Você está na página 1de 11

Ensaios Pressiométricos em Ardósia Alterada para o

Estudo do Prolongamento do Metrô em Brasília-DF

Título em espanhol

Pressuremeter Tests in a Weathered Slate for the Study of the


Underground Extension in Brasília-DF

R.P. Cunha, Ph.D.


Professor Adjunto, Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Brasília, DF
A.F. Costa, Engenheiro Civil
Coordenadoria Especial do Metrô-DF, Brasília, DF
E.L. Pastore, Ph.D.
Professor Adjunto, Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Brasília, DF

Resumo. Este trabalho apresenta os resultados das investigações geotécnicas, ou ensaios de campo avançados,
definidos para o estudo da ampliação futura da linha do Metrô de Brasília, no Distrito Federal. Este prolongamento, a
ser composto de uma linha no sentido “Leste-Oeste”, interceptará a linha já existente ao nível do subsolo da Estação
Central do Plano Piloto de Brasília. Desta forma, foram realizados neste local uma bateria de ensaios do tipo pressiômetro
de Ménard em ardósia alterada, material típico da região, geologicamente pertencente ao Grupo Paranoá (Proterozóico
Médio). Estão aqui descritos os ensaios realizados, as dificuldades encontradas, e a metodologia de execução adotada,
além das curvas pressiométricas obtidas e avaliadas à luz de metodologias convencionais de interpretação deste tipo de
ensaio de campo.

Resumen.

Abstract. This paper presents the results of the field investigations, or advanced in situ tests, specified for the study
of the future extension of the underground in Brasília, Federal District. This extension, to be composed of a “east-west”
line, will intercept the existing line at the level of the underground main station located in the “pilot plan” of Brasília.
Hence, an extensive in situ testing program using the Menárd pressuremeter was designed for this area. The field tests
were carried out in weathered slate, typical material of the region, with geologically belongs to the Paranoá Group
(Medium Paleozoic) . The paper describes the field tests, the difficulties and the execution methodology, besides of the

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx
Cunha et al.

pressuremeter testing curves. These curves were interpreted on the basis of the conventional methodologies specifically
developed for this in situ testing tool.

