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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE INGLÊS COM HABILITAÇÃO EM PORTUGUÊS

Aissa Sulemane Amade Cassamo Mabelane


Costa Carlos Vassele
Esaú Francisco Salazar
Dan Mulewa

Quelimane
2021
AISSA SULEMANE AMADE CASSAMO MABELANE
Costa Carlos Vassele
Esaú Francisco Salazar
Dan Mulewa

Wh-Clause

Assignments submitted in the Department of Letters


and Humanities. In Syntax II subject,

Lecturer: Manuel Jossias

Quelimane
2021
Índice

1. Introdução............................................................................................................................4
2. Objectos...............................................................................................................................4
2.1. Gerais...........................................................................................................................4
2.2. Específicos...................................................................................................................4
3. A poesia de José Craveirinha...............................................................................................5
3.1. Vida e obra de José Craveirinha...................................................................................5
3.2. Fases poéticas...............................................................................................................6
3.2.1. 2ª Fase...................................................................................................................6
3.2.2. 3ª Fase...................................................................................................................6
3.2.3. 4ª Fase...................................................................................................................7
3.3. Características gerais....................................................................................................7
4. Vida e obra de Noémia de sousa.........................................................................................8
4.1. Msaho-uma Voz efémera.............................................................................................8
4.2. A voz efémera que pertence: Noémia de Sousa.........................................................10
4.3. Poemas de Noémia de Sousa......................................................................................11
4.4. Principais características da sua poesia......................................................................11
4.5. Alguns exemplos sintomáticos da sua poesia............................................................12
Conclusão..................................................................................................................................15
Bibliografia...............................................................................................................................16
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1. Introdução

O presente trabalho intitulado fases poéticas de José Craveirinha e a poesia de Noémia


de Sousa, visa a trazer as principais fazes peticas desde o neo-realismo, negritude,
Moçambicanidade assim como Libertação, como sendo as fazes que marcaram a poesia
moçambicana. Contudo, importamos trazer também os paradigmas poéticos bem como as
características gerais da poesia segundo Craveirinha. Não obstante iremos também abordar
acerca da poesia de Noémia de Sousa onde iremos nos focas nas principais características da
sua poesia.

2. Objectos

2.1. Geral

 Conhecer as fases das poéticas segundo José Craveirinha assim como a poesia de
Noémia de Sousa;

2.2. Específicos

 Identificar as fases poéticas, segundo José Craveirinha;


 Analisar as fases poéticas e as suas principais características e
 Descrever a Poesia de Noémia de Sousa
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3. A poesia de José Craveirinha

3.1. Vida e obra de José Craveirinha

De acordo com Pires Laranjeira (1995:278), José Craveirinha foi um poeta


nacional moçambicano. A sua poesia frequentemente extensa, narrativa, glosando
temáticas da dominação colonial, da identidade nacional de lirismo amoroso ou
irónico, Craveirinha acaba por forjar textos u tem marcas épicas, u funcionam como
relatos concretos ou alusões a gesta do povo de Moçambique.

José Craveirinha, nasceu no bairro da Mafalala, em Maputo, em 28 de Maio de


1922. Devido as suas actividades politicas, esteve preso pela PIDE/DGS (Policia
política portuguesa), d 1965 a 1969. Trabalhou na maior parte da sua vida como
jornalista, passando pelo Noticias, O Brado Africano, A Tribuna, Noticias da Beira, O
Jornal e Voz de Moçambique. Publicou um bom número de poemas em jornais e
revistas. Ganhou vários prémios literários, o ultimo dos quais o premio Camões
(1991), que e atribuído, anual rotativamente, pela Presidência da República
Portuguesa, a um escritor de país de língua portuguesa. Foi o primeiro presidente da
Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), organização fundada após a
independência do país.Tem poemas traduzidos em várias línguas está incluído em
variadíssimas antologias. Publicou as seguintes obras:

Chigubo (1964), 2ª d., Xigubo (1980), A primeira edição, não controlada pelo
autor, da responsabilidade de CEI, incluía apenas 13 poemas, enquanto a 2ª edição
considerada integral pelo autor, já contava com pelo menos 21. Uma colectânea
anterior intitulada Manifesto, foi concurso em 1962 da poesia de CEI, que ganhou,
correspondendo quanto aos poemas, depois ao livro de 1964. O poema «Sangue da
minha mae » passa depois para o livro Karingana wa karingana. O poema de 1966,
Cantico a un dio de cantare, de edição bilingue ( português e italiano), da
responsabilidade de Joyce Lusso, com inéditos, feita também a revelia do autor.

