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Gramática

A. Funções Sintáticas Ao Nível da Frase

Os vários grupos constituintes da frase (GN, GV, GP…) estabelecem entre si diferentes
tipos de relações gramaticais, pelo que desempenham funções sintáticas especificas.

SUJEITO – é o elemento que controla a concordância, em pessoa e em número, relativamente


ao verbo. Assim temos vários tipos de sujeito, conforme o quadro abaixo:

PREDICADO – é a função sintática desempenhada pelo grupo verbal e pelos seus


modificadores. O predicado pode assumir a forma de um:

 Verbo = Ele adoeceu.


 Verbo + Complementos(s) = Ele concluiu os estudos.
 Verbo + Predicativo do Sujeito = Ele continua em casa.
 Verbo + Modificadores (do GV) = (Ontem). O Rui deu uns brincos à Cátia.

VOCATIVO – é uma função sintática que identifica o interlocutor e que ocorre frequentemente
nas frases imperativas, exclamativas e interrogativas.

Exemplos:

 Maria, faz-me um favor!


 Já te disse, filho, para estudares.
 Vais amanhã ao cinema, Júlio?

O vocativo tem uma posição variável na frase, mas aparece sempre isolado pela
pontuação, sobretudo pela vírgula.

MODIFICADOR DA FRASE

Características:

 Modifica toda a frase e não apenas o verbo.


 Pode apresentar a forma de grupo adverbial, de grupo preposicional e de uma oração
(Oração subordinada adverbial condicional e oração subordinada adverbial concessiva)
Exemplo: Infelizmente, o Zé reprovou.

NOTA: O modificador de frase não faz parte do predicado e exprime uma atitude, uma
apreciação em relação ao que se diz, aparece sempre isolado por pontuação.

Funções Sintáticas Internas ao Grupo Verbal

COMPLEMENTO DIRETO – É exigido pelo verbo; responde às questões quem? ou O quê?. Pode
ser substituído pelo pronome pessoal o, a, os, as (no, na, nos, nas, lo, la, los, las).

Exemplo:

 O Pedro ofereceu um CD à Joana.


 A Ana encontrou a amiga na rua.

COMPLEMENTO INDIRETO – Função sintática desempenhada por um grupo preposicional,


selecionado por um verbo. Responde à questão a quem? e pode ser substituído pelo pronome
pessoal lhe, lhes.

Exemplo:

 O Pedro ofereceu um CD à Joana.


 A Joana telefonou-lhe.

COMPLEMENTO OBLÍQUO

Características:

 É selecionado (exigido) pelo verbo. (É, pois, um elemento obrigatório)

Exemplo:
A Ana pensa (nas férias)
* A Ana pensa.

A Rita vai (ao teatro)


* A Rita vai.

 Não pode ser substituído pelo pronome pessoal “lhe” / “lhes”(ao contrário do
complemento indireto)

Exemplo:
* A Ana pensa-lhe.
* A Rita vai-lhe.
COMPLEMENTO AGENTE DA PASSIVA

É a função sintática de um grupo preposicional numa frase passiva, introduzido pela


preposição por. É constituído pela expressão que tem a função de sujeito na frase ativa.

Exemplo:
 Esse livro foi escrito por Sophia de Mello Breyner.
(frase ativa correspondente: Sophia de Mello Breyner escreveu esse livro)

PREDICATIVO DO SUJEITO

Função sintática desempenhada pelo constituinte que ocorre em frases com verbos
copulativos, que predica algo acerca do sujeito.

Exemplo:
 O João é [professor de Matemática]
 Os alunos estão [muito interessados]
 A Joana ficou [na escola]

NOTA: Os verbos copulativos mais frequentes são: ser, estar, permanecer, ficar, continuar,
tornar-se, revelar-se

PREDICATIVO DO COMPLEMENTO DIRETO

É o elemento que atribui qualidades ou propriedades ao complemento direto. É


obrigatoriamente selecionado por um verbo transitivo predicativo. (achar, chamar, supor,
declarar, considerar, eleger).

Exemplo:
 O público considerou a banda excelente.

Nesta frase: “considerou” – Verbo transitivo predicativo “a banda” – Complemento Direto


“excelente” - Predicativo do Complemento direto.

 Elegeram a Ana delegada de turma.

Nesta frase: “Elegeram” – Verto transitivo predicativo “a Ana” – Complemento Direto


“delegada de turma” - Predicativo do Complemento direto.

