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Se, para os filósofos e estudiosos da Antiguidade o riso é um traço que distingui o homem dos outros
animais (o homem é o único animal que ri), para a teologia medieval o riso é o que distingue o
homem de Deus. O fato de que nenhuma passagem bíblica atesta o riso de Cristo reforça a
aproximação de riso ao pecado. Grosso modo, sob a ótica medieval, o riso é, portanto, condenável. O
filme "O nome da rosa", baseado na obra homônima de Umberto Eco, revela esta visão do riso como
algo insidioso, que deveria ser evitado. (FRANÇA, 2006, p. 24).
“ O Tribunal da inquisição levava muitos heréticos a execução pública. Os rituais de execução pública
podiam ser vistos como uma forma de controle social, já que havia um consenso da comunidade
quanto á perversidade do crime. No entanto, esse conceito se aplica a pequenas comunidade, pois, nas
maiores, grupos se utilizavam desses rituais para controlar outros grupos. (BURKE, 2010)”.
Outro acontecimento importante foi uma personagem camponesa que foi condenada
pela santa inquisição por que ela tinha um gato e uma galinha preta, que induziu o
pensamento dos Ínquisidores de que ela fazia rituais satânicos. Ocorre então uma
diabolização da mulher, que passa a ser representada centralmente como a descendente
de Eva, símbolo do pecado e da tentação(DELUMEAU, 1990).
Entretanto a realidade da personagem era outra, em que ela precisava sexualizar seu
corpo em troca de alimentos,e por essa razão foi encontrada com os animais.
“Vejamos o exemplo de Petrarca neste texto escrito no século XIV: A mulher (...) é um verdadeiro
diabo, uma inimiga da paz, uma fonte de impaciência, uma ocasião de disputas das quais o homem
deve manter-se afastado se quer gozar a tranqüilidade (...) Que se casem, aqueles que encontram
atrativo na companhia de uma esposa, nos abraços noturnos, nos ganidos das crianças e nos tormentos
da insônia (...). Por nós, se está em nosso poder, perpetuamos nosso nome pelo talento e não pelo
casamento, por livros e não por filhos, com o concurso da virtude e não com o de uma mulher
(DELUMEAU, 1990, p. 319)”.
Tendo tudo isso em vista ao passar dos séculos os pensamentos foram mudando e
evoluindo a medida que descobriram através de estudos científicos outras formas de
ver as situações que ocorreram. Somente no século XVIII “ a ciência médica deixou
de olhar o orgasmo feminino como importante para a reprodução, reforçando a idéia
de que o homem estaria mais ligado ao sexo e a mulher á maternidade e ao afeto”
(NUNES, 2000, p. 41-42).
“ O riso faz parte das resposta fundamentais do homem confrontado com sua existência. O objetivo
deste livro é reencontrar as maneiras como ele faz uso dessa resposta ao longo da história. Exaltar o
riso ou condená-lo, colocar o acento cômico sobre uma situação ou sobre uma característica, tudo isso
revela as mentalidades de uma época, de um grupo, e sugere sua visão global do mundo. Se o riso é
qualificado ás vezes como diabólico, é porque ele pôde passar por um verdadeiro insulto á criação
divina, uma espécie de vingança do diabo, uma manifestação de desprezo, de orgulho, de
agressividade, de regozijo com o mal. A civilização cristã, por exemplo, fica pouco á vontade para dar
lugar ao riso, ao passo que as mitologias pagãs lhe conferem um papel muito mais positivo”.(MINOIS,
G, P. 19)
Material bibliográfico:
PINSKY, J. et al. O Ensino da História e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 2009.
PILETTI, N; PILETTI, C. História & Vida. Da Idade Moderna a atualidade. São Paulo: Ática, 1995.
BURKE, P. Cultura Popular na Idade Moderna.São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
NUNES, Silvia Alexim, O corpo do diabo entre a cruz e a caldeirinha. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000, p.255.