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Proliferação

Medicina - FPME - 4°P


celular

Rafaela Amaral
@resumeairafa
Rafaela Amaral Processos patológicos 4° período - FPME
1. Compreender a célula e o ciclo celular. As trocas de substâncias entre as células e o meio em que
2. Elucidar a patologia e a sequência de aspectos elas vivem têm lugar através da membrana. Moléculas
patológicos. pequenas e alguns íons, como Na+, K+ e Ca2 +, podem
3. Explanar sobre o processo de homeostase a nível atravessar a membrana plasmática por canais constituídos
celular e como os estímulos fisiológicos e patológicos o pelas proteínas integrais. Quando essa travessia não
afetam. consome energia, diz-se que se trata de difusão passiva.
4. Definir os conceitos de metaplasia, hiperplasia, Quando consome energia, chama-se transporte ativo.
hipertrofia e atrofia. Outras vezes a transferência se realiza com a participação
de proteínas carreadoras localizadas na membrana, mas
Célula
sem gasto energético, pelo processo chamado transporte
facilitado.

As células são as unidades funcionais e estruturais dos O núcleo é o centro de controle de todas as atividades
seres vivos. Existem somente dois tipos básicos de celulares porque contém, nos cromossomos, todo o
células: as procariontes e as eucariontes. genoma (DNA) da célula, exceto apenas o pequeno
O processo de especialização denomina-se genoma das mitocôndrias. Chama-se genoma o conjunto
diferenciação celular. Nele, observa-se uma sequência da informação genética codificada no DNA. Além de
conter a maquinaria molecular para duplicar seu DNA, o
de modificações bioquímicas, morfológicas e
núcleo é responsável pela síntese e pelo processamento de
funcionais que transformam uma célula primitiva todos os tipos de RNA (rRNA, mRNA e tRNA), que são
indiferenciada, que executa apenas as funções exportados para o citoplasma. Todavia, o núcleo não
celulares básicas em uma célula capaz de realizar sintetiza proteínas, dependendo das que são produzidas no
algumas funções com grande eficiência. As células citoplasma e transferidas para o núcleo. Os principais
apresentam duas partes fundamentais: o citoplasma e o componentes do núcleo são o envoltório nuclear, a
núcleo. cromatina, o nucléolo, a matriz nuclear e o
nucleoplasma.
Citoplasma: o componente mais externo do citoplasma
é a membrana plasmática, que é o limite entre o meio
intracelular e o ambiente extracelular. No citoplasma se
localizam o citoesqueleto, as organelas (mitocôndrias,
o retículo endoplasmático, o complexo ou aparelho de
Golgi, os lisossomos e os peroxissomos) e os depósitos
ou inclusões, geralmente temporários, de hidratos de
carbono, proteínas, lipídios ou pigmentos. O espaço
entre as organelas e os depósitos é preenchido pela
matriz citoplasmática ou citosol, contendo diversas
substâncias, como aminoácidos, proteínas, outras
macromoléculas, nutrientes energéticos e íons. A
membrana plasmática contém proteínas denominadas
integrinas que se ligam a filamentos do citoesqueleto
localizados no citoplasma e a macromoléculas
extracelulares. Por meio dessas ligações, existe uma
troca constante de influências nos dois sentidos, entre
o citoplasma e o meio extracelular.

As membranas celulares são compostas, principalmente,


por duas camadas de moléculas de fosfolipídios, com
seus grupamentos não polares (hidrofóbicos) voltados
para o centro da membrana. Os grupamentos polares
(hidrofilicos) desses lipídios ficam nas duas superficies O conteúdo intranuclear é separado do citoplasma pelo
da membrana. envoltório nuclear, envoltório esse que apresenta poros e
tem uma estrutura denominada complexo do poro, cuja
função é o transporte seletivo de moléculas para fora e
para dentro do núcleo.

Ciclo celular:
lntérfase e mitose constituem as duas fases do ciclo
celular, que é o conjunto de modificações por que passa
uma célula, desde seu aparecimento até sua própria
duplicação. Logo, para entender o ciclo celular é preciso
entender divisão celular.
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Rafaela Amaral Processos patológicos 4° período - FPME
Divisão celular:
Observável ao microscópio óptico no processo
denominado mitose - uma célula (célula-mãe) se divide
em duas, recebendo cada nova célula (célula-filha)
um jogo cromossômico igual ao da célula-mãe.
Quando não está em mitose, a célula está na intérfase.
Prófase
• Condensação gradual da cromatina (o DNA foi
duplicado na intérfase).
•O envoltório nuclear se fragmenta no final da
prófase (originando vesículas que permanecem no
citoplasma e reconstituem o envelope nuclear no final
da mitose).
Anáfase
• Os centrossomos e seus centríolos, que se • Os cromossomos-filhos separam-se e migram para os
duplicaram na intérfase, separam-se, migrando um polos da célula - os centrômeros seguem na frente e são
par para cada polo da célula. acompanhados pelo restante do cromossomo.
• Começam a aparecer microtúbulos entre os dois pares
de centríolos, iniciando-se a formação do fuso
mitótico.
• Durante a prófase o nucléolo se desintegra.

Telófase
• Reconstrução dos envoltórios nucleares das células-
filhas
• Os cromossomos se tornam gradualmente menos
condensados - reaparecimento da cromatina.
• Núcleo interfásico se refaz - nucléolos se reconstituem.
Ausência de nucléolos, cromossomos condensados
Metáfase
• Os cromossomos se dispõem no plano equatorial da
célula.
• Cada cromossomo, cujo DNA já está duplicado,
divide-se longitudinalmente em duas cromátides. A divisão do material nuclear é acompanhada pela divisão
do citoplasma - citocinese, que se inicia na anáfase e
termina após a telófase. A citocinese consiste no
aparecimento de um anel que contém actina e miosina,
abaixo da membrana celular, na zona equatorial da célula.
A diminuição gradual do diâmetro desse anel acaba
dividindo o citoplasma em duas partes iguais, cada uma
com um núcleo novo, originando as duas células-filhas.

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Rafaela Amaral Processos patológicos 4° período - FPME
Ciclo celular: Etiologia ou Causa
Mitose - manifestação visível da divisão celular Os inúmeros fatores que causam doença podem ser
Interfase - duplicação do DNA e dos centríolos, etc. agrupados em duas classes: genéticos (p. ex., mutações
hereditárias) e adquiridos (p. ex., doenças infecciosas,
A intérfase se subdivide em três fases chamadas G1, S e nutricionais). O conceito de que um agente etiológico seja
G2 a causa de uma doença não é aplicável à maioria das
• A fase G1 - vem logo depois da mitose. Nela ocorre a doenças.
síntese de RNA e de proteínas, com recuperação do Patogenia
volume da célula, que foi reduzido à metade na Se refere à sequência de eventos celulares, bioquímicos
mitose. Nos tecidos de renovação rápida, a fase G1 é curta. e moleculares que decorrem da exposição das células ou
As células dos tecidos que não se renovam saem do ciclo tecidos a um agente lesivo.
celular na fase G1 e entram na chamada fase G-0. Na fase G1
localiza-se o ponto de restrição, que impede a Alterações Morfológicas
passagem de células com DNA danificado ou então Referem-se às alterações estruturais nas células ou tecidos
que ainda não acumularam uma quantidade crítica que são ora características de uma doença, ora diagnósticas
de proteínas importantes para a continuação do ciclo. de um processo etiológico.
• Durante a fase S ocorre a síntese do DNA e a Perturbações Funcionais e Manifestações Clínicas
duplicação dos centrossomos e centríolos. Os resultados das alterações genéticas, bioquímicas e
•Na fase G2 - células acumulam energia para ser usada estruturais nas células e tecidos são anormalidades
durante a mitose e sintetizam tubulina para formar os funcionais, as quais provocam as manifestações clínicas
microtúbulos do fuso mitótico. (sinais e sintomas) das doenças, bem como a sua
progressão (curso clínico e consequências).

Processo de homeostase, aspectos fisiológicos, patológicos e


definição dos termos:
A célula normal está limitada, em suas funções e estrutura,
a uma faixa de variação bastante estreita devido ao seu
estado de metabolismo, diferenciação e especialização;
por restrições pelas células vizinhas; e pela disponibilidade
de substratos metabólicos. No entanto, ela é capaz de dar
conta das demandas fisiológicas, mantendo um estado
de equilíbrio chamado homeostase. As adaptações são
respostas estruturais e funcionais reversíveis às
alterações fisiológicas (p. ex., gestação) ou a alguns
Patologia e os aspectos patológicos estímulos patológicos, durante as quais um novo estado de
A patologia se dedica ao estudo das alterações equilíbrio, alterado, é alcançado, permitindo a
estruturais, bioquímicas e funcionais em células, tecidos sobrevivência e a atividade funcional da célula.
e órgãos que constituem a base das doenças.
Os quatro aspectos de um processo de doença que
formam o cerne da patologia são: sua causa (etiologia),
os mecanismos bioquímicos e moleculares do seu
desenvolvimento (patogenia ou patogênese), as
alterações estruturais provocadas nas células e
órgãos do corpo (alterações morfológicas) e as
consequências funcionais dessas alterações
(manifestações clínicas).

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Rafaela Amaral Processos patológicos 4° período - FPME

A resposta adaptativa pode consistir em: Atrofia


Hipertrofia - aumento do tamanho das células que Atrofia é definida como a redução do tamanho de um
resulta no aumento do tamanho do órgão afetado. O órgão ou tecido que resulta da diminuição do tamanho
órgão hipertrofiado não possui novas células, apenas e do número de células. Pode ser fisiológica ou
células maiores. O tamanho aumentado das células é patológica. A fisiológica é comum durante o
devido à síntese e à incorporação de novos componentes desenvolvimento normal. A diminuição do tamanho do
estruturais intracelulares. útero, que ocorre logo após o parto, é uma forma de atrofia
Hiperplasia - aumento no número de células em um fisiológica. A patológica tem várias causas, e pode ser
órgão ou tecido em resposta a um estímulo. Embora local ou generalizada. As causas comuns de atrofia são:
hiperplasia e hipertrofia sejam processos diferentes, • Redução da carga de trabalho (atrofia de desuso).
frequentemente elas ocorrem juntas e podem ser Quando um osso fraturado é imobilizado com um molde
induzidas pelos mesmos estímulos externos. A de gesso ou quando um paciente é restrito a repouso
hiperplasia somente ocorre em tecidos que contêm absoluto no leito, rapidamente sobrevém atrofia dos
células capazes de se dividir, aumentando, portanto, o músculos esqueléticos.
número de suas células. Ela pode ser fisiológica ou • Perda da inervação (atrofia por denervação). Uma lesão
patológica. dos nervos leva à atrofia das fibras musculares por eles
Hiperplasia Fisiológica inervadas.
Devido à ação de hormônios ou fatores do crescimento • Diminuição do suprimento sanguíneo – isquemia - em
ocorre em várias circunstâncias: quando há necessidade consequência de doença oclusiva arterial que se
de aumentar a capacidade funcional dos órgãos desenvolve lentamente resulta em atrofia do tecido.
hormônio sensíveis; quando há necessidade de aumento
compensatório após lesão ou ressecção. Metaplasia
Hiperplasia Patológica Alteração reversível na qual um tipo celular diferenciado
A maioria das formas causada pela ação excessiva ou (epitelial ou mesenquimal) é substituído por outro tipo
inapropriada de hormônios ou fatores de crescimento celular. Ela, muitas vezes, representa uma resposta
sobre suas células-alvo. A hiperplasia endometrial é um adaptativa em que um tipo de célula sensível a um
exemplo de hiperplasia anormal induzida por hormônio determinado estímulo nocivo é substituído por outro tipo
de célula que é mais capaz de suportar o ambiente adverso.
A metaplasia epitelial mais comum é a colunar para
escamosa.

Referências
• KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .

• JUNQUEIRA, Luis C.; CARNEIRO, José. Biologia


celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2012

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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME
1. Compreender os mecanismos de lesão celular e suas • Agentes Infecciosos
consequências. Variam desde os vírus submicroscópicos até as tênias de
2. Diferenciar os tipos de morte celular (necrose, vários metros de comprimento.
apoptose e autofagia). • Reações Imunológicas
As reações imunes também podem causar lesão celular.
Lesão celular Reações lesivas aos autoantígenos endógenos são
responsáveis por várias doenças autoimunes.
A lesão celular ocorre quando as células são
• Defeitos Genéticos
estimuladas tão intensamente que não são mais
capazes de se adaptar ou quando são expostas a Os defeitos genéticos causam lesão celular devido à
agentes naturalmente nocivos ou são prejudicadas deficiência de proteínas funcionais, como os defeitos
devido a anormalidades intrínsecas. A lesão pode enzimáticos dos erros inatos do metabolismo ou o acúmulo
progredir a partir de um estágio reversível e culminar na de DNA danificado ou de proteínas anormalmente
morte celular. dobradas, ambos disparando a morte celular quando são
irreparáveis.
• Desequilíbrios Nutricionais
A deficiência proteico-calórica provoca um número
impressionante de mortes, principalmente entre as
populações desfavorecidas.

Mecanismos da lesão celular


• A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de
agressão, sua duração e sua intensidade.
• As consequências da lesão celular dependem do tipo,
estado e adaptabilidade da célula agredida. O estado
nutricional e hormonal celular e suas necessidades
metabólicas são importantes na sua resposta à agressão.
• A lesão celular é resultante de diferentes mecanismos
bioquímicos que agem em vários componentes celulares
essenciais. Os componentes celulares que mais
frequentemente são lesados incluem as mitocôndrias, as
membranas celulares, a maquinaria de síntese e
Causas: variam desde a violência física de um acidente empacotamento de proteínas e o DNA.
automobilístico até anormalidades celulares sutis, tais
como uma mutação genética causando perda de uma Mecanismos bioquímicos que podem ser ativados por
enzima vital que compromete uma função metabólica diferentes estímulos agressivos e que contribuem para
normal. a lesão celular e a necrose:
• Privação de Oxigênio Depleção de ATP
A hipoxia causa lesão celular por reduzir a respiração A redução dos níveis de ATP é a causa fundamental da
oxidativa aeróbica. As causas da hipoxia incluem a morte celular por necrose e essa diminuição é
redução do fluxo sanguíneo (isquemia), a oxigenação frequentemente associada a lesão isquêmica e química
inadequada do sangue devido à insuficiência (tóxica). As principais causas de depleção de ATP são a
cardiorrespiratória, e a redução da capacidade de redução do fornecimento de oxigênio e nutrientes,
transporte de oxigênio do sangue, como na anemia ou no danos mitocondriais e a ação de algumas substâncias
envenenamento por monóxido de carbono ou após grave tóxicas.
perda sanguínea. Dependendo da gravidade do estado
hipóxico, as células podem se adaptar, sofrer lesão ou • A atividade da bomba de sódio é reduzida. A falha desse
morrer. sistema de transporte leva à entrada de sódio e sua
• Agentes Físicos acumulação dentro das células e difusão do potássio para
Trauma mecânico, extremos de temperatura fora. O ganho final de soluto é acompanhado por um ganho
(queimaduras e frio intenso), alterações bruscas da isosmótico de água, causando tumefação celular e
pressão atmosférica, radiação e choque elétrico. dilatação do RE. Quando o fornecimento de oxigênio
• Agentes Químicos para as células é reduzido, a fosforilação oxidativa cessa,
Glicose ou sal em concentrações hipertônicas podem resultando em decréscimo do ATP celular e aumento
lesar a célula diretamente ou pela perturbação do associado de monofosfato de adenosina. Essas alterações
equilíbrio eletrolítico das células. Venenos, como levam a uma taxa aumentada de glicólise anaeróbica, com
arsênico, cianeto ou sais mercúricos, podem destruir um o propósito de manter as fontes de energia da célula
número suficiente de células, dentro de minutos a horas, gerando ATP através do metabolismo da glicose derivada
para causar a morte. Outras substâncias: poluentes do ar do glicogênio. Em consequência, as reservas de glicogênio
e do ambiente, inseticidas e herbicidas; riscos industriais são rapidamente exauridas.
e ocupacionais; álcool e drogas sociais.
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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME
A glicólise anaeróbica resulta em acúmulo de ácido
lático e fosfatos inorgânicos da hidrólise de ésteres de
fosfato. Isso diminui o pH intracelular, resultando na
diminuição da atividade de muitas enzimas celulares.
• A depleção prolongada ou crescente de ATP causa o
rompimento estrutural do aparelho de síntese proteica,
manifestado como desprendimento dos ribossomos do
retículo endoplasmático rugoso e dissociação dos
polissomos, com a consequente redução da síntese
proteica.
• Nas células privadas de oxigênio ou glicose, as
proteínas se tornam anormalmente dobradas e o acúmulo
de proteínas mal dobradas no retículo endoplasmático
(RE) desencadeia uma reação chamada de resposta de
proteína não dobrada que pode culminar em lesão e
morte celular. Finalmente, há dano irreversível às
mitocôndrias e às membranas lisossômicas, e a célula
sofre necrose.

Influxo de Cálcio e Perda da Homeostase do Cálcio


Os íons cálcio são importantes mediadores da lesão
celular. De acordo com isto, a diminuição do cálcio
protege as células de lesões induzidas por uma variedade
de estímulos nocivos. O cálcio livre no citosol é
normalmente mantido em concentrações muito baixas. A
isquemia e certas substâncias tóxicas causam um
aumento da concentração do cálcio citosólico,
inicialmente pela liberação do Ca2+ dos estoques
intracelulares e, posteriormente, pelo aumento do influxo
através da membrana plasmática. O aumento do Ca 2+
intracelular causa lesão celular por vários mecanismos.

Danos Mitocondriais
A mitocôndria pode ser danificada por aumentos de
Ca2+ citosólico, espécies reativas de oxigênio, privação
de oxigênio, e assim elas são sensíveis a praticamente
todos os tipos de estímulos nocivos, incluindo hipoxia e
tóxicos. Além disso, mutações de genes mitocondriais
são a causa de algumas doenças hereditárias. Há três
principais consequências dos danos mitocondriais:
• O dano mitocondrial frequentemente resulta na
formação de um canal de alta condutância na membrana
mitocondrial, chamado de poro de transição de
permeabilidade mitocondrial. A abertura desse canal
de condutância leva à perda do potencial de membrana
Acúmulo de Radicais Livres Derivados do Oxigênio
mitocondrial, resultando em falha na fosforilação
A lesão celular induzida por radicais livres, é um
oxidativa e na depleção progressiva do ATP,
importante mecanismo de dano celular em muitas
culminando na necrose da célula.
condições patológicas, como a lesão química e por
radiação, lesão de isquemia-reperfusão (produzida pela
restauração do fluxo sanguíneo em um tecido
isquêmico), envelhecimento celular e morte de
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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME
microrganismos pelos fagócitos. Os elétrons não
emparelhados são altamente reativos e “atacam” e Lesão Reversível
modificam moléculas adjacentes, tanto substâncias Dois aspectos da lesão celular reversível podem ser
inorgânicas quanto orgânicas. Algumas dessas reações reconhecidos à microscopia óptica: tumefação celular e
são autocatalíticas, isto é, as moléculas que reagem com degeneração gordurosa.
os radicais livres são convertidas em radicais livres,
gerando, assim, uma propagação de danos em cadeia. Tumefação celular: surge quando as células se tornam
incapazes de manter a homeostase hidroeletrolítica e é
resultante da falência das bombas de íons dependentes
de energia na membrana plasmática.

Quando afeta muitas células, provoca certa palidez,


aumento do turgor e aumento do peso do órgão. Ao
exame microscópico, podem ser observados pequenos
vacúolos claros dentro do citoplasma; A tumefação
celular é reversível.

