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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

JAIME COUTINHO VARELA

ECONOMIA SOLIDÁRIA, MARICULTURA E CONDIÇÕES DE VIDA:


O caso das maricultoras da Associação de Maricultura e Beneficiamento de
Algas de Pitangui – AMBAP

Natal
2018
JAIME COUTINHO VARELA

ECONOMIA SOLIDÁRIA, MARICULTURA E CONDIÇÕES DE VIDA:


O caso das maricultoras da Associação de Maricultura e Beneficiamento de
Algas de Pitangui – AMBAP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Graduação em
Administração da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientadora: Profa. Dra. Pamela de Medeiros


Brandão.

Natal
2018
JAIME COUTINHO VARELA

ECONOMIA SOLIDÁRIA, MARICULTURA E CONDIÇÕES DE VIDA:


O caso das maricultoras da Associação de Maricultura e Beneficiamento de
Algas de Pitangui – AMBAP

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação em Administração


da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Administração.

Aprovada em 9 de julho de 2018.

Banca Examinadora

Pamela de Medeiros Brandão – Orientadora_______________________________


Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia, Brasil.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Juarez Azevedo de Paiva______________________________________________


Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Bruno Luan Dantas Cardoso___________________________________________


Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
À comunidade de Pitangui, onde vivi os
melhores anos de minha juventude.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo amparo em todos os momentos, especialmente nos mais


difíceis, e por me conceder forças para continuar seguindo em frente.

A minha família - minha esposa, Lyllian, e meus filhos, Isadora e Miguel,


por todo amor, paciência, carinho e pela compreensão nos momentos em que estive
distante de sua companhia.

A meus pais, João e Liete, que sempre me apoiaram e mostraram o


caminho a ser trilhado, pelo cuidado e a educação que fizeram de mim o homem
que sou hoje.

À Profa. Dra. Pamela de Medeiros Brandão, por sua disponibilidade,


atenção e orientação. Sei que falo por todos seus orientandos quando afirmo que,
sem seu primoroso apoio, não chegaríamos tão longe.

Às maricultoras de Pitangui, mulheres batalhadoras, pela notável


contribuição que possibilitou a realização deste trabalho.
“Não ganhe o mundo e perca sua alma;
sabedoria é melhor que prata e ouro”.

(Robert Nesta Marley)


RESUMO

O presente trabalho analisa a influência das atividades econômico-solidárias


exercidas nas condições de vida das maricultoras associadas à Associação de
Maricultura e Beneficiamento de Algas de Pitangui – AMBAP. Para tanto,
caracterizou a AMBAP no contexto territorial da comunidade de Pitangui; descreveu
as atividades econômico-solidárias desenvolvidas; caracterizou o perfil
socioeconômico das maricultoras associadas; evidenciou o antes e o depois na
trajetória de vida das maricultoras, com a participação nesse Empreendimento
Econômico Solidário (EES); e por fim identificou a percepção das maricultoras sobre
as contribuições econômica, cultural, social e política advindas com a participação
na AMBAP. Trata-se de uma pesquisa descritiva com uma abordagem qualitativa,
que utilizou entrevista como técnica de coleta de dados junto às maricultoras da
AMBAP. Como resultado, verificou-se que as atividades econômico-solidárias
realizadas na AMBAP têm influenciado positivamente tanto nas condições de vida
das maricultoras quanto na comunidade de Pitangui. O desempenho dessas
atividades indica que a associação, para além das atividades de produção e
comercialização de seus produtos, tem assumido princípios cooperativos como
premissa de funcionamento, expressos especialmente no que diz respeito às
atividades educacionais, sua relação com a comunidade e a preocupação com a
preservação ambiental.

Palavras-chaves: Economia Solidária; Maricultura; Condições de Vida; Pitangui;


AMBAP.
ABSTRACT

The present work analyzes the influence of the economic solidary activities executed
on the living conditions of the women maricultores associated with AMBAP.
Therefore, it characterized AMBAP in the territorial context of the community of
Pitangui; described the economic solidary activities developed; characterized the
socioeconomic profile of associated mariculture producers; evidenced the before and
after in the life trajectory of the women maricultores, with the participation in this
Economic Solidary Enterprise (ESE); and finally identified the perception of the
women maricultores about the economic, cultural, social and political contributions
coming from the participation in AMBAP. It is a descriptive research with a qualitative
approach, which used the interview as techniques of data collection with the women
maricultores of AMBAP. As a result, it was verified that the economic solidary
activities performed in the AMBAP have positively influenced both the living
conditions of the mariculture producers and the community of Pitangui. The
performance of these activities indicates that the association, in addition to the
activities of production and marketing of its products, has assumed cooperative
principles as a premise of operation, expressed especially with respect to educational
activities, its relationship with the community and concern for environmental
preservation.

Keywords: Solidary economy; mariculture; life conditions; Pitangui; AMBAP.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: As três dimensões do IDH.......................................................................... 24


Figura 2: Localização do Município de Extremoz ...................................................... 31
Figura 3: Mapa de distância da Capital e acessos à Praia de Pitangui ..................... 32
Figura 4: Vista da Praia de Pitangui .......................................................................... 33
Figura 5: Embarcações em Pitangui ......................................................................... 33
Figura 6: Pôr do Sol visto das Dunas douradas ........................................................ 33
Figura 7: Cachoeirinha de Pitangui ........................................................................... 33
Figura 8: Formações rochosas da Cachoeirinha ....................................................... 33
Figura 9: Figueira antiga à beira-mar ........................................................................ 34
Figura 10: Travessia sobre o Rio Pratagi .................................................................. 34
Figura 11: Vista aérea da Lagoa de Pitangui ............................................................ 34
Figura 12: Macroalga Gracilaria birdiae e plantas locais utilizadas na fabricação de
cosméticos ................................................................................................................ 36
Figura 13: Maricultoras preparando os módulos de produção .................................. 37
Figura 14: Alunos da EAJ auxiliando na montagem da balsa para os módulos
aquáticos ................................................................................................................... 38
Figura 15: Alunos da EAJ auxiliando na montagem da balsa flutuante contendo os
módulos ..................................................................................................................... 38
Figura 16: Instalação da balsa no mar ...................................................................... 39
Figura 17: Módulos de plantio instalados .................................................................. 39
Figura 18: As Maricultoras associadas à AMBAP ..................................................... 42
Figura 19: Principais atividades na AMBAP .............................................................. 43
Figura 20: Maricultoras na produção de cosméticos ................................................. 43
Figura 21: Matéria-prima (alga desidratada) ............................................................. 44
Figura 22: Alimentos produzidos com as algas ......................................................... 44
Figura 23: Cosméticos produzidos com as algas ...................................................... 44
Figura 24: Cosméticos produzidos com as algas ...................................................... 44
Figura 25: Cosméticos produzidos com as algas ...................................................... 45
Figura 26: Algas desidratadas para alimentos .......................................................... 45
Figura 27: Participação das maricultoras em ações da INICIES/UFRN .................... 45
Figura 28: Certificado de participação das maricultoras em congresso realizado na
Cidade de João Pessoa-PB ...................................................................................... 46
Figura 29: Visão aérea da Praia de Pitangui ............................................................. 49
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tempo de associação e motivos de adesão ............................................ 41

Quadro 2: Participação das maricultoras na gestão .................................................. 47

Quadro 3: Território onde reside, idade e escolaridade de cada associada.............. 48

Quadro 4: Estado civil, quantidade de filhos e de pessoas que residem sob o mesmo
teto e tipo de moradia de cada associada ................................................................. 50

Quadro 5: Renda familiar, fontes de renda e outras atividades exercidas pelas


associadas, para complementar a renda familiar ...................................................... 50

Quadro 6: Resultado da análise dos discursos individuais das entrevistadas .......... 53


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque


econômico ................................................................................................................. 55

Gráfico 2: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque


social ......................................................................................................................... 56

Gráfico 3: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque


cultural ....................................................................................................................... 58

Gráfico 4: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque


político ....................................................................................................................... 59

Gráfico 5: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque


ambiental ................................................................................................................... 60
SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................... 13

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO UM CAMINHO PARA A PROMOÇÃO DO


DESENVOLVIMENTO E A MELHORIA DA CONDIÇÃO DE VIDA ......................... 19

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................... 25

3.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................................... 25

3.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO ....................................................................... 25

3.3 PLANO DE COLETA DE DADOS ................................................................... 26

3.4 MODELO DE ANÁLISE DOS DADOS ............................................................ 27

4 PRINCIPAIS RESULTADOS .......................................................................... 31

4.1 A AMBAP NO CONTEXTO TERRITORIAL DE PITANGUI ............................. 31


4.2 AMBAP: COMPOSIÇÃO, ATIVIDADES E GESTÃO ....................................... 39
4.3 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS MARICULTORAS ASSOCIADAS ........... 48
4.4 AS MUDANÇAS NA TRAJETÓRIA DE VIDA DAS MARICULTORAS,
DECORRENTES DA PARTICIPAÇÃO NA AMBAP .................................................. 51
4.5 CONTRIBUIÇÕES ADVINDAS COM A PARTICIPAÇÃO NA AMBAP............ 54
4.5.1 Econômico ...................................................................................................... 54

4.5.2 Social .............................................................................................................. 55

4.5.3 Cultural ........................................................................................................... 57

4.5.4 Político ............................................................................................................ 58

4.5.5 Ambiental ........................................................................................................ 60

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 62

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65

APÊNDICES ............................................................................................................. 70
13

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Atualmente, no Brasil e na esfera internacional, o termo maricultura tem


conquistado cada vez mais espaço nas discussões conceituais e no campo das
políticas públicas. Tal fato deve-se às características diversas dessa área da
Aquicultura, que engloba a produção de variados organismos aquáticos marinhos e
estuarinos, como vegetais (algas), invertebrados (crustáceos e moluscos) e
vertebrados (peixes e répteis). O cultivo de algas, especificamente, é uma atividade
relativamente nova no país, na qual a maioria das iniciativas de cultivo comercial
ocorre em escala familiar, por meio de ações de fomento dos órgãos
governamentais e/ou organismos internacionais, como instituições de ensino,
Serviços de apoio, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – órgão
que incorporou em 2015 o antigo Ministério da Pesca e Aquicultura, e a Organização
para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (PEREIRA; ROCHA, 2015).
Pereira e Rocha (2015) asseveram que, por não apresentar dificuldades
consideráveis na inclusão de pequenos produtores, a maricultura pode reduzir o
êxodo, contribuindo para a estabilidade de comunidades costeiras, atuando, dessa
forma, como uma ferramenta na área social. Embora esteja associada à pesca, a
maricultura possui semelhanças com sistemas de produção rural e tem seu
desenvolvimento diretamente associado à gestão dos recursos naturais e a
conservação dos processos ecológicos.
O termo maricultura é empregado também, na definição de Bezerra
(2008, p. 2), “para designar o cultivo de algas em larga escala, em áreas de pouca
profundidade”. Ou ainda, segundo Montibeller F. (2003, p. 193), a “maricultura
compreende a atividade humana de produzir nos mares seres aquáticos. Neste
sentido, trata-se de produção artificial, uma vez que não se dá de forma espontânea
na natureza, mas sim induzida e controlada pela ação do homem”.
A Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas
[FAO] (1997) aponta para a possibilidade de uma crise no setor pesqueiro,
decorrente da exploração ilegal, irregular e desordenada, resultando na escassez
dos recursos marinhos. Tal fator torna a Aquicultura uma aliada importante na
redução dos impactos ambientais e econômicos, através da intervenção humana no
cultivo de organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas.
14

Corroborando com a linha de pensamento da FAO (1997), Freitas, Costa


e Silvestri (2009) buscam apresentar a maricultura como tecnologia de produção
alimentar e meio alternativo para superação da pobreza, não obstante deixam um
alerta para o aspecto da exploração e suas possíveis implicações ambientais.
De acordo com Bezerra (2008), a exploração de algas já representava um
fator econômico importante para as comunidades costeiras do nordeste brasileiro a
partir dos anos de 1970 e em meados da década seguinte era possível obter um
complemento à renda familiar por meio da colheita das algas. Foi a crescente
procura nos anos seguintes que resultou numa diminuição desse recurso em
consequência da exploração excessiva e da falta de manejo adequado na colheita.
Assim, nas décadas seguintes houve uma redução na colheita em razão
do desaparecimento gradual de importantes bancos de algas naturais, o que
provocou a diminuição de espécies de potencial econômico, limitando essa
alternativa de renda para as comunidades costeiras (SANTOS, 2015 apud
BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010; SALES, 2006) e demonstrando que o
cultivo de algas pode representar uma solução para a escassez dessa matéria-prima
(SANTOS, 2015).
Nos anos 2001 a 2003, a FAO financiou um estudo que demonstrou a
viabilidade econômica para o cultivo de algas do gênero Gracilaria na região
nordeste brasileira, exclusivamente nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do
Norte. Nessa época, como resultado, a FAO, em parceria com a Secretaria Especial
de Aquicultura e Pesca (SEAP), elaborou um projeto de maricultura chamado
Desenvolvimento de Comunidades Costeiras (DCC) (BEZERRA, 2008; SANTOS,
2015).
O DCC, no nordeste brasileiro, atuou nos municípios de Pitimbu e Baía da
Traição na Paraíba; Rio do Fogo e Baía Formosa no Rio Grande do Norte; e
Itapipoca e Icapuí, no Ceará (MPA, 2014), tendo como objetivo principal a redução
da pobreza nas comunidades costeiras e a garantia da utilização sustentável dos
recursos marinhos (BEZERRA, 2008).
Nos dias atuais, na visão de Pereira e Rocha (2015), embora predomine a
exploração comercial de camarões e moluscos na aquicultura brasileira, a produção
de macroalgas vem ganhando destaque, porém ainda com baixo volume nacional,
não sendo, portanto, capaz de suprir a demanda em larga escala.
15

