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Breve análise dos poemas de José Craveirinha – Leonardo

Silva Rocha (Universidade Federal de São Paulo)

Vemos, no primeiro poema de Craveirinha chamado “Ninguém”, uma


denúncia à exploração do trabalhador e as condições precárias de segurança
no trabalho, sobretudo aos trabalhadores negros. O texto mostra esses
aspectos no próprio título, pois, no decorrer dos fatos o acidente com dois
trabalhadores negros é anunciado com descaso pelo empreiteiro.
No segundo poema “Pena”, notamos um enunciador que argumenta contra o
entendimento de se chamar alguém de negro como uma ofensa, o eu lírico
demonstra orgulho de ser negro e diz ter pena de quem o chama assim
pensando que o ofende.
O terceiro poema “Meu preço” tem a desigualdade social como temática e
reivindica o acesso à educação, moradia e alimento. O eu poético cobra do
estado o que lhe é tirado mesmo entregando seu esforço ao país. A voz de um
trabalhador que ajuda a construir e manter as riquezas da nação, mas não vê a
riqueza destas sendo partilhadas com todos é o que mais se evidencia nesse
texto de Craveirinha.
José Craveirinha surgiu com textos publicados na imprensa nos jornais dos
irmãos Albasini que se destacavam por apresentar um discurso contra
hegemônico e africanista, defendendo os interesses dos trabalhadores e os
poemas de Craveirinha ecoam esses mesmos posicionamentos políticos e
humanitários, como confirma José Capela:
[...] Quando uma consciência individual e colectiva marcadamente eurocêntrica
dominava as classes que protagonizavam a vida social local, os jornais de João
Albasini jamais deixaram de se manter na primeira linha de defesa dos africanos
enquanto trabalhadores e enquanto pessoas.

Referências:
CAPELA, José. A imprensa de Moçambique até à Independência. In: RIBEIRO,
Fátima; SOPA, António (coord.). 140 anos de imprensa em
Moçambique: estudos e relatos. Maputo: Associação Moçambicana da Língua
Portuguesa, 1996. p. 13-14.

Cela 1. Maputo: Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980, p. 43.

Cela 1. Maputo: Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980, p. 62.

CRAVEIRINHA, José. Obra Poética I, Edit. Caminho, 1999. p. 92.

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