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EXTENSÃO PUC MINAS:


Novo Humanismo, novas perspectivas

Coletânea de trabalhos submetidos ao Seminário de Extensão da PUC Minas 2022

Organizadora:
Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros

1a edição

Belo Horizonte
PUC Minas
2022
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ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR
Grão-chanceler: Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Reitor: Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva
Chefe de Gabinete do Reitor: Prof. Dr. Guilherme Coelho Colen

PRÓ-REITORES
Extensão: Prof. Dr.ª Carolina Costa Resende
Gestão Financeira: Prof. Paulo Sérgio Gontijo do Carmo
Graduação: Prof. Eugênio Batista Leite
Logística e Infraestrutura: Prof. Rômulo Albertini Rigueira
Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Sérgio de Morais Hanriot
Recursos Humanos: Prof. Sérgio Silveira Martins

PRÓ-REITORES ADJUNTOS DOS CAMPI E UNIDADES


Arcos: Prof. Dr. Jorge Sündermann
Barreiro: Prof. Dr. Luis Renato Junqueira
Betim: Prof.ª Dr.ª Claudia Venturini
Contagem: Prof. Dr. Martinho Campolina Rebello Horta
Poços de Caldas: Prof. Dr. Iran Calixto Abrão
Praça da Liberdade: Prof. Me. Miguel Alonso de Gouvea Valle
PUC Minas Virtual: Prof. Dr. Carlos Barreto Ribas
São Gabriel: Prof. Me. Tarcísio José de Almeida
Serro e Guanhães: Prof. Esp. Ronaldo Rajão Santiago

SECRETARIAS ESPECIAIS
Secretaria de Comunicação: Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional: Prof. Dr Marcos André Kutova
Secretaria Geral: Prof.ª Dr. Anne Shirley de Oliveira Rezende Martins
Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários: Prof. Dr. Jorge Sündermann
Assessoria de Assuntos Estudantis: Prof. Dr. Jorge Sündermann

Consultoria Jurídica: Prof.ª Me. Natália de Miranda Freire


Ouvidoria: Ramon Xavier
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PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
Prof. Dr.ª Carolina Costa Resende

COMISSÃO ORGANIZADORA DA SEMINÁRIO DE EXTENSÃO


Assessoria Acadêmica
Coordenação Setorial de Cursos e Eventos
Coordenação Setorial Produção Acadêmica e Publicações

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO ACADÊMICA E PUBLICAÇÕES


Prof.ª Dr.ª Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros
Prof.ª Dr.ª Vera Lopes da Silva
Esp. Camila da Conceição Mendes Costa

REVISÃO LINGUÍSTICA
Prof.ª Dr.ª Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros
Prof.ª Dr.ª Vera Lopes da Silva
Caroline Machado Gomes (Bacharelanda em Letras / Estagiária da Proex PUC Minas)
Eunice Raquel Teodoro da Silva (Estagiária da PROEX, Bacharelanda em Letras / PUC Minas)
Leandro Martins de Sousa (Bacharelando em Letras pela PUC Minas)
Leonardo Mesquita Viana (Bacharelando em Letras pela PUC Minas)
Vitor Magalhães Souto (Estagiário da Proex / Licenciando em Português/Inglês PUC Minas)

DIAGRAMAÇÃO
Esp. Camila da Conceição Mendes Costa
Vitor Magalhães Souto
Eunice Raquel Teodoro da Silva

Obs.: Os temas, as perspectivas e entendimentos sobre os mesmos, apresentados por membros da


Comunidade Acadêmica e Administrativa ou convidados, nesta publicação, são de responsabilidade
do(s) autor(es), nem sempre expressando os valores e orientação filosófica e teológica da PUC Minas
e da Reitoria
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Seminário de Extensão


Universitária (2022. : Belo Horizonte, MG)
P816e Extensão PUC Minas [recurso eletrônico]: novo humanismo, novas perspectivas
/ organizadora: Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2022.
E-book (964 p. : il.)

ISBN: 978-65-88331-63-7
“Coletânea de trabalhos submetidos ao Seminário Extensão da PUC Minas
2022”

1. Extensão universitária - Congressos. 2. Ensino Superior -


Congressos. 3. Universidades e faculdades - Pesquisa. 4. Humanismo. 5.
Comunidade e universidade. I. Barros, Ev’Ângela Batista Rodrigues de. II. Título.

CDU: 378.38
Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086
SUMÁRIO

PREFÁCIO
Wanderley Chieppe Felippe
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

APRESENTAÇÃO
Ev’Ângela Batista R. de Barros
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

SEMINÁRIO DE EXTENSÃO 2022

Seminário de Extensão 2022 Novo Humanismo: (re)pensar e (re)agir ....................................... 24


Camila da Conceição Mendes Costa; Guilherme Estrella Henriques;Luciana Fagundes da Silveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

ARTIGOS ACADÊMICOS

Projeto interdisciplinar entre Direito e Engenharia de Software da PUC Minas: um caso de


sucesso na democratização e acessibilidade às PECs .................................................................... 34
Ana Silvia Pereira de Moura Bellico; Ian Guelman; Simone Diogo de Souza; Soraia Lúcia da Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Voluntariado no Brasil: breve análise dos desafios encontrados na comunidade Palmares II em


Ibirité/MG ......................................................................................................................................... 51
Antônio Carlos Lúcio Macedo de Castro; José dos Reis G Rodrigues
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A interferência do gênero no diagnóstico em saúde da população prisional nas APAC:


resultados preliminares da interação pesquisa-extensão ............................................................. 72
Anna Flávia Silva Cruz; Bárbara Úrsula Dias de Souza; Maria Luiza Rodrigues Bandeira;
Nicole Almeida Soares; Patrícia Dayrell Neiva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Mediação Comunitária: relações étnico-raciais e comunicação não violenta ............................ 87


Isabel Lucas Alvarez Rodrigues; Katerine Veloso; Letícia Caroline Faria Marcelino;
Rubens Ferreira do Nascimento; Vitória Hellen Ferreira Nicolau
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
A arte e o lúdico na constituição da subjetividade em oficinas socioeducativas do Sonoro
Despertar......................................................................................................................................... 113
Alessandra Quezia Dornelas Santos; Amanda de Souza Guerra; Ana Luíza Coelho de Moraes;
Ariadiny Aparecida Dias Lima; Maria dos Anjos Lara e Lanna
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Extensão Universitária: espaço de construção de memória e cidadania .................................. 128


Andrea Oliveira da Silva
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio

Traduzir a técnica e reconhecer espaços: assessoria técnica virtual e colaborativa ................ 143
Lívia Carolaine Jardim Viana; Gabrielle Barbosa Souza; Liz dos Santos Portela;
Viviane Zerlotini da Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

O ensino em Gestão Empresarial como agente transformador para estudantes e


empreendedores ............................................................................................................................. 158
Lucelia Santos Sousa Gomes; Alexandra de Oliveira Rodrigues-Marçulo;
Ângelo Quércio Monteiro Gomes; Aldenise Maicon Moreira; Amanda Chaves Cezário
Instituto Federal de Roraima – IFRR

Programação em blocos e o desenvolvimento do pensamento computacional: um estudo de caso


do Beira Linha ................................................................................................................................ 174
Alice Cabral de Avelar Marques; Juliana Silvestre da Silva; Sandra Maria Silveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Construindo pontes: inclusão, respeito, e cidadania através de manualidades ....................... 189


Paulo Henrique Maciel Barbosa
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Jovens Aprendizes e os desafios em tempos pós-pandêmicos: formação e cidadania ............ 204


Eduardo Costa Silva; Marcelo Prímola Magalhães;Tania Cristina Teixeira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Projeto de Extensão como processo de integração entre discentes e empresas na compreensão


curricular de disciplinas no ensino superior................................................................................ 218
Romildo João Lisboa; Amanda Valéria Novak Ferreira dos Santos
Centro Universitário Vale Do Iguaçu – UNIGUAÇU

A minério-dependência e as alternativas econômicas: uma análise do caso de Brumadinho a


partir da prática extensionista ...................................................................................................... 232
Tânia Cristina Teixeira; David Ferreira Duarte; Ario Maro de Andrade; Karen Munhoz de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Projeto de Extensão MediAção Comunitária: potencial transformador e restaurativo ........ 250


Érika Fernanda Cecílio; Gustavo Henrique Mendes de Abreu; Juliana Krauss Silva;
Matheus Pierre Reis Fernandes; Rubens Ferreira do Nascimento
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Aposentadoria e benefícios para pessoas com deficiência: modelos de avaliação.................... 270


Ana Júlia Estevam Corrêa; Carolina Costa Resende; Izabella Fagundes de Almeida Cruz;
Kaylane de Souza Silva; Vitória Alves Santos
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Arquitetura hostil para as pessoas em situação de rua .............................................................. 282
Lilian Márcia Neves Haddad; Ricardo Guerra Vasconcelos; Bernardo Rondinelle Ramos Silva;
Ellen Máilla de Paula; Lucilene Carolina Galvão de Moraes
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras: estratégias para o retorno seguro na modalidade
presencial ........................................................................................................................................ 292
Jade Estéfani Ferreira Prado; Jady Mirelly Faustino de Oliveira; Mateus Henrique Teixeira Botacin;
Nathani Lara Santos Faria; Evanirso da Silva Aquino
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A Produção do Material Didático "Você Quer Ser Um Educador Ambiental?": relato de


experiência a partir do projeto de extensão LABINTER ........................................................... 298
Maria Liliane M. Alfonso Antonio; Suelen Regina Patriarcha-Graciolli
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB

Ações de extensão com ênfase nas queixas musculoesqueléticas dos cuidadores dos beneficiários
do projeto qualidade de vida para todos: relato de experiência ................................................ 310
Bruna Alencar Rosa Morato; Júlia Rancanti Ribeiro; Letícia Fernandes Fraga Leroy;
Maria Carmen Almeida de Sousa; Ana Cássia Siqueira da Cunha
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras: resiliência e pandemia sob a ótica do idoso ........... 317
Larissa Shirley Gomes Lima; Mariana Batista Braga; Cainã de Morais Leite Almeida;
Jade Santos Alvares; Evanirso da Silva Aquino
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Cenários diferentes do retorno presencial no Programa Apenas Humanos: desmistificando as


condições de saúde ......................................................................................................................... 329
Bárbara Úrsula Dias de Souza; Gabriela Pâmela Fausta Vieira; Janaina Aparecida Lourenço Nascimento;
Karina Aparecida Gois Oliveira de Jesus; Patrícia Dayrell Neiva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A importância de estratégias pedagógicas e de recursos de Tecnologia Assistiva aliadas ao afeto


no ensino-aprendizagem de pessoas com necessidades educacionais especiais ........................ 336
Dayanne de Souza Linhares; Lohainy Grazielle de Oliveira Santos;
Roberta Colen Linhares; Nivânia Maria de Melo Reis
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Gestão de Atividades em um Projeto de Extensão: um relato de experiência em


ações remotas .................................................................................................................................. 346
Adrielle de Oliveira Santos; Simone Alves Nogueira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Principais desafios enfrentados por empreendedores durante a pandemia do COVID-19: um
estudo realizado na regional do Barreiro em Belo Horizonte-MG. ......................................... 358
Késia Aparecida Teixeira Silva; Rodrigo Cassimiro de Freitas; Natália Santos dos Reis;
Júnio Silva de Araújo; Jenifer Caroline Pinto Moreira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Perspectivas da extensão em um sistema prisional: relato de experiência ............................... 372


Júlio César Batista Santana; Karina Aparecida Góis Oliveira de Jesus;
Katherin de Los Angeles Amundaray Rodriguez; Laura de Almeida Deatherage; Sarah de Almeida Alves
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Processo de orientação vocacional e construção da identidade profissional em grupos de alunos


de Ensino Fundamental e Médio .................................................................................................. 383
Fernanda Morais da Silva; Letícia Valau Leitemberg; Manoela Palmeiro Dornelles; Thiago Ferreira Mucenecki
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI

Cidade das Abelhas: legislação ambiental ................................................................................... 394


Ezio Frezza Filho; Evaldo Zappia; Isabella Casagrande; Lívia Torres
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Conversas Inclusivas ...................................................................................................................... 404


Ana Júlia Estevam Corrêa; Carolina Costa Resende; Izabella Fagundes de Almeida Cruz;
Kaylane Souza Silva; Vitória Alves Santos
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A privação de direitos das mulheres grávidas em situação de rua: vivências e dificuldades


encontradas ..................................................................................................................................... 411
Ellen Máilla de Paula; Lucas Fernandes Alves Lages; Sayonarha Fernanda de Salles Silva;
Bernardo Rondinelle Ramos; Leda Lúcia Soares
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Telecentro em Belo Horizonte: mulheres em situação de rua e inclusão digital ...................... 419
Ricardo Guerra Vasconcelos; Lucilene Carolina Galvão de Moraes; Lilian Márcia Neves Haddad;
Lucas Fernandes Alves Lage; Sayonarha Fernanda de Salles Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

O acesso à justiça para os moradores de rua do Brasil .............................................................. 429


Ariadne Fernanda Martins Alves; Carlos Henrique Brasileiro; Ricardo Guerra Vasconcelos; Leda Lúcia Soares
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Relato de experiência: prática de exercício físico e uso de tecnologia como forma de educar e
motivar a população idosa ............................................................................................................. 438
Arthur Cardoso Barbosa; Larissa Maria Assumpção Moreira; Luísa Fernanda Gomes Wenceslau;
Luiza Teixeira Niero; Ana Cássia Siqueira da Cunha
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Experiências Vivenciadas no Projeto de Extensão “Arte de Cuidar”: diálogo intergeracional e


acolhimento em tempos de pandemia........................................................................................... 447
Beatriz Alves Sobrinho; Shirley Maria Alencar Lopes; Bruno Vasconcelos de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Abandono afetivo em instituições de longa permanência para pessoas idosas - ILPIs ........... 456
Esther Kevle Moreira de Lima; Laís Catarine Ferreira; Raquel Castro Morais Maciel;
Rosana Geralda Lima Silva; Bruno Vasconcelos de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Violência contra Mulheres Trans em Situação de Rua .............................................................. 472


Ana Rita Assis Cardoso de Souza; Marise Brostel Correa; Bruno Vasconcelos de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Relato de Experiência: de cara a cara com o meu ‘eu’............................................................... 481


Janaina Aparecida Lourenço Nascimento; Karina Aparecida Góis Oliveira de Jesus;
Maria Carmem Schettino Moreira; Patrícia Dayrell Neiva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Uso de metodologias ativas como estratégia facilitadora de ações de educação em saúde no


contexto da COVID-19 .................................................................................................................. 490
Ingryd Iolanda Siqueira Diniz; Júlia Lara de Oliveira; Rafaela Audina Soares Rosa;
Gisele do Carmo Leite Machado Diniz; Isabela Maria Braga Sclauser Pessoa
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Relato de experiência: Oficina de Extração de Óleos Essenciais e Hidrolato e as possibilidades


de uso com os produtos .................................................................................................................. 499
Daiany Silva Moreira Vasconcelos; Karla Karoline Santos Ramos; Maria Eduarda da Silva Alcântara;
Vanessa Aparecida Vasconcelos de Freitas; Marcus Vinicius Campos Tolentino
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Estágio Extracurricular em Urgência e Emergência: relato reflexivo ...................................... 509


Débora Lilian Roveron; Ivan Luiz Gonçalves dos Santos; Cibele Angélica de Souza Spina
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Intervenções educativas para prevenção de acidentes e segurança no trânsito: relato de


experiência ...................................................................................................................................... 518
Juliana de Toledo Piza Soares; Bruna Franchito Freire; Julia Beatriz Aliscantes Silva Brito; Joaquim Simões Neto
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas

Educação ambiental híbrida: experiência extensionistas de atendimento remoto


e presencial...................................................................................................................................... 525
Erick Duarte Kiomido; Gabriel Ferraciolli Soares; Joyce Mariah Guimarães de Campos;
Júlia Mendes Massoud; Myllene Guimarães Martins
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB

Oficina de Extensão Universitária sobre manejo da dor com o uso de ervas medicinais: um
relato de experiência ...................................................................................................................... 533
Giovana Maria Almeida Moreira; Larissa Mayra Belo Quintão; Mariana Cavaliere Batista e Silva;
Matheus Patrick Aguiar Bragança; Juliana Ladeira Garbaccio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

O impacto da humanização no cuidado da pessoa com câncer em Projeto de Extensão – Núcleo


de Atenção Interdisciplinar à Saúde em Oncologia (NAISO).................................................... 540
Dhyenyfer Bombazar; Tainara Gonçalves Martins; Andressa Regina Gomes;
Paula Ioppi Zugno; Neiva Junkes Hoepers
Universidade do Extremo Sul Catarinese – UNESC
Ação Voluntária de Arrecadação: Dia Nacional do Livro Infantil ........................................... 547
Claudia Mara Stapani Ruas; Eduarda Dutra de Oliveira; Gabriel Ferraciolli Soares;
Luana Kellen Freitas de Alencar; Nicholas Farias Batista
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB

Uma Experiência com Educação de Jovens e Adultos em um Sistema Prisional .................... 557
Virgínia Simão Abuhid; Ana Clara Bernardes Silva; Dâmaris Sarita de Marcos Neves;
Fernanda Bruna Silva; Lorena Ferreira Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Promoção da agroecologia através da produção de sementes crioulas ..................................... 566


Gessymel Cristina de Oliveira Costa; Camile Gabriele Martins Xavier; Katia Teixeira de Paula Costa;
Richard Afonso Batista de Freitas Moreira; Virginia Simão Abuhid
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

“Todos somos voluntários: ABC do Câncer”: guia rápido para o público de voluntários da
Fundação Antonio Dino, São Luís/MA ........................................................................................ 575
Melissa Silva Moreira Rabêlo; Lorena Cavalcante Barbosa Oliveira;
Ramirio Costa Ribeiro; Rayra Bruna Farias Guimarães
Universidade Federal do Maranhão – UFMA

MINIONU como instrumento de ensino e aprendizagem para a juventude ............................ 585


Giulia Rafaela Santos Schettini; Hadassa Amorim Bisi; Larissa Diniz Aguiar;
Nicolle Rodrigues Couto; Raquel de Bessa Gontijo de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A contribuição da prática para a formação docente .................................................................. 597


Pietra Da Ros; Rosemari Lorenz Martins; Lovani Volmer
Universidade Feevale

Relato de Experiência do Projeto de Extensão Pensamento Nômade: as interlocuções entre a


arte e a extensão ............................................................................................................................. 604
Ketlin da Fonseca de Siqueira; Fabiane Olegário
Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES

Extensão Universitária: intercâmbios que fazem a diferença ................................................... 612


Vinícius da Silva Martins; Quetlin da Silva Silveira Apolinário; Samuel Garcia da Silva Junior;
Silemar Maria de Medeiros da Silva; Amalhene Baesso Reddig
Universidade do Extremo Sul Catarinese – UNESC

Projeto ALEGRIA: autonomia no processo de alfabetização e letramento ............................. 621


Aliny Vitória Martins Cunha; Mariana Queiroga Gomes; Thammy Danielly Alves Domingos;
Thúllio Salgado Santos Vieira; Arabie Bezri Hermont
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A Leitura, a Escrita e a Matemática: estreitando os laços entre a teoria acadêmica e o cotidiano


da sala de aula ................................................................................................................................ 631
Carla Angélica de Assis Medeiros; Géssica de Fátima Silva Muniz; Rosemilla Patrícia da Silva Oliveira;
Tainá Cristina da Silva; Emerson Bastos Lomasso
Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG
Diálogos Possíveis: práticas educacionais para a Escola e a Comunidade ............................... 643
Ilisabet Pradi Krames; Ana Cristina Bornhausen Cardoso; Sabrina Silva Campos; Maria Eduarda Policarpo
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

O avanço da tecnologia e os desafios na formação de competências na construção civil: um


relato de experiência de dois anos do projeto Canteiro Escola no regime remoto .................. 653
Carla Poeiras da Silva Paiva; Elke Berenice Kölln; Paulo Henrique Maciel Barbosa
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Reforço Escolar em Matemática no Ensino Fundamental: a experiência do Projeto SOS


Matemática ..................................................................................................................................... 666
Paulo Henrique Maciel Barbosa
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Democratização do Acesso à Informação: educação fiscal por meio de orientações abertas ao


microempreendedor sobre o MEI ................................................................................................ 676
Eder Gabriel Silveira Botelho; Gabriel Santiago Moura Araújo; Geislon Josias dos Santos Vieira;
Kerolayne Lopes Brito; Fátima Maria Penido Drumond
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Relato de experiência sobre a influência de museus no processo educativo não formal ........ 687
Karina Fideles Filgueiras; Fernanda Bruna Silva; Sônia Firmato Fortes
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Orientações para pais e responsáveis de jovens com Síndrome de Down durante a pandemia do
novo coronavírus (COVID-19) ...................................................................................................... 694
Gabrielly Gomes Ferreira; Danielle Alves Rodrigues; Lucas Macedo Pereira Lima;
Natália Rezende Baraldi; José Francisco Kerr Saraiva
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas

Intergeracionalidade para a Promoção de Saúde em Idosos ..................................................... 703


Lilian de Souza Martins; Eduarda Felipe Bonilha Reges; Vinícius de Souza Silva;
Teresa Cristina Alvisi; Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A importância da escuta qualificada com foco na reabilitação em recuperandas do Projeto de


Extensão ELAS ............................................................................................................................... 713
Ana Clara de Jesus Nunes; Ana Paula Marques Silva; Bruna Mara dos Anjos Moraes;
Izabela Cardoso Souza; Patrícia Dayrell Neiva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Adesão ao calendário vacinal do adulto e idoso: um relato de experiência de acadêmicos do


curso de Enfermagem em prática extensionista .......................................................................... 724
Elisa de Moura Dias; Liriel Cristina Neves Magalhães; Juliana Mara Felisberto
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Segurança e saúde para os trabalhadores do Centro de Convivência do Emaús .................... 740


Gabriella dos Santos Andrade Souza; João Pedro Borges Gomes; Lara Maria Pena Gonçalves de Souza;
Lorena Bonifácio Ramos; Adriana Silva Drumond
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
RESUMOS EXPANDIDOS

Podcast Delírios Biomédicos: novas mídias na Extensão Universitária ................................... 748


Stella Schuster da Silva; Jessica Boschini D’Agostin; Marcos dos Santos Júnior;
Ivan Tsukuda; Bruno Jacson Martynhak
Universidade Federal do Paraná – UFPR

MEI: o melhor caminho para o trabalho de autônomos e pequenos empreendedores ........... 756
Alice Santos Batista; Bruna Guimarães da Silveira Santos; Rafael Almeida Carneiro;
Reinaldo Cardoso dos Anjos; Fátima Maria Penido Drumond Coelho
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

A Transição do Ensino Presencial para o Remoto na Perspectiva da Literacia Digital ......... 763
Ana Teresinha Elicker; Débora N. F. Barbosa; Sandra Terezinha Miorelli
Universidade FEEVALE

A titulação de terras como mecanismo de proteção de territórios quilombolas frente aos


processos de concessão de licenciamento ambiental para mineradoras ................................... 771
Allan José Teixeira de Barros Neto; Anna Cecília Santos Chaves; Tiago Geisler Moreira Costa
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

O uso das tecnologias nas Atividades de Extensão universitária com população vulnerável na
pandemia: os vídeos do Projeto Vínculos .................................................................................... 776
Isabela Oliveira da Silva; Sarah Sales Montoia; Camilla Marcondes Massaro
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas

“PSICONUTRI”: grupo educativo para mulheres com fibromialgia....................................... 783


Livia Aparecida de Figueiredo Pinheiro; Luziane de Fátima Kirchner; Daniela Oliveira de Araújo;
Monyke Rayane Bragante Oliveira; Paula Alessandra da Silva
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB

Ações extensionistas com pessoas em situação de rua e o impacto que pode ser gerado na vida
profissional dos acadêmicos de Medicina .................................................................................... 789
Isadora Dourado Martins; Valeska Guimarães Rezende da Cunha
Universidade de Ubeaba – UNIUBE

Anestesia para Todos: crescer, confiar, divulgar ........................................................................ 793


Amanda Lethicia Lana Noll; Elisa Maria de Paula Novaes; Felipe de Brito Fernandes Pinto;
Paula dos Santos Marsico Pereira da Silva; Pedro Luis Nogueira da Silva
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Avaliação do comportamento alimentar de acadêmicos do Centro Universitário Vale do Iguaçu


e identificação de possíveis distúrbios alimentares ..................................................................... 797
Ana Paula Rossoni; Mateus Joélcio dos Santos; Gislaine Balbinotti;
Vanessa Csala Smykaluk; Lina Cláudia Sant´Anna
Centro Universitário do Vale do Iguaçu

Clínica de Extensão: cirurgia em estomatologia ......................................................................... 803


Mariana Silveira Souza; Juliana Santos Silva; João Pedro Santos Nascimento;
Filipe Augusto Dutra Duarte; Leandro Junqueira de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Comunidade Indigena Warao e a importância da realização de práticas de extensão .......... 807
Katherin de los Angeles Amundaray Rodriguez; Patrícia Sarsur Nasser Santiago; Ivonilde Pinto Dias;
Maria Aparecida da Silva; Samyra Tainá Martins Jardim
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Educação em saúde nas escolas: doenças infecto-parasitárias e suas implicações .................. 814
Julia Ornellas Costa; Ingrid Marciano Alvarenga; José Henrique Silva Rodrigues;
Pedro Henryque de Castro; Joziana Muniz de Paiva Barçante
Universidade Federal de Lavras – UFLA

Ensino de anatomia e noções de primeiros socorros em Divinópolis-MG ................................ 821


Bárbara Samelyne de Oliveira Melo; Daniel Gonçalves Elias; Lorrayne Evellyn Lopes Moreira;
Heber Paulino Pena; Maira de Castro Lima
Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ

Esporotricose humana em Contagem/MG: emergência de casos .............................................. 828


Camila de Aguiar Lima Fernandes; Keyla Christy Christine Mendes Sampaio Cunha;
Lavínia de Fátima Baldim Martins; Victor Reis Rocha
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Estoque de carbono em sistema silvipastoril formado com a espécie nativa brasileira Pterodon
Emarginatus ................................................................................................................................... 834
Pedro Souto Lamas; Ana Eliza da Silva; Yandra Mendes Nunes; Guilherme Lobato Menezes;
Ângela Maria Quintão Lana; Alan Figueiredo de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Fotos de Família: os sentidos a partir da imagem....................................................................... 839


Eliane Meire Soares Raslan; Ariane Stefanie
Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG

Herança paterna de fertilidade de vacas doadoras da raça Gir ................................................ 844


Ana Eliza da Silva; Estela Oliveira de Paula Martins; Pedro Souto Lamas;
Yandra Mendes Nunes; Alan Figueiredo de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Minuto da Saúde: ações extensionistas e o uso das mídias sociais na promoção da saúde ..... 849
Randerson André Fernandes de Souza; Maurício Moraes Assis; Laura Victória Miranda Silveira;
Gabriella Carmelita Claudino; Joziana Muniz de Paiva Barçante
Universidade Federal de Lavras – UFLA

Podcast Delírios Biomédicos: comunicação estratégica na Extensão Universitária ................ 854


Gabrielle Oliveira Guilherme; Beatriz Borba Ortiz; Adrieli Teles Soares;
William Mattana dos Santos; Bruno Jacson Martynhak
Universidade Federal do Paraná – UFPR

Projeto asas da dança: reflexões sobre ensino, pesquisa e extensão no curso de Educação Física
da PUC Minas................................................................................................................................. 860
Bruna D´Carlo Rodrigues de Oliveira Ribeiro; Márcia Campos Ferreira; Camila Rodrigues Rezende
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Relógio Biológico da Medicina Chinesa ....................................................................................... 865


Samara dos Santos Spies; Morgana Belmonte; Roseli de Mello Farias
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS
Salvando vidas ................................................................................................................................ 870
Andrini Thairini Weisheimer; Fatima Carneiro Fernandes; Joyce Amora Souza;
Lara Moreira Chamon; Ruy Tamoyo Vendas Rodrigues Neto
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Vídeo instrucional sobre rolhas de secreção para profissionais da saúde do hospital


metropolitano Dr. Célio de Castro ............................................................................................... 874
Ana Clara Mendes Campos; Blandina Izabel Coelho de Oliveira;
Diego Santos Miranda; Paloma Thais Duarte; Valéria da Silva Caldeira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Construção da docência em teatro: possibilidades de práticas artísticas


na Educação Básica........................................................................................................................ 879
Fernanda Moreno; Tiago Martinelli Nogueira; Marli Susana Carrard Sitta
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS

Ensino de BIM como prática extensionista na disciplina Representação e


Modelos Digitais III ....................................................................................................................... 884
Álvaro José Paiva de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Uma reflexão sobre a Extensão Universitária e ressocialização depois do vestibular ............. 888
Stela Cristina de Godoi; Sara Sales Montóia; Vera Lúcia dos Santos Placido; Victória Bastos Ferreira Mantilha
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas

O brincar transforma: uma experiência do Projeto de Extensão Brincando e Aprendendo com


crianças em tratamento oncológico .............................................................................................. 893
Gabriela Becker Stoffel; Juliana Vargas Silva; Vanessa Barcelos de Menezes;
Luana Lopes Bley; Simone Moreira dos Santos
Universidade FEEVALE

Os Sentidos da Educação Quilombola como outra possibilidade epistêmica para o Ensino


Regular: uma experiência no Estágio Obrigatório de observação do Curso de Pedagogia da
UEMG ............................................................................................................................................. 898
Bruno de Sena Marçal; Vitória Régia Izaú
Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG

Projeto de extensão Alfab&Letrar: propostas para potencializar a alfabetização, o letramento


e o letramento literário .................................................................................................................. 903
Carla Fernanda Schneider; Danise Vivian; Garine Andréa Keller
Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES

Quando Extensão e Graduação se encontram: análise das redes intersetoriais em


Campinas, SP.................................................................................................................................. 907
Vera Lúcia dos Santos Placido; Juliano Pereira de Mello; Matheus de Moraes Firmino;
William Martins; Yasmin Araújo Troncon
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas
O Dossiê “No Meio Do Caminho, O Rejeito...”: Revista Engenharia de Interesse
Social - REIS ................................................................................................................................... 912
Flávia Cristina Silveira Braga; Fernanda Emily Silva; Júlia Granja Figueiredo Pereira;
Telma Ellen Drumond Ferreira; Vitória de Souza Leite
Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG

Batzbot: um robô desenhista......................................................................................................... 917


Daniel Duzzi Paulo; Amilton da Costa Lamas
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Democratização do acesso à plataforma GOV.BR ..................................................................... 923


Gabriela Heloisa A. Sousa; Matheus Menezes Gonçalves;
Rafaela Helena Guedes Furiati; Fatima Maria Penido Drumond
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Mercado de trabalho e os desafios da transição demográfica ................................................... 929


Eliane Navarro Rosandiski
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas

Piso salarial nacional profissional do magistério, financiamento da educação, FUNDEB e lei de


responsabilidade fiscal: vamos entender suas implicações? ...................................................... 937
Gilberto de Oliveira Paulino; Márcia Prímola de Faria
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas

Alternativas para a continuidade das atividades de extensão durante a pandemia: o uso do


streamyard ....................................................................................................................................... 943
Cláudia Pinheiro Nascimento; Jonathan Rosa Moreira
Centro Universitário UniPROJEÇÃO

Ensino de Xadrez com Amor na Escola Espirita Chico Xavier ................................................. 949
Elias Vidal Bezerra Junior
Instituto Federal do Tocantins – IFTO

Pílulas de Neurociências para um cérebro melhor: ensino de Neuroanatomia e


aprendizado/memória no Centro-Oeste Mineiro ........................................................................ 954
Ana Julia Lacerda de Faria; Ariana Amaral Silva; Bruna da Silva Calderaro;
Rafael Fernando da Silva; Maira de Castro Lima
Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ

Quem são os beneficiários da Extensão Universitária? Os desafios da delimitação de


beneficiários diretos e indiretos em questão ................................................................................ 959
Arthur Fernandes dos Reis; Carolina Costa Resende;
Jane Carmelita das Dores Garandy de Arruda Barroso
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
EXTENSÃO PUC MINAS:
18 Novo Humanismo, novas perspectivas

PREFÁCIO

Wanderley Chieppe Felippe1

O Seminário de Extensão da PUC Minas, de 2022, visou se juntar às vozes da Igreja Católica,
em Roma e em todo o mundo, a partir da coragem do Papa Francisco, de questionar os sistemas
políticos e econômicos que privilegiam uma pequena parcela da população mundial e condenam
milhões de habitantes a viverem em situação de pobreza e vulnerabilidade. Não obstante, o
questionamento vai mais além, ao se saber que tais atitudes colocam em risco a própria sobrevivência
da humanidade, tendo em vista o acelerado processo de destruição do planeta, supostamente em prol
do desenvolvimento e do progresso.
“Novo Humanismo: (re)pensar e (re) agir” foi o título deste Seminário de 2022, do qual se
originou a presente compilação de trabalhos. Juntamente com o Papa Francisco, discordamos
radicalmente do sistema econômico vigente, que é feito a partir de uma economia de exclusão e
desigualdade, uma economia que mata e segrega. Defendemos a prática de uma nova economia, que
coloque não o lucro e a acumulação de riquezas, mas o ser humano no centro, buscando reencontrar
e reconstruir as vivências da partilha, da fraternidade, do comunitário.
O lançamento recente de uma obra, o livro “O Novo Humanismo: paradigmas civilizatórios
para o século XXI a partir do Papa Francisco” (2022), representa um marco na história da PUC minas.
Seus vários autores colocam como uma questão central a crítica ao modo de produção capitalista,
como um modelo estruturalmente excludente, que condena grande parte dos habitantes do planeta à
pobreza extrema e, além disso, gradativamente, vai também excluindo o próprio trabalhador, uma
vez que máquinas e robôs podem realizar de forma mais eficiente as suas funções.
O próprio Papa Francisco, em seu discurso no “Encontro Mundial de Movimentos Populares”,
em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, em 2015, bradou: “Esse sistema é insuportável: não o
suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o
suportam os povos... Sequer o suporta a Terra, a Irmã Terra, como dizia São Francisco”.

1
Doutorando em Psicologia, mestre em Educação e graduado em Psicologia. Especialista em Psicoterapia
Contemporânea. Professor e Pró-Reitor de Extensão da PUC Minas ((2007-2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 19

Também Leonardo Boff, em publicação de 2002, sentenciava: “Desde o início deste terceiro
milênio, o tempo histórico nos tem confrontado com um dilema inescapável sobre a vida da
humanidade e das outras espécies animais e vegetais que compartem conosco o planeta: ou mudamos
ou morremos.”
Os professores Dom Joaquim Mol e Claudemir Alves, na Apresentação da obra mencionada,
o livro “O Novo Humanismo”, nos alertam: “A possibilidade real de destruição do planeta, a
condenação de milhões de pessoas à pobreza extrema, a indiferença das grandes fortunas diante da
miséria humana são alguns dos sinais da exaustão do atual modelo de organização social e
econômica.” E, na obra, Maurício Abdalla completa: “Trata-se da percepção, cada vez mais clara de
que o processo civilizatório (...) ultrapassou os limites toleráveis pela humanidade e pelo planeta e
chegou, portanto, ao seu fim como projeto humano possível.”
Para concluir, também são pertinentes os apontamentos do professor José Luiz Quadros
Magalhães: “... temos que buscar os diversos caminhos que se abrem a partir da compreensão da vida
como integral, da compreensão do humano como parte de um todo. Somos natureza, compartilhamos
os átomos, consciências, experiências; compartilhamos a vida desde a criação.”
Ao escolhermos para este Seminário de Extensão, de 2022, a temática do Novo Humanismo,
inspirados nos documentos e falas do Papa Francisco, nos reunimos aos movimentos que têm sido
organizados pela nossa Arquidiocese de Belo Horizonte e também pela nossa PUC Minas. Os
princípios que servem de orientação para as ações de Extensão em nossa Universidade, com toda
certeza, nos colocam em sintonia com o espírito e as práticas decorrentes do Humanismo Cristão.
Dessa forma, como reflexo das muitas mentes e mãos que trabalham com Extensão, sob a
égide do Humanismo e da Sustentabilidade, os trabalhos que se encontram neste e-book são
resultantes das mais diversas formas de intervenção extensionista, nos mais distintos rincões do
Brasil. Convidamos a todos a usufruir da leitura e das reflexões propiciadas por eles.
EXTENSÃO PUC MINAS:
20 Novo Humanismo, novas perspectivas

APRESENTAÇÃO

Ev’Ângela Batista R. de Barros1

A Extensão PUC Minas, com orgulho e alegria, traz a público mais um e-book da série, em
que foram compilados alguns dos excelentes trabalhos submetidos ao Seminário e Mostra de
Extensão de 2022. Esse grande evento, já inscrito e consolidado na agenda da Universidade, vem
conquistando, a cada edição, maiores adesões, vindas de todos os rincões do Brasil.
Saber que a Extensão Universitária, paulatinamente, vem assumindo a posição de destaque
que lhe cabe no tripé – juntamente com o Ensino e a Pesquisa –, nacionalmente, a partir da
implementação da curricularização, é realmente gratificante para todos nós, extensionistas de
coração. Saber que o fato de que todo ingressante numa formação acadêmica (em uma universidade
ou mesmo em centros acadêmicos, como mostram vários trabalhos aqui disponibilizados) em vários
momentos de sua formação lidará com a Extensão, de modo a (re)significar sua formação teórico-
prática é algo almejado há décadas, e que vem se concretizando a partir de diplomas legais que nos
levam a dedicar, no mínimo, 10% de toda a carga horária acadêmica a essa parte da formação
universitária. Isso é o que tem permitido focar a atenção a demandas do entorno, da sociedade mais
imediata ou não, considerando não apenas suas necessidades, mas também o desejo da comunidade
por essa intervenção.
Não se trata de uma relação verticalizada, em que a Universidade – metonímia com que
nomeamos os diversos sujeitos extensionistas: professores, alunos, parceiros, etc. – chega e, de forma
verticalizada e unilateral, oferece seus préstimos. Se algo mudou (e vem mudando, na verdade),
nessas duas últimas décadas, é a constatação de que se trata de uma relação bilateral, uma partilha de
saberes e experiências, em que todos saem ganhando. Depois de um longo tempo em que se via a
Extensão como relação paternalista e assistencialista, cada vez mais os resultados positivos vêm
sendo percebidos como uma coconstrução de novas realidades, em que a partilha é a tônica, desde o
momento primeiro em que se concebem os programas, projetos, cursos, eventos ou quaisquer outras
formas de atividade extensionista.

1
Mestre e doutora em Estudos Linguísticos (UFMG). Graduada em Letras (UFMG) e Pedagogia (UEMG). Pós-doutora
em Estudos do Texto e do Discurso (UFMG). Chefe do Departamento de Letras, professora do Programa de Pós-
graduação e da graduação em Letras da PUC Minas. Titular da Coordenação Setorial de Publicações e Produções
Acadêmicas da Pro-reitoria de Extensão. Editora-gerente da Revista Conecte-se!, da Pró-reitoria de Extensão PUC Minas.
(2016 – 2022) E-mail: evangela@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 21

De forma aprofundada, já nos anos 1960, Paulo Freire2 nos conclama a refletir sobre o que é
extensão – no seu sentido inicial, dicionarizado, e no sentido que assume na acepção aqui discutida.
Para ele,

De um ponto de vista semântico, sabemos que as palavras têm um “sentido de base” e um


“sentido contextual”. E o contexto em que se encontra a palavra que delimita um de seus
sentidos “potenciais ou virtuais”, como os chama Pierre Guiraud. (...)
Mas, precisamente porque sua ação de extensão se dá no domínio do humano e não do
natural, o que equivale dizer que a extensão de seus conhecimentos e de suas técnicas se faz
aos homens para que possam transformar melhor o mundo em que estão, o conceito de
extensão também não tem sentido do ponto de vista humanista. E não de um humanismo
abstrato, mas concreto, científico. Recorramos, uma vez mais, à análise linguística. Os
estudos modernos de Semântica receberam uma contribuição importante de Trier,
representada por sua teoria dos “campos linguísticos”. (FREIRE, 1983, p.11).

Prosseguindo em sua análise verticalizada, Freire nos lembra que não se pode pensar em
Extensão como assistencialismo, mas como uma relação qualificada entre seres “aprendentes” e
“ensinantes”:

Repetimos que o conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aquêles que
se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações
de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações. Para
discutir com os camponeses qualquer questão de ordem técnica, impõe-se que, para êles, a
questão referida já constitua “um percebido destacado em si”. Se ainda não o é, necessita sê-
lo. Se já constitui ou ainda não “um percebido destacado em si” é necessário que, em ambos
os casos, os camponeses captem as relações interativas entre o “percebido destacado” e outras
dimensões da realidade. Isto demanda um esfôrço não de extensão, mas de
conscientização que, bem realizado, permite aos indivíduos se apropriarem
crìticamente da posição que ocupam com os demais no mundo. Esta apropriação crítica
os impulsiona a assumir o verdadeiro papel que lhes cabe como homens. O de serem sujeitos
da transformação do mundo, com a qual se humanizem. (FREIRE, 1983, p.22-23).

É com essa concepção, firmemente criada por meio da convivência com pessoas que vêm se
dedicando à Extensão, na PUC Minas, e por meio da aprendizagem advinda da leitura de tantos
trabalhos que mostram realidades insuspeitas, Brasil afora, que os convido a adentrarem nesse
universo de humanização por meio de uma prática cujo cerne é calibrado pela visão do outro, em
todas as suas complexidades e potencialidades, por meio dos inúmeros projetos de Extensão aqui
reunidos.
Uma ótima leitura, de grandes aprendizagens, a todos vocês!

2
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira; prefácio de Jacques Chonchol.
7ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, [1968] 1983, 93 p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
22 Novo Humanismo, novas perspectivas

SEMINÁRIO DE EXTENSÃO 2022

SEMINÁRIO DE EXTENSÃO 2022


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 23
EXTENSÃO PUC MINAS:
24 Novo Humanismo, novas perspectivas

Seminário de Extensão 2022


Novo Humanismo: (re)pensar e (re)agir

Extension Seminar 2022


New Humanism: (re)think and (re)act

Camila da Conceição Mendes Costa1


Guilherme Estrella Henriques2
Luciana Fagundes da Silveira3

A Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Proex PUC


Minas), por meio das Coordenações Setoriais de Cursos e Eventos, Produção Acadêmica e
Publicações, e Assessoria Acadêmica realizou, nos dias 22 e 23 de setembro de 2022, a terceira versão
do Seminário de Extensão online. Todas as atividades foram realizadas com o suporte das plataformas
StreamYard e Zoom, com transmissão simultânea pelo canal da Extensão PUC Minas no YouTube.
Com o tema “Novo Humanismo: (re)pensar e (re)agir”, o Seminário de Extensão 2022,

veio se juntar às vozes da Igreja Católica, em Roma e em todo o mundo, a partir da coragem
do Papa Francisco, de questionar os sistemas políticos e econômicos, que privilegiam uma
pequena parcela da população mundial e condenam milhões de habitantes a viverem em
situação de pobreza e vulnerabilidade. Mas o questionamento vai mais além, ao se saber que
tais atitudes colocam em risco a própria sobrevivência da humanidade, tendo em vista o
acelerado processo de destruição do planeta, supostamente em prol do desenvolvimento e do
progresso. (PUC Minas, 2022, s./p.).

No dia 22 de setembro, o público foi convidado a refletir sobre a necessidade de desenvolver


“uma nova economia, que coloque não o lucro e a acumulação de riquezas, mas o ser humano no
centro, buscando reencontrar e reconstruir as vivências da partilha, da fraternidade, do comunitário”.

1
Especialista em Marketing Estratégico. Graduada em Comunicação Social com ênfase em Relações Públicas pela PUC
Minas. Funcionária das Coordenações Setoriais de Produção Acadêmica e Publicação, e Cursos e Eventos da Pró-reitoria
de Extensão. E-mail: camila2801@gmail.com.
2
Graduando em Publicidade e Propaganda pela PUC Minas. Estagiário da Coordenação Setorial de Cursos e Eventos da
Pró-reitoria de Extensão da PUC Minas (2022). E-mail: guilhermehestrella@gmail.com
3
Mestre em Administração, Professora dos cursos de Administração e Comunicação da PUC Minas. Responsável pela
Coordenação Setorial de Cursos e Eventos da Pró-reitoria de Extensão (2020 -2022). E-mail:
lufagundessilveira@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 25

(PUC Minas, 2022, s./p.). Neste dia a programação contou com três mesas: I. O Novo Humanismo
na perspectiva da Ecologia Integral; II. Por um Humanismo Digital integral; III. Pacto Educativo
Global: por uma formação humanista, e com a Conferência: “Outro mundo é possível?”.
A primeira mesa buscou “refletir sobre concepções, princípios e paradigmas que se alinham a
prática de uma ecologia integral como base para o novo humanismo”. A segunda mesa propôs “uma
reflexão sobre o processo de digitalização da vida contemporânea. (...) existem formas de humanismo
emergindo com a cultura digital?”. A terceira mesa refletiu sobre compromissos do Pacto Educativo
Global: “uma educação que acolhe, ouve os mais jovens, promove a mulher, responsabiliza a família
e volta-se para a renovação da economia e da política.”
O primeiro dia de evento encerrou-se com a conferência “Outro mundo é possível?”
ministrada pelo professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães4, com mediação do professor
Wanderley Chieppe Felippe5, que trouxe “uma reflexão sobre o conceito do ‘Novo Humanismo’ e o
papel das universidades católicas na sua vivência e replicação”:

“[n]a voz quase solitária do Papa Francisco, o verde da esperança começou a brotar neste
mundo pintado em branco e preto. Discursos e atitudes do papa contrastam intensamente com
o cenário atual e sugerem a possibilidade de uma nova forma de vida. Um mundo em que a
morte não tenha a última palavra. Em lugar da exclusão e da miséria, o Papa propõe um novo
humanismo. Em lugar da destruição do planeta, Francisco propõe o cuidado com a ‘casa
comum’.” (GUIMARÃES apud PUC Minas, 2022, s./p.).

No segundo dia, 23 de setembro de 2022, o Seminário foi destinado as apresentações de


trabalhos divididos em nove salas virtuais com seis ou sete exposições cada, com transmissão
simultânea pelo canal da Extensão PUC Minas no YouTube. A sétima edição da Mostra de Extensão
marca o segundo ano consecutivo, que o seu edital foi aberto para submissão de trabalhos de outras
Instituições de Ensino Superior (IES), recebendo assim 182 submissões de diversas áreas de
conhecimento. A equipe de pareceristas foi composta por 102 professores(as) da PUC Minas e
convidados(as) - pareceristas ad hoc. Seguindo a mesma metodologia adotada dos anos anteriores
(2020 e 2021), as apresentações da Mostra foram gravadas pelos autores em vídeos de até 7 minutos.
Ao final da exibição dos vídeos, houve um espaço aberto para a interlocução entre os autores e o
público que acompanhava o evento pelo YouTube.

4
Mestre e bacharel em Teologia. Licenciado em Filosofia. Professor e pesquisador na PUC Minas. Fundador e
coordenador do Instituto de Pastoral PUC Minas. Editor fundador da Revista Horizonte. Bispo Auxiliar da Arquidiocese
de Belo Horizonte. Ex-Reitor da PUC Minas (2007 até 2022).
5
Doutorando em Psicologia, mestre em Educação e graduado em Psicologia. Especialista em Psicoterapia
Contemporânea. Professor e ex- Pró-Reitor de Extensão da PUC Minas (até 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
26 Novo Humanismo, novas perspectivas

APURAÇÃO DE DADOS QUANTITATIVOS DO SEMINÁRIO DE EXTENSÃO 2022

Como nos anos anteriores, o Seminário de Extensão 2022 não exigiu a inscrição prévia,
considerando que o público acompanhou o evento pelo canal da Extensão PUC Minas no YouTube,
as pessoas que desejassem ser certificadas foram orientadas a inscrever-se na plataforma do Sympla,
pelo link que estava disponível na descrição da atividade no YouTube.
Com base nos dados registrados pelo Sympla – formulário de avaliação utilizado para
certificação (YouTube Analytics – transmissão do evento e Google Form) – , apresentam-se a seguir
o perfil e o engajamento do público que acompanhou o evento, o alcance da transmissão e avaliação
do evento.

Análise dos dados extraídos pelo Sympla

A plataforma do Sympla foi utilizada com o único objetivo de emitir a certificação para o
público que acompanhou a programação do Seminário de Extensão 2022 por meio do YouTube. Cada
atividade da programação teve um link específico, que poderia ser acessado somente durante a
transmissão simultânea. Dessa forma, os dados a seguir correspondem apenas aos registros realizados
pelas pessoas que desejavam ser certificadas, o que não representa a totalidade do público que
prestigiou o evento nos dias e horários de cada atividades.
Cerca de 388 pessoas cadastraram-se no Sympla durante o Seminário, registrando-se 835
participações em todas as atividades do evento. No gráfico a seguir (1 a 3), apresenta-se o perfil dos
participantes cadastrados voluntariamente na plataforma. Conforme demonstrado no gráfico 2n a
unidade / campus da PUC Minas com maior adesão ao evento foram: Coração Eucarístico (262) e
Praça da Liberdade (26). A participação de outras Instituições de Ensino Superior (IES) teve um
aumento considerável, totalizando 43 registros para certificação de 24 instituições diferentes de várias
regiões do país (Estácio, Faculdade Serra Dourada, FAVIN, IFG, IFRR, IFTM, PUC Campinas,
UCDB, UEC, UEMG, UEP, UERN, UFF, UFL, UFMG, UFOP, UFPR, UFR, UFRJ, UNIFAP,
UNIFESP, UNIJUÍ, UNINTER, UPE).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 27

Gráfico 1 – Vínculo dos participantes com a PUC Minas.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Gráfico 2 – Unidade/Campus dos participantes

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Gráfico 3 - Departamento ou área de vínculo dos participantes

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


Obs. Um participante da área da Saúde também declara ter vínculo com a área da Ciências Humanas -Educação. Dois
alunos da Pós- Graduação Stricto Sensu especificam que cursam Mestrado em Geografia. Na opção “outros”, destacaram-
se as áreas de conhecimento: Design Gráfico, Engenharia de Minas e Gestão Pública.
EXTENSÃO PUC MINAS:
28 Novo Humanismo, novas perspectivas

Análise dos dados extraídos pelo canal Extensão PUC Minas no YouTube

Cabe ressaltar que não foi possível mensurar as métricas do vídeo da conferência: “Outro
mundo é possível?” ministrada pelo Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, tendo em vista
que o material foi excluído a pedido do conferencista. Tanto a conferência quanto a terceira mesa
“Pacto Educativo Global: por uma formação humanista” também foram transmitidas pelo canal
Anima PUC Minas no YouTube, mas não foi possível mensurar o desempenho desses materiais neste
canal.
Em sua terceira edição online, o Seminário de Extensão 2022, registrou mais de 3 mil
visualizações nos dois dias (22 e 23 de setembro de 2022) em que o evento foi realizado, com o
registro superior a 310 curtidas. A duração média de visualizações foi acima de cinco horas, e com
o registro de 25,9 mil impressões, isto é, quantas vezes as miniaturas do vídeo são exibidas para o
expectador na plataforma do YouTube (gráfico 4). O público que prestigiou o evento é composto em
sua maioria pelo gênero feminino (64%) com a faixa etária em entre 18 e 24 anos (28%) e entre 35 e
44 anos (20%). Durante os dias do Seminário, o canal foi acessado por mais de 2 mil pessoas que
não estavam inscritas no canal. O vídeo da primeira mesa “O Novo Humanismo na perspectiva da
Ecologia Integral” obteve o maior índice de visualização (17,7%).

Gráfico 4 - Impressões e taxa de cliques6

Fonte: Extensão PUC Minas, 2022.

6
É importante destacar que essa métrica descreve o comportamento do público diante todo o conteúdo disponível no
canal durante o período estipulado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 29

Análise dos dados extraídos do Formulário de Avaliação do evento pelo Google Form

Juntamente com os certificados de participação no Seminário de Extensão 2022 - Novo


Humanismo: (re)pensar e (re) agir foi encaminhado para todos os participantes –conferencistas /
palestrantes, mediadores, autores que apresentaram trabalho e público (ouvintes) - o link de acesso
ao formulário de avaliação. Nesse instrumento, obtiveram-se 64 registros, deste total 43 responderam
já conhecer a Extensão Universitária antes do evento, e 24 pessoas alegaram ter vínculo direto com a
Extensão.
O público registrou também os motivos pelos quais participou do evento, nesta questão
(gráfico 5) destacaram-se: aprimorar a formação / atuação profissional (43 respostas); atualizar o
conhecimento (38); afinidade / interesse com a temática (36), entre outros motivos. Já na questão
sobre as contribuições do evento (gráfico 6), destacaram-se: a aquisição de novas informações e
conhecimentos (51); o desenvolvimento de uma postura ética/crítica frente às demandas da sociedade
(38); a reflexão sobre a prática profissional (31); entre outros.

Gráfico 5 – Motivação para presença / participação no evento.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


Obs. Esta pergunta permite marcar mais de uma opção.

Gráfico 6 – Contribuição do evento.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


Obs. Esta pergunta permite marcar mais de uma opção.
EXTENSÃO PUC MINAS:
30 Novo Humanismo, novas perspectivas

O Seminário de Extensão 2022 obteve altos índices de satisfação do público. Atendendo muito
ou totalmente a expectativa de 94% das pessoas que responderam ao formulário de avaliação (gráfico
7).

Gráfico 7 - Qualidade

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 31

Apurou-se que a participação dos professores na divulgação (23 respostas) do evento é


fundamental, seguida das notícias (SGA) direcionados aos alunos, professores e funcionários (17),
do site da Universidade (13), e das redes sociais oficiais (13).
Todos os dados acima nos ajudarão a (re)pensar estratégias para os próximos eventos,
considerando-se que a Extensão é parte integrante de qualquer formação acadêmica que se queira
humanista, inclusiva e sustentável – alguns dos eixos que norteiam a prática na PUC Minas.

REFERÊNCIAS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Seminário de Extensão 2022 -


Novo Humanismo: (re)pensar e (re) agir. Disponível em: <
http://portal.pucminas.br/seminariodeextensao2022/index.html>. Acesso em: 18 jan. 2023.
Extensão PUC Minas. O Seminário de Extensão da PUC Minas, de 2022 com o tema "Novo
Humanismo: (re)pensar e (re)agir". 16 vídeos. Publicados pela Pró-Reitoria de Extensão. In
Extensão PUC Minas. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=NBoZ2hxKz-
M&list=PLRTlxU11iVWBD-oe8Yl2dcc1ANggCKK7w >. Acesso em: 23 jan. 2023.
Sympla - Área do produtor. Semin. de Extensão |. Disponível em:
https://organizador.sympla.com.br/meus-eventos. Acesso em: 17 jan. 2023.
YouTube. Conceitos básicos do YouTube Analytics. Disponível em: <
https://support.google.com/youtube/answer/9002587?hl=pt-BR&ref_topic=9313691 > Acesso em:
20 jan. 2023.
EXTENSÃO PUC MINAS:
32 Novo Humanismo, novas perspectivas

ARTIGOS ACADÊMICOS
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 33

ARTIGO ACADÊMICO
EXTENSÃO PUC MINAS:
34 Novo Humanismo, novas perspectivas

Projeto interdisciplinar entre Direito e Engenharia de Software da PUC Minas:


um caso de sucesso na democratização e acessibilidade às PECs

Ana Silvia Pereira de Moura Bellico1


Ian Guelman2
Simone Diogo de Souza3
Soraia Lúcia da Silva4

RESUMO
A pesquisa por Propostas de Emenda à Constituição (PEC) é uma tarefa complexa dada a falta de um canal que ofereça
um desenvolto e exclusivo acesso a estas, visto que os canais existentes possuem inúmeras informações de diversas leis.
Portanto, viu-se necessário criar uma única e específica fonte de pesquisa mais ágil, capaz de trazer, de forma acessível,
conteúdos sobre PECs de forma clara, intuitiva, transparente, íntegra, completa e segura. Sanando tal problemática foi
desenvolvido uma aplicação web que atua como um buscador de propostas de emenda à constituição, denominado
Pectômetro, de forma a ampliar o caráter inclusivo, democrático e transparente do acesso à projetos governamentais por
meio do aplicativo. O desenvolvimento do website foi baseado na mescla e adaptação de metodologias ágeis, além da
realização de uma pesquisa qualitativa e quantitativa por meio de um questionário web, valendo-se do método dedutivo,
com a análise de bibliografia específica e legislação, com abordagem descritiva. O resultado foi a atualização do software,
evidenciando a acessibilidade, promovendo a democratização das informações públicas.

Palavras-chave: PEC. Desenvolvimento Ágil. Acessibilidade. Democratização.

Interdisciplinary project between Law and Software Engineering at PUC


Minas: a success case in democratization and accessibility to PECs

ABSTRACT
The search for Constitutional Amendment Proposals (PEC) is a complex task given the lack of a channel that offers a
perky and exclusive access to them, since the existing channels have numerous information on different laws. Therefore,
it was necessary to create a single and specific source for agile research, capable of bringing, in an accessible way, content
on PECs in a clear, intuitive, transparent, complete, and secure way. To remedy this problem, a web application, called
Pectômetro, that acts as a search engine for proposals to amend the constitution was developed to expand the inclusive,
democratic, and transparent nature of access to government projects through this application. The development of the
website was based on the mix and adaptation of agile methodologies, in addition to carrying out a qualitative and
quantitative research through a web questionnaire, using the deductive method, with the analysis of specific bibliography
and legislation, with a descriptive approach. The result was the update of the software, highlighting accessibility, thus
promoting the democratization of public information.

Keywords: Constitutional amendment proposal. Agile Development. Accessibility. Democratization.

1
Graduanda em Direito da PUC Minas, unidade Praça da Liberdade. E-mail: abellico@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Engenharia de Software da PUC Minas / unidade Praça da Liberdade. E-mail:
ian.guelman@sga.pucminas.br.
3
Bacharela em Direito pela PUC Minas. E-mail: g9611021@gmail.com.
4
Coordenadora e professora Me. do Curso de Engenharia de Software da PUC Minas /unidade Praça da Liberdade. E-
mail: soraialu@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 35

INTRODUÇÃO

Uma Constituição é um conjunto base de normas e regras de um país, que regulam e


organizam os limites do poder do Governo e descrevem os direitos e deveres dos cidadãos. Diante
da necessidade de assegurar aos indivíduos normas atualizadas e em consonância com o plano fático,
é possível adequar a Constituição a estas demandas, usando para tanto as PECs. Apesar de serem um
instrumento importantíssimo para o exercício da democracia, grande parcela da população, até o
momento, não apresenta demasiado interesse em tais debates legislativos, nem acompanha as novas
propostas de emenda à Constituição, o que pode ser causado por fatores como desconfiança em
relação ao governo, desinteresse oriundo da falta de conhecimento sobre o assunto, da descrença
sobre a representatividade política ou, até mesmo, por falta de uma ferramenta mais fácil de ser
utilizada.
Na medida em que os canais de busca existentes, como por exemplo o site da Câmara dos
Deputados, possuem inúmeras informações de diversas leis, viu-se necessário criar uma única fonte
de pesquisa, específica e ágil sobre PECs. Tal ferramenta deve ser capaz de auxiliar na compreensão
de como funciona a dinâmica política das PECs, permitindo uma transparência como parte da ciência
empírica-jurídica e, também, dialética dos poderes Legislativo e Poder Executivo no Brasil.
O curso de Direito, em diálogo com o curso de Engenharia de Software, de forma a concretizar
a cientificidade acadêmica e extensionista, trabalharam exercitando a interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade, a fim de oferecer uma ferramenta para sanar tal problemática. Tal parceria foi
decorrente da relação existente dessas com a disciplina extensionista “Trabalho Interdisciplinar de
Software IV”. Seguindo esta premissa, tal ferramenta traria conteúdos sobre PECs de forma clara,
intuitiva, transparente, íntegra, completa, segura e acessível.
O objetivo do presente estudo é demonstrar como o Projeto Pectômetro influencia na difusão
do conhecimento às propostas governamentais e facilita, democratiza e torna acessível o aceso as
PECs. De forma mais específica, o Projeto, em si, objetivou: informar o valor médio gasto pelo
governo para aprovar uma PEC; divulgar o(s) autor(es), ementa e conteúdo de cada PEC proposta;
explicar o que é uma PEC, demonstrando seu conceito, como ocorre sua aprovação e quem pode
apresentá-la; adaptar o website para permitir que o acesso seja feito de forma inclusiva; coletar dados
dos usuários referentes a seu acesso ao website, anonimizando o que é coletado, de forma a ser um
instrumento de incentivo à cultura e à efetiva cidadania.

35
EXTENSÃO PUC MINAS:
36 Novo Humanismo, novas perspectivas

O resultado deste trabalho foi uma aplicação web, denominada Pectômetro, a qual democratiza
o acesso às informações referentes às PECs, conscientiza o cidadão e o aproxima da política, por meio
de mecanismos de busca internos à plataforma e exposição de conteúdos na mesma. Com isso, a
relevância de tal projeto dialoga com a possibilidade de os cidadãos exercitarem seu direito
fundamental de acesso à informação e inclusão no sistema participativo democrático. Além do
website, foi realizada uma pesquisa com os cidadãos, a fim de entender seu relacionamento com as
PECs, orientando, assim, trabalhos futuros.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Direito Constitucional

As Propostas de Emenda Constitucional (PECs), são mecanismos formais de atualização da


Constituição da República Federativa de 1988, sendo maneiras de atualizar e modificar partes do
texto Constitucional sem a necessidade de convocação de uma nova Assembleia Constituinte. O
legislador constituinte derivado escolheu algumas exceções a essas alterações conhecidas como
cláusulas pétreas. Para promulgar uma PEC, por exemplo, deve-se seguir um rigoroso processo
legislativo, regulamentado pelo regimento interno do parlamento brasileiro, tal área é alvo de estudo
do Direito Constitucional (SENADO, 201-).
O primeiro passo é conseguir uma aprovação a respeito de sua constitucionalidade na
Comissão de Constituição e Justiça e de Redação (CCJ). Após ser considerada constitucional, é
votada no plenário onde precisa obter voto favorável de dois terços da Câmara dos Deputados;
passando, em seguida, pelo mesmo processo no Senado Federal. Quando uma PEC é aprovada nas
duas casas, ela é então promulgada pelo presidente da república entrando posteriormente em vigor.

2.2. Engenharia de Software

A área de Engenharia de Software tem como foco o desenvolvimento e manutenção de


softwares, prezando pela produtividade e qualidade dos sistemas. Para tal, são aplicadas diversas
áreas de conhecimento (SWEBOK, 2004) sendo as principais: requisitos de software, projeto de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 37

software, qualidade de software, gerência de engenharia de software, gerência de configurações de


software, construção de software, ferramentas e métodos de engenharia de software, manutenção de
software, teste de software e processos de engenharia de software.
A metodologia ágil utilizada no desenvolvimento deste trabalho, foi proposta por Beck K. et
al. (2001) e visa “valorizar indivíduos e interações mais que processos e ferramentas, software em
funcionamento mais que documentação abrangente, colaboração com o cliente mais que negociação
de contratos, responder a mudanças mais que seguir um plano”. Tal metodologia vem ganhando cada
vez mais força dentro da indústria de software devido a sua capacidade de reagir a mudanças e por
promover entregas mais rápidas e constantes. De acordo com Patel (2021), metodologia ágil pode ser
definida como um conjunto de práticas e técnicas de gestão de projetos, que oferece mais eficiência,
flexibilidade e rapidez. Tal abordagem extrapola o setor de tecnologia e objetiva simplificar os
processos, tornando-os mais dinâmicos e interativos, desde a concepção até a finalização.

2.3. Dados abertos

A democracia é pilar fundamental da Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de


1988, ressalvada tanto no preâmbulo como no parágrafo único do art. 1º, determina que todo o poder
emana do povo (BRASIL, 1998). Dessa forma, Constituição Cidadã de 1988 consagrou em seu artigo
5⁰ o Princípio Constitucional da Transparência: “é dever do Estado garantir o direito de acesso à
informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente,
clara e em linguagem de fácil compreensão”, para tanto é direito de todo indivíduo conhecer
plenamente as temáticas que tramitam no poder judiciário, sejam estas nos mais diversos formatos:

Cabe aos governos enfrentar o desafio da transparência, criando e adaptando ferramentas


para a sua promoção e avaliação, pois em um contexto do Estado democrático de direito, a
transparência é a chave de uma gestão pública de qualidade e do acesso da população aos
direitos sociais (BRAGA, 2011).

Jürgen Habermas (1995, p.92) conceituou o Estado Constitucional como “uma ordem política
livremente estabelecida pela vontade do povo, de modo que os destinatários das normas legais podem,
ao mesmo tempo, se reconhecerem como os autores da lei”. Para que os cidadãos tenham tal cognição,
é imperativo que estes exerçam não apenas a participação política mínima esperada de um indivíduo,
mas explorem todas as oportunidades para se manterem a par do que acontece no país, sendo
fundamental, para tanto, a transparência.

37
EXTENSÃO PUC MINAS:
38 Novo Humanismo, novas perspectivas

Como discutido por pensadores clássicos como Locke e Kant, o Estado era uma instituição
que necessitava ser controlada e vigiada pela sociedade, aproximando-se da noção moderna de
transparência governamental. A Transparência Pública está intimamente ligada com a Democracia,
pois é através da primeira que o povo fiscaliza a atuação governamental e se estas estão em
conformidade com o interesse da coletividade. É fundamental preservar tal conformidade e renovar
os direitos e garantias dos indivíduos, mantendo seu caráter atual e em consonância com a
modernidade e as novas necessidades de mudanças advindas desta.
Em consonância com a transparência e o acesso à informação mediante as mais variadas
formas de comunicação, tem-se a possibilidade da utilização dos dados abertos do governo para
melhor informar e atualizar os diversos momentos políticos e legislativos do governo brasileiro. Dado
aberto é, de acordo com a Open Knowledge Foundation, em uma tradução livre: “um dado que pode
ser livremente utilizado, reutilizado e redistribuído por qualquer um”, sendo atualmente utilizado no
Brasil de forma a reutilizar dados governamentais, possibilitando novas criações independentes e a
interoperabilidade.
O acesso à informação encontra-se na Constituição Federal e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos associado ao direito fundamental de liberdade e direitos políticos, o que inclui a
escolha ou não de acompanhar as tratativas legislativas e tudo o mais que garanta a democracia.
Diante do exposto, os dados abertos permitem a publicação e disseminação de dados e informações
públicas na Internet, organizados de tal maneira que permita sua reutilização em aplicativos digitais
desenvolvidos pela sociedade.

2.4. População e acessibilidade

Dado o perfil heterogêneo da população brasileira, tem-se traçado o perfil de um povo com
distinções e necessidades divergentes, como é o caso das pessoas com deficiência e suas variadas
demandas, as quais devem ser sempre observadas.
Tendo em vista tais premissas, há de se considerar os dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010), que apontam que 24% da população apresenta algum grau
dificuldade e/ou deficiência em enxergar, ouvir ou se movimentar; além do mais, adversidades visuais
estiveram presentes em 18,8% dos pesquisados e as dificuldades auditivas em 5,1%, o que torna
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 39

evidente a necessidade de adequação de mecanismos de pesquisa às temáticas constitucionais à


realidade e às necessidades de certa parcela populacional, para assim exercitar a democracia e ampliar
a transparência dos atos políticos.
Tais informações se relacionam diretamente com a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº
13.146/2015) a qual exige que todos os sites, públicos e privados, possuam acessibilidade. Esta é
posta, no artigo 53 da lei em questão, como o “direito que garante à pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de
participação social” (Lei nº 13.146/2015), em adição prevê que ao ser transposta ao ambiente virtual,
uma das formas de fazer tal adaptação é, por meio de softwares de leitores de tela, tradução para
libras, navegação por teclado, descrição de imagem e contraste.

2.5. Prática Extensionista

A extensão é uma grande oportunidade de aprendizagem para além do ambiente puramente


universitário, exercitando a formação humanística dos discentes, o diálogo entre a universidade e
outros setores da sociedade, podendo deste modo, concretizar a pauta de inclusão social, de formação
cidadã-humanista dando maior visibilidade aos problemas sociais e políticos:

A extensão universitária representa a inserção no contexto socioeconômico, na política e na


cultura do país. A ação educacional além-muros possibilita que mais pessoas aprendam o
valor da igualdade, liberdade, autonomia, pluralidade, solidariedade e justiça, princípios
adotados pela PUC Minas e refletidos nos seus projetos e programas extensionistas.
(FELIPPE, s./d., s./p.).

No que diz respeito às respostas às demandas sociais, a resolução 02/2015 da PUC Minas,
aprova o regulamento da PROEX, indicando modalidades de extensão universitária, sendo estas:
programa, projeto, curso, evento, prestação de serviço, produção cultural, científica e tecnológica e
práticas curriculares de extensão:

Práticas curriculares de extensão são atividades acadêmicas desenvolvidas em estrita


vinculação com os componentes curriculares do curso, tendo como pressuposto a interação
aluno, professor e sociedade, visando estabelecer relações entre a realidade e a produção do
conhecimento, tendo em vista proporcionar aos participantes, formação integral,
comprometida com a mudança social. (PROEX PUC MINAS, s./d.).

39
EXTENSÃO PUC MINAS:
40 Novo Humanismo, novas perspectivas

Nesse sentido, a política de extensão universitária da PUC Minas (PONTIFÍCIA


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2006) aborda de maneira atrativa a
importância das práticas extensionistas desempenhadas pela mesma, visando o desenvolvimento e
retorno a sociedade, fazendo jus ao conceito de extensão.
Como posto pelo professor Amarildo Fernando5, para que a prática extensionista alcance seu
fim útil, esta deve alcançar o público-alvo externo e suprir suas necessidades de forma condizente a
sua realidade, oferecendo um retorno efetivo. Com o intuito de atender demandas sociais, a tecnologia
se mostra uma aliada definitiva ao facilitar contatos e disseminar informações, lidando com várias
áreas, por exemplo, com a transparência governamental e democracia. Para que a tecnologia cumpra
tal função, é primordial pensar seu aspecto inclusivo e acessível, principalmente ao lidar com questões
de contornos políticos, na medida que tratam justamente da soberania exercida pelo povo, tornando
imprescindível que todos tenham acesso a tais informações.
A PUC Minas oferece o curso de Bacharelado em Engenharia de Software no campus “Praça
da Liberdade” em Belo Horizonte/MG; nele, as diversas modalidades de extensão anteriormente
apresentadas são desenvolvidas. No quarto período do curso, é ofertada a disciplina “Trabalho
Interdisciplinar de Software IV” (TIS IV), que contempla uma prática curricular de extensão (PCE).
Os alunos, orientados pelos professores, são propostos a desenvolver softwares para a sociedade, seja
entidade com ou sem fins lucrativos ou mesmo uma pessoa física. Tal sistema deve possuir
características que promovam benefícios para a sociedade.
A prática possui grande impacto aos alunos por ser o primeiro grande marco extensionista
vivenciado, permitindo a troca de conhecimentos entre os meios internos e externos à universidade,
principalmente devido ao contato frequente com o cliente. Além disso, é transformador aos discentes
ver, no final do semestre, os resultados e benefícios que o produto desenvolvido por eles gera. Essa
experiência provê aos alunos uma visão prática do que será posteriormente vivenciado em suas
atividades laborais.
À luz da interdisciplinaridade do trabalho em questão, englobando tecnologia e direitos,
notou-se uma perspectiva inédita do curso de Direito e do curso de Engenharia de Software,
observando-se uma grandiosa possibilidade de interação dialógica da comunidade acadêmica com a
sociedade, produção de mudanças, articulação entre ensino, extensão e pesquisa, ancorada em um
processo pedagógico interdisciplinar, podendo, deste modo, concretizar a pauta de formação cidadã-

5
Professor das matérias Cultura Religiosa: Cultura e Sociedade e Cultura Religiosa: Fenômeno Religioso do curso de
Direito na PUC Minas Praça da Liberdade, além de idealizador de vários projetos sociais, cedeu entrevista particular aos
autores do artigo, realizada no dia 24 de maio de 2021 pela plataforma Teams.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 41

humanista, fomentando a troca de conhecimentos entre as áreas. Ademais, há de se tratar da


intercomunicação entre as disciplinas, tratando efetivamente de um tema comum, a possibilidade de
efetivação de direitos. Tal transdisciplinaridade estimulou uma nova compreensão da realidade,
articulando elementos que perpassam as disciplinas citadas, numa busca de compreensão da
complexidade da temática democracia.
O Projeto Pectômetro, ao esclarecer pontos chave do processo legislativo imperfeito e por
vezes complexo, inclui os objetivos da Política Nacional de Extensão Universitária, na medida em
que insere a extensão universitária como parte da solução de uma problemática relacionada à
transparência e democracia. A análise feita através de leituras completas de todas as PECs, com sua
autoria e justificativa, além de mecanismos nucleares de observação procedimental auxilia na
compreensão de como funciona a dinâmica política das Propostas de Emenda Constitucional.

3 METODOLOGIA

Diante da necessidade de se obter uma fonte única e específica para a pesquisa de PECs, a fim
de melhorar a compreensão das tipologias de fontes de informação jurídica e social e aumentar a
transparência, direito fundamental da população, foi criada uma parceria entre os cursos de
Engenharia de Software e de Direito com o objetivo de desenvolver um mecanismo amplo, acessível
e sem complicações para tal, visando esclarecer pontos chave do processo legislativo, por vezes
imperfeito e complexo, de forma mais ágil e confiável.
Após a conclusão de dois projetos de pesquisa fomentado pelo PIBIC-CNPQ, compreendeu-
se a relevância das PECs, como parte essencial para a historiografia jurídica brasileira. O principal
motivo se deu pelo elevado número de projetos à Emenda Constitucional a partir da promulgação da
atual Carta Magna. No contexto do estudo do pós-positivismo, em meio à tecnologia, tornou-se mister
criar uma ferramenta avançada de otimizar a busca por PECs através de um simples e fácil acesso por
meio de link público, social. A ideia posteriormente ganhou vida ao ser apresentada aos alunos na
disciplina “Trabalho Interdisciplinar de Software IV”, os quais desenvolveram uma aplicação capaz
de entregar de modo íntegro os textos das PECs, sem alterações midiáticas. De forma a permitir que
a população de modo geral, os operadores do direito e os juristas possam pesquisar as PECs de modo
neutro, puro e cristalino.
A aplicação foi inicialmente desenvolvida por alunos matriculados em anos anteriores na
disciplina, porém diante de novas necessidades, foi necessário reformular totalmente o website em

41
EXTENSÃO PUC MINAS:
42 Novo Humanismo, novas perspectivas

2021. O desenvolvimento do Pectômetro, em tal ano, foi realizado seguindo a metodologia ágil de
desenvolvimento de software, utilizando para tal a adaptação e mescla do Scrum e do Kanban, de
forma a melhor se encaixar no cenário do projeto. O primeiro é um framework para metodologia ágil
que apresenta abordagem incremental e iterativa. Acredita-se que o mesmo tenha sido idealizado para
desenvolver produtos simples e de baixa complexidade. Porém, seguindo S. P. Patil e J. R. Neve
(2018) tal sentença é um grande mito, o Scrum tem sido melhor implementado em sistemas grandes
e complexos.
O Scrum possui três principais papéis sendo eles: Product Owner – responsável pelo produto,
Scrum Master – gerenciador e facilitador de processos e Scrum Team - time de desenvolvimento, que
é geralmente multidisciplinar e os integrantes desempenham tarefas de diversas áreas, como por
exemplo design, programação, testes, dentre outros. Por ser uma metodologia ágil, o Scrum trabalha
com entregas parciais de resultados, que ocorrem a cada Sprint, como é denominado cada curto ciclo
de trabalho; no Scrum, este ciclo tem duração média de três a quatro semanas. A cada Sprint, são
realizados quatro tipos de reunião: de retrospectiva, de planejamento, de demonstração e de
andamento.
O Kanban, também é uma metodologia ágil e é utilizado para suportar a produção de
softwares, fornecendo uma visão clara do fluxo de trabalho. Seu método consciente na criação de um
quadro, dividido em colunas, cada uma destas, representa um estado da tarefa - a fazer, em
andamento, finalizadas etc. Em cada coluna, são alocados cartões com a descrição de cada tarefa, que
são realocados para outra coluna, sempre que há alteração em seu estado. Assim, é possível visualizar
o fluxo de trabalho de cada tarefa (S. P. PATIL e J. R. NEVE, 2018).
Para o desenvolvimento da aplicação, foram estabelecidos cinco Sprints com duração de
quatro semanas cada, foram realizadas reuniões de retrospectiva e planejamento mensais, reuniões de
demonstração quinzenais e reuniões de andamento semanais. O time do Scrum foi composto por três
integrantes, não houve nomeação de um Scrum Master, devido ao tamanho reduzido da equipe e do
escopo, e o projeto possuía apenas um Project Owner. Para acompanhamento do fluxo de trabalho
foi criado um quadro Kanban virtual, na plataforma GitHub Projects. O projeto ocorreu nas seguintes
fases: entrevista com o cliente, documentação, prototipação, desenvolvimento, acessibilidade, coleta
de dados e pesquisa de público.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 43

3.1. Entrevista com o cliente

Nesta fase, ocorreu o primeiro contato entre os alunos e o cliente, idealizadora do Pectômetro.
Durante a entrevista, houve uma explicação geral sobre o projeto e sua criação, foram identificadas
as demandas e estudada a melhor solução para cumpri-las. A solução acordada foi a reformulação
total da aplicação, a fim de melhorar a usabilidade e implementar acessibilidade. Tendo em vista a
solução, foi realizada a elicitação dos requisitos necessários para desenvolvê-la.

3.2. Documentação

Os requisitos elicitados na fase anterior foram catalogados e identificados como funcionais,


para aqueles que são responsáveis pelo funcionamento do sistema, ou não funcionais, para os que
agregam melhorias para a aplicação. Foram desenvolvidos, também, o Diagrama de Entidade
Relacionamento (DER), para modelar o relacionamento entre as entidades no banco de dados, e o
Diagrama de Casos de Uso, documentando as funcionalidades do sistema do ponto de vista do
usuário.

3.3. Prototipação

Após a validação dos documentos produzidos, foi desenvolvido um protótipo Wireframe de


alta fidelidade representando o resultado da aplicação e servindo como modelo para desenvolvimento.
O Wireframe foi novamente validado pelo cliente. O protótipo foi inicialmente desenvolvido na
ferramenta Balsamiq e posteriormente refinado, em um protótipo interativo, na aplicação Figma.