1. Introdução metro. Estes ensaios foram realizados ao longo de


toda estação, principalmente ao longo do túnel atual
A necessidade de um transporte rápido e de e nas passagens de rocha mais alteradas. Estes
massa gerou a idealização e construção do metrô de ensaios serviram de base inicial à localização dos
Brasília, que interliga o centro do plano piloto, subsequentes ensaios pressiométricos de Menárd
através de sua estação central, às cidades satélites (PM 01 e 02), conforme se pode observar em planta
do Guará, Águas Claras, Taguatinga, Samambaia e e perfil na Fig. 1.
Ceilândia, com extensão total de cerca de 43 km.
O Metrô-DF teve, portanto, a iniciativa de an-
Esta obra, de elevado valor financeiro e de imen-
tecipar as investigações para a futura linha em
surável importância no campo social, gerou local-
função das condições atuais muito favoráveis para
mente empregos e mobilizou a comunidade
a sua realização, e pela adequação dos parâmetros
técnico-científica e empresarial da região para o
obtidos com estes ensaios, que sem dúvida serão de
equacionamento e solução dos distintos desafios
grande valia para o estudo do novo túnel no sentido
oriundos desta empreitada.
leste-oeste.
Este fato, portanto, justifica o contínuo enga-
jamento da Universidade de Brasilia em aspectos 2. Metodologia de Ensaio
científicos e de pesquisa relacionados com o Metrô
de Brasília, cuja benéfica associação gerou inúme- O ensaio pressiométrico foi realizado com o
ros trabalhos científicos e dissertações de mestrado pré-furo do solo utilizando-se de sonda rotativa
(Cardoso, 1995, Araki, 1997, Ortigão et al., 1996 e com o emprego de dois tipos distintos de barriletes
outros), além de contribuir para o crescimento de (NX e BX), com e sem a circulação de água e sem
uma prática regionalizada de procedimentos cien- o emprego do revestimento. Este pré-furo foi feito
tíficos no projeto e na execução de obras similares. seqüencialmente, até profundidades um pouco
Decorrente, portanto, da positiva experiência pas- abaixo daquelas na qual seriam feitos os ensaios
sada com o projeto inicial do Metrô-DF, esta mes- pressiométricos em etapas imediatamente posteri-
ma Universidade foi novamente solicitada a ores. Foram executados dois pré-furos, respecti-
realizar ensaios geotécnicos especializados, cuja vamente definidos como Furo 1 e Furo 2, ou,
prática não é dominada por outras instituições do segundo a convenção da Fig. 1, PM-01 e PM-02.
DF. Neste caso em particular foram realizados en- Adotou-se a sonda pressiométrica NX de 70 mm de
saios do tipo pressiômetro de Ménard, em dois furos diâmetro externo (já incluso a bainha externa), da
previamente definidos pela Coordenadoria Espe- firma Apageo Segelm. Esta sonda foi projetada
cial do Metrô-DF no interior da estação central do para operar com pressões internas de até 6000 kPa,
plano piloto. Estes ensaios foram realizados no mas, como será relatado em breve, as bainhas tes-
maciço de ardósia alterada. tadas não conseguiram resistir a tal nível / limite
Os furos acima mencionados se localizam abai- superior de pressão.
xo da base em concreto (pavimento) desta estação, Os ensaios pressiométricos de Menárd foram
cuja espessura é de 85 cm e a partir do qual se inicia realizados segundo a norma ASTM D 4719-87,
o topo da camada ensaiada. O topo desta base de tendo sido executados 5 ensaios no Furo 1 (PM-01)
concreto encontra-se na cota aproximada de e 6 ensaios no Furo 2 (PM02), a cada intervalo
1077 m em relação ao nível do mar, tendo sido aproximado de 2 m. Em virtude de uma sobre-es-
concretada após a escavação de cerca de 15 m de cavação não intencional em alguns trechos do Fu-
solo saprolítico de metarritmito, camada esta sobre- ro PM-01, principalmente no início dos serviços
posta à camada de ardósia alterada. Durante a fase quando ainda ocorriam os ajustes normais para a
de estudos da própria estação central, e nas proxi- determinação da metodologia executiva do furo
midades do local, já haviam sido executadas por (tipo de barrilete, uso ou não de circulação de água,
firma local sondagens simples (SP) e mistas (SM) etc.), ocorreram problemas relacionados à perda da
com ensaios de penetração standard, ou SPT, a cada bainha metálica e de borracha pelo “estouro” das

xxx Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000.
Ensaios Pressiométricos em Ardósia

Figura 1. Detalhes da Estação Central e da localização dos ensaios pressiométricos.

mesmas em alguns ensaios deste furo. Estes proble- de concreto (a profundidade dentro do maciço ro-
mas, no entanto, não se constataram no Furo PM- choso é igual a esta profundidade menos a espes-
02, quando já havia uma experiência prévia para a sura do pavimento, de 85 cm), a metodologia de
perfuração na ardósia alterada. avanço do furo adotada em cada profundidade, o
A Tabela 1 apresenta o resumo das principais tipo de bainha externa empregada, o incremento de
considerações executivas adotadas para ambos os pressão adotado para a realização de cada ensaio, e
furos ensaiados. Nesta podem ser encontrados a a pressão máxima atingida nos mesmos. Com ex-
profundidade total de ensaio a partir do topo da base ceção dos ensaios 1, 4 e 5 do Furo PM-01, que

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx
Cunha et al.

foram paralisados devido ao “estouro” da bainha Esta última observação é claramente observada
externa, todas as outras pressões máximas atingidas no primeiro ensaio do Furo PM-01 (prof. 2,15 m),
foram pré-definidas em função da capacidade do cujo resultado experimental se encontra na Fig. 2.
equipamento, que é dimensionado para ensaios em Nota-se na curva pressiométrica deste ensaio que
somente o início do trecho “plástico” pode ser
solos e não em rochas. Foi em virtude desta mesma
obtido, e que a obtenção de toda a curva para esta
capacidade limite que o trecho de “plastificação” cota necessitaria de pressões muito acima de
da curva pressiométrica, ou o trecho aonde se define 5000 kPa. As curvas pressiométricas das outras
a “pressão limite” e os parâmetros de resistência, profundidades obtidas após esta cota seguiram, em
não pode ser atingido para todos os ensaios. termos gerais, o resultado (forma e pressões máxi-

Tabela 1. Metodologia executiva dos ensaios pressiométricos.

