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DE OURO PRETO
Instituto de Ciências Exatas e
Biológicas
Dissertação
Processamento de Interlantanídeos e
Investigação de suas Propriedades
Estruturais e Vibracionais
Área de concentração:
Físico Química
Ouro Preto/MG
Fevereiro de 2016
iv
Resumo
Neste trabalho, foi investigada a produção dos interlantanídeos LnLuO3 (Ln =
La, Pr, Nd, Sm e Eu) e LaYbO3, os quais constituem uma importante classe de
materiais cerâmicos com propriedades físicas e químicas adequadas para diversas
aplicações tecnológicas. Os interlantanídeos apresentam interessantes
características estruturais, pois dependendo da proporção dos componentes e da
diferença de raio iônico dos cátions, o material se cristalizará preferencialmente em
um determinado arranjo cristalino. Os interlantanídeos baseados em itérbio e lutécio
foram produzidos a partir de precursores nanoestruturados sintetizados via rota
hidrotérmica a 250°C durante 24 horas. Os oxi-hidróxidos e hidróxidos produzidos
foram calcinados na faixa de temperatura de 800°C a 1600°C durante 2 horas.
Observou-se que os precursores foram convertidos em óxidos de lantanídeos,
seguido por reações químicas que permitiram a produção dos interlantanídeos puros
com estrutura cristalina homogênea em condições otimizadas. As amostras
produzidas foram caracterizadas estrutural e morfologicamente utilizando as
técnicas de difração de raios X, espectroscopia vibracional Raman e microscopia
eletrônica de varredura e transmissão. Os compostos LaYbO3, LaLuO3 e PrLuO3 se
cristalizaram na estrutura perovskita ortorrômbica (grupo espacial Pnma, #62), já o
interlantanídeo NdLuO3 foi produzido no arranjo cristalino monoclínico (grupo
espacial C2/m, #12) e os compostos SmLuO3 e EuLuO3 foram obtidos na estrutura
cúbica (grupo espacial Ia-3, #206). As estruturas monoclínica e cúbica para o
NdLuO3 e o SmLuO3, respectivamente, foram obtidas pela primeira vez. Os modos
ativos Raman para todos os interlantanídeos foram identificados e atribuídos de
acordo com a Teoria de grupos para cada estrutura cristalina particular.
v
Abstract
In this work, the synthesis of interlanthanides LnLuO3 (Ln = La, Pr, Nd, Sm
and Eu) and LaYbO3 was investigated. These compounds constitute an important
class of ceramic materials with suitable chemical and physical properties for many
technological applications. In fact, these interlanthanides present interesting
structural features because, depending on the proportion of elements and the
difference between the cationic radii, many crystalline arrangements can be attained.
The lutetium- and ytterbium-based interlanthanides were produced from
nanostructured precursors synthesized by hydrothermal route at 250°C, for 24 h. The
oxyhydroxides and hydroxides produced were calcined in the temperature range
800-1600°C, for fixed times of 2 h. It was observed that the precursors were first
converted into lanthanide oxides, followed by chemical reactions that allowed the
production of pure interlanthanides with homogeneous crystal structures at optimized
conditions. The produced samples were structurally and morphologically
characterized by using X-ray diffraction, Raman spectroscopy, scanning and
transmission electron microscopies. LaYbO3, LaLuO3 and PrLuO3 have crystallized in
the orthorhombic perovskite structure (space group Pnma, #62), while NdLuO3 was
produced with a monoclinic crystalline arrangement (space group C2/m, #12).
SmLuO3 and EuLuO3 were obtained in the cubic structure (space group Ia-3, # 206).
Phase-pure monoclinic NdLuO3 and cubic SmLuO3 were obtained for the first time.
The Raman-active modes for all the interlanthanides were identified and assigned
according to the group theory for each particular crystal structure.
vi
Lista de Figuras
Figura 3.1: Estrutura cristalina de uma perovskita cúbica ideal................................... 4
Figura 3.2: Representação poliédrica do Ln2O3: (a) estrutura cúbica (tipo C); (b)
estrutura monoclínica (tipo B) e (c) estrutura hexagonal (tipo A). As grandes e
pequenas esferas representam átomos de Ln e O, respectivamente. ........................ 6
Figura 3.3: Representação poliédrica do Ln2O3: (a) estrutura hexagonal (tipo H); (b)
estrutura cúbica (tipo X). As grandes e pequenas esferas representam átomos de Ln
e O, respectivamente ................................................................................................. 6
Figura 3.4: Mapa das estruturas conhecidas na literatura para os interlantanídeos
LnLn’O3 (Ln, Ln’ = lantanídeos). .................................................................................. 8
Figura 4.1: Espalhamento elástico (Rayleigh) e inelástico (Stokes e anti-Stokes). ... 12
Figura 4.2: Desenho esquemático do microscópio eletrônico de varredura. ............. 13
Figura 4.3: Desenho esquemático do microscópio eletrônico de transmissão. ......... 15
Figura 5.1: (a) Padrão de DRX e (b) espectro Raman para uma mistura equimolar
dos precursores em três diferentes sistemas (La(OH)3 e YbO(OH) ou La(OH)3 e
LuO(OH) ou Pr(OH)3 e LuO(OH)) sintetizados por rota hidrotérmica. Em (b), as
principais bandas de cada fase estão indicadas por diferentes cores ...................... 17
Figura 5.2: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-
1600°C (estudo dos interlantanídeos LaYbO3 e LaLuO3). (a) Padrões gerais de DRX
no intervalo de 10-60°2θ e (b) detalhes de DRX no intervalo de varredura de 25-
35°2θ com identificação de todas as fases observadas para melhor visualização ... 19
Figura 5.3: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-
1600°C (estudo do interlantanídeo PrLuO3). (a) Padrões gerais de DRX no intervalo
de 10-60°θ e (b) detalhes de DRX no intervalo de varredura de 25-35°θ com
identificação de todas as fases observadas para melhor visualização. .................... 19
Figura 5.4: (a) Padrão de DRX para os interlantanídeos LaYbO 3, LaLuO3 e PrLuO3
ortorrômbicos (Pnma, #62) com seus índices de Miller e (b) visão particular
juntamente com índices de Miller na região de 29-32°2θ ......................................... 21
Figura 5.5: Estrutura cristalina de LnLn’O3 (Ln = La e Pr; Ln’ = Yb e Lu). ................. 22
Figura 5.6: Espectros Raman (100-700 cm-1) mostrando a evolução térmica (800-
1600°C) das amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota
hidrotérmica (estudo do interlantanídeo LaYbO3). As bandas principais de cada fase
estão indicadas por quadrados em diferentes cores. ................................................ 24
vii
Figura 5.7: Espectros Raman (100-700 cm-1) mostrando a evolução térmica (800-
1500°C) das amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota
hidrotérmica (estudo do interlantanídeo LaLuO3). As bandas principais de cada fase
estão indicadas por quadrados em diferentes cores ................................................. 24
Figura 5.8: Espectros Raman (100-700 cm-1) mostrando a evolução térmica (800-
1600°C) das amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota
hidrotérmica (estudo do interlantanídeo PrLuO3). As bandas principais de cada fase
estão indicadas por quadrados em diferentes cores ................................................. 24
viii
no intervalo de varredura de 25-35°2θ com identificação de todas as fases
observadas para melhor visualização ....................................................................... 35
Figura 5.16: Padrão de DRX para o NdLuO3 monoclínico (C2/m, #12) com seus
índices de Miller. ....................................................................................................... 36
Figura 5.17: Espectros Raman (100-1000 cm-1) mostrando a evolução térmica (800-
1600°C) das amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota
hidrotérmica. As bandas principais de cada fase estão indicadas por quadrados em
diferentes cores ......................................................................................................... 37
Figura 5.18: Espectro Raman para o interlantanídeo NdLuO 3. Em preto se encontra
o dado experimental, em vermelho a curva resultante do ajuste matemático e as
linhas verdes representam as bandas ajustadas com curvas Lorentzianas. ............. 38
Figura 5.19: Espectro Raman polarizado para o interlantanídeo NdLuO 3. Os
espectros obtidos com a luz polarizada em paralelo (//) e perpendicular (┴) estão
indicados em vermelho e azul, respectivamente. ...................................................... 40
Figura 5.20: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições: (a)
800°C, (b) 1000°C, (c) 1400°C e (d) 1600°C ............................................................ 41
Figura 5.21: Imagens de MET para o NdLuO3 monoclínico produzido a 1600°C.