3.4. Desenvolvimento

Nesta fase, foi desenvolvida a aplicação Web seguindo os Wireframes desenvolvidos. Para a
criação da plataforma, foram utilizadas as tecnologias web: HTML5, CSS3 e Javascript. O
framework Tailwind CSS foi utilizado para a estilização. O editor de código fonte escolhido foi o
VsCode, aliado às ferramentas ESLint, Prettier e EditorConfig, para padronização de código. O
versionamento foi realizado através do GitHub.

43
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Para obter os dados das PECs contidos no website, são realizadas requisições da API
(Application Programming Interface - Interface de Programação de Aplicação) de dados abertos
fornecida pelo Governo Federal. A API retorna para o Pectômetro as PECs em formato JSON
(JavaScript Object Notation - Notação para Objetos em JavaScript), os dados são interpretados e
apresentados em forma de texto no site.

3.5. Acessibilidade

A fim de possibilitar que a utilização da aplicação ocorra de forma fluida, democrática e


igualitária, independente do usuário, foram implementados recursos de acessibilidade, facilitadores
de acesso e escolhas de design. Dessa forma, a navegação pelo website pode ser realizada inteiramente
pelo teclado (utilizando a tecla “Tab”), todas as imagens e figuras apresentam textos alternativos que
descrevem seu conteúdo, os campos de texto e botões possuem descrição complementar explicando
quais dados são esperados e/ou seu funcionamento e é provido suporte para leitores de tela externos.
Para melhorar a experiência de usuários com deficiência auditiva, foi realizada a integração
do site com a ferramenta computacional de código aberto VLibras Widget, fornecida pelo Governo
Federal. A ferramenta realiza a tradução de textos em português brasileiro para a Língua Brasileira
De Sinais (LIBRAS), para isso é utilizado um modelo de boneco 3D que reproduz o conteúdo já
traduzido.
A escolha de cores foi realizada com o intuito de facilitar a distinção de elementos. A paleta
é composta por: Azul-claro (#51c4d3), Azul-escuro (#126e82), Cinza-claro (#d8e3e7), Marfim
(#d8e3e7) e Preto (#000000). A disposição de cores foi pensada de forma a minimizar as possíveis
dificuldades oriundas de alguma forma de deficiência visual. O design foi feito de forma minimalista,
apresentando elementos bem separados e estruturados.

3.6. Coleta de dados

Com o objetivo de obter mais informações sobre os usuários que acessam o Pectômetro, têm
sido coletados dados das sessões de acesso dos mesmos, respeitando a Lei Geral de Proteção de
Dados. A coleta tem sido realizada através da vinculação do website com a plataforma Google
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 45

Analytics. Essa conexão é feita por meio de um trecho de código adicionado ao código fonte. A
visualização dos dados obtidos é realizada por um painel disponível na plataforma do Google
Analytics.
Estão sendo coletados dados referentes a: quantidade de usuários, sessões ativas, localização,
páginas acessadas, dispositivos, termos de pesquisa, entre outros. As informações são obtidas de
forma anônima, portanto não podem ser vinculadas a pessoa alguma, respeitando a legislação vigente.

3.7. Pesquisa de público

A realidade é extremamente complexa e serve de afirmação ou negação da racionalidade


lógica elaborada em uma pesquisa. Assim, para melhor entender os impactos e o retorno social do
projeto Pectômetro, foi realizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa por meio de um Questionário
Web disponibilizado pela plataforma Google Forms, visto que “[...] uma investigação empírica
investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes. (YIN,
2010, p.39).
O formulário disponibilizado continha onze perguntas divididas em duas seções, a primeira
referente a dados demográficos dos respondentes e a segunda a aspectos relacionados à pesquisa por
política nacional em especial sobre PECs. O questionário foi disponibilizado ao público entre os dias
27 de abril e 12 de julho de 2021. Sua divulgação foi realizada por conveniência e por amostragem
bola de neve. O resultado de tal pesquisa será melhor detalhado no final do próximo tópico.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O principal resultado obtido na realização da prática extensionista foi a reformulação do


website Pectômetro (disponível em https://pectometro.herokuapp.com). A estratégia escolhida foi a
reformulação completa, gerando um novo software web. Nele é possível buscar por uma PEC,
pesquisando pelo seu número, seu ano, seu(s) autor(es) e/ou sua(s) palavra(s) chave. Seu retorno é
uma lista que apresenta as PECs que cumprem com tais requisitos, mostrando o número, ano,
autor(es), situação e ementa de cada PEC. É possível selecionar uma PEC, a fim de obter informações
adicionais sobre ela, como: data de apresentação, órgão, despacho, regime, âmbito, tramitação e
último redator, além das supracitadas. A página conta com um botão que faz um redirecionamento

45
EXTENSÃO PUC MINAS:
46 Novo Humanismo, novas perspectivas

para o website da câmara, abrindo o documento original da PEC em questão. Além das funções
provenientes do buscador, o Pectômetro conta com três páginas: “O que é uma PEC” - onde é
explicado o conceito de PEC, como ocorre sua apresentação e aprovação, seus limites e o valor médio
de aprovação de uma PEC -, “Quem Somos” - na qual são apresentadas mais informações sobre o
projeto e seus responsáveis - e “PECs Recentes” - página que apresenta as últimas quatro PECs
propostas na pauta do congresso.

Figura 1 – Tela inicial com recurso de libras habilitado

Fonte: Captura de tela dos autores, 2021.

Figura 02 - Tela de informações da PEC

Fonte: Captura de tela dos autores, 2021.

Além dos resultados práticos, o Pectômetro cumpre com a sua premissa fornecendo ao cidadão
acesso às informações públicas, o que possibilita ao povo participar, de forma mais ativa, das
discussões que tangem as políticas públicas sociais, resguardando assim o direito dos cidadãos
brasileiros ao conhecimento. O website também se adequou às necessidades de acessibilidade - a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 47

exemplo do tradutor para Libras, apresentado acima na Imagem 1 - trabalhando a inclusão e, com ela,
a efetivação dos direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e consequentemente a efetivação
do estado democrático de direito.
Em relação ao supracitado questionário divulgado, foram obtidas 165 respostas, sendo 97
(58,8%) destas enviadas por indivíduos do sexo feminino e 68 (41,2%) do sexo masculino. Desses,
34 (20,6%) são mestres ou doutores, 39 (23,6%) possuem alguma pós-graduação, 74 (44,8%)
completaram ou estão cursando o ensino superior e 18 (10,9%) o ensino médio; todos afirmam ter
completado o ensino fundamental. As faixas etárias dos respondentes foram classificadas como:
menor de 16 anos (0), 16 ou 17 anos (2 - 1,2%), entre 18 e 30 anos (57 - 34,5%), entre 31 e 50 anos
(41 - 24,8%), entre 51 e 70 anos (56 - 33,9%) e acima de 70 anos (9 - 5,5%). Foram relatadas 13
pessoas que afirmaram possuir alguma restrição/limitação visual e/ou auditiva, tal número representa
7,9% da amostra.

Gráfico 1 - Restrições dos usuários

Fonte: Google Analytics, 2021.

A fim de compreender como é realizada atualmente a pesquisa por política nacional, foram
levantados os instrumentos utilizados por cada indivíduo para tal, os dados podem ser vistos no
Gráfico 2. As respostas não foram excludentes entre si. Além dos instrumentos, questionou-se a
preferência de acesso: 136 indivíduos (82,4%) preferem acessar websites, em contraste com 29
(17,6%) que preferem utilizar aplicativos móveis.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
48 Novo Humanismo, novas perspectivas

Gráfico 02 - Instrumentos de acesso

Fonte: Google Analytics, 2021.

Ao analisar os dados de acesso da aplicação, através do Google Analytics, é possível perceber


suas dimensões de utilização. Até o dia 08/10/2021, o site conta com mais de três mil visualizações,
provenientes de sete países distintos. Vale apontar, também, que a página mais acessada, com 31%
dos acessos, é a que explica o conceito de PEC e seu valor médio de aprovação, o que mostra que o
Pectômetro, além de servir como buscador, cumpre com seu objetivo educativo. Quanto ao
dispositivo de acesso, o Desktop lidera com aproximadamente 60% dos acessos sendo realizados por
ele.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta fundamental deste trabalho foi demonstrar como as atualizações desenvolvidas


para o Pectômetro em 2021 ampliaram o caráter inclusivo, democrático, transparente, efetivo e
confiável do acesso à projetos governamentais por meio da aplicação. Isso evidencia a relação
transformadora existente entre a extensão, o ensino e a pesquisa, de modo a fornecer um retorno
adequado às necessidades sociais, exemplificada, nesta prática, pela acessibilidade, tornando o
indivíduo excluído em um cidadão inclusivo.
Após a reformulação, o Pectômetro se tornou um website que auxilia no exercício da
democracia, ao promover acesso às PECs, por meio de pesquisa rápida e facilitada, fazendo com que
os cidadãos que almejam um maior engajamento político, consigam se informar a respeito. A
plataforma, ao se equipar com recursos de acessibilidade, facilitadores de acesso e escolhas de design,
permite que seu uso ocorra de forma igualitária.
Tal resultado só foi possível devido à interdisciplinaridade promovida entre o curso de Direito
e de Engenharia de Software, ambos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
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complementando entre si, o caráter humano e a técnica. A fim de que o aplicativo seja um diferencial
para o conhecimento populacional, no que tange às propostas de emenda à Constituição, deve-se
expandir ainda mais a difusão do aplicativo. Ao aumentar o número de usuários e acessos, garante-
se que cada vez mais cidadãos se engajem e exerçam seus direitos políticos de forma justa e
democrática.
A aplicação Pectômetro, para continuar relevante, deve ser sempre aprimorada e atualizada.
Dessa forma, como trabalhos futuros, é posposto implementar no site um fórum de discussões acerca
de PECs, possibilitando um debate sadio entre os usuários. Foi constatada certa discrepância entre a
pesquisa realizada e os dados coletados pela aplicação em relação aos dispositivos de acesso. O
primeiro indicou que o dispositivo móvel é a fonte preferida em relação à pesquisa por política
pública, porém ao analisar os dados reais de acesso, nota-se que o desktop está à frente. Assim, a
publicação de um aplicativo móvel do Pectômetro pode representar uma boa forma de aumentar seu
engajamento com o público.

REFERÊNCIAS

BECK K. et al. 2001. Manifesto for Agile Software Development. Disponível em:
https://agilemanifesto.org/. Acesso em: 27 ago 2021.
BRAGA, Marcus Vinicius de Azevedo. A AUDITORIA GOVERNAMENTAL COMO
INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA TRANSPARÊNCIA. IV Congresso CONSAD de
Gestão Pública. Centro de Convenções Ulysses Guimaraes, Brasília/DF 2011. Disponível em:
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 51

Voluntariado no Brasil: breve análise dos desafios


encontrados na comunidade Palmares II em Ibirité/MG

Antônio Carlos Lúcio Macedo de Castro1


José dos Reis G Rodrigues2

RESUMO
O objetivo deste trabalho acadêmico é apresentar o panorama dos esforços do voluntariado no Brasil, ressaltando a
relevância da regularidade jurídico-fiscal e a adoção de boas práticas de gestão nas organizações de assistência social
como fator alavancador da efetividade das operações e pré-requisito para acesso a recursos públicos (financeiros e não
financeiros) de fomento e de viabilização da atuação dessas organizações na implementação de políticas sociais públicas.
Para isso, além das pesquisas bibliográficas em fontes secundárias acerca do voluntariado no Brasil, com breve
contextualização no panorama mundial, foi necessário fazer um levantamento do marco regulatório das organizações do
chamado terceiro setor, sob as perspectivas civil e tributária, já que o atendimento às exigências legais tende a representar
fatores restritivos à formalização de tipo de organização. Esse arcabouço teórico-jurídico, então, conecta-se, com
evidências explícitas, à prática, através do projeto de extensão operacionalizado junto a uma associação comunitária, que,
até então, vinha atuando de maneira informal e, portanto, com visíveis dificuldades de desempenho. Esta, com as
intervenções e enfrentamentos propostos pelo projeto, passa a vivenciar uma nova realidade, com experiências positivas
imediatas e resultados capazes de vislumbrar alterações de curto e médio prazos, apontando para grandes saltos
qualitativos e quantitativos na prestação de serviços assistenciais à comunidade carente da região do Palmares II, na
cidade de Ibirité-MG. Esta comunidade figura como localidade detentora dos piores resultados nos principais indicadores
de desenvolvimento social e econômico na região metropolitana de Belo Horizonte.

Palavras-chave: Desenvolvimento econômico-social. Empreendedorismo social. Formalização e fomento de projetos de


comunidades carentes. Mobilização e engajamento social.

Volunteering in Brazil: a brief analysis of the founded


challenges in the Palmares II community in Ibirité/MG

ABSTRACT
This paper aims to present an overview of volunteering efforts in Brazil, highlighting the relevance of legal and fiscal
regularity and the adoption of the best management practices in social assistance organizations as a leverage factor for
the effectiveness of operations and a prerequisite for access to public resources both financial and non-financial for
promoting and enabling the performance of these organizations on implementing public social policies. For this purpose,
in addition to bibliographic research in secondary sources about volunteering in Brazil, with a brief contextualization in
the world scenario, it was necessary to survey the regulatory framework of the organizations of the so-called third sector,
from the civil and tax perspectives, since the service to legal requirements tends to represent restrictive factors to the
formalization of this kind of organization. This theoretical-legal framework, then, is connected, with explicit evidence, to
practice, through the extension project operated with a community association that, until then, had been acting in an
informal way and, therefore, with visible performance gaps. This association, with the interventions proposed by the
project, begins to experience a new reality, with immediate positive experiences and results capable of envisioning
realistic scenarios in the short and medium term pointing to great qualitative and quantitative breakthrough in the

1
Doutor e Mestre em Direito (PUC Minas), advogado tributarista. Professor na PUC Minas. E-mail:
antoniocarlos@pucminas.br.
2
Mestre em Administração de Empresas (UFMG), consultor, perito judicial (TJMG). Graduando em Direito na PUC
Minas. E-mail: jose.rodrigues.1312160@sga.pucminas.br.
51
EXTENSÃO PUC MINAS:
52 Novo Humanismo, novas perspectivas

provision of assistance services to the community in the Palmares II region, in the city of Ibirité. This community is a
location that holds the worst results in the main indicators of social and economic development on metropolitan region of
Belo Horizonte.

Keywords: Economic-social development. Social entrepreneurship. Formalization and promotion of projects in


underserved communities. Mobilization and social engagement.

INTRODUÇÃO

Os ganhos decorrentes de iniciativas de responsabilidade social são expressivos, tanto para


beneficiários diretos, quanto para a sociedade e, também, para aqueles que, na outra ponta dessa
cadeia de solidariedade, se engajam nos esforços que, de alguma forma, visam a reduzir desigualdades
e vulnerabilidades sociais. Entretanto, o grande volume de iniciativas, recursos, indivíduos e
organizações envolvidas em iniciativas de responsabilidade social pode produzir resultados mais
expressivos ainda quando a implementação destas se dá num contexto de regularidade jurídico-fiscal,
bem como da adoção de boas práticas de formulação estratégica e gestão das operações. Por outro
lado, é perceptível, notadamente nos casos de atuação das associações comunitárias, a dificuldade de
acesso aos meios que possibilitem a organização mínima, não somente para o provimento de recursos
como, também, para a aplicação otimizada deles.
Nesse sentido, é objetivo deste artigo explicitar, por meio de uma experiência empírica, os
principais entraves à efetividade de ações assistenciais de atendimento às necessidades básicas da
comunidade e, ainda, apontar estratégias que, quando corretamente formuladas, implementadas e
gerenciadas, podem reduzir drasticamente esses entraves e, dessa forma, alcançar resultados
expressivos em curto espaço de tempo, assegurando, inclusive, a sustentabilidade da associação
comunitária, por meio da formalização e da capacitação para a gestão do empreendimento como de
natureza social.
Com relação aos procedimentos metodológicos utilizados, trata-se de investigação
eminentemente exploratória, realizada ao longo do primeiro semestre de 2022, envolvendo pesquisa
bibliográfica e estudo de caso junto à associação comunitária “O Amor Vence Tudo”, que atua na
região do Bairro Palmares II, em Ibirité-MG. Essa abordagem permitirá identificar adequadamente
os fatores que determinam ou contribuem, em alguma medida, para a ocorrência dos fenômenos sob
análise, os quais, no caso específico, são um conjunto de lacunas de efetividade na operação da
associação comunitária.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 53

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: AS MOTIVAÇÕES PARA O VOLUNTARIADO

A cada três anos, o Programa de Voluntários da ONU (Organização das Nações Unidas)
divulga um importante relatório sobre a situação do voluntariado no mundo, o SWVR (State of the
World’s Volunteerism Report). No ano de 2022, o relatório foi liberado contendo importantes
aspectos de contextualização, já que abrange o período que antecedeu à pandemia de COVID-19 e
abarca os dois anos mais duros desse fenômeno que abalou e vem abalando o mundo, de forma
indiscriminada e multifacetada.
Um aspecto de grande relevância no relatório da ONU é que ele aponta, de forma muito bem
fundamentada, as relações de causalidade que existem entre o voluntariado e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)3. Assim, não é sem razão que o relatório atual recebe o
sugestivo título de “Construindo Sociedades Iguais e Sustentáveis”. Ele aponta que, apesar do imenso
desafio de mensurar o voluntariado globalmente, constatam-se novas evidências sobre parcerias
voluntariado-Estado e vêm à luz novos dados que elucidam a escala e o escopo do envolvimento
voluntário em todo o mundo, deixando claro que, apesar dos impactos socioeconômicos devastadores
da pandemia da COVID-19, o interesse global pelo voluntariado não diminuiu.
Embora neste texto não se tenha colocado como objetivo qualquer intenção de se aprofundar
nas teorias do voluntariado, considerou-se pertinente apontar, de forma breve, algumas vertentes e
perspectivas acerca do assunto.
Nesse sentido, Pereira, Jussara e Rezende (2020) afirmam que “majoritariamente, o
voluntariado tem sido estudado como um processo social que inclui aspectos psicossociais,
socioeconômicos, motivacionais, identitários e de socialização” (PEREIRA; JUSSARA; REZENDE,
2020, p. 3). Afirmam ainda, essas autoras, que, a partir desses conceitos de voluntariado e sua
relevância como estratégia de redução de desigualdades sociais e, ainda, em função da pretensão de
identificar entraves à efetividade de iniciativas de voluntariado, é pertinente também, apresentar
resultados alcançados por essas autoras, numa compilação de outras pesquisas científicas acerca do
tema, bem como das motivações alegadas para a sua prática. Trata-se de análises elaboradas pelas
autoras considerando publicações abrangendo as duas últimas décadas.

3
Trata-se de um conjunto de 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de
desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo (cf. ONU, 2022).
53
EXTENSÃO PUC MINAS:
54 Novo Humanismo, novas perspectivas

Dessa forma, na síntese dos resultados de pesquisa, alcançados por Pereira, Jussara e Rezende
(2020), consta que existem, pelo menos, cinco pressupostos teóricos para a pesquisa e teoria em
voluntariado, como se pode ver no quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Os pressupostos teóricos para a pesquisa e teoria em voluntariado


Abordagem Descrição
Considera os motivadores para o voluntariado, a utilidade e os benefícios que o
Abordagem funcional para a motivação
voluntariado pode proporcionar à sociedade e ao indivíduo.
Trata o voluntariado como recurso organizacional, sugerindo profissionalização
Abordagem gestionária do voluntariado
da atuação e necessidade de gestão.
Abordagem mercadológica sobre o voluntariado Compreende ações e programas sociais originados na esfera privada.
Busca compreender o significado da prática para quem exerce e as implicações
Abordagem da representação do voluntariado
para quem recebe.
Defende a necessidade da crítica à ideologia dominante que tem permeado o
Abordagem do “novo voluntariado”
voluntariado.
Fonte: Adaptado de PEREIRA; JUSSARA; REZENDE, 2020, p. 7.

No tocante às motivações para o voluntariado, Pereira, Jussara e Rezende (2020), citando


Wilson (2000), afirmam que “As pesquisas tradicionais em voluntariado destacam diversos motivos
e razões para a adesão dos voluntários. A premissa é que os motivos são constitutivos da ação, sendo
um discurso que atribui significado e ajuda a moldar o comportamento” (WILSON, 2000, p.8 apud
PEREIRA; JUSSARA; REZENDE, 2020, p.8). Apresentam, ainda, uma categorização proposta por
Fisher e Schaffer (1993) e sintetizada por Mascarenhas, Zambaldi e Varela (2013), como se pode ver
no quadro 2 abaixo:

Quadro 2 – Os motivos alegados para a atuação voluntária


Motivações Descrição
Altruístas As razões mais alegadas para o voluntariado são: ajudar, fazer o bem.
Ideológicas Para a prática do voluntariado, os voluntários alegam causas específicas ou ideologias.
Buscam o envolvimento em ações voluntárias para satisfazer necessidades do ego, como, por exemplo, a
Egoístas
aprovação social.
Materiais O engajamento decorre de interesses materiais futuros, para si ou para familiares.
São movidos por desejos de adquirir conhecimento profissional, contatos e reconhecimento. Constatado em
Status
pessoas em idade de trabalho e estudantes.
Sociais Aparecem como motivadores: encontrar pessoas e fazer amizades.
Lazer O voluntariado é um meio de lazer e o engajamento se dá pelo fato de a pessoa ter tempo livre.
Crescimento
Foram identificados os seguintes motivadores: aprendizado, crescimento pessoal e desenvolvimento espiritual.
pessoal
Fonte: Adaptado de: MASCARENHAS, ZAMBALDI E VARELA, 2013, apud PEREIRA;
JUSSARA; REZENDE, 2020, p.8.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 55

Já o relatório da ONU, de cunho aparentemente mais pragmático, apresenta cinco categorias


de voluntariado: (1) ajuda mútua: as pessoas de mobilizam para resolver uma necessidade comum
compartilhada, (2) serviço: o voluntariado decorre da percepção das necessidades de outras pessoas
ou comunidades, (3) campanhas: envolve ações coletivas de grupos ou indivíduos para amplificar
vozes marginalizadas e mudar situações vigentes, (4) participação: o voluntariado se dá com alocação
de tempo e esforço em torno de mecanismos de governança e tomada de decisões, e (5) lazer: são
atividades que expressam interesses ou paixões pessoais, como artes, cultura e esportes (UNV, 2022,
p. 19, tradução nossa).
Nas duas abordagens que buscam identificar as motivações para o voluntariado, é perceptível
que, no que tange ao objeto deste texto, as motivações altruístas, em que o voluntário deseja ajudar e
fazer o bem (MASCARENHAS, ZAMBALDI E VARELA, 2013 apud PEREIRA; JUSSARA;
REZENDE, 2020, p. 8) e, na proposta da ONU, o desejo de servir (UNV, 2022), podem ser
considerados fatores críticos de sucesso para o alcance dos objetivos previamente estabelecidos no
projeto de extensão que dá origem a este texto. Essa afirmação decorre da constatação de que tais
abordagens são as únicas, aparentemente, que demonstram coerência na mobilização de um grupo
multidisciplinar de pessoas, incluindo docentes e discentes de diferentes áreas do conhecimento, de
diferentes faixas etárias e, provavelmente, com diferentes estilos de vida e posicionamentos quanto a
carreira, ideologias, crenças religiosas etc.

2.1. Contexto das ações de voluntariado (perspectiva socioeconômica)

Segundo o relatório da ONU, para avaliar a contribuição econômica do voluntariado


globalmente, foi estimado o número de trabalhadores equivalentes em tempo integral. O resultado foi
de aproximadamente 61.000.000 de trabalhadores em tempo integral mensalmente, assumindo uma
semana de 40 horas. Como essas estimativas mostram, o voluntariado é um recurso enorme para o
que a ONU vem chamando de “Década de Ação”, para cumprir os ODS, com milhões de pessoas
contribuindo em vários setores.
Afirma ainda o relatório, que o voluntariado global pode estar sendo subestimado, uma vez
que muitos países relatam apenas dados sobre o voluntariado formal e as dificuldades em captar o
voluntariado informal permanecem (UNV, 2022. p. 40).

55
EXTENSÃO PUC MINAS:
56 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.1.1. Números do voluntariado no mundo

De outra forma, considerando o número total de voluntários (independentemente da


dedicação), o número mensal de voluntários com 15 anos ou mais é de 862,4 milhões em todo o
mundo (imagem 1), com diferenças regionais significativas, com a Ásia e a região do Pacífico
assumindo uma forte liderança. As diferenças regionais podem ser atribuídas à diversidade de
tamanhos de população. A parcela da população total em idade ativa (15 anos ou mais) que se
voluntaria é de quase 15%.
Enquanto os Estados Árabes, Europa e Ásia Central e América Latina e Caribe apresentam
taxas mensais de voluntariado de 9 a 10,6%, a África e a Ásia e a região do Pacífico superam em
muito isso, com taxas mensais de voluntariado de 17,5% e 17,2%, respectivamente.

Imagem 1 – Os números do voluntariado no mundo

Fonte: UNV, 2022, p. 37.

O relatório conclui que a maior parte do trabalho voluntário continua a ser organizada
informalmente entre indivíduos, com 14,3% da população global participando, enquanto 6,5% das
pessoas em idade ativa em todo o mundo se envolvem em voluntariado formal por meio de uma
organização ou associação. Enquanto os voluntários formais são principalmente homens, os
voluntários informais são mais propensos a serem mulheres.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 57

2.1.2. Números do voluntariado no Brasil

Acerca dos voluntários em ação no nosso país, segundo a Pesquisa Voluntariado Brasil, as
iniciativas correspondem a variadas atividades ligadas a saúde, educação, meio ambiente etc.,
contando com energia e talento de pessoas dedicadas e desprovidas de interesses econômico-
financeiros, impactando positivamente na vida das pessoas (Associação Brasileira de Captadores de
Recursos, 2022).
Os principais resultados da pesquisa, que compara resultados de 2011 e 2021, indicam que
56% da população adulta diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Em 2011, esse
número representava 25% da população e, em 2001, apenas 18%. Chama atenção também o número
de voluntários ativos no momento da pesquisa – 34% dos entrevistados, o que representa cerca de 57
milhões de brasileiros comprometidos com atividades voluntárias.
Além disso, essa pesquisa apresenta os seguintes achados: a) Não há diferença significativa
em relação ao gênero dos voluntários: 51% feminino, 48% masculino e 1% declarou outras respostas.
Ela revelou que 40% dos voluntários se encaixam na faixa etária entre 30 e 49 anos; em relação à
escolaridade, 50% detêm o ensino médio completo ou superior incompleto; e a renda familiar mensal
de 39% dos respondentes é de até 2 salários mínimos; b) Em relação aos brasileiros que realizam
alguma atividade voluntária atualmente (34% da população), 12% afirmam fazer as atividades com
frequência definida; enquanto 22% realizam sem frequência definida; c) 15% dos voluntários
realizam atividades ligadas a programas de voluntariado empresarial e dedicam, em média, 21,5 horas
por mês; d) 70% dos respondentes não conhecem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), definidos pela Organização das Nações Unidades (ONU), que compreendem os alicerces da
Agenda 2030 para combater a pobreza, melhorar a educação, promover práticas ambientalmente
sustentáveis, entre outras. O índice de conhecimento cresce conforme aumenta o grau de instrução e
a renda familiar mensal do entrevistado; e) 49% concordam que os grandes eventos realizados na
última década, como a Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paralímpicos, visita do Papa etc.,
contribuíram para aumentar o engajamento dos brasileiros no trabalho voluntário.
A imagem 2 abaixo demonstra que houve uma significativa evolução na prática de iniciativas
de voluntariado na última década:

57
EXTENSÃO PUC MINAS:
58 Novo Humanismo, novas perspectivas

Imagem 2 – Os números do voluntariado no mundo

Fonte: Pesquisa da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, 2022.

Além disso, é relevante analisar a significativa evolução no voluntariado quanto ao tempo


dedicado mensalmente, com um aumento em todas as faixas, mas, de forma muito mais expressiva,
na faixa que compreende a alocação de mais de 11 horas por mês (Imagem 3).

Imagem 3 – Os números do voluntariado no mundo

Fonte: Pesquisa da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, 2022.

E, por fim, destacando mais uma informação da pesquisa que muito contribui para a
contextualização deste artigo, a pesquisa mostra um expressivo aumento no público-alvo
compreendido por “famílias e comunidades” e “pessoas em situação de rua”.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 59

Imagem 4 - A segmentação do público-alvo do voluntariado

Fonte: Pesquisa da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, 2022.

2.1.3. Estatísticas da atuação de ONGs/terceiro setor

Para uma breve reflexão sobre a atuação das organizações do chamado terceiro setor no Brasil,
é de grande valia o conteúdo do Mapa das Organizações da Sociedade Civil, uma importante
publicação liderada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do governo federal, que
identificou a existência de 815.676 ONGs no país até 2020.
Segundo Lima (2021), esse número equivale a um crescimento de cerca de 34 mil
organizações desde a última atualização do Mapa, realizada em 2018, e um retorno aproximado ao
número publicado no lançamento da primeira versão do Mapa, em 2016. Do total, 81% delas são
classificadas como associações sem fins lucrativos e 17% como organizações religiosas, sendo que
as fundações representam apenas 1,50% de todas as organizações da sociedade civil brasileiras.
A região Sudeste abriga 41,5% das organizações, seguida pelo Nordeste (24,7%), pelo Sul
(18,4%), pelo Centro-Oeste (8,2%) e pelo Norte (7,2%). Entre as capitais, Boa Vista é a que registra
o menor número de OSCs: 1.413. Todos os 5.570 municípios brasileiros têm OSCs. Em quantidade,
os dois extremos aparecem em São Paulo, com a capital registrando mais de 50 mil OSCs e o
município de Taquaral com apenas 3 OSCs (LIMA, 2021).
Nesse sentido, a publicação, criada em 2016 e prevista no Marco Regulatório das
Organizações Sociais (Lei 13.019/2014), o Mapa traz informações sobre as organizações em
atividade no país, sua distribuição pelo território nacional, áreas de atuação e projetos desenvolvidos.

59
EXTENSÃO PUC MINAS:
60 Novo Humanismo, novas perspectivas

Estimula a construção de um perfil das OSCs no Brasil, essencial para prover insumos à formulação
de políticas públicas, para o desenvolvimento de pesquisas na área e permite que o próprio setor
conheça melhor sua composição e especificidades.

Imagem 5 – As OSCs no Brasil

Fonte: IPEA, 2021.

Cabe salientar que os números constantes do mapa do Brasil (imagem 5) são apenas os
constantes do cadastro do Mapa (IPEA, 2021). Essas organizações atuam, predominantemente, com
temas ligados à religião e defesa de direitos.

2.2. Marco regulatório das entidades de terceiro setor (perspectiva jurídica)

A relevância do chamado terceiro setor na formulação e execução de políticas sociais públicas,


reduzindo os impactos da ausência do Estado em setores vulneráveis da sociedade, alcançou um
patamar razoável com o advento da Lei 13.019/2014, que instituiu o Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil - MROSC (BRASIL, 2016). Nesse sentido, a OAB afirma que

O conceito de Terceiro Setor enraíza-se na sociedade brasileira, alcançando protagonismo


em diversos campos da economia e formando vínculos culturais com os cidadãos. A ausência
ou a presença excessiva do Estado nesta ou naquela área demanda cada vez mais a
participação das organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, cujo foco de interesse é
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 61

unicamente o bem comum. Onde se façam presentes, essas instituições costumam trazer
inovação, novos ares, enfim, livres de alguns vícios e condutas que tanto têm atravancado o
desenvolvimento brasileiro. (OAB-SP, 2017).

Dessa forma, o MROSC é uma agenda política ampla, que tem como desafio aperfeiçoar o
ambiente jurídico e institucional relacionado às organizações da sociedade civil (OSCs) e suas
relações de parceria com o Estado. Conduzido pela Presidência da República em permanente diálogo
com organizações da sociedade civil, gestores e especialistas, o trabalho está estruturado em três eixos
(BRASIL, 2016, p. 7):

a) Contratualização com o poder público: parcerias com a administração pública em geral, com
especial enfoque à implementação da Lei 13.019/2014;
b) Sustentabilidade e certificação: simplificação e desburocratização do regime tributário
(imunidades e isenções incidentes sobre as OSCs, proposta de Simples Social, incentivos
fiscais) e dos títulos e certificados outorgados pelo Estado;
c) Conhecimento e gestão de informações: produção de estudos e pesquisas, seminários,
publicações, cursos de capacitação e disseminação de informações sobre o universo das
organizações da sociedade civil e suas parcerias com a administração pública.

Nesse sentido, vale ressaltar, quanto ao conteúdo do documento, três aspectos centrais que
pautam a atuação das organizações sociais:

1) Procedimento de Manifestação de Interesse Social (BRASIL, 2016, p. 24): Com a nova lei,
cidadãs e cidadãos, movimentos sociais e outras organizações têm a possibilidade de
apresentar propostas ao poder público por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse
Social. Trata-se de um canal que permite a qualquer pessoa, coletivo ou organização
(institucionalizada ou não) apresentar projetos à administração pública para que esta avalie se
irá realizar um chamamento público ou não.
2) Novos princípios e diretrizes (BRASIL, 2016, p. 25): Participação social, fortalecimento da
sociedade civil e transparência na aplicação dos recursos públicos são princípios que devem
orientar a aplicação e interpretação da lei em todo o território nacional.
3) Impedimentos e restrições (BRASIL, 2016, p. 32-33): A Lei 13.019/2014 elenca os casos que
impedem que organizações da sociedade civil possam celebrar novas parcerias, sobretudo em
caso de prestação de contas rejeitadas.
61
EXTENSÃO PUC MINAS:
62 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.2.1. Ordenamento civil

São abundantes os dispositivos que podem ser classificados como do ordenamento jurídico
civil aplicáveis às organizações sociais, começando pela Constituição da República de 1988,
conforme previsão dos direitos fundamentais arrolados no art. 5º, notadamente nos incisos XVII,
XVIII e XIX. Além disso, a Constituição contempla as organizações sociais, também, no capítulo II,
quando dispõe sobre os direitos sociais dos cidadãos, cuja implementação, em grande medida, cabe
a essas organizações.
Por sua vez, o Código Civil, além de toda a legislação esparsa que regula o Direito Civil
brasileiro, dispõe acerca das regras de instituição e atuação das associações, fundações e demais
entidades especialmente criadas para o desenvolvimento de atividade assistencial, permitindo, assim,
a atuação organizada dos integrantes da sociedade no processo de implementação das garantias
constitucionais.

2.2.2. Ordenamento tributário

No tocante ao ordenamento tributário aplicável às organizações sociais, o ponto de partida,


assim como no ordenamento civil, é a Constituição da República de 1988, que estabelece sistema
específico de tributação e do orçamento em seu Título VI (arts. 145 a 169), garantindo regimes
jurídicos próprios para as entidades assistenciais, conforme art. 150, VI, ‘c’, e §§ 4.º e 6.º, art. 195, §
7.º.
Um importante marco envolvendo o tema da imunidade de que trata os artigos 150 e 195 da
CR/88 é a Lei Complementar 187/21, que veio substituir a Lei 12.101/2009, a qual vinha ocupando
um intenso debate jurídico, inclusive com arguição de inconstitucionalidade no STF.
A esse respeito, Lourenço e Veneranda (2021) afirmam que a nova lei

[...] dispõe de forma legítima sobre os procedimentos referentes a fruição da imunidade das
contribuições à seguridade social de que trata o artigo 195, §7º, da Constituição da República
Federativa do Brasil, revogando a Lei nº 12.101/2009 e ainda alguns dispositivos das Leis
11.096/2005 (Prouni) e 12.249/2010. Entendemos que as alterações foram sutis, mas agora
as normas estão fixadas com força de lei complementar, minimizando os questionamentos
jurídicos sobre a referida norma, uma vez que ela é constitucionalmente legítima para regular
imunidade tributária, cumprindo fielmente o artigo 146, II, da Constituição Federal.
(LOURENÇO; VENERANDA, 2021, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 63

Sob o ponto de vista operacional, quanto às exigências para pleitear e usufruir da imunidade,
a nova lei não trouxe mudanças significativas. Entretanto, legitimou os benefícios e trouxe mais
segurança jurídica ao setor. Ainda assim, recomenda-se que é necessária vigilância para proteger as
entidades “[...] de quaisquer exigências inconstitucionais ou excessivamente onerosas que
inviabilizem a execução de suas atividades de forma perene e superavitária” (LOURENÇO;
VENERANDA, 2021, [s./p.]).
O Ministério da Economia e a Receita Federal, além de outros ministérios, têm papel crucial
nos aspectos legais e regulatórios das organizações sociais. Para isso, mantêm, na sua estrutura,
diversos órgãos para o exercício de diversas competências no sentido de assegurar regularidade e
funcionamento das organizações, dentre os quais podem ser citados: (i) Cadastro Nacional de
Informações Sociais (CNIS), (ii) Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (SALIC), (iii)
Sistema da Lei de Incentivo ao Esporte (SLIE), (iv) Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), (v)
Sistema Integrado de Administração Financeira, (vi) Sistema de Gestão de Convênios e (vii)
Participação Social.
Sobre a base de dados da Participação Social, Lopez (2018) afirma que se trata de um
repositório que

[...] reúne as informações das OSCs que atuam como representantes em instituições
participativas, principalmente os conselhos nacionais de políticas públicas. Esses conselhos
atuam no ciclo de importantes políticas públicas, em diferentes áreas. Há quatro papéis
previstos em lei e exercidos por eles: consulta, fiscalização, normatização e deliberação. No
entanto, os conselhos não exercem necessariamente todas essas funções. (LOPEZ, 2021,
p.176).

Assim, nota-se que a relevância e o impacto da atuação da Receita Federal na operação das
organizações sociais permeiam todo o ciclo de vida da operação, desde a constituição, até o
encerramento, passando pelo tratamento específico do acordo com a natureza dessas operações,
assegurando a imunidade e a regularidade jurídico-fiscal demandada para celebração de convênios
ou quaisquer outros meios que visem à obtenção de recursos públicos.

63
EXTENSÃO PUC MINAS:
64 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 O CASO DO CENTRO DE CIDADANIA O AMOR VENCE TUDO - AVT (EXPERIÊNCIA


EMPÍRICA)

3.1. O contexto de realização do projeto

O Cidades Sustentáveis é um importante programa voltado para o apoio e provimento de


metodologias para a implementação de programas estruturantes em cidades brasileiras. O seu
conteúdo institucional o define como

[...] uma agenda de sustentabilidade urbana que incorpora as dimensões social, ambiental,
econômica, política e cultural no planejamento municipal. Desde 2012, o PCS atua na
sensibilização e mobilização de governos locais para a implementação de políticas públicas
estruturantes, que contribuam para o enfrentamento da desigualdade social e para a
construção de cidades mais justas e sustentáveis. Estruturado em 12 eixos temáticos,
alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, o
programa oferece ferramentas e metodologias de apoio à gestão pública e ao planejamento
urbano integrado, além de mecanismos de controle social e estímulo à participação cidadã.
(SUSTENTÁVEIS, 2022).

De acordo com informações da base de dados do Cidades Sustentáveis, a cidade de Ibirité tem
uma pontuação geral de 51,47/100 e, com isso, está classificada na posição 500 de uma lista que
contém 770 cidades que já aderiram ao programa. Com isso, nota-se que a cidade atingiu apenas 1
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Social, como se pode ver na imagem 6 adiante:

Imagem 6 - Ibirité e o desafio dos ODS

Fonte: Programa Cidades Sustentáveis, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 65

No contexto da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Mapa das Desigualdades da


RMBH de 2021 (BH, 2021) traz importantes contribuições para a contextualização da cidade de
Ibirité, através de um mecanismo denominado “desigualdômetro” que exibe um abrangente conjunto
de indicadores sociodemográficos:

Imagem 7 - Ibirité e o “desigualdômetro” da população

Fonte: BH, 2021.

Como se vê, a imagem 7 evidencia que a localidade, de fato, ostenta os piores indicadores
dentre os municípios da RMBH.

3.2. Sobre o projeto

O projeto tem por escopo a atuação perante a comunidade carente denominada Vila Ideal,
localizada na periferia do município de Ibirité/MG, ambiente com indicadores socioeconômicos que
denotam condição de extrema vulnerabilidade.
No local, existe um projeto de iniciativa da comunidade denominado “O Amor Vence Tudo”,
onde algumas pessoas realizam ações assistenciais de atendimento às necessidades básicas da
população, como arrecadação e distribuição de donativos (alimentos, roupas, medicamentos,
materiais de higiene) e cuidados com as crianças (acolhimento em creche improvisada de crianças da

65
EXTENSÃO PUC MINAS:
66 Novo Humanismo, novas perspectivas

primeira infância para os pais poderem trabalhar; bem como desenvolvimento de atividades de
suporte escolar, prática de esportes, musicalização e aprendizado em informática para crianças da
segunda infância e pré-adolescência).
Todavia, as ações são realizadas de maneira informal, sem existência de entidade constituída
oficialmente para gerir as atividades de maneira organizada, sendo necessária a intervenção, por meio
do projeto de extensão, para a criação de associação comunitária sem finalidade lucrativa, para a
consequente obtenção de certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS),
documento hábil para acesso a benefícios fiscais e angariamento de recursos.
A partir da constituição formal da associação, o projeto também realiza treinamento em gestão
de projetos sociais das pessoas da comunidade integrantes da associação, possibilitando atuação
profissionalizada que permitirá́ a busca por verbas públicas e privadas, potencializando as ações
comunitárias que, consequentemente, impulsionarão o desenvolvimento socioeconômico local.
O objetivo geral deste projeto é regularizar a situação jurídica da associação comunitária
existente no bairro Palmares A, município de Ibirité/MG, permitindo uma gestão mais eficiente dos
projetos assistenciais existentes, qualificando e ampliando os serviços prestados, possibilitando o
desenvolvimento socioeconômico da comunidade a partir da participação das pessoas da própria
comunidade, fortalecendo o exercício da cidadania.

3.3. A justificativa do projeto

Conforme diagnosticado, a comunidade Palmares II, localizada na periferia do município de


Ibirité/MG, está localizada em região cujos índices sociais e econômicos estão abaixo da média dos
demais municípios que integram a região metropolitana de Belo Horizonte/MG.
A implementação do projeto é de grande relevância para a comunidade, pois permite a
formalização da atividade associativa local, regularização esta que permitirá a obtenção de recursos
para qualificação e ampliação do atendimento de crianças e pré-adolescentes, mediante cuidado
integral de higiene, nutricional, educativo, reforço escolar e de lazer, além de consequentemente
garantir a possibilidade das famílias de (re)colocação profissional e ampliação da renda familiar.
Em termos acadêmicos, o projeto permite a atuação direta do corpo docente e discente,
mediante contato com a realidade vulnerável da comunidade e a partir do conhecimento teórico e dos
dados do diagnóstico preliminar, vem sendo desenvolvido estudos a respeito da possível alteração
dos indicadores sociais e econômicos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 67

O projeto permite aos professores e alunos o contato com realidade diversa da existente no
entorno da unidade Praça da Liberdade, oportunizando um olhar mais humano e empático com as
diferenças. Nesse sentido, ele tem profunda articulação com o PPI - Projeto Pedagógico Institucional
do curso de Direito, pois trata a extensão universitária como um fazer acadêmico, como “um dos
lugares do exercício da função social da universidade” e certamente as atividades desenvolvidas
permitirão “a construção de um projeto societário, que permita, de forma efetiva, concretizar uma
pauta de inclusão social, a formação cidadã e humanista, na perspectiva de desenvolvimento integral
do ser humano”.
Ele também possui temática interdisciplinar, permitindo a atuação de professores e discentes
dos cursos de Direito, mediante a formalização dos estatutos jurídicos da associação assistida,
Administração, por meio de oficinas de gestão e marketing, e Ciências Contábeis, fornecendo
elementos de gestão financeira, fiscal e de projetos de obtenção de recursos. Ademais, apesar do
projeto ter sido planejado para inserção em comunidade específica, o presente modelo poderá ser
reeditado em outras comunidades da região metropolitana em situação similar, o que justifica sua
continuidade.

3.4. Situação atual das ações

O projeto REAÇÃO.COM vem realizando suas atividades na comunidade denominada Vila


Ideal, atualmente com nome modificado para Bairro Palmares II, tendo em vista as dificuldades dos
moradores de arranjarem empregos, pois a “fama” da antiga Vila Ideal não é boa, diante dos
indicadores socioeconômicos do local. A comunidade está localizada na periferia do Município de
Ibirité/MG, na divisa com a capital, e possui indicadores que denotam sua condição de
vulnerabilidade, conforme dados extraídos do Censo Demográfico do IBGE – 2010: terceira menor
renda média da região metropolitana (0,7 sm); 38% das mulheres são responsáveis financeiras da
família; 38% das mulheres possuem renda até 1 sm; IDH em 0,704 (inferior à média da RMBH que
é de 0,736).
No local, há ação informal, desarticulada, de alguns líderes comunitários, que atuam na
prestação de serviços assistenciais, sendo necessária a intervenção do presente projeto de extensão
para regularização formal da associação, assessoria na obtenção de certificado de assistência social

67
EXTENSÃO PUC MINAS:
68 Novo Humanismo, novas perspectivas

(CEBAS) e posterior participação em processos seletivos para obtenção de recursos públicos e


privados, além do treinamento da população local em gestão, possibilitando, assim, sua autonomia e,
com isso, a redução da condição de vulnerabilidade social das pessoas da comunidade.
O projeto está potencializando o desenvolvimento das ações comunitárias, que já possui
articulação com outras políticas públicas, como os cuidados com a saúde das crianças
(acompanhamento nutricional, de vacinação, e de atendimento médico preventivo), suporte escolar
(auxilio monitorado com as tarefas escolares para casa), permitindo uma maior liberdade, sobretudo
das mães, de buscarem (re)colocação profissional, aumentando a renda familiar e impactando
diretamente na realidade local. Portanto, o projeto viabilizará o atendimento direto de crianças de 0 a
12 anos, bem como seus pais que terão a tranquilidade de sair para o trabalho com a segurança do
bom cuidado de seus filhos.
Assim como a situação do Palmares II de Ibirité/MG, existem outras comunidades carentes
na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, o que permitirá a expansão do projeto mediante
novas intervenções em outras localidades com diagnóstico.

3.5. Atividades

Além da participação na assembleia constitutiva da associação, a diretoria eleita participará


de todo o processo de regularização da entidade, como obtenção de cartão CNPJ, requerimento de
certificado CEBAS, bem como receberão capacitação para a gestão de maneira autônoma de todas as
atividades já realizadas, possibilitando estrutura técnica na área jurídica e de gestão, para que os
próprios gestores da associação consigam obter recursos para a continuidade e ampliação das ações.
Como desdobramento da tarefa de “submissão do processo de regularização aos órgãos
públicos”, fez-se necessário conceber e implementar uma campanha simplificada para arrecadar
recursos para financiar essa etapa. Para isso, a equipe de projeto produziu um vídeo curto para
sensibilizar doadores da própria rede de relacionamento dos membros e propagou o conteúdo através
das redes sociais e grupos sociais, alcançando o resultado necessário num curto espaço de tempo. A
experiência com essa iniciativa já representou aprendizado para outras demandas que já estão
previstas nas fases seguintes do projeto.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 69

3.6. Atuação dos extensionistas da PUC Minas

O projeto vem sendo desenvolvido na comunidade localizada no Bairro Palmares II,


Ibirité/MG, assim como nas dependências da Universidade, ou mesmo em home office, dependendo
das condições sanitárias de 2022.
Primeiramente foram realizadas visitas técnicas nos locais onde são realizadas as atividades
assistenciais do projeto “O Amor Vence Tudo”. Em seguida, os integrantes da comunidade foram
instruídos pelos integrantes do projeto para a constituição de associação e obtenção da inscrição no
CNPJ. Também são realizadas palestras expositivas e interativas, com participação do corpo docente
e discente dos cursos de Bacharelado em Direito, Administração e Ciências Contábeis, em horários
predeterminados juntamente à comunidade. Esses encontros, de duração aproximada de 50 minutos,
ocorrerão na comunidade para que sejam apresentadas noções básicas de gestão de projetos, gestão
financeira, além de esclarecimentos de dúvidas jurídicas a respeito da atividade assistencial.
Assim, serão preparados computadores, caixas de som e projetores para exposição de
apresentações, vídeos etc. O presente projeto de extensão encontra-se, portanto, em sintonia com o
projeto social já em andamento na comunidade.
A partir da regularização da associação (etapa atual), o projeto irá acompanhar as ações, em
interação com a sociedade local, prestando assessoria na área jurídica, gestão e contábil, de modo a
preparar os gestores do projeto a dar continuidade com mais eficiência e recursos, por meio da
participação dos discentes sob a supervisão dos docentes participantes.
A equipe de projeto, de natureza multidisciplinar, é composta por 8 pessoas, entre docentes e
discentes, como se vê no quadro 3 abaixo:

Quadro 3 – A configuração da equipe de projeto


Membro Área Principais responsabilidades
Professor 1 Direito Coordenação geral
Professor 2 Direito Orientações nos aspectos jurídicos e tributários
Capacitação em gestão e finanças, orçamentação e prestação de contas e
Professor 3 Administração
marketing
Professor 4 Ciências Contábeis Capacitação em contabilidade básica para atendimento às exigências fiscais
Extensionista 1 Direito Auxílio nas tarefas de regularização jurídico-fiscal, projetos e marketing
Extensionista 2 Direito Auxílio nas tarefas de regularização jurídico-fiscal, projetos e marketing
Extensionista 3 Direito Auxílio nas tarefas de regularização jurídico-fiscal, projetos e marketing
Direito, Administração, Auxílio nas tarefas de regularização jurídico-fiscal, contabilidade, finanças,
Extensionista 4
Ciências Contábeis projetos e marketing
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do projeto.
69
EXTENSÃO PUC MINAS:
70 Novo Humanismo, novas perspectivas

O cronograma consolidado do projeto prevê atuação no período compreendido entre os meses


de março a dezembro de 2022, com previsão de continuidade no ano seguinte, para que a organização
complete, pelo menos, um ano de operação, observando rigorosamente todos os aspectos da
regularidade jurídico-fiscal e com resultados que a tornem elegível para o cadastro e certificação nos
órgãos que garantem acesso a recursos para fomento das atividades de assistência social na
comunidade do Palmares II
Nesse sentido, o projeto tem previsão de conclusão em dezembro de 2022, com perspectiva
de proposição de novas etapas a partir dos resultados e desafios percebidos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com quatro meses de atuação no projeto, representando aproximadamente 40% do


cronograma físico, já é possível perceber novos desafios ou, ainda, novas formas de configuração dos
desafios originais. Dentre esses desafios, já podemos identificar algumas questões indicadas na
presente exposição. É possível perceber que as lideranças comunitárias não têm ciência dos benefícios
e recursos que estão disponíveis para a execução de projetos junto às suas comunidades, ficando
sujeitas a atuação de políticos que, mesmo possibilitando que os recursos cheguem às comunidades,
acabam exigindo compromissos com suas plataformas políticas e suas ideologias, que, não raramente,
tornam-se pontos de surgimento de conflitos na comunidade, demandando alocação e pulverização
de esforços para o dimensionamento dos citados conflitos ou ameaças de conflitos.
A complexidade do processo de regularização jurídico-fiscal é um elemento de desmotivação
para que as organizações informais busquem a formalidade e, portanto, como corolário, impede o
acesso aos recursos públicos disponíveis para a implementação de políticas sociais nas comunidades
através de parcerias com as organizações sociais.
As deficiências de conhecimento acerca de práticas de gestão e empreendedorismo social
representam uma relevante barreira à manutenção da regularidade jurídico-fiscal, que é, como já
mencionado, pré-requisito para acesso a recursos públicos.
Há, ainda, a identificação da dificuldade financeira para a formalização das ações, pois a
legislação exige registro cartorário da constituição da associação, cujos emolumentos apresentam-se
como fator de impedimento, já que na percepção dos associados, tais recursos poderiam ser utilizados
para aplicação nas próprias atividades de solidariedade, sendo necessária a atuação dos extensionistas
na persecução de recursos por meio de campanhas de arrecadação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 71

Como recomendação para novas iniciativas de investigação, registra-se a possibilidade de


análises envolvendo a adequação de perfis dos empreendedores sociais aos desafios de fazer, ainda
que parcialmente, o papel de Estado na garantia do bem estar e da paz social e, também, a formulação,
implementação e gerenciamento de estratégias capazes de assegurar efetividade na aplicação dos
recursos públicos em projetos sociais, em contextos de comunidades com elevados índices de
vulnerabilidades sociais e demandas por proteção a direitos.

REFERÊNCIAS

ATIVOS, O Brasil conta com 57 milhões de voluntários. Associação Brasileira de Captadores de


Recursos, 3 maio 2022. Disponível em: https://cutt.ly/uJCupqx. Acesso em: 10 jun 2022.
BH, Nossa. Mapa das Desigualdades 2021. NossaBH, 2021. Disponível em:
https://cutt.ly/GJVEtHQ. Acesso em: 10 jun 2021.
BRASIL. Secretaria de Governo da Presidência da República. Entenda o MROSC: Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Brasília: 2016. Disponível em:
https://cutt.ly/JJC3b3Z. Acesso em: 10 jun 2022.
INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS. Programa Cidades Sustentáveis. Sobre o PCS. s/d.
Disponível em: https://cutt.ly/qJVQ2C6. Acesso em: 10 jun 2022.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. Mapa das Organizações da
Sociedade Civil. Em Questão: Tendências para Políticas Públicas, n. 6, jul. 2021. Disponível
em: https://cutt.ly/hJCzxMJ. Acesso em: 10 jun 2022.
LIMA, M. Mapa das OSCs: Brasil tem 815 mil organizações da sociedade civil. Observatório do
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LOPEZ, Felix Garcia (org). Perfil das Organizações da Sociedade Civil no Brasil. IPEA, 2018.
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LOURENÇO, W.; VENERANDA, R. A Lei Complementar 187/2021 para as entidades do 3o.
Setor: a nova Lei do Cebas. Conjur, 2021. Disponível em: https://cutt.ly/iKptB3T. Acesso em: 18
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU. Sobre o nosso trabalho para alcançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, 2022. Disponível: https://cutt.ly/aJHowRO.
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PEREIRA, J. J.; CAPPELLE, M. C. A.; REZENDE, A.. Teoria e Pesquisa em Voluntariado: Cinco
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2020. Disponível em: https://cutt.ly/CJHgkoM. Acesso em: 8 jun 2020.
UNITED NATIONS VOLUNTEERS - UNV. Building Equal and Inclusive Societies: 2022 State
of the World’s Volunteers Report. UNV Programme. Bonn, 2022. Disponível em:
https://cutt.ly/sJHik8M. Acesso em: 8 jun 2022.
71
EXTENSÃO PUC MINAS:
72 Novo Humanismo, novas perspectivas

A interferência do gênero no diagnóstico em saúde da população prisional nas


APAC: resultados preliminares da interação pesquisa-extensão

Anna Flávia Silva Cruz 1


Bárbara Úrsula Dias de Souza2
Maria Luiza Rodrigues Bandeira 3
Nicole Almeida Soares 4
Patrícia Dayrell Neiva5

RESUMO
A parceria entre a PUC MINAS e a APAC (Associação de Proteção ao Condenado) de Santa Luzia (SL) existe desde
2006, através de atividades de extensão no Programa Apenas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da
APAC; e, desde 2019, com a APAC Belo Horizonte (BH), através do Projeto de extensão ELAS. O presente artigo trata
de um projeto-piloto com intuito de determinar a diferença entre os gêneros quanto ao diagnóstico em saúde da população
prisional nas APAC de SL e BH, por meio da aplicação do questionário de Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). O PSN
foi aplicado por cinco extensionistas do curso de Fisioterapia, no sistema fechado da APAC SL e no sistema semiaberto
e fechado da APAC BH, totalizando 120 questionários analisados. A partir do estudo dos dados, o domínio que se
destacou em ambos os sexos foi o de reações emocionais, salientando a necessidade de se intensificar o cuidado à saúde
mental através de um olhar multiprofissional e interdisciplinar. A partir dos resultados, foi possível reconhecer a
importância da interação, ao elaborar parcialmente um diagnóstico em saúde da APAC SL e APAC BH e, assim, planejar
ações promissoras para ambos os projetos com mais especificidades. Ademais, após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa, é desejo ampliar o conhecimento acerca da população analisada, coletando dados no regime semiaberto da
APAC SL e a idade, nas duas instituições, para entender se esse fator exerceu influência no resultado da aplicação do
questionário, já que cada idade apresenta suas particularidades.

Palavras Chave: Perfil de Saúde de Nottingham. Qualidade de Vida. Extensão Universitária. Pesquisa. Gênero.

The interference of gender in the health diagnosis of the prison population in


APACs: Preliminary results of the research / extension interaction

ABSTRACT
The partnership between PUC MINAS and APAC (Association for the Protection of the Convicted) exists since 2006 in
APAC Santa Luzia (SL), through extension activities in the Just Humans Program: interdisciplinar interventions within
the scope of APAC and since 2019 in APAC Belo Horizonte (BH), through the ELAS extension project. This article is a

1 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
annaflaviascruz@gmail.com.
2Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: barbaraudsouza@gmail.com.
3 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
nicolealmeida.soares2001@gmail.com.
4 Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
rbandmarialuiza@gmail.com.
5 Doutora em ciências da saúde UFMG, Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 73

pilot project with the aim of determining the difference between genders regarding the health diagnosis of the prison
population in the APACs of SL and BH, through the application of the Nottingham Health Profile (PSN) questionnaire.
The PSN was Applied by five extensionists of the Physiotherapy course, in the closed system of APAC SL and in the
semi-open and closed system of APAC BH, totalizing 120 analyzed questionnaires. From the data analysis, the domain
that stood out in both sexes was that of emotional reactions, emphasizing the need to intensify mental healthcare through
a multiprofissional and interdisciplinary look. From these results, it was possible to recognize the importance of dialogic
interaction by partially elaborating a health diagnosis of APAC SL and APAC BH and, thus, planning promising actions
of both projects with more specificity. In addition, it is desired to expand the knowledge about the analyzed population,
collecting their age to understand if this had an influence on the result of the application of the questionnaire, since each
age has its particularities.

Keywords: Nottingham Health Profile. Quality of life. University Extension. Research. Gender.

INTRODUÇÃO

A APAC (Associação de Proteção ao Condenado) é uma entidade civil de direito privado


dedicada à recuperação e reintegração social dos condenados às penas privativas de liberdade, uma
alternativa ao modelo prisional tradicional, de forma a promover a humanização da pena de prisão e
a valorização do ser humano, vinculadas à evangelização (FERREIRA, 2016)6.
Existe uma parceria entre a PUC MINAS e a APAC Santa Luzia (SL) desde 2006, com
atividades de extensão no Programa Apenas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da
APAC, e, desde 2019, na APAC Belo Horizonte (BH), através do Projeto de extensão ELAS. Ambos
têm como objetivo principal prestar assistência às pessoas dos sexos masculino e feminino,
respectivamente, recuperando(a)s, adulto(a)s, sentenciado(a)s da justiça que estejam cumprindo pena
com privação de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e trabalho externo nos Centros de
Reintegração Social em SL e BH (PROEX, 2017). Trata-se de ações que levam em consideração os
processos de humanização e as especificidades dos gêneros, com vista à preparação para o retorno ao
convívio social, em consonância com o método APAC, baseado em pilares que envolvem a
valorização humana, a promoção da saúde, a evangelização e o estímulo ao trabalho.
Dessa forma, o objetivo do exercício da Extensão Universitária é promover a humanização na
assistência aos condenados da referida instituição prisional, tomando como relevantes os processos
de saúde física e psíquica para alcançar a ressocialização, de forma a possibilitar a reconstrução de

6
O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) irá adotar a metodologia APAC, como uma de suas políticas públicas
para o sistema prisional, considerando as leis de execuções que visam motivar a reinserção do(a)s recuperando(a)s na
comunidade. Além da liberdade física/moral, os recuperando(a)s podem possuir a liberdade financeira assegurada pelo
poder judiciário, uma vez que eles trabalham a favor da sociedade em troca da liberdade.
73
EXTENSÃO PUC MINAS:
74 Novo Humanismo, novas perspectivas

sua posição como sujeitos dignos e cidadãos de direitos e deveres ante a sociedade civil. As principais
atividades consistem em ações extensionistas realizadas nas APAC, pelos cursos de Direito,
Psicologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Letras.
Os cursos aderem à articulação entre ensino, pesquisa e extensão, o que gera o reconhecimento
dos limites e peculiaridades de cada uma dessas três atividades. A extensão, caso seja orientada pela
concepção da superioridade do saber científico em relação aos saberes produzidos pelos grupos
atendidos, também pode incorrer no erro de fechar os olhos para esses últimos saberes e manter a
separação entre a ciência e o mundo de visões alternativas. A articulação entre o ensino e a extensão
aponta para uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea, mas
carece da pesquisa, responsável pela produção do conhecimento científico.
Na retomada presencial, com novos desafios e possibilidades, após dois anos em que o(a)s
recuperando(a)s não tiveram acesso às ações de promoção e assistência à saúde com regularidade, de
modo a realizar rapidamente diagnóstico em saúde, as extensionistas do Curso de Fisioterapia
optaram por aplicar um questionário para avaliar a qualidade de vida, o Perfil de Saúde de Nottingham
(PSN) – (HUNT, 1985). Ele é um projeto piloto, desenvolvido para que conheçamos melhor os
beneficiários e suas demandas.
O objetivo das ações, neste projeto, é identificar a situação de saúde física, social e emocional
da população prisional nas APAC de SL e BH de acordo com as diferenças de gênero apresentadas,
elaborar um diagnóstico em saúde e, a partir dele, fazer intervenções direcionadas aos aspectos que
se fizerem relevantes após a análise dos dados, o que contribuirá para a promoção da saúde e para a
redução das queixas dos participantes. O monitoramento servirá para identificar as alterações
importantes no quadro de saúde da população analisada.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Santana (2021), a implementação de ações de extensão universitária é um recurso


no processo de ensino-aprendizado favorável para a atuação prática no âmbito da promoção da saúde.
Complementa-se, nessa mesma perspectiva, por Sampaio (2018), o qual considera a vivência de
extensão universitária como propiciadora de experiências aos discentes, direcionando-os para atitudes
responsáveis e seguras, o que contribui para a promoção da comunicação entre a universidade e o
ambiente externo e interliga dessa forma o ensino, a pesquisa e a extensão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 75

Nesse contexto, por meio da vivência do cenário da realidade que a extensão permite,
pesquisar dados de uma população fragilizada e essencialmente precária quanto à assistência em
saúde se faz valoroso, de forma a contribuir para o processo de produção de saúde. A interação entre
o discente e a comunidade proporciona o intercâmbio entre o saber e o fazer, por meio das demandas
observadas em cenários reais. À vista disso, para o discente, a extensão oportuniza o desenvolvimento
de competências, ampliação de vivências, resolução de problemas, autonomia e trabalho em equipe;
da mesma forma, para a comunidade, a ação de extensão oportuniza um momento de transformação
social, promoção de saúde e, por conseguinte, melhora da qualidade de vida.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS; no inglês, World Health Organization
/ WHO), qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da
cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações” (WHOQOL, 1995). Portanto, o conceito de qualidade de vida engloba tanto questões
objetivas quanto subjetivas. Entre os aspectos subjetivos, temos o bem-estar espiritual, físico, mental,
psicológico e emocional, além do pertencimento social com a participação em diferentes grupos
sociais. Já os objetivos abarcam saúde, educação, moradia e outras circunstâncias da vida, portanto o
instrumento de avaliação de qualidade de vida não deve se limitar simplesmente a medir a presença
e a gravidade dos sintomas de uma doença.
O surto da COVID-19, causado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), na China, ganhou
destaque global e foi declarado pandemia pela OMS em 11 de março de 2020, o que exigiu ações de
prevenção, como isolamento social e reforço das medidas de higiene. Nesse contexto de tempos de
pandemia, o cenário da população privada de liberdade foi agravado pela sobreposição de problemas
pré-existentes e novos, que exigiram medidas sanitárias mais agressivas, como a suspensão de visitas,
que resultaram em um superisolamento (CARVALHO et al., 2020), em razão de o confinamento
dentro de uma unidade prisional ser distinto de outros tipos (como o modelo quarentena, que é um
isolamento voluntário), enquanto nessas instituições a liberdade é involuntariamente restringida.
Desse modo, as mudanças na rotina promoveram um grande impacto na saúde mental da população,
sendo elas muito mais agressivas naquelas em estado de vulnerabilidade social, como os privados de
liberdade, apesar de, por definição, saúde prisional ser saúde pública e dever ser tratada como tal
pelos governos e pela comunidade científica (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2021).
Em uma pandemia, como a COVID-19, é importante lembrar que problemas psicológicos e
psiquiátricos podem ser desencadeados ou amplificados. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a prisão em si já prejudica a saúde mental devido à superlotação, solidão forçada, falta de

75
EXTENSÃO PUC MINAS:
76 Novo Humanismo, novas perspectivas

privacidade, falta de atividade significativa, insegurança quanto às perspectivas (trabalho,


relacionamentos) e serviços de saúde inadequados (CARVALHO et al., 2020). Então, as medidas
após o período de pandemia devem levar em conta que as reações psicológicas das pessoas privadas
de liberdade podem diferir daquelas que observam o distanciamento social na comunidade. Isso
porque, na prisão, há a sobreposição de isolamento, o que exige que aquelas devam ser
supervisionadas de forma multidisciplinar (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2021; CARVALHO et al.,
2020). Diante de tudo isso, a análise da qualidade de vida dessa população passa a ser ainda mais
necessária após esse singular momento mundial.
Segundo a classificação de incapacidade descrita pela OMS, o PSN é composto por 38 itens,
agrupados em seis domínios: "nível de energia" (NE), três itens ─ avalia o nível de energia e de
fadiga; "dor" (D), oito itens ─ avalia a presença de dor, sua intensidade e sua interferência nas
atividades de vida diária (AVD); "reações emocionais" (RE), nove itens ─ apresenta questões sobre
ansiedade, depressão, alterações no comportamento ou descontrole emocional e bem-estar
psicológico; "interação social" (IS), cinco itens ─ analisa a existência do sentimento de solidão e a
dificuldade de interagir com outras pessoas; "habilidades físicas" (HF), oito itens ─ analisa a presença
de limitações durante a realização das Atividades de Vida Diária (AVD) e "sono" (S), cinco itens -
avalia a qualidade do sono e a presença de insônia. Cada percepção de saúde positiva corresponde a
um e negativa corresponde a zero, perfazendo uma pontuação máxima igual a 38 (SALMELA et al.,
2004).
Utilizando uma linguagem de fácil interpretação, o PSN fornece uma medida simples da saúde
física, social e emocional do indivíduo, sendo considerado clinicamente válido para distinguir aqueles
com diferentes níveis de disfunção e para detectar alterações importantes no quadro de saúde do
paciente ao longo do tempo (GUYATT; FEENY; PATRICK, 1993). Alguns autores reafirmaram a
importância desses instrumentos em inquéritos populacionais ou como identificadores das
necessidades de saúde da população, bem como na prática clínica ou em experimentos clínicos
controlados (CARR; THOMPSON; KIRWAN, 1996).

3 METODOLOGIA

A hipótese do grupo de extensionistas em ambos os projetos seria encontrar dados sugestivos


de que pessoas privadas de liberdade estejam fragilizadas, considerando as questões relacionadas à
falta de assistência em saúde e à ausência de ações presenciais de promoção de saúde após período
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 77

da pandemia do COVID-19, haja vista que, em seu primeiro ano, a prevalência global de ansiedade,
depressão e agravos decorrentes das doenças não transmissíveis (DANT) aumentou em 25%, de
acordo com a OMS, diante do que a emergência de saúde pública mudou (OMS, 2021).
Os critérios de elegibilidade foram recuperando(a)s, adulto(a)s, das instituições APAC BH e
APAC SL, do sistema fechado e/ou semiaberto que concordassem em responder ao questionário. Os
critérios de exclusão foram duplicidade de respostas, falta de identificação e não relato de disfunção
em pelo menos um domínio.
O PSN foi aplicado por cinco extensionistas do curso de Fisioterapia no sistema fechado da
APAC SL e no sistema semiaberto e fechado da APAC BH, no período de maio a junho de 2022. Os
dados foram coletados em duas fases: (1) pesquisa de campo por meio da aplicação dos questionários
e (2) tabulação e análise dos dados no Excel. A escolha, excluindo a autoaplicação, se deu pelo fato
de a maioria dos recuperando(a)s possuir baixo nível de escolaridade, o que poderia interferir na
interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos resultados.
Embora o questionário tenha sido aplicado somente pelas extensionistas do curso de
Fisioterapia, a interpretação das respostas coletadas não somente poderá como deverá ser utilizada
por outras áreas parceiras do projeto, para que cada uma, em sua particularidade, consiga intervir nos
aspectos comprometidos, abordando, assim, cada um dos recuperando(a)s de maneira a abranger
todos os aspectos da saúde, seja física, emocional ou social, de maneira interdisciplinar.

4 RESULTADOS

Foram aplicados 139 questionários no total, sendo que, na APAC SL, 81 recuperandos do
sistema fechado responderam a eles, e 14 foram excluídos por não relatarem disfunções nos domínios,
um excluído por duplicidade de respostas e um, por falta de identificação, restando para análise 65
questionários (Figura 1).

77
EXTENSÃO PUC MINAS:
78 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 1 – Organograma questionários aplicados

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Quanto ao: a) nível de energia das 195 respostas possíveis, obtiveram-se 27; b) domínio dor,
62 de 520; c) emocionais, 146 de 585; d) sono, 99 de 325; e) interação social, 93 de 325; f) habilidades
físicas, 48 de 520.
Dessa população, 60% apresentou queixas em três ou mais domínios, sendo que 21%
respondeu comprometimento entre cinco a seis domínios, e 40%, entre um e dois domínios (Figura
2). A maior incidência de respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de distúrbios do
sono, interação social, dor, habilidades físicas e nível de energia (Figura 3).

Figura 2 – Relação por domínios entre as APACs

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 79

Na APAC BH, 58 recuperandas responderam ao questionário, sendo 34 do sistema fechado e


24 do sistema semiaberto. Uma foi excluída por falta de identificação, e duas por não relatarem
disfunções. Restaram 32 questionários do sistema fechado e 23 do sistema semiaberto a serem
analisados, totalizando 55 questionários (Figura 1).
No que se refere ao sistema fechado, relativamente ao: a) nível de energia das 96 respostas
possíveis, obtiveram-se 37; b) domínio dor, 105 de 256; c) reações emocionais, 172 de 288; d) sono,
102 de 160; e) interação social, 90 de 160; f) habilidades físicas, 69 de 256.

Figura 3 - Domínios comprometidos APAC SL - sistema fechado

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

No sistema semiaberto da mesma APAC, quanto ao: a) nível de energia, das 69 respostas
possíveis, obtiveram-se 25; b) domínio dor, 79 de 184; c) reações emocionais, 103 de 207; d) sono,
56 de 115; e) interação social, 42 de 115; f) habilidades físicas, 53 de 184.
Para caracterizar uma amostra homogênea, considerando o número de questionários
respondidos, mesmo sendo um estudo piloto, houve a necessidade de desconsiderar as características
dos sistemas semiaberto e fechado principalmente na APAC BH. Inicialmente o objetivo desse estudo
piloto foi o de entender a diferença entre os sexos e não entre os diferentes regimes. Portanto, unindo
os dois regimes da APAC BH, verificou-se que, quanto ao: a) nível de energia, das 165 respostas
possíveis, obtiveram-se 62; b) dor, 184 de 440; c) reações emocionais, 275 de 495; d) sono, 158 de
275; e) interação social, 132 de 275; f) habilidades físicas, 122 de 440.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
80 Novo Humanismo, novas perspectivas

Toda a população da APAC BH apresentou queixas em três ou mais domínios, se comparado


à APAC SL, onde 60% responderam comprometimento entre cinco a seis domínios (Figura 2). As
respostas mais incidentes se referem ao domínio reações emocionais, seguido por dor, distúrbios do
sono, interação social, habilidades físicas e nível de energia (Figura 4)

Figura 4 - Domínios comprometidos APAC BH, sistema fechado e semiaberto

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

O domínio reações emocionais em ambos os locais foi o mais incidente. Os recuperandos têm
mais distúrbios do sono e maior dificuldade de interação social do que dor, se comparado aos
resultados das recuperandas que têm mais queixas relacionadas ao domínio dor. Eles,
proporcionalmente, relatam menos domínios comprometidos comparados a elas (Figura 2). Apesar
de ser um projeto piloto de uma pesquisa que se iniciará em breve, já se podem reconhecer as maneiras
de intervir nas questões da saúde em singularidade e diversidade, considerando seu enredamento. É
possível também refletir sobre os problemas que afetam os recuperando(a)s para dar seguimento às
futuras ações dos projetos de extensão em ambos os locais.

5 DISCUSSÃO

As perguntas relacionadas ao domínio reações emocionais promoveram maior número de


respostas em ambas as unidades. A exemplo, “as coisas estão me deixando desanimado/deprimido
(a)”, “eu esqueci como fazer as coisas que me divertem”, “eu me sinto extremamente irritado”, “os
dias parecem muito longos”, “ultimamente perco a paciência facilmente”, “eu sinto como se estivesse
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 81

perdendo o controle”, “as preocupações estão me mantendo acordado (a) a noite”, “eu sinto que a
vida não vale a pena ser vivida”, “eu acordo me sentindo deprimido. São declarações que representam
o ambiente onde vivem os privados de liberdade e que justificam a alta incidência nesse domínio. Os
sentimentos podem ser comparados com os manifestos no período pandêmico do coronavírus 2019
(COVID-19), que provocou enorme impacto psicológico em todo o mundo (LUO et al., 2020). A
manutenção das pessoas em isolamento social possibilita associar a realidade geral à dos indivíduos
privados de liberdade, já que, segundo protocolos, medidas rigorosas de saúde pública foram
implementadas para impedir a propagação do vírus, incluindo evitar contato público e cumprir
quarentenas. Elas engendraram sentimentos de desânimo, estresse, ansiedade e depressão,
principalmente quando a pessoa está ou se sente sozinha (SHAH et al., 2020). Esse resultado ressalta
a importância da ação da Psicologia, área que iniciou as práticas de extensão na APAC, e da
necessidade de se intensificar o cuidado com a saúde mental no regime fechado, bem como no
semiaberto. Além disso, desperta o olhar multiprofissional e interdisciplinar entre os diversos cursos
que atuam no Projeto ELAS e Apenas Humanos, motivando a atenção ao fato de que não somente a
psicologia pode intervir em reações emocionais, mas outras áreas, como Direito, Ciências Biológicas,
Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Letras. Tudo isso desperta o interesse por ações que englobam
esse aspecto.
O domínio sono, incluindo a dificuldade em adormecer, em manter o sono e sono não
reparador ou de má qualidade, foi o segundo maior comprometimento apresentado pelos
recuperandos da APAC SL e terceiro maior apresentado pelas recuperandas da APAC BH. Esse dado
nos permite inferir que ele pode estar relacionado ao domínio reações emocionais, já que é bem
documentada a relação entre qualidade do sono, saúde física e condições de saúde mental (SCOTT et
al., 2021). Sono e a saúde mental são, portanto, áreas de desafio e alvos viáveis de planejamento de
ações que podem alcançar benefícios significativos.
As respostas relacionadas ao domínio interação social colocam-no entre os quatro mais
comprometidos em ambas as APAC, reflexo das histórias de vida subjacentes a cada
recuperandos(as). Trata-se de situações que levaram esses indivíduos à perda da confiança nas
pessoas, o que se soma ao sentimento de culpa e à sensação de peso para os outros. Um dos aspectos
que a APAC preza é a reintegração social, que requer a abertura de um processo de comunicação e
interação entre o sistema prisional e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos devem se reconhecer

81
EXTENSÃO PUC MINAS:
82 Novo Humanismo, novas perspectivas

como parte dela. Por conseguinte, os projetos da PUC Minas se condicionam ao exercício da acolhida
sem julgamento, de modo que o vínculo e a confiança sejam um elo entre os alunos extensionistas
que realizam as ações e os beneficiários das ações, o(a)s recuperando(a)s.
O domínio dor também está entre os quatro domínios mais comprometidos em ambas as
APACs, sendo de maior relevância (segundo maior comprometimento) na APAC BH; isso pode ser
justificado pela efetividade de uma ação anterior na APAC SL, cujo tema já foi abordado, mas que
ainda não foi realizada na APAC BH. O resultado pode ser relacionado ao sedentarismo das
recuperandas, pois elas não realizam atividades físicas diariamente. Acentua o problema o fato de
que realizam trabalhos manuais como atividade laboral, a exemplo costura, tricô e crochê e atividades
na cozinha, situação que explica o relato de desconforto em diversas articulações, em especial no
punho, mão e coluna lombar. Em outras atividades do curso de Fisioterapia no Projeto ELAS, já
foram identificadas possíveis alterações no ambiente para adequação de utensílios e mantimentos em
alturas mais adequadas e orientações para menores sobrecargas nas referidas articulações, porém,
ainda se faz necessária abordagem tanto coletiva quanto individual para amenizar tais queixas de dor.
Comparando os regimes fechado e semiaberto da APAC BH, detectou-se diferença nos
aspectos de interação social e habilidades físicas. As recuperandas do regime fechado apresentaram
maior comprometimento de interação social do que as do regime semiaberto, enquanto estas
apresentam maior comprometimento nas habilidades físicas do que aquelas. O cenário pode ser
explicado pelas características estruturais e hábitos imprimidos pelos diferentes regimes em que os
grupos se encontram.
Em relação ao comparativo no momento de aplicação do questionário Perfil de Saúde de
Nottingham (PSN), na APAC feminina, é nítido o comportamento deprimido, o que acentua a
necessidade de ações voltadas para a saúde mental. Os participantes do questionário na APAC
masculina se comportaram de modo diferente, com grande envolvimento do aplicador na realização
do questionário e atenção e tranquilidade para a efetividade da proposta do questionário. Portanto,
destacam-se diferenças do gênero não somente nos resultados encontrados pós-aplicação como
também pré-aplicação do questionário Perfil de Saúde de Nottingham nas duas APAC, dando ênfase
ao quesito psicológico/emocional.
Por meio do presente estudo piloto, foi possível compreender que o conceito de saúde vai
além da questão física, vinculando-se também ao aspecto emocional de cada indivíduo. Os resultados
mostram tanto pelas perguntas, quanto pela própria aplicação, a necessidade de se atuar sobre o perfil
psíquico. Além disso, deve levar em conta a espiritualidade, uma vez que as duas APAC dão
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 83

relevância ao desempenho da fé, na coletividade e na força de esperança da liberdade. Por tudo isso,
é de extrema importância fomentar o exercício profissional e ético dos extensionistas de todas as áreas
da saúde, integrado com os funcionários das instituições, para promover, junto aos recuperandos, o
dinamismo de boas ações, como o perdão, o exercício da coletividade, a espiritualidade e a
humanização através de métodos que os façam crescer ainda mais como seres humanos nesses
espaços de aprisionamento.
Vale ressaltar que a abordagem de cada um desses aspectos, principalmente as reações
emocionais e interação social, domínios mais comprometidos, referem-se a habilidades inerentes a
qualquer ser humano e são características que podem ser desenvolvidas para facilitar a inclusão
novamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados, foi possível reconhecer a importância da interação ao elaborar


parcialmente um diagnóstico em saúde da APAC SL e APAC BH e, assim, planejar ações promissoras
para os dois projetos com mais especificidades. Considera-se que o planejamento é uma ferramenta
importante em toda e qualquer ação a ser desenvolvida, principalmente por determinar objetivos a
serem alcançados ao mesmo tempo em que especifica estratégias capazes de fomentar a prática e a
obtenção de resultados que melhorem a qualidade de vida da população, de forma a promover a
relação entre ter uma vida melhor e cuidar da saúde. É tempo de fortalecer as redes de afeto,
solidariedade e proteção social, com apoio das políticas públicas para os sistemas prisionais, para que
todos possam superar as pressões emocionais, um dos resultados preponderantes na aplicação do PSN
nos campos parceiros.
O projeto de pesquisa, após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da PUC MINAS,
incluirá a coleta de dados no regime semiaberto da APAC SL, visto que o questionário não foi
aplicado até o presente momento, por ser um piloto, e para que seja possível realizar a comparação
entre os gêneros no regime semiaberto, como também a diferença entre os comprometimentos do
regime fechado e semiaberto na APAC SL em suas particularidades.
Destaca-se aqui a necessidade da devolutiva para APAC SL, APAC BH e para os cursos
parceiros do Programa Apenas Humanos e Projeto ELAS, para que possam construir ações conforme
os resultados. Com o questionário PSN, houve a comprovação das necessidades dos beneficiários dos
projetos, conforme sua fidedignidade. O ideal para avaliar as medidas de desfecho, considerando os

83
EXTENSÃO PUC MINAS:
84 Novo Humanismo, novas perspectivas

objetivos dos respectivos projetos de extensão, é que o questionário seja reaplicado em um segundo
momento aos mesmos recuperando(a)s, para entender se as ações extensionistas têm sido exitosas e
efetivas na atenção às demandas, já que o objetivo principal proposto é promover a saúde e amenizar
as queixas.
As reflexões despertadas neste projeto de pesquisa piloto não teriam sido possíveis sem a
colaboração e disponibilidade de cada um(a) dos recuperando(as). Entre as várias contribuições, essas
pessoas despertaram o interesse das discentes de fazer ajustes no questionário, já que, em alguns
momentos, elas ficaram indecisas quanto a responder positiva ou negativamente a perguntas
relacionadas a eventos não tão frequentes em sua rotina.
Para os discentes, foi possível entender o propósito da pesquisa de campo e gerar um retorno
quantitativo e qualitativo a respeito da qualidade de vida e do lado psíquico do público estudado. As
ações lhes propiciaram, além do cumprimento da missão institucional, o aprendizado da extensão
universitária como parte da ação acadêmica, na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Forma-se, assim, um discente crítico, comprometido com a responsabilidade social, capaz de se
apropriar de conhecimento e/ou técnicas de avaliação e de refletir acerca da relação entre teoria e
prática.
Para os recuperando(a)s que foram submetidos ao questionário, o momento foi de certa forma
terapêutico, pois configurou-se como uma conversa, durante a qual sentimentos foram afloraram,
enquanto se desmistificava a figura do condenado como ser essencialmente diferente, que carrega em
si a característica da periculosidade. Viram-se e foram vistos como apenas humanos.