Degeneração gordurosa: ocorre na lesão hipóxica e em


Defeitos na Permeabilidade da Membrana várias formas de lesão metabólica ou tóxica. Ela é
A perda precoce da permeabilidade seletiva da manifestada pelo surgimento de vacúolos lipídicos no
membrana, evoluindo no final para um dano evidente da citoplasma. É observada principalmente em células
membrana, é uma característica constante na maioria das envolvidas e dependentes do metabolismo da gordura,
formas de lesão celular (exceto na apoptose). como os hepatócitos e as células miocárdicas.
Mecanismos da Lesão da Membrana
Espécies reativas de oxigênio. Necrose
Diminuição da síntese de fosfolipídios. Resultado da desnaturação de proteínas intracelulares
Aumento na quebra dos fosfolipídios. e da digestão enzimática da célula lesada letalmente. As
Anormalidades citoesqueléticas. células necróticas são incapazes de manter a
integridade da membrana e seus conteúdos sempre são
Danos ao DNA e às Proteínas liberados no meio externo, um processo que provoca a
As células possuem mecanismos que reparam danos ao inflamação no tecido circundante. As enzimas que
DNA, porém se o dano é muito grave para ser corrigido digerem a célula necrótica são derivadas dos lisossomos
(p. ex., após exposição do DNA a fármacos nocivos, das próprias células que estão morrendo ou dos lisossomos
radiação ou estresse oxidativo), a célula inicia um dos leucócitos que são recrutados como parte da reação
programa de suicídio que resulta em morte por apoptose inflamatória.
Quando as enzimas já digeriram as organelas
citoplasmáticas, o citoplasma se torna vacuolado e
Alterações morfológicas da lesão celular – tipos de parece roído por traças. As células mortas podem ser
morte substituídas por grandes massas fosfolipídicas3
Há um período de tempo entre o estímulo e as alterações espiraladas, chamadas de figuras de mielina, originadas
morfológicas da lesão e morte celulares; a duração desse de membranas celulares lesadas. Esses precipitados
retardo pode variar com a sensibilidade dos métodos fosfolipídicos são, então, fagocitados por outras células
usados para detectar essas alterações. ou, mais tarde, degradados em ácidos graxos; a
calcificação desses resíduos de ácidos graxos resulta na
geração de sabões (que são sais de cálcio). As células
mortas podem, no final, sofrer calcificação.

Alterações nucleares - destruição inespecífica do DNA.


Cariólise - basofilia da cromatina pode esmaecer >
alteração que, provavelmente, reflete a perda de DNA
pela degradação enzimática por endonucleases.

Picnose - retração nuclear e aumento da basofilia.


Aqui, a cromatina condensa-se numa massa sólida
contraída basófila.

Cariorrexe - o núcleo picnótico sofre fragmentação.


Com o decorrer do tempo (1 ou 2 dias), o núcleo da célula
necrótica desaparece totalmente.

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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME
Padrões de necrose: amorfos delimitados por uma borda inflamatória distinta
Necrose coagulativa: forma de necrose tecidual na qual > granuloma.
a arquitetura básica dos tecidos mortos é preservada
por um intervalo de alguns dias. Os tecidos afetados
exibem uma consistência firme. Supostamente, a lesão
desnatura não apenas as proteínas estruturais, mas
também as enzimas, bloqueando, assim, a proteólise
das células mortas; como resultado, células
anucleadas e eosinófilas persistem por dias ou
semanas. Finalmente, as células necróticas são
removidas por fagocitose dos restos celulares por
leucócitos infiltrados e pela digestão das células mortas
através da ação das enzimas lisossômicas dos leucócitos.
Uma área localizada de necrose de coagulação é
chamada de infarto.
Necrose gordurosa: se refere a áreas focais de destruição
adiposa, tipicamente resultantes da liberação de lipases
pancreáticas ativadas na intimidade do pâncreas e na
cavidade peritoneal. Isto ocorre na emergência
abdominal calamitosa, conhecida como pancreatite
aguda. Nesse distúrbio, as enzimas pancreáticas
escapam das células acinares e liquefazem as
membranas dos adipócitos do peritônio. As enzimas
N- normal; I- necrótica liberadas quebram os triacilgliceróis contidos dentro
dessas células. Os ácidos graxos liberados combinam-se
Necrose liquefativa - é caracterizada pela digestão das com o cálcio, produzindo áreas calcárias brancas
células mortas, resultando na transformação do macroscopicamente visíveis (saponificação da
tecido em uma massa viscosa líquida. É observada em gordura), que permitem ao cirurgião e ao patologista
infecções bacterianas focais ou, ocasionalmente, nas identificarem as lesões.
infecções fúngicas, porque os micróbios estimulam o
acúmulo de leucócitos e a liberação de suas enzimas. O
material necrótico > amarelo-cremoso devido à presença
de leucócitos mortos e é chamado de pus.

Necrose fibrinoide: geralmente observada nas reações


imunes que envolvem os vasos sanguíneos. Esse padrão
de necrose ocorre tipicamente quando complexos de
antígenos e anticorpos são depositados nas paredes das
Necrose gangrenosa: não é um padrão específico de artérias. Os depósitos desses “imunocomplexos”, em
morte celular. Em geral é aplicado a um membro, combinação com a fibrina que extravasa, resulta em uma
geralmente a perna, que tenha perdido seu suprimento aparência amorfa róseo-brilhante.
sanguíneo e que tenha sofrido necrose (tipicamente
necrose de coagulação). Quando uma infecção
bacteriana se superpõe, ocorre ainda necrose liquefativa
devido à ação de enzimas degradativas das bactérias e
dos leucócitos atraídos (originando a chamada
gangrena úmida).
Necrose caseosa: encontrada mais frequentemente em
focos de infecção tuberculosa. O termo “caseoso” -
aparência friável esbranquiçada da área de necrose. Ao
exame microscópico, a área necrótica exibe uma coleção
de células rompidas ou fragmentadas e restos granulares
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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME
Apoptose
A apoptose é uma via de morte celular induzida por um
programa de suicídio finamente regulado no qual as
células destinadas a morrer ativam enzimas que
degradam seu próprio DNA e suas proteínas
nucleares e citoplasmáticas. As células apoptóticas se
quebram em fragmentos, chamados corpos apoptóticos,
que contêm porções do citoplasma e núcleo. A
membrana plasmática da célula apoptótica e de seus
corpos apoptóticos permanece intacta, mas sua estrutura
é alterada de tal maneira que seus fragmentos tornam-se
alvos “saborosos” para os fagócitos. A célula morta e
seus fragmentos são rapidamente devorados, antes que
seus conteúdos sejam liberados no meio, e desse modo a
morte celular por esta via não desperta uma resposta
inflamatória no hospedeiro.

A apoptose resulta da ativação de enzimas chamadas


caspases. Como muitas proteases, as caspases existem
como pró-enzimas inativas ou zimogênios, e devem
sofrer clivagem enzimática para se tornarem ativas.
A presença de caspases ativas, clivadas, constitui um
marcador para células que estão sofrendo apoptose. Via Extrínseca da Apoptose (Receptor de Morte)
O processo de apoptose pode ser dividido em uma fase Esta via é iniciada pela ativação de receptores de morte
de iniciação, durante a qual algumas caspases se tornam na membrana plasmática em diversas células. Os
cataliticamente ativas, e uma fase de execução, durante a receptores de morte são membros da família do receptor
qual outras caspases iniciam a degradação de TNF - sua função é a de ativar cascatas inflamatórias. Os
componentes celulares críticos. Duas vias distintas receptores de morte mais bem conhecidos são o receptor
convergem na cativação das caspases: a via TNF tipo 1 (TNFR1) e uma proteína relacionada
mitocondrial e a via do receptor de morte - geralmente denominada Fas (CD95), mas muitos outros foram
são induzidas em condições diferentes, envolvem descritos. O mecanismo de apoptose induzido por esses
moléculas diferentes, e têm funções distintas na receptores de morte é bem ilustrado pelo Fas, um receptor
fisiologia e na doença. de morte expresso em muitos tipos celulares.

Via Intrínseca (Mitocondrial) da Apoptose O ligante para Fas é chamado de Fas ligante (FasL). O
A via mitocondrial é o principal mecanismo de apoptose FasL é expresso nas células T que reconhecem antígenos
em todas as células dos mamíferos. As mitocôndrias são próprios (e atuam eliminando os linfócitos autorreativos)
organelas notáveis por conterem proteínas, tais como o e alguns linfócitos T citotóxicos (que eliminam células
citocromo c, que são essenciais para a vida, mas algumas tumorais e infectadas por vírus). Quando o FasL se liga ao
das mesmas proteínas, em particular o citocromo c, Fas, três ou mais moléculas de Fas se reúnem e seus
quando liberadas para o citoplasma (uma indicação domínios de morte citoplasmáticos formam um sítio de
de que a célula não é saudável), iniciam o programa ligação para uma proteína adaptadora que também contém
de suicídio da apoptose. A viabilidade celular é mantida um domínio de morte e é denominada FADD. A FADD
pela indução de proteínas antiapoptóticas, tais como ligada aos receptores de morte, por sua vez, liga-se a uma
BCL2, por sinais de sobrevivência. Essas proteínas forma inativa da caspase-8 novamente através de um
mantêm a integridade da membrana mitocondrial e domínio de morte. Várias moléculas de pró-caspase-8 são,
evitam a saída de proteínas mitocondriais. Perda de assim, aproximadas, e elas clivam umas às outras para
sinais de sobrevivência, danos no DNA e outras gerar a caspase-8 ativa. Os eventos subsequentes são os
agressões ativam os sensores que antagonizam as mesmos da via mitocondrial e culminam na ativação de
proteínas antiapoptóticas e ativam as proteínas várias caspases executoras. Essa via da apoptose pode ser
próapoptóticas BAX e BAK, que formam canais na inibida por uma proteína denominada FLIP, a qual se liga
membrana mitocondrial. A saída subsequente do à pró-caspase-8 mas não pode clivar nem ativar a caspase
citocromo c (e de outras proteínas não mostradas) leva à porque lhe falta um domínio de protease. Alguns vírus e
ativação de caspases e apoptose. células normais produzem FLIP e usam esse inibidor para
se proteger da apoptose mediada por Fas.

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Rafaela Amaral Lesão e morte celular 4° período - FPME

Autofagia
A autofagia é um processo no qual a célula digere seu
próprio conteúdo. Ela envolve a entrega de materiais
citoplasmáticos ao lisossomo para degradação.
Dependendo da forma como o material é entregue, a
autofagia pode ser classificada em três tipos:
• Autofagia mediada por chaperonas (translocação direta
através da membrana lisossomal por proteínas
chaperonas).
• Microautofagia (invaginação para dentro da membrana
lisossomal para a entrega).
• Macroautofagia (doravante denominada autofagia), a
principal forma de autofagia envolvendo o sequestro e
transporte de porções de citoplasma para dentro de um
vacúolo autofágico revestido por dupla membrana
(autofagossomo).

Referências
• KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .

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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
1. Elucidar o processo de formação do tumor e os fatores de risco organismo, antes que formem um câncer. (genes alterados
associados (capacidade de diferenciação da célula); > proteínas alteradas > ativação do sistema imune >
2. Compreender a diferenciação entre tumor benigno e maligno; formação de anticorpos ou linfócitos sensibilizados >
3. Explanar como se dá a metástase (formas de disseminação dos tipos destruição das células cancerosas).
de tumores); 4. Diversos oncogenes devem ser ativados
4. Conhecer a classificação das nomenclaturas dos tumores; simultaneamente para causar câncer.
5. Descrever a prevalência dos tumores.

Formação do tumor A oncogênese é composta por três estágios:


• Estágio de iniciação, no qual os genes sofrem ação dos
Neoplasia significa “novo crescimento”, sendo que o agentes cancerígenos.
termo “tumor” se iguala a neoplasia. “Uma neoplasia é • Estágio de promoção, no qual os agentes oncopromotores
uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é atuam na célula já alterada.
excessivo e não coordenado com aquele dos tecidos • Estágio de progressão, caracterizado pela multiplicação
normais, e persiste da mesma maneira excessiva após a descontrolada e irreversível da célula.
interrupção do estímulo que originou as alterações.”
Formação do câncer = oncogênese/carcinogênese

Nos tempos modernos, uma neoplasia pode ser definida


como um distúrbio do crescimento celular que é
desencadeado por uma série de mutações adquiridas
que afetam uma única célula e sua progênie clonal. As
mutações causais fornecem para as células neoplásicas
uma vantagem de sobrevivência e de crescimento,
resultando em proliferação excessiva que é Como as mutações ocorrem ao acaso, pode-se supor que
independente de sinais fisiológicos de crescimento grande número de cânceres é o resultado do acaso.
(autônoma). Todos os tumores apresentam dois Entretanto, a probabilidade de mutações pode ser
componentes básicos: aumentada consideravelmente quando o organismo é
1. células neoplásicas clonais que constituem o exposto a fatores químicos, físicos ou biológicos.
parênquima tumoral,
2. estroma reativo feito de tecido conjuntivo, vasos Fatores Ambientais
sanguíneos e números variáveis de células do sistema Podem ser dominantes sobre os fatores genéticos para a
imune inato e adaptativo. maiorias dos tipos de câncer.

Há 4 classes de genes reguladores normais: Entre os melhores fatores ambientais que afetam o risco de
 Proto-oncogenes - promotores do crescimento câncer estão os seguintes:
 Antioncogenes - supressores do tumor • Agentes infecciosos > Acredita-se que cerca de 15% de
 Genes que regulam a apoptose todos os cânceres no mundo sejam causados direta ou
indiretamente por agentes infecciosos, com a carga de
 Genes envolvidos no reparo do DNA
cânceres ligados a infecções sendo cerca de três vezes
Mutações > proto-oncogenes ativados > aumento
maior nos países em desenvolvimento do que nos países
excessivo em uma das funções do produto genético
desenvolvidos.
codificado / função completamente nova para o produto
• Tabagismo > indicado como o fator ambiental isolado
genético afetado.
mais importante que contribui para a morte prematura nos
Mutações > antioncogenes > “perda de função”
Estados Unidos. O fumo, principalmente de cigarros, tem
Genes reguladores de apoptose > anomalias > menos
sido apontado como causador das mortes por câncer de
mortes > maior sobrevida das células.
boca, faringe, laringe, esôfago, pâncreas, bexiga e, mais
Mutações > genes de reparo de DNA > déficit no
significativamente, de cerca de 90% das mortes por câncer
reconhecimento e reparo de danos.
de pulmão
• Consumo de álcool > O abuso do álcool por si só
Uma fração reduzida das células que passam por
aumenta o risco de carcinomas de orofaringe (excluindo os
mutação no organismo produzirá um câncer, porque:
lábios), laringe e esôfago e carcinoma hepatocelular (pelo
1. A maioria das células alteradas tem capacidade
desenvolvimento da cirrose). O álcool e o tabaco, juntos,
menor de sobrevivência do que as células normais e
aumentam de forma sinérgica o risco câncer nas vias
simplesmente morrem.
aéreas superiores e no trato digestório.
2. Apenas poucas dessas células alteradas que
• Obesidade > No geral, os indivíduos mais obesos na
conseguem sobreviver se tornam cancerosas, pois
população norte-americana apresentam aumento de 52%
mesmo a maioria das células mutantes ainda tem
(homens) e 62% (mulheres) nas taxas de mortalidade por
controles de feedback normais que previnem o
câncer em relação aos seus colegas mais magros;
crescimento excessivo.
• História reprodutiva > exposição acumulativa ao
3. As células potencialmente cancerosas são
estrogênio, especialmente se não houver oposição pela
frequentemente destruídas pelo sistema imune do

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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
Tumor benigno e maligno
progesterona, aumenta o risco de câncer de mama e do
endométrio, tecidos que são sensíveis a esses hormônios.
• Carcinógenos ambientais > ex. raios ultravioleta Diz-se que um tumor é benigno quando seus aspectos
[UV], poluição atmosférica, água de poço, arsênico, micro e macroscópicos são considerados relativamente
certos medicamentos, amianto, entre outros. inocentes, significando que ele permanece localizado,
não se disseminará para outras áreas e geralmente
Idade pode ser removido por cirurgia local.
A maioria dos carcinomas ocorre nos anos mais tardios Os tumores benignos são constituídos por células bem
da vida (>55 anos). O câncer é a principal causa de semelhantes às que os originaram e não possuem a
morte entre as mulheres com idade entre 40 e 79 anos capacidade de provocar metástases. No entanto, os
e entre os homens com idades entre 60 e 79 anos. A tumores “benignos” podem causar morbidade significativa
incidência crescente de câncer com a idade pode ser e às vezes serem até fatais.
explicada pelo acúmulo de mutações somáticas
associadas ao surgimento das neoplasias malignas. O Os tumores malignos são referidos coletivamente como
declínio na imunocompetência, que acompanha o cânceres. Podem invadir e destruir as estruturas
envelhecimento, também pode ser um fator. adjacentes e se disseminar para áreas distantes
(metastatizar), levando à morte. Nem todos os cânceres
Condições Predisponentes Adquiridas seguem um curso tão mortífero.
Podem ser divididas em inflamações crônicas, lesões
precursoras e estados de imunodeficiência. Distúrbios Tumores Mistos
inflamatórios crônicos e lesões precursoras abrangem
um conjunto diversificado de condições que estão todas Na maioria das neoplasias benignas e malignas, todas as
associadas ao aumento da replicação celular. células parenquimatosas se assemelham entre si. Com
pouca frequência, contudo, a diferenciação divergente de
Predisposição Genética e Interações Entre Fatores um único clone neoplásico cria um tumor misto, tal como
Ambientais e Hereditários o tumor misto de glândula salivar.
Em algumas famílias o câncer é uma característica
hereditária, geralmente devido a mutações germinativas
em um gene supressor de tumor. Mesmo em tumores
com um componente hereditário bem definido, o risco de
desenvolvê-lo pode ser fortemente influenciado por
fatores não genéticos.

Diferenciação e Anaplasia
O termo diferenciação refere-se à extensão com que as
células do parênquima neoplásico assemelham-se às
células parenquimatosas normais correspondentes,
tanto morfológica quanto funcionalmente; a falta de
diferenciação é denominada anaplasia. Em geral, os
tumores benignos são bem diferenciados (ou seja, se
parecem muito com as células normais). Somente o
crescimento de tais células formando uma massa distinta
revela a natureza neoplásica da lesão. Em tumores bem
diferenciados benignos, as mitoses são geralmente raras
e apresentam configuração normal.

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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
de células tumorais crescem de maneira anárquica e
desorganizada.
• Outras alterações. Células tumorais requerem um
suprimento sanguíneo, todavia, o estroma vascular é
escasso e, como resultado grandes áreas centrais de
necrose isquêmica desenvolvem-se em vários tumores
malignos de crescimento rápido. As células altamente
anaplásicas perdem sua semelhança com as células
normais das quais se originaram e, em alguns casos, novas
e inesperadas funções emergem.

