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1
2 2
Organizadora:
Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros
1a edição
Belo Horizonte
PUC Minas
2022
3
ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR
Grão-chanceler: Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Reitor: Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva
Chefe de Gabinete do Reitor: Prof. Dr. Guilherme Coelho Colen
PRÓ-REITORES
Extensão: Prof. Dr.ª Carolina Costa Resende
Gestão Financeira: Prof. Paulo Sérgio Gontijo do Carmo
Graduação: Prof. Eugênio Batista Leite
Logística e Infraestrutura: Prof. Rômulo Albertini Rigueira
Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Sérgio de Morais Hanriot
Recursos Humanos: Prof. Sérgio Silveira Martins
SECRETARIAS ESPECIAIS
Secretaria de Comunicação: Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional: Prof. Dr Marcos André Kutova
Secretaria Geral: Prof.ª Dr. Anne Shirley de Oliveira Rezende Martins
Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários: Prof. Dr. Jorge Sündermann
Assessoria de Assuntos Estudantis: Prof. Dr. Jorge Sündermann
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
Prof. Dr.ª Carolina Costa Resende
REVISÃO LINGUÍSTICA
Prof.ª Dr.ª Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros
Prof.ª Dr.ª Vera Lopes da Silva
Caroline Machado Gomes (Bacharelanda em Letras / Estagiária da Proex PUC Minas)
Eunice Raquel Teodoro da Silva (Estagiária da PROEX, Bacharelanda em Letras / PUC Minas)
Leandro Martins de Sousa (Bacharelando em Letras pela PUC Minas)
Leonardo Mesquita Viana (Bacharelando em Letras pela PUC Minas)
Vitor Magalhães Souto (Estagiário da Proex / Licenciando em Português/Inglês PUC Minas)
DIAGRAMAÇÃO
Esp. Camila da Conceição Mendes Costa
Vitor Magalhães Souto
Eunice Raquel Teodoro da Silva
ISBN: 978-65-88331-63-7
“Coletânea de trabalhos submetidos ao Seminário Extensão da PUC Minas
2022”
CDU: 378.38
Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086
SUMÁRIO
PREFÁCIO
Wanderley Chieppe Felippe
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
APRESENTAÇÃO
Ev’Ângela Batista R. de Barros
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
ARTIGOS ACADÊMICOS
Traduzir a técnica e reconhecer espaços: assessoria técnica virtual e colaborativa ................ 143
Lívia Carolaine Jardim Viana; Gabrielle Barbosa Souza; Liz dos Santos Portela;
Viviane Zerlotini da Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras: estratégias para o retorno seguro na modalidade
presencial ........................................................................................................................................ 292
Jade Estéfani Ferreira Prado; Jady Mirelly Faustino de Oliveira; Mateus Henrique Teixeira Botacin;
Nathani Lara Santos Faria; Evanirso da Silva Aquino
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Ações de extensão com ênfase nas queixas musculoesqueléticas dos cuidadores dos beneficiários
do projeto qualidade de vida para todos: relato de experiência ................................................ 310
Bruna Alencar Rosa Morato; Júlia Rancanti Ribeiro; Letícia Fernandes Fraga Leroy;
Maria Carmen Almeida de Sousa; Ana Cássia Siqueira da Cunha
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras: resiliência e pandemia sob a ótica do idoso ........... 317
Larissa Shirley Gomes Lima; Mariana Batista Braga; Cainã de Morais Leite Almeida;
Jade Santos Alvares; Evanirso da Silva Aquino
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Telecentro em Belo Horizonte: mulheres em situação de rua e inclusão digital ...................... 419
Ricardo Guerra Vasconcelos; Lucilene Carolina Galvão de Moraes; Lilian Márcia Neves Haddad;
Lucas Fernandes Alves Lage; Sayonarha Fernanda de Salles Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Relato de experiência: prática de exercício físico e uso de tecnologia como forma de educar e
motivar a população idosa ............................................................................................................. 438
Arthur Cardoso Barbosa; Larissa Maria Assumpção Moreira; Luísa Fernanda Gomes Wenceslau;
Luiza Teixeira Niero; Ana Cássia Siqueira da Cunha
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Oficina de Extensão Universitária sobre manejo da dor com o uso de ervas medicinais: um
relato de experiência ...................................................................................................................... 533
Giovana Maria Almeida Moreira; Larissa Mayra Belo Quintão; Mariana Cavaliere Batista e Silva;
Matheus Patrick Aguiar Bragança; Juliana Ladeira Garbaccio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Uma Experiência com Educação de Jovens e Adultos em um Sistema Prisional .................... 557
Virgínia Simão Abuhid; Ana Clara Bernardes Silva; Dâmaris Sarita de Marcos Neves;
Fernanda Bruna Silva; Lorena Ferreira Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
“Todos somos voluntários: ABC do Câncer”: guia rápido para o público de voluntários da
Fundação Antonio Dino, São Luís/MA ........................................................................................ 575
Melissa Silva Moreira Rabêlo; Lorena Cavalcante Barbosa Oliveira;
Ramirio Costa Ribeiro; Rayra Bruna Farias Guimarães
Universidade Federal do Maranhão – UFMA
Relato de experiência sobre a influência de museus no processo educativo não formal ........ 687
Karina Fideles Filgueiras; Fernanda Bruna Silva; Sônia Firmato Fortes
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Orientações para pais e responsáveis de jovens com Síndrome de Down durante a pandemia do
novo coronavírus (COVID-19) ...................................................................................................... 694
Gabrielly Gomes Ferreira; Danielle Alves Rodrigues; Lucas Macedo Pereira Lima;
Natália Rezende Baraldi; José Francisco Kerr Saraiva
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas
MEI: o melhor caminho para o trabalho de autônomos e pequenos empreendedores ........... 756
Alice Santos Batista; Bruna Guimarães da Silveira Santos; Rafael Almeida Carneiro;
Reinaldo Cardoso dos Anjos; Fátima Maria Penido Drumond Coelho
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
A Transição do Ensino Presencial para o Remoto na Perspectiva da Literacia Digital ......... 763
Ana Teresinha Elicker; Débora N. F. Barbosa; Sandra Terezinha Miorelli
Universidade FEEVALE
O uso das tecnologias nas Atividades de Extensão universitária com população vulnerável na
pandemia: os vídeos do Projeto Vínculos .................................................................................... 776
Isabela Oliveira da Silva; Sarah Sales Montoia; Camilla Marcondes Massaro
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas
Ações extensionistas com pessoas em situação de rua e o impacto que pode ser gerado na vida
profissional dos acadêmicos de Medicina .................................................................................... 789
Isadora Dourado Martins; Valeska Guimarães Rezende da Cunha
Universidade de Ubeaba – UNIUBE
Educação em saúde nas escolas: doenças infecto-parasitárias e suas implicações .................. 814
Julia Ornellas Costa; Ingrid Marciano Alvarenga; José Henrique Silva Rodrigues;
Pedro Henryque de Castro; Joziana Muniz de Paiva Barçante
Universidade Federal de Lavras – UFLA
Estoque de carbono em sistema silvipastoril formado com a espécie nativa brasileira Pterodon
Emarginatus ................................................................................................................................... 834
Pedro Souto Lamas; Ana Eliza da Silva; Yandra Mendes Nunes; Guilherme Lobato Menezes;
Ângela Maria Quintão Lana; Alan Figueiredo de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Minuto da Saúde: ações extensionistas e o uso das mídias sociais na promoção da saúde ..... 849
Randerson André Fernandes de Souza; Maurício Moraes Assis; Laura Victória Miranda Silveira;
Gabriella Carmelita Claudino; Joziana Muniz de Paiva Barçante
Universidade Federal de Lavras – UFLA
Projeto asas da dança: reflexões sobre ensino, pesquisa e extensão no curso de Educação Física
da PUC Minas................................................................................................................................. 860
Bruna D´Carlo Rodrigues de Oliveira Ribeiro; Márcia Campos Ferreira; Camila Rodrigues Rezende
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Uma reflexão sobre a Extensão Universitária e ressocialização depois do vestibular ............. 888
Stela Cristina de Godoi; Sara Sales Montóia; Vera Lúcia dos Santos Placido; Victória Bastos Ferreira Mantilha
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas
Ensino de Xadrez com Amor na Escola Espirita Chico Xavier ................................................. 949
Elias Vidal Bezerra Junior
Instituto Federal do Tocantins – IFTO
PREFÁCIO
O Seminário de Extensão da PUC Minas, de 2022, visou se juntar às vozes da Igreja Católica,
em Roma e em todo o mundo, a partir da coragem do Papa Francisco, de questionar os sistemas
políticos e econômicos que privilegiam uma pequena parcela da população mundial e condenam
milhões de habitantes a viverem em situação de pobreza e vulnerabilidade. Não obstante, o
questionamento vai mais além, ao se saber que tais atitudes colocam em risco a própria sobrevivência
da humanidade, tendo em vista o acelerado processo de destruição do planeta, supostamente em prol
do desenvolvimento e do progresso.
“Novo Humanismo: (re)pensar e (re) agir” foi o título deste Seminário de 2022, do qual se
originou a presente compilação de trabalhos. Juntamente com o Papa Francisco, discordamos
radicalmente do sistema econômico vigente, que é feito a partir de uma economia de exclusão e
desigualdade, uma economia que mata e segrega. Defendemos a prática de uma nova economia, que
coloque não o lucro e a acumulação de riquezas, mas o ser humano no centro, buscando reencontrar
e reconstruir as vivências da partilha, da fraternidade, do comunitário.
O lançamento recente de uma obra, o livro “O Novo Humanismo: paradigmas civilizatórios
para o século XXI a partir do Papa Francisco” (2022), representa um marco na história da PUC minas.
Seus vários autores colocam como uma questão central a crítica ao modo de produção capitalista,
como um modelo estruturalmente excludente, que condena grande parte dos habitantes do planeta à
pobreza extrema e, além disso, gradativamente, vai também excluindo o próprio trabalhador, uma
vez que máquinas e robôs podem realizar de forma mais eficiente as suas funções.
O próprio Papa Francisco, em seu discurso no “Encontro Mundial de Movimentos Populares”,
em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, em 2015, bradou: “Esse sistema é insuportável: não o
suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o
suportam os povos... Sequer o suporta a Terra, a Irmã Terra, como dizia São Francisco”.
1
Doutorando em Psicologia, mestre em Educação e graduado em Psicologia. Especialista em Psicoterapia
Contemporânea. Professor e Pró-Reitor de Extensão da PUC Minas ((2007-2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 19
Também Leonardo Boff, em publicação de 2002, sentenciava: “Desde o início deste terceiro
milênio, o tempo histórico nos tem confrontado com um dilema inescapável sobre a vida da
humanidade e das outras espécies animais e vegetais que compartem conosco o planeta: ou mudamos
ou morremos.”
Os professores Dom Joaquim Mol e Claudemir Alves, na Apresentação da obra mencionada,
o livro “O Novo Humanismo”, nos alertam: “A possibilidade real de destruição do planeta, a
condenação de milhões de pessoas à pobreza extrema, a indiferença das grandes fortunas diante da
miséria humana são alguns dos sinais da exaustão do atual modelo de organização social e
econômica.” E, na obra, Maurício Abdalla completa: “Trata-se da percepção, cada vez mais clara de
que o processo civilizatório (...) ultrapassou os limites toleráveis pela humanidade e pelo planeta e
chegou, portanto, ao seu fim como projeto humano possível.”
Para concluir, também são pertinentes os apontamentos do professor José Luiz Quadros
Magalhães: “... temos que buscar os diversos caminhos que se abrem a partir da compreensão da vida
como integral, da compreensão do humano como parte de um todo. Somos natureza, compartilhamos
os átomos, consciências, experiências; compartilhamos a vida desde a criação.”
Ao escolhermos para este Seminário de Extensão, de 2022, a temática do Novo Humanismo,
inspirados nos documentos e falas do Papa Francisco, nos reunimos aos movimentos que têm sido
organizados pela nossa Arquidiocese de Belo Horizonte e também pela nossa PUC Minas. Os
princípios que servem de orientação para as ações de Extensão em nossa Universidade, com toda
certeza, nos colocam em sintonia com o espírito e as práticas decorrentes do Humanismo Cristão.
Dessa forma, como reflexo das muitas mentes e mãos que trabalham com Extensão, sob a
égide do Humanismo e da Sustentabilidade, os trabalhos que se encontram neste e-book são
resultantes das mais diversas formas de intervenção extensionista, nos mais distintos rincões do
Brasil. Convidamos a todos a usufruir da leitura e das reflexões propiciadas por eles.
EXTENSÃO PUC MINAS:
20 Novo Humanismo, novas perspectivas
APRESENTAÇÃO
A Extensão PUC Minas, com orgulho e alegria, traz a público mais um e-book da série, em
que foram compilados alguns dos excelentes trabalhos submetidos ao Seminário e Mostra de
Extensão de 2022. Esse grande evento, já inscrito e consolidado na agenda da Universidade, vem
conquistando, a cada edição, maiores adesões, vindas de todos os rincões do Brasil.
Saber que a Extensão Universitária, paulatinamente, vem assumindo a posição de destaque
que lhe cabe no tripé – juntamente com o Ensino e a Pesquisa –, nacionalmente, a partir da
implementação da curricularização, é realmente gratificante para todos nós, extensionistas de
coração. Saber que o fato de que todo ingressante numa formação acadêmica (em uma universidade
ou mesmo em centros acadêmicos, como mostram vários trabalhos aqui disponibilizados) em vários
momentos de sua formação lidará com a Extensão, de modo a (re)significar sua formação teórico-
prática é algo almejado há décadas, e que vem se concretizando a partir de diplomas legais que nos
levam a dedicar, no mínimo, 10% de toda a carga horária acadêmica a essa parte da formação
universitária. Isso é o que tem permitido focar a atenção a demandas do entorno, da sociedade mais
imediata ou não, considerando não apenas suas necessidades, mas também o desejo da comunidade
por essa intervenção.
Não se trata de uma relação verticalizada, em que a Universidade – metonímia com que
nomeamos os diversos sujeitos extensionistas: professores, alunos, parceiros, etc. – chega e, de forma
verticalizada e unilateral, oferece seus préstimos. Se algo mudou (e vem mudando, na verdade),
nessas duas últimas décadas, é a constatação de que se trata de uma relação bilateral, uma partilha de
saberes e experiências, em que todos saem ganhando. Depois de um longo tempo em que se via a
Extensão como relação paternalista e assistencialista, cada vez mais os resultados positivos vêm
sendo percebidos como uma coconstrução de novas realidades, em que a partilha é a tônica, desde o
momento primeiro em que se concebem os programas, projetos, cursos, eventos ou quaisquer outras
formas de atividade extensionista.
1
Mestre e doutora em Estudos Linguísticos (UFMG). Graduada em Letras (UFMG) e Pedagogia (UEMG). Pós-doutora
em Estudos do Texto e do Discurso (UFMG). Chefe do Departamento de Letras, professora do Programa de Pós-
graduação e da graduação em Letras da PUC Minas. Titular da Coordenação Setorial de Publicações e Produções
Acadêmicas da Pro-reitoria de Extensão. Editora-gerente da Revista Conecte-se!, da Pró-reitoria de Extensão PUC Minas.
(2016 – 2022) E-mail: evangela@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 21
De forma aprofundada, já nos anos 1960, Paulo Freire2 nos conclama a refletir sobre o que é
extensão – no seu sentido inicial, dicionarizado, e no sentido que assume na acepção aqui discutida.
Para ele,
Prosseguindo em sua análise verticalizada, Freire nos lembra que não se pode pensar em
Extensão como assistencialismo, mas como uma relação qualificada entre seres “aprendentes” e
“ensinantes”:
Repetimos que o conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aquêles que
se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações
de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações. Para
discutir com os camponeses qualquer questão de ordem técnica, impõe-se que, para êles, a
questão referida já constitua “um percebido destacado em si”. Se ainda não o é, necessita sê-
lo. Se já constitui ou ainda não “um percebido destacado em si” é necessário que, em ambos
os casos, os camponeses captem as relações interativas entre o “percebido destacado” e outras
dimensões da realidade. Isto demanda um esfôrço não de extensão, mas de
conscientização que, bem realizado, permite aos indivíduos se apropriarem
crìticamente da posição que ocupam com os demais no mundo. Esta apropriação crítica
os impulsiona a assumir o verdadeiro papel que lhes cabe como homens. O de serem sujeitos
da transformação do mundo, com a qual se humanizem. (FREIRE, 1983, p.22-23).
É com essa concepção, firmemente criada por meio da convivência com pessoas que vêm se
dedicando à Extensão, na PUC Minas, e por meio da aprendizagem advinda da leitura de tantos
trabalhos que mostram realidades insuspeitas, Brasil afora, que os convido a adentrarem nesse
universo de humanização por meio de uma prática cujo cerne é calibrado pela visão do outro, em
todas as suas complexidades e potencialidades, por meio dos inúmeros projetos de Extensão aqui
reunidos.
Uma ótima leitura, de grandes aprendizagens, a todos vocês!
2
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira; prefácio de Jacques Chonchol.
7ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, [1968] 1983, 93 p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
22 Novo Humanismo, novas perspectivas
veio se juntar às vozes da Igreja Católica, em Roma e em todo o mundo, a partir da coragem
do Papa Francisco, de questionar os sistemas políticos e econômicos, que privilegiam uma
pequena parcela da população mundial e condenam milhões de habitantes a viverem em
situação de pobreza e vulnerabilidade. Mas o questionamento vai mais além, ao se saber que
tais atitudes colocam em risco a própria sobrevivência da humanidade, tendo em vista o
acelerado processo de destruição do planeta, supostamente em prol do desenvolvimento e do
progresso. (PUC Minas, 2022, s./p.).
1
Especialista em Marketing Estratégico. Graduada em Comunicação Social com ênfase em Relações Públicas pela PUC
Minas. Funcionária das Coordenações Setoriais de Produção Acadêmica e Publicação, e Cursos e Eventos da Pró-reitoria
de Extensão. E-mail: camila2801@gmail.com.
2
Graduando em Publicidade e Propaganda pela PUC Minas. Estagiário da Coordenação Setorial de Cursos e Eventos da
Pró-reitoria de Extensão da PUC Minas (2022). E-mail: guilhermehestrella@gmail.com
3
Mestre em Administração, Professora dos cursos de Administração e Comunicação da PUC Minas. Responsável pela
Coordenação Setorial de Cursos e Eventos da Pró-reitoria de Extensão (2020 -2022). E-mail:
lufagundessilveira@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 25
(PUC Minas, 2022, s./p.). Neste dia a programação contou com três mesas: I. O Novo Humanismo
na perspectiva da Ecologia Integral; II. Por um Humanismo Digital integral; III. Pacto Educativo
Global: por uma formação humanista, e com a Conferência: “Outro mundo é possível?”.
A primeira mesa buscou “refletir sobre concepções, princípios e paradigmas que se alinham a
prática de uma ecologia integral como base para o novo humanismo”. A segunda mesa propôs “uma
reflexão sobre o processo de digitalização da vida contemporânea. (...) existem formas de humanismo
emergindo com a cultura digital?”. A terceira mesa refletiu sobre compromissos do Pacto Educativo
Global: “uma educação que acolhe, ouve os mais jovens, promove a mulher, responsabiliza a família
e volta-se para a renovação da economia e da política.”
O primeiro dia de evento encerrou-se com a conferência “Outro mundo é possível?”
ministrada pelo professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães4, com mediação do professor
Wanderley Chieppe Felippe5, que trouxe “uma reflexão sobre o conceito do ‘Novo Humanismo’ e o
papel das universidades católicas na sua vivência e replicação”:
“[n]a voz quase solitária do Papa Francisco, o verde da esperança começou a brotar neste
mundo pintado em branco e preto. Discursos e atitudes do papa contrastam intensamente com
o cenário atual e sugerem a possibilidade de uma nova forma de vida. Um mundo em que a
morte não tenha a última palavra. Em lugar da exclusão e da miséria, o Papa propõe um novo
humanismo. Em lugar da destruição do planeta, Francisco propõe o cuidado com a ‘casa
comum’.” (GUIMARÃES apud PUC Minas, 2022, s./p.).
4
Mestre e bacharel em Teologia. Licenciado em Filosofia. Professor e pesquisador na PUC Minas. Fundador e
coordenador do Instituto de Pastoral PUC Minas. Editor fundador da Revista Horizonte. Bispo Auxiliar da Arquidiocese
de Belo Horizonte. Ex-Reitor da PUC Minas (2007 até 2022).
5
Doutorando em Psicologia, mestre em Educação e graduado em Psicologia. Especialista em Psicoterapia
Contemporânea. Professor e ex- Pró-Reitor de Extensão da PUC Minas (até 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
26 Novo Humanismo, novas perspectivas
Como nos anos anteriores, o Seminário de Extensão 2022 não exigiu a inscrição prévia,
considerando que o público acompanhou o evento pelo canal da Extensão PUC Minas no YouTube,
as pessoas que desejassem ser certificadas foram orientadas a inscrever-se na plataforma do Sympla,
pelo link que estava disponível na descrição da atividade no YouTube.
Com base nos dados registrados pelo Sympla – formulário de avaliação utilizado para
certificação (YouTube Analytics – transmissão do evento e Google Form) – , apresentam-se a seguir
o perfil e o engajamento do público que acompanhou o evento, o alcance da transmissão e avaliação
do evento.
A plataforma do Sympla foi utilizada com o único objetivo de emitir a certificação para o
público que acompanhou a programação do Seminário de Extensão 2022 por meio do YouTube. Cada
atividade da programação teve um link específico, que poderia ser acessado somente durante a
transmissão simultânea. Dessa forma, os dados a seguir correspondem apenas aos registros realizados
pelas pessoas que desejavam ser certificadas, o que não representa a totalidade do público que
prestigiou o evento nos dias e horários de cada atividades.
Cerca de 388 pessoas cadastraram-se no Sympla durante o Seminário, registrando-se 835
participações em todas as atividades do evento. No gráfico a seguir (1 a 3), apresenta-se o perfil dos
participantes cadastrados voluntariamente na plataforma. Conforme demonstrado no gráfico 2n a
unidade / campus da PUC Minas com maior adesão ao evento foram: Coração Eucarístico (262) e
Praça da Liberdade (26). A participação de outras Instituições de Ensino Superior (IES) teve um
aumento considerável, totalizando 43 registros para certificação de 24 instituições diferentes de várias
regiões do país (Estácio, Faculdade Serra Dourada, FAVIN, IFG, IFRR, IFTM, PUC Campinas,
UCDB, UEC, UEMG, UEP, UERN, UFF, UFL, UFMG, UFOP, UFPR, UFR, UFRJ, UNIFAP,
UNIFESP, UNIJUÍ, UNINTER, UPE).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 27
Análise dos dados extraídos pelo canal Extensão PUC Minas no YouTube
Cabe ressaltar que não foi possível mensurar as métricas do vídeo da conferência: “Outro
mundo é possível?” ministrada pelo Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, tendo em vista
que o material foi excluído a pedido do conferencista. Tanto a conferência quanto a terceira mesa
“Pacto Educativo Global: por uma formação humanista” também foram transmitidas pelo canal
Anima PUC Minas no YouTube, mas não foi possível mensurar o desempenho desses materiais neste
canal.
Em sua terceira edição online, o Seminário de Extensão 2022, registrou mais de 3 mil
visualizações nos dois dias (22 e 23 de setembro de 2022) em que o evento foi realizado, com o
registro superior a 310 curtidas. A duração média de visualizações foi acima de cinco horas, e com
o registro de 25,9 mil impressões, isto é, quantas vezes as miniaturas do vídeo são exibidas para o
expectador na plataforma do YouTube (gráfico 4). O público que prestigiou o evento é composto em
sua maioria pelo gênero feminino (64%) com a faixa etária em entre 18 e 24 anos (28%) e entre 35 e
44 anos (20%). Durante os dias do Seminário, o canal foi acessado por mais de 2 mil pessoas que
não estavam inscritas no canal. O vídeo da primeira mesa “O Novo Humanismo na perspectiva da
Ecologia Integral” obteve o maior índice de visualização (17,7%).
6
É importante destacar que essa métrica descreve o comportamento do público diante todo o conteúdo disponível no
canal durante o período estipulado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 29
Análise dos dados extraídos do Formulário de Avaliação do evento pelo Google Form
O Seminário de Extensão 2022 obteve altos índices de satisfação do público. Atendendo muito
ou totalmente a expectativa de 94% das pessoas que responderam ao formulário de avaliação (gráfico
7).
Gráfico 7 - Qualidade
REFERÊNCIAS
ARTIGOS ACADÊMICOS
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 33
ARTIGO ACADÊMICO
EXTENSÃO PUC MINAS:
34 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A pesquisa por Propostas de Emenda à Constituição (PEC) é uma tarefa complexa dada a falta de um canal que ofereça
um desenvolto e exclusivo acesso a estas, visto que os canais existentes possuem inúmeras informações de diversas leis.
Portanto, viu-se necessário criar uma única e específica fonte de pesquisa mais ágil, capaz de trazer, de forma acessível,
conteúdos sobre PECs de forma clara, intuitiva, transparente, íntegra, completa e segura. Sanando tal problemática foi
desenvolvido uma aplicação web que atua como um buscador de propostas de emenda à constituição, denominado
Pectômetro, de forma a ampliar o caráter inclusivo, democrático e transparente do acesso à projetos governamentais por
meio do aplicativo. O desenvolvimento do website foi baseado na mescla e adaptação de metodologias ágeis, além da
realização de uma pesquisa qualitativa e quantitativa por meio de um questionário web, valendo-se do método dedutivo,
com a análise de bibliografia específica e legislação, com abordagem descritiva. O resultado foi a atualização do software,
evidenciando a acessibilidade, promovendo a democratização das informações públicas.
ABSTRACT
The search for Constitutional Amendment Proposals (PEC) is a complex task given the lack of a channel that offers a
perky and exclusive access to them, since the existing channels have numerous information on different laws. Therefore,
it was necessary to create a single and specific source for agile research, capable of bringing, in an accessible way, content
on PECs in a clear, intuitive, transparent, complete, and secure way. To remedy this problem, a web application, called
Pectômetro, that acts as a search engine for proposals to amend the constitution was developed to expand the inclusive,
democratic, and transparent nature of access to government projects through this application. The development of the
website was based on the mix and adaptation of agile methodologies, in addition to carrying out a qualitative and
quantitative research through a web questionnaire, using the deductive method, with the analysis of specific bibliography
and legislation, with a descriptive approach. The result was the update of the software, highlighting accessibility, thus
promoting the democratization of public information.
1
Graduanda em Direito da PUC Minas, unidade Praça da Liberdade. E-mail: abellico@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Engenharia de Software da PUC Minas / unidade Praça da Liberdade. E-mail:
ian.guelman@sga.pucminas.br.
3
Bacharela em Direito pela PUC Minas. E-mail: g9611021@gmail.com.
4
Coordenadora e professora Me. do Curso de Engenharia de Software da PUC Minas /unidade Praça da Liberdade. E-
mail: soraialu@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 35
INTRODUÇÃO
35
EXTENSÃO PUC MINAS:
36 Novo Humanismo, novas perspectivas
O resultado deste trabalho foi uma aplicação web, denominada Pectômetro, a qual democratiza
o acesso às informações referentes às PECs, conscientiza o cidadão e o aproxima da política, por meio
de mecanismos de busca internos à plataforma e exposição de conteúdos na mesma. Com isso, a
relevância de tal projeto dialoga com a possibilidade de os cidadãos exercitarem seu direito
fundamental de acesso à informação e inclusão no sistema participativo democrático. Além do
website, foi realizada uma pesquisa com os cidadãos, a fim de entender seu relacionamento com as
PECs, orientando, assim, trabalhos futuros.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Jürgen Habermas (1995, p.92) conceituou o Estado Constitucional como “uma ordem política
livremente estabelecida pela vontade do povo, de modo que os destinatários das normas legais podem,
ao mesmo tempo, se reconhecerem como os autores da lei”. Para que os cidadãos tenham tal cognição,
é imperativo que estes exerçam não apenas a participação política mínima esperada de um indivíduo,
mas explorem todas as oportunidades para se manterem a par do que acontece no país, sendo
fundamental, para tanto, a transparência.
37
EXTENSÃO PUC MINAS:
38 Novo Humanismo, novas perspectivas
Como discutido por pensadores clássicos como Locke e Kant, o Estado era uma instituição
que necessitava ser controlada e vigiada pela sociedade, aproximando-se da noção moderna de
transparência governamental. A Transparência Pública está intimamente ligada com a Democracia,
pois é através da primeira que o povo fiscaliza a atuação governamental e se estas estão em
conformidade com o interesse da coletividade. É fundamental preservar tal conformidade e renovar
os direitos e garantias dos indivíduos, mantendo seu caráter atual e em consonância com a
modernidade e as novas necessidades de mudanças advindas desta.
Em consonância com a transparência e o acesso à informação mediante as mais variadas
formas de comunicação, tem-se a possibilidade da utilização dos dados abertos do governo para
melhor informar e atualizar os diversos momentos políticos e legislativos do governo brasileiro. Dado
aberto é, de acordo com a Open Knowledge Foundation, em uma tradução livre: “um dado que pode
ser livremente utilizado, reutilizado e redistribuído por qualquer um”, sendo atualmente utilizado no
Brasil de forma a reutilizar dados governamentais, possibilitando novas criações independentes e a
interoperabilidade.
O acesso à informação encontra-se na Constituição Federal e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos associado ao direito fundamental de liberdade e direitos políticos, o que inclui a
escolha ou não de acompanhar as tratativas legislativas e tudo o mais que garanta a democracia.
Diante do exposto, os dados abertos permitem a publicação e disseminação de dados e informações
públicas na Internet, organizados de tal maneira que permita sua reutilização em aplicativos digitais
desenvolvidos pela sociedade.
Dado o perfil heterogêneo da população brasileira, tem-se traçado o perfil de um povo com
distinções e necessidades divergentes, como é o caso das pessoas com deficiência e suas variadas
demandas, as quais devem ser sempre observadas.
Tendo em vista tais premissas, há de se considerar os dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010), que apontam que 24% da população apresenta algum grau
dificuldade e/ou deficiência em enxergar, ouvir ou se movimentar; além do mais, adversidades visuais
estiveram presentes em 18,8% dos pesquisados e as dificuldades auditivas em 5,1%, o que torna
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 39
No que diz respeito às respostas às demandas sociais, a resolução 02/2015 da PUC Minas,
aprova o regulamento da PROEX, indicando modalidades de extensão universitária, sendo estas:
programa, projeto, curso, evento, prestação de serviço, produção cultural, científica e tecnológica e
práticas curriculares de extensão:
39
EXTENSÃO PUC MINAS:
40 Novo Humanismo, novas perspectivas
5
Professor das matérias Cultura Religiosa: Cultura e Sociedade e Cultura Religiosa: Fenômeno Religioso do curso de
Direito na PUC Minas Praça da Liberdade, além de idealizador de vários projetos sociais, cedeu entrevista particular aos
autores do artigo, realizada no dia 24 de maio de 2021 pela plataforma Teams.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 41
3 METODOLOGIA
Diante da necessidade de se obter uma fonte única e específica para a pesquisa de PECs, a fim
de melhorar a compreensão das tipologias de fontes de informação jurídica e social e aumentar a
transparência, direito fundamental da população, foi criada uma parceria entre os cursos de
Engenharia de Software e de Direito com o objetivo de desenvolver um mecanismo amplo, acessível
e sem complicações para tal, visando esclarecer pontos chave do processo legislativo, por vezes
imperfeito e complexo, de forma mais ágil e confiável.
Após a conclusão de dois projetos de pesquisa fomentado pelo PIBIC-CNPQ, compreendeu-
se a relevância das PECs, como parte essencial para a historiografia jurídica brasileira. O principal
motivo se deu pelo elevado número de projetos à Emenda Constitucional a partir da promulgação da
atual Carta Magna. No contexto do estudo do pós-positivismo, em meio à tecnologia, tornou-se mister
criar uma ferramenta avançada de otimizar a busca por PECs através de um simples e fácil acesso por
meio de link público, social. A ideia posteriormente ganhou vida ao ser apresentada aos alunos na
disciplina “Trabalho Interdisciplinar de Software IV”, os quais desenvolveram uma aplicação capaz
de entregar de modo íntegro os textos das PECs, sem alterações midiáticas. De forma a permitir que
a população de modo geral, os operadores do direito e os juristas possam pesquisar as PECs de modo
neutro, puro e cristalino.
A aplicação foi inicialmente desenvolvida por alunos matriculados em anos anteriores na
disciplina, porém diante de novas necessidades, foi necessário reformular totalmente o website em
41
EXTENSÃO PUC MINAS:
42 Novo Humanismo, novas perspectivas
2021. O desenvolvimento do Pectômetro, em tal ano, foi realizado seguindo a metodologia ágil de
desenvolvimento de software, utilizando para tal a adaptação e mescla do Scrum e do Kanban, de
forma a melhor se encaixar no cenário do projeto. O primeiro é um framework para metodologia ágil
que apresenta abordagem incremental e iterativa. Acredita-se que o mesmo tenha sido idealizado para
desenvolver produtos simples e de baixa complexidade. Porém, seguindo S. P. Patil e J. R. Neve
(2018) tal sentença é um grande mito, o Scrum tem sido melhor implementado em sistemas grandes
e complexos.
O Scrum possui três principais papéis sendo eles: Product Owner – responsável pelo produto,
Scrum Master – gerenciador e facilitador de processos e Scrum Team - time de desenvolvimento, que
é geralmente multidisciplinar e os integrantes desempenham tarefas de diversas áreas, como por
exemplo design, programação, testes, dentre outros. Por ser uma metodologia ágil, o Scrum trabalha
com entregas parciais de resultados, que ocorrem a cada Sprint, como é denominado cada curto ciclo
de trabalho; no Scrum, este ciclo tem duração média de três a quatro semanas. A cada Sprint, são
realizados quatro tipos de reunião: de retrospectiva, de planejamento, de demonstração e de
andamento.
O Kanban, também é uma metodologia ágil e é utilizado para suportar a produção de
softwares, fornecendo uma visão clara do fluxo de trabalho. Seu método consciente na criação de um
quadro, dividido em colunas, cada uma destas, representa um estado da tarefa - a fazer, em
andamento, finalizadas etc. Em cada coluna, são alocados cartões com a descrição de cada tarefa, que
são realocados para outra coluna, sempre que há alteração em seu estado. Assim, é possível visualizar
o fluxo de trabalho de cada tarefa (S. P. PATIL e J. R. NEVE, 2018).
Para o desenvolvimento da aplicação, foram estabelecidos cinco Sprints com duração de
quatro semanas cada, foram realizadas reuniões de retrospectiva e planejamento mensais, reuniões de
demonstração quinzenais e reuniões de andamento semanais. O time do Scrum foi composto por três
integrantes, não houve nomeação de um Scrum Master, devido ao tamanho reduzido da equipe e do
escopo, e o projeto possuía apenas um Project Owner. Para acompanhamento do fluxo de trabalho
foi criado um quadro Kanban virtual, na plataforma GitHub Projects. O projeto ocorreu nas seguintes
fases: entrevista com o cliente, documentação, prototipação, desenvolvimento, acessibilidade, coleta
de dados e pesquisa de público.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 43
Nesta fase, ocorreu o primeiro contato entre os alunos e o cliente, idealizadora do Pectômetro.
Durante a entrevista, houve uma explicação geral sobre o projeto e sua criação, foram identificadas
as demandas e estudada a melhor solução para cumpri-las. A solução acordada foi a reformulação
total da aplicação, a fim de melhorar a usabilidade e implementar acessibilidade. Tendo em vista a
solução, foi realizada a elicitação dos requisitos necessários para desenvolvê-la.
3.2. Documentação
3.3. Prototipação
3.4. Desenvolvimento
Nesta fase, foi desenvolvida a aplicação Web seguindo os Wireframes desenvolvidos. Para a
criação da plataforma, foram utilizadas as tecnologias web: HTML5, CSS3 e Javascript. O
framework Tailwind CSS foi utilizado para a estilização. O editor de código fonte escolhido foi o
VsCode, aliado às ferramentas ESLint, Prettier e EditorConfig, para padronização de código. O
versionamento foi realizado através do GitHub.
43
EXTENSÃO PUC MINAS:
44 Novo Humanismo, novas perspectivas
Para obter os dados das PECs contidos no website, são realizadas requisições da API
(Application Programming Interface - Interface de Programação de Aplicação) de dados abertos
fornecida pelo Governo Federal. A API retorna para o Pectômetro as PECs em formato JSON
(JavaScript Object Notation - Notação para Objetos em JavaScript), os dados são interpretados e
apresentados em forma de texto no site.
3.5. Acessibilidade
Com o objetivo de obter mais informações sobre os usuários que acessam o Pectômetro, têm
sido coletados dados das sessões de acesso dos mesmos, respeitando a Lei Geral de Proteção de
Dados. A coleta tem sido realizada através da vinculação do website com a plataforma Google
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 45
Analytics. Essa conexão é feita por meio de um trecho de código adicionado ao código fonte. A
visualização dos dados obtidos é realizada por um painel disponível na plataforma do Google
Analytics.
Estão sendo coletados dados referentes a: quantidade de usuários, sessões ativas, localização,
páginas acessadas, dispositivos, termos de pesquisa, entre outros. As informações são obtidas de
forma anônima, portanto não podem ser vinculadas a pessoa alguma, respeitando a legislação vigente.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
45
EXTENSÃO PUC MINAS:
46 Novo Humanismo, novas perspectivas
para o website da câmara, abrindo o documento original da PEC em questão. Além das funções
provenientes do buscador, o Pectômetro conta com três páginas: “O que é uma PEC” - onde é
explicado o conceito de PEC, como ocorre sua apresentação e aprovação, seus limites e o valor médio
de aprovação de uma PEC -, “Quem Somos” - na qual são apresentadas mais informações sobre o
projeto e seus responsáveis - e “PECs Recentes” - página que apresenta as últimas quatro PECs
propostas na pauta do congresso.
Além dos resultados práticos, o Pectômetro cumpre com a sua premissa fornecendo ao cidadão
acesso às informações públicas, o que possibilita ao povo participar, de forma mais ativa, das
discussões que tangem as políticas públicas sociais, resguardando assim o direito dos cidadãos
brasileiros ao conhecimento. O website também se adequou às necessidades de acessibilidade - a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 47
exemplo do tradutor para Libras, apresentado acima na Imagem 1 - trabalhando a inclusão e, com ela,
a efetivação dos direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e consequentemente a efetivação
do estado democrático de direito.
Em relação ao supracitado questionário divulgado, foram obtidas 165 respostas, sendo 97
(58,8%) destas enviadas por indivíduos do sexo feminino e 68 (41,2%) do sexo masculino. Desses,
34 (20,6%) são mestres ou doutores, 39 (23,6%) possuem alguma pós-graduação, 74 (44,8%)
completaram ou estão cursando o ensino superior e 18 (10,9%) o ensino médio; todos afirmam ter
completado o ensino fundamental. As faixas etárias dos respondentes foram classificadas como:
menor de 16 anos (0), 16 ou 17 anos (2 - 1,2%), entre 18 e 30 anos (57 - 34,5%), entre 31 e 50 anos
(41 - 24,8%), entre 51 e 70 anos (56 - 33,9%) e acima de 70 anos (9 - 5,5%). Foram relatadas 13
pessoas que afirmaram possuir alguma restrição/limitação visual e/ou auditiva, tal número representa
7,9% da amostra.
A fim de compreender como é realizada atualmente a pesquisa por política nacional, foram
levantados os instrumentos utilizados por cada indivíduo para tal, os dados podem ser vistos no
Gráfico 2. As respostas não foram excludentes entre si. Além dos instrumentos, questionou-se a
preferência de acesso: 136 indivíduos (82,4%) preferem acessar websites, em contraste com 29
(17,6%) que preferem utilizar aplicativos móveis.
47
EXTENSÃO PUC MINAS:
48 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
complementando entre si, o caráter humano e a técnica. A fim de que o aplicativo seja um diferencial
para o conhecimento populacional, no que tange às propostas de emenda à Constituição, deve-se
expandir ainda mais a difusão do aplicativo. Ao aumentar o número de usuários e acessos, garante-
se que cada vez mais cidadãos se engajem e exerçam seus direitos políticos de forma justa e
democrática.
A aplicação Pectômetro, para continuar relevante, deve ser sempre aprimorada e atualizada.
Dessa forma, como trabalhos futuros, é posposto implementar no site um fórum de discussões acerca
de PECs, possibilitando um debate sadio entre os usuários. Foi constatada certa discrepância entre a
pesquisa realizada e os dados coletados pela aplicação em relação aos dispositivos de acesso. O
primeiro indicou que o dispositivo móvel é a fonte preferida em relação à pesquisa por política
pública, porém ao analisar os dados reais de acesso, nota-se que o desktop está à frente. Assim, a
publicação de um aplicativo móvel do Pectômetro pode representar uma boa forma de aumentar seu
engajamento com o público.
REFERÊNCIAS
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https://agilemanifesto.org/. Acesso em: 27 ago 2021.
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Gestão Pública. Centro de Convenções Ulysses Guimaraes, Brasília/DF 2011. Disponível em:
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
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FILIPPE, Wanderley Chieppe. Extensão. Faculdade Mineira de Direito. Disponível em:
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HABERMAS, Jürgen. O Estado Nação europeu frente aos desafios da globalização. Revista Novos
Estudos. São Paulo, n. 43, p. 92, nov. 1995.
49
EXTENSÃO PUC MINAS:
50 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O objetivo deste trabalho acadêmico é apresentar o panorama dos esforços do voluntariado no Brasil, ressaltando a
relevância da regularidade jurídico-fiscal e a adoção de boas práticas de gestão nas organizações de assistência social
como fator alavancador da efetividade das operações e pré-requisito para acesso a recursos públicos (financeiros e não
financeiros) de fomento e de viabilização da atuação dessas organizações na implementação de políticas sociais públicas.
Para isso, além das pesquisas bibliográficas em fontes secundárias acerca do voluntariado no Brasil, com breve
contextualização no panorama mundial, foi necessário fazer um levantamento do marco regulatório das organizações do
chamado terceiro setor, sob as perspectivas civil e tributária, já que o atendimento às exigências legais tende a representar
fatores restritivos à formalização de tipo de organização. Esse arcabouço teórico-jurídico, então, conecta-se, com
evidências explícitas, à prática, através do projeto de extensão operacionalizado junto a uma associação comunitária, que,
até então, vinha atuando de maneira informal e, portanto, com visíveis dificuldades de desempenho. Esta, com as
intervenções e enfrentamentos propostos pelo projeto, passa a vivenciar uma nova realidade, com experiências positivas
imediatas e resultados capazes de vislumbrar alterações de curto e médio prazos, apontando para grandes saltos
qualitativos e quantitativos na prestação de serviços assistenciais à comunidade carente da região do Palmares II, na
cidade de Ibirité-MG. Esta comunidade figura como localidade detentora dos piores resultados nos principais indicadores
de desenvolvimento social e econômico na região metropolitana de Belo Horizonte.
ABSTRACT
This paper aims to present an overview of volunteering efforts in Brazil, highlighting the relevance of legal and fiscal
regularity and the adoption of the best management practices in social assistance organizations as a leverage factor for
the effectiveness of operations and a prerequisite for access to public resources both financial and non-financial for
promoting and enabling the performance of these organizations on implementing public social policies. For this purpose,
in addition to bibliographic research in secondary sources about volunteering in Brazil, with a brief contextualization in
the world scenario, it was necessary to survey the regulatory framework of the organizations of the so-called third sector,
from the civil and tax perspectives, since the service to legal requirements tends to represent restrictive factors to the
formalization of this kind of organization. This theoretical-legal framework, then, is connected, with explicit evidence, to
practice, through the extension project operated with a community association that, until then, had been acting in an
informal way and, therefore, with visible performance gaps. This association, with the interventions proposed by the
project, begins to experience a new reality, with immediate positive experiences and results capable of envisioning
realistic scenarios in the short and medium term pointing to great qualitative and quantitative breakthrough in the
1
Doutor e Mestre em Direito (PUC Minas), advogado tributarista. Professor na PUC Minas. E-mail:
antoniocarlos@pucminas.br.
2
Mestre em Administração de Empresas (UFMG), consultor, perito judicial (TJMG). Graduando em Direito na PUC
Minas. E-mail: jose.rodrigues.1312160@sga.pucminas.br.
51
EXTENSÃO PUC MINAS:
52 Novo Humanismo, novas perspectivas
provision of assistance services to the community in the Palmares II region, in the city of Ibirité. This community is a
location that holds the worst results in the main indicators of social and economic development on metropolitan region of
Belo Horizonte.
INTRODUÇÃO
A cada três anos, o Programa de Voluntários da ONU (Organização das Nações Unidas)
divulga um importante relatório sobre a situação do voluntariado no mundo, o SWVR (State of the
World’s Volunteerism Report). No ano de 2022, o relatório foi liberado contendo importantes
aspectos de contextualização, já que abrange o período que antecedeu à pandemia de COVID-19 e
abarca os dois anos mais duros desse fenômeno que abalou e vem abalando o mundo, de forma
indiscriminada e multifacetada.
Um aspecto de grande relevância no relatório da ONU é que ele aponta, de forma muito bem
fundamentada, as relações de causalidade que existem entre o voluntariado e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)3. Assim, não é sem razão que o relatório atual recebe o
sugestivo título de “Construindo Sociedades Iguais e Sustentáveis”. Ele aponta que, apesar do imenso
desafio de mensurar o voluntariado globalmente, constatam-se novas evidências sobre parcerias
voluntariado-Estado e vêm à luz novos dados que elucidam a escala e o escopo do envolvimento
voluntário em todo o mundo, deixando claro que, apesar dos impactos socioeconômicos devastadores
da pandemia da COVID-19, o interesse global pelo voluntariado não diminuiu.
Embora neste texto não se tenha colocado como objetivo qualquer intenção de se aprofundar
nas teorias do voluntariado, considerou-se pertinente apontar, de forma breve, algumas vertentes e
perspectivas acerca do assunto.
Nesse sentido, Pereira, Jussara e Rezende (2020) afirmam que “majoritariamente, o
voluntariado tem sido estudado como um processo social que inclui aspectos psicossociais,
socioeconômicos, motivacionais, identitários e de socialização” (PEREIRA; JUSSARA; REZENDE,
2020, p. 3). Afirmam ainda, essas autoras, que, a partir desses conceitos de voluntariado e sua
relevância como estratégia de redução de desigualdades sociais e, ainda, em função da pretensão de
identificar entraves à efetividade de iniciativas de voluntariado, é pertinente também, apresentar
resultados alcançados por essas autoras, numa compilação de outras pesquisas científicas acerca do
tema, bem como das motivações alegadas para a sua prática. Trata-se de análises elaboradas pelas
autoras considerando publicações abrangendo as duas últimas décadas.
3
Trata-se de um conjunto de 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de
desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo (cf. ONU, 2022).
53
EXTENSÃO PUC MINAS:
54 Novo Humanismo, novas perspectivas
Dessa forma, na síntese dos resultados de pesquisa, alcançados por Pereira, Jussara e Rezende
(2020), consta que existem, pelo menos, cinco pressupostos teóricos para a pesquisa e teoria em
voluntariado, como se pode ver no quadro 1 abaixo:
55
EXTENSÃO PUC MINAS:
56 Novo Humanismo, novas perspectivas
O relatório conclui que a maior parte do trabalho voluntário continua a ser organizada
informalmente entre indivíduos, com 14,3% da população global participando, enquanto 6,5% das
pessoas em idade ativa em todo o mundo se envolvem em voluntariado formal por meio de uma
organização ou associação. Enquanto os voluntários formais são principalmente homens, os
voluntários informais são mais propensos a serem mulheres.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 57
Acerca dos voluntários em ação no nosso país, segundo a Pesquisa Voluntariado Brasil, as
iniciativas correspondem a variadas atividades ligadas a saúde, educação, meio ambiente etc.,
contando com energia e talento de pessoas dedicadas e desprovidas de interesses econômico-
financeiros, impactando positivamente na vida das pessoas (Associação Brasileira de Captadores de
Recursos, 2022).
Os principais resultados da pesquisa, que compara resultados de 2011 e 2021, indicam que
56% da população adulta diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Em 2011, esse
número representava 25% da população e, em 2001, apenas 18%. Chama atenção também o número
de voluntários ativos no momento da pesquisa – 34% dos entrevistados, o que representa cerca de 57
milhões de brasileiros comprometidos com atividades voluntárias.
Além disso, essa pesquisa apresenta os seguintes achados: a) Não há diferença significativa
em relação ao gênero dos voluntários: 51% feminino, 48% masculino e 1% declarou outras respostas.
Ela revelou que 40% dos voluntários se encaixam na faixa etária entre 30 e 49 anos; em relação à
escolaridade, 50% detêm o ensino médio completo ou superior incompleto; e a renda familiar mensal
de 39% dos respondentes é de até 2 salários mínimos; b) Em relação aos brasileiros que realizam
alguma atividade voluntária atualmente (34% da população), 12% afirmam fazer as atividades com
frequência definida; enquanto 22% realizam sem frequência definida; c) 15% dos voluntários
realizam atividades ligadas a programas de voluntariado empresarial e dedicam, em média, 21,5 horas
por mês; d) 70% dos respondentes não conhecem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), definidos pela Organização das Nações Unidades (ONU), que compreendem os alicerces da
Agenda 2030 para combater a pobreza, melhorar a educação, promover práticas ambientalmente
sustentáveis, entre outras. O índice de conhecimento cresce conforme aumenta o grau de instrução e
a renda familiar mensal do entrevistado; e) 49% concordam que os grandes eventos realizados na
última década, como a Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paralímpicos, visita do Papa etc.,
contribuíram para aumentar o engajamento dos brasileiros no trabalho voluntário.
A imagem 2 abaixo demonstra que houve uma significativa evolução na prática de iniciativas
de voluntariado na última década:
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58 Novo Humanismo, novas perspectivas
E, por fim, destacando mais uma informação da pesquisa que muito contribui para a
contextualização deste artigo, a pesquisa mostra um expressivo aumento no público-alvo
compreendido por “famílias e comunidades” e “pessoas em situação de rua”.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 59
Para uma breve reflexão sobre a atuação das organizações do chamado terceiro setor no Brasil,
é de grande valia o conteúdo do Mapa das Organizações da Sociedade Civil, uma importante
publicação liderada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do governo federal, que
identificou a existência de 815.676 ONGs no país até 2020.
Segundo Lima (2021), esse número equivale a um crescimento de cerca de 34 mil
organizações desde a última atualização do Mapa, realizada em 2018, e um retorno aproximado ao
número publicado no lançamento da primeira versão do Mapa, em 2016. Do total, 81% delas são
classificadas como associações sem fins lucrativos e 17% como organizações religiosas, sendo que
as fundações representam apenas 1,50% de todas as organizações da sociedade civil brasileiras.
A região Sudeste abriga 41,5% das organizações, seguida pelo Nordeste (24,7%), pelo Sul
(18,4%), pelo Centro-Oeste (8,2%) e pelo Norte (7,2%). Entre as capitais, Boa Vista é a que registra
o menor número de OSCs: 1.413. Todos os 5.570 municípios brasileiros têm OSCs. Em quantidade,
os dois extremos aparecem em São Paulo, com a capital registrando mais de 50 mil OSCs e o
município de Taquaral com apenas 3 OSCs (LIMA, 2021).
Nesse sentido, a publicação, criada em 2016 e prevista no Marco Regulatório das
Organizações Sociais (Lei 13.019/2014), o Mapa traz informações sobre as organizações em
atividade no país, sua distribuição pelo território nacional, áreas de atuação e projetos desenvolvidos.
59
EXTENSÃO PUC MINAS:
60 Novo Humanismo, novas perspectivas
Estimula a construção de um perfil das OSCs no Brasil, essencial para prover insumos à formulação
de políticas públicas, para o desenvolvimento de pesquisas na área e permite que o próprio setor
conheça melhor sua composição e especificidades.
Cabe salientar que os números constantes do mapa do Brasil (imagem 5) são apenas os
constantes do cadastro do Mapa (IPEA, 2021). Essas organizações atuam, predominantemente, com
temas ligados à religião e defesa de direitos.
unicamente o bem comum. Onde se façam presentes, essas instituições costumam trazer
inovação, novos ares, enfim, livres de alguns vícios e condutas que tanto têm atravancado o
desenvolvimento brasileiro. (OAB-SP, 2017).
Dessa forma, o MROSC é uma agenda política ampla, que tem como desafio aperfeiçoar o
ambiente jurídico e institucional relacionado às organizações da sociedade civil (OSCs) e suas
relações de parceria com o Estado. Conduzido pela Presidência da República em permanente diálogo
com organizações da sociedade civil, gestores e especialistas, o trabalho está estruturado em três eixos
(BRASIL, 2016, p. 7):
a) Contratualização com o poder público: parcerias com a administração pública em geral, com
especial enfoque à implementação da Lei 13.019/2014;
b) Sustentabilidade e certificação: simplificação e desburocratização do regime tributário
(imunidades e isenções incidentes sobre as OSCs, proposta de Simples Social, incentivos
fiscais) e dos títulos e certificados outorgados pelo Estado;
c) Conhecimento e gestão de informações: produção de estudos e pesquisas, seminários,
publicações, cursos de capacitação e disseminação de informações sobre o universo das
organizações da sociedade civil e suas parcerias com a administração pública.
Nesse sentido, vale ressaltar, quanto ao conteúdo do documento, três aspectos centrais que
pautam a atuação das organizações sociais:
1) Procedimento de Manifestação de Interesse Social (BRASIL, 2016, p. 24): Com a nova lei,
cidadãs e cidadãos, movimentos sociais e outras organizações têm a possibilidade de
apresentar propostas ao poder público por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse
Social. Trata-se de um canal que permite a qualquer pessoa, coletivo ou organização
(institucionalizada ou não) apresentar projetos à administração pública para que esta avalie se
irá realizar um chamamento público ou não.
2) Novos princípios e diretrizes (BRASIL, 2016, p. 25): Participação social, fortalecimento da
sociedade civil e transparência na aplicação dos recursos públicos são princípios que devem
orientar a aplicação e interpretação da lei em todo o território nacional.
3) Impedimentos e restrições (BRASIL, 2016, p. 32-33): A Lei 13.019/2014 elenca os casos que
impedem que organizações da sociedade civil possam celebrar novas parcerias, sobretudo em
caso de prestação de contas rejeitadas.
61
EXTENSÃO PUC MINAS:
62 Novo Humanismo, novas perspectivas
São abundantes os dispositivos que podem ser classificados como do ordenamento jurídico
civil aplicáveis às organizações sociais, começando pela Constituição da República de 1988,
conforme previsão dos direitos fundamentais arrolados no art. 5º, notadamente nos incisos XVII,
XVIII e XIX. Além disso, a Constituição contempla as organizações sociais, também, no capítulo II,
quando dispõe sobre os direitos sociais dos cidadãos, cuja implementação, em grande medida, cabe
a essas organizações.
Por sua vez, o Código Civil, além de toda a legislação esparsa que regula o Direito Civil
brasileiro, dispõe acerca das regras de instituição e atuação das associações, fundações e demais
entidades especialmente criadas para o desenvolvimento de atividade assistencial, permitindo, assim,
a atuação organizada dos integrantes da sociedade no processo de implementação das garantias
constitucionais.
[...] dispõe de forma legítima sobre os procedimentos referentes a fruição da imunidade das
contribuições à seguridade social de que trata o artigo 195, §7º, da Constituição da República
Federativa do Brasil, revogando a Lei nº 12.101/2009 e ainda alguns dispositivos das Leis
11.096/2005 (Prouni) e 12.249/2010. Entendemos que as alterações foram sutis, mas agora
as normas estão fixadas com força de lei complementar, minimizando os questionamentos
jurídicos sobre a referida norma, uma vez que ela é constitucionalmente legítima para regular
imunidade tributária, cumprindo fielmente o artigo 146, II, da Constituição Federal.
(LOURENÇO; VENERANDA, 2021, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 63
Sob o ponto de vista operacional, quanto às exigências para pleitear e usufruir da imunidade,
a nova lei não trouxe mudanças significativas. Entretanto, legitimou os benefícios e trouxe mais
segurança jurídica ao setor. Ainda assim, recomenda-se que é necessária vigilância para proteger as
entidades “[...] de quaisquer exigências inconstitucionais ou excessivamente onerosas que
inviabilizem a execução de suas atividades de forma perene e superavitária” (LOURENÇO;
VENERANDA, 2021, [s./p.]).
O Ministério da Economia e a Receita Federal, além de outros ministérios, têm papel crucial
nos aspectos legais e regulatórios das organizações sociais. Para isso, mantêm, na sua estrutura,
diversos órgãos para o exercício de diversas competências no sentido de assegurar regularidade e
funcionamento das organizações, dentre os quais podem ser citados: (i) Cadastro Nacional de
Informações Sociais (CNIS), (ii) Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (SALIC), (iii)
Sistema da Lei de Incentivo ao Esporte (SLIE), (iv) Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), (v)
Sistema Integrado de Administração Financeira, (vi) Sistema de Gestão de Convênios e (vii)
Participação Social.
Sobre a base de dados da Participação Social, Lopez (2018) afirma que se trata de um
repositório que
[...] reúne as informações das OSCs que atuam como representantes em instituições
participativas, principalmente os conselhos nacionais de políticas públicas. Esses conselhos
atuam no ciclo de importantes políticas públicas, em diferentes áreas. Há quatro papéis
previstos em lei e exercidos por eles: consulta, fiscalização, normatização e deliberação. No
entanto, os conselhos não exercem necessariamente todas essas funções. (LOPEZ, 2021,
p.176).
Assim, nota-se que a relevância e o impacto da atuação da Receita Federal na operação das
organizações sociais permeiam todo o ciclo de vida da operação, desde a constituição, até o
encerramento, passando pelo tratamento específico do acordo com a natureza dessas operações,
assegurando a imunidade e a regularidade jurídico-fiscal demandada para celebração de convênios
ou quaisquer outros meios que visem à obtenção de recursos públicos.
63
EXTENSÃO PUC MINAS:
64 Novo Humanismo, novas perspectivas
[...] uma agenda de sustentabilidade urbana que incorpora as dimensões social, ambiental,
econômica, política e cultural no planejamento municipal. Desde 2012, o PCS atua na
sensibilização e mobilização de governos locais para a implementação de políticas públicas
estruturantes, que contribuam para o enfrentamento da desigualdade social e para a
construção de cidades mais justas e sustentáveis. Estruturado em 12 eixos temáticos,
alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, o
programa oferece ferramentas e metodologias de apoio à gestão pública e ao planejamento
urbano integrado, além de mecanismos de controle social e estímulo à participação cidadã.
(SUSTENTÁVEIS, 2022).
De acordo com informações da base de dados do Cidades Sustentáveis, a cidade de Ibirité tem
uma pontuação geral de 51,47/100 e, com isso, está classificada na posição 500 de uma lista que
contém 770 cidades que já aderiram ao programa. Com isso, nota-se que a cidade atingiu apenas 1
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Social, como se pode ver na imagem 6 adiante:
Como se vê, a imagem 7 evidencia que a localidade, de fato, ostenta os piores indicadores
dentre os municípios da RMBH.
O projeto tem por escopo a atuação perante a comunidade carente denominada Vila Ideal,
localizada na periferia do município de Ibirité/MG, ambiente com indicadores socioeconômicos que
denotam condição de extrema vulnerabilidade.
No local, existe um projeto de iniciativa da comunidade denominado “O Amor Vence Tudo”,
onde algumas pessoas realizam ações assistenciais de atendimento às necessidades básicas da
população, como arrecadação e distribuição de donativos (alimentos, roupas, medicamentos,
materiais de higiene) e cuidados com as crianças (acolhimento em creche improvisada de crianças da
65
EXTENSÃO PUC MINAS:
66 Novo Humanismo, novas perspectivas
primeira infância para os pais poderem trabalhar; bem como desenvolvimento de atividades de
suporte escolar, prática de esportes, musicalização e aprendizado em informática para crianças da
segunda infância e pré-adolescência).
Todavia, as ações são realizadas de maneira informal, sem existência de entidade constituída
oficialmente para gerir as atividades de maneira organizada, sendo necessária a intervenção, por meio
do projeto de extensão, para a criação de associação comunitária sem finalidade lucrativa, para a
consequente obtenção de certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS),
documento hábil para acesso a benefícios fiscais e angariamento de recursos.
A partir da constituição formal da associação, o projeto também realiza treinamento em gestão
de projetos sociais das pessoas da comunidade integrantes da associação, possibilitando atuação
profissionalizada que permitirá́ a busca por verbas públicas e privadas, potencializando as ações
comunitárias que, consequentemente, impulsionarão o desenvolvimento socioeconômico local.
O objetivo geral deste projeto é regularizar a situação jurídica da associação comunitária
existente no bairro Palmares A, município de Ibirité/MG, permitindo uma gestão mais eficiente dos
projetos assistenciais existentes, qualificando e ampliando os serviços prestados, possibilitando o
desenvolvimento socioeconômico da comunidade a partir da participação das pessoas da própria
comunidade, fortalecendo o exercício da cidadania.
O projeto permite aos professores e alunos o contato com realidade diversa da existente no
entorno da unidade Praça da Liberdade, oportunizando um olhar mais humano e empático com as
diferenças. Nesse sentido, ele tem profunda articulação com o PPI - Projeto Pedagógico Institucional
do curso de Direito, pois trata a extensão universitária como um fazer acadêmico, como “um dos
lugares do exercício da função social da universidade” e certamente as atividades desenvolvidas
permitirão “a construção de um projeto societário, que permita, de forma efetiva, concretizar uma
pauta de inclusão social, a formação cidadã e humanista, na perspectiva de desenvolvimento integral
do ser humano”.
Ele também possui temática interdisciplinar, permitindo a atuação de professores e discentes
dos cursos de Direito, mediante a formalização dos estatutos jurídicos da associação assistida,
Administração, por meio de oficinas de gestão e marketing, e Ciências Contábeis, fornecendo
elementos de gestão financeira, fiscal e de projetos de obtenção de recursos. Ademais, apesar do
projeto ter sido planejado para inserção em comunidade específica, o presente modelo poderá ser
reeditado em outras comunidades da região metropolitana em situação similar, o que justifica sua
continuidade.
67
EXTENSÃO PUC MINAS:
68 Novo Humanismo, novas perspectivas
3.5. Atividades
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
A parceria entre a PUC MINAS e a APAC (Associação de Proteção ao Condenado) de Santa Luzia (SL) existe desde
2006, através de atividades de extensão no Programa Apenas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da
APAC; e, desde 2019, com a APAC Belo Horizonte (BH), através do Projeto de extensão ELAS. O presente artigo trata
de um projeto-piloto com intuito de determinar a diferença entre os gêneros quanto ao diagnóstico em saúde da população
prisional nas APAC de SL e BH, por meio da aplicação do questionário de Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). O PSN
foi aplicado por cinco extensionistas do curso de Fisioterapia, no sistema fechado da APAC SL e no sistema semiaberto
e fechado da APAC BH, totalizando 120 questionários analisados. A partir do estudo dos dados, o domínio que se
destacou em ambos os sexos foi o de reações emocionais, salientando a necessidade de se intensificar o cuidado à saúde
mental através de um olhar multiprofissional e interdisciplinar. A partir dos resultados, foi possível reconhecer a
importância da interação, ao elaborar parcialmente um diagnóstico em saúde da APAC SL e APAC BH e, assim, planejar
ações promissoras para ambos os projetos com mais especificidades. Ademais, após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa, é desejo ampliar o conhecimento acerca da população analisada, coletando dados no regime semiaberto da
APAC SL e a idade, nas duas instituições, para entender se esse fator exerceu influência no resultado da aplicação do
questionário, já que cada idade apresenta suas particularidades.
Palavras Chave: Perfil de Saúde de Nottingham. Qualidade de Vida. Extensão Universitária. Pesquisa. Gênero.
ABSTRACT
The partnership between PUC MINAS and APAC (Association for the Protection of the Convicted) exists since 2006 in
APAC Santa Luzia (SL), through extension activities in the Just Humans Program: interdisciplinar interventions within
the scope of APAC and since 2019 in APAC Belo Horizonte (BH), through the ELAS extension project. This article is a
1 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
annaflaviascruz@gmail.com.
2Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: barbaraudsouza@gmail.com.
3 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
nicolealmeida.soares2001@gmail.com.
4 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
rbandmarialuiza@gmail.com.
5 Doutora em ciências da saúde UFMG, Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 73
pilot project with the aim of determining the difference between genders regarding the health diagnosis of the prison
population in the APACs of SL and BH, through the application of the Nottingham Health Profile (PSN) questionnaire.
The PSN was Applied by five extensionists of the Physiotherapy course, in the closed system of APAC SL and in the
semi-open and closed system of APAC BH, totalizing 120 analyzed questionnaires. From the data analysis, the domain
that stood out in both sexes was that of emotional reactions, emphasizing the need to intensify mental healthcare through
a multiprofissional and interdisciplinary look. From these results, it was possible to recognize the importance of dialogic
interaction by partially elaborating a health diagnosis of APAC SL and APAC BH and, thus, planning promising actions
of both projects with more specificity. In addition, it is desired to expand the knowledge about the analyzed population,
collecting their age to understand if this had an influence on the result of the application of the questionnaire, since each
age has its particularities.
Keywords: Nottingham Health Profile. Quality of life. University Extension. Research. Gender.
INTRODUÇÃO
6
O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) irá adotar a metodologia APAC, como uma de suas políticas públicas
para o sistema prisional, considerando as leis de execuções que visam motivar a reinserção do(a)s recuperando(a)s na
comunidade. Além da liberdade física/moral, os recuperando(a)s podem possuir a liberdade financeira assegurada pelo
poder judiciário, uma vez que eles trabalham a favor da sociedade em troca da liberdade.
73
EXTENSÃO PUC MINAS:
74 Novo Humanismo, novas perspectivas
sua posição como sujeitos dignos e cidadãos de direitos e deveres ante a sociedade civil. As principais
atividades consistem em ações extensionistas realizadas nas APAC, pelos cursos de Direito,
Psicologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Letras.
Os cursos aderem à articulação entre ensino, pesquisa e extensão, o que gera o reconhecimento
dos limites e peculiaridades de cada uma dessas três atividades. A extensão, caso seja orientada pela
concepção da superioridade do saber científico em relação aos saberes produzidos pelos grupos
atendidos, também pode incorrer no erro de fechar os olhos para esses últimos saberes e manter a
separação entre a ciência e o mundo de visões alternativas. A articulação entre o ensino e a extensão
aponta para uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea, mas
carece da pesquisa, responsável pela produção do conhecimento científico.
Na retomada presencial, com novos desafios e possibilidades, após dois anos em que o(a)s
recuperando(a)s não tiveram acesso às ações de promoção e assistência à saúde com regularidade, de
modo a realizar rapidamente diagnóstico em saúde, as extensionistas do Curso de Fisioterapia
optaram por aplicar um questionário para avaliar a qualidade de vida, o Perfil de Saúde de Nottingham
(PSN) – (HUNT, 1985). Ele é um projeto piloto, desenvolvido para que conheçamos melhor os
beneficiários e suas demandas.
O objetivo das ações, neste projeto, é identificar a situação de saúde física, social e emocional
da população prisional nas APAC de SL e BH de acordo com as diferenças de gênero apresentadas,
elaborar um diagnóstico em saúde e, a partir dele, fazer intervenções direcionadas aos aspectos que
se fizerem relevantes após a análise dos dados, o que contribuirá para a promoção da saúde e para a
redução das queixas dos participantes. O monitoramento servirá para identificar as alterações
importantes no quadro de saúde da população analisada.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesse contexto, por meio da vivência do cenário da realidade que a extensão permite,
pesquisar dados de uma população fragilizada e essencialmente precária quanto à assistência em
saúde se faz valoroso, de forma a contribuir para o processo de produção de saúde. A interação entre
o discente e a comunidade proporciona o intercâmbio entre o saber e o fazer, por meio das demandas
observadas em cenários reais. À vista disso, para o discente, a extensão oportuniza o desenvolvimento
de competências, ampliação de vivências, resolução de problemas, autonomia e trabalho em equipe;
da mesma forma, para a comunidade, a ação de extensão oportuniza um momento de transformação
social, promoção de saúde e, por conseguinte, melhora da qualidade de vida.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS; no inglês, World Health Organization
/ WHO), qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da
cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações” (WHOQOL, 1995). Portanto, o conceito de qualidade de vida engloba tanto questões
objetivas quanto subjetivas. Entre os aspectos subjetivos, temos o bem-estar espiritual, físico, mental,
psicológico e emocional, além do pertencimento social com a participação em diferentes grupos
sociais. Já os objetivos abarcam saúde, educação, moradia e outras circunstâncias da vida, portanto o
instrumento de avaliação de qualidade de vida não deve se limitar simplesmente a medir a presença
e a gravidade dos sintomas de uma doença.
O surto da COVID-19, causado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), na China, ganhou
destaque global e foi declarado pandemia pela OMS em 11 de março de 2020, o que exigiu ações de
prevenção, como isolamento social e reforço das medidas de higiene. Nesse contexto de tempos de
pandemia, o cenário da população privada de liberdade foi agravado pela sobreposição de problemas
pré-existentes e novos, que exigiram medidas sanitárias mais agressivas, como a suspensão de visitas,
que resultaram em um superisolamento (CARVALHO et al., 2020), em razão de o confinamento
dentro de uma unidade prisional ser distinto de outros tipos (como o modelo quarentena, que é um
isolamento voluntário), enquanto nessas instituições a liberdade é involuntariamente restringida.
Desse modo, as mudanças na rotina promoveram um grande impacto na saúde mental da população,
sendo elas muito mais agressivas naquelas em estado de vulnerabilidade social, como os privados de
liberdade, apesar de, por definição, saúde prisional ser saúde pública e dever ser tratada como tal
pelos governos e pela comunidade científica (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2021).
Em uma pandemia, como a COVID-19, é importante lembrar que problemas psicológicos e
psiquiátricos podem ser desencadeados ou amplificados. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a prisão em si já prejudica a saúde mental devido à superlotação, solidão forçada, falta de
75
EXTENSÃO PUC MINAS:
76 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
da pandemia do COVID-19, haja vista que, em seu primeiro ano, a prevalência global de ansiedade,
depressão e agravos decorrentes das doenças não transmissíveis (DANT) aumentou em 25%, de
acordo com a OMS, diante do que a emergência de saúde pública mudou (OMS, 2021).
Os critérios de elegibilidade foram recuperando(a)s, adulto(a)s, das instituições APAC BH e
APAC SL, do sistema fechado e/ou semiaberto que concordassem em responder ao questionário. Os
critérios de exclusão foram duplicidade de respostas, falta de identificação e não relato de disfunção
em pelo menos um domínio.
O PSN foi aplicado por cinco extensionistas do curso de Fisioterapia no sistema fechado da
APAC SL e no sistema semiaberto e fechado da APAC BH, no período de maio a junho de 2022. Os
dados foram coletados em duas fases: (1) pesquisa de campo por meio da aplicação dos questionários
e (2) tabulação e análise dos dados no Excel. A escolha, excluindo a autoaplicação, se deu pelo fato
de a maioria dos recuperando(a)s possuir baixo nível de escolaridade, o que poderia interferir na
interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos resultados.
Embora o questionário tenha sido aplicado somente pelas extensionistas do curso de
Fisioterapia, a interpretação das respostas coletadas não somente poderá como deverá ser utilizada
por outras áreas parceiras do projeto, para que cada uma, em sua particularidade, consiga intervir nos
aspectos comprometidos, abordando, assim, cada um dos recuperando(a)s de maneira a abranger
todos os aspectos da saúde, seja física, emocional ou social, de maneira interdisciplinar.
4 RESULTADOS
Foram aplicados 139 questionários no total, sendo que, na APAC SL, 81 recuperandos do
sistema fechado responderam a eles, e 14 foram excluídos por não relatarem disfunções nos domínios,
um excluído por duplicidade de respostas e um, por falta de identificação, restando para análise 65
questionários (Figura 1).
77
EXTENSÃO PUC MINAS:
78 Novo Humanismo, novas perspectivas
Quanto ao: a) nível de energia das 195 respostas possíveis, obtiveram-se 27; b) domínio dor,
62 de 520; c) emocionais, 146 de 585; d) sono, 99 de 325; e) interação social, 93 de 325; f) habilidades
físicas, 48 de 520.
Dessa população, 60% apresentou queixas em três ou mais domínios, sendo que 21%
respondeu comprometimento entre cinco a seis domínios, e 40%, entre um e dois domínios (Figura
2). A maior incidência de respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de distúrbios do
sono, interação social, dor, habilidades físicas e nível de energia (Figura 3).
No sistema semiaberto da mesma APAC, quanto ao: a) nível de energia, das 69 respostas
possíveis, obtiveram-se 25; b) domínio dor, 79 de 184; c) reações emocionais, 103 de 207; d) sono,
56 de 115; e) interação social, 42 de 115; f) habilidades físicas, 53 de 184.
Para caracterizar uma amostra homogênea, considerando o número de questionários
respondidos, mesmo sendo um estudo piloto, houve a necessidade de desconsiderar as características
dos sistemas semiaberto e fechado principalmente na APAC BH. Inicialmente o objetivo desse estudo
piloto foi o de entender a diferença entre os sexos e não entre os diferentes regimes. Portanto, unindo
os dois regimes da APAC BH, verificou-se que, quanto ao: a) nível de energia, das 165 respostas
possíveis, obtiveram-se 62; b) dor, 184 de 440; c) reações emocionais, 275 de 495; d) sono, 158 de
275; e) interação social, 132 de 275; f) habilidades físicas, 122 de 440.
79
EXTENSÃO PUC MINAS:
80 Novo Humanismo, novas perspectivas
O domínio reações emocionais em ambos os locais foi o mais incidente. Os recuperandos têm
mais distúrbios do sono e maior dificuldade de interação social do que dor, se comparado aos
resultados das recuperandas que têm mais queixas relacionadas ao domínio dor. Eles,
proporcionalmente, relatam menos domínios comprometidos comparados a elas (Figura 2). Apesar
de ser um projeto piloto de uma pesquisa que se iniciará em breve, já se podem reconhecer as maneiras
de intervir nas questões da saúde em singularidade e diversidade, considerando seu enredamento. É
possível também refletir sobre os problemas que afetam os recuperando(a)s para dar seguimento às
futuras ações dos projetos de extensão em ambos os locais.
5 DISCUSSÃO
perdendo o controle”, “as preocupações estão me mantendo acordado (a) a noite”, “eu sinto que a
vida não vale a pena ser vivida”, “eu acordo me sentindo deprimido. São declarações que representam
o ambiente onde vivem os privados de liberdade e que justificam a alta incidência nesse domínio. Os
sentimentos podem ser comparados com os manifestos no período pandêmico do coronavírus 2019
(COVID-19), que provocou enorme impacto psicológico em todo o mundo (LUO et al., 2020). A
manutenção das pessoas em isolamento social possibilita associar a realidade geral à dos indivíduos
privados de liberdade, já que, segundo protocolos, medidas rigorosas de saúde pública foram
implementadas para impedir a propagação do vírus, incluindo evitar contato público e cumprir
quarentenas. Elas engendraram sentimentos de desânimo, estresse, ansiedade e depressão,
principalmente quando a pessoa está ou se sente sozinha (SHAH et al., 2020). Esse resultado ressalta
a importância da ação da Psicologia, área que iniciou as práticas de extensão na APAC, e da
necessidade de se intensificar o cuidado com a saúde mental no regime fechado, bem como no
semiaberto. Além disso, desperta o olhar multiprofissional e interdisciplinar entre os diversos cursos
que atuam no Projeto ELAS e Apenas Humanos, motivando a atenção ao fato de que não somente a
psicologia pode intervir em reações emocionais, mas outras áreas, como Direito, Ciências Biológicas,
Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Letras. Tudo isso desperta o interesse por ações que englobam
esse aspecto.
O domínio sono, incluindo a dificuldade em adormecer, em manter o sono e sono não
reparador ou de má qualidade, foi o segundo maior comprometimento apresentado pelos
recuperandos da APAC SL e terceiro maior apresentado pelas recuperandas da APAC BH. Esse dado
nos permite inferir que ele pode estar relacionado ao domínio reações emocionais, já que é bem
documentada a relação entre qualidade do sono, saúde física e condições de saúde mental (SCOTT et
al., 2021). Sono e a saúde mental são, portanto, áreas de desafio e alvos viáveis de planejamento de
ações que podem alcançar benefícios significativos.
As respostas relacionadas ao domínio interação social colocam-no entre os quatro mais
comprometidos em ambas as APAC, reflexo das histórias de vida subjacentes a cada
recuperandos(as). Trata-se de situações que levaram esses indivíduos à perda da confiança nas
pessoas, o que se soma ao sentimento de culpa e à sensação de peso para os outros. Um dos aspectos
que a APAC preza é a reintegração social, que requer a abertura de um processo de comunicação e
interação entre o sistema prisional e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos devem se reconhecer
81
EXTENSÃO PUC MINAS:
82 Novo Humanismo, novas perspectivas
como parte dela. Por conseguinte, os projetos da PUC Minas se condicionam ao exercício da acolhida
sem julgamento, de modo que o vínculo e a confiança sejam um elo entre os alunos extensionistas
que realizam as ações e os beneficiários das ações, o(a)s recuperando(a)s.
O domínio dor também está entre os quatro domínios mais comprometidos em ambas as
APACs, sendo de maior relevância (segundo maior comprometimento) na APAC BH; isso pode ser
justificado pela efetividade de uma ação anterior na APAC SL, cujo tema já foi abordado, mas que
ainda não foi realizada na APAC BH. O resultado pode ser relacionado ao sedentarismo das
recuperandas, pois elas não realizam atividades físicas diariamente. Acentua o problema o fato de
que realizam trabalhos manuais como atividade laboral, a exemplo costura, tricô e crochê e atividades
na cozinha, situação que explica o relato de desconforto em diversas articulações, em especial no
punho, mão e coluna lombar. Em outras atividades do curso de Fisioterapia no Projeto ELAS, já
foram identificadas possíveis alterações no ambiente para adequação de utensílios e mantimentos em
alturas mais adequadas e orientações para menores sobrecargas nas referidas articulações, porém,
ainda se faz necessária abordagem tanto coletiva quanto individual para amenizar tais queixas de dor.
Comparando os regimes fechado e semiaberto da APAC BH, detectou-se diferença nos
aspectos de interação social e habilidades físicas. As recuperandas do regime fechado apresentaram
maior comprometimento de interação social do que as do regime semiaberto, enquanto estas
apresentam maior comprometimento nas habilidades físicas do que aquelas. O cenário pode ser
explicado pelas características estruturais e hábitos imprimidos pelos diferentes regimes em que os
grupos se encontram.
Em relação ao comparativo no momento de aplicação do questionário Perfil de Saúde de
Nottingham (PSN), na APAC feminina, é nítido o comportamento deprimido, o que acentua a
necessidade de ações voltadas para a saúde mental. Os participantes do questionário na APAC
masculina se comportaram de modo diferente, com grande envolvimento do aplicador na realização
do questionário e atenção e tranquilidade para a efetividade da proposta do questionário. Portanto,
destacam-se diferenças do gênero não somente nos resultados encontrados pós-aplicação como
também pré-aplicação do questionário Perfil de Saúde de Nottingham nas duas APAC, dando ênfase
ao quesito psicológico/emocional.
Por meio do presente estudo piloto, foi possível compreender que o conceito de saúde vai
além da questão física, vinculando-se também ao aspecto emocional de cada indivíduo. Os resultados
mostram tanto pelas perguntas, quanto pela própria aplicação, a necessidade de se atuar sobre o perfil
psíquico. Além disso, deve levar em conta a espiritualidade, uma vez que as duas APAC dão
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 83
relevância ao desempenho da fé, na coletividade e na força de esperança da liberdade. Por tudo isso,
é de extrema importância fomentar o exercício profissional e ético dos extensionistas de todas as áreas
da saúde, integrado com os funcionários das instituições, para promover, junto aos recuperandos, o
dinamismo de boas ações, como o perdão, o exercício da coletividade, a espiritualidade e a
humanização através de métodos que os façam crescer ainda mais como seres humanos nesses
espaços de aprisionamento.
Vale ressaltar que a abordagem de cada um desses aspectos, principalmente as reações
emocionais e interação social, domínios mais comprometidos, referem-se a habilidades inerentes a
qualquer ser humano e são características que podem ser desenvolvidas para facilitar a inclusão
novamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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84 Novo Humanismo, novas perspectivas
objetivos dos respectivos projetos de extensão, é que o questionário seja reaplicado em um segundo
momento aos mesmos recuperando(a)s, para entender se as ações extensionistas têm sido exitosas e
efetivas na atenção às demandas, já que o objetivo principal proposto é promover a saúde e amenizar
as queixas.
As reflexões despertadas neste projeto de pesquisa piloto não teriam sido possíveis sem a
colaboração e disponibilidade de cada um(a) dos recuperando(as). Entre as várias contribuições, essas
pessoas despertaram o interesse das discentes de fazer ajustes no questionário, já que, em alguns
momentos, elas ficaram indecisas quanto a responder positiva ou negativamente a perguntas
relacionadas a eventos não tão frequentes em sua rotina.
Para os discentes, foi possível entender o propósito da pesquisa de campo e gerar um retorno
quantitativo e qualitativo a respeito da qualidade de vida e do lado psíquico do público estudado. As
ações lhes propiciaram, além do cumprimento da missão institucional, o aprendizado da extensão
universitária como parte da ação acadêmica, na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Forma-se, assim, um discente crítico, comprometido com a responsabilidade social, capaz de se
apropriar de conhecimento e/ou técnicas de avaliação e de refletir acerca da relação entre teoria e
prática.
Para os recuperando(a)s que foram submetidos ao questionário, o momento foi de certa forma
terapêutico, pois configurou-se como uma conversa, durante a qual sentimentos foram afloraram,
enquanto se desmistificava a figura do condenado como ser essencialmente diferente, que carrega em
si a característica da periculosidade. Viram-se e foram vistos como apenas humanos.
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controlled trials. Sleep Medicine Reviews, [S.L.], v. 60, p. 101556, dez. 2021. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.smrv.2021.101556 .Disponível em: https://pubmed-ncbi-nlm-
nih.ez93.periodicos.capes.gov.br/34607184/ .Acesso em: 20 jun. 2022.
85
EXTENSÃO PUC MINAS:
86 Novo Humanismo, novas perspectivas
Mediação Comunitária:
relações étnico-raciais e comunicação não violenta
RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de retratar como as relações étnico-raciais perpassam os âmbitos da mediação
comunitária e justiça restaurativa e como a comunicação não violenta crítica pode auxiliar nesse trabalho. Faremos uma
breve apresentação do projeto MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de Conflitos,
a partir do seu histórico desde 2014, quando o projeto começou, e o seu momento atual, quando trabalhamos a articulação
da extensão com estágios e pesquisa, justificando o trabalho com relações étnico-raciais e CNV. Logo em seguida,
explicaremos o porquê de trabalhar relações étnico-raciais num projeto de mediação comunitária e o que a CNV tem a
ver com estas relações. Por fim, articularemos a CNV com a mediação de conflitos e justiça restaurativa.
Commuity mediation:
éthnic-racial relations and non-violent communication
ABSTRACT
This article aims to portray how ethnic-racial relations permeate the scope of community mediation and restorative justice
and how critical non-violent communication can help with this work. We will make a brief presentation of the Community
Mediation project: Community, Restorative Practices and of Conflict Mediation, from its history since 2014, when the
project began, and its current moment, in which we work on the articulation of extension with internships and research,
justifying the work with ethnic-racial relations and NVC. Soon after, we will explain why we work on ethnic-racial
relations in a community mediation project and what the NVC has to do with these relations. Finally, we will articulate
the NVC with conflict mediation and restorative justice.
Keywords: Community Mediation. Conflict Mediation. Restorative Justice. Ethnic-Racial Relations. Non-Violent
Communication.
1
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: isabelalvarezzr@gmail.com.
2
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: katerineveloso@gmail.com.
3
Psicóloga pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: lfariamarcelino@outlook.com.
4
Doutorando em Educação e Mestre em Psicologia pela UFMG. Prof. da FAPSI PUC Minas. E-mail:
rubensfn@uol.com.br.
5
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel, e-mail: vitoriafnicolau@gmail.com.
87
EXTENSÃO PUC MINAS:
88 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
à Comunicação Não Violenta. Nas terceiras e quartas seções, apresentamos o projeto em seu
momento atual de articulação da extensão com estágios e pesquisa, justificando o trabalho com
relações étnico-raciais e CNV, pautando uma perspectiva de mediação comunitária que se coloca
como referência para práticas de mediação de conflitos emancipatória e justiça restaurativa crítica.
O projeto se iniciou em 2014, sendo praticado informalmente desde 2009, quando possuía o
nome de MEDH & AÇÃO COMUNITÁRIA: Mediação, Direitos Humanos e Ação Comunitária e
tinha como objetivo geral consolidar o processo de implementação de um instituto de mediação
familiar e comunitária no bairro São Gabriel, por meio de práticas didáticas em mediação de conflitos
e educação comunitária em direitos humanos, fomentadas por alunos do curso de Psicologia, Direito,
Serviço Social, Comunicação e Administração.
89
EXTENSÃO PUC MINAS:
90 Novo Humanismo, novas perspectivas
2.2 Metodologia
[...] tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1986, p. 14).
6
Tratamos aqui de forma sucinta o histórico do projeto. Para os interessados em se aprofundar na história, trabalhos e
reflexões do projeto de extensão MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de
Conflitos, ver o artigo ainda não publicado: “Projeto de Extensão MediAção Comunitária: potencial transformador e
restaurativo”.
91
EXTENSÃO PUC MINAS:
92 Novo Humanismo, novas perspectivas
A PA foi criada em 1946 por Kurt Lewin (1946), ao desenvolver trabalhos que tinham como
propósito a integração de minorias étnicas à sociedade norte-americana. Dessa forma, entende-se que
ela contribui não apenas para a sistematização de conhecimentos, mas conduz à ação social.
Martins (2006, p. 47-48) a vê como “uma proposta de pesquisa mais aberta, com
características de diagnóstico e consultoria para clarear uma situação complexa e encaminhar
possíveis ações, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise”. Em nosso caso, e no
momento atual, nos orientamos pela intervenção psicossocial, que vemos como uma derivação da
PA, em especial através do grupo de estudo e do minicurso sobre comunicação não violenta, embora
esteja presente em toda a nossa prática com mediação comunitária.
O termo raça, assim como todos os termos utilizados nas ciências humanas, tem sua dimensão
temporal e histórica. Nem sempre ele foi utilizado para designar pessoas de cores e grupos étnicos
distintos, mas para descrever espécies animais e vegetais dentro da biologia. Historicamente, a
primeira classificação racial dos seres humanos ocorreu em 1684, pela classificação de François
Bernier, em “Nova Divisão da Terra Pelas Diferentes Espécies ou Raças que a Habitam” (SANTOS
et al., 2010). O termo, como o conhecemos hodiernamente, no entanto, foi cunhado a partir da
expansão econômica mercantilista e da colonização das Américas, visto que o contato com os
indígenas fez com que o branco europeu questionasse o conceito de humanidade nos limites de sua
ocidentalidade:
[...] é nesse contexto que a raça emerge como um conceito central para que a aparente
contradição entre a universalidade da razão e o ciclo de morte e destruição do colonialismo
e da escravidão possam operar simultaneamente como fundamentos irremovíveis da
sociedade contemporânea. Assim, a classificação de seres humanos serviria, mais do que para
o conhecimento filosófico, como uma das tecnologias do colonialismo europeu para a
submissão e destruição de populações das Américas, da África, da Ásia e da Oceania.
(ALMEIDA, 2019, p. 20).
A concepção de que a sociedade brasileira foi constituída a partir das raças europeia, indígena
e africana foi difundida por autores como Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre e conceituada como mito
das três raças. Representa um conceito apaziguador entre os grupos brasileiros, imposto pela
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 93
branquitude, de modo a abafar as diferenças sociais a partir de conflitos raciais. Ela permite aos não
brancos o reconhecimento como povo brasileiro. Sustenta, assim, uma existência de convivência
cordial.
Ao retratar a equivocada concepção de democracia racial cunhada por Gilberto Freyre no livro
“Casa Grande e Senzala”, Moreira, citando Freyre, descreve a relação senhor-escravos marcada por
“zonas de confraternização” e trata a miscigenação como fator definidor dos brasileiros como frutos
da interação entre raças. A partir de suas obras, Freyre fortalece a ideia de um Brasil racialmente
democrático. Nessa perspectiva,
[...] o racismo seria teoricamente uma ideologia essencialista que postula a divisão da
humanidade em grandes grupos chamados raças contrastadas que têm características físicas
hereditárias comuns, sendo estas últimas suportes das características psicológicas, morais,
93
EXTENSÃO PUC MINAS:
94 Novo Humanismo, novas perspectivas
intelectuais e estéticas e se situam numa escala de valores desiguais. Visto deste ponto de
vista, o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela
relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural.
(MUNANGA, 2004, [s./p.].).
No Brasil, a desigualdade não foi aceita a partir do preconceito racial, tendo em vista a já
mencionada ideia equivocada da inexistência de distinção racial. A contar dos anos 50, foi possível
falar em uma sociologia das relações raciais, que discutia sobre preconceito relacionado a cor, mas
racismo não era alvo de discussão, à época considerado doutrina ou ideologia política. Dos anos 1970
em diante, a definição de racismo como práticas e atos produtores de discriminação racial passou a
ser utilizada, promovendo a compreensão de que, enquanto algumas raças são subjugadas, outras se
beneficiam em todos os âmbitos da sociedade com a continuada desigualdade racial (GUIMARÃES,
2004).
A ideia de poder inovou o conceito social a essas relações entre raças, desde então conhecido
como racismo, que pode ser entendido como a sobreposição de uma raça a outra em todas as nuances
compreendidas pelas vivências e experiências culturais, políticas, econômicas e sociais. Assim,
legitimam desigualdades sociais e julgamentos morais baseados em diferenças biológicas,
acarretando uma hierarquização com base nas características de grupos dominantes.
Com efeito, compreende-se que o racismo é estabelecido através da dominação da branquitude
que deseja manter-se no poder, a partir de parâmetros estruturais e institucionais. Sobre esse conceito,
[...] a palavra branquitude significa o lugar de poder que “os brancos” exercem sobre os “não-
brancos”. Note-se: é desimportante para a análise os inúmeros exemplos que temos sobre
“brancos” que não gozam desses poderes; a questão da branquitude é apontar o
supremacismo branco na História, trazido para as Américas pelas caravelas do invasor
europeu e inoculado em nossas terras por meio da fundação de seus Estados coloniais e da
concentração de riquezas nas mãos de poucas famílias de proprietários. (COIMBRA SOUSA,
2020, [s./p.]).
Consoante a isso, a professora doutora Primyamvada Gopal, em artigo escrito para o The
Guardians intitulado “We can't talk about racism without understanding whiteness” (2020), em
tradução para o português “Nós não podemos falar sobre racismo sem entender branquitude”, afirma
que a branquitude deve ser compreendida não como um fator biológico, mas como uma ideologia que
precisa ser abolida:
Uma característica distinta da branquitude enquanto ideologia é que ela tem meios de fazer-
se invisível e por conta disso torna suas operações mais letais e difíceis de combater. Ciências
naturais e humanas estão em comum acordo que ‘raça’ não é uma categoria biológica, mas
sim uma maneira de criar diferenciais de poder, das quais decorrem consequências práticas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 95
Se a nossa intenção é de remover esse diferencial de poder nas sociedades ocidentais, então
a ideologia dominante – branquitude – precisa ser abolida. (GOPAL, 2020 apud COIMBRA
SOUSA, 2020, [s./p.]).
Essas reflexões esclarecem que o racismo está intrinsecamente ligado à raça e se perpetua com
a negação constante da existência de desigualdade racial, o que garante a manutenção da branquitude
como centro de poder. Por isso, é necessário o desenvolvimento comunitário de grupos racializados
em busca de uma efetiva emancipação e participação social como pessoas pares e não inferiores, que
possuem sentimentos e necessidades historicamente descartadas.
2.3 Por que trabalhar relações étnico-raciais num projeto de mediação comunitária?
Sabendo que a Psicologia Social Crítica, nosso campo de estudo, se compromete com “[...] a
construção de formas de consciência e identidade social que mobilizem crítica e transformação”
(MONTERO, 1996, p. 116), temos como horizonte de práticas a Mediação Comunitária. Essa
modalidade, de acordo com Andrade e Nascimento (2016), não está descolada da Psicologia Social
Crítica. Quando ela se propõe a ser transformativa, tem como objeto a relação, vislumbrando as
possibilidades de transformação dos conflitos, bem como mudanças imediatas e a longo prazo
(ANDRADE; NASCIMENTO, 2016). Sendo assim, é importante enfatizar que o instrumento de
trabalho da Mediação Comunitária é a relação, que necessariamente precisa se implicar com a
dimensão étnico-racial, já que “[p]or trás da raça sempre há contingência, conflito, poder e decisão,
de tal sorte que se trata de um conceito relacional e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é
a história da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas.” (ALMEIDA,
2018, p. 1).
Compreender as relações étnico-raciais é reconhecer que as bases estruturantes da sociedade
em que vivemos foram construídas por meio do colonialismo, que por sua vez é pautado pelas
relações de poder. Nelas, o branco ocupa as posições mais privilegiadas. Como forma de sustentar o
estado racista, o colonizador operou na construção de modos de pensar, como o “Mito da Democracia
Racial”, descrito por Clóvis Moura (1988), que atua de modo alienante ao passo que o racismo
continua operando em sua verticalidade, visto que “[...] Em cima dessa dicotomia étnica estabeleceu-
se [...] uma escala de valores, sendo o indivíduo ou grupo mais reconhecido e aceito socialmente na
medida em que se aproxima do tipo branco, e desvalorizando e socialmente repelido à medida que se
aproxima do negro” (MOURA, 1988, p. 62).
95
EXTENSÃO PUC MINAS:
96 Novo Humanismo, novas perspectivas
Materialmente, uma outra forma pela qual o racismo foi incorporado no Brasil como projeto
político foi por meio da criminalização dos que estão no recorte racial menos privilegiado: “[...] a
recepção das teorias criminológicas refletiu as necessidades de um controle social voltado para a
repressão das populações não-brancas, sobretudo as negras” (DUARTE, 2011, p. 288).
Diante disso, sabendo que a justiça restaurativa e a mediação de conflitos têm sido cada vez
mais absorvidas pelo poder judiciário, o projeto MediAção Comunitária se preocupa em compreender
e analisar as concepções e práticas no sistema de justiça direcionadas tanto para adultos quanto para
crianças e adolescentes.
Segundo Batista (2011), as formas de resolução das questões no poder judiciário “surgem
como um eixo específico de racionalização, um saber / poder a serviço da acumulação de capital.”
(BATISTA, 2011, p. 23). Nesse sentido, o projeto MediAção Comunitária atua de forma crítica às
epistemologias, teorias e metodologias e práticas que cooperam para a discriminação e a desigualdade
social nos processos e práticas relativos à justiça.
fizemos o reconhecimento crítico dos conceitos de CNV, conforme ensinado por Marshall Rosenberg
(2003): empatia, compaixão, sentimentos e necessidades. Como segundo momento, promovemos um
espaço vivencial de compartilhamento de experiências que potencializasse a compreensão teórica
relativas à CNV e a conceitos correlatos.
A partir de então, compreendemos que a Comunicação Não Violenta é uma filosofia de vida
sistematizada pelo citado psicólogo judeu norte-americano, fundamentada na corrente da psicologia
humanista de Carl Rogers. A prática tem por objetivo gerar maior compreensão e colaboração nas
relações através da compassividade e da empatia. Segundo Rosenberg, ela é uma forma de
comunicação que “nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de
maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça.” (ROSENBERG, 2003, p. 20). Nesse
sentido,
Com efeito, “embora possamos não considerar ‘violenta’ a maneira de falarmos, nossas
palavras, não raro, induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos.”
(ROSENBERG, 2003, p. 20). Assim sendo, a CNV tenta retirar o julgamento moralizante, o medo, a
97
EXTENSÃO PUC MINAS:
98 Novo Humanismo, novas perspectivas
culpa, a vergonha, a coerção e a ameaça do discurso. Para tanto, baseia-se em quatro princípios
básicos: observação (ouvir), sentimento (indagar), necessidade (compreender) e pedido (argumentar).
O primeiro princípio nos convida a observar sem julgamento ou avaliação. Em seguida, é
necessário compreender como nos sentimos ao observar aquela ação, para, então, reconhecermos
quais de nossas necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos. Por fim, depois de
manifestarmos o observado, é preciso fazer o pedido e expressar clara e honestamente como estamos
para que a mensagem enviada seja aquela que realmente desejamos que seja recebida (ROSENBERG,
2003). Durante todo o processo, é preciso ter empatia, processo de “esvaziar a mente” e ouvir com
todo nosso ser em vez de tentar “consertar” situações e fazer os outros se sentirem melhor.
Um exemplo de uma conversa utilizando a CNV segundo Rosenberg (2003), seria uma mãe
falando ao filho: “Roberto, quando eu vejo duas bolas de meias sujas debaixo da mesinha e mais três
perto da TV, fico irritada, porque preciso de mais ordem no espaço que usamos em comum. Você
poderia colocar suas meias no seu quarto ou na lavadora?” É perceptível, então, a necessidade de,
inicialmente, expressar os próprios sentimentos e necessidades, pois as pessoas tendem a se sentir
mais seguras se revelamos o que está vivo em nós. Outra forma seria parafrasear o que o outro disse.
A CNV sugere que nossa paráfrase tome a forma de perguntas que revelem nossa compreensão, ao
mesmo tempo em que estimulem quaisquer correções necessárias da parte da outra pessoa. Por
exemplo, “Você está reagindo à quantidade de noites em que estive fora na semana passada?”. Essa
ação só é aconselhável caso contribua para maior compaixão e entendimento.
Durante o encontro, fizemos ainda provocações por meio de perguntas, como: “É possível
utilizar a CNV em uma perspectiva clínica?”; “Como a CNV pode contribuir para a psicologia social
comunitária?”; “Quais são as possibilidades de que pessoas em situação de subalternidade tenham
direito à fala?”. Os questionamentos se propunham a instigar o pensamento crítico de todos os
presentes, de forma que não se firmasse a concepção de a CNV que gera o silenciamento de pessoas
oprimidas socialmente e, assim, retornassem curiosos para o segundo encontro.
Compreender os fundamentos e princípios da CNV foi o primeiro e importante passo para
uma formação crítica em interseção com as relações étnico-raciais, justiça restaurativa e mediação de
conflitos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 99
Ao contar histórias, expresso o que tem valor para mim e evidencio meus princípios
(significado). Ao tê-las consideradas num coletivo, sinto que esse grupo de pessoas se
importa comigo naquele tempo-espaço (significância). Com isso, construímos e fortalecemos
conexão (pertencimento). Essas narrativas expressam significado, significância e
pertencimento, estando na base do tripé da constituição de comunidade. (CARVALHO;
SILVA; JERONIMO, 2020, p. 56).
99
EXTENSÃO PUC MINAS:
100 Novo Humanismo, novas perspectivas
[...] contar histórias possibilita revelar os conflitos subjacentes para a construção de uma paz
que respeite e legitime narrativas silenciadas, invisibilizadas e negadas pela imposição de
mecanismos estruturais e comunicacionais que alienam a vida e bloqueia a compaixão.
(CARVALHO; SILVA; JERONIMO, 2020, p.56).
Spivak (2010), em “Pode o subalterno falar?” afirma que os sujeitos marginalizados têm pouca
probabilidade de reverter as opressões estruturais que incidem sobre eles. Isso porque carecem de
espaços em que o agenciamento de suas falas é ouvido, havendo a negação de espaços qualificados
de escuta de suas vozes, o que afeta sua autonomia. Sendo assim, ao considerar o subalterno como
gente capaz de falar por si, a democracia deve se preocupar em criar espaços onde essas falas sejam
ouvidas. Portanto, entende-se que ao contar de si, o silenciamento e a invisibilidade podem vir a ser
rompidos.
Tal pensamento vai ao encontro com a dinâmica do storytelling e também da CNV. Dessa
forma, sobre a nossa postura enquanto mediadores, podemos entender que:
Porquanto, a CNV se envolve com relações étnico-raciais na medida em que entende que a
perspectiva de raça e etnia, seja em relação ao pertencimento ou ao preconceito sofrido em
consequência deste, perpassam toda a nossa vida e devem ser colocadas em pauta ao falarmos sobre
nossas histórias ou não contemplaremos o sujeito em toda sua totalidade. Além disso, ao não
contemplar as relações étnico-raciais estaríamos contribuindo para o silenciamento e a invisibilidade
que os autores supracitados sustentam.
No terceiro encontro do Grupo de Estudos e Vivências (GEV), tivemos como temática “CNV
e Justiça Restaurativa (JR)''. Ao discutirmos na preparação do encontro refletimos com o grupo as
aproximações e tensionamentos destes dois campos. Tendo como norteador esse objetivo, foi
necessário um esforço em que buscamos apresentar esses campos diversos e multifacetados, com
base em nossas experiências e leituras teóricas, articulando assim tais saberes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 101
Para isso, a primeira decisão foi na direção de possibilitar aos participantes, dentro dos limites
de tempo e espaço do GEV, experienciar uma prática restaurativa. Essa escolha reflete a própria
história e cotidiano do projeto de extensão que utiliza em suas frentes de trabalho e em atividades
como as reuniões com os extensionistas metodologias restaurativas que proporcionem, em última
instância, a possibilidade do encontro e diálogo. Assim, dentre as possibilidades de práticas dentro da
JR, optou-se por um Círculo de Construção de Paz - sistematizado pela norte-americana Kay Pranis
(2010) - por este contemplar a constituição e os objetivos do GEV.
Além disso, é importante apontar que para a preparação do roteiro e aproximação com o
espaço dos processos circulares destacou-se para os extensionistas a dimensão pedagógica deste,
partindo assim da compreensão de que toda relação é educativa e de que as pessoas se colocam umas
para as outras e umas com as outras como mediadoras em processos de ensino/aprendizagem
informais ou formais, inspirada por uma educação transformadora, tal como propôs Paulo Freire.
Assim, tendo estes pressupostos como norteadores do Círculo, definiram-se os seguintes
passos: I. Boas-vindas; II. Cerimônia de abertura; III. Diretrizes; IV. Check-in; V. Valores; VI.
Trabalhando o tema central; VII. Check-out; VIII. Encerramento (PRANIS, 2010, p.28). Conforme
mencionado acima, a proposta do Círculo foi inspirada na metodologia desenvolvida por Kay Pranis
(2010), apresentando algumas alterações em sua estrutura. Ressalta-se aqui que tais alterações foram
informadas a todos os participantes do GEV, destacando deste modo que o encontro foi conduzido
considerando esta estrutura particular, mas apontando que há outras possibilidades.
Visto que o encontro possuía como temática Comunicação Não Violenta e justiça restaurativa,
sendo este portanto o principal interesse do Círculo, propusemos como tema central a ser trabalhado
uma discussão sobre justiça restaurativa e justiça retributiva, assim como as possibilidades da CNV
na JR. Com este ponto de partida, utilizamos as perguntas norteadoras “Para você, o que seria justiça
restaurativa?” “E o que você entende por justiça retributiva?”.
Esse movimento de escutar o que cada participante apresentava de conhecimento e vivência
prévio é sustentado por um modelo de educação freiriano. Uma vez que para Paulo Freire (1987),
conhecer é viver, o educador propõe uma pedagogia dialógica centrada nas relações sociais como
essência do ato educativo. Com isso, cada resposta às duas questões foi escrita na lousa que se
encontrava na sala do GEV, as anotações foram transcritas na íntegra e cada coluna foi agrupada
considerando a proximidade dos conteúdos levantados pelos participantes, conforme o quadro
abaixo:
101
EXTENSÃO PUC MINAS:
102 Novo Humanismo, novas perspectivas
Dominação Transformação
Alienante Reconstrução
Perde/ganha Ganha/ganha
Individualização Responsabilização
Foco na vítima
Conceito jurídico-normativo de Crime – Ato contra a sociedade Conceito realístico de Crime – Ato que traumatiza a vítima,
representada pelo Estado – Unidisciplinaridade causando-lhe danos. – Multidisciplinariedade
Primado do Interesse Público (Sociedade, representada pelo Primado do Interesse das Pessoas Envolvidas e Comunidade –
Estado, o Centro) - Monopólio estatal da Justiça Criminal. Justiça Criminal participativa.
Culpabilidade Individual voltada para o passado – Responsabilidade, pela restauração, numa dimensão social,
Estigmatização compartilhada coletivamente e voltada para o futuro
continua
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 103
Indiferença do Estado quanto às necessidades do infrator, Comprometimento com a inclusão e Justiça Social gerando
vítima e comunidade afetados – desconexão conexões.
Dissuasão Persuasão
Processo Decisório a cargo de autoridades (Policial, Processo Decisório compartilhado com as pessoas
Delegado, Promotor, Juiz e profissionais do Direito) - envolvidas (vítima, infrator e comunidade) -
Unidimensionalidade Multidimensionalidade
Fonte: Slakmon, De Vitto e Pinto (2005), apud Tavares, Pelizzoli (2015).
mesmo tempo, em análises histórico-sociológicas sobre os sistemas penais percebemos como, ainda
que historicamente os sistemas de punição fossem por vezes completamente distintos, existe uma luta
contra o crime com seu caráter unicamente retributivo e seu princípio de estrita correspondência entre
a punição e o crime (RUSCHE; KIRCHHEIMER, 2004), que sustentam lógicas e métodos de
penalização entranhadas nas sociedades ocidentais.
Ao revisitar a história percebemos como princípios e práticas da retribuição estão presentes
nas dinâmicas e meios sociais, a Lei de Talião - antigo sistema de penas presente no Código de
Hamurabi (datado por volta de 1780 a.C) - é bastante representativa nesse sentido, com seu
reconhecido lema “olho por olho e dente por dente” (SILVA; ALVARENGA, 2017). No entanto,
conforme Howard Zehr, um dos pioneiros da JR:
manutenção de assimetrias de poder e a justiça foi utilizada como um instrumento de dominação. Este
processo, por sua vez, tem dentre as suas muitas consequências um “sistema penal que constituía um
círculo vicioso” (RUSCHE; KIRCHEIMER, 2004, p. 41).
Ao trocar nossas lentes e olhar para a perspectiva sobre crime e justiça, assim como sugere
Howard Zehr (2014), o mundo ganha novas significações. Compreendendo as manifestações de
justiça que operam em nossa sociedade temos a chance de trocar nossas lentes e pensar em outros
horizontes, e é neste contexto de contraposição à noção tradicional e hegemônica de justiça criminal,
é proposto um olhar pela lente da JR.
A justiça restaurativa se propõe a ser inovadora, na medida em que busca solucionar, por meio
do diálogo, problemas de relacionamento pessoal que desencadeiam ações penais. A JR tem um
comprometimento de realizar a justiça, com ênfase na recuperação do dano causado pelo conflito, em
busca da restauração dos laços rompidos e se desenvolvendo de maneira mais acessível e
comprometida nas soluções dos conflitos. Compreendendo a educação como mediação social, busca-
se identificar o mediador de conflitos como educador em direitos humanos (ANDRADE;
NASCIMENTO, 2016).
Por mais que a prática em justiça restaurativa implique uma maneira ancestral de se pensar os
conflitos e o senso de comunidade, tornando-se algo pertencente a todos, o percurso histórico trouxe
outras maneiras de se pensar a vida em sociedade, naturalizando cada vez mais o caráter retributivo
e culpabilizador. Isso quer dizer que ligar-se a uma prática restaurativa é deixar de lado algumas
situações que parecem comuns ao dia a dia e se permitir olhar para o outro de uma maneira que foi
se perdendo ao longo do tempo, essa maneira compreende o não julgamento, a responsabilização, o
exercício do diálogo de forma não violenta, resgatando o senso comunitário e promovendo a empatia
com o próximo, particularmente por meio das vulnerabilidades. Vale ressaltar que esses
procedimentos ocorrem através da participação voluntária daqueles que estão envolvidos, não está
presente nas práticas o envolvimento intimatório forte no sistema judiciário.
No contexto da relação entre pessoas que praticam e sofrem dano, essas práticas envolvem a
participação dos sujeitos que buscam a transformação do conflito, de micro comunidades, ou seja,
familiares, pessoas representantes da comunidade ou de instituições que compõem a rede de apoio
das partes e os facilitadores de JR. Considerando que a contação de histórias próprias e de todos os
participantes é a tônica dos círculos de paz como método de justiça restaurativa cabe aos facilitadores
praticar e promover o senso de responsabilidade no processo. Isto é feito reconhecendo o seu papel
105
EXTENSÃO PUC MINAS:
106 Novo Humanismo, novas perspectivas
na facilitação, implicando-se e respeitando a história dos envolvidos como também o limite do que é
a sua história e o que é história do outro. Nas palavras de Zehr:
Desse modo, notamos que existem propostas alternativas ao modelo punitivo e muitas críticas
têm se direcionado às discussões diversas que incluem a justiça restaurativa, mas contemplam outras
perspectivas como a mediação de conflitos, o abolicionismo penal, assim como a Comunicação Não
Violenta em uma perspectiva crítica (ANDRADE, 2018; FLAUZINA, 2006; BATISTA, 2020).
Sendo assim, as discussões em grupo nos levaram a pensar sobre algumas possibilidades da
CNV na JR. Seguiremos agora ideias desenvolvidas anteriormente sobre o projeto de extensão sob
reflexão por Andrade e Nascimento (2016). Um primeiro ponto refere-se ao próprio lugar do
mediador, que na JR realizada no projeto, há a proposta de o mediador se assumir como um mediador
social, um interventor social ou um “educador” no sentido freiriano. No contexto das mediações, o
mediador, ator e modelo de identificação se implica com o risco de se tornar um “guru”, de vir a
ocupar o lugar de mestre e manter os mediandos na condição de discípulos. Para evitar tal tentação,
age-se mirando no educador para a prática da liberdade, conforme Paulo Freire e no mediador grupal
que exercita um esforço cotidiano de promover relações horizontais. Nesse sentido, percebemos como
o mediador pode exercer a CNV ao conduzir alguma prática e mesmo em outros contextos que haja
a interação com pessoa e grupos, uma vez que as habilidades comunicação fortalecem a capacidade
de permanecermos e nos percebemos humanos.
Ainda sobre o lugar do mediador, o exercício da empatia por este ator/atriz nas práticas
restaurativas pode favorecer, por um lado, uma escuta empática e humanizada, sendo assim mais
sensível e próxima do que os outros atores e atrizes tem a nos dizer e, por outro, o princípio da
integralidade, no sentido de o mediador estar presente por inteiro nas interações estabelecidas em seus
diversos campos de atuação. Deste modo, o esforço em exercitar uma Comunicação Não Violenta
permite nos conectar com o outro e fortalece a noção de alteridade, uma vez que a empatia, elemento
central da CNV, é compreendida como um “elo de conexão com a humanidade do outro, assim como
com a nossa própria humanidade” (CARVALHO; SILVA; JERÔNIMO, 2020, p. 35). Assim, como
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 107
apontam Carvalho e Jerônimo (2020), neste movimento de alteridade e empatia, com o outro e
conosco, é possível expressar nosso protagonismo, pensar de modos alternativos, ser capaz de reparar
danos e tomar novos caminhos.
Por fim, concordamos com os autores Carvalho e Jerônimo quando afirmam que “a CNV nos
convoca a refletir sobre a nossa responsabilidade ativa em suscitar a empatia como elemento essencial
das interações sociais, comunitárias e organizacionais'' (2020, p. 8). Através das trocas vivenciadas
no GEV percebemos como este convite é considerado desafiador e promove uma quebra de
paradigmas do que nos é ensinado em nosso modo de ser e relacionar no mundo cotidianamente.
Apesar do desafio, percebemos como a CNV assim como a justiça restaurativa vão ao encontro a
valores e algumas das aspirações dos participantes do GEV, principalmente por estarem relacionadas
a práticas emancipatórias, que promovem a alteridade, diálogo e protagonismo do sujeito social nos
seus conflitos relativos à sua história de vida.
No quarto e último encontro do Grupo de Estudos e Vivências sobre Comunicação Não
Violenta, tivemos como temática os “CNV e Mediação de Conflitos”. A partir da leitura do texto, já
citado, “Psicologia, mediação de conflitos e educação em direitos humanos”, dos autores Andrade e
Nascimento (2016), e das discussões na reunião da equipe de extensão do que mais se destacou, foi
considerado alguns pontos de destaque para as aproximações com o GEV a fim de promover reflexões
relevantes para as alunas e alunos presentes.
Inicialmente, a discussão do encontro focalizou no que cada participante entendia por conflito.
Essa primeira pergunta disparadora permitiu um exercício que incitou à reflexividade, promovendo
uma auto localização dos atores do GEV e um resgate à própria história em relação ao que construiu
em torno do significado de conflito e sua implicação enquanto sujeitos sociais.
Ao falarmos de mediação de conflitos, consideramos como fundamental contemplar de qual
noção de conflito estamos partindo e seus desdobramentos. Conflito, derivado do latim conflictus,
significa choque, embate, oposição, encontro, pendência. Para a Teoria do Conflito, segundo Vezzulla
(1995), o conflito é inerente às relações humanas, podendo ser expresso em opiniões, desejos, atitudes
ou ideias. De acordo com o mesmo autor, o conflito representa lidar com as diferenças nas relações
e diálogos associados a um sentimento de impossibilidade de coexistência de necessidades, interesses
e pontos de vista (VEZZULLA, 1995).
A mediação de conflitos é um processo de natureza não adversarial, confidencial e voluntário,
no qual um terceiro imparcial - o mediador - facilita o diálogo e a negociação entre duas ou mais
partes e as auxiliam na identificação de interesses comuns, complementares e divergentes, com o
107
EXTENSÃO PUC MINAS:
108 Novo Humanismo, novas perspectivas
mediadores, ao passo que o foco se desloca de uma pretensa conciliação e caminha em direção a
construção de relações que permitam o desenvolvimento de autonomia, na qual os sujeitos possam se
empoderar e buscar as soluções para os conflitos.
Em última instância, o projeto busca através de suas diversas práticas uma articulação entre
psicologia e compromisso social, contemplando a dimensão de cidadania e procura deslocar o foco
de um rigor teórico-metodológico asséptico para uma perspectiva ético-política que contemple os
atravessamentos pessoais e políticos no exercício individual e coletivo contribuindo para uma
perspectiva de transformação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a necessidade de uma prática que fomente autonomia, por meio da mediação de conflitos
e desenvolvimento comunitário em comunidades no entorno da PUC Minas Unidade São Gabriel,
surge o projeto de extensão hoje intitulado como “MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias,
Restaurativas e de Mediação de Conflitos”. Ao longo do texto apresentamos a construção e breve
histórico desse trabalho de extensão e sua atualidade com os recentes investimentos mais explícitos
na perspectiva das relações étnico-raciais.
Com o trabalho no projeto, ficou evidente o quanto as relações étnico-raciais influenciavam
as vivências dos grupos. Ao refletirmos sobre a constituição do povo brasileiro, pensamos nas
interlocuções raciais que perpassam gerações de modo profundo desde o período colonial. A herança
deixada é formada por injustiças e sofrimentos em todos os âmbitos da sociedade. Articulam-se neste
texto elementos sociais, antropológicos e políticos, bem como técnicas que podem ser utilizadas como
mecanismo emancipador de grupos minoritários.
Com o intuito de fomentar a construção de relações baseadas em uma comunicação empática,
solidária e com atenção às necessidades e sentimentos dos envolvidos, entendemos que o recurso
teórico e metodológico da Comunicação Não Violenta, criado por Marshall Rosenberg, pode ser
aliado no desenvolvimento da mediação comunitária, se visto e operado de modo crítico. Nessa
intenção, foi organizado o Grupo de Estudos e Vivências em Comunicação Não Violenta com
encontros que tiveram como temas: epistemologias, fundamentos e princípios da CNV; diálogos com
grupos oprimidos como forma de transformação; CNV e Justiça Restaurativa, CNV e mediação de
Conflitos.
109
EXTENSÃO PUC MINAS:
110 Novo Humanismo, novas perspectivas
Reflexões críticas articulando justiça restaurativa e justiça retributiva e suas relações com a
criminologia, mediação de conflitos, mediação comunitária e a localização do mediador como
ator/atriz e educador (a) sociais comunicaram que o principal objetivo do projeto MediAção
Comunitária vem se reeditando nos seus nove anos ininterruptos de desenvolvimento.
Praticando, por meio de estudos coletivos e práticas dialógicas relacionadas às relações étnico-
raciais e à CNV e fazendo o mesmo, concomitantemente, nas conversações reflexivas e afetivas nos
encontros semanais de supervisão do projeto, observamos que além ações relativas a práticas
comunitárias no campo, foi possível também desenvolver trabalhos de disponibilização de
conhecimentos e reflexões para estudantes de Psicologia e Direito da PUC Minas importantes para a
formação ética e cidadã nessas ciências e profissões.
Os métodos adotados se pautam na articulação de ensino e aprendizagem, ou seja, no ato de
ensinar projeta-se que os e as participantes aprendam sempre de modo crítica e reflexivo. Entendemos
que, com esses modos éticos e políticos de relacionar saber e fazer, estamos promovendo, no projeto
de extensão que representamos, os objetivos da Pró-reitoria de Extensão e cumprindo a missão de
formação humanística da PUC Minas.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 113
RESUMO
O presente trabalho visa discutir o lugar da arte e do lúdico no processo de constituição da subjetividade em oficinas
psicossociais com grupos de crianças e adolescentes do Projeto de Extensão “Sonoro Despertar: intervenções
socioeducativas”, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Em consonância com os objetivos do projeto,
reflete-se sobre a contribuição das atividades lúdicas e artísticas para o desenvolvimento da consciência dos participantes
quanto aos seus modos de relação com o contexto sociocultural e afetivo em que estão inseridos, bem como sobre a
maneira pela qual tal consciência se reflete em novos modos de interagir no grupo. A metodologia adotada foi a análise
teórica de algumas atividades desenvolvidas no decorrer de encontros grupais realizados de forma remota síncrona. A
discussão teórica é feita à luz da abordagem sócio-histórica. Os resultados indicam que processos aparentemente muito
diferentes como a construção de regras de convivência no grupo e a conscientização de sentimentos pessoais fazem parte
da constituição social da subjetividade e são fundamentais para a convivência interpessoal no contexto de uma cultura de
paz.
ABSTRACT
The present work aims to discuss the place of art and play in the process of constituting subjectivity in psychosocial
workshops with groups of children and adolescents from the Extension Project “Sonoro Despertar: socio-educational
interventions”, of the Pontifical Catholic University of Minas Gerais. In line with the project's objectives, it reflects on
the contribution of playful and artistic activities to the development of participants' awareness of their ways of relating to
the sociocultural and affective context in which they are inserted, as well as on the way in which such awareness is
reflected in new ways of interacting in the group. The methodology adopted was the theoretical analysis of some activities
developed during group meetings carried out in a synchronous remote way. The theoretical discussion is carried out in
1
O Projeto de Extensão Sonoro Despertar: Intervenções socioeducativas recebe fomento da PROEX/PUC Minas.
2
Graduanda em Psicologia da PUC Minas São Gabriel. E-mail: alessandradornelaasss@gmail.com.
3
Graduanda em Psicologia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: amandaguerra1999@gmail.com.
4
Graduanda em Psicologia da PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: anamoraes1219@gmail.com.
5
Graduanda em Psicologia da PUC Minas São Gabriel E-mail: ariadnyap.dl@gmail.com.
6
Psicóloga, mestre em Psicologia Social e doutora em Linguística pela UFMG. Professora da Faculdade de Psicologia e
Coordenadora do Projeto de Extensão Sonoro Despertar: intervenções socioeducativas, PUC Minas. E-mail:
zanjalara@gmail.com
113
EXTENSÃO PUC MINAS:
114 Novo Humanismo, novas perspectivas
the light of the socio-historical approach. The results indicate that apparently very different processes, such as the
construction of rules for coexistence in the group and awareness of personal feelings, are part of the social constitution of
subjectivity and are fundamental for interpersonal coexistence in the context of a culture of peace.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como intuito discutir o lugar do lúdico e da arte na constituição da
subjetividade de crianças e adolescentes participantes do projeto de extensão “Sonoro Despertar:
intervenções socioeducativas”. A prática contou com a realização de oficinas psicossociais com
crianças e adolescentes da região Nordeste de Belo Horizonte, marcada por discrepâncias econômicas
e vulnerabilidade social. Nesse contexto, as oficinas socioeducativas conduzidas pelas extensionistas
do projeto, caracterizam-se como um espaço de encontro e desenvolvimento de modos de relação
intersubjetiva, orientados para a formação humana integral, pautada na consciência crítica e cidadã.
Com a manutenção das medidas sanitárias de enfrentamento da COVID-19, ao longo do ano
de 2021, o projeto de extensão “Sonoro Despertar: intervenções socioeducativas” manteve suas
atividades em formato remoto, realizando oficinas psicossociais virtuais on-line ofertadas para todos
os grupos de alunos de flauta do projeto Sonoro Despertar, com participação de livre escolha. Os
encontros aspiraram a contribuir para o desenvolvimento de valores relativos à cultura e à educação,
além de fomentar a conscientização da interdependência como meio de valorização de uma cultura
de paz e da vida em comunidade. Para isso, foram adotadas técnicas grupais baseadas em recursos
lúdicos, como brincadeiras e histórias, além de rodas de conversa sobre temas relacionados à arte,
adequadas à faixa etária dos participantes de cada grupo.
Os processos grupais mediados pelas técnicas envolveram a construção, com as crianças, de
regras necessárias para a convivência respeitosa no grupo, e a reflexão, com os adolescentes, sobre
suas realidades, auxiliando-os no caminho da formação do senso crítico e da contínua descoberta de
responsabilidades, limites e valores fundamentais para a coexistência.
Nesse sentido, a constituição da subjetividade permeia toda a atividade do Projeto, na medida
em que a proposta de realização de uma oficina, como método de intervenção psicossocial, pressupõe
a definição de um tema significativo para os membros do grupo, relativo a seus pensamentos,
sentimentos e ações, a ser elaborado de modo integral (AFONSO, 2018). Diante dessa tarefa, os
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 115
membros do grupo se constituem como sujeitos de suas atividades, escolhas, decisões e inter-relações,
nesse espaço dialógico de interação social e afetiva, no qual a equipe de extensionistas participa,
coordenando as atividades e o processo grupal.
Essa coordenação se sustenta na estreita articulação entre ensino, pesquisa e extensão, na
medida em que a base de conhecimentos construídos no contexto pedagógico do Curso de Psicologia
da PUC Minas se complementa com a pesquisa necessária para planejar e conduzir as ações
extensionistas junto aos beneficiários do Projeto de Extensão. Ao mesmo tempo, embora as ações
efetivadas nas oficinas não se constituam como práticas pedagógicas, elas requerem uma perspectiva
interdisciplinar, articulando o olhar da Psicologia para a subjetividade humana com a visão formativa
do campo da Educação, na medida em que o Sonoro Despertar tem como objeto a formação humana
integral mediante o acesso aos bens da cultura e à educação de qualidade.
115
EXTENSÃO PUC MINAS:
116 Novo Humanismo, novas perspectivas
À luz da perspectiva sócio-histórica, González Rey, citado por Silva (2009, p. 170), conceitua
a subjetividade como “um sistema complexo capaz de expressar através dos sentidos subjetivos a
diversidade de aspectos objetivos da vida social que concorrem em sua formação”.
Segundo Delari Junior (2000, p. 46), a subjetividade pode ser vista como “uma ‘usina’ de
interpretação e, portanto, de produção de sentidos”. Para compreender melhor essas funções, foi
observada a necessidade das relações sociais principalmente, sendo a cultura importante constituinte
na formação específica de cada indivíduo.
Ademais, tendo em vista a constituição dos processos subjetivos, foi observado que, durante
o desenvolvimento infantil, a linguagem potencializa a criança para o seu próprio domínio de
comportamento e apropriação de determinadas situações. Como enfatiza Vygotsky e Luria, citados
por Barros (2018, p. 136), “desde o momento em que, com a ajuda da linguagem, começa a criança
a dominar seu próprio comportamento e em seguida a apropriar-se da situação, surge uma forma
totalmente nova de comportamento e novas formas de relação com o entorno”. A partir disso, ela
desenvolve novos comportamentos e novas formas de relações à sua volta, tendo os signos como
meios fundamentais para a mediação do comportamento.
Em seu estudo sobre a psicologia da arte, Vygotsky (1999, p. 315) concorda com Freud e
outros autores de sua época quanto a considerar a arte como catarse, como “uma descarga
indispensável de energia nervosa e um procedimento complexo de equilíbrio do organismo e do meio
nos momentos críticos do nosso comportamento.” Entretanto, para o autor russo, “essas descargas e
perdas de energia não utilizada pertencem à função biológica da arte.” (VYGOTSKY, 199, p. 312).
E nesse sentido, ao se referir à música, considera limitada a visão de Freud, argumentando que é
preciso reconhecer que a música é uma questão social, ao mesmo tempo em que se apresenta como
motivação para a ação (VYGOTSKY, 199, p. 319). A partir disso, o autor desenvolve seu argumento
na direção do valor aplicado da arte, de seu efeito prático e vital, ligando-o a um sentido pedagógico
(VYGOTSKY, 199, p. 321).
Assim a arte pode ser vista como um movimento correspondente a um processo educativo de
autoconhecimento, que permite ao indivíduo ampliar suas possibilidades, modificar sua
personalidade e adquirir novos comportamentos. (GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA,
2021). Conforme esses autores, a arte pode ser vista também como sendo aquilo que torna o homem
consciente. Logo, pode-se afirmar que toda expressão artística, por menos intencional que seja, é uma
reflexão dos próprios pensamentos, sentimentos e, também, um reflexo social daquele período
histórico vivenciado.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 117
Em consonância com essa perspectiva, Barroco e Superti (2014, p.23) afirmam que a arte
“está intrinsecamente ligada à vida, às relações sociais de determinada época.”. Dessa forma, pode-
se pensar que os conteúdos artísticos, muitas vezes, são reflexo das relações sociais existentes na
sociedade. No entanto, para as autoras, mesmo a arte sendo um retrato da sociedade, ela não é uma
cópia fiel da realidade, isso porque, nos processos artísticos, ocorrem elementos fantasiosos, lúdicos,
criativos, entre outros. (BARROCO; SUPERTI, 2014).
Dito isso, pode-se inferir que a arte não é só um instrumento de mediação do homem com seus
sentimentos, mas também um instrumento de facilitação do homem com o ambiente externo que o
cerca. Afinal, sabe-se que, com a passagem do biológico para o cultural, o indivíduo se apropria de
todos os elementos culturais que o circundam. No entanto, nem sempre as simbologias não naturais
criadas pelos homens contemplam toda sua subjetividade, ou até mesmo toda angústia existente na
humanidade (GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021).
Daí surgir a importância da arte no funcionamento psíquico do homem, já que, conforme
Vygotsky, citado por Galhardo Brum e Santana de Paiva (2021), as expressões artísticas podem
auxiliar o indivíduo a superar tensões psíquicas que não são descarregadas habitualmente; ou seja, a
arte é um instrumento de acolhimento ao homem diante das frustrações cotidianas. Ela é um
instrumento de transformação do meio interno e externo que tem um papel importante no processo
de tomada de consciência, auxilia na autopercepção, ajuda na elaboração de fortes emoções, entre
outros benefícios.
Por sua vez, destaca-se o lúdico, dado que, ao se pensar na construção da subjetividade
infantil, em especial no processo de internalização de regras, sabe-se que o ato de brincar é uma
ferramenta relevante de aprendizagem para as crianças, por possibilitar intensos ganhos de
conhecimento, a partir das descobertas, invenções e criações presentes durante o processo. Assim, o
viés lúdico consiste em um importante recurso socioeducativo (PEDROZA, 2005).
Vygotsky se dedica ao estudo do desenvolvimento da criança como produto da atividade
humana sócio historicamente constituída, detendo-se principalmente nas funções psicológicas
superiores. Tanto a infância quanto a adolescência são aqui compreendidas como uma produção
social, cujas características não devem ser vistas como naturais, mas atribuídas a elas por diferentes
grupos sociais, em diferentes tempos. Acompanhando as considerações de Bock (2007) sobre a
adolescência, o que é visto como período do desenvolvimento natural do ser humano por algumas
perspectivas psicológicas é um momento significado, interpretado e construído pelos homens,
117
EXTENSÃO PUC MINAS:
118 Novo Humanismo, novas perspectivas
definindo temáticas referentes aos papéis que são atribuídos aos jovens, à sexualidade e à identidade,
às mudanças corporais e às flutuações de humor, aos relacionamentos interpessoais e, finalmente, a
uma tendência para se relacionar com os pares.
Nesse cenário, a conscientização da convivência requer atenção, dado que a adolescência
repercute na subjetividade, segundo seus traços sociais, econômicos e culturais. Em suma, a
construção social da adolescência perpassa as condições de vida e os valores sociais existentes na
cultura, os quais resultam das relações sociais. Portanto, em vez de uma fase natural, marcada pela
ambiguidade da transição entre a infância e a idade adulta, deve-se compreender a adolescência como
uma responsabilidade coletiva (BOCK, 2007), considerando que
Não há nada de patológico; não há nada de natural. A adolescência é social e histórica. Pode
existir hoje e não existir mais amanhã, em uma nova formação social; pode existir aqui e não
existir ali; pode existir mais evidenciada em um determinado grupo social, em uma mesma
sociedade (aquele que fica mais afastado do trabalho) e não tão clara em outros grupos (os
que se engajam no trabalho desde cedo e adquirem autonomia financeira mais cedo). Não há
uma adolescência, enquanto possibilidade de ser; há uma adolescência enquanto significado
social, mas suas possibilidades de expressão são muitas. (BOCK, 2007, p. 70).
A arte é um dispositivo que possibilita que o homem se apresente por meio dela e se descubra,
ao mesmo tempo se tornando homem consciente do seu contexto sócio-histórico. (GALHARDO
BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021). Também permite que conheça suas origens, seus ancestrais,
sua cultura, religião, seus medos, suas fragilidades, a sociedade em que está inserido, entre outros
aspectos.
Além disso, há também contribuições dos processos criativos que rodeiam as produções
artísticas na constituição da subjetividade. Acerca dos processos criativos, para Vygotsky (2009), a
criatividade é um processo de construção de algo novo sob a influência do psiquismo e os sentimentos
característicos daquele ser. Além disso, para o autor, pouco importa se essa criação terá contato com
o mundo externo ou ficará apenas no mundo interno. Assim, a capacidade humana de inventar, criar
e imaginar perpassa a subjetividade. Dessa forma, quando se cria algo que nunca se vivenciou, essa
ação será definida para a psicologia como combinatória ou criadora (VYGOTSKY, 2009). Além
disso, o autor russo afirma que “onde quer que se conserve uma ínfima parte da vida criativa, aí
também tem lugar a imaginação.” (VYGOTSKY, 2009, p. 48). O estudioso ratifica essa ideia,
afirmando que,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 119
Quando, na imaginação, esboço para mim mesmo um quadro do futuro, digamos, a vida do
homem no regime socialista, ou o quadro de um passado longínquo de vida e luta do homem
pré-histórico, em ambos não reproduzo as impressões que tive a oportunidade de sentir
alguma vez. Não estou simplesmente restaurando a marca de excitações anteriores que
chegaram ao meu cérebro, pois nunca vi, de fato, nem esse passado nem esse futuro. Apesar
disso, posso ter a minha ideia, a minha imagem, o meu quadro. (VYGOTSKY, 2009, p.13).
Quando me lembro da casa onde passei a infância ou de países distantes que visitei, reproduzo
as marcas daquelas impressões que tive na primeira infância ou na época das viagens. Da
mesma forma, quando elaboro desenhos de observação, quando escrevo ou faço algo
seguindo determinado modelo, reproduzo somente o que existe diante de mim ou o que
assimilei e elaborei antes. O comum em todos esses casos é que a minha atividade nada cria
de novo e a sua base é a repetição mais ou menos precisa daquilo que já existia.
(VYGOTSKY, 2009, p.11-12).
Dessa forma, o movimento faz menção à nossa capacidade humana de guardar as experiências
passadas e facilitar a adaptação, porém, na reprodução de comportamentos existentes, não se
encontram marcas do processo criativo ou da subjetividade do indivíduo. (VYGOTSKY, 2009).
Nesse sentido, vale lembrar a afirmação de Boal de que “não basta consumir cultura: é necessário
produzi-la” (apud GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021, p 193).
Ao observarmos o desenvolvimento das funções psicológicas, uma importante contribuição é
o recurso didático que o lúdico proporciona para além de jogos, brincadeiras e brinquedos, pois,
através desse método, a criança desenvolve criatividade, habilidades motoras, intelectuais e
construções de estratégias específicas para o seu modo de interpretação e vivência. Além disso, por
meio do lúdico, a criança consegue desenvolver a linguagem e as formas de comportamentos
subjetivos. Para Saccomani (2014), esses processos, relacionados ao desenvolvimento artístico e
criativo dos homens, estão intrinsecamente ligados à forma de pensar, de sentir e de perceber suas
relações com o ambiente, determinando, assim, os meios pelos quais os homens elucidam a
transformação social, intelectual e a transformação do próprio ser genérico no mundo.
Diante do lúdico, a realização das atividades pela criança se torna mais prazerosa e de muito
estímulo criativo. Ademais, proporciona a sua expressão livre com traços próprios, de sua vivência,
gosto e experiências significativas. Vygotsky (2009) enfatiza que os elementos artísticos e seus
significados são produzidos e transmitidos socialmente, o que faz conexão com a educação das
119
EXTENSÃO PUC MINAS:
120 Novo Humanismo, novas perspectivas
emoções pela práxis pedagógica, uma vez que a educação dos sentidos e da emoção é mecanismo de
transmissão social das condutas instituídas no decorrer das experiências que ela proporciona, ou seja,
é o processo de humanização que vigora nos princípios artísticos e pedagógicos da criança.
Durante o desenvolvimento infantil e de aquisição de conhecimento, não apenas os símbolos
auxiliam na linguagem e na interação social da criança, mas o lúdico tem suma importância para que
esse desenvolvimento aconteça de uma forma mais compreensível e acessível para ela. Por isso é
necessária a metodologia lúdica nos contextos educacionais. Dentro de todo esse processo lúdico, a
arte está presente como forma de constituição social do sujeito, de suas emoções, comportamentos e
vivências que o impactam ou lhe são significativas. Assim, Vygotsky afirma o sentido social da arte,
considerando que a “arte é o social em nós e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado,
isto não significa, de maneira nenhuma, que as suas raízes e essência sejam individuais. O social
existe até onde há apenas um homem e as suas emoções pessoais” (VYGOTSKY, 2009, p.11).
Contrapondo-se à ideia de contágio defendida pela Psicologia das multidões, de Gustave Le
Bon (1985), Vygotsky afirma que
A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi
objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que
se tornaram instrumento da sociedade. A peculiaridade essencialíssima do homem,
diferentemente do animal, consiste em que ele introduz e separa do seu corpo tanto o
dispositivo da técnica quanto o dispositivo do conhecimento científico, que se tornam
instrumentos da sociedade. De igual maneira, a arte é uma técnica social do sentimento, um
instrumento da sociedade através do qual incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais
íntimos e pessoais do nosso ser. Seria mais correto dizer que o sentimento não se torna social,
mas ao contrário, torna-se pessoal, quando cada um de nós vivencia uma obra de arte,
converte-se em pessoal sem com isto deixar de continuar social. (VYGOTSKY, 2009, p.
315).
Assim, na análise da subjetividade, não podemos excluir o indivíduo do seu meio social,
especialmente pela importância que o social tem na sua constituição. A mesma percepção acontece
com a experiência do lúdico, já que ambos requerem que o indivíduo esteja no meio social para a
aquisição de conhecimento de forma criativa, desenvolvimento da linguagem, maturidade psíquica e
com características específicas para a construção e constituição do sujeito.
Os sentidos e significados para o lúdico e a subjetividade fazem parte de uma construção
histórica que inclui as contribuições de autores como Bakhtin e Vygotsky sobre o que levar em
consideração nessas instâncias de sentido, a significação de ambos os conceitos, principalmente para
o desenvolvimento do sujeito sócio-histórico. Relativamente a isso, Vygotsky afirma que
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 121
O sentido de uma palavra é a soma de todos os fatos psicológicos que ela desperta em nossa
consciência. Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida, complexa, que tem
várias zonas de estabilidade variada. O significado é apenas uma dessas zonas do sentido que
a palavra adquire no contexto de algum discurso e, ademais, uma zona mais estável, uniforme
e exata. (VYGOTSKY, 2001, p. 465).
3 METODOLOGIA
121
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122 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 DISCUSSÃO
Inicialmente foram realizadas oficinas em modelo virtual, em dias alternados da semana, com
diferentes grupos de crianças e adolescentes. Com as crianças, houve oficinas quinzenais no primeiro
semestre e semanais no segundo. Com os grupos de adolescentes, os encontros aconteceram
semanalmente durante todo o ano de 2021. As atividades eram planejadas para facilitar a interação,
promovendo o desenvolvimento de habilidades interpessoais no contexto de uma formação humana
integral, orientada para a cultura de paz. Algumas dessas atividades foram mediadas por técnicas
grupais lúdicas, enquanto outras utilizaram música e desenhos livres como forma de mediação da
interação.
Na primeira oficina do ano, com um dos grupos de crianças iniciantes, foi feita a apresentação
dos participantes e das extensionistas de maneira lúdica. A técnica utilizada foi uma adaptação de
“Nomes de bicho” (AFONSO, 2018). Nesse procedimento, cada participante é responsável por
desenhar um animal que lhe tenha algum valor simbólico. Depois, o desenho é apresentado e
explicado para a turma.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 123
Outro encontro teve a ilustração gráfica como norteadora da atividade grupal, oportunidade
em que foi estabelecida uma conexão entre o desenho e as emoções. Assim, foi pedido às crianças
participantes que desenhassem o que elas entendiam de determinados sentimentos, como alegria,
tristeza, raiva, amor e medo. Depois de feito o desenho, iniciou-se uma conversa acerca do que aquilo
significava para cada uma e o que mais poderia ser relacionado com aquele sentimento. Ademais,
também foi possível dialogar sobre a presença das emoções na vida das pessoas e como elas se
conectam com situações específicas. Exemplo da base sociocultural da constituição da subjetividade
é o fato de que, ao ser mencionado o “amor”, todas as crianças desenharam casais apaixonados, que
os levou a selecionar um significado muito presente nos meios de comunicação.
Diante dessa seleção intersubjetiva bastante limitada, foi promovida uma roda de conversa
sobre o amor em situações outras, além da esfera romântica, e sobre suas distintas formas de
123
EXTENSÃO PUC MINAS:
124 Novo Humanismo, novas perspectivas
apresentação. Logo, pôde-se observar o que cada um compreendia de tal emoção e, a partir disso,
conversar sobre suas singularidades. Portanto, pode-se constatar que as técnicas lúdicas e artísticas
auxiliaram os beneficiários no desenvolvimento da autoconsciência e consciência do meio social no
qual estão inseridos. No encontro seguinte a esse, os participantes trouxeram significados diferentes
para a palavra amor, expondo suas simbologias pessoais acerca do vocábulo, escutando a perspectiva
do outro e refletindo sobre as variações de atribuição de sentido, ampliando, mais uma vez, sua
consciência e, ao mesmo tempo, tornando-se sujeitos de seus pensamentos, sentimentos e ações, o
que pode fazer diferença no modo como interagem em seu contexto.
A expressão lúdica e artística de sentimentos, visões de mundo, pensamentos, medos e desejos
ocupou uma posição de destaque nos encontros realizados com as crianças e os adolescentes. Além
das técnicas lúdicas e dos desenhos, a música foi um elemento marcadamente presente nos encontros
do projeto, seja como tópico de rodas de conversa livre entre os participantes, seja como elemento
mediador da comunicação. No primeiro caso, foram realizadas diversas discussões sobre letras de
canções, estilos musicais e músicos considerados por eles como importantes no contexto de suas
vidas. No segundo caso, temos como exemplo um encontro com um grupo de crianças e pré-
adolescentes, em que foi pedido a eles que respondessem quais músicas representam situações em
que estão felizes, tristes, com vontade de dançar, ou então que lhes trouxessem boas memórias.
Dessa forma, foi estabelecida uma conexão entre música e emoção, com o objetivo de
compreender como é a presença da música em distintos momentos da vida das pessoas e, em especial,
de cada participante. Distintas músicas de estilos variados foram mencionadas, sendo possível
dialogar sobre a diversidade presente nesse campo e como uma música específica pode representar
algo para alguém, mas possuir um aspecto diferente para outro. Foram ouvidas canções com letras
que se referem à autoestima, paixões, perda, diversão e empoderamento. Com essa atividade, foi
possível trabalhar as diferenças subjetivas na construção de sentido relativamente à interpretação das
letras de música, bem como das próprias vivências pessoais.
Conforme apontam Souza, Dugnani, Reis (2018, p. 376), como “núcleo organizador das
relações que se constroem e se mantêm nos espaços educativos, a arte favorece as ressignificações
dos sujeitos sobre seu papel nas diferentes interações de que tomam parte e sobre suas condições de
vida atual e futura.”.
Considerando essas experiências nas oficinas de intervenção psicossocial, observa-se o modo
como o desenho e a música refletem diversas perspectivas já elaboradas ou em processo de elaboração
subjetiva pelos participantes do projeto. Assim, tal como afirmam Bombonato e Farago (2016, p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 125
175), “a criança faz do desenho uma função lúdica, na qual se expressa através de seus traços e que
é algo essencialmente de sua infância”. Além disso, “muitos autores, psicólogos e clínicos [...] têm
encarado os desenhos como uma fonte potencial de informações sobre a criança como indivíduo. Eles
são muitas vezes considerados um reflexo direto do estado mental da criança” (COX; 2000, p. 99).
[...] uma forma de comunicação, de linguagem, pois, por meio do significado que ela carrega
e da relação com o contexto social no qual está inserida, ela possibilita aos sujeitos a
construção de múltiplos sentidos singulares e coletivos”. Ela se envolve com todo o contexto
e meio social, dando sentido e significado [...], assim, influencia os sentimentos e as emoções
que irão aflorar no ouvinte. (MAHEIRIE, 2003 apud LIMA; SANTANA; MARX, 2018, p.
209).
Em outro encontro, foi solicitado aos participantes que identificassem uma canção cuja letra
se relacionasse com datas ou eventos específicos, como aniversário, Páscoa, férias, volta às aulas,
Halloween, Natal e Ano novo. Depois da troca verbal sobre as associações de cada participante, foi
pedido que, em conjunto, eles escolhessem uma das músicas citadas para ser ouvida por todos. Na
sequência do mesmo encontro, o grupo se organizou para produzir um evento musical fictício,
definindo o local de realização, a data, a duração, os conjuntos ou músicos individuais a serem
convidados, a organização das apresentações por dia de evento, levando-se em conta o gênero musical
das apresentações, além da seleção de fotos dos artistas escolhidos para divulgação. Essas atividades
propiciaram boa interação entre os participantes, promovendo trocas intersubjetivas necessárias para
o trabalho em equipe, na forma de escuta uns dos outros, trocas de informações, construção de um
projeto coletivo e tomada de decisões.
Com a exposição desses encontros, ressalta-se, juntamente com Souza, Dugnani, Reis (2018,
p. 376), a potencialidade da arte como “dimensão humanizadora e potencial para afetar o sujeito,
como instrumento de trabalho do psicólogo, na mediação da constituição de formas mais elaboradas
de ser, estar, pensar e agir no mundo.”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
socioeducativas. A exposição dessas atividades lúdicas garante que recursos como “Nomes dos
bichos’’, “Um carro, uma flor, um instrumento musical”, “ilustrações gráficas” e demais práticas
relacionadas à arte e à música são meios potentes para promoção da conscientização no que tange à
inter-relação social, cultural e afetiva dos envolvidos.
Desse modo, conclui-se que arte e o lúdico são instrumentos capazes de contribuir para a
constituição da subjetividade de crianças e adolescentes, seja no sentido de construir relações
intersubjetivas respeitosas, seja para promover a reflexão crítica sobre suas relações de
interdependência e a importância da cultura de paz.
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127
EXTENSÃO PUC MINAS:
128 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Este texto foi construído com técnicas de história oral que possibilitaram a organização de um acervo de relatos de
experiência em atividades extensionistas oportunizadas pela Rede de Empreendimentos Sociais, setor da Vice-Reitoria
para Assuntos Comunitários da PUC-Rio. Trata-se de uma elaboração e abordagem idealizada para refletir sobre a
contribuição da prática extensionista na formação universitária cidadã. Tendo como objetivo analisar a autonomia
estudantil e troca de saberes e escuta contidos nas dinâmicas. Estas ações, quando confrontadas a partir da visão de
teóricos como Freire, Pollak e Halbwachs, por exemplo, podem ser utilizadas pelos alunos como possíveis formadoras de
memórias e identidades as quais têm como fundamento auxiliar em sua formação como cidadãos. Através da inserção do
discente de graduação em práticas extensionistas é possível identificar as repercussões desta experiência na formação e
na integração do indivíduo na sociedade.
RESUMEN
Este texto fue construido con técnicas de história oral que permitieron organizar una colección de relatos de experiencia
en actividades de extensión proporcionadas por la Red de Empresas Sociales (respuc), sector de la Vicerrectoría de
Asuntos Comunitarios de la PUC-Rio. Es una elaboración y abordaje diseñado para reflexionar sobre el aporte de la
práctica extensionista en la formación universitaria ciudadana. Con el objetivo de analizar la la autonomía de los
estudiantes y el intercambio de saberes y escuchas contenidas en la dinámica. Estas acciones, cuando son confrontadas
desde el punto de vista de teóricos como Freire, Pollak y Halbwachs, por ejemplo, pueden ser utilizadas por los estudiantes
como posibles formadores de memorias e identidades que se basan en asistir en su formación como ciudadanos. A través
de la inserción del estudiante de pregrado en prácticas extensionistas, es posible identificar las repercusiones de esta
experiencia en la formación e integración del individuo en la sociedad.