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85
EXTENSÃO PUC MINAS:
86 Novo Humanismo, novas perspectivas

SHAH, Syed Mustafa Ali; MOHAMMAD, Danish; QURESHI, Muhammad FazalHussain;


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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 87

Mediação Comunitária:
relações étnico-raciais e comunicação não violenta

Isabel Lucas Alvarez Rodrigues1


Katerine Veloso2
Letícia Caroline Faria Marcelino3
Rubens Ferreira do Nascimento4
Vitória Hellen Ferreira Nicolau5

RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de retratar como as relações étnico-raciais perpassam os âmbitos da mediação
comunitária e justiça restaurativa e como a comunicação não violenta crítica pode auxiliar nesse trabalho. Faremos uma
breve apresentação do projeto MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de Conflitos,
a partir do seu histórico desde 2014, quando o projeto começou, e o seu momento atual, quando trabalhamos a articulação
da extensão com estágios e pesquisa, justificando o trabalho com relações étnico-raciais e CNV. Logo em seguida,
explicaremos o porquê de trabalhar relações étnico-raciais num projeto de mediação comunitária e o que a CNV tem a
ver com estas relações. Por fim, articularemos a CNV com a mediação de conflitos e justiça restaurativa.

Palavras-chave: Mediação Comunitária. Mediação de Conflitos. Justiça Restaurativa. Relações Étnico-Raciais.


Comunicação Não Violenta.

Commuity mediation:
éthnic-racial relations and non-violent communication

ABSTRACT
This article aims to portray how ethnic-racial relations permeate the scope of community mediation and restorative justice
and how critical non-violent communication can help with this work. We will make a brief presentation of the Community
Mediation project: Community, Restorative Practices and of Conflict Mediation, from its history since 2014, when the
project began, and its current moment, in which we work on the articulation of extension with internships and research,
justifying the work with ethnic-racial relations and NVC. Soon after, we will explain why we work on ethnic-racial
relations in a community mediation project and what the NVC has to do with these relations. Finally, we will articulate
the NVC with conflict mediation and restorative justice.

Keywords: Community Mediation. Conflict Mediation. Restorative Justice. Ethnic-Racial Relations. Non-Violent
Communication.

1
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: isabelalvarezzr@gmail.com.
2
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: katerineveloso@gmail.com.
3
Psicóloga pela PUC Minas São Gabriel. E-mail: lfariamarcelino@outlook.com.
4
Doutorando em Educação e Mestre em Psicologia pela UFMG. Prof. da FAPSI PUC Minas. E-mail:
rubensfn@uol.com.br.
5
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas São Gabriel, e-mail: vitoriafnicolau@gmail.com.
87
EXTENSÃO PUC MINAS:
88 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

O projeto de extensão “MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de


Mediação de Conflitos”, fomentado pela Pró-reitoria de Extensão da PUC Minas, está em atividade
desde 2014 e tem como objetivo promover as habilidades de ensino e a aprendizagem de alunos da
Psicologia e do Direito em mediação comunitária e justiça restaurativa. Mais que sua condição de
técnicos, a proposta é que atuem como atrizes e atores sociais.
Temos investido em mediação de conflitos e práticas restaurativas por meio de diversas frentes
de ação em bairros como o Jardim Felicidade e o Ribeiro de Abreu e em escolas municipais nas
Regionais Norte e Nordeste da RMBH. O referencial teórico-metodológico do projeto se embasa na
Psicologia Social Crítica Latino-Americana, em especial a Psicologia Social Comunitária. Temos a
intenção de enfatizar as relações étnico-raciais nesse campo, afinal o racismo estrutural atravessa
todas as relações, obviamente, presente nas nossas frentes de trabalho. Entretanto, esse objetivo ainda
não foi feito amplamente até o momento. A produção do presente artigo e o investimento em uma
Comunicação Não Violenta crítica compõem esforços coletivos nessa direção.
A Comunicação Não Violenta (CNV), sistematizada pelo psicólogo judeu norte-americano
Marshall Rosenberg (2003), tem sua base na psicologia humanista de Carl Rogers e é uma prática
que objetiva gerar conexões mais profundas e mais compreensão e colaboração nas relações através
da compassividade e da empatia. Ela difere da Comunicação Alienante – o contrário da CNV –, pois
retira o julgamento moralizante, o medo, a culpa, a vergonha, a coerção e a ameaça do discurso.
Ela integra o tipo de linguagem, o tipo de pensamento e as formas de comunicação que
influenciam nossa capacidade de contribuir voluntariamente para o bem-estar dos outros e de nós
mesmos. Baseia-se em quatro princípios básicos: observação, sentimento, necessidade e pedido. Ao
contrário do que muitos pensam, a CNV não significa falar manso e aceitar o discurso do opressor.
Há conexões entre a CNV, a justiça restaurativa e a mediação de conflitos. Como veremos neste
artigo, é possível dialogar com grupos oprimidos recorrendo a esses saberes-fazeres na perspectiva
da transformação social.
Para atender a essas questões, este texto assim se organiza: introdução, seguida de uma breve
apresentação do projeto com ênfase no seu histórico de investimentos ético-políticos e teórico-
metodológicos, com destaque de três momentos distintos: fase de aprendizagem e práticas em
mediação de conflitos; tempo de início do trabalho com justiça restaurativa; momento atual, quando
passamos a dar maior relevo à mediação comunitária e às relações étnico-raciais, recorrendo também
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 89

à Comunicação Não Violenta. Nas terceiras e quartas seções, apresentamos o projeto em seu
momento atual de articulação da extensão com estágios e pesquisa, justificando o trabalho com
relações étnico-raciais e CNV, pautando uma perspectiva de mediação comunitária que se coloca
como referência para práticas de mediação de conflitos emancipatória e justiça restaurativa crítica.

2 O PROJETO MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA EM INTERFACE COM AS RELAÇÕES


ETNICO-RACIAIS

Os campos de autuação deste projeto de justiça restaurativa e a mediação de conflitos são


comunidades-territórios e em comunidades escolares. Fazemos investimentos iniciais também com
povos tradicionais e atuamos junto a adolescentes autores de atos infracionais. Entre os usuários e
parceiros das nossas ações estão pessoas brancas, negras e indígenas, relações étnico-raciais que
sempre estiveram no escopo do projeto. Entretanto, faltava ao MediAção Comunitária maiores
investimentos no tema até 2019. Desde então, temos preenchido essa lacuna com investimentos em
pesquisa e capacitações, visando a aprimorar nosso potencial de intervenção psicossocial e educativa
na resolução de conflitos e na construção de uma cultura de paz.
No segundo semestre de 2021, ocupamo-nos com a realização inicial de encontros
experienciais, cujo teor foram as relações étnico-raciais. Já no primeiro semestre de 2022,
convidamos o corpo discente de Psicologia e Direito da PUC Minas São Gabriel para a participação
em um grupo de estudos e vivências em Comunicação Não Violenta, cuja pauta foram as relações
étnico-raciais. Essas experiências serão relatadas em seções posteriores.

2.1 Uma breve história do Projeto MediAção Comunitária: teoria, metodologia e


posicionamentos ético-políticos

O projeto se iniciou em 2014, sendo praticado informalmente desde 2009, quando possuía o
nome de MEDH & AÇÃO COMUNITÁRIA: Mediação, Direitos Humanos e Ação Comunitária e
tinha como objetivo geral consolidar o processo de implementação de um instituto de mediação
familiar e comunitária no bairro São Gabriel, por meio de práticas didáticas em mediação de conflitos
e educação comunitária em direitos humanos, fomentadas por alunos do curso de Psicologia, Direito,
Serviço Social, Comunicação e Administração.

89
EXTENSÃO PUC MINAS:
90 Novo Humanismo, novas perspectivas

O projeto se organizava em duas frentes de ação: a) mediação de conflitos e ações educativas


em direitos humanos e b) socioambiental e desenvolvimento comunitário. A partir de 2016,
desenvolveu um processo de capacitação teórico-prática em mediação de conflitos por meio da
articulação de ações como: mediações de conflitos, participações em redes sociais e atividades de
educação em direitos humanos. Contava-se com alunos dos cursos de Psicologia, Direito e
Comunicação Social da PUC Minas e Pedagogia da FAE/UFMG.
Em 2017, o nome do projeto foi alterado para MediAção Comunitária: Mediação de Conflitos
e Educação Comunitária e continuou a promover o desenvolvimento de atividades relacionadas à
mediação de conflitos no bairro São Gabriel, na Fundação Metodista, antigo centro comunitário, e no
Programa Mediar da Polícia Civil de Minas Gerais. Através de metodologias participativas, o projeto
desenvolveu várias atividades, como a capacitação de equipe; planejamento, realização e avaliação
de intervenções psicossociais, como rodas de conversa e oficinas. Dava, assim, continuidade às ações
educativas em direitos humanos e cultura de paz.
No ano de 2018, foram desenvolvidas atividades na mesma Fundação. Além disso, a equipe
de extensão estabeleceu articulações com outras instituições em espaços. A exemplo, a Unidade
Básica de Saúde, no bairro São Gabriel, com o projeto de extensão Articulando Redes, Fortalecendo
Comunidades e com o Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional
(CIA-BH). Essa entidade foi conhecida pelo projeto em 2017, quando passou a integrar a Comissão
de Justiça e Práticas Restaurativas - Comissão de JR.
Em 2019, o projeto de extensão passa a ter o nome atual, MediAção Comunitária: Práticas
Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de Conflitos. Durante o primeiro semestre, atuou
basicamente com mediação de conflitos na comunidade e deu início a uma prática restaurativa. Para
o ano seguinte, havia a pretensão de haver continuidade dessas ações com ampliação das práticas em
justiça restaurativa. Isso porque, em 2019, foi inaugurado o Núcleo de Atendimento de Justiça
Restaurativa (NaJR), localizado na Clínica de Psicologia da PUC Minas São Gabriel, surgido da
parceria iniciada pelo coordenador do projeto e a Comissão de Justiça e Práticas Restaurativas
vinculada ao CIA-BH e à Vara Cível da Infância e Juventude. Com o envolvimento institucional da
PUC Minas, o NaJR foi formalizado. Ocorreu também um curso de facilitadores em JR, que
proporcionou a capacitação de quase toda a equipe do projeto de extensão da época.
Em função da pandemia do novo coronavírus, no ano de 2020, houve modificações na atuação
do projeto de extensão, que se deu de forma remota, direcionando as ações para as redes sociais. O
primeiro trabalho realizado remotamente ocorreu em parceria com os estágios de Psicologia e JR,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 91

Psicologia e Mediação de Conflitos e Psicologia Social Comunitária e consistiu na facilitação de um


grupo de idosas atendidas pela Fundação Metodista. Alguns objetivos foram proporcionar espaço de
acolhimento e promover novas formas de resiliência, construção de paz e consciência comunitária.
Além disso, identificávamos o nível de compreensão das idosas sobre as medidas de segurança a
serem adotadas por causa da pandemia e, a partir dessa verificação, promovíamos sua conscientização
quanto ao problema.
O projeto de extensão se iniciou no segundo semestre de 2020, com o objetivo de auxiliar os
docentes da Escola Municipal Jardim Felicidade (EMJF) na construção e consolidação do projeto da
Câmara de Justiça Restaurativa ali inaugurada no ano anterior. Para isso, foi desenvolvida a
capacitação participativa por meio da plataforma Google Meet com os educadores dos três turnos.
Em 2021, foi desenvolvido um projeto de continuidade às referidas atividades iniciadas no
ano anterior. A nova capacitação centralizou-se no trabalho com temas como violência, conflitos de
gênero e étnico-raciais, conflitos relativos ao trabalho docente e com a gestão. No segundo semestre,
pensando em novas perspectivas para a realização da prática do projeto de extensão, foram
desenvolvidos quatro projetos: Grupo de Estudos em Mediação de Conflitos; Círculo de Cultura e
Construção de Paz na Escola Municipal Professor Paulo Freire; Encontros Experienciais Étnico-
Raciais da equipe de extensão e Participação na Rede Comunitária Bairro Jardim Felicidade.6

2.2 Metodologia

A metodologia utilizada pelo projeto se orienta pela intervenção psicossocial / pesquisa-ação


participativa. A pesquisa participante apresenta interfaces com outras modalidades de pesquisa, nesse
caso, a pesquisa-ação. Ela se justifica porque visa ao entendimento dos fenômenos relacionais
conforme a perspectiva dos participantes da situação estudada (FLICK, 2009). Sobre a pesquisa-ação,
Thiollent (1986) a descreve como:

[...] tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1986, p. 14).

6
Tratamos aqui de forma sucinta o histórico do projeto. Para os interessados em se aprofundar na história, trabalhos e
reflexões do projeto de extensão MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de
Conflitos, ver o artigo ainda não publicado: “Projeto de Extensão MediAção Comunitária: potencial transformador e
restaurativo”.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
92 Novo Humanismo, novas perspectivas

A PA foi criada em 1946 por Kurt Lewin (1946), ao desenvolver trabalhos que tinham como
propósito a integração de minorias étnicas à sociedade norte-americana. Dessa forma, entende-se que
ela contribui não apenas para a sistematização de conhecimentos, mas conduz à ação social.
Martins (2006, p. 47-48) a vê como “uma proposta de pesquisa mais aberta, com
características de diagnóstico e consultoria para clarear uma situação complexa e encaminhar
possíveis ações, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise”. Em nosso caso, e no
momento atual, nos orientamos pela intervenção psicossocial, que vemos como uma derivação da
PA, em especial através do grupo de estudo e do minicurso sobre comunicação não violenta, embora
esteja presente em toda a nossa prática com mediação comunitária.

2.3 Raça, racismo e relações étnico-raciais

O termo raça, assim como todos os termos utilizados nas ciências humanas, tem sua dimensão
temporal e histórica. Nem sempre ele foi utilizado para designar pessoas de cores e grupos étnicos
distintos, mas para descrever espécies animais e vegetais dentro da biologia. Historicamente, a
primeira classificação racial dos seres humanos ocorreu em 1684, pela classificação de François
Bernier, em “Nova Divisão da Terra Pelas Diferentes Espécies ou Raças que a Habitam” (SANTOS
et al., 2010). O termo, como o conhecemos hodiernamente, no entanto, foi cunhado a partir da
expansão econômica mercantilista e da colonização das Américas, visto que o contato com os
indígenas fez com que o branco europeu questionasse o conceito de humanidade nos limites de sua
ocidentalidade:

[...] é nesse contexto que a raça emerge como um conceito central para que a aparente
contradição entre a universalidade da razão e o ciclo de morte e destruição do colonialismo
e da escravidão possam operar simultaneamente como fundamentos irremovíveis da
sociedade contemporânea. Assim, a classificação de seres humanos serviria, mais do que para
o conhecimento filosófico, como uma das tecnologias do colonialismo europeu para a
submissão e destruição de populações das Américas, da África, da Ásia e da Oceania.
(ALMEIDA, 2019, p. 20).

A concepção de que a sociedade brasileira foi constituída a partir das raças europeia, indígena
e africana foi difundida por autores como Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre e conceituada como mito
das três raças. Representa um conceito apaziguador entre os grupos brasileiros, imposto pela
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 93

branquitude, de modo a abafar as diferenças sociais a partir de conflitos raciais. Ela permite aos não
brancos o reconhecimento como povo brasileiro. Sustenta, assim, uma existência de convivência
cordial.
Ao retratar a equivocada concepção de democracia racial cunhada por Gilberto Freyre no livro
“Casa Grande e Senzala”, Moreira, citando Freyre, descreve a relação senhor-escravos marcada por
“zonas de confraternização” e trata a miscigenação como fator definidor dos brasileiros como frutos
da interação entre raças. A partir de suas obras, Freyre fortalece a ideia de um Brasil racialmente
democrático. Nessa perspectiva,

Pode-se compreender a democracia racial como um espaço social em que não há


manifestação de desigualdade pautada por raça ou etnia, onde todos os indivíduos percorram
os mesmos espaços sociais e tenham oportunidades iguais. No caso brasileiro, a democracia
racial surgiu como um conceito que afastaria do discurso sociopolítico as profundas
diferenças estabelecidas entre negros e brancos ao longo de seu processo histórico.
(MOREIRA, 2019, p. 26).

Essas considerações estabelecem a noção equivocada de democracia racial, que promoveu um


disfarce do sofrimento das pessoas pretas, mestiças e indígenas enquanto atenuou a responsabilidade
dos brancos e os manteve com tranquilidade na posição de dominantes na sociedade. Não é possível
falar em zonas de confraternização em espaço de escravização.
Em suma, apesar de ser um conceito sociológico e não biológico, conceitualmente, o termo
raça se refere principalmente às características fenotípicas, em especial à cor da pele. Já o termo etnia
confere maior peso às características socioculturais. Um exemplo disso é que, no Brasil, “indígena”
é uma raça que designa todos os povos nativos, mas eles são diferenciados entre distintas etnias, como
Pataxó e Maxakali.
Tendo compreendido os conceitos de raça e etnia, passamos a nos debruçar sobre o conceito
de racismo. O termo foi empregado primeiramente na década de 20 do século passado. Apesar do
pioneirismo em falar sobre o assunto, os cientistas que o cunharam ainda possuíam uma visão
essencialista do termo, como a antropóloga Ruth Benedict, que definiu o neologismo como “o dogma
segundo o qual um grupo étnico está condenado pela natureza à inferioridade congênita e outro grupo
está destinado à superioridade congênita” (BENEDICT, 1945, p. 87).
Uma definição mais atual seria a feita pelo cientista social Kabengele Munanga:

[...] o racismo seria teoricamente uma ideologia essencialista que postula a divisão da
humanidade em grandes grupos chamados raças contrastadas que têm características físicas
hereditárias comuns, sendo estas últimas suportes das características psicológicas, morais,

93
EXTENSÃO PUC MINAS:
94 Novo Humanismo, novas perspectivas

intelectuais e estéticas e se situam numa escala de valores desiguais. Visto deste ponto de
vista, o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela
relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural.
(MUNANGA, 2004, [s./p.].).

No Brasil, a desigualdade não foi aceita a partir do preconceito racial, tendo em vista a já
mencionada ideia equivocada da inexistência de distinção racial. A contar dos anos 50, foi possível
falar em uma sociologia das relações raciais, que discutia sobre preconceito relacionado a cor, mas
racismo não era alvo de discussão, à época considerado doutrina ou ideologia política. Dos anos 1970
em diante, a definição de racismo como práticas e atos produtores de discriminação racial passou a
ser utilizada, promovendo a compreensão de que, enquanto algumas raças são subjugadas, outras se
beneficiam em todos os âmbitos da sociedade com a continuada desigualdade racial (GUIMARÃES,
2004).
A ideia de poder inovou o conceito social a essas relações entre raças, desde então conhecido
como racismo, que pode ser entendido como a sobreposição de uma raça a outra em todas as nuances
compreendidas pelas vivências e experiências culturais, políticas, econômicas e sociais. Assim,
legitimam desigualdades sociais e julgamentos morais baseados em diferenças biológicas,
acarretando uma hierarquização com base nas características de grupos dominantes.
Com efeito, compreende-se que o racismo é estabelecido através da dominação da branquitude
que deseja manter-se no poder, a partir de parâmetros estruturais e institucionais. Sobre esse conceito,

[...] a palavra branquitude significa o lugar de poder que “os brancos” exercem sobre os “não-
brancos”. Note-se: é desimportante para a análise os inúmeros exemplos que temos sobre
“brancos” que não gozam desses poderes; a questão da branquitude é apontar o
supremacismo branco na História, trazido para as Américas pelas caravelas do invasor
europeu e inoculado em nossas terras por meio da fundação de seus Estados coloniais e da
concentração de riquezas nas mãos de poucas famílias de proprietários. (COIMBRA SOUSA,
2020, [s./p.]).

Consoante a isso, a professora doutora Primyamvada Gopal, em artigo escrito para o The
Guardians intitulado “We can't talk about racism without understanding whiteness” (2020), em
tradução para o português “Nós não podemos falar sobre racismo sem entender branquitude”, afirma
que a branquitude deve ser compreendida não como um fator biológico, mas como uma ideologia que
precisa ser abolida:

Uma característica distinta da branquitude enquanto ideologia é que ela tem meios de fazer-
se invisível e por conta disso torna suas operações mais letais e difíceis de combater. Ciências
naturais e humanas estão em comum acordo que ‘raça’ não é uma categoria biológica, mas
sim uma maneira de criar diferenciais de poder, das quais decorrem consequências práticas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 95

Se a nossa intenção é de remover esse diferencial de poder nas sociedades ocidentais, então
a ideologia dominante – branquitude – precisa ser abolida. (GOPAL, 2020 apud COIMBRA
SOUSA, 2020, [s./p.]).

Essas reflexões esclarecem que o racismo está intrinsecamente ligado à raça e se perpetua com
a negação constante da existência de desigualdade racial, o que garante a manutenção da branquitude
como centro de poder. Por isso, é necessário o desenvolvimento comunitário de grupos racializados
em busca de uma efetiva emancipação e participação social como pessoas pares e não inferiores, que
possuem sentimentos e necessidades historicamente descartadas.

2.3 Por que trabalhar relações étnico-raciais num projeto de mediação comunitária?

Sabendo que a Psicologia Social Crítica, nosso campo de estudo, se compromete com “[...] a
construção de formas de consciência e identidade social que mobilizem crítica e transformação”
(MONTERO, 1996, p. 116), temos como horizonte de práticas a Mediação Comunitária. Essa
modalidade, de acordo com Andrade e Nascimento (2016), não está descolada da Psicologia Social
Crítica. Quando ela se propõe a ser transformativa, tem como objeto a relação, vislumbrando as
possibilidades de transformação dos conflitos, bem como mudanças imediatas e a longo prazo
(ANDRADE; NASCIMENTO, 2016). Sendo assim, é importante enfatizar que o instrumento de
trabalho da Mediação Comunitária é a relação, que necessariamente precisa se implicar com a
dimensão étnico-racial, já que “[p]or trás da raça sempre há contingência, conflito, poder e decisão,
de tal sorte que se trata de um conceito relacional e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é
a história da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas.” (ALMEIDA,
2018, p. 1).
Compreender as relações étnico-raciais é reconhecer que as bases estruturantes da sociedade
em que vivemos foram construídas por meio do colonialismo, que por sua vez é pautado pelas
relações de poder. Nelas, o branco ocupa as posições mais privilegiadas. Como forma de sustentar o
estado racista, o colonizador operou na construção de modos de pensar, como o “Mito da Democracia
Racial”, descrito por Clóvis Moura (1988), que atua de modo alienante ao passo que o racismo
continua operando em sua verticalidade, visto que “[...] Em cima dessa dicotomia étnica estabeleceu-
se [...] uma escala de valores, sendo o indivíduo ou grupo mais reconhecido e aceito socialmente na
medida em que se aproxima do tipo branco, e desvalorizando e socialmente repelido à medida que se
aproxima do negro” (MOURA, 1988, p. 62).

95
EXTENSÃO PUC MINAS:
96 Novo Humanismo, novas perspectivas

Materialmente, uma outra forma pela qual o racismo foi incorporado no Brasil como projeto
político foi por meio da criminalização dos que estão no recorte racial menos privilegiado: “[...] a
recepção das teorias criminológicas refletiu as necessidades de um controle social voltado para a
repressão das populações não-brancas, sobretudo as negras” (DUARTE, 2011, p. 288).
Diante disso, sabendo que a justiça restaurativa e a mediação de conflitos têm sido cada vez
mais absorvidas pelo poder judiciário, o projeto MediAção Comunitária se preocupa em compreender
e analisar as concepções e práticas no sistema de justiça direcionadas tanto para adultos quanto para
crianças e adolescentes.
Segundo Batista (2011), as formas de resolução das questões no poder judiciário “surgem
como um eixo específico de racionalização, um saber / poder a serviço da acumulação de capital.”
(BATISTA, 2011, p. 23). Nesse sentido, o projeto MediAção Comunitária atua de forma crítica às
epistemologias, teorias e metodologias e práticas que cooperam para a discriminação e a desigualdade
social nos processos e práticas relativos à justiça.

3. MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA E COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Ao pensar na mediação comunitária transformativa, centrada nas relações, decidimos avançar


no estudo e prática com a Comunicação Não Violenta (CNV), tendo em vista que uma comunicação
compassiva pode contribuir para a transformação de vínculos e para o sucesso nos processos de
mediação comunitária, contemplando aspectos estruturais nas formas de interação e comunicação
humanas.
De acordo com essa proposição, planejamos o Grupo de Estudos e Vivências em
Comunicação Não Violenta com o objetivo de promover o ensino-aprendizagem de forma dialogal e
crítica sobre CNV, a partir da teoria, da prática e do compartilhamento de vivências para a
compreensão da técnica como ferramenta importante e viável nas relações pessoais e práticas
profissionais do psicólogo e do advogado que sejam disciplinares e também interdisciplinares e
potencializem práticas restaurativas e mediação.

3.1 O que é comunicação não violenta: epistemologias, fundamentos e princípios da CNV

O tema discutido no primeiro encontro do Grupo de Estudos e Vivências (GEV) sobre


Comunicação Não Violenta foi “epistemologias, fundamentos e princípios da CNV”. Inicialmente,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 97

fizemos o reconhecimento crítico dos conceitos de CNV, conforme ensinado por Marshall Rosenberg
(2003): empatia, compaixão, sentimentos e necessidades. Como segundo momento, promovemos um
espaço vivencial de compartilhamento de experiências que potencializasse a compreensão teórica
relativas à CNV e a conceitos correlatos.
A partir de então, compreendemos que a Comunicação Não Violenta é uma filosofia de vida
sistematizada pelo citado psicólogo judeu norte-americano, fundamentada na corrente da psicologia
humanista de Carl Rogers. A prática tem por objetivo gerar maior compreensão e colaboração nas
relações através da compassividade e da empatia. Segundo Rosenberg, ela é uma forma de
comunicação que “nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de
maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça.” (ROSENBERG, 2003, p. 20). Nesse
sentido,

A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade


de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. [...] nos ajuda a reformular a
maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas palavras, em vez de serem
reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na
consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. (ROSENBERG, 2003, p. 21).

Quanto à conhecida definição de violência, como transgressão ou violação de regras, leis e


normas, Marilena Chauí (1985) prefere concebê-la de outros modos. No âmbito de relações de
dominação, definidas por Guareschi (2002) como relações desiguais de poder, em que a pessoa de
maior poder o usa para expropriar poder da outra parte, entende-se violência como a relação de
desigualdade hierárquica que leva à dominação, exploração e opressão. A coisificação da pessoa com
o impedimento ou anulação da sua atividade, da sua fala e, portanto, da sua liberdade de ser sujeito é
um outro aspecto da violência concebido pela filósofa (CHAUÍ, 1985, SILVA, 2005)

A utilização do “não” antes de “violência refere-se a uma sabedoria ancestral que


reconheceria o desafio e o descuidado em se nomear aquilo que seria o contrário de violência,
sem restringir ou banalizar um sentido mais profundo. [..] É por isso que “não-violência” é
mais do que “pacificadora”. O “não” designa a infinidade de possibilidades de se chegar ao
caminho do bem. Tudo aquilo que viola é o não caminho, toda violência nos ensina o que
não fazer para onde não seguir, o percurso inverso de se alcançar o bem para si mesmo.
(CARVALHO; SILVA; 2019, p.2).

Com efeito, “embora possamos não considerar ‘violenta’ a maneira de falarmos, nossas
palavras, não raro, induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos.”
(ROSENBERG, 2003, p. 20). Assim sendo, a CNV tenta retirar o julgamento moralizante, o medo, a

97
EXTENSÃO PUC MINAS:
98 Novo Humanismo, novas perspectivas

culpa, a vergonha, a coerção e a ameaça do discurso. Para tanto, baseia-se em quatro princípios
básicos: observação (ouvir), sentimento (indagar), necessidade (compreender) e pedido (argumentar).
O primeiro princípio nos convida a observar sem julgamento ou avaliação. Em seguida, é
necessário compreender como nos sentimos ao observar aquela ação, para, então, reconhecermos
quais de nossas necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos. Por fim, depois de
manifestarmos o observado, é preciso fazer o pedido e expressar clara e honestamente como estamos
para que a mensagem enviada seja aquela que realmente desejamos que seja recebida (ROSENBERG,
2003). Durante todo o processo, é preciso ter empatia, processo de “esvaziar a mente” e ouvir com
todo nosso ser em vez de tentar “consertar” situações e fazer os outros se sentirem melhor.
Um exemplo de uma conversa utilizando a CNV segundo Rosenberg (2003), seria uma mãe
falando ao filho: “Roberto, quando eu vejo duas bolas de meias sujas debaixo da mesinha e mais três
perto da TV, fico irritada, porque preciso de mais ordem no espaço que usamos em comum. Você
poderia colocar suas meias no seu quarto ou na lavadora?” É perceptível, então, a necessidade de,
inicialmente, expressar os próprios sentimentos e necessidades, pois as pessoas tendem a se sentir
mais seguras se revelamos o que está vivo em nós. Outra forma seria parafrasear o que o outro disse.
A CNV sugere que nossa paráfrase tome a forma de perguntas que revelem nossa compreensão, ao
mesmo tempo em que estimulem quaisquer correções necessárias da parte da outra pessoa. Por
exemplo, “Você está reagindo à quantidade de noites em que estive fora na semana passada?”. Essa
ação só é aconselhável caso contribua para maior compaixão e entendimento.
Durante o encontro, fizemos ainda provocações por meio de perguntas, como: “É possível
utilizar a CNV em uma perspectiva clínica?”; “Como a CNV pode contribuir para a psicologia social
comunitária?”; “Quais são as possibilidades de que pessoas em situação de subalternidade tenham
direito à fala?”. Os questionamentos se propunham a instigar o pensamento crítico de todos os
presentes, de forma que não se firmasse a concepção de a CNV que gera o silenciamento de pessoas
oprimidas socialmente e, assim, retornassem curiosos para o segundo encontro.
Compreender os fundamentos e princípios da CNV foi o primeiro e importante passo para
uma formação crítica em interseção com as relações étnico-raciais, justiça restaurativa e mediação de
conflitos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 99

3.2 Como a CNV se envolve com relações étnico-raciais

No segundo encontro do Grupo de Estudos e Vivências (GEV) sobre Comunicação Não


Violenta, tivemos como temática os “diálogos com grupos oprimidos como forma de transformação”
a partir da contação de histórias pessoais das alunas e alunos presentes (personal storytelling).
Partimos do pressuposto que ao falar de si, “o narrador tem a oportunidade de contar suas versões
sobre si ou sobre como percebe o mundo, e assume a responsabilidade pelo ponto de vista do conteúdo
que é narrado, bem como suas impressões, sentimentos e perspectivas pessoais”. (CARVALHO;
SILVA; JERONIMO, 2020, p. 52).
Por trás de cada conflito há uma história e, por trás dela, há um sujeito, que ao narrá-la revela
aspectos pessoais, relacionais, culturais e estruturais, os quais possibilitam que ele interprete o
passado e suas nuances simbólicas e, assim, crie novas possibilidades possíveis e desejadas para o
futuro. Além disso,

Ao contar histórias, expresso o que tem valor para mim e evidencio meus princípios
(significado). Ao tê-las consideradas num coletivo, sinto que esse grupo de pessoas se
importa comigo naquele tempo-espaço (significância). Com isso, construímos e fortalecemos
conexão (pertencimento). Essas narrativas expressam significado, significância e
pertencimento, estando na base do tripé da constituição de comunidade. (CARVALHO;
SILVA; JERONIMO, 2020, p. 56).

Desse modo, a contação de histórias pessoais é um recurso que permite a construção de


relações empáticas e que fomentam a não violência, ao contrário de narrativas únicas que são contadas
apenas pela hegemonia. “A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é
que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única
história” (ADICHIE, 2019, p. 26). Foi com esse pensamento que, durante a condução do encontro,
disparamos a pergunta “Conte uma história que foi dita sobre você e não contempla toda a sua
verdade, numa perspectiva de opressões” e ouvimos diversas narrativas sobre racismo, classismo,
homofobia, machismo etc.
Em seguida, perguntamos “Como você relaciona a CNV e o storytelling à transformação das
opressões?”. Chegamos à conclusão de que para que a CNV seja efetiva, é necessário o diálogo com
grupos oprimidos, tendo em vista que a intencionalidade e a presença não podem ser silenciadoras.
Destarte, histórias revelam sentimentos e necessidades, que são dois princípios básicos da CNV:

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100 Novo Humanismo, novas perspectivas

[...] contar histórias possibilita revelar os conflitos subjacentes para a construção de uma paz
que respeite e legitime narrativas silenciadas, invisibilizadas e negadas pela imposição de
mecanismos estruturais e comunicacionais que alienam a vida e bloqueia a compaixão.
(CARVALHO; SILVA; JERONIMO, 2020, p.56).

Spivak (2010), em “Pode o subalterno falar?” afirma que os sujeitos marginalizados têm pouca
probabilidade de reverter as opressões estruturais que incidem sobre eles. Isso porque carecem de
espaços em que o agenciamento de suas falas é ouvido, havendo a negação de espaços qualificados
de escuta de suas vozes, o que afeta sua autonomia. Sendo assim, ao considerar o subalterno como
gente capaz de falar por si, a democracia deve se preocupar em criar espaços onde essas falas sejam
ouvidas. Portanto, entende-se que ao contar de si, o silenciamento e a invisibilidade podem vir a ser
rompidos.
Tal pensamento vai ao encontro com a dinâmica do storytelling e também da CNV. Dessa
forma, sobre a nossa postura enquanto mediadores, podemos entender que:

A reparação histórica do racismo, da misoginia, da transfobia, do capacitismo é um exercício


cotidiano que exige de nós uma revisão de tudo aquilo que aprendemos institucionalmente
como certo, único, bom e justo no mundo. Esta revisão pode incluir desconforto, angústia,
vergonha, como também orgulho, dignidade e pertencimento, compondo um horizonte de
maior maturidade psicossocial em nossas formas de nos relacionarmos com tudo que nos
rodeia. (NÚÑEZ, 2019, p. 9).

Porquanto, a CNV se envolve com relações étnico-raciais na medida em que entende que a
perspectiva de raça e etnia, seja em relação ao pertencimento ou ao preconceito sofrido em
consequência deste, perpassam toda a nossa vida e devem ser colocadas em pauta ao falarmos sobre
nossas histórias ou não contemplaremos o sujeito em toda sua totalidade. Além disso, ao não
contemplar as relações étnico-raciais estaríamos contribuindo para o silenciamento e a invisibilidade
que os autores supracitados sustentam.

3.3 CNV, justiça restaurativa e mediação de conflitos

No terceiro encontro do Grupo de Estudos e Vivências (GEV), tivemos como temática “CNV
e Justiça Restaurativa (JR)''. Ao discutirmos na preparação do encontro refletimos com o grupo as
aproximações e tensionamentos destes dois campos. Tendo como norteador esse objetivo, foi
necessário um esforço em que buscamos apresentar esses campos diversos e multifacetados, com
base em nossas experiências e leituras teóricas, articulando assim tais saberes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 101

Para isso, a primeira decisão foi na direção de possibilitar aos participantes, dentro dos limites
de tempo e espaço do GEV, experienciar uma prática restaurativa. Essa escolha reflete a própria
história e cotidiano do projeto de extensão que utiliza em suas frentes de trabalho e em atividades
como as reuniões com os extensionistas metodologias restaurativas que proporcionem, em última
instância, a possibilidade do encontro e diálogo. Assim, dentre as possibilidades de práticas dentro da
JR, optou-se por um Círculo de Construção de Paz - sistematizado pela norte-americana Kay Pranis
(2010) - por este contemplar a constituição e os objetivos do GEV.
Além disso, é importante apontar que para a preparação do roteiro e aproximação com o
espaço dos processos circulares destacou-se para os extensionistas a dimensão pedagógica deste,
partindo assim da compreensão de que toda relação é educativa e de que as pessoas se colocam umas
para as outras e umas com as outras como mediadoras em processos de ensino/aprendizagem
informais ou formais, inspirada por uma educação transformadora, tal como propôs Paulo Freire.
Assim, tendo estes pressupostos como norteadores do Círculo, definiram-se os seguintes
passos: I. Boas-vindas; II. Cerimônia de abertura; III. Diretrizes; IV. Check-in; V. Valores; VI.
Trabalhando o tema central; VII. Check-out; VIII. Encerramento (PRANIS, 2010, p.28). Conforme
mencionado acima, a proposta do Círculo foi inspirada na metodologia desenvolvida por Kay Pranis
(2010), apresentando algumas alterações em sua estrutura. Ressalta-se aqui que tais alterações foram
informadas a todos os participantes do GEV, destacando deste modo que o encontro foi conduzido
considerando esta estrutura particular, mas apontando que há outras possibilidades.
Visto que o encontro possuía como temática Comunicação Não Violenta e justiça restaurativa,
sendo este portanto o principal interesse do Círculo, propusemos como tema central a ser trabalhado
uma discussão sobre justiça restaurativa e justiça retributiva, assim como as possibilidades da CNV
na JR. Com este ponto de partida, utilizamos as perguntas norteadoras “Para você, o que seria justiça
restaurativa?” “E o que você entende por justiça retributiva?”.
Esse movimento de escutar o que cada participante apresentava de conhecimento e vivência
prévio é sustentado por um modelo de educação freiriano. Uma vez que para Paulo Freire (1987),
conhecer é viver, o educador propõe uma pedagogia dialógica centrada nas relações sociais como
essência do ato educativo. Com isso, cada resposta às duas questões foi escrita na lousa que se
encontrava na sala do GEV, as anotações foram transcritas na íntegra e cada coluna foi agrupada
considerando a proximidade dos conteúdos levantados pelos participantes, conforme o quadro
abaixo:

101
EXTENSÃO PUC MINAS:
102 Novo Humanismo, novas perspectivas

Quadro 1 – Conhecimentos e vivências prévios do que é


Justiça Retributiva e Justiça Restaurativa

Justiça Retributiva Justiça Restaurativa

Dominação Transformação

Julgamento Novo paradigma para se pensar a justiça

Punição Reconstrução, nova forma de atuação

Dominação Subversão de um modelo de justiça

Culpabilização Não culpabilização

Reforma na forma de julgamento. Fazer justiça de uma maneira


Poder
equilibrada

Discriminatória Acolhimento sem julgamento

Violência Escutar a verdade do outro

Poder aquisitivo Verdadeira justiça

Alienante Reconstrução

Perde/ganha Ganha/ganha

Limitadora Nova forma de se pensar justiça

Individualização Responsabilização

Foco no passado Foco no que fazer a partir do ocorrido

Foco na vítima

Filosofia, modo de estar no mundo. Cultura de não-violência, atua


na comunidade com foco nas relações
Fonte: Elaborado pelos autores com base nas respostas dos participantes do GEV do dia 31/05/2022.

Quadro 2 – Valores da Justiça Retributiva versus Justiça Restaurativa

Justiça Retributiva Justiça Restaurativa

Conceito jurídico-normativo de Crime – Ato contra a sociedade Conceito realístico de Crime – Ato que traumatiza a vítima,
representada pelo Estado – Unidisciplinaridade causando-lhe danos. – Multidisciplinariedade

Primado do Interesse Público (Sociedade, representada pelo Primado do Interesse das Pessoas Envolvidas e Comunidade –
Estado, o Centro) - Monopólio estatal da Justiça Criminal. Justiça Criminal participativa.

Culpabilidade Individual voltada para o passado – Responsabilidade, pela restauração, numa dimensão social,
Estigmatização compartilhada coletivamente e voltada para o futuro

Uso Dogmático do Direito Penal Positivo Uso Crítico e Alternativo do Direito

continua
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 103

Quadro 2 – Valores da Justiça Retributiva versus Justiça Restaurativa (cont.)

Justiça Retributiva Justiça Restaurativa

Indiferença do Estado quanto às necessidades do infrator, Comprometimento com a inclusão e Justiça Social gerando
vítima e comunidade afetados – desconexão conexões.

Monocultural e excludente Culturalmente flexível (respeito à tolerância, diferenças etc.)

Dissuasão Persuasão

Fonte: Slakmon, De Vitto e Pinto (2005), apud Tavares, Pelizzoli (2015).

Quadro 3 – Procedimentos da Justiça Retributiva versus Justiça Restaurativa

Justiça Retributiva Justiça Restaurativa

Ritual solene e público Comunitário, com as pessoas envolvidas

Indisponibilidade da ação penal Princípio da oportunidade

Contencioso e contraditório Voluntário e colaborativo

Linguagem, normas e procedimentos formais e complexos –


Procedimento informal e com confidencialidade.
garantias

Atores principais – autoridades (representando o Estado) e Atores principais – autoridades (representando o


profissionais do Direito Estado) e profissionais do Direito

Processo Decisório a cargo de autoridades (Policial, Processo Decisório compartilhado com as pessoas
Delegado, Promotor, Juiz e profissionais do Direito) - envolvidas (vítima, infrator e comunidade) -
Unidimensionalidade Multidimensionalidade
Fonte: Slakmon, De Vitto e Pinto (2005), apud Tavares, Pelizzoli (2015).

Com a aproximação da experiência e conhecimentos anteriores de todos os participantes foi


possível a construção de um panorama conceitual e relacional que permitiu aos participantes ampliar
o olhar e explorar novas perspectivas. É preciso dizer que o panorama inicial construído
coletivamente pelo grupo provocou discussões importantes e que encontra muitos pontos de encontro
com produções teóricas que discutem o sistema penal, justiça, métodos punitivos, encarceramento,
destacando-se aqui os modelos de justiça retributiva e restaurativa. Isso pode ser notado quando
consideramos os quadros 2 e 3, produzidos por autores e pesquisadores que se debruçam nos estudos
sobre os temas discutidos no GEV (SLAKMON, DE VITTO; PINTO, 2005, apud TAVARES;
PELIZZOLI, 2015), em específico nas produções que envolvem os valores e procedimentos adotados
pela JR e Justiça Retributiva.
Consideramos que colocar sob perspectiva os dois modelos de justiça seja um movimento
importante no sentido de nos conduzir a compreender que estes modelos não são estáticos e dados,
mas construídos histórica, cultural e socialmente. A justiça retributiva é o modelo que temos. Ao
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EXTENSÃO PUC MINAS:
104 Novo Humanismo, novas perspectivas

mesmo tempo, em análises histórico-sociológicas sobre os sistemas penais percebemos como, ainda
que historicamente os sistemas de punição fossem por vezes completamente distintos, existe uma luta
contra o crime com seu caráter unicamente retributivo e seu princípio de estrita correspondência entre
a punição e o crime (RUSCHE; KIRCHHEIMER, 2004), que sustentam lógicas e métodos de
penalização entranhadas nas sociedades ocidentais.
Ao revisitar a história percebemos como princípios e práticas da retribuição estão presentes
nas dinâmicas e meios sociais, a Lei de Talião - antigo sistema de penas presente no Código de
Hamurabi (datado por volta de 1780 a.C) - é bastante representativa nesse sentido, com seu
reconhecido lema “olho por olho e dente por dente” (SILVA; ALVARENGA, 2017). No entanto,
conforme Howard Zehr, um dos pioneiros da JR:

Os corolários da vitória da justiça e da imposição da dor são esses: os ofensores se veem


presos num mundo em que reina a regra do “olho por olho”. Isto, por sua vez, tende a
confirmar a perspectiva e experiência de vida de muitos ofensores. Os males devem ser pagos
por males, e aqueles que cometeram ofensas merecem vingança. (ZEHR, 2014, p. 74).

No livro Punição e Estruturas Sociais, os autores Rusche e Kirchheimer (2004) propõem


uma investigação das penas em suas dinâmicas específicas, as causas de suas mudanças e
desenvolvimento no meio social, bem como as bases para a escolha de métodos penais específicos
localizados em períodos históricos também específicos. Através de um apanhado histórico, os autores
percebem que, por uma série de fatores, em determinados períodos e sociedades houve uma
transformação do método punitivo centrado somente na fiança - punição comum nessas sociedades -
para a punição corporal (e aqui também o aprisionamento como uma forma de castigo corporal) de
determinados grupos.
Nesse sentido, ainda segundo Rusche e Kirchheimer (2004), quem tinha poder aquisitivo
(burguesia) para pagar a fiança se libertava da punição corporal, os burgueses então contavam com
uma imunidade que lhes garantia concepções legais inclusive não tão severas diante de crimes que
previam pena de morte. Já os proletários estavam expostos a castigos corporais de toda ordem. Assim,
o direito penal se organizava sob um regime duplo, dividindo-se em punição corporal e fianças
(RUSCHE; KIRCHHEIMER, 2004). As diferentes aplicações da lei eram realizadas de acordo com
a classe social do condenado, o que sustentava assimetrias de poder, baseadas em privilégios, fruto
de um regime de punição que atingia diferencialmente as classes dominantes e subalternas.
Pouco a pouco, o sistema penal foi se tornando restrito a uma minoria da população - as classes
subalternas - sob justificativas diversas, tais como a garantia da lei e da ordem, com a reprodução e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 105

manutenção de assimetrias de poder e a justiça foi utilizada como um instrumento de dominação. Este
processo, por sua vez, tem dentre as suas muitas consequências um “sistema penal que constituía um
círculo vicioso” (RUSCHE; KIRCHEIMER, 2004, p. 41).
Ao trocar nossas lentes e olhar para a perspectiva sobre crime e justiça, assim como sugere
Howard Zehr (2014), o mundo ganha novas significações. Compreendendo as manifestações de
justiça que operam em nossa sociedade temos a chance de trocar nossas lentes e pensar em outros
horizontes, e é neste contexto de contraposição à noção tradicional e hegemônica de justiça criminal,
é proposto um olhar pela lente da JR.
A justiça restaurativa se propõe a ser inovadora, na medida em que busca solucionar, por meio
do diálogo, problemas de relacionamento pessoal que desencadeiam ações penais. A JR tem um
comprometimento de realizar a justiça, com ênfase na recuperação do dano causado pelo conflito, em
busca da restauração dos laços rompidos e se desenvolvendo de maneira mais acessível e
comprometida nas soluções dos conflitos. Compreendendo a educação como mediação social, busca-
se identificar o mediador de conflitos como educador em direitos humanos (ANDRADE;
NASCIMENTO, 2016).
Por mais que a prática em justiça restaurativa implique uma maneira ancestral de se pensar os
conflitos e o senso de comunidade, tornando-se algo pertencente a todos, o percurso histórico trouxe
outras maneiras de se pensar a vida em sociedade, naturalizando cada vez mais o caráter retributivo
e culpabilizador. Isso quer dizer que ligar-se a uma prática restaurativa é deixar de lado algumas
situações que parecem comuns ao dia a dia e se permitir olhar para o outro de uma maneira que foi
se perdendo ao longo do tempo, essa maneira compreende o não julgamento, a responsabilização, o
exercício do diálogo de forma não violenta, resgatando o senso comunitário e promovendo a empatia
com o próximo, particularmente por meio das vulnerabilidades. Vale ressaltar que esses
procedimentos ocorrem através da participação voluntária daqueles que estão envolvidos, não está
presente nas práticas o envolvimento intimatório forte no sistema judiciário.
No contexto da relação entre pessoas que praticam e sofrem dano, essas práticas envolvem a
participação dos sujeitos que buscam a transformação do conflito, de micro comunidades, ou seja,
familiares, pessoas representantes da comunidade ou de instituições que compõem a rede de apoio
das partes e os facilitadores de JR. Considerando que a contação de histórias próprias e de todos os
participantes é a tônica dos círculos de paz como método de justiça restaurativa cabe aos facilitadores
praticar e promover o senso de responsabilidade no processo. Isto é feito reconhecendo o seu papel

105
EXTENSÃO PUC MINAS:
106 Novo Humanismo, novas perspectivas

na facilitação, implicando-se e respeitando a história dos envolvidos como também o limite do que é
a sua história e o que é história do outro. Nas palavras de Zehr:

A Justiça Restaurativa vê o crime primordialmente como um dano causado a pessoas e


comunidades. Nosso sistema jurídico, com seu foco em regras e leis e sua visão de que o
Estado é a vítima, muitas vezes perde de vista essa realidade. Preocupado em dar aos
ofensores o que eles merecem, o sistema jurídico considera vítimas,
na melhor das hipóteses, como preocupação secundária no processo penal. Mas na Justiça
Restaurativa, ao colocar o foco no dano, surge uma preocupação inerente com as
necessidades da vítima e o seu papel no processo. (ZEHR, 2014, p. 34).

Desse modo, notamos que existem propostas alternativas ao modelo punitivo e muitas críticas
têm se direcionado às discussões diversas que incluem a justiça restaurativa, mas contemplam outras
perspectivas como a mediação de conflitos, o abolicionismo penal, assim como a Comunicação Não
Violenta em uma perspectiva crítica (ANDRADE, 2018; FLAUZINA, 2006; BATISTA, 2020).
Sendo assim, as discussões em grupo nos levaram a pensar sobre algumas possibilidades da
CNV na JR. Seguiremos agora ideias desenvolvidas anteriormente sobre o projeto de extensão sob
reflexão por Andrade e Nascimento (2016). Um primeiro ponto refere-se ao próprio lugar do
mediador, que na JR realizada no projeto, há a proposta de o mediador se assumir como um mediador
social, um interventor social ou um “educador” no sentido freiriano. No contexto das mediações, o
mediador, ator e modelo de identificação se implica com o risco de se tornar um “guru”, de vir a
ocupar o lugar de mestre e manter os mediandos na condição de discípulos. Para evitar tal tentação,
age-se mirando no educador para a prática da liberdade, conforme Paulo Freire e no mediador grupal
que exercita um esforço cotidiano de promover relações horizontais. Nesse sentido, percebemos como
o mediador pode exercer a CNV ao conduzir alguma prática e mesmo em outros contextos que haja
a interação com pessoa e grupos, uma vez que as habilidades comunicação fortalecem a capacidade
de permanecermos e nos percebemos humanos.
Ainda sobre o lugar do mediador, o exercício da empatia por este ator/atriz nas práticas
restaurativas pode favorecer, por um lado, uma escuta empática e humanizada, sendo assim mais
sensível e próxima do que os outros atores e atrizes tem a nos dizer e, por outro, o princípio da
integralidade, no sentido de o mediador estar presente por inteiro nas interações estabelecidas em seus
diversos campos de atuação. Deste modo, o esforço em exercitar uma Comunicação Não Violenta
permite nos conectar com o outro e fortalece a noção de alteridade, uma vez que a empatia, elemento
central da CNV, é compreendida como um “elo de conexão com a humanidade do outro, assim como
com a nossa própria humanidade” (CARVALHO; SILVA; JERÔNIMO, 2020, p. 35). Assim, como
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 107

apontam Carvalho e Jerônimo (2020), neste movimento de alteridade e empatia, com o outro e
conosco, é possível expressar nosso protagonismo, pensar de modos alternativos, ser capaz de reparar
danos e tomar novos caminhos.
Por fim, concordamos com os autores Carvalho e Jerônimo quando afirmam que “a CNV nos
convoca a refletir sobre a nossa responsabilidade ativa em suscitar a empatia como elemento essencial
das interações sociais, comunitárias e organizacionais'' (2020, p. 8). Através das trocas vivenciadas
no GEV percebemos como este convite é considerado desafiador e promove uma quebra de
paradigmas do que nos é ensinado em nosso modo de ser e relacionar no mundo cotidianamente.
Apesar do desafio, percebemos como a CNV assim como a justiça restaurativa vão ao encontro a
valores e algumas das aspirações dos participantes do GEV, principalmente por estarem relacionadas
a práticas emancipatórias, que promovem a alteridade, diálogo e protagonismo do sujeito social nos
seus conflitos relativos à sua história de vida.
No quarto e último encontro do Grupo de Estudos e Vivências sobre Comunicação Não
Violenta, tivemos como temática os “CNV e Mediação de Conflitos”. A partir da leitura do texto, já
citado, “Psicologia, mediação de conflitos e educação em direitos humanos”, dos autores Andrade e
Nascimento (2016), e das discussões na reunião da equipe de extensão do que mais se destacou, foi
considerado alguns pontos de destaque para as aproximações com o GEV a fim de promover reflexões
relevantes para as alunas e alunos presentes.
Inicialmente, a discussão do encontro focalizou no que cada participante entendia por conflito.
Essa primeira pergunta disparadora permitiu um exercício que incitou à reflexividade, promovendo
uma auto localização dos atores do GEV e um resgate à própria história em relação ao que construiu
em torno do significado de conflito e sua implicação enquanto sujeitos sociais.
Ao falarmos de mediação de conflitos, consideramos como fundamental contemplar de qual
noção de conflito estamos partindo e seus desdobramentos. Conflito, derivado do latim conflictus,
significa choque, embate, oposição, encontro, pendência. Para a Teoria do Conflito, segundo Vezzulla
(1995), o conflito é inerente às relações humanas, podendo ser expresso em opiniões, desejos, atitudes
ou ideias. De acordo com o mesmo autor, o conflito representa lidar com as diferenças nas relações
e diálogos associados a um sentimento de impossibilidade de coexistência de necessidades, interesses
e pontos de vista (VEZZULLA, 1995).
A mediação de conflitos é um processo de natureza não adversarial, confidencial e voluntário,
no qual um terceiro imparcial - o mediador - facilita o diálogo e a negociação entre duas ou mais
partes e as auxiliam na identificação de interesses comuns, complementares e divergentes, com o

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EXTENSÃO PUC MINAS:
108 Novo Humanismo, novas perspectivas

objetivo de mantê-las autoras das soluções construídas, baseando-se assim no consenso, no


atendimento de interesses e necessidades e na satisfação mútua. É entendida assim, como um dos
métodos extrajudiciais de solução de conflitos. Tem caráter inter e transdisciplinar, desse modo,
articula saberes característicos de áreas em disciplinas distintas como: psicologia, direito, serviço
social, comunicação, administração e pedagogia (ANDRADE; NASCIMENTO, 2016;
VASCONCELOS, 2008).
Apesar de muitas aproximações entre a mediação de conflitos e a CNV, existem também
alguns tensionamentos. Isso foi percebido pelo grupo através de um exemplo vivido em uma prática
por uma das participantes. No caso em questão, uma das regras para a comunicação não violenta da
mediação era o de não se comunicar com uma linguagem vulgar. No entanto, esta regra impediu que
uma das partes se expressasse livremente uma vez que seu modo de comunicação era lido como uma
linguagem vulgarizada. Com este posicionamento, a adoção a esta regra no decorrer da mediação -
desconsiderando todo o contexto dos mediandos e a forma como foram socializados para o modo de
comunicar-se, assim como para a resolução de conflitos - promoveu o silenciamento de uma pessoa.
Assim, ficou como reflexão para o grupo os cuidados que devemos estar atentos em nossas práticas,
tendo em vista que a CNV utilizada de modo não-crítico pode fortalecer a manutenção de opressão a
grupos já marginalizados.
A mediação de conflitos perseguida pelo projeto compreende a educação como mediação
social, buscando assim identificar o mediador de conflitos como educador em direitos humanos. Na
mesma direção, na história do projeto de extensão notamos que em seus anos iniciais a mediação de
conflitos e a educação para os direitos humanos integrava o nome da extensão, assim como fazia parte
das atividades propostas pelo grupo de extensionistas, estagiários e coordenador do projeto. Nesse
sentido, acredita-se que a mediação de conflitos se coloca como uma possibilidade de prevenir
conflitos e viabilizar soluções dialógicas e não violentas de conflitos conjugais, familiares e
comunitários. Também se aposta que iniciativas preventivas de educação em direitos humanos
possam contribuir para uma cultura de não violência ao promover a conscientização, ou, melhor
dizendo, “conscienciação” (GUARESCHI, 2002) sobre a dignidade da pessoa humana e o
engajamento contra a violência social. Assim, o projeto de extensão se firma na construção de saberes
múltiplos capazes de fomentar a educação na perspectiva dos direitos humanos (ANDRADE;
NASCIMENTO, 2016).
Por meio de uma mediação transformadora, assim como propõe Vezzulla (1995), busca-se
fugir à lógica instrumental de desafogar o judiciário, posição por vezes sustentada por alguns
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 109

mediadores, ao passo que o foco se desloca de uma pretensa conciliação e caminha em direção a
construção de relações que permitam o desenvolvimento de autonomia, na qual os sujeitos possam se
empoderar e buscar as soluções para os conflitos.
Em última instância, o projeto busca através de suas diversas práticas uma articulação entre
psicologia e compromisso social, contemplando a dimensão de cidadania e procura deslocar o foco
de um rigor teórico-metodológico asséptico para uma perspectiva ético-política que contemple os
atravessamentos pessoais e políticos no exercício individual e coletivo contribuindo para uma
perspectiva de transformação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a necessidade de uma prática que fomente autonomia, por meio da mediação de conflitos
e desenvolvimento comunitário em comunidades no entorno da PUC Minas Unidade São Gabriel,
surge o projeto de extensão hoje intitulado como “MediAção Comunitária: Práticas Comunitárias,
Restaurativas e de Mediação de Conflitos”. Ao longo do texto apresentamos a construção e breve
histórico desse trabalho de extensão e sua atualidade com os recentes investimentos mais explícitos
na perspectiva das relações étnico-raciais.
Com o trabalho no projeto, ficou evidente o quanto as relações étnico-raciais influenciavam
as vivências dos grupos. Ao refletirmos sobre a constituição do povo brasileiro, pensamos nas
interlocuções raciais que perpassam gerações de modo profundo desde o período colonial. A herança
deixada é formada por injustiças e sofrimentos em todos os âmbitos da sociedade. Articulam-se neste
texto elementos sociais, antropológicos e políticos, bem como técnicas que podem ser utilizadas como
mecanismo emancipador de grupos minoritários.
Com o intuito de fomentar a construção de relações baseadas em uma comunicação empática,
solidária e com atenção às necessidades e sentimentos dos envolvidos, entendemos que o recurso
teórico e metodológico da Comunicação Não Violenta, criado por Marshall Rosenberg, pode ser
aliado no desenvolvimento da mediação comunitária, se visto e operado de modo crítico. Nessa
intenção, foi organizado o Grupo de Estudos e Vivências em Comunicação Não Violenta com
encontros que tiveram como temas: epistemologias, fundamentos e princípios da CNV; diálogos com
grupos oprimidos como forma de transformação; CNV e Justiça Restaurativa, CNV e mediação de
Conflitos.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
110 Novo Humanismo, novas perspectivas

Reflexões críticas articulando justiça restaurativa e justiça retributiva e suas relações com a
criminologia, mediação de conflitos, mediação comunitária e a localização do mediador como
ator/atriz e educador (a) sociais comunicaram que o principal objetivo do projeto MediAção
Comunitária vem se reeditando nos seus nove anos ininterruptos de desenvolvimento.
Praticando, por meio de estudos coletivos e práticas dialógicas relacionadas às relações étnico-
raciais e à CNV e fazendo o mesmo, concomitantemente, nas conversações reflexivas e afetivas nos
encontros semanais de supervisão do projeto, observamos que além ações relativas a práticas
comunitárias no campo, foi possível também desenvolver trabalhos de disponibilização de
conhecimentos e reflexões para estudantes de Psicologia e Direito da PUC Minas importantes para a
formação ética e cidadã nessas ciências e profissões.
Os métodos adotados se pautam na articulação de ensino e aprendizagem, ou seja, no ato de
ensinar projeta-se que os e as participantes aprendam sempre de modo crítica e reflexivo. Entendemos
que, com esses modos éticos e políticos de relacionar saber e fazer, estamos promovendo, no projeto
de extensão que representamos, os objetivos da Pró-reitoria de Extensão e cumprindo a missão de
formação humanística da PUC Minas.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 113

A arte e o lúdico na constituição da subjetividade


em oficinas socioeducativas do Sonoro Despertar1

Alessandra Quezia Dornelas Santos2


Amanda de Souza Guerra3
Ana Luíza Coelho de Moraes4
Ariadiny Aparecida Dias Lima5
Maria dos Anjos Lara e Lanna6

RESUMO
O presente trabalho visa discutir o lugar da arte e do lúdico no processo de constituição da subjetividade em oficinas
psicossociais com grupos de crianças e adolescentes do Projeto de Extensão “Sonoro Despertar: intervenções
socioeducativas”, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Em consonância com os objetivos do projeto,
reflete-se sobre a contribuição das atividades lúdicas e artísticas para o desenvolvimento da consciência dos participantes
quanto aos seus modos de relação com o contexto sociocultural e afetivo em que estão inseridos, bem como sobre a
maneira pela qual tal consciência se reflete em novos modos de interagir no grupo. A metodologia adotada foi a análise
teórica de algumas atividades desenvolvidas no decorrer de encontros grupais realizados de forma remota síncrona. A
discussão teórica é feita à luz da abordagem sócio-histórica. Os resultados indicam que processos aparentemente muito
diferentes como a construção de regras de convivência no grupo e a conscientização de sentimentos pessoais fazem parte
da constituição social da subjetividade e são fundamentais para a convivência interpessoal no contexto de uma cultura de
paz.

Palavras-chave: Constituição do sujeito. Intervenções psicossociais. Crianças. Adolescentes.

Art and playfulness in the constitution of subjectivity


in socio-educational workshops at Sonoro Despertar

ABSTRACT
The present work aims to discuss the place of art and play in the process of constituting subjectivity in psychosocial
workshops with groups of children and adolescents from the Extension Project “Sonoro Despertar: socio-educational
interventions”, of the Pontifical Catholic University of Minas Gerais. In line with the project's objectives, it reflects on
the contribution of playful and artistic activities to the development of participants' awareness of their ways of relating to
the sociocultural and affective context in which they are inserted, as well as on the way in which such awareness is
reflected in new ways of interacting in the group. The methodology adopted was the theoretical analysis of some activities
developed during group meetings carried out in a synchronous remote way. The theoretical discussion is carried out in

1
O Projeto de Extensão Sonoro Despertar: Intervenções socioeducativas recebe fomento da PROEX/PUC Minas.
2
Graduanda em Psicologia da PUC Minas São Gabriel. E-mail: alessandradornelaasss@gmail.com.
3
Graduanda em Psicologia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: amandaguerra1999@gmail.com.
4
Graduanda em Psicologia da PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: anamoraes1219@gmail.com.
5
Graduanda em Psicologia da PUC Minas São Gabriel E-mail: ariadnyap.dl@gmail.com.
6
Psicóloga, mestre em Psicologia Social e doutora em Linguística pela UFMG. Professora da Faculdade de Psicologia e
Coordenadora do Projeto de Extensão Sonoro Despertar: intervenções socioeducativas, PUC Minas. E-mail:
zanjalara@gmail.com
113
EXTENSÃO PUC MINAS:
114 Novo Humanismo, novas perspectivas

the light of the socio-historical approach. The results indicate that apparently very different processes, such as the
construction of rules for coexistence in the group and awareness of personal feelings, are part of the social constitution of
subjectivity and are fundamental for interpersonal coexistence in the context of a culture of peace.

Keywords: Constitution of the subject. Psychosocial interventions. Kids. Teenagers.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como intuito discutir o lugar do lúdico e da arte na constituição da
subjetividade de crianças e adolescentes participantes do projeto de extensão “Sonoro Despertar:
intervenções socioeducativas”. A prática contou com a realização de oficinas psicossociais com
crianças e adolescentes da região Nordeste de Belo Horizonte, marcada por discrepâncias econômicas
e vulnerabilidade social. Nesse contexto, as oficinas socioeducativas conduzidas pelas extensionistas
do projeto, caracterizam-se como um espaço de encontro e desenvolvimento de modos de relação
intersubjetiva, orientados para a formação humana integral, pautada na consciência crítica e cidadã.
Com a manutenção das medidas sanitárias de enfrentamento da COVID-19, ao longo do ano
de 2021, o projeto de extensão “Sonoro Despertar: intervenções socioeducativas” manteve suas
atividades em formato remoto, realizando oficinas psicossociais virtuais on-line ofertadas para todos
os grupos de alunos de flauta do projeto Sonoro Despertar, com participação de livre escolha. Os
encontros aspiraram a contribuir para o desenvolvimento de valores relativos à cultura e à educação,
além de fomentar a conscientização da interdependência como meio de valorização de uma cultura
de paz e da vida em comunidade. Para isso, foram adotadas técnicas grupais baseadas em recursos
lúdicos, como brincadeiras e histórias, além de rodas de conversa sobre temas relacionados à arte,
adequadas à faixa etária dos participantes de cada grupo.
Os processos grupais mediados pelas técnicas envolveram a construção, com as crianças, de
regras necessárias para a convivência respeitosa no grupo, e a reflexão, com os adolescentes, sobre
suas realidades, auxiliando-os no caminho da formação do senso crítico e da contínua descoberta de
responsabilidades, limites e valores fundamentais para a coexistência.
Nesse sentido, a constituição da subjetividade permeia toda a atividade do Projeto, na medida
em que a proposta de realização de uma oficina, como método de intervenção psicossocial, pressupõe
a definição de um tema significativo para os membros do grupo, relativo a seus pensamentos,
sentimentos e ações, a ser elaborado de modo integral (AFONSO, 2018). Diante dessa tarefa, os
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 115

membros do grupo se constituem como sujeitos de suas atividades, escolhas, decisões e inter-relações,
nesse espaço dialógico de interação social e afetiva, no qual a equipe de extensionistas participa,
coordenando as atividades e o processo grupal.
Essa coordenação se sustenta na estreita articulação entre ensino, pesquisa e extensão, na
medida em que a base de conhecimentos construídos no contexto pedagógico do Curso de Psicologia
da PUC Minas se complementa com a pesquisa necessária para planejar e conduzir as ações
extensionistas junto aos beneficiários do Projeto de Extensão. Ao mesmo tempo, embora as ações
efetivadas nas oficinas não se constituam como práticas pedagógicas, elas requerem uma perspectiva
interdisciplinar, articulando o olhar da Psicologia para a subjetividade humana com a visão formativa
do campo da Educação, na medida em que o Sonoro Despertar tem como objeto a formação humana
integral mediante o acesso aos bens da cultura e à educação de qualidade.

2 SUBJETIVIDADE, ARTE E LÚDICO: APONTAMENTOS NA PERSPECTIVA SÓCIO-


HIISTÓRICA

A perspectiva sócio-histórica, fundada por Vygotsky e seus colaboradores, se opõe às teorias


que dicotomizam o desenvolvimento humano em categorias fisiológicas ou psicológicas, e explicita
o modo pelo qual os aspectos sociais, históricos e culturais constituem o homem numa relação
dialética com a dimensão biológica (VYGOTSKY, 1998).
Embora Vygotsky mencione pouco a questão da subjetividade, seus estudos sobre o
desenvolvimento das funções mentais superiores permitem afirmar que, de uma perspectiva sócio-
histórica, o sujeito se constitui na articulação dialética entre os planos filogenético e ontogenético do
desenvolvimento humano. Vygotsky (1998) considera o signo como o elemento diferenciador do
desenvolvimento humano no plano filogenético e como o mediador da atividade humana no plano
ontogenético, promovendo-o a um lugar central como base social do desenvolvimento do indivíduo.
Partindo dessa perspectiva da mediação semiótica da atividade humana, a subjetividade se
constitui socialmente, numa relação dialética entre o social e o individual, entre as situações externas
e as internas. Considerando não pertinente a distinção entre psicologia individual e social, Vygotsky
argumenta que é possível distinguir psicologia social de coletiva, porque “Tudo em nós é social, mas
isto não quer dizer, de modo algum, que as propriedades do psiquismo do indivíduo particular sejam,
em sua totalidade absoluta, inerentes a todos os demais integrantes de dado grupo” (VYGOTSKY,
1991, 17-18).

115
EXTENSÃO PUC MINAS:
116 Novo Humanismo, novas perspectivas

À luz da perspectiva sócio-histórica, González Rey, citado por Silva (2009, p. 170), conceitua
a subjetividade como “um sistema complexo capaz de expressar através dos sentidos subjetivos a
diversidade de aspectos objetivos da vida social que concorrem em sua formação”.
Segundo Delari Junior (2000, p. 46), a subjetividade pode ser vista como “uma ‘usina’ de
interpretação e, portanto, de produção de sentidos”. Para compreender melhor essas funções, foi
observada a necessidade das relações sociais principalmente, sendo a cultura importante constituinte
na formação específica de cada indivíduo.
Ademais, tendo em vista a constituição dos processos subjetivos, foi observado que, durante
o desenvolvimento infantil, a linguagem potencializa a criança para o seu próprio domínio de
comportamento e apropriação de determinadas situações. Como enfatiza Vygotsky e Luria, citados
por Barros (2018, p. 136), “desde o momento em que, com a ajuda da linguagem, começa a criança
a dominar seu próprio comportamento e em seguida a apropriar-se da situação, surge uma forma
totalmente nova de comportamento e novas formas de relação com o entorno”. A partir disso, ela
desenvolve novos comportamentos e novas formas de relações à sua volta, tendo os signos como
meios fundamentais para a mediação do comportamento.
Em seu estudo sobre a psicologia da arte, Vygotsky (1999, p. 315) concorda com Freud e
outros autores de sua época quanto a considerar a arte como catarse, como “uma descarga
indispensável de energia nervosa e um procedimento complexo de equilíbrio do organismo e do meio
nos momentos críticos do nosso comportamento.” Entretanto, para o autor russo, “essas descargas e
perdas de energia não utilizada pertencem à função biológica da arte.” (VYGOTSKY, 199, p. 312).
E nesse sentido, ao se referir à música, considera limitada a visão de Freud, argumentando que é
preciso reconhecer que a música é uma questão social, ao mesmo tempo em que se apresenta como
motivação para a ação (VYGOTSKY, 199, p. 319). A partir disso, o autor desenvolve seu argumento
na direção do valor aplicado da arte, de seu efeito prático e vital, ligando-o a um sentido pedagógico
(VYGOTSKY, 199, p. 321).
Assim a arte pode ser vista como um movimento correspondente a um processo educativo de
autoconhecimento, que permite ao indivíduo ampliar suas possibilidades, modificar sua
personalidade e adquirir novos comportamentos. (GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA,
2021). Conforme esses autores, a arte pode ser vista também como sendo aquilo que torna o homem
consciente. Logo, pode-se afirmar que toda expressão artística, por menos intencional que seja, é uma
reflexão dos próprios pensamentos, sentimentos e, também, um reflexo social daquele período
histórico vivenciado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 117

Em consonância com essa perspectiva, Barroco e Superti (2014, p.23) afirmam que a arte
“está intrinsecamente ligada à vida, às relações sociais de determinada época.”. Dessa forma, pode-
se pensar que os conteúdos artísticos, muitas vezes, são reflexo das relações sociais existentes na
sociedade. No entanto, para as autoras, mesmo a arte sendo um retrato da sociedade, ela não é uma
cópia fiel da realidade, isso porque, nos processos artísticos, ocorrem elementos fantasiosos, lúdicos,
criativos, entre outros. (BARROCO; SUPERTI, 2014).
Dito isso, pode-se inferir que a arte não é só um instrumento de mediação do homem com seus
sentimentos, mas também um instrumento de facilitação do homem com o ambiente externo que o
cerca. Afinal, sabe-se que, com a passagem do biológico para o cultural, o indivíduo se apropria de
todos os elementos culturais que o circundam. No entanto, nem sempre as simbologias não naturais
criadas pelos homens contemplam toda sua subjetividade, ou até mesmo toda angústia existente na
humanidade (GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021).
Daí surgir a importância da arte no funcionamento psíquico do homem, já que, conforme
Vygotsky, citado por Galhardo Brum e Santana de Paiva (2021), as expressões artísticas podem
auxiliar o indivíduo a superar tensões psíquicas que não são descarregadas habitualmente; ou seja, a
arte é um instrumento de acolhimento ao homem diante das frustrações cotidianas. Ela é um
instrumento de transformação do meio interno e externo que tem um papel importante no processo
de tomada de consciência, auxilia na autopercepção, ajuda na elaboração de fortes emoções, entre
outros benefícios.
Por sua vez, destaca-se o lúdico, dado que, ao se pensar na construção da subjetividade
infantil, em especial no processo de internalização de regras, sabe-se que o ato de brincar é uma
ferramenta relevante de aprendizagem para as crianças, por possibilitar intensos ganhos de
conhecimento, a partir das descobertas, invenções e criações presentes durante o processo. Assim, o
viés lúdico consiste em um importante recurso socioeducativo (PEDROZA, 2005).
Vygotsky se dedica ao estudo do desenvolvimento da criança como produto da atividade
humana sócio historicamente constituída, detendo-se principalmente nas funções psicológicas
superiores. Tanto a infância quanto a adolescência são aqui compreendidas como uma produção
social, cujas características não devem ser vistas como naturais, mas atribuídas a elas por diferentes
grupos sociais, em diferentes tempos. Acompanhando as considerações de Bock (2007) sobre a
adolescência, o que é visto como período do desenvolvimento natural do ser humano por algumas
perspectivas psicológicas é um momento significado, interpretado e construído pelos homens,

117
EXTENSÃO PUC MINAS:
118 Novo Humanismo, novas perspectivas

definindo temáticas referentes aos papéis que são atribuídos aos jovens, à sexualidade e à identidade,
às mudanças corporais e às flutuações de humor, aos relacionamentos interpessoais e, finalmente, a
uma tendência para se relacionar com os pares.
Nesse cenário, a conscientização da convivência requer atenção, dado que a adolescência
repercute na subjetividade, segundo seus traços sociais, econômicos e culturais. Em suma, a
construção social da adolescência perpassa as condições de vida e os valores sociais existentes na
cultura, os quais resultam das relações sociais. Portanto, em vez de uma fase natural, marcada pela
ambiguidade da transição entre a infância e a idade adulta, deve-se compreender a adolescência como
uma responsabilidade coletiva (BOCK, 2007), considerando que

Não há nada de patológico; não há nada de natural. A adolescência é social e histórica. Pode
existir hoje e não existir mais amanhã, em uma nova formação social; pode existir aqui e não
existir ali; pode existir mais evidenciada em um determinado grupo social, em uma mesma
sociedade (aquele que fica mais afastado do trabalho) e não tão clara em outros grupos (os
que se engajam no trabalho desde cedo e adquirem autonomia financeira mais cedo). Não há
uma adolescência, enquanto possibilidade de ser; há uma adolescência enquanto significado
social, mas suas possibilidades de expressão são muitas. (BOCK, 2007, p. 70).

A arte é um dispositivo que possibilita que o homem se apresente por meio dela e se descubra,
ao mesmo tempo se tornando homem consciente do seu contexto sócio-histórico. (GALHARDO
BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021). Também permite que conheça suas origens, seus ancestrais,
sua cultura, religião, seus medos, suas fragilidades, a sociedade em que está inserido, entre outros
aspectos.
Além disso, há também contribuições dos processos criativos que rodeiam as produções
artísticas na constituição da subjetividade. Acerca dos processos criativos, para Vygotsky (2009), a
criatividade é um processo de construção de algo novo sob a influência do psiquismo e os sentimentos
característicos daquele ser. Além disso, para o autor, pouco importa se essa criação terá contato com
o mundo externo ou ficará apenas no mundo interno. Assim, a capacidade humana de inventar, criar
e imaginar perpassa a subjetividade. Dessa forma, quando se cria algo que nunca se vivenciou, essa
ação será definida para a psicologia como combinatória ou criadora (VYGOTSKY, 2009). Além
disso, o autor russo afirma que “onde quer que se conserve uma ínfima parte da vida criativa, aí
também tem lugar a imaginação.” (VYGOTSKY, 2009, p. 48). O estudioso ratifica essa ideia,
afirmando que,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 119

Quando, na imaginação, esboço para mim mesmo um quadro do futuro, digamos, a vida do
homem no regime socialista, ou o quadro de um passado longínquo de vida e luta do homem
pré-histórico, em ambos não reproduzo as impressões que tive a oportunidade de sentir
alguma vez. Não estou simplesmente restaurando a marca de excitações anteriores que
chegaram ao meu cérebro, pois nunca vi, de fato, nem esse passado nem esse futuro. Apesar
disso, posso ter a minha ideia, a minha imagem, o meu quadro. (VYGOTSKY, 2009, p.13).

