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EMPILHADEIRAS

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AGRONEGÓCIO ENTREVISTA
As particularidades da Após a compra da Columbia,
logística de abastecimento executivos da TPC traçam plano
de insumos e das operações de crescimento ambicioso baseado
integradas no campo em novas aquisições
Leonardo Barros,
presidente da companhia
ARTIGO

Mapeamento de fluxo
de valor simplificado
Divulgação

para a logística lean


Um caso aplicado à produção e
distribuição de concreto usinado

Rogério Garcia Bañolas

2ª parte MAPEAMENTO DE FLUXO DE VALOR SIMPLIFICADO

N
a primeira parte
deste artigo foi
demonstrado
como se pode simplificar
o Mapa de Fluxo de Va-
lor (MFV). Esta segunda
parte se dedica à imple-
mentação da situação
futura melhorada e ao
atingimento da meta. A
meta específica deste caso
é reduzir o tempo de en-
trega em 16% e será de-
monstrado a seguir como
o mapeamento de fluxo
de valor futuro pode ser
substituído por um plano
de ações. Relembrando,
este caso está centrado
em duas questões mui-
to caras às empresas de
logística: reduzir o tem-
po de entrega e utilizar
menos tempo da equipe
para fazer essa melhoria. Figura 1

58 - Revista Tecnologística - Março 2018


ARTIGO

pressivos. A maioria dos materiais


SIMBOLOGIA SIMPLIFICADA UTILIZADA PARA O MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR
não é perecível como o concreto.
Entretanto, não há nada nessa
simplificação que impeça que os
desperdícios de material, as faltas
de estoque e os excessos de esto-
que sejam mapeados para o caso
geral da construção civil.
Entretanto, uma das premissas
para a simplificação e adaptação
ao problema específico permane-
ce a mesma: utilizar um profissio-
nal experiente em lean para fazer
as análises e ajudar na formula-
ção de soluções.
Fluxo de informações O MFV simplificado tem esta
sequência:
– Exploração inicial do processo:
Fluxo de materiais Listar processos e subprocessos;
Tour inicial pelos processos;
Acompanhamento inicial in
loco, junto aos operadores/pessoal
de linha de frente;
Entrevistas iniciais com as áreas.
– Pontuação inicial de alavancagem/
Figura 4
resultado/esforço (o que priorizar?).
– Investigação no local e no
ram considerados nove símbolos, incluindo uma cai- momento em que os processos acontecem (determi-
xa de informações para descrever as principais perdas. nar a profundidade da observação, conforme os resul-
Então, fez-se mais uma simplificação para o estudo de tados encontrados).
caso em questão (figura 4). – Repontuar a alavancagem.
Essas simplificações visaram reduzir o desperdício – Discutir soluções para os processos priorizados.
de tempo no próprio mapeamento, de modo que se fo- – Desenvolver o plano de ação com a equipe.
casse nas perdas mais importantes em primeiro lugar e No tour inicial já se tem uma ideia da importância
ensejasse ações para eliminá-las, como será verificado relativa dos processos e subprocessos. Surgem então
a seguir. algumas dissonâncias entre os problemas expostos
Cabe especular se é possível estender essas sim- pela gerência como mais importantes e a observação
plificações para outros processos logísticos, especial- dos processos reais feita pelo mapeador do fluxo. É
mente aqueles da construção civil.
Nessa indústria existe a frequen-
te queixa sobre a qualificação da Processo Tempos (minutos) Perdas (minutos) Descrição da perda
mão de obra, razão pela qual uma Carregamento 26 7 Perda no carregamento em si
linguagem simplificada seria bem- 11 Lavagem e ajuste
-vinda. É de se supor que os desper- 3 Lacrar e pegar NF
Transporte à obra 38
dícios sejam mais bem entendidos
Tempo de espera 23 23 Espera antes de aplicar concreto
e a participação dos empregados
Aplicação do concreto 64
seja facilitada.
Retorno à usina 36
No cenário geral da construção Total (lead Ɵme ) 187 44 Total de perdas
civil, diferentemente desse caso es-
pecífico, os estoques são mais ex- Quadro 1