Karingana ua karingana de 1974, selecção efectuada pelo editor, 2ª edição


(1982), definitiva, revista pelo poeta. Cela 1 (1980), poemas da prisão, ao jeito de quê
escreveram os angolanos António Jacinto e António Cardoso. Maria (1988). Poemas
dedicados à falecida mulher, selecção de entre muitas e muitas dezenas, conforme a
informação do autor. Livros estes que não representam a obra do autor embora possam
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ser representativos das suas tendências. Escritos fundamentalmente para a gaveta, sem
que o mesmo se preocupe com a carreira literária. De recordar que antes da
independência eram muito difíceis de publicar, sobretudo textos com ideologias de
revolta, liberdade e independência.

3.2. Fases poéticas

Quanto as fases poéticas da obra de José Craveirinha, destacam se, Neo-


realismo, Negritude, moçambicanidade e libertação. Na fase do Neo-realismo, esta
que é a primeira, implicando uma tradição poética narratividade de que é flagrante a
primeira parte do livro Karingana ua karingana, justamente datada de 1945-50 e
intitulada «Fabulário». Apresenta poemas com versos curtos. Cada poema é como um
quadro pictórico, (uma cena, um ambiente, um tema). O «Fabulário» alude por outro
lado à tradição, popular, ancestral, tribal, de contar fábulas, este com personagens
humanas dentro, emersas em dramas sociais e pessoais. Há uma denúncia em moldes
alusivos, expositivos em linguagem descarnada, não propiamente contundente.
Existindo por outro lado a composição do tema, a imagética, voltadas para uma
finalidade unívoca, baseadas em meios simples, apresentados sem grande elaboração,
denunciando uma fase cronológica ainda algo incipiente.

3.2.1. 2ª Fase

Os poemas apresentam versos de média ou mais extensa medida, com a


Negritude expressa com timidez em Chigubo (1964), e Cântico (1966). Os
predicadores, os predicatórios e os predicatados, são em geral negros. A revolta e a
renúncia agressiva pontificam. O «Msnifesto» ou o «Grito negro» mostram como a cor
e a raça negras, como grupo étnico, comandam a visão dos predicadores que se
enaltecem e têm orgulho nas suas raízes negras, africanas.

3.2.2. 3ª Fase

Caracteriza se pela expansividade dos poemas mais longos e dos muito longos,
em que o humor e a ironia desempenham papel decisivo, sendo bastante clara a
interrogação sobre a identidade dos predicadores, suas origens e herança cultural.
Fazendo alusão a Moçambicanidade e identidade nacional, de que as 2ª e 4ª partes
Karingana ua karingana, respectivamente intituladas, Karingana ua karingana e
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«Tingolé», são emblemáticas. A «Carta ao meu belo pai ex-emigrante», demostra


todas essas possibilidades de interrogar-se e interrogar o que é ser-se moçambicano.

3.2.3. 4ª Fase

Esta, fase da libertação, de que resultam dois livros diferentes, sendo um de


poemas da prisão, escrito ainda antes da independência, em reclusão, mas
paradoxalmente respirando liberdade. Anote-se um exemplo de absoluta liberdade sob
o peso do cadafalso: " Foi assim que eu subversivamente/clandrstinizei o
governo/ultramarino português". O outro livro de homenagem à falecida mulher, é
elegíaco como o anterior, de textos curtos, expondo um sentimento, um ambiente, uma
ideia, um episódio, uma circunspecção, concretude e lirismo, por vezes com
pormenores que iluminam o tom de cerrado desânimo.

Já nos poemas de Cela 1, explodem os adjectivos craveirínhicos na sua


opulência paradoxal: " E a consternação/deste nervo incendia as crias/unhas
imperecíveis na desbotada ganga/da noite ultriz voluptuosa/a pão e água". Como se o
luxo adjectival superasse a solidão celular. Depois mantem-se a irreverência que o
leva a escrever um poema como «Tanjarinas» (1982-1984), de frontal crítica ao status
político e administrativo, à corrupção e à guerra.

3.3. Características gerais

De acordo com Pires Laranjeira, as características gerais da obra de


Craveirinha podem resumir-se da seguinte maneira: Neo-realismo; narratividade;
adjectivação luxuriante; ironia; elementos surrealizantes; Negritude;
moçambicanidade.