Em contrapartida, o autor categoriza outro comportamento: quando apenas copiamos um ato,


ele será chamado de reprodutor. Esse ato tem ligação direta com a memória de vida do indivíduo, ou
seja, é a conservação cerebral das experiências anteriores (VYGOTSKY, 2009):

Quando me lembro da casa onde passei a infância ou de países distantes que visitei, reproduzo
as marcas daquelas impressões que tive na primeira infância ou na época das viagens. Da
mesma forma, quando elaboro desenhos de observação, quando escrevo ou faço algo
seguindo determinado modelo, reproduzo somente o que existe diante de mim ou o que
assimilei e elaborei antes. O comum em todos esses casos é que a minha atividade nada cria
de novo e a sua base é a repetição mais ou menos precisa daquilo que já existia.
(VYGOTSKY, 2009, p.11-12).

Dessa forma, o movimento faz menção à nossa capacidade humana de guardar as experiências
passadas e facilitar a adaptação, porém, na reprodução de comportamentos existentes, não se
encontram marcas do processo criativo ou da subjetividade do indivíduo. (VYGOTSKY, 2009).
Nesse sentido, vale lembrar a afirmação de Boal de que “não basta consumir cultura: é necessário
produzi-la” (apud GALHARDO BRUM; SANTANA DE PAIVA, 2021, p 193).
Ao observarmos o desenvolvimento das funções psicológicas, uma importante contribuição é
o recurso didático que o lúdico proporciona para além de jogos, brincadeiras e brinquedos, pois,
através desse método, a criança desenvolve criatividade, habilidades motoras, intelectuais e
construções de estratégias específicas para o seu modo de interpretação e vivência. Além disso, por
meio do lúdico, a criança consegue desenvolver a linguagem e as formas de comportamentos
subjetivos. Para Saccomani (2014), esses processos, relacionados ao desenvolvimento artístico e
criativo dos homens, estão intrinsecamente ligados à forma de pensar, de sentir e de perceber suas
relações com o ambiente, determinando, assim, os meios pelos quais os homens elucidam a
transformação social, intelectual e a transformação do próprio ser genérico no mundo.
Diante do lúdico, a realização das atividades pela criança se torna mais prazerosa e de muito
estímulo criativo. Ademais, proporciona a sua expressão livre com traços próprios, de sua vivência,
gosto e experiências significativas. Vygotsky (2009) enfatiza que os elementos artísticos e seus
significados são produzidos e transmitidos socialmente, o que faz conexão com a educação das

119
EXTENSÃO PUC MINAS:
120 Novo Humanismo, novas perspectivas

emoções pela práxis pedagógica, uma vez que a educação dos sentidos e da emoção é mecanismo de
transmissão social das condutas instituídas no decorrer das experiências que ela proporciona, ou seja,
é o processo de humanização que vigora nos princípios artísticos e pedagógicos da criança.
Durante o desenvolvimento infantil e de aquisição de conhecimento, não apenas os símbolos
auxiliam na linguagem e na interação social da criança, mas o lúdico tem suma importância para que
esse desenvolvimento aconteça de uma forma mais compreensível e acessível para ela. Por isso é
necessária a metodologia lúdica nos contextos educacionais. Dentro de todo esse processo lúdico, a
arte está presente como forma de constituição social do sujeito, de suas emoções, comportamentos e
vivências que o impactam ou lhe são significativas. Assim, Vygotsky afirma o sentido social da arte,
considerando que a “arte é o social em nós e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado,
isto não significa, de maneira nenhuma, que as suas raízes e essência sejam individuais. O social
existe até onde há apenas um homem e as suas emoções pessoais” (VYGOTSKY, 2009, p.11).
Contrapondo-se à ideia de contágio defendida pela Psicologia das multidões, de Gustave Le
Bon (1985), Vygotsky afirma que

A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi
objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que
se tornaram instrumento da sociedade. A peculiaridade essencialíssima do homem,
diferentemente do animal, consiste em que ele introduz e separa do seu corpo tanto o
dispositivo da técnica quanto o dispositivo do conhecimento científico, que se tornam
instrumentos da sociedade. De igual maneira, a arte é uma técnica social do sentimento, um
instrumento da sociedade através do qual incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais
íntimos e pessoais do nosso ser. Seria mais correto dizer que o sentimento não se torna social,
mas ao contrário, torna-se pessoal, quando cada um de nós vivencia uma obra de arte,
converte-se em pessoal sem com isto deixar de continuar social. (VYGOTSKY, 2009, p.
315).

Assim, na análise da subjetividade, não podemos excluir o indivíduo do seu meio social,
especialmente pela importância que o social tem na sua constituição. A mesma percepção acontece
com a experiência do lúdico, já que ambos requerem que o indivíduo esteja no meio social para a
aquisição de conhecimento de forma criativa, desenvolvimento da linguagem, maturidade psíquica e
com características específicas para a construção e constituição do sujeito.
Os sentidos e significados para o lúdico e a subjetividade fazem parte de uma construção
histórica que inclui as contribuições de autores como Bakhtin e Vygotsky sobre o que levar em
consideração nessas instâncias de sentido, a significação de ambos os conceitos, principalmente para
o desenvolvimento do sujeito sócio-histórico. Relativamente a isso, Vygotsky afirma que
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 121

O sentido de uma palavra é a soma de todos os fatos psicológicos que ela desperta em nossa
consciência. Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida, complexa, que tem
várias zonas de estabilidade variada. O significado é apenas uma dessas zonas do sentido que
a palavra adquire no contexto de algum discurso e, ademais, uma zona mais estável, uniforme
e exata. (VYGOTSKY, 2001, p. 465).

3 METODOLOGIA

O projeto de extensão da PUC Minas “Sonoro Despertar: intervenções socioeducativas” adota


a metodologia de oficinas de intervenção psicossocial para promover a formação integral e cidadã
dos participantes do “Sonoro Despertar” desde 2013. Criado em 2000 por Padre Jésus Guergué, e
desde então sob a coordenação da professora Celeste Alda Machado, esse projeto sociocultural
constitui-se como um espaço de educação musical importante para crianças e adolescentes da região
Nordeste de Belo Horizonte.
Em 2021, ainda no contexto das medidas sanitárias de enfrentamento da pandemia da COVID-
19, as oficinas de intervenção psicossocial aconteceram no formato on-line. Elas se realizavam
conforme planejamento semanal dos encontros, organizadas conforme a estrutura proposta por
Afonso (2018): acolher, trabalhar e avaliar. As técnicas grupais selecionadas para as intervenções
foram adaptadas para o formato remoto síncrono, de modo a facilitar a interação dos participantes de
cada encontro.
Nesse sentido, as oficinas ocorreram de segunda a quinta-feira, no horário das 20 às 21 horas.
Durante o primeiro semestre, apenas os grupos de adolescentes mantinham um encontro semanal, um
às segundas-feiras, e outro, às terças-feiras. Os grupos de crianças, de faixa etária de seis a 11 anos,
encontravam-se quinzenalmente, um às quartas-feiras, e outro, às quintas-feiras. Sobre o número de
participantes, a turma de quarta contou com um total de 11. Já a de quinta contou com cinco
integrantes. No segundo semestre de 2021, se manteve um encontro por semana, com uma hora de
duração, para todos os grupos.
Com o intuito de especificar as técnicas grupais selecionadas para essa discussão, serão
expostos alguns dados acerca dos encontros no quais delas foram utilizadas. A técnica “Nome de
bichos” (AFONSO,2018) foi direcionada para os grupos de crianças. Nesse momento, as duas equipes
vivenciavam o processo grupal de formação de sentimento e identidade de grupo (AFONSO, 2018).
Desse modo, nessa fase é interessante propor técnicas que facilitem a comunicação e o sentimento
grupal. (AFONSO,2018). Assim, os primeiros encontros tinham como objetivo a apresentação de

121
EXTENSÃO PUC MINAS:
122 Novo Humanismo, novas perspectivas

cada participante e das extensionistas, de forma lúdica. Os resultados alcançados acerca da


constituição da subjetividade dos participantes foi viabilizar a construção de si por meio da
socialização com o outro.
Já a dinâmica “Um carro, uma flor, um instrumento musical” (YOZO, 1996, p. 54), foi
direcionada apenas para o grupo de quinta-feira e teve a participação de cinco integrantes. Nesse
momento, eles ainda tinham como desafio deixar de ser um agrupamento e se constituir como grupo
(AFONSO, 2018), ou seja, vivenciavam a formação de sentimento e identidade de grupo. Portanto, o
encontro teve como objetivo estimular e propiciar a integração e o trabalho em equipe, tendo em vista
o desenvolvimento do pertencimento grupal. Nesse sentido, o resultado almejado se volta para o
contexto grupal em que a criança possa desenvolver a percepção sobre si e do contexto interacional
imediato.
Relativamente ao trabalho com os adolescentes e pré-adolescentes, os encontros se orientavam
mais diretamente aos objetivos relativos à formação cidadã, buscando a promoção da conscientização
de si e do contexto social em que vivem. No contexto deste trabalho, reportam-se as atividades
realizadas em torno da arte, particularmente da música, como mediadora do processo grupal e da
produção de subjetividade.

4 DISCUSSÃO

Inicialmente foram realizadas oficinas em modelo virtual, em dias alternados da semana, com
diferentes grupos de crianças e adolescentes. Com as crianças, houve oficinas quinzenais no primeiro
semestre e semanais no segundo. Com os grupos de adolescentes, os encontros aconteceram
semanalmente durante todo o ano de 2021. As atividades eram planejadas para facilitar a interação,
promovendo o desenvolvimento de habilidades interpessoais no contexto de uma formação humana
integral, orientada para a cultura de paz. Algumas dessas atividades foram mediadas por técnicas
grupais lúdicas, enquanto outras utilizaram música e desenhos livres como forma de mediação da
interação.
Na primeira oficina do ano, com um dos grupos de crianças iniciantes, foi feita a apresentação
dos participantes e das extensionistas de maneira lúdica. A técnica utilizada foi uma adaptação de
“Nomes de bicho” (AFONSO, 2018). Nesse procedimento, cada participante é responsável por
desenhar um animal que lhe tenha algum valor simbólico. Depois, o desenho é apresentado e
explicado para a turma.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 123

A utilização dessa estratégia lúdica teve como finalidade a autorrepresentação da criança e a


apresentação de si para o outro, favorecendo o exercício da subjetividade, visto que “[a] criança em
processo de constituição, por sua vez, é um ser por inteiro, portadora de uma condição subjetiva, que
ao interagir com um contexto histórico e cultural, traz sua história, sua emoção, suas vivências, as
quais conferirão sentidos às suas ações” (TEIXEIRA, 2013, p.3).
Ao mesmo tempo, essa forma lúdica de apresentação de si, além da construção subjetiva de
uma justificativa dos seus gostos pessoais, dos seus desejos, facilitou a interação entre os participantes
da oficina, promovendo a sua socialização no grupo. Numa perspectiva sócio-histórica, o que
constitui o indivíduo em sujeito é a troca social, portanto, é por meio do contato com o meio histórico-
cultural que a criança constrói a sua subjetividade (TEIXEIRA, 2013). Pode-se dizer, então, que,
nesse encontro, a partir da perspectiva do outro, do desenho do colega, do animal escolhido pelo outro
participante, a criança ia-se humanizando e se construindo como sujeito social.
Além disso, em outro encontro, foi trabalhada a dinâmica “Um carro, uma flor, um
instrumento musical” (YOZO, 1996, p. 54). Essa técnica consiste em propor temas específicos, a
exemplo de cor, cheiro, comida, personagem, instrumento, entre outros, com os quais as crianças
podem se identificar. A partir de então, socializam com o grupo essa identificação. Considera-se que

A brincadeira de faz de conta é um dentre os vários sistemas de relações da criança, que


contribui para constantes reconfigurações de sua subjetividade, particularmente, no que se
refere à possibilidade de pensar e de agir diante de sua realidade. Ao lidar com parceiros e
com vários “eus” ou “eus” fictícios, a criança amplia as concepções sobre si e sobre os outros,
experimenta os lugares de “outros” de seu grupo cultural, enriquecendo a sua identidade e
desenvolvendo a alteridade. (TEIXEIRA, 2013, p. 3).

Outro encontro teve a ilustração gráfica como norteadora da atividade grupal, oportunidade
em que foi estabelecida uma conexão entre o desenho e as emoções. Assim, foi pedido às crianças
participantes que desenhassem o que elas entendiam de determinados sentimentos, como alegria,
tristeza, raiva, amor e medo. Depois de feito o desenho, iniciou-se uma conversa acerca do que aquilo
significava para cada uma e o que mais poderia ser relacionado com aquele sentimento. Ademais,
também foi possível dialogar sobre a presença das emoções na vida das pessoas e como elas se
conectam com situações específicas. Exemplo da base sociocultural da constituição da subjetividade
é o fato de que, ao ser mencionado o “amor”, todas as crianças desenharam casais apaixonados, que
os levou a selecionar um significado muito presente nos meios de comunicação.
Diante dessa seleção intersubjetiva bastante limitada, foi promovida uma roda de conversa
sobre o amor em situações outras, além da esfera romântica, e sobre suas distintas formas de
123
EXTENSÃO PUC MINAS:
124 Novo Humanismo, novas perspectivas

apresentação. Logo, pôde-se observar o que cada um compreendia de tal emoção e, a partir disso,
conversar sobre suas singularidades. Portanto, pode-se constatar que as técnicas lúdicas e artísticas
auxiliaram os beneficiários no desenvolvimento da autoconsciência e consciência do meio social no
qual estão inseridos. No encontro seguinte a esse, os participantes trouxeram significados diferentes
para a palavra amor, expondo suas simbologias pessoais acerca do vocábulo, escutando a perspectiva
do outro e refletindo sobre as variações de atribuição de sentido, ampliando, mais uma vez, sua
consciência e, ao mesmo tempo, tornando-se sujeitos de seus pensamentos, sentimentos e ações, o
que pode fazer diferença no modo como interagem em seu contexto.
A expressão lúdica e artística de sentimentos, visões de mundo, pensamentos, medos e desejos
ocupou uma posição de destaque nos encontros realizados com as crianças e os adolescentes. Além
das técnicas lúdicas e dos desenhos, a música foi um elemento marcadamente presente nos encontros
do projeto, seja como tópico de rodas de conversa livre entre os participantes, seja como elemento
mediador da comunicação. No primeiro caso, foram realizadas diversas discussões sobre letras de
canções, estilos musicais e músicos considerados por eles como importantes no contexto de suas
vidas. No segundo caso, temos como exemplo um encontro com um grupo de crianças e pré-
adolescentes, em que foi pedido a eles que respondessem quais músicas representam situações em
que estão felizes, tristes, com vontade de dançar, ou então que lhes trouxessem boas memórias.
Dessa forma, foi estabelecida uma conexão entre música e emoção, com o objetivo de
compreender como é a presença da música em distintos momentos da vida das pessoas e, em especial,
de cada participante. Distintas músicas de estilos variados foram mencionadas, sendo possível
dialogar sobre a diversidade presente nesse campo e como uma música específica pode representar
algo para alguém, mas possuir um aspecto diferente para outro. Foram ouvidas canções com letras
que se referem à autoestima, paixões, perda, diversão e empoderamento. Com essa atividade, foi
possível trabalhar as diferenças subjetivas na construção de sentido relativamente à interpretação das
letras de música, bem como das próprias vivências pessoais.
Conforme apontam Souza, Dugnani, Reis (2018, p. 376), como “núcleo organizador das
relações que se constroem e se mantêm nos espaços educativos, a arte favorece as ressignificações
dos sujeitos sobre seu papel nas diferentes interações de que tomam parte e sobre suas condições de
vida atual e futura.”.
Considerando essas experiências nas oficinas de intervenção psicossocial, observa-se o modo
como o desenho e a música refletem diversas perspectivas já elaboradas ou em processo de elaboração
subjetiva pelos participantes do projeto. Assim, tal como afirmam Bombonato e Farago (2016, p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 125

175), “a criança faz do desenho uma função lúdica, na qual se expressa através de seus traços e que
é algo essencialmente de sua infância”. Além disso, “muitos autores, psicólogos e clínicos [...] têm
encarado os desenhos como uma fonte potencial de informações sobre a criança como indivíduo. Eles
são muitas vezes considerados um reflexo direto do estado mental da criança” (COX; 2000, p. 99).

No caso da música, é importante vê-la como

[...] uma forma de comunicação, de linguagem, pois, por meio do significado que ela carrega
e da relação com o contexto social no qual está inserida, ela possibilita aos sujeitos a
construção de múltiplos sentidos singulares e coletivos”. Ela se envolve com todo o contexto
e meio social, dando sentido e significado [...], assim, influencia os sentimentos e as emoções
que irão aflorar no ouvinte. (MAHEIRIE, 2003 apud LIMA; SANTANA; MARX, 2018, p.
209).

Em outro encontro, foi solicitado aos participantes que identificassem uma canção cuja letra
se relacionasse com datas ou eventos específicos, como aniversário, Páscoa, férias, volta às aulas,
Halloween, Natal e Ano novo. Depois da troca verbal sobre as associações de cada participante, foi
pedido que, em conjunto, eles escolhessem uma das músicas citadas para ser ouvida por todos. Na
sequência do mesmo encontro, o grupo se organizou para produzir um evento musical fictício,
definindo o local de realização, a data, a duração, os conjuntos ou músicos individuais a serem
convidados, a organização das apresentações por dia de evento, levando-se em conta o gênero musical
das apresentações, além da seleção de fotos dos artistas escolhidos para divulgação. Essas atividades
propiciaram boa interação entre os participantes, promovendo trocas intersubjetivas necessárias para
o trabalho em equipe, na forma de escuta uns dos outros, trocas de informações, construção de um
projeto coletivo e tomada de decisões.
Com a exposição desses encontros, ressalta-se, juntamente com Souza, Dugnani, Reis (2018,
p. 376), a potencialidade da arte como “dimensão humanizadora e potencial para afetar o sujeito,
como instrumento de trabalho do psicólogo, na mediação da constituição de formas mais elaboradas
de ser, estar, pensar e agir no mundo.”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a discussão apresentada no presente trabalho, ressalta-se a importância da arte


e do lúdico no processo de construção da subjetividade nas oficinas socioeducativas realizadas com
crianças e adolescentes beneficiários do projeto de extensão Sonoro Despertar: intervenções
125
EXTENSÃO PUC MINAS:
126 Novo Humanismo, novas perspectivas

socioeducativas. A exposição dessas atividades lúdicas garante que recursos como “Nomes dos
bichos’’, “Um carro, uma flor, um instrumento musical”, “ilustrações gráficas” e demais práticas
relacionadas à arte e à música são meios potentes para promoção da conscientização no que tange à
inter-relação social, cultural e afetiva dos envolvidos.
Desse modo, conclui-se que arte e o lúdico são instrumentos capazes de contribuir para a
constituição da subjetividade de crianças e adolescentes, seja no sentido de construir relações
intersubjetivas respeitosas, seja para promover a reflexão crítica sobre suas relações de
interdependência e a importância da cultura de paz.

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127
EXTENSÃO PUC MINAS:
128 Novo Humanismo, novas perspectivas

Extensão Universitária: espaço de construção de memória e cidadania

Andrea Oliveira da Silva1

RESUMO
Este texto foi construído com técnicas de história oral que possibilitaram a organização de um acervo de relatos de
experiência em atividades extensionistas oportunizadas pela Rede de Empreendimentos Sociais, setor da Vice-Reitoria
para Assuntos Comunitários da PUC-Rio. Trata-se de uma elaboração e abordagem idealizada para refletir sobre a
contribuição da prática extensionista na formação universitária cidadã. Tendo como objetivo analisar a autonomia
estudantil e troca de saberes e escuta contidos nas dinâmicas. Estas ações, quando confrontadas a partir da visão de
teóricos como Freire, Pollak e Halbwachs, por exemplo, podem ser utilizadas pelos alunos como possíveis formadoras de
memórias e identidades as quais têm como fundamento auxiliar em sua formação como cidadãos. Através da inserção do
discente de graduação em práticas extensionistas é possível identificar as repercussões desta experiência na formação e
na integração do indivíduo na sociedade.

Palavras-Chave: Universidade. Formação Cidadã. Identidade. Memória.

Extensión Universitaria: espacio para la construcción de memoria y ciudadanía

RESUMEN
Este texto fue construido con técnicas de história oral que permitieron organizar una colección de relatos de experiencia
en actividades de extensión proporcionadas por la Red de Empresas Sociales (respuc), sector de la Vicerrectoría de
Asuntos Comunitarios de la PUC-Rio. Es una elaboración y abordaje diseñado para reflexionar sobre el aporte de la
práctica extensionista en la formación universitaria ciudadana. Con el objetivo de analizar la la autonomía de los
estudiantes y el intercambio de saberes y escuchas contenidas en la dinámica. Estas acciones, cuando son confrontadas
desde el punto de vista de teóricos como Freire, Pollak y Halbwachs, por ejemplo, pueden ser utilizadas por los estudiantes
como posibles formadores de memorias e identidades que se basan en asistir en su formación como ciudadanos. A través
de la inserción del estudiante de pregrado en prácticas extensionistas, es posible identificar las repercusiones de esta
experiencia en la formación e integración del individuo en la sociedad.

Palabras clave: Universidad. Formación Ciudadana. Identidade. Memorias.

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporanea vem experienciando sucessivas e diferentes interferências,


visivelmente impactantes, sejam elas de ordem política, econômica, educacional, social ou
tecnológica. Decerto, tais interferências perpassam e repercutem significativamente nos diferentes
espaços sociais e no cotidiano dos diferentes sujeitos.

1
Mestre em Serviço Social pela PUC-Rio. Graduada em Ciências Econômicas pelas Faculdades Integradas Augusto
Motta, Direito e Serviço Social pela PUC-Rio. Coordenadora da Rede de Empreendimentos Sociais da PUC-Rio
(respuc/VRC). E-mail: andy3536@hotmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 129

Nesse sentido, no modelo tradicional de educação, presenciamos um processo de esgotamento


do sistema de ensino superior, fazendo urgir a necessidade de que as Instituições de Educação
Superior (IES) busquem maneiras inovadoras de romper com estruturas ainda existentes. Destarte,
por ser uma instituição pluridisciplinar, a Universidade pode também se compreendida como um
órgão plural que serve a várias clientelas e que possui vários propósitos e centros de poder, o que não
a torna uma comunidade única e unificada por possuir diversas visões e muitos caminhos que a levam
a estas visões (KERR, 1982 apud SANTOS, 2010).
No Brasil, desde a Carta Magna2 de 1988, a Extensão Universitária, conjuntamente com o
ensino e a pesquisa, vem sendo considerada um dos pilares do ensino superior. Tal prerrogativa
assegura trânsito à comunidade acadêmica, que encontra na sociedade a oportunidade de elaboração
da práxis de um conhecimento acadêmico, fazendo com que a Universidade, por meio da Extensão,
tenha o dever de produzir conhecimento aliado à sociedade.
Em vista disso, as práticas extensionistas, que propiciam a interação entre Universidade e
Sociedade, voltam a atenção das comunidades para a primeira, facultando o diálogo entre os saberes
comunitário e acadêmico. Logo, a Extensão Universitária favorece uma ampliação de consciência
crítica, possibilitando aos discentes de graduação manidestarem capacidade de diálogo, orientada para
a práxis pensada e organizada como pressupostos para uma formação cidadã. Nessa lógica, membros
da Universidade e da comunidade percebem “que o mundo universitário não é tão distante quanto se
pensa inicialmente”. (DEUS, 2020, p. 15).
Assim, sendo a Extensão Universitária concebida como um conceito que se refere ao
envolvimento da Universidade com a comunidade, associada ao ideal de transformação societária, na
qual aquela, através de seu compromisso social, deve produzir conhecimento para ajudar na
construção de respostas às demandas sociais.
As práticas extensionistas tornam-se uma excelente experiência de formação de jovens
cidadãos e não apenas de profissionais de nível superior, de ensino e de pesquisa. Nessa vertente, tal
qual ensina Paulo Freire (1980), a construção do conhecimento promovido pela Extensão
Universitária contribui para formar e transformar o educando em um indivíduo conhecedor dos
direitos e deveres para consigo e com a sociedade.
A experiência em práticas extensionistas faculta ao aluno de graduação transformar-se e
contribuir para transformar a sociedade em que vive. Por conseguinte, em consonância com preceito

2
"Art. 207. As universidades gozam, na forma da lei, de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
EXTENSÃO PUC MINAS:
130 Novo Humanismo, novas perspectivas

constitucional que dispõe que a educação deve preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, é
imprescindível lembrar que o artigo 53 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
dispõe que as Universidades, entre outras atribuições, devem “estabelecer planos, programas e
projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão” proporcionando, dessa
forma, uma ampliação das ações extensionistas restritas, anteriormente, à oferta de cursos na
modalidade educação continuada, conferências e prestação de serviços.
Indubitavelmente,

Sem conhecimento da realidade, permanecendo apenas no nível teórico da sala de aula, sem
a participação em práticas, cujo ‘sentido não seja a de estender-se para além do próprio
campus’, cujo objetivo não seja a intervenção social ou ‘prestação de serviços para intervir’,
para transformar, ‘não há formação no sentido de excelência humana, ficando a formação
restrita apenas a acadêmica’. (ENTREVISTADO G5 e P5. In: SILVA, 2022, p. 136-137).

Nesse sentido, conforme dispositivo legal, tendo a educação superior por finalidade
desenvolver o estudante, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania, através de oportunidades de atividade em contexto, o presente trabalho foi desenvolvido
tendo como objetivo analisar a autonomia estudantil e a troca de saberes e a escuta contidos nas
práticas extensionistas desenvolvidas. Estas podem ser utilizadas pelos graduandos como possíveis
formadoras de memórias e identidades as quais têm como fundamento contribuir na formação para
cidadania.
As experiências em ações extensionistas permitem aos discentes participantes testemunharem
conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma comunidade ou
instituição, o que possibilita a coleta de dados característica da história oral3 que, desde os primórdios,
firmou-se como um instrumento de construção da identidade de indivíduos e de grupos em processo
de transformação social.
A memória, conforme Souza (2014), além mecanismo capaz de fazer emergir o passado no
presente, também é instrumento para reavaliações, autoanálise e revisões tornando-se um caminho
pelo qual se alcança a identidade, pois

Ao narrar-se, o sujeito mobiliza seu arsenal de experiências. Essa narração reorganiza as


experiências e os significados (...) Ao reorganizar o passado por meio do discurso, algumas
experiências são deixadas de lado, apagadas, modificadas, distorcidas, e outras recebem
destaque, são intensificadas, por isso tem-se um novo sujeito. (SOUZA, 2014, p. 116).

3
A história oral, usada por profissionais de várias áreas, consiste em um método de pesquisa baseado na realização de
entrevistas. Método que, no rastro do fortalecimento dos movimentos sociais e da ampliação do conceito de fonte
histórica, se difundiu apenas em meados do século XX.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 131

Nesse contexto, “Extensão Universitária é a possibilidade de transformação, diálogo, conexão


e construção de uma sociedade que dialoga e interage não apenas com os seus semelhantes, mas
também com os seus diferentes” (DEUS, 2020, p. 39), contribui para espaço de construção de
memória, identidade e cidadania.

2 PROCEDIMENTO METODOLOGICO

A valorização da memória é apontada por muitos pensadores no mapeamento da construção


das identidades sociais e nas análises das Ciências Sociais. Nessa perspectiva, o texto reúne
informações a respeito do tema ‘práticas extensionistas como espaço de construção de memória,
identidade e cidadania’ em decorrência das experiências vivenciadas por graduandos de diversas
áreas do conhecimento em projetos de Extensão Universitária oportunizados pela Rede de
Empreendimentos Sociais da PUC-Rio (respuc/VRC4), no decorrer do ano de 2019 e primeiro
semestre de 2022. Trata-se de informações que buscam refletir e compreender a posição do discente
partícipe.
A respuc/VRC entende que oportunizar trabalho social, na educação superior, é contribuir
com a formação de agentes de transformação social, com o desenvolvimento do educando e o seu
preparo para o exercício da cidadania. Destarte, as experiências com trabalho social, concorrem para
o enfrentamento de diferentes demandas sociais e acadêmicas advindas da relação Comunidade-
Universidade e oportuniza ao discente de graduação práticas extensionistas que contribuem para o
seu desenvolvimento pessoal e profissional associada à transformação da realidade social, de acordo
com a missão institucional da Universidade.
Este serviço comunitário estimula a solidariedade e o desenvolvimento de ações em prol da
inclusão social e formação para cidadania, pois, tal qual discorre Paulo Freire (1981), o objetivo
primeiro de toda educação é provocar e criar condições para que se desenvolva uma atitude de
reflexão crítica e comprometida com a ação.
Assim, buscou-se, através da seleção de um campo amostral diverso, uma representação do
olhar de discentes que pertencem ao grupo de alunos de graduação partícipes de ações extensionistas

4
A respuc/VRC, setor da Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários da PUC-Rio, reúne programas e projetos de Extensão
Universitária criados, desenvolvidos e mantidos na Universidade, por membros de sua comunidade e parceiros externos.
Sua finalidade é apoiar o desenvolvimento do universitário e seu preparo para o exercício da cidadania, formando agentes
de transformação social. Fundamenta-se nos princípios da responsabilidade social, solidariedade e a corresponsabilidade
na transformação social; engajamento com a comunidade e o compromisso com seu desenvolvimento e estímulo às
práticas sociais articuladas a formação acadêmica. (Disponível em: www.puc-rio.br/respuc).
EXTENSÃO PUC MINAS:
132 Novo Humanismo, novas perspectivas

oportunizadas pela respuc/VRC, visto que “a fala de alguns indivíduos de um grupo é representativa
de grande parte dos membros deste mesmo grupo inserido em um contexto específico” (FRASER;
GODIM, 2004, p.148).
Sendo as práticas extensionistas formas de a Universidade democratizar e socializar saberes,
viabilizando possibilidades de desenvolvimento, transformação, formação, crescimento de todos os
envolvidos, os critérios de seleção das produções foram a busca de dados em torno do tema “Extensão
Universitária” com foco nos conteúdos relacionados a ‘memória’, ‘identidade’ e a ‘cidadania’.
A partir do emprego de metodologia qualitativa5, com o grupo foram adotadas técnicas de
história oral temática que, em geral, é realizada sobre um determinado evento ou movimento vivido
por todos, diálogos sem roteiro específico utilizando instrumentos digitais como e-mails e WhatsApp.
São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto, no nosso caso, os
programas e projetos de Extensão oportunizados pela Rede de Empreendimentos Sociais da PUC-
Rio.
Os resultados decorrem da articulação dos referenciais teóricos com os dados do material
empírico produzido nos diólogos. E, a fim de ilustrar a discussão e permitir a análise, são apresentadas
frações de relatos dos entrevistados. Todavia, para melhor entendimento e por não apresentar
relevância para o trabalho, há trechos nas falas que foram retirados, sendo o mesmo indicado pelo
uso de reticências entre colchetes [...] e para garantia de anonimato dos entrevistados, eles foram
identificados como “discente do curso de”.
Do ponto de vista teórico, o trabalho está baseado na suposição de que a memória é um
elemento importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo
para a reconstrução de si, depreendendo-se, portanto, que a história, o passado, e os pertencimentos
constituem cidadania, pois “as maneiras pelas quais contamos nossas histórias do passado são uma
das formas cruciais pelas quais construímos nossa percepção de quem somos agora” (THOMSON,
1997, p. 80).
As “lembranças de quem fomos e de onde viemos moldam nosso sentido do ‘eu’ ou de
identidade no presente e, dessa forma, afetam as maneiras como construímos nossas vidas”
(THOMSON, 2002, p. 358), ou seja, as memórias significam o espaço e contribuem para a construção
de pertencimentos futuros no lugar. Nesta acepção, Extensão Universitária pressupõe uma cultura,
uma prática, necessariamente, educativa, dialogal e comunicacional, o que vale dizer que se:

5
Método qualitativo é “aquele que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem” (MINAYO,
2010, p. 57).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 133

[...] requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demonstra uma busca constante.
Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato
mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe
o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a qual está submetido seu ato (FREIRE,
2010, p. 27).

Isso posto, a discussão se justifica uma vez que a participação do aluno de graduação em
atividades de Extensão Universitária atende à perspectiva pedagógica e de aprendizagem
universitária, em busca de uma formação profissional atualizada e competente, que visa mobilizar os
alunos para uma condição de cidadãos responsáveis e solidários.

3 DESENVOLVIMENTO

Na pós-modernidade, a sociedade enfrenta uma problemática que nasce sobre a importância


do passado e até mesmo do presente, pois tem havido uma precoce apresentação do futuro, uma vez
que a mesma preza muito mais pela velocidade do que pela duração. Nesse diapasão, por diversas
vezes, tanto o passado como o presente acabam sendo contados apenas pelas histórias oficiais,
dificultando, assim, o estabelecimento de uma identidade, uma vez que a incompreensão do passado
e do presente dos indivíduos pós-modernos também é efeito da pós-modernidade.
Nesse sentido, Nora (1993) assevera que a democratização de meados do século XX concorreu
para a crise da história-memória, visto que, colaborou para o surgimento e consolidação de inúmeros
movimentos sociais, colaborando para a consolidação da história como instrumento para a conquista
e ampliação da cidadania por diferentes sujeitos e grupos sociais.
Por conseguinte, memória é uma “operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações
do passado que se quer salvaguardar” (POLLAK, 1989, p. 9); assim, os acontecimentos hoje são
analisados por uma “perspectiva construtivista, não se tratando mais de lidar com os fatos sociais
como coisas, mas de analisar como os fatos sociais se tornam coisas, como e por quem eles são
solidificados” (POLLAK, 1989, p.5).
Para Pollak (1992), a memória se estrutura em torno de três aspectos com os quais o sujeito
pode ter entrado em contato direta ou indiretamente, quais sejam: os acontecimentos vividos
pessoalmente e os ‘vividos por tabela’, as pessoas e personagens e os lugares.
EXTENSÃO PUC MINAS:
134 Novo Humanismo, novas perspectivas

De outro lado, Halbwach (2006), entende o tempo e o espaço como aspectos que sustentam a
memória. Para o autor, o que possibilita que a lembrança ressurja no presente é o fato de que “quando
nos lembramos (...) há um contexto de dados temporais a que esta lembrança está ligada de alguma
forma” (HALBWACHS, 2006, p.124).
Por isso que, Pollak (1992), Nora (1993) e Halbwachs (1990) propõem, a partir de um resgate
da memória, caminhos que questionam a celeridade atribuída aos fatos, bem como a forma em que
são retratados na sociedade pós-moderna. Em vista disso, sendo memória um fragmento abstrato,
imaterial, da vida e da cultura, em que se presume uma temporalidade que tem como síntese a história
vivida e apreendida, para o sociólogo e antropólogo francês Maurice Halbwachs (1990), posto que
todo indivíduo está interagindo e sofrendo a ação da sociedade, através de suas diversas agências e
instituições sociais, não existe memória puramente individual.
Mesmo a lembrança que aparentemente possui um caráter mais particularista, remete a um
grupo, a um contexto de interação, pois a lembrança, ao contrário das referências históricas, pertence
e está no indivíduo, mas isso não a torna única e individual. Assim, ao propor o conceito de memória
coletiva e ao definir os quadros sociais que compõem esta memória, Halbwachs (2006) contribuiu
sobremaneira com as Ciências Sociais, uma vez que, a participação do grupo social e da memória
coletiva na reconstrução de lembranças é imprescindível, o que faz da memória um fenômeno social.
Assim, tanto Halbwachs (1990) quanto Pollak (1992) compreendem que as memórias coletivas
interferem na memória individual, na medida em que esta recorre a elementos externos para
estruturar-se postulando, assim, a existência de uma memória coletiva e social.
Nessa perspectiva, ainda que as imagens a respeito de práticas sociais sejam construídas
individualmente se faz imperioso recorrer a pontos de referência fora do próprio indivíduo para
evocá-las. Assim, memória torna-se o abrigo das tradições e o lócus próprio da diversidade e da
apropriação dos grupos (HALBWACHS, 1990). O indivíduo, no entanto, não deixa de ser
determinante para o pensamento e fatos sociais:

[...] temos experiências próprias, particulares, que diferem das vividas por aqueles que nos
cercam. Sem essas experiências individuais, a memória não seria dinâmica, pois ela seria
homogênea e não haveria possibilidade de reelaboração. Entretanto, o modo como
vivenciamos e reelaboramos essas experiências individuais é sempre marcado pelos grupos
aos quais pertencemos (classe social, etnia, gênero etc.), mesmo se estivermos sozinhos e não
dividirmos determinada experiência com ninguém. (SILVA, 2010, p. 330).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 135

Portanto, mesmo que os elementos da memória sejam fenômenos de projeção e transferência,


que podem ou não ficar registrados, e que ocorrem dentro da organização da memória, seja individual
ou seja coletiva, tornando a memória seletiva, torna-se impossível utilizar a memória individual fora
da sociedade:

A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio
da pessoa. Mas Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a memória deve
ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um
fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças
constantes. (POLLAK, 1992, p. 2).

Considerando a característica mutável da memória individual e da memória coletiva, é


inevitável não lembrar que quase todas memórias possuem marcos invariáveis, o que significa dizer
que os elementos que constituem a memória são os acontecimentos vividos pessoalmente. Todavia,
os acontecimentos que ocorreram com o grupo o qual o indivíduo pertence podem ser tão marcantes
que essa memória pode ser herdada ao longo dos séculos transmitindo ainda uma identificação muito
forte.
Segundo Pollak (1992), os elementos constitutivos da memória individual ou coletiva são os
acontecimentos vividos pessoalmente de maneira pessoal e posteriormente os acontecimentos vividos
pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. Assim, é possível que por meio da
socialização "ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão
forte que podemos falar numa memória quase que herdada” (POLLAK, 1992, p. 2):

Já participei de vários projetos sociais, mas ser aluno extensionista na favela da Cruzada São
Sebastião foi fundamental para repensar meus conceitos e minhas escolhas. Ser extensionista
não é um estado, muito menos uma escolha. É uma essência que nos compõe, uma maneira
de ver a vida e de se colocar no mundo. Muda tudo. Todos os conceitos e valores. O Brasil
tem que conhecer o Brasil, porque não tem dinheiro no mundo que pague isso (discente do
curso de Direito – Projeto respuc/VRC).

Desde o primeiro dia em sala de aula, na comunidade da Cruzada, eu já sabia que meu ano
não seria nada fácil, pois as crianças logo se mostraram muito agitadas e com muitas
dificuldades de português a nível de alfabetização. Com o decorrer do ano, pude perceber
como elas “funcionavam”. [...]. Pude ajudá-las dentro das suas condições individuais. Passei
a compreendê-las, ouvi-las melhor. [...] elas realmente gostaram de aprender para o próprio
desenvolvimento intelectual, para saber, para compartilhar com os pais e com os amigos.
Minha experiência com elas foi enriquecedora, uma oportunidade única que levo para vida.
Desenvolvi habilidades como comunicação, visão, adaptabilidade e jogo de cintura. Além do
sentimento de humanidade, solidariedade, vontade e amor ao próximo (discente do curso de
Direito – Projeto respuc/VRC).
EXTENSÃO PUC MINAS:
136 Novo Humanismo, novas perspectivas

Nessa direção, a memória também é constituída por pessoas e, neste aspecto, também é
encontrado personagens reais no decorrer da vida.

[...] a memória é dinâmica, está sempre sujeita à mudança. Comparar documentos escritos,
relatos orais, manifestações artísticas e culturais, dentre outras fontes, permite levantar
esquecimentos e omissões e mudar o que até então se sabia. O trabalho com a memória
permite que outros indivíduos e grupos tenham destaque, atualiza lutas reprimidas e valoriza
culturas e identidades vistas como “inferiores” ou “primitivas”, daí a sua importância para a
cidadania. (SILVA, 2010, p. 329).

A celeridade atribuída aos fatos que reinam na sociedade pós-moderna e que ocasionam a
sensação de constantes transformações e novos desafios tornou-se uma diretriz que orienta a agenda
de governos, partidos políticos, atuação de movimentos sociais e organizações públicas e privadas,
inclusive Universidades. Sendo assim, “É preciso ter clareza de que a Extensão fortalece a ação da
universidade na sociedade - associada à Pesquisa, ela oferece suporte para atacar os grandes
problemas nacionais, (...) assim como trata da formação integral dos estudantes” (DEUS, 2020, p.
84).
A Universidade, enquanto instituição pluridisciplinar de formação dos quadros profissionais
de nível superior, de pesquisa, de ensino, de Extensão e de domínio e cultivo do saber humano,
enraizada em princípios, regras e valores é, também, partícipe de um processo democrático e solidário
às necessidades da população por meio do seu compromisso com o futuro da sociedade. Nesse
sentido, as práticas extensionistas mantêm uma articulação entre os setores públicos, produtivo e o
mercado de trabalho, contribuindo assim para que o discente, durante o processo de aprendizagem,
desenvolva a criticidade própria concernente à formação para cidadania.
A Extensão, por empregar metodologias calcadas no dialogismo e na relativização de saberes
consolidados, volta-se para a construção de sujeitos conscientes para observar as questões sociais,
políticas, éticas, de cidadania, e decidir sobre elas “que a relação dos discentes com as comunidades
e com as atividades de seus interesses específicos se transformam em aprendizado e transformam os
envolvidos” (DEUS, 2020, p. 36).
Segundo Paulo Freire (1979), a educação deve contribuir para a construção de indivíduos
conscientes para observar problemas sociais, questões éticas, políticas e de cidadania, percebê-los e
analisá-los criticamente. Nessa lógica, foi a partir da a segunda metade do século XX que a Extensão
Universitária passou a ser fortalecida e que o conhecimento se abriu para a subjetividade e o
indivíduo, na sua condição singular, passou a ser considerado agente de sua própria história, e que as
preocupações científicas com a memória passaram a integrar os estudos das humanidades.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 137

Não sendo um fenômeno de interiorização individual, mas sim uma construção social e um
fenômeno coletivo, a memória é modelada pelos próprios grupos sociais não sendo apenas passado,
mas a rememoração desse passado feita no presente de um indivíduo, sendo determinada pelas
condições presentes do momento. Ela “sofre flutuações que são função do momento em que ela é
articulada, em que ela está sendo expressa” (POLLAK, 1992, p. 4) e se enriquece com as
contribuições de fora que, depois de tomarem raízes e depois de terem encontrado seu lugar, não se
distinguem mais de outras lembranças” (HALBWACHS, 2006, p. 98).
Memória e subjetividade se articulam, sendo, assim, elementos importantes na constituição
do mundo moderno, pois a história, o passado e os pertencimentos concedem cidadania. Nessa
perspectiva, Thomson (2002, p. 358) observa que “(...) nossas lembranças de quem fomos e de onde
viemos moldam nosso sentido do ‘eu’ ou de identidade no presente e, dessa forma, afetam as maneiras
como construímos nossas vidas”. Por conseguinte, a identidade da coletividade se conecta com
fragmentos das histórias de cada discente participante da ação extensionista, o que remete à relação
entre memória e identidade, pois numa narrativa identificamos “o que pensamos que éramos no
passado, quem pensamos que somos no presente e o que gostaríamos de ser” (THOMPSON, 1997,
p. 57). Na mesma direção, Pollak anuncia que:

Podemos, portanto, dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de


identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de
um grupo em sua reconstrução de si. (POLLAK, 1992, p. 5).

Assim, na medida que permite ao sujeito assenhorar-se de imagens do passado para estruturar
uma nova posição identitária, independentemente da perespectiva individual ou coletiva, a memória
pode ser observada como fonte de referentes identitários e instrumento atuante na reconfiguração das
identidades:

A memória, então, traz para o momento presente as experiências passadas, gerando a


sensação ilusória de que é possível reavivar o que passou, tornando o passado uma presença
acessível. Essa é a impressão transmitida pela lembrança e, a partir disso, a memória atua
como fonte de referentes identitários, pois ‘pela retrospecção o homem aprende a suportar a
duração: juntando os pedaços do que foi uma nova imagem que poderá talvez ajudá-lo a
encarar a vida presente’. (SOUZA, 2014, p. 104 apud CANDAU, 2011, p. 15).

O aluno de graduação, ao participar de projetos de Extensão, que têm como um dos objetivos
proporcionar oportunidades efetivas para as superações das condições de exclusão educacional,
EXTENSÃO PUC MINAS:
138 Novo Humanismo, novas perspectivas

socioeconômica e cultural, precisa romper com modos anteriores de viver e reconfigurar sentimentos
e valores. Esse processo pode ser sentido e expressado por visões individuais de sujeitos inseridos em
contexto de práticas extensionistas.
Nesse sentido, discentes com experiência em práticas extensionistas, participantes desse
estudo, sintetizaram:

Os projetos mudaram minha visão como pessoa. Conheci diferentes realidades de um mesmo
Brasil, aprendi sobre solidariedade, empatia e a necessidade do conhecimento científico sair
das portas das universidades e adentrar nas ruas de Norte a Sul do país. Em outras palavras,
desmonopolizar (ou “deselitizar”) o conhecimento científico. Conseguir concretizar aquilo
que vislumbrava na teoria e se envolver ainda mais com a temática, enxergando não só
estatísticas e textos acadêmicos, mas escutando e aprendendo com os personagens envolvidos
e olhando por diversos pontos de vista para a solução do mesmo problema não há livro que
ensine. [...] Por fim, entendo que aprendi, nos dois projetos que participei, valores que levarei
para minha vida profissional, acadêmica e pessoal. Valores que não são ensinados nas salas
de aula, mas que são adquiridos com as ações sociais extensionistas. (discente do curso de
Engenharia Mecânica – Projetos respuc/VRC).

O projeto no qual participei foi de extrema importância para minha construção como cidadã.
Graças a esse projeto eu pude ver a realidade do sistema carcerário de nosso país, passei a
entender mais de Direitos Humanos e percebi que esse é um tema que precisa ser debatido e
falado, principalmente em lugares que concentram grupos privilegiados, como a PUC. Todos
meus colegas que participaram dos encontros ficaram impactados e começaram a abrir os
olhos para essa questão. Acho muito importante esses projetos, pois cada um com sua
profissão e área de estudo, entende que tem um papel e uma responsabilidade frente a isso.
[...] Como estudante de Administração e profissional de RH, esse projeto me incentivou a
criar mais ações afirmativas e de inclusão dentro da empresa que trabalho. (discente do curso
de Administração – Projeto respuc/VRC).

É importante ressaltar que os projetos de Extensão dos quais participei ampliaram minhas
formas de observar e pensar o mundo. Sempre acreditei em possibilidades de mudança
através de projetos sociais, contudo, percebi a importância das mudanças micro e tirei o foco
das mudanças macro. A questão é que se a possibilidade de desenvolvimento (seja pessoal,
profissional) puder alcançar uma vida, puxa! Que alegria! Mas atuar de forma a garantir
direitos.... é melhor ainda! Hoje, me sinto mais madura e apta para encarar novos desafios
pessoais e profissionais”. (discente do curso de Letras – Projetos respuc/VRC).

Com trabalho desenvolvido no projeto de Extensão que participei cresci muito


profissionalmente, humanamente e passei a valorizar mais a vida que tenho. Mas mais do que
isso, o projeto abriu meus olhos para o verdadeiro Brasil. Um Brasil diferente do casco gelado
do baixo Leblon, das tardes no posto 10 e das minhas corridinhas pela orla. Existe muita
injustiça nesse Brasil, mas muita gente disposta a melhora-lo. Muita gente que te olha de uma
maneira diferente do olhar corrido da cidade grande. Um olhar de pura humildade, de gratidão
e de vontade de transformar a própria realidade. Saio hoje de Dom Expedito Lopes/PI
completamente realizado, feliz e cheio de histórias incríveis desse Brasilzão. Acho que
deixamos um legado maneiro para Dom Expedito e com certeza Dom Expedito deixou um
legado para o meu coração. Enfim, mudou minha forma de pensar. Eu acho que para melhor”
(discente do curso de Engenharia Civil – Projeto respuc/VRC).

Tais memórias demonstram, de modo geral, que as atividades de Extensão levam motivação
aos estudantes, assim como atestam que a educação universitária, numa gestão socialmente
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 139

responsável, por meio do Ensino, Pesquisa e Extensão, gera capital cultural, social e econômico, bem
como contribui para o desenvolvimento de indivíduos proativos e aptos ao pleno exercício da
cidadania.
Nesse sentido, a Extensão Universitária “na teoria e na prática, é a escada, é o catalisador que,
sempre que alcança o indivíduo, leva-o para um outro lugar” (DEUS, 2020, p. 40), pois “o impacto
que uma intervenção extensionista tem na vida de um aluno e na comunidade é algo que não pode ser
mensurado (...) em números absolutos, mas com aprendizado relatado em depoimentos” (DEUS,
2020, p. 37).
Ao narrar suas experiências os discentes têm a oportunidade de identificar o que pensavam
ser no passado, o que pensam ser no presente e o que gostariam de ser no futuro. Nessa lógica, Pollak
discorre que:

Podemos, portanto, dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de


identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator
extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de
um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p 5).

Assim, é possível depreender que a memória é estruturada a partir de preocupações do


presente e está imbricada nas identidades de uma pessoa ou grupo, sendo um refúgio para que estes
possam compreender quem são, “pois, o trabalho da memória é indissociável da organização social
da vida” (POLLAK, 1989, p. 14).
A memória desenvolve um caráter de lugar a se recorrer, a se pautar sobre fatos demarcados,
ainda que os mesmos tenham ocorrido apenas com o indivíduo detentor da memória. Ela armazena
tudo o que é relevante ao indivíduo e, por conseguinte, o motiva a realizar determinadas ações
significantes para determinado grupo; ela consegue proporcionar duração maior aos acontecimentos
graças à forma como desenvolve seus mecanismos, pois “a memória é vida, sempre carregada por
grupos vivos” (NORA, 1993, p. 9) e, por pertencer ao indivíduo, pautados na importância dos
acontecimentos para si, permite uma constante recapitulação.
Dessa forma, “a memória permite o reencontro dos sujeitos e grupos consigo mesmos e a
(re)escrita da História a redefinição de identidades e a legitimação de direitos adquiridos, assim como
de lutas pela ampliação da cidadania (SILVA, 2010, p. 344). Portanto, por atribuir importância ao
sujeito, fazendo-o sentir-se agente histórico e social, o que lhe garante poder nas relações, resgata sua
identidade, cria valores sociais relacionados ao grupo e ao espaço de convivência, a memória pode
interferir no exercício da cidadania no mundo atual e no local em que os individuos vivem.
EXTENSÃO PUC MINAS:
140 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As universidades não são (...), com efeito, apenas instituições de ensino e de pesquisas, mas
sociedades devotadas ao livre, desinteressado e deliberado cultivo da inteligência e do
espírito e fundadas na esperança do progresso humano pelo progresso da razão. (TEIXEIRA,
2006, p. 181).

Por estender seus conhecimentos e sua técnica para além dos muros universitários através das
suas atividades, é como práxis revolucionária que se entende o papel da Extensão na atualidade, pois
somente assim a Universidade é aceita como instrumento transformador do real e promotora de
formação para cidadania.
Asssim, as práticas extensionistas são formas de uma instituição de ensino superior
democratizar e socializar o saber científico sem privilegiar apenas uma parcela da sociedade. Nesse
sentido, a formação do aluno se dá não somente pelos conhecimentos adquiridos em sala de aula, mas
também por sua atuação em vários tipos de atividades que o levam a conhecer de perto a sociedade
na qual deverá atuar como um cidadão consciente visando o bem comum e mudança social.
Não sendo a memória a capacidade de guardar e acumular informações e lembranças com
precisão, mas sim um processo de reelaboração de informações e experiências de vida, no qual vários
fatores interferem, a memória das práticas extensionistas é uma das diversas interferências sobre a
memória que possibilita o reencontro de sujeitos e grupos consigo mesmos. Usualmente as preleções
de vida, guiadas por interesses identitários, refazem toda a trajetória do sujeito, não podendo, nessa
lógica, ser compreendida como aleatória ou singelo ato de rememoração. É por isso que as histórias
de vida

[...] devem ser consideradas como instrumentos de reconstrução da identidade, e não apenas
como relatos factuais. Por definição reconstrução a posteriori, a história de vida ordena
acontecimentos que balizaram uma existência. Além disso, ao contarmos nossa vida, em
geral tentamos estabelecer uma certa coerência por meio de laços lógicos entre os
acontecimentos-chaves (que aparecem então de uma forma cada vez mais solidificada e
estereotipada), e de uma continuidade, resultante da ordenação cronológica. Através desse
trabalho de reconstrução de si o indivíduo tende a definir seu lugar social e suas relações com
os outros (POLLAK, 1989, p. 13).

Uma vez consciente de suas memórias individuais e coletivas, o discente participante de


atividades de Extensão Universitária se apropria, alcança e fortalece sua identidade, criando laços
sociais, tornando-se apto a alcançar autonomia cidadã, pois as ressignificações das memórias, sejam
elas individuais, sejam elas coletivas, desperta o sentimento de dever de memória que assume novas
configurações na sociedade contemporânea em que se está inserido.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 141

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em:
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Extensão Universitária na América Latina. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
DEUS, Sandra de. Extensão universitária: trajetórias e desafios. Santa Maria, RS: Ed. PRE-
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FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1982.
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1990.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed.
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NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projetos História. São
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POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n.
10, 1992. Disponível em:
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POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol.
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142 Novo Humanismo, novas perspectivas

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SOUZA. Mariana Jantsch. Memória como Matéria-Prima para uma identidade: apontamentos
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TEIXEIRA, Anísio. Educação e o mundo moderno. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
THOMSON, Alistair. Histórias (co)movedoras: História Oral e estudos de migração. Revista
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https://www.scielo.br/j/rbh/a/dfngGLvSg59gjjdkV6RdTVw/?lang=pt. Acesso em: 15 jun. 2022.
THOMSON, Alistair. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre a História oral e as
memórias. Revista do Programa de Estudos Pósgraduados em História e do Depto. de História
da PUC-SP, n. 15, p. 51-84, abr. 1997.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 143

Traduzir a técnica e reconhecer espaços:


assessoria técnica virtual e colaborativa1

Lívia Carolaine Jardim Viana2


Gabrielle Barbosa Souza3
Liz dos Santos Portela4
Viviane Zerlotini da Silva5

RESUMO
A continuidade do projeto de extensão PROSA propõe que a assessoria técnica atue mais firmemente para promover a
penetrabilidade das tecnologias e a formação da lógica de rede nos territórios autoproduzidos, a partir do desenvolvimento
de duas linguagens: 1) de tradução, requerida pelo atual processo de urbanização promovido pela Prefeitura de Belo
Horizonte nas ocupações urbanas de Izidora, em que os moradores nos solicitam a tradução da linguagem técnica dos
especialistas para aquela própria da produção cotidiana do espaço; 2) de reconhecimento, que expressa a visão de mundo
da autoprodução do espaço, requerida na luta por ocupação e permanência nos territórios, em que os assessorados
solicitam o desenvolvimento de argumentos autônomos, com base no modo como eles cuidam do território de vida e
trabalho.

Palavras-chave: Assessoria técnica. Autoprodução do espaço. Tradução. Reconhecimento.

Translate the technique and recognize spaces:


virtual and collaborative technical advisory

ABSTRACT
The continuity of the PROSA extension project proposes which technical advisory to act more firmly to promote the
penetration of technologies and the formation of network logic in self-produced territories, from the development of two
languages: 1) of translation, required by the current urbanization process promoted by the City of Belo Horizonte in the
urban occupations of Izidora, in which the residents ask us to translate the technical language of the specialists into that
of the daily production of the space; 2) of recognition, which expresses the worldview of the self-production of space,
required in the struggle for occupation and permanence in territories, in which the assessors request the development of
autonomous arguments, based on the way in which they take care of the territory of life and work.

Keywords: Technical advisory. Space self-production. Translation. Recognition.

1
Projeto de extensão financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PROEX PUC Minas).
2
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA
em 2021 e voluntária do projeto de extensão PROSA em 2022. E-mail: lcjviana@sga.pucminas.br.
3
Graduanda em Geografia pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA em 2021/2. E-
mail: gabibarbosa808@gmail.com.
4
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas/Coração Eucarístico. Bolsista do projeto de extensão PROSA
em 2021/2. E-mail: lizportela@hotmail.com.
5
Orientadora do projeto de extensão PROSA. Engenheira-arquiteta. Mestre em Engenharia de Produção. Doutora em
Arquitetura e Urbanismo. Pós-doutora em Engenharia de Produção. Professora adjunta do departamento de Arquitetura e
Urbanismo da PUC Minas. E-mail: zerlotini@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
144 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

O projeto de extensão PROSA leva o mesmo nome do Programa de Formação de


Autoprodutores em Saberes Ambientais, do grupo de ensino, extensão e pesquisa Produção do Espaço
Urbano nos brasis (PEU.brs), vinculado ao curso de Arquitetura e Urbanismo (AU) da PUC Minas.
O PROSA atualiza a antiga Escola de Formação de Mão de Obra (EFMO), prevista no Projeto Político
Pedagógico do curso AU (PUC Minas, 2008), pela sua abordagem crítica e propositiva frente aos
modelos convencionais que são difundidos em sala de aula no ambiente técnico científico, como
conhecimento consolidado no âmbito da construção civil. Levando em conta os inúmeros desafios
ambientais, técnicos e sociais que essa indústria ainda precisa superar para ser considerada
socioambientalmente sustentável, o programa PROSA rompe com o processo tradicional de
assessoria técnica, em que o saber técnico formal prevalece sobre o popular ou o nega, inclusive em
sua potência.
A linguagem deve se tornar ferramenta de aproximação, visto que, nos diferentes processos
de diálogo e escuta, é necessário descentralizar as decisões e desconstruir a imposição de
conhecimento. Do atrito entre o conhecimento técnico e o popular, surge uma reorientação do papel
social do arquiteto-urbanista, ao reconhecer os autoprodutores como também atores na produção do
espaço, em uma perspectiva de preservar a autonomia de ambos.
Na proposta de continuidade do projeto de extensão PROSA, a perspectiva do advento do
período pós-pandemia de COVID-19, com a retomada das atividades, e os conflitos socioambientais
nos territórios assessorados têm requerido maior virtualidade dos processos de autoprodução do
espaço, no sentido de a assessoria técnica fortalecer as iniciativas dos grupos sociais no enfrentamento
desses conflitos. Moradores de ocupações urbanas têm-nos demandado assessoria técnica para
orientar nos processos de resistência às contínuas ameaças de expulsão, a partir da tradução da
linguagem técnica e do reconhecimento da autoprodução do espaço. As urgências das questões
socioespaciais nesses territórios, amplificadas por crise ambiental e governança neoliberal, exigiram
que a assessoria técnica recuperasse o conceito de virtualidade, presente no projeto de extensão
PROSA, desde sua primeira versão.
O reconhecimento das práticas de autoprodução do espaço significa a aproximação de quem
concebe e usa o espaço. A emergência de tempos e espaços em tempo real expõe essa virtualidade no
processo de autoprodução. Resta à versão de continuidade de Assessoria Técnica Virtual (ATV)
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 145

incorporar "a atividade de projeto ao cotidiano da produção" (LIMA; DUARTE, 2021), a fim de
propor as bases de políticas urbanas que reconheçam a cidade autoproduzida, o seu potencial e a suas
necessidades.
Trata-se de fomentar a virtualidade da autoprodução do espaço. Construção já de natureza
virtual, pois se presta a um processo aberto de composição do espaço. O autoprodutor está no
comando, invertendo a lógica hegemônica: concepção-produção-consumo e reduzindo as distâncias.
De modo a promover a autonomia, o PROSA prestou assessoria técnica a partir de demandas pela
tradução da linguagem técnica, revelando sua racionalidade e expondo suas contradições, e pelo
reconhecimento da linguagem da autoprodução, evidenciando suas potencialidades e limitações.

2 LINGUAGEM TÉCNICA E SUA RACIONALIDADE

O processo convencional de produção do espaço caracteriza-se pela sequência linear de


tarefas, fundamentadas no raciocínio lógico e racional do pensamento cartesiano. “O procedimento
usual começa com uma espécie de consulta ao cliente (nem sempre o usuário do espaço) para o
estabelecimento de um programa de necessidades, depois, segue-se o desenho do plano, a construção
desse plano e, por fim, o uso” (BALTAZAR; KAPP, 2006, 95). A prática capitalista da arquitetura
fica evidente por meio da divisão vertical do trabalho (concepção, execução e uso) e do emprego da
ferramenta de desenho técnico. Ou seja, a prática da arquitetura propicia o controle social por
intermédio de aparatos gerenciais e técnicos, de acordo com o modo de produção capitalista. Bicca
recorre a Serge Moscovici (2003) para evidenciar a necessidade de os arquitetos distinguirem o
trabalho manual do intelectual, reivindicando a ruptura do seu trabalho com o saber-fazer das
corporações durante o Renascimento:

Em outros termos, esta categoria deve se distinguir também por um critério visível aos olhos
da sociedade, critério que assegure o reconhecimento de sua arte como maior ou mesmo
superior às outras artes. O único recurso que ela tem, para isto conseguir, é de se colocar
como “liberal”, isto é, como tendo integrado na sua habilidade o pensamento teórico, fazer
passar o seu trabalho por intelectual (MOSCOVICI 2003 apud BICCA, 1984, p. 74).

A necessidade de definir os novos princípios da arquitetura do Renascimento e de opô-la às


práticas adotadas pelos mestres de obras da Idade Média fez surgirem tratados durante o
Renascimento que exprimiam a nova ideologia arquitetônica. Bicca cita um trecho da obra de Alberti
intitulada “Tratado da Arquitetura”, provavelmente escrita entre os anos de 1443 e 1452, em que se
pode perceber seu pensamento com relação ao trabalho manual:
EXTENSÃO PUC MINAS:
146 Novo Humanismo, novas perspectivas

Antes de ir mais longe, creio que seria bastante útil dizer a quem reservo o nome de arquiteto;
não vos apresentaria, certamente, um carpinteiro, pedindo-vos considerá-lo como igual a um
homem profundamente instruído em outras ciências, mesmo que na verdade o homem que
trabalhe com suas mãos seja o instrumento do arquiteto. Chamarei arquiteto aquele que, com
uma razão e um método maravilhoso e preciso, sabe primeiramente dividir as coisas com seu
espírito e inteligência, e em segundo lugar como associar com justeza, no curso do trabalho
de construção, todos os materiais que, pelos movimentos dos pesos, pela reunião e a
superposição dos corpos, podem servir eficaz e dignamente às necessidades do homem. E na
realização dessa tarefa, ele terá necessidade do saber mais apurado e mais refinado.
(GALLIMARD apud BICCA, 1984, p.74-5).

Sérgio Ferro (1982) destaca o papel do desenho no processo de abolição das corporações de
ofício. Uma vez separadas, o desenho técnico realiza a mediação entre as atividades de conceber e
executar e surge como ferramenta de controle operário. Ferro (1982) demonstra como o recurso é
empregado para a exteriorização do conhecimento prático e para a monopolização da informação:

Da regulamentação da produção à sua organização, da mensuração externa à sistematização


das operações – é nesta passagem que o desenho faz-se adotar como instrumento capital,
momento em que se torna urgente definir as parcelas da produção com maior rigor. Questão
de organização, portanto, que o generaliza como documento do trabalho. O objetivo de seu
uso não é nem a qualidade do produto (as normas da corporação eram muito mais rígidas e
detalhadas), nem sua constância (a ausência do desenho fazia, se fosse o caso, da cópia direta
um método mais fiel). O que constrange a história do desenho é a divisão desigual do trabalho
que avança – e seu outro pólo, o acordo a ser imposto aos componentes produzidos pelos
trabalhos divididos. (FERRO, 1982, 63).

O aparato técnico do desenho, ou o projeto arquitetônico ou urbanístico, não somente reproduz


a divisão social do trabalho, como também impede a autodeterminação da produção do espaço pelos
usuários. Essas relações de dominação revelam o caráter de mercadoria da prática arquitetônica,
submetida às relações de produção capitalistas:

Um plano implica, pela sua própria natureza, o cerceamento da liberdade de decisão e ação
de todas as pessoas que sofrem as suas consequências, sem terem tido o direito de voz e voto
na sua elaboração. No âmbito dos projetos arquitetônicos e urbanísticos, isso significa o
cerceamento da liberdade, tanto daqueles que executam um projeto materialmente (os
trabalhadores envolvidos na construção) quanto dos que farão uso de seus resultados (os
habitantes, num sentido amplo do termo). Essas relações de dominação, inerentes ao projeto,
raramente são percebidas com clareza, pois ele se tornou uma espécie de fetiche (feitiço), na
acepção em que Karl Marx usa o termo: faz aparecer como ligações entre coisas o que, na
verdade, são associações entre pessoas ou relações sociais. Por outro lado, como fetiche nada
mais significa do que coisa feita, isto é, coisa do artifício humano, nem divina nem natural,
também esse fetiche do plano pode ser questionado, criticado e desfeito. (BALTAZAR;
KAPP, 2006, p. 94, grifos das autoras).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 147

Assim, a programação de atividades (BICCA, 1984) e o desenho técnico (FERRO, 1982) são
ferramentas do planejamento centralizado que retiram da coletividade organizada (moradores de
ocupações urbanas) a possibilidade de autodeterminação das condições de sua sobrevivência e, em
particular, das condições de organização das suas atividades de trabalho e vida.
De modo geral, as propostas teóricas e práticas elaboradas por técnicos especialistas revelam
a reprodução do modo capitalista de produção em vários aspectos: produção heterônoma do espaço
com intervenção preponderante de conhecimento técnico especializado no processo decisório, e, em
decorrência desse último, participação dos autoprodutores do espaço restrita à verbalização da
demanda e eleição de opções de intervenções elaboradas pelos técnicos.
Militantes de esquerda denunciam as formas de “participacionismo” (GUILLERM;
BOURDET, 1976; TRAGTENBERG, 1987), como a cogestão, o controle operário, a participação e
a cooperativa, considerando que a determinação dos fins é externa ao trabalhador. São fins
determinados pelo capital, que acaba por assimilar essas manifestações. Segundo esse raciocínio, a
autogestão em confronto com a sociedade capitalista somente poderá existir em casos isolados e por
curtos períodos (GUILLERM; BOURDET, 1976).
O equívoco de reatualizar o controle operário (conselhos operários, soviets, comitês de greve,
comissões de fábrica) é considerar o espaço de produção o lugar de origem da autogestão, de onde a
prática autogestionária poderia ser estendida para toda a sociedade. Tomar o controle operário de
forma isolada é desconsiderar as práticas de autodeterminação da população em todas as esferas da
vida, não apenas na esfera da produção. Ao contemplá-las, o conceito de autogestão sai do plano
exclusivo da produção e abrange o universo da reprodução, de modo a conceber outras atividades,
livremente construídas, que revolucionem o trabalho de produção (e de reprodução), a forma do
equipamento, a finalidade dos produtos (GUILLERM; BOURDET, 1976) e, consequentemente, o
modo de produção do espaço.

3 LINGUAGEM DA AUTOPRODUÇÃO E SUA RACIONALIDADE

As ações cotidianas da população na produção do espaço são atos políticos. Ao estudar o


cotidiano, o filósofo francês Henri Lefebvre6 identifica a grandeza oculta sob a miséria expressa nas

6
Lefebvre iniciou seus estudos sobre o cotidiano na década de 1940, publicando uma sequência de obras: Critique de la
vie quotidienne (1947), Critique de la vie quotidienne II: Fondements d'une sociologie de la quotidienneté (1961), La Vie
quotidienne dans le monde moderne (1968), Critique de la vie quotidienne, III: De la modernité au modernisme (Pour
une métaphilosophie du quotidien) (1981) e Éléments de rythmanalyse: Introduction à la connaissance des rythmes
(1992).
EXTENSÃO PUC MINAS:
148 Novo Humanismo, novas perspectivas

enfadonhas atividades a que homens e mulheres estão submetidos diariamente: “grandeza do


cotidiano, a continuidade, a vida que se perpetúa, estabelecida sobre este solo; a prática desconhecida,
a apropriação do corpo, do espaço e tempo, do desejo"7. A apropriação do corpo, do espaço e tempo
pela sociedade seria possível pela revolução que colocará fim na miséria do cotidiano. Em obras
posteriores, Lefebvre (2009 [1966]) (1976 [1972]) aponta um caminho: a autogestão.
O não reconhecimento pela ideologia dominante do cotidiano como lugar de ação política não
se deve ao seu caráter espontâneo, não organizado, mas à necessidade de obliterar as soluções
populares diante das questões sociais, de modo a manter encobertas as relações de opressão e de
exploração entre classes sociais. Nesse sentido, as iniciativas da população em geral não são
reconhecidas como manifestações políticas: a autoprodução como solução para as necessidades de
abrigo é concebida de forma pejorativa; e a ocupação da propriedade alheia, mesmo quando ela não
exerce a sua função social como está previsto na Constituição Federal, é percebida como ato ilícito.
Decisões coletivas sobre a produção do espaço, o emprego do tempo, a organização da
produção, as tecnologias empregadas e a não separação de atividades de produção e reprodução
revelam traços de autonomia nas iniciativas populares. Por outro lado, como se verá adiante, a
pesquisa de campo informa que esses traços são limitados. O universo de opções no processo
decisório é restringido e constrangido pela escassez de recursos, pelo acesso precário às informações
e pelas determinações externas da disputa por melhores localizações. O desafio dos grupos
assessorados – e das propostas teóricas e práticas que pretendem favorecê-los – consiste em superar
o horizonte das “escolhas pré-escolhidas”, como diz Pierre Bourdieu (2011 [1979-1982]), isto é,
superar as pseudoalternativas previamente definidas pela vulnerabilidade e precariedade a que estão
submetidos.
Esta pesquisa identifica as bases conceituais das ferramentas que possam potencializar os
traços de autonomia e autogestão já presentes na produção do espaço por trabalhadores associados,
tendo por horizonte a livre associação entre produtores (MARX, 2010 [1859]) e reprodutores,
contribuindo para que essa livre associação possa prevalecer sobre o modo capitalista de produção.
Entende-se por “reprodução” a base principal da existência da sociedade (LUXEMBURG, 1976
[1912], 12), no sentido de preceder à produção (LINO; KAPP, 2008), no sentido de ser. Portanto,
essa acepção encerra algo mais que a repetição regular do processo produtivo e o pressuposto de
determinado nível de produtividade de trabalho (LUXEMBURG, 1976 [1912], 12).

7
“Obliterar é o oposto de esclarecer: fazer esquecer, obscurecer, ocultar, diminuir, reduzir.” (KAPP; LINO, 2008, 13-
14).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 149

As propostas centradas no universo da produção correm o risco de se tornarem produtivistas,


no sentido de considerarem somente as atividades humanas que geram riquezas acumuláveis.
Permanece central a ideia de sobreviver para produzir e não a lógica contrária, em que a existência
de pessoas se torna o fim e não o meio para a produção (KAPP; LINO, 2008). Por essa razão, as
iniciativas de autogestão, mesmo que precárias, dos autoprodutores são examinadas nesta pesquisa
principalmente a partir do trabalho de reprodução. Isso significa evitar a dicotomia entre o universo
exclusivo da produção e o da reprodução. Desse modo, os traços de autonomia são compreendidos
como possibilidades de prevalência da reprodução sobre a organização da produção e, ao mesmo
tempo, como possibilidade de existência de relações sociais mais horizontais.
O perigo de desconsiderar a precedência da reprodução é conceber que relações igualitárias
são consensuais, o que na prática ocorre com conflitos. O reconhecimento desses conflitos evita
reiterar os tipos ideais como o “homem econômico” e a “mulher solidária”, exemplares de uma
mesma racionalidade produtivista, que reforça o padrão patriarcal de relações sociais.
As ações isoladas das práticas populares não conformam ações políticas pelo simples fato de
serem alternativas ao modo de produção capitalista. A ação política é, em sua essência, coletiva
(ARENDT, 2010 [1958]). É necessário reconhecer os arranjos empregados pelos autoprodutores do
espaço com o objetivo de promover “pequenos ganhos de autonomia” (SOUZA, 2010 [2001], 177),
indo além das concepções individualistas populares e das propostas heterônomas dos técnicos.
Ao final do trabalho, identificam-se os recursos empregados pelos autoprodutores na
apropriação do espaço. Acredita-se que tais recursos podem ser potencializados de modo a consolidar
relações que promovam a emancipação social. A intenção última é delinear formas de combate à
pobreza material e política para além dos usuais programas de geração de renda
(desenvolvimentismo) e de transferência de renda (assistencialismo), os quais concebem somente a
justa distribuição de bens materiais. Pretende-se vislumbrar também programas que contemplem o
justo acesso aos meios de decisão, a partir do reconhecimento de traços emancipatórios na produção
do espaço por moradores de ocupação urbana.

4 METODOLOGIA

As comunidades a que tradicionalmente o PEU.brs presta assessoria técnica são vilas, favelas,
ocupações urbanas, quilombos, conjuntos habitacionais de padrão popular - cuja população convive
EXTENSÃO PUC MINAS:
150 Novo Humanismo, novas perspectivas

com algum tipo de precariedade. O PEU assessora8 quatro ocupações urbanas da região de Izidora:
Rosa Leão (1500 famílias), Esperança (1800 famílias), Vitória (2500 famílias), Helena Grego (250
famílias).
Tais comunidades convivem com algum tipo de conflito socioambiental urbano, seja ele
fundiário (ameaça de despejo), civil (ameaça de escorregamentos e inundações) ou social ("situação
de desproteção a que vastas camadas pobres se encontram submetidas no que concerne às garantias
de trabalho, saúde, saneamento, educação e outros componentes que caracterizam os direitos sociais
básicos de cidadania" (KOWARICK, 2009, p. 19).
Os moradores das ocupações de Izidora estão ameaçados de remoção pelos processos de
urbanização promovidos pela prefeitura de Belo Horizonte. Eles desconsideram a atuação do
mercado imobiliário na região, em função da valorização da terra que está sendo urbanizada.
Os procedimentos para a análise dos resultados foram elaborados segundo uma metodologia
colaborativa: 1) levantamento das práticas socioespaciais9, próprias da autoprodução do espaço nos
territórios assessorados e sistematização das questões socioespaciais requeridas por eles; 2)
elaboração de oficina virtual de codificação do agir verbal, com os assessorados e a equipe ATV,
(alunos da graduação e pós-graduação, parceiros) para a análise das cartografias colaborativas e
sistematização, pela equipe AVT, dos principais aspectos que caracterizam o agir verbal dos
autoprodutores, nas situações de demanda por elaboração de linguagem de tradução e de
reconhecimento; 3) desenvolvimento de material didático-pedagógico que traduzam a linguagem
técnica da gestão urbana municipal para os moradores e que expressem os valores presentes nas
práticas socioespaciais da autoprodução do espaço dos territórios assessorados; 4) divulgação,
amplificação e dinamização (MANZINI, 2017) das questões socioespaciais para os assessorados,
técnicos especialistas, comunidade acadêmica e sociedade civil.

5 TRADUÇÃO DA LINGUAGEM TÉCNICA10

Uma das principais demandas dos moradores das ocupações de Izidora foi a tradução da
linguagem que os técnicos da prefeitura de Belo Horizonte empregavam quando começaram os

8
Os dados apresentados neste artigo referem-se aos trabalhos realizados no período de 2021 ao primeiro semestre de
2022.
9
O levantamento foi realizado a partir de passeios acompanhados com os moradores e com o auxílio dos parceiros do
projeto: projetos de extensão França-Brasil (IFMG) e Mais Verde Mais Vida (UFMG).
10
Esta seção foi desenvolvida a partir dos achados do projeto de extensão Regularização Fundiária Plena, coordenado
pelo professor Eduardo Bittencourt, que em 2021 era projeto parceiro do PROSA.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 151

trabalhos para implantação do Plano de Urbanização Sustentável da Izidora (PBH, 2021) que,
segundo a PBH, teria a participação da população em todas as fases. Ao contrário do que foi
prometido, a assessoria técnica dos projetos de Regularização Fundiária Plena e do PROSA revelou
como a programação de atividades (BICCA, 1984) e o desenho técnico (FERRO, 1982) constrangem
lideranças e moradores de ocupações urbanas.
Em abril de 2021, os técnicos iniciaram o que eles denominaram de atendimento das demandas
emergenciais: endereçamento, realização de obras emergenciais, vistorias de área de risco,
recebimento das demandas de cesta básica, CRAS, etc. (PBH, 2021). A presença dos técnicos nos
territórios provocou várias dúvidas nos moradores e gerou situações de incertezas. Nesse período, a
assessoria trabalhou com as lideranças para promover o esclarecimento das ações da prefeitura junto
aos moradores. Contribuímos com a elaboração de exemplares de jornal para circulação interna e de
um vídeo de liderança para circulação nos grupos de WhatsApp (figura 01).
O esclarecimento sobre o objetivo dos trabalhos da PBH, a finalidade do cadastro
socioeconômico, as tentativas de criminalização dos moradores, as ameaças de remoção em áreas de
risco, a não adoção de uma linguagem popular e a ausência de abastecimento de água e energia eram
questões prioritárias para os moradores. Mas a racionalidade do plano cartesiano, cuja programação
das atividades obedece a critérios dos agentes financiadores da produção do espaço, desconsiderou
tais urgências. Trata-se, portanto, de formas de “participacionismo” (GUILLERM; BOURDET,
1976; TRAGTENBERG, 1987), cuja determinação dos fins é externa ao morador.

Figura 1 – Exemplares de jornal e vídeo para esclarecimento aos moradores

Fonte: Grupo PEU, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
152 Novo Humanismo, novas perspectivas

O planejamento de médio e longo prazo da PBH prevê a implantação de um Plano de Ação


composto por um Plano de Participação e de Urbanização Sustentável que precede a elaboração dos
Projetos de engenharia e arquitetura, fundamentais para se iniciar a realização da prometida
urbanização sustentável da região. Essa racionalidade reproduz a divisão vertical do trabalho que
separa quem concebe, quem constrói e quem usa (BALTAZAR; KAPP, 2006). O Plano de
Participação resultou em um mapeamento de cada uma das ocupações (figura 02) e foi apresentado
aos moradores em encontros promovidos pela PBH. No entanto, a assessoria técnica foi solicitada
novamente a traduzir o desenho técnico.
Ao contrário do que se possa imaginar, a adoção de cores para representar os vários elementos
que constam no mapa não é suficiente para os moradores realizarem a sua leitura e interpretação. Nos
meses de novembro e dezembro de 2021, oficinas (figura 03) foram realizadas pelos assessores
técnicos, localizando as referidas manchas dos mapas nos territórios, a partir da experiência do corpo
dos moradores, na tentativa de superar a abstração do plano. Lideranças das ocupações apontavam
elementos de referência na paisagem das ocupações para situar os moradores nos lugares que cada
uma das categorias de análise do mapa incidia, de modo que eles pudessem visualizar o lugar do
território a que o mapa estava fazendo menção.

