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LATIN AMERICA NO IMAGINÁRIO ESTADUNIDENSE

FERES Jr., João. A história do conceito de Latim América nos Estados Unidos. Bauru: EDUSC, 2005.

Colonização dos países da América (América Central e Caribe)

Mexico Espanha Haiti França

Belize Inglaterra Jamaica Inglaterra

Guatemala Espanha Bahamas Inglaterra

San Salvador Espanha Porto Rico Espanha

Honduras Espanha Guiana Inglaterra

Nicarágua Espanha Suriname Holanda

Costa Rica Espanha Guiana-Francesa França

Panama Espanha República Dominicana Espanha

Cuba Espanha

Identificação geográfica: América do Norte, Central e do Sul

Identificação linguística: América Latina x Anglo Saxã: na verdade, latina refere-se à


portuguesa e espanhola, e não francesa. Além disso, há muitos países na América Central e do
Sul que não são portugueses e espanhóis.

Interessante notar: América Latina inclui todos os habitantes dos mais diversos países (negros
brasileiros, indígenas dos Andes, argentinos de origem judaica, etc.), além de latino caracterizar
filhos de latino-americanos nascidos nos EUA. Já na América Anglo-saxã, não há identificação com os
negros, italianos, asiáticos, judeus. Anglo-saxões são somente os brancos estadunidenses.

- Termo Latim America: uso a partir de meados do século XIX; em inglês, data de 1890.

CONTEXTO HISTÓRICO FRANCÊS DE SURGIMENTO DA EXPRESSÃO NA FRANÇA.

- Império de Napoleão III, sob a doutrina do panlatinismo, que pregava a unidade de todos os povos
latinos, tendo a França como vanguarda da “raça latina”
- Principal articulador dessa doutrina: Michel Chevalier

- Objetivo principal: projeto imperialista, submissão das ex-colônias ibéricas no continente americano
ao domínio francês.

USO DE LATIN AMERICA NA LÍNGUA INGLESA

- Pré-história do termo: Spanish América, no início do século XX (refere-se às coisas e aos povos de
Latim América).

- Lenda Negra sobre os espanhóis na Europa cruza o oceano Atlântico e foi assimilado pelos
estadunidenses, que cultivaram sentimento ante espanhol principalmente pela questão
expansionista.

- Início do século XIX: espanhol e hispano-americano é caracterizado como católico, indolente,


ignorante, supersticioso, desprovidos de iniciativa – em oposição à autoimagem estadunidense,
protestante, trabalhador, educado, racional, provido do espírito de iniciativa. Adjetivos descrevem
estilos de vida, hábitos e costumes, oposições culturais.

- Meados do século XIX: anexação de grande parte do território mexicano após Guerra. Os
argumentos para defender ou rejeitar a Guerra: os sulistas viam uma oportunidade de aumentar o
número de Estados dos EUA, já os abolicionistas do Norte acreditavam que a presença dos hispano-
americanos dentro da Nação causaria desordem.

USO DE LATIN AMERICA NA LÍNGUA INGLESA

- A partir desse período, referências explícitas à raça: o Eu é branco, o Outro é mestiço.

- Percepção do México é estendida ao restante do Continente sul-americano e centro-americano.

- Doutrina do Destino Manifesto legitimada pela inferioridade hispano-americana

- Conceito de Lati América passa a ser usado no final do século XIX, herdado de Spanish América.

- Estereótipos raciais mantidos, muito ligados à pele escura. Grease: “um tipo de pele escura,
bigodudo, descalço, com um grande sombrero e roupas camponesas, o estereótipo do mexicano
preguiçoso” (p.73)

POVOS NATIVOS DA AMÉRICA: UM PANORAMA


SCHWARTZ, Stuart e LOCKHART, James. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira: 2010.

Embora complexa e variada, a herança dos habitantes da Península Ibérica em 1500 era simples se
comparada à dos povos dos continentes ocidentais. Talvez as terras que chamamos de América
tenham sido ocupadas, em termos de milênios, por um tempo mais curto, mas a variedade de povos,
línguas, meio ambiente, economias e sistemas sociopolíticos era tão grande que pode despertar
comparações com toda a Eurásia ou toda a África. Devemos, portanto [selecionar] alguns elementos
na época do contato que foram decisivos para a forma dos acontecimentos futuros.

(SCHWARTZ,LOCKHART, 2010, p. 56).

ALGUMAS PREMISSAS SOBRE OS POVOS NATIVOS DA AMÉRICA:

VARIEDADE DE MODOS DE VIDA

• Dificuldades de fontes: arqueologia, relatos de espanhóis conquistadores e povos conquistados.

• Pierre Chaunu: América às vésperas da conquista: 90% de povos nômades, caça, pesca e coleta;
5% de povos agrícolas organizados em cidades-estados; 5% de povos muito desenvolvidos
organizados em impérios,densidade populacional de 40hab/km2: os Incas e Astecas.

ALGUMAS PREMISSAS SOBRE OS POVOS NATIVOS DA AMÉRICA:

DIFERENÇAS

• Termo índio:

• Concepção geográfica errônea (espanhóis imaginavam estar perto das índias orientais);

• Pressupõe uma unidade inexistente.Não existia um termo de referência, entre os povos nativo-
americanos, que os designasse todos como uma unidade

• As aproximações, quando existiam, eram pontuais, voltadas para aspectos linguísticos,religiosos ou


de estilo de vida

• Não havia unidade em uma resistência comum ante a invasores externos.

• Todas as referências a uma unidade indígena surgiram no período colonial.

ALGUMAS PREMISSAS SOBRE OS POVOS NATIVOS DA AMÉRICA: SEMELHANÇAS

• Consequências do isolamento:

• Aspectos mais superficiais: língua, organização social, religião, artes distintas e variadas.

• Aspectos estruturais: epidemiologia e tecnologia.


Quanto maior é um grupo humano e quanto mais ele interage, mais cepas de doenças e mais
invenções ele vai gerar. [...] Nesse aspecto, todos os povos índios eram parecidos.Apesar das
diferenças relativas ao clima, ao tipo de povoação e outras, os índios de ambos os continentes viriam a
sucumbir em grande quantidade a doenças que mal incomodavam os europeus e africanos recém-
chegados. Na tecnologia, europeus e africanos sabiam, por exemplo, fabricar e usar armas de aço, e
bastava isso para lhes dar total superioridade militar no Novo Mundo, pois, embora alguns grupos
índios tivessem grandes cidades, pirâmides, impérios e comércio de longa distância, nenhum tinha
ferro e aço

(SCHARTZ,LOCKHART, 2010, p. 54-55).

• Consequências do isolamento:

[...] na época do contato com a Europa, tudo nos sistemas de vida dos índios havia passado por longos
processos de evolução independente e apresentava sua própria força, integridade e causa. Este é o
outro lado da moeda do curso peculiar de desenvolvimento do hemisfério ocidental: ao mesmo tempo
em que a região estava vulnerável à conquista e à perda populacional, seus modos básicos de vida
social, política e econômica tinham sabor próprio extremamente forte e capacidade de sobreviver sob
grande pressão.

(SCHWARTZ, LOCKHART, p. 55).

POSSÍVEIS CLASSIFICAÇÕES ENTRE OS POVOS NATIVOS AMERICANOS

• Regiões centrais, de onde irradiavam as inovações sociais e tecnológicas: Andes e Mesoamérica.

Por causa da existência de bolsões de terreno muito úmido, seco ou íngreme, caçadores e coletores
sem aldeias podiam viver muito próximos de um grande centro urbano. Mas, no contorno mais amplo,
o esquema de classificação dos povos índios [...] pode se basear no princípio do grau de similaridade
com os povos mesoamérico-andinos, ou centrais.

(SCHWARTZ,LOCKHART, 2010, p. 56).

Totalmente sedentários

• povos centrais, agricultura intensiva permanente, cidades e aldeias estáveis, mecanismos de


tributação e população densa (similar ao dos povos da Europa em 1500):

Semi sedentários:

• Regiões do atual Chile, Colômbia, norte do México, locais de florestas e áreas úmidas, nordeste do
Paraguai até a costa do Brasil, além de parte do Caribe.

• Povos com agricultura e aldeias, que se mudavam devido ao ciclo da caça, pois não havia criação de
animais.

• Ausência de pagamento de tributos de maneira sistematizada, população menos densa.


Não sedentários:

• Regiões inóspitas, como norte do México, pampas argentinos, interior da Amazônia.

• Estilo de vida diverso, de forma geral se mantinha em um território bem definido e, dentro desse
território, migravam com frequência nos ciclos de caça e coleta.