Furo Ensaio Prof. Total Metodologia de avanço do furo Bainha ∆P Pmáx


(m) Externa (kPa) (kPa)
PM01 1 2,15 Furo aberto utilizando barrilete NX Metálica 50100 4300(*)
com circulação de água
PM01 2 4,25 Avanço do furo utilizando barrilete Borracha 100 2500(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
sem circulação de água
PM01 3 5,75 Avanço do furo utilizando barrilete Borracha 100 2500(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
sem circulação de água
PM01 4 8,00 Avanço do furo utilizando barrilete Borracha 100 1500(*)
NX com circulação de água
PM01 5 10,00 Avanço do furo utilizando barrilete Borracha 100 1400(*)
NX com circulação de água
PM02 1 2,45 Abertura do furo utilizando barrilete Borracha 100 2000(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
sem circulação de água
PM02 2 4,85 Avanço do furo utilizando barrilete Metálica 200 2100(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
sem circulação de água
PM02 3 6,45 Avanço do furo utilizando barrilete Metálica 200 2100(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
sem circulação de água
PM02 4 8,85 Avanço do furo utilizando barrilete Metálica 200 2100(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
com circulação de água
PM02 5 10,45 Avanço do furo utilizando barrilete Metálica 200 2100(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
com circulação de água
PM02 6 12,85 Avanço do furo utilizando barrilete Metálica 200 2100(*)
BX com circulação de água, e
alargamento utilizando barrilete NX
com circulação de água
(*) Ocorrência de estouro (ruptura) da bainha externa.

xxx Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000.
Ensaios Pressiométricos em Ardósia

mas) expresso na curva experimental da Fig. 3, definitiva) um barrilete simples de diâmetro ex-
válida para a prof. 4,25 m. Note que a partir deste terno BX para a realização do pré-furo com a cir-
ensaio ciclos de descarga-recarga (isto é, variação culação de água. Após este pré-furo, o furo
de ∆ Pressão x ∆ Volume), foram especificados e definitivo foi executado com o revestimento de
executados, de forma a se obter o valor do módulo diâmetro externo NX, também com a circulação de
de deformação cisalhante Gur a distintos níveis de água (tentou-se inicialmente sem a circulação de
deformação. As curvas dos ensaios seguintes não água, infelizmente sem sucesso). Adotou-se a bai-
são aqui apresentadas, porém os detalhes destes nha externa metálica, menos sujeita ao “estouro”
ensaios podem ser obtidos em Cunha et al. (1998). neste material, e levou-se o pressiômetro a uma
O Furo PM-01 e os ensaios iniciais foram fun- pressão máxima de 2100 kPa, em incrementos su-
damentais para a determinação de uma metodolo- cessivos e lentos de 200 kPa.
gia de perfuração e ensaio adequados ao material As calibrações necessárias à correção dos dados
geológico em estudo, isto é, ardósia alterada. No experimentais de campo foram realizadas in loco,
Furo PM-02, portanto, adotou-se (de forma geral e utilizando-se para isto do mesmo equipamento e
bainhas metálicas e de borracha empregadas em
cada ensaio respectivo. Neste caso a norma ASTM
D 4719-87 também foi adotada como referência.
Estas calibrações foram executadas com todas as
bainhas externas utilizadas, procurando avaliar e
corrigir as perdas de pressão (calibrações “ao ar
livre”) e as perdas de volume (calibrações em um
tubo metálico apropriado) dos ensaios. Esta última
correção, em particular, é fundamental para ensaios
em solos rijos ou rochas brandas, como é o caso do
material estudado. As Figs. 4 e 5 apresentam as
curvas “típicas” respectivamente válidas para a ca-
libração ao “ar livre” e para a calibração em tubo
metálico.

3. Caracterização
Geológico-Geotécnica
Figura 2. Curva pressiométrica - prof. 2,15 m.
O Distrito Federal é recoberto por um manto de
intemperismo de idade Terciária-Quaternária, que
engloba vários solos, predominantemente solos re-
siduais lateríticos, solos saprolíticos de rochas me-
tassedimentares e solos transportados lateríticos.
Em mais de 80 % da área, no entanto, prevalece a
regionalmente conhecida “argila porosa” (solos la-
teríticos residuais e transportados), que possui colo-
ração avermelhada e baixa resistência mecânica
(índice de penetração standard SPT < 6), além de
alta permeabilidade (Araki 1997 e outros). Abaixo
desta camada de argila porosa ocorre, quase sem-
pre, um horizonte de solo saprolítico de ardósia,
sobreposto ao maciço de ardósia menos alterada,
onde, geralmente, se verifica o impenetrável para
sondagens do tipo SPT, comuns na região.
No local referente aos ensaios aqui realizados
Figura 3. Curva pressiométrica - prof. 4.25 m. (abaixo da base da estação central, abaixo do nível