Figura 2 – Mapeamento participativo Ocupação Esperança

Fonte: PBH, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 153

Além da questão de escala, havia também dificuldades para compreender os termos técnicos,
como “propostas de vias estruturantes”, “áreas com maior potencial de escorregamento”, “áreas de
interesse ambiental”, “áreas de estudo para equipamentos e reassentamento”. Na lógica da
racionalidade técnica, tais termos estão relacionados à necessidade de realizar ou não obras no local;
porém, do ponto de vista do morador, a preocupação principal era se as manchas representadas no
mapa significavam a expulsão ou a permanência na ocupação, devido às obras de urbanização. Em
um primeiro momento, eles queriam saber se seriam expulsos, quando, como e, em caso afirmativo,
para onde seriam reassentados.

Figura 3 – Encontro dia 19/11/2021 para discutir os mapeamentos participativos da PBH

Fonte: Grupo PEU, 2021.

Os termos técnicos apontados nos mapas são distantes da produção do espaço cotidiano dos
moradores (LEFEBVRE, 1968). Nesse sentido, eles nos requisitavam assessoria técnica também para
questionar a proposta da PBH frente a valores presentes nos territórios que os planos não
consideraram.

6 RECONHECIMENTO DA LINGUAGEM DA AUTOPRODUÇÃO

A partir de levantamento colaborativo11, o projeto PROSA elaborou um inventário das


práticas cotidianas de cuidados ambientais e urbanos, levados a cabo por moradores e lideranças em

11
O levantamento colaborativo foi realizado pelos projetos de extensão PROSA e Regularização Fundiária Plena, com o
auxílio dos moradores das ocupações urbanas e com o apoio dos projetos de extensão França-Brasil (IFMG) e Mais Verde
Mais Vida (UFMG).
EXTENSÃO PUC MINAS:
154 Novo Humanismo, novas perspectivas

microbacias de duas ocupações urbanas: Esperança e Vitória. O levantamento foi coordenado pelos
professores Viviane Zerlotini da Silva na ocupação Vitória, (21/09/21 e 26/10/21) e Eduardo
Bittencourt na ocupação Esperança (21/09/21 e 25/09/21).
Empregou-se a técnica do passeio acompanhado (BECHTEL, 1997), quando moradores das
ocupações urbanas apontavam as práticas de cuidado com o território. As experiências foram
registradas por meio de fotografias e georreferenciadas com o uso do aplicativo de celular Timestamp.
Optou-se por realizar essa verificação em uma microbacia hidrográfica, considerando que os
trabalhos dos moradores contribuem para preservar o ciclo da água, diferente da cidade formal, cujo
processo convencional de urbanização é predatório ao meio ambiente (CARVALHO, 1999). Isso
porque a urbanização do asfalto quebra o ciclo da água ao impedir a recarga do lençol freático em
função das vastas áreas de impermeabilização e da canalização de corpos de água.
Após o levantamento de campo, foram feitos encontros com a equipe AVT para a
sistematização das informações colhidas. Buscou-se a listagem das práticas de cuidado levantadas, a
partir da codificação das falas dos moradores (TAROZZI, 2011), tentando respeitar o vocabulário
empregado por eles. Denominamos essas práticas como: cuidado com a rede de apoio ao território;
cuidado com o relevo; cuidado com o caminho da água da chuva; cuidado com as águas servidas;
cuidado com as águas naturais; cuidado com o esgoto; cuidado com as áreas verdes; cuidado com os
caminhos; cuidado com a produção de alimento; cuidado com o uso coletivo do espaço; cuidado com
a moradia; cuidado com o outro; cuidado com os resíduos; cuidado com a saúde; cuidado com o uso
social da terra; cuidado com a produção de alimento; cuidado com o reuso; cuidado com o
abastecimento de água potável; cuidado com o artesanato; cuidado com as crianças; cuidado com o
jardim; cuidado com as nascentes.
A grandeza do cotidiano a que se refere Lefebvre (1968) nos parece clara. Da categoria de
análise proposta pela PBH "área de interesse ambiental” ao repertório dos moradores, esse é bem
mais rico. O repertório se apresenta como uma variedade de práticas sócio-espaciais (figuras 04 e 05)
e não se restringe a uma única área, já que zonas não podem ser delimitadas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 155

Figura 4 – Inventário das práticas cotidianas de cuidados ambientais - Esperança

Fonte: Grupo PEU, 2021

Figura 5 – Inventário das práticas cotidianas e cuidados ambientais - Vitória

Fonte: Grupo PEU, 2021.

Mesmo realizadas de forma precária, e a partir dessa precariedade mesmo, tais práticas se
referem ao universo de reprodução da vida (LUXEMBURG, 1976 [1912]) e contribuem,
minimamente, para um menor impacto ao meio ambiente, se considerarmos aquele que incide na
cidade formal.
EXTENSÃO PUC MINAS:
156 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção colaborativa do material de formação do PROSA pretende desalienar os


envolvidos da assessoria técnica, de modo que se possa avançar na produção de conhecimento e
ampliação do campo da Arquitetura e Urbanismo, em uma relação mais horizontal entre técnicos
especialistas e autoprodutores do espaço. A proposta é única, ao permitir que o profissional e o
autoprodutor, indistintamente, tenham uma experiência de formação, não segundo a hierarquia
própria da cadeia produtiva e de saberes que marcam a urbanização neoliberal, mas segundo novos
processos de trabalho, novas relações que permitem inclusive a busca e a gestão de recursos para a
sua efetivação. A contribuição está também na reversão de procedimentos de transformação do
território, de relações entre o urbano e o ambiental, o que nos interessa a todos, como habitantes que
somos das cidades e do planeta.

REFERÊNCIAS

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Correia. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010 [1958].
BALTAZAR, Ana Paula; KAPP, Silke. Por uma Arquitetura não planejada: o arquiteto como
designer de interfaces e o usuário como produtor de espaços. Impulso (Piracicaba), v. 17, p. 93-
103, 2006.
BECHTEL R. Environment and Behaviour – an Introduction. Thousand Oaks, California: SAGE,
1997.
BICCA, Paulo. Arquiteto a máscara e a face. São Paulo: Projeto.,1984.
BOURDIEU, Pierre. (2011 [1979-1982]). A Distinção: crítica social do julgamento. Tradução
Daniela Kern; Guilherme J. F. Teixeira. 2.ed. rev. Porto Alegre: Zouk. p. 17-173.
CARVALHO, E. T. Geologia urbana para todos: uma visão de Belo Horizonte. Belo Horizonte:
s.d. 1999. 175p.
FERRO, Sérgio. O canteiro e o desenho. São Paulo: Projeto Editores Associados, 1982.
GUILLERM, Alain; BOURDET, Yvon. Autogestão: uma mudança radical. Rio de Janeiro: Zahar,
1976.
KAPP, Silke; LINO, Sulamita Fonseca. Na Cozinha dos Modernos. Cadernos de Arquitetura e
Urbanismo, v.15, n.16, 1o sem. 2008.
KOWARICK, Lúcio. Viver em Risco: Sobre a Vulnerabilidade Socioeconômica e Civil. São
Paulo: Editora 34, 2009.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 157

LEFEBVRE, Henri. Theoretical problems of autogestion. In: H. Lefebvre. State, Space, World.
(Edited by N. Brenner and S. Elden). Minneapolis: University of Minnesota Press, 2009 [1966]. p.
138-152.
LEFBVRE, Henri. Espacio y Politica. Barcelona: Peninsula, 1976 [1972]
LIMA, F.; DUARTE, F. De L’intervention Comme Conception Organique: Des Dyspositifs De
Participation À L’analyse De L’activité. 2021.
LUXEMBURG, Rosa. A acumulação de capital: estudo sobre a interpretação econômica do
Imperialismo. 2. ed. Rio de janeiro: Zahar Editores, 1976 [1912]. Cap. 1. pp 11-26.
MANZINI, Ezio. Quando todos fazem design: uma introdução ao design para a inovação social.
São Leopoldo: Editora Unisinos, [2015], 2017.
MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro Primeiro. O processo de produção do
capital. Volume 1. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010 [1859].
PUC MINAS – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Instituto de
Ciências Sociais. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Projeto Político Pedagógico. Belo Horizonte,
2008.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão
urbanos. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010 [2001].
TAROZZI, Massimiliano. O que é a Grounded Theory? Metodologia de pesquisa e de teoria
fundamentada nos dados. Petrópolis: Vozes, 2011.
TRAGTENBERG, Maurício. Uma prática de participação: as coletivizações na Espanha
(1936/1939). In VENOSA, Roberto (org.). Participação e participações: ensaios sobre autogestão.
São Paulo: Babel Cultural, 1987.
EXTENSÃO PUC MINAS:
158 Novo Humanismo, novas perspectivas

O ensino em Gestão Empresarial


como agente transformador para estudantes e empreendedores

Lucelia Santos Sousa Gomes1


Alexandra de Oliveira Rodrigues-Marçulo2
Ângelo Quércio Monteiro Gomes3
Aldenise Maicon Moreira4
Amanda Chaves Cezário5

RESUMO
O presente trabalho surgiu com o objetivo de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou
empreendedores individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática para
estudantes. Para alcançar o proposto, o trabalho foi vinculado a um projeto maior, com mesmo foco, onde se propôs a
realizar a oferta de palestras com conteúdos relacionados a gestão empresarial. No geral, usou-se a pesquisa-ação, para
compreender e intervir na situação, e foi realizada através de multitécnicas: análise de ambiente a partir de dados
secundários para que pudesse determinar os temas a serem abordados nas palestras, intervenção com a ministração das
palestras e análise de resultados para aferir a estratégia utilizada. Os resultados foram avaliados pelo número de
participantes, grau de aprendizagem e satisfação, nos levando a perceber impactos positivos. Os participantes
empreendedores nas palestras, em sua maioria, conseguiram estabelecer uma compreensão necessária para que em
momento oportuno coloquem em prática com excelência. Por conseguinte, percebemos que o envolvimento do grupo de
estudantes contribuiu para seu desenvolvimento acadêmico e profissional. O trabalho mostrou-se como uma importante
ferramenta para um empreendedor, fundamentalmente, como uma atividade potencializadora para o ensino da gestão de
negócio.

Palavras-chave: Estratégia. Gestão de negócios. Ensino- aprendizagem.

Teaching Business Management


as a transforming agent for students and entrepreneurs

ABSTRACT
The present work was developed with the objective of improve the business management of micro and small companies
and/or individual entrepreneurs in the State of Roraima and, especially, the teaching and learning of this subject for
students. To achieve the proposed, the work was linked to a larger project, with the same focus, where it was proposed to
offer lectures with content related to business management. In general, action research was used to understand and
intervene in the situation, and it was carried out through multi-techniques: analysis of the environment from secondary
data so that it could determine the topics to be addressed in the lectures, intervention with the of lectures and analysis of

1
Mª. em Saúde Coletiva do Instituto Federal de Roraima. Docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do
IFRR/CBV. E-mail: lucelia.sousa@ifrr.edu.br.
2
Dr.ª em Psicologia Organizacional e do Trabalho do Instituto Federal de Roraima. Docente do Ensino Básico, Técnico
e Tecnológico do IFRR/CBV. E-mail: alexandra.marculo@ifrr.edu.br.
3
Graduando em Ciências Contábeis pela UERR. E-mail: angelogomesrr@gmail.com.
4
Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar do IFRR. E-mail: aldenisemaicon@gmail.com.
5
Técnica em Secretariado pelo IFRR. E-mail: amandachaves199809@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 159

results to assess the strategy used. The results were evaluated by the number of participants, grade of learning and
satisfaction, leading us to perceive positive impacts. Entrepreneurial participants in the lectures, for the most part,
managed to establish a necessary understanding so that at the right time they can put it into practice with excellence.
Therefore, we perceive that the involvement of the group of students contributed to their academic and professional
development. The work proved to be an important tool for an entrepreneur, fundamentally, as a potentiating activity for
the teaching of business management.

Keywords: Strategy. Business management. Teaching-Learning.

INTRODUÇÃO

O período de 2020 a 2021 foi marcado pela pandemia decorrente da COVID-19. O mundo
inteiro sofreu com perdas e mudanças. No empreendedorismo, o fazer gestão com excelência tornou-
se um desafio, ainda mais quando o cenário econômico e social entrou em estado de instabilidade e
incertezas, apresentando riscos de grande impacto para novos entrantes e empresários já atuantes no
mercado. No ensino, enfrentamos, com maior intensidade, a dificuldade de assegurar a formação e a
capacitação dos jovens e adultos no ramo do empreendedorismo. Garantir a permanência e o êxito do
aluno nas instituições de ensino tornou-se pauta ainda mais emergencial. A pandemia potencializou
um cenário de “pedido de socorro” nos principais setores de um país, o que gerou a reflexão e a
criação de inúmeras estratégias que pudessem impulsionar a economia e a educação a um rumo
melhor, neste contexto.
Este trabalho, olhando para o cenário pandêmico, iniciou e se justificou percebendo a
necessidade de se falar em “gestão de negócios”, de gerar esperança e possibilidades para as empresas
que enfrentavam as dificuldades do momento e de instigar nos estudantes o interesse pela temática e
a permanência na academia / escola. Foi, portanto, estruturado como uma estratégia, com o objetivo
geral de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e/ou empreendedores
individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática
para estudantes (jovens e adultos em período escolar/acadêmico ou não). Paralelamente a isso, visa
reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que também atua na extensão e pesquisa,
contribuindo para a sua região. Este trabalho foi vinculado a um projeto maior, com mesmo foco, o
EXTENSÃO PUC MINAS:
160 Novo Humanismo, novas perspectivas

Programa do IF Mais Empreendedor Nacional6 do Instituto Federal de Roraima (IFRR), visando


incluir e contribuir para com seus membros: empreendedores e estudantes extensionistas.
Desse propósito, o trabalho lançou, a partir de uma análise de ambiente, realizada a partir de
dados secundários coletados no Programa do IF Mais Empreendedor Nacional, a realização de um
ciclo de palestras aberto ao público empreendedor e acadêmico, que denominamos de “Ciclo de
Gestão Empresarial”. Esse ciclo pautou-se no ensino de conteúdos relacionados a gestão,
contemplando áreas estratégicas desse meio, identificadas na análise de ambiente, como: gestão
financeira, do cliente, dos processos internos e da aprendizagem e crescimento.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No processo de ensino e aprendizagem, utilizar ferramentas que otimizem e garantam o


estabelecimento de uma didática mais clara e objetiva, é sem dúvida, uma demanda. No campo da
gestão empresarial, acertar em ferramentas que otimizem e garantam o sucesso de um
empreendimento, não é diferente. É por esse motivo que entendemos que se deve incluir, na gestão
de negócios, ações do “ensino” para possibilitar o crescimento e a aprendizagem dos seus
colaboradores.
Segundo Marques e Oliveira (2016), o ensino se refere a transmissão de conteúdos e
conhecimentos. Poderíamos afirmar que se define como a troca de ideias “conscientes”. Conforme
Rangel (2005, p. 24), os métodos de ensino são desenvolvidos com base em princípios e processos
de aprendizagem recorrentes à interação, ao diálogo e à parceria dos alunos. Não é difícil concluir
que o processo de ensino estabelece uma forte necessidade de envolvimento de partes interessadas.
Por conseguinte, na gestão de empresas o “ensinar” é parte integrante de seu sucesso.
Podemos, notoriamente, perceber sua inclusão, por exemplo, no Balanced Scorecard (BSC),
em sua “perspectiva de aprendizagem e crescimento”, a que diz respeito da necessidade de formação

6
O Programa IF Mais Empreendedor foi estruturado para a execução de projetos de extensão tecnológica para o
atendimento, apoio e orientação a Micro e Pequenos Empreendedores e Empreendedores Individuais no momento
pandêmico decorrente da COVID-19. O Programa foi instituído pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
do Ministério da Educação e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais por meio da
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Extensão, Pesquisa, Ensino Profissionalizante e Tecnológico, recebeu adesão
do Instituto Federal de Roraima em 2021, o que ocasionou a reflexão e lançamento de várias ações de ensino e extensão
voltadas para a temática, inclusive, a criação deste trabalho. O Programa incluiu a participação de bolsistas e voluntários
estudantes, docentes e técnicos administrativos da instituição de ensino, bem como parceiros externos à instituição.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 161

e capacitação dos funcionários de um empreendimento. Para compreender melhor sobre BSC, vamos
entendê-lo na abordagem de Moysés Filho et al. (2010), mas antes precisamos abordar sobre os níveis
de trabalho de uma empresa.
Podemos compreender uma empresa em três níveis (estratégico, tático e operacional), o mais
alto deles é o nível estratégico. Este “representa as funções e atividades de tomadas de decisões na
empresa, é onde é desenvolvido o planejamento estratégico”. (SERTEK; GUINDANI; MARTINS,
2007, p. 29). As etapas que constituem um planejamento estratégico apresentam-se de maneiras
diferentes, mas seguem um padrão: tem-se uma etapa para definição do negócio e identidade
organização, outra para análise de ambientes, outra para fixação de estratégias e uma última para
desenvolvimento de um plano ação.
Na abordagem de Moysés Filho et al. (2010), o planejamento estratégico apresenta-se em seis
momentos distintos:

a) Momento 1: Definição do negócio e identidade organizacional: missão, visão e valores;


b) Momento 2: Diagnóstico Estratégico com análise do ambiente externo com uso das
ferramentas: identificação do stakeholders, dos cenários prospectivos, e a avaliação das cinco
forças de Porter;
c) Momento 3: Análise do ambiente interno com uso da ferramenta: Fatores Críticos de Sucesso
– FCS;
d) Momento 4: Análise do ambiente externo e interno na Matriz Swot;
e) Momento 5: Implementação da estratégia e avaliação empresarial com uso do BSC;
f) Momento 6- Desenvolvimento de ferramenta de gerenciamento e controle organizacional: o
Plano de Ação. O BSC, em especial, serve para implantação de estratégia e avaliação de uma
empresa. É uma ferramenta capaz de transformar a identidade organizacional, conciliada aos
interesses dos grupos de interesses e o diagnóstico dos ambientes em: objetivos estratégicos e
indicadores quantificáveis e verificáveis.
g) Esses objetivos perpassam quatro eixos: a (1) perspectiva financeira, a do (2) cliente, a dos
(3) processos internos e da (4) aprendizagem e crescimento da equipe de uma empresa.

Como se vê, investir no ensino não é meramente uma opção na gestão empresarial, é estratégia
na administração de empresas e necessário para alavancar o negócio, principalmente, no cenário de
instabilidade causada pela pandemia decorrente da COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
162 Novo Humanismo, novas perspectivas

Façamos a seguinte reflexão: como é possível garantir um bom atendimento ao cliente quando
este é obrigado a manter o distanciamento social? Ou fazer uma gestão financeira satisfatória em um
momento de riscos econômicos? Ou precificar corretamente um produto inflacionado? Ou entender
as necessidades do cliente que opta no atendimento on-line e não mais na loja física? Ou ainda investir
em novas estratégias? Essas e outras indagações podem ser facilmente respondidas com a assertiva:
por meio do ensino e aprendizagem.
O ambiente empresarial é complexo e dinâmico, e está em constante mudanças. É entendido
como um sistema aberto que sofre interferência do seu meio interno e externo, o que demanda de uma
gestão habilitada e com competências que atendam sua dinamicidade e complexidade (MOYSÉS
FILHO et al., 2010; DECOURT; NEVES; BALDNER, 2012). É aqui que se insere a necessidade da
formação e capacitação, a inclusão do ensino.
O ensino é elo forte para a permanência de uma gestão estratégica solida e eficaz. Pereira,
Silva e Lopes (2014, p. 4) afirmam que o entendimento sobre o ambiente organizacional, bem como
a compreensão sobre as relações entre os planos e práticas que constituem o dia a dia de uma empresa
é necessário para obtenção de benefícios e sustentação de uma vantagem competitiva do negócio. E,
notadamente, esse conhecimento só é possível se houver uma relação bem estabelecida entre a gestão
e o processo de formação / capacitação, obtidos por meio do processo de ensino.

3 METODOLOGIA

Este trabalho teve uma abordagem qualitativa, perpassando a pesquisa-ação, própria para
compreender e intervir na situação, com vistas a modificá-la (SEVERINO, 2007, p. 120). É
importante compreender, para justificar o uso nesse trabalho, que a pesquisa qualitativa permite
“analisar quantitativamente certos tipos de dados qualitativos [...]. Embora seja verdade que a
pesquisa qualitativa geralmente lida com falas ou palavras em vez de números, isso não significa que
seja destituída de mensuração”. (POPE; MAYS, 2009, p.13).
Para aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou empreendedores
individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem dessa temática
para estudantes, de forma a reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que também
atua na extensão e pesquisa, contribuindo para a sua região, organizamos este trabalho sob o tripé:
momento de análise de ambiente, momento de intervenção e momento de análise dos resultados
alcançados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 163

Iniciamos pela análise de ambiente, com a finalidade de perceber como poderíamos, no


contexto pandêmico decorrente da COVID-19, intervir positivamente no ensino e no mercado local.
Este momento consolidou-se com a parceria estabelecida com o projeto vinculado ao Programa do IF
Mais Empreendedor Nacional, do Instituto Federal de Roraima, de onde surgiu a necessidade de se
falar em “gestão de negócios” por meio do ensino (formação e capacitação). Com os resultados na
análise de ambiente, adotamos como intervenção, para alcançar os objetivos estabelecidos, promover
um ciclo de palestras sobre gestão empresarial para empreendedores e estudantes do estado, em que
se pudesse incluir também os empreendimentos e extensionistas do Programa supracitado.
Ressalta-se que na análise de ambiente, voltamos o olhar para dois lados: do empreendedor e
da comunidade interna do IFRR. A análise foi desenvolvida em parceria e com dados já identificados
pelo Programa do IF Mais Empreendedor Nacional do Instituto Federal de Roraima, por meio de uma
matriz swot. Os dados encontrados apontaram fragilidades nos empreendimentos locais para
sobrevivência no momento pandêmico, como: dificuldade em garantir lucro satisfatório, manter e
captar novos clientes, assegurar uma gestão de processos internos eficiente, obedecer a legislação
trabalhista vigente e sustentar a formação dos trabalhadores e o bom relacionamento interpessoal
entre a equipe de trabalho. Paralelamente, constatamos dentro do Programa, por meio da fala dos seus
partícipes (alunos, docentes, técnicos extensionistas e parceiros) o quão responsáveis se sentiam e
necessitados de mais conhecimentos sobre gestão empresarial para o alavancar dos negócios dos seus
empreendimentos assistidos. Isso reafirmou incluir, como importante mediadora, a instituição de
ensino (neste caso, o IFRR) na promoção de instruções sobre gestão de negócios. Esse cenário nos
fez validar, como grupo beneficiário do projeto, o público empreendedor e acadêmico do estado de
Roraima, bem como, empreendedores e estudantes extensionistas do Programa parceiro.
Adiante, para determinar os eixos do ciclo de palestras, decidimos organizá-lo dentro de uma
abordagem estratégica da administração de empresas, por acreditar que assim conseguiríamos
promover um ensino completo sobre como gerenciar e conduzir um negócio para permanecer no
mercado. Estabelecemos, portanto, os eixos pautados nos quatro pilares do Balanced Scorecard: (1)
perspectiva financeira, do (2) cliente, dos (3) processos internos e da (4) aprendizagem e crescimento.
Dentro de cada eixo, determinamos os temas de cada palestra e, consequentemente, a
quantidade necessária. Para determinar os temas e escolher os palestrantes, recorremos aos parceiros
e à análise ambiental, das necessidades percebidas nas empresas assistidas pelo projeto do Programa
do IF Mais Empreendedor Nacional do IFRR, onde conseguimos estabelecer a seguinte estrutura do
ciclo para realização em 2021:
EXTENSÃO PUC MINAS:
164 Novo Humanismo, novas perspectivas

a) Eixo1- Gestão Financeira: ocorreu no mês de setembro, com a oferta de quatro palestras com
as temáticas: 1- Classificação e enquadramento empresarial; 2- Fluxo de Caixa; 3- Custos,
Despesas e destinação do lucro líquido; 4- Como fazer a gestão financeira do seu negócio.
b) Eixos 2 e 3- Gestão dos processos internos do cliente: ocorreu no mês de outubro, com a oferta
de cinco palestras, com as temáticas: 1- Como legalizar a situação trabalhista dos funcionários;
2- Abordagem ao cliente; 3- Precificação de produto; 4- As possibilidades e recursos do
marketing digital; 5- A utilização de plataformas para o marketing digital de uma empresa.
c) Eixo 4- Gestão da aprendizagem e crescimento: ocorreu no mês de novembro, com a oferta
de três palestras com as temáticas: 1- Como entender e atender as demandas do consumidor;
2- Liderança, relações interpessoais, motivação e satisfação na equipe de trabalho; 3- Gestão
estratégica e Planejamento estratégico para alavancar o negócio.

Destaca-se que todos os participantes (palestrantes, equipe envolvida e ouvintes) foram


certificados. Além disso, em decorrência do contexto pandêmico, as palestras foram ministradas via
plataforma Google Meet com duração de uma a duas horas. Elas foram organizadas para ocorrerem
com abertura da sala Meet 30 minutos antes para acolhimento dos participantes e encerradas 30
minutos depois do término, para assistir as demandas dos participantes, como: perguntas, registro de
frequência com avaliação do processo por meio da plataforma Google Forms, sorteio e apoio.
A participação de parceiros, como o Serviço Nacional de Aprendizagem do estado de Roraima
(Senac RR), docentes dos campi do Instituto Federal de Roraima (IFRR), a incubadora de empresa
do IFRR (a Koneka), a diretoria de extensão do campus Boa Vista do IFRR, grupos da sociedade civil
organizada de Roraima e os discursadores das palestras foram norteadores e mediadores no processo
de organização e desenvolvimento de todo o projeto, em especial a oferta do ciclo.
A participação do SENAC RR, por exemplo, nos garantiu apoio na área financeira, nos
direcionando sobre como definir corretamente os temas das palestras da área. Os docentes do IFRR
foram importantes mediadores no apontamento e efetivação do convite realizado aos palestrantes. A
equipe da Koneka forneceu apoio na condução de todas as palestras do ciclo, por acreditar que a ação
poderia contribuir para a construção do conhecimento das suas incubadas, na condição de ouvintes.
Os grupos organizados da sociedade e discursadores nos fez perceber e decidir por deixar o ciclo de
palestras aberto ao público interessado, mesmo com um público alvo previamente estabelecido.
Por meio da diretoria de extensão do Instituto Federal de Roraima, Campus Boa Vista,
conseguimos garantir as inscrições (on-line pela página da instituição) e certificações (via e-mail) em
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 165

cada palestra do ciclo, bem como, a entrega de brindes institucionais aos participantes sorteados e
palestrantes. A entrega ocorreu de forma presencial, em transporte institucional, tomando medidas de
segurança para enfrentamento da COVID-19.
Para acompanhamento e avaliação do trabalho durante a sua execução, os resultados foram
avaliados pelo número de participantes (%), grau de aprendizagem (escala de 8-10) e satisfação
(escala de 0-10) aferidos ao final de cada palestra.
Para garantir resultados positivos com a proposta, estabelecemos como metas:

a) Meta 1- Garantir 100% de presença dos empreendimentos e estudantes do Programa IF Mais


Empreendedor (um total de 13 pessoas) para possibilitar uma capacitação satisfatória. Essa
meta nos fez desenvolver card informativo/lembrete para publicizar a ação nas redes sociais.
b) Meta 2- Alcançar em cada palestra um público médio de ouvintes de 25 pessoas para
possibilitar atender todas a perguntas levantadas durante ou após a palestra. Essa meta nos fez
enviar mensagens de texto, via celular, para todos os inscritos uma hora antes de cada palestra.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Com o objetivo de aperfeiçoar a gestão de negócios das micro e pequenas empresas e /ou
empreendedores individuais do estado de Roraima e, sobretudo, permitir o ensino e a aprendizagem
dessa temática para estudantes e reafirmar o papel da instituição de ensino como organização que
também atua na extensão e pesquisa, contribuindo para a sua região, desenvolvemos o “ciclo de
gestão empresarial”, com oferta de palestras que subsidiaram o tema. Essa iniciativa, definimos como
uma estratégia ao analisarmos os referenciais teóricos: Rangel (2005) e Marques e Oliveira (2016).
Os autores afirmam que o ensino gera conhecimento e permite entre os envolvidos troca de saberes.
Os resultados desse trabalho permearam tal afirmativa.
Para cada palestra ministrada dentro do ciclo, esperávamos ter 100% de presença dos
empreendimentos e estudantes do Programa IF Mais Empreendedor para possibilitar uma capacitação
satisfatória. No entanto, não conseguimos alcançar este resultado. Os empreendedores apresentaram
dificuldade em participar de todas as palestras, por causa de suas agendas; no entanto, das que
participaram, constatamos um retorno positivo. Os empreendedores conseguiam absorver o conteúdo
ministrado, contribuindo com relato de experiências e levantamento de perguntas pertinentes, que
possibilitou, inclusive, o engajamento dos demais participantes no momento das perguntas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
166 Novo Humanismo, novas perspectivas

Percebemos que a participação dos empreendedores nas palestras contribuiu de forma significativa
para o alcance dos objetivos do trabalho. Os estudantes, inclusive, conseguiam correlacionar as falas
das palestras com a realidade do mercado ao ouvir os relatos.
A estratégia utilizada, de envolver em uma única ação, empreendedores e estudantes para o
ensino sobre “gestão empresarial”, nos fez considerar o método válido e adequado para efetivação
em outros momentos, precisando apenas encontrar novos meios para garantir uma participação maior
de empreendedores. Embora tenhamos um ponto negativo nesse processo, a participação dos
estudantes foi marcante em todas as palestras, fazendo delas momentos representativos de troca de
conhecimento, como constatamos na obra de Rangel (2005), em que se afirma que a aprendizagem é
decorrente, inclusive, da interação, do diálogo e da parceria dos alunos.
Destaca-se que, por entendermos que poderia ser um desafio ofertar um ciclo de palestras,
organizado para ocorrer de forma on-line e com duração de três meses, em um momento crítico da
sociedade decorrente da pandemia, abrimos 50 vagas para inscrição para o público-alvo em cada
palestra, na expectativa de alcançar as metas estabelecidas. As cinquentas vagas foram preenchidas
em quase todas elas, mas não conseguimos garantir a presença de todos. Não avaliamos o motivo da
não presença de todos os inscritos, mas acreditamos que pode estar relacionado a dois pontos
principais: (1) ao sinal de internet, que não é estável no estado de Roraima em todas as regiões do seu
território; aos horários que ocorreram as palestras, não seguindo um horário fixo (algumas ocorreram
de manhã, outras de tarde e outras à noite, em conformidade com a agenda dos palestrantes.).
O sinal de internet, por exemplo, causou alteração nas datas e horários das ofertas de algumas
palestras ocorridas em dias chuvosos e dias de instabilidade do sinal no estado. Dos turnos, não
podemos afirmar que foi determinante para a presença do público, mas podemos dizer que das cinco
palestras ofertadas a noite, somente duas não alcançaram o quantitativo-alvo de público. Das cinco
ofertadas a tarde, três não alcançaram o número alvo de público. Das duas ofertadas pela manhã, uma
não alcançou a meta de quantitativo de público.
No geral, percebemos que as palestras relacionadas ao marketing e gestão financeira de um
negócio foram as mais procuradas pelo público-alvo, um achado que explicitaremos com mais detalhe
ao correlacionarmos os resultados das tabelas 1, 2 e 3.
Esperávamos alcançar em cada palestra um público médio de ouvintes de vinte e cinco (25)
pessoas, o que conseguimos em 50% das palestras, como se vê abaixo (tabela 1):
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 167

Tabela 1- Número de pessoas em cada palestra do ciclo de gestão empresarial


Eixo1- Gestão Financeira
No turno vespertino No turno noturno No turno noturno No turno vespertino

- Palestra 1: - Palestra 3: - Palestra 4:


- Palestra 2:
Classificação e enquadramento Custos, Despesas e destinação Como fazer a gestão financeira do
Fluxo de Caixa
empresarial do lucro líquido seu negócio
- 35 pessoas presentes
- 18 pessoas presentes - 26 pessoas presentes - 31 pessoas presentes
- 53 inscritos
- 43 inscritos - 50 inscritos - 56 inscritos

Eixo 2 e 3- Gestão dos processos internos do cliente


No turno matutino No turno noturno No turno vespertino No turno matutino No turno vespertino
- Palestra 9:
- Palestra 5: - Palestra 8:
A utilização de
Como legalizar a situação - Palestra 6: Abordagem - Palestra 7: As possibilidades e
plataformas para o
trabalhista dos ao cliente Precificação de produto recursos do marketing
marketing digital de
funcionários digital
uma empresa
- 23 pessoas presentes - 16 pessoas presentes
- 11 pessoas presentes - 47 inscritos - 60 inscritos - 28 pessoas presentes
- 25 pessoas presentes
- 42 inscritos - 47 inscritos
- 74 inscritos
Eixo 4- Gestão da aprendizagem e crescimento
No turno noturno No turno noturno No turno vespertino

- Palestra 11:
- Palestra 10: - Palestra 12:
Liderança, relações interpessoais,
Como entender e atender as Gestão estratégica e Planejamento estratégico para
motivação e satisfação na equipe de
demandas do consumidor alavancar o negócio
trabalho
- 36 pessoas presentes - 17 pessoas presentes
- 18 pessoas presentes
- 54 inscritos - 87 inscritos
- 74 inscritos

Fonte: Autoria própria, 2022.

Percebemos que a estratégia utilizada, enviar mensagens de texto, via celular, para todos os
inscritos uma hora antes de cada palestra, garantiu, parcialmente, atingir a meta estabelecida de
número de participantes por palestra. Notamos um achado significativo, nas palestras proferidas por
profissionais com alto engajamento nas mídias sociais e meio acadêmico, atingimos um número
maior de participantes, o que nos fez compreender que o processo de ensino, realizado por meio de
evento, como a oferta de um ciclo de palestra, pode aumentar a presença do público, quando há a
participação de profissionais com presença marcante no mercado. Correlacionamos esse achado com
conteúdo da área do marketing.
Encontramos na obra Kotler, Shalowitz e Stevens (2010, p. 440), autores clássicos sobre o
assunto, que “o sucesso de um evento é imprevisível”. Além disso, denominam a participação de
pessoas de “renome” em um evento, como “vantagem potencial”, uma forma de provocar no público-
alvo interesse pelo produto/serviço oferecido. Isto posto, são fortes estratégias para aumentar o
EXTENSÃO PUC MINAS:
168 Novo Humanismo, novas perspectivas

público em uma ação, como a que propomos, incluir práticas planejadas da área do marketing.
Ambrósio (2012. p. 13) em sua obra sobre “Plano de Marketing: um roteiro para ação”, já dizia: “são
os detalhes que fazem a diferença e levam um produto ao sucesso.”
Para verificação do quanto o público absorveu o conteúdo apresentado, aferimos por meio de
uma escala de 8 a 10 com as afirmativas (Quadro 1):

Quadro 1- Escala utilizada para aferição do quanto o público


absorveu o conteúdo nas palestras ministradas no ciclo gestão empresarial
8- Pouco entendi dos conteúdos e orientações apresentadas.

9- Entendi os conteúdos e orientações apresentadas, mas não conseguirei aplicá-los.

10- Entendi os conteúdos e orientações apresentadas e tentarei aplicá-los.


Fonte: Autoria própria, 2022.

Os resultados (Tabela 2) apontaram que o público, em sua maioria, entendeu os conteúdos e


orientações apresentadas, concordando em tentar aplicar o apreendido.

Tabela 2 – grau de absorção dos conteúdos apreendidos pelos ouvintes


das palestras do ciclo de gestão empresarial

Palestras 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Nota 8 5,55% 0% 0% 0% 0% 4,4% 0% 7,1% 0% 0% 0% 0%

Nota 9 5,55% 22,9% 17,9% 22,6% 36,4% 21,7% 12,5% 10,8% 4% 19,4% 22,2% 0%

Nota 10 88,9% 77,1% 82,1% 77,4% 63,6% 73,9% 87,5% 82,1% 96% 80,6% 77,8% 100%

Fonte: Autoria própria, 2022.

Ao planejarmos o ciclo, denominamos assim, para garantir ao público-alvo, o ensino completo


sobre como gerenciar e conduzir um negócio, ofertando, portanto, palestras “planejadas”, com temas
que permeiam a gestão de uma empresa. Notamos nisso, um segundo ponto importante, as palestras
que mais captaram público foram as relacionadas aos temas sobre gestão financeira e marketing de
um negócio.
Ao correlacionarmos o achado com o grau de absorção dos conteúdos ministrados, como
apresentado na Tabela 2, percebemos que esses temas, uma parcela do público, de mais ou menos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 169

20%, tem dificuldade de pôr em prática, mesmo compreendendo o assunto. A parcela maior não
apenas compreendeu o assunto, como ficou satisfeito com o exposto (como expõe a Tabela 3), ficando
aptos para pôr em prática.
O interesse maior, pelas palestras supracitadas, podemos dizer, que pode estar relacionado ao
momento pandêmico, o ciclo foi realizado no segundo ano da pandemia, decorrente da COVID-19,
ocasião que o comércio e as instituições de ensino pararam suas atividades comuns, obrigando-os a
adotarem estratégias para superarem os impactos negativos do período. Surgiu uma preocupação
maior com a chamada gestão financeira dos empreendimentos e, consequentemente, culminou no
investimento de novas ações de marketing, como revela o estudo de Silva, Silva e Oliveira (2021)
realizado em meio a pandemia. Os autores perceberam que as empresas precisaram realizar
adaptações em seus negócios para prosseguirem com um fluxo de caixa satisfatório, e um grande
aliado para esse momento foi o uso das ferramentas de Marketing. Castro et al. (2021) apontou o
mesmo, ao afirmar que o impacto financeiro nos negócios, fizeram as empresas intensificarem as
ações de marketing para manterem-se no mercado.
Ressalta-se que os dois trabalhos mencionados são alguns de tantos desenvolvidos, por meio
de instituições de ensino no período pandêmico. As instituições de ensino entraram como peça-chave,
na pesquisa e na extensão, para encontrar e auxiliar alternativas que favorecessem a população. O
IFRR, por exemplo, foi espaço de diversos projetos e ações de extensão com esse fim. Na adesão do
Programa IF Mais Empreendedor Nacional 2021, todos os campi (5 unidades) da rede atenderam a
empreendimentos de sua comunidade, garantindo suporte em gestão e marketing para um total de 25
empresas, de forma on-line. Paralelamente a isso, o IFRR iniciou na pandemia o processo de
incubação de empresas, como ação de intervenção no mercado e investimento no ensino e
aprendizagem dos seus alunos. O ciclo de gestão empresarial, foi também uma ação de extensão do
instituto que, conseguiu captar um total de 284 participantes, entre estudantes, empreendedores,
docentes e interessados pelo assunto.
Por conseguinte, observamos, em especial, que a palestra 5, que abordou sobre direito
trabalhista, foi a que apresentou menor presença do público, mas foi a que contou com a maior
participação do público no ato das perguntas. Nessa foi notório que, sobre o tema “legalização do
trabalhador”, o público compreende, mas ainda com dificuldade de pôr em prática. As perguntas
levantadas na palestra estavam relacionadas a mão de obra terceirizada, não registrada em regime de
consolidação das leis do trabalho (CLT), como por exemplo a função de motoboy. Registra-se aqui
EXTENSÃO PUC MINAS:
170 Novo Humanismo, novas perspectivas

que essa função foi uma das que mais cresceram7 na pandemia, visto que o distanciamento social foi
necessário e as lojas físicas transferiram a entrega de seus produtos pelo chamado delivery (tele-
entrega).
Costa (2020, p.1) registrou em seu estudo intitulado “Força de trabalho, delivery e a pandemia
de COVID-19”, que “frente à necessidade do [...] isolamento, os aplicativos de delivery [...]”
apresentaram-se “como uma solução para os consumidores e estabelecimentos”. “Do outro lado, os
entregadores” seguiram “circulando pelas ruas das cidades em suas motos, bicicletas ou patinetes e
sem nenhuma garantia, direito ou estabilidade”. Tal realidade é mencionada no trabalho de Manzano
e Krein (2020) como condições de trabalho precárias.
Mesmo com baixa adesão do público na palestra aqui mencionada, as questões relacionadas à
função do motoboy foram extensamente discutidas entre os participantes, gerando perguntas,
exposição de relatos de experiências e, em especial, o que esperávamos, o aperfeiçoamento dos
conhecimentos sobre gestão empresarial, mediada pela técnica usada, ensino.
Por fim, a partir de uma escala de 0 a 10, avaliamos o quanto o público das palestras ficou
satisfeito (Tabela 3), sob dois aspectos: de 0 a 10, quanto ficaram satisfeitos com os conteúdos
explanados nas palestras; de 0 a 10, quanto recomendaria nossa ação a um amigo ou familiar.

Tabela 3 – Grau de satisfação dos ouvintes das palestras do ciclo de gestão empresarial
Palestra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Quanto recomendaria [...] Quanto ficou satisfeito [...]

0 10,5%

5 3,6% 3,2% 8,7% 4%


6 3,2% 12,5% 7,1% 5,6% 5,6%
7 2,7% 3,2% 4,3% 3,6% 8%
8 13,5% 3,6% 3,2% 8% 5,6% 5,6% 5,9%
9 26,3% 10,8% 7,1% 12,9% 9,1% 13% 12,5% 3,6% 4% 2,8% 11,8%
10 73,7% 73% 75% 74,2% 90,9% 73,9% 75% 85,7% 76% 83,3% 88,9% 82,4%

5 3,6% 8,7% 3,6% 4% 5,6%


6 5,6%
7 2,5% 6,5% 4,3% 6,3% 7,1% 4% 5,6%
8 13,5% 14,3% 6,5% 6,3% 2,8% 11,8%
9 10,5% 13,5% 14,3% 9,7% 9,1% 13% 12,5% 7,1% 16% 2,8%
10 89,5% 70,3% 67,9% 77,4% 90,9% 73,9% 75% 82,1% 76% 83,3% 94,4% 88,2%
Fonte: Autoria própria, 2022.

7
Manzano e Krein em estudo realizado em 2020 constaram ao analisar dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) – IBGE que os condutores de motocicleta, decorrente dos trabalhos de transporte por aplicativo,
aumentaram expletivamente em uma análise histórica verificada de 2016 a 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 171

Pelos dados apresentados na tabela 3, onde se revelou que a maior parcela do público se
mostrou satisfeito com as palestras proferidas, finalizamos o trabalho considerando que a ação de
intervenção sobre a gestão empresarial foi bem aceita pelo público-alvo, evidenciando, sobretudo,
que os eixos estabelecidos, pautado na abordagem do BSC (mencionados na obra de Moysés Filho et
al., 2010) para organização do ciclo de palestras atenderam o proposto. Além disso, encerramos
entendendo que, na gestão de negócios, as temáticas de maior interesse do público-alvo são sobre
marketing e gestão financeira (palestras 2, 3, 4, 7, 8 e 9), abordadas no ciclo, que garantiram maior
participação e uma boa satisfação (70% a 80% de satisfação e recomendação). Notadamente, as
palestras que tiveram a participação marcante do público no expor relato de experiências foram as
que mais promoveram diálogo entre os participantes e, consequentemente, maior satisfação, caso
ocorrido, com maior destaque, na palestra 5, sobre legalização da situação trabalhista dos funcionários
(90,9% de satisfação e recomendação). Apesar de essa palestra ter obtido uma baixa adesão de
inscritos e participantes, salientamos que a sua temática se mostrou pouco procurada para fins de
estudo, mas de enorme valia para se proferir, pois o público presente se apresentou pouco conhecedor
do conteúdo e surpreso pelos conteúdos apreendidos, desconhecedor de muitas normas sobre direitos
e deveres trabalhistas.
Por fim, os resultados expostos reiteram a importância desse projeto, que ora apontou
fraquezas no processo de gestão organizacional nos mais diversos segmentos, e nesse sentido, as
práticas executadas para o alcance dos objetivas previamente propostos mostrou-se satisfatórios no
atendimento as necessidades do público-alvo.
Reforçamos a relevância desse trabalho por ter caminhado dentro de um contexto atípico da
história da sociedade e na busca de servir como suporte para empreendedores e estudantes, e
sobretudo, por colocar a instituição de ensino como mediadora, como aquela que busca cumprir com
suas responsabilidades sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho mostrou-se como uma importante ferramenta para um empreendedor,


fundamentalmente, como uma atividade potencializadora para o ensino da gestão de negócio.
Paralelamente, destaca-se que este trabalho teve forte ação extensionista, porque na sua execução,
também, incluiu a participação dos estudantes e voluntários vinculados ao Programa IF Mais
Empreendedor, garantindo experiência prática dos conteúdos estudados no ambiente acadêmico.
EXTENSÃO PUC MINAS:
172 Novo Humanismo, novas perspectivas

Encerramos o projeto certos de que conseguimos causar uma transformação no processo de


formação acadêmica e profissional dos estudantes envolvidos. Suas indagações, reflexões e feedback
da ação evidenciaram que houve um impacto positivo sobre seus saberes e que possibilitamos uma
visibilidade sobre a realidade e possibilidades do mercado empresarial.
A proposta serviu como ação aperfeiçoadora para a gestão de negócios das micro e pequenas
empresas e /ou empreendedores individuais do estado de Roraima, de forma a auxiliá-los a superarem
os impactos sofridos na pandemia decorrente da COVID-19, e reforçou a importância do
envolvimento de uma instituição de ensino nesse processo.
Conseguimos, com sucesso, iniciar e concluir o “plano metodológico” ministrando um
verdadeiro ciclo para suporte sobre como conduzir um empreendimento, com a ministração de
palestras com conteúdos relacionados a gestão empresarial, contemplando áreas estratégicas desse
meio, como: gestão financeira, do cliente, dos processos internos e da aprendizagem e crescimento
de um negócio. De forma reflexiva, a ação, como um todo, alcançou a satisfação e o envolvimento
dos seus participantes na prática do ensino.
Tão logo possível, pretendemos ampliar os frutos desse trabalho, que foi bem aceito pela
comunidade acadêmica e empreendedores locais, como se pôde ver na avaliação realizada pelo
público beneficiado. Almejamos transformar em e-book os conteúdos abordados no ciclo e disseminar
para a comunidade empreendedora assistida pelo Instituto Federal de Roraima, por meio da sua
incubadora de empresas.

REFERÊNCIAS

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EXTENSÃO PUC MINAS:
174 Novo Humanismo, novas perspectivas

Programação em blocos e o desenvolvimento do pensamento computacional:


um estudo de caso do Beira Linha1

Alice Cabral de Avelar Marques2


Juliana Silvestre da Silva3
Sandra Maria Silveira4

RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo de caso das oficinas de Iniciação à Programação do Projeto de Extensão Beira
Linha, no primeiro semestre de 2021. Tendo em vista a importância do desenvolvimento do pensamento computacional,
o artigo pretende analisar os impactos da programação em blocos para o desenvolvimento desse tipo de pensamento. Para
isso, foi realizada uma pesquisa que possibilitou a análise de quais habilidades do pensamento computacional foram
plenamente desenvolvidas pelos beneficiários inscritos no curso. Ao final, discute-se os resultados obtidos e traça-se um
paralelo entre o pensamento computacional e as ferramentas de programação em blocos.

Palavras-chave: Pensamento computacional. Programação em blocos. Projeto de extensão. Inclusão digital.

Block-based coding and developing computational thinking:


a case study of Beira Linha

ABSTRACT
The article presents a case study of the Introduction to Programming orkshops of the 2021 edition of the ‘Beira Linha
Extension Project’. Considering the importance of developing computational thinking, the article intends to analyze the
impacts of block-based coding for the development of this type of thinking. Therefore, a survey was carried out that
enabled the analysis of which computational thinking skills were fully developed by the beneficiaries enrolled in the
course. At the end, we discuss the results obtained are discussed and a parallel is traced between computational thinking
and block programming tools.

Keywords: Computational thinking. Block-based coding. Extension project. Digital inclusion.

1
Financiado pela PROEX – PUC Minas.
2
Alice Cabral de Avelar Marques, monitora, aluna do curso de Ciência da Computação, PUC Minas Coração Eucarístico.
E-mail: alicecamarques@gmail.com.
3
Juliana Silvestre da Silva, monitora, aluna do curso de Ciência da Computação, PUC Minas Coração Eucarístico. E-
mail: juliana.silvestresilva@hotmail.com.
4
Sandra Maria Silveira, Me, professora do curso de Sistemas de Informação, PUC Minas São Gabriel. E-mail:
silveirasandra@pucminas.br
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 175

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea, permeada em todas as suas esferas pelo uso das tecnologias da
informação e comunicação (TIC), vê-se na necessidade de se reinventar constantemente e se adequar
às mudanças, principalmente para se manterem relevantes no mercado, deparando-se com muitos
desafios para o desenvolvimento de novas habilidades.
O Fórum Mundial Econômico desenvolveu o relatório The Future of Jobs 2020, sobre o futuro
das profissões e as habilidades fundamentais para um bom profissional do futuro, tais como inovação,
criatividade, iniciativa, inteligência emocional, entre outras. Dentre essas habilidades, há o
pensamento computacional, que engloba não apenas a programação, mas também competências como
pensamento crítico e capacidade de abstrair e resolver problemas, que podem ser aprendidas por
qualquer um, não apenas profissionais da área de tecnologia da informação.
Neste cenário, este artigo pretende responder à seguinte pergunta: Quais são os impactos de
desenvolver aplicações em ferramentas de programação em blocos para o aprendizado do pensamento
computacional? Desse modo, o objetivo deste estudo constitui-se em analisar os impactos da
programação em blocos para o desenvolvimento do pensamento computacional, através do estudo de
caso do projeto Beira Linha da PUC Minas. Pretende-se apontar a importância do desenvolvimento
do pensamento computacional, descrever as ferramentas de programação em blocos, identificar a
correlação entre a programação em blocos e o desenvolvimento do pensamento computacional e
relatar a experiência do projeto Beira Linha desenvolvida no primeiro semestre de 2021.
Como estudantes do curso Ciência da Computação e monitoras da oficina de Iniciação à
Programação do projeto trabalhando em conjunto com a coordenadora do projeto a fim de definir um
planejamento para as oficinas, questionou-se sobre a efetividade da aprendizagem de programação
através de ferramentas que utilizam código e ferramentas de programação em blocos. Outro fator
direcionador foi identificar como melhor incentivar o pensamento computacional, utilizado em áreas
além da computação, nos alunos.
A partir desses motivos, foi percebida uma escassez de trabalhos que correlacionam o
pensamento computacional e as plataformas de programação em blocos, como é mencionado pelos
autores Cavalcante, Costa e Araújo (2016):

Apesar do grande número de usuários das plataformas de programação em blocos, são poucas
as pesquisas nacionais sobre as vantagens do ensino de programação ofertada pela plataforma
EXTENSÃO PUC MINAS:
176 Novo Humanismo, novas perspectivas

[Dantas e Costa, 2013]. Sobretudo, são escassos os trabalhos que apontam evidências sobre
o estímulo do pensamento computacional por meio dos cursos dessas plataformas.
(CAVALCANTE; COSTA; ARAÚJO, 2016, p.1118).

A seguir, é apresentado o referencial teórico no qual este artigo se baseou. A Seção 3 traz a
metodologia utilizada, a Seção 4 discute a análise de resultados a partir do desenvolvimento do
pensamento computacional no projeto Beira Linha. E, por fim, na Seção 5, conclui-se este estudo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A fim de compreender o processo de desenvolvimento do pensamento computacional é


necessário compreender o pensamento computacional e as ferramentas de programação em blocos,
bem como articulá-los.

2.1 Pensamento Computacional

Com a evolução tecnológica, principalmente no século XXI, em que as tecnologias de


informação e comunicação (TIC) começaram a ser usadas de forma massiva, surge a discussão sobre
o pensamento computacional, que é a discussão sobre como os profissionais relacionados a essa área
pensam para resolver problemas. A partir disso, é válido iniciar a discussão citando a professora de
Ciência da Computação na Universidade de Carnegie Mellon, Jeannette M. Wing, que intensificou o
interesse no tema do pensamento computacional e “mobilizou recursos para levá-lo para as escolas
de ensino fundamental e médio, incentivando pesquisadores de todo o mundo a iniciarem
experimentos nesta área” (GUARDA; PINTO, 2020, p.3).
Wing (2016) diz que o pensamento computacional é uma atitude e um conjunto de habilidades
universalmente aplicáveis que todos, não apenas cientistas da computação, estariam ansiosos para
aprender e usar. Sendo assim, é possível dizer que o pensamento computacional é um conjunto de
técnicas e ferramentas da Ciência da Computação que podem ser usadas na resolução de problemas
nas diversas áreas do conhecimento. “É uma forma de aplicar conceitos trabalhados na computação,
mas que não são exclusivos somente desta área, pois podem ser aplicados na resolução de problemas
dos mais variados campos do saber”. (CAVALCANTE; COSTA; ARAÚJO, 2016, p.1117).
Apesar de muitos autores discutirem o pensamento computacional, ainda não há um consenso
sobre suas dimensões. Este estudo trabalhou com a abordagem de Gretter e Yadav (2016) que, ao
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 177

descreverem o pensamento computacional, incluem os conceitos fundamentais da Ciência da


Computação e as habilidades necessárias para a abstração, decomposição, reconhecimento de padrões
e pensamento algorítmico.
De acordo com Gretter e Yadav (2016), a habilidade de abstração se caracteriza como uma
redução de informação para focar em detalhes relevantes, ou seja, ela diz respeito a uma capacidade
de simplificação dos problemas, ignorando detalhes irrelevantes para a solução, e escolhendo os
aspectos certos para resolver os problemas da maneira mais fácil. Já a habilidade de decomposição
consiste em dividir um problema maior em partes menores, de forma que as partes do problema
possam ser resolvidas mais facilmente para, em seguida, obter uma resposta do problema maior. O
reconhecimento de padrões está associado ao fato de se conseguir descrever o que irá acontecer
posteriormente com base em eventos anteriores, ou seja, à capacidade de identificar padrões e
similaridades. E, por fim, a quarta dimensão do pensamento computacional é o pensamento
algorítmico, que se refere à capacidade de resolver problemas por meio de uma sequência finita de
passos e regras.

2.2 Ferramentas de Programação em Blocos

As ferramentas de programação em blocos permitem a criação de programas utilizando uma


metodologia visualmente amigável e com objetivo prático para o ensino dos conceitos iniciais de
programação e o desenvolvimento do pensamento computacional, permitindo assim que o usuário
adquira a capacidade de pensar logicamente e criar estruturas que resultarão em um programa com
início, processos e resultados.
Algumas das ferramentas de desenvolvimento em blocos mais famosas são o Blockly, o MIT
App Inventor, o Code.org e o Scratch, o qual foi escolhido para o desenvolvimento dos projetos nas
oficinas de Iniciação à Programação do projeto Beira Linha, no primeiro semestre de 2021. O Scratch
é uma plataforma on-line gratuita de programação em blocos desenvolvida pelo grupo Lifelong
Kindergarten da universidade americana MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Projetado
inicialmente para as idades entre 8 e 18 anos, essa plataforma tem como objetivo permitir o
desenvolvimento da lógica de programação e do pensamento computacional, por meio da introdução
de noções de programação. Atualmente, o Scratch é utilizado em mais de 150 países e está disponível
EXTENSÃO PUC MINAS:
178 Novo Humanismo, novas perspectivas

em mais de 60 idiomas para pessoas de todas as faixas etárias que através dessa ferramenta aprendem
a pensar de forma criativa, trabalhar em equipe e pensar sistematicamente (FUNDAÇÃO SCRATCH,
2007).
No Scratch, os blocos são as ferramentas que substituem as linhas de códigos escritas em uma
linguagem de programação usual, passando a ter formatos e cores específicas que remetem a função
de cada bloco. Portanto, para criar um programa basta combinar os blocos, organizá-los em uma
sequência lógica e ver o resultado acontecendo na tela do computador. Além disso, os projetos são
compostos por um palco e vários objetos, chamados de atores. O palco corresponde ao plano de fundo
onde serão executadas as ações de cada ator, que por sua vez podem estar associadas a sons, imagens
e variáveis. Para definir a ação dos atores basta arrastar os blocos de comandos e encaixá-los uns aos
outros, como peças de um quebra-cabeça, a fim de definir a ordem de execução do programa de
maneira lógica.

2.3 Trabalhos Relacionados

Atualmente, inúmeros estudos têm se desenvolvido a fim de demonstrar as possibilidades e a


necessidade de inserção de conceitos de computação na educação básica. Tendo isso em vista, foram
encontrados, na literatura nacional, três estudos com objetivos similares ao deste trabalho, dois deles
utilizando a plataforma Scratch como objeto de estudo e outro utilizando a plataforma Code.org,
também de programação em blocos.
Cavalcante, Costa e Araújo (2016) realizaram um estudo de caso sobre as competências do
pensamento computacional estimuladas em um curso de introdução à programação da plataforma
Code.org. Para isso, os autores se basearam nos conceitos de pensamento computacional de Wing
(2006) e utilizaram um framework que avalia competências do pensamento computacional no
contexto de ambientes de programação em blocos, proposto por Brennan e Resnick (2012). Esse
framework é dividido em conceitos computacionais (sequência, repetição, eventos, paralelismo,
condicionais, operadores, dados), práticas computacionais (iterativo e incremental, teste e depuração,
reuso e formulação, abstração e modularização) e perspectivas computacionais (se expressar, se
conectar, se questionar), e cada um desses elementos é analisado e avaliado a partir das atividades do
curso.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 179

Os resultados do trabalho de Cavalcante, Costa e Araújo (2016) mostram quais as


competências relacionadas aos conceitos, práticas e perspectivas computacionais que puderam ser
encontradas no curso da plataforma Code.org:

Os conceitos computacionais puderam ser identificados ao longo das etapas do curso.


Todavia, não localizamos operadores de estruturas matemáticas e de lógica booleana. As
práticas computacionais foram identificadas, dando destaque ao reuso e modularização.
Essas práticas estão relacionadas à utilização de estratégias de resolução semelhantes para
problemas semelhantes, adaptando-as quando necessário. Já as perspectivas computacionais
não foram observadas, pois necessita de dados coletados durante a execução do curso,
fugindo do escopo inicial da pesquisa. (CAVALCANTE; COSTA; ARAÚJO, 2016, p.1125-
1126).

A fim de propor uma metodologia de ensino para o desenvolvimento do pensamento


computacional entre adolescentes da educação básica, França e Amaral (2013) elaboraram uma
oficina de programação em blocos. O trabalho desenvolvido utilizou a ferramenta Scratch e teve
como objetivo avaliar quais conceitos e práticas computacionais são desenvolvidas através do uso
dessa ferramenta. Para isso, os autores elaboraram uma série de estratégias e desafios que
possibilitaram a análise de quais as habilidades estavam sendo desenvolvidas pelos alunos, também
tendo como base o framework de Brennan e Resnick (2012). Ao final da oficina proposta, França e
Amaral (2013) concluíram que, por meio dos projetos desenvolvidos, foi possível demonstrar a
competência adquirida nos conceitos computacionais e a plataforma Scratch mostrou-se eficaz na
disseminação do pensamento computacional.
Por fim, Ramos e Teixeira (2015) realizaram uma análise de um minicurso sobre Scratch e
desenvolvimento de jogos, oferecido a alunos do ensino médio. O objetivo principal do trabalho foi
analisar o desempenho desses estudantes com práticas que exploram o pensamento computacional
com o Scratch, por meio da teoria de Aprendizagem Significativa (AS), a qual é representada pela
interação cognitiva existente entre um conhecimento prévio e um novo conhecimento. A partir disso,
os autores dissertam que:

A realização da oficina sobre Scratch com os alunos do Ensino Médio, evidenciou o quanto
os conceitos computacionais, e ainda, conceitos da matemática podem ser facilmente
aprendidos quando essa aprendizagem ocorre de forma significativa, pois a interação com a
linguagem de programação do Scratch provoca no sujeito a organização do seu pensamento
amparado em noções subsunçoras num processamento de significação do conhecimento a ser
construído. (RAMOS; TEIXEIRA, 2015, p.221).

O presente artigo pretende abordar um tema semelhante ao dos estudos selecionados, sendo
constituído em volta do desenvolvimento do pensamento computacional e das ferramentas de
EXTENSÃO PUC MINAS:
180 Novo Humanismo, novas perspectivas

programação em blocos. Assim como dois dos trabalhos apresentados acima, este estudo também
utilizou a plataforma Scratch, porém, ele se diferencia no modelo de avaliação do pensamento
computacional, no qual foi utilizado o modelo de Gretter e Yadav, e os outros autores trabalharam
com a abordagem de Brennan e Resnick.

3 METODOLOGIA

Para obter os resultados e respostas acerca da problematização apresentada no presente artigo,


foi realizada uma pesquisa aplicada com objetivo descritivo e explicativo.
Inicialmente, a fim de relacionar as ferramentas de programação em blocos com o
desenvolvimento do pensamento computacional, foi realizado o levantamento do referencial teórico
em portais como o SBIE (Simpósio Brasileiro de Informática na Educação) considerando os últimos
5 anos. Dessa maneira, foi feita uma pesquisa com o intuito de identificar as habilidades e
competências do pensamento computacional e foram selecionados trabalhos relacionados com
objetivos semelhantes aos do presente artigo.
Com o objetivo de analisar o desenvolvimento do pensamento computacional através da
programação em blocos, foi realizado o estudo de caso do projeto Beira Linha por meio de um
questionário de caráter quantitativo. A elaboração do questionário visou permitir uma avaliação a
respeito de quais habilidades do pensamento computacional foram desenvolvidas pelos alunos ao
longo das oficinas de Iniciação à Programação. Para isso, foram elaboradas perguntas relacionadas à
aplicação de cada um dos pilares do pensamento computacional (abstração, decomposição,
pensamento algorítmico e reconhecimento de padrões) na programação em blocos, possibilitando
assim a identificação de quais desses foram plenamente desenvolvidos.
A aplicação do questionário ocorreu entre os dias 16 e 23 de julho de 2021, após a conclusão
do curso de Iniciação à Programação do primeiro semestre do mesmo ano. O questionário foi enviado
pelo WhatsApp a cada um dos 12 alunos, e foram recebidas 11 respostas, o que totalizou um índice
de respostas de 91,7% dos participantes. Através da primeira pergunta do questionário foi possível
realizar uma análise de acordo com a faixa etária dos beneficiários e, dessa maneira, constatamos que
1 aluno possuía entre 10 e 14 anos, 7 alunos estavam na faixa entre 15 e 19 anos, 1 aluno possuía
entre 20 e 24 anos e 2 alunos tinham idade entre 25 e 29 anos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 181

Gráfico 1 – Idade dos respondentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

4 O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO COMPUTACIONAL NO PROJETO


BEIRA LINHA

A fim de compreender o desenvolvimento do pensamento computacional através da utilização


de ferramentas de programação em blocos, foi desenvolvido um estudo de caso nas oficinas de
Iniciação à Programação do projeto de extensão Beira Linha da PUC Minas.

4.1 Projeto Beira Linha

O projeto Beira Linha é um projeto de extensão da PUC Minas, que ocorre desde 2002, na
unidade São Gabriel, com o objetivo de fortalecer o compromisso social da universidade com a
comunidade. Com o foco na Extensão Universitária, o projeto proporciona a aplicação de
conhecimentos acadêmicos na sociedade e promove a cidadania e inclusão social através do
oferecimento de oficinas de formação gratuitas, constituindo-se como um instrumento de mudanças
de vidas para a comunidade a que se destina.
No ano de 2021, devido à pandemia da COVID-19, a edição do Beira Linha do primeiro
semestre aconteceu em regime remoto e visou fomentar o desenvolvimento de adolescentes, jovens
e adultos através de ações de empoderamento no uso de tecnologias da informação e no acesso à
formação universitária. Dessa maneira, foram oferecidas 35 oficinas sobre Informática Básica,
Iniciação à Programação, Inglês e Preparação para ENEM (Português, Matemática e Redação).
O projeto teve início com a convocação de monitores por meio da divulgação realizada pela
Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas e, uma vez que são selecionados com base em suas
habilidades e domínios relacionados aos temas das oficinas, estes se tornam responsáveis por
conduzir os cursos e produzir o material utilizado ao longo das aulas. As oficinas do primeiro semestre
de 2021 tiveram, aproximadamente, 10 semanas de duração, e foram realizadas de maneira síncrona,
EXTENSÃO PUC MINAS:
182 Novo Humanismo, novas perspectivas

por meio do Google Meet, e de forma assíncrona, por meio do WhatsApp, para a apresentação de
conteúdos expositivos, desenvolvimento e discussão de questões. Após a conclusão, foram emitidos
certificados de participação para os beneficiários que compareceram aos encontros virtuais e fizeram
as atividades propostas. Ao todo, no primeiro semestre de 2021, o projeto Beira Linha ofereceu 600
vagas, das quais 587 foram preenchidas. Ao final do curso houve 247 concluintes, os quais receberam
o certificado de participação do projeto.

4.2 Oficina de Iniciação à Programação

A oficina de Iniciação à Programação do projeto Beira Linha ocorreu entre os dias 5 de abril
a 18 de junho de 2021. Inicialmente ela contou com, aproximadamente, 30 alunos, mas, com o passar
do curso, apenas 12 alunos participaram efetivamente e concluíram. Os temas abordados foram
Scratch, Linguagem C, Wix, HTML e CSS, porém, apenas as atividades que dizem respeito ao
Scratch serão detalhadas, por serem relevantes à discussão.
Na oficina, o Scratch foi introduzido aos beneficiários e toda a sua interface gráfica foi
explorada, incluindo os atores e cenários. Além disso, os blocos (de movimento, aparência, eventos,
controle, sensores, operadores e variáveis) também foram examinados detalhadamente com os alunos,
juntamente a como utilizá-los para fazer um programa funcionar. Ao longo das aulas, os conceitos de
algoritmo, identificadores, variáveis, entrada e saída de dados, operadores aritméticos e relacionais,
estruturas condicionais e estruturas de repetição foram ensinados, exemplificados e praticados por
meio do Scratch.
Para reforçar esses conceitos e a prática da programação em blocos, duas atividades foram
propostas, uma que consistia em construir uma calculadora básica, com as operações de adição,
subtração, multiplicação e divisão, e a outra que consistia em reproduzir um jogo já existente e alterá-
lo, deixando-o mais difícil, por exemplo. Nessa última atividade, os jogos base para serem utilizados
foram o Pong, Pega-Pega e Labirinto. As atividades entregues pelos alunos foram revisadas, e o
assunto sobre Scratch foi concluído na oficina.
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4.3 Os Impactos da Programação em Blocos para o Desenvolvimento do Pensamento


Computacional no Beira Linha

O questionário para avaliar os impactos da programação em blocos para o desenvolvimento


do pensamento computacional foi constituído de 4 questões, que abordavam cada uma das dimensões
do pensamento computacional: abstração, decomposição, reconhecimento de padrões e pensamento
algorítmico. Em cada uma das questões foi proposto um problema e apresentados dois programas
para resolvê-lo, nos quais apenas um era a resposta correta.
A primeira questão (Figura 1) abordada no questionário visava avaliar a habilidade de
abstração do pensamento computacional. Para isso, o seguinte problema foi proposto: “Você precisa
fazer um programa no Scratch em que o ator mova 10 passos”. Os dois programas apresentados o
resolveriam, porém, a resposta correta era o programa 1, já que o programa 2 fez uso de blocos
desnecessários para a solução, não utilizando a abstração, que é a redução de informação para enfocar
detalhes relevantes.

Figura 1 – Primeira questão do questionário

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Verificou-se que aproximadamente dois terços da turma responderam corretamente à pergunta


e, portanto, apresentaram a habilidade de abstração. O gráfico 2 apresenta os valores exatos.
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Gráfico 2 – Avaliação da habilidade de abstração

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

As demais questões do questionário obtiveram resultados similares, portanto, serão


apresentados ao final da discussão das três questões.
Para avaliar a habilidade de decomposição do pensamento computacional, foi elaborada a
segunda questão do questionário. Nessa questão, o aluno deveria solucionar o seguinte problema:
“Você precisa fazer um programa no Scratch em que o ator pergunte ao usuário seu nome e idade.
Depois, o ator deve mostrar essas informações na tela”. Dessa maneira, a resposta correta é o
programa 2, que é apresentado na Figura 2, visto que esse conjunto de blocos utilizou a estratégia de
fragmentar o problema em partes menores para depois solucioná-lo. Nesse caso, foram utilizadas
diferentes variáveis para armazenar cada informação que seria fornecida pelo usuário, ao contrário
do programa 1, em que uma mesma variável armazena todos os valores.

Figura 2 – Segunda questão do questionário

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.


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Já a terceira questão está relacionada com a avaliação da habilidade de reconhecimento de


padrões. O problema proposto foi: “Você precisa fazer um programa no Scratch em que o ator diga
3 números aleatórios entre 1 e 10”. Ambos os programas o solucionariam, entretanto, a resposta
correta era o programa 2, já que este reconheceu o padrão no problema e utilizou apenas um bloco
para repeti-lo, em contraponto ao programa 1, que repetiu o mesmo bloco várias vezes.

Figura 3 – Terceira questão do questionário

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

A última questão visava avaliar a habilidade do pensamento algorítmico e, para isso, deveria
ser selecionado o programa que respondesse corretamente ao seguinte problema: “Você precisa fazer
um programa no Scratch em que o ator peça ao usuário para digitar um número. Depois, o ator deve
mostrar o dobro desse número na tela”. Considerando os conjuntos de blocos apresentados, a resposta
correta é o primeiro programa, uma vez que ele apresenta a sequência correta de passos e regras que
permitem a solução do problema apresentado. O programa 2 por sua vez, apresenta tais passos em
uma ordem que não condiz com a execução correta do problema, não demonstrando assim o uso do
pensamento algorítmico.
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Figura 4 – Quarta questão do questionário

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Em cada uma das três últimas questões, houve apenas 1 erro, portanto, 90,9% dos alunos
selecionaram as alternativas corretas. Através da análise individual dos resultados, foi possível
identificar que as respostas erradas vieram de respondentes diferentes.

Gráfico 3 – Avaliação da habilidade


Decomposição Reconhecimento de padrões Pensamento algorítmico

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

A análise desse alto índice de acerto (90,9%) aponta que os participantes da oficina de
programação apresentaram as habilidades de decomposição, reconhecimento de padrões e
pensamento algoritmo.

CONCLUSÃO

De acordo com a literatura estudada, foi possível correlacionar o desenvolvimento do


pensamento computacional com a programação em blocos. Por meio do estudo de caso do Beira
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Linha, verificou-se que todas as habilidades do pensamento computacional foram encontradas nos
beneficiários após a conclusão das oficinas. A análise sobre o desenvolvimento das habilidades do
pensamento computacional decorrente da realização das oficinas foi limitada, pois não foi realizado
um diagnóstico inicial sobre a presença prévia de tais habilidades junto aos beneficiários, no entanto,
isto não invalida o objetivo deste estudo, apenas não permite apresentar os índices de
desenvolvimento das habilidades.
A observação das monitoras da evolução do pensamento computacional nos beneficiários com
o desenvolvimento das oficinas, através do aumento da facilidade de desenvolver as atividades
propostas utilizando o Scratch somado aos relatos recebidos dos beneficiários sobre a compreensão
dos caminhos que fizeram no processo de aprendizagem da programação em blocos permitiu uma
análise e confirmação da importância da programação em blocos para o desenvolvimento do
pensamento computacional, o qual possui impactos positivos não apenas na programação, mas
também em outros aspectos da vida.
Por meio do sucesso obtido nas oficinas, foi possível perceber que a plataforma Scratch,
utilizada nas aulas, mostrou-se fundamental para o desenvolvimento das habilidades citadas
anteriormente, o que confirma a relação entre a programação em blocos e o desenvolvimento do
pensamento computacional. Além disso, também foi notável a influência do Beira Linha como um
espaço de desenvolvimento do pensamento computacional para a construção do conhecimento dos
beneficiários.
O desenvolvimento das oficinas e a reflexão provocada pela pesquisa deste trabalho
permitiram às monitoras de extensão compreender como o pensamento computacional, conceito
originalmente da área da computação, pode desenvolver as habilidades humanas e profissionais de
todos os agentes sociais e como tal, promover a transformação de vidas. Além disso, reforça também
o potencial dos projetos de extensão como campos de pesquisa para o desenvolvimento de todas as
áreas de conhecimento.
Para a coordenadora, o desafio de oferecer a oficina de Scratch foi mais um obstáculo vencido
no caminho de reconfiguração da metodologia e busca de novas oportunidades para projeto Beira
Linha realçando a crença no potencial transformador deste projeto para todos os envolvidos, em
especial: beneficiários, extensionistas e coordenadora de projeto de extensão.
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188 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

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Caso Sobre Competências do Pensamento Computacional Desenvolvidas na Programação em
Blocos no Code.Org. Anais dos Workshops do Congresso Brasileiro de Informática na
Educação, [S.l.], p. 1117, nov. 2016. ISSN 2316-8889. Disponível em: <https://www.br-
ie.org/pub/index.php/wcbie/article/view/7037>. Acesso em: 15 jul. 2021.
FRANÇA, Rozelma Soares de; AMARAL, Haroldo José Costa do. Proposta Metodológica de
Ensino e Avaliação para o Desenvolvimento do Pensamento Computacional com o Uso do Scratch.
Anais do Workshop de Informática na Escola, [S.l.], p. 179-188, nov. 2013. ISSN 2316-6541.
Disponível em: <http://www.br-ie.org/pub/index.php/wie/article/view/2646>. Acesso em: 15 jul.
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GRETTER, Sarah; YADAV, Aman. Computational Thinking and Media & Information Literacy:
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Disponível em:
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GUARDA, Graziela Ferreira; PINTO, Sérgio Crespo C. S. Dimensões do Pensamento
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Informática na Educação (SBIE 2020), 2020. Disponível em:
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de Informática na Escola, [S.l.], p. 217-226, out. 2015. ISSN 2316-6541. Disponível em:
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WING, Jeannette. PENSAMENTO COMPUTACIONAL – Um conjunto de atitudes e habilidades
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Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 9, n. 2, 2016. Disponível em:
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<https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020>. Acesso em: 23 out. 2021.
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Construindo pontes: inclusão, respeito, e cidadania através de manualidades

Paulo Henrique Maciel Barbosa1

RESUMO
Este artigo apresenta a experiência ao longo de 1 ano e 6 meses do Projeto de Extensão Universitária Construindo Pontes,
do curso de graduação em Engenharia Civil da Unidade Praça da Liberdade da PUC Minas, em Belo Horizonte / MG. Ao
longo desses meses, com o desenvolvimento das ações do projeto inclusive durante o período de pandemia, são
apresentadas metodologias com fundamentações em forte referencial teórico, acerca da atuação no projeto. Na discussão,
apresenta-se o conceito de deficiência cognitiva e múltipla(s), que é o perfil dos nossos beneficiários; pressupõe-se que o
uso de manualidades vem somar com o processo de ensino e aprendizagem, de integração, inclusão, cidadania,
coordenação motora e dignidade dos beneficiários do projeto, usuários da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais
de Belo Horizonte - APAE BH, com a mediação e o acompanhamento dos extensionistas do Construindo Pontes.

Palavras-chave: Inclusion. Mockups. Accessibility. Bridges.

Building bridges: inclusion, respect, and citizenship through manualities

ABSTRACT
This paper presents the experience over 1 year and 6 months of the Construindo Pontes University Extension Project, of
the Civil Engineering undergraduate course at the Praça da Liberdade Unit at PUC Minas, in Belo Horizonte /MG.
Throughout these months, with the development of the project's actions, including during the pandemic period,
methodologies are presented based on a strong theoretical framework, about the performance in the project. In the
discussion, the concept of cognitive and multiple disabilities is presented, which is the profile of our beneficiaries, which
presupposes that the use of mannual skills adds to the teaching and learning process, integration, inclusion, citizenship,
motor coordination and dignity of the project's beneficiaries, users of the Association of Parents and Friends of
Exceptional People of Belo Horizonte - APAE BH, with the mediation and the monitoring of the extension workers of
Construindo Pontes.

Key words: Inclusion. Mockups. Accessibility. Bridges.

INTRODUÇÃO

O Curso de Engenharia Civil da PUC Minas da Unidade Praça da Liberdade, em parceria com
a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Belo Horizonte, desenvolve o projeto
de extensão Construindo Pontes, que tem como objetivo colaborar com a inclusão e cidadania de

1
Engenheiro de Produção Civil (CEFET MG), Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG), e Doutorando em Engenharia
Mecânica (PUC Minas). Professor do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais e Coordenador do Projeto de Extensão SOS Matemática (2022) E-mail: paulohenrique@pucminas.br.
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pessoas portadoras de deficiência intelectual ou múltipla, através da construção de maquetes


fidedignas de pontes, usando palitos de picolé como matéria-prima.
O projeto, que reuniu, no 1º semestre de 2022, 21 usuários do Programa de Autogestão e
Autodefesa, que integra a Gerência de Defesa de Direitos e Apoio à Família, da APAE BH, surgiu
após o desenvolvimento de algumas práticas extensionistas das disciplinas do curso de Engenharia
Civil no primeiro semestre de 2021.

