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recomendações

Atualização de Condutas em Pediatria


nº 50 Departamentos Científicos da SPSP,
gestão 2007-2009.

Departamento de
Oncologia e Hematologia
Causas de
plaquetose em
Pediatria
Departamento de Oftalmologia
Manifestações
oculares de agentes
teratogênicos
Departamento de
Oncologia e Hematologia
Púrpura
trombocitopênica
imunológica

Sociedade de Pediatria de São Paulo


Alameda Santos, 211, 5º andar
01419-000 São Paulo, SP
(11) 3284-9809
recomendações
Departamento de Oncologia e Hematologia

Causas de plaquetose
em Pediatria

A s plaquetas são frag-


mentos de células
produzidos na me-
dula óssea a partir dos me-
gacariócitos e participam
valores normais aqueles com-
preendidos entre 150.000 e
450.000/mm3, tanto para
recém-nascidos, lactentes,
crianças e adolescentes. As
da hemostasia primária da plaquetoses são classificadas,
coagulação (fase de adesão de acordo com o número de
e agregação plaquetária). A plaquetas (Tabela 1), em leve,
regulação da megacarioci- moderada, grave e extrema e,
topoese depende da trom- de acordo com a etiopatoge-
bopoetina (Tpo), que vai se nia (Tabelas 2 e 3), em primá-
ligar aos receptores c-Mpl da ria (essencial) ou secundária
superfície da membrana dos (reacional).
megacariócitos e das plaque-
Autora:
tas. Quando as plaquetas au- Plaquetoses
Marlene Pereira Garanito mentam em número, a quan- primárias
DEPARTAMENTO DE
tidade de Tpo livre diminui e As plaquetoses primárias
ONCOLOGIA E HEMATOLOGIA reduz a produção de plaque- são doenças mieloprolifera-
Gestão 2007-2009
tas. Ao contrário, com a redu- tivas crônicas, causadas por
Presidente: ção do número de plaquetas, anormalidades monoclonais
Sandra Regina Loggetto
Vice-Presidente: teremos mais Tpo livre para ou policlonais das células
Katharina Nelly Tobos se ligar aos receptores c-Mpl, hematopoiéticas. Aproxima-
Secretário:
Fernando Luiz Lupinacci estimulando a megacarioci- damente 30% dos pacientes
Membros:
Beatriz Salles Aguiar, Célia
topoese. A avaliação das pla- apresentam complicações
Martins Campanaro, Helaine quetas envolve seu número trombóticas ou hemorrágicas
Cristina de Castro, Helena
Reis M. Silva, Jorge David A.
(plaquetopenia, normal, pla- ao diagnóstico e 50% apresen-
Carneiro, Josefina A. P. Braga, quetose), sua morfologia (pe- tam hepatoesplenomegalia ao
Luiz Gonzaga Tone, Marcela
Vieira dos Santos, Maria Lucia quena, normal, gigante) e sua exame físico. O diagnóstico é
Martino Lee, Maria Lydia M. de função (agregação e adesão). quase que exclusivo da popu-
Andréa, Maria Pizza, Marimilia
Teixeira Pita, Mina Halsman, O motivo de nossa dis- lação adulta, sendo a incidên-
Mônica Pinheiro de A. Verríssimo,
Patricia Belintani B. Fonseca,
cussão é a plaquetose, de- cia na população pediátrica
Paula Bruniera, Paulo Taufi finida como o aumento na de 1:1.000.000. Em Pediatria,
Maluf Jr., Roberto Augusto
Plaza Teixeira, Sidnei Epelman,
contagem do número de pla- representa um diagnóstico de
Wellington Luiz Mendes. quetas, aceitando-se como exclusão. Nas trombocitoses
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Departamento de Oncologia e Hematologia