INTRODUÇÃO
1
Mestre em Serviço Social pela PUC-Rio. Graduada em Ciências Econômicas pelas Faculdades Integradas Augusto
Motta, Direito e Serviço Social pela PUC-Rio. Coordenadora da Rede de Empreendimentos Sociais da PUC-Rio
(respuc/VRC). E-mail: andy3536@hotmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 129
2
"Art. 207. As universidades gozam, na forma da lei, de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
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130 Novo Humanismo, novas perspectivas
constitucional que dispõe que a educação deve preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, é
imprescindível lembrar que o artigo 53 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
dispõe que as Universidades, entre outras atribuições, devem “estabelecer planos, programas e
projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão” proporcionando, dessa
forma, uma ampliação das ações extensionistas restritas, anteriormente, à oferta de cursos na
modalidade educação continuada, conferências e prestação de serviços.
Indubitavelmente,
Sem conhecimento da realidade, permanecendo apenas no nível teórico da sala de aula, sem
a participação em práticas, cujo ‘sentido não seja a de estender-se para além do próprio
campus’, cujo objetivo não seja a intervenção social ou ‘prestação de serviços para intervir’,
para transformar, ‘não há formação no sentido de excelência humana, ficando a formação
restrita apenas a acadêmica’. (ENTREVISTADO G5 e P5. In: SILVA, 2022, p. 136-137).
Nesse sentido, conforme dispositivo legal, tendo a educação superior por finalidade
desenvolver o estudante, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania, através de oportunidades de atividade em contexto, o presente trabalho foi desenvolvido
tendo como objetivo analisar a autonomia estudantil e a troca de saberes e a escuta contidos nas
práticas extensionistas desenvolvidas. Estas podem ser utilizadas pelos graduandos como possíveis
formadoras de memórias e identidades as quais têm como fundamento contribuir na formação para
cidadania.
As experiências em ações extensionistas permitem aos discentes participantes testemunharem
conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma comunidade ou
instituição, o que possibilita a coleta de dados característica da história oral3 que, desde os primórdios,
firmou-se como um instrumento de construção da identidade de indivíduos e de grupos em processo
de transformação social.
A memória, conforme Souza (2014), além mecanismo capaz de fazer emergir o passado no
presente, também é instrumento para reavaliações, autoanálise e revisões tornando-se um caminho
pelo qual se alcança a identidade, pois
3
A história oral, usada por profissionais de várias áreas, consiste em um método de pesquisa baseado na realização de
entrevistas. Método que, no rastro do fortalecimento dos movimentos sociais e da ampliação do conceito de fonte
histórica, se difundiu apenas em meados do século XX.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 131
2 PROCEDIMENTO METODOLOGICO
4
A respuc/VRC, setor da Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários da PUC-Rio, reúne programas e projetos de Extensão
Universitária criados, desenvolvidos e mantidos na Universidade, por membros de sua comunidade e parceiros externos.
Sua finalidade é apoiar o desenvolvimento do universitário e seu preparo para o exercício da cidadania, formando agentes
de transformação social. Fundamenta-se nos princípios da responsabilidade social, solidariedade e a corresponsabilidade
na transformação social; engajamento com a comunidade e o compromisso com seu desenvolvimento e estímulo às
práticas sociais articuladas a formação acadêmica. (Disponível em: www.puc-rio.br/respuc).
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132 Novo Humanismo, novas perspectivas
oportunizadas pela respuc/VRC, visto que “a fala de alguns indivíduos de um grupo é representativa
de grande parte dos membros deste mesmo grupo inserido em um contexto específico” (FRASER;
GODIM, 2004, p.148).
Sendo as práticas extensionistas formas de a Universidade democratizar e socializar saberes,
viabilizando possibilidades de desenvolvimento, transformação, formação, crescimento de todos os
envolvidos, os critérios de seleção das produções foram a busca de dados em torno do tema “Extensão
Universitária” com foco nos conteúdos relacionados a ‘memória’, ‘identidade’ e a ‘cidadania’.
A partir do emprego de metodologia qualitativa5, com o grupo foram adotadas técnicas de
história oral temática que, em geral, é realizada sobre um determinado evento ou movimento vivido
por todos, diálogos sem roteiro específico utilizando instrumentos digitais como e-mails e WhatsApp.
São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto, no nosso caso, os
programas e projetos de Extensão oportunizados pela Rede de Empreendimentos Sociais da PUC-
Rio.
Os resultados decorrem da articulação dos referenciais teóricos com os dados do material
empírico produzido nos diólogos. E, a fim de ilustrar a discussão e permitir a análise, são apresentadas
frações de relatos dos entrevistados. Todavia, para melhor entendimento e por não apresentar
relevância para o trabalho, há trechos nas falas que foram retirados, sendo o mesmo indicado pelo
uso de reticências entre colchetes [...] e para garantia de anonimato dos entrevistados, eles foram
identificados como “discente do curso de”.
Do ponto de vista teórico, o trabalho está baseado na suposição de que a memória é um
elemento importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo
para a reconstrução de si, depreendendo-se, portanto, que a história, o passado, e os pertencimentos
constituem cidadania, pois “as maneiras pelas quais contamos nossas histórias do passado são uma
das formas cruciais pelas quais construímos nossa percepção de quem somos agora” (THOMSON,
1997, p. 80).
As “lembranças de quem fomos e de onde viemos moldam nosso sentido do ‘eu’ ou de
identidade no presente e, dessa forma, afetam as maneiras como construímos nossas vidas”
(THOMSON, 2002, p. 358), ou seja, as memórias significam o espaço e contribuem para a construção
de pertencimentos futuros no lugar. Nesta acepção, Extensão Universitária pressupõe uma cultura,
uma prática, necessariamente, educativa, dialogal e comunicacional, o que vale dizer que se:
5
Método qualitativo é “aquele que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem” (MINAYO,
2010, p. 57).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 133
[...] requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demonstra uma busca constante.
Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato
mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe
o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a qual está submetido seu ato (FREIRE,
2010, p. 27).
Isso posto, a discussão se justifica uma vez que a participação do aluno de graduação em
atividades de Extensão Universitária atende à perspectiva pedagógica e de aprendizagem
universitária, em busca de uma formação profissional atualizada e competente, que visa mobilizar os
alunos para uma condição de cidadãos responsáveis e solidários.
3 DESENVOLVIMENTO
De outro lado, Halbwach (2006), entende o tempo e o espaço como aspectos que sustentam a
memória. Para o autor, o que possibilita que a lembrança ressurja no presente é o fato de que “quando
nos lembramos (...) há um contexto de dados temporais a que esta lembrança está ligada de alguma
forma” (HALBWACHS, 2006, p.124).
Por isso que, Pollak (1992), Nora (1993) e Halbwachs (1990) propõem, a partir de um resgate
da memória, caminhos que questionam a celeridade atribuída aos fatos, bem como a forma em que
são retratados na sociedade pós-moderna. Em vista disso, sendo memória um fragmento abstrato,
imaterial, da vida e da cultura, em que se presume uma temporalidade que tem como síntese a história
vivida e apreendida, para o sociólogo e antropólogo francês Maurice Halbwachs (1990), posto que
todo indivíduo está interagindo e sofrendo a ação da sociedade, através de suas diversas agências e
instituições sociais, não existe memória puramente individual.
Mesmo a lembrança que aparentemente possui um caráter mais particularista, remete a um
grupo, a um contexto de interação, pois a lembrança, ao contrário das referências históricas, pertence
e está no indivíduo, mas isso não a torna única e individual. Assim, ao propor o conceito de memória
coletiva e ao definir os quadros sociais que compõem esta memória, Halbwachs (2006) contribuiu
sobremaneira com as Ciências Sociais, uma vez que, a participação do grupo social e da memória
coletiva na reconstrução de lembranças é imprescindível, o que faz da memória um fenômeno social.
Assim, tanto Halbwachs (1990) quanto Pollak (1992) compreendem que as memórias coletivas
interferem na memória individual, na medida em que esta recorre a elementos externos para
estruturar-se postulando, assim, a existência de uma memória coletiva e social.
Nessa perspectiva, ainda que as imagens a respeito de práticas sociais sejam construídas
individualmente se faz imperioso recorrer a pontos de referência fora do próprio indivíduo para
evocá-las. Assim, memória torna-se o abrigo das tradições e o lócus próprio da diversidade e da
apropriação dos grupos (HALBWACHS, 1990). O indivíduo, no entanto, não deixa de ser
determinante para o pensamento e fatos sociais:
[...] temos experiências próprias, particulares, que diferem das vividas por aqueles que nos
cercam. Sem essas experiências individuais, a memória não seria dinâmica, pois ela seria
homogênea e não haveria possibilidade de reelaboração. Entretanto, o modo como
vivenciamos e reelaboramos essas experiências individuais é sempre marcado pelos grupos
aos quais pertencemos (classe social, etnia, gênero etc.), mesmo se estivermos sozinhos e não
dividirmos determinada experiência com ninguém. (SILVA, 2010, p. 330).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 135
A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio
da pessoa. Mas Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a memória deve
ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um
fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças
constantes. (POLLAK, 1992, p. 2).
Já participei de vários projetos sociais, mas ser aluno extensionista na favela da Cruzada São
Sebastião foi fundamental para repensar meus conceitos e minhas escolhas. Ser extensionista
não é um estado, muito menos uma escolha. É uma essência que nos compõe, uma maneira
de ver a vida e de se colocar no mundo. Muda tudo. Todos os conceitos e valores. O Brasil
tem que conhecer o Brasil, porque não tem dinheiro no mundo que pague isso (discente do
curso de Direito – Projeto respuc/VRC).
Desde o primeiro dia em sala de aula, na comunidade da Cruzada, eu já sabia que meu ano
não seria nada fácil, pois as crianças logo se mostraram muito agitadas e com muitas
dificuldades de português a nível de alfabetização. Com o decorrer do ano, pude perceber
como elas “funcionavam”. [...]. Pude ajudá-las dentro das suas condições individuais. Passei
a compreendê-las, ouvi-las melhor. [...] elas realmente gostaram de aprender para o próprio
desenvolvimento intelectual, para saber, para compartilhar com os pais e com os amigos.
Minha experiência com elas foi enriquecedora, uma oportunidade única que levo para vida.
Desenvolvi habilidades como comunicação, visão, adaptabilidade e jogo de cintura. Além do
sentimento de humanidade, solidariedade, vontade e amor ao próximo (discente do curso de
Direito – Projeto respuc/VRC).
EXTENSÃO PUC MINAS:
136 Novo Humanismo, novas perspectivas
Nessa direção, a memória também é constituída por pessoas e, neste aspecto, também é
encontrado personagens reais no decorrer da vida.
[...] a memória é dinâmica, está sempre sujeita à mudança. Comparar documentos escritos,
relatos orais, manifestações artísticas e culturais, dentre outras fontes, permite levantar
esquecimentos e omissões e mudar o que até então se sabia. O trabalho com a memória
permite que outros indivíduos e grupos tenham destaque, atualiza lutas reprimidas e valoriza
culturas e identidades vistas como “inferiores” ou “primitivas”, daí a sua importância para a
cidadania. (SILVA, 2010, p. 329).
A celeridade atribuída aos fatos que reinam na sociedade pós-moderna e que ocasionam a
sensação de constantes transformações e novos desafios tornou-se uma diretriz que orienta a agenda
de governos, partidos políticos, atuação de movimentos sociais e organizações públicas e privadas,
inclusive Universidades. Sendo assim, “É preciso ter clareza de que a Extensão fortalece a ação da
universidade na sociedade - associada à Pesquisa, ela oferece suporte para atacar os grandes
problemas nacionais, (...) assim como trata da formação integral dos estudantes” (DEUS, 2020, p.
84).
A Universidade, enquanto instituição pluridisciplinar de formação dos quadros profissionais
de nível superior, de pesquisa, de ensino, de Extensão e de domínio e cultivo do saber humano,
enraizada em princípios, regras e valores é, também, partícipe de um processo democrático e solidário
às necessidades da população por meio do seu compromisso com o futuro da sociedade. Nesse
sentido, as práticas extensionistas mantêm uma articulação entre os setores públicos, produtivo e o
mercado de trabalho, contribuindo assim para que o discente, durante o processo de aprendizagem,
desenvolva a criticidade própria concernente à formação para cidadania.
A Extensão, por empregar metodologias calcadas no dialogismo e na relativização de saberes
consolidados, volta-se para a construção de sujeitos conscientes para observar as questões sociais,
políticas, éticas, de cidadania, e decidir sobre elas “que a relação dos discentes com as comunidades
e com as atividades de seus interesses específicos se transformam em aprendizado e transformam os
envolvidos” (DEUS, 2020, p. 36).
Segundo Paulo Freire (1979), a educação deve contribuir para a construção de indivíduos
conscientes para observar problemas sociais, questões éticas, políticas e de cidadania, percebê-los e
analisá-los criticamente. Nessa lógica, foi a partir da a segunda metade do século XX que a Extensão
Universitária passou a ser fortalecida e que o conhecimento se abriu para a subjetividade e o
indivíduo, na sua condição singular, passou a ser considerado agente de sua própria história, e que as
preocupações científicas com a memória passaram a integrar os estudos das humanidades.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 137
Não sendo um fenômeno de interiorização individual, mas sim uma construção social e um
fenômeno coletivo, a memória é modelada pelos próprios grupos sociais não sendo apenas passado,
mas a rememoração desse passado feita no presente de um indivíduo, sendo determinada pelas
condições presentes do momento. Ela “sofre flutuações que são função do momento em que ela é
articulada, em que ela está sendo expressa” (POLLAK, 1992, p. 4) e se enriquece com as
contribuições de fora que, depois de tomarem raízes e depois de terem encontrado seu lugar, não se
distinguem mais de outras lembranças” (HALBWACHS, 2006, p. 98).
Memória e subjetividade se articulam, sendo, assim, elementos importantes na constituição
do mundo moderno, pois a história, o passado e os pertencimentos concedem cidadania. Nessa
perspectiva, Thomson (2002, p. 358) observa que “(...) nossas lembranças de quem fomos e de onde
viemos moldam nosso sentido do ‘eu’ ou de identidade no presente e, dessa forma, afetam as maneiras
como construímos nossas vidas”. Por conseguinte, a identidade da coletividade se conecta com
fragmentos das histórias de cada discente participante da ação extensionista, o que remete à relação
entre memória e identidade, pois numa narrativa identificamos “o que pensamos que éramos no
passado, quem pensamos que somos no presente e o que gostaríamos de ser” (THOMPSON, 1997,
p. 57). Na mesma direção, Pollak anuncia que:
Assim, na medida que permite ao sujeito assenhorar-se de imagens do passado para estruturar
uma nova posição identitária, independentemente da perespectiva individual ou coletiva, a memória
pode ser observada como fonte de referentes identitários e instrumento atuante na reconfiguração das
identidades:
O aluno de graduação, ao participar de projetos de Extensão, que têm como um dos objetivos
proporcionar oportunidades efetivas para as superações das condições de exclusão educacional,
EXTENSÃO PUC MINAS:
138 Novo Humanismo, novas perspectivas
socioeconômica e cultural, precisa romper com modos anteriores de viver e reconfigurar sentimentos
e valores. Esse processo pode ser sentido e expressado por visões individuais de sujeitos inseridos em
contexto de práticas extensionistas.
Nesse sentido, discentes com experiência em práticas extensionistas, participantes desse
estudo, sintetizaram:
Os projetos mudaram minha visão como pessoa. Conheci diferentes realidades de um mesmo
Brasil, aprendi sobre solidariedade, empatia e a necessidade do conhecimento científico sair
das portas das universidades e adentrar nas ruas de Norte a Sul do país. Em outras palavras,
desmonopolizar (ou “deselitizar”) o conhecimento científico. Conseguir concretizar aquilo
que vislumbrava na teoria e se envolver ainda mais com a temática, enxergando não só
estatísticas e textos acadêmicos, mas escutando e aprendendo com os personagens envolvidos
e olhando por diversos pontos de vista para a solução do mesmo problema não há livro que
ensine. [...] Por fim, entendo que aprendi, nos dois projetos que participei, valores que levarei
para minha vida profissional, acadêmica e pessoal. Valores que não são ensinados nas salas
de aula, mas que são adquiridos com as ações sociais extensionistas. (discente do curso de
Engenharia Mecânica – Projetos respuc/VRC).
O projeto no qual participei foi de extrema importância para minha construção como cidadã.
Graças a esse projeto eu pude ver a realidade do sistema carcerário de nosso país, passei a
entender mais de Direitos Humanos e percebi que esse é um tema que precisa ser debatido e
falado, principalmente em lugares que concentram grupos privilegiados, como a PUC. Todos
meus colegas que participaram dos encontros ficaram impactados e começaram a abrir os
olhos para essa questão. Acho muito importante esses projetos, pois cada um com sua
profissão e área de estudo, entende que tem um papel e uma responsabilidade frente a isso.
[...] Como estudante de Administração e profissional de RH, esse projeto me incentivou a
criar mais ações afirmativas e de inclusão dentro da empresa que trabalho. (discente do curso
de Administração – Projeto respuc/VRC).
É importante ressaltar que os projetos de Extensão dos quais participei ampliaram minhas
formas de observar e pensar o mundo. Sempre acreditei em possibilidades de mudança
através de projetos sociais, contudo, percebi a importância das mudanças micro e tirei o foco
das mudanças macro. A questão é que se a possibilidade de desenvolvimento (seja pessoal,
profissional) puder alcançar uma vida, puxa! Que alegria! Mas atuar de forma a garantir
direitos.... é melhor ainda! Hoje, me sinto mais madura e apta para encarar novos desafios
pessoais e profissionais”. (discente do curso de Letras – Projetos respuc/VRC).
Tais memórias demonstram, de modo geral, que as atividades de Extensão levam motivação
aos estudantes, assim como atestam que a educação universitária, numa gestão socialmente
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 139
responsável, por meio do Ensino, Pesquisa e Extensão, gera capital cultural, social e econômico, bem
como contribui para o desenvolvimento de indivíduos proativos e aptos ao pleno exercício da
cidadania.
Nesse sentido, a Extensão Universitária “na teoria e na prática, é a escada, é o catalisador que,
sempre que alcança o indivíduo, leva-o para um outro lugar” (DEUS, 2020, p. 40), pois “o impacto
que uma intervenção extensionista tem na vida de um aluno e na comunidade é algo que não pode ser
mensurado (...) em números absolutos, mas com aprendizado relatado em depoimentos” (DEUS,
2020, p. 37).
Ao narrar suas experiências os discentes têm a oportunidade de identificar o que pensavam
ser no passado, o que pensam ser no presente e o que gostariam de ser no futuro. Nessa lógica, Pollak
discorre que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As universidades não são (...), com efeito, apenas instituições de ensino e de pesquisas, mas
sociedades devotadas ao livre, desinteressado e deliberado cultivo da inteligência e do
espírito e fundadas na esperança do progresso humano pelo progresso da razão. (TEIXEIRA,
2006, p. 181).
Por estender seus conhecimentos e sua técnica para além dos muros universitários através das
suas atividades, é como práxis revolucionária que se entende o papel da Extensão na atualidade, pois
somente assim a Universidade é aceita como instrumento transformador do real e promotora de
formação para cidadania.
Asssim, as práticas extensionistas são formas de uma instituição de ensino superior
democratizar e socializar o saber científico sem privilegiar apenas uma parcela da sociedade. Nesse
sentido, a formação do aluno se dá não somente pelos conhecimentos adquiridos em sala de aula, mas
também por sua atuação em vários tipos de atividades que o levam a conhecer de perto a sociedade
na qual deverá atuar como um cidadão consciente visando o bem comum e mudança social.
Não sendo a memória a capacidade de guardar e acumular informações e lembranças com
precisão, mas sim um processo de reelaboração de informações e experiências de vida, no qual vários
fatores interferem, a memória das práticas extensionistas é uma das diversas interferências sobre a
memória que possibilita o reencontro de sujeitos e grupos consigo mesmos. Usualmente as preleções
de vida, guiadas por interesses identitários, refazem toda a trajetória do sujeito, não podendo, nessa
lógica, ser compreendida como aleatória ou singelo ato de rememoração. É por isso que as histórias
de vida
[...] devem ser consideradas como instrumentos de reconstrução da identidade, e não apenas
como relatos factuais. Por definição reconstrução a posteriori, a história de vida ordena
acontecimentos que balizaram uma existência. Além disso, ao contarmos nossa vida, em
geral tentamos estabelecer uma certa coerência por meio de laços lógicos entre os
acontecimentos-chaves (que aparecem então de uma forma cada vez mais solidificada e
estereotipada), e de uma continuidade, resultante da ordenação cronológica. Através desse
trabalho de reconstrução de si o indivíduo tende a definir seu lugar social e suas relações com
os outros (POLLAK, 1989, p. 13).
REFERÊNCIAS
RESUMO
A continuidade do projeto de extensão PROSA propõe que a assessoria técnica atue mais firmemente para promover a
penetrabilidade das tecnologias e a formação da lógica de rede nos territórios autoproduzidos, a partir do desenvolvimento
de duas linguagens: 1) de tradução, requerida pelo atual processo de urbanização promovido pela Prefeitura de Belo
Horizonte nas ocupações urbanas de Izidora, em que os moradores nos solicitam a tradução da linguagem técnica dos
especialistas para aquela própria da produção cotidiana do espaço; 2) de reconhecimento, que expressa a visão de mundo
da autoprodução do espaço, requerida na luta por ocupação e permanência nos territórios, em que os assessorados
solicitam o desenvolvimento de argumentos autônomos, com base no modo como eles cuidam do território de vida e
trabalho.
ABSTRACT
The continuity of the PROSA extension project proposes which technical advisory to act more firmly to promote the
penetration of technologies and the formation of network logic in self-produced territories, from the development of two
languages: 1) of translation, required by the current urbanization process promoted by the City of Belo Horizonte in the
urban occupations of Izidora, in which the residents ask us to translate the technical language of the specialists into that
of the daily production of the space; 2) of recognition, which expresses the worldview of the self-production of space,
required in the struggle for occupation and permanence in territories, in which the assessors request the development of
autonomous arguments, based on the way in which they take care of the territory of life and work.
1
Projeto de extensão financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PROEX PUC Minas).
2
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA
em 2021 e voluntária do projeto de extensão PROSA em 2022. E-mail: lcjviana@sga.pucminas.br.
3
Graduanda em Geografia pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA em 2021/2. E-
mail: gabibarbosa808@gmail.com.
4
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA
em 2021/2. E-mail: lizportela@hotmail.com.
5
Orientadora do projeto de extensão PROSA. Engenheira-arquiteta. Mestre em Engenharia de Produção. Doutora em
Arquitetura e Urbanismo. Pós-doutora em Engenharia de Produção. Professora adjunta do departamento de Arquitetura e
Urbanismo da PUC Minas. E-mail: zerlotini@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
144 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
incorporar "a atividade de projeto ao cotidiano da produção" (LIMA; DUARTE, 2021), a fim de
propor as bases de políticas urbanas que reconheçam a cidade autoproduzida, o seu potencial e a suas
necessidades.
Trata-se de fomentar a virtualidade da autoprodução do espaço. Construção já de natureza
virtual, pois se presta a um processo aberto de composição do espaço. O autoprodutor está no
comando, invertendo a lógica hegemônica: concepção-produção-consumo e reduzindo as distâncias.
De modo a promover a autonomia, o PROSA prestou assessoria técnica a partir de demandas pela
tradução da linguagem técnica, revelando sua racionalidade e expondo suas contradições, e pelo
reconhecimento da linguagem da autoprodução, evidenciando suas potencialidades e limitações.
Em outros termos, esta categoria deve se distinguir também por um critério visível aos olhos
da sociedade, critério que assegure o reconhecimento de sua arte como maior ou mesmo
superior às outras artes. O único recurso que ela tem, para isto conseguir, é de se colocar
como “liberal”, isto é, como tendo integrado na sua habilidade o pensamento teórico, fazer
passar o seu trabalho por intelectual (MOSCOVICI 2003 apud BICCA, 1984, p. 74).
Antes de ir mais longe, creio que seria bastante útil dizer a quem reservo o nome de arquiteto;
não vos apresentaria, certamente, um carpinteiro, pedindo-vos considerá-lo como igual a um
homem profundamente instruído em outras ciências, mesmo que na verdade o homem que
trabalhe com suas mãos seja o instrumento do arquiteto. Chamarei arquiteto aquele que, com
uma razão e um método maravilhoso e preciso, sabe primeiramente dividir as coisas com seu
espírito e inteligência, e em segundo lugar como associar com justeza, no curso do trabalho
de construção, todos os materiais que, pelos movimentos dos pesos, pela reunião e a
superposição dos corpos, podem servir eficaz e dignamente às necessidades do homem. E na
realização dessa tarefa, ele terá necessidade do saber mais apurado e mais refinado.
(GALLIMARD apud BICCA, 1984, p.74-5).
Sérgio Ferro (1982) destaca o papel do desenho no processo de abolição das corporações de
ofício. Uma vez separadas, o desenho técnico realiza a mediação entre as atividades de conceber e
executar e surge como ferramenta de controle operário. Ferro (1982) demonstra como o recurso é
empregado para a exteriorização do conhecimento prático e para a monopolização da informação:
Um plano implica, pela sua própria natureza, o cerceamento da liberdade de decisão e ação
de todas as pessoas que sofrem as suas consequências, sem terem tido o direito de voz e voto
na sua elaboração. No âmbito dos projetos arquitetônicos e urbanísticos, isso significa o
cerceamento da liberdade, tanto daqueles que executam um projeto materialmente (os
trabalhadores envolvidos na construção) quanto dos que farão uso de seus resultados (os
habitantes, num sentido amplo do termo). Essas relações de dominação, inerentes ao projeto,
raramente são percebidas com clareza, pois ele se tornou uma espécie de fetiche (feitiço), na
acepção em que Karl Marx usa o termo: faz aparecer como ligações entre coisas o que, na
verdade, são associações entre pessoas ou relações sociais. Por outro lado, como fetiche nada
mais significa do que coisa feita, isto é, coisa do artifício humano, nem divina nem natural,
também esse fetiche do plano pode ser questionado, criticado e desfeito. (BALTAZAR;
KAPP, 2006, p. 94, grifos das autoras).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 147
Assim, a programação de atividades (BICCA, 1984) e o desenho técnico (FERRO, 1982) são
ferramentas do planejamento centralizado que retiram da coletividade organizada (moradores de
ocupações urbanas) a possibilidade de autodeterminação das condições de sua sobrevivência e, em
particular, das condições de organização das suas atividades de trabalho e vida.
De modo geral, as propostas teóricas e práticas elaboradas por técnicos especialistas revelam
a reprodução do modo capitalista de produção em vários aspectos: produção heterônoma do espaço
com intervenção preponderante de conhecimento técnico especializado no processo decisório, e, em
decorrência desse último, participação dos autoprodutores do espaço restrita à verbalização da
demanda e eleição de opções de intervenções elaboradas pelos técnicos.
Militantes de esquerda denunciam as formas de “participacionismo” (GUILLERM;
BOURDET, 1976; TRAGTENBERG, 1987), como a cogestão, o controle operário, a participação e
a cooperativa, considerando que a determinação dos fins é externa ao trabalhador. São fins
determinados pelo capital, que acaba por assimilar essas manifestações. Segundo esse raciocínio, a
autogestão em confronto com a sociedade capitalista somente poderá existir em casos isolados e por
curtos períodos (GUILLERM; BOURDET, 1976).
O equívoco de reatualizar o controle operário (conselhos operários, soviets, comitês de greve,
comissões de fábrica) é considerar o espaço de produção o lugar de origem da autogestão, de onde a
prática autogestionária poderia ser estendida para toda a sociedade. Tomar o controle operário de
forma isolada é desconsiderar as práticas de autodeterminação da população em todas as esferas da
vida, não apenas na esfera da produção. Ao contemplá-las, o conceito de autogestão sai do plano
exclusivo da produção e abrange o universo da reprodução, de modo a conceber outras atividades,
livremente construídas, que revolucionem o trabalho de produção (e de reprodução), a forma do
equipamento, a finalidade dos produtos (GUILLERM; BOURDET, 1976) e, consequentemente, o
modo de produção do espaço.
6
Lefebvre iniciou seus estudos sobre o cotidiano na década de 1940, publicando uma sequência de obras: Critique de la
vie quotidienne (1947), Critique de la vie quotidienne II: Fondements d'une sociologie de la quotidienneté (1961), La Vie
quotidienne dans le monde moderne (1968), Critique de la vie quotidienne, III: De la modernité au modernisme (Pour
une métaphilosophie du quotidien) (1981) e Éléments de rythmanalyse: Introduction à la connaissance des rythmes
(1992).
EXTENSÃO PUC MINAS:
148 Novo Humanismo, novas perspectivas
7
“Obliterar é o oposto de esclarecer: fazer esquecer, obscurecer, ocultar, diminuir, reduzir.” (KAPP; LINO, 2008, 13-
14).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 149
4 METODOLOGIA
As comunidades a que tradicionalmente o PEU.brs presta assessoria técnica são vilas, favelas,
ocupações urbanas, quilombos, conjuntos habitacionais de padrão popular - cuja população convive
EXTENSÃO PUC MINAS:
150 Novo Humanismo, novas perspectivas
com algum tipo de precariedade. O PEU assessora8 quatro ocupações urbanas da região de Izidora:
Rosa Leão (1500 famílias), Esperança (1800 famílias), Vitória (2500 famílias), Helena Grego (250
famílias).
Tais comunidades convivem com algum tipo de conflito socioambiental urbano, seja ele
fundiário (ameaça de despejo), civil (ameaça de escorregamentos e inundações) ou social ("situação
de desproteção a que vastas camadas pobres se encontram submetidas no que concerne às garantias
de trabalho, saúde, saneamento, educação e outros componentes que caracterizam os direitos sociais
básicos de cidadania" (KOWARICK, 2009, p. 19).
Os moradores das ocupações de Izidora estão ameaçados de remoção pelos processos de
urbanização promovidos pela prefeitura de Belo Horizonte. Eles desconsideram a atuação do
mercado imobiliário na região, em função da valorização da terra que está sendo urbanizada.
Os procedimentos para a análise dos resultados foram elaborados segundo uma metodologia
colaborativa: 1) levantamento das práticas socioespaciais9, próprias da autoprodução do espaço nos
territórios assessorados e sistematização das questões socioespaciais requeridas por eles; 2)
elaboração de oficina virtual de codificação do agir verbal, com os assessorados e a equipe ATV,
(alunos da graduação e pós-graduação, parceiros) para a análise das cartografias colaborativas e
sistematização, pela equipe AVT, dos principais aspectos que caracterizam o agir verbal dos
autoprodutores, nas situações de demanda por elaboração de linguagem de tradução e de
reconhecimento; 3) desenvolvimento de material didático-pedagógico que traduzam a linguagem
técnica da gestão urbana municipal para os moradores e que expressem os valores presentes nas
práticas socioespaciais da autoprodução do espaço dos territórios assessorados; 4) divulgação,
amplificação e dinamização (MANZINI, 2017) das questões socioespaciais para os assessorados,
técnicos especialistas, comunidade acadêmica e sociedade civil.
Uma das principais demandas dos moradores das ocupações de Izidora foi a tradução da
linguagem que os técnicos da prefeitura de Belo Horizonte empregavam quando começaram os
8
Os dados apresentados neste artigo referem-se aos trabalhos realizados no período de 2021 ao primeiro semestre de
2022.
9
O levantamento foi realizado a partir de passeios acompanhados com os moradores e com o auxílio dos parceiros do
projeto: projetos de extensão França-Brasil (IFMG) e Mais Verde Mais Vida (UFMG).
10
Esta seção foi desenvolvida a partir dos achados do projeto de extensão Regularização Fundiária Plena, coordenado
pelo professor Eduardo Bittencourt, que em 2021 era projeto parceiro do PROSA.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 151
trabalhos para implantação do Plano de Urbanização Sustentável da Izidora (PBH, 2021) que,
segundo a PBH, teria a participação da população em todas as fases. Ao contrário do que foi
prometido, a assessoria técnica dos projetos de Regularização Fundiária Plena e do PROSA revelou
como a programação de atividades (BICCA, 1984) e o desenho técnico (FERRO, 1982) constrangem
lideranças e moradores de ocupações urbanas.
Em abril de 2021, os técnicos iniciaram o que eles denominaram de atendimento das demandas
emergenciais: endereçamento, realização de obras emergenciais, vistorias de área de risco,
recebimento das demandas de cesta básica, CRAS, etc. (PBH, 2021). A presença dos técnicos nos
territórios provocou várias dúvidas nos moradores e gerou situações de incertezas. Nesse período, a
assessoria trabalhou com as lideranças para promover o esclarecimento das ações da prefeitura junto
aos moradores. Contribuímos com a elaboração de exemplares de jornal para circulação interna e de
um vídeo de liderança para circulação nos grupos de WhatsApp (figura 01).
O esclarecimento sobre o objetivo dos trabalhos da PBH, a finalidade do cadastro
socioeconômico, as tentativas de criminalização dos moradores, as ameaças de remoção em áreas de
risco, a não adoção de uma linguagem popular e a ausência de abastecimento de água e energia eram
questões prioritárias para os moradores. Mas a racionalidade do plano cartesiano, cuja programação
das atividades obedece a critérios dos agentes financiadores da produção do espaço, desconsiderou
tais urgências. Trata-se, portanto, de formas de “participacionismo” (GUILLERM; BOURDET,
1976; TRAGTENBERG, 1987), cuja determinação dos fins é externa ao morador.
Além da questão de escala, havia também dificuldades para compreender os termos técnicos,
como “propostas de vias estruturantes”, “áreas com maior potencial de escorregamento”, “áreas de
interesse ambiental”, “áreas de estudo para equipamentos e reassentamento”. Na lógica da
racionalidade técnica, tais termos estão relacionados à necessidade de realizar ou não obras no local;
porém, do ponto de vista do morador, a preocupação principal era se as manchas representadas no
mapa significavam a expulsão ou a permanência na ocupação, devido às obras de urbanização. Em
um primeiro momento, eles queriam saber se seriam expulsos, quando, como e, em caso afirmativo,
para onde seriam reassentados.
Os termos técnicos apontados nos mapas são distantes da produção do espaço cotidiano dos
moradores (LEFEBVRE, 1968). Nesse sentido, eles nos requisitavam assessoria técnica também para
questionar a proposta da PBH frente a valores presentes nos territórios que os planos não
consideraram.
11
O levantamento colaborativo foi realizado pelos projetos de extensão PROSA e Regularização Fundiária Plena, com o
auxílio dos moradores das ocupações urbanas e com o apoio dos projetos de extensão França-Brasil (IFMG) e Mais Verde
Mais Vida (UFMG).
EXTENSÃO PUC MINAS:
154 Novo Humanismo, novas perspectivas
microbacias de duas ocupações urbanas: Esperança e Vitória. O levantamento foi coordenado pelos
professores Viviane Zerlotini da Silva na ocupação Vitória, (21/09/21 e 26/10/21) e Eduardo
Bittencourt na ocupação Esperança (21/09/21 e 25/09/21).
Empregou-se a técnica do passeio acompanhado (BECHTEL, 1997), quando moradores das
ocupações urbanas apontavam as práticas de cuidado com o território. As experiências foram
registradas por meio de fotografias e georreferenciadas com o uso do aplicativo de celular Timestamp.
Optou-se por realizar essa verificação em uma microbacia hidrográfica, considerando que os
trabalhos dos moradores contribuem para preservar o ciclo da água, diferente da cidade formal, cujo
processo convencional de urbanização é predatório ao meio ambiente (CARVALHO, 1999). Isso
porque a urbanização do asfalto quebra o ciclo da água ao impedir a recarga do lençol freático em
função das vastas áreas de impermeabilização e da canalização de corpos de água.
Após o levantamento de campo, foram feitos encontros com a equipe AVT para a
sistematização das informações colhidas. Buscou-se a listagem das práticas de cuidado levantadas, a
partir da codificação das falas dos moradores (TAROZZI, 2011), tentando respeitar o vocabulário
empregado por eles. Denominamos essas práticas como: cuidado com a rede de apoio ao território;
cuidado com o relevo; cuidado com o caminho da água da chuva; cuidado com as águas servidas;
cuidado com as águas naturais; cuidado com o esgoto; cuidado com as áreas verdes; cuidado com os
caminhos; cuidado com a produção de alimento; cuidado com o uso coletivo do espaço; cuidado com
a moradia; cuidado com o outro; cuidado com os resíduos; cuidado com a saúde; cuidado com o uso
social da terra; cuidado com a produção de alimento; cuidado com o reuso; cuidado com o
abastecimento de água potável; cuidado com o artesanato; cuidado com as crianças; cuidado com o
jardim; cuidado com as nascentes.
A grandeza do cotidiano a que se refere Lefebvre (1968) nos parece clara. Da categoria de
análise proposta pela PBH "área de interesse ambiental” ao repertório dos moradores, esse é bem
mais rico. O repertório se apresenta como uma variedade de práticas sócio-espaciais (figuras 04 e 05)
e não se restringe a uma única área, já que zonas não podem ser delimitadas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 155
Mesmo realizadas de forma precária, e a partir dessa precariedade mesmo, tais práticas se
referem ao universo de reprodução da vida (LUXEMBURG, 1976 [1912]) e contribuem,
minimamente, para um menor impacto ao meio ambiente, se considerarmos aquele que incide na
cidade formal.
EXTENSÃO PUC MINAS:
156 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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EXTENSÃO PUC MINAS:
158 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente trabalho surgiu com o objetivo de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou
empreendedores individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática para
estudantes. Para alcançar o proposto, o trabalho foi vinculado a um projeto maior, com mesmo foco, onde se propôs a
realizar a oferta de palestras com conteúdos relacionados a gestão empresarial. No geral, usou-se a pesquisa-ação, para
compreender e intervir na situação, e foi realizada através de multitécnicas: análise de ambiente a partir de dados
secundários para que pudesse determinar os temas a serem abordados nas palestras, intervenção com a ministração das
palestras e análise de resultados para aferir a estratégia utilizada. Os resultados foram avaliados pelo número de
participantes, grau de aprendizagem e satisfação, nos levando a perceber impactos positivos. Os participantes
empreendedores nas palestras, em sua maioria, conseguiram estabelecer uma compreensão necessária para que em
momento oportuno coloquem em prática com excelência. Por conseguinte, percebemos que o envolvimento do grupo de
estudantes contribuiu para seu desenvolvimento acadêmico e profissional. O trabalho mostrou-se como uma importante
ferramenta para um empreendedor, fundamentalmente, como uma atividade potencializadora para o ensino da gestão de
negócio.
ABSTRACT
The present work was developed with the objective of improve the business management of micro and small companies
and/or individual entrepreneurs in the State of Roraima and, especially, the teaching and learning of this subject for
students. To achieve the proposed, the work was linked to a larger project, with the same focus, where it was proposed to
offer lectures with content related to business management. In general, action research was used to understand and
intervene in the situation, and it was carried out through multi-techniques: analysis of the environment from secondary
data so that it could determine the topics to be addressed in the lectures, intervention with the of lectures and analysis of
1
Mª. em Saúde Coletiva do Instituto Federal de Roraima. Docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do
IFRR/CBV. E-mail: lucelia.sousa@ifrr.edu.br.
2
Dr.ª em Psicologia Organizacional e do Trabalho do Instituto Federal de Roraima. Docente do Ensino Básico, Técnico
e Tecnológico do IFRR/CBV. E-mail: alexandra.marculo@ifrr.edu.br.
3
Graduando em Ciências Contábeis pela UERR. E-mail: angelogomesrr@gmail.com.
4
Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar do IFRR. E-mail: aldenisemaicon@gmail.com.
5
Técnica em Secretariado pelo IFRR. E-mail: amandachaves199809@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 159
results to assess the strategy used. The results were evaluated by the number of participants, grade of learning and
satisfaction, leading us to perceive positive impacts. Entrepreneurial participants in the lectures, for the most part,
managed to establish a necessary understanding so that at the right time they can put it into practice with excellence.
Therefore, we perceive that the involvement of the group of students contributed to their academic and professional
development. The work proved to be an important tool for an entrepreneur, fundamentally, as a potentiating activity for
the teaching of business management.
INTRODUÇÃO
O período de 2020 a 2021 foi marcado pela pandemia decorrente da COVID-19. O mundo
inteiro sofreu com perdas e mudanças. No empreendedorismo, o fazer gestão com excelência tornou-
se um desafio, ainda mais quando o cenário econômico e social entrou em estado de instabilidade e
incertezas, apresentando riscos de grande impacto para novos entrantes e empresários já atuantes no
mercado. No ensino, enfrentamos, com maior intensidade, a dificuldade de assegurar a formação e a
capacitação dos jovens e adultos no ramo do empreendedorismo. Garantir a permanência e o êxito do
aluno nas instituições de ensino tornou-se pauta ainda mais emergencial. A pandemia potencializou
um cenário de “pedido de socorro” nos principais setores de um país, o que gerou a reflexão e a
criação de inúmeras estratégias que pudessem impulsionar a economia e a educação a um rumo
melhor, neste contexto.
Este trabalho, olhando para o cenário pandêmico, iniciou e se justificou percebendo a
necessidade de se falar em “gestão de negócios”, de gerar esperança e possibilidades para as empresas
que enfrentavam as dificuldades do momento e de instigar nos estudantes o interesse pela temática e
a permanência na academia / escola. Foi, portanto, estruturado como uma estratégia, com o objetivo
geral de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e/ou empreendedores
individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática
para estudantes (jovens e adultos em período escolar/acadêmico ou não). Paralelamente a isso, visa
reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que também atua na extensão e pesquisa,
contribuindo para a sua região. Este trabalho foi vinculado a um projeto maior, com mesmo foco, o
EXTENSÃO PUC MINAS:
160 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6
O Programa IF Mais Empreendedor foi estruturado para a execução de projetos de extensão tecnológica para o
atendimento, apoio e orientação a Micro e Pequenos Empreendedores e Empreendedores Individuais no momento
pandêmico decorrente da COVID-19. O Programa foi instituído pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
do Ministério da Educação e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais por meio da
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Extensão, Pesquisa, Ensino Profissionalizante e Tecnológico, recebeu adesão
do Instituto Federal de Roraima em 2021, o que ocasionou a reflexão e lançamento de várias ações de ensino e extensão
voltadas para a temática, inclusive, a criação deste trabalho. O Programa incluiu a participação de bolsistas e voluntários
estudantes, docentes e técnicos administrativos da instituição de ensino, bem como parceiros externos à instituição.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 161
e capacitação dos funcionários de um empreendimento. Para compreender melhor sobre BSC, vamos
entendê-lo na abordagem de Moysés Filho et al. (2010), mas antes precisamos abordar sobre os níveis
de trabalho de uma empresa.
Podemos compreender uma empresa em três níveis (estratégico, tático e operacional), o mais
alto deles é o nível estratégico. Este “representa as funções e atividades de tomadas de decisões na
empresa, é onde é desenvolvido o planejamento estratégico”. (SERTEK; GUINDANI; MARTINS,
2007, p. 29). As etapas que constituem um planejamento estratégico apresentam-se de maneiras
diferentes, mas seguem um padrão: tem-se uma etapa para definição do negócio e identidade
organização, outra para análise de ambientes, outra para fixação de estratégias e uma última para
desenvolvimento de um plano ação.
Na abordagem de Moysés Filho et al. (2010), o planejamento estratégico apresenta-se em seis
momentos distintos:
Como se vê, investir no ensino não é meramente uma opção na gestão empresarial, é estratégia
na administração de empresas e necessário para alavancar o negócio, principalmente, no cenário de
instabilidade causada pela pandemia decorrente da COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
162 Novo Humanismo, novas perspectivas
Façamos a seguinte reflexão: como é possível garantir um bom atendimento ao cliente quando
este é obrigado a manter o distanciamento social? Ou fazer uma gestão financeira satisfatória em um
momento de riscos econômicos? Ou precificar corretamente um produto inflacionado? Ou entender
as necessidades do cliente que opta no atendimento on-line e não mais na loja física? Ou ainda investir
em novas estratégias? Essas e outras indagações podem ser facilmente respondidas com a assertiva:
por meio do ensino e aprendizagem.
O ambiente empresarial é complexo e dinâmico, e está em constante mudanças. É entendido
como um sistema aberto que sofre interferência do seu meio interno e externo, o que demanda de uma
gestão habilitada e com competências que atendam sua dinamicidade e complexidade (MOYSÉS
FILHO et al., 2010; DECOURT; NEVES; BALDNER, 2012). É aqui que se insere a necessidade da
formação e capacitação, a inclusão do ensino.
O ensino é elo forte para a permanência de uma gestão estratégica solida e eficaz. Pereira,
Silva e Lopes (2014, p. 4) afirmam que o entendimento sobre o ambiente organizacional, bem como
a compreensão sobre as relações entre os planos e práticas que constituem o dia a dia de uma empresa
é necessário para obtenção de benefícios e sustentação de uma vantagem competitiva do negócio. E,
notadamente, esse conhecimento só é possível se houver uma relação bem estabelecida entre a gestão
e o processo de formação / capacitação, obtidos por meio do processo de ensino.
3 METODOLOGIA
Este trabalho teve uma abordagem qualitativa, perpassando a pesquisa-ação, própria para
compreender e intervir na situação, com vistas a modificá-la (SEVERINO, 2007, p. 120). É
importante compreender, para justificar o uso nesse trabalho, que a pesquisa qualitativa permite
“analisar quantitativamente certos tipos de dados qualitativos [...]. Embora seja verdade que a
pesquisa qualitativa geralmente lida com falas ou palavras em vez de números, isso não significa que
seja destituída de mensuração”. (POPE; MAYS, 2009, p.13).
Para aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou empreendedores
individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática
para estudantes, de forma a reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que também
atua na extensão e pesquisa, contribuindo para a sua região, organizamos este trabalho sob o tripé:
momento de análise de ambiente, momento de intervenção e momento de análise dos resultados
alcançados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 163
a) Eixo1- Gestão Financeira: ocorreu no mês de setembro, com a oferta de quatro palestras com
as temáticas: 1- Classificação e enquadramento empresarial; 2- Fluxo de Caixa; 3- Custos,
Despesas e destinação do lucro líquido; 4- Como fazer a gestão financeira do seu negócio.
b) Eixos 2 e 3- Gestão dos processos internos do cliente: ocorreu no mês de outubro, com a oferta
de cinco palestras, com as temáticas: 1- Como legalizar a situação trabalhista dos funcionários;
2- Abordagem ao cliente; 3- Precificação de produto; 4- As possibilidades e recursos do
marketing digital; 5- A utilização de plataformas para o marketing digital de uma empresa.
c) Eixo 4- Gestão da aprendizagem e crescimento: ocorreu no mês de novembro, com a oferta
de três palestras com as temáticas: 1- Como entender e atender as demandas do consumidor;
2- Liderança, relações interpessoais, motivação e satisfação na equipe de trabalho; 3- Gestão
estratégica e Planejamento estratégico para alavancar o negócio.
cada palestra do ciclo, bem como, a entrega de brindes institucionais aos participantes sorteados e
palestrantes. A entrega ocorreu de forma presencial, em transporte institucional, tomando medidas de
segurança para enfrentamento da COVID-19.
Para acompanhamento e avaliação do trabalho durante a sua execução, os resultados foram
avaliados pelo número de participantes (%), grau de aprendizagem (escala de 8-10) e satisfação
(escala de 0-10) aferidos ao final de cada palestra.
Para garantir resultados positivos com a proposta, estabelecemos como metas:
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Com o objetivo de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou
empreendedores individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem
dessa temática para estudantes e reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que
também atua na extensão e pesquisa, contribuindo para a sua região, desenvolvemos o “ciclo de
gestão empresarial”, com oferta de palestras que subsidiaram o tema. Essa iniciativa, definimos como
uma estratégia ao analisarmos os referenciais teóricos: Rangel (2005) e Marques e Oliveira (2016).
Os autores afirmam que o ensino gera conhecimento e permite entre os envolvidos troca de saberes.
Os resultados desse trabalho permearam tal afirmativa.
Para cada palestra ministrada dentro do ciclo, esperávamos ter 100% de presença dos
empreendimentos e estudantes do Programa IF Mais Empreendedor para possibilitar uma capacitação
satisfatória. No entanto, não conseguimos alcançar este resultado. Os empreendedores apresentaram
dificuldade em participar de todas as palestras, por causa de suas agendas; no entanto, das que
participaram, constatamos um retorno positivo. Os empreendedores conseguiam absorver o conteúdo
ministrado, contribuindo com relato de experiências e levantamento de perguntas pertinentes, que
possibilitou, inclusive, o engajamento dos demais participantes no momento das perguntas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
166 Novo Humanismo, novas perspectivas
Percebemos que a participação dos empreendedores nas palestras contribuiu de forma significativa
para o alcance dos objetivos do trabalho. Os estudantes, inclusive, conseguiam correlacionar as falas
das palestras com a realidade do mercado ao ouvir os relatos.
A estratégia utilizada, de envolver em uma única ação, empreendedores e estudantes para o
ensino sobre “gestão empresarial”, nos fez considerar o método válido e adequado para efetivação
em outros momentos, precisando apenas encontrar novos meios para garantir uma participação maior
de empreendedores. Embora tenhamos um ponto negativo nesse processo, a participação dos
estudantes foi marcante em todas as palestras, fazendo delas momentos representativos de troca de
conhecimento, como constatamos na obra de Rangel (2005), em que se afirma que a aprendizagem é
decorrente, inclusive, da interação, do diálogo e da parceria dos alunos.
Destaca-se que, por entendermos que poderia ser um desafio ofertar um ciclo de palestras,
organizado para ocorrer de forma on-line e com duração de três meses, em um momento crítico da
sociedade decorrente da pandemia, abrimos 50 vagas para inscrição para o público-alvo em cada
palestra, na expectativa de alcançar as metas estabelecidas. As cinquentas vagas foram preenchidas
em quase todas elas, mas não conseguimos garantir a presença de todos. Não avaliamos o motivo da
não presença de todos os inscritos, mas acreditamos que pode estar relacionado a dois pontos
principais: (1) ao sinal de internet, que não é estável no estado de Roraima em todas as regiões do seu
território; aos horários que ocorreram as palestras, não seguindo um horário fixo (algumas ocorreram
de manhã, outras de tarde e outras à noite, em conformidade com a agenda dos palestrantes.).
O sinal de internet, por exemplo, causou alteração nas datas e horários das ofertas de algumas
palestras ocorridas em dias chuvosos e dias de instabilidade do sinal no estado. Dos turnos, não
podemos afirmar que foi determinante para a presença do público, mas podemos dizer que das cinco
palestras ofertadas a noite, somente duas não alcançaram o quantitativo-alvo de público. Das cinco
ofertadas a tarde, três não alcançaram o número alvo de público. Das duas ofertadas pela manhã, uma
não alcançou a meta de quantitativo de público.
No geral, percebemos que as palestras relacionadas ao marketing e gestão financeira de um
negócio foram as mais procuradas pelo público-alvo, um achado que explicitaremos com mais detalhe
ao correlacionarmos os resultados das tabelas 1, 2 e 3.
Esperávamos alcançar em cada palestra um público médio de ouvintes de vinte e cinco (25)
pessoas, o que conseguimos em 50% das palestras, como se vê abaixo (tabela 1):
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 167
- Palestra 11:
- Palestra 10: - Palestra 12:
Liderança, relações interpessoais,
Como entender e atender as Gestão estratégica e Planejamento estratégico para
motivação e satisfação na equipe de
demandas do consumidor alavancar o negócio
trabalho
- 36 pessoas presentes - 17 pessoas presentes
- 18 pessoas presentes
- 54 inscritos - 87 inscritos
- 74 inscritos
Percebemos que a estratégia utilizada, enviar mensagens de texto, via celular, para todos os
inscritos uma hora antes de cada palestra, garantiu, parcialmente, atingir a meta estabelecida de
número de participantes por palestra. Notamos um achado significativo, nas palestras proferidas por
profissionais com alto engajamento nas mídias sociais e meio acadêmico, atingimos um número
maior de participantes, o que nos fez compreender que o processo de ensino, realizado por meio de
evento, como a oferta de um ciclo de palestra, pode aumentar a presença do público, quando há a
participação de profissionais com presença marcante no mercado. Correlacionamos esse achado com
conteúdo da área do marketing.
Encontramos na obra Kotler, Shalowitz e Stevens (2010, p. 440), autores clássicos sobre o
assunto, que “o sucesso de um evento é imprevisível”. Além disso, denominam a participação de
pessoas de “renome” em um evento, como “vantagem potencial”, uma forma de provocar no público-
alvo interesse pelo produto/serviço oferecido. Isto posto, são fortes estratégias para aumentar o
EXTENSÃO PUC MINAS:
168 Novo Humanismo, novas perspectivas
público em uma ação, como a que propomos, incluir práticas planejadas da área do marketing.
Ambrósio (2012. p. 13) em sua obra sobre “Plano de Marketing: um roteiro para ação”, já dizia: “são
os detalhes que fazem a diferença e levam um produto ao sucesso.”
Para verificação do quanto o público absorveu o conteúdo apresentado, aferimos por meio de
uma escala de 8 a 10 com as afirmativas (Quadro 1):
Palestras 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Nota 9 5,55% 22,9% 17,9% 22,6% 36,4% 21,7% 12,5% 10,8% 4% 19,4% 22,2% 0%
Nota 10 88,9% 77,1% 82,1% 77,4% 63,6% 73,9% 87,5% 82,1% 96% 80,6% 77,8% 100%
20%, tem dificuldade de pôr em prática, mesmo compreendendo o assunto. A parcela maior não
apenas compreendeu o assunto, como ficou satisfeito com o exposto (como expõe a Tabela 3), ficando
aptos para pôr em prática.
O interesse maior, pelas palestras supracitadas, podemos dizer, que pode estar relacionado ao
momento pandêmico, o ciclo foi realizado no segundo ano da pandemia, decorrente da COVID-19,
ocasião que o comércio e as instituições de ensino pararam suas atividades comuns, obrigando-os a
adotarem estratégias para superarem os impactos negativos do período. Surgiu uma preocupação
maior com a chamada gestão financeira dos empreendimentos e, consequentemente, culminou no
investimento de novas ações de marketing, como revela o estudo de Silva, Silva e Oliveira (2021)
realizado em meio a pandemia. Os autores perceberam que as empresas precisaram realizar
adaptações em seus negócios para prosseguirem com um fluxo de caixa satisfatório, e um grande
aliado para esse momento foi o uso das ferramentas de Marketing. Castro et al. (2021) apontou o
mesmo, ao afirmar que o impacto financeiro nos negócios, fizeram as empresas intensificarem as
ações de marketing para manterem-se no mercado.
Ressalta-se que os dois trabalhos mencionados são alguns de tantos desenvolvidos, por meio
de instituições de ensino no período pandêmico. As instituições de ensino entraram como peça-chave,
na pesquisa e na extensão, para encontrar e auxiliar alternativas que favorecessem a população. O
IFRR, por exemplo, foi espaço de diversos projetos e ações de extensão com esse fim. Na adesão do
Programa IF Mais Empreendedor Nacional 2021, todos os campi (5 unidades) da rede atenderam a
empreendimentos de sua comunidade, garantindo suporte em gestão e marketing para um total de 25
empresas, de forma on-line. Paralelamente a isso, o IFRR iniciou na pandemia o processo de
incubação de empresas, como ação de intervenção no mercado e investimento no ensino e
aprendizagem dos seus alunos. O ciclo de gestão empresarial, foi também uma ação de extensão do
instituto que, conseguiu captar um total de 284 participantes, entre estudantes, empreendedores,
docentes e interessados pelo assunto.
Por conseguinte, observamos, em especial, que a palestra 5, que abordou sobre direito
trabalhista, foi a que apresentou menor presença do público, mas foi a que contou com a maior
participação do público no ato das perguntas. Nessa foi notório que, sobre o tema “legalização do
trabalhador”, o público compreende, mas ainda com dificuldade de pôr em prática. As perguntas
levantadas na palestra estavam relacionadas a mão de obra terceirizada, não registrada em regime de
consolidação das leis do trabalho (CLT), como por exemplo a função de motoboy. Registra-se aqui
EXTENSÃO PUC MINAS:
170 Novo Humanismo, novas perspectivas
que essa função foi uma das que mais cresceram7 na pandemia, visto que o distanciamento social foi
necessário e as lojas físicas transferiram a entrega de seus produtos pelo chamado delivery (tele-
entrega).
Costa (2020, p.1) registrou em seu estudo intitulado “Força de trabalho, delivery e a pandemia
de COVID-19”, que “frente à necessidade do [...] isolamento, os aplicativos de delivery [...]”
apresentaram-se “como uma solução para os consumidores e estabelecimentos”. “Do outro lado, os
entregadores” seguiram “circulando pelas ruas das cidades em suas motos, bicicletas ou patinetes e
sem nenhuma garantia, direito ou estabilidade”. Tal realidade é mencionada no trabalho de Manzano
e Krein (2020) como condições de trabalho precárias.
Mesmo com baixa adesão do público na palestra aqui mencionada, as questões relacionadas à
função do motoboy foram extensamente discutidas entre os participantes, gerando perguntas,
exposição de relatos de experiências e, em especial, o que esperávamos, o aperfeiçoamento dos
conhecimentos sobre gestão empresarial, mediada pela técnica usada, ensino.
Por fim, a partir de uma escala de 0 a 10, avaliamos o quanto o público das palestras ficou
satisfeito (Tabela 3), sob dois aspectos: de 0 a 10, quanto ficaram satisfeitos com os conteúdos
explanados nas palestras; de 0 a 10, quanto recomendaria nossa ação a um amigo ou familiar.
Tabela 3 – Grau de satisfação dos ouvintes das palestras do ciclo de gestão empresarial
Palestra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Quanto recomendaria [...] Quanto ficou satisfeito [...]
0 10,5%
7
Manzano e Krein em estudo realizado em 2020 constaram ao analisar dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) – IBGE que os condutores de motocicleta, decorrente dos trabalhos de transporte por aplicativo,
aumentaram expletivamente em uma análise histórica verificada de 2016 a 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 171
Pelos dados apresentados na tabela 3, onde se revelou que a maior parcela do público se
mostrou satisfeito com as palestras proferidas, finalizamos o trabalho considerando que a ação de
intervenção sobre a gestão empresarial foi bem aceita pelo público-alvo, evidenciando, sobretudo,
que os eixos estabelecidos, pautado na abordagem do BSC (mencionados na obra de Moysés Filho et
al., 2010) para organização do ciclo de palestras atenderam o proposto. Além disso, encerramos
entendendo que, na gestão de negócios, as temáticas de maior interesse do público-alvo são sobre
marketing e gestão financeira (palestras 2, 3, 4, 7, 8 e 9), abordadas no ciclo, que garantiram maior
participação e uma boa satisfação (70% a 80% de satisfação e recomendação). Notadamente, as
palestras que tiveram a participação marcante do público no expor relato de experiências foram as
que mais promoveram diálogo entre os participantes e, consequentemente, maior satisfação, caso
ocorrido, com maior destaque, na palestra 5, sobre legalização da situação trabalhista dos funcionários
(90,9% de satisfação e recomendação). Apesar de essa palestra ter obtido uma baixa adesão de
inscritos e participantes, salientamos que a sua temática se mostrou pouco procurada para fins de
estudo, mas de enorme valia para se proferir, pois o público presente se apresentou pouco conhecedor
do conteúdo e surpreso pelos conteúdos apreendidos, desconhecedor de muitas normas sobre direitos
e deveres trabalhistas.
Por fim, os resultados expostos reiteram a importância desse projeto, que ora apontou
fraquezas no processo de gestão organizacional nos mais diversos segmentos, e nesse sentido, as
práticas executadas para o alcance dos objetivas previamente propostos mostrou-se satisfatórios no
atendimento as necessidades do público-alvo.
Reforçamos a relevância desse trabalho por ter caminhado dentro de um contexto atípico da
história da sociedade e na busca de servir como suporte para empreendedores e estudantes, e
sobretudo, por colocar a instituição de ensino como mediadora, como aquela que busca cumprir com
suas responsabilidades sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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EXTENSÃO PUC MINAS:
174 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo de caso das oficinas de Iniciação à Programação do Projeto de Extensão Beira
Linha, no primeiro semestre de 2021. Tendo em vista a importância do desenvolvimento do pensamento computacional,
o artigo pretende analisar os impactos da programação em blocos para o desenvolvimento desse tipo de pensamento. Para
isso, foi realizada uma pesquisa que possibilitou a análise de quais habilidades do pensamento computacional foram
plenamente desenvolvidas pelos beneficiários inscritos no curso. Ao final, discute-se os resultados obtidos e traça-se um
paralelo entre o pensamento computacional e as ferramentas de programação em blocos.
ABSTRACT
The article presents a case study of the Introduction to Programming orkshops of the 2021 edition of the ‘Beira Linha
Extension Project’. Considering the importance of developing computational thinking, the article intends to analyze the
impacts of block-based coding for the development of this type of thinking. Therefore, a survey was carried out that
enabled the analysis of which computational thinking skills were fully developed by the beneficiaries enrolled in the
course. At the end, we discuss the results obtained are discussed and a parallel is traced between computational thinking
and block programming tools.
1
Financiado pela PROEX – PUC Minas.
2
Alice Cabral de Avelar Marques, monitora, aluna do curso de Ciência da Computação, PUC Minas Coração Eucarístico.
E-mail: alicecamarques@gmail.com.
3
Juliana Silvestre da Silva, monitora, aluna do curso de Ciência da Computação, PUC Minas Coração Eucarístico. E-
mail: juliana.silvestresilva@hotmail.com.
4
Sandra Maria Silveira, Me, professora do curso de Sistemas de Informação, PUC Minas São Gabriel. E-mail:
silveirasandra@pucminas.br
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 175
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea, permeada em todas as suas esferas pelo uso das tecnologias da
informação e comunicação (TIC), vê-se na necessidade de se reinventar constantemente e se adequar
às mudanças, principalmente para se manterem relevantes no mercado, deparando-se com muitos
desafios para o desenvolvimento de novas habilidades.
O Fórum Mundial Econômico desenvolveu o relatório The Future of Jobs 2020, sobre o futuro
das profissões e as habilidades fundamentais para um bom profissional do futuro, tais como inovação,
criatividade, iniciativa, inteligência emocional, entre outras. Dentre essas habilidades, há o
pensamento computacional, que engloba não apenas a programação, mas também competências como
pensamento crítico e capacidade de abstrair e resolver problemas, que podem ser aprendidas por
qualquer um, não apenas profissionais da área de tecnologia da informação.
Neste cenário, este artigo pretende responder à seguinte pergunta: Quais são os impactos de
desenvolver aplicações em ferramentas de programação em blocos para o aprendizado do pensamento
computacional? Desse modo, o objetivo deste estudo constitui-se em analisar os impactos da
programação em blocos para o desenvolvimento do pensamento computacional, através do estudo de
caso do projeto Beira Linha da PUC Minas. Pretende-se apontar a importância do desenvolvimento
do pensamento computacional, descrever as ferramentas de programação em blocos, identificar a
correlação entre a programação em blocos e o desenvolvimento do pensamento computacional e
relatar a experiência do projeto Beira Linha desenvolvida no primeiro semestre de 2021.
Como estudantes do curso Ciência da Computação e monitoras da oficina de Iniciação à
Programação do projeto trabalhando em conjunto com a coordenadora do projeto a fim de definir um
planejamento para as oficinas, questionou-se sobre a efetividade da aprendizagem de programação
através de ferramentas que utilizam código e ferramentas de programação em blocos. Outro fator
direcionador foi identificar como melhor incentivar o pensamento computacional, utilizado em áreas
além da computação, nos alunos.
A partir desses motivos, foi percebida uma escassez de trabalhos que correlacionam o
pensamento computacional e as plataformas de programação em blocos, como é mencionado pelos
autores Cavalcante, Costa e Araújo (2016):
Apesar do grande número de usuários das plataformas de programação em blocos, são poucas
as pesquisas nacionais sobre as vantagens do ensino de programação ofertada pela plataforma
EXTENSÃO PUC MINAS:
176 Novo Humanismo, novas perspectivas
[Dantas e Costa, 2013]. Sobretudo, são escassos os trabalhos que apontam evidências sobre
o estímulo do pensamento computacional por meio dos cursos dessas plataformas.
(CAVALCANTE; COSTA; ARAÚJO, 2016, p.1118).
A seguir, é apresentado o referencial teórico no qual este artigo se baseou. A Seção 3 traz a
metodologia utilizada, a Seção 4 discute a análise de resultados a partir do desenvolvimento do
pensamento computacional no projeto Beira Linha. E, por fim, na Seção 5, conclui-se este estudo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
em mais de 60 idiomas para pessoas de todas as faixas etárias que através dessa ferramenta aprendem
a pensar de forma criativa, trabalhar em equipe e pensar sistematicamente (FUNDAÇÃO SCRATCH,
2007).
No Scratch, os blocos são as ferramentas que substituem as linhas de códigos escritas em uma
linguagem de programação usual, passando a ter formatos e cores específicas que remetem a função
de cada bloco. Portanto, para criar um programa basta combinar os blocos, organizá-los em uma
sequência lógica e ver o resultado acontecendo na tela do computador. Além disso, os projetos são
compostos por um palco e vários objetos, chamados de atores. O palco corresponde ao plano de fundo
onde serão executadas as ações de cada ator, que por sua vez podem estar associadas a sons, imagens
e variáveis. Para definir a ação dos atores basta arrastar os blocos de comandos e encaixá-los uns aos
outros, como peças de um quebra-cabeça, a fim de definir a ordem de execução do programa de
maneira lógica.
A realização da oficina sobre Scratch com os alunos do Ensino Médio, evidenciou o quanto
os conceitos computacionais, e ainda, conceitos da matemática podem ser facilmente
aprendidos quando essa aprendizagem ocorre de forma significativa, pois a interação com a
linguagem de programação do Scratch provoca no sujeito a organização do seu pensamento
amparado em noções subsunçoras num processamento de significação do conhecimento a ser
construído. (RAMOS; TEIXEIRA, 2015, p.221).
O presente artigo pretende abordar um tema semelhante ao dos estudos selecionados, sendo
constituído em volta do desenvolvimento do pensamento computacional e das ferramentas de
EXTENSÃO PUC MINAS:
180 Novo Humanismo, novas perspectivas
programação em blocos. Assim como dois dos trabalhos apresentados acima, este estudo também
utilizou a plataforma Scratch, porém, ele se diferencia no modelo de avaliação do pensamento
computacional, no qual foi utilizado o modelo de Gretter e Yadav, e os outros autores trabalharam
com a abordagem de Brennan e Resnick.
3 METODOLOGIA
O projeto Beira Linha é um projeto de extensão da PUC Minas, que ocorre desde 2002, na
unidade São Gabriel, com o objetivo de fortalecer o compromisso social da universidade com a
comunidade. Com o foco na Extensão Universitária, o projeto proporciona a aplicação de
conhecimentos acadêmicos na sociedade e promove a cidadania e inclusão social através do
oferecimento de oficinas de formação gratuitas, constituindo-se como um instrumento de mudanças
de vidas para a comunidade a que se destina.
No ano de 2021, devido à pandemia da COVID-19, a edição do Beira Linha do primeiro
semestre aconteceu em regime remoto e visou fomentar o desenvolvimento de adolescentes, jovens
e adultos através de ações de empoderamento no uso de tecnologias da informação e no acesso à
formação universitária. Dessa maneira, foram oferecidas 35 oficinas sobre Informática Básica,
Iniciação à Programação, Inglês e Preparação para ENEM (Português, Matemática e Redação).
O projeto teve início com a convocação de monitores por meio da divulgação realizada pela
Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas e, uma vez que são selecionados com base em suas
habilidades e domínios relacionados aos temas das oficinas, estes se tornam responsáveis por
conduzir os cursos e produzir o material utilizado ao longo das aulas. As oficinas do primeiro semestre
de 2021 tiveram, aproximadamente, 10 semanas de duração, e foram realizadas de maneira síncrona,
EXTENSÃO PUC MINAS:
182 Novo Humanismo, novas perspectivas
por meio do Google Meet, e de forma assíncrona, por meio do WhatsApp, para a apresentação de
conteúdos expositivos, desenvolvimento e discussão de questões. Após a conclusão, foram emitidos
certificados de participação para os beneficiários que compareceram aos encontros virtuais e fizeram
as atividades propostas. Ao todo, no primeiro semestre de 2021, o projeto Beira Linha ofereceu 600
vagas, das quais 587 foram preenchidas. Ao final do curso houve 247 concluintes, os quais receberam
o certificado de participação do projeto.
A oficina de Iniciação à Programação do projeto Beira Linha ocorreu entre os dias 5 de abril
a 18 de junho de 2021. Inicialmente ela contou com, aproximadamente, 30 alunos, mas, com o passar
do curso, apenas 12 alunos participaram efetivamente e concluíram. Os temas abordados foram
Scratch, Linguagem C, Wix, HTML e CSS, porém, apenas as atividades que dizem respeito ao
Scratch serão detalhadas, por serem relevantes à discussão.
Na oficina, o Scratch foi introduzido aos beneficiários e toda a sua interface gráfica foi
explorada, incluindo os atores e cenários. Além disso, os blocos (de movimento, aparência, eventos,
controle, sensores, operadores e variáveis) também foram examinados detalhadamente com os alunos,
juntamente a como utilizá-los para fazer um programa funcionar. Ao longo das aulas, os conceitos de
algoritmo, identificadores, variáveis, entrada e saída de dados, operadores aritméticos e relacionais,
estruturas condicionais e estruturas de repetição foram ensinados, exemplificados e praticados por
meio do Scratch.
Para reforçar esses conceitos e a prática da programação em blocos, duas atividades foram
propostas, uma que consistia em construir uma calculadora básica, com as operações de adição,
subtração, multiplicação e divisão, e a outra que consistia em reproduzir um jogo já existente e alterá-
lo, deixando-o mais difícil, por exemplo. Nessa última atividade, os jogos base para serem utilizados
foram o Pong, Pega-Pega e Labirinto. As atividades entregues pelos alunos foram revisadas, e o
assunto sobre Scratch foi concluído na oficina.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 183
A última questão visava avaliar a habilidade do pensamento algorítmico e, para isso, deveria
ser selecionado o programa que respondesse corretamente ao seguinte problema: “Você precisa fazer
um programa no Scratch em que o ator peça ao usuário para digitar um número. Depois, o ator deve
mostrar o dobro desse número na tela”. Considerando os conjuntos de blocos apresentados, a resposta
correta é o primeiro programa, uma vez que ele apresenta a sequência correta de passos e regras que
permitem a solução do problema apresentado. O programa 2 por sua vez, apresenta tais passos em
uma ordem que não condiz com a execução correta do problema, não demonstrando assim o uso do
pensamento algorítmico.
EXTENSÃO PUC MINAS:
186 Novo Humanismo, novas perspectivas
Em cada uma das três últimas questões, houve apenas 1 erro, portanto, 90,9% dos alunos
selecionaram as alternativas corretas. Através da análise individual dos resultados, foi possível
identificar que as respostas erradas vieram de respondentes diferentes.
A análise desse alto índice de acerto (90,9%) aponta que os participantes da oficina de
programação apresentaram as habilidades de decomposição, reconhecimento de padrões e
pensamento algoritmo.
CONCLUSÃO
Linha, verificou-se que todas as habilidades do pensamento computacional foram encontradas nos
beneficiários após a conclusão das oficinas. A análise sobre o desenvolvimento das habilidades do
pensamento computacional decorrente da realização das oficinas foi limitada, pois não foi realizado
um diagnóstico inicial sobre a presença prévia de tais habilidades junto aos beneficiários, no entanto,
isto não invalida o objetivo deste estudo, apenas não permite apresentar os índices de
desenvolvimento das habilidades.
A observação das monitoras da evolução do pensamento computacional nos beneficiários com
o desenvolvimento das oficinas, através do aumento da facilidade de desenvolver as atividades
propostas utilizando o Scratch somado aos relatos recebidos dos beneficiários sobre a compreensão
dos caminhos que fizeram no processo de aprendizagem da programação em blocos permitiu uma
análise e confirmação da importância da programação em blocos para o desenvolvimento do
pensamento computacional, o qual possui impactos positivos não apenas na programação, mas
também em outros aspectos da vida.
Por meio do sucesso obtido nas oficinas, foi possível perceber que a plataforma Scratch,
utilizada nas aulas, mostrou-se fundamental para o desenvolvimento das habilidades citadas
anteriormente, o que confirma a relação entre a programação em blocos e o desenvolvimento do
pensamento computacional. Além disso, também foi notável a influência do Beira Linha como um
espaço de desenvolvimento do pensamento computacional para a construção do conhecimento dos
beneficiários.
O desenvolvimento das oficinas e a reflexão provocada pela pesquisa deste trabalho
permitiram às monitoras de extensão compreender como o pensamento computacional, conceito
originalmente da área da computação, pode desenvolver as habilidades humanas e profissionais de
todos os agentes sociais e como tal, promover a transformação de vidas. Além disso, reforça também
o potencial dos projetos de extensão como campos de pesquisa para o desenvolvimento de todas as
áreas de conhecimento.
Para a coordenadora, o desafio de oferecer a oficina de Scratch foi mais um obstáculo vencido
no caminho de reconfiguração da metodologia e busca de novas oportunidades para projeto Beira
Linha realçando a crença no potencial transformador deste projeto para todos os envolvidos, em
especial: beneficiários, extensionistas e coordenadora de projeto de extensão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
188 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
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<https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020>. Acesso em: 23 out. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 189
RESUMO
Este artigo apresenta a experiência ao longo de 1 ano e 6 meses do Projeto de Extensão Universitária Construindo Pontes,
do curso de graduação em Engenharia Civil da Unidade Praça da Liberdade da PUC Minas, em Belo Horizonte / MG. Ao
longo desses meses, com o desenvolvimento das ações do projeto inclusive durante o período de pandemia, são
apresentadas metodologias com fundamentações em forte referencial teórico, acerca da atuação no projeto. Na discussão,
apresenta-se o conceito de deficiência cognitiva e múltipla(s), que é o perfil dos nossos beneficiários; pressupõe-se que o
uso de manualidades vem somar com o processo de ensino e aprendizagem, de integração, inclusão, cidadania,
coordenação motora e dignidade dos beneficiários do projeto, usuários da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais
de Belo Horizonte - APAE BH, com a mediação e o acompanhamento dos extensionistas do Construindo Pontes.
ABSTRACT
This paper presents the experience over 1 year and 6 months of the Construindo Pontes University Extension Project, of
the Civil Engineering undergraduate course at the Praça da Liberdade Unit at PUC Minas, in Belo Horizonte /MG.
Throughout these months, with the development of the project's actions, including during the pandemic period,
methodologies are presented based on a strong theoretical framework, about the performance in the project. In the
discussion, the concept of cognitive and multiple disabilities is presented, which is the profile of our beneficiaries, which
presupposes that the use of mannual skills adds to the teaching and learning process, integration, inclusion, citizenship,
motor coordination and dignity of the project's beneficiaries, users of the Association of Parents and Friends of
Exceptional People of Belo Horizonte - APAE BH, with the mediation and the monitoring of the extension workers of
Construindo Pontes.
INTRODUÇÃO
O Curso de Engenharia Civil da PUC Minas da Unidade Praça da Liberdade, em parceria com
a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Belo Horizonte, desenvolve o projeto
de extensão Construindo Pontes, que tem como objetivo colaborar com a inclusão e cidadania de
1
Engenheiro de Produção Civil (CEFET MG), Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG), e Doutorando em Engenharia
Mecânica (PUC Minas). Professor do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais e Coordenador do Projeto de Extensão SOS Matemática (2022) E-mail: paulohenrique@pucminas.br.
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190 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), as pessoas com deficiência
constituem 10% da população mundial, o que representa cerca de 650 milhões de pessoas. São a
maior “minoria” do mundo e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento.
Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência. As mulheres e
meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos e mais propensas a serem vítimas
de violência ou estupro; além disso, têm menor probabilidade de obter ajuda da polícia, proteção
jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de 30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de
deficiência e, nos países em desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a
escola.
Os registros da História Antiga e Medieval apontam a eliminação e a rejeição como formas
de tratamento direcionadas às pessoas com deficiência. Sacrifícios eram permitidos e o extermínio se
dava de diversas maneiras, podendo essas pessoas serem descartadas da sociedade sem nenhuma
piedade. Esses tratamentos, ao longo da história, tomaram formas e proporções diferenciadas,
sobretudo influenciadas pela visão assistencialista e caritativa. Até o século XV, crianças deformadas
eram jogadas nos esgotos da Roma Antiga. Na Idade Média, pessoas com deficiência encontravam
abrigo nas igrejas, como o Quasímodo do livro O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, que
vivia isolado na torre da catedral de Paris. Na mesma época, as pessoas com deficiência ganharam
uma função: bobos da corte.
Até o Século XXI, a representação da deficiência esteve recoberta por uma camada nebulosa
de preconceitos, retirando dessas pessoas a condição de seres humanos. O aspecto pouco humano da
questão levou ao processo de invisibilidade das pessoas com deficiência e, portanto, a um histórico
de atrasos no desenvolvimento de políticas públicas.
As primeiras mudanças ocorreram nos Séculos XV a XVII, quando, demarcada pelo
Renascimento, a atenção a estas pessoas passa a ser baseada numa filosofia humanista, que por sua
vez, desloca esse grupo invisível para o grupo de pessoas marginalizadas. No século XIX, essa
atenção específica foi dada após o período da guerra civil, por ações integracionistas, através da
construção de asilos e abrigos, como por exemplo, o Lar Nacional para Soldados Voluntários
Deficientes.
No século XX, o tema ganha proporção internacional, com destaque na Organização das
Nações Unidas (ONU), sob o viés da pauta de direitos humanos. A década que efetivamente trouxe
uma nova possibilidade no campo dos direitos das pessoas com deficiência se deu a partir dos anos
EXTENSÃO PUC MINAS:
192 Novo Humanismo, novas perspectivas
80, quando a ONU instituiu o Ano Internacional da Pessoa Deficiente – AIPD, inserindo esse grupo
social no cenário de luta e de garantia de direitos humanos. Esse percurso das pessoas com deficiência
no Brasil foi marcado, também, pela eliminação e exclusão.
Posteriormente, essa direção se traduz na visão integracionista, balizada pelo atendimento
especializado, arraigado na concepção de incapacidade e doença. Com a perspectiva da promoção de
direitos, o tema pessoa com deficiência torna-se centralidade dos debates sobre políticas públicas, em
uma concepção transversal e integral.
Os diferentes estudos relacionados aos processos de inclusão da pessoa com deficiência e as
políticas públicas têm ganhado destaque na sociedade, na academia e nas diferentes instâncias de
governo. Os Modelos de Deficiência são meios conceituais utilizados para a compreensão dos
pressupostos que utilizamos para compreender a pessoa com deficiência ao longo da história, os quais
tiveram transformações alicerçadas pela necessidade da pessoa com deficiência e pelo próprio sistema
sociopolítico e econômico. Os principais modelos são influenciados por duas filosofias fundamentais
relacionadas às pessoas com deficiência: uma as vê como dependentes, na sociedade onde vivem, e a
outra as percebe como clientes do que a sociedade oferece. E são esses aspectos que discutiremos
aqui, abordando as diferenças entre o Modelo Médico e o Modelo Social.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu uma mudança fundamental no conceito
de saúde, eliminando a unicausalidade do binômio saúde/doença e ampliando o conceito para uma
visão integral da questão. O início do Século XXI foi marcado pela publicação da Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), pela Organização Mundial de Saúde
(OMS).
A CIF apresenta a questão da deficiência como um atributo ao nível do corpo e nos aponta
para a necessidade de termos como pressuposto o Modelo Biopsicossocial, retirando do sujeito a
responsabilidade exclusiva por seu desempenho na Sociedade. Com isso, a CIF propõe um novo
modelo de avaliação, tendo a deficiência como um atributo ao nível do corpo e a incapacidade e a
funcionalidade, aspectos dinâmicos e influenciados pelos aspectos sociais, políticos, ambientais,
econômicos nos quais o sujeito está inserido.
Dessa forma, a CIF é uma classificação universal, que retira o foco da causa e volta as atenções
para o impacto das condições do sujeito em suas experiências de vida. O importante é perceber tal
categorização como uma ferramenta de planejamento e política para tomada de decisões. Por fim, a
avaliação biopsicossocial das pessoas com deficiência, necessariamente, deve levar em conta as
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 193
condições de acesso às políticas públicas, à possibilidade de exercer sua capacidade legal, à vida
comunitária, à participação social e, ainda, às políticas de acessibilidade em seu território e em todos
os espaços nos quais está inserido.
O Modelo Biomédico, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), considera a
deficiência como um problema etiológico da pessoa, ocasionado por uma doença, um trauma ou por
condições de saúde, que requerem, assim, cuidados médicos prestados em forma de tratamento
individual, sendo este direcionado para a obtenção da cura ou, em não a conseguindo, de uma melhor
adaptação da pessoa e de uma mudança em sua conduta. Assim, o indivíduo portaria uma patologia
que poderia ser de ordem física, intelectual ou sensorial.
Para alguns pesquisadores (COHEN; FRANCO, 2000; CANO, 2002), os indicadores
tornaram-se instrumentos de gestão fundamentais nas atividades de monitoramento e avaliação das
instituições, bem como na medição dos projetos, programas e políticas, permitindo acompanhar as
metas desejadas, identificar avanços e melhorias de qualidade, corrigir problemas, identificar
necessidades de mudança, dentre outros elementos importantes no ciclo das políticas públicas.
Quando tratamos de dados sobre quem são as pessoas com deficiência no Brasil, a principal
fonte de informações são os Censos Demográficos, que têm buscado recolher e agrupar dados sobre
pessoas com deficiência em seus levantamentos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD), de 1981, apresentou, em seu questionário de saúde, um bloco denominado “deficientes”. O
principal objetivo neste levantamento foi identificar pessoas com lesões corporais graves e
permanentes.
Conforme as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas
com deficiência não são uma minoria populacional, pois, de acordo com dados do Censo de 2010, no
Brasil, 45.606.048 pessoas declararam ter pelo menos uma das deficiências investigadas,
correspondendo a 23,9% da população brasileira. Levando em consideração os tipos de deficiência
13, a deficiência visual representou 18,6% do total; a motora (física), 7%; a auditiva, 5,10%; e a
mental ou intelectual, 1,4% (Tabela 01).
No Censo de 2000, essa proporção era de 14,5%. Há algumas justificativas para tamanha
discrepância, sendo a principal delas uma mudança na pergunta, que foi simplificada: “Como você
avalia a sua capacidade de enxergar?”, por exemplo, deu lugar a “Você tem alguma dificuldade para
enxergar?”. De acordo com subsídios obtidos da Cartilha sobre o Censo 2010, os dados coletados
pelo IBGE descreveram a prevalência dos diferentes tipos de deficiência e as características das
pessoas que compõem esse segmento da população.
A deficiência foi classificada pelo grau de severidade de acordo com a percepção das próprias
pessoas entrevistadas sobre suas funcionalidades. A avaliação foi feita com o uso de facilitadores,
como óculos e lentes de contato, aparelhos de audição, bengalas e próteses.
As perguntas feitas aos entrevistados buscaram identificar as deficiências visual, auditiva e
motora pelos seguintes graus de dificuldade: (i) tem alguma dificuldade em realizar, (ii) tem grande
dificuldade, e (iii) não consegue realizar de modo algum. Também buscaram identificar a presença
de deficiência mental ou intelectual. Os questionários seguiram as propostas do Grupo de Washington
sobre Estatísticas das Pessoas com Deficiência.
Os dilemas de conhecer a deficiência intelectual remetem a um conceito culturalmente
construído e em evolução. A história contribui para identificar e desvelar esses dilemas, aqui
brevemente delineados, para induzir reflexões sobre os limites do nosso conhecimento, quando
buscamos compreender esse conceito, simplificado pelas terminologias e classificações. Remete aos
aspectos históricos, identificados em sua evolução epistemológica, terapêutica, educativa, social e
cultural (CARVALHO, 2014).
O modelo funcional e multidimensional da American Association on Intellectual and
Developmental Disabilities - AAIDD (2010) harmoniza-se com a definição de pessoa com deficiência
preconizada no capítulo 1 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência-CDPD
(BRASIL, 2012), inspirada no modelo social de deficiência, a saber: "Pessoas com deficiência são
aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas".
A deficiência intelectual ocupou, durante muitos anos, a centralidade das pesquisas
acadêmicas na área da educação especial, devido às dificuldades apresentadas nas formas de se
definir, conceitualizar, e nomear a própria deficiência. Essas dificuldades estão relacionadas ao
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 195
processo de identificação dos sujeitos diagnosticados com deficiência intelectual, pois aponta-se a
demasiada complexidade da avaliação inicial e o diagnóstico desse público discente (CARVALHO,
2016).
Para além da complexidade de nomenclaturas da deficiência intelectual, é importante sinalizar
que, historicamente, o grupo identificado com esta deficiência tem evidenciado um elevado
contingente numérico, quando comparado aos alunos público-alvo da educação especial em geral
(CARVALHO, 2016).
Dessa forma, segundo a pesquisa de Martinez (2006) há a observância de que as matrículas
de alunos com deficiência intelectual apresentaram expressivo aumento no Brasil. Os dados apontam
que temos uma ampliação contínua, ao longo dos anos, dos alunos com deficiência intelectual. No
ano de 1998, tínhamos 181.377 alunos inseridos nesta categoria, já em 2010, esse contingente triplica,
chegando a 439.670 alunos. É perceptível que os alunos com deficiência intelectual representavam,
em todos os anos analisados, um contingente numérico expressivo comparado às matrículas dos
alunos público-alvo da Educação Especial.
Nessa crescente evolução de alunos com deficiência intelectual matriculadas na educação
especial, Rey (2004), apresenta, na sua pesquisa, que a pessoa com deficiência deve ser considerada
como sujeito “ativo, intencional, consciente e emocional em sua totalidade” (REY, 2004, [s./p.]), o
que já em 2004, estabelece uma conexão com a concepção de Martinez e Silva (2006), que defendem
que a perspectiva da totalidade precede a visão dos impedimentos particulares do sujeito, constituída
com autonomia, ideias, desejos, sentimentos, vontade, ações e atuações, constituída a partir de sua
história de vida, em espaços sociais e relacionais, nos diferentes contextos dos quais participa.
Dessa forma, a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) de Belo Horizonte,
fundada em 15 de abril de 1961, já atendeu ao longo de sua existência mais de 100 mil pessoas com
deficiência intelectual e múltipla, bem como suas famílias, em algum momento de suas vidas. No
final da década de 1950, a notável educadora Helena Antipoff mobilizou lideranças políticas,
profissionais de diversas áreas, e a sociedade em geral, em um movimento organizado de defesa de
direitos e prestação de serviços de qualidade às pessoas com deficiência intelectual e múltipla e às
suas famílias.
Ao longo de sua existência, a APAE Belo Horizonte conseguiu avanços notáveis, tanto na
melhoria de sua estrutura física, quanto na ampliação e aprimoramento dos serviços prestados,
criando condições técnicas de agregação de diversos profissionais das áreas de assistência social,
saúde, educação, e preparação para o mercado de trabalho, buscando sempre o desenvolvimento
EXTENSÃO PUC MINAS:
196 Novo Humanismo, novas perspectivas
global e a melhoria da qualidade de vida dos usuários e de suas famílias. Todas as atividades da APAE
Belo Horizonte são planejadas e executadas dentro dos princípios da Política de Atenção Integral e
Integrada, elaborada pela Federação Nacional das APAEs (FENAPAEs), e pela Universidade
Corporativa das APAEs. Essa política tem como objetivo assegurar o desenvolvimento global das
pessoas com deficiência intelectual e múltipla, e apoiar suas famílias. Assim sendo, a instituição
considera o sujeito como um todo, valorizando-o em termos orgânicos, cognitivos, laborais, afetivos
e relacionais, desenvolvendo ações e atividades que assegurem o seu desenvolvimento global,
tornando-o protagonista do seu processo de inserção social (Relatório Anual APAE, 2020).
A APAE BH registrou, em 2019, números antes da pandemia da COVID-19, 47.987
atendimentos quanto à assistência social de famílias dos seus assistidos; 44.356 atendimentos quanto
a demandas de saúde, ao passo que desenvolveu 4.654 oficinas com a comunidade na temática de
saúde. Proporcionou mais de 90 horas/aula, em 200 dias letivos em Educação Especial aos seus
assistidos, conforme seu relatório de atividades anual, 2018. Esse é o relatório mais recente,
disponível no sítio eletrônico da nossa instituição parceira nessa proposta. O relatório apresenta as
ações desenvolvidas no ano de 2019, no que tange às suas áreas de atuação quanto à educação, à
assistência social, à saúde e à gestão, para os assistidos e suas famílias. Esse é o documento norteador
dos dados apontados sobre a instituição parceira do Projeto Construindo Pontes.
2 METODOLOGIA
Nesse cenário, podemos definir que o projeto possui como beneficiários diretos 123 alunos de
Educação Especial, com deficiência intelectual e múltipla, que necessitam de apoios extensivos e
generalizados, com idade mínima de 15 anos, e com idade máxima, igual ou superior aos que
frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA), anos iniciais e finais.
Durante o 2º semestre de 2020, e durante o ano de 2021, com a primeira edição do Projeto
Construindo Pontes, as atividades acadêmicas da PUC Minas sendo desenvolvidas de forma on-line,
tivemos a oportunidade de desenvolver duas práticas extensionistas com a APAE Belo Horizonte, de
forma remota. As práticas trabalhadas foram nas disciplinas: Instalações Hidráulicas Prediais (9º
período - manhã), e Expressão Gráfica: Princípios e Técnicas (1º período - manhã), onde essa
aproximação com a instituição encurtou. Também tivemos a participação da instituição em uma
palestra on-line, ofertada pelo curso de Engenharia Civil - Unidade Educacional Praça da Liberdade
na Mostra PEX (de Pesquisa e Extensão) da unidade, onde a Srª Fabiana Cavalcante proferiu a
palestra: "PUC Minas e APAE MG - Potencialidades de Pesquisa e Extensão"2.
Tais ações potencializaram o projeto, em diálogo constante com a instituição para
arquitetarmos a melhor condição de seu desenvolvimento. Os resultados de desenvolvimento das
ações on-line e remotas do Construindo Pontes, durante o ano de 2021, são potencializados nos
indicadores de monitoramento do projeto, assim como, nos canais de comunicação da PUC Minas e
da APAE BH.
A metodologia adotada já foi utilizada pelo professor coordenador do projeto, ao lecionar em
semestres anteriores a disciplina de "Arquitetura e Estruturas" no curso de Arquitetura e Urbanismo
da PUC Minas - Campus Coração Eucarístico, conforme a figura 02 a seguir.
2
Acesso a palestra por esse link: https://web.microsoftstream.com/video/0e7c8861-92c6-463a-9dc6-a75a0eba3eed
(acesso com login e senha do Teams pela PUC Minas).
EXTENSÃO PUC MINAS:
198 Novo Humanismo, novas perspectivas
Não se trata de públicos similares, até mesmo, quanto ao perfil acadêmico da prática
metodológica, mas, o que se destaca aqui é a metodologia no que se refere à operacionalidade de
execução da oficina de construção de pontes de palito de picolé. Esse modelo, já experimentado por
mim, se mostrou eficaz, e essa eficácia permeia muito o fato de que as atividades já estão muito bem
elaboradas, definidas, e são colocadas logo no início dos trabalhos, assim que o período de vigência
da oficina se inicia, como também, os responsáveis por cada atividade logo de início são definidos.
Esse princípio tem se mostrado exitoso na avaliação da forma de condução da oficina e de construção
da maquete de forma participativa.
Com o início do semestre letivo, as atividades do projeto se dividem e se organizam desta
forma: o primeiro mês de trabalho está voltado para as atividades de organização do material didático
que será utilizado nas oficinas, e de elaboração e envio para compra pela Pró-reitoria de Extensão dos
materiais necessários para a realização delas; é prevista uma reserva de verba para compra de
equipamentos, ferramentas, EPI, e materiais de colagem, palitos de picolé, que se caracterizam como
material didático necessário para a realização das oficinas práticas.
No segundo mês de cada semestre, iniciam-se efetivamente as oficinas com a execução das
pontes de palito de picolé (segunda-feira, quarta-feira, e sexta-feira, preferencialmente, das 14h às
16h. Para as oficinas, a APAE Belo Horizonte possui sala de aula, equipada com projetor, quadro
branco, e cadeiras de braço, e bancadas com cadeiras, onde será o local de execução das pontes de
palito de picolé.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 199
A cada oficina (oferecemos três por semestre), recebemos cerca de 15 beneficiários, que são
divididos em três grupos de trabalho, com 5 participantes cada. Cada um desses grupos realiza a
montagem da ponte de palito de picolé, seguindo as informações e orientações do extensionista.
Esse papel do extensionista é muito importante, visto que, para explicação e orientação do
processo de execução das pontes por parte dos participantes; ele/ela explana, de forma simples, e de
compreensão dos participantes, informações que serão alinhadas com os conceitos teóricos vistos em
sala de aula, necessários quanto ao conteúdo de Sistemas Estruturais. Salienta-se que os extensionistas
acompanham, a cada encontro (como se demonstra na figura 03), uma das atividades presenciais na
APAE BH. Os extensionistas acompanham e orientam a continuidade da execução da ponte de palito
de picolé pelos grupos de participantes.
desse tipo em Belo Horizonte. E antes do desfecho da oficina, de uma forma alegre e celebrativa, já
que todos os grupos conseguem executar a sua maquete, realizamos um pequeno teste de carga das
maquetes das pontes de palito de picolé.
Para esse teste de carga, não utilizaremos todas as maquetes, pois pretendemos armazenar as
maquetes mais rígidas, e esteticamente mais bem montadas, para exposição, como é demonstrado na
figura 04 a seguir, de uma peça de divulgação para a 1ª Mostra de trabalhos do Projeto Construindo
Pontes.
informações, em sintonia com o nosso parceiro, para darmos visibilidade às nossas ações de extensão
universitária ao público em geral e potencializando uma possível captação de parceiro, para atuação
e subsídio, em áreas de interesse do projeto.
Durante o período da pandemia da COVID-19, período em que o projeto foi concebido, as
atividades foram desenvolvidas de forma on-line, e como a pandemia sustentou-se por um bom
período, até os dias atuais, as ações do projeto, nos semestres de 2021, deram-se totalmente no
formato virtual. Impossibilitado o desenvolvimento das atividades no formato presencial, tivemos
como métodos aplicados: o agendamento de chamadas síncronas entre extensionistas e os
beneficiários, cada um em sua casa; nestas, os extensionistas repassavam, a cada encontro on-line de
no máximo 1 hora, com no máximo 5 participantes por chamada, noções básicas para o
desenvolvimento de maquetes individuais, de sistemas estruturais, factíveis de desenvolvimento em
casa, e a cada encontro síncrono on-line, os participantes desenvolviam uma parte dessa maquete
individual.
Preparou-se, para que também ocorressem, de forma assíncrona, gravações da confecção de
pequenas partes das maquetes, para que, de acordo com a potencialidade de conexão das famílias do
beneficiário, este pudesse e, em seguida, desenvolver sua própria maquete. Entende-se que essa
proposta de abrangência desta metodologia não presencial seja possível mensurar e quantificar nosso
público alvo, a cada encontro virtual, registrando a presença de participantes. A figura 04 a seguir,
demonstra uma chamada pelo Zoom para avaliação das atividades virtuais, no 2º semestre de 2021.
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O projeto possui 1 ano e 6 meses de atuação, sendo que nos semestres passados (1º e 2º) de
2021 teve o seu desenvolvimento no formato virtual, no qual as oficinas eram desenvolvidas pelos
beneficiários em suas residências, com o suporte da família, e as orientações de montagem da maquete
era encaminhada pelos extensionistas por vídeos enviado por aplicativos de mensagens, e ocorria
momentos de confraternização em chamadas síncronas entre os participantes.
Como beneficiários diretos, somando os três semestres de atuação, foram 52 beneficiários da
APAE BH, sendo que alguns destes, por gostarem tanto, participaram mais de uma vez das oficinas
semestrais. Nosso principal resultado, além de números, contextualizando Geara (2021), é, com este
projeto colaborar para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras dos beneficiários da
APAE BH, contribuindo para a conquista da autonomia e participação social.
Para os extensionistas, alunos da PUC Minas, nossos principais resultados são, através da
mediação das oficinas, colaborar com a visão mais humanista do mundo, posicionando-os assim como
multiplicadores de ações de inclusão no dia-dia deles como alunos, junto a demais discentes, docentes
e funcionários pertencentes à comunidade universitária da PUC Minas, familiares, mercado de
trabalho, e outros.
REFERÊNCIAS
RESUMO
A temática relacionada à inserção dos jovens no mundo do trabalho tem sido objeto de pesquisas e de programas em
âmbito local, nacional e internacional. A PUC Minas tem uma vasta expertise no desenvolvimento de diversas ações nesse
campo. É nesse contexto que o “Projeto de Extensão Jovem Aprendiz, realidades e perspectivas transformadas pelo
conhecimento”, desenvolvido em parceria com o CEDUC Virgílio Resi e demais cursos do ICEG Escola de Negócios,
analisa e discute os novos passos alcançados no período pandêmico e pós-pandêmico. Ele reflete sobre os grandes desafios
e vivências desses jovens que tiveram muitas chances reduzidas pelas restrições oriundas a da trágica situação de saúde
imposta pela pandemia da COVID-19. A restrição ainda foi potencializada após a adoção das novas tecnologias da
informação e comunicação no processo formativo desenvolvido pela equipe do projeto, juntamente com os parceiros
envolvidos. A equipe responsável realizou encontros semanais de práticas didático-pedagógicas por meio virtual. Em seu
decorrer, foram ministrados conteúdos educacionais referentes à preparação dos jovens para desenvolver atividade
profissional na empresa contratante e à capacitação para o empreendedorismo sustentável. Somadas às atividades
formativas, realizaram-se oficinas interativas de cunho sociocultural com vistas à formação cidadã na mesma perspectiva
da PUC Minas. Nesse aspecto, é importante ressaltar que, no decorrer do isolamento, todo o acompanhamento foi
realizado em ambiente virtual, síncrono, por meio das ferramentas digitais Teams da Microsoft e o pacote Office. Já no
ano de 2022, as atividades presenciais foram retomadas e a formação continuada dos jovens aprendizes está em curso,
contando com o uso das novas tecnologias em uma ambiência formativa integrada. Diante do exposto, o presente relato
de experiência tem como objetivo analisar a relevância das ações e atividades de formação dos participantes do projeto
jovem aprendiz de cunho técnico, científico, cultural e humanista, com ênfase na preparação para o primeiro emprego. A
metodologia usada é a qualitativa e participativa, centralizada na percepção dos jovens e dos agentes de transformação
envolvidos e na linha pedagógica construtivista adotada pelo parceiro CEDUC. A iniciativa tem grande aderência à
Agenda 30 e aos ODS referentes ao trabalho decente, à redução da desigualdade e incentivo ao desenvolvimento humano.
Também tem caráter interdisciplinar, bem como uma relação sinérgica com as disciplinas extensionistas dos cursos de
Contabilidade São Gabriel, Contabilidade EAD e COREU e ainda com o curso de Economia e Administração. No
próximo semestre, serão integradas atividades formativas e conhecimentos afeitos a área do marketing e publicidade e
engenharia de jogos.
1
Estudante de Graduação do curso de Ciências Contábeis EAD. Discente extensionista do projeto. E-mail:
edkac@yahoo.com.br.
2
Mestre em Ciências Contábeis, Professor da PUC Minas e da PUC Virtual. E-mail: marcelopmaga@yahoo.com.br,
marcelopmaga@pucminas.br.
3
Doutora em Economia Aplicada pela Universidad de Valencia, mestrado em Ciências Políticas pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Economia e Curso de Ciências Contábeis São Gabriel e EAD PUC
Minas. E-mail:taniacri@hotmail.com, taniacri@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 205
ABSTRACT
The theme related to the insertion of young people in the world of work has been the object of research and programs at
the local, national and international levels. PUC Minas has vast expertise in the development of various actions in this
field. It is in this context that the Young Apprentice extension project, realities and perspectives transformed by
knowledge developed in partnership with CEDUC Virgílio Resi and other courses at ICEG Escola de Negócios analyzes
and discusses the new steps achieved in the pandemic and post-pandemic period. Reflecting on the great challenges and
experiences of these young people who had many of their chances reduced, initially, by the restrictions imposed by the
tragic health situation imposed by the COVID 19 pandemic. project team, together with the partners involved. The
responsible team held weekly meetings of didactic-pedagogical practices through virtual means in which educational
contents were given regarding the preparation of young people to develop professional activity in the contracting company
and training for sustainable entrepreneurship. In addition to these training activities, interactive workshops of a
sociocultural nature were carried out with a view to citizen training in the same perspective of PUC Minas. In this regard,
it is important to note that during the isolation, all monitoring was carried out in a virtual, synchronous environment
through the use of digital tools, namely: Microsoft Teams and the Office package. In 2022, face-to-face activities were
resumed and the continuing education of young apprentices is underway, relying on the use of new technologies in an
integrated training environment. In view of the above, the present experience report aims to identify the relevance of the
actions and training activities of the participants of the young apprentice project of a technical, scientific, cultural and
humanist nature, with an emphasis on preparation for the first job. The methodology used is qualitative and participatory,
focused on the perception of young people and the agents of transformation involved, in addition to the constructivist
pedagogical line adopted by the partner CEDUC. It is important to highlight that this initiative has great adherence to
Agenda 30 and the SDGs regarding decent work, the reduction of inequality and the encouragement of human
development. However, it has an interdisciplinary character, as well as a synergistic relationship with the extension
disciplines of the São Gabriel Accounting, EAD Accounting and COREU courses, as well as with the Economics and
Administration course. And in the next semester, it will integrate training activities and knowledge related to the area of
marketing and advertising and game engineering.
INTRODUÇÃO
O presente artigo fundamenta-se nas ações desenvolvidas nas diversas versões do projeto
relacionado ao Programa Aprendizagem, executado conjuntamente com parceiro externo CEDUC
Virgílio Resi (Centro de Educação para o Trabalho) e intitulado “Jovem aprendiz, realidades e
perspectivas transformadas pelo conhecimento”, desenvolvido na PUC Minas. Visa contribuir para a
formação do jovem aprendiz com perfil de vulnerabilidade social e com expectativa de obter uma
experiência real de preparação para o trabalho, por meio do método de ensino denominado “Educar
trabalhando”.
Esse sistema de aprendizagem considera que as práticas nas empresas contratantes preveem o
acompanhamento, a frequência à escola e pressupõem o compartilhamento do conhecimento das áreas
de saberes inerentes à formação técnico-profissional. Nesse aspecto, a contribuição dos docentes da
EXTENSÃO PUC MINAS:
206 Novo Humanismo, novas perspectivas
universidade, dos discentes extensionistas e do cidadão com sua formação humanística integral é
marca significativa, relevante e presente da PUC Minas e da PROEX, integra as diretrizes formativas
contidas no programa difundido e sustentado pelo Instituto CEDUC Virgílio Resi.
A PUC Minas, uma instituição comprometida com a formação integral do indivíduo e com a
indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão, cumpre o seu papel transformador junto aos
atores na sociedade em que se insere, pois
[...]o projeto Jovem Aprendiz é concebido pela política pública educacional (Lei do Aprendiz
nº 10.097/2000 – BRASIL, 2000) que dispõe sobre condições e direitos de um jovem
aprendiz frente ao combate do trabalho infantil no Brasil. O programa de aprendizagem para
os jovens é ministrado por entidades qualificadas que tenham por objetivo a assistência ao
adolescente e a educação profissional. (MAGALHÃES et al., 2020, p. 129).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 207
vem contribuindo não apenas para a capacitação técnico-profissional dos jovens aprendizes,
mas para sua formação integral. Além disto, propicia aos extensionistas uma interação com
outros atores e realidades sociais, permitindo reelaborar seus conhecimentos, valores e
experimentar o processo de aprendizagem, por intermédio de práticas educacionais
indissociáveis. Estrategicamente, o projeto permite aos jovens abrir horizontes e projetar
ideais educacionais, [...] sensibilizados e conscientes de seu papel de protagonista da
mudança da realidade, contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária. (PROEX,
2022-2025, 2022, p. 18-19).
2 METODOLOGIA
A observação participante foi adotada desde a primeira etapa do diagnóstico realizado junto
ao público beneficiário, bem como aos demais integrantes das instituições envolvidas. Na atualidade,
o processo encontra-se em curso, dado que o projeto atingiu sua primeira fase no primeiro semestre
de 2022. Todavia, considera-se, na condução da fase metodológica, que a observação participante:
é um método qualitativo com raízes na pesquisa etnográfica tradicional. O termo foi usado
pela primeira vez pelo antropólogo social Malinowski na década de 1920 e a abordagem foi
posteriormente desenvolvida pela Escola de Chicago sob a liderança de Robert Park e
Howard Becker (Given, 2008;Mack, Woodsong, Macqueen, Guest & Namey 2005). Essa
abordagem permite ao pesquisador (fieldworker) utilizar o contexto sociocultural do
ambiente observado (os conhecimentos socialmente adquiridos e compartilhados disponíveis
para os participantes ou membros deste ambiente) para explicar os padrões observados de
atividade humana. Ou seja, consiste na inserção do pesquisador no interior do grupo
observado, tornando-se parte dele, interagindo por longos períodos com os sujeitos, buscando
partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação.
(MARIETTO.2018. p.1).
Já a metodologia para aprendizagem adotada pelo CEDUC e pela equipe envolvida na fase de
execução das ações é de cunho construtivista,
Outro aspecto a ser considerado é o o uso das plataformas, das redes e aplicativos, o que
pressupõe uma relação direta nas oficinas formativas, bem como a interatividade nas etapas de
formação presenciais mesmo após o retorno das atividades no Campus do Coração eucarístico após
a liberação para atividades presenciais. Esses processos exigiram inovação e atendimento à
complexidade que não se dava anteriormente à pandemia COVI 19, requerendo uma nova abordagem,
capaz de associar a relação virtual adotada na fase anterior ao espaço presencial já em princípios do
1º semestre de 2022. Trata-se de grandes desafios postos para a equipe, que entende de consolidação
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 209
do processo que se estende além da experiência da pandemia. Ainda temos que refletir, então, sobre
a aprendizagem e a capacidade de formar em ambientes virtuais ou ambientes combinados, parte
virtual, parte presencial ou laboratorial.
O processo de monitoramento, acompanhamento e avaliação tem sido realizado por oficina
formativa e são usados os testes rápidos, as pesquisas de opinião (survey) e relatos de experiências
junto aos jovens aprendizes nessa fase do projeto. No próximo semestre, serão efetuadas outras etapas
de monitoramento e avaliação previstas no projeto até a fase conclusiva da proposta extensionista.
3 MARCO REFERENCIAL
O presente projeto teve nas versões anteriores, e mantém nesta versão, como referencial o
marco regulatório para o Jovem Aprendiz e as abordagens relacionadas a tal prática, assim como a
explicitação da concepção do projeto desenvolvido entre a PUC Minas e o CEDUC. Conforme
informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2017), a taxa de desemprego juvenil
global era de 13,1%, o que informa que jovens têm três vezes mais chances de estarem desempregados
do que adultos; mas, quando um jovem consegue encontrar trabalho, o emprego está entre os
informais. Conforme as expectativas entre 2017 e 2030, a força de trabalho global juvenil irá
aumentar em 25,6 milhões; e, então, jovens trabalhadores irão precisar de empregos (MAGALHÂES
et al., 2020, p. 130).
Dayrell e Carrano (2003 apud MAGALHÃES et al., 2020) afirmam que a juventude é um
conceito subjetivo, definido historicamente e socialmente. Em decorrência desse fato, “o conceito
juventude não possui caráter universal, homogêneo ou estável. Apesar da divisão etária que costuma
ser feita, existem outros fatores sociais que definem a entrada na vida adulta”. (MAGALHÃES et al.
2020, p.131).
No país, esse reconhecimento se deu de forma tardia, e somente após a criação da emenda
constitucional nº65, em 13 de julho de 2010, passou-se u a incluir o adolescente e o jovem após a
alteração do Capítulo VII, do Título VIII da Constituição Federal. Essa inclusão é um avanço e se
alinha às recomendações da ONU em relação aos direitos da juventude.
No entanto, a situação dos jovens no mercado de trabalho não tem apresentado grandes
melhorias, em especial no período pós-pandêmico, no país e na região metropolitana de Belo
EXTENSÃO PUC MINAS:
210 Novo Humanismo, novas perspectivas
Por isso é necessária a adoção de políticas públicas condizentes com a realidade dos jovens
no Brasil, principalmente para aqueles que se encontram em grande vulnerabilidade social, agudizada
pelo processo decorrente da pandemia. Todavia, no momento atual, constata-se o esvaziamento do
papel efetivo do estado na geração de oportunidades, principalmente para esse segmento da
sociedade.
No auge da pandemia, no fim de 2021, verificou-se que, a maior desocupação por faixa etária
se situava no grupo de 14 a 17 anos: 37,2%. A maioria dos jovens, nessa categoria, trabalha sob
condições específicas, como a de função de menor aprendiz. A equipe que conduzia o projeto em
2020 já contava que o Programa Jovem Aprendiz é uma oportunidade para os jovens de baixa renda
que estavam à procura do 1º emprego.
De acordo com MAGALHÃES et al (2020, p.131),
o trabalho que, sendo uma das categorias de maior relevância social, transforma
simultaneamente o sujeito e a sociedade. Todavia, se considerarmos a dinâmica do
capitalismo, sobretudo ao final do século XX e início do século XXI, constataremos a
fragilização do valor trabalho e de seu significado mais fundamental de construção da
identidade, seja considerada a identidade individual, seja considerada a identidade social do
indivíduo. (DELGADO, 2006, p. 142).
Almejar um trabalho digno entrelaçado a uma formação decente se configura como grande
desafio posto em uma conjuntura pós-pandêmica, seja para os jovens aprendizes à procura de
formação e profissionalização, seja para as instituições parceiras. Elas estão imbuídas do propósito
de buscar de alternativas que permitam a criação de saídas de combate à crise econômica que tem
reduzido oportunidades para jovens e adultos, o que se soma aos percalços decorrentes de uma crise
sistêmica, cuja consequência é o adoecimento coletivo, algo que requer novos posicionamentos e a
definição de estratégias de combate potentes. É nesse contexto que o projeto tem desenvolvido suas
ações e cumprido suas metas, descritas no segmento a seguir.
3 RESULTADOS
Até o momento, o projeto apresentou resultados positivos em relação à participação dos jovens
aprendizes que frequentaram presencialmente todas as oficinas realizadas no primeiro semestre de
2022.
Verificou-se que “a dinâmica do projeto Jovem Aprendiz prevê, semanalmente, práticas
didático-pedagógicas que estão orientadas a ministrar os conteúdos educacionais de preparação do
aprendiz para desenvolver a atividade profissional na empresa contratante”. (ICEG/PUCMINAS,
2020). Além disso, o projeto prevê a realização de atividades de cunho sociocultural que foram
retomadas pós-pandemia. Elas estão ocorrendo de acordo com o cronograma definido anteriormente.
Observou-se ainda que a frequência tem sido mantida, tanto na formação teórica como na
prática/aplicada. A formação em temáticas contábil, financeira-econômica e de gestão e
empreendedorismo encontra-se em curso com forte adesão.
Os eventos, somados às visitas técnicas e culturais, têm surtido efeito sobre os jovens e
angariado grande interesse por parte dos que passaram a conhecer o campus e suas dependências
EXTENSÃO PUC MINAS:
212 Novo Humanismo, novas perspectivas
de juros simples e compostos, nos inspiramos no livro de Eduardo de Souza, Shopping Center
Financeiro: introdução ao uso da calculadora HP 12C, que traz uma sequência prática e didática
aplicada.
Finalmente, para as questões relativas à educação financeira, abordando o planejamento
financeiro pessoal, indicando as melhores opções dos mercados de investimento e de crédito, bem
como sugerindo posturas mais indicadas sobre as questões diárias de consumo e poupança, adotamos
principalmente as contribuições do Guia de Educação Financeira editado pelo IDEC
(INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR).
Foram estudados conceitos utilizados no mercado financeiro e fórmulas para cálculos de juros
(simples e compostos), além da realização de exercícios práticos, visando atender as necessidades
dos jovens aprendizes.
A equipe envolvida realizou uma pesquisa com os jovens aprendizes, objetivando conhecer
carências e necessidades do grupo, com a finalidade de delimitar o escopo e a abrangência do
conteúdo programático. A partir dessa investigação, detectou-se a necessidade de revisar
determinados conceitos e cálculos, envolvendo porcentagens e equações de primeiro grau,
indispensáveis para o entendimento da matemática financeira e consequente capacitação no
planejamento e controle das finanças pessoais. Dessa forma, deu-se o desenvolvimento de uma
formação dividida em três módulos: Porcentagem, Matemática Financeira e Educação Financeira. O
primeiro módulo propôs-se a uma revisão sobre o conceito de porcentagem, com práticas, por meio
da resolução de vários exercícios sobre o tema.
O segundo módulo, tendo em vista as dificuldades apresentadas pelos jovens para resolução
de questões sobre juros simples, exigiu que fosse incorporado ao fundamento teórico uma revisão
sobre equações de primeiro grau, fundamental para resolução dos cálculos vinculados a Matemática
Financeira. Sendo assim, a situação inesperada exigiu uma rápida adaptação da didática até então
utilizada na condução do projeto. A exemplo, para o entendimento e realização dos cálculos de juros
compostos, foi necessário ensinar aos jovens, paralelamente, os passos necessários para operar
calculadoras financeiras, especialmente a HP12C.
O terceiro e último módulo tratou dos conceitos e ferramentas mais simples, acessíveis aos
jovens aprendizes, para desenvolvimento e manutenção de um orçamento financeiro pessoal. Foram
estudadas as principais modalidades de aplicações financeiras, destacando aquelas mais acessíveis a
eles, explicitando de forma introdutória a instrumentalização dessas operações no mercado. Alguns
jovens demonstraram interesse em se aprofundarem no assunto, o que exigiu material complementar,
EXTENSÃO PUC MINAS:
214 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Matemática financeira e suas aplicações. 10 ed. São Paulo: Atlas,
2008.
ASSPROM. Aprendiz Legal. Lei da Aprendizagem. Disponível em:
https://www.assprom.org.br/lei-da-aprendizagem-5-cuidados-ao-escolher-uma-entidade-formadora/.
Acesso em: 17 mar. 2019
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos
estudantes. Seminário: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v.32, n .1, p.25-40, jan / jun .2011.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei no 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10097.htm. Acesso em: 07 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei federal, v. 8, 1990.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh /ptbr/centrais-de-conteudo/crianca-e-adolescente/estatuto-
da-crianca-e-do-adolescente-versao-2019.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.
CEDUC VIRGILIO RESI. Programa Jovem Aprendiz. Disponível em: https://cvr.org.br/. Acesso
em: 17 mar. 2019.
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216 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O projeto de extensão é uma ação que vai além da sala de aula, promovendo interação entre a faculdade e a sociedade.
Em conjunto com ensino e pesquisa, ele compõe um dos três pilares de uma boa graduação. O projeto requer uma
aplicação dos conteúdos, aprendidos em sala de aula, na prática, e tem um peso valioso no currículo do estudante. Além
disso, proporciona o contato com diferentes tipos de comunidades e estimula o desenvolvimento do aluno. A extensão
significa a participação ativa do aluno na sociedade em que vive. Por isso, o projeto de extensão é sinônimo de impacto
social — tanto na vida de quem recebe os benefícios do projeto quanto no cotidiano dos alunos que o integram. Assim os
alunos do Curso de Administração colocam em prática as matérias estudadas em sala de aula. O nosso projeto consiste
em realizar consultoria com quatro empresas de diferentes ramos, aplicando questionários, dos quais são gerados
diferentes diagnósticos de maturidade. Com essas respostas, são sugeridas ferramentas de gestão empresarial e elaborados
projetos de melhoria, a cada um com suas particularidades. As empresas escolhidas foram do segmento de produção de
móveis, Madeira Bonita, uma empresa do ramo de construção civil, Engenharia Procópio. A terceira empresa escolhida
para o projeto é do ramo de beleza e estética, Camila Procópio Estética, e por fim um uma loja on-line do ramo de
relojoaria, Salvatore.
ABSTRACT
The extension project is an action that goes beyond the classroom, promoting interaction between college and society.
Together with teaching and research, it makes up one of the 3 pillars of a good degree. The project requires an application
of the contents, learned in the classroom in practice, and it has a valuable weight in the student's curriculum. In addition,
it provides contact with different types of communities and encourages student development. Extension means the active
participation of the student in the society in which he lives. Therefore, the extension project is synonymous with social
impact — both in the lives of those who receive the benefits of the project and in the daily lives of the students who
integrate it. Thus, the students of the Administration Course, put into practice the subjects studied in the classroom. Our
project consists of consulting with four companies from different branches, applying questionnaires from which they
generate different maturity diagnoses. With these answers, we suggested business management tools and elaborated
improvement projects, each with its own particularities. The companies chosen were from the furniture production
segment, Madeira Bonita, a company in the civil construction sector, Engenharia Procópio. The third company chosen
for the project is from the beauty and aesthetics sector, Camila Procópio Estética, and finally an online watch store,
Salvatore.
1
Graduado em Administração de Empresas pela UNIUV e Mestre em Gestão Estratégica das Organizações pela
Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC. Doutorando em projetos pela FUNIBER Fundação Universitária
Iberoamericana. E-mail: prof_romildo@uniguacu.edu.br.
2
Graduanda em Administração pela Uniguaçu. E-mail: adm-amandasantos@uniguacu.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 219
INTRODUÇÃO
Por meio da prática de extensão, a Universidade tem a oportunidade de levar até a comunidade
os conhecimentos dos quais é detentora, produzidos através da pesquisa do ensino superior, buscando
socializar e democratizar o conhecimento. O compartilhamento desse conhecimento com a
comunidade sugere uma proposta crítica a partir dos questionamentos que envolvem uma série de
fatores sociais, políticos e culturais.
A consolidação das atividades de extensão universitária, em nosso país, veio através do
desenvolvimento do Plano Nacional de Extensão, elaborado pelos pró-reitores das universidades
públicas brasileiras, hoje, apoiado pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC. De acordo com
esse documento,
a extensão é uma prática acadêmica que interliga a universidade nas suas atividades de ensino
e de pesquisa, com as demandas da maioria da população, possibilita a formação do
profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço
privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades
sociais existentes. (MEC, 1996, s./p.).
O projeto tem como principal finalidade articular ações nos campos do ensino, assessoria e
pesquisa. Na extensão, busca-se desenvolver atividades educativas junto a empresas, buscando o
desenvolvimento de estudos e gerando conhecimento a prática.
As ações consistiram em: realizar visitas à comunidade para fins de diagnóstico; utilizar as
demandas de campo para geração de pesquisa, com diagnóstico e implementação de medidas
motivacionais para as questões do desenvolvimento e a sucessão dentro das empresas, bem como
envolver diferentes áreas do conhecimento e fortalecer os vínculos entre os diferentes ramos
envolvidos no projeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Como a finalidade deste projeto é desenvolver atividades aprendidas dentro na teoria da sala
de aula, colocando em prática ferramentas para a realização de consultorias, deve-se gerar um
processo de organização e planejamento. Com base nessa premissa, aplicamos questionários para
melhor embasamento da aplicação de ferramentas.
O questionário é um instrumento desenvolvido cientificamente, composto de um conjunto de
perguntas ordenadas de acordo com um critério predeterminado, que deve ser respondido sem a
presença do entrevistador (MARCONI; LAKATOS, 1999, p.100) e que tem por objetivo coletar
dados de um grupo de respondentes. Na pesquisa em Administração de Empresas, esse instrumento
é utilizado para obter informações sobre empresas, indivíduos, eventos, por exemplo (HAIR et al.,
2004, p. 159).
Após questionários aplicados, temos em mãos as nossas informações necessárias para a
aplicação de ferramentas que vão auxiliar no processo de organização da empresa.
Segundo Corrêa e Corrêa (2012), as ferramentas clássicas da qualidade têm como finalidade
auxiliar e apoiar a gerência na tomada de decisões para a resolução de problemas ou melhorar
situações. Brow et al (2006, p. 274) declaram que “[é] importante estar ciente de que as ferramentas
e técnicas da qualidade desempenham um papel importante na qualidade estratégica. As ferramentas
da qualidade visam por meio do ataque à causa, extinguir e coibir o aparecimento de problemas”.
As ferramentas da qualidade estão relacionadas ao desenvolvimento, à implementação, ao
monitoramento e à melhoria dos preceitos da qualidade nas organizações. Os programas e ferramentas
EXTENSÃO PUC MINAS:
222 Novo Humanismo, novas perspectivas
fabricar ou comprar uma peça, comprar ou vender um negócio, mudar a estratégia comercial,
definir como estruturar a organização para adaptar-se melhor às mudanças, definir que política
financeira seguir. A primeira tarefa do consultor é explorar o contexto do problema
estruturando uma proposta centrada nas preocupações do cliente, explorando, de maneira
concomitante, outros fatores conexos.
• Realizar um diagnóstico cujo resultado remete à fase de redefinição de problemas; para Turner
(1982, p. 88), uma grande parte da utilidade do consultor reside em sua experiência como
diagnosticador. Esse diagnóstico pode causar problemas entre o consultor e o cliente, já que
o resultado pode revelar problemas ocasionados por decisões equivocadas. Neste caso, cabe
ao profissional levantar os motivos das decisões inadequadas e dos erros de avaliação
assessorado por pessoas de dentro da organização que se comprometerão com o processo e
facilitarão a implementação das medidas corretivas.
• Recomendar soluções baseadas no diagnóstico - o trabalho de diagnóstico pode terminar com
um relatório bem elaborado e detalhado, ou uma apresentação verbal, em que o consultor
resume a situação encontrada e as providências que julga adequadas, relacionando
convincentemente as recomendações com o diagnóstico em que se apoiam. Para muitos, o
objetivo do trabalho é atingido quando o consultor apresenta um plano de ação lógico e
coerente, que determine as etapas para melhorar o problema especificado no diagnóstico. O
consultor faz recomendações oportunas e é o cliente quem decide quando e como colocá-las
em prática.
• Colaborar para a implementação das soluções - o consultor, juntamente com o cliente,
determina que passos a empresa está preparada para dar e como iniciar as ações posteriores.
O consultor trata continuamente de buscar apoio para a fase de colocar em prática, fazendo
perguntas relacionadas com a ação, falando dos avanços realizados e incluindo no grupo de
trabalho membros do sistema-chave.
• Contribuir para formar um consenso e um compromisso entre o pessoal da empresa em relação
às soluções recomendadas - a utilidade que pode ter qualquer trabalho de consultoria para uma
empresa depende do grau em que seus membros se ponham de acordo sobre a natureza dos
problemas, sobre as oportunidades que existem e sobre quais devem ser as ações corretivas
apropriadas. De um modo geral, se o diagnóstico não for aceito, as recomendações não serão
executadas e as informações úteis serão desconsideradas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
224 Novo Humanismo, novas perspectivas
Para Araújo (2006), os erros que devem ser evitados na arquitetuta organizacional são:
Segundo Côrrea (2001), em termos da flexibilidade dos recursos tecnológicos (ou dos
equipamentos), os custos, o tempo e o esforço organizacional para a realização da troca de produtos
nas máquinas parecem ser considerações relevantes, ao menos em termos de flexibilidade para
obtenção de respostas.
• SWOT,
• diário de caixa,
• instrução de trabalho,
• cronograma de programação,
• treinamento baseado em problemas,
• plano de ação,
• ferramentas de planejamento objetivos e metas,
EXTENSÃO PUC MINAS:
226 Novo Humanismo, novas perspectivas
A empresa Salvatore Imports é uma loja on-line com pouco mais de um ano de atividades. A
ideia surgiu entre dois amigos que agora são sócios dessa marca. Com grande parceria, eles aos
poucos vão conquistando o próprio espaço no mercado. Cada vez crescendo mais no Instagram, que
é a principal porta de venda e de entrada no mercado joalheiro para esses dois jovens empreendedores,
que futuramente sonham em abrir um espaço físico.
O plano de ação tem como proposta um melhor entendimento do mercado. Com o formulário,
é possível saber das ações dos concorrentes e as atitudes às quais se deve dar mais atenção para
melhorar, com base em avaliação de preço e qualidade. Outro ponto avaliado foi a oferta dos produtos
(em questão de preço e venda). O intuito é aplicar um cronograma e influenciar a forma de abordagem
das vendas e atendentes, buscando mostrar que o cliente deve ser sempre tratado com respeito,
educação e prontidão.
O primeiro passo desse cronograma é incentivar os atendentes a conversar com os clientes
durante e após a compra, buscando saber se ele encontrou o que procurava ou se tem alguma sugestão.
Logo, o gerente fara contato com os responsáveis pelo desenvolvimento do sistema feito para a loja,
buscando desenvolver um novo modulo de cartão fidelização. Esse sistema irá acumular pontos para
os clientes: a cada R$50,00 (cinquenta reais) em compras, o cliente ganhará 1 ponto. O acúmulo de
100 pontos dará ao cliente um desconto (digamos, de R$50,00).
A Salvatore trabalha com ótimas marcas e seu maior foco em vendas são relógios. A empresa
foca em bastante treinamento de venda e marketing, mas, muitas vezes, esses treinamentos são
esquecidos, não são colocados em prática.
EXTENSÃO PUC MINAS:
228 Novo Humanismo, novas perspectivas
Outro ponto fraco que foi percebido é na parte de finanças, em não saber diferenciar o dinheiro
do caixa para o pessoal. Entretanto, é uma loja que tem muito crescimento no mercado, pois é bem-
vista e se trata que algo novo. Fazem envios para todo o Brasil e vem ganhando confiabilidade e
aumento em suas vendas. Têm um plano de metas e vêm se destacando no segmento em que atuam,
tendendo a melhorar com a consultoria.
Madeira Bonita é uma empresa de móveis planejados que está há mais de 15 anos atendendo
as cidades de União da Vitória, Porto União e região. Direcionada não somente a propor móveis que
traduzam estética e funcionalidade, mas também a realização de sonhos, trazem compromisso e
competência, ao contar com profissionais apaixonados pelo que fazem e que primam pela dedicação,
ao priorizar o estilo de cada cliente.
De início, foram apresentadas duas ferramentas para essa empresa, sendo uma de
planejamento e a outra de objetivos e metas, as quais irão auxiliar a empresa a ter um rumo, em suas
decisões, e a seguir possíveis tendências do mercado.
A empresa Madeira Bonita está há mais de 15 anos no mercado. É uma empresa que vem com
vícios em algumas atividades, como o fato de seu layout estar desorganizado, falta ajuste de layout
também nas mesas do escritório. De maneira geral, entrega qualidade e bom serviço aos clientes que
se mostram satisfeitos com o trabalho apresentado. A empresa trata-se de algo familiar e os
funcionários de fábrica são antigos. Buscam sempre a evolução e a conquista de novos designers de
móveis, tendências e sofisticação.
A Engenharia Procópio trabalha com projetos que vão desde o acompanhamento de uma
reforma até uma obra maior, e têm como foco o segmento de Construção Civil em União da Vitória
e região.
Como proposta de início, foram escolhidas duas ferramentas para aplicação, sendo uma delas
treinamento baseado em problemas e a outra um plano de ação. Ambas as ferramentas escolhidas se
encaixaram perfeitamente para a organização, frente aos problemas apresentados, dando melhor
auxílio na hora de resolver as pendências.
A Engenharia Procópio está no mercado há mais de 60 anos, atuando no ramo da construção
civil. Atualmente houve declínio em sua demanda. Houve períodos em que passou por crise financeira
e mão de obra escassa. Hoje se mantém com sistemas desatualizados e com rotina de serviço baixa,
pois se deixou levar pelo tempo e pela concorrência.
Como proposta, foi sugerida uma nova estratégia, com mais desenvolvimento no marketing e
um controle mais elaborado de suas finanças e investimentos. As tarefas, por mais bem executadas
que sejam, necessitavam de um cronograma para uma melhor análise da sua rotina de serviço; por
isso, foram desenvolvidas propostas de rotinas bem elaboradas. Seu engajamento será melhor e mais
produtivo, caso se mostre mais ativa e presente em sua área de atuação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível compreender que a consultoria é uma prestação de serviço especializado onde o
profissional da área, ou seja, o consultor, a partir de sua expertise, sugere melhorias aos clientes
buscando sanar as fragilidades a partir de resultados obtidos na análise, neste caso, de maturidade
empresarial.
Essas consultorias foram possíveis através do projeto de extensão, o qual permite ao
acadêmico vivenciar o mercado empresarial sob a ótica de consultor, com liberdade supervisionada,
a fim de poder se comunicar com o mundo empresarial e colocar em prática as atividades e
ferramentas de estudo da área.
Após o diagnóstico das empresas apresentadas neste artigo, foram apresentadas as ferramentas
e feita a análise e a interpretação dos resultados, para obter algumas conclusões a respeito da
consultoria empresarial e dos objetivos propostos para cada área de cada empresa apresentada.
Em relação às empresas envolvidas com a pesquisa do projeto de extensão, duas delas já vêm
com vícios dentro de sua organização, com processos repetidos. Já as outras duas, que têm pouco
mais de dois anos de atuação, não apresentam tais vícios de gestão.
Conclui-se que qualquer tipo de empresa pode se beneficiar da gestão da qualidade e da
aplicação de suas ferramentas, pois fornecem um vasto portfólio, que não necessariamente, precisam
partir de grandes investimentos para colocá-las em prática. O essencial é que seus princípios sejam
seguidos e sua metodologia seja fielmente aplicada a fim de alcançar a melhoria que se pretende.
E como “cereja do bolo”, o encerramento do projeto de extensão proposto propôe a geração
de um artigo, resumindo diagnósticos, ferramental e devolutivas propostas, alinhando o mundo
acadêmico ao mercado de trabalho.
REFERÊNCIAS
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administração. Porto Alegre: Bookman, 2004.
LUCINDA, Marco Antônio. Análise e Melhoria de Processos - Uma Abordagem Prática para
Micro e Pequenas Empresas. Simplíssimo Livros Ltda, 2016.
MARCONI. M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999
SEBRAE. Caderno de ferramenta: Programa Negócio a Negócio. Brasília, 2016.
SEBRAE. Como elaborar um plano de negócios. 2013. Disponível em:
https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/COMO%20ELABORAR%20UM%20
PLANO_baixa.pdf . Acesso em: 27 maio 2021
SITEWARE. Plano de ação: como montar um em 7 passos para uma empresa. Disponível em:
https://www.siteware.com.br/blog/projetos/como-criar-um-plano-de-
acao/#:~:text=Um%20plano%20de%20a%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9,possa%20atingir%20o
s%20melhores%20resultados. Acesso em: 27 maio 2021.
ZIPTIME, Gestão Análise Swot - FOFA: O que é? Como Fazer? Disponível em: Acesso em:
https://ziptime.com.br/analise-matriz-swot-o-que-e-como-fazer/ Acesso em: 27 maio 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
232 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica do minério-dependência no município de Brumadinho,
destacando seus impactos econômicos, sociais e ambientais, agravada pelo rompimento da barragem do B1 do Córrego
do Feijão, destacando as implicações referentes à obtenção de renda por parte da população local de Brumadinho. A partir
das reflexões acerca das temáticas destacadas, o texto pondera sobre as possibilidades de economias alternativas à
mineração, na busca de saídas para o desenvolvimento local e regional. Esta investigação foi originada a partir da prática
extensionista desenvolvida na comunidade local e em territórios limítrofes, culminando em ações/atividades que
objetivaram a superação dos desafios supramencionados.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como objeto analizar la dinámica de la dependencia mineral en el municipio de Brumadinho,
destacando sus impactos económicos, sociales y ambientales, agravado por el rompimiento de la presa B1 del Córrego
do Feijão, destacando las implicaciones referentes a la obtención de renda por la parte de la población local de
Brumadinho. A partir de las reflexiones acerca de las temáticas destacadas, el texto pondera sobre las posibilidades de
economías alternativas a la minería, en la búsqueda de salidas para el desarrollo local y regional. Cuesta investigación fue
originada a partir de la práctica extensionista desarrollada en la comunidad local y en sus territorios limítrofes, llegando
en acciones/actividades que objetivan la superación de los desafíos supra mencionados.
1
Mestre em Ciências Políticas - DCP/UFMG; Ms(a) Economia Aplicada - Universidad de Valencia; Dr.ª em Economia
Aplicada - Universidad de Valencia; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: taniacri@hotmail.com
Graduando em Ciências Econômicas; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: davidduarte121@gmail.com.
3
Mestre em Economia Regional - CEDEPLAR/UFMG; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail:
ariomaro@pucminas.br.
4
Bacharel em Ciências Econômicas pela PUC Minas, Extensionista Voluntária - PUC Minas. E-mail:
karenmunhozo@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 233
INTRODUÇÃO
A produção minerária faz parte da história do Brasil desde o século XVII, em maior ou menor
escala, em diversas regiões do território brasileiro. O estado de Minas Gerais possui notória
importância histórica no que se refere ao desenvolvimento das cadeias produtivas do setor mineral,
sendo até hoje um grande expoente da indústria extrativista deste país. O município de Brumadinho
encontra-se inserido nesse contexto, compondo o denominado "Quadrilátero Ferrífero”, responsável
pela maior parte da extração de minério de ferro do país. A história de ocupação e desenvolvimento
do território brumadinhense se confunde com a história da extração mineral na região. Bechler (2019)
salienta que
A análise feita a partir de estudos que usam os dados secundários e a revisão bibliográfica,
somado ao trabalho de campo realizado nos anos de 2019 a 2021 nos indica que a atividade de
extrativismo mineral de grande porte, por motivos que serão abordados ao longo do texto, muitas
vezes produz a construção de uma relação de minério-dependência no território em que se insere. A
dependência econômica é uma situação na qual uma determinada economia é condicionada pelo
desenvolvimento e expansão de outra economia à qual está subordinada (SANTOS, 2011). Assim,
essa relação se caracteriza como a situação em que uma determinada economia se encontra refém de
um modelo de crescimento dos resultados do setor mineral em seu território.
O estado de Minas Gerais se apresenta, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM),
como o segundo estado brasileiro no ranking de arrecadação da Contribuição Financeira pela
Exploração Mineral (CFEM), em 2021, com 44,74% da arrecadação total, ficando atrás apenas do
estado do Pará, que concentrou 46,79% da arrecadação total. A CFEM, prevista por lei desde 1989,
é o principal vínculo econômico entre os municípios e as empresas mineradoras e é um dos parâmetros
para se medir o grau de dependência econômica dos territórios em relação à atividade extrativista.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em seu relatório anual, as exportações
minerais brasileiras representaram 372,5 milhões de toneladas de bens minerais exportados em 2021,
233
EXTENSÃO PUC MINAS:
234 Novo Humanismo, novas perspectivas
que correspondem a cerca de 58 bilhões de dólares, sendo que 76,9% do montante se dá pela
exploração do minério de ferro. Importante também destacar que o setor mineral foi responsável por
80% do resultado positivo da balança comercial brasileira no ano de 2021, demonstrando mais uma
vez a relevância estratégica e política do setor. Silva (2020) ressalta que a “...literatura mostra que o
Brasil é marcado historicamente pelo papel de país exportador de matéria prima, que começou com
o Pau Brasil, depois a cana de açúcar, seguiu com o ouro, o algodão, o café, a borracha, o petróleo, o
gado e a soja, em uma sucessão do que hoje chamaríamos de ‘desastres ecológicos’” (SILVA, 2020,
p. 27).
Partindo de uma análise inicial, os dados exibidos indicam que: (1) a atividade de extrativismo
mineral no Brasil possui grande relevância política e econômica, apresentando-se como um setor
estratégico do ponto de vista político-institucional, estando o município de Brumadinho incorporado
nessa conjuntura; (2) o extrativismo mineral está altamente ligado ao mercado externo de
exportações; e (3) a arrecadação da CFEM é um pilar fundamental na estrutura de dependência.
Agrava esse quadro o fato de que, quando um empreendimento de grande porte se instala em
um território, cria-se, como vimos na própria história de ocupação do território que hoje entendemos
como o município de Brumadinho, uma tendência imigratória motivada pela oferta de trabalho gerada
direta e indiretamente pela atividade extrativista, resultando, geralmente, em uma expansão urbana
descontrolada. A expansão é marcada pelo aumento populacional que altera todo o ordenamento
territorial de maneira brusca, sem planejamento específico, acarretando uma série de problemas
urbanísticos e de infraestrutura os quais geram impactos significativos no ordenamento social vigente,
transformado de maneira exógena e abrupta.
A questão ambiental também está diretamente relacionada à atividade extrativista, de modo
que sua operação pode gerar processos de desequilíbrio e degradação, como o aumento da poluição
atmosférica por conta dos materiais particulados; o ruído; a sobrepressão acústica e vibrações no solo
associadas à operação de equipamentos e explosões; o grande fluxo de automóveis pesados; a
poluição; o assoreamento e/ou destruição de rios, córregos, nascentes e lençóis freáticos ─ todo o
recurso hídrico da região, em caso de manejo inadequado de rejeitos. Tudo isso também pode
contribuir para a destruição do extrato orgânico da terra, tornando-a estéril para a produção agrícola.
Todos os problemas indicados até aqui são também problemas econômicos. Se, por um lado,
a atividade extrativa mineral gera valor, por outro, ela destrói valor, impossibilitando e/ou
prejudicando a ocorrência de diversas atividades econômicas que muitas vezes já ocorriam naquele
território, promovendo impactos negativos na renda das famílias. Dessa forma, o presente artigo
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 235
apresenta uma análise das dinâmicas expostas acima e tem como objetivo principal explicitar a lógica
minério-dependente vigente no território trabalhado e apresentar as possíveis alternativas e
tecnologias sociais emergentes em Brumadinho. Tomamos como base a pesquisa bibliográfica e o
trabalho extensionista realizado em campo e virtualmente, com a proposição de alternativas
econômicas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O trabalho extensionista realizado tem, entre seus objetivos, proporcionar maior familiaridade
com o tema em estudo e o esclarecimento acerca de um problema de investigação que é a análise da
minério-dependência, destacando as diferenças teórico-metodológicas que fundamentam as correntes
de pensamento afeitas à antropologia econômica, o desenvolvimento local e regional, a economia
ambiental e ecológica e a sustentabilidade.
Gil (2002) tece considerações a respeito dos estudos de alcance e complexidade, pontuando
que demandam o uso de técnicas e de instrumentos de pesquisas que promovam condições efetivas
para compreender a realidade dos fenômenos de natureza diversa.
Nesse sentido, o presente trabalho, observados os limites estabelecidos pela abordagem
temática e as teorias base, se deu a partir: a) da revisão da literatura pertinente em relação ao tema e
levantamento de dados secundários; b) do estudo crítico de correntes teóricas e pronunciamentos
sobre o tema proposto; c) do contato e diálogo direto com a população local, sobretudo as
Organizações da Sociedade Civil (OSC) atingidas pelo rompimento da barragem.
Como o trabalho aqui retratado é originário de ações extensionistas no território, é necessário
esclarecer que os métodos e técnicas utilizados na sensibilização, na realização de oficinas e reuniões
de apoio e assessoria técnica seguiram as recomendações da pesquisa-ação, reconhecendo que a
235
EXTENSÃO PUC MINAS:
236 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
237
EXTENSÃO PUC MINAS:
238 Novo Humanismo, novas perspectivas
Uma informação especial obre a CFEM é a de que sua alíquota teto é de 3,5% sobre a receita
bruta calculada, o que gera um montante expressivo frente às arrecadações municipais, mas
inexpressivo frente ao valor das operações das empresas mineradoras nos territórios (COELHO,
2020). Se compararmos o limite da alíquota da CFEM com os limites das taxas equivalentes em
outros países mineradores, também é possível observar uma defasagem da nossa taxação. Em
publicação da PWC de 2012, intitulada Corporate income taxes, mining royalties and other mining
taxes: A summary of rates and rules in selected countries, consta um limite/teto bem superior em
outros países como Austrália (22,5%); Canadá (16,00%); Chile (14,00%); Peru (13,12%); Rússia
(8,00%); África do Sul (7,5%); e Estados Unidos (12,50%).
minério há quatro anos, tem, desde então, vivido um desastre com simultâneas consequências
físicas, econômicas e psicológicas. Pequenas crises cotidianas, resultantes de um contexto de
crise amplo, que se perpetuam sobre atingidos e trabalhadores, na forma de fantasmas que
rondam a memória e intensificam o medo de outros rompimentos, outras formas de morrer.
(SILVA, 2020. p.1).
5
DOTTA, Rafaella. História: 10 vezes que moradores de Brumadinho disseram não à mineração (Brasil de Fato).
Disponível em: https://www.brasildefatomg.com.br/2019/02/01/historia-10-vezes-que-moradores-de-brumadinho-
disseram-nao-a mineracao
239
EXTENSÃO PUC MINAS:
240 Novo Humanismo, novas perspectivas
iniciativas que caminhem na geração de maior valor agregado ao produto agrícola, ao setor de
comércio e serviços, ao turismo e até mesmo a outros ramos industriais de pequeno e médio porte,
estimulando também a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Mais especificamente sobre o setor
turismo, o território apresenta um grande potencial para alavancar o desenvolvimento. Anteriormente
ao rompimento da barragem em 2019, o setor já apresentava importância relativamente expressiva na
obtenção de renda pela população local.
O município possui diversas atrações, como o Parque Estadual Serra do Rola Moça, o Forte
de Brumadinho, a Serra da Moeda, o Pico Três Irmãos, entre outros. Também é importante citar o
Instituto Inhotim, localizado no município de Brumadinho, o maior museu a céu aberto do mundo.
Apesar disso, devido a diversos fatores, como o próprio deslocamento dentro do museu, geralmente
seu público não interage com o território durante as visitas, o que diminui o pretendido impacto
econômico da atividade cultural.
De qualquer maneira, toda e qualquer possibilidade que se apresente como alternativa de
superação à condição de minério-dependência deve se ater aos princípios do desenvolvimento
sustentável, da diminuição das desigualdades, da preservação do meio ambiente; e à realização de
melhora nos índices de qualidade de vida da população. É importante lembrar que a regulamentação
legal da CFEM, instituída pela Lei Nº 13.540, prevê em seu Artigo 2º, Parágrafo 6º, que 20% da
arrecadação municipal advinda do órgão deve ser obrigatoriamente destinado “à diversificação
econômica, ao desenvolvimento mineral sustentável e ao desenvolvimento científico e tecnológico”.
Contudo, ainda que já previsto em lei, a redação é vaga com relação à destinação desses recursos,
sem previsões mais específicas de atividades a serem realizadas e sem a criação de fundo próprio,
que facilitaria o controle financeiro da utilização dos recursos e de seu empenho em atividades que
realmente cumpram o objetivo estabelecido por lei.
Somada a isso, a falta de fiscalização também contribui para que, em grande parte das vezes,
os municípios mineradores não cumpram a destinação dos 20% do montante arrecadado com a
CFEM: que sejam usados para a diversificação econômica, o desenvolvimento mineral sustentável
e/ou o desenvolvimento científico e tecnológico
241
EXTENSÃO PUC MINAS:
242 Novo Humanismo, novas perspectivas
promoção de melhores condições de vida e de bem-estar social, bem como para a preservação da
cultura local e da práxis já existente. Seguindo a conceituação de Beatriz Plaza (2009), partimos do
entendimento de que
6
No original: “The expected impact of cultural facilities in revitalisation strategies normally surpasses the mere cultural
or educational effects. Whereas some projects point towards the generation of direct additional economic effects through
the attraction of tourists and tourist expenditure, others rely on more indirect and softer effects such as changing the city's
image, encouraging social integration, creating a secure environment, retaining inner-city retail trade, encouraging new
local investments, developing local identity and a sense of belonging, etc.”
243
EXTENSÃO PUC MINAS:
244 Novo Humanismo, novas perspectivas
possibilitou a aquisição de caixas e sacolas para a montagem e entrega das cestas aos consumidores.
A criação do fundo está diretamente ligada à discussão anteriormente realizada com a comunidade
local sobre os bancos comunitários.
O Banco Comunitário (BC) é um sistema econômico que conta com uma linha de
microcrédito alternativo para produtores e consumidores, instrumento de incentivo ao consumo local
(cartão de crédito e moeda social circulante), e novas formas de comercialização (feiras e lojas
solidárias), promovendo localmente geração de emprego e renda para diversas pessoas. Em questões
socioeconômicas, o BC tem impacto em diferentes áreas, pois aumenta o acesso à renda e emprego,
melhora os vínculos comunitários, promove maior autoestima e aumenta a capacidade para
empreender.
A finalidade dessa discussão em nosso trabalho foi a de demonstrar e esclarecer quais são as
contribuições do Banco Comunitário e como essa organização é capaz de provocar mudanças
necessárias para a reestruturação das condições socioeconômicas da população. Sua formação
estrutural é um dos pontos mais importantes para a confiabilidade da comunidade visto que toda
organização e gestão dos bancos comunitários ficam na responsabilidade da própria comunidade, ou
seja, são os próprios moradores da região que estimulam o desenvolvimento das atividades
econômicas do grupo. Além da entidade gestora, é necessário que exista, ou que seja formado, um
conselho local que faça a controladoria social do Banco.