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx
Cunha et al.

rante o avanço das sondagens em 1996) na faixa de


29 a 100%, indicando grande variação na resistên-
cia deste material.
As amostras coletadas nas sondagens realizadas
para a execução dos ensaios pressiométricos con-
firmam as informações contidas no perfil geoló-
gico-geotécnico acima mencionado, no tocante aos
tipos litológicos, ou seja, ocorrência de ardósia
alterada em praticamente todos os trechos perfura-
dos. Uma descrição geológico-geotécnica mais
completa deste material, típico da região, pode ser
encontrado em Cunha e Camapum de Carvalho
(1997), principalmente no que se refere às carac-
terísticas geomecânicas anisotrópicas do solo sa-
prolítico de ardósia.
Assumindo-se ser homogênea a litologia nas
Figura 4. Curva de calibração “típica” ao ar livre.
duas sondagens realizadas, o parâmetro variável e
possível de ser definido para auxiliar na interpre-
tação dos resultados dos ensaios pressiométricos é
a recuperação, conforme apresentada nos furos de
sondagem SM-5 e SM-7 do perfil geológico-geo-
técnico da TCBR (1996). Desta forma, portanto,
apresenta-se na Fig. 6 o grau de recuperação aproxi-
mado da ardósia alterada existente na região ao
redor dos Furos PM-01 e 02 da estação central.
Embora estes valores não sejam iguais aos valores
de recuperação (desconhecidos) dos furos aqui rea-
lizados para os ensaios pressiométricos, eles ser-
vem para caracterizar qualitativamente a
heterogeneidade de resistência do material local.
4. Interpretação dos Resultados
Os resultados experimentais da campanha de
Figura 5. Curva de calibração “típica” em tubo metálico. ensaios pressiométricos foram corrigidos segundo
as curvas de calibração de cada uma das bainhas
natural, superficial, do terreno), a caracterização utilizadas, e os mesmos foram aqui interpretados
geológico-geotécnica foi feita com base em infor- segundo a metodologia tradicional apresentada em
mações fornecidas pela Coordenadoria Especial do Baguelin et al. (1978), Mair e Wood (1987) e
Metrô-DF e na descrição de amostras coletadas Cunha (1994).
durante o avanço das sondagens nos Furos PM-01 A Tabela 2 apresenta, para cada furo e ensaio
e PM-02, tendo como objetivo principal auxiliar na respectivo, a tensão vertical efetiva original (pré-
interpretação dos resultados dos ensaios realizados. escavação) no centro da bainha externa (centro da
De acordo com o perfil geológico-geotécnico da célula de expansão) (σv), as tensões inferiores e
estação central (TCBR 1996), encontra-se no local superiores horizontais (pós-escavação da estação
dos ensaios, entre as sondagens SM-5 e SM-7, central) da ardósia alterada, estimadas com o início
abaixo da cota 1077, uma camada de ardósia al- da zona “pseudo-elástica” da curva pressiométrica
terada constituída em alguns trechos por silte ar- (respectivamente σhi e σhs), o módulo de defor-
giloso variegado, com consistência rijo a duro e mação cisalhante obtido na zona “pseudo-elástica”
com um grau de recuperação de testemunhos (du- da curva pressiométrica (GM), determinado via teo-

xxx Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000.
Ensaios Pressiométricos em Ardósia