• Não possuíam agriculturas, nem acampamentos ou aldeias.

CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS POVOS NATIVOS AMERICANOS

• Níveis de desenvolvimento material, tecnológico:

Em vez de estágios do desenvolvimento humano, as três categorias representam principalmente


adaptações a determinados ambientes, dada a tecnologia existente. [...] Nenhum povo era totalmente
sedentário ou nômade

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 58).

• Variedade mesmo entre o mesmo povo:

Vários dos grupos maias, cujas cidades, governos provinciais e sistemas de tributação parecem situá-
los completamente na categoria de povos centrais e, de outra maneira, também apresentam
características de grupos semi-sedentários

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 59).

OS NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO MATERIAL NA CONQUISTA E A COLONIZAÇÃO

Em geral, pode-se dizer que os europeus concentraram suas atividades de forma desproporcional em
áreas com população indígena totalmente sedentária, e que outros povos só os atraíam na medida em
que se assemelhavam àquela. Os povos semi-sedentários despertavam, assim, interesse apenas
secundário, e a tentativa de tratar com grupos mais móveis foi um último recurso

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 59).

OS POVOS SEDENTÁRIOS: ASPECTOS GERAIS

• Correlação império e sedentarismo: os regimes tributários se alimentavam do sedentarismo.

• Nestes regimes tributários, mantinha-se a identidade e autonomia das províncias


dominadas,passando a ser cobrados tributos e reconhecidos os deuses dos conquistadores

• Agricultura intensiva era a base da vida (cultivo de milho, batatas e cereais)


• Agricultura permanente levava a manutenção das mesmas famílias nas mesmas roças,
durantegerações. Membros do mesmo grupo, muitas vezes, casava-se internamente.

Os vínculos familiares e a territorialidade reforçavam-se reciprocamente como base de um forte


sentimento de identidade comum. Na verdade, a unidade local mínima no nível de ayllu ou calpulli era,
em muitos aspectos, um microcosmo da sociedade [...]

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 60).

• Terras de nobres cultivadas pelas famílias, que usava os rendimentos e produtos para pagar impostos.
Mas o conceito de terras de uso familiar apenas, ou vendas de terras, não era totalmente estranho às
populações nativas da América.

• Os principais grupos eram a nobreza e os agricultores, mas havia também comerciantes e


mercadores especializados.

• Havia, ainda, os povos sedentários não imperiais, os quais, por razões que nãoestão claras, não
passaram por uma fase imperial e expansionista.

OS POVOS SEMI-SEDENTÁRIOS: ASPECTOS GERAIS

• Posição intermediária entre a agricultura, caça e coleta, por razões geralmente ambientais.

• Povos de florestas, viviam em aldeias e em campos cultivados.

• Na agricultura, maior atuação das mulheres. Na proteção e caça, maior atuação dos homens.

• Ao invés de agrupamentos de classe, há distinção de idade, sexo e atuação na guerra.

• Não havia pagamento de tributo sistematizado, classes sociais especializadas, nem altos sacerdores.
A organização social era frouxa e instável.

• Alto potencial em combate de invasores, se comparados aos povos sedentários.

• Uso de arco, flecha, projéteis envenenados.

• Terrenos cobertos de florestas, facilitando a emboscada e a fuga.

OS POVOS NÃO-SEDENTÁRIOS: ASPECTOS GERAIS

• Caçadores e coletores, sem cultivo de unidades domesticadas nem povoação permanente.

• Ocupação de desertos, pântanos, costas rochosas, áreas pouco férteis.


• Alta eficiência na guerra móvel:

Os impérios nada podiam fazer com eles, e os invasores europeus muito pouco; grupos indígenas em
áreas como os pampas argentinos ou as grandes planícies norte-americanas mantiveram a resistência
e a independência até o final do século XIX

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 78-79).

REFLEXÕES FINAIS

[...] as sutilezas da poesia náuatle ou da cantaria inca, [...] o canibalismo tupi ou caraíba ou os sacrifícios
humanos astecas [....] estes aspectos não influenciaram a forma do futuro tão diretamente quanto as
questões de organização social e política. Todos os povos americanos tinham realizações artísticas e
intelectuais dignas de nossa admiração e estudo. Todos tinham práticas capazes de horrorizar os
europeus e que, quando estes acharam necessário, puderam interromper rapidamente. Foram as
características básicas e duráveis da vida local, como o cultivo, a organização do trabalho e a natureza
de sua territorialidade, que deixaram sua marca na sociedade latino-americana e determinaram as
diferenças de um lugar para outro

(SCHWARTZ, LOCKHART, 2010, p. 80).

POVOS NATIVOS DA AMÉRICA:A MESOAMÉRICA

LEÓN-PORTILLA, Miguel. A Mesoamérica antes de 1519. In BETHELL, Leslie (org.). História da


América Latina: América Latina colonial, volume I. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo;
Brasília, D.F.: Fundação Alexandre de Gusmão, 2008, p. 25-62.

LOCAL

• Área de 906 mil quilômetros quadrados.

• Maior diversidade geográfica e ecológica do que qualquer outra de tamanho similar no mundo.

•Complexidade de relevo, variedade de formas de terreno, solos e sistemas de drenagem, aliadas


aos efeitos de ventos e correntes marítimas, resultam em biodiversidade de clima, vegetação e vida
animal.

• Não há, nem entre os povos nativos, nem durante o período colonial, o uso do termo Mesoamérica
para se referir à região.
• O termo foi elaborado no século XX, para caracterizar um amplo espaço, com imensa variedade
de povos e culturas, mas que possuíam alguns elementos em comum: milho, sacrifícios humanos,
formas de registro, pirâmides escalonadas e tempo cíclico.

PERIODIZAÇÃO

Periodização na Mesoamérica

• Período lítico: antes de 8.000 a.C.: primeiras indicações de habitação.

• Período arcaico: 8.000 a.C. a 2.000 a.C.: caçadores-coletores.

• Período pré-clássico: 2.000 a.C. a 250 d.C.: aparecimento de cidades- estado, início da
arquitetura, civilização olmeca.

• Período clássico: 250 d.C. a 900 d.C.: período de apogeu de cidades-estados maias,
desenvolvimento de Teotihuacán.

• Período pós-clássico: 900 d.C. a 1500 d.C.: queda de muitas cidade-estado, ascensão dos
astecas, chegada dos espanhóis.

SOCIEDADES

Texto principal: LEÓN-PORTILLA, Miguel. A Mesoamérica antes de 1519.

Grandes temas do autor:

• Desenvolvimento dos povos e das altas culturas da Mesoamérica antes do estabelecimento dos
mexicas (astecas) no vale do México (1325).

• Examinar as principais características da organização política, socioeconômica, realizações


intelectuais e artísticas, no período de predominância dos astecas (séculos XIV e XV).

CIVILIZAÇÕES “PRIMITIVAS” DA MESOAMÉRICA

• Da chegada ao continente até 5.000 a.C.: grupos de caçadores e coletores de alimentos

• 5.000 a.C.: início do processo de desenvolvimento da agricultura, com o cultivo de abóbora,


pimenta malagueta, feijão e milho.

• 2.200 a.C.: início da produção de cerâmica. Ampliação das aldeias de agricultores, às margens
de rios ou próximos ao mar.
• 1.300 a.C.: na região do Golfo do México, ao sul de Veracruz, em região conhecida como Olman
(Terra da Borracha), viviam os olmecas.

OS OLMECAS

• Centros urbanos: Trez Zapotes, La Venta, San Lorenzo

• Em La Venta foram encontradas esculturas de pedra, com até 3 metros de altura, ainda que
houvesse pedra disponível apenas a 64 quilômetros do local.

• Primeiro povo a apresentar estrutura de construções: pirâmides rebocadas de barro, túmulos


circulares, altares entalhados na pedra, sarcófagos e esculturas diversas.

A existência de grandes praças públicas parece indicar que as cerimônias religiosas eram
realizadas ao ar livre. Em alguns dos espaços abertos em frente aos edifícios religiosos foram
encontradas sob o piso, formando como que um antigo pavimento, máscaras de jaguar, formadas
de mosaicos verdes, provavelmente para servirem de oferendas e, portanto, revestidas de argila e
adobe. Aquilo que denominamos criações artísticas também compreendia muitas peças de jade,
estatuetas, colares e outros objetos de quartzo talhado e polido, obsidiana, cristal de rocha e
serpentina.

(LEÓN-PORTILLA, 2008, p. 28).

• Divisão de trabalho: agricultura, artes e ofícios diversos, defesa, culto aos deuses e governo
(ocupado pelos chefes religiosos).

