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FormulaçãoPALESTRA

de inseticidas e raticidas. 93

FORMULAÇÕES DE INSETICIDAS E RATICIDAS

Rita de Cássia Boccuzzi Prisco

Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Proteção Ambiental, Av. Cons. Rodrigues Alves,
1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: rprisco@biologico.sp.gov.br

Agrotóxicos, defensivos agrícolas, pesticidas, como também, de estabelecer as restrições de recomen-


praguicidas, veneno etc., estas são algumas das dações de uso que se fazem necessárias para uma
inúmeras denominações relacionadas a um grupo maior segurança na utilização dos agrotóxicos (DUBOIS
de substâncias químicas utilizadas no controle de et al., 1999).
pragas. No Brasil vários pesticidas organofosforados são
São utilizadas nas florestas nativas e plantadas, largamente utilizados no combate a endemias, como
nos ambientes hídricos, urbanos e industriais e, em no controle da dengue, febre amarela e doença de cha-
larga escala, na agricultura, pastagens, pecuária e gas (site www. ambientebrasil.com.br).
também nas campanhas sanitárias para o combate a Em todo o mundo existem mais de dez mil formu-
vetores de doenças (MACEDO, 2002). lações comerciais, correspondendo à cerca de quatro-
Os agrotóxicos começaram a ser usados em esca- centos e cinqüenta diferentes compostos pesticidas
la mundial após a Segunda Guerra. Vários serviram (MACEDO, 2002b).
de arma química nas guerras da Coréia e do Vietnã, Agrotóxicos e afins são produtos e agentes de pro-
como o Agente Laranja, desfolhante que dizimou cessos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao
milhares de soldados e civis (site www. uso nos setores de produção, no armazenamento e
ambientebrasil. com.br). beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,
Os primeiros inseticidas sintéticos foram introdu- na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de
zidos nos anos 40, porém, só depois de várias déca- outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos
das de uso intenso (MACEDO, 2002a). As indústrias e industriais, cuja finalidade seja alterar a composi-
começaram a se expandir na década de 50, onde fo- ção da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da
ram criadas unidades de formulações em vários paí- ação danosa de seres vivos considerados nocivos,
ses, principalmente nos Estados Unidos e Europa bem como as substâncias de produtos empregados
Ocidental. Os países em desenvolvimento começaram, como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
na década de 60, a receber tecnologia para a criação inibidores de crescimento (ANDREI, 2005; ANVISA,
de unidades de formulações que atendessem as ne- 2005).
cessidades específicas de cada macro região. Entende-se por agrotóxicos e afins, de uso
Os inseticidas foram os primeiros produtos intro- domissanitário, àqueles com finalidade de uso nos
duzidos, em seguida surgiram os fungicidas e final- domicílios, peridomicílios, edifícios públicos e coleti-
mente os herbicidas e as formulações eram simples- vos e em áreas urbanas.
mente líquidas concentradas ou sólidas em forma de Ingrediente ativo é o agente químico, físico ou
pó seco. Na década de 70 foram introduzidas as sus- biológico que confere eficácia aos agrotóxicos e
pensões concentradas e, no final da mesma década, afins.
os piretróides entraram no mercado, pois até então os Produto Técnico são substâncias obtidas direta-
ativos mais conhecidos eram os clorados, fosforados mente das matérias-primas por um processo de ma-
e carbamatos. nufatura (químico, físico ou biológico) cuja composi-
Nos anos 90, para cada 10.000 moléculas estuda- ção contem porcentagens definidas de ingrediente
das, apenas uma chegava ao produto final levando- ativo, impurezas e eventualmente aditivos em peque-
se em consideração as características toxicológicas, nas quantidades.
tecnologia de aplicação, eficiência biológica, custo de Inertes são substâncias ou impurezas de fabrica-
produção, exigências locais. ção que devem ser não ativas, resultantes dos proces-
Atualmente, as empresas fabricantes consideram sos de obtenção dos produtos técnicos e também aque-
também os aspectos da segurança e saúde dos las usadas apenas como veículos ou diluentes ou
aplicadores e do meio ambiente, para atenderem as ne- adjuvantes nas formulações.
cessidades das normas internacionais de qualidade. Tecnologia de aplicação é o emprego de todos os
Os órgãos governamentais envolvidos no proces- conhecimentos científicos que proporcionem a corre-
so de registro de um agrotóxico têm a incumbência de ta colocação do produto biologicamente ativo no alvo,
estudar e avaliar as características agronômicas, em quantidade necessária, de forma econômica, com
toxicológicas e ecotoxicológicas de cada produto, o mínimo de contaminação em outras áreas (MATUO,