ria elástica, o módulo de Young (EM), calculado


com o uso da teoria elástica, do GM e do coeficiente
de Poisson (assumido aqui em 0.3), e, finalmente,
os respectivos valores inferiores e superiores (origi-
nais) do coeficiente de empuxo no repouso (K0i e
K0s).
Estes últimos coeficientes foram determinados
com base na hipótese de que as tensões originais
(pré-escavação da estação central) se mantiveram
aproximadamente intactas na ardósia alterada após
a escavação da camada superior de saprólito de
metarritimito. Estas tensões foram assumidas como
iguais àquelas obtidas pelo pressiômetro de Ménard
(respectivamente σhi e σhs), que foi executado em
período pós-escavação. Trata-se de hipótese pos-
sivelmente válida para o perfil geológico local, em
função da características deste maciço, isto é, não
ser o mesmo constituído por solo mas sim por rocha
alterada. Esta hipótese também é valida ao se con-
siderar os valores extremamente elevados (para
solos) de σhi e σhs expressos na Tabela 2.
No cálculo do valor da tensão vertical efetiva
original (no centro da célula de expansão) foi utili-
Figura 6. Grau de recuperação das sondagens SM-5 e 7. zado um valor de 19 kN/m3 para o peso específico
natural do saprólito de metarritimito, conforme en-
saios realizados no Laboratório de Geotecnia da

Tabela 2. Parâmetros geotécnicos oriundos da interpretação dos dados experimentais.

Furo Ensaio Cota σ1v σ2hi σ2hs Κ30i Κ30s GM EM


(m) (kPa) (kPa) (kPa) (MPa) (MPa)
1 1 2,15 325,8 267,9 333,3 0,82 1,02 29 75
1 2 4,25 365,7 135,1 352,9 0,37 0,96 152 397
1 3 5,75 394,2 193,1 450,9 0,49 1,14 187 488
1 4 8,00 437,0 137,5 387,5 0,31 0,89 300 781
1 5 10,00 475,0 230,8 351,6 0,49 0,74 177 462
2 1 2,45 331,5 92,3 276,9 0,28 0,84 63 166
2 2 4,85 377,1 291,7 437,5 0,77 1,16 113 294
2 3 6,45 407,5 260,4 500,0 0,64 1,23 288 750
2 4 8,85 453,1 281,2 447,9 0,62 0,99 152 397
2 5 10,45 483,5 343,7 541,6 0,71 1,12 264 688
2 6 12,85 529,1 375,0 458,3 0,71 0,87 98 256

(1) Calculado com base na seção geológica pré-escavação.


(2) Calculado com base nos ensaios pressiométricos - situação pós-escavação.
(3) Calculado para a situação pré-escavação com os valores σh e σv apresentados.

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx
Cunha et al.

Universidade de Brasília com material recolhido EM) e de deformação cisalhante (GM), interpretada
por ocasião das provas de carga realizadas na esta- como sendo conseqüência de processos diferen-
ção central do Metrô-DF (Camapum de Carvalho ciais de alteração que afetaram a ardósia, e dos
et al, 1998). Adotou-se, adicionalmente, a poro efeitos diferenciados de “perturbação” do maciço
pressão igual a zero (assim como a sucção, por falta pelo processo rotativo de escavação mecanizada.
de medições apropriadas) já que o nível do lençol Não obstante a variabilidade localizada dos re-
freático não foi encontrado nos furos PM-01 e 02. sultados dos módulos apresentados, algumas ten-
Assumiu-se ainda que a base da estação central esta dências podem ser descritas com os dados da Fig. 7:
a cerca de 15 m abaixo do nível natural original do • Crescimento gradual de ambos os módulos ao
terreno. longo da profundidade, em função de uma melhora
Os valores inferiores e superiores da tensão nas condições in loco do material estudado (menor
horizontal expressos na Tabela 2 foram obtidos em grau de alteração) e gradual, porém muito pouco
função da metodologia “subjetiva” de determina- pronunciado (vide Tabela 2), aumento do nível de
ção do início do trecho “pseudo-elástico” da curva tensões confinantes;
pressiométrica, como recomendado por Baguelin et • Pequena diferença de resultados entre ambos
al. (1978) e Mair e Wood (1987). O limite inferior os furos, ou seja, a metodologia executiva de aber-
desta tensão foi obtido com a primeira inflexão da tura dos furos não influiu muito nos módulos aqui
curva de recompressão pressiométrica, e o limite apresentados;
superior foi obtido com a escolha subjetiva de um • Valores relativamente elevados para solos
ponto entre o limite anteriormente definido e o siltosos (que possuem EM na faixa de 2 a 20 MPa)
primeiro ponto da curva pressiométrica em que o conforme tabela apresentada por Lima (1983), mas
comportamento desta curva era tipicamente linear coerentes com rochas brandas, no caso aqui repre-
(no início do trecho “pseudo-elástico”). sentadas por ardósia alterada. De fato, segundo
Os resultados desta tabela são plotados na Wilun e Starzewski (1972), o módulo de Young de
Fig. 7, apresentada na folha a seguir. Pode-se obser- rochas brandas levemente fraturadas varia na faixa
var nesta figura que há uma relativa variabilidade de 100 a 4000 MPa (sedimentares) e acima desta
de ambos os módulos pressiométrico (ou de Young, faixa para rochas metamórficas;

