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Anatomia Radiológica e Patologia

Aula 4: Anatomia radiológica e patologias da coluna vertebral

Apresentação
Nesta aula, você irá conhecer os exames realizados para a avaliação anatômica da coluna vertebral, em cada um dos seus
quatro segmentos.

Serão apresentadas as rotinas básicas mais frequentes em serviços de emergência e ortopedia. Você aprenderá a
reconhecer estruturas anatômicas típicas e atípicas em radiografias com aspecto normal e identificar os padrões
radiográficos das lesões mais recorrentes.

É fundamental que o aluno revise a anatomia vertebral e as curvaturas congênitas e adquiridas, dada a complexidade da
região. As radiografias simples mostram indícios que sugerem a necessidade de exames adicionais. Por isso, o tecnólogo
deve dominar a anatomia radiográfica da região.

Ao final desta aula, além de diferenciar radiografias normais de imagens patológicas, o aluno deve ser capaz de avaliar se
os achados resultam de falha operacional nos equipamentos ou de imperícia. Não deixe de realizar os exercícios e sempre
explore mais! Bons estudos.

Objetivos
Identificar as principais estruturas anatômicas de interesse;

Diferenciar radiografias normais de imagens com traços e padrões suspeitos;

Relacionar os padrões identificados com possíveis patologias ou falhas técnicas.

Aspectos gerais da coluna vertebral


A coluna vertebral, espinha ou coluna espinal é uma
estrutura óssea composta pelo empilhamento de várias
unidades ósseas chamadas de vértebras.

O empilhamento produz uma coluna óssea vertical, cujo


objetivo é proteger a medula espinal e oferecer suporte para
a fixação do sistema apendicular e distribuição do peso
corporal para os membros inferiores.

As vértebras não se articulam diretamente. Entre elas,


existem bolsas fibrocartilaginosas, cujo objetivo é
amortecer o impacto, o atrito e o peso exercido sobre as
vértebras. Essas estruturas são chamadas de discos
intervertebrais.

Além disso, são os discos os responsáveis pela flexibilidade


da coluna vertebral e pelo seu movimento.

As vértebras são as unidades de composição da coluna


vertebral. Conforme sua posição e função na coluna, as
vértebras têm tamanhos e formatos específicos.

Anatomicamente, as vértebras são consideradas ossos irregulares, embora tenham estruturas comuns a todas, mas também
tenham estruturas específicas para uma seção particular da coluna.

Quando se enquadra no primeiro caso, a vértebra é considerada típica. São características típicas de uma vértebra qualquer ter
um corpo, um forame medular, dois processos transversos e um processo espinhoso.

Quando a vértebra possui características muito específicas, próprias para uma determinada função, é chamada de vértebra
atípica. A função da primeira vértebra cervical, por exemplo, é exclusivamente suportar e favorecer o movimento da cabeça.
Como é a primeira via de passagem da medula da caixa craniana, a vértebra apresenta um grande forame e quase não possui
estrutura óssea, tendo um formato de um grande anel. Por sua função muito específica, dizemos que se trata de uma vértebra
atípica.

Estrutura anatômica da primeira vértebra cervical, em vista superior.
A coluna é composta por 33 vértebras,
aproximadamente.

Considerando sacro e cóccix como ossos únicos (sem


fusionamento, falaremos disso a seguir), o correto é
considerar 26 ossos.

O nome da vértebra é composto pela primeira letra da


seção onde está localizada mais a sua posição no
empilhamento. Por exemplo, a quarta vértebra da
seção lombar é denominada L4.

As quantidades para cada seção serão trabalhadas


individualmente.

A coluna não é rigorosamente ereta. Para que haja equilíbrio


na distribuição do peso, existem dos tipos de curvaturas
naturais ou congênitas.

Essas curvaturas são longitudinais ao plano médio sagital


(PMS) e o nome de cada uma depende da posição da
concavidade.


Figura adaptada de Bontrager (2015)
Quando a concavidade é anterior, a curvatura é Caso a concavidade seja posterior, a curvatura é
chamada de cifose. chamada de lordose.