De forma geral, o BC tem por finalidade o desenvolvimento econômico e social, estimulando
o mercado local cujo perfil seja baseado na solidariedade de modo sustentável, cultural e ambiental.
Demonstrou-se, por meio de exemplos, a criação e a forma de utilização da moeda social, como ela
cria identidade com os moradores locais e os educa financeiramente para as compras locais e para se
perceberem como promotores do desenvolvimento da comunidade. A moeda social tem apenas a
função de meio de troca, ou seja, ser um facilitador nas compras, ela é um complemento à moeda
oficial, ninguém é ou pode ser obrigado a aceitá-la.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
245
EXTENSÃO PUC MINAS:
246 Novo Humanismo, novas perspectivas
público local, que atua de modo a dar suporte e incentivo à permanência de tal atividade produtiva.
Entretanto, como também se constata na exposição acima, a lógica de mercado em que funciona a
atividade de extrativismo mineral possui uma série de implicações negativas ao desenvolvimento
socioeconômico local, sobretudo para aquelas atividades que têm como pré-requisito a preservação
das condições naturais para sua execução, e aquelas que preservam os modos de ser e de fazer locais.
A atividade extrativista, além de concentradora de renda, é altamente prejudicial para o meio
ambiente, produz poluição atmosférica, pelos materiais particulados na explosão das minas; poluição
sonora, pela quantidade de veículos de transporte de carga; poluição da rede hídrica, pelos rejeitos de
minério; degradação do solo, pela escavação; além de utilizar quantidades expressivas de água.
Como também trabalhado ao longo do texto, é possível notar que não há, necessariamente,
um ganho econômico com a presença da atividade no território, nada há que justifique as
consequências negativas para o meio ambiente e para a população local. Na verdade, o que se percebe
é que a relação de minério-dependência constitui uma relação em que o poder público local se torna
subordinado à atividade econômica, mas que supostamente haveria um ganho financeiro para essa
subordinação, e que esse ganho poderia vir a ser utilizado no desenvolvimento local. Entretanto,
verificamos que a atividade extrativista, na perspectiva da relação institucional com o poder público,
se caracteriza por ter um fim em si mesma, ou seja, os custos para a manutenção da atividade no
território, dada a sua magnitude e proporção, se equiparam aos ganhos financeiros oriundos do
pagamento da CFEM.
Além disso, há uma visão de desenvolvimento econômico e regional que sustenta a
manutenção da atividade extrativista, uma vez que pensa o desenvolvimento de maneira
centralizadora. Na verdade, não atenta para o fato de que a melhora nos indicadores econômicos e
sociais do território apenas se darão com um desenvolvimento que atinja todas as camadas da
sociedade, ou pelo menos uma parte majoritária dela, e que, para isso, deve se dar de maneira
descentralizada, desconcentrada e que precisa ser inclusiva.
A partir disso, justifica-se a necessidade de desenvolvimento de economias alternativas à
mineração, visto as barreiras causadas pela atividade de extrativismo mineral na região ao
desenvolvimento econômico e social sustentáveis. É importante que a superação da relação de
minério-dependência seja instituída de fato com um processo de desenvolvimento local que se dê de
maneira mais harmônica, substituindo essas relações por outras dinâmicas baseadas na criação de
processos inovadores por meio da geração de tecnologias sociais capazes de criar tessituras entre a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 247
REFERÊNCIAS
247
EXTENSÃO PUC MINAS:
248 Novo Humanismo, novas perspectivas
TEIXEIRA, T.C. et al. Projeto Educação Financeira e Geração de Trabalho e Renda, PROEX-
ICEG- Departamento de Economia, Administração e Ciências Contábeis. 2019 e PROEX-
2020/26753.
TEODÓSIO, Armindo S. Souza et al. ENTRE A TRAGÉDIA E O CRIME: narrativas sobre o
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resolução negociada de conflitos ambientais. Belo Horizonte: UFMG, p. 111- 142, 2014.
249
EXTENSÃO PUC MINAS:
250 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Este artigo trata de experiências vividas a partir do projeto de extensão MediAção Comunitária: Práticas comunitárias,
restaurativas e de mediação de conflitos (MAC), buscando a construção dialógica de saberes e práticas. O objetivo geral
foi refletir sobre as nossas participações no processo de ensino-aprendizagem do projeto de extensão, enquanto os
objetivos específicos foram: apresentar o projeto em si; dizer da existência e dos objetivos transformadores da própria
prática, sendo esta orientada metodologicamente pela pesquisa-ação/intervenção psicosocial. A metodologia utilizada
para a escrita foi a pesquisa bibliográfica na área da mediação comunitária, mediação de conflitos e justiça restaurativa,
além dos relatos de experiências com a Escola Municipal Professor Paulo Freire – EMPPF, promovendo a Justiça
Restaurativa a partir do Círculo de Paz. Os resultados encontrados possibilitaram a prática de uma intervenção não-vertical
que permite o compartilhamento entre as pessoas pautado pela crença de que a técnica não diz do grupo, ou seja, a
intervenção psicossocial contribui de forma crítica sobre a “construção com” e não uma “construção para.” O círculo de
paz, como instrumento da prática restaurativa, possibilita as trocas das experiências de vida e sabedoria entre todos os
envolvidos no processo, permitindo, assim, uma maior compreensão sobre determinado problema e possibilidades para
resolução deste.
RESUMO
This article deals with experiences from the extension project MediAção Comunitária: Community, Restorative and
Conflict Mediation Practices (MAC), seeking the dialogic construction of knowledge and practices. The general objective
was to reflect on our participation in the teaching-learning process of the extension project, while the specific objectives
were: to present the project itself; express about the existence and transforming objectives of the practice itself, which is
methodologically oriented by action-research/psychosocial intervention. The methodology used for writing was
bibliographical research in the area of community mediation, conflict mediation and restorative justice, in addition to
1
Pedagoga pela UEMG, professora na E. M. Professor Paulo Freire, discente do Curso de Psicologia da PUC Minas
unidade São Gabriel. E-mail: erikafcecilio@gmail.com
2
Discente do Curso de Psicologia da PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: tz.mendes@gmail.com
3
Discente do Curso de Psicologia da PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: juliana1254@hotmail.com.
4
Psicólogo pela PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: matheuspierre43@gmail.com
5
Mestre em Psicologia pela UFMG, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Coordenador do
Projeto MediAção. E-mail: rubensfn@uol.com.br
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Novo Humanismo, novas perspectivas 251
reports of experiences with the Municipal School Professor Paulo Freire - EMPPF, promoting Restorative Justice from
the Circle of Peace. The results found enabled the practice of a non-vertical intervention that allows sharing between
people guided by the belief that the technique does not say about the group, that is, a psychosocial intervention contributes
critically to the “construction with” and not a “building for.” The Circle of Peace, as an instrument of restorative practice,
enables the exchange of life experiences and wisdom among all those involved in the process, thus allowing a greater
understanding of a given problem and possibilities for solving it.
INTRODUÇÃO
251
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práticas que promovem a resolução de conflitos interpessoais, dentro de grupos e entre grupos
comunitários, bem como entre grupos, comunidades e empresas públicas ou privadas.
(NASCIMENTO, 2020). Sendo assim, o projeto abrange as dimensões pedagógica, psicológica e
sociopolítica dos conflitos e dos indivíduos envolvidos. Com isso, é possível se pensar na mediação
comunitária como modalidade de prática comunitária, podendo ser esta composta, também, por
mediadores representantes das comunidades, ou seja, moradores, lideranças ou mesmo educadores,
alunos e familiares.
Em relação à amplitude de ação do projeto MediAção Comunitária, Rubens Nascimento
dispõe:
Por enquanto, apenas o público-alvo do Projeto MAC tem sido composto de moradores dos
bairros São Gabriel e Jardim Felicidade, respectivamente nas Regionais Nordeste e Norte da
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Já houve aproximação com as redes sociais
comunitárias de ambos os bairros. Considerando que os principais conflitos mediados têm
sido de familiares e de vizinhos, um dos objetivos específicos do projeto foi, até o momento,
o desenvolvimento de mudanças de atitudes e valores, com ampliação das capacidades de
diálogo e da potencialização dos recursos para resolver desavenças. Como já dito, os
objetivos deverão ser ampliados e envolverão o maior protagonismo comunitário nas ações.
(NASCIMENTO, 2020)
Estruturado como forma de Pesquisa-Ação, o projeto MediAção Comunitária busca dar relevo
à questão racial ao passo em que se pretende enxergar as diversas problemáticas étnico-raciais
presentes não apenas na gênese social dos conflitos, mas também na mediação destes, no sentido de
se construir uma Psicologia multirracial, feita por e com gente miscigenada, que utiliza raça como
categoria analítica. Ao empoderar sujeitos que tomem raça como conceito político, a cooperação com
movimentos sociais e comunidades direciona os esforços para racializar a Psicologia Social.
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lhes dizem respeito. Sendo assim, a mediação não somente pode (mas deve) ser vista como prática
emancipatória, ainda mais considerando que, conforme Paulo Freire, o próprio diálogo pressupõe
conflito (FREIRE, 1987).
Segundo Rubens Nascimento, a mediação comunitária é um conjunto de práticas que
promovem a resolução de conflitos interpessoais, dentro de grupos e entre grupos comunitários, bem
como entre grupos, comunidades e empresas públicas ou privadas. (NASCIMENTO, 2020). Ainda
sobre a prática emancipatória, a autonomia crítica é pensada como instrumento de engajamento a um
compromisso ético na luta contra opressões estruturais, tomando partido de grupos oprimidos, sendo
este processo parte da construção pretendida através da mediação comunitária que acreditamos. Nessa
lógica, a mediação comunitária deve existir como forma de transformação social que objetive a
efetivação dos direitos fundamentais, sendo processo que, a fim de fomentar as potencialidades da
justiça social, articule-se com a educação para estes direitos.
Sob uma abordagem crítica, Gláucia Foley propõe uma dimensão tridimensional para essa
educação, pensando em uma dimensão preventiva, de forma a evitar violações de direitos decorrentes
da ausência de informação; uma dimensão emancipatória, proporcionando reflexão na medida em
que o direito posto desdobra-se nas reais necessidades individuais ou comunitárias; pedagógica,
permitindo que o cidadão compreenda como buscar, na via judiciária ou na rede social, a satisfação
de suas necessidades/direitos, quando e se necessário (FOLEY, 2014).
No que diz respeito ao acesso à justiça, a mediação comunitária constitui-se democrática
enquanto incorpora as vozes da comunidade, capacitando-as a gerir seus conflitos de forma autônoma
e participativa. O padrão dialógico, centrado na horizontalidade, pressupõe foco na autonomia crítica
dos sujeitos ao passo em que estes mostram-se capazes de compreender as circunstâncias do conflito,
podendo, assim, justificar suas escolhas e decisões frente à sua comunidade.
Dessa forma, é importante que o mediador comunitário não caia na armadilha de se colocar
em posição que negue à comunidade a condição de sujeito e autonomia ao considerar-se uma espécie
de portador do saber científico que postula o que seria melhor para o grupo, sendo a sua colaboração
no sentido de diagnosticar-se e construir sua identidade. Para Vezzulla (1995), o mediador
comunitário não pode solucionar os conflitos no lugar das pessoas, assim como não pode desenhar a
comunidade como ela deveria ser, a partir de uma ideologia que lhe seja exógena, sob risco de ferir a
perspectiva emancipatória. Pedrinho Guareschi e Regina Freitas Campos (2002), trilhando pela lógica
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freiriana, fomentam a importância da discussão dessa problemática ao disporem que ninguém ensina
nada a ninguém: deixamos um pouco de nós nas pessoas com quem entramos em contato. Conforme
Miracy Gustin, a Mediação transforma e liberta os sujeitos:
Sabe-se que todo processo pedagógico é sempre edificante, ou seja, ele é sempre
transformador, ele ‘edifica’ porque constrói novos parâmetros para a decodificação da
situação problemática. Por ser um processo pedagógico, onde se aprende na argumentação-
convencimento, ele é essencialmente libertador, pois, qualquer processo de aprendizagem
emancipa os seres das amarras do desconhecimento e da desinformação. Enfim, por ser um
processo pedagógico, a mediação é não só uma abordagem informativa, mas, também,
formativa. (GUSTIN, 2005, p. 209)
255
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Empoderamento diz respeito a reforçar as partes que estão melhor habilitadas para resolverem
seus conflitos. A validação se refere a fazer com que as partes se compreendam como humanos, logo,
merecedoras de atenção e respeito e, finalmente, temos a facilitação de decisão informada, que
consiste em verificar se as partes têm as informações necessárias para tomadas de decisões
conscientes e também em assegurar às informações necessárias dos direitos das partes envolvidas no
processo.
A Justiça restaurativa, termo que vem sendo utilizado desde 1980, na Nova Zelândia,
Austrália, Canadá e Estados Unidos, é entendida como um instrumento utilizado para a paz no
processo educacional. A justiça restaurativa serve para mediar os conflitos nas relações comunitárias,
escolares, familiares, entre outros, tendo sido inaugurada com a ONU pela resolução 1999/26 de
28/07/1999, em que na época eram postos os padrões da Organização das Nações Unidas - ONU.
Já no Brasil, a justiça restaurativa se iniciou em 2005, por meio de uma experiência piloto no
Rio Grande do Sul, posteriormente também apoiada pela ONU.
Para Braithwaite (2003, p. 449) o termo “não ser dominante” é utilizado como o principal
valor da justiça restaurativa para explicar que ela não permite que o Estado exerça uma ação sobre os
conflitos com o propósito de empoderar os indivíduos que estabelecem as soluções de seus conflitos
por si mesmos.
A abordagem restaurativa não desconsidera que os crimes ocorram por violações praticadas
pelos ofensores, que no processo de sua humanidade, possam cometer danos. Compreender uma
violação sob a ótica da justiça restaurativa, a se distinguir da forma como o sistema judiciário procede
é, por meio de metodologias tais como a mediação de conflitos, as práticas restaurativas e, dentre
elas, os círculos de construção de paz, buscar estabelecer os princípios fundamentados no respeito,
participação, voluntariedade, equidade, confidencialidade, entre outros.
Para Pallamolla (2009), a justiça restaurativa é estabelecida em casos de menor gravidade.
“Pode contribuir para situações que normalmente recebem advertência policial ou seriam
relacionados aos setores que não o criminal” (PALLAMOLLA, 2009, p. 452). Ainda, para o referido
autor, ampliar a justiça restaurativa poderia ocorrer de forma impositiva, o que contribuiria para que
não ocorresse nenhuma alteração significativa, tornando o ofensor uma mera ferramenta para afetar
a vítima:
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Pallamolla (2009) compreende a justiça como um estilo de vida capaz de lidar com problemas
rotineiros, pois através do diálogo entre vítima e ofensor, compartilha a responsabilização pelo dano
causado, ou seja, para isso é preciso que os indivíduos assumam seus atos. Tendo como objetivo do
processo restaurativo a integração psíquica e social, tanto da vítima quanto do agressor. Com isso, ao
se responsabilizar pelos seus atos, o ofensor age positivamente no sentido de afastamento de
reincidência na comunidade.
Em síntese, Segundo Zehr (2008), conforme a justiça restaurativa, podemos destacar que:
1. O crime ao invés de ser uma violação da lei é antes um dano à pessoa e ao relacionamento;
2. Os danos, ao invés de serem definidos de maneira abstrata, são definidos de maneira
concreta em uma análise do caso; 3. O crime é concebido como um fato ligado a outros danos
e conflitos, e não como ato isolado ou categoria distinta. O crime é ele mesmo um tipo de
conflito; 4. As vítimas são as pessoas e os relacionamentos, e não o Estado; 5. Tanto a vítima
como o ofensor são partes no processo, e não apenas Estado e ofensor; 6. A preocupação
central no processo são as necessidades e os direitos das vítimas; 7. As dimensões
interpessoais são centrais e o principal foco. 8. A natureza conflituosa do crime é
reconhecida; 9. O dano causado ao ofensor é importante; 10. A ofensa é compreendida em
seu contexto total: ético, social, econômico e político. (ZEHR, 2008, p. 449).
Cabe destacar que "a mediação comunitária é um conjunto de práticas que promovem a
resolução de conflitos interpessoais dentro de grupos e entre grupos comunitários, bem como entre
grupos e comunidades e empresas públicas ou privadas" (NASCIMENTO, 2020, p.48) e neste
trabalho são utilizados os processos de Justiça Restaurativa, métodos como a mediação de conflitos
que, segundo Nascimento (2020), contribuem para a transformação das relações, para o diálogo, para
uma justiça comunitária, para uma cultura de paz e para prevenção à violência.
Destaca-se que, juntamente com essas perspectivas destacadas, temos também investido na
compreensão da Comunicação Não Violenta, que vem sendo incorporada em nossas práticas. Por
mais que tenhamos apresentado ambas as perspectivas de forma separada, o que fazemos no projeto
MAC é buscar uma articulação entre as ambas compreendendo que a CNV pode também nos ajudar
nas resoluções de conflitos, permitimos que as partes compreendam suas próprias necessidades e a
dos outros em busca de um consenso para a satisfação das necessidades de todos desenvolvidos.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 259
3 METODOLOGIA
Desde o segundo semestre de 2021, este Projeto de Extensão atua em parceria com Escola
Municipal Professor Paulo Freire – EMPPF –, promovendo a Justiça Restaurativa a partir do Círculo
de Paz. A escola está localizada na região nordeste de Belo Horizonte, no bairro Ribeiro de Abreu.
No primeiro momento, trabalhamos com um grupo composto por professores da escola que, em
diferentes disciplinas da grade curricular trabalham com um público diverso: crianças, adolescentes,
jovens e adultos.
Ao todo, tivemos quatro encontros, sendo três deles feitos via Google Meet e o último de
forma híbrida, presencial e virtual ao mesmo tempo, tendo duração de duas horas. Cada encontro
tinha uma temática específica que surgiu a partir do primeiro, quando foi possível delinear,
juntamente com os professores, os temas geradores para todos os encontros. Cabe dizer, que os temas
selecionados guardavam relação com os problemas cotidianos enfrentados pelos os professores e
todos eles foram discutidos a partir de postulados de Paulo Freire.
No primeiro semestre de 2022, o trabalho nesta escola foi realizado com os alunos do 9º ano,
com idades entre 13 e 16 anos, tendo como demanda inicial o enfrentamento e prevenção do bullying
no contexto escolar. À medida que os encontros foram acontecendo, foi possível elencar assuntos
importantes a serem trabalhados nos posteriores. Importa dizer que também com os estudantes os
trabalhos no contexto escolar ocorreram por meio dos círculos de paz.
Conforme Pranis (2010), o círculo de paz é derivado de círculos de diálogos comuns aos povos
indígenas da América do Norte. Esta é uma tradição ancestral que tem sido renovada ao longo do
tempo. Na época contemporânea as comunidades têm utilizado o círculo de paz nas resoluções de
conflitos para o apoio uns dos outros, estabelecimento e fortalecimento de vínculos mútuos. Cabe
destacar que, mesmo tendo sua gênese dentro do escopo da justiça criminal nos Estados Unidos,
percebeu-se a aplicação deste em diversos contextos como escolas, igrejas, locais de trabalho entre
outros.
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v. As “diretrizes [1]” onde começamos com algumas que são importantes, dando sempre a
possibilidade de se fazer uma construção conjunta.
vi. Convite à expressão dos “valores” que cada pessoa traz para o círculo e devem expressar suas
contribuições ativas no sentido de darem ao círculo um pouco de si, fazendo com que o
objetivo de coparticipação e coconstrução se fortaleça, guiando a forma com que os valores
serão tratados.
vii. “Momento central” onde os facilitadores utilizam-se de perguntas, previamente elaboradas
para estimular o diálogo circular sobre os principais objetivos, interesses e necessidades do
grupo. Se o círculo for conflitivo, ou seja, focado em dano causado ou em situação conflitiva,
as perguntas devem ser baseadas no mapeamento prévio dos conflitos.
viii. “O check out” [2] ou, de forma abrasileirada, a “saideira”. Nele tem-se a oportunidade de
dizer como se deixa o círculo. É o momento de avaliação final.
ix. “Cerimônia de encerramento”. Sugere-se aqui a utilização de música, poema, dinâmica ou
alguma técnica de grupo que auxilie na finalização e no reconhecimento afetivo e simbólico
dessa conclusão do círculo.
Cabe destacar que, em todos os trabalhos realizados pelo projeto MAC, adotam-se
metodologias participativas, que estimulam o diálogo, a coconstrução do trabalho com todos os
integrantes e o respeito aos saberes de cada participante. Geralmente tais metodologias também
promovem a problematização, a reflexão e ampliação desses saberes.
O projeto MAC trabalhou em diversas frentes no período de 2021/2022 escolhemos para tratar
neste artigo, apenas as práticas realizadas na Escola Municipal Professor Paulo Freire, com
professores em 2021 e em 2022 com estudantes do 9º ano.
4.1 Encontros com a frente de ação na Escola Municipal Paulo Freire/ Trabalho com Estudantes
e Professores
Os encontros com os professores tiveram como objetivos refletir sobre o papel do professor,
como um ator sociocultural, na perspectiva Freiriana e na prática escolar; relacionar a possibilidade
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de ter uma educação como prática de liberdade e disciplina, ao mesmo tempo, e refletir sobre como
o conteúdo programático das disciplinas acadêmicas impacta a prática educativa e aprofundar os
conhecimentos sobre educação bancária. Tais objetivos se deram porque o coletivo de professores da
escola anteriormente passou por um processo de busca para retomar as perspectivas de Paulo Freire
em suas práticas cotidianas.
Nos três primeiros encontros, como foram de forma virtual, adaptamos o círculo. Neste
contexto, utilizamos a expressão “eu vejo você” (funcionando como objeto de fala) e era mencionado
o nome da próxima pessoa em uma lista que continha o nome de todos, elaborada de forma aleatória,
simulando a disposição de participantes assentados em círculo.
O primeiro encontro com os professores foi realizado em 29 de setembro de 2021,
oportunidade em que participaram uma equipe, composta por estagiários e extensionistas, e os
educadores da EMPPF. Em todos os círculos, numa perspectiva freiriana, buscamos sempre os
conhecimentos prévios, os saberes que o grupo trazia sobre a temática em questão. No primeiro
momento da parte principal, buscamos compreender a concepção que os professores tinham do
círculo de paz e como seria relacioná-lo ao círculo de cultura de Paulo Freire. Em um segundo
momento, fizemos um levantamento das demandas e expectativas que os professores queriam que
fossem trabalhadas ao longo dos encontros.
O segundo encontro objetivou refletir sobre o papel do professor, como um ator sociocultural,
na perspectiva freiriana e na prática escolar, além dos objetivos específicos, que foram trabalhar o
círculo como ferramenta no caminho entre ideias, baseado no diálogo existente na relação professor
e aluno, na troca do aprendizado, na forma de se trabalhar os conflitos. Neste encontro, pudemos
discutir as representações que se tem acerca do professor e a percepção que eles mesmos têm de si, o
que gerou uma forte comoção em todos os integrantes; foi difícil controlar o choro, os professores
sentiam o peso das representações em um momento tão sensível de pandemia, em que se sentiam
meio fracassados por acharem que não estavam desempenhando um bom trabalho.
O terceiro encontro seguiu com o objetivo geral de discutir sobre a relação entre a disciplina
e a pedagogia freiriana, sendo os específicos a reflexão sobre o conceito de disciplina, a necessidade
da disciplina para o desenvolvimento da aprendizagem, e as diferenças entre autoridade e
autoritarismo. O que permitiu com que os professores pensassem e repensassem a ideia construída a
respeito da disciplina.
O último encontro aconteceu no dia 26 de novembro de 2021 e trouxe como objetivos refletir
sobre como o conteúdo programático das disciplinas acadêmicas impacta a prática educativa,
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Em outra turma, o círculo foi marcado por momentos de emoções, das expressões delas em
sala e quanto ao tratamento dado pelos colegas. Refletiu-se no círculo como é se sentir daquela forma
com mediação dos facilitadores. Na cerimônia de encerramento, escolhemos um poema de Paulo
Freire “A Escola é”, que fala sobre a importância da escola não somente para a educação formal, mas
também para os laços que construímos e que cada ser que está ali presente importa, possui sentimentos
e devemos respeito a cada um deles.
Quando já estávamos encerrando totalmente o círculo, uma jovem apontou ser um problema
muito presente na classe, o bullying. A partir daí iniciou-se um novo diálogo, muitos colegas
apresentaram falas marcantes descrevendo que não falaram no momento do círculo por timidez e
vergonha dos próprios colegas, e que infelizmente tudo na sala de aula virava brincadeira por parte
dos mesmos. A partir disso, tivemos a ideia de trazer como próxima temática para ser discutida o
bullying nas escolas.
O que se percebeu, no final do círculo, foi que alguns alunos se apresentaram alegremente,
motivados a participar e outros já sem muito envolvimento, repetindo as falas dos seus colegas, outros
expressaram ter curiosidade e cumpriram corretamente o que se esperava.
Dando continuidade ao trabalho, no segundo encontro falamos sobre bullying. Esta prática é
considerada sistemática e repetitiva, pelas ações de violência física e psicológica, causando
intimidação, humilhação, xingamentos e até mesmo agressões físicas, de um sujeito ou um grupo em
relação ao indivíduo, trazendo inúmeros resultados negativos como, por exemplo, o isolamento, a
humilhação, a sensação de medo e angústia, impactando às vítimas como baixa autoestima,
insegurança, ansiedade, estresse, ataques de pânico e depressão, podendo levar até uma ideação
suicida.
Na cerimônia de abertura, após as boas-vindas, todos tiveram a oportunidade de assistir o
vídeo “2 de mayo, Día Internacional Contra el Acoso Escolar”6 que tratava sobre o assunto central, o
bullying. Numa das turmas, há estudantes estangeiros. A escolha pelo vídeo ser em espanhol foi uma
forma de incluí-los. Como as imagens são autoexplicativas, todos tiveram facilidade de compreensão,
ainda que não entendessem a língua.
Neste encontro, tivemos a percepção de que os alunos estavam mais desinibidos, tivemos mais
falas do que no primeiro encontro; muitos falaram que o problema é de fato recorrente na turma,
porém muitos alegaram que o bullying é algo que sempre existiria no mundo e que então não faria
6
O vídeo retrata a história de uma criança que passava por constantes deboches por parte de seus colegas de sala
simplesmente por ele pertencer a outro país e falar sua língua nativa, porém um amigo percebe o problema e o defende,
e assim nasce uma bela amizade.
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sentido eles pararem de “zoar”. o trabalho em uma das turmas foi bastante desafiador, com grande
número de estudantes e aparentemente pouco interesse pelo círculo da paz. Entretanto no segundo
círculo houve algumas reflexões. Alguns conseguiram se expressar falando sobre o tema principal. A
maioria também compartilha o sentimento de já ter sofrido bullying, como citado.
Houve alguns momentos marcantes e emocionantes durante a atividade, alguns jovens
compartilharam suas dores e angústias, e podemos perceber que a maioria deles não procurou ajuda
ou não tinham com quem contar. O tema causou uma grande repercussão e nos alegramos com a
maior interação deles. Observamos que alguns, notavelmente são alunos aparentemente
desamparados, muitas vezes estudam e trabalham, alguns moram com os avós. Parecem não ter desejo
de conhecimento; expressam pouco suas vozes, muitas vezes têm ânsia em relação ao “futuro”, mas
não demonstram saber o que esperar dele.
Nos dois últimos encontros, cada turma apresentou uma demanda diferente, por isso os
planejamentos foram realizados de forma separada, pelo grupo de estagiários (as) e extensionistas
facilitadores de cada turma. Foram trabalhadas temáticas tais como, padrões de beleza, autoestima e,
cada turma em um momento diferente, trabalhou as expectativas dos estudantes quanto ao futuro,
seus valores e objetivos, trazendo ferramentas de planejamento e respondendo a perguntas práticas
sobre formação profissional, ENEM, ProUni, dentre outras.
Diante do que foi relatado, podemos compreender que o círculo é um instrumento que pode
ser utilizado de forma presencial, virtual ou de forma híbrida, devendo ser adaptado e pensado
mediante aos recursos que se tem. No caso do trabalho com os professores, o trabalho virtual foi uma
ótima alternativa, pois permitiu maior aderência dos professores, já que os vários afazeres advindos
da docência podem trazer impossibilidades de participação em projetos como estes.
Cabe destacar que é muito importante a realização de uma prática que permite que os
participantes sejam os protagonistas, que sejam eles e elas os facilitadores. Por isso há a necessidade
de fazermos uma coconstrução do trabalho, que começa no primeiro momento de intervenção; desta
feita, quando temos a oportunidade de trabalharmos com vários encontros com determinado grupo, o
ideal é separarmos o primeiro encontro para desenhar o projeto junto com ele.
No caso dos professores, por exemplo, cada tema, retirado das palavras geradoras levantadas
do primeiro encontro, foi trabalhado sempre partindo da visão/vivência de cada componente do
círculo. A pedagogia freiriana foi a base para a discussão das questões, em constante diálogo, tendo
o posicionamento dos educadores como ponto de partida. Em seguida, apresentamos as colocações
de Freire sobre os temas para, na sequência, relacionarmos a fala dele às vivências apresentadas. Com
265
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isso, os círculos nos fizeram perceber que uma intervenção não vertical permite o compartilhamento
entre as pessoas, com a crença de que a técnica não diz do grupo, ou seja, a intervenção psicossocial
contribui de forma crítica sobre a “construção com” e não uma “construção para.”
Este processo traz uma certa motivação, pois não são os facilitadores que estão
propondo/impondo algo, mas é o grupo que formulou os objetivos de forma consensual. Também traz
uma efetividade ao trabalhar com as necessidades que os grupos apresentam fazendo com que nossa
prática tenha sentido. Em nosso último encontro uma das professoras destacou a importância deste
tipo de trabalho, visto que comumente os cursos disponibilizados pela prefeitura, por exemplo, estão
distantes da realidade que vivenciam. Diante disso, podemos apontar que o círculo de paz pode ser
uma metodologia potente para a formação continuada dos professores.
Outra coisa importante de se pensar é que os próprios professores, a partir do diálogo,
conseguem encontrar respostas para os problemas que vivenciam, isto nos mostra que os saberes
desses profissionais são potencializados quando dialogam entre si e com a contribuição de um
facilitador.
No que tange ao trabalho realizado com os estudantes podemos destacar a dificuldade destes
em lidar com atividades que promovem o diálogo e que permitem expressar sentimentos, o que
confirma a necessidade destas práticas que realizamos no projeto de extensão estar no espaço escolar.
Cabe destacar a eficácia do círculo ao se trabalhar com o bullying e não somente isso, é instrumento
eficaz para prevenção das violências neste contexto e para a promoção de uma cultura de paz, que o
projeto MAC busca em suas atuações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados obtidos com o projeto, foi possível compreender e verificar as práticas
aqui destacadas positivamente em relação às perspectivas que adotamos, sendo utilizadas em diversos
contextos como familiares, comunitários e organizacionais. Nesse sentido, podem ser usadas com
qualquer pessoa ou grupo, bem como nos espaços ligados à política pública, o que possibilita o
fortalecimento das pessoas em suas necessidades, sentimentos, vontades, cultura, histórias conectadas
a uma profunda relação com o ser humano, sua humanidade.
Voltando ao projeto de extensão, no que diz respeito a um maior aprofundamento da temática
da educação para a paz no âmbito escolar; este contribui na elaboração de ações para fins de
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270 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Há muitas décadas, percebe-se uma necessidade da sociedade em atuar cada vez mais em prol da diminuição dos aspectos
de marginalização da Pessoa com Deficiência (PcD). As pessoas com algum tipo de incapacidade física ou intelectual
necessitam de medidas que promovam a inclusão efetiva delas na comunidade. Neste artigo, será apresentado - por meio
da revisão de literatura realizada - a evolução e as mudanças de leis dos modelos de avaliação, além da classificação dos
impedimentos corporais, com a intenção de refletir sobre os impactos e a eficácia dessas avaliações para as PcD que estão
em processo de aposentadoria e ou concessão de benefícios, analisando os conceitos previstos na legislação brasileira e
verificando se o previsto é de fato aplicado. Durante a construção deste trabalho, foi traçada uma linha histórica da
evolução dos modelos de avaliação e as leis até chegarmos nos modelos que hoje são utilizados para as avaliações, a fim
de trazer mais informações sobre o presente tema tratado e instruir a população sobre seus direitos.
ABSTRACT
For many decades, there has been a need for society to act more and more in favor of reducing the aspects of
marginalization of Persons with Disabilities (PwD). People with some type of physical or intellectual disability need
measures that promote their effective inclusion in the community. In this article, it will be presented - through the literature
review carried out - the evolution and changes of laws of assessment models, in addition to the classification of bodily
impairments, with the intention of reflecting on the impacts and effectiveness of these assessments for PwD. disability
who are in the process of retirement and/or granting benefits, analyzing the concepts provided for in Brazilian legislation
and verifying if the provisions are actually applied. During the construction of the article, a historical line was drawn on
the evolution of evaluation models and laws until we reached the models that are used today for evaluations, in order to
bring more information about the present topic and educate the population about their rights.
1
Graduanda do curso de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
ajecorrea@sga.pucminas.br.
2
Doutora em Psicologia; Professora do Curso de Psicologia. Pró-reitora de Extensão da PUC Minas. E-mail:
carolinaresende.psi@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas. E-mail: ifacruz@sga.pucminas.br.
4
Graduanda do curso de fisioterapia da PUC Minas. E-mail: K988558421@hotmail.com.
5
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas. E-mail: vitoria.santos.1334017@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 271
INTRODUÇÃO
271
EXTENSÃO PUC MINAS:
272 Novo Humanismo, novas perspectivas
Conforme a Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações
Unidas, pessoas com deficiência são referidas como indivíduos com impedimentos corporais ou com
restrições funcionais, conforme Santos (2020):
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas. (BRASIL, 2015)
Logo, pode-se observar que, de acordo com a Constituição, uma pessoa com deficiência é
qualquer indivíduo que possua alguma restrição dentro da sociedade. O corpo deficiente é uma
expressão da diversidade humana que deve ser protegida, valorizada e incorporada na sociedade.
Todavia, a existência da desigualdade ainda persiste na sociedade (SANTOS, 2010). A deficiência é,
essencialmente, uma disfunção de um sistema do corpo, como um sistema de órgãos ou o sistema
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 273
músculo-esquelético (SCURA; PIAZZA, 2021). Essas linhas de pensamento expõem que a pessoa
com deficiência é uma variação da existência humana no mundo e, que, por causa de suas limitações,
necessitam de auxílio para viver em harmonia e plenitude na sociedade.
De acordo com Nikolas Corrent (2016), em cada época da história e em cada sociedade, tinha-
se uma visão diferente da PcD. Na civilização grega, por exemplo, tinha-se uma busca pelo corpo
perfeito, principalmente pelas constantes guerras que eles enfrentavam. Conforme Mário Schmidt
(2011): “Para os gregos, o corpo sadio deveria estar unido com a mente sadia, não se admitia a
deficiência entre eles” (SCHMIDT, 2011, p. 26). Dessa forma, indivíduos que não se encontravam
dentro dos padrões físicos de saúde acabavam sendo excluídos da sociedade. Tanto em Esparta quanto
em Atenas, muitas crianças que nasciam com deficiências físicas ou mentais eram assassinadas por
serem consideradas insignificantes:
Em Esparta e Atenas crianças com deficiências física, sensorial e mental eram consideradas
subumanas, o que legitimava sua eliminação e abandono. Tal prática era coerente com os
ideais atléticos, de beleza e classistas que serviam de base à organização sócio-cultural desses
dois locais. Em Esparta eram lançados do alto dos rochedos e em Atenas eram rejeitados e
abandonados nas praças públicas ou nos campos. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2008, p.7)
[...] na Idade Média o abandono passou a ser condenado e as pessoas com deficiência
começaram a receber abrigo em asilos e conventos, principalmente. Porém, nesse período.
Era comum a crença de que a deficiência seria um castigo de Deus por pecados cometidos e,
por isso, os indivíduos com deficiência eram alvo de hostilidade e preconceito. (SILVA,
2010, p.40-41).
A compreensão da pessoa com deficiência mudou ao longo dos últimos quarenta anos. Após
a teoria religiosa, até os anos 1970, o modelo biomédico sustentava a ideia que os impedimentos
corporais devem ser avaliados em relação às restrições físicas dos indivíduos (SANTOS, 2010). O
saber biomédico definia a deficiência somente de um ponto de vista físico utilizando a Classificação
273
EXTENSÃO PUC MINAS:
274 Novo Humanismo, novas perspectivas
Internacional de doenças e problemas relacionados à Saúde (CID). Assim, esse pensamento que
permeava a sociedade possuía uma linha de raciocínio hegemônico para intervir nas questões das
Pessoas com deficiências - PcD (CORRENT, 2016).
Em 2001, foi publicada a Classificação Internacional de funcionalidade e Incapacidade e
Saúde (CIF) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para orientar os modos de apreender,
compreender, descrever e avaliar a deficiência como um estado e condição de saúde, com o intuito
de padronizar as limitações do corpo humano (SANTOS, 2010). No entanto, demorou cerca de
quarenta anos para esse modelo paradigmático alcançar o dia a dia das pessoas, sendo que, até hoje,
percebe-se uma dificuldade de essa mudança se tornar hegemônica no cotidiano da pessoa com
deficiência. A CIF apresenta um avanço significativo nas questões relativa à deficiência e à saúde,
pois começa a tratar a avaliação por um viés biopsicossocial (CORRENT, 2016).
A CIF passou a ser utilizada no Brasil para a avaliação das deficiências com o objetivo de
conceder benefícios, como o de prestação continuada BPC, da lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), garantido, no ano de 2016, a mais de 2,354 milhões de pessoas com deficiência (CORRENT,
2016). Com o avanço científico, ocorreu uma progressão na forma de avaliação e passaram a
compreender a deficiência além da questão física, isto é, passaram a compreender como um dos
aspectos componentes da diversidade humana.
Após muitas lutas e discussões no campo político interno e externo, atualmente se encontram
vigentes no ordenamento jurídico, a Lei 8.742/1993 (BPC LOAS) e a Lei 142/2013 (Aposentadoria
da Pessoa com Deficiência), que regulam os benefícios e a aposentadoria da pessoa com deficiência,
levando em consideração o conceito biopsicossocial dessas. De acordo com o Art.2º da Lei Brasileira
de Inclusão (BRASIL, 2015):
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.
obrigará as partes a promover, proteger e assegurar o exercício pleno dos Direitos Humanos da
população com deficiência. Além disso, após muitas lutas no campo político, pela primeira vez, as
barreiras ambientais foram elementos centrais na caracterização da deficiência e se passou a levar em
consideração a definição formulada pelas próprias pessoas portadoras de deficiência. No §3 da Lei
13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), é exposto o que é considerado como:
Para ter acesso a qualquer benefício direcionado à pessoa com deficiência, será utilizado o
Índice de Funcionalidade Brasileiro (IFBr-A), que é a ferramenta utilizada para avaliação dos
candidatos que necessitam de proteção social para qualquer política brasileira, e que prevê o acesso
a esses meios somente as pessoas que se adequarem a esse conceito.
2.4 Benefício de Prestação Continuada – BPC previsto na Lei Orgânica da Assistência Social –
LOAS
a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de
ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. (BRASIL, 1993)
Em seguida, elabora sobre o benefício de prestação continuada à pessoa com deficiência, mais
conhecido como Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social
(BPC-LOAS). Tal benefício consiste no direito a um salário mínimo mensal às pessoas com
deficiência que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família.
Contudo, a LOAS é um benefício individual, intransferível e não pode ser acumulado pelo
beneficiário com qualquer outro no âmbito de seguridade social, assim como, é obrigatória a revisão
do benefício a cada dois anos para garantir que o beneficiário ainda cumpra os requisitos solicitados.
275
EXTENSÃO PUC MINAS:
276 Novo Humanismo, novas perspectivas
Dessa forma, a avaliação de cunho biopsicossocial é garantida por lei. Como a doutrina
jurídica tem apontado há tempos, a mera provisão de direitos e garantias no ordenamento jurídico não
são suficientes. Esses direitos devem ser efetivos na inclusão do cidadão na sociedade, assim como
devem ser disponibilizados instrumentos para participar da legitimação da estrutura social, o que só
pode acontecer se aberto a este espaço.
Contudo, tais direitos não são respeitados na prática, tendo em vista que em diversas agências
da previdência social não contam com uma equipe multidisciplinar com profissionais qualificados e
de áreas diversas, como resultado, essa falta tem prejudicado diversas pessoas com deficiência menos
aparentes que buscam um benefício que é seu por direito, mas falham nessa busca, tendo em vista o
despreparo da equipe avaliadora, que não compreende as diversas facetas e individualidades das
pessoas com deficiência.
Não há como esquecer que aquele que não tem voz, isto é, pessoas que possuem menos voz
ativa nas decisões e rumos da sociedade, se por um lado não é levado em consideração em estatísticas
e sequer teve reconhecida a sua cidadania de direito. Dessa forma, a partir dessa avaliação percebemos
ainda mais uma falha da sociedade, a despeito das previsões constitucionais e na legislação quanto a
uma série de direitos dos cidadãos, muitos ainda sequer tiveram a oportunidade de exercê-la.
da aposentadoria da pessoa com deficiência que contribui com o Regime Geral. Recentemente, no
ano de 2019, houve a Reforma da Previdência que, apesar de não ter alterado a Lei 142/2013, abordou
aspectos novos que serão importantes para a análise proposta neste artigo.
A Emenda Constitucional ressaltou algumas alterações na previsão de idade e tempo de
contribuição e alguns casos em que serão aplicadas regras diferentes, mas tudo após uma análise
biopsicossocial. Então, podemos concluir que, é ressaltado constitucionalmente a avaliação
biopsicossocial na concessão de aposentadoria.
A Reforma da Previdência assegurou que as aposentadorias das PcD continuarão sendo
assistidas pela Lei 142/2013, em seu art. 22, e estabeleceu a questão do cálculo de tempo e
contribuição. Essa reforma assegurou algumas regras diferenciadas para a aposentadoria desse grupo
em especial, inclusive algumas vantagens para a PcD. A partir dessa Lei, os portadores de deficiência
poderão se aposentar por tempo de contribuição independentemente da idade. Além disso, ela poderá
se aposentar por tempo menor que o estabelecido para os demais grupos sem deficiência e também
não apresenta a regra de pontos e o fator previdenciário só é aplicado nos casos em que isso aumenta
o seu benefício.
Em relação a um dos maiores problemas enfrentados após a Reforma da Previdência, o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem realizado alguns cálculos de maneira errônea, que
por consequência traz prejuízos à vida dos contribuintes deficientes. Algo muito questionado por
diferentes juristas previdenciários, é que a Reforma não previu nenhuma alteração, de nenhum cunho,
no que tange à Lei 142, mas o INSS criou novas regras quanto à formação do período básico de
cálculo (PBC), que provoca o questionamento quanto à inconstitucionalidade e ilegalidade do Ofício
64/2019 e a Portaria 450/2020 do INSS.
Para que o trabalhador seja assegurado pela Lei Complementar 142, ele terá que passar por
alguns processos; no primeiro momento, é feita uma apresentação de documentos próprios para esse
direito, portanto, um processo administrativo, e o segundo momento consiste na avaliação da
deficiência que é feita por um perito médico e uma assistente social que são disponibilizados pelo
INSS, e é realizada com base no IFBr-A.
Mesmo para fins trabalhistas, é necessário que seja adotado o conceito de pessoa com
deficiência pela Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, em que serão
considerados dimensões importantes para a participação social, como o domínio sensorial,
comunicação, mobilidade, cuidados pessoais, vida doméstica, educação, trabalho e vida econômica,
socialização e vida comunitária.
277
EXTENSÃO PUC MINAS:
278 Novo Humanismo, novas perspectivas
2.6 Judicialização dos benefícios concedidos pelo INSS em relação ao BPC LOAS e a
aposentadoria da pessoa com deficiência.
Portanto, são consideradas possíveis causas da judicialização desses benefícios sociais, além
das divergências existentes entre as análises dos peritos do INSS e dos peritos judiciais, a
desinformação do cidadão, mercado de advocacia previdenciária, estrutura e desenvolvimento
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 279
precário de carreira dos servidores, cultura organizacional, qualidade deficiente das defesas realizadas
pela União, problemas de implementação do INSS digital e as diferenças entre os critérios
administrativos e judiciais de instrução processual e para a concessão de benefícios.
Uma característica marcante do constitucionalismo democrático, que tem heranças do
constitucionalismo social, é a teoria do cidadão-cliente, que, por mais que desencadeie em uma grande
expansão do judiciário no Brasil, se faz necessária para o monitoramento das obrigações impostas
por normas programáticas, que em termos teóricos, é o grande motivo para a existência de
organizações públicas, como o INSS. Portanto, conclui-se que, pelo fato de a judicialização de
benefícios pagos pela instituição ter o início com uma petição inicial, significa que, quando um
cidadão recorre à justiça pedindo um determinado direito social, normalmente é porque foi negado,
por parte de algum órgão público, o fornecimento do que é previsto em lei sobre a concessão de
determinado direito. Com isso, percebe-se uma inversão de obrigações, em que o judiciário vem
executando mais o que é de encargo no INSS, do que o próprio órgão.
Os benefícios mais judicializados são o auxílio-doença, a aposentadoria rural e a concessão
do BPC/LOAS, que em comum, necessitam de uma avaliação biopsicossocial para serem aceitas,
reafirmando a relação da aplicação dessa avaliação, com o aumento quase que exponencial de
recorrência a justiça para concluir a ação. O que é evidenciado é que a problemática da aplicação
desse modelo tem referência com a eficácia dele, pois, o perito do INSS é obrigado a marcar pontos
que já foram predeterminados no cronograma, que não dão margens para a individualização do caso,
limitando a análise pericial. Consequentemente, a divergência existente é que, na prática, pode se
observar uma não aplicação do conceito de deficiência utilizado pela Constituição vigente, que
caracteriza a deficiência na individualidade da pessoa, através do seu enquadramento com base nas
dificuldades que apresenta para ter interação com o meio em que vive.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após os estudos realizados, nota-se que, mesmo depois de muitas lutas sociais e de direitos
adquiridos, grande parte da população deficiente não é beneficiada por eles, principalmente do direito
fundamental à cidadania, quando o modelo de avaliação a sua deficiência não é realizado de maneira
adequada.
O direito à inserção plena na comunidade é de total importância para a formação social do
indivíduo, bem como para a sua qualidade de vida. Diante desse ponto de vista, independentemente
279
EXTENSÃO PUC MINAS:
280 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
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Contábeis &Amp; Departamento De Atuária E Métodos Quantitativos, 8(2), 1–16. Disponível em:
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Novo Humanismo, novas perspectivas 281
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internacional dos direitos das pessoas com deficiência. Serviço Social em Revista, v. 13, n. 1, p.
80-101, 2010.
281
EXTENSÃO PUC MINAS:
282 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A abordagem sobre o fenômeno da população em situação de rua sob o olhar da arquitetura hostil e dos direitos à cidade
no que diz respeito à atuação baseada nos valores do homem, na sua capacidade de compreensão, simpatia e espírito de
cooperação social. Bem como os motivos e a forma de demarcação e inserção de dispositivos expulsivos nos centros
urbanos. A análise empírica e a reflexão teórica da arquitetura que é não para ver, é para viver. Esta pesquisa é
exploratória, com levantamento bibliográfico e análise de exemplos para estimular a compreensão. Foi constatado que a
instalação de dispositivos expulsivos como elementos da arquitetura hostil para intervenções no espaço público e privado
sem a preservação da integridade do ser humano, a informação/comunicação, a arquitetura e a decoração dos espaços.
Esses elementos já estão sendo vistos com naturalidade e não de forma negativa por parte das pessoas que frequentam os
centros urbanos.
Palavras-chave: Desenho urbano. Espaço público. Direito a cidade. Controle urbano. Arquitetura ofensiva.
ABSTRACT
The approach to the phenomenon of the homeless population from the point of view of hostile architecture and the rights
to the city with regard to action based on human values, on their ability to understand, sympathy and spirit of social
cooperation. As well as the reasons and the form of demarcation and insertion of expulsive devices in urban centers.
Empirical analysis and theoretical reflection on architecture that is not for seeing, but for living. This is exploratory
research, with bibliographic survey and analysis of examples to stimulate understanding. It was found that the installation
of expulsive devices as elements of defensive architecture for interventions in public and private space without preserving
the integrity of the human being, information/communication, architecture and decoration of spaces. These elements are
already being seen naturally and not negatively by people who frequent urban centers.
Keywords: Urban design. Public place. Right to the city. Urban control. Offensive architecture
1
Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Pós-graduada em
Planejamento Ambiental Urbano pela PUC Minas (2007), Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Itaúna (UIT,
2005). Email: lilian.haddad@sga.pucminas.br.
2
Professor do curso de Direito da PUC Minas. Email: ricardo.guerrav@yahoo.com.br.
3
Graduando no curso de Direito pela PUC Minas. Email: bernardo.rondinelle@sga.pucminas.br.
4
Graduanda no curso de Direito pela PUC Minas. Email: ellen.mailla@sga.pucminas.br.
5
Graduanda no curso de Direito pela PUC Minas, e em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Pará (UFPA,
2001). Email: lcgmoraes@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 283
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Direito à Cidade é um direito humano e coletivo, que diz respeito tanto a quem nela vive
hoje quanto às futuras gerações. Pode-se dizer que é o fruto da relação do homem e seu lugar no
mundo.
A cidade é a obra suprema da arquitetura, quando o desenho e a forma são definidos para criar
um ambiente extraordinariamente rico na vida particular e pública de seus habitantes. Inclui todos
aqueles que usufruem da sua infraestrutura, organização, serviços, transporte e a concentração de
atividades econômicas dos setores secundários, ou seja, a arquitetura se preocupa com toda
construção humana e modelagem do ambiente físico de uma cidade e existe desde que o homem
passou a se abrigar das intempéries.
Entretanto, as pessoas em situação de rua, que também utilizam desses espaços públicos e
participam das dinâmicas sociais, são indesejáveis neste processo tanto por quem transita, habita ou
pelos especuladores imobiliários, pois não trazem nenhum lucro ou benefício.
Há anos muitas cidades brasileiras têm não apenas tolerado, mas incentivado a arquitetura
hostil, principalmente em razão da especulação imobiliária de determinadas regiões. A ideia que está
por trás dessa “lógica” neoliberal é a de que a remoção do público indesejado em determinada
6
Consideramos que os dispositivos expulsivos são instrumentos capazes de demarcar e demonstrar a relação, do espaço
público ou privado, como oferecimento as pessoas em situação de rua gerando uma realidade negativa expulsiva.
283
EXTENSÃO PUC MINAS:
284 Novo Humanismo, novas perspectivas
existente em situação de rua no centro urbano de Belo Horizonte, o que acarreta na sua permanência
em espaços públicos principalmente em espaços atingidos pela arquitetura hostil.
A rua pode se constituir num abrigo para os que, sem recursos, dormem circunstancialmente
em logradouros públicos ou pode indicar uma situação na qual a rua representa seu habitat,
propriamente dito, onde se encontra estabelecida uma intrincada rede de relações. O que unifica essas
situações e permite designar os que a vivenciam como populações de rua é o fato de que, tendo
condições de vida extremamente precárias, circunstancialmente ou permanentemente, utilizam a rua
como abrigo ou moradia considerando principalmente como tudo que tem.
Rocha (2018) enfatiza que o valor de uma casa está no seu endereço, onde a arquitetura está
presente e “não pra você ver, é pra você viver.” Os centros urbanos são um local de valor para as
pessoas em situação de rua, pois é ambiente rico, com muitas possibilidades, mas estas pessoas estão
invisíveis ao poder público, quando pensamos em políticas públicas sociais, ou são visíveis quando
querem expulsá-las, quando incomodam. Assim, utilizam de recursos ou sistemas no espaço público,
criam uma arquitetura hostil ou defensiva, em uma ação que parte tanto de poder público quanto do
privado, na tentativa de modificar e controlar a convivência das pessoas em situação de rua.
Para Herman Hertzberger (1999), o segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que a
comunidade se sinta pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da
comunidade contribua à sua maneira para um ambiente com o qual possa relacionar e se identificar.
Meireles (2017) elucida que morar nas ruas não é uma condição acessível. Há que se lidar
com uma série de questões inoportunas como a violência, a falta de saneamento básico e de higiene,
a falta de alimentação, a precariedade e o abandono, além de a falta do número de camas nos abrigos
e albergues públicos ser um problema crônico na maioria das cidades. Apesar dessa situação de
vulnerabilidade, essas pessoas ainda têm que lidar com a instalação de dispositivos de expulsão.
A forma e a disposição desses elementos arquitetônicos, no centro urbano de Belo Horizonte,
vêm sendo feita por meio de pequenas intervenções no espaço público, como grades que cercam
praças ou parques e seus gramados com cercas elétricas e arames farpados, bancos em praças ou
abrigos de ônibus com braços no centro para evitar que as pessoas deitem por cima ou de debaixo
dele, com dimensões inferiores às instruídas pelas normas de ergonomia e segurança, espetos nos
beirais nas janelas e portas de estabelecimentos comerciais, instalações de goteiras sob as lajes de
espaços estratégicos e definidos para evitar a instalação de barracas de lona, papelão, lençol ou
cobertores em dias de chuva, esguichadores de água do tipo de jardim ou chuveirinhos acionados em
horários noturnos para que molhem o chão, a fim de impedir que as pessoas se deitem próximas às
285
EXTENSÃO PUC MINAS:
286 Novo Humanismo, novas perspectivas
calçadas, além da instalação de pedras pontiagudas sob viadutos e passarelas, ou no espaço privado,
são alguns exemplos de dispositivos dessa arquitetura hostil ou defensiva. É um tipo de arquitetura
que modifica os espaços com o objetivo de moldar o comportamento das pessoas ou afastá-los de
classes mais vulneráveis.
O urbanista Nabil Bonduki, em coluna no jornal Folha de S. Paulo, ressalta alguns exemplos
desse tipo de arquitetura na cidade paulista:
De acordo com Cintra (2019), a partir da década de 80, a cidade de São Paulo utilizou a adoção
desses dispositivos com a justificativa de uma arquitetura voltada para a segurança, sobretudo nas
fronteiras entre o espaço privado e público. Com a segregação centro-periferia, como a saída de
grupos de maior renda das áreas centrais da cidade a partir do aumento da diversidade social nesses
locais, esses grupos de diferentes rendas passaram a não mais interagir em áreas comuns e a se isolar
com o uso de muros ou outras barreiras físicas, devido ao medo da violência e ao preconceito em
relação à população de menor renda por parte da população de classe média e alta.
Esses elementos já estão sendo vistos com naturalidade e não de forma negativa por parte das
pessoas que moram em / frequentam os centros urbanos, como por exemplo na cidade de Curitiba.
Os moradores dos prédios não consideram ofensiva a instalação de pinos metálicos e não entendem
o tamanho da repercussão midiática por não os considerar agressivos aos moradores de rua.
Em 2005, a artista plástica Sarah Ross já estava atenta a este tema e desenvolveu uma espécie
de roupa, ou vestimenta, capaz de adaptar o usuário as modificações do desenho urbano aplicados
nas estruturas da cidade de Los Angeles, em manifesto a tal situação.
No entanto, somente em 2014 é que a instalação de dispositivos de expulsão nos centros
urbanos foi tratada como o termo de “arquitetura hostil” pelo repórter Ben Quinn, no jornal britânico
The Guardian, trazendo grande repercussão. Na matéria, o desenho urbano foi o prisma da questão
que da mesma maneira pode influenciar o comportamento e convívio e buscar excluir os moradores
em situação de rua dos centros urbanos. Ao despertar atenção para os dispositivos utilizados, a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 287
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É cediço que a maior parte das pessoas em situação de rua está nos grandes centros urbanos.
A arquitetura hostil é uma forma de fechar os olhos para a cruel realidade da situação existente das
pessoas que vivem precariamente pelas ruas com fome em condições degradantes. A intenção de todo
arquiteto ou urbanista ao projetar qualquer espaço é torná-lo habitável na extensão do espaço usável,
ou seja, convidar. No entanto, o sentimento crescente de que o mundo para além da nossa porta é um
mundo hostil, de vandalismo e agressão, onde as pessoas se sentem ameaçadas e nunca em casa, é o
que torna essas ações efetivas por parte de quem quer expulsá-las e não desses profissionais. Nota-se
que não há intenção de convite do uso, mesmo que de forma temporária do espaço público de forma
inclusiva, pois não há convite para hospedes indesejáveis.
O medo do outro ou da violência é um sentimento natural fundamentado em dados reais de
criminalidade, principalmente nos centros urbanos. As táticas usadas atualmente, através de
287
EXTENSÃO PUC MINAS:
288 Novo Humanismo, novas perspectivas
dispositivos de expulsão como demonstrado neste relato, não são adequadas na esfera social e só
causam consequências negativas, o que evidencia a segregação social, desvaloriza os espaços
públicos, e criam um cenário que configura uma contradição em relação ao que é esperado da vida
em cidades: a interação e troca cotidiana entre seus indivíduos.
Contudo, para essa ínfima parcela da população em situação de rua nos centros urbanos, é
esperada a oportunidade de condição de saída e não a sua expulsão através de dispositivos hostis, pois
a cidade é o lugar em que há oportunidade para todos sobreviverem. Não há que se dizer sobre a
fixação das pessoas em situação de rua nos espaços públicos e sim garantir, nos termos do art. 182,
caput, a política de desenvolvimento urbano, a ser executada pelos municípios a partir das normas
gerais estabelecidas pela União que tem por “objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.
REFERÊNCIAS
BONDUKI, Nabil. Precisamos de muitos Padres Júlios para combater a arquitetura hostil.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nabil-bonduki/2021/02/precisamos-de-
muitos-padres-julios-para-combater-a-arquitetura-hostil.shtml. Acesso em: 28 jun. 2022.
CINTRA, Cláudia Mendonça. Arquitetura e a qualificação do Espaço Público: Arquitetura
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 289
289
EXTENSÃO PUC MINAS:
290 Novo Humanismo, novas perspectivas
RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Novo Humanismo, novas perspectivas 291
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292 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente estudo visa a elucidação das estratégias usadas para a realização de um retorno presencial seguro ao projeto
PUC Mais Idade, fundado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/Campus Betim pelo curso de Fisioterapia.
A partir do pressuposto do isolamento de dois anos devido a Pandemia da doença por coronavírus 2019 (COVID-19),
novas normativas foram abordadas para garantir a presença segura dos participantes, os quais se enquadram no grupo de
risco da doença supracitada. Dentre as estratégias, se tem a formação de questionários avaliativos virtuais, aplicação de
testes padronizados e validados, distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, orientações baseadas nas medidas
sanitárias e acompanhamento do atual estado de saúde dos participantes.
ABSTRACT
The presente study aims to elucidate the strategies used to carry out a safe face-to-face return to the PUC Mais Idade
Project Extension, founded at the Pontifical Catholic University of Minas Gerais/campus Betim by the Physiotherapy
course. From the two-year isolation due to the coronavírus disease 2019 (COVID-19) Pandemic, new regulation was
addressed to ensure the safe presence of participants, who fall into the risk group for the aforementioned disease. Among
the strategies, there is the formation of virtual evaluative questionnaires, application of standardized and validated tests,
social distance, use of mask and gel alcohol, guidelines based on sanitary measures and monitoring of the current health
status of the participants.
1
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: pradojadef@gmail.com
2
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: jadymirelly1@gmail.com
3
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mateushtbotacin@gmail.com
4
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: natilara2712@gmail.com
5
Doutor e docente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: evanirso-aquino@uol.com.br
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 293
INTRODUÇÃO
Nos últimos dois anos, vimos mudanças drásticas que acometeram as rotinas de trabalho e das
relações sociais em decorrência da pandemia da COVID-19. Com o avanço da vacinação e o
importante controle sanitário, foi possível observar a minimização da transmissibilidade e uma
redução das medidas protetivas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). Essa redução na
transmissibilidade, associada à vacinação em grande escala, propiciou um retorno para as atividades
presenciais do Projeto de Extensão PUC Mais Idade – Rompendo Fronteiras.
No entanto, mesmo com uma redução na taxa de infecção pela COVID-19, a preocupação em
assegurar a saúde dos participantes no retorno presencial fez com que novas estratégias fossem
implementadas, visto que o público alvo do projeto consiste, em sua maioria, em idosos com idade
igual ou superior a 60 anos, isto é, mais vulneráveis e considerados grupo de risco (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2021). Portanto, o estabelecimento de estratégias na promoção de um retorno seguro às
atividades presenciais foi profundamente debatido e propiciou acolher os idosos e os extensionistas
com objetivo de manter as atividades do projeto presencial de forma segura.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este relato tomou como base as normativas de segurança estabelecidas e indicadas para o
combate ao coronavírus, disponibilizadas no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Além disso, para corroborar as normativas, foram utilizados os termos de restrições estabelecidos
pelas leis nacionais e municipais, e as regras normativas de funcionamento da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC) Betim e da cidade de Belo Horizonte, as quais governaram o
momento de retorno as atividades sociais presenciais.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho teve como objetivo descrever as estratégias adotadas para o retorno presencial
seguro do Projeto de Extensão PUC Mais Idade Unaí- Betim– Rompendo Fronteiras. Trata-se de um
estudo descritivo qualitativo narrativo sobre as estratégias elaboradas nas oficinas visando promover
as atividades presenciais do projeto e minimizar os riscos de contaminação por COVID-19. Assim, a
primeira medida adotada, de acordo com a Lei nº 14.019, de 2 de julho de 2020, foi o uso obrigatório
EXTENSÃO PUC MINAS:
294 Novo Humanismo, novas perspectivas
de máscaras individuais e do álcool em gel 70% em todo ambiente da universidade. Diante disso,
antes, durante e após os encontros do projeto foi enfatizada a necessidade do uso contínuo e correto
desses elementos.
No início do ano letivo, em um dos primeiros encontros com os idosos, ainda no regime
remoto, os alunos extensionistas elaboraram um protocolo de medidas, em que aconselharam a troca
das máscaras de pano por cirúrgicas ou KN95/PFF2/N95 em decorrência da maior efetividade, pois,
segundo Tanya Lewis (2021), esses dispositivos apresentam uma capacidade de filtração de 95% das
partículas. Além disso, a universidade disponibilizou, em todos os encontros, vidros contendo álcool
em gel 70%, distribuídos na porta de entrada das salas onde aconteciam as oficinas. Tal estratégia era
reforçada nos momentos em que necessitavam de contato direto das mãos, como na manipulação de
objetos.
No que diz respeito ao distanciamento físico, sugerido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), foram realizadas oficinas ao ar livre no gramado dos jardins da universidade. Essa escolha se
deu por dois motivos: livre circulação do ar, que diminui os riscos de contágio e o contato com a
natureza, que por sua vez, proporcionou bem estar físico, sensação de liberdade que traz benefícios
para a saúde mental da população tão atingida pelo período de isolamento.
Outro ponto importante foi adaptar um hábito antigo dos idosos de compartilhar os lanches
após a realização das oficinas. Em um primeiro momento, a decisão adequada foi suspender a
alimentação durante as oficinas, enfatizada previamente em todos os encontros. Posteriormente, após
a liberação do uso das máscaras, o lanche foi reinserido nas reuniões, ainda de forma cautelosa. Cada
idoso recebia, de modo individualizado, uma quantidade de comida distribuída em copos
descartáveis, servida pelos extensionistas, respeitando todas as medidas sanitárias, como a higiene
das mãos e o uso de guardanapos. Outra estratégia utilizada para garantir o consumo dos alimentos
foi manter o distanciamento físico por meio do uso de mesas separadas e distantes.
Vale ressaltar que, durante todo o processo de minimizar a exposição dos participantes do
projeto em questão ao vírus da Sars-Cov-2, os idosos se mantiveram colaborativos com as medidas
adotadas, entendendo e respeitando a necessidade de seguir os protocolos de segurança para o retorno
presencial seguro. Muitos participantes mantinham o uso do próprio álcool em gel trazido de casa,
bem como respeitavam o uso de máscaras cirúrgicas em locais fechados. Por fim, no que diz respeito
ao momento do lanche, a população da terceira idade inserida no PUC Mais Idade se organizava para
ir um de cada vez até o banheiro, a fim de higienizar as mãos, além de se manterem sentados
aguardando o momento pelo qual os extensionistas distribuíam a comida individualizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 295
Seguindo as estratégias traçadas para o retorno presencial, foi criado um questionário para o
acompanhamento do estado de saúde dos idosos participantes do projeto através de uma
autoavaliação, enviado de forma on-line por meio de um link, antes de cada oficina. Esse questionário
era composto inicialmente pela identificação do integrante e perguntas referentes ao aparecimento de
sintomas relacionados ao SARS-Cov-2. Dentre as perguntas, era questionado se algum deles teve
contato com pessoas diagnosticadas com COVID-19 nos últimos 10 dias e se o participante foi testado
positivo. Em relação aos sintomas, era questionado se estava com febre, dor de garganta e/ou de
cabeça, coriza, calafrio, perda de olfato e/ou paladar, objetivando a identificação do risco de
exposição e contaminação inconsciente e não detectada previamente. Se o idoso respondesse
confirmando mais de dois sintomas acima, ele era orientado a permanecer em casa por 7 dias até a
resolução completa ou a realização da testagem negativa para COVID-19.
Houve também adequações nas medidas organizacionais do projeto, uma vez que o controle
de frequência passou a ser realizado por apenas um dos extensionistas para evitar a contaminação
cruzada pela caneta e pelo papel com todos os participantes assinando a lista. E, com relação ao
questionário de avaliação das oficinas, que coletou sugestões para as oficinas, nível de satisfação com
as temáticas abordadas, adotou-se, então, o formulário de maneira virtual, enviado pelo grupo do
projeto no aplicativo de bate-papo, Whatsapp, após cada encontro. Assim, cada participante respondia
através do próprio celular, de maneira individualizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
296 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos pressupostos citados, houve poucos casos de idosos contaminados que,
imediatamente, foram afastados das atividades, além de ter sido concluído que a contaminação se deu
por meio externo ao projeto, uma vez que esses casos foram episódicos. Ademais, a adesão mediante
às normas impostas foi positiva, visto que todos cumpriram as recomendações para o retorno seguro.
Esse desfecho possibilitou a manutenção das atividades presenciais sem necessidade de
suspensão dos encontros realizados que, por sua vez, proporcionaram aos idosos uma aproximação e
novas possibilidades de criação de relações humanas, além de adquirirem conhecimentos gerais e
específicos, tais quais são importantes ferramentas de criação do capital social, físico e mental para o
envelhecimento saudável.
Para os extensionistas, a experiência de vivenciar a tríade Ensino-Pesquisa-Extensão de forma
presencial fez-se muito válida, visto que isso possibilitou a interação entre aluno e sociedade, que é
um dos pilares da tríade supracitada. Em suma, tal relação modifica o modo do aluno de se portar
perante à sociedade, ampliando as visões e os ensinamentos para uma vivência mais humanizada.
Além disso, o fato de os extensionistas terem implementado medidas protetivas contra a pandemia da
COVID-19 não trouxe benefícios apenas para os idosos, mas também para os próprios alunos e seus
familiares, uma vez que minimizaram as chances de estarem suscetíveis à contaminação do vírus.
REFERÊNCIAS
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máscaras de proteção individual para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao
público. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14019.htm#.
LEWIS, Tanya. Why we need to upgrade our face masks – and where to get them. Scientific
American, 30 de set. de 2021. Disponível em: https://www.scientificamerican.com/article/why-we-
need-to-upgrade-our-face-masks-and-where-to-get-them/. Acesso em: 22 maio 2022.
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Pandemia. Conselho para o público. Acesso em: 22 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
298 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O projeto de extensão LABINTER (Laboratório Interdisciplinar) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) é um
espaço de desenvolvimento de atividades educacionais que visam propiciar e fortalecer o conhecimento das práticas
pedagógicas na formação docente dos acadêmicos da UCDB e promover uma formação socioeducativa. O projeto atua
com contação de histórias para a comunidade e oficinas de formação para professores, partindo da prática interdisciplinar
para construção da visão integrada de educação e meio ambiente. Um dos objetivos do projeto se dá na perspectiva da
Educação Ambiental, que no projeto, entendemos como um processo pelo qual o educando constrói conhecimentos acerca
das questões ambientais e sociais, tornando-se agente transformador da sociedade, que busca e exerce seus direitos e
deveres. A Educação Ambiental é um processo contínuo e longo que abrange o trabalho da escola, família e sociedade.
A partir das problemáticas ambientais e das experiências no projeto LABINTER, neste trabalho, elaboramos uma cartilha
informativa e lúdica, a partir de aspectos relacionados à Educação Ambiental (EA) e ao educador ambiental, com base
em livros e artigos científicos. A cartilha é um recurso didático de grande importância para facilitar o entendimento dos
conteúdos. Os educadores ambientais precisam refletir e superar a visão fragmentada da realidade, por meio da construção
e reconstrução do conhecimento sobre a EA. Para apreender a problemática ambiental, é necessária uma visão complexa
do ambiente, na qual existem as relações naturais, sociais e culturais. O papel do educador é essencial para a transformação
de valores e práticas sociais.
ABSTRACT
The LABINTER extension project (Interdisciplinary Laboratory) of the Dom Bosco Catholic University (UCDB) is a
space for the development of educational activities that aim to provide and strengthen the knowledge of pedagogical
practices in the teaching training of UCDB academics and to promote socio-educational training. The project works with
storytelling for the community and training workshops for teachers, based on interdisciplinary practice to build an
integrated vision of education and the environment. One of the objectives of the project is from the perspective of
Environmental Education (EE), which in the project, we understand as a process by which the student builds knowledge
about environmental and social issues, becoming a transforming agent of society that seeks and exercises its rights and
duties. Environmental Education is a continuous and long process that encompasses the work of school, family and
society. From the environmental issues and experiences in the LABINTER project, in this work, we elaborated an
informative and playful booklet from aspects related to EE and the environmental educator, based on books and scientific
articles. The booklet is a didactic resource of great importance to facilitate the understanding of the contents.
1
Graduada em Biologia pela UCDB. E-mail: lilibio5@hotmail.com.
2
Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Docente na Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail: suelenpatriarcha@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 299
Environmental educators need to reflect and overcome the fragmented view of reality, through the construction and
reconstruction of knowledge about Environmental Education. To understand the environmental problem, a complex view
of the environment is necessary, in which there are natural, social and cultural relationships. The role of the educator is
essential for the transformation of social values and practices.
INTRODUÇÃO
3
A produção da cartilha fez parte do projeto LABINTER bem como do trabalho de conclusão final do curso de licenciatura
em Ciências Biológicas de uma das autoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 301
O material desenvolvido apresenta uma linguagem simples, didática, com suporte das
ilustrações, podendo ser valiosa ferramenta no auxílio da construção de conhecimentos na perspectiva
da interdisciplinaridade (Figura 05).
Amorim (2013), aponta que materiais didáticos, são facilitadores do ensino contribuindo para
a aprendizagem significativa, pois permitem a participação ativa do estudante em seu processo de
aprendizagem. Borges (2000) aponta que os recursos didáticos podem auxiliar e mediar o
desenvolvimento de diferentes atividades em sala de aula. É necessário conhecer e selecionar o
material a ser utilizado adequando ao conteúdo, ao público e aos objetivos a serem alcançados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 303
A EA tem sido mais abordada nos últimos anos em razão das problemáticas socioambientais
existentes. Nesse momento, faz-se necessário aproximar do leitor algumas perspectivas desta área,
para auxiliar no entendimento do objetivo deste trabalho.
De acordo com Reigota (2006), o meio ambiente é um lugar determinado ou percebido, em
que os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações
implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação
do meio natural e construído.
A EA é um processo que requer novos conhecimentos para compreender processos sociais
cada vez mais complexos, que estimula os atores sociais a problematizar e pensar o meio ambiente,
ajudando a construir perspectivas críticas.
Ela deve ser entendida como um processo contínuo e longo de aprendizagem, pautado em um
estado de espírito em que escola, família e sociedade devem estar envolvidos, devendo ser mais do
que uma simples forma de transmitir conhecimentos e informações sobre recursos naturais e possíveis
formas de preservação e conservação (BRANDÃO, 2004).
Na Agenda 21, a EA é definida como o processo que busca:
(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e
com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos,
habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente,
na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (...)
(AGENDA 21, s.d, on-line).
Assim, “[a] educação, seja formal, informal, familiar ou ambiental, só é completa quando a
pessoa pode chegar nos principais momentos de sua vida a pensar por si próprio, agir conforme os
seus princípios, viver segundo seus critérios” (REIGOTA, 1998, p. 28). Tendo essa premissa básica
como referência, propõe-se que a EA seja um processo de formação dinâmico, permanente e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 305
A EA não deve ser entendida como uma disciplina isolada no currículo escolar, mas
compreendida como uma dimensão educacional a ser trabalhada transversal e
interdisciplinarmente. A mais, a EA não é somente um conjunto de práticas de defesa do
meio ambiente, mas sim, a possibilidade de se construir uma práxis socioambiental,
comprometendo todos os envolvidos numa nova atitude de abrangência ética, social, cultural,
econômica, histórica e ecológica. Ela é, por isso, uma práxis educativa entendida como ação
humana pensada e responsável, credenciada como ação-reflexão-ação crítica. (DICKMANN,
2021, p.17).
A EA, segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), deve estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal, garantindo, assim, o direito de todos a ela. Esclarece-se que a educação formal:
envolve estudantes em geral, desde a educação infantil até a fundamental, média e universitária, além
de professores e demais profissionais envolvidos em cursos de treinamento em EA. A educação
informal envolve todos os segmentos da população, como por exemplo: grupos de mulheres, de
jovens, trabalhadores, políticos, empresários, associações de moradores, profissionais liberais, dentre
outros.
A EA promove instrumentos para a construção de uma visão crítica, estimulando os atores
sociais a problematizarem e pensarem sobre o meio ambiente diretamente associado aos valores
éticos, tendo uma visão mais crítica, buscando a melhoria do quadro atual de crise socioambiental
(JACOBI, 2005). Nesse sentido,
Outro argumento muito presente na educação ambiental nas suas primeiras décadas era de
relacioná-las prioritariamente, com a proteção e conservação de espécies de animais e
vegetais. Nesse sentido, a educação ambiental estava muito próxima da ecologia biológica,
sem que ela tivesse de se preocupar com os problemas sociais e políticos que provocam esse
desaparecimento de espécies. (REIGOTA, 2006, p. 12).
Ainda que os primeiros registros da utilização do termo ‘EA’ datem de 1948, de um encontro
da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Paris, o primeiro registro se deu
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 307
no ano de 1962, com o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson – que alertava sobre os efeitos
danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por exemplo, o uso de pesticidas.
Em 1968 nasce o Conselho para EA, no Reino Unido. Neste mesmo ano, surge o Clube de
Roma que em 1972, produz o relatório Os Limites do Crescimento Econômico, que estudou ações
para se obter no mundo um equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas
prioridades sociais.
Os rumos da EA começam a ser realmente definidos a partir da Conferência de Estocolmo,
em 1972, onde se atribui a inserção da temática da EA na agenda internacional. Foi definida nesta
Conferência uma série de medidas e princípios para uso ecologicamente correto do meio ambiente.
Várias nações fizeram parte deste encontro, inclusive o Brasil; vários temas relacionados ao meio
ambiente foram debatidos, temas como poluição dos oceanos, ar e águas, crescimento desordenado
das cidades e o bem-estar das populações de todo o mundo.
Existem também vários artigos, capítulos e leis brasileiras com importância para a EA. Uma
das primeiras leis que cita a EA é a Lei Federal nº 6938, de 1981, que institui a ‘Política Nacional do
Meio Ambiente’ que aponta a necessidade de que a EA seja oferecida em todos os níveis de ensino.
A Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano de 1988, estabelece, em seu artigo 225,
que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”; cabendo ao Poder Público “promover
a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente” (BRASIL, 1988,s./p.).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394, de dezembro de 1996, reafirma os
princípios definidos na Constituição com relação à EA: “A EA será considerada na concepção dos
conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica, implicando
desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir
do cotidiano da vida, da escola e da sociedade” (BRASIL, 1999, s./p.).
No ano de 1997, foram divulgados os novos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN. Os
PCN foram desenvolvidos pelo MEC com o objetivo de fornecer orientação para os professores. A
proposta é que eles sejam utilizados como “instrumento de apoio às discussões pedagógicas na escola,
na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas e na reflexão sobre a prática educativa
e na análise do material didático” (BRASIL, 1997, on-line). Os PCN enfatizam a interdisciplinaridade
e o desenvolvimento da cidadania entre os educandos e sestabelecem que alguns temas especiais
EXTENSÃO PUC MINAS:
308 Novo Humanismo, novas perspectivas
devem ser discutidos pelo conjunto das disciplinas da escola, não se constituindo em disciplinas
específicas. São os chamados temas transversais, entre os quais se encontram os seguintes: ética,
saúde, meio-ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
Nesse sentido, a EA se encontra historicamente bem estabelecida no mundo e no Brasil, porém
ainda são necessários esforços para a implementação de práticas socioambientais no âmbito da
sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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EXTENSÃO PUC MINAS:
310 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Um projeto de extensão pode ser entendido como um processo educativo, cultural, científico e político que se articula de
forma indissociável ao ensino e à pesquisa. O presente estudo possui o intuito de analisar o projeto de extensão Projeto
Qualidade de Vida Para Todos (PQVT). O Projeto propõe a promoção da saúde não apenas dos beneficiários, mas também
daqueles que estão na sua rede de apoio (cuidadores/acompanhantes). A intervenção proposta pelo grupo foi desenvolvida
através de quatro encontros, em que foram ensinados e realizados exercícios e alongamentos buscando o autocuidado e a
melhora da qualidade de vida dos acompanhantes dos beneficiários do projeto. A partir da coleta de dados para especificar
as demandas dos acompanhantes dos beneficiários, identificou-se que muitos se sentem sobrecarregados fisica e
psiquicamente. Portanto, considera-se que a vivência do Projeto Qualidade de Vida para Todos, proporcionou ganhos e
experiências únicas para o grupo de estudantes.
ABSTRACT
An extension project can be understood as an educational, cultural, scientific and political process that is inseparably
linked to teaching and research. This study aims to analyze the extension project Project Quality of Life for All (PQLA).
The Project proposes to promote the health not only of the beneficiaries, but also of those who are in its support network
(caregivers/companions). The intervention proposed by the group was developed through four meetings, where exercises
and stretching were taught and performed, seeking self-care and improving the quality of life of those accompanying the
1
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: brunaamorato@gmail.com.
2
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: leticia.fernandes.leroy@gmail.com.
3
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: juliarancanti@hotmail.com.
4
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: mariacarmenalmeida23@gmail.com.
5
Docente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: anacassia.fisio@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 311
project beneficiaries. From the data collection to specify the demands of the beneficiaries' companions, it was identified
that many feel physically and psychologically overloaded. Therefore, it is considered that the experience of the Quality
of Life for All Project provided gains and unique experiences for the group of students.
INTRODUÇÃO
Um projeto de extensão pode ser entendido como um processo educativo, cultural, científico
e político que se articula de forma indissociável ao ensino e a pesquisa, visando a promoção da
interação transformadora da universalidade com outros setores da sociedade. Esses projetos buscam
promover ações educativas com o intuito de solucionar problemas existentes, que são de interesse e
necessidade da sociedade, tendo como objetivo ampliar a relação desta com a Universidade na qual
o mesmo se insere. Desse modo, projetos de Extensão são capazes de promover a interação da
universidade com a sociedade, em que a primeira transmite conhecimentos acadêmico-científicos e a
segunda transmite experiências vivenciais.
O presente estudo possui o intuito de analisar o projeto de extensão Projeto Qualidade de Vida
Para Todos (PQVT) no qual se busca possibilitar que pessoas com quaisquer deficiências,
historicamente excluídas da sociedade, tenham acesso à prática regular de atividade física em
ambiente aquático; ele visa á formação de hábitos saudáveis e de continuidade, e à qualidade de vida.
O Projeto propõe a promoção da saúde não apenas dos beneficiários, mas também daqueles que estão
na sua rede de apoio (cuidadores / acompanhantes). Dessa forma, buscam-se ações que devem
proporcionar o acolhimento e momentos de dinâmicas de exercícios relacionados às suas principais
queixas.
O projeto foi criado em 2014, é realizado nas dependências do complexo esportivo da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas e acontece de terça as sextas-feiras,
no período de 13h às 16:30h. A coordenadora do projeto PQVT é a Cláudia Barsand, profissional de
educação física. O projeto conta com 14 estagiários de Educação Física, 9 extensionistas deste mesmo
curso, 3 estagiários de Psicologia, 9 extensionistas de Fisioterapia e 6 monitores.
A partir dos estudos práticos analisados e os relatos apresentados pelos profissionais
envolvidos no projeto, nota-se que o problema de maior incidência relatado pelos acompanhantes dos
beneficiários foi dores na coluna lombar, cervical, além de dores nos joelhos e punhos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
312 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 METODOLOGIA
A intervenção proposta pelo grupo foi desenvolvida através de quatro encontros, em que
foram ensinados e realizados exercícios e alongamentos buscando o autocuidado e a melhora da
qualidade de vida dos acompanhantes dos beneficiários do projeto. É necessário que estes estejam
bem fisicamente para conseguirem atender as demandas propostas.
Primeiramente, no início de março de 2022, foi marcado um encontro com os coordenadores
do PQVT e os extensionistas para conhecer a docente organizadora, os coordenadores, as diretrizes
do PQVT, seu objetivo geral, os objetivos específicos, os resultados esperados e como acontecem as
atividades no projeto. A partir disso, foram passados os cuidados necessários de como realizar as
transferências e os materiais utilizados no projeto, além da promoção da qualidade de vida e inclusão
da pessoa com deficiência.
Quinze dias após o primeiro encontro, foi feito um levantamento do perfil epidemiológico dos
acompanhantes dos beneficiários do PQVT, no qual recolhemos as demandas e realizamos uma
reunião para traçar um plano de intervenção. Foi aplicado um formulário (tabela 1 e 2) nos cuidadores
com o objetivo de analisar e comparar as incidências de dores musculoesqueléticas apresentadas.
Na primeira e na terceira semanas do mês de abril de 2022, mediante as queixas relatadas,
foram propostos alongamentos da coluna cervical, torácica e lombar, alongamentos do músculo
oblíquo abdominal, paravertebrais e fortalecimento dos membros inferiores. Todos os exercícios
foram explicados detalhadamente e realizados juntamente com os acompanhantes, evitando qualquer
dúvida e corrigindo quando havia erros de execução. No final do encontro, pedimos para os
acompanhantes executassem 1 vez por dia, para que a intervenção surtisse efeito.
Na primeira semana de maio de 2022, sucedeu-se o último encontro para a coleta dos dados
resultantes dos alongamentos e dos fortalecimentos executados durante esses 14 dias. Após a coleta,
aplicou-se um novo formulário para analisar a evolução do quadro dos acompanhantes, com o
objetivo de examinar uma melhora na qualidade de vida dos avaliados.
3 DISCUSSÃO
Na revisão feita por Braccialli et al. (2012), a qualidade de vida dos cuidadores é algo
preocupante, visto que afeta diretamente a condição do indivíduo que depende desses cuidados. Como
pode ser percebido ao longo do Projeto QVPT, a rotina dos cuidadores conta com amplas atividades
que requerem de sua capacidade física e mental. Pelo que foi apresentado no projeto, percebe-se que
os acompanhantes desprendem uma alta carga horária diária para os seus dependentes, e, dessa forma,
acabam abdicando do seu cuidado pessoal e, em longo prazo, isso se transforma em queixas como
dores musculoesqueléticas e problemas com a saúde mental.
A partir deste trabalho, foi realizada uma coleta de dados, através de um questionário
desenvolvido pelos presentes autores (tabela 1), para especificar as demandas dos acompanhantes dos
beneficiários. Identificou-se que muitos se sentem sobrecarregados fisica e psiquicamente. Segundo
Braccialli et al.(2012) quanto mais velha a pessoa com necessidades especiais, mais complexo é o
ato de cuidar.
4 RESULTADOS
Após a aplicação do formulário, pode-se observar que 95% dos acompanhantes dos
beneficiários não possuíam um apoio para realizar os cuidados com aqueles, sendo de maior
incidência as mães dos beneficiários. No último encontro, ocorreu a execução do segundo formulário
(anexo 2) para quantificar o ganho de qualidade de vida dos acompanhantes.
O gráfico abaixo demonstra que as principais queixas físicas são dores na coluna, nas pernas
e nos joelhos, afetando negativamente a qualidade de vida dos cuidadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
314 Novo Humanismo, novas perspectivas
O gráfico abaixo indica a satisfação dos acompanhantes ao longo do projeto com a realização
das ações propostas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação de extensão universitária é uma ferramenta factível que tange à integralidade nos
diversos níveis de atenção. Foi desenvolvido a partir desta, uma prática docente, no PQVT, realizado
na PUC Minas.
Considera-se que a vivência do PQVT, proporcionou ganhos e experiências únicas para o
grupo de estudantes, pois foi possível desenvolver o contato com diversos tipos de pessoas e
realidades diferentes e aprofundar os estudos na rotina de indivíduos que dedicam suas vidas para
cuidar do próximo. O convívio semanal entre extensionistas e beneficiários / responsáveis fortalece
a estratégia de formação e promoção de saúde.
Foi possível desenvolver um trabalho para estimular a qualidade de vida para os cuidadores
dos beneficiários do projeto abordado. Percebeu-se a necessidade de uma atenção voltada aos
cuidadores, no quesito de proporcionar uma melhor condição e bem-estar. A partir disso, em nossa
prática docente, nota-se que as ações realizadas parecem contribuir positivamente para a melhora da
postura e de dores musculoesqueléticas, assim como melhor disposição para suas atividades da vida
diária (AVD).
Através das intervenções, notou-se que os acompanhantes apresentavam muitas limitações
funcionais devido à ausência de tempo para se cuidarem. Por isso, foram apresentadas algumas
dificuldades nos intervalos de tempo para realização dos exercícios e alongamentos propostos, no
entanto eles notaram diferenças significativas à medida que foram realizando-os.
EXTENSÃO PUC MINAS:
316 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
RESUMO
Aqui se discute uma metodologia ativa em forma de relato de experiência, cujo objetivo principal foi dar voz e
protagonismo aos idosos participantes do projeto de extensão “PUC Mais Idade - Rompendo Fronteiras”. Dessa maneira,
o objetivo deste trabalho visa descrever os achados na Oficina de Resiliência sobre os sentimentos dos idosos e
extensionistas envolvidos no retorno presencial das atividades do projeto de extensão. Foram feitas duas perguntas
principais sobre a perspectiva dos atores durante a pandemia e ao retornarem ao projeto. Os meios utilizados para a coleta
de dados foi uma oficina de escuta ativa denominada Resiliência, na qual foi exposto por cada idoso sua vivência em
relação à pandemia por SARS-COV2, cuja abrangência foi desde questões epidemiológicas e até na interação social
limitada em decorrência da população idosa ser grupos de risco. Foram coletadas falas com relevância para o meio
acadêmico ao compreender fenômenos de possibilidades interventivas acerca dos impactos gerados pela pandemia, bem
como a elucidação do sentido mais palpável do significado de resiliência.
ABSTRACT
Here it is discussed an active methodology by an experience report that had the main objective to give voice and
prominence to the elderly participants of the extension project “PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras”. Thus, the
objective of this work aims to describe the findings in the resilience workshop about the feelings of the elderly and
extensionists involved in the face-to-face return of the activities of the extension project. Two main questions were asked
about the perspective of the subjects during the pandemic and when they returned to the project. The means used for data
collection was an active listening workshop called Resilience, in which each elderly person exposed their experience in
relation to the pandemic by SARS-COV2, whose coverage was about epidemiological issues and even limited social
1
Projeto financiado pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas).
2
Discente do Curso de Enfermagem, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: larissasglima@gmail.com.
3
Discente do Curso de Enfermagem, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mary12braga@gmail.com.
4
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: caina.almeida@sga.pucminas.br.
5
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: jade.alvares@sga.pucminas.br.
6
Doutor e docente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim E-mail: evanirso-aquino@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
318 Novo Humanismo, novas perspectivas
interaction due to the elderly population being risk groups. Relevant testimonies were collected in the academic
environment in order to understand interventional phenomena possibilities about the impacts generated by the pandemic,
as well as the elucidation of the more palpable meaning of the meaning of resilience.
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A COVID-19 trata-se de uma doença sobretudo respiratória, que compromete a saúde dos
indivíduos ocasionada pelo vírus SARS-CoV 2. Dentre os grupos de riscos para o agravo da doença,
tem-se as pessoas da terceira idade, deste modo, fez-se necessária a adoção de medidas de
distanciamento social e contingenciamento. Tais ações visavam ao controle da doença como forma
de barreira da transmissibilidade nos espaços (CIOTTI et al., 2020).
No protocolo de manejo clínico do coronavírus, na Atenção Primária à Saúde (APS), destaca-
se a taxa de letalidade da doença por faixa etária. No que corresponde ao perfil dos idosos (pessoas
acima de 60 anos de idade), aponta-se um percentual 3,6% para pacientes de 60 a 69 anos, já na faixa
de 70 a 79 este valor sobe para 8,0%. Há um aumento considerável quando se fala em faixas acima
ou igual a 80 anos de idade (17,8%) (BRASIL, 2020).
Considerando todas as repercussões físicas e mentais ocasionadas pela COVID-19, muitos
idosos apresentaram sentimentos como solidão, ansiedade e tristeza neste período de isolamento
social, principalmente as mulheres. Além do mais, acabou por se tornar um momento de aumento da
vulnerabilidade social levando em consideração por serem um grupo de risco. Outro agravante foram
as condições socioeconômicas e de trabalho, visto que muitos perderam suas fontes de renda
(ROMERO et al., 2021).
EXTENSÃO PUC MINAS:
320 Novo Humanismo, novas perspectivas
2.3 O papel da extensão universitária na vida dos idosos e dos discentes de graduação do PUC
Mais Idade - Rompendo Fronteiras
desenvolvimento pessoal. As ações dos extensionistas estão ligadas à boa condução das atividades,
dinâmicas e oficinas exercidas, bem como a de sempre dar voz ativa para os idosos no projeto.
Ademais, transforma-se em um espaço de interdisciplinaridade, pois a construção de todas as
propostas do projeto perpassa no diálogo multiprofissional com os acadêmicos dos cursos de
Enfermagem, Fisioterapia e Medicina, que fazem parte do PUC Mais Idade (SANTOS et al. 2016).
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência decorrente de uma oficina com
a temática "Resiliência" no projeto de extensão “PUC Mais Idade - rompendo fronteiras”, um grupo
de convivência de idosos por meio da modalidade Universidade Aberta ao Idoso.
Os dados qualitativos foram coletados através dos depoimentos gravados na oficina com o
consentimento de todos envolvidos como material produzido na Oficina de Resiliência, para registro
da atividade. A documentação da atividade através do registro das emoções e percepções dos idosos
tinha por objetivo descrever os sentimentos vivenciados em dois momentos. O primeiro, referente ao
período pandêmico, e o segundo, após o retorno à vida presencial, ainda com as medidas de
contingência da COVID-19, contudo com as normas flexibilizadas.
A oficina sobre o tema “Resiliência” aconteceu no dia 06 de maio de 2022 e duas perguntas
foram elencadas para a condução da coleta de dados foram: “O que você sentiu na pandemia?” e
“Como você está se sentindo agora com a volta do presencial?”. Sua divulgação foi realizada por
meio de um grupo na mídia social WhatsApp contendo o local, dia e temática da mesma como consta
na figura 1 abaixo.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
A oficina foi planejada para acontecer no dia 06/06/2022 e com uma temática não diretamente
focada em depressão, mas sim na importância de ser resiliente frente às adversidades da vida. Um
dos receios era a possibilidade de fragilidade dos idosos quanto ao retorno ao presencial do projeto,
desse modo toda a proposta foi pensada para ser realizada da forma mais leve possível.
Como previamente exposto, foram apresentados aos idosos o objetivo da oficina e os
comandos quanto às perguntas que seriam respondidas em suas falas. A primeira pergunta era: "o que
você sentiu na pandemia?". Essa pergunta surgiu principalmente porque muitos dos idosos que têm
participado presencialmente não estavam no período do regime remoto do PUC Mais Idade.
De modo geral, os sentimentos relatados ao longo das falas dos participantes foram agrupados
como consta na figura 2 logo abaixo.
Os sentimentos que mais surgiram nas falas foram de maneira ampla: o medo da morte e de
todo o contexto da COVID-19 pelo desconhecimento da doença por parte da população. Também
foram mencionadas as perdas de entes queridos, a tristeza em lidar com uma situação tão desafiadora,
os altos números de óbitos apresentados nos programas midiáticos. Outro ponto relatado foi a
sensação de se sentirem presos e não poderem sair de casa, o que impactou mentalmente quanto à
solidão e a todas as repercussões mentais decorrentes ocasionadas pela pandemia do SARS-CoV 2.
Diante do cenário de pandemia e o impacto de saber que as comorbidades, como hipertensão
arterial sistêmica, diabetes mellitus e obesidade poderiam levar a complicações, acabou-se por incluir
os idosos enquanto grupo vulnerável para os quadros mais graves da COVID-19 (BRASIL, 2020).
Desse modo, muitos idosos acabam ficando sozinhos em suas casas ou Instituições de Longa
Permanência para Idosos, devido aos riscos iminentes que se conhecia sobre a doença até o momento
(WANG et al., 2020).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 323
A solidão do idoso ainda é um tema bastante frequente e estigmatizado na terceira idade pela
sociedade e há uma série de fatores relacionados neste tópico. Dentre eles, são: baixa renda,
escolaridade, sexo feminino e diversos outros que contribuem para tornar os idosos mais vulneráveis
quanto ao seu contexto de saúde e doença (ROMERO et al., 2021). Ademais, a sintomatologia
depressiva é um ponto importante para causas como: morbilidade clínica, mortalidade, suicídio, baixa
qualidade de vida e aumento da utilização de cuidados de saúde na velhice. Entretanto há um aumento
da resiliência psicológica com o envelhecimento, que poderá funcionar como um fator protetor da
depressão (AMARAL et al., 2018).
A segunda pergunta tinha por objetivo que os idosos relatassem seus sentimentos envolvidos
com o retorno presencial. Eles descrevem as diversas situações que vivenciaram e o quão marcante é
o presente momento. A pergunta era “como você está se sentindo agora com a volta do presencial” e
os principais resultados são os demonstrados na figura 03 logo abaixo.
É notório que alguns sentimentos ainda permaneceram, sobretudo considerando que diversos
idosos perderam entes queridos, outros ficaram hospitalizados e sentem muito receio dos sintomas da
doença. Contudo, sentimentos como a fé, o amor ao próximo, sensação de realização em finalmente
estar retornando à vida cotidiana, com todos os cuidados necessários, mas ainda assim despertam um
sentimento de segurança.
Alguns idosos atribuíram tal sensação aos cuidados com as máscaras e vacinas, responsáveis
pela tranquilidade neste retorno. Foi possível observar também a presença da espiritualidade como
um pilar de responsável pelo fortalecimento deles frente à pandemia durante as falas dos idosos.
É de extrema importância relatar o papel do projeto PUC Mais Idade enquanto grupo de
convivência entre idosos, pois pontuaram que ele se tratava de uma “injeção de ânimo”, tanto no
período remoto, quanto no presencial. Eles relatam com felicidade, realização pessoal, felicidade e
euforia como o projeto foi importante para eles se tranquilizarem ao longo da pandemia, pois viam
EXTENSÃO PUC MINAS:
324 Novo Humanismo, novas perspectivas
rostos conhecidos, podiam conversar e ver que “estavam todos bem”. Outra incerteza mencionada
envolvendo o projeto é a de que se seria possível retornar um dia e se tinha chances de o projeto
acabar considerando o cenário provocado pelo vírus SARS-CoV 2.
Em um outro trabalho, que teve por objetivo analisar a percepção de idoso sobre os desafios
do envelhecimento em grupos de convivência das modalidades de Universidade Aberta ao Idoso,
demonstra-se um achado semelhante. Dos achados decorrentes da pesquisa, os autores reforçam a
importância do convívio com outras pessoas da mesma idade nas atividades propostas, o que melhora
diversos aspectos da saúde do idoso. As propostas tornam-nos protagonistas, pois reforçam os pilares
referentes ao envelhecimento ativo e à participação social, considerando-os sujeitos ativos na
sociedade (CASTILHO et al., 2020).
Ao longo das falas, os idosos apontaram a dificuldade atrelada ao sistema remoto e aos
desafios quanto à inclusão dos idosos no ambiente virtual. Desse modo, acaba por ser mais uma forma
de exclusão social da terceira idade nos espaços virtuais tão utilizados em regime remoto. Citam
dificuldades como uso das tecnologias, resistência da família e dificuldade de encontrar alguém
disposto a ajudá-los e ensinar a utilizar as ferramentas tecnológicas.
O uso de tecnologias, sobretudo nos períodos de distanciamento social, mostrou-se de grande
valia. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta sobre a necessidade de identificar, traçar
estratégias e inclusão dos idosos no intuito de aproximá-los do ambiente virtual com o uso de internet
e celular como forma de mitigar a solidão (KÄLL et al., 2020; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2020). Contudo, considerando todo o contexto socioeconômico e demográfico do Brasil,
tal alternativa apresenta limitações. O baixo percentual de idosos alfabetizados, famílias de baixa
renda que não têm a disponibilidade de uma internet em casa e até mesmo as restrições de certos
dispositivos móveis de acordo com o último censo pode estar associada a essas dificuldades de acesso
e inclusão digital (CÂMARA et al., 2017; SILVA et al., 2020).
Um dado que corrobora as dificuldades tecnológicas de inclusão dos idosos neste período
pandêmico e a virtualização das diversas atividades do dia a dia são as métricas referentes às
presenças no próprio Projeto. Durante o regime remoto, teve-se uma média de 10 idosos participando
das oficinas no segundo semestre de 2021. Nota-se uma baixa adesão do ambiente virtual
considerando que, até aquele momento, havia 30 idosos cadastrados no projeto (MARTINS et al.,
2020). Atualmente, no retorno presencial, há cerca de 50 idosos vinculados ao PUC Mais Idade e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 325
com uma média de 25 participantes por oficina, até o presente momento. Houve um aumento de 250%
de frequência, adesão e participação dos idosos nas oficinas realizadas no retorno presencial quanto
se compara ao momento remoto.
Ainda com todas as dificuldades, o Projeto se manteve firme tanto no período remoto quanto
agora, no presencial, demonstrando a importância da resiliência na prática, com necessidades de
inovações, de empenho dos idosos e demais envolvidos. Para isso, foi fundamental a implementação
de ações de humanização no projeto como abertura para eles relatarem seus sentimentos. Foram
adotadas diversas oficinas voltadas para a integração entre os membros, de modo que possam se
conhecer melhor, sempre trabalhadas de maneira didática, divertida e leve os mais diversos temas.
Ao final das oficinas, foram pontuadas diversas atitudes que podem aumentar a resiliência de cada
indivíduo e a valorização dos idosos neste retorno.
Mesmo com todos os percalços, os participantes mantiveram-se no projeto, sempre trazendo
algo novo e levando os ensinamentos aprendidos nas oficinas para outras pessoas, como famílias e
amigos como mencionaram. Dentre as atitudes, não somente os fatores extrínsecos como também as
capacidades intrínsecas dos idosos influenciam na qualidade de vida dos idosos mais resilientes.
Um estudo avaliou os mecanismos neurobiológicos do estresse e resiliência na população, em
que se aponta a importância de atitudes. Dentre os achados, encontraram: força, capacidade de lidar
com as adversidades, levar a vida com otimismo, experiências positivas e flexibilidade também
podem contribuir para o envelhecimento resiliente. A explicação consiste na promoção do
desenvolvimento resiliente nos eixos biopsicossociais da terceira idade, com base nas atitudes
mencionadas anteriormente. Também traz que as pessoas na terceira idade tendem a ser mais
resilientes do que as faixas etárias mais jovens (FAYE et al., 2018).
Para além da elaboração de oficinas, puramente, os discentes também promovem ações nas
quais são desafiados a exercer o papel da educação em saúde, diálogo multiprofissional, maturidade
e exercício da escuta ativa como desenvolvimento de habilidades essenciais para o crescimento
profissional.
Outro ponto de suma importância a ser destacado é que, além dos discentes, os idosos também
possuem voz ativa no projeto. Eles participam com sugestões de temáticas para as oficinas, como
também preenchem a ficha digital de avaliação enviada sempre ao final de cada dia de projeto sobre
a atividade que aconteceu. Essa ficha ajuda a nortear e traçar novas estratégias para o PUC Mais Idade
baseadas nas respostas dos idosos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
326 Novo Humanismo, novas perspectivas
Vale ressaltar que há algumas limitações a serem reconhecidas acerca deste trabalho. Em
primeiro lugar, há a limitação metodológica, pois, por se tratar de um relato de experiência reflexivo,
não possibilita a realização de inferências válidas para toda a população idosa. Em segundo lugar, a
própria temática e os discursos podem se tornar gatilhos para alguns idosos, sobretudo os que tiveram
perdas de entes queridos.
Nesse momento, é preciso trabalhar de forma leve, dar espaço para a reflexão, mas também
seria extremamente benéfico um profissional da área de Psicologia para uma intervenção coletiva em
oficinas que trabalham mais a psiqué humana. As interlocuções multiprofissionais assumem um papel
essencial pois conseguem debater e dialogar entre as diversas áreas sobre a importância da resiliência
no dia a dia e são primordiais para a construção dos futuros profissionais que passam pela experiência
da extensão universitária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 329
RESUMO
O Programa (A)penas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da APAC (Associação de Proteção ao
Condenado) existe desde 2006 e tem como objetivo principal prestar assistência aos recuperandos, homens, adultos,
sentenciados da justiça cumprindo pena com privação de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e trabalho externo
no Centro de Reintegração Social (CRS) em Santa Luzia (SL). O objetivo do trabalho da extensão universitária é
promover a humanização na assistência aos condenados da referida instituição prisional, com vistas à ressocialização à
sociedade, reconstruindo posições como sujeitos dignos e cidadãos de direitos e deveres para com a sociedade civil.
Apesar de as ações planejadas pelos extensionistas do Curso de Fisioterapia darem continuidade à proteção articular, por
demandas levantadas virtualmente no ano de 2021, houve a necessidade de readequação e inserção de novas ações de
acordo com as demandas em saúde desses beneficiários no retorno presencial. As extensionistas optaram pela aplicação
de um questionário para avaliar a qualidade de vida dentro do sistema fechado: o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN).
Duas extensionistas aplicaram o questionário, considerando que a população dos 140 recuperandos da APAC - SL possui
baixo nível de escolaridade, o que poderia interferir na interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos
resultados. A maior incidência de respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de sono, interação social,
dor e habilidades físicas.
ABSTRACT
The Human Penalties Program: interdisciplinary interventions within the scope of APAC (Association for the Protection
of the Convicted) has existed since 2006 and its main objective is to provide assistance to inmates, men, adults, sentenced
1
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: barbaraudsouza@gmail.com
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: gabriela.pamela.v@outlook.com.
3
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
janapbel@gmail.com
4
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos e do projeto de extensão ELAS, do curso de
Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail: karina@gmail.com
5
Doutora em Ciências da Saúde (UFMG), Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
330 Novo Humanismo, novas perspectivas
to justice serving time with deprivation of liberty in closed regimes., semi-open and external work at the Social
Reintegration Center – (CRS) in Santa Luzia. The objective of the university extension work is to promote humanization
in the assistance to the convicts of the aforementioned prison institution, with a view to resocialization to society,
rebuilding positions as worthy subjects and citizens with rights and duties towards civil society. Although the actions
planned by the extensionists of the Physiotherapy Course continue joint protection, due to demands raised in the year
2021 virtually, there was a need for readjustment and insertion of a pilot project. The extension workers chose to apply a
questionnaire to assess the quality of life within the closed system: The Health Profile of Nottingham (PSN). Therefore,
the objective of this study is to analyze the health profile and quality of life of those recovering from APAC - Santa Luzia
through the PNS questionnaire. Two extension workers were chosen to apply the questionnaire, considering that the
population of the 140 recovering from APAC - SL is the majority with a low level of education, which could interfere
with the interpretation of the questions, compromising the reliability of the results. The highest incidence of responses
was related to emotional issues, followed by sleep, social interaction, pain, physical abilities.
INTRODUÇÃO
presencial para o remoto. Foram muitas as dificuldades enfrentadas nas ações empreendidas no bojo
dessa situação. No âmbito da extensão universitária, o Programa (A)penas Humanos conseguiu se
adaptar e prosseguir.
O Programa (A)penas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da APAC
(Associação de Proteção ao Condenado) existe desde 2006 e tem como objetivo principal prestar
assistência aos recuperandos, homens, adultos, sentenciados da justiça cumprindo pena com privação
de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e trabalho externo no Centro de Reintegração Social
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 331
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
Esta ação trata-se de um estudo piloto desenvolvido com um grupo de recuperandos do sexo
masculino realizado no período de março de 2022. A aplicação dos questionários foi realizada nas
dependências do Sistema Fechado da APAC SL, após orientações sobre como proceder. Todos os
recuperandos pertencentes ao sistema fechado responderam aos questionários e foram excluídos
aqueles que, por algum motivo, não tivessem sido preenchidos por completo.
A hipótese seria encontrar homens mais fragilizados, em virtude de questões relacionadas à
falta de assistência em saúde e às ações que sempre foram realizadas pelo Programa (A)penas
Humanos dando suporte na área da Psicologia, Enfermagem, Fisioterapia (três dos seis cursos
parceiros) que executam atividades visando a promoção da saúde.
Apesar de as ações planejadas pelos extensionistas do Curso de Fisioterapia darem
continuidade a proteção articular, por demandas levantadas virtualmente no ano de 2021, houve a
necessidade de readequação e inserção desta ação de levantamento de dados sobre o perfil de saúde
desta população, sobre a qual será desenvolvida uma pesquisa após a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Esse questionário
oferece a possibilidade de ser autoaplicável, entretanto as extensionistas optaram por conduzir,
considerando que a maioria dos recuperandos possui com baixo nível de escolaridade, o que poderia
interferir na interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos resultados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram aplicados 81 questionários no total, no sistema fechado da APAC SL, sendo que 14
foram excluídos por não relatarem disfunções nos domínios, um excluído por duplicidade de
respostas e outro por falta de identificação, restando para análise 65 questionários.
De acordo com os domínios e número de respostas possíveis em cada um deles, foi
identificado que, quanto ao nível de energia, foram obtidas 27 das 195 respostas possíveis
relacionadas a esse domínio; no domínio dor, 62 de 520 respostas possíveis; em reações emocionais,
146 de 585 repostas possíveis; no quesito sono, 99 de 325 respostas possíveis; interação social, 93 de
325 respostas possíveis; no que tange a habilidades físicas, 48 de 520 respostas possíveis. Sessenta
por cento dessa população apresentaram queixas em três ou mais domínios, sendo que vinte e um por
EXTENSÃO PUC MINAS:
334 Novo Humanismo, novas perspectivas
cento responderam com comprometimento entre cinco a seis domínios. A maior incidência de
respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de distúrbios do sono, interação social,
dor, habilidades físicas e nível de energia (Gráfico 1).
NE = Nível de Energia; S = Sono; D = Dor; IS = Interação Social; RE = Reações Emocionais; HF = Habilidades Física.
Fonte: Elaboração dos autores, 2022.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desses resultados, é possível planejar as ações do projeto da área da Saúde com mais
especificidade. Para a aplicação do PSN em indivíduos mais capazes funcionalmente, é recomendada
a revisão da escala e a inclusão de itens mais difíceis. Portanto, apesar de ser um perfil simples e de
fácil utilização, é fundamental a associação desse questionário com uma avaliação funcional e/ou
uma entrevista semiestruturada, de forma a tornar as informações coletadas mais úteis clinicamente.
Esta atividade de levantamento de dados no Programa (A)penas Humanos possibilitou aos
extensionistas construir novos conhecimentos, a partir dos desafios apresentados na prática, integrar
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 335
a pesquisa à extensão, reconhecer maneiras de intervir nas questões da saúde considerando sua
complexidade e refletir sobre os problemas que afetam os recuperandos para além das disfunções
fisiológicas e nas dimensões humanistas: igualdade, liberdade, autonomia, pluralidade e
solidariedade.
REFERÊNCIAS
RESUMO
O presente texto pretende ser um relato de experiência sobre as práticas extensionistas do Projeto Casa do Aprender,
projeto de extensão universitária da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da PUC Minas, que oferece oficinas de
informática, comunicação alternativa e aprendizagem funcional para jovens adultos com deficiência, a fim de lhes
proporcionar autonomia e empoderamento em atividades cotidianas. Tendo em vista o contexto atual, no qual retornamos
às atividades presenciais, buscamos relatar como se dá o trabalho com as pessoas com necessidades educacionais especiais
(NEE), considerando as estratégias pedagógicas associadas a recursos de tecnologia assistiva utilizadas nas atividades,
que são o cerne de nossa metodologia. Para tal, descrevemos quatro casos com o objetivo de compreender as dificuldades
e os avanços que foram percebidos pelos pais, coordenação e extensionistas que realizaram os atendimentos. Dessa
maneira, foi possível constatar a importância de um trabalho permeado pelo afeto que leve em conta as peculiaridades
dos alunos, promovendo assim funcionalidade no ensino-aprendizagem a partir de uma etapa de acolhimento.
Palavras-chave: Aprendizagem funcional. Tecnologia assistiva. Pessoas com deficiências. Extensão Universitária.
ABSTRACT
The present text intends to be an experience report on the extensionist practices of Projeto Casa do Aprender, a university
extension project of the Pro-Rectory of Extension (PROEX) of PUC Minas, which offers computer workshops, alternative
communication and functional learning for young adults. with disabilities in order to provide them with autonomy and
empowerment in everyday activities. In view of the current context, in which we return to face-to-face activities, we seek
to report how we work with people with special educational needs (SEN), considering the pedagogical strategies
associated with assistive technology resources used in the activities, which are the core of our methodology. To this end,
we describe four cases in order to understand the difficulties and advances that were perceived by the parents, coordinators
and extension workers who performed the calls. In this way, it was possible to verify the importance of a work permeated
by affection that takes into account the peculiarities of the students, thus promoting functionality in teaching-learning
from a welcoming stage.
Keywords: Functional learning. Assistive technology. People with disabilities. University Extension.
1
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
dayanne.linhares04@gmail.com
2
Graduanda do Curso de Pedagogia pela PUC Minas. E-mail: lohainygraziellee@gmail.com.
3
Graduanda do Curso de Letras pela PUC Minas. E-mail: robertacolen@yahoo.com.br.
4
Terapeuta ocupacional, mestre em Educação; doutoranda em Educação, professora assistente IV e coordenadora da Área
de Ações Inclusivas do Curso de Pedagogia da PUC Minas. E-mail: nivaniameloreis@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 337
INTRODUÇÃO
O Projeto Casa do Aprender foi concebido em 2017, em conjunto com a Rede Incluir, hoje
PUC Inclusiva, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), campus Coração
Eucarístico, tendo como objetivo desenvolver alternativas mais adequadas para uma aprendizagem
funcional, para o desenvolvimento da autonomia, do empoderamento, através da utilização de
recursos de informática acessível e Comunicação Alternativa para jovens adultos com deficiência
intelectual, Transtorno do Espectro Autista (TEA), jovens com deficiências múltiplas, deficiências
neuromotoras, e outras Necessidades Educacionais Especiais (NEE) .
O projeto começou a funcionar no laboratório de Tecnologia Assistiva do Instituto de Ciências
Humanas (ICH), nos anos de 2018 e 2019. Nos anos de 2020 e 2021, os acompanhamentos
aconteceram de forma remota através do uso de plataformas digitais como WhatsApp, Google Meet
e Zoom, para que todas as Pessoas com Deficiência (PcD) e os extensionistas pudessem participar
dos atendimentos, reuniões e formações utilizado o computador, tablet, celular e demais recursos
tecnológicos, em função do contexto pandêmico vivenciado nestes anos, quando a meta maior era a
sobrevivência e, assim sendo, fazia-se necessário o isolamento social.
No primeiro semestre do ano de 2022, os atendimentos passaram a acontecer no formato
híbrido, alguns de forma presencial e outros de forma online. Dos 16 jovens, pessoas com deficiência
(jovens PcD), em acompanhamento, oito foram atendidos de forma remota, e os outros oito, de forma
presencial. Alguns familiares não puderam levar os filhos presencialmente, além disso, por haver
entre os atendidos, pessoas que moram fora de BH que iniciaram no Projeto na época da pandemia
da COVID-19, em que os encontros aconteceram de forma remota, essa adequação para o formato
híbrido foi importante para ampliar as possibilidades de atendimento.
Para o semestre, contamos com sete extensionistas, sendo duas do curso de Fonoaudiologia,
três do curso de Pedagogia, uma do curso de Letras e uma pedagoga voluntária.
O objetivo dessa produção é evidenciar as experiências e a importância do Projeto de
Extensão, que tece uma relação indissociável entre os conhecimentos teóricos adquiridos na
academia, pelas extensionistas, e o uso deles para promover a emancipação de sujeitos pertencentes
a diversas esferas sociais e especificidades, o que, a propósito, reflete o compromisso da PUC Minas
com a formação cidadã e humanística (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS
GERAIS, 2006), ou seja, o Projeto se torna uma ponte entre a universidade e a sociedade de forma
mais acessível.
EXTENSÃO PUC MINAS:
338 Novo Humanismo, novas perspectivas
No ano do Pacto Global pela educação, não podemos deixar de registrar que a campanha da
fraternidade de 2022 nos convida a refletir sobre a educação de uma forma bastante profunda e alerta-
nos sobre a importância de nos impregnarmos, como pessoas e educadores, de duas virtudes, a
sabedoria e o amor. Educar para a liberdade, para o respeito ao outro, para a promoção da cidadania,
para o afeto, “educar pelo afeto” (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS
GERAIS, 2020). Temos enfatizado o afeto no nosso trabalho, buscando iluminar e avivar as
potencialidades do público-alvo do Projeto apontando caminhos, buscando recursos, promovendo
autonomia, funcionalidade e significado na aprendizagem.
2 METODOLOGIA
O jovem / adulto PcD recebe atendimento individual e especializado entre uma a duas vezes
na semana. Os atendimentos têm duração de 50 minutos e ocorrem de segunda à sexta, das 8h às 12h
e das 13h às 17h, durante o período de março a junho de 2022, com uma extensionista específica, que
desenvolve com o jovem PcD atividades que estimulem a sua capacidade de raciocínio, de
organização da rotina, de habilidades funcionais e de aprendizagem com recursos de informática,
Tecnologia Assistiva, Comunicação Alternativa, jogos pedagógicos, entre outras atividades.
A capacitação inicial aconteceu de forma online, onde os extensionistas puderam conhecer os
recursos disponíveis e condizentes com a proposta do Projeto no link disponibilizado no teams. As
supervisões individuais foram disponibilizadas semanalmente para as extensionistas em horários
online com a coordenadora do Projeto.
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Nossa proposta, neste momento, é apresentar quatro casos atendidos de forma presencial no
Projeto, no primeiro semestre de 2022, e analisar os resultados obtidos em cada um deles, dentro
proposta do Casa do Aprender, em que se alinham a aprendizagem funcional, o uso de tecnologia
assistiva e os recursos de comunicação alternativa.
R. C. E. é uma jovem de 18 anos que tem autismo de nível 1 de suporte. Ela é uma garota
encantadora, afetuosa, educada, habilidosa com os recursos de informática, que participa atentamente
das conversas e apresenta suas opiniões dentro dos assuntos discutidos. Comunica-se muito bem, tem
ótimo vocabulário e consegue entender a perspectiva do outro. Tem uma família protetora,
incentivadora, carinhosa e parceira. R. tem um irmão mais velho que tem autismo também e ambos
se relacionam muito bem. A mãe D. é muito afetuosa e dedicada ao bem-estar da família, o pai
também é presente no cuidado com os filhos. A família tem o hábito de cozinhar junta, mantendo
uma tradição de receitas de pães, bolos e massas que passam dos pais para os filhos. Diante disso, R.
trouxe um projeto pessoal: se estruturar para comercializar os alimentos produzidos por ela.
Para atender a essa demanda, partimos do princípio de que precisávamos criar uma planilha
de custo para possibilitar que ela elaborasse o preço final dos seus produtos. Nosso objetivo foi
propiciar a ela a construção de processos de aprendizagens que colaboraram para o desenvolvimento
de maior autonomia, planejamento e execução do seu próprio projeto.
As intervenções foram iniciadas com o acolhimento a ela e a sua família, e no dia a dia fomos
nos conhecendo, nos aproximando, de forma que ela se sentisse segura, confortável e validada. Isso
EXTENSÃO PUC MINAS:
340 Novo Humanismo, novas perspectivas
proporcionou à jovem a tranquilidade para planejar cada etapa, respeitando o tempo dela, aliando
criatividade e flexibilidade cognitiva. Ela realizou de forma autônoma a coleta de todos os dados para
a construção da planilha, criou sozinha a matriz de cálculos no programa Excel pelo seu computador
em casa, e acessou o arquivo no laboratório do Casa do Aprender. Preencheu as colunas da planilha
com as informações necessárias e nós utilizamos os recursos do Excel para inserir as fórmulas a fim
de calcular o custo de cada ingrediente. Ao final de todo o processo, ela conseguiu saber o
investimento inicial e final para a confecção da receita por ela escolhida. R. ficou muito feliz com as
decisões tomadas e com seu protagonismo.
R. demonstrou interesse em realizar todas as propostas, envolvendo-se em cada etapa, a cada
encontro. As reuniões foram desenvolvidas de forma dinâmica e interativa, contando com a presença
da mãe, colaborando para o desenvolvimento dos trabalhos. As suas contribuições foram no sentido
de sanar as dúvidas de R. quanto à quantidade de cada ingrediente, separadamente, no momento da
realização da receita escolhida por elas, como também no rendimento desta.
Alcançar a meta proposta a si mesma foi muito importante para a autoestima de R, ela tem
consciência do seu protagonismo, do seu desenvolvimento por meio de habilidades de planejamento
e de execução. Para além do cumprimento das tarefas, o que a possibilitou conhecer o passo a passo
do processo, a elaboração de uma planilha de custo a partir de uma receita de família, despertou nela
a necessidade de recuperar também conhecimentos de Matemática e de Português da educação básica.
Assim, concomitantemente, trabalhamos leitura, escrita, organização, sequência, quantidades,
unidades de medida, gestão de tempo (no modo de preparo), rendimento e cálculo, pois a receita é
um gênero textual que nos oportuniza toda essa gama de aprendizados.
Os recursos utilizados com R. nessa etapa foram: uma planilha de Excel no computador, o
aplicativo SOMAR (software educacional de ensino da Matemática a jovens e adultos com
deficiência intelectual) disponível gratuitamente pelo site do Projeto Participar da Universidade de
Brasília (projetoparticipar.unb.br), que se trata de um modelo de calculadora adaptado e que facilita
a aprendizagem, além de papel e lápis. O plano de trabalho individual (PTI) foi baseado na
metodologia do currículo funcional que propõe a aprendizagem de forma interativa, baseada nos
interesses do usuário e inserido no contexto de vida da jovem, algo significativo com valor afetivo e
funcional para os jovens, público-alvo do Projeto. R. tem demonstrado estar bastante interessada na
proposta de trabalho, participa das atividades com interesse e disponibilidade; demonstra estar feliz
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 341
e bem animada com o trabalho que vem desenvolveendo junto com a extensionista, e segundo os
comentários feitos pela mãe, acreditamos que essa intervenção esteja sendo adequada e importante
para ela.
Aliado a isso, R. está estudando em casa para o Encceja (Exame Nacional para Certificação
de Competências de Jovens e Adultos) que ocorrerá no mês de agosto de 2022. Além da orientação
da mãe, ela assiste a videoaulas e estuda a apostila disponibilizada pelo INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira). A fim de contribuir para seus estudos acerca do conteúdo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação, estamos lendo e fazendo junto com ela as
questões da prova da última edição do exame.
Como dito anteriormente, R. tem um irmão mais velho, I., com diagnóstico clínico de TEA,
com nível de suporte 2. I. tem 20 anos e também tem como hiperfoco questões relacionadas à
tecnologia.
I. é bastante organizado, principalmente em relação à rotina, é carinhoso e comunica seus
sentimentos e desejos por meio de analogias a jogos digitais, principalmente o Super Mario. A sua
fala é dotada de ecolalia tardia e também imediata (em menor escala), mas consegue responder a
questões simples direcionadas a ele, desde que sejam repetidas. Possui muita facilidade com a
aprendizagem de línguas, sabendo falar mais de 10 idiomas diferentes, apesar disso, possui
dificuldade com interpretação na sua língua e nas demais. A partir da demanda apresentada pela mãe
D., o plano de trabalho foi construído e elaborado a fim de que I. compreendesse melhor a relação
intrínseca entre significante e significado de palavras e frases.
Com base nisso, e explorando o interesse do jovem com a tecnologia e o Super Mario, os
atendimentos trouxeram atividades que estimularam essa capacidade de compreensão, como
atividades de ligar objetos e palavras, completar frases, interpretação, dentre outros. Ao realizar as
atividades, I. sempre escrevia em Português e Inglês. Para ampliar os materiais com os quais o jovem
tinha contato, para além de plataformas digitais e softwares, as atividades também foram feitas
utilizando outros recursos, como papéis e colagens. Essa intervenção foi feita em continuidade com
o trabalho iniciado no Projeto no 2° semestre de 2021, e os avanços foram graduais.
Por ter bastante facilidade com a parte de significante das palavras, ou seja, o tangível,
perceptível, o trabalho foi focado no significado, pois como dito anteriormente, I. tem muita
dificuldade com o conceito. Logo, as atividades eram realizadas com intervenções da extensionista,
a qual o conduzia a entender quais eram os passos e os aspectos importantes para interpretar o texto
EXTENSÃO PUC MINAS:
342 Novo Humanismo, novas perspectivas
lido. Ao analisar as atividades realizadas pelo jovem, é possível perceber que há uma evolução em
sua habilidade de interpretação, pois a necessidade de intervenção diminuiu, e o grau de dificuldade
das atividades foi aumentado (imagens, palavras, frases e por fim parágrafos pequenos).
Constata-se que I. demonstrou evolução significativa em seu processo e desenvolvimento com
os atendimentos do Casa do Aprender e o apoio da família, e, acreditamos que com a continuidade
do trabalho e as devidas intervenções, ele manterá essa progressão. No caso de I., optamos por
escolher temas e atividades que são familiares e importantes para ele, pois dentro da metodologia do
currículo funcional, isso facilita o interesse e garante melhor interação do jovem com o processo
educacional. A mãe de I. relata seu sofrimento com o processo educacional convencional, fala da
dificuldade da escola regular em manter um ambiente interessante para o jovem, do desespero e da
alteração emocional do mesmo diante de atitudes e da falta de apoio e adaptação das atividades.
O terceiro caso a ser relatado é de uma jovem de 19 anos, que será chamada aqui de E.,
estudante do 3° ano do Ensino Médio, com o diagnóstico de TEA e TDAH (o diagnóstico de TDAH
foi realizado no 1° semestre de 2022).
E. é uma jovem com dificuldades em língua portuguesa, principalmente interpretação, além
de matemática (apresenta muita dificuldade com as operações básicas). Logo, com base nas suas
expectativas e necessidades, os atendimentos apresentavam atividades e jogos que contribuíram para
a evolução dela nesse quesito. O plano de trabalho teve como objetivo auxiliá-la na construção e na
compreensão da linguagem matemática com o apoio de material concreto e atividades lúdicas, a fim
de auxiliá-la na compreensão e na aprendizagem com o português, através de atividades significativas
e interessantes para ela. Algumas das atividades realizadas foram: resolução de problemas, jogos
matemáticos digitais (disponibilizados e também criados no aplicativo WORDWALL), escrita de
resenhas de músicas, análises de poemas (oral e escrito), discussões a partir de diversas temáticas.
Além disso, E. pediu auxílio na criação de um panfleto sobre responsabilidade menstrual para um
trabalho da escola. Essa atividade permitiu que a jovem tivesse contato com a plataforma CANVA e
aprendesse sobre suas ferramentas.
Outro aspecto que vale ser destacado, é a baixa autoestima e a insegurança da jovem. Ao
receber as propostas das atividades se mostrava insegura no começo, com medo de demonstrar o
quanto sabia e o que não sabia, mas com a construção de vínculo afetivo e de confiança, E. foi se
sentindo mais segura. Alguns dos atendimentos foram para conversar sobre assuntos relacionados à
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 343
autoestima, partindo de músicas, poesias e frases, e eram repletos de reflexões e desabafos. Além
disso, integrando a língua portuguesa a esse trabalho, foi realizada a escrita de uma carta para o futuro
para nós mesmos, no qual a jovem colocou seus sonhos e medos.
Esse trabalho com a autoestima de E. foi feito a partir da compreensão de que ela é um ser
humano completo, teoria elaborada e defendida por Henri Wallon (GALVÃO, 2014), e que a
educação deve desenvolver habilidades para além das cognitivas. Para além da insegurança e baixa
autoestima presentes em pessoas autistas e com TDAH, E. também tem depressão e passa por muita
cobrança por parte da família, que a considera “preguiçosa”; logo, esse trabalho de escuta atenta e
olhar ativo, de acolhimento, foi de suma importância para o desenvolvimento dela, pois começou a
compreender que possui direito a voz e vez, além de passar a se sentir mais confiante.
Está claro que o trabalho com E. não está encerrado, já houve ganhos e acreditamos que
conseguirá desenvolver-se ainda mais com o devido apoio e intervenção, tanto no aspecto cognitivo
quanto na segurança, autoconfiança, na visão e estima que tem de si mesma.
O quarto caso trata-se da jovem J. M., de 23 anos, que teve paralisia cerebral, afetando
aspectos do seu desenvolvimento cognitivo. Ela já havia participado do Projeto em anos anteriores,
mas fez uma pausa, devido às circunstâncias dos atendimentos remotos na pandemia.
No 1º semestre de 2022, ela voltou muito feliz, mas bem arredia, tímida e insegura de si, então
foi necessário construir um trabalho, no qual ela fosse se sentindo à vontade para participar dos
processos e que elevasse sua autoestima. Uma das poucas coisas que ela teve coragem de dizer,
quando estávamos iniciando os atendimentos, foi que adorava o campus da PUC Minas do Coração
Eucarístico, por achá-lo muito bonito; então desde aquele momento, ficou estabelecido que as
propostas dos atendimentos iriam se dar pelo espaço e assim foi feito.
Além de utilizarmos o laboratório destinado para o Projeto, fomos visitar o Museu de Ciências
Naturais da PUC Minas e também aproveitamos elementos do campus como recursos pedagógicos.
As atividades deram enfoque ao que estava previsto no PTI, o foco no desenvolvimento da
alfabetização, do letramento e nos conhecimentos matemáticos de J. M., mas também visavam
desenvolver e valorizar habilidades em outras áreas, como as artes visuais e a culinária.
Percebemos que, com os atendimentos, a jovem foi se sentindo mais à vontade em participar
das atividades, em falar sobre si, e assim, foi sendo construído um vínculo com a extensionista.
Percebemos uma melhora na sua autoconfiança, pois ela demonstra ter compreendido possuir várias
habilidades além das que estamos tentando desenvolver. Dentro da proposta do currículo funcional,
uma das metas é empoderar o aprendiz a partir da percepção de suas habilidades e a compreensão de
EXTENSÃO PUC MINAS:
344 Novo Humanismo, novas perspectivas
que é um ser capaz. J.M. demonstrou exatamente isso, que a partir de uma relação de afeto, do vínculo
com sua extensionista e das atividades realizadas, dentro do seu interesse e habilidades, pode
perceber-se um ser capaz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A convocação para a construção do Pacto Educativo Global nos orienta para que a educação
no planeta passe, efetivamente, a considerar a imprescindibilidade de que se coloque a pessoa no
centro. Educar para a liberdade, para o respeito ao outro, para a promoção da cidadania, para o afeto.
Educar pelo afeto (cf. Dom Joaquim Mol, ex-reitor da PUC Minas) vai ao encontro da campanha da
fraternidade. O Projeto Casa do Aprender caminha tendo o afeto no educar como premissa principal
na transformação de vidas, na reconstrução da autoestima, em direção à aprendizagem para a vida e
para uma educação que transforma.
A aprendizagem funcional permeia a proposta de atendimentos no Projeto Casa do Aprender,
ou seja, o que há de ser aprendido precisa ter significado para quem irá aprender e, necessita ser uma
aprendizagem que agregará conhecimento na vida atual e futura desse aprendente, de forma a torná-
lo autônomo, independente e empoderado. Os casos relatados nesse texto demonstraram o quanto a
aprendizagem funcional, associada a uma condução afetiva e a recursos de Tecnologia Assistiva
fizeram a diferença na vida de jovens com deficiência atendidos nesse projeto. Ao proporcionar
ambientes acolhedores, com escutas atentas e atividades pertinentes às habilidades e interesses dos
jovens, os atendimentos proporcionaram aos jovens oportunidade para se desenvolverem em diversas
áreas de sua vida, adquirindo mais confiança, autoestima e independência.
Finalizamos na certeza de que o afeto, no nosso trabalho, tem iluminado e avivado as
potencialidades do público-alvo do Projeto e, possivelmente, tem apontado caminhos, promovendo
autonomia, funcionalidade, elevando a autoestima e proporcionando o empoderamento de jovens
adultos com necessidades educacionais especiais.
REFERÊNCIAS
DECÁLOGO da educação humanista da PUC Minas: refletido para uso acadêmico e cultural,
sociopolítico e econômico, pastoral e espiritual. BRUCK, Mozahir Salomão (Org.). Belo Horizonte:
Editora PUC Minas, 2020.
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ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014.
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Individualizado: uma estratégia a ser construída no processo de formação docente. Ciências
Humanas e Sociais em Revista, Rio de Janeiro, EDUR, v. 34, n. 12, p. 79-100, 2012.
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Acesso em: 16 mar. 2021.
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REIS, Nivânia. M. M.; SAMPAIO, Juliana. A utilização da informática na paralisia cerebral:
possibilidades e desafios na clínica da terapia ocupacional. In: FONSECA, Luis Fernando; LIMA,
César Luis (org.). Paralisia cerebral: neurologia, ortopedia e reabilitação. Rio de Janeiro: 2008,
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Humanos, Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; Rio de
Janeiro: CASB-RJ, 2009. (Coleção de Estudos de Pesquisa na Área da Deficiência; v. 11).
EXTENSÃO PUC MINAS:
346 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Este relato de experiência apresenta as ações realizadas no projeto PUC Mais Idade São Gabriel, para o aprimoramento
da gestão do projeto durante a execução das atividades em regime remoto. Foram desenvolvidas, pelas professoras e
extensionistas, etapas de ações objetivas e bem demarcadas, com o apoio de tecnologias e documentações colaborativas,
para ampliar a comunicação, o monitoramento e a avaliação do projeto pelos participantes, inclusive beneficiários, e obter
a entrega de melhores resultados para todos. O relato apresenta o fluxograma de trabalho, com as etapas descritas de
forma detalhada, demonstrando o processo utilizado para a gestão de atividades do projeto. A organização realizada
demonstrou eficiência na organização da equipe, no registro das atividades realizadas e nos resultados obtidos com os
professores, extensionistas e beneficiários envolvidos.
ABSTRACT
This experience report presents the actions carried out in the PUC Mais Idade São Gabriel project, in order to improve
the project management and the execution of activities in a remote regime. Teachers and students applied objective and
well-demarcated technologies and documentation to expand, monitoring, evaluation and obtain the delivery of the best
results for all. This text presents the flowchart of activities used, demonstrating the processes for managing the work. The
organization developed in the team resulted in the registration of the activities and in the success of the results obtained
with the teachers, extensionists and beneficiaries involved.
INTRODUÇÃO
Este relato de experiência reflexivo tem como objetivo principal apresentar de forma
detalhada a gestão do projeto PUC Mais Idade São Gabriel, que precisou ser adaptada para o sistema
1
Este relato de experiência é resultado do projeto de extensão PUC Mais Idade São Gabriel, classificado para acesso a
fomento pela PROEX PUC Minas no Edital Nº 074/2021.
2
Graduanda em Enfermagem da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail: adrielle.oliveira@sga.pucminas.br.
3
Designer Visual e de Interação. Coordenadora de extensão do curso de Engenharia de Computação PUC Minas São
Gabriel. E-mail: snogueira@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 347
letivo remoto (NOGUEIRA, 2019). Como justificativa para a elaboração do mesmo, observou-se que,
ao explicitar as etapas da gestão realizada, outros projetos de extensão poderão ser beneficiados,
obtendo um direcionamento para criarem uma gestão própria, adaptada à realidade vivenciada por
cada público-alvo e respeitando a singularidade de cada projeto.
Para que um projeto seja bem sucedido, assim como quaisquer organizações, é de suma
importância uma gestão de qualidade, o que exige uma constante evolução em busca de melhores
resultados (ISHIDA; OLIVEIRA, 2019). O PUC Mais Idade São Gabriel organizou, nos últimos anos,
uma dinâmica de ações sistematizada, composta de ambientes digitais e documentos pré-
estabelecidos pela equipe, para conduzir o projeto no formato remoto e com mais eficiência. As ações
adotadas permitiram ampliar a comunicação da equipe, trabalhar de forma mais colaborativa, mesmo
a distância, e registrar todas as atividades realizadas de forma uniformizada e coerente com os
objetivos do projeto.
Com isso, pode-se afirmar que o projeto possui uma gestão apropriada, mas que a qualquer
momento poderá ser atualizada para atender novas demandas do público-alvo ou da própria equipe
de extensionistas e professores.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O “Engajamento de pessoas” consiste em: “maior motivação por parte da equipe por meio de
uma comunicação que promova confiança e colaboração para o alcance dos objetivos da
organização”. (ISO, 2015, p. 6, tradução nossa). Além deste princípio, a “Abordagem do processo”
permite “tomar ações que venham garantir que as informações necessárias estejam disponíveis para
operar e melhorar os processos e monitorar, analisar e avaliar o desempenho do sistema geral”. (ISO,
2015, p. 9, tradução nossa).
Com isso percebe-se a importância da técnica de Brainstorming (chuva de ideias), que, para
Daychoum (2018), colabora tanto para a gestão de processos quanto para a identificação de riscos e
resolução de problemas. E cabe destacar que todas essas ações impactam positivamente na formação
do estudante/extensionista, como preconizado pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das
Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX, 2012).
3 METODOLOGIA
No primeiro semestre de 2022, o PUC Mais Idade São Gabriel teve a participação de
aproximadamente 23 idosos entre 55 a 80 anos. Com o advento da pandemia causada pela COVID-
19, as atividades do PUC Mais Idade São Gabriel precisaram ser adaptadas para o regime remoto.
Atividades que antes eram feitas presencialmente, foram adaptadas para as telas dos smartphones e
foi criado o grupo PUC Mais Idade Juntos, para a realização das atividades com os idosos.
Os processos gerenciais também foram atualizados para essa nova realidade. Extensionistas e
professores adaptaram a gestão do projeto e as ferramentas utilizadas, organizando suas ações para
ampliar a comunicação, o monitoramento e a avaliação do projeto pelos professores e extensionistas
e obter a entrega de melhores resultados para os beneficiários do projeto a partir do novo contexto
apresentado.
A forma como uma equipe em um projeto de extensão se organiza, e os meios que ela utiliza
para tal, são fundamentais para colocar em prática os objetivos e a metodologia do projeto dentro de
sua realidade. Práticas bem estabelecidas e colaborativas proporcionam um diálogo e uma
participação engajada e efetiva entre todos, além de convergir esforços em direções comuns.
Durante a reorganização do projeto no período letivo remoto, a equipe alterou a forma de
comunicar, os modelos dos documentos utilizados para implementar os objetivos e as ações do projeto
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 349
e a forma de monitorar e avaliar essas ações junto aos participantes. O fluxograma apresentado na
figura 1 demonstra o processo de Gestão de Atividades do PUC Mais Idade São Gabriel desenvolvido
nos últimos anos.
3.1 Preparação
um grupo do WhatsApp composto apenas por extensionistas e professoras. Neste grupo, intitulado
PUC Mais Idade - data do semestre vigente, são discutidas ideias de atividades, aprovação de roteiros
e slides, monitoramento, etc.
Na sequência, é realizada a “Organização e gerenciamento do processo”. Todos os
documentos elaborados são publicados em pastas no Google Drive compartilhado, para que tanto os
extensionistas quanto as professoras tenham acesso e possam editar os arquivos. As pastas deste
ambiente que merecem destaque para este trabalho são: “Dados Gerais e Materiais Produzidos”,
“Roteiro para as aulas”, “Arquivo base das atividades”, “Imagem das aulas”, “Atividades”,
“Relatórios” e “Parcerias”.
As extensionistas utilizam o Excel Online para a elaboração de planilhas, as quais se
encontram na pasta “Atividades”. A planilha central desta pasta é a de “Planejamento e
monitoramento das atividades”, dispondo das colunas: principal dimensão trabalhada, eixo temático,
responsável ou responsáveis pela sistematização da aula, data, nome da atividade, objetivos, descrição
da atividade, contribuições da atividade e avaliação da atividade. Vale ressaltar que as linhas da
planilha são coloridas; para cada mês, utiliza-se uma cor diferente, facilitando a visualização. E na
parte inferior da planilha são colocadas sugestões de atividades.
A segunda planilha é a de “Lista de presença dos idosos”. Na primeira coluna, localizam-se
os nomes de todos os beneficiários, e nas próximas colunas estão as datas de cada aula que será dada
ao longo do semestre. Na parte inferior da planilha, há uma legenda, explicando qual símbolo usar
para os idosos que estão participando da aula, para aqueles que estão apenas visualizando as
mensagens do grupo e para os outros que não estão online ou que não estejam acessando as mensagens
enviadas no grupo no momento da aula.
A terceira planilha apresenta os “Números de interações por dia”, dispondo das datas das
atividades e a divisão por cores dos meses. A quarta planilha é a de “Divisão de grupos”, onde são
dispostos os nomes dos idosos e os respectivos números telefônicos, para que cada extensionista fique
responsável por um grupo, contatando-os via WhatsApp antes do início das atividades, buscando saber
se o idoso tem interesse em continuar participando do projeto.
Um documento importante chamado “Roteiros para as aulas” é criado a cada atividade a ser
realizada com os idosos e salvo na pasta “Dados Gerais e Materiais Produzidos”. Os itens que o
compõem são: Responsável pela elaboração da aula, Responsável pelos slides, Slide 1 e na parte
inferior do documento o tópico Referências Bibliográficas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 351
Na pasta “Arquivo base das atividades” está contido o “Template PUC Mais Idade” no
formato pptx., que possui no canto inferior esquerdo a marca PUC Mais Idade, sendo os slides do
tamanho 6 x 6 cm, medida apropriada para as telas de smartphones.
Neste relato de experiência, o termo “Registro” é utilizado para definir qualquer anotação feita
nas planilhas, nos relatórios dispostos no Google Drive, após a etapa de organização e gerenciamento
do projeto. Portanto, o “Registro I” ocorre nos seguintes momentos: quando são adicionados os nomes
dos idosos principiantes do projeto nas seguintes planilhas: “Planejamento e monitoramento das
atividades” e “Lista de presença”, bem como no momento em que são registrados, na planilha central,
os nomes dos responsáveis pela sistematização das aulas, referindo tanto aos nomes das extensionistas
quanto das parcerias, em cada data de atividade do semestre.
maiores, fontes sem serifa, imagens com boa qualidade e nítidas. Com isso, a extensionista transforma
os slides de .pptx para .jpeg, e adiciona os arquivos no Google Drive na subpasta “Imagens das aulas”.
As imagens facilitam o envio em etapas da atividade no grupo PUC Mais Idade Juntos.
O “Registro II” é quando deverão ser preenchidas, pela dupla responsável, as colunas da
“Planilha de Planejamento e Monitoramento das Atividades”, sendo elas: principal dimensão
trabalhada, eixo temático, nome da atividade, objetivos e descrição da atividade. Na principal
dimensão trabalhada, pode-se completar com uma das seguintes dimensões: corpo e movimento;
cultura, ética e cidadania; funções executivas ou funções cognitivas. Para a escolha da dimensão
trabalhada e do eixo temático é necessário analisar o tema e a abordagem que serão desenvolvidos
durante a aula. Na coluna Nome da Atividade, utiliza-se o mesmo nome que foi colocado como título
do roteiro da aula. Em Objetivos é descrito o que se pretende alcançar com o tema proposto. Já na
Descrição da atividade, é necessário explicar como foi planejado o andamento da aula da respectiva
data.
A etapa de “Execução da aula” é realizada às terças e quintas, das 14h às 17h, no grupo do
Whatsapp PUC Mais Idade Juntos. Nesse momento, todas as extensionistas devem estar participando,
apesar de apenas uma dupla ter sido responsável pela elaboração e sistematização da aula do dia.
Concomitantemente, nessa etapa ocorre o monitoramento da atividade, onde se observa a participação
dos beneficiários, se estão demonstrando interesse ou desinteresse e como está o ambiente do grupo,
animado ou desanimado. Destaca-se que, às vezes, é necessário que as extensionistas e as professoras
se comuniquem pelo outro grupo do Whatsapp durante a aula, para resolver qualquer intercorrência,
solicitar que alguma extensionista converse com algum idoso no WhatsApp privado e, neste grupo,
também são feitos comentários relativos ao monitoramento.
Embora tenha sido descrita a etapa de desenvolvimento e monitoramento, explicando o passo
a passo feito pelas extensionistas, é lícito mencionar uma particularidade: atividades realizadas pelas
parcerias do projeto, atualmente os cursos de Psicologia da unidade São Gabriel e Fisioterapia do
campus Coração Eucarístico. As parcerias com outros cursos na universidade demonstram a
interdisciplinaridade presente no projeto, o qual busca qualidade de vida constante para os idosos a
partir das diversas necessidades desse público.
Nesse caso, vale resaltar que na etapa de “Preparação”, mais especificamente na “Organização
e Gerenciamento do Projeto”, uma extensionista ficou responsável pela orientação quanto ao processo
e a dinâmica das aulas. Agora, na etapa de aprovação do roteiro de produção e dos slides, a
extensionista os ajudará na preparação e condução das atividades, de acordo com a organização já
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 353
realizada no projeto e apresentada acima. Os alunos das parcerias elaboram e enviam um roteiro para
a extensionista, que repassa para o grupo PUC Mais Idade, quando as demais extensionistas e
professoras avaliam. Após a aprovação do roteiro, o mesmo processo acontece com os slides. Quando
ambos forem aprovados, a parceria será convidada a entrar no grupo do WhatsApp PUC Mais Idade
Juntos antes da data da atividade a ser realizada por eles, para que assim possam compreender melhor
como a aula é guiada pelas extensionistas e a maneira como as interações entre os participantes são
realizadas.
3.3 Avaliação
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Durante a organização das atividades e documentações do PUC Mais Idade São Gabriel, nos
últimos anos, foi possível à equipe perceber que a gestão de um projeto não é realizada apenas com
a determinação de objetivos e funções. A gestão de um projeto de extensão é construída no dia-a-dia,
a partir de experiências e contexto em que o projeto se encontra.
O regime remoto, realizado durante o momento mais crítico da pandemia da COVID-19,
incentivou os participantes do projeto de extensão PUC Mais Idade São Gabriel a criar novas ações
que permitissem a participação dos idosos de forma segura e, ao mesmo, permanecessem ativos.
Porém, realizar atividades a distância demanda mais organização e mais comunicação da equipe por
meio de tecnologias para que o projeto permaneça ativo e promova o engajamento de todos.
A gestão realizada nos últimos anos resultou em ações práticas, organizadas e a criação de
documentos que permitem o registro claro das atividades executadas por todos. A Figura 2 apresenta
um compilado desses documentos e imagens gerados durante a organização do projeto nos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 355
últimos anos, tais como “Planilha de Planejamento e Monitoramento das Atividades", “Template das
imagens das atividades”, “Lista de Presença”, “Roteiro de Aula” e marca e integrantes do grupo do
Whatsapp.
Figura 2 - Compilação de alguns documentos e ferramentas PUC Mais Idade São Gabriel
De acordo com os diálogos realizados no grupo de WhatsApp do projeto, foi possível perceber
um maior dinamismo nas discussões e tomadas de decisão a partir do andamento do semestre. Todos
os integrantes estavam informados sobre datas, atividades a serem realizadas, número e frequência
dos participantes e as metas que foram cumpridas.
Foi observado pela equipe também a facilidade em capacitar os extensionistas que entraram
após o início das atividades, considerando que rapidamente eles entendiam o projeto por meio das
documentações e ferramentas tecnológicas utilizadas. A gestão das atividades facilitou também a
realização das parcerias, as quais foram conduzidas com o apoio das planilhas e templates, fato que
foi elogiado pelos parceiros em mensagens enviadas para a coordenação do projeto. Os registros
realizados também facilitam o monitoramento realizado pela coordenação do projeto para a Proex,
sendo eles incluídos no sistema da Pró-reitoria de Extensão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
356 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste relato de experiência reflexivo, pode-se afirmar que o projeto PUC Mais Idade
São Gabriel tem buscado aprimorar a gestão, de forma a atender as demandas impostas pelo regime
letivo remoto. Para o meio acadêmico, este relato contribui fornecendo ferramentas e técnicas de
gerenciamento, de forma que outros projetos de extensão que desejem criar uma gestão própria,
possam ser beneficiados. E para a sociedade, este trabalho apresenta maneiras de pessoas com
diferentes pontos de vista, interagirem entre si, em busca de trazer melhorias para uma organização.