Metaplasia e Displasia
A metaplasia é definida como a substituição de um tipo
Neoplasias malignas que são compostas por células celular por outro tipo celular - quase sempre é
pouco diferenciadas são denominados anaplásicas. A encontrada em associação com os processos de dano,
anaplasia é considerada uma marca da malignidade. reparo e regeneração teciduais. O termo displasia
A questão se a maioria dos cânceres de fato se origina de literalmente significa “crescimento desordenado”. Ela
uma “diferenciação reversa” das células normais pode ser encontrada principalmente em epitélios, e as
maduras ao invés da diferenciação incompleta de células alterações incluem a perda da uniformidade das células
menos maduras é um item fundamental. A anaplasia está individuais, assim como a perda de sua orientação
associada a muitas outras alterações morfológicas. arquitetural. As células displásicas podem exibir
pleomorfismo considerável e frequentemente contêm
• Pleomorfismo - variação no tamanho e na forma. núcleos hipercromáticos grandes com uma grande razão
Assim, as células dentro do mesmo tumor não são núcleo-citoplasma. Quando as alterações displásicas são
uniformes, mas variam desde células pequenas com um marcantes e envolvem toda a espessura do epitélio,
aspecto indiferenciado, até células tumorais gigantes, porém a lesão não penetra na membrana basal, ela é
muitas vezes maiores do que as suas vizinhas. Algumas considerada como uma neoplasia pré-invasiva e é
células tumorais gigantes possuem apenas um único denominada carcinoma in situ.
núcleo gigante polimórfico, enquanto outras apresentam Uma vez que as células tumorais tenham rompido a
dois ou mais grandes núcleos hipercromáticos. membrana basal, diz-se que o tumor é invasivo. Embora
a displasia possa ser uma precursora da transformação
maligna, ela nem sempre progride para o câncer. Com a
remoção das causas agressoras, displasias leves a
moderadas que não envolvem toda a espessura do epitélio
podem ser completamente reversíveis.
Até mesmo o carcinoma in situ pode persistir por anos
antes de se tornar invasivo. Por fim, mesmo que a
displasia ocorra com frequência no epitélio
metaplásico, nem todos os epitélios metaplásicos são
displásicos.
• Morfologia nuclear anormal - Caracteristicamente, os
núcleos são desproporcionalmente grandes para a
célula, forma do núcleo é variável e muitas vezes
irregular, e a cromatina está normalmente agrupada de
forma desordenada e distribuída pela membrana nuclear,
ou com uma coloração mais escura que o normal
(hipercromática).
• Mitoses - Diferentemente dos tumores benignos e de
algumas neoplasias malignas bem diferenciadas, nos
tumores indiferenciados, muitas células estão na mitose,
refletindo atividade proliferativa maior das células
parenquimatosas. A presença de mitoses, contudo, não
indica, necessariamente, que um tumor seja maligno Metástase
ou que o tecido seja neoplásico. Importante como O crescimento dos cânceres é acompanhado por
característica morfológica de malignidade são as figuras infiltração progressiva, invasão e destruição do tecido
mitóticas atípicas, bizarras, algumas vezes com fusos circundante, ao passo que quase todos os tumores
tripolares, quadripolares ou multipolares. benignos crescem como massas expansivas coesas que
• Perda de polaridade - Além das anormalidades permanecem em seu local de origem e não possuem
citológicas, a orientação das células anaplásicas é capacidade para se infiltrar, invadir ou formar
significativamente alterada. Lençóis ou grandes massas metástase em áreas distantes. Como os tumores
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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
benignos crescem e se expandem lentamente, sanguíneos, linfáticos e cavidades corpóreas, provendo
geralmente eles desenvolvem um contorno de tecido a oportunidade para a disseminação. Todos os tumores
fibroso comprimido, algumas vezes referido como malignos podem formar metástase, mas alguns o fazem
uma cápsula que os separam do tecido hospedeiro. muito raramente e é evidente então que as propriedades de
Esta cápsula é constituída em grande parte de matriz invasão e metástases são distintas.
extracelular depositada pelas células estromáticas, tais
como fibroblastos, que são ativados por danos hipóxicos Em geral, a probabilidade de um tumor primário
resultantes da pressão do tumor em expansão. Essa formar metástase está correlacionada à falta de
encapsulação não evita que o tumor cresça, mas cria diferenciação, invasão local agressiva, crescimento
um plano tecidual que torna o tumor bem definido, rápido e tamanho grande. Contudo, muitos fatores
facilmente palpável, móvel (não fixo), e facilmente relacionados tanto ao invasor quanto ao hospedeiro estão
excisável por enucleação cirúrgica. envolvidos.
A propagação metastática reduz fortemente a
possibilidade de cura; nada apresentaria maior benefício
para os pacientes do que um meio eficaz para bloquear
as metástases.

Disseminação Linfática
O transporte através dos vasos linfáticos é a via mais
comum para a disseminação dos carcinomas (sarcomas
podem também utilizar essa rota). Os tumores não contêm
linfáticos funcionais, mas os vasos linfáticos localizados
nas margens tumorais são aparentemente suficientes
para a disseminação das células tumorais. O padrão de
acometimento dos linfonodos segue as rotas naturais
da drenagem linfática.
No câncer de mama, a determinação do envolvimento dos
linfonodos axilares é importante para a avaliação do
curso futuro da doença e para a seleção das estratégias
Por outro lado, os tumores malignos são, no geral,
terapêuticas apropriadas.
pouco demarcados e não há um plano de clivagem bem
Um linfonodo sentinela é definido como “o primeiro
definido. Os tumores malignos de expansão lenta,
linfonodo em uma cadeia linfática regional que recebe
contudo, podem propiciar o desenvolvimento de uma
o fluxo da linfa que vem do tumor primário.” Em
cápsula fibrosa aparente, que pode empurrar uma
muitos casos os linfonodos regionais servem como
ampla frente tumoral em direção às estruturas normais
barreiras efetivas contra a disseminação futura do
adjacentes. O exame histológico de tais massas
tumor, pelo menos por um tempo. É concebível que as
“pseudoencapsuladas” quase sempre mostra fileiras de
células, após pararem no linfonodo, possam ser
células penetrando na margem e infiltrando as estruturas
destruídas por uma resposta imune tumor-específica.
adjacentes.
A drenagem de restos de células tumorais ou de antígenos
tumorais, ou de ambos, também induz a alterações reativas
dentro dos linfonodos. Assim, o aumento dos linfonodos
pode ser causado por disseminação e crescimento das
células cancerígenas ou por hiperplasia reativa (o que
não caracteriza a metástase).

Juntamente com o desenvolvimento de metástases, a


capacidade de invasão é a característica mais
confiável para diferenciar os tumores malignos dos
benignos.
A metástase é definida pela propagação de um tumor
para áreas que são fisicamente descontínuas com o
tumor primário e de forma inequívoca marca um tumor
como maligno, pois, por definição, neoplasias
benignas não formam metástases. A invasividade dos
tumores malignos permite que eles penetrem nos vasos
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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
Disseminação Hematogênica circulação através da penetração na membrana basal
A disseminação hematogênica é típica dos sarcomas, vascular.
mas também é vista nos carcinomas. As artérias, com
suas paredes mais espessas, são menos prontamente
invadidas do que as veias. Contudo, a disseminação
arterial pode ocorrer quando as células tumorais passam
através dos leitos capilares pulmonares, ou através dos
shunts arteriovenosos pulmonares, ou quando as
metástases pulmonares por si mesmas originam êmbolos
tumorais. Nessa disseminação vascular, diversos fatores
influenciam os padrões de distribuição das metástases.
Com a invasão venosa, as células produzidas pelo
sangue seguem o fluxo venoso de drenagem do local
da neoplasia, enquanto as células tumorais
frequentemente se detêm no primeiro leito capilar
que encontram. É compreensível que o fígado e os
pulmões estejam mais frequentemente envolvidos em tal
disseminação hematogênica, porque toda a drenagem
da área portal flui para o fígado e todo o sangue da
veia cava flui para os pulmões.

• “Relaxamento” das interações célula tumoral-célula


tumoral.
• Degradação da MEC.
• Ligação a novos componentes da MEC.
• Migração e invasão das células tumorais

A dissociação das células umas das outras é o primeiro


passo no processo de invasão. As células epiteliais normais
são fortemente grudadas entre si e à MEC através de
diversas moléculas de adesão. As interações célula-
célula são mediadas pela família de glicoproteínas
transmembrana chamada de caderina. Em diversos
tumores epiteliais, incluindo adenocarcinomas do cólon,
A cascata metastática será dividida em duas fases: estômago e de mama, a função da E-caderina é perdida
1. invasão da matriz extracelular (MEC) - o que reduz a capacidade das células de se aderirem umas
2. disseminação vascular, instalação das células às outras e facilita seu desligamento do tumor primário e
tumorais e colonização. consequente avanço em direção aos tecidos
circunjacentes.
Invasão da Matriz Extracelular A degradação da membrana basal e do tecido conjuntivo
A organização estrutural e função dos tecidos normais intersticial é o segundo passo da invasão. As células
são, em grande parte, determinadas pela interação entre tumorais podem fazê-lo ao secretar enzimas
as células e a MEC. Sendo que há dois tipos de MEC: a proteolíticas, ou induzir as células estromáticas (p. ex.,
membrana basal e o tecido conjuntivo intersticial. fibroblastos e células inflamatórias) a elaborar proteases.
Apesar de organizados diferentemente, cada um desses As MMP, metaloproteinases, regulam a invasão tumoral
componentes da MEC é composto por colágeno, através da remodelação de componentes insolúveis da
glicoproteínas e proteoglicanos. membrana basal e da matriz intersticial, mas também
As células tumorais devem interagir com a MEC em através da liberação de fatores de crescimento
diversos estágios da cascata metastática. Um sequestrados na MEC.
carcinoma deve primeiro romper a membrana basal O terceiro passo na invasão envolve as alterações na
subjacente, então atravessar o tecido conjuntivo ligação das células tumorais a proteínas da MEC. As
intersticial e, em última instância, ter acesso à células epiteliais normais possuem receptores, como as
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Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME
Nomenclatura
integrinas, para a laminina da membrana basal e para o
colágeno que estão polarizados em sua superfície basal;
esses receptores ajudam a manter as células em um A nomeação dos tumores baseia-se na sua histogênese e
estado quiescente, diferenciado. A perda de adesão nas histopatologia. Para os tumores benignos, a regra é
células normais leva à indução da apoptose, enquanto acrescentar o sufixo "oma" ao termo que designa o
que, não surpreendentemente, as células tumorais são tecido que os originou.
resistentes a essa forma de morte celular. Além disso, a Exemplos:
própria matriz se torna modificada de maneira a tumor benigno do tecido cartilaginoso – condroma;
promover a invasão e a metástase. tumor benigno do tecido gorduroso – lipoma;
A locomoção é a última etapa da invasão, tumor benigno do tecido glandular – adenoma.
impulsionando as células tumorais através da
membrana basal degradada e das zonas de proteólise Quanto aos tumores malignos, é necessário considerar a
da matriz. A migração é um processo em múltiplas origem embrionária dos tecidos de que deriva o tumor.
etapas, que envolve muitas famílias de receptores e Quando sua origem for dos tecidos de revestimento
proteínas de sinalização que afinal se encontram no externo e interno, os tumores são denominados
citoesqueleto de actina. carcinomas. Quando o epitélio de origem for glandular,
passam a ser chamados de adenocarcinomas. Já os
tumores malignos originários dos tecidos conjuntivos ou
Dentro da circulação, as células tumorais tendem a mesenquimais será feito o acréscimo de "sarcoma" ao
agregar-se formando massas. As adesões homotípicas vocábulo que corresponde ao tecido. Por sua vez, os
entre as células tumorais favorecem esse arranjo, assim tumores de origem nas células blásticas, têm o sufixo
como as adesões heterotípicas entre as células "blastoma" acrescentado ao vocábulo que corresponde ao
tumorais e as células do sangue, principalmente as tecido original.
plaquetas. A formação de agregados plaqueta-tumor
pode aumentar a sobrevida da célula tumoral e sua Exemplos:
capacidade de se implantar. As células tumorais Carcinoma basocelular de face – tumor maligno da pele;
também podem se ligar e ativar os fatores de coagulação, Adenocarcinoma de ovário – tumor maligno do epitélio do
resultando na formação de êmbolos. ovário;
Condrossarcoma - tumor maligno do tecido cartilaginoso;
Lipossarcoma - tumor maligno do tecido gorduroso;
Leiomiossarcoma - tumor maligno do tecido muscular
liso;
Hepatoblastoma - tumor maligno do tecido hepático
jovem;
Nefroblastoma - tumor maligno do tecido renal jovem

Prevalência dos tumores


A mais recente estimativa mundial, ano 2018, aponta que
ocorreram no mundo 18 milhões de casos novos de
câncer (17 milhões sem contar os casos de câncer de pele
não melanoma) e 9,6 milhões de óbitos (9,5 milhões
excluindo os cânceres de pele não melanoma). O câncer de
pulmão é o mais incidente no mundo (2,1 milhões) seguido
pelo câncer de mama (2,1 milhões), cólon e reto (1,8
milhão) e próstata (1,3 milhão). A incidência em homens
(9,5 milhões) representa 53% dos casos novos, sendo um
pouco maior nas mulheres, com 8,6 milhões (47%) de
casos novos. Os tipos de câncer mais frequentes nos
homens foram o câncer de pulmão (14,5%), próstata
(13,5%), cólon e reto (10,9%), estômago (7,2%) e fígado
(6,3%). Nas mulheres, as maiores incidências foram
câncer de mama (24,2%), cólon e reto (9,5%), pulmão
(8,4%) e colo do útero (6,6%). Para o Brasil, a estimativa
para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão
625 mil casos novos de câncer (450 mil, excluindo os
casos de câncer de pele não melanoma). O câncer de pele
não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido
pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e
reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).

@resumeairafa
Rafaela Amaral Tumor e fatores de risco 4° período - FPME

Referências
 KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abc_do_can
cer.pdf
 -GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia
Médica. Editora Elsevier. 13ª ed., 2017.
 http://www.oncoguia.org.br/pub/3_conteudo/2020/esti
mativa_cancer_2020.pdf

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
Elucidar a fisiologia da célula tumoral • Capacidade de invadir e metastatizar:
Descrever os agentes carcinógenos e como atuam no Surgem da interrelação de processos que são intrínsecos às
desenvolvimento do câncer células tumorais e sinais que são iniciados pelo ambiente
Compreender como os tumores causam manifestações clínicas tecidual. 
Explanar a classificação de estadiamento tumoral e como se
• Capacidade de evadir da resposta imune do
relaciona com o prognóstico
Relacionar diferenciação celular com malignidade tumoral hospedeiro.
As células cancerígenas exibem inúmeras alterações que
Fisiologia lhes permitem evadir.
As células cancerosas apresentam quatro características
que as distinguem das células normais: proliferação A aquisição das alterações genéticas e epigenéticas que
descontrolada, diferenciação e perda de função, conferem essas marcas pode ser acelerada pela
poder de invasão e capacidade de sofrer metástases. instabilidade genômica e pela inflamação promotora
do câncer. Essas são características consideradas
Lembrar de: capacitoras pois promovem a transformação celular e
Proto-oncogenes – promotores do crescimento a progressão subsequente do tumor.
Anti-oncogenes – supressores do tumor
Genes que regulam a apoptose Autossuficiência nos Sinais de Crescimento: Oncogenes
Genes envolvidos no reparo do DNA Os oncogenes (os que promovem o crescimento celular
autônomo nas células cancerígenas) são criados por
Todos os cânceres exibem oito alterações mutações nos proto-oncogenes (contrapartes celulares não
fundamentais na fisiologia celular, que são mutadas). Os oncogenes codificam proteínas chamadas
consideradas as marcas registradas do câncer. de oncoproteínas que possuem a capacidade de
promover o crescimento celular na ausência de sinais
promotores de crescimento normais. As oncoproteínas
carregam mutações que muitas vezes inativam elementos
reguladores internos; Assim, as células que expressam
oncoproteínas são liberadas dos pontos de verificação
e controles normais que limitam o crescimento, e como
resultado, proliferam excessivamente.

Sob condições fisiológicas, as vias de sinalização do fator de


crescimento são:
• A ligação de um fator de crescimento ao seu receptor
específico.
• Ativação transitória e limitada do receptor do fator de
crescimento, que, por sua vez, ativa a várias proteínas de
transdução de sinal citoplasmáticas.
• Transmissão do sinal transduzido para o núcleo através de
proteínas efetoras citoplasmáticas adicionais e segundos
mensageiros, ou por uma cascata de moléculas transdutoras
de sinal.
• Autossuficiência nos sinais de crescimento: • Indução e ativação dos fatores nucleares reguladores que
Os tumores apresentam a capacidade de proliferação sem iniciam a transcrição do DNA.
estímulos externos - ativação de oncogenes. • Expressão de fatores que promovem a entrada e progressão
• lnsensibilidade aos sinais inibidores do crescimento: da célula no ciclo celular, resultando, finalmente, na divisão
Com a ativação de antioncogenes, os tumores podem não celular.
responder a moléculas que inibem a proliferação de • Em paralelo, alterações na expressão de outros genes que
células normais suportam a sobrevivência celular e alterações metabólicas
• Metabolismo celular alterado: que são necessárias para o crescimento ideal.
As células tumorais são submetidas a uma mudança
metabólica para a glicólise aeróbica (efeito Warburg), Aberrações em múltiplas vias de sinalização foram
que permite a síntese de macromoléculas e organelas que identificadas em vários tumores, sendo que muitos
são necessárias para o crescimento celular rápido. componentes destas vias atuam como oncoproteínas
• Evasão da apoptose: Os tumores são resistentes quando sofrem mutação. Uma série antioncogenes atuam
• Potencial de replicação ilimitado (imortalidade): através da inibição de um ou mais componentes dessas
Os tumores possuem capacidade proliferativa vias.
irrestrita, uma propriedade similar às células-tronco que
permite que as células tumorais evitem a senescência
celular e a catástrofe mitótica.
• Angiogênese mantida:
Os tumores devem induzir a angiogênese pois não são
capazes de crescer sem suprimento vascular.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
Fatores de crescimento O gene de fusão resultante EML4-ALK codifica uma
A maioria dos fatores de crescimento solúveis são proteína quimérica EML4-ALK, novamente com
produzidos por um tipo celular e agem em uma célula atividade constitutiva de tirosina cinase.
adjacente para estimular a proliferação (ação parácrina). Os cânceres da mama com amplificação do ERBB2 e
Contudo, muitas células cancerígenas adquirem a superexpressão do HER2 em geral respondem ao tratamento
habilidade de sintetizar os mesmos fatores de com anticorpos ou medicamentos que bloqueiam a atividade do
crescimento a que são responsivas, criando uma alça HER2. Esses inibidores não só provocam a interrupção do
crescimento do tumor, mas também induzem a apoptose e a
autócrina. O mais comum é que os sinais transduzidos
regressão do tumor, o que reflete a capacidade de sinalização do
por outras oncoproteínas causem superexpressão e receptor tirosina cinase para aumentar a sobrevida da célula,
secreção aumentada de fatores de crescimento, desse bem como a proliferação.
modo iniciando e amplificando a alça autócrina.
Exemplos de fatores de crescimento: Componentes à jusante da via de sinalização da
Fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) – tirosina cinase receptora
receptor A ativação de receptores tirosina cinase estimula a
Fator de transformação α (TGF-α) RAS e dois grandes “braços” de sinalização à jusante, a
cascata MAPK e a via PI3K/AKT. A RAS, PI3K, e
Receptores de Fator de Crescimento outros componentes destes caminhos são frequentemente
Os receptores tirosina cinases - proteínas acometidos por mutações de ganho de função em
transmembranares com um domínio de ligação do ligante diferentes tipos de câncer.
extracelular e um domínio citoplasmático de tirosina Mutações de RAS
cinase - indiscutivelmente são as mais importantes no As mutações pontuais dos genes da família da RAS são o
câncer. tipo mais comum de anomalia isolada envolvendo proto-
Normalmente, a atividade de cinase do receptor é ativada oncogenes em tumores humanos. Há três genes RAS em
transitoriamente pela ligação de um fator de crescimento humanos (HRAS, KRAS e NRAS).
específico para o domínio extracelular, um evento que Mutações Oncogênicas do BRAF e da PI3K
induz uma rápida mudança na conformação do receptor Outros fatores estão frequentemente envolvidos pelas
para um estado ativo dimérico. O receptor ativado então mutações de ganho de função.
autofosforila os resíduos de tirosina na sua própria cauda • A BRAF é uma proteína cinase serina/treonina que se
intracelular, e esses resíduos modificados servem como aloja no topo de uma cascata de outras cinases
locais para o recrutamento de uma série de moléculas de serina/treonina da família do MAPK. Assim como as
sinalização, incluindo a RAS e a PI3K, que já foram mutações ativadoras de RAS, as mutações ativadoras de
descritas como peças fundamentais na sinalização dos BRAF estimulam cada uma dessas cinases à jusante e,
receptores tirosina cinase. As versões oncogênicas finalmente, ativam os fatores de transcrição.
destes receptores estão associadas com mutações que Mutações da família de proteínas PI3K
conduzem à atividade constitutiva de tirosina cinase O PI3K é um heterodímero composto por uma subunidade
independente de fator de crescimento. Assim, os reguladora e uma subunidade catalítica, das quais existem
receptores mutantes liberam sinais mitogênicos várias isoformas tecido-específicas. Sob circunstâncias
contínuos para a célula, mesmo na ausência do fator normais, o PI3K é recrutado por ativação de receptor
de crescimento no ambiente. Os receptores tirosina tirosina cinase para complexos de proteínas de sinalização
cinases podem ser ativados constitutivamente nos associados à membrana plasmática. Assim como o BRAF,
tumores por múltiplos mecanismos, incluindo mutações ele ativa uma cascata de serina/treonina cinases, incluindo
pontuais, rearranjos gênicos e amplificações gênicas. o AKT, que é um nodo de sinalização fundamental.
Mutações oncogênicas envolvendo receptores:
• O ERBB1 codifica o receptor do fator de
crescimento epidérmico (EGFR), que é acometido por
mutações pontuais em determinados cânceres. Várias
mutações pontuais diferentes de ERBB1 encontradas em
um subconjunto de adenocarcinomas do pulmão são de
grande importância clínica. Essas mutações resultam na
ativação constitutiva da tirosina ccinase do EGFR.
• O ERBB2 codifica um membro diferente da família de
receptores tirosina cinase, o HER2. O gene ERBB2 é
amplificado em certos carcinomas da mama, levando à
superexpressão do receptor HER2 e atividade
constitutiva da tirosina cinase.
• Rearranjos gênicos ativam outros receptores tirosina
cinases, como o cinase ALK. Por exemplo, uma deleção
no cromossomo 5 funde parte do gene ALK com a parte
de um outro gene chamado EML4 em um subconjunto
de adenocarcinomas do pulmão.