MODIFICADOR DO GRUPO VERBAL

Características:
 Não é selecionado (exigido) pelo verbo. Pode, pois, ser eliminado da frase sem que
isso afete a gramaticalidade da frase.

Exemplo:
A Ana telefonou à professora (ontem)

 Faz parte do predicado.


 Pode apresentar a forma de um grupo preposicional, grupo adverbial e de uma oração
subordinada adverbial temporal, final ou causal.

NOTA: O Modificador do Grupo Verbal pode ter o valor de tempo, modo, lugar, causa ou fim
relativamente á ação expressa no grupo verbal.

Funções Sintáticas Internas ao Grupo Nominal

MODIFICADOR DO NOME

 Modificador restritivo do nome


Restringe a realidade referida pelo nome que modifica. Não pode ser separado por vírgulas
do nome a que se refere.

Exemplo:
 Ele comeu maçã assada.
 Ele comprou uma faca de cozinha.
 O meu primo que vive nos açores (oração subordinada adjetiva relativa restritiva)
casou.
 Aquela casa nova foi assaltada.

 Modificador apositivo do nome


Não restringe a realidade referida pelo nome que modifica. É separado obrigatoriamente
por vírgulas.

Exemplo;
 José Silva, presidente do clube, apresentou a sua demissão.
 José Saramago, um autor consagrado, é lido nas escolas.
 A neve, que é anormal nesta época, provocou acidentes.

B. A Frase complexa: coordenação e subordinação

1. Orações coordenadas

A coordenação é a relação sintática estabelecida entre elementos que pertencem à mesma


categoria e que desempenham a mesma função sintática. Em função da relação semântica
estabelecida entre as orações, é possível classificar as orações coordenadas em quatro grupos
distintos:
 Oração coordenada copulativa – é introduzida por uma conjunção ou locução
coordenativa copulativa, que tem como valor fundamental a adição
Conjunções: e, também, nem, que (=e)
Locuções: não só …mas também; não só como… também; tanto… como

Exemplo:
 O rapaz olhou-a, e ela olhou-o a ele.

 Oração coordenada adversativa – estabelece uma relação de contraste com a oração


precedente, sendo introduzida por uma conjunção ou locução coordenativa
adversativa.
Conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto.
Locuções: não obstante, no entanto, apesar disso, ainda assim, mesmo assim, de
outra sorte, ao passo que

Exemplo:
 Este, como sabe, é engenheiro naval, mas agora está em Lisboa em
inatividade.

 Oração coordenada disjuntiva – é introduzida por uma conjunção ou locução


coordenada disjuntiva, apresentando uma situação alternativa à situação expressa na
oração coordenada precedente.
Conjunções: Ou, que (=ou)
Locuções: ora... ora, ou... ou, quer… quer, seja... seja, nem… nem, já… já, seja... ou

Exemplo:

 Tentava contorná-lo ou distraí-lo.

 Oração coordenada conclusiva – apresenta uma condição ou conclusão relativamente


ao que foi expresso no outro elemento coordenado.
Conjunções: por isso, logo, portanto, então, sendo assim, por conseguinte, pois (após
o verbo ou no fim da frase)
Locuções: por conseguinte, por consequência, pelo que

Exemplo:
 Sei o milagre da vida, por isso a morte me humilha.

 Orações coordenadas explicativas – expressam a explicação.


Conjunções: porque, que, pois (antes do verbo)

Exemplo:
 Ela atrasou-se, porque dormiu demais.
2. Orações subordinadas

A subordinação é a relação sintática estabelecida entre orações em que uma (subordinada)


está sintaticamente dependente de outra (subordinante). Essa dependência é evidenciada
pelo facto de a oração subordinada desempenhar sempre uma função sintática relativamente
à oração subordinante.

 Oração subordinada substantiva – quando desempenham uma função sintática


característica do grupo nominal. Este tipo de oração é exigido por um verbo, por um
nome ou por um adjetivo da oração subordinante.
A oração subordinada substantiva pode ser de dois tipos:

 Oração subordinada substantiva completiva – oração que pode ser exigida


pelo verbo, por um nome ou por um adjetivo da oração subordinante,
completando-os. Quando as orações subordinadas são finitas, são
normalmente introduzidas pelas conjunções subordinativas completivas que
ou se.

Exemplo:
Eu bem sei que tu não voltas.

 Oração subordinada substantiva relativa – oração que é introduzida por um


pronome ou quantificador relativo ao qual não é possível associar um
antecedente.

Exemplo:
Quem lá dominasse, dominava toda a vila.

