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Charles Wright Mills definiu “Imaginação Sociológica” em seu livro homônimo

ao termo que escreveu em 1959. Segundo o pensador norte-americano, a “Imaginação


Sociológica” seria a capacidade de relacionar história e biografia dentro de um contexto
social. Com essa habilidade, seria possível enxergar as questões pessoais dentro de um
panorama mais amplo e diverso. A “Imaginação Sociológica” traz para a sociedade e para o
indivíduo a capacidade de entender a si próprio. A sociologia e suas perspectivas passam a
ser acessíveis para qualquer pessoa de uma forma cotidiana, ou seja, fazendo parte da vida.
Dessa forma, existe a possibilidade de enxergar os problemas estruturais dentro da sociedade
e com isso direcionar as soluções para que haja uma evolução e um desenvolvimento das
mais variadas questões.

No momento em que uma pessoa consegue entender o seu lugar dentro de uma
sociedade - entenda “lugar” como um conceito bastante amplo que envolve a classe social, o
gênero, o grupo étnico, o espectro político a que se identifica ou qualquer outro fator - ela
pode enxergar e até definir se está, de fato, vivendo de maneira, minimamente, condizente
com o que se entende por ideal. Com isso, é possível traçar objetivos e metas de vida, cobrar
políticas públicas que entenda serem importantes, e, de uma maneira geral, olhar para o
mundo e definir onde se quer estar.

A primeira faculdade que iniciei foi logo após o término do ensino médio em
2005. Como estudei em bons colégios particulares, pude passar para uma universidade
federal de economia. Depois de cursar apenas dois períodos, comecei a estagiar pela
necessidade financeira que a paternidade precoce me gerou. Tendo que trabalhar e estudar,
optei por fazer concurso para seguir uma carreira militar e abandonei minha graduação no 5º
período. Com tudo isso, desde o início da graduação obtive uma fonte de renda que na
ocasião, como estagiário, era próxima de dois salários mínimos. Ao passar no concurso que
prestei, tive uma melhora considerável e aumentei minha renda para cerca de cinco salários
mínimos. Após seis anos de exército, novamente fiz concurso, dessa vez para o Corpo de
Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. Com esse trabalho e uma renda de 4 salários
mínimos, ingressei na minha graduação atual de licenciatura em História na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.

Observando a pesquisa, posso dizer que não me enquadro na maioria,


considerando minha idade, de trinta e quatro anos, e a renda, já dita anteriormente.
Entretanto, cursei o ensino médio em escola privada, não entrei na universidade através de
políticas de cotas e sou branco, por esses aspectos, estou dentro da maior parte dos alunos que
responderam à pesquisa. Sempre tive acesso a livros, fui pouquíssimas vezes em museus, fui
um aluno mediano e muitos dos meus colegas de turma passaram no vestibular.

Minha educação, desde crianças, sempre foi em escolas de qualidade. Tal fato me
propiciou passar em ambos os vestibulares que prestei e, também, nos concursos que decidi
fazer. Especialmente no vestibular da UERJ, posso dizer que minha educação foi um
diferencial. Faço essa constatação em função do pouco tempo que tive para me preparar para
o vestibular. Mesmo não podendo estudar os conteúdos da forma ideal, pude tirar uma nota
que me possibilitou a aprovação para a vaga que concorria. Sem nenhuma dúvida, atribuo
esse êxito à bagagem de conhecimentos que pude adquirir durante minha vida. O resultado
que obtive foi, em partes, surpreendente para mim que já havia terminado o ensino médio há
tanto tempo, entretanto, reforçou a impressão que sempre tive que minha educação foi,
realmente, de muita qualidade.

É bem notório, ao conversar com alguns colegas e ver as suas trajetórias até a
universidade, que fui bastante privilegiado. Mesmo que a educação particular faça parte da
realidade da maioria dos alunos que responderam à pesquisa, nem todos puderam estudar em
instituições que propiciassem uma formação de qualidade. Muitos outros alunos estudaram
em instituições públicas que sofrem com a falta de investimentos e que têm uma série de
problemas estruturais dificultadores de um aproveitamento de ensino da maneira como se
almeja. Com tudo isso, fica bem claro o quanto o direito fundamental à educação é, na
verdade, um privilégio quando se refere à educação de qualidade.

A universidade pública tem sido ocupada em sua maioria por alunos que tiveram
uma educação em escolas privadas. Tendo em vista os problemas que o ensino básico no
Brasil sofre, os vestibulares mais concorridos e até mesmo alguns com procura mais baixa
acabam por ficar quase que restrito a alunos oriundos de instituições particulares. A pesquisa
realizada pelos alunos do curso de sociologia corrobora com esse fato. Com tudo isso, as
políticas de cota aparecem, na visão de muitos, como uma solução inclusiva que pode mudar
essa dinâmica que elitiza as instituições públicas de ensino superior.

Por fim, concluo esse trabalho falando da minha chegada à graduação de história
que, como dito anteriormente, é a minha segunda experiência universitária. Estudando
economia, já havia concluído que não gostava daquela área. Na verdade, só fiz cinco períodos
pela necessidade de manter o estágio que realizava à época. Com a aprovação em concurso
me possibilitando uma estabilidade financeira, pude, de fato, escolher um curso que com o
passar dos anos descobri que me interessava. Após algumas leituras descompromissadas de
livros de história que figuravam entre os mais vendidos, fui aos poucos percebendo que tinha
uma enorme curiosidade acerca de vários temas. A vontade de me aprofundar em
determinados assuntos foi o que me fez querer ingressar numa graduação de história.

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