Efeito Sinérgico
Leticia Sant’ Anna Rodrigues
Graduanda em Biomedicina.
Prof.ª Gabriela Cavagnolli
Professora do Curso
de Biomedicina – EaD –
Cruzeiro do Sul Educacional.
Doutora em Endocrinologia
– Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
E-mail: gabriela.cavagnolli@
fsg.edu.br
Prof.ª Renata Torres Souza
Professora do Curso de
Biomedicina – EaD –
Cruzeiro do Sul Educacional.
Doutora em Microbiologia e
Imunologia – Universidade
Federal de São Paulo
(UNIFESP).
Prof.ª Dra. Ana
Laura Pimentel
Mestre e Doutora em
Ciências Médicas:
Endocrinologia pela
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
E-mail: ana.pimentel@
fsg.edu.br
da Interação entre
Nanopartículas de
Dióxido de Titânio e
Chumbo Inorgânico
em Peixes do Ponto
de Vista Toxicológico
Resumo
O objetivo deste Artigo é fazer uma revisão com busca siste-
mática a fim de esclarecer como a presença de nanopartículas de
dióxido de titânio (NPs TiO2) no ambiente aquático pode alterar os
efeitos tóxicos do chumbo inorgânico em peixes. A importância do
estudo desse tema se justifica pelo fato das nanopartículas serem
consideradas contaminantes ambientais emergentes e as intera-
ções entre os xenobióticos e os sistemas biológicos ainda não terem
sido completamente elucidadas. Conforme dados na Literatura
sugerem, há um efeito sinérgico considerável entre as NPs TiO2 e
o chumbo inorgânico em biossistemas aquáticos. Realizamos uma
busca sistemática na base de dados Medline/PubMed utilizando
os termos “peixe”, “dióxido de titânio”, “chumbo”, “toxicidade” e suas
palavras relacionadas. Consideramos como critérios de inclusão:
estudos realizados em peixes, presença de nanopartículas de dió-
xido de titânio e chumbo, e descrição de toxicidade. Os critérios de
exclusão foram: estudos realizados em humanos, letters e Artigos
de Revisão. A busca resultou em 20 Artigos. Depois da avaliação dos
critérios de inclusão e exclusão, 8 estudos foram incluídos e terão
seus dados apresentados no trabalho final.
Palavras-chave: Nanotoxicologia; Nanopartículas; Dióxido de Titânio.
Abstract
The objective of this Article is to carry out a systematic search review
in order to clarify how the presence of titanium dioxide nanoparticles
(TiO2 NPs) in the aquatic environment can alter the toxic effects in
inorganic lead in fish. The importance of studying this topic is justified

by the fact that nanoparticles are considered
emerging environmental contaminants,
and, besides that, the interactions between
xenobiotics and biological systems have not
yet been fully elucidated.
Keywords: Nanotoxicology; Nanoparticles;
Titanium Dioxide.
Introdução
O presente estudo tem como principal obje-
tivo entender a interação que ocorre entre o
dióxido de titânio e o chumbo, que é um dos
principais poluentes conhecidos nos corpos
aquáticos, e como esse efeito sinérgico altera
a toxicidade nos peixes.
Alguns estudos, incluindo os utilizados neste
Artigo, sugerem que há um aumento da bioa-
cumulação, e outros afirmam que, em dosagem
específica, ocorre o auxílio na excreção de me-
tais pesados.
Porém, as nanopartículas têm a capacidade
de adsorção, e isso faz com que o chumbo fique
retido na superfície do composto e cause um
efeito carreador para dentro das células por
endocitose.
A principal preocupação desse fenômeno é
a capacidade que essas partículas têm de pe-
netrar facilmente nas células e até atravessar
a barreira hematoencefálica.
As nanopartículas oriundas de atividades
humanas da engenharia estão ganhando cada
vez mais espaço.
Os avanços tecnológicos permitem desen-
volvimentos cada vez mais acelerados, porém
os estudos toxicológicos das nanopartículas
não acompanham essa rapidez, pois poucos
recursos são direcionados para essa Área.
A maior parte dos investimentos é direcio-
nada apenas às aplicações da nanotecnologia.
As partículas em escala nanométrica têm
comportamentos físico-químicos diferentes de
quando estão em escalas maiores.