 Oração subordinada adjetiva – esta equivale a um adjetivo, ocorrendo sempre á


direita do antecedente e desempenhando uma função sintática típica daquela classe
de palavras. Estes tipos de orações podem ser de dois tipos:

 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva – é uma oração que tem


como função limitar, restringir, a referência do antecedente. A sua omissão
acarreta uma alteração do sentido da oração subordinante, pois apresenta
informação relevante para a definição do antecedente.

Exemplo:
Quem ama verdadeiramente, não escreve cartas que parecem requerimentos
de advogado.
 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa – oração que apresenta
informação adicional sobre o antecedente. A sua omissão não altera o sentido
da oração subordinante, uma vez que o antecedente já se encontra
suficientemente definido.
Exemplo:
Os preços exploravam obviamente o turista, o que não surpreendeu.

 Oração subordinada adverbial – esta cumpre uma função sintática típica de um


advérbio, não sendo, por isso, exigido pelo verbo principal da oração subordinante. De
uma forma geral, apresenta grande mobilidade na frase. Existem sete tipos de orações
subordinadas adverbiais:

 Oração subordinada adverbial causal – indicam uma circunstância de causa.


Principais conjunções e locuções: que, pois, porque, como, visto que, uma vez
que, já que …

Exemplo:
Fui aprovado, porque estudei.

 Oração subordinada adverbial condicional – constituem um obstáculo, uma


condição. É iniciada por uma conjunção subordinativa condicional ou por uma
locução.
Principais conjunções e locuções: se, a menos que, desde que, caso, contanto
que …

Exemplo:
Contando, que te esforces, tu terás um futuro brilhante.

 Oração subordinada adverbial comparativa – funciona como um adjunto


adverbial de comparação.
Principais conjunções e locuções: (mais) … que, (menos) … que; (tão) …,
quanto; como.

Exemplo:
António era mais esforçado que o irmão.

 Oração subordinada adverbial concessiva – funciona como um adjunto da


concessão.
Principais conjunções e locuções: embora, não obstante, apesar de que, se
bem que, mesmo que, ainda que ….

Exemplo:
Todos se retiraram, apesar de não terem terminado o teste.
 Oração subordinada adverbial consecutiva – funciona como um adjunto da
adverbial da consequência. É iniciada pela conjunção subordinativa
consecutiva que.
Principais conjunções: (tão) … que, (tanto) … que, (tamanho) … que.
Exemplo:
Ele fala tão alto, que não precisa de microfone.

 Oração subordinada adverbial temporal – funciona como adjunto adverbial


de tempo.
Principais conjunções e locuções: quando, enquanto, sempre que, assim que,
desde que, logo que, mal.

Exemplo:
Fico triste, sempre que vou a casa do João.

 Oração subordinada adverbial final – funciona como adjunto adverbial de


finalidade.
Principais conjunções e locuções: a fim de que, para que, porque.

Exemplo:
Ele não precisa de microfone, para que todos o ouçam.

3. Oração subordinante

(explicar sem qualquer tipo de apontamento)

4. Divisão e classificação de orações

(explicar sem qualquer tipo de apontamento)


1. O português: génese, variação e mudança

 Etapas da formação e da evolução do português

a) Do latim ao galego-português

A expansão dos romanos pela Europa foi também linguística. A língua latina foi,
gradualmente, substituindo as línguas locais de forma a facilitar a comunicação. Mas, no
português, restam ainda vestígios de algumas dessas línguas locais e das línguas de outros
povos invasores.

• Latim vulgar: latim falado pelos soldados e pelos comerciantes romanos que foi
sendo adotado nas várias regiões conquistadas (por oposição ao latim literário).

• Romanização: processo de aculturação dos povos peninsulares durante a conquista


romana.

• Substrato: língua indígena que desaparece devido ao contacto com uma língua
invasora, mas da qual permanecem vestígios linguísticos. Ex.: substratos celtas, iberos, gregos,
fenícios, bascos

• Superstrato: língua de invasores que desaparece devido ao contacto com uma língua
indígena, mas da qual permanecem vestígios linguísticos. Ex.: superstratos germânicos, árabes
• Línguas românicas: família de línguas provenientes do latim (português, galego, castelhano,
catalão, provençal, francês, italiano, corso, romeno, sardo, rético).

b) Do português antigo ao português contemporâneo

Desde o português falado no século XII até ao que hoje falamos, a língua passou por
várias fases:

