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PERSPECTIVA ECONÔMICA

Criando resiliência em meio a riscos globais


O Global Advisory Board da PIMCO discute as perspectivas para a
geopolítica, a inflação e outros temas macro num prazo mais longo.

POR GLOBAL ADVISORY BOARD


| 11 DE AGOSTO DE 2022

O s membros do Global Advisory Board da PIMCO, uma equipe formada por renomados
macroeconomistas e ex-autoridades econômicas, participaram recentemente das
discussões do Fórum Secular anual da PIMCO, quando abordaram os fatores críticos
que poderão moldar a economia mundial ao longo dos próximos cinco anos. Suas percepções
contribuem valiosamente para o processo de investimento da PIMCO e as opiniões
apresentadas por ajudaram a nortear o último Secular Outlook, "Em busca de resiliência". As
análises a seguir foram extraídas de suas discussões abrangentes.

P: Quais são as implicações da guerra Rússia–Ucrânia em um prazo mais longo?

R: Qualquer que seja o resultado da guerra, um imenso e dispendioso esforço de reconstrução


será necessário na Ucrânia. E na Rússia, é provável que a economia esteja profundamente
enfraquecida e menos integrada à economia global, existindo a possibilidade de que o país
esteja mais isolado em termos diplomáticos. O presidente Putin continuará a ser um pária aos
olhos dos EUA e da Europa (embora não necessariamente perante o resto do mundo) e é provável
que algumas sanções continuem em vigor enquanto ele continue no poder. Dado o risco de
reputação, poucas empresas americanas e europeias preveem retornar à Rússia. O desfecho da
guerra para Putin está sendo acompanhado atentamente por Xi Jinping, presidente da China, e
provavelmente influenciará seus cálculos em relação a Taiwan.

A OTAN, por sua vez, deve se tornar maior, mais forte e mais focada em dissuadir a Rússia. É
provável que, na Europa, os gastos com defesa aumentem substancialmente. Em última análise,
Putin não pretende enfrentar a OTAN: ele sabe o quanto isso custaria para seu país.

A guerra teve um impacto importante sobre o fornecimento e a política de energia da Europa.


Estamos testemunhando o início de um esforço de longo prazo do continente para reduzir a
dependência da Rússia para seu suprimento de petróleo e gás. No curto prazo, isso significa
mudar para fornecedores alternativos. No médio e longo prazo, podemos esperar um aumento
dos investimentos em resiliência energética, inclusive em infraestrutura e em energia alternativas,
como eólica, solar e nuclear. Uma questão de extrema importância: os países buscarão
assegurar individualmente suas fontes de energia ou a UE desenvolverá uma estratégia unificada
para toda a região, com sinergias e eficiências maiores?

P: Qual é a perspectiva de alto nível para a política externa dos EUA?

R: Juntamente com o investimento nos fatores de competitividade tecnológica e econômica, a


administração Biden continuará a se concentrar na restauração da liderança dos EUA junto a
seus aliados. Incoerências na abordagem à Europa e ao Grande Oriente Médio durante o governo
de Trump geraram dúvidas em relação à credibilidade dos EUA – dúvidas essas que se
aprofundaram na gestão de Biden após a retirada de suas tropas do Afeganistão. Agora, após a
invasão da Ucrânia, é provável que a política externa norte-americana venha a enfatizar o
fortalecimento da OTAN, assistência de segurança para ajudar os aliados a ampliar sua
capacidade de autodefesa e o reforço da capacidade de dissuasão em relação à Rússia e à
China.

É provável que as relações EUA–China continuem a se deteriorar, com a intensificação da


competição nos campos político, econômico, tecnológico e militar. É provável, também, que a
China busque aprofundar seu relacionamento estratégico e econômico com a Rússia, mas com
cuidado para evitar a imposição de sanções por parte dos EUA. No próximo ano ou até além dele,
o foco principal do Presidente Xi continuará a ser o controle da COVID-19, fazendo com que a
economia chinesa volte a crescer e consolidando seu poder e posição no Partido Comunista
Chinês no seu 20º Congresso.