60 - Revista Tecnologística - Março 2018


car o concreto. Contudo, há de se
METAS DE REDUÇÃO DE TEMPOS
lembrar que muitas perdas não fo-
ram contabilizadas, tais como as
meta red. tempos perdas de tempo na aplicação do
T. CARGA
T. ESPERA
concreto (eliminar vazamentos e
T. DESCARGA a impossibilidade de descarregar
T. TRAJETO
T. RETORNO porque a rede elétrica impede a
movimentação da lança).
Após a empresa decidir-se focar
na redução dos prazos de atendi-
mento ao cliente, foram estabe-
Figura 5 lecidas as metas, levando-se em
consideração os tempos medidos
feita uma pontuação inicial de alavancagem da me- e o mapeamento do fluxo de valor. Os tempos e as
lhoria de cada processo. Maior alavancagem implica perdas observadas deram segurança para fixar as me-
menor esforço dispendido em relação ao resultado tas de redução de lead time (figura 5).
obtido. A ordem decrescente do índice de alavanca- A meta acordada entre a consultoria e a gerência foi
gem indica a prioridade das ações. Mas é na investi- de redução de 16% no lead time, considerando o tem-
gação in loco que os problemas e as oportunidades po de retorno. A partir da análise sobre a viabilidade da
maiores ficam mais evidentes. Como consequência, meta, foi desenvolvido um plano de ação para dar conta
uma revisão da alavancagem é conduzida juntamen- desse objetivo.
te com a gerência.
No MFV simplificado (figura 1), os principais des- Plano de ação como MFV futuro
perdícios e problemas são indicados nas caixas de da-
dos, que têm menos informações que o MFV tradicio- Tradicionalmente, após o mapeamento do esta-
nal. Na lavagem e ajuste de dosagem do slump, estão do atual, é desenhado um MFV futuro para expressar
registrados os principais desperdícios: dosagem despa- aonde se quer chegar após a implementação das ações.
dronizada, limpeza do funil (evitável se não sujá-lo), Entretanto, a discussão sobre o MFV atual é mais im-
desperdício de água e o atraso causado pela lavagem portante que o próprio mapa futuro em si, pois gera
externa do caminhão. consciência sobre os problemas e suas causas. Ainda,
as possíveis soluções trazidas pela equipe são colocadas
Estabelecendo as metas em pauta, o que tende a facilitar o consenso na formu-
lação do plano de ação.
No MFV simplificado coerentemente como ex- A simplicidade das ações iniciais, como se pode ob-
pressa a figura 1, somente os tempos de processo no servar na figura 6, é mais uma das razões para fazer o
eixo do fluxo de valor são medidos e registrados no plano de ação como substituto para o MFV futuro.
mapa simplificado. O lead time, considerando do Nesse caso, o plano de ação é mais específico que um
início do carregamento até o retorno do caminhão- MFV futuro, pois mostra as ações detalhadas e como
-betoneira à usina, resultou em 187 minutos, sendo será alcançado o estado futuro. Além disso, fica claro
que potencialmente 44 minutos poderiam ser elimi- para a equipe quais itens do plano de ação contribuem
nados (quadro 1).
Desconsiderando o tempo de
retorno à usina, porque ele não
influi no prazo do cliente, a re-
dução de tempo implicaria uma
diminuição de 29% do lead time
(44 minutos/151 minutos). Ob-
viamente não se pode eliminar
todos os tempos perdidos, como
o tempo de espera antes de apli-
Quadro 2
Março 2018 - Revista Tecnologística - 61
ARTIGO