Por fim, sugere-se que novas técnicas de gestão sejam aprimoradas, para obter uma melhor
qualidade de organização em projetos de extensão. Sugere-se também que as etapas de “Registros”
sejam realizadas com mais detalhamento, pois só assim, ficarão perceptíveis onde se faz necessário
adaptar as técnicas e ferramentas de gestão do projeto. Ademais, pode-se concluir que uma equipe
que se dispõe a trabalhar de forma colaborativa e unânime, alcança bons resultados.
REFERÊNCIAS
RESUMO
A pandemia da COVID-19 afetou consideravelmente a vida, em sociedade, desde o seu início no ano de 2020. As
empresas, importantes instituições sociais, também sofreram consequências em decorrência da pandemia. Dessa forma,
o presente trabalho se propôs a analisar os principais desafios vivenciados por empreendedores da região do Barreiro em
Belo Horizonte-MG durante a pandemia da COVID-19. Nesse intento, o referencial teórico abordou questões sobre o
empreendedorismo e as influências da pandemia da COVID-19 na prática empreendedora. Foi realizada uma pesquisa
quantitativa-descritiva junto a empreendedores da região do Barreiro que contou com um questionário fechado distribuído
a 197 empresas. Os dados foram analisados utilizando-se o Statistic Package for Social Science (SPSS). Os resultados
demonstraram que os problemas enfrentados por micro e pequenos empresários ultrapassam questões puramente
gerenciais e se manifestam em limitações macro e microeconômicas que comprometeram o oferecimento dos bens e
serviços dos postos de emprego, da geração de renda da comunidade empresarial e de seus colaboradores.
ABSTRACT
The COVID-19 pandemic has considerably affected life, in society, since its beginning in 2020. Companies, important
social institutions, have also suffered consequences as a result of the pandemic. In this way, the present paper proposed
to analyze the main challenges experienced by entrepreneurs in the region of Barreiro in Belo Horizonte-MG during the
COVID-19 pandemic. With this in mind, the theoretical framework addressed issues about entrepreneurship and the
influences of the COVID-19 pandemic on entrepreneurial practices. A quantitative-descriptive survey was carried out
with entrepreneurs in the region of Barreiro, which included a closed questionnaire distributed to 197 companies. Data
were analyzed using the Statistic Package for Social Science (SPSS). The results showed that the problems faced by these
1
Drª. Em Administração. Professora do Curso de Administração, Unidade Barreiro. E-mail: kesiasilva@pucminas.br.
2
Prof. Dr. do Curso de Administração, Unidade Barreiro. E-mail: rodrigocassfreitas@pucminas.br.
3
Graduanda do Curso de Administração Puc Minas Barreiro. E-mail: nataliasdosreis@yahoo.com.br.
4
Graduando do Curso de Ciência Contábeis Puc Minas Barreiro. E-mail: juniosilva2609@gmail.com.
5
Graduanda do Curso de Administração Puc Minas Barreiro. E-mail: jenifercarolinamoreira@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 359
micro and small entrepreneurs go beyond purely managerial issues and manifest themselves in macro and microeconomic
limitations that compromised the provision of goods, services, jobs, and income generation for the business community
and its employees.
INTRODUÇÃO
O mundo todo enfrenta nos últimos anos a pandemia da COVID-19, causada pelo
Coronavírus. O Coronavírus foi descoberto no ano de 1964, em Londres, por uma pesquisadora
escocesa de nome June Almeida. Na época, uma descoberta sem muita relevância, dada a baixa
patogenicidade do microrganismo quando em contato com o corpo humano. Em 2002, uma nova
espécie da família Coronavírus desenvolveu-se na China e levou o país a uma grave epidemia que
ficou conhecida como Síndrome Respiratória Aguda Grave. Após isolado vírus, foi-lhe atribuído o
nome de Sars-Cov, sendo este o mesmo vírus que causa a COVID-19.
Em 2019, a China novamente isolou outra espécie de Coronavírus: o Sars-Cov-2 ou COVID
19, vírus dotado de alto poder letal devido à falta de resposta do seu hospedeiro aos tratamentos
recebidos, e cujas formas de disseminação ocorrem de forma extremamente rápida, retardando o
controle da sua propagação. Foi exatamente esse poder de se proliferar com extrema rapidez o que
levou o vírus a alcançar praticamente todo o globo terrestre em poucas semanas. Nesse sentido, a
OMS - Organização Mundial da Saúde - decretou, em março de 2020, estado pandêmico. Instalava-
se assim uma das maiores crises sanitárias mundiais já vivenciadas, que perdura até o momento atual.
E a instabilidade financeira que diversas nações já enfrentavam agravou-se, dadas as medidas
restritivas necessárias para a contenção da disseminação do vírus. Em busca de uma resposta a curto
prazo, as autoridades governamentais e de saúde decretaram, dentre outras medidas, o distanciamento
social.
No Brasil, tal medida trouxe como consequência a potencialização da crise financeira que já
existia. Diante disso, alavancou-se o número de demissões sem justa causa nas empresas, impactando
significativamente, em outra realidade, o aumento do desemprego das forças de trabalho, estimulando
os brasileiros ao empreendedorismo. Conforme citado por Beringuy (2020), o Brasil registrou uma
perda de aproximadamente 9% de empregos formais. Nesta mesma linha, Vialli (2020), em paralelo
aos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que, entre
março e julho do ano de 2020, houve um crescimento de 20% no número de novos empreendedores,
quando comparado ao ano anterior.
EXTENSÃO PUC MINAS:
360 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este tópico aborda duas temáticas que embasam esta pesquisa. Inicialmente, discute-se o
empreendedorismo como um fenômeno presente na sociedade e suscetível às variáveis micro e macro
ambientais. A seguir, discute os desafios enfrentados pelo empreendedorismo na pandemia da
COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 361
2.1 Empreendedorismo
histórico profissional, sendo certo que as vivências profissionais da pessoa, seja como colaborador
ou outras lições vivenciadas, servem como base para tomada de decisões na nova fase
empreendedora.
A globalização e as crises vivenciadas por todo o mundo resultaram em um aumento
expressivo de novos empreendedores, especialmente no Brasil. Outro aspecto de grande relevância é
o aumento no número de desempregados e a ausência de novos investimentos por parte dos grandes
empresários, insurgindo assim o interesse dos brasileiros em empreender.
O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da COVID-19. Desde então, o mundo
vem sendo desafiado pelo rápido contágio do coronavírus SARS-CoV-2 – COVID-19 – cujos
impactos, sem precedentes, vão desde a grave crise econômica global, até a perda em larga escala de
vidas humanas (BAUM; HAI, 2020; UNWTO, 2020). Trata-se da maior crise de saúde pública em
memória viva (OECD, 2020), a qual resultou na significativa redução e/ou bloqueio total das
operações de várias empresas em muitos países (CHINAZZI et al., 2020). Situação esta que impôs
enormes desafios às empresas em geral (BARTIK et al., 2020) e, em especial, às micro e pequenas
empresas – MPE – (DUBE, NHAMO, CHIKODZI, 2020).
Do ponto de vista conceitual, uma crise é um processo indesejado, comumente inesperado e
de limitação temporal, cujo desdobramento é, possivelmente, ambíguo (GLAESSER, 2006). Uma
crise não se resume a um evento isolado, mas a um processo que se desenvolve e evolui em fases
(MIRANDA, 2017). Quanto mais durar a crise, mais escassos se tornam os recursos financeiros
(WENZEL et al., 2020), levando a uma possível falência das empresas (BARTIK et al., 2020), o que
requer tomadas de decisão imediatas (GLAESSER, 2006) e estratégias de adaptação
(WHITTINGTON, 2002).
No Brasil, observa-se que a economia já vinha tentando se recuperar de uma crise de anos
passados. Neste sentido, Leković e Marić (2016, p. 39) declaram que, “em períodos de crise, o
ambiente empreendedor sofre mudanças significativas na forma de redistribuição econômica”.
Perante uma crise econômica atípica e inusitada, a economia fraquejou. Com isso, vieram as medidas
governamentais adotadas para tentar minimizar alguns pontos como a inadimplência, a mortalidade
das organizações, evitar uma maior desaceleração da economia, o desemprego, entre outras coisas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 363
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A maioria das empresas que participaram da pesquisa atuam no ramo comercial (168) e apenas
29 atuam como prestadoras de serviço na região.
Tabela 1 – Ramo de atuação
Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
Comercial 168 85,3 85,3 85,3
Durante a pandemia da COVID-19, as empresas foram orientadas a fechar suas portas devido
à necessidade de isolamento social. Dessa forma, as vendas por meio físico ficaram impossibilitadas
de acontecer. A saída para as empresas foi trabalhar o e-commerce, vendas pela internet, utilizando
canais disponíveis nas redes sociais. Conforme se observa na tabela 3, 94,9% das empresas possuem
redes sociais ativas, o que permite que trabalhem o marketing digital e fomentem as vendas pela
internet.
Os dados mostram que a maioria das empresas, 168 das 197 participantes da pesquisa,
permaneceu com as portas fechadas durante mais de 4 semanas, devido ao isolamento social imposto
pela COVID-19. Observa-se que se trata de um longo tempo, ao se avaliar as consequências de não
faturar durante esse período, que colocou muitas empresas em situações financeiras complicadas.
Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
1 Semana 7 3,6 3,6 3,6
Como já relatado, a pandemia da COVID-19 fez com que as empresas inovassem no sentido
de buscar novas formas de vendas, tendo destaque as vendas pela internet que cresceram em média
400% nesse período. A pesquisa demonstrou que dentre as formas de vendas que diferem da física,
as mais citadas foram: WhatsApp, telefone, Facebook e Instagram, opção declarada por 31,98% das
empresas, e apenas utilizando Instagram e telefone, opção de 22,84% das empresas. Ressalta-se a
forte presença das redes sociais Facebook e Instagram como forma de realizar as vendas durante a
pandemia.
No que diz respeito às entregas dos produtos, observa-se que na maioria das vezes, 39,09%, a
empresa possui um entregador próprio ou os cientes buscam as mercadorias na loja tomando os
devidos cuidados referentes ao isolamento social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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pela crise, novos empresários procuram oportunidade nas demandas geradas pela pandemia.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2020/08/brasil-ganha-600-mil-
microempreendedores-durante-a-quarentena.shtml>. Acesso em: 02 jun. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
372 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O projeto de extensão permite aos universitários vivenciarem novas experiências por meio do compartilhamento de
saberes com a sociedade, não somente levando conhecimento, mas também adquirindo novas habilidades. Este relato de
experiência tem como objetivo discutir as perspectivas extensionistas no Programa Apenas Humanos da PUC/Minas pelos
acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia na Associação de Proteção e Amparo ao Condenado (APAC) do município de
Santa Luiza, no primeiro semestre de 2022. Foram realizados vários encontros de integração com temas relacionadas ao
sistema prisional e as implicações das atividades extensionistas na formação profissional, ética, humana e social. As
atividades de inserção na extensão permitiram aos extensionistas ampliarem seus conhecimentos, tornando mais
prazerosas as ações realizadas para os beneficiários, além de proporcionar a troca de saberes e experiências. Conclui-se
que é de extrema importância projetos de extensão que agregam e trazem um processo de construção do conhecimento
em contexto social. Os acadêmicos que tem a oportunidade de participar de projetos como o “Apenas Humanos”, possuem
uma vivência e uma experiência diferenciada. Esse momento, proporciona aos estudantes, que eles conheçam outra parte
da sociedade; classes sociais diferentes; estilo de vida diferente; e que contribua com a comunidade de diferentes formas.
ABSTRACT
The extension project allows university students to experience new experiences by sharing knowledge with society, not
only taking knowledge, but also acquiring new skills. This experience report aims to discuss the extension perspectives
in the Just Humans Program at PUC/Minas by Nursing and Physiotherapy students at the Association for the Protection
and Support of the Convicted (APAC) of the municipality of Santa Luiza in the first half of 2022. integration meetings
with themes related to the prison system and the implications of extension activities in professional, ethical, human and
social training. The activities of insertion in the extension allowed the extension workers to expand their knowledge,
making the actions carried out for the beneficiaries more pleasant, in addition to providing the exchange of knowledge
and experiences. It is concluded that extension projects that add and bring a process of knowledge construction in a social
1
Coordenador do Curso de Enfermagem da PUC/Minas; Mestre e Doutor em Bioética.E-mail: julio.santana@terra.com.br
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: karinaoliveiradejesus1996@gmail.com.
3
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: katherin.amundaray@sga.pucminas.br
4
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: lauraalmeidad35@gmail.com
5
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: sarah.alves.oficial673@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 373
context are extremely important. Academics who have the opportunity to participate in projects such as “Just Humans”,
have a different experience and experience. This moment allows students to get to know another part of society; different
social classes; different lifestyle; and that contributes to the community in different ways.
INTRODUÇÃO
O projeto de extensão permite aos universitários vivenciarem novas experiências por meio do
compartilhamento de saberes com a sociedade, não somente levando conhecimento, mas também
adquirindo novas habilidades. Ser extensionista faz toda a diferença na formação acadêmica, pois
possibilita ao aluno o crescimento em todos os âmbitos, não somente profissional, mas também a ter
um olhar mais humanizado, priorizando a valorização humana. Neste contexto, o trabalho
interdisciplinar, envolvendo cursos diferentes, faz com que os extensionistas ampliem seus
conhecimentos tornando mais prazerosas as ações realizadas para os beneficiários, além de
proporcionar a troca de saberes e experiências (SANTANA et al, 2017).
O primeiro contato dos extensionistas com a Associação de Proteção e Amparo ao Condenado
(APAC) Santa Luzia através do projeto Apenas Humanos, foi impactante, pelo fato de ser uma
realidade completamente diferente do sistema carcerário comum, mostrando como a valorização
humana é imprescindível para o processo de recuperação e retorno do recuperando para a sociedade.
Neste contexto, a nossa expectativa para as atividades extensionistas no Programa Apenas
Humanos desenvolvidas pelos acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia na APAC SL, constituiu
um momento importante para a formação profissional, ética e humana em um contexto
multidisciplinar, além de vencer os obstáculos referente ao primeiro contato com pessoas privadas de
liberdade e abrir um espaço de reflexão sobre a contribuição social dos profissionais na área da saúde.
Segundo Santana et al, 2017, a contribuição das atividades extensionistas na formação dos
profissionais na área da saúde fica evidente, considerando a proposta da sua inserção oportuna na
realidade à promoção da saúde, em interface com a interdisciplinaridade envolvendo os cursos da
PUC Minas – Ciências Biológicas, Direito, Enfermagem, Filosofia, Fisioterapia, Letras e Direito, no
processo da construção do conhecimento e na interlocução direta com as pessoas privadas de
liberdade na APAC SL.
EXTENSÃO PUC MINAS:
374 Novo Humanismo, novas perspectivas
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
nova tendência pedagógica, surge a Pedagogia Crítica, na qual o professor assume o papel de
mediador, ao conduzir os alunos à observação da realidade e apreensão do conteúdo que extraem
dela, um processo educativo que visa a transformação social, econômica e política, além da superação
das desigualdades sociais (PRADO et al, 2012).
No contexto das novas tendências pedagógicas, a Metodologia Ativa é uma das possíveis
estratégias, para qual o aluno é o protagonista central, ou seja, corresponsável pela sua trajetória
educacional e o professor apresenta-se como coadjuvante, um facilitador das experiências
relacionadas ao processo de aprendizagem em um contexto de integração com a realidade social
(PRADO et al, 2012).
Segundo Santana et al (2017) o Programa Apenas Humanos da PUC Minas voltado para as
ações extensionistas em um contexto interdisciplinar, tem um compromisso ético de formar
profissionais capacitados, comprometidos e responsáveis com as questões éticas e sociais no processo
de formação acadêmica.
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
necessidade de saúde do homem atendido, garantia da oferta de ações com o enfoque na promoção,
prevenção e recuperação da saúde, realização de intervenções próprias de Enfermagem e contribuição
para o alcance da qualidade de vida (SILVA et al, 2020).
4.2 Visita na APAC de Santa Luzia e discussão das estratégias para o desenvolvimento das
atividades extensionistas pelos cursos de Enfermagem e Fisioterapia
A visita para o conhecimento de todo o funcionamento da APAC foi importante para entender
o contexto no qual a comunidade vive, quais são os problemas de saúde, conhecer o espaço de
trabalho é um fator crucial para montar estratégias, a abordagem e os temas que serão trabalhados nas
oficinas de promoção da saúde.
Na primeira visita à APAC, através ao projeto de extensão Apenas Humanos, as extensionistas
dos cursos de Enfermagem e Fisioterapia da PUC Minas juntamente com o coordenador do projeto,
conheceram o local, todos foram acolhidos por parte da administração da APAC e posteriormente
recebidos por um dos recuperando do regime fechado, que apresentou toda a estrutura física,
explicando o funcionamento do regime fechado, bem como os horários, normas, trabalho, lazer,
alimentação, estudos, entre outros.
Em relação ao contato entre os extensionistas e as pessoas privadas de liberdade, foi
oportunizado uma acolhida de boas-vindas pelos recuperandos, e posteriormente uma breve
apresentação por parte dos extensionistas e do professor orientador, com a exposição das ações
educativas em saúde e a contribuição social universitária na formação dos futuros profissionais e na
interlocução com a APAC (SANTANA et al,2017).
Após concluir a visita, foi realizado uma reunião entre as extensionistas e o professor para
discussão do que seria realizado ao longo das práticas de extensão com uma abordagem
interdisciplinar entre os cursos de Enfermagem e Fisioterapia e os assuntos em saúde que poderiam
beneficiar a comunidade de recuperandos.
Nas visitas seguintes, as extensionistas, juntamente com o professor orientador, abordaram
temas específicos com os recuperandos da APAC, em que eles tiveram a oportunidade de tirar dúvidas
sobre diversos assuntos. Foram feitas práticas com os recuperandos, onde eles tiveram oportunidade
de interagir e de participar de um momento mais descontraído.
Conhecer a metodologia do sistema APAC e poder estar no espaço de trabalho, além da
inserção oportuna dos acadêmicos nos projetos de extensão, principalmente em instituições que visam
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 379
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A extensão possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto
à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação
das desigualdades sociais existentes, como prática acadêmica que interliga a Universidade nas suas
atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da maioria da população.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 381
REFERÊNCIAS
RESUMO
O projeto de extensão “Grupos de Orientação Vocacional e Construção da Identidade Profissional”, vinculado ao edital
da Universidade Regional Integrada do Alto do Uruguai e das Missões, visa atender alunos de escolas municipais e
estaduais do município de Santiago-RS. O objetivo principal da ação extensionista descrita no presente artigo, sob a forma
de um relato de experiência, procura refletir sobre as vicissitudes inerentes ao processo de construção da identidade
profissional. O projeto consiste na realização de entrevistas individuais semiestruturadas e encontros em grupos
operativos reflexivos, com organização de dinâmicas facilitadoras de reflexão sobre questões pertinentes à escolha de
carreira. Também foi utilizada no projeto extensionista a Escala para avaliação da Maturidade para a Escolha Profissional
(EMEP) e a Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP). Após a implementação da prática extensionista e, a partir da
experiência adquirida, percebe-se a importância da construção de um espaço para que os acadêmicos das escolas possam
exteriorizar, compartilhar e elaborar inseguranças e ansiedades oriundas do processo de construção da identidade
profissional.
ABSTRACT
The extension project “Vocational Guidance and Professional Identity Construction Groups”, linked to the public notice
of the Integrated Regional University of Alto do Uruguai e das Missões, aims to serve students from municipal and state
schools in the municipality of Santiago-RS. The main objective of the extension action described in this article, in the
form of an experience report, seeks to reflect on the vicissitudes inherent in the process of building a professional identity.
The project consists of conducting individual semi-structured interviews and meetings in reflective operational groups,
with the organization of dynamics that facilitate reflection on issues relevant to career choice. The Scale for Maturity
1
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Instituição Financiadora.
2
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: fm965149@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: leticialeitemberg@gmail.com.
4
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: Manoelapd2002@gmail.com.
5
Me. em Psicologia da Saúde pela Universidade Federal de Santa Maria; Prof. da Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago. E-mail: thiagomucenecki@bol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
384 Novo Humanismo, novas perspectivas
Assessment for Professional Choice (EMEP) and the Assessment of Professional Interests (AIP) were also used in the
extension project. After the implementation of the extension practice and, based on the experience gained, the importance
of building a space for school students to externalize, share and elaborate insecurities and anxieties arising from the
process of building a professional identity is perceived.
INTRODUÇÃO
A Universidade comunitária URI – Campus Santiago (RS), a partir de seu compromisso com
a comunidade regional, com ações de ensino, pesquisa e extensão, desenvolveu, sob a
responsabilidade do curso de Psicologia, o projeto de extensão “Grupos de Orientação Vocacional e
Construção da Identidade Profissional”. A presente ação visa contribuir, desde 2018, com o processo
de desenvolvimento da identidade profissional, usando dispositivos grupais como proposta de
reflexão no que tange às possibilidades de escolhas profissionais, em escolas municipais e estaduais
da comunidade de Santiago (RS). O projeto de extensão procura ofertar um espaço instrumentalizador
da aprendizagem da escolha de direções profissionais, oportunizando transformações pessoais nas
relações do sujeito com seus ideais e com o mundo que o cerca, diante de intervenções propostas por
bolsistas e acadêmicos vinculados às práticas de estágios.
Para Ribeiro et al. (2016), vive-se um momento em que o jovem está na busca da construção
de valores identitários em um mundo que não oferece modelos e parâmetros estáveis como ponto de
partida para a construção de um movimento subjetivo tão complexo.
Assim, as intervenções do projeto foram consideradas levando-se em conta os aspectos
mencionados anteriormente, ofertando possibilidades de construção de um espaço que, através de um
dispositivo grupal, auxilie na elaboração de conflitos inerentes ao desenvolvimento da maturidade
para escolher caminhos futuros, sendo este processo um momento que necessita de condições
oportunas para o desenvolvimento de um pensamento crítico acerca da realidade profissional.
Considera-se que as intervenções em orientação profissional devam proporcionar um momento de
reflexão envolvendo elementos mediadores como música, teatro, dramatizações, dinâmicas, entre
outros, que favoreçam a tomada de consciência dos fatores subjacentes à escolha de um projeto de
vida (ALMEIDA; PINHO, 2008).
O trabalho com grupos, descritos no presente relato de experiência, procurou contemplar as
vivências dos acadêmicos do curso de Psicologia da URI envolvidos em uma ação extensionista,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 385
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Intervenções em escolas se fazem necessárias para mudar essa realidade, através da construção
de espaços individualizadas e coletivos com a finalidade de conhecer as expectativas construídas
sobre cada acadêmico das instituições a respeito das representações construídas sobre o futuro
profissional. Considera-se importante a etapa citada, visto que este momento facilita a construção de
um vínculo e relação de confiança entre orientadores profissionais e alunos, favorecendo a
organização de um espaço para que os jovens pudessem expor fantasias construídas a partir das
reflexões oriundas das temáticas desenvolvidas (ALBANESE, 2016).
3 METODOLOGIA
A presente ação será descrita sob a forma de um relato de experiência. Esta, segundo Oliveira
(2012), propõe através de sua estrutura de escrita, apresentar propostas resolutivas e, ao mesmo
tempo, levantar questões diversificadas que permitam fomentar a pesquisa e contribuições para uma
temática específica, além de indicar percursos para melhoria de uma realidade específica. As práticas
descritas são decorrentes de um projeto extensionista vinculado ao Edital/PROPEPG Nº 05/2021 do
Programa Institucional de Bolsas de Extensão da URI Campus Santiago. O presente projeto está
associado à condição de ensino aprendizagem, fazendo parte do curso de Psicologia.
A proposta original teve início no segundo semestre de 2018, quando da primeira aprovação
em edital, a partir do vínculo estabelecido com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de
Santiago (SMEC). De acordo com a instituição mencionada, as escolas municipais da cidade
apresentaram interesse na proposta. As práticas se iniciaram com turmas de 9º ano de duas escolas
municipais, mediante identificação de demanda, e posteriormente o projeto continuou com uma turma
de 3º ano de uma escola estadual, mediante contatos prévios realizados através de estágios
curriculares do curso de Psicologia. Já no período do primeiro semestre de 2019, buscou-se atender
as turmas que estavam finalizando o Ensino Médio, e que, posteriormente, passariam por processos
seletivos.
No segundo semestre de 2021, após o retorno à presencialidade das aulas escolares, visto que
antes desse período o ensino ocorreu na modalidade remota em função da COVID-19, os trabalhos
presenciais foram retomados com uma Escola de Educação Básica particular e com um Instituto
Estadual de Educação. Nesses locais, as práticas foram realizadas concomitantemente. Já no primeiro
semestre de 2022, foram atendidas uma escola Escola Estadual de Ensino Fundamental e novamente
uma outra, Escola Particular.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 387
de identidades profissionais. Além disso, os alunos realizaram uma visita à Universidade Regional
Integrada de Santiago, com a finalidade de conhecer, em cada setor, as peculiaridades de cada curso
oferecido na instituição. Para finalizar o processo, realizou-se a aplicação do teste Avaliação dos
Interesses Profissionais (AIP), e em seguida, cada aluno recebeu a devolutiva individualmente.
Já no Instituto Estadual, foram atendidas turmas de segundos e terceiros anos. Neste caso,
depois das conversas iniciais e entrevistas individuais, iniciaram-se as atividades com dinâmicas, para
trazer reflexões sobre o futuro e para conhecer a realidade dos adolescentes. Feito isso, os próximos
encontros tiveram o intuito de oportunizar rodas de conversa para pensar novas possibilidades,
estimulando os adolescentes a refletirem sobre suas escolhas profissionais. Em seguida, foram
aplicados os testes AIP e EMEP, e respectivamente dadas as devolutivas.
A seguir, no primeiro semestre de 2022, as atividades tiveram início com a turma ingressante
no 3º ano do ensino médio de uma Escola de Educação Básica particular. A peculiaridade desta prática
é baseada no fato de o grupo ser realizado durante um período especifico das aulas de uma disciplina
curricular denominada “Projeto de Vida”, ministrada por uma professora da instituição. Sendo assim,
esta atuação permitiu que o tempo de intervenção com o grupo fosse mais longo, durando mais de 6
encontros. Após as primeiras entrevistas, iniciaram-se as aplicações e devolutivas da escala EMEP.
Posteriormente, foram realizadas dinâmicas para trabalhar a participação dos alunos, bem como,
rodas de conversa, confecções de cartazes e bilhetes. Por fim, visto que a prática segue sendo
realizada, estão previstos encontros para aplicação e devolutivas da AIP, que se realizarão até o início
do mês de julho.
Concomitantemente, neste mesmo período, foram desenvolvidas atividades em uma Escola
Estadual de Ensino Fundamental sendo um Centro Integrado de Educação Pública – CIEP. Após
explicação do projeto à direção e turma de nono ano, aplicou-se a EMEP e em seguida realizou-se a
devolutiva da escala. As dinâmicas também fizeram parte do processo com o grupo, possibilitando
que os alunos pudessem falar sobre assuntos que em outros momentos não eram possíveis na rotina
da escola. As dinâmicas usadas foram a “Teia das Relações” e a “Caixa Curiosa”, ambas potentes no
que tange ao processo de movimentar a discussão e o protagonismo diante do movimento da fala
argumentativa.
Nos encontros grupais, priorizando a ideia de que os alunos têm condições de perceber,
analisar e compreender a sua situação passada e presente e, a partir dessa reflexão, criar um projeto
de vida futuro, foram utilizadas dinâmicas com intuito de refletir e desenvolver aspectos a serem
amadurecidos indicados na EMPE e nas entrevistas individuais. Foi desenvolvida a dinâmica
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 389
chamada “Caixa Curiosa”. Uma caixa contendo palavras relacionadas ao futuro profissional, desafios,
dinheiro, família, ENEM, mercado de trabalho, realização pessoal, influências, ansiedade, medos,
responsabilidades, entre outras. A caixa circula entre cada integrante do grupo, enquanto uma música
toca; quando esta música para de tocar, quem estiver com a caixa tira uma palavra e fala sobre ela.
As palavras foram selecionadas por acadêmicos do curso de Psicologia, amparados por literatura da
área, sendo identificados temas relevantes e potencializadores de discussões. Esta proposta costuma
envolver os participantes, funcionando de um jeito que eles interajam entre si numa troca de
experiências e confrontamento de ideias.
Outra dinâmica bastante comum é a da "Teia das Relações", geralmente usada nos primeiros
encontros, já que tem o objetivo de integrar o grupo, mostrando a importância do relacionamento
interpessoal e da contribuição de cada um. Na prática, é utilizado um rolo de fio, os integrantes devem
sentar em roda, segurar uma das pontas e a outra ponta deve ser arremessada para o próximo
integrante; quem estiver recebendo o rolo de fio fala o que deseja para o grupo. Por fim, forma-se
uma teia, onde cada um segura um ponto do fio para que a teia se ligue e se constitua
Realizadas as dinâmicas descritas nos parágrafos anteriores, a partir da especificidade da
demanda das turmas, foi realizada uma sessão de “cinema e pipoca” no CIEP, sendo utilizado o filme
“Duas vidas” com o intuito de fomentar questões inerentes ao processo de desenvolvimento da
identidade, facilitando o desenvolvimento de aspectos que envolvem o amadurecimento de variáveis
importantes para escolha profissional. Nesta atividade, os alunos elencaram os pontos “positivos e
negativos” que percebiam em suas próprias vidas, relacionando-os com o momento em que se
encontravam em relação a maturidade para fazer escolhas.
Pôde-se observar, a partir do envolvimento e amadurecimento da turma no decorrer da prática,
que estes necessitavam de um espaço de acolhida, que produzisse novas perspectivas e reflexões. Os
alunos tiveram um desenvolvimento amplo, tanto no processo de pensar quanto no agir, obtendo
mudanças na comunicação entre eles e com os professores. Como finalização do processo foram
estabelecidas relações com os resultados encontrados na escala EMEP e no AIP, oportunizando
devolutivas individuais, bem como devolutiva grupal, com uma dinâmica de encerramento.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
No segundo semestre de 2021, a prática do projeto ocorreu com 27 alunos de duas turmas de
2º ano de uma mesma escola pública e 37 alunos de duas turmas de 3º ano do ensino médio, uma
EXTENSÃO PUC MINAS:
390 Novo Humanismo, novas perspectivas
turma de escola pública e outra de escola privada. Já no primeiro semestre de 2022, o projeto
contemplou 29 alunos de uma turma de 3º ano do ensino médio de uma escola privada e 18 alunos de
9º ano de escola pública.
Dentre as atividades propostas, além de dinâmicas, foram utilizados recursos como cartazes,
tintas e canetas coloridas, onde os alunos pudessem expor nos cartazes suas aspirações de forma livre
e abstrata sobre os temas que lhes eram propostos. Desse modo, após as confecções, eram levantadas
as principais questões trazidas pelos alunos, as quais, por fim, norteavam rodas de conversa. Além
disso, a utilização de testes nas intervenções feitas, complementam o processo de Orientação
Profissional, visto que, eram utilizados dispositivos que permitem acesso a dados quantitativos e
qualitativos, que somado às subjetividades de cada sujeito, resultam em dados que auxiliam na
tomada de decisão (TUPINAMBÁ; OLIVEIRA, 2006).
Em todas as turmas atendidas, ocorreu a aplicação da Escala de Maturidade para a Escolha
Profissional – EMEP (NEIVA, 1999) com as turmas. Após o levantamento dos dados quantitativos,
foram realizadas devolutivas grupais para os alunos. Em 2021 e 2022, ao comparar os resultados das
turmas foi possível considerar os seguintes resultados:
subescala se refere a quanto o indivíduo está preocupado com a escolha profissional, ao mesmo
tempo, empreendendo ações concretas para a efetivação de uma possível escolha, responsabilizando-
se por esta decisão (NEIVA, p. 9, 1999).
De acordo com Levenfus e Nunes (2010), é frequente a desinformação entre os jovens sobre
questões que envolvem o futuro profissional, além de precário planejamento para uma busca ativa,
revelando escolhas mais imediatistas, além de comportamento exploratório pobre, apoiado em
elementos pouco consistentes, favorecendo visões distorcidas, idealizadas e estereotipadas. Ainda,
para as autoras, o adolescente pode recuar diante desse momento, resistindo em obter informações,
preferindo não saber, porque, permanecendo sem conhecimento sobre o tema, não escolhe, não cresce
e evita entrar em contato com um mundo novo, desconhecido, ou seja, o mundo adulto.
Percebe-se que, através das ideias descritas pelos autores mencionados anteriormente, o
processo de construção de identidade profissional envolve variáveis complexas, e conforme Uvaldo
e Fonseca da Silva (2010), o que se prioriza nas escolas são estratégias voltadas à informação, campo
ao nosso ver não prioritário conforme a tabela de dados sobre a EMEP. Eventos comuns nas escolas
como fórum de profissões e visita de profissionais à instituição, apesar de importantes, claramente
não solucionam as questões de grande parte dos alunos, visto que passam a ser uma estratégia
informativa que visa apenas à escolha de um curso superior, sendo, portanto, restrito a uma classe
social. Portanto há necessidade, conforme os autores mencionados, de resgatar o conceito de projeto
referindo-se a um homem que não se encontra plenamente determinado pelas circunstâncias passadas
e condições futuras.
Também foi aplicado o teste Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP), que tem como
objetivo avaliar os interesses profissionais a partir da escolha de atividades preferidas, sendo
composto por um caderno contendo cem pares de atividades, totalizando vinte atividades de cada um
dos dez campos avaliados. O somatório dos interesses reais e relativos é o que chamamos de interesse
total (LEVENFUS; BANDEIRA, 2009). Para finalizar o processo desenvolvido com as turmas, os
resultados da AIP proporcionaram esclarecimento em relação às áreas do conhecimento.
Por meio das correções da AIP, pôde-se perceber que os resultados correspondiam com o
curso desejado pelos alunos, embora alguns ainda não soubessem exatamente o caminho profissional
que desejavam seguir. O teste também serviu como suporte para que os acadêmicos pudessem refletir
sobre os resultados problematizando possíveis escolhas prematuras e sem o devido desenvolvimento
da capacidade crítica. Dessa forma, as análises dos fatores relevantes para discussão da construção
EXTENSÃO PUC MINAS:
392 Novo Humanismo, novas perspectivas
da identidade profissional partiram de questões oriundas dos participantes, extraídas das entrevistas
individuais, testagem quantitativa e posteriores problematizações em grupo sobre as variáveis que
interferem na construção do futuro profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
Este trabalho aborda um projeto de extensão que se encontra em desenvolvimento, com previsão de conclusão em
dezembro de 2022. Tem como finalidade a identificação de, aproximadamente, 30 (trinta) colônias de Abelhas Sem Ferrão
(ASF), do gênero meliponídeo, que habitam a Praça Pedro Sanches, no centro da cidade de Poços de Caldas, em Minas
Gerais. Essas abelhas são nativas do Brasil e são conhecidas como abelhas indígenas, dado que eram cultivadas pelos
povos originários do nosso país; são insetos em perigo de extinção em vista da degradação do ambiente rural, de modo
que migram para as cidades em busca de locais próprios para nidificação. Todavia, no ambiente urbano também correm
riscos, sobretudo em decorrência de podas e cortes de árvores, uso de inseticidas e herbicidas para limpeza urbana, de
maneira que se faz necessária a criação de legislação especial para sua preservação. Através deste projeto, os alunos
estudam a Lei Complementar 95/98, que trata dos procedimentos para elaboração de espécies legislativas e assim poderão
apresentar à Mesa Diretora da Câmara Municipal de Poços de Caldas um Projeto de Lei - PL visando à preservação
respectiva.
ABSTRACT
This work is about an extension project that is under development, scheduled to end in December 2022, with the purpose
of identifying the approximately 30 (thirty) colonies of Stingless Bees, of the meliponid genus, which inhabit Pedro
Sanches square, in the center of Poços de Caldas City in Minas Gerais. These bees are native to Brazil and are also known
as indigenous bees, as they were cultivated by the native peoples of our country; they are insects that are in danger of
extinction due to the degradation of the rural environment, so they migrate to cities in search of suitable places for nesting.
However, in the urban environment they are also at risk, especially as a result of indiscriminate pruning and cutting of
trees, use of insecticides and herbicides for urban cleaning, so it is necessary to create special legislation for their
preservation. Through this project, students study Complementary Law 95/98, which deals with the procedures for the
elaboration of legislative laws, and thus they will be able to present to the Board of Directors of the Poços de Caldas City
Council Local Government a Law Project - PL aiming at their respective preservation.
1
Mestre em Direito, Professor da PUC Minas, campus Poços de Caldas/MG. E-mail ezio@pucpcaldas.br.
2
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: evaldo.zappia@sga.pucminas.br.
3
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: iduarte@sga.pucminas.br.
4
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: livia.torres2406@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 395
INTRODUÇÃO
Encontram-se cerca de 30 colmeias de Abelhas Sem Ferrão (ASF) na Praça Pedro Sanches,
localizada na cidade de Poços de Caldas em Minas Gerais. Essas consistem em abelhas nativas do
Brasil, as quais nidificam nas partes ocas de árvores das cidades, visto que, no meio rural, não
encontram locais adequados para viverem. Diante dessa informação, Poços de Caldas carece de
uma legislação que preserve as ASF no seu novo habitat; sem isso, o risco de extinção, que já é um
fato, se acentua, ainda mais.
O que se propõe é a elaboração de um Projeto de Lei, cuja pesquisa garanta a preservação
desejada, com controle de poda e corte de árvores, uso de herbicidas e inseticidas no ambiente
urbano, tal como já acontece em determinadas cidades do Brasil. A partir do pioneirismo de
Curitiba, que legisla medidas de proteção e de gestão de colônias de abelhas sem ferrão, vários
municípios, no Estado do Paraná, adotam medidas de preservação para as ASF, sobretudo em seus
parques e praças.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Brasil é um país privilegiado em matéria de ASF; visto que coexistem mais de 300
(trezentas) espécies de ASF em seu território, sendo boa parte, ainda não estudadas e sequer
catalogadas; elas também são conhecidas como abelhas indígenas, porque eram cultivadas e
protegidas, antigamente, pelos nativos das nossas terras. As mais conhecidas popularmente são: Jataí,
Tubuna, Canudo, Mandaçaia, Mandaguari, Arapuá, Guaxupé, Uruçu, Mirim Guaçu, Mirim Droryana
Mirim Preguiça, dentre outras, cujas colmeias são manejadas em meliponários urbanos e rurais. É
aqui no Brasil que se encontra a menor abelha sem ferrão do mundo, a Lambe Olhos, que, com cerca
de 1,5 mm, passa despercebida no nosso cotidiano. São insetos que têm ferrão atrofiado e se
defendem, quando atacadas, com pequenas e quase imperceptíveis mordidas, dado que suas
mandíbulas são mais reforçadas; todavia, não representam riscos para as pessoas em vista do seu
pequeno porte, diferentemente do que ocorre com as perigosas abelhas de origem europeia ou
africana, que não podem ser criadas a menos de 300 metros dos núcleos residenciais.
A degradação das áreas rurais, cada vez mais presente no Brasil, através de queimadas e
derrubadas de árvores para a expansão do agronegócio, e também com uso indiscriminado de
agrotóxicos, pesticidas e inseticidas, vem formando um ambiente hostil para a preservação e
EXTENSÃO PUC MINAS:
396 Novo Humanismo, novas perspectivas
reprodução das ASF. Desse modo, o que se verifica é que elas procuram, cada vez mais, o ambiente
urbano, em busca de árvores frondosas ou, então, de frestas de muros e paredes onde possam fazer
seus ninhos, assim como procuram, na cidade, as plantas e flores de onde possam extrair o material
alimentar, como pólen, resina e néctar, dos quais dependem para sua sobrevivência e reprodução.
É inegável, portanto, que a sobrevivência dessas espécies depende, cada vez mais, do
ambiente urbano saudável, sob diversos aspectos, sob pena de ter que se decretar a extinção das
nossas abelhas nativas. Economicamente falando, é relevante cuidar das ASF, porque são
responsáveis pela polinização das plantas em geral e diretamente responsáveis pela boa frutificação
dos alimentos consumidos pela população. Alguns plantadores de morango, por exemplo, vêm
usando colmeias dessas abelhas em suas plantações, principalmente nas produções em estufas, com
excelentes resultados na hora da colheita: os frutos são maiores e de melhor acabamento, têm maior
peso e na sua configuração são livres de reentrâncias e de pontos verdes sem amadurecimento
adequado, valorizando o produto num mercado cada vez mais exigente, conforme atestam as
divulgações feitas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (NELLA, 2015).
O artigo 225, da Constituição Federal em vigor, garante a todos o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e impõe ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações; para a consecução destas imposições, também
compete ao poder público, conforme consta dos diversos incisos do artigo citado, a proteção da fauna
e da flora, a definição de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos.
Além disso, deve-se promover ações educativas ambientais em todos os níveis de ensino, e
conscientização pública para a preservação do meio ambiente, entre tantas outras. Nessa linha de
raciocínio, a Universidade de São Paulo - USP, firmou um convênio com um grupo de colaboradores
para instituir o Projeto Tem Abelha no Meu Jardim (USP, 2022), o qual é desenvolvido por
meliponicultores voluntários e tem como principal objetivo promover encontros mensais, no parque
CIENTEC - da USP, localizado no Jardim da Saúde, em São Paulo/Capital, ocasiões em que são
ministradas palestras, abertas para a população em geral, para fins de conscientização e treinamentos
de manejos relativos às ASF.
No plano infraconstitucional, a regulamentação de manuseio e adoção de medidas educativas
em relação às ASF são objeto da Lei nº 15.613, de 24 de março de 2020, editada na cidade de Curitiba.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 397
Por essa lei, fica patente o interesse da administração pública em preservar as ASF, sobretudo nos
parques e nas praças que enfeitam a capital paranaense, com excelentes resultados, incluindo o
incremento ao turismo e respectiva geração de renda.
No Estado do Ceará, recentemente, em 11 de janeiro de 2022, foi editada a Lei 17.896/22,
para regulamentar a criação, o manejo, o comércio e o transporte das abelhas sem ferrão no âmbito
estadual; nesta lei são encontrados dispositivos que tratam, inclusive, da geração de renda para os
criadores desses insetos.
Também no Estado do Espírito Santo, semelhante preocupação das autoridades locais pode
ser verificada através da Lei 11.077, de 27 de novembro de 2019, visando atender às finalidades
socioculturais, de pesquisa científica, educação ambiental, conservação, exposição, manutenção,
criação, reprodução e comercialização de produtos, subprodutos e outras.
No Estado da Bahia, em 29 de janeiro de 2018, foi editada a Lei 13.905, dispondo sobre a
criação, o comércio, a conservação e o transporte de ASF no âmbito estadual. Assim também ocorre
em Santa Catarina, com a Lei 17.099/2017 que, de seu turno, altera a lei anterior, 16.171, de 2013.
O governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
– SEMA (WITTER; SILVA, 2014), editou um manual para boas práticas no manejo e proteção das
ASF, contendo um excelente glossário sobre as principais terminologias da área, bem como a
indicação de uma série de cuidados que devem ser devotados às abelhas nativas, incluindo o texto de
diversas legislações em vigor.
No Estado de São Paulo foi editada, em 03 de fevereiro de 2021, a Resolução SIMA -
Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente, nº 11/21, traçando os procedimentos
autorizativos para uso e controle das abelhas nativas sem ferrão; diferentemente das demais
legislações citadas, a do estado paulista se preocupou mais com a legalização dos meliponários,
transporte e comércio delas, que com a preservação e conservação propriamente ditas, gerando
reclamos dos meliponicultores em geral.
No âmbito federal, existe a Resolução CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente,
nº 496, de 19 de agosto de 2020, disciplinando o manejo sustentável das ASF em meliponicultura;
trata-se de uma legislação considerada liberal, vez que a regulamentação é dirigida para meliponários
que tenham 50 (cinquenta) ou mais colmeias, o que é um limite elástico demais.
No Estado de Minas Gerais, entretanto, ainda não se verificam leis específicas sobre a
temática, diferentemente do que já ocorre em outros estados - e isso demonstra a relevância e a
EXTENSÃO PUC MINAS:
398 Novo Humanismo, novas perspectivas
atualidade do Projeto Cidade das Abelhas - legislação ambiental. É de se afirmar, inclusive, que essa
iniciativa se encaixa em vários dos princípios da Economia de Francisco e Clara, mas, em especial,
se encaixa no Princípio 1 - Cremos na Ecologia Integral,
que reconheça as relações humanas, sociais, ambientais, políticas e econômicas, que esteja
respaldada nos valores franciscanos e clarianos, que garantam a vida em sua dignidade, e que
não seja nociva aos demais seres. Que parta do fundamento de que tudo aquilo que existe e
vive deve ser respeitado5.
3 METODOLOGIA
As instalações das ASF nas árvores da Praça Pedro Sanches e entorno, em Poços de Caldas,
refletem um fenômeno de urbanização forçada em vista da degradação ambiental nas matas
originárias. Por falta de identificação e de catalogação dessas espécies de ASF, há o risco constante
da perda desses exemplares por conta de podas e cortes de árvores, bem como o eventual uso minado
de herbicidas e inseticidas em geral, incluindo produtos químicos contra, por exemplo, o mosquito
Aedes Aegypti, disseminador da dengue.
Para a consecução dos objetivos previstos no Projeto Cidade das Abelhas - legislação
ambiental, são utilizadas metodologias ativas que trazem a problematização como estratégia de
ensino-aprendizagem. A partir da motivação diante do problema apresentado, é possível efetuar
estudos e debates na procura de novas descobertas; a ideia não é apenas levantar problemas, mas,
efetivamente, buscar soluções que possam se sustentar no mundo fático. O papel do docente, nessa
linha de raciocínio, é de facilitar a busca das soluções, colaborando com questionamentos e diretivas
necessárias para o enquadramento das questões atinentes.
O projeto está sendo viabilizado pelos trabalhos conjuntos do Professor Coordenador e de três
alunos bolsistas; é de se destacar que outros quatro alunos acompanham o desenvolvimento na
qualidade de interessados no tema, todos do Curso de Direito da PUC Minas/Poços de Caldas. Os
participantes acreditam estar plenamente sensibilizados acerca da necessidade de proteção das ASF
e, por consequência, da proteção ambiental; isto é, se acham comprometidos com os objetivos
previamente traçados.
As atividades são desenvolvidas para a identificação das espécies de abelhas existentes no
centro da cidade, bem como para identificação das árvores em que as colmeias se instalaram. Para
essa finalidade, várias são as atividades de campo, com visitas realizadas à Praça Pedro Sanches,
5
Os 10 princípios da Economia de Francisco e Clara. Vatican News, 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 399
ocasiões em que as colmeias foram observadas em suas mais variadas formas e espécies; ademais, as
árvores foram fotografadas e devidamente localizadas através do sistema de georreferenciamento -
GPS - fornecido pelo Google Maps.
Além disso, ocorrem reuniões, presencialmente ou remotamente, para os debates respectivos
e para o estudo das nomenclaturas utilizadas na área da meliponicultura, posto que, é importante,
inclusive, construir um glossário em vista da especificidade do tema. Quando há necessidade, as
tarefas são realizadas remotamente, através de mensagens no grupo formado no WhatsApp, assim
como através do Google Drive, que permite perfeita interação entre os participantes, quando é
necessário trabalhar textos e afins.
Nessas reuniões, também são discutidos os aspectos de ordem formal a respeito da correta
redação das espécies legislativas, cujos procedimentos são pormenorizados na Lei Complementar n°
95/986; em outras palavras, os alunos aprendem como redigir uma espécie legislativa, conforme o
padrão formal observado pelo Poder Legislativo em todos os níveis das unidades da federação. Como
consequência, já está em andamento a formatação de um texto de lei municipal que visa à preservação,
conservação e manejo das abelhas nativas sem ferrão que habitam as áreas públicas da cidade mineira,
tal como a regulamentação do corte e da poda de árvores, texto esse que será levado à Mesa Diretora
da Câmara Municipal de Poços de Caldas, para fins de apreciação e votação pela edilidade.
O projeto se desenvolve em parceria com a Câmara Municipal de Poços de Caldas e com a
Secretaria de Serviços Urbanos, sendo que ambas demonstraram vivo interesse por ele, o que é fruto
das sensibilizações pertinentes, inclusive para demonstrar os resultados exitosos que se verificam
através das experiências realizadas em várias cidades brasileiras.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
6
BRASIL. Lei Complementar n° 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para
a consolidação dos atos normativos que menciona. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1.
EXTENSÃO PUC MINAS:
400 Novo Humanismo, novas perspectivas
Quanto ao lançamento do edital para seleção de alunos para trabalharem no projeto, foi
possível verificar a vontade da comunidade acadêmica, à proporção em que vários alunos se
inscreveram para participar das entrevistas. Desse modo, além dos três alunos com direito à bolsa,
entendeu-se que outros quatro alunos também deveriam ser agregados, sobretudo em vista do
manifesto ânimo e entusiasmo em relação ao tema.
No que diz respeito aos primeiros contatos com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos
e com a assessoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal, de Poços de Caldas, se verificou a pronta
recepção para o projeto, de maneira que a assinatura do Termo de Adesão, perante os dois órgãos, foi
obtida rapidamente e com o mesmo entusiasmo já constatado em outra ocasião. Há uma grande
expectativa pela apresentação do Projeto de Lei, inclusive com a disponibilidade da Assessoria
Legislativa, da Câmara, para promover a capacitação necessária para os alunos na redação do projeto
em questão.
O grupo teve a oportunidade de entrevistar a Dr.ª. Mariana Azevedo Rabelo, Diretora
Técnico-Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, que colocou seus
conhecimentos à disposição do trabalho; além disso, abriu as portas do jardim para o Coordenador
do Projeto e para os alunos, demonstrando interesse na formação de parcerias para desenvolvimento
mútuo de saberes na área das ASF - diga-se, ainda, que nas dependências do Jardim Botânico existe
um meliponário que precisa, segundo a Diretora Técnica, de cuidados especiais. Para isso, ela conta
com a ajuda dos componentes do Projeto Cidade das Abelhas.
Por fim, em termos de parceria, existe também a possibilidade de se obter a colaboração da
Associação dos Meliponicultores de Poços de Caldas, por meio de contatos já em andamento.
É certo que o desenvolvimento do projeto traz benefícios diretos para o meio ambiente e para
a comunidade local. No mais, estima-se que cerca de 2.000 pessoas circulam, nos fins de semana,
pela Praça Pedro Sanches e entorno, considerando os moradores da cidade, número esse que aumenta
exponencialmente devido aos eventos turísticos sediados em Poços de Caldas. E é crível que todos
os envolvidos terão a atenção despertada para os fenômenos que fazem as ASF migrarem para a
cidade, o que as torna, nos últimos tempos, abelhas urbanizadas. O deslocamento dos alunos para os
trabalhos de campo, em excursão pela Praça Pedro Sanches, permite a verificação in loco da realidade
descrita.
Por fim, também é plausível que o Projeto Cidade das Abelhas - legislação ambiental tem
boas probabilidades de se estender para outros aspectos, depois de cumpridos os objetivos iniciais.
Na cidade de Manaus, capital do Amazonas, é destaque o Projeto “Conhecendo as abelhas indígenas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 401
sem ferrão: a meliponicultura como alternativa econômica para agricultura familiar” 7, que reúne
técnicos, alunos e produtores da Zona Rural de Manaus, com a finalidade de despertar o interesse
pelo manejo das ASF, senão apenas pelos resultados ambientais e ecológicos, mas também como
atividade capaz de gerar renda extra para as famílias necessitadas, o que se realiza com a venda de
subprodutos das colmeias, como cera, própolis e, até mesmo, resultado da subdivisão delas - o que,
inegavelmente, também se alinha aos Princípios da Economia de Francisco e Clara, já citados acima.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Conhecendo as abelhas indígenas sem ferrão: a Meliponicultura como alternativa econômica para a agricultura
familiar. Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas, 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
402 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
SÃO PAULO. Resolução SIMA N° 11/2021. São Paulo: Secretaria de Infraestrutura e Meio
Ambiente, 2021. Disponível em:
https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/legislacao/2021/02/resolucao-sima-no-11-
2021/#:~:text=Cria%20a%20categoria%20de%20empreendimento,no%20Estado%20de%20S%C3
%A3o%20Paulo. Acesso em: 16 jun.2022.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Tem abelha no meu jardim. 2022. Disponível em:
https://www.temabelhanomeujardim.com.br/eventos/encontro-presencial-em-junho-2022/. Acesso
em: 16 jun. 2022.
WITTER, Sidia; SILVA, Patricia Nunes. Manual de boas práticas para o manejo e conservação
de abelhas nativas (meliponíneos). 1 ed. Porto Alegre: Projeto RS Biodiversidade, 2014.
Disponível em: https://www.sema.rs.gov.br/upload/arquivos/201611/21110058-manual-para-boas-
praticas-para-o-manejo-e-conservacao-de-abelhas-nativas-meliponineos.pdf. Acesso em: 16 jun.
2022.
ZANELLA, Viviane. Troca de saberes sobre a criação de abelhas sem ferrão. Embrapa, 2015.
Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/3262593/troca-de-saberes-
sobre-a-criacao-de-abelhas-sem-ferrao?p_auth=N1xLJ7KD. Acesso em: 13 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
404 Novo Humanismo, novas perspectivas
Conversas Inclusivas
RESUMO
Com o objetivo de disseminar o conhecimento pouco difundido acerca dos direitos das pessoas com deficiência, que são
assegurados pela legislação brasileira, foi criado o Projeto Conversas Inclusivas, o qual expande essa ideia para o meio
virtual, por meio de transmissões ao vivo, com convidados externos e especialistas em cada área abordada nos encontros.
Para discutir, ao longo do semestre, os temas propostos para esta pesquisa, foi criado um grupo de estudos entre as
extensionistas e os professores orientadores do PUC Inclusiva. Além disso, o Projeto tem contribuído de modo
significativo para a formação das alunas da extensão, tornando-as profissionais mais humanas e capacitadas. Entende-se
como um potencial a ser desenvolvido em toda a comunidade universitária, em que alunos, com orientação adequada, se
tornem protagonistas em projetos semelhantes, veiculados de forma simples e de fácil acesso para todos, em especial para
as pessoas marginalizadas pela sociedade.
Inclusive talks
ABSTRACT
With the aim of disseminating the little-known knowledge about the rights of people with disabilities that are guaranteed
by Brazilian legislation, the Projeto Conversas Inclusivas was created, which expands this idea to the virtual environment
through live broadcasts with external guests and experts in each area addressed in the meetings. To discuss, throughout
the semester, the themes proposed for this study, a study group was created between the extensionists and the mentoring
professors of PUC Inclusiva. In addition, the Project has contributed significantly to the training of extension students,
making them more human and capable professionals. It is understood as a potential to be developed throughout the
university community, in which students, with adequate guidance, become protagonists in similar projects, conveyed in
a simple and easily accessible for everyone, including people marginalized by society.
1
Aluna do curso de Fonoaudiologia da PUC Minas Coração Eucarístico; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-
reitoria da PUC Minas. E-mail: ajecorrea@sga.pucminas.br
2
Pós-doutoranda em Administração. Doutora e Mestre em Psicologia. Professora da PUC Minas. Coordenadora do
Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da PUC Minas. E-mail: carolinaresende.psi@gamil.com
3
Aluna do curso de Direito da PUC Minas Praça da Liberdade; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da
PUC Minas. E-mail: ifacruz@sga.pucminas.br; izabellafagundes9@gmail.com
4
Aluna do curso de Fisioterapia da PUC Minas Coração Eucarístico; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-
reitoria da PUC Minas. E-mail: kaylane.silva.1339078@sga.pucminas.br; k988558421@hotmail.com.
5
Aluna do curso de Direito da PUC Minas Barreiro; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da PUC
Minas. E-mail: vitoria.santos.1334017@sga.pucminas.br; vitória.alves31@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 405
INTRODUÇÃO
O Programa PUC Inclusiva visa atender um problema social complexo, crônico e grave que
há séculos atravessa a história do Brasil e do mundo: a discriminação, a segregação e a exclusão social
da pessoa com deficiência (PcD). Esse Programa atua por meio das ações de extensão universitária
desenvolvidas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) voltadas para a
promoção da inclusão de pessoas com deficiência, desde 1999, além de objetivar a garantia de
formação dos alunos, contribuindo assim para a sociedade, a partir de cursos profissionalizantes de
alta qualidade com o foco na inserção da PcD no mercado de trabalho.
A equipe está sempre em movimento de atualização de nossa estrutura e do nosso grupo, sem
perder o foco da gestão participativa. Em 2017, sob a coordenação da professora Dr.ª Carolina Costa
Resende, o programa de capacitação para as PcD e reabilitados do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) se tornou “Rede Incluir”, em função da tônica na articulação dos diversos atores sociais
que trabalham em prol da inclusão. Já no ano de 2020, após uma completa mudança de cenário
mundial devido à pandemia de COVID-19, novos rumos foram dados ao programa, o qual passou a
se chamar PUC Inclusiva.
A luta pela inclusão social das pessoas com deficiência sofre fortes ataques por parte do
Governo Federal, desde 2019; um exemplo relevante é a nova configuração do Ministério do
Trabalho. Assim, diante de muitos retrocessos promovidos por decretos no âmbito das políticas
públicas, as extensionistas notaram a necessidade de disseminar informações para a população
deficiente, que é afetada pela falta de acesso aos seus direitos como cidadãos. Com essa atitude, as
graduandas contribuem com conhecimento próprio através de pesquisa, grupos de estudos e
elaboração de um artigo acadêmico sobre o tema.
Diante desse impasse, foi criado o Projeto Conversas Inclusivas, que é composto por grupos
de estudos internos e de lives externas. Essas reuniões foram formuladas e ministradas pelas
extensionistas do PUC Inclusiva, com auxílio da equipe técnica, de coordenadores do programa de
extensão e de palestrantes que são convidados com o intuito de debater temas acerca da inclusão de
pessoas com deficiência.
A existência dessas lives é de extrema importância para o alcance dos objetivos que
culminaram no surgimento do Projeto, isto é, a promoção dos direitos humanos e a inclusão. Além
disso, decorre da percepção da necessidade de se ter uma maior difusão de informações acerca dos
EXTENSÃO PUC MINAS:
406 Novo Humanismo, novas perspectivas
direitos que são previstos em tratados internacionais e na própria Constituição Federal de 1988. Esse
Projeto deve existir para trazer mais conhecimento a respeito do tema exposto anteriormente, para
que as PcD tenham seus direitos garantidos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O PUC Inclusiva adota uma metodologia participativa pautada pelo princípio da conjugação
de cuidado e empoderamento, baseada na perspectiva de Le Blanc (2011). Segundo ele, existem duas
opções normativas para o enfrentamento da vulnerabilidade e exclusão: cuidado de um lado e
empoderamento, de outro. Essas duas opções funcionam, majoritariamente, a serviço da lógica
neoliberal, haja vista que o processo de cooptação do neoliberalismo se expande também na
disseminação dos valores de mercado à política social, sob o slogan da inclusão. O grande desafio do
neoliberalismo hoje é fazer da política social uma peça central do mercado econômico, tornando
controláveis os indivíduos que antes não eram passíveis de controle. Em ambos os casos, há uma
culturalização do problema social (LE BLANC, 2011). Portanto, a eufemização do social pela cultura
empresarial exerce um poder encobridor da realidade.
O empoderamento é moldado pelas exigências neoliberais do cálculo do desempenho (da
performance). A vida, desde o nascimento até a morte, funciona como uma empresa própria. Nessa
perspectiva, o empoderamento exige a responsabilização dos sujeitos administrados. Os indivíduos
não devem depender do Estado, mas deles próprios. Esse apelo à responsabilidade pressupõe uma
filosofia do empoderamento onde o argumento econômico é mascarado pelo apelo ao individualismo
como forma de administrar os problemas sociais.
3 METODOLOGIA
O projeto possui um ciclo de período de um mês: as três primeiras semanas são reservadas
para o encontro interno, para a elaboração de grupos de estudo, os quais visam a capacitação nas
temáticas que serão abordadas nas lives transmitidas no canal da extensão ou da PUC Proex no
YouTube - e a partir disso, a elaboração de artigo científico e preparação para as lives. Essas ocorrerão
sempre na última semana de cada mês, após os encontros internos realizados entre as extensionistas
e os coordenadores da PUC Inclusiva. As reuniões ao vivo terão um convidado de referência sobre o
assunto trabalhado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 407
No dia destinado ao encontro com os convidados, a live terá uma apresentação do programa
de extensão em geral, da problemática que nos motivou e dos objetivos que nós queremos alcançar
com esse projeto, para orientar os nossos ouvintes sobre o que será tratado.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Até o momento da elaboração deste relato, somente uma live foi realizada. Dessa forma, será
discutido e demonstrados os resultados dela. Essa primeira transmissão ao vivo tratou de
aposentadoria e benefícios para pessoas com deficiência, tendo como convidado um advogado
referência na área de direitos das PcD.
Nessa live, ocorreu uma roda de conversa por meio da plataforma Extreme art, a qual foi
transmitida pelo canal do YouTube da extensão PUC Minas, que possui mais de dois mil inscritos e
obteve até o momento o total de 123 visualizações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 411
RESUMO
O contexto de rua traz grandes consequências para as pessoas que estão nele inseridas, a privação de direitos, de acesso a
recursos, a exposição à violência e a constante marginalização torna essa realidade ainda mais desafiadora para as
mulheres grávidas. Nesse cenário, o projeto (K)linica: Direitos Humanos e Cidadania, busca fazer o resgate desses direitos
negados ao trabalhar com a população em situação de rua. O seguinte trabalho trata-se de um relato de experiência a partir
do contato com mães em situação de rua e, com o Coletivo das mães órfãs. Para sua elaboração, os alunos extensionistas
participaram de rodas de conversa e atividades de formação. A história das mães órfãs, os relatos sobre mulheres grávidas
em situação de rua e o acolhimento compulsório de bebês em Belo Horizonte mostra uma realidade pouco conhecida pela
população e que demanda maior atenção. As atividades realizadas permitiram aos extensionistas um aprofundamento
acerca do assunto e também a possibilidade de um contato mais próximo com tais mulheres.
ABSTRACT
The street’s context brings huge consequences to people who lives in, the deprivation of rights, the resources access, the
exposure to violence and the constant marginalization makes this reality even more defiant to the pregnant women. In
this scenarium, the project “(K)linica: Human Rights and citizenship”, seeks to do the rescue of these denied rights’ while
working with people in street situation. The following work it’s about an experience report from the contact with mothers
in street situation and with the collective of orphan mothers. To its elaboration, the extension students have participated
in circles of conversation and formation activities. The history of orphan mothers, the reports about pregnant women in
street situation and the compulsory reception of babies in Belo Horizonte shows a reality almost unknown by the
population and which demands more attention. The activities allowed the students in the project to learn more about the
theme and also gave them the possibility of having a closer contact with these women.
1
Aluna do curso de Direito na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: maillaellen@gmail.com.
2
Aluno do curso de Psicologia na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: llfernandes1411@gmail.com.
3
Aluna do curso de Psicologia na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: sayonarha6@yahoo.com.br.
4
Aluno do curso de Direito na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: bernardo.rondinelle@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Direito Público. Especialista em Gestão Pública. Professora da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, nos Cursos de Graduação em Direito e nos Cursos de Especialização (Pós-
Graduação) em Direito Público e em Direito Processual. E-mail: ledapuc@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
412 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
A gravidez no contexto de rua está cercada de enormes dificuldades, sejam elas de acesso a
serviços de saúde ou de condições necessárias para o desenvolvimento pleno do bebê. A rua, como
local de sobrevivência, é por si só uma violação dos direitos fundamentais, de propriedade, segurança
e igualdade, conforme a Constituição Federal (CF, 1988, art.5) e, com isso, se torna um local de risco,
para a saúde da mãe e também da criança.
A partir de vivências no projeto de extensão (K)linica: Direitos humanos e cidadania, buscou-
se compreender a temática das mães em situação de rua e, através de relatos foi possível identificar
situações em que estas encontravam dificuldades para isolarem-se de chuva, realizarem a ingestão
correta de alimentos, realizar pré-natal, e também, reduzir comportamentos de risco na gestação e
num segundo momento, manterem a guarda de seus filhos.
Foi exposto que, em Belo Horizonte, há um movimento de retirada compulsória de bebês na
maternidade quando é percebido uma inaptidão maternal. No entanto, as mulheres mais afetadas nessa
política são as negras e que estão em contexto de rua. A médica Márcia Parizzi, que esteve presente
no projeto de extensão, expôs diversos casos e, ainda, apresentou o Coletivo Mães Órfãs, que vai ao
encontro da proposta de manutenção dos direitos humanos e busca proteger mães em situação de
vulnerabilidade que têm seus filhos apartados de si.
A maternidade na rua mostra-se uma experiência que exige das mulheres grande resistência
às dificuldades. Além do não acompanhamento médico pré-natal, o momento do parto, em diversos
casos, não conta com serviço hospitalar por conta do medo das mães de terem seus bebês retirados.
À luz da Psicologia do Desenvolvimento, sabemos que o momento da gravidez é crítico para
o desenvolvimento neurológico. A gestante deve contar com rede de apoio, alimentação adequada
além de que, doenças e vícios que acometem a mulher também podem ser prejudiciais para os filhos.
A permanência na rua apresenta riscos que estão intrinsecamente relacionados à maturação
física, afetiva e cognitiva. A privação de alimentos, a exposição à violência, o adoecimento, uso de
substâncias podem afetar o desenvolvimento de importantes estruturas cerebrais, como o cortéx pré-
frontal, que tem seu amadurecimento mais lento, estando completo somente na idade adulta e, isso,
implica a realização das funções executivas, que são as habilidades relacionadas à organização de
informações, autocontrole, planejamento, solução de problemas e mudança de perspectiva e, que são,
consequentemente ligadas a melhor saúde mental, física, qualidade de vida e segurança pública.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 413
Tendo em vista esses aspectos, o projeto (K)linica, busca pensar em garantia de condições
básicas para as pessoas que se encontram em situação de rua, sendo que a questão da maternidade se
apresenta como sendo uma das mais complexas, uma vez que, há uma ausência de políticas públicas
voltadas a essa população.
A retomada dos direitos para as pessoas em situação de rua é, um dos objetivos perseguidos e
por isso, são oferecidos diversos trabalhos em parceria com os Centro de Referência da População de
Rua (Centro Pop) de Belo Horizonte, Pastoral de Rua e Cáritas, onde são oferecidos assistência
jurídica, computadores para acesso ao banco, documentos, além de pesquisa e lazer; espaços para
permanência durante o dia, locais de diálogo e busca ativa por direitos a população de rua além do
trabalho do Coletivo Mães Órfãs, que será enfoque nesse trabalho e que, oferece a assistência
necessária para que as mães que têm seus bebês retirados possam retomar o contato e proverem boas
condições para seus filhos.
2 DESENVOLVIMENTO
A saúde da mulher e das crianças foi alvo de questionamento por parte dos alunos durante a
prática de extensão. A partir das vivências com tal população, buscou-se compreender como as
pessoas em situação de rua poderiam ter acesso aos direitos humanos que lhe são negados
cotidianamente.
2.1 Metodologia
2.2 Discussão
Formas de proteção para as mães e também para os seus filhos são necessárias, no entanto, a
recomendação do Ministério Público (MP) de Minas Gerais, de 2014, em que as maternidades e
Unidades Básicas de Saúde comunicassem à Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte
os atendimentos de casos de mães usuárias de drogas, vai de encontro à proteção social destes
indivíduos.
Sabe-se que a utilização de drogas por parte das mães pode gerar diversas consequências para
seus filhos, como a síndrome de abstinência neonatal, graves problemas de saúde e também maior
propensão ao uso de drogas durante a vida.
No entanto, em 2016, foi publicada uma portaria reforçando essas recomendações e prevendo
penalizações aos profissionais da área da saúde que não a cumprissem e, isso gerou um aumento
exponencial no número de bebês encaminhados para abrigos, sendo 26 em 2013 e passando para 132,
em 2016. O Coletivo Mães Órfãs acompanhou que esses encaminhamentos não se davam somente
por conta de adição química das mães, diversos bebês foram retirados após o parto, sem a menor
investigação da história prévia da mãe, o que gerou / gera sofrimento psicológico para as puérperas
e, impactos para o bebê, que deixará de ser amamentado naquele momento e estará longe do
acolhimento maternal.
A história das mães órfãs e do acolhimento compulsório em Belo Horizonte aprofunda ainda
mais a temática e possibilita o entendimento acerca de como vivem estas mulheres. É possível
observar que há uma questão de difícil resolução nos casos em que há a retirada de bebês: as mães
necessitam de boas condições físicas, emocionais, de moradia e de rede de apoio e, no entanto, não
encontram formas de superar a situação de rua e por isso, encontram dificuldades tanto para
realizarem cuidados durante a gravidez quanto para parirem e, posteriormente cuidarem de seus
filhos.
Foi exposto que mulheres em situação de rua, muitas vezes, escolhem não ir aos hospitais,
durante o parto, para evitar que seus filhos sejam retirados de seu convívio. Além disso, pode-se ter
contato com um caso em que a mãe, também em situação de vulnerabilidade social, conseguiu pagar
um hospital particular para fazer o parto e, lá foi denunciado seu caso para a vara cível, que também
realizou o acolhimento compulsório desse recém-nascido.
As mulheres grávidas em situação de rua sofrem uma dupla exclusão social, já que, na rua,
elas podem experienciar a violência, o sexo em troca de favores, o risco por ser do sexo feminino, e
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Novo Humanismo, novas perspectivas 415
também a negligência por parte do poder público. A maternidade pode ressignificar sua existência,
visto que o carinho e o afeto são parte da história que desejam vivenciar com seus filhos. O que ocorre
é uma dificuldade de acesso aos direitos humanos e, com isso, constrói-se um ciclo de pobreza onde
seus descendentes também permanecem em situação de rua.
Em Belo Horizonte, é possível encontrar Centros POPs que são locais de convivência onde os
moradores de rua podem passar o dia, tendo acesso ao chuveiro, TV e lanches, porém, a maioria deles
encontram-se sem vagas disponíveis. Com isso, as mulheres que já não possuem mais formas de
encontrar apoio em serviços públicos ou na família, ficam à mercê de trabalharem na rua e terem uma
fonte extremamente limitada de acesso à subsistência.
Há uma crise dos direitos humanos relacionados à população em situação de rua e, a partir da
questão abordada, é visto que nem mesmo as crianças têm acesso à proteção social. A discriminação,
juntamente com o aspecto estigmatizante sobre essas pessoas traz consequências que resultam em
ações como a recomendação do MP, onde considera-se a incapacidade dessas mães de cuidarem de
seus filhos.
O número de pessoas em situação de rua em Belo Horizonte cresce a cada dia mais, a
estimativa feita pelo projeto Polos de Cidadania da UFMG é de que haja 8.840 pessoas vivendo sem
moradia, em contraste com 2014, quando esse número era de 1.827 pessoas. É preciso pensar políticas
públicas que resultem em melhores condições de vida e acesso aos direitos humanos, que possam
assegurar as necessidades básicas, de vida, saúde e educação para que essas mães tenham acesso aos
serviços necessários de pré-natal, o acesso a alimentos, a um local de habitação e uma gravidez menos
turbulenta e, que os filhos gerados na rua possam ter novas oportunidades em suas vidas.
A necessidade de políticas públicas para esta população se torna ainda mais urgente quando
pensada dentro do contexto da Psicologia do Desenvolvimento, uma vez que o desenvolvimento
neurológico se dá desde a gravidez e, por estar na rua, essas mulheres grávidas estão mais propensas
a não terem uma alimentação correta, a adoecerem com maior facilidade, a serem violentadas, a
fazerem uso de substâncias psicoativas, e isso aumenta o risco de o bebê nascer com deficiência
intelectual ou déficit no raciocínio, de afetar aprendizado e desenvolvimento neurológico, de ter
problemas cardíacos, e no caso de mães usuárias de droga, também a síndrome de abstinência.
A pobreza e permanência na rua trazem efeitos a longo e curto prazo para essas mães e seus
filhos, as implicações afetam diversos campos da vida social. Uma delas é a privação de educação
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416 Novo Humanismo, novas perspectivas
para as crianças; estas começam a trabalhar muito cedo para conseguirem condições de subsistência
e por isso, não frequentam as escolas. A segurança pública é também uma das questões relacionadas
à temática.
Assim, há uma luta para que essas mães consigam estar com seus filhos e também tenham
condições de moradia para abrigá-los. A decisão do MP não representa uma tentativa de proteção a
esses bebês, os abrigos se mostram ineficientes para prover o cuidado necessário a essas crianças,
pois as afastam do acolhimento, do leite materno.
Segundo Freud, nesse período, o bebê tem uma necessidade maior do que somente a
nutricional, o momento da amamentação traz a criação de vínculos e, faz com que o bebê se sinta
seguro e protegido. Além disso, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a criança e
adolescente são sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento que devem ser tratados
com prioridade absoluta e é dever do estado estabelecer políticas, planos, programas e serviços para
a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando garantir o seu
desenvolvimento integral (Lei da Primeira Infância N°13.257, de 8 de março de 2016) e, essa política
de acolhimento compulsório que ocorre em Belo Horizonte vai de encontro à proposta do ECA, tendo
em vista que há uma negação de direito logo após o seu nascimento e a permanência nesses abrigos
não se mostra benéfica para essas crianças.
A retirada compulsória é uma violência contra as mães que traz consequências para sua saúde
mental. Foi relatado que há vários gritos na maternidade quando essas mães têm seus bebês tomados,
e essas, no puerpério, saem correndo pelos hospitais em busca do resgate de seus filhos. Um dos
relatos mostra ainda que uma das mães foi dopada para conseguir dormir e quando acordou já não
tinha mais seu bebê junto a ela. Isso gera dor e sofrimento às mulheres que acabaram de ter seus filhos
e, estão muito vulnerabilizadas pela própria complexidade do parto.
Essas mulheres vítimas de violência por parte do Estado, muitas vezes, não conseguem
retomar o contato com seus bebês e necessitam de aparato jurídico para realizar o pedido de devolução
de seus filhos. No entanto, essa situação se mostra ainda mais dificultada por elas estarem em situação
de rua, o difícil acesso à defensoria pública e as condições desfavoráveis da rua fazem com que a
retomada desses bebês demande de um maior período de tempo e, de um aparato de moradia, de rede
de apoio e financeiro que não é possível para elas.
A ausência e abandono do estado pode ser notada numa das frases ditas por um dos
frequentadores do Centro POP e que também está em situação de rua, quando este disse que não
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 417
concordava que as mulheres grávidas não pudessem entrar neste Centro sem ter o cadastro e, por isso,
ficavam em situações insalubres na rua, expostas a perigos e a condições climáticas desfavoráveis.
Assim, a problemática da gravidez em situação de rua expõe que a falta de moradia traz
grandes implicações e que tanto as mulheres como seus filhos podem sofrer diversas consequências,
há um afastamento com as políticas públicas; e o estado representa uma ameaça às mães e, ao
invisibilizar essa população, e por não oferecer condições para que estas superem a condição de rua,
a experiência intergeracional neste espaço se torna impossível. Assim, haverá a manutenção de um
ciclo de pobreza, o qual não traz impactos positivos nem na vida dessas pessoas nem no
desenvolvimento social de municípios como o de Belo Horizonte.
A gravidez em contexto de rua é um assunto complexo, desde o início da gestação, onde “[...]
algumas mulheres acabam utilizando o sexo como um meio para obter proteção ou mesmo amparo
financeiro para a sobrevivência” (Varanda; Adorno, 2004, p. 66) até o acompanhamento e a
concepção. Há uma dificuldade em vincular-se a um serviço que realize o pré-natal, já que além de
encontrarem dificuldades de locomoção, também têm dificuldades para encontrar nos postos de saúde
o acolhimento demandado por lei.
O momento da gravidez apresenta ainda uma série de questões para as mulheres, como
alteração hormonal, mudança de humor, aumento da fome, e, essa experiência sendo vivida na rua é
ainda mais desafiante para elas. Após a gestação também há, além da retirada compulsória, a
possibilidade de as mães criarem estes bebês na rua, o que pode desencadear uma série de fatores
desfavoráveis para a saúde e desenvolvimento dessa criança.
Uma vez que a essas mães são garantidos, pela CF 1988, direitos básicos como alimentação,
moradia e acesso a saúde e educação, esse quadro torna-se reversível e, várias crianças e mulheres
são asseguradas de uma vida com maior qualidade e possibilidade de desenvolvimento pleno. É com
essa possibilidade de seguridade social que o projeto (K)linica tenta tornar possível o acesso aos
direitos humanos e fundamentais dentro da sociedade belo-horizontina.
CONCLUSÃO
desenvolvimento pleno do bebê. Há uma crise dos direitos humanos relacionados à população em
situação de rua e, a partir da questão abordada, é visto que nem mesmo as crianças têm acesso à uma
proteção social.
Assim, a problemática da gravidez em situação de rua expõe que a falta de moradia traz
grandes implicações e que tanto as mulheres como seus filhos podem sofrer diversas consequências.
Há um afastamento com relação às políticas públicas e, o Estado apresenta uma ameaça às mães,
criando situação negativa para a vida dessas pessoas e para o desenvolvimento social de municípios,
como o de Belo Horizonte.
A retirada compulsória dos bebês é uma violência contra as mães que traz consequências para
sua saúde mental. Tendo em vista esses aspectos, o projeto (K)linica, busca pensar em garantia de
condições básicas para as pessoas que se encontram em situação de rua, sendo que a questão da
maternidade se apresenta como sendo uma das mais complexas, uma vez que, há uma ausência de
políticas públicas voltadas a essa população. É preciso pensar políticas públicas que resultem em
melhores condições de vida e de acesso aos direitos humanos, que possam assegurar as necessidades
básicas, de vida, saúde e educação para que essas mães tenham acesso aos serviços necessários de
pré-natal, o acesso a alimentos, a um local de habitação e uma gravidez menos turbulenta e, que os
filhos gerados na rua possam ter novas oportunidades em suas vidas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. São Paulo, Atlas, 1991.
DIAS, André Luiz Freitas. Dados referentes ao fenômeno da população em situação de rua no
Brasil -Relatório técnico-científico. Plataforma de Atenção em Direitos Humanos, Programa Polos
de Cidadania. Minas Gerais: Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, MG: Marginália Comunicação, 2021.
DIST. Geral; Assembleia Geral do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas. Relatório da Relatora Especial sobre moradia adequada como componente do direito
a um padrão de vida adequado e sobre o direito a não discriminação neste contexto. Nova
York: A/HRC/31/54, 2015.
VARANDA, Walter; ADORNO, Rubens C.F. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da
população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde Soc., v. 13, n. 1, abr. 2004.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 419
RESUMO
O presente trabalho versa sobre as visitas semanais realizadas ao Telecentro - Centro de Referência da População de Rua,
ao longo do mês de maio de 2022, através do Projeto Klinica: Direitos Humanos e Cidadania da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Praça da Liberdade. Neste Centro, há um espaço destinado ao atendimento digital
de forma assistida às pessoas em situação de rua, que tem participação dos alunos dos cursos de Direito e Psicologia,
tendo finalidade precípua de dar suporte ao acesso digital no manejo do uso dos computadores. Destarte, foi possível
observar que a participação do público feminino ao atendimento foi mínima. Com objetivo de identificar os motivos deste
hiato digital no uso das tecnologias da informação pelas mulheres em situação de rua, foi utilizada, neste trabalho,
metodologia hibrida, consistindo em pesquisa empírica quantitativa e revisão sistemática de literatura. Isso permitiu um
recorte intencional do material utilizado. Como resultado, compreendendo a realidade singular desta parcela da população
em situação de rua, é possível, promover discussões a fim de aprimorar, para elas, o acesso a este serviço, o acesso a
direitos.
ABSTRACT
The present work deals with the weekly visits made to the Telecentre -Center of Reference for the Homeless Population,
throughout the month of May 2022, through the project Klinica: Direitos Humanos e Cidadania-da PUC Minas Praça da
Liberdade. In this Center, there is a space dedicated to digital assistance in an assisted way to homeless people, which has
the participation of students from Law and Psychology courses, with the main purpose of supporting digital access in the
management of the use of computers. Thus, it was possible to observe that the participation of the female public in the
service was very small. In order to identify the reasons for this digital gap in the use of information technologies by
women living on the streets, a hybrid methodology was used in this work. It consisted of quantitative empirical research
and a systematic literature review were used. Thus, it allowed an intentional clipping of the material used. As a result,
understanding the unique reality of this portion of the homeless population, it is possible to promote discussions in order
to improve for them access to this service, access to rights.
1
Doutor em Direito Público, professor da PUC Minas, Praça da Liberdade. E-mail: ricardo.guerrav@yahoo.com.br
2
Graduanda em Direito. PUC Minas / Praça da Liberdade. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal
do Pará (UFPA, 2001). E-mail: lcgmoraes@sga.pucminas.br
3
Graduanda em Direito pela PUC Minas; Pós-graduada em Planejamento Ambiental Urbano também pela PUC Minas
(2007). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Itaúna (UIT, 2005). E-mail:
lilian.haddad@sga.pucminas.
4
Graduando do curso de Psicologia da PUC Minas / Praça da Liberdade. E-mail: lfernandes1411@gmail.com.
5
Graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas / Praça da Liberdade. E-mail: sayonarha.fernanda@sga.pucminas.br
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INTRODUÇÃO
6
CENTRO-SUL Centro de referência especializado para população em situação de rua, localizado na Avenida do
Contorno, 10.852-Barro Preto, em Belo Horizonte / MG.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 421
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesse contexto, percebe-se a educação como algo que não pode ser compreendido como
transferência pura e simples de conhecimento do saber científico, assim trata-se de um processo
epistemológico, envolto pela prática da liberdade. Dessa forma, ela abrange todos os atores sociais
de maneira igualitária – e com eles se relaciona –, desfazendo a relação assimétrica universidade →
atores sociais, logo permitindo a construção de um conhecimento verdadeiro para orientação da práxis
sociais na resolução de algum problema prático enfrentado por todos os atores sociais.
Estar em trajetória de rua é algo vivenciado por milhões de pessoas ao redor do mundo, trata-
se de um problema global, que se apresenta em países considerados desenvolvidos assim como
naqueles chamados de países em desenvolvimento. Considera-se um desafio mensurar a quantidade
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de pessoas que vivem nas ruas, assim como estabelecer características, designação sobre o que é estar
em situação de rua em virtude das particularidades de país. Na Europa, em junho de 2021, durante a
Conferência de Alto Nível – Europa, na qual foi emitido um Plano de Ação sobre o Pilar Europeu
dos Direitos Sociais no combate a situação de sem-abrigo, ficou evidenciado pelo órgão responsável
por Trabalho e Direitos Sociais, que mais de 700 mil pessoas dormem nas ruas da Europa.
Nos Estados Unidos da América (EUA), segundo Conselho Interinstitucional sobre Sem-
Abrigo (USICH) foi identificado que, em uma única noite em 2020, cerca de 580.000 pessoas estavam
sem-teto nos Estados Unidos. Seis em cada dez (61%) estavam em locais abrigados – abrigos de
emergência ou programas habitacionais transitórios e quase quatro em cada dez (39%) estavam em
locais não abrigados, como na rua, em prédios abandonados ou em outros locais não adequados para
habitação humana.
No Brasil, cita Dias (2021, [s./p.]) que, de “o levantamento feito pelo Observatório Brasileiro
de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG aponta que pelo menos 26.447
pessoas foram morar nas ruas em 2022. Essa população saltou de 158.191 em dezembro de 2021,
para 184.638 em maio de 2022”.
De acordo com o Relatório Técnico-Científico elaborado pelo Projeto Incontáveis, vinculado
à Plataforma Aberta de Atenção em Direitos Humanos (PADHu) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), em abril de 2021, 68% da população em situação de rua no Brasil era negra. No
Estado de Minas Gerais, a porcentagem de pessoas negras em situação de rua era de 80%. Na cidade
de Belo Horizonte, esta mesma nota técnica elaborada pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG
mostra que a população de rua da cidade teve um aumento bem alto no último ano. Em abril de 2021,
foi registrado um pico de 8.901 pessoas sem um teto para morar. Contudo, a Prefeitura de Belo
Horizonte considera, para fins de políticas públicas, as pessoas em situação de rua com dados
atualizados no último ano. Este número fica em aproximadamente 2.500 pessoas.
A população em situação de rua, inserida no contexto de extrema pobreza, habita as ruas pela
ausência do direito a morar. Embora tenha havido avanços nas políticas nacionais de habitação, pouco
atingiram esse grupo populacional. A diversidade, que cada vez mais caracteriza esse grupo
vulnerável, aumenta a complexidade de elaborar políticas públicas que respeitem a especificidade das
suas condições de vida e sobrevivência bem como reconheçam suas demandas e necessidades de
forma humanizada e eficaz. De acordo com Silva (2006),
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 423
[...] pode-se dizer que o fenômeno população em situação de rua vincula-se à estrutura da
sociedade capitalista e possui uma multiplicidade de fatores de natureza imediata que o
determinam. Na contemporaneidade, constitui uma expressão radical da questão social,
localiza-se nos grandes centros urbanos, sendo que as pessoas por ele atingidas são 4
estigmatizadas e enfrentam o preconceito como marca do grau de dignidade e valor moral
atribuído pela sociedade. É um fenômeno que tem características gerais, porém possui
particularidades vinculadas ao território em que se manifesta. No Brasil, essas
particularidades são bem definidas. Há uma tendência à naturalização do fenômeno, que no
país se faz acompanhada da quase inexistência de dados e informações científicas sobre o
mesmo e da inexistência de políticas públicas para enfrentá-lo. (SILVA, 2006, p.95).
De acordo com Conselho Nacional dos Direitos Humanos, na resolução n°. 40 de 13.1.2020,
o Brasil é o país com a segunda maior concentração de renda do mundo, segundo o Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas em situação de pobreza
extrema subiu de 5,8%, em 2012, para 6,5% em 2018, um recorde em sete anos. Um quarto da
população brasileira, ou 52,5 milhões de pessoas vive abaixo da linha de pobreza. Esse cenário
confirma a imensa desigualdade socioeconômica do país, em curso desde a formação social do povo
brasileiro.
Em seu artigo 107 a resolução nº 40, acima supracitada dispõe: “O governo federal deve
garantir políticas de inclusão digital para pessoas em situação de rua, especialmente por meio dos
telecentros, e orientar os estados, Distrito Federal e municípios no sentido de promover o acesso dessa
população aos espaços e equipamentos públicos”. (grifo nosso)
Segundo Figueiras (2019),
O “morar na rua” não é apenas um problema social, mas também um problema público: ele
ocupa um lugar incontornável no espaço público, midiático e político (regulamentar,
legislativo) e nos espaços públicos urbanos (ruas, praças, jardins públicos, espaços
intersticiais). Sua dimensão pública associa de forma inextricável os desafios políticos e
urbanos: a presença de pessoas sem abrigo nos espaços urbanos interroga as capacidades das
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424 Novo Humanismo, novas perspectivas
nossas democracias a enfrentar a exclusão dos mais vulneráveis, seja pelas acomodações
cotidianas da urbanidade seja pela ação pública na qual estão engajados associações e poderes
públicos”. (CHOPPIN et al., 2013 apud FILGUEIRAS, 2019, p. 101).
As pessoas que vivem em situação de rua são diversificadas, encontram-se mulheres, homens,
crianças, jovens, idosos, portadores de deficiência, gays, lésbicas, LGBTQI+¹7, todos extremamente
expostos, quanto suas integridades físicas, mentais, psíquicas e sociais. Contudo há também,
singularidades, como serem em grande maioria negros ou pardos, tendo baixo nível socioeconômico
e de escolaridade.
apesar de os homens se encontrarem em maior parcela vivendo nas ruas, as dificuldades que
as mulheres encontram são mais profundas e agressivas. Esse contexto se explica devido ao
fato de estarmos inseridos em uma sociedade composta por uma estrutura social machista,
violenta e propícia às desigualdades de gênero e de direitos sociais. (BISCOTTO et al., 2016
apud PEREIRA et al., 2021, p. 3).
Logo, assim como retratado por Souza (2016), “além de sofrer com o preconceito já enraizado
na sociedade, a problemática da rua torna-se apenas mais um agravante para a violência cometida
contra essa mulher que é marginalizada, excluída e vista como não merecedora de respeito, dignidade
e direitos”.
Por essa razão, de acordo com Rosa e Brêtas (2015 apud PEREIRA et al., 2021, p. 3), “é
comum encontrar situações de mulheres que, por insegurança e medo de dormirem na rua sozinhas,
acabam procurando um homem para terem como parceiro. Assim os seguem, se submetendo a
vontade de seus companheiros, a fim de evitar sofrerem outros tipos de violência nas ruas”.
Já cientes dos preconceitos que sofrem quando estão “dentro” e mais ainda quando estão à
margem da sociedade, essas mulheres, se veem impelidas a acompanhar os seus
companheiros/parceiros para evitar sofrer mais violência dentro do meio em que vivem, se
submetendo aos caminhos que seus parceiros desejam seguir, se distanciando de espaços sociais,
como o destinado a inclusão digital.
A subalternização baseada nas relações de gênero sujeitou as mulheres à posição de
inferioridade social, além de uma dependência emocional, pois elas trazem consigo também uma
trajetória de muita fragilidade e vulnerabilidades. Segundo Oliveira, um dos participantes do encontro
no Centro POP:
7
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Identidade Queer e Intersexuais, são orientações sexuais e
identidades de gênero, distintas à orientação sexual heterossexual e identidade cisgênero, que estão associadas à
normatividade hegemônica social atribuídas ao nascimento das características masculinas / homens cisgênero
heterossexuais e femininas / mulheres cisgênero heterossexuais).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 425
o que se evidencia nas relações abusivas nas ruas, pois elas, para ter alguém para se
comunicar, permitem que aquele companheiro “escolhido”, as viole. Que para ter alguém
que as protejam, permitem agressão verbal ou psicológica; essa pessoa assim muitas vezes
responde por esta mulher a terceiros, como seu “protetor”, pondo limites a outros homens em
relação ao próprio corpo desta mulher moradora de rua.
De acordo também com a nota técnica elaborada pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG
publicada em abril de 2021, percebe-se que a maior parte das pessoas em situação de rua em Belo
Horizonte é do sexo masculino, acompanhando a tendência brasileira, ou seja, as mulheres
representam entre 1/4 e 1/3 da amostra para a série histórica, no período de setembro de 2020 a junho
de 2021. Isso explicaria o número reduzido do atendimento de mulheres no Telecentro.
Esta informação é ratificada pelos atendimentos feitos no SMASAC- CENTRO POP
CENTRO-SUL. No mês de abril/2022, em média foram atendidas 749 pessoas em situação de rua,
sendo 53 mulheres. No mês de maio/2022, foram em média 788 pessoas atendidas, sendo 58
mulheres. Conforme citado por Esmeraldo e Ximenes (2021),
Destarte a essa escassez de políticas públicas que possam abranger de maneira mais amplas
as mulheres em situação e suas singularidades, identificou-se que há outras redes de apoio a estas
mulheres, na cidade de Belo Horizonte como a Casa de referência a mulher Tina Martins; abrigos
específicos, como o de acolhimento Institucional- República Maria Maria, o que contribui, para que
esta população específica esteja mais distribuída no município,
3 METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado por meio de metodologia híbrida, com pesquisa empírica
quantitativa e revisão sistemática de literatura. Permitiu um recorte intencional do material utilizado
por meio da vivência semanal dentro do projeto, onde a população de rua ao acessar o espaço do
Telecentro, tem seu nome registrado na lista de atendimento do dia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
426 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O esforço das autoridades de governo diante deste imenso desafio, as pessoas em situação de
rua, no país, foram agravadas pela pandemia de COVID-19, o que faz com que até pareça invisível,
tal esforço. Contudo, esse esforço não deve ser só do Estado, deve ser de todos os atores sociais que
atuma na sociedade, assim reunir esforços no intuito de consolidar o compromisso para com os
Direitos Humanos, e associar e criar sinergias em prol de uma recuperação inclusiva, sustentável,
justa a todas as pessoas em trajetória de rua.
Identificou-se a necessidade de ações eficazes que promovam um atendimento efetivo, quanto
à integridade socioassistencial às mulheres, o que gera ações fragmentadas, pois estas não são
articuladas, o que dificulta a inclusão social destas mulheres de forma ampla no que tange aos seus
direitos de cidadãos. O que permite explorar inúmeras possibilidade de ampliação do atendimento do
projeto, como rodas de conversas, oficina de leitura e varal de poesia.
Assim o objetivo de identificar os motivos pelos quais as mulheres em situação de rua utilizam
tão pouco o serviço de acesso digital no Telecentro, foi alcançado e revelou-se que era pelo fato de
ser uma menor população e também em virtude de muitas acompanharem seus companheiros, a fim
de evitar mais violência e terem outras redes de apoio dentro do município de Belo Horizonte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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outubro de 2020. Dispõe sobre as diretrizes para promoção, proteção e defesa dos direitos humanos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Nota técnica elaborada pelo Programa
Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).População em Situação
de Rua: Violência de Direitos e (de) Dados relacionados à Aplicação do CadÚnico em Belo
Horizonte. Minas Gerais. Disponível em: https://polos.direito.ufmg.br/nota-tecnica-sobre-o-
cadunico-em-belo-horizonte-mg/. Acesso em: 4 jun.2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 429
RESUMO
O trabalho acadêmico em questão busca compreender as opiniões dos cidadãos natos sobre os moradores de rua e seu
acesso ao sistema de justiça brasileiro. Além disso, objetiva-se disseminar conhecimentos jurídicos e técnicos sobre o
assunto, de maneira simplificada, a fim de democratizar tais informações, reduzindo os preconceitos circundantes dessa
esfera social. Ademais, almeja-se espargir noções acerca de como e por quê se dá a requisição da justiça por parte das
pessoas em situação de rua, para que, dessa forma, se torne amplo o acesso ao saber acerca do tema — o que tornará
possível que mais cidadãos moradores de rua reivindiquem seus direitos. Para tal, utilizou-se da metodologia de pesquisa
quantitativa que, por sua vez, evidenciou que grande parte dos entrevistados são dotados de desconhecimento geral sobre
o assunto. Dessa maneira, este relato consolida-se como ferramenta para ajudar na promoção de uma sociedade mais
receptiva aos moradores de rua, buscando ajudá-los e diminuir as injustiças sociais sofridas pelos últimos.
Palavras-chave: Justiça. Moradores de rua. Brasil. Resolução 40. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
ABSTRACT
The academic work in question seeks to understand the opinions of native citizens about homeless people and their access
to the Brazilian justice system. In addition, the objective is to disseminate legal and technical knowledge on the subject,
in a simplified way, in order to democratize such information, reducing the prejudices surrounding this social sphere.
Furthermore, it aims to spread notions about how and why the request for justice by homeless people is given, so that, in
this way, access to knowledge on the subject becomes broad - which will make it possible for more homeless citizens to
claim their rights. To this end, the quantitative research methodology was used, which, in turn, showed that a large part
of the interviewees is endowed with a general lack of knowledge on the subject. In this way, this report is consolidated
as a tool to help promote a more receptive society to homeless people, seeking to help them and reduce the social injustices
suffered by the latter.
Keyword: Justice. Homeless people. Brazil. Resolution no. 40. Universal Declaration of Human Rights.
1
Técnica em Edificações. Graduanda em Direito/PUC Minas, Unidade Praça da Liberdade. E-mail:
ariadne.alves@sga.pucminas.br
2
Técnico em Informática. Graduando em Direito/PUC Minas, Unidade Praça da Liberdade. E-mail:
carlos.brasileiro@sga.pucminas.br
3
Doutor em Direito. Professor da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: ricardo.guerrav@yahoo.com.br.
4
Mestra em Direito. Professora da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
E-mail: ledapuc@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
430 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
Após algumas aulas expositivas do professor Ricardo Guerra, sobre a temática das pessoas
em situação de rua, pudemos escolher o nosso tema. A partir de discussões em grupo, cada membro
ficou encarregado de produzir questões para que fossem avaliadas e dali selecionadas qual seriam
mais adequadas para para o nosso público-alvo. Com as questões em mãos, todas passaram por um
crivo coletivo para que fossem analisadas e, quando necessário, adequadas para o linguajar comum.
O questionário pronto foi divulgado por meio digital pelos membros do grupo a pessoas próximas, a
fim de colher esses dados de um público comum e diverso.
As respostas obtidas com o questionário foram estudadas, e então, demos início às discussões
acerca de como poderíamos trabalhar aqueles dados a fim de produzir um material que fosse ao
mesmo tempo informativo e de fácil compreensão para o grande público. Chegamos à conclusão de
que uma cartilha caberia melhor a esse fim. Novamente, o grupo foi reunido para que, agora com os
dados em mãos e tendo um horizonte de como nosso público-alvo enxerga essa temática, fosse dado
início à cartilha. Considerando o entendimento do nosso público sobre a questão, geramos uma
cartilha de orientação contendo os principais tópicos abordados no questionário e em que se
apresentou mais carência em relação à orientação.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Conforme o Art. 71, “a população em situação de rua tem direito a amplo acesso aos órgãos
do sistema de Justiça e defesa dos direitos”. Apesar disso, pouco se veem sobre notícias ou relatos
em que um morador de rua buscou o poder judiciário para reivindicar algum de seus direitos. Não
obstante, é possível, através de uma busca nos meios eletrônicos, encontrar diversas notícias que
discorrem sobre alguma ação judicial em que a pessoa em situação de rua ocupa espaço de réu.
As pessoas em situação de rua são grandes vítimas de preconceitos, são marginalizadas e
colocadas de maneira excludente dentro da sociedade. Sob o ponto de vista aqui defendido, constata-
se que poucos são os cidadãos envolvidos em movimentos sociais em defesa das pessoas em situação
EXTENSÃO PUC MINAS:
432 Novo Humanismo, novas perspectivas
de rua. Assim sendo, as lutas em prol dos direitos desses indivíduos, que, por serem marginalizados
dentro do corpo social, precisam de um representante de seus interesses, são mínimas. Porém,
conforme Mattos e Ferreira (2004), sobre as relações sociais com pessoas moradoras de rua,
Outros logo as consideram vagabundas e que ali estão por não quererem trabalhar, olhando-
as com hostilidade. Muitos atravessam a rua com receio de serem abordados por pedido de
esmola, ou mesmo por pré-conceberem que são pessoas sujas e mal cheirosas. [...] Enfim, é
comum negligenciarmos involuntariamente o contato com elas. (MATTOS; FERREIRA.
2004, p. 47).
Torna-se perceptível, portanto, como os desprovidos de moradia são tratados pelos seus iguais
e como isso dificulta o acesso aos seus respectivos direitos. Existe um estigma que permeia as relações
humanas com os moradores de rua e isso prejudica toda uma cadeia de funcionamento da sociedade.
Ao tratar outrem de forma excludente, este fica em posição que o impede de abandonar o estado ao
qual se encontra, permanecendo sem mobilidade social e sem perspectiva futura de possíveis
melhorias da condição em que vive na atualidade. Nessa linha de raciocínio, destaca-se o pensamento
de Valencio, Pavan, Siena e Marchezini (2008)
Pessoas em situação de rua vivenciam inúmeras dificuldades. A mais evidente delas, a sua
territorialização precária. A vulnerabilidade locacional sujeita o grupo às diversas dimensões
de desamparo: desconforto face às intempéries; insalubridade; insegurança frente aos
estabelecidos que lhe dirige olhares de desconfiança. [...] As pessoas em situação de rua são
como estranhos que não participam do espetáculo social. Estes fazem o papel da “não-
pessoa”, o que implica numa relação de desrespeito e discrepância frente aos indivíduos
atuantes. (VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 53-54).
Com isso, destaca-se que dentro do corpo social, os indivíduos naturalmente são destinados
ao cumprimento de funções específicas, que desempenham de acordo com a classe social de que vêm,
bem como com a forma como se apresentam à sociedade. Por isso, existe uma expectativa ou, melhor
dizendo, uma projeção de tratamento, que se espera que ocorra de acordo com a atuação do cidadão
dentro da comunidade. Então, é aguardado que haja respeito entre os seres humanos, que haja
oportunidades e que haja projetos sociais que visem melhorar o cotidiano daqueles que enfrentam
dificuldades no dia a dia, especialmente as econômicas.
Contudo, ao descaracterizar a pessoa em situação de rua, toda essa projeção anteriormente
mencionada é abandonada e ignorada. Dessa forma, não existe integração social, não existe
acolhimento ou aceitação dessas pessoas sem locação. Tudo o que existe, em maioria, é exclusão, é
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 433
o cerceamento do ser. Logo, passam a ser pessoas separadas do corpo social, que não o integram e,
por isso, são seres que se tornam incapazes de escapar do cenário carente em que se encontram
(VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 54).
Não obstante, são indivíduos que, além de afastados da sociedade como um todo, são
distanciados e não enxergados adequadamente pelos agentes promotores da justiça. Então, torna-se
ainda mais difícil o cumprimento dos direitos dos desprovidos de moradia, na mesma medida que
impossibilitam o acesso à justiça para esses cidadãos. Nessa esteira, nota-se que
O Brasil vem apresentando duas tendências das forças coercitivas que impedem a ampliação
da cidadania da população de rua. De um lado, há a passagem de um estado de intolerância
tácita para intolerância explícita, recrudescendo a prática pública de truculência na
eliminação do sujeito vulnerável, nisso convergindo as ações do Estado e a de grupos
organizados. (VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 59).
[...] se faz necessário a efetividade do Judiciário, tendo em vista como já explicado a inércia
do Executivo e Legislativo em garantir uma promoção em políticas públicas de bem-estar
social para essas pessoas marginalizadas. [...] No âmbito jurisdicional, a DPU é a instituição
responsável pelo oferecimento de assistência e orientação jurídica à população que se
encontra em vulnerabilidade socioeconômica. [...] (BONIN, 2019, p. 9).
[...] um importante ponto foi a adesão da Justiça Federal com a criação de um protocolo
diferenciado e uma pauta específica no Juizado Especial Federal com imediata conclusão
para sentença nos casos envolvendo a população em situação de rua, de modo a permitir a
célere análise dos casos, muitas vezes, com sentenças e decisões de antecipação de tutela
(tutela de urgência) no mesmo dia ou em um prazo muito menor do que o usual. (BONIN,,
2019, p. 9).
Art. 71 A população em situação de rua tem direito a amplo acesso aos órgãos do sistema de
Justiça e defesa dos direitos. §1º O atendimento deve ser prioritário, desburocratizado e
humanizado, sem necessidade de agendamento. §2º A equipe de atendimento deve ser
multidisciplinar, adequada às características dessa população, com capacitação sistemática
para atuação na garantia dos direitos humanos das pessoas em situação de rua. §3º A falta
de documento pessoal, ausência de comprovação de residência ou o tipo de vestimenta não
poderão ser utilizados para vedação ao atendimento desta população.
Tendo isso em vista, é inegável perceber que existe uma legislação vigente que protege as
pessoas em situação de rua, deixando-as amparadas. Contudo, a realidade se dá de forma um tanto
quanto distinta, uma vez que é possível observar no cotidiano como os moradores de rua são
abandonados pelo Estado. Não obstante, é preciso reconhecer que, além desse abandono “físico” que
os indivíduos sem moradia sofrem, eles ainda são vítimas da falta de informações. Tal empecilho os
abrange de maneira ampla: não basta somente que os desabrigados não tenham o conhecimento sobre
seus direitos, a sociedade ao seu redor também não é educada sobre o assunto.
Partindo desse pressuposto, realizamos um questionário online, enviado para pessoas de
diferentes faixas etárias e profissões. A pesquisa teve um total de 74 participantes e contou com 7
perguntas, apresentando resultados um tanto quanto significativos para conhecimento da realidade
dos cidadãos brasileiros em relação ao entendimento sobre a temática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deverão ser considerados os objetivos explicitados e uma síntese dos resultados, evidenciar
análise e discussão dos dados obtidos.
A partir dos objetivos explicitados inicialmente, dos dados obtidos e de suas respectivas
análises, notamos a ratificação da ideia aqui exposta: muitos cidadãos não apresentam a devida noção
sobre as pautas voltadas para as pessoas em situação de rua, o que as isola da sociedade e as deixam
impedidas de acessar a justiça e, por conseguinte, os seus direitos.
Então, fomos capazes de identificar que 55,4% dos entrevistados sequer tinham ciência da
existência de uma legislação que expressa que a população em situação de rua tem direito a amplo
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436 Novo Humanismo, novas perspectivas
acesso aos órgãos do sistema de Justiça e defesa dos direitos, enquanto 2 pessoas afirmavam conhecer
tal legislação, porém acreditavam não ser relevante e, por isso, não se interessavam. Na mesma linha
de pensamentos, ao serem questionados se concordavam que os moradores de rua deveriam poder
acessar o sistema judiciário, 2 indivíduos selecionaram a opção “sim, mas creio que eles não têm
tanto a oferecer e por isso, não precisam tanto de acessar a justiça”.
Ademais, em uma outra pergunta do questionário, foi indagado se os entrevistados
imaginavam os motivos pelos quais as pessoas moradoras da rua precisariam acessar a justiça
brasileira. A partir disso, 9,7% dos interrogados assinalaram a opção “não há motivos. Infelizmente,
não há nada que possa ser feito para amenizar as consequências de viver na rua: as políticas
governamentais não funcionam e os sem teto não têm vontade de mudar de vida”. É importante trazer,
ainda, a informação que 16 dos entrevistados não sabiam que os bens dos moradores de rua, como
colchões, papelão e cobertores, não podem ser violados enquanto 4 pessoas acreditavam que tais bens
podem ser recolhidos pela polícia ou órgãos fiscalizadores por estarem inseridos em local público.
Conforme fundamentado anteriormente, as pessoas em situação de rua encontram obstáculos
para sua sobrevivência na sociedade a partir dos simples momentos em que não são devidamente
enxergados pelo corpo social, são isolados e excluídos por um número significativo de cidadãos que
compactuam e estimulam a consolidação de pensamentos de que os indivíduos moradores de rua nem
mesmo tem o que oferecer para a coletividade e, portanto, não têm necessidade de acessar o sistema
judiciário. Caracterizados por um grupo de alta vulnerabilidade, essa exclusão social é determinante
para que seus direitos sejam minimizados e não sejam adequadamente acessados.
Inconscientes, em grande parte, das garantias que têm, os moradores de rua permanecem
inertes e submissos a um cenário social em que são invisíveis aos olhos de seus iguais. Por outro lado,
a inconsciência sobre o assunto, advinda do restante da população, consolida um panorama de
permanente marginalização e afastamento dos indivíduos em situação de rua. Analogamente, a
sociedade passa a ser como um feudo: aqueles que estão dentro, o corpo social, conseguem viver uma
vida consideravelmente plena, apesar das diferenças sociais existentes entre si. Aqueles que estão de
fora, os bárbaros, invasores, são os moradores de rua, que representam um perigo para a coletividade
e, por isso, não devem ao menos terem a oportunidade de acessá-la.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 437
REFERÊNCIAS
BONIN, Andressa Corrêa Barcellos. A vivência dos moradores de rua frente as garantias e
valores constitucionais. Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 2019.
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. Resolução nº 40 de 13 de outubro de
2020. Dispõe sobre as diretrizes para promoção, proteção e defesa dos direitos humanos das pessoas
em situação de rua, de acordo com a Política Nacional para População em Situação de Rua. Brasília,
DF: Presidência da República, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-social/conselho-nacional-de-direitos-humanos-
cndh/copy_of_Resolucao40.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2022.
MATTOS, Ricardo Mendes; FERREIRA, Ricardo Franklin. Quem vocês pensam que elas são?
Representação sobre as pessoas em situação de rua. Psicologia & Sociedade, São Paulo, 2004.
VALENCIO, Norma Felicidade Lopes da Silva et al. Pessoas em situação de rua no Brasil:
Estigmatização, desfiliação e desterritorialização. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção. São
Paulo, v.7, 2008.
EXTENSÃO PUC MINAS:
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RESUMO
O projeto de extensão universitária “PUC Mais Idade – Coração Eucarístico” é um ambiente de integração entre ensino e
pesquisa, o qual ocorre de maneira multidisciplinar e não se limita à sala de aula ou ao ambiente acadêmico. O objetivo
geral dos presentes autores foi realizar uma ação dentro da área de saúde, junto a uma comunidade inserida na extensão
universitária. Por meio de um diagnóstico prévio, foram detectadas demandas dos idosos, sendo elas aspectos como
flexibilidade, exercícios físicos e exercícios cognitivos; desta forma, os objetivos específicos passaram a ser incentivar,
praticar e orientar quanto à prática de exercícios físicos e alongamentos. Para a execução do trabalho, foram desenvolvidas
duas ações distintas. Uma delas envolveu a criação de uma cartilha abordando atividades físicas aeróbicas, fortalecimento
muscular e alongamentos. A outra foi caracterizada por um circuito de jogos e atividades, utilizando o aparelho Xbox 360
Kinect. Os dados foram levantados por meio de um questionário. Os idosos relataram, em ambas as ações, satisfação e
contentamento com os ensinamentos recebidos e práticas desenvolvidas.
Palavras chave: Extensão. Exercícios Físicos. Exercícios Cognitivos. Idosos. Promoção da Saúde.
ABSTRACT
The university extension project “PUC Mais Idade – Coração Eucarístico” is an integration environment between teaching
and research, occurring in a multidisciplinary way and not limited to the classroom or the academic environment. The
general objective of the present authors was to perform an action within the health area, together with a community
inserted in the university extension. Through a previous diagnosis, the demands of the elderly were detected, those being
aspects such as flexibility, physical and cognitive exercises; that being said, the specific objectives became to encourage,
practice and guide the physical exercises and stretches practice. For the work execution, two distinct actions were
1
Discente do curso de Fisioterapia na Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
arthur.barbosa.1211684@sga.pucminas.br.
2
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lmamoreira@sga.pucminas.br.
3
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lfgwenceslau@sga.pucminas.br.
4
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lniero@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Bioengenharia, Docente do curso de Fisioterapia na Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: anacassia.fisio@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 439
developed. One of them involved the creation of a leaflet approaching aerobic physical activities, muscle strengthening
and stretching. The other was characterized by a games and activities circuit, using an Xbox 360 Kinect. The data was
collected through a questionnaire. The elderly reported, in both actions, satisfaction and contentment with the teachings
received and practices developed.
INTRODUÇÃO
idosos do Projeto PUC Mais Idade Coração Eucarístico, garantindo maior qualidade de vida para essa
população e fornecendo uma ideia criativa de como trabalhar com grupos de idosos de forma lúdica
e divertida, visando promover saúde física e mental.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o conceito de saúde como sendo o mais
completo bem-estar biopsicossocial, cultural e espiritual. No caso dos idosos, a saúde estará
diretamente vinculada com a sua funcionalidade global, ou seja, com a capacidade de cuidarem de si
mesmos e gerirem a própria vida, mesmo que tenham doenças. Alguns parâmetros garantem ao idoso
sua funcionalidade, são eles: autonomia, independência, cognição, mobilidade e comunicação. A
perda dessas habilidades resulta nas grandes síndromes geriátricas: imobilidade, incontinência,
insuficiência familiar, incapacidade cognitiva, instabilidade postural, incapacidade comunicativa e
iatrogenia. Dessa forma, a prática de exercícios físicos é de suma importância para esta parcela da
população uma vez que trabalha todos os parâmetros da funcionalidade na vida idosa.
O entrave normalmente encontrado junto à população idosa, quanto à questão de práticas
regulares de atividade física, na grande maioria das vezes, está associado aos próprios fatores
fisiológicos do envelhecimento, o qual apresenta alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas e
psicológicas; ou seja, é comum com o avançar da idade o desenvolvimento de fatores como alterações
no equilíbrio, sarcopenia, osteopenia, dentre outros; tais fatores aumentam o risco de queda, fraturas
e desencorajam a prática do exercício físico. Todavia, a ausência de exercícios físicos nesta faixa
etária é responsável pela criação de um ciclo vicioso, que prejudica a qualidade de vida; o indivíduo
deixa de ser uma pessoa ativa pelas alterações trazidas com a idade e a inatividade exacerba tais
alterações, levando às síndromes previamente citadas e prejudicando a qualidade de vida. Sendo
assim, estimular a prática de exercícios físicos em idosos é essencial para quebrar o ciclo e promover
o bem-estar biopsicossocial.
Souza et al. (2019) expõem, em sua revisão de literatura, que a prática de exercícios físicos
permite ao idoso a ausência de patologias como a depressão, melhora o aspecto cognitivo e estimula
um relacionamento familiar saudável, bem como é apontado pelos autores que idosos os quais
praticam atividade física e participam de programas de intervenção, ainda que irregularmente,
apresentam melhores indicadores de uma boa qualidade de vida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 441
3 METODOLOGIA
O primeiro contato dos autores deste relato com o projeto PUC Mais Idade Coração
Eucarístico ocorreu através de uma das extensionistas, no dia 23 de fevereiro de 2022, de forma
remota, por meio da plataforma do Microsoft Teams, a fim de conhecer o projeto, as ações realizadas
e o público-alvo. Posteriormente, no dia 09 março de 2022, das 14h às 16h, foi realizado um
diagnóstico também através de um encontro online pela plataforma Microsoft Teams com os
beneficiários do projeto para conhecer as demandas e os interesses dos idosos participantes em
relação à área da saúde. Foram observados interesses em atividades físicas e principalmente
alongamentos; além disso, um interesse muito grande na área tecnológica.
Dessa forma, os extensionistas decidiram planejar duas ações. Para a primeira, foi realizada
uma cartilha com atividades físicas aeróbicas e exercícios de alongamento e força muscular, com o
objetivo de educar e motivar os participantes do projeto, reduzindo o risco de lesões e promovendo a
saúde. Já na segunda ação, visto que um dos temas escolhidos pelos participantes do projeto é
“Qualidade de Vida”, e tais participantes se mostraram muito interessados em tecnologia, foi
realizado um circuito composto por 05 estações, em que foram abordados exercícios de flexibilidade,
exercícios de aquecimento e uma atividade física simulando um esporte utilizando um Xbox com
Kinect; a utilização do videogame trouxe a tecnologia agregada à atividade física; assim, os idosos se
divertiram e se socializaram, o que engloba o biológico, o psicológico e o social dentro da qualidade
de vida.
A primeira ação foi realizada no dia 06 de abril de 2022, na sala de dança do complexo
esportivo da PUC Minas Coração Eucarístico, no horário das 14h às 16h. Neste encontro,
compareceram 07 idosos, sendo 01 homem e 06 mulheres. A quantidade de pessoas que
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442 Novo Humanismo, novas perspectivas
compareceram foi relativamente baixa por ter sido o primeiro encontro presencial pós-pandemia.
Iniciamos a ação com a distribuição das cartilhas produzida pelos autores e uma conversa explicativa
sobre a importância dos exercícios físicos e dos benefícios da respiração feita da forma correta.
Após a conversa, iniciou-se a apresentação dos exercícios descritos na cartilha de forma
simultânea. Começamos com uma série de aquecimentos, seguido pelos alongamentos e os exercícios
para força muscular. Enquanto alguns integrantes do grupo apresentavam, os outros observavam e
auxiliavam os idosos durante a realização dos exercícios para que eles os executassem da forma
correta. Não houve problemas na realização desta ação. Ao final desse encontro, obtivemos um
feedback positivo dos idosos e os convidamos para que comparecessem na segunda ação.
A segunda ação foi realizada no dia 11 de maio de 2022, na sala de dança do complexo
esportivo da PUC Minas Coração Eucarístico, no horário das 14h às 16h30. Neste encontro,
compareceram 15 idosos, sendo 02 homens e 13 mulheres. Para essa ação, propusemos um circuito
em que os idosos deveriam passar por diferentes estações. O grupo levou materiais de alongamento,
48 copos de água (220ml), uma televisão e um Xbox com Kinect, contendo os jogos de esporte e
dança, que foram utilizados.
A primeira estação era composta por um jogo cognitivo de montar palavras, organizada por
extensionistas do curso de Psicologia. A segunda estação era de alongamentos, onde duas
componentes do grupo instruíram os idosos e os ajudaram nos alongamentos propostos. A terceira
estação apresentava um jogo de Xbox com Kinect, em que duas alunas explicaram os jogos para os
idosos e os auxiliaram em caso de alguma dificuldade. Os jogos escolhidos pelo grupo eram
compostos por exercícios aeróbicos, de força e de equilíbrio, sendo eles jogos de esporte e de dança.
Na quarta estação, os idosos descansavam após o jogo; recebiam um copo de água e uma aluna
explicava a importância da ingestão de água antes, durante e após uma atividade física. A quinta
estação era de relaxamento, em que os beneficiários do projeto recebiam massagem feita por dois
alunos, com o objetivo de diminuir a tensão, utilizando técnicas de terapia manual. Nesta estação,
dois outros alunos estavam fazendo uma pesquisa sobre a opinião dos idosos sobre o circuito. Ao
longo de todo o circuito, os idosos foram acompanhados e fotografados por uma aluna e, ao final,
houve um lanche coletivo oferecido pelo nosso grupo com pizzas, suco e refrigerante.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 443
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
As duas ações apresentaram exercícios físicos devido à demanda dos participantes do projeto,
percebida através do diagnóstico. Na primeira ação, foi confeccionada uma cartilha com
alongamentos a serem realizados, de forma que os idosos pudessem fazê-los em casa.
Segundo Sousa et al. (2019), praticar exercícios físicos contribui para a melhoria na qualidade
de vida dos idosos nos aspectos de funcionalidade, melhora da dor e do estado de saúde em geral,
evitando-se, assim, doenças relacionadas a pouca mobilidade e sedentarismo, favorecendo o
fortalecimento muscular e cooperando para a preservação da autonomia. Ao final da ação, os idosos
relataram terem gostado muito da dinâmica e dos alongamentos e exercícios, bem como terem se
divertido e expressaram gratidão pelas dicas.
A segunda ação se deu através de um circuito com cinco estações, realizado pela Fisioterapia
e também pela Psicologia, sendo a primeira de alongamentos e a segunda, montada e executada pelos
extensionistas da Psicologia, de um jogo cognitivo que consistia em formar palavras em meio a letras
embaralhadas.
A terceira estação utilizou um Xbox com Kinect, já que os idosos demonstraram interesse pela
tecnologia. Os jogos disponíveis eram de dança e esportes, de forma que os idosos usassem o virtual
para praticar exercícios e se movimentarem. De acordo com Meneghini et al. (2016), a tecnologia
utilizada também pode ser chamada de exergames, jogos eletrônicos ativos que, para que sejam
alcançados os objetivos propostos por estes, requerem movimentos do jogador, que são capturados
através de sensores de movimento, como plataformas, joysticks (controles) e/ou câmeras.
A quarta estação do circuito foi a da água, escolhida pela importância de seu consumo nessa
faixa etária. Ao longo da ação, a maioria dos idosos recusou o copo oferecido e alegou não se hidratar
corretamente. De acordo com Guimarães et al. (2021), a presença de doenças crônicas pode afetar a
percepção de sede; além disso, a diminuição no interesse e na procura dos idosos pela água pode estar
relacionada com o pouco conhecimento dessa população sobre os benefícios de sua ingestão. A quinta
e última estação era a de relaxamento, na qual os idosos receberam massagens e responderam a uma
pesquisa de satisfação sobre o circuito.
No momento da realização da pesquisa, somente 12 idosos participaram, uma não quis
responder e duas precisaram sair mais cedo do encontro. Assim como visto na pesquisa, a maioria
dos idosos apresentam idade entre 60 e 80 anos (ver gráfico 1). Ao serem questionados sobre a estação
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favorita de cada um, as preferidas foram a de jogos de atividade física, a de jogos cognitivos e a de
massagem, com três votos cada. Apenas um idoso escolheu a estação de alongamentos e dois não
souberam eleger uma favorita, decretando empate entre duas ou mais estações.
A única estação que não recebeu nenhum voto como preferida dos participantes foi a da água
(ver gráfico 2). Todos os idosos entrevistados relataram gostar de atividades físicas, não terem tido
medo de cair e terem gostado dos jogos virtuais de exercício físico disponibilizados (esporte e dança),
além de acharem que a oficina ajudou muito para o bem-estar físico e mental deles. Sobre as
atividades propostas na ação, em uma escala numerada de zero a dez, onze idosos avaliaram o circuito
com nota máxima e apenas um avaliou com nota nove.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A extensão universitária proporciona diversos benefícios não somente para quem participa
ativamente como também para toda a sociedade, mesmo que de forma indireta. Graças à participação
no Projeto PUC Mais Idade Coração Eucarístico, os extensionistas obtiveram a oportunidade de
colocar em prática ensinamentos teóricos universitários, ampliando nossa bagagem acadêmica e
sendo mais bem preparados para nossa futura área de atuação. Além disso, a convivência com pessoas
de diferentes idades, cursos, gênero, orientação sexual e ideologia nos proporcionou uma troca rica
de saberes e experiências vivenciando a articulação universidade-sociedade, a qual é um dos pilares
da extensão universitária, tornando aos profissionais em formação melhores cidadãos para lidar com
a ampla diversidade em nossa sociedade.
A demanda trazida a nós pelos próprios idosos, identificada a partir de um diagnóstico prévio,
a qual foi considerada como o objetivo da ação de extensão foi atendida com sucesso demonstrando
bons resultados, uma vez que já na primeira ação foi relatado pelos participantes um alto
contentamento com os ensinamentos e atividades passadas, estando todas elas relacionadas às
demandas dos idosos. Já na segunda ação, como demonstrado nos resultados da pesquisa de
satisfação, a maioria do grupo selecionou a estação de jogos de atividade física como a favorita,
revelando que a associação de atividade física com tecnologia é uma forma de solucionar o problema
da inatividade física ao mesmo tempo em que proporciona lazer e diversão dessa forma beneficiando
também os aspectos emocionais; além do mais, a idade não se mostrou um problema para interagir
com a tecnologia levada pelos alunos, evidenciando que na maioria das vezes os idosos não utilizam
novas tecnologias devido apenas a preconceitos enraizados na mentalidade de nossa sociedade os
quais não permitem que seja dado a eles de forma paciente as instruções sobre como usar aquele
recurso.
Quase cem por cento do grupo avaliou o circuito montado com nota máxima, comprovando
não ser necessário alto investimento financeiro ou alto grau de complexidade para agir nos três
âmbitos da saúde propostos pela OMS — biológico, psicológico e social —; basta um grupo de
pessoas, ainda que estudantes, agir trabalhando a escuta qualificada, a criação de vínculo, o trabalho
em equipe, o respeito às diferenças e o apoio às necessidades. A única estação a qual não obteve o
sucesso esperado foi a de hidratação, de acordo com os dados a maioria dos idosos recusou a água
oferecida e alegaram não se hidratarem da forma correta; algo que deve ser trabalhado dentro do
projeto em semestres futuros.
EXTENSÃO PUC MINAS:
446 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
GUIMARÃES, Beatrice Porta et al. O consumo de água em idosos: uma revisão. Vita et Sanitas,
Goiás, v. 15, n. 2, p. 53-69, jul. 2021.
MENEGHINI, Vandrize et al. Percepção de adultos mais velhos quanto à participação em programa
de exercício físico com exergames: estudo qualitativo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
21, n. 4, p. 1033-1041, abr. 2016.
SOUSA, Carmelita Maria Silva et al. Contribuição da atividade física para a qualidade de vida dos
idosos: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Revista Multidisciplinar e de Psicologia, Fortaleza-
CE [S.L.], v. 13, n. 46, p. 425-433, jul. 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 447
RESUMO
O presente relato objetiva apresentar uma descrição das experiências vivenciadas por duas alunas no Projeto de Extensão
Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e trabalhadores de ILPI mineiras. Tal projeto foi gestado em 2020,
logo após o início da pandemia da COVID-19, e formalizado em 2021, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A intenção é compartilhar as experiências vivenciadas e o impacto do
projeto na formação acadêmica das autoras deste relato. A metodologia consiste em realizar acolhimentos online
utilizando a Plataforma Google Meet ou WhatsApp para fazer videochamadas com os idosos das Instituições de Longa
Permanência para Idosos: Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, e Lar dos Amigos, de Belo Horizonte,
possibilitando oferecer apoio psicológico para o público-alvo do projeto e diminuir o impacto negativo da pandemia no
isolamento social. O Projeto permite experienciar um diálogo intergeracional único e fundamental para a formação
acadêmica e cidadã dos alunos. A conclusão é que o Arte de Cuidar permite ao aluno acolher e ser acolhido, desenvolver
a habilidade de dialogar, a criatividade, a capacidade de ouvir e se solidarizar pelo outro. Assim, é possível formar
profissionais diferenciados e capazes de pensar criticamente, usar a criatividade e dialogar com públicos diversificados.
ABSTRACT
The present report aims to present a description of the experiences lived by two students in the Arte de Cuidar: apoio
psicológico a idosos residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras Extension Project. This project was conceived in 2020,
shortly after the beginning of the Covid-19 pandemic, and formalized in 2021 with the support of the Dean of Extension
of the Pontifical Catholic University of Minas Gerais. The intention is to share the experiences and the academic impact
of the Arte de Cuidar Project. The methodology consists of carrying out online receptions using the Google Meet or
Whatsapp platform to make video calls with the elderly from the Long-Stay Institutions for the Elderly: Casa Dona
Zulmira, in Governador Valadares, and Lar dos Amigos, in Belo Horizonte, making it possible to offer psychological
support for the project's target audience and reduce the negative impact of the pandemic on social isolation. The Project
allows students to experience a unique and fundamental intergenerational dialogue for the academic and citizen formation.
The conclusion is that the Art of Caring allows the student to welcome and be welcomed, to develop the ability to dialogue,
creativity, the ability to listen and show solidarity with others. Thus, it is possible to train differentiated professionals
capable of thinking critically, using creativity and dialoguing with diverse audiences.
Keywords: Institutionalized Elderly. Psychological Reception. Training Process. Health Promotion. Quality of life.
1
Graduanda em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: bia.da.fisio2020@gmail.com.
2
Graduanda em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: shirleymalopes@yahoo.com.br.
3
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Pós-doutor em Filosofia (UFMG), docente do curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
448 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
A extensão universitária objetiva integrar o ensino e a pesquisa, além de ser um dos ambientes
para o exercício da função social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
O Projeto de Extensão Universitária Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e
trabalhadores de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) mineiras permite ao
extensionista vivenciar experiências inovadoras e atuar em uma equipe multidisciplinar,
ultrapassando os limites da sala de aula e alcançando um público que vai além dos muros da
universidade. O Projeto, que é financiado e apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas,
atende a um dos principais objetivos da extensão universitária que é justamente preparar melhor os
profissionais para atender às demandas da sociedade, complementando sua formação por meio da
possibilidade de integração entre o ensino acadêmico e a aplicação prática.
O isolamento social foi a medida protetiva adotada para controlar o avanço da pandemia da
COVID-19 na maioria dos países, incluindo no Brasil; porém, o isolamento associado ao contexto
vivenciado pela pandemia trouxe um forte impacto psicológico para a população de modo geral,
incluindo crianças, jovens, adultos, idosos e profissionais de diferentes faixas etárias. Conforme a
cartilha “Recomendações e Orientações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19”,
incentivar e facilitar as conexões entre o idoso em isolamento e a rede de apoio, que pode acontecer
por meio de diversos recursos, como cartas, telefonemas, mensagens de texto, áudio e vídeo, gera no
idoso um sentimento de pertencimento com impactos positivos para todos os envolvidos
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2020).
Dessa forma, o Projeto Arte de Cuidar se desenvolveu com a intenção de reduzir os efeitos
psicológicos negativos do isolamento social em idosos residentes e trabalhadores das ILPIs de Minas
Gerais no período da pandemia, promovendo apoio psicológico por meio de acolhimentos on-line
realizados pelos extensionistas do projeto.
Segundo Mendonça et al. (2013), é por meio da extensão que os alunos adquirem e
transformam os conhecimentos técnicos adquiridos na universidade em ações beneficentes e
solidárias. Os conhecimentos adquiridos vão promover o aprendizado do aluno e o desenvolvimento
da população, uma vez que a extensão é a integração entre a universidade e a sociedade. Assim sendo,
o objetivo deste trabalho é descrever as experiências vivenciadas por duas extensionistas do Projeto
Arte de Cuidar e, assim, identificar a relevância e o impacto do projeto na formação acadêmica das
autoras deste relato.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 449
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
O Projeto de Extensão Arte de Cuidar foi gestado em 2020, logo após o início da pandemia
da COVID-19, e formalizado em 2021, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas. No
entanto, o primeiro contato das autoras deste relato com o professor Bruno Vasconcelos, coordenador
do Projeto, e com os demais extensionistas ocorreu no dia 17 de março de 2022, de forma remota,
EXTENSÃO PUC MINAS:
450 Novo Humanismo, novas perspectivas
por meio da plataforma do Microsoft Teams. Nesta reunião, o coordenador apresentou o Arte de
Cuidar aos extensionistas, bem como as ações realizadas e o público-alvo. Cada um dos extensionistas
do projeto foi direcionado para atuar em uma ILPIs, conforme a demanda apresentada pelas
instituições. As extensionistas ficaram responsáveis de realizar acolhimento com os idosos das ILPIs:
Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, e Lar dos Amigos, de Belo Horizonte.
Na ILPI Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, a metodologia consistiu em realizar
acolhimentos on-line utilizando a plataforma Google Meet ou pelo WhatsApp para fazer chamadas de
vídeo. As reuniões aconteceram nas segundas-feiras de 16:00 às 17:00 horas. Na instituição Casa
Dona Zulmira, o atendimento se deu com apenas uma idosa de forma individual e por meio de uma
entrevista semiestruturada. As perguntas foram sendo organizadas de acordo com as respostas da
idosa, permitindo que ela falasse sobre suas angústias, seus gostos, suas alegrias e suas experiências
de vida, sempre preservando e respeitando o espaço, a vontade e o tempo dela. Nessa instituição, por
motivos internos do Lar, o atendimento teve início no mês de maio de 2022 e ocorreram apenas duas
reuniões com a idosa.
Na ILPI Lar dos Amigos, de Belo Horizonte, a metodologia consistiu em realizar
acolhimentos on-line utilizando a Plataforma Google Meet para fazer chamadas de vídeo. As reuniões
ocorreram todas as segundas-feiras e quartas-feiras com duração variável conforme a necessidade e
vontade apresentada pelas idosas, começando sempre às 15h30. Na instituição Lar dos Amigos, o
atendimento se deu com duas idosas de forma individual e privada, sendo que uma delas recebia
acolhimento na segunda-feira e a outra na quarta-feira. Diversas dinâmicas foram utilizadas para
realizar o acolhimento, como, por exemplo, uso da música, da contação de histórias, da troca de
saberes e experiências, da conversação, das lembranças e da espiritualidade para promover o
acolhimento. O acolhimento no Lar ocorreu do dia 28 de março até o dia 29 de junho de 2022.
O período de duração do Projeto e também dos acolhimentos com os idosos compreendeu os
meses de março, abril, maio, junho e a primeira semana de julho de 2022. Ademais, todas as quintas-
feiras, de 14h30 a 16h, o grupo de extensionistas se reunia com o professor Bruno Vasconcelos, de
forma on-line ou presencial, para realizar uma troca de experiências e saberes.
Os extensionistas também foram orientados a enviar relatórios mensais sobre os acolhimentos
realizados com os idosos para controle e registro pela coordenação do Projeto. Outro fato interessante
é que uma vez por mês um professor era convidado a palestrar sobre temas relevantes para os
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 451
extensionistas do projeto, os temas abordados neste semestre pelos palestrantes foram: “Saúde Mental
dos Idosos”, “Sexualidade da Pessoa Idosa” e “A Velhice na Grécia Clássica”. As palestras foram
abertas ao público.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O acolhimento na ILPI Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, por questões internas,
demorou para iniciar, por esta razão foram realizados apenas dois atendimentos com uma idosa da
casa. No primeiro encontro, ocorreu uma entrevista inicial para colher dados e conhecer melhor a
paciente. Nesta primeira conversa, percebeu-se que a idosa se encontrava um pouco apática, mas
falante, demonstrando estar aberta para o diálogo. No segundo encontro, ela se apresentou bem
disposta, usando batom, brincos e com um sorriso no rosto. Nesse segundo encontro, ocorreu uma
significativa troca de experiências de vida e a idosa se sentiu confortável para relatar seus gostos
dizendo que adora comer banana junto com café. A aluna, por sua vez, se propôs a experimentar
comer banana junto com café e isso fez a idosa ficar muito animada e dar risadas. Este é um exemplo
de como o acolhimento ocorre de forma natural e divertida, trazendo alegria tanto para o idoso, que
se sente acolhido, como para o aluno que vivencia este momento.
O acolhimento das duas idosas da ILPI Lar dos Amigos, de Belo Horizonte, permitiu
compreender, dentre tantas outras coisas, que a dor física tem um forte componente emocional, pois,
na grande maioria das vezes, as idosas iniciavam o encontro se queixando de dores em algumas partes
do corpo e ao final do encontro, depois de dialogar, de se expressar, de ouvir música e de dar algumas
gargalhadas, acabavam se esquecendo da dor e saindo do encontro com maior disposição. Outro fator
importante é a espiritualidade, visto que as duas idosas da ILPI Lar dos Amigos que receberam
acolhimento on-line são muito religiosas e a religiosidade para elas é um fator motivador e que
permite suportar e superar as dificuldades e os sofrimentos vivenciados. A troca intergeracional com
as idosas foi incrível e possibilitou conhecer melhor este público, suas demandas, suas experiências
e história. Os encontros frequentemente foram marcados por canções, troca de experiências e muitas
gargalhadas.
Além disso, um recurso que foi amplamente utilizado nos acolhimentos realizados com as
idosas da instituição Lar dos Amigos foi a música. E o resultado obtido com a utilização deste recurso
foi coerente com as recomendações da Associação Brasileira de Alzheimer, sub-regional São Carlos,
em parceria com o Informa SUS. Esta propõe a utilização de música durante a realização de atividades
EXTENSÃO PUC MINAS:
452 Novo Humanismo, novas perspectivas
do cotidiano, uma vez que a música é considerada uma importante aliada na melhora do humor, na
redução da ansiedade e do estresse, na melhora do sono, favorecendo o acesso as emoções e
estimulando o cognitivo, além de permitir a criação de um ambiente agradável e estimulante aos
envolvidos na atividade (BARROS; REZENDE, 2020). A música permitiu às idosas revisitar
memórias do passado, melhorar o humor, além de trazer relaxamento e satisfação.
Outro aspecto importante que foi explorado com uma das idosas da instituição Lar dos Amigos
foi o diálogo inter-religioso, entre o cristianismo católico e o cristianismo evangélico, que são duas
religiões muito semelhantes, mas que possuem suas especificidades. O diálogo inter-religioso ocorreu
de forma natural ao longo dos encontros on-line e se constituiu em um momento de troca muito
importante visto que o Brasil ainda registra grande número de casos de intolerância religiosa e,
conforme Jesus et al. (2018), no artigo Intolerância Religiosa no Brasil de acordo com a Constituição
Federal de 1988, na grande maioria dos casos de intolerância o agente intolerante desconhece o que
as outras religiões pregam. Portanto, “para atenuar a questão de intolerância, é necessário mudar a
visão das pessoas sobre crenças desconhecidas por elas, suprimindo assim o preconceito” (JESUS et
al., 2018, p. 6).
Além disso, participar de reuniões semanais com os outros extensionistas do projeto e com o
professor Bruno também contribuiu para a formação acadêmica das autoras deste relato. Nessas
reuniões, cada extensionista tinha a possibilidade de relatar suas experiências com os idosos, de ajudar
seus colegas com conselhos e de receber o conselho de outros colegas e do professor. Esses encontros,
que ocorreram de forma presencial e on-line, constituíram-se em importante troca de saberes, de
experiências, de aprendizado, permitindo aos extensionistas solucionar problemas em grupo e, assim,
garantir maior eficiência nas ações desenvolvidas.
As reuniões também foram momentos oportunos para abordar sobre temas variados que,
geralmente, eram levantados pelo grupo de extensionistas ou pelo coordenador. Dentre os temas que
foram discutidos pelo grupo, podemos citar o ‘Diálogo Intergeracional’, que consiste no diálogo entre
diferentes gerações, sendo uma possibilidade única e enriquecedora que pode ser vivenciada no
decorrer do Projeto. Nesse diálogo, duas formas diferentes de ver o mundo, separadas por décadas de
existência, interagem entre si, trocam suas experiências e vivências e ao final, ambas saem
transformadas deste processo.
A minissérie “A Sabedoria do Tempo, com Papa Francisco”, disponível na Netflix, traz à tona
uma nova forma de sabedoria, que nasce do encontro, do diálogo entre as pessoas e, principalmente,
do diálogo entre as gerações. Na minissérie, homens e mulheres com mais de 70 anos relatam histórias
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 453
emocionantes e compartilham lições importantes de vida. Assim também o Projeto Arte de Cuidar
permite ao extensionista conversar e interagir com idosos, trocando experiências, vivências e
conhecimentos.
Outro tema também trabalhado pelo grupo durante as reuniões foi ‘A Importância do
Acolhimento em Tempos de Pandemia’. Esse tema permitiu aos extensionistas compreender a
relevância das ações realizadas pelo projeto Arte de Cuidar e entender que o acolhimento permite ao
idoso, que se encontra institucionalizado e em isolamento social, interagir com jovens que estão ali
para acolher, apoiar, trazer reflexão e música para suas vidas e assim contribuir para a sensação de
alegria e bem-estar do idoso. Os temas que surgiam no decorrer das reuniões permitiram ao grupo
discutir, refletir e desenvolver um pensamento crítico.
Participar das palestras proporcionadas pelo Arte de Cuidar também contribuiu para a
formação acadêmica das autoras deste relato, uma vez que temas relevantes e atuais foram abordados
pelos palestrantes, trazendo reflexão, ampliando a visão e favorecendo o desenvolvimento de
conhecimento nos alunos. Um dos temas que foi abordado é a “Sexualidade da Pessoa Idosa”. A
palestra ocorreu de forma presencial e contou com a participação da professora Sônia Maria de Araújo
Couto. Nesse evento, o grupo discutiu e refletiu sobre a sexualidade da pessoa idosa, a vivência e a
aceitação dessa sexualidade pelos próprios idosos, por seus familiares e pela ILPI da qual eles fazem
parte. Foi um diálogo rico e que possibilitou aos extensionistas expandir o olhar sobre a sexualidade,
que perpassa todas as faixas etárias e se transforma constantemente conforme a sociedade é
remodelada.
A extensão universitária é capaz de inserir e proporcionar aos estudantes um ambiente
favorável à troca de conhecimentos teóricos e práticos, permitindo enriquecedora troca de saberes
entre os estudantes, professores, a população, e os profissionais envolvidos, além de permitir o
desenvolvimento de novas habilidades e competências, com o aperfeiçoamento de técnicas de
comunicação e a possibilidade de transferência do conhecimento acadêmico para a comunidade
(FERREIRA et al, 2018). Portanto, o resultado obtido pelas autoras deste relato, ao participar do
projeto de extensão universitária Arte de Cuidar, coincide com a literatura, uma vez que essa
experiência permitiu o desenvolvimento de novas habilidades e competências, como a capacidade de
acolher, dialogar, usar a criatividade durante a realização do acolhimento on-line, ouvir e se
solidarizar pelo outro, além do aperfeiçoamento da comunicação, permitindo ao aluno fazer a ligação
EXTENSÃO PUC MINAS:
454 Novo Humanismo, novas perspectivas
entre a teoria acadêmica com a prática voltada para a comunidade. Além disso, as reuniões em grupo
permitiram aos extensionistas desenvolver a habilidade de trabalhar em equipe e de solucionar
problemas em grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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desenvolvimento infantil em creches: relato de experiência. Rev Esc Enferm USP. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/jxdPHtGhD5CtSQ3SxnKpfct/?format=pdf&lang=pt. Acesso em:
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FERREIRA, P. B et al. Contribuição da Extensão Universitária na formação de graduandos em
Enfermagem. Rev. Ciênc. Ext. v.14, n.3, p.31-49, 2018. Acesso em: 06 jun. 2022.
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. MINISTÉRIO DA SAÚDE, GOVERNO FEDERAL.
Recomendações e orientações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19. Brasília,
2020.
JESUS, Jovenez; et al. Intolerância Religiosa no Brasil de acordo com a Constituição Federal de
1988. Disponível em: https://www.unaerp.br/revista-cientifica-integrada/edicoes-anteriores/volume-
3-edicao-4/2982-rci-intolerancia-religiosa-no-brasil-de-acordo-com-a-constituicao-federal-de-1988-
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JUNIOR, Alcides. A Extensão Universitária e os entre-laços dos saberes. Salvador, 2013.
MENDONÇA, Iasmin; et al. Extensão Universitária em Parceria com a Sociedade. Cadernos de
Graduação. V.1 n.16 p. 149-155. ISSN Eletrônico 2316-3143. Aracaju, 2013.
EXTENSÃO PUC MINAS:
456 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A frequência de institucionalização de pessoas idosas tem aumentado de forma exponencial no país. Esse processo é
avassalador para o idoso e demanda suporte afetivo de suas redes de apoio. O objetivo deste trabalho é descrever o
sentimento de abandono vivenciado por pessoas idosas institucionalizadas, expresso através de desenhos, e somados às
narrativas produzidas no âmbito do projeto Arte de Cuidar pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade
Católicas de Minas Gerais (Proex PUC Minas). Os resultados mostraram a presença constante da representação do
elemento casa e o resgate de memórias em família. Conclui-se que os idosos sentem o desejo de retornar para casa, de
encontrar outros caminhos, além de apresentarem o sentimento de abandono e saudade dos parentes. Para lidarem com
os desafios dessa nova realidade no processo de institucionalização, eles utilizam a memória afetiva como um refúgio.
ABSTRACT
The frequency of institutionalization of elderly people has increased exponentially in the country. This process is
overwhelming for the elderly and demands an affective approach by their support networks. The objective of this work
is to describe the affective abandonment experienced by institutionalized elderly people, expressed through drawings, and
added to the narratives produced within the scope of the Arte de Cuidar project (Proex PUC Minas). The results showed
the constant presence of the element of home and the recovery of family memories. It is concluded that the elderly feels
the desire to return home, find other ways, and the feeling of abandonment and missing their relatives. To deal with the
challenges of this new reality in the process of institutionalization, they use affective memory as a refuge.
1
Mestre em Ciências da Reabilitação Saúde do Idoso. Graduada em Fisioterapia, graduanda de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail: esther.lima@sga.pucminas.br.
2
Graduanda de Psicologia da PUC Minas. E-mail: lais.catarine@sga.pucminas.br.
3
Graduanda de Psicologia da PUC Minas. E-mail: raquel.maciel@sga.pucminas.br.
4
Especialista em Atenção à Saúde do Idoso. Graduada em Enfermagem, pós-graduanda em Gerontologia do Instituto
Pedagógico de Minas Gerais. Arteterapeuta de Abordagem Junguiana. E-mail: rlima@ufmg.br.
5
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP). Pós-doutor em Filosofia (UFMG), docente no curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 457
INTRODUÇÃO
O ser humano busca, por vezes, melhorar suas vivências e experiências, isso pode transformá-
lo em um ser que tende ao crescimento e à saúde. Para tanto se projeta em avanço tecnológico e
ideológico, de forma progressiva. Esses avanços tornaram possível viver por mais tempo, com maior
qualidade de vida, e tal perspectiva reflete na mudança dos papéis sociais que passam a exercer ao
longo do tempo. No período posterior à Revolução Industrial, a pessoa idosa era vista como um peso,
sem utilidade, em fase de declínio, frágil, e a velhice era interpretada como uma “fase improdutiva e
sem perspectivas” como é exposto por Vigna (2014). Embora alguns grupos ainda possuam esse tipo
de pensamento retrógrado sobre a velhice, o papel exercido pela pessoa longeva, em nosso atual
contexto cultural e político, mudou.
Hoje, os idosos são vistos sob uma perspectiva mais humanizada e sua vivência tratada com
mais dignidade. Além disso, envelhecem de forma mais ativa e participativa, e não possuem um lugar
passivo sem direito a fala como era antes. As pessoas mais velhas, na contemporaneidade, podem
contribuir de forma mais efetiva para o processo de mudanças socioculturais próprias da natureza
humana, como explicita Debert (1997, [s./p.]) “de maneira geral, a tendência das pesquisas em
Gerontologia é a substituição de uma abordagem que caracterizava o idoso como ‘fonte de miséria’
por uma perspectiva do idoso como ‘fonte de recursos”.
Mudanças como a expectativa de vida, o padrão da quantidade de integrantes em uma família
e a conjuntura político-social em que o país se apresenta refletem nas mudanças em Instituições de
Longa Permanência para Idosos - ILPI, visto que essas, ao longo do tempo, também se alteram,
visando um maior e melhor acolhimento da população mais velha. Transformações essas que
acompanham a mudança paradigmática exposta anteriormente.
As Instituições de Longa Permanência para Idosos são, de acordo com a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA (2005, [s./p.]), “instituições governamentais ou não governamentais,
de caráter residencial, destinadas ao domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60
anos, com ou sem suporte familiar e em condições de liberdade, dignidade e cidadania”.
As ILPIs eram conhecidas, antigamente, por termos pejorativos como: "asilos", "lares de
idosos", "ancionatos", "casas de repouso", dentre outros termos enraizados, frutos e produtores de
forte preconceito (PINTO; SIMSON 2012). A fim de modificar essa forma de pensar e tratar o local
onde residem os longevos, foi determinada a substituição desses nomes pela sigla ILPI. Essa alteração
objetiva humanizar o contexto institucionalizado de seus residentes, pois significa uma “nova
organização e gestão de moradia para os internos", como afirma Costa e Mercadante (2013, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
458 Novo Humanismo, novas perspectivas
Nesse novo espaço institucionalizado, o idoso é submetido às normas e leis instituídas para
aquele ambiente e que não lhe são próprias. Além disso, experimentam, continuamente, a convivência
com pessoas desconhecidas, e sofrem uma marcante perda de referência espacial (SOUZA, 2016).