• Imagens como do jaguar, representações de pássaros e serpentes fazem parte dos vestígios
encontrados nos sítios arqueológicos.

• Trata-se de uma cultura matriz, da qual foram encontradas referências em outros locais da
Mesoamérica. A relação com outros povos teria se dado por meio do comércio e por um empenho
religioso “missionário”.

• Limitações materiais: ausência de roda, de metalurgia, de animais passíveis de domesticação


(não havia cavalos nem gado bovino).

• As limitações não impediram que, por volta de 600 a.C, a influência da cultura olmeca se fizesse
sentir em outras regiões. Ao mesmo tempo, a expansão da agricultura levou ao desenvolvimento
de centros urbanos maiores, como a cidade de Teotihuacán.

TEOTIHUACÁN:

• Centro de um grande reino ou confederação de diversos povos.

• Língua nahuat, forma arcaica do náhuatl (que passaria a ser a língua oficial dos astecas e de
diversos outros povos da Mesoamérica).

• Por volta de 300 a.C., grupos de pessoas da região central e sudeste da Mesoamérica começaram
a se reunir em assentamentos maiores. O auge de desenvolvimento data dos séculos V ou VI d.C.
• Maior centro urbano da Mesoamérica, até os astecas fundarem Tenochtitlán (atual Cidade do
México), quase 1000 anos depois de sua época. Já estava em ruínas na época dos astecas.

• No período de maior desenvolvimento, possuía 30 km2 e uma população de, pelo menos, 50.000
habitantes.

• A cidade possui pirâmides, templos, palácios, escolas.

Templo de Quetzalcoatl

• Templo dedicado ao deus Quetzalcoatl, ou Serpente Emplumada

• Quetzalcoatl é uma divindade cultuada por vários povos mesoamericanos. Para os teotihuacanos,
ligado à fertilidade e à guerra. Para os astecas, foi uma divindade criadora.

• Em 2008, foram descobertos túneis sob o templo, com comprimento de 103 metros e profundidade
de 14 a 18 metros

• O túnel estaria fechado há pelo menos 1.700 anos e abriga milhares de objetos.

A descoberta das Pirâmides do Sol e da Lua

• Acredita-se que, após abandonada, a cidade de Teotihuacán teria sido tomada pela natureza.
Inclusive, Hernán Cortéz teria passado pela cidade, sem encontrar as pirâmides, que estavam
cobertas de vegetação.

• No final do século XIX, durante o governo de Porfírio Diaz, o arqueólogo Leopoldo Batres foi
encarregado de descobrir o que havia por baixo da vegetação. Recebeu meio milhão de pesos do
governo mexicano.

• Apesar de sua importância, é atribuída ao processo de escavação liderado por Batres a perda e
roubo de partes da Pirâmide do Sol.

• Iniciado em 1905, o trabalho de exploração, escavação e restauração foram finalizados em 1910,


mesmo ano em que se comemorava o centenário de Independência do México.

OS MAIAS

• Se estenderam pela península de Yucatán, planícies e montanhas de Tabasco e Chiapas no


México, pela Guatemala, Belize, partes de El Salvador e Honduras.

• Existência de mais de 50 centros maias. Constituíam-se em aldeias construídas às margens dos


rios ou nas florestas, com palácios, santuários e bairros residenciais.

• Sociedade dividida entre plebeus, dedicados em sua maioria à agricultura, e grupo dominante,
composto por governantes, sacerdotes, guerreiros.
• Desenvolvimento de arquitetura, pinturas murais, textos hieroglíficos, artigos de cerâmica,
calendário (possuíam o conceito do zero e um símbolo para denotá-lo, talvez herdado dos
olmecas).

CIVILIZAÇÕES “PRIMITIVAS” DA MESOAMÉRICA: DECLÍNIO

• Entre 650 e 950 d.C.: queda das civilizações clássicas da Mesoamérica

• Teotihuacán

Teria sido incendiada a cidade, como sugerem alguns restos de paredes, vigas e outras peças de
madeira que remanesceram? Ou foi uma destruição causada por forças externas, que, percebendo
talvez que já estava em marcha o declínio, decidiram apossar-se das terras férteis do vale? Ou a
ruína da cidade foi resultado de uma luta interna, política ou religiosa? Ou, de maneira mais simples
[...] a metrópole foi abandonada em decorrência de mudanças climáticas relacionadas com o
desmatamento e o dessecamento dos lagos, em consequência de processos naturais ou talvez das
próprias ações do homem?

(LEÓN-PORTILLA, 2008, p. 32)

• Maias

[...] as velhas cidades começaram a ser gradativamente abandonadas. Não se encontraram


vestígios de ataques externos, nem de destruição por fogo. Os centros foram apenas abandonados,
quando seus habitantes procuraram outros locais onde se fixar. E seria difícil provar que isso foi
resultado de uma mudança climática violenta e generalizada, de uma catástrofe agrícola ou de uma
epidemia geral

(LEÓN-PORTILLA, 2008, p. 32).

CIVILIZAÇÕES “PRIMITIVAS” DA MESOAMÉRICA: LEGADO

Urbanismo

• Templos e palácios circundados por espaços abertos

• Praça do mercado

• Bairros ao redor da parte central das cidades

• Escolas para ensino formal nos bairros das cidades • Casas com pequenos pedaços de terra para
plantação de legumes

Elementos culturais

• Calendário, escrita hieroglífica, conhecimento astronômico e astrológico, formas de organização


religiosa

A SEQUÊNCIA DE POVOS

• Olmecas: ponto de partida, cultura matriz.


• Teotihuacán: grande poder e influência entre os séculos V a VII.

• Maias: surgimento próximo ao século V.

• Tula: cidade bastante referenciada pelos mexicas, com referências que farão parte da sociedade
mexica.

Essa sequência:

• Leva a uma ideia de “corrida de revezamento”, sistematiza uma longa trajetória.

• Remete a conceitos distantes do mundo mesoamericano e mais próximo do mundo europeu:


privilegia centros urbanos irradiadores de cultura e de civilização.

• Inferioriza outras formas de vida, esvazia a pluralidade da região.

ALGUNS TERMOS

• Termos utilizados como sinônimos: Mesoamérica, Nahua, Astecas, Mexicas

• Mesoamérica: região

• Nahua: língua, não apenas dos mexicas, mas de vários povos da região

• Asteca: termo não utilizado entre os próprios povos, nem entre os espanhóis durante o período
colonial. Foi criado no século XIX, como referência ao mito de origem dos mexicas, que remete a
uma cidade chamada Aztlán.

• Mexicas: a forma como os astecas se identificava e eram conhecidos.

VISÕES HISTORIOGRÁFICAS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DOS POVOS NATIVOS

Cronistas e historiadores do século XIX

• Sociedade mexica semelhante aos reinos feudais da Europa.

• Uso de termos como reis, príncipes, magistrados, senadores, entre outros, para identificar a
sociedade mexica. Revisionismo crítico, final do século XIX:

• Mesoamericanos vistos como grupos vinculados por sangue, com características tribais, de clãs.

A organização asteca colocava-se diante dos espanhóis como uma confederação de tribos
indígenas. Nenhuma outra coisa, a não ser a mais grosseira distorção de fatos óbvios, poderia ter
autorizado os escritores espanhóis a fabricar a monarquia asteca a partir de uma organização
democrática. [...] eles [os cronistas espanhóis] temerariamente inventaram para os astecas uma
monarquia com características acentuadamente feudais... Essa concepção incorreta já se manteve
por mais tempo do que merece devido à indolência dos americanos

(Lewis Morgan, Ancient Society, 1877 apud Leon Portilla, p. 41).


OS MEXICAS (ASTECAS)

• Por volta de 1325: os mexicas se fixam em Tenochtitlán.

A história oficial e os mitos

• Contada a partir dos relatos orais, escritos e poemas

• No apogeu do seu desenvolvimento (por volta de 60 anos antes da conquista europeia), os


mexicas escreveram sua própria história e identidade. Em 1430, o governante Itzcoatl ordenou
a queima de livros e, no lugar, foi construída uma imagem do passado adequada às exigências
das elites desta cultura que estava em processo de expansão.

• De acordo com essa narrativa, os astecas vieram de Aztlan. Lá, eram dominados pelos
governantes (tlatoque) e nobres (pipiltin). Os plebeus (macehualtin) deixaram este local em
busca de um lugar indicado pelo sacerdote, no qual teriam liberdade e prosperidade.

• A finalidade era libertar seu povo da sujeição e conduzi-los à prosperidade. O deus anunciara que,
no lugar prometido, seriam todos governantes e nobres, e teriam os plebeus que lhes pagariam
impostos.