Amostra espessa (imagem à esquerda). Distância interplanar de 3,13 Å referente ao
plano (111) pertencente ao grupo espacial monoclínico C2/m (imagem à direita). A
imagem inserida mostra o padrão SAED para esta amostra, confirmando a natureza
policristalina das partículas. ...................................................................................... 42
Figura 5.22: (a) Padrão de DRX e (b) espectro Raman para uma mistura equimolar
dos precursores (Sm(OH)3 e LuO(OH) ou Eu(OH)3 e LuO(OH)) sintetizados por rota
hidrotérmica. Em (b), as principais bandas de cada fase estão indicadas por
diferentes cores. Os resultados para o sistema Sm/Lu estão em linhas pretas, já os
resultados para o sistema Eu/Lu estão em linhas vermelhas ................................... 44
Figura 5.23: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-
1600°C. (a) Padrões gerais de DRX no intervalo de 10-60°2θ e (b) detalhes de DRX
no intervalo de varredura de 25-35°2θ com identificação de todas as fases
observadas para melhor visualização. Os resultados para o sistema Sm/Lu estão em
linhas pretas, já os resultados para o sistema Eu/Lu estão em linhas vermelhas ..... 45
Figura 5.24: Comparação entre os padrões de DRX dos óxidos de lantanídeos
monoclínicos e as amostras produzidas a 1400°C. Uma mistura de fases cúbica e
monoclínica é observada nos difratogramas das amostras produzidas a 1400°C. ... 46
ix
Figura 5.25: Padrão de DRX para os interlantanídeos SmLuO 3 e EuLuO3 cúbicos (Ia-
3, #206) com seus índices de Miller.. ........................................................................ 47
Figura 5.26: Espectros Raman (100-1050 cm-1) mostrando a evolução térmica (800-
1600°C) das amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota
hidrotérmica. Em (a) são exibidos os espectros referentes ao estudo do SmLuO 3 e
em (b) do interlantanídeo EuLuO3. As bandas principais de cada fase estão
indicadas por quadrados em diferentes cores. .......................................................... 48
Figura 5.27: Espectros Raman para os interlantanídeos SmLuO3 e EuLuO3 nas
regiões espectrais de (a) 50-150 cm-1 e (b) 250-650 cm-1. Os dados experimentais
estão em preto, em vermelho a curva resultante do ajuste matemático e as linhas
verdes representam as bandas ajustadas com curvas Lorentzianas ........................ 49
Figura 5.28: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições: (a)
precursores obtidos por rota hidrotérmica a 250°C; amostras calcinadas a (b) 800°C,
(c) 1000°C, (d) 1400°C e (d) 1600°C......................................................................... 51
Figura 5.29: Imagens de MET e os padrões SAED para os materiais EuLuO3
produzidos a 1400°C e 1600°C. (a) Fase secundária monoclínica detectada nas
amostras obtidas a 1400°C, com distância interplanar correspondente ao plano (003)
do grupo espacial C2/m. (b) EuLuO3 cúbico produzido a 1600°C, com distâncias
interplanar correspondentes aos planos (112) e (222) do grupo espacial Ia-3. As
imagens inseridas exibem padrões SAED para as amostras com diferentes
estruturas cristalinas... .............................................................................................. 52
x
Lista de Tabelas
Tabela 5.1: Frequências e atribuição dos modos que foram determinados pelo ajuste
dos dados experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para o interlantanídeo
PrLuO3. As 24 bandas para os compostos LaYbO3 e LaLuO3 são exibidas. ............ 27
Tabela 5.2: Frequências, FWHM e atribuição dos modos que foram determinados
pelo ajuste dos dados experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para o
NdLuO3 monoclínico ................................................................................................. 39
Tabela 5.3: Frequências, FWHM e atribuição dos modos que foram determinados
pelos ajustes dos dados experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para os
interlantanídeos SmLuO3 e EuLuO3. ......................................................................... 50
xi
Lista de Notações
BSE: Backscattered electrons
SAED: Selected-area electron diffraction
DRX: Difração de raios X
EDS: Energy-dispersive X-ray spectroscopy (Espectroscopia de dispersão de
energia)
FWHM: Full width at half maximum (largura à meia altura)
ICDD: International Committee of Diffraction Data
Ln: Lantanídeos
MET: Microscopia eletrônica de transmissão
MEV: Microscopia eletrônica de varredura
SE: Secondary electrons
xii
Sumário
Capítulo 1. Introdução. ................................................................................................ 1
Capítulo 2. Objetivos. .................................................................................................. 3
2.1. Objetivos Gerais ........................................................................................ 3
2.2. Objetivos Específicos................................................................................. 3
Capítulo 3. Estado da arte. .......................................................................................... 4
3.1 Óxidos tipo perovskita................................................................................. 4
3.2. Interlantanídeos. ........................................................................................ 5
Capítulo 4. Materiais e métodos .................................................................................. 9
4.1. Preparação dos compostos LnLuO3 (Ln = La, Pr, Nd, Sm e Eu) . ............. 9
4.2. Preparação do composto LaYbO3 .......................................................... 10
4.3. Ensaios complementares......................................................................... 10
4.4. Caracterização dos materiais .................................................................. 11
4.4.1. Difração de raios X (DRX) .......................................................... 11
4.4.2. Espectroscopia vibracional Raman ............................................ 12
4.4.3. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ............................... 13