zar um MFV simplificado para


PLANO DE AÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO melhorar os resultados e que, ao
Aumento da eficiência de operações (tempos)
UNIDADE DE CONCRETO USINADO 1 mesmo tempo, ele respeita os
fundamentos do lean. Os princi-
Item O que fazer Por quê Onde Quem Quando Como
pais desperdícios foram avaliados
1 Organização de fila Para diminuir as perdas de tempo Formar fila conforme ordem
de chegada para procura do próximo caminhão
Usina 1 J. 28/mai
de carregamento destacando-se aqueles com maior
Colocação de campainha alavancagem na implementação.
externa com maior potência Para substituir chamada verbal, Sinalizar caminhão 5 minutos
2 Usina 1 E. 28/mai
para chamar motorista para
carregamento
para que motoristas sempre ouçam antes do momento da carga As simplificações basearam-se
Colocar tachões no pátio Sinalizar as manobras dos caminhões principalmente na premissa de
3 de carga Usina 1 E. 21/jun Fixar nas laterais da fila
para padronizá-las e ganhar tempo
que as melhorias são incremen-
Pintar/identificar local de Evitar que o motorista perca
4 colocação da mangueira do tempo e esforço para juntar a Usina 1 J. 23/jun Com tinta amarela tais, que menos símbolos podem
reservatório do balão mangueira do chão
Cortina de água com tubo, por
cumprir o propósito do MFV, que
Testar e instalar chuveirinho e Sujar menos o caminhão para dentro, em volta do funil de
5 funil para diminuição do pó ganhar tempo na lavagem
Usina 1 D./P. 13/jul
carga cuidando para dar a um mapa futuro pode ser substi-
na carga mesma vazão de hoje
tuído por um plano de ação e que
Fazer ajuste no programa
Emitir NF antes e entregar para Evitar perda de tempo na saída, gerencial para que seja um profissional experiente em
6 o motorista anexando perda de tempo no trajeto e perdas Usina 1 D. 06/jun adicionado o tempo de carga
roteiro (mapa) e lacre por espera por NF no horário da NF e implantar lean pode conduzir esse trabalho.
entrega da NF antes
Calcular diariamente o horário A simplificação mostra-se parti-
de chegada de cada motorista
7
Fazer programação das
largadas conforme horário das Para ganhar tempo no início do dia Usina 1 G./C./FL. 18/jun de caminhão subtraindo os cularmente útil quando a empresa
tempos de trajeto do horário
obras iniciais
programado na obra tem restrições de recursos huma-
Evitar que se desloque um caminhão Atuar como “batedor” nos e de tempo – aspectos muito
Revisar as condições de horário até a obra sem que a mesma esteja visitando obra com antecedência,
8 inicial das obras diariamente preparada para descarregar o Usina 1 EG. 18/jun verificando se haverá entrega comuns na logística da construção
(largadas) concreto no horário estipulado na data programada e o horário
de início da obra civil – para realizar as atividades de
Conscientizar todos os
9
motoristas do padrão de largada Para evitar atrasos na largada Usina 1 E. 26/mai Reuniões com motoristas melhoria. Aparentemente não há
Visitar as obras - um dia antes Evitar perdas de tempo por Todas as obras com concreto empecilho para aplicar uma estru-
10 cancelamentos inesperados ou Usina 1 EG. 26/mai bombeado e outras quando
(horários, acesso, ...)
não preparação da obra houver tempo tura de mapeamento de valor sim-
Evitar que pontos importantes
Colocar comprimentos de
mangueira, saco de cimento, etc.
plificada na construção civil.
Elaborar um checklist com que afetam os tempos de espera
11 lista de itens pré-elaborada na obra sejam esquecidos
Usina 1 D./EG. 26/mai e incluir no checklist o horário
mais cedo possível para o
Decorre daí uma perspectiva
ou não sejam verificados início da concretagem particularmente interessante: ex-
Avaliar o desempenho do Instalando mangueiras BPL
12
checklist para verificar/ As perdas por espera, que são com antecedência, corrigindo perimentar o MFV simplificado
justificar a criação da grandes, podem ser diminuídas Usina 1 D./FL./RB. 15/jul falta de pessoal na obra,
função de preparador desobstruindo acessos, etc. em outros processos de produção
13 Colocar a impressora de Zerar espera por NF Usina 1 D./FL./RB. 15/jul Reposicionar cabos para e logística da construção civil com
NF na sala central sala central
Colocação de hidrômetro Para reduzir tempo e perdas por Colocando hidrômetro no vantagens em relação ao MFV tra-
14 nos caminhões e slump e material devidos à imprecisão pedestal de dosagem e
no pedestal do volume que volta no balão
Usina 1 P. 09/jul
nos caminhões dicional. A expectativa é que me-
Sincronizar chegada de
Para reduzir espera
Colocar programação de nos esforço, tempo e custo sejam
15 caminhão-betoneira com Usina 1 G. 25/jun c.-lança como entrada de
caminhão-lança de caminhão-betoneira programação de c.-betoneira despendidos na atividade-meio.
16 Padronizar dosagens de Reduzir tempo de dosagem e FL./FA. Elaborar tabelas de referência
água para acertar slump melhorar qualidade do concreto Usina 1 16/jul de dosagem de água
Referências
Padronizar materiais do Reduzir tempo para procurar
Caminhão- Elaborar lista-padrão
17 caminhão-lança (mangueiras, mangueiras, buscar materiais
-lança J. 23/jul
sacos de cimento) e acessórios de materiais