• A peregrinação ao lugar prometido foi feita em grupos chamados calpulli (grande casa, com o
sentido de pessoas da mesma casa). Provavelmente grupos de famílias ligados por parentesco.

• Foram aconselhados pelo deus Huitzilopochtli a se fixar em um local onde encontrassem uma
águia pousada em um cacto devorando uma serpente.

• A lenda conta que a imagem, foi vista em uma ilha no meio do lago Texcoco, cercado pelos
vulcões Iztaccíhuatl e Popocatépetl. Assim nasceu, em 1325, Tenochtitlán, a cidade sagrada
dos astecas e hoje a Cidade do México.

• O povo guerreiro, que acreditava ser incumbido de uma missão divina, logo expandiu seu território
e se tornou um império centralizado, hierarquizado e com um código de guerra

A história “verdadeira”

• Descoberta a partir das fontes arqueológicas, etno-históricas, linguísticas e fontes documentais


diversas sobre história, política, economia, sociedade e cultura dos mexicas (astecas).

• Evidências da migração para o sul devido a questões linguísticas. A língua nahua deriva de utunahua,
grupo linguístico de nativos na região de Utah, nos Estados Unidos.

• Quando chegaram ao vale do México, havia outros povos, aos quais se associaram. Foram usados
para o trabalho e para o esforço de guerra destes.
• Continuaram migrando, agora no próprio vale do México, e encontraram uma região pantanosa e
difícil para o cultivo, o lago de Texcoco.

• 1395: os mexicas se fixaram na região e são submetidos pelos tecpanecas que viviam em
Azcapotzalco.

• Primeiras décadas de 1400: eclode uma guerra entre os tecpanecas e mexicas. Estes, apoiados por
vários outros povos que também eram dominados por Azcapotzalco. Os mexicas vencem, dando início
a uma nova fase, de conquistas e expansão futuras.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: RELIGIÃO

• Politeísmo: divindades relacionadas aos elementos da natureza e aos processos históricos.

• O panteão de divindades astecas possuía aproximadamente 200 deuses, associados aos elementos
da natureza.

• Concepção cíclica de tempo: o fim sempre associado ao recomeço. Os astecas estariam vivendo um
quinto momento de criação.

• Sacrifícios humanos: prisioneiros de guerra, moradores da comunidade, auto sacrifício (doação do


sangue para os deuses). É preciso o sangue para alimentar os deuses, para manter o mundo cíclico
funcionando. Essa visão está relacionada às próprias visões de mundo dos astecas.

MITO FUNDACIONAL DO QUINTO MOMENTO DE CRIAÇÃO

No quinto sol, tudo era negro e morto. Os deuses se reuniram para discutir a quem caberia a missão de
criar o mundo, tarefa que exigia que um deles teria que se jogar dentro de uma fogueira. O selecionado
para esse sacrifício foi Tecuciztecatl. No momento fatídico, Tecuciztecatl retrocede ante o fogo; mas o
segundo, um pequeno Deus, humilde e pobre (usado como metáfora do povo asteca sobre suas origens),
Nanahuatzin, se lança sem vacilar à fogueira, convertendo-se no Sol. Ao ver isto, o primeiro Deus,
sentindo coragem, decide jogar-se transformando-se na Lua. Ainda assim, os dois astros continuam
inertes e é indispensável alimentá-los para que se movam. Então outros deuses decidiram sacrificar-se
e dar a "água preciosa", necessária para criar o sangue. Por isso que os homens são obrigados a recriar
eternamente o sacrifício divino original. Eles acreditavam que a sua missão era manter o sol vivo até o
fim dos tempos, e praticavam o sacrifício para repetir o sacrifício que o Deus tinha feito por eles. Os
astecas, assim como outras civilizações da Mesoamérica, capturavam pessoas de tribos, aldeias ou até
mesmo de civilizações inimigas para o sacrifício.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: O TLATOANI

• Governantes mexicas (huey tlatoani): Itzcoatl (1426-1440), Moteuczoma, o velho (1440-1469),


Axayacatl (1469-1481), Tizoc (1481-1502) e Moteuczoma II (1502-1520).

• Itzcoatl foi o governante que estava à frente dos mexicas quando se firmou a tríplice aliança, com
Texcoco e Tlacopán.

• Representante da divindade na terra, não como encarnação nem como filho de um deus.
• Comandante-chefe do exército, dignatário religioso, juiz supremo. • Eleito pelas camadas da nobreza
(pipiltin)

• Cihuacoatl: assistente e conselheiro do tlatoani, substituía o governante em sua ausência ou morte,


presidia o conselho dos eleitores.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: CARGOS POLÍTICOS

• Os tlatoani comendavam os governos de todas as cidades mexicas. Para administração dos calpulli,
designavam oficiais supremos, teteuctin.

• Os cargos administrativos eram ocupados pelos pipiltin. Estes não pagavam tributos e eram
encarregados dos tecalli (terra + trabalhadores). Podiam ter o número de esposas que pudessem
sustentar.

• Os filhos dos pipiltin frequentavam as calmecac, centros de ensino elevado, nos quais aprendiam a
falar, hinos antigos, poemas e relatos históricos, doutrinas religiosas, calendário, astronomia,
astrologia, preceitos legais e a arte de governar. Quando deixavam as calmecac, estavam prontos para
exercer papeis na administração.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: OS PIPILTIN

• Possuíam a missão de manter a vida de sua própria era cósmica, do sol e da humanidade.

• A oferenda de sangue ajudava a restaurar a energia divina, conciliando os deuses e obtendo deles o
dom vital das águas.

• Para cumprir esse destino, este grupo se ocupava muito do culto aos deuses, do sacrifício e das
guerras para conquista de territórios.

• Também se voltavam para a edificação e restauração dos templos, urbanização e desenvolvimento de


Tenochtitlán, organização administrativa, estabelecimento de rotas comerciais, funcionamento dos
mercados e produção de manufaturados.

Características dos astecas: trabalho na terra

• A agricultura era realizada nos calpulli mais distantes dos centros urbanos, em terras destinadas para
esta finalidade.

• A posse de terras entre os astecas é bastante discutida. Há duas vertentes de interpretação:

• Pesquisadores que acreditam serem a terras privadas, pertencentes ao tlatoani e à elite governante.
Os camponeses trabalhariam nessas terras para pagar os impostos e as despesas dos grupos
dirigentes.

• Outro grupo acredita que não havia propriedade privada entre os astecas, elas seriam pertencentes
à tribo ou à confederação de tribos, e as pessoas teriam o direito ao uso, e não à posse.
• Independentemente da forma de posse, os grupos dominantes acabavam se mantendo no poder por
muitas gerações e, consequentemente, mantendo os privilégios em relação aos camponeses.

• Os produtos que mais abasteciam Tenochtitlán eram milho, feijão, abóboras e hortaliças, vindos dos
pagamentos de impostos de várias cidades conquistadas.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: OS CALPULLI

• Os calpulli eram unidades socioeconômicas comuns na Mesoamérica.

✓Alguns pesquisadores compreendem que seus membros eram, inicialmente, ligados por parentesco.

✓Acredita-se, por outro lado, que também poderiam ser espécies de associações com finalidades
econômicas específicas.

• Alguns calpulli compunham as grandes cidades. Tenochtitlán, por exemplo, possuía mais de 50
calpulli no contexto da chegada dos espanhóis.

• Os calpulli mais urbanos exerciam atividades de artesanato, artes e comércio. A agricultura ficava
por conta dos calpulli mais distantes dos centros urbanos.

• Um conjunto de calpulli representava uma senhoria, que era administrada por nobres locais. Na
expansão dos mexicas, os nobres locais poderiam ser substituídos, ou seriam submetidos a formas de
compromisso junto ao tlatoani. Mesmo que não fossem substituídos os governantes, eram enviados
administradores para fiscalizar a produção nestes calpulli dominados.

• Os moradores dos calpulli, independentemente se urbano ou agrícola, compunham a camada dos


macehualtin.

Divisão do trabalho nos calpulli

• A divisão de trabalho era feita de acordo com o sexo. Aos homens, cabiam as tarefas agrícolas e
tarefas especializadas diversas, como pesca, mineração, construção (pedreiros, decoradores de pedra,
carpinteiros e pintores) e manufaturas (ceramistas, cesteiros, curtidores, artesãos de esteiras e
sandálias)

• Às mulheres, cabiam as tarefas domésticas, feitura de massa de tortilhas, fiação, tecelagem.

