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RESUMO – As nanopartículas de óxido de zinco (ZnO) têm atraído cada vez mais
atenção das indústrias e pesquisadores no sentido de desenvolver aplicações inovadoras
com este nanomaterial em áreas como a da saúde e de alimentos. Neste sentido, uma
potencial aplicação de grande interesse mundial é a desinfecção de águas para o
consumo humano. Dentre os patógenos mais comuns encontrados na água, a Escherichia
coli (E. coli) está entre os mais nocivos. O presente trabalho teve como principal objetivo
sintetizar, caracterizar, e avaliar a atividade antibacteriana de nanopartículas de ZnO
vislumbrando a possibilidade de aplicação destas nanoestruturas no tratamento de água
para consumo. O método do poliol foi empregado nas sínteses, na presença e ausência da
poli(vinil pirrolidona) – PVP, para se avaliar a influência deste agente estabilizante nas
propriedades morfológicas das nanopartículas produzidas. Os produtos obtidos foram
caracterizados por espectrofotometria de UV-Vis, DRX, MEV-FEG e MET. Os resultados
obtidos demonstraram que o método do poliol foi capaz de produzir nanopartículas de
ZnO com elevado grau de pureza e diâmetro médio em torno de 20 nm, na ausência ou
presença do PVP. Os ensaios microbiológicos comprovaram que as nanopartículas de
ZnO produzidas possuem excelente atividade antibacteriana contra a bactéria
Escherichia coli quando aplicadas em concentrações acima de 50 mg.L-1.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento e a aplicação prática de nanotecnologias têm atraído cada vez mais a
atenção das indústrias e de pesquisadores devido às notáveis propriedades que se pode alcançar com
os materiais quando estes se encontram na escala nanométrica de tamanho (Couto, 2006). No que
concerne o desenvolvimento de nanoestruturas com propriedades antibacterianas para aplicações
diversas, é possível encontrar na literatura trabalhos envolvendo o uso de nanopartículas de prata
(Nogueira et al., 2014), cobre (Bagchi et al., 2013), óxido de zinco (Liu et al., 2009), dióxido de
titânio (Xing et al., 2012) e dióxido de estanho (Talebian et al., 2014). O uso de nanopartículas
metálicas para aplicação como agentes antibacterianos aparece como uma importante alternativa aos
tradicionais organoclorados (que são compostos contendo ao menos um átomo de cloro ligado
covalentemente na sua estrutura) e aos derivados de arsênio, usualmente empregados para esta
finalidade. Além disso, o uso de nanopartículas é extremamente vantajoso do ponto de vista da
eficácia do produto, pois a elevada relação área superficial por volume exibida pelas nanopartículas
permite que mínimas quantidades destes materiais sejam suficientes para conferir excelentes
propriedades antibacterianas ao produto final (Nogueira et al., 2014).
Para a realização do teste antibacteriano, o inóculo foi diluído até que atingisse uma leitura de
280 nm em espectrofotômetro (SP-22 BIOSPECTRO). A seguir, a amostra foi submetida a uma
diluição seriada até se alcançar uma diluição de 1,0x105 UFC/mL. A amostra de referência foi
preparada adicionando-se apenas 50 mL do inóculo diluído em um Erlenmeyer de 100 mL. Para se
avaliar a eficiência antibacteriana das nanopartículas de ZnO produzidas, outras três amostras foram
preparadas em Erlenmeyers diferentes, cada um contendo 50 mL do inóculo mais 10 mL de uma
solução aquosa contendo distintas concentrações de ZnO. Estas soluções aquosas foram preparadas
solubilizando-se 0,125 g, 0,25 g e 0,50 g de ZnO nanoparticulado em 10 mL de água deionizada.