Tendo como temas fundamentais: a escravatura; raça; crítica a civilização


ocidental; vitalismo; sensualidade; revalorização da tradição negra; culto da natureza;
animação; etc. Recorrendo aos modelos da Black Renaissance, Negritude e Neo-
realismo, no intuito de construir uma identidade poética moçambicana. No entanto
existem alguns elementos imprescindíveis na análise dos dez poemas que se
consideram significativos da obra de Craveirinha. O «Manifesto» (poema
programático, posição originária, assunção ideológica e cultural), em que se louva o
corpo negro, realçando particularidades morfológicas; louvor da cultura tradicional,
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étnica; exaltação do predicador; marcação topográfica, geografia cultural, do espaço


moçambicano; Negritude; inspiração no modelo dos manifestos políticos ou culturais.

Pires Laranjeira afirma ainda que, em «Hino da minha terra», encontramos um


bom exemplo de exacerbação da referencialidade toponímica, cerca de (60
topónimos), demarcando a territorialidade da terra moçambicana; simbolização do
país (pré-país); louvor da cultura étnica, do homem natural; Moçambicanidade, «áfrico
País», em que a palavra país está escrita com a inicial maiúscula, numa altura em que
Moçambique ainda era colónia portuguesa, subvertendo o estatuto administrativo,
logo, político, do território, dando a entender a criação de um espaço imaginário novo.

«Xigubo» marcado por um discurso assertivo e reivindicativo, a africanidade, a


Negritude, a recusa da ideia de "civilização europeia" e a "civilização ocidental" e os
exemplos copiosos dos factos positivos e negativos da história e da política ocidentais,
e não só, como o Ku-Klus-Klan, Hitler, a bomba atómica, Joana d'Arc, Gandhi ou
Marx aparecem no poema "África".

4. Vida e obra de Noémia de sousa

De acordo com (Ferreira, 1997, p. 83) Noémia de Sousa (Carolina Noémia,


Abranches de Sousa Soares; nasceu em Lourenço Marques aos 20 de Setembro de
1926, no Maputo.) foi casada com poeta Gualter Soares. Elemento activo da sua
geração na formulação de uma poesia radicalmente moçambicana, exerceu profunda
influência nos jovens poetas da década 50. Em 1964 partio para Paris trabalhando no
consolado de Marrocos e, em Lisboa de cerca de 1975, funcionária da ANOP.

4.1. Msaho-uma Voz efémera

Para (Laranjeira, 1995, p. 268) o jornal cultural, poético, intitulado Msaho


(1952), tinha como objectivo, à maneira da angolana Mensagem (1951-52), criar
condições para a produção e promoção da literatura moçambicana sendo perspectivas
da moçambicanidade (nativismo, telurismo, casticismo, etc.), sem o lirismo
abstraccionista ou sentimental fosse postergado. Os editores eram Virgílio de Lemos,
Domingos de Azevedo e Reinaldo Ferreira, brancos.
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Após a leitura o grupo percebeu que, o jornal cultural, poético, intitulado


Msaho (1952), tinha como objectivo, à maneira da angolana Mensagem (1951-52),
criar condições para a produção e promoção da literatura moçambicana segundo
perspectivas de moçambicanidade (nativismo, telurismo, casticismo, etc.), sem que o
lirismo abstraccionista ou transcendental fosse postergado. Os editores eram Virgílio
de Lemos, Domingos de Azevedo e Reinaldo Ferreira, brancos. O primeiro vive,
desde há muito, em França, onde é jornalista. O último, já falecido, português, filho do
célebre Repórter X (jornalista da primeira metade do século), merece, por direito
próprio, um lugar na história da poesia portuguesa. Azevedo, passou episodicamente
por Moçambique.

Para além de Orlando Mendes, a viver em Portugal desde 1944, para poder
estudar na Universidade, o qual publicou as «Cinco poesias do mar Indico» na seara
Nova (1947), é fundamental compreender que a escrita dos 43 poemas do caderno
policopiado Sangue Negro, de Noémia de Sousa, nos anos de 1948-51, em Lourenço
Marques integrada no grupo intelectual que englobava portugueses residentes
(Augusto do Santos Abranches, João Fonseca Amaral, Afonso Ribeiro. Cordeiro de
Brito e outros) e moçambicanos (Noémia, Craveirinha Virgílio de Lemos), transforma
radicalmente a percepção da literatura que se fazia em Moçambique, passando a haver,
de imediato, nesses e noutros círculos (de Angola e Portugal), a ideia clara de que a
moçambicanidade sem ambiguidades acabava de nascer.