Observa-se que as duas únicas empresas de maior porte no Brasil que


vêm processando algas, uma situada em Mogi das Cruzes-SP – a Griffith do Brasil,
e outra em João Pessoa-PB – a AgarGel, utilizam algas provenientes da costa
nordestina, mas precisam importar das Filipinas e do Chile a maior parte da sua
matéria-prima, já que o volume da produção brasileira ainda é insuficiente para o
consumo industrial de ambas (ALVES, 2016).
Na região nordeste brasileira, a produção de macroalgas advém das
atividades extrativistas realizadas na faixa litorânea que se estende do Estado do
Ceará até a Paraíba (PEREIRA; ROCHA, 2015). No Rio Grande do Norte, um dos
Estados pioneiros na explotação de algas, os polos de referência na produção desse
recurso natural estão localizados nas praias de Baía Formosa, Rio do Fogo e
Pitangui.
É no ambiente produtivo de algas no Estado do Rio Grande do Norte que,
de acordo com Bezerra (2008), torna-se imprescindível a implementação de cultivos
que subsidiem a atividade em menor escala, em prol da atenuação das condições
de pobreza das comunidades costeiras nordestinas e em contribuição à restauração
dos recursos naturais.
Nesse contexto de necessidade de se pensar em alternativas que visem à
atenuação das condições de pobreza, bem como de se considerar a importância da
sustentabilidade local, é que surgem iniciativas associativistas. Em especial, as
iniciativas ligadas à economia solidária, que envolvem moradores em determinado
contexto territorial na busca da solução dos problemas públicos relacionados à sua
condição de vida, por meio do fomento à criação de atividades socioeconômicas
(FRANÇA FILHO, 2007).
Tais iniciativas, na visão de França Filho (2008), permitem a geração de
trabalho e renda para aqueles alcançados pelo desemprego e que estão, portanto,
às margens dos circuitos formais da economia, e constituem-se de uma prática
coletiva da promoção do desenvolvimento local, baseada em novas formas de
regulação das relações econômico-sociais, capaz de impactar amplamente as
condições de vida das pessoas.
Nesse ponto, destacam-se as associações de maricultura. Atualmente,
existem pelo menos três associações de maricultura instituídas na região costeira do
Rio Grande do Norte: a Associação de Pescadores Artesanais, Maricultores e
16

Quilombolas de Baía Formosa (AMMAR), a Associação de Maricultores de Algas de


Rio do Fogo (AMAR), ambas fomentadas pelo projeto DCC, e a Associação de
Maricultura e Beneficiamento de Algas de Pitangui (AMBAP).
Dentre as supracitadas associações, destaca-se a Associação de
Maricultura e Beneficiamento de Algas de Pitangui (AMBAP), anteriormente
denominada Associação de Maricultura de Pitangui (AMP), surgida em 2007 como
resultado do movimento comunitário local de maricultoras artesanais da zona
litorânea do Município de Extremoz e que, no ano de 2010, teve sua denominação
alterada como forma de melhor caracterizar sua identidade associada a suas
práticas econômicas (KNOX; JOFFER, 2010).
A AMBAP surge da necessidade de institucionalizar e agregar valor a
uma atividade que perdura há mais de 30 anos no local e que historicamente tem
sido exercida por mulheres – a catação de algas, para dessa maneira ampliar a
renda das coletoras, responsáveis por manter essa prática social marcante da
identidade sociocultural local (KNOX; JOFFER, 2010).
O grande desafio enfrentado por essa associação foi a sua
autonomização, que se deu através da consolidação e independência adquiridas por
meio da formalização como pessoa jurídica, sua autogestão financeira com a
melhoria do processo de produção, a ampliação da renda das associadas e o
exercício de praticar um desenvolvimento ecologicamente sustentável (KNOX;
JOFFER, 2010).
Seu estatuto baseia-se no conjunto de normas já utilizadas para orientar
os procedimentos coletivos (KNOX; JOFFER, 2010) e as atividades desenvolvidas à
luz dos princípios da economia solidária buscam, além do desenvolvimento de uma
atividade econômica, o cuidado com o meio ambiente, adotando procedimentos
ecologicamente sustentáveis.
A intenção da AMBAP é estimular o protagonismo feminino na
comunidade, estimulando a autoestima e a autovalorização por intermédio da
melhoria da renda, da capacitação, modificando positivamente as condições de vida
das associadas (KNOX; JOFFER, 2010).
Assim, abordando essa temática, o presente estudo partiu da seguinte
questão problema: Qual a influência da maricultura nas condições de vida sob a
perspectiva das maricultoras associadas à AMBAP?
17

Para tanto, teve como objetivo geral compreender a influência das


atividades econômico-solidárias exercidas nas condições de vida das maricultoras
associadas à AMBAP. Como meio de atingir esse objetivo geral, foram propostos os
seguintes objetivos específicos: a) Caracterizar a AMBAP no contexto territorial da
comunidade de Pitangui; b) Descrever as atividades econômico-solidárias
desenvolvidas pela AMBAP; c) Caracterizar o perfil socioeconômico das maricultoras
associadas à AMBAP; d) Evidenciar o antes e o depois na trajetória de vida das
maricultoras, com a participação nesse Empreendimento Econômico Solidário
(EES); e e) Identificar a percepção das maricultoras sobre as contribuições
econômica, social, cultural, política e ambiental advindas com a participação na
AMBAP.
Uma justificativa para o desenvolvimento do presente estudo reside no
fato de que o tema merece notoriedade e destaque pela sua contribuição enquanto
ferramenta de inclusão social, bem como a necessidade de maiores estudos e
pesquisas nessa área, que possibilitem sua melhor compreensão e difusão. Outra
razão parte da observação de Araújo e Rodrigues (2011) de que o cultivo de algas
no litoral nordestino ainda é incipiente, o que corrobora com a primeira justificativa,
de que o tema ainda carece de mais estudos e pesquisas, que venham a lhe conferir
uma maior notoriedade e desenvolvimento.
Embora existam estudos recentemente desenvolvidos em contextos e
localidades com características semelhantes ou até mesmo na própria AMBAP,
abordando a maricultura e suas práticas (ALVES, 2006; OLIVEIRA et al., 2007;
ARAÚJO; RODRIGUES, 2011), o desenvolvimento local e a sustentabilidade
(BEZERRA, 2008; FREITAS; COSTA; SILVESTRI, 2009; KNOX; JOFFER, 2010;
PEREIRA; ROCHA, 2015) ou aspectos econômicos e sociais desse tipo de EES
(LIMA, 2016), verifica-se o ineditismo em se buscar a compreensão da influência das
atividades econômicas solidárias exercidas nas condições de vida, sob a perspectiva
das maricultoras associadas à AMBAP.
O estudo justifica-se ainda pelo aspecto pessoal, pois aborda uma
realidade local em uma região particularmente familiar, e poderá, através da difusão
do conhecimento aqui explorado, constituir um meio de conferir tanto uma maior
visibilidade à referida iniciativa social, quanto o devido reconhecimento das mulheres
18

que outrora labutaram na beira-mar para garantir o sustento de suas famílias,


tornando-se as pioneiras na exploração das algas em Pitangui.
Para melhor adequar o conteúdo à compreensão do leitor, o presente
estudo foi estruturado em três capítulos, correspondendo o primeiro às
considerações iniciais, que contemplam a contextualização do problema da
pesquisa, os objetivos a serem atingidos e as justificativas à elaboração do estudo; o
segundo ao referencial teórico; e, finalmente, o terceiro, apresentando os
procedimentos metodológicos utilizados, os resultados obtidos através das
pesquisas e as considerações finais.
19

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO UM CAMINHO PARA A PROMOÇÃO DO


DESENVOLVIMENTO E A MELHORIA DA CONDIÇÃO DE VIDA

Transcendendo a visão formalista na qual o conceito de economia é visto


como sinônimo de mercado (POLANYI, 1975 apud FRANÇA FILHO, 2007), a
definição substantiva, sob outra perspectiva, entende a economia como “um
processo institucionalizado de interação entre o homem e a natureza que permite
um aprovisionamento regular de meios materiais para satisfação de necessidades”
(CAILLÉ, 2003, p. 221 apud FRANÇA FILHO, 2007, p. 158), sentido esse que
reforça o conceito de economia em seu aspecto etimológico, relacionando-o à noção
de ciência da ‘boa gestão da casa’ ou das condições materiais de existência e à
ideia de toda forma produtiva e distributiva de riqueza (FRANÇA FILHO, 2007).
O resultado dessa concepção substantiva admite a existência de três
formas de economia na modernidade: mercantil (fundada no princípio do mercado
autorregulado), não mercantil (fundada no princípio da redistribuição) e não
monetária (fundada no princípio da reciprocidade), que podem ser condensadas na
visão de uma “economia plural” ao admitir diversas formas de produzir e distribuir
riquezas (FRANÇA FILHO, 2007).
Nesse sentido, de acordo com França Filho (2007), o conceito de
economia solidária surge da ampliação dessa visão dominante da economia real,
que a reduz à ideia de economia de mercado, e ressalta singularidades que
possibilitam pensar suas práticas como uma projeção da economia plural; uma
articulação entre as três formas de economia supracitadas e não uma “nova
economia”; e ainda “como modos de gestão de diferentes lógicas em tensão nas
dinâmicas organizativas” (FRANÇA FILHO, 2007, p. 160).
Borinelli et al. (2010) definem a economia solidária:

[...] como um sistema socioeconômico aberto, amparado nos valores da


cooperação e da solidariedade no intuito de atender às necessidades e
desejos materiais e de convivência, mediante mecanismos de democracia
participativa e de autogestão, visando a emancipação e o bem-estar
individual, comunitário, social e ambiental. (BORINELLI et al., 2010, p. 1).

Gaiger (2004) sintetiza esse conceito definindo-o como “as formas de


organização socioeconômica em que se verificam práticas e princípios de
autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação, auto sustentação,
20

desenvolvimento humano e responsabilidade social” (GAIGER, 2004, p. 35). Dentre


seus objetivos, convém salientar a geração do desenvolvimento territorial
sustentável (FRANÇA FILHO, 2007) e a promoção da qualidade de vida das
pessoas do bem-estar social duradouro (GAIGER, 2007).
Além do aspecto solidário, a economia solidária possui características
próprias, pois se trata de uma iniciativa baseada na cooperação, na autogestão e na
livre associação. Nessa temática, a cooperação engloba os interesses e os objetivos
comuns, a junção dos esforços e das capacidades, a coletividade na propriedade
dos bens, a divisão dos resultados e a responsabilidade solidária e, dessa forma,
envolve tipos diversos de organizações coletivas (BORINELLI et al., 2010).
Quanto à autogestão, Borinelli et al. (2010) apontam para o aspecto da
participação efetiva dos membros, consubstanciada na definição de estratégias dos
empreendimentos e na coordenação das ações, dentre outros. Na dimensão
econômica, verifica-se a constituição de uma base motivacional que reúne esforços
e recursos para produção, beneficiamento, consumo, crédito e comercialização,
sejam pessoais e de outras organizações, e envolve elementos de viabilidade
econômica mediados por critérios de eficácia e efetividade, conjuntamente aos
aspectos culturais e socioambientais (BORINELLI et al., 2010).
Importa ressaltar ainda a construção conjunta da oferta e da demanda
que, na visão de França Filho (2007), é uma contribuição originada no pressuposto
de que a economia solidária, a partir das iniciativas de caráter associativo ou
cooperativo, envolve moradores que buscam solucionar determinados problemas
públicos, associados à condição cotidiana de vida, por intermédio da criação de
atividades socioeconômicas. Destarte, são as demandas locais reais que
impulsionam a criação das atividades sócio produtivas ou a oferta de serviços,
estimulando, territorialmente, a integração de relações socioeconômicas em uma
lógica de rede, capaz de envolver produtores/prestadores de serviço e
consumidores/usuários de serviços, que desconsidera a competição e estimula a
livre associação entre produtores e consumidores.
A economia solidária compreende diferentes tipos de empreendimentos
de caráter associativo que têm por objetivo proporcionar benefícios econômicos a
seus associados (SINGER, 2001). Além disso, compõem experiências nas quais se
21