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Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
Ciclinas e Cinases Dependentes de Ciclinas TP53: Guardiã do Genoma
Os fatores de crescimento transduzem sinais que O TP53, um gene supressor de tumor que regula a
estimulam a progressão ordenada das células através das progressão do ciclo celular, o reparo de DNA, a
várias fases do ciclo celular, processo pelo qual as células senescência celular e a apoptose, é o gene que sofre
replicam o seu DNA no preparo para a divisão celular. A mutação em cânceres humanos com mais frequência. Na
progressão ordenada das células através do ciclo celular maioria dos casos, as mutações estão presentes em ambos
é orquestrada por cinases dependentes de ciclina (CDK), os alelos TP53 e são adquiridas nas células somáticas (não
que são ativadas através da ligação às ciclinas, assim são herdadas na linhagem germinativa). Assim como no
chamadas em decorrência da natureza cíclica de sua caso do supressor de tumor RB e o retinoblastoma, a
produção e degradação. Os complexos ciclina-CDK herança de uma cópia mutada do gene TP53 predispõe
fosforilam proteínas alvo cruciais que conduzem a célula indivíduos a tumores malignos, pois apenas um “evento”
adiante através do ciclo celular. Enquanto as ciclinas adicional no alelo normal solitário é necessário para anular
estimulam as CDK, seus inibidores (CDKI), dos quais há a função do TP53.
muitos, silenciam as CDK e exercem um controle
negativo sobre o ciclo celular. A expressão desses
inibidores tem sua regulação diminuída por vias de
sinalização mitogênicas, promovendo assim a
progressão do ciclo celular.

RB: Regulador da Proliferação


O RB, um regulador negativo fundamental na transição
do ciclo celular G1/S, está direta ou indiretamente
inativado na maioria dos cânceres humanos. O RB
também controla a diferenciação celular. A proteína RB
existe em um estado ativo hipofosforilado nas células
quiescentes e em um estado inativo hiperfosforilado em
células que passam através da transição entre o ciclo
celular G1/S. A função da RB pode estar comprometida
de duas formas diferentes:
• Mutações de perda de função envolvendo ambos os
alelos do gene RB.
• Uma mudança do estado ativo hipofosforilado para o
estado inativo hiperfosforilado por mutações de ganho de
função que regulam positivamente a atividade de
CDK/ciclina D ou por mutações de perda de função que
anulam a atividade de inibidores de CDK.
Uma vez ativada, a p53 impede a transformação
neoplásica por indução ou interrupção transitória do
ciclo celular, senescência (interrupção permanente do
ciclo celular), ou morte celular programada (apoptose).
Acredita-se que a maioria destes efeitos resultem da
capacidade da p53 de funcionar como um fator de
transcrição. A p53 se liga ao DNA em uma sequência
específica e ativa a transcrição de centenas de diferentes
genes-alvo com elementos de ligação de p53. Os genes-
alvo fundamentais que executam as funções da p53 não
são completamente definidos, mas aparentemente se
dividem em três categorias principais:
(1) aqueles que causam a interrupção do ciclo celular;
(2) aqueles que causam a apoptose; e
(3) aqueles que aumentam o metabolismo catabólico ou
inibem o metabolismo anabólico.

Alterações Metabólicas Promotoras de Crescimento: O


Efeito Warburg
Mesmo na presença de oxigênio suficiente, as células
cancerígenas demonstram uma forma distinta de
metabolismo celular caracterizada por altos níveis de
absorção de glicose e aumento da conversão de glicose
para a lactose (fermentação) através da via glicolítica.

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Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
A glicólise aeróbica proporciona a células tumorais de A neovascularização possui um efeito duplo no
divisão rápida intermediários metabólicos que são crescimento do tumor: a perfusão provê nutrientes e
necessários para a síntese de componentes celulares, ao oxigênio e as células endoteliais recém-formadas
passo que a fosforilação oxidativa mitocondrial não. estimulam o crescimento de células tumorais adjacentes
Uma célula em crescimento apresenta uma rígida através da secreção de fatores de crescimento, como
exigência biossintética; ela deve duplicar todos os seus fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) e
componentes celulares (ou seja: DNA, RNA, proteínas, PDGF.
lipídios e organelas), antes que ela possa dividir e Evasão da Defesa do Hospedeiro
produzir duas células-filhas. Assumindo que o sistema imunológico é capaz de
reconhecer e eliminar os cânceres nascentes, segue-se o
Potencial de Replicação Ilimitado: Propriedades das fato de que os tumores que se desenvolvem devem ser
Células Cancerígenas Semelhantes às das Células- compostos de células que são invisíveis para o sistema
tronco imunológico do hospedeiro ou que liberam fatores que
Todos os cânceres contêm células que são imortais e que suprimem ativamente a imunidade do hospedeiro. O termo
possuem potencial replicativo ilimitado. Três fatores imunoeditoração do câncer está sendo usado para
interrelacionados parecem ser críticos para a descrever a capacidade que o sistema imunológico possui
imortalidade das células cancerígenas: de formar e moldar as propriedades imunogênicas das
(1) evasão de senescência; células tumorais, de forma que acaba resultando na seleção
O estado de senescência está associado à regulação Darwiniana dos subclones, os quais são os melhores em
positiva de supressores de tumor, tais como a p53 e a escapar da eliminação imunológica.
INK4a/p16. Acredita-se que esses supressores de tumor Instabilidade Genômica
contribuam para a senescência, em parte, através da Anomalias genéticas que aumentam as taxas de mutação
manutenção da RB em um estado hipofosforilado, que são muito comuns em cânceres e aceleram a aquisição de
favorece a interrupção do ciclo celular. O ponto de mutações condutoras necessárias para a transformação e
checagem do ciclo celular G1/S dependente de RB é subsequente progressão do tumor. Aimportância do reparo
interrompido em praticamente todos os cânceres por uma do DNAna manutenção da integridade do genoma é ainda
ampla variedade de aberrações genéticas e epigenéticas mais realçada por diversas doenças em que os genes que
adquiridas. codificam proteínas envolvidas no reparo de DNAestão
(2) evasão de crise mitótica; defeituosos. Os indivíduos nascidos com tais defeitos
As células resistentes a senescência não são imortais; ao hereditários nas proteínas de reparo do DNAestão com
invés disso, elas finalmente entram em uma fase referida risco muito aumentado de desenvolver câncer.
como crise mitótica e morrem. Esse fenômeno foi Inflamação Capacitora de Câncer
relacionado ao encurtamento progressivo dos telômeros Estudos realizados sugerem que as células inflamatórias
nas extremidades dos cromossomos. Se as células modificam o microambiente do tumor local para permitir
afetadas possuírem p53 funcional, a célula interromperá muitas das características de câncer. Estes efeitos podem
seu crescimento e poderá sofrer apoptose, mas se a p53 resultar de interações diretas entre as células inflamatórias
for disfuncional, a via de recombinação não-homóloga é e as células tumorais, ou através de efeitos indiretos das
ativada e poderá unir duas extremidades “descobertas” células inflamatórias em outras células estromáticas
de dois cromossomos. Isso resulta em cromossomos residentes, particularmente os fibroblastos associados ao
dicêntricos que são separados na anáfase, resultando em câncer e células endoteliais.
novas quebras na fita dupla do DNA. O dano genômico
Agentes carcinogênicos
em “bola de neve” causado por repetidos ciclos de
“pontefusão-quebra” por fim leva à catástrofe mitótica e
morte celular A carcinogênese é divida em etapas, em relação aos
(3) capacidade de autorrenovação. agentes carcinogênicos químicos, tem-se:
Como os cânceres são imortais e possuem capacidade • A iniciação resulta da exposição das células a uma dose
proliferativa ilimitada, eles também devem conter suficiente de agentes carcinogênicos. A iniciação
células que se autorrenovam, as chamadas células-tronco isoladamente não é suficiente para a formação do tumor.
do câncer. • A iniciação provoca dano permanente ao DNA - rápida e
irreversível e possui ”memória“. Dessa forma, os tumores
Angiogênese são produzidos mesmo se a aplicação do agente promotor
Como os tecidos normais, os tumores requerem a sofrer um atraso de diversos meses após uma única
distribuição de oxigênio e nutrientes e a remoção de aplicação do iniciador.
produtos de excreção; provavelmente, a zona de 1 a 2 • Os promotores podem induzir o surgimento de tumores
mm representa a distância máxima através da qual o nas células iniciadas, mas eles não são tumorigênicos por
oxigênio, os nutrientes e os resíduos podem se difundir a si mesmos. Além disso, não há formação de tumores
partir dos vasos sanguíneos. Cânceres em crescimento quando o agente promotor é aplicado antes, ao invés de
estimulam a neoangiogênese, durante a qual os vasos depois, do agente iniciador.
brotam a partir dos capilares previamente existentes.

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Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
O grau de risco depende do tipo de raios UV, da
intensidade da exposição e da quantidade do “manto
protetor” que absorve luz, composto pela melanina da
pele.
A carcinogenicidade da luz UVB ocorre devido a indução da
formação de dímeros de pirimidina no DNA. Se a energia de um
fóton de luz UV é absorvida pelo DNA, o resultado é uma reação
química que resulta na ligação covalente das bases de
pirimidina, especialmente resíduos de timidina adjacentes na
mesma fita de DNA. Isto distorce a hélice de DNA e evita o
pareamento adequado do dímero com bases na fita de DNA
oposta. Os dímeros da pirimidina são reparados através da via
dos reparos de excisão de nucleotídeos. É postulado que, com a
exposição solar excessiva, a capacidade da via de reparo de
excisão de nucleotídeos é superada e os mecanismos de reparo
do DNA não moldado propensos a erros se tornam operantes, o
que gera a sobrevivência da célula à custa de mutações
genômicas, que em alguns casos, levam ao câncer.
Radiação Ionizante
As radiações eletromagnéticas (raios X e raios γ) e
particuladas (partículas α e β, prótons e nêutrons) são todas
carcinogênicas. A evidência é tão volumosa que bastam
poucos exemplos. Muitos indivíduos pioneiros no uso dos
raios X desenvolveram câncer de pele.
Em humanos há uma vulnerabilidade hierárquica de
diferentes tecidos a cânceres induzidos por radiação. Os
mais frequentes são as leucemias mieloides. O câncer da
Carcinógenos de Ação Direta tiroide segue de perto, mas somente nos jovens. Na
Não requerem a conversão metabólica para se tornarem categoria intermediária estão as neoplasias malignas de
carcinogênicos. A maioria deles são carcinógenos fracos, mama, pulmões e glândulas salivares.
mas alguns são importantes por serem drogas
quimioterápicas para o câncer (p. ex., agentes Carcinogênese Microbiana
alquilantes). Vírus Oncogênicos de RNA - Vírus da Leucemia de
Carcinógenos de Ação Indireta Células T Humanas Tipo 1, o único firmemente envolvido
refere-se às substâncias químicas que requerem a na patogenia do câncer em humanos. O HTLV-1 causa
conversão metabólica para tornar o carcinógeno ativo; o leucemia/linfoma da célula T em adultos (ATLL), um
produto carcinogênico do metabolismo é o chamado tumor que é endêmico em algumas partes do Japão, bacia
carcinógeno final. Um dos mais potentes carcinógenos Caribenha, América do Sul e África.
químicos indiretos – os hidrocarbonetos policíclicos – Vírus Oncogênicos de DNA
estão presentes em combustíveis fósseis. Dos diversos vírus de DNA humano, cinco - HPV, vírus
Epstein Barr (EBV), vírus da hepatite B (HBV),
Relação com o desenvolvimento do câncer: poliomavírus das células de Merkel e herpesvírus do
Não há alteração isolada ou única associada à iniciação sarcoma de Kaposi, também denominado herpesvírus 8 –
do câncer. Também não há uma predisposição aparente foram implicados na causa de câncer humano.
para que os iniciadores causem mutações em genes em
particular; presume-se que mutações ocorram ao longo
do genoma e as células que, aleatoriamente, sofrem Manifestações clínicas
danos dos “suspeitos comuns”, os oncogenes e Localização é um determinante crítico dos efeitos clínicos,
supressores de tumor como RAS e TP53, obtêm uma tanto em tumores benignos quanto em malignos. Tumores
vantagem seletiva em potencial e estão sob risco de uma podem colidir com tecidos vitais e prejudicar suas funções,
transformação subsequente. causando a morte dos tecidos envolvidos e fornecendo um
ninho para infecção.
Agentes carcinogênicos por radiação Os sintomas produzidos por um câncer devido a sua localização
A energia radiante na forma de raios UV da luz solar ou podem (ironicamente) salvar vidas; por exemplo, os poucos
sob a forma de radiação ionizante eletromagnética e sobreviventes de câncer pancreático são aqueles cujos tumores
radiação particulada, é carcinogênica. A luz UV está obstruem “casualmente” os dutos biliares logo no começo de seu
claramente envolvida na etiologia dos cânceres de pele, curso, resultando no surgimento de icterícia e outros sintomas
e a exposição à radiação ionizante devido à exposição no estágio da doença no qual a cura cirúrgica é possível.
médica ou ocupacional. O crescimento erosivo e destrutivo dos cânceres, ou a
Raios Ultravioleta A exposição está associada a uma pressão expansiva de um tumor benigno em qualquer
incidência aumentada de carcinoma de células superfície natural, tal como a pele ou a mucosa do
escamosas, carcinoma basocelular e melanoma da pele. intestino, podem provocar ulcerações, infecções
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Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
secundárias e sangramento. Melena (sangue nas fezes) e (1) a osteólise induzida por câncer, quer seja no osso
hematúria, por exemplo, são características de neoplasias primário, tal como no mieloma múltiplo, ou metastática
do intestino e do trato urinário. para o osso advinda de qualquer lesão primária e
(2) a produção de substâncias humorais calcêmicas por
Caquexia por Câncer neoplasias extraósseas. Apenas o segundo mecanismo é
Indivíduos com câncer comumente sofrem de perda considerado paraneoplásico; a hipercalcemia devido ao
progressiva da gordura corporal e da massa magra envolvimento primário ou secundário do esqueleto através
corpórea, acompanhada por profunda fraqueza, do tumor não é uma síndrome paraneoplásica.
anorexia e anemia, processo denominado caquexia. A
caquexia por câncer está associada com: Diversas manifestações vasculares e hematológicas
• Perda uniforme de gordura e músculo magro. podem surgir em associação a uma variedade de tipos de
• Taxa metabólica basal elevada. câncer. A a tromboflebite migratória (síndrome de
• Evidência de inflamação sistêmica. Trousseau) pode ser encontrada associada aos cânceres de
O TNFα (originalmente conhecido como caquexina) é localização profunda, mais frequentemente nos
um dos suspeitos principais, entre diversos mediadores carcinomas do pâncreas ou de pulmão.
liberados das células imunes que podem contribuir para
a caquexia. Fatores humorais liberados das células
tumorais, como o fator de indução da proteólise têm sido Classificação/estadiamento
considerados na perda da massa muscular. A classificação de um câncer se baseia no grau de
diferenciação das células tumorais, e em alguns
Síndromes Paraneoplásicas cânceres, no número de mitoses ou nas características
Alguns indivíduos com câncer desenvolvem sinais e arquiteturais. O número de mitoses se exprime pelo
sintomas que não podem ser prontamente explicados número encontrado em, pelo menos, dez campos
devido à distribuição anatômica do tumor, ou pela microscópicos de grande aumento. Os critérios para cada
elaboração dos hormônios nativos do tecido pelos quais classificação individual variam para diferentes tipos de
o tumor surgiu. As síndromes ocorrem em cerca de 10% tumores, é uma prática comum caracterizar uma neoplasia
das pessoas com câncer. Apesar de sua relativa em particular em termos descritivos, por exemplo,
infrequência, é importante reconhecer as síndromes adenocarcinoma mucossecretor bem diferenciado do
paraneoplásicas, por diversos motivos: estômago ou adenocarcinoma pancreático pouco
• Elas podem representar a manifestação mais precoce de diferenciado.
uma neoplasia oculta. Utilizam-se três graus descritivos de diferenciação: bem
• Em pacientes afetados, elas podem causar problemas diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco
clinicamente significativos e podem até ser letais. diferenciado. As implicações clínicas dos graus de
• Elas podem mimetizar a doença metastática e, assim, diferenciação se traduzem na maior rapidez de
atrapalhar o tratamento. crescimento dos tumores menos diferenciados em relação
aos mais diferenciados de mesma histogênese e mesma
localização.

