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A origem da agricultura no Egito: a Hipótese Pan-africana

Na senda das novas investigações que estão em curso nas últimas décadas, que
visam apresentar a gênese da civilização egípcia como tendo suas raízes na própria
África, estão as pesquisas que vêm sendo feitas por um grupo da Universidade La
Sapienza, de Roma, chefiado por Bárbara Barich. O local fica no chamado Wadi El-
Obeid, no tórrido e inóspito deserto Líbico. O local fica próximo do oásis de Farafra, o
qual fazia parte de um conjunto de quatro oásis Kargha, Dakla, Farafra e Siwa
encravados no deserto e que, depois que o Egito se formou, foram ocupados por
populações líbicas e por supostas caravanas de nômades mercadores, cujos contatos
com o Egito faraônico ainda não estão bem estudados. O local onde estão sendo feitas
as pesquisas é uma depressão do terreno formada de antigas praias que existiam nos
limites do grande lago. Segundo Enrico Barich, autor da comunicação a partir da qual
se fez este resumo, ali foram encontrados vestígios de uma dezena de cabanas, com
embasamento de pedra. Segundo o mesmo autor, isso estaria indicando uma
ocupação sistemática do local, já por volta de 5000 a.C. Nas proximidades das referidas
cabanas, foram encontrados também os restos de uma série de antigas fogueiras, em
algumas das quais foram encontrados grãos calcinados de sorgo, e de outros cereais
típicos da África Setentrional. [...] O fato dos grãos de sorgo calcinados terem sido
encontrados, isoladamente, não apontaria para uma correspondente atividade
agrícola. Poderiam, por exemplo, ser o resultado de uma simples coleta. Segundo
Enrico Barich, o autor do artigo supramencionado, os indicativos de uma atividade
protoagrícola na região são os diversos objetos líticos também encontrados na área.
São pedras pontiagudas, que poderiam ser de flechas e arpões para a caça e a pesca,
mas cujas faces cortantes também poderiam servir, uma vez acopladas a uma haste de
madeira, como instrumentos para a ceifa de cereais. No reforço dessa última
suposição, de que no local possivelmente se desenvolvia uma atividade pelo menos
protoagrícola, o grupo de pesquisadores do sítio de El Farafra apresenta, ainda, as
pedras de moinho, usadas na moagem de grãos. De tudo isso, afinal, o autor conclui
que, diferentemente do que pensavam egiptólogos como Mcneill e Aldred, o começo
da agricultura no Egito pode ter sido um processo intrínseco, autônomo, africano em
sua especificidade, separado de uma presumível influência oriental.

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