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1991). Qualquer quantidade de produto químico são apropriados para a aplicação na forma pura, por-
que não atinja o alvo não terá qualquer eficácia e que sua forma física não permite uma distribuição
estará representando uma forma de perda (GARRIDO uniforme e também porque solventes, emulsificantes
2003). ou adjuvantes e similares (usados nas formulações)
Saneantes são substâncias ou preparações desti- facilitam a penetração do produto químico ativo no
nadas à higienização, desinfecção ou desinfestação alvo a ser atingido. Esses produtos químicos devem
domiciliar, em ambientes coletivos e/ou públicos, em ser transformados convenientemente em produtos
lugares de uso comum e no tratamento de água, com- formulados.
preendendo (ANVISA): detergentes e seus congêneres, Formulação diz respeito ao método pelo qual o
alvejantes, desinfetantes, desodorizantes, esterilizan- ingrediente ativo de um produto é apresentado pela
tes, algicidas e fungicidas para piscinas, desinfetante forma mais efetiva, em relação a aplicação (ZAMBOLIM ;
de água para o consumo humano, água sanitária, pro- CHAVES, 1990).
dutos biológicos, jardinagem amadora e repelentes. Formulações mais comuns utilizadas:
Inseticidas são produtos desinfestantes destina- 1. Concentrado emulsionável: formulação líquida
dos à aplicação em domicílio e suas áreas comuns, no e homogênea para aplicação como dispersão, após a
interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos diluição em água (NBR 12679).
e ambientes afins para controle de insetos e outros Também pode ser conceituada como uma solu-
animais incômodos e nocivos à saúde. ção de um ou mais ingrediente ativo, emulsi-
Raticidas são produtos desinfestantes destinados ficantes, em solventes orgânicos (solvente pode ser
à aplicação em domicílio e suas áreas comuns, no derivado do petróleo), um estabilizador ou
interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos antiespumante emulsionáveis em água. Portanto,
e ambientes afins para controle de roedores. um concentrado emulsionável é uma solução que
Classificação de produtos saneantes: forma uma emulsão quando misturada com água
• Quanto à aplicação/manipulação: de uso profis- (exemplo água e leite).
sional e não profissional. Esta formulação deve manter por determinado tem-
• Quanto à destinação: domiciliar, institucional, in- po uma emulsão estável, para garantir uma aplica-
dustrial e assistência à saúde. ção uniforme do ingrediente ativo, obtendo-se assim,
• Quanto à finalidade de emprego: limpeza, a máxima eficiência do produto para o fim a que foi
antimicrobiano, jardinagem amadora e desinfestação. designado.
Desinfestação: para matar ou repelir animais O teste de espuma avalia que quando a mesma
sinantrópicos que se encontram no ambiente, objetos estiver em excesso poderá comprometer a eficiência
e superfícies inanimadas, através de processos físi- da aplicação, e a homogeneidade na pulverização em
cos ou químicos. função da incompleta ocupação do volume total da
calda, dentro do tanque. O trasbordamento da espu-
Formulações: ma pode causar ainda, riscos toxicológicos,
ambientais e de manuseio.
A qualidade da aplicação depende: Os ensaios realizados para o controle de qualida-
• Escolha do produto de são a estabilidade da emulsão NBR 13452 e espu-
• Preparo da calda ma NBR 13451.
• Tecnologia de Aplicação 2. Suspensão concentrada: é uma formulação cons-
tituída de uma suspensão estável de ingrediente(s)
Preferências na aquisição: ativo(s) em veículo líquido que pode conter ingredi-
• Qualidade toxicológica ente ativo dissolvidos para aplicação após diluição
Saúde do aplicador e do em água (NBR 12679).
consumidor Os ensaios realizados para o controle de qualida-
• Qualidade ecotoxicoló- de são a granulometria via úmida NBR 13237, espu-
gica. Proteção ambiental ma e suspensibilidade NBR 13313.
• Qualidade química Dosa- 3. Pó seco: formulação sólida e uniforme, sob a
gem para eficia agronô- forma de pó, possuindo boa mobilidade, para aplica-
mica ção direta através de polvilhamento (NBR 12679). São
• Qualidade físico-química partículas sólidas finamente moídas, de um material
Segurança e eficácia na adsorvente (mineral de argila são impregnados com
aplicação o ingrediente ativo). Essas partículas sofrem diluição
com partículas de material inerte (talco) para aumen-
Qualidade Físico - Química da Formulação tar o volume e possibilitar a distribuição através de
Os produtos químicos biologicamente ativos não polvilhamento.

