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O que é Grupo Focal

Harley Pacheco de Sousa

Universidade Anhembi Morumbi

Brasil
 
 
Grupo Focal
Definição / Histórico

O grupo focal é uma técnica de avaliação que oferece informações qualitativas.

Um moderador guia grupos, de aproximadamente 10 pessoas, numa discussão


que tem por objetivo revelar experiências, sentimentos, percepções,
preferências.

Os grupos são formados com participantes que têm características em comum


e são incentivados pelo moderador a conversarem entre si, trocando
experiências e interagindo sobre suas idéias, sentimentos, valores,
dificuldades, etc.

O papel do moderador é promover a participação de todos, evitar a dispersão


dos objetivos da discussão e a monopolização de alguns participantes sobre
outros.

O assunto é identificado num roteiro de discussão e são selecionadas técnicas


de investigação para a coleta das informações.

JENNY KITZINGER
 Os grupos focais constituem um tipo de entrevista em grupo que valoriza a
comunicação entre os participantes da pesquisa a fim de gerar dados. Os
grupos focais verdadeiros são explicitamente projetados para valorizar a
interação grupal para fornecer tipos distintos de dados. Em vez de o
pesquisador pedir a cada pessoa para responder a um a pergunta por vez, às
pessoas são estimuladas a falar umas com as outras, a perguntar, a trocar
histórias e a comentar sobre as experiências e os pontos de vista umas das
outras.

Os GF foram originalmente empregados em estudos de comunicação para


explorar os efeitos dos filmes e dos programas de televisão. Constituem um
método popular para avaliar mensagens de educação em saúde e examinar a
compreensão do público sobre doenças e sobre comportamentos de saúde,
além de explorar as atitudes e a necessidade de pessoal. Os grupos focais têm
sido utilizados para examinar a atitude das pessoas em relação a muitas
coisas.

A idéia do método do grupo focal é que os processos grupais podem ajudar as


pessoas a explorar e clarear sua visão de modos que seriam menos facilmente
acessíveis em uma entrevista frente a frente.

A discussão em grupo é particularmente adequada quando o entrevistador


possui uma série de perguntas abertas e deseja estimular os participantes da
pesquisa a explorar os aspectos importantes para eles, com seu próprio
vocabulário, gerando suas próprias perguntas e estabelecendo suas próprias
prioridades.

O trabalho em grupo auxilia os pesquisadores a perceber as muitas formas


diferentes de comunicação que as pessoas usam na interação do dia-a-dia,
incluindo piadas, histórias provocações e discussões. As formas cotidianas de
comunicação podem mostrar tanto sobre o que as pessoas sabem ou
experimentam ou até mais.

Os grupos focais revelam dimensões da compreensão que comumente


permanecem despercebidas por outras formas de coleta de dados.

Alguns pesquisadores também observaram que as discussões em grupo


podem gerar comentários mais críticos do que as entrevistas.

 
Modus Operante
Estabelecer o rapport – o moderador esboça o propósito e o formato da reunião
para que os participantes saibam o que esperar das discussões e ficarem à
vontade. Deve ser dito que a entrevista ou discussão é informal e que espera-
se a participação de todos com o máximo de espontaneidade possível. 

Construir cuidadosamente um roteiro de perguntas. As perguntas abertas


promovem debates mais livres, com detalhes que resultam em descobertas
inesperadas. 

Utilizar técnicas investigativas - observação, entrevistas, questionários e


dinâmicas lúdicas para incentivar e organizar o debate. 

Registrar a discussão – este é o papel do relator. As anotações devem ser


bastante completas no que se refere ao conteúdo e comportamento dos
participantes. 

Após cada reunião a equipe deve elaborar relatórios com o resumo das
informações, e impressões obtidas no GF e suas implicações para o estudo. 

Para análise dos dados, deve-se levar em consideração: palavras utilizadas


repetidamente, o contexto no qual a informação foi obtida, concordâncias entre
as opiniões dos participantes, alteração de opiniões ocasionadas pela pressão
dos grupos, respostas dadas em função de experiências pessoais de maior
relevância do que impressões vagas, idéias principais, comportamentos,
gestos, reações, sentimentos, valores de ordem pedagógica, ideológica e ética,
preconceitos, dificuldades de compreensão das perguntas feitas, entusiasmos,
dificuldades no enfrentamento de desafios, aproveitamento dos espaços de
liberdade, etc. Elaborar um quadro geral das idéias preponderantes. 
 

Aplicações
O trabalho grupal pode facilitar a coleta de informações de pessoas que não
podem ler ou escrever. Assim como estimular a participação daqueles que se
sentem intimidados pela formalidade de uma entrevista individual. Pode ainda
estimular contribuições de pessoas que acreditam que não têm nada a dizer. O
formato flexível permite que o moderador explore perguntas não previstas,
além do ambiente minimizar opiniões falsas ou extremadas, proporcionando o
equilíbrio e a fidedignidade dos dados.
Outras grandes vantagens deste tipo de método é que ele possui um baixo
custo e apresenta resultados rápidos.
 
 
Limitações
Como todo método de análise, existem alguns riscos que se correm ao optar
por este tipo de estudo. Um deles é que o resultado pode ficar suscetível ao
viés do ponto de vista do moderador, que pode acabar por influenciar o grupo.
Outro risco é que as discussões sejam desviadas ou dominadas por um
participante, que se manifeste excessivamente a ponto de intimidar os outros
integrantes do grupo. E ainda existe a possibilidades de as informações
apresentarem dificuldades para análise e generalizações.
 
Artigo  
“Quando um não quer, dois não brigam”: Um estudo sobre o não uso constante
de preservativo masculino por adolescentes do Município do Rio de Janeiro,
Brasil.
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar, numa perspectiva de gênero, aspectos
envolvidos no não uso constante do preservativo masculino por adolescentes
do Município do Rio de Janeiro, Brasil. Foram realizados quatro grupos focais,
dois em escola privada, dois em escola pública num total de  34 estudantes
adolescentes entre 16 e 18 anos, da rede de ensino público e privado. A
análise do material discursivo fundamentou-se num enfoque crítico-
interpretativo a partir da pergunta: “Todos/as sabem que a única forma de se
prevenir contra a AIDS e outras DST é usar a camisinha. Todos/as vocês já
tiveram relações sexuais e às vezes usaram a camisinha ou nunca usaram. Por
que não usam sempre?”. Assim procurou-se favorecer a interação e a
explicitação das percepções, idéias, expectativas e sentimentos a partir das
vivências. E dentre os temas identificados na discussão foi abordado “as
relações de gênero”, estruturando a exposição em torno de três dimensões: a
confiança, a submissão e a iniciativa, que emergiram como eixos centrais. Os
achados deste estudo ressaltaram que a desigualdade de poder entre os
gêneros não se evidencia na fala dos adolescentes, ganhando, ao contrário,
uma aparência de eqüidade na negociação e na falta de iniciativa para o uso
do preservativo. E são sutis as diferenças encontradas entre as escolas
públicas e privadas.
  
 
Bibliografia
http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n8/15.pdf 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2003000500024&lang=pt 
Cad. Saúde Pública vol.19 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2003
Pesquisa Qualitativa na Atenção à Saúde - Catherine Pope e Nicholas Mays -
pgs. 33 a 41
Delineando a Pesquisa Clínica - Hulley, Cummings, Browner e Grady - pgs,
113 a 125

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