CARACTERÍSTICAS DOS ASTECAS: OBRAS HIDRÁULICAS

• Devido à necessidade de ampliar a área de produção de alimentos, foram realizados importantes


obras hidráulicas, como:

✓diques para separar água doce da água salgada

✓aquedutos para levar água potável para a cidade

✓chinampas, pequenas ilhas artificiais onde se cultivava hortaliças e flores. Eram feitas de junco,
cobertas com terra fértil, fundeadas nos leitos dos lagos por meio de estacas de madeira.
A ARQUITETURA

• Poucas construções persistiram ao processo de conquista, pois a Cidade do México foi construída
sobre as ruínas da arquitetura de Tenochtitlán.

• Os espaços de rituais foram construídas em torno do Templo Maior, construídos a partir de 1325,
com cerca de 90 m de altura.

• O templo possuía dois templos gêmeos, dedicados a duas divindades: Tlaloc, deus da água e da
chuva, associado à fertilidade e Huitzilopochtli, deus criador para os astecas, associado a guerra
e ao sol

POVOS NATIVOS DA AMÉRICA: AS SOCIEDADES ANDINAS


MURRA, John. As sociedades andinas anteriores a 1532. In BETHELL, Leslie (org.). História da
América Latina: América Latina colonial, volume I. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo;
Brasília, D.F.: Fundação Alexandre de Gusmão, 2008, p. 63-100.

• 1532: Francisco Pizarro chega à região andina.

• Nesta data, já haviam se passado mais de 20 anos da invasão da Mesoamérica e 40 anos da chegada
dos espanhóis ao território americano.

• Já se sabia que existiam populações na região andina, relatos e histórias que levaram os
conquistadores a elaborar estratégias para adentrar a região.

O conhecimento que temos, até os dias de hoje, sobre os Incas, é em muito pautado nestas narrativas,
relatos de testemunhas oculares e de cronistas. Um conhecimento fragmentado, incompleto e em
construção.

• Um dos principais materiais sobre o processo de conquista dosIncas:

✓Um relato oficial do primeiro escrivão de Pizarro, Francisco deXerez, que escreveu Verdadera
Relación de la Conquista del Peru(1534).

• Os relatos de cronistas chegaram a algumas conclusões, que os estudiosos confirmam:

✓A paisagem dos Andes era diferente de todas as demais regiões já vistas nas Américas e o mundo.

✓Havia riqueza de recursos naturais, mas também de técnicas e habilidades (irrigação, construção de
estradas, produção têxtil).

✓Quando os espanhóis chegaram, o governo centralizado ainda era muito recente.

LOCALIZAÇÃO
• A região dos Andes é cortada pela Cordilheira dos Andes, uma grande cadeia de montanhas que se
estende por 7.500 quilômetros, da Colômbia até a Patagônia.

• Ela acompanha a costa ocidental da América do Sul, banhada pelo oceano Pacífico.

• Mede, no sentido Leste-Oeste, aproximadamente 240 km, embora varie muito ao longo de sua
extensão onde é mais evidente na porção central. Neste ponto ela forma um planalto nos países como
o Peru, Bolívia e Chile com mais de 600 quilômetros.

• Sua altitude média atinge 3.500 metros. O ponto do Aconcágua na Argentina, com 6.962 metros
demonstra o seu pico máximo de altura.

• O clima é muito depende da latitude e da altitude. Acima de 2 mil metros a temperatura começa a
cair para valores muito baixos, a ponto dos seus picos mais elevados se encontrarem sempre cobertos
de neve.

• A vegetação é rica e bastante variável. Mais ao norte a vegetação é mais abundante e as chuvas
também. Ao sul há pouquíssima chuva e a vegetação é mais pobre e rasteira.

• A fauna acompanha estas variações, encontrando-se ao norte, jaguares, pumas, onças e macacos,
além de grande variedade de pássaros. No sul a fauna empobrece e abrem espaço para o lhama, a
alpaca, guanaco, vicunha e o condor.

PERIODIZAÇÃO

• Estima-se que o povoamento da região andina data de aproximadamente 10 mil anos a.C.

Horizonte Tardio (1500 a.C – 700 d.C.)

✓Cultura Chavín, cultura desenvolvida na região andina central, definida como cultura matriz das
civilizações andinas.

✓Mochicas, localizados na costa norte do Peru, sociedade classista, aristocrática e guerreira.

✓Nascas, estado teocrático militar, desenvolveram as famosas linhas de Nasca.

Horizonte Médio (700 a.C – 1400 d.C.)

• Tiahuananco, desenvolvida no altiplano boliviano. Desenvolveram terraços agrícolas, adoravam


o deus Wiracocha, monumentos arquitetônicos de pedra,

• Huari, próximo a Nasca, apresentou expansão territorial e ocupação de outros territórios.

Horizonte tardio (Incas)

• Chimú, um poderoso Estado na costa do Peru, foram conquistados em 1470 pelos incas, por
Túpac Inca Yapanqui.
• Chincha, costa sul do Peru, viviam da agricultura, pesca e comércio regional, possuíam tecnologia
de navegação por meio de balsas. Foram conquistados em 1426, por Tupac Inca Yapanqui.

Horizonte Tardio (1400 d.C – 1532 d.C.)


• Formação, expansão e queda do Império Inca, mais especificamente a partir de 1438.

A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO INCA – A ORIGEM MÍTICA

O deus Viracocha, deus criador, teria criado uma raça de gigantes sobre a terra. Estes
gigantes tornaram rebeldes e Viracocha mandou um dilúvio e petrificou os gigantes, para
construir uma nova raça. Para isso, ele despertou o sol e a lua em uma ilha no centro do lago
Titicaca, pois ainda não havia luz no mundo (apenas a luz dos olhos de um puma, que tinha olhos
de esmeralda).

Viracocha determina que o sol e a lua criem um homem e uma mulher, para começarem
uma nova civilização. Foram criados então Manco Capac e Mama Ocllo, casal que seria fundador
da etnia inca. Partiram buscando um local onde lançariam um bastão de ouro, e ele cairia em
vertical perfeita, pois ali seria o local sagrado para a construção de uma nova cidade.

Outra versão do mito:

Em uma gruta emergiram da terra 4 irmãos, os irmãos Ayar, comsuas esposas. Um


desses casais eram Manco Capac e Mama Occlo. Os irmãos foram caminhando rumo a Cusco e
foram sendo petrificados, chegando apenas Manco Capac e Mama Occlo. Nesta versão, já existia
uma confederação vivendo ali, aos quais eles se aliaram e passaram a cuidar da defesa da
cidade. Mais tarde, um dos líderes militares, Inca Roca, entra em guerra com as demais cidades
e, vitorioso, inicia a construção do Coricancha e a expansão do Império Inca.

• Nesse mito, há uma associação entre a terra e a origem do mundo e da humanidade.

• Estas narrativas são conhecidas hoje pois foram transmitidos por cantos épicos,
transmitidos geração após geração, e registrados pelos cronistas.

A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO INCA – A ORIGEM HISTÓRICA

• O Império Inca foi o maior da América pré-hispânica, conhecido na época por


Tawantinsuyu, o império das 4 partes ou 4 direções.

• Os incas vieram das terras altas do Peru, mais especificamente da cultura Valdivia, no
Equador, e se estabeleceram no vale de Cusco, que viria a ser o centro administrativo, religioso,
político e militar do Império Inca.

• Império de curta duração, do século XIII ao século XVI.


• Denominado Império devido ao processo de expansão e dominação de outras etnias.

• Essa dominação faz com que as características culturais, religiosas e sociais seja
heterogênea. Ao dominar as etnias, os Incas estabeleciam que seria obrigatório o culto ao deus
Inti, Deus Sol, o criador do mundo. As demais crenças locais eram mantidas.

• Estima-se que o Império, em seu auge, possuía de seis a dez milhões de habitantes e,
pelo menos, 30 idiomas diferentes.

CARACTERÍSTICAS DO IMPÉRIO INCA – ORGANIZAÇÃO POLÍTICA-


ADMINISTRATIVA

• O líder político e religioso era o Sapa Inca, ou apenas Inca.Considerado filho do deus
Inti, o deus Sol. Podia ter a quantidade de esposas que quisesse, tendo, consequentemente,
muitos filhos.

• O poder era assumido por um dos filhos do Inca, escolhido a partir de batalhas e
demonstrações de coragem.

• O território era dividido em 4 regiões administrativas, e os governantes de cada uma


delas era escolhido pelo Sapa Inca.

• A expansão do Império iniciou com Pachacuti Inca, conhecido como Alexandre Magno do
Império Inca.