Dos poemas de Noémia de Sousa foram seleccionados para a Mensagem


angolana, «sangue negro» e «Negra», que haviam saído, respectivamente, em 1949 e
50, na revista. Nítida intencionalidade negrista, negróide, determinando a irrupção da
Negrito naquela latitude. O texto de apresentação, da autoria de Craveirinha,
considera-a «o primeiro poeta verdadeiramente moçambicano no alto sentido da sua
poesia pelo nascimento», saudando na conterrânea a «herança negra» e exactamente a
consciência de estar a lançar os fundamentos decisivos da poesia moçambicana.
Podem tomar-se essas palavras como uma alusão aos poetas Rui de Noronha e
Reinaldo Ferreira, do primeiro conhecendo-se somente poemas de técnica
perfeccionista, segundo o modelo clássico, ainda que, num ou noutro caso, pudesse
apresentar uma imagética africanizante, como em «Quenguelequeze».
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Craveirinha considera Noémia, nesse texto mensageiro, uma poetisa


verdadeiramente moçambicana, com uma «mensagem única rescendendo a seiva de
cajueiro e micaias quando ele diz nossa voz shipalapala» e o «mocharisse dja pela
dambo» (pássaro que na hora do crepúsculo solta o seu mais belo canto), devido a sua
«devoção e orgulho de África», porque a sua poesia é «cem por cento africana», e «os
seus poemas é ela cantando para a sua mãe África» e todos os seus «irmãos de
destinos». Sem equívocos, Craveirinha especifica o porque da africanidade e
moçambicanidade de Noémia, invocadora em relação à poesia mais universal e
cosmopolita dos antecessores.

4.2. A voz efémera que pertence: Noémia de Sousa

Assim, o caderno Sangue negro foi entregue aos promotores da mensagem, em


Luanda, por um intermediário ou quando a autora por lá passou, em 1951, a caminho
da Europa. De imediato, o impacto desses 43 poemas foi enorme tendo António
Jacinto recordado, há poucos anos, o fascínio que despertam, indicando a via pela qual
a própria poesia angolana poderia seguir: a valorização de herança negra e a revolta
contra a dominação colónia. O impacto dos poemas propagou-se à Casa dos
Estudantes do império. Noémia de Sousa nunca publicou qualquer livro, para além
desse caderno policopiado, de divulgação clandestina, pois nem todos os textos
poderiam circular sem problemas. Uma parte dos poemas foi saindo em jornais,
revistas e colectâneas, nomeadamente em o Brado Africano, itinerário, vértice,
revistas e Mensagem (CEI) e nas mostras antropológicas levadas a cabo, em revista, e
revista, ou livro, por Mário de Andrade (1953, 1954, 1956, 1969, etc.)

A poesia de Noémia de Sousa situa-se na intersecção do Neo-realismo com a


Negritude. Embora a poesia não conhecesse a Négritude francófona quando escreveu
os poemas (segundo o seu testemunho), a especifica situação colónia de Moçambique,
mais dada à descriminação racial do que Angola, e o seu conhecimento de língua
francesa e inglesa, permitiram que as mesmas fontes (Black Renascence e norte-
americana Indigenista haitiano e negrismo cubano), associadas a divulgação do Neo-
realismo e do Modernismo em Moçambique, originassem um discurso de Negritude
intuitiva.

Segundo o trecho acima deu a entender que Dois poemas de Noémia de Sousa
foram seleccionados para a Mensagem angolana, «Sangue Negro» e «Negra», que
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haviam saído, respectivamente, em 1949 e 50, na revista Vértice. Nítida


intencionalidade negrista, negróide, determinando a irrupção da Negritude naquela
latitude. O texto de apresentação, da autoria de Craveirinha, considera-a «o primeiro
poeta verdadeiramente moçambicano no alto sentido da sua poesia e pelo
nascimento», saudando na conterrânea a «herança negra» e exactamente a consciência
de estar a lançar os fundamentos decisivos da poesia moçambicana. Podem tomar-se
essas palavras como uma alusão aos poetas Rui de Noronha e Reinaldo Ferreira, do
primeiro conhecendo-se somente poemas de técnica perfeccionista, segundo o modelo
clássico, ainda que, num ou noutro caso, pudesse apresentar uma imagética
africanizante, como em «Quenguelequêze!...». O segundo, nascido em Barcelona
(filho do célebre Repórter X), alinhava por uma estética devedora especialmente do
presencismo. Ambos como se nunca tivesse existido a revolução futurista (sobretudo o
segundo) e, em relação a África, como se ela não pudesse ultrapassar, na poesia, o
papel de cenário étnico ou de fantasma expulso, quando não inconvocado.

