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O fim da Era Americana - Joshua Shifrinson

Em "O mito da multipolaridade" (maio/junho 2023), Stephen Brooks e William Wolforth


desafiam a ideia de que os Estados Unidos estão em queda livre no ranking das grandes
potências. Segundo eles, Washington "permanece no topo da hierarquia global de poder -
com segurança acima da China e muito, muito acima de qualquer outro país". Na visão
deles, o mundo “não é bipolar nem multipolar, nem está prestes a se tornar de nenhum dos
dois modos".

Os autores estão certos ao dizer que os Estados Unidos ainda são o país mais poderoso do
mundo. Mas seu argumento básico - de que a atual distribuição de poder é unipolar - é
falho. Com efeito, um olhar mais detido nos indicadores de poder preferidos dos autores e
nos seus pressupostos sugere justamente o contrário. A unipolaridade é um artefato do
passado.

Brooks e Wohlforth baseiam seu argumento em três asserções fundamentais. A primeira é


de que a distribuição bruta de poder - ou as capacidades gerais militares e econômicas de
um país - mostra que os Estados Unidos e a China são as únicas grandes potências
plausíveis na atualidade. A segunda é de que as vantagens tecnológicas dos Estados
Unidos, combinadas com as barreiras importantes que a China precisa superar, significam
que a China não é uma concorrente à altura. Por fim, o argumento de que o sistema
internacional não dispõe de contrapesos significativos aos Estados Unidos, na medida em
que outros Estados não criaram alianças formais nem se armaram de modo a constranger a
liberdade de ação dos Estados Unidos. Em sistemas bipolares e multipolares, segundo eles,
os polos se envolvem no exercício ubíquo de contenção uns contra os outros, de modo que
a atual escassez de contrapesos sugere a permanência da unipolaridade.

Porém, cada um desses pontos é suspeito. De início, demandar que outras potências
tenham paridade bruta de poder com o Estado líder é um modo estranho de definir ou
contar polos. Ao longo da história, grandes potências nunca foram encaradas como
concorrentes em termos quantitativos. Na verdade, elas são Estados com um nível
suficiente de recursos militares e econômicos, alcance diplomático e discernimento político
para influenciar os cálculos de outros países importantes durante tempos de paz e oferecer
desafios em tempos de guerra. Essa definição mais ampla explica porque o Império
Austro-húngaro, o Japão imperial e a União Soviética foram vistos como polos de seus
respectivos sistemas internacionais. Ainda que cada um desses Estados fosse bem mais
fraco que o Estado mais forte de sua época, eles ainda eram fortes o suficiente influenciar
intensamente questões sobre guerra e paz.

No limite, há um limiar - às vezes significativamente mais baixo do que se poderia esperar


levando em consideração somente indicadores brutos - que reflete como os Estados se
comparam nos seus atributos militares, econômicos, tecnológicos e diplomáticos, e acima
do qual os Estados contam como polos. A polaridade, afinal de contas, registra aqueles
atributos estatais que permitem a alguns dos Estados influenciar no curso de temas centrais
da política internacional. E ainda que uma visão geral militar e econômica importe, ela só
cobre uma parte da avaliação de poder. Hoje, elementos como economia diversificada,
posição geográfica favorável e posse de armas nucleares são fatores especialmente
importantes nessa avaliação.

(Texto adaptado, disponível em


https://www.foreignaffairs.com/responses/long-unipolar-moment )

Com base nas leituras da unidade 1 da disciplina e fazendo referências ao texto de Joshua
Shifrinson, elabore um texto de até 800 palavras (sem contar referências bibliográficas) que
responda às seguintes perguntas:

1) Em sua avaliação, o atual sistema internacional é unipolar, bipolar ou multipolar?

2) Você considera o sistema internacional atual estável ou instável?

3) Qual será a polaridade do sistema internacional em dez anos?

4) Em dez anos, o sistema internacional será mais ou menos estável do hoje?