O estadiamento dos cânceres sólidos é baseado no


tamanho da lesão primária, na extensão de sua
disseminação para os linfonodos regionais e na
presença ou ausência de metástases hematogênicas. O
principal sistema de estadiamento atualmente em uso
pertence ao American Joint Committee. Esse sistema usa
uma classificação denominada de sistema TNM – onde T
significa tumor primário, N, envolvimento dos linfonodos
regionais e M, metástase. O estadiamento TNM varia para
formas específicas do câncer, mas há princípios gerais. A
lesão primária é caracterizada como T1 a T4, com um
aumento crescente. O T0 é usado para indicar uma lesão
in situ. N0 significaria ausência de envolvimento
linfonodal, enquanto N1 a N3 denotaria envolvimento de
A hipercalcemia é provavelmente a síndrome um número e abrangência crescentes de linfonodos. M0
paraneoplásica mais comum; de fato, a hipercalcemia significa ausência de metástases a distância, enquanto M1,
sintomática é mais frequentemente relacionada a ou algumas vezes M2, indica a presença de metástases e
algumas formas de câncer do que ao algum julgamento sobre o seu número.
hiperparatireoidismo. Dois processos gerais estão
envolvidos na hipercalcemia associada ao câncer:

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Rafaela Amaral Fisiologia da célula tumoral 4° período - FPME
 TX significa que o tumor não pode ser avaliado Os parâmetros de estadiamento devem incluir os fatores
 T0 significa que não existe evidência de tumor primário relacionados ao tumor e ao hospedeiro, quais sejam:
(não pode ser encontrado).
 Tis significa que as células cancerígenas estão se 1. órgão e tecido de origem do tumor;
desenvolvendo apenas na camada mais superficial do 2. classificação histopatológica do tumor;
tecido, sem invadir tecidos mais profundos. Também 3. extensão do tumor primário: tamanho ou volume;
pode ser chamado de câncer in situ. invasão de tecidos adjacentes; comprometimento de
 Os números que aparecem após o T (como T1, T2, T3 e nervos, vasos ou sistema linfático;
T4) descrevem o tamanho do tumor e/ou a disseminação 4. locais das metástases detectadas;
da doença nas proximidades. Quanto mais alto o número 5. dosagem de marcadores tumorais;
atribuído a T, maior o tumor e/ou mais disseminado nos 6. estado funcional do paciente.
tecidos próximos se encontra.
 NX significa que os linfonodos não podem ser
avaliados.
 N0 significa que os linfonodos vizinhos não contêm
câncer.
 Os números que aparecem após o N (por exemplo, N1,
N2 e N3) descrevem o tamanho, localização e/ou o
número dos linfonodos com a doença. Quanto mais alto
o número atribuído a N, mais o câncer está disseminado
para os linfonodos.
 M0 significa que nenhuma disseminação foi
encontrada.
 M1 significa que o câncer se disseminou para tecidos e
órgãos distantes (metástases à distância foram
encontradas).

Uma vez determinados o T, N e M, são combinados para


atribuir uma nota global. Para a maioria dos cânceres, o
estágio utiliza um número romano de I a IV, onde o
estágio IV (4) é o mais elevado e significa que o câncer
é mais avançado do que a fase imediatamente anterior e
assim sucessivamente.
Além das graduações numéricas, as categorias T e N
podem ser subclassificadas em graduações alfabéticas (a,
b, c). Tanto as graduações numéricas como as alfabéticas
expressam o nível de evolução do tumor e dos linfonodos
comprometidos.

Hoje, mais do que a graduação, o estadiamento clínico


representa o mais importante meio de que dispõe o
oncologista para definir o prognóstico e a terapêutica dos
pacientes.
Por vezes, a própria denominação patológica do tumor
inclui a sua diferenciação - é o caso do adenocarcinoma
gástrico classificado como "difuso de Lauren" (mal
diferenciado) ou do "tipo intestinal de Lauren" (bem
diferenciado). Referências
 KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
A determinação da extensão da doença e a identificação Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a ed.
dos órgãos envolvidos auxiliam nas seguintes etapas: Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
 http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-
1. obtenção de informações sobre o comportamento content/uploads/2015/03/cap2-fisiopatologia-do-
biológico do tumor; cancer.pdf
2. escolha da terapêutica;  https://www.inca.gov.br/estadiamento#:~:text=Estadiar
3. previsão das complicações; %20um%20caso%20de%20c%C3%A2ncer,sua%20rela
4. obtenção de informações sobre o prognóstico do caso; %C3%A7%C3%A3o%20com%20o%20hospedeiro.
5. avaliação dos resultados do tratamento;  http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estadiamento/479
6. investigação em oncologia: pesquisa clínica, 5/1/
publicação de resultados e troca de informações.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de pulmão 4° período - FPME
Compreender o câncer de pulmão, suas classificações e numerosos carcinógenos humanos para os quais não existe
prevalência. um nível de exposição seguro.
Explanar os fatores de risco e manifestações clínicas.
Elucidar a correlação entre as síndromes paraneoplásicas e o Riscos Industriais
câncer de pulmão.
Certas exposições industriais, como asbestos, arsênico,
cromo, urânio, níquel, cloreto de vinila e gás mostarda
Sobre o câncer aumentam o risco de desenvolvimento de câncer de
pulmão.
O câncer de pulmão atualmente é o câncer
diagnosticado com maior frequência no mundo entre Poluição do Ar
os tipos principais e a causa de mortalidade por câncer Provavelmente aumenta o risco nos indivíduos que fumam
mais comum mundialmente. ou estão expostos a fumaça de tabaco de terceiros. Isso se
dá por diferentes mecanismos. A exposição crônica a
Etiologia/ Patogenia/ Fatores de risco partículas do ar poluído pode causar irritação dos pulmões,
A maioria (mas não todos) dos cânceres pulmonares está inflamação e reparo.
associada a um carcinógeno bem conhecido — o
tabagismo. Genética molecular
Algumas alterações genéticas associadas com câncer
Tabagismo podem ser encontradas nos epitélios brônquicos
 Em média 80% dos CA de pulmão ocorrem em “benignos” de fumantes sem câncer pulmonar, sugerindo
fumantes ativos ou naqueles que pararam de fumar que grandes áreas da mucosa respiratória são
recentemente. mutagenizadas pela exposição a carcinógenos da fumaça
 Correlação quase linear - frequência do ca de pulmão e do tabaco (“efeito de campo”). Nesse solo fértil, as poucas
a quantidade de maços/ano consumida > O risco células que acumulam um arsenal suficiente de
aumentado torna-se 60 vezes maior entre fumantes mutações condutoras complementares para adquirirem
pesados habituais (dois maços ao dia, por 20 anos) todas as marcas registradas de câncer e se transformam em
comparado com o de não fumantes. carcinomas invasivos.
 As mulheres têm maior suscetibilidade aos
carcinógenos da fumaça do tabaco que os homens.
 O abandono do hábito de fumar diminui no risco, mas Classificação:
não reflete retorno aos níveis basais. Existe grande heterogeneidade citológica e histológica das
 As alterações genéticas que antecedem o ca de pulmão neoplasias pulmonares. Visando a simplificação didática
podem persistir por muitos anos no epitélio brônquico da questão e segundo a Organização Mundial de Saúde
de ex-fumantes. (OMS), o câncer do pulmão pode ser dividido nos tipos de
pequenas células e não pequenas células, e o último
Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e as grupo é constituído por carcinomas de células escamosas
nitrosaminas são os carcinógenos mais potentes contidos (carcinoma epidermoide) e adenocarcinomas. Há,
na fumaça do cigarro. O primeiro associa-se mais ao ainda, uma classificação que adiciona carcinoma de
carcinoma epidermoide, provavelmente pelo fato de o células grandes.
tamanho da partícula facilitar a deposição em brônquios
proximais, enquanto as nitrosaminas se depositam A frequência de cada tipo histológico e a distribuição entre
preferencialmente em bronquíolos terminais, os gêneros varia de país para país. Em muitos locais, o
favorecendo o aparecimento de adenocarcinoma. Além carcinoma epidermoide é o mais frequente em homens.
de dados clínicos e epidemiológicos, outra evidência do Em geral, a incidência varia de acordo com a série de
papel do fumo na carcinogênese pulmonar é o fato de que pacientes estudados; a média fica em torno de 30 a 40%
indivíduos fumantes muitas vezes apresentam alterações dos tumores pulmonares, sendo 44% dos casos em homens
celulares que antecedem o surgimento do tumor e 25% em mulheres. Os adenocarcinomas incidem mais
invasivo, como metaplasia escamosa, displasias e em mulheres (42% dos casos, contra 28% em homens). No
carcinoma in situ. entanto, alguns estudos mostram que os adenocarcinomas
estão se tornando a neoplasia pulmonar mais frequente em
Embora a duração e intensidade do tabagismo estejam ambos os gêneros.
bem correlacionadas com o risco de câncer, nem todas as
pessoas expostas ao tabaco desenvolvem câncer. Alguns Carcinoma epidermoide - escamosas
destes podem ser obra do acaso, mas é também provável Dos quatro tipos principais de câncer do pulmão, o
que o efeito mutagênico dos carcinógenos do tabaco seja carcinoma epidermoide é o mais frequente, o mais
modificado por variáveis genéticas. Infelizmente, os associado ao tabagismo, o menos heterogêneo do ponto
efeitos carcinógenos da fumaça do tabaco se estendem de vista morfológico e mais comum em homens. O
àqueles que vivem e trabalham com fumantes. O fumo tumor tem localização em geral central, isto é, tende a
passivo ou a fumaça de tabaco ambiental contém aparecer nos grandes brônquios. Apresenta crescimento
mais lento do que os demais; dá metástases para os

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de pulmão 4° período - FPME
linfonodos regionais, mas a disseminação diagnosticado por exames citológicos mais comumente do
hematogênica é tardia. O carcinoma epidermoide é o que as demais neoplasias pulmonares.
tumor pulmonar de melhor prognóstico.

Carcinoma de pequenas células


Os carcinomas de células escamosas frequentemente são Tumores altamente malignos com uma forte relação
precedidos por metaplasia escamosa ou displasia do com o tabagismo; apenas cerca de 1% ocorre em não
epitélio brônquico, que então se transforma em um fumantes. Podem surgir nos brônquios principais ou na
carcinoma in situ - lesão pode durar vários anos, ser periferia do pulmão. Não há fases pré-invasivas
assintomática e não detectável em radiografias. conhecidas. Esses são os tumores pulmonares mais
Com o aparecimento de um carcinoma de células agressivos, amplamente metastáticos, e virtualmente
escamosas invasivo, o tumor pode, então, seguir uma sempre provam ser fatais. Além disso, pode produzir e
variedade de caminhos: secretar ACTH, serotonina, hormônio antidiurético,
 Crescer de forma exofítica dentro da luz brônquica, calcitonina, estrógenos e hormônio do crescimento,
produzindo uma massa intraluminal > obstrução > resultando em diversas manifestações paraneoplásicas.
atelectasia distal e infecções.
 Penetrar nas paredes dos brônquios e infiltrar o O carcinoma de células pequenas é neoplasia de
tecido peribrônquico, atingindo a carina ou o mediastino. localização central e formada por células pequenas e
 Crescer ao longo de uma frente ampla para produzir uniformes, com citoplasma escasso, bordas celulares
massa intraparenquimatosa em forma de couve-flor, que pouco definidas, cromatina nuclear finamente granular
empurra a substância pulmonar à sua frente. (padrão de sal e pimenta) e nucléolos ausentes ou pouco
evidentes. A contagem mitótica é alta. As células crescem
em grupamentos que não exibem nem organização
glandular nem diferenciação escamosa. Necrose é comum
e frequentemente extensa.

A-hiperplasia caliciforme; B- hiperplasia basais; C –


metaplasia escamosa; D - epitélio escamoso desordenado, com
perda de polaridade nuclear, hipercromasia nuclear,
pleomorfismo e figuras mitóticas; E – carcinoma in situ; F –
carcinoma invasivo.

Macroscopicamente, o tumor apresenta-se como lesão


que varia de pequena tumoração endobrônquica
obstrutiva até grandes massas que sofrem cavitação e
hemorragia, por causa de necrose frequente. Alguns
tumores mostram-se firmes e esbranquiçados devido a
reação desmoplásica. A neoplasia tende a invadir a
parede brônquica e o parênquima pulmonar adjacente. O
tumor é facilmente visível à endoscopia e pode ser
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Rafaela Amaral Câncer de pulmão 4° período - FPME
Carcinoma de grandes células
Nas diversas estatísticas, o carcinoma de células grandes
é o tipo menos frequente de carcinoma
broncopulmonar. O tumor é indiferenciado e tem
comportamento altamente agressivo, evoluindo
rapidamente para óbito.
As células tipicamente apresentam núcleos grandes,
nucléolos proeminentes e quantidade moderada de
citoplasma. O carcinoma de grandes células é um
diagnóstico de exclusão, já que não expressa os
marcadores associados com o adenocarcinoma (TTF-1,
napsina A) e o carcinoma de células escamosas (p63,
p40).
A lesão tem localização predominantemente periférica,
subpleural, não se associa a segmento brônquico e
caracteriza-se pela tendência a formar grandes massas Manifestacões clínicas
com áreas de necrose e hemorragia.
Tumores centrais: iniciam-se com espessamento da
mucosa > a lesão cresce para a luz ou para fora do
brônquio. Na fase avançada, sempre há crescimento para
fora do brônquio e invasão do parênquima e dos vasos
linfáticos peribrônquicos.
Antes da obstrução brônquica > oligossintomáticos > tosse
seca por irritação da mucosa.
Após obstrução incompleta > hiperinsuflação pulmonar
por mecanismo valvular (nem todo o ar que penetra
consegue sair); com obstrução completa, ocorre colapso
pulmonar. Ulceração e necrose do tumor, aliadas a
dificuldade na drenagem de secreções em virtude da
obstrução brônquica, favorecem infecções. Bronquite,
bronquiectasia, broncopneumonia, abscesso
Adenocarcinoma pulmonar, atelectasia, enfisema focal acentuado e
Tumor epitelial maligno, invasivo, com diferenciação pleurite são frequentes e podem até mascarar o próprio
glandular ou produção de mucina pelas células tumor. Mais tarde, a neoplasia invade o mediastino,
tumorais. Os adenocarcinomas crescem em vários pericárdio, vasos e nervos e atinge o esôfago (estenose
padrões, incluindo acinar, lepídico, papilar, e/ou fístula).
micropapilar, e sólido com produção de mucina. Em
comparação com os carcinomas de células escamosas, as Tumores periféricos > sintomas quando atingem a pleura
lesões em geral estão localizadas mais (dor, derrame pleural) ou um brônquio. Podem também
perifericamente e tendem a ser menores. A maioria invadir costelas e a coluna vertebral. Tumores do ápice
expressa o fator de transcrição da tireoide-1; podem infiltrar-se no tecido conjuntivo do pescoço, vasos
identificado primeiramente na tireoide, esse fator é linfáticos, ramos do plexo braquial e cadeia simpática
necessário para o desenvolvimento normal do cervical, causando a síndrome de Horner, que se
pulmão. Na periferia do tumor geralmente há um padrão caracteriza por dor no ombro e no braço, paralisia no
lepídico de disseminação, em que as células do tumor território dos nervos ulnar e mediano, ptose palpebral,
“rastejam” pelos septos alveolares com aparência miose e anidrose no lado da lesão.
normal.
Tumores (≤3 cm) com um componente invasivo pequeno As metástases ocorrem primeiramente nos linfonodos do
(≤5 mm) associado com cicatrizes e padrões de hilo pulmonar; mais tarde, atingem linfonodos cervicais e
crescimento lepídico periférico são chamados de abdominais, pleura e pericárdio. Metástases
adernocarcinomas microinvasivos. Eles apresentam hematogênicas ocorrem sobretudo nas suprarrenais, no
prognósticos muito melhores do que carcinomas fígado, nos ossos e no cérebro.
invasivos do mesmo tamanho. Adernocarcinomas
mucinosos tendem a se espalhar pelos espaços aéreos, O diagnóstico de câncer broncopulmonar é feito com base
formando tumores satélites (podem apresentar-se em manifestações clínicas (tosse, perda de peso, dor
como nódulos solitários ou múltiplos, ou um lobo inteiro torácica, dispneia) e em exames complementares (raio-X,
pode estar consolidado pelo tumor, lembrando uma tomografia computadorizada etc.), broncoscopia com
pneumonia lobar, e, portanto, com menor probabilidade biópsia e/ ou lavado broncoalveolar e exame citológico do
de cura por cirurgia. escarro ou de material obtido por punção aspirativa.

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Rafaela Amaral Câncer de pulmão 4° período - FPME

Síndromes paraneoplásicas
psiquiátricas (depressão, ansiedade e disfunção cognitiva).

Frequentemente encontradas em pacientes com câncer A síndrome da secreção inapropriada de hormônio


do pulmão, sobretudo do tipo de pequenas células, são antidiurético (SIADH) é um estado de hiponatremia
associadas à produção ectópica de hormônios, com euvolêmico e hipoosmolar, na ausência de
altos níveis séricos de L-dopa descarboxilase (DDC), hipotireoidismo, insuficiência renal e adrenal, que, no caso
gastrina, enolase específica de neurônio, do CP, é secundária à produção tumoral de ADH. Ela está
creatinocinase-BB (CK-BB) e cromogranina. As relacionada prioritariamente ao carcinoma de pequenas
síndromes paraneoplásicas ocorrem em 15 a 20% dos células. Os sintomas da SIADH dependem do grau e da
casos de câncer do pulmão. velocidade do desenvolvimento da hiponatremia.

Qualquer tipo histológico de tumor pode, A síndrome de cushing ectópica ocorre pela produção
ocasionalmente, produzir hormônios, porém os tumores tumoral desregulada de ACTH. Costuma-se relacionar
que produzem ACTH e ADH predominantemente ao carcinoma de pequenas células. O ACTH estimula a
são carcinomas de pequenas células, enquanto produção adrenal de glicocorticoides. O
aqueles que produzem hipercalcemia na maioria das hipercortisolismo resulta em alcalose metabólica
vezes são carcinomas de células escamosas. hipocalêmica, hipertensão arterial secundária e
hiperglicemia. Os achados do exame físico incluem
•Hormônio antidiurético (ADH), induzindo deposição anormal de gordura (fácies de lua cheia, giba e
hiponatremia decorrente de secreção inapropriada de obesidade centrípeta) e estrias violáceas.
ADH.
• Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), produzindo
síndrome de Cushing.
• Paratormônio, peptídio relacionado ao hormônio da
paratireoide, prostaglandina E e algumas citocinas, todos
implicados na hipercalcemia.
• Calcitonina, causando hipocalcemia.
• Gonadotrofinas, causando ginecomastia.
• Serotonina e bradicinina, associadas à síndrome
carcinoide

A hipercalcemia é uma das síndromes paraneoplásicas


de maior associação com o câncer de pulmão,
principalmente, ao carcinoma de células escamosas.
Ela é causada por metástase óssea e pela produção Referências
tumoral de PTH-rp (peptídio relacionado ao  KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
paratormônio), substância que exerce ações Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a
equivalentes ao PTH na regulação da reabsorção óssea e ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
nos níveis renais de cálcio e fósforo. Suas manifestações  Bogliolo – Patologia. 8ª edição. Rio de Janeiro:
clínicas incluem efeitos circulatórios (sede, poliúria, Guanabara-Koogan, 2012. Mitchel RN, Kumar V, Abbas
desidratação e insuficiência renal), gastrointestinais Ak, Fausto N.
(anorexia, náusea, vômito, dor abdominal e constipação),  https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/2699
neurológicos (fadiga, fraqueza muscular, confusão,
letargia, irritabilidade e coma) e manifestações

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Rafaela Amaral Câncer de próstata 4° período - FPME
1. Compreender a anatomia e fisiologia da próstata. 1. Um lóbulo inferoposterior situado posterior à uretra e
2. Elucidar o Câncer de próstata, fatores de risco, prevalência inferior aos ductos ejaculatórios. Esse lóbulo constitui
e manifestações clínicas a face da próstata palpável ao exame retal digital
3. Diferenciar a hiperplasia prostática benigna da maligna. 2. Um lóbulo inferolateral diretamente lateral à uretra,
4. Explanar o rastreio e diagnóstico do câncer de próstata.
que forma a maior parte do lobo direito ou esquerdo
Morfofisiologia 3. Um lóbulo superomedial, situado profundamente ao
lóbulo inferoposterior, circundando o ducto
A próstata é a maior glândula acessória do sistema
ejaculatório ipsilateral
genital masculino, 20g, encontra-se inferiormente à
4. Um lóbulo anteromedial, situado profundamente ao
bexiga urinária, possui consistência firme, é do tamanho
lóbulo inferolateral, diretamente lateral à parte
de uma noz e circunda a parte prostática da uretra. A
prostática proximal da uretra.
parte glandular representa cerca de dois terços da
próstata; o outro terço é fibromuscular (parte densa e
neurovascular, incorporando os plexos prostáticos de
veias e nervos). Ela mede cerca de 4 cm de um lado a
outro, aproximadamente 3 cm de cima a baixo, e cerca
de 2 cm de anterior a posterior.
A próstata aumenta de tamanho lentamente desde o
nascimento até a puberdade. Em seguida, se expande
rapidamente até aproximadamente os 30 anos de idade;
após esse período, seu tamanho normalmente permanece
estável até os 45 anos, quando podem ocorrer novos A cápsula da próstata se contrai simultaneamente com as
aumentos. contrações do canal deferente, de modo que o líquido fino
e opaco da próstata seja adicionado ao sêmen. A leve
A próstata secreta um líquido fino e leitoso (pH =~ alcalinidade é importante para a fertilização bem-sucedida
6,5) que contém cálcio, íon citrato, íon fosfato, uma do óvulo, uma vez que o líquido do canal deferente é
enzima de coagulação e uma pró-fibrinolisina. relativamente ácido e as secreções vaginais femininas
1. O ácido cítrico do líquido prostático é usado pelos também são ácidas (pH de 3,5 a 4,0). O espermatozoide
espermatozoides para a produção de ATP por meio do não adquire a mobilidade necessária até que o pH dos
ciclo de Krebs. líquidos que o envolvem atinja valores de,
2. Várias enzimas proteolíticas, como o antígeno aproximadamente, 6,0 a 6,5. É provável que o líquido
prostático específico (PSA), pepsinogênios, lisozima, prostático ligeiramente alcalino ajude a neutralizar a
amilase e hialuronidase, quebram as proteínas de acidez dos outros líquidos seminais, durante a ejaculação,
coagulação das glândulas seminais. e, assim, aumente a mobilidade e fertilidade do
3. A plasmina seminal do líquido prostático é um espermatozoide.
antibiótico que pode destruir as bactérias. (ajudar a
diminuir as que ocorrem naturalmente no sêmen e no No adulto, o parênquima prostático pode ser dividido em
sistema genital inferior da mulher) quatro zonas ou regiões biológica e anatomicamente
distintas: zonas periférica, central, transicional e
Os ductos prostáticos (20 a 30) se abrem principalmente periuretral. Os tipos de lesões proliferativas são
nos seios prostáticos, situados de cada lado do colículo diferentes em cada região. Por exemplo, a maioria das
seminal na parede posterior da parte prostática da uretra. hiperplasias surge na zona de transição, enquanto a
As secreções da próstata entram na parte prostática da maioria dos carcinomas é originada na zona periférica.
uretra por ductos e constituem aproximadamente 25% do
volume do sêmen > contribuem para a motilidade e
viabilidade dos espermatozoides.