4.4.4. Microscopia eletrônica de transmissão (MET)............................ 14
Capítulo 5. Resultados e discussões.. ...................................................................... 16
5.1 LaYbO3, LaLuO3 e PrLuO3........................................................................ 16
5.2 NdLuO3 ..................................................................................................... 32
5.3 SmLuO3 e EuLuO3 .................................................................................... 43
Capítulo 6. Conclusões ............................................................................................. 53
Capítulo 7. Sugestões para trabalhos futuros ........................................................... 54
Referências ............................................................................................................... 55
Anexos. ..................................................................................................................... 61
xiii
Capítulo 1. Introdução
Interlantanídeos com fórmula geral LnLn’O3 (Ln, Ln’ = lantanídeos), também
chamados de óxidos mistos de lantanídeos, tem recebido atenção especial nos
últimos anos com interesse tanto científico quanto tecnológico devido a suas
propriedades ópticas e magnéticas[1-5]. Além disso, esses materiais apresentam
interessantes características estruturais, pois dependendo da diferença de raio
iônico dos cátions Ln e Ln’ e das condições de processamento, o material se
cristalizará preferencialmente em um determinado arranjo cristalino. Dentre as
estruturas cristalinas possíveis, exibidas para estes materiais estão: hexagonal,
também denominada na literatura como estrutura do tipo A; monoclínica,
denominada também de estrutura do tipo B; cúbica, denominada de estrutura do tipo
C e perovskita, a qual se refere a uma estrutura distorcida ortorrombicamente [6].
Muitos métodos sintéticos têm sido relatados na literatura para a produção
dos interlantanídeos. A reação no estado sólido é a principal via de processamento
desses materiais[1-3]. Entretanto, outros métodos não convencionais são utilizados,
tais como decomposição térmica[5,7-9], processamento sol-gel[10-12] e síntese por
combustão[13]. Este trabalho, em particular, introduz a rota processual hidrotérmica,
que consiste na utilização de autoclaves após a coprecipitação dos reagentes e
destaca-se pela obtenção de materiais nanoestruturados e pelo elevado grau de
homogeneização do meio. Um sistema hidrotérmico trabalha em pressões elevadas
e temperaturas mais brandas que os métodos de síntese convencionais. As
principais vantagens do processamento hidrotérmico para cerâmicas são: alta
qualidade, pureza elevada, melhor controle da morfologia e economia de energia [14].
Este trabalho visa a produção dos interlantanídeos LnLuO3 (Ln = La, Pr, Nd,
Sm e Eu) e LaYbO3 a partir de precursores nanoestruturados e sua caracterização
estrutural e morfológica, justamente por se tratarem de materiais com relevância
tecnológica e pela possibilidade de se cristalizarem em diferentes arranjos
cristalinos. Além disso, os compostos NdLuO3[8,15,16], SmLuO3[6] e EuLuO3[6,17] são
materiais pouco explorados na literatura.
Os interlantanídeos serão caracterizados utilizando as técnicas de difração de
raios X, espectroscopia vibracional Raman e microscopia eletrônica de varredura e
transmissão. A microscopia eletrônica de transmissão será especialmente utilizada
para obter orientações cristalográficas das cerâmicas produzidas. O estudo
correlacionará, portanto, rota de síntese, estrutura e propriedades dos materiais
1
cerâmicos obtidos, a fim de se avaliar a influência do processamento nas
propriedades finais das cerâmicas.
A compreensão das propriedades exibidas pelos materiais parte de uma
avaliação estrutural criteriosa. Por isso, o relato de novas composições químicas e
novas formas polimórficas é o ponto de partida para qualquer aplicação tecnológica.
Diante disso espera-se que esse trabalho possa agregar conhecimento na área de
síntese de materiais, assim como em relação às suas características morfológicas e
propriedades estruturais.
2
Capítulo 2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral
3
Capítulo 3. Estado da arte
3.1 Óxidos tipo perovskita
4
ferroelétricas e piezoelétricas, os que o tornam importantes na indústria
eletrocerâmica[24].
Em geral, a estabilidade de perovskitas é estudada em termos do fator de
tolerância, t, introduzido por Goldschmidt[25], conforme a Equação 3.1.
rA rO
t (3.1)
2 ( rB rO )
3.2. Interlantanídeos
5
3.2 c). E ambas as estruturas H (Fig. 3.3 a) e X (Fig. 3.3 b) são constituídas por
octaedros, que são distorcidos no primeiro caso.
Figura 3.2: Representação poliédrica do Ln2O3: (a) estrutura cúbica (tipo C); (b) estrutura monoclínica
(tipo B) e (c) estrutura hexagonal (tipo A). As grandes e as pequenas esferas representam átomos de
Ln e O, respectivamente.
[38]
Fonte: Zinkevich .
Figura 3.3: Representação poliédrica do Ln2O3: (a) estrutura hexagonal (tipo H); (b) estrutura cúbica
(tipo X). As grandes e as pequenas esferas representam átomos de Ln e O, respectivamente.
[38]
Fonte: Zinkevich .
Figura 3.4: Mapa das estruturas conhecidas na literatura para os interlantanídeos LnLn’O3 (Ln, Ln’ =
lantanídeos).
[46]
Fonte: Bharathy et al. .
8
Capítulo 4. Materiais e métodos
4.1. Preparação dos compostos LnLuO3 (Ln = La, Pr, Nd, Sm e Eu)
10
4.4. Caracterização dos materiais
11
4.4.2. Espectroscopia vibracional Raman
A espectroscopia Raman é uma técnica que analisa a luz dispersa por uma
amostra ao incidir sobre ela um feixe de luz monocromático. A dispersão da luz pode
ser elástica ou inelástica, no primeiro caso os fótons espalhados têm a mesma
energia e mesmo comprimento de onda que os fótons incidentes (espalhamento
Rayleigh). No caso da dispersão inelástica a luz é espalhada a frequências óticas
diferentes dos fótons incidentes[49]. Este espalhamento é conhecido como efeito
Raman, descrito em 1928 por C. V. Raman[50].
