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A INTERDEPENDENCIA ENTRE CHINA E ESTADOS UNIDOS

Interdependência Complexa:

O conceito da Interpendência Complexa surgiu com a pesquisa dos autores


Robert Keohane e Joseph Nye em seu livro “Power and Interdependence” (1977), nela
entende-se que no Sistema Internacional existe uma dependência mútua entre um ou
mais ator, não necessariamente simétrica. Além disso, nesse cenário internacional é
necessário manipular os fatores de interdependência para obter os resultados desejados.

Por conseguinte, a mesma possui três características principais, sendo a primeira


representada por multiplicidade de temas, ou seja, abrange vários assuntos como
recursos humanos e ambientais, economia e entre outros. A segunda característica é
marcada pela multiplicidade de atores, o que pode ser considerado uma consequência da
primeira característica pois quanto mais assuntos abordados mais atores serão incluídos.
A terceira característica se baseia na revitalização do poder militar, no qual é substituído
pela agenda de desenvolvimento, social e econômica, ou seja, os Estados se encontram
em uma situação de vulnerabilidade na medida em que as suas capacidades militares
não são mais suficientes nesse novo cenário conjuntural.

O Poder e a Interdependência:

A relação entre força militar e poder está voltada para visão tradicional,
entretanto, atualmente as fontes de produção de poder são consideradas mais
complexas. De acordo com os autores, Keohane e Joseph Nye, é a capacidade de forçar
outros a fazer algo que ele normalmente não faria, através por exemplo, da centralização
de matérias primas essenciais para o desenvolvimento. Assim, é notório essa utilização
de poder na interdependência através das relações entre Estados Unidos a partir de uma
visão não só militar, mas também econômica.

A Interdependência na pratica:

Estados Unidos e China tem se adaptado as novas mudanças no sistema


internacional, consequentemente modificando suas políticas e suas relações comerciais.
É nesse cenário que podemos observar como o conceito de interdependência complexa
se aplica nessa nova relação entre ambos.

Para compreender melhor essa interdependência, vale ressaltar que as três


características mencionadas anteriormente não precisam está presente em sua totalidade.
O comercio foi um grande precursor para as relações entre China e Estados Unidos
permitindo que alcançasse um novo patamar, inicialmente em 1972 a capacidade de
exportação chinesa aumentava com o fim do embargo comercial. Além disso, nos anos
80 a China se torna muito atrativa para empresas e novos investimentos, contribuindo
para que atualmente os Estados Unidos tenha cerca de 7 mil empresas em seu território.
Esses fatores mostram a criação de dependência entre esses atores e sua
interdependência.

Para Keohane e Nye, em um contexto de interdependência, a partir das relações


assimétricas um Estado pode rapidamente começar a acumular poder em detrimento de
outro, consequentemente trazendo uma sensação de insegurança e a necessidade de
criação de medidas de proteção. A partir disso, nesse cenário, as Instituição são
indispensáveis para relação entre os Estados, pois, em uma relação de interdependência,
os mesmos preferem recorrer a Instituição do que optar por uma resolução de conflito
através da violência, já que essa pode causar mais insegurança e consequências muito
mais desvantajosas.

Como por exemplo, os Estados Unidos que apesar de ser considerado um país de
grande poder, recorreu a OMC para resolver suas questões de direitos autorais com
China. Além disso, com relação ao caso do Tibet em que a China deixou mais de 10 mil
mortos os Estados Unidos à acusou pela violação dos direitos humanos e demonstrou
suas preocupações acerca disso, não interviu militarmente deixando que esse assunto
fosse resolvido pelas autoridades competentes da ONU. Dessa forma, apesar dos
conflitos entres esses atores eles mantem as suas relações de importação e exportação,
utilizando as instituições como um meio de nivelamento, equilíbrio e segurança.

Além disso, esses atores tem cada vez mais ultrapassado as barreiras políticas e
conduzindo-se para áreas não governamentais nas quais as empresas transnacionais e o
setor de tecnologia e investimento privado tem um grande papel, logo tornando a
relação desses países cada vez mais dependente. Nessa conjuntura de interdependência
China e Estados Unidos estão interligados, dado que possível transferências de
empresas americanas do território chines para o território vietnamense causaria grande
vulnerabilidade chinesa. Em contrapartida, com relação a quantidade de títulos do
Tesouro americano e outros ativos que são de posse do governo chinês, os Estados
Unidos se tornam muito mais vulnerável.
Ainda sobre as acusações sobre a violação de direitos humanos realizada por
ambos os países se enquadram em duas perspectivas da interdependência complexa.
Primeiramente, de acordo com Keohane e Ney, os Estados inseridos nesse contexto
procuram normalmente a cooperação, para minimizar os possíveis danos que possam
surgir. Assim, as acusações realizadas de maneira formal através das instituições
competentes demonstram a intenção de cooperação entre esses países. Segundo, apesar
do Estado ganhar equilíbrio e segurança ao se institucionalizar o mesmo perde sua
autonomia total, rendendo-se a vontade do outro. O que ocorreu com China, após ser
obrigada a modificar suas leis trabalhistas em detrimento das acusações dos Estados
Unidos e consequentemente sendo considerado negativo pelas grandes empresas.

Apesar de conseguirmos analisar pontos da teoria da interdependência complexa


na pratica entre as relações dos Estados Unidos e China, a mesma falha em alguns
pontos. Em exemplo, os autores afirmam que “Estados em uma interdependência
tendem a gastar menos com armamentos”1, o que não ocorre nesses países pois ambos
investem em armamento militar demonstrando que essa questão ainda é importante,
embora não seja o foco central. Além disso, os Estados Unidos demonstram o seu
interesse em desenvolvimento bélico e no crescimento econômico em cima da venda de
armas. Por fim, a China gasta por ano 90 bilhões de dólares em material bélico.

Outro ponto na qual a teoria falha é sobre os países sempre escolherem a


cooperação em detrimento do uso da força, entretanto os Estados Unidos ao longo da
história possuem um elevado registro de invasão de território, como por exemplo no
contexto do Iraque que o mesmo ignorou as ordens da ONU e atacou o país. O caso
entre China e Tebet também é uma demonstração de falha da teoria, pois a mesma
utiliza-se do uso da força e não da cooperação.

Por fim, a teoria da interdependência complexa dos autores keohane e Nye,


consegue explicar vários pontos entre as relações dos Estados Unidos e China e até
mesmo prever as institucionalizações crescentes entre eles. Entretanto a mesma também
possui várias divergências demonstrando incapaz de interpretar a totalidade dessa
relação.

1
KEOHANE, Robert O. e NYE, Joseph S. Power and Interdependence. 2ª ed. Harper's Coll, 1989. p 23

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