A coluna vertebral tem 2 lordoses e 2 cifoses.


Anatomia radiográfica da coluna cervical
A coluna cervical compõe a estrutura óssea da região posterior do pescoço. O nome cervical é derivado do vocábulo cerviz, que
significa nuca, pescoço. São 7 vértebras, que se dispõem em curvatura lordótica. A seção cervical possui 3 vértebras atípicas:
C1, C2 e C7.

A primeira vértebra cervical se chama atlas ou C1. Sua função é suportar o peso do crânio e permitir a passagem do maior
calibre da medula espinal. Por isso, radiograficamente, parece um anel com aspecto mais fino em vista anterior e possui
processos transverso e espinhoso curtos. Encaixada dentro de C1, temos a vértebra axis ou C2.

Embora tenha todas as características de uma vértebra típica, C2 tem um eixo (daí, o seu nome axis) em formato de pivô,
chamado de processo odontoide ou dente do axis.

Embriologicamente, o processo odontoide é considerado o corpo de C1 que se funde a ela no processo de desenvolvimento e
maturação óssea.

A função deste pivô é favorecer a movimentação da cabeça, uma vez que o processo odontoide está intimamente ligado à C1.


Relação C1-C2, para movimentos de rotação do crânio.
Saiba mais

Atlas foi um titã, figura mitológica grega que fazia oposição à posse de Zeus como deus supremo do Olimpo. Titãs eram figuras
de beleza, porte e força inigualáveis. Como consequência de sua rebeldia, Atlas foi condenado por Zeus a sustentar o peso da
Terra e dos céus para sempre em seus ombros. Dele, surgiu o atlas como mapa-múndi, o termo atleta para esportistas e o design
da atual taça da Copa do Mundo. Portanto, atribuir este nome à primeira vértebra cervical (C1), responsável por suportar o peso
da cabeça para sempre, não foi arbitrário.

As vértebras de C3 a C6 são típicas e vão apenas aumentando de volume.

A vértebra C7 é chamada de proeminente, devido ao seu processo espinhoso maior e mais horizontal que os demais. Esta
estrutura pode ser palpada posteriormente e representa o limite entre as seções cervical e torácica da coluna vertebral.

C6 e C7 em perfil, para comparação do tamanho do processo espinhoso.


Exames radiográficos para avaliação da coluna cervical
Radiograficamente, as vértebras são estruturas ósseas e devem aparecer com aspecto radiopaco como todos os ossos. Os
espaços entre os corpos vertebrais são preenchidos com os discos intervertebrais.

Como são cartilaginosos, geram um aspecto radiotransparente na imagem. A região central pode aparecer com uma espessa
linha escura, que representa a presença de ar dentro da traqueia. Tecnicamente, o exame deve ser realizado em apneia
expiratória para evitar esse tipo de artefato na imagem.
A rotina básica para a avaliação da coluna cervical são as
incidências em AP e lateral.

Na radiografia em AP, são bem visualizados os corpos


vertebrais, os discos intervertebrais (espaços
radiotransparentes entre as vértebras) e os processos
transversos.

A contagem correta das vértebras deve ser realizada


partindo do primeiro par de costelas, ou seja, localizando T1.
É feito dessa forma, pois as duas primeiras vértebras
podem ficar sobrepostas às sombras do occipital ou da
mandíbula, em um grande borramento radiopaco. Isso
prejudica a localização correta.
Os exames em oblíqua são complementares, realizados
para avaliar os forames intervertebrais, que são estruturas
por onde passam os nervos espinais.

Como o próprio nome sugere, são forames constituídos


pela união de duas vértebras cervicais, formadas pelos
arcos das incisuras vertebrais superior e inferior.

São localizadas lateralmente, mas são mais bem


visualizadas nas incidências em oblíqua, onde aparecem
sem sobreposição dos processos transversos.

Já as radiografias em perfil mostram os corpos vertebrais e


o comprimento dos processos espinhosos.

No entanto, os processos transversos são apresentados em


sobreposição. Incidência importante para mostrar
desalinhamento de vértebras e fraturas de processos
espinhosos e pedículos, além de demonstrar processo de
retificação de cervical e herniações de disco, comuns em
lesões na coluna cervical.
Quando é necessário avaliar a relação C1-C2 ou possíveis
fraturas, é realizada uma incidência em AP com a boca
aberta. Isso permite remover a sobreposição natural da
mandíbula sobre as primeiras vértebras cervicais. Note o
dente do axis, o arco anterior e as massas laterais de C1.

Atenção! Aqui existe uma


videoaula, acesso pelo conteúdo online

Patologias e lesões associadas às vértebras cervicais


As patologias e lesões mais preocupantes são aquelas que comprometem a principal função da coluna, que é o suporte do
peso e proteção da medula. Portanto, lesões ósseas que comprometam a matriz calcificada (como mielomas múltiplos e
osteoporose, por exemplo), luxações e fraturas são os tipos de lesões mais recorrentes. Aqui, iremos nos concentrar no estudo
radiográfico das principais fraturas cervicais.

A fratura do escavador de argila (ou fratura de clay-shoveler) é uma fratura oblíqua com avulsão do processo espinhoso. Ocorre
por hiperflexão aguda do pescoço, assim como ocorria com pedreiros que levantavam grandes quantidades de argila na pá. O
excesso de carga produz esse tipo de fratura, que geralmente é decorrente de acidentes de carro. A lesão pode ocorrer entre C5
e T1. A incidência lateral demonstra melhor essa fratura.

Incidências em AP e lateral, evidenciando fratura no processo espinhoso de C6.

Neste caso, a lesão é perfeitamente visualizada em lateral, embora seja possível observá-la em AP como uma pequena ranhura
no corpo cervical, com o qual o processo espinhoso faz sobreposição.

A fratura do enforcado ocorre nos pedículos de C2, com ou sem subluxação de C2 e C3. Decorrente de uma hiperextensão
extrema em acidentes automobilísticos ou enforcamento.

O paciente, quando ainda está vivo, não permanece com o pescoço estável, pois o dente é pressionado posteriormente no
tronco cerebral. A lesão é mais bem demonstrada em incidência lateral da cervical. Nela, visualiza-se o deslocamento anterior
de C2, padrão típico da fratura.
Incidência lateral de cervical, evidenciando o deslocamento anterior de C2 e linha radiotransparente longitudinal e posterior ao
corpo vertebral, indicando fratura do pedículo. Note que já existem procedimentos ortopédicos prévios em C5 e C6.

A fratura de Jefferson é um trauma cominutivo, decorrente de inclinação brusca do esqueleto axial. Como uma pessoa que
abaixa para posicionar bruscamente a cabeça na altura dos pés ou em quedas de cabeça, como ocorre quando se mergulha
em águas rasas. Com a batida da calota craniana no chão, os côndilos occipitais comprimem C1 e os arcos anterior e posterior
são fraturados conforme o crânio colide no anel. O exame padrão para visualizar a fratura é a incidência AP de boca aberta e
lateral, que mostram assimetria na visualização do dente do axis e deslocamento das massas laterais de C1 lateralmente. Esse
nome foi dado em homenagem ao neurocirurgião britânico Sir Geoffrey Jefferson.

Incidências lateral e AP com a boca aberta. Note uma protuberância anterior na região de C1, o desalinhamento do espaço
entre o processo odontoide e um traço radiotransparente horizontal transpassando por ele, indicando justamente a avulsão do
arco anterior de C1.

Anatomia radiográfica da coluna torácica ou dorsal

As vértebras torácicas compõem a parte posterior do Vértebras torácicas são mais encorpadas, se
gradil costal. São 12 vértebras, uma para cada par de comparadas às cervicais. Por isso, a aparência
costelas. Seus processos espinhosos são mais radiográfica tende a ser mais radiopaca. Além das
inclinados inferiormente, principalmente a partir de T5. vértebras, será possível visualizar os pares costais na
Os processos transversos são compostos de facetas sequência. A caixa torácica possui outras vísceras,
ou fóveas costais, que têm a função de alojar a cabeça como os pulmões, miocárdio, vasos e a árvore
e tubérculo das costelas. Em geral, o corpo é mais brônquica, que se estende desde a traqueia até a região
volumoso e alto, se comparado com as vértebras interna dos pulmões. Isso produz muita sobreposição
cervicais, isso porque as torácicas sustentam mais na imagem. Como a coluna é anatomicamente
peso. De T1 a T4, as vértebras similares das vértebras posterior, os exames são realizados em incidência
cervicais. De T5 a T8, são consideradas vértebras anteroposterior, para evitar a sobreposição e acentuar
torácicas típicas. De T9 a T2, são mais volumosas e se mais as imagens das estruturas próximas ao detector.
assemelham às vértebras lombares.

Exames radiográficos para avaliação da coluna torácica

Os exames radiográficos de rotina são as incidências em AP e lateral. Quando se deseja


avaliar melhor os forames intervertebrais, é realizado o exame em oblíqua.

Na incidência em AP, identificamos T1 pelo seu arco costal com curvatura mais acentuada superiormente. As duas regiões
mais radiopacas dentro do corpo vertebral representam os pedículos. O terceiro ponto, entre os dois e mais inferior, representa
o processo espinhoso. Além disso, é por meio desta incidência que se diagnostica a curvatura lateral da coluna, a escoliose.
Mais detalhes sobre a patologia serão tratados a seguir.

Já a incidência lateral é fundamental para avaliar o grau de cifose torácica. Além disso, é possível analisar a profundidade do
corpo vertebral, espaços intervertebrais, forames intervertebrais, processos articulares superiores e inferiores e um grande
borramento e alta opacidade posterior, formada pela sobreposição dos arcos costais.


Radiografia de coluna torácica, incidências em AP e lateral

Em seguida, estrutura anatômica de uma vértebra torácica típica (Shutterstock ID 487208614)

Fonte: https://radiopaedia.org/cases/40136


Patologias e lesões associadas às vértebras torácicas


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Patologias e lesões associadas às vértebras torácicas
A fratura de Chance, também conhecida como fratura do cinto de segurança, é uma fratura horizontal que atravessa
um corpo vertebral lombar e estende-se até a lâmina e o processo espinhoso.

A flexão violenta da coluna vertebral para frente, embora contida pelo cinto de segurança abdominal durante a
desaceleração súbita, faz com que as vértebras situadas acima do cinto sejam empurradas para frente e desprendidas
da parte inferior fixa da coluna vertebral. A fratura de Chance clássica consiste na separação horizontal das vértebras a
partir do processo espinhoso ou da lâmina, estendendo-se pelos pedículos e pelo corpo vertebral sem lesar as
estruturas ligamentares. O nome foi dado em homenagem ao radiologista britânico George Quentin Chance.


Radiografia de coluna torácica, incidências em AP e lateral. Na primeira, note o traço horizontal passando por T9.

Em perfil, veja que existe um traço fino de fratura também em T8. Ao lado, esquema em 3D, ilustrando a fratura.

Espondilite anquilosante é uma doença sistêmica de origem desconhecida que envolve a coluna e articulações
maiores. Nas vértebras torácicas, pode afetar as articulações costovertebrais, gerando calcificação paraespinhal, com
ossificação e anquilose (união dos ossos) das articulações espinhais.

É um quadro inflamatório que geralmente tem início nas articulações sacroilíacas e avança até a coluna torácica. O
segmento pode se tornar completamente rígido quando as articulações intervertebrais e costovertebrais se fundem. A
lesão também pode afetar as vértebras lombares.

Radiografia de coluna torácica, incidências em AP e lateral. Veja o aumento da radiopacidade intervertebral e nas regiões laterais das vértebras, traço típico de anquilose ou
fusionamento entre as vértebras.

Escoliose é o nome dado à curvatura lateral na coluna torácica. É mais comum o surgimento em crianças entre 10 e
14 anos, do sexo feminino e o desenvolvimento e agravo ao longo da vida, em razão de má postura.

Na região torácica, a escoliose pode prejudicar a função respiratória, assim como prejudica a marcha quando ocorre
no segmento mais inferior, próximo da transição com a coluna lombar. A escoliose geralmente é adquirida por maus
hábitos de postura, tais como transportar bolsas ou mochilas em apenas um dos ombros ou ainda o uso excessivo de
calçados com salto muito elevado.

Radiografia de coluna torácica, incidência em AP.

A escoliose, neste caso, é caracterizada pela curvatura lateral no terço médio, contralateral ao miocárdio.

Anatomia radiográfica da coluna lombar


A coluna lombar é composta por 5 vértebras típicas, empilhadas em curvatura lordótica.

Em razão de sua localização e da sobrecarga de peso que recebe, as vértebras lombares têm uma estrutura diferenciada,
contando com um corpo volumoso e processos articulares mais robustos também, que facilitam o suporte.

Os processos transversos são mais curtos e os processos espinhosos são mais chatos.

Como são vértebras típicas, não têm nenhuma estrutura diferenciada das demais.

Entretanto, como seus processos transversos são inclinados posteriormente e os processos articulares superior e inferior são
mais robustos, no empilhamento, as lâminas– união entre o processo espinhoso e os processos articulares– formam uma
“ponte”, uma zona radiopaca denominada pars articularis. Esta região é importante para a compreensão de algumas patologias
lombares. Lembre-se dela.

Como são mais volumosas, as vértebras torácicas Por isso, em exames para avaliação da coluna lombar, é
tendem a ter um aspecto mais radiopaco na imagem. recomendável o uso de laxativos e antigases, para
Entretanto, como a região é recoberta pelas vísceras eliminar os resíduos fecais e flatulências das alças
abdominais, tende a haver muita sobreposição de intestinais. Estas estruturas geram artefatos
imagens, o que prejudica a interpretação da radiografia. radiotransparentes na imagem, o que pode gerar falsos
positivos na caracterização de alguma lesão. Este
preparo é feito, geralmente, de 3 a 4 dias antes do
exame.

Exames radiográficos para avaliação da coluna lombar


Os exames de rotina para avaliação da coluna lombar são as incidências em AP e lateral. Na primeira, é possível visualizar os
corpos vertebrais e os espaços intervertebrais. Os processos articulares superiores se sobrepõem aos processos transversos,
o que gera duas marcas radiopacas nas laterais do corpo vertebral. Da mesma forma como ocorre nas vértebras torácicas, a
marca radiopaca entre as outras duas, mais inferior, representa o processo transverso. Note que ele aparece mais radiopaco,
uma vez que é mais volumoso.
Na projeção em AP, a vértebra L5 parece mais achatada. Essa vértebra é que faz a transição com a coluna sacra.

Na incidência lateral, é possível visualizar perfeitamente os forames intervertebrais. No entanto, os processos espinhosos
parecem fusionados pela proximidade com os processos articulares superiores da vértebra abaixo. Os processos transversos
aparecem sobrepostos às lâminas e aos processos articulares.

Radiografia de coluna lombar, incidência em AP e lateral. A imagem deve contemplar a última vértebra torácica e o sacro. O
preparo com laxativos (primeira imagem) remove níveis aéreos das alças intestinais, que prejudicam a análise da imagem.

A incidência em oblíqua e o “cão escocês”: Em uma projeção oblíqua posterior direita (OPD), o objetivo é verificar fraturas no
pars articularis e processos articulares, que são de difícil visualização nas incidências de rotina.

Como exames em oblíqua geram muita sobreposição, preste atenção no padrão radiográfico do “cão escocês” ou “cachorro
terrier”. Um exame em posição oblíqua perfeita de 45º deve mostrar uma figura similar a um cachorro terrier. Cada parte deste
cão representa uma estrutura anatômica da vértebra. A orelha e a pata dianteira representam os processos articulares superior
e inferior. O focinho e o rabo representam os processos transversos, a pata traseira representa o processo espinhoso, o
pescoço representa o pars articularis e o olho seria a projeção do pedículo. Veja a seguir:


Perspectiva oblíqua do empilhamento vertebral lombar.
Veja na imagem circulada o aspecto do cão escocês. Na radiografia, cada estrutura anatômica remete a uma parte do
cachorro.

Patologias e lesões associadas às vértebras lombares


A hérnia de núcleo pulposo (HNP), também vulgarmente conhecida como herniação de disco lombar, geralmente é resultado
de um traumatismo ou levantamento inadequado.

A parte interna macia do disco Ocorre geralmente nos níveis da L4-L5,


intervertebral (núcleo pulposo) causando ciatalgia (irritação do nervo
sobressalta pela camada fibrosa ciático que passa pela face posterior da
externa, pressionando a medula espinal perna). Radiografias simples não

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ou nervos. O disco pode começar em demonstram tal condição, mas podem
um processo de protusão ser usadas para descartar outros
(deslizamento) e o estágio mais crítico processos patológicos como neoplasias
ocorre na extrusão do disco, que seria o ou espondilolistese. A mielografia já foi
rompimento da cartilagem e a indicada para visualizar esse processo
deformação do núcleo, que hernia para patológico. Atualmente, a TC e RM são
a parte interna do forame medular. as modalidades padrão.

Imagens tomográficas, em corte sagital.

Na primeira, perceba as protusões laterais entre L3 e L5.


Na segunda, a protusão ocorre de forma posterior, herniando para o cordão espinal.
Na terceira, temos uma herniação ossificada na transição L5-S1 e entre L4 e L5.
A espondilólise é um defeito na pars articularis, causado por trauma de alta energia ou por má formação genética, sendo o
último caso o mais recorrente. Com a abertura na pars, o corpo vertebral perde comunicação com os processos articulares e
com o processo transverso. Isso faz com o que o corpo vertebral fique desalinhado se comparado com os demais.

O desalinhamento gera desgaste no disco intervertebral e provoca pinçamentos dos nervos das pernas, como o ciático, por
exemplo, gerando lombalgia e ciatalgia.


Radiografias de coluna lombar, incidências lateral e oblíqua.

Na primeira, o defeito na pars articularis produz uma leve anterolistese (protusão anterior do corpo vertebral) de L3.

Na segunda, o defeito produz um padrão radiográfico de “coleira” do cão escocês.

Na radiografia, além do desalinhamento do corpo visualizado na incidência em perfil, é possível visualizar esse defeito na
incidência em oblíqua, em que o cão escocês aparece com uma "coleira" radiotransparente no pescoço, indicando a
descontinuidade da pars articularis.

A espondilolistese é uma lesão decorrente de uma espondilólise, na qual o corpo vertebral desliza anteriormente sobre a
vértebra debaixo.

É mais comum na transição L5-S1, mas também pode ocorrer entre L4-L5. Casos graves requerem uma intervenção cirúrgica, a
fim de realizar uma fusão vertebral.

Radiografia de coluna lombar, incidência em AP e lateral.

Neste caso, a espondilolistese é evidente na transição L5-S1, região mais acometida por este tipo de lesão.


Anatomia radiográfica da coluna sacral e coccígea

O sacro é uma estrutura em formato de pirâmide invertida. São 5 ossos que se fundem, formando um único osso no adulto,
em curvatura cifótica. As porções laterais são as asas sacrais, que se articulam com os ossos ilíacos, formando as
articulações sacroilíacas e a região posterior da pelve. A transição entre o sacro e a quinta vértebra lombar é feita pela
estrutura chamada promontório. O ápice é inferior e faz conexão com o cóccix. Este é um prolongamento ósseo, formado
por quatro vértebras fundidas.

Radiograficamente, tanto sacro quanto cóccix têm aparência radiopaca. No entanto, devido à sobreposição com as estruturas
abdominais e pélvicas, podem aparecer sob gradiente de cinza na imagem.

Um dos pontos mais importantes é a transição L5-S1, em que o disco intervertebral é mais robusto e se inicia o processo de
cifose, o que deixa o espaço intervertebral mais acentuado. O cóccix é apenas uma massa radiopaca conectada ao final do
sacro. Embora não tenha função anatômica expressiva, fraturas coccígeas tendem a ser doloridas e passíveis de intervenção
cirúrgica para reparo.