• português antigo: português falado entre o século XII e o século XV (português


arcaico ou galaico-português). Ex.: português usado na poesia trovadoresca e nas crónicas de
Fernão Lopes

• português clássico: português europeu falado entre os séculos XVI e XVIII. Ex.:
português usado n’Os Lusíadas, de Luís de Camões

• português contemporâneo: português europeu falado a partir do século XIX. Ex.:


português usado atualmente.
2. Fonética e fonologia

 Processos fonológicos de inserção, supressão e alteração de segmentos

Na mudança do português clássico para o português moderno ocorreram diversos


processos fonológicos. Vejamos as modificações que se verificaram nas palavras seguintes:

Português Clássico Português Moderno Descrição da mudança Processo fonológico


i ai Acrescenta-se um a no Prótese
início da palavra
dolores dores Suprime-se o l no Síncope
meio da palavra
Pera para O som representado Assimilação
pela vogal e altera-se
para a por semelhança
com outro que lhe
está próximo.

Para além dos processos fonológicos de inserção, supressão e alteração de segmentos


acima ilustrados, podemos ainda encontrar, na evolução do português, outros processos
fonológicos do mesmo tipo, que tomam nomes diferentes consoante o tipo de fenómeno e a
sua localização na palavra. Estes processos ocorrem não só ao longo da evolução histórica da
língua, mas também nas variedades regionais, sociais e situacionais da língua atual.
3. Etimologia

a) Étimo

O étimo de uma dada palavra é a sua ascendente na língua de origem (em geral, o
latim, no caso do português). Por exemplo, LIBRUM é o vocábulo do latim que está na origem
(é o étimo) de «livro». Por seu lado, a etimologia é o estudo da origem e da evolução das
palavras. Devido ao facto de várias línguas terem contribuído para o léxico do português, além
de palavras com étimo latino, encontramos na nossa língua palavras cujos étimos são
vocábulos:

• germânicos (werra > guerra; lôfa > luva);

• árabes (al-khass > alface; xarab > xarope);

• castelhanos (guerrilla > guerrilha; moreno > moreno);

• italianos (sbozzo > esboço; piano > piano);

• franceses (blouse > blusa; bidet > bidé);

• ingleses (football > futebol; sandwich > sanduíche);

• etc.

Há étimos que podem originar diretamente uma nova palavra numa outra língua,
como sucede com al-gazâra (árabe) > algazarra. Por outro lado, uma palavra pode entrar
indiretamente numa nova língua: a transmissão é indireta quando se opera através de uma
língua intermediária: um termo grego pode ter chegado ao português por via do latim: kúklos
(gr.) > CYCLU(s) (lat.) > ciclo.

Quanto ao significado, existem palavras que mantêm na língua de chegada um sentido


idêntico ou muito próximo do seu étimo: LEONE- > leão (mesmo significado). Por outro lado, o
sentido de certas palavras pode alterar-se na passagem de uma língua para a outra: o vocábulo
PARVULUS, que significava «pequeno» ou «insignificante» em latim, passa a ser sinónimo de
«tonto», «idiota», em português.

b) Palavras divergentes e convergentes

As palavras convergentes são aquelas que, partindo de étimos diferentes, a certa


altura da sua evolução assumem formas coincidentes.

Exemplo:

VADUNT > vão (forma verbal) QUOMODO > como (adv.)

VANU- > vão (adj.) COMEDO > como (forma verbal)

Por seu lado, as palavras divergentes são aquelas que, apesar de diferenciadas, têm na
origem um mesmo étimo, sujeito a diferentes percursos e evoluções.
Exemplo: olho

chão OCULU

PLANU óculo

plano

Como se depreende dos exemplos anteriores, a diferença pode decorrer do facto de


uma das palavras ter um percurso verdadeiramente popular (chão, olho) e de a outra se ter
implantado pelo uso culto (erudito: plano, óculo).

4. Geografia do português no mundo

Como consequência direta da Expansão marítima dos séculos XV e XVI, a língua


portuguesa é difundida por três novos continentes: América, África e Ásia. A presença e, em
alguns casos, o domínio dos portugueses em regiões destes continentes foram o fator
responsável por a língua portuguesa ter sido adotada como o idioma oficial. O português
falado em cada um dos territórios do antigo império adquiriu naturalmente traços próprios.