clonais ocorrem altas con- tes hospitalizados e naqueles


expediente
centrações de trombopoetina em acompanhamento ambu-
devido a defeito na expressão latorial, esta incidência é va- Diretoria da Sociedade de
do receptor c-Mpl, levando à riável, com 72-86% de casos Pediatria de São Paulo
Triênio 2007 – 2009
deficiente fixação da trombo- de plaquetose leve, 6-8% de
Diretoria Executiva
poetina nesse receptor. Mais plaquetose moderada e so- Presidente:
trombopoetina fica livre na mente 0,5-3,0% de plaque- José Hugo Lins Pessoa
1º Vice-Presidente:
circulação, aumentando a pro- tose extrema. Nas condições João Coriolano Rego Barros
liferação de megacariócitos e reacionais a plaquetogênese 2º Vice-Presidente:
Mário Roberto Hirchheimer
plaquetas. Outro mecanismo aumentada é desencadeada Secretário Geral:
de plaquetose nesse grupo de por uma doença subjacente. Maria Fernanda B. de Almeida
1º Secretário:
patologias é a proliferação clo- Estes pacientes habitualmen- Sulim Abramovici
nal da linhagem específica. te são assintomáticos e, uma 2º Secretário:
Fábio Eliseo F. Álvares Leite
vez resolvida a doença de 1º Tesoureiro:
Lucimar Aparecida Françoso
Plaquetoses base, o número de plaquetas 2º Tesoureiro:
secundárias retorna aos valores normais. Aderbal Tadeu Mariotti
As plaquetoses secun- As principais causas re- Diretoria de Publicações
dárias ou reacionais são as lacionadas à plaquetose são Diretor:
Cléa Rodrigues Leone
mais comuns na população as infecções em 37-78% dos Editor Revista Paulista Pediatria:
pediátrica, acometendo de casos, as anemias ferropriva Ruth Guinsburg
Editores executivos:
6% a 15% das crianças hos- e hemolítica em 3,7-12%, as Amélia Miyashiro N. Santos
pitalizadas, principalmente doenças inflamatórias crôni- Antônio A. Barros Filho
Antônio Carlos Pastorino
recém-nascidos e lactentes. cas em 2-9%, representadas Mário Cícero Falcão
Sônia Regina T.S. Ramos
Ao aplicar a classificação pela doença inflamatória in-
das plaquetoses em pacien- testinal, artrite reumatoide Departamentos Científicos
Coordenadores:
Ciro João Bertoli
Mauro Batista de Moraes
Sérgio Antônio B. Sarrubbo
Tabela 1 - Classificação de
plaquetose de acordo com a
contagem do número de plaquetas

Classificação Plaquetas/mm3
Produção editorial:
Leve 500.000 a 700.000 L.F. Comunicações Ltda.
Editor:
Luiz Laerte Fontes
Moderada 700.000 a 900.000 LLFontes@LFComunicacoes.com.br
Revisão:
Grave 900.000 a 1.000.000 Otacília da Paz Pereira
Arte:
Extrema > 1.000.000 Lucia Fontes
Lucia@LFComunicacoes.com.br

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Tabela 2 - Causas de plaquetose

Primária
Doenças mieloproliferativas
Trombocitemia essencial
Policitemia vera
Leucemia mieloide crônica
Leucemia mieloide aguda

Secundária
Doenças inflamatórias
Infecção aguda ou crônica
Artrite reumatoide juvenil
Doença inflamatória intestinal
Febre reumática
Doença de Kawasaki
Doenças hematológicas
Deficiência de ferro
Anemias hemolíticas
Induzida por fármacos
Corticoesteroides
Alcaloides da vinca
Neoplasias
Hepatoblastoma
Linfoma
Neuroblastoma
Outras
Após cirurgia
Após exercícios
Asplenia
Adaptada de Nathan and Oski’s: Hematology of infancy and
childhood. 6th ed. Philadelphia: Saunders; 2003. p1621.

juvenil, poliarterite nodosa, As infecções bacterianas


doença de Kawasaki, a lesão e virais (agudas ou crônicas)
tecidual como traumas, cirur- das vias aéreas são as causas
gias ou queimaduras em 3,3- mais frequentes, seguidas pe-
21% e as neoplasias em 1-3% las infecções dos tratos gas-
dos casos, particularmente o trointestinal e gênitourinário.
hepatoblastoma. Os sangra- Nestas condições, geralmente
mentos, a esplenectomia e o pico de plaquetose ocorre
algumas drogas também estão na segunda ou terceira sema-
associados à plaquetose. nas de infecção e, à semelhan-
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ça do que ocorre nas doenças condição, como por exemplo


