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DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM – APLICAÇÃO DA

INSULINOTERAPIA

Raul Tobias Pereira Bringel¹


¹Médico Ferista pelo Instituto Cisne

Palavras Chaves:
Português: Diabetes Mellitus. Insulinoterapia. Aplicação. Autocuidado. Usuários.
Inglês: Diabetes Mellitus. Insulin Therapy; Application. Self-Care. Users.
Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/diabetes-mellitus-tipo-2-(DM2)-no-
adulto/cuidados-com-insulinoterapia

Resumo

A insulinoterapia é usada para controlar os níveis de açúcar no sangue em pessoas com


diabetes. Ela envolve a administração de insulina externa para suplementar a falta ou
ineficiência da produção de insulina pelo organismo. A escolha da insulina depende do tipo de
diabetes e das necessidades individuais.

A insulina pode ser administrada por injeções subcutâneas, canetas de insulina ou


bombas de insulina. O objetivo é manter os níveis de açúcar no sangue dentro de uma faixa
saudável para prevenir complicações associadas ao diabetes. É importante estar ciente dos
sinais de hipoglicemia e procurar tratamento adequado. O acompanhamento médico regular é
essencial para ajustar o plano de insulinoterapia de acordo com as necessidades individuais.
Além disso, um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada, exercícios
físicos regulares e monitoramento regular dos níveis de açúcar no sangue, é fundamental para
um melhor controle do diabetes e uma vida saudável.

Introdução

O Brasil ocupa a 5ª posição em prevalência de diabetes globalmente, com 16,8 milhões


de adultos afetados (20 a 79 anos), ficando atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e
Paquistão. As projeções indicam que até 2030 esse número pode chegar a 21,5 milhões. Esses
dados foram divulgados pelo Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF).
Em escala mundial, o diabetes se tornou um grave desafio de saúde pública, com
estimativas superando constantemente as previsões anteriores. Por exemplo, em 2000,
estimava-se que 151 milhões de adultos viviam com diabetes em todo o mundo. Em 2009, esse
número cresceu 88% para 285 milhões. Em 2020, estima-se que 9,3% dos adultos entre 20 e 79
anos (um impressionante total de 463 milhões de pessoas) tenham diabetes. Além disso, 1,1
milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos têm diabetes tipo 1.

O aumento da prevalência do diabetes em todo o mundo é impulsionado por uma


interação complexa de fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais e genéticos. Esse
crescimento contínuo é principalmente atribuído ao aumento do diabetes tipo 2 e aos fatores de
risco associados, como o aumento da obesidade, dietas não saudáveis e falta de atividade física.
No entanto, os casos de diabetes tipo 1, que se desenvolve na infância, também estão
aumentando.

O Diabetes Mellitus (DM) é uma condição metabólica de origem múltipla causada pela
deficiência de insulina e/ou pela incapacidade da insulina exercer seus efeitos adequadamente.
A insulina é o hormônio produzido pelo pâncreas responsável pela regulação do metabolismo
da glicose. A falta de insulina leva a dificuldades na metabolização da glicose, resultando em
diabetes. Caracteriza-se pela presença permanente de altos níveis de açúcar no sangue
(hiperglicemia).

Pessoas em uso de insulina frequentemente cometem erros no armazenamento,


transporte e administração do medicamento, sendo os mais comuns a reutilização de agulhas,
remoção rápida da agulha após a injeção e falta de rotação dos locais de aplicação.

Pesquisa conduzida na Itália associou equívocos na aplicação de insulina a desfechos


adversos, como prevalência de 42,9% de lipodistrofia, que, por sua vez, demonstrou conexão
com instabilidade nos níveis de glicose, necessidade de doses mais elevadas do fármaco e
aumento do risco de episódios de hipoglicemia grave. Na Índia, um estudo realizado com 1011
indivíduos que faziam uso de insulina revelou que 80,5% daqueles que utilizavam seringas
reutilizavam incorretamente a agulha, o que esteve associado a sangramentos, hematomas,
imprecisão na dosagem e lipodistrofia. Nessa direção, uma análise bacteriológica de agulhas
reutilizadas para a administração de insulina em 12 pessoas na Paraíba constatou a presença de
Staphylococcus em 45%, o que pode resultar em processos infecciosos, causando danos à
integridade da pele e lesões nos tecidos. Assim sendo, a orientação, apoio e supervisão
fornecidos por profissionais de saúde constituem componentes fundamentais na assistência a
esse grupo de pacientes.

Este estudo tem como propósito avaliar a adesão de indivíduos que utilizam Insulina
Regular e NPH na atenção básica de Fortaleza, especificamente em pacientes que enfrentam
casos graves de Diabetes Mellitus Tipo 2. Durante minha breve experiência na atenção básica,
por meio dos postos de saúde da região do Instituto Cisne, busquei compreender melhor o
panorama da adesão a esses medicamentos.

