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5º Seminário Internacional de Planejamento e Gestão Ambiental - URBENVIRON Brasília 2012

|Respostas Urbanas às Mudanças Climáticas| paranoá7

A Busca da Sustentabilidade através da


Adequabilidade do Zoneamento da Cidade
aos Aspectos Físico-Geográficos do Lugar
BARBOSA, Adriana Silva
BRUNA, Gilda Collet

Resumo Abstract

Este artigo apresenta resultados preliminares da This article presents preliminary progress of re-
pesquisa sobre a qualidade ambiental de em- search about the environment quality of tourist
preendimentos turísticos tratando da adequabi- that comes to the suitability to real estate devel-
lidade de investimentos imobiliários de turismo opments relative to local zoning and particular
ao zoneamento urbanístico e às características and distinctive physical-geographic character-
físico-geográficas das áreas onde estão inseri- istics of areas in question. The case study areas
dos. As áreas de estudo de caso, são dois em- are two touristic developments have been se-
preendimentos turísticos em áreas litorâneas: lected: Riviera de São Lourenço, Bertioga, Brasil
Riviera de São Lourenço, Bertioga, Brasil e Vi- and Vilamoura, Algarve, Portugal that situated in
lamoura, Algarve, Portugal que se situam em environmentally different areas both are located
áreas ambientais e que possuem, nesta carac- near the sea and have similar necessities in
terística, seu diferencial de mercado, ou seja, particular to offer tourists familiar urban quality
oferecer ao turista qualidade urbana dentro de of living. The analysis of urban plans where ur-
áreas naturais. Os resultados sinalizam para banism and preservation of natural environment
a necessidade do zoneamento contemplar os are equally important may be helpful in cur-
condicionantes físico-geográficos de modo a se rent struggles facing architects and urbanisms
constituir num instrumento capaz de contribuir heading these challenges.
para o desafio de articular preservação do am-
biente natural e compressão dos interesses imo-
biliários do turismo.

Palavras-Chave: Empreendimentos Imobil- Keywords: Real Estate; Urbanism; Touristic


iários; Urbanismo; Espaços turísticos; Planeja- place; Urban planner.
mento urbano.

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A Busca da Sustentabilidade através da Adequabilidade do Zoneamento da Cidade BARBOSA, Adriana Silva et al
aos Aspectos Físico-Geográficos do Lugar