busca a autogestão, “centrando-se, especialmente, na formação de cooperativas de


trabalho e de produção e de associações de trabalhadores” (LEITE, 2009, p.32).
Esses empreendimentos, atendendo aos princípios da solidariedade,
cooperação, economia e construção conjunta da oferta e da demanda, são
chamados de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), os quais se
constituem como uma das formas de auto-organização socioeconômica, que
representam o núcleo fundamental da economia solidária.
Os EES, de acordo com ECOSOL Base Brasília (2018), são
organizações: 1) Coletivas e suprafamiliares, onde os participantes são
trabalhadores dos meios urbano e rural que exercem a autogestão das atividades e
da alocação dos seus resultados; 2) Permanentes, ou seja, não são práticas
eventuais e devem incluir, além dos empreendimentos que já se encontram
implantados, aqueles cujo grupo de participantes esteja constituído e sua atividade
econômica esteja definida; 3) Que realizam atividades econômicas, que devem ser
permanentes ou principais, podendo ser atividades de produção de bens, prestação
de serviços, fundos de crédito, comercialização ou de consumo solidário; 4)
Singulares ou complexas, de tal modo que podem ser organizações de diferentes
graus ou níveis; e 5) Que podem dispor ou não de registro legal, prevalecendo a
existência real ou a vida regular da organização.
Entre os Empreendimentos Econômicos Solidários, França Filho (2007)
afirma que é possível evidenciar diversas práticas de economia solidária, dadas as
diferentes experiências ou categorias, a exemplo de iniciativas das finanças
solidárias – que envolvem bancos populares, cooperativas de crédito e bancos
comunitários; do comércio justo; do cooperativismo popular ou até mesmo os clubes
de troca.
Cabe ainda mencionar as Entidades de Apoio e Fomento (EAF), que,
como sugere o nome, dedicam-se à assessoria dos EES e diferem destes pelos
propósitos das iniciativas. Sua base profissional é altamente qualificada e podem ser
organizações governamentais ou não governamentais, como ONGs, estruturas
organizativas de universidades ou estruturas de coordenação de redes. (FRANÇA
FILHO, 2007).
Segundo Gallo (2003), se por um lado existe o incentivo do Estado para a
criação de micro e pequenas empresas, por outro, grupos de pesquisas e
22

trabalhadores excluídos motivam as formas organizacionais alternativas à lógica


capitalista, chamadas de Empreendimentos Econômicos Solidários, que trazem
propostas de reinserção social e baseiam-se nos princípios da autogestão, na
democracia e na participação igualitária, dentre os quais as cooperativas e as
associações fazem parte.
As práticas de economia solidária se constituem, na perspectiva de
França Filho (2008), como um caminho para o desenvolvimento, especialmente de
territórios de vulnerabilidade social. Na visão sustentável-solidária é considerada,
como premissa fundamental, a valorização de soluções endógenas partindo do
pressuposto de que toda localidade, por mais carente, pode ser portadora de
soluções para seus próprios problemas. Desse modo, essa concepção enfatiza a
importância dos territórios, apostando na capacidade desses de serem sustentáveis,
inclusive aqueles que se mostram mais carentes.
A concepção sustentável-solidária também é responsável por melhorar o
desenvolvimento humano, ao abordar diretamente a questão das relações de
sociabilidade nos territórios, seja visando o seu fortalecimento e/ou sua
reconstrução, e considera, para além do aspecto econômico, outras dimensões
igualmente relevantes que compõe a vida das pessoas, como a auto-organização
político-associativa, o sentimento de pertencimento e identidade local e a
preservação ambiental (FRANÇA FILHO, 2008).
Sobre o assunto, França Filho (2008) ainda defende que as soluções para
os problemas que afligem os territórios não podem ser individuais, ou seja,
baseadas numa suposta capacidade empreendedora individual. Quando se busca
impactar nas condições de vida das pessoas que residem em determinada
comunidade através do desenvolvimento local ou o enfrentamento da pobreza e da
falta de emprego, as soluções devem ser coletivas e baseadas no estabelecimento
de novas formas de relações econômico-sociais.
Mesmo havendo diferentes formas de manifestação da economia
solidária, observa-se um ponto central no ideal das iniciativas, constatado no
fomento à criação de atividades socioeconômicas, que envolve moradores em
determinado contexto territorial na busca da solução dos problemas públicos
relacionados à sua condição de vida (FRANÇA FILHO, 2007).
23

Por sua vez, as condições de vida, em sentido amplo, são fatores


capazes de interferir diretamente na qualidade de vida das pessoas. Referem-se
àquelas capazes de contribuir para o bem físico e psicológico dos indivíduos em
sociedade. Compreendem fatores objetivos e subjetivos como o bem-estar espiritual,
físico, psicológico e emocional, as relações sociais, poder de compra, acesso à
saúde, educação, habitação, dentre outras circunstâncias (ALMEIDA; GUTIERREZ;
MARQUES, 2012). Tais definições ampliam apontamentos que resumem o conceito
de condições de vida à qualidade e quantidade de bens e serviços disponíveis a
uma pessoa ou população (IBGE, 2017).
Condições de vida é um conceito que envolve na sua concepção
aspectos relacionados ao atendimento de necessidades vitais básicas. Logo, através
do atendimento de tais necessidades, melhores condições de vida e bem-estar são
garantidas aos indivíduos (RIBEIRO; BARBOSA, 2006).
Ribeiro e Barbosa (2006) assim definem o termo condições de vida:

[...] é um conceito eminentemente subjetivo, uma vez que, na sua


concepção estão aspectos relacionados com o atendimento de
necessidades vitais básicas tais como: moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte, dentre outras. O atendimento
destas necessidades garante aos indivíduos melhores condições de vida e
bem-estar. (RIBEIRO; BARBOSA, 2006, p. 2).

Essa subjetividade intrínseca ao conceito de condições de vida pode ser


observada em uma avaliação dessas condições que, na percepção dos indivíduos,
representa o contexto social no qual estão inseridos, bem como seus
posicionamentos na vida. Dessa forma, o que é retratado é um conjunto de valores,
onde são identificados seus anseios, objetivos e preocupações relacionadas aos
seus modos de produção e reprodução social (RIBEIRO; BARBOSA, 2006).
De acordo com Ribeiro e Barbosa (2006), para o entendimento das
condições de vida é necessário considerar elementos fundamentais que compõem a
qualidade de vida das pessoas. Almeida, Gutierrez e Marques (2012) asseveram
que esses elementos podem ser subjetivos, mas também podem ser objetivos e
mensuráveis através de instrumentos indicadores.
Esses instrumentos indicadores apresentam pontos positivos no tocante à
facilidade de obtenção de dados, bem como a geração de índices gerais, que
abordam as condições de qualidade de vida das populações analisadas (ALMEIDA;
GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
24

Um exemplo desses instrumentos é o Índice de Desenvolvimento


Humano (IDH), utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD). Esse tipo de índice, além de considerar aspectos socioeconômicos, lida
com questões como educação e saúde da população (ALMEIDA; GUTIERREZ;
MARQUES, 2012).
O IDH é um indicador que vem sendo bastante utilizado nos últimos anos,
visto que classifica países, estados e municípios quanto às condições de vida. É um
indicador sintético que contempla dimensões distintas: renda, saúde e educação
(RIBEIRO; BARBOSA, 2006), conforme ilustrado na Figura 1.

SAÚDE

• Ter uma vida longa e saudável é fundamental para a vida plena. A promoção do desenvolvimento
humano requer que sejam ampliadas as oportunidades que as pessoas têm de evitar a morte
prematura, e de garantir a elas um ambiente saudável, com acesso à saúde de qualidade, para que
possam atingir o padrão mais elevado possível de saúde física e mental.

EDUCAÇÃO

• O acesso ao conhecimento é um determinante crítico para o bem-estar e é essencial para o exercício


das liberdades individuais, da autonomia e autoestima. A educação é fundamental para expandir as
habilidades das pessoas para que elas possam decidir sobre seu futuro. Educação constrói confi ança,
confere dignidade e amplia os horizontes e as perspectivas de vida.

RENDA

• A renda é essencial para o acesso às necessidades básicas como água, comida e abrigo, mas também
para transcender essas necessidades rumo a uma vida de escolhas genuínas e exercício de
liberdades. A renda é um meio para uma série de fins, possibilita a opção por alternativas disponíveis
e sua ausência pode limitar as oportunidades de vida.

Figura 1: As três dimensões do IDH


Fonte: Adaptado de PNUD; Ipea; FJP, 2013.

Portanto, em situações de territórios (quer sejam países, estados e


municípios, ou ainda comunidades) em que a população se encontra em precárias
condições de vida, expressas nos quesitos de renda, saúde e educação, a economia
solidária se apresenta como um caminho para a promoção do desenvolvimento local
e, por conseguinte, para a melhoria dessas condições de vida por intermédio das
atividades econômico-solidárias, especialmente por meio de Redes Locais de
Empreendimentos Econômicos Solidários.
25

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPO DE ESTUDO

Do ponto de vista prático, Günther (2006) aponta para a existência de


razões de ordens diversas capazes de induzir a escolha do pesquisador a uma
abordagem ou outra. Ao considerar sua finalidade, bem como a disponibilidade dos
recursos materiais, temporais e pessoais, o presente estudo foi classificado como
descritivo, seguindo a definição de Gil (2002), por objetivar o estudo das
características, a compreensão e a descrição da influência da maricultura na vida
das maricultoras associadas à AMBAP.
Dada a especificidade da pesquisa em termos natureza e análise dos
dados, utilizou-se essencialmente de uma abordagem qualitativa (RICHARDSON,
1999) permitindo descrever a trajetória e funcionamento da AMBAP e compreender
os processos dinâmicos aos quais as maricultoras enquanto grupos sociais estão
sujeitos.
Adotou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso, que pode ser
usado para entender fenômenos sociais, por ser “uma investigação empírica de um
fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p. 32).
Portanto, a estratégia adotada buscou a compreensão e a interpretação
mais profunda do fenômeno, possibilitando a ampliação do conhecimento por meio
do surgimento, a partir do estudo realizado, de possíveis generalizações ou outras
proposições teóricas (YIN, 2001).

3.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO

O universo da pesquisa abrangeu a Associação de Maricultura e


Beneficiamento de Algas de Pitangui – a AMBAP, situada no distrito de Pitangui,
pertencente ao Município de Extremoz, no litoral norte do Estado, que é composta
por 8 (oito) mulheres associadas.
A população investigada compreendeu 7 (sete) mulheres associadas,
dentre as quais uma exerce o cargo de Presidente, outra o cargo de Vice-Presidente
26

e as demais são membros elegíveis àqueles cargos. Convém ressaltar que a


intenção inicial era que a investigação abrangesse todas as associadas, porém a
impossibilidade do comparecimento de uma delas impediu que fosse entrevistado o
grupo na sua totalidade.

3.3 PLANO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi dividida em duas fases: pesquisa de gabinete e


pesquisa de campo. Na pesquisa de gabinete, os diversos dados coletados tiveram
por finalidade expor o que foi produzido acerca do assunto e que viesse servir de
fonte informacional para a pesquisa científica (LAKATOS; MARCONI, 2007). Assim,
consistiu nas coleta e análise de dados secundários sobre a AMBAP, encontrados
em páginas da internet, arquivos, relatórios e outras pesquisas acadêmicas já
realizadas nessa área, que tratavam sobre a associação, as maricultoras e a
maricultura em Pitangui, bem como os dados socioeconômicos do território.
Mediante a disponibilidade de tempo, a possibilidade de deslocamento ao
local e do agendamento de um encontro presencial, realizado na sede da
associação, em razão da proximidade dessa e as residências das associadas, foi
realizada paralelamente a pesquisa de campo com o intuito de aprofundar a
compreensão desses dados, bem como coletar outros que pudessem atingir os
objetivos dessa pesquisa.
Assim, esse estudo utilizou-se de três métodos de coleta de dados:
pesquisa documental, observação e entrevistas. A pesquisa documental foi realizada
em gabinete. A observação direta das atividades do grupo estudado e as entrevistas
que puderam captar explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade
foram realizadas na sede da associação, durante a fase de campo, ocasião na qual
foram tiradas as fotografias que ilustram a análise dos resultados.
Durante as entrevistas utilizou-se dois instrumentos de coleta de dados:
um formulário, conforme o modelo constante do Apêndice A, composto por
perguntas abertas e fechadas, e dividido em três partes. A primeira parte diz respeito
ao perfil socioeconômico das associadas, contendo onze questões; a segunda parte
refere-se às atividades associativas desenvolvidas na associação, contendo quatro
27

questões; a terceira parte contendo quinze questões, que tratam das contribuições
advindas com a participação das maricultoras na associação.
O outro instrumento utilizado nas entrevistas consistiu em um roteiro de
entrevista semiestruturado, contendo duas perguntas abertas, cujas respostas foram
gravadas, e que abordou a trajetória de vida das associadas.
Desse modo, um formulário foi preenchido separadamente pela
Presidente da AMBAP, possibilitando conhecer melhor a relação existente entre a
associação e o contexto territorial no qual está inserida. As primeira, segunda e
terceira partes do formulário, contendo perguntas fechadas, abertas e de múltipla
escolha, objetivaram principalmente a interpretação estatística das variáveis
socioeconômicas das entrevistadas, das atividades desenvolvidas e das
contribuições advindas com a participação na associação.
Optou-se pelo preenchimento do formulário em grupo e a realização de
entrevista individual como técnica de coleta de dados. A intenção principal foi de
traçar um perfil socioeconômico das associadas, conhecer as atividades
associativas desenvolvidas, identificar as contribuições advindas com a participação
na associação e as mudanças ocorridas nas condições de vida, buscando estimular
o aprofundamento no assunto através dos dados e informações fornecidos pela
população da pesquisa, visando à melhor compreensão do fenômeno estudado.

3.4 MODELO DE ANÁLISE DOS DADOS

Segundo Gil (2010 apud SILVA et al., 2016, p. 81), a análise dos dados
tem como objetivo “organizar e sumariar os dados, de forma tal que possibilitem o
fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação”. Já a
interpretação “procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante
sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos”. Sobre o assunto, Gil
(2008) ainda afirma que “o que se procura na interpretação é a obtenção de um
sentido mais amplo para os dados analisados, o que se faz mediante sua ligação
com conhecimentos disponíveis, derivados principalmente de teorias”.
Considerando que pesquisa utilizou de estratégias distintas para a coleta
dos dados (pesquisa documental, observação e entrevistas), os dados coletados por
28

essas estratégias foram analisados de forma separada e por métodos distintos,


embora buscando integrá-los para uma melhor interpretação.
Os dados coletados através da pesquisa documental foram analisados de
forma descritiva-funcionalista, na qual há uma preocupação com “a medição objetiva
e a quantificação dos resultados”, buscando “a precisão, evitando distorções na
etapa de análise e interpretação dos dados, garantindo assim uma margem de
segurança em relação às inferências obtidas” (GODOY, 1995, p. 58).
Os dados da observação foram registrados em cadernos de campo, cujas
informações foram utilizadas para subsidiar as análises, especialmente no que se
refere ao contexto do território e da associação.
Já os dados coletados a partir do formulário foram categorizados e
expostos em tabelas, gráficos e quadros. Tais dados foram registrados em números
absolutos em tabelas e gráficos, e as respostas abertas transcritas em quadros,
permitindo a sistematização do perfil socioeconômico das maricultoras.
Por fim, para analisar a entrevista gravada com as maricultoras
associadas, referente ao roteiro de entrevista aplicado, bem como buscar a
expressividade da opinião coletiva acerca das mudanças na trajetória de vida, foi
escolhida a estratégia metodológica conhecida como o Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC), desenvolvida pelos pesquisadores Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcanti
Lefèvre, da Universidade de São Paulo, a partir dos pressupostos da Teoria das
Representações Sociais.
Por sua natureza quali-quantitativa, tal método foi apresentado como
alternativa às análises quantitativa e qualitativa que, individualmente, negligenciam
elementos do discurso. Assim, através do DSC buscou-se expressar a opinião do
pensamento coletivo, sintetizando fragmentos dos discursos individuais dos sujeitos,
agrupados por semelhanças (GONDIM; FISCHER, 2009).
O DSC constitui um caminho metodológico que busca contemplar
informações comuns a discursos individuais distintos, reconstruindo-os num
pensamento coletivo diferente de outros discursos relacionados. Isto é, ao final,
obtêm-se como resultado depoimentos coletivos extraídos de depoimentos
individuais distintos. Tais depoimentos coletivos redigidos na primeira pessoa do
singular intencionam produzir, no receptor, o efeito de um posicionamento coletivo
(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006).
29

Baseado na Teoria das Representações Sociais (RS), que são os


esquemas sociocognitivos utilizados pelos indivíduos na emissão juízos ou opiniões
(FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART; 2013), o DSC age, segundo Lefèvre e Lefèvre
(2014), como um método de resgate dessas representações, buscando sua
reconstituição, preservando a dimensão individual associada à dimensão coletiva e,
desse modo, apresenta as RS obtidas a partir das pesquisas empíricas de uma
maneira metodológica. As opiniões ou expressões individuais contidas nas RS, que
apresentam similaridade de sentidos, são agrupadas em categorias, tal qual se faz
usualmente no tratamento de perguntas ou questões abertas.
A diferença da metodologia do DSC reside na associação de cada
categoria aos conteúdos das opiniões de sentido semelhante, notados nos
diferentes depoimentos, formando um depoimento síntese por intermédio de tais
conteúdos, transcritos na primeira pessoa do singular, como se fosse uma
coletividade falando na pessoa de um indivíduo.

Tais histórias coletivas refletem ou carregam códigos narrativos socialmente


compartilhados; por isso, é possível com os conteúdos e os argumentos dos
diferentes depoimentos que apresentam sentido semelhante, construir, na
primeira pessoa do singular, uma narrativa verossímil, ou seja, uma história
aceitável para um indivíduo culturalmente equivalente aos pesquisados.
(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2014, p. 504).

Lefèvre e Lefèvre (2014) acrescentam que os DSC são opiniões


individuais que após analisadas pelo pesquisador são transformadas em produtos
tratados cientificamente, que mantêm, todavia, as características espontâneas e
identificáveis da fala cotidiana. O resultado final de uma pesquisa como o DSC “é
um constructo, um artefato, uma descrição sistemática da realidade e uma
reconstrução do pensamento coletivo como produto científico” (LEFÈVRE;
LEFÈVRE, 2014, p. 504).
Dessa maneira, fazendo uso do software MS Word, teve início a criação
do DSC, seguindo as seguintes etapas:
a) As respostas gravadas das entrevistas com as maricultoras foram
transcritas separadamente na íntegra, processo esse que deu início à identificação
das expressões-chave de cada discurso, conforme se observa no Apêndice B, as
quais são “pedaços, trechos do discurso, que devem ser destacados pelo
30

pesquisador, e que revelam a essência do conteúdo do discurso ou a teoria


subjacente” (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013, p. 132).
b) A partir de então, foram identificadas de cada expressões-chave, as
ideias centrais – responsáveis por revelar, descrever e nomear da maneira mais
sintética e precisa possível, os sentidos presentes em cada resposta analisada; e as
ancoragens – que são a expressão de determinada teoria ou ideologia, a qual o
autor afirma no seu discurso e que nele está inserida como se fosse uma afirmação
qualquer (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013). Desse modo, ressalta-se que
as ideias centrais são a síntese do conteúdo das expressões-chave e que nem todos
os discursos apresentaram ancoragens; e
c) Por fim, as expressões-chave foram conectadas, originando um
discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular, ou seja, o DSC, que é,
portanto, o resultado do agrupamento de ideias centrais ou ancoragens semelhantes
ou complementares das expressões-chave (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART,
2013).
Logo, foi por meio desse método que os conteúdos relevantes das
informações coletadas na entrevista foram abstraídos, para então serem
interpretados à luz do contexto dos EES, na busca de respostas à pergunta inicial
que motivou o presente estudo.
31

4 PRINCIPAIS RESULTADOS

4.1 A AMBAP NO CONTEXTO TERRITORIAL DE PITANGUI

A Associação de Maricultura e Beneficiamento de Algas de Pitangui – a


AMBAP, situa-se a pouco mais de 25 quilômetros da Capital do Rio Grande do
Norte, no distrito de Pitangui, pertencente ao Município de Extremoz, no litoral norte
do Estado, conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2: Localização do Município de Extremoz


Fonte: IBGE, 2018.

De acordo com os dados coletados pelo IBGE (2018), o Município de


Extremoz integra a Região Metropolitana de Natal e possui uma população estimada
de 28.331 pessoas. O salário médio mensal dos trabalhadores formais em 2015 era
de dois salários mínimos, o pessoal ocupado no mesmo período correspondia a
2.852 pessoas, o equivalente a 10,4% da população. Aqueles com rendimento
nominal mensal per capita de até meio salário mínimo perfaziam à época um total de
43,2% da população.
Dotado de grande diversidade litorânea, Extremoz constitui-se de um
destino possuidor de uma notável riqueza cultural e rico também em atividades
turísticas, que se valem das belezas naturais locais, como praias, dunas, lagoas,
32

manguezais e uma mata atlântica preservada. É nesse ambiente que se insere a


Praia de Pitangui.
Partindo de Natal, os principais acessos à Praia de Pitangui se dão via
centro urbano, pela Ponte de Igapó, seguindo pela BR-101, ou via litoral, pela Ponte
Newton Navarro, seguindo pela estrada de Genipabu ou pela Avenida Moema
Tinoco, convergindo na BR-101.

Figura 3: Mapa de distância da Capital e acessos à Praia de Pitangui


Fonte: Google Maps, 2018.

A praia de Pitangui é vista como uma das mais belas praias do litoral
norte do Estado, constituindo-se como destino turístico em potencial. Segundo o site
da Prefeitura de Extremoz (2018), Pitangui é uma das mais movimentadas praias de
Extremoz, especialmente no verão, quando costuma receber vários turistas durante
a alta temporada. Dotada de um mar tranquilo e águas transparentes, tem
características próprias que a tornam muito convidativa para o banho. As Figuras 4 a
10 apresentam parte das belezas naturais do local.
33

Figura 4: Vista da Praia de Pitangui


Fonte: Acervo pessoal.

Figura 5: Embarcações em Pitangui Figura 6: Pôr do Sol visto das Dunas douradas
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 7: Cachoeirinha de Pitangui Figura 8: Formações rochosas da Cachoeirinha


Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.
34

Figura 9: Figueira antiga à beira-mar Figura 10: Travessia sobre o Rio Pratagi
Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Internet1, 2018.

A Lagoa de Pitangui, conforme mostra a Figura 11, é outro ambiente onde


o visitante pode encontrar tranquilidade e contato com a natureza. Com tais
atributos, a atividade turística constitui uma fonte de trabalho e renda para uma
parcela da população local, como os motoristas de bugre, guias de passeios,
proprietários e funcionários de pousadas e restaurantes, etc.

Figura 11: Vista aérea da Lagoa de Pitangui


Fonte: Internet2, 2018.

1 Disponível em: <http://www.praiasdenatal.com.br/praia-de-pitangui/>. Acesso em: 12 mai. 2018.


2 Disponível em: <http://www.praiasdenatal.com.br/lagoa-de-pitangui/>. Acesso em: 12 mai. 2018.
35

Todavia, em que se pese a potencialidade turística do local, a pesca local


continua sustentando boa parcela da população nativa, uma vez que a Praia de
Pitangui é caraterizada por um contexto onde o ‘viver do mar’ ainda ocupa espaço
significativo na vida das famílias, seja de maneira direta ou indireta, mantendo,
dessa forma, uma notável ligação econômica e cultural da população nativa com as
atividades pesqueiras, bem como “valores e práticas sociais, que vão perpassar as
relações cotidianas da organização social, marcando a identidade sociocultural local”
(KNOX; JOFFER, 2010, p. 2).
Dentre essas atividades, destaca-se a “catação de algas”, que se constitui
de um trabalho tradicional, cuja existência de sua prática data do início dos anos de
1980, de acordo com os relatos dos moradores locais mais antigos, e que durante
muito tempo não foi organizada de maneira institucional.
Desde o início, a catação de algas na localidade foi desempenhada por
mulheres, muitas vezes acompanhadas de seus filhos menores, na beira-mar e nos
recifes, pois, como se observa até hoje na realidade do local, as mulheres não
participavam da pesca em alto-mar, e encontravam nessa prática um meio de
complementar a renda familiar. O trabalho era extenuante e árduo, exigindo das
catadoras uma grande resistência ao sol e aos frequentes machucados causados
pelos rochedos em suas mãos e pés. Algumas se arriscavam mergulhando nos
rochedos na base da apneia para assim coletarem algas mais limpas, no intuito de
reduzirem o tempo que levariam ao sol, sobre as pedras, para separá-las das
sujidades (KNOX, 2007).
Após a catação, as algas colhidas eram armazenadas em sacos e
transportadas pelas catadoras para seus lares, onde havia uma área livre preparada
para um novo processo de limpeza e deixar secando ao sol. No final desse
processo, segundo Knox (2007), as algas secas eram novamente ensacadas e
vendidas a um preço muito baixo para um comprador que as revendia para
indústrias situadas fora do Estado, interessadas em extrair seu substrato para ser
utilizado na fabricação de vários alimentos.
Notadamente, a catação de algas foi a prática que antecedeu o
desenvolvimento da maricultura em Pitangui, pois foi nesse contexto no qual as
condições de trabalho eram difíceis e o retorno financeiro era baixo que, em 2007,
foi criada a AMP (Associação de Maricultura de Pitangui). A AMP se tornou, no ano
36

de 2010, na Associação de Maricultura e Beneficiamento de Algas de Pitangui – a


AMBAP, tendo como objetivos principais o desenvolvimento de tecnologias de
beneficiamento das algas, a capacitação do grupo, a realização de estudos de
viabilidade de comercialização de cosméticos, produtos de limpeza e até mesmo
produtos alimentícios, derivados do processo de beneficiamento (KNOX, 2007).
Ao se verificar a possibilidade de geração de renda a partir da realização
das atividades afetas à maricultura, é possível reconhecer o papel de ferramenta
social da iniciativa, uma vez que essa é capaz de possibilitar a redução do êxodo
local e do nível de desemprego, indo além na valorização do papel feminino, tanto
na geração de renda quanto na participação da organização comunitária (KNOX;
JOFFER, 2010).
De acordo com a atual Vice-Presidente da AMBAP, inicialmente, o trabalho
desenvolvido pelas maricultoras em Pitangui consistia basicamente na catação de
algas, que eram vendidas para outros Estados, por intermédio de atravessadores. É,
então, a partir da criação da associação que surge a expectativa de alcançar um
produto com maior valor agregado, dando origem à produção de alimentos com
substratos da alga e cosméticos artesanais. Os cosméticos artesanais levam
principalmente a macroalga Gracilaria birdiae em sua composição, da qual se extrai
o ágar, usado normalmente na forma de gel ou emulsificante, e plantas encontradas
na região como o Guajiru, a Salsa da praia ou a Xanana (vide Figura 12).

Guajiru

Salsa da praia

Xanana
Figura 12: Macroalga Gracilaria birdiae e plantas locais utilizadas na fabricação de cosméticos
Fonte: AMBAP, 2018.
37

Depois de percebida a potencialidade local para o cultivo dessa


macroalga, deu-se início ao cultivo através de um sistema de produção sustentável,
visando minimizar os impactos ao meio ambiente, permitindo assim a recuperação
dos estoques naturais. Insta salientar que em uma região onde o “viver do mar”
ainda ocupa espaço significativo na vida das famílias, a AMBAP tem mostrado
importância não só no resgate cultural e no fortalecimento da relação do homem
com o mar, mas também no tocante à preservação ambiental.
Segundo a Vice-Presidente da AMBAP, os locais de cultivo são
inicialmente dotados de pouca vida marinha e, sendo as algas ocupantes da base da
cadeia alimentar, as balsas de cultivo também se tornam fontes de vida, por
servirem de alimento para outras espécies de organismos marinhos como peixes,
camarão e lagosta, possibilitando a formação do que pode ser classificado como um
policultivo associado.
O preparo dos módulos de produção, o plantio e a colheita das algas são
feitos pelas maricultoras, contando eventualmente com a ajuda dos alunos da
Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), conforme se observa na Figura 13.

Figura 13: Maricultoras preparando os módulos de produção


Fonte: AMBAP, 2018.

Os alunos da EAJ também auxiliam na montagem da balsa flutuante, que


agrupa os módulos de produção, preparados pelas maricultoras utilizando redes em
formato tubular, conforme se observa nas Figuras 14 e 15.
38

Figura 14: Alunos da EAJ auxiliando na montagem da balsa para os módulos aquáticos
Fonte: AMBAP, 2018.

Figura 15: Alunos da EAJ auxiliando na montagem da balsa flutuante contendo os módulos
Fonte: AMBAP, 2018.

Com o uso de uma catraia a motor, tipo de embarcação comumente


utilizada na região, as maricultoras e os alunos da EAJ realizam o cultivo das algas
mar adentro, a cerca de 100 metros de distância da orla, conforme apresentado nas
Figuras 16 e 17.
39

Figura 16: Instalação da balsa no mar


Fonte: AMBAP, 2018.

Figura 17: Módulos de plantio instalados


Fonte: AMBAP, 2018.

Após um período de 30 a 45 dias no mar, as algas atingem o estágio de


crescimento desejado, podendo pesar até 400 kg, o que as torna adequadas para a
coleta.

4.2 AMBAP: COMPOSIÇÃO, ATIVIDADES E GESTÃO

No início, em 2007, a então AMP contava com dezessete associados,


sendo quinze mulheres e dois homens, e tinha a “intenção de estimular o
40

protagonismo feminino no movimento comunitário e na comunidade, estimulando a


autoestima e autovalorização” (KNOX; JOFFER, 2010, p. 5). Hoje, contando com
apenas oito mulheres, a AMBAP possui uma Presidente, uma Vice-presidente e seis
outras integrantes que exercem igualmente as atividades produtivas e compartilham
a responsabilidade nas tomadas de decisão, praticando os princípios da autogestão.
A AMBAP funciona em uma sede doada pelo Conselho Comunitário e
teve seu capital inicial levantado pelas associadas junto ao Projeto de Extensão da
Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte – FATERN, criado
para consolidar a associação e coordenado pela Profa. Dra. Winifred Knox,
promovendo o cultivo de algas e a aquisição da infraestrutura mínima necessária.
A partir de então, o trabalho tem se aprimorado, contando com o apoio de
instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –
SEBRAE/RN, que já prestou consultoria à associação e oferece oficinas de
capacitação conjuntamente ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente – IDEMA, e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, que
apoia com a assessoria técnica de professores possuidores de experiência em
trabalhos de extensão e a Incubadora de Iniciativas e Empreendimentos Solidários
(INICIES), responsável por desenvolver ações de fortalecimento aos processos de
gestão da produção e do próprio empreendimento na perspectiva da autogestão, ou
mesmo através da Escola Agrícola de Jundiaí, que realiza encontros para a troca de
informações sobre gestão, produção e metodologias a serem seguidas no âmbito da
gestão de associações.
Atualmente, a AMBAP conta com 8 associadas, que cultivam, colhem e
processam algas da espécie Gracilaria birdiae, produzindo alimentos e cosméticos.
Dessas, 7 foram entrevistadas e os dados coletados demonstraram que estão
atuando na associação no geral há mais de dez anos. Mas também existem duas
que passaram a fazer parte da associação mais recentemente, conforme mostra o
Quadro 1, revelando que a AMBAP encontra-se aberta a novas adesões.
41

Há quanto tempo
Entrevistada faz parte da Como decidiu se associar?
AMBAP?

Através do convite de amigas, entrei depois da constituição para


1 11 anos
conhecer os benefícios das algas e fazer produtos com elas

Por amigas e participo da constituição desde o começo, para


2 12 anos
conhecer as algas

Recebi um convite resolvi participar, até porque já trabalhava


3 12 anos
tirando algas

Por só trabalhar no lar e sentir a necessidade de sair de casa, ter


4 11 anos
uma ocupação na mente

Na época fazia biologia e foi convidada para ajudar na organização


5 12 anos
do grupo com a metodologia

6 4 anos Recebi um convite e até hoje estou na AMBAP

Estava sem fazer nada, recebi o convite e entrei. Estou gostando


7 2 anos
demais pois sinto-me muito bem, ocupo minha mente
Quadro 1: Tempo de associação e motivos de adesão
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Aqui, nota-se que a maioria ingressou na AMBAP ao ser convidada por


pessoas próximas, denotando uma livre adesão à associação e aos princípios da
solidariedade, igualdade, democracia e responsabilidade pregados pela associação
(BORINELLI et al., 2010).
Todas demonstraram encontrar no exercício das atividades uma
sensação de bem-estar decorrente da ocupação física e mental, haja vista que a
maioria se dedicava basicamente às atividades do lar, o que leva à conclusão de
que o motivo principal para se associar não está atrelado aos fatores econômicos,
mas sim à contribuição social, entendida como a possibilidade de sair de casa e
poder ocupar a mente desenvolvendo uma atividade edificante em grupo. Ou seja,
embora o fator econômico esteja presente, ele não é o motivo preponderante da
adesão ou da permanência das associadas na AMBAP.
42

Figura 18: As Maricultoras associadas à AMBAP


Fonte: Pesquisa de campo, 2018.

As tarefas são igualmente exercidas por todas e incluem o cultivo e o


beneficiamento das algas, a participação nos cursos de capacitação e nos estudos
de viabilidade. Além disso, essas atividades são desenvolvidas baseadas nos
princípios da solidariedade, quais sejam a livre adesão, a cooperação, a autogestão
e a produção conjunta da oferta e demanda, o que leva a interpretar que mesmo as
atividades que não vêm sendo feitas de forma consciente poderiam ser
consideradas de economia solidaria.
As principais atividades desenvolvidas pelas maricultoras na AMBAP são
relacionadas ao cultivo e beneficiamento de algas, comercialização dos produtos
finais, cursos de capacitação e estudos de viabilidade, conforme ilustrado na Figura
19.
43

Atividades de
produção e
comercialização

Organização Atividades
comunitária educacionais

Figura 19: Principais atividades na AMBAP


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Dessa maneira, agrupando por áreas, as atividades desenvolvidas na


AMBAP constituem-se, basicamente, das seguintes:

a) Atividades de produção e comercialização: realizam o cultivo e o


beneficiamento de algas, a comercialização dos produtos alimentícios e
cosméticos, conforme Figuras 20 a 26.

Figura 20: Maricultoras na produção de cosméticos


Fonte: AMBAP, 2018.
44

Figura 21: Matéria-prima (alga desidratada) Figura 22: Alimentos produzidos com as algas
Fonte: AMBAP, 2018. Fonte: AMBAP, 2018.

Figura 23: Cosméticos produzidos com as algas Figura 24: Cosméticos produzidos com as algas
Fonte: AMBAP, 2018. Fonte: AMBAP, 2018.
45

Figura 25: Cosméticos produzidos com as algas Figura 26: Algas desidratadas para alimentos
Fonte: AMBAP, 2018. Fonte: AMBAP, 2018.

b) Atividades educacionais: participam e promovem cursos de capacitação e


estudos de viabilidade. De acordo com a atual Vice-Presidente da
associação, atualmente a AMBAP ocupa-se em oferecer cursos de produção
e formação para outras comunidades pesqueiras, oficinas de gestão para
valorização do trabalho da mulher e capacitações na produção artesanal e
reaproveitamento de materiais.

Figura 27: Participação das maricultoras em ações da INICIES/UFRN


Fonte: AMBAP, 2018.
46

c) Organização comunitária: participação em fóruns, congressos e conselhos,


gincanas multiculturais com a juventude e a comunidade pesqueira local,
além de estabelecer parcerias com escolas, ofertando produtos alimentícios
para a merenda escolar.

Figura 28: Certificado de participação das maricultoras em congresso realizado na Cidade de João
Pessoa-PB
Fonte: AMBAP, 2018.

O desempenho dessas atividades revela que a associação, para além das


atividades de produção e comercialização de seus produtos, tem assumido
princípios cooperativos como premissa de funcionamento, expressos especialmente
no que diz respeito às atividades educacionais, sua relação com a comunidade e
preocupação com a preservação ambiental.
Em se tratando da produção conjunta da oferta e da demanda, releva
mencionar que as atividades sócio-produtivas surgem em função das demandas
locais, expressas pelos moradores. É importante também reconhecer que a
competição perde relevância nessa lógica de produção e consumo (FRANÇA
FILHO, 2007). Notadamente, as maricultoras buscam a solução de problemas
relacionados à sua condição cotidiana de vida, através das atividades desenvolvidas
na associação.
47

Quanto à gestão, conforme se observa no Quadro 2, cada uma, a seu


modo, participa democraticamente, pois, além de cumprirem suas tarefas, realizam
um esforço colaborativo maior, haja vista que nesse tipo de organização todas as
associadas são simultaneamente trabalhadoras e responsáveis, ou seja, não existe
patrão nem empregados.

Entrevistada Como participa da gestão?


Com a participação na colaboração na produção, esclarecimento de dúvidas dos
1
produtos e outros tipos de ajuda
2 Ajudando, participando e aprendendo
3 Na organização do grupo e na produção
4 No controle de caixa, gestão financeira, inovação do artesanato e alimentos
5 Na produção, na gestão organizacional, em todas as atividades
6 Temos reunião toda semana, ajudando, participando das brincadeiras e outras coisas
7 Ajudando, divertindo-me, participando de tudo que posso
Quadro 2: Participação das maricultoras na gestão
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Nesse sentido, um princípio da economia solidária que se evidencia é a


prática da autogestão, pois na organização solidária, de acordo com Singer (2002), a
administração se dá democraticamente e todas as associadas são igualmente
responsáveis pela gestão.
Gaiger (2004) ao abordar a prática da gestão partilhada, ou autogestão,
salienta três importantes efeitos por ela causados: a inibição de adotar a divisão
social do trabalho e práticas não igualitárias, visto que todos participam das
decisões; a elevação do grau de comprometimento dos indivíduos, reforçando os
laços e o ambiente de confiança mútuos; e a predisposição ao zelo, à maior atenção
e aos cuidados para evitar desperdícios e otimizar o processo produtivo.
Dessa forma, através do esforço maior evidenciado nas dinâmicas e
atividades administrativas desempenhadas, as associadas mantêm uma interação
democrática e igualitária (SINGER, 2002) e vão conhecendo tanto o que ocorre na
associação quanto as alternativas para a resolução de eventuais problemas, que
possam impedir seu bom funcionamento.
48

4.3 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS MARICULTORAS ASSOCIADAS

Com objetivo de melhor conhecer as maricultoras associadas à AMBAP,


foi feito um levantamento do perfil socioeconômico, considerando os seguintes
aspectos: território onde residem, idade, escolaridade, estado civil, se têm filhos,
quantidade de pessoas que reside sob o mesmo teto, tipo de imóvel que residem,
renda familiar e fontes dessa renda e outras ocupações que porventura exerçam.
Observou-se que a maioria das maricultoras são mulheres de mais de 50
anos de idade, casadas, com filhos e com nível de escolaridade do ensino
fundamental, que ganham até um salário mínimo oriundo de outras atividades além
da maricultura, sendo as principais fontes de renda os benefícios sociais e
aposentadoria.
A maioria dessas mulheres, conforme observa-se no Quadro 3, reside da
área do Centro e do Conjunto Alto das Dunas de Pitangui, e são as que residem
mais próximo da sede da associação, que está situada no Alto das Dunas.

Escolaridade
Associada Território onde reside Faixa etária
Nível Completo?
1 Centro 40 a 44 anos Médio Sim
2 Alto das dunas Acima dos 50 anos Fundamental Não
3 Coqueirinho Acima dos 50 anos Fundamental Não
4 Centro Acima dos 50 anos Fundamental Sim
5 Alto das dunas 30 a 34 anos Superior Sim
6 Centro Acima dos 50 anos Fundamental Sim
7 Matinha Acima dos 50 anos Médio Sim
Quadro 3: Território onde reside, idade e escolaridade de cada associada
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Dada a pequena extensão territorial da comunidade, mesmo aquelas que


moram nas localidades mais distantes, quais sejam uma em Coqueirinho e outra na
Matinha, não têm dificuldades para se deslocar à sede onde são realizados os
encontros semanais da associação.
49

Figura 29: Visão aérea da Praia de Pitangui


Fonte: Google Earth, 2018.
Nota: Localização dos territórios acrescidas pelo autor.

No que diz respeito à idade das associadas, a pesquisa demonstrou que


não há nenhuma menor de idade e a maior frequência aponta para a faixa etária
acima dos 50 anos. Apenas duas das entrevistadas estão em faixas diferentes, uma
na faixa dos 30 aos 34 e outra na dos 40 aos 44 anos. Esse resultado pode indicar
um mero desconhecimento por parte das jovens da possibilidade de ingressar nesse
EES ou mesmo o desinteresse em fazer parte da associação, em situação análoga
ao quadro de desmotivação para a permanência na atividade agrícola na sucessão
hereditária rural, evidenciada na região sul do país (ABRAMOVAY et al., 1998;
SILVESTRO et al., 2001).
Quanto à escolaridade, apenas uma das entrevistadas revelou possuir
nível Superior (Aquicultura), das demais, duas possuem nível médio completo, duas
possuem nível fundamental completo e as duas últimas possuem fundamental
incompleto.
Observou-se quanto ao estado civil que somente uma das entrevistadas
na pesquisa é solteira, sendo as demais casadas ou estão vivendo sob união
estável, como mostra o Quadro 4.
50

Filhos Residem sob


Associada Estado civil Tipo de moradia
Possui? Quantos? mesmo teto
1 Casada/União estável Sim 2 4 a 5 pessoas Casa própria
2 Casada/União estável Sim 2 4 a 5 pessoas Casa própria
3 Casada/União estável Sim 7 4 a 5 pessoas Casa própria
4 Casada/União estável Sim 2 2 a 3 pessoas Casa própria
5 Solteira Sim 3 6 a 7 pessoas Casa compartilhada
6 Casada/União estável Sim 1 2 a 3 pessoas Casa alugada
7 Casada/União estável Sim 3 4 a 5 pessoas Casa própria
Quadro 4: Estado civil, quantidade de filhos e de pessoas que residem sob o mesmo teto e tipo de
moradia de cada associada
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Todas as respondentes revelaram que são mães de família, uma possui


apenas um filho, três possuem dois filhos, duas possuem três filhos e somente uma
possui sete filhos. Quanto ao tipo de moradia, cinco delas residem em casa própria,
somente uma mora de aluguel e uma reside em casa compartilhada, a mesma que
afirmou que moram de seis a sete pessoas em sua residência. A maioria delas,
quatro das sete, alega conviver com mais três ou quatro pessoas sob seu teto, as
outras duas convivem com mais uma ou duas pessoas.
No quesito renda familiar, os dados coletados e organizados no Quadro 5
revelaram que cinco das sete entrevistadas possuem renda familiar mensal não
superior a um salário mínimo vigente no país (R$ 954,00), e as outras duas têm
renda que vão de dois a três salários, ilustrando as desigualdades sociais existentes
no país e que se destaca no nordeste brasileiro, considerado economicamente uma
das regiões mais carentes se for levado em consideração o aspecto renda
(RIBEIRO; BARBOSA, 2006).

Atividades extras
Associada Renda familiar Fontes de renda
Exerce? Quais?
1 Até um salário mínimo AMBAP, benefícios sociais Sim Limpeza
2 Até um salário mínimo AMBAP, benefícios sociais Sim Alimentos
3 Até um salário mínimo AMBAP, trabalho informal Sim Limpeza
4 De 2 a 3 salários mínimos AMBAP, aposentadoria Não -
5 Até um salário mínimo AMBAP, benefícios sociais Não -
6 De 2 a 3 salários mínimos AMBAP, aposentadoria Não -
7 Até um salário mínimo AMBAP Sim Alimentos
Quadro 5: Renda familiar, fontes de renda e outras atividades exercidas pelas associadas, para
complementar a renda familiar
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.
51

Ainda tratando dos aspectos socioeconômicos, os dados permitiram ainda


discriminar as principais fontes da renda das entrevistadas. Nesse quesito, as
associadas tinham a possibilidade de listar mais de uma fonte, caso existisse. Para
todas, a quantia obtida através das atividades econômico-solidárias desempenhadas
na AMBAP, que gera por produção cerca de R$ 300,00 para cada uma das
maricultoras, constitui uma parcela da renda familiar, aos quais são somados a
aposentadoria ou algum outro benefício concedido pelo governo. Os dados também
demonstraram que nenhuma delas possui negócio próprio ou trabalha formalmente
de carteira assinada.
O último aspecto socioeconômico verificado diz respeito às atividades
complementares que porventura possam ser exercidas pelas associadas, a fim de
complementar sua renda e contribuir para o sustento familiar. Os resultados
mostraram que quatro delas exercem atividades complementares. Essas atividades
incluem a produção caseira e comercialização de alimentos, como “dindim” e
guaraná do Amazonas, e a realização de faxina em casas de famílias.
Tais resultados confirmam a observação de Singer (2001) acerca das
dificuldades econômicas decorrentes da falta de oportunidade de participar do
processo de produção social que, dentre as carências não resolvidas pelo sistema
econômico dominante, faz com que muitos dependam de transferências públicas,
privadas ou mesmo do exercício de trabalhos que quase não exigem capital ou
qualificação profissional, como, por exemplo, serviços domésticos remunerados e a
venda de produtos ou serviços.

4.4 AS MUDANÇAS NA TRAJETÓRIA DE VIDA DAS MARICULTORAS,


DECORRENTES DA PARTICIPAÇÃO NA AMBAP

O discurso das maricultoras revela que a participação na AMBAP foi


responsável por mudanças em suas trajetórias de vida, visto que questões como o
medo de se expressar e a timidez, a vida monótona e solitária, o fato de ser somente
responsável pelas atividades domésticas como cuidar de filhos e da casa, a falta de
conhecimento para o trabalho fora do lar e a pouca participação na sociedade foram
modificadas, gerando uma melhoria de vida, conforme pode ser compreendido no
52

discurso do sujeito coletivo construído a partir das narrativas de cada uma das
maricultoras.
O Quadro 6 apresenta o discurso socialmente compartilhado, fruto dos
resultados da análise do DSC das maricultoras associadas à AMBAP, sintetizando
as ideias centrais e ancoragens verificadas e conectadas após uma reflexividade e o
tratamento analítico dos discursos individuais. Convém salientar que para se manter
a clareza, a coesão e a coerência textual, em algumas ocasiões fez-se necessário o
uso de elementos para a ligação dos discursos, no entanto, a parcimônia na
utilização desses elementos permitiu que não fosse modificado o significado original
destes discursos. Ademais, em razão do método de análise escolhido, houve a
necessidade de suprimir alguns trechos das entrevistas, por caracterizarem
particularidades do discurso pessoal das maricultoras.

O DSC das Maricultoras associadas à AMBAP


a) Como você descreveria suas condições de vida antes de fazer parte da AMBAP?

Eu vivia em casa, não saía, [minha vida] era meio monótona, eu era muito, assim,
tímida, às vezes tinha medo de me expressar e também não tinha muita participação
nas coisas na sociedade, na comunidade, tinha aquele estímulo de ficar só em casa,
era basicamente só dona de casa, né? Cuidava dos filhos, da família, não tinha
aquele estímulo de termos conhecimento pra trabalhar para aprimorar estes
produtos e eu queria uma coisa que também me trouxesse mais como uma terapia.
Então houve essa chance de abrir essa associação sobre como plantar as algas pra
beneficiar o meio ambiente e estou aqui.

b) O que você acha que mudou em suas condições de sua vida, ao fazer parte da
associação?

Ah, mudou muita coisa, depois que eu entrei na associação, foi só maravilha pra
mim, pra minha vida, pro meu eu, graças a Deus, só maravilha. Fizemos novas
amizades e eu conheci uma nova família, mudou muito pra mim, eu era muito,
assim, tímida, às vezes tinha medo de me expressar e hoje eu não tenho mais, hoje
converso, hoje já pergunto, às vezes tenho medo de falar e errar, mas errando é que
53

se aprende... Desenvolveu[i] conhecimento, estudei muito, aprendi muito porque


fazia muitos anos que eu não estudava, então [participamos de] os cursos de
capacitação, faço alimentos, faço sabonetes, muitas coisas... isso melhorou muito
para mim, a cada dia que você vai, você vai estudando, estudando muitas aulas de
muitas coisas, de plantas, de alimentos, de muita, muita coisa. E isso é muito bom
pra gente, né? A gente vivia em casa, mas agora a gente tem conhecimento do
pessoal, da universidade, a gente conheceu a universidade, que a gente não
conhecia essas coisas, pessoas que nos ajudam, muita coisa mudou mesmo,
aprendemos como fazer sabonete, trabalhar com alimentação e outras coisas,
oficinas que a gente sai, vai pra fora e tem contato com outras associações, pra uma
aprender com a outra, há a troca de aprendizagem. Era uma coisa a mais pra
completar o meu dia a dia, né? Tenho conhecido muita gente, a gente viaja, muito
bom, muita coisa mudou, continuo sendo do lar, mas tô aqui ajudando. Comecei a
me entrosar mais na comunidade, nos assuntos, nas associações que existem, ir pra
encontros fora e interagir mais como os outros, aumentar assim minha autoestima,
aumentou bastante, depois que eu conheci aqui as meninas... Já conhecia, né? Mas
na associação e muito diferente, tô gostando demais e tá sendo muito, muito bom
pra mim... é assim, uma nova vida pra mim, a AMBAP, depois que entrei na
associação e começou a ter incentivo de começar a estudar, de se capacitar, de ver
mais essa questão do lado social, a gente [passou a] trabalha[r] aqui, muito, aqui a
questão do lado feminista, a valorização da mulher. Então a gente participa da
economia solidária [e] começou a ver essa diferença, da participação da mulher no
contexto da sociedade. E hoje levanto bastante essa bandeira da questão social,
ambiental, econômica, né? E essa questão da valorização da mulher, do
empoderamento da mulher no contexto social, no contexto feminista.
Quadro 6: Resultado da análise dos discursos individuais das entrevistadas
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.
Nota: Expressões entre colchetes acrescidas pelo autor.

Baseado no discurso coletivo, observa-se que as maricultoras após a


participação na associação mudaram suas vidas, especialmente no que se refere à
melhoria na forma de se expressar, à valorização pessoal, à busca por
conhecimentos, ao envolvimento com a comunidade, às preocupações mais amplas,
54

à aquisição de uma consciência cidadã e uma visão crítica, às novas relações com a
família, a associação e a sociedade.

4.5 CONTRIBUIÇÕES ADVINDAS COM A PARTICIPAÇÃO NA AMBAP

Pressupondo que a participação em atividades econômico-solidárias na


AMBAP tem influenciado na melhoria das condições de vida das maricultoras
associadas, a pesquisa ainda buscou identificar a percepção acerca das
contribuições advindas sob os seguintes enfoques: econômico, social, cultural,
político e ambiental.

4.5.1 Econômico

As contribuições econômicas constituem um importante fator para a


agregação de esforço na constituição de uma atividade associativa (BRASIL, 2018),
especialmente em ambientes inseridos num contexto de vulnerabilidade econômica,
como no caso de Pitangui. Todavia, a pesquisa revelou que, no caso da AMBAP, tal
fator não se constitui do principal para a existência da associação, pois para uma
grande variedade de organizações autogestionárias, como evidencia Singer (2002),
uma das características marcantes é a escassez de capital e a prática solidária. E é
essa solidariedade que substitui, em alguma medida, o capital faltante.
Os resultados, representados no Gráfico 1, apontaram para uma baixa
contribuição da associação na ótica da maioria das maricultoras, quando o assunto é
o retorno econômico proporcionado pela participação na AMBAP. É sabido que o
valor auferido pelas maricultoras é de R$ 300,00 por mês produtivo, o que ocorre, de
acordo com Maria Izabel, a atual Presidente da associação, seis meses por ano,
cabendo a elas, inclusive, o pagamento das despesas necessárias à manutenção da
sede.
55

Gráfico 1: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque econômico


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

De acordo com os dados coletados, cinco afirmaram que a participação


na AMBAP contribui pouco, uma afirmou que contribui e outra afirmou que contribui
muito, quando o assunto é a geração de renda. Já a respeito do aumento do poder
de compra, seis afirmaram que a participação contribui pouco e uma afirmou que
contribui. Quanto a possibilitar a independência financeira, quatro afirmaram que
contribui pouco, somente uma afirmou que contribui muito e duas afirmaram que a
participação não contribui, revelando que para uma minoria, embora seja baixa, a
quantia possui grande valor emancipatório.
Os resultados confirmam que, embora importante, a dimensão econômica
nessa organização é tratada não como finalística pela a maioria, mas sim como o
meio para o alcance dos objetivos sociais, políticos, culturais e ambientais. É
importante ressaltar que a intenção vai além de dar trabalho e renda a quem precisa,
visa também difundir um modo democrático e igualitário de organizar atividades
econômicas (SINGER, 2002).

4.5.2 Social
56

A economia solidária pode ser pensada como uma forma específica de


movimento social, visto que pretende impactar de modo mais decisivo o meio-
ambiente social e político onde está inserida, ao mesmo tempo em que preserva
suas qualidades de base (FRANÇA FILHO, 2007).
A dimensão social desse tipo de economia deve preocupar-se com o
bem-estar de todos os envolvidos, as relações com a comunidade e a atuação em
movimentos sociais e populares (BRASIL, 2018).
De acordo com os dados coletados na pesquisa, existe uma elevada
contribuição social oriunda da participação na associação, sob o ponto de vista das
maricultoras, conforme representado no Gráfico 2. O sentimento de companheirismo
e pertencimento, a cooperação, as relações pessoais, a autoestima e solidariedade,
e a independência apresentaram-se como relevantes fatores de estímulo à
participação e à permanência das maricultoras no grupo.

Gráfico 2: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque social


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Os dados coletados revelaram que quatro das entrevistadas acreditam


que a participação na AMBAP contribui para o aumento do sentimento de
companheirismo e pertencimento a um grupo, enquanto as demais acreditam que
contribui muito. Acerca do estímulo à cooperação, às relações pessoais, à
57

autoestima e à solidariedade, três afirmaram que a participação contribui e quatro


afirmaram que contribui muito. Quanto a possibilitar a emancipação, apenas uma
afirmou que contribui pouco, três afirmaram que contribui e as outras três afirmaram
que contribui muito.
Os resultados indicam que as maricultoras encontram satisfação na forma
colaborativa de trabalho, em prol dos interesses comuns, e na união dos esforços na
busca dos resultados.

4.5.3 Cultural

A cultura é um outro elemento presente na economia solidária e consiste


no conjunto de práticas, conhecimentos, experiências e vivências adquiridos, onde
pequenas modificações e adaptações ocorrem no curso do tempo, em especial
quando há mudanças no contexto vivido pelos indivíduos (SILVA; CUNHA, 2018).
Silva e Cunha (2018) afirmam que a cultura, na proposta da economia
solidária, deve ser baseada nos princípios da cooperação, economia, autogestão,
solidariedade, democracia, igualdade, justiça social e meio-ambiente.
O Gráfico 3 apresenta os resultados do enfoque cultural, que apontaram
para uma elevada contribuição oriunda da participação na associação, sob o ponto
de vista das maricultoras. O respeito e a valorização à diversidade, ao papel
feminino na sociedade e às tradições locais apresentaram-se como fatores
preponderantes de estímulo à participação e à permanência das maricultoras no
grupo.
58

Gráfico 3: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque cultural


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

De acordo com os dados coletados, em todas as questões desse


enfoque, que incluem o aumento do respeito e a valorização da diversidade, do
papel feminino na comunidade e o resgate dos valores culturais locais, como a
tradição do “viver do mar”, três afirmaram que a participação na AMBAP contribui e
quatro afirmaram que contribui muito para tais fatores.
Assim, os resultados confirmam que as maricultoras percebem como
positiva a influência da AMBAP nos aspectos relacionados à cultura, definidos por
Corrêa (2003 apud SILVA; CUNHA, 2018) como as coisas comuns ou a vida
cotidiana, no ambiente familiar ou local, traduzido em representações e práticas que
dão sentido à vida do grupo.

4.5.4 Político

O enfoque político envolve os fatores relacionados aos princípios da


autogestão, introduzindo uma racionalidade interna capaz de possibilitar a
sustentação e a viabilidade da associação, agindo, conjuntamente à solidariedade,
como uma mola propulsora do empreendimento solidário (GAIGER, 2004).
59

Os resultados do enfoque político, representados no Gráfico 4, apontaram


para uma elevada contribuição oriunda da participação na associação, sob a
perspectiva das maricultoras. A participação na gestão e nas tomadas de decisão, o
reconhecimento e o tratamento de problemas, bem como a participação em fóruns e
conselhos de decisão apresentaram-se como fatores empolgantes para algumas e
igualmente estimulantes à participação e à permanência das maricultoras no grupo.

Gráfico 4: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque político


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Os dados coletados mostram que, em todas as questões desse enfoque,


que tratam da influência exercida pelas associadas na gestão da associação,
participando das tomadas de decisão, do tratamento de problemas, propondo
soluções, e da participação em fóruns e conselhos de decisões, três afirmaram que
a participação na AMBAP contribui e quatro afirmaram que contribui muito para tais
fatores.
Aqui, percebe-se que os números do enfoque político indicam que as
maricultoras passaram a ter maiores responsabilidades no campo político, por
tornarem-se membros atuantes da autogestão associativa.
60

4.5.5 Ambiental

As relações com a comunidade, a busca de um meio ambiente saudável e


um desenvolvimento sustentável também constituem elementos-foco da
preocupação da economia solidária (BRASIL, 2018).
Os resultados do enfoque ambiental estão representados no Gráfico 5 e
apontaram para uma contribuição bastante elevada, resultante da participação na
associação, sob a perspectiva das maricultoras. O recrudescimento da
conscientização sobre a preservação do meio ambiente, a relação com a
comunidade em que estão inseridas e a imagem positiva transmitida pelas
maricultoras àquele contexto comunitário apresentaram-se como fatores
imprescindíveis e primordiais à participação e à permanência das maricultoras no
grupo.

Gráfico 5: Contribuições advindas com a participação na AMBAP sob o enfoque ambiental


Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Assim, conforme os dados coletados, quando se trata do aumento da


conscientização sobre a preservação e a conservação do meio ambiente e da
construção de uma imagem positiva perante a sociedade, duas das entrevistadas
afirmaram que a participação contribui, enquanto cinco afirmaram que contribui
61

muito para tais fatores. No tocante à boa relação com a comunidade local,
decorrente dos valores pregados pela associação, três afirmaram que contribui e
quatro afirmaram que a participação na AMBAP contribui muito nesse aspecto.
Observa-se nesse enfoque que as maricultoras não só reconhecem a
importância da preservação ambiental, mas a põem em prática e vão além na
comunidade, ao estabelecer boas relações e reafirmar a imagem positiva das
mulheres que lutam por melhores condições e reivindicam seu merecido espaço na
sociedade.
62

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia teve como objetivo principal compreender a influência


das atividades econômico-solidárias exercidas nas condições de vida das
maricultoras associadas à AMBAP. Após a realização da pesquisa, compreendeu-se
que as atividades econômico-solidárias realizadas na AMBAP têm influenciado
positivamente tanto nas condições de vida das maricultoras quanto na comunidade
de Pitangui.
Foi possível perceber que as atividades na associação são desenvolvidas
baseadas nos princípios da solidariedade, tais como a livre adesão, a cooperação, a
autogestão e a produção conjunta da oferta e demanda.
O desempenho dessas atividades indica que a associação, para além das
atividades de produção e comercialização de seus produtos, tem assumido
princípios cooperativos como premissa de funcionamento, expressos especialmente
no que diz respeito às atividades educacionais, sua relação com a comunidade e
preocupação com a preservação ambiental.
As maricultoras associadas revelaram que encontram no exercício das
atividades uma sensação de bem-estar decorrente da ocupação física e mental, haja
vista que a maioria se dedicava basicamente às atividades do lar. Tal fato leva à
conclusão de que o motivo principal para se associar não está atrelado aos fatores
econômicos, mas sim à contribuição social, entendida como a possibilidade de sair
de casa e poder ocupar a mente desenvolvendo uma atividade edificante em grupo.
A participação na AMBAP ainda foi responsável por mudanças na
trajetória de vida das associadas ao reverter questões que as afligiam, como o medo
de se expressar e a timidez, a vida monótona e solitária, a responsabilidade apenas
pelas atividades domésticas, o desconhecimento do trabalho fora do lar e a pouca
participação na sociedade.
Nota-se também que as associadas aprenderam a manter uma interação
democrática e igualitária na associação, visto que as tarefas de cultivo e
beneficiamento das algas, participação nos cursos de capacitação e em estudos de
viabilidade são igualmente exercidas por todas.
Constatou-se que algumas dessas mulheres já desenvolviam atividades
pesqueiras, a exemplo da catação de algas, as quais eram vendidas para outros
63

Estados a um valor irrisório. A participação na associação e o processo educativo


decorrente lhes permitiram alcançar um produto com maior valor agregado,
originando a produção de alimentos com substratos de alga e cosméticos
artesanais, que são comercializados atualmente, inclusive, na própria comunidade.
Na perspectiva das maricultoras, a participação na associação ainda
permitiu outras mudanças notáveis no modo de ser e agir em suas vidas, que se
referem à autovalorização, à busca por conhecimentos, ao envolvimento com a
comunidade, à aquisição de uma consciência cidadã e uma visão crítica, às novas
relações com a família, a associação e a sociedade.
Ficou evidenciado que o retorno econômico proporcionado pela
participação na AMBAP é considerado baixo, pela maioria das associadas. Aqui,
releva mencionar que embora o fator econômico seja importante ele não se mostrou
como motivo preponderante para a adesão ou a permanência das associadas na
AMBAP, ou seja, esse aspecto é tratado não como finalístico, mas sim como o meio
para o alcance dos objetivos sociais, políticos, culturais e ambientais.
O estudo também permitiu elencar os fatores relevantes de estímulo à
participação e à permanência das maricultoras no grupo. Dentre esses, convém
salientar o sentimento de companheirismo e pertencimento, a cooperação, as
relações pessoais, a autoestima e a solidariedade, e a satisfação na forma
colaborativa de trabalho e na união dos esforços na busca dos resultados.
Além dos citados acima, outros valores foram reafirmados ou reforçados,
como o aumento do respeito e a valorização do papel feminino na comunidade e o
resgate dos valores culturais locais, como a tradição do “viver do mar”. As
associadas passaram a ter maiores responsabilidades no campo político, por
tornarem-se membros atuantes da autogestão associativa, a reconhecer a
importância da preservação ambiental e a reafirmar a imagem positiva das mulheres
que lutam por melhores condições na sociedade.
Diante do exposto, torna-se imprescindível que a AMBAP comece a
ganhar maior notoriedade como uma iniciativa promissora, capaz de gerar renda
com suas atividades econômico-solidárias, e de ter reconhecido o seu papel
enquanto ferramenta social, capaz de possibilitar a redução do nível de desemprego,
indo além na valorização do papel feminino e na participação da organização
64

comunitária, constituindo-se de um ideal sustentável de maricultura, condizente com


os aspectos econômico, social, político, cultural e ambiental.
Todo esse intento ainda poderá fomentar uma demanda por produtos
fabricados a partir de matérias-primas manipuladas adequadamente, de maneira
ecologicamente sustentável, que possam incluir em seu processo de beneficiamento
produtores que associados a outros terão condições de fazer frente à
comercialização de alto vulto e mitigar as dificuldades enfrentadas pelas
comunidades costeiras, claramente evidenciadas no contexto territorial do nordeste
brasileiro.
Reconhece-se aqui a impossibilidade de entrevistar as associadas na sua
totalidade como uma limitação a uma avaliação mais precisa do objetivo proposto,
todavia tal fator não se tornou impeditivo ao desenvolvimento desta pesquisa, que se
deu de forma satisfatória e deixa como proposta para estudos futuros, além da
ampliação da amostra de entrevistadas, a realização de pesquisas que possam
investigar as causas da baixa adesão à organização associativa por parte das
jovens residentes na localidade e acompanhar a evolução associativa e territorial,
estabelecendo um comparativo com a participação de empreendimentos de mesma
natureza em outras comunidades costeiras.
Portanto, em face da relevância do tema, a ampliação dos estudos e
ações nessa área será a pedra angular da qual dependerá o desenvolvimento das
atividades da maricultura na economia solidária, que poderão lhe conferir uma maior
notoriedade, ampliando o interesse e a reconhecendo como uma nova alternativa
para as questões sociais que, norteada pelos princípios solidários, será capaz de
gerar valor para a sociedade e superar os desafios sociais que terão de ser
enfrentados na busca por melhores condições de vida.
65

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69
70

APÊNDICES
71

APÊNDICE A – ENTREVISTA

1. ROTEIRO

a) Explicar às entrevistadas os objetivos do trabalho e a metodologia;

b) Solicitar autorização para proceder com a gravação de parte da entrevista,


ressaltando que nome da entrevistada não será revelado; e

c) Esclarecer que a entrevistada ficará livre para solicitar esclarecimentos acerca


das questões aplicadas.

PERGUNTAS – Trajetória de vida / Condições de vida (gravado)


a) Como você descreveria suas condições de vida antes de fazer parte da
AMBAP?

b) O que você acha que mudou em suas condições de sua vida, ao fazer parte da
associação?
72

2. FORMULÁRIO APLICADO

1ª PARTE – Perfil socioeconômico


a) Em qual território você vive? g) Qual tipo de casa você mora?
( ) Alto das dunas ( ) Alugada
( ) Centro ( ) Cedida
( ) Conjunto novo ( ) Própria
( ) Coqueirinho ( ) Moradia compartilhada
( ) Matinha ( ) Outro__________
( ) Outro: ____________
h) Qual sua renda familiar?
b) Qual sua idade? ( ) Até um salário mínimo (R$ 954)
( ) Menor de 19 anos ( ) De 2 a 3 salários mínimos
( ) 20 a 24 anos ( ) De 4 a 5 salários mínimos
( ) 25 a 29 anos ( ) De 5 a 6 salários mínimos
( ) 30 a 34 anos ( ) Mais de 6 salários mínimos
( ) 35 a 39 anos
( ) 40 a 44 anos
i) Qual as fontes dessa renda?
( ) 45 a 50 anos
( ) AMBAP
( ) Acima de 50 anos
( ) Aposentadoria
( ) Benefícios sociais
c) Qual sua escolaridade?
( ) Carteira assinada
( ) Não alfabetizado
( ) Negócio próprio
( ) Alfabetizado sem instrução formal
( ) Trabalho informal
( ) Fundamental ( ) completo ( ) incompleto
( ) Médio ( ) completo ( ) incompleto
j) Quanto em média você ganha
( ) Superior ( ) completo ( ) incompleto
mensalmente com suas atividades da
AMBAP? ______________
Se superior, em que? _______

d) Qual seu estado civil?


k) Você exerce ainda outra atividade
( ) Casada / União Estável
econômica que venha a
( ) Divorciada / Separada judicialmente
complementar sua renda?
( ) Viúva
( ) Sim
( ) Solteira
( ) Não
e) Você tem filhos?
Se sim, qual? _______________
( ) Não
( ) Sim. Quantos?______ (exemplo: produção e comercialização caseira
de alimentos, venda de avon/natura/hinode,
f) Contando com você, quantas costura, faxina, artesanato etc.)
pessoas moram na sua casa?
( ) Moro sozinha
( ) 2 a 3 pessoas
( ) 4 a 5 pessoas
( ) 6 a 7 pessoas
( ) Mais de 7 pessoas
73

2ª PARTE – Atividade associativa


a) Quanto tempo faz parte da AMBAP? _________

b) Como você decidiu se associar a AMBAP? (Participa desde a constituição ou


entrou depois? Quais os motivos?)

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

c) Quais atividades socioprodutivas você desenvolve na AMBAP?


( ) Cultivo de algas
( ) Beneficiamento de algas
( ) Cursos de capacitação
( ) Estudos de viabilidade
( ) Outras atividades___________________

d) Como você participa da gestão da associação?

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
74

3ª PARTE – Contribuições da AMBAP


Quais as principais contribuições que a participação na AMBAP lhe oferece?
Contribui Contribui Não
A minha participação pouco
Contribui
muito Contribui
a) Contribui para a geração de renda
Econômicas

b) Aumenta o meu poder de compra

c) Possibilita minha independência financeira


d) Aumenta o sentimento de companheirismo e de
pertencimento a um grupo
Sociais

e) Estimula a cooperação, as relações pessoais, a


autoestima e a solidariedade
f) Possibilita minha emancipação (independência)

g) Aumenta o respeito e a valorização à diversidade


Culturais

h) Promove a valorização do papel feminino na


comunidade
i) Resgata os valores da cultura local, valorizando a
tradição do “viver do mar”
j) Passei a influenciar na gestão da associação,
participando das tomadas de decisão
Políticas

k) Passei a reconhecer os problemas e a tratá-los


melhor, propondo ou participando das soluções
l) Passei a participar de fóruns e conselhos de
decisão na minha comunidade
m) Aumenta minha conscientização sobre a
preservação e a conservação do meio ambiente
Ambientais

n) Permite a boa relação com a comunidade local, em


decorrência dos valores pregados pela associação
o) Constrói uma imagem positiva das mulheres
associadas perante a comunidade
75

Caracterização da AMBAP (somente para a Presidente da associação)


a) Quando e como surgiu a AMBAP?

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

b) Na sua opinião, qual a importância da AMBAP no contexto territorial de


Pitangui, onde o ‘viver do mar’ ainda ocupa espaço significativo na vida das
famílias?

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

c) Quais atividades econômico-solidárias são desenvolvidas atualmente na


AMBAP?

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
76

APÊNDICE B – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS E ANÁLISE DOS


DISCURSOS

PERGUNTA 1 – Como você descreveria suas condições de vida antes de fazer


parte da AMBAP?
Ideias Centrais (IC): textos grafados na cor azul; e
Ancoragens (AC): textos grafados em azul, com preenchimento na cor cinza.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 1


Eu vivia em casa, não saía, era de ficar mais em casa, só ficava em casa mesmo,
sou do lar. Só ficava em casa.
IC: As mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas e por cuidar do lar,
da família.
AC: não observada.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 2


A gente tinha aquele estímulo de ficar só em casa, não tinha aquele estímulo de
termos conhecimento pra trabalhar para aprimorar estes produtos, então houve essa
chance de abrir essa associação sobre como plantar as algas pra beneficiar o meio
ambiente pra gente trabalhar com elas, então a gente como vive só em casa[...] eu
vivia só em casa, não tinha oportunidade de sair então houve essa oportunidade,
né? E eu vim.
IC: As mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas e por cuidar do lar,
da família. As mulheres não têm oportunidades de batalhar pelo sustento da família
fora do lar.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social. Consciência da
necessidade de preservar o meio ambiente.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 3


Eu era uma pessoa do lar, aí teve esse caminho que abriu pra eu participar da
associação, e estou aqui, estou gostando, temos trabalho na praia, muito bom, e as
algas[...] e assim tô até hoje, tem quatro anos que estou aqui.
IC: As mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas e por cuidar do lar,
da família. O trabalho traz a sensação de bem-estar.
77

AC: Trabalho como meio de conferir dignidade, importância.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 4


Na verdade, eu comecei a entrar na AMBAP porque era uma coisa a mais pra
completar o meu dia a dia, né? Então quando eu entrei eu comecei a gostar do
trabalho e já faz onze anos que eu participo. Faço alimentos, faço sabonetes, muitas
coisas[...] eu já sempre trabalhei em comércio, mas eu era mais do lar e ultimamente
estava muito em casa, tinha deixando o comércio e estava muito em casa, então eu
queria uma coisa que também me trouxesse mais como uma terapia, porque eu
gosto é de artesanato, então eu vim mais por causa dos artesanatos.
IC: O trabalho traz a sensação de bem-estar. As mulheres são responsáveis pelas
atividades domésticas e por cuidar do lar, da família. O trabalho fora do lar foi
substituído pelo trabalho do lar.
AC: Trabalho como meio de conferir dignidade, importância.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 5


As minhas condições de vida já eram difícil porque eu já trabalhava com algas, só
que a gente trabalhava na apneia com cisco preto, tirando, era muito trabalhoso, a
gente cansava demais e o preço era lá embaixo, trinta centavos o quilo e foi aí
quando a gente conheceu um grupo de mulheres que plantavam algas, e era um
preço razoável e a gente foi a procura delas e descobrimos que o projeto lá era bem
melhor, que elas vendiam a oito reais o quilo dela moída depois dela pronta, aí a
gente resolveu fazer parte.
IC: O trabalho com algas era arriscado e exaustivo. Era muito trabalho para pouco
retorno financeiro. Mudança nas formas de trabalho. Hoje as condições de trabalho
são melhores.
AC: Falta de condições dignas de trabalho.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 6


Era meio monótona, sem vida, né? Vivia assim e também não tinha muita
participação nas coisas na sociedade, na comunidade, e depois que eu entrei na
78

associação foi só maravilha pra mim pra minha vida, pro meu ‘eu’, graças a Deus, só
maravilha.
IC: Hoje as condições de vida são melhores. Mudança nas relações sociais e forma
de viver.
AC: Manifestação do pensamento tradicional da fé cristã.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 7


Bom, antes de participar da AMBAP a gente era basicamente só dona de casa, né?
Cuidava dos filhos, da família, e depois que a gente entrou, eu principalmente, entrei
na associação e começou a ter incentivo de começar a estudar, de se capacitar, de
ver mais essa questão do lado social, do lado[...] A gente trabalha aqui, muito, aqui a
questão do lado feminista, a valorização da mulher[...]. Então teve muito esse
aumento, que a gente trabalha[...] participa da economia solidária, então a gente
começou a ver essa diferença, da participação da mulher no contexto da sociedade.
IC: As mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas e por cuidar do lar,
da família. Mudança nas relações sociais e forma de viver.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social. Consciência da
condição de luta e desigualdades enfrentadas pelas mulheres.

PERGUNTA 2 – Expressões-chave (ECH), Ideias Centrais (IC) e Ancoragens (AC)


O que você acha que mudou em suas condições de sua vida, ao fazer parte da
associação?

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 1


Ah, mudou muita coisa, fizemos novas amizades e eu conheci uma nova família,
mudou muito pra mim, eu era muito, assim, tímida, às vezes tinha medo de me
expressar e hoje eu não tenho mais, hoje converso, hoje já pergunto, às vezes tenho
medo de falar e errar, mas errando é que se aprende[...] e eu conheci elas, a gente
conversa e discute, aqui é muito bom pra mim, eu fiquei[...] é assim, uma nova vida
pra mim, a AMBAP.
IC: Mudanças no modo de ser e agir. Prazer em participar dos eventos sociais.
AC: Consciência coletiva e de pertencimento a um grupo. Aquisição do
conhecimento como forma de superar barreiras pessoais.
79

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 2


O que mudou, assim, os conhecimentos, porque aprendemos como fazer sabonete,
trabalhar com alimentação e outras coisas, oficinas que a gente sai, vai pra fora e
tem contato com outras associações, pra uma aprender com a outra, a troca de
aprendizagem.
IC: Prazer em participar dos eventos sociais.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 3


Pra melhor, né? Tenho conhecido muita gente, a gente viaja, muito bom, muita coisa
mudou pra bom. Continuo sendo do lar, mas tô aqui ajudando.
IC: Prazer em participar dos eventos sociais. Mudança nas relações sociais e forma
de viver.
AC: não observada.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 4


Ah, estudei muito, aprendi muito porque fazia muitos anos que eu não estudava,
então os cursos de capacitação, então isso melhorou muito para mim, porque, pra te
dar[...] pelo menos a gente tem aquele conhecimento com pessoas, com[...] mesmo
com as aulas bem diferente, que eu não tinha tido fazia, eu acho que fazia muitos
anos, porque eu terminei o segundo grau em 75[...] 76 ou 75, então eu estava muito
sem estudo, então você a cada dia que você vai, você vai estudando, estudando
muitas aulas de muitas coisas, de plantas, de alimentos, de muita, muita coisa. Até o
curso de gastronomia[...] eu fiz um curso pra[...] teve um curso aí em Natal, que teve
trinta doceiras do Rio Grande do Norte, passaram quatorze e eu passei. E isso é
muito bom pra gente, né? Principalmente eu que já tenho 60 anos.
IC: Mudança nas relações sociais e forma de viver. Prazer em participar dos eventos
sociais.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social.
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Expressões-chave - Maricultora entrevistada 5


Bastante[...] mudou. Desenvolveu conhecimento, a gente vivia em casa[...]
trabalhava no cisco, né? Mas era do cisco pra casa, mas agora a gente tem
conhecimento do pessoal, da universidade, a gente conheceu a universidade, que a
gente não conhecia essas coisas, pessoas que nos ajudam, muita coisa mudou
mesmo.
IC: A aquisição do conhecimento modificou e melhorou as formas de trabalho.
Prazer em conhecer coisas novas.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 6


Eu comecei a me entrosar mais na comunidade, nos assuntos, nas associações que
existem, ir pra encontros fora e interagir mais como os outros, é[...] aumentar assim
minha autoestima, aumentou bastante, depois que eu conheci aqui as meninas, já
conhecia, né? Mas na associação e muito diferente, tô gostando demais e tá sendo
muito, muito bom pra mim.
IC: Prazer em participar dos eventos sociais. O trabalho traz a sensação de bem-
estar.
AC: Trabalho como meio de conferir dignidade, importância e bem-estar.

Expressões-chave - Maricultora entrevistada 7


Pra mim mudou muita coisa, né? Que eu não tinha terminado meus estudos, voltei a
estudar e hoje sou formada, sou formada em Aquicultura, né? E hoje levanto
bastante essa bandeira da questão social, ambiental, econômica, né? E essa
questão da valorização da mulher, do empoderamento da mulher no contexto social,
no contexto feminista.
IC: A mulher tem consciência do poder de promover mudanças na sociedade.
AC: A aquisição do conhecimento como meio de ascensão social. Consciência da
condição de luta e desigualdades enfrentadas pelas mulheres.

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