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A magnitude do conflito analisado e a sua importância no tabuleiro geopolítico

atual, revela, com graus e modos distintos, as inflexões beligerantes, políticas e


diplomáticas dos países do Sistema Internacional. Nessa perspectiva, em face aos
méritos do realismo político, situa-se a guerra como o cerne retórico da teoria
realista, em virtude de ser o instrumento pleno de demonstração da força do
Estado-Nação na conquista de seus propósitos geopolíticos. Na heurística de Hans
Morgenthau, defensor teórico do realismo político, encontra-se a tese de
compreensão do equilíbrio de poder e de sua limitação frente às competências
bélicas dos Estados e suas habilidades de projeção no Sistema Internacional para a
defesa de seus desígnios.
No ângulo exposto, estuda-se, como ponto-chave analítico da teoria realista
edificada por Morgenthau, o axioma do interesse definido em termos de poder. Esse
constructo racional é elaborado como modelo ideal de política externa e infunde uma
ordem racional no objeto da política. Morgenthau é categórico em afirmar a disputa
intensa entre os Estados pelo poder de garantir seus interesses e de impor suas
realidades e perspectivas.
No prisma adotado, o calendário do conflito revela o êxito preambular da
defesa ucraniana em manter Kiev e resistir às agressões russas. A partir dessa
defesa, a Ucrânia frustra os objetivos russos em realizar uma incisiva conquista e
concretizar a deposição de Zelensky a fim de incentivar, na Ucrânia, os governantes
pró-Rússia. A atmosfera construída após os acontecimentos expostos é contrária ao
início do conflito, nesse sentido, o revés russo permitiu a abordagem de interesses
geopolíticos favoráveis à Ucrânia no Sistema Internacional. A falha de uma
consecução resoluta expôs suas fragilidades políticas e tornou ineficiente a
persuasão russa em seu entorno estratégico e potencializou, na Guerra, o suporte
internacional para a Ucrânia. O episódio elucida os termos estabelecidos por
Morgenthau, que evidenciam o desejo de poder dos países em se juntar ao conflito
no momento em que encontraram oportunidades de prosperidade. Sob o realismo
ofensivo, os Estados também agem pela substância da política de poder a fim de
triunfar sua afirmação no Sistema Internacional.
Na perspectiva metodológica de Morgenthau, em que face às contingências e
irracionalidades do Sistema Internacional, o fenômeno do poder é concebido como
motivação constante, contudo, os interesses se dão como contingentes e variáveis,
influenciados pelo contexto e atmosfera abordada.
Com efeito, a tônica do realismo político insere-se no conflito como ponto de
partida para a compreensão de dimensões profundas, como a crise na globalização,
as tensões sobre as cadeias produtivas e o imperativo dos fatores nacionais
estratégicos dos Estados.
A dialética internacional conduziu os Estados Unidos à condição de
maior potência mundial com o fim da Segunda Guerra Mundial. A guerra entre a
Rússia e a Ucrânia revisita esse precedente e permite alterações significativas na
ordem internacional. Nesse prisma, o interesse dos Estados presentes no conflito
manifestam fenômenos relacionados a uma disputa sistêmica em torno de como a
configuração e o balanço de forças entre as grandes potências no século XXI é
irresoluta. Na epígrafe de Quincas Borbas, Machado de Assis preceitua: "Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas". Extrai-se, da máxima, o
esforço de estar do lado vitorioso, para em um cenário próspero, ser um dos
dirigentes do futuro tabuleiro geopolítico internacional.
Nesse sentido, o pensamento de Morgenthau triunfa: a aspiração do poder,
como dimensão central da atividade estatal na melhor tradição realista, é a essência
da política.

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