Na política externa dos EUA, continua a existir tensão entre os valores e interesses nacionais.
Isso é particularmente evidente no Oriente Médio e na China, onde os interesses econômicos dos
Estados Unidos muitas vezes conflitam com valores baseados em preocupações com os direitos
humanos e com governos autoritários. Isso pode fazer dificultar a formulação de uma política
uniforme e convincente.

P: Quais são as tendências geopolíticas que apresentam a probabilidade de afetar a


economia global e as instituições internacionais ao longo do horizonte secular?

R: Três mudanças geopolíticas simultâneas e que podem gerar abalos profundos estão criando
dificuldades e incertezas para a economia global. A primeira é o rompimento da ordem unipolar:
a quantidade de países que não tomou nenhuma medida nem impôs sanções à Rússia após a
invasão da Ucrânia sugere um mundo multipolar fragmentado.
A segunda mudança sísmica é, se não a desglobalização, uma globalização light, que se reflita
não apenas na reversão do offshoring e na relocação para países aliados, mas com ênfase na
resiliência – garantindo o abastecimento – que passa a prevalecer sobre a eficiência e a garantia
do preço mais baixo.

A terceira mudança é no paradigma econômico, especificamente no papel do governo. Por três


décadas, a economia determinou as decisões políticas (e, por uma década, os bancos centrais
reinaram absolutos). Agora, é a política que está determinando as decisões econômicas.
Devemos agora considerar não apenas o protecionismo tipo "América em primeiro lugar", "China
em primeiro lugar", etc., e o recuo correspondente para estratégias nacionais de autossuficiência,
mas também a transformação da política comercial em uma arma, por meio de sanções, a
politização da política financeira (por exemplo, expulsando países da plataforma SWIFT), e a
securitização da política econômica – especificamente, a determinação das decisões de política
financeira em função de preocupações militares.

À luz dessas mudanças, as instituições internacionais nas quais confiamos para garantir a
coordenação global estão diminuindo, e está se tornando difícil imaginar a cooperação
generalizada que fomentou a criação dessas instituições há algumas décadas.

É provável que as consequências seculares dessas mudanças e o aumento resultante nos


movimentos populistas-nacionalistas se traduzam em uma redução do comércio global (embora
talvez em mais acordos comerciais regionais) e, como resultado, em crescimento menor,
juntamente com mais pressão fiscal (para financiar o aumento nos gastos com defesa,
imigração, subsídios à energia e transição energética mais rápida), com as pressões
inflacionárias correspondentes.

Avanços explosivos na tecnologia – por exemplo, em setores ambientais, digitais e de ciências


da vida – devem compensar essa redução impulsionando o crescimento, mas eles ocorrerão
principalmente nas regiões capazes de aproveitá-los.

P: Num prazo mais longo, quais são as perspectivas para as relações entre a China e
os EUA?

R: As relações entre os EUA e a China continuam a se deteriorar e, dado o tom adotado pela
liderança de ambos os países, é difícil imaginar que a situação venha a melhorar. A liderança do
presidente Xi Jinping é sólida e a população chinesa tende a se unir em face de dificuldades.

Por anos, a China adotou políticas voltadas a fortalecer sua economia e reduzir sua
vulnerabilidade às forças externas, como uma liderança cada vez mais hostil nos EUA. No curto
prazo, os líderes chineses podem ter que voltar a adotar alguns desses esforços políticos – como
o modelo econômico de dupla circulação e o programa social de prosperidade comum –
conforme a China solucione as dificuldades significativas para o crescimento (inclusive o
impacto dos bloqueios relacionados à COVID e os problemas enfrentados pelo mercado
imobiliário). Contudo, é provável que essas políticas continuem a ser prioritárias num prazo mais
longo.

A guerra Rússia-Ucrânia suscitou questões fundamentais para a China. Tendo em vista as


sanções impostas à Rússia, é provável que os líderes chineses sintam que devem preparar seus
países para o risco de que os EUA imponham consequências similares para eventuais ações
futuras (por exemplo, relacionadas a Taiwan). Tal preparação não seria simples. Considere, por
exemplo, as imensas reservas cambiais da China, em sua imensa maioria denominadas em
dólares. Não seria realista esperar uma redução muito grande nas reservas em USD porque não
existem alternativas práticas. Contudo, a China pode buscar aumentar a proporção de suas
transações internacionais liquidadas em renminbi. Finalmente, se a China não pode reduzir
muito o risco de seus ativos, ela poderia acumular passivos externos, de forma que se os ativos
fossem ameaçados os passivos também seriam desvalorizados.

Em um certo sentido, ao incorporar esses elementos de dissuasão a China estaria se preparando


para uma possível "guerra de capitais". E, dada a escala da economia chinesa, uma guerra de
capitais poderia ter implicações gigantescas para a economia mundial.

P: Quais são os fatores que estão contribuindo para a inflação nos EUA e qual será a
provável resposta do Federal Reserve?

R: Em termos amplos, três componentes estão determinando a inflação na era pós-pandemia:


excesso de demanda, choques de oferta tradicionais (como em alimentos e energia) e choques
relacionados à pandemia. Nos EUA, o Federal Reserve e, até certo ponto, as autoridades fiscais
podem controlar o primeiro fator – a demanda – mas têm pouco controle sobre os outros dois.

Com um estímulo fiscal e monetário estupendo, as autoridades econômicas norte-americanas


conseguiram sustentar a demanda e o consumo após a recessão determinada pela pandemia.
Contudo, a recessão de 2020 foi incomum, e o estímulo do Fed tendeu a ajudar as áreas da
economia que menos precisavam dela – habitação, indústria de transformação e bens de
consumo duráveis – setores que enfrentariam problemas em uma recessão típica. O setor de
serviços precisou de mais apoio durante a pandemia, mas tende a não ser tão sensível à redução
nas taxas de juros.

Passando brevemente para os outros dois componentes da inflação, que não podem ser
controlados pelas autoridades econômicas: o choque de oferta causado pela guerra Rússia-
Ucrânia exacerbou a pressão já existente sobre os preços de uma série de commodities, o que,
por sua vez, afetou os custos dos alimentos e da energia. Além disso, os efeitos da pandemia
ainda persistem, inclusive a transferência da demanda de serviços para bens duráveis, a imensa
tensão sobre as cadeias de suprimentos e a queda geral na oferta de mão de obra.

Para o futuro, existem dois cenários para a inflação. No primeiro, os dois fatores fora do controle
do Fed se moderam ao longo do tempo, o que permite à instituição reduzir a inflação com um
aperto sustentado, mas talvez não muito severo, no lado da demanda. No outro cenário, aqueles
dois fatores se agravam – talvez ocorra outro choque nos preços do petróleo ou a situação das
cadeias de suprimentos se deteriore ainda mais devido à pandemia ou a questões geopolíticas.
Nesse cenário, o Fed se defrontaria com uma decisão extremamente difícil. Se o aperto na
política monetária não for suficiente, as expectativas inflacionárias aumentariam, levando a uma
espiral de preços e salários. Alternativamente, o Fed poderia promover um aperto muito maior,
jogando rapidamente a economia norte-americana em uma recessão, de forma que a redução da
demanda compensaria os fatores fora de seu controle.

As expectativas inflacionárias são fundamentais. Se elas aumentarem significativamente, os


dirigentes do Fed podem ser forçados a apertar a política monetária de forma muito mais
agressiva. Além disso, a comunicação é fundamental; a expectativa dos mercados em relação à
atuação do Fed é uma parte importante da política monetária.

P: Qual é a perspectiva secular para as pressões inflacionárias nas economias


desenvolvidas e como a política climática poderia desempenhar um papel?