Figura 7. Resultados experimentais medidos e calculados para ambos os furos.

xxx Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000.
Ensaios Pressiométricos em Ardósia

Os valores inferiores e superiores do coeficiente ser observados o valor da tensão horizontal assu-
de empuxo no repouso, K0, também são plotados na mida para cada um dos ensaios (σh), o valor da
Fig. 7, onde se observa: tensão na parede do furo no início do descarre-
• Valores médios na ordem de 0.5 (limite infe- gamento, (Pcu), o valor da tensão média ao redor do
rior) e 1.0 (limite superior) para este coeficiente. furo (na zona “plastica” idealizada) no início do
Esta faixa de valores encontra-se acima da faixa descarregamento, segundo Bellotti et al. (1987),
“típica” de solos, com base nos dados de Wilun e (σav), a variação de volume da cavidade durante o
Starzewski (1972), sendo mais compatíveis com ciclo descarga-recarga (∆V/V), a deformação cisa-
rochas brandas. Finalmente, o fato de os ensaios lhante aproximada mobilizada no solo ao redor do
terem sido realizados em local escavado, sujeito a pressiômetro durante o processo de descarrega-
pré adensamento, também seria uma razão adi-
mento, segundo Bellotti et al. (1987), (γav), o de-
cional que explicaria a faixa de valores encontra-
créscimo de pressão adotado durante este ciclo
dos. Conforme Mayne e Kulhawy (1982) o K0-un
(de solos) durante o descarregamento tende a ser (∆P), e os valores respectivos do módulo de defor-
maior do que o valor inicial de K0, segundo uma mação cisalhante do material na tensão Pcu (Gur) e
relação que depende do grau de pré adensamento corrigido para a tensão horizontal do material antes
condicionado durante o descarregamento; do início do ensaio σh (Gurc). Estes valores dão,
• A variabilidade dos coeficientes encontrados portanto, uma idéia do decaimento do módulo ci-
é baixa, havendo, no entanto uma clara tendência salhante com o nível de deformação do solo, e são
de valores inferiores para o Furo 1, o que nova- úteis, em conjunto com as curvas típicas de Seed e
mente reforça a hipótese dos efeitos diferenciados Idriss (1970), para a utilização em problemas em
de “perturbação” do maciço pelo processo rotativo que todo o espectro de variação do módulo com a
de escavação. Neste sentido vale a pena citar que o deformação cisalhante se faz necessário. Devese
Furo PM-01 foi o que apresentou as maiores di- notar, no entanto, que os ciclos descarga-recarga
ficuldades de perfuração, tendo sido executado em são relacionados a profundidades distintas e, con-
um intervalo de tempo maior e, possivelmente, com sequentemente, a níveis de resistência (densidade e
uma maior sobre-escavação que o Furo 2. grau de alteração) diferenciados.
A Tabela 3 apresenta os valores do módulo de Uma última observação com relação a Tabela 3
deformação cisalhante obtidos através dos ciclos de é feita em relação aos valores de Gurc, para defor-
descarga-recarga realizados ao longo dos ensaios, mações cisalhantes médias próximas a 0.1% ou
para cada cota e ensaio em questão. Nesta podem 10-1%. Observa-se que a média destes valores se

Tabela 3. Valores de deformação cisalhante obtidos dos ciclos de descarga-recarga.

Furo Ensaio Loop Cota σh Pcu σav ∆V/V γav ∆P Gur Gurc
(m) (kPa) (kPa) (kPa) (%) (%) (kPa) (MPa) (MPa)
1 1 1 2,15 333,3 718,5 410,3 0,59 0,14 260 44 39
1 2 1 4,25 352,9 1169,3 516,2 0,09 0,02 900 1000 826
1 2 2 4,25 352,9 1967,9 675,9 0,52 0,13 1500 288 208
1 3 1 5,75 450,9 1467,6 654,3 0,15 0,03 1000 666 553
2 1 1 2,45 276,9 1229,4 467,4 0,32 0,08 700 218 168
2 1 2 2,45 276,9 1926,8 606,9 0,49 0,12 1100 224 151
2 2 1 4,85 437,5 1475,7 645,1 0,18 0,04 933 518 427
2 3 1 6,45 500,0 1498,2 699,6 0,09 0,02 800 888 751
2 4 1 8,85 447,9 1501,2 658,5 0,39 0,09 800 205 169
2 5 1 10,45 541,6 1536,6 740,6 0,09 0,02 800 888 760
2 6 1 12,85 458,3 2155,0 797,6 0,09 0,02 1200 1333 1010