No espalhamento inelástico, se o processo de espalhamento absorve energia,
originam-se linhas Stokes no espectro Raman. Esta terminologia vem da lei de
Stokes da fluorescência, que determina que radiação fluorescente sempre ocorra a
frequências menores do que aquela da radiação incidente [51]. No espalhamento
Raman Stokes a molécula no estado fundamental sofre colisão com o fóton de
energia hν0, passa para um estado intermediário, e decai em seguida para um
estado vibracional excitado, de energia ev; o fóton espalhado, hν0 - ev, terá energia
menor do que o incidente[51]. Por outro lado, quando o processo de espalhamento
cede energia, esse espalhamento recebe o nome de anti-Stokes. Neste caso o fóton
encontra a molécula já num estado excitado e após a interação a molécula decai
para o estado fundamental. Esta diferença de energia é cedida ao fóton, que é
espalhado com energia hν0 + ev[51]. A Figura 4.1 é útil para visualizar o espalhamento
Raman, mostrando os estados inicial, intermediário e final da molécula.
[51]
Fonte: Adaptado de Espectroscopia Raman e no Infravermelho .
12
Os espectros Raman das amostras sintetizadas, que se referem às vibrações
da rede cristalina, foram obtidos a temperatura ambiente utilizando um
espectrômetro Horiba/Jobin-Yvon LABRAM-HR equipado com laser de He-Ne (λ =
632,8 nm) de intensidade 18 mW e microscópio Olympus. Lente objetiva de 100x e
grades de difração de 600 e 1800 grades/mm foram empregadas nas análises.
Foram coletados espectros em cinco ou mais regiões em cada amostra.
13
Os elétrons são produzidos pelo canhão de elétrons, que normalmente é
formado por três componentes: um filamento de tungstênio (catodo), o cilindro de
Wehnelt e um ânodo. O canhão também é responsável pela aceleração dos elétrons
para o interior da coluna. O feixe eletrônico produzido no canhão de elétrons é então
direcionado até a amostra por um conjunto de lentes eletromagnéticas. A varredura
do feixe de elétrons na amostra é feita por bobinas. Quando o feixe eletrônico atinge
a superfície da amostra irá interagir com os átomos da amostra. Os detectores são
então responsáveis por coletar o sinal emitido pelos diferentes tipos de interações
entre o feixe primário e a amostra e a imagem é formada em uma tela de
visualização.
O feixe de elétrons sobre a amostra provoca a produção de raios X com
energias características da composição elementar do material. A espectroscopia de
dispersão de energia (EDS) desses raios X característicos é usada para quantificar a
constituição química dos materiais por meio de microscópios eletrônicos[54].
Neste trabalho, a microscopia eletrônica de varredura foi utilizada para um
controle dos parâmetros morfológicos em função das condições de processamento e
para verificar a constituição química dos materiais sintetizados. As imagens foram
obtidas utilizando um microscópio eletrônico Quanta FEG 3D (FEI) equipado com
EDS do Centro de Microscopia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Foram aplicadas tensões de 5 a 30 kV. As imagens foram obtidas em ambos os
modos de detecção, isto é, elétrons secundários (“secondary electrons” - SE) e
elétrons retroespalhados (“backscattered electrons” - BSE), de forma a diferenciar os
precursores dos materiais finais.
15
Capítulo 5. Resultados e discussões
Neste capítulo, serão apresentados os resultados obtidos através da análise
das amostras sintetizadas realizadas pelas técnicas de difração de raios X,
espectroscopia vibracional Raman e microscopia eletrônica de varredura e
transmissão.
16
Pr(OH)3 (a) Pr(OH)3 (b)
LuO(OH)
LuO(OH)
La(OH)3
LuO(OH)
La(OH)3 LuO(OH)
La(OH)3
YbO(OH)
La(OH)3
YbO(OH)
20 40 60 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
2 Theta (°) Numero de onda (cm )
-1
Figura 5.1: (a) Padrão de DRX e (b) espectro Raman para uma mistura equimolar dos precursores em
três diferentes sistemas (La(OH)3 e YbO(OH) ou La(OH)3 e LuO(OH) ou Pr(OH)3 e LuO(OH))
sintetizados por rota hidrotérmica. Em (b), as principais bandas de cada fase estão indicadas por
diferentes cores.
17
produzidos puros na estrutura perovskita ortorrômbica nas temperaturas de 1600°C
e 1500°C, respectivamente, cuja identificação foi realizada a partir de trabalhos
reportados na literatura[39,58,59]. A Figura 5.2b mostra os detalhes do DRX no
intervalo de varredura de 25 a 35°2θ, onde cada um dos picos foi identificado.
A Figura 5.3 exibe a evolução térmica para formação do interlantanídeo
PrLuO3. As amostras foram tratadas termicamente por duas horas nas temperaturas
de 800°C, 1000°C, 1200°C, 1400°C e 1600°C. Ao calcinar os precursores na
temperatura de 800°C, o oxi-hidróxido de lutécio e o hidróxido de praseodímio se
convertem em óxidos de acordo com os cartões ICDD #01-077-3157 (PrO2) e #01-
072-6366 (Lu2O3). O óxido de praseodímio pertence ao grupo espacial Fm-3m
(#225) e óxido de lutécio pertence ao grupo espacial Ia-3 (#206). Nota-se a presença
dos óxidos também nas temperaturas de 1000°C e 1200°C. A 1400°C pode-se
observar que há uma mistura das estruturas hexagonal (P63/mmc, #194)[45] e
ortorrômbica (Pnma, #62) para o PrLuO3, ou seja, nesta temperatura ocorre uma
reação química entre os óxidos produzindo o interlantanídeo em duas estruturas. A
fase perovskita ortorrômbica foi indexada com a ficha do ICDD #01-089-4507. A
1400°C há também a presença dos óxidos de praseodímio e lutécio. A Figura 5.3b
mostra claramente a evolução térmica no intervalo de varredura de 25 a 35°2θ.
Finalmente a 1600°C tem-se o PrLuO3 ortorrômbico puro.
18
(a) (b)
LaLuO3
1500°C
1600°C LaYbO3
LaYbO3 ou LaLuO3
1400°C
Intensidade (U.A.)
Intensidade (U.A.)
