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Danilo da Silva Fonseca

Capítulo 4

A democratização foi o problema político fundamental que desencadeou o terror


por uma sociedade responsável. A comuna de Paris, existente em 1871, causou uma
comoção internacional entre os governantes europeus e suas classes médias. No momento em
que o destino político dos Estados fosse controlado pelas massas populares, a mais provável
consequência seria que houvesse uma revolução social que apavorava muita gente
respeitável.

Era inevitável que a política dos Estados se democratizasse. Agradando ou não os


líderes políticos de cada lugar, as massas populares rumavam para o controle do poder. Isso,
de fato, acabou acontecendo. Uma ampliação do eleitorado pôde ser percebida, mesmo que os
governos que a isso se submeteram não vissem essa questão com maior entusiasmo. As
agitações causadas pelos movimentos socialistas e as repercussões da Revolução Russa
acabaram por acelerar o processo de democratização dos Estados ocidentais. Dessa forma, a
política democrática havia se tornado uma realidade que não poderia mais ser postergada. O
que restou para os governantes foi aceita-la e a partir daí tentar o controle sobre essa.

Quem se mobilizava para a ação política eram as classes as mais baixas até então
excluídas do sistema político vigente. Essas classes tinham a capacidade de formar alianças
bastante heterogêneas como frentes populares. Nesse cenário, a classe operária ganhava
bastante destaque e protagonismo. Existiam, também, as coalizões de setores sociais
intermediários que estavam descontentes com sua situação. Essa era a antiga pequena
burguesia que, ao mesmo tempo, temia o crescimento do proletariado, mas estava insatisfeita
com a dinâmica social vigente.

Além das uniões entre grupos sociais, haviam, também, os enlaces entre aqueles
que tinham características em comum. Os avanços democráticos iniciaram uma
transformação política. Eles geraram uma preocupação em se manter a unidade política dos
Estados. Uma política centralizada das massas causava temor nas classes superiores. Havia
um pessimismo dos líderes abandonados por seus antigos seguidores, um sentimento de
espaço invadido por aqueles que mal acabaram de se emancipar e deixar o analfabetismo e a
barbárie.

É importante ressaltar que cada Estado lidou com a questão à sua maneira. Muitas
são as peculiaridades que fizeram com que as consequências e medidas fossem sentidas e
tomadas de formas diversas. A sociedade burguesa não se sentiu totalmente ameaçada,
acreditava-se que as leis e as instituições fossem garantir o seu progresso. Mas ainda restava
muita barbárie e escândalos que convulsionavam a opinião. O que a burguesia esperava é que
a civilidade pudesse reinar absoluta.

Com um otimismo exacerbado, o que se poderia imaginar é que o progresso não


poderia mais ser freado. Contudo, vale ressaltar que esse não seria o modelo político
definitivo para o futuro. A democracia burguesa viria a ressurgir em 1945 e se tornar o
modelo favorito das nações capitalistas que não estivessem vivendo uma polarização política
e fossem fortes economicamente.

Capítulo 6

Da mesma forma que podemos considerar a ascensão da classe trabalhadora uma


consequência da democratização, também pode-se considerar o crescimento do nacionalismo
como outro fator. Vale lembrar que a palavra Nacionalismo surgiu e foi usada pela primeira
vez no fim do século XIX, caracterizando grupos que criticavam estrangeiros, liberais e
socialistas na França e na Itália. Ela veio a ser utilizada por todos aqueles que consideravam a
causa nacional como de suma importância e, também, que entendiam a formação de um
Estado nacional como um direito. O alicerce fundamental do nacionalismo consiste na
mobilização que a identificação emocional que se tem com uma nação pode causar.

É possível encontrar movimentos nacionalistas que se identificam com ideologias


de direita e outros de esquerda. Até mesmo movimentos indiferentes a ambas bandeiras
ideológicas puderam ser percebidos no ocidente. Uma vez que a força nacional se tornava,
também, força política, ela se atrelava ao sistema político de forma empírica e tornava
extremamente complexo definir suas expressões.

Muitos movimentos nacionalistas não tinham um grande apoio entre as camadas


com as quais se pretendia falar. A identificação com o passado glorioso e o crescente número
de emigrantes eram temas que permeavam os discursos afim de obtenção de apoio. A grande
massa se envolveu com as causas da nação. O apoio se fez crescente e o grande problema do
nacionalismo foi a forma como ele se impôs de forma exacerbada envolvendo paixões que
com o tempo tiveram que ser esfriadas. Entretanto, o que mais chamou atenção ao final não
foi o apoio que a causa nacional obteve, mas sim a maneira como a ideia de nacionalismo se
modificou e, ainda, as mudanças que o programa nacional teve.
A identificação que as nações têm com um determinado território cria algumas
questões em diversas áreas do mundo que sofrem com a emigração em grande escala. Existe
um apego a determinados pedaços de terra pelo qual, durante parte da sua vida, se teve uma
ligação. Ainda mais se for levando em conta que muitos povos se desenvolveram pela
agricultura, ou seja, tem, ainda mais, uma relação de proximidade com a terra. Com a
diminuição dessa relação das comunidades para com a terra, existe um vácuo que precisa ser
preenchido. A comunidade imaginária da nação poderia, então, preencher esse espaço vazia
que passava a existir. Os estados iriam, dessa forma, atingir os anseios do cidadão no seu
cotidiano por meio de alguns agentes que, apesar de simples, se faziam presentes, como
policiais, professores, carteiros e outros. A nação se tornou uma espécie de religião onde o
culto seria baseado em obediência civil e que fornecia elementos para uma agregação das
pessoas.

Capítulo 7

Dentro de um século onde a burguesia foi vitoriosa em suas lutas, a


democratização e seus movimentos ameaçavam a condição desse grupo. A burguesia tinha
uma segurança e não estava acostumada a lutar com dificuldades financeiras. A ascensão da
classe operária, junto a uma mobilização social, fez com que houvesse uma questão
identitária envolvendo aqueles que desejavam pertencer a uma ou outra camada das
chamadas classes médias. Essa questão de identidade se fez bastante complexa à medida que
a definição de burguesia não era algo simples de se fazer. A própria classe em si teve, em
dado momento, uma negação de sua condição como grupo.

A mobilidade social e o declínio das hierarquias tradicionais fizeram com que as


classificações em classes sociais se fizessem muito mais difíceis e menos precisas. A maior
dificuldade consistia no fato de se almejar estar no grupo da burguesia, afinal, era o burguês
quem ostentava um status privilegiado. A antiga nobreza que possuía muitas terras e
propriedades, ainda existia dentro desse contexto e, ainda, tinha muitos privilégios. Se por um
lado era difícil distinguir a burguesia da nobreza, era ainda mais complexo a diferenciação
entre os burgueses e aqueles que estavam logo abaixo nesse cenário social.

Não era difícil para a burguesia se organizar como uma elite. Para isso ela
utilizava métodos semelhantes aos da aristocracia. O principal objetivo era de coroar um
êxito comercial ao entrar na classe mais nobre, de maior prestígio. Não se pode entender que
a adoção de práticas aristocratas seria uma perda de valores e costumes burgueses. Na
verdade, dessa forma a burguesia socializava com a aristocracia que perdia cada vez mais
espaço. Não bastava apenas adquirir fortuna, era preciso buscar prestígio e status social. Para
quem ascendia à burguesia, os mecanismos de socialização eram fundamentais para que se
fosse garantido o status para os filhos.

A grande questão que se levanta é de se haveria um afastamento, por parte da


burguesia, de sua característica de produção de riquezas, no momento em que se aproximava
tanto de uma vida em prol de status e de uma condição de prestígio social. Mas, de fato,
existia um medo da vida de parasitas. Os empresários bem sucedidos da Europa entendiam o
seu papel tradicional de homem de negócios que gerenciavam seu sustento e de figura
masculina central de uma família.

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