CARACTERÍSTICAS DO IMPÉRIO INCA – ECONOMIA

• Base da economia: agricultura baseada no milho e na batata, além de itens dealgodão e


lã, pimenta, tabaco, feijão, mandioca, etc.

• Para produzir os itens de lã, era utilizada matéria prima da lhama e da alpaca, animais
domesticados.

• A produção agrícola era realizada nos ayllus, que consistiam em uma unidade social na
qual um grupo de pessoas cultivava um determinado pedaço de terra.

• Era dever do ayllu produzir tudo o que fosse necessário para sua própria sobrevivência,
além de pagar os impostos que eram devidos ao Sapa Inca. Cabia ao chefe do ayllu, conhecido
como kuraka, fazer uma divisão igualitária dos alimentos produzidos e também auxiliar os
membros de seu ayllu que enfrentassem dificuldades.

• Não havia moeda estabelecida, o comércio era realizado por meio do escambo de
produtos.

CARACTERÍSTICAS DO IMPÉRIO INCA – ECONOMIA

• A forma de trabalho mais conhecida entre os Incas foi a mita.


• Consistia em um chefe local que tinha controle de várias famílias. As famílias eram
sorteadas, de 4 em 4 meses, par trabalhar nas minas de ouro e prata.

• Também trabalhavam nas obras públicas de construção de estradas.

CARACTERÍSTICAS DO IMPÉRIO INCA – RELIGIÃO

• Culto ao Sol, à Lua e deuses associados aos elementos da natureza.

✓Pacha Mama, Mãe Terra, encarregada de propiciar fertilidade à agricultura.

✓Wacon, maligno e cruel, responsável pela seca na costa do Peru. Os incas acreditavam
que este deus era um devorador de crianças.

✓Supay, habitava as profundezas da Terra e o mundo subterrâneo dos mortos. Os incas o


consideravam como uma espécie de demônio.

✓Mama Cocha, deusa Mãe do Mar, cultuada principalmente nas regiões costeiras do
Império Inca. Recebia oferendas e cultos para acalmar as águas bravas e favorecer a pesca.

• Ofereciam sacrifícios aos deuses, de animais e seres humanos. Até hoje vem sendo
encontradas múmias.

ARQUITETURA

• Alvenaria fina, com pedras cortadas e modeladas com precisão, ajustadas umas às outras, ou
encaixadas como um quebra cabeça (o uso de argamassa é controverso entre os arqueólogos).

• Também eram comuns as paredes de barro, geralmente sobre fundações de pedras.

• Portas, janelas e nichos nas paredes possuem forma trapezoidal vertical, que distingue a
arquitetura inca.

• Algumas paredes eram pintadas, decoradas ou esculpidas, mas essa era a exceção.

• Os telhados eram feitos de madeira, palha, folhas.

ARQUITETURA - USHNU

• Ushnu é uma estrutura em forma de pirâmide com terraços, com 5 grandes degraus, construída
em pedras.

• A estrutura era usada pelo Sapa Inca e a Coya (esposa principal) para as cerimônias e rituais.
• Em Cusco, na capital imperial, o Ushnu estava localizado no centro da praça, junto ao templo do
Sol.

ARQUITETURA – O VALE SAGRADO DOS INCAS

• O Vale Sagrado dos Incas é um conjunto de 14 cidades e vilarejos ao redor de Cusco que, por
muitos séculos, formaram o centro e coração do Império Inca.

• A capital do Império foi Cusco, centro político e administrativo.

• A mais famosa cidade inca foi Machu Pichu, descoberta em 1911, muito preservada pois os
espanhóis não a descobriram (apesar de estar a apenas 80 km, aproximadamente, de Cusco).

• A mais preservada cidade inca é Ollantaytambo, importante sítio arqueológico localizado a 80


km de Cusco e quase 3.000 metros de altitude.

CUSCO

• A cidade foi saqueada em 1535 e, sobre as fundações pré-coloniais, foram construídas novas
estruturas coloniais.

• O Coricancha foi um santuário Inca, de culto ao Deus Sol. No período colonial, sua estrutura foi
incorporada ao de um convento, o Convento de Santo Domingo. Possuía alvenaria delicada, com
pedras moldadas e polidas. As paredes eram cobertas por folhas de ouro, como referência a Inti,
Deus Sol.

• Sacsayhuaman: uma fortaleza inca, hoje em ruínas, localizada 2 quilômetros ao norte da cidade
do Cusco, no Peru.

• Tinha finalidade militar, de proteger os incas contra a invasão de tribos que ameaçavam o
império inca.

• Rochas muito grandes, as maiores utilizadas em monumentos da América espanhola,


encaixadas com precisão.

• As paredes possuem cerca de 400m de largura x 6m de altura. As pedras pesam entre 120 e
200 toneladas, aproximadamente.

MACHU PICCHU

• Construída por volta de 1450, mas foi abandonada no contexto da conquista espanhola. No alto
de uma montanha, a mais de 2 km de altura.

• Divide-se em um setor urbano, cidade alta, e setor agrícola, cidade baixa.


• A arquitetura é adaptada às montanhas, com aproximadamente 200 edifícios construídos ao
redor da praça central.

OUTRAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO CULTURAL:

Quipu inca.

Os quipus foram utilizados pelos incas como sistema de escrita, para registro de histórias e
cantos em língua quéchua, e também de contagem, tanto de rebanhos quanto de pessoas.

- Feitos de lã de lhama ou alpaca, ou de algodão.

- A posição do nó e a quantidade indicavam valores numéricos

- As cores do cordão indicavam o item que estava sendo contado, sendo que para cada atividade
(agricultura, exército, engenharia etc.) existia uma simbologia própria de cores.

- O transporte dos quipos era realizado pelos chasqui, mensageiros que corriam pelas trilhas
incas levando o quipo contendo as informações a serem transmitidas, até o próximo posto de
mensageiros, onde aguardava um mensageiro descansado pronto para continuar o transporte do
quipo.

Túnica miniatura

O tipo de peça exibido aqui era usados exclusivamente como oferenda em festividades
conhecidas como capacochas, nas quais se realizavam sacrifícios de crianças. Essas miniaturas
de túnicas vestiam pequenos ídolos de ouro ou de prata.

CONQUISTA DA AMÉRICA E RESISTÊNCIA DOS POVOS


NATIVOS
ROMANO, Rugiero. As formas de conquista. In Mecanismos da Conquista Colonial. São Paulo:
Editora Perspectiva.

BRUIT, Héctor H. O visível e o invisível na conquista hispânica da América. In VAINFAS,


Ronaldo (org.) América em tempos de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, p.77-101.

RELATOS DOS FATOS DA CONQUISTA

• Os relatos deixados pelos cronistas, conquistadores e pintores espanhóis, elaborados


concomitantemente à conquista ou períodos posteriores (período colonial e no pós
Independência).

• Os textos indígenas como o códice Ramírez, o códice Aubin e a XIII Relación de Fernando de
Alva Ixtlilxóchitl. Estes textos indígenas foram compilados por Miguel León-Portilla na sua obra
Visión de los vencidos.
Sem colonização não há uma boa conquista, e se a terra não é conquistada, as pessoas não
serão convertidas. Portanto, o lema do conquistador deve ser colonizar.

BREVE CRONOLOGIA DA CONQUISTA DA AMÉRICA

1492: Tomada de Granada, Unificação do Estado Nacional Espanhol, Primeira Viagem de Colombo
e chegada às Antilhas.

1493: Segunda viagem de Colombo – Jamaica, Antilhas

1498: Terceira viagem de Colombo – Venezuela

1502: Quarta viagem de Colombo – Panamá e Honduras

1519: Expedições de Cortés no México, aprisionamento de Montezuma

1521: Destruição de Tenochtitlán por Cortés, ocupação da Flórida por Ponce de León

1532: Pizarro captura o imperador Inca, Ataualpa

1533: Execução de Ataualpa e tomada de Cuzco

Os mecanismos da conquista colonial

Mais que uma narrativa da conquista, Rugiero Romano busca entender os mecanismos que
possibilitaram a conquista, quais formas e métodos foram empregados no empreendimento da
conquista.

A espada

• Superioridade de armamentos dos espanhóis; armas de fogo (maior possibilidade de combates


à distância); cavalo (maior mobilidade); armaduras e armas de ataque (maior resistência)

• Cavalos: poder também psicológico, animal desconhecido dos nativos;

• Cachorros: usados para combater populações não estruturadas;

• Armas de fogo e pólvora: ferrugem, umidade, dificuldade de locomoção; armaduras pesadas: calor

Então, a superioridade militar pode explicar a conquista?

• É preciso considerar que as populações sedentárias com exércitos regulares, segundo as


crônicas, são derrotadas mais “facilmente” que as populações não organizadas.