1200°C
La2O3
1000°C
10 20 30 40 50 60 27 28 29 30 31 32 33 34 35
2 Theta (°) 2 Theta (°)
Figura 5.2: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-1600°C (estudo dos
interlantanídeos LaYbO3 e LaLuO3). (a) Padrões gerais de DRX no intervalo de 10-60°2θ e (b)
detalhes de DRX no intervalo de varredura de 25-35°2θ com identificação de todas as fases
observadas para melhor visualização.
(a) (b)
1600°C
PrLuO3 PrLuO3
Hexagonal Ortorrômbico
1400°C
Intensidade (U.A.)
Intensidade (U.A.)
1200°C
1000°C
PrO2 Lu2O3
800°C
10 20 30 40 50 60 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
2 Theta (°) 2 Theta (°)
Figura 5.3: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-1600°C (estudo do
interlantanídeo PrLuO3). (a) Padrões gerais de DRX no intervalo de 10-60°θ e (b) detalhes de DRX no
intervalo de varredura de 25-35°θ com identificação de todas as fases observadas para melhor
visualização.
19
Os fatores de Tolerância proposto por Goldschmidt para os interlantanídeos
LaYbO3, LaLuO3 e PrLuO3 são 0,7981, 08006 e 0,7900, respectivamente, o que
indica que podem se cristalizar na estrutura perovskita. Os fatores de Tolerância dos
compostos foram calculados utilizando os raios iônicos apresentados por
Shannon[60]. Neste trabalho, os interlantanídeos foram produzidos na estrutura
perovskita distorcida ortorrombicamente (Pnma, #62) partindo de precursores
nanoestruturados. A Figura 5.4a apresenta o difratograma dos três compostos puros
juntamente com os seus índices de Miller. A Figura 5.4b exibe os picos referentes
aos planos (200), (121) e (002) para as amostras de LaYbO 3, LaLuO3 e PrLuO3.
Nela observa-se claramente um deslocamento dos picos ao longo do eixo do θ, ou
seja, no sentido de maiores ângulos ou menores espaçamentos d ao realizar a troca
do lantânio (raio iônico = 1,160 Å) de maior raio iônico para o praseodímio (raio
iônico = 1,126 Å) de menor raio iônico. Esse resultado é devido ao fenômeno de
“contração lantanídica”, a qual consiste numa significativa diminuição de tamanho
dos átomos e dos íons com o aumento de número atômico [61], logo para uma melhor
“acomodação” do átomo na estrutura, deslocamentos como esses são observados.
Ao realizar a troca do lantanídeo itérbio (raio iônico = 0,868 Å) para lutécio (raio
iônico = 0,861 Å) – nesse caso comparando os compostos LaYbO3 e LaLuO3,
também ocorre um deslocamento, mas muito pouco expressivo, já que a diferença
de tamanho dos íons envolvidos é mínima. Os parâmetros de rede da célula unitária
foram determinados utilizando a equação 5.1, que relaciona a distância interplanar
com os respectivos planos (hkl). Os parâmetros encontrados para o LaYbO3 foram a
= 6,0277 Å , b = 8,4047 Å e c = 5,8204 Å (V = 294,87 Å3), para o LaLuO3 foram a =
6,0163 Å, b = 8,3683 Å e c = 5,8143 Å (V = 292,73 Å3) e para o PrLuO3 obteve-se a
= 5,9622 Å, b = 8,2946 Å e c =5,7418 Å (V = 283,95 Å3).
1 h2 k 2 l 2
(5.1)
d 2 a2 b2 c2
20
(a)
(121)
Intensidade (U.A.)
(042)
(311) (321)
(240)
(123)
(202)
(002)
(200)
(101)
(301)
(141)
(111)
(131)
(331)
(212)
(210)
PrLuO3
LaLuO3
LaYbO3
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
2 Theta (°)
(b)
(121)
Intensidade (U.A.)
(200)
(002)
PrLuO3
LaLuO3
LaYbO3
28 29 30 31 32
2 Theta (°)
Figura 5.4: (a) Padrão de DRX para os interlantanídeos LaYbO 3, LaLuO3 e PrLuO3 ortorrômbicos
(Pnma, #62) com seus índices de Miller e (b) visão particular juntamente com índices de Miller na
região de 29-32°2θ.
21
grupo espacial: Pnma). A distorção da estrutura perovskita ideal cúbica pode ser
descrita pelos ângulos: θ, φ e Φ. O ângulo de inclinação θ sobre um dos eixos [101]
(eixo a) da célula unitária ortorrômbica, representa duas inclinações anti-fase
idênticas em torno dos eixos [100] e [001]. O ângulo θ pode ser calculado pela
seguinte relação: θ = arcos (c/a). O ângulo φ sobre [010] corresponde a uma única
rotação em fase do octaedro ao longo do eixo b na célula unitária. Este ângulo de
inclinação é calculado como φ = arcos (√2c/b). E ambos os ângulos θ e φ podem ser
combinados em um único ângulo de inclinação Φ sobre o eixo [111]. O ângulo Φ é
calculado da seguinte maneira: Φ = arcos (√2c2/ab)[46,62-64]. Os valores dos ângulos
de inclinação dos interlantanídeos perovskitas produzidos puros foram: θ = 15,07°, φ
= 11,66° e Φ = 18,97° para o LaYbO3; θ = 14,89°, φ = 10,70° e Φ = 18,26° para o
LaLuO3 e θ = 15,63°, φ = 11,77° e Φ = 19,48° para o PrLuO3. Os valores dos ângulos
de inclinação das amostras preparadas neste trabalho estão consistentes com
trabalhos reportados na literatura para os mesmos compostos[3,43,46,65].
23
1600°C
1200°C
1000°C
Yb2O3
La(OH)3
La2O3 800°C
-1
Figura 5.6: Espectros Raman (100-700 cm ) mostrando a evolução térmica (800-1600°C) das
amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota hidrotérmica (estudo do
interlantanídeo LaYbO3). As bandas principais de cada fase estão indicadas por quadrados em
diferentes cores.
1500°C
Intensidade Raman (U.A.)
1400°C
LaLuO3
1200°C
1000°C
-1
Figura 5.7: Espectros Raman (100-700 cm ) mostrando a evolução térmica (800-1500°C) das
amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota hidrotérmica (estudo do
interlantanídeo LaLuO3). As bandas principais de cada fase estão indicadas por quadrados em
diferentes cores.
24
1600°C
1200°C
1000°C
Lu2O3
PrO2
800°C
-1
Figura 5.8: Espectros Raman (100-700 cm ) mostrando a evolução térmica (800-1600°C) das
amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota hidrotérmica (estudo do
interlantanídeo PrLuO3). As bandas principais de cada fase estão indicadas por quadrados em
diferentes cores.