Todo esse contexto de mudança pode gerar sentimentos negativos nos internos da ILPI. O presente
relato pretende analisar a sensação de não pertencimento do idoso, o qual é vinculado ao abandono
afetivo.
Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento desses sentimentos, entre eles, é possível
mencionar a dificuldade de adaptação do idoso ao novo ambiente, uma vez que ele perdeu parte
considerável de sua autonomia e tem seu círculo de relações com amigos e familiares fortemente
reduzidos, e, muitas vezes, de forma abrupta. Para a realização deste trabalho, houve conversas e
análises com idosos, em que, constantemente, afirmaram que a ILPI não é a casa deles, pois já
possuem as próprias residências e, estão ali temporariamente. Além dessas falas, na Arteterapia eles
têm a oportunidade de se expressar e demonstrar os sentimentos que estão silenciados.
Haja vista o exposto acima, esta pesquisa objetiva propor uma discussão acerca do abandono
afetivo vivenciado por idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI)
de Caeté, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse sentimento de abandono foi
percebido em uma oficina de desenho livre, realizada pelas extensionistas e estagiárias do Projeto
Arte de Cuidar da PUC-Minas, e também em outra oficina de Arteterapia realizada pela enfermeira,
especialista em atenção ao idoso, Rosana Lima. Dessa forma, para confecção deste artigo, utilizamos
os desenhos produzidos em ambas, sob a perspectiva da literatura científica dos últimos anos que
contemplam a interpretação de procedimentos de natureza artística sob a ótica daqueles que os
realizam, no caso, os idosos.
Este trabalho se justifica pela relevância do tema, principalmente no momento atual em que,
frente à pandemia da COVID-19, essa população vivenciou um isolamento ainda mais duro e intenso.
Além de se tratar de materiais produzidos de grande riqueza de informações e percepções da vivência
dos idosos institucionalizados, que estiveram presentes durante as atividades de extensão do Projeto
Arte de Cuidar. A pesquisa pode gerar grande contribuição à comunidade acadêmica, ao fornecer
novas informações que aproximam a literatura existente às experiências desse grupo amostral da
população residente em uma ILPI próxima a Belo Horizonte.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 459
2 DESENVOLVIMENTO
Nas últimas décadas, o avanço científico e tecnológico proporcionou ao ser humano uma
longevidade jamais experimentada por gerações anteriores. Em virtude do envelhecimento rápido da
população, o rearranjo familiar que leva ao menor número de filhos e a maior participação da mulher
no mercado de trabalho, as famílias se encontram menos disponíveis para cuidar de idosos. Nesse
contexto, a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) surge como uma opção ao cuidado
não familiar de idosos.
Assim, muitas famílias veem na institucionalização uma forma de garantir apoio e bem-estar
físico e social para o seu parente em idade avançada. Os serviços de geriatria caracterizam-se pela
longa permanência de seus usuários. Entretanto, para o idoso, pode ser um choque o processo de
adaptação a essa nova condição de vida. A mudança no papel social, a restrição de espaço físico, a
perda da privacidade, o distanciamento dos familiares, a retirada de objetos que lhes são caros e
importantes, muitas vezes em função do valor sentimental, podem causar um impacto negativo na
saúde mental do idoso. Apesar de sua característica limitante, para alguns, esse arranjo chega a ser
até satisfatório, pois se sentem mais protegidos e amparados do que em seu meio familiar.
O funcionamento das ILPI é regulado por normas técnicas previstas na RDC Nº 238, de 26 de
setembro de 2005, do Ministério da Saúde. Dentre as inúmeras funções da instituição, apoiar e
incentivar a relação entre familiares é uma delas. Entretanto, de acordo com a Defensoria Pública de
Minas Gerais, a realidade é bem distante. Apesar dos esforços dos Administradores e Assistentes
Sociais, muitas são as razões que explicam, embora não justifiquem, o constante abandono dos
internos nas ILPI.
Em alguns casos, não há vinculação de afeto com os mais velhos, em outros, a partir do
momento da institucionalização, as famílias, sobrecarregadas com os afazeres diários, vão
encontrando cada vez menos tempo para se dedicarem às visitas ao idoso. Há casos também em que
os familiares não veem importância em visitar o parente, pois imaginam que já pagam para que tudo
lhes seja providenciado. Independente do motivo, tal abandono gera no residente longevo uma
angústia, sentimento cada dia maior. Isso promove um reflexo direto na saúde física, emocional e
social do interno, causando alterações negativas no seu corpo, nas suas crenças e nas suas emoções.
A epidemiologia do envelhecimento no Brasil e no mundo evidencia a transição demográfica
mundial nas últimas décadas, a redução da taxa de fecundidade, o aumento da expectativa de vida e
a redução da mortalidade infantil foram determinantes para essas mudanças. De acordo com a
EXTENSÃO PUC MINAS:
460 Novo Humanismo, novas perspectivas
Organização Mundial de Saúde (OMS), idoso é toda pessoa com 65 anos ou mais, já, em países
desenvolvidos, ou, no caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, pessoas com 60 anos ou
mais.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui,
atualmente, 27 milhões de idosos, número que corresponde a 12% da população. A estimativa para
2050 é de 30%, baseados no atual crescimento anual de 700 mil novos idosos. O envelhecimento
acelerado da população (ver gráfico 1) traz consigo um grande desafio para as famílias e para a
sociedade, fazendo com que seja necessária a implementação de políticas públicas específicas para a
população idosa.
É importante ressaltar os marcos legais das políticas públicas dirigidas à pessoa idosa.
Segundo o artigo 230 da Constituição Federal, o amparo às pessoas idosas é dever da família, da
sociedade e do Estado, e sua participação social deve ser garantida, bem como sua dignidade, bem-
estar e direito à vida.
De acordo com Morais e Azevedo (2016, p.28), na época do Brasil Império foi promulgada a
Lei Nº 3.270, de 28 de setembro de 1885, também conhecida como Lei do Sexagenário, a qual
concedia liberdade, condicionada a determinados requisitos, aos escravos a partir dos 60 anos e
àqueles com mais de 65 anos, alforria total.
6
Disponível em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/12/16/piramide-etaria-brasileira/.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 461
as dificuldades enfrentadas pelos residentes, o que lhes dá a condição de proporcionar aos idosos um
cuidado mais individualizado e voltado para suas reais necessidades. Ainda segundo a mesma autora,
não apenas os internos, mas também os colaboradores precisam trabalhar os seus sentimentos para a
melhoria das relações entre ambos.
Segundo Souza (2014, p. 17), a Arteterapia é o uso da arte como forma de estabelecer um
processo terapêutico, visando “estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a
consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência”. Com a Arteterapia, embora seja importante
trabalhar o tempo presente e todas as suas possibilidades, isso só é possível a partir do resgate da
memória, da cura de questões passadas, muitas vezes guardadas no inconsciente, para que se
vislumbre a possibilidade de fazer projeções, ainda que guardadas as devidas proporções em relação
ao tempo futuro.
Assim, a utilização dessa ferramenta com idosos residentes em ILPI é de grande importância
para o resgate de memórias, reestruturação do presente e tranquilidade e confiança em relação a
propostas para o futuro, futuro esse que, para muitos, é visto como algo inimaginável para pessoas de
idade avançada.
3 METODOLOGIA
Este estudo foi elaborado a partir de uma abordagem qualitativa, a partir de narrativas escritas
por idosos, após interpretarem seus próprios desenhos em uma oficina do projeto Arte de Cuidar.
Houve, em média, 16 participantes, todos com mais de 60 anos, e institucionalizados em uma ILPI
em Caeté, um município da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eles realizaram um total de 65
desenhos, no período de fevereiro a agosto de 2018, e entre abril e junho de 2022. Em 2022, a convite
do professor Bruno Vasconcelos, foi iniciada a parceria entre a ILPI Lar de Idosos de Caeté e o Projeto
de Extensão Arte de Cuidar, financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PROEX - PUC Minas). Esse projeto está inserido na Rede de Apoio à
Pessoa Idosa (RAPI) e visa oferecer assistência psicossocial à população idosa institucionalizada e
não institucionalizada em diversas regiões de Minas Gerais.
A proposta de auxílio acontece no modo presencial e/ou virtual, no formato de acolhimento,
escuta, e intervenções diversas a depender da demanda e da possibilidade de oferta. O projeto conta
EXTENSÃO PUC MINAS:
464 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Em 2018, Rosana Lima iniciou o trabalho de arteterapia em grupo com os idosos da ILPI Lar
do Idosos de Caeté, realizando a confecção dos desenhos e registrando a narrativa que eles traziam a
partir daquilo que produziam. Em 2022, as três extensionistas do projeto Arte de Cuidar, e estudantes
de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, junto a coordenadora de oficinas
de intervenção Rosana Lima, realizaram oficinas virtuais nas quais os idosos participantes seguiram
confeccionando desenhos, e posteriormente através de uma narrativa descreveram o que cada
elemento do desenho significava para eles.
No total, foram feitos 65 desenhos, sendo que 22 apresentaram, pelo menos, um elemento que
simbolizava uma casa (ver Gráfico 2), sendo apenas 5 deles mais evidentes. O restante possuía
componentes a mais, como coqueiros, flores, jardins, animais e/ou pessoas. De 43 desenhos
remanescentes, 11 não possuem itens que remetem à casa (ver Gráfico 2), mas possuem flores e
pessoas; desses, 5 têm apenas elementos que apresentam relação com flores ou algum aspecto de
folhagens. Para além, 4 apresentam algo simbolizando uma pessoa, seja exclusivamente, ou ligada a
um complemento. Por fim, apenas 1 desenhou somente uma pessoa e 1 misturou vários elementos,
sendo alguns não identificados.
De 32 desenhos,7 mostram características como linhas (ver Gráfico 2), sejam elas em espiral,
em forma alongada, em formatos circulares ou de forma desarranjada. Em uma das análises realizadas
pela própria idosa que produziu o desenho, essas linhas são identificadas como estradas ou caminhos.
Além disso, também pode representar uma casa. Os outros 25 desenhos estudados não possuem
elementos bem definidos e que se repetem (ver Gráfico 2). Alguns, encontram explicação e sentido
após serem esclarecidos pelos próprios autores das obras, tendo as mais variadas formas e conteúdo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 465
Exemplo disso é a narrativa de uma idosa que realizou o desenho de um casulo, seguido por um
lagarto e que evolui para uma borboleta. Isso posto, analisaremos alguns desses trabalhos de forma
qualitativa, para maiores discussões conforme a proposta do trabalho.
No Gráfico 2, podemos observar que a maior parte dos desenhos (38,5%) contém elementos
gráficos diversos, não específicos. Seguido desses, o elemento singular, casa, é o que aparece com
maior frequência (33,8%). O elemento linha, por sua vez, aparece com menor frequência (10,8%),
enquanto os elementos flor e pessoa aparecem com um pouco mais (16,9%). Essa estratificação
reuniu todos os aspectos gráficos não específicos em um mesmo grupo, aumentando a frequência da
ocorrência desses. Nessa perspectiva, é interessante percebermos que, ainda assim, o componente
casa, unitário em seu grupo de estratificação, se apresenta em grande proporção, o que evidencia que
a sua representação é uma escolha comum para os idosos institucionalizados nesta ILPI.
Há dois fatores que influenciaram no resultado desse gráfico. O primeiro é o fato de que,
diante do processo de envelhecimento, ocorre redução progressiva das acuidades, sejam elas visuais,
auditivas ou motoras. Essa redução reflete na capacidade de alguns idosos executarem com precisão
a confecção do desenho que eles imaginaram e que gostariam de fazer, sendo por fim um fator
limitador para suas expressões artísticas na forma de desenho (MORAES; AZEVEDO, 2016).
Outro fator a ser considerado são os símbolos e a construção de significados que cada idoso
agrega ao longo de sua vida, que se dão por intercessão de fatores culturais, sociais, de subjetividade
e formas de experimentar as vivências. Seria um equívoco nos apegarmos aos elementos do desenho
em separado, já que o processo de construção simbólica acontece de forma tão subjetiva, assim a
única forma de se contemplar o desenho com aproximação da ideia trazida pelo artista compositor da
obra é perceber o grafismo do desenho junto a narrativa que o acompanha (RABELLO, 2015).
EXTENSÃO PUC MINAS:
466 Novo Humanismo, novas perspectivas
A narrativa dos idosos e a construção coletiva realizada nas oficinas permitiram perceber a
alta frequência em que os idosos trouxeram: a expressão da palavra casa, o desejo de viajar, sair,
voltar para casa e encontrar a família. Nas descrições qualitativas das narrativas, é possível perceber
que todos os desenhos, de alguma forma, apresentam elementos que possuem significado para o
artista, os quais remetem ao aconchego do lar e ao sentimento de pertença.
Pode-se perceber que nesse desenho (ver figura 1), aparentemente, estão desenhadas apenas
linhas e alguns rabiscos. Contudo, a idosa que o desenhou, a Sr.ª MA. relatou que a linha vermelha
era a sua casa e que as linhas azuis significavam uma viagem, uma estrada na qual ela ficou em dúvida
se chegava hoje, ou não, mas que certamente era um caminho. Embora os elementos gráficos que a
idosa conseguiu desenhar foram rabiscos em forma de linha, durante a narrativa, o significado foi
construído, indicando o seu desejo de viajar, de seguir por um caminho, e com a pretensão de chegar
a algum lugar, ainda que esteja à mercê do tempo. Ao que tudo indica, esse lugar poderia ser a sua
casa.
Neste outro desenho (figura 2), existe a expressão gráfica, explícita, de uma casa. A Sr.ª MI.,
ao desenhar, relatou que essa era a casa da fazenda que possui, local onde acredita que irá morar um
dia com as pessoas que ama: o amor da vida dela, o seu irmão, a sua irmã e a sua sobrinha. Ela disse
que adora plantar flores e que quer ter uma horta. Ao final, ainda complementou dizendo que nessa
casa terão muitos quartos disponíveis. A expressão do desejo de reencontro com a família fica
explícita, tanto na forma figurada, quanto na forma verbal. Além disso, ao expressar que haverá
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 467
quartos disponíveis, nos leva a entender que existem espaços a serem ocupados, preenchidos. Aqui é
possível perceber a existência do sentimento de falta, ausência e desejo de preenchimento e
aproximação da família.
Existe uma grande variação dos elementos gráficos de um desenho para o outro. Este desenho,
por sua vez (figura 3), é rico na diversidade gráfica e abstrata. A Sr.ª L., autora da ilustração, expressa
em sua narrativa que o significado dos elementos do desenho são: os pontinhos pretos são estrelas, o
círculo mais escuro é a lua, e os "rabiscos" são uma estrada para chegar a sua casa. Logo, após
descrever o desenho, L. relembrou e relatou o local exato onde fica sua casa, descrevendo a rua, o
número, e a cidade, e ainda contou que dividia o espaço com a sua mãe, o seu pai, o seu irmão e a sua
irmã. Mais uma vez, a combinação do desenho junto à narrativa, revela um sentimento de falta e a
busca pelo pertencimento.
A figura 4 não se diferencia muito das outras amostras de desenhos. Sr.ª. R. propôs a seguinte
narrativa para a sua arte: três desenhos na mesma folha, sendo que ela achou o primeiro parecido com
um lagarto, mas não tinha certeza. O segundo, ela disse que parecia um casulo envolvido numa
estrutura de flores, e que, por fim, virou uma borboleta. Ela apontou que se sentiu alegre ao ver o
desenho, mas não prolongou muito seu discurso. Ainda que tenha sido diferente das outras
perspectivas apresentadas, percebemos que a escolha feita pela idosa é de um inseto, no caso a
borboleta, adquire asas e assim pode voar, partir.
Esse foi o trabalho artístico proposto pela Sr.ª A, (ver Figura 5), o qual, também há elementos
em forma de listras. A autora relatou que elas se referiam a um lugar chamado Morro d’Água Quente,
distrito de Catas Altas, em Minas Gerais, onde viveu por 3 anos com sua irmã, porém, ainda que sinta
falta, não voltaria a morar no local, visto que não conhece mais ninguém que mora lá. O desenho feito
pela Sr.ª. V. (figura 6), foi confeccionado em uma oficina em 2018. Ainda hoje, a idosa permanece
repetindo e realizando desenhos similares no processo de Arteterapia. A narrativa apresentada por ela
revela que o desenho representava a casa da família, no distrito onde ela morava, e as flores cultivadas
no jardim são de sua casa. Quanto aos elementos presentes na obra, a Sra. V. conta que desenhou os
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 469
animais domésticos que lá viviam, as flores que cultivava no jardim de sua casa e a residência em que
seu irmão vive atualmente. A história de V. aponta memórias saudosas que tem desse ambiente de
lar, com aconchego da família, dos animais e das flores.
Esse desenho (figura 7) também explicita, graficamente, a forma de uma moradia. Após
desenhar, o Senhor S. relatou que a imagem se tratava da roça em que ele morava com sua mãe, seu
pai e seus 8 irmãos. A partir desse estímulo, ele nos contou que os seus irmãos faleceram e que eles
eram todos solteiros. Contou também que ele e um de seus primos residem na mesma ILPI.
Acerca do desenho, o Sr. S informou que desenhou dois coqueiros que ficavam em frente à
Igreja do Senhor Bom Jesus, e ao lado de sua casa. Ele se lembrou, enquanto desenhava, que tinha
outra árvore parecendo um pé de mexerica, além de um carrinho de tábua que ele usava para brincar
e escorregar. Ao perguntarmos como se sentiu ao desenhar, S. disse que se divertiu e focou nas
emoções positivas que a lembrança saudosa de sua casa lhe remeteu.
Ao analisar as narrativas que compreendem os desenhos confeccionados por esses idosos,
podemos perceber a presença do desejo de ir para casa, de estar em um ambiente familiar e o
EXTENSÃO PUC MINAS:
470 Novo Humanismo, novas perspectivas
sentimento de abandono como reflexo da realidade em que vivem. Seus desejos e sonhos foram
projetados e relatados nas oficinas de Arteterapia, bem como as memórias afetivas que lhe servem de
aconchego para lidar com essa nova realidade nas suas vivências de isolamento afetivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSTA, Maria Carla Nunes de Souza; MERCADANTE, Elizabeth Frohlich. O Idoso residente em
ILPI (Instituição de Longa Permanência do Idoso) e o que isso representa para o sujeito idoso.
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demandas políticas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 34, p. 39-56, 1997.
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Permanência para Pessoas Idosas. Disponível em: https://defensoria.mg.def.br/wp-
content/uploads/2021/08/ILPI_cartilha-4.pdf. Acesso em: 05 jun. 2022.
MORAES, Edgar Nunes; AZEVEDO, Raquel Souza. Fundamentos do cuidado ao idoso frágil. Belo
Horizonte: Follium, 2016. 412 p.
PINTO, SPLC; SIMSON, ORMV. Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil: Sumário
da Legislação. Rev Bras Geriatr Gerontol 2012; 15(1):169-174.
RABELLO, Nancy. O desenho do idoso: as marcas e o simbolismo que o tempo traz. Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2015.
SOUZA, Otília Rosângela. Longevidade com Criatividade: Arteterapia com Idosos - 2ª ed. Belo
Horizonte: Edição da Autora, 2014 -144p.
SOUZA, Shirley Ferreira de. Do Lamento à Esperança: melhorando a qualidade de vida de idosos
institucionalizados por meio da Arteterapia. Centro de Atividades em convênio com as Faculdades
Vicentinas. Belo Horizonte, 2016.
VIGNA, Karen. O Papel do Idoso na Contemporaneidade: o Grupo Revivendo a Vida faz História.
Educação e Cidadania, v. 1, n. 15, 2014.
EXTENSÃO PUC MINAS:
472 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A realidade de mulheres trans em situação de rua no Brasil se constrói a partir de constantes violências, porém como
quantificá-las e analisá-las? Este relato de experiência — originado de questionamentos feitos após uma breve fala
realizada por uma mulher trans em situação de rua — propõe aprofundar a questão, tomando como base pesquisas e
análises encontradas anteriormente em diferentes bibliografias. Compreendendo a complexidade e transversalidade de
todas as questões sociais e epistemológicas permeadas pelo tema proposto, debateremos visando à perspectiva da
psicologia e seus atravessamentos. Verificamos, nesta experiência relatada, que houve um acolhimento por parte da rede
que atende a participante, indicando um bom atendimento, porém limitado, já que a violência institucional ocorre com
serviços pouco alinhados às suas necessidades e um tratamento que, muitas vezes, não reconhece a mulher trans em sua
feminilidade. A violência estrutural e institucional exposta neste relato se repete na bibliografia pesquisada, mostrando a
necessidade de se investir em políticas públicas, serviços e educação que respeitem as demandas e os direitos dessas
mulheres.
ABSTRACT
The reality of trans women living on the streets in Brazil is built on constant violence. However, how to quantify and
analyze them? This experience report — originated from questions raised after a brief speech given by a trans woman
living on the streets — proposes to deepen the question based on research through analysis previously carried out by
different bibliographies. Understanding the complexity and transversality of all social and epistemological issues
permeated by this subject, we discuss it from the perspective of psychology and its crossings. We verified in this reported
experience that there was a welcome by the network that attends the participant, indicating a good, but limited service,
since the institutional violence that occurs with services is low-aligned with her needs and a treatment that often does not
recognize the trans woman in her femininity. The structural and institutional violence exposed in this report is repeated
throughout the researched bibliography, showing the need to invest in public policies, services and education that respect
the demands and rights of these women.
1
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas, extensionista no Projeto (K)línica: Direitos Humanos e cidadania. Email:
anaritaassis@hotmail.com.
2
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas, extensionista no Projeto K(línica): Direitos Humanos e Cidadania, graduada
em Comunicação Social/Publicidade pela UFES e pós-graduada em Gestão e produção Audiovisual pela Universidade
de La Coruña-Espanha. Email: marisebrostel@hotmail.com.
3
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Pós Doutor em Filosofia (UFMG), docente no curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 473
INTRODUÇÃO
da rede SUAS (Serviço Único de Assistência Social) e das instituições parceiras, é possível cocriar e
aprofundar o trabalho em rede, promovendo maiores ganhos e efetividade no acompanhamento dos
sujeitos moradores de rua.
Para as pessoas em situação de rua, de acordo com Antoní e Munhós (2016), “há vivências
contínuas de situações de discriminação por parte da sociedade, exposição à violência,
imprevisibilidade, adoecimento psíquico e físico e privação de necessidades básicas” (ANTONÍ;
MUNHOS, 2016, p. 642). Para mulheres trans, essa vulnerabilidade se apresenta de maneira
intensificada. Letícia Nascimento (2021) aponta que há uma forte criminalização da transgeneridade,
“nesse sentido, os corpos trans são nomeados e classificados dentro do “CIStema” colonial moderno
de gênero como patológicos, desviantes e perversos”. (NASCIMENTO, 2021, p.98).
Um indivíduo que pertença a estes dois grupos — mulheres trans e pessoas em situação de
rua — está exposto a outros tipos de violências, perpassando diversos âmbitos da própria vida. Por
este fator, torna-se necessária a investigação acerca do tema.
O que define ser uma mulher? Para Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se
mulher” (BEAUVOIR, 1970 apud NASCIMENTO, 2021, p. 30), demonstrando, assim, a primeira
concepção do impacto cultural na construção do ser feminino. Também, segundo Letícia Nascimento
(2021), o conceito atual de gênero, para grande parte das feministas, é marcado por dimensões
culturais e históricas, abarcando modos distintos de viver e produzindo variadas experiências sociais,
individuais e coletivas. Mulheres, um conceito no plural, oprimidas de maneira diferente, também se
relacionam com essa opressão de maneiras distintas. A evolução do conceito de feminismo rompe a
interpretação binária de gênero com embasamento biológico e aponta a interseccionalidade como
fundamental na compreensão da pluralidade das experiências femininas e nas formas de opressão que
se cruzam em suas vivências.
É possível construir aproximações com opressões vivenciadas por mulheres lésbicas e
bissexuais, mulheres transexuais e travestis. Porém, ainda há muita controvérsia, mesmo entre
feministas, no reconhecimento de mulheres trans na busca por seus direitos. De acordo com
Nascimento (2021), a cisgeneridade vem para questionar privilégios daqueles que se enquadram em
uma “perspectiva naturalizante e essencialista de gênero”, visto que:
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 475
[u]m conceito colonial com base bioessencial das experiências que impõe um padrão binário
ao sexo (biológico) e ao gênero (cultural): Assim, o processo de patologização,
criminalização e subalternização das identidades trans fazem parte dos interesses do CIStema
colonial moderno de gênero”. (NASCIMENTO, 2021, p. 101).
3 DA IDEOLOGIA À VIOLÊNCIA
É possível compreender que a relação de violência exercida sobre determinados grupos faz-
se presente devido à concepção social e às suas organizações políticas. De acordo com Carmo (2016),
“podemos perceber que o léxico pode carregar e carrega em sua significação aspectos importantes da
visão de mundo que os indivíduos possuem” (CARMO, 2016, p. 2010), ou seja, a forma como
denominamos os indivíduos expressa a forma como ele será tratado. Dessa maneira, denominar as
pessoas em situação de rua e as mulheres trans como “grupos minoritários” resulta em uma
movimentação política e de reconhecimento, mas também exprime uma fuga da “normalidade”.
Como debatido anteriormente, o conceito de mulher é amplo e construído de acordo com a
história e sociedade em que cada uma se insere, entendendo que cada vertente, com suas
características, é dita de um lugar político, que necessita ser ocupado a partir de cada cultura. Porém,
ser mulher é permanente e consiste em compreender o gênero como algo circundante à construção da
própria subjetividade ao longo da vida. Já a situação de rua, é um fator circunstancial e de difícil
conceituação, conforme Rosa (2005) apud Antoní e Munhós (2016):
ao contrário do poder, a violência anula as possibilidades de ação e, por essa razão, não pode
ser tomada como princípio fundamental ou base para o mesmo. Isso porque uma condição
importante para o exercício do poder é a liberdade da pessoa que sofre sua ação. (ANTONÍ;
MUNHÓS, 2016, p. 643).
Dessa forma, a agressão exercida nada mais é do que a busca pela afirmação de si e da
necessidade de reconhecimento sobre um outro.
4 METODOLOGIA
Devido ao tema proposto por este relato de experiência e a particularidade de tempo para a
produção da investigação científica, definimos que a metodologia usada partiria da pesquisa
bibliográfica, utilizando bases como SCIELO, periódicos CAPES, Biblioteca da PUC e do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), visto que esses sites apresentam um potencial elevado
para discussões e comparações de pesquisas realizadas, produzindo e facilitando o resultado que
buscamos ao levantar a pergunta inicial de nosso trabalho:
Nesse esforço de descobrir o que já foi produzido cientificamente em uma determinada área
do conhecimento, é que a pesquisa bibliográfica assume importância fundamental,
impulsionando o aprendizado, o amadurecimento, os avanços e as novas descobertas nas
diferentes áreas do conhecimento. (PIZZANI et al., 2012. p. 56)
que este texto se origina do trabalho em campo realizado a partir do projeto de extensão (K)linica:
Direitos Humanos e Cidadania, a utilização da metodologia de participação observante faz-se
presente.
Vale ressaltar a importância dos projetos de extensões para o aprofundamento de análises e
produções de ideias. Em relação à área da Psicologia e Direito, as ações concretas de trabalho são
imprescindíveis para o aprendizado e para o levantamento do fazer pesquisa. Entretanto, é uma
investigação que extrapola os estudos do projeto de extensão e demanda uma pesquisa bibliográfica
complexa e interdisciplinar sobre mulheres trans, além do conhecimento manifesto por cidadãos
comuns que integram esse grupo específico da população em situação de rua, para, assim, se
aproximar de forma mais realista deste contexto. É necessário, portanto, relatar a situação fundante
para o início de nossos questionamentos e colocações acerca do tema.
A experiência ocorreu no evento Rua de Direitos, no Centro POP Leste Unidade Floresta, em
abril de 2022. O Projeto Klínica promoveu uma roda de conversa em que tratou dos “Direitos
humanos da população em situação de rua”. Nessa roda, ocorreu o depoimento de V*, mulher trans,
moradora em situação de rua e usuária do Centro POP. Nele, conta como sofreu vários tipos de
violência em função de sua identidade de gênero, desde usuários a funcionários da rede, tanto do
Sistema Único de Saúde (SUS) como do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Durante seu relato, várias violências verbais foram proferidas por parte dos moradores em
situação de rua ali presentes. Uma questão levantada foi sobre o uso do banheiro feminino por
mulheres trans e travestis, protestado por alguns presentes. V. relata seu sofrimento e que já pensou
em autoextermínio e que a intervenção do psicólogo do Centro POP foi fundamental para sua
estabilização. É primordial a escuta das demandas específicas destas mulheres para o embasamento
de políticas e serviços que respeitem e garantam seus direitos.
Compreendemos, então, que os dois grupos — mulheres trans e pessoas em situação de rua
— trabalhados ao longo desse texto, partem de vivências e lugares diferentes, não sendo possível
analisá-los de maneira generalizada. O que nos propomos, aqui, é realizar um recorte que se cruza e
se encontra em um mesmo espaço, a rua; porém, citando Carmo (2016), “para além de qualquer
construção grupal, é relevante atentarmos para o fato de que o importante é a preservação da
EXTENSÃO PUC MINAS:
478 Novo Humanismo, novas perspectivas
dignidade humana, que é aviltada por qualquer tipo de violência física ou simbólica, por qualquer
discurso que a propague” (CARMO, 2016, p. 220).
De acordo com o censo do IPEA (2020), existiam 221.869 pessoas em situação de rua no
Brasil, mostrando notável aumento em comparação com os dados de 2019. Em Belo Horizonte, o
último censo realizado pela Prefeitura foi em 2014 e os dados se encontram defasados (BELO
HORIZONTE, 2014). Um estudo apresentado pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG estimou
que, em 2021, existiam 8.842 pessoas em situação de rua (DIAS et al., 2021), porém, não foram
encontrados dados quantitativos a respeito de mulheres trans nessa mesma situação.
De acordo com Mendes, Jorge e Pilecco (2019), “entende-se que essas ausências prejudicam
a implementação de políticas públicas e reproduzem a invisibilidade social destas populações no
âmbito das políticas sociais” (MENDES; JORGE; PILECCO, 2019, p. 108). É possível compreender
a importância da coleta de dados quantitativos para os grupos ditos minoritários, pois, com essas
informações, tornam-se mais plausíveis ações afirmativas.
Considerando as análises feitas, assim como nossas experiências anteriores, compreendemos
os vários fatores de entrelaçamentos acerca das violências sofridas por mulheres trans em situação de
rua. Contemplando as pesquisas realizadas por Mendes, Jorge e Pilecco (2019), o movimento da saída
de casa, em sua grande maioria, ocorre devido a conflitos existentes nas próprias famílias em aceitar
o processo de transição. Apontam motivos como agressões físicas e verbais de parceiros, policiais
militares, instituições públicas e outros indivíduos em situação de rua, como violências recebidas
cotidianamente. Mesmo com Decreto Presidencial nº 8.727/2016 (BRASIL, 2016), que orienta o uso
do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da
administração pública federal, autárquica e fundacional, ainda há um grande desrespeito quanto ao
seu uso.
Funcionários ainda não reconhecem a mulher trans, tratam-na no masculino e determinam o
uso de roupas e da ala masculina em abrigos. O uso de banheiros coletivos é um fator importante que
favorece o assédio sexual e a discriminação. Como alternativa, muitas mulheres trans e travestis usam
o banheiro destinado a deficientes e quartos isolados quando disponíveis nos abrigos.
Podemos fazer uma intersecção com a violência estrutural e institucional sofrida por mulheres
cis em situação de rua, segundo Antoní e Munhóz (2016) entre as várias violências vivenciadas, a
violência emocional é evidente no tratamento humilhante e ameaçador, além da falta de acesso a uma
estrutura necessária e adequada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 479
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta desse relato se deu a partir de uma experiência indagadora, em que foi possível
observar violências verbais, proferidas pelos próprios sujeitos da rua e sofridas por mulheres trans ali
presentes, ao longo de sua própria fala. Com o aprofundamento das discussões e a busca por pesquisas
feitas nesta mesma área, compreendemos a complexidade da questão estabelecida. Debater a respeito
de mulheres trans em situação de rua e as diversas violências sofridas é dizer intrinsecamente das
constituições estruturais de uma sociedade.
Entendemos, a partir de uma breve análise, a construção do ser mulher e do recorte
transfeminista, na qual são levantadas indagações a respeito dos direitos e como são vistas e
consideradas dentro de um sistema, espaço este originário da moral de cada indivíduo, que resulta em
formações institucionais e individuais perpetuantes da violência diária a esses sujeitos. São evidentes
o entrelaçamento e a maior vulnerabilidade quando essas mulheres trans encontram-se nas ruas, visto
que a proteção física de um local seguro é inexistente, tornando-as mais suscetíveis às violências por
parte de qualquer indivíduo.
Acreditando nas transformações ocorridas a partir de reflexões e debates erguidos dentro de
uma universidade, espaço este responsável pela criação do fazer ciência e formação de futuros
trabalhadores da área, faz-se necessário uma maior discussão do tema, produzindo seminários,
palestras e reivindicando dados quantitativos e qualitativos concretos para que, assim, seja possível
encontrarmos e debatermos possíveis soluções para um problema estrutural. Compreendemos,
EXTENSÃO PUC MINAS:
480 Novo Humanismo, novas perspectivas
também, a importância da criação de políticas públicas efetivas para promover ações e contribuir para
a proteção a mulheres trans em situação de rua.
Citando Antoní e Munhós (2016), “reconhecer essas violências e pensar mudanças são
avanços propulsores para o desenvolvimento saudável dessas pessoas que vivem na rua, na
qualificação dos serviços que lhes atendem e na evolução da sociedade como um todo” (ANTONI;
MUNHÓS, 2016, p. 650), percebemos a necessidade de nossa aproximação com esse grupo para
contribuir com a desmistificação da imagem social criada de mulheres trans, sobretudo aquelas em
situação de rua. Trata-se de compreender o sujeito como indivíduo de desejo e pleno de busca pela
própria vida.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Trata-se de um relato de experiência do Projeto de Extensão da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais) ELAS no âmbito da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) situada em Belo
Horizonte (BH) que envolve docentes e discentes de sete cursos de graduação da PUC Minas (Ciências Biológicas,
Direito, Enfermagem, Filosofia, Fisioterapia, Letras e Psicologia) e pessoas do sexo feminino privadas de liberdade.
O Método APAC caracteriza-se pelo estabelecimento de uma disciplina rígida, baseada no respeito, na ordem, no
trabalho e no envolvimento da família da recuperanda, onde elas próprias são corresponsáveis por sua recuperação
e assim executam tarefas em grupos. Nele, percebe-se a importância destas mulheres conhecerem a notoriedade de
seu papel no grupo e para a instituição. No retorno letivo presencial, durante a pandemia da COVID-19, como
estratégia de acolhimento e vínculo do planejamento das atividades e levantamento das demandas foi planejada e
conduzida por duas extensionistas do Curso de Fisioterapia / Coração Eucarístico, a Dinâmica do Espelho, cujo
objetivo foi provocar nas recuperandas, reflexões sobre si mesmas, permitindo despertar a necessidade do
autoconhecimento e pontuar a importância de cada uma neste contexto. A reordenação do planejamento das ações
do projeto, a partir desta dinâmica, reforça a necessidade do empoderamento feminino e as estratégias participativas
do cuidado sendo divididas com futuras atividades para outros extensionistas.
ABSTRACT
This is an experience report of the PUC Minas ELAS Extension Project within the scope of APAC (Association for the
Protection and Assistance to Convicts) located in Belo Horizonte (BH), which involves professors and students from
seven undergraduate courses at PUC Minas (Biological Sciences, Law, Nursing, Philosophy, Physiotherapy, Literature
and Psychology) and female persons deprived of their liberty. The APAC Method is characterized by the establishment
of a rigid discipline, based on respect, order, work and the involvement of the family of the recovering person, where they
are co-responsible for their recovery and thus performtasks in groups. In this method, it is important of these women
knowing the notoriety of their role in the group and for the institution. On the return to face-to-face schooling, during the
COVID-19 pandemic, as a welcoming strategy and link between the planning of activities and survey of demands, the
Dynamics of the Mirror was planned and conducted by two extensionists of the Physiotherapy / Eucharistic Heart Course,
whose objective was to provoke in the recoveries, reflections on themselves, allowing to awaken the need for self-
1
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
janapbel@gmail.com.
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos e do projeto de extensão ELAS, do curso de
Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail: karinaoliveiradejesus1996@gmail.com.
3
Mestre, Professora Assistente IV, Departamento de Psicologia/FAPSI da PUC Minas. E-mail:
mcsm14@terra.com.br.
4
Doutora em ciências da saúde UFMG, Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
482 Novo Humanismo, novas perspectivas
knowledge and punctuate the importance of each one in this context. The reordering of the project's action planning, based
on this dynamic, reinforces the need for female empowerment and participatory care strategies being shared with future
activities for other extension workers.
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O projeto ELAS iniciou com a participação dos extensionistas dos cursos de Psicologia,
Direito/COREU (Campus PUC Minas Coração Eucarístico), Fisioterapia/COREU, em 2021 foram
incluídos os cursos de Enfermagem, Filosofia e Letras e em 2022, Ciências Biológicas, totalizando
atualmente sete cursos parceiros. Além de possibilitar a integração do plano de ensino de duas
Disciplinas de Estágio Supervisionado do Curso de Psicologia/COREU, das práticas curriculares de
extensão dos Cursos de Fisioterapia e Filosofia e ações isoladas do Curso de Nutrição além da
parceria de dois projetos de Extensão da PUC Minas, Universidade Sustentável e o Projeto DEUS é
para Todos, respectivamente propostos pelos Cursos de Ciências Biológicas e Filosofia.
As ações de extensão devem ser planejadas de acordo com as demandas dos benficiários e o
planejamento é primordial para que a avaliação da ação seja satisfatória. Escolher estratégias para
estabelecimento de vínculo com os beneficiários envolve uma “arte” e a criatividade. A dinâmica do
Espelho oportuniza o conhecimento de si próprio, permite ao indivíduo controlar suas emoções, seus
pensamentos e seu agir, fazendo com que este enxergue e compreenda suas metas e objetivos de
maneira mais clara, pois ao se autoavaliar o indivíduo tem em mente o que há de melhor para
contribuir com os que os cercam, podendo alcançar seus objetivos de maneira mais confiante:
3 METODOLOGIA
foto de uma pessoa muito importante e especial para todas, portanto ao visualizar a fotografia, cada
recuperanda falaria as principais qualidades, habilidades, as características da pessoa da fotografia,
porém sem revelar sua identidade.
Foi permitida a participação das recuperandas que já conheciam ou participaram da atividade,
com o combinado de não revelarem o significado da dinâmica. Iniciou-se a dinâmica com as
recuperandas que já conheciam, por sugestão delas próprias. A primeira recuperanda levantou-se,
sentou-se na cadeira e olhou dentro da caixa, abriu um sorriso e disse: “Essa mulher, a cada dia, venho
gostando mais e mais dela”. Algumas se olharam e disseram: “UAU!”, outras se mostraram tímidas.
Algumas delas passaram a mão nos cabelos, outras olharam seriamente para imagem, uma teve crise
de risos, outras assustaram, foram reações muito diferentes. E assim, sucessivamente, uma a uma
realizou a atividade, concluindo a dinâmica proposta.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A dinâmica envolveu inúmeras emoções naquela manhã, as recuperandas decidiram por livre
e espontânea vontade participar, dizendo as qualidades daquela que estava sendo refletida no espelho.
Falar de si mesmo não é uma tarefa fácil, pois é expor o seu “eu” em palavras. Uma das recuperandas,
ao ver seu reflexo no espelho, disse: “Essa mulher está muito triste hoje”; essa frase proporcionou um
momento em que todas puderam refletir sobre seus próprios sentimentos, sentimentos nos quais são
construídos desde a infância e que estão em constante modificação. Na revisão de literatura, Miguel
(2015) aponta que as teorias psicoevolucionistas propõem que os estados emocionais existem hoje
como reflexo da evolução das espécies, ou seja, como respostas adaptativas a situações que ocorrem
no meio.
Abaixo um relato dessa recuperanda que naquele momento não enxergava nada além da
tristeza:
“Eu I. gostei muito da dinâmica do espelho, pois eu vi uma mulher triste e sofrida,
que precisa erguer a cabeça e ver que a vida continua e que posso construir uma nova
história.” (I.F.S. Recuperanda na APAC – BH)
muito verdadeira, e levará as amizades feitas aqui por toda vida”. Outra afirmou: “Essa mulher é
muito temente a Deus, e ama seu filho”. Ainda outra, revelou: “Eu amo essa mulher mesmo nos dias
ruins dela.”
Assim, confirma-se que “O autoconhecimento é um trabalho permanente de observação
de si mesmo, da vida e das relações. É uma atitude perante a vida, porque não dizer uma arte.”
(RESENDE, 2010, p.15).
No decorrer da dinâmica, quando a recuperanda finalizava sua participação, recebia os
aplausos das demais ouvintes. Essa atitude motivava-as mais a participarem da dinâmica e foi um
momento de interação significativo. As duas extensionistas foram surpreendidas com emoção e
vibração, sentindo-se extremamente recompensadas em partilhar com o grupo de recuperandas estas
vivências. Reforça-se aqui a importância do retorno presencial, em que o contato físico é
insubstituível.
Ao término da atividade, as extensionistas proporcionaram a avaliação da dinâmica proposta,
com resultados positivos, pois ocorreu de forma divertida, emocionante e reflexiva, (Figura 01).
Inclusive este momento oportunizou que duas recuperandas se desculpassem devido um
desentendimento anterior entre elas, com direito a um caloroso abraço.
Fonte: Imagens registradas pela agente de segurança da APAC-BH com consentimento prévio (2022)
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 487
“Eu achei que olhando no espelho você se vê mais, olha mais, você vê o quanto você
é bonita.” (G. Recuperanda na APAC – BH)
“Eu achei muito bacana a dinâmica do espelho, embora não tenha participado no dia em
si, mas já participei em outra ocasião, enfim, essa dinâmica faz com que aprendemos a
nos enxergar, porque é muito fácil falar dos defeitos dos outros, mas quando se trata de
nós, apontarmos os nossos próprios defeitos as coisas se complicam. Amei de verdade
essa dinâmica especialmente as meninas que nos proporcionaram esse momento.
Agradeço a cada uma por ter nos permitido momentos únicos e especiais como esse,
pena que não estarão mais com a gente. Desejo a todos vocês grande sucesso nas suas
caminhadas, que Deus possa derramar chuva de benção sobre cada uma. Muito
Obrigada.” (G. Recuperanda na APAC – BH)
“Eu L. M. achei a dinâmica do espelho muito legal, fez com que eu me expressasse o
que estava sentindo naquele momento.” (L.M. Recuperanda na APAC – BH)
“Eu gostaria primeiramente agradecer por todos os momentos que passamos juntas, pois
cada um foi de grande valor. Nos fez crescer como pessoas, e aprender sobre nosso
corpo. Nós mulheres somos bem complicadas, então achei bem interessante cada
palestra, pois pude perceber que ainda existe sororidade e a cada desafio que nos
propuseram pude ver que eu era capaz. Teve dias de tribulação que vocês foram minha
calmaria. Principalmente no dia do espelho, que foi o dia de reflexão total, pois não há
nada mais difícil que falar bem de nós mesmas. Obrigada, Meninas por me encontrar.
Sucesso.” (L. Recuperanda na APAC – BH)
“Eu gostei muito, pois eu fiquei mais íntima de mim mesma, e a Janaína e a Karina foram
muito legais com a gente e passou uma confiança para a gente, gostei muito desse
semestre que passei com elas. Que vocês possam voltar.” (J. E. Recuperanda na APAC
– BH)
Após o levantamento dos relatos e da avaliação do grupo, a percepção foi que a dinâmica do
espelho abriu portas para escolha de instrumentos para levantamento de dados na área da autoimagem,
autoestima e autoconhecimento nesta população privada de liberdade. Fecha-se assim o tripé ensino,
EXTENSÃO PUC MINAS:
488 Novo Humanismo, novas perspectivas
extensão e pesquisa, com sugestões de ações e projetos de pesquisa a serem desenvolvidos com este
grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta ação realizada envolveu em um único encontro diversos sentimentos, bem como de
alegria, tristeza, surpresa, diversão, admiração, satisfação, empatia, apreço visual, entre outros. Para
as discentes e as recuperandas, ensinamentos vieram à tona como julgamentos antecipados e
preconceitos devem ser evitados, praticando mais a empatia e o respeito ao próximo, trouxe às
recuperandas uma oportunidade de reservarem um momento do dia, para pensarem em si mesmas, e
em seu papel no grupo, conseguindo expressar suas características e perceber que sentimentos como:
saudades, angústias, tristeza, mágoa, raiva fazem parte de suas emoções, mas que encarar as suas
limitações e a superação também é parte do processo.
O objetivo da atividade foi alcançado, pois todas se viram numa situação de se examinarem
interiormente, extraindo o que enxergavam de melhor sobre si, e a importância do seu papel na
instituição APAC como recuperandas. A reordenação do planejamento das ações a partir desta
dinâmica reforça a necessidade do empoderamento feminino e as estratégias participativas do cuidado
sendo divididas com futuras atividades para extensionistas dos cursos parceiros.
O projeto ELAS proporciona momentos de muitos aprendizados e reflexões diante as ações
desenvolvidas, desperta a motivação nas discentes para tornarem melhores como pessoas a cada dia,
empoderando-as no desenvolvimento da autonomia para planejamento e condução das ações como
na capacidade de solucionar problemas, além de descobrirem o seu relevante papel social.
REFERÊNCIAS
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de Justiça do Estado de Minas Gerais. Programa Novos Rumos. 2016.
MIGUEL, Fabiano Koich. Psicologia das emoções: uma proposta integrativa para compreender a
expressão emocional. Psico-USF, Bragança Paulista, v. 20, n. 1, p. 153-162, jan./abr., 2015.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pusf/a/FKG4fvfsYGHwtn8C9QnDM4n/?format=pdf&lang=pt. Acesso em:
15 abr. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 489
OLIVEIRA, Adriele. Dinâmica do espelho: o que é e como fazer?. E+B Educação, 10 ago.2021.
Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/carreira/dinamica-do- espelho-o-
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Novo projeto de extensão na
Apac Feminina. Agenda PUC Minas Extensão, n.º 63, 21 a 27 set. 2020. Belo Horizonte: PUC
Minas 2022. Disponível em:
http://www4.pucminas.br/informativo/unidades/materia.php?codigo=2630&materia=33516. Acesso
em: 10 jun. 2022.
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS
GERAIS. Projeto Elas: no âmbito da Apac feminina. (Projeto de Extensão). Belo Horizonte:
PROEX, 2022. Disponível em:http://portal.pucminas.br/proex/index-
link.php?arquivo=projeto&nucleo=0&codigo=570&pagina=4896. Acesso em: 11 jun. 2022.
RESENDE, Marcos. Autoconhecimento. Editora Teosófica. Brasília, 2010. p.15 - 20. E- book.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=0TEqDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA9&dq=autoconhecimento+artigo+cientifico
&ots=VQVTuinO6G&sig=KkNaoy_A8MbuRb4UY_sObOmSoIg#v=onepage&q&f=false Acesso
em: 05 abr. 2022.
RODRIGUES, Daniella Lopes Dias Ignácio Rodrigues; CARDOSO, Fernanda Simplício;
SANTANA, Júlio César Batista; MOREIRA, Maria Carmem Schettino. PRÁTICAS DE
EXTENSÃO DA PUC MINAS NA APAC SANTA LUZIA: histórias que (trans)formam.Belo
Horizonte PUC Minas 2017 Disponível em:
http://portal.pucminas.br/imagedb/proex/publicacao/PUB_ARQ_PUBLI20170920163639.pdf.
Acesso em: 10 jun. 2022
EXTENSÃO PUC MINAS:
490 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) tornou-se uma grande preocupação devido ao elevado número
de óbitos, bem como o alto índice de sequelas pós Covid. A educação em saúde é um dos componentes essenciais da
reabilitação pulmonar. O foco deste relato de experiência foi divulgar as experiências obtidas através das atividades de
educação em saúde vinculadas ao Projeto ReabilitAR por meio do uso de metodologias ativas visando à prevenção de
infecção e agravos da COVID-19. O público-alvo incluiu pacientes e familiares vinculados às disciplinas de Estágio
obrigatório em Fisioterapia (nas áreas de neurologia, ortopedia, cardiorrespiratória, saúde da mulher e saúde da criança)
que são ministradas no Centro Clínico de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas)
Betim, o que indiretamente envolveu discentes e docentes do 8º ao 10º períodos do curso. Em articulação com a disciplina
Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva, foram abordados os usuários de duas unidades básicas de saúde (UBS Angola
e Bueno Franco). Funcionários da PUC Minas Betim, comunidade jovem de crismandos vinculada à Paróquia Nossa
Senhora do Carmo, bem como alunos da Escola Municipal Maria José Campos, de Betim, também foram beneficiados.
As atividades desenvolvidas envolveram principalmente jogos e simulações, sendo realizadas durante o segundo semestre
de 2021 e primeiro semestre de 2022. Com as ações, observou-se o aprimoramento na formação dos discentes por meio
da articulação entre ensino, pesquisa e extensão, bem como o desenvolvimento do empoderamento dos beneficiários no
seu autocuidado.
ABSTRACT
The pandemic caused by the new coronavirus (COVID-19) has become a major concern due to the high number of deaths,
as well as the high rate of post-Covid sequelae. Health education is one of the essential components of pulmonary
rehabilitation. The focus of this experience report was to report the experiences obtained through health education
activities linked to the ReabilitAR Project through the use of active methodologies aimed at preventing infection and
1
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: indgrysdiniz@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: julia.lara20@outlook.com.
3
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: rafaelaaudina@gmail.com.
4
Fisioterapeuta, mestre em Ciências da Saúde. Professora do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail:
gisele@pucminas.br
5
Fisioterapeuta, pós-doutora em Ciências da Reabilitação. Professora do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-
mail: isa.sclauser@terra.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 491
diseases from COVID-19. The target audience included patients and family members linked to the disciplines of
Mandatory Internship in Physiotherapy (in the areas of neurology, orthopedics, cardiorespiratory, women's health and
child health) who are taught at the Clinical Center of Physiotherapy of PUC Minas Betim, which indirectly involved
students and teachers from the 8th to 10th periods of the course. In conjunction with the discipline Supervised Internship
in Collective Health, users of two basic health units (UBS Angola and Bueno Franco) were approached. Employees of
PUC Minas Betim, a young crismandos community linked to the Parish of Nossa Senhora do Carmo, as well as students
from the Municipal School Maria José Campos / Betim were also benefited. The activities mainly involved games and
simulations, being carried out during the second half of 2021 and the first half of 2022. Through the actions, it was
observed the improvement in the formation of students through the articulation between teaching, research and extension,
as well as the development of the empowerment of beneficiaries in their self-care.
INTRODUÇÃO
A pandemia gerada pelo coronavírus (COVID-19) causou grande preocupação por parte da
sociedade devido ao grande número de óbitos, bem como o alto índice de sequelas pós infecção
(SMONDACK et al., 2020). Pacientes que apresentam sequelas crônicas da doença são
diagnosticados como portadores da Síndrome pós-COVID-19 (LOPEZ-LEON et al., 2021) e podem
se beneficiar da reabilitação pulmonar (CURCI et al., 2021; SIDDIQ et al., 2020; DEMECO et al.,
2020).
O programa de reabilitação pulmonar apresenta vários componentes, tais como: o treinamento
físico, a educação em saúde e a mudança de comportamento, bem como as estratégias de autocuidado
(HOLLAND et al., 2021; LANGER et al., 2009). Assim, a partir desse conceito, surgiu o Projeto de
Extensão ReabilitAR: superando os impactos da COVID-19.
O objetivo do presente relato reflexivo foi divulgar as experiências obtidas através das
atividades de educação em saúde vinculadas ao Projeto ReabilitAR por meio do uso de metodologias
ativas visando a prevenção de infecção e agravos da COVID-19.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O paciente infectado pelo SARS-CoV-2 pode apresentar variadas condições clínicas, desde
sintomas gripais a distúrbios gastrointestinais (SHEEHY, 2020). O quadro clínico pode variar de
casos assintomáticos à disfunção respiratória grave, podendo apresentar também um envolvimento
potencial de quase todos os órgãos e sistemas, incluindo os sistemas cardíaco, renal, neurológico,
cognitivo e mental (SHEEHY, 2020; SIDDIQ et al., 2020; SMONDACK et al., 2020; WIERSINGA
et al., 2020). Nos casos leves, os indivíduos frequentemente apresentam como sintomas mais comuns
febres, tosse seca, dispneia, fadiga, mialgias, vômitos/náuseas, diarreia, dor de cabeça, disfunções
olfativas e gustativas (WIERSINGA et al., 2020). Nos casos mais graves, podem apresentar
desconforto respiratório agudo grave, dano alveolar difuso, micro trombos, lesão endotelial,
inflamação e dilatação cardíaca, bem como sepse (SIDDIQ et al., 2020; SMONDACK et al., 2020;
WIERSINGA et al., 2020).
Independentemente da gravidade dos sintomas, tem sido demonstrado um aumento
significativo no risco de mortalidade e de sequelas na maioria dos sobreviventes (NEGRINI et al.,
2021). Os indivíduos recuperados podem desenvolver comorbidades advindas de complicações da
terapia intensiva, com ou sem intubação, e dos próprios efeitos do vírus no organismo (SHEEHY,
2020). Cerca de 80% dos pacientes que se recuperam da COVID-19 relatam persistência de pelo
menos um sintoma. Foi encontrado um total de 55 efeitos de longo prazo associados à infecção
(LOPEZ-LEON et al.,2021), sendo comum apresentarem declínio na função respiratória em
decorrência de lesões fibróticas, comprometimento funcional e muscular, quadros de depressão e
ansiedade, bem como prejuízos nas atividades de vida diária. Essas sequelas culminam com
absenteísmo no trabalho e redução da qualidade de vida (TOWNSEND et al., 2021; GALAL et al.,
2021; LIU et al., 2020; AL CHIKHANIE et al., 2021).
A Síndrome pós-COVID-19 é caracterizada por manifestações que se prolongam por um
período maior que 12 semanas após o início da doença e que não se relacionam a outros diagnósticos
(GREENHALGH et al., 2020). Dentre as mais comuns, destacam-se a fadiga, o declínio da função
respiratória, a fraqueza muscular, a incapacidade funcional, o tromboembolismo, os quadros de
depressão e ansiedade e os distúrbios do sono (NALBANDIAN et al., 2021; LOPEZ-LEON et al.,
2021).
Diante desse contexto, fica claro a necessidade de estratégias que reduzam a disseminação da
doença e possibilitem ao indivíduo ser corresponsável pela sua saúde. Segundo Salci et al. (2013), a
educação em saúde é definida como “Uma ferramenta de promoção de saúde de caráter participativo
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 493
e emancipatório, que perpassa vários campos de atuação e tem como objetivo sensibilizar,
conscientizar e mobilizar para o enfrentamento de situações individuais e coletivas que interferem na
qualidade de vida.” (BRASIL, 2009; DA MATTA, 2009 apud SALCI et al., 2013, p. 225).
Dessa forma, a educação em saúde desenvolve o pensamento crítico e reflexivo nas decisões
de saúde e são capazes de influenciar no autocuidado da comunidade (MACHADO et al. 2007;
SALCI et al., 2013). Para promover educação em saúde, tem-se a utilização das metodologias ativas
como forma de entrega qualificada de um conteúdo. Esse método promove a inserção do ouvinte no
processo de ensino e aprendizagem, o que o faz deixar de ser um agente passivo para ser um membro
ativo na construção do saber por meio de estímulos sobre o conhecimento e análise de problemas
(SERRANO et al, 2017).
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa experiência, destacou-se o impacto positivo das metodologias ativas como
ferramenta para fazer educação em saúde visando a prevenção de infecção e agravos da COVID-19.
As ações de educação em saúde contribuem para empoderar os beneficiários diretos e indiretos no
intuito de mitigar a contaminação pelo SARS-CoV-2. Deve-se ressaltar que a participação dos
discentes em projetos de extensão aprimora a sua formação e os desafia, no campo de sua atuação
profissional, com práticas que vão além da sua formação acadêmica de sala de aula, favorecendo a
interlocução entre ensino, pesquisa e extensão.
REFERÊNCIAS
RESUMO
A diversidade e abundância da flora brasileira tornam comum o uso de plantas medicinais como recurso terapêutico. A
utilização de compostos vegetais é hoje visada por muitas pessoas, em destaque, os óleos essenciais em função dos efeitos
aromaterapêuticos. Tendo em vista a procura cada vez maior da população brasileira pelo uso de plantas medicinais nos
últimos anos, o projeto de Extensão Ervas e Aromas reuniu extensionistas e membros da comunidade para a realização
da extração dos óleos essenciais e hidrolatos de capim limão e citronela em uma oficina prática. As oficinas foram
realizadas em dois dias. Os extensionistas e os participantes realizaram a coleta do material e a extração por arraste a
vapor no primeiro dia. No segundo dia de oficina, houve a confecção de velas aromáticas através do uso dos óleos
extraídos. Durante a extração, discussões foram realizadas a respeito da colheita, rendimento, formas de uso e
propriedades terapêuticas dos óleos essenciais selecionados. A extração por arraste a vapor resultou em 9 mL de óleo
essencial de capim limão e 8 mL de óleo essencial de citronela e cerca de 500 mL de hidrolatos para cada planta. Os
produtos da extração foram empregados em oficinas posteriores, nas quais os óleos essenciais foram utilizados para obter
velas aromáticas e os hidrolatos na composição de líquidos borrifadores de ambiente. A experiência prática das atividades
extensionistas desde a colheita das plantas, extração dos óleos e hidrolatos e a aplicação em produtos finais, mostrou-se
bastante atrativa, pois possibilitou compreender as etapas envolvidas no processo de extração, resultando na troca de
conhecimento e envolvimento dos participantes.
Experience report: Essential Oil and Hydrolate Extraction Workshop and the
possibilities of use with the products
ABSTRACT
The diversity and abundance of Brazilian flora make the use of medicinal plants as a therapeutic resource common. The
use of plant compounds is now targeted by many people, in particular, essential oils due to their aromatherapeutic effects.
In view of the growing demand of the Brazilian population for the use of medicinal plants in recent years, the Herbs and
Aromas Extension project brought together extension workers and community members to carry out the extraction of
1
Discente do curso Biomedicina na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Técnica em alimentos Universidade
Federal de Viçosa (2018). E-mail: daiany.moreira@sga.pucminas.br.
2
Discente do curso Biomedicina na PUC Minas. E-mail: karla.ramos@sga.pucminas.br.
3
Discente do curso Enfermagem na PUC Minas. Técnica em Química pelo Instituto Federal de Minas Gerais. E-mail:
maria.alcantara.1171821@sga.pucminas.br.
4
Discente do curso Enfermagem na PUC Minas. E-mail: vanessa.freitas.1142609@sga.pucminas.br.
5
Químico (Licenciatura e Bacharel / UFMG), Mestre em Ciência Tec. das Radiações, Materiais e Minerais (Centro de
Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear). Professor assistente da PUC Minas. E-mail: marcustolentino@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
500 Novo Humanismo, novas perspectivas
essential oils and hydrolates from lemongrass and citronella in a practical workshop. The workshops were held in 2 (two)
days. The extensionists and participants collected the material and extracted it by steam dragging on the first day, on the
second day of the workshop, aromatic candles were made using the extracted oils. During the extraction, discussions were
held regarding the harvest, yield, forms of use and therapeutic properties of the selected essential oils. Steam drag
extraction resulted in 9mL of lemongrass essential oil and 8mL of citronella essential oil and about 500mL of hydrolates
for each plant. The extraction products were used in later workshops, in which the essential oils were used to obtain
aromatic candles and the hydrolates in the composition of ambient spray liquids. The practical experience of extension
activities, from the harvest of plants, extraction of oils and hydrolates and application in final products, proved to be quite
attractive, as it made it possible to understand the steps involved in the extraction process, resulting in the exchange of
knowledge and involvement of the participants.
INTRODUÇÃO
Dessa forma, o projeto de extensão intitulado Ervas e Aromas busca aproximar alunos de
diversos cursos da área da saúde com o público em geral, para troca de conhecimentos e experiências
em relação ao uso de plantas medicinais e de proporcionar a popularização da fitoterapia.
O trabalho em questão tem como objetivo descrever a experiência vivenciada em duas oficinas
do projeto Ervas e Aromas, vinculado aos cursos de Enfermagem e Biomedicina da PUC Minas. As
oficinas abordaram de forma prática a extração de óleos essenciais por arraste a vapor e a obtenção
de hidrolatos, bem como a utilização destes produtos na confecção de velas aromáticas e líquidos
para borrifadores de ambiente.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Desde muito tempo, a humanidade utiliza plantas como forma de tratamento. Hoje, várias
pesquisas conseguiram comprovar as propriedades medicinais dessas plantas e estabeleceram
indicação, dose apropriada e o modo de uso dessas plantas. Um exemplo da utilização dessas plantas
são os óleos essenciais (OE), que são compostos naturais caracterizados pelo seu aroma, através dos
metabólitos secundários de plantas medicinais, também podem ser conhecidos como óleos etéreos,
óleos voláteis ou somente como essenciais. São compostos por misturas complexas como terpenóides
voláteis, que apresentam aspectos odoríferos, líquidos e oleosos à temperatura ambiente.
(NASCIMENTO; PRADE, 2020).
Segundo Santo et al. (2020), durante a extração do OE, é possível observar a formação de um
produto secundário, o hidrolato, substância aquosa, hidrossolúvel que contém componentes também
extraídos da planta.
Segundo Oliveira et al. (2022), os hidrolatos possuem propriedades que permitem sua
utilização medicinal, suas propriedades podem agregar na indústria farmacêutica como
antimicrobianos, antioxidantes, antifúngicos e analgésicos. No entanto, os hidrolatos extraídos
juntamente com os óleos essenciais são frequentemente descartados.
Para Nascimento e Prade (2020), a utilização dos OE é importante para auxiliar no tratamento
de várias enfermidades, destacando seu uso principalmente nas Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS). Dentre as inúmeras formas de utilização dos óleos essenciais e
hidrolatos, podemos citar a aromaterapia.
A aromaterapia é utilizada desde o alívio dos sintomas de algumas doenças, como melhoria
dos sintomas de doenças respiratórias, melhorando as trocas gasosas e atuando na musculatura
EXTENSÃO PUC MINAS:
502 Novo Humanismo, novas perspectivas
brônquica, melhorando a congestão nasal e proporcionando alívio ao respirar. Ela atua também na
saúde mental do indivíduo, através do relaxamento do sistema nervoso, tendo resultados que
promovem tranquilidade, equilíbrio emocional, diminuição do estresse e ansiedade.
Os dois tipos de óleos essencial foco deste trabalho foram o de Citronela (Cymbopogon
nardus) e de Capim limão (Cymbopogon citratu). Estudos mostram uma diversidade considerável
de aplicação dos óleos, desde aromaterapia a propriedades inseticidas e antifúngicas. A Citronela
(Cymbopogon nardus) possui propriedades inseticidas e antifúngicas, sendo uma alternativa natural
na agricultura e no combate de doenças tropicais transmissíveis como no combate ao mosquito Aedes
Aegypti (BORGES et al, 2020).
O Capim limão (Cymbopogon citratu) é uma planta muito conhecida pela população brasileira
pelas suas propriedades curativas, além de ser muito aromático. Possui propriedades como calmante
diurético e inseticida. O OE extraído dessa planta tem propriedades antimicrobiano, antitérmica,
auxilia na digestão e também é utilizado para tratar a insônia (SABOIA et al, 2022).
No processo de extração por arraste a vapor, a água destilada assume um papel importante
para extrair o OE e o hidrolato, uma vez que as propriedades físico-químicas do óleo são preservadas.
No processo que utiliza solventes orgânicos, pode ocorrer a alteração da composição química e das
propriedades físicas, como o pH. Durante a extração a vapor, a água é adicionada anteriormente à
matéria-prima e ao entrar em ebulição as moléculas de água interagem com as substâncias aromáticas
voláteis da espécie vegetal arrastando-as. O vapor segue para o condensador e é resfriado, assumindo
o estado liquido. Posteriormente, ele é coletado em um recipiente onde o hidrolato, mais denso, é
depositado no fundo do recipiente, enquanto os óleos essenciais menos densos formam um
sobrenadante. (VALENTIM; SOARES, 2017)
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Dessa forma, pôde-se observar durante esse processo, um dos objetivos centrais da prática
extensionista se concretizando, a troca de conhecimento entre a Universidade e a sociedade ao seu
redor, de maneira que os alunos possam aprender com eles e vice-versa.
Além disso, foi possível demonstrar para os participantes de forma prática, o motivo do valor
relativamente alto do óleo essencial, já que a quantidade de planta necessária para sua extração não é
proporcional à quantidade de óleo, de forma que uma grande quantidade de planta rende apenas
alguns mililitros (mL) de OE, como ilustram as figuras 2 e 3, em que se observa uma comparação
entre a quantidade de planta utilizada e a quantidade de óleo essencial obtido. No caso da prática,
foram gerados cerca de 8-9 mL de óleo essencial e cerca de 500 mL do hidrolato.
Contudo, algumas limitações da prática devem ser apontadas, como o fato de não ter sido
pesada a quantidade de plantas utilizadas na extração dos óleos, impossibilitando a realização de
cálculos de rendimento e proporcionalidade e, também o fato de que o equipamento utilizando na
oficina é próprio de um laboratório, dificultando que a experiência seja reproduzida em casa.
De modo geral, percebeu-se a disposição dos participantes em se envolverem no processo de
obtenção do OE, fazendo perguntas e até apontamentos com base em seus conhecimentos prévios,
assim como o interesse por estarem dentro de um laboratório. Observou-se também a satisfação dos
participantes ao levarem para casa um dos produtos gerados na oficina, o hidrolato.
EXTENSÃO PUC MINAS:
506 Novo Humanismo, novas perspectivas
As velas aromáticas são um dos recursos que compõem a aromaterapia, sendo esta uma prática
terapêutica que utiliza as propriedades dos óleos essenciais para recuperar o equilíbrio e a harmonia
do organismo, visando à promoção da saúde física e mental. Dessa forma, a extração realizada nos
possibilitou produzir, em conjunto com os participantes, uma ferramenta terapêutica integrativa e
fácil de ser reproduzida em casa, podendo até mesmo ser utilizada como uma alternativa de renda.
(NASCIMENTO; PRADE, 2020).
Como citado anteriormente, no dia da prática da extração, os participantes puderam levar para
casa o hidrolato resultante do experimento. No mesmo dia dessas oficinas de extração, foram
apresentadas algumas sugestões de utilização para aquele produto: aromatizador de ambiente e
repelente corporal, no caso da citronela, que é uma planta muito utilizada para esta finalidade, até
mesmo como um repelente natural eficiente contra o mosquito da Dengue (Aedes aegypti), como
apontam alguns estudos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 507
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar a ampla aplicabilidade dos óleos essenciais e dos hidrolatos, bem como o
processo da extração e a proporção entre a quantidade de plantas e o volume final de óleo. Além
disso, ficou evidente o quanto a interação do público com um projeto prático é mais satisfatória do
que quando este é exposto somente a atividades teóricas.
Dessa forma, ressaltamos o quanto essa vivência prática, tanto pelos alunos dos cursos da área
da Saúde, bem como pelo público em geral, é importante para ajudar nesse processo de popularização
e conhecimento da utilização de plantas e produtos naturais com foco na aplicação medicinal.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 509
RESUMO
O Estágio Extracurricular no Pronto-Socorro de uma associação filantrópica do sul de Minas Gerais / Brasil, foi
experienciado por discentes de Medicina de uma Liga Acadêmica de Urgência e Emergência e médicos voluntários,
responsáveis pelo plantão. O objetivo deste relato é defender uma assistência baseada em cuidados paliativos, emergência
e manejo de dor em unidades hospitalares porta-aberta para pacientes oncológicos. O tratamento inadequado associado à
pormenorização do sintoma e encaminhamentos ao sistema de saúde permanecem como entraves aos diagnósticos
diferenciais e à qualidade de vida diante de uma neoplasia. Torna-se necessário o investimento em equipes teórica e
tecnicamente preparadas quanto à analgesia e diferenciação das dores crônicas e agudas nos prontos-socorros, além do
acompanhamento multidisciplinar dos pacientes com câncer.
ABSTRACT
The Extracurricular Program in the emergency room of a philanthropic association in the south of Minas Gerais / Brazil,
was experienced by medical students from an Academic League of Urgency and Emergency and volunteers, responsible
for the planting. The purpose of the report is to advocate an emergency based on palliative care, and management of open-
door hospital units for cancer patients. The treatment appropriate to the life of a distinction and the attention to the quality
system of health detailed as the life problems of a distinct neoplasm. It is necessary to invest in theoretically anda
technically prepared teams for analgesia and acute pain in patients diagnosed with cancer.
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: deboraroveron@hotmail.com.
2
Graduando em Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: ilgantos999@gmail.com.
3
Mestra em Hemoterapia. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: cibeleangelica@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
510 Novo Humanismo, novas perspectivas
diferentes especialidades; pesquisa, por meio da parceria com comissões científicas de congressos e
incentivo à submissão de trabalhos; e extensão, pelo estágio não obrigatório de urgência e emergência
em uma associação filantrópica no Sul do Estado.
A experiência extracurricular possibilitou a percepção da organização assistencial,
atendimento e manejo da dor de pacientes oncológicos admitidos no Pronto-Socorro de uma unidade
hospitalar considerada porta de entrada regional.
Este relato, além de defender uma assistência baseada no conhecimento teórico e prático em
cuidados paliativos e emergência, objetiva destacar a necessidade de um olhar sobre a identificação
e tratamento das dores, agudas e crônicas, pelos hospitais e escolas médicas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A dor é definida como "uma experiência sensorial e emocional desagradável relacionada com
o dano real ou potencial de algum tecido ou que se descreve em termos de tal dano" (PIMENTA,
1999, p. 11). Descrita em 66% dos pacientes com neoplasias e 80% em seu último ano de vida, pode
ser classificada, segundo o International Association for the Study of Pain (IASP, 2022) como
neuropática, se causa dano ao sistema nervoso somatossensorial; nociceptiva visceral ou somática,
devido à lesão ou ameaça aos tecidos não neurais, ou mista (FINNERUP et al., 2016; PIDGEON et
al., 2016; VAN DEN BEUKEN-VAN EVERDINGEN et al., 2016).
O padrão-ouro para avaliação é sua intensidade, sendo a Escala Numérica de Avaliação da
Dor a mais frequente (SWARM et al., 2013). Classifica-se, também, pela localização anatômica,
início, tempo e variação temporal, caráter, radiação, fatores associados de agravamento e alívio, além
da gravidade (CARACENI; SCHKODRA, 2019).
Somado a isso, um aumento transitório de intensidade da dor, definido como irruptiva, pode
ser desencadeado espontaneamente, apesar do tratamento com medicamentos opioides e quadro de
estabilidade da dor crônica. Por conseguinte, todos devem ser avaliados quanto à presença dessa,
ainda que episódica e tratados com os remédios de ação rápida ou curta em doses de resgate
(CARACENI et al., 2013; FALLON, et al., 2018; PORTENOY; HAGEN, 1990; CARACENI;
SCHKODRA, 2019).
Não existe, ainda, uma classificação da dor como prognóstico, aceita universalmente, para
pacientes com câncer (FAINSINGER et al., 2010; KNUDSEN et al., 2011; KNUDSEN;
BRUNELLI; KLEPSTAD, 2012). Nesse sentido, os Cuidados Paliativos, prática surgida no Reino
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 511
Unido na década de 1960, auxiliam quanto à prevenção e controle dos sintomas de pacientes com
doenças ameaçadoras da vida, e abordam, de forma integrativa, familiares e equipe de saúde
(MATSUMOTO et al., 2012).
Por meio das ações paliativistas, as estratégias de estratificação definem a conduta e se
classificam em cuidado paliativo precoce, complementar, predominante ou exclusivo, segundo a
doença que ameaça a vida, status funcional e prognóstico conforme Instituto de Saúde e Gestão
Hospitalar (ISCH, 2014).
A melhor analgesia e qualidade de vida em paliação oncológica dependem, portanto, de
profissionais formados em cuidados paliativos, como médicos paliativistas, enfermeiros,
fisioterapeutas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fonoaudiólogos,
psicólogos e farmacêuticos (CARDOSO et al., 2013; SAMPAIO; MOTA; CALDAS, 2019).
Entretanto, não há uma orientação curricular de inserção da temática dos Cuidados Paliativos nos
cursos de graduação em Medicina no Brasil, apesar dos pontos em comum entre as atuais Diretrizes
Curriculares Nacionais e as prerrogativas deste campo de atuação (PINELI et al., 2016).
Diante da dor irruptiva ou dor oncológica indevidamente tratada, muitos pacientes podem
necessitar dos serviços de urgência e emergência. Todavia, os Prontos-Socorros (PS) são, em sua
maioria, compostos por médicos recém-formados ou com treinamento em outras especialidades, que
buscam aumentar a renda mensal (MACHADO et al., 2016). A escassez de médicos treinados em
emergência é significativa, não sendo viável ter apenas médicos formais de medicina de emergência
nas unidades de atendimento (OLIVEIRA JUNQUEIRA E SILVA et al., 2021).
Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE, 2022), em 2020,
apenas 192 médicos eram especialistas em Medicina de Emergência e a proporção estimada de
preceptores com residência anterior ou certificação na área foi inferior a 20% dentre 35 programas de
residência em hospitais de ensino pesquisados por Herpich e colaboradores (2021). Por essa razão, o
Pronto-Socorro, campo do estágio extracurricular, reflete o panorama nacional no que tange à
composição profissional dos plantões, manejo inadequado da dor irruptiva e oncológica, além da
deficiência dos Cuidados Paliativos na orientação curricular de preceptores e ligantes.
3 METODOLOGIA
oncológicos de 81 cidades, assistidos pela Rede de Alta Complexidade local. A experiência, como
prática extensionista não obrigatória, possibilitou, entre 27 de setembro de 2021 a 01 de fevereiro de
2022, o atendimento supervisionado aos pacientes dos serviços de urgência, emergência e pronto-
atendimento, no que tange aos aspectos relativos à anamnese, exame físico, diagnóstico, conduta e
ética médica.
Os discentes foram organizados em horários específicos, junto a preceptores responsáveis
que, voluntariamente, disponibilizaram seu tempo e conhecimento para acompanhá-los nos serviços
de emergência e pronto-atendimento. Concomitante à propedêutica médica, os procedimentos
realizados pelos ligantes, dentre 18 relatos, foram: acesso venoso central, acesso venoso periférico,
intubação orotraqueal, sondagem vesical de demora, cardioversão elétrica da fibrilação atrial,
eletrocardiografia e paracentese abdominal.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Em 1986, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou seu primeiro protocolo sobre o
manejo da dor oncológica, comprovando alívio de 70% a 90% dos casos com o método. Segundo o
documento, as medicações devem ser prescritas, regularmente, em horário pré-determinado e não à
livre demanda; ademais, a via de administração deve ser oral, seguida por sublingual, subcutânea e,
por fim, venosa, não devendo ser utilizada a via intramuscular (VENTAFRIDDA et al., 1987;
MERCADANTE; FULFARO, 2005; VARGAS-SCHAFFER, 2010; OMS, 2002).
O protocolo, criado inicialmente para pacientes terminais, e, atualmente, utilizado para todos
os pacientes com dor, determinou uma escada analgésica de intensidade, classificando-a como leve
(degrau 1), moderada (degrau 2) ou severa (degrau 3) (ANEKAR; CASCELLA, 2022). No degrau 1,
o tratamento consiste em medicamentos não opioides isolados ou em associação, por via oral. No
degrau 2, ocorre a inclusão de um opioide fraco e, no degrau 3, substituição por opioides fortes, em
consonância com os não opioides. Alguns autores adicionam o degrau 4, na falha das demais
terapêuticas, por meio de fármacos pela via espinhal, bloqueios nervosos, estimulação elétrica e
cirurgias (CUOMO et al., 2019).
A dor era a queixa mais comum no PS, mas, muitas vezes, pormenorizada pelas equipes.
Alguns profissionais relataram que os pacientes se tornavam adictos em opioides, como a morfina, e,
por essa razão, baseariam a terapêutica na prescrição de analgésicos fortes, diluídos e por via
intravenosa.
No caso das admissões por possíveis doenças agudas, a principal hipótese diagnóstica
circundava, ainda, a cronicidade da dor oncológica, uma vez que a unidade hospitalar também não
tria os pacientes oncológicos nas cores amarela ou laranja, conforme gravidade e risco da
apresentação clínica, segundo Protocolo de Manchester (SACOMAN et al., 2019). Portanto, a
emergência poderia se tornar um diagnóstico diferencial e secundário.
Segundo a literatura, os PS perpetuam problemas infraestruturais e subjetivos devido ao pouco
contato dos discentes com a especialidade, durante a graduação, formação em escolas sem ensino de
Medicina de Emergência ou seu conhecimento, alunos em pronto-atendimento sem supervisão, falta
de especialistas ou equipe treinada em medicina de emergência, além de uma exposição irregular à
área (JADETE; BICUDO, 2014; RODERJAN et al., 2021; AGUIAR et al., 2011). Tais erros,
somados à deficiência na avaliação e tratamento da dor, podem contribuir para o tempo de internação
e morbidade (LAGO, 2013).
A Associação Filantrópica atende 81 cidades, assistidas pelo Centro Oncológico de Alta
Complexidade local. Muitos pacientes oncológicos, após o término do tratamento curativo para a
EXTENSÃO PUC MINAS:
514 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 517
RESUMO
Os traumas decorrentes de acidentes de trânsito são considerados um problema de saúde pública em virtude de sua alta
prevalência e das consequências que eles acarretam. Assim, o presente projeto de Extensão tem como objetivo a promoção
da conscientização sobre os riscos e consequências da direção junto ao consumo de álcool. O projeto é formado por equipe
interdisciplinar envolvendo docente e acadêmicos dos cursos de Medicina, Jornalismo e Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). A base do projeto é o programa P.A.R.T.Y. (Prevenção do Risco
de Trauma Relacionado ao Uso de Álcool na Juventude), que visa a realização de atividades socioeducativas para a
diminuição de fatores de risco e prevenção de traumas de trânsito entre a população jovem. Esta ação educativa foi
realizada pelo grupo extensionista em parceria com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) e
teve como público-alvo alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio e professores de escolas públicas de Campinas
- SP. A região escolhida foi a Avenida John Boyd Dunlop e as escolas foram previamente selecionadas pela empresa
EMDEC. Foram realizadas palestras educativas sobre travessia segura, cinto de segurança e uso de álcool, além de relatos
de experiências de pacientes atendidos pelos alunos extensionistas no hospital universitário da PUC-Campinas. Por fim,
ressaltou-se a importância de realizar ações semelhantes nas escolas durante projetos de extensão, visto que, após a
realização deste presente programa, observou-se entendimento dos alunos a fim de atuarem como multiplicadores do tema
na comunidade.
ABSTRACT
Trauma caused by traffic accidents is considered a public health problem due to its high prevalence and consequences.
Thus, this extension project aims to raise awareness of the risks and consequences of driving with alcohol consumption.
The project is formed by a multidisciplinary team involving professors and academics from the Medicine, Journalism and
Psychology courses at the Pontifical Catholic University of Campinas (PUC-Campinas). The basis of the project is the
P.A.R.T.Y. (Prevention of the Risk of Trauma Related to the Use of Alcohol in Youth), which aims to carry out socio-
educational activities to reduce risk factors and prevent traffic trauma among the young population. This educational
1
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas).
E-mail: juliana.tps@puccampinas.edu.br.
2
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da PUC-Campinas. E-mail: bruna.ff2@puccampinas.edu.br.
3
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da PUC-Campinas. E-mail: julia.basb@puccampinas.edu.br.
4
Graduado em Medicina em 1996, Especialista em Cirurgia Geral; Especialista em Coloproctologia; Especialista em
Cirurgia do Trauma; Mestre em Ciências; Doutor em Medicina. Professor da PUC-Campinas. E-mail:
jsimoes@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 519
action was carried out by the extension group in partnership with EMDEC - Municipal Development Company of
Campinas - and had as target audience students from Elementary School II and High School and teachers from public
schools in Campinas - SP. The chosen region was John Boyd Dunlop Avenue and the schools were previously selected
by the EMDEC company. Educational lectures were held on safe crossings, seat belts and drinking alcohol, besides the
reports of experiences of patients attended by extension students at the university hospital of PUC-Campinas. Finally, the
importance of carrying out similar actions in schools during extension projects was highlighted, since, after carrying out
this present program, students' understanding was observed in order to act as multipliers of the theme in the community.
INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
A ação educativa promovida em parceria entre o grupo extensionista, composto por discentes
dos cursos de Medicina, Psicologia e Jornalismo da PUC Campinas, e a EMDEC ocorreu no dia 31
de maio de 2022 e recebeu o nome de Dia D de Conscientização sobre Segurança Viária. Essa
iniciativa fez parte do programa Maio Amarelo, uma campanha mundial que visa atentar a população
para a alta quantidade de óbitos e feridos no trânsito, e promover medidas com o intuito de prevenir
acidentes e promover a segurança.
A escolha da região de escolas ocorreu de forma prévia pela empresa EMDEC. Foram
considerados os critérios epidemiológicos sobre os acidentes de trânsito na região da Avenida John
Boyd Dunlop, local em que ocorreram o maior número de vítimas fatais por acidentes de trânsito na
cidade de Campinas (EMDEC, 2020). Além disso, optou-se por colégios públicos e particulares de
Ensino Fundamental II e Ensino Médio, a fim de atender a faixa etária de jovens mais afetados por
acidentes automobilísticos e que obtiveram a Carteira Nacional de Habilitação recentemente ou estão
prestes a obtê-la.
As escolas participantes da ação foram: E.E. Prof.ª Glória Aparecida Rosa Viana e E.E.
Tenista Maria Esther Bueno, no Cidade Satélite Íris; E.E. Prof. Carlos Alberto Galhiego, no Jardim
Santa Clara; EMEF EJA Prof.ª Sylvia Simões Magro, no Jardim Ipaussurama; E.E. Prof.ª Hercy
Moraes, na Vila Perseu Leite de Barros; E.E. Prof. Carlos Lencastre e Colégio Raphael di Santo, no
Jardim Garcia; E.E. Ruy Rodriguez, no Parque Itajaí; e E.E. Prof. Elcio Antonio Selmi, no
Residencial Cosmos, nos períodos da manhã, tarde e noite. Em cada uma das escolas, foram
envidados representantes da EMDEC e estudantes da PUC-Campinas (imagem 1 e 2). Ao todo, 10
alunos extensionistas participaram da ação.
A identidade visual do Dia D foi planejada pela EMDEC, que elaborou camisetas
personalizadas para os agentes da empresa e alunos do Projeto de Extensão e banners que foram
colocados nos arredores das escolas. Ao final da ação, foram sorteadas duas camisetas de brinde para
dois alunos de cada turma que participaram da discussão.
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
de trauma automobilístico, sobre os impactos do acidente a longo prazo da vida das vítimas
sobreviventes e foram colocadas em pauta também questões sobre a falta de acessibilidade nas ruas,
evidenciando o aumento de conhecimento dos estudantes após a realização da ação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
O projeto de extensão Click Verde da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) aborda a educação ambiental através
da fotografia utilizando como ferramenta a educomunicação em oficinas com alunos de ensino médio de escolas públicas.
Durante o período de distanciamento social da pandemia de coronavírus, o projeto manteve seus atendimentos de forma
remota ao apoderar-se de tecnologias de informação e comunicação. Com a flexibilização das normas de distanciamento,
o projeto retornou ao atendimento presencial, e uma escola em específico chamou a atenção, pois o projeto, que até então
atendia somente escolas da capital, passou a aceitar escolas de outras cidades, já que a fronteira física foi rompida através
do digital. No retorno do presencial essa mesma escola recebeu o projeto in loco, portanto, o objetivo do presente relato
é apresentar a experiência da extensão no formato híbrido, remoto e presencial, e apresentar as diferenças observadas pela
equipe tanto na parte dos estudantes quanto dos próprios extensionistas.
ABSTRACT
The Click Verde UCDB extension project addresses environmental education through photography using
educommunication as a tool in workshops with high school students from public schools. During the period of social
distancing of the coronavirus pandemic, the project maintained its services remotely by taking hold of information and
communication technologies. With the relaxation of distancing rules, the project returned to in-person service, and one
school in particular drew attention because the project that until then only served schools in the capital, started to accept
schools from other cities, as the physical border was broken through digital means. Upon returning from the classroom,
this same school received the project in loco, therefore, the objective of this report is to present the experience of the
extension in the hybrid, remote and classroom format, and to present the differences observed by the team both on the
part of the students and the extensionists themselves.
1
Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail: Ra190589@ucdb.br
2
Professor Orientador do Projeto de extensão Click Verde da UCDB. E-mail: rf3248@acad.ucdb.br
3
Acadêmica do curso de publicidade e propaganda da UCDB. E-mail: Ra186588@ucdb.br.
4
Acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda da UCDB. E-mail: Ra189330@ucdb.br.
5
Acadêmica do curso de Design da UCDB. E-mail: Ra190347@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
526 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
demonstra que com o uso da tecnologia, como computadores, aparelhos celulares e softwares
gratuitos, é possível realizar a prática extensionista além das fronteiras geográficas e atender públicos
de outras regiões, como o caso de cidades do interior.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A importância de levar conhecimento sobre meio ambiente é conscientizar desde cedo novas
gerações sobre a importância da preservação ambiental, que envolve a conscientização dos indivíduos
sobre os problemas ambientais, de como ajudar a combatê-los, conservando as reservas naturais e
não poluindo o meio ambiente:
Melhor, então, é enxergar esse momento não como de perdas, mas como de possibilidades
de novas articulações, novas identificações, novas perspectivas de ação no mundo, pois se
amplia o limite de ação e a possibilidade de novas escolhas, com liberdade e responsabilidade
pelas consequências. (MANSOLDO, 2012, p.23).
A preservação do meio ambiente depende muito da forma de atuação das gerações presentes
e futuras, e o que estão dispostas a fazer para diminuir o impacto ambiental das suas ações. Por esse
EXTENSÃO PUC MINAS:
528 Novo Humanismo, novas perspectivas
motivo, a educação ambiental é de extrema importância e deve ser abordada nas escolas, para que
todos os membros da sociedade desenvolvam uma consciência ambiental e tenham atitudes
responsáveis em relação ao meio ambiente.
3 METODOLOGIA
Segundo Ismar Soares (2012, p. 52), a educomunicação é “um conjunto das ações inerentes
ao planejamento, implementação e avaliação de processo, programas e produtos destinados a criar e
a fortalecer ‘ecossistemas comunicativos’”. O autor entende que a estratégia é importante para o
ensino por proporcionar não somente o uso da tecnologia, mas por abrir um espaço amigável e de
convívio humano. Este recurso tem permeado as ações do Click Verde, pois, ao utilizar a fotografia
para o ensino da educação ambiental, a experiência dos educandos tende a se tornar mais receptiva.
Por conta da pandemia, os contatos com as escolas atendidas passaram a ser realizados de
forma remota, fato que facilitou a inserção de estabelecimentos de ensino de outros municípios. Foi
assim que a Escola Estadual Eduardo Batista Amorim, de Ribas do Rio Pardo, distante 97 quilômetros
de Campo Grande (MS), foi inserida.
Em 2021, o projeto atendeu a presente escola de forma remota e com atividades síncrona e
assíncrona. Primeiro, foram realizados encontros virtuais, por meio do Google Meet, em que os
estudantes participaram de maneira individual em suas residências com acompanhamento da
professora responsável. Os extensionistas, orientados pelos docentes da universidade, apresentaram
teorias sobre meio ambiente, comunicação, e manuseio de máquinas fotográficas, bem como o uso
de câmeras de celulares. Nesta etapa, os estudantes das diferentes áreas do conhecimento Ciências
Biológicas, Design, Jornalismo e Publicidade Propaganda, trabalharam de forma interdisciplinar, ou
seja, a ação foi desenvolvida de forma dialógica, envolvendo as habilidades de cada área participante.
A fase assíncrona da ação ocorreu como uma atividade prática para os alunos do ensino médio.
Foi criado um grupo no aplicativo de mensagem WhatsApp para que fossem trocadas mensagens de
forma assíncrona auxiliando os estudantes quanto à prática fotográfica.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 529
Ao final do atendimento, cada aluno ficou com a tarefa de enviar fotos de natureza com
registros de aspectos positivos e negativos que encontrassem na região em que vivem. As fotos foram
enviadas no grupo de WhatsApp e, com elas, realizou-se exposição fotográfica virtual através do site
gratuito do Google Sites em que os alunos pudessem ver a análise do projeto com suas fotos.
Já no ano de 2022, com a liberação do atendimento presencial na comunidade, o projeto
retomou a oficina com a mesma turma e mais alguns participantes, mas de maneira in loco. O projeto
custeou com recursos próprios o translado até a cidade, cerca de 97 quilômetros.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Por último, outra importância de ter aplicado a oficina de forma presencial foi proporcionar a
oportunidade de os alunos extensionistas do projeto Click Verde de vivenciar uma experiência fora
de sua cidade e conhecer mais outras realidades, eles descobriram novidades sobre a cidade de Ribas
do Rio Pardo. Além de fazer os extensionistas sentirem na pele a responsabilidade e disciplina para
se portar em um lugar desconhecido e ter a sensação de independência.
Figura 4 - Foto tirada por uma aluna que Figura 5 - Foto tirada por uma aluna que
participou das oficinas. participou das oficinas
Fonte: Lauviah Zacarias. Latas de cerveja largadas Fonte: Raquel Longo Lacerda.
em um terreno abandonado perto de sua casa. Uma linda muda dentro de sua casa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ganho que não é possível quantificar, mas tem relação com a vivência, que são as conexões
estabelecidas no contato direto com os alunos que se demonstraram seguros para tirar dúvidas e
acrescentar apontamentos.
O convívio do ser humano com o meio ambiente precisa ser remediado com práticas
sustentáveis que projetam um futuro melhor para a sociedade. A extensão universitária é parte
fundamental para essa realização. As tecnologias como ferramentas de educomunicação auxiliam na
aproximação com os estudantes.
É importante destacar que o atendimento à comunidade, embora entendida como prática
presencial, é possível trabalhar de forma híbrida, ao mesclar a abordagem remota e presencial,
síncrona e assíncrona, a fim de ganhar novos públicos e expandir o alcance do trabalho da extensão
acadêmica dentro e fora da universidade, cada vez mais fora, até em outras cidades.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm Acesso em: 15 maio
2022.
DIAS, Karla F. Abordagem ambiental nos livros didáticos de química aprovados pelo
PNLEM/2007: princípios da Carta de Belgrado. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação em
Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/Seb/Arquivos/Pdf/Cbelgrado.Pdf. Acesso em: 15 maio 2022.
MANSOLDO, Ana. Educação ambiental na perspectiva da ecologia integral - Como educar
neste mundo em desequilíbrio? Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2012. E-book. ISBN
9788565381505. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788565381505/. Acesso em: 15 set. 2022.
QUINTAS, José Silva. A educação no processo de gestão ambiental. In: Educação Ambiental no
Brasil. (salto para o futuro), Ano XVIII boletim 01, 2008. (30 – 40 p.)
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação - o conceito o profissional a aplicação: contribuições
para a reforma do ensino médio. São Paulo: Paulinas, 2012. (Coleção educomunicação).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 533
RESUMO
A extensão universitária surge com o propósito de levar o conhecimento e a vivência universitária para fora dos muros
da universidade e as oficinas são a maneira que esse conhecimento é difundido e aplicado. Este trabalho apresenta o relato
de experiência de uma oficina chamada “Ervas no manejo da dor”, do projeto Ervas e Aromas junto a um grupo de pessoas
(adultos e idosos), na intenção de discutir informações acerca da dor e do alívio dela, promovendo mais qualidade de
vida. Os relatos dos participantes acerca da oficina foram positivos e demonstraram o real potencial das ervas e aromas
no cuidado holístico da saúde e promoção de melhor qualidade de vida.
RESUMEN
La extensión universitaria surge con el propósito de llevar el conocimiento y la experiencia universitaria fuera de los
muros de la universidad, los talleres son la forma en que se difunde y aplica este conocimiento. Este trabajo presenta un
relato de experiencia de un taller denominado “Hierbas en el manejo del dolor” del proyecto Hierbas y Aromas junto al
proyecto PUC Mais Age, destacando informaciones con el objetivo de promover el alivio del dolor y la calidad de vida.
Demostrando cómo se puede difundir el conocimiento de forma dinámica, con retroalimentación y resultados
satisfactorios por parte de los integrantes de las extensiones.
1
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: giovana.maria@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: larissa.belo@sga.pucminas.br.
3
Graduando em Medicina pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mariana.cavaliere@sga.pucminas.br.
4
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: matheuspatrick62@gmail.com.
5
Professora da PUC Minas, Campus Betim. E-mail: julianaladeira@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
534 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, muito tem se discutido sobre o uso de plantas e ervas medicinais e a eficácia
no tratamento de malefícios para a saúde. O uso delas vem desde os séculos antigos, sendo
considerado uma medicina tradicional. De certa forma, culturalmente, passou-se, de geração em
geração, os conhecimentos acerca dessas ervas, uma vez que o homem primitivo sempre buscou na
natureza soluções para diversos males que o assolavam. Tal assunto causa muita dúvida na população,
pois a validação do conhecimento tradicional pelo meio científico ainda está em desenvolvimento.
O uso terapêutico de plantas medicinais ainda é relativamente recente, resgatado no meio
científico, não contrapondo a medicina alopática, mas complementando as práticas de saúde, nas
décadas de 80 e 90, emergindo diante de várias mudanças políticas, econômicas e de saúde
(APARECIDA et al. 2006).
A relação entre o homo sapiens e as plantas não é catalogável em termos históricos, tal é a
profundidade da sua coexistência! Estudos arqueológicos permitiram calcular que as plantas
são utilizadas com objetivos medicinais há cerca de 60.000 anos e documentos sumérios
datados de cerca de 5000 a.C. (LIMA, 2013, p. 1).
Por isso, a utilização de plantas medicinais na saúde se relaciona com uma sabedoria antiga
com práticas legitimadas ao longo do tempo, sendo esses conhecimentos teóricos e práticos
disseminados pelo senso comum, porém fortalecidos com o saber científico. Na atualidade, as plantas
com propriedades terapêuticas estão sendo estudadas cientificamente com todo o rigor, sendo
aplicadas em pesquisas e também na atuação dos profissionais de saúde, inclusive na enfermagem.
Trazendo, assim, um grande potencial de validação desses conhecimentos. (APARECIDA et al.,
2006).
Desde o século XX, derivado do projeto tecno-científico ocorrido na época, tem-se a análise
química de componentes das plantas e as possibilidades de síntese de novas moléculas, o que
possibilitou grandes descobertas no mundo atual, como, por exemplo, a extensa cadeia dos
medicamentos alopáticos, que são a base de tratamentos da medicina convencional. Dessa forma, o
resgate de práticas tradicionais tem grande potencial em pesquisas, pois o natural tem sido mais
valorizado na comunidade, abrangendo, assim, diversas cadeias tecnológicas, incluindo o mercado
da beleza, alimentação, saúde e afins (LIMA, 2013).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 535
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
decocção, a adição de partes duras da planta em água natural e fervura posterior por cerca de 10
minutos, e a infusão, a fervura da água, a adição das partes sensíveis da erva e, após a retirada da
fonte de calor, abafamento por cerca de 10 minutos (MICHAUD, 2013).
Na oficina realizada sobre manejo da dor, retomaram-se conceitos importantes anteriormente
já trabalhados, além de abordar conceitos específicos para o tema proposto. Percebeu-se que os
participantes da comunidade se dispuseram a experimentar novos métodos e tivemos resultados
positivos sobre a utilização do método.
3 METODOLOGIA
Para realizar a oficina da extensão, foram utilizados artigos sobre a temática, apoiando-se na
legislação sobre o uso de ervas na saúde, em documentos como a da Secretaria de Saúde de Santa
Catarina (ANO) e a cartilha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ANO), que apresentam
informações confiáveis e validadas a partir de evidências científicas.
Já para a produção do relato de experiência, além das bibliografias utilizadas na construção
da oficina, também se buscou literatura que mobilizasse conhecimentos da área, bem como a
validação das práticas.
Diante disso, produziu-se, desde a preparação para a oficina até o relato de experiência, com
muito embasamento e cuidado em seus referenciais. Articularem-se diversas fontes, como pesquisas
quantitativas e qualitativas, dados da Organização Mundial de Saúde, recomendações de parlamentos
diferentes, entre outros, para que este fosse amplamente validado em suas afirmações e práticas, pois,
o intuito principal é o aprendizado, seja dos extensionistas, seja dos beneficiários do projeto,
agregando sempre conhecimento e novos saberes tanto para a comunidade acadêmica, como para a
comunidade externa à universidade
Este relato aborda um encontro promovido pelo grupo interdisciplinar do projeto de extensão
denominado “Ervas e Aromas” com o tema: “Ervas que podem auxiliar no manejo da dor”,
desenvolvendo o encontro, as percepções dos indivíduos responsáveis da oficina, bem como a
avaliação dos participantes/beneficiários.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 537
A temática escolhida para a oficina iniciou-se a partir de uma reunião dos extensionistas ao
começo do projeto, no início do primeiro semestre de 2022, por meio de um brainstorming de temas
centrais para as oficinas. Após esse encontro, durante as primeiras oficinas, os beneficiários foram
consultados, estabelecendo os eixos de assuntos a serem trabalhados ao longo do projeto. A dor é
uma sensação presente durante todas as fases de vida, seja decorrente de traumas, seja de processos
inflamatórios, por isso ocorreu aos extensionistas a importância de se trabalhar formas naturais e
acessíveis de lidar com processos dolorosos.
A oficina foi realizada em maio de 2022 em uma das salas do campus da PUC Minas Betim.
Alunos dos cursos de Biomedicina, Enfermagem e Medicina foram os idealizadores e facilitadores
do encontro multidisciplinar, mediando a discussão sobre os diversos usos de ervas com efeitos
analgésicos e contribuindo com informações baseadas em evidências científicas. Além disso, também
contou com a participação de adultos e idosos beneficiários do projeto.
A partir de uma premissa da instituição, entende-se que a extensão universitária, gênese do
grupo mediador da oficina, é “indispensável na relação com a sociedade extramuros da Universidade,
a Extensão se apresenta como uma ferramenta importante para a democratização da Universidade e
dos saberes que nela são produzidos” (PIRES DA SILVA, 2020, p. 21), por isso, a oficina foi pensada
para valorizar a participação dos beneficiários, incentivando a troca de saberes e experiências,
apoiadas nas linhas de raciocínio previamente definidas pelos idealizadores, a fim de que não
houvesse fuga do tema.
A oficina foi composta inicialmente por um momento de exposição sobre o tema, realizada
pelos alunos extensionistas, baseados nos textos: “Uso de Fitoterápicos e Plantas Medicinais Anti-
inflamatórias no Tratamento da Dor” (SUZUKI et al., 2020), e “Cartilha de Plantas Medicinais:
Indicada para Alívio de Sintomas Respiratórios” (GOUVEIA, s./d.), seguido de uma conversa entre
os extensionistas e beneficiários do projeto. Nesse momento de exposição, houve uma valorização do
retorno dos participantes da comunidade, em que abríamos o espaço para que relatassem as próprias
experiências e os conhecimentos sobre o tema. Ao final, houve o passo a passo de construção de uma
bolsa de ervas para ser usada topicamente em conjunto com uma bolsa de água quente ou gelada, com
objetivo de ajudar no alívio de dores.
Após, beneficiários foram convidados a avaliar a oficina, através de formulário impresso de
satisfação, anônimo, consistindo de diversas questões, como, por exemplo, se o tema abordado era de
interesse deles, contendo também um espaço aberto para estes deixassem sugestões e comentários de
forma livre, o que norteou a avaliação do momento e do resultado alcançado pelos idealizadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
538 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de resultados foi feita minuciosamente desde o momento da execução da oficina até
os feedbacks recebidos posteriormente. Pôde-se perceber que oficinas realizadas de maneira
interativa, envolvendo uma boa oratória, conceitos cientificamente comprovados, além de música e
dança, contribuem para um ambiente de não apenas um maior contentamento dos participantes, mas
também proporciona uma maior interação e troca de conhecimentos (FISHER, 2010).
Foi nítida a maneira como os participantes se interessaram pelo assunto e compartilharam os
seus dilemas relacionados à dor, além de movimentarem as partes do corpo de forma rítmica e
harmoniosa nos momentos de descontração, facilitando o encontro entre ação e imaginação,
explorando-as, o nível de compreensão e a execução dos participantes, sempre levando em
consideração suas limitações físicas em termos de força e agilidade, porém dando liberdade e
promovendo um espaço de liberdade e alegria (FISHER, 2010).
O público, predominantemente idoso, demonstrou grande interação e interesse durante a
oficina, dando opiniões sobre o assunto discutido, fazendo perguntas e contribuindo para que a oficina
não ocorresse de maneira restrita ou exclusivamente expositiva, em que apenas acadêmicos e
integrantes da universidade participassem; essa abordagem multidisciplinar facilita o conhecimento
e promove uma ambiência acolhedora e humana dentro da universidade (FISHER, 2010). Ao final da
oficina, foi nítida a satisfação dos presentes através dos comentários do quanto o conteúdo discutido
era de valia a questões particulares pessoais de cada idoso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise da oficina de manejo da dor, entende-se que todas as trocas de saberes
agregaram positivamente novos conhecimentos com a comunidade acadêmica, salientando os
impactos para os próprios extensionistas. Considerando o grupo heterogêneo composto pelos
organizadores, observa-se o quão proveitoso torna-se um momento de discussão de uma temática ou
caso clínico entre diferentes profissões da saúde, podendo, a partir desse ato, construir uma melhor
intervenção com o social. Pode-se também observar a importância de discussões de pessoas com
vivências diferentes sobre um tema da antiguidade e ao mesmo tempo atual, entre o próprio grupo de
extensão e destes com os beneficiários.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 539
REFERÊNCIAS
Dhyenyfer Bombazar2
Tainara Gonçalves Martins3
Andressa Regina Gomes4
Paula Ioppi Zugno5
Neiva Junkes Hoepers6
RESUMO
Este relato representa produção decorrente de projeto de extensão intitulado: Núcleo de Atenção Interdisciplinar à Saúde
em Oncologia (NAISO), desenvolvido em uma Organização Não Governamental (ONG) “Casa Maria Tereza” de apoio
às Pessoas com Câncer, que busca apoio para dar assistência a portadores de câncer e suas famílias. O objetivo foi
humanizar o cuidado, promover saúde e sanar as dúvidas das pessoas oncológicos e seus familiares atendidos pela “Casa
Maria Tereza”. Desenvolve atividades contínuas e pontuais na ONG, a partir de encontros, oficinas e palestras sobre
temas referentes à oncologia, autocuidado e autopercepção, além da produção de conteúdo semanal, em rede social
Instagram e Facebook e os encontros presenciais. Como metodologia, as atividades de extensão foram desenvolvidas por
um grupo de acadêmicos e docentes de uma Universidade comunitária, durante o ano de 2020 a 2022, com 97 pessoas
com câncer. As ações da extensão nos cenários de prática, em se tratando de pessoas com câncer, têm um potencial
transformador e grande importância na vida de quem está sendo acolhido e tendo suas demandas identificadas, auxiliando
no enfrentamento da situação doença e das diversas mudanças que acompanham o tratamento oncológico, com diminuição
da progressão da doença ou até mesmo cura. Destaca-se o aprendizado da escuta, ampliando o olhar sobre a saúde do
indivíduo, focado na atenção à pessoa e não à doença. A situação vivenciada, levou à necessidade de adaptação e
reinvenção de muitas situações, também do projeto de extensão NAISO.
The impact of humanization on the person with cancer care in extension project
Interdisciplinary Health Care in Oncology (NAISO)
ABSTRACT
This report is a production resulting from an extension project entitled: Nucleus of Interdisciplinary Health Care in
Oncology (NAISO), developed in a Non-Governmental Organization (NGO) "Casa Maria Tereza" to support People with
Cancer, where it seeks support to assist cancer patients and their families. The objective is to humanize care, promote
health and solve the doubts of cancer patients and their families assisted by “Casa Maria Tereza”. It develops continuous
1
Projeto de Extensão financiado pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
2
Acadêmica do Curso Enfermagem da UNESC. E-mail: dyeneferbombazar144@gmail.com.
3
Acadêmica do Curso Medicina da UNESC. E-mail: tainaragonmar@gmail.com.
4
Acadêmica do Curso de Medicina da UNESC. E-mail: andressargomes@unesc.net.
5
Docente do Curso Enfermagem da UNESC. Especialista em Enfermagem em Oncologia; MBA em Gestão Empresarial;
Mestre em Biociências e Reabilitação (Centro Universitário Metodista); Especialista em Qualidade e Segurança no
Cuidado com o Paciente. E-mail: paula33@unesc.net.
6
Docente do Curso de Enfermagem da UNESC. Mestre em Ciências da Saúde. E-mail: neivajun@unesc.net.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 541
and occasional activities at the NGO, from meetings, workshops and lectures on topics related to oncology, self-care and
self-perception, in addition to the production of weekly content, on the social network Instagram and Facebook and in-
person meetings. As a methodology, the activities were developed by a group of academics and professors from a
community university, during the year 2020 to 2022, with 97 people with cancer. Extension actions in practice scenarios,
when dealing with people with cancer, have a transformative potential and great importance in the life of those being
welcomed and having their demands identified, helping to cope with the disease situation and the various changes that
accompany cancer treatment, with a reduction in the progression of the disease or even cure. The learning of listening is
highlighted, expanding the view on the health of the individual focused on the attention to the person and not to the
disease. The situation experienced led to the need to adapt and reinvent many situations, also in the NAISO extension
project.
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nota-se um aumento significativo das neoplasias malignas nos últimos anos. Segundo Santos
(2018), estima-se o aparecimento de 600 mil novos casos de neoplasias anualmente. Diante desse
quadro surge atenção à complexidade no atendimento desses pacientes que chegam às unidades muito
enfraquecidos, com aspectos físicos e psicológicos modificados pela doença e por seu
desenvolvimento e iatrogenias.
A maioria das neoplasias é descoberta em estágio avançado, o que torna necessário iniciar o
tratamento com intervenções mais agressivas e apesar de seus benefícios potenciais, os tratamentos
EXTENSÃO PUC MINAS:
542 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
atenção à saúde, educação e cultura, entre outros, com intuito interdisciplinar e específico das áreas
envolvidas (Serviço Social, Administração, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição e
Medicina).
As atividades contínuas foram desenvolvidas através de reuniões, oficinas, palestras e
divulgações nas redes sociais, sobre temas referentes a oncologia, promoção da saúde e prevenção de
agravos ou piora no quadro clínico específicos das áreas envolvidas, conforme descreveremos no
relato.
Para a obtenção das informações requeridas pelo grupo, primeiramente foi feito um encontro
com o grupo, explanando os objetivos, ouvindo seus problemas e o que o grupo gostaria discutir,
aprender e ser esclarecido, posteriormente foi discutido sobre estratégias e temas de educação em
saúde a serem trabalhados. Assim, foram registradas todas as solicitações de temas requeridos pelo
grupo para posteriormente serem desenvolvidos pelo projeto. Em seguida, foi elaborado um roteiro
de ações que contemplou necessidades advindas do grupo e foi elaborado cronograma para o
desenvolvimento das interações por disciplinas profissionais. Posteriormente, a cada encontro, foram
realizadas oficinas e roda de discussão sobre temas já elencados pelo grupo e outros novos surgidos
com os encontros. Dessa forma, realizou-se a organização de uma estrutura condensada das
informações para permitir, especificamente, reflexões e interpretações sobre cada encontro.
Após a realização das etapas, os conteúdos foram agrupados e discutidos entre os profissionais
transformando-se em aprendizagem. Dentre as atividades, foram abordados os temas: Alimentação
Saudável; A importância do Bom Convívio Social; Saúde do Idoso; Direitos da Pessoa com Câncer;
Sexualidade: diferenças entre homem e mulher; A importância da Atividade Física, entre outros.
No cenário de prática do projeto de extensão e no seu desenvolvimento, o NAISO recebeu
convites de empresas para realizar palestras em campanhas “Outubro Rosa” e “Novembro Azul”,
onde as acadêmicas envolvidas puderam desenvolver palestras e discutir os temas, esclarecendo as
dúvidas dos funcionários das empresas solicitantes.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
envolvida, que leva o conhecimento e aprende com os grupos sociais, como a comunidade que
aprende com essa prática, a qual torna-se grande aliada do crescimento e formação profissional dos
alunos.
Em suma, foi possível identificar que este projeto de extensão teve importância emergencial
na efetivação dos direitos sociais e de políticas públicas de saúde as pessoas com câncer, levando-se
em consideração as redes de articulação intersetorial em várias áreas; estas devem ser fortalecidas
para garantir todos os serviços prestados nos espaços das políticas públicas, em especial no tratamento
oncológico, bem como auxiliar na condução de novo olhar na realidade social, como também, nas
políticas públicas em saúde e no ensino da saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
O presente relato aborda uma campanha de comunicação desenvolvida através de ação de extensão universitária por
acadêmicos do laboratório de extensão Agência Mais Comunicação da UCDB – Universidade Católica Dom Bosco,
produzida em alusão ao Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado no dia 18 de abril, que contou com criação de
material de divulgação, campanha de arrecadação e um evento comemorativo na instituição com convidados da
comunidade acadêmica e da população em geral. Dentre as peças e propostas elaboradas, houve parceria com um projeto
do curso de Pedagogia na contação de histórias, ação de arrecadação junto com a pastoral da instituição em postos de
doações de livros, cartazes espalhados pelo campus e comunidade, spot em rádio e posts para redes sociais. Feita com o
intuito de reforçar a importância da leitura e incentivar a prática e a doação de livros parados, para melhor
desenvolvimento da criança e por mais pessoas com ideias próprias e criativas. Como resultado, a ação obteve mais de
300 livros arrecadados para um projeto social e bibliotecas de três escolas públicas de educação infantil.
Palavras-chave: Ação de extensão. Leitura na infância. Campanha de doação. Voluntariado. Campanha publicitária.
ABSTRACT
The present report deals with a communication campaign developed through university extension action by academics
from the extension laboratory Agência Mais Comunicação at UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, produced in
allusion to the National Children's Book Day, celebrated on April 18th., which included the creation of a publicity
material, a fundraising campaign and a commemorative event at the institution with guests from the academic community
and the population in general. Among the pieces and proposals made, there was a partnership with a project of the
pedagogy course in storytelling, fundraising action together with the institution's pastoral care at book donation posts,
posters spread across the campus and community, radio spot and posts for networks social. It was made with the aim of
reinforcing the importance of reading and encouraging the practice and donation of still books, for the better development
of the child and for more people with their own creative ideas. As a result, the action obtained more than 300 books
collected for a social project and libraries of three public schools for early childhood education.
1
Orientadora do trabalho, professora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB). E-mail: claudia@ucdb.br.
2
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189507@ucdb.br.
3
Orientador do trabalho, professor do curso de Publicidade e Propaganda e coordenador do projeto de extensão Agência
Mais Comunicação. E-mail: rf3248@ucdb.br.
4
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189533@ucdb.br.
5
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189292@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
548 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em nosso país, muitas crianças não têm acesso à literatura de qualidade e não participam
ativamente de ações de leitura qualificadas. Seu engajamento nessa ação é muito importante,
pois sabemos que a maneira como nos relacionamos com as crianças e com os livros pode
ser determinante na formação delas enquanto sujeito leitor. (ITAÚ SOCIAL, 2020, p. 5),
EXTENSÃO PUC MINAS:
550 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
Primeiramente, os alunos se reuniram para ter ideias de trabalho na comunidade, e foi feita
uma pesquisa de datas comemorativas, que era o foco das atividades na Agência no momento e, então,
escolhido o Dia Nacional do Livro Infantil, pois os alunos enxergam a importância da leitura e os
benefícios dela para o desenvolvimento e futuro da criança. Logo foi feita uma reunião de
brainstorming6 para a troca e criação de ideias e para definição dos objetivos para a campanha e
planejamento de briefing7, chegando, então, na ideia de contação de histórias para o público infantil.
No entanto, essa ideia não era muito viável no início, pois precisava-se de um bom local e de pessoas
responsáveis pelos pequenos, o que fez com que ela mudasse para uma arrecadação de livros infantis
e infantojuvenis que seriam doados para escolas públicas.
6
Reunião feita para levantar ideias e soluções para o trabalho.
7
Texto ou coleta de informações para desenvolvimento do trabalho.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 551
Como a ideia da contação parecia uma boa forma de atingir o público infantil, os alunos foram
instruídos a conversar com outro projeto de extensão que trabalha com crianças e já possui
experiência nesse tipo de evento, LABINTER — Laboratório Interdisciplinar das Licenciaturas —,
sendo assim possível o evento. O local foi disponibilizado pela pastoral da UCDB e as crianças do
CEI – São Domingo Sávio foram levadas até o local para participar do evento.
A campanha e a contação precisavam ser divulgadas de alguma maneira, então, como forma
de divulgação, os alunos criaram posts para as redes sociais e cartazes para serem espalhados pela
universidade, além de terem distribuído caixas pintadas à mão e sinalizadas para a arrecadação.
Também foi feito um spot8 para a rádio FM Segredo, gravado e editado de forma remota e com criação
autoral do som e do texto.
Na produção do cartaz, foram várias as ideias para arte e informação, desde personagens
saindo de livros para representar a leitura como algo divertido, até fotografias de crianças lendo. A
arte final foi composta por um desenho de mãos segurando um livro ilustrado para representar alguém
lendo para uma criança, o que acabou sendo o tema da contação e da arrecadação: “Leia para uma
criança” e “Faça uma criança ler”.
8
Anúncio falado de forma breve, veiculado na rádio.
EXTENSÃO PUC MINAS:
552 Novo Humanismo, novas perspectivas
O cartaz e os posts seguiam as mesmas informações e a mesma identidade visual, sendo usadas
a arte e cores claras — como o rosa e o azul — para dar um ar delicado e infantil, além de cores
diferentes para as informações do cartaz, que foram escritas com diferenciação das fontes para ser
mais atrativo à leitura. Os cartazes de sinalização das caixas foram feitos de forma diferente, com a
cor vermelha para chamar atenção e a figura de um livro em cor preta, representando uma placa de
pare.
Durante o tempo de arrecadação de livros, as doações eram recolhidas e guardadas no
laboratório, ao fim do dia, para então serem doados a escolas e ao Projeto Nova, que trabalha com
crianças e adolescentes vítimas de abuso.
As caixas para arrecadação estavam um pouco escondidas e os alunos não estavam dando
tanta atenção, pensando nisso, foi colocada uma prateleira sinalizada para as doações, marcada com
um cartaz escrito “Doe aqui” e com as placas de “pare” literárias.
Para a doação, os alunos tiveram de entrar em contato com escolas e com o projeto para
oferecer os livros e perguntar se tinham interesse, depois era firmado um termo de parceria para
oficializar as entregas e o trabalho feito pela agência.
A contação foi realizada no pátio da universidade, que foi decorado de forma a ficar colorida
e atraente para as crianças, com guarda-chuvas coloridos, livros, lâmpadas decorativas, fantoches,
brinquedos e tecidos coloridos que foram utilizados nas histórias.
Foram espalhados tapetes para as crianças sentarem enquanto participavam da contação, logo
à frente do cenário. As histórias contadas foram feitas de maneira interativa para gerar interesse nos
pequenos, além de serem breves e de fácil compreensão. Os contadores e responsáveis pelo evento
usaram fantasias para atrair a atenção e deixar as crianças mais à vontade.
Os responsáveis por contar histórias foram alguns alunos do projeto LABINTER e duas
autoras que foram convidadas para o evento, Ariadne Cantú e Mara Calvis, que, além de contarem
histórias, levaram alguns livros autorais para doação; alguns foram dados para as crianças durante a
ação.
Foram tiradas fotos do evento e da entrega dos livros, feitas pela agência juntamente com
outro projeto de extensão, o Click Verde. As fotos foram postadas no Instagram da agência
experimental: Publicidade e Propaganda UCDB (@ppucdb), em que foram acompanhadas as
interações e o alcance direto e indireto do evento, antes, durante e depois.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Durante a etapa de elaboração da campanha, a pesquisa sobre o assunto foi essencial para a
coerência dos materiais apresentados; dessa forma, a experiência de idealizar e realizar um evento
desse tipo proporcionou a oportunidade de reflexões acerca da importância da leitura na infância. Os
alunos puderam aprender organização e comprometimento com os projetos na prática enquanto
realizavam o evento. Às crianças do CEI, o evento apresentou uma maneira divertida e didática de
introduzi-las à leitura, incentivando o hábito de leitura desde cedo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
554 Novo Humanismo, novas perspectivas
O evento reuniu crianças do CEI para uma contação de histórias, em alusão ao Dia do Livro
Infantil. Na parte da manhã, foram alcançadas em torno de 70 crianças, enquanto na parte da tarde,
80. Os professores e extensionistas da Agência mais comunicação também estiveram presentes, assim
como os contadores de histórias. Ao todo, o evento alcançou aproximadamente 150 crianças.
Simultaneamente ao evento, também foi realizada uma arrecadação de livros infantis, que teve seu
alcance em toda a comunidade acadêmica da Universidade Católica Dom Bosco e nas rádios Segredo
FM e Blink 102, que foram veiculados spots publicitários divulgando a ação. Os livros foram doados
ao Projeto Nova e às escolas públicas de Campo Grande, MS.
Além da cobertura do evento ao vivo feito pela Blink, também foram publicados artigos no
site da rádio e em outros como o site da UCDB, na FM educativa, leitor beta e na Mídia Max.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O evento gerou, como resultado, a arrecadação de mais de 300 livros, sendo não somente
livros infantis, como também de todos os gêneros. Por meio da ação, foi possível enviar os livros para
a Organização Projeto Nova e três escolas públicas de Campo Grande.
O objetivo foi alcançado pois houve organização, planejamento e divulgação. As caixas de
papelão serviram como mensagem e apoio para chamar atenção. Além disso, a repercussão em
veículos de mídia ajudou a levar a informação para além do campus.
Por meio desse projeto, os alunos puderam ter a experiência de organizar e planejar um evento,
desde a criação até sua execução. A ação de extensão serviu tanto para o conhecimento técnico dos
alunos, quanto para um resultado positivo para a comunidade com a entrega dos materiais. Sendo
assim, conclui-se que a ação foi uma experiência positiva, pois foi possível colocar os estudos em
prática, além de ter acompanhado de perto o desenvolvimento de cada passo. Foi possível aprender e
aprimorar suas habilidades sob os cuidados e a ajuda dos professores, logo, foi um evento muito
enriquecedor e divertido.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Maryanna. 18 de abril - Dia Nacional do Livro Infantil: no dia nacional do livro infantil,
o ministério da educação destaca as ações que contribuem para o incentivo à leitura [...] Notícias
MEC, 18 de abril 2022. Brasília, DF: MEC, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-
br/assuntos/noticias/18-de-abril-dia-nacional-do-livro-infantil. Acesso em: 27 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
556 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Relata-se um trabalho desenvolvido na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) feminina em Belo
Horizonte, vinculado à disciplina do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas e articulado ao projeto de extensão
ELAS. A ação objetivava qualificar o ensino de Ciências e Biologia para as recuperandas matriculadas no programa de
Educação de Jovens e Adultos (EJA) e proporcionar a troca de saberes entre elas e os graduandos, futuros professores. A
primeira etapa do processo foi o diagnóstico participativo das demandas. Na sequência, foram planejadas e desenvolvidas
quatro práticas educativas, tendo como tema central o corpo humano e utilizando-se diferentes recursos didáticos. Os
resultados da experiência, com a modalidade de educação prisional, cumpriram os propósitos de formação técnica e
humanística da extensão, do curso e da APAC.
ABSTRACT
We report a work developed at the Women's Association for the Protection and Assistance of Convicts (APAC) in Belo
Horizonte, linked to a discipline of the Biological Sciences course at PUC Minas and articulated with the ELAS extension
project. The action aimed to qualify the teaching of Science and Biology for the recovering students enrolled in the Youth
and Adult Education (YAE) Program and to provide the exchange of knowledge between them and the graduating students
as future teachers. The first step was a participatory diagnosis of demands. Subsequently, four educational practices were
planned and developed, having the human body as the central theme and using different teaching resources. The results
of the experience with prison education fulfilled the purposes of technical and humanistic training of the extension, the
course and APAC.
1
Mestre em Geociências, Professora do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas. E-mail:
vabuhid@pucminas.br
2
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas Cursou a matéria Oficina de Extensão que mediou o trabalho
realizado na APAC. E-mail: anaclarabht23@gmail.com
3
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
damarismneves@gmail.com
4
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
fernandabruna568@gmail.com. ORCID: 0000-0002-9797-1713.
5
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
lorenaferreira189@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
558 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
necessidades médicas, jurídicas, educacionais, sociais e religiosas é, de acordo com a mesma lei,
dever do Estado em sua missão de proporcionar o retorno do apenado ao convívio em sociedade.
(BRASIL, 1984)
Ao mesmo tempo, na contramão dos Direitos Humanos, pesquisas constatam que o Sistema
Penitenciário Brasileiro não cumpre seu papel ressocializador, não oportuniza a individualização do
cumprimento da pena e não comporta todos aqueles que deveria. Paralelamente, grande parte da
sociedade silencia-se diante dessa realidade, por acreditar que os que ali estão merecem o sofrimento
imposto (MARTINS, 2021).
De acordo com Alberto (2021), pressupõe-se que a educação e o trabalho nas prisões visam,
nos moldes atuais, a atender aos interesses do mercado e às propostas políticas do Estado e do próprio
sistema prisional. Com a oferta de cursos fragmentados, isolados de um projeto de educação
emancipadora, reflexiva, crítica e libertadora, esses processos formativos atendem a um interesse
imediato, seja ocupar o tempo do preso dentro do sistema prisional, seja condicioná-lo ao próprio
sistema, por meio de uma política de remição da pena.
Para Onofre (2007), as prisões caracterizam-se como teias de relações sociais que promovem
violência e despersonalização dos indivíduos. Sua arquitetura e suas rotinas a que os sentenciados são
submetidos demonstram, por sua vez, um desrespeito aos direitos de qualquer ser humano e à vida.
Nesse âmbito, acentuam-se os contrastes entre a teoria e a prática, entre os propósitos das políticas
públicas penitenciárias e as correspondentes práticas institucionais, delineando-se um grave obstáculo
a qualquer proposta de reinserção social dos indivíduos condenados.
Nesse sentido, Elionaldo Fernandes Julião define que:
Levando-se em consideração que o cárcere tem como objetivo central a reinserção social do
apenado, deverá estar estruturado de forma que possibilite, a qualquer custo, garantir os
direitos fundamentais do interno (integridade física, psicológica e moral), viabilizando a sua
permanência de forma digna e capacitando-o para o convívio social e para o seu
desenvolvimento pessoal e social. (JULIÃO, 2010, s./p.).
O princípio fundamental que deve ser preservado e enfatizado é que a educação no sistema
penitenciário não pode ser entendida como privilégio, benefício ou, muito menos, recompensa
oferecida em troca de um bom comportamento. Educação é direito previsto na legislação brasileira.
A pena de prisão é definida como sendo um recolhimento temporário suficiente ao preparo do
indivíduo ao convívio social e não implica a perda de todos os direitos (JULIÃO, 2010).
Nesse ponto, observa-se a importância das Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados (APAC) na recuperação desses indivíduos. A educação está ou deveria estar presente na
EXTENSÃO PUC MINAS:
560 Novo Humanismo, novas perspectivas
formação de todo indivíduo. Tratá-la como um direito dentro do sistema prisional permite a
exploração de uma nova perspectiva de vida e de reconhecimento do seu papel social, o que facilita
essa reintegração na sociedade.
O Projeto ELAS visa a desenvolver atividades acadêmicas no Centro de Reintegração Social
Desembargador Joaquim Alves de Andrade e conta com o auxílio dos cursos: Direito, Psicologia,
Letras, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Ciências Biológicas. O projeto está vinculado à
PROEX, que acompanha a coordenação do projeto, pautando-se na gestão do Programa Apenas
Humanos, desenvolvido na APAC em Santa Luzia.
Ressalta-se que a PUC Minas, a Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio do Vicariato
Episcopal para Ação Social e Política e a Congregação dos Irmãos Marista figuram como entidades
fundadoras da APAC masculina em Santa Luzia, cujas atividades foram iniciadas no ano de 2006.
Desde então, a PUC Minas acumulou experiência em ações acadêmicas pioneiras no sistema APAC,
pautadas no envolvimento de cursos de diversas áreas do conhecimento da Universidade.
3 METODOLOGIA
O trabalho foi realizado como prática de extensão (PCE) da disciplina Oficina de Extensão do
4º período do curso de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, que
forma licenciados e bacharéis. A disciplina tem como objetivo proporcionar que os discentes
conheçam um projeto de intervenção social e contribuir atuando a partir da produção e execução de
práticas educativas para o grupo envolvido, integrando disciplinas e conteúdos do curso, bem como
projetos de Extensão da Universidade. Além disso, também apresenta objetivos para as recuperandas,
que incluem: desenvolver práticas educativas que favoreçam a inclusão, a educação para saúde e meio
ambiente; proporcionar aos participantes maiores e mais diversas oportunidades educativas em
ambientes não escolares de educação; e ampliar as possibilidades de formação a partir do contato com
outras realidades educacionais, emocionais e afetivas.
A iniciativa está articulada à EJA (Educação de Jovens e Adultos), oferecida às recuperandas,
e de responsabilidade da Escola Estadual Profª. Anair Oliveira Santana. A EJA representa uma
oportunidade de grande relevância no processo de recuperação das pessoas privadas de liberdades,
pois amplia as possibilidades de educação e trabalho, facilitando a reintegração social desses
indivíduos após a sua soltura, além de contribuir para a remição de pena.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 561
A primeira etapa do processo foi o diagnóstico participativo das demandas das recuperandas
e da docente responsável pelo do ensino de ciências e biologia junto ao EJA. Na sequência, foram
planejadas e desenvolvidas quatro práticas educativas. Elas aconteceram nos dias 18/04/2022,
02/05/2022, 09/05/2022 e 23/05/2022 e o planejamento de cada uma delas foi feito uma semana antes
e aprovado previamente pela docente da disciplina e pelos beneficiários da ação. Dessa forma, foi
possível manter a organização necessária para que o trabalho fosse bem executado.
Após a finalização das atividades práticas, cada equipe redigiu um relatório contendo
informações detalhadas sobre a experiência vividas nos quatro encontros, contendo fotos,
depoimentos das recuperandas e dos encontros, além do relato dos membros da equipe.
Posteriormente, os resultados obtidos foram socializados com todos os alunos matriculados na
disciplina e foi possível realizar a troca de experiência com outros alunos que também participaram
do projeto.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O primeiro contato foi uma visita técnica, visando a conhecer o projeto Elas, a APAC e as
recuperandas. Na oportunidade, foi realizada uma roda de conversa para que a turma pudesse
conhecer as alunas e avaliar o seu conhecimento prévio, interesses e a melhor abordagem dos assuntos
durante as aulas. Além disso, por meio dessa reunião, foi possível coletar assuntos de interesse das
recuperandas que poderiam ser ministrados durante os encontros posteriormente.
Após a primeira conversa, foram realizados um total de quatro encontros para
desenvolvimento das práticas educativas, envolvendo 87 recuperandas.
O primeiro encontro teve como tema central os sistemas do corpo humano, em especial, o
sistema digestório. Para o desenvolvimento de uma atividade dinâmica e inovadora para o grupo,
foram utilizados dois modelos anatômicos de torso de tamanhos distintos, que compõem o acervo do
Banco de materiais didáticos do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas (Figura 1). Foram
abordados temas relacionados ao sistema digestório e de relevância no cotidiano, como a importância
de uma alimentação saudável e equilibrada e de uma boa mastigação, entre outras práticas, para evitar
o surgimento de patologias. Durante a aula, observou-se grande interesse das recuperandas por
assuntos relacionados ao corpo humano, o que motivou a escolha da equipe por continuar com essa
área do conhecimento nos encontros seguintes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
562 Novo Humanismo, novas perspectivas
A segunda aula teve como tema o sistema urinário. A equipe levou novamente modelos
anatômicos disponibilizados pela PUC Minas, mas, desta vez, específicos do sistema urinário. No
decorrer da conversa, além de demonstrar o funcionamento do sistema em questão, também foram
apresentadas diversas doenças que acometem o trato urinário e as formas de prevenção, com foco no
sistema urinário feminino, visando o autoconhecimento. Além disso, também foi levado um torso de
menor tamanho para a repetição da explicação sobre o sistema digestório, uma vez que nem todas as
alunas conseguiram assistir a aula e pediram para que o assunto fosse abordado novamente.
No terceiro encontro, houve a discussão sobre o sistema respiratório e a equipe optou por levar
o mesmo torso utilizado no primeiro encontro. O foco foi demonstrar o funcionamento e a
importância da respiração e como acontece as doenças que atingem esse sistema, pois são muito
comuns entre a população brasileira. Novamente, foi possível perceber o engajamento e a curiosidade
das discentes do EJA a respeito dos temas, uma vez que fizeram inúmeras perguntas sobre diversos
assuntos relacionados ao tema central das aulas, o corpo humano.
Na última aula, o tema gravidez, parto e mudanças fisiológicas durante a gestação foi levado
para as alunas; porém, dessa vez, a estrutura da aula deu-se em forma de roda conversa (Figura 2),
pois a maior parte dos presentes eram mães, e o objetivo era ouvir as histórias delas e permitir uma
maior troca de experiência. Primeiramente, foi realizada uma breve explicação sobre o que acontece
no corpo da mulher durante esse evento, as doenças que podem atrapalhar a gravidez e o parto, com
foco na explicação sobre o que é a violência obstétrica e como se defender dela. Nessa discussão, a
explicação foi dialogada, uma vez que as recuperandas estavam muito dispostas a contar como foram
as suas experiências em cada etapa da gestação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 563
Por fim, neste mesmo dia, foi realizado o encerramento das atividades na APAC e as
recuperandas relataram suas opiniões e perspectivas sobre o trabalho realizado pela turma, além de
demonstrarem sua gratidão pela realização das atividades.
A professora da EJA solicitou que as recuperandas avaliassem o trabalho realizado por meio
de cartas que seriam enviadas à PUC. Nas cartas, a exemplo da figura 3, as recuperandas mostraram
satisfação e agradecimento aos alunos pela oportunidade da troca de experiências, além de
demonstrarem interesse em continuar com o processo educacional, reforçando o cumprimento da
proposta da disciplina, que é a troca de saberes científicos e espontâneos, complementando-os sem
que haja uma hierarquia entre eles, e a realização de mudanças positivas para a sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERTO, Márcia de Souza Oliveira Paes Leme. Educação, trabalho e reintegração social na
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Ituiutaba/MG. 2021.
Dissertação (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal Goiano,
Goiânia, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/2039/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o_M%c3%a1rc
ia%20Paes%20Leme.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
ASSIS, Rafael Damasceno de. As prisões e o direito penitenciário no Brasil. Direito Net, 31 maio
de 2007.Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3482/Asprisoes-e-odireito-
penitenciário-no-Brasil. Acesso em: 16 jun. 2022.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diário Oficial da
União, 13 jul. 1984. Disponível em: https://www.planalto.gov.br. Acesso em: 16 jun.2022.
BARCINSKI, Mariana; CÚNICO, Sabrina Daiana; BRASIL, Marina Valentim. Significados da
Ressocialização para Agentes Penitenciárias em uma Prisão Feminina: Entre o Cuidado e o
Controle. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 25, n. 3, jul./set. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/tpsy/a/TTfTv4bYkmXbVtR8nhC7n4M/?lang=pt. Acesso em: 16 jun. 2022.
JULIÃO, Elionaldo Fernandes. Uma visão socioeducativa da educação como programa de
reinserção social na política de execução penal. Revista Vertentes, São João Del-Rei, n. 35, [s. p.]
jan./jun. 2010. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/vertentes/Vertentes_35/elionaldo.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
MARTINS, Tânia Alves. Educação na APAC: uma oportunidade de reintegração social do
recuperando. Práticas Educativas, Memórias e Oralidades, Fortaleza, v. 3, n. 3. 2021. Disponível
em: https://revistas.uece.br/index.php/revpemo/article/view/5344. Acesso em: 16 jun. 2022.
ONOFRE, Elenice Maria. Escola da prisão: espaço de construção da identidade do homem
aprisionado? In: ONOFRE, Elenice Maria (org.). Educação Escolar entre as grades. São Carlos:
EdUFSCar, 2007. p. 11-29. Disponível em:
https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/178646/mod_resource/content/1/14.%20A%20educa%C3
%A7ao%20escolar%20entre%20as%20grades.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
566 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo abordar a agroecologia por meio do relato da criação de um banco de sementes
crioulas no Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental da PUC Minas. Sementes crioulas tem o potencial de
contribuir na manutenção da biodiversidade, além de importância econômica e valor histórico e cultural. Para integrar o
banco, as sementes selecionadas passaram por um processo de coleta, secagem, higienização e armazenamento, sempre
respeitando sua floração e deiscência do fruto. Na horta Universitária da PUC Minas, a substituição de sementes
fertilizadas teve início em 2018. Observa-se que as sementes crioulas têm atuação compatível às fertilizadas e híbridas,
além do que, não possuem prazo de validade. Elas são doadas a parceiros do projeto de extensão Universidade Sustentável
e as doações são acompanhadas de uma ação educativa, visando a sensibilização para a temática da agroecologia.
ABSTRACT
The present work aims to approach agroecology through the report of the creation of a native seed bank at the Integration
Center for Environmental Sustainability at PUC Minas. Creole seeds have the potential to contribute to the maintenance
of biodiversity, in addition to economic importance and historical and cultural value. To integrate the bank, the selected
seeds went through a process of collection, drying, cleaning and storage, always respecting their flowering and fruit
dehiscence. In the University vegetable garden at PUC Minas, the replacement of fertilized seeds began in 2018. It is
observed that the native seeds have a performance compatible with the fertilized and hybrid ones, in addition, they do not
have an expiration date. The seeds are donated to partners of the Sustainable University extension project and the
donations are accompanied by an educational action, aimed at raising awareness of the theme of agroecology.
1
Graduando em Ciências Biológicas. Monitora e extensionista do Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental
(CISAL). E-mail: gcocosta@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Ciências Biológicas. Monitora e extensionista do CISAL. E-mail: camile.gabriele@sga.pucminas.br.
3
Graduando em Ciências Biológicas. Extensionista do CISAL. E-mail: katia.costa@sga.pucminas.br.
4
Graduado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Técnico responsável pelo Centro de
Integração para a Sustentabilidade Ambiental (CISAL) – Ciências Biológicas PUC Minas. E-mail:
rabfmoreira@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Geociências. Professora do ICBS da PUC Minas. Coordenadora do Projeto de Extensão. E-mail:
vabuhid@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 567
INTRODUÇÃO
Com o significativo avanço dos impactos ambientais advindos das novas tecnologias contidas
na modernização da agricultura, mais do que nunca são importantes os preceitos agroecológicos na
produção dos alimentos, dialogando com as metas de diferentes objetivos de desenvolvimento
sustentável. Desde o uso dos agrotóxicos, perpassando a devastação de áreas verdes inteiras, um dos
aspectos mais polêmicos na agricultura atual é a produção de alimentos a partir de sementes
quimicamente fertilizadas e de espécies transgênicas.
Apesar de regulamentados por lei, não há segurança completa em relação ao impacto dos
produtos transgênicos e já existem estudos que apontam a perda da biodiversidade nas regiões de
plantio. No âmbito da saúde humana, mais pesquisas são necessárias para compreender melhor os
efeitos perniciosos dos produtos geneticamente modificados, porém, segundo Martinelli (2019) já é
possível notar a relação do consumo desses alimentos com alterações neurológicas e hormonais,
infertilidade, câncer e doença celíaca.
É preciso, também, levar em consideração a falta de diversidade de alimentos que esse modelo
de produção privilegia e o risco de se perder toda uma gama de conhecimentos adquiridos em relação
ao consumo de vegetais e aos saberes populares. Diante disso, as sementes crioulas, livres de
contaminação e diversas em espécies, podem contribuir para mudar este cenário, além de propiciar a
sensibilização ambiental para a importância da preservação da biodiversidade e do respeito à
ecologia.
O objetivo deste trabalho é apresentar as atividades realizadas pelo projeto de extensão
Universidade Sustentável no desenvolvimento de um banco de sementes crioulas, associado a
atividades de educação ambiental e sustentabilidade com o público externo e interno em seus espaços
de horta e sementeiras, no Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental (CISAL) 6 da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), no campus Coração Eucarístico.
Articulando o ensino e a pesquisa, a extensão universitária viabiliza a divulgação científica e
a educação ambiental com atividades de sensibilização, conscientização e mobilização para mudanças
de atitudes em relação ao meio ambiente. Assim, como se realiza no trabalho relatado, a extensão
permite a produção de novos conhecimentos e a formação de sujeitos que se tornam reeditores e
multiplicadores do conhecimento socializado, tanto discentes quanto parceiros e beneficiários das
ações. Tal processo é o que permite a construção das chamadas redes sustentáveis.
6
Projeto de Extensão: financiamento da PROEX/PUC-Minas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
568 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A semente crioula é aquela cujo germoplasma vem sendo multiplicado por agricultores
através do tempo e das gerações. Diferentemente das sementes utilizadas na agricultura moderna, a
semente crioula7 não passou por nenhuma modificação genética por meio da interferência humana, e
isso garante, naturalmente, uma vasta gama de diversidade genética além da identidade da cultura de
um povo. Essas sementes são livres de agrotóxicos, pesticidas ou modificações realizadas pela ciência
ou pelo agronegócio e não são, consequentemente, patenteadas por nenhuma empresa (BLAINSKI,
2020).
Segundo Carvalho (2003), as sementes que antes possuíam valor simbólico e cultural,
contemporaneamente, são objetos de negócio que visam principalmente ao lucro. Em produções
agrícolas de base ecológica, as técnicas são vantajosas econômica e ecologicamente, como a
utilização das sementes crioulas¹, que, devido à grande variabilidade e heterogeneidade genética,
contribui na manutenção da biodiversidade.
As sementes transgênicas carregam a ideia de serem mais eficientes que as espécies
tradicionais, quando, na verdade, “demandam um número excessivo de insumos durante a produção;
ao mesmo tempo que não providenciam adubos e outros tratos naturais necessários'' (SIQUIEROLI
et al., 2020). Em tal intensidade, as variedades transgênicas tendem a apresentar desempenho
aproximado ou inferior às variedades crioulas.
A criação de banco de sementes assegura a autonomia e a transição agroecológica sobre os
cultivos, além de garantir a soberania alimentar (CORRÊAS et al., 2000). As sementes tradicionais
são adaptadas a diversas condições ambientais e são uma importante fonte genética de resistência a
pragas e doenças. (SILVA et al., 2009).
O banco de sementes contém variedades que guardam a riqueza natural das comunidades e
representa o fortalecimento da identidade das pessoas do campo, garantindo a autonomia das famílias
na produção de alimentos saudáveis e de boa qualidade, resgatando a cultura das gerações passadas
e desempenhando um importante papel na preservação e multiplicação de espécies nativas
(RODRIGUES et al.2016).
7
“São chamadas de crioulas ou nativas, porque geralmente seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais,
como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos entre outras.” (PALHANO et al, 2020).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 569
3 METODOLOGIA
Lima (2020) estabelece a necessidade de escolha da área para produção de sementes crioulas,
levando em consideração o cumprimento dos atributos: "adubação, irrigação e controle de pragas
espontâneas e cuidado com pragas e doenças”. Esses atributos são, desde o princípio, atendidos por
meio da produção orgânica, já que não há contaminação em nenhuma das fases de produção das
horticulturas na Horta Universitária da PUC Minas, onde todo o processo se realiza.
As sementes são recolhidas no momento de floração, que diferem em cada cultura vegetal.
Assim, são utilizados métodos específicos, durante a retirada das sementes até o armazenamento,
levando sempre em consideração a deiscência de cada fruto. A secagem das sementes é feita ao sol,
como proposto por Lima (2020). Em seguida, é realizada a higienização das sementes. Vidros de
conserva devidamente rotulados são utilizados para o armazenamento. Por fim, as sementes são
armazenadas no banco de sementes, em local seco e arejado, localizado no CISAL.
Ademais, uma parcela das sementes crioulas advém da Mata da PUC Minas, a qual é
caracterizada como uma mata nativa e secundária, possuindo espécies dos Biomas Cerrado e Mata
Atlântica, que foram coletados de forma independente.
Todo o processo, bem como as próprias sementes crioulas retiradas da horta, representa
conteúdo e recursos das oficinas de Educação Ambiental oferecidas pelo projeto Universidade
Sustentável. Nos processos de formação, os participantes utilizam as sementes crioulas nas atividades
em sementeiras, além da transferência de mudas da estufa - também advindas de sementes crioulas -
para os canteiros definitivos.
Os públicos que participam destas ações são compostos de alunos da educação básica, alunos
de graduação de diferentes cursos da PUC Minas, agricultores dos Centros de Vivência
Agroecológica (CEVAE) de programa da Prefeitura de Belo Horizonte, entre outros.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
A utilização das sementes crioulas na Horta Universitária teve início em 2018, quando as
sementes fertilizadas com produtos químicos foram aos poucos substituídas por sementes híbridas
sem fertilizantes. A partir dessas, foi feita a retirada de novas sementes, que se tornaram as gerações
seguintes da cultura na horta. Importante ressaltar que foram coletadas também sementes das mudas
recebidas através de doações realizadas por diferentes parceiros do projeto, como funcionários da
própria Universidade, extensionistas do projeto e o público externo. Na tabela abaixo, a relação de
algumas espécies representadas no banco de sementes
A produção de mudas a partir das sementes crioulas (figura 3) tem desempenho equivalente
ao das híbridas e das quimicamente fertilizadas8, que, ao contrário daquelas, costumam ter prazo de
validade. É importante ressaltar que a qualidade do preparado para as bandejas (adubo, solo virgem,
areia, carbonato de cálcio) tem forte influência na germinação, além do plantio respeitando a época
de cada cultura.
A Horta Universitária estabelece dois modelos de doações para as sementes crioulas: a doação
direta das sementes e a indireta, pela doação de mudas produzidas na estufa. No primeiro semestre
de 2022, foram doadas aproximadamente 2.500 sementes, incluindo 1.500 distribuídas (500: erva-
doce, 500: berinjela e 500: mostarda) para a Feira de Economia Solidária realizada pela Pró-Reitoria
de Extensão da PUC Minas. Quanto à doação indireta, somam-se cerca de 500 mudas.
Além das sementes de horticultura, o banco de sementes do CISAL, privilegia também as
sementes oriundas da Mata da PUC Minas. A mata é uma área de hotspot9contendo espécies da fauna
e flora dos Biomas Cerrado e Mata Atlântica, o que amplifica ainda mais a importância do cuidado
com este espaço e das sementes dela colhidas, como forma de salvaguardar a biodiversidade desses
ambientes cada vez mais prejudicados pela exploração.
Como dito por Kuhlmann (2018), mais de 50% da vegetação nativa do Cerrado foi devastada;
nesse sentido, as sementes crioulas são de extrema valia para a recuperação e conservação da
vegetação nativa.
Sucintamente, a coleta das sementes crioulas propiciou a criação de um banco de sementes
que consta com 11 espécies de hortaliças e legumes, como também com 7 variedades de árvores da
Mata da PUC Minas. O banco de sementes, por sua vez, oportunizou a prática da Educação Ambiental
com o público externo, e, consequentemente, a disseminação, para além dos portões da Universidade,
do conhecimento de fatores importantes para o Desenvolvimento Sustentável.
8
As sementes quimicamente fertilizadas costumam ter prazo de validade, diferentemente das sementes crioulas.
9
São áreas naturais do planeta Terra que possuem vasta diversidade ecológica e que estão em risco de extinção.
EXTENSÃO PUC MINAS:
572 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
KUHLMANN, Marcelo. Frutos e sementes do Cerrado: espécies atrativas para a fauna. 2 ed.
Brasília: Frutos Atrativos do Cerrado, 2018. p. 419.
LIMA, Erika et al. Sementes crioulas: importância e aspectos gerais de produção. In:
CONGRESSO INTERNACIONAL DE SEMENTES CRIOULAS E AGROBIODIVERSIDADE.
2., 2021, Dourados, MS. Anais [...]. Dourados: ABA. 2021. Disponível em: http://cadernos.aba-
agroecologia.org.br/cadernos/article/view/6975. Acesso em: 13 jun.2022.
LIMA, Laís. Sementes crioulas: qualidade e armazenamento. 1 ed. São Carlos: UFSCar/CPOI,
2020. p. 13.
MARTINELLI, Suellen Secchi; CAVALLI, Suzi Barletto. Alimentação saudável e sustentável:
uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. Revista Ciência & Saúde Coletiva,
Florianópolis, v.24, n.11, 2019, p. 4251-4261. Disponível em;
https://www.scielo.br/j/csc/a/z76hs5QXmyTVZDdBDJXHTwz/?lang=pt. Acesso em: 14 jun. 2022.
RODRIGUES, Cleidianne Sousa Pereira et al. Criação de banco de sementes crioulas para
valorização da biodiversidade e garantia da segurança alimentar das comunidades rurais do Velho
Chico. Cadernos Macambira, Serrinha, v. 1, n. 2, 2016, p. 57-61. Disponível em
https://revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/81/72. Acesso em: 20 jun. 2022.