Figura 1 – Participantes do Projeto Construindo Pontes

Fonte: Acervo do autor, 2021.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva costumam apresentar dificuldades para


resolver problemas, compreender ideias abstratas, estabelecer relações sociais, compreender e
obedecer a regras, e realizar atividades cotidianas, como, por exemplo, as ações de autocuidado.
Segundo Geara (2021), as pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimento de longo prazo,
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que, em interação com uma ou mais barreiras,
pode(m) obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.
A capacidade de argumentação dessas pessoas também pode ser afetada e precisa ser
devidamente estimulada, para facilitar o processo de inclusão e fazer com que a pessoa adquira
independência em suas relações com o mundo. As pessoas portadoras de deficiência múltipla são
aquelas afetadas em duas ou mais áreas, caracterizando uma associação entre diferentes deficiências,
com possibilidades bastante amplas de combinações. Um exemplo seriam as pessoas que têm
deficiência mental e física (DECLARAÇÃO DE MONTREAL, 2004).
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Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), as pessoas com deficiência
constituem 10% da população mundial, o que representa cerca de 650 milhões de pessoas. São a
maior “minoria” do mundo e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento.
Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência. As mulheres e
meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos e mais propensas a serem vítimas
de violência ou estupro; além disso, têm menor probabilidade de obter ajuda da polícia, proteção
jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de 30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de
deficiência e, nos países em desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a
escola.
Os registros da História Antiga e Medieval apontam a eliminação e a rejeição como formas
de tratamento direcionadas às pessoas com deficiência. Sacrifícios eram permitidos e o extermínio se
dava de diversas maneiras, podendo essas pessoas serem descartadas da sociedade sem nenhuma
piedade. Esses tratamentos, ao longo da história, tomaram formas e proporções diferenciadas,
sobretudo influenciadas pela visão assistencialista e caritativa. Até o século XV, crianças deformadas
eram jogadas nos esgotos da Roma Antiga. Na Idade Média, pessoas com deficiência encontravam
abrigo nas igrejas, como o Quasímodo do livro O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, que
vivia isolado na torre da catedral de Paris. Na mesma época, as pessoas com deficiência ganharam
uma função: bobos da corte.
Até o Século XXI, a representação da deficiência esteve recoberta por uma camada nebulosa
de preconceitos, retirando dessas pessoas a condição de seres humanos. O aspecto pouco humano da
questão levou ao processo de invisibilidade das pessoas com deficiência e, portanto, a um histórico
de atrasos no desenvolvimento de políticas públicas.
As primeiras mudanças ocorreram nos Séculos XV a XVII, quando, demarcada pelo
Renascimento, a atenção a estas pessoas passa a ser baseada numa filosofia humanista, que por sua
vez, desloca esse grupo invisível para o grupo de pessoas marginalizadas. No século XIX, essa
atenção específica foi dada após o período da guerra civil, por ações integracionistas, através da
construção de asilos e abrigos, como por exemplo, o Lar Nacional para Soldados Voluntários
Deficientes.
No século XX, o tema ganha proporção internacional, com destaque na Organização das
Nações Unidas (ONU), sob o viés da pauta de direitos humanos. A década que efetivamente trouxe
uma nova possibilidade no campo dos direitos das pessoas com deficiência se deu a partir dos anos
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80, quando a ONU instituiu o Ano Internacional da Pessoa Deficiente – AIPD, inserindo esse grupo
social no cenário de luta e de garantia de direitos humanos. Esse percurso das pessoas com deficiência
no Brasil foi marcado, também, pela eliminação e exclusão.
Posteriormente, essa direção se traduz na visão integracionista, balizada pelo atendimento
especializado, arraigado na concepção de incapacidade e doença. Com a perspectiva da promoção de
direitos, o tema pessoa com deficiência torna-se centralidade dos debates sobre políticas públicas, em
uma concepção transversal e integral.
Os diferentes estudos relacionados aos processos de inclusão da pessoa com deficiência e as
políticas públicas têm ganhado destaque na sociedade, na academia e nas diferentes instâncias de
governo. Os Modelos de Deficiência são meios conceituais utilizados para a compreensão dos
pressupostos que utilizamos para compreender a pessoa com deficiência ao longo da história, os quais
tiveram transformações alicerçadas pela necessidade da pessoa com deficiência e pelo próprio sistema
sociopolítico e econômico. Os principais modelos são influenciados por duas filosofias fundamentais
relacionadas às pessoas com deficiência: uma as vê como dependentes, na sociedade onde vivem, e a
outra as percebe como clientes do que a sociedade oferece. E são esses aspectos que discutiremos
aqui, abordando as diferenças entre o Modelo Médico e o Modelo Social.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu uma mudança fundamental no conceito
de saúde, eliminando a unicausalidade do binômio saúde/doença e ampliando o conceito para uma
visão integral da questão. O início do Século XXI foi marcado pela publicação da Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), pela Organização Mundial de Saúde
(OMS).
A CIF apresenta a questão da deficiência como um atributo ao nível do corpo e nos aponta
para a necessidade de termos como pressuposto o Modelo Biopsicossocial, retirando do sujeito a
responsabilidade exclusiva por seu desempenho na Sociedade. Com isso, a CIF propõe um novo
modelo de avaliação, tendo a deficiência como um atributo ao nível do corpo e a incapacidade e a
funcionalidade, aspectos dinâmicos e influenciados pelos aspectos sociais, políticos, ambientais,
econômicos nos quais o sujeito está inserido.
Dessa forma, a CIF é uma classificação universal, que retira o foco da causa e volta as atenções
para o impacto das condições do sujeito em suas experiências de vida. O importante é perceber tal
categorização como uma ferramenta de planejamento e política para tomada de decisões. Por fim, a
avaliação biopsicossocial das pessoas com deficiência, necessariamente, deve levar em conta as
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condições de acesso às políticas públicas, à possibilidade de exercer sua capacidade legal, à vida
comunitária, à participação social e, ainda, às políticas de acessibilidade em seu território e em todos
os espaços nos quais está inserido.
O Modelo Biomédico, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), considera a
deficiência como um problema etiológico da pessoa, ocasionado por uma doença, um trauma ou por
condições de saúde, que requerem, assim, cuidados médicos prestados em forma de tratamento
individual, sendo este direcionado para a obtenção da cura ou, em não a conseguindo, de uma melhor
adaptação da pessoa e de uma mudança em sua conduta. Assim, o indivíduo portaria uma patologia
que poderia ser de ordem física, intelectual ou sensorial.
Para alguns pesquisadores (COHEN; FRANCO, 2000; CANO, 2002), os indicadores
tornaram-se instrumentos de gestão fundamentais nas atividades de monitoramento e avaliação das
instituições, bem como na medição dos projetos, programas e políticas, permitindo acompanhar as
metas desejadas, identificar avanços e melhorias de qualidade, corrigir problemas, identificar
necessidades de mudança, dentre outros elementos importantes no ciclo das políticas públicas.
Quando tratamos de dados sobre quem são as pessoas com deficiência no Brasil, a principal
fonte de informações são os Censos Demográficos, que têm buscado recolher e agrupar dados sobre
pessoas com deficiência em seus levantamentos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD), de 1981, apresentou, em seu questionário de saúde, um bloco denominado “deficientes”. O
principal objetivo neste levantamento foi identificar pessoas com lesões corporais graves e
permanentes.
Conforme as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas
com deficiência não são uma minoria populacional, pois, de acordo com dados do Censo de 2010, no
Brasil, 45.606.048 pessoas declararam ter pelo menos uma das deficiências investigadas,
correspondendo a 23,9% da população brasileira. Levando em consideração os tipos de deficiência
13, a deficiência visual representou 18,6% do total; a motora (física), 7%; a auditiva, 5,10%; e a
mental ou intelectual, 1,4% (Tabela 01).

Tabela 1 – Pessoa com deficiência por tipo de deficiência

Fonte: IBGE, 2010


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No Censo de 2000, essa proporção era de 14,5%. Há algumas justificativas para tamanha
discrepância, sendo a principal delas uma mudança na pergunta, que foi simplificada: “Como você
avalia a sua capacidade de enxergar?”, por exemplo, deu lugar a “Você tem alguma dificuldade para
enxergar?”. De acordo com subsídios obtidos da Cartilha sobre o Censo 2010, os dados coletados
pelo IBGE descreveram a prevalência dos diferentes tipos de deficiência e as características das
pessoas que compõem esse segmento da população.
A deficiência foi classificada pelo grau de severidade de acordo com a percepção das próprias
pessoas entrevistadas sobre suas funcionalidades. A avaliação foi feita com o uso de facilitadores,
como óculos e lentes de contato, aparelhos de audição, bengalas e próteses.
As perguntas feitas aos entrevistados buscaram identificar as deficiências visual, auditiva e
motora pelos seguintes graus de dificuldade: (i) tem alguma dificuldade em realizar, (ii) tem grande
dificuldade, e (iii) não consegue realizar de modo algum. Também buscaram identificar a presença
de deficiência mental ou intelectual. Os questionários seguiram as propostas do Grupo de Washington
sobre Estatísticas das Pessoas com Deficiência.
Os dilemas de conhecer a deficiência intelectual remetem a um conceito culturalmente
construído e em evolução. A história contribui para identificar e desvelar esses dilemas, aqui
brevemente delineados, para induzir reflexões sobre os limites do nosso conhecimento, quando
buscamos compreender esse conceito, simplificado pelas terminologias e classificações. Remete aos
aspectos históricos, identificados em sua evolução epistemológica, terapêutica, educativa, social e
cultural (CARVALHO, 2014).
O modelo funcional e multidimensional da American Association on Intellectual and
Developmental Disabilities - AAIDD (2010) harmoniza-se com a definição de pessoa com deficiência
preconizada no capítulo 1 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência-CDPD
(BRASIL, 2012), inspirada no modelo social de deficiência, a saber: "Pessoas com deficiência são
aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas".
A deficiência intelectual ocupou, durante muitos anos, a centralidade das pesquisas
acadêmicas na área da educação especial, devido às dificuldades apresentadas nas formas de se
definir, conceitualizar, e nomear a própria deficiência. Essas dificuldades estão relacionadas ao
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processo de identificação dos sujeitos diagnosticados com deficiência intelectual, pois aponta-se a
demasiada complexidade da avaliação inicial e o diagnóstico desse público discente (CARVALHO,
2016).
Para além da complexidade de nomenclaturas da deficiência intelectual, é importante sinalizar
que, historicamente, o grupo identificado com esta deficiência tem evidenciado um elevado
contingente numérico, quando comparado aos alunos público-alvo da educação especial em geral
(CARVALHO, 2016).
Dessa forma, segundo a pesquisa de Martinez (2006) há a observância de que as matrículas
de alunos com deficiência intelectual apresentaram expressivo aumento no Brasil. Os dados apontam
que temos uma ampliação contínua, ao longo dos anos, dos alunos com deficiência intelectual. No
ano de 1998, tínhamos 181.377 alunos inseridos nesta categoria, já em 2010, esse contingente triplica,
chegando a 439.670 alunos. É perceptível que os alunos com deficiência intelectual representavam,
em todos os anos analisados, um contingente numérico expressivo comparado às matrículas dos
alunos público-alvo da Educação Especial.
Nessa crescente evolução de alunos com deficiência intelectual matriculadas na educação
especial, Rey (2004), apresenta, na sua pesquisa, que a pessoa com deficiência deve ser considerada
como sujeito “ativo, intencional, consciente e emocional em sua totalidade” (REY, 2004, [s./p.]), o
que já em 2004, estabelece uma conexão com a concepção de Martinez e Silva (2006), que defendem
que a perspectiva da totalidade precede a visão dos impedimentos particulares do sujeito, constituída
com autonomia, ideias, desejos, sentimentos, vontade, ações e atuações, constituída a partir de sua
história de vida, em espaços sociais e relacionais, nos diferentes contextos dos quais participa.
Dessa forma, a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) de Belo Horizonte,
fundada em 15 de abril de 1961, já atendeu ao longo de sua existência mais de 100 mil pessoas com
deficiência intelectual e múltipla, bem como suas famílias, em algum momento de suas vidas. No
final da década de 1950, a notável educadora Helena Antipoff mobilizou lideranças políticas,
profissionais de diversas áreas, e a sociedade em geral, em um movimento organizado de defesa de
direitos e prestação de serviços de qualidade às pessoas com deficiência intelectual e múltipla e às
suas famílias.
Ao longo de sua existência, a APAE Belo Horizonte conseguiu avanços notáveis, tanto na
melhoria de sua estrutura física, quanto na ampliação e aprimoramento dos serviços prestados,
criando condições técnicas de agregação de diversos profissionais das áreas de assistência social,
saúde, educação, e preparação para o mercado de trabalho, buscando sempre o desenvolvimento
EXTENSÃO PUC MINAS:
196 Novo Humanismo, novas perspectivas

global e a melhoria da qualidade de vida dos usuários e de suas famílias. Todas as atividades da APAE
Belo Horizonte são planejadas e executadas dentro dos princípios da Política de Atenção Integral e
Integrada, elaborada pela Federação Nacional das APAEs (FENAPAEs), e pela Universidade
Corporativa das APAEs. Essa política tem como objetivo assegurar o desenvolvimento global das
pessoas com deficiência intelectual e múltipla, e apoiar suas famílias. Assim sendo, a instituição
considera o sujeito como um todo, valorizando-o em termos orgânicos, cognitivos, laborais, afetivos
e relacionais, desenvolvendo ações e atividades que assegurem o seu desenvolvimento global,
tornando-o protagonista do seu processo de inserção social (Relatório Anual APAE, 2020).
A APAE BH registrou, em 2019, números antes da pandemia da COVID-19, 47.987
atendimentos quanto à assistência social de famílias dos seus assistidos; 44.356 atendimentos quanto
a demandas de saúde, ao passo que desenvolveu 4.654 oficinas com a comunidade na temática de
saúde. Proporcionou mais de 90 horas/aula, em 200 dias letivos em Educação Especial aos seus
assistidos, conforme seu relatório de atividades anual, 2018. Esse é o relatório mais recente,
disponível no sítio eletrônico da nossa instituição parceira nessa proposta. O relatório apresenta as
ações desenvolvidas no ano de 2019, no que tange às suas áreas de atuação quanto à educação, à
assistência social, à saúde e à gestão, para os assistidos e suas famílias. Esse é o documento norteador
dos dados apontados sobre a instituição parceira do Projeto Construindo Pontes.

2 METODOLOGIA

Para construírem essas maquetes, os usuários da APAE BH participam de oficinas de


manualidades semanalmente, e nelas recebem instruções por meio dos extensionistas dos cursos de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, e Engenharia de Produção, para a execução das
atividades.
Assim, através das atividades semanais, estimula-se a autoconfiança, a coordenação motora,
e a assimilação de conceitos lógicos junto aos assistidos (beneficiários) do projeto. Para os
extensionistas, a atuação colabora na vivência prática, em escala reduzida e simulada, de sistemas
estruturais, conceito muito significativo para formação de bacharel em um curso de graduação que
requer esta formação.
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Nesse cenário, podemos definir que o projeto possui como beneficiários diretos 123 alunos de
Educação Especial, com deficiência intelectual e múltipla, que necessitam de apoios extensivos e
generalizados, com idade mínima de 15 anos, e com idade máxima, igual ou superior aos que
frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA), anos iniciais e finais.
Durante o 2º semestre de 2020, e durante o ano de 2021, com a primeira edição do Projeto
Construindo Pontes, as atividades acadêmicas da PUC Minas sendo desenvolvidas de forma on-line,
tivemos a oportunidade de desenvolver duas práticas extensionistas com a APAE Belo Horizonte, de
forma remota. As práticas trabalhadas foram nas disciplinas: Instalações Hidráulicas Prediais (9º
período - manhã), e Expressão Gráfica: Princípios e Técnicas (1º período - manhã), onde essa
aproximação com a instituição encurtou. Também tivemos a participação da instituição em uma
palestra on-line, ofertada pelo curso de Engenharia Civil - Unidade Educacional Praça da Liberdade
na Mostra PEX (de Pesquisa e Extensão) da unidade, onde a Srª Fabiana Cavalcante proferiu a
palestra: "PUC Minas e APAE MG - Potencialidades de Pesquisa e Extensão"2.
Tais ações potencializaram o projeto, em diálogo constante com a instituição para
arquitetarmos a melhor condição de seu desenvolvimento. Os resultados de desenvolvimento das
ações on-line e remotas do Construindo Pontes, durante o ano de 2021, são potencializados nos
indicadores de monitoramento do projeto, assim como, nos canais de comunicação da PUC Minas e
da APAE BH.
A metodologia adotada já foi utilizada pelo professor coordenador do projeto, ao lecionar em
semestres anteriores a disciplina de "Arquitetura e Estruturas" no curso de Arquitetura e Urbanismo
da PUC Minas - Campus Coração Eucarístico, conforme a figura 02 a seguir.

2
Acesso a palestra por esse link: https://web.microsoftstream.com/video/0e7c8861-92c6-463a-9dc6-a75a0eba3eed
(acesso com login e senha do Teams pela PUC Minas).
EXTENSÃO PUC MINAS:
198 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 2 – Turma da disciplina Arquitetura e Estruturas com a prática de montagem das


pontes de palito de picolé

Fonte: Acervo do autor, 2021.

Não se trata de públicos similares, até mesmo, quanto ao perfil acadêmico da prática
metodológica, mas, o que se destaca aqui é a metodologia no que se refere à operacionalidade de
execução da oficina de construção de pontes de palito de picolé. Esse modelo, já experimentado por
mim, se mostrou eficaz, e essa eficácia permeia muito o fato de que as atividades já estão muito bem
elaboradas, definidas, e são colocadas logo no início dos trabalhos, assim que o período de vigência
da oficina se inicia, como também, os responsáveis por cada atividade logo de início são definidos.
Esse princípio tem se mostrado exitoso na avaliação da forma de condução da oficina e de construção
da maquete de forma participativa.
Com o início do semestre letivo, as atividades do projeto se dividem e se organizam desta
forma: o primeiro mês de trabalho está voltado para as atividades de organização do material didático
que será utilizado nas oficinas, e de elaboração e envio para compra pela Pró-reitoria de Extensão dos
materiais necessários para a realização delas; é prevista uma reserva de verba para compra de
equipamentos, ferramentas, EPI, e materiais de colagem, palitos de picolé, que se caracterizam como
material didático necessário para a realização das oficinas práticas.
No segundo mês de cada semestre, iniciam-se efetivamente as oficinas com a execução das
pontes de palito de picolé (segunda-feira, quarta-feira, e sexta-feira, preferencialmente, das 14h às
16h. Para as oficinas, a APAE Belo Horizonte possui sala de aula, equipada com projetor, quadro
branco, e cadeiras de braço, e bancadas com cadeiras, onde será o local de execução das pontes de
palito de picolé.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 199

A cada oficina (oferecemos três por semestre), recebemos cerca de 15 beneficiários, que são
divididos em três grupos de trabalho, com 5 participantes cada. Cada um desses grupos realiza a
montagem da ponte de palito de picolé, seguindo as informações e orientações do extensionista.
Esse papel do extensionista é muito importante, visto que, para explicação e orientação do
processo de execução das pontes por parte dos participantes; ele/ela explana, de forma simples, e de
compreensão dos participantes, informações que serão alinhadas com os conceitos teóricos vistos em
sala de aula, necessários quanto ao conteúdo de Sistemas Estruturais. Salienta-se que os extensionistas
acompanham, a cada encontro (como se demonstra na figura 03), uma das atividades presenciais na
APAE BH. Os extensionistas acompanham e orientam a continuidade da execução da ponte de palito
de picolé pelos grupos de participantes.

Figura 3 – Acompanhamento das atividades do Projeto Construindo Pontes

Fonte: Acervo do autor, 2021.

Ao término de cada encontro, as pontes em construção serão guardadas em armário próprio


cedido pela APAE Belo Horizonte, para que, assim, seja dada a continuidade da execução no próximo
encontro. Este contato próximo do extensionista com o participante beneficiário agrega grande
vivência humanística, pois, este será, além de um orientador na execução, um grande motivador para
que o participante deficiente intelectual, possa dedicar-se para a execução coletiva da maquete,
superando dúvidas e necessidades, aspectos importantes destacados nos objetivos desse projeto.
Nos últimos encontros da oficina, a maquete da ponte de palito de picolé pode receber
ornamentação conforme definição do grupo de trabalho, sendo que nesse momento mostra-se
interessante utilizarmos até materiais com cores diferentes, fazendo uma possível
interdisciplinaridade com aspectos urbanísticos da cidade, representando miniaturas de estruturas
EXTENSÃO PUC MINAS:
200 Novo Humanismo, novas perspectivas

desse tipo em Belo Horizonte. E antes do desfecho da oficina, de uma forma alegre e celebrativa, já
que todos os grupos conseguem executar a sua maquete, realizamos um pequeno teste de carga das
maquetes das pontes de palito de picolé.
Para esse teste de carga, não utilizaremos todas as maquetes, pois pretendemos armazenar as
maquetes mais rígidas, e esteticamente mais bem montadas, para exposição, como é demonstrado na
figura 04 a seguir, de uma peça de divulgação para a 1ª Mostra de trabalhos do Projeto Construindo
Pontes.

Figura 4 – Peça de divulgação da 1ª Mostra “Construindo Pontes”

Fonte: Acervo do autor, 2021.

No final de cada semestre, é realizada a reunião aberta de avaliação e planejamento, a qual


vem se mostrado muito eficaz em outros projetos de extensão, por trazer reflexões importantes para
as futuras ações do projeto. A reunião é aberta a toda comunidade acadêmica, e amplamente divulgada
principalmente nos cursos de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, e demais cursos da PUC
Minas, para que possíveis interessados em ingressar no projeto tenham oportunidade de conhecer as
atividades realizadas, e possam contribuir com o olhar externo.
Também, ao final de cada semestre, através de uma conta em redes sociais no instagram:
@construindopontes.pucminas, prevemos a divulgação de resultados, fotografias, e demais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 201

informações, em sintonia com o nosso parceiro, para darmos visibilidade às nossas ações de extensão
universitária ao público em geral e potencializando uma possível captação de parceiro, para atuação
e subsídio, em áreas de interesse do projeto.
Durante o período da pandemia da COVID-19, período em que o projeto foi concebido, as
atividades foram desenvolvidas de forma on-line, e como a pandemia sustentou-se por um bom
período, até os dias atuais, as ações do projeto, nos semestres de 2021, deram-se totalmente no
formato virtual. Impossibilitado o desenvolvimento das atividades no formato presencial, tivemos
como métodos aplicados: o agendamento de chamadas síncronas entre extensionistas e os
beneficiários, cada um em sua casa; nestas, os extensionistas repassavam, a cada encontro on-line de
no máximo 1 hora, com no máximo 5 participantes por chamada, noções básicas para o
desenvolvimento de maquetes individuais, de sistemas estruturais, factíveis de desenvolvimento em
casa, e a cada encontro síncrono on-line, os participantes desenvolviam uma parte dessa maquete
individual.
Preparou-se, para que também ocorressem, de forma assíncrona, gravações da confecção de
pequenas partes das maquetes, para que, de acordo com a potencialidade de conexão das famílias do
beneficiário, este pudesse e, em seguida, desenvolver sua própria maquete. Entende-se que essa
proposta de abrangência desta metodologia não presencial seja possível mensurar e quantificar nosso
público alvo, a cada encontro virtual, registrando a presença de participantes. A figura 04 a seguir,
demonstra uma chamada pelo Zoom para avaliação das atividades virtuais, no 2º semestre de 2021.

Figura 5 – Chamada no Zoom com os participantes do Projeto Construindo Pontes

Fonte: Acervo do autor, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
202 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O projeto possui 1 ano e 6 meses de atuação, sendo que nos semestres passados (1º e 2º) de
2021 teve o seu desenvolvimento no formato virtual, no qual as oficinas eram desenvolvidas pelos
beneficiários em suas residências, com o suporte da família, e as orientações de montagem da maquete
era encaminhada pelos extensionistas por vídeos enviado por aplicativos de mensagens, e ocorria
momentos de confraternização em chamadas síncronas entre os participantes.
Como beneficiários diretos, somando os três semestres de atuação, foram 52 beneficiários da
APAE BH, sendo que alguns destes, por gostarem tanto, participaram mais de uma vez das oficinas
semestrais. Nosso principal resultado, além de números, contextualizando Geara (2021), é, com este
projeto colaborar para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras dos beneficiários da
APAE BH, contribuindo para a conquista da autonomia e participação social.
Para os extensionistas, alunos da PUC Minas, nossos principais resultados são, através da
mediação das oficinas, colaborar com a visão mais humanista do mundo, posicionando-os assim como
multiplicadores de ações de inclusão no dia-dia deles como alunos, junto a demais discentes, docentes
e funcionários pertencentes à comunidade universitária da PUC Minas, familiares, mercado de
trabalho, e outros.

REFERÊNCIAS

AMERICAN ASSOCIATION ON INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL DISABILITIES


- AAIDD. Intellectual disability: definition, classification, and systems of supports.
Washington, DC: AAIDD, 2010.
ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DE EXCEPCIONAIS DE BELO HORIZONTE - APAE
BH. Relatório de Atividades 2020. Disponível no site: https://apaebh.org.br/site/wp-
content/uploads/2021/05/RELATORIO-ATIVIDADES-2020-.pdf. Acesso em: 12 jun. 2022.
CANO, Ignacio. Avaliação de programas sociais. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
CARVALHO, Erenice Natália Soares de. Linguagens da discriminação: a questão da deficiência.
In: SÉGUIN, E.; SOARES, E.; CABRAL, L. (Coord.). Temas de discriminação e exclusão. Rio
de Janeiro, RS: Ed. Lumen Juris, 2014. p. 33-57.
CARVALHO, Erenice Natália Soares de. Deficiência Intelectual: Conhecer para Intervir.
Pedagogia em Ação. V.8, nº 2, 2016, Edição especial - Dossiê. PUC Minas. Belo Horizonte, MG.
COHEN, E.; FRANCO, R. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis: Vozes, 2000.
GEARA, Gabriela B.; Deficiência Intelectual e Múltipla: Como o(a) Psicólogo(a) Pode Ajudar.
2021. Disponível em: <https://blog.psicologiaviva.com.br/deficiencia/>. Acesso em: 15/06/2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 203

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico,


2010.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OPS/OMS. Declaração de Montreal sobre
Deficiência Intelectual, 2004. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/declaracao_montreal.pdf>. Acesso em:
22 maio 2022.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE/OPAS. Relatório sobre a saúde no mundo – 2001.
Saúde mental: nova concepção, nova esperança. Gráfica Brasil, 2001.
MARTINEZ, Albertina Mitjáns. A perspectiva histórico-cultural da subjetividade: sua significação
para o trabalho pedagógico com alunos deficientes. In: SILVA, Aida Maria Monteiro et al. (org.).
Novas subjetividades, currículo, docência e questões pedagógicas na perspectiva da inclusão
social. Recife, PE: Edições Bagaço, 2006.
REY, Fernando González. O sujeito, a subjetividade e o outro na dialética complexa do
desenvolvimento humano. In: SIMÃO, Lívia Mathias; MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns (Org.). O
outro no desenvolvimento humano: diálogos para a pesquisa e a prática profissional em
psicologia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
EXTENSÃO PUC MINAS:
204 Novo Humanismo, novas perspectivas

Jovens Aprendizes e os desafios em tempos


pós-pandêmicos: formação e cidadania

Eduardo Costa Silva1


Marcelo Prímola Magalhães2
Tania Cristina Teixeira3

RESUMO
A temática relacionada à inserção dos jovens no mundo do trabalho tem sido objeto de pesquisas e de programas em
âmbito local, nacional e internacional. A PUC Minas tem uma vasta expertise no desenvolvimento de diversas ações nesse
campo. É nesse contexto que o “Projeto de Extensão Jovem Aprendiz, realidades e perspectivas transformadas pelo
conhecimento”, desenvolvido em parceria com o CEDUC Virgílio Resi e demais cursos do ICEG Escola de Negócios,
analisa e discute os novos passos alcançados no período pandêmico e pós-pandêmico. Ele reflete sobre os grandes desafios
e vivências desses jovens que tiveram muitas chances reduzidas pelas restrições oriundas a da trágica situação de saúde
imposta pela pandemia da COVID-19. A restrição ainda foi potencializada após a adoção das novas tecnologias da
informação e comunicação no processo formativo desenvolvido pela equipe do projeto, juntamente com os parceiros
envolvidos. A equipe responsável realizou encontros semanais de práticas didático-pedagógicas por meio virtual. Em seu
decorrer, foram ministrados conteúdos educacionais referentes à preparação dos jovens para desenvolver atividade
profissional na empresa contratante e à capacitação para o empreendedorismo sustentável. Somadas às atividades
formativas, realizaram-se oficinas interativas de cunho sociocultural com vistas à formação cidadã na mesma perspectiva
da PUC Minas. Nesse aspecto, é importante ressaltar que, no decorrer do isolamento, todo o acompanhamento foi
realizado em ambiente virtual, síncrono, por meio das ferramentas digitais Teams da Microsoft e o pacote Office. Já no
ano de 2022, as atividades presenciais foram retomadas e a formação continuada dos jovens aprendizes está em curso,
contando com o uso das novas tecnologias em uma ambiência formativa integrada. Diante do exposto, o presente relato
de experiência tem como objetivo analisar a relevância das ações e atividades de formação dos participantes do projeto
jovem aprendiz de cunho técnico, científico, cultural e humanista, com ênfase na preparação para o primeiro emprego. A
metodologia usada é a qualitativa e participativa, centralizada na percepção dos jovens e dos agentes de transformação
envolvidos e na linha pedagógica construtivista adotada pelo parceiro CEDUC. A iniciativa tem grande aderência à
Agenda 30 e aos ODS referentes ao trabalho decente, à redução da desigualdade e incentivo ao desenvolvimento humano.
Também tem caráter interdisciplinar, bem como uma relação sinérgica com as disciplinas extensionistas dos cursos de
Contabilidade São Gabriel, Contabilidade EAD e COREU e ainda com o curso de Economia e Administração. No
próximo semestre, serão integradas atividades formativas e conhecimentos afeitos a área do marketing e publicidade e
engenharia de jogos.

Palavras-chave: Juventude. Mercado de Trabalho. Empreendedorismo social. Desenvolvimento Humano.


Competências.

1
Estudante de Graduação do curso de Ciências Contábeis EAD. Discente extensionista do projeto. E-mail:
edkac@yahoo.com.br.
2
Mestre em Ciências Contábeis, Professor da PUC Minas e da PUC Virtual. E-mail: marcelopmaga@yahoo.com.br,
marcelopmaga@pucminas.br.
3
Doutora em Economia Aplicada pela Universidad de Valencia, mestrado em Ciências Políticas pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Economia e Curso de Ciências Contábeis São Gabriel e EAD PUC
Minas. E-mail:taniacri@hotmail.com, taniacri@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 205

Young Apprentices and the challenges in


post-pandemic times: training and citizenship

ABSTRACT
The theme related to the insertion of young people in the world of work has been the object of research and programs at
the local, national and international levels. PUC Minas has vast expertise in the development of various actions in this
field. It is in this context that the Young Apprentice extension project, realities and perspectives transformed by
knowledge developed in partnership with CEDUC Virgílio Resi and other courses at ICEG Escola de Negócios analyzes
and discusses the new steps achieved in the pandemic and post-pandemic period. Reflecting on the great challenges and
experiences of these young people who had many of their chances reduced, initially, by the restrictions imposed by the
tragic health situation imposed by the COVID 19 pandemic. project team, together with the partners involved. The
responsible team held weekly meetings of didactic-pedagogical practices through virtual means in which educational
contents were given regarding the preparation of young people to develop professional activity in the contracting company
and training for sustainable entrepreneurship. In addition to these training activities, interactive workshops of a
sociocultural nature were carried out with a view to citizen training in the same perspective of PUC Minas. In this regard,
it is important to note that during the isolation, all monitoring was carried out in a virtual, synchronous environment
through the use of digital tools, namely: Microsoft Teams and the Office package. In 2022, face-to-face activities were
resumed and the continuing education of young apprentices is underway, relying on the use of new technologies in an
integrated training environment. In view of the above, the present experience report aims to identify the relevance of the
actions and training activities of the participants of the young apprentice project of a technical, scientific, cultural and
humanist nature, with an emphasis on preparation for the first job. The methodology used is qualitative and participatory,
focused on the perception of young people and the agents of transformation involved, in addition to the constructivist
pedagogical line adopted by the partner CEDUC. It is important to highlight that this initiative has great adherence to
Agenda 30 and the SDGs regarding decent work, the reduction of inequality and the encouragement of human
development. However, it has an interdisciplinary character, as well as a synergistic relationship with the extension
disciplines of the São Gabriel Accounting, EAD Accounting and COREU courses, as well as with the Economics and
Administration course. And in the next semester, it will integrate training activities and knowledge related to the area of
marketing and advertising and game engineering.

Keywords: Youth. Labor market. Social entrepreneurship. Human Development.Skills.

INTRODUÇÃO

O presente artigo fundamenta-se nas ações desenvolvidas nas diversas versões do projeto
relacionado ao Programa Aprendizagem, executado conjuntamente com parceiro externo CEDUC
Virgílio Resi (Centro de Educação para o Trabalho) e intitulado “Jovem aprendiz, realidades e
perspectivas transformadas pelo conhecimento”, desenvolvido na PUC Minas. Visa contribuir para a
formação do jovem aprendiz com perfil de vulnerabilidade social e com expectativa de obter uma
experiência real de preparação para o trabalho, por meio do método de ensino denominado “Educar
trabalhando”.
Esse sistema de aprendizagem considera que as práticas nas empresas contratantes preveem o
acompanhamento, a frequência à escola e pressupõem o compartilhamento do conhecimento das áreas
de saberes inerentes à formação técnico-profissional. Nesse aspecto, a contribuição dos docentes da
EXTENSÃO PUC MINAS:
206 Novo Humanismo, novas perspectivas

universidade, dos discentes extensionistas e do cidadão com sua formação humanística integral é
marca significativa, relevante e presente da PUC Minas e da PROEX, integra as diretrizes formativas
contidas no programa difundido e sustentado pelo Instituto CEDUC Virgílio Resi.
A PUC Minas, uma instituição comprometida com a formação integral do indivíduo e com a
indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão, cumpre o seu papel transformador junto aos
atores na sociedade em que se insere, pois

Na perspectiva de democratizar o conhecimento produzido, a extensão consolida-se como


um dos meios que permite ampliar os canais de interlocução com os segmentos externos à
universidade. Simultaneamente, o contato com a sociedade retroalimenta o ensino e a
pesquisa e a própria extensão, contribuindo para o desenvolvimento de novos conhecimentos
científicos. A extensão universitária integrada ao ensino e à pesquisa é, portanto, parte do
fazer acadêmico e um dos lugares do exercício da função social das IES. Nessa dupla
dimensão, uma ação pedagógica extensionista favorece que a universidade intensifique a
convergência entre sua vocação técnico-científica, a vocação humanizadora e seu
compromisso social (PROEX, 2006, p.17).

A aprendizagem encontra-se definida na Constituição Federal, artigo 7º, inciso XXXIII, e


artigo 227, § 3º, inciso I, com redação modificada pela Emenda Constitucional 20, de 15/12/1998 e
na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT artigo 230, modificado pela Lei n º 10.097/2000, e de
acordo com a Lei n º 8.069/1990, capítulo V, artigos 62 a 67. Na esteira dessa definição, se instituiu
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que considera a educação de qualidade e a inserção
dos jovens no mercado de trabalho condição essencial para afastar da violência a população dessa
faixa etária, e propiciar-lhe condições dignas para o seu bem viver e de seus familiares. As definições
são norteadoras e justificativas da proposta aqui relatada.
Faz parte dela, a pretensão de ir além da concepção de formação somente do “Homo Faber”,
integrado à produção e ao mercado. Diferentemente disso, é preciso promover a cooperação no que
se refere ao processo de reflexão dos aprendizes e de seu acesso às atividades de natureza
socioeconômica, financeira e cultural no processo formativo, com vistas a uma ampliação de
possibilidades e escolhas, de forma a corroborar com a formação integral e efetiva de um cidadão
conforme orienta a citação a seguir:

[...]o projeto Jovem Aprendiz é concebido pela política pública educacional (Lei do Aprendiz
nº 10.097/2000 – BRASIL, 2000) que dispõe sobre condições e direitos de um jovem
aprendiz frente ao combate do trabalho infantil no Brasil. O programa de aprendizagem para
os jovens é ministrado por entidades qualificadas que tenham por objetivo a assistência ao
adolescente e a educação profissional. (MAGALHÃES et al., 2020, p. 129).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 207

Diante do exposto, pode-se afirmar que as ações desenvolvidas seguem as diretrizes da


política pública nacional, reafirmando a missão da PUC Minas, bem como os eixos definidos pelo
Instituto de Ciências Gerenciais da PUC Minas, o ICEG /Escola de Negócios e os cursos de graduação
envolvidos e que conformam a equipe responsável, sinérgica à formação discente, reafirmam o
humanismo, o compromisso com o desenvolvimento humano inerentes à missão da PUC Minas.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o projeto

vem contribuindo não apenas para a capacitação técnico-profissional dos jovens aprendizes,
mas para sua formação integral. Além disto, propicia aos extensionistas uma interação com
outros atores e realidades sociais, permitindo reelaborar seus conhecimentos, valores e
experimentar o processo de aprendizagem, por intermédio de práticas educacionais
indissociáveis. Estrategicamente, o projeto permite aos jovens abrir horizontes e projetar
ideais educacionais, [...] sensibilizados e conscientes de seu papel de protagonista da
mudança da realidade, contribuindo para uma sociedade mais justa e solidária. (PROEX,
2022-2025, 2022, p. 18-19).

O objetivo proposto textualmente no projeto em curso em 2022 é: contribuir para o


desenvolvimento e aprimoramento da capacitação de jovens aprendizes para inserção no mercado de
trabalho, no uso de tecnologias digitais e geração de renda, para sua formação humanística integral,
por meio de ações extensionistas realizadas em âmbito do ICEG - Escola de Negócios, no Campus
Coração Eucarístico. Essa finalidade se dá com vistas à consolidação da Célula de educação para o
trabalho e empreendedorismo sustentável, em parceria com o Programa Aprendizagem (instituído
pela Lei n º 10.097/2001), realizada com expertise pela entidade parceira CEDUC Virgilio Resi desde
2008.

2 METODOLOGIA

A metodologia usada no projeto é documental, qualitativa e participante, tomando como


objeto de análise jovens e dos agentes de transformação envolvidos e tendo como base a linha
pedagógica construtivista adotada pelo parceiro CEDUC. É importante destacar a riqueza da
amálgama metodológica que se deu no transcorrer do tempo de execução das ações por meio da
parceria potente e duradoura que ocorre no projeto “Jovem aprendiz, realidades e perspectivas
transformadas pelo conhecimento”.
EXTENSÃO PUC MINAS:
208 Novo Humanismo, novas perspectivas

A metodologia qualitativa foi usada por permitir

a análise de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais,


realizando um exame intensivo dos dados e é caracterizada pela heterodoxia no momento da
análise. Enfatiza-se a necessidade do exercício da intuição e da imaginação (...), num tipo de
trabalho artesanal, visto não só como condição para o aprofundamento da análise, mas
também - o que é muito importante - para a liberdade do intelectual. (MARTINS. 2004. p.1).

A observação participante foi adotada desde a primeira etapa do diagnóstico realizado junto
ao público beneficiário, bem como aos demais integrantes das instituições envolvidas. Na atualidade,
o processo encontra-se em curso, dado que o projeto atingiu sua primeira fase no primeiro semestre
de 2022. Todavia, considera-se, na condução da fase metodológica, que a observação participante:

é um método qualitativo com raízes na pesquisa etnográfica tradicional. O termo foi usado
pela primeira vez pelo antropólogo social Malinowski na década de 1920 e a abordagem foi
posteriormente desenvolvida pela Escola de Chicago sob a liderança de Robert Park e
Howard Becker (Given, 2008;Mack, Woodsong, Macqueen, Guest & Namey 2005). Essa
abordagem permite ao pesquisador (fieldworker) utilizar o contexto sociocultural do
ambiente observado (os conhecimentos socialmente adquiridos e compartilhados disponíveis
para os participantes ou membros deste ambiente) para explicar os padrões observados de
atividade humana. Ou seja, consiste na inserção do pesquisador no interior do grupo
observado, tornando-se parte dele, interagindo por longos períodos com os sujeitos, buscando
partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação.
(MARIETTO.2018. p.1).

Já a metodologia para aprendizagem adotada pelo CEDUC e pela equipe envolvida na fase de
execução das ações é de cunho construtivista,

na medida em que permite a construção coletiva do conhecimento a partir das interações


dialógicas, da experimentação, das práticas investigativas, em dinâmicas colaborativas e em
rede de aprendizagem. Pautando-se na centralidade do educando, concebem o projeto
aprendizagem como um espaço aberto à iniciativa dos alunos que, interagindo entre si e com
o professor/educador, realizam a própria aprendizagem, construindo seus conhecimentos.
(SAVIANI, s./a. apud MAGALHÃES, 2020, [s./p.]).

Outro aspecto a ser considerado é o o uso das plataformas, das redes e aplicativos, o que
pressupõe uma relação direta nas oficinas formativas, bem como a interatividade nas etapas de
formação presenciais mesmo após o retorno das atividades no Campus do Coração eucarístico após
a liberação para atividades presenciais. Esses processos exigiram inovação e atendimento à
complexidade que não se dava anteriormente à pandemia COVI 19, requerendo uma nova abordagem,
capaz de associar a relação virtual adotada na fase anterior ao espaço presencial já em princípios do
1º semestre de 2022. Trata-se de grandes desafios postos para a equipe, que entende de consolidação
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 209

do processo que se estende além da experiência da pandemia. Ainda temos que refletir, então, sobre
a aprendizagem e a capacidade de formar em ambientes virtuais ou ambientes combinados, parte
virtual, parte presencial ou laboratorial.
O processo de monitoramento, acompanhamento e avaliação tem sido realizado por oficina
formativa e são usados os testes rápidos, as pesquisas de opinião (survey) e relatos de experiências
junto aos jovens aprendizes nessa fase do projeto. No próximo semestre, serão efetuadas outras etapas
de monitoramento e avaliação previstas no projeto até a fase conclusiva da proposta extensionista.

3 MARCO REFERENCIAL

O presente projeto teve nas versões anteriores, e mantém nesta versão, como referencial o
marco regulatório para o Jovem Aprendiz e as abordagens relacionadas a tal prática, assim como a
explicitação da concepção do projeto desenvolvido entre a PUC Minas e o CEDUC. Conforme
informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2017), a taxa de desemprego juvenil
global era de 13,1%, o que informa que jovens têm três vezes mais chances de estarem desempregados
do que adultos; mas, quando um jovem consegue encontrar trabalho, o emprego está entre os
informais. Conforme as expectativas entre 2017 e 2030, a força de trabalho global juvenil irá
aumentar em 25,6 milhões; e, então, jovens trabalhadores irão precisar de empregos (MAGALHÂES
et al., 2020, p. 130).
Dayrell e Carrano (2003 apud MAGALHÃES et al., 2020) afirmam que a juventude é um
conceito subjetivo, definido historicamente e socialmente. Em decorrência desse fato, “o conceito
juventude não possui caráter universal, homogêneo ou estável. Apesar da divisão etária que costuma
ser feita, existem outros fatores sociais que definem a entrada na vida adulta”. (MAGALHÃES et al.
2020, p.131).
No país, esse reconhecimento se deu de forma tardia, e somente após a criação da emenda
constitucional nº65, em 13 de julho de 2010, passou-se u a incluir o adolescente e o jovem após a
alteração do Capítulo VII, do Título VIII da Constituição Federal. Essa inclusão é um avanço e se
alinha às recomendações da ONU em relação aos direitos da juventude.
No entanto, a situação dos jovens no mercado de trabalho não tem apresentado grandes
melhorias, em especial no período pós-pandêmico, no país e na região metropolitana de Belo
EXTENSÃO PUC MINAS:
210 Novo Humanismo, novas perspectivas

Horizonte, local de residências dos jovens aprendizes vinculados ao projeto e ao programa


desenvolvido pelo CEDUC. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE (2022) observa-se que

o desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos ficou em 22,8% no 4º trimestre de 2021. Houve


uma queda de 6,2 pontos percentuais frente aos 29,0% registrados no mesmo período do ano
anterior A taxa de desemprego entre os jovens, no entanto, segue o dobro da média geral, que
inclui toda a população, atualmente de 11,1%. O Brasil tem 12 milhões de desempregados.
(Verifica-se) no país, no 4º trimestre de 2021, as pessoas de 14 a 17 anos de idade
representavam 7,1% das pessoas em idade de trabalhar. Os jovens de 18 a 24 anos
correspondiam a 13,4%. (IBGE, 2022.p.10).

Por isso é necessária a adoção de políticas públicas condizentes com a realidade dos jovens
no Brasil, principalmente para aqueles que se encontram em grande vulnerabilidade social, agudizada
pelo processo decorrente da pandemia. Todavia, no momento atual, constata-se o esvaziamento do
papel efetivo do estado na geração de oportunidades, principalmente para esse segmento da
sociedade.
No auge da pandemia, no fim de 2021, verificou-se que, a maior desocupação por faixa etária
se situava no grupo de 14 a 17 anos: 37,2%. A maioria dos jovens, nessa categoria, trabalha sob
condições específicas, como a de função de menor aprendiz. A equipe que conduzia o projeto em
2020 já contava que o Programa Jovem Aprendiz é uma oportunidade para os jovens de baixa renda
que estavam à procura do 1º emprego.
De acordo com MAGALHÃES et al (2020, p.131),

A iniciativa do Programa Jovem Aprendiz é um bom exemplo de iniciativa pública para


auxiliar o jovem no primeiro emprego. Trata-se de um programa que visa gerar oportunidades
de emprego para adolescentes e jovens com idade entre 14 e 24 anos, que nunca trabalharam
e precisam adquirir as primeiras experiências profissionais, por meio da formação técnico-
profissional.

O projeto “Jovem Aprendiz, realidades e perspectivas transformadas pelo conhecimento”


possui transversalidade com diversos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
Agenda 2030), sendo o principal a redução das desigualdades (pois o público beneficiário da
proposta são jovens em condições de vulnerabilidade social à procura de melhores condições de
vida e inserção no mercado laboral), com forte aderência aos ODS relativos a trabalho decente,
erradicação da pobreza, educação de qualidade, empreendedorismo social, entre outros.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 211

Todavia há de se considerar que

o trabalho que, sendo uma das categorias de maior relevância social, transforma
simultaneamente o sujeito e a sociedade. Todavia, se considerarmos a dinâmica do
capitalismo, sobretudo ao final do século XX e início do século XXI, constataremos a
fragilização do valor trabalho e de seu significado mais fundamental de construção da
identidade, seja considerada a identidade individual, seja considerada a identidade social do
indivíduo. (DELGADO, 2006, p. 142).

Almejar um trabalho digno entrelaçado a uma formação decente se configura como grande
desafio posto em uma conjuntura pós-pandêmica, seja para os jovens aprendizes à procura de
formação e profissionalização, seja para as instituições parceiras. Elas estão imbuídas do propósito
de buscar de alternativas que permitam a criação de saídas de combate à crise econômica que tem
reduzido oportunidades para jovens e adultos, o que se soma aos percalços decorrentes de uma crise
sistêmica, cuja consequência é o adoecimento coletivo, algo que requer novos posicionamentos e a
definição de estratégias de combate potentes. É nesse contexto que o projeto tem desenvolvido suas
ações e cumprido suas metas, descritas no segmento a seguir.

3 RESULTADOS

Até o momento, o projeto apresentou resultados positivos em relação à participação dos jovens
aprendizes que frequentaram presencialmente todas as oficinas realizadas no primeiro semestre de
2022.
Verificou-se que “a dinâmica do projeto Jovem Aprendiz prevê, semanalmente, práticas
didático-pedagógicas que estão orientadas a ministrar os conteúdos educacionais de preparação do
aprendiz para desenvolver a atividade profissional na empresa contratante”. (ICEG/PUCMINAS,
2020). Além disso, o projeto prevê a realização de atividades de cunho sociocultural que foram
retomadas pós-pandemia. Elas estão ocorrendo de acordo com o cronograma definido anteriormente.
Observou-se ainda que a frequência tem sido mantida, tanto na formação teórica como na
prática/aplicada. A formação em temáticas contábil, financeira-econômica e de gestão e
empreendedorismo encontra-se em curso com forte adesão.
Os eventos, somados às visitas técnicas e culturais, têm surtido efeito sobre os jovens e
angariado grande interesse por parte dos que passaram a conhecer o campus e suas dependências
EXTENSÃO PUC MINAS:
212 Novo Humanismo, novas perspectivas

presencialmente pós-pandemia, seguindo todas as recomendações de segurança necessárias para


conter a contaminação decorrente da COVID-19, atendendo as medidas sanitárias exigidas pela PUC
MINAS.
Neste semestre, educadores do CEDUC, jovens aprendizes, discentes extensionistas e
professores vinculados ao projeto comparecem presencialmente em todas as atividades. O processo
formativo tem sido realizado tanto pelos docentes, como pelos discentes, sob a supervisão dos
professores participantes do projeto. Conta ainda com convidados para palestras e oficinas.
Encontra-se em andamento a elaboração do módulo referente à aprendizagem que permita
uma análise dos aprendizes acerca dos novos desafios do jovem brasileiro frente ao trabalho,
apresentando-lhes as informações sobre o empreendedorismo, o associativismo e o cooperativismo,
a formação humanística e sua interação na esfera social e inserção social no mundo do trabalho, da
produção e das possibilidades de geração de trabalho e atuação organizacional. As ações formativas
previstas foram realizadas de acordo com o cronograma apresentado no projeto.
Houve, inicialmente, certa dificuldade em relação ao acompanhamento presencial das
atividades por parte dos aprendizes, algo que pode ser atribuído ao processo de formação e ao
acompanhamento das palestras e oficinas realizadas de forma virtual e síncrona, problema superado
rapidamente.

3.1 Descrição e resultados alcançados na formação em Educação financeira e Finanças pessoais

O tema da educação financeira e a matemática empregada nos cálculos financeiros não


promovem divergências entre os teóricos e pesquisadores do assunto. Na bibliografia disponível no
mercado, as abordagens formam consenso e só divergem em relação ao nível de profundidade
pretendido nas análises.
Quanto à linguagem, nessa fase do projeto, privilegiou-se a simplicidade, de forma que o
público alo assimilasse facilmente o conteúdo. Contemplando essa questão, adotou-se a
fundamentação teórica abaixo, como linha principal para condução de um processo formativo
oferecido no primeiro semestre de 2022.
Para desenvolver o tema sobre porcentagens, foi considerada a contribuição de Luiz Paulo
Xisto e Marco Aurélio Kistemann Jr, com a obra Guia de atividades de educação financeira e
noções de empreendedorismo na educação de jovens e adultos (2020). Já em relação aos cálculos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 213

de juros simples e compostos, nos inspiramos no livro de Eduardo de Souza, Shopping Center
Financeiro: introdução ao uso da calculadora HP 12C, que traz uma sequência prática e didática
aplicada.
Finalmente, para as questões relativas à educação financeira, abordando o planejamento
financeiro pessoal, indicando as melhores opções dos mercados de investimento e de crédito, bem
como sugerindo posturas mais indicadas sobre as questões diárias de consumo e poupança, adotamos
principalmente as contribuições do Guia de Educação Financeira editado pelo IDEC
(INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR).
Foram estudados conceitos utilizados no mercado financeiro e fórmulas para cálculos de juros
(simples e compostos), além da realização de exercícios práticos, visando atender as necessidades
dos jovens aprendizes.
A equipe envolvida realizou uma pesquisa com os jovens aprendizes, objetivando conhecer
carências e necessidades do grupo, com a finalidade de delimitar o escopo e a abrangência do
conteúdo programático. A partir dessa investigação, detectou-se a necessidade de revisar
determinados conceitos e cálculos, envolvendo porcentagens e equações de primeiro grau,
indispensáveis para o entendimento da matemática financeira e consequente capacitação no
planejamento e controle das finanças pessoais. Dessa forma, deu-se o desenvolvimento de uma
formação dividida em três módulos: Porcentagem, Matemática Financeira e Educação Financeira. O
primeiro módulo propôs-se a uma revisão sobre o conceito de porcentagem, com práticas, por meio
da resolução de vários exercícios sobre o tema.
O segundo módulo, tendo em vista as dificuldades apresentadas pelos jovens para resolução
de questões sobre juros simples, exigiu que fosse incorporado ao fundamento teórico uma revisão
sobre equações de primeiro grau, fundamental para resolução dos cálculos vinculados a Matemática
Financeira. Sendo assim, a situação inesperada exigiu uma rápida adaptação da didática até então
utilizada na condução do projeto. A exemplo, para o entendimento e realização dos cálculos de juros
compostos, foi necessário ensinar aos jovens, paralelamente, os passos necessários para operar
calculadoras financeiras, especialmente a HP12C.
O terceiro e último módulo tratou dos conceitos e ferramentas mais simples, acessíveis aos
jovens aprendizes, para desenvolvimento e manutenção de um orçamento financeiro pessoal. Foram
estudadas as principais modalidades de aplicações financeiras, destacando aquelas mais acessíveis a
eles, explicitando de forma introdutória a instrumentalização dessas operações no mercado. Alguns
jovens demonstraram interesse em se aprofundarem no assunto, o que exigiu material complementar,
EXTENSÃO PUC MINAS:
214 Novo Humanismo, novas perspectivas

ampliando as informações sobre investimentos. Tratou-se também do mercado de crédito, destacando


as operações com taxas de juros mais pesadas, com alerta sobre os riscos envolvidos na contratação
de empréstimos. Para finalizar a atividade, realizou-se uma atividade prática, que consistiu em avaliar
um orçamento fictício e propor soluções capazes de restabelecer o equilíbrio financeiro para o caso
proposto por parte dos jovens aprendizes.
Os resultados indicam que a participação conjunta da PROEX por meio do projeto Jovem
Aprendiz trouxe ganho significativo referente à formação básica, atendendo carências e necessidades
dos jovens aprendizes em relação ao tema Educação Financeira. A ação foi considerada edificante
aos extensionistas e demais discentes envolvidos nas disciplinas extensionistas dos cursos de
graduação em Ciências Contábeis Virtual, Curso de Ciências Contábeis São Gabriel e Coração
Eucarístico (COREU) e Ciências Econômicas, por permitir um contato direto e constante com os
jovens e com a entidade parceira (CEDUC), gerando maior entrosamento entre os jovens e a equipe
do projeto.
Em abril de 2022, uma pesquisa foi realizada junto aos jovens aprendizes, por meio de
formulário digital, contendo 22 questões de nível básico sobre o tema educação financeira. A
consolidação das 15 respostas obtidas demonstrou que os alunos participantes do projeto possuíam o
conhecimento inicial requerido em relação ao tema planejamento financeiro, poupança e consumo e
produtos bancários.
Entretanto, foram detectadas carências em relação a conceitos básicos de finanças,
classificação de receitas e despesas e cálculos envolvendo porcentagens e juros, tendo em vista o
menor índice de acertos nas respostas. Esses tópicos foram reforçados na capacitação realizada no
período de 12 a 19 de maio deste ano. Ao final, uma cartilha em versão digital foi disponibilizada
para que os jovens aprendizes possam reexaminar os processos formativos, caso necessitem das
informações ou tenham interesse em consultá-las. No próximo semestre, essa etapa formativa terá
continuidade mediante ampla consulta aos jovens aprendizes acerca da temática da educação
financeira e finanças pessoais e empreendedorismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações desencadeadas no projeto em 2022 comprovaram a pertinência dessa iniciativa, pois


reafirmam um processo sinérgico da universidade com a participação dos diversos cursos reunidos
no ICEG/ Escola de Negócios, juntamente com a instituição parceira, o CEDUC.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 215

A contribuição para o desenvolvimento das capacidades, competências e habilidades dos


jovens aprendizes com vistas às superações dos entraves formativos se faz é necessária, pois
possibilita a inserção e a inclusão de jovens de baixa renda em melhores condições de primeiro
emprego. Acentua esse valor o fato de que, em uma conjuntura tão adversa como a atual, a proposta
de formar e capacitar os jovens em situação de vulnerabilidade reafirmar o compromisso que a
universidade tem com o desenvolvimento humano e sustentável em âmbito local, regional e nacional.
A educação profissional e o preparo para o primeiro emprego são uma frente de atuação dos
docentes e discentes extensionistas que conformam esta equipe, de forma a contribuir para a
sociedade, seguindo o espírito extensionista que considera a relação com a sociedade uma das trilhas
fundamentais para o exercício da extensão universitária.
É importante destacar que, seguindo os princípios da economia que edifica e está a serviço do
bem comum, conforme afirma o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si: “o cerne dessa economia
civilizatória constitui a democratização dos recursos econômicos e, consequentemente, da sociedade,
de modo a haver equilíbrio socioeconômico e também na relação com o planeta - a nossa Casa
Comum”. E com todos que nela habitam.

REFERÊNCIAS

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216 Novo Humanismo, novas perspectivas

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EXTENSÃO PUC MINAS:
218 Novo Humanismo, novas perspectivas

Projeto de Extensão como processo de integração entre discentes e


empresas na compreensão curricular de disciplinas no ensino superior

Romildo João Lisboa1


Amanda Valéria Novak Ferreira dos Santos2

RESUMO
O projeto de extensão é uma ação que vai além da sala de aula, promovendo interação entre a faculdade e a sociedade.
Em conjunto com ensino e pesquisa, ele compõe um dos três pilares de uma boa graduação. O projeto requer uma
aplicação dos conteúdos, aprendidos em sala de aula, na prática, e tem um peso valioso no currículo do estudante. Além
disso, proporciona o contato com diferentes tipos de comunidades e estimula o desenvolvimento do aluno. A extensão
significa a participação ativa do aluno na sociedade em que vive. Por isso, o projeto de extensão é sinônimo de impacto
social — tanto na vida de quem recebe os benefícios do projeto quanto no cotidiano dos alunos que o integram. Assim os
alunos do Curso de Administração colocam em prática as matérias estudadas em sala de aula. O nosso projeto consiste
em realizar consultoria com quatro empresas de diferentes ramos, aplicando questionários, dos quais são gerados
diferentes diagnósticos de maturidade. Com essas respostas, são sugeridas ferramentas de gestão empresarial e elaborados
projetos de melhoria, a cada um com suas particularidades. As empresas escolhidas foram do segmento de produção de
móveis, Madeira Bonita, uma empresa do ramo de construção civil, Engenharia Procópio. A terceira empresa escolhida
para o projeto é do ramo de beleza e estética, Camila Procópio Estética, e por fim um uma loja on-line do ramo de
relojoaria, Salvatore.

Palavras-chave: Projeto de extensão. Sociedade. Relação docente- empresa. Consultoria.

Extension Project as a process of integration between students


and companies in the curricular understanding of subjects in higher education

ABSTRACT
The extension project is an action that goes beyond the classroom, promoting interaction between college and society.
Together with teaching and research, it makes up one of the 3 pillars of a good degree. The project requires an application
of the contents, learned in the classroom in practice, and it has a valuable weight in the student's curriculum. In addition,
it provides contact with different types of communities and encourages student development. Extension means the active
participation of the student in the society in which he lives. Therefore, the extension project is synonymous with social
impact — both in the lives of those who receive the benefits of the project and in the daily lives of the students who
integrate it. Thus, the students of the Administration Course, put into practice the subjects studied in the classroom. Our
project consists of consulting with four companies from different branches, applying questionnaires from which they
generate different maturity diagnoses. With these answers, we suggested business management tools and elaborated
improvement projects, each with its own particularities. The companies chosen were from the furniture production
segment, Madeira Bonita, a company in the civil construction sector, Engenharia Procópio. The third company chosen
for the project is from the beauty and aesthetics sector, Camila Procópio Estética, and finally an online watch store,
Salvatore.

Keywords: Extension project. Society. Teacher-company relationship. Consultancy.

1
Graduado em Administração de Empresas pela UNIUV e Mestre em Gestão Estratégica das Organizações pela
Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC. Doutorando em projetos pela FUNIBER Fundação Universitária
Iberoamericana. E-mail: prof_romildo@uniguacu.edu.br.
2
Graduanda em Administração pela Uniguaçu. E-mail: adm-amandasantos@uniguacu.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 219

INTRODUÇÃO

Por meio da prática de extensão, a Universidade tem a oportunidade de levar até a comunidade
os conhecimentos dos quais é detentora, produzidos através da pesquisa do ensino superior, buscando
socializar e democratizar o conhecimento. O compartilhamento desse conhecimento com a
comunidade sugere uma proposta crítica a partir dos questionamentos que envolvem uma série de
fatores sociais, políticos e culturais.
A consolidação das atividades de extensão universitária, em nosso país, veio através do
desenvolvimento do Plano Nacional de Extensão, elaborado pelos pró-reitores das universidades
públicas brasileiras, hoje, apoiado pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC. De acordo com
esse documento,

a extensão é uma prática acadêmica que interliga a universidade nas suas atividades de ensino
e de pesquisa, com as demandas da maioria da população, possibilita a formação do
profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço
privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades
sociais existentes. (MEC, 1996, s./p.).

O projeto de extensão promove interação entre a faculdade e a sociedade em conjunto com


ensino e pesquisa. Essa atuação requer uma aplicação dos conteúdos, aprendidos em sala de aula, na
prática e tem um peso valioso no currículo do estudante. Além disso, ele proporciona o contato com
diferentes tipos de comunidades e estimula o desenvolvimento do aluno. A extensão significa a
participação ativa do aluno na sociedade em seu entorno, por isso é sinônimo de impacto social —
tanto na vida de quem recebe os seus benefícios quanto no cotidiano dos alunos que o integram.
Nesse contexto, os alunos do Curso de Administração, do Centro Universitário da Uniguaçu,
situado no interior do Estado do Paraná, passaram a realizar consultoria com quatro empresas de
diferentes ramos, aplicando questionários a partir dos quais se geraram diferentes diagnósticos. Com
essas respostas, aplicaram-se ferramentas e elaboraram-se sugestões de melhorias conforme as
necessidades e particularidades constatadas.
No presente estudo, as empresas escolhidas foram: a) uma do ramo de móveis, denominada
Madeira Bonita; b) outra da construção civil, com o nome de Engenharia Procópio; c) uma outra do
setor de beleza e estética, denominada Camila Procópio Estética; d) e, por fim, um uma loja on-line
do ramo de relojoaria, de nome Salvatore.
EXTENSÃO PUC MINAS:
220 Novo Humanismo, novas perspectivas

O projeto tem como principal finalidade articular ações nos campos do ensino, assessoria e
pesquisa. Na extensão, busca-se desenvolver atividades educativas junto a empresas, buscando o
desenvolvimento de estudos e gerando conhecimento a prática.
As ações consistiram em: realizar visitas à comunidade para fins de diagnóstico; utilizar as
demandas de campo para geração de pesquisa, com diagnóstico e implementação de medidas
motivacionais para as questões do desenvolvimento e a sucessão dentro das empresas, bem como
envolver diferentes áreas do conhecimento e fortalecer os vínculos entre os diferentes ramos
envolvidos no projeto.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com a necessidade de verificação para implantação do projeto, passou-se a realizar


consultoria:
A Consultoria é o ato de um cliente fornece, dar e solicitar, pedir pareceres, opiniões, estudos,
a um especialista contratado para que este auxílio apoie, oriente o trabalho administrativo,
pode-se dizer que a consultoria é uma troca onde o cliente fornece informações da empresa
e cabe ao consultor diagnosticar o problema e orientar da melhor forma possível.
(PARREIRA, 1997, p.12).

De acordo com Araújo (2006), a consultoria constitui-se em um conjunto de atividades


executadas através de uma interatividade entre as várias áreas da empresa, com a atuação de um
agente de mudanças responsável em estudar a organização, diagnosticando suas falhas e propondo
soluções em auxílio à tomada de decisões.
O consultor é um profissional contratado para auxiliar na identificação das necessidades da
organização, a partir do levantamento da situação atual e dos objetivos propostos no projeto de
consultoria. Esse, em conjunto com a empresa, irá desenvolver planos de implementação das ações
definidas conforme definido no plano de trabalho. Cabe ressaltar que o consultor não possui poder de
decisão, que sempre é da organização, representada por um gestor, membro da alta administração ou,
até mesmo, algum profissional da instituição.
É notável que as pequenas empresas, muitas vezes, sentem dificuldade de gerir a organização,
visto que a maioria abre o negócio sem ter um planejamento bem definido. Geralmente essas
organizações são administradas apenas por uma pessoa, que não tem conhecimento de mercado. Para
Klein (2010), a consultoria ajuda a empresa a pensar em sua estratégia de marca e no seu
posicionamento na mente do consumidor.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 221

Figura 1 – Turbulência no ambiente de Negócios

Fonte: CROCCO; GUTTMANN, 2017.

Como a finalidade deste projeto é desenvolver atividades aprendidas dentro na teoria da sala
de aula, colocando em prática ferramentas para a realização de consultorias, deve-se gerar um
processo de organização e planejamento. Com base nessa premissa, aplicamos questionários para
melhor embasamento da aplicação de ferramentas.
O questionário é um instrumento desenvolvido cientificamente, composto de um conjunto de
perguntas ordenadas de acordo com um critério predeterminado, que deve ser respondido sem a
presença do entrevistador (MARCONI; LAKATOS, 1999, p.100) e que tem por objetivo coletar
dados de um grupo de respondentes. Na pesquisa em Administração de Empresas, esse instrumento
é utilizado para obter informações sobre empresas, indivíduos, eventos, por exemplo (HAIR et al.,
2004, p. 159).
Após questionários aplicados, temos em mãos as nossas informações necessárias para a
aplicação de ferramentas que vão auxiliar no processo de organização da empresa.
Segundo Corrêa e Corrêa (2012), as ferramentas clássicas da qualidade têm como finalidade
auxiliar e apoiar a gerência na tomada de decisões para a resolução de problemas ou melhorar
situações. Brow et al (2006, p. 274) declaram que “[é] importante estar ciente de que as ferramentas
e técnicas da qualidade desempenham um papel importante na qualidade estratégica. As ferramentas
da qualidade visam por meio do ataque à causa, extinguir e coibir o aparecimento de problemas”.
As ferramentas da qualidade estão relacionadas ao desenvolvimento, à implementação, ao
monitoramento e à melhoria dos preceitos da qualidade nas organizações. Os programas e ferramentas
EXTENSÃO PUC MINAS:
222 Novo Humanismo, novas perspectivas

da qualidade representam importantes e necessários instrumentos para que os sistemas de gestão da


qualidade atinjam níveis máximos de eficiência e eficácia (BAMFORD; GREATBANKS, 2005).
Em todas as consultorias, foi usada a ferramenta de análise SWOT, que é uma ferramenta de
gestão que serve para fazer o planejamento estratégico de empresas e novos projetos. A sigla SWOT
significa: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats
(Ameaças) e é conhecida como Análise FOFA ou Matriz SWOT.
Uma das ferramentas de uso foi aplicada na consultoria da empresa Camila Procópio Estética
para Controle de caixa diário, o qual é uma rotina financeira realizada nas empresas para verificar as
movimentações registradas de entradas e saídas financeiras. Sua função é simplificar a visualização
de dados empresariais, em que você, com pouco tempo, consegue fazer a conferência financeira.
Ainda, para essa mesma consultoria foi utilizada a Instrução de Trabalho, a qual é uma
ferramenta para documentar ou padronizar tarefas específicas e operacionais. Com ela faz a descrição
e a ilustração de como fazer determinado processo. Em outra consultoria, foi utilizada a ferramenta
de Plano de Ação, a qual traça uma metodologia para a conquista de objetivos; trata- se de um
planejamento que define ações necessárias para atingir objetivos, cronogramas e prazos, responsáveis
por cada tarefa, recursos financeiros e humanos necessários e acompanhamento de resultados.
O 5W2H é uma ferramenta de gestão que foi desenvolvida para sanar problemas que ocorrem
nos processos metodológicos das empresas. De acordo com Lucinda (2016), ela funciona como um
checklist de atividades bem claras e definidas que devem ser realizadas em um projeto. Essa
ferramenta tem a propriedade de resumir as atividades diárias e por conseguinte auxilia no
planejamento, distribuição de afazeres, definir os itens que estarão contidos em um plano de ação,
bem como registrar e estipular prazos para a sua concretização. Visando proporcionar solução para
grande parte de problemas de relacionamento, Turner (1982, p. 87) propõe uma hierarquia de oito
objetivos específicos para a atividade de consultoria, indicando as características de cada um deles.
Abaixo, cada um dos objetivos explicados resumidamente:

• Obter e sistematizar informações para o cliente - um dos principais motivos da contratação de


serviços de consultoria. Esse objetivo pode supor a realização de pesquisas de opinião,
levantamentos de custos, estudos de viabilidade, pesquisas de mercado ou análise da estrutura
competitiva de um setor de atividade;
• Resolver problemas específicos do cliente - Turner (1982, p. 88) afirma que, com frequência,
os clientes encarregam os consultores de resolver problemas específicos e difíceis como,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 223

fabricar ou comprar uma peça, comprar ou vender um negócio, mudar a estratégia comercial,
definir como estruturar a organização para adaptar-se melhor às mudanças, definir que política
financeira seguir. A primeira tarefa do consultor é explorar o contexto do problema
estruturando uma proposta centrada nas preocupações do cliente, explorando, de maneira
concomitante, outros fatores conexos.
• Realizar um diagnóstico cujo resultado remete à fase de redefinição de problemas; para Turner
(1982, p. 88), uma grande parte da utilidade do consultor reside em sua experiência como
diagnosticador. Esse diagnóstico pode causar problemas entre o consultor e o cliente, já que
o resultado pode revelar problemas ocasionados por decisões equivocadas. Neste caso, cabe
ao profissional levantar os motivos das decisões inadequadas e dos erros de avaliação
assessorado por pessoas de dentro da organização que se comprometerão com o processo e
facilitarão a implementação das medidas corretivas.
• Recomendar soluções baseadas no diagnóstico - o trabalho de diagnóstico pode terminar com
um relatório bem elaborado e detalhado, ou uma apresentação verbal, em que o consultor
resume a situação encontrada e as providências que julga adequadas, relacionando
convincentemente as recomendações com o diagnóstico em que se apoiam. Para muitos, o
objetivo do trabalho é atingido quando o consultor apresenta um plano de ação lógico e
coerente, que determine as etapas para melhorar o problema especificado no diagnóstico. O
consultor faz recomendações oportunas e é o cliente quem decide quando e como colocá-las
em prática.
• Colaborar para a implementação das soluções - o consultor, juntamente com o cliente,
determina que passos a empresa está preparada para dar e como iniciar as ações posteriores.
O consultor trata continuamente de buscar apoio para a fase de colocar em prática, fazendo
perguntas relacionadas com a ação, falando dos avanços realizados e incluindo no grupo de
trabalho membros do sistema-chave.
• Contribuir para formar um consenso e um compromisso entre o pessoal da empresa em relação
às soluções recomendadas - a utilidade que pode ter qualquer trabalho de consultoria para uma
empresa depende do grau em que seus membros se ponham de acordo sobre a natureza dos
problemas, sobre as oportunidades que existem e sobre quais devem ser as ações corretivas
apropriadas. De um modo geral, se o diagnóstico não for aceito, as recomendações não serão
executadas e as informações úteis serão desconsideradas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
224 Novo Humanismo, novas perspectivas

• Facilitar a aprendizagem do cliente em como resolver problemas semelhantes que se


apresentem no futuro. Não se trata apenas de aumentar a capacidade do cliente para abordar
os problemas imediatos, mas também tentar ajudá-lo para que aprenda métodos adequados
para enfrentar desafios futuros.
• Promover a melhoria contínua da eficiência da organização, de maneira a colocar em prática
o que se recomenda - isso não implica apenas utilizar novos conceitos e técnicas de gestão,
mas mudar atitudes no que diz respeito às funções e prerrogativas da direção, incluindo mudar
o enfoque referente aos objetivos da organização e alcançá-los.

Para Araújo (2006), os erros que devem ser evitados na arquitetuta organizacional são:

• A tentação de se ignorar clientes;


• Não investir em qualidade;
• Não ter um projeto;
• Não dar ênfase à manufatura, ou seja, não se importar com a maneira como o produto é feito;
• Acreditar que não é preciso se importar com pequenos investidores.

Segundo Côrrea (2001), em termos da flexibilidade dos recursos tecnológicos (ou dos
equipamentos), os custos, o tempo e o esforço organizacional para a realização da troca de produtos
nas máquinas parecem ser considerações relevantes, ao menos em termos de flexibilidade para
obtenção de respostas.

2.1 Descrição e classificação das empresas

I) CAMILA PROCOPIO ESTETICA:

iniciou as atividades em 22/07/2020. A principal atividade dessa empresa é a estética, beleza


facial e corporal. Razão Social: CAMILA ESTETICA. Natureza Jurídica: 213-5 - Empresário
(Individual); Situação: Ativa
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 225

II) SALVATORE IMPORTS

Iniciou as atividades em 22/09/2021. A principal atividade dessa empresa é a revenda de relógios.


Razão Social: GUILHERME VELIS DE ABREU; Nome Fantasia: SALVATORE IMPORTS;
Situação Cadastral: ATIVA. Natureza Jurídica: 2135 - EMPRESARIO (INDIVIDUAL) Empresa
MEI: Sim

III) MOVEIS MADEIRA BONITA

Iniciou suas atividades em 03/09/2013. A principal atividade dessa empresa é a confecção de


moveis sob medida. Razão Social: GEOVANA APARECIDA BRIXI. Nome Fantasia: Madeira
Bonita. Data de Abertura: 03/09/2013 Tipo: MATRIZ. Situação: ATIVA; Natureza Jurídica: 213-
5 - Empresário (Individual)

IV) PROCOPIO ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA SC

Iniciou as atividades em 30/04/1991. Atividade: Construção de Edifícios. Razão Social:


PROCOPIO ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA S C. Natureza Jurídica: 224-0
Sociedade Simples Limitada;

2.2 Ferramentas de gestão aplicadas nas consultorias

• SWOT,
• diário de caixa,
• instrução de trabalho,
• cronograma de programação,
• treinamento baseado em problemas,
• plano de ação,
• ferramentas de planejamento objetivos e metas,
EXTENSÃO PUC MINAS:
226 Novo Humanismo, novas perspectivas

ANÁLISE E TABULAÇÃO DE DADOS

O formulário proposto pelo professor extensionista é composto de 80 questões, que apontam


o grau de maturidade na gestão de empresas, sendo avaliadas 06 áreas: Estratégia, finanças,
marketing, recursos humanos, operações e tecnologa. Este formulário é aplicado em forma de
pesquisa direta junto ao empresário ou gestor da empresa, gerando gráficos que apontam as
fragilidades de gestão existentes, desta forma, aplicam ferramentas de gestão para aprimorar o
gerenciamento da empresa.

3.1 Camila Procópio Estética

Em entrevista com a proprietária da Camila Procópio Estética, foram percebidas fragilidades


na parte de finanças, na qual a entrevistada não possui controle padronizado sobre suas atividades
dentro da clínica. O dinheiro que vai para o caixa é o mesmo que sai para fins pessoais, sem ao menos
ser relatado como aquele dinheiro entrou e nem como saiu. Para isso, foi aplicada a ferramenta diário
de caixa para ser relatado esse controle de suas finanças.
O diário de caixa irá auxiliar na quantidade de dinheiro que irá entrar e sair á cada dia. No
final do mês a proprietária terá um demonstrativo completo do seu caixa, com entradas e saídas tanto
do dinheiro em cédulas, como em cartões ou PIX. Outra ferramenta importante para este projeto em
específico foi a Instrução de Trabalho, a qual será utilizada de forma a padronizar algumas tarefas
operacionais dentro da clínica, para assim ter uma organização padrão em seus atendimentos.

Figura 2 – Diagnóstico de empresa

Fonte: Os autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 227

3.2 Salvatore Imports

A empresa Salvatore Imports é uma loja on-line com pouco mais de um ano de atividades. A
ideia surgiu entre dois amigos que agora são sócios dessa marca. Com grande parceria, eles aos
poucos vão conquistando o próprio espaço no mercado. Cada vez crescendo mais no Instagram, que
é a principal porta de venda e de entrada no mercado joalheiro para esses dois jovens empreendedores,
que futuramente sonham em abrir um espaço físico.

Figura 3 – Diagnóstico de empresa

Fonte: Os Autores, 2022.

O plano de ação tem como proposta um melhor entendimento do mercado. Com o formulário,
é possível saber das ações dos concorrentes e as atitudes às quais se deve dar mais atenção para
melhorar, com base em avaliação de preço e qualidade. Outro ponto avaliado foi a oferta dos produtos
(em questão de preço e venda). O intuito é aplicar um cronograma e influenciar a forma de abordagem
das vendas e atendentes, buscando mostrar que o cliente deve ser sempre tratado com respeito,
educação e prontidão.
O primeiro passo desse cronograma é incentivar os atendentes a conversar com os clientes
durante e após a compra, buscando saber se ele encontrou o que procurava ou se tem alguma sugestão.
Logo, o gerente fara contato com os responsáveis pelo desenvolvimento do sistema feito para a loja,
buscando desenvolver um novo modulo de cartão fidelização. Esse sistema irá acumular pontos para
os clientes: a cada R$50,00 (cinquenta reais) em compras, o cliente ganhará 1 ponto. O acúmulo de
100 pontos dará ao cliente um desconto (digamos, de R$50,00).
A Salvatore trabalha com ótimas marcas e seu maior foco em vendas são relógios. A empresa
foca em bastante treinamento de venda e marketing, mas, muitas vezes, esses treinamentos são
esquecidos, não são colocados em prática.
EXTENSÃO PUC MINAS:
228 Novo Humanismo, novas perspectivas

Outro ponto fraco que foi percebido é na parte de finanças, em não saber diferenciar o dinheiro
do caixa para o pessoal. Entretanto, é uma loja que tem muito crescimento no mercado, pois é bem-
vista e se trata que algo novo. Fazem envios para todo o Brasil e vem ganhando confiabilidade e
aumento em suas vendas. Têm um plano de metas e vêm se destacando no segmento em que atuam,
tendendo a melhorar com a consultoria.

3.3 Madeira Bonita

Madeira Bonita é uma empresa de móveis planejados que está há mais de 15 anos atendendo
as cidades de União da Vitória, Porto União e região. Direcionada não somente a propor móveis que
traduzam estética e funcionalidade, mas também a realização de sonhos, trazem compromisso e
competência, ao contar com profissionais apaixonados pelo que fazem e que primam pela dedicação,
ao priorizar o estilo de cada cliente.
De início, foram apresentadas duas ferramentas para essa empresa, sendo uma de
planejamento e a outra de objetivos e metas, as quais irão auxiliar a empresa a ter um rumo, em suas
decisões, e a seguir possíveis tendências do mercado.
A empresa Madeira Bonita está há mais de 15 anos no mercado. É uma empresa que vem com
vícios em algumas atividades, como o fato de seu layout estar desorganizado, falta ajuste de layout
também nas mesas do escritório. De maneira geral, entrega qualidade e bom serviço aos clientes que
se mostram satisfeitos com o trabalho apresentado. A empresa trata-se de algo familiar e os
funcionários de fábrica são antigos. Buscam sempre a evolução e a conquista de novos designers de
móveis, tendências e sofisticação.