AS VARIEDADES DO PORTUGUÊS

Apesar de a língua portuguesa ocupar outros espaços geográficos e sociais, podemos


considerar a seguinte tríade de variantes do português: a variedade europeia, a variedade
brasileira e as variedades africanas. Apesar de se tratar da mesma língua, cada uma tem traços
que a diferenciam das demais.

a. Variedade europeia

A variedade europeia é falada em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da


Madeira. Os dois grandes conjuntos de dialetos existentes no território português continental
são:

• os dialetos setentrionais (do Norte), que são falados sensivelmente nas regiões de Trás-
os-Montes, Minho, Douro e Beira Alta e têm como uma das características reconhecíveis não
fazer a distinção entre /b/ e /v/;

• os dialetos centro-meridionais, ou seja, os das regiões da Estremadura, Beira Baixa,


Ribatejo, Alentejo e Algarve; entre outros aspetos, caracterizam-se pela simplificação do
ditongo ‹ei› em [e]. Embora tenham características muito próprias, os dialetos dos Açores e da
Madeira aproximam-se mais dos dialetos centro- -meridionais do que dos setentrionais..
b. Variedade brasileira

No Brasil, o português, levado pelos colonizadores a partir do século XVI, entra em


contacto com línguas indígenas e africanas (faladas pelos escravos chegados de África) e
adquire características próprias. Foneticamente, o português do Brasil caracteriza-se por
traços como:

• o não fechamento das vogais em posição átona: «maré» e «comer» pronunciam- -se com
[a] e [o]/[ɔ];

• a realização como [w] (semivogal) de ‹l› em fim de sílaba ou de palavra: «Brasiu», por
«Brasil», ou «pauco», por «palco»;

• a palatalização das consoantes correspondentes a ‹t› e ‹d› quando estão antes de ‹i›,
tónico ou átono, ou de ‹e› pós-tónico final: as palavras «mentia», «pedia» e «pote»
pronunciam-se «mentchia», «pedjia» e «potchi»; Noutros domínios linguísticos encontramos
fenómenos como: • a prevalência da forma de tratamento «você»;

• a tendência para colocar os pronomes pessoais com função de complemento antes do


verbo (próclise): Eu te vi.; Ele a convidou.;

• a abundância de palavras provindas de língua indígenas, como o tupi-guarani (sucuri,


arapuca, pitanga), e africanas (moleque, senzala, vatapá).

c. Variedades africanas

As variedades africanas são faladas nos países africanos que foram até 1975 colónias de
Portugal e que, posteriormente, adotaram o português como a sua língua oficial: Angola,
Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Temos, no entanto, de ter em
conta que estas são variedades em formação.

Em Angola e Moçambique, a língua portuguesa é falada, respetivamente, por cerca de


60 % e 50 % da população1 . O português é usado por estes falantes como língua veicular,
sendo a língua adotada no ensino e na televisão. No entanto, a maioria dos habitantes tem
línguas africanas como idioma materno: por exemplo, o quimbundo, o umbundo e o quicongo,
em Angola; o ronga e o macua, em Moçambique. A influência que as línguas africanas exercem
sobre o português, aprendido sobretudo como L22 , explica traços específicos que este adquire
em ambos os territórios, sendo uma característica natural o enriquecimento do léxico com
termos autóctones. Foneticamente, há, em Angola, uma tendência para que falantes com
determinadas línguas maternas ensurdeçam o ‹s› entre vogais (pronunciando «messa» e
«pesso» por «mesa» e «peso»); em Moçambique, o ensurdecimento das oclusivas («tico» e
«polo» por «digo» e «bolo») acontece na pronúncia de falantes que têm o macua como língua
materna. Realce-se ainda a tendência para fixar a estrutura consoante-vogal (vejam-se as
epênteses em «ritimo» e «pineu» por «ritmo» e «pneu»). Há também marcas sintáticas que
distinguem esta variedade do português europeu, como um uso diferente das preposições
(Eles chegaram na sala.) Estas duas últimas características são, aliás, comuns à variedade
brasileira.
Na Guiné-Bissau, onde o território é partilhado por várias línguas, o português é
utilizado por apenas cerca de 10 % da população, ainda que seja língua oficial e de ensino. Já
em Cabo Verde, o português é falado por cerca de 80 % da população, mas a língua materna é
o crioulo cabo-verdiano. Situação algo semelhante é a que encontramos em São Tomé e
Príncipe, onde o português, que é falado por cerca de 95 % dos santomenses, coexiste com os
crioulos locais.
3. Lexicologia