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx
Cunha et al.

situa na faixa dos 150 MPa, ou seja, na mesma Os ciclos de descarga-recarga realizados du-
ordem de grandeza dos valores de GM obtidos com rante os ensaios pressiométricos demonstraram a
a fase “pseudo-elástica” da curva pressiométrica. sensitividade do módulo de deformação cisalhante
No entanto, para valores de deformação abaixo dos ao nível de deformação empregado, tendo sido
0.1% são obtidos valores de deformação cisalhante obtidos valores corrigidos de Gur (ao nível de tensão
bem acima daqueles expressos por GM, visto que horizontal original in situ) para deformações cisa-
estes últimos valores se relacionam com defor- lhantes médias na faixa aproximada de 10-1%.
mações na faixa aproximada dos 0.1%, pelo menos De maneira geral, portanto, os ensaios pres-
para solos (Ortigão et al. 1996). siométricos validaram as sondagens já existentes no
local, vindo a fornecer resultados de deformabili-
5. Conclusões dade, nível de tensão e, indiretamente, resistência,
Os ensaios de pressiômetro de Menárd execu- que serão de valiosa utilidade no projeto da futura
tados na ardósia alterada descrita neste trabalho linha lesteoeste do metrô para a região. A importân-
foram de suma importância para o estabelecimento cia das investigações aqui realizadas cresce na me-
de valores aproximados do nível de tensões original dida em que os dados obtidos e aqui apresentados
e da deformabilidade deste material. Estes resul- seriam de difícil, senão impossível, obtenção por
tados indicam módulos de deformabilidade ele- outros tipos de ensaios de campo de uso corrente na
vados para o material estudado, compatível com a prática local.
faixa de valores para rochas brandas. Os testemu- Agradecimentos
nhos obtidos durante a fase de perfuração dos furos
e informações fornecidas por sondagens execu- Os autores agradecem a firma Sonda Enge-
tadas no local também validam esta conclusão. nharia Ltda por todo apoio dado no serviço de
Estes módulos refletem a pequena variabilidade perfuração rotativa para o local, e a aluna de dou-
(não uniforme) de rigidez da rocha alterada ao torado Paola P. Lima e o técnico Alessandro do
longo da profundidade, influenciada pelo grau de Laboratório de Geotecnia da UnB pela realização
alteração diferencial ocorrido neste material, e pela dos ensaios pressiométricos.
“perturbação” do estado de tensões original causa- Os autores aproveitam ainda para agradecer a
do pela escavação mecanizada. De fato a metodolo- Coordenadoria Especial do Metrô - DF, pela autori-
gia de perfuração dos furos influenciou os módulos zação de publicação dos dados aqui apresentados,
e as tensões horizontais obtidas, e, consequente- e a FAP-DF pelo apoio financeiro na compra do
mente, os respectivos coeficientes originais de em- pressiômetro de Ménard da Universidade de Bra-
puxo no repouso (K0). sília.
Menores valores de K0 foram obtidos para o Referências
Furo PM-01 em relação ao Furo PM-02, visto que,
no primeiro, ocorreram as maiores dificuldades de ABGE. 2a. Tentativa. Diretrizes para execu-
escavação e realização do ensaio pressiométrico. A ção de sondagens.
faixa de valores obtidas é maior do que aquela ABNT MB 1211. Método de execução de son-
usualmente encontrada para solos, refletindo as car- dagens de simples reconhecimento dos solos.
acterísticas geológicas do material estudado. Foram Araki, M.S. Aspectos Relativos às Propriedades
ainda observados em ambos os furos valores dos Solos Colapsíveis do Distrito Federal. Disser-
aproximadamente constantes do coeficiente de em- tação de Mestrado em Geotecnia, Departamento
puxo no repouso ao longo da profundidade, tendo de Engenharia Civil, Universidade de Brasília, 121
sido possível se delinear limites (constantes) infe- p. 1997.
riores e superiores para esta rocha. Estes limites ASTM D 4719. Standard test method for
foram também influenciados pelo aparente “pré pressuremeter testing in soils. 1987.
adensamento” (em grau variável) da rocha ao longo Baguelin, F.; Jézéquel, J.F. e Shields, D.H. The
da profundidade, face à escavação para implan- pressuremeter and foundation engineering.
tação da estação central. Trans Tech Publications. 1978.