Figura 4 – Diagnóstico de empresa

Fonte: Os Autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 229

3.4 Engenharia Procópio

A Engenharia Procópio trabalha com projetos que vão desde o acompanhamento de uma
reforma até uma obra maior, e têm como foco o segmento de Construção Civil em União da Vitória
e região.
Como proposta de início, foram escolhidas duas ferramentas para aplicação, sendo uma delas
treinamento baseado em problemas e a outra um plano de ação. Ambas as ferramentas escolhidas se
encaixaram perfeitamente para a organização, frente aos problemas apresentados, dando melhor
auxílio na hora de resolver as pendências.
A Engenharia Procópio está no mercado há mais de 60 anos, atuando no ramo da construção
civil. Atualmente houve declínio em sua demanda. Houve períodos em que passou por crise financeira
e mão de obra escassa. Hoje se mantém com sistemas desatualizados e com rotina de serviço baixa,
pois se deixou levar pelo tempo e pela concorrência.
Como proposta, foi sugerida uma nova estratégia, com mais desenvolvimento no marketing e
um controle mais elaborado de suas finanças e investimentos. As tarefas, por mais bem executadas
que sejam, necessitavam de um cronograma para uma melhor análise da sua rotina de serviço; por
isso, foram desenvolvidas propostas de rotinas bem elaboradas. Seu engajamento será melhor e mais
produtivo, caso se mostre mais ativa e presente em sua área de atuação.

Figura 5- Diagnóstico da empresa

Fonte: Os autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
230 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível compreender que a consultoria é uma prestação de serviço especializado onde o
profissional da área, ou seja, o consultor, a partir de sua expertise, sugere melhorias aos clientes
buscando sanar as fragilidades a partir de resultados obtidos na análise, neste caso, de maturidade
empresarial.
Essas consultorias foram possíveis através do projeto de extensão, o qual permite ao
acadêmico vivenciar o mercado empresarial sob a ótica de consultor, com liberdade supervisionada,
a fim de poder se comunicar com o mundo empresarial e colocar em prática as atividades e
ferramentas de estudo da área.
Após o diagnóstico das empresas apresentadas neste artigo, foram apresentadas as ferramentas
e feita a análise e a interpretação dos resultados, para obter algumas conclusões a respeito da
consultoria empresarial e dos objetivos propostos para cada área de cada empresa apresentada.
Em relação às empresas envolvidas com a pesquisa do projeto de extensão, duas delas já vêm
com vícios dentro de sua organização, com processos repetidos. Já as outras duas, que têm pouco
mais de dois anos de atuação, não apresentam tais vícios de gestão.
Conclui-se que qualquer tipo de empresa pode se beneficiar da gestão da qualidade e da
aplicação de suas ferramentas, pois fornecem um vasto portfólio, que não necessariamente, precisam
partir de grandes investimentos para colocá-las em prática. O essencial é que seus princípios sejam
seguidos e sua metodologia seja fielmente aplicada a fim de alcançar a melhoria que se pretende.
E como “cereja do bolo”, o encerramento do projeto de extensão proposto propôe a geração
de um artigo, resumindo diagnósticos, ferramental e devolutivas propostas, alinhando o mundo
acadêmico ao mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Luis César G. de. Organização, Sistemas e Métodos e as Tecnologias de Gestão


Organizacional - 2 Ed. São Paulo: Atlas S.A., 2006.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Avaliação Nacional da Extensão niversitária.
Brasília: MEC/SESu; Paraná: UFPR; Ilhéus, BA: UESC, 2001a. (Extensão Universitária, v.3).
CORRÊA, H.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, Programação e Controle da
Produção: MRP II/ERP- conceitos, uso e implantação. São Paulo: Atlas, 2001.
CROCCO, Luciano; GUTTMANN, Erik. Consultoria Empresarial. 3. ed. São Paulo:
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 231

HAIR, J. F.; BABIN, B.; MONEY, A.H.; SAMUEL, P. Fundamentos métodos de pesquisa em
administração. Porto Alegre: Bookman, 2004.
LUCINDA, Marco Antônio. Análise e Melhoria de Processos - Uma Abordagem Prática para
Micro e Pequenas Empresas. Simplíssimo Livros Ltda, 2016.
MARCONI. M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999
SEBRAE. Caderno de ferramenta: Programa Negócio a Negócio. Brasília, 2016.
SEBRAE. Como elaborar um plano de negócios. 2013. Disponível em:
https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/COMO%20ELABORAR%20UM%20
PLANO_baixa.pdf . Acesso em: 27 maio 2021
SITEWARE. Plano de ação: como montar um em 7 passos para uma empresa. Disponível em:
https://www.siteware.com.br/blog/projetos/como-criar-um-plano-de-
acao/#:~:text=Um%20plano%20de%20a%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9,possa%20atingir%20o
s%20melhores%20resultados. Acesso em: 27 maio 2021.
ZIPTIME, Gestão Análise Swot - FOFA: O que é? Como Fazer? Disponível em: Acesso em:
https://ziptime.com.br/analise-matriz-swot-o-que-e-como-fazer/ Acesso em: 27 maio 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
232 Novo Humanismo, novas perspectivas

A minério-dependência e as alternativas econômicas:


uma análise do caso de Brumadinho a partir da prática extensionista

Tânia Cristina Teixeira1


David Ferreira Duarte2
Ario Maro de Andrade3
Karen Munhoz de Oliveira4

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica do minério-dependência no município de Brumadinho,
destacando seus impactos econômicos, sociais e ambientais, agravada pelo rompimento da barragem do B1 do Córrego
do Feijão, destacando as implicações referentes à obtenção de renda por parte da população local de Brumadinho. A partir
das reflexões acerca das temáticas destacadas, o texto pondera sobre as possibilidades de economias alternativas à
mineração, na busca de saídas para o desenvolvimento local e regional. Esta investigação foi originada a partir da prática
extensionista desenvolvida na comunidade local e em territórios limítrofes, culminando em ações/atividades que
objetivaram a superação dos desafios supramencionados.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local. Mineração. Desenvolvimento Sustentável.

La dependencia mineral e las alternativas económicas:


un análisis del caso de Brumadinho a partir de la prática Extensionista

RESUMEN
El presente trabajo tiene como objeto analizar la dinámica de la dependencia mineral en el municipio de Brumadinho,
destacando sus impactos económicos, sociales y ambientales, agravado por el rompimiento de la presa B1 del Córrego
do Feijão, destacando las implicaciones referentes a la obtención de renda por la parte de la población local de
Brumadinho. A partir de las reflexiones acerca de las temáticas destacadas, el texto pondera sobre las posibilidades de
economías alternativas a la minería, en la búsqueda de salidas para el desarrollo local y regional. Cuesta investigación fue
originada a partir de la práctica extensionista desarrollada en la comunidad local y en sus territorios limítrofes, llegando
en acciones/actividades que objetivan la superación de los desafíos supra mencionados.

Palabras-clave: Desarrollo local. Minería. Desenvolvimiento sustentable.

1
Mestre em Ciências Políticas - DCP/UFMG; Ms(a) Economia Aplicada - Universidad de Valencia; Dr.ª em Economia
Aplicada - Universidad de Valencia; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: taniacri@hotmail.com
Graduando em Ciências Econômicas; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: davidduarte121@gmail.com.
3
Mestre em Economia Regional - CEDEPLAR/UFMG; PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail:
ariomaro@pucminas.br.
4
Bacharel em Ciências Econômicas pela PUC Minas, Extensionista Voluntária - PUC Minas. E-mail:
karenmunhozo@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 233

INTRODUÇÃO

A produção minerária faz parte da história do Brasil desde o século XVII, em maior ou menor
escala, em diversas regiões do território brasileiro. O estado de Minas Gerais possui notória
importância histórica no que se refere ao desenvolvimento das cadeias produtivas do setor mineral,
sendo até hoje um grande expoente da indústria extrativista deste país. O município de Brumadinho
encontra-se inserido nesse contexto, compondo o denominado "Quadrilátero Ferrífero”, responsável
pela maior parte da extração de minério de ferro do país. A história de ocupação e desenvolvimento
do território brumadinhense se confunde com a história da extração mineral na região. Bechler (2019)
salienta que

Em 20 de junho de 1917, foi inaugurada a Estação Brumadinho, dando início ao povoamento


ostensivo da região. [...] As alterações espaciais e de dinâmica social geradas pela
inauguração desse grande complexo ferroviário, acabaram culminando com a criação do
município de Brumadinho, em 1938, pelo decreto Lei nº. 148, de 17 de dezembro. [...] Assim,
podemos perceber que a construção do ramal do Paraopeba marca a segunda fase da formação
histórica de Brumadinho, vinculada simbólica, política, social, econômica e culturalmente às
estações ferroviárias de seu entorno e à extração de suas riquezas minerais. (BECHLER;
BECHLER, 2019, p. 554-5)

A análise feita a partir de estudos que usam os dados secundários e a revisão bibliográfica,
somado ao trabalho de campo realizado nos anos de 2019 a 2021 nos indica que a atividade de
extrativismo mineral de grande porte, por motivos que serão abordados ao longo do texto, muitas
vezes produz a construção de uma relação de minério-dependência no território em que se insere. A
dependência econômica é uma situação na qual uma determinada economia é condicionada pelo
desenvolvimento e expansão de outra economia à qual está subordinada (SANTOS, 2011). Assim,
essa relação se caracteriza como a situação em que uma determinada economia se encontra refém de
um modelo de crescimento dos resultados do setor mineral em seu território.
O estado de Minas Gerais se apresenta, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM),
como o segundo estado brasileiro no ranking de arrecadação da Contribuição Financeira pela
Exploração Mineral (CFEM), em 2021, com 44,74% da arrecadação total, ficando atrás apenas do
estado do Pará, que concentrou 46,79% da arrecadação total. A CFEM, prevista por lei desde 1989,
é o principal vínculo econômico entre os municípios e as empresas mineradoras e é um dos parâmetros
para se medir o grau de dependência econômica dos territórios em relação à atividade extrativista.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em seu relatório anual, as exportações
minerais brasileiras representaram 372,5 milhões de toneladas de bens minerais exportados em 2021,
233
EXTENSÃO PUC MINAS:
234 Novo Humanismo, novas perspectivas

que correspondem a cerca de 58 bilhões de dólares, sendo que 76,9% do montante se dá pela
exploração do minério de ferro. Importante também destacar que o setor mineral foi responsável por
80% do resultado positivo da balança comercial brasileira no ano de 2021, demonstrando mais uma
vez a relevância estratégica e política do setor. Silva (2020) ressalta que a “...literatura mostra que o
Brasil é marcado historicamente pelo papel de país exportador de matéria prima, que começou com
o Pau Brasil, depois a cana de açúcar, seguiu com o ouro, o algodão, o café, a borracha, o petróleo, o
gado e a soja, em uma sucessão do que hoje chamaríamos de ‘desastres ecológicos’” (SILVA, 2020,
p. 27).
Partindo de uma análise inicial, os dados exibidos indicam que: (1) a atividade de extrativismo
mineral no Brasil possui grande relevância política e econômica, apresentando-se como um setor
estratégico do ponto de vista político-institucional, estando o município de Brumadinho incorporado
nessa conjuntura; (2) o extrativismo mineral está altamente ligado ao mercado externo de
exportações; e (3) a arrecadação da CFEM é um pilar fundamental na estrutura de dependência.
Agrava esse quadro o fato de que, quando um empreendimento de grande porte se instala em
um território, cria-se, como vimos na própria história de ocupação do território que hoje entendemos
como o município de Brumadinho, uma tendência imigratória motivada pela oferta de trabalho gerada
direta e indiretamente pela atividade extrativista, resultando, geralmente, em uma expansão urbana
descontrolada. A expansão é marcada pelo aumento populacional que altera todo o ordenamento
territorial de maneira brusca, sem planejamento específico, acarretando uma série de problemas
urbanísticos e de infraestrutura os quais geram impactos significativos no ordenamento social vigente,
transformado de maneira exógena e abrupta.
A questão ambiental também está diretamente relacionada à atividade extrativista, de modo
que sua operação pode gerar processos de desequilíbrio e degradação, como o aumento da poluição
atmosférica por conta dos materiais particulados; o ruído; a sobrepressão acústica e vibrações no solo
associadas à operação de equipamentos e explosões; o grande fluxo de automóveis pesados; a
poluição; o assoreamento e/ou destruição de rios, córregos, nascentes e lençóis freáticos ─ todo o
recurso hídrico da região, em caso de manejo inadequado de rejeitos. Tudo isso também pode
contribuir para a destruição do extrato orgânico da terra, tornando-a estéril para a produção agrícola.
Todos os problemas indicados até aqui são também problemas econômicos. Se, por um lado,
a atividade extrativa mineral gera valor, por outro, ela destrói valor, impossibilitando e/ou
prejudicando a ocorrência de diversas atividades econômicas que muitas vezes já ocorriam naquele
território, promovendo impactos negativos na renda das famílias. Dessa forma, o presente artigo
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 235

apresenta uma análise das dinâmicas expostas acima e tem como objetivo principal explicitar a lógica
minério-dependente vigente no território trabalhado e apresentar as possíveis alternativas e
tecnologias sociais emergentes em Brumadinho. Tomamos como base a pesquisa bibliográfica e o
trabalho extensionista realizado em campo e virtualmente, com a proposição de alternativas
econômicas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O trabalho extensionista realizado tem, entre seus objetivos, proporcionar maior familiaridade
com o tema em estudo e o esclarecimento acerca de um problema de investigação que é a análise da
minério-dependência, destacando as diferenças teórico-metodológicas que fundamentam as correntes
de pensamento afeitas à antropologia econômica, o desenvolvimento local e regional, a economia
ambiental e ecológica e a sustentabilidade.
Gil (2002) tece considerações a respeito dos estudos de alcance e complexidade, pontuando
que demandam o uso de técnicas e de instrumentos de pesquisas que promovam condições efetivas
para compreender a realidade dos fenômenos de natureza diversa.
Nesse sentido, o presente trabalho, observados os limites estabelecidos pela abordagem
temática e as teorias base, se deu a partir: a) da revisão da literatura pertinente em relação ao tema e
levantamento de dados secundários; b) do estudo crítico de correntes teóricas e pronunciamentos
sobre o tema proposto; c) do contato e diálogo direto com a população local, sobretudo as
Organizações da Sociedade Civil (OSC) atingidas pelo rompimento da barragem.
Como o trabalho aqui retratado é originário de ações extensionistas no território, é necessário
esclarecer que os métodos e técnicas utilizados na sensibilização, na realização de oficinas e reuniões
de apoio e assessoria técnica seguiram as recomendações da pesquisa-ação, reconhecendo que a

[...] pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante engajada, em oposição à pesquisa


tradicional, que é considerada como “independente”, "não-reativa" e “objetiva”. Como o
próprio nome já diz, a pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação e/ou a prática, isto é,
desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática. A pesquisa-ação surgiu
da necessidade de superar a lacuna entre teoria e prática. Uma das características deste tipo
de pesquisa é que através dela se procura intervir na prática de modo inovador já no decorrer
do próprio processo de pesquisa e não apenas como possível consequência de uma
recomendação na etapa final do projeto. (ENGEL, 2000, p.182).

Baldissera (2001), ao analisar a importância da pesquisa-ação, reitera que o método assegura


uma aprendizagem coletiva dos atores sociais envolvidos. Thiollent reafirma:

235
EXTENSÃO PUC MINAS:
236 Novo Humanismo, novas perspectivas

[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita


associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada
estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. (THIOLLENT, 1985, p.14).

Além disso, a prática extensionista desenvolvida se pauta na Política de Extensão


Universitária da PUC Minas, de modo que o trabalho de campo observou, a todo momento, o objetivo
da prática extensionista de democratizar e tornar acessível a produção de conhecimento científico à
sociedade:

Em um contexto marcado por profundas mudanças sociais, econômicas e políticas, as


universidades vivenciam um clima de crise e expectativa. É necessário fazer uma reflexão
sobre os desafios postos às instituições de ensino superior na busca da qualidade científica,
tecnológica e artístico-cultural e em sua interação com a sociedade. Deve-se pensar o ensino,
a pesquisa e a extensão como ações que permitem à universidade cumprir seu objetivo maior
de produzir o conhecimento científico e torná-lo acessível à sociedade. Na perspectiva de
democratizar o conhecimento produzido, a extensão consolida-se como um dos meios que
permite ampliar os canais de interlocução com os segmentos externos à universidade.
Simultaneamente, o contato com a sociedade retroalimenta o ensino e a pesquisa e a própria
extensão, contribuindo para o desenvolvimento de novos conhecimentos científicos.
(PROEX, 2006, p.17).

Pode-se concluir, a partir do exposto, que as ações desencadeadas durante o período de


pesquisa e ação extensionista seguiram essa linha metodológica, cujas ações de aprendizagem dizem
respeito a todos os atores envolvidos, da universidade e da comunidade.

3 METODOLOGIA

A prática extensionista deste trabalho foi realizada no município de Brumadinho/MG e


territórios limítrofes, no decorrer dos anos de 2019, 2020 e 2021. A partir do projeto Educação
Financeira e Geração de Emprego e Renda em Brumadinho, foram realizados diversos encontros,
reuniões, debates, formações e rodas de conversa com as comunidades locais no intuito de
compreender quais eram suas necessidades mais prementes após o rompimento da barragem B1 do
Córrego do Feijão no que se refere à obtenção de renda. Sendo assim, a partir desses diálogos e das
manifestações das demandas das comunidades locais, foram realizadas atividades voltadas para o
apoio na obtenção de renda e da geração de empregos locais, sobretudo com agricultores de base
familiar que haviam sido diretamente impactados pelo rompimento da barragem. O escoamento de
suas produções passou a sofrer dificuldades e foi muitas vezes até interrompido. Entre essas
atividades, destaca-se a formação do grupo Entreposto Agroecológico e Cultural, que culminou na
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 237

formatação do Núcleo de Consumo Consciente, em parceria com a Associação Horizontes


Agroecológicos. Ele tem por fim o apoio de logística e a operacionalização na venda de cestas
agroecológicas por agricultores de base familiar.
Ainda informamos que a presente pesquisa se fez pela coleta de dados secundários, estudos
críticos dos extensionista presentes no território onde realizaram reuniões e oficinas com a população,
estratégia mais importante, pois esse diálogo direto com a comunidade local gerou grande resultado.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS: SOBRE A ATIVIDADE MINERÁRIA E A MINÉRIO-


DEPENDÊNCIA ─ DILEMAS E DESAFIOS EM UMA COMUNIDADE LOCAL
DEPENDENTE DOS RECURSOS MINERÁRIOS

Conforme informamos na introdução, a minério-dependência se caracteriza por uma situação


na qual uma economia se torna refém dos resultados econômicos do setor de extrativismo mineral em
seu território. Um problema que emerge dessa relação, a princípio estritamente econômica, é o grande
volume de bens minerais direcionado ao setor de exportação. De acordo com o Decreto nº 9.252, de
28 de dezembro de 2017, a alíquota da Contribuição Financeira Pela Exploração Mineral, CFEM,
incide sobre a receita bruta calculada. Assim, a arrecadação por parte da União, estados e municípios,
depende, em parte, de duas variáveis exógenas, que são o preço dos bens minerais exportados no
mercado internacional e a relação monetária USD ($) / BRL(R$).
Importante destacar que a exportação de bens minerais no Brasil se dá, majoritariamente, a
partir de demanda única de alguns países. De acordo com o IBRAM (2020), 72% do minério de ferro
exportado teve como destino a China, ou seja, um único país sustenta bem mais da metade do total
da demanda pelo principal mineral de exportação brasileiro. Assim, a alta ou a baixa dos preços desse
bem mineral está completamente subordinada ao modelo de desenvolvimento econômico do país
comprador, produzindo uma relação de dependência.
A situação, somada à relação monetária USD ($) / BRL(R$), indica uma perda parcial do
controle do poder público local sobre a receita e a expectativa orçamentária no que tange aos
territórios minério-dependentes. Isso, por sua vez, produz impactos na viabilidade de estruturação e
execução de políticas públicas. Coelho (2012) afirmam de forma categórica que a pauta da
dependência é “uma situação econômica, política e social na qual algumas sociedades têm sua
estrutura condicionada pelas necessidades, interesses e ações de outras nações” (COELHO, 2012,
p.128).

237
EXTENSÃO PUC MINAS:
238 Novo Humanismo, novas perspectivas

Uma informação especial obre a CFEM é a de que sua alíquota teto é de 3,5% sobre a receita
bruta calculada, o que gera um montante expressivo frente às arrecadações municipais, mas
inexpressivo frente ao valor das operações das empresas mineradoras nos territórios (COELHO,
2020). Se compararmos o limite da alíquota da CFEM com os limites das taxas equivalentes em
outros países mineradores, também é possível observar uma defasagem da nossa taxação. Em
publicação da PWC de 2012, intitulada Corporate income taxes, mining royalties and other mining
taxes: A summary of rates and rules in selected countries, consta um limite/teto bem superior em
outros países como Austrália (22,5%); Canadá (16,00%); Chile (14,00%); Peru (13,12%); Rússia
(8,00%); África do Sul (7,5%); e Estados Unidos (12,50%).

4.1. Impactos sociais e ambientais do extrativismo mineral em Brumadinho

Como declarado anteriormente, o processo de instalação de empreendimentos industriais de


grande porte, nesse caso de empreendimentos minerários, produz efeitos amplos e estruturais de toda
a ordem nos territórios onde se inserem. Em decorrência do processo, é possível verificar uma série
de transformações das estruturas econômicas e produtivas, que, por sua vez, implicam mudanças na
maneira de se viver nesses lugares, mudando a lógica urbana e, consequentemente, a social. A
expansão demográfica gera transformações na paisagem urbana; alguns bairros são completamente
destruídos e outros criados, no intuito de alocar uma “nova população”, a imigrante, que chega
subitamente, sem tempo hábil para se pensar na ordenação do espaço e de suas funções sociais,
caracterizando um processo de expansão não planejada. A cidade se amplia, então, para lugares que
antes eram usados para outros fins, como para outras atividades produtivas e lazer, impactando,
mesmo que indiretamente, o ordenamento social ali existente.
O encadeamento desses fatores desconsidera o espaço como lugar de subjetividades, atuando
de modo a suprimir a reprodução dessas subjetividades e criar-lhes barreiras. Dado o caráter exógeno
e a relação de dependência econômica/institucional alimentada pela relação de minério-dependência,
geram-se os pilares de sustentação para a existência de uma nova práxis dominante no território. No
caso de Brumadinho, esse fator é agravado pelo rompimento da barragem, que gera estigmas e mais
barreiras (econômicas e sociais) para a reprodução da cultura local. Sobre essa relação das populações
atingidas pela degradação ambiental, Silva afirma que

o processo extrativista ultrapassa o território da empresa e cria teias de dependência moral,


política e econômica. Mariana, que vivenciou um rompimento de barragem de rejeitos de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 239

minério há quatro anos, tem, desde então, vivido um desastre com simultâneas consequências
físicas, econômicas e psicológicas. Pequenas crises cotidianas, resultantes de um contexto de
crise amplo, que se perpetuam sobre atingidos e trabalhadores, na forma de fantasmas que
rondam a memória e intensificam o medo de outros rompimentos, outras formas de morrer.
(SILVA, 2020. p.1).

Assim, as comunidades locais são alijadas gradativamente do processo de participação social,


são impactadas e impedidas de dar respostas imediatas aos dilemas impostos pela minério-
dependência, o que resulta na queda da atividade econômica, no desaparecimento e varredura de
economias locais, empobrecendo, sobremaneira, municípios e comunidades que antes apresentavam
crescimento econômico e emprego da mão de obra local (TEIXEIRA et al. 2019).
Quanto aos impactos ambientais e socioambientais provocados pela atividade de extração
mineral, são destaques: (i) a poluição atmosférica por conta dos materiais particulados, o ruído e a
vibração, causados pelas explosões nas minas principalmente; (ii) o grande fluxo de automóveis de
carga, como caminhões de carga, provocando danos nos imóveis (que não possuem planejamento
prévio para suportar tais vibrações) localizados próximos ou no caminho das minas, desvalorizando-
os no mercado imobiliário, fazendo parte então do processo de destruição de valor provocado por tal
atividade produtiva; (iii) o alto consumo de água, ainda que baixo em comparação com outros setores
industriais, utilizado no processo produtivo e de beneficiamento do minério de ferro (são utilizados,
em média, 4.200 litros de água para a produção de 1 tonelada de minério de ferro (HESPANHOL,
2005); e (iv) a poluição/destruição dos recursos hídricos de forma geral. No decorrer do trabalho de
campo, foi possível observar que parte do rejeito da extração mineral tem como destino a rede hídrica
do município, como ocorre, por exemplo, na região do Tejuco, há mais de 10 anos 5, provocando a
degradação de rios, córregos e nascentes, o que também faz parte do processo de destruição de valor
pela atividade de extração mineral, bem como a implicação direta na diminuição das condições de
bem-estar social e de saúde dos munícipes.
Além disso, a atividade minerária pode contribuir para a destruição do extrato orgânico da
terra, tornando-a estéril para a produção agrícola. Sobre isso, é válido ressaltar que o problema tem
parcela no que tange ao tema da reconstrução de áreas degradadas e de gestão do passivo ambiental,
em que, muitas vezes, se verifica o manejo inadequado de reconstrução e recuperação dessas áreas,
decorrente das políticas de redução de custos operacionais e de capital fixo adotadas pelas empresas
mineradoras, como é o caso de Brumadinho. Constata-se que é

5
DOTTA, Rafaella. História: 10 vezes que moradores de Brumadinho disseram não à mineração (Brasil de Fato).
Disponível em: https://www.brasildefatomg.com.br/2019/02/01/historia-10-vezes-que-moradores-de-brumadinho-
disseram-nao-a mineracao
239
EXTENSÃO PUC MINAS:
240 Novo Humanismo, novas perspectivas

na fragilização do possível questionamento feito pelas comunidades em que encontramos


uma relação entre barragens de rejeitos e minério-dependência. A instalação ou expansão das
barragens de rejeitos, ou até mesmo o retorno das atividades em complexos minerários que
passaram por rompimentos de barragens (Coelho, 2017), são facilitadas pela situação de
dependência, pois a população local se vê novamente no dilema entre barrar o
empreendimento e/ou sua expansão ou permitir a continuidade e sofrer os danos potenciais
causados por barragens de rejeitos, que vão desde a alteração da dinâmica hídrica regional
até o risco de rompimentos. (COELHO, 2018, p. 256).

Diante do contexto apresentado, abordaremos a seguir as possibilidades e alternativas


econômicas às questões postas pela relação de minério-dependência, estabelecendo, posteriormente,
um recorte para o município de Brumadinho.

4.2. Alternativas econômicas e desenvolvimento sustentável

A superação da condição de minério-dependência a partir de alternativas econômicas que


possam promover a geração de emprego e renda, atreladas aos princípios do desenvolvimento
sustentável e à manutenção dos modos de ser e fazer das populações impactadas negativamente pela
mineração, constitui desafio árduo, porém, necessário. Obviamente a mineração não deixará de existir
de maneira repentina, uma vez que é um elo fundamental na produção de diversos bens de consumo
altamente difundidos em todo o mundo. Já está estabelecida uma cadeia produtiva que atende às
necessidades conjunturais, e sua mudança, se ocorrer, se dará de forma lenta e gradual, de acordo
com as mudanças de conjuntura que possam vir a acontecer.
Assim sendo, as alternativas a serem propostas se darão paralelamente à continuidade da
atividade extrativista mineral, o que, por sua vez, implica a observância de que, apesar da necessidade
de construção e execução de propostas contrárias ao modelo de desenvolvimento econômico focado
na indústria de grande porte, também é necessária a realização de ações mitigadoras dos danos
causados à sociedade e ao meio ambiente pelas empresas mineradoras.
No que tange a alternativas antagônicas aos desdobramentos da atividade extrativista, há uma
divisão de cenários micro e macro, ainda que sejam complementares em seus objetivos finalísticos.
Regionalmente, as possibilidades de superação da condição de dependência devem se ater às
características locais, observando as oportunidades de geração de emprego e renda em cada território.
Considerando as especificidades do município de Brumadinho, foi possível perceber algumas
alternativas econômicas que vislumbram a confecção de um cenário mais otimista no que se refere à
renda e à qualidade de vida, como o estímulo à produção agrícola de base familiar, apoiando
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 241

iniciativas que caminhem na geração de maior valor agregado ao produto agrícola, ao setor de
comércio e serviços, ao turismo e até mesmo a outros ramos industriais de pequeno e médio porte,
estimulando também a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Mais especificamente sobre o setor
turismo, o território apresenta um grande potencial para alavancar o desenvolvimento. Anteriormente
ao rompimento da barragem em 2019, o setor já apresentava importância relativamente expressiva na
obtenção de renda pela população local.
O município possui diversas atrações, como o Parque Estadual Serra do Rola Moça, o Forte
de Brumadinho, a Serra da Moeda, o Pico Três Irmãos, entre outros. Também é importante citar o
Instituto Inhotim, localizado no município de Brumadinho, o maior museu a céu aberto do mundo.
Apesar disso, devido a diversos fatores, como o próprio deslocamento dentro do museu, geralmente
seu público não interage com o território durante as visitas, o que diminui o pretendido impacto
econômico da atividade cultural.
De qualquer maneira, toda e qualquer possibilidade que se apresente como alternativa de
superação à condição de minério-dependência deve se ater aos princípios do desenvolvimento
sustentável, da diminuição das desigualdades, da preservação do meio ambiente; e à realização de
melhora nos índices de qualidade de vida da população. É importante lembrar que a regulamentação
legal da CFEM, instituída pela Lei Nº 13.540, prevê em seu Artigo 2º, Parágrafo 6º, que 20% da
arrecadação municipal advinda do órgão deve ser obrigatoriamente destinado “à diversificação
econômica, ao desenvolvimento mineral sustentável e ao desenvolvimento científico e tecnológico”.
Contudo, ainda que já previsto em lei, a redação é vaga com relação à destinação desses recursos,
sem previsões mais específicas de atividades a serem realizadas e sem a criação de fundo próprio,
que facilitaria o controle financeiro da utilização dos recursos e de seu empenho em atividades que
realmente cumpram o objetivo estabelecido por lei.
Somada a isso, a falta de fiscalização também contribui para que, em grande parte das vezes,
os municípios mineradores não cumpram a destinação dos 20% do montante arrecadado com a
CFEM: que sejam usados para a diversificação econômica, o desenvolvimento mineral sustentável
e/ou o desenvolvimento científico e tecnológico

por meio de Auditorias Operacionais realizadas em municípios mineradores do Estado pelo


TCEMG [...] na tentativa de analisar o desempenho das políticas públicas para a mitigação
dos impactos negativos da mineração, em especial ambientais e não diversificação das
atividades econômicas [...] observou-se que não há divulgação de informações de forma
clara, objetiva e facilitada acerca da aplicação dos recursos da CFEM, não obstante se
identificar o montante dos valores arrecadados no link relativo a “Receitas” disposto em seus
respectivos Portais da Transparência. [...] Ademais, evidenciou-se a ausência de mecanismos

241
EXTENSÃO PUC MINAS:
242 Novo Humanismo, novas perspectivas

de prestação de contas da aplicação da CFEM, o que prejudica o acompanhamento do gasto


público pela sociedade civil. Salienta-se que características de transparência e accountability
são imprescindíveis nos municípios mineradores. (ABREU, 2021, p. 79-80).

Há, portanto, a urgente necessidade da instituição de mecanismos de controle mais eficientes


para o cumprimento do estabelecido em lei, de modo a garantir a diversificação econômica e
tecnológica dos municípios mineradores. Já sob uma perspectiva macro, ocorre a necessidade de
diversificação das pautas de exportação, uma vez que apenas o setor mineral compõe a maioria dos
resultados positivos da balança comercial brasileira. Uma vez que o principal mineral exportado
(minério de ferro) tem como destino, também em maioria, um único parceiro comercial, as
condicionantes de dependência também se estabelecem nesse espectro mais amplo, reforçando a
necessidade de diversificação. Por último, há o problema da relação cambial USD ($) / BRL(R$) que
também se insere na perspectiva da dependência, uma vez que as commodities são transacionadas em
dólar no mercado internacional.
Com relação às políticas mitigadoras a serem praticadas dentro da indústria extrativista
mineral, além da já citada obrigatoriedade instituída pela Lei Nº 13.540 de destinação de 20% dos
recursos da CFEM para, entre outras funções, o desenvolvimento mineral sustentável, destaca-se de
maneira mais ampla a necessidade de uma fiscalização mais efetiva na gestão dos passivos ambientais
por parte das mineradoras, na destinação dos rejeitos da mineração, no controle de uso dos recursos
hídricos e nos impactos socioeconômicos negativos (processos de destruição de valor) gerados pela
atividade extrativista.

4.3. Entreposto agroecológico e cultural e núcleo de consumo consciente

Como relatado anteriormente, o desafio emergente da necessidade de superação das condições


macro estruturantes da relação de dependência é o de promover possibilidades econômicas de geração
de valor que possam abrandar os efeitos negativos de toda ordem causados pela indústria mineral.
Primeiramente, é necessário atenção para o fato de que a atividade econômica de extração de bens
minerais possui um processo duplo e ambíguo em relação ao valor, sendo que, de um lado, ele é
gerado, e, de outro, destruído. Somado a essa constatação, como evidenciado na primeira seção deste
texto, o município de Brumadinho já possui outras redes e estruturas econômicas que geram
arrecadação similar ou superiores às originadas da mineração. Assim, as alternativas econômicas de
cunho mais sustentável atuariam não só para a geração de emprego e renda, mas também para a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 243

promoção de melhores condições de vida e de bem-estar social, bem como para a preservação da
cultura local e da práxis já existente. Seguindo a conceituação de Beatriz Plaza (2009), partimos do
entendimento de que

O impacto esperado dos equipamentos culturais nas estratégias de revitalização normalmente


supera os meros efeitos culturais ou educacionais. Enquanto alguns projetos apontam para a
geração de efeitos econômicos adicionais diretos, por meio da atração de turistas e gastos
turísticos, outros contam com efeitos mais indiretos e mais suaves, como mudar a imagem
da cidade, incentivar a integração social, criar um ambiente seguro, manter o comércio dentro
da cidade, incentivo a novos investimentos locais, desenvolvimento da identidade local e do
sentimento de pertença, etc.6 (PLAZA, 2009, [s./p.]).

A pesquisa e o trabalho de campo assinalam que o senso de pertencimento e a preservação


das culturas locais é elemento chave para a compreensão do surgimento, emergência e criação de
novos ciclos e de dinâmicas econômicas locais que pretendem ser estruturadas em redes mais
sustentáveis, no que tange aos aspectos econômico, social e ecológico.
Dessa forma, o Entreposto Agroecológico e Cultural engloba uma série de ações que
consistem no assessoramento a produtores e produtoras rurais, urbanos e periurbanos, que adotam o
manejo agroecológico em sua produção. A assessoria diz respeito às questões do desenvolvimento
local sob a óptica da economia solidária, da economia social, do desenvolvimento sustentável e da
ecologia integral. Entre todas as ações realizadas pelo órgão, destacamos: i) capacitações; ii)
realização de feiras; iii) construção do Núcleo de Consumo Consciente.
No que se refere às capacitações realizadas, a equipe, conformada em uma organização em
rede, promoveu uma capacitação destinada a produtores rurais, urbanos e periurbanos, que adotam o
manejo agroecológico, sobre as temáticas das finanças sociais, destacando a função dos bancos e
formas de crédito comunitários, com vistas a desenvolver alternativas de viabilização econômica para
a superação da minério-dependência. Posteriormente, houve a realização de um Ciclo de Formação
em Agroecologia, que contou com a participação de um público mais amplo, sendo transmitido no
YouTube.
O evento foi realizado ao longo de cinco dias, às quartas-feiras, tratando dos seguintes temas:
1) Ecologia Integral - SSAN x Mineração (Agric. Urbana e Periurbana + Agric.Familiar); 2) Cuidados
com a Água (Barraginhas e Fossas Sépticas) + Casas de Sementes; 3) Certificação Orgânica (Sistema

6
No original: “The expected impact of cultural facilities in revitalisation strategies normally surpasses the mere cultural
or educational effects. Whereas some projects point towards the generation of direct additional economic effects through
the attraction of tourists and tourist expenditure, others rely on more indirect and softer effects such as changing the city's
image, encouraging social integration, creating a secure environment, retaining inner-city retail trade, encouraging new
local investments, developing local identity and a sense of belonging, etc.”
243
EXTENSÃO PUC MINAS:
244 Novo Humanismo, novas perspectivas

Participativo de Garantia – SPG) e Finanças Solidárias; 4) Educação do Campo e Violência contra a


Mulher; 5) Aprofundamento no Sistema Participativo de Garantia - SPG. Outra oferta de capacitação
veio do Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal, NAF, bem como do curso de Contábeis São Gabriel da
PUC Minas. Em seu decorrer, foi tratado o tema Declaração de Imposto de Renda Rural e criação de
MEI.
Já as feiras de produtos agroecológicos foram resultado de um longo processo de discussão e
de construção em conjunto, com a participação de diversos atores sociais em parceria com a
Universidade. A partir disso, foi viabilizado o uso de três kits feiras e kits ferramentas através da
parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais
(EMATER). Sua efetivação foi viabilizada pela contribuição de representantes do legislativo e
executivo estadual, culminando na criação de uma feira destinada a fomentar a distribuição dos
produtos da localidade bem como produtores da região do alto Paraopeba assolados pela tragédia
crime.
A primeira feira aconteceu no dia 16/10/2021, no município de Contagem, com a presença de
agricultores do município e de demais localidades da Região Metropolitana, sobretudo Brumadinho.
As barracas e o restante da infraestrutura disponível para a realização das feiras se encontram sob
posse da Prefeitura de Contagem-MG, que se prontificou a disponibilizar o material sempre que
necessário para a realização de feiras em outras localidades, e assim o fez para a pequena feira no
Acampamento Pátria Livre do MST, realizado no dia 27/11/2021 e no dia 16/12/2021, no distrito de
Piedade do Paraopeba.
No que se refere à construção do Núcleo de Consumo Consciente, a ação foi desenvolvida em
parceria com a Associação Horizontes Agroecológicos (AHA). Os agricultores participantes são seus
associados, o que garante a qualidade dos alimentos e a prática do manejo agroecológico dos produtos
vendidos. Seu objetivo foi o de fomentar a cadeia produtiva da agricultura de base familiar local,
reunindo, em pequenos grupos, agricultores e consumidores. Depois de estabelecidos esses grupos,
foi realizada uma assessoria aos agricultores quanto aos procedimentos devidos para a venda semanal
e conjunta de cestas agroecológicas. Assim, elaboramos todo um controle de fluxo de caixa,
composição de preços, controle de entregas etc., a partir das demandas dos agricultores.
O Núcleo de Consumo Consciente teve seu início no ano de 2021 e continua operando até o
momento. Para sua operacionalização inicial, os agricultores criaram um fundo rotativo solidário que
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 245

possibilitou a aquisição de caixas e sacolas para a montagem e entrega das cestas aos consumidores.
A criação do fundo está diretamente ligada à discussão anteriormente realizada com a comunidade
local sobre os bancos comunitários.
O Banco Comunitário (BC) é um sistema econômico que conta com uma linha de
microcrédito alternativo para produtores e consumidores, instrumento de incentivo ao consumo local
(cartão de crédito e moeda social circulante), e novas formas de comercialização (feiras e lojas
solidárias), promovendo localmente geração de emprego e renda para diversas pessoas. Em questões
socioeconômicas, o BC tem impacto em diferentes áreas, pois aumenta o acesso à renda e emprego,
melhora os vínculos comunitários, promove maior autoestima e aumenta a capacidade para
empreender.
A finalidade dessa discussão em nosso trabalho foi a de demonstrar e esclarecer quais são as
contribuições do Banco Comunitário e como essa organização é capaz de provocar mudanças
necessárias para a reestruturação das condições socioeconômicas da população. Sua formação
estrutural é um dos pontos mais importantes para a confiabilidade da comunidade visto que toda
organização e gestão dos bancos comunitários ficam na responsabilidade da própria comunidade, ou
seja, são os próprios moradores da região que estimulam o desenvolvimento das atividades
econômicas do grupo. Além da entidade gestora, é necessário que exista, ou que seja formado, um
conselho local que faça a controladoria social do Banco.
De forma geral, o BC tem por finalidade o desenvolvimento econômico e social, estimulando
o mercado local cujo perfil seja baseado na solidariedade de modo sustentável, cultural e ambiental.
Demonstrou-se, por meio de exemplos, a criação e a forma de utilização da moeda social, como ela
cria identidade com os moradores locais e os educa financeiramente para as compras locais e para se
perceberem como promotores do desenvolvimento da comunidade. A moeda social tem apenas a
função de meio de troca, ou seja, ser um facilitador nas compras, ela é um complemento à moeda
oficial, ninguém é ou pode ser obrigado a aceitá-la.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado sinaliza as características e dinâmicas da relação de minério-dependência


presente no município de Brumadinho e demais municípios que possuem a atividade de extrativismo
mineral como uma das principais atividades econômicas. Essa relação é retroativa e se alimenta
institucionalmente, como exposto no decorrer do texto a respeito das necessidades e ações do poder

245
EXTENSÃO PUC MINAS:
246 Novo Humanismo, novas perspectivas

público local, que atua de modo a dar suporte e incentivo à permanência de tal atividade produtiva.
Entretanto, como também se constata na exposição acima, a lógica de mercado em que funciona a
atividade de extrativismo mineral possui uma série de implicações negativas ao desenvolvimento
socioeconômico local, sobretudo para aquelas atividades que têm como pré-requisito a preservação
das condições naturais para sua execução, e aquelas que preservam os modos de ser e de fazer locais.
A atividade extrativista, além de concentradora de renda, é altamente prejudicial para o meio
ambiente, produz poluição atmosférica, pelos materiais particulados na explosão das minas; poluição
sonora, pela quantidade de veículos de transporte de carga; poluição da rede hídrica, pelos rejeitos de
minério; degradação do solo, pela escavação; além de utilizar quantidades expressivas de água.
Como também trabalhado ao longo do texto, é possível notar que não há, necessariamente,
um ganho econômico com a presença da atividade no território, nada há que justifique as
consequências negativas para o meio ambiente e para a população local. Na verdade, o que se percebe
é que a relação de minério-dependência constitui uma relação em que o poder público local se torna
subordinado à atividade econômica, mas que supostamente haveria um ganho financeiro para essa
subordinação, e que esse ganho poderia vir a ser utilizado no desenvolvimento local. Entretanto,
verificamos que a atividade extrativista, na perspectiva da relação institucional com o poder público,
se caracteriza por ter um fim em si mesma, ou seja, os custos para a manutenção da atividade no
território, dada a sua magnitude e proporção, se equiparam aos ganhos financeiros oriundos do
pagamento da CFEM.
Além disso, há uma visão de desenvolvimento econômico e regional que sustenta a
manutenção da atividade extrativista, uma vez que pensa o desenvolvimento de maneira
centralizadora. Na verdade, não atenta para o fato de que a melhora nos indicadores econômicos e
sociais do território apenas se darão com um desenvolvimento que atinja todas as camadas da
sociedade, ou pelo menos uma parte majoritária dela, e que, para isso, deve se dar de maneira
descentralizada, desconcentrada e que precisa ser inclusiva.
A partir disso, justifica-se a necessidade de desenvolvimento de economias alternativas à
mineração, visto as barreiras causadas pela atividade de extrativismo mineral na região ao
desenvolvimento econômico e social sustentáveis. É importante que a superação da relação de
minério-dependência seja instituída de fato com um processo de desenvolvimento local que se dê de
maneira mais harmônica, substituindo essas relações por outras dinâmicas baseadas na criação de
processos inovadores por meio da geração de tecnologias sociais capazes de criar tessituras entre a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 247

sociedade organizada local, a produção industrial subjacente, a cadeia do turismo e a economia da


cultura, compartilhada, circular, e ainda com o estabelecimento de uma agenda vigorosa que dê
sustentação ao território, às localidades e aos que nelas residem.
Há de se destacar que o território de Brumadinho possui várias potencialidades a serem
desenvolvidas nesse sentido, pois suas características geográficas são favoráveis, como sua grande
extensão rural, que pode se tornar mais produtiva e ter agregação de valor a seus produtos; também
as zonas de proteção/preservação ambiental, que estimulam a cadeia do turismo; e ainda as suas
características sociais, com a presença de várias comunidades quilombolas e indígenas. Essas
características ilustram as potencialidades do território para a construção de uma estrutura econômica
e social de maior sustentabilidade. Elas são afeitas ao caráter cultural e ao senso de pertencimento da
população ao território. O desenvolvimento de tecnologias sociais que propiciem uma articulação em
rede no intuito de promover e acelerar os impactos positivos na renda das famílias é fundamental para
a mudança de conjuntura.
Tal mudança decorre de processos de escolha da própria sociedade, sendo muito importante
a participação institucional do poder público local que, em seus processos de escolha, deve atentar
para o desenvolvimento econômico sustentável, inclusivo e integrado, que de fato atenda as demandas
da população local, sem agredir seus modos já estabelecidos de práticas sociais e culturais, inclusive
aquelas que se manifestam como atividades econômicas geradoras de renda para essa população.

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249
EXTENSÃO PUC MINAS:
250 Novo Humanismo, novas perspectivas

Projeto de Extensão MediAção Comunitária:


potencial transformador e restaurativo

Érika Fernanda Cecílio1


Gustavo Henrique Mendes de Abreu2
Juliana Krauss Silva3
Matheus Pierre Reis Fernandes4
Rubens Ferreira do Nascimento 5

RESUMO
Este artigo trata de experiências vividas a partir do projeto de extensão MediAção Comunitária: Práticas comunitárias,
restaurativas e de mediação de conflitos (MAC), buscando a construção dialógica de saberes e práticas. O objetivo geral
foi refletir sobre as nossas participações no processo de ensino-aprendizagem do projeto de extensão, enquanto os
objetivos específicos foram: apresentar o projeto em si; dizer da existência e dos objetivos transformadores da própria
prática, sendo esta orientada metodologicamente pela pesquisa-ação/intervenção psicosocial. A metodologia utilizada
para a escrita foi a pesquisa bibliográfica na área da mediação comunitária, mediação de conflitos e justiça restaurativa,
além dos relatos de experiências com a Escola Municipal Professor Paulo Freire – EMPPF, promovendo a Justiça
Restaurativa a partir do Círculo de Paz. Os resultados encontrados possibilitaram a prática de uma intervenção não-vertical
que permite o compartilhamento entre as pessoas pautado pela crença de que a técnica não diz do grupo, ou seja, a
intervenção psicossocial contribui de forma crítica sobre a “construção com” e não uma “construção para.” O círculo de
paz, como instrumento da prática restaurativa, possibilita as trocas das experiências de vida e sabedoria entre todos os
envolvidos no processo, permitindo, assim, uma maior compreensão sobre determinado problema e possibilidades para
resolução deste.

Palavras-chave: Mediação Comunitária. Mediação de Conflitos. Justiça Restaurativa.

MediAção Comunitária Extension Project:


transformative and restorative potential

RESUMO
This article deals with experiences from the extension project MediAção Comunitária: Community, Restorative and
Conflict Mediation Practices (MAC), seeking the dialogic construction of knowledge and practices. The general objective
was to reflect on our participation in the teaching-learning process of the extension project, while the specific objectives
were: to present the project itself; express about the existence and transforming objectives of the practice itself, which is
methodologically oriented by action-research/psychosocial intervention. The methodology used for writing was
bibliographical research in the area of community mediation, conflict mediation and restorative justice, in addition to

1
Pedagoga pela UEMG, professora na E. M. Professor Paulo Freire, discente do Curso de Psicologia da PUC Minas
unidade São Gabriel. E-mail: erikafcecilio@gmail.com
2
Discente do Curso de Psicologia da PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: tz.mendes@gmail.com
3
Discente do Curso de Psicologia da PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: juliana1254@hotmail.com.
4
Psicólogo pela PUC Minas unidade São Gabriel. E-mail: matheuspierre43@gmail.com
5
Mestre em Psicologia pela UFMG, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Coordenador do
Projeto MediAção. E-mail: rubensfn@uol.com.br
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 251

reports of experiences with the Municipal School Professor Paulo Freire - EMPPF, promoting Restorative Justice from
the Circle of Peace. The results found enabled the practice of a non-vertical intervention that allows sharing between
people guided by the belief that the technique does not say about the group, that is, a psychosocial intervention contributes
critically to the “construction with” and not a “building for.” The Circle of Peace, as an instrument of restorative practice,
enables the exchange of life experiences and wisdom among all those involved in the process, thus allowing a greater
understanding of a given problem and possibilities for solving it.

Keywords: Community Mediation. Conflict Mediation. Restorative Justice.

INTRODUÇÃO

O contexto de guerra e violências extremas de todos os tipos: física, psicológica, social,


institucional, estrutural que acompanhamos nos meios de comunicação e vivenciamos de forma
concreta cotidianamente nos demonstram que não estamos isentos do conflito e, certamente,
passaremos por diversos deles ao longo de nossas vidas, até porque o conflito pressupõe
relacionamento e somos sujeitos de relação.
Diante desse fato, fazem-se necessárias ações que possam facilitar uma cultura de paz e meios
de resolução de conflitos de forma pacífica, assim como possibilitem às pessoas uma compreensão
de si enquanto tal e o reconhecimento do outro como humano também. A descrição dos aportes
teórico-prático-metodológicos que aqui serão adotados caminha neste sentido, de nos tornarmos cada
vez mais humanos com nós mesmos e com os outros, à medida que nos relacionamos com esses e
com o mundo.
O presente artigo tem como objetivo apresentar algumas experiências vivenciadas no Projeto
de Extensão Mediação Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de Conflitos
(Projeto MAC), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – unidade São Gabriel. Para
realizarmos tal feito, em um primeiro momento faremos uma apresentação do projeto MAC e em
seguida alguns apontamentos em relação às perspectivas teóricas, práticas e metodológicas que
orientam o nosso saber-fazer que respectivamente são: Mediação Comunitária, Mediação de
Conflitos, Justiça Restaurativa (JR) e a Comunicação Não Violenta (CNV). Assim partiremos em
busca da relação que pode ser estabelecida entre estas concepções para solucionarmos e/ou
prevenirmos conflitos.
Em sequência, ao enfatizarmos os aspectos metodológicos, refletiremos sobre algumas
práticas e a metodologia utilizadas para a realização destas, dando ênfase às Rodas de Conversas e ao
Círculo de Paz, que deriva da Justiça Restaurativa. Por fim, e para tornar conhecidos alguns dos

251
EXTENSÃO PUC MINAS:
252 Novo Humanismo, novas perspectivas

fazeres mais recentes do Projeto MediAção Comunitária apresentaremos as práticas psicossociais e


educativas relacionadas à justiça restaurativa e à mediação escolar realizadas na Escola Municipal
Professor Paulo Freire com professores em 2021 e com os estudantes em 2022.

2 O PROJETO MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA

O projeto MediAção Comunitária: Práticas comunitárias, restaurativas e de mediação de


conflitos (MAC) existe há quase nove anos. Seu objetivo geral é ampliar o processo de formação de
mediadores comunitários e facilitadores de justiça restaurativa, salientando sua condição de
atores/atrizes sociais. Além da mediação de conflitos e das práticas restaurativas, o projeto busca
realizar ações comunitárias e de educação em direitos humanos. Nesse sentido, persegue a
caracterização de mediação comunitária (NASCIMENTO, 2020).
À luz de Paulo Freire, a extensão é contemplada como comunicação no sentido de ser um
potente espaço de aprendizagem dentro da Universidade, uma vez que trata de potência de articulação
entre extensão, ensino, pesquisa e estágio, no sentido de promover a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade orientadas para transformações na dimensão relacional. Trata-se de esforço
resultante da experiência obtida através de um vasto histórico de projetos, em que o professor
idealizador, orientador e articulador do projeto MediAção Comunitária, esteve presente. São eles:
Arte e Cultura no Primeiro de Maio - o primeiro projeto de uma universidade particular a ser
financiado pela FAPEMIG; Arte Cultura e Cidadania; Sexualidade e Mediação, parceria com o
Programa Mediação de Conflitos do Estado de Minas Gerais; Desejas (Debatendo Sexualidade com
Jovens do Aglomerado da Serra) e ConversAção Comunitária, que promovia a aproximação da PUC
São Gabriel com comunidades do seu entorno. Conforme Nascimento (2020), em todos esses
trabalhos, e neste último em particular, buscou-se realizar um tipo de relação entre universidade e seu
extramuros que não fosse de uma autoritária “extensão” dos conhecimentos elaborados ou veiculados
dentro da academia para fora dela, mas, conforme Paulo Freire no seu livro Extensão ou Comunicação
(FREIRE, 1977), o esforço era no sentido de construir uma Extensão Universitária que buscasse ser
troca, diálogo, “comunicação” entre a Universidade e as comunidades e organizações do seu entorno
e mais além.
Tomando por referência a vertente crítica da Psicologia Social no sentido da contextualização
com a realidade Latinoamericana, o projeto dialoga com as correntes da Psicologia da Libertação e
Psicologia Social Comunitária na direção de pensar a mediação comunitária como conjunto de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 253

práticas que promovem a resolução de conflitos interpessoais, dentro de grupos e entre grupos
comunitários, bem como entre grupos, comunidades e empresas públicas ou privadas.
(NASCIMENTO, 2020). Sendo assim, o projeto abrange as dimensões pedagógica, psicológica e
sociopolítica dos conflitos e dos indivíduos envolvidos. Com isso, é possível se pensar na mediação
comunitária como modalidade de prática comunitária, podendo ser esta composta, também, por
mediadores representantes das comunidades, ou seja, moradores, lideranças ou mesmo educadores,
alunos e familiares.
Em relação à amplitude de ação do projeto MediAção Comunitária, Rubens Nascimento
dispõe:

Por enquanto, apenas o público-alvo do Projeto MAC tem sido composto de moradores dos
bairros São Gabriel e Jardim Felicidade, respectivamente nas Regionais Nordeste e Norte da
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Já houve aproximação com as redes sociais
comunitárias de ambos os bairros. Considerando que os principais conflitos mediados têm
sido de familiares e de vizinhos, um dos objetivos específicos do projeto foi, até o momento,
o desenvolvimento de mudanças de atitudes e valores, com ampliação das capacidades de
diálogo e da potencialização dos recursos para resolver desavenças. Como já dito, os
objetivos deverão ser ampliados e envolverão o maior protagonismo comunitário nas ações.
(NASCIMENTO, 2020)

Estruturado como forma de Pesquisa-Ação, o projeto MediAção Comunitária busca dar relevo
à questão racial ao passo em que se pretende enxergar as diversas problemáticas étnico-raciais
presentes não apenas na gênese social dos conflitos, mas também na mediação destes, no sentido de
se construir uma Psicologia multirracial, feita por e com gente miscigenada, que utiliza raça como
categoria analítica. Ao empoderar sujeitos que tomem raça como conceito político, a cooperação com
movimentos sociais e comunidades direciona os esforços para racializar a Psicologia Social.

2.1 Mediação Comunitária e Práticas Comunitárias

Ao pensarmos em mediação, é fundamental entendê-la como forma de resolução de conflitos


não adversarial, conforme postulado por Juan Vezzulla, que ainda destaca a importância de auxiliar
as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo onde as duas
partes ganham. (VEZZULLA, 1995). Nesse sentido e em acordo com as bases teórico-metodológicas
deste projeto, tem-se que o real objetivo da Mediação é proporcionar discernimento e
autoconhecimento para que os sujeitos sejam capazes de decidir o resultado das controvérsias que

253
EXTENSÃO PUC MINAS:
254 Novo Humanismo, novas perspectivas

lhes dizem respeito. Sendo assim, a mediação não somente pode (mas deve) ser vista como prática
emancipatória, ainda mais considerando que, conforme Paulo Freire, o próprio diálogo pressupõe
conflito (FREIRE, 1987).
Segundo Rubens Nascimento, a mediação comunitária é um conjunto de práticas que
promovem a resolução de conflitos interpessoais, dentro de grupos e entre grupos comunitários, bem
como entre grupos, comunidades e empresas públicas ou privadas. (NASCIMENTO, 2020). Ainda
sobre a prática emancipatória, a autonomia crítica é pensada como instrumento de engajamento a um
compromisso ético na luta contra opressões estruturais, tomando partido de grupos oprimidos, sendo
este processo parte da construção pretendida através da mediação comunitária que acreditamos. Nessa
lógica, a mediação comunitária deve existir como forma de transformação social que objetive a
efetivação dos direitos fundamentais, sendo processo que, a fim de fomentar as potencialidades da
justiça social, articule-se com a educação para estes direitos.
Sob uma abordagem crítica, Gláucia Foley propõe uma dimensão tridimensional para essa
educação, pensando em uma dimensão preventiva, de forma a evitar violações de direitos decorrentes
da ausência de informação; uma dimensão emancipatória, proporcionando reflexão na medida em
que o direito posto desdobra-se nas reais necessidades individuais ou comunitárias; pedagógica,
permitindo que o cidadão compreenda como buscar, na via judiciária ou na rede social, a satisfação
de suas necessidades/direitos, quando e se necessário (FOLEY, 2014).
No que diz respeito ao acesso à justiça, a mediação comunitária constitui-se democrática
enquanto incorpora as vozes da comunidade, capacitando-as a gerir seus conflitos de forma autônoma
e participativa. O padrão dialógico, centrado na horizontalidade, pressupõe foco na autonomia crítica
dos sujeitos ao passo em que estes mostram-se capazes de compreender as circunstâncias do conflito,
podendo, assim, justificar suas escolhas e decisões frente à sua comunidade.
Dessa forma, é importante que o mediador comunitário não caia na armadilha de se colocar
em posição que negue à comunidade a condição de sujeito e autonomia ao considerar-se uma espécie
de portador do saber científico que postula o que seria melhor para o grupo, sendo a sua colaboração
no sentido de diagnosticar-se e construir sua identidade. Para Vezzulla (1995), o mediador
comunitário não pode solucionar os conflitos no lugar das pessoas, assim como não pode desenhar a
comunidade como ela deveria ser, a partir de uma ideologia que lhe seja exógena, sob risco de ferir a
perspectiva emancipatória. Pedrinho Guareschi e Regina Freitas Campos (2002), trilhando pela lógica
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Novo Humanismo, novas perspectivas 255

freiriana, fomentam a importância da discussão dessa problemática ao disporem que ninguém ensina
nada a ninguém: deixamos um pouco de nós nas pessoas com quem entramos em contato. Conforme
Miracy Gustin, a Mediação transforma e liberta os sujeitos:

Sabe-se que todo processo pedagógico é sempre edificante, ou seja, ele é sempre
transformador, ele ‘edifica’ porque constrói novos parâmetros para a decodificação da
situação problemática. Por ser um processo pedagógico, onde se aprende na argumentação-
convencimento, ele é essencialmente libertador, pois, qualquer processo de aprendizagem
emancipa os seres das amarras do desconhecimento e da desinformação. Enfim, por ser um
processo pedagógico, a mediação é não só uma abordagem informativa, mas, também,
formativa. (GUSTIN, 2005, p. 209)

A Psicologia Social Crítica Americana se estrutura e justifica como uma experiência


transformadora e constitutiva dos sujeitos. Nesse sentido, a mediação comunitária emancipatória é,
portanto, prática educativa libertadora. Ela representa resistência às relações de poder-dominação e
constitui espaço para a libertação também no sentido em que a Psicologia Social Crítica Latino-
Americana vai se constituindo.
Na América Latina, temos uma Psicologia Comunitária e Política representada pela
venezuelana Maritza Montero, pela Psicologia da Libertação de Ignacio Martín-Baró. E pela
psicologia social de base marxista de Silvia Lane, a Psicologia Sócio-Histórica (NASCIMENTO,
2020). Todas essas correntes de Psicologia Social são compatíveis com uma educação libertadora.
Isso posto, busca-se tratar a mediação comunitária em toda sua potencialidade transformadora no
sentido de práticas de liberdade e criação de espaços que produzam novos modos de existência para
além daquelas delimitadas pelas relações de poder, perpassando, assim, o próprio entendimento do
comportamento e subjetividade humana como inter-relação entre estrutura social, história, cultura e
psique, sendo esta compreensão fundamental para uma Psicologia a serviço das lutas contra injustiças,
pobreza, violência e outros sofrimentos de cunho ético-político humanos relacionados ao sistema
social. Dessa forma, potencializa-se um espaço para libertação, onde as soluções definidas de forma
autônoma pelos sujeitos envolvidos serão dotadas não somente de legitimidade, mas também de
responsabilização mútua.

255
EXTENSÃO PUC MINAS:
256 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.3 Mediação de conflitos

Segundo Vasconcelos (2014), a mediação é um dos métodos consensuais de resolução de


conflitos que envolve as partes, quais sejam, os mediandos e um terceiro denominado mediador, que
facilita o diálogo entre essas partes num processo em que as estimula a se posicionarem e dizerem de
seus interesses, necessidades e também a expressarem seus sentimentos para, possivelmente,
chegarem a um consenso.
Nessa perspectiva, não se compreende as partes como adversários, mas corresponsáveis pela
solução da disputa mediada por um terceiro, logo, é um processo autocompositivo (não adversarial)
de solução de conflitos diferente dos heterocompositivos, processos adversariais (como os judiciais
e administrativos) em que um terceiro decide quem está certo. Ainda, “a mediação contempla a
reativação da convivência pacífica entre as pessoas na medida em que privilegia a desconstrução ou
a ressignificação do conflito entre as partes'' (NASCIMENTO, 2020, p.48).
A mediação, conforme aponta Vasconcelos (2014), possui certos princípios direcionados ao
mediador e ao processo como um todo, como o caso da autonomia, da confidencialidade, oralidade,
informalidade, consensualismo e boa-fé. No que tange à autonomia, supõe-se a vontade de pessoas
capazes, devendo o mediador não forçar um acordo ou tomar decisões para as partes, mas podendo,
por vezes, no processo de conciliação mediação, criar opções que possam ser ou não acolhidas por
elas.
A confidencialidade diz respeito ao sigilo das informações obtidas no processo de mediação,
não podendo ser utilizadas em outros espaços, salvo pela expressa autorização das partes. Oralidade
diz do uso da linguagem comum, apontando para a ideia de que os protagonistas são as partes e não
o mediador. Informalidade traz a importância de registro do termo inicial ou final- onde aponta os
resultados obtidos- do processo de mediação. Consensualismo se refere a uma construção consensual
do diálogo e das decisões a serem tomadas. Finalmente, a boa fé diz dos “tratos colaborativos em
busca da satisfação de interesses comuns, embora contraditórios” (VASCONCELOS, 2014, p.53).
No que tange aos princípios do mediador, tem-se a independência, imparcialidade, aptidão,
diligência, empoderamento e facilitação de decisão informada. No caso da independência, para
mediar não se pode ter vínculos com as partes. Imparcialidade, deve-se assegurar tratamento
equitativo aos participantes, isento e neutro, não deixando que seus valores não interfiram nos
resultados do processo. Aptidão aponta para a necessidade de se estar capacitado em atuar em cada
caso, fundamentado nos aspectos teóricos e práticos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 257

Empoderamento diz respeito a reforçar as partes que estão melhor habilitadas para resolverem
seus conflitos. A validação se refere a fazer com que as partes se compreendam como humanos, logo,
merecedoras de atenção e respeito e, finalmente, temos a facilitação de decisão informada, que
consiste em verificar se as partes têm as informações necessárias para tomadas de decisões
conscientes e também em assegurar às informações necessárias dos direitos das partes envolvidas no
processo.

2.4 Justiça Restaurativa

A Justiça restaurativa, termo que vem sendo utilizado desde 1980, na Nova Zelândia,
Austrália, Canadá e Estados Unidos, é entendida como um instrumento utilizado para a paz no
processo educacional. A justiça restaurativa serve para mediar os conflitos nas relações comunitárias,
escolares, familiares, entre outros, tendo sido inaugurada com a ONU pela resolução 1999/26 de
28/07/1999, em que na época eram postos os padrões da Organização das Nações Unidas - ONU.
Já no Brasil, a justiça restaurativa se iniciou em 2005, por meio de uma experiência piloto no
Rio Grande do Sul, posteriormente também apoiada pela ONU.
Para Braithwaite (2003, p. 449) o termo “não ser dominante” é utilizado como o principal
valor da justiça restaurativa para explicar que ela não permite que o Estado exerça uma ação sobre os
conflitos com o propósito de empoderar os indivíduos que estabelecem as soluções de seus conflitos
por si mesmos.
A abordagem restaurativa não desconsidera que os crimes ocorram por violações praticadas
pelos ofensores, que no processo de sua humanidade, possam cometer danos. Compreender uma
violação sob a ótica da justiça restaurativa, a se distinguir da forma como o sistema judiciário procede
é, por meio de metodologias tais como a mediação de conflitos, as práticas restaurativas e, dentre
elas, os círculos de construção de paz, buscar estabelecer os princípios fundamentados no respeito,
participação, voluntariedade, equidade, confidencialidade, entre outros.
Para Pallamolla (2009), a justiça restaurativa é estabelecida em casos de menor gravidade.
“Pode contribuir para situações que normalmente recebem advertência policial ou seriam
relacionados aos setores que não o criminal” (PALLAMOLLA, 2009, p. 452). Ainda, para o referido
autor, ampliar a justiça restaurativa poderia ocorrer de forma impositiva, o que contribuiria para que
não ocorresse nenhuma alteração significativa, tornando o ofensor uma mera ferramenta para afetar
a vítima:

257
EXTENSÃO PUC MINAS:
258 Novo Humanismo, novas perspectivas

Assim, se a justiça restaurativa pretende conferir tratamento diverso ao sistema de justiça


criminal aos ofensores (e também às vítimas), ela não deve abrir mão da voluntariedade do
ato reparador, sob pena de “objetivar” o ofensor, transformá-lo num meio para atingir o fim
reparador e, talvez, comprometer o caráter da reparação. (PALLAMOLLA, 2009, p. 83).

Pallamolla (2009) compreende a justiça como um estilo de vida capaz de lidar com problemas
rotineiros, pois através do diálogo entre vítima e ofensor, compartilha a responsabilização pelo dano
causado, ou seja, para isso é preciso que os indivíduos assumam seus atos. Tendo como objetivo do
processo restaurativo a integração psíquica e social, tanto da vítima quanto do agressor. Com isso, ao
se responsabilizar pelos seus atos, o ofensor age positivamente no sentido de afastamento de
reincidência na comunidade.
Em síntese, Segundo Zehr (2008), conforme a justiça restaurativa, podemos destacar que:

1. O crime ao invés de ser uma violação da lei é antes um dano à pessoa e ao relacionamento;
2. Os danos, ao invés de serem definidos de maneira abstrata, são definidos de maneira
concreta em uma análise do caso; 3. O crime é concebido como um fato ligado a outros danos
e conflitos, e não como ato isolado ou categoria distinta. O crime é ele mesmo um tipo de
conflito; 4. As vítimas são as pessoas e os relacionamentos, e não o Estado; 5. Tanto a vítima
como o ofensor são partes no processo, e não apenas Estado e ofensor; 6. A preocupação
central no processo são as necessidades e os direitos das vítimas; 7. As dimensões
interpessoais são centrais e o principal foco. 8. A natureza conflituosa do crime é
reconhecida; 9. O dano causado ao ofensor é importante; 10. A ofensa é compreendida em
seu contexto total: ético, social, econômico e político. (ZEHR, 2008, p. 449).

2.6 Uma articulação possível

Cabe destacar que "a mediação comunitária é um conjunto de práticas que promovem a
resolução de conflitos interpessoais dentro de grupos e entre grupos comunitários, bem como entre
grupos e comunidades e empresas públicas ou privadas" (NASCIMENTO, 2020, p.48) e neste
trabalho são utilizados os processos de Justiça Restaurativa, métodos como a mediação de conflitos
que, segundo Nascimento (2020), contribuem para a transformação das relações, para o diálogo, para
uma justiça comunitária, para uma cultura de paz e para prevenção à violência.
Destaca-se que, juntamente com essas perspectivas destacadas, temos também investido na
compreensão da Comunicação Não Violenta, que vem sendo incorporada em nossas práticas. Por
mais que tenhamos apresentado ambas as perspectivas de forma separada, o que fazemos no projeto
MAC é buscar uma articulação entre as ambas compreendendo que a CNV pode também nos ajudar
nas resoluções de conflitos, permitimos que as partes compreendam suas próprias necessidades e a
dos outros em busca de um consenso para a satisfação das necessidades de todos desenvolvidos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 259

No que tange às Práticas Comunitárias, estas têm sentido quando reconhecemos o


protagonismo dos atores sociais ao trabalharmos com a comunidade de forma cooperativa, dialógica,
buscando uma educação para a autonomia, a emancipação e a transformação da realidade social.
Diante desta sucinta explicitação podemos compreender o motivo do projeto ser denominado
“Mediação Comunitária: Práticas Comunitárias, Restaurativas e de Mediação de Conflitos”.

3 METODOLOGIA

Desde o segundo semestre de 2021, este Projeto de Extensão atua em parceria com Escola
Municipal Professor Paulo Freire – EMPPF –, promovendo a Justiça Restaurativa a partir do Círculo
de Paz. A escola está localizada na região nordeste de Belo Horizonte, no bairro Ribeiro de Abreu.
No primeiro momento, trabalhamos com um grupo composto por professores da escola que, em
diferentes disciplinas da grade curricular trabalham com um público diverso: crianças, adolescentes,
jovens e adultos.
Ao todo, tivemos quatro encontros, sendo três deles feitos via Google Meet e o último de
forma híbrida, presencial e virtual ao mesmo tempo, tendo duração de duas horas. Cada encontro
tinha uma temática específica que surgiu a partir do primeiro, quando foi possível delinear,
juntamente com os professores, os temas geradores para todos os encontros. Cabe dizer, que os temas
selecionados guardavam relação com os problemas cotidianos enfrentados pelos os professores e
todos eles foram discutidos a partir de postulados de Paulo Freire.
No primeiro semestre de 2022, o trabalho nesta escola foi realizado com os alunos do 9º ano,
com idades entre 13 e 16 anos, tendo como demanda inicial o enfrentamento e prevenção do bullying
no contexto escolar. À medida que os encontros foram acontecendo, foi possível elencar assuntos
importantes a serem trabalhados nos posteriores. Importa dizer que também com os estudantes os
trabalhos no contexto escolar ocorreram por meio dos círculos de paz.
Conforme Pranis (2010), o círculo de paz é derivado de círculos de diálogos comuns aos povos
indígenas da América do Norte. Esta é uma tradição ancestral que tem sido renovada ao longo do
tempo. Na época contemporânea as comunidades têm utilizado o círculo de paz nas resoluções de
conflitos para o apoio uns dos outros, estabelecimento e fortalecimento de vínculos mútuos. Cabe
destacar que, mesmo tendo sua gênese dentro do escopo da justiça criminal nos Estados Unidos,
percebeu-se a aplicação deste em diversos contextos como escolas, igrejas, locais de trabalho entre
outros.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
260 Novo Humanismo, novas perspectivas

O círculo permite o compartilhar das experiências de vida e sabedoria de todos os


participantes, trazendo uma nova compreensão sobre determinado problema e possibilidades para
resolução deste. O processo circular implica que todos sejam respeitados, e de igual modo tenham o
direito de falarem sem serem interrompidos, de contarem suas próprias histórias e se explicarem, e
que um indivíduo não é mais importante do que o outro, logo, são tratados de forma igualitária. Cabe
destacar que, nos processos circulares, várias emoções (raiva, alegria, por exemplo), sentimentos
(inclusive fortes), perspectivas de mundo diferenciadas, paradoxos, silêncio, conflito etc., podem
estar presentes, sendo o círculo suficientemente forte para contê-los.
Ainda conforme Pranis (2010), em relação ao círculo na prática, este é organizado para criar
possibilidades de liberdade de expressão, para visualizarmos nossos erros e temores e agirmos de
acordo com nossos valores fundamentais. Colocamos as cadeiras em roda (sem uma mesa no centro,
entretanto pode ser colocado um objeto de inspiração para os integrantes que suscitam os valores do
grupo) para que os participantes possam se sentar. Este formato promove partilha, igualdade,
participação, conexão, inclusão e foco. O objetivo do círculo é criar um espaço seguro, onde os
integrantes possam experienciar a liberdade de serem quem são, de serem fiéis a si mesmos da
maneira mais autêntica.
Baseado na proposta de Pranis (2010), no aprendizado promovido pela Comissão de Justiça e
Práticas Restaurativas [1], da qual fazemos parte, e nas experiências práticas do Projeto de Extensão
Mediação Comunitária, presenciais ou por meio remoto, a concretização, o planejamento e a
facilitação do círculo de paz que utilizamos neste projeto sob nossa responsabilidade ocorre conforme
os seguintes passos:

i. A preparação: Preparamos o roteiro e nos familiarizamos com o espaço, escolhemos um


bastão de fala e preparamos o centro do círculo com objetos simbólicos relacionados ao
diálogo, escuta entre outros.
ii. As boas vindas, onde ao acolhermos as pessoas, damos uma explicação sucinta do nosso
círculo.
iii. A cerimônia de abertura que marca o círculo como espaço humanamente “sagrado”, e aqui se
sugere música, poema, texto, algo que nos conecte e promova integração.
iv. Um momento de “check in” que, ao ser abrasileirado, podemos denominar “chegança”, onde
as pessoas podem dizer como chegam para o círculo, que sentimentos experimentam etc.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 261

v. As “diretrizes [1]” onde começamos com algumas que são importantes, dando sempre a
possibilidade de se fazer uma construção conjunta.
vi. Convite à expressão dos “valores” que cada pessoa traz para o círculo e devem expressar suas
contribuições ativas no sentido de darem ao círculo um pouco de si, fazendo com que o
objetivo de coparticipação e coconstrução se fortaleça, guiando a forma com que os valores
serão tratados.
vii. “Momento central” onde os facilitadores utilizam-se de perguntas, previamente elaboradas
para estimular o diálogo circular sobre os principais objetivos, interesses e necessidades do
grupo. Se o círculo for conflitivo, ou seja, focado em dano causado ou em situação conflitiva,
as perguntas devem ser baseadas no mapeamento prévio dos conflitos.
viii. “O check out” [2] ou, de forma abrasileirada, a “saideira”. Nele tem-se a oportunidade de
dizer como se deixa o círculo. É o momento de avaliação final.
ix. “Cerimônia de encerramento”. Sugere-se aqui a utilização de música, poema, dinâmica ou
alguma técnica de grupo que auxilie na finalização e no reconhecimento afetivo e simbólico
dessa conclusão do círculo.

Cabe destacar que, em todos os trabalhos realizados pelo projeto MAC, adotam-se
metodologias participativas, que estimulam o diálogo, a coconstrução do trabalho com todos os
integrantes e o respeito aos saberes de cada participante. Geralmente tais metodologias também
promovem a problematização, a reflexão e ampliação desses saberes.

4. RESULTADOS E PROCESSOS 2021/2022

O projeto MAC trabalhou em diversas frentes no período de 2021/2022 escolhemos para tratar
neste artigo, apenas as práticas realizadas na Escola Municipal Professor Paulo Freire, com
professores em 2021 e em 2022 com estudantes do 9º ano.

4.1 Encontros com a frente de ação na Escola Municipal Paulo Freire/ Trabalho com Estudantes
e Professores

Os encontros com os professores tiveram como objetivos refletir sobre o papel do professor,
como um ator sociocultural, na perspectiva Freiriana e na prática escolar; relacionar a possibilidade

261
EXTENSÃO PUC MINAS:
262 Novo Humanismo, novas perspectivas

de ter uma educação como prática de liberdade e disciplina, ao mesmo tempo, e refletir sobre como
o conteúdo programático das disciplinas acadêmicas impacta a prática educativa e aprofundar os
conhecimentos sobre educação bancária. Tais objetivos se deram porque o coletivo de professores da
escola anteriormente passou por um processo de busca para retomar as perspectivas de Paulo Freire
em suas práticas cotidianas.
Nos três primeiros encontros, como foram de forma virtual, adaptamos o círculo. Neste
contexto, utilizamos a expressão “eu vejo você” (funcionando como objeto de fala) e era mencionado
o nome da próxima pessoa em uma lista que continha o nome de todos, elaborada de forma aleatória,
simulando a disposição de participantes assentados em círculo.
O primeiro encontro com os professores foi realizado em 29 de setembro de 2021,
oportunidade em que participaram uma equipe, composta por estagiários e extensionistas, e os
educadores da EMPPF. Em todos os círculos, numa perspectiva freiriana, buscamos sempre os
conhecimentos prévios, os saberes que o grupo trazia sobre a temática em questão. No primeiro
momento da parte principal, buscamos compreender a concepção que os professores tinham do
círculo de paz e como seria relacioná-lo ao círculo de cultura de Paulo Freire. Em um segundo
momento, fizemos um levantamento das demandas e expectativas que os professores queriam que
fossem trabalhadas ao longo dos encontros.
O segundo encontro objetivou refletir sobre o papel do professor, como um ator sociocultural,
na perspectiva freiriana e na prática escolar, além dos objetivos específicos, que foram trabalhar o
círculo como ferramenta no caminho entre ideias, baseado no diálogo existente na relação professor
e aluno, na troca do aprendizado, na forma de se trabalhar os conflitos. Neste encontro, pudemos
discutir as representações que se tem acerca do professor e a percepção que eles mesmos têm de si, o
que gerou uma forte comoção em todos os integrantes; foi difícil controlar o choro, os professores
sentiam o peso das representações em um momento tão sensível de pandemia, em que se sentiam
meio fracassados por acharem que não estavam desempenhando um bom trabalho.
O terceiro encontro seguiu com o objetivo geral de discutir sobre a relação entre a disciplina
e a pedagogia freiriana, sendo os específicos a reflexão sobre o conceito de disciplina, a necessidade
da disciplina para o desenvolvimento da aprendizagem, e as diferenças entre autoridade e
autoritarismo. O que permitiu com que os professores pensassem e repensassem a ideia construída a
respeito da disciplina.
O último encontro aconteceu no dia 26 de novembro de 2021 e trouxe como objetivos refletir
sobre como o conteúdo programático das disciplinas acadêmicas impacta a prática educativa,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 263

aprofundar os conhecimentos sobre educação bancária, além de proporcionar uma avaliação do


trabalho desenvolvido ao longo do semestre. Este encontro ocorreu de forma híbrida, foi uma
experiência diferente, precisou de recursos tecnológicos, mas organizamos o círculo de forma que o
telão utilizado fizesse parte desse e todos os presentes puderam visualizar os que participavam de
forma remota.