Radiografias de sacro, incidências em AP e lateral.


Patologias e lesões associadas às vértebras sacrais e coccígeas
A região sacral, por ser mais extensa, volumosa e plana é comumente acometida por patologias ósseas, tais como
osteossarcomas, tumores benignos e doença de Paget, como você já conheceu. No entanto, algumas lesões são bem
específicas. Por isso, estudaremos aqui a síndrome de Bertolotti, spina bífida e o processo de sacralização de L5.

A síndrome de Bertolotti é o fusionamento parcial ou total dos processos transversos de L5 com o sacro. É frequentemente
associada à dor lombar e limitação do movimento, que pode vir acompanhada ou não de alteração nervosa.

Spina bífida é um processo de malformação óssea congênita, no qual ocorre um defeito no fechamento do arco vertebral,
na atura dos pedículos ou das lâminas. Com isso, o arco fica dividido com duas pontas, daí o termo bífida. Pode ocorrer em
vários graus de abertura.
A sacralização de L5 é um processo em que toda vértebra se funde ao sacro. Na radiografia, esse processo é mostrado como
a fusão da vértebra L5 por um defeito no desenvolvimento do sacro. Clinicamente, ocorre de duas formas: “Lombarização” de
S1 ou “sacralização” de L5, sendo este mais comum.

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Radiografias de coluna lombar, incidências em AP.

Na primeira, destaque para a síndrome de Bertolotti, na transição L5-S1, com fusionamento do processo transverso direito.
Na segunda, spina bífida de L3 a L5 com a abertura total do arco anterior.
Na terceira radiografia, o processo de sacralização de L5.

Atividade
1) Explique a diferença entre cifose, lordose e escoliose, explanando a natureza e a direção de cada curvatura. Indique também
quais seções da coluna contêm cada tipo de curvatura.
2) Observe a imagem a seguir e responda o que se pede.
a) Qual a incidência utilizada nesta radiografia?

b) Qual o nome do padrão radiográfico associado ao estudo?

c) Cite o nome de 3 estruturas anatômicas e ao que cada um se assemelha no padrão.

3) Observe as vértebras T11 e T12 e marque a opção referente ao tipo de lesão correta:

a) Fratura de Jefferson
b) Fratura de Chance
c) Espondilólise
d) Fratura do enforcado
e) Espondilite anquilosante
4) Marque a opção que contenha apenas estruturas anatômicas presentes em vértebras típicas da coluna vertebral.

a) Processo espinhoso, processos transversos, processo odontoide e corpo


b) Corpo, processo espinhoso, facetas costais e forame medular
c) Corpo, processo espinhoso, processos transversos e forame medular
d) Processo odontoide, processos transversos, processo espinhoso e forame medular
e) Corpo, forame medular, processo espinhoso, facetas costais e processo odontoide

5) O deslizamento da vértebra L5 sobre a vértebra S1 do sacro em decorrência do defeito na pars articularis resulta em uma
condição patológica conhecida como:

a) Spina bífida
b) Síndrome de Bertolotti
c) Espondilite anquilosante
d) Hérnia de núcleo pulposo
e) Espondilolistese

Referências
Notas

BIASOLI JR, Antônio. Técnicas radiográficas. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2016.

BONTRAGER, Kenneth L.; LAMPIGNANO, John P. Tratado de posicionamento radiográfico e anatomia associada. 8. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2015.

DAFFNER, Richard H. Radiologia Clínica Básica. 3. ed. São Paulo: Manole, 2003.

GREENSPAN, Adam; BELTRAN, Javier. Radiologia ortopédica: Uma abordagem prática. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.

Próxima aula

Os ossos e principais estruturas anatômicas da caixa torácica;

As incidências radiológicas básicas para avaliação do tórax;

Aspectos normais e padrões patológicos nas imagens.

Explore mais

Assista aos vídeos:

Seções da coluna em 3D: Anatomia da coluna vertebral em 3D.


Para se divertir um pouco! Coskles.

Um pouco mais de Biologia: Órgãos vestigiais- Evolução- Biologia.

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