• Além do fato de que, no caso das sociedades expansionistas, existe forte oposição interna, de
povos que se alinham aos espanhóis.
Por outro lado, com que alianças contar na guerra contra os araucanos, que já tinham resistido ao
Inca, no centro-sul do Chile? Que alianças encontrar contra os índios Pampas nas planícies
argentinas? Que alianças procurar contra os Chichimecas do norte do México? Devemos, então,
nos espantar se os locais ocupados por essas tribos (e isso é válido também para outras vastas
regiões) foram conquistados só mais tarde, muito mais tarde, no século XVII, no século XVIII e
mesmo nos séculos XIX e XX?

(ROMANO, p.16).

A CRUZ

• Antes da conquista: sinais, profecias, calamidades que anunciavam a chegada de deuses.

• Desconhecido + sistema mítico e religioso.

Inocência, ingenuidade, selvagens? É fácil sorrir. Mas o terror – não se pode empregar outra
palavra – que se apoderou dos americanos em 1939, por ocasião de uma célebre emissão
radiofônica de Orson Welles anunciando aos seus concidadãos, como fato consumado, o terrífico
desembarque de marcianos na Terra, acaso não pode ajudar a compreender como a credulidade
pode ser alastrar mesmo entre “civilizados”?

(ROMANO, p.18).

Dez anos antes da vinda dos espanhóis, um presságio de desgraça apareceu pela primeira vez no
céu, como uma chama de fogo, como uma lâmina de fogo, como uma aurora. Parecia chover em
pequeninas gotas, como que a perfurar o céu: alargou-se na base e estreitou-se no vértice. Bem
no meio do céu, bem no centro do céu chegou, até o mais profundo coração do céu (...) Mostrou-
se durante um ano inteiro (...) Quando se mostrava, as gentes soltavam gritos, davam tapas nos
lábios, sobressaltavam-se, abandonavam o trabalho”. O incêndio do templo consagrado a
Uitzilopochtli [...] foi entendido como um [...] presságio. A queda de um cometa à luz do dia [...] um
redemoinho no grande lago em México-Tenochtitlan –, seguido [...] dos gemidos de uma mulher
noite adentro, acompanhados dos gritos “meus filhos queridos, chegou a hora da nossa partida!”.
Foram ainda sinais funestos, um pássaro grande e cinzento, que possuía um espelho redondo,
esférico, sobre a sua cabeça, onde se viam o céu, as estrelas, a constelação de gêmeos, que fora
pescado em uma rede no lago [...]. Ao consultar os seus adivinhos sobre o pássaro que lhe
provocara visões, Montezuma disse-lhes: “Não sabeis o que eu vi? Umas pessoas que pareciam
vir correndo de todos os lados”. O [...] último presságio funesto foi assim registrado pelos astecas:
“Muitas vezes apareciam homens, deformados, de duas cabeças, mas um corpo só. Levavam-nos
ao Colégio do Negro, mostravam-nos a Montezuma; assim que ele os via, desapareciam”.

• Relação íntima entre autoridade política e religiosa (queda de um associada

ao desmoronamento de outro).
• Religião = cimento para manutenção dos Estados, da estrutura social e de

trabalho.

• Hierarquização da sociedade = dirigentes aceitam a nova religião e as

massas os seguem.

Era realmente preciso evangelizar as populações americanas? O problema foi debatido. E como
não o debater quando se chegou a considerar os índios como “casi monos” (quase macacos)?
Evangelizam-se macacos? Em todo caso, acabaram decidindo evangelizar as massas. Mas o
equívoco persistiu e, n fundo, continuaram a considerá-los “quase macacos”; a evangelização
resultou muitas vezes em fracasso. [...] Por quê? Porque a violência domina também a
evangelização. Como oferecer uma religião que se pretende de amor, quando se considera que
“ninguém pode duvidar que a pólvora contra os infiéis são como o incenso para o Senhor” (Oviedo)?
[...] Será, pois, preciso considerar a evangelização pelo que ela foi em relação aos índios da
América: uma forma complementar de agressão. Pois trata-se evidentemente de agressão quando
se tende a modificar, sob o pretexto da religião, hábitos que remontam às origens de um povo

Um exemplo: a obrigação de enterrar os mortos conforme o ritual cristão. Ora, regiões inteiras da
América não enterravam o cadáver, mas o encerravam em jarros que colocavam em cavernas,
“tumbas” abobadadas. Devemos, então, nos admirar que uma canção popular de Quito cante ainda
hoje: Eu quero que me enterrem / Como meus antepassados no ventre escuro e fresco / De um
jarro de terra argilosa? Falência, pois. [...], Mas, a partir de agora, será preciso assinalar como esta
evangelização em contradição com o objetivo confesso – converter os índios – se transforma, talvez
até inconscientemente, em elemento complementar da espada. Juntas, elas constituirão as
preliminares da conquista e da dominação: a desestruturação de todos os sistemas – político,
moral, cultural, religioso – que regiam as massas indígenas da América.

A FOME

Não se deve, absolutamente, tomar esta palavra no sentido próprio [...]. Se nos servimos deste
termo, é porque ele nos parece resumir bem todos os valores da cultura material que foram
levantados pela conquista. Toda uma certa ordem de coisas foi levantada: ritmos de trabalho, tipos
de cultura, tipos de vida: tudo foi mudado ou, ao menos, consideravelmente modificado

• Mudanças severas nos valores da cultura material, ritmos de trabalho, tipos de cultura, tributação,
guerra, epidemias, deslocamentos, quantidade de trabalho.
A DESESTRUTURAÇÃO

A desestruturação é, portanto, um elemento, e um elemento determinante, da conquista. Mas,


depois da conquista, torna-se um instrumento da manutenção da supremacia de certos grupos que
surgem como dominadores da conquista. [...] Os três elementos que indicamos não agem
isoladamente: sua interação é constante. [...] Assim, por este mecanismo complicado, a conquista
foi possível. Obra de um grupo muito pequeno de homens contra massas demográficas enormes,
ela é absolutamente incompreensível se quisermos explicá-la com argumentos de “coragem”, o
que não deixou de ser feito, de “proteção divina”, ou, ainda, por uma esmagadora inferioridade de
civilização das populações vencidas. Trata-se, na realidade, de um mecanismo extremamente
complexo, no qual, em proporções diferentes [...], entraram em combinação com elementos [...]
precedentes.

A RESISTÊNCIA DOS POVOS NATIVOS

A conquista visível

A história visível da conquista é a história da derrota militar dos povos americanos, a derrubada dos
grandes impérios indígenas, o massacre do índio. É também a história da pequena tropa indiana
de Cortez, Pizarro, Valdivia, que enfrentaram toda classe de obstáculos: cordilheiras, planícies
áridas, selvas, climas quentes, guerras. Foram os “heróis civilizadores”, valentes, católicos e cruéis.
Forma parte dessa história visível a evangelização dos índios, a extirpação das idolatrias, a luta
contra o demônio, a dominação e o servilismo dos indígenas. Mas também a procura do ouro, o
enriquecimento rápido e a exploração até a exaustão e a morte dos povos americanos (BRUIT,
p.77)

• Um dos maiores genocícios da história da humanidade.

• Em menos de 100 anos, a população do México passou de 25 milhões para 1 milhão, devido às
guerras, doenças, suicídios, abortos.

• Historiador colombiano Germán Arciniegas em seu livro América, tierra firme (1944) que os
espanhóis não descobriram a América, eles a encobriram quando destruíram as sociedades
indígenas.

• Foi comemorada pela Espanha no aniversário de 500 anos. Na América Latina, no entanto, “os
intelectuais recusam qualquer comemoração de um evento tão infausto e destrutivo da espécie
humana. A fama da Espanha pela descoberta tornou-se infâmia pela conquista” (BRUIT, p. 78)

A conquista em seu sentido mais amplo de dominação total, deaculturação, de substituição de uma
cultura por outra, de umaabsorção ou [...] de uma eliminação dos vencidos, realmente não chegou
a realizar-se. Esse fracasso relativo do vencedor tem sidocolocado de soslaio pela questão da
miscigenação que permitiu o nascimento de uma nova sociedade, o que justificaria pensar que a
conquista hispânica concretizou-se plenamente. Mas plenamente aqui só pode ter o sentido que
os espanhóis lhe davam no século XVI, isto é, civilizar os índios de acordo com os padrões
peninsulares; evangeliza-los a ponto de eliminar as religiões americanas; transformá-los em
verdadeiros vassalos do rei, e conseguir todo o metal precioso possível

A CONQUISTA INVISÍVEL

Na prática, só se conseguiu o último, pois os outros objetivos se realizaram muito precariamente.


No entanto, esse relativo fracasso não pode ser debitado apenas aos conquistadores, segundo a
ideia, bastante difundida, que só se preocuparam em extrair o ouro e explorar os índios; mas
também à ação destes, que opuseram diversas formas de resistência, a começar pela militar até
as sub-reptícias* como a ruptura da comunicação verbal. [...] mesmo derrotados, submetidos e
explorados, os índios desenvolveram [...] práticas e comportamentos que tornaram o processo da
conquista instável e o frustraram seus objetivos, fazendo com que a nova sociedade mergulhasse
numa crise permanente a partir de seus próprios fundamentos (BRUIT, p. 79).

* Feito às ocultas, dissimulado, clandestino

Trata-se [...] de mostrar que mesmo conquistados e colonizados, os índios não perderam sua
condição de agentes sociais ativos, capazes de frustrar os valores impostos pelos vencedores [...]
(BRUIT, p. 79).

Os índios não foram tão pacíficos, obedientes e desenganados [...]. Na realidade, a destruição e o
morticínio foram produto [...] de uma relação de guerra que se desenvolveu porque existiam
combatentes de um lado e do outro. Mas passada a etapa bélica, os índios praticaram uma
resistência camuflada (BRUIT, p. 80-81).

HIPÓTESE DO AUTOR

[...] nos prendemos à hipótese de que a versão do vencedor só é possível a partir d seus próprios
atos e, também, dos atos dos vencidos, de tal forma que essa visão e sua respectiva versão contém
necessariamente a ação destes últimos, mesmo quando encoberta propositadamente. [...] a ação
dos vencidos [...] forma parte do conteúdo histórico do processo, mas, de alguma maneira,
manifesta-se através dos próprios símbolos do vencedor. Então, é uma questão de poder traduzir
os signos de uma ação para resgatar os da outra (BRUIT, p. 80).

FORMAS DE RESISTÊNCIA INVISÍVEL

• Silêncio
• Recusa ao trabalho (preguiça, teimosia)

• Invenção de histórias sobre riquezas (mentira)

• Manutenção das crenças religiosas (idolatria)

• Uso de bebidas alcóolicas (bêbados)

REFLEXÕES FINAIS

[...] a simulação escondia o rancor pela destruição e o genocídio; [...] encobria o desejo e a intenção
de preservar os traços culturais mais queridos, como a religião. Em ambos os casos trata-se de um
mecanismo de defesa, de sobrevivência, de deculturação, de resistência, que não foi visualizado
nem entendido pelas autoridades nem pela maioria dos espanhóis [...]. Ao passo que todos, ou
quase todos, enxergavam à maioria vencida obediente e servil, esta, com atos que não se
entendiam, corroía, no silêncio, os alicerces da nova sociedade (BRUIT, p. 89-90).

A CONQUISTA TERRITORIAL DO NOVO MUNDO


RELAÇÃO CONQUISTA – COLONIZAÇÃO - VIOLÊNCIA

Toda e qualquer colônia é resultado de uma conquista territorial. Ela é um espaço novo, na
perspectiva do colonizador. Um espaço ganho da natureza, de outros povos e de outros Estados.
[...] Por isso a determinação básica da colônia é a conquista, entendida aqui como uma relação
específica entre uma sociedade que se expande e as pessoas, recursos e áreas dos lugares onde
se exercita essa expansão. A violência e a expropriação são assim dados irredutíveis desse
processo, variando em grau, mas sempre presentes em suas manifestações.

Processo de formação do sistema colonial na América: composto pelas relações entre


sociedade e espaço.

• O apetite territorial das sociedades europeias levam à expansão marítima e consequente


ocupação de novos espaços

• A capacidade de se adaptar aos territórios e sociedades encontradas possibilita o êxito (ou não)
dos empreendimentos coloniais.

A OCUPAÇÃO FORMAL DA TERRA NO NOVO MUNDO

[...] a formação colonial expressa, já em sua gênese, uma qualidade de subordinação. Ela é
resultado de uma ação que lhe é externa. Pois a colônia é [...] a efetiva instalação do
colonizador – a objetivação da conquista.
O REQUERIMENTO

Em nome de Sua Majestade, ... Eu ... Seu servidor, mensageiro ... Notifico e faço saber da
melhor forma possível que Deus nosso senhor único e eterno criou o céu e a terra. Deus nosso
Senhor confiou [todos os povos] a um único homem chamado São Pedro, de modo que ele era o
senhor, superior a todos os homens do mundo. E deu-lhe todo o mundo para seu domínio e
jurisdição. Um desses Pontífices fez a doação destas terras e deste continente do Mar Oceano
aos reis católicos da Espanha. Quase todos os que foram notificados [disto] receberam Sua
Majestade e o serviram e lhe obedeceram, e o servem como súditos, tornando-se cristãos sem
nenhuma recompensa ou estipulação, e Sua Majestade recebeu-os como súditos e vassalos. [...]
Mas se não o fizerem, com a ajuda de Deus, invadirei suas terras à força, e farei guerra onde e
como puder, e submetê-los- ei ao jugo e à obediência da Igreja e de Sua Majestade, e tomarei
suas mulheres e filhos, tornando-os escravos, e tomarei seus pertentes, fazendo-lhes todo o mal
e causando-lhes todos os danos que um senhor pode causar aos vassalos que não o mrecebem
nem lhe obedecem. E declaro solenemente que a culpa pelas mortes e danos sofridos por essa
ação será sua, e não de Sua Majestade, nem minha, nem dos cavalheiros que comigo vieram.

• Criado em 1512, pelo jurista Juan López Palacios Rubios, foi o meio pelo qual a Espanha
sancionou autoridade política ao Novo Mundo.

• Era lido em voz alta para os nativos, representava um ultimato para que fosse reconhecida a
autoridade espanhola. Caso contrário,enfrentariam a guerra.

• Estabelece que o objetivo da guerra não seria somente a rendição, mas sim a submissão à Coroa
espanhola e ao catolicismo. Trata-se de um ritual militar, político/religioso.

A importância de cumprir o Requerimento

Estabelecer o direito de governar por virtude da conquista significa que todos os soldados,
capitães e líderes em batalha devem seguir os passos políticos que lhes foram ordenados. Pois o
que está em questão não é simplesmente seu próprio controle pessoal sobre uma região, mas o
governo legítimo de todo um Estado. Omitir os rituais seria colocar em risco o restabelecimento
de um domínio legítimo.

A RELAÇÃO ESPAÇO-SOCIEDADE

Estruturas de exploração colonial: dois vetores:

•Características das populações submetidas

•Atrativos das riquezas encontradas (o que leva a uma demanda de trabalho e deslocamento
populacional)

A DENSIDADE POPULACIONAL DOS NATIVOS


Como se viu, a densidade populacional e a organização social da população encontrada
atuaram fortemente sobre as formas de assentamento europeu no Novo Mundo. Nas zonas de
maior concentração (logo, com uma divisão do trabalho mais complexa), o conquistador depara
com territórios formados (com hierarquias locacionais e circuitos definidos), e a obra colonizadora
se traduz inicialmente na apropriação dessas estruturas preexistentes. Nas áreas de população
menos adensada e divididas em unidades políticas menores, a colonização se efetiva na
destruição direta dos gêneros de vida tradicionais e no redirecionamento da força laborial
indígena. Nos dois casos, o controle dos habitantes é a chave da conquista.

AS RIQUEZAS DA TERRA

Entretanto, não apenas o quadro demográfico atua sobre o assentamento, mas também a
perspectiva de lucratividade do empreendimento nas novas terras influi na velocidade e
profundidade do processo de instalação. Certos atrativos naturais, como a existência de jazidas
de metais preciosos, elegem determinados sítios e imprimem direções a esse processo. Vale
lembrar que a extração da prata e o abastecimento das zonas mineiras criaram novos circuitos e
assentamentos que, inclusive, envolveram amplos deslocamentos de populações.

OS DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS

Se, por um lado, a perspectiva de lucro antevisto comanda o assentamento do colonizador,


por outro, o efetivo estabelecimento da produção [...] só ocorre com a disponibilidade do fator
trabalho. É ele a mediação inelutável entre a riqueza potencial e a mercadoria. [...] o povoamento
colonial é, em sua maior parte, um fluxo migratório forçado. Seja o servo branco sob contrato
(aprisionado, comprado ou raptado), seja o africano, seja ainda o índio, todos pertenciam a
populações deslocadas de seus habitats originários e submetidas a um novo ordenamento social
e espacial [...].

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