao encontro dos interesses do capital especulativo, uma vez que a prática das
políticas sociais não almeja o lucro para o investidor que exige o retorno de um Estado
que vise ao enxugamento de gastos e que honre primeiramente com os débitos de
seus credores.
As políticas sociais nos últimos anos mudaram o cenário da situação de desigualdade no
Brasil dos últimos temos, graças à implantação da Política Nacional da Assistência Social
e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).
As garantias da proteção social da assistência social são determinadas pela: segurança
da acolhida; segurança social de renda; segurança do convívio ou convivência familiar,
comunitária e social; além da segurança de desenvolvimento da autonomia individual,
familiar e social, segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais, de acordo com a
recomendação da NOB/SUAS (2012).
As garantias da proteção social estão divididas entre a proteção social básica (PSB) e a
proteção social especial (PSE).
A Proteção Social Básica é a garantia da proteção social que determina a inclusão das
famílias para o fortalecimento dos seus vínculos, inclusive em sua comunidade, tendo
como o maior fim o direito à cidadania e o acesso aos serviços públicos.
A Proteção Social Especial tem como meta principal a contribuição para a reconstrução
de vínculos familiares e comunitários, o fortalecimento de potencialidades e aquisições
e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de riscos
pessoais e sociais, por violação de direitos.
A seguridade social brasileira, instituída com a Constituição brasileira de 1988,
incorporou princípios dos modelos bismarckiano (alemão) e beveridgiano (inglês) ao
restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizando a saúde e
limitando a assistência social a quem dela necessitar.

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UNIDADE Políticas Sociais e Questões Contemporâneas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil
Darci Ribeiro
https://goo.gl/pQoEpp
Direitos Sociais e Competências Profissionais
ABEPSS
https://goo.gl/u6tgHQ
Proteção Social no Brasil: Impactos Sobre a Pobreza, Desigualdade e Crescimento
Marilda Iamamoto
https://goo.gl/yi2HiE

 Vídeos
Crise do neoliberalismo
Programa Brasilianas.org
https://goo.gl/9VeLwr
Palestra com o Professor José Paulo Netto
Formação profissional na consolidação do projeto ético-político do Serviço Social
brasileiro: fundamentos, resistências e desafios conjunturais – Professor José Paulo Netto
https://goo.gl/uQe1DG
Aldaíza Sposati - Os desafios da Proteção Social
https://goo.gl/ZureE3

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Referências
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 6. ed.
São Paulo: Cortez, 2009.

BEMERGUY, E. Governos petistas e a inovação da gestão pública. Revista Teoria


e Debate, n. 141, out. 2015. Disponível em: <http://www.teoriaedebate.org.br/
index.php?q=materias/nacional/governos-petistas-e-inovacao-da-gestao-publica>.

BUCHER, R. Drogas e Drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Medicas, 1992.

DORNELLES, D. F.; CAMARGO, M. Serviço Social e Meio Ambiente: um


diálogo em construção. Frederico Westph: Uri, 2005.

KOGA, D.; FAVERO, E.; GANEV, E. Cidades e Questões Sociais. São Paulo:
Terracota, 2009.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA


E A CULTURA. Concepção e gestão da proteção social não contributiva
no Brasil. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
UNESCO, 2009. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/
publicacao/assistencia_social/Livros/concepcao_gestao_protecaosocial.pdf>.

RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São


Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SADER, E. S. Pós-Neoliberalismo: as Políticas Sociais e o Estado Democrático.


São Paulo: Paz e Terra, 2010.

SILVA, M. O. S.; YAZBEK, M. C. A Política Social Brasileira no Século XXI: a


prevalência dos programas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

SIMOES, C. Curso de Direito do Serviço Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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