 Arcaísmos e neologismos

ARCAÍSMOS

Os arcaísmos são palavras ou expressões que deixaram de ser usadas numa dada fase da
evolução de uma língua. É a comunidade linguística a entidade responsável por considerar
esses termos antiquados. As palavras «asinha» (depressa), «coita» (sofrimento), «ca»
(porque), «aguçoso» (diligente), «fiacre» (tipo de carruagem) são hoje sentidas como
arcaísmos porque deixaram de ser usadas pelos falantes. Mas os arcaísmos não são apenas
formas lexicais. Além de palavras, há construções sintáticas que deixaram de ser usadas numa
dada época e que já estão obsoletas (ultrapassadas). Dois exemplos de arcaísmos sintáticos
são «Nenhum não veio.» e «Este é o melhor prato que nunca comi.» (mas a expressão «que
jamais comi» ainda é hoje usada). Nas duas primeiras estrofes do soneto «Língua Mater
Dolorosa», de Natália Correia, encontramos arcaísmos que a poetisa usa deliberadamente:
leda (v. 2), joalhada (coberta de joias) (v. 4), sôbolos (v. 6):

Tu que foste do Lácio a flor do pinho


dos trovadores a leda a bem-talhada
de oito séculos a cal o pão e o vinho
de Luís Vaz a chama joalhada

tu o casulo o vaso o ventre o ninho


e que sôbolos rios pendurada
foste a harpa lunar do peregrino
tu que depois de ti não há mais nada,

eis-te bobo da corja coribântica:


a canalha apedreja-te a semântica
e os teus verbos feridos vão de maca.

Já na glote és cascalho és malho és míngua,


de brisa barco e bronze foste a língua;
língua serás ainda... mas de vaca.

NEOLOGISMOS

Os neologismos consistem na criação de novas palavras ou expressões numa língua ou na


atribuição de novos significados a vocábulos já existentes. Um exemplo do primeiro caso é o
termo «eurodeputado»; do segundo, «rato» (dispositivo informático). Assim, são exemplos de
neologismos atuais da língua portuguesa: blogue, ciberespaço, hemodiálise, software,
infoexcluído, pluriemprego. Como pode verificar, os neologismos são frequentemente gerados
por processos de formação de novas palavras, nomeadamente os «irregulares», como o
empréstimo de línguas estrangeiras (blogue, software), a amálgama (borbotixa: borboleta +
lagartixa; portunhol: português + espanhol), a truncação (metro por metropolitano, foto por
fotografia), a extensão semântica (rato do computador), o acrónimo [OTAN: Organização do
Tratado do Atlântico Norte (ou NATO: North Atlantic Treaty Organisation); PALOP: Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa; FENPROF: Federação Nacional de Professores] e
mesmo a sigla (CGTP: Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses; SLB: Sport Lisboa e
Benfica).

 Campo lexical e campo semântico

Campo lexical é o conjunto de palavras ou expressões que se referem ao mesmo domínio


da realidade.
          Por exemplo, se quisermos construir o campo lexical de vestuário, poderemos usar
palavras como calças, camisola, meias, camisa, chapéu, sapatos, saia, vestido, etc.

Outros exemplos:

 campo lexical de futebol: estádio, jogador, bola, equipa, árbitro, golo...;


 campo lexical de escola: biblioteca, quadro, livros, cadernos, disciplina...
 campo lexical de pintura: quadro, pincel, tinta, cavalete, tela, exposição…
 campo lexical de floresta: pinheiros, faia, carvalhos, urso, caverna, pântanos,
lobo, javali, veado...
 campo lexical de mar: barco, areia, onda, marinheiro...

Já campo semântico designa o conjunto de todos os significados que uma palavra


assume num determinado contexto.
Por exemplo, «as palavras navegar, marear, velejar, sulcar, vogar, singrar, num
determinado contexto podem ter um mesmo significado: NAVEGAR. Este campo semântico
consiste, então, no conjunto de palavras que têm entre si o valor semântico comum de
NAVEGAR. Todas estas palavras e expressões designam de forma diferente um mesmo
conceito.

 Processos irregulares de formação de palavras: extensão semântica. Empréstimo,


amálgama, sigla, acrónimo e truncação.

Extensão Semântica – processo através do qual uma palavra existente adquire um novo
significado.

 Exemplo: as palavras “portal”, “salvar” , “janela” adquiriram significados


novos, no uso da informática, por extensão semântica.

Empréstimo – processo que consiste no uso de uma palavra de outra língua.

 Exemplo: patchwork (palavra importada da língua inglesa)

Os empréstimos podem sofrer adaptações ortográficas, morfológicas e semânticas, como por


exemplo a palavra dossier – dossiê.

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