4.2 O trabalho com os estudantes

A intervenção com os estudantes surgiu da demanda dos professores participantes do trabalho


desenvolvido anteriormente. Com o retorno às aulas presenciais, eles identificaram diversas
dificuldades emocionais que vários estudantes adolescentes apresentaram no período pós-isolamento
social. Foram escolhidas três turmas de 9º ano em parceria com professoras. Os docentes, além de
cederem suas aulas para realização dos círculos, participaram dos encontros com muito entusiasmo.
Desenvolvido de abril a junho de 2022, o trabalho aconteceu em parceria com estagiários(as)
do Estágio II: “Intervenção Psicossocial em Educação”, e teve ainda a participação de uma estagiária
do Estágio em Psicologia e Mediação de Conflitos. Cada turma teve a intervenção de quatro pessoas,
entre extensionistas e estagiários durante os quatro encontros propostos.
O planejamento dos dois primeiros encontros foi realizado coletivamente e executado nas três
turmas.
No primeiro encontro que tivemos com os estudantes, explicamos todo o processo do círculo
e todos seus componentes, além de promovermos as boas vindas. Então iniciamos os círculos, tendo,
como cerimônia de abertura, o clipe da música “Dona de mim”, da cantora Iza. Após as rodadas de
check-in e valores, seguimos para a pergunta do tema central: “Quando é que me sinto Dona(o) de
mim?”. Muitos expressaram que se sentem donos de si quando estão em casa sozinhos, outros quando
estão com os colegas, e outros quando estão fazendo atividades esportivas.
Vários estudantes de uma das turmas confessaram não se sentirem “donos de si” em momento
algum. Mesmo não estando no planejamento, a facilitadora que conduzia o tema central, lançou outras
perguntas para reflexão dos que responderam dessa forma: “O que o impede de ser ‘dono de si’?” e
“Quanto ao que o impede, o que dependeria apenas de você para mudar esta situação?”. A maioria
atribuiu à falta de maturidade a incapacidade de sentir-se dono de si e refletiu que mudanças de
postura, mas também o passar do tempo, trariam aquilo que lhes falta.

263
EXTENSÃO PUC MINAS:
264 Novo Humanismo, novas perspectivas

Em outra turma, o círculo foi marcado por momentos de emoções, das expressões delas em
sala e quanto ao tratamento dado pelos colegas. Refletiu-se no círculo como é se sentir daquela forma
com mediação dos facilitadores. Na cerimônia de encerramento, escolhemos um poema de Paulo
Freire “A Escola é”, que fala sobre a importância da escola não somente para a educação formal, mas
também para os laços que construímos e que cada ser que está ali presente importa, possui sentimentos
e devemos respeito a cada um deles.
Quando já estávamos encerrando totalmente o círculo, uma jovem apontou ser um problema
muito presente na classe, o bullying. A partir daí iniciou-se um novo diálogo, muitos colegas
apresentaram falas marcantes descrevendo que não falaram no momento do círculo por timidez e
vergonha dos próprios colegas, e que infelizmente tudo na sala de aula virava brincadeira por parte
dos mesmos. A partir disso, tivemos a ideia de trazer como próxima temática para ser discutida o
bullying nas escolas.
O que se percebeu, no final do círculo, foi que alguns alunos se apresentaram alegremente,
motivados a participar e outros já sem muito envolvimento, repetindo as falas dos seus colegas, outros
expressaram ter curiosidade e cumpriram corretamente o que se esperava.
Dando continuidade ao trabalho, no segundo encontro falamos sobre bullying. Esta prática é
considerada sistemática e repetitiva, pelas ações de violência física e psicológica, causando
intimidação, humilhação, xingamentos e até mesmo agressões físicas, de um sujeito ou um grupo em
relação ao indivíduo, trazendo inúmeros resultados negativos como, por exemplo, o isolamento, a
humilhação, a sensação de medo e angústia, impactando às vítimas como baixa autoestima,
insegurança, ansiedade, estresse, ataques de pânico e depressão, podendo levar até uma ideação
suicida.
Na cerimônia de abertura, após as boas-vindas, todos tiveram a oportunidade de assistir o
vídeo “2 de mayo, Día Internacional Contra el Acoso Escolar”6 que tratava sobre o assunto central, o
bullying. Numa das turmas, há estudantes estangeiros. A escolha pelo vídeo ser em espanhol foi uma
forma de incluí-los. Como as imagens são autoexplicativas, todos tiveram facilidade de compreensão,
ainda que não entendessem a língua.
Neste encontro, tivemos a percepção de que os alunos estavam mais desinibidos, tivemos mais
falas do que no primeiro encontro; muitos falaram que o problema é de fato recorrente na turma,
porém muitos alegaram que o bullying é algo que sempre existiria no mundo e que então não faria

6
O vídeo retrata a história de uma criança que passava por constantes deboches por parte de seus colegas de sala
simplesmente por ele pertencer a outro país e falar sua língua nativa, porém um amigo percebe o problema e o defende,
e assim nasce uma bela amizade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 265

sentido eles pararem de “zoar”. o trabalho em uma das turmas foi bastante desafiador, com grande
número de estudantes e aparentemente pouco interesse pelo círculo da paz. Entretanto no segundo
círculo houve algumas reflexões. Alguns conseguiram se expressar falando sobre o tema principal. A
maioria também compartilha o sentimento de já ter sofrido bullying, como citado.
Houve alguns momentos marcantes e emocionantes durante a atividade, alguns jovens
compartilharam suas dores e angústias, e podemos perceber que a maioria deles não procurou ajuda
ou não tinham com quem contar. O tema causou uma grande repercussão e nos alegramos com a
maior interação deles. Observamos que alguns, notavelmente são alunos aparentemente
desamparados, muitas vezes estudam e trabalham, alguns moram com os avós. Parecem não ter desejo
de conhecimento; expressam pouco suas vozes, muitas vezes têm ânsia em relação ao “futuro”, mas
não demonstram saber o que esperar dele.
Nos dois últimos encontros, cada turma apresentou uma demanda diferente, por isso os
planejamentos foram realizados de forma separada, pelo grupo de estagiários (as) e extensionistas
facilitadores de cada turma. Foram trabalhadas temáticas tais como, padrões de beleza, autoestima e,
cada turma em um momento diferente, trabalhou as expectativas dos estudantes quanto ao futuro,
seus valores e objetivos, trazendo ferramentas de planejamento e respondendo a perguntas práticas
sobre formação profissional, ENEM, ProUni, dentre outras.
Diante do que foi relatado, podemos compreender que o círculo é um instrumento que pode
ser utilizado de forma presencial, virtual ou de forma híbrida, devendo ser adaptado e pensado
mediante aos recursos que se tem. No caso do trabalho com os professores, o trabalho virtual foi uma
ótima alternativa, pois permitiu maior aderência dos professores, já que os vários afazeres advindos
da docência podem trazer impossibilidades de participação em projetos como estes.
Cabe destacar que é muito importante a realização de uma prática que permite que os
participantes sejam os protagonistas, que sejam eles e elas os facilitadores. Por isso há a necessidade
de fazermos uma coconstrução do trabalho, que começa no primeiro momento de intervenção; desta
feita, quando temos a oportunidade de trabalharmos com vários encontros com determinado grupo, o
ideal é separarmos o primeiro encontro para desenhar o projeto junto com ele.
No caso dos professores, por exemplo, cada tema, retirado das palavras geradoras levantadas
do primeiro encontro, foi trabalhado sempre partindo da visão/vivência de cada componente do
círculo. A pedagogia freiriana foi a base para a discussão das questões, em constante diálogo, tendo
o posicionamento dos educadores como ponto de partida. Em seguida, apresentamos as colocações
de Freire sobre os temas para, na sequência, relacionarmos a fala dele às vivências apresentadas. Com

265
EXTENSÃO PUC MINAS:
266 Novo Humanismo, novas perspectivas

isso, os círculos nos fizeram perceber que uma intervenção não vertical permite o compartilhamento
entre as pessoas, com a crença de que a técnica não diz do grupo, ou seja, a intervenção psicossocial
contribui de forma crítica sobre a “construção com” e não uma “construção para.”
Este processo traz uma certa motivação, pois não são os facilitadores que estão
propondo/impondo algo, mas é o grupo que formulou os objetivos de forma consensual. Também traz
uma efetividade ao trabalhar com as necessidades que os grupos apresentam fazendo com que nossa
prática tenha sentido. Em nosso último encontro uma das professoras destacou a importância deste
tipo de trabalho, visto que comumente os cursos disponibilizados pela prefeitura, por exemplo, estão
distantes da realidade que vivenciam. Diante disso, podemos apontar que o círculo de paz pode ser
uma metodologia potente para a formação continuada dos professores.
Outra coisa importante de se pensar é que os próprios professores, a partir do diálogo,
conseguem encontrar respostas para os problemas que vivenciam, isto nos mostra que os saberes
desses profissionais são potencializados quando dialogam entre si e com a contribuição de um
facilitador.
No que tange ao trabalho realizado com os estudantes podemos destacar a dificuldade destes
em lidar com atividades que promovem o diálogo e que permitem expressar sentimentos, o que
confirma a necessidade destas práticas que realizamos no projeto de extensão estar no espaço escolar.
Cabe destacar a eficácia do círculo ao se trabalhar com o bullying e não somente isso, é instrumento
eficaz para prevenção das violências neste contexto e para a promoção de uma cultura de paz, que o
projeto MAC busca em suas atuações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos com o projeto, foi possível compreender e verificar as práticas
aqui destacadas positivamente em relação às perspectivas que adotamos, sendo utilizadas em diversos
contextos como familiares, comunitários e organizacionais. Nesse sentido, podem ser usadas com
qualquer pessoa ou grupo, bem como nos espaços ligados à política pública, o que possibilita o
fortalecimento das pessoas em suas necessidades, sentimentos, vontades, cultura, histórias conectadas
a uma profunda relação com o ser humano, sua humanidade.
Voltando ao projeto de extensão, no que diz respeito a um maior aprofundamento da temática
da educação para a paz no âmbito escolar; este contribui na elaboração de ações para fins de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 267

enfrentamento e prevenção do bullying na escola; realização de círculos de paz na Escola Municipal


Professor Paulo Freire; contribuição no sentido de fortalecer os alunos na perspectiva da educação
para uma Cultura de Paz.
A escola é considerada um ambiente em que os alunos desenvolvem suas habilidades
fundamentais para a vida, por isso, a sala de aula tornou-se um ponto de encontro, de convivência
social e de cidadania. De acordo com Amaro (2012, p. 14), a escola é o lugar de conhecimento e
exercício do conhecimento. Sendo assim, a manifestação do projeto MediAção Comunitária no
âmbito escolar é de fundamental importância, pois possibilita que esses alunos se desenvolvam nos
mais diversos contextos sociais na relação com demais seres humanos a partir de seu processo de
transformação e ampliação para o social.
Outro ponto a se destacar é a formação acadêmica dos estagiários(as) e extensionistas
envolvidos(as) no processo. A possibilidade de “aprender fazendo” amplia a compreensão das teorias
de forma prática, permite a cada um a experimentação de um fazer psicológico dos trabalhos grupais
e, à medida que também se colocam ao responderem às perguntas do círculo, criam vínculos com o
coletivo de estudantes, trazendo riquíssimas trocas de saberes e vivências.
Freire afirma: "[...] da natureza mutável da realidade natural como histórica se vê homens e
mulheres como seres não apenas capazes de se adaptar ao mundo, mas, sobretudo de mudá-lo. Seres
curiosos, atuantes, falantes, criadores” (FREIRE, 2000, p. 96). Dessa forma, entende-se que as
práticas restaurativas são uma ferramenta útil para o processo de construção dos seres humanos que
se tornam agentes de sua própria história, no enfrentamento de problemas para que se desenvolvam
práticas que fortaleçam sua humanidade de acordo com os princípios do projeto para o avanço na
cultura de paz. Diante disso, trabalhos mais aprofundados entre as relações humanas poderiam
possibilitar maior conhecimento para o efeito satisfatório da Justiça Restaurativa. Ainda é preciso
estudar muito nesta perspectiva, através do acolhimento sem julgamento, orientada por análises e
posicionamentos críticos, para se compreender os conflitos nas relações.
Neste texto, optou-se por uma apresentação refletida, porém mais descritiva e menos teórica
e conceitual de aspectos das práticas. Em outras oportunidades de escrita, será necessário desenvolver
mais criticamente reflexões, por exemplo, sobre as ações e experiências psicossociais dos professores
e as relações e conflitos entre alunos problematizando formas de poder e dominação como o
patriarcalismo, o classismo e o racismo que tem se apresentado discursivamente camufladas em
conceitos perspectivados liberalmente como o “bulliyng”.

267
EXTENSÃO PUC MINAS:
268 Novo Humanismo, novas perspectivas

A Justiça Restaurativa tem grande relevância para promover transformações de formas


positivas nas relações entre os estudantes pois, mesmo frente a conflitos difíceis e complexos, essa
possibilita conexões potencialmente transformadoras, perseguindo a meta da autonomia nos espaços
escolares. À luz da mediação comunitária na escola e de perspectivas psicossociais e críticas, as
intervenções em JR se apresentam como possíveis contribuições para problematizar e promover
enfrentamentos de relações de poder e dominações bem como desenvolver potencialidades subjetivas.
Para tal importa que mediadores/facilitadores externos ou internos à escola contribuam para que
professores e estudantes se responsabilizem por suas ações, histórias e experiências como
participantes dos conflitos e também como interventores educativos quanto a eles.

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https://books.google.com.br/books?id=-45ODgAAQBAJ&pg=PT209. Acesso em: 09 de jun. 2022.
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GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. Resgate dos direitos humanos em situações adversas de países
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PRANIS, Kay. Processos Circulares. São Paulo: Palas Athenas, 2010.
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ROSENBERG, M. Vivendo a comunicação não violenta. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 269

VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas. São Paulo:
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VEZZULLA, Juan Carlos. Teoria e prática da Mediação. Curitiba: Instituto de Mediação, 1995.
ZEN, Howard. Justiça Restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 2012.
ZEN, Howard. Trocando as lentes. Um novo foco sobre o crime e a justiça – Justiça Restaurativa.
São Paulo: Palas Athena, 2008.

269
EXTENSÃO PUC MINAS:
270 Novo Humanismo, novas perspectivas

Aposentadoria e benefícios para pessoas com deficiência:


modelos de avaliação

Ana Júlia Estevam Corrêa1


Carolina Costa Resende2
Izabella Fagundes de Almeida Cruz3
Kaylane de Souza Silva4
Vitória Alves Santos5

RESUMO
Há muitas décadas, percebe-se uma necessidade da sociedade em atuar cada vez mais em prol da diminuição dos aspectos
de marginalização da Pessoa com Deficiência (PcD). As pessoas com algum tipo de incapacidade física ou intelectual
necessitam de medidas que promovam a inclusão efetiva delas na comunidade. Neste artigo, será apresentado - por meio
da revisão de literatura realizada - a evolução e as mudanças de leis dos modelos de avaliação, além da classificação dos
impedimentos corporais, com a intenção de refletir sobre os impactos e a eficácia dessas avaliações para as PcD que estão
em processo de aposentadoria e ou concessão de benefícios, analisando os conceitos previstos na legislação brasileira e
verificando se o previsto é de fato aplicado. Durante a construção deste trabalho, foi traçada uma linha histórica da
evolução dos modelos de avaliação e as leis até chegarmos nos modelos que hoje são utilizados para as avaliações, a fim
de trazer mais informações sobre o presente tema tratado e instruir a população sobre seus direitos.

Palavras-chave: Avaliação. Deficiência. Biopsicossocial.

Retirement and benefits for people with disabilities:


evaluation models

ABSTRACT
For many decades, there has been a need for society to act more and more in favor of reducing the aspects of
marginalization of Persons with Disabilities (PwD). People with some type of physical or intellectual disability need
measures that promote their effective inclusion in the community. In this article, it will be presented - through the literature
review carried out - the evolution and changes of laws of assessment models, in addition to the classification of bodily
impairments, with the intention of reflecting on the impacts and effectiveness of these assessments for PwD. disability
who are in the process of retirement and/or granting benefits, analyzing the concepts provided for in Brazilian legislation
and verifying if the provisions are actually applied. During the construction of the article, a historical line was drawn on
the evolution of evaluation models and laws until we reached the models that are used today for evaluations, in order to
bring more information about the present topic and educate the population about their rights.

Keywords: Evaluation. Deficiency. Biopsychosocial.

1
Graduanda do curso de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
ajecorrea@sga.pucminas.br.
2
Doutora em Psicologia; Professora do Curso de Psicologia. Pró-reitora de Extensão da PUC Minas. E-mail:
carolinaresende.psi@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas. E-mail: ifacruz@sga.pucminas.br.
4
Graduanda do curso de fisioterapia da PUC Minas. E-mail: K988558421@hotmail.com.
5
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas. E-mail: vitoria.santos.1334017@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 271

INTRODUÇÃO

De acordo com o artigo 1º da Constituição de 1988, um dos fundamentos da República


Federativa do Brasil é a cidadania. Entretanto, o exercício desse princípio constitucional ainda é um
grande desafio, uma vez que parte da população com deficiência é prejudicada em seu convívio em
sociedade, por consequência da utilização de obsoletos modelos de avaliação para deficiência do
corpo humano aplicados atualmente. Nesse sentido, fazem-se relevantes dois aspectos: a evolução
dos modelos de análise e classificação de impedimentos corporais, bem como os impactos desses na
aquisição de processos de aposentadoria e concessão de benefícios realizados no âmbito do INSS
para pessoas com deficiência (PcD). O presente artigo visa refletir sobre os desafios da população
com deficiência no que se refere ao acesso a direitos sociais básicos, com destaque para a previdência
social.
Na sociedade moderna, a discrepância no acesso à informação entre a população brasileira,
por motivos econômicos e educacionais — como o alcance a internet e o grau de alfabetização dos
cidadãos —, e a insuficiência de produções científicas por pesquisadores nacionais a respeito de
assuntos de demanda de PcD evidencia a importância de revisar a literatura existente. Também é
preciso discutir os pontos principais do assunto, e assim, construir sínteses sobre o tema, com o fito
de disseminar informação, principalmente porque qualquer indivíduo está suscetível a adquirir uma
deficiência a qualquer momento da vida.
Além disso, a revisão de literatura realizada para a produção deste trabalho contribuiu para a
formação acadêmica humanista das graduandas participantes da escrita, e visa a colaborar para a
sociedade. O estudo realizado e a sua exposição têm por finalidade refletir e analisar os conceitos
previstos na legislação brasileira sobre a aplicação das avaliações biopsicossociais nos processos de
aposentadoria e benefícios para as pessoas com deficiência. A partir desse ponto, foram feitas análises
sobre a realidade enfrentada por elas nos processos de aposentadoria e benefícios realizados pelo
INSS, lançando luz aos obstáculos que são enfrentados nas perícias para concessão desses benefícios.
Utilizamos, neste artigo, como metodologia a revisão de pesquisas coletadas no Google
Acadêmico e no portal Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) da
Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) para analisar diferentes
produções científicas relevantes. Após a coleta e análise desses poucos materiais atualizados
existentes e encontrados percebemos a necessidade de mais estudos específicos no assunto.

271
EXTENSÃO PUC MINAS:
272 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 HISTÓRIA DOS MODELOS DE AVALIAÇÃO E AQUISIÇÃO DA APOSENTADORIA E


OUTROS BENEFÍCIOS POR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

2.1 Metodologia de estudo

O presente trabalho procura analisar os aspectos jurídicos e biopsicossociais dos benefícios


previdenciários para pessoas com deficiência (PcD), para isso, foram feitos estudos e pesquisas com
o uso de artigos e revistas científicas, assim como doutrinas e a legislação seca. A abordagem utilizada
foi a revisão narrativa, os tópicos iniciais são voltados a uma análise histórica que culminou nos
direitos do presente, assim como a evolução do formato de avaliação individual biopsicossocial.
Como resultado desse estudo, observou-se a falta de uma análise individual a partir de cada indivíduo
beneficiário da previdência social.
Utilizamos neste artigo, como metodologia a revisão de artigos coletados no Google
Académico e no portal CAPES da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
para analisar os artigos e outras produções científicas relevantes. Após a coleta e análise desses
poucos materiais atualizados encontrados, percebemos a necessidade de mais estudos específicos
neste assunto.

2.2 Evolução dos modelos de avaliação

Conforme a Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações
Unidas, pessoas com deficiência são referidas como indivíduos com impedimentos corporais ou com
restrições funcionais, conforme Santos (2020):

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas. (BRASIL, 2015)

Logo, pode-se observar que, de acordo com a Constituição, uma pessoa com deficiência é
qualquer indivíduo que possua alguma restrição dentro da sociedade. O corpo deficiente é uma
expressão da diversidade humana que deve ser protegida, valorizada e incorporada na sociedade.
Todavia, a existência da desigualdade ainda persiste na sociedade (SANTOS, 2010). A deficiência é,
essencialmente, uma disfunção de um sistema do corpo, como um sistema de órgãos ou o sistema
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 273

músculo-esquelético (SCURA; PIAZZA, 2021). Essas linhas de pensamento expõem que a pessoa
com deficiência é uma variação da existência humana no mundo e, que, por causa de suas limitações,
necessitam de auxílio para viver em harmonia e plenitude na sociedade.
De acordo com Nikolas Corrent (2016), em cada época da história e em cada sociedade, tinha-
se uma visão diferente da PcD. Na civilização grega, por exemplo, tinha-se uma busca pelo corpo
perfeito, principalmente pelas constantes guerras que eles enfrentavam. Conforme Mário Schmidt
(2011): “Para os gregos, o corpo sadio deveria estar unido com a mente sadia, não se admitia a
deficiência entre eles” (SCHMIDT, 2011, p. 26). Dessa forma, indivíduos que não se encontravam
dentro dos padrões físicos de saúde acabavam sendo excluídos da sociedade. Tanto em Esparta quanto
em Atenas, muitas crianças que nasciam com deficiências físicas ou mentais eram assassinadas por
serem consideradas insignificantes:

Em Esparta e Atenas crianças com deficiências física, sensorial e mental eram consideradas
subumanas, o que legitimava sua eliminação e abandono. Tal prática era coerente com os
ideais atléticos, de beleza e classistas que serviam de base à organização sócio-cultural desses
dois locais. Em Esparta eram lançados do alto dos rochedos e em Atenas eram rejeitados e
abandonados nas praças públicas ou nos campos. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2008, p.7)

Ao longo da história, a Doutrina Cristã contribuiu para a diminuição do assassinato de crianças


que possuíam alguma deficiência. No entanto, a sociedade ainda mantinha um distanciamento social
e uma imagem negativa dessas pessoas, justificando esses impedimentos corporais como castigos
divinos, implicando a assistência a essas pessoas por meio da caridade e retenção (SANTOS, 2010).
Silva (2010) nos informa que

[...] na Idade Média o abandono passou a ser condenado e as pessoas com deficiência
começaram a receber abrigo em asilos e conventos, principalmente. Porém, nesse período.
Era comum a crença de que a deficiência seria um castigo de Deus por pecados cometidos e,
por isso, os indivíduos com deficiência eram alvo de hostilidade e preconceito. (SILVA,
2010, p.40-41).

A compreensão da pessoa com deficiência mudou ao longo dos últimos quarenta anos. Após
a teoria religiosa, até os anos 1970, o modelo biomédico sustentava a ideia que os impedimentos
corporais devem ser avaliados em relação às restrições físicas dos indivíduos (SANTOS, 2010). O
saber biomédico definia a deficiência somente de um ponto de vista físico utilizando a Classificação

273
EXTENSÃO PUC MINAS:
274 Novo Humanismo, novas perspectivas

Internacional de doenças e problemas relacionados à Saúde (CID). Assim, esse pensamento que
permeava a sociedade possuía uma linha de raciocínio hegemônico para intervir nas questões das
Pessoas com deficiências - PcD (CORRENT, 2016).
Em 2001, foi publicada a Classificação Internacional de funcionalidade e Incapacidade e
Saúde (CIF) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para orientar os modos de apreender,
compreender, descrever e avaliar a deficiência como um estado e condição de saúde, com o intuito
de padronizar as limitações do corpo humano (SANTOS, 2010). No entanto, demorou cerca de
quarenta anos para esse modelo paradigmático alcançar o dia a dia das pessoas, sendo que, até hoje,
percebe-se uma dificuldade de essa mudança se tornar hegemônica no cotidiano da pessoa com
deficiência. A CIF apresenta um avanço significativo nas questões relativa à deficiência e à saúde,
pois começa a tratar a avaliação por um viés biopsicossocial (CORRENT, 2016).
A CIF passou a ser utilizada no Brasil para a avaliação das deficiências com o objetivo de
conceder benefícios, como o de prestação continuada BPC, da lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), garantido, no ano de 2016, a mais de 2,354 milhões de pessoas com deficiência (CORRENT,
2016). Com o avanço científico, ocorreu uma progressão na forma de avaliação e passaram a
compreender a deficiência além da questão física, isto é, passaram a compreender como um dos
aspectos componentes da diversidade humana.

2.3 Embasamento constitucional

Após muitas lutas e discussões no campo político interno e externo, atualmente se encontram
vigentes no ordenamento jurídico, a Lei 8.742/1993 (BPC LOAS) e a Lei 142/2013 (Aposentadoria
da Pessoa com Deficiência), que regulam os benefícios e a aposentadoria da pessoa com deficiência,
levando em consideração o conceito biopsicossocial dessas. De acordo com o Art.2º da Lei Brasileira
de Inclusão (BRASIL, 2015):

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.

A consolidação e unificação do conceito de pessoa com deficiência no Brasil é algo recente e


fruto de um debate internacional. A Convenção Internacional sobre os direitos das PcD é um dos
órgãos das Nações Unidas que, no seu texto aprovado em 2006, e promulgado pelo Brasil em 2009,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 275

obrigará as partes a promover, proteger e assegurar o exercício pleno dos Direitos Humanos da
população com deficiência. Além disso, após muitas lutas no campo político, pela primeira vez, as
barreiras ambientais foram elementos centrais na caracterização da deficiência e se passou a levar em
consideração a definição formulada pelas próprias pessoas portadoras de deficiência. No §3 da Lei
13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), é exposto o que é considerado como:

barreiras, entraves, obstáculos, atitudes ou comportamentos que limitem ou impeçam a


participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à
acessibilidade, à liberdade de movimento e de comunicação, ao acesso à informação, à
compreensão, à circulação com segurança.

Para ter acesso a qualquer benefício direcionado à pessoa com deficiência, será utilizado o
Índice de Funcionalidade Brasileiro (IFBr-A), que é a ferramenta utilizada para avaliação dos
candidatos que necessitam de proteção social para qualquer política brasileira, e que prevê o acesso
a esses meios somente as pessoas que se adequarem a esse conceito.

2.4 Benefício de Prestação Continuada – BPC previsto na Lei Orgânica da Assistência Social –
LOAS

O artigo 1° da Lei 8.742 de 7 de dezembro de 1993 dispõe que:

a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de
ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. (BRASIL, 1993)

Em seguida, elabora sobre o benefício de prestação continuada à pessoa com deficiência, mais
conhecido como Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social
(BPC-LOAS). Tal benefício consiste no direito a um salário mínimo mensal às pessoas com
deficiência que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família.
Contudo, a LOAS é um benefício individual, intransferível e não pode ser acumulado pelo
beneficiário com qualquer outro no âmbito de seguridade social, assim como, é obrigatória a revisão
do benefício a cada dois anos para garantir que o beneficiário ainda cumpra os requisitos solicitados.

275
EXTENSÃO PUC MINAS:
276 Novo Humanismo, novas perspectivas

Dessarte, o requisito necessário para a concessão do benefício é possuir deficiência de qualquer


natureza que impossibilite a socialização em igualdade de condições com as demais pessoas ou
apresentar qualquer outra doença que a impossibilite de trabalhar.
Em seu artigo 20, parágrafo 6º, a Lei 8.742 determina que

a concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de impedimento


de que trata o § 2o, composta por avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos
peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS. (BRASIL,
1993, [s./p.])

Dessa forma, a avaliação de cunho biopsicossocial é garantida por lei. Como a doutrina
jurídica tem apontado há tempos, a mera provisão de direitos e garantias no ordenamento jurídico não
são suficientes. Esses direitos devem ser efetivos na inclusão do cidadão na sociedade, assim como
devem ser disponibilizados instrumentos para participar da legitimação da estrutura social, o que só
pode acontecer se aberto a este espaço.
Contudo, tais direitos não são respeitados na prática, tendo em vista que em diversas agências
da previdência social não contam com uma equipe multidisciplinar com profissionais qualificados e
de áreas diversas, como resultado, essa falta tem prejudicado diversas pessoas com deficiência menos
aparentes que buscam um benefício que é seu por direito, mas falham nessa busca, tendo em vista o
despreparo da equipe avaliadora, que não compreende as diversas facetas e individualidades das
pessoas com deficiência.
Não há como esquecer que aquele que não tem voz, isto é, pessoas que possuem menos voz
ativa nas decisões e rumos da sociedade, se por um lado não é levado em consideração em estatísticas
e sequer teve reconhecida a sua cidadania de direito. Dessa forma, a partir dessa avaliação percebemos
ainda mais uma falha da sociedade, a despeito das previsões constitucionais e na legislação quanto a
uma série de direitos dos cidadãos, muitos ainda sequer tiveram a oportunidade de exercê-la.

2.5 Lei Complementar 142/2013:

Visando assegurar direitos previstos em tratados internacionais e na própria constituição, a


fim de tornar mais efetivo o seu cumprimento, principalmente ao que tange o §2 da EC 12/1978, após
25 anos da promulgação da Constituição Federal, surgiu a Lei Complementar 142/2013. Essa lei trata
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 277

da aposentadoria da pessoa com deficiência que contribui com o Regime Geral. Recentemente, no
ano de 2019, houve a Reforma da Previdência que, apesar de não ter alterado a Lei 142/2013, abordou
aspectos novos que serão importantes para a análise proposta neste artigo.
A Emenda Constitucional ressaltou algumas alterações na previsão de idade e tempo de
contribuição e alguns casos em que serão aplicadas regras diferentes, mas tudo após uma análise
biopsicossocial. Então, podemos concluir que, é ressaltado constitucionalmente a avaliação
biopsicossocial na concessão de aposentadoria.
A Reforma da Previdência assegurou que as aposentadorias das PcD continuarão sendo
assistidas pela Lei 142/2013, em seu art. 22, e estabeleceu a questão do cálculo de tempo e
contribuição. Essa reforma assegurou algumas regras diferenciadas para a aposentadoria desse grupo
em especial, inclusive algumas vantagens para a PcD. A partir dessa Lei, os portadores de deficiência
poderão se aposentar por tempo de contribuição independentemente da idade. Além disso, ela poderá
se aposentar por tempo menor que o estabelecido para os demais grupos sem deficiência e também
não apresenta a regra de pontos e o fator previdenciário só é aplicado nos casos em que isso aumenta
o seu benefício.
Em relação a um dos maiores problemas enfrentados após a Reforma da Previdência, o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem realizado alguns cálculos de maneira errônea, que
por consequência traz prejuízos à vida dos contribuintes deficientes. Algo muito questionado por
diferentes juristas previdenciários, é que a Reforma não previu nenhuma alteração, de nenhum cunho,
no que tange à Lei 142, mas o INSS criou novas regras quanto à formação do período básico de
cálculo (PBC), que provoca o questionamento quanto à inconstitucionalidade e ilegalidade do Ofício
64/2019 e a Portaria 450/2020 do INSS.
Para que o trabalhador seja assegurado pela Lei Complementar 142, ele terá que passar por
alguns processos; no primeiro momento, é feita uma apresentação de documentos próprios para esse
direito, portanto, um processo administrativo, e o segundo momento consiste na avaliação da
deficiência que é feita por um perito médico e uma assistente social que são disponibilizados pelo
INSS, e é realizada com base no IFBr-A.
Mesmo para fins trabalhistas, é necessário que seja adotado o conceito de pessoa com
deficiência pela Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, em que serão
considerados dimensões importantes para a participação social, como o domínio sensorial,
comunicação, mobilidade, cuidados pessoais, vida doméstica, educação, trabalho e vida econômica,
socialização e vida comunitária.

277
EXTENSÃO PUC MINAS:
278 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.6 Judicialização dos benefícios concedidos pelo INSS em relação ao BPC LOAS e a
aposentadoria da pessoa com deficiência.

Com o objetivo de aprofundar e procurar entender como é o fenômeno da judicialização dos


processos de aposentadoria e benefícios fornecidos pelo INSS, à luz da avaliação biopsicossocial,
procura-se nesta parte da pesquisa, analisar as avaliações executivas realizadas nos últimos anos, com
foco na judicialização de benefícios administrados pelo INSS que mostra ser uma situação de impacto
relevante na execução da política previdenciária.
A aposentadoria da pessoa com deficiência é um dos principais benefícios concedidos pelo
INSS, possui alto grau de judicialização, que sustenta a necessidade de uma avaliação executiva. Com
o objetivo de identificar pontos de aprimoramento na execução e possível avaliação mais aprofundada
da sua procedência na sociedade brasileira, a avaliação executiva é uma das principais falhas, pois
não há desenvolvimento de pesquisas direcionadas à aposentadoria da PcD, somente do BPC/LOAS
e demais benefícios previdenciários.
Com base em consultas realizadas nos relatórios do Comitê de Monitoramento e Avaliação
de Gastos Diretos e do Relatório de Avaliação do (INSS), procura-se analisar um padrão nas causas
de indeferimento das perícias do instituto, em que há indícios de ineficácia nas métodos de aplicação
da avaliação biopsicossocial, (evidenciada através das divergências entre peritos do INSS e os peritos
judiciais), tornando impróprias várias aplicações concedidas em relação a dois benefícios: a
aposentadoria da pessoa com deficiência e o BPC/LOAS.
Em consonância com as análises bibliográficas, observa-se que as políticas desenvolvidas pelo
INSS, referentes a concessão de benefícios previdenciários direcionados às PcD, crescem
drasticamente a cada ano, em dados observados desde 2019, o que evidencia uma não aplicação dos
recursos públicos em consonância com os parâmetros de economicidade, eficiência, eficácia e
efetividade. Como exposto no Acórdão TCU n. 2.894/208 - Plenário, foi concluído que:

os fatores que mais contribuem para a ocorrência do fenômeno da judicialização dos


benefícios do INSS são os incentivos processuais à litigância e a divergência de entendimento
entre INSS e Poder Judiciário em matéria de fato ou na interpretação de normas legais ou
constitucionais”. Além da “Divergência entre as avaliações dos peritos do INSS e dos peritos
judiciais.

Portanto, são consideradas possíveis causas da judicialização desses benefícios sociais, além
das divergências existentes entre as análises dos peritos do INSS e dos peritos judiciais, a
desinformação do cidadão, mercado de advocacia previdenciária, estrutura e desenvolvimento
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 279

precário de carreira dos servidores, cultura organizacional, qualidade deficiente das defesas realizadas
pela União, problemas de implementação do INSS digital e as diferenças entre os critérios
administrativos e judiciais de instrução processual e para a concessão de benefícios.
Uma característica marcante do constitucionalismo democrático, que tem heranças do
constitucionalismo social, é a teoria do cidadão-cliente, que, por mais que desencadeie em uma grande
expansão do judiciário no Brasil, se faz necessária para o monitoramento das obrigações impostas
por normas programáticas, que em termos teóricos, é o grande motivo para a existência de
organizações públicas, como o INSS. Portanto, conclui-se que, pelo fato de a judicialização de
benefícios pagos pela instituição ter o início com uma petição inicial, significa que, quando um
cidadão recorre à justiça pedindo um determinado direito social, normalmente é porque foi negado,
por parte de algum órgão público, o fornecimento do que é previsto em lei sobre a concessão de
determinado direito. Com isso, percebe-se uma inversão de obrigações, em que o judiciário vem
executando mais o que é de encargo no INSS, do que o próprio órgão.
Os benefícios mais judicializados são o auxílio-doença, a aposentadoria rural e a concessão
do BPC/LOAS, que em comum, necessitam de uma avaliação biopsicossocial para serem aceitas,
reafirmando a relação da aplicação dessa avaliação, com o aumento quase que exponencial de
recorrência a justiça para concluir a ação. O que é evidenciado é que a problemática da aplicação
desse modelo tem referência com a eficácia dele, pois, o perito do INSS é obrigado a marcar pontos
que já foram predeterminados no cronograma, que não dão margens para a individualização do caso,
limitando a análise pericial. Consequentemente, a divergência existente é que, na prática, pode se
observar uma não aplicação do conceito de deficiência utilizado pela Constituição vigente, que
caracteriza a deficiência na individualidade da pessoa, através do seu enquadramento com base nas
dificuldades que apresenta para ter interação com o meio em que vive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após os estudos realizados, nota-se que, mesmo depois de muitas lutas sociais e de direitos
adquiridos, grande parte da população deficiente não é beneficiada por eles, principalmente do direito
fundamental à cidadania, quando o modelo de avaliação a sua deficiência não é realizado de maneira
adequada.
O direito à inserção plena na comunidade é de total importância para a formação social do
indivíduo, bem como para a sua qualidade de vida. Diante desse ponto de vista, independentemente

279
EXTENSÃO PUC MINAS:
280 Novo Humanismo, novas perspectivas

do grau de impedimento, é indiscutível a relevância de uma avaliação física adequada e


principalmente uma análise social para a melhor colocação dessa pessoa dentro do convívio integral
do corpo social. Entretanto, muitos direitos das pessoas com deficiência não são respeitados na
prática, tendo em vista que em diversas agências da previdência social não contam com uma equipe
multidisciplinar com profissionais qualificados e especializados em áreas diversas para avaliar
devidamente a diversidade do corpo humano.
Por conseguinte, como resultado do despreparo da equipe avaliadora, que não compreende as
diversas facetas e individualidades das PcD, há não somente essa falta ao acesso a benefícios, que são
desses cidadãos, por direito, e a falha na inclusão na sociedade, tanto no mercado de trabalho quanto
na interação social com outras pessoas.
Ao analisar esse cenário atual dos modelos de avaliação e da aquisição a benefícios pelo INSS,
as extensionistas experimentaram questionar as falhas que ocorrem quando a teoria é colocada em
prática, em prol de reivindicar o melhor para as minorias. Dessa forma, o projeto contribuiu para a
formação cientista e fraterna.
Ao longo do desenvolvimento das pesquisas desenvolvidas na formulação deste artigo,
observa-se ser necessário que futuros estudos sejam desenvolvidos por se apresentar como uma
temática muito complexa e importante para a efetivação da democracia e do princípio de igualdade
material presente no Estado Democrático de Direito. Para isso, é importante que pesquisas procurem
vislumbrar um padrão na forma como as atuais avaliações biopsicossociais interferem no aumento da
judicialização dos processos de aposentadoria das pessoas com deficiência e na concessão do
benefício BPC/LOAS. Espera-se que, com o desenvolvimento de tais trabalhos, sejam apontadas
falhas e ineficiências na forma como têm sido aplicadas atualmente, além de apontar os motivos que
causam divergências entre as avaliações dos peritos do INSS e dos peritos judiciais para que o
problema seja tratado em suas raízes.

REFERÊNCIAS

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avaliação da deficiência em um marco de justiça. Cad. Bras. Ter. Ocup. São Carlos, v. 25, n. 4, p.
909-915, 2017.
BARROS, Cassiane Silvério; LIMA, Diana Vaz de. (2021). Caminhos e causas da Judicialização
dos Benefícios Sociais no Brasil. REDECA. Revista Eletrônica Do Departamento De Ciências
Contábeis &Amp; Departamento De Atuária E Métodos Quantitativos, 8(2), 1–16. Disponível em:
https://doi.org/10.23925/2446-9513.2021v8i2p1-16 Acesso em: 27 abr.2022.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 281

BEHRING, Elaine. Rosetti.; ALMEIDA, Maria Helena Tenório de (org.). Trabalho e seguridade
social: percursos e dilemas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Presidência da República, 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso
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CONSELHO DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. Relatório
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CORRENT, Nikolas. Da Antiguidade à contemporaneidade: a deficiência e suas concepções.
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PREVIDÊNCIA Social Brasileira: concepção constitucional e tentativas de desconstrução. [S.
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SANTOS, Wederson Rufino dos. "Deficiência como restrição de participação social: desafios
para avaliação a partir da Lei Brasileira de Inclusão." Ciência & Saúde Coletiva 21 (2016): 3007-
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SANTOS, Wederson Rufino dos. Assistência social e deficiência no Brasil: o reflexo do debate
internacional dos direitos das pessoas com deficiência. Serviço Social em Revista, v. 13, n. 1, p.
80-101, 2010.

281
EXTENSÃO PUC MINAS:
282 Novo Humanismo, novas perspectivas

Arquitetura hostil para as pessoas em situação de rua

Lilian Márcia Neves Haddad1


Ricardo Guerra Vasconcelos2
Bernardo Rondinelle Ramos Silva3
Ellen Máilla de Paula4
Lucilene Carolina Galvão de Moraes5

RESUMO
A abordagem sobre o fenômeno da população em situação de rua sob o olhar da arquitetura hostil e dos direitos à cidade
no que diz respeito à atuação baseada nos valores do homem, na sua capacidade de compreensão, simpatia e espírito de
cooperação social. Bem como os motivos e a forma de demarcação e inserção de dispositivos expulsivos nos centros
urbanos. A análise empírica e a reflexão teórica da arquitetura que é não para ver, é para viver. Esta pesquisa é
exploratória, com levantamento bibliográfico e análise de exemplos para estimular a compreensão. Foi constatado que a
instalação de dispositivos expulsivos como elementos da arquitetura hostil para intervenções no espaço público e privado
sem a preservação da integridade do ser humano, a informação/comunicação, a arquitetura e a decoração dos espaços.
Esses elementos já estão sendo vistos com naturalidade e não de forma negativa por parte das pessoas que frequentam os
centros urbanos.

Palavras-chave: Desenho urbano. Espaço público. Direito a cidade. Controle urbano. Arquitetura ofensiva.

Hostile architecture for street people

ABSTRACT
The approach to the phenomenon of the homeless population from the point of view of hostile architecture and the rights
to the city with regard to action based on human values, on their ability to understand, sympathy and spirit of social
cooperation. As well as the reasons and the form of demarcation and insertion of expulsive devices in urban centers.
Empirical analysis and theoretical reflection on architecture that is not for seeing, but for living. This is exploratory
research, with bibliographic survey and analysis of examples to stimulate understanding. It was found that the installation
of expulsive devices as elements of defensive architecture for interventions in public and private space without preserving
the integrity of the human being, information/communication, architecture and decoration of spaces. These elements are
already being seen naturally and not negatively by people who frequent urban centers.

Keywords: Urban design. Public place. Right to the city. Urban control. Offensive architecture

1
Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Pós-graduada em
Planejamento Ambiental Urbano pela PUC Minas (2007), Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Itaúna (UIT,
2005). Email: lilian.haddad@sga.pucminas.br.
2
Professor do curso de Direito da PUC Minas. Email: ricardo.guerrav@yahoo.com.br.
3
Graduando no curso de Direito pela PUC Minas. Email: bernardo.rondinelle@sga.pucminas.br.
4
Graduanda no curso de Direito pela PUC Minas. Email: ellen.mailla@sga.pucminas.br.
5
Graduanda no curso de Direito pela PUC Minas, e em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Pará (UFPA,
2001). Email: lcgmoraes@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 283

INTRODUÇÃO

O presente trabalho surgiu a partir do diálogo e discussões no âmbito do Projeto de Extensão


Klinica: Direitos Humanos e cidadania com o intuito de analisar os motivos e a forma de inserção de
dispositivos expulsivos6 nos centros urbanos à população de pessoas em situação de rua sob a ótica
da arquitetura hostil.
O fenômeno da população em situação de rua, sob o olhar dos direitos à cidade, merece uma
reflexão atribuída a partir da dinâmica urbana e social aliada à atuação dos poderes públicos que está
organizada para proteger vidas das pessoas em situação de rua. No entanto, a abordagem será refletir
em como a interação da relação entre os espaços públicos e privados tem com essa parcela ínfima da
população.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Direito à Cidade é um direito humano e coletivo, que diz respeito tanto a quem nela vive
hoje quanto às futuras gerações. Pode-se dizer que é o fruto da relação do homem e seu lugar no
mundo.
A cidade é a obra suprema da arquitetura, quando o desenho e a forma são definidos para criar
um ambiente extraordinariamente rico na vida particular e pública de seus habitantes. Inclui todos
aqueles que usufruem da sua infraestrutura, organização, serviços, transporte e a concentração de
atividades econômicas dos setores secundários, ou seja, a arquitetura se preocupa com toda
construção humana e modelagem do ambiente físico de uma cidade e existe desde que o homem
passou a se abrigar das intempéries.
Entretanto, as pessoas em situação de rua, que também utilizam desses espaços públicos e
participam das dinâmicas sociais, são indesejáveis neste processo tanto por quem transita, habita ou
pelos especuladores imobiliários, pois não trazem nenhum lucro ou benefício.
Há anos muitas cidades brasileiras têm não apenas tolerado, mas incentivado a arquitetura
hostil, principalmente em razão da especulação imobiliária de determinadas regiões. A ideia que está
por trás dessa “lógica” neoliberal é a de que a remoção do público indesejado em determinada

6
Consideramos que os dispositivos expulsivos são instrumentos capazes de demarcar e demonstrar a relação, do espaço
público ou privado, como oferecimento as pessoas em situação de rua gerando uma realidade negativa expulsiva.
283
EXTENSÃO PUC MINAS:
284 Novo Humanismo, novas perspectivas

localidade resulta na valorização de seu entorno e, consequentemente, no aumento do valor de


mercado dos empreendimentos que ali se localizam, gerando mais lucro a seus investidores.
Assim, a instalação de dispositivos de expulsão vem sendo realizados, na tentativa de
combater a permanência das pessoas em situação de rua nos centros urbanos, com a tendência da
imposição de controle de restrições e militarização, justificado também pelo aumento da
criminalidade ou pelo medo do crime ou motivado pelo medo do outro no espaço público.
De acordo com Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), estima-se que no Brasil há
101 mil moradores de rua, em que, aproximadamente “40,1% estejam em municípios com mais de
900 mil habitantes e 77,02% em cidades com mais de 100 mil pessoas”, enquanto que 6,63%% viviam
em “municípios menores, com até 10 mil habitantes”. Apesar de esses dados serem de uma pesquisa
realizada em 2015, é necessário que o próximo Censo, a ser realizado a partir de agosto de 2022,
contemple a contagem das pessoas em situação de rua para que o governo federal, através de dados
atualizados, possa promover melhores formulações e implementação de políticas públicas sociais e
incentive as gestões municipais a conhecer quem está em situação de rua.
Para mais, a Nota Técnica elaborada pelo Programa Polos de Cidadania da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da Plataforma Aberta de Atenção em Direitos Humanos
(PADHu), com análises sobre a aplicação do Cadastro Único (CadÚnico) para Programas Sociais do
Governo Federal. Com relação à população em situação de rua de Belo Horizonte, há dados
informando que até agosto de 2021 existiam cerca de 8.429 pessoas em situação de rua. Todavia,
acredita-se que a pandemia da COVID-19 ainda contribui para que esses números estejam alarmantes
quanto ao aumento de pessoas que passaram a viver na rua devido à crise econômica consequente, no
entanto não há dados atualizados.
A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG possui um serviço de acolhimento institucional
chamado Pop Rua, que possui Abrigos Institucionais, Casas de Passagem, Repúblicas de Jovens e
Unidade de pós-alta hospitalar, que integram a Proteção Social Especial de Alta Complexidade do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Segundo a Prefeitura, a especificidade desses serviços
está na oferta de atendimento integral que garanta condições de estadia, convívio e endereço de
referência para acolher pessoas em situação de rua, migração e/ou vindas de áreas de risco geológico.
Atualmente, conta com cerca de: 01(um) albergue, 07 (sete) abrigos, 01 (um) unidade para
acolhimento para mulheres e 04 (quatro) para adolescente em trajetória de vida nas ruas. No entanto,
esse Serviço de Acolhimento disponível não é suficiente para atender a quantidade de pessoas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 285

existente em situação de rua no centro urbano de Belo Horizonte, o que acarreta na sua permanência
em espaços públicos principalmente em espaços atingidos pela arquitetura hostil.
A rua pode se constituir num abrigo para os que, sem recursos, dormem circunstancialmente
em logradouros públicos ou pode indicar uma situação na qual a rua representa seu habitat,
propriamente dito, onde se encontra estabelecida uma intrincada rede de relações. O que unifica essas
situações e permite designar os que a vivenciam como populações de rua é o fato de que, tendo
condições de vida extremamente precárias, circunstancialmente ou permanentemente, utilizam a rua
como abrigo ou moradia considerando principalmente como tudo que tem.
Rocha (2018) enfatiza que o valor de uma casa está no seu endereço, onde a arquitetura está
presente e “não pra você ver, é pra você viver.” Os centros urbanos são um local de valor para as
pessoas em situação de rua, pois é ambiente rico, com muitas possibilidades, mas estas pessoas estão
invisíveis ao poder público, quando pensamos em políticas públicas sociais, ou são visíveis quando
querem expulsá-las, quando incomodam. Assim, utilizam de recursos ou sistemas no espaço público,
criam uma arquitetura hostil ou defensiva, em uma ação que parte tanto de poder público quanto do
privado, na tentativa de modificar e controlar a convivência das pessoas em situação de rua.
Para Herman Hertzberger (1999), o segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que a
comunidade se sinta pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da
comunidade contribua à sua maneira para um ambiente com o qual possa relacionar e se identificar.
Meireles (2017) elucida que morar nas ruas não é uma condição acessível. Há que se lidar
com uma série de questões inoportunas como a violência, a falta de saneamento básico e de higiene,
a falta de alimentação, a precariedade e o abandono, além de a falta do número de camas nos abrigos
e albergues públicos ser um problema crônico na maioria das cidades. Apesar dessa situação de
vulnerabilidade, essas pessoas ainda têm que lidar com a instalação de dispositivos de expulsão.
A forma e a disposição desses elementos arquitetônicos, no centro urbano de Belo Horizonte,
vêm sendo feita por meio de pequenas intervenções no espaço público, como grades que cercam
praças ou parques e seus gramados com cercas elétricas e arames farpados, bancos em praças ou
abrigos de ônibus com braços no centro para evitar que as pessoas deitem por cima ou de debaixo
dele, com dimensões inferiores às instruídas pelas normas de ergonomia e segurança, espetos nos
beirais nas janelas e portas de estabelecimentos comerciais, instalações de goteiras sob as lajes de
espaços estratégicos e definidos para evitar a instalação de barracas de lona, papelão, lençol ou
cobertores em dias de chuva, esguichadores de água do tipo de jardim ou chuveirinhos acionados em
horários noturnos para que molhem o chão, a fim de impedir que as pessoas se deitem próximas às

285
EXTENSÃO PUC MINAS:
286 Novo Humanismo, novas perspectivas

calçadas, além da instalação de pedras pontiagudas sob viadutos e passarelas, ou no espaço privado,
são alguns exemplos de dispositivos dessa arquitetura hostil ou defensiva. É um tipo de arquitetura
que modifica os espaços com o objetivo de moldar o comportamento das pessoas ou afastá-los de
classes mais vulneráveis.
O urbanista Nabil Bonduki, em coluna no jornal Folha de S. Paulo, ressalta alguns exemplos
desse tipo de arquitetura na cidade paulista:

Espetos e pinos metálicos pontudos; pavimentações irregulares; plataformas inclinadas;


pedras ásperas e pontiagudas; bancos sem encosto, ondulados ou com divisórias; regadores,
chuveiros e jatos d'água; cercas eletrificadas ou de arame farpado; muros altos com cacos de
vidro; plataformas móveis inclinadas; blocos ou cilindros de concreto nas calçadas;
dispositivos “antiskate”. A lista é longa e está incompleta. (BONDUKI, 2021, s./p.).

De acordo com Cintra (2019), a partir da década de 80, a cidade de São Paulo utilizou a adoção
desses dispositivos com a justificativa de uma arquitetura voltada para a segurança, sobretudo nas
fronteiras entre o espaço privado e público. Com a segregação centro-periferia, como a saída de
grupos de maior renda das áreas centrais da cidade a partir do aumento da diversidade social nesses
locais, esses grupos de diferentes rendas passaram a não mais interagir em áreas comuns e a se isolar
com o uso de muros ou outras barreiras físicas, devido ao medo da violência e ao preconceito em
relação à população de menor renda por parte da população de classe média e alta.
Esses elementos já estão sendo vistos com naturalidade e não de forma negativa por parte das
pessoas que moram em / frequentam os centros urbanos, como por exemplo na cidade de Curitiba.
Os moradores dos prédios não consideram ofensiva a instalação de pinos metálicos e não entendem
o tamanho da repercussão midiática por não os considerar agressivos aos moradores de rua.
Em 2005, a artista plástica Sarah Ross já estava atenta a este tema e desenvolveu uma espécie
de roupa, ou vestimenta, capaz de adaptar o usuário as modificações do desenho urbano aplicados
nas estruturas da cidade de Los Angeles, em manifesto a tal situação.
No entanto, somente em 2014 é que a instalação de dispositivos de expulsão nos centros
urbanos foi tratada como o termo de “arquitetura hostil” pelo repórter Ben Quinn, no jornal britânico
The Guardian, trazendo grande repercussão. Na matéria, o desenho urbano foi o prisma da questão
que da mesma maneira pode influenciar o comportamento e convívio e buscar excluir os moradores
em situação de rua dos centros urbanos. Ao despertar atenção para os dispositivos utilizados, a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 287

divergência de opinião bradou na Europa. De um lado, parte da população confrontou o governo,


alguns designers e cidadãos, e por outro, defenderam o desenho das peças como agentes de
“prevenção do comportamento criminoso”.
Atualmente no Brasil tramita no âmbito Federal o Projeto de Lei nº 488 de 2021, de autoria
Senador Fabiano Contarato (REDE/ES), com a proposta de alterar o artigo 2º, inciso XX da Lei nº
10.257, de 10 de julho de 2001, Estatuto da Cidade, visando vedar o emprego de técnicas de
“arquitetura hostil” em espaços livres de uso público que são destinadas a afastar pessoas em situação
de rua e outros segmentos da população, em espaços livres de uso público a fim de promover o
conforto, abrigo, descanso, bem-estar e acessibilidade na fruição dos espaços livres de uso público,
de seu mobiliário e de suas interfaces com os espaços de uso privado. Tal iniciativa se deu após um
caso midiático ocorrido na cidade de São Paulo em que, na primeira semana de fevereiro de 2021,
uma obra típica da arquitetura hostil foi realizada no Viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida,
Zona Leste da capital paulista. Com efeito, a Prefeitura da Cidade de São Paulo, para afastar as
pessoas em situação de rua que ali se abrigavam, chumbou pedaços de paralelepípedos no chão do
viaduto. O caso ficou conhecido em razão do protesto simbólico feito pelo Padre Júlio Lancellotti,
conhecido no Brasil e no mundo por suas ações de acolhimento às pessoas em situação de rua. O
religioso, munido de uma marreta, removeu algumas pedras e essa manifestação viralizou na internet,
ganhando apoiadores de todas as regiões do país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É cediço que a maior parte das pessoas em situação de rua está nos grandes centros urbanos.
A arquitetura hostil é uma forma de fechar os olhos para a cruel realidade da situação existente das
pessoas que vivem precariamente pelas ruas com fome em condições degradantes. A intenção de todo
arquiteto ou urbanista ao projetar qualquer espaço é torná-lo habitável na extensão do espaço usável,
ou seja, convidar. No entanto, o sentimento crescente de que o mundo para além da nossa porta é um
mundo hostil, de vandalismo e agressão, onde as pessoas se sentem ameaçadas e nunca em casa, é o
que torna essas ações efetivas por parte de quem quer expulsá-las e não desses profissionais. Nota-se
que não há intenção de convite do uso, mesmo que de forma temporária do espaço público de forma
inclusiva, pois não há convite para hospedes indesejáveis.
O medo do outro ou da violência é um sentimento natural fundamentado em dados reais de
criminalidade, principalmente nos centros urbanos. As táticas usadas atualmente, através de

287
EXTENSÃO PUC MINAS:
288 Novo Humanismo, novas perspectivas

dispositivos de expulsão como demonstrado neste relato, não são adequadas na esfera social e só
causam consequências negativas, o que evidencia a segregação social, desvaloriza os espaços
públicos, e criam um cenário que configura uma contradição em relação ao que é esperado da vida
em cidades: a interação e troca cotidiana entre seus indivíduos.
Contudo, para essa ínfima parcela da população em situação de rua nos centros urbanos, é
esperada a oportunidade de condição de saída e não a sua expulsão através de dispositivos hostis, pois
a cidade é o lugar em que há oportunidade para todos sobreviverem. Não há que se dizer sobre a
fixação das pessoas em situação de rua nos espaços públicos e sim garantir, nos termos do art. 182,
caput, a política de desenvolvimento urbano, a ser executada pelos municípios a partir das normas
gerais estabelecidas pela União que tem por “objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.

REFERÊNCIAS

BONDUKI, Nabil. Precisamos de muitos Padres Júlios para combater a arquitetura hostil.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nabil-bonduki/2021/02/precisamos-de-
muitos-padres-julios-para-combater-a-arquitetura-hostil.shtml. Acesso em: 28 jun. 2022.
CINTRA, Cláudia Mendonça. Arquitetura e a qualificação do Espaço Público: Arquitetura
Hostil em um Estudo de Caso do Bairro Saúde. TFG, 2019 FAU USP.
FONTES, Letícia. População em situação de rua em Belo Horizonte quase quadruplica em dez
anos. Matéria publicada em 06 de jun. 2022. Site ITATIAIA. Disponível em:
https://www.itatiaia.com.br/editorias/cidades/2022/06/06/populacao-em-situacao-de-rua-em- belo-
horizonte-quase-quadruplica-em-dez-anos. Acesso em: 15 jun. 2022.
Instituto de pesquisa Econômica Aplicada. Pesquisa estima que o Brasil tem 101 mil moradores
de rua. Matéria publicada em 26 de jan. 2017. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?id=29303&option=com_content&utm_medium=we
bsite&utm_source. Acesso em 14 de jun. de 2022.
INSTITUTO PÓLIS. O que é Direito à Cidade? Disponível em: https://polis.org.br. Acesso em:
01 mar.2021.
MEIRELES, Carla. Pessoas em situação de rua: como é a realidade brasileira. (2017). Disponível
em: www.politize.com.br . Acesso em: 01 mar. 2021.
PAULO Mendes da Rocha. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa20547/paulo-mendes-da-rocha. Acesso em: 14 jun.
2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Unidades de Acolhimento Institucional POP RUA.
Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br/smasac/assistencia-social/equipamentos/acolhimento.
Acesso em: 28 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 289

POLOS CIDADANIA Universidade Federal de Minas Gerais. População em Situação de Rua:


Violação de Direitos e (de) Dados Relacionados à Aplicação do CadÚnico em Belo Horizonte,
Minas Gerais. Set. 2021. Disponível em: https://polos.direito.ufmg.br/nota-tecnica-sobre-o-
cadunico-em-belo- horizonte-mg/. Acesso em: 15 jun. 2022.
SENADO FEDERAL. Atividade legislativa. Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/146615. Acesso em: 28 jun. 2022.
SP Invisível. População de rua. Disponível em: https://spinvisivel.org/. Acesso em: 14 fev. 2022.
WIKIVERSIDADE. Arquitectura. Disponível em: https://pt.wikiversity.org/wiki/Arquitectura.
Acesso em 28 jun. 2022.

289
EXTENSÃO PUC MINAS:
290 Novo Humanismo, novas perspectivas

RELATO DE EXPERIÊNCIA

RELATOS DE EXPERIÊNCIA
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 291
EXTENSÃO PUC MINAS:
292 Novo Humanismo, novas perspectivas

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras:


estratégias para o retorno seguro na modalidade presencial

Jade Estéfani Ferreira Prado1


Jady Mirelly Faustino de Oliveira2
Mateus Henrique Teixeira Botacin3
Nathani Lara Santos Faria4
Evanirso da Silva Aquino5

RESUMO
O presente estudo visa a elucidação das estratégias usadas para a realização de um retorno presencial seguro ao projeto
PUC Mais Idade, fundado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/Campus Betim pelo curso de Fisioterapia.
A partir do pressuposto do isolamento de dois anos devido a Pandemia da doença por coronavírus 2019 (COVID-19),
novas normativas foram abordadas para garantir a presença segura dos participantes, os quais se enquadram no grupo de
risco da doença supracitada. Dentre as estratégias, se tem a formação de questionários avaliativos virtuais, aplicação de
testes padronizados e validados, distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, orientações baseadas nas medidas
sanitárias e acompanhamento do atual estado de saúde dos participantes.

Palavras-chave: Estratégias. Retorno presencial seguro. COVID-19.

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras:


strategies for safe return in presential modality

ABSTRACT
The presente study aims to elucidate the strategies used to carry out a safe face-to-face return to the PUC Mais Idade
Project Extension, founded at the Pontifical Catholic University of Minas Gerais/campus Betim by the Physiotherapy
course. From the two-year isolation due to the coronavírus disease 2019 (COVID-19) Pandemic, new regulation was
addressed to ensure the safe presence of participants, who fall into the risk group for the aforementioned disease. Among
the strategies, there is the formation of virtual evaluative questionnaires, application of standardized and validated tests,
social distance, use of mask and gel alcohol, guidelines based on sanitary measures and monitoring of the current health
status of the participants.

Keywords: Strategies. Safe face-to-face return. COVID-19.

1
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: pradojadef@gmail.com
2
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: jadymirelly1@gmail.com
3
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mateushtbotacin@gmail.com
4
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: natilara2712@gmail.com
5
Doutor e docente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: evanirso-aquino@uol.com.br
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 293

INTRODUÇÃO

Nos últimos dois anos, vimos mudanças drásticas que acometeram as rotinas de trabalho e das
relações sociais em decorrência da pandemia da COVID-19. Com o avanço da vacinação e o
importante controle sanitário, foi possível observar a minimização da transmissibilidade e uma
redução das medidas protetivas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). Essa redução na
transmissibilidade, associada à vacinação em grande escala, propiciou um retorno para as atividades
presenciais do Projeto de Extensão PUC Mais Idade – Rompendo Fronteiras.
No entanto, mesmo com uma redução na taxa de infecção pela COVID-19, a preocupação em
assegurar a saúde dos participantes no retorno presencial fez com que novas estratégias fossem
implementadas, visto que o público alvo do projeto consiste, em sua maioria, em idosos com idade
igual ou superior a 60 anos, isto é, mais vulneráveis e considerados grupo de risco (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2021). Portanto, o estabelecimento de estratégias na promoção de um retorno seguro às
atividades presenciais foi profundamente debatido e propiciou acolher os idosos e os extensionistas
com objetivo de manter as atividades do projeto presencial de forma segura.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este relato tomou como base as normativas de segurança estabelecidas e indicadas para o
combate ao coronavírus, disponibilizadas no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Além disso, para corroborar as normativas, foram utilizados os termos de restrições estabelecidos
pelas leis nacionais e municipais, e as regras normativas de funcionamento da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC) Betim e da cidade de Belo Horizonte, as quais governaram o
momento de retorno as atividades sociais presenciais.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho teve como objetivo descrever as estratégias adotadas para o retorno presencial
seguro do Projeto de Extensão PUC Mais Idade Unaí- Betim– Rompendo Fronteiras. Trata-se de um
estudo descritivo qualitativo narrativo sobre as estratégias elaboradas nas oficinas visando promover
as atividades presenciais do projeto e minimizar os riscos de contaminação por COVID-19. Assim, a
primeira medida adotada, de acordo com a Lei nº 14.019, de 2 de julho de 2020, foi o uso obrigatório
EXTENSÃO PUC MINAS:
294 Novo Humanismo, novas perspectivas

de máscaras individuais e do álcool em gel 70% em todo ambiente da universidade. Diante disso,
antes, durante e após os encontros do projeto foi enfatizada a necessidade do uso contínuo e correto
desses elementos.
No início do ano letivo, em um dos primeiros encontros com os idosos, ainda no regime
remoto, os alunos extensionistas elaboraram um protocolo de medidas, em que aconselharam a troca
das máscaras de pano por cirúrgicas ou KN95/PFF2/N95 em decorrência da maior efetividade, pois,
segundo Tanya Lewis (2021), esses dispositivos apresentam uma capacidade de filtração de 95% das
partículas. Além disso, a universidade disponibilizou, em todos os encontros, vidros contendo álcool
em gel 70%, distribuídos na porta de entrada das salas onde aconteciam as oficinas. Tal estratégia era
reforçada nos momentos em que necessitavam de contato direto das mãos, como na manipulação de
objetos.
No que diz respeito ao distanciamento físico, sugerido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), foram realizadas oficinas ao ar livre no gramado dos jardins da universidade. Essa escolha se
deu por dois motivos: livre circulação do ar, que diminui os riscos de contágio e o contato com a
natureza, que por sua vez, proporcionou bem estar físico, sensação de liberdade que traz benefícios
para a saúde mental da população tão atingida pelo período de isolamento.
Outro ponto importante foi adaptar um hábito antigo dos idosos de compartilhar os lanches
após a realização das oficinas. Em um primeiro momento, a decisão adequada foi suspender a
alimentação durante as oficinas, enfatizada previamente em todos os encontros. Posteriormente, após
a liberação do uso das máscaras, o lanche foi reinserido nas reuniões, ainda de forma cautelosa. Cada
idoso recebia, de modo individualizado, uma quantidade de comida distribuída em copos
descartáveis, servida pelos extensionistas, respeitando todas as medidas sanitárias, como a higiene
das mãos e o uso de guardanapos. Outra estratégia utilizada para garantir o consumo dos alimentos
foi manter o distanciamento físico por meio do uso de mesas separadas e distantes.
Vale ressaltar que, durante todo o processo de minimizar a exposição dos participantes do
projeto em questão ao vírus da Sars-Cov-2, os idosos se mantiveram colaborativos com as medidas
adotadas, entendendo e respeitando a necessidade de seguir os protocolos de segurança para o retorno
presencial seguro. Muitos participantes mantinham o uso do próprio álcool em gel trazido de casa,
bem como respeitavam o uso de máscaras cirúrgicas em locais fechados. Por fim, no que diz respeito
ao momento do lanche, a população da terceira idade inserida no PUC Mais Idade se organizava para
ir um de cada vez até o banheiro, a fim de higienizar as mãos, além de se manterem sentados
aguardando o momento pelo qual os extensionistas distribuíam a comida individualizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 295

Seguindo as estratégias traçadas para o retorno presencial, foi criado um questionário para o
acompanhamento do estado de saúde dos idosos participantes do projeto através de uma
autoavaliação, enviado de forma on-line por meio de um link, antes de cada oficina. Esse questionário
era composto inicialmente pela identificação do integrante e perguntas referentes ao aparecimento de
sintomas relacionados ao SARS-Cov-2. Dentre as perguntas, era questionado se algum deles teve
contato com pessoas diagnosticadas com COVID-19 nos últimos 10 dias e se o participante foi testado
positivo. Em relação aos sintomas, era questionado se estava com febre, dor de garganta e/ou de
cabeça, coriza, calafrio, perda de olfato e/ou paladar, objetivando a identificação do risco de
exposição e contaminação inconsciente e não detectada previamente. Se o idoso respondesse
confirmando mais de dois sintomas acima, ele era orientado a permanecer em casa por 7 dias até a
resolução completa ou a realização da testagem negativa para COVID-19.

Figura 1 – Questionário COVID-19

Fonte: Elaborado por extensionistas do projeto, 2022.

Houve também adequações nas medidas organizacionais do projeto, uma vez que o controle
de frequência passou a ser realizado por apenas um dos extensionistas para evitar a contaminação
cruzada pela caneta e pelo papel com todos os participantes assinando a lista. E, com relação ao
questionário de avaliação das oficinas, que coletou sugestões para as oficinas, nível de satisfação com
as temáticas abordadas, adotou-se, então, o formulário de maneira virtual, enviado pelo grupo do
projeto no aplicativo de bate-papo, Whatsapp, após cada encontro. Assim, cada participante respondia
através do próprio celular, de maneira individualizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
296 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 2 – Protocolo de medidas sanitárias

Fonte: Elaborado por extensionistas do projeto, 2022.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

As medidas adotadas, mostradas anteriormente neste relato, se mostraram eficazes e


satisfatórias no que tange ao retorno presencial positivo, tanto para os idosos, quanto para os
extensionistas e, consequentemente, para a sociedade.
Os resultados se pautam na observação longitudinal do número de casos apresentados no
decorrer do projeto, os quais apresentaram uma média de 4 casos positivos para COVID-19, entre os
52 participantes inscritos, sendo esses adquiridos fora do ambiente da oficina, equivalente a 2.08 da
porcentagem total. Considera-se, então, uma média favorável as propostas e medidas adotadas. A
obtenção de tais frutos satisfatórios só foi possível devido à adoção das medidas protetivas
anteriormente citadas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 297

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos pressupostos citados, houve poucos casos de idosos contaminados que,
imediatamente, foram afastados das atividades, além de ter sido concluído que a contaminação se deu
por meio externo ao projeto, uma vez que esses casos foram episódicos. Ademais, a adesão mediante
às normas impostas foi positiva, visto que todos cumpriram as recomendações para o retorno seguro.
Esse desfecho possibilitou a manutenção das atividades presenciais sem necessidade de
suspensão dos encontros realizados que, por sua vez, proporcionaram aos idosos uma aproximação e
novas possibilidades de criação de relações humanas, além de adquirirem conhecimentos gerais e
específicos, tais quais são importantes ferramentas de criação do capital social, físico e mental para o
envelhecimento saudável.
Para os extensionistas, a experiência de vivenciar a tríade Ensino-Pesquisa-Extensão de forma
presencial fez-se muito válida, visto que isso possibilitou a interação entre aluno e sociedade, que é
um dos pilares da tríade supracitada. Em suma, tal relação modifica o modo do aluno de se portar
perante à sociedade, ampliando as visões e os ensinamentos para uma vivência mais humanizada.
Além disso, o fato de os extensionistas terem implementado medidas protetivas contra a pandemia da
COVID-19 não trouxe benefícios apenas para os idosos, mas também para os próprios alunos e seus
familiares, uma vez que minimizaram as chances de estarem suscetíveis à contaminação do vírus.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei nº 14.019, de 2 de julho de 2020. Dispõe sobre a obrigatoriedade dispor do uso de
máscaras de proteção individual para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao
público. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14019.htm#.
LEWIS, Tanya. Why we need to upgrade our face masks – and where to get them. Scientific
American, 30 de set. de 2021. Disponível em: https://www.scientificamerican.com/article/why-we-
need-to-upgrade-our-face-masks-and-where-to-get-them/. Acesso em: 22 maio 2022.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. (OMS). Doença de Coronavírus (COVID-19)
Pandemia. Conselho para o público. Acesso em: 22 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
298 Novo Humanismo, novas perspectivas

A Produção do Material Didático "Você Quer Ser Um Educador Ambiental?":


relato de experiência a partir do projeto de extensão LABINTER

Maria Liliane M. Alfonso Antonio1


Suelen Regina Patriarcha-Graciolli2

RESUMO
O projeto de extensão LABINTER (Laboratório Interdisciplinar) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) é um
espaço de desenvolvimento de atividades educacionais que visam propiciar e fortalecer o conhecimento das práticas
pedagógicas na formação docente dos acadêmicos da UCDB e promover uma formação socioeducativa. O projeto atua
com contação de histórias para a comunidade e oficinas de formação para professores, partindo da prática interdisciplinar
para construção da visão integrada de educação e meio ambiente. Um dos objetivos do projeto se dá na perspectiva da
Educação Ambiental, que no projeto, entendemos como um processo pelo qual o educando constrói conhecimentos acerca
das questões ambientais e sociais, tornando-se agente transformador da sociedade, que busca e exerce seus direitos e
deveres. A Educação Ambiental é um processo contínuo e longo que abrange o trabalho da escola, família e sociedade.
A partir das problemáticas ambientais e das experiências no projeto LABINTER, neste trabalho, elaboramos uma cartilha
informativa e lúdica, a partir de aspectos relacionados à Educação Ambiental (EA) e ao educador ambiental, com base
em livros e artigos científicos. A cartilha é um recurso didático de grande importância para facilitar o entendimento dos
conteúdos. Os educadores ambientais precisam refletir e superar a visão fragmentada da realidade, por meio da construção
e reconstrução do conhecimento sobre a EA. Para apreender a problemática ambiental, é necessária uma visão complexa
do ambiente, na qual existem as relações naturais, sociais e culturais. O papel do educador é essencial para a transformação
de valores e práticas sociais.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Material Pedagógico. Extensão universitária.

The production of the teaching material "Do you want to be an environmental


educator?": experience report based on the LABINTER extension project

ABSTRACT
The LABINTER extension project (Interdisciplinary Laboratory) of the Dom Bosco Catholic University (UCDB) is a
space for the development of educational activities that aim to provide and strengthen the knowledge of pedagogical
practices in the teaching training of UCDB academics and to promote socio-educational training. The project works with
storytelling for the community and training workshops for teachers, based on interdisciplinary practice to build an
integrated vision of education and the environment. One of the objectives of the project is from the perspective of
Environmental Education (EE), which in the project, we understand as a process by which the student builds knowledge
about environmental and social issues, becoming a transforming agent of society that seeks and exercises its rights and
duties. Environmental Education is a continuous and long process that encompasses the work of school, family and
society. From the environmental issues and experiences in the LABINTER project, in this work, we elaborated an
informative and playful booklet from aspects related to EE and the environmental educator, based on books and scientific
articles. The booklet is a didactic resource of great importance to facilitate the understanding of the contents.

1
Graduada em Biologia pela UCDB. E-mail: lilibio5@hotmail.com.
2
Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Docente na Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail: suelenpatriarcha@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 299

Environmental educators need to reflect and overcome the fragmented view of reality, through the construction and
reconstruction of knowledge about Environmental Education. To understand the environmental problem, a complex view
of the environment is necessary, in which there are natural, social and cultural relationships. The role of the educator is
essential for the transformation of social values and practices.

Keywords: Environmental Education. Pedagogical Material. University Extension.

INTRODUÇÃO

A Extensão Universitária responde à interação entre a Universidade e a sociedade. As ações


devem estar em consonância com o tempo presente e articulada com o mundo atual. Na Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), a extensão tem como objetivo promover ações que contribuam não
somente para a formação acadêmica, mas também integrem a participação da comunidade externa,
respeitando as suas especificidades.
O projeto de extensão LABINTER (Laboratório Interdisciplinar) é um espaço de
desenvolvimento de atividades educacionais que propõe ampliar o conhecimento das práticas
pedagógicas na formação dos acadêmicos dos cursos de Ciências Biológicas, Pedagogia, Letras e
Psicologia da UCDB. Articulando as ações de ensino, pesquisa e extensão, o projeto atua partindo da
prática interdisciplinar na construção de uma visão integrada, valorizando o interesse dos acadêmicos.
Fundamenta-se, entre outros aspectos, na construção de materiais didáticos que possam auxiliar no
processo de ensino e de aprendizagem. A proposta do projeto é de favorecer esse processo de
construção de maneira integrada e interdisciplinar, permitindo que os acadêmicos participem de
oficinas e orientações, mediadas por professores de diferentes áreas de atuação, favorecendo a
formação acadêmica e, por consequência, contribuindo com a comunidade e a região em que a
Universidade se localiza.
No ano de 2021, a partir de incentivo das professoras responsáveis pelo projeto, a temática
Educação Ambiental (EA) foi inserida como uma das linhas de trabalho e, portanto, houve o incentivo
quanto à produção de material didático com essa vertente. Nesse sentido, a partir das experiências já
vivenciadas pelo grupo de extensionistas durante as ações do projeto, objetivamos neste trabalho o
relato da construção da Cartilha intitulada “Você quer ser um Educador Ambiental?”, construída para
uso de alunos de ensino fundamental e auxílio à formação continuada de professores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
300 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 PRODUÇÃO DA CARTILHA: RELATO DA EXPERIÊNCIA

A partir de estudos realizados no projeto Labinter, mediados pela professora coordenadora


sobre literatura e material didático, bem como fundamentação teórica sobre esses temas, das
demandas apresentadas nas reuniões com os parceiros e com foco na formação dos acadêmicos
extensionistas, foi proposto o desafio da construção, pelos extensionistas, de materiais didáticos.
Nesse sentido, os acadêmicos do LABINTER foram estimulados à produção de materiais que
agregassem a EA e que pudessem auxiliar durante as ações realizadas pelo projeto com o público
externo à Universidade.
Assim, construímos, entre outros materiais, uma cartilha3, cuja primeira etapa se deu por meio
de uma pesquisa bibliográfica sobre a temática. As bases de dados utilizadas foram: Google
acadêmico, Scielo, Rebea entre outros, e foram utilizados os seguintes termos para a revisão
sistemática: EA, educador ambiental e cartilha.
Em seguida, foram selecionados artigos que estavam relacionados com o tema da cartilha em
desenvolvimento. Essa etapa foi necessária para compreender a temática escolhida e ainda a
importância da construção do material didático voltados para a área de EA.
Posteriormente, foram elencados quais seriam os personagens, suas personalidades e
interesses, e como se daria a história ao longo da cartilha. Em seguida, foi realizado levantamento
dos conceitos, que mais tarde foram utilizados na construção do texto. Iniciou-se também a busca por
imagens em websites para ilustração da cartilha, que foi adaptada pela designer gráfica, com a
finalidade de ilustrar a história.
Ao longo da cartilha, foi apresentado o papel do educador ambiental por meio do personagem
Kaique e sua professora. A cartilha tem como título “Você quer ser um educador ambiental?” (Figura
01), pergunta que permeia os aspectos abordados ao longo do texto, e aparece no final da história na
perspectiva de retomar o interesse do leitor para a temática (Figura 02).
No final da cartilha, foi inserido um glossário (Figura 03) para ajudar na compreensão de
alguns termos presentes no texto e que os autores julgaram pertinentes o esclarecimento de seus
conceitos e contextos.

3
A produção da cartilha fez parte do projeto LABINTER bem como do trabalho de conclusão final do curso de licenciatura
em Ciências Biológicas de uma das autoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 301

Figura 01 – Capa da cartilha “Você quer ser um educador Ambiental?”

Fonte: Construída pelos autores, 2022.

Figura 2 – Questionamento principal


Figura 3 – Glossário da cartilha
abordado na cartilha

Fonte: Construída pelos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
302 Novo Humanismo, novas perspectivas

O desenvolvimento da cartilha como material didático, ou seja, a elaboração e a produção


desta, que poderá ser usada tanto em formato impresso, quanto no digital, tem como objetivo mediar
conhecimentos específicos da área da EA para educadores, alunos do ensino fundamental e todos os
interessados no tema e que desejam ser educador ambiental. Nesse aspecto, elaboramos uma
mensagem ao leitor, de acolhimento para a leitura, para que sinta que aquele material foi construído
para ele, além da descrição dos personagens (Figura 04)

Figura 4 – Mensagem inicial da cartilha e descrição dos personagens.

Fonte: Construída pelos autores, 2022.

O material desenvolvido apresenta uma linguagem simples, didática, com suporte das
ilustrações, podendo ser valiosa ