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GEOGRAFIA 1 CURSO ASCENSÃO

INTRODUÇÃO

O mundo apresenta anomalias e contrastes impressionantes, muitos dos quais as pessoas costumam notar e
comentar quando abordam os problemas globais:
a) nunca antes houve tanta riqueza, mas ainda assim a miséria é generalizada, e o abismo entre os
mais ricos e os mais pobres não dá nenhum sinal de que vá diminuir;
b) nunca antes acumulamos tanto conhecimento, e, no entanto, a ignorância e o preconceito também
estão disseminados;
c) nas últimas décadas, a capacidade da ciência e da tecnologia se desenvolveu num ritmo atordoante
(a clonagem e outras façanhas da engenharia genética, a informática e as telecomunicações, o
mapeamento preciso da Terra, as já rotineiras viagens espaciais), mas muitas vezes até os problemas
mais simples parecem insolúveis.
Há outras anomalias que talvez comentemos com menos frequência, mas sobre as quais pode haver boas
notícias e até razões para otimismo:
a) continuam ocorrendo violações gravíssimas dos direitos humanos, mas hoje são mais divulgadas
do que nunca, e alguns dos regimes mais brutais foram derrubados nos últimos quinze ou vinte anos;
b) a globalização econômica, que ruma para o estabelecimento de um mercado comum mundial, vem
apagando muitas das diferenças entre pessoas e povos, mas a diversidade continua a prosperar; e
c) prossegue a destruição do meio natural, mas o ativismo ambiental floresce tanto nos países ricos
quanto nos países pobres.
Quando há boas notícias, elas muito frequentemente se originam de atos de cidadãos – pessoas comuns – que
opõem resistência como indivíduos ou grupos, às vezes em muito grande número, contra decisões dos detentores do
poder. Em 1989, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, durante uma manifestação de ativistas pró-democracia, um
único homem, segurando uma sacola de plástico, postou-se diante de um tanque e conseguiu convencer o soldado que
o dirigia e o superior do veículo a não atropelá-lo. Ficou pulando para a frente e para trás, andando de um lado para o
outro, com os braços abertos numa espécie de movimento de “Pare!”. E o tanque, mal se arriscando à frente e à ré,
não passou por cima dele.
Claro, pode-se dizer que não adiantou nada. O Exército interveio mesmo, os ativistas foram alvejados,
espancados ou presos, e teve fim um momento de esperança democrática na China. A imagem, contudo, era
poderosa: um homem – desarmado – consegue parar um tanque. Mais tarde, naquele mesmo ano, o povo sublevou-se
na Europa Oriental e passou por cima da repressão. Regimes que empregavam com cruel hipocrisia o discurso dos
direitos do povo acreditavam que, quando surgisse a necessidade, a URSS viria socorrê-los. Mas a URSS já se
resolvera a não fazer isso. E ficou evidente a artificialidade daqueles regimes, que, não tendo fortes alicerces,
desmoronaram.
As manifestações da Praça da Paz Celestial e a queda do Muro de Berlim foram acontecimentos que o mundo
acompanhou pelos telejornais. Outros fatos não recebem o mesmo nível de reconhecimento global, mas são tão
impressionantes quanto aqueles. Em meados da década de 1990, no Reino Unido, uma campanha para proteger a
natureza e tranquilidade no campo foi liderada por indivíduos que cavavam túneis sob as rodovias em construção.
Caso as obras continuassem, estariam pondo sua própria vida em risco. As empreiteiras agiram como o soldado que
dirigia o tanque em Pequim: seus tratoristas e diretores não quiseram insistir contra a posição tomada pelos ativistas.
Em março de 2003, todas as atenções se voltavam para o Iraque. As notícias não se referiam apenas aos
preparativos militares norte-americanos, às manobras diplomáticas e políticas internacionais contra e a favor da
guerra, aos combates através do deserto até as ruas de Bagdá e Basra. Eles também falavam da força da oposição
política e do sentimento popular contrário à guerra em numerosos países mundo afora. Algumas das opiniões
expressas naquela oposição ampla e profunda talvez não fossem juízos cuidadosamente ponderados; por outro lado,
tampouco era esse o caso de algumas das opiniões expressas por quem apoiava e fomentava a opção bélica. Muitos
oponentes à guerra tinham sentimentos ambíguos sobre qual seria sua atitude caso a guerra houvesse sido
previamente aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU: os acontecimentos da guerra teriam sido mais ou menos
os mesmos, mas se dariam num contexto internacional diferente, tanto legal quanto politicamente. Ao mesmo tempo,
os proponentes da guerra pareciam continuar indecisos até o final sobre seus próprios motivos – teria sido a
preocupação com o terrorismo, com as armas de destruição em massa ou com a incomparável crueldade do regime de
Saddam Hussein? Fosse como fosse, seus oponentes não acreditavam em nada disso e insistiam que a verdadeira
razão para a guerra era o petróleo e o desejo norte-americano de obter o controle estratégico sobre o Oriente Médio.
Discussões à parte, numa época em que a vida cívica parece caracterizada por ampla indiferença do público, o
mais importante, de determinado ponto de vista, foi que as pessoas que não apoiavam a guerra iminente vieram a
público e assumiram uma posição visível.
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Teoricamente, dado que a guerra foi em parte travada em nome da implantação da democracia no Iraque, aqueles
que a conduziram deveriam, sendo democratas, ter saudado essa posição ao conflito – não apenas tolerando-a, mas
louvando-a. O fato de as coisas não terem sido assim constitui, talvez, outra anomalia global.
A democracia, sem dúvida, é um sistema muito imperfeito. Quanto mais democrático o governo, mais passível
de ineficiência, com muitas decisões difíceis de tomar e mais difíceis ainda de implementar. Por isso, mesmo entre
aqueles que são sinceros em sua profissão de fé democrática, pode facilmente surgir a tendência a usar de expedientes
e atalhos e contornar os procedimentos democráticos. Em alguns países, desde o fim da Guerra Fria, o advento da
democracia se fez acompanhar do agravamento da corrupção, à medida que a nova elite buscava enriquecimento
rápido. Em muitos lugares, a democracia parece seguir de mãos dadas com leis mais frouxas e padrões de
comportamento político menos exigentes. O fato de um governo, partido ou líder viver agitando a bandeira
democrática não quer dizer lá muita coisa.
Apesar de tudo isso, a democracia contém um princípio fundamental muito atraente, que se expressa numa única
frase: nela, podemos estar errados.
Uma vez que os detentores do poder podem estar errados, suas posições e políticas precisam submeter-se à
avaliação popular de tempos em tempos. Caso o veredicto seja negativo, esses detentores do poder o perdem, e outros
vêm para pôr à prova seu próprio programa de governo, também sujeito a avaliação pelo voto poucos anos depois.
Em alguns sistemas de governo, essa concepção está tão arraigada que existe limite legal para o número de mandatos
que um governante pode exercer. É o caso, por exemplo, dos EUA, onde o presidente pode cumprir no máximo dois
mandatos de quatro anos, não importa se consecutivos ou não. Justamente por isso, porque não apenas são
democratas, mas também compreendem o que é a democracia, os detentores do poder deveriam não apenas tolerar,
mas também saudar a oposição a suas políticas e ações.
Para que tal oposição exista, é preciso atender a várias exigências básicas.
Em primeiro lugar, é preciso haver no sistema democrático um conjunto de leis que resguardem os direitos
fundamentais – a liberdade de expressão e de reunião, a liberdade de organização, o direito de não sofrer detenção
nem intimidação arbitrárias – e que estabeleçam procedimentos para que as eleições sejam limpas e justas, e as ações
do governo transparentes e passíveis de responsabilização.
O princípio geral dessa legislação é a igualdade perante a lei – o igual valor de todos os indivíduos, ou seja, a
essência da democracia.
Em segundo, as pessoas precisam demonstrar interesse por questões como o meio ambiente, a globalização, a
guerra e a paz, a repressão e a liberdade – e um número suficiente de pessoas precisa demonstrar mais interesse e
dedicar esforços bastantes para mudar alguma coisa a respeito dessas questões. Não há como obrigar os indivíduos a
se interessar, mas, sem o empenho dos cidadãos comuns, não se consegue nada. Com frequência, somos incapazes de
encontrar tais energias, às vezes porque a luta do dia a dia já nos exige demais, mas, às vezes, também, porque a
criação e a educação não nos dão o sentido de nossa responsabilidade uns com os outros e com os problemas sociais e
globais, nem a percepção de que podemos fazer alguma coisa a respeito deles.
Em terceiro, é necessário que a informação esteja disponível de modo que as questões possam ser explicadas e
compreendidas.
Mesmo os governos democráticos que respeitam as leis e não são corruptos gostam de fazer prevalecer a própria
vontade e, por isso, precisam convencer a opinião pública. Para tanto, organizam os fatos, dão-lhes um feitio
conveniente e os rematam com alguns slogans, acrescidos de argumentos mais detalhados para persuadir pessoas
cujos interesses e atenção exigem mais que as informações rápidas dos noticiários. Só que a informação pode
mostrar-se incômoda. Se vista de ângulos diferentes, talvez respalde conclusões também diversas. Por isso, a
existência de uma multiplicidade de fontes de informação e de maneiras de tratar os fatos é outro princípio
democrático.
Se há uma coisa que não falta nos países mais ricos é informação. No entanto, pode ser tão ruim receber
informação demais quanto recebê-la de menos. Uma das dificuldades é não apenas ter acesso a ela, mas também
entender onde se encaixa – ou, talvez, o que se encaixa nela. Ter uma visão global dos fatos é tarefa árdua e
contante.
Adaptado de SMITH, Dan. Atlas da Situação Mundial. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

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I – O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO


O capitalismo, como sistema econômico e social, passou a ser dominante no mundo ocidental a partir
do século XVI. A transição do feudalismo para o capitalismo, porém, ocorreu de forma bastante desigual no
tempo e no espaço: foi mais rápida na porção ocidental da Europa e muito mais lenta na porção central e
na oriental.
O capitalismo evoluiu gradativamente e foi se transformando à medida que novas dificuldades
surgiam. O sistema capitalista sempre apresentou, ao longo de sua história, grande dinamismo. Isso se
explica devido ao seu profundo enraizamento histórico e cultural, pois sua origem é muito antiga (final da
Idade Média) e sua evolução histórica foi muito lenta, particularmente na Europa Ocidental e na América
Anglo-saxônica. Gradativamente, ele foi se sobrepondo a outras formas de produção, até se tornar
hegemônico, o que, em âmbito mundial, ocorreu em sua fase industrial. É também chamado de economia de
mercado.
Didaticamente, considerando seu processo de desenvolvimento, costuma-se dividir o capitalismo em
quatro fases:

1 – O CAPITALISMO COMERCIAL
A primeira etapa do capitalismo estendeu-se do fim do século XV até o século XVIII e foi marcada pela
expansão marítima das potências econômicas da Europa Ocidental na época (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e
Países Baixos), em busca de novas rotas de comércio, sobretudo para as Índias.
O objetivo dessas nações era acabar com a hegemonia das cidades italianas no comércio com o Oriente pelo
Mediterrâneo. Foi o período das Grandes Navegações e descobrimentos, das conquistas territoriais e, também, da
escravização e genocídio de milhões de nativos da América e da África.
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Nessa época, as trocas comerciais proporcionaram grande acúmulo de capitais, por isso a primeira etapa desse
novo sistema econômico é chamada capitalismo comercial. A economia funcionava segundo a doutrina mercantilista,
que defendia a intervenção governamental nas relações comerciais, a fim de promover a prosperidade nacional e
aumentar o poder dos Estados, cujo poder político estava centralizado nas mãos dos monarcas. Neste período a
riqueza e o poder de um país eram medidos pela quantidade de metais preciosos.
Durante a fase mercantilista do capitalismo a exploração econômica das colônias proporcionou grande acúmulo
de capitais nos países europeus, principalmente a Inglaterra. Esse acúmulo inicial (primitivo) de capitais foi
fundamental para a eclosão da Revolução Industrial, que marcou o começo de uma nova fase do capitalismo.

2 – O CAPITALISMO INDUSTRIAL
Nas primeiras décadas do século XVIII, o Reino Unido da Grã-Bretanha (formado em 1707 com a unificação
entre a Inglaterra e a Escócia) comandou uma grande transformação no sistema de produção de mercadorias, na
organização das cidades e do campo e nas condições de trabalho: a Revolução Industrial. Um de seus aspectos mais
importantes foi o aumento da capacidade de transformação da natureza, por meio da utilização de máquinas
hidráulicas e a vapor, com grande incremento no volume de mercadorias produzidas e consequente necessidade de
ampliação do mercado consumidor em escala mundial.
Esse período também foi marcado por uma crescente aceleração da circulação de pessoas e mercadorias, graças à
expansão das redes de transporte terrestre e marítimo, com o trem e o barco a vapor.
O comércio não era mais a essência do sistema. Nessa nova fase, o lucro provinha principalmente da produção de
mercadorias realizada por trabalhadores assalariados. Mas de que modo se lucrava com a produção em série de
tecidos, máquinas, ferramentas e armas? Como os rápidos avanços nos transportes, com o surgimento dos trens e
barcos a vapor, aumentavam os ganhos dos capitalistas?
Foi Karl Marx (1818-1883), um dos mais influentes pensadores dos séculos XIX e XX, quem desvendou o
mecanismo da exploração capitalista, definindo o conceito de mais-valia. A toda jornada de trabalho corresponde
uma remuneração, que garantirá a subsistência do trabalhador. No entanto, o trabalhador produz um valor a mais do
que recebe como salário. Essa quantidade de trabalho não pago permanece em poder dos proprietários das fábricas,
lojas, fazendas, minas e outros empreendimentos. Dessa forma, em todo produto ou serviço está embutido esse valor,
que é apropriado pelo dono desses meios de produção, permitindo o acúmulo de lucro pela burguesia (a classe dos
capitalistas).
O regime assalariado é, portanto, a relação de trabalho mais adequada ao capitalismo e se disseminou à medida
que o capital se acumulava em grande escala nas mãos dos donos dos meios de produção, provocando uma crescente
necessidade de expansão dos mercados consumidores. Ao mesmo tempo, o trabalhador assalariado, além de
apresentar maior produtividade que o escravo, tem renda disponível para o consumo. Por isso a escravidão entrou em
decadência e o trabalho assalariado passou a predominar.
Após se consolidar no Reino Unido, no século XIX a industrialização foi se expandindo para outros países
europeus, como a Bélgica, a França, a Alemanha, a Itália, e até para fora da Europa, alcançando os Estados Unidos e,
de forma incipiente, o Japão, o Canadá e, mais tarde, no século XX, os atuais países emergentes. Observe o esquema
a seguir.

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Ao contrário do período mercantilista, na nova etapa do capitalismo era conveniente para a burguesia que a
economia funcionasse segundo a lógica do mercado, com o Estado intervindo cada vez menos na produção e no
comércio. A partir de então, caberia ao Estado tão somente garantir a livre iniciativa, a concorrência entre as
empresas e o direito à propriedade privada.
Consolidou-se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo. Essa nova visão foi sintetizada pelos
representantes da economia política clássica, especialmente o economista britânico Adam Smith. Em seu livro mais
célebre, A riqueza das nações (1776), defendia o indivíduo contra o poder do Estado e acreditava que cada um, ao
buscar seu próprio interesse econômico, contribuiria para o interesse coletivo de modo mais eficiente. Por isso era
contrário à intervenção do Estado na economia e defendia a “mão invisível” do mercado.
Os princípios liberais aplicados às trocas comerciais internacionais redundaram na defesa do livre-comércio, ou
seja, da redução e até abolição das barreiras para a livre circulação de mercadorias, o que servia perfeitamente aos
interesses do Reino Unido, país mais industrializado da época e interessado em abrir mercados para seus produtos em
todo o mundo.
No final do século XIX, mudanças importantes estavam acontecendo dentro das fábricas: a produtividade e a
capacidade de produção aumentavam rapidamente, devido à introdução de novas máquinas e fontes de energia mais
eficientes, como o petróleo e a eletricidade; aprofundava-se a especialização do trabalhador em uma única etapa da
produção, e crescia a fabricação em série. Era o início da Segunda Revolução Industrial, quando o capitalismo entrou
em sua fase financeira e monopolista, marcada pela origem de muitas das atuais grandes corporações e pela expansão
imperialista.

3 – O CAPITALISMO FINANCEIRO
Uma das características mais importantes do crescimento acelerado da economia capitalista no final do século
XIX foi a formação de grandes empresas industriais e comerciais, além do crescimento acelerado de bancos e outras
empresas financeiras. A concorrência acirrada favoreceu as grandes empresas, levando a fusões e incorporações que
resultaram na formação de monopólios ou oligopólios em muitos setores da economia. É bom lembrar que, por ser
intrínseco à economia capitalista, esse processo continua acontecendo e grandes corporações da atualidade foram
fundadas nessa época, como podemos observar na tabela a seguir.
Nesse período houve a introdução de novas tecnologias e Empresa (País) Ano de fundação
novas fontes de energia no processo produtivo e a criação dos
primeiros laboratórios de pesquisa das atuais grandes British Petroleum (Reino Unido) 1909
corporações industriais. Pela primeira vez, tendo como
Coca Cola (Estados Unidos) 1886
pioneiros os Estados Unidos e a Alemanha, a ciência era
apropriada pelo capital, ou seja, estava a serviço das Exxon (Estados Unidos) 1882
empresas. A siderurgia avançou significativamente, assim
como a indústria mecânica, graças ao aperfeiçoamento da Fiat (Itália) 1899
fabricação do aço. Na indústria química, com a descoberta de
General Eletric (Estados Unidos) 1892
novos elementos e materiais, ampliaram-se as possibilidades
para novos setores, como o petroquímico. A descoberta da General Motors (Estados Unidos) 1916
eletricidade beneficiou as indústrias e a sociedade como um
todo, pois proporcionou o aumento da produtividade e a IBM (Estados Unidos) 1911
melhora na qualidade de vida. O desenvolvimento do motor a Mitsubishi Bank (Japão) 1880
combustão interna e a consequente utilização de
combustíveis derivados de petróleo abriu novos horizontes Nestlé (Suíça) 1866
para as indústrias automobilísticas e aeronáuticas,
possibilitando sua expansão e a dinamização dos transportes. Siemens (Alemanha) 1847
Com o crescente aumento da produção e a industrialização expandindo-se para outros países, acirrou-se a
concorrência. Era cada vez maior a necessidade de garantir novos mercados consumidores, acesso a fontes de
energia, de matérias-primas e novas áreas para investimentos lucrativos.
Foi nesse contexto do capitalismo que ocorreu a expansão imperialista europeia na África e na Ásia. Na
Conferência de Berlim (1884-1885) as potências da Europa partilharam o continente africano entre elas. Na Ásia,
extensas áreas também foram partilhadas, como a Índia (que passou a ser o território colonial britânico mais
importante).
A partilha imperialista estabelecida pelas potências industriais consolidou a divisão internacional do trabalho,
pela qual as colônias se especializaram em fornecer matérias-primas baratas para os países que então se
industrializavam. Essa divisão, inicialmente delineada no capitalismo comercial, consolidou-se na fase do capitalismo
industrial. Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências
imperialistas.

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No final do século XIX também emergiram potências industriais fora da Europa, com destaque para o Japão, na
Ásia, e especialmente os Estados Unidos, na América.
A expansão imperialista japonesa, como a europeia, foi marcada pela ocupação de territórios. Iniciou-se com a
tomada de Taiwan após a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-95), seguida pela ocupação da península da Coreia,
em 1910, e da Manchúria (China), em 1931, entre outros territórios.
O imperialismo americano sobre a América Latina foi um pouco diferente do europeu sobre a África e a Ásia e
do japonês, também na Ásia. Enquanto nas colônias africanas e asiáticas as potências imperialistas mantiveram um
controle político e militar direto, os norte-americanos exerceram um controle indireto, patrocinando golpes de Estado
e apoiando a ascensão de ditadores locais favoráveis aos Estados Unidos. As intervenções militares eram localizadas
e temporárias, como o controle exercido sobre Cuba de 1899 a 1902.
Nesse período os bancos assumiram um papel mais importante como financiadores da produção. Incorporaram
indústrias, que, por sua vez, incorporaram ou criaram bancos para lhes dar suporte financeiro. Por esse motivo
tornou-se cada vez mais difícil distinguir o capital industrial (também o agrícola, comercial e de serviços) do capital
bancário. Uma denominação melhor passou a ser, então, capital financeiro.
Ao mesmo tempo foi se consolidando, particularmente nos Estados Unidos, um vigoroso mercado de capitais. As
empresas deixaram de ser familiares e se transformaram em sociedades anônimas de capital aberto, ou seja, em
empresas que negociam suas ações em bolsas de valores. Isso permitiu a formação das corporações da atualidade,
cujas ações estão, em parte, distribuídas entre milhares de acionistas. Em geral, essas grandes empresas têm um
acionista majoritário, que pode ser uma pessoa, uma família, uma fundação, um banco ou uma holding, ao passo que
os pequenos investidores são proprietários do restante, muitas vezes milhões de ações.
O mercado passou a ser dominado por grandes corporações, portanto o liberalismo permanecia muito mais como
ideologia capitalista. Na prática, a livre concorrência, característica da fase industrial, era bastante limitada. O Estado,
por sua vez, passou a intervir na economia sobretudo como agente planejador, coordenador, produtor ou empresário.
Essa atuação intensificou-se após a crise de 1929, que provocou acentuada queda da produção industrial e do
comércio e aumento do desemprego em todo o planeta.
Em 1933, Franklin D. Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, pôs em prática um plano de combate à
crise que se estendeu até 1939, chamado New Deal (“novo plano” ou “novo acordo”). Foi um clássico exemplo de
intervenção do Estado na economia. Baseado em um audacioso plano de construção de obras públicas e de estímulos
à produção, visando reduzir o desemprego, o New Deal foi fundamental para a recuperação da economia norte-
americana e, posteriormente, do restante do mundo. Essa política de intervenção estatal numa economia em que
predominava o oligopólio ficou conhecida como keynesianismo, por ter sido o economista inglês John Maynard
Keynes (1883-1946) seu principal teórico e defensor. Representou claramente uma contraposição ao liberalismo
clássico, que até então permanecia como ideologia capitalista dominante. Keynes sistematizou essa política
econômica em sua obra principal A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. O livro, escrito durante a depressão
que sucedeu a crise de 1929, foi publicado em 1936, mas alguns pontos do New Deal já tinham sido influenciados por
suas ideias.
Superada a crise, com a retomada do crescimento da economia, especialmente após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), começam a se formar os grandes conglomerados capitalistas.

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TRUSTES, CARTÉIS, CONGLOMERADOS


Desde o final do século XIX, em cada setor da economia – petrolífero, elétrico, siderúrgico, têxtil,
ferroviário etc. - passaram a predominar alguns grandes grupos. São os trustes, que controlam as etapas da
produção, desde a retirada da matéria-prima da natureza e a transformação em produtos até a distribuição das
mercadorias. Quando os trustes, ou mesmo empresas de menor porte, fazem acordos entre si estabelecendo um
preço comum, dividindo os mercados potenciais e, portanto, inviabilizando a livre concorrência num
determinado setor da economia, criam um cartel.
Diferentemente do que acontece no truste, no cartel não há a perda de autonomia das empresas envolvidas.
O truste resulta de fusões e incorporações ocorridas num determinado setor de atividade, como aconteceu
sobretudo com empresas petrolíferas e automobilísticas. Já o cartel é consequência de acordos entre empresas,
em geral grandes, com o intuito de compartilhar determinados mercados ou setores da economia e controlar os
preços. Na maioria dos países foram criadas leis que proíbem a cartelização, situação que inibe a concorrência
no setor em que ocorre e prejudica os consumidores.
Muitos trustes, constituídos no final do século XIX e início do século XX, transformaram-se cm
conglomerados. Resultaram de um ampliado processo de concentração de capitais e de uma crescente
diversificação dos negócios. Os conglomerados, também chamados grupos ou corporações, visam dominar a
oferta de determinados produtos ou serviços no mercado e são o exemplo mais bem acabado de empresas do
capitalismo monopolista. Controlados por uma holding, atuam em diferentes setores da economia. Seu objetivo
é a manutenção da estabilidade do conglomerado, garantindo uma lucratividade média, já que pode haver
rentabilidades diferentes em cada setor e, consequentemente, em cada empresa do grupo.
Por exemplo, o grupo General Electric, sediado nos Estados Unidos, atua em diversos ramos industriais.
Fabrica uma grande variedade de produtos: lâmpadas, fogões, geladeiras, equipamentos médicos, motores de
avião, turbinas para hidrelétricas etc. e atua nos setores financeiro e de comunicações. Há, especialmente nos
países desenvolvidos, variados exemplos de conglomerados que atuam em diversos setores da economia:
Oaimler (Alemanha), Sony (Japão), Fiat (Itália), Nestlé (Suíça), Unilever (Reino Unido/ Países Baixos), mas já
há também importantes conglomerados em países emergentes: Sinopec (China). Hyundai (Coreia do Sul), Tata
(Índia), Pemex (México) etc. No Brasil também há conglomerados importantes, como a Petrobras, maior
empresa brasileira que atua no ramo energético, incluindo a exploração, produção, refino e comercialização de
petróleo, além da distribuição de derivados, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica. A Itaúsa, a Vale, a
Gerdau e a Votorantim também são importantes conglomerados brasileiros.

Ao se transformar em conglomerados, as grandes corporações diversificaram os setores e os mercados de


atuação. Expandindo-se pelo mundo, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, transformaram-se em empresas
multinacionais. Surgidas da tendência expansionista do capitalismo, essas empresas se caracterizam por desenvolver
uma estratégia de atuação internacional a partir de uma base nacional, onde está sua sede e de onde controlam as
filiais espalhadas por outros países.

EMPRESAS TRANSNACIONAIS
As empresas transnacionais têm subsidiárias em muitos países e costumam desempenhar ampla gama de
atividades. Procurando mercado e parcerias estratégicas, elas avançam para além de suas fronteiras nacionais
originárias e agregam consumidores, acionistas e administradores de outros países.
As transnacionais precisam reduzir ao mínimo possível os controles sobre o comércio, e por isso seus
interesses muitas vezes colidem com os dos governos, tanto dos países de origem (onde se situam suas sedes)
quanto dos outros países em que se instalam para fazer negócios.
Ao se observar as economias mais dependentes das transnacionais, pode-se observar que os países que mais
dão origem a essas empresas não são os que mais dependem delas.

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O desfecho da Segunda Guerra Mundial agravou o processo de decadência das antigas potências europeias, que
já vinha ocorrendo desde o final da Primeira Guerra. Aos poucos, elas foram perdendo seus domínios coloniais na
Ásia e na África e, com a destruição provocada pela guerra, houve o deslocamento do centro de poder mundial com a
emergência de duas superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética.
Do ponto de vista econômico, o pós-Guerra foi marcado por acentuada mundialização da economia capitalista,
sob o comando das multinacionais. Foi a época de gestação das profundas transformações econômicas pelas quais o
mundo passou, sobretudo a partir do final dos anos 1970, com a Terceira Revolução Industrial e o processo de
globalização da economia.

4 – O CAPITALISMO INFORMACIONAL

4.1 – A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL


Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-científica ou
Revolução Informacional, o capitalismo atingiu seu período informacional, como propõe o sociólogo espanhol
Manuel Castells. Essa nova etapa começou a se gestar no pós-Segunda Guerra, mas se desenvolveu sobretudo a partir
dos anos 1970 e 80, quando, gradativamente, disseminaram-se empresas, instituições e diversas tecnologias – robôs,
computadores, satélites, aviões a jato, cabos de fibras ópticas, telefones digitais, internet etc. – responsáveis pelo
crescente aumento da produtividade econômica e pela aceleração dos fluxos de capitais, mercadorias, informações e
pessoas.
Nessa etapa os avanços tecnológicos potencializaram a produção industrial e o sistema financeiro. As novas
tecnologias empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, permitiram grande aumento da produtividade
industrial e da diversificação dos produtos. Além disso, os avanços tecnológicos permitiram que os fluxos financeiros
ocorressem sem a necessidade física do dinheiro, possibilitando um enorme crescimento do setor financeiro
globalizado. Entretanto, a característica fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a crescente
importância do conhecimento. Os produtos e serviços têm um conjunto cada vez maior de conhecimentos a eles
agregados, valorizando-os. A fabricação de um televisor ou um automóvel, por exemplo, envolve uma série de
conhecimentos específicos, além dos materiais e da mão de obra (esta também cada vez mais qualificada). Produtos e
serviços têm, portanto, uma nova característica – seu crescente teor informacional. Mas o conhecimento também vai
se incorporando ao território, constituindo o que o geógrafo Milton Santos chamou de meio técnico-científico-
informacional, que aparece predominantemente nos países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos
emergentes.
Os países que estão na vanguarda da revolução informacional são aqueles que lideram a pesquisa e
desenvolvimento (P&D), com destaque para os Estados Unidos. Esse país é o que mais investe em P & D em termos
absolutos, que possui o maior número de pesquisadores, que mais publica artigos técnicos e científicos em revistas
especializadas e que obtém as maiores receitas com royalties e licenças sobre as tecnologias que desenvolve.
As revoluções industriais anteriores foram impulsionadas por novas fontes de energia – a primeira, pelo carvão
mineral, e a segunda, pelo petróleo e pela eletricidade. A revolução ora em curso é impulsionada pelo conhecimento,
embora, evidentemente, a energia continue sendo crucial (um computador de última geração não funciona sem
energia elétrica ou bateria). Durante a expansão imperialista era imprescindível para as indústrias o acesso a fontes de
matérias-primas e de energia para a manutenção do processo produtivo. Hoje, na fase da globalização, embora o
acesso a recursos naturais continue sendo muito importante, é imprescindível o acesso ao conhecimento, fruto de
pesquisa e desenvolvimento. Não por acaso as primeiras indústrias, da era das chaminés, desenvolveram-se em torno
das bacias carboníferas. Atualmente, as empresas de alta tecnologia estão próximas a universidades e centros de
pesquisas, onde se desenvolvem os parques tecnológicos ou tecnopolos. Nesses centros industriais, há grande
concentração de indústrias de informática, telecomunicações, robótica e biotecnologia, entre outras de alta tecnologia.
Os parques tecnológicos são o exemplo mais evidente do meio técnico-científico-informacional.
Desde a década de 1970, está havendo uma verdadeira revolução nas unidades de produção, nos diversos
serviços e nas residências. Grande parte dessa revolução deve-se a uma pequena peça de silício, chamada chip, que
possibilitou a construção de computadores mais rápidos, precisos e baratos. O desenvolvimento de satélites e de
cabos de fibra óptica, entre outras tecnologias, tem permitido grandes avanços nas telecomunicações. As tecnologias
da informação (TI) têm facilitado o gerenciamento de dados e acelerado o fluxo de capitais, mercadorias e
informações em escala mundial por diversos meios, entre os quais se destaca a internet.
Com a aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de globalização.
Desenvolve-se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transportes e telecomunicações. Por isso,
podemos dizer que vivemos em um capitalismo informacional-global. Entretanto, a globalização e seus fluxos
abarcam o espaço geográfico mundial de forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados
que outros e os "comandantes” desse processo estão concentrados em poucos lugares.
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4.2 – A CRISE FINANCEIRA E O NEOLIBERALISMO EM XEQUE


O neoliberalismo é uma doutrina econômica que se desenvolveu desde o final dos anos 1930 e foi colocada em
prática nos Estados Unidos, sob a presidência de Ronald Reagan (1981-1988), e no Reino Unido, sob o governo da
primeira-ministra Margaret Thatcher (l979-l990). Especialmente na década de 1990, as políticas neoliberais se
disseminaram por meio de organismos controlados por esses países, como o FMI e o Banco Mundial, e atingiram os
países em desenvolvimento.
Ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em seu discurso de posse proferido em 20 de
janeiro de 1981, afirmou: "Na atual crise, o governo não é a solução de nossos problemas; O governo é o problema".
Ele se referia à crise capitalista dos anos 1970, que evidenciava certo esgotamento das políticas keynesianas,
agravada pelos choques do petróleo (elevação dos preços do barril em 1973 e 1979). O governo Reagan foi marcado
pela redução do papel regulador do Estado na economia (desregulação), por cortes de impostos – que beneficiavam
especialmente os mais ricos –, supostamente para estimular o investimento e a produção, e pela imposição da
doutrina neoliberal aos países em desenvolvimento.
O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras aos fluxos globais de
mercadorias e capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiava principalmente os países desenvolvidos e
suas corporações multinacionais, embora alguns países emergentes, como a China, os Tigres Asiáticos, o México e o
Brasil, tenham recebido muitos investimentos produtivos e ampliado sua participação no comércio mundial.
A ampliação dos fluxos de capitais e a falta de controle estatal sobre o mercado, especialmente o financeiro,
sobretudo nos Estados Unidos, um país de forte tradição liberal, acabou levando o capitalismo a uma grave crise
econômica que teve seu auge em 2008. A mais grave crise desde 1929 originou-se no sistema financeiro norte-
americano e em pouco tempo se espalhou pelo mundo, atingindo também a economia real dos países.
Dessa forma o neoliberalismo foi posto em xeque, como fica evidente no discurso de posse do presidente Barack
Obama, proferido no dia 20 de janeiro de 2009: "Tampouco a pergunta diante de nós é se o mercado é uma força do
bem ou do mal. Seu poder para gerar riqueza e expandir a liberdade não tem igual, mas esta crise nos fez lembrar
que, sem um olhar atento, o mercado pode sair do controle - e que uma nação não pode prosperar por muito tempo
se favorece apenas os prósperos". Trata-se de um discurso muito diferente do feito por Ronald Reagan 28 anos atrás.
Como admitiu o presidente dos Estados Unidos, o motivo principal da crise econômica foi a fiscalização
deficiente do mercado, especialmente do financeiro. Para corrigir isso, em junho de 2009 o governo norte-americano
lançou um plano de regulação, considerado a maior intervenção do Estado na economia desde os anos 1930 (pós-
crise de 1929). Entre outras medidas, o plano assegurou amplos poderes ao Federal Reserve (ou Fed, o Banco Central
dos Estados Unidos) para regular e supervisionar todo o sistema financeiro do país. Para isso foi criada uma agência
para supervisionar os bancos. O governo poderá intervir em empresas “grandes demais para quebrar”, evitando assim
que possam contaminar o mercado. Também foi criada a Agência de Proteção dos Consumidores para coibir práticas
abusivas do setor financeiro, como ocorreu no caso das hipotecas.
Num país de forte tradição liberal, era natural que esse plano encontrasse resistências, especialmente das
empresas financeiras que não teriam mais total liberdade de atuação no mercado. Um dia antes do lançamento do
plano, o presidente norte-americano já alertava para isso: “Vamos ouvir muita conversa de que não precisamos de
mais regulação e de que não queremos as mãos do governo sobre o mercado, mas não podemos esquecer o desastre
em que nos metemos exatamente pela falta dessa regulamentação mais rigorosa, o que levou a um comportamento
irresponsável de alguns. Para entender melhor a origem da crise econômico-financeira iniciada no mercado
imobiliário subprime dos Estados Unidos, leia o texto a seguir do economista Ladis-lau Dowbor:

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A CRISE FINANCEIRA SEM MISTÉRIOS


O estopim da crise financeira de 2008 foi o mercado imobiliário norte-americano. Abriu-se crédito para
compra de imóveis por parte de pessoas qualificadas pelos profissionais do mercado de Ninjas (“sem renda, sem
emprego, sem patrimônio”). Empurra-se uma casa de 300 mil dólares para uma pessoa, digamos assim, pouco
capitalizada. Não tem problema, diz o corretor: as casas estão se valorizando, em um ano a sua casa valerá 380
mil, o que representa um ganho seu de 80 mil, que o senhor poderá usar pala saldar uma parte dos atrasados e
refinanciar o resto. O corretor repassa este contrato – simpaticamente qualificado de “subprime”, pois não é
totalmente de primeira linha, é apenas subprimeira linha – para um banco, e os dois racham a perspectiva
suculenta dos 80 mil dólares que serão ganhos e pagos sob forma de reembolso e juros. O banco, ao ver o
volume de “subprime” na sua carteira, decide repassar uma parte do que internamente qualifica de “Junk”
(aproximadamente lixo), para quem irá “securitizar” a operação, ou seja, assegurar certas garantias em caso de
inadimplência total, em troca evidentemente de uma taxa. Mais um pequeno ganho sobre os futuros 80 mil, que
evidentemente ainda são hipotéticos. Hipotéticos mas prováveis, pois a massa de crédito jogada no mercado
imobiliário dinamiza as compras, e a tendência é os preços subirem.
As empresas financeiras que juntam desta forma uma grande massa de “Junk” assinados pelos chamados
“ninjas” começam a ficar preocupadas, e empurram os papéis mais adiante. No caso, o ideal é um poupador
sueco, por exemplo, a quem uma agência local oferece um “ótimo negócio” para a sua aposentadoria, pois é um
“subprime”, ou seja, um tanto arriscado, mas que paga bons juros. Para tornar o negócio mais apetitoso, o lixo
foi ele mesmo dividido em AAA, BBB e assim por diante, permitindo ao poupador, ou a algum fundo de
aposentadoria menos cauteloso, adquirir lixo qualificado. O nome do lixo passa a ser designado como SIV, ou
Structured Investment Vehicle, o que é bastante mais respeitável. Os papéis vão assim se espalhando e enquanto
o valor dos imóveis nos EUA sobe, formando a chamada “bolha”, o sistema funciona, permitindo o seu
alastramento, pois um vizinho conta a outro quanto a sua aposentadoria já valorizou.
Para entender a crise atual, não muito diferente no seu rumo geral do caso da Enron, basta fazer o caminho
inverso. Frente a um excesso de pessoas sem recurso algum para pagar os compromissos assumidos, as agências
bancárias nos EUA são levadas a executar a hipoteca, ou seja, apropriam-se das casas. Um banco não vê muita
utilidade em acumular casas, a não ser para vendê-las e recuperar dinheiro. Com numerosas agências bancárias
colocando casas à venda, os preços começam a baixar fortemente. Com isso, o Ninja que esperava ganhar os 80
mil para ir financiando a sua compra irresponsável vê que a sua casa não apenas não valorizou, mas perdeu
valor. O mercado de imóveis fica saturado, os preços caem mais ainda, pois cada agência ou particular procura
vender rapidamente antes que os preços caiam mais ainda. A bolha estourou. O sueco que foi o último elo e que
ficou com os papéis – agora já qualificados de “papéis tóxicos” – é informado pelo gerente da sua conta que
lamentavelmente o seu fundo de aposentadoria tornou-se muito pequeno. “O que se pode fazer, o senhor sabe, o
mercado é sempre um risco”. O sueco perde a aposentadoria, o Ninja volta para a rua, alguém tinha de perder.
Este alguém, naturalmente, não seria o intermediário financeiro. Os fundos de pensão são o alvo predileto, como
o foram no caso da Enron.
Mas onde a agência bancária encontrou tanto dinheiro para emprestar de forma irresponsável? Porque
afinal tinha de entregar ao Ninja um cheque de 300 mil para efetuar a compra. O mecanismo, aqui também, é
rigorosamente simples. Ao Ninja não se entrega dinheiro, mas um cheque. Esse cheque vai para a mão de quem
vendeu a casa, e será depositado no mesmo banco ou em outro banco. No primeiro caso, voltou para casa, e o
banco dará conselho ao novo depositante sobre como aplicar o valor do cheque na própria agência. No segundo
caso, como diversos bancos emitem cheques de forma razoavelmente equilibrada, o mecanismo de compensação
à noite permite que nas trocas todos fiquem mais ou menos na mesma situação. O banco, portanto, precisa
apenas de um pouco de dinheiro para cobrir desequilíbrios momentâneos. A relação entre o dinheiro que
empresta – na prática o cheque que emite corresponde a uma emissão monetária – e o dinheiro que precisa ter
em caixa para não ficar “descoberto” chama-se alavancagem.
DOWBOR. Ladislau. A crise financeira sem mistérios. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, 29
jan.2009.

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5 – DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO


A divisão internacional do trabalho (DIT) é um conceito que tem origem na tradição de estudos de economia
política. Um dos primeiros a referir-se a uma divisão de tarefas entre as nações, no final do século XVIII, foi o
economista inglês David Ricardo, por meio de sua teoria das vantagens comparativas.
Dada a crescente internacionalização econômica do mundo, a ideia de DIT é uma tentativa de apreender o
funcionamento das relações econômicas entre os países.
Desde as Grandes Navegações, com o início da expansão mundial do capitalismo, gradativamente foi se
instaurando uma divisão internacional do trabalho. Ela consiste numa especialização produtiva entre os países,
aprofundada a partir da Primeira Revolução Industrial. Desde então, aos países que comandaram o processo coube o
papel de exportadores de produtos industrializados e, aos demais, o de exportadores de matérias-primas.
Essa divisão do trabalho, em linhas gerais, existe até hoje. A maioria dos países africanos, latino-americanos e
asiáticos continua exportando predominantemente produtos primários e importando industrializados. Entretanto, após
a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se, paralelamente àquela, uma nova divisão internacional do trabalho.
Muitos países do então chamado terceiro mundo se industrializaram, transformando-se nas atuais economias
chamadas de emergentes, ou, como já vimos, em desenvolvimento.
Esses países deixaram de vender apenas produtos primários ao exterior e passaram a exportar também produtos
industrializados. Romperam com a especialização produtiva que se arrastava desde o século XVIII, mas continuaram
a fazer parte do grupo de países chamados de subdesenvolvidos, principalmente devido à dependência financeira e
tecnológica de seus processos de industrialização em relação aos países de capitalismo mais adiantado, e aos baixos
indicadores de desenvolvimento humano. O esquema a seguir sintetiza as várias etapas históricas da divisão
internacional do trabalho. Entretanto, no mundo de hoje, temos uma nova possibilidade de entendermos as relações
econômicas ente os atores comerciais.

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Com o desenvolvimento da economia informacional e da globalização, a partir do final dos anos 1980,
estruturou-se uma nova organização da produção no mundo, o que alguns intelectuais chamam de a mais nova
divisão internacional do trabalho.
A mais nova divisão internacional do Trabalho está disposta em quatro posições diferentes na economia
informacional/global: produtores de alto valor com base no trabalho informacional; produtores de grande volume
baseado no trabalho de mais baixo custo; produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os
produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado. A localização vantajosa desses diferentes tipos de
trabalho também determina a prosperidade dos mercados, uma vez que a geração de renda dependerá da capacidade
produtiva das empresas em cada segmento da economia global. No entanto, a mais nova divisão internacional do
trabalho não ocorre entre países, mas entre agentes econômicos localizados nas quatro posições indicadas, ao longo
de uma estrutura global de redes e fluxos que utilizam as modernas infraestruturas tecnológicas, científicas e
informacionais. Nesse sentido, todos os países são penetrados pelas quatro posições apontadas porque todas as redes
são realmente globais ou pretendem sê-lo. Mesmo as economias marginalizadas têm um pequeno segmento de suas
funções direcionais conectado a rede de produtores de alto valor, pelo menos para assegurar a transferência de
qualquer capital ou informação que ainda estejam acumulados no país. E, certamente, as economias mais poderosas
têm segmentos marginais de sua população situados em uma posição de trabalho desvalorizado, seja em Nova York,
Osaka, Londres ou em Madri.

5.1 - A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (DIT)


Superada a Segunda Guerra Mundial, a economia mundial voltou a crescer num ritmo mais acelerado do que
antes. Dentro desse quadro de grande prosperidade, as empresas dos países industrializados assumiram proporções
gigantescas. Tornaram-se grandes conglomerados e estão cada vez mais se expandindo pelo mundo, atuando além das
fronteiras dos países em que surgiram e onde se encontram suas matrizes. Construíram filiais e novas fábricas em
vários países, inclusive subdesenvolvidos e recém-independentes, como a Índia e a África do Sul. Tornaram-se,
assim, empresas multinacionais ou, como também habitualmente chamadas, transnacionais.
Mas o que atrai essas empresas para fora dos limites de seus países de origem? Por que a GM, a Exxon, a GE, a
IBM e a Coca-Cola atuam fora dos Estados Unidos? Ou a Volksvagem, a DaimlerChrysler, a Bayer e a Siemens fora
da Alemanha? Ou ainda a Philips (Países Baixos), a Volvo (Suécia), a Nestlé (Suíça), a Renaut (França), a British
Petroleum (Reino Unido) e, mais recentemente, as japonesas Mitsubishi, Sony, Matsushita e Hitachi, só para ficar em
alguns exemplos, expandem-se para fora do território de seu país de origem? A resposta é uma só: a busca de
melhores negócios, de maior rentabilidade para o capital, de maior lucratividade, enfim. É isso, fundamentalmente,
que explica o fato de alguns países subdesenvolvidos terem se industrializado nesse período.
E o que permite altos lucros em muitos desses países são: mão de obra abundante, politicamente desmobilizada e,
portanto, barata; disponibilidade de fontes de energia e matérias-primas a baixo custo; mercado interno em
crescimento; facilidades de exportação e de remessa de lucros para as sedes dessas empresas no exterior; incentivos
fiscais e subsídios governamentais; mais recentemente, ausência de legislação de proteção ao meio ambiente ou, na
sua existência, possibilidades de burlá-la.
No imediato pós-guerra, esse fatores, com destaque para a mão de obra barata, constituíam vantagens
comparativas importantíssimas para a alocação dos investimentos no exterior. Essas vantagens, evidentemente, não
eram encontradas em todos os países, nem mesmo todas juntas num único país. Por isso, entre as dezenas de países
subdesenvolvidos, somente alguns se industrializaram e romperam com a tradicional divisão internacional do
trabalho. Muitos deles passaram gradativamente de exportadores de matérias-primas a exportadores de produtos
industrializados. No entanto, não é possível situá-los, pelo menos por enquanto, no mundo desenvolvido. Inserem-se,
então, numa nova divisão internacional do trabalho.

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