A descrição tradicional da próstata inclui os lobos a


seguir:
O istmo da próstata situa-se anteriormente à uretra.
É fibromuscular, e as fibras musculares representam a
continuação superior do músculo esfíncter externo da
uretra para o colo da bexiga, e contém pouco ou nenhum
tecido glandular
Os lobos direito e esquerdo da próstata, separados
anteriormente pelo istmo e posteriormente por um sulco
longitudinal central e pouco profundo, podem ser
subdivididos, cada um, para fins descritivos, em quatro
lóbulos indistintos:

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de próstata 4° período - FPME
Benigna x Maligna
”redespertadas” na idade adulta para produzir o
crescimento da próstata na HBP. O TGF-β serve como
Histologicamente, a próstata é composta por glândulas um agente mitogênico para fibroblastos e outras células
revestidas por duas camadas de células: uma camada mesenquimais, mas inibe a proliferação epitelial.
basal de epitélio cuboide baixa coberta por uma camada
de células secretoras colunares. Os andrógenos Em um caso usual de aumento prostático, a próstata pesa
testiculares controlam o crescimento e a sobrevida das entre 60 e 100 g. A hiperplasia nodular da próstata é
células prostáticas. originada quase exclusivamente na porção interna da
Apenas três processos patológicos afetam a glândula glândula prostática (zona de transição). Os nódulos iniciais
prostática com frequência suficiente para merecer uma são compostos quase totalmente por células estromais e
discussão: inflamação, aumento nodular benigno e mais tarde surgem nódulos predominantemente epiteliais.
tumores.
Aspectos clínicos
Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) ou Hiperplasia Obstrução urinária, que decorre a partir do aumento do
Nodular tamanho da próstata e a contração da próstata mediada por
A HPB é a mais comum doença prostática benigna em músculo liso. O aumento da resistência ao fluxo urinário
homens com mais de 50 anos. Resulta de hiperplasia provoca hipertrofia e distensão da bexiga,
nodular das células do estroma prostático e células acompanhadas por retenção urinária. A incapacidade de
epiteliais, e muitas vezes leva a obstrução urinária. esvaziar completamente a bexiga cria um reservatório de
urina residual que é uma fonte comum de infecção. Os
Formação de grandes nódulos na região periuretral pacientes apresentam aumento da frequência urinária,
da próstata > comprimem e estreitam o canal uretral (se noctúria, dificuldade em iniciar e interromper o fluxo
grandes) > obstrução parcial, ou praticamente de urina, gotejamento pós-miccional e disúria.
completa, da uretra. A hiperplasia nodular não é
considerada uma lesão pré-maligna.

Etiologia e Patogenia
Acredita-se que a hiperplasia se origine principalmente
de uma redução da morte celular, resultando no
acúmulo de células senescentes na próstata. De acordo
com essa hipótese, os andrógenos aumentam a
proliferação celular e inibem a morte celular.

O principal andrógeno na próstata, constituindo 90%


dos andrógenos prostáticos totais, é a
dihidrotestosterona (DHT). A DHT é formada na
próstata a partir da testosterona - ação da 5α-
redutase tipo 2. Essa enzima está localizada quase A terapia médica mais comumente usada e efetiva para os
inteiramente em células do estroma, logo, as células sintomas relacionados a HPB consiste nos α-bloqueadores, que
estromais são responsáveis pelo crescimento diminuem o tônus da musculatura lisa prostática pela inibição
prostático dependente de andrógeno. dos receptores α1 -adrenérgicos. Outra terapia farmacológica
A 5α-redutase tipo 1 não é detectada na próstata ou está comum se destina a diminuir os sintomas pela redução física da
presente em níveis muito baixos. Contudo, essa enzima pode próstata com um agente inibidor da síntese de DHT. Os
produzir DHT a partir de testosterona no fígado e na pele inibidores da 5-α-redutase estão nessa categoria. Para casos
e a DHT circulante pode agir na próstata por um moderados a graves, resistentes à terapia médica, existe uma
mecanismo endócrino. grande variedade de procedimentos mais invasivos.
A DHT se liga ao receptor de andrógeno (RA) nuclear
Adenocarcinoma
presente tanto nas células prostáticas estromais quanto
nas epiteliais.
A DHT é mais potente que a testosterona porque O adenocarcinoma da próstata é a forma mais comum de
possui maior afinidade por RA e forma um complexo câncer em homens.
mais estável com o receptor. Essa afinidade estimula a Incidência/prevalência
transcrição dos genes dependentes de andrógenos, Doença incidente em homens com mais de 50 anos. Sua
que inclui vários fatores de crescimento e seus incidência aumenta de 20% em homens na faixa dos 50
receptores. Os mais importantes fatores de crescimento anos, para aproximadamente 70% em homens entre 70 e
envolvem os fibroblastos (FGF) e o fator transformante 80 anos de idade. O câncer prostático é raro em asiáticos e
do crescimento (TGF)-β. ocorre mais frequentemente entre negros. Há uma
FGFs, produzidos por células do estroma, são probabilidade de que um em seis homens seja
reguladores parácrinos de crescimento epitelial diagnosticado com câncer de próstata ao longo de sua vida.
estimulados por androgênio durante o desenvolvimento Inca – 2020 - 65.840 novos casos – 29,2% e óbitos de
prostático embrionário, e algumas dessas vias podem ser 15.841 pessoas – 13,5%.
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Rafaela Amaral Câncer de próstata 4° período - FPME
Etiologia e Patogenia lesão decorrente de uma grande variedade de
Suspeita-se que vários fatores, incluindo idade, raça, carcinógenos. Outros genes silenciados por modificações
história familiar, níveis hormonais e influências epigenéticas em um subgrupo de cânceres de próstata
ambientais tenham papel importante. Todavia, incluem vários genes supressores de tumor, incluindo
nenhum fator ambiental foi comprovado como causador. genes envolvidos na regulação do ciclo celular (RB,
CDKN2A), na manutenção da estabilidade genômica
Como seus equivalentes normais, o crescimento e a (MLH1, MSH2) e na supressão da via de sinalização Wnt
sobrevida das células do câncer de próstata (APC).
dependem de andrógenos, que se ligam ao receptor
androgênico (RA) e induzem a expressão de genes Uma suposta lesão precursora de um câncer invasivo, a
pró-crescimento e pró-sobrevida. RAs com extensões neoplasia intraepitelial prostática (PIN) foi descrita. Em
mais curtas de poliglutamina apresentam maior primeiro lugar, tanto a PIN quanto o câncer tipicamente
sensibilidade aos andrógenos. As repetições mais curtas predominam na zona periférica e são relativamente raros
de poliglutamina são encontradas em geral em afro- em outras regiões. As próstatas contendo câncer possuem
americanos, enquanto caucasianos possuem uma maior frequência e maior extensão de PIN, que
extensão intermediária e os asiáticos possuem a mais frequentemente também é observada próxima ao câncer.
longa, o que corresponde à incidência e à mortalidade por Ao contrário do câncer do colo uterino, o termo
câncer de próstata nesses grupos. “carcinoma in situ não é usado para PIN.
A castração e o tratamento antiandrogênico
geralmente induzem a regressão, o que demonstra a
importância dos andrógenos no CA. Os tumores
eventualmente ficam resistentes ao bloqueio
androgênico por: uma hipersensibilidade em níveis
baixos de andrógeno (p. ex., amplificação do gene de
RA), ativações de RA independente de ligante (p. ex.,
via ligações variantes que bloqueiam o domínio de
ligação do ligante), mutações em RA que permitem
sua ativação por ligantes não androgênicos, e outras
mutações ou alterações epigenéticas que ativam as vias
de sinalização alternativas, que podem evitar
completamente a necessidade de RA. Entre essas
últimas estão as alterações que levam a um aumento da
ativação da via de sinalização PI3K/AKT, que é Benigno x maligno:
observada mais frequentemente em tumores que se As glândulas malignas tipicamente são menores que as
tornaram resistentes à terapia antiandrogênica. glândulas benignas e estão revestidas por uma camada
única e uniforme de epitélio cuboide ou colunar baixo. Em
Em comparação aos homens sem história familiar, contraste com as glândulas benignas, as glândulas do
aqueles que possuem parentes de primeiro grau com adenocarcinoma de próstata são mais aglomeradas e
câncer de próstata apresentam o dobro de risco e caracteristicamente não possuem ramificações e dobras
aqueles com dois parentes de primeiro grau possuem papilares. A camada de células basais externas típicas de
cinco vezes o risco de desenvolver câncer de próstata. glândulas benignas está ausente. O citoplasma das células
Homens com uma forte história familiar de câncer de tumorais varia de pálido-claro até um aspecto anfofílico
próstata  também tendem a desenvolver a doença em nítido. Os núcleos são grandes e muitas vezes contêm um
idade mais precoce. Homens com mutações de linha ou mais nucléolos grandes. Existe alguma variação no
germinativa do supressor tumoral BRCA2 possuem um tamanho e na forma do núcleo, mas em geral o
risco 20 vezes maior de desenvolver câncer de próstata, pleomorfismo não é acentuado. Figuras mitóticas são
e uma mutação hereditária no HOXB13, um gene raras. Uma característica diferencial entre as glândulas
homeobox que codifica um fator de transcrição que prostáticas benignas e malignas é que as glândulas
regula o desenvolvimento da próstata, também confere benignas contêm células basais, enquanto estas estão
um risco substancialmente aumentado na pequena ausentes no câncer.
porcentagem de famílias que os carrega. Entretanto, a
vasta maioria dos cânceres de próstata familiares é Aspectos clínicos
decorrente de variações em outros loci, que conferem um O câncer prostático localizado é assintomático, e
pequeno aumento no risco de câncer. geralmente é descoberto pela detecção de um nódulo
suspeito ao exame retal ou pela elevação do nível sérico de
A alteração epigenética mais comum no câncer de PSA. A maioria dos cânceres prostáticos surge
próstata é a hipermetilação no gene da glutationa perifericamente e longe da uretra, e, portanto, sintomas
Stransferase (GSTP1) que infrarregula a expressão de urinários ocorrem tardiamente. Pacientes com câncer
GSTP1. O gene GSTP1 está localizado no cromossomo de próstata clinicamente avançado podem apresentar
11q13 e é uma parte importante da via que previne a sintomas urinários, como dificuldade em iniciar ou

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de próstata 4° período - FPME
interromper a micção, disúria, frequência ou Na graduação histológica, as células do câncer são
hematúria. O achado de metástases osteoblásticas é comparadas às células prostáticas normais. Quanto mais
virtualmente diagnóstico desse tipo de câncer em diferentes das células normais forem as células do câncer,
homens. mais agressivo será o tumor e mais rápida será sua
Rastreio/diagnóstico
disseminação.

De acordo a Agência Americana de Câncer: Curiosidade:


A discussão sobre rastreamento seja oferecida a homens
com risco padrão a partir dos 50 anos e expectativa de
vida maior que 10 anos e a homens de alto e muito alto
risco a partir de 45 e 40 anos, respectivamente. Após a
apresentação dos benefícios e riscos, cada indivíduo deve
fazer sua escolha. A ACS não recomenda rastreamento
sem o consentimento informado do paciente
De acordo o Ministério da Saúde:
Indicar o rastreamento oportunístico (case finding), ou
seja, a sensibilização de homens com idade entre 50 e 70
anos que procuram os serviços de saúde por motivos
outros que o câncer da próstata sobre a possibilidade de
detecção precoce deste câncer por meio da realização dos
exames do toque retal e da dosagem do PSA total,
informando-os sobre as limitações, os benefícios e os
riscos da detecção precoce do câncer da próstata.
Instituto Nacional de Câncer:
Mantém a recomendação de que não se organizem
programas de rastreamento para o câncer da próstata e
que homens que demandam espontaneamente a
realização de exames de rastreamento sejam informados
por seus médicos sobre os riscos e benefícios associados
a esta prática.

O toque retal é o teste mais utilizado, apesar de suas


limitações, uma vez que somente as porções posterior e
lateral da próstata podem ser palpadas, deixando de 40%
a 50% dos tumores fora do seu alcance.

 Toque prostático (TP) - é sempre recomendável e


também fundamental no estadiamento da doença, bem
como para definição do tratamento.
 Antígeno prostático específico (PSA) - aceita-se
como valores limites normais até 4 ng/ml, porém podem
existir tumores com PSA abaixo deste valor. Quando o
PSA estiver acima de 10 ng/ml há indicação formal para
biópsia. Para valores entre 4-10 ng/ml deve-se também
levar em consideração a velocidade do PSA e a relação
PSA livre/total.
 Ultrassom transretal – pode ser usado para
orientar a biópsia da próstata. Também pode ser útil na
determinação do volume prostático e para avaliar a
extensão local da doença.

O diagnóstico do câncer da próstata é feito pelo estudo Referências


histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata,  KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
que deve ser considerada sempre que houver Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a
anormalidades no toque retal ou na dosagem do PSA. O ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
relatório anátomo-patológico deve fornecer a graduação  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cancer_d
histológica do sistema de Gleason, cujo objetivo é a_prostata.pdf
informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor
 https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//me
e sua tendência à disseminação, além de ajudar na
dia/document//rastreamento-prostata-2013.pdf
determinação do melhor tratamento para o paciente.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de tireoide 4° período - FPME
1. Diferenciar a formação dos tumores malignos e benignos da De forma notável, as mutações em TSHR ou GNAS são
tireoide. raras nos carcinomas foliculares, portanto os adenomas
2. Elucidar o perfil epidemiológico, os fatores de risco, tóxicos e o bócio multinodular tóxico não parecem ser
manifestações clínicas e o diagnóstico do câncer da tireoide. precursores de malignidade. A minoria (<20%) dos
Formação tumoral adenomas foliculares não funcionantes apresenta
mutações de RAS ou PIK3CA, que codifica a subunidade
Diversos critérios clínicos fornecem pistas sobre a da PI-3-cinase, ou carrega um gene fusionado PAX8-
natureza de um nódulo tireoidiano: PPARG, todos representando alterações genéticas
• Nódulos solitários, em geral, são mais suscetíveis à compartilhadas com os carcinomas foliculares.
neoplasia que nódulos múltiplos.
• Nódulos em pacientes jovens são mais suscetíveis de Morfologia:
neoplasia que os encontrados em pacientes mais velhos. O adenoma tireoidiano típico é uma lesão solitária,
• Nódulos em homens são mais suscetíveis de neoplasia esférica e encapsulada, a qual é bem demarcada do
que os de mulheres. parênquima tireoidiano circundante por uma cápsula
• Um histórico de tratamento por radiação da cabeça e do bem definida, completa e íntegra – características
pescoço está associado a uma incidência aumentada de importantes para se estabelecer a distinção dos bócios
malignidade tireoidiana. multinodulares, os quais contêm múltiplos nódulos
• Nódulos funcionantes que captam iodo radioativo nos mesmo em pacientes que, clinicamente, apresentam um
estudos de imagem (nódulos quentes) são muito mais nódulo dominante solitário. Os adenomas foliculares têm,
suscetíveis de benignidade que de malignidade. em média, cerca de 3 cm de diâmetro. Áreas de
hemorragia, fibrose, calcificação e mudanças císticas,
O nódulo tireoidiano solitário é um aumento discreto similares às encontradas nos bócios multinodulares, são
e palpável na glândula tireoide supostamente normal. Os comuns nos adenomas foliculares, particularmente em
nódulos simples são cerca de quatro vezes mais comuns lesões maiores.
em mulheres que em homens. A maioria dos nódulos
solitários da tireoide se mostra como lesões não
neoplásicas localizadas ou neoplasias benignas, tais
como os adenomas foliculares. As neoplasias benignas
se sobrepõem numericamente aos carcinomas
tireoidianos na razão de aproximadamente 10:1.