SIQUIEROLI, Ana Carolina Silva et al. Sementes crioulas: a independência e resistência dos
agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Revista Em Extensão, Uberlândia MG,
edição especial, 2020. p.12-22. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/54366/28798. Acesso em: 16 jun. 2022.
VIEIRA, Flávia Stela. Banco comunitário de sementes crioulas. Fundação Banco do Brasil, 2009.
Disponível em: https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/banco-comunitario-de-sementes-
crioulas. Acesso em: 13 set. 2022
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 575
RESUMO
Objetiva-se apresentar o II Guia Rápido: “Vamos falar sobre os cuidados paliativos?”, desenvolvido pela Liga Acadêmica
de Planejamento e Pesquisas em Relações Públicas da Universidade Federal do Maranhão (Lapp-RP / UFMA) por meio
do projeto de extensão “Todos Somos Voluntários: ABC do Câncer”, para o público de voluntários da Fundação Antônio
Dino, localizada em São Luís/ MA, onde são atendidas pessoas portadoras de câncer e suas famílias, que vivem em
situação de vulnerabilidade social. A intenção é apresentar, ainda, uma breve discussão sobre as áreas de comunicação e
saúde e comunicação institucional, que fundamentam o instrumento informativo, além de indicar a pesquisa de campo
realizada, assim como o produto final.
“We are all volunteers: ABC of Cancer”: quick guide for the volunteer public of
the Antonio Dino Foundation, São Luís/MA
ABSTRACT
The objective is to present the II Quick Guide: “Let's talk about palliative care?”, developed by the Academic League of
Planning and Research in Public Relations of the Federal University of Maranhão (Lapp-RP / UFMA) through the
extension project “Todos We are Volunteers: abc of Cancer”, for the audience of volunteers from the Antônio Dino
Foundation, located in São Luís/MA, where people with cancer and their families who live in socially vulnerable
situations are assisted. The intention is also to present a brief discussion on the areas of communication and health and
institutional communication, which underlie the informative instrument, in addition to indicating the field research carried
out, as well as the final product.
1
Coordenadora do projeto de extensão e Prof.ª Dr.ª Adjunta do DCS-UFMA. E-mail: melissamoreira@yahoo.com.
2
Estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
E-mail: lorena.cavalcante@discente.ufma.br.
3
Estudante do curso de Comunicação Social - Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-
mail: ramirio.ribeiro@discente.ufma.br.
4
Estudante do curso de Comunicação Social - Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-
mail: rayra.guimaraes@discente.ufma.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
576 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
A Fundação Antonio Jorge Dino e o Hospital do Câncer Aldenora Belo, localizados em São
Luís – Maranhão (MA) e com a área hospitalar pioneira no combate ao câncer neste Estado,
inaugurada em 1958, são entidades que atendem a população portadora de câncer e prestam apoio
para famílias de pessoas que convivem com a doença, principalmente para o público carente de
conhecimento e informação verídica.
A fim de estimular o atendimento do público citado, de maneira mais eficiente e humanizada,
a Fundação desenvolve uma série de projetos, como por exemplo:
1. Acompanhante Cor de Rosa: o paciente recebe apoio do voluntário nesse papel de acompanhá-
lo.
2. Posso Ajudar? - atividade voltada para o ambulatório do Sistema Único de Saúde – SUS – onde
os voluntários dão suporte na triagem dos pacientes, ajudam na mobilização para as
enfermarias e encaminham para um consultório;
3. Leitura dinâmica: acontece leitura em leitos, através de um carrinho repleto de livros e jogos.
Os voluntários passeiam pelos leitos, distribuindo livros, lendo e brincando;
4. Brinquedoteca: são duas, uma na casa de apoio e uma no próprio hospital. Brincadeiras mais
lúdicas, mas que conseguem fazer com que os profissionais façam triagem a respeito da
situação dos pacientes;
5. Casas de Apoio: uma para idosas (senhoras) e outra para crianças e seus acompanhantes.
Recebem pacientes e familiares de pessoas vindas do interior. Recebem atendimento,
alimentação e todo o suporte necessário;
6. Projeto de Peruca: voluntários fizeram um curso de confecção de perucas fora do estado e agora
proporcionam a confecção, seguido da doação de perucas para as pacientes com câncer;
7. Brechó: o brechó se realiza através de doações da comunidade, onde se reverte tanto para os
pacientes internados nas casas de apoio, quanto para um brechó aberto ao público. O dinheiro
angariado com essa ação é destinado para suprir algumas necessidades das casas de apoio,
como alimentação e remédios;
8. Alfabetização: suporte na leitura e escrita para jovens e adultos internados nas casas de apoio.
Outro momento, é o acompanhamento escolar, dando continuidade à aprendizagem do
paciente; e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 577
9. Oficinas: São voluntários que trabalham no suporte de confecção de artesanato, voltada mais
para adultos.
As casas de apoio possibilitam que os pacientes, vindos em sua maioria do interior do estado
e sem condições de manter-se na cidade durante o tratamento, tenham um cuidado intensivo por meio
de alimentação, remédios, vestuários, transporte e suporte psicopedagógico que, além de doações, se
sustenta com a boa ação de voluntários da causa. Ademais, o hospital do câncer Aldenora Belo é o
único que possui um centro público para o tratamento do câncer em todo Estado.
O II Guia Rápido5 tem como objetivo propagar informação clara, objetiva e otimista sobre os
cuidados paliativos, como um meio de apoiar voluntários que procuram fazer parte ou já são
integrantes da Fundação Antônio Jorge Dino. Esses voluntários são participantes de um público que
tem contato direto com a comunidade carente e seus familiares, atendido pelo Hospital do Câncer
Aldenora Belo, através dos diversos projetos desenvolvidos pela Fundação de apoio ao hospital.
Esse Guia, que aborda a necessidade de explicar sobre cuidados paliativos, inicia-se com uma
coleta de dados por meio de uma aplicação de questionários para voluntários atuantes na fundação.
A pesquisa de campo, realizada em 2021, obteve 87 respostas e foi dividida nas seções sobre o perfil
sociodemográfico, atuação no voluntariado, conhecimentos acerca dos cuidados paliativos, canais de
informação em conjunto com a comunicação utilizada pelos voluntários. O objetivo inicial foi
promover informação através de instrumentos criativos e diferenciados, para a sensibilização dessas
pessoas no entendimento e abordagem da doença com os pacientes e seus familiares de forma
otimista, evitando o manejo descuidado e desnecessário de assuntos relacionados ao câncer e ao
momento da vida em que cada um está passando. Por meio da divulgação de um conhecimento de
forma didática, acessível e simples, seria possível que pacientes em cuidados paliativos pudessem ser
mais bem assistidos.
A proposta é mesclar um material textual e gráfico, mas com o aprofundamento de temas que
devem ser abordados de forma séria e responsável. O conteúdo inicia a discussão sobre a temática
junto ao grupo dos voluntários e intenciona, ainda, esclarecer dúvidas sobre os cuidados paliativos,
inicialmente propagados em formato digital, mas podendo ser adequado ao modo impresso. Por fim,
o guia foi dividido em seções para melhor abordar os conteúdos e facilitar o entendimento por parte
dos voluntários.
5
Link do Guia Rápido: https://drive.google.com/file/d/1kt_mIjr_nqDOV5IE_YtjQprVrI57xlu/view?usp=sharing
EXTENSÃO PUC MINAS:
578 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As Relações Públicas são uma área de conhecimento que estuda o envolvimento das
organizações e do público atendido. Para que haja uma relação de sucesso, deve haver uma condução
do relacionamento, por meio de estratégias comunicativas que atendam todos os públicos em
diferentes ambientes, a fim de promover uma adaptação das abordagens de acordo com o contexto
necessário.
Para a pesquisadora de Comunicação Organizacional, Margarida Kunsch (2009), a velocidade
das mudanças que ocorrem em todos os campos impele um novo comportamento institucional das
organizações diante da opinião pública. Essas passam a se preocupar principalmente com as relações
sociais, contextos políticos e fatores econômicos mundiais.
Diante da análise, as Relações Públicas são fundamentais como uma forma de auditoria social,
a fim de avaliar como a sociedade reage diante dos fatos e como, por fim, as estratégias de
comunicação devem ser traçadas conforme essas reações. Assim, as instituições devem se portar de
maneira evidente, definida e com precisão, para utilizar a comunicação como um meio de conquista
e, posteriormente, manutenção da boa reputação organizacional. Na área da Saúde, a pesquisa não é
distinta. Por isso, ao entender de que modo as táticas das relações públicas devem assumir ao
desenvolver uma ação, podemos criar um papel institucional para moldar ações destinadas a um
público específico, o público-alvo. Entre essas ações, são analisadas as reações sociais do grupo
estudado, o progresso estratégico comunicativo de acordo com o contexto, a supervisão e
coordenação de programas de comunicação, prevenção e gerenciamento de crises / conflitos que irão
surgir dentro do relacionamento de clientes, empregados, grupos envolvidos etc.
Nesse contexto, “O trabalho institucional visa, basicamente, criar uma personalidade para a
organização, por meio de alguns instrumentos e certos mecanismos que possam propiciar sua
divulgação como um todo e em si mesma”, afirma James Derriman (1968, p.53).
Neste projeto, realizado analisando a Fundação Antonio Dino, o público estratégico são os
voluntários, que seguem as diretrizes do Decreto n°389/99, emitido pelo Ministério do Trabalho e
Solidariedade. Embasado no decreto, a ação do voluntariado é solidária com o próximo e participa de
forma livre e organizada da solução de problemas que afetam a sociedade em geral, ou seja, uma
pessoa que decide livremente ser responsável por utilizar de artifícios pessoais e tempo disponível
para colaborar com um público específico por meio de atividades variadas e que exigem dedicação e
organização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 579
3 METODOLOGIA
Trata-se de um material de cunho didático, com conteúdo textual e gráfico, elaborado com o
objetivo de aprofundar temas e esclarecer eventuais dúvidas acerca dos cuidados paliativos. A partir
EXTENSÃO PUC MINAS:
580 Novo Humanismo, novas perspectivas
6
Link dos áudios enviados ao Grupo de Voluntários da Fundação Antônio Dino:
https://drive.google.com/file/d/14KcYwGSyoV4STWx_fx4HiY6qoSaneC70/view?usp=sharing;
https://drive.google.com/file/d/1xOaAg5k4ufKYL-oMSme-O43K4gMavDaf/view?usp=sharing
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 581
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Foi desenvolvida a pesquisa de campo junto aos voluntários e foram obtidas, no total, 87
respostas. No que tange ao grau de conhecimento do grupo de voluntários sobre os cuidados
paliativos, identificou-se que a maioria do público já ouviu falar sobre a temática (cerca de 85,9%),
e mais da metade sabe/e ou reconhece sua importância, alegando que os cuidados paliativos podem
“Trazer bem-estar e qualidade de vida aos pacientes” e que “Os cuidados são importantes para a cura
da doença, porém não podem ser interrompidos”. Através da aplicação do questionário, observou-se
EXTENSÃO PUC MINAS:
582 Novo Humanismo, novas perspectivas
ainda que, mesmo 85,9% dos entrevistados já tendo ouvido falar sobre os cuidados paliativos, 31%
apontaram que não sabiam da importância desses cuidados para os pacientes que se encontram em
acompanhamento pela Instituição.
Por outro lado, notou-se a falta de orientação da Fundação Antonio Dino sobre a inclusão do
voluntário na rede de cuidados paliativos, antes de entrar no Programa, pois apenas 34,5% dizem ter
conhecimento dessa informação, ao passo que 56% alegam não terem sido informados. Foi possível
notar, ainda, que os voluntários se sentem mais ou menos preparados para lidar com pacientes em
estágio final da doença, assim como no auxílio aos familiares durante o processo de luto.
Em relação à contribuição do Projeto para a construção do referencial de conhecimento sobre
câncer, por parte do grupo de voluntários, é possível afirmar, com base na análise dos dados obtidos,
que o primeiro Guia Rápido de informações sobre o câncer, desenvolvido na primeira fase do Projeto
“Somos Todos Voluntários: ABC do Câncer”, contribuiu decisivamente para a atuação desse público
nos projetos desenvolvidos no interior da Fundação (em uma escala de 0 a 5, 45% atribuem nota 4,
enquanto 45% registram nota máxima).
Diante do sucesso obtido na primeira fase do Projeto, e do alcance dos objetivos predefinidos
para a primeira versão do Guia Rápido, e visando dar continuidade ao trabalho que vem sendo
desenvolvido junto ao público de voluntários, verificou-se a oportunidade de abordar novas temáticas
a respeito do câncer através de novos instrumentos de comunicação. Para tanto, mediante análise dos
resultados obtidos, e visando sanar a carência de informação sobre a temática, o projeto de extensão
propôs a continuação do desenvolvimento de alguns instrumentos informativos da primeira etapa,
como o “II Guia Rápido - Vamos falar sobre cuidados paliativos?”, além de produtos audiovisuais,
que ainda estão em fase de execução.
No que se refere aos resultados esperados, presume-se que tanto o grupo de voluntários da
Fundação Antonio Dino, como a comunidade em geral (profissionais da área de saúde, paciente em
cuidados paliativos, equipe multiprofissional e familiares) possam atuar como multiplicadores das
informações acerca da importância sobre os cuidados paliativos de forma humanizada e, da mesma
forma, estar melhor preparados para desenvolver as atividades do voluntariado, no caso do público
voluntário.
Tendo em vista que o projeto de extensão ainda está em curso, algumas etapas das ações estão
sendo realizadas, como a fase de avaliação e mensuração dos resultados obtidos, bem como a análise
do alcance dos resultados e objetivos previamente estabelecidos para o “Guia Rápido II - Vamos falar
sobre cuidados paliativos?”.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 583
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Guia Rápido de informações sobre o câncer, a Roda de Diálogo, o vídeo institucional foram
os materiais de comunicação desenvolvidos e aplicados na primeira fase do projeto de extensão
“Todos somos voluntários: ABC do Câncer”, visando a cumprir o objetivo central do Projeto:
promover informação clara, objetiva e otimista sobre o câncer para o público de voluntários atuantes
na Fundação Antonio Dino, para os possíveis interessados no trabalho voluntário, uma vez que
consideramos este um público estratégico e fundamental para a sustentabilidade dos projetos
desenvolvidos pela Fundação.
Da mesma forma, a segunda fase do projeto busca, através da continuidade das estratégias de
comunicação, promover informação clara e objetiva ao grupo de voluntários da Fundação, através do
desenvolvimento de instrumentos informacionais, capazes de apoiar os voluntários no atendimento
aos pacientes e familiares do Hospital do Câncer Aldenora Belo, lançando luz sobre a temática dos
cuidados paliativos.
É possível identificar considerável participação e interesse dos voluntários na pesquisa
realizada e, posteriormente, a interação do grupo com o material veiculado nos canais de
comunicação, com respostas que instigam a curiosidade e o debate sobre as informações repassadas
através do Guia e das peças de áudio.
Tendo em vista que o projeto de extensão ainda está em curso, algumas ações propostas estão
sendo executadas, como, por exemplo, os Interprogramas, (pequenos programas de televisão, a serem
veiculados na TV UFMA) que serão exibidos no formato seriado. Dessa forma, os objetivos propostos
no projeto e nas ações estão sendo alçados à medida que as etapas de cada projeto são aplicadas.
REFERÊNCIAS
RESUMO
O presente relato de experiência tem por objetivo descrever as atividades realizadas no projeto de extensão universitária
de Relações Internacionais, o MINIONU. As atividades do projeto, que se encontra em sua 23° edição, serão apresentadas
como instrumentos pedagógicos de ensino e aprendizagem no MINIONU. Nesse sentido, esta edição abarca 18 comitês
de simulação que admitem diversas dinâmicas de ensino-aprendizagem, responsáveis por mobilizar discussões que
estimulem os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio a refletirem e propor resoluções para as
problemáticas internacionais relacionadas às áreas temáticas de tecnologia, atualidades, história, segurança, governança,
sustentabilidade e pautas identitárias e sociais.
ABSTRACT
This experience report's objective is to describe the activities carried out in the university extension project of International
Relations, MINIONU. The activities of the project, which is in its 23rd edition, will be presented as pedagogical tools for
teaching and learning in the Intercollegiate Model of Simulation of the United States (MINIONU). This edition includes
18 simulating committees that admit different teaching-learning dynamics, responsible for mobilizing discussions that
encourage students in the ninth year of elementary and high school to reflect and propose resolutions for international
problems related to the areas of technology, diplomacy and peace, history, security, governance, sustainability and identity
and social issues.
1
Graduanda em Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Coração
Eucarístico. E-mail: giuliaschettini@pucminas.br.
2
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas /Coração Eucarístico. E-mail: bisihadassa@gmail.com.
3
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: larissadinizaguiar@gmail.com.
4
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: ncouto@pucminas.br.
5
Doutora em Relações Internacionais e professora do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, campus
Coração Eucarístico e unidade Praça da Liberdade. E-mail: rgontijo@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
586 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Os Modelos de Simulação das Nações Unidas (ou MUN, sigla em inglês) são eventos
acadêmicos, geralmente protagonizados por estudantes secundaristas ou de graduação, em que esses
estudantes adotam o papel de uma delegação de determinado Estado, Organização Internacional,
Organização Não Governamental Internacional ou membro da sociedade civil, com o objetivo de
discutir algum tema no âmbito das Nações Unidas (ONU).
A criação desse modelo de evento acadêmico aconteceu antes mesmo da criação da ONU. Os
primeiros registros de simulação são de 1921, com a Oxford International Assembly, na Universidade
de Oxford, e a Harvard International Assembly, na Universidade de Harvard (OXFORD GLOBAL,
2020).
Depois da Segunda Grande Guerra e a criação da ONU, esse modelo se tornou cada vez mais
popular por seu potencial enquanto ferramenta de ensino. Os MUNs podem ser considerados
ferramentas ativas de estudo, por se tratarem de um evento em que os delegados estão imersos em
uma temática, refletindo e tomando decisões, tendo como base as mais diferentes faces sobre aquela
temática. Assim, podem ser mais efetivos do que as técnicas de estudo “passivas” mais tradicionais,
isso porque o estudo ativo propõe um maior envolvimento em relação ao conteúdo, para que mais
áreas do cérebro sejam ativadas durante o estudo (LEIB; RUPPEL, 2020). Segundo Engel et al. (2017
apud LEIB; RUPPEL, 2020), os efeitos das simulações da ONU podem ser observados em quatro
níveis diferentes de conhecimento: conhecimento factual, conceitual, processual e metacognitivo.
Tendo isso em vista, este relato de experiência é organizado em quatro seções, que visam
explorar a experiência do 23ª Modelo Intercolegial das Nações Unidas (MINIONU), evento MUN do
Departamento de Relações Internacionais (DRI) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas). A seguir, apresentamos a proposta do MINIONU como projeto de extensão vinculado
a atividades de ensino e pesquisa, os Comitês que serão simulados em sua 23ª edição, ressaltando o
seu objetivo pedagógico e encerramos com algumas considerações finais.
2 O MINIONU
Nesta seção, trataremos sobre os comitês trabalhados na 23ª edição do MINIONU, seus
escopos pedagógicos e a forma como ocorrem suas construções. Para além disso, busca-se
compreender como os temas trabalhados no 23º MINIONU podem servir como mecanismos de
ensino e aprendizado e quais os desafios para a execução destes comitês.
6
De acordo com Friedman e Singer (2014), o ciberespaço compreende, para além do ambiente virtual, o próprio aparato
físico que possibilita acesso à internet, sendo ele formado por cabos, fibras ópticas, computadores e processadores, bem
como o espaço virtual decorrente desse sistema material.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 589
qual os delegados terão que lidar com as consequências das decisões tomadas a cada novo dia de
sessões. Isso torna o modelo simulado mais dinâmico, contribuindo para o aprendizado ativo dos
delegados.
Em relação ao mercado de trabalho internacional, a 23ª edição do projeto trata acerca do tema
“A exploração e precarização trabalhistas ocorridas na indústria de animes e mangás no Japão”
(MINIONU…, 2021). Mangás e animes possuem escopo pedagógico, graças aos assuntos abordados
nas histórias, que podem conter desde um plano de fundo filosófico, até conceitos geográficos e
históricos. Para além disso, mesmo que as histórias não contenham referências diretas a assuntos
abordados em salas de aula, elas possuem a habilidade de trabalhar o imaginário7 racional e crítico
dos jovens (SOUSA et al., 2021).
Neste ponto, há um esforço, por parte da organização do MINIONU, em problematizar este
tema de modo a permitir que os jovens lancem um olhar mais crítico para o trabalho na indústria de
desenhos japoneses. Por isso, os materiais como guia de estudo e os dossiês de cada delegação se
tornam elementos essenciais da construção do Comitê, pois eles indicarão onde está o problema, e
fornecerão informações úteis para que os jovens estudantes possam, por meio de sua criatividade,
buscar propostas de melhorias na área.
Ademais, destaca-se o comitê Cúpula de Amã, que propõe uma discussão acerca da
consolidação da paz nos territórios de Israel e Palestina. Este conflito abordado remonta ao processo
de criação do Estado de Israel, em 1948, que foi legitimado pela resolução n° 181 da ONU, na qual
Israel e Palestina se viram prejudicados pela decisão de repartição do território entre duas nações de
características étnico-culturais distintas (ABU-EL-HAJ, 2014). Tendo em vista que o conflito ainda
se estende na atualidade, o Comitê é responsável por mobilizar e instigar discussões a respeito da fase
atual do conflito, de modo que os delegados presentes compreendam as principais motivações, bem
como adquiram noções de geopolítica por meio da metodologia de aprendizado didática do modelo
de simulação.
Nesta edição, contamos com o World Youth Forum (WYF), comitê que simula um fórum entre
Estados e organizações da sociedade civil, bem como seus membros para discutir sobre a inserção da
7
“o conjunto das imagens e relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens (...), o grande
denominador fundamental onde se vêm encontrar todas as criações do pensamento humano.” (DURAND apud SOUSA,
2021, p.51).
EXTENSÃO PUC MINAS:
590 Novo Humanismo, novas perspectivas
juventude em ambientes políticos formais, com foco em governos. A simulação acerca da juventude
na política mostra-se de extrema importância uma vez que, mesmo 23% da população brasileira sendo
composta por jovens entre 15 e 25 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, 2022),
este número ainda não é refletido nos espaços políticos formais (Tribunal Superior Eleitoral /TSE,
2021). Reconhecendo esta problemática, a ONU lançou o Índice da Juventude na Política, com o
objetivo de “verificar se os países ao redor do mundo estão abrindo espaços políticos, algo que vem
sendo exigido pelas gerações mais jovens” (ONU…, 2022). Dessa forma, em comitês como o WYF,
o jovem se coloca ao mesmo tempo como objeto e como ator, ou seja, a juventude estará ali discutindo
sobre a importância e necessidade da sua própria inserção na política, o que é de extrema urgência.
Há, ainda, o Comitê “27ª Conferência das Partes” (COP 27), o órgão mais alto da Convenção-
Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, que busca a inserção de mais atores para a além dos
Estados na discussão sobre mudanças climáticas. A COP 27 também se mostra uma poderosa
ferramenta para o ensino sobre clima e pautas sociais. Com o avanço das mudanças climáticas, é
inegável que uma das formas de conscientização para mudança é a educação.
A UNESCO estabelece o importante conceito de Educação para o Desenvolvimento
Sustentável (EDS), que é a “uma educação que contribui para que as pessoas pensem criticamente,
identificando elementos insustentáveis em suas vidas e na sociedade, e ajam por mudanças sociais e
ambientais positivas” (UNESCO, 2022, p. 36). Assim, o Comitê levanta uma importante questão
neste âmbito: quem são as pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas? Essas pessoas estão
majoritariamente situadas em países em desenvolvimento e estão em grupos sociais desprivilegiados.
Por isso, a discussão sobre racismo ambiental, refugiados climáticos, ecofeminismo etc. no âmbito
das simulações promove, mais uma vez, um aprendizado ativo no âmbito das EDS.
Ademais, há um Comitê que simula uma reunião da rede de cidades metrópoles para a atuação
de cidades para as mudanças climáticas, transformando-as em cidades inteligentes. Em uma forma
inovadora de debate, os alunos representam cidades. Assim, o Comitê promove a EDS de forma muito
palpável, uma vez que a questão climática é sentida diretamente em centros urbanos, com tendência
a agravamento, uma vez que a população urbana mundial cresce cada vez mais. Isso possui um grande
potencial de mudança para as cidades, pois embora seja um problema global, a questão das mudanças
climáticas nas cidades também pode ser pensada como um problema local, fazendo com que o vetor
de mudança do MINIONU seja tangível e passível de concretização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 591
inclusivo e respeitoso para essas discussões, considerando o uso de termos corretos e o envolvimento
de pessoas de grupos minoritários nas equipes que estão à frente dos comitês. Isso se dá porque os
participantes destes Comitês, por vezes, possuem ligação pessoal com a temática retratada.
Há também o Conselho de Direitos Humanos (2022) com o tema “As violações aos Direitos
Humanos ocasionadas pelos megaeventos esportivos”. A partir dele, os estudantes obtêm ferramentas
para entenderem como o esporte pode promover melhores condições de direitos humanos e de que
forma as comunidades esportivas podem contribuir para o fortalecimento desses direitos, o que vai
de encontro à proposta da UNESCO. Além disso, incentiva-se também a utilização de mecanismos
de ensino participativos para garantir um melhor envolvimento e, principalmente, para estimular a
posição de responsabilidade sobre a garantia e preservação dos direitos humanos, os colocando como
atores centrais na promoção desses direitos (UNESCO, 2012).
No que diz respeito às temáticas que os Comitês do 23° MINIONU abarcam, entende-se que
os históricos são responsáveis por promover e facilitar a viabilização de narrativas históricas nos
espaços de aprendizagem. Nesse sentido, as problemáticas propostas acerca de acontecimentos
passados são fundamentais para a compreensão da realidade, sendo assim, o passado se estabelece
como registros históricos de princípios e valores construídos e internalizados às sociedades. Dessa
forma, a história revela acontecimentos que conferem autenticidade à realidade, bem como é
responsável por nortear sociedades, fornecendo explicações aos eventos do presente (LEE, 2011).
Nessa perspectiva, inserido a essa temática, destaca-se o Comitê Centro de Comandos
Operacionais, que aborda a Guerra do Paraguai no marco temporal correspondente ao ano de 1866.
Esse Comitê admite uma dinâmica8 que difere das atividades de moderação tradicionalmente
adotadas no MINIONU, apresentando, portanto, uma proposta de incentivo ao planejamento
estratégico por meio da projeção do cenário similar ao da guerra. Sendo assim, o CCO (1866) se
propõe a simular as batalhas do Riachuelo, Tuiuti e Curupaiti, com delegações que representarão
comandantes da Tríplice Aliança e Paraguai. Infere-se, portanto, que o Comitê, fundamentado nas
discussões movidas pelo desejo de conquista da Bacia do Rio do Prata, se insere nas dinâmicas da
8
Por adotar uma dinâmica de Jogo de Guerra, o CCO se configura como uma ponte entre o presente e o futuro, capaz de
operacionalizar informações geográficas, ordem da batalha e até mesmo o seu potencial dinâmico, ou seja, a percepção
geral que os jogadores assumem sobre o jogo. Nesse sentido, essa dinâmica fornece um planejamento da operação da
guerra que é benéfico à compreensão histórica do acontecimento (DUNNIGAN, 1992).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 593
3.5 CINI
Além dos Comitês tradicionais, o MINIONU abarca comitês que compõem a estrutura externa
do projeto. Dentre estes, destaca-se o CINI, Comitê Internacional de Imprensa, que integra assuntos
de RI e Jornalismo, sendo responsável por promover a cobertura jornalística dos principais
EXTENSÃO PUC MINAS:
594 Novo Humanismo, novas perspectivas
acontecimentos durante o evento. Nesse sentido, o CINI se propõe a estimular que os delegados que
compõem o Comitê sejam capazes de realizar produções de materiais jornalísticos que serão
distribuídos ao público durante os dias de simulação. Para a disseminação de informações, utiliza o
jornal virtual, denominado Primal Times, como o principal mecanismo de veiculação de informações
aos participantes.
Nessa perspectiva, o Comitê de Imprensa se configura como uma ferramenta pedagógica9 que
combina estudos de RI e Jornalismo à Educação. Com isso, nota-se, portanto, a importância da
mobilização das atividades do comitê de imprensa, que se apresenta como um mecanismo para a
educação que propõe o desenvolvimento de habilidades de comunicação e utilização de mídias sociais
como ferramentas didáticas (EMPINOTTI; PAULINO, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das discussões realizadas, pôde-se perceber a relevância das temáticas debatidas no
MINIONU, de acordo com suas respectivas áreas, não só no que se refere ao aprendizado de
estudantes enquanto ferramenta pedagógica, mas também na formação de uma noção crítica da
realidade social. Ao incorporar papéis, os estudantes são atores diretos com poder de tomada de
decisão e transformação, o que faz com que tenham a capacidade e a autonomia de formular soluções
práticas que servem de inspiração e contribuem para sua formação cidadã. Todos os comitês do
projeto, conforme discutido ao longo do presente trabalho, são meios de produção de conhecimento
e instrumentos inclusivos e participativos para a aproximação com novas temáticas, formas de
discussão, realidades e desafios enfrentados pela sociedade.
Nesse sentido, entende-se que o MINIONU é um projeto de extensão que tem o seu projeto
pedagógico pautado no desenvolvimento e transformação de estudantes do Ensino Fundamental e
Médio, permitindo, portanto, que os jovens desenvolvam capacidade analítica de questões
internacionais por meio de uma metodologia de aprendizagem que difere da que é tradicionalmente
aplicada em escolas.
9
O CINI possui a responsabilidade social de preservar e transmitir o conhecimento verídico, contemplando, portanto,
uma dimensão socializadora que admite um espaço propício para o exercício da cobertura jornalística por adolescentes
interessados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 595
REFERÊNCIAS
OXFORD GLOBAL. A Brief History of Model United Nations. 6 out. 2020. Disponível em:
https://www.oxfordglobal.org/blog/2020/10/6/a-brief-history-of-model-united-nations. Acesso em:
16 jun. 2022.
SOUSA, D. V. de; BRUSSIO, J. C.; BARROS, M. de S. B.; OLIVEIRA, A. C. A. O MANGÁ
COMO UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA: Fullmetal Alchemist. Infinitum, [S. l.], v. 4, n. 6,
p. 43–68, 2021. Disponível em:
https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/infinitum/article/view/16942. Acesso em: 16 jun.
2022.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Estatísticas de filiados a partidos revela baixa
participação feminina e de jovens na política. 2022. Disponível em:
https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Junho/estatisticas-de-filiados-a-partidos-revela-
baixa-participacao-feminina-e-de-jovens-na-politica. Acesso em; 16 jun. 2022.
UNESCO. Educação para o desenvolvimento sustentável na escola. Tereza Moreira; Rita
Silvana Santana dos Santos. Brasília: UNESCO Brasília, 2022. disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375076?posInSet=1&queryId=632a561b-0b6c-4a0e-
8b65-c44ce12da56c. Acesso em 16 jun 2022.
UNESCO. Programa Mundial para Educação em Direitos Humanos. Brasília, 2012. Disponível
em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000217350_por Acesso em: 14 jun, 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 597
Pietra Da Ros1
Rosemari Lorenz Martins2
Lovani Volmer3
RESUMO
Este trabalho trata da vivência da união entre ensino, pesquisa e extensão por parte da autora (1), graduanda do curso de
Letras, que, sendo bolsista integrada em um projeto de extensão, expõe o ciclo em que as práticas acontecem: a partir do
ensino na graduação aplicado na extensão, surgem hipóteses de pesquisa, as quais, após estudadas, promovem novas
atividades com a comunidade e propõem a revisão de técnicas e teorias que integram a formação acadêmica. Nessa
perspectiva, o caso apresentado relaciona ações ocorridas no projeto Centro de Educação em Direitos Humanos
(CEDUCA DH), em que ocorrem oficinas semanais de língua portuguesa para refugiados e migrantes, com o estudo de
variações fonológicas percebidas pela bolsista na fala dos beneficiados. Isso levou a uma pesquisa sobre a influências das
línguas maternas dos participantes em sua produção do português brasileiro. Esse estudo resultou em uma atividade sobre
os sons da língua-alvo dos migrantes para estimular a consciência e a percepção fonológica na aquisição da língua
adicional.
ABSTRACT
This work is about the experience of the union between teaching, research and extension by the author 1, graduating from
the course of Letters, who, being a fellow integrated in an extension project, exposes the cycle which the practices take
place: it starts from the teaching experienced in the undergraduate applied in the extension, from which arise research
hypotheses which, after studied, promote new activities with the community and propose the review of theories and
techniques that integrate the academic training. From this perspective, the case presented relates actions that occurred in
the Human Rights Education Institute (HREI) project, in which weekly Portuguese language workshops are held for
refugees and migrants, with the study of phonological variations perceived by the scholarship in speech of the
beneficiaries, with the study of phonological variations perceived by the scholarship in the speech of the beneficiaries,
which led to a research on the influences of the mother languages of the participants in their production of Brazilian
Portuguese. This study resulted in an activity on the target language sounds of migrants to stimulate phonological
awareness and perception in the acquisition of additional language.
Keywords: Acquisition of additional language. Indissociability. Teaching, research and extension. Phonology.
1
Graduanda de Letras — Português/Inglês. E-mail: pietradaros@icloud.com.
2
Doutora em Letras. Professora da FEEVALE. E-mail: rosel@feevale.br.
3
Doutora em Letras. Professora da FEEVALE. E-mail: lovaniv@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
598 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Em 2015, o Vale dos Sinos/RS estava recebendo muitos migrantes. Em função disso, a
Universidade Feevale criou um projeto que teve início oficialmente em 2016, intitulado "O Mundo
em NH: refugiados e migrantes — uma questão de direitos humanos". A iniciativa compreendia as
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 599
inserida como professora bolsista de Língua Portuguesa em “O Mundo em NH”, relembra que,
mesmo estando no início de sua formação quando aplicou para o projeto, utilizou teorias, métodos e
práticas universitárias das aulas a que assistia para planejar as atividades na extensão. Nesse sentido,
disciplinas como Currículo, planejamento e avaliação, Teorias linguísticas e Aquisição de língua
estrangeira puderam ser vividas e estudadas em consonância.
O curso de licenciatura em Letras - Português/Inglês costuma trabalhar com os estudantes
várias maneiras de se tratar diversos níveis de ensino e conteúdos. Assim, abrange a Educação
Infantil, o Ensino Fundamental e os cursos de línguas, nos quais são lecionadas língua inglesa, língua
portuguesa e suas respectivas literaturas. No entanto, ao tratar de uma língua adicional, os contextos
mais comuns são: a) ensino de língua inglesa para falantes não-nativos que não vivem em países que
falam inglês; b) ensino de língua inglesa para falantes não nativos que vivem em países que falam
inglês e c) ensino de português para falantes que vivem em países que falam português. No projeto
“O Mundo em NH”, o desafio era outro: o ensino da língua portuguesa para migrantes provenientes
de locais que não têm o idioma como oficial, mas vivem no Brasil, onde o contato com a língua é
cotidiano.
É fato que cada indivíduo tem suas particularidades, e o mesmo ocorre com as turmas: não há
receita secreta, e as necessidades de cada grupo são diferentes, o que exige uma reinvenção constante
do profissional. Vivendo esse contexto, é possível promover debates com as turmas da própria
graduação, para que estratégias sejam desenvolvidas com base nos conteúdos estudados. Há, neste
processo, um suporte essencial: a orientação das atividades. No momento de planejar novas oficinas
para o projeto, acadêmica e professora (Da Ros e Martins), integrantes do Projeto, encontravam-se
para pensar nas práticas seguintes.
A interação entre o grupo de graduandos e os professores orientadores é um vínculo
fundamental para as atividades executadas, pois é a atenção ao desenvolvimento das tarefas que
fortalece o fazer docente de ambos. A criação de uma aula necessita da ponderação sobre três fatores
cruciais: passado, presente e futuro. Logo, parte-se do último encontro com a turma e avalia-se o
envolvimento dos alunos e seu rendimento. Se há pendências no que tange ao conteúdo, esse deve
ser revisto, buscando métodos diferentes de apresentação. A aula presente, que está sendo planejada
neste cenário, deve estabelecer um diálogo com a anterior e a posterior, não quebrando o assunto já
tratado, mas reinventando-o, e mais: aliando temáticas aos conteúdos.
Os assuntos escolhidos, sejam quais forem, compõem a necessidade prática que os alunos têm.
Logo, os discentes aprenderão vocabulários e questões gramaticais a partir do uso cotidiano e real. A
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 601
aula presente deve, assim, ter uma revisão do que se passou e uma introdução ao que virá na aula
futura. Essa análise, quando feita com suporte de um professor experiente, permite um olhar para
novas práticas que é levado para a vida profissional do graduando, que carregará, depois de formado
— termo genérico, apesar de compreender-se que todos estão em constante (trans)formação — não
apenas o diploma, mas um fazer consistente e mais preparado para as complexidades da docência.
Durante o planejamento, bolsista e orientadora puderam pensar nos passos seguintes. As aulas
poderiam ter coletas de dados que contribuíssem para estudos específicos da área. Em um desses
casos, uma fábula foi vista pela turma — cada migrante esteve responsável pela leitura de um dos
parágrafos e, com permissão, áudios desse momento foram gravados. Em uma análise, foram
selecionados três homens, de mesma faixa etária, provenientes da Turquia, da Venezuela e do Haiti,
a fim de estabelecer relações entre suas línguas maternas e as produções orais na leitura do texto em
português brasileiro (doravante PB).
Essa pesquisa foi feita, mas percebeu-se uma dificuldade de identificação dos processos
fonológicos ocorridos nas gravações por se tratarem de parágrafos diferentes, não havendo
comparação adequada entre as produções. Além disso, por ser apenas um parágrafo de leitura, os
participantes estavam mais concentrados em ter pronúncias com o sotaque amenizado e foram mais
cuidadosos com as tonicidades e sons que produziam. Nesses casos, o estudo do vernáculo não é uma
possibilidade, mas uma leitura menos criteriosa poderia gerar pesquisas mais avançadas.
Considerando esses fatores, uma nova coleta de dados foi realizada, meses depois. Para essa
segunda pesquisa, que ocorreu durante o período de pandemia, enquanto as oficinas aconteciam de
forma remota, três migrantes foram contatadas por um aplicativo que permite troca de mensagens e
ligações. As mulheres, do Haiti, da Colômbia e da Palestina, enviaram, individualmente, áudios em
que liam o mesmo texto: A foto, de Luis Fernando Veríssimo. Sendo a mesma leitura para todas e
tendo mais extensão de escrita, as duas dificuldades percebidas na análise anterior, realizada com os
homens, foram evitadas.
Os estudos que integraram a investigação foram extensos, incluindo os dados dos sistemas
fonológicos do francês, do crioulo haitiano, do espanhol e do árabe, a fim de contemplar os
conhecimentos prévios das participantes. Também ocorreu um aprofundamento nos processos da
EXTENSÃO PUC MINAS:
602 Novo Humanismo, novas perspectivas
fonologia envolvidos nas produções de som de cada leitura, fator essencial para a realização da
pesquisa. Ao final, os resultados foram publicados em parcelas, tamanha era a riqueza dos dados.
Com base nas pesquisas realizadas, muitos fatores que dizem respeito às interferências
interlinguísticas da língua materna na produção do PB foram percebidos. Um exemplo se refere aos
sons das vogais que, são representados por sete fonemas, além de /ɐ/, quando aliado às grafias m, n
ou nh, de acordo com o alçamento vocálico de Câmara Jr. (1977), ao passo que o espanhol possui
apenas cinco representações sonoras de vogais, o que resulta na percepção do sotaque.
Ao perceber facilidades e dificuldades por meio dos estudos, foi possível criar o planejamento
de uma oficina com enfoque nos sons do PB. Em um encontro com jogos, exemplos e análises da
turma em relação à assimilação dos sons que recebiam e produziam, algumas complexidades foram
amenizadas. Em um grupo em que o ensino da língua também representa acolhimento, crianças,
adolescentes e adultos puderam brincar de construir a frase-resultado da aula: "Estou apaixonado pela
bela vela". Estas cinco palavras representam, no mínimo, quatro lições debatidas: i) um dos sons da
letra "x"; ii) a relação da neutralização ou do alçamento da vogal "e", que é diferente, por exemplo,
em pela e vela; iii) a diferença dos fonemas /p/ e /b/, em pela e bela, mais complexos para falantes
árabes; e iv) a discrepância dos fonemas /b/ e /v/, em bela e vela, que, semelhantes aos ouvidos de
hispano-falantes, foram distinguidos a partir da percepção fonética da produção.
Dessa maneira, o que foi pensado, planejado e coletado em sala de aula direcionou-se à
pesquisa que, em contrapartida, contribuiu para o processo de ensino-aprendizagem após analisada.
É assim, de maneira cíclica e indissociável, que a academia, a comunidade, os professores e os alunos
fortalecem vínculos e são beneficiados, pessoal e/ou profissionalmente. Ainda, em retorno, os alunos
expuseram o impacto do encontro: um homem da Venezuela afirmou que, a partir da percepção que
passou a ter dos sons que emitia, teve facilidades de comunicação, ideia compartilhada também por
um homem do Senegal e uma mulher da Palestina, falantes de árabe.
É relevante frisar que o chamado "sotaque" carrega consigo a identidade e a cultura de origem,
e, portanto, a intenção não é que seja inexistente, mas que as atenuações propostas facilitem as trocas
que ocorrem no dia a dia, reduzindo o número de casos de desentendimentos como o que uma mulher
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 603
colombiana afirmou ter passado ao procurar por uma loja de marcas denominada Zara — no entanto,
o som /z/ não integra o sistema fonológico do espanhol, fazendo soar como "Sara" e gerando a falta
de compreensão.
Assim, identificando influências interlinguísticas na fala de migrantes durante as atuações no
projeto de extensão, a acadêmica pode seguir suas pesquisas na área da fonologia a fim de não apenas
aprender mais sobre as questões que envolvem os processos fonológicos, mas também retornar os
resultados obtidos com a comunidade, em uma relação benéfica a todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vivência acadêmica integrada aqui exposta indica como se enlaçam os pilares universitários
de ensino, pesquisa e extensão. Nesse caso, a bolsista que vivenciou a indissociabilidade partiu do
conteúdo visto nas aulas da graduação em Letras para identificar questões que percebeu em suas
práticas extensionistas e as quais motivaram hipóteses posteriormente pesquisadas.
Esse processo é cíclico, uma vez que as questões fonológicas identificadas pela acadêmica no
projeto extensionista, em que atuava ministrando aulas de português para migrantes, não apenas
foram publicadas, contribuindo para os conhecimentos de pesquisa da graduanda e podendo embasar
outras produções científicas, como também aliaram-se novamente à extensão, quando, ao utilizar-se
de planejamentos com os quais teve contato no ensino da graduação, promoveu uma atividade com
os estrangeiros para estimular sua consciência fonológica e amenizar variações presentes na produção
do PB, possibilitando uma compreensão dos sons da língua-alvo.
Essas experiências contribuíram, nesse sentido, para a formação docente da universitária,
preparando-a para sua atuação futura a partir de uma visão integrada.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Esta escrita objetiva relatar as ações de cunho artístico que são desenvolvidas por meio do Projeto de Extensão
Pensamento Nômade, vinculado ao Programa Arte, Estética e Linguagem da Universidade do Vale do Taquari – Univates.
As ações do Projeto são destinadas às crianças e aos adolescentes de três comunidades parceiras, que integram a Sociedade
Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (SLAN), localizadas no município de Lajeado / RS. Para o
desenvolvimento das ações, o projeto conta com a bolsista, os voluntários e a professora coordenadora, que juntos
elaboram oficinas envolvendo a arte, objetivando a formação ético-estética dos participantes. O Projeto utiliza como
procedimento metodológico oficinas que são desenvolvidas, uma vez a cada semana, em uma comunidade diferente. Para
a elaboração das oficinas, acolhe as demandas das comunidades e entende que, nesse processo, tanto a Universidade,
quanto as comunidades são beneficiadas pelas ações extensionistas, pois, mediante a interlocução entre essas instituições,
possibilita aos envolvidos outras formas de pensar e se relacionar com o mundo. A arte como ponto de partida das oficinas
se constitui como uma importante ferramenta pedagógica, visto que amplia percepções, proporciona ressignificações de
si e do contexto de modo crítico e sensível.
ABSTRACT
This piece aims to report on the artistic and cultural actions that are developed through the Pensamento Nômade Extension
Project, linked to the Art, Aesthetics and Language Extension Program of the University of Vale do Taquari - Univates.
The actions are aimed at children and adolescents from three partner communities, linked to the Lajeadense Society for
Child and Adolescent Care (SLAN), located in the municipality of Lajeado / RS. For the development of actions, the
project counts on the scholarship holder, the volunteers and the coordinating professor, who together prepare workshops,
thus offering ethical-aesthetic training to those involved through the exchange of different knowledge, providing dialogue
between the University and the Community. In this way, this text shows that both the communities and the University are
benefited through extension actions, because, through the dialogue between these institutions, it allows those involved to
other ways of thinking and relating to the world. In short, the use of art as a pedagogical tool, in the classroom, broadens
perceptions, provides resignifications and strengthens social interaction, in which everyone works effectively.
1
Graduanda em Psicologia, bolsista do Projeto de Extensão Pensamento Nômade. E-mail:
ketlin.siqueira@universo.univates.br.
2
Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação. Coordenadora do Projeto de Extensão Pensamento Nômade. E-mail:
fabiole@univates.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 605
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As atividades desenvolvidas nas oficinas mostram que diferentes saberes acadêmicos são
articulados com os saberes das comunidades. A arte, por sua vez, toma uma dimensão central no
Projeto, pois é por meio dela que elaboramos as oficinas, partindo do princípio que o fazer artístico
mobiliza de forma genuína o pensamento, porque entendemos que “o campo da arte não existe para
produzir objetos. A arte é um campo do conhecimento onde se colocam e resolvem problemas, é o
lugar onde se pode especular sobre temas e relações que não são possíveis noutras áreas do
conhecimento” (CAMNITZER, 2011, p.34). A formação baseada em práticas artísticas só pode ser
produzida por meio de experimentações do pensar implicadas sobretudo com/na vida dos sujeitos que
priorizam o processo dialógico no fazer extensionista.
EXTENSÃO PUC MINAS:
606 Novo Humanismo, novas perspectivas
De acordo com Freire (2015, p. 47), a relação da extensão busca o “diálogo com aqueles que,
quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em
saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais”. Nesse sentido, tanto a Universidade, quanto
as comunidades são afetadas por meio da extensão, sobretudo no que tange aos processos de ensino
formal e não formal, pois a aproximação desses espaços possibilita aos sujeitos experimentarem
outras formas de dialogar e pensar o mundo no qual estão inseridos por um viés mais artístico e,
sobretudo, mais humano.
No Projeto de Extensão Pensamento Nômade, as crianças e os adolescentes têm contato com
a arte — compreendida para além da técnica e do belo —, muito importante na vida de qualquer
pessoa, especialmente na fase de formação da criança e do adolescente. Tal importância conferida à
arte se dá na medida em que ela amplia o repertório cultural do indivíduo, tornando-o mais crítico e
sensível para as situações do cotidiano.
3 O PENSAR NÔMADE
Toma-se a noção de nomadismo, a partir de Deleuze e Guattari (1997), para pensar o referido
projeto de extensão. O pensar nômade, para tais filósofos da diferença, consiste no movimento do
pensamento como uma máquina de guerra, um pensamento múltiplo que se aproxima da vida, ao
mesmo tempo em que se distancia da metafísica e da filosofia da representação. Nesse sentido, o
nomadismo é uma prática de intensidades poéticas que potencializam a vida e produzem novas
subjetividades. Contudo, só há uma postura nômade quando existe a capacidade de criar novos
territórios de agenciamento.
A imagem do nômade incide em andarilhar por terras desconhecidas, sem se fixar, sem buscar
um rumo pré-estabelecido, pois “o nômade não tem pontos, trajetos nem terra, embora evidentemente
ele os tenha” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.53). À deriva, o nômade move-se intensivamente
sem ter aonde chegar. Move-se por mover-se; move-se por compreender que a vida é movimento.
Não percorre um movimento em direção a outro lugar, mas torna esse lugar outro. “A vida do nômade
é intermezzo”, dizem Deleuze e Guattari (1997, p. 51). Dessa forma, “o nômade habita esses lugares,
permanece nesses lugares, e ele próprio os faz crescer, no sentido em que se constata que o nômade
cria o deserto tanto quanto é criado por ele” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.53).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 607
4 METODOLOGIA
Criança e ao Adolescente; registra as ações do Projeto através de atas e relatórios que após devem ser
anexados no ambiente virtual dos projetos de extensão; divulga as ações do Projeto em eventos
científicos internos e externos à Universidade e contata as professoras das comunidades parceiras, no
que tange à organização da oficina.
Figura 3 – Bolsista auxiliando os adolescentes na oficina do desenho
5 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Além disso, ao final de cada semestre, é realizada uma roda de conversa com as professoras
dos três Centros da Sociedade Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (SLAN) para
saber sobre o que acharam das propostas realizadas ao longo dos meses, além de mudar ou acrescentar
EXTENSÃO PUC MINAS:
610 Novo Humanismo, novas perspectivas
sugestões para as próximas ações. No que tange à relevância das ações do Projeto nas comunidades,
pode-se afirmar que as práticas desenvolvidas com as crianças vão para além do que está posto no
planejamento, os encontros são permeados pela escuta e por um olhar atento às realidades de cada
comunidade.
Desse modo, o projeto reconhece a importância da interlocução entre os saberes da
comunidade e da Universidade, uma vez que essa troca é fundamental na formação dos sujeitos
envolvidos, visto que o envolvimento com as realidades locais promove atitudes de empatia e
solidariedade. Além disso, as crianças e adolescentes sempre estão dispostos a participar de qualquer
atividade sugerida para o momento.
Para a bolsista o Projeto de Extensão, contribui para sua trajetória acadêmica, pois consegue
colocar em prática o conhecimento aprendido durante a graduação e assim adquire experiência,
enquanto presta um serviço às comunidades parceiras. Como estudante de psicologia, a bolsista
consegue colocar em prática o acolhimento, a escuta e a empatia com o próximo, pois o projeto de
extensão articula a prática do conhecimento científico do ensino e da pesquisa com as necessidades
da comunidade onde a universidade se insere, interagindo e transformando a realidade social.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 611
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que as ações de cunho ético, estético, artístico e cultural, desenvolvidas pelo
Projeto, acarretam de maneira significativa na formação acadêmica e pessoal dos envolvidos, visto
que são compartilhados diversos saberes, tanto entre os acadêmicos (bolsistas e voluntários) e os
professores da Universidade, quanto para as crianças e aos adolescentes das comunidades parceiras,
através das oficinas desenvolvidas no Projeto.
Também acreditamos que as ações extensionistas são de extrema relevância para as
comunidades, pois consideramos que as oficinas relacionadas à expressão artística e à ampliação do
repertório cultural contribuem na formação do sujeito, que, por sua vez, refletem na comunidade e
também nos processos formativos do acadêmico.
REFERÊNCIAS
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os impactos da extensão universitária sobre as pessoas a quem ela
atende, trazendo à tona a experiência de três bolsistas extensionistas unidos pelas conquistas de um projeto. Dialogando
com a extensão e com a cultura popular e evidenciando a necessidade de estabelecer contato com a comunidade, serão
apresentados três relatos de diferentes pessoas que integram hoje o projeto de extensão Boi de Mamão na Comunidade:
Intercâmbios Culturais que Fazem a Diferença da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.
ABSTRACT
The present academic work has as its goal to present impacts of the education outreach over the people it attends to,
bringing up the experience of three academics united by the success of an outreach project. Talking to the community and
the popular culture and showing the need for to have contact with the society, it will be shown three stories of three
different people who compose an outreach project called Boi de Mamão na Comunidade: Intercâmbios Culturais que
Fazem a Diferença of UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense.
INTRODUÇÃO
Como contar uma experiência de três bolsistas em um projeto de extensão que se fazem, hoje,
aprendizes de professores de arte e de cultura? Trata-se de uma escrita com muitas mãos: as que
1
Graduando do curso de licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul catarinense – UNESC. E-mail:
vinimartins@gmail.com.
2
Graduando do curso de licenciatura em Letras da UNESC. E-mail: quetysilva22@gmail.com..
3
Graduando do curso de licenciatura em Artes Visuais da UNESC. E-mail: samuel.el.jr@gmail.com.
4
Mestre em Educação, Professora do Curso de Artes Visuais e Pedagogia da UNESC. E-mail: profsila@unesc.net
5
Mestre em Educação, Professora do Curso de Artes Visuais da UNESC. E-mail: abr@unesc.net.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 613
vivenciaram as experiências aqui relatadas e as que as acompanham, orientam e aprendem com cada
parte desta história narrada em forma de relatos pessoais que se encontram na coletividade de um
grupo que se une pelo diálogo com o Boi de Mamão.
Um dos objetivos da Extensão é estar em contato com a comunidade, e Carvalho (2019) traz
a ideia de que, se a experiência é uma troca de saberes, a Extensão é uma troca de experiências e o
projeto a ser apresentado teve grandes impactos sobre as pessoas que com ele se envolveram e se
envolvem. Portanto, faz parte desta escrita, dialogar com essas experiências proporcionadas ao
público, trazendo à tona histórias de três extensionistas do projeto Boi de Mamão na Comunidade da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
Trazer os relatos de acadêmicos que fizeram opção pela licenciatura, em específico os cursos
de Letras e de Artes Visuais, da UNESC, nos permite perceber melhor o quanto a extensão é um
elemento fundamental para a formação de jovens que se fazem professores de arte e de cultura. A
extensão apresentou, para esses jovens, um mundo que até então desconheciam. Essa história passa
por momentos diferentes nas vidas de diferentes pessoas que se unem hoje a partir do projeto Boi de
Mamão. Uma escrita por muitas mãos, e que, em determinados momentos, evidencia relatos na
primeira pessoa, como os que serão apresentados, salientando a Extensão na vida dos participantes.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O trabalho vaga muito pela união entre arte e cultura popular, imprescindíveis à sociedade, e
que atuamos sem a necessidade de definições concretas sobre elas. Laraia (1932) nos apresenta um
conceito de cultura baseado na antropologia, trazendo a ideia de que a cultura é humana, mas não
biológica, pois nasce da interação entre os homens, enquanto Franklin e Aguiar (2018) analisam a
construção do conceito de cultura popular através da história e de análise do folclore.
A dúvida que nos resta é: como podemos atuar através de conceitos tão incertos ou ainda em
construção? Carvalho (2019) nos leva a pensar na extensão como uma forma de buscar, na experiência
do contato com a comunidade, respostas empíricas para essas questões, isto é, nos alegando um
conhecimento baseado em verdades a posteriori, dizendo que os projetos de extensão “retratam troca
de saberes, pelas quais o aluno aprofunda seu conhecimento, impactando a comunidade atendida ao
ofertar habilidades, e é recompensado com experiências transformadoras em seu olhar, seu sentir e
seu pensar” (CARVALHO , 2019, p. 11).
EXTENSÃO PUC MINAS:
614 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
Quando pensamos esta escrita a qual chamamos de “Extensão Universitária: intercâmbios que
fazem a diferença”, fomos alinhando possibilidades de melhor perceber as possíveis diferenças que
iríamos trazer. Os pensamentos foram se estruturando a partir dos encontros no próprio exercício da
escrita, como um ir e vir de depoimentos que justificariam a ideia de “fazer a diferença”. O caminho
foi mostrando o percurso seguido. Nessa direção, fomos construindo uma cartografia enquanto
fazíamos opção pelos depoimentos dos bolsistas do próprio projeto, os que aqui também se fazem
autores. Optamos assim pela A/r/tografia, enquanto uma metodologia de pesquisa, uma vez que a
compreendemos como “uma forma de investigação PBR que abrange as práticas do artista, do
educador e do pesquisador” (IRWIN, 2013, p. 28).
Tomamos a experiência dos três bolsistas extensionistas como relatos que revelam o papel da
extensão em suas vidas pessoais e profissionais. Foram depoimentos que se caracterizam como “uma
forma relacional de investigação que busca a produção de significados, a compreensão e criação de
conhecimentos. As questões relacionais estão em todos os aspectos de a/r/tografia.” (idem, p. 31). Os
relatos foram produzidos pelos bolsistas, convidados pelas coordenadoras a essa contribuição, depois
de surgir a ideia no coletivo. Estes prontamente aceitaram o desafio e evidenciam a formacomo esse
projeto fez (ou faz) a diferença no seu percurso formativo.
Minha trajetória no Boi de Mamão começou em 2013, quando o Projeto de Extensão Boi de
Mamão na comunidade elegeu a Escola de Ensino Básico Governador Heriberto Hulse
(E.E.B.G.H.H.) para ser a primeira escola a ser contemplada. A professora Silemar incentivou várias
turmas para ajudar na criação desse folguedo. No início, parecia bem estranho, mas ela foi capaz de
nos incentivar e animar para a construção do folguedo. As próximas semanas foram de construção de
personagens e da música, mesclando todas as turmas envolvidas. Tive mais envolvimento na música
junto a outros alunos, mas foi a primeira vez que me senti uma compositora.
Desde pequena, eu amava música, adorava cantar e escrever e essa foi minha primeira
oportunidade como cantora e compositora, a semente que me plantou como produtora cultural. Ajudei
a compor alguns versos, a tocar a batida e, após algumas semanas, o boi estava vivo e dançando. Eu
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 615
era muito tímida, não sentia que tinha papel para mim, então fiquei na cantoria, sempre encolhida
atrás dos demais integrantes.
Nossa primeira apresentação foi para a escola. Os alunos se reuniram e fizemos um ensaio
aberto apresentando aquilo que levamos semanas para construir. Cada fuxico costurado, cada
lantejoula colada, tudo foi esforço de alunos empenhados em uma cultura que nem sabiam o quão
grande era. Dançar no Boi de Mamão me deixou confiante. Em 2015, comecei a me soltar mais,
participando das gincanas da escola com apresentações musicais, me envolvendo mais e ajudando
nas apresentações. Mas, em 2016, quando a turma mais velha que ajudou a criar, o Boi se formou,
novas vagas foram abertas.
Assim, eu comecei a atuar como a narradora. Nesse ano, houve poucas apresentações, pouca
movimentação dos alunos que não conheciam o boi. Então, tornou-se difícil mantê-lo dançando com
poucos integrantes; mas, no ano seguinte, em 2017, as coisas mudaram. Os alunos novos foram
incentivados pela escola a participar e logo novos integrantes chegaram, voltamos com os ensaios e
apresentações. Eu fazia o papel da narradora e me tornei uma das três pessoas que guiavam os ensaios
e organizava os materiais para as apresentações.
Com o tempo, aquilo não era mais um projeto de uma sala de aula, era a paixão dos alunos,
com as datas dos ensaios combinadas e dirigidos sem o auxílio de um professor, o que trouxe, além
do aumento de nossa paixão pela cultura o Boi de Mamão, um pouco de responsabilidade. Os ensaios
eram organizados pelos alunos, o diretor da escola confiava no grupo e permitia os ensaios frequentes
mesmo sem aviso prévio, pois sabia que podia confiar nos alunos, ou melhor, no grupo folclórico que
a escola se tornou. Ao longo de 2018, fizemos várias apresentações, participando de eventos e
representando a escola como um grupo folclórico, não mais como apenas um grupo escolar.
Recebemos convites para eventos de fora além de participar de alguns encontros de Boi de
Mamão organizados pela UNESC; um grupo que começou em uma sala minúscula de artes foi se
tornando um grande grupo folclórico, reconhecido pelas cidades da região. Já em 2019, tivemos a
oportunidade de ajudar na construção do Boi de Mamão da Casa da Fraternidade em Araranguá, em
que a música usada até hoje é de minha autoria, conseguindo encantar novas crianças como fizeram
com a gente. Minha experiência com o projeto não acabou mesmo depois que me formei. Conheci o
Vinicius da Silva Martins, meu atual marido, na escola em 2017, o incentivei a entrar no Boi de
Mamão e eu soube que fiz a coisa certa quando após formados, ele decidiu trabalhar com isso.
Em 2020, em plena pandemia, meu marido e eu criamos juntos um grupo folclórico, nosso
próprio grupo, o Cultura Mamoeira. Fomos contemplados pela lei Aldir Blanc/2020 e, ao longo de
EXTENSÃO PUC MINAS:
616 Novo Humanismo, novas perspectivas
2021, realizamos mais de 20 apresentações pelas escolas da região, mostrando as crianças uma nova
versão do Boi de Mamão, a versão em fantoches, mas utilizando o mesmo enredo convencional.
Nesse mesmo ano, iniciei a faculdade de Letras, escrevi mais 4 músicas para escolas e instituições,
além de ser voluntaria do Boi de Mamão da Casa da Fraternidade. Graças ao projeto de extensão, me
descobri artista, descobri uma paixão pela cultura popular que vou levar para o resto da vida, hoje
não imagino minha vida sem o Boi de Mamão estar fortemente presente nela.
Em 2017, me transferi para a E.E.B.G.H.H ainda no segundo ano do Ensino Médio. Naquela
época ainda não sabia, mas isso mudaria minha vida para sempre. Além conhecer novos amigos,
acabei conhecendo a paixão pela arte. Na época, estava namorando uma colega de classe que me
chamou para participar das atividades extracurriculares da escola, e até me transferi para o Ensino
Médio Inovador (EMI). Naquele momento, não gostava muito de estudar e minha relação com a arte
era baixa, pois nunca antes ela havia me tocado de alguma forma, mas, mesmo assim, participei da
fanfarra, fui eleito presidente do Grêmio Estudantil, fiz aulas de dança e yoga.
Auxiliava os professores em quase todos eventos culturais organizados na escola como, por
exemplo, o Dia da Consciência Negra, mas o que me fez apaixonar pela arte e pela educação foi o
grupo de Boi de Mamão da escola. Nunca havia conhecido algo de que gostasse tanto de fazer parte;
era algo natural e vivo. O grupo, diferente de outros que conheceria mais para frente, não possuía um
coordenador adulto nos dizendo o que fazer, era verdadeiramente dos alunos. Os participantes se
reuniam e ensaiavam, distribuíam os papéis, ensinavam os novos integrantes a como tocar, dançar,
interpretar e improvisar, e essa liberdade foi o que mais me impressionou naquele grupo, e caí de
cabeça nisso.
No começo, era tímido e preferi pegar um personagem mascarado e mudo, me comunicando
apenas pelo corpo. Eu era o Urubu, e minha função era “incomodar” o boi, o laçador e todo mundo
que eu conseguisse gerando gargalhadas e, me animando cada vez mais com o personagem, gerou
uma percepção de movimento e de como se expressar com o corpo, muito importante na minha vida
profissional até os dias de hoje. Expressei-me tanto que a professora responsável pela criação do
grupo, inicialmente em 2014, Silemar Medeiros, a Sila, me chamou para conversar e disse que o
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 617
personagem principal do folguedo era o Boi e que eu chamava atenção demais, assustando o público
e fazendo piadas corporais. Foi então que aprendi uma grande lição sobre o que era ser artista, a
questão do ego, o trabalhar em grupo e de saber a hora de ser o centro das atenções.
Infelizmente, não aprendi o suficiente na época e fui para o papel de vaqueiro, uma das poucas
interferências que lembro de ter acontecido nos ensaios em 2018, em que estava no 3º ano do E.M.
Faltava um ano para me formar e eu ainda não sabia bem que caminho seguir, mas já possuía um
desafio: agora, no papel de vaqueiro, não teria mais minha máscara como escudo, obrigando-me a
falar, e, para a minha surpresa, adorei isso; a liberdade que o folguedo nos dá de improvisação,
alinhada com vários ensaios, foi essencial.
Uma das coisas mais importantes para essa adaptação foi estar entre amigos, o que tornava
tudo muito divertido e especial. Além disso, no folguedo do Heriberto, a nossa puxadora/cantora era
a Quet Silva, minha namorada da época e atual esposa, aquela colega que havia me chamado para
participar do grupo, além de ter ajudado a compor a música original, lá em 2014. As dinâmicas de
cena eram muito naturais e funcionavam muito bem, tanto que, nesse período, os professores e a
direção da escola começaram a incentivar cada vez mais o grupo, nos levando a diversas escolas da
região para apresentar. Logo o nome do Boi do Heriberto estava se espalhando pelo estado, e fomos
convidados para diversos encontros de Bois de Mamão e, em alguns deles, éramos apresentados como
o Grupo Folclórico do Heriberto; quase toda semana havia ensaio e apresentação. Foi naquela época
que provei a melhor sensação do mundo: a de ser artista! E eu amei senti-la.
No fim do ano, próximo à formatura, lembro-me de estar na sala de aula, ainda confuso sobre
que carreira seguir, até que entra na sala a professora Silemar com uma proposta que, mais uma vez,
mudou minha vida: uma bolsa de 20 horas semanais na UNESC para estudar sobre o Boi de Mamão
e atender as comunidades da região interessadas em montar um Boi para a comunidade. O pré-
requisito era estar cursando Artes Visuais, e, ao entender o sinal, assinando os documentos, veio-me
o susto: o que é licenciatura?
Quando descobri que estava estudando para ser professor, senti um dos maiores medos da
minha vida, ser responsável pela formação de um jovem, mas, com o tempo, me acostumei com a
ideia e amei. Assim, tive um objetivo claro de estudar a arte e educação, vinculadas ao Boi de Mamão.
Nisso, passei os quase 4 anos que estou na universidade estudando esse tema, sendo bolsista do
projeto Boi de Mamão na Comunidade, publicando artigos, construindo grupos e ministrando
oficinas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
618 Novo Humanismo, novas perspectivas
Criei um grupo de teatro de bonecos que narra a história do Boi de Mamão, além de me tornar
coordenador do grupo do boi do Heriberto Hulse durante o ano de 2019, bem como do grupo da Casa
da Fraternidade, grupo este que ajudei a construir e ministro oficinas, desde 2019 até os dias de hoje.
Com toda essa paixão pelo folguedo, que demonstrava na universidade, ganhei carinhosamente o
apelido de Menino do Boi, apelido que levo como nome artístico com muito carinho, pois fala muito
sobre mim, um eterno menino apaixonado por brincar de Boi de Mamão.
Cheguei à universidade já bastante assustado, como fruto do que eu achava ser uma medida
muito arriscada. A verdade é que sempre gostei de arte, mas eu não conhecia a educação. Posso dizer,
hoje, que ter entrado na UNESC mudou minha vida mais do que eu esperava.
Em outubro de 2021, ofertaram para os estudantes do curso de Artes Visuais uma vaga como
bolsista num projeto de Boi de Mamão; a primeira coisa que fiz foi entrar em contato com a
coordenadora, professora Silemar, perguntando o que era isso. Não sei se meu estado hoje é
recompensa da minha curiosidade ou da bondade das pessoas ao meu redor, mas, no mesmo dia, a
Professora me contratou como bolsista num projeto que eu nem imaginava ser tão grande quanto de
fato era.
Chegando no trabalho, conheci um casal, ambos bolsistas do projeto, apaixonados pelo Boi
de Mamão; me perguntei por bastante tempo de onde vinha tanto entusiasmo, até perceber que esse
sentimento já fazia parte de mim. O Vinicius e a Quetlin tinham uma história bem longa com a cultura
popular, e eu não tinha nenhuma. Comecei no projeto trabalhando com produção, sempre tive muito
interesse e diálogo com diversas áreas das artes visuais; antes de entrar no curso já trabalhava como
ilustrador, e aliar essas experiências à cultura também foi muito importante.
O projeto atendia uma escola em Turvo, Santa Catarina. Fizemos nossa primeira visita no meu
primeiro mês de projeto, na qual conheci pessoas muito importantes de fora da universidade e pude
aprender muita coisa sobre Boi de Mamão. Fizemos nossa relação com a comunidade produzindo as
peças, pude atuar como escultor, modelando algumas máscaras para a equipe de teatro com ajuda do
Vinícius, e como compositor, criando músicas para a cantoria, com ajuda da Quetlin, além de realizar
diversas atividades de extensão, como apresentar o projeto em eventos e participar de ensaios de Boi
de Mamão. Hoje, faço parte do grupo da instituição espírita Casa da Fraternidade, que é ministrado
pelo Vinícius, além de dar aula na instituição de desenho e escrita criativa.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 619
Pela primeira vez na vida, senti que talvez realmente pudesse trabalhar com arte, entrar no
projeto e conhecer pessoas tão importantes para o progresso da minha carreira me fez pensar na
satisfação que se sente ao se relacionar com a educação. Eu poderia dizer, sim, que a extensão me
atingiu. Por causa dela e das pessoas que conheci, hoje sou professor também.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Nosso diálogo com a extensão mostra como ela pode, de fato, mudar a vida de quem atende,
mas o que também importa é a natureza do nosso projeto. Assim, dialogar especificamente com o Boi
de Mamão foi o que nos gerou essa experiência inesquecível. Gonçalves (2001) salienta que as trocas
humanas são o motivo para o boi existir, isto é, as trocas de experiência, estabelecendo um diálogo
com Carvalho (2019), evidenciando que o Boi de Mamão tem, por natureza, uma relação intrínseca
com a extensão.
“Antigamente eram homens adultos que brincavam, agora eram crianças. Trocamos as
lâminas de compensado por uma armação de bambu; e as cabeças, ao invés das ossadas dos bichos,
fazíamos com papel machê”. (GONÇALVES, 2001, p. 83). Nossa relação com a comunidade se dá
em escolas públicas ou até instituições não formais de ensino, evidenciando por Gonçalves (2001)
como importante para que essa cultura não morra. Atualmente, a comunidade atendida está plantando
diversos frutos de extrema importância para a preservação de uma memória histórica e cultural de
Santa Catarina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Luciani Coimbra de. Prefácio. In: CERETTA et al (org.). Práticas E Saberes De
Extensão. Florianópolis: Dois por Quatro Editora, 2019. p. 11– p. 13.
FRANKLIN, Ruben Maciel; AGUIAR, Antonio Sérgio Pontes. Cultura Popular, Um Conceito Em
Construção: Da Tradição Dos Românticos E Folcloristas À Emergência Política Dos Estudos
Culturais. História e Cultura, Franca, v. 7, n. 1, p. 238-257, jan./jul. 2018.
GONÇALVES, Reonaldo Manoel. Cantadores do boi de mamão: velhos cantadores e educação
popular na Ilha de Santa Catarina. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) –
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina,
2001.
IRWIN, Rita L. A/r/tografia. In: DIAS, Belidson; IRWIN, Rita L. (Org.). Pesquisa educacional
baseada em arte: A/r/tografia. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013. p. 27 a 35.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
([1935] 2001).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 621
RESUMO
Este relato de experiência apresenta reflexões acerca de atividades que foram desenvolvidas no projeto de extensão
intitulado ALEGRIA - Aprendizagem de Leitura e Escrita Gerando Respeito, Inclusão e Autonomia, durante o período
de isolamento social, com oficinas realizadas na modalidade remota, e atividades desenvolvidas no retorno à modalidade
presencial, que se deu em março de 2022. A proposta é mostrar o trabalho de alfabetização e letramento atrelado à
autonomia dos sujeitos atendidos. Para tal, nos ancoramos nos pressupostos de Ferreiro (2000), Freire (1989) e Soares
(1998; 2004; 2019). As atividades desenvolvidas e que são neste texto apresentadas consistem em estudo do gênero receita
e sua realização, a produção de uma carta e o cumprimento de desafios, importantes para desencadear a autonomia dos
sujeitos atendidos no projeto e de seus pais. A demonstração de depoimentos dos pais de tais sujeitos confirma que
associar o processo de alfabetização e letramento a ações que promovam a autonomia é um caminho certo dentro deste
projeto.
ABSTRACT
This experience report presents reflections on the activities that were developed in the extension project entitled
ALEGRIA - Learning How to Read and Write to Generate Respect, Inclusion and Autonomy, during the period of social
isolation, with workshops held remotely, and activities developed face-to-face, which took place after our return in March
2022. Our aim is to show the literacy work linked to the autonomy of the subjects assisted in the project. To do so, we
anchored ourselves on the assumptions of Ferreiro (2000), Freire (1989) and Soares (1998; 2004; 2019). The activities
developed in the project and presented in this text consist of the study of the genre “recipe” and its execution, the
production of a letter and the addressing of challenges, which are important to trigger the autonomy of the subjects assisted
in the project and their parents. Parents’ testimonials confirm that associating the literacy process with actions that
promote autonomy is the right path taken in this project.
1
Graduanda do curso de Pedagogia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: alinymartinsc@hotmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras-Linguística (PUC Minas) Coração Eucarístico. E-mail:
mqgomes@sga.pucminas.br.
3
Graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: tdaniellyalves@gmail.com.
4
Graduado em Letras / Licenciatura e Bacharelando em Letras pela PUC Minas. Mestrando em Linguística Aplicada e
Estudos da Linguagem (PUC-SP) Campus Monte Alegre - Perdizes. E-mail: thullio.salgado@sga.pucminas.br
5
Dra em Linguística, Professora da Graduação em Letras e da Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Letras –
Coração Eucarístico. E-mail: arabie@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
622 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p. 09).
contexto de letramento e por meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode
desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema de escrita.
(SOARES, 2004, p. 97).
Assim, o ideal é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais em que os indivíduos
estão inseridos. Aliando-se a essas concepções, trabalhamos também considerando a alfabetização
inserida em práticas de letramento que, conforme propôs Soares (2019):
surge o termo letramento, que se associa ao termo alfabetização para designar uma
aprendizagem inicial da língua escrita entendida não apenas como a aprendizagem da
tecnologia da escrita – do sistema alfabético e suas convenções -, mas também como, de
forma abrangente, a introdução da criança às práticas sociais da língua escrita. (SOARES,
2019, p. 27).
Para Soares (1998), o fundamental é que o sujeito seja alfabetizado e letrado ao mesmo tempo.
Dessa forma, o alfabetizando poderá compreender os textos que fazem parte do seu cotidiano e de
suas práticas sociais. É nessa medida que atrelamos os processos de alfabetização e letramento
àquelas habilidades já citadas, que possibilitam uma vida mais autônoma. Saber ler e escrever, dentro
das práticas discursivas, especialmente com o público a que atendemos, possibilita ao indivíduo fazer
alguma compra sozinho, locomover-se na cidade com segurança, desenvolver atividades de nosso
cotidiano com mais autonomia, libertando, portanto, o sujeito com deficiência intelectual e as pessoas
que são responsáveis por eles.
Assim, ao mesmo tempo em que desenvolvemos o letramento, criamos possibilidades de
alfabetização e isso se dá à luz de Emília Ferreiro (2000). Conforme assinala a autora, a aprendizagem
da escrita é de caráter conceitual, pois diz respeito a um sistema de representação (FERREIRO, 2000).
Isso porque, a aprendizagem, na realidade, é a apropriação de um novo objeto de conhecimento. Nessa
perspectiva, não se trata de uma mera junção de letras: B + A = BA, o que seria uma apropriação de
códigos. Em uma leitura de Ferreiro (2000) feita por Hermont (2010) temos,
ainda representa cada sílaba com uma letra cujo som existe em cada sílaba. Por fim, em
“CAVALO”, a criança demonstra ter uma escrita na fase alfabética, porque escreve uma letra
para cada som existente na palavra. (HERMONT, 2010, p. 29).
Outro depoimento interessante acerca de tal atividade foi dado pela responsável pela jovem
L., que cita o desenvolvimento da aluna quanto às noções de gêneros textuais, destacando a receita,
conforme se pode verificar no seguinte relato:
O retorno aos encontros presenciais, após dois anos sendo realizados pela plataforma on-line
Meet e Teams, deu-se em março de 2022. Os trabalhos na modalidade presencial, especialmente na
percepção dos monitores, permitem que algumas intervenções mais eficazes sejam feitas a fim de
desenvolver ainda mais a autonomia dos jovens e adultos do projeto ALEGRIA.
Durante o período de trabalho remoto, foi percebido que as correções e as realizações das
tarefas, muitas vezes, tinham interferência das famílias, uma vez que diziam as respostas corretas para
que os sujeitos atendidos no projeto falassem para a turma, apagavam questões erradas, ditavam o
que era para ser escrito no caderno, entre outras situações. Por mais que seja compreensível a intenção
positiva por trás dessas ações, essa relação dificultava não apenas o desenvolvimento da autonomia,
mas também a falta de iniciativa dos alunos para pensar sobre as respostas. No relato da mãe de S., é
possível perceber o avanço na autonomia, conforme se verifica no depoimento seguinte:
[...] com relação ao retorno da aula presencial nós conseguimos ver aqui que tem uma
melhora no interesse dela de fazer as coisas, ela já levanta, já demonstra uma agilidade maior
para poder se arrumar, tomar um café, já arruma sozinha e arruma para poder ir na aula
presencial. Então a gente vê que com o retorno da aula presencial ela deu uma vontade maior
de participar, né? Então essa autonomia dela também acaba sendo mais presente com o
retorno da aula da aula presencial. (Responsável pela jovem S.)
EXTENSÃO PUC MINAS:
628 Novo Humanismo, novas perspectivas
Ao analisarmos essa carta, notamos que a aluna 1 soube colocar os elementos que fazem parte
da estrutura composicional desse gênero textual. Ela apresenta local, data, vocativo, corpo do texto e
despedida. Com relação à etapa da escrita, a aluna 1 escreve uma letra para cada som da palavra,
portanto encontra-se na fase alfabética com hipótese ortográfica, já que escreve ‘saudade’ trocando
as letras e insere um ‘i’ em ‘beijos’. Pode-se sugerir ainda que a aluna precisa de avançar no que diz
respeito à quantidade de informação e mesmo na articulação das ideias.
Além das atividades relacionadas à produção do gênero carta, há aquelas que enviamos como
para casa. Neste relato de experiência, destacamos os desafios a serem cumpridos, que constituíam
de tarefas mais práticas, tais como ajudar a limpar a casa, levar o lixo para a rua, limpar os sapatos,
fazer suco ou café, lavar a louça, entre outras. Dessa maneira, espera-se que não apenas os sujeitos
atendidos, mas também os familiares, compreendam a importância da participação deles nas tarefas
de casa e que essa contribuição é, sim, possível.
A mãe da jovem S. nos enviou o seguinte retorno após a realização de vários desafios durante
o semestre:
[...] com relação à autonomia da S., podemos verificar uma melhora, um crescimento dessa
autonomia depois do projeto, tanto com relação à tarefa de casa, colocar o lixo para rua, dar
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 629
uma ajuda em casa, na tarefa de casa, né?, quanto também com relação a cozinhar, fazer
algumas receitas, isso teve início depois do projeto de vocês. (Responsável pela jovem S.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste relato de experiência, assumimos a tese de que, para que o processo de autonomia dos
jovens e adultos com deficiência intelectual que participam do Projeto ALEGRIA seja desenvolvido,
as atividades podem e devem ser planejadas tendo como objetivo a contribuição no desenvolvimento
cognitivo, emocional e sociocultural desses sujeitos. Dessa maneira, é possível pensar, juntamente
com os familiares, meios de incentivar a independência deles, a fim de contribuir para o alcance de
sua autonomia.
Foi apresentado, nesse texto, o desenvolvimento de atividades relacionadas à alfabetização,
ao letramento e à autonomia dos sujeitos atendidos no projeto antes e após a pandemia. A percepção
é que o ensino virtual, realizado nos dois anos de isolamento, não propiciou impacto negativo na vida
de tais sujeitos. Antes, parece ter havido um desenvolvimento do letramento digital, ainda que
houvesse muitas interferências da família no sentido de não deixarem seus filhos ‘errarem’ as
atividades propostas. período de pandemia, foram lançados desafios que os atendidos no projeto
pudessem se envolver mesmo estando dentro de casa. Após a pandemia, os alunos aprenderam a fazer
cartas e continuam sendo incentivados a serem autônomos em sua casa, conforme verificamos
anteriormente.
A autonomia requer que a pessoa com deficiência intelectual tenha a sua voz respeitada, ou
seja, não é necessário que as pessoas façam tudo por ele, mas, sim, que forneçam meios a partir de
suas limitações, pois só é possível aprender por meio da ação e interação. É fundamental fornecer a
autonomia necessária para que esses jovens e adultos possam vivenciar as próprias experiências.
Portanto, a experimentação deve ser incentivada, direcionada e assistida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
630 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
Palavras-chave: Número Natural. Engenharia Didática. Teoria Piagetiana. Teoria Freireana. Alfabetização.
1
Graduanda em Pedagogia na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)/Unidade Barbacena; membro dos grupos
Projeto de Extensão em Matemática (PROEMAT), Geografia, História, Ciências, Imagens e Mídias no Contexto
Educacional (GHIMCE), Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação e Saúde (NEPES); e bolsista de iniciação científica
pelo Grupo de Estudos sobre Linguagens, Ensino e Cognição (GELINC)/UEMG. E-mail:
carla.0793427@discente.uemg.br.
2
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro do grupo PROEMAT. E-mail:
gessica.0793130@discente.uemg.br.
3
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro dos grupos PROEMAT, GHIMCE, GELINC, NEPES
e Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Relações Étnico-Raciais (LEPER); estagiária da Rede Salesiana
Brasil Instituto Maria Imaculada; e monitora na disciplina Alfabetização e Letramento da UEMG/ Barbacena. E-mail:
rosemilla.0793279@discente.uemg.br.
4
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro dos grupos PROEMAT, do GELINC e do Projeto de
Extensão em Pedagogia Hospitalar; estagiária da Rede Sesi Barbacena Cat Oscar Magalhães Ferreira UEMG. E-mail:
taina.0793386@discente.uemg.br.
5
Doutor em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professor do
Departamento de Fundamentos e Metodologias da Educação na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) -
Unidade Barbacena; e orientador do Projeto PROEMAT UEMG. E-mail: emerson.lomasso@uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
632 Novo Humanismo, novas perspectivas
ABSTRACT
This experience report presents the trajectory of the Extension Project in Mathematics, whose objective is to investigate
and act in the education of children in the early years and students of the pedagogy course at UEMG – Barbacena campus.
The development of this happens in two moments. In the first, students will learn about teaching and learning concepts
and methodologies, related to numbers, reading and writing. In the second moment, they will work with the children
through a pedagogical intervention. The theoretical basis was based on Piagetian and Freirean theory. The methodology
used was Didactic Engineering presented by Michèle Artigue. The initial proposal consisted of work to be developed in
person, however, given the current pandemic, the project was adapted for the remote modality. The project is in the third
stage of the methodology and, so far, with the restructuring of the project and the difficulties linked to the situation, the
results obtained are satisfactory for the learning process initially proposed. It is concluded that the project is a pioneering
example for the next pedagogical interventions that combine academic knowledge with classroom practices.
Keywords: Natural Number. Didactic Engineering. Piagetian theory. Freirean theory. Literacy.
INTRODUÇÃO
Este relato de experiência buscou externar o trabalho de intervenção pedagógica que foi
desenvolvido por meio do projeto de extensão voltado para alfabetização e letramento em
Matemática. Fizeram parte discentes do curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas
Gerais – Unidade Barbacena, como também crianças dos anos iniciais de uma escola parceira da
instituição. Os objetivos foram ao encontro da capacitação de graduandos em Pedagogia a lidarem
junto ao processo de ensino e aprendizagem — no que tange às áreas de Língua Portuguesa (leitura
e escrita) e de Matemática (número natural) — com crianças que apresentam dificuldades em
conceber e conceituar números e, além disso, que ainda não estavam totalmente alfabetizadas.
Para Piaget e Szeminska (1975), o número consiste na síntese da classificação e da seriação.
Ainda segundo os autores, para o número existir, ele tem que satisfazer algumas qualidades, as quais
destacam-se a conservação de quantidades (condição de todo e qualquer conhecimento), a
correspondência termo a termo (essencial para a contagem), a determinação da cardinalidade e do
princípio ordinal (aspectos indissociáveis do número).
No que tange ao processo de alfabetização, este se fundamenta na prática social dos
educandos, associando a aprendizagem da leitura e da escrita como exercício da consciência crítica
(FREIRE, 1994). A leitura, segundo Paulo Freire (1989), representa fortalecer o sujeito e sua história
como autor de linguagem, o diferenciando dentre outros, como intérprete do mundo que o rodeia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 633
Ainda de acordo com a teoria freiriana, a leitura não se finda apenas no reconhecimento da palavra
escrita, mas, sim, antevê e se estende na inteligência do mundo. O ato de ler para Freire (1989) liberta
o ser humano, oferecendo-lhe condições para ser agente de seu próprio mundo, este ativo e
principalmente transformador.
Entende-se que os objetivos supracitados são descritivos, pois buscam detalhar uma situação,
no caso desse relato de experiência, um problema envolvendo o ensino e a aprendizagem de duas
áreas do conhecimento, Matemática e Língua Portuguesa. Diante desse contexto, este trabalho visa a
particularizar e posteriormente, elencar ocorrências oriundas do cotidiano escolar, partindo esse da
coleta, registro e análise de dados (cf. CRESWELL, 2007).
Dois públicos constituem os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem desse
trabalho: as discentes em Pedagogia e as crianças dos anos iniciais. A princípio, foi ofertada, às
graduandas, uma capacitação teórica e, posteriormente, foram inseridas no cenário do magistério,
atuando diretamente com as crianças. Diante dessa concepção, instaurou-se uma tentativa de
contribuir para lidar com as dificuldades, as crenças, os temores e as inseguranças presentes na vida
escolar e acadêmica dos discentes e docentes em pedagogia, principalmente no que tange ao ensino
de Matemática. Entende-se que essa abordagem, junto ao discente de Pedagogia, contribui para suas
práticas pedagógicas, quando estiverem atuando no magistério, principalmente em Matemática.
Particularizando as crianças, elas apresentavam dificuldades em matemática, leitura e escrita.
Para estas, o projeto buscou atuar por meio de uma intervenção pedagógica, em que “[...] as discentes
em Pedagogia, após participarem da formação, atuarão como professoras junto a crianças com
dificuldades nesse componente curricular” (LOMASSO; OLIVEIRA; SOUSA, 2021, p. 144).
Entende-se que, a partir desse contexto, conciliar-se-á o conhecimento do graduando em
Pedagogia com o cotidiano do magistério em Matemática e Língua Portuguesa. Assim sendo, o
projeto de extensão, base para esse relato, atua junto a duas frentes, qualificando o discente e sanando
as dificuldades das crianças, pois entende-se que “a aproximação entre a Universidade e a Escola tem
sido objeto de estudo de muitas pesquisas sobre a formação de professores[...]” (SANTOS et al.,
2021, p. 3)
Quanto à metodologia, essa foi pautada na relação ensino e aprendizagem, priorizando a
formação acadêmica, a produção de recursos pedagógicos e a realidade da sala de aula nos anos
iniciais. Desse modo, viu-se que a Engenharia Didática condiz com os objetivos aqui elencados.
A ideia base para esse projeto foi vislumbrada para um contexto distinto ao qual se encontrava
o mundo, ou seja, sem pandemia, sem isolamento, sem aulas remotas, dentre outros. Dessa forma, a
EXTENSÃO PUC MINAS:
634 Novo Humanismo, novas perspectivas
princípio, seria inviável a sua execução. Entretanto, viu-se mais que providencial adaptar essa
proposta para um ambiente remoto de ensino e aprendizagem: essa adaptação se fez, principalmente,
junto às etapas da Engenharia Didática, transformando-as do regime presencial para o remoto.
Iniciado o projeto e diante de uma realidade totalmente desconhecida — o ensino remoto para
os anos iniciais — visou-se elucidar se a Engenharia Didática, adaptada para a modalidade remota,
produziria elementos favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem em Matemática e Língua
Portuguesa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O referencial teórico que conduz esse projeto abrange a epistemologia genética do número
natural, segundo Piaget e Szeminska (1975), e a filosofia Freireana (1994, 1989, 2002).
Jean Piaget (1896 – 1980) e Alina Szeminska (1907 – 1986) passaram anos pesquisando como
a criança organiza seus esquemas em nível de pensamento operatório. Conclui-se que a construção
do número pela criança se faz diante da relação entre a conservação numérica, as operações lógicas
de classificação e a seriação das relações assimétricas.
Partindo do princípio da conservação, Piaget e Szeminska (1975) salientam que um dado
conjunto só é concebível se o valor total de seus elementos continuar inalterado, independente das
relações feitas entre si. Ademais, segundo os autores, um número existe se, e somente se, satisfizer
as qualidades de: conservação de quantidades, correspondência termo a termo, determinação do valor
cardinal e determinação do princípio ordinal.
A partir de Freire (2002), é possível compreender o quanto é importante ver as crianças como
sujeitos ativos e de direitos, bem como ver as competências que um verdadeiro educador deve ter. A
leitura da palavra — alfabetização — é um processo complexo, em que se deve estar presente a leitura
do mundo, as experiências, os saberes e as vivências — letramentos — das crianças e estes não
devem, nunca, serem desperdiçados ou ignorados (FREIRE, 1989). Diante disso, objetivou-se levar
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 635
3 METODOLOGIA
aplicativo WhatsApp, em que, a cada momento, a interventora atuava com uma única criança.
Participaram cerca de 10 voluntárias, o coordenador e as crianças elencadas pela escola, sendo entre
2 e 3 crianças, em média, para cada colaborador(a).
Na segunda fase — análise a priori —, diante das situações diagnósticas elencadas, foram
estabelecidas as variáveis de estudo, ou seja, a correspondência termo a termo,
o princípio de cardinalidade e o princípio ordinal, diretamente ligadas à área de matemática. No que
tange às questões de alfabetização, verificou-se que muitas crianças não dominavam a leitura,
tampouco a escrita.
Estabelecidas as variáveis, foi elaborada uma sequência didática de atividades referentes ao
tipo de situação-problema. Diante disso, e seguindo o referencial teórico adotado neste projeto, as
atividades contempladas na sequência tiveram como eixo norteador as experiências de Piaget
e Szeminska (1975), abordadas no livro A gênese do número na criança, como também, e não
menos importante, o pensamento de Paulo Freire, em especial o livro A importância do ato de ler:
em três artigos que se completam (1989).
Na terceira fase da Engenharia Didática, a experimentação, as voluntárias atuaram como
professoras interventoras, ministrando aulas em encontros remotos juntos às crianças. Estes
aconteciam uma vez por semana, com duração de 40 a 60 minutos e neles foram desenvolvidas
atividades lúdicas, por meio de materiais concretos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
(como um cartão), a criança deveria apresentar outro (como uma tampinha de garrafa), para que,
assim, fosse possível verificar se o estudante conseguia realizar correspondência termo a termo e
conservação de quantidades ao mesmo tempo.
Ademais, um ditado diagnóstico também foi realizado. É fundamental ressaltar que, diante
dessas atividades, foi possível ter uma noção sobre quais eram as potencialidades (desenvolvimento
pleno da criatividade e senso crítico, recebendo a devida atenção), as dificuldades (gênese do número,
operações matemáticas, leitura e escrita) e os conhecimentos dominados pelas crianças. Entretanto, a
próxima etapa da metodologia era que realmente determinaria quais linhas cada professora deveria
seguir.
A partir dos resultados da análise preliminar, foi possível organizar a etapa seguinte, na qual
foi determinado pela equipe um número de variáveis a serem trabalhadas, responsáveis por nortear a
sequência didática de atividades. Ao perceber que os estudantes, por vezes, estavam em diferentes
níveis de aprendizagem, foi possível construir diferentes contextos, conforme as necessidades de cada
grupo. É importante destacar que este relato de experiência priorizou o que foi concretizado com
crianças de um único grupo (aprendizagem da gênese do número e necessidade de alfabetização).
Na etapa seguinte, foram desenvolvidas diversas atividades visando a promover a
aprendizagem, todas essas articuladas em sequências didáticas. Para a realização das aulas, que
aconteciam via chamada de vídeo no WhatsApp, priorizou-se o uso de materiais concretos a todo
momento. Por meio desses encontros, muitas dificuldades que as crianças apresentavam foram
superadas. Tais conquistas foram possíveis a partir das atividades desenvolvidas, tais como: desenho
ditado; jogo da velha com números; construção de relógio; futebol com dados; trabalho com ábaco e
material dourado; escrita de histórias para tirinhas não verbais; escrita de textos com base em
diferentes gêneros textuais; leituras deleite; bem como reforço aos letramentos com atividades que
conscientizaram os estudantes sobre a cultura e história brasileira e mundial (Proclamação da
República, Festas Juninas, Dia da Consciência Negra, Natal, aniversário de Minas Gerais).
Logo abaixo estão algumas das atividades elaboradas e desenvolvidas com um olhar atento à
alfabetização – leitura e escrita – e à alfabetização Matemática dos educandos. Reforça-se que tais
atividades buscaram aproveitar as vivências, saberes e experiências que as crianças têm, tanto na
Língua Portuguesa, quanto na Matemática.
EXTENSÃO PUC MINAS:
638 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse relato de experiência faz parte de um projeto de extensão da UEMG/ Unidade Barbacena,
cujo alvo foi a formação das discentes/voluntárias em Pedagogia. Como objetivos, buscou-se
capacitar as graduandas que compõem o projeto, quanto ao ensino do número natural e ao processo
de alfabetização, colocando-as a atuarem junto às crianças — dos anos iniciais de uma escola parceira
da cidade de Barbacena/MG — como dificuldades em conceber e conceituar esse objeto matemático,
como também em ler e escrever.
Tendo como respaldo teórico a epistemologia genética Piagetiana, quanto à forma que a
criança concebe e conceitua o número, e na teoria de Paulo Freire, quanto ao processo de ler e
escrever, a execução do projeto baseou-se nos exemplos das experiências desenvolvidas por Piaget e
Szeminska (1975), bem como por Freire (1989; 1994; 2002).
A metodologia adotada nesse projeto respaldou as práticas desenvolvidas nas aulas com as
crianças e, como consequência desse processo, percebeu-se um rendimento satisfatório quanto à
aprendizagem em números naturais e ao processo de alfabetização. No que tange às discentes/
voluntárias em Pedagogia, estas sentiram-se mais seguras e autônomas ao compartilharem o cotidiano
relativo ao ensino de Matemática e alfabetização. Tal situação contribuiu, também, para a própria
formação e desempenho delas no curso de pedagogia.
Durante a execução desse projeto, tanto a análise quanto a eficácia da Engenharia Didática,
em uma modalidade remota de ensino-aprendizagem, foram bem rigorosas. Em cima disso, pode-se
afirmar que os resultados foram muito satisfatórios. Obviamente, essa modificação no processo
metodológico não pretende substituir a modalidade em sua totalidade, mas sim atender a uma
necessidade imposta a todo o contexto educacional, em se estabelecer um contato entre professor e
aluno — durante o período de pandemia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
642 Novo Humanismo, novas perspectivas
REFERÊNCIAS
RESUMO
O presente trabalho traduz-se em um relato de práticas vivenciadas no transcorrer de 2021, a partir do projeto de extensão
“Práticas Formativas para Escola e Comunidade”, desenvolvido pela Universidade do Vale do Itajaí. O projeto apresenta
como objetivo a promoção de práticas formativas que permitam a construção e o compartilhamento de conhecimentos
com foco no reconhecimento dos direitos das crianças e adolescentes, na diversidade étnico-racial e nas metodologias
ativas de ensino e aprendizagem. Foram desenvolvidas pautas respaldadas pelas competências e habilidades apontadas
na BNCC, assim como pela ODS, dando destaque à meta 4.5. Selecionaram-se profissionais reconhecidos da educação e
atuantes nas redes de ensino para serem entrevistados. Como resultado das intervenções, foram produzidos 30 podcasts
que foram veiculados nas plataformas digitais. Ressalta-se, ainda, que no contexto da Pandemia, a produção de podcasts
permitiu a ressignificação do projeto de extensão, dando uma outra forma de visibilidade, discussão e reflexão às práticas
educacionais.
ABSTRACT
The present work reveals an account of practices experienced during the course of 2021, from the extension project
"Formative Practices for School and Community", developed by the University of Vale do Itajaí. The project aims to
promote training practices that allow the construction and sharing of knowledge with a focus on recognizing the rights of
children and adolescents, racial ethnic diversity and active teaching and learning methodologies. Guidelines were
developed based on the competencies and skills identified in the BNCC, as well as by the ODS, with emphasis on goal
4.5. Recognized education professionals, working in education networks, were selected to be interviewed. As a result of
the interventions, 30 podcasts were produced, which were broadcast on digital platforms. It should also be noted that, in
the context of the Pandemic, the production of podcasts allowed the resignification of the extension project, giving another
form of visibility, discussion, and reflection to educational practices.
1
Historiadora. Pedagoga. Doutora em Educação. Docente da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-mail:
ilisabet@univali.br.
2
Licenciada em Letras e Pedagogia. Mestre em Língua. Docente da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-
mail:anacardoso@univali.br.
3
Historiadora. Docente da Educação Básica na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Voluntária do Projeto de
Extensão Práticas Formativas para a Escola e Comunidade. E-mail: sabrinacampos@univali.br.
4
Acadêmica do quinto período do curso de História na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Voluntária do Projeto
de Extensão Práticas Formativas para a Escola e Comunidade. E-mail: mariap@univali.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
644 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5
Lévy define ciberespaço “como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das
memórias dos computadores” (LÉVY, 1999. p. 92)
EXTENSÃO PUC MINAS:
646 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
Caso houvesse grande diferença entre a altura das vozes, essas eram equalizadas no programa
Audacity antes do conteúdo ser publicado nas mídias. Quando se fez necessário, houve a regravação
de algumas partes e, posteriormente, sua publicação na plataforma Anchor.
A partir da definição das temáticas a serem abordadas em cada podcast, a equipe buscou
profissionais da educação atuantes nas redes de ensino e reconhecidos pela sua expertise no tema para
serem entrevistados.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
6
Estes podem ser acessados no link:
https://open.spotify.com/show/49SnmKxq7OqZDT1vPonTw9?si=0V4n4sNNS5y0ZRHGOMg0Jg&utm_source=copy-
link.
Nas plataformas: Google Podcasts (https://podcasts.google.com/search/praticas%20formativas); Spotify
(https://open.spotify.com/show/49SnmKxq7OqZDT1vPonTw9?si=a060cc5c72e3433c
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 649
O contato com professores da rede pública, no decorrer das produções, evidenciou que o uso
do podcast como ferramenta de veiculação de informações ainda é novidade e, por isso, um desafio.
A maioria das pessoas entrevistadas sabia o que era o podcast, mas não havia, até então, utilizado a
ferramenta de gravação. Em decorrência da pouca familiaridade dos entrevistados, houve um
processo bastante rico de orientações, por parte do Projeto de Extensão, sobre o funcionamento e uso
de ferramentas para a gravação de podcasts. Após receber o produto editado, alguns professores
entrevistados enviaram feedbacks positivos em relação à experiência vivenciada, indicando,
inclusive, o desejo de usar a ferramenta como apoio didático pedagógico para as suas aulas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
650 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP Nº 2, de
20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de
Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de
Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Brasília, DF: Ministério da Educação, 2019.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2019-pdf/135951-rcp002-19/file.
Acesso em: 18 jun. 2022.
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Currículo Base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do território Catarinense.
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LENHARO, Rayane Isadora; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. Podcast, participação social e
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SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11. ed. rev.
Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI 2022-
2026. Itajaí: UNIVALI 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 653
RESUMO
Este relato de experiência tem como objetivo falar das atividades desenvolvidas durante o período pandêmico da COVID-
19, nos anos de 2020 e 2021, em que as atividades de ensino, pesquisa e extensão, exceto as de caráter essencial, se
desenvolveram de forma online, o que também ocorreu com o Projeto de Extensão “Canteiro Escola: formação de
competências na construção civil”. O relato destaca e descreve as atividades de produção de conteúdo para as redes sociais
como principal atividade nesse período e a produção dos webinars como uma importante ação de interação com o público-
alvo. Também traz o relato de uma aluna que desenvolveu ações extensionistas no projeto por meio da parceria com o
PET Civil da PUC Minas e sua visão sobre a experiência no online. Em meio ao relato, também se propôs uma discussão
sobre os impactos da tecnologia no canteiro de obras, principalmente as tecnologias da informação, e, no caso da
construção civil, advindas com o uso da metodologia BIM cada vez mais presentes no mercado da Engenharia Civil e
demais áreas afins, por meio da pesquisa extensionista realizada. Os resultados demonstram o abismo entre a mão de obra
braçal e os demais trabalhadores da construção civil no desconhecimento dessas novas tecnologias.
ABSTRACT
This experience report aims to talk about the activities carried out during the COVID-19 pandemic, during the years of
2020 and 2021, in which teaching, research and extension activities, except those of an essential nature, were developed
online, which it was the case of the Canteiro Escola extension project: skills training in civil construction. The report
highlights and describes the activities of producing content for social networks as the main activity in this period and the
production of webinars as an important action of interaction with the target audience. It also brings the report of a student
1
Referente ao projeto de extensão 2020-Extraedital com fomento PROEX-2020/26595 com vigência de 02/03/2020 a
31/12/2020 e 2021-Edital com fomento PROEX-2021/27317 com vigência de 01/02/2021 a 31/12/2021.
2
Graduanda em Engenharia Civil na PUC Minas Coração Eucarístico. Integrante do PET – Programa de Educação
Tutorial. E-mail: cpoeirassp@gmail.com.
3
Coordenadora do Projeto – ano 2021. Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG), Professora Assistente III do
Departamento de Engenharia Civil da PUC Minas. E-mail: elkekolln@pucminas.br.
4
Coordenador do Projeto Canteiro Escola – ano 2020. Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG). Professor Assistente I
do Departamento de Engenharia Civil e Coordenador de extensão nos cursos de Engenharia Civil da PUC Minas. E-mail:
paulohenrique@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
654 Novo Humanismo, novas perspectivas
who developed extension actions in the project through the partnership with the PET Civil of PUC Minas and her vision
about the experience in the online. In the midst of the report, a discussion was also proposed on the impacts of technology
on the construction site, especially information technologies, and, in the case of civil construction, arising from the use
of the BIM methodology increasingly present in the Civil Engineering market and other areas, related through the carried-
out extensionist research. The results demonstrate the gap between manual labor and other civil construction workers in
the ignorance of these new technologies.
INTRODUÇÃO
Falar de tecnologia no campo da construção civil não é uma tarefa fácil, visto que,
historicamente, praticamente tudo que se refere a essa área perpassa, de alguma maneira, pelo
processo de desenvolvimento das técnicas, em especial as construtivas. O Canteiro Escola é um
projeto de extensão voltado para a construção civil, principalmente em ações que visam à
aproximação da teoria com a prática no conhecimento de muitas dessas técnicas. Entretanto, a
discussão aqui proposta ficará mais concentrada nas tecnologias da informação que vêm
revolucionando nosso mundo atual e tiveram papel crucial durante a pandemia da COVID-19.
Enquanto se iniciava o ano de 2020, o Projeto Canteiro Escola, preocupado em discutir como
as novas tecnologias informacionais estavam revolucionando o canteiro de obras, foi surpreendido
pelo fechamento da maioria das atividades, dentre elas o ensino superior, que passou a ser em regime
remoto e, com ele, as atividades extensionistas, com exceção das de caráter essencial, passaram a
ocorrer a distância.
Na construção civil, o BIM (Building Information Modeling) vem prometendo alterar o
processo de desenvolvimento de projetos, construção, manutenção e desconstrução de forma nunca
vista antes, por meio de uma metodologia integrativa, com forte presença das tecnologias de
informação. A partir de um modelo tridimensional computadorizado, o Projeto é pensado de forma
integrada entre as diversas disciplinas que literalmente constroem de forma virtual, usando a
modelagem das diversas disciplinas como objeto de exploração de soluções projetuais e, dessa forma,
compatibilizam todas as possíveis interferências antes da execução da obra.
O problema é que pouco se sabe sobre como essa tecnologia tem impactado o canteiro de
obras, em especial a mão de obra, pois, enquanto se observa uma parte do mercado se desenvolvendo
de forma exponencial para adentrar na nova realidade prometida pela metodologia BIM, ainda se
percebe uma boa parte dos canteiros de obras quase que artesanais, com técnicas construtivas e
processos de projeto tradicionais. Por isso, são questionamentos do projeto Canteiro Escola em
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 655
relação à revolução tecnológica proposta pela metodologia BIM: de que forma a metodologia BIM
irá chegar até o trabalhador braçal O uso das tecnologias por meio dos softwares e equipamentos
utilizados irá acarretar uma maior desigualdade social e econômica em relação aos trabalhadores da
construção civil? Quais impactos do uso da metodologia na atividade braçal da mão de obra?
Enquanto o mundo tentava descobrir maneiras de desafiar as impossibilidades de ações
promovidos pelo distanciamento físico, atividades extensionistas como as do projeto Canteiro Escola
também precisaram se reinventar.
Este relato de experiência visa registrar o que foi produzido nesse período pandêmico, bem
como explorar alguns questionamentos que já eram latentes no viés de pesquisa do Projeto, por meio
de atividades realizadas durante a pandemia e pelo relato de uma aluna extensionista. Não serão dadas
respostas conclusivas aos questionamentos expressos anteriormente, porque ainda estão presentes nas
incertezas das ações extensionistas que estão sendo propostas, demonstrando a necessidade e urgência
de mais trabalhos, pesquisas e discussões em torno desse assunto.
Após a mudança das atividades do Projeto para dentro da unidade São Gabriel, ocorreu, no
segundo semestre de 2019, uma das oficinas mais procuradas até então, que se encerrou com lista de
espera para o ano seguinte. O ano de 2019 terminou com expressivos resultados para o projeto
Canteiro Escola. Tudo estava organizado no início de 2020, com apostilas impressas e data marcada
para a oficina presencial iniciar, então chegou a pandemia da COVID-19.
De início, as incertezas sobre quanto tempo aquela situação se manteria e, apesar de a PUC
Minas ter instituído o regime de ensino remoto de imediato, ainda havia esperança de um pequeno
tempo de isolamento; porém, não levou muito tempo para se perceber que era necessária a proposição
de ações remotas para manterem os projetos de extensão em funcionamento. Dessa forma, como
ocorreu com a maioria dos projetos em desenvolvimento, o Canteiro Escola reelaborou suas
atividades para a produção de conteúdo para suas redes sociais.
O Projeto já possuía páginas como o Facebook5 e o Instagram6 para divulgação das suas
ações, e com o início das atividades remotas, as postagens passaram a ser mais frequentes e com
cunho educacional de promoção de esclarecimentos em relação a temas correlatos à construção civil.
5
Facebook: Canteiro Escola – https://www.facebook.com/canteiroescola
6
Instagram: @canteiroescola – https://www.instagram.com/canteiroescola/
EXTENSÃO PUC MINAS:
656 Novo Humanismo, novas perspectivas
A produção de conteúdo se manteve durante os anos de 2020 e 2021 até hoje, mesmo com o Projeto
tendo voltado presencialmente, por se mostrarem como mais um meio de alcance do público-alvo,
que será demonstrado mais à frente.
A partir do segundo semestre de 2020, a ação extensionista que ganhou maior peso dentro do
projeto foi a produção de webinars, uma espécie de palestra desenvolvida por meio de uma plataforma
digital, com interação síncrona entre os participantes, que se inscrevem antecipadamente e, pela sua
participação, recebem certificado. Além da interação com o público-alvo, ao vivo, no momento da
realização do webinar, a transmissão também foi gravada, o que virou material para a criação do
canal no Youtube7 do projeto no ano de 2021.
Mesmo antes da pandemia, percebia-se uma necessidade do uso dos canais de comunicação e
interação obtida por meio das redes sociais, como forma de estreitar vínculos com o público
beneficiário das ações extensionistas. Para se conectar com as novas gerações, é preciso estar dentro
do mundo digital, em especial das redes sociais, pois essas fazem parte dos chamados “nativos
digitais” (PRENSKY, 2001 apud ELMÔR FILHO et al., 2019, [s./p.]. No presencial, viam-se as redes
como uma forma complementar de conexão, mas, com o início do período pandêmico, percebeu-se
que podiam ganhar um novo papel, sendo um canal de transmissão de conteúdos informativos e
formativos na área da construção civil. Assim, não se perdia o contato com o público beneficiário e
proporcionava aos extensionistas uma possibilidade de pesquisa e aprofundamento em temáticas
voltadas para a sua formação, além de uma oportunidade de treinamento de habilidades como a da
escrita e elaboração de conteúdo.
Dessa forma, uma nova metodologia de trabalho foi elaborada, que os extensionistas podiam
escrever qualquer tema de seu interesse, desde que tivesse relação com a área da construção civil.
Tais temas eram revisados pelos professores coordenadores e participantes e somente depois
publicados (ver Quadro 1). Era necessária a elaboração de textos sintéticos, com o uso de pelo menos
uma imagem ilustrativa e todas as fontes de pesquisa, de conteúdo e imagem, obrigatoriamente
7
Youtube: Canteiro Escola - https://www.youtube.com/channel/UCHA4WXsqskCeQEJ9_MtAqMA
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 657
citados. Posteriormente, grupos temáticos foram estabelecidos para focarem mais em temas
específicos e outras propostas de ações que acabaram culminando nos webinars: Matemática Básica,
Arquitetura, Elétrica e Estruturas.
No segundo ano de ações remotas, em 2021, propôs-se a elaboração de postagens do tipo
carrossel (com usos de várias imagens), que o texto deveria estar inserido na própria imagem. Com
isso, o uso de aplicativos computacionais foi estimulado, no intuito de favorecer um aperfeiçoamento
no uso de ferramentas computacionais para trabalhos profissionais e acadêmicos dos extensionistas,
como exemplo o aplicativo Canva.
8
https://www.instagram.com/tv/CBzJ6bghrCs/?utm_source=ig_web_copy_link
9
https://youtu.be/mnGtle4qjr8
10
A Cartilha se encontra disponível no acervo da biblioteca da PUC Minas
(http://bib.pucminas.br:8080/pergamumweb/vinculos/000000/0000003e.pdf) e no site da PROEX
(http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20220204153834.pdf).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 659
As gravações dos webinars se tornaram materiais para a criação do canal no YouTube para o
projeto Canteiro Escola, a proposta surgiu principalmente pela oportunidade vislumbrada dos
conteúdos produzidos ficarem disponíveis por mais tempo. Durante a pandemia, percebeu-se que o
número de atividades e eventos online que ocorriam simultaneamente era grande, sendo assim, essa
seria uma forma de resgate do conteúdo.
O período de distanciamento social, caracterizado por dificuldades adaptativas de toda ordem,
logo evidenciou que inúmeras atividades mediadas pelas ferramentas computacionais foram
proporcionadas de forma satisfatória. Assim, tudo se passou a ser realizado online, reuniões, aulas,
webinars, lives, entre outros. Porém, dependia do, no mínimo, adequado acesso à internet e de um
computador, muitas vezes substituído pelo celular. Quem não tivesse acesso a esses recursos mínimos
estava de fora de tudo que estava acontecendo.
11
Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Civil da PUC Minas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
660 Novo Humanismo, novas perspectivas
A principal motivação para escolha da participação no Canteiro Escola foi saber que esse era
um projeto que envolvia atividades mais práticas, exceto no período de pandemia. Devido ao fato de
seu pai ser um profissional da construção civil e de sempre realizar, sozinho, obras em sua casa e na
casa de conhecidos influenciou o desejo da aluna de seguir a atuação junto a atividades que envolvem
vivências na prática da mesma área.
Em relação ao PET, os alunos devem cumprir 20 horas de dedicação semanais às atividades
voltadas para o projeto e, para que o tutor coordene as ações, é necessário que cada aluno envie um
cronograma semestral de seu planejamento de atividades, incluindo horas dedicadas a reuniões,
eventos e palestras acadêmicas e, até mesmo, a cursos de idiomas.
Dentro das reuniões semanais do grupo, existe um calendário de atividades gerais a serem
cumpridas pelos alunos, como, por exemplo, o PET Educa, que é uma publicação mensal que ocorre
no Instagram do PET, planejada após a definição de um tema e que seja da área de interesse da
Engenharia Civil. Outra atividade é a roda de conversa, trazida uma vez por mês para que os alunos
possam conversar sobre alguma experiência vivida, livro, filme ou passeio cultural realizado além do
curso de Engenharia Civil. Dessa forma, é possível que haja uma maior interação e trocas de ideias,
mas que teve suas dificuldades no âmbito virtual, visto que inviabilizava a troca de conhecimento
entre os participantes.
O Projeto Canteiro Escola foi apresentado como uma experiência em que os alunos teriam
mais contato com o canteiro de obras em regime presencial, o que não foi possível durante o período
de pandemia. Dessa forma, as atividades assumiram uma postura virtual e se aproximavam da melhor
forma possível de aplicações que envolveriam o campo prático da Engenharia Civil.
Na primeira atividade da extensionista, foi proposto que os alunos do PET, juntamente com
os do Canteiro Escola, realizassem uma pesquisa sobre o nível de conhecimento sobre o BIM nos
canteiros de obras, visto a existência das preocupações do projeto em relação a forma que as novas
tecnologias impactariam o canteiro de obras. Nesse intuito, foi realizada uma pesquisa, por meio de
um formulário online.
A metodologia BIM está se tornando cada vez mais popular no campo da Engenharia Civil,
se utilizando de diversos softwares permite que seus usuários consigam integrar diferentes disciplinas
de projetos, como: arquitetônico, estruturais, hidráulicos, elétricos e demais em um único modelo.
Esta metodologia vem ganhando espaço ao longo dos anos e se tornando crucial no mercado de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 661
REFERÊNCIAS
RESUMO
Este relato apresenta a experiência ao longo de 4 anos do Projeto de Extensão Universitária SOS Matemática, do curso
de graduação em Engenharia Civil da Unidade Praça da Liberdade da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas), em Belo Horizonte MG. Ao longo deste período, com o desenvolvimento das ações do projeto inclusive
durante o período de pandemia, são apresentadas metodologias com fundamentações em forte referencial teórico, acerca
da atuação no projeto neste período. Na discussão, apresenta-se o conceito de Metodologia Ativa, onde pressupõe que o
uso de ferramentas tecnológicas vem somar com o processo de ensino e aprendizagem de crianças na faixa etária de 08 e
09 anosMatemática. Ensino e aprendizagem. Reforço escolar
ABSTRACT
This experience report presents the experience over 4 years of the SOS Mathematics University Extension Project, of the
Civil Engineering undergraduate course at the Praça da Liberdade Unit of PUC Minas, in Belo Horizonte MG. Throughout
this period, with the development of the project's actions, including during the pandemic period, methodologies are
presented based on a strong theoretical framework, about the performance in the project in this period. In the discussion,
the concept of Active Methodology is presented, which assumes that the use of technological tools adds to the teaching
and learning process of children aged between 08 and 09 years.
INTRODUÇÃO
1
Engenheiro de Produção Civil (CEFET MG, 2006), Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG 2013), e Doutorando e
Engenharia Mecânica (PUC Minas). Professor do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais e Coordenador do Projeto de Extensão SOS Matemática (2022) E-mail: paulohenrique@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 667
5,3 nos anos iniciais do fundamental e tendo uma queda nos anos finais com média de 4,2. Já no
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou-se que 81,7% das
crianças estão frequentando o ensino fundamental e 18,3% não têm acesso à Escola (IBGE,2010).
O objetivo do Projeto SOS Matemática é proporcionar, por meio das intervenções de
graduandos do curso de Engenharia Civil, da unidade Praça da Liberdade, assessoria e atendimento
individual do conteúdo programático da disciplina de matemática, a alunos da educação básica (5° e
4° anos) a escolas da comunidade do entorno da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas) – Unidade Praça da Liberdade
As preocupações com o ensino da Matemática remontam desde a antiguidade, quando surgiu
em Atenas, na antiga Grécia, por volta do ano de 389 a. C., um importante centro em excelência
matemática – a Academia Platônica – de onde decorreram os principais mestres e pesquisadores da
época. Dentre eles, destaca-se Platão, que apesar de ter poucos trabalhos originais, muito contribuiu
com valorosas observações em relação ao ensino do cálculo e da geometria (SANTALÓ, 2006).
Moll (2012) defende a ideia de que não adianta apenas criar políticas para combater a
reprovação, mas sim estimular a aprendizagem de fato dos alunos. Para que isso ocorra de fato, é
importante intensificar a recuperação dos conteúdos aplicados e não apenas das notas dos alunos. O
alto índice de distorção idade / série reforça o impacto negativo do quantitativo elevado de alunos
retidos, principalmente nas primeiras séries da Educação Básica.
Para dar conta das necessidades básicas de cada aluno, a escola levará em conta a necessidade
de criação de um ambiente de aprendizagem que inclua elementos de motivação, interesse,
funcionalidade, tratamento diferenciado e aprendizagem resolutiva (COSTA et al, 2013).
Os alunos atendidos no projeto são aqueles que, durante as aulas de Matemática que ocorrem
na sala de aula com a turma de origem, apresentam dificuldade na compreensão do conteúdo, e são
encaminhados pelo professor para o atendimento com os extensionistas do SOS Matemática em salas
de aula da escola que, no momento, encontram- se ociosas. Essa forma de intervenção tem respaldo
no artigo 23 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no 9394/96: A educação
básica poderá organizar-se em séries anuais, (...), grupos não seriados, (...), na competência e em
outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar. Serão formadas por alunos de diferentes séries/anos, levando-se
em consideração as necessidades diagnosticadas.
Com a Revolução Industrial, por volta do ano 1767, a Matemática ganha ainda maior
relevância e se torna necessária devido a fatores socioeconômicos da época e, desta forma, ela começa
EXTENSÃO PUC MINAS:
668 Novo Humanismo, novas perspectivas
a ser inserida no sistema escolar como uma disciplina do componente curricular (SANTALÓ, 2006),
chamado “Movimento da Matemática Moderna”; já nos anos de 1960 e 1970, ela é inserida no
contexto escolar de forma bastante tradicional, o que fazia dela uma via de acesso privilegiado para
o pensamento científico e tecnológico (BRASIL, 1997). Com isso, o ensino de matemática “passou
então a ter preocupações excessivas com abstrações internas à própria matemática, mais voltada à
teoria do que à prática” (BRASIL, 1997), exagerando no formalismo, na axiomática. A partir de
então, a Matemática passa também a ser fonte de pesquisa para muitos teóricos no Brasil, num
movimento que buscou aproximar a Matemática escolar da Ciência Matemática pura, porém, não se
obteve o resultado esperado, visto que isso necessitava de um estudo da matemática de maneira
estruturada o que a tornava demasiadamente complexa (BRASIL, 1997).
A Etnomatemática é um estudo de situações didáticas voltadas a fazer com que o ensino da
Matemática esteja o mais próximo do contexto sócio-histórico e cultural do educando. Desta feita,
ela busca aproximar os conceitos matemáticos informais construídos a partir da realidade dos
educandos com os conteúdos programáticos da disciplina trabalhados na escola.
Ubiratan D’Ambrósio afirma que, a Matemática é uma tática desenvolvida pelo ser humano
“para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível e perceptível, e com
o seu mundo imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural e cultural” (D'AMBRÓSIO,
2011). Para Onuchic (1999), ensinar a Matemática deve partir da resolução de problemas; as situações
problemas são fundamentais não apenas como um propósito de se aprender esta área de
conhecimento, mas como primeiro passo para se fazer isso. Um dos objetivos de se aprender
Matemática é o de poder transformar determinados problemas não habituais em habituais. Desse
modo, a aprendizagem pode ser vista com um movimento do concreto (um problema do mundo real
que serve como exemplo do conceito ou da técnica operatória) para o abstrato (uma representação
alusiva de um grupo de problemas e técnicas para operar com esses símbolos) (ONUCHIC, 1999). O
problema é visto como um componente que pode possibilitar e estabelecer um processo de aquisição
de conhecimento. Nessa perspectiva, situações problemas são propostas ou formuladas de forma a
favorecer a construção prévia de conceitos para a apresentação correta da linguagem matemática
(ANDRADE, 1998).
A modelagem matemática é compreendida como o aproveitamento da Matemática em outras
áreas do conhecimento. Por meio da modelagem, problemas do cotidiano dos educandos são
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 669
transformados em uma linguagem matemática. Para Bassanezi (2004, [s./p.]), “a modelagem consiste
essencialmente na arte de transformar problemas da realidade e resolvê-los, interpretando suas
soluções na linguagem do mundo real”.
Para a tendência de ensino que relaciona matemática e leitura, a Ciência Matemática não se
resume somente a números, regras, fórmulas e cálculos. A leitura é parte integrante da Matemática
tendo essa sua linguagem própria. Assim, integrar leitura nas aulas de matemática auxilia na
interpretação e na significação de termos e conceitos, o que torna a compreensão da matemática mais
fácil para o educando (SMOLE et al., 2001).
A resolução de situações-problema é uma perspectiva metodológica utilizada para construir
um raciocínio lógico e autônomo do educando, visto que auxilia na construção de conceitos,
procedimentos e atitudes relacionadas com a matemática apresentando dificuldades e buscando as
soluções para os problemas (DANTE, 2007).
Dante (2007) ainda ressalta que as “situações-problema são problemas de aplicação que
retratam situações reais do dia-a-dia e que exigem o uso da Matemática para serem resolvidos”. Por
sua vez, os jogos matemáticos assumem um papel importante no processo de ensino e aprendizagem
da disciplina de Matemática, uma vez que, por meio do jogo é possível inserir o lúdico no espaço
escolar como um recurso didático capaz de permitir o desenvolvimento da criatividade, como
descrevem os autores Smole et al, (2007), tornando o seu ensino mais prazeroso e estimulante. Ainda
segundo os autores “todo jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa
alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o lápis” (SMOLE et
al, 2007, [s./p.]).
Alguns processos de ensino e aprendizagem de Matemática tomam como base os conceitos
de Metodologias Ativas - MA. De acordo com Borba et al (2018), Metodologias de Ensino se referem
“[...] ao ato de ensinar. Ensinar requer um conjunto de esforços e decisões que se refletem em
caminhos propostos, as chamadas opções metodológicas. O professor organiza e propõe situações em
sala de aula a fim de apresentar um determinado conteúdo” (BORBA et al., 2018, [s./p.]).
Como pode ser observado na Figura 1, todos os aspectos em uma MA estão interligados, com
participação efetiva do estudante, centro do processo de aprendizagem e de ensino, do qual se exige
foco em: “[...] leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos
dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de
suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações [...]” (DIESEL
et al, 2017, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
670 Novo Humanismo, novas perspectivas
Já no que tange à reflexão e à problematização da realidade, Diesel et al, (2017) afirmam que:
“No contexto da sala de aula, problematizar implica em fazer uma análise sobre a realidade como
forma de tomar consciência dela” (DIESEL et al, 2017, [s./p.]). Para tal fato, é necessário que o
professor conheça as realidades a que o conteúdo está ligado, pois o desligamento entre teoria e
prática causa desmotivação nos alunos e comprometem a aprendizagem.
Um dos princípios mais interessantes das MA, ainda conforme Diesel et al (2017), é que
quanto ao trabalho em equipe. As aulas tradicionais, em que os estudantes são proibidos de se
assentarem em grupos e em que não se pode emitir opiniões, não fazem parte das MA em que é
preciso compreender a realidade dos demais estudantes e saber trabalhar com os pares. A leitura do
mundo é papel do professor, quando se trata de trabalhos em equipe e o desenvolvimento da
criticidade também.
E, por último, o princípio do professor mediador, facilitador, ativador de aprendizagens. É
fundamental que o docente compreenda que ele é formador humano. Segundo Moran (2015), o
professor que utiliza as MA deve ter o papel de:
Curador, que escolhe o que é relevante entre tanta informação disponível e ajuda a que os
alunos encontrem sentido no mosaico de materiais e atividades disponíveis. Curador, no
sentido também de cuidador: ele cuida de cada um, dá apoio, acolhe, estimula, valoriza,
orienta e inspira. Orienta a classe, os grupos e a cada aluno. Ele tem que ser competente
intelectualmente, afetivamente e gerencialmente (gestor de aprendizagens múltiplas e
complexas). Isso exige profissionais melhor preparados, remunerados, valorizados.
Infelizmente, não é o que acontece na maioria das instituições educacionais (MORAN, 2015,
[s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 671
Dessa forma, algumas pesquisas descortinam aspectos de uma aprendizagem que pudesse
formar estudantes mais democráticos e críticos. Essas considerações têm origem nos estudos de
Dewey (1938), para o qual os alunos têm a oportunidade de pensar e refletir sobre suas próprias ações.
A aprendizagem ativa, então, tem como princípio fundamental a aprendizagem colaborativa e a
aprendizagem cooperativa. Lovato et al. (2020) apresentam a diferença entre aprendizagem
colaborativa e aprendizagem cooperativa.
Matemática, que, durante as aulas, detectam que um aluno, ou outro, em específico não apresenta o
rendimento esperado no desenvolvimento do conteúdo abordado na aula. Os atendimentos giram em
torno de 30 a 40 minutos por aluno, sendo que ocorre no período vespertino, duas vezes por semana
em cada escola.
Há um controle de cada aluno assistido com uma ficha de acompanhamento, com a quantidade
de atendimentos que já recebeu, e quais os conteúdos que foram abordados no atendimento individual
de cada um. Assim, torna-se propício termos um registro dos números, resultados e impactos do
Projeto, até mesmo para apresentar à Direção e Coordenação Pedagógicas das escolas contempladas.
O recurso ao reforço escolar constitui uma estratégia desenvolvida pelas famílias para
aumentar a competitividade dos seus filhos durante os percursos acadêmicos. Esse apoio foi sendo
realizado de modos diversos e por diferentes protagonistas: na própria escola, em casa pelos
familiares, por amigos e colegas, por professores. Contudo, têm vindo a ser criadas condições para o
desenvolvimento de respostas educativas alternativas como os centros de reforço escolar de tipo
presencial ou através da Internet (COSTA et al, 2013).
Na figura 2, a seguir, demonstra-se um dos atendimentos individuais realizados pelos
extensionistas do Projeto SOS Matemática na Escola Estadual Bueno Brandão, na Região Centro-Sul
de Belo Horizonte MG.
apresentam um pouco do modelo de posts que eram produzidos pelos extensionistas, com a devida
orientação dos professores. Destaca-se que temos um extensionistas do curso de Letras, que tem como
principal a função de revisão gramatical e pedagógica dessas produções.
Parece também notório o reconhecimento, por parte dos alunos e respetivas famílias, do
impacto positivo que este tipo de assistência tem no sucesso escolar. Nesse sentido, as matérias mais
procuradas, e no nosso caso em específico a Matemática e seu conteúdo programático, são temas em
que os alunos apresentam maiores dificuldades ou então fazem parte de áreas que dão acesso a uma
interpretação que alguns conteúdos básicos ainda foram abordados e repassados aos alunos de forma
ineficiente, o que aumenta o compromisso do projeto para auxílio do trabalho do professor.
REFERÊNCIAS
COSTA, Jorge Adelino et al. Reforço Escolar: Análise Comparada dos Meandros de um
Crescimento. Educação Unisinos 17 (3): p.205- 214, 2013.
D’AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. 22 ed. Campinas, São Paulo:
Papirus, 2011.
DANTE, Luiz Roberto. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 12. ed. São Paulo:
Editora Ática, 2007.
DIESEL, A; et al. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica.
Revista THEMA. V.14. n.1, p. 268-288, 2017. Disponível em:
http://revistathema.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/viewFile. Acesso em:12/06/2022.
LOVATO, F. L, et al. Metodologias ativas de aprendizagem: uma breve revisão. Acta Scientiae,
Canoas, RS, v. 20, n. 2, p. 154-171 mar./abr. 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br
Acesso em: 12/06/2022.
MOLL, Jaqueline. A agenda da educação integral: compromissos para consolidação da política
pública. In: MOLL, Jaqueline (Org.). Caminhos da educação integral no Brasil: direito a outros
tempos educativos. RS: Artmed, 2012.
MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, C.; MORALES, O.
(Org.). Convergências midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens (Coleção Mídias
Contemporâneas.), v. 2. Ponta Grossa: UEPG/PROEX, 2015. p. 15-33. Disponível em:
http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/mudando_ moran. Acesso em: 12 jun.
2022.
ONUCHIC, Lurdes de La Rosa. Ensino-Aprendizagem de Matemática através da Resolução de
Problemas. In: BICUDO, M. A. V. Pesquisa em Educação Matemática: Concepções e
Perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p. 199-218.
SANTALÓ, L. A. Matemática para não-matemáticos. In: PARRA, Cecília e SAIZ, Irma (Org.).
Didática da Matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
SMOLE, Kátia S.; DINIZ, Maria I. Ler escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender. Porto Alegre RS: Artmed Editora, 2001.
EXTENSÃO PUC MINAS:
676 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
Conhecer sobre o MEI (Microempreendedor Individual), bem como seus deveres, benefícios, cadastramento, formas de
tributação e muitos outros assuntos relacionados ao microempreendedor brasileiro é muito importante para todos,
principalmente profissionais contábeis e, claro, o próprio empreendedor. No entanto, tal conhecimento nem sempre é
facilmente difundido a todos, e muitos microempreendedores ainda possuem dificuldades para entender e conhecer esse
sistema de tributação. Diante disso, este relato, em função da realização de um trabalho extensionista, buscou ampliar a
educação fiscal ao MEI, promovendo orientações aos microempreendedores individuais, ao abordar, de forma geral, o
conceito, os benefícios, o manuseio do sistemavirtual que compõe o MEI, os aplicativos e outras peculiaridades de forma
a auxiliar os pequenos empreendedores que possuem dificuldades de compreender assuntos básicos a esse campo, como
tarifas, direitos, deveres e benefícios empregados por esse regime tributário. Além disso, após apresentar tal conhecimento
a alguns microempreendedores, também foi realizado entrevistas para melhor análise sobre a democratização do acesso
à informação.
ABSTRACT
Knowing about the MEI (Individual Microentrepreneur), as well as its duties, benefits, registration, forms of taxation and
many other matters related to the Brazilian microentrepreneur is very important for everyone, especially accounting
professionals and, of course, the entrepreneur himself. However, such knowledge is not always easily disseminated to
everyone, and many micro-entrepreneurs still have difficulties to understand and know this taxation system. In view of
this, this article, due to the realization of an Extensionist Work, sought to expand tax education to the MEI by promoting
1
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) /
campus Coração Eucarístico. E-mail: eder.botelho@sga.pucminas.br.
2
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas/ campus Coração Eucarístico. E-mail:
gabriel.araujo@sga.pucminas.br
3
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail:
geislon.josias@sga.pucminas.br.
4
Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail:
kerolayne.brito@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Administração; Professora do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico.
E-mail: fatimadrumond@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 677
guidance to individual microentrepreneurs, generally addressing the concept, benefits, handling of the virtual system that
makes up the MEI, applications and other peculiarities. in order to help small entrepreneurs that have difficulties in
understanding basic issues in this field such as tariffs, rights, duties and benefits employed by this tax regime. In addition,
after presenting such knowledge to some micro-entrepreneurs, interviews were also carried out with them for a better
analysis of the democratization of access to information.
INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Antes de mencionar os métodos de abertura do MEI, que é feito de forma virtual, éimportante
declarar que a plataforma GOV.BR é um pré-requisito para a abertura do MEI (SÉRVIO, 2022).
Trata-se de uma plataforma que unifica todos os sistemas virtuais que conectam cidadãos com Estado,
de forma simples e objetiva, fornecendo serviços públicos. De forma fácil e precisa, ela reúne todos
os serviços einformações para o cidadão em um só lugar (BRASIL, 2022).
Um destes é o MEI, cuja abertura é feita em uma categoria para esse serviço. Portanto, é de
extrema importância que todo cidadão tenha um cadastro no gov.br, pois é nessa plataforma que está
toda a “vida” do cidadão e suas relações com o governo. Vale lembrar que a plataforma é totalmente
gratuita a todos (BRASIL, 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 679
Há duas maneiras para o cadastro no MEI, site e aplicativo. Além disso, há certos requisitos
para entrada. Dentre eles, estão: possuir renda bruta de até 81 mil reais por ano, ou seja, R$
6.750,00/mês; possuir somente um empregado registrado; não ter participação em nenhuma outra
empresa, como sócio ou titular; atender uma das modalidades profissionais aceitas pelo MEI, como,
por exemplo, pedreiro (CONTABILIZEI, 2022).
Para se inscrever no MEI, é necessário acessar o gov.br/mei. Após, clicar em “quero ser MEI”,
conforme figura a seguir:
Após efetuado o login, o usuário é redirecionado para o cadastro, em que informações como
endereço comercial, as ocupações (primária e secundárias), capital social, regime de tributação e
outras são solicitadas para a formalização do MEI (CONTABILIZEI, 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 681
O aplicativo do MEI, criado pelo Governo Federal do Brasil, tem a finalidade de facilitaros
serviços relacionados ao Microempreendedor Individual. É importante destacar que existem outros
aplicativos que também fornecem os mesmos serviços, porém não são oficiais. O App oficial é
desenvolvido pelo Governo do Brasil e é mais confiável para as realizações de serviços sobre o
microempreendedor (PORTAL MEI, 2022).
Na atualização de dezembro de 2021, foram acrescentados mais serviços que são
indispensáveis para os microempreendedores, como o preenchimento, a transmissão e a geração do
recibo de entrega da Declaração Anual Simplificada para o Microempreendedor Individual (DASN
SIMEI). Além disso, o app conta com vários serviços, como emissão do documento de arrecadação do
simples nacional (DAS);consulta do CNPJ e informações do SIMEI; solicitação de restituição de
valores pagos indevidamente; declaração do MEI; perguntas e Respostas para solucionar dúvidas
sobre o MEI (PORTAL MEI, 2022).
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa tem natureza descritiva, pois esta não teve como objetivo a explicação
dos fenômenos, e sim o estabelecimento de relações entre suas variáveis, de maneira a servir de base
para possíveis explicações (ARRUDA FILHO; FARIAS FILHO, 2015). Além disso, se classifica
ainda como qualitativa, pois, como Didio (2014) evidencia, tal pesquisa objetiva o estudo das
EXTENSÃO PUC MINAS:
682 Novo Humanismo, novas perspectivas
Abaixo, segue uma tabela com algumas informações observadas através da análise dessas
entrevistas:
EXTENSÃO PUC MINAS:
684 Novo Humanismo, novas perspectivas
80%
60%
SIM
40% NÃO
20%
0%
Pergunta 1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 6
Fonte: Autores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 685
Foi observado que 70% dos entrevistados disseram “não” para a primeira pergunta, assim, não
conhecem todas as funcionalidades do MEI. Para a pergunta seguinte, 90% acreditam que os
microempreendedores ainda precisam de orientações para manterem seu cadastro regularizado; já
para a terceira pergunta, 50% do total de entrevistados responderam “não”, demonstrando que muitos
não sabem como é realizado a tributação e/ou sobre o limite de faturamento imposto ao
microempreendedor. Ainda é possível observar que, para a quarta pergunta, 70% do total de
microempreendedores entrevistados acreditam que os tributos de menor valor arrecadados do MEI
auxiliam no desenvolvimento e crescimento do empreendedorismo no Brasil.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, foi possível realizar o desenvolvimento técnico dos integrantes quanto ao
manuseio e o conhecimento sobre o MEI, ainda obscuro para uma parcela da população. Ainda nessa
linha, destaca-se o desenvolvimento humano e solidário, em compartilhar esse conhecimento
adquirido ao longo do semestre para auxiliar autônomos que ainda não o possuem, além de acessar
os benefícios do MEI.
Faz-se necessário aplicar todo o conhecimento obtido nesse trabalho no cotidiano, a fim de
promover uma sociedade mais justa, informada e amparada pelos programas do Governo Federal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Empresas & Negócios. Perguntas frequentes sobre desenquadramento. Brasília, DF:
Governo Federal, 25 out. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-
br/empreendedor/servicos-para-mei/quero-crescer-desenquadramento/perguntas-frequentes-sobre-
desenquadramento/. Acesso em: 27 maio 2022.
BRASIL. Simei e Parcelamento. Brasília, DF: Receita Federal, 2021. Disponível em:
http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/Servicos/Grupo.aspx?grp=19. Acesso em: 24
maio 2022.
CONTABILIZEI. ICMS: o que é e como calcular este imposto? [S.l.], 2022a. Disponível em:
https://www.contabilizei.com.br/contabilidade-online/icms/. Acesso em: 25 maio 2022.
CONTABILIZEI. O que é iss e como calcular. [S.l.], 2022b. Disponível em:
https://www.contabilizei.com.br/contabilidade-online/o-que-e-iss-e-como-calcular/. Acesso em: 25
maio 2022.
DIDIO, Lucie. Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos. São
Paulo: Atlas, 2014.
ARRUDA FILHO, Emílio J. M.; FARIAS FILHO, Milton Cordeiro. Planejamento da pesquisa
científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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https://www.portalmei.org/emitir-boleto-mei-guia/. Acesso em: 24 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 687
RESUMO
Este artigo trata-se de relato de experiência de um trabalho desenvolvido com um grupo de crianças participantes do
Projeto HEAD, de Extensão Universitária: Enriquecimento da Aprendizagem para o Desenvolvimento de Habilidades,
vinculado ao curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas. O trabalho tem por
objetivo explorar os benefícios da utilização do espaço de museus como forma de educação não formal para o
enriquecimento da aprendizagem. Participaram do grupo 34 crianças de ambos os sexos, com idades entre 7 a 12 anos.
Foram realizadas duas modalidades de encontro no dia 30 de maio de 2022, uma de forma presencial no Museu de
Ciências Naturais PUC Minas e o outra de forma virtual, com um convidado. Foram levantados, durante os encontros,
quais os interesses das crianças mediante o exposto, trabalhando o espaço dos museus como uma possibilidade de
enriquecimento da aprendizagem e estímulo à curiosidade de cada um. A experiência permitiu compreender, através das
perspectivas de monitores, convidados, crianças e dos responsáveis pelas mesmas, de que forma o museu pode influenciar
na aquisição de conhecimentos a partir de uma perspectiva de educação não-formal.
ABSTRACT
This article is an experience report of a work developed with a group of children participating in the HEAD Project, of
University Extension: Learning Enrichment for the Development of Skills, linked to the Psychology faculty at PUC
Minas. The work aims to explore the benefits of using museum space as a form of non-formal education to learning
enrichment. Participated in the group, 34 children of both sexes, aged between 7 and 12 years. Two types of meetings
were held on May 30, 2022, one in person at the Museum of Natural Sciences PUC Minas and the other in a virtual space,
with a guest. During the meetings, the interests of the children were raised through the above, working the museum space
as a possibility of learning enrichment and stimulating each one's curiosity. The experience allowed the researchers to
understand, through the perspectives of monitors, guests, children and parents, how the museum can influence the
acquisition of knowledge from a non-formal education perspective.
1 Doutora em Educação (FaE/UFMG), psicóloga clínica e educacional, professora no curso de Psicologia da PUC-MG
(campus Coração Eucarístico), coordenadora do projeto de extensão Enriquecimento da Aprendizagem para o
Desenvolvimento de Habilidades (HEAD). Email: kfideles@hotmail.com
2 Graduanda em Ciências Biológicas (PUC Minas), monitora do Projeto HEAD. Email: fernandabruna568@gmail.com.
3 Graduanda em Psicologia (PUC Minas), monitora do Projeto HEAD. Email: soniafirmato@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
688 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Pensar sobre o tema deste trabalho, abordando as contribuições de museus dentro do contexto
de aprendizagem é de grande importância para uma prática pedagógica não formal no ensino e
aprendizagem de indivíduos. Este estudo foi construído embasado na experiência partilhada entre
monitores e alunos do Projeto de Extensão Universitária HEAD: Enriquecimento da Aprendizagem
para o Desenvolvimento de Habilidades, no qual foi trabalhada a necessidade desse ensino e como
este esse se mostra com grande potencial para o auxílio da compreensão de inúmeras áreas do
conhecimento como, por exemplo, a Antropologia, História, Biologia e Geografia.
Tratando-se de um modelo atual de aprendizagem, observa-se a forma que o uso da tecnologia
propicia e facilita a educação não formal. Por não ser um modelo que segue um viés metódico, em
que se tem um roteiro pré-definido, essa área do conhecimento permite articular o ensino dentro de
situações cotidianas e de socialização do indivíduo em diferentes espaços físicos. Além disso, o
modelo virtual de visitação permite a quebra de barreiras físicas, econômicas, geográficas entre
outras, das quais, em um cenário presencial, poderiam impedir o acesso desses participantes ao
conhecimento nesses espaços. Desse modo, reforça-se a importância de se pensar em novas formas e
tecnologias de propiciar a aprendizagem ao maior número de pessoas, considerando a utilização de
todos os meios disponíveis, presentes no cotidiano.
Disposta a apresentação, este relato de experiência tem como objetivo esclarecer temas como
a importância dos museus no processo de aprendizagem, abordando a educação formal e não-formal
bem como ela se encaixa no contexto universitário e práticas de extensão
A educação formal é definida por Cazelli e Coimbra (2013, p. 2) como aquela promovida nas
escolas, que possui regras muito bem definidas e que determinam o conteúdo a ser aprendido nas
grades curriculares e ainda, determinam a forma de progressão. Diferentemente, na educação não
formal qualquer um pode transmitir ou trocar determinado conhecimento em diferentes espaços. Esta
última é focada na ação, na realização da troca de conhecimento entre os indivíduos daquele grupo,
operando em ambientes diversos onde essas relações sociais são desenvolvidas a partir dos gostos e
preferências que os indivíduos compartilham.
O Projeto HEAD tem como objetivo proporcionar um espaço de enriquecimento da
aprendizagem, voltado para o público de crianças entre 7 e 13 anos com perfil de Altas Habilidades /
Superdotação. Define-se como aquele que tem altas habilidades / superdotação (AH/SD), pela
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 689
Política Nacional de Educação Especial de 1994, o sujeito que apresenta elevado nível ou
potencialidade em: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo
ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora.
Renzulli (1986) afirma que a superdotação (giftedness) define-se a partir de fatores
biopsicossociais e expressa-se através de um conjunto básico de características, sendo estas (a)
habilidades gerais e/ou específicas acima da média, (b) alto nível de comprometimento com a tarefa
e (c) grande criatividade. Em suas pesquisas, Winner (2000 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013)
sugere uma excepcionalidade cerebral, a qual permitisse uma aprendizagem acelerada em um ou mais
domínios, se comparada com a maioria da população de mesma faixa etária. Não obstante, é
imprescindível o caráter socioambiental que se manifesta do desenvolvimento do sujeito, isto é, para
um melhor desempenho não basta apenas apresentar características de AH/SD.
Dentro do contexto escolar, identificam-se traços de altas habilidades / superdotação,
geralmente, em alunos cujo perfil enquadra-se no Tipo Acadêmico, por apresentarem, em grande
parte, alto desempenho escolar, boa capacidade de memória e pensamento analítico. Além disso,
existe o que os teóricos Renzulli e Reis (1997 apud ADÃO; FERNANDES; OLIVEIRA, 2013)
apontam como o Tipo Criativo-produtivo, definido por pessoas com maior desenvoltura no
pensamento criativo, imaginativo e inventivo.que se refere à motivação, especialmente no contexto
escolar, é notável a dificuldade do ensino formal em captar o interesse e estimular as habilidades
desse público (BRASIL, 2006). Frente a essa situação, é direito de crianças e adolescentes com
AH/SD o acesso a políticas de educação especial, seja por meio da aceleração escolar ou pelo acesso
a programas de enriquecimento escolar (BRASIL, 1996).
A partir dessas necessidades de ensino especial para crianças e adolescentes com AH/SD,
utiliza-se no Projeto HEAD a metodologia do Modelo Triádico de Enriquecimento proposto por
Joseph Renzulli (1994). Esse caracteriza-se pela aplicação de atividades de tipos I, II e III, cada um
referente a objetivos específicos. Como explicita Freitas (2012):
Assim, pretende-se aplicar esse modelo de forma a estimular o papel ativo das crianças no
processo de aprendizagem, sem que tire do educador seu papel indispensável, como afirma Piaget
EXTENSÃO PUC MINAS:
690 Novo Humanismo, novas perspectivas
(2015). O teórico suíço também defende a ideia de que, dentro do sistema tradicional na educação,
os “bons alunos” são aqueles que possuem capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhes é dado,
enquanto os “maus alunos” utilizam de outros caminhos para compreender um assunto.
Pretende-se explicitar, que, mesmo o indivíduo apresentando AH/SD, isso não implica que
seu desempenho escolar seja necessariamente acima da média ou que este não terá dificuldade no
ensino formal. De acordo com Filgueiras e Fortes (2022), a utilização de metodologias de ensino que
fogem da lógica tradicional (em que se veem atividades fragmentadas e descontextualizadas,
prejudicando tanto na motivação quanto na participação dos alunos) mostra-se eficaz no processo de
enriquecimento da aprendizagem. Portanto, dentro da proposta metodológica, o projeto de extensão
universitária ora referido busca abarcar as diferentes áreas do saber, dialogando com interesses de
seus participantes e propiciando um espaço para investigações.
Diante disso, a possibilidade da utilização de museus como espaço de diálogo com saberes e
práticas mostra-se efetiva, ao passo que corrobora a ideia do sociólogo Edgar Morin (2005, p. 54),
quando diz que “[…] o desenvolvimento da ciência não se efetua por acumulação de conhecimentos,
mas por transformação dos princípios que os organizam. A ciência não se limita a crescer, mas em
transformar-se”.
A visitação ao museu é uma das tantas outras atividades de educação não formal com as quais
o HEAD atua, com o objetivo de enriquecer o aprendizado de seus participantes da maneira recreativa
possível, despertando o envolvimento e curiosidade dos mesmos. O campo da educação não formal
deve ser utilizado em parceria com instituições de educação formal como as escolas, universidades,
colégios, a fim de sistematizar o ofício educativo no processo da aprendizagem e, ou fixação de
conteúdo (CAZELLI; COIMBRA, 2013, p. 3).
Em virtude dos apontamentos iniciais, procedeu-se à análise do teor qualitativo através de
observação participante nesta experiência, em dois encontros, em turnos distintos, sendo um pela
manhã e outro à tarde. O Projeto HEAD normalmente divide suas atividades em dois grupos de
crianças pela manhã e dois grupos na parte da tarde, para que mais crianças possam interagir de forma
efetiva entre si e com os monitores que orientam as atividades da semana. Desse modo, propicia-se o
enriquecimento da aprendizagem a complementar a educação tradicional e não a substituir.
A atividade ora apresentada contou com um grupo de crianças participantes do Projeto HEAD.
Participaram do grupo 34 crianças de ambos os sexos, com idades entre 7 a 12 anos. Como forma de
avaliação foram realizadas rodas de conversa, na semana seguinte ao encontro com as crianças, para
elas avaliarem as atividades desenvolvidas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 691
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O projeto HEAD conta com monitores que são graduandos em diferentes áreas, tais como:
Psicologia, Biologia, História, Fonoaudiologia, Fisioterapia, etc. Dessa forma, conta com a interação
de diversas áreas do conhecimento que variam de acordo com a entrada e saída dos monitores a cada
semestre, sendo um espaço de aprendizado profícuo. A visitação proposta pelo Projeto HEAD ao
Museu é considerada uma educação não formal, assim como todas as demais atividades propostas,
uma vez que possuem como objetivo o enriquecimento da aprendizagem para o desenvolvimento de
habilidades e proporcionam tal enriquecimento, para além do curricular, aos participantes da maneira
mais lúdica possível.
Durante os encontros, que ocorrem às segundas-feiras, foram levantados os interesses das
crianças, trabalhando o espaço dos museus como uma possibilidade de enriquecimento da
aprendizagem e estímulo à curiosidade de cada um. A experiência das visitas, tanto presencial quanto
virtual, aos museus, permitiu compreender, através das perspectivas de monitores e crianças, de que
forma o museu pode influenciar na formação e aquisição do conhecimento a partir da perspectiva de
uma educação não formal.
O incentivo à educação não formal permite que o indivíduo se depare com situações
diferentes, novos estímulos que despertam curiosidade e interesse pelo que aquilo traz de diferencial.
Segundo Gohn (2006):
Na educação formal espera-se, sobretudo, que haja uma aprendizagem efetiva (que,
infelizmente nem sempre ocorre), além da certificação e titulação que capacitam os
indivíduos a seguir para graus mais avançados. Na educação informal os resultados não são
esperados, eles simplesmente acontecem a partir do desenvolvimento do senso comum nos
indivíduos, senso este que orienta suas formas de pensar e agir espontaneamente. (GOHN,
2006, p.30).
EXTENSÃO PUC MINAS:
692 Novo Humanismo, novas perspectivas
Observa-se também, desse contexto, o incentivo a um indivíduo mais autônomo, que não
segue um modelo preestabelecido, mas um modelo mais criativo, que se torna capaz de explorar suas
próprias percepções. Sendo assim, contribui para o incentivo da compreensão de um pensamento que
é voltado para a aceitação da existência de diferentes formas de pensar, de ensinar, de absorver
diferentes conteúdos. Conteúdos estes que podem ser explorados e compartilhados, posto que a
educação não formal ainda é considerada um modelo em construção, mas que demonstra ser
promissora e atual.
Através do relato das crianças e dos monitores participantes, foi possível compreender o
envolvimento dessas com o ambiente de aprendizagem. Percebeu-se que, durante a visita presencial,
as interações entre pares, os questionamentos e a relação com o meio ambiente fortaleceram o
aprendizado. Esta avaliação foi possível por meio da troca de experiência entre os participantes do
modelo on-line e presencial, no qual cada participante, das duas modalidades de visitas, presencial e
virtual, contou como e o que foi realizado.
A visita realizada virtualmente trouxe a cultura e os museus de Recife. Nesse sentido,
observou-se como a educação não formal permitiu que se repassasse o conhecimento utilizando
diversas ferramentas e espaços, como o espaço virtual e a tecnologia que foram os principais
facilitadores dessa experiência que despertou também o interesse e curiosidade dos participantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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1996Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo
competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas
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colocados por diferentes audiências. Workshop Internacional de Pesquisa em Educação em
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https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/13/a-interdisciplinaridade-como-facilitadora-da-
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encaminhando potenciais para um programa de enriquecimento. Rev. Traj. Mult. Ed. Esp. XVI
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MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 3ª ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina
Eleonora Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2000.
PAPALIA, Diane. E. Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? 22ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.
RENZULLI, Joseph. The Three-ring conception of Giftedness: A Developmental Model for
Creative Productivity. In: RENZULLI, Joseph; REIS, Sally. The Triad Reader. Mansfield Center,
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RENZULLI, Joseph. S. Schools for talent development: A practical plan for total school
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EXTENSÃO PUC MINAS:
694 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
O presente relato objetiva descrever a elaboração de cartilha e vídeo de orientações sobre a COVID-19 para pais e
cuidadores de pessoas com síndrome de Down (SD) e deficiência intelectual. O projeto foi realizado pelo grupo de
extensão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com
discentes extensionistas das faculdades de Farmácia, Jornalismo, Medicina, Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional,
em parceria com a Fundação Síndrome de Down e a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Os participantes se dividiram
em seis frentes, cada uma abordando aspectos considerados imprescindíveis para a prevenção da COVID-19. Frente à
declaração de calamidade pública no Brasil devido à COVID-19, entende-se necessário orientar esses cuidadores, visto
as diversas repercussões no seu cotidiano, uma vez que são responsáveis por si e pelo outro. A cartilha é um forte recurso
de educação em saúde específico para esse público em complementação com o vídeo produzido. Ambos objetivam
amenizar fatores de sofrimento psíquico do cuidador por meio de estratégias que auxiliem a reorganizar a rotina e
conscientizar sobre a adoção de hábitos promotores de saúde durante o distanciamento social.
ABSTRACT
The following experience report aims to describe the development of a booklet and video of guidelines on COVID-19 for
parents and caregivers of people with Down syndrome (DS) and intellectual disability. The project was developed by the
extension group of the Dean of Extension and Community Affairs of the Pontifical Catholic University of Campinas, with
extension students majoring in Pharmacy, Journalism, Medicine, Nutrition, Psychology and Occupational Therapy in
partnership with the Down Syndrome Foundation and the Brazilian Society of Cardiology. The participants were divided
into six fronts, each addressing aspects considered essential for the prevention of COVID-19. Due to the declaration of
public calamity in Brazil, it has been considered necessary to guide these caregivers, given the various repercussions in
their daily lives, since they are responsible for themselves and others. The booklet is a strong health education resource
1
Graduanda de Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail: gabrielygomes@hotmail.com.
2
Graduanda de Terapia Ocupacional na PUC-Campinas. E-mail: todaniellerodrigues@gmail.com.
3
Graduando de Psicologia na PUC-Campinas. E-mail: lucasmplima@gmail.com.
4
Graduanda de Medicina na PUC-Campinas. E-mail: nataliabaraldi@gmail.com.
5
Médico, pesquisador e professor titular de Cardiologia. PUC-Campinas. E-mail: saraiva.jfk@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 695
specifically for this audience in addition to the video produced. Both aim to alleviate factors of psychological distress of
the caregiver through strategies that help to reorganize the routine and raise awareness about the adoption of health-
promoting habits during social distance.
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O indivíduo com síndrome de Down também pode ser incluído nesse grupo devido a diversas
características da trissomia do cromossomo 21, as quais podem agravar o quadro clínico da COVID-
19 (BRASIL, 2020).
Um dos fatores de risco é a imunodeficiência característica dessa população, sendo as
infecções, principalmente pulmonares, uma das principais causas de morbidade e mortalidade em
todas as idades (NISIHARA; MASSUDA; LUPIÃNES, 2014). Outros fatores de risco são as diversas
anomalias que acometem o sistema cardiovascular, como a cardiopatia congênita, que afeta 50% da
população com síndrome de Down. Além disso, é possível notar um aumento de doenças crônicas,
como hipertensão arterial e diabetes mellitus, e aumento da obesidade nessa população, os quais são
fatores de risco para o agravamento da COVID-19 (BRASIL, 2013). Dessa forma, é de fundamental
importância a educação e orientação populacional sobre as medidas sanitárias de prevenção da
COVID-19.
3 METODOLOGIA
O projeto foi desenvolvido no período de março a abril de 2020, e está vinculado à Pró-
Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cujo
trabalho é voltado à prevenção de doenças cardiovasculares na população com SD. O grupo
extensionista é composto por docente e discentes dos cursos de Farmácia, Jornalismo, Medicina,
Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional, realizado em conjunto com a Fundação Síndrome de
Down de Campinas-SP e com o apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ademais, contou com
outros profissionais de saúde voluntários (pediatra, cardiologista, nutricionista e educadoras físicas).
O diálogo entre as disciplinas teve papel fundamental na tarefa de definir uma abordagem eficiente e
esclarecedora para os responsáveis dos indivíduos com Síndrome de Down, atingindo o público-alvo
com uma mensagem uníssona.
A cartilha foi elaborada por meio de reuniões, via plataforma on-line, e os tópicos abordados
foram: agente da doença, modo de transmissão, sintomas, grupos de risco, definição e importância de
distanciamento social, dicas, higiene pessoal, cuidados a serem tomados caso precise sair de casa, uso
de máscara, alimentação saudável e higienização dos alimentos, atividade física, vacinação e quais
medidas tomar se apresentar os sintomas.
A fim de desenvolvê-la, os alunos voluntários e profissionais de saúde foram divididos em
seis frentes. O grupo responsável pela comunicação foi encarregado de introduzir, organizar e reunir
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 697
o conteúdo dos tópicos previamente citados produzidos pelos demais, devido à importância da
diagramação das informações e ilustração do conteúdo abordado. O propósito estava em facilitar a
transmissão das mensagens necessárias, garantir a fluidez da leitura e produzir um material chamativo
ao leitor – com linguagem simples e direta. A consulta rápida às informações desejadas também foi
um cuidado tomado pela equipe.
De modo complementar à cartilha, para atender e atingir àqueles que não se identificam com
o conteúdo em formato de texto, gravou-se um vídeo rápido, para circulação por mídias sociais, com
as principais orientações e cuidados abordados na cartilha. O vídeo é protagonizado pelo docente
orientador do projeto, o que ressaltou a credibilidade das informações transmitidas. Garantiu-se,
assim, a abrangência por completo do público de familiares dos usuários da Fundação Síndrome de
Down. Para a elaboração de ambos materiais, foram realizadas pesquisas em guias da Organização
Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, além de artigos científicos qualificados.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
de sair de casa, uma vez que a demanda da população com SD por assistência à saúde demonstra-se
recorrente, o que enfatiza o quão importante é evitar a exposição a ambientes com certo potencial
contaminante.
A ampla repercussão das duas formas de orientação desenvolvidas pelo projeto demonstra o
êxito e pertinência do material para o público-alvo. Todo cidadão tem direito à comunicação, uma
vez que a informação é essencial para o exercício da cidadania (SCORALICK, 2009). Assim, é
fundamental a difusão de informações para a população com SD, a qual geralmente é negligenciada
pelos veículos de comunicação, inclusive no contexto da COVID-19, uma vez que não foram
encontrados materiais abordando sua especificidade sobre o tema ou com o intuito de orientar as
pessoas com deficiência intelectual. Contribui-se para a quebra do hábito excludente, promovendo a
sua participação ativa em todas as definições e ações, promovendo sua autonomia.
Ressalta-se que o modo como a pessoa com SD é compreendida pelos outros pode implicar
ganhos ou prejuízos para o seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional (WUO, 2007). A
comum imagem de eterna criança, que necessita de ajuda e proteção constante restringe sua
permanência a ambientes controlados e seguros, o que resulta, muitas vezes, em pessoas restritas às
suas casas. Como consequência, perpetua-se a exclusão, os preconceitos e determinações errôneas
sobre a identidade do indivíduo; o que implica a esse indivíduo uma rotina de isolamento,
sedentarismo e negligência com questões de saúde, como a alimentação, de forma a propiciar o
desenvolvimento de comorbidades como diabetes e hipertensão. (CHAVES; NAVARRO; CAMPOS,
2008). Portanto, é de extrema importância evidenciar essa população, que normalmente é
invisibilizada, frisar a importância da sua participação e sua capacidade, como para escolher por uma
rotina de prevenção e combate a COVID-19. Atinge-se, por fim, o objetivo de inclusão.
O material foi publicado na página do projeto na internet. Houve também a divulgação nas
páginas da Fundação Síndrome de Down, Movimento Down, Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE) Campinas e Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Além disso, a
campanha foi transmitida entre diversos veículos de imprensa escrita, radiofônica e televisiva de
grande penetração na mídia. A ampla repercussão em fundações e sociedades, para além da Fundação
Síndrome de Down – Campinas, demonstra a carência de orientação concisa e de qualidade para essa
população, potencializador da insegurança nesse momento de pandemia, visto a sensação de estarem
informados incompletamente, por não se tratar de uma abordagem com vistas às particularidades da
síndrome.
EXTENSÃO PUC MINAS:
700 Novo Humanismo, novas perspectivas
Assim, a iniciativa pôde, de forma pioneira, orientar e acolher aqueles que convivem com a
pessoa com SD durante o período de distanciamento social. Contribuindo-se para a preservação da
integridade dessa população de maneira global, não restringido apenas a orientação médica, mas
entendendo essa pessoa de forma integral, compreendendo o contexto em que está inserida,
aproveitando-se da estrutura interdisciplinar, pois entende-se essencial na complexidade do período
vivido.
Para acessar a cartilha, aponte o leitor para a imagem 1; para acessar a página virtual da
campanha e ter acesso a todos os materiais de vídeo desenvolvidos, vá até a imagem 2.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
O objetivo desse relato foi refletir sobre a importância da vivência entre gerações para a promoção à saúde em idosos,
durante o período de pandemia, bem como na formação de futuros profissionais da saúde. As ações do projeto buscavam
promover a qualidade de vida, incentivar a prática regular de exercícios físicos, e viabilizar a inclusão, possibilitando a
troca de saberes e a convivência entre diferentes gerações. As atividades realizadas no Projeto contribuíram para a
educação em saúde, a promoção à saúde, vivência intergeracional, prática de exercícios físicos, acolhimento, inclusão e
socialização. Essas ações são meios de instrumentalizar a população idosa em busca de cidadania e justiça social, visando
o empoderamento dessa população, bem como a formação mais completa dos estudantes de fisioterapia.
ABSTRACT
The purpose of this report was to reflect on the importance of the experience between generations for the promotion of
health in the elderly during the pandemic, as well as in the training of future health professionals. The project’s actions
encompassed promoting quality of life, encouraging the regular practice of physical exercises, promoting inclusion,
enabling the exchange of knowledge and coexistence between different generations. The activities carried out in the
project contributed to health education, health promotion, intergenerational experience, physical exercise, reception,
inclusion and socialization. These actions are means of instrumentalizing the elderly population in search of citizenship
and social justice, aiming at the empowerment of this population, as well as the more complete training of physiotherapy
students.
1
Graduando do curso de Fisioterapia da PUC Minas/Poços de Caldas. E-mail: Lilian.martins.1195190@sga.pucminas.br.
2
Graduanda do curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços de Caldas. E-mail: eduarda.bonilha@sga.pucminas.br.
3
Graduanda do curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços de Caldas, e-mail: vinicius.silva.1192024@sga.pucminas.br.
4
Orientadora, colaboradora; Mestre em Gerontologia Social; Professora do Curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços
de Caldas. E-mail: alvisite@pucpcaldas.br.
5
Mestre em Fisioterapia. Professora do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Poços de Caldas. Orientadora,
coordenadora do Projeto (Financiado pela PROEX PUC Minas). E-mail: imaculada@pucpcaldas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
704 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Uma conquista importante da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, que tem ocorrido
em conjunto com a melhoria dos parâmetros de saúde das populações, mesmo que essas conquistas
não ocorram de forma equitativa nos diferentes países e nos diferentes contextos socioeconômicos
(VERAS; OLIVEIRA, 2018). Dessa forma, o mundo enfrenta uma preocupação relativa ao aumento
da população envelhecida (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005).
O envelhecimento da população mundial não basta; é necessário, além de uma maior
expectativa de vida, agregar qualidade aos anos adicionais vividos (VERAS; OLIVEIRA, 2018). A
dualidade entre viver mais e a qualidade dos anos acrescidos, remete a uma preocupação crescente
pela promoção de saúde com a finalidade de ampliar os ganhos em funcionalidade, buscar a prevenção
de doenças e incapacidades, evitar a mortalidade prematura, reduzir fatores de risco, principalmente
aqueles associados às doenças crônicas não transmissíveis, como é o caso do sedentarismo (OMS,
2005).
O Brasil também vivencia o fenômeno do crescente envelhecimento populacional, o que
demanda mudanças e transformações na saúde da população. A Política Nacional de Promoção da
Saúde visa criar estratégias para o enfrentamento dos desafios de promoção de saúde num cenário
sócio-histórico cada vez mais complexo e que demanda a reflexão e qualificação contínua das práticas
sanitárias e do sistema de saúde (BRASIL, 2006).
Por outro lado, a Extensão Universitária representa um processo acadêmico vinculado à
formação ampliada do cidadão, à produção e ao intercâmbio de conhecimentos que visem à
transformação da realidade social. A extensão articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável,
por meio de um trabalho inter e transdisciplinar capaz de favorecer uma visão global das questões
sociais (ALVES, 2004).
Dessa forma, a Extensão Universitária tornou-se o instrumento de inter-relação da
universidade com a sociedade, democratizando o conhecimento e reprodução deste, por meio da troca
de saberes com as comunidades. Ademais, atua como um processo interdisciplinar, cultural,
educativo, científico, de interação dialógica, em uma via de mão dupla entre sociedade e universidade
(POLÍTICA NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2012). Já a promoção à saúde trata-
se de um processo que visa capacitar os sujeitos e comunidades para desenvolverem seus potenciais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 705
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Envelhecimento
que, com o tempo, levam a uma perda gradual nas reservas fisiológicas, a um aumento do risco de
contrair doenças e a um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo, podendo resultar na sua
morte (OMS, 2015).
O processo de envelhecimento também é influenciado por fatores sociais, culturais e
psicológicos. Assim, o conceito do envelhecer pode ser entendido como algo subjetivo e de
transformações biopsicossociais, que modificam aspectos comuns em indivíduos saudáveis, levando-
os a novas percepções de enfrentamento da vida. É importante que se diga que essas mudanças não
são lineares ou consistentes e são vagamente associadas à idade de uma pessoa em anos. (LINHARES
et al., 2019).
O envelhecer é marcado por acontecimentos de vida, perdas e ganhos, sendo de fundamental
importância que o indivíduo se ajuste a essas transições, sejam de ordem física, social e/ou ambiental.
Desse equilíbrio, resulta-se um bem-estar consciente, permitindo às pessoas o desenvolvimento das
suas capacidades física e psicológicas, reagindo ao meio físico e social que o envolve, sem sofrimento
(SILVA; ALMEIDA, 2013).
Alguns padrões de comportamento são tipicamente associados aos idosos, como a passividade
e a imobilidade, e, com reduzida atividade física, criam-se alguns estereótipos que determinam a
forma de agir desse grupo de indivíduos. De acordo com Paschoal e Figueiredo (2020), o
sedentarismo nessa população é também resultado de imposições sociais e culturais, não somente
uma incapacidade funcional.
Uma maneira eficiente de envelhecer de forma saudável e com qualidade de vida advém de
políticas públicas e de ações que visem a educação e promoção à saúde, buscando o empoderamento
dessa população, como já previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2003).
2.2 Intergeracionalidade
além do aprendizado com pessoas mais experientes, essa convivência aumenta a resiliência, empatia,
relacionamentos sociais e melhora a percepção sobre o processo de envelhecimento; portanto, esse
tipo de convivência traz benefícios mútuos para as gerações envolvidas.
Dessa forma, as interações intergeracionais são consideradas, pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como uma maneira eficaz de inclusão e
cooperação, relevante por priorizar o valor social da igualdade (UNESCO, 2002).
3 METODOLOGIA
Este relato de experiência foi desenvolvido a partir da descrição das vivências dos
participantes idosos, estudantes e professores extensionistas do Projeto “Acolher uma visão
humanizada do envelhecimento”, vinculado ao curso de Fisioterapia do campus de Poços de Caldas.
O objetivo é promover a qualidade de vida, incentivar a prática regular de exercícios físicos e a
inclusão, possibilitando a troca de saberes e a convivência entre diferentes gerações.
Desde o início das atividades, no primeiro semestre de 2021, foram realizadas atividades que
compreenderam, entre as principais ações, encontros presenciais na clínica de fisioterapia, divulgação
de material educativo em redes sociais, replicação de material educativo no grupo de WhatsApp,
encontros remotos síncronos sobre temas escolhidos pelos idosos e, no início de 2022, puderam ser
realizados encontros presencias na Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) parceira,
uma vez que houve condição sanitária para isso. Os encontros presenciais na Clínica de Fisioterapia
e na ILPI foram realizados semanalmente, o material educativo foi publicado quinzenalmente nas
redes sociais e, finalmente, os encontros remotos ocorreram numa frequência mensal.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de execução do Projeto Acolher, foi possível realizar várias ações que
contribuíram para a educação em saúde, a promoção à saúde, a vivência intergeracional, a prática de
exercícios físicos, o acolhimento, a inclusão e a socialização. Ações de inclusão, aprendizagem,
acolhimento são meios de instrumentalizar a população idosa em busca de cidadania e justiça social,
visando o empoderamento dela.
Mesmo com o aumento da população idosa no Brasil, em que se estima, em 2060, um idoso
para cada três brasileiros, a longevidade, no Brasil, é inversamente proporcional à obtenção de
qualidade de vida, trazendo à tona aspectos negativos da velhice, como a fragilidade do indivíduo
senil, as doenças crônico-degenerativas, frequentes nessa faixa etária, e a sensação de dependência e
inutilidade, vivenciadas e temidas pelos idosos (MENDONÇA et al., 2021; IBGE, 2019).
As práticas intergeracionais, como as que ocorreram no projeto de extensão, procuram unir
pessoas com um propósito definido, por meio de atividades que sejam benéficas para ambos os grupos
e que promovam um melhor entendimento e respeito entre gerações, pois, mais do que juntar pessoas
jovens e idosas, importa ver a comunidade como um contexto ampliado, na interação de diferentes
gerações (PINTO; HATTON-YEO; MARREEL, 2009).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 709
sentido de orientar atividades, visando promover uma melhora na qualidade de vida dos idosos. Outro
aspecto importante que deve ser destacado foi o desafio de propor atividades para idosos
institucionalizados, que apresentam maior vulnerabilidade, sendo muitas vezes limitados fisicamente
e com alterações cognitivas, diferindo sobremaneira do idoso não-institucionalizado, o que
proporcionou ao estudante a oportunidade de vivenciar demandas mais complexas, promovendo o
desenvolvimento de práticas colaborativas junto aos demais membros da equipe de saúde da
instituição de longa permanência para idosos (ILPI).
A integração entre os estudantes e idosos foi relatada como um facilitador do projeto, sendo
capaz de promover uma melhor socialização entre diferentes gerações, com diferentes realidades,
sendo fundamental para a formação de um profissional de saúde preocupado com o cuidar de forma
humanizada e inclusiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
Trata-se de um relato de experiência de uma ação realizada pelas extensionistas do Projeto de Extensão da PUC Minas
ELAS na APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) Belo Horizonte, com objetivo de coletar a
história clínica de algumas recuperandas com queixas de dores, para orientá-las na linha de autocuidado, como promoção
e educação em saúde ou avaliar a possibilidade de encaminhá-las para Atenção Primária ou Secundária à Saúde no Sistema
Único de Saúde (SUS), a fim de proporcionar uma melhora na funcionalidade e qualidade de vida. Foram entrevistadas
quatro recuperandas, sendo utilizado como roteiro a avaliação física e funcional, no modelo de função e disfunção, que
abordam domínios como fatores pessoal, atividade, participação e ambiental, além da avaliação subjetiva da saúde.
Mediante as informações coletadas com a prática, é notório que existem relações semelhantes sobre as queixas que as
recuperandas relataram. Mesmo que sejam, pessoas diferentes, o elo mais evidente em comum é a falta de liberdade,
deixando claro, a necessidade de serem ouvidas de forma ativa, dinâmica e efetiva, principalmente, pelos profissionais de
saúde.
ABSTRACT
This is an experience report of an action carried out by extension workers of the PUC Minas ELAS Extension Project at
APAC (Association for the Protection and Assistance to Convicts) Belo Horizonte, with the objective of collecting the
clinical history of some recoveries with complaints of pain. , to guide them in the line of self-care such as health promotion
and education or to evaluate the possibility of referring them to primary or secondary health care in the Unified Health
1
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: anacjfisio@gmail.com.
2
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: anapaulamsfisio@gmail.com.
3
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: fisiobrunamoraes@outlook.com.
4
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: izacsfisio@gmail.com.
5
Doutora em Ciências da Saúde (UFMG), Professora do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
714 Novo Humanismo, novas perspectivas
System (SUS), in order to provide an improvement in functionality and quality of life. Four recovering women were
interviewed and the physical and functional assessment was used as a script, in the function and dysfunction model, which
address domains such as personal, activity, participation and environmental factors, in addition to the subjective
assessment of health. Based on the information collected with the practice, it is clear that there are similar relationships
regarding the complaints that the debtors reported. Even if they are different people, the most evident link in common is
the lack of freedom, making it clear the need to be heard in an active, dynamic and effective way, mainly by health
professionals.
Keyword: International Classification of Functionality. Prison System. Quality of life. University Extension. Anamnesis.
INTRODUÇÃO
informações pertinentes que possam ser utilizados, posteriormente, como conteúdo para construção
das ações, em prol de uma abordagem voltada à integralidade do indivíduo e ao contexto em que ele
está inserido. Nesta perspectiva, a atividade proposta pelas extensionistas foi a aplicação de um
roteiro de avaliação com as recuperandas do regime semiaberto na APAC BH.
A avaliação fisioterapêutica é formada por diversos componentes fundamentais ao cuidado
clínico que incluem: a escuta empática, a capacidade de entrevistar indivíduos de qualquer idade,
humor e procedência, além de, técnicas de exame para os diferentes sistemas orgânicos, instrumentos
de avaliação qualitativos e quantitativos que facilitam o processo do raciocínio clínico. A prática de
um exame preciso é de extrema importância para que haja um vínculo com a pessoa, bem como para
obter as informações necessárias para conclusão de um diagnóstico claro e preciso. Dessa forma, a
qualidade na qual a anamnese e os exames físicos, são efetuados determinam as próximas etapas a
serem seguidas referente à interação com o paciente (SOUSA et al., 2016). A partir da avaliação
fisioterapêutica, é determinado o diagnóstico cinesiológico funcional, que está sob o impacto dos
contextos pessoal e ambiental.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
prisional brasileiro não está preparado para recebê-las (DEPEN, 2021). Este, além de privar a
liberdade do infrator deve assegurar a reinserção social, estabelecendo ferramentas que proporcionem
o acesso ao ensino, à profissionalização e aos serviços de saúde (BRASIL, 2004).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde no Sistema Penitenciário (PNAISP), em 2014
foi normatizada e operacionalizada por meio da Portaria nº 482, cujo objetivo principal é garantir o
acesso integral ao SUS para a população privada de liberdade, através da qualificação e da
humanização da atenção à saúde no sistema prisional (BRASIL, 2014). Entretanto, diversos são os
obstáculos para a garantia desses direitos, como a falta de infraestrutura e recursos humanos
especializados, favorecendo as violações desses benefícios, inclusive o da saúde (BATISTA;
ARAÚJO; NASCIMENTO, 2019).
Diante disso, o grande desafio do sistema prisional brasileiro consiste em conseguir reabilitar
o indivíduo para que ele possa retornar à vida social recuperado. Dessa forma, o sistema tem o papel
de reconstruir a base de valores do indivíduo, que, no complexo carcerário, se encontra deturpado e
invertido (VACCARI; CARVALHO, 2005).
O método APAC é alternativa de gestão prisional com participação da sociedade civil
organizada, que desponta como opção às estruturas convencionais do sistema penitenciário brasileiro.
A metodologia qualifica a política de execução penal porque amplia as suas capacidades de atuação,
envolvendo a comunidade no processo, aproximando-a das pessoas e das realidades locais e
possibilitando a solução de problemas de forma criativa e inovadora (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
Na APAC BH, as recuperandas possuem uma rotina que inclui cuidados pessoais e com o
ambiente, direito ao acesso à saúde, à educação e ao trabalho, além das visitas de familiares
(JUSBRASIL, 2019). Na laborterapia, elas podem trabalhar com bordados e crochê, pintura de tela,
madeira, corte e costura, oficina de música e tapeçaria. Os trabalhos produzidos são comercializados,
sendo que 75% do recurso ficam para a recuperanda e 25% retornam para a cooperativa
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
Assim, como previsto na Lei de Execução Penal, as recuperandas da APAC BH possuem
direito e assistência material, cuidados médicos, odontológicos, atendimento de enfermagem, de
psicólogos e assistentes sociais, além de assistências religiosa e educacional (WEBER, 2017).
Ademais, realizam ações conjuntas às universidades e centros universitários, semanalmente, por meio
de projetos de extensão destinados a diversos cursos profissionais. Dessa forma, destaca-se a presença
das graduandas da Área de Saúde, que visam facilitar o acesso aos serviços de saúde.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 717
3 METODOLOGIA
extensão ELAS, na APAC BH. As atividades iniciaram em março de 2022, com uma visita de
apresentação no regime semiaberto da APAC BH. Um dos objetivos desse encontro inicial era
conhecer a estrutura e coletar informações sobre as demandas em saúde das recuperandas. Dessa
forma, algumas delas se queixaram de dores em regiões especificas do corpo. A partir destas queixas,
as cinco extensionistas foram orientadas a iniciar uma anamnese com base no roteiro de avaliação
física e funcional das recuperandas que se manifestaram na visita inicial.
As anamneses foram realizadas em dois dias sucessivos com duração de uma hora utilizando
o roteiro de avaliação física e funcional com ênfase no modelo de função e disfunção que abordam
domínios como fatores pessoal, atividade, participação e ambiental além da avaliação subjetiva da
saúde.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Saúde razoável.
Avaliação Saúde em boa. Saúde em boa. Saúde em boa.
Comparação com
Subjetiva da Comparação com outras Comparação com outras Comparação com outras pessoas:
outras pessoas: Saúde
Saúde pessoas: Saúde pior. pessoas: Saúde igual. Saúde melhor.
pior.
Fonte: Elaborada pelas autoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 721
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o passar dos anos, houve avanços nas políticas públicas que garantem direitos ao acesso
à saúde dos indivíduos privados de liberdade; porém, diversas falhas no sistema dificultam a
efetividade das ações de saúde, sendo que, a falta da escuta ativa e o déficit na resolução dos
problemas são destaques para acentuar ainda mais os obstáculos na garantia de direitos a esse público.
Na prática realizada pelas autoras, é notório que existem relações semelhantes nas queixas das
recuperandas entrevistadas, e apesar de serem diferentes, o elo em comum mais evidente é a falta de
EXTENSÃO PUC MINAS:
722 Novo Humanismo, novas perspectivas
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EXTENSÃO PUC MINAS:
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EXTENSÃO PUC MINAS:
724 Novo Humanismo, novas perspectivas
RESUMO
A vacinação é um estigma social no Brasil desde que, no século passado, Oswaldo Cruz empreendeu uma obra saneadora
que se converteu em um episódio de comoção mundial, pelo cunho impositivo e de coação populacional. Nesse sentido,
o modelo de ação do Programa Nacional de Imunização (PNI), segue esse figurino hodiernamente. Desse modo, em um
país de dimensões continentais e mais de 200 milhões de habitantes, é necessário que haja uma reformulação de
abordagem educativa sobre o calendário nacional obrigatório de vacinação. Diante disso, pretende-se neste artigo
acadêmico, descrever a experiência dos alunos do curso de Enfermagem depois de aplicarem uma abordagem educativa
sobre o Calendário Vacinal do Aulto e Idoso, em atividade do Projeto de Extensão PUC MAIS IDADE, e no Campus
PUC-MG Betim, a fim de aproximar comunidade e academia e desenvolver a prática holística e humanizada aliada ao
conhecimento técnico-teórico do futuro profissional de Enfermagem, proporcionando educação em saúde à população.
Adherence to the vaccination schedule for adults and the elderly: an experience
report of nursing students in extension practice
ABSTRACT
Vaccination is a social stigma in Brazil since, in the last century, Oswaldo Cruz undertook a sanitation work that became
an episode of worldwide commotion, due to its imposition and population coercion. In this sense, the model of action of
the National Immunization Program (PNI) follows this pattern today. Thus, in a country of continental dimensions and
more than 200 million inhabitants, it is necessary to reformulate the educational approach regarding the mandatory
national vaccination schedule. In view of this, the aim of this academic article is to describe the experience of students of
the Nursing course after applying an educational approach on the Vaccination Calendar for Seniors and the Elderly, in
the activity of the PUC MAIS IDADE Extension Project, and on the PUC-MG Campus. Betim, in order to bring the
community and academia closer together and develop a holistic and humanized practice combined with the technical-
theoretical knowledge of the future nursing professional, providing health education to the population.
INTRODUÇÃO
1
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas Betim.E-mail: elisaenfermagem24@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas Betim. E-mail: lirielcristina62@gmail.com.
3
Mestre em Enfermagem. Servidora pública da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH)/ Referência Técnica em
Ações de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional na Assessoria de Educação em Saúde. Tutora da Enfermagem
do Programa de Residência Multiprofissional da Secretaria Municipal de Saúde da PBH. Professora do Curso de
Enfermagem da PUC Minas. E-mail: julianamarafelisberto@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 725
A Educação em Saúde é um dos grandes desafios da Saúde Pública no Brasil, afetando pessoas
e comunidades de diferentes classes socioeconômicas. Nesse contexto, a vacinação surge como
temática importantíssima - uma vez que é crucial para barrar a propagação de diversas doenças
transmissíveis - e, ainda assim, vítima de estigmatização e hesitação vacinal por parte considerável
da população. Tal hesitação mostra-se como um conceito completo e de apresentação não uniforme
de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dependendo de diferentes fatores ao longo
da história.
Assim, a OMS desenvolveu o modelo dos “3Cs” que visava explicar a hesitação vacinal como
convergência entre os conceitos de confiança (no sistema de gestão vacinal, nos profissionais da saúde
e nas políticas públicas), complacência (pela não percepção da vacinação como importante e
necessária) e a conveniência (que abre discussão acerca da facilidade de acesso, dos recursos
disponíveis e da disponibilidade física e econômica para conseguir se vacinar).
Dessa maneira, percebe-se que o conhecimento e a adesão da população brasileira às vacinas
dependem de diversos fatores, como, por exemplo, a quantidade e qualidade de informação que o
usuário recebe, a relação profissional-paciente e as condições geográficas e socioeconômicas do país
e dos brasileiros. Além disso, o próprio desaparecimento de doenças imunopreveníveis por conta das
vacinas pode gerar certo esquecimento da gravidade dessas patologias por parte da população,
contribuindo para a queda da adesão ao calendário vacinal. Diante disso, integrar discussões sobre
saúde - nesse caso específico, sobre a vacinação - no contexto social e cotidiano das pessoas de forma
a gerar transformações significativas na promoção, prevenção e proteção em sua saúde, se mostra
uma problemática constante e de resoluções a longo prazo. Tais resoluções devem se iniciar,
claramente pela Comunicação em Saúde, que deve ser discutida, planejada e aplicada de diferentes
maneiras a fim de alcançar o maior público possível.
Há mais de um século atrás, Oswaldo Cruz empreendeu no Brasil uma obra saneadora,
estabelecendo um modelo de ação que permitiu erradicar ou manter sob controle todas as doenças
que podem ser erradicadas ou mantidas sob controle por meio de vacinas, mesmo em um país de
dimensões continentais como o Brasil. Esse fato possibilitou, não apenas o surgimento do Programa
Nacional de Imunizações, mas também o de muitas políticas públicas que assegurem o acesso à
vacinação e outros cuidados em saúde. A implementação da saúde como direito de todos, através do
EXTENSÃO PUC MINAS:
726 Novo Humanismo, novas perspectivas
Art. 196 e do Art. 198 da Constituição Federal, de 1988, e da Lei 8080 de 1990, permite que hoje
adultos de todo o território nacional, tenham acesso ao cuidado integral em saúde, inclusive à
prevenção de doenças infecciosas por meio das vacinas.
A população idosa também é beneficiária de políticas públicas que garantem seu acesso à
informação e proteção, como a Política Nacional do Idoso, promulgada em 1994 e regulamentada em
1996, que assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia,
integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de
atendimento do SUS. Apesar disso, ainda existem limitações na prática efetiva de todas essas políticas
disponíveis, sobretudo no que diz respeito à transmissão de informações sobre os imunobiológicos e
a vacinação a esses grupos populacionais. Isso acontece pois, segundo o educador americano Eduard
Lindeman, a educação de adultos precisa ser organizada através de situações, e não de disciplinas,
sendo o processo de envelhecimento um fortalecedor dessa questão.
Diante do exposto, o método utilizado para aplicar a prática de Educação em Saúde com
ênfase no calendário vacinal obrigatório do adulto e do idoso foi a Andragogia, palavra de origem
grega que significa “ensinar para adultos”. Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1833, pelo
alemão Alexander Kapp, mas se popularizou na década de 1970 com Malcolm Knowles, educador
americano que se tornou referência no tema. Assim como a Pedagogia, a Andragogia é uma ciência
que estuda a aprendizagem, mas que, diferentemente daquela, que tem foco no público infantil, esta
busca as melhores práticas e estratégias para ajudar adultos no processo de aprendizagem. Dessa
maneira, o profissional de saúde não deve reter seu foco apenas na atenção hospitalocêntrica e deve
visar, constantemente, à educação e à promoção à saúde.
Ademais, buscou-se incitar, através da Andragogia, o conceito de heutagogia, que começou a
ser utilizado em 2000 e refere-se às práticas de ensino nas quais o aluno é o próprio gestor da busca
pelo conhecimento. Na heutagogia, o aluno é o ator principal do processo e, embora a figura do
professor não seja necessária, caso exista, o seu papel é de facilitador. Na saúde, deve-se perpassar
por todas essas alegorias e formas educativas para alcançar a otimização da comunicação paciente-
promotor de saúde. Portanto, esse trabalho, desenvolvido por discentes da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC-MG), no campus Betim, orientado pela Professora Juliana Mara
Felisberto, integrante do corpo docente da PUC-MG, buscou relatar a experiência do grupo na prática
extensionista com tema “Vacinação do Adulto e Idoso”, que proporcionou uma passagem da inclusão
social à educativa, principalmente àqueles que sentem importante dificuldade nesse processo: os
adultos e idosos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 727
1.1 Tema
1.2 Problema
A falta de adesão ao programa de imunização por parte dos adultos e idosos compromete os
indicadores de cobertura vacinal e propiciam a reemergência de doenças já controladas?
1.3 Hipóteses
Devido à maior preocupação e investimento nas ações de vacinação voltadas para crianças,
gestantes e profissionais da saúde, o público adulto e idoso tende a receber menos incentivo e
informações acerca da imunização e, portanto, tem menor aderência a seu Calendário Vacinal
obrigatório, afetando diretamente na propagação de doenças infectocontagiosas importantes
preveníveis por vacinas.
1.4 Objetivo
• Planejar prática educativa sobre vacinação a ser aplicada com o público Adulto e Idoso
frequentante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Betim.
• Elaborar ferramentas educativas (panfletos) para facilitar a construção de conhecimento
sobre vacinação e reforçar o protagonismo do sujeito no cuidado à própria saúde, de
forma a corroborar com a revisão e atualização de seus cartões de vacina.
• Relatar experiência das acadêmicas do curso de enfermagem responsáveis por aplicar a
prática educativa.
1.5 Justificativa
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações, adultos e idosos têm menor adesão à
vacinação, fato que gera ameaças sérias em diferentes âmbitos. Com a baixa adesão há maior número
de casos de doenças infectocontagiosas e, portanto, aumento das mortes, culminando também na
disseminação das doenças para as demais faixas etárias. Além disso, diante da ocorrência de surtos e
grande número de hospitalizações, depara-se com um cenário de dificuldades socioeconômicas, tanto
para os cidadãos, quanto para o país (BRASIL, 2019)
Sendo assim, faz-se necessário o investimento em ações, políticas públicas, atividades,
projetos e campanhas voltados para a conscientização do público adulto e idoso a respeito da
importância da imunização adequada e incentivo a essa prática através de informações claras,
concisas e eficientes. Por isso, a atividade extensionista explicitada neste trabalho mostra-se
importante como parte de um início de mudanças nesse panorama. Ademais, o presente trabalho
atinge não apenas profissionais da saúde e usuários do SUS, mas também os estudantes de graduação
que são a gênese das principais transformações ocorridas no país e no mundo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para Ludojoski, “[e]ducação é um processo progressivo e intencional por parte do ser humano
em desenvolvimento, tendendo à obtenção do aperfeiçoamento integral de sua personalidade e em
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 729
diálogo com a natureza, a cultura e a história, conforme sua própria personalidade.” (LUDOJOSKI,
1972, p. 27). Dada a abrangência do tema e a variedade de ações, é possível constatar a
complexibilidade de uma descrição definitiva para a educação de adultos.
Em relação à educação de adultos, foram identificados por Lindeman (1926), cinco
pressupostos básicos: 1. adultos são motivados a aprender; 2. a orientação de aprendizagem do adulto
está centrada na vida; 3. a experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; 4. adultos têm uma
profunda necessidade de serem autodirigidos; 5. as diferenças individuais entre pessoas crescem com
a idade.
Sabe-se que adultos e crianças aprendem de forma muito diferente. Essa distinção deve levar
em conta os modelos pedagógicos e educacionais de aprendizagem. No modelo de educação de
adultos, o educando é sujeito ativo de sua própria aprendizagem, pois é uma pessoa consciente e
reflexiva, com autonomia cognitiva, emocional e volitiva, motivada pela aquisição de objetivos
específicos de aprimoramento pessoal e crescimento profissional, conhecimento, conteúdo de
aprendizagem. Mais significativo, divertido, mais perto de você. Na educação de adultos, os alunos
têm uma aprendizagem ativa e significativa, seja através de aspectos epistemológicos, interpessoais,
emocionais, motivação e ferramentas, ensino, avaliação e aspectos metodológicos (BELLAN, 2019).
2.2 Imunização
As imunidades devem ser entendidas como moduladoras no processo da doença, pois podem
reduzir significativamente a morbimortalidade por doenças infecciosas imunopreviníveis. A
imunização ativa representa o procedimento de menor custo e mais eficaz para garantir a promoção
e a proteção da saúde das pessoas vacinadas. Quando ocorre na primeira infância, constitui uma ação
relacionada à prevenção de doenças infecciosas, que podem levar à morte e graves sequelas de
crianças no Brasil e no mundo (SANTOS, 2011).
A imunização é um ato extremamente complexo que envolve laboratórios, indústria
farmacêutica, política nacional e internacional, direitos e proteção das liberdades, simbolismo do
corpo e gestão de sua durabilidade. Diante dessa complexidade, o Programa Nacional de Imunização
(PNI) mostra sua excelência, garantindo vacinas seguras e eficazes para todos os grupos
populacionais que são alvo de ações de imunização, como crianças, adolescentes, adultos, idosos e
indígenas, desde sua regulamentação em 1976. Por isso, também, faz parte do ranking dos maiores e
EXTENSÃO PUC MINAS:
730 Novo Humanismo, novas perspectivas
mais inclusivos programas de imunização no mundo. Foi em razão de sua efetiva atuação, que a
varíola e a Poliomielite puderam ser erradicadas nos anos 90 e 80, respectivamente (SOUZA, 2021).
A equidade do PNI é observada pela ampliação da oferta de vacinas nas estratégias e
campanhas de vacinação de rotina, além da área geográfica, mas sobretudo populacional, com grupos-
alvo de vacinação abrangendo todos os ciclos de vida, com 15 vacinas para crianças, 9 para
adolescentes, 5 para adultos e idosos, proporcionando proteção contra mais mais de duas dezenas de
doenças. Ainda assim, o Centro de Imunobiologia Especial (CRIE) disponibiliza vacinas para atender
grupos com condições clínicas especiais, além de diversos programas de vacinação para gestantes,
indígenas e militares (BRASIL, 2019).
O Programa segue o princípio da descentralização e atua em uma rede bem definida em
camadas e integrada que exige discussões a longo prazo, de normas, metas e resultados para
proporcionar sua operacionalidade nas três áreas de governança do SUS, que são, ajudar
desigualdades sociais e disponibilizar a vacinação para todos os brasileiros em todas as localidades,
como a estratégia de vacinação “Operação Gota”, que vacina em áreas geograficamente inacessíveis
e áreas indígenas na região norte do país (BRASIL, 2013). No que tange à vacinação dos adultos,
nota- se que existem poucos estudos voltados para esse público, sendo o maior alvo os profissionais
da saúde, as crianças, os adolescentes, os idosos e as gestantes (BALLALAI, 2018).
Quanto aos desafios para a imunização de adultos, segundo Mizuta et al. (2019), há as
questões religiosas, o medo da ocorrência dos eventos adversos, o desconhecimento sobre a gravidade
e frequência das doenças imunopreveníveis e as questões filosóficas. De acordo com Fonseca et al,
outros motivos que levam ao receio ou até recusa à vacina são: informações negativas sobre
imunização em redes sociais, a crença de que as vacinas não são seguras ou são pouco eficazes e que
as vacinas causam doenças. Dessa forma, “[é] importante facilitar o acesso às salas de vacinação. É
necessário ampliar seus horários de funcionamento, eventualmente levar o medicamento a locais não
tradicionais, e quem sabe, promover campanhas semelhantes às realizadas para crianças”
(BALLALAI, 2018).
Já em relação à vacinação do idoso, entra em questão o fator da imunossenescência, a qual,
segundo Tonet, “usualmente refere-se às disfunções do sistema imunitário relacionadas com a idade
que contribuem para uma maior incidência de doenças infecciosas ou mesmo crônico-degenerativas”
(TONET; NOBREGA, 2008, [s./p.]). Sabe-se que a redução da resposta imune observada durante o
envelhecimento, justificaram baixos níveis de proteção para várias vacinas, de acordo com Alterações
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 731
que acompanham o timo sensível. Essa alteração acaba afetando a produção de células T, impedindo
resposta imune eficiente a antígenos vacinais e/ ou contra os próprios patógenos invasores.
(ASPINALL, 2007)
3 METODOLOGIA
enfatizando-se a importância de receber cada uma delas. Por fim, houve o momento de escuta ativa
em que o ouvinte poderia esclarecer dúvidas e alinhar suas ideias, sempre visando à comunicação
assertiva.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
5- entrega de recurso visual autoral reforçando a temática discutida: cada um dos idosos
guardou e levou para casa os minipanfletos informativos, demonstrando interesse, respeito
e cuidado com a oficina ministrada e com a dedicação das extensionistas.
Durante a apresentação, surgiram diversas perguntas por parte dos idosos, que se mostraram
dispostos e desejosos a cuidar da própria saúde através da correta imunização. Além disso, os
momentos de interação lúdica com o jogo e entrega de panfletos foram muito descontraídos e efetivos
na intenção de fixação do conteúdo. Essa resposta positiva durante a abordagem superou as
expectativas das alunas, que se sentiram ainda mais dispostas e interessadas - conforme relatos das
mesmas em mensagens de texto e durante reuniões pós-prática - pelo tema da vacinação e pela
promoção da Educação em Saúde por parte da equipe de Enfermagem na Saúde Coletiva.
Além disso, após a oficina, o grupo recebeu alguns feedbacks otimistas dos participantes por
mensagens de texto, que relataram a revisão de seus Cartões de Vacinação para colocar em dia as
vacinas apresentadas que ainda faltavam, sendo assim, alcançou-se alguns dos principais objetivos
da ação extensionista.
Em relação à prática com o público adulto, observou-se uma maior resistência para dialogar
sobre o tema. Embora não seja possível afirmar com exatidão o motivo por trás dessa resposta,
algumas das razões apontadas em estudos teóricos para esse fato são a baixa prescrição médica e a
errônea noção de que as vacinas são necessárias apenas para crianças (BALLALAI, 2018). Realizar
a abordagem do adulto requer um método de orientação de aprendizado que seja centrado na vida
cotidiana, de forma que, quando forem abordados, não se sintam retraídos e tentem evitar a discussão
do tema por medo de demonstrar imperícia, mas, pelo contrário, se sintam confortáveis em comentar
sobre suas dúvidas (LINDERMANN, 1926).
O perfil dos adultos abordados com o informativo em panfleto, foi bem diverso, incluindo
desde acadêmicos da área da saúde e de outros cursos da universidade, até funcionários - incluindo
docentes. Um fator que pode ter prejudicado uma compreensão mais acertiva, por parte das discentes,
acerca do real impacto da abordagem no dia a dia dos adultos, é a não realização de um segundo
contato ou atividade lúdica para fixação de conteúdo assim como realizado com os idosos.
Embora o resultado esperado durante a abordagem dos adultos não tenha sido alcançado, a
experiência permanece válida, uma vez que instigou o estudo, preparo e prática das discentes, bem
como atingiu diferentes indivíduos, podendo ter influenciado beneficamente algum desses em relação
à prevenção em saúde por meio da vacinação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 735
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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81232021264.09642019>. Acesso em: 16 jun.2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 739
RESUMO
O aumento da expectativa de vida em idosos em alguns casos vem acompanhada de declínio corporal e/ou mental levando
a necessidade de cuidados prolongados, sendo o cuidado um fator de risco para a saúde osteomuscular dos cuidadores. O
objetivo deste trabalho foi realizar treinamento de mobilizações e transferências para que os cuidadores as realizem de
modo seguro, a fim de evitar/minimizar sobrecarga sobre o sistema musculoesquelético. Houve quatro encontros com
práticas de promoção em saúde e segurança dos cuidadores do Convivium Emaús. Como resultado, neste relato de
experiência mostra-se o impacto positivo, agregando valor aos seus conhecimentos prévios.
Safety and health for the workers at the emaús living together center
ABSTRACT
The increase in life expectancy in the elderly in some cases is accompanied by bodily and/or mental decline leading to
the need for prolonged care, and caregiving is a risk factor for the caregivers' musculoskeletal health. The objective of
this work was to provide training in mobilizations and transfers for the caregivers to perform them safely in order to
avoid/minimize the overload on the musculoskeletal system. There has been four meetings with practices of health and
safety promotion for caregivers of the Convivium Emaús. As a result, this experience report shows the positive impact,
adding value to their previous knowledge.
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Fisioterapia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
fisiogabriellaandrade@gmail.com
2
Graduando em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: itspedroborges@gmail.com.
3
Graduanda em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: laramariap11@gmail.com.
4
Graduanda em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: lorena.bonif7@gmail.com.
5
Mestre em Ciências da Reabilitação (Universidade Federal de Minas Gerais). Professora adjunta da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: adrianasilvadrumond@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 741
O cuidar em saúde é uma atitude interativa que inclui o envolvimento e o relacionamento entre as
partes, compreendendo acolhimento como escuta do sujeito, respeito pelo seu sofrimento e história
de vida.
Ao buscar por cuidadores atualmente é possível encontrar tanto profissionais formais, que são
capacitados para trabalhar com pessoas que por quaisquer motivos se encontram dependentes para
realizar seu autocuidado, quanto informais, que podem ser familiares, amigos ou pessoas de fora, que
atuam como cuidadores, mas não possuem conhecimento das demandas dos indivíduos cuidados e
capacitação para atuar como tal. De acordo com o manual “Guia Prático do cuidador” (PRATES et
al., 2014), o cuidador é definido como alguém que cuida a partir dos objetivos estabelecidos por
instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação,
higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida.
Para Duarte e Diogo (2011), é de extrema importância que os cuidadores recebam orientações
dos profissionais de saúde a respeito de doenças, tratamento e melhores formas de realizar atividades
de cuidado. Para Patrocínio (2011), a fim de realizar sua função adequadamente os cuidadores
necessitam de dois aspectos: preparo e orientação, e tempo em seu dia a dia para seu próprio
autocuidado, pois devem estar bem física e emocionalmente para poder cuidar de outrem.
Ergonomia é a ciência que observa e estuda qual a melhor maneira de se oferecer conforto e
bem-estar no local de trabalho, como a melhor postura para o funcionário lidar com alguns
equipamentos, a dimensão e posição adequadas para os maquinários e móveis, evitando-se, assim,
fadiga e desconforto e fazendo com que os colaboradores se sintam satisfeitos e motivados no
trabalho. Neste contexto, a ergonomia torna-se fundamental para que o trabalho seja fonte de saúde e
eficiência produtiva para as pessoas e organizações. Ela possibilita que o trabalho seja bem
dimensionado, otimizando sua eficácia ao mesmo tempo permitindo a saúde e prevenção de certas
doenças ocupacionais (PRATES et al., 2014).
Garantir o bem-estar do cuidador é essencial, já que o mesmo apresenta um papel fundamental
na saúde de outro indivíduo. O papel do cuidador em saúde inclui o envolvimento e o relacionamento
entre as partes, compreendendo o acolhimento como escuta do sujeito, respeito pelo seu sofrimento
e pelas suas vivências como ser humano. Se, por um lado, o cuidador pode diminuir o impacto do
adoecimento, por outro a falta de cuidado pode agravar o sofrimento dos pacientes e aumentar o
isolamento social (AYRES, 2001).
Como citado anteriormente, por não ter orientação básica sobre a realização do cuidado e as
posturas corretas, o cuidador está exposto a riscos ergonômicos que podem repercutir negativamente
EXTENSÃO PUC MINAS:
742 Novo Humanismo, novas perspectivas
na sua saúde. Nesse contexto, a atividade proposta consiste em criar um espaço para orientar,
demonstrar e treinar os cuidadores com base na biomecânica e ergonomia destas tarefas, preparando-
os para executar suas atividades com segurança, reduzindo os riscos e prejuízos à saúde.
2 METODOLOGIA
Essa atividade é uma resposta à demanda enviada para o colegiado de Fisioterapia da PUC
Minas, no primeiro semestre de 2022, para colaborar com a saúde e segurança dos cuidadores do
Convivium Emaús. No primeiro momento, foi realizado um contato com a gerente da unidade para
conhecimento do espaço, recursos, materiais e tempo disponível para a realização da atividade.
Optou-se por iniciar a atividade de promoção de saúde e segurança para o cuidador, com base nos
fundamentos de biomecânica e ergonomia, para evitar sobrecargas musculoesqueléticas no
desempenho das atividades de cuidado. A responsabilidade pela condução da atividade ficou com a
professora supervisora da disciplina Estágio Obrigatório em Fisioterapia na Saúde Coletiva e os
acadêmicos do 10° período da disciplina. Realizou-se um levantamento bibliográfico para a
elaboração da atividade prática e material educativo.
Conforme determinado, os acadêmicos chegaram ao local da atividade com uma hora de
antecedência para treino da atividade a ser realizada e organização do espaço, seguido pela acolhida
e apresentação. Os cuidadores foram convidados a relatar alguma experiência por eles vivenciada na
qual necessitaram de cuidado. Muitos deles não tiveram essa experiência e foram convidados à
primeira atividade prática: colocar-se no lugar das pessoas que necessita de cuidado, fazendo uso da
cadeira de rodas e serem conduzidos de olhos abertos, de olhos fechados, utilizando bengala
canadense regulável, andador e deambular com robofoot em um dos membros inferiores. Ao mesmo
tempo, eles foram orientados quanto ao uso correto desses equipamentos. Na sequência, foram
convidados a realizar uma reflexão do que essa prática proporcionou para eles.
A segunda atividade prática consistiu em treinar a mobilização de membros inferiores e
superiores do paciente ao leito, sua transferência para a posição sentada no leito e para a cadeira de
rodas. A técnica foi demonstrada no corpo do cuidador, e eles simularam serem os recebedores do
cuidado e em seguida praticaram em seus colegas para fixar o aprendizado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 743
Foram realizados quatro encontros com duração de 2 horas e 30 minutos em cada dia. Cada
encontro teve a presença de pessoas diferentes devido ao horário de trabalho. As atividades eram
sempre finalizadas com espaço para manifestação dos cuidadores, reflexões e elucidação das dúvidas
apresentadas.
3 RESULTADOS
Os encontros tiveram uma média de quatro participantes, que se revezaram em duplas nas
duas atividades práticas. Ao final de cada encontro, os participantes eram convidados a falarem uma
palavra que representasse para eles o sentimento após a realização das dinâmicas, e as palavras mais
citadas foram: empatia, cuidado, dedicação, compaixão, compreensão. Todos os cuidadores relataram
que a atividade havia sido uma experiência única e muito interessante, tendo um impacto positivo e
agregando aos seus conhecimentos prévios, proporcionando a prática do “se colocar no lugar do
outro”, além de levantar uma questão pouco falada que é o cuidado para com o cuidador enquanto
este trabalha. Ao final, todos agradeceram pela atividade e se mostraram receptivos a demais
encontros com outros temas.
4 DISCUSSÃO
A rotina desgastante e a falta de estrutura adequada para quem realiza o cuidado com a pessoa
idosa pode desencadear diversos problemas de ordem física e psíquica. As principais patologias estão
relacionadas a problemas musculoesqueléticas e de ordem emocional como ansiedade, angústia e
depressão, que, na maioria das vezes, está relacionada à sobrecarga de trabalho (BRUNONI, 2015).
Pesquisas têm demonstrado que os cuidadores apresentam uma taxa significativamente
elevada de problemas relacionados à coluna, principalmente na região lombar. Esse agravo parece
estar intimamente ligado às atividades diárias de cuidado com os idosos, sendo associados
frequentemente ao esforço físico exercido pelo cuidador na adoção de posturas pouco naturais.
Exemplos disso são a flexão da coluna com extensão de joelhos por períodos considerados lesivos;
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 745
movimentos súbitos que envolvem o uso de força muscular excessiva para manipular e transferir o
idoso; além da pouca colaboração obtida por outras pessoas e pelo próprio idoso, devido ao seu grau
de comprometimento funcional associado ao déficit cognitivo (MOTTA, 2014).
E é justamente esse Guia Prático do Cuidador (BRASIL, 2009) que traz alguma perspectiva
quanto à saúde e segurança do cuidador, inclusive em relação à ergonomia, abrangendo os seguintes
temas: o cuidado; o autocuidado; o cuidador; o cuidador e a pessoa cuidada; o cuidador e a equipe de
saúde; o cuidador e a família; cuidando do cuidador; dicas de exercícios para o cuidador e a avaliação
de seu estilo de vida; serviços disponíveis e direitos do cuidador e da pessoa cuidada; Benefício de
Prestação Continuada da Assistência Social (BPC); benefícios previdenciários; legislação; órgãos de
direitos; cuidados no domicílio para pessoas acamadas ou com limitações físicas (alimentação,
higiene, cuidados bucais, banho nas cama); como transferir, mudar, deitar ou acomodar pessoa
cuidada na cama; quando o cuidador necessita de um ajudante; além da orientação sobre o que o
cuidador deve fazer diante de situações de maus tratos e quais o procedimentos em caso de óbito do
paciente (BRASIL, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_cuidador.pdf. Acesso em?
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 747
RESUMO EXPANDIDO
RESUMOS EXPANDIDOS
EXTENSÃO PUC MINAS:
748 Novo Humanismo, novas perspectivas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 749
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o uso de novas tecnologias tem se destacado dada a infinidade de suas
aplicações em função da flexibilidade de produção e distribuição de diferentes conteúdos, que podem
ainda ser acessados de diferentes locais e em tempos distintos (VICENTE; CORRÊA; SENA, 2015).
O uso de plataformas como Instagram e Spotify, no processo de divulgação científica, tornam-se
potentes ferramentas de divulgação em projetos de extensão, dada a possibilidade de mobilização e
interação direta com o público-alvo (RADMANN; PASTORIZA, 2019). Desse modo, é facilitada a
democratização do conhecimento visado pela divulgação científica, levando à população informações
que antes estariam restritas à comunidade acadêmica (QUINTANA; HEATHERS, 2021).
O projeto de extensão “Podcast Delírios Biomédicos”, vinculado à Universidade Federal do
Paraná (UFPR), vem atuando na produção de episódios em formato de áudio publicados no YouTube,
Spotify e Deezer, acerca de temas voltados à área da Saúde e da Ciência, aliado a conteúdos em
formato digital, disponibilizados no Instagram. Os episódios visam à discussão de temas científicos
de maneira descontraída e informal, com a participação de especialistas.
Os principais objetivos são estabelecer uma troca de saberes com os ouvintes e pesquisadores,
incorporando ferramentas digitais, além de promover o interesse do público geral pelo processo de
1
Graduanda em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: stellaschuster@ufpr.br.
2
Graduanda em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: jessicaboschini@ufpr.br.
3
Graduando em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: marcosjunior@ufpr.br.
4
Graduando em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: ivan.tsukuda@ufpr.br.
5
Graduado em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná. Professor
Adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná. E-mail: brunomartynhak@ufpr.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
750 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Até o momento, 5 episódios foram produzidos pelo Projeto Podcast Delírios Biomédicos
(piloto; sonhos lúcidos; vacinas e o movimento antivacina; longe de casa – o que é um projeto de
extensão?; o caso H.M. – a Dory da vida real) a partir do formulário de pesquisa de temas divulgado
pelas redes sociais. Os temas selecionados são voltados para a área da Saúde e Ciência e tratam de
assuntos diversos, como a neurobiologia do sono, dos sonhos e da memória, todos acompanhados por
especialistas convidados. Além disso, por meio das redes sociais, é encorajada a participação dos
ouvintes, através de ferramentas como enquetes, comentários, caixa de perguntas, tanto antes quanto
depois da disponibilização dos episódios.
Analisando os resultados do formulário de pesquisa de temas, observa-se que 69,5% dos
respondentes são estudantes da UFPR, em comparação com 18,3% que não possuem vínculo com a
EXTENSÃO PUC MINAS:
752 Novo Humanismo, novas perspectivas
podem ter impacto nesses resultados, visto que o episódio 3, Vacinas e o Movimento Antivacina, teve
um pico de reproduções no período de novembro a janeiro, provavelmente por ser um tópico muito
abordado nas notícias naquele momento.
Postos esses resultados, é notável que o Podcast Delírios Biomédicos está em crescimento. O
projeto está tendo sucesso em propiciar diálogo entre a Universidade e a sociedade através da
implementação de novas ferramentas midiáticas no processo de divulgação científica, tendo impacto
EXTENSÃO PUC MINAS:
754 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, ficou evidenciado que o uso da tecnologia se faz importante para diversas
atividades do cotidiano. Sendo assim, a divulgação científica também precisou se adaptar a novos
formatos. A criação de um podcast foi uma alternativa eficaz e acessível de fazer divulgação científica
e realizar extensão, visto que esse formato está em crescimento na internet e pode ser divulgado e
acessado gratuitamente. Além disso, a praticidade evidente do acesso aos conteúdos demonstra o
potencial dessas mídias digitais em alcançar um público maior a qualquer momento do seu dia e,
consequentemente, alcançar os objetivos da extensão.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Empreendedorismo é um termo que, a cada dia, mais vem sendo abordado e prática adotada
pelas pessoas. Possuir seu próprio negócio é uma das formas que os brasileiros buscam para driblar
os altos índices de desemprego e desigualdade social. Ao fazê-lo, esses pequenos empreendedores ou
autônomos geram valores financeiros para a economia através da comercialização e produção de bens
ou serviços.
Muitas pessoas que se enquadram no regime do microempreendedor individual (MEI) fazem
a abertura da empresa, mas não se informam sobre como mantê-la. Nesse contexto, o objetivo do
trabalho é apresentar aos profissionais autônomos e pequenos empreendedores como formalizar seu
negócio, identificando os benefícios de ser MEI e expondo a facilidade desse modelo empresarial.
Será utilizando o estudo de abordagem qualitativa para responder à pergunta do trabalho e atingir o
objetivo geral: identificar as vantagens de formalizar autônomos e empreendedores.
A relevância e a justificativa deste trabalho residem em sua motivação de ajudar os pequenos
empreendedores e autônomos a saírem de seu negócio informal e a se regularizarem, aproveitando os
benefícios de se tornarem MEI.
1
Graduanda do curso de Ciências Contábeis na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas /Coração
Eucarístico. E-mail: alice.batista.1362581@sga.pucminas.br.
2
Graduanda do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: bgssantos@sga.pucminas.br.
3
Graduando do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail: racarneiro@sga.pucminas.br.
4
Graduando do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: rcanjos@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Administração. Professora do curso de Ciências Contábeis PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail:
fatimadrumond@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 757
2 REFERENCIAL TEÓRICO
[...] ter um CNPJ, poder emitir nota fiscal para seus clientes, poder vender para o governo,
fazer vendas com cartão de crédito, ter benefícios previdenciários, isenção de honorários para
abertura de empresa e outros impostos, acessar serviços bancários específicos que podem
gerar empréstimo com juros baixos. (BRASIL, 2022, s./p.).
EXTENSÃO PUC MINAS:
758 Novo Humanismo, novas perspectivas
Segundo o Portal Simples Nacional “existe a opção de débito automático na sua plataforma,
que permite ao MEI pagar os valores mensais apurados de forma automática, debitando da conta
corrente de pessoa física ou jurídica” (BRASIL, 2006), com essa opção, facilita a quitação desse
tributo, o impedindo de ficar irregular. Também segundo o Portal Simples Nacional, “[a] Declaração
Anual para o Microempreendedor individual a (DASN) deverá ser entregue até o último dia de maio
de cada ano e conterá tão somente, informações referentes à receita bruta do ano calendário anterior
e as informações referente à contratação de empregado, quando houver”. (BRASIL, 2006, s./p.).
2.2 Previdência
As normas da Seguridade foram estabelecidas pela Lei 8.212/91 e uma das regras determina
que 20% do salário sejam utilizados para financiamento da seguridade social para contribuintes
individuais; porém, após o surgimento do MEI ocorreram algumas mudanças na Lei de Seguridade,
sendo elas:
Como se vê, agora é possível que os empresários classificados como MEI contribuam com
somente 5% do salário, porém, eles não podem se aposentar por tempo de contribuição.
3 METODOLOGIA
Quanto à classificação dos objetivos, trata-se uma pesquisa de natureza descritiva, pois esta
não terá como objetivo a explicação dos fenômenos descritos, e sim o estabelecimento de relações
entre suas variáveis, de maneira a servir de base para possíveis explicações (FARIAS FILHO, 2015).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 759
A pesquisa realizada é qualitativa, pois, como Didio (2014) evidencia, tem como objetivo o
estudo das particularidades e significados do problema de pesquisa, de maneira a aprofundar em seus
conceitos. Vale destacar, tendo como base a referida autora, que os resultados serão
predominantemente em formato de texto corrido, expondo pensamentos, reflexões e análise.
Quanto aos procedimentos, será utilizada a pesquisa de campo, que coletará dados de pessoas
envolvidas na realidade pesquisada, através de questionários, a fim de se chegar em respostas a
situações e/ou problemas retratados anteriormente (DIDIO, 2014)
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo um anúncio da Receita Federal, mais de 4,4 milhões de pessoas, mais de um terço
da população que está inscrita no MEI, estão irregulares. Estes correm o risco de ter o Cadastro
Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ) cancelado, ficando irregular e ter o Cadastro de Pessoa Física
(CPF) inscrito na dívida ativa, sem possibilidade de reaver o CNPJ. Nesse sentido, a pesquisa foi
desenvolvida buscando o motivo da irregularidade dos empreendedores para poder ajudá-los a se
regularizarem.
Para desenvolver o trabalho foi necessário, primeiramente, criar um formulário para obter
dados que informassem o nível de conhecimento do público-alvo, profissionais autônomos e
pequenos empreendedores, sobre o MEI. A partir disso, foram elaboradas quatro perguntas no Google
Forms e transmitidas pelo WhatsApp para que as pessoas pudessem responder. Os resultados
comprovaram que uma parcela muito pequena de empreendedores tem conhecimento básico sobre
MEI. Trinta pessoas responderam à pesquisa.
Com os resultados, foi possível descobrir que até mesmo alguns microempreendedores
individuais que responderam ao formulário estavam irregulares por falta de informação acerca do
próprio segmento. Isso ocorreu porque as instruções do MEI não são amplamente divulgadas ou
explicadas com clareza no próprio Gov.br, que resultou não somente na situação irregular da empresa,
mas também em pessoas que continuaram trabalhando de forma autônoma sem CNPJ e os benefícios
do MEI, deixando de se formalizar.
Nesse âmbito, foi necessário pensar em uma forma de divulgar de forma prática informações
que contribuíssem com o conhecimento sobre MEI. No Instagram o perfil @cartilha_mei foi criado
exclusivamente para disseminar esse conhecimento e desempenhou positivamente o papel de veículo
educacional para empreendedores. As publicações são objetivas e com linguagem clara, o que facilita
o entendimento.
EXTENSÃO PUC MINAS:
760 Novo Humanismo, novas perspectivas
Os resultados positivos da cartilha puderam ser comprovados por meio de uma enquete
postada nos stories respondida por 36 pessoas, equivalendo a 100% de eficácia. Esse resultado foi
possível com as postagens que explicaram todas as questões anteriormente abordadas no formulário.
Também foram retratados outros assuntos sobre MEI, incluindo dúvidas recebidas na caixa de
perguntas. O story com a enquete também foi enviado diretamente a todos que responderam o
formulário, mostrando que a maioria que desconhecia noções básicas do segmento conseguiu
aprimorar os conhecimentos.
Além disso, foram recebidas mensagens diretas confirmando o aprendizado e a aplicação,
cumprindo um dos objetivos do trabalho, que é instruir os inscritos do MEI a manter sua empresa
regularizada. Isso denota que, se informações sobre o MEI fossem mais divulgadas, os
empreendedores teriam mais facilidade de manter sua empresa regular e até mesmo teriam
conhecimento de todos os benefícios proporcionados por serem formalizados.
As principais respostas foram os benefícios do INSS (26%), ter uma empresa formal (26%),
a possibilidade de emitir nota fiscal (12%) e a possibilidade de fazer compras melhores ou mais
baratas (7%). Quando agregadas todas as respostas que estão relacionadas ao benefício do registro
formal, há como exemplos: poder emitir nota fiscal, evitar problemas com a fiscalização etc. Assim,
o benefício do registro formal o principal motivador da formalização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 761
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa foi baseada no estudo sobre os principais benefícios que os pequenos
empreendedores têm ao se classificarem como MEI. Foi importante criar um meio de divulgar
informações sobre o MEI de forma simplificada e objetiva, de maneira que atingisse esses
empreendedores e profissionais autônomos, por meio de uma cartilha divulgada pelas redes sociais,
principalmente no Instagram.
Com isso, foi atingido o objetivo do trabalho de apresentar aos pequenos empreendedores
como formalizar seu negócio, ressaltando os benefícios e expondo a facilidade desse modelo
empresarial.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social,
institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 24 jul.
1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 25
maio 2022.
DIDIO, Lucie. Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos. 1.
ed., São Paulo: Atlas, 2014.
FARIAS FILHO, Milton Cordeiro. Planejamento da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2015.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS/FGV IBRE: 19,5 milhões de empreendedores brasileiros não
têm CNPJ. Bem Pará, [S.l.], 19 abr. 2022. Disponível em:
https://amp.bemparana.com.br/noticia/fgv-ibre-195-milhoes-de-empreendedores-brasileiros-nao-
tem-cnpj-272485. Acesso em: 21 abr. 2022.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação.
Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de projetos de pesquisa,
trabalhos acadêmicos, relatórios técnicos e/ou científicos, e artigos científicos: conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 4. ed. reform. e atual. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2022. Disponível em: http://www.pucminas.br/ biblioteca. Acesso em: 10 abr. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 763
INTRODUÇÃO
1
Mestre em Letras; doutoranda no PPG Diversidade Cultural e Inclusão Social. Universidade FEEVALE / RS. E-mail:
anaelicker@hotmail.com. Bolsista CAPES.
2
Doutora PPG Diversidade Cultural e Inclusão Social. Universidade FEEVALE / RS. E-mail: deboranice@feevale.com.
3
Mestre., Analista de Sistemas, Projeto Logicando Universidade FEEVALE / RS. E-mail: miorelli@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
764 Novo Humanismo, novas perspectivas
O aluno, com o conhecimento dos códigos, desenvolve habilidades para transitar no meio
digital. O mundo rapidamente está se tornando digital, como por exemplo, o mercado de trabalho, o
que amplia a importância da literacia digital. Hoje, nossos adolescentes lidam com um grande fluxo
de informações, eles querem localizar e consumir conteúdos de forma rápida e segura e, para isso,
precisam de orientações.
Os alunos que estão adquirindo habilidades de alfabetização digital aprendem a se tornar
criadores (literacia digital) de conteúdo responsáveis e não apenas consumidores de conteúdo. Eles
lidam com a hibridização da linguagem ao organizar o fluxo de informações “devido à estrutura de
caráter hiper, não sequencial, multidimensional que dá suporte às infinitas opções de um leitor
imersivo” (SANTAELLA, 2004, p. 49). Assim, a abordagem de ensino deve se respaldar por uma
metodologia voltada ao criar, a qual deve convidar o aluno a participar de todas as etapas que
envolvem o processo de aprendizagem, desde a elaboração inicial, passando pela definição de metas
e a escolha do tema de estudo até a apresentação final dos resultados. No processo de aprendizagem,
a apropriação do conhecimento sobre o conteúdo programático é auxiliada pelas informações
disponíveis e como usá-las e reconhecendo a utilidade daquele saber.
O curso de literacia digital foi pensado e organizado de forma específica para auxiliar os
professores da rede municipal de ensino da cidade de São Leopoldo, no Vale dos Sinos/RS. A cidade
tem 238 mil habitantes e 37 escolas municipais. A SMED ofereceu diferentes cursos de formação aos
educadores da rede, logo no início da pandemia, em 2020, e o curso de literacia digital (figura 1) foi
aplicado a quatro turmas de professores das séries finais do Ensino Fundamental aos educadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 765
Literacia digital compreende o uso eficaz da tecnologia que envolve o conhecimento dos códigos
inseridos nos ambientes digitais e as habilidades e competências para o uso. O Ensino Híbrido integra
a Tecnologia à Educação, e, neste sentido, a tecnologia permeia as atividades e contempla o processo
híbrido, que é composto por elementos diferentes.
O curso foi organizado usando o ambiente Moodle disponibilizado pela SMED/SL, que
organizou a divulgação do curso e as inscrições dos professores. Este se mostrava interessado e a
secretaria o inscrevia e, por e-mail, enviava o link de acesso a plataforma Moodle e a um grupo de
WhatsApp específico aos cursistas. Um processo novo aos professores, cursos a distância de forma
síncrona. Assim, através de orientações no grupo do WhatsApp, a primeira atividade foi preencher os
dados de apresentação da plataforma Moodle, com foto, o que para muitos foi o início da
aprendizagem, no ambiente virtual.
O curso teve a participação de 80 professores e a duração de 10 dias, em 8 encontros ao vivo,
através de lives realizadas, no Meet e no Zoom, como na figura 2. No Moodle, colocamos: o fórum,
as atividades, apresentação, textos com indicação de leituras e migramos para o Google Documentos,
com o objetivo de hospedar as atividades realizadas pelos cursistas e proporcionar a interação e
contribuição, do grupo em um mesmo espaço, sendo possível acompanhar o trabalho dos colegas
cursistas e as orientações gerais. Entre as atividades: Apresentação no moodle, acompanhamento do
grupo de WhatsApp, Google documentos, Jamboard, QR Code, Mapa mental, DUO, Nuvem de
palavras, FlipGrid e para finalizar o curso os professores precisavam apresentar um plano de aula
(aplicável de forma remota à suas turmas), com o uso das tecnologias.
Faz-se necessário, para Educação do século XXI, elaborar uma prática pedagógica com uma
Abordagem Criativa que promova a Literacia Digital alinhada à BNCC, a qual ressalta os elementos
necessários para “ampliar a compreensão de textos que pertencem a esses gêneros e a possibilitar uma
participação mais qualificada do ponto de vista ético, estético e político nas práticas de linguagem da
cultura digital” (BRASIL, 2018, p.70).
A BNCC aponta para diferentes eixos de habilidades que podem ser inseridos nas práticas de
produção de textos, o que de acordo com a BNCC, “compreende as práticas de linguagem
relacionadas à interação e à autoria (individual ou coletiva) do texto escrito, oral e multissemiótico,
com diferentes finalidades e projetos enunciativos” (BRASIL, 2018, p. 75). Nesse sentido, busca-se
“refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se produzem textos e sobre as
diferenças em termos formais, estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-
se aí a multissemiose e características da conectividade” (BRASIL, 2018, p. 75), que seria o uso de
hipertextos e hiperlinks, dentre outros, presentes nos textos que circulam em contexto digital.
O professor com literacia digital, por uma competência transversal, vai promover a literacia
digital dos aprendentes, em espaços de aprendizagem, ou seja, “enquanto a promoção de outras
competências transversais é apenas parte da literacia digital dos educadores, na medida em que as
tecnologias digitais são utilizadas para tal, a capacidade para promover a literacia digital dos
aprendentes é uma parte integrante da literacia digital dos educadores. A literacia digital, com base
na fluência e cidadania digital é o domínio dos códigos que prevalecem no ciberespaço, o que permite
ao aprendente, de acordo com Elicker (2018), ser consumidor e autor no ambiente virtual com
habilidade de criar após apropriação do conhecimento que acreditamos ser possível acontecer de
forma conjunta ao aprendizado das matérias/conteúdos de estudos.
Na perspectiva do ensino híbrido, a tecnologia permeia as atividades e contempla o processo
que é híbrido através dos recursos, espaços e movimento das atividades no processo de aprendizagem.
Dessa forma, ao integrar a tecnologia à educação, Santaella (2008) apresenta, em suas pesquisas, o
ensino híbrido como uma construção por diversas matrizes e pela dissolução de fronteiras, o que
potencializa o processo de aprendizagem.
A atualidade necessita de um método de ensino que se insira no contexto formal de
aprendizagem e seja incorporado ao ensino híbrido, para, assim, direcionar o desenvolvimento da
literacia digital (ELICKER, 2018), que busca promover a fluência digital e a postura cidadã, dos
alunos envolvidos no processo de aprendizagem. O aluno é protagonista de seu processo, sabendo
EXTENSÃO PUC MINAS:
768 Novo Humanismo, novas perspectivas
lidar com o fluxo de informação, selecionando as indispensáveis, e para isso terá que ter boas
informações, ter uma cabeça bem-feita, que “é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com
isso, evitar sua acumulação estéril” (MORIN, 2003, p.20).
A educação vem em uma crescente busca por uma abordagem de ensino que contemple a real
necessidade dos alunos deste século. Lévy (1998), no livro A Máquina Universo: criação, cognição
e cultura informática imaginava que, em um futuro próximo, ou seja, no hoje, as crianças
aprenderiam a ler e escrever usando computadores e que, para isso, seriam necessárias técnicas
pedagógicas voltadas à performance individual dos alunos.
Esses alunos, hoje, são aprendentes digitais inseridos em um contexto globalizado e com
amplo acesso às informações, por meio de recursos tecnológicos de fácil acesso. Atualmente o uso
das tecnologias digitais é parte do desenvolvimento pedagógico nas práticas docentes em ambientes
formais de aprendizagem. Há um elo entre os recursos pedagógicos e a inserção de tecnologias
digitais no processo de ensino. De acordo com Wolf, “abordagem híbrida da construção de um
cérebro duplamente letrado precisa ser muito mais cuidadosa no seu desenvolvimento” (WOLF,
2019, p. 209), levando em conta a diversidade e o ritmo de cada aprendente. Longe ainda da teoria
ciborgue de Hoquet (2019) em que o pensamento filosófico medita a respeito das relações entre a
máquina e organismo humano em uma possibilidade de combinação entre as partes.
3 RESULTADOS
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Graduando em Direito na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Campus Serro. Pesquisador Extensionista
no Projeto Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais. E-mail:
ajtbneto@sga.pucminas.br.
2
Professora Adjunta I no Curso de Direito da PUC Minas - Campus Serro. Pós-doutoranda e Doutora em Direito Penal,
Medicina Forense e Criminologia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Coordenadora do Projeto
Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais. E-mail: chavesacs@gmail.com.
3
Mestre em Desenvolvimento Sustentável em Povos e Terras Tradicionais pela Universidade de Brasília. Coordenador
de campo do Projeto Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais da PUC Minas
- Campus Serro. E-mail: tiago.geisler@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
772 Novo Humanismo, novas perspectivas
cultura, seus ritos religiosos e seu modo de organização social. Em outros termos, é pelo vínculo com
a terra que esses povos mantêm viva a compreensão do que, para eles, sociedade e seu modo de
funcionamento.
Ainda mais, cabe apresentar que o Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) reconhece a propriedade definitiva aos remanescentes das comunidades dos quilombos,
devendo o Estado emitir-lhes a titulação atinente àquele território, o que, até então, deveria ser
protagonizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no entanto, a
consolidação desse mandado constitucional consubstancia um procedimento cujo trâmite flui, ainda,
de forma lenta e burocrática.
Por essas razões, vê-se cientificado que o direito ao território destinado às comunidades e
povos tradicionais configura-se como um direito fundamental, estando este atrelado a todas as suas
prerrogativas. Porém, isso não acontece na prática; mineradoras, em processos de licenciamento
ambiental, inobservam o direito à consulta destinado às comunidades tradicionais, que se afigura
como forma de defesa das comunidades tradicionais de não sofrerem com nenhuma ação ocasionada
por terceiros, caso antes, não tenham sido cientificados e consultados acerca desse intento de
interferência. Nesse sentido, o cerne deste estudo é a análise da importância de que é dotada a
titulação de terras como forma de promover a inviolabilidade de territórios quilombolas frente aos
procedimentos de licenciamento ambiental destinados às mineradoras, ou seja, discute-se aqui que,
ainda que exista essa inoperância do direito à consulta, a titulação territorial oferece outra forma de
defesa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
Foi realizada extensa pesquisa teórica sobre o tema, além da pesquisa a documentos técnicos
que envolvem os mais recentes procedimentos de licenciamentos ambientais a empresas de mineração
com atuação na região do Vale do Jequitinhonha, os quais terão o condão de afetar diretamente as
comunidades quilombolas tradicionais da região. Fez-se também detalhada pesquisa de campo na
Comunidade Quilombola de Queimadas, localizada no Município de Serro, a qual será,
potencialmente, uma das mais afetadas pela atividade mineradora. Ainda, realizou-se análise de
aspectos geográficos, políticos e jurídicos que caracterizam a realidade no entorno regional do Vale
do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sentido, este estudo buscou evidenciar tanto a inoperância na consolidação, propriamente dita, desses
direitos, como a busca de um mecanismo que possa assegurar-lhes maior efetividade, sendo este, a
titulação de terras.
Entretanto, as titulações de terra se mostram bastante morosas, Minas Gerais, por exemplo,
ainda não registra nenhuma titulação de terras quilombolas. Em contrapartida, enormes
empreendimentos minerários se apresentam em operação no solo mineiro, obtendo licenças
ambientais ao avesso das prescrições normativas e subjugando, novamente, classes com inegável
histórico de marginalização no Brasil.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta a solução encontrada pela equipe do Projeto Vínculos – projeto
de extensão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), derivada da
permanência da pandemia durante o ano de 2021. Neste período, o projeto atuou em parceria com o
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Jardim Novo Ângulo, em Hortolândia/SP, sendo
o público-alvo composto por familiares de pessoas privadas de liberdade. Ao longo do ano de 2021,
foram 12 famílias representadas por mulheres – esposas ou mães de pessoas privadas de liberdade –
em contato permanente e direto com a equipe do Projeto Vínculos através de um grupo montado em
um aplicativo de mensagens instantâneas de celular.
Essas famílias, assim como a maioria dos reclusos, pertencem aos extratos sociais mais
depauperados da sociedade de modo que a privação de liberdade de um familiar pode trazer graves
problemas econômicos, sociais e individuais, ainda secundários no conhecimento geral.
Devido à situação de vulnerabilidade, os participantes do Projeto Vínculos, em 2021, não
possuíam condições mínimas para participar de atividades extensionistas remotas síncronas em
plataformas virtuais.
1
Estudante de Graduação em Ciências Sociais da PUC-Campinas. Bolsista de Extensão (BEX) do Projeto Vínculos. E-
mail: isabela.os@puccampinas.edu.br.
2
Estudante de Graduação em Ciências Sociais da PUC-Campinas. Bolsista de Extensão (BEX) do Projeto Vínculos. E-
mail: sarah.sm1@puccampinas.edu.br.
3
Doutora em Ciências Sociais/Docente Extensionista da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas. PUC-Campinas. E-mail: camilla.massaro@puc-campinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 777
Buscando manter o contato com essas as famílias, junto à coordenação do CRAS parceiro, a
equipe interdisciplinar do Projeto Vínculos formada por 20 alunos voluntários de graduação de seis
faculdades da PUC-Campinas e a coordenação do projeto vislumbraram a produção de vídeos curtos,
estruturados pelos conhecimentos acadêmicos das áreas de formação dos alunos, trabalhando as
temáticas emergentes do público-alvo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
projeto e as coordenadoras do CRAS Jd. Novo Ângulo e do Projeto Vínculos e que serviu para
conversas das quais vinham as demandas por informações e temas a partir dos quais os vídeos curtos
eram pensados com periodicidade semanal.
Para a elaboração dos vídeos, as alunas ficaram responsáveis pela pesquisa sobre a temática
pertinente à sua área de estudo – por curso – seguida da elaboração de roteiros escritos que, aprovados
pela coordenadora do projeto, eram gravados em home office pelo celular e enviados aos alunos do
curso de Relações Públicas para edição em aplicativos de computador e smartphone nos quais é
possível fazer cortes, inserir vinheta e legendas.
Depois de finalizados, os vídeos eram enviados às famílias via grupo de aplicativo de
mensagens em primeira mão, seguidos de descrições com telefones e endereços úteis relativos a cada
tema e posteriormente publicados no canal do YouTube do Projeto Vínculos4. Alguns vídeos também
foram publicados em páginas do Instagram e Facebook5 do projeto.
Foram produzidos 31 vídeos entre maio e dezembro de 2021 abordando os seguintes temas:
Direito: O que é e quando buscar a Defensoria Pública; quais são os direitos das pessoas
privadas de liberdade e seus familiares; quais as primeiras providências a tomar quando um familiar
for detido; O que é e quem tem direito à saída temporária; o que é o Juizado Especial Criminal; o que
é o Centro Judiciário de Solução de Conflito e Cidadania; O Estatuto da Criança e do Adolescente e
a Delegacia da Infância e Juventude.
Psicologia: Saúde mental; A importância de buscar apoio emocional; A importância do
pertencimento a grupos; O sentimento de culpa que os familiares carregam; A importância do serviço
de acolhimento em saúde mental; A importância do acolhimento psicológico oferecido pelo projeto;
as dificuldades do retorno às visitas presenciais no sistema prisional; as implicações da distância
causada pela privação de liberdade na saúde mental; a volta do ente que estava privado de liberdade
ao lar.
Serviço Social: O que é o CRAS; O que é o CREAS (Centro de Referência Especializado de
Assistência Social); O que é o auxílio reclusão; Os direitos dos adolescentes em conflito com a lei;
Quais são as medidas socioeducativas; Quais são os direitos das crianças e adolescentes com
familiares reclusos; A importância de ter o (Cadastro de Pessoa Física) CPF regularizado; O que é e
como acessar o Cadastro Único; A importância do direito à visita para quem está privado de liberdade.
4
O canal está disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCHxQGaPuvnGqLVoEr2jJ0lg/videos.
5
As páginas estão disponíveis respectivamente em: https://www.instagram.com/proj.vinculos/ e
https://www.facebook.com/proj.vinculos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 779
Pedagogia: Como lidar com as crianças que tenham algum familiar recluso; Apoio
pedagógico na decisão de contar às crianças que um familiar está privado de liberdade.
Também tivemos duas produções interdisciplinares: O que é e como solicitar a reabilitação
criminal, feito por alunas do Serviço Social e do Direito; e Justiça Restaurativa, elaborado por alunas
dos cursos de Direito e Psicologia.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
A partir de conversas com a equipe do CRAS e com algumas mulheres atendidas, percebemos
que, nas famílias participantes do projeto, os conteúdos dos vídeos produzidos impactaram em dois
sentidos importantes: o acesso a informações a respeito de direitos básicos, como o que é o CRAS, o
CREAS, a Defensoria Pública, como regularizar o CPF, entre outros exemplos contribuindo para que
nosso público-alvo pudesse entender melhor a função de cada um desses órgãos e os caminhos para
acessá-los; o segundo impacto foi na abertura de espaço para discussões a respeito de temas e
situações específicas de suas condições de familiares de pessoas privadas de liberdade que
contribuíram para tanto para a escuta sobre seus anseios e desafios quanto para o reconhecimento
dessa situação enquanto um problema social, minimizando, mesmo que ainda de forma incipiente, o
sentimento de culpa e reponsabilidade individual.
O vídeo sobre o sentimento de culpa,6 produzido pelas alunas do curso de Psicologia e enviado
ao grupo de famílias participantes do projeto em 23/07/2021, foi a produção que suscitou a maior
interação no grupo. A partir dele, as mulheres passaram a relatar como viviam esse sentimento
alimentado não só por seus próprios valores, mas principalmente pela carga de responsabilidade que
parte da família e a sociedade impõem sobre elas, sejam mães ou esposas de alguém privado de
liberdade. O vídeo também produzido pelas alunas do curso de Psicologia enviado no dia 01/10/2021,
que abordou a multiplicidade de sentimentos que podem ser despertados no reencontro com os
familiares privados de liberdade, após a retomada as visitas presenciais no sistema prisional, também
resultou em bastante participação por parte das mulheres que faziam parte do grupo7.
Ao longo de 2021, as famílias participantes do Projeto Vínculos também encaminharam os
vídeos produzidos a outras pessoas para as quais as informações ali apresentadas pudessem ajudar,
ampliando a potencialidade do alcance.
6
O vídeo com o tema “culpa” está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wo4-JU26maE&t=13s.
7
O vídeo com o tema “volta da visita presencial” está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bgHR95-
FHjc&t=6s.
EXTENSÃO PUC MINAS:
780 Novo Humanismo, novas perspectivas
O canal no YouTube foi aberto com o objetivo de facilitar o acesso aos vídeos. Até o momento
de envio deste trabalho, o vídeo com maior número de visualizações, foi “Medidas socioeducativas”,
com 80, seguido do “Auxílio Reclusão”, com 49 e do “Adolescentes em conflito com a lei”, com 34,
todos relacionados ao Serviço Social. No Instagram, o vídeo com mais interações foi o “Você sabe o
que é o CRAS?” com 127 reproduções, 26 curtidas e 6 comentários.
eles trazidos na autoavaliação individual realizada no encerramento das atividades daquele ano
demonstram que tiveram experiências muito ricas no diálogo com os conhecimentos específicos
mobilizados a partir de cada curso que integrou o projeto, para a elaboração e produção de todos os
vídeos.
Assim, é possível afirmar que a participação dos alunos no desenvolvimento das atividades e
ações propostas para o desenvolvimento do projeto, no ano de 2021, cumpriram de forma bastante
satisfatória os objetivos delineados contribuindo para a sua formação integral, possibilitando o
desenvolvimento da habilidade do trabalho em equipe multidisciplinar, do comprometimento e
seriedade em relação às atribuições a eles feitas, o amadurecimento humano, pessoal e profissional,
articulando teoria e prática a partir dos princípios dos Direitos Humanos no trato de uma temática tão
complexa e sensível da nossa sociedade, desconhecida para a maioria dos participantes no início do
projeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:
ra179439@ucdb.br.
2
Psicóloga. Doutora em Psicologia. Docente na UCDB, Campo Grande -MS. E-mail: luzianefk@ucdb.br.
3
Acadêmica do curso de graduação em Nutrição da UCDB. E-mail: ra167247@ucdb.br.
4
Acadêmica do curso de graduação em Nutrição da UCDB. E-mail: ra189576@ucdb.br.
5
Nutricionista. Mestre em Biotecnologia. Docente na UCDB. E-mail: rf4553@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
784 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A dor crônica é uma das principais causas de procura por atendimento nos sistemas de saúde
e afeta a vida daqueles que com ela sofrem nos mais diversos aspectos, seja ele físico, emocional,
social e econômico, o que evidencia a necessidade de um tratamento integral e multidisciplinar, para
além de apenas intervenções medicamentosas (MIYAZAKI et al., 2021). Tendo em vista que o
processo de saúde-doença é multifatorial, determinado por fatores biológicos, psicológicos e sociais,
trabalhos que demandam a expertise de várias áreas do conhecimento permitem que estes sejam
interligados, promovendo a construção de cuidados ampliados e integrais acerca das práticas em
saúde (SILVA; SANTOS, 2006).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 785
Intervenções em grupo possuem uma grande efetividade por democratizar o acesso à saúde,
por atingirem um maior número de pessoas e por possuírem um menor custo envolvido,
especialmente quando confrontado com intervenções individualizadas. Sendo assim, o trabalho
interdisciplinar em grupos educativos amplia o repertório de possibilidades para a adoção de práticas
de saúde e mudança de hábitos de vida (FRANÇA et al., 2012).
3 METODOLOGIA
O presente estudo tem caráter extensionista e foi desenvolvido pelos cursos de Nutrição e
Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, para pacientes com fibromialgia. Foram
selecionadas sete participantes do sexo feminino, na faixa etária entre 31 e 61 anos, sendo um dos
critérios de seleção o Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a vinte e cinco, quando o sujeito
passa a ser considerado acima do peso.
O projeto teve início em março de 2022 e o encerramento ocorreu em 23 de junho de 2022,
totalizando oito encontros semanais em grupo, cada um com duração de 90 minutos. A intervenção
foi nomeada ‘PsicoNutri’ e estavam envolvidos na equipe uma psicóloga, uma nutricionista, dois
alunos do curso de Psicologia e quatro alunos do curso de Nutrição da referida instituição. Foram
trabalhados tanto temas de educação em bons hábitos alimentares, como a retirada do glúten e da
lactose, importante para quem sofre com a fibromialgia, a necessidade da hidratação, o
compartilhamento de receitas sem glúten, bem como orientações relacionadas aos hábitos alimentares
de cada participante, conforme se verificava a necessidade nas sessões.
A Psicologia realizava intervenções a partir da identificação das variáveis da vida das
participantes relacionadas as dificuldades para manter os cuidados alimentares (sobretudo aspectos
emocionais que tendem a ser estabelecidos como causas para a alimentação inadequada) e orientava
estratégias para o manejo do autocontrole alimentar, engajamento e cuidados pessoais. Foram
também realizadas algumas práticas de mindfulness (atenção plena), o mindful eating (comer com
atenção plena), para auxiliar as participantes a focarem a atenção ao ato de comer, saboreando os
alimentos e estando presentes para seus sentimentos e pensamentos, evitando assim o comer por
impulso.
Durante os encontros, também foram utilizados formulários para preenchimento das
participantes, levando-as a identificarem as contingências que contribuíam para a manutenção de
EXTENSÃO PUC MINAS:
786 Novo Humanismo, novas perspectivas
comportamentos problemas relacionados aos cuidados pessoais e com a alimentação. Além disso, tal
estratégia visou possibilitar o compartilhamento de experiências pessoais e estimular reflexões
importantes para a construção de novos repertórios comportamentais nas participantes.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Este trabalho teve como objetivo descrever a experiência de uma intervenção multidisciplinar
(Psicologia e Nutrição) e os efeitos observados à saúde e qualidade de vida para as sete mulheres com
fibromialgia participantes do estudo. Verificou-se que a exaustão causada pelo convívio diário com
a dor se mostrou o aspecto mais desafiador apresentado pelas participantes e o que mais as afetava e
impedia de realizar as tarefas diárias, fazendo com que abandonassem até os mais simples hábitos de
autocuidado pelo fato de se dedicarem inteiramente à dor. O desamparo relacionado à persistência da
doença foi identificado pelas participantes como um processo que se refletia de modo prejudicial nas
suas relações sociais, familiares e até médicas, fazendo com que elas se afastassem do convívio social
e se tornassem cada vez mais reclusas em função da dor. Também se verificou, por meio da
verbalização das participantes nas sessões, a tentativa de evitar sensações, pensamentos e emoções
desagradáveis, na esperança de encontrar maneiras que pudessem levar à cessação da dor e do
sofrimento.
As diversas orientações nutricionais somadas à identificação dos comportamentos que atuam
na manutenção dos hábitos alimentares inadequados, promoveram a ampliação do conhecimento das
participantes a respeito dos alimentos, de modo que elas passaram a experimentar novas receitas e a
identificar efeitos positivos na sua condição de saúde (DALEN et al., 2010). A Psicologia foi uma
grande aliada para o resgate do cuidado pessoal, que, por vezes, foi esquecido em função da dor.
Ao final do grupo, as participantes relataram que o grupo PsicoNutri contribuiu para a melhora
da condição de geral de saúde e para o resgate do autocuidado, à medida que receberam novas
informações e vivenciaram o acolhimento por parte dos alunos e profissionais envolvidos, bem como
das outras participantes do grupo. A convivência em grupo proporciona uma experiência de grande
valor terapêutico, pois pode ajudar os participantes a quebrarem as barreiras criadas por sentimentos
de solidão e isolamento, considerando que os membros deste grupo podem estar vivenciando os
mesmos problemas e desafios (COSTA, 2004).
Além disso, as relações entre os membros dos grupos, quando há o compartilhamento de
problemas similares, podem ser fortalecidas e as mudanças de comportamento individuais passam a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 787
ter valor não somente para quem as experimenta como também para todos os envolvidos no grupo
(MARANGONI; FERREIRA, 2018). Tal efeito foi observado entre as participantes, ao descreverem
a satisfação em observar os progressos de cada uma das participantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Fabiana Flores; LENZ, Maria Lúcia. (s/d). A Participação do Psicólogo em Grupos de
Orientação para Dieta Saudável. Relatório não publicado disponível com os autores.
BATISTA, Emmanuelle Dias; et al. Avaliação da ingestão alimentar e qualidade de vida de
mulheres com fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia, vol. 56, 2, p. 105-110. São
Paulo, SP, mar 2016.
CORRÊA, Izabela Deckne et al. Contribuições da terapia de aceitação e compromisso para adultos
com fibromialgia. In: KIRCHNER, Luziane de Fátima; SOUZA, Pablo Cardoso; KANAMOTA,
Priscila Ferreira de Carvalho (Org.). Diálogos em análise do comportamento: volume II. Brasília:
Instituto Walden4, 2021. p. 79-82.
COSTA, Kemle Semerene; MUNARI Denise Buttelet. O grupo de controle de peso no processo de
educação em saúde. Revista Enfermagem UERJ, 2004; vol. 12, p. 54-59.
DALEN, Jeanne et al. Pilot study: mindful eating and living (MEAL): weight, eating behavior, and
psychological outcomes associated with a mindfulness-based intervention for people with obesity.
Complement Ther in Me, 2010, v.18, n.6, p. 260-4.
FORPROEX - Fórum de Pró-Reitores De Extensão Das Instituições De Educação Superior Públicas
Brasileiras. Plano Nacional De Extensão Universitária. Política Nacional de Extensão
Universitária. 2012. Disponível em http://www.renex.org.br/documentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
788 Novo Humanismo, novas perspectivas
Ações extensionistas com pessoas em situação de rua e o impacto que pode ser
gerado na vida profissional dos acadêmicos de Medicina
Extension actions with homeless people and the impact that can be generated in
the professional life of medical students
INTRODUÇÃO
O Projeto de Extensão Street Store Amigos do Igor Lombardi Penhalver, legitimado pela
Universidade de Uberaba (UNIUBE) e executado por acadêmicos dos cursos da Área da Saúde
(Psicologia, Enfermagem e Medicina), tem por atividade principal a confecção de uma loja de rua,
na qual as pessoas em situação de marginalização podem adquirir roupas e produtos, sem qualquer
custo, de acordo com suas preferências. Além disso, recebem orientações de saúde e acolhimento
diante de suas demandas pessoais.
A partir dos questionamentos: a interação por um dia das pessoas em situação de rua com os
alunos extensionistas pode trazer algum benefício para elas? O trabalho com pessoas em situação de
rua pode trazer algum impacto na vida profissional dos acadêmicos de medicina integrantes do
projeto? E ações voluntárias direcionadas à população de rua podem colaborar para o prolongamento
do seu tempo de permanência nas ruas? Pretende-se refletir sobre a contribuição desse projeto na
formação acadêmica, profissional e humana dos acadêmicos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Vovchenco e Silveira (2019, p. 1657), “toda atitude profissional deve ser pautada
em sensibilidade, para acolher e compreender demandas, assim como deve demonstrar um respeito
1
Acadêmica de Medicina da Universidade de Uberaba (UNIUBE). E-mail: isa.dourado.mart@hotmail.com.
2
Doutora em Educação e Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia; Especialista em Educação a
Distância pela Universidade Católica de Brasília; em Metodologia do Ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira pela
Faculdade São Luís e em Educação pela Faculdade Claretianas. Graduada em Tecnologia em Processamento de Dados e
Licenciada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba. Professor titular. E-mail: valeska.guimaraes@uniube.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
790 Novo Humanismo, novas perspectivas
autêntico à vivência da rua, tendo em mente que ela é uma das produções sociais de vida do nosso
país, sendo essa uma população tão legítima quanto as outras.” Diante disso, os acadêmicos de
Medicina são levados a viver uma experiência muito diferente das que encontram dentro das
enfermarias e ambulatórios, pois são colocados em situações de extrema delicadeza, considerando
que entram em contato com demandas específicas da população de rua, que já é fortemente
sensibilizada pelas dificuldades que os levaram a se instalarem nas ruas.
O trabalho com essa população se reflete em resultados positivos para ambas as partes, tanto
para os estudantes quanto para os moradores de rua, pois com base no Guia de Atuação Ministerial
(2015, p. 33), incentivar ações educativas que contribuam para a formação de cultura de respeito,
ética e solidariedade entre as pessoas em situação de rua e os demais grupos sociais, preservam o
cumprimento dos direitos humanos.
3 METODOLOGIA
A prática extensionista do Projeto Street Store Amigos do Igor Lombardi Penhalver, conta
com a elaboração de uma loja de rua uma vez por semestre. Nesta loja, são expostos roupas adultas e
infantis, calçados, roupas de cama, mesa e banho, acessórios e produtos de higiene. Além disso, outras
atividades compõem o dia do Street, como instruções de saúde (aferição de pressão arterial e medida
de glicemia), orientação psicológica e apresentações musicais. Para a estruturação da loja de rua,
durante o semestre, os membros do projeto realizam campanhas de arrecadação dos donativos, por
meio da divulgação em mídias sociais e criação de pontos de coleta, como farmácias, escolas,
condomínios e supermercados, onde as pessoas depositam as doações.
Vale salientar que não há uma moeda de troca para a realização das compras na loja de rua,
tendo em vista que o propósito dessa atividade é restaurar o poder de escolha e evidenciar as
preferências daqueles que, devido à marginalização, vivem às custas “das sobras” da sociedade.
Sendo assim, acredita-se que a execução da compra, por mais simples que pareça, promove o resgate
da dignidade destes indivíduos.
Além disso, o Street Store conta com momentos de acolhimento e compartilhamento de
vivências e experiências, de modo que os extensionistas se colocam à escuta das pessoas em situação
de rua. Esse determinado exercício, capacita os acadêmicos a desenvolverem a habilidade de
compreender outras realidades e formar uma concepção do outro sem realizar pré-julgamentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 791
Antes da realização de tal evento, os acadêmicos recebem uma preparação, por meio da
participação de reuniões e debates online a respeito da situação dos moradores de rua em diversos
aspectos, como o tempo de permanência nas ruas, suas formas de trabalho e geração de renda, o uso
de serviços de saúde, abuso de álcool e outras drogas, entre outros temas. Tais encontros contam com
o objetivo de adentrar, mesmo que minimamente, em suas realidades e compreender de que forma
eles podem ser alcançados através do trabalho do projeto.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Diante da concepção de que a relação profissional-pessoa deve ser pensada sobre bases
epistemológicas sólidas, no sentido de se construir uma relação terapêutica e benéfica para ambas as
partes envolvidas (BRANCO et al, 2019), participar do Projeto Amigos do Igor é um convite a
renunciar seus interesses individuais e evidenciar as necessidades do outro, colocando-o como o
principal objeto de atenção e acolhimento.
Com base nos relatos de experiência dos acadêmicos de Medicina envolvidos nas atividades
propostas pelo projeto, tem-se que é desenvolvida a habilidade de uma escuta mais apurada, atenção
aos gestos e comportamentos e o que eles podem indicar, além da construção do discernimento de
não admitir como verdade toda a informação que lhes é transmitida. Tais experiências são de grande
valia, tendo em vista que uma das primeiras descobertas de Freud sobre o relacionamento entre o
médico e o paciente foi realizada quando ele se deu conta do quanto a natureza desse relacionamento
poderia bloquear ou facilitar o progresso do tratamento (BRANCO et al, 2019). Sendo assim, as
práticas extensionistas realizadas por esse projeto colaboram para a formação de profissionais mais
atentos e cuidadosos com as manifestações clínicas de seus pacientes, além de promover diagnósticos
mais precisos com base na detalhada apuração de informações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À vista do objetivo de argumentar sobre os impactos que o trabalho com pessoas em situação
de rua pode provocar na profissão dos futuros médicos ingressos no projeto, indica-se que a realização
dessas atividades revela grande importância para uma formação médica mais voltada para o contato
humano, compreensão, olhar atento e escuta sem julgamentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
792 Novo Humanismo, novas perspectivas
Sabe-se que tais elementos se mostram cada vez mais escassos no atual cenário da Medicina,
o que indica uma redução da qualificação dos profissionais da área da saúde. Sendo assim, participar
de atividades extensionistas que promovem a interação com outras realidades diferentes das quais se
está inserido, desperta no acadêmico uma percepção diferente de si e do outro e a construção do
respeito aos diversos modos de vida e manifestações culturais, bem como a compreensão de que todos
devem receber um tratamento digno pautado na equidade e igualdade.
REFERÊNCIAS
BRANCO, Rita Francis Gonzalez y Rodrigues et al. Grupos Balint. In: GUSSO, Gustavo,
CERATTI, José Mauro Lopes, DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina da família e
comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. p. 668-686.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Guia de Atuação Ministerial: defesa dos
direitos das pessoas em situação de rua. Brasília, DF: CNMP, 2015. Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_Ministerial_CNMP_WEB_2
015.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
VOVCHENCO, Erika; SILVEIRA, Mariana Villiger. População em situação de rua. In: GUSSO,
Gustavo, CERATTI, José Mauro Lopes, DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina da família e
comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. p. 1657-1678
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 793
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Graduanda do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: amandanlana@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: elisadepaulan@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: felipe.fernans@gmail.com.
4
Professora e orientadora do projeto Anestesia para todos na UFRJ. E-mail: paula.interfm@gmail.com.
5
Graduando do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: pedronogueira321@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
794 Novo Humanismo, novas perspectivas
uma transformação digital (BRASIL, 2020; SALLES, 2021). No entanto, a tecnologia por si só não
garante a construção do conhecimento, sendo necessário adequar às demandas da sociedade, de
maneira empática face ao momento enfrentado, considerando particularidades e buscando atender ao
tripé de ensino, pesquisa e extensão.
3 METODOLOGIA
Para captação de interessados, o projeto foi divulgado nas mídias sociais da Liga de
Anestesiologia da UFRJ (LANES) e também contou com a divulgação pelos alunos da UFRJ e alunos
externos, tendo como público-alvo estudantes da Área da Saúde e sociedade civil interessada. Assim,
foi divulgado um link para inscrição, e os inscritos foram convidados a participar de um grupo de
comunicação. Nesse grupo, semanalmente eram feitas pesquisas de demandas e publicadas
informações para a construção conjunta das próximas atividades, além dos links para as plataformas
em que seriam ministradas.
As aulas do projeto abordavam assuntos relacionados à anestesiologia, tanto no que tange à
carreira como especialista na área, discutindo questões como o passo a passo para se tornar um
anestesiologista e as oportunidades no mercado de trabalho atual, quanto aos conteúdos teóricos
envolvendo a prática anestésica dentro e fora do centro cirúrgico. Essas atividades aconteciam
semanalmente e de maneira síncrona, transmitidas no Youtube e no Facebook, de modo que a cada
aula era abordado um novo assunto por um profissional diferente.
A adesão e a participação dos extensionistas foram monitoradas através de questionários que
eram enviados ao início e ao final de cada atividade. Tanto os pré-testes quanto os pós-testes
apresentavam as mesmas questões sobre o tema abordado nas discussões, o que permitiu uma
comparação e verificação da construção de conhecimento possibilitada pela dinâmica.
Além dos desafios propostos, as ferramentas de avaliação também contemplavam espaço para
transcrição de palavras-chave, as quais eram exibidas durante a execução das atividades na
plataforma. Essa etapa foi essencial para que a presença do extensionista fosse validada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 795
4 RESULTADOS
Em 2020, a edição contou com 90 inscrições válidas, das quais 76 comprovaram participação
em, pelo menos, 75% das atividades, quantidade necessária para obter os certificados. Já na primeira
edição de 2021, visto que teve uma maior divulgação nas mídias sociais do projeto, as inscrições
alcançaram o número de 650, dos quais 221 inscritos comprovaram a participação mínima de 75%.
Outra forma de aferição de participação foi a emissão de palavras-senha durante a discussão de temas
e o envio dessas, por parte do extensionista, ao final.
Por fim, a segunda edição de 2021 e última edição da versão virtual contou com 849 inscritos,
dos quais 132 comprovaram a presença e o aproveitamento mínimo esperado. Vale ressaltar que em
todas as edições, a performance nos pós-testes superou os pré-testes.
5 DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de extensão “Anestesia para todos: crescer, confiar, divulgar” é importante para
manutenção da universidade como órgão ativo em momentos delicados como o do isolamento social.
Além disso, o projeto se mostrou capaz de se adequar a demanda social e oferecer oportunidades de
construção de conteúdo teórico e prático mesmo frente à adversidade do isolamento social.
Ademais, fez parte dos objetivos deste projeto ser uma ferramenta para promoção de
benefícios à sociedade, construindo e democratizando conhecimento de forma ampla, irrestrita e
gratuita. Isso foi concretizado, contando com as atividades coordenadas pelos alunos da UFRJ que
organizaram as atividades integrando a população e a universidade com conhecimento de qualidade
na área da saúde.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União. 18 mar. 2020. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020- 248564376. Acesso
em: 20 jun. 2022.
SALLES, Claudia Maria Sodeiro. Transformação Digital em Tempos de Pandemia. Revista
Estudos e Negócios Acadêmicos, São Paulo, v. 1, n.1, p. 91-100, jan. 2021. Disponível em:
https://portalderevistas.esags.edu.br/index.php/revista/article/view/22. Acesso em: 21 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 797
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do Curso de Nutrição do Centro Universitário Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU). E-mail: nut-
anarossoni@uniguacu.edu.br.
2
Acadêmico do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: nut-mateussantos@uniguacu.edu.br.
3
Acadêmica do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: nut-gislainebalbinottii@uniguacu.edu.br.
4
Nutricionista, Orientadora, Professora do Curso de Nutrição UNIGUAÇU. E-mail: prof_vanessacsala@uniguacu.edu.br.
5
Nutricionista, Orientadora, Professora do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: prof_lina@uniguacu.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
798 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final incluiu 452 alunos de 21 cursos da instituição com idade média de 18 anos,
sendo 38,5% (n= 174) do sexo masculino, 61,5%(n=278) do sexo feminino e 0,4%(n=2) que
preferiram não responder.
A alimentação emocional foi o comportamento alimentar de destaque entre os acadêmicos
(Tabela 1).
EXTENSÃO PUC MINAS:
800 Novo Humanismo, novas perspectivas
refeições, 1,3% (n=6) relataram que sim, muito frequentemente, 1,3% (n=6) relataram que
frequentemente e 7,3% (n=33) algumas vezes. Os demais participantes 91,4% (n=413), relataram
possuir este comportamento muito raramente ou nunca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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dos. Obesidade mórbida em mulheres – Estilos alimentares e qualidade de vida. Archiv. Latinoam.
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AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATON. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais: DSM-5. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
FORTES, Leonardo de Sousa et al., Fatores associados ao comportamento alimentar inadequado
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Disponível em: www.scielo.br/j/rpc/a/CYM5FKTmvLVQV3YFzmBNmSs/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 14 jul. 2021.
KLOTZ-SILVA, Juliana; PRADO, Shirley Donizete; SEIXAS, Cristiane Marques. Comportamento
alimentar no campo da Alimentação e Nutrição: do que estamos falando? Physis: Revista de Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, oct. /dec. 2016. Disponível em:
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MAIA, Maria Luiza. et al. Estado nutricional e transtornos do comportamento alimentar em
estudantes do curso de graduação em nutrição do Instituto Federal de Educação, Ciência e
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publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/30654/24120>. Acesso em: 15 jul. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
802 Novo Humanismo, novas perspectivas
MARTINS, Márcia Cristina Teixeira et al. Ortorexia nervosa: reflexões sobre um novo conceito.
Revista de Nutrição, Campinas, v. 24, n. 2, abr. 2011. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rn/a/kvYZqHdSzVBcjZfBj3Tx66q/?lang=pt. Acesso em: 14 jul. 2021.
OLIVEIRA, Tatiane C. et al. Comportamento alimentar e imagem corporal em universitárias do
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RODRIGUES, Barbara Coêlho et al. Risco de ortorexia nervosa e o comportamento alimentar de
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2, p. 161-169, 1987.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 803
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Graduanda do Curso de Odontologia da PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail:
marianasilveirasouza18@outlook.com.
2
Graduanda do Curso de Odontologia da PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail: jsantossilva050@gmail.com.
3
Graduando do curso de Odontologia da PUC Minas / Coração Eucarístico.E-mail: nascimentojps@hotmail.com.
4
Graduando do curso de Odontologia da PUC Minas / Coração Eucarístico. E-mail: filipeadd@hotmail.com.
5
Orientador, Professor Doutor do Curso de Odontologia PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail:
leojunq@hotmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
804 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 METODOLOGIA
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
reabilitação oral, como por exemplo, as clínicas de endodontia, ortodontia, prótese e dentística.
Levando-se em consideração que no ano de 2020 houve uma suspensão dos atendimentos, devido à
pandemia da COVID-19.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Desde 2018, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem registrado a entrada no Brasil
de indígenas vindos da Venezuela. No total são 3,2 mil indígenas solicitantes de condição de
refugiados, ou seja, se enquadram legalmente como indivíduos que deixaram seu país e território,
forçadamente, devido ao temor de perseguição ou contínua violação de direitos humanos (AGÊNCIA
DA ONU PARA REFUGIADOS, 2020).
Dentre esses grupos de refugiados, destaca-se neste trabalho, o povo Warao. Segundo
Durazzo (2020), eles, tradicionalmente, são habitantes do delta do Rio Orinoco presente na
Venezuela. É um grupo étnico com formas de organização social e costumes próprios que
compartilham uma língua também chamada Warao. Totalizando, atualmente, o grupo apresenta cerca
de 49 mil indivíduos. No Brasil, há registros de sua presença migratória desde, pelo menos, 2014,
tendo se intensificado em anos recentes devido à migração do povo da Venezuela para o país.
Em 2019, as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil começaram a registrar a chegada dos
primeiros grupos Warao nos estados, o mesmo aconteceu na região Sul, em 2020. A ACNUR estima
1
Graduanda do curso de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
katherin.amundaray@pucminas.br.
2
Mestre em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: patricia.sarsur@terra.com.br
3
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: ipdias@pucminas.br.
4
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: maria.silva.958671@pucminas.br.
5
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: samyra.jardim@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
808 Novo Humanismo, novas perspectivas
que, até março de 2021, 5.799 refugiados e migrantes indígenas venezuelanos estavam no país. Quase
70% desse número corresponde às pessoas de etnia Warao, que estão presentes em 23 estados
brasileiros (AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS, 2021).
Inicialmente, eles entraram no país através dos estados de Roraima, Amazonas e Pará, depois
o fluxo migratório se expandiu para outras capitais (DURAZZO, 2020). Alguns Warao foram
acolhidos na Vila Pinho na região do Barreiro/BH, Minas Gerais pela Cáritas Brasileira Regional
Minas Gerais, e lá residem até terem condições de se sustentarem.
Os alunos do curso de Enfermagem do campus Coração Eucarístico, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), por meio de uma disciplina extensionista,
contataram uma comunidade para fazer um diagnóstico das necessidades de saúde das pessoas, e
assim, planejar e implementar uma ação que pudesse minimizá-las ou resolvê-las. Dessa forma, houve
a visita em um local chamado Vila Pinho, um centro de acolhimento de indígenas Warao, logo que
entraram em contato com a equipe. Após pesquisa no local, foram constatadas diversas necessidades
de saúde, tais como: moradia, alimentação, higiene, dentre outras, mas o que se destacou foi a falta
de adesão a todas as vacinas do calendário vacinal.
Em seguida, houve a realização do diagnóstico das reais necessidades de saúde daquela
população, momento no qual os alunos conversaram com a representante da equipe da Cáritas e
combinaram que seria elaborada uma prática extensionista que contribuísse para a conscientização
sobre a importância da vacinação de adultos e crianças.
Vale destacar a importância da Extensão Universitária, que não só contribui para o
conhecimento técnico científico, mas também, com os aspectos humanísticos na formação dos
acadêmicos. De acordo com Gadotti (2017), a curricularização da extensão faz parte, de um lado, da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na universidade, e, de outro, da necessária
conexão da universidade com a sociedade, realçando o papel social da universidade, bem como a
relevância social do ensino e da pesquisa.
Segundo o documento produzido pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades
Públicas (2012), é importante que o desenvolvimento das relações entre universidade e os setores
sociais seja marcado pelo diálogo e troca de saberes, superando-se, assim, o discurso da hegemonia
acadêmica e substituindo-o pela ideia de aliança com movimentos, setores e organizações sociais.
(FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 809
BRASILEIRAS, 2012). Dessa forma, o presente texto tem como objetivo relatar a ação que visou a
conscientizar os indígenas Warao que vivem na Vila Pinho, em Belo Horizonte, sobre a importância
da vacinação de adultos e crianças.
Entende-se que é de fundamental importância trabalhar com toda a comunidade,
especialmente com os indígenas Warao, que vivem na Vila Pinho, sobre os aspectos que envolvem a
vacinação de adultos e crianças como forma de prevenir as principais doenças para as quais já existem
vacinas.
Em tempos de pandemia da COVID-19 e outras doenças infectocontagiosas, é muito
importante que toda população receba as vacinas como forma preveni-las e minimizar as
complicações advindas das infecções. Espera-se que, ao desenvolver a prática educativa, possa-se
transmitir os conhecimentos sobre os benefícios da vacinação.
De acordo com Domingues et al. (2019), as estratégias para reverter a redução das coberturas
vacinais devem considerar os diversos fatores que contribuem para essa situação. A comunicação
social é fundamental para ampliar o acesso às informações baseadas em evidências, especialmente
sobre os benefícios da vacinação.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a atividade relatada, foi percebido que os participantes ficaram interessados em receber
as doses de vacina. De um total de 12 famílias que residem na Vila Pinho, 4 foram até o posto de
saúde da região para se vacinarem. Dentre eles, havia crianças e adultos. No total, foram vacinadas
12 pessoas, das quais 3 eram gestantes com mais de 20 semanas de gestação, 3 crianças menores de
5 anos, 1 adolescente, 1 mulher não gestante e 5 homens. A vacina priorizada foi a Pneumo 23 por se
tratar de um povo indígena.
Além disso, todas as atividades foram muito proveitosas, já que a comunidade estava aberta
para aprender e conviver com os alunos do departamento de Enfermagem da PUC Minas. Os 59
indígenas Warao participaram de forma ativa do teatro e demais atividades lúdico-culturais.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 811
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS BRASIL. ACNUR lança relatório sobre atuação em
rede no apoio aos indígenas venezuelanos Warao. Agência da ONU para Refugiados Brasil. São
Paulo, 08 de jun. de 2021. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2021/06/08/acnur-
lanca-relatorio-sobre-atuacao-em-rede-no-apoio-aos-indigenas-venezuelanos-warao/. Acesso em:
02 de out. 2022.
AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS BRASIL. Relatório do ACNUR Revela que 65% dos
indígenas venezuelanos registrados no Brasil são solicitantes de refúgio. Agência da ONU para
Refugiados Brasil. Brasília, jun. de 2020. Disponível em:
https://www.acnur.org/portugues/2020/06/03/relatorio-do-acnur-revela-que-maioria-dos-indigenas-
venezuelanos-registrados-no-brasil-sao-solicitantes-de-refugio/. Acesso em: 05 out.2022.
DOMINGUES, C. M; FANTINATO, F. F.; DUARTE, E.; GARCIA, L. P. Vacina Brasil e
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Acesso em: 23 de jun. 2022.
DURAZZO, L. M. Os Warao: do Delta do Orinoco ao Rio Grande do Norte. Povos Indígenas do
Rio Grande do Norte. 2020. Rio Grande do Norte. Disponível em:
https://cchla.ufrn.br/povosindigenasdorn/warao.html. Acesso em: 20 maio 2022.
FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
BRASILEIRAS. Política Nacional de Extensão Universitária. Manaus: FORPROEX, mai 2012.
Disponível em:
https://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20161028115851.pdf.
Acesso em: 02 de out. 2022.
GADOTTI, M. Extensão Universitária: Para quê? Instituto Paulo Freire. Disponível em:
https://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extens%C3%A3o_Universit%C3%A1ria_-
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LOPES, R. M.; FILHO, M. V.; MARSDEN, M.; ALVES, N. G. Aprendizagem baseada em
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34, n. 7, p. 1275-1280. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-40422011000700029. Acesso
em: 20 jun. 2022.
MARQUES, E. S.; CARVALHO, M. V. O Significado Histórico de Práticas Educativa: Um
Movimento que Vai do Clássico ao Contemporâneo. Linguagens, Educação e Sociedade.
Teresina. Ano 21, n. 35, jul./dez 2016. Disponível em:
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OLIVEIRA, F. L.; ALMEIDA, J. J. de. Motivações de Acadêmicos de Enfermagem Atuantes em
Projetos de Extensão Universitária: A experiência da Faculdade Ciências da Saúde do
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2022.
RODRIGUES, J.; ZAGONEL, I. P.; MANTOVANI, M. F. Alternativas para a prática docente no
ensino superior de enfermagem. Escola Anna Nery [online]. 2007, v. 11, n. 2, p. 313-317.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-81452007000200020. Acesso em: 20 jun.2022
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 813
INTRODUÇÃO
Ações de Educação em Saúde são medidas fomentadas por órgãos de saúde que buscam
auxiliar na prevenção e combate de doenças, promovendo atividades de baixo custo operacional e de
fácil implementação. A união da educação em saúde com atividades de extensão promovidas por
instituições de ensino superior representa mais do que uma contribuição fundamental para a
minimização de doenças, mas é uma obrigação social, sobretudo para as instituições públicas de
ensino.
Este trabalho tem o objetivo de descrever algumas ações realizadas no contexto de prevenção
de doenças infecto-parasitárias, em escolas públicas de um município do sul de Minas Gerais.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Bióloga pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
da Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: julia.costa10@estudante.ufla.br.
2
Mestre em Ciências Veterinárias pela UFLA. Doutoranda do Programa de PPG em Ciências Veterinárias da UFLA. E-
mail: ingrid.alvarenga1@estudante.ufla.br.
3
Graduanda em Ciências Biológicas / Licenciatura pela UFLA. E-mail: jose.rodrigues@estudante.ufla.br.
4
Biólogo pela UFLA. Mestrando do PPG em Ciências Veterinárias da UFLA. E-mail: pedro.castro2@estudante.ufla.br.
5
Doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora da UFLA. E-mail:
joziana@ufla.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 815
3 METODOLOGIA
houve uma apresentação dos vetores de Leishmania spp., sendo expostos espécimes macho e fêmea
de flebotomíneos; visualização em microscópio de lâmina de Leishmania spp. para que as crianças
conhecessem o agente etiológico da infecção; a exposição e discussão de banners e livretos.
Por último, a terceira sessão foi composta de uma maquete interativa que buscava relacionar
o meio ambiente e a infecção por diferentes patógenos (Figura 03). A maquete era composta por três
ambientes, sendo um ambiente rural, um urbano e um bosque. Nos três ambientes, eram expostos
erros que deveriam ser organizados pelos alunos, a partir do conhecimento já construído nas sessões
anteriores.
No ambiente rural, os alunos deviam tampar a caixa d’água, juntar os resíduos espalhados no
ambiente e colocar no lixo; cercar porcos e galinhas; e manter os cães dentro do cercado da residência.
No ambiente urbano, os alunos deveriam retirar os pneus velhos; tapar o lixo; manter os cachorros,
durante passeios, sempre com coleira e guia; e retirar as fezes dos cães de espaços públicos. E por
fim, no bosque, os alunos deveriam retirar resíduos do lago e jogar no lixo; e sempre passear de roupas
compridas, cabelo preso e se possível, usar repelente.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Um total de 177 alunos, sendo 60% da Escola Municipal Professor José Luiz de Mesquita e
40% da Escola Municipal Umbelina Azevedo Avellar, participaram da exposição. De modo geral, os
alunos responderam de forma positiva ao material exposto na Feira de Ciências, participando das
discussões e realizando perguntas e relatos de casos. Ao longo dos dias de ação, diversos alunos
pediram para visualizar novamente as sessões.
Ao fim da primeira sessão, os discentes e os alunos discutiram algumas medidas preventivas
para leishmaniose visceral, como a importância de se realizar um manejo de cães em situação de rua,
estimular posse responsável de animais domésticos, vacinar cachorros, utilizar coleiras impregnadas
com deltametrina a 4% em cães, evitar acúmulo de matéria orgânica, dentre outros. Ao longo dessa
sessão, foram apresentados diversos relatos de crianças que já haviam tido um contato prévio com
leishmaniose por conhecerem casos de cães infectados no bairro onde residiam. Ainda, faz-se
necessário ressaltar que no início dessa primeira exposição, muitos alunos confundiram “mosquito-
palha” com “mosquito da dengue”.
Ações de Educação em Saúde direcionadas para a dengue são uma prática de grande enfoque
no Brasil, o que pode causar uma confusão na compreensão de outras infecções transmitidas por
vetores (MONZAN; SANTANA; FRANCESCHINI, 2018). Quando essa confusão foi notada pelos
voluntários do projeto, a diferença entre dengue e outras doenças passou a ser salientada para os
alunos.
Ao final da segunda sessão, a maioria dos alunos soube diferenciar os artrópodes vetores e
helmintos expostos, discutindo sobre medidas de prevenção que deveriam ser implantadas em suas
casas. Ainda, o público se mostrou interessado no material exposto, interagindo com os voluntários
da Feira.
De acordo com Andrade, Andrade e Leandro (2019), o uso de maquetes em escolas contribui
para a difusão e apropriação do conhecimento científico, incentivando a interatividade do conteúdo
ministrado. De fato, durante a terceira sessão, os alunos interagiram e brincaram com a maquete
exposta. Diversos alunos relacionaram os ambientes e as questões apresentadas, com o cotidiano de
suas residências. As crianças também discutiram sobre a importância do meio ambiente no
desenvolvimento de novas doenças, inclusive, relacionando o meio ambiente com a pandemia da
COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 819
As práticas educativas com auxílio de projetos de extensão universitária são uma estratégia
importante no enfrentamento de doenças infecciosas e parasitárias no Brasil, cooperando com a
disseminação de medidas de prevenção na comunidade. Assim, ações de extensão em Educação em
Saúde, como a realizada, demonstram uma forma eficaz de disseminar o conhecimento e despertar o
interesse de crianças em assuntos da saúde pública. Ainda, o contato dos discentes com alunos de
escolas municipais reforça uma relação íntima dos estudantes universitários com o ensino brasileiro,
além de incentivar a busca por cursos superiores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MONTENEGRO, Antônia; MARQUES, Maria Elizabeth; LEAL, Rita de Souza. Direitos humanos:
pauta da extensão universitária na PUC Minas. Universidade e Direitos Humanos: práticas
desenvolvidas, p. 27, 2009.
MONZAN, Eukira Enilde; SANTANA, Maria de Lourdes Cordeiro; FRANCESCHINI, Silvio
Donizete. Projeto Agente Mirim contra Dengue com alunos do 1º ao 5º ano nas escolas municipais
e particulares do município de Descalvado/SP. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, v. 19, n. supl,
p. 80-83, 2018.
ANDRADE, Fabio Junior do Espirito Santo; ANDRADE, Leila Nalis Paiva da Silva; LEANDRO,
Gustavo Roberto dos Santos. Pibid: o uso da maquete no ensino fundamental na escola estadual
coronel Antônio Paes de Barros na cidade de Colider/Mato Grosso. Revista Equador, v. 8, n. 3, p.
350-370, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 821
INTRODUÇÃO
O longo percurso percorrido pelos profissionais que lidam com a vida humana propicia seu
contato com distintos campos do conhecimento, colaborando para a consolidação dos pilares
norteadores de sua conduta profissional. Nesse sentido, matérias como a Anatomia, constituem-se
como disciplinas indispensáveis à formação básica, pois compreendem o estudo de estruturas
macroscópicas da arquitetura humana e das correlações entre elas (DRAKE, 2015).
O ensino da anatomia humana é essencial na formação socorristas, pois permite o
aprimoramento das técnicas de salvamento. Além disso, noções de Primeiros Socorros (PS), os quais
são compreendidos como um atendimento temporário e imediato de uma pessoa que se encontra
ferida ou que adoece de forma repentina (HAFEN et al, 2002), também são fundamentais para
profissionais da educação. Isso porque o conhecimento das técnicas básicas possibilita uma tomada
de atitude perante uma situação de emergência (RESENDE et.al, 2017).
Tendo em vista a redução de danos e proteção da vida, é de suma importância que o socorrista
seja capaz de identificar alterações anatômicas morfofuncionais. Associada a essa ideia, noções de
PS devem ser uma realidade da população brasileira, tendo em vista que o serviço de emergência nem
sempre está a pronto atendimento (MAIA et al., 2021).
1
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: samelyne.bah14@aluno.ufsj.edu.br.
2
Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: daniel655.dga@aluno.ufsj.edu.br.
3
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: lorrayne.elm.ufsj@aluno.ufsj.edu.br.
4
Técnico de Laboratório da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: heberpaulino@ufsj.edu.br.
5
-Professora Associada da Universidade Federal de São João Del-Rei. E-mail: mairacastrolima@ufsj.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
822 Novo Humanismo, novas perspectivas
Dessa forma, a partir de uma parceria entre o 10º Batalhão de Bombeiros Militar e a
Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu (UFSJ/CCO), iniciou-
se o projeto de extensão para ensino de anatomia aos bombeiros em 2015. Em 2016 e 2017, o projeto
ampliou seu público-alvo para militares do Tiro de Guerra Militar, o Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência (SAMU) e as polícias Civil, Militar e Federal.
Neste ínterim, considerando a importância do conhecimento da anatomia no contexto dos
primeiros socorros e o impacto das ações extensionistas realizadas no município de Divinópolis-MG,
o então projeto de extensão estendeu seu público-alvo, tornando-se um programa, no ano de 2019.
No início de 2020, pretendia-se atender as instituições educativas, porém, com o advento da pandemia
da COVID-19, houve a necessidade de interromper as ações presenciais, dando início às atividades
remotas.
Diante desse contexto amplo que representa as ações extensionistas e, ao considerar sua
magnitude para a sociedade, espera-se tornar possível essa difusão de conhecimentos para além da
Universidade. Nesse sentido, busca-se com este estudo descrever as ações realizadas pelo Programa
de Extensão durante todo o seu período de atuação.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
profissionais. As situações de risco enfrentadas por policiais e militares do Exército, como aqueles
em formação do Tiro de Guerra Militar, justificam as noções de primeiros socorros para esses
profissionais.
Sobre o ensino de noções de Primeiros Socorros (OS) para professores, trabalhos mostram um
impacto relevante sobre os participantes. Professores pré-escolares na China receberam capacitação
de PS para serem realizados em crianças. Foram aplicados pré e pós-teste e um acompanhamento a
longo prazo do aprendizado e retenção das informações por dois anos. Todos os professores acertaram
mais perguntas no pós-teste. E mesmo que o acerto diminuísse ao longo do tempo, os professores
continuaram tendo conhecimento sobre Primeiros Socorros infantis. Destaca-se que o professor é o
principal alvo do programa em relação à escola, visto que ele é capaz de executar uma manobra e
salvar um estudante (LI et al. 2014).
3 METODOLOGIA
O conteúdo estudado e ministrado é preparado com base em artigos científicos e nos principais
protocolos atualizados. Após a capacitação, a ação extensionista acontece na comunidade através de
uma troca de saberes entre academia e público-alvo.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Durante o biênio 2018-2019, o programa realizou aulas para os profissionais do SAMU, Tiro
de Guerra, Bombeiros e professores do CEMEI. As aulas eram adaptadas conforme o público alvo,
visando atender às necessidades daqueles que seriam contemplados. Além disso, antes e depois de
cada aula era aplicado uma prova para comparar o conhecimento adquirido e avaliar o aprendizado e
a eficácia das ações realizadas.
Quanto ao Google Meet, foi utilizado para os encontros quinzenais entre os extensionistas, por meio
dos quais eram feitos os grupos de discussões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BABBS, C.F.; NADKARNI, V. Optimizing chest compression to rescue ventilation ratios during
one-rescuer cpr by professionals and lay persons: children are not just little adults. Resuscitation.,
v. 61, p. 173– 181, 2004.
DRAKE, Richard L; VOGL, A. Wayne; MITCHELL, Adam W. M. Gray Anatomia clínica para
estudantes. 3. Rio de Janeiro. GEN Guanabara Koogan 2015.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 827
HAFEN, B. Q et al. Primeiros Socorros para Estudantes. 7ª.ed. São Paulo: Editora Manole Ltda:
2002.
LI, F., SHENG, X., ZHANG, J., JIANG, F., SHEN, X. Effects of pediatric first aid training on
preschool teachers: a longitudinal cohort study in china. BMC Pediatrics., 14:209, 2014.
MAIA, César Quadros; GUADALUPE, Maria Alice; SANTOS, Ingrid Morselli; RESENDE,
Karina Aparecida; PENA, Heber Paulino; LIMA, Maira de Castro. Educação em saúde para
integrantes do tiro de guerra: experiência entre universidade e exército brasileiro. Revista Extensão
& Cidadania. v. 9, n. 15, p. 119-130, jan./jun. 2021. ISSN 2319-0566; DOI: 10.22481/recuesb.
v9i15.8670
RESENDE, K.; MACHADO, D.; FARIA, K.; SENA, L.; DINIZ, M.; LIMA, M. A importância do
ensino de anatomia humana na formação de profissionais do corpo de bombeiros militar. Revista
Brasileira de Extensão Universitária., v. 8, n. 3, p. 159-165, 21 dez. 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
828 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
1
Médica Veterinária/Aluna do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: camila.aguiar@sga.pucminas.br.
2
Médica Pediatra/Docente do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: 1073565@sga.pucminas.br.
3
Nutricionista/Aluna do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: lavinia.baldim@sga.pucminas.br.
4
Aluno do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: victor.rocha.1268545@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 829
(BELO HORIZONTE, 2018; SANTOS et al., 2018). Os gatos carregam o agente nas unhas e em
cavidade oral, possuindo grande quantidade da levedura em suas lesões, quando comparados a outros
animais (SILVA et al., 2017). Felinos infectados podem apresentar desde infecções subclínicas a
lesões cutâneo-mucosas múltiplas e disseminadas, podendo apresentar também sinais extracutâneos
graves (SANTOS et al., 2018). O fato da esporotricose ser transmitida por animais que vivem em
residências e possuem estreita relação com os seres humanos, faz com que esta zoonose adquira
grande importância epidemiológica na atualidade (BARROS et al., 2012).
Desde sua emergência no Brasil, a esporotricose tem sido responsável por internações e óbitos
em todo o território nacional (SCHECHTMAN et al., 2022). Em Minas Gerais, casos de esporotricose
tanto em felinos quanto em humanos têm sido comunicados ao serviço de controle de zoonoses desde
o ano de 2015 (SANTOS et al., 2018). Na cidade de Contagem, a primeira notificação em humanos
foi registrada em 2016 no distrito Ressaca e, desde então, têm-se observado uma grande expansão do
número de casos em todo o município, demonstrando a ampliação da distribuição espacial da zoonose
(CONTAGEM, 2021).
A esporotricose tem ocorrido sob a forma de surtos epidêmicos e, por ser uma doença de alto
poder zoonótico, na atualidade é considerada um problema de saúde pública (PIRES, 2017). Dada à
importância do tema, o presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento da emergência
de casos de esporotricose em humanos ocorridos em Contagem/MG, visando uma maior compreensão
acerca da dinâmica doença no município.
2 MATERIAL E MÉTODOS
se o descritor "Esporotricose", onde foram obtidos 55 resultados. Estes foram filtrados por “texto
completo”, “assunto principal” e “intervalo de ano de publicação”, sendo eliminados ainda os
trabalhos publicados anteriormente a 2016. Destes, 7 artigos se adequaram aos critérios pré-
estabelecidos, os quais foram lidos integralmente.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à mortalidade, entre 2016 e 2020, houve dois óbitos por esporotricose em
Contagem, o primeiro ocorrendo em 2018 e o segundo em 2020 (BRASIL, 2022).
A esporotricose possui distribuição mundial, sendo sua ocorrência associada à locais quentes
e úmidos de clima tropical e subtropical (MILLINGTON, 2017). No Brasil, os primeiros relatos
ocorreram a partir da década de 90 no Rio de Janeiro, onde a zoonose se instalou e expandiu para
outros estados (SCHECHTMAN et al., 2022). De acordo com Barros et al., (2011), de 1998 a 2009
foram diagnosticados mais de 2.000 casos em humanos no Rio de Janeiro e mais de 3.000 casos em
gatos. Estados de todas as regiões do país como Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Amazonas, Mato Grosso
iniciaram a notificação compulsória após o aparecimento de casos tanto em animais quanto em
humanos (SCHECHTMAN et al., 2022; FIOCRUZ, 2021; BELO HORIZONTE, 2018).
Em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde publicou uma portaria determinando a inclusão
da esporotricose na lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
pública. Entretanto, a medida foi revogada, o que juntamente com a dificuldade de identificação da
doença, favorece a subnotificação dos casos (SCHECHTMAN et al., 2022).
Segundo Silva et al. (2017), gatos de livre acesso à rua desempenham um importante papel
na epidemiologia da esporotricose. Alguns fatores podem estar contribuindo para a disseminação
desta zoonose, como questões comportamentais inerentes aos felinos (comportamento agressivo por
disputa territorial, contato direto com solo e plantas) e o fato destes animais terem uma coabitação
EXTENSÃO PUC MINAS:
832 Novo Humanismo, novas perspectivas
íntima com os seres humanos, a qual tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Assim
como o ser humano, o gato adoece e necessita de tratamento adequado (PIRES, 2017; SCHUBACH
et al., 2008).
De acordo com Pires (2017), a esporotricose atinge principalmente pessoas de classes sociais
menos privilegiadas, que vivem nas periferias. A fim de evitar um surto em animais e humanos, é
fundamental uma abordagem multidisciplinar, visando informar à população sobre o correto manejo
dos animais, a prevenção da doença e seu tratamento.
Ainda não há, em Contagem, um programa de controle robusto para a esporotricose felina.
Campanhas de conscientização poderão contribuir para a divulgação de aspectos importantes
relacionados à doença, como a separação dos animais doente e saudáveis, precaução ao manipular
animais acometidos, além do cuidado para a não ocorrência de mordidas ou arranhaduras desses
animais. É fundamental ainda a prevenção por meio da educação de tutores para a guarda responsável
de seus animais (incluindo a castração, restrição de acesso à rua, tratamento de animais doentes e
destinação correta de cadáveres), indispensável para a luta contra esta zoonose (SANTOS et al., 2018;
PIRES, 2017).
É importante destacar que, mesmo em casos humanos cujos pacientes são sintomáticos, ainda
há subnotificação, além da possibilidade de infecção subclínica ou de cura espontânea, que não são
notificados (SCHUBACH et al., 2008). Dessa forma, mesmo com a evidente emergência atual, ainda
é imprecisa a ocorrência e distribuição da doença no município de Contagem, o que requer aponta
para a urgência de uma maior atenção ao assunto. Ações mais eficazes devem ser tomadas quanto à
prevenção e ao tratamento da doença, bem como medidas educativas à população (PIRES, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARROS, Márcia de Souza et al. Esporotricose felina: primeiro relato de caso em Uberaba – Minas
Gerais. Veterinária Notícias, v. 18, n. 2, p. 110-120, 2012.
BARROS, Mônica Bastos de Lima et al., Sporothrix schenckii and Sporotrichosis. Clinical
Microbiology Reviews, v. 24, n. 4, p. 633-654, 2011.
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Esporotricose: Protocolo de enfrentamento da
doença em Belo Horizonte. 2018. Disponível em:
https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-
governo/saude/2018/documentos/publicacoes%20atencao%20saude/protocolo_esporotricose-6-7-
2018.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde - DATASUS. 2022.
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10mg.def. Acesso em: 14
jun. 2022.
CONTAGEM. Prefeitura Municipal. Emergência da esporotricose zoonótica em Contagem -
Período de 2016 a 2020. Disponível em: chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.contagem.mg.gov.br/sms/wp-
content/uploads/2021/03/ZOONOSES_Informe-esporo-23.02.21.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. Pesquisadoras da Fiocruz Amazônia alertam sobre a
necessidade de prevenção à esporotricose. Disponível em:
https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisadoras-da-fiocruz-amazonia-alertam-sobre-necessidade-de-
prevencao-esporotricose. Acesso em: 14 jun. 2022.
MILLINGTON, Maria Adelaide. Esporotricose. 2017. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/cmads/apresentacoes-em-eventos/eventos-2017/26-09-17-plano-de-acao-para-
prevencao-e-combate-a-esporotricose/apresentacoes/maria-adelaide-millington/view. Acesso em:
14 jun. 2022.
PIRES, C. Revisão de literatura: esporotricose felina. Revista de Educação Continuada em
Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 15, n. 1, p.16-23, 2017.
SANTOS, Agna Ferreira et al. Guia prático para enfrentamento da esporotricose felina em Minas
Gerais. Revista V&Z em Minas, n. 137, p. 16-27, 2018.
SCHECHTMAN, Regina Casz et al. Esporotricose: hiperendêmica por transmissão zoonótica, com
apresentações atípicas, reações de hipersensibilidade e maior gravidade. Anais Brasileiros de
Dermatologia, v. 97, n. 1, p. 1-13, 2022.
SCHUBACH, Armando et al., Epidemic sporotrichosis. Current Opinion in Infectious Diseases,
v. 21, n. 2, p. 129-133, 2008.
SILVA, M.C. et al. Incidência do complexo Sporothrix schenckii nas unhas de gatos no município
de Itajubá (MG). Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do
CRMV-SP, v. 15, n. 2, p. 85-85, 2017.
TELLES, Flavio Queiroz et al., Sporotrichosis in immunocompromised hosts. Journal of Fungi, v.
5, n. 1, 2011.
EXTENSÃO PUC MINAS:
834 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O estoque de carbono em SSP é aumentado pela menor perturbação do solo, maior deposição
de liteira, redução da erosão, maior ciclagem de nutrientes de camadas mais profundas e pela maior
1
Discente de Medicina Veterinária pela Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
pedro.soutolamas@gmail.com.
2
Discente de Medicina Veterinária pela PUC Minas. E-mail: aeliza899@gmail.com.
3
Discente de Medicina Veterinária pela PUC Minas. E-mail: yandramendesn@gmail.com.
4
Discente de Pós-graduação do Departamento de Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail:
guilhermemenezes@vetufmg.edu.br.
5
Docente do Departamento de Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: lana@vet.ufmg.br.
6
Docente do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas. E-mail: alanfigueiredodeoliveira@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 835
proteção da matéria orgânica (VICENTE et al., 2016; CÁRDENAS et al., 2018). Os SSP mais
utilizados no Brasil apresentam diferentes arranjos entre árvores de Eucalyptus sp. e pastagens de
Urochloa sp. (TONUCCI et al., 2011). Entretanto, esses sistemas usualmente utilizam a madeira para
produção de carvão, o que retorna grande parte do carbono estocado no SSP para a atmosfera. Nesse
contexto, a utilização de árvores nativas em SSP é uma estratégia para recuperação de áreas degradas
e estocar carbono permanentemente no solo (LANA et al., 2016; CÁRDENAS et al., 2018).
3 METODOLOGIA
O estudo foi conduzido no Bioma Cerrado, Fazenda Campo Alegre, município de Itapecerica,
Minas Gerais, Brasil (20°28'24''S, 45°7'36''O, 725m altitude). O clima é classificado como temperado
úmido com inverno seco segundo classificação Köppen. Uma área de mata nativa de 61 ha foi
desmatada em 1990 e transformada em pasto de Urochloa brizantha cv. Marandu.
Desses 61ha, 26ha fotsm mantidod sem árvores por meio de corte de toda vegetação e
considerado pasto em pleno sol (PPS) e 35ha foram transformados em SSP com 156 árvores/ha de
Pterodon emarginatus. Essa conversão foi realizada por meio de corte seletivo, em que se cortaram
as plantas invasoras e se mantiveram as árvores. Não foi realizada nenhuma correção da acidez ou
adubação da pastagem nos sistemas.