PrLuO3
Intensidade Raman (U.A.)
Figura 5.9: Espectro Raman para o interlantanídeo PrLuO3. Em preto se encontra o dado
experimental, em vermelho a curva resultante do ajuste matemático e as linhas verdes representam
as bandas ajustadas com curvas Lorentzianas.
26
Tabela 5.1: Frequências e atribuição dos modos que foram determinados pelo ajuste dos dados
experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para o interlantanídeo PrLuO 3. As 24 bandas para os
compostos LaYbO3 e LaLuO3 são exibidas.
28
Figura 5.10: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições (estudo do
interlantanídeo LaLuO3): (a) precursores obtidos por rota hidrotérmica a 250°C; amostras calcinadas a
(b) 800°C, (c) 1000°C, (d) 1200°C, (e) 1400°C e (f) 1500°C.
29
Figura 5.11: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições (estudo do
interlantanídeo LaLuO3): (a) precursores obtidos por rota hidrotérmica a 250°C; amostras calcinadas a
(b) 800°C, (c) 1000°C, (d) 1400°C e (d) 1600°C.
30
A Figura 5.12 mostra imagens de MET das amostras de LaLuO3 e PrLuO3
produzidas nas temperaturas de 1500°C e 1600°C, respectivamente. A Figura 5.12a
apresenta uma imagem de MET para o LaLuO3 que exibe um espaçamento
interplanar de 2,96 Å correspondente ao plano (121) da estrutura ortorrômbica
(grupo espacial Pnma). A Figura 5.12b apresenta uma imagem de MET para o
PrLuO3 ortorrômbico (grupo espacial Pnma) obtido na temperatura de 1600°C. A
distância interplanar foi calculada e obteve-se 2,93 Å que corresponde ao plano
(121). O padrão de nanodifração de elétrons inserido na Figura 5.12b evidencia a
policristalinidade da amostra.
Figura 5.12: Imagens de MET para os materiais LaLuO3 e PrLuO3 produzidos a 1500°C e 1600°C,
respectivamente. (a) LaLuO3 ortorrômbico com distância interplanar correspondente ao plano (121)
do grupo espacial Pnma. (b) PrLuO3 ortorrômbico com distância interplanar correspondente ao plano
(121) do grupo espacial Pnma. A imagem inserida em (b) exibe o padrão SAED para esta amostra,
confirmando a natureza policristalina das partículas.
31
5.2 NdLuO3
Nd(OH)3 (a)
LuO(OH)
Intensidade (U.A.)
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
2 Theta (°)
LuO(OH) (b)
Intensidade Raman (U.A.)
Nd(OH)3
Figura 5.13: (a) Padrão de DRX e (b) espectro Raman para uma mistura equimolar dos precursores
Nd(OH)3 e LuO(OH) sintetizados por rota hidrotérmica. Em (b), as principais bandas de cada fase
estão indicadas por diferentes cores.
33
Figura 5.14: (a) Imagem de MEV para os precursores Nd(OH)3 e LuO(OH) sintetizados por rota
hidrotérmica a 250°C por 24 horas; (b) Imagens de MET para o Nd(OH) 3. Partículas facetadas são
exibidas (imagem à esquerda) com uma distância interplanar de 3,19 Å referente ao plano (110)
pertencente ao grupo espacial hexagonal P63/m (imagem à direita).
34
pertencem ao grupo espacial Ia-3 (#206) e com parâmetros de rede a = 10,96 Å para
Nd2O3 e a = 10,39 Å para Lu2O3. O difratograma do material calcinado na
temperatura de 900°C confirma a formação dos óxidos na estrutura cúbica, uma vez
que os picos estão mais bem definidos. A 1000°C, o Nd2O3 cúbico muda para óxido
de neodímio monoclínico, grupo espacial C2/m (#12), de acordo com o cartão ICDD
#01-076-7416, com parâmetros de rede a = 14,12 Å, b = 3,63 Å, c = 8,80 Å e β =
100,2°. Esse resultado foi inesperado, uma vez que a estrutura mais estável do
óxido de neodímio é a hexagonal (grupo espacial P-3m1).[34,38,77] A 1200°C, uma
mistura de Nd2O3 monoclínico puro e Lu2O3 cúbico pode ser observada. A 1400°C, o
interlantanídeo NdLuO3 torna-se visível como uma fase monoclínica (grupo espacial
C2/m, #12) juntamente com óxido residual. A Figura 5.15 b mostra claramente as
evoluções da fase cristalina no intervalo de varredura de 25 a 35°2θ. Finalmente a
1600°C tem-se o NdLuO3 monoclínico puro, cuja identificação e atribuição foi
realizada em comparação com o padrão de DRX do material LaYO 3 (ICDD - cartão
#70-3117)[78], o qual pertence à mesma família de materiais, com fórmula química
semelhante e arranjo cristalino idêntico. A produção do NdLuO3 monoclínico se trata
de um material polimórfico inédito.
(a) (b)
1600°C 1600°C
NdLuO3
1400°C 1400°C
Intensidade (U.A.)
Intensidade (U.A.)
1200°C 1200°C
Nd2O3 monoclinico
1000°C 1000°C
900°C 900°C
10 20 30 40 50 60 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
2 Theta (°) 2 Theta (°)
Figura 5.15: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-1600°C. (a) Padrões
gerais de DRX no intervalo de 10-60°2θ e (b) detalhes de DRX no intervalo de varredura de 25-35°2θ
com identificação de todas as fases observadas para melhor visualização.
35
A estabilidade e formação de compostos com estrutura perovskita são
baseadas no fator de tolerância (t) proposto por Goldschmidt. No caso do
interlantanídeo NdLuO3 o valor do fator de tolerância é 0,7847, o que indica que este
material pode se cristalizar na estrutura perovskita. Neste trabalho, entretanto, se
obteve o NdLuO3 na estrutura monoclínica (C2/m, #12) partindo de precursores
[78]
nanoestruturados. Em uma publicação anterior, Yamamura et al. estudaram a
síntese do composto LaYO3 monoclínico e os seus resultados foram empregados no
presente trabalho para a indexação do NdLuO3 produzido, uma vez que nenhum
padrão de DRX para esta fase foi encontrado na literatura. A Figura 5.16 apresenta
o difratograma do NdLuO3 puro monoclínico juntamente com os seus índices de
Miller. Os parâmetros de rede da célula unitária foram determinados como a = 14,08
Å, b = 3,54 Å, c = 8,67 Å e β = 101,3° utilizando a equação 5.2.