inflamatórias, a Interleucina 6 corticoesteroides e alcaloides
(IL-6), importante mediador da vinca (Tabela 2).
na fase aguda de processos in- A respeito da terapêutica,
flamatórios e neoplásicos, as- o tratamento da plaquetose
sociada a outras citocinas, es- reacional é o tratamento da
timulam a síntese de Tpo pelo doença de base. As plaque-
fígado e a megacariopoiese toses reacionais na infância
direta, resultando no aumento não justificam o tratamento
do número de plaquetas. profilático anticoagulante ou
O mecanismo fisiopato- antiagregante, mesmo em
lógico para explicar a relação pacientes com contagem pla-
entre a deficiência de ferro quetária superior a 1.000.000/
e a plaquetose é complexo mm3. Até o momento, não
e discutível, uma vez que há há evidências de eficácia da
grandes evidências de que a profilaxia para complicações
possibilidade de reação cru- tromboembólicas em crian-
zada entre a eritropoetina e ças assintomáticas e com
a trombopoetina - até pouco plaquetose reacional. Este
tempo aceita - não ocorre e, tipo de tratamento deverá ser
portanto, não justificaria a considerado individualmen-
plaquetose. te, desde que existam outros
Nas anemias hemolíticas, fatores de risco associados.
a plaquetose é secundária ao Pelo exposto, como a inci-
aumento de produção global dência de plaquetose primária
das células hematopoiéticas em crianças é extremamente
pela medula óssea devido à baixa e o diagnóstico parte da
hemólise. Neste grupo merece exclusão de outras possibili-
destaque a doença falciforme, dades mais comuns discutidas
onde a plaquetose é secundá- acima, a investigação inicial
ria ao estímulo medular asso- destes pacientes pode ser rea-
ciado à asplenia funcional. lizada pelo pediatra geral e,
Além das condições clí- uma vez excluídas as causas
nicas discutidas, quando secundárias de plaquetose e o
nos deparamos frente a um paciente apresente persistên-
paciente com aumento do cia da mesma, estaria indicado
número de plaquetas, deve- o encaminhamento para ava-
se considerar o uso de me- liação de um hematologista
dicamentos associados a esta pediátrico.
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Tabela 3 - Características
das plaquetoses primárias e
secundárias da infância

Trombocitose Plaquetose
Característica essencial reacional

Idade Após 2ª década Predomínio < 2 anos

Incidência 1:1.000.000 600:1.000.000

Duração Meses a anos Dias a meses

Esplenomegalia Frequente Rara

Febre Ausente Frequente

Frequente na
Sangramento ou plaquetose Muito rara
trombose monoclonal e rara na
familiar

Contagem > 1.000.000/mm3 < 800.000/mm3


plaquetária

Morfologia das Dismórficas, grandes Grandes, morfologia


plaquetas ou pequenas normal

Função das Anormal Normal


plaquetas
Referências bibliográficas
Fernandés CM, Castilho PMJ,
Aumento de Aumento de
Garcia PG, Julián EC, Bieler CB. Medula óssea
Thrombocytosis in the oncology- megacariócitos megacariócitos
haematology clinic: description,
aetiological diagnosis and progression
thrombocytosis. An Padiatr (Barc) Defeitos clonais
2008;69 (1): 10-4. nos precursores,
Dame C, Sutor AH. Primary and diminuição da
secondary thrombocytosis in expressão de c-Mpl
childhood. Br J Haematol 2005; e/ou hiperreatividade Aumento da
129:165-177. Fisiopatogenia a Tpo. produção de Tpo ou
Wilson DB. Acquired platelet defects. Nas formas liberação de IL-6
In: Nathan DG, Orkin SH, Guinsburg familiares ocorre
D, Look AT. Nathan and Oski’s: mutação no gene
Hematology of infancy and childhood. Tpo ou no gene
6th ed. Philadelphia: Saunders; c-Mpl
2003.p.1597-1630.
Mantadakis E, Tsalkidis A,
Chatzimichael A. Thrombocytosis Adaptada de Fernandés CM et al.
in childhood. Indian Pediatr
2008;45:669-677.
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