Metodologia

Ao atender pacientes com a condição mencionada, os médicos se deparam com uma


série de etapas cruciais a serem seguidas. É fundamental iniciar o processo avaliando
minuciosamente a alimentação e o estilo de vida do paciente, uma vez que esses fatores
desempenham um papel fundamental no controle da glicemia. Com base nessa avaliação, é
possível obter uma estimativa da curva glicêmica aproximada do paciente, fornecendo
informações valiosas sobre os picos e quedas de açúcar no sangue ao longo do dia.

A próxima etapa envolve calcular com precisão as doses necessárias de medicamentos


orais e de insulina. Isso requer uma compreensão aprofundada da condição do paciente, levando
em consideração fatores como o grau de resistência à insulina, a capacidade do pâncreas em
produzir insulina endógena e a sensibilidade individual à medicação. Essas informações são
cruciais para determinar a quantidade correta de medicamentos a serem prescritos, visando
obter um controle adequado da glicemia.

Por fim, com base em todas as informações coletadas e análises realizadas, o médico
pode montar um esquema de insulinoterapia personalizado, adaptado ao contexto individual do
paciente. Esse esquema leva em consideração as necessidades específicas de cada pessoa,
visando alcançar o controle glicêmico ideal e minimizar os riscos de complicações associadas
ao diabetes.

É importante ressaltar que a insulinoterapia não se resume apenas à prescrição da


medicação. Os médicos também desempenham um papel fundamental no processo educativo,
fornecendo informações e orientações ao paciente sobre a administração correta da insulina, o
monitoramento adequado da glicemia e o reconhecimento dos sintomas de hipoglicemia ou
hiperglicemia. O acompanhamento regular e a comunicação aberta entre médico e paciente são
essenciais para ajustar o esquema de insulinoterapia ao longo do tempo, de acordo com as
necessidades e mudanças na condição do paciente.

Em resumo, o atendimento a pacientes com essa condição requer uma abordagem


cuidadosa e abrangente. A avaliação da alimentação e estilo de vida, a estimativa da curva
glicêmica, o cálculo das doses de medicamentos orais e insulina e a personalização do esquema
de insulinoterapia são etapas cruciais para alcançar o controle efetivo da glicemia e melhorar a
qualidade de vida dos pacientes com diabetes.

Resultados e Discussão

A aprendizagem para a correta aplicação de insulina pode representar um desafio para


algumas pessoas, especialmente aquelas que estão começando o tratamento ou têm dificuldades
com procedimentos médicos. Existem várias razões pelas quais algumas pessoas podem
encontrar dificuldades nesse processo.

Uma das principais dificuldades está relacionada à ansiedade e ao medo de agulhas.


Muitas pessoas sentem-se desconfortáveis ou têm aversão a agulhas, o que pode dificultar a
realização das injeções de insulina. Esse medo pode levar a resistência ou evasão na realização
do procedimento, comprometendo o controle adequado do diabetes.

Além disso, a complexidade do processo de aplicação da insulina pode ser um obstáculo.


É necessário aprender a medir corretamente as doses, selecionar a técnica adequada de injeção,
escolher o local apropriado e administrar a injeção com precisão. Para alguns, especialmente os
mais idosos, pode ser desafiador lidar com as exigências técnicas e a coordenação necessária
para realizar o procedimento corretamente.

Outra dificuldade comum está relacionada à falta de conhecimento ou compreensão


sobre o diabetes e o tratamento com insulina. Muitas vezes, as pessoas podem sentir-se
sobrecarregadas com as informações sobre a doença e as instruções de administração de
insulina. Isso pode levar a erros na dosagem, na técnica de injeção e na gestão geral do
tratamento.

A falta de suporte adequado também pode ser um obstáculo. É importante que as pessoas
recebam orientações claras e individualizadas sobre o uso da insulina, incluindo instruções
detalhadas sobre a técnica de injeção, a administração correta e os cuidados necessários. A falta
de acompanhamento e supervisão profissional pode dificultar a aprendizagem e a adaptação ao
uso da insulina.

Superar essas dificuldades requer paciência, apoio e educação contínuos. É essencial


que as pessoas com dificuldades de aprendizagem busquem o apoio de profissionais de saúde,
como médicos, enfermeiros ou educadores em diabetes, que possam oferecer orientações
individualizadas, treinamento prático e suporte emocional. Além disso, a utilização de recursos
visuais, materiais educativos e dispositivos de administração de insulina mais simples, como
canetas de insulina, pode facilitar o processo de aprendizagem e a realização das injeções.

Em resumo, a dificuldade de aprendizagem para a aplicação de insulina pode surgir


devido a medos, ansiedade, complexidade do processo e falta de conhecimento adequado. O
suporte profissional, a educação contínua e a utilização de recursos facilitadores podem ajudar
as pessoas a superar essas dificuldades e realizar a administração de insulina de forma adequada
e segura.

Durante a prática médica, é evidente a dificuldade que os pacientes enfrentam para


manter a glicemia controlada, devido aos desafios mencionados anteriormente. Ao iniciar um
esquema de insulinoterapia para um paciente, é crucial avaliar todas as variáveis envolvidas, a
fim de evitar possíveis problemas relacionados ao seu uso. Especial atenção deve ser dada a
casos com baixas doses, onde hiperglicemias podem evoluir para emergências, como a
cetoacidose metabólica. Da mesma forma, em casos com doses elevadas, é importante
monitorar de perto o paciente para evitar hipoglicemias graves. Essas complicações podem ter
um impacto significativo na saúde do paciente, exigindo uma abordagem cuidadosa e
individualizada na prescrição e no acompanhamento da insulinoterapia. Além disso, é essencial
fornecer educação e suporte contínuos aos pacientes, para que eles possam compreender e
gerenciar adequadamente o tratamento, minimizando assim os riscos e otimizando os
resultados.

Conclusão

A insulinoterapia é um pilar essencial no tratamento do diabetes, proporcionando um


controle adequado da glicemia e prevenindo complicações a longo prazo. No entanto, a baixa
adesão dos pacientes a esse tratamento e os desafios enfrentados pelos médicos são questões
significativas a serem consideradas.
A baixa adesão à insulinoterapia pode ser atribuída a diversos fatores. Um dos principais
é o medo da dor associada às injeções de insulina, bem como a aversão a agulhas e a percepção
de que a insulina representa um fracasso pessoal. Além disso, a falta de compreensão sobre a
importância do tratamento e a necessidade de monitorar a glicemia regularmente podem
contribuir para a resistência dos pacientes em aderir à terapia com insulina.

Os médicos enfrentam desafios ao lidar com a aplicação da insulina. Um dos problemas


é a dificuldade em determinar as doses corretas de insulina para cada paciente, pois isso requer
uma compreensão aprofundada da fisiopatologia do diabetes, da resposta individual à insulina
e da variação nos padrões de glicemia ao longo do dia. Além disso, a complexidade dos
esquemas de insulinoterapia, que podem envolver diferentes tipos de insulina e regimes de
administração, pode dificultar a aderência dos pacientes e a conformidade com o tratamento.

Outro desafio enfrentado pelos médicos é a necessidade de educar e capacitar os


pacientes para o autocuidado adequado. Isso inclui instruções sobre a técnica de administração
de insulina, o monitoramento regular da glicemia, o reconhecimento dos sintomas de
hipoglicemia e hiperglicemia, e a importância de adotar um estilo de vida saudável, incluindo
alimentação equilibrada e prática de exercícios físicos. A falta de tempo disponível durante as
consultas e a falta de recursos adequados podem dificultar a efetivação desse processo
educativo.

Em conclusão, a baixa adesão à insulinoterapia e os desafios enfrentados pelos médicos


estão interligados. A falta de compreensão, o medo das injeções, a complexidade do tratamento
e a necessidade de educação contínua são alguns dos principais problemas enfrentados. Superar
esses obstáculos requer uma abordagem multidisciplinar, que envolva uma comunicação efetiva
entre médicos e pacientes, educação adequada, suporte emocional e acesso a recursos de
cuidados com o diabetes. Somente dessa forma será possível melhorar a adesão à
insulinoterapia e garantir um tratamento eficaz para os pacientes com diabetes.

Referências

REIS, Paloma. et al. Intervenção educativa sobre o conhecimento e manejo de insulina no


domicílio. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ape/a/JgcWgmLVcRtGpPPPSMXnj7N/?lang=pt. Acesso em: 30 abr.
2023.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Linhas de Cuidado - Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) no adulto.
Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/diabetes-mellitus-tipo-2-(DM2)-
no-adulto. Acesso em: 30 abr. 2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dia Nacional do Diabetes. Disponível em:


https://bvsms.saude.gov.br/26-6-dia-nacional-do-diabetes-4/. Acesso em: 30 abr. 2023.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer à coordenação da Cisne pela oportunidade de vivenciar a


realidade da saúde básica em Fortaleza. Meus sinceros agradecimentos também a toda a equipe
dos Postos Eliezer Studart, Francisco Monteiro e Cesar Cals, que me receberam de braços
abertos durante minha breve estadia em seus serviços. Foi graças a eles que pude adquirir
valiosas experiências de aprendizado mencionadas anteriormente.

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