Adenomas As células neoplásicas mostram uma pequena variação de


São tipicamente massas solitárias, discretas e derivadas tamanho, formato e morfologia nuclear, e figuras mitóticas
do epitélio folicular (adenomas foliculares). são raras.
Clinicamente, pode ser difícil distinguir os adenomas Aspectos Clínicos
foliculares dos nódulos dominantes da hiperplasia Muitos se apresentam como massas indolores
folicular ou dos carcinomas foliculares, que são menos unilaterais, que são descobertas durante um exame físico
comuns. Em geral, os adenomas foliculares não são de rotina. Grandes massas > dificuldade de engolir. Os
precursores dos carcinomas, mas alterações genéticas adenomas não funcionantes captam menos iodo radioativo
compartilhadas podem fazer com que um subgrupo do que o parênquima tireoidiano normal - os adenomas não
carcinomas foliculares se desenvolva em adenomas funcionantes aparecem como nódulos frios em relação ao
preexistentes. Em sua maioria, os adenomas são não tecido tireoidiano adjacente. Os supostos adenomas da
funcionantes, porém um pequeno subconjunto produz tireoide são cirurgicamente removidos para excluir
hormônios tireoidianos e causa tireotoxicose malignidade. Adenomas foliculares não apresentam
clinicamente aparente. A produção hormonal em recorrência ou metástase e têm um prognóstico excelente.
adenomas funcionantes (“adenomas tóxicos”) é
independente da estimulação de TSH. Carcinomas
Predominância feminina entre os pacientes que
Patogênese desenvolveram carcinoma tireoidiano no início ou no meio
As mutações somáticas da via de sinalização do da vida adulta - casos que se apresentam na infância e
receptor de TSH são encontradas nos adenomas tardiamente na vida adulta são distribuídos igualmente
tóxicos, assim como no bócio multinodular tóxico. entre homens e mulheres.
Mutações de ganho de função em algum componente de
sinalização – mais frequentemente, o próprio gene Os principais subtipos de carcinoma tireoidiano e suas
codificador do receptor de TSH (TSHR) ou na frequências relativas são:
subunidade-α de Gs (GNAS) – fazem com que as • Carcinoma papilífero (> 85% dos casos).
células foliculares secretem o hormônio tireoidiano • Carcinoma folicular (5% a 15% dos casos).
independentemente da estimulação de TSH • Carcinoma anaplásico (indiferenciado) (< 5% dos
(“autonomia tireoidiana”). Isso leva a sintomas de casos).
hipertireoidismo e produz um nódulo tireoidiano • Carcinoma medular (5% dos casos).
“quente” na imagem.
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Rafaela Amaral Câncer de tireoide 4° período - FPME
A maioria dos carcinomas tireoidianos (exceto os (RET/carcinoma tireoidiano papilífero) e estão
medulares) deriva do epitélio folicular tireoidiano, e a presentes em aproximadamente 20% a 40% dos
maioria é formada por lesões bem definidas. cânceres tireoidianos papilíferos. Dois tipos de fusão do
RET - PTC1 e PTC2 – são mais comumente observados
Patogênese nos cânceres papilíferos esporádicos.
Fatores Genéticos
Eventos genéticos distintos estão envolvidos na BRAF codifica um componente de sinalização
patogênese das quatro principais variantes histológicas intermediário na via da MAP cinase - inúmeros
de câncer tireoidiano - os carcinomas medulares não carcinomas tireoidianos papilíferos abrigam mutações de
surgem do epitélio folicular. As alterações genéticas nas ganho de função no gene BRAF. A presença de mutações
três neoplasias malignas derivadas das células foliculares em BRAF nos carcinomas papilíferos se correlaciona com
ocorrem nas vias de sinalização do receptor do fator fatores prognósticos adversos, como a doença
de crescimento. metastática e a extensão extratireoidiana. De interesse
Células normais: ligação de fatores de crescimento ao adicional, os rearranjos de RET/PTC e as mutações
receptor tirosina-cinase > autofosforilação > ativação de pontuais de BRAF não são observados nos adenomas
RAS e dois braços de sinalização da cadeia que ou carcinomas foliculares.
envolvem cinase de MAP (MAPK) e PI-3-cinase (PI3K).
Nos carcinomas: as mutações de ganho de função em Os carcinomas papilíferos são a forma mais comum de
componentes dessas vias levam à ativação permanente, câncer tireoidiano e ocorrem ao longo de toda a vida,
gerando proliferação celular excessiva e aumento da embora tenham incidência maior na faixa etária de 25 a 50
sobrevivência das células. anos. Carcinomas papilíferos podem ser solitários ou
multifocais. Alguns tumores podem estar bem
circunscritos e até mesmo encapsulados; outros podem
infiltrar-se no parênquima adjacente com margens mal
definidas. Os tumores podem conter áreas de fibrose e
calcificação, e são frequentemente císticos. Algumas
vezes, a superfície de corte revela focos papilares que
apontam para o diagnóstico.

Fatores ambientais - o maior fator de risco


predisponente para o câncer tireoidiano é a exposição à
radiação ionizante, particularmente durante as
primeiras duas décadas de vida. A deficiência de iodo na
alimentação está ligada à alta frequência de carcinomas
foliculares. Aspectos clínicos:
 Carcinomas Papilíferos A maioria dos carcinomas papilares convencionais se
A maioria apresenta mutações de ganho de função apresenta como nódulos tireoidianos assintomáticos, mas
envolvendo os genes que codificam os receptores de a primeira manifestação pode ser uma massa em um
tirosina-cinases RET ou NTRK1, ou na linfonodo cervical. Quase sempre são nódulos únicos
serina/treonina-cinase BRAF, que está na via de que se movem livremente com a glândula tireoide
MAPK. durante a deglutição e não se distinguem, ao exame, dos
O gene RET - localizado no cromossomo 10q11 - nódulos benignos. Rouquidão, disfagia, tosse e dispneia
codifica o receptor tirosina-cinase expressado nas células sugerem doença avançada. Em uma minoria de
foliculares tireoidianas. Nos cânceres papilares, inversão pacientes, as metástases hematogênicas estão presentes no
do cromossomo 10 e translocação recíproca entre os momento do diagnóstico, mais comumente no pulmão.
cromossomos 10 e 17 colocam a tirosina-cinase do RET Os cânceres tireoidianos papilíferos têm excelente
sob o controle de genes expressados no epitélio da prognóstico, com uma taxa de sobrevivência de dez anos
tireoide. Os novos genes de fusão formados são em mais de 95% dos casos.
conhecidos como RET/PTC
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Rafaela Amaral Câncer de tireoide 4° período - FPME
 Carcinomas Foliculares Os carcinomas anaplásicos costumam apresentar-se como
Estão associados a mutações adquiridas que ativam massas volumosas no pescoço que aumentam
RAS ou o braço de PI-3K/AKT da via de sinalização rapidamente. Na maioria dos casos, a doença já se
do receptor de tirosinacinase. Não se conhece o motivo espalhou além da cápsula tireoidiana para as estruturas
pelo qual as mutações RAS produzem neoplasias do pescoço ou passou por metástase para os pulmões no
foliculares, e não neoplasias papilíferas. Cerca de um momento da apresentação. Sintomas relacionados com
terço a metade dos carcinomas tireoidianos foliculares compressão e invasão, como dispneia, disfagia,
abrigam mutações de ponto de ganho de função de rouquidão e tosse, são comuns. Não há terapias efetivas,
RAS ou PIK3CA, amplificações de PIK3CA ou e a doença é quase uniformemente fatal
mutações de perda de função de PTEN, um gene  Carcinoma Tireoidiano Medular
supressor de tumor e regulador negativo dessa via - Ocorrem em neoplasias endócrinas múltiplas do tipo 2 e
alterações genéticas são sempre mutuamente exclusivas estão associados a mutações na linhagem germinativa
nos carcinomas foliculares. de RET que levam à ativação permanente do receptor.
Os casos esporádicos de carcinoma medular chamam a
São responsáveis por 5% a 15% dos cânceres primários atenção médica mais frequentemente como uma massa no
da tireoide, porém são mais frequentes em áreas com pescoço, algumas vezes associada a disfagia ou
deficiência de iodo na dieta, onde constituem de 25% a rouquidão. Em alguns casos, as manifestações iniciais são
40% dos casos de câncer de tireoide - mais comuns em aquelas da síndrome paraneoplásica, causada pela
mulheres (3:1) e se apresentam mais frequentes em secreção de um hormônio peptídico (p. ex., diarreia
idades mais avançadas do que os carcinomas papilíferos, decorrente da secreção de VIP ou síndrome de Cushing
com pico de incidência entre os 40 e os 60 anos. decorrente do ACTH). De forma notável, a hipocalcemia
Além disso, são nódulos únicos que podem ser bem não é uma característica proeminente, a despeito da
circunscritos ou amplamente invasivos. As lesões presença de níveis elevados de calcitonina.
maiores podem penetrar a cápsula e se infiltrar muito
Perfil epidemiológico e diagnóstico
além da cápsula tireoidiana até o tecido cervical
adjacente.
Estimativas de novos casos: 13.780, 1.830 sendo
homens e 11.950 mulheres (2020 - INCA); e
Número de mortes: 837, sendo 288 homens e 549
mulheres (2020 - Atlas de Mortalidade por Câncer)
O diagnóstico do câncer da tireoide começa com a
história clínica e o exame físico. Muitas vezes, em
Microscopicamente, a maioria dos carcinomas tumores pequenos, os pacientes são assintomáticos. O
foliculares é composta de células regularmente diagnóstico normalmente é feito após realização de
uniformes que formam pequenos folículos contendo ultrassonografia do pescoço na qual é encontrado um
coloide, que se assemelham muito à tireoide normal. nódulo. De acordo com as características do nódulo,
Os carcinomas foliculares se apresentam como nódulos é feita a biópsia de aspiração por agulha fina, no qual
indolores que aumentam lentamente - têm uma pequena algumas células da área suspeita são retiradas para
propensão para invadir os linfáticos; os linfonodos análise no microscópio.
regionais estão raramente envolvidos, mas a
disseminação vascular (hematogênica) é comum, com
metástases para ossos, pulmões, fígado e outros locais. O
prognóstico depende amplamente da extensão da invasão
e do estágio de apresentação.
 Carcinomas Anaplásicos (Indiferenciados)
Altamente agressivos e letais - “desdiferenciação” de um
carcinoma papilífero ou folicular bem diferenciado. As
alterações moleculares presentes no carcinoma
anaplásico incluem aquelas vistas em carcinomas bem
diferenciados (p. ex., mutações em RAS ou PIK3CA).
Outros “hits” genéticos, como a inativação de TP53 ou Referências
as mutações ativadoras da β-catenina, são  KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
essencialmente restritos aos carcinomas anaplásicos e Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a
podem contribuir com seu comportamento agressivo. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
ão agressivos, com taxa de mortalidade próxima de  https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-
100%. Pacientes com carcinoma anaplásico são mais tireoide#:~:text=por%20um%20m%C3%A9dico.-
velhos do que os portadores de outros tipos de cânceres ,Diagn%C3%B3stico,qual%20%C3%A9%20encontrad
tireoidianos, com idade média de 65 anos. o%20um%20n%C3%B3dulo.

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Rafaela Amaral Câncer de estômago 4° período - FPME
1. Compreender o perfil epidemiológico e fatores de risco do Nitratos e nitritos são substâncias comumente encontradas
câncer de estomago. em carnes curadas, que podem ser convertidas por certas
2. Elucidar a etiopatologia e manifestações clínicas do bactérias, como o H. Pylori, em compostos que causam
câncer de estômago. câncer de estômago em animais.
3. Explanar as ferramentas de diagnóstico, bem como as
• Tabagismo - particularmente na parte superior do
diferenças nos tipos de endoscopia digestiva alta.
estômago, próximo ao esôfago.
• Obesidade
Epidemiologia + fatores de risco • Cirurgia prévia do estômago. Pessoas que tiveram parte
O estômago é dividido em quatro regiões anatômicas do estômago removido para o tratamento de doenças não
principais: a cárdia, o fundo, o corpo e o antro. A cancerígenas, como úlceras, são mais propensas a
cárdia e o antro (células foveolares secretoras de mucina desenvolver câncer de estômago. Isso pode ocorrer pela
que formam as pequenas glândulas). As glândulas antrais presença de bactérias produtoras de nitrito, além disso, a
são similares, mas também contêm células endócrinas, produção de ácido diminui após cirurgia da úlcera e pode
tais como as células G, que liberam gastrina para haver refluxo de bile do intestino delgado para o
estimular a secreção luminal de ácido pelas células estômago.
parietais dentro do fundo e do corpo gástrico. As • Anemia perniciosa.
glândulas bem desenvolvidas do corpo e do fundo • Síndromes hereditárias - BRCA1/ BRCA2.
também contêm células principais que produzem e • Histórico familiar.
secretam enzimas digestivas, tais como a pepsina. • Pólipos.

Etiopatologia + manifestações
Gastrite por Helicobacter pylori
A H. pylori é uma bactéria que coloniza a mucosa
estomacal causando distúrbios gástricos que podem
evoluir para gastrites, úlceras, dispepsias e carcinomas;
são bacilos em forma de espiral ou curva presentes em
amostras de biópsia gástrica de quase todos os pacientes
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para com úlceras duodenais, bem como na maioria dos
cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no indivíduos com úlceras gástricas ou gastrite crônica. A
Brasil 21.230 novos casos de câncer de estômago infecção por H. pylori não produz sintomas suficientes
(13.360 em homens e 7.870 em mulheres). Esses valores para que haja um alerta para cuidados médicos, é a
correspondem a um risco estimado de 12,81 casos novos gastrite crônica que, por fim, faz com que o indivíduo
a cada 100 mil homens e 7,34 para cada 100 mil busque tratamento.
mulheres. No Brasil, o câncer de estômago é o terceiro
tipo mais frequente entre homens e o quinto entre as Após a chegada da H. pylori ao estômago, movendo-se
mulheres. mediante o auxílio de seu flagelo e de sua forma espiralada
através do suco e muco gástrico, esta se adere de forma
O câncer de estômago afeta principalmente as pessoas excepcional à mucosa gástrica para em seguida penetrá-la.
mais velhas, sendo a idade média do diagnóstico aos 68 Em sua patogênese, dois são os principais fatores
anos. Cerca de 60% dos pacientes com câncer de relacionados ao sucesso da H. pylori como agente
estômago têm 65 anos ou mais. O risco médio de um patogênico: a resistência ao ácido clorídrico e a adesão
homem desenvolver câncer de estômago em sua vida é à mucosa gástrica para colonização da mesma.
cerca de 1 em 95, para as mulheres esse risco é de 1 em
154. A infecção por H. pylori apresenta-se, mais
frequentemente, como uma gastrite predominantemente
Fatores que podem aumentar o risco de uma pessoa antral, com produção de ácido normal ou elevada. Se a
desenvolver câncer de estômago: inflamação permanece limitada ao antro - o aumento da
produção de ácido resulta em um risco maior de úlcera
• Gênero. (homem) péptica duodenal. Se a gastrite progride para envolver o
• Idade. corpo gástrico e o fundo, gastrite atrófica multifocal,
• Etnia. (+ comum em negros) pode haver associação a placas de atrofia da mucosa,
• Geografia. Mundialmente, o câncer de estômago é mais redução da massa de células parietais e da secreção de
frequente no Japão, China, Europa Oriental e Sul, e ácido, metaplasia intestinal e risco aumentado de
América do Sul e Central. Esta doença é menos comum adenocarcinoma gástrico. Dessa forma, há um
no Norte de África e Ocidental, Centro e Sul de Ásia e relacionamento inverso entre a úlcera duodenal e o
América do Norte. adenocarcinoma gástrico, o qual se correlaciona com o
• Infecção por Helicobacter pylori. padrão da gastrite.
• Dieta - ricas em alimentos defumados, peixes salgados
e carne e vegetais em conserva tem risco aumentado.