1. Metodologia promover empreendimentos turísticos ambiental-


mente sustentáveis.
1.1 Certificação Verde para Desenvolvimento
de Bairros: Critérios de Análise e de proteção 2. Discussão: Um paralelo entre a
de Áreas Urbanas. ocupação do litoral de São Paulo e o
O conselho de Construção Verde dos EUA ela- Português.
borou em 2009 uma certificação denominado
LEED-ND Leadership in Energy and Enviromen- Ocupação do Litoral Paulista – Riviera de
tal Design for Neighborhood Development com o São Lourenço
objetivo de criar um sistema de pontuação para
Os traçados das primeiras cidades do Brasil
medir a qualidade ambiental de bairros e a imple-
ocorreram no século XVI pelos portugueses e
mentação de recursos e tecnologia que permitam
estavam longe da região do litoral paulista. Na
diminuir o impacto no ambiente. No LEED-ND,
região litorânea do estado de São Paulo a urbani-
dentre as categorias de pontuação há uma de-
zação ocorreu de forma pontual, aproveitando os
nominada Smart Location and Linkage (Localiza- pontos da costa que ofereciam boas condições
ção Inteligente), que avalia um projeto de bairro para o ancoramento de embarcações, exercendo
em relação às características físicas do lugar es- uma função portuária.
colhido para sua formação. Dentre os 14 critérios
definidos, 10 estão associados à elaboração do Em Bertioga, no litoral Norte, a ocupação era
desenho urbano e 4 estão ligados às característi- rarefeita e a resistência indígena retardou o pro-
cas físicogeográficas do local: (i) conservação de cesso de povoamento, fazendo com que a Coroa
zonas úmidas e corpos d´água, (ii) proteção de construísse a casa forte de Bertioga em 1547 na
encostas íngremes (iii) afastamento da cota de tentativa de conter os índios Tamoios. Em 1553
inundação, (iv) gestão de conservação de habitat formou-se o povoado da Bertioga elevando a
(v) conservação de várzea e corpos d´água e (vi) condição de Vila mas o litoral norte passa por
conservação de terras agricultáveis. um isolamento econômico quando se constrói a
ferrovia em 1877 que liga São Paulo ao Rio de
Estes critérios de avaliação têm a finalidade de Janeiro no qual perde a necessidade do escoa-
garantir que o empreendimento urbano seja im- mento de mercadorias através de seus portos. O
plantado em articulação com as fragilidades am- porto da cidade de Santos passa a desempenhar
bientais da área e serão os requisitos utilizados este papel devido à sua localização geográfica
para avaliar os dois empreendimentos turísticos estratégica atraindo a população de todo o litoral
neste estudo de caso. (AFONSO, 1999).
Vale destacar que, do ponto de vista das nor- O turismo na região se inicia em Santos e São
mas urbanísticas, o zoneamento de ocupação Vicente por volta de 1890 devido ao fácil acesso
do uso do solo, parte dos Planos Diretores, se para a cidade de São Paulo, motivando o surgi-
constituem no instrumento mais apropriado para mento de mais um núcleo urbano de Guarujá.
o estabelecimento das regras de ocupação do Bertioga, mesmo estando próximo de Guarujá,
solo que nortearão empreendimentos urbanos. A não se desenvolve para o turismo nesta época.
consideração das características ambientais de Ela acompanha a situação predominante no res-
forma antecipada subsidiando o projeto do espa- to da região: uma população voltada à subsistên-
ço urbano garante o respeito às especificidades cia, com boa conservação do ambiente costeiro,
do local sendo a forma mais adequada de se pro- com impactos ambientais pontuais.
mover a sustentabilidade de um lugar.
Entre 1920 a 1990 ocorre um processo de subs-
Visto que os dois empreendimentos se encon- tituição do transporte ferroviário pelo rodoviário,
tram, um em Portugal e outro no Brasil, a fonte modificando toda a dinâmica econômica da re-
de material de informação adotada foi o arqui- gião. O turismo se expande por toda a região
vo de cartografia do Instituto Universitário de promovendo o desmatamento para a implan-
Lisboa, onde se pode analisar o padrão de de- tação de loteamentos turísticos. Entre 1960 a
senho urbano promovido nas primeiras cidades 1980, os loteamentos de veraneio se expan-
brasileiras pelos portugueses e sua influência no dem por todo o litoral norte e sul até Peruíbe.
processo de ocupação do litoral norte do esta- De 1980 a 1990 as atividades de subsistência
do de São Paulo e na cidade de Bertioga, lugar predominantes na zona costeira são substituí-
onde se encontra o empreendimento de Riviera das em toda a região pelo intenso processo de
de São Lourenço. O segundo passo para análise urbanização turística que predomina até hoje.
foi a utilização de dados de critérios do LEED- Bertioga é emancipada à categoria de cidade
-ND verificando o processo de implantação dos somente em 1993, e toda a ocupação da re-
dois empreendimentos em relação ao objetivo de gião costeira do litoral norte paulista deve-se à