(401)
(-310)
(-112)
(003)
(-405)
(111)
(-313)
(313)
(421) (-422)
(711)
(-401)
(020)
(404)
(600)
(-511)
(-115)
10 20 30 40 50 60
2 Theta (°)
Figura 5.16: Padrão de DRX para o NdLuO3 monoclínico (C2/m, #12) com seus índices de Miller.
36
800°C, 1000°C, 1400°C e 1600°C. O espectro da amostra tratada termicamente a
800°C é muito semelhante aos espectros dos óxidos de neodímio e lutécio obtidos
por Ubaldini e Carnasciali [77]. As bandas mais fortes para estes materiais encontram-
se, respectivamente, a 338 e 390 cm-1. Para a amostra preparada a 1000°C, pode-
se observar também a banda mais forte relacionada ao Lu 2O3 (390 cm-1) juntamente
com modos de vibração do Nd2O3 monoclínico[77]. Estes modos adicionais também
são relatados para a mesma estrutura cristalina por Mele et al.[5] para o sistema
misto Nd2O3-Gd2O3, por Martel et al.[28] para Sm2O3 e por Heiba et al.[10] para Dy2-
xHoxO3 (x> 0,4). A 1400°C, pode ser observada a presença de fases secundárias
(óxidos de lantanídeos), como verificado por DRX. O espectro da amostra de
1600°C é referente ao NdLuO3 monoclínico e está em concordância com o espectro
Raman exibido por Tompsett et al.[79] que obtiveram o composto LaGdO3
monoclínico.
NdLuO3 1600°C
Intensidade Raman (U.A.)
1400°C
Nd2O3 monoclinico
1000°C
Nd2O3 cubico
Lu2O3 cubico
800°C
-1
Figura 5.17: Espectros Raman (100-1000 cm ) mostrando a evolução térmica (800-1600°C) das
amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota hidrotérmica. As bandas principais
de cada fase estão indicadas por quadrados em diferentes cores.
37
ocupam as posições Wyckoff 4i com simetria Cs e um íon oxigênio ocupa o local 8b
de simetria geral C2h. [80] Com base nessas ocupações, a Teoria de Grupos prevê 21
modos ativos Raman com a seguinte decomposição em representações
irredutíveis[67]:
Figura 5.18: Espectro Raman para o interlantanídeo NdLuO3. Em preto se encontra o dado
experimental, em vermelho a curva resultante do ajuste matemático e as linhas verdes representam
as bandas ajustadas com curvas Lorentzianas.
38
Tabela 5.2: Frequências, FWHM e atribuição dos modos que foram determinados pelo ajuste dos
dados experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para o NdLuO 3 monoclínico.
39
//
Bg
Bg
Bg
Bg
Bg
Bg
T
Figura 5.19: Espectro Raman polarizado para o interlantanídeo NdLuO 3. Os espectros obtidos com a
luz polarizada em paralelo (//) e perpendicular (┴) estão indicados em vermelho e azul,
respectivamente.
40
Figura 5.20: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições: (a) 800°C, (b) 1000°C,
(c) 1400°C e (d) 1600°C.
41
Figura 5.21: Imagens de MET para o NdLuO3 monoclínico produzido a 1600°C. Amostra espessa
(imagem à esquerda). Distância interplanar de 3,13 Å referente ao plano (111) pertencente ao grupo
espacial monoclínico C2/m (imagem à direita). A imagem inserida mostra o padrão SAED para esta
amostra, confirmando a natureza policristalina das partículas.
42
5.3 SmLuO3 e EuLuO3
43
(a) Eu(OH)3 (b)
LuO(OH)
Eu(OH)3
Sm(OH)3
LuO(OH)
Sm(OH)3
LuO(OH)
Figura 5.22: (a) Padrão de DRX e (b) espectro Raman para uma mistura equimolar dos precursores
(Sm(OH)3 e LuO(OH) ou Eu(OH)3 e LuO(OH)) sintetizados por rota hidrotérmica. Em (b), as principais
bandas de cada fase estão indicadas por diferentes cores. Os resultados para o sistema Sm/Lu
estão em linhas pretas, já os resultados para o sistema Eu/Lu estão em linhas vermelhas.
44
(C2/m) tanto para o SmLuO3 quanto para o EuLuO3, ou seja, nesta temperatura
ocorre uma reação química entre os óxidos produzindo os interlantanídeos em duas
estruturas. É importante ressaltar que os óxidos de samário e európio podem se
cristalizar na estrutura monoclínica (C2/m)[28,38], logo para confirmar a estrutura
monoclínica dos interlantanídeos se comparou os dados experimentais com o
padrão de DRX dos óxidos (Figura 5.24). Os óxidos de samário e európio na
estrutura monoclínica foram produzidos calcinando os óxidos puros na temperatura
de 1400°C, os quais foram indexados com as fichas do ICDD #01-070-2642 (Sm2O3)
e #01-071-0589 (Eu2O3). Como pode ser visto na Figura 5.24, os picos dos óxidos
não coincidem com as fases detectadas. Finalmente a 1600°C, tem-se o SmLuO3 e
EuLuO3 puros na estrutura cúbica que pertence ao grupo espacial Ia-3 (# 206), no
caso do SmLuO3 o tempo necessário de queima foram 10 horas, enquanto que o
EuLuO3 foram somente 2 horas. A Figura 5.23b mostra os detalhes do DRX no
intervalo de varredura de 25 a 35°2θ exibindo toda a evolução até a obtenção dos
compostos.
1600°C EuLuO3
1600°C
SmLuO3 SmLuO3
Monoclinico
1400°C 1400°C
Intensidade (U.A.)
Intensidade (U.A.)
1200°C
1200°C
1000°C 1000°C
800°C 800°C
10 20 30 40 50 60 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
2 Theta 2 Theta
Figura 5.23: DRX para as amostras produzidas na faixa de temperatura de 800-1600°C. (a) Padrões
gerais de DRX no intervalo de 10-60°2θ e (b) detalhes de DRX no intervalo de varredura de 25-35°2θ
com identificação de todas as fases observadas para melhor visualização. Os resultados para o
sistema Sm/Lu estão em linhas pretas, já os resultados para o sistema Eu/Lu estão em linhas
vermelhas.
45
cubico
1400°C
monoclinico
Intensidade (U.A.)
EuLuO3
SmLuO3
Eu2O3
Sm2O3
25 30 35 40 45 50 55 60
2 Theta (°)
Figura 5.24: Comparação entre os padrões de DRX dos óxidos de lantanídeos monoclínicos e as
amostras produzidas a 1400°C. Uma mistura de fases cúbica e monoclínica é observada nos
difratogramas das amostras produzidas a 1400°C.
1 h2 k 2 l 2
(5.3)
d2 a2
46
(222)
1600°C
Intensidade (U.A.)
(226)
(134) (143)
(136) (163)
(145) (154)
(024) (042)
(125) (152)
(112)
(114)
(233)
(334)
(224)
EuLuO3
SmLuO3
10 20 30 40 50 60
2 Theta (°)
Figura 5.25: Padrão de DRX para os interlantanídeos SmLuO 3 e EuLuO3 cúbicos (Ia-3, #206) com
seus índices de Miller.
47
Cubico (a) Cubico (b)
Intensidade Raman (U.A.) SmLuO3 EuLuO3
1600°C 1600°C
1400°C
Sm2O3 1400°C
Lu2O3
Lu2O3
1200°C
1200°C
Eu2O3
1000°C
1000°C
800°C 800°C
150 300 450 600 750 900 1050 150 300 450 600 750 900 1050
-1 -1
Numero de onda (cm ) Numero de onda (cm )
-1
Figura 5.26: Espectros Raman (100-1050 cm ) mostrando a evolução térmica (800-1600°C) das
amostras produzidas a partir dos precursores sintetizados por rota hidrotérmica. Em (a) são exibidos
os espectros referentes ao estudo do SmLuO 3 e em (b) do interlantanídeo EuLuO3. As bandas
principais de cada fase estão indicadas por quadrados em diferentes cores.
48
quais não conseguiram separar os modos Ag e Eg dos Tg, ou seja, todos os modos
Ag e Eg tem o mesmo valor de frequência que os modos Tg, conforme indicado na
Tabela 5.3, portanto a Figura 5.27 exibe 18 linhas Raman (curvas verde) para
ambas as amostras.
(a) (b)
Intensidade Raman (U.A.)
SmLuO3 SmLuO3
60 75 90 105 120 135 150 250 300 350 400 450 500 550 600 650
-1 -1
Numero de onda (cm ) Numero de onda (cm )
Figura 5.27: Espectros Raman para os interlantanídeos SmLuO3 e EuLuO3 nas regiões espectrais de
-1 -1
(a) 50-150 cm e (b) 250-650 cm . Os dados experimentais estão em preto, em vermelho a curva
resultante do ajuste matemático e as linhas verdes representam as bandas ajustadas com curvas
Lorentzianas.
49
Tabela 5.3: Frequências, FWHM e atribuição dos modos que foram determinados pelos ajustes dos
dados experimentais Raman obtidos por Lorentzianas para os interlantanídeos SmLuO3 e EuLuO3.
SmLuO3 EuLuO3
[85-88]
Banda Atribuição Frequência FWHM Frequência FWHM
-1
(cm ) (cm-1) -1
(cm ) (cm-1)
1 Tg 60,4 3 59,2 4
2 Tg 95,0 3 95,0 2
3,4 T g Ag 118,3 + 119,2 2+3 117,9 + 118,8 2+3
5 Tg 134,5 2 134,7 3
6,7 T g Eg 143,8 + 145,0 2+2 144,8 + 147,1 2+2
8 Tg 312,2 48 313,4 54
9,10 T g Eg 334,9 22 335,5 24
11,12 T g Ag 353,7 + 361,1 18 + 14 354,9 + 363,5 20 + 18
13 Tg 369,4 16 372,0 15
14,15 T g Eg 421,2 13 422,6 10
16,17 T g Ag 460,2 + 466,3 16 + 8 465,8 + 468,2 19 + 5
18 Tg 560,5 9 567,1 7
19,20 T g Eg 564,3 7 568,2 5
21,22 T g Ag 581,6 25 583,5 32
50
Figura 5.28: Imagens de MEV das amostras obtidas em diferentes condições: (a) precursores obtidos
por rota hidrotérmica a 250°C; amostras calcinadas a (b) 800°C, (c) 1000°C, (d) 1400°C e (d) 1600°C.
51
a 1400°C, observou-se a presença da fase EuLuO3 monoclínica, corroborando com
os resultados de DRX e Raman. A Figura 5.29a apresenta uma imagem de MET
para esta fase secundária que exibe um espaçamento interplanar de 2,86 Å
correspondente ao plano (003) da estrutura monoclínica C2/m. A Figura 5.29b
apresenta uma imagem de MET para o EuLuO3 cúbico (grupo espacial Ia-3) obtido
na temperatura de 1600°C. Os espaçamentos interplanar foram calculados e obteve-
se 4,33 Å e 3,06 Å, que correspondem aos planos (112) e (222), respectivamente. O
padrão de nanodifração de elétrons inserido nas duas imagens evidencia a
policristalinidade das amostras.
Figura 5.29: Imagens de MET e os padrões SAED para os materiais EuLuO3 produzidos a 1400°C e
1600°C. (a) Fase secundária monoclínica detectada nas amostras obtidas a 1400°C, com distância
interplanar correspondente ao plano (003) do grupo espacial C2/m. (b) EuLuO3 cúbico produzido a
1600°C, com distâncias interplanar correspondentes aos planos (112) e (222) do grupo espacial Ia-3.
As imagens inseridas exibem padrões SAED para as amostras com diferentes estruturas cristalinas.
52
Capítulo 6. Conclusões
Os interlantanídeos LaYbO3, LaLuO3, PrLuO3, NdLuO3, SmLuO3 e EuLuO3
foram produzidos pela primeira vez a partir de precursores nanoestruturados, os
quais foram obtidos por rota hidrotérmica a 250°C durante 24 horas. O
comportamento térmico da mistura de precursores foi investigado por difração de
raios X, espectroscopia vibracional Raman e microscopia eletrônica de varredura e
transmissão. Observou-se que os precursores foram convertidos em óxidos de
lantanídeos que reagiram para formar o interlantanídeo. Para cada sistema notou-se
um comportamento diferente.
53
Capítulo 7. Sugestões para trabalhos futuros
Investigar a fotoluminescência nos interlantanídeos e a sua correlação com o
arranjo estrutural, ou seja, determinar se há uma forma polimórfica que
potencializa as propriedades ópticas;
Caracterizar estruturalmente os compostos utilizando infravermelho distante;
Avaliar as propriedades elétricas dos interlantanídeos por impedanciometria
complexa;
Sintetizar os compostos LnYbO3 (Ln = Pr, Nd, Sm e Eu) e caracterizá-los
estrutural e morfologicamente;
Investigar as possíveis transições de fase nas amostras de PrLuO3, SmLuO3
e EuLuO3.
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Anexos
ANEXO A: Depósito de patente
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