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Rafaela Amaral Câncer de estômago 4° período - FPME
A virulência está relacionada aos seguintes fatores: crescimento da glândula oxíntica. Os pólipos de glândula
• Flagelos, os quais permitem que a bactéria seja móvel fúndica podem ser assintomáticos ou associados a náusea,
no muco viscoso. vômito ou dor epigástrica.
• Urease, que gera amônia da ureia endógena e assim
eleva o pH gástrico local e aumenta a taxa de Adenoma gástrico
sobrevivência bacteriana. Os adenomas gástricos são geralmente lesões solitárias,
• Adesinas, que acentuam a aderência bacteriana à com menos de 2 cm de diâmetro, mais comumente
superfície das células foveolares. localizadas no antro e considerados lesões neoplásticas
• Toxinas, como o gene A associado à citotoxina (CagA), pré-malignas.
que pode estar envolvido na progressão da doença. Representam até 10% de todos os pólipos gástricos. Sua
frequência aumenta progressivamente com a idade,
Fatores do hospedeiro também têm um papel prevalente entre 50 e 60 anos de idade e os homens são
importante na infecção por H. pylori: afetados três vezes mais do que as mulheres.
Polimorfismos genéticos, que resultam no aumento da Similarmente às outras formas de displasia gástrica, os
expressão do fator de necrose tumoral (TNF), de adenomas quase sempre ocorrem em um ambiente de
citocinas pró-inflamatórias e interleucina-1β (IL-1β), ou gastrite crônica com atrofia e metaplasia intestinal. O
a queda de expressão da citocina anti-inflamatória risco de adenocarcinoma em adenomas gástricos está
interleucina-10 (IL-10), estão associados ao relacionado ao tamanho da lesão e é particularmente
desenvolvimento de pangastrite, atrofia e câncer elevado em lesões maiores que 2 cm de diâmetro. No
gástrico. A deficiência de ferro também pode ser um geral, o carcinoma pode estar presente em mais de 30%
fator de risco para o câncer gástrico associado ao H. dos adenomas gástricos.
pylori. Adenocarcinoma gástrico
Além da identificação histológica dos organismos, Malignidade mais comum do estômago - 90% de todos os
detecção bacteriana fecal e o teste da respiração de ureia, cânceres gástricos.
baseado na geração de amônia pela urease bacteriana, Separado morfologicamente em:
são possíveis testes diagnósticos. As amostras de biópsia Tipo intestinal: tende a formar massas volumosas
gástrica também podem ser analisadas pelo teste rápido Tipo difuso: se infiltra na parede difusamente, espessando-
da urease, cultura bacteriana ou detecção de DNA a, e geralmente é composto por células em anel de sinete.
bacteriano por PCR. Tratamentos eficazes para a Os primeiros sintomas de ambos os tipos de
infecção por H. pylori incluem combinações de adenocarcinoma gástrico são similares aos da gastrite
antibióticos e inibidores de bombas de prótons. crônica e da doença ulcerosa péptica, incluindo
dispepsia, disfagia e náusea. Logo, são mais descobertos
Pólipos e Tumores Gástricos em estágios avançados, quando perda de peso, anorexia,
Os pólipos podem se desenvolver como resultado de plenitude gástrica (principalmente nos cânceres difusos),
hiperplasia de células epiteliais ou estromais, anemia e hemorragia, incitam avaliações diagnósticas
inflamação, ectopia ou neoplasia. adicionais.
Pólipos Inflamatórios e Hiperplásicos Patogenia
Até 75% de todos os pólipos gástricos são pólipos O câncer gástrico familiar está fortemente associado a
inflamatórios ou hiperplásicos. mutações de perda de função germinativa no gene
A inflamação crônica impulsiona o desenvolvimento supressor de tumor CDH1, o qual codifica a proteína
de pólipos, logo, a incidência depende parcialmente da de adesão celular E-caderina – as mutações estão
prevalência de infecção por H. pylori. Esses pólipos presentes em cerca de 50% dos casos esporádicos de
são mais comuns em indivíduos entre os 50 e 60 anos tumores gástricos difusos. A mutação do TP53 também é
de idade e geralmente desenvolvem-se em associação encontrada na maioria dos cânceres gástricos esporádicos,
com a gastrite crônica (que inicia a lesão que resulta na tanto no tipo difuso quanto no tipo intestinal. Em contraste
hiperplasia reativa e no crescimento do pólipo). Os com os cânceres gástricos difusos, os do tipo intestinal
pólipos podem regredir após a erradicação esporádico estão fortemente associados com mutações que
bacteriana de H. pylori. resultam no aumento da via de sinalização Wnt. Estas
O risco de displasia se correlaciona com o tamanho, os incluem as mutações de perda de função no gene supressor
pólipos maiores do que 1,5 cm devem ser removidos e de tumores na polipose adenomatosa coli (APC) e
examinados histologicamente. mutações de ganho de função no gene codificador da
Pólipos de Glândula Fúndica βcatenina.
Os pólipos de glândula fúndica ocorrem Aspectos clínicos
esporadicamente e em indivíduos com pólipos e Cânceres tipo intestinal - se desenvolvem a partir de
adenomatosa familiar (PAF). A prevalência dos pólipos lesões precursoras, incluindo a displasia plana e
de glândula fúndica tem aumentado marcantemente nos adenomas. Ai dade média de apresentação é 55 anos, e
últimos anos, como resultado do aumento do uso da a razão homem:mulher é de 2:1. Em relação ao câncer
terapia com inibidores de bombas de prótons. Esses gástrico difuso, não existem lesões precursoras
fármacos inibem a produção de ácido, o que resulta no identificadas e a doença ocorre em frequências similares
aumento da secreção da gastrina e, por sua vez, no em homens e mulheres.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de estômago 4° período - FPME
Os indicadores do prognóstico são: a profundidade da Tumor Estromal Gastrointestinal
invasão e a extensão das metástases nodais e a distância. O tumor estromal GI (GIST) é o tumor mesenquimal mais
A invasão local no duodeno, pâncreas e retroperitônio é comum do abdome, com incidências anuais entre 11 e 20
comum. Nesses casos, os esforços estão geralmente a cada um milhão de pessoas. Mais da metade desses
focalizados na quimioterapia, ou na radioterapia, e no tumores ocorre no estômago. O termo estromal é
cuidado paliativo. No entanto, quando possível, a reconhecido como oriundo de células intersticiais de Cajal,
amputação cirúrgica permanece como o tratamento ou células marca-passo, na muscular própria
preferido para o adenocarcinoma gástrico. gastrointestinal.
Linfoma Patogenia
Os linfomas extranodais podem surgir em praticamente Entre 75% e 80% de todos os GISTs possuem mutações
todos os tecidos, mas ocorrem mais comumente no trato oncogênicas de ganho de função no receptor tirosina-
GI, particularmente no estômago. Cerca de 5% de todas cinase KIT. Aproximadamente 8% dos GISTs possuem
as malignidades gástricas são linfomas primários, sendo mutações que ativam um receptor α do fator de
a maioria os linfomas indolentes de células B da zona crescimento derivado de plaquetas da tirosina-cinase,
marginal extranodal. proximamente relacionado. Por motivos desconhecidos,
Patogenia os GISTs portando mutações PDGFRAsão mais
Os linfomas de células B da zona marginal extranodal frequentes no estômago.
geralmente surgem em locais de inflamação crônica. Aspectos Clínicos
Eles podem se originar no trato GI em locais de MALT, Os sintomas dos GISTs na apresentação podem estar
linfomas do tecido linfoide associado à mucosa, relacionados aos efeitos de massa. A ulceração mucosa
preexistente, tais como as placas de Peyer do intestino pode causar perda sanguínea, e aproximadamente metade
delgado, mas surgem mais comumente em tecidos que dos indivíduos com GISTs apresentam anemia ou
são normalmente desprovidos de tecido linfoide sintomas relacionados.
organizado. No estômago, o MALT é induzido,
Diagnóstico e tipos de EDA
geralmente, como resultado de gastrite crônica. A
infecção por H. pylori é o indutor mais comum no
estômago e, portanto, é encontrada em associação com a O principal exame para diagnosticar tumores malignos no
maioria dos casos de MALToma gástrico. Notavelmente, estômago é a endoscopia digestiva alta, seguida de
a erradicação do H. pylori resulta em remissões biópsia e exame anatomopatológico.
duradouras, com baixas taxas de recorrência na maioria
dos pacientes com MALToma. Mas outros exames também são importantes para avaliar a
Aspectos Clínicos extensão do tumor, tais quais:
Dispepsia e dor epigástrica; hematêmese, melena e
sintomas constitucionais, tais como perda de peso, • Ultrassonografia endoscópica;
também podem estar presentes. • Tomografia computadorizada;
• Ressonância magnética.
Tumor carcinoide
Surgem de componentes difusos do sistema endócrino e O ultrassom endoscópico usa ondas sonoras para produzir
são conhecidos como tumores neuroendócrinos bem imagens de órgãos como o estômago. Na ultrassonografia
diferenciados. O termo carcinoide foi aplicado porque endoscópica, um pequeno transdutor é colocado na ponta
esses tumores tendem a ter um curso clínico mais do endoscópio. Esse endoscópio é passado pela garganta
indolente do que os carcinomas GI. Os tumores até o estômago. Desse modo, o transdutor é posicionado
carcinoides gástricos podem estar associados a diretamente sobre a parede do estômago, permitindo que o
hiperplasia de células endócrinas, gastrite atrófica médico visualize as camadas da parede do estômago, bem
crônica autoimune, MEN-I e síndrome de Zollinger- como os linfonodos e outras estruturas. A qualidade da
Ellison. imagem é melhor do que um ultrassom padrão em função
Aspectos Clínicos da proximidade.
O pico acontece na 6ª década de vida, mas eles podem O ultrassom endoscópico é útil para verificar a
aparecer em qualquer idade. Os sintomas são disseminação da doença na parede do estômago, nos
determinados pelos hormônios produzidos. Por tecidos próximos e linfonodos. Também pode ser usado
exemplo, os tumores que produzem gastrina podem para guiar uma agulha a uma área suspeita para obter uma
causar a síndrome de Zollinger-Ellison, enquanto os amostra de tecido (biópsia guiada por ultrassom
tumores ileais podem causar síndrome carcinoide, a qual endoscópico).
é caracterizada por ruborização cutânea, sudorese,
broncospasmos, cólicas abdominais, diarreia e Existem 4 tipos de endoscopia, além da endoscopia
fibrose valvular cardíaca direita. A síndrome digestiva alta:
carcinoide ocorre em menos de 10% dos pacientes e é
causada por substâncias vasoativas secretadas pelo A endoscopia é um exame capaz de analisar a mucosa do
tumor na circulação sistêmica. esôfago, estômago e duodeno (primeira parte do intestino
delgado). É feita através de um tubo flexível (conhecido

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer de estômago 4° período - FPME
por endoscópio) que possui um chip responsável por
capturar as imagens do sistema digestivo através de uma
câmera. É conhecida como gastroscopia.
O endoscópio é inserido por via oral e passa pelo esôfago
e estômago, até chegar ao duodeno. São capturadas
imagens, que são transmitidas em tempo real por uma
máquina. Muitas lesões podem ser tratadas ou removidas
na hora, sem ser necessário algum procedimento
cirúrgico futuro.
BRONCOSCOPIA
Ideal para analisar a região da traqueia, brônquios e parte
dos pulmões. O exame é realizado através do
broncoscópio na boca ou no nariz.
CISTOSCOPIA
Exame realizado através de um cistoscópio na região da
uretra, introduzindo uma quantidade de soro fisiológico
para que a bexiga seja expandida e seja possível analisar
o órgão de maneira mais eficiente. Tem como finalidade
relatar casos de cálculos, tumores, endometriose,
infecções urinárias, inflamações e entre outros.
COLONOSCOPIA
Identifica a região interna do cólon, podendo
diagnosticar: úlcera, tumores, lesões e até mesmo o
câncer de cólon. É realizado através do colonoscópio que
é inserido no ânus do paciente e direcionado até o
intestino delgado.

Referências
• KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9
a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
• http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estatistica-para-
cancer-de-
estomago/5609/273/#:~:text=O%20Instituto%20Naci
onal%20de%20C%C3%A2ncer,homens%20e%207.8
70%20em%20mulheres).
• http://www.oncoguia.org.br/conteudo/fatores-de-
risco-para-cancer-de-estomago/5613/1137/
• https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-
estomago
• http://www.oncoguia.org.br/conteudo/endoscopia-
digestiva-alta-para-diagnostico-do-cancer-de-
estomago/5611/274/
• http://periodicos.pucminas.br/index.php/percursoacad
emico/article/view/P.2236-
0603.2016v6n12p481/11867
• https://altadiagnosticos.com.br/saude/exames/endosco
pia-digestiva-alta

@resumeairafa
Rafaela Amaral Câncer colorretal 4° período - FPME
1. Elucidar o perfil epidemiológico e fatores de risco do elas devem ser distinguidas dos adenomas serrilhados
câncer colorretal sésseis, os quais são histologicamente similares, mas que
2. Compreender a etiopatogenia (lesões pré-malignas) e têm potencial maligno, como descrito adiante.
manifestações clínicas do câncer colorretal Os pólipos hiperplásicos são mais comumente encontrados
3. Explanar as ferramentas de rastreio e diagnóstico do
no cólon esquerdo e costumam ter menos de 5 mm de
câncer colorretal
diâmetro. Eles são protrusões nodulares lisas da mucosa,
frequentemente nas cristas das pregas mucosas. Podem
Epidemiologia + fatores de risco ocorrer singularmente, porém com mais frequência
Brasil – 3° mais incidente na população. São, múltiplos, particularmente no cólon sigmoide e no reto.
aproximadamente, 40 mil novos casos diagnosticados por
ano, entre homens e mulheres. Desse total, cerca de 30%
ocorrem devido a fatores comportamentais, como má
alimentação, tabagismo e inatividade física.
Mantida essa tendência, a estimativa é que até 2030 o
número de casos aumente três vezes em homens e quase Pólipos Inflamatórios
três em mulheres. Ex: os que se formam como parte da síndrome da úlcera
Para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.540 casos de retal solitária. Os pacientes se apresentam com uma tríade
câncer de cólon e reto em homens e 20.470 em clínica de sangramento retal, descarga de muco e lesão
mulheres. Esses valores correspondem a um risco inflamatória da parede retal anterior. Um pólipo
estimado de 19,64 casos novos a cada 100 mil homens e inflamatório pode se formar como consequência de ciclos
19,03 para cada 100 mil mulheres. crônicos de lesão e cura.
Pólipos Hamartomatosos
Fatores de risco: Ocorrem esporadicamente ou como componentes de
• Idade > ou =igual 50 anos; várias síndromes - por mutações da linhagem germinativa
• Obesidade; nos genes supressores de tumores ou proto-oncogenes.
Pólipos Juvenis
• Alimentação não saudável (pobre em fibras);
São malformações focais do epitélio e da lâmina
• Consumo de carnes processadas;
própria. Podem ser esporádicos ou sindrômicos, sendo
• Ingestão excessiva de carne vermelha; que a grande maioria dos pólipos juvenis ocorre em
• História familiar de câncer de intestino; crianças com menos de 5 anos de idade, mas também pode
• História pessoal de câncer de intestino, ovário, útero ou se apresentar em pacientes mais velhos. Grande parte dos
mama, além de tabagismo e consumo de bebidas pólipos juvenis está localizada no reto e se apresenta
alcoólicas. tipicamente com sangramento retal.
• Doenças inflamatórias do intestino
• Exposição ocupacional à radiação ionizante Pólipos neoplásicos
Qualquer lesão de massa neoplásica no trato GI pode
Etiopatogenia produzir uma protrusão mucosa, ou pólipo. Os pólipos
neoplásicos mais comuns são os adenomas colônicos, os
Pólipos quais são os precursores da maioria dos
Os pólipos são mais comuns na região colorretal, e, na adenocarcinomas colorretais.
maioria das vezes, começa como pequenas elevações Os adenomas são neoplasias epiteliais que variam de
da mucosa (sésseis). Conforme o aumento dos pólipos pequenos pólipos frequentemente pedunculados a
sésseis, pode ser criado um pedículo; os pólipos com grandes lesões sésseis e são caracterizados pela
pedículos são chamados de pedunculados (ou presença de displasia epitelial. Por serem lesões
pediculados). precursoras, a prevalência do adenoma colorretal se
No geral, os pólipos intestinais podem ser correlaciona com a do adenocarcinoma colorretal, e as
classificados, quanto à sua natureza, como não distribuições dos adenomas e dos adenocarcinomas no
neoplásicos ou neoplásicos. O pólipo neoplásico mais cólon são similares. Não há ferramentas atualmente
comum é o adenoma, o qual tem o potencial de evoluir disponíveis para distinguir entre adenomas que irão ou não
para o câncer. Os pólipos não neoplásicos podem ser irão passar por transformação maligna, e essa
adicionalmente classificados como inflamatórios, transformação pode ser ao acaso, dependendo da aquisição
hamartomatosos ou hiperplásicos. das mutações oncogênicas, que podem ser aleatórias.
Pólipos Hiperplásicos
São proliferações epiteliais benignas, tipicamente Os adenomas podem ser classificados como tubulares,
descobertas na 6ª ou 7ª década de vida. Resultam da tubulovilosos ou vilosos - pouca importância clínica. Os
reposição diminuída de células epiteliais e do atraso adenomas tubulares tendem a ser pólipos pequenos e
na descamação das células epiteliais superficiais, pedunculados; os adenomas vilosos, são cobertos por
levando ao empilhamento das células caliciformes e vilosidades delgadas; os adenomas tubulovilosos têm uma
das células absortivas. Sua principal importância é que mistura de elementos tubulares e vilosos.

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Rafaela Amaral Câncer colorretal 4° período - FPME
Embora os adenomas vilosos contenham focos de
invasão mais frequentemente do que os adenomas
tubulares, a arquitetura vilosa por si só não aumenta o
risco de câncer, quando o tamanho do pólipo é
considerado.
O carcinoma intramucoso ocorre quando as células
epiteliais displásicas rompem a membrana basal para
invadir a lâmina própria ou a muscular da mucosa;
carcinomas intramucosos têm pouco potencial
metastático e a polipectomia completa geralmente
representa a cura. A invasão abaixo da muscular da
mucosa constitui um adenocarcinoma invasivo e No geral, os adenocarcinomas são distribuídos quase
apresenta o risco de se espalhar por outros locais. igualmente ao longo do comprimento total do cólon. Os
tumores no cólon proximal geralmente crescem como
Polipose Adenomatosa massas polipoides e exofíticas, que se estendem ao longo
A polipose adenomatosa familiar (PAF) é um distúrbio de uma parede do ceco, de grosso calibre, e do cólon
autossômico dominante, no qual os pacientes ascendente; esses tumores raramente causam
desenvolvem numerosos adenomas colorretais, quando obstrução. Em contraste, os carcinomas do cólon distal
adolescentes. Ela é causada por mutações do gene da tendem a ser lesões anulares que produzem constrições
adenomatose polipose coli ou gene APC. tipo “anel de guardanapo” e estreitamento luminal, às
Aproximadamente 75% dos casos são hereditários, vezes até ao ponto de obstrução.
enquanto o restante aparenta ser causado por Aspectos Clínicos
mutações adquiridas; pelo menos 100 pólipos são O câncer colorretal se desenvolve insidiosamente e pode
necessários para um diagnóstico de PAF clássica. O passar despercebido por longos períodos. Os cânceres do
adenocarcinoma colorretal desenvolve-se em 100% dos ceco e outros do cólon direito chamam mais
pacientes que não realizaram tratamento para a PAF, frequentemente a atenção médica pelo aparecimento de
comumente antes dos 30 anos e quase sempre aos 50. fadiga e fraqueza devidas à anemia por deficiência de
ferro. Adenocarcinomas colorretais do lado esquerdo
podem produzir sangramento oculto, alterações do
hábito intestinal ou cólicas e desconforto no quadrante
inferior esquerdo; os dois fatores prognósticos mais
importantes são a profundidade da invasão e a presença de
metástases linfáticas. A invasão da muscular própria reduz
Câncer Colorretal Hereditário não Polipose significativamente a sobrevida, que é diminuída ainda
O câncer colorretal hereditário não polipose (CCHNP), mais pela presença de metástases linfáticas. As metástases
também conhecido como síndrome de Lynch (cânceres podem envolver linfonodos regionais, pulmões e ossos,
em vários locais, inclusive no cólon, reto, endométrio, mas como resultado de uma drenagem portal do cólon, o
estômago, ovário, útero, cérebro, intestino delgado, trato fígado é o local mais comum de lesões metastáticas.
hepatobiliar, pâncreas e pele). Acredita-se que o
CCHNP represente entre 2% e 4% de todos os Rastreio / diagnóstico
cânceres colorretais, tornando-o a forma sindrômica
mais comum do câncer do cólon. Os cânceres de cólon Os tumores de cólon e reto podem ser detectados
em pacientes com CCHNP tendem a ocorrer em idades precocemente por meio de dois exames principais:
mais precoces do que os cânceres de cólon esporádicos e pesquisa de sangue oculto nas fezes e endoscopias
estão frequentemente localizados no cólon direito. O (colonoscopia ou retossigmoidoscopia).
CCHNP é causado por mutações hereditárias nos genes Esses exames devem ser realizados em pessoas com
que codificam proteínas responsáveis pela detecção, sinais e sintomas sugestivos de câncer, visando ao
excisão e reparo de erros que ocorrem durante a diagnóstico precoce, ou como rastreamento, nas pessoas
replicação do DNA. sem sinais e sintomas, mas pertencentes a grupos de médio
Adenocarcinoma risco (pessoas com 50 anos ou mais) e alto risco
É a malignidade mais comum no trato GI e a principal (indivíduos com história pessoal ou familiar de câncer de
causa de morbidade e mortalidade do mundo. O intestino intestino, de doenças inflamatórias do intestino ou
delgado é um local incomum para tumores benignos e síndromes genéticas, como a de Lynch).
malignos. Entre os pequenos tumores intestinais
malignos, os adenocarcinomas e tumores A OMS preconiza o rastreamento com pesquisa de sangue
neuroendócrinos bem diferenciados (carcinoides) oculto nas fezes para pessoas com 50 anos e mais nos
apresentam aproximadamente a mesma incidência, países com condições de garantir a confirmação
seguidos dos linfomas e sarcomas. diagnóstica, a referência e o tratamento.

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Rafaela Amaral Câncer colorretal 4° período - FPME
O exame de sangue oculto nas fezes, nos casos positivos,
precisa de exame confirmatório. As grandes vantagens
desse exame são: simplicidade, baixo custo e ausência de
complicações. Os exames endoscópicos (sigmoidoscopia
e colonoscopia) são confirmatórios.

A recomendação no Sistema Único de Saúde brasileiro é


que sejam priorizadas ações de diagnóstico precoce e
abordagem personalizada para o grupo de alto risco
O diagnóstico precoce do câncer de intestino deve ser
buscado por meio da investigação dos seguintes sinais e
sintomas mais comuns (Nice, 2015):
• Hemorragia digestiva baixa
• Massa abdominal
• Dor abdominal
• Perda de peso e anemia
• Mudança do hábito intestinal

O diagnóstico de câncer de cólon é estabelecido pelo


exame histopatológico de espécime tumoral obtido por
meio da colonoscopia ou do exame de peça cirúrgica. A
colonoscopia é o método preferencial de diagnóstico, por
permitir o exame de todo o intestino grosso e a remoção
ou biópsia de pólipos que possam estar localizados fora
da área de ressecção da lesão principal.
O diagnóstico da doença por exame radiológico
contrastado do cólon (enema opaco) deve ser reservado
para quando não houver acesso à colonoscopia ou
quando existir contraindicação médica para esse exame.
A investigação de possíveis metástases intra-abdominais
e pélvicas deve ser feita alternativamente por meio de
exame tomografia computadorizada ou ressonância
magnética
Na suspeita de câncer retal pela história clínica é
mandatória a realização de um exame proctológico
(toque retal). A identificação correta do local da lesão e
a possibilidade de obtenção de espécime para exame
histopatológico fazem com que a retossigmoidoscopia
(rígida ou flexível) seja sempre indicada na suspeita de
câncer retal.

Referências
• KUMAR, Vinay; ABBAS Abdul K; ASTER, Jon C.
Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 9 a
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016 .
• https://www.inca.gov.br/estimativa/sintese-de-
resultados-e-
comentarios#:~:text=Para%20o%20Brasil%2C%20esti
mam%2Dse%2C%20para%20cada%20ano%20do,mil
%20mulheres%20(Tabela%201)
• https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-
intestino/profissional-de-saude

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