xxx Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000.
Ensaios Pressiométricos em Ardósia

Bellotti, R.; Crippa, V.; Ghionna, V.N.; na Estação Central do Metrô de Brasília-DF. Re-
Jamiolkowski, M. e Robertson, P.K. Selfboring latório Técnico R. GE. 028A/98-Universidade de
pressuremeter in pluvially deposited sands. Re- Brasilia. 1998.
latório Técnico para o U.S. Army, European Re- Hunt, R.E. Geotechnical engineering investi-
search Office. 1987. gation manual. McGraw Hill ed., 1983.
Camapum de Carvalho, J.; Pereira, J.H.F. e Lima, M.J.C.P. Prospecção geotécnica de sub-
Sales, M.M. Relatório técnico de apresentação dos solo. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.,
resultados de prova de carga realizada sobre uma 1983.
estaca injetada com 31 cm de diâmetro e 15 m de Mair, R.J. e Wood, DM. Pressuremeter test-
comprimento. Pub. G.RE - 011A/98-Universidade ing: methods and interpretation. CIRIA Ground
de Brasília. 1998. Engineering Report. Butterworths. 1987.
Cardoso, F.B.F. Análise química, mineralógica Mayne, P.W. e Kulhawy, F.H. K0-OCR rela-
e micromorfológica de solos tropicais colapsíveis e tionship in soils. Journal Geotechnical Engineer-
o estudo da dinâmica do colapso. Dissertação de ing Division, ASCE, v 108, n. GT6, p. 851-872.
Mestrado em Geotecnia, Departamento de Enge- 1982.
nharia Civil, Universidade de Brasília, DF, 139 p.,
Ortigão, J.A.R.; Cunha, R.P. e Alves, L.S. In
1995.
situ tests in Brasilia porous clay. Canadian Geo-
Cunha, R.P. e Camapum de Carvalho, J. Analy-
technical Journal, V. 33, p. 189-198. 1996.
sis of the behaviour of a drilled pier foundation in
a weathered, foliated and folded slate. XIV Inter- Schnaid, F.; Ortigão, J.A.R.; Mantaras, F.M.;
national Conference on Soil Mechanics and Cunha, R.P. e MacGregor, I. 2000. Analysis of
Foundation Engineering. Hamburg: p. 785-786. SBPM and DMT tests in a granite saprolite. A ser
1997. publicado no Canadian Geotechnical Journal -
Cunha, R.P. Fundações. Apostila do Curso de Edição de Agosto.
Mestrado em Geotecnia. Universidade de Bra- Seed, H.B. e Idriss, I.M. Soil moduli and damp-
sília, 477 p. 1996a. ing factors for dynamic response analyses. Report
Cunha, R.P. Interpretation of selfboring pres- EERC 70-10-University of California at Ber-
suremeter tests in sand. Tese de Doutorado em keley, Dezembro. 1970.
Geotecnia. University of British Columbia. 1994. TCBR Perfil Geológico Geotécnico da Estação
Cunha, R.P. Investigações de Campo. Apostila Cen tral d o Metr ô - DF. Codificação
do Curso de Mestrado em Geotecnia. Universi- DE.6/01.6A/A3.001-TCBR. 1996.
dade de Brasília, 305 p. 1996b. Wilun, Z. e Starzewski, K. Soil mechanics in
Cunha, R.P., Pastore, E.L. e Lima, P.P. Re- foundation engineering. v. 1 - Properties of soils
latório técnico de apresentação dos resultados dos and site investigations. Intertex Books, London,
ensaios com o pressiômetro de Ménard realizados 249 p. 1972.

Recebido em 19/7/1999
Aceitação final em 7/4/2000
Discussões até

Solos e Rochas, São Paulo, 23, (1): xxx-xxx, Abril, 2000. xxx

Você também pode gostar