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Centro Universitário das Faculdades

Metropolitanas Unidas –FMU-SP

Síntese do artigo “An International Relations Theory Guide to the War in


Ukraine”.

Nome: Manuella Alves da Silva / RA: 1746957

19/04/2023
Por conta de todas as complexidades do mundo, todos tem ideias de como o mundo
funciona, por conta disso não é possível que apenas uma teoria internacional de
conta de cobrir tudo que acontece. Contando com as teorias já existentes, nós
conseguimos ter uma noção do que levou a tragedia na Ucrania a acontecer e
também explicar o que está acontecendo agora e do que pode acontecer
Realismo e Liberalismo
O autor diz que não é difícil para ele analisar que eventos desse tipo elevam a
relevância do pensamento realista na política internacional. Ele afirma também que
todas as teorias realistas descrevem um mundo onde não há nenhuma agência ou
instituição que possa proteger os estados uns dos outros, e onde os estados devem
se preocupar se um agressor perigoso pode ameaçá-los em algum momento no
futuro, o que leva aos estados procurarem por segurança e competir pelo poder
cada vez mais o que os leva a tomarem atitudes hostis. Sendo assim, a invasão a
Ucrania relembra que grandes potencias agem dessa forma pensando sempre no
próprio bem-estar. Isso não justifica o comportamento, mas reconhece que a
condenação moral não é um impeditivo
Esta guerra também releva outro conceito clássico: a ideia de um “dilema de
segurança”, isso por conta de medidas que um estado toma ficar mais seguro e
tornar os outros menos seguros. Então dadas as precauções de longo prazo não era
a toa que países da Europa Oriental quisessem entrar na OTAN, o que também
torna fácil entender o porquê lideres russos ficarem alarmados com a situação
Ver esses eventos através do realismo não endossa as brutalidades e ilegalidades
da Rússia, é apenas reconhecer esse comportamento como algo deplorável, porém
usual na história da humanidade. Diversos teóricos realistas condenam a natureza
trágica mundial, mas ainda sim advertem que não podemos fechar os olhos para os
mesmos, isso também considerando o alto risco que a arrogância traz a política
excessivamente idealista.
Outro ponto de vista realista e sobre as políticas de aliança. Valores compartilhados
podem tornar alianças mais duradouras e com mais seriedade na defesa coletiva o
que resulta muitas vezes em ameaças incomuns. Isso ajuda a entender por que a
União Soviética enfrentou fortes coalizões por parte da Europa e da Asia durante a
Guerra Fria, isso pois eles tinham uma grande economia industrial e seu império
fazia fronteira com muitos outros países juntamente com visões revisionistas. Hoje,
as ações da Rússia aumentaram dramaticamente as percepções de ameaça no
Ocidente, e o resultado foi uma demonstração de comportamento equilibrado que
poucos esperariam apenas algumas semanas atrás.
Como contraste, as principais teorias liberais falam sobre aspectos da política
externa ocidental que nas últimas décadas não se saíram muito bem. Como filosofia
política, o liberalismo é admirável para se organizar uma sociedade (afirma o
escritor) após flertar com seus próprios impulsos autoritários. Mas como abordagem
política continua tendo diversas deficiências
Como no passado, o direito internacional e as instituições internacionais se
provavam ser fracas conta o comportamento ganancioso de potencias. A
interdependência econômica não barrou Moscou de invadir, apesar de todos os
custos que enfrentará com o resultado. O poder brando não conseguiu deter os
tanques da Rússia, e a votação desigual de 141 votos a favor e 5 votos da
Assembleia Geral da ONU (com 35 abstenções) condenando a invasão também não
terá muito impacto.
O autor analisou anteriormente que a guerra destruiu a ideia de que a guerra
esperada na Europa e que com a expansão da OTAN eles estariam criando uma
“zona de paz”. Não surpreendentemente, os que acreditavam nessa promessa
liberal agora colocam a culpa no presidente Vladmir Putin. Já outros atacam os
especialistas que previram corretamente onde a política ocidental poderia levar
como forma de retirar a responsabilidade de seus próprios ombros.
É inegável a responsabilidade que sem dúvidas Putin tem. Mas ideólogos liberais
que rejeitam os repetidos protestos e advertências da Rússia e continuaram com a
expansão de um programa revisionista na Europa com pouca consideração pelas
consequências estão longe de serem inocentes. Mesmo com motivos validos, ainda
sim é evidente que as medidas fizeram o oposto do que prometiam e mesmo assim
não podem dizer que não foram avisados
Teorias liberais que enfatizam o papel das instituições se saem um pouco melhor em
nos ajudar a entender a resposta ocidental rápida e unificada. Rápida por conta dos
Estados unidos e seus aliados na OTAN que compartilham valores políticos, mais
importante se instituições como a OTAN não existissem e uma resposta tivesse que
ser organizada do zero, é difícil imaginar que fosse tão rápida ou eficaz. Instituições
internacionais não podem resolver conflitos de interesse ou impedir que potencias
façam o que quiserem, porém, podem facilitar respostas coletivas quando
interessados do Estado estiverem alinhados
O realismo pode ser o melhor guia para a situação que é enfrentada agora, mas
dificilmente conta toda a história. Por exemplo, os realistas minimizam o papel das
normas como fortes restrições ao comportamento das potencias, mas as mesmas
têm desempenhado um papel importante na explicação da resposta global à
invasão, isso mesmo com o Putin passando por ciam de todas elas, o que leva os
países em grande parte do mundo julgarem a Rússia pelas ações tão graves. Nada
pode impedir um pais de violar normas globais, mas transgressões claras e
evidentes invariavelmente afetarão como suas intenções são julgadas por outros.
Percepção e erro de cálculo
Também é possível entender esses movimentos sem considerar a percepção do
erro de cálculo. As teorias são menos uteis nesse caso, pois tendem a relatar os
Estados como autores mais ou menos racionais que calculam seus interesses e
procuram oportunidades para melhorar sua posição. Mesmo que essa ideia seja
correta, governos e líderes individuais ainda estão operando com informações
imperfeitas e podem julgar mal suas próprias capacidades e as dos outros. mesmo
quando a informação é abundante, as percepções podem ser enviesadas por
diversas razoes, logo existem muitas formas de errar
O autor relata que em sua percepção, Putin veia a calcular mal em várias coisas,
como exagerou na hostilidade ocidental a Rússia, subestimou a determinação da
Ucrania e superestimou a capacidade de seu exército. A combinação de medo e
excesso de confiança que ocorreu foi típica, porém, Estados não iniciam guerras a
menos que tenham se convencido de que podem alcançar seus objetivos
Partindo o fato de que ninguém dá início a uma guerra sem acredite que esta
desfavorecido, os humanos se sentem desconfortáveis em lidar com trade-offs,
existe uma tendencia de ver a guerra como viável, a partir do momento que ela é
decidida como necessária. Essa tendencia pode ser agravada se as vozes
discordantes forem excluídas do processo de tomada de decisão, seja porque todos
dos envolvidos compartilham a mesma visão de mundo ou porque os subordinados
não estão dispostos a dizer aos superiores que podem estar errados.
A teoria diz que os humanos estão mais dispostos a correr riscos para evitar perdas
do que para ter ganhos, assim, se Putin acreditasse que a Ucrania estava aos
poucos se juntando aos EUA e a OTAN ele buscava prevenir o que era considerável
uma perda irreparável. Da mesma forma que com a influência de nosso
comportamento é relevante para entender o fenômeno
Terminação da Guerra e o Problema do Compromisso
Teorias modernas também enfatizam o papel dos problemas de comprometimento.
Em um mundo de anarquia, os estados podem fazer promessas uns aos outros mas
não podem dar certeza de serem cumpridas. Por exemplo, a OTAN poderia ter
oferecido retirar a adesão da Ucrânia à mesa, mas Putin poderia não ter acreditado
na OTAN, mesmo que Washington e Bruxelas tivessem assumido esse
compromisso por escrito. Tratados importam, mas no final são apenas pedaços de
papel.
Além disso a literatura acadêmica sobre o término da guerra sugere que os
problemas de comprometimento serão grandes mesmo quando as partes em conflito
tiverem revisado suas expectativas e estiverem tentando encerrar a luta Se Putin se
oferecesse para se retirar da Ucrânia amanhã e jurasse russas que a deixaria em
paz para sempre, poucas pessoas em todo mundo acreditariam em suas garantias.
E ao contrário de algumas guerras civis, onde os acordos de paz às vezes podem
ser garantidos por estranhos interessados. E mesmo que um lado capitule
totalmente, impor uma “paz do vencedor” pode semear as sementes de um futuro
revanchismo. Infelizmente, parece que estamos muito longe de qualquer tipo de
acordo negociado hoje.
Além disso, outros estudos sobre esse problema destacam os obstáculos que
dificultam o fim de uma guerra. Patriotismo, propaganda, custos irrecuperáveis e um
ódio cada vez maior ao inimigo se combinam para endurecer as atitudes e manter as
guerras por muito tempo depois que um estado racional pode parar. Um elemento-
chave nesse problema é a “traição dos falcões”: aqueles que defendem o fim da
guerra são frequentemente descartados como antipatrióticos ou pior, mas os linha-
dura que prolongam uma guerra desnecessariamente podem acabar causando mais
danos à nação
Mas existe outro problema, os autocratas que enfrentam a derrota e a mudança de
regime podem ser tentados a “apostar pela ressurreição”. Os líderes democratas
podem ser forçados a deixar o cargo na próxima eleição, mas raramente ou nunca
enfrentarão prisão ou coisa pior por seus erros ou crimes. Autocratas, por outro lado,
não têm uma saída fácil, especialmente em um mundo onde eles têm motivos para
temer processos pós-guerra por crimes de guerra. Se eles estão perdendo, portanto,
eles têm um incentivo para lutar ou escalar mesmo diante de probabilidades
esmagadoras, na esperança de um milagre que reverterá sua sorte e os poupará de
expulsão, prisão ou morte. Às vezes, esse tipo de aposta compensa
Esses insights nos lembram de ter muito, muito cuidado com o que desejamos. O
desejo de punir e até mesmo humilhar Putin é compreensível, como uma solução
rápida e fácil para toda a confusão. Mas encurralar o líder autocrático de um estado
com armas nucleares seria extremamente perigoso, Só por esse motivo, aqueles no
Ocidente que estão pedindo o assassinato de Putin ou que disseram publicamente
que os russos comuns devem ser responsabilizados se não se rebelarem e
derrubarem Putin estão sendo perigosamente irresponsáveis
Sanções econômicas
Por um lado, as sanções financeiras impostas são um lembrete da extraordinária
capacidade dos Estados Unidos de “armar a interdependência”, especialmente
quando o país age em conjunto com outras potências econômicas importantes. Por
outro lado, uma quantidade substancial de estudos sérios mostra que as sanções
econômicas raramente obrigam os Estados a alterar o curso rapidamente Putin
sabia que as sanções seriam impostas e claramente acreditava que os interesses
geopolíticos em jogo valiam o custo esperado. Ele pode ter ficado surpreso e
desconcertado com a velocidade e o escopo da pressão econômica, mas ninguém
deve esperar que Moscou mude de rumo tão cedo.
Esses exemplos não fazem mais do que arranhar a superfície do que os estudos
contemporâneos de RI podem contribuir para nossa compreensão desses eventos.
É possível analisar sobre dissuasão e coerção, qualquer número de trabalhos
importantes sobre a dinâmica da escalada horizontal e vertical, ou os insights que
alguém pode obter ao considerar elementos culturais
O ponto principal é que a literatura acadêmica sobre relações internacionais tem
muito a dizer sobre a situação que enfrentamos. Infelizmente, é provável que
ninguém em uma posição de poder preste muita atenção a isso, mesmo quando
acadêmicos experientes oferecem seus pensamentos na esfera pública. O tempo é
a mercadoria mais escassa na política - especialmente em uma crise - e Jake
Sullivan, Antony Blinken e seus muitos subordinados não estão prestes a começar a
folhear as edições anteriores do International Security ou do Journal of Conflict
Resolution para encontrar as coisas boas.
A guerra também tem sua própria lógica e desencadeia forças políticas que tendem
a abafar as vozes alternativas, mesmo em sociedades onde a liberdade de
expressão e o debate aberto permanecem intactos. Como as apostas são altas, o
tempo de guerra é quando os funcionários públicos, a mídia e os cidadãos devem
trabalhar mais para resistir aos estereótipos, pensar com frieza e cuidado, evitar
hipérboles e clichês simplistas e, acima de tudo, permanecer abertos à possibilidade
de que possam estar errados e que um curso de ação diferente é necessário. Uma
vez que as balas começam a voar, no entanto, o que normalmente ocorre é um
estreitamento da visão, uma rápida queda nos modos maniqueístas de pensamento,
a marginalização ou supressão de vozes dissidentes, o abandono das nuances e um
foco teimoso na vitória a todo custo. Esse processo parece estar bem encaminhado
dentro da Rússia de Putin, mas uma forma mais branda também é aparente no
Ocidente. Ao todo, esta é uma receita para piorar uma situação terrível.

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