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A granulometria é a forma de determinarmos o molhamento e propiciam a formação de dispersão o


tamanho de partículas e sua distribuição, podendo mais estável possível.
ser divididos em micro e macro partículas. A molhabilidade determina a facilidade com que
No caso de pó seco o teste irá analisar macro par- o produto mistura-se com a água.
tículas, usando-se uma peneira de abertura específi- A suspensibilidade avalia a quantidade de partí-
ca, para predizer a eficácia do produto no campo. culas sólidas suspensas, quando misturadas com
A mobilidade determina se o produto escoa por água.
um funil padronizado tendo por objetivo verificar a Os ensaios realizados para o controle de qualida-
qualidade do polvilhamento. de são suspensibilidade, espuma, granulometria via
Os ensaios realizados para o controle de qualida- úmida e molhabilidade NBR 13242.
de são mobilidade NBR 13229 e granulometria via 5. Isca granulada: formulação sólida uniforme,
seca NBR 13828. para aplicação direta destinada a atrair o alvo deseja-
4. Pó molhável: formulação sólida na forma de pó, do ou a ser ingerida por ele (NBR 12679).
para aplicação sob a forma de suspensão após a dis- O ensaio realizado para o controle de qualidade é
persão em água (NBR 12679). As partículas sólidas teor de pó NBR 13828.
são moídas suficientemente para serem diluídas em 6. Suspensão de microencapsulado: formulação
água. Na sua composição encontramos o veículo só- constituída por suspensão estável de cápsulas, con-
lido (mineral de argila) que adsorve o ingrediente ati- tendo o(s) ingrediente(s) ativo(s), num líquido, para
vo na sua superfície, adicionada de adjuvantes (agen- aplicação após diluição em água. Os ensaios realiza-
tes molhantes, dispersantes, antiespumantes, dos para o controle de qualidade são espuma,
estabilizantes etc.) que contribuem no rápido suspensibilidade e granulometria úmida.

Fluxogramas de produção de agrotóxicos

Fonte: MARESCA, 1990.


Fig. 1 - Para suspensões concentradas.

Fonte: MARESCA, 1990.


Fig. 2 - Para pós secos concentrados e diluídos

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Fonte: MARESCA, 1990.


Fig. 3 - Para pós molháveis.

Fonte: MARESCA, 1990.


Fig. 4 - Para formulações líquidas com exceção de suspensões concentradas e microencapsulados.

REFERÊNCIAS MACEDO, J.A.B. Introdução a química Ambiental. Belo


Horizonte: CRQ-MG, 2002
ANDREI, E. (Coord.). Compêndio de defensivos agrícolas.
7.ed. São Paulo: Andrei, 2005. MARESCA, F. Formulação de agrotóxicos. In: SEMINÁRIO
BRASILEIRO DE AGROTÓXICOS, 1., 1990, Curitiba.
AGÊNCIA NACIONAL DEVIGILÃNCIA SANITÁRIA. Anais. Curitiba, 1990.
Brasil. Saneamentos: conceitos técnicos. 2003. Disponí-
vel em: <http://www.anvisa.gov.br/saneantes/ MATUO, T. Defensivos agrícolas - tecnologia de
conceito.htm>. Acesso em: 2005. aplicação e equipamento. Brasília: ABEAS, 1991. 113p.
(ABEAS. Curso de defensivos agrícolas. Módulo: 3.1,
DUBOIS, G.S.J.; CARVAL, F.R.O; BARBOSA. A.C.; 3.2).
CARMO, D.A; JANNUZZI, H.; JUNGLES, M.L.; SANTOS,
E.R.; SOUZA, L.V. Avaliação, controle e monitoramento ZAMBOLIM, L.; CHAVES, G.M. Curso de defensivos
ambiental de agrotóxicos realizados pelo Ibama. Biológi- agrícolas. Porto Alegre: ABEAS, 1990.
co, São Paulo, v.62, n.2, p.163-166, 1999.

GARRIDO, L.R. Tecnologia de aplicação de agrotóxicos. Recebido em:


janeiro de 2003. Brasília: EMBRAPA. Aceito em

Biológico, São Paulo, v.71, n. 1, p.93-96, jan./jun., 2009

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