Elementos químicos conhecidos como es-
táveis acabam perdendo essa estabilidade e
Pluri Discente
adquirem comportamentos ainda em fase de
estudo, e muitos outros são desconhecidos.
O ouro é um exemplo de elemento relativamente
inerte, mas que, em nanoescala, adquire certa
reatividade.
As nanopartículas têm alta reatividade quí-
mica e superfície específica maior por conta do
tamanho, e essa superfície específica confere
capacidade físico-química de adsorção, ou seja,
elas conseguem carregar outras partículas em
sua superfície.
Alguns podem interagir com outros com-
postos de forma completamente diferente
e causar reações imprevisíveis, inclusive, em
biossistemas.
Esses são alguns dos pontos principais que
tornam a nanotoxicologia um campo tão impor-
tante a ser desenvolvido.
É preciso conhecer os mecanismos toxico-
lógicos envolvidos para desenvolver medidas
de mitigação de risco em caso de acidentes,
por exemplo, tanto no nível individual quanto
no nível de poluição ambiental, já que os nano-
materiais estão sendo cada vez mais utilizados
e disponíveis para o público.
Eles já são considerados contaminantes
emergentes e a escassez de estudos dificulta
o estabelecimento de doses seguras por Agên-
cias Reguladoras.
Neste estudo, o foco é a interação entre as
nanopartículas de dióxido de titânio e o chumbo
presente nos corpos aquáticos e bioacumula-
dos em peixes.
O chumbo é um dos principais poluentes
aquáticos e tem alta toxicidade. É um problema
grave que enfrentamos atualmente, porque os
peixes são a principal fonte de contaminação
humana por causa da alimentação.
Existem populações que vivem da pesca,
são diretamente afetadas pela exposição a
metais pesados na água, e que vão ser ainda
mais afetadas por conta desses contaminantes
emergentes nanotecnológicos com interações
químicas desconhecidas.
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Edição Especial | Outubro de 2022
A contaminação se dá, principalmente, por
má gestão dos resíduos industriais, descarte
indevido e falta de tratamento dos esgotos, que
são despejados diretamente nos rios e no mar.
Essa questão é de suma importância porque,
como a utilização de produtos nanotecnológicos
por parte da população vem crescendo (em
cosméticos e remédios, por exemplo), ocorre a
contaminação dos esgotos, onde existem, ainda,
mais substâncias químicas que se misturam, e
não se sabe o que resulta dessas interações, ou
seja, existe um potencial gigante de contaminar
a água que consumimos, os alimentos, os rios
e os mares.
O que se sabe até o momento é que existe
de fato interação entre as nanopartículas de
dióxido de titânio e o chumbo inorgânico, e que
a radiação solar pode alterar ainda mais es-
sas reações por conta da ação fotocatalítica
do TiO2.
Entretanto, ainda não houve consenso cientí-
fico de como essa reação afeta os biossistemas
e o quanto pode afetar a segurança alimentar
de humanos ou até que ponto devemos nos
preocupar com esse novo poluente.
Metodologia
O presente estudo se trata de uma análise
bibliográfica por busca sistemática na plata-
forma PubMED.
Foram utilizadas as palavras-chave: ((((fishes)
OR (fish)) AND (((((((titanium dioxide) OR (nano-
-TiO2)) OR (TiO2)) OR (TiO2 NPs)) OR (TiO2
NP)) OR (Titanium dioxide nanoparticles)) OR
(Titanium dioxide nanoparticle))) AND ((lead)
OR (Pb))) AND ((toxicology) OR (toxicity)).
A pesquisa em Língua inglesa foi priorizada
porque a maior parte dos Artigos publicados
com essa temática estão em Inglês. Em Portu-
guês, a Literatura na Área de nanotoxicologia
é bem escassa.
Para a busca, foram necessárias as palavras:
peixes, nanopartículas de dióxido de titânio e
chumbo, e as possíveis variações.
120
Por se tratar de uma pesquisa com estu-
dos observacionais em que foi analisada uma
população específica, frente ao desfecho, foi
utilizado o acrônimo PECO: P para população:
peixes e E para exposição às nanopartículas
de dióxido de titânio interagindo com o chum-
bo inorgânico.
A letra C não foi utilizada nesse caso por-
que não foi estabelecido um comparativo com
populações não expostas ao xenobiótico, e a
letra O é o desfecho, que foi a toxicidade nos
peixes depois da exposição aos componentes
em questão.
