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Quais são as modalidades de guerra em cada uma das dimensões de organização social
(econômica, militar, territorial, cultural)?
Que elementos seriam estratégicos a controlar para vencer a guerra em cada uma das
dimensões da organização social?
1. A genealogia do conceito
Qual a relevância de usar uma categoria tão significativa, como a guerra, para tentar
explicar o funcionamento do capitalismo? Há várias razões para esta associação. Uma
primeira razão, a formal: a guerra não se refere a qualquer ato de violência, mas a um
certo confronto entre formas políticas (formas de existência coletiva) que tentam se
impor umas às outras, seja por rendição ou por extermínio, conseguindo assim a expansão
das relações de poder. A guerra não visa apenas a derrota de um dos pólos combatentes,
mas também a multiplicação dos espaços para o exercício do poder. Uma segunda razão,
a operativa: a guerra manifesta uma dimensão contenciosa das interações humanas, que
no desenvolvimento de suas formas historicamente determinadas (o cultivo crítico de
suas identidades particulares) tem que enfrentar outras existências (humanas ou não
humanas), diante das quais tem duas grandes opções: colaborar ou enfrentar. Os gregos
chamaram essa polêmica agonística de qualidade, que designava tanto a arte da guerra
quanto o processo que a prefigurava, através da construção de uma diferença entre
amigos e inimigos. (Não é por acaso que a polêmica, uma das formas de retórica, que por
sua vez é uma das relações políticas por excelência, toma sua forma a partir da guerra). A
guerra é, portanto, uma das relações políticas em que se define e se joga o exercício do
poder.
A guerra não é nem a mais antiga relação entre grupos humanos, nem a expressão de uma
natureza profunda. Ao invés disso, é um dos processos pelos quais as interações políticas
são moldadas. Assim, vários intelectuais modernos reconheceram este elo e o utilizaram
para explicar sua época. Da frase agora famosa e muito citada de Carl von Clausewitz, "a
guerra é a continuação da política por outros meios"; uma frase que Michael Foucault
reverteu 140 anos depois, afirmando que "a política é a continuação da guerra por outros
meios". No meio de os autores estão à sombra do jurista Pronazi Carl Schmitt, que em seu
ensaio The Concept of Politics definiu a guerra como o campo político por excelência, pois
ali se poderia reconhecer uma divisão que articula todo processo político: a fronteira
entre amigos e inimigos. O que é peculiar nesse díade é a natureza multimodal de cada
pólo; amigos não são apenas aqueles que lutam "pela causa", podem ser também aqueles
que o apóiam materialmente ou simbolicamente, aqueles que não se lhe opõem e aqueles
que não interferem no seu desenvolvimento. Por outro lado, os inimigos podem ser
classificados em dois grandes níveis, aqueles que têm de ser exterminados (os hostis) e
aqueles que podem ser derrotados e incorporados numa lógica de vassalagem ao poder
triunfante. A guerra não busca a destruição, ela produz espaços de poder, a partir dos
quais territórios e populações são controlados e os critérios são definidos para validar as
práticas diárias.
2. Guerra e capitalismo