Prover roteiro para Evitar erros de endereço Elaborar roteiros


BALLOU, Ronald. Gerenciamento
18 Caminhões G. 18/jun
o motorista de entrega diariamente no Google Maps da Cadeia de Suprimentos/Logística
Reduzir tempo e volume Evitar que caminhão
19 de água de limpeza do pare na estrada (tempo) Caminhões-
EG. 16/jul
Fiscal organizar descarga Empresarial. Porto Alegre: Book-
-betoneira de resto na própria obra
balão no retorno e elimine restos no caminho
man, 2006.
BAÑOLAS, Rogério G. Revista Tec-
Figura 6
nologística, out/2007 e mar/2008. Tam-
para a redução de quais tempos do lead time total de bém em www.prolean.com.br.
entrega (quadro 2). BAÑOLAS, Rogério G. Anotações/slide do treinamento Lo-
gística Lean. Porto Alegre, 2011.
Conclusões e aplicações futuras BAÑOLAS, Rogério G. Mudança: uma crônica sobre trans-
formação e logística lean. Porto Alegre: Bookman, 2013.
O estudo de caso mostrou que é possível utili- BAÑOLAS, Rogério G. Não há 8 perdas – Parte IV. Cap-

62 - Revista Tecnologística - Março 2018


turado de http://www.prolean.com.br/nao-ha-8-perdas- Innovation. Chile, 2007, vol. 2, ed. 1.
-parte-iv/ em 07/10/2016. WOMACK, James P.; JONES, Daniel T. Lean Thinking:
BOVET, David; MARTHA, J. Value Nets, 2000. banish waste and create wealth in your corporation. New York:
BOWERSOX, Donald e CLOSS, David. Logística empre- Free Press, 2003.
sarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São
Paulo: Atlas, 2010. Rogério Garcia Bañolas
BYRNE, Art. Lean turnaround: a grande virada. São Paulo: Sócio-consultor na Prolean
Lean Institute Brasil, 2014. banolas@prolean.com.br
PAIS, Alain. “Sutil é o Senhor...”: a ciência e a vida de Albert (51) 3037-3452
Einstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
ROTHER, Mike; SHOOK, John. Aprendendo a enxergar. Coautoria: Sérgio Loureiro da Silva
São Paulo: Lean Institute Brasil, 2003. Pesquisador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transpor-
SHINGO, Shigeo. O Sistema Toyota de Produção do ponto tes (Lalt) e professor colaborador da Faculdade de Engenharia Civil, Arqui-
de vista da engenharia de produção. 2. ed. Porto Alegre: Artes tetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Médicas, 1996. saloureiro@gmail.com
SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert.
Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. Colaboração: Iris Bento Silva
TORRES, Alvair; WECHSLER, Ana; FAVARO, Cle- Professor de Engenharia na Escola de Engenharia de São Carlos da
ber. A Model of Organizational Trajectories to Innova- Universidade de São Paulo (EESC-USP)
tion Management. Journal of Technology Management & ibs@sc.usp.br

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