Estas soluções aquosas, quando adicionadas aos 50 mL do inóculo, resultaram em soluções com
respectivamente 25, 50 e 100 mg.L-1. Para garantir uma boa dispersão e fragmentação dos grumos de
ZnO, estas soluções que foram colocadas em banho de ultrassom por 30 minutos. Após 24 horas sob
agitação em shaker, e temperatura controlada (37oC), as amostras foram novamente diluídas até
atingirem uma diluição de 1,0x10³ UFC/mL para que se pudesse ter uma quantidade de colônias na
placa de Petri factível de ser contada. Em tréplicas, alíquotas de 0,1 mL foram espalhadas sobre a
superfície do ágar nas placas de Petri, com auxílio de uma alça triangular de vidro Drigalski, até a
completa absorção. As placas foram incubadas a 37ºC por 24 horas e, após este procedimento,
efetuou-se a contagem das unidades formadoras de colônias (UFC).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, para avaliar se as amostras produzidas realmente se tratavam de óxido de zinco,
analisou-se a as propriedades ópticas por espectrofotometria de UV-Vis das nanopartículas
sintetizadas com e sem PVP, e os resultados foram comparados àqueles reportados na literatura. De
acordo com os resultados obtidos no presente estudo, e apresentados na Figura 1, nota-se que entre
350 e 400 nm ocorre uma pronunciada absorção da radiação incidente sobre a amostra. Além de estes
resultados serem condizentes com os reportados por Tuzemen et al. (2013), percebe-se que as
amostras sintetizadas com PVP absorveram mais radiação do que aquelas sintetizadas sem PVP.
Acredita-se que a presença do PVP levou a uma melhor dispersão das nanopartículas no meio aquoso
e uma melhor manutenção da estabilidade coloidal, o que contribuiu para que um número maior de
nanopartículas permanecesse em suspensão durante a realização da análise.
3.0
sem PVP
2.5 com PVP
2.0
Absorbância
1.5
1.0
0.5
0.0
300 400 500 600 700 800 900 1000
Comprimento de Onda (nm)
Figura 1 – Espectros de absorbância das nanopartículas de ZnO sintetizadas com e sem PVP.
(100)
(002)
(110)
(103)
(212)
(102)
(201)
(200)
(004)
30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
2(graus)
Figura 2 – Difratogramas de raios-X das nanopartículas de ZnO sintetizadas com e sem PVP.
Os difratogramas de raios-X também foram utilizados para se estimar o tamanho médio das
partículas sintetizadas mediante o uso da fórmula de Scherre (Tuzemen et al. 2013), apresentada
a seguir. Tomando como base o pico de difração de Bragg predominante (100), localizado em
torno de 36,28º, e considerando-se que os grãos tendem à forma esférica (k = 0,9), o diâmetro
médio estimado das partículas de óxido zinco ficou em torno de 23 e 21 nm para as
nanopartículas de ZnO sintetizadas sem e com PVP respectivamente. Estes resultados indicam
que o uso do PVP como agente de estabilização, na concentração específica utilizada, causou
pouca influência no tamanho médio das nanopartículas produzidas.
(3)
A B
Por fim, a eficiência antibacteriana das nanopartículas de ZnO sintetizadas sem PVP foi
avaliada contra a bactéria Gram negativa Escherichia coli. Conforme foi exposto na seção dos
procedimentos experimentais adotados, concentrações de 0, 25, 50 e 100 mg.L-1 foram testadas. Os
resultados apresentados na Figura 5 mostram claramente que concentrações a partir de 50 mg.L-1
foram suficientes para inibir por completo o crescimento das bactérias E. coli.
A B
Figura 5 – Resultados da quantidade de unidades formadoras de colônia (UFC) obtida nos ensaios
antibacterianos conduzidos na presença de 0, 25, 50 e 100 mg.L-1 das nanopartículas de ZnO
sintetizadas sem PVP.
4. CONCLUSÕES
O presente trabalho avaliou a rota química do poliol para sintetizar nanopartículas de óxido de
zinco (ZnO). As reações foram conduzidas na ausência e presença do agente estabilizante poli(vinil
pirrolidona) – PVP, e os resultados obtidos demonstraram que em ambos os casos foi possível
produzir nanopartículas de ZnO com formas geométricas tendendo à esférica e com tamanhos médios
muito semelhantes (23 nm sem PVP, e 21 nm com PVP). Apesar de pequena, a redução no tamanho
médio das nanopartículas quando o PVP foi usado no sistema reacional comprovou que este agente
estabilizante preveniu a agregação das nanopartículas durante a síntese. Outras concentrações de PVP
devem ser testadas para se avaliar o real efeito deste composto químico nas características
morfológicas das nanopartículas de ZnO. Os ensaios microbiológicos realizados indicaram que
concentrações de 50 mg.L-1 foram suficientes para inibir por completo o crescimento da bactéria
Gram negativa Escherichia coli. Estes resultados, associados ao fato de que o óxido de zinco é um
material atóxico e biocompatível, demonstram que a rota química do poliol pode ser usada na
produção de nanopartículas de ZnO com potencial para aplicação na desinfecção de água para o
consumo humano.
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