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expansão da atividade turística. A urbanização O espaço natural da região já havia sido alterado
que se iniciou na região da Baixada Santista ex- antes da fase da exploração turística, com ati-
pandiu-se rumo às regiões norte e sul da zona vidades que provocaram o empobrecimento do
costeira e adensou e verticalizando também as solo:
cidades e vilas mais antigas (AFONSO, 1999).
“Em 1875, a superfície produtiva do Algarve é
Os promotores imobiliários, necessitando lançar estimada em 235 000 hectares e a inculta em
novos empreendimentos, promoveram inicial- 236.000. Em 1951, há 55.800 hectares de área
mente loteamentos próximos à orla marítima e inculta, resultante de superfícies que foram dire-
depois nas planícies costeiras e nos morros. An- tamente cedidas pela floresta através do seu de-
tes de chegar nesta fase, as áreas de mangues caimento ou rejeitadas por uma agricultura utópi-
e áreas de florestas nativas já haviam sido afeta- ca depois duma exploração de empobrecimento,
das. Dentro deste cenário de pressão do merca- e que é deixada livre para uma pobre vegetação
do, as leis estaduais e municipais passam a ser a espontânea, utilizada somente como subsídio de
única tentativa de conter o crescimento de novos uma igualmente pobre pecuária” (BRITO 2009).
loteamentos em áreas com condições físico-ge-
ográficas inapropriadas. Bertioga, por exemplo, O turismo parece ter melhorado o espaço no
situa-se dentro de uma área de 482 Km2, na qual sentido de oferecer melhores infraestruturas,
85% formam o Parque Estadual da Serra do Mar mas, por outro lado explorou mais ainda quanto
(Imagem 01).1 ao uso da água. Em 1962, os núcleos urbanos
tradicionais não dispunham de redes suficientes
No litoral Norte de São Paulo, os acidentes e de- de água, esgotos e recolha de lixo e o Plano Re-
sastres naturais estão associados á ocupação do gional do Algarve dava prioridade ao estudo da
solo em áreas inapropriadas. As consequências captação das águas superficiais, mesmo tendo
são escorregamento de encostas, inundações e uma região rica em águas subterrâneas. Em vá-
erosão acelerada (MARTINS, 2007). rios processos da época, o município decidia que
o promotor imobiliário deveria garantir as infra-
• O traçado Urbano no litoral Algarvio: Vila- estruturas do empreendimento e participar nos
moura custos da rede pública (BRITO 2009).
A característica principal do urbanismo por-
tuguês, segundo Teixeira (2000), é a “arti-
culação dos traçados das cidades com as 2.1 O Zoneamento como uma ferramenta de
particularidades topográficas locais” e a “es- prevenção dos riscos ambientais
truturação das cidades em núcleos distintos,
com malhas urbanas diferenciadas corres- Guarujá e Santos são um exemplo de desconfor-
pondendo cada uma delas a diferentes unida- midade entre o que o zoneamento permite com a
des de crescimento”. situação física da cidade. No município de Gua-
rujá, há áreas em que o zoneamento promove o
Vilamoura está situada na região do Algarve situ- adensamento construtivo permitindo alto índice
ada na parte meridional de Portugal Continental e de aproveitamento dos terrenos em áreas que
conhecida como um dos principais destinos turís- apresentam grande fragilidade ambiental (ima-
ticos de Portugal, com uma oferta diversificada e gem 02).
de qualidade. Neste contexto, o setor dos serviços
domina a economia da região, tendo o turismo No município do Guarujá, próximo da praia, o zo-
como a principal economia do Algarve. neamento permite que no entorno do Morro da

Imagem 01: Litoral Norte do Estado de São Paulo – Parque Imagem 02: Zoneamento da cidade do Guarujá,
Estadual da Serra do Mar Fonte: http://www.guarujá.sp.gov.br
Fonte: http://www.fflorestal.sp.gov.br/
bertiogaPropostasRecebidas.php,

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Imagem 03: Plano Urbanístico de Riviera de São Lourenço, Imagen 04: Sistema de Drenagem.
Fonte: MAZZOLENIS, 2008. Fonte: Painel de Exposição no Sistema Integrado de Vendas.

Campina seja de alta densidade e permite a cons- uma área de 9 milhões de m2 e uma praia com
trução de edifícios residenciais. No entorno des- 4,5 Km de extensão. Dentro desta área foram
te morro existe um córrego artificial formado por mantidas as seguintes proporções: 47% de área
água que desce da chuva. Segundo TOMINAGA, de lotes, 33% de áreas verdes, 20% de áreas de
2009, estas águas são provenientes das “corridas”, ruas e praças (imagem 03).
formas rápidas de escoamento provocadas pela
“perda de atrito interno das partículas de solo, em A SOBLOCO Construtora, empresa responsável
virtude da destruição de sua estrutura interna, na pela construção do empreendimento, conseguiu
presença de excesso de água”. Este movimento é implantar um zoneamento diferenciado e adequa-
gerado pelo acúmulo de material orgânico, peque- do à ocupação turística. O plano urbano de Riviera
nas rochas e árvores que, com as chuvas, formam de São Lourenço está sob 3 tipos de zoneamen-
uma massa de elevada densidade e viscosidade. to nos quais se definem os tipos de usos. A zona
A massa deslocada atinge distância e extrema ve- turística que se compõe de 4 módulos (bairros),
locidade causando destruição de tudo o que esti- onde são permitidas habitações plurifamiliares. A
ver no caminho. Lugares sujeitos a esta situação zona residencial que se situa entre as duas aveni-
deveriam ter um zoneamento que não permitisse das principais, destinada à ocupação unifamiliar.
o adensamento populacional ou até a proibição do Os recuos laterais para edifícios maiores de dois
uso dessas áreas. pavimentos (excluindo-se a sacada) são calcula-
dos pela soma da metade de suas alturas, resul-
3. Análise dos Empreendimentos tando na distância entre blocos correspondente
Turísticos á altura do edifício. Isto ocorre para que haja me-
lhor aeração e insolação entre os edifícios. Os
RIVIERA DE SÃO LOURENÇO, Bertioga, SP, costões rochosos funcionam como limites natu-
Brasil rais entre a praia da Enseada e Indaiá.

O empreendimento analisado se encontra entre • Conservação e gestão de Zonas Úmidas,


duas barreiras naturais, a serra e o mar. Ocupa Corpos d´água e de inundação.

Imagem 05: Desenho Ilustrativo sobre as distâncias adotadas entre as edificações em Riviera de São Lourenço.
Fonte: Painel exposto no SIV – Sistema Integrado de Venda, Riviera de São Lourenço, Bertioga.

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Riviera de São Lourenço está inserida numa de floresta e de solo fértil (MAZZOLENIS, 2008).
área de planície litorânea composta por solo hi- Nesta área, os procedimentos de urbanização fo-
dromórfico, áreas alagadiças e costões rocho- ram feitos com o auxílio de engenheiro agrônomo
sos, com uma geomorfologia oscilando entre 0 a e paisagista.
10 metros (MARTINS, 2007).
Rodolfo Ricardo Geiser, engenheiro agrônomo,
Por se situar numa região muito plana, o sistema presidente da Sociedade Brasileira de Paisa-
de drenagem recebeu cuidados especiais. Desti- gismo, e especialista na preservação da fauna
nado à coleta das águas pluviais que desembo- e da flora, consultor da SOBLOCO Construtora,
cam na praia, para evitar eventuais enchentes, o recomendou a preservação de áreas contínuas,
sistema previa a construção de 07 canais, 03 dos formando corredores ecológicos, um único con-
quais localizados nos eixos das avenidas perpen- junto que permitiria a circulação dos animais, a
diculares à praia, onde desembocam. Atualmen- preservação de grandes árvores isoladas e a re-
te são 48 km de canais e canaletas de drenagem. moção de comunidades herbáceas e arbustivas
Seu revestimento é de grama nativa e, em alguns para serem transplantadas em viveiro criado em
casos, com parede de concreto (imagem 05). A 1980 e utilizadas depois no paisagismo do bairro
drenagem prevê também a construção de canais (MAZZOLENIS, 2008).
e canaletas de drenagem que atravessam as ex-
tensas áreas verdes até despejar. (Informações Desde o início do projeto estava previsto uma
colhidas durante visita técnica no SIV- Sistema ocupação gradativa e em etapas, por módulos. À
Integrado de Vendas). medida que os lotes eram vendidos, as infraes-
truturas urbanas eram implantadas e o desmata-
Também previu-se a construção de canaletas mento era feito conforme necessário, rua por rua,
que atravessam as extensas áreas verdes até permitindo que a fauna silvestre se adaptasse
despejar as águas coletadas nos canais princi- à nova situação. Portanto, a implementação do
pais. As águas pluviais não são, em nenhum mo- empreendimento começou a retirar a vegetação
mento do processo, misturadas com os efluentes conforme construía as ruas definidas pelo traça-
do esgoto. do urbano e abria os canais para o escoamento
das águas pluviais. A vegetação retirada dos lo-
Para manter a permeabilidade do solo foi aumen- tes em construção foi armazenada e utilizada no
tada parte da área verde obrigatória de 10% para preparo de composto orgânico e muitas plantas
30% reservando 2.900.000 m2 de áreas verdes foram retiradas manualmente antes de ser ini-
e institucionais. Conseguiu-se que estas áreas, ciada a preparação dos terrenos para as obras
que deveriam se tornar públicas, continuassem (MAZZOLENIS, 2008).
privadas recebendo a manutenção do empreen-
dimento. O veterinário e zootecnista Faiçal Simon foi res-
ponsável pela catalogação de mais de 90 espé-
Os dois tipos de zoneamento: (PIs) Áreas Imple- cies de mamíferos e pássaros das matas das
mentáveis, que são áreas localizadas de frente praias de São Lourenço. Estes animais foram
para a praia, com pequenas áreas reservadas capturados, chipados e soltos nas áreas de fau-
à instalação de deques de madeira, bancos e nas preservadas até meados de 2008 tendo uma
playground; os (PEs) Áreas Privativas Equipá- catalogação total de 54 mil animais. Isto quer di-
veis, uma faixa de área mais recuada da praia zer que, apesar do desmatamento causado pela
reservada para equipamentos de lazer e esporte implementação do empreendimento, houve uma
de maior porte como playground coberto e edi- preocupação em preservar a fauna local por ini-
ficações de apoio e os chamados “Jundus”, um ciativa própria, já que, na época do processo de
tipo de vegetação rasteira, que é muito resistente loteamento da área (1979), não havia leis de pro-
à areia do mar, dentro de uma faixa de 33 metros teção ambiental que obrigasse qualquer tipo de
de largura e 4,5 km de extensão, na qual suas ação, como a lei do SNUC - Sistema Nacional de
raízes profundas impede o avanço dos grão de Unidades de Conservação, que foi criada no ano
areia da praia em direção ao empreendimento. de 2000
As duas áreas são permeáveis e estão de acor-
do com o índice de ocupação determinado pelo • Afastamento da Cota de Inundação
condomínio.
Sendo um terreno plano, não foi permitido cons-
• Espécies em Risco e Comunidade Ecoló- truir edifícios próximos da praia. Entre a praia e a
gicas Afetadas área permitida para construção foi feita uma vala
de 4,5 km de profundidade e uma área verde
A área analisada se encontra numa zona sem chamado “Jundu”, na qual, se houver um aumen-
dunas, de solo arenoso, próximo à praia que é to na cota das marés haverá espaço suficiente
constituído basicamente de gramíneas rasteira e para a sua ocupação
ervas baixas. Depois segue em solo arenoso e
restinga e, a cerca de 2 km, está a mata densa • Conservação de Terras Agricultáveis

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Segundo o programa de requisitos do LEED- VILAMOURA, Algarve, Portugal


-ND, o objetivo deste requisito seria “to preser-
ve irreplaceable agricultural resources by pro- O Plano Urbano de Vilamoura feito para uma área
teting prime and unique soils on farmland and adquirida pela LUSOTUR nome da empresa de
forestland from development”. O recomendado planejamento urbano responsável pelo empreen-
para todos os projetos é que sua localização dimento, representam 1.631 hectares distribuídas
não seja em áreas consideradas apropriadas da seguinte forma: 577 hectares, para diferentes
para agricultura, ou que uma parte das áreas explorações agrícolas e 1.054 hectares para a
urbanizadas seja reservada para a agricultura instalação de um centro turístico de grande ca-
para o uso local. tegoria (imagem 06). Para o plano de Vilamoura,
desde o início decidiu-se por um projeto aberto e
No caso analisado, as terras eram ocupadas integrado com o seu entorno, devido à sua gran-
por caiçaras que viviam da cultura itinerante, da de escala que seria tecnicamente difícil de ser
pesca artesanal e do extrativismo. A economia controlada (BAKER, 1960).
caiçara desenvolvia-se fornecendo mão-de-
-obra para a monocultura do litoral e o forneci- • Conservação e Gestão de Zonas Úmidas,
mento de gêneros alimentícios para os núcleos Corpos D´água e Áreas Inundáveis.
urbanos regionais. A distribuição era realizada Em 1962, época em que o plano de Vilamoura
por meio de canoas feitas de tronco único de foi concebido, os núcleos urbanos tradicionais
cedro nas quais embarcavam cheias de peixe não dispunham de redes suficientes de água,
seco, farinha, ovos, frutas, galinhas e porcos vi- esgotos e recolha de lixo. Com a construção de
vos e eram trocadas por barris de águardente, vários hotéis na região, a opção de captar águas
que seguiam para o mercado de Santos. Es- de origem subterrâneas passou a ser um ponto
tas, por sua vez, retornavam com encomendas em discussão. Diante disto, o Ministério de Obras
das comunidades praieiras. Vivian entre baías Públicas tomou a decisão de exigir que o promo-
e florestas dependendo somente dos recursos tor imobiliário deveria ser o responsável pelas
naturais que a floresta podia oferecer (ARNT infraestruturas de rede de água e esgoto e ain-
e WAINER, 2006). Portanto, a região era fér- da participasse nos custos da rede pública. Em
til mas não foi usada para uma agricultura de 1966, percebe-se a ausência de qualquer esta-
grande escala. ção depuradora de esgoto ou poluição de quase
todo litoral do Algarve, por ausência de infraes-
O que o empreendimento promove neste quesito
truturas de saneamento. As atividades associa-
é o plantio de ervas medicinais, a formação de
das ao turismo, incluindo os vários usos da água
pequenas hortas e composteiras com finalidade
durante o processo de urbanização resultaram
educacional, através do Programa de Educação
em alterações ecológicas e na degradação das
Ambiental iniciada em 1997. O trabalho consiste
comunidades aquáticas.
em estabelecer parcerias com escolas munici-
pais da região, que definem um projeto educa- Em Vilamoura, desde o início de sua criação, foi
cional com as crianças e sob o apoio de uma en- prevista uma Estação de Tratamento de Água
genheira agrônoma (MAZZOLENIS, 2006). e uma de Esgoto e o Parque Ambiental de Vi-

Imagem 06: Vilamoura. Fonte: DUARTE, BARBOSA & Imagem 07: Área do Parque Vilamoura e os Lagos
LOBO, 2005, Revista e Tecnologia Minerva Artificiais. Fonte: Plano de Ação de Proteção e Valorização
http://www.fipai.org.br/Minerva%2005(02)%2001.pdf do Litoral, 2012. http://www.fipai.org.br/Minerva%20
05(02)%2001.pdf

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lamoura, uma área protegida integrada em Vila- 3. Resultados
moura que ocupa 200ha e está classificada como
Reserva Agrícola e Reserva Ecológica Nacional No caso dos dois empreendimentos verifica-se
(LUSORT, 2012) um baixo adensamento populacional nas propos-
tas de ocupação que são garantidas por normas
Também foi previsto desde o Plano de Urbaniza- urbanísticas restritivas. Por sua vez, os critérios
ção de Vilamoura de 1966, a formação de lagos de articulação entre condicionantes ambientais e
artificiais para a formação da Cidade Lacustre padrões de uso e ocupação do solo ficaram res-
que consiste na construção de casas em torno tritos aos empreendimentos de grandes empre-
destes lagos que se interligariam com a marina sas turísticas não se verificando o mesmo nas
de Vilamoura (imagem 07). Os lagos constituem ocupações ao redor dos mesmos.
um conjunto de canais e lagos interligados com
uma área global de 29 hectares (CCDR ALGAR- O que se pode dizer é que as normas ambientais
VE, 2012). e urbanísticas são de interesse do negócio turís-
tico e não necessariamente do poder de gestão
• Espécies em Risco e Comunidades Ecoló- dos governos locais ou da força do próprio instru-
gicas Afetadas. mento urbanístico, no caso o zoneamento.
Neste requisito, a área que foi reservada para
uso agrícola acabou por ser desativada nos anos Em Riviera de São Lourenço a manutenção da
70 para a criação do Parque Ambiental de Vila- qualidade ambiental do empreendimento pode
moura e através da “pantanização” dos terrenos ser atribuída à soma de vários fatores, entre
formou-se o caniçal de Vilamoura, uma zona hú- eles o plano urbanístico, a criação dos “PIs” e os
mida que se caracteriza por uma extensa área “PEs”, a instalação das Estações de Tratamento
com 65% de caniçal, 20% de área alagada, e o da água e do esgoto, lei de zoneamento com pa-
“tifal” 15%. Para a melhoria deste ambiente, fo- râmetros urbanísticos restritivos.
ram construídos dois lagos artificiais, que se
Em Vilamoura, embora hoje se encontre numa
revelaram importantes para as comunidades de
faixa litorânea com intensa urbanização e com
vertebrados, aves e mamíferos. (http://lusort.
elevado valor ambiental tem buscado medir e
com/pt/vilamoura/parque-ambiental).
analisar o impacto ambiental de cada interven-
• Afastamento de Cota de Inundação ção no ambiente atendendo as exigências das
autoridades locais.
Em Vilamoura, a área que havia sido reservada
para uso agrícola foi, mais tarde, desativada e De qualquer sorte, de forma preliminar, o estudo
utilizada para a preservação de áreas úmidas. aponta para a importância do zoneamento com-
Esta área havia sido anteriormente uma baía na patível com as características físico-geográficas
fase da ocupação romana e portanto está cons- para a preservação da qualidade do ambien-
tantemente sujeita a inundação. Estudos feito te onde índices urbanísticos que garantam os
pela Universidade de Frankfurt para a identifi- grandes recuos, baixos índices de ocupação dos
cação dos estratos e sedimentos arqueológicos terrenos e grandes coeficientes de áreas verdes
da antiga zona portuária romana identificou três e institucionais despontam como fundamentais
camadas proveniente de épocas diferentes, sen- para garantir urbanidade em articulação com
do que a última é de sedimentos provenientes preservação de áreas de interesse ambiental.
das dragagens para a construção da marina de
Vilamoura. Este fato mostra que não houve uma Os critérios referentes à localização inteligente
preocupação quanto á destinação dos entulhos do LEED para bairros podem ser usados como
provocados durante a obra. elementos base para a criação de zoneamentos
que contenha elementos restritivos com a finali-
• Conservação de Terras Agricultáveis dade de prevenir desastres ambientais. Também
No Anteplano do projeto foi estimada a quantida- eles podem, durante o processo de construção
de de área necessária para o uso urbano e para e implantação do empreendimento, ser utilizados
o uso agrícola. Esta área estaria responsável por como ferramentas de análise periódicas de ges-
atender as necessidades de Vilamoura. Para o tão ambiental das áreas urbanizadas.
funcionamento desta área foi necessário a aqui-
sição de máquinas agrícolas, a estabulação de Referências
animais, armazenamento de produtos. Um centro
coordenador de distribuição levaria a produção AFONSO, C. M. 1999. Uso e Ocupação do Solo
até o consumidor local, porém, com o processo na Zona Costeira do Estado de São Paulo: Uma
de urbanização acelerado, esta produção deixou Análise Ambiental, São Paulo, SP.
de ser necessária e os gestores do empreendi-
mento decidiram por transformar a área num par- MARTINS, M. R. 2007. Limites da Sustentabili-
que ambiental. dade Ambiental em Loteamentos Residenciais:

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aos Aspectos Físico-Geográficos do Lugar

Estudo Comparado da Riviera de São Lourenço SIMPLÍCIO, M. C. 2007, Estudo de Impacto Am-
e Loteamento Morada da Praia, Bertioga, São biental do Projeto dos Lagos da Cidade Lacus-
Paulo, SP, Universidade de São Paulo, Departa- tre da 2º Fase do Plano de Urbanização de Vi-
mento de Geografia, Pós graduação na área de lamoura, Faro, PT, Investigações Arqueológicas
Geografia Humana. São Paulo. Subaquáticas.

MAZZOLENIS, S. 2008. Riviera de São Lou- DUARTE, R.; BARBOSA, A. S.; LOBO. M. L. C. L.
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