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Lirismo

galego-português
D. Afonso Henriques
na Batalha de
Ourique, 1139.
Manuscritos
Cancioneiro da Ajuda
(Colégio dos Nobres -
Biblioteca da Ajuda), 310
composições, quase que a
totalidade de Cantigas de
Amor
Cancioneiro da Biblioteca Nacional ou Colocci-Brancutti
Cantigas de Santa Maria
Corte de D. Afonso X
Esta dezẽa é de loor de Santa Maria,
com’ é fremosa e bõa e á gran poder.

Rosa das rosas e Flor das flores,


Dona das donas, Senhor das senhores.

Rosa de beldad’ e de parecer Devemos-la muit’ amar e servir,


e flor d’alegria e de prazer, ca punha de nos guardar de falir;
Dona en mui piadosa seer, des i dos erros nos faz repentir,
Senhor en tolher coitas e doores. que nos fazemos come pecadores.

Rosa das rosas e Flor das flores, Rosa das rosas e Flor das flores,
Dona das donas, Senhor das senhores. Dona das donas, Senhor das senhores.

Atal Senhor dev’ home muit’ amar, Esta dona que tenho por Senhor
que de todo mal o pode guardar; e de que quero seer trobador,
e pode-lh’ os pecados perdõar, se eu per ren poss’ haver seu amor,
que faz no mundo per maos sabores. dou ao Demo os outros amores.

Rosa das rosas e Flor das flores, Rosa das rosas e Flor das flores,
Dona das donas, Senhor das senhores. Dona das donas, Senhor das senhores.
Cantigas de
Amor

A coita d’amor
D. Diniz I – trovador
Rainha Santa Isabel de
Aragão
Tópicos presentes

Contradições: sociedade teocrática (ideal que canalizava a fervorosa


religiosidade medieval) – verdadeiro culto prestado à mulher
(sublimação da mulher);
Enumeração das virtudes e das graças corporais: mesura, prez,
formosura, riqueza;
O amor não é mais uma enfermidade dos sentidos, um desequilíbrio, mas
um transporte espiritual que sobrevoa a realidade física e uma via de
salvação (morrer de amor)
Sofrimento por amor (Coita d’amor)
Mulher (elo entre o humano e o divino) – é por meio da beleza feminina
que o amor supremo (o Espírito) toca o coração do homem.
Preguntar-vos quero por Deus
senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom prez,
que pecados forom os meus
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.

Pero sempre vos soub'amar


des aquel dia que vos vi,
mais que os meus olhos em mi,
e assi o quis Deus guisar, - destinar
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.

Des que vos vi, sempr'o maior


bem que vos podia querer
vos quigi, a todo meu poder, (vos quis, o + que pude)
e pero quis Nostro Senhor
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.

Mais, senhor, ainda com bem


se cobraria bem por bem. D. Diniz I – trovador
Cantigas de Amigo Par Deus, coitada vivo:
pois non ven meu amigo;
Pero Gonçalvez Portocarrero pois non ven, que farei?
meus cabelos, con sirgo – fio de seda
eu non vos liarei - atar.

Pois non ven de Castela,


non é viv’, ai mesela, - miserável, desgraçada
ou mi-o deten el-rei:
mias toucas da Estela,
eu non vos tragerei.

Pero m’eu leda semelho, (ainda que eu pareça alegre)


non me sei dar conselho; - remédio, solução
amigas, que farei?
en vós, ai meu espelho,
eu non me veerei.

Estas dõas mui belas – dádivas, presentes


el mi-as deu, ai donzelas,
non vo-las negarei: - esconder
mias cintas das fivelas,
eu non vos cingerei.
Cantigas de Escárnio e maldizer

Cantigas d’escarneo som aquelas que os trovadores fazem querendo


dizer mal d’algue em elas, e dizen-lho per palavras cubertas que ajam
dous entendymentos pera lhe-lo non entenderen… ligeyramente; [...] e
estas palavras chaman os clérigos hequivocatio. E estas cantigas se
podem fazer outros y de meestria ou de refran (LANCIANI; TAVANI, p.
12-13).

Cantigas de maldizer son aquela que fazen os trovadores…


descubertamente. E elas entran palavras que queren dizer mal e nona ver
outro entendimento se non aquel que querem dizer chãamente. [...] .
(IDEM)
Os vossos meus maravedis, senhor, moeda do século XIII
que eu non ôuvi, que servi melhor
ou tan ben come outr’a que os dan,
ei-os d’aver enquant’eu vivo for,
ou a mia mort’, ou quando mi os daran?

A vossa mia soldada, senhor Rei,


que eu servi e serv’e servirei,
com’ outro quen quer a que dan ben, outro qualquer
ei-a d’aver enquant’ a viver ei,
ou a mia mort’, ou que mi faran en? Disso/disto

Os vossos meus dinheiros, senhor,


non pud’eu aver, pero servidos son, Embora
Come outros, que os an de servir, (não pude haver) como outros os
ei-os d’aver mentr’eu viver, ou pon houveram, que ainda não os serviram
mi-os a mia mort’ o a que os vou pedir? (ainda não justificaram esse
pagamento)
Ca passou temp’ e trastempados son, Mentre – enquanto
ouve an’e dia e quero-m’ en partir. Trastempados – fora de prazo
an’e dia - contrato medieval (um ano e
(Gil Pérez Conde, CBN 1524). um dia)
Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado - de Braga (deposição de D. Sancho II)
porque fiz lealdade: enganou-mi o pecado. - demônio
Soltade-m', ai, senhor, - libertai-me da excomunhão
e jurarei, mandado, que seja traedor. - jurarei voluntariamente obrigado

Se traiçom fezesse, nunca vo-la diria; - entrega pelos alcaides dos castelos à Afonso III
mais, pois fiz lealdade, vel por Santa Maria,
soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per mia malaventura, tivi um castelo em Sousa


e dei-o a seu don'e tenho que fiz gram cousa.
Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per meus negros pecados, tive um castelo forte


e dei-o a seu dono, e hei medo da morte.
Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

(Diego Pezelho – CBN 1592)


A donzela de Biscaia
Ainda mi a preito saia
De noit’ou luar!

Pois m’agora assi desdenha,


Ainda mi a preito venha
De noit’ou luar!

Pois dela sõo maltreito,


Ainda mi venha a preito
De noit’ou luar!

(Rui Pais de Ribela, CBN 1435)

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