Em 2016, foram abertas em locais aleatórios cinco trincheiras no SSP e quatro trincheiras no
PPF. As trincheiras tinham dimensão de 1,5m de largura, 1,5m de comprimento e 1,5m de
profundidade. Foram coletadas amostras de solo nas camadas de 0-10cm, 10-20cm, 20-40cm, 40-
100cm e 100-140cm. O TOC (g kg-1) foi determinado por combustão seca no aparelho analisador de
carbono Leco® (Nelson e Sommers, 1982). O SCS médio por camada, expresso em Mg/ha/cm de
profundidade, foi determinado multiplicando a densidade do solo pelo teor de carbono (ALMEIDA
et al., 2021).
Os dados foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilk e Barttlet para verificar os
pressupostos de normalidade e homoscedasticidade e apresentaram alta variação. Logo, foi realizada
transformação logarítmica. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado
em parcela subdividida, sendo a parcela a trincheira e a subparcela as profundidades. Utilizaram-se
nove repetições, cinco no SSP e quatro no PPS. A comparação entre SSP e PPS foi realizada pelo
teste de Fisher e entre as profundidades pelo teste de Tukey, com taxa de erro menor que 5%.
EXTENSÃO PUC MINAS:
836 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
TOC (g/kg)
10 19.0Aa 20.7Aa
20 13.2Ba 16.0Ba
40 11.0Ba 14.2Ba 0.7367
100 8.00Cb 10.8Ca
140 5.65Db 8.32Da
SCS (Mg/ha/cm)
10 2.80Aa 2.77Aa
20 1.98Ba 2.11Ba
40 1.69Ba 1.84Ba 1.0206
100 1.17Cb 1.43Ca
140 0.778Db 1.05Da
SEM, standard error of mean; Médias seguidas de letras distintas,
maiúscula na coluna e minúscula na linha, diferem pelo teste de Tukey (p<0,05).
O SSP teve maior SCS nas camadas mais profundas do solo em comparação com o PPS. Esse
maior teor de carbono nas camadas mais profundas pode ser atribuído ao sistema radicular mais
robusto e profundo das árvores em comparação com o pasto (CÁRDENAS et al., 2018). Em SSP
com árvores nativas na Nicarágua, Andrade et al. (2008) observaram maior proporção de raízes
estruturais e finas nas camadas mais profundas em comparação com pastagens sem árvores. A
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 837
renovação e degradação dessas raízes em camadas mais profundas do solo aumenta a deposição de
carbono (NAIR et al., 2009). Além disso, o carbono é menos propenso a degradação microbiana
nessas camadas mais profundas, o que pode auxiliar no aumento e na manutenção desse carbono no
solo.
Nosso estudo mostrou que é preciso avaliar camadas mais profundas do solo quando se estuda
SCS em SSP. Sarto et al. (2020) não observaram diferença no SCS entre o SSP, o PPS e o Cerrado
nativo até a camada de 20cm e Almeida et al. (2021) também não observaram diferença no SCS entre
dois SSP e a PPS até 40cm. Provavelmente, se esses estudos tivessem avaliado maiores
profundidades, teriam observado maior SCS no SSP. Essa igualdade no SCS nas camadas mais
superficiais pode ser atribuída ao fato que o SSP tem maior deposição de liteira em comparação ao
pleno sol; porém, o pleno sol tem crescimento mais vigoroso da parte aérea e radicular da pastagem,
o que aumenta a ciclagem de carbono e o SCS em comparação ao SSP (SANTOS et al., 2019).
Os SSP mais utilizados no Brasil utilizam eucalipto como espécie arbórea. Porém, a maior
parte dessa madeira é utilizada em indústrias como lenha ou carvão. Essa queima retorna para a
natureza grande parte do carbono estocado na biomassa aérea do SSP (ANDRADE et al., 2008;
FIGUEIREDO et al., 2016). Portanto, a utilização de árvore nativa pode ser uma estratégia importante
para estocar carbono permanentemente no solo do SSP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O SSP apresentou maior SCS que o PPS, principalmente nas camadas mais profundas. A
utilização de árvores nativas em SSP pode ser uma estratégia importante para aumentar o SCS
permanentemente no solo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L.L.S. et al. Soil carbon and nitrogen stocks and the quality of soil organic matter
under silvopastoral systems in the Brazilian Cerrado. Soil Tillage Research. v. 205, 104785, 2021.
ANDRADE, Hernán J. et al. production and carbon sequestration of silvopastoral systems with native
timber species in the dry lowlands of Costa Rica. Plant Soil. v. 308, p. 11-22, 2008.
CÁRDENAS, Aura et al. Ecological structure and carbon storage in traditional silvopastoral systems
in Nicaragua. Agroforestry Systems. v. 93, p. 229-239, 2019.
FIGUEIREDO, E. et al. Greenhouse gas balance and carbon footprint of beef cattle in three
contrasting pasture-management systems in Brazil. Journal Cleaner Production, v. 30, p. 1-12,
2016.
LANA, Â. M. Q. et al. Influence of native or exotic trees on soil fertility in decades of silvopastoral
system at the Brazilian savannah biome. Agroforestry systems, v. 92, p. 415-424, 2018.
NAIR, Ramachandran et al. Soil carbon sequestration in tropical agroforestry systems: a feasibility
appraisal. Environmental Science & Policy, v. 12, p. 1099-1111, 2009.
NELSON, D. W.; SOMMERS, L. E. Total carbon, organic carbon and organic matter, in: Page, A.L.,
Miller, R.H., Keeney, D.R., (Eds.), Methods of soil analysis: chemical and microbiological properties.
American Society of Agronomy, Madison, p. 539-579, 1982.
SANTOS, C.A. et al. Changes in soil carbon stocks after land-use change from native vegetation to
pastures in the Atlantic Forest region of Brazil. Geoderma Regional, v. 337, p. 394-401, 2019.
SARTO, Marcos V. M.; et al. Soil microbial community and activity in a tropical integrated crop-
livestock system. Applied Soil Ecology. v. 145, p. 1-11, 2020.
VICENTE, L.C. et al. Soil carbon stocks of Ultisols under different land use in the Atlantic
rainforest zone of Brazil. Geoderma Regional, v.7, p. 330-337, 2016.
TONUCCI, Rafael G. et al. Soil carbon storage in silvopasture and related land-use systems in the
Brazilian Cerrado. Journal of Environmental Quality. v. 40, p. 833-841, 2011.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 839
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Comunicação Social (PUCRS). Bacharel em Publicidade (PUC Minas). Professora e pesquisadora da
UEMG Unidade Divinópolis, curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e curso de Jornalismo.
Coordenadora do Centro CEPCCOM e Líder do Grupo de Estudos PROLIC. Editora da Revista FANDOM. E-mail:
eliane.raslan@uemg.br.
2
Estudante de Jornalismo UEMG/ Unidade Divinópolis. Membro dos alunos de estudos do Grupo de Pesquisa PROLIC
(CNPq). E-mail: ariane.1695167@discente.uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
840 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como base de análise para discussões teóricas e atividades práticas desse projeto
extensionista, partimos dos resultados de análise das leituras de imagem realizadas por Miriam Leite
(1994), já que nos permite verificar as formas de análise de uma imagem, além de contextos positivos
e negativos destas. Enquanto os estudos sobre os pensamentos e linguagens por Vygotsky (1996) nos
permitiram discutir a produção e os sentidos, já que são vários os significados presentes no processo
de leitura fotográfica.
3 METODOLOGIA
Esse projeto, na busca de contribuir com o aprendizado dos alunos de ensino superior, a partir
do processo de leitura de imagem, buscou parceiros de três escolas do 5º ano do Ensino Básico, sendo
todas localizadas em cidades nas quais a UEMG tenha unidades físicas, a saber: Divinópolis, Passos
e Belo Horizonte, sendo somente esta última ainda sem atividades. Realizamos oficinas e, em seguida,
exposição do material, no intuito de verificar os sentidos e significados presentes nas imagens para
os alunos, antes e após as discussões dos autores, aqui propostas na fundamentação teórica. As
produções de sentidos existentes em fotos de suas famílias são auxílio para discussões da leitura
dessas fotos.
Foram realizadas duas oficinas e duas exposições do material dos alunos. A primeira oficina
ocorreu no colégio Del Rey, na cidade de Passos, Minas Gerais, no dia 30 de maio de 2022, e a
exposição de 30 de maio a 06 de junho de 2022. A segunda ocorreu na cidade de Divinópolis, também
em Minas Gerais, na Escola Ar Livre, no Bairro Vila, no dia 14 de junho de 2022, com a exposição
de 14 de junho a 21 de junho de 2022.
Para a realização da oficina, cada aluno das escolas citadas anteriormente levou para o
ambiente escolar uma foto de algum momento importante com a família. Em uma folha de ofício A4,
eles fizeram a colagem da foto e escreveram, com suas próprias palavras, não só o contexto da
imagem, mas também quais sentimentos obtinham a partir daquele registro. A fim de incluir todas as
crianças no processo da oficina, aquelas que, por algum motivo, não levaram uma fotografia, podiam
desenhar algum momento com a família que as tenha marcado de alguma forma.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 841
Feito o exercício de pensar e materializar os sentidos obtidos a partir das imagens, cada aluno
teve um tempo para expor o trabalho realizado com os demais colegas, para que as vivências e
experiências entre os estudantes pudessem ser compartilhadas. Após a realização da oficina, foram
realizadas as colagens desse material em algum espaço mais amplo das escolas.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
A oficina realizada no Colégio Del Rey (fig. 01), cidade de Passos – Minas Gerais, ocorreu
no dia 30 de maio, com duração de 5 horas (RASLAN; EMANUEL, 2022b), em seguida a exposição
do material produzido na oficina, com duração de uma semana (RASLAN; EMANUEL, 2022a).
Além disso, também ocorreu na Escola Ar Livre (fig. 02), na Cidade de Divinópolis – Minas Gerais,
com realização da oficina no dia 14 de junho, também com duração de 5 horas (RASLAN;
EMANUEL; MACHADO, 2022b), sendo que a exposição também foi realizada em seguida
(RASLAN; EMANUEL; MACHADO, 2022a).
Abaixo, está a fotografia da oficina (fig.01) realizada na cidade de Passos e, em seguida, a
exposição do Material fotográfico (fig.01), que contou com cerca de 30 alunos. Aqui, os alunos fazem
leitura das imagens da foto escolhida e apontam discussões sobre além da foto. Percebemos que todos
os alunos conseguem expressar sentidos e significados não presentes nos registros; o olhar vai além
do enxergado, constitui os sujeitos presentes na imagem que transpõe a palavra por meio de signos
produzidos nos sentidos dos laços familiares.
Figura 1 – Fotos tiradas dos alunos do 5º ano Colégio Del Rey, Cidade de Passos
Figura 2 – Fotos tiradas dos alunos do 5º ano Escola Ar Livre, Cidade de Divinópolis
Aqui, tivemos resultados similares aos da primeira oficina, mas a forma de interpretar os
elementos diferenciaram conforme a turma. Eles tiveram mais interesse em discutir a história do que
o exterior da foto, logo, sendo necessário buscá-los para discussão do significado além da imagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LEITE, Miriam Lifchitz Moreira Leite. Leitura da Fotografia. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, n. esp., seg. sem. 1994Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16099. Acesso em: 23 jun.2022.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V.; MACHADO, C. C. Cidade de Divinópolis e a vida contada
a partir da leitura fotográfica: retratando a família a partir dos registros. Exposição de fotos e
colagem na Escola Ar Livre. 14 junho a 21 de junho de 2022. Divinópolis, 2022a.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V.; MACHADO, C. C. Cidade de Divinópolis e as Histórias:
Produções de sentidos a partir da leitura fotográfica dos alunos. Oficina realizada no Colégio
Del Rey Internacional. 14 de junho de 2022. Passos, 2022b.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V. Cidade de Passos e a vida contada a partir da leitura
fotográfica: retratando a família a partir dos registros. Exposição de fotos e colagem no Colégio
Del Rey Internacional. 30 de maio a 06 de junho de 2022. Passos, 2022a.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V. Cidade de Passos e as Histórias: Produções de sentidos a
partir da leitura fotográfica dos alunos. Oficina realizada no Colégio Del Rey Internacional. 30 de
maio de 2022. Passos, 2022b.
VYGOTSKY, Lev Semionovitch. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
EXTENSÃO PUC MINAS:
844 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
A alta demanda por produtos oriundos de bovinos, como a carne e o leite, faz com que seja
necessária a otimização de novos produtos para os rebanhos. Nesse contexto, destaca-se o
melhoramento genético que, quando bem empregado, tem o intuito de gerar acasalamentos com
proles de eficiência superior. Segundo Daya et al. (2001), são diversos os fatores que impactam a
produção de oócitos da fêmea, como: raça, idade, sazonalidade de recuperação de oócitos, entre
outros. Manter o animal ciclando e produzindo folículos tem sido um desafio que vem sendo
contornado, por meio de tratamentos hormonais e estratégias de descanso dos ovários, porém, que
são ineficazes em alguns casos.
O melhoramento genético na raça Gir ainda é escasso, sendo que a procura pelas matrizes e
touros ideais ocorre por meio da busca de bons produtores que conseguem transmitir suas
características de produção aos seus descendentes (SANTANA JÚNIOR, 2010). Contudo, tem
surgido grande necessidade de buscar características para aprimorar a fertilidade dos animais, como
data do primeiro parto, produção de leite e rusticidade. Esses são alguns dos indicadores buscados
com o objetivo de gerar maiores ganhos econômicos futuros; porém, devido ao sucesso das novas
biotecnologias, devem ser investigadas formas de promover melhoramento genético que abranja mais
características que beneficiem o produtor.
1
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: aeliza899@gmail.com.
2
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: estela.martins.depaula@outlook.com.br.
3
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: pedro.soutolamas@gmail.com.
4
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: yandramendesn@gmail.com.
5
Docente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: alanfigueiredodeoliveira@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 845
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
São diversos os fatores que podem causar problemas reprodutivos e, por isso, o ideal é buscar
por acasalamentos que tragam genes mais resistentes e produtivos. O Gir é uma antiga raça zebuína
conhecida por seu acasalamento com a raça Holandesa, para promover rusticidade a esta raça
extremamente produtiva.
Em animais de produção, a ciclicidade é um fator de grande interferência na eficiência
reprodutiva, pois não é vantajoso ao produtor manter um animal que não esteja trazendo retornos.
Nesse caso, o maior tempo de retorno a ciclicidade da vaca está em grande parte associada com o seu
estado energético, mas pode, também, estar ligada a outros fatores. O ambiente causa um desvio
significativo do fenótipo, ou seja, por mais eficiente que o melhoramento genético dos animais seja,
sua reprodução também é interferida por causas de interação com o ambiente (SANTANA JÚNIOR,
2010; p.199).
3 METODOLOGIA
O estudo foi realizado com o intuito de analisar a existência de influência do pai da doadora
sob a sua produção de oócitos, impactando diretamente em sua fertilidade. Para isso, foram utilizados
dados de produção de folículos de 2811 fêmeas bovinas da raça Gir e sua filiação paterna, de 2018 a
2021. Os folículos foram coletados por uma empresa especializada em aspiração folicular e produção
de embriões, localizada na região de Sete Lagoas-MG. Os dados referentes à paternidade dessas foi
obtido por meio do banco de dados da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Para
análise, foram utilizadas apenas doadoras que apresentavam dados de mais de uma OPU e fêmeas
EXTENSÃO PUC MINAS:
846 Novo Humanismo, novas perspectivas
cujos pais apresentavam mais de 60 filhas participativas do estudo. Foram selecionados 11 touros,
que serão denominados com letras de “A” a “K”.
As doadoras passaram por punção folicular com objetivo comercial, realizado seguindo
padrões de ética e bem estar animal comum a operação, recebendo anestesia epidural por um médico
veterinário devidamente capacitado. O processo foi imediatamente seguido pelo rastreamento dos
oócitos e os dados armazenados no programa padrão da empresa. Foram utilizados dados coletados,
durante todo o ano, de vacas ou novilhas de diferentes idades e sob diferentes condições ambientais,
para evitar a influência de características não genéticas, como o ambiente.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As filhas do touro A tiveram maior média de produção de oócito em relação aos demais (tabela
1). O touro A traz melhores indicadores para capacidade de transmissão de fertilidade, assim como
os touros B e C, que apresentaram resultados semelhantes. Já os touros I, J e K tiveram mínima
diferença e, apesar de também serem pais de grandes Produtoras de Leite, suas filhas não se
mostraram superiores em produção de oócitos.
Segundo Evangelista et al. (2021), características de herdabilidade genética para fertilidade
tem baixa magnitude e isso sugere maior interferência de fatores não genéticos nos índices, ou seja,
mudanças no ambiente podem promover maiores melhorias nessas características. Contudo, apesar
de baixa herdabilidade, os resultados mostraram impacto significativo na herança paterna para
produção de oócitos porque alguns touros se destacam em transmitir a condição, enquanto outros não
apresentaram diferença (tabela 1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O monitoramento dos genes transmitidos por um touro Gir é voltado para aprumo, produção
e, em pequena parte, voltada para a reprodução. A inclusão de sua capacidade de transmitir
características de alta fertilidade às filhas é pouco pesquisada, contudo, como demonstrado nesse, e
em outros estudos, atenção a esses aspectos na escolha do touro para acasalamento poderá gerar
notáveis resultados econômicos positivos para o proprietário.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Discente do curso de Nutrição da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Faculdade de Ciências da Saúde. E-mail:
randerson.souza1@estudante.ufla.br.
2
Discente do curso de Medicina da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. E-mail: mauricio.assis@estudante.ufla.br.
3
Discente do curso de Medicina da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. Email: laura.silveira@estudante.ufla.br.
4
Discente do curso de Nutrição da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. Email: gabriella.claudino1@estudante.ufla.br.
5
Professora; Orientadora. Faculdade de Ciências da Saúde/ Departamento de Medicina da UFLA. Email: joziana@ufla.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
850 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
população: (1) Minuto da Saúde na praça, (2) nas escolas, (3) na universidade, (4) na rádio e (5) na
Web. Nesse contexto, até 2019, o projeto realizou campanhas presenciais de promoção da saúde,
assim como disponibilizou ao público outras atividades voltadas à disseminação do conhecimento,
como distribuição de materiais informativos, desenvolvendo um ambiente favorável à troca de
experiências entre sociedade e comunidade acadêmica.
Com a pandemia da COVID-19, foram realizadas adaptações para a manutenção das
atividades frente ao cenário de distanciamento social, imposto pelos protocolos de biossegurança. As
ações foram intensificadas nas mídias sociais: Facebook, Youtube e Instagram. Foram organizadas
diversas atividades interativas, como rodas de conversa, lives, quadros como o “Desmistificando a
COVID-19”, “Atualidades em Saúde”, “Conversa com Especialista”, além de vídeos e postagens
gerais, focados em temas como doenças crônicas, Infecções sexualmente Transmissíveis (ISTs),
doenças infecto-parasitárias, saúde da mulher, saúde mental, dentre outras. Como novas estratégias
de comunicação com a sociedade, foi criado um canal de esclarecimento de dúvidas sobre a COVID-
19 por meio da ferramenta WhatsApp e o programa ComVida veiculado diariamente pela rádio
universitária.
4 RESULTADOS
A análise dos indicadores nos permitiu verificar que projeto de extensão conta com mais de
1.650 seguidores nas redes sociais, que recebem atualizações semanais através do Instagram. Com
relação ao perfil dos seguidores, as publicações têm alcance médio para cerca de 570 pessoas com
faixa etária predominante entre 18 e 34 anos, sendo 72,4% do sexo feminino, de pelo menos 10 países,
que recebem atualizações semanais sobre os diversos temas na área de saúde.
A partir de 2020, o Minuto da Saúde encontrou a necessidade de agir com mais enfoque de
forma virtual frente às demandas da pandemia de COVID-19. Dessa forma, os membros do Projeto
realizaram um plantão de esclarecimento de dúvidas via WhatsApp e criaram diversos conteúdos
sobre a COVID-19, visando elucidar questionamentos recorrentes e promover a prevenção da doença,
com informações sempre baseadas em evidências científicas. Foram elaboradas aproximadamente 70
publicações no Instagram do Projeto (@minutodasaudeufla), entre as quais se destaca o quadro
“Desmistificando a COVID-19”, o qual teve o objetivo de esclarecer informações sobre fake news
em torno da pandemia. O alcance médio dessas publicações foi de 628 pessoas, sendo o tema de
maior destaque o “CoronaVac: novos dados” com 1029 contas alcançadas, o qual abordou a eficácia
EXTENSÃO PUC MINAS:
852 Novo Humanismo, novas perspectivas
da vacina e as novas informações sobre a aplicação na população entre 3 a 17 anos. Além disso, foram
realizadas 18 aulas no YouTube sobre essa temática, em parceria com o Núcleo de Pesquisa
Biomédica (NUPEB/Universidade Federal de Lavras UFLA).
As mídias sociais também foram utilizadas para promover o conhecimento em outros assuntos
sobre saúde, por meio de ações extensionistas online, vídeos e infográficos. O Minuto da Saúde
desenvolveu junto ao Centro Acadêmico de Medicina da UFLA, a Liga Acadêmica de Neurologia e
o projeto Apoiar, uma roda de conversa online via YouTube, intitulada: “Abril Azul: o que sabemos
sobre o transtorno do espectro autista?” que contou com a participação de uma neuropediatra e duas
mães, sendo uma delas psicóloga clínica que trabalha com enfoque em crianças e adolescentes com
autismo. O principal objetivo da ação foi propagar informações técnicas sobre o assunto de maneira
prática e participativa que teve 329 visualizações e 149 inscritos na ação online. Em parceria com a
Coordenadoria de Comunicação Social e a Tv Universitária (link1), o Projeto produziu 27 vídeos,
entre eles destaca-se o “Gonorreia e Clamídia”, com 7600 visualizações. No Instagram encontram-
se 43 vídeos, sendo o de maior destaque o “reels” sobre Aleitamento Materno com 921 visualizações.
Em 2022, foi criado o quadro “Atualidades em Saúde” com objetivo de divulgar didaticamente
informações atuais sobre saúde. A primeira postagem foi “Varíola dos Macacos” que alcançou 338
contas e teve 16 compartilhamentos em outros perfis.
Além das mídias sociais, as ações do Projeto tiveram impacto social importante com a
divulgação de informações em jornais e revistas digitais e impressos. Entre elas, destaca-se uma ação
sobre a Síndrome de Tourette foi levada à Câmara Municipal de Vereadores culminando na
promulgação da Lei 4.517, de 02 de setembro de 2019, que torna a semana do dia 07 de junho como
a Semana Municipal de Conscientização da Síndrome de Tourette.
Com relação ao programa ComVida 20, ressalta-se que a rádio continua sendo um dos meios
de comunicação mais abrangente no nosso país. Foram editados 22 programas, veiculados na Rádio
Universitária da UFLA, abrangendo mais de 60 municípios nas regiões Sul, Oeste de MG e Campo
das Vertentes. O período de permanência do CoMvida no ar foi de 10 meses e contou com oito
inserções diárias. O portfólio online (link2) apresenta todo um conjunto de ações realizadas durante
estes sete anos de existência do projeto e que tem permitido elucidar dúvidas que percorrem o
imaginário social no contexto da saúde, levando informações tecnicamente corretas para a
comunidade geral, de maneira acessível e clara, tornando-a engajada no processo de promoção da
saúde e evitando a disseminação de prováveis dados de origem duvidosa, circulantes nas redes sociais
também.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 853
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: gabrielle.oliveirag@ufpr.br.
2
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: beatrizborba@ufpr.br.
3
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: adrieliteles@ufpr.br.
4
Graduando em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: william.mattana@ufpr.br.
5
Graduado em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná. Professor
Adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná. E-mail: brunomartynhak@ufpr.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 855
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
6
Essa visão assistencialista e unilateral reinou durante décadas, no período entre os anos 1950 a 1990. De lá para cá, tem-
se construído a visão da partilha de saberes, das aprendizagens multilaterais e da reciprocidade de coconstrução de saberes,
por meio da interação entre academia e sociedade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
856 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
lúcidos, e 4 tiveram preferência pelo conteúdo sobre vacinas e o movimento antivacina. Além disso,
100% dos indivíduos que participaram desta segunda pesquisa indicaram que aprenderam algo novo
com o podcast, e deixaram suas opiniões e sugestões.
Dessa forma, é possível observar que os dados obtidos estão em consonância com o objetivo
do projeto de extensão, que consiste em levar o conhecimento científico para o público externo da
UFPR, de forma simplificada e acessível. Os comentários recebidos permitem verificar que o
conteúdo chegou de fato ao público desejado e foi capaz de despertar a curiosidade e o interesse sobre
o tema, como evidenciado na Figura 1. Tais resultados vão de encontro com o preconizado por
Brandão (2007), que determinou que a Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia deve ser capaz
de promover o interesse público pela educação, pela conexão entre ciência e sociedade.
Além dos resultados dos formulários, também foi possível observar que a forma mais efetiva
de estabelecer uma comunicação com o público utilizando a tecnologia se dá por meio das redes
sociais. As questões pontuais realizadas em enquetes e caixas de perguntas no Instagram
demonstraram um número muito maior de respostas quando comparadas aos formulários (Figura 2).
Esse dado permite concluir que a utilização de ferramentas que fazem parte do cotidiano das pessoas,
como o próprio Instagram, leva a uma comunicação estratégica, que traz consigo resultados
EXTENSÃO PUC MINAS:
858 Novo Humanismo, novas perspectivas
otimizados (BALDISSERA 2002). É através dessa comunicação que o podcast encontra meios para
se difundir nas plataformas digitais e atingir públicos cada vez mais variados, cumprindo o principal
objetivo do projeto, embora possa representar muitas vezes um desafio a ser superado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Doutoranda em Estudos Interdisciplinares do Lazer. Mestre em Educação. Docente do curso de Educação Física da PUC
Minas e coordenadora do Projeto Asas da Dança. E-mail: brunaribeiro@pucminas.br.
2
Doutora em Educação, Mestre em Educação; docente na graduação em Educação Física, coordenadora do projeto de
extensão Asas da Dança. E-mail: marciacampos@pucminas.br.
3
Graduanda em Educação Física; Extensionista do Projeto Asas da Dança; Bailarina profissional. E-mail:
camila.rezende.416730@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 861
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para a tessitura das ações do projeto Asas da Dança, os extensionista envolvidos discutem
autores que balizam teoricamente a prática da dança. Por meio de grupos de estudo, os participantes
elaboram e reelaboram uma práxis consciente e articulada a educação. Arte e cultura. Apresentamos
os eixos estruturantes: O letramento em dança e a neuroplasticidade.
Tomamos de Ann Dils et al o conceito de “Dance literacy”, que traduzimos como “letramento
em dança”. Dils et al. (2007) usam esta locução “dance literacy” afirmando que existem habilidades
corporais e intelectuais amplas e interdependentes, sensibilidades e conhecimentos a serem
aprendidos, assim como se aprende a ler e a escrever na escola. “Eu vejo a leitura e a escrita, aquelas
atividades mais associadas com o termo alfabetização, como vital para nossas habilidades de pensar,
criar e compartilhar informações, e participar da sociedade. Acredito que dançar oferece essas
mesmas possibilidades” (DILS et al., 2007, p. 2, tradução nossa).
A autora faz uma relação direta entre as atividades de letramento em dança e as de letramento
na leitura e na escrita e afirma que, como a leitura e a escrita, a dança desenvolve atividades vitais
para o desenvolvimento de habilidades de pensar, criar, compartilhar informações e participar da
sociedade. Letrar em dança “dignifica uma prática artística que tem sido tradicionalmente ignorada
dentro das escolas americanas e nos chama a fazer perguntas sobre sua contribuição potencial como
forma de conhecimento e campo de pesquisa na educação geral” (DILS et al., 2007, p. 2). Embora se
refira ao contexto de escolas americanas, nossa experiência na docência, assim como uma extensa
produção acadêmica, revela que o ensino das artes, entre elas, a dança, tem ocupado, quando muito,
espaço secundário nas escolas brasileiras (MARQUES, 2016). As linguagens são vivas, acontecem
na cultura, e, por obra dos sujeitos, que as operam (SAUSSURE, 2012).
Nossos comportamentos são aprendidos e não programados pela natureza (GUERRA, 2011).
Embora nosso cérebro esteja planejado para desenvolver certas capacidades, necessitamos de um
aprendizado mesmo para capacidades bem simples. Daí a relevância da experimentação em ambientes
EXTENSÃO PUC MINAS:
862 Novo Humanismo, novas perspectivas
Essas modificações, que podem ocorrer ao longo de nossa vida social e educacional, resultam
da reorganização de nossas capacidades cerebrais e revelam a plasticidade de que nosso sistema
nervoso é capaz (COSENZA, GUERRA, 2011). A plasticidade cerebral, ou neuroplasticidade, é a
propriedade de ativar e desativar conexões entre neurônios que acontece no sistema nervoso quando
aprendemos.
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
À luz do referencial teórico estudado, o projeto estabelece um diálogo em rede, com eventos
internos e externos relacionados a saberes e experiências em dança, assim como ciclos formativos
para os estudantes de Educação Física, visando à preparação para o mercado da dança.
Emergem indagações sobre como as práticas culturais são reconstruídas na dança e como estes
sujeitos tecem relações com a arte, os movimentos sociais e a cidade; em que espaços o jovem pode
mostrar-se e como o espaço reage a eles. Diante destes questionamentos buscamos refletir sobre a
relação dialógica entre o corpo, o lazer e o espaço universitário, com objetivo de compreender estes
eixos como espaços de re-existência na dimensão política e cultural a partir de práticas consideradas
marginalizadas. Nesse sentido, este projeto anseia constituir-se enquanto enunciação, num processo
de escuta sensível e atenta, para captar as implicações artísticas, éticas, estéticas, culturais e políticas
na dança consciente, ofertando um fluxo de encantamento que nos permita fazer ciência dançando.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
As plantas medicinais são utilizadas pela humanidade no decorrer da sua evolução, sendo
conhecida na China há mais de três milênios. Conhecer as plantas foi um dos fundamentos das
ciências naturais e, muito antes de sua formalização moderna, em todas as técnicas vitais e em toda
devoção à natureza, as plantas ocupam sempre um papel central (CAMARGO, 2014).
A medicina chinesa é uma ciência fundada sobre a experiência empírica acumulada e divide
os medicamentos de acordo com as suas propriedades e ações. Associando este conhecimento com a
fitoterapia, a medicina chinesa desenvolveu o horto medicinal em forma de relógio biológico do corpo
humano. O relógio biológico da medicina chinesa é um recurso onde cada órgão do corpo humano é
representado por uma planta de acordo com o seu meridiano.
Neste intuito, o trabalho teve como objetivo o cultivo de plantas medicinais em forma de
relógio biológico do corpo humano, visando a compartilhar o conhecimento acadêmico com a
comunidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Governo Federal reconhece a importância das plantas medicinais, uma vez que, por meio
do Decreto nº 5.813, de 22/06/06, aprovou a Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
e integrou esses elementos ao Sistema Único de Saúde (SUS) ao publicar a Portaria nº 971, de
03/05/06, que institucionalizou as práticas integrais e complementares. Segundo a Organização
1
Acadêmica do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).
E-mail: samara-spies@uergs.edu.br.
2
Acadêmica do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da UERGS. E-mail: morgana-belmonte@uergs.edu.br.
3
Dr.ª Engenheira Agrônoma, Professora da UERGS. E-mail: roseli-farias@uergs.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
866 Novo Humanismo, novas perspectivas
Mundial da Saúde (OMS), 80% da população dos países em desenvolvimento depende da medicina
tradicional para seus cuidados básicos de saúde e 85% destes utilizam plantas ou preparações feitas
pelas mesmas (BRASIL, 2006).
Os chás apresentam importantes funções terapêuticas, sendo eficientes no controle de algumas
doenças, tornando-se uma alternativa levando em consideração o seu custo econômico. O uso de
plantas medicinais pode ser influenciado pela questão econômica, o alto custo dos medicamentos e o
difícil acesso a consultas pelo SUS (BATTISTI et al., 2013).
O estudo de plantas medicinais para a cura de doenças e suas aplicações é conhecido como
fitoterapia, sendo uma prática milenar. A fitoterapia literalmente quer dizer terapia através das
plantas, e é conhecida na China há cerca de três mil anos. A medicina chinesa desenvolveu o Horto
Medicinal - Relógio do Corpo Humano, que busca cultivar as plantas medicinais, facilitando sua
identificação e associação aos órgãos e sistemas corporais (PEREIRA, 2014).
O relógio do corpo humano é uma metodologia de trabalho que surgiu da necessidade de
conhecer mais as plantas medicinais, livres de agroquímicos, animais e contaminantes, didaticamente
serve de suporte do conhecimento, facilita o acesso da comunidade, preserva o ambiente e as espécies
e promove a qualificação das atividades. Há um fator inovador neste horto, a união das plantas
medicinais com os principais órgãos do corpo humano, informando os horários de maior atividade de
cada órgão e quais as plantas recomendadas para tratamento de doenças específicas (FERREIRA et
al., 2017).
3 METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), nos
anos de 2020 e 2021, como projeto de extensão.
Para o cultivo das plantas medicinais em forma de relógio, utilizou-se uma área em formato
de círculo. Inicialmente houve a limpeza da área e separação dos horários utilizando taquaras. Cada
área do relógio foi identificada com os respectivos nomes dos órgãos e das plantas medicinais
correspondentes ao seu horário. O plantio das mudas das plantas medicinais iniciou pela coordenada
norte, onde se inicia o ciclo biológico. O primeiro órgão é o fígado, sendo seu respectivo horário entre
01h e 03h, com o cultivo de alcachofra e cardo mariano. Cada órgão corresponde a duas horas, e
cultivam-se as plantas medicinais referentes a esses horários. Segundo a medicina chinesa, o melhor
horário para tratar dos problemas biológicos seria o período de pico de energia de cada órgão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 867
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Figura 1- Área utilizada para o cultivo das plantas medicinais em forma de círculo,
UERGS, Unidade em São Borja, RS.
Figura 3 - Folder confeccionado para informações sobre o relógio medicinal do corpo humano
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a implantação do horto medicinal em forma de relógio do corpo humano, foi possível
desenvolver trabalhos elucidativos com a comunidade e acadêmicos, apresentando a importância das
plantas medicinais e suas formas de preparo e melhor momento para sua ingestão. As plantas
medicinais estão presentes desde o início dos medicamentos e possuem um papel fundamental tanto
no meio científico quanto na população em geral.
REFERÊNCIAS
BATTISTI, Caroline. et al. Plantas medicinais utilizadas no município de Palmeira das Missões,
RS, Brasil. Revista Brasileira de Biociências. v. 11, n.3, 2013.
BRASIL. Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília, 2006. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_fitoterapicos.pdf
CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. As plantas medicinais e o sagrado: a
Etnofarmacobotânica em uma revisão historiográfica da medicina popular no Brasil. São Paulo,
Icone editora, 2014.
FERREIRA, Eduardo Garcia et al. Descobrindo o saber popular das plantas medicinais: benefícios
na preparação caseira. In: Salão Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão - Siepex, 2017.Anais –
Siepex. Tapes RS. 2017.
MELLO, Cleyson.Moraes et al. Curricularização da Extensão Universitária. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Processo, 2022.
PEREIRA, Maria Cristina Laus Horto Medicinal - Relógio do Corpo Humano como ferramenta
de aprendizagem intertranscultural. UTFPR, 2014. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_utf
pr_dtec_pdp_maria_cristina_laus_pereira.pdf
PERINAZZO, D.V.; BALDONI, D.B. A utilização de plantas medicinais como elemento de
resistência cultural e cuidado à saúde. Revista Eletrônica Científica da UERGS, v. 8, n.2, 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
870 Novo Humanismo, novas perspectivas
Salvando vidas
Saving lives
INTRODUÇÃO
1
Aluna do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: andriniweisheimer@gmail.com.
2
Professora e Orientadora do Projeto Salvando Vidas na UFRJ. E-mail: fatimacfernandes@gmail.com.
3
Aluna do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: joyce.0112@hotmail.com.
4
Aluna do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: larachamon@gmail.com.
5
Aluno do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: ruytamoyo.pb@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 871
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Uma vez que a ação de extensão acadêmica em Anestesiologia foi baseada nos princípios do
tripé universitário de ensino, de pesquisa e de extensão, esta ação não foi só dirigida aos alunos de
medicina da UFRJ, mas a toda comunidade discente da área da saúde do estado do Rio de Janeiro, e
sociedade civil interessada, construindo e compartilhando conhecimento. Assim, a demanda pela
transformação digital, imputada pela quarentena e demais ações restritivas da pandemia, implicaram
a necessidade de adequação das instituições de ensino. É observado, pelo conteúdo pesquisado e
referenciado, que essa adequação não se restringe à digitalização, mas também deve contemplar a
delicadeza do momento enfrentado e suas particularidades.
3 METODOLOGIA
A captação de extensionistas se deu pela divulgação do projeto nos perfis sociais da Liga de
Anestesiologia e por meio de divulgação orgânica entre os alunos da UFRJ e os alunos externos. Com
isso, foi disponibilizado um formulário online pelo qual os interessados poderiam se inscrever e, ao
final, os candidatos receberam um convite para um grupo de comunicação através do qual,
semanalmente, receberam os links das plataformas onde foram realizadas as atividades online. Em
cada semana, foi selecionado um tema de relevância na abordagem dos Primeiros Socorros e nos
atendimentos iniciais às vítimas para ser debatido.
Nesse sentido, a participação do público foi verificada através do preenchimento de
questionários pré e pós testes da seguinte maneira: no início da atividade, foi disponibilizado um link
contendo questões objetivas sobre o tema a ser ministrado e foi ofertado um tempo para o
preenchimento deste formulário. Ao final da discussão, outro link contendo as mesmas questões já
propostas é disponibilizado para os participantes. Esses questionários também foram o método de
análise quanto ao conhecimento construído, uma vez que foi possível comparar as respostas de antes
das atividades com as respostas após as atividades propostas.
Vale esclarecer que, além dos questionários a respeito da atividade ministrada, também eram
divulgadas palavras-senha, na plataforma, durante as discussões. Tais palavras deveriam ser
transcritas nos questionários disponibilizados aos cursistas ao final da discussão, como instrumento
de validação de presenças ao longo da atividade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
872 Novo Humanismo, novas perspectivas
4 RESULTADOS
Em 2020, a primeira edição realizada contou com 458 inscrições válidas, das quais 304
tiveram participação comprovada igual ou superior a 75% nas presenças obrigatórias para emissão da
certificação. A segunda edição de 2020 contou com maior divulgação pelas mídias sociais da Liga de
Anestesiologia, com isso, o número de inscrições atingiu o número de 1848. Destes, 837
comprovaram participação igual ou superior a 75% nas presenças obrigatórias para emissão da
certificação. Ao mesmo passo em que a primeira edição de 2021 contou com 2366 inscrições válidas,
entre as quais o número de pessoas que comprovaram participação igual ou superior a 75% nas
presenças obrigatórias foi de 746.
Por fim, a segunda edição de 2021, e última edição da versão virtual do projeto, contou com
1392 inscrições válidas, das quais 415 comprovaram participação igual ou superior a 75% nas
presenças obrigatórias para emissão da certificação. É importante destacar a validade do
aproveitamento do projeto, uma vez que em 100% das edições, o número de acertos nos pós-testes
foi superior aos acertos nos pré-testes.
5 DISCUSSÃO
Analisando o alcance obtido pelo projeto, a versão virtual do projeto se mostrou mais
vantajosa em relação a versão presencial, tendo em vista que o número de inscritos foi maior. Além
de maior número absoluto, o alcance também foi estendido em relação ao tipo de público alcançado,
pois houve inscrições além do campus universitário da UFRJ e do curso de medicina, as quais eram
exceções nas edições anteriores. Por outro lado, houve queda no engajamento em relação a edição
presencial, na qual a certificação dependia da análise de listas de presenças assinadas pelos
participantes. Ainda assim, o método atual, que conta com as mesmas perguntas nos pré-testes e pós
testes, é importante para fornecer dados comparativos, o que permite mensurar a construção do
conhecimento dos participantes em relação ao conteúdo abordado nas discussões. Isso se mostra
positivo, uma vez que o percentual de acertos nos pós-testes foi maior em todas as edições.
Ademais, no encerramento das atividades, foi disponibilizado um espaço para relato dos
participantes, bem como críticas e sugestões. Através deste canal, foram descritas diversas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 873
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de extensão “Salvando Vidas” tem impacto importante, uma vez que modifica
realidades e, literalmente, salva, gerando segurança e autonomia com o conhecimento construído,
além de manter a universidade ativa mesmo em cenário pandêmico. É um importante serviço prestado
à sociedade, pois contribui com a redução do número de acidentes e de óbitos, oferecendo condições
para a população adquirir conhecimento e para a construção de um ambiente mais seguro.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Discente do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) campus Coração
Eustáquio. E-mail: anaclaracampsm@gmail.com.
2
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: blamizabel@gmail.com.
3
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: diego_smiranda@yahoo.com.br.
4
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: paloma_duarte7@hotmail.com.
5
Mestre em Ciências da Reabilitação. Docente do curso de Fisioterapia PUC Minas) campus Coração Eucarístico. E-
mail: caldeirav@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 875
o risco de obstrução do tubo ou da traqueostomia. A oclusão do tubo será considerada caso haja
histórico de acúmulo de secreção espessa e formação de tampões mucosos; sangue visualizado no
tubo ou traqueostomia; sinais de esforço respiratório; diminuição do fluxo aéreo através da prótese;
diminuição do volume de ar expirado; aumento das pressões de vias aéreas; alteração do nível de
consciência do paciente; queda da saturação periférica de oxigênio; aumento da frequência cardíaca
e resistência ao passar a sonda de aspiração. Na presença de um ou mais desses sinais, a oclusão do
tubo deve ser considerada e adequadamente avaliada (UFTM, 2020). Quando o interior da cânula
parece áspero por secreções acumuladas e secas, esta pode estar parcialmente obstruída. Quando há
incapacidade de introdução da sonda de aspiração pelo tubo ou traqueostomia, a obstrução é
considerada total (BUSSOLOTTI, 2020; UFTM, 2020).
Considerando os riscos de complicações aos quais o paciente com via aérea artificial está
exposto, é de suma importância o envolvimento e sensibilização dos profissionais da saúde que atuam
nos ambientes hospitalares. A equipe multidisciplinar composta por Médicos, Enfermeiros,
Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos e Técnicos de Enfermagem deve assumir o seu papel no cuidado ao
paciente intubado ou traqueostomizado, garantindo sua segurança e visando à redução de danos
desnecessários relacionados à via aérea e sua manipulação (COSTA et al, 2019).
Os profissionais da saúde devem estar atentos à formação de rolhas de secreção nas vias
aéreas, já que estas aumentam o risco de obstrução do tubo ou cânula. Algumas medidas preventivas
podem ser adotadas para evitar a formação de rolhas de secreção, dentre elas, a monitorização
frequente da perviedade das vias aéreas; aspiração e umidificação adequadas sempre que necessário;
troca ou limpeza da cânula interna de traqueostomia, também sempre que necessárias; hidratação
adequada do paciente para favorecer que as secreções fiquem mais fluidas e fáceis de serem
eliminadas através da tosse; uso de mucolíticos quando indicado e prescrito pelo médico; tratamento
adequado do quadro infeccioso de aumento de secreção pulmonar e acompanhamento pela equipe de
fisioterapia (BUSSOLOTTI, 2020).
Um dos estágios obrigatórios do 10º período do curso de Fisioterapia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS) é realizado no Hospital Metropolitano Dr.
Célio de Castro (HMDCC). No primeiro semestre de 2022, surgiu a demanda por parte do responsável
técnico da Fisioterapia no hospital, por melhorar a informação, orientação e capacitação da equipe
multidisciplinar relacionadas à prevenção de rolhas de secreção. A informação do alto e significativo
EXTENSÃO PUC MINAS:
876 Novo Humanismo, novas perspectivas
índice de formação de rolhas no HMDCC veio do responsável técnico. A proposta de uma produção
audiovisual, um vídeo instrucional abordando o assunto, surgiu da professora preceptora do estágio,
Valéria Caldeira.
Os vídeos educativos são estratégias que podem aumentar o controle dos telespectadores sobre
o conteúdo, local e tempo de aprendizagem. São facilmente divulgados e compartilhados entre as
equipes ajudando-as a adquirir conhecimento e habilidades rapidamente. São ferramentas, muitas
vezes, superiores à aprendizagem tradicional (ELER et al, 2019).
O objetivo geral da prática extensionista proposta foi informar e orientar os profissionais da
saúde do HMDCC sobre as rolhas de secreção: conceito; processo de formação; identificação;
prevenção e abordagem adequada na condição instalada.
2 METODOLOGIA
Para construir o vídeo instrucional, foi realizada uma busca nas bases de dados eletrônicas,
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed/MEDLINE,
PEDro, SciELO e Cochrane Library, para reunir as informações teóricas sobre o que foi proposto
elucidar. Após a pesquisa foram selecionados artigos, protocolos e cartilhas atuais e que continham
informações importantes para a elaboração do texto que seria o guia para a criação do vídeo. O
arquivo criado abrangeu a definição de rolhas de secreção, classificação, sinais clínicos, medidas
preventivas e a sequência de realização das intervenções no passo a passo. Com o texto pronto, o
vídeo foi elaborado no aplicativo CANVA utilizando imagens ilustrativas da bibliografia
referenciada, pequenos textos, além de um narrador para facilitar a compreensão do conteúdo e torná-
lo mais atrativo para o ouvinte.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho nos permitiu identificar a necessidade de novos conhecimentos por parte dos
profissionais de saúde do HMDCC, e desenvolver uma ação educacional, contribuindo para a
ampliação dessas competências na prática de educação em saúde. Além disso, acreditamos que o
desenvolvimento de vídeos para o ensino de práticas assistenciais, de forma detalhada, pode motivar,
auxiliar e ser um recurso disseminador de conhecimentos no processo de construção do aprendizado
dos profissionais da área da saúde, tendo como principal objetivo garantir uma melhor assistência aos
pacientes traqueostomizados. Ressaltamos que a produção de vídeos educativos requer planejamento,
6
O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aqsQej1ddL4
EXTENSÃO PUC MINAS:
878 Novo Humanismo, novas perspectivas
Palavras-chave: Manuseio das Vias Aéreas. Obstrução das vias respiratórias. Traqueostomia.
Segurança do Paciente. Check List de Segurança do Paciente
Keyword: Airway Management. Airway Obstruction. Tracheostomy. Patient Safety. Time Out,
Healthcare.
Área de conhecimento: 4.08.00.00-8 Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
REFERÊNCIAS
Fernanda Moreno1
Tiago Martinelli Nogueira2
Marli Susana Carrard Sitta3
INTRODUÇÃO
Este projeto propõe integrar estudantes do curso de Licenciatura em Teatro, dos cursos de
Pedagogia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), alunos e professores da
educação básica, por meio de leituras cênicas dos livros Dog Day, de Fernanda Moreno (para Ensino
Médio). De forma poética, a peça retrata a fragmentação do ser humano em um universo
multifacetado, em que a coragem de ser a si mesmo é permitida apenas para alguns – e O homem do
saco, de Rogério Trezza (para Educação Infantil e Séries Iniciais) - em que a peça traz a ludicidade
em uma dramaturgia cheia de suspense e faz a criança conversar com seus medos. As leituras foram
criadas, produzidas e gravadas por dois alunos (bolsista e voluntário) do curso de Licenciatura em
Teatro da UERGS, nas duas versões anteriores deste projeto de extensão, em 2020 e 2021,
respectivamente. Objetiva a investigação e a exploração lúdica / artística da leitura desses textos
dramáticos como caminho possível para ampliar o entendimento sobre as metodologias para o ensino
e prática do conhecimento teatral na educação básicafocando na capacidade criadora das crianças e
adolescentes.
A metodologia utilizada propõe a apresentação e apreciação das leituras cênicas em formato
online pelo canal do YouTube, seguida de diálogos / reflexões, utilizando a plataforma Google Meet
como ferramenta para as discussões entre os artistas atuantes das leituras cênicas, a coordenadora e o
1
Graduanda na licenciatura em Teatro na Universidade Estadual do Rio grande do Sul (UERGS). E-mail:fernanda-
moreno@uergs.edu.br.
2
Graduando na licenciatura em Teatro da UERGS.E-mail:tiago-nogueira@uergs.edu.br.
3
Mestre em Educação. Especialista em Teatro-Educação. Professora da licenciatura em Teatro na UERGS. E-mail:marli-
sitta@uergs.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
880 Novo Humanismo, novas perspectivas
público alvo deste projeto, que são os alunos e professores das escolas de educação básica e dos
cursos de Pedagogia da UERGS. Todo o trabalho é realizado de forma remota, seu processo e
resultados ficarão registrados e disponíveis na Plataforma do YouTube e podem ser acompanhados
pelas redes sociais como o Instagram da própria Universidade.
Essas ações estão vinculadas aos propósitos da Extensão Universitária, que busca aproximar
a comunidade das produções realizadas na acadêmia, além disso, possui papel essencial, tanto na vida
dos acadêmicos, que colocam em prática o que aprenderam em sala de aula, quanto na vida das
pessoas que usufruem desse aprendizado. Torna-se muito mais gratificante para os que estão na
condição do aprender, já que contribuem para um mundo melhor, estendendo a Universidade para
uma relação mais fluída com a comunidade, visando uma troca de saberes entre todos os envolvidos.
2 FUNDAMENTAÇÃOTEÓRICA
O ensino remoto é muito mais uma estratégia para conter os danos da crise do que
propriamente uma metodologia, e se estabeleceu desde o início da pandemia do COVID-19 em 2020,
trazendo consigo uma série de desafios que precisam ser problematizados nos cursos de formação de
professores, dentre eles, nos cursos de formação de professores de teatro. Aproximar os estudantes
do conhecimento teatral por meio do uso de recursos tecnológicos passa a ser um desafio para as
instituições e para os professores (D'AVILA JUNIOR, 2021). Mas permanece a dúvida: é mesmo
possível ensinar teatro nesse formato remoto e mediado pela tecnologia?
Faz-se necessário investigar essas tecnologias, não apenas como suporte, mas como uma
metodologia que possa integrar a própria experiência teatral. Ricardo Japiassu (2001) aponta que, ao
longo do tempo, surgiram diversas metodologias para o ensino de teatro, tais como a pedagogia dos
jogos teatrais, a pedagogia do espectador, o teatro do oprimido, dentre outras. Um aspecto presente
em diversas metodologias e amplamente reconhecido pelos estudiosos é a contribuição do teatro na
formação de uma consciência reflexiva e questionadora dos estudantes.
O teatro na escola contribui para a formação de um sujeito crítico-reflexivos, que através da
contemplação da obra de arte, do fazer teatral e da contextualização histórica, têm a capacidade de se
colocar melhor no mundo, percebendo mais o seu contexto e, de forma ativa, opinar, criticar e sugerir
transformações.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 881
Flávio Desgranges (2007), em seus estudos sobre Teatro e Pedagogia, compreende que a ação
educativa proposta pela experiência teatral nos diferentes eventos e processos teatrais, a partir de
variados contextos e procedimentos, podem estimular a efetivar um ato produtivo, elaborando
reflexivamente conhecimentos tanto sobre o próprio fazer artístico-teatral, quanto acerca de aspectos
relevantes da vida social.
Partindo do que pretende o teatro na escola, é possível pensar melhor o que pode esta arte
diante de um contexto pandêmico, da exigência do distanciamento social e da estratégia do ensino
remoto. Jorge Dubatti (2020), ao estudar e escrever sobre teatro, desenvolve dois conceitos, do
convívio (teatro só existe enquanto está sendo realizado) e do tecnovívio (teatro existecom a mediação
de máquinas). Esses conceitos são importantes para discutir os híbridos de linguagens artísticas,
principalmente entre o teatro e o audiovisual, que proliferaram, e proliferam, na pandemia. Ele
acredita que o isolamento social explicitou a importância do encontro e da presença para a
humanidade, os benefícios da pluralidade de criações gerando uma ânsia por isso. Nesse sentido, o
pesquisador reforça a importância da emancipação de artistas e do público, a partir de um olhar atento
às questões do teatro relacionadas às problemáticas atuais do mundo.
Diante da realidade, propomos, inicialmente, um olhar para as relações entre leitura e teatro,
de modo a encontrar pistas sobre o potencial desta união para o enfrentamento da situação observada
na prática pedagógica teatral na atualidade. Heloise Vidor, em seu artigo “Leitura e Teatro: primeiras
aproximações”, afirma:
A relação da leitura com o teatro, até pouco tempo, era associada aos formatos de leitura de
mesa (...). Na cena contemporânea, entretanto, podemos observar uma modalidade de leitura
que ocupa uma posição de fronteira com o espetáculo propriamente dito. Esta modalidade é
denominada leitura cênica. Entre a leitura dramática e a encenação, na leitura cênica, apesar
de os atores sustentarem o “texto em mãos”, nota-se claramente uma concepção de direção,
com acabamento plástico e sonoro. (VIDOR, 2011, p. 37).
Acreditamos que investir esforço neste projeto é oferecer a cada criança e a cada jovem um
empoderamento implícito em todo o ato criativo.
3 METODOLOGIA
e professores das escolas de educação básica e dos cursos de Pedagogia da UERGS. Todo o trabalho
é realizado de forma remota, seu processo e resultados ficamregistrados na Plataforma Youtube e
disponíveisnas redes sociais como Instagram da Universidade.
Foram previstos encontros semanais, de forma remota por meio do Google Meet, entre os
alunos bolsistas e a coordenadora, para estudos, planejamentos, avaliações e registros do processo e
resultados das atividades realizadas, disponibilizando-as em redes sociais; quinze (15) apresentações,
apreciações e diálogos das leituras cênicas no primeiro semestre de 2022 nas escolas de educação
básica em que os estágios de Docência em Teatro do curso de Graduação em Teatro: Licenciatura da
UERGS acontecem; seis (6) apresentações, apreciações e diálogos das leituras cênicas no segundo
semestre de 2022 nos cursos de Pedagogia da UERGS.
4 DISCUSSÃOE RESULTADOS
CONSIDERAÇÕESFINAIS
Considerando os objetivos deste projeto, até o momento a leitura cênica se mostrou como um
caminho possível para ampliar o entendimento sobre as metodologias para o ensino e prática do
conhecimento teatral na educação básica potencializando a capacidade criadora das crianças e
adolescentes.
As crianças, após assistirem a O Homem do saco, foram receptivas, conseguindo estabelecer
o diálogo do brincar. Imitaram personagens da história, com direito a poses para a câmera. Da
conversa, sempre com o entusiasmo e curiosidade inerente à criança, surgiram perguntas de como
foram desenvolvidas determinadas cenas, do porque foi escolhido fazer daquela forma e não de outra.
Falamos sobre nosso processo de criação e percebemos a receptividade e interesse das crianças.
Os adolescentes que assistiram à leitura cênica Dog Day foram muito participativos e fizeram
vários questionamentos sobre o texto e suas temáticas, mas principalmente sobre a montagem, a
criação de personagens, a escolha de figurino e outros recursos, questões mais direcionadas ao
conhecimento teatral e sua construção. Nos diálogos, foi dada ênfase à capacidade que todos temos,
não só os artistas, mas eles também, de criar, de significar o que pensamos e fazemos.
REFERÊNCIAS
D'AVILA JUNIOR, Francisco de P. Aplicativos para o ensino remoto de teatro: Avatar, deepfake,
padlet e outras experimentações. Urdimento. Florianópolis, v.2, n.41, p.1-29, set. 2021.
DESGRANGES, Flavio. Pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. 4a. ed. São Paulo: Hucitec,
2017.
DUBATTI, Jorge. Experiência teatral, experiência tecnovivial: ni identidad, ni campeonato, ni
superación evolucionista, ni destrucción, ni vínculos simétricos. Rebento. v. 1, n. 12, p. 25, 2020.
JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do ensino do teatro. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
VIDOR, Heloise Baurich. Leitura e Teatro: primeiras aproximações. Revista Aspas. v. 1 n. 1, p.35-
41, 2011. Encontrado em:https://www.revistas.usp.br/aspas/article/view/62848/65624. Acesso em:
06 jan. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
884 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
Este projeto está vinculado à área da Educação. Consiste em produção e divulgação de vídeos
de ensino de desenho digital em mídia social. Está também vinculado à área da Tecnologia e
Produção, pois o projeto é criado na disciplina de Representação e Modelos Digitais III, no Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Essa disciplina tem como objetivo a aprendizagem e capacitação na
elaboração de projetos de arquitetura com um software BIM –Building Information Modeling.
O BIM ou Modelagem da Informação da Construção é um processo criado para gerenciar
informações em um projeto de construção em todo seu ciclo de vida. Um dos principais resultados
desse processo é o Modelo de informações de construção, que se configura na descrição digital de
cada aspecto do ativo construído (EASTMAN, 2014)
O projeto teve início em 2020 e o processo de elaboração dos vídeos continua em aberto. O
período analisado é referente aos últimos 365 dias (conforme resultados apresentados pelo Canal
YouTube), e também, porque é a partir de quando o projeto passa a ser caracterizado como extensão
universitária, devido à ampliação de inscritos externos à universidade e ao retorno desta comunidade
retroalimentando o processo. Como o YouTube tem amplo acesso social, esses vídeos começaram a
ter um grande retorno, não só dos alunos da disciplina, como também de ex-alunos e, também, de
pessoas não ligadas à universidade. Nesse processo de interação entre universidade e sociedade, o
curso passou a se caracterizar então, como um curso de extensão universitária. Os vídeos passaram a
ser elaborados a partir das demandas de toda a comunidade extramuros que passou a acompanhar a
produção. Atualmente, estes vídeos possuem mais de 4.436 visualizações e 172 inscritos2.
1
Mestre em Ciências Sociais. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas. E-mail:
alvarojosepaiva@gmail.com
2
Disponíveis em: Links do canal: https://youtube.com/channel/UCyPx6yMzChXd1x2mvPSjhiw
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 885
2 OBJETIVOS
Objetivo principal deste curso é demonstrar os aspectos essenciais da tecnologia BIM na área
de modelagem de arquitetura através da interação universidade e sociedade, ampliando a relação da
universidade com a sociedade. Os objetivos secundários são a resolução de problemas de modelagem
de coberturas, estruturas, terraplenagem e arquitetura com a utilização de um software BIM.
3 JUSTIFICATIVA
Desenvolver esse projeto de extensão, a partir de uma prática de uma disciplina está
perfeitamente ancorado nos pressupostos das diretrizes do Plano Nacional de Extensão. As respostas
e as demandas da comunidade externa a esse curso de extensão propiciaram novas videoaulas, que
vieram a enriquecer o processo de ensino aprendizagem para os alunos da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Muitas dessas demandas eram de profissionais de Arquitetura
e Engenharia, conectando o processo de ensino, em sala, com questões da realidade profissional.
Segundo Almeida (2003), a educação a distância (EAD) se caracteriza pela distância física
entre instrutor e treinando, flexibilização do tempo e localização do treinando em qualquer espaço,
utilizando-se, para a comunicação, diferentes meios, como: correspondência, rádio, TV, telefone,
computador, entre outros. Schlosser (2010) afirma que esta deve ser entendida como uma modalidade
educativa que possibilita o desenvolvimento de habilidades capazes de construir conhecimentos,
criando novas formas de aprender e entender, apoiadas pelos recursos tecnológicos. Quanto ao e-
learning, este pode ser entendido como uma modalidade de educação a distância com suporte da
internet que, de acordo com Gomes (2005), está associado ao serviço de protocolo www (World Wide
Web), grande flexibilidade em termos de suporte a diversas mídias como texto, imagem, animações,
filmes, entre outros, independentemente do tempo e espaço, além de permitir grande rapidez na
produção, reprodução, distribuição e atualização de conteúdos.
A metodologia é a de um e-learning, curso online ou curso EAD, porém, sem contar com uma
plataforma EAD, razão de o curso se basear em um canal do YouTube. Neste caso, não há nenhum
tipo de contato físico entre aluno e tutor EAD, baseado unicamente em videoaulas. O esclarecimento
de dúvidas, bem como as avaliações também se dão pela internet. Em nenhum momento, os alunos
precisam se deslocar para qualquer tipo de atividade. A escolha desta metodologia se deu porque os
processos são mais simples pela internet, os custos mais baixos e o alcance de alunos são muito
maiores.
5 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Buscou-se uma forma de aprendizado a distância, porque é mais barata que um curso
presencial. O aluno não tem despesas diárias com transporte até a faculdade, além da flexibilidade:
O aluno EAD pode estudar na hora que for melhor para ele. Alcançou-se um maior contato com ex-
alunos que vêm acompanhando o curso, além da divulgação das atividades desenvolvidas pelo Curso
de Arquitetura da PUC Minas.
O retorno de mais de 4.436 visualizações, com mais de 172 inscritos foi além do esperado.
Nos últimos 365 dias, o percentual de não inscritos nas visualizações é de 59%. Como são vídeos
tutoriais de resoluções de problemas em um software, a prática de repetições nas visualizações é
grande, segundo retorno dos mesmos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 887
O percentual de mulheres é bem maior que homens, não só em número como de visualizações
é proporcionalmente maior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Houve um bom retorno para a prática de ensino aprendizagem em sala. O curso foi sofrendo
alterações em função de demandas dos alunos extensionistas, muitos deles profissionais da área da
engenharia e arquitetura. Isso proporcionou ao estudante da universidade uma proximidade maior
com a prática profissional.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes
digitais de aprendizagem. Educação e pesquisa. São Paulo, 2003. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/ep/ v29n2/a10v29n2.pdf Acesso em 30/08/2011
FORPROEX. Política Nacional de Extensão Universitária / elaborada pelo Fórum de Pró-
Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Públicas Brasileiras. 2012.
EASTMAN, Chuck. Manual de BIM. Editora Boockman, 2014.
SCHLOSSER, R. L. “Atuação dos Tutores nos Cursos de Educação a Distância”. Revista Digital
da CVA – Ricesu, Vol. 6, nº 22, Fev. 2010. Disponível em: http://pead.ucpel.tche.
br/revistas/index.php/colabora/article/viewFile/128/112. Acesso em 10/11/2011. SUSEP, disponível
em www.susep.gov.br Acesso em 12/11/2011
EXTENSÃO PUC MINAS:
888 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Sociologia, professora da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) e coordenadora do Projeto Articuladas da
Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEXT) da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: stela.godoi@puc-campinas.edu.br.
2
Graduanda da Faculdade de Ciências Sociais e aluna voluntária do Projeto Articuladas da PROEXT PUC-Campinas. E-
mail: sarah.sm1@puccampinas.edu.br.
3
Geógrafa/Docente da Faculdade de Geografia e Extensionista da PUC-Campinas, desenvolvendo o projeto Inteligência
territorial para compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação. E-mail: veraplacido@puc-campinas.edu.br
4
Graduanda da Faculdade de Ciências Sociais e aluna bolsista do Projeto Articuladas da PROEXT PUC-Campinas. E-
mail: victoria.bfm@puccampinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 889
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 METODOLOGIA
Com essa concepção em tela, nos munimos de dois projetos de extensão em uma ação
colaborativa do “Projetos Articuladas: escuta participativa e práticas formativas em cuidado e
longevidade”, coordenado pela Prof.ª Stela Cristina de Godói, e do projeto “Inteligência Territorial
para a compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação”, de coordenação da Prof.ª Vera
Placido. Juntamente com uma equipe de alunos e alunas dos dois projetos, desenvolvemos um estudo
do meio na região do Jardim Amanda, localizado na porção sudeste do município de Hortolândia, SP,
acompanhados pela Coordenação do CRAS – Jardim Amanda.
Neste estudo do meio, passamos por diferentes pontos e, em cada ponto / aréa visitada,
percebendo como se dão a formação, a produção e a organização territorial da região, especialmente
em relação à segregação socioespacial. Ao mesmo tempo em que há áreas bem consolidadas, com
fluidez proporcionadas pelas grandes avenidas que permitem diferentes organizações produtivas, há
espaços opacos, onde as comunidades enfrentam dificuldades para acessar, inclusive, serviços básicos
de proteção social.
Assim, ao finalizar a atividade do estudo do meio, percebia-se o desejo de fazê-la novamente,
agora munidos de novas questões. Se, antes, estávamos todos muito curiosos para entender como a
região se configura espacialmente, após o campo, pudemos viver uma experiência de ressocialização,
por meio da qual nos sensibilizamos com as dificuldades enfrentadas pela população no uso desse
território.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 891
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Figura 1 – Mapa dos equipamentos públicos de saúde, educação, cultura e Assistência Social
A espacialização é um exercício prático que nos permite elaborar muitas questões a partir da
clareza de como os principais equipamentos urbanos estão distribuídos na região, portanto, como se
dão os acessos na organização da cidade.
A expedição revelou que os equipamentos públicos do território do CRAS Amanda estão
concentrados possibilitando maior aproximação entre os seus agentes públicos. No entanto, para as
pessoas que necessitam percorrer longas distâncias para acessá-los, esta concentração os impede de
romper fronteiras, às vezes, do próprio bairro em que moram. É o caso, por exemplo, do bairro
conhecido como Taquara Branca em que, na imagem, se identifica com clareza, a distância em que
se localizam serviços públicos essenciais. Assim, estudar um lugar é perceber como ele se organiza
EXTENSÃO PUC MINAS:
892 Novo Humanismo, novas perspectivas
e, tão importante quanto, se esta organização é condição e condicionante para a exclusão social –
situação que, infelizmente, milhares de famílias vivem em regiões metropolitanas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizar um estudo do meio é se munir de um saber prévio, ou seja, ao ter contato com um
lugar diferente daquele que conhecemos através das nossas experiências, imediatamente iniciamos
uma aprendizagem significativa, já que, iremos avaliar o “novo” lugar com os olhares de quem vive
um “antigo” – o nosso próprio lugar. Aqui os preconceitos afloram e, no caso dos discentes e
professores envolvidos com a extensão, uma oportunidade única de (re)significar nossos conceitos.
Dessa forma, a extensão amplia os nossos saberes porque o percebemos em conexão; ao conectar,
novas questões são elaboradas e, neste momento, identificamos que os lugares são produções sociais,
portanto, suas especificidades, demandas, potencialidades estão conectadas em redes e, mesmo
distantes, muitas características espaciais os aproximam.
Desse modo, se a extensão universitária junto aos territórios compõe os rituais de passagem
utilizados nessas instituições para a reprodução dos seus códigos, valores e hierarquias, a experiência
extensionista, por suas relações de alteridade, possibilita a transposição do teórico e do prático e o
fomento de uma ecologia de saberes transformadora, que impacta positivamente a formação
continuada de docentes e discentes, enquanto profissionais e sujeitos sociais.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Feevale; Extensionista do Projeto Brincando e Aprendendo (PBA).
E-mail: gabrielabstoffel@gmail.com.
2
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Feevale; Extensionista do PBA. E-mail: juvargasrs@gmail.com.
3
Acadêmica do curso de Medicina Universidade Feevale; Extensionista PBA. E-mail: vanessabdemenezes@gmail.com.
4
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Feevale; Extensionista do PBA. E-mail: luanableyy@gmail.com.
5
Graduada em Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia clínica e institucional (Feevale), Mestre em Educação
(PUCRS). Professora do curso de Pedagogia da Universidade Feevale e Líder do Projeto de Extensão Brincando e
Aprendendo. E-mail: simonemore@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
894 Novo Humanismo, novas perspectivas
experiência das extensionistas do PBA. Para tanto, pretende-se responder ao seguinte problema de
pesquisa: de que forma o brincar virtual auxilia as crianças em situação de tratamento oncológico?
Nessa perspectiva, as análises apresentam resultados surpreendentes e que vão ao encontro do
referencial teórico que sustenta este trabalho.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
comportamentos de modo significativo. Com isso, a brincadeira é entendida como um meio para a
aprendizagem social e comportamental. É pelo brincar que sua condição de criança é reafirmada
(FORTUNA, 2004).
Del Pino e Pereira (2017) identificaram em sua pesquisa a redução dos sentimentos negativos
como fator positivo da ludoterapia durante o tratamento oncológico. A criança vivencia sentimentos
como solidão, preocupação, angústia, dor, medo, tristeza, entre outros sentimentos negativos
decorrentes do processo de tratamento. Portanto, o brincar torna-se uma estratégia fundamental para
adaptar e encorajar a criança a enfrentar sua nova condição (RIBEIRO, [s./d.])6. Destaca-se então, a
importância da ludoterapia, pois ao brincar a criança consegue expressar seus sentimentos, bem como
desenvolver aspectos cognitivos, afetivos, sociais e psicomotores.
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O Projeto Brincando e Aprendendo, através dos encontros virtuais, busca dar espaço para que
as crianças e adolescentes atendidos pelo projeto possam elaborar este momento doloroso e
traumático do tratamento médico, por meio de situações lúdicas que oportunizem a eles expressar o
que estão sentindo, sintam-se acolhidos e confiantes para enfrentar este momento de dor, medo,
angústia e de expectativa em relação a sua recuperação. Essas questões vão ao encontro do que
Fortuna (2004) e Del Pino e Pereira (2017) falam sobre os benefícios do brincar em uma situação de
adoecimento. Nesse sentido, evidenciam-se momentos de interação, socialização e reinserção social
através das mais variadas propostas de brincar, sempre levando em consideração os interesses
manifestados pelo grupo, a faixa etária e suas limitações por conta do tratamento oncológico.
6
Disponível em: http://bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/EON/EON02/RIBEIRO-aline-alves.pdf. Acesso em: 07
jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
896 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados relatados e com base no referencial bibliográfico apresentado, torna-
se evidente a importância do brincar durante o tratamento de câncer infantil, considerando que o
mesmo auxilia na compreensão e elaboração do momento vivido, proporcionando aos envolvidos um
espaço lúdico de socialização e interação, de escuta e acolhimento para expressão dos sentimentos,
refletindo na melhora no bem-estar físico e emocional das crianças e adolescentes em processo de
tratamento e recuperação de saúde. Por isso, conclui-se ser essencial que todas as crianças em
tratamento de câncer tenham acesso ao / espaço para o brincar, independentemente da situação na
qual se encontram, afinal, o brincar faz parte do “ser criança”.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Casa Civil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF, 1990.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 16 out. 2021.
CICOGNA, Elizelaine de Chico et al., Crianças e adolescentes com câncer: experiências com a
quimioterapia. Revista Latino-americana de Enfermagem. v. 18, n. 5, p. 1-9, 2010. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/rlae/a/PwZfZ37N3T6dBJQtHrg7jgw/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 04 jun. 2022.
DEL PINO, Camila; PEREIRA, Vinicius Tonollier. Ludoterapia durante o tratamento contra o
câncer infantil: revisão integrativa de literatura. Revista Psicologia em Foco. v. 9, n. 14, 2017, s/p.
Disponível
em:http://revistas.fw.uri.br/index.php/psicologiaemfoco/article/view/2132#:~:text=De%20modo%2
0geral%2C%20os%20resultados,rela%C3%A7%C3%A3o%20ao%20enfrentamento%20da%20doe
n%C3%A7a. Acesso em: 04 jun. 2022.
FORTUNA, Tânia Ramos. Brincar, viver e aprender: educação e ludicidade no hospital. Ciênc.
Let., Porto Alegre, nº. 35, p.185 – 201, mar./jul. 2004.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. 2. ed.
Rio de Janeiro: E.P.U., 2018. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-
85-216-2306-9/. Acesso em: 11 out. 2021.
RIBEIRO, Aline Alves. A importância do brincar no tratamento de criança com câncer
hospitalizadas: uma revisão de literatura. Disponível em:
http://bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/EON/EON02/RIBEIRO-aline-alves.pdf. Acesso em: 07
jun. 2022.
SANTOS, N. E. Quando o corpo se faz despertar. In: QUEYLE, Julieta; LUCIA, Mara Cristina
Souza de. (Orgs.). Adoecer: as intervenções do doente com sua doença. Săo Paulo: Atheneu, 2003,
p. 3-8.
SILVA, Liliane Faria da; CABRAL, Ivone Evangelista. O resgate do prazer de brincar da criança
com câncer no espaço hospitalar. Revista Brasileira de Enfermagem. 2015. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680303i. Acesso em: 04 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
898 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
1
Graduando na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Professor do Projeto Escola Integrada na Rede
Municipal de Belo Horizonte/MG Escola Municipal Julia Paraiso, e membro/pesquisador do Núcleo de Pesquisa em
Raças, Gêneros e Performances (NUPERGPE, vinculado ao Coletivo Erês - Mensageiras dos Ventos). E-mail:
bruno.0294684@discente.uemg.br.
2
Doutora e Mestre em Educação (FAE/UFMG), professora efetiva da Faculdade de Educação da UEMG, Coordenadora
do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Relações Étnico-Raciais (NEPER/UEMG/CNPQ), Coordenadora do
Programa Egbara Wa de Ensino, Pesquisa e Extensão que agrega oito projetos dentre eles, o Poéticas de Espaço e Voz:
narrativas de lideranças negras quilombolas sobre a cidade de Belo Horizonte de sua autoria, que atua diretamente com
cinco comunidades: Quilombos Manzo, Matias, Mangueiras, Arturos e Souza. E-mail: vitoria.izau@uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 899
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No que tange a mídia social, foram estudados os vídeos do projeto Educa Kilombo, que nos
apresenta o cotidiano, práticas e vivências das crianças daquele território, além de outras redes sociais
de lideranças religiosas desta comunidade. Nas referências bibliográficas, estruturamos o pensamento
sobre o território quilombola a partir do que nos é apresentado por Abdias do Nascimento (2020) e
Beatriz Nascimento (1986) sendo complementado também pela análise do território social de Milton
Santos (1959). A partir das experiências negras de mundo, pensando principalmente no que são esses
corpos-memória na diáspora africana, cita-se o Prof. Dr. Ridalvo Félix de Araújo (2013), e
contextualizando a partir das perspectivas educacionais a lei 10.639/03 (BRASIL, 2003), que fala
sobre o ensino da história das matrizes africanas e afro-brasileiras nas escolas e redes de ensino, em
confluência com o pensamento da autora Nilma Lino Gomes (2012).
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Durante o processo de registro das atividades desenvolvidas no Quilombo, notou-se que existe
uma linguagem, acessada a partir da oralidade, comum em algumas comunidades negras afro-
brasileiras. Nisso, o autor Araújo (2020), em sua tese de doutorado, traz-nos uma visão ampla sobre
esse processo de formação, que garantiu a sobrevivência das tradições de matrizes africanas em solo
brasileiro, quando diz:
Tal performance da linguagem pode ser observada nas videoaulas e nos documentários do
projeto, uma vez que, dentro daquela comunidade, os cantos e danças são fundamentais para o acesso
aos ensinamentos dos antepassados africanos. Isso fica claro quando se percebe que, durante os
episódios, há a utilização de termos como “Ketendê”, “Kavungu”, “Intoto” e “Hunjéve”, vindos
geralmente com uma dança característica das divindades ou entidades específicas. Isso demonstra o
conhecimento adquirido pela vivência com o processo da oralidade.
A brincadeira, nesse contexto, é utilizada como projeto de construção de uma infância
africana. Podemos ver que, a partir das escolhas dos objetos utilizados, como o mapa africano ou
algumas sementes, é possível ver o ensino de termos, como diáspora e visão negra de mundo, com
uma naturalidade, a qual a escola formal ainda não consegue inserir em seu cotidiano de práticas de
educacionais. Isso é essencial de ser observado, principalmente quando vamos discutir sobre a
inserção dessas crianças no contexto escolar e sua contribuição para a mudança social e cultural desse
espaço.
Nesse sentido, foi possível perceber, através de relatos, que desde cedo é comum que essas
crianças enfrentem o racismo religioso dentro dos espaços escolares, pela sua forma de falar, pensar
e existir. Isso se manifesta quando são proibidos de utilizar os seus objetos de práticas mágico-
religiosas, ou mesmo quando sua forma de falar por vezes é ridicularizada por outros colegas.
Podemos perceber, que, apesar da institucionalização de uma lei que tem o objetivo de valorização
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 901
O ato de falar sobre algum assunto ou tema na escola não é uma via de mão única. Ele implica
respostas do “outro”, interpretações diferentes e confronto de ideias. A introdução da lei N
10.639/03- não como mais disciplinas e novos conteúdos, mas como uma mudança cultural
e política no campo curricular e epistemológico -poderá romper com o silêncio e desvelar
esse e outros rituais pedagógicos a favor da discriminação racial. (GOMES, 2012, p. 3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Ridálvo Felix de. Na batida do corpo, na pisada do cantá: inscrições poéticas no coco
cearense e candombe mineiro. UFMG. 2013
ARAUJO, Ridalvo Félix de. Na batida do coco na pisada do cantá: Inscrições poéticas no Coco
cearense e Candombe mineiro. Contagem: Editora Escola Cidadã, 2020.
GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo
sem Fronteiras, [s.l.], v.12, n.1, p. 98-109, jan./abr. 2012.
NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Brasil, Editora Perspectiva S/A, 2020.
NASCIMENTO, Beatriz. Daquilo que se chama cultura, Jornal IDE. No. 12. Sociedade Brasileira
de Psicanálise – São Paulo. Dezembro, 1986, p. 8.
SANTOS, Milton. A cidade como centro de região. Universidade Federal da Bahia - Laboratório
de Geomorfologia e Estudos Regionais, Imprensa Oficial, Salvador/BA, mapas e fig., 1959.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 903
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Graduada em Pedagogia (Univates) e graduanda em Letras. Bolsista do projeto de extensão ALFAB&LETRAR da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: cfschneider@univates.br.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Docente do curso de Pedagogia da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: dvivian@univates.br.
3
Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade pela Universidade de Caxias do Sul - UCS. Docente do Curso de Letras da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: gkeller@univates.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
904 Novo Humanismo, novas perspectivas
práticas sociais” (SOARES, 2004, p. 19). A atenção e o investimento a tais conceitos justificam-se
pela relevância da qualificação da aprendizagem da alfabetização e do letramento em âmbito escolar.
Diante de uma sociedade grafocêntrica, ser alfabetizado e saber fazer uso social da leitura e da escrita
configuram-se como ações que contribuem para a autonomia e a independência do sujeito na
sociedade. Essa necessidade foi estabelecendo-se na sociedade na medida em que o conceito de
alfabetização ressignificou-se ao longo do tempo.
Alfabetização e letramento são, portanto, conceitos distintos, mas indissociáveis, “[...] não se
trata de primeiro aprender a ler e a escrever para só depois usar a leitura e a escrita, mas aprende-se a
ler e a escrever por meio do uso da leitura e da escrita em práticas reais de intenção com a escrita”
(SOARES, 2003, p. 16). O processo de alfabetização precisa adquirir sentido na vida do estudante
para ser compreendido.
A literatura é vista, no projeto, como instrumento potente para a constituição de um sujeito da
escrita, pois tem o potencial de explorar a linguagem de uma forma única, de mostrar o mundo pela
força da palavra (COSSON, 2009). Ao utilizar a expressão “letramento literário”, Cosson compreende
o livro como um elemento para entender a sociedade e o próprio indivíduo a si mesmo. Não se trata
apenas de ler poesias ou histórias, mas de se apropriar dos textos por meio da experiência estética.
Acreditamos, dessa forma, que, por meio de experiências lúdicas desenvolvidas com este
projeto de extensão, o interesse dos alunos da Educação Básica sobre as aulas pode fortalecer-se,
contribuindo, assim, com a aquisição da leitura e da escrita e a qualificação da alfabetização.
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
As práticas realizadas pelo projeto se estendem durante todo o ano letivo de 2022. A proposta
é acompanhar as turmas durante seu processo de alfabetização registrando as atividades em um livro,
individual, confeccionado pelos próprios estudantes. Todas as atividades realizadas serão coletadas
com o intuito da criação do livro, contemplando, as obras literárias trabalhadas e os exercícios
propostos. Este livro tem por objetivo compilar e analisar todo o processo de aprendizagem, além de
ser uma maneira de deixar uma marca do projeto na escola-parceira. Almejamos, também, realizar
uma mostra do livro para as demais turmas dos anos iniciais, para apresentar à escola e a comunidade
escolar em geral, o trabalho desenvolvido pelo projeto.
O ALFAB&LETRAR estima que, com as suas ações, contemplará cerca de 85 estudantes,
destes, aproximadamente 70 vinculados ao ciclo alfabetizador dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental e 15, da Educação Infantil. Cinco turmas da Educação Básica e seus respectivos
professores acompanham as ações. Estima-se, ainda, que, para cada uma das turmas envolvidas,
trabalhar-se-á com pelo menos seis obras de literatura infantil e, consequentemente, com a
constituição de seis sequências didáticas alfabetizadoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
906 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.
PICCOLI, Luciana; CAMINI, Patrícia. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e
corporeidade. Erechim: Edelbra, 2012.
SOARES, Magda. Alfabetização: ressignificação do conceito. In: Revista de Educação de Jovens e
Adultos, n. 16, jul/2003, p. 9-17.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento: caminhos e descaminhos. Revista Pátio. Ano VIII,
n. 29, fev./abr. 2004, P. 18-22.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 907
INTRODUÇÃO
1
Geógrafa/Docente da Faculdade de Geografia e Extensionista da PUC-Campinas, desenvolvendo o projeto Inteligência
territorial para a compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação. E-mail: verasplacido@gmail.com.
2
Geógrafo/Docente da Disciplina Redes Técnicas no Espaço Geográfico - Faculdade de Geografia. E-mail:
juliano.pereirademello1978@gmail.com.
3
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
4
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
5
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
908 Novo Humanismo, novas perspectivas
diversas vulnerabilidades e potencialidades dos lugares vividos. Dessa forma, o objetivo central dessa
experiência foi materializar as potencialidades da aprendizagem quando se articula a práxis
extensionista com o exercício teórico-prático da sala de aula. Para tal, o recorte espacial se deu a
partir da regionalização da vulnerabilidade em Campinas e as redes intersetoriais prospectadas a partir
da localização dos equipamentos públicos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Essa experiência utilizou como principal pressuposto teórico as ideias de Gert Biesta (2012)
que defende a tese de que, para além das mensurações sempre presentes nas atividades acadêmicas,
a aprendizagem deve garantir a efetiva construção de valores críticos. Isso pressupõe exercícios
reflexivos constantes, inclusive questionando quanto à eficácia da aprendizagem: Eficaz por quê?
Para quem? O autor revela em poucas palavras o que sustenta a sua tese:
Dessa maneira, somos instigados, através de Biesta (ibidem) a (re)posicionar o que desejamos
com a educação e a aprendizagem, entendendo que a extensão é uma excelente parceira nessa busca,
uma vez que a sua essência se dá num campo aberto e é enriquecedora por sua própria natureza. Por
outro lado, as disciplinas práticas necessitam, para além dos conteúdos, promover a autonomia do
conhecimento, emancipando os alunos para uma prática social e significativa, nos dizeres de Paulo
Freire (1996).
Também é necessário considerar que o espaço geográfico se organiza em redes e estas, por
sua vez, são fixas e fluxas, como nos esclarece os escritos de Milton Santos (1994), ao discutir que o
território é político e isso se perfaz em nossas cidades. Em outras palavras, apropriando-se dessa base
teórica, podemos afirmar que a vulnerabilidade social não é algo que devemos analisar e compreender
a partir dos dados estatísticos e modelagens matemáticas como exercícios práticos em sala de aula e
laboratórios, embora não neguemos a sua importância. Também é necessário analisar como as redes
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 909
estabelecidas a partir da fixidez dos equipamentos públicos pode ser uma condição para a
(re)produção de uma condição social que acaba, em virtude dos vários acessos, aprisionando as
pessoas aos lugares. (SANTOS, 1989). A interdisciplinaridade, então, se dá no exercício prático dos
alunos ao correlacionar o conhecimento propiciado pela disciplina e a realidade in loco permitida pela
ação extensionista, corroborando os dizeres de Fazenda (2006), quando nos diz que ela não deve se
fechar em um conceito; pelo contrário, deve se abrir no exercício prático da resolução de uma
problemática.
3 METODOLOGIA
no tópico anterior. Essa etapa aqui descrita se desenvolveu ao longo do primeiro semestre; ao longo
do segundo semestre, serão realizadas ida a campo, nas diferentes comunidades, para a elaboração da
cartografia social e da identificação dos equipamentos públicos utilizados por eles.
4 DISCUSSÕES E RESULTADOS
Outro ponto muito discutido como resultado é a clareza de que a intersetorialidade precisa ser
pensada a partir das redes horizontais estabelecidas nos territórios. Ter equipamentos públicos é um
passo importante, mas, para além deles, que representam a fixidez, é necessário estabelecer protocolos
entre os setores, constituindo uma rede protetiva aos sujeitos sociais que se encontram em situação
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 911
de vulnerabilidade social. Entendemos essa rede protetiva como a fluidez intersetorial e, com ela,
uma possibilidade real de milhares de pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade serem
tratadas como sujeitos sociais em seus espaços de vida.
Este mapeamento foi apresentado em Fóruns com profissionais da Educação e da Assistência
Social em Campinas, permitindo amplo debate sobre a importância de se espacializar para
entendermos nosso papel enquanto cidadão territorial. Pretende-se, a partir de agora, entender como
as populações acessam os serviços e quais dificuldades elas enfrentam, através da cartografia social.
Ao final do ano, almeja-se um portfólio cartográfico apontando possibilidades para a
intersetorialidade no município de Campinas, a partir das redes geográficas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BIESTA, G. Boa educação na era da mensuração. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n.147,
p.808-825, set./dez.2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cp/a/Psv5yk47BGSXB5DDFXy59TL/?lang=pt. Acesso em: DATA jun.
2022.
FAZENDA, I.C.A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 13. ed. Campinas: Papirus,
2006.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Difel, 1989.
SANTOS, M. Por uma Economia Política da Cidade: o caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec,
1994.
EXTENSÃO PUC MINAS:
912 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
1
Geóloga. Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais -UEMG/João Monlevade. E-mail: flavia.braga@uemg.br.
2
Graduanda em Engenharia de Minas da UEMG / João Monlevade. E-mail: Fernanda.0693386@discente.uemg.br.
3
Graduanda em Engenharia de Minas da UEMG/ João Monlevade. E-mail: julia.0693338@discente.uemg.br.
4
Pedagoga, Historiadora. Docente da UEMG/ João Monlevade. E-mail: telma.ferreira@uemg.br.
5
Graduanda em Engenharia Civil da UEMG / João Monlevade. E-mail: vitoria.0693975@discente.uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 913
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo o ideal de sustentabilidade exposto pela Declaração sobre os Direitos dos Povos ao
Desenvolvimento (ONU, 1993), “o desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e
político abrangente, que visa ao constante melhoramento do bem-estar de toda a população e de cada
indivíduo”. Os seres humanos não estão livres de catástrofes inerentes à própria dinâmica da Terra,
mas em relação à ação humana e suas consequências sobre o mundo natural e social, faz-se necessário
almejar um percurso sustentável, que considere o bem-estar coletivo e o equilíbrio ecológico.
Entretanto, pesam hoje sobre o planeta e o sistema vida graves ameaças vindas da atividade humana
descuidada e irresponsável.
Conforme Romero e Ferreira (2020), acidentes envolvendo barragens de rejeitos de mineração
não são novidade no Brasil. Contudo, a magnitude dos desastres de 2015 e 2019 intensificou os
debates sobre a mineração, seus impactos socioeconômicos, ecológicos e culturais. Com efeito, “[o]s
desastres causados recentemente pelo rompimento de barragens de rejeitos no estado de Minas Gerais
despertaram dúvidas quanto à segurança e ao correto monitoramento destas estruturas” (SANTOS et
al., 2020, p. 36).
Segundo Boff (2012, p. 9), “não se pode negar que em algumas regiões se logrou implantar
uma lógica sustentável nos processos de produção”. Todavia, segundo o mesmo autor, “[...] o que
frequentemente ocorre é certa falsidade ecológica ao se usar a palavra sustentabilidade para ocultar
problemas de agressão à natureza e de marketing comercial apenas para vender e lucrar” (BOFF,
2012, p. 9).
3 METODOLOGIA
Consciente da urgência do debate sobre um tema tão atual e polêmico, a REIS iniciou, ainda
em 2019, seu trabalho de captação de textos para o dossiê. Uma das ações tomadas com esse objetivo
foi o levantamento bibliográfico de trabalhos recentes dentro da temática. Após o levantamento, foi
EXTENSÃO PUC MINAS:
914 Novo Humanismo, novas perspectivas
realizado o envio de convites aos autores dessas publicações para submissão de novos textos ao
dossiê. Como exemplo, realizou-se o convite direto aos pesquisadores que haviam publicado textos
no livro Mar de Lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas, publicado em
2019 pelo Instituto Guaicuy. Outros métodos adotados foram: massiva divulgação nas redes sociais
da revista e convite a toda comunidade da UEMG.
4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Segundo Romero e Ferreira (2020, p. 6), “o dossiê materializa o propósito da Revista REIS
(...) de contribuir para a reflexão acerca da problemática da mineração no país e, particularmente, no
Estado de Minas Gerais”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo comprometimento da REIS com a engenharia de interesse social, pode-se afirmar que o
dossiê cumpre seu objetivo de chamar a atenção para a responsabilidade socioambiental, segundo a
qual a produção não deve beneficiar somente as empresas e seus acionistas, mas toda uma sociedade.
Para tanto, o dossiê publicou trabalhos tanto de cunho técnico quanto de discussão social, capazes de
atingir a comunidade interna e externa à universidade.
Quando nos referimos à atividade da mineração, sabemos que não é possível um impacto
socioambiental zero, porém, o esforço deve se orientar no sentido de resguardar natureza e sociedade,
garantindo as reservas naturais e culturais indispensáveis ao bem-viver das gerações futuras.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As melhores atividades para crianças com PC são aquelas que encorajem a prática ou o
exercício das áreas afetadas pelas limitações. Idealmente estas atividades devem contribuir
simultaneamente para a promoção da autoestima e da autoconfiança. Relatos na literatura
(BLEYENHEUFT et al., 2014) têm mostrado impacto positivo de treinamentos intensivos na
1
Aluno do curso de Engenharia da Controle e Automação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail:
daniel_dp20@hotmail.com.
2
Físico, professor extensionista da Faculdade de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
E-mail: amilton@puc-campinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
918 Novo Humanismo, novas perspectivas
funcionalidade das mãos em crianças com paralisia cerebral, demonstrando que a combinação de
exercícios de membros inferiores e superiores pode contribuir fortemente na reabilitação física. Além
disso, estudos da Organização Mundial da Saúde (FANCOURT; FINN, 2019) evidenciaram o
potencial das artes como tratamento de apoio na promoção do bem-estar e da saúde mental de
indivíduos com comprometimentos neurológicos. Além disso, atividades artísticas permitem a
expressão não verbalizada, fazendo da arte um veículo para a expressão de emoções, especialmente
àquelas mais difíceis de falar a respeito, como medo, vergonha, raiva etc. (MAK; FANCOURT,
2019). Assim, atividades artísticas ajudam as crianças a focarem no que é possível realizar e não nas
suas limitações.
Essas observações, combinadas com os resultados de trabalhos anteriores (GUIDETTI, 2019;
BUENO; LAMAS, 2019; DOMINGUES et al., 2020; GUIDETTI et al., 2021; LAMAS, 2020;
SILVA; LAMAS, 2021; DOMINGUES et al., 2021), estimularam a proposição de um plano de
projeto de extensão com o objetivo de elaborar uma prova de conceito lúdica que simultaneamente
promovesse o desenvolvimento da motricidade fina e permitisse a expressão não verbal destas
crianças. A equipe de trabalho junto com os profissionais da instituição parceira propôs a construção
um robô desenhista que fosse controlado por interfaces assistivas baseadas em padrões internacionais.
3 METODOLOGIA
A ação relatada neste trabalho se caracteriza por ser uma intervenção social colaborativa entre
a equipe de projeto de extensão universitária da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas), o corpo técnico e os assistidos, crianças acometidas de PC com coordenação motora
fortemente comprometida, atendidas pela THERAPIES, o público-alvo do projeto.
O método utilizado baseia-se num modelo dialógico (rodas de conversa) com alto grau de
colaboração ente a equipe universitária, composta por estudantes dos cursos de Engenharia de
Controle e Automação e de Fisioterapia, e os profissionais da área da saúde, assistentes sociais,
pedagogos, terapeutas ocupacionais etc. que trabalham na instituição parceira THERAPIES.
O processo de execução é ancorado em três pilares principais: 1) apropriação de
conhecimento: fundamentado na mútua colaboração para promover a apropriação de conhecimento
pelo público-alvo através da construção de soluções tecnológicas prezando pela participação direta
deles na problematização das necessidades; 2) desenvolvimento da prova de conceito: o
desenvolvimento da prova de conceito segue um modelo cíclico de desenvolvimento de soluções de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 919
software fundamentado em requisitos técnicos funcionais e não funcionais obtidos junto ao público-
alvo; e 3) geração de material cultural: o material cultural desenvolvido consiste em manuais relativos
à construção, uso e operação da solução desenvolvida. A colaboração intensa e frequente entre as
equipes envolvidas é garantida através da execução da metodologia na forma cíclica onde as várias
fases são revisitadas frequentemente. A forte interatividade entre as equipes assegura que os
resultados alcançados atendam aos requisitos especificados durante o desenvolvimento.
Durante a execução do projeto, os alunos do Curso de Engenharia tiveram a oportunidade de
projetar e construir soluções de controle e automação que permitem o manejo do robô através de
acionadores assistivos. A participação no projeto oportunizou a consolidação dos conhecimentos em
circuitos eletrônicos e de sistemas de transmissão e recepção de sinais e das melhores práticas para
reabilitação motora. Os alunos também tiveram a oportunidade de desenvolverem competências
transversais como trabalho em equipe, gestão de projetos e pessoas e resolução de conflitos.
4 RESULTADOS
Entrevistas realizadas junto ao público-alvo indicaram que seria ideal que o robô fosse
associável ao programa GOBABYGO existente na instituição. Assim, considerando que o nome do
robô está associado ao deus Hun Batz da mitologia Maia, relacionado com a atividades artísticas e
representado por um macaco, foi criado o projeto GOMONKEYGO para acomodar as atividades
realizadas com a prova de conceito.
Durante as rodas de conversa, foram definidos os atributos funcionais para a solução, tais
como: a) ser controlável pelo terapeuta e pelo paciente; b) os comando do terapeuta são prioritários;
c) dar respostas positivas; d) responder aos acertos de forma dinâmica por som, luzes, movimentos;
e) permitir a escolha do tipo de resposta ao acerto; f) desenhar com diferentes dispositivos de
escrita/pintura substituíveis; g) ter a pressão de escrita ajustável; h) ter os movimentos controláveis
(X,Y); i) ter um braço para escrita; j) ter o braço de escrita controlável (subida e descida); k) permitir
o uso de diferentes acionadores; l) ter entradas universais para os acionadores; etc. Similarmente os
seguintes exemplos de atributos não funcionais foram especificados: a) representar um macaco; b)
ser revestido por um tecido que seja similar a pele de um macaco, c) ter uma cauda; d) ser da cor
predominante marrom; etc. Com esses requisitos definidos, foi construída uma versão parcialmente
funcional da solução para validação dos conceitos, conforme mostrada na Figura 1.
EXTENSÃO PUC MINAS:
920 Novo Humanismo, novas perspectivas
No estágio atual de projeto, os movimentos do robô foram validados com o uso de diferentes
acionadores desenvolvidos por outra equipe do projeto e a simulação do movimento dos braços foi
executada com sucesso estando o projeto dos braços aprovado. A devolutiva positiva para ações da
criança como acionamento do catavento no boné, acendimento das luzes e emissão de áudio foram
testadas e validadas. A variação da pressão do sistema de escrita no papel através do posicionamento
da cauda do macaco também foi testada e validada com sucesso. Espera-se que a versão final do robô
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 921
esteja pronta no fim do mês de julho, quando a versão beta será disponibilizada para a instituição
parceira coma finalidade de colher sugestões de melhoria e correções a serem incluídas na versão
final.
Simultaneamente a THERAPIES iniciou o desenvolvimento de um programa de reabilitação
de crianças com PC objetivando a promoção da autoestima e da autoconfiança com objetivo de
estimular o compartilhamento dos resultados entre os diferentes pacientes, concorrendo assim para a
inclusão social e superação das limitações físicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BECKUNG, Eva et al. The natural history of gross motor development in children with cerebral
palsy aged 1 to 15 years. Developmental Medicine & Child Neurology, 2007 Oct;49(10):751-6.
doi: 10.1111/j.1469-8749.2007.00751. x. PMID: 17880644.
BLEYENHEUFT, Yannick et al. Hand and Arm Bimanual Intensive Therapy Including Lower
Extremity (HABIT-ILE) in Children with Unilateral Spastic Cerebral Palsy: A Randomized Trial.
Neurorehabiltation Neural Repair. 2015 Aug;29(7):645-57. doi: 10.1177/1545968314562109.
Epub 2014 Dec 19. PMID: 25527487.
BUENO, Rodrigo; LAMAS, Amilton, Sistema para Desenvolvimento Sensório-Motor, Primeiro
Congresso Internacional de Paralisia Cerebral - da evidência à prática, Campinas, 2019
DOMINGUES Raphael et al. Plataforma Motorizada, BTSym'20 – Brazilian Technology
Symposium 2020, Conference Proceedings, ISSN 2447-8326, pag. 114, disponível em:
DOMINGUES, Rafael S et al. Plataforma Motorizada par Mobildiade Autônoma de Crianças com
Paralisia Cerebral. Anais do Encontro Regional Câmara Sudeste, p. 57, ISBN 978-65-88963-01-
2 (e-book), FOREXT, Universidade São Francisco, Bragança Paulista, 2021. Disponível em:
https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/252/420350945847561.pdf. Acesso em: 14 ago. 2022.
FANCOURT, Daisy; FINN Saiorse. What is the evidence on the role of the arts in improving
health and well-being? A scoping review, Health Evidence Network Synthesys Report, WHO
Regional Office for Europe, 2019, Dinamarca, ISSN 2227-4316, ISBN 978 92 890 5455 3.
GUIDETTI, Bruno; LAMAS, Amilton C. Sistema para Treinamento Cognitivo, Primeiro
Congresso Internacional de Paralisia Cerebral - da evidência à prática, Campinas, 2019
GUIDETTI, Giuliana et al. Plataforma Autônoma para Pessoas com Mobilidade Reduzida. Anais
do 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (9º CBEU), p. 4944.ISBN 978-85-88221-
63-5, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021
HIMMELMANN, Kate et al. Gross and fine motor function and accompanying impairments in
cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology. 2006 Jun;48(6):417-23. doi:
10.1017/S0012162206000922. PMID: 16700930.
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=110671&opt=1. Campinas, 2020. Acesso
em: 12 ago. 2022,
LAMAS, Amilton C., Desenvolvimentos inovadores para pessoas com mobilidade comprometida.
Anais do XXVII Encontro Nacional e XXII assembleia Nacional do FOREXT. p. 41, ISBN:
978-65-87142-25-8, UNISAL, Lorena, 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 923
INTRODUÇÃO
No ano de 2020, o mundo passou por grandes processos de transformação devido à pandemia
da COVID-19. Muitos serviços que antes eram realizados de forma presencial precisaram ser
reinventados e começaram a ser utilizados virtualmente. Como é perceptível a necessidade de
centralização de acessos, algumas organizações adotaram uma medida de unificação de cadastro e
acesso, permitindo que os usuários conectem diferentes plataformas, utilizando apenas um login e
senha para todos. Para melhorar a comunicação, é notável como a união desses softwares mostraram-
se ágeis, eficientes e práticos para seus desfrutadores, além de permitir uma primorosa integração
entre essas ferramentas.
Desse modo, foi criado o Portal Único GOV.BR, através da parceria entre o Ministério da
Economia (ME) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), uma plataforma que unifica
os canais digitais do governo. O Portal permite acesso a vários serviços públicos que são muito úteis
e importantes para a população, seja jovem ou idosa, como a consulta do Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF), obtenção da carteira de trabalho, entrega da declaração de imposto de renda através do Centro
Virtual de Atendimento ao Contribuinte (E-CAC), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
solicitação de isenção de taxa e inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), entre outros.
Entretanto, muitos cidadãos ainda não conhecem esse recurso ou não sabem da importância
1
Graduanda em Ciências Contábeis na PUC Minas campus Coração Eucarístico. E-mail:
gabriela.sousa.1353776@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Ciências Contábeis na PUC Minas campus Coração Eucarístico. E-mail: matheus.
gonçalves.1314650@sga.pucminas.br.
3
Graduanda em Ciências Contábeis na PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: rafaela.furiati@sga.pucminas.br.
4
Mestre em Administração. Professora do Curso de Administração e Ciências Contábeis na PUC Minas. E-mail:
306276@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
924 Novo Humanismo, novas perspectivas
de obtê-lo, devido à falta de divulgação do serviço e à desinformação que atinge uma grande parcela
da população. Isso pôde ser notado durante os atendimentos no NAF (Núcleo de Apoio Contábil e
Fiscal da Receita Federal) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Todos
os integrantes do grupo fazem parte do NAF, Núcleo em que a maioria dos contribuintes,
principalmente os idosos, poderiam facilmente solucionar suas demandas por conta própria, sem sair
de sua residência, caso já tivessem obtido o cadastro no Portal Único.
Este trabalho tem como objetivo geral investigar e explicitar a importância da criação e
utilização do GOV.BR na rotina dos cidadãos brasileiros, e ensinar todos aqueles indivíduos que
ainda não conhecem o portal a se cadastrarem, aprender a usar, entender todos os serviços e fazer os
ajustes necessários para desbloquear todos os serviços. Este trabalho se justifica através do fato de a
plataforma do Gov.br ser uma ferramenta de extrema importância que surgiu pela necessidade
imposta pelo mundo digital nos dias de hoje, e que alcançou o conhecimento de apenas uma parcela
da população, deixando de fora, principalmente a população idosa.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
Falar que este tema, quando tratado no cenário brasileiro possui grandes fronteiras pela frente,
é minimamente uma redundância. Um dos maiores desafios está nos preços que as operadoras de
internet cobram pelo serviço, que por sua vez são muito maiores aos praticados em outros países,
chegando à um número assustador de apenas 70% dos domicílios com acesso à rede. Segundo Léon
(2022) dentre os anos de 2013 e 2015 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou
um estudo onde se pesquisou sobre a relação entre renda e inclusão digital. Concluiu-se que, entre os
que ganhavam até um quarto do salário-mínimo, 32% possuíram internet pelo menos 1 vez, contudo,
aqueles cuja renda foi superior à dez salários-mínimos, 92% possuíam internet.
2.2 GOV.BR
No decorrer da pesquisa foi analisado o fato de os brasileiros não possuírem acesso à internet,
e quando possuem, se deparam com barreiras ao tentarem adaptar às mudanças tecnológicas, como
por exemplo o uso da plataforma GOV.BR. Este Portal é um projeto de unificação dos canais digitais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 925
do governo federal. Mas ele é, acima de tudo, um projeto sobre como a relação do cidadão com o
Estado deve ser: simples e focada nas necessidades do usuário de serviços públicos. Assim dispõem
o decreto 9.756, de 11 de abril de 2019 no Art. 1°:
Art. 1º Fica instituído o portal único “gov.br”, no âmbito dos órgãos e das entidades da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo federal,
por meio do qual informações institucionais, notícias e serviços públicos prestados pelo
Governo federal serão disponibilizados de maneira centralizada. (BRASIL, 2019).
Com isso, a acessibilidade de vários serviços do governo ficou melhor pela unificação deles
em um só único lugar. Segundo Caio Mario Peas de Andrade que é secretário Especial de
Desburocratização, Gestão e Governo Digital (2021):
3 METODOLOGIA
Neste trabalho, foi realizada a pesquisa descritiva para estabelecer uma relação com os
objetivos. Segundo Farias Filho (2015) a pesquisa descritiva trata da descrição das características de
um determinado fenômeno. Ela visa estabelecer relações entre variáveis que se manifestam
espontaneamente e definir a sua natureza. Ela não tem o objetivo de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação.
Quanto à abordagem, a pesquisa tem natureza quali-quantitativa. Ela apresenta tanto a
pesquisa qualitativa que segundo Didio (2014) estuda as particularidades de um fenômeno em torno
de seus significados, aprofundando-se nos conceitos de determinado assunto. Quanto à pesquisa
quantitativa, de acordo com Farias Filho (2015), nela se coletam, quantificam e tratam dados obtidos
através do uso de técnicas numéricas e ou estatísticas de amostragem e ou população. Ela apresenta
resultado através de tabelas, gráficos que serão analisados posteriormente.
Em relação aos procedimentos, a pesquisa se identifica como bibliográfica e pesquisa de
campo. Didio (2014) evidencia: “A pesquisa de campo é usada para extrair dados e informações
diretamente da realidade pesquisada através do uso de técnicas de coleta de dados para dar respostas
EXTENSÃO PUC MINAS:
926 Novo Humanismo, novas perspectivas
a alguma situação ou problema abordado previamente”. Foram coletados dados por meio de um
questionário feito pelos integrantes da pesquisa e tratados, para melhor entendimento, numericamente
para obter uma analise mais profunda sobre o assunto e sobre o público.
4 RESULTADOS E DISCUSSAO
Com base nas pesquisas realizadas, pôde-se perceber que, nesta amostragem, o público
pesquisado se destaca no gênero feminino com 60,6% das respostas e o masculino 37,9% e a
porcentagem de pessoas que preferira não dizer seu gênero foi 1,5%. A idade dos usuários da
plataforma é variada, mas com uma quantidade maior na idade de 59 anos; com 7,6%; com 19 anos é
de 6,1%; na idade de 60 anos a porcentagem foi de 4,5%; já nas idades de 28, 32, 33, 50, 53, 54, 64,
65 ,67 e 70 anos a porcentagem é igual, sendo de 3% em cada uma. E nas demais idades a porcentagem
é de 1,5% em cada uma.
A análise estatística revelou que houve 63 valores que variaram de 14 anos de idade até 85 anos
de idade. Outro valor relevante apresentado foi a média das idades apresentadas na pesquisa,
equivalente à 51,8095; demonstrando que a maior parte dos participantes da pesquisa possuem mais de
50 anos de idade.
Buscou-se saber o grau de escolaridade dos indivíduos da amostragem. Pode-se perceber que:
40,9% do público pesquisado possui ensino superior; 36,4% possuem ensino médio completo; 15,2%
possuem pós-graduação; 4,5% possuem ensino fundamental completo e ensino médio incompleto e
3% possuem ensino fundamental incompleto.
Identificou-se a porcentagem das pessoas que se possuem conta no GOV.BR, conhecem todas
as funcionalidades da plataforma. Percebeu-se então que 57,6% não conhece as funcionalidades;
28,8% conhecem algumas de suas funcionalidades; e 13,6% conhecem todas as funcionalidades.
Optou-se por entender quantas pessoas, da amostragem, possuem conta no GOV.BR, inferindo-se
então que 63,6% possuem conta na plataforma e 36,4% não possui. Buscou-se compreender quantas
pessoas, que possuem conta no GOV.BR, tiveram dificuldade ao criar sua conta. Dito isso, pode-se
dizer que 50% das pessoas pesquisadas não tiveram dificuldade, mas 50% tiveram.
Procurou-se saber quantas pessoas da amostragem possuem uma conta no Instagram. Dessa
forma, pode-se afirmar que 59,5% das pessoas pesquisadas possuem uma conta no Instagram, porém
40,5% não possuem. Com esses dados, observa-se que, apesar de a grande maioria das pessoas da
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 927
amostragem possuir conta na plataforma do GOV.BR e não possuir dificuldades ao acessá-la, pôde-
se perceber que um número significativo de indivíduos, ao possuir uma conta na plataforma, não
experiencia todas as funcionalidades desta.
A maioria dos participantes cujas idade eram de 50 a 70 anos não possuíam conta na
plataforma GOV.BR; podemos então analisar o outro lado da moeda. Foi feita uma análise dos
participantes que conseguiram criar a conta no portal e se tiveram dificuldades ao criar a conta, em
outras palavras, se conseguiram se adaptar à mudança tecnológica do sistema.
Com o propósito de auxiliar o acesso, foi criada uma página na plataforma do Instagram
@auxilioaogov.br para ajudar todas as pessoas que possuem dúvidas relacionadas ao GOV.BR, já
que essa rede tem um grande número de usuários, podendo assim, alcançar mais pessoas. Dito isso,
com a disseminação da plataforma, a página do Instagram estará disponível para esclarecer toda e
qualquer dúvida em relação ao GOV.BR.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 9.756, de 11 de abril de 2019. Institui o portal único “gov.br” e dispõe
sobre as regras de unificação dos canais digitais do Governo federal. Brasília, DF: Presidente da
República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/decreto/d9756.htm. Acesso em: 10 maio 2022.
BRASIL. Ministério da Economia. Gov.br alcança a marca de 100 milhões de usuários
cadastrados. Brasília, DF: Governo Federal, 28 abr. 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2021/abril/gov-br-alcanca-a-marca-de-100-
milhoes-de-usuarios-cadastrados. Acesso em: 10 maio 2022.
DADOS DA PESQUISA. Perguntas frequentes: módulo fundo a fundo. Belo Horizonte, 2022.
Disponível em:
https://antigo.plataformamaisbrasil.gov.br/images/manuais/M%C3%B3dulo_Fundo_a_Fundo/PER
GUNTAS_FREQUENTES_-_MFF.pdf. Acesso em: 10 maio 2022.
DIDIO, Lucie. Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos. 1ed.,
São Paulo: Atlas, 2014.
FARIAS FILHO, Milton Cordeiro Farias. Planejamento da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
LEÓN, Lucas Pordeus. Brasil tem 152 milhões de pessoas com acesso à internet. Agência Brasil,
Brasília, DF: Empresa Brasil de Comunicação, 23 ago. 2021. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-08/brasil-tem-152-milhoes-de-pessoas-com-
acesso-internet. Acesso em: 10 maio 2022.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação.
Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de projetos de pesquisa,
trabalhos acadêmicos, relatórios técnicos e/ou científicos, e artigos científicos: conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 4. ed. reform. e atual. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2022. Disponível em: http://www.pucminas.br/ biblioteca. Acesso em: 10 abr. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 929
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nos campos da demografia e da economia, muitos esforços vêm sendo depreendidos para
estabelecer as conexões entre os efeitos da transição e do bônus demográfico sobre a estrutura
produtiva e o bem-estar da população. Diniz et al. (2010) argumentam que, antes da transição
demográfica em direção à ampliação da razão de dependência, os países vivenciam o período do
bônus demográfico, no qual a razão de dependência se reduz, consequentemente, o peso econômico
da dependência diminui e a população em idade ativa, ao produzir, gera recursos adicionais que
podem ser revertidos em poupança.
A hipótese da vantagem do bônus estaria associada à geração desse excedente (poupança)
capaz de: (i) ser utilizado em favor do desenvolvimento econômico e, (ii) temporalmente, ser utilizado
para fazer frente às necessidades decorrentes do aumento da carga de dependência futura. Vieira e
1
Doutora em Economia Social e do Trabalho - Professora-extensionista da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
E-mail: eliane.rosandiski@gmailcom.
EXTENSÃO PUC MINAS:
930 Novo Humanismo, novas perspectivas
Mortari (2021) chamam esse bônus de “janela de oportunidade”, visto que seria o momento ideal para
as sociedades darem o salto qualitativo do ponto de vista econômico e social, pois a maior parte da
população em idade ativa teria o potencial de ampliar a produtividade.
No entanto, Brito (2008) aponta para o maior desafio que é o aproveitamento desse bônus,
visto que a capacidade da transição demográfica potencializar as transferências intergeracionais de
recursos está intimamente associada à implementação de políticas públicas que potencializam as
transferências sociais desses mesmos recursos. De fato, quando se tem uma parcela maior de pessoas
em idade ativa, há a possibilidade de o Estado tirar proveito dessa redução da taxa de dependência
para promover os ajustes necessários para enfrentar a fase seguinte marcada agora pelo rápido
envelhecimento demográfico. Vale reafirmar que esse novo perfil demográfico traz pressões sobre a
seguridade social, que necessitam ser equacionadas antes do final do período do bônus demográfico.
(CARMO; CAMARGO 2018).
Ademais, argumenta-se que, em função da heterogeneidade da estrutura de desenvolvimento,
a transição demográfica aparece, nitidamente, nas suas diferentes etapas, segundo as condições
sociais e econômicas da população. Isso faz com que a transição demográfica seja apreendida como
um processo social e histórico e não apenas um fenômeno demográfico. Esses pontos remetem ao
ponto de interesse do Estudo: mapear a estrutura de geração excedente nesse período de bônus ou
janela de oportunidade no âmbito local/regional, visto que os bônus demográficos, assim como os
desafios políticos, são estabelecidos segundo os diferentes níveis locais e sociais.
3 METODOLOGIA
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O segundo aspecto a ser abordado diz respeito à composição setorial. Os segmentos econômicos que
se destacam na geração de emprego na RMC são, nesta ordem: Indústria de Transformação;
Comércio; Serviços de Informação, Comunicação e Atividades Financeiras e Imobiliárias; e
Administração Pública, Defesa, Educação, Saúde e Serviços Sociais. Entre 2012 e 2020, é visível a
perda de participação relativa das atividades industriais, a manutenção das atividades de comércio e
a ampliação dos segmentos de serviços na geração de emprego.
Entender o perfil do emprego gerado nessas atividades é decisivo, visto que cada um deles
apresenta especificidades na seleção do perfil etário e padrão de remuneração como reflexo da
produtividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O ano de 2022, no que diz respeito à educação, está marcado pela discussão sobre o Piso
Salarial Profissional Nacional do Magistério (PSPN) em função do índice de reajuste deste piso ter
sido estabelecido ainda no ano de 2021 em 33,24%, valor altamente significativo diante dos reajustes
salariais de outras categorias. Um debate tem se estabelecido desde o anúncio do percentual com
posicionamentos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), dos executivos e dos legislativos de todos os âmbitos de
governo, dos sindicatos de profissionais da educação e dos Tribunais de Contas.
Este debate envolvendo várias instituições e temas como Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) e o financiamento da educação aparece constantemente nos
noticiários e nos variados informes que chegam à sociedade. Percebe-se que grande parte do público
envolvido diretamente nesta discussão, chamado de comunidade escolar (professores, estudantes,
coordenadores, secretários, pais de alunos, etc.) desconhece os aspectos técnicos sobre os temas
suscitados no debate em torno do PSPN. Embora tais temas tenham impacto direto na vida de todos
envolvidos, uma vez que têm relação com a qualidade da educação pública.
1
Estudante. da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: gilbertopaulino@yahoo.com.br.
2 Mestre em Ciências Sociais, Contadora, Advogada. Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: mprimolafaria@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
938 Novo Humanismo, novas perspectivas
Sendo assim, este trabalho teve por objetivo levar o conhecimento técnico a respeito dos temas
suscitados em torno do PSPN aos atores sociais interessados, qualificando o debate e aumentando o
grau de consciência dos envolvidos. A entidade parceira para alcance dos objetivos foi o Sindicato
dos Professores de Juiz de Fora (SINPROJF) e o público alvo deste trabalho foi a base do magistério
municipal representada por esta entidade. O contato com o público-alvo foi por meio das assembleias
da categoria convocadas no período de desenvolvimento do projeto.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O PSPN do magistério público da educação básica foi instituído na Lei 11.738, de 16 de julho
de 2008, sendo o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não
poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica, para a
jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais, obedecendo-se a proporcionalidade em casos
de jornada diferenciada. Esta Lei também fixou limites para o trabalho de interação com os alunos na
composição da jornada docente: professores devem passar no máximo dois terços (2/3) da carga
horária em sala de aula e no mínimo um terço (1/3) da jornada de trabalho deve ser destinado às
chamadas atividades extraclasse, tais como planejamento de aulas, coordenação, reuniões
pedagógicas, correção de atividades.
A mencionada Lei determina que a atualização de que trata o valor inicial do piso será
calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente
aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente. Na cartilha do Novo Fundeb
(2021, p.15), publicada pelo Ministério da Educação, pode-se compreender que o índice para reajuste
do piso é igual ao reajuste aplicado ao valor aluno-ano que é o valor mínimo estabelecido para o
repasse do Fundeb para cada matrícula de aluno na educação básica por ano. Para calcular esse valor
aluno-ano, cabe ao Ministério da Educação apurar o quantitativo de matrículas que será a base para a
distribuição dos recursos (o que é feito pelo Censo Escolar da Educação Básica); e com o Tesouro
Nacional fica a responsabilidade de estimar as receitas da União e dos Estados que compõem o Fundo.
As consequências financeiras para o orçamento público gerado pelo PSPN devem ser arcadas
pelos mecanismos de financiamento da educação e, nos casos em que o ente federativo, a partir da
consideração dos recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade
orçamentária para cumprir o valor fixado na Lei 11.738/2008, poderá haver complementação da
União.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 939
O financiamento da Educação provém de recursos tanto da União quanto dos Estados, Distrito
Federal e Municípios. A Constituição da República exige que, no mínimo, 25% da receita de impostos
arrecadados pelos Estados, DF e Municípios sejam destinados à educação pública. Desse total, 20%
de alguns impostos listados pela Constituição da República compõem a receita do Fundeb. (Novo
Fundeb, 2021). Quando esses 20% não são suficientes para garantir a oferta de uma educação de
qualidade, conceituada por indicadores nacionais, a União complementa esse caixa para assegurar os
padrões mínimos de manutenção e desenvolvimento da educação básica. Dessa maneira, o Fundeb
atua como um mecanismo de redistribuição de recursos, levando em consideração o tamanho das
redes de ensino e, dessa forma, buscando equalizar as oportunidades educacionais do país. (Novo
Fundeb, 2021).
Há também as transferências voluntárias do governo federal, que passam pelo MEC
(Ministério da Educação) e pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) aplicadas
na educação de Estados e Municípios. Diante da demanda de cumprirem com o reajuste de 33,24%,
para o ano de 2022, no valor do piso, os governos de diversos entes federados têm apresentado como
entraves as determinações de outra Lei, a LRF. Trata-se da Lei Complementar 101, de 4 de maio de
2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal.
No que diz respeito ao controle de despesa com pessoal, esta Lei determina que a despesa total
com pessoal, no ambito do poder executivo em cada período de apuração e em cada ente da federação,
não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: União (40,9%),
Estados (49%) e Municípios (54%). Para apuração da despesa total com pessoal, deve-se aplicar tais
percentuais sobre a receita corrente líquida.
A LRF também determina que, quando for ultrapassado 90% do limite das despesas totais
com pessoal, os Tribunais de Contas devem emitir um alerta informando ao poder público que este
superou esse limite, como forma de manter informada a gestão pública e, ao mesmo tempo, tomar os
devidos cuidados para não ultrapassar o que se chama de limite prudencial estabelecido em 95%.
Se ainda assim, o poder público ultrapassar o limite prudencial, serão impostas vedações ao
Poder ou órgão, tais como: a criação de cargo, emprego ou função; alteração da estrutura de carreira
que implique aumento de despesa; concessão de vantagem, aumento ou reajuste ou adequação de
remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou
contratual, ressalvada a revisão geral anual.
A LRF estabelece que o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois qudrimestres
seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras providências a redução
EXTENSÃO PUC MINAS:
940 Novo Humanismo, novas perspectivas
das despesas com cargos em comissão e funções de confiança, mediante redução temporária da
jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária ou extinção dos cargos e
funções, ainda, é possível a exoneração dos servidores não estáveis e até de servidores estáveis, em
situações mais graves.
Se não conseguir reduzir as despesas, o ente não poderá receber transferências voluntárias,
obter garantia, direta ou indireta, de outro ente, contratar operação de crédito, ressalvadas às
destinadas ao pagamento da dívida mobiliária e as que visem à redução de despesa com pessoal. Estes
mecanismos são controles que o gestor público deve ter para não ser responsabilizado pela má gestão
dos recursos públicos.
Essa série de imposições tem colocado estados e municípios confrontados por um lado pela
Lei do PSPN e por outro pela LRF. Como exemplo de processo onde os Tribunais de Contas se
manifestam quando da extrapolação dos limites de alerta e prudencial da despesa total com pessoal,
é possível citar os autos de n. 1.114.601 do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Nesses
autos, foi ressaltado ao chefe do Poder Executivo Estadual que a vedação prevista no inciso I do
parágrafo único do art. 22 da LRF, que trata das imposições ao ultrapassar o limite prudencial, não
alcança o pagamento e a atualização anual do piso nacional do magistério, assegurados pela Lei
11.738/2008.
É neste contexto que este trabalho se apresentou com intuito de levar informação aos usuários
interessados descomplicando ideias e conceitos técnicos ligados à gestão orçamantaria, financeira e
contábil.
3 METODOLOGIA
A metodologia para realização da prática de extensão consistiu em realizar uma pesquisa sobre
os temas envolvidos em torno da Lei 11.738/2008, para subsidiar a construção de um texto e arte em
formato de cartilha expondo os conteúdos para o público-alvo deste trabalho, ou seja, o magistério
municipal de Juiz de Fora representado pelo SINPROJF.
Cartilhas são materiais informativos e educativos que abordam diferentes assuntos, por esta
razão, é necessário atender aos seguintes critérios em sua elaboração: adequação ao público-alvo;
linguagem objetiva e clara; com visual leve e atraente e, principalmente, fidedignidade das
informações (GIORDANI, 2020). A estratégia utilizada para articular os variados temas foi colocar
a Lei do Piso como eixo central e, a partir dela, articular as discussões sobre Fundeb, financiamento
da educação e LRF.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 941
Foi realizado um teste prévio, mediante a distribuição da cartilha a um grupo menor, após a
leitura do usuário da informação, investigou-se por um questionário a compreensão e a pertinência
do referido material. Diante dos resultados, foram realizados ajustes na cartilha proposta inicialmente
e a versão final foi confeccionada, para a entrega ao público-alvo como um todo.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ferramenta adequada, uma vez que levou aos atores sociais interessados o conhecimento técnico a
respeito do tema principal, PSPN do Magistério, e de outros correlatos, como o Fundeb, a LRF, o
financiamento da educação.
A elaboração da cartilha foi um desafio e proporcionou um aprendizado sobre os assuntos
debatidos no seio da comunidade escolar, além do entendimento do processo de elaboração de tal
material. Possibilitou uma aproximação com o SINPROJF e toda a categoria que este representa.
Enfim, a cartilha foi uma estratégia adequada que aproximou os atores sociais, agregando
conhecimentos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.738, 16 de julho de 2008. Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Brasília:
Câmara Federal, (2008). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 20 abr. 2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 101, 4 de maio 2000. Estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília: Câmara Federal,
(2000).
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃ; MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÂO. Cartilha Novo Fundeb. Disponível em: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-
informacao/acoes-e programas/financiamento/fundeb/CartilhaNovoFundeb2021.pdf. Acesso em: 20
abr. 2022.
GIORDANI, A. T. Normas editoriais, orientação aos autores: cartilhas. Editora UENP, 2020. 16
p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 943
INTRODUÇÃO
A portaria nº 343, publicada no Diário Oficial da União em 17 de março de 2020, dispõe sobre
a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia
do COVID - 19 (BRASIL, 2020). As medidas de distanciamento social sugeridas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e adotadas na maioria dos países causaram o fechamento das escolas e
suspensão das aulas presenciais da rede pública e privada em nível básico e superior (ALMEIDA;
ALVES, 2020).
A suspensão das atividades presenciais em todo o mundo impôs aos gestores da educação o
desafio de uma adaptação e transformação do sistema educacional, obrigando todos a um novo
modelo educacional pautado nas tecnologias educacionais e nas metodologias de educação online.
Em um primeiro momento, essas trasnformações alcançaram os professores, que necessitaram
migrar para as aulas online, transferindo e transpondo as metodologias das aulas presenciais para o
ensino online síncrono; porém, logo depois as demais atividades de pesquisa e extensão também
1
Doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido. Mestre em Geografia. Graduação em Geografia e
Pedagogia. Professora universitária do Centro Universitário UniPROJEÇÃO. Coordenadora Institucional do Programa
Residência Pedagógica - CAPES. Coordenadora da CAPE (Pesquisa e Extensão) do centro Universitário UniPROJEÇÃO.
Líder de grupo de Pesquisa com ênfase na construção de recursos tecnológicos para o ensino da Geografia e ênfase na
formação continuada de Professores. E-mail: claudia.nascimento@projecao.br.
2
Pós-Doutor em Ciência da Informação. Doutor em Ciência da Informação. Mestre em Gestão do Conhecimento e da
Tecnologia da Informação. Possui várias Especializações. Pró-Reitor e Diretor Acadêmico da Educação Superior do
Grupo Projeção e Diretor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. Coordenador Institucional do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência da CAPES. Editor Científico e Avaliador de Periódicos Científicos; Membro de Órgãos
Colegiados e Estruturantes; e do Pacto Universitário para Direitos Humanos e Diversidade. E-mail:
jonathan.moreira@projecao.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
944 Novo Humanismo, novas perspectivas
precisaram ser continuadas, e a alternativa encontrada pelo Centro Universitário UniPROJEÇÃO foi
a utilização dos meios digitais disponiveis que propiciaram uma maior flexibilização espaço-
temporal.
Sendo assim, a Coordenação de Pesquisa e Extensão do grupo Projeção repensou o
desenvolvimento das suas atividades de extensão por intermédio do YouTube utilizando o
StreamYard, onde foram organizadas palestras, simpósios, visitas técnicas, colóquios, aulas magnas,
debates e congressos.
O StreamYard é um estúdio virtual que permite que os usuários façam lives com mais de uma
pessoa ao mesmo tempo. A ferramenta transmite os vídeos nas principais redes sociais, como
Facebook, YouTube, LinkedIn, Twitch e Periscop, facilita a realização de entrevistas, rodas de
discussões e eventos online. O software está disponível em uma versão gratuita, com recursos
limitados, mas também oferece planos pagos.
Este resumo expandido tem como objetivo discutir sobre a inserção das tecnologias digitais
como alternativa para a continuidade das atividades de extensão do Centro Universitário
UniPROJEÇÃO através do uso do Stream Yard demonstrando que foi possivel dar continuidade as
atividades, porém, se fez necessário o processo de mudança de paradigma quanto ao uso das
Tecnologias da informação e comunicação (TIC) tanto pelos docentes quanto pelos discentes.
2 DESCRIÇÃO DO CASO
Diante das demandas por parte dos alunos e professores pela realização de atividades de
extensão, buscou-se uma alternativa, uma vez que, os encontros presenciais estavam suspensos. O
primeiro passo se constituiu em abrir um canal da CAPE no YouTube para que fossem transmitidas
as atividades, logo depois fomos a escolha de uma plataforma para a realização das atividades virtuais,
a escolha se deu pela StreamYard na versão gratuita, pois suas funcionalidades são as mais completas
e não tem custo para o uso de até 20 horas mensais.
O segundo passo foi criar os fluxos para o desenvolvimento das atividades, uma vez que havia
restrição de horas e a demanda era muito grande, pois a proposta era atender aos mais de quarenta
cursos existentes na IES. O fluxo incluia o preenchimento de um formulário do Núcleo de Extensão
(NEX) com as informações da atividade, horário, palestrante, data, lançamento de horas
complementares, após o recebimento das informações, eram criados os cards de divulgação e os links
de acesso para os palestrantes e para os participantes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 945
O diferencial do StremYard é que ele possui ferramentas que deixam as lives mais
profissionais, como a possibilidade de exibição dos convidados, criação de banners com o título de
transmissão e o compartilhamento de telas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
946 Novo Humanismo, novas perspectivas
No mês de fevereiro do ano de 2020, o Brasil teve o primeiro diagnóstico de caso da COVID-
19 e, em 17 de março do mesmo ano, o Ministério da Educação aprovou a substituição das aulas
presenciais por aulas remotas emergenciais com o apoio dos meios digitais devido às medidas de
distanciamento social declaradas em diversos estados do país (Brasil, 2020). Com a instauração das
aulas remotas, fez-se necessário procurar mecanismos para que as aulas continuassem, e com as TIC
na educação, foi possível mostrar ou demonstrar aos alunos o que antes não se podia com o uso de
imagens, vídeos, softwares e outros.
A partir da evolução das TIC, as aulas online em tempo síncrono receberam um impulso
expressivo, pois alargam-se as possibilidades de ensinar e aprender. A solução alcançada se adaptou
à resolução do problema da continuidade das aulas, porém, as demais atividades das instituições de
Ensino Superior, como pesquisa, extensão e estágios também precisavam continuar, foi necessário
buscar alternativas que viabilizassem a sua continuidade.
Segundo Miranda (2007), o termo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) está
associada à junção da tecnologia computacional com a tecnologia das telecomunicações, tendo a
internet como ponto central. No caso, quando essas tecnologias são utilizadas para apoiar o processo
de ensino aprendizagem dos alunos, as TIC podem ser um subdomínio da Tecnologia Educativa.
A tecnologia educativa utilizada pelo UniPROJEÇÃO para a continuidade das atividades de
extensão de forma online foi o StreamYard, pois se apresentou como a melhor alternativa com o
melhor custo benefício.
O grande desafio era a continuidade das atividades de extensão da universidade, que tem por
objetivo promover o desenvolvimento social, fomentar ações de extensão que levam em conta os
saberes e fazeres populares e garantir valores democráticos de igualdade de direitos, respeito à pessoa
e sustentabilidade ambiental e social. Os cursos e atividades de extensão universitária são grandes
aliados nos trabalhos dos professores universitários, que têm a oportunidade de aliar os
conhecimentos teóricos às atividades práticas mostradas e ensinadas aos estudantes. No período da
pandemia, tiveram sua importância intensificada em virtude da necessidade de manter o engajamento
dos alunos e, a manutenção das atividades práticas no âmbito dos cursos.
No caso do Centro Universitário UniPROJEÇÃO, a classificação dos cursos de extensão
segue a Política Nacional de Extensão incluindo a área de: 1) Comunicação, 2) Cultura, 3) Direitos
Humanos e Justiça, 4) Educação, 5) Meio Ambiente, 6) Saúde, 7) Tecnologia e Produção e, 8)
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 947
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e competências relacionadas as tecnologias educacionais, tanto por parte dos professores quanto dos
alunos.
Palavras-chave: Pandemia. Extensão. StreamYard.
Keywords: Pandemic. Extension. Stream Yard
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Mestre em Ciência da Computação. Professor do Instituto Federal do Tocantins campus Palmas E-mail:
eliasvidal@ifto.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
950 Novo Humanismo, novas perspectivas
refletir antes de agir. Por outro lado, vimos que, enquanto os alunos que participam do Projeto xadrez
na Escola estão livres da violência, sendo sociabilizados e preparados para um futuro melhor,
podendo enfrentar as dificuldades do mundo adulto.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O xadrez possui uma história dúbia e ainda é um mistério para os historiadores. Fato é que o
registro mais antigo que se tem desse jogo é uma pintura mural da câmara mortuária de Mera, em
Sakarah – Egito com aproximadamente 3 000 anos antes da era cristã e que supostamente retrata duas
pessoas jogando xadrez. Contudo, acredita-se, atualmente, que ele tenha surgido na Índia como o
nome de “jogo do exército”, por volta do século VI d.C. É, na verdade, uma dentre várias suposições.
Apesar de, muitas vezes, o xadrez ser visto apenas como uma forma de entretenimento, Blanco
(2012) nos diz que se trata de um jogo capaz de organizar a esfera cognitiva do cérebro, ao estimular
o desenvolvimento do pensamento lógico matemático. Para além dessa potencialidade, Rezende
(2002) também ressalta que o xadrez atende as características do desporto, ao propiciar o espírito
competitivo e a autoconfiança. Aprender xadrez é estar em uma contínua e intensa atividade de
reflexão e de tomada de decisão, capazes de promover uma educação ativa, crítica, de conscientização
tanto individual quanto coletiva.
3 METODOLOGIA
Vocabulário técnico. Os materiais e recursos são: tabuleiros e peças de xadrez; relógios; troféus e
medalhas para premiação do torneio. Preveem-se as seguintes etapas ou módulos: História (2
encontros); Tabuleiro (5 encontros); Jogo/Vivência (9 encontros); Torneio (4 encontros).
A avaliação da prática se dará ao longo do processo, observando a participação e o nível de
aprendizagem dos discentes mediante a realização de jogos durante as aulas. São objetivos: contribuir
para permanência e êxito do estudante no âmbito da Escola Espirita Chico Xavier, em Palmas, Estado
do Tocantins; favorecer a assimilação das características do xadrez que contribuem com o harmonioso
desenvolvimento intelectual, moral e ético da personalidade; propiciar autonomia cognitiva, poder de
concentração, tomadas de decisões e capacidade de raciocínio.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Ensino de Sadrez com Amor na Escola Espírita Chico Xavier surgiu pela minha
paixão por este jogo e pelo desejo de divulga-lo através de um projeto. A prática do jogo de xadrez
pode colaborar no desenvolvimento dos quatros saberes necessários para o desenvolvimento das
competências ditas do futuro. Essas competências são as aprendizagens fundamentais, que ao longo
EXTENSÃO PUC MINAS:
952 Novo Humanismo, novas perspectivas
de toda a vida formam os quatro pilares do conhecimento (DELORS et al., 1998). A presença do
xadrez na grande maioria dos centos educativos é hoje uma realidade. Seja por meio das associações
de pais, de clubes esportivos, escolas municipais e estaduais, de algum professor com interesse pelo
xadrez, ou inclusive através de academias privadas, raramente há um colégio que não tenha algum
tipo de aula de xadrez de forma extracurricular. É uma situação de feito e não de direito.
Esses projetos de xadrez na escola justificam sua existência por estar demonstrando que o
xadrez:
• É cultura: uma atividade lúdica de origem milenar que se tem distribuído por todos os países
do mundo e que encerra um corpo de conhecimentos e experiência que constituem patrimônio
cultural da humanidade.
• Tem uma base matemática: a Matemática é um instrumento e linguagem da ciência, da técnica
e do pensamento organizado.
• Estimula o desenvolvimento de habilidades cognitivas tais como: atenção, memória,
raciocínio lógico, inteligência, imaginação, etc., capacidades fundamentais no
desenvolvimento futuro do indivíduo.
• Estimula a autoestima, a competição saudável e o trabalho em equipe.
• Pode ser utilizado como elemento estruturante do tempo livre do indivíduo.
• Proporciona prazer em seu estudo e prática.
• Por ser um jogo de regras, dita uma pauta ética em um momento propício para a aquisição de
valores morais.
• Devido às suas múltiplas virtudes, contribui para a formação de melhores cidadãos.
• O jogo de xadrez é uma atividade que através do tempo, conquistou cultura e costumes de
povos e países em todo mundo durante milênios.
Por exemplo, Stephenson (1979), trabalhando com programas intensivo de xadrez provou o
aumento do rendimento escolar nas atitudes, esforço, concentração e autoestima em, pelo menos,
50% de seus estudantes. Além disso, é importante aprender que as peças no xadrez não têm valores
absolutos, que se deve controlar as posições das demais peças, tanto as próprias como as do
adversário, para armar uma estratégia, bem como ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade
do pensamento que ordena o jogo.
Devemos conseguir que nossos alunos encontrem seus próprios sistemas de ação e para isso
teremos que evitar, sempre que possível, as soluções mecanizadas. Assim, na escola secundária, com
os dados de um teorema e sua ideia, a demonstração pode ser encontrada pelo aluno, porém para que
isso aconteça é importante um certo treinamento na escola fundamental.
Sentindo a importância que o jogo de xadrez tem hoje no âmbito escolar no mundo e no Brasil,
foi executado esse projeto xadrez na escola na Escola Espírita Chico Xavier em Palmas - TO.
REFERÊNCIAS
BLANCO HERNÁNDEZ, U. J. Por que xadrez nas escolas? 2. ed. Curitiba: Ed. I. Scherer Ltda,
2012.
BOUWMAN, M. W. O Xadrez Educativo. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em 20 de dez. De 2005.
CALIXTO, R. Ensino do Xadrez nas Escolas. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em: 20 de mai. de 2004.
DELORS, J. (1998). Learning: The Treasure within. Paris: UNESCO.
REZENDE, A. C. Ensino do Xadrez. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em 15 de maio de 2005.
REZENDE, Sylvio. Xadrez na escola: uma abordagem didática para principiantes. Rio de Janeiro:
Ciência Moderna, 2002
STEPHENSON, 1979. Estética no Xadrez. Disponível em:<http://www.clubexadrez.com.br>.
Acesso em: 21 maio 2002.
EXTENSÃO PUC MINAS:
954 Novo Humanismo, novas perspectivas
INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Graduanda em Bioquímica na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ). E-mail:
anajulialacerda@aluno.ufsj.edu.br
2
Graduanda em Enfermagem na UFSJ. E-mail: ariana.amarall@aluno.ufsj.edu.br.
3
Graduanda em Enfermagem na UFSJ. E-mail: bcalderaro3011@aluno.ufsj.edu.br.
4
Graduando em Farmácia UFSJ. E-mail: rafa_f28@outlook.com.
5
Fisioterapeuta. Professora Associada de Anatomia da UFSJ. E-mail: mairacastrolima@ufsj.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 955
pesquisa e universidades mundo a fora passaram a voltar seus olhares para o estudo das Neurociências
(SWETT, 2016). Com grande destaque na área, podemos citar a pesquisadora Suzana Herculano -
Houzel, que possui grandes obras publicadas dentro da temática das neurociências e da divulgação
desta para pessoas leigas nesta área. Publicado em 2009 pela Editora Sextante, o livro Pílulas de
Neurociência Para uma Vida Melhor, é uma das obras da autora que, posteriormente, foi a principal
fonte utilizada como referência para o Programa. (HERCULANO-HOUZEL, 2007). Esta oferece
grande embasamento e auxilia a fomentar a ideia de que é possível traduzir conhecimentos científicos
complexos em informações de fácil compreensão. Esse pressuposto vai ao encontro do que propõe a
Extensão, que permite que o conhecimento vá além dos muros da universidade.
É neste contexto que o Programa implementa suas ações, buscando partilhar os
conhecimentos, não apenas dentro da universidade, mas também com a comunidade escolar e os
habitantes da região. Com isso, existem diversos assuntos relacionados ao sistema nervoso e ao
funcionamento fisiológico do nosso corpo que podem ser utilizados para ampliar aqueles
conhecimentos que ajudam a melhorar a forma como os estudantes assimilam inúmeras quantidades
de conteúdo, aprimorando o aprendizado e a memória. Ademais, essas referências podem ser
repassadas para a comunidade, o que pode influenciar de forma positiva na forma como desenvolvem
suas atividades diárias.
Alguns exemplos práticos podem ser citados: o sono está relacionado a mecanismos
fisiológicos do aprendizado e da memória, portanto é necessário que o indivíduo possua uma boa
noite de sono, já que é nesse momento que todo o conteúdo assimilado durante o dia é transmitido de
uma área de armazenamento transitório da memória para outra área em que se torna permanente
(MAQUET, 2001). Outra questão essencial a ser discutida é a prática de esportes, que precisa ser
mantida durante o período escolar, já que a mesma é responsável pela promoção de alterações na
estrutura e na função do cérebro, alterações essas que serão potencializadoras da memória humana
(NIELSEN et al, 2013; ROBERT 2013). A ansiedade e o estresse são outras temáticas que podem
ser correlacionadas às duas anteriores. A pessoa que não possui o descanso adequado e não participa
de atividades que sejam prazerosas para si mesmo prejudica o aprendizado (PACKARD, 2009;
CATTARJI, 2009). Essas informações são alguns dos pontos que podem ser utilizados na otimização
dos processos que o Programa vem buscando melhorar junto à comunidade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
956 Novo Humanismo, novas perspectivas
3 METODOLOGIA
Os discentes da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), dos cursos de Bioquímica,
Enfermagem, Farmácia e Medicina passam por um processo de qualificação a respeito do ensino de
Neurociência, aprofundando no mecanismo de aprendizado/memória e também nas definições
neuroanatômicas envolvidas. Os encontros de estudo são semanais, incluindo prática e teoria. Essas
aulas capacitam os extensionistas a serem fontes de informações de qualidade para o público-alvo,
além de ser uma forma de aprofundar os conceitos aprendidos sobre os temas, o que reflete de forma
positiva na futura prática clínica como profissionais da saúde. Além disso, há a produção de um
material didático provindo dessas reuniões de estudos, que posteriormente é utilizado para a
divulgação nas redes sociais e em outras ações desenvolvidas, assim, todo esse conhecimento é
repassado.
Em uma primeira ação, o Programa promove um encontro em escolas e cursinhos, visando
abordar os assuntos de forma mais teórica. Posteriormente, os alunos e professores são convidados a
ter uma experiência prática sobre o tema no Laboratório de Anatomia Humana da UFSJ Campus
Centro Oeste Dona Lindu (CCO). A ação extensionista com o público geral ocorre via Instagram,
@pilulasdeneurociencias, Facebook e Spotify, com a elaboração de um podcast e por meio de eventos
como o “Neurociência na Praça”. Em uma praça pública de Divinópolis, os extensionistas vão ao
encontro da comunidade. Todas essas atividades possuem como objetivo principal promover a
aproximação do meio acadêmico com a comunidade, seja de forma presencial ou virtual, o que
proporciona uma troca de saberes entre ambos.
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O Programa de Extensão já atendeu mais de 3.000 estudantes desde 2016. Espera-se que os
estudantes atendidos comecem a estudar de maneira correta e eficiente colocando em prática todos
os conhecimentos adquiridos sobre os mecanismos de aprendizado/memória. Já com relação aos
professores das instituições contempladas com o Programa, é sugerido que sejam ministradas aulas e
elaborados planos de ensino de acordo com os mecanismos e potencialidades do cérebro.
No que diz respeito aos alunos, professores e a comunidade do Centro-Oeste mineiro, é
desejada uma maior proximidade destes com a UFSJ/CCO, de uma forma que a instituição possa
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 957
atuar como parceira da região e seja uma opção real para continuação dos estudos no nível superior.
Para os escolares envolvidos, é esperado que valorizem a continuação dos estudos, aspirando a uma
qualificação profissional e acadêmica e que ambicionem uma vaga no ensino superior.
Com relação aos discentes da UFSJ, é proporcionada uma qualificação em Neuroanatomia e
Neurofisiologia, portanto trata-se de um período de grande aprendizado teórico e prático nessas
disciplinas. Para os alunos extensionistas, é esperado despertar o interesse pela carreira de ensino e
pesquisa em Neurociência, para que possam desenvolver a capacidade de traduzir ciência em
informação clara e correta para o público geral. Por fim, ao público geral, tanto aqueles abordados
nas praças, quanto aqueles alcançados pela rádio, redes sociais, dentre outros, almeja-se o
aprendizado sobre o cérebro, de forma a modificarem seus hábitos para posteriormente possuírem a
capacidade de potencializar o aprendizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CHATTARJI, S. et al. Stress, memory and the amygdala. Nature Reviews/Neuroscience, 10: 423
– 433, 2009.
HERCULANO-HOUZEL, S. Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor. 1. Ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2007, 184p.
MAQUET, P. The Role of Sleep in Learning and Memory. Science, 294: 1048-1052, 2001.
NIELSEN, J.B. et al. The effects of cardiovascular exercise on human memory: A review with
meta-analysis. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 37: 1645–1666, 2013.
PACKARD, M.G. Anxiety, cognition, and habit: A multiple memory systems perspective, BRAIN
RESEARCH, 1293: 121-128, 2009.
RODER, B; HOTTING, K. Beneficial effects of physical exercise on neuroplasticity and cognition.
Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 37: 2243–2257, 2013.
SWEATT, D. J. Neural Plasticity & Behavior - Sixty Years of Conceptual Advances, Journal of
Neurochemistry. Feb-2016.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 959
INTRODUÇÃO
1
Graduando em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Estagiário do setor de Programas e
Projetos da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas. E-mail: arthureisproex@gmail.com.
2
Doutora em Psicologia (PUC Minas). Professora do Departamento de Psicologia. Pró-reitora de Extensão da PUC Minas.
. E-mail: carolinaresende.psi@gmail.com.
3
Mestre em Ensino da Matemática (PUC Minas). Professora e Coordenadora do setor de Programas e Projetos da Pró-
Reitoria de Extensão da PUC Minas. E-mail: janebarroso@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
960 Novo Humanismo, novas perspectivas
2 METODOLOGIA
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Andrade et al. (2019) a evolução da extensão universitária é atravessada por
um caráter assistencialista próximo aos moldes dos atuais projetos sociais, de onde advém a noção de
beneficiários diretos e beneficiários indiretos. Para Stephanou et al. (2003),
Um projeto quase sempre envolve populações de duas formas: direta e indireta. A população
diretamente envolvida é aquela que se relaciona de forma concreta e imediata com o trabalho
[...]. Mas, há também um público indireto, mais distante que se relaciona de forma mais
passiva com o projeto. É uma parcela que, indiretamente, também usufrui dos benefícios do
projeto. (STEPHANOU et al. 2003, p. 59)
4
Justificativa, público alvo, objetivo, meta, metodologia, plano de ação, orçamento.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 961
evidência dos resultados alcançados por meio de projetos de extensão universitária. Na PUC Minas,
ao submeter este documento, o professor coordenador deve quantificar e caracterizar o público
beneficiado diretamente ou indiretamente pela ação extensionista em questão.
Do ponto de vista gerencial, tais marcadores confirmam a necessidade de cada projeto de
extensão, a priori, no momento do planejamento, e uma clareza organizacional sobre os dados
declarados, a posteriori, ao longo do monitoramento, de forma que estes sejam mensuráveis.
(DALBEN; VIANNA 2008 p.1).
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O cálculo de público favorecido pelos projetos de extensão precisa ser embasado, lógico e
rastreável. O banco de dados digital GPC da PUC Minas, permite a declaração de BD e BI de duas
formas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5
Para estimar o número de pessoas por família, são utilizados dados do último censo demográfico realizado pelo IBGE
em termos de número de pessoas por domicílio (média de 4 pessoas por família, IBGE 2010).
6
Programas de rádio, temporadas de ‘podcast’, ‘posts’, ‘lives’.
7
Quantificação da população de um município, ou do público total atendido por uma Unidade Básica de Saúde ou da
quantidade de seguidores na rede social utilizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 963
REFERÊNCIAS