Análise crítica: Dos Brics ao G7 e à Otan: os dilemas do Sul global
Com as atuais movimentações no Sistema Internacional devido ao conflito
entre a Rússia e a Ucrânia, mais propriamente dizendo, entre a Rússia e os Estados Unidos, as duas cúpulas realizadas entre a Otan, o G7 e o BRICS no último mês têm causado uma grande repercussão na mídia. A Otan conceituou a Rússia como principal ameaça a se combater e a China como um desafio sistêmico, ao mesmo tempo em que os dois países buscam a construção de alianças globais para um maior fortalecimento em meio às sanções impostas pelo Ocidente. O apoio explícito reafirmado do governo chinês à Putin, revela as críticas em relação à ameaça à segurança e à soberania que a Otan tem promovido em seu movimento de expansão e interiorização na Europa Oriental. Dessa maneira, as duas nações procuram fortalecer seus laços com o BRICS, de modo a garantir seus interesses econômicos, mas também militares, visto as recentes sanções e exclusão diplomática a qual a Rússia tem passado. Em contraposto, tendo “identificado” sua ameaça, os Estados Unidos procuram uma postura de colaboração transatlântica e de conquista de novos aliados para frear essa ameaça global contando com o apoio das nações europeias, o que ao contrário do que a população leiga idealiza como o governo estadunidense sendo o “policial do mundo”, é na verdade mais um jogo de interesses e a prospecção do desejo da construção de uma política de prestígio, como diria os ideais realistas. Ao meu ver, essa crescente tensão reflete ainda os primórdios derivados da Guerra Fria que resultam na formação de blocos e inimigos em constante confronto para a garantia de poder e soberania incessantes em meio a um dilema de segurança clássico. A formação de alianças dentro desses blocos se torna uma situação complexa, tendo em vista a multipolarização dos Estados e a divergência entre os interesses econômicos e militares, que se tornam inviáveis. O desenrolar do conflito russo-ucraniano e os próximos passos dos atores internacionais frente a essa conjuntura dirão como será a nova configuração da ordem global em meio a esses acontecimentos, que certamente não serão de simples resolução.
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