A: Entre os mercados desenvolvidos, a assimetria dos riscos seculares se moveu na direção da


inflação mais elevada, particularmente no Reino Unido, Europa e Canadá, e um pouco menos nos
Estados Unidos, que geralmente importam menos inflação. Muitos governos e líderes
empresariais passaram a dar maior prioridade à resiliência do que à eficiência. Essas decisões
de aumentar a resiliência da defesa nacional, assistência médica, cadeias de suprimentos e
cadeias de valor ajudarão a atenuar os choques no futuro, mas também envolvem custos que se
refletirão persistentemente nos preços ao consumidor por um prazo mais longo.

Acrescente-se a isso a imensa escala global da transição para a emissão líquida de carbono zero,
que deve proporcionar benefícios e oportunidades significativas no futuro, mas que também
envolve uma série de custos ao longo do horizonte secular. Enfrentar a mudança climática será
fundamental para uma economia resiliente e para a resiliência de seguradoras, empresas,
comunidades e autoridades fiscais. É provável que os avanços na transição também se
transformem em um determinante fundamental da competitividade econômica e de uma
perspectiva geopolítica – na China – por exemplo, a competitividade é tanto um fator de ação
quanto a gestão dos riscos da mudança do clima.
Nesse cenário, as empresas individuais, instituições financeiras e governos estão se
concentrando cada vez mais na transição para as emissões zero. O setor financeiro é essencial
para a solução líquida zero, mas não pode enfrentar esse problema sozinho. A política climática
do governo será um determinante fundamental para o ritmo dos investimentos e a escala das
pressões sobre os preços. Quanto mais confiável e previsível for a política climática, mais suave
será o ajuste econômico. A política climática está se transformando no terceiro pilar da política
macroeconômica.

P: Como as principais organizações multinacionais estão enfrentando os desafios da


inflação, geopolítica e polarização?

A: Já há algum tempo, a maioria das grandes empresas dos EUA esperava o surgimento da
inflação e está enfrentando o desafio com preocupação, mas não com pânico. A carência de
mão de obra continua a existir, mas está começando a se estabilizar. As cadeias de suprimento
continuam a ser uma fonte de tensão, exacerbada pelas quarentenas na China e pela guerra na
Ucrânia. Após a invasão, empresas norte-americanas e europeias saíram rapidamente da Rússia.
A maioria das grandes empresas dos EUA, até mesmo aquelas com interesses substanciais
naquele país, mostraram forte disposição para abandonar rapidamente o mercado russo.

Contudo, muitas dessas empresas estão preocupadas com o que a reação mundial à Rússia
sinaliza para seus negócios na China nos próximos anos. Um desacoplamento acelerado das
economias norte-americana e chinesa pode ser o melhor cenário, com o pior cenário sendo uma
guerra de capitais que poderia ser profundamente prejudicial para muitas grandes empresas dos
EUA. Esses riscos estão levando muitas empresas dos Estados Unidos a investir em cadeias de
suprimento mais diversificadas, criando resiliência a um desacoplamento mais severo da China.
Em muitos casos, trazer de volta para o país a produção transferida para o exterior pode não ser
realista, mas sua relocação para países mais próximos ou para países aliados são os temas
prevalecentes.

As empresas norte-americanas também estão sendo forçadas a navegar por um ambiente


político cada vez mais polarizado e é improvável uma melhora ao longo do horizonte secular.
Como não podem se dar ao luxo de ficar calados, os líderes empresariais estão abordando
muitas questões políticas e sociais, envolvendo-se com seus funcionários, investidores, clientes e
políticos dos dois extremos do espectro politico. Este é um ambiente desafiador.

Veja os insights da PIMCO sobre as tendências de prazo mais longo que moldam a economia
global e o ambiente do mercado na Secular Outlook mais recente, “Em busca de resiliência”.
Para mais informações sobre os fóruns da PIMCO e sobre como eles fundamentam o processo
de investimento da empresa, assista a este vídeo dos bastidores.
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