A população de peixes foi escolhida, pois eles
são bastante utilizados em ensaios toxicológicos
por conta de uma similaridade na metabolização
de compostos pelo fígado dos peixes e pelo dos
humanos e, também, por ser uma importante
fonte de exposição humana aos xenobióticos
mencionados, que nos permite verificar a exis-
tência de certos contaminantes na água.
Os critérios de inclusão foram: estudos reali-
zados apenas em peixes, ter as palavras nano-
partículas de dióxido de titânio e toxicidade, e os
critérios de exclusão foram: estudos realizados
em humanos, Artigos de Revisão e letter.
Por fim, a busca pelo PubMed resultou em 20
Artigos e, depois da análise, restaram apenas 7.
Foram identificados 20 Artigos utilizando as
palavras-chave, porém, depois da análise de
títulos e resumos, restaram apenas 8.
As exclusões ocorreram majoritariamente
por conta da palavra “lead” para chumbo que,
no Inglês, tem mais de um significado.
Em vários Artigos, essa palavra foi usada no
sentido de “conduzir” e não “lead” de chumbo.
Depois da leitura, mais um Artigo foi excluído
por não incluir análise com o chumbo, apenas
com o dióxido de titânio, restando apenas 7
Artigos que de fato abordam as interações
químicas entre nanopartículas de dióxido de
titânio e chumbo inorgânico.
Essa dinâmica está melhor representada no
Fluxograma a seguir:

Registros
Identificação
identificados
na base de dados
em saúde (n = 20)
Seleção
Registros restantes para análise de
títulos e resumos (n = 8)
Registros avaliados para elegibilidade
Elegibilidade
(análise completa) (n = 8)
Registros excluídos após leitura (n = 1):
Não incluía análises em relação ao Chumbo (n = 1)
Estudos incluídos na
Inclusão
revisão sistemática
(n = 7)
Figura 1 – Fluxograma das
fases e seleções de Artigos
Fonte: Acervo do Conteudista
Resultados
Nos Artigos analisados, observou-se que a
associação entre nanopartículas de TiO2 indu-
ziram a alterações morfológicas nucleares nas
hemácias dos peixes, causando um fenômeno
conhecido como Alteração Nuclear Eritrocítica
(ENAs, em Inglês).
A menor dose dos contaminantes produziu
efeitos genotóxicos e neurotóxicos de alteração
da AChE, porém o TiO2 isoladamente também
provocou efeitos adversos.
O dióxido de titânio sozinho quando injetado
em peixes causou o aumento de Espécies Reativas
de Oxigênio (ROS), que é um indicativo de estresse
oxidativo e que pode ocasionar danos celulares.
Os biomarcadores bioquímicos observados
foram superóxido dismutase, catalase e glutatio-
na peroxidase, que também tiveram suas quan-
tidades significativamente alteradas depois da
exposição às nanopartículas de TiO2, indicando
novamente a ocorrência do estresse oxidativo.
Alguns estudos sugeriram, inclusive, a pos-
sibilidade de efeitos desreguladores do sis-
tema endócrino.
Pluri Discente
Foram encontrados, também, indícios de uma
bioacumulação elevada do chumbo inorgânico
na presença de NPs-TiO2.
Entretanto, em doses menores e com o maior
tamanho obtido da nanopartícula de dióxido
de titânio, essa bioacumulação foi reduzida,
indicando que são vários os fatores a serem
considerados para definir se ocorre ou não o
aumento da bioacumulação.
Discussão
Os resultados que já existem são muito
contraditórios. Não existe consenso entre os
pesquisadores, sendo que um dos motivos que
possivelmente ocasionou essa divergência foi
a falta de consenso metodológico de estudos
toxicológicos em relação às nanoestruturas
oriundas da engenharia.
Não existe consenso, também, em relação
ao tamanho utilizado e à dose mínima segura.
As indústrias disponibilizam tamanhos dife-
rentes de TiO2 dentro da escala nanométrica,
porém, de acordo com os resultados, o tamanho
pode influenciar no efeito adverso e, além disso,
a dose também afeta.
Então, temos uma relação dose, tamanho
e efeito diferente do que é visto da toxicologia
tradicional, que relaciona apenas o efeito em
função da dose.
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venous injection of TiO2 nanoparticles with
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Edição Especial | Outubro de 2022
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