4.3. Poemas de Noémia de Sousa

Tornar-se-ia imprescindível conhecer a organização caderno se fosse


obrigatório a organização integral da obra! Os poemas a seguir: «Nossa voz,
Biografia, Munhuana 1951, livro de João e sangue negro» representa melhor a poesia
de Noémia de sousa e a sua africanidade e moçambicanidade tornando-se consagrado
os seus mais divulgados e conhecidos poemas: «nossa voz, se me quiseres conhecer
deixa passar o meu povo, magaiça, negra, um dia, poema para Rui de Noronha,
Godido, hibillie holliday cantora, e sangue negro 2».

A poesia de Noémia de sousa se organiza num discurso organizado, exaltado,


pleno de emoção. Assim, a enunciação caracteriza-se por uma relação de permanente
de algo e interpretação entre o locutor e o alocutário. As expressões interjeccionais, as
exclamações, as reticencia, os vocativos e apelativos, e outros recursos de
proximidade entre os interlocutores da enunciação, tipificam um discurso não
analítico, não tão distanciado do objecto como, por exemple o de agostinho neto.

4.4. Principais características da sua poesia

«Nossa voz é dedicada a José Craveirinha». De imediato, salta à vista o vincado


anaforismo da retoma do título no corpo do texto. Essa entrada sublinha a
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preponderância da voz colectiva, por sua vez a voz figurando se sinedoquicamente os


corpos das pessoas do povo. Repara-se, logo no primeiro verso, numa característica de
vocabulário de Noémia de Sousa, que pode entender-se cedência a superficialidade do
estereótipo africanistico herdado do exotismo da literatura colonial: o uso dos
qualificativos «bárbara, aqui aplicado a voz eu reaparecera em sangue negro».
Laranjeira (199 p. 270)

A poesia de Noémia de Sousa se organiza num discurso, oralizado, exaltado,


pleno de emoção. Caracterizado por uma relação de permanente diálogo entre o
locutor e o locatário. As expressões interjeicionais, as exclamações, as reticências, os
vocativos apelativos e outros recursos de proximidade entre os interlocutores de
enunciação, tipificam o discurso não analítico, não tão instanciado do objecto.

4.5. Alguns exemplos sintomáticos da sua poesia

«Nossa voz» este dedicado a José Craveirinha, existindo outro texto que cultua
também o falecido Rui de Noronha. "Bárbara" aqui aplicando a voz que reaparecerá
em "Sangue negro", poema este, apologético da raça, das raízes específicas do ser
negro. "Maguiguana" e "África" que fazem uma referência geo-social, através de
inequívoco antropónimo e topónimo, que indicam a personagem e o continente.
Fazendo o uso de referências étnicas que partem de um espaço físico e cultural ligado
ao mato, a ruralidade, a África profunda, dita não urbana: o "atabaque" (instrumento
musical, tambor); a lança (de Maguiguana); os batuques de guerra; a "shipalapala"
(instrumento musical).

Construindo todo o poema com uma denúncia pra toda a violência praticada
contra o colonizado, com especial incidência na "ESCRAVATURA" Em "Se quiseres
me conhecer", assiste-se a comparação entre o predicador e uma estatueta de etnia do
Noroeste, minoritária, mas de grande resistência ao colonialismo, designada
Marconde. Poema este que data de 25-12-1949.A referência aos "batuques fonéticos
dos muchopes" e a rebeldia dos "machanganas", reafirma a tendência de a
reivindicação neo-realista se cruzar com o sentido de pertença étnica.

"Let my people go" foi o título inicial do poema "Deixa passar o meu povo",
publicado no Caderno Poesia negra de expressão portuguesa (1953), organizado em
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Lisboa no âmbito da CEI, pelo angolano Mário de Andrade e o são-tomense Francisco


José Tenreiro. Este poema "Deixa passar o meu povo" que teve grande divulgação,
apresenta um predicador localizado numa noite morna de Moçambique, escutando na
rádio os cantores negros norte-americanos Paul Robeson e Marian Anderson s
interpretarem "spirituals negros de Harlem". A arte dessas figuras de Harlem
Renaissance, tal como Billie Holliday, inspira o predicador, que ganha forças para
escrever sobre o povo a que pertence.

"Magaiça" é outro poema inserido no Caderno colectivo de 1953, volume


assumidamente da Negritude. O Magaiça era um trabalhador moçambicano que
emigrava para as minas do Rand ou compounds ( áreas de exploração) da África do
sul. Sonhando com vida melhor, retomando a terra na condição em que partira,
miserável como sempre. Pode se concluir que magaiça, que se trata obviamente de um
negro, paradigma de todos os magaiças . Mas nada confirma sua raça, cor de pele ou
etnia precisa.

Poema este que é tipicamente neo-realista, descrevendo um quadro social e


económico, de alienação e dominação, não deixa de se enquadrar na Negritude. O
poema "Negra" publicado na revista neo-realista Vértice (1950), tem como tema a
incapacidade de as pessoas alheias a cultura moçambicana poderem cantar a mulher
negra. Grande parte dos epítetos de que os poetas exotistas ou coloniais usaram e
abusaram nas suas composições, nos seus "formais e mais rendilhados cantos" estão
aqui expostos numa panóplia que desconstrói o mito poético da negra sedutora e
lúbrica: "esfinge de ébano" e amante sensual", "jara etrusca", "exotismo tropical",
"demência", "animalidade", etc.

A negra, no final do poema, surge como Mãe-Negra, mãe de todos os negros, a


Mãe-África. A mulher negra exaltada e elevada a esse cume de Mãe-África. Nesta
selecção de poemas aparece, "Um dia", dedicado a J.M. ( João Mendes, irmão de
Orlando Mendes), como exemplo, muito comum em África, do texto promeiteco, que
enuncja uma série de desejos que se hão-de cumprir nos "trilhos abertos de
Moçambique", a localização espacial é aqui também explicitada: Moçambique; África.

No contexto de viragem dos anos 40, a poesia de Noémia de Sousa, assim


como a de outros africanos, era perceptível o o testemunho de uma condição humana e
denúncia a social e política, ainda sob a forma de lamento ou piedade. Daí que se
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confunde o Neo-realismo com a Negritude da reivindicação cultural e da apologia


racial, onde a fusão dos componentes estéticos dos dois movimentos nunca antes foi
tão completa e quase indestrinçável. (Laranjeira, 1995: 272)

Para Noémia de Sousa, assim como para outros escritores africanos de língua
portuguesa, nesses anos, a Negritude foi assumida como refinamento negro a
especificidade raça do Neo-realismo, tornando-se além de uma estética anti-burguesa,
uma ética anti-imperialista. Porém a Negritude se afasta do Neo-realismo, quando
exclui o branco dos seus textos e os engloba numa condenação que impossibilita
distinguir os aliados de classe ou condição. No entanto, Noémia de Sousa, na sua
poesia, lança uma ponte aos "irmãos brancos" ao contrário de Agostinho Neto, em
que os "brancos" não têm nenhum lugar positivo.

Pires Laranjeira (1995:272), afirma que podemos assim concluir que a Negritude,
em Noémia de Sousa, é veemente, emotiva, devido a sua expressividade, mas o Neo-
realismo sustenta ideológica e esteticamente a sua poesia, como primigénio, profundo
texto de sustentação.

Essa simplicidade, esse estado, como que primário, da enunciação, transmitiu-nos


uma sensação de imperfeição e prosaísmo da poesia, o que levou a Rui Knopfli, nos
anos 60, a desconsiderar Noémia de Sousa poetisa, negando-lhes qualquer
importância, depois da sua inclusão na antologia de Alfredo Margarido, em 1962. No
contexto moçambicano, essa é, hoje, uma posição insustentável.
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Conclusão

José Craveirinha é considerado como um poeta Nacional Moçambicano, tendo


publicado diversas obras tais como: Chigubo, Cântico a um dia Catrame, Karingana
wa Karingana sela um etc. Craveirinha faz menção a quatro fases peticas
representativas do neo-realismo, negritude, Moçambicanidade e Libertação. Ao passo
que a poesia de Noémia de Sousa, (Msaho-uma voz efémera) é uma obra que tornar-
se-ia imprescindível conhecer a organização caderno se fosse obrigatório a
organização integral da obra. Em suma tendo o conhecimento destes dois escritores
poderá hoje também influenciar duma forma significativa aos estudantes universitários
das universidades ao redor de Moçambique.
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Bibliografia

Ferreira, M. (1997). No reino de Caliban III. Mocambique: Platano Editora.

Laranjeira, P. (1995). Literaturas Africanas de Expressao Portuguesa. Lisboa: Universidade


Aberta .

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