Mariana Scherr Chaves
03/11/202

No artigo "O mito da multipolaridade" (maio/junho 2023), Stephen Brooks e William


Wohlforth argumentam que os Estados Unidos ainda mantêm sua posição no topo da
hierarquia global de poder, muito acima da China e de qualquer outra nação. No entanto, é
essencial reconhecer que o sistema atual, embora os Estados Unidos possam manter uma
vantagem significativa, está se afastando da unipolaridade para um cenário bipolar. A
ascensão da China, impulsionada pela participação nos BRICS e pelo fortalecimento de
alianças no leste asiático, está transformando a dinâmica global. Economicamente, a China
tem criado uma dominância no mercado, competindo de igual para igual com os Estados
Unidos. Enquanto os autores argumentam que outros Estados não formaram alianças para
conter os Estados Unidos, a realidade é que a China está construindo sua influência e
poder no cenário internacional de maneiras que desafiam o domínio unipolar. Portanto, a
visão de que o mundo permanece unipolar é insuficiente, pois a bipolaridade está se
tornando cada vez mais evidente, com os Estados Unidos e a China como os principais
protagonistas dessa nova ordem global.
Nesse sentido, a atual transição no sistema internacional, do domínio incontestável
dos Estados Unidos, que perdurou desde o fim da Guerra Fria, é uma evolução complexa
que traz consigo uma série de desafios e instabilidades. Embora essa transição tenha
ocorrido de forma relativamente suave em comparação com as mudanças abruptas do
passado, não se pode subestimar seu impacto sobre o equilíbrio global. A ascensão da
China e o fortalecimento de outras potências, bem como a formação de blocos regionais,
têm criado uma dinâmica mais competitiva no sistema. Isso resultou em confrontos indiretos
e guerras pontuais que desafiam o domínio dos Estados Unidos em várias regiões do
mundo, seja no Oriente Médio, na Ucrânia, ou em outros pontos de tensão. A crescente
interdependência econômica e a complexidade das relações internacionais tornam a
situação ainda mais instável, já que uma crise em um ponto do globo pode facilmente
desencadear repercussões em outros lugares. Portanto, a transição para um sistema
bipolar está repleta de incertezas e desafios que testam a capacidade dos Estados Unidos
de manter sua influência global e preservar a estabilidade internacional.
Dessa maneira, é possível esboçar previsões para como o sistema estará em dez
anos. É muito provável que o sistema internacional tenha evoluído para uma configuração
bipolar, com os Estados Unidos e a China ocupando posições centrais nessa nova ordem
global, como mencionado anteriormente. A ascensão chinesa como potência econômica e
tecnológica será uma realidade estabelecida, desafiando a liderança dos EUA,
principalmente em questões econômicas. Além disso, a bipolaridade ideológica também
será mais pronunciada, com os EUA representando valores “democráticos” e a China
mantendo seu “sistema socialista”, o que pode resultar em tensões e disputas em questões
de direitos humanos e governança global. Isso exigirá uma diplomacia hábil e mecanismos
de gestão de conflitos para garantir a estabilidade nessa nova ordem mundial.
Diante do explicitado acima, a estabilidade do sistema internacional daqui a 10 anos
será caracterizada pela co-dominância dos Estados Unidos e da China, criando um cenário
bipolar que se equilibra entre essas duas potências. Apesar das rivalidades econômicas e
ideológicas, esses dois atores globais desempenharão papéis centrais na manutenção da
estabilidade global. A interdependência econômica entre as duas maiores economias do
mundo incentivará a cooperação em questões críticas, como comércio, mudanças
climáticas e segurança regional. Além disso, a conscientização sobre os riscos de conflitos
diretos entre as superpotências pode motivar uma abordagem mais cautelosa na gestão de
crises. A bipolaridade resultante pode, de fato, contribuir para um equilíbrio global, onde os
interesses de ambas as nações são considerados, minimizando assim as ameaças à
estabilidade internacional.

Referências

The Long Unipolar Moment? Disponível em:


<https://www.foreignaffairs.com/responses/long-unipolar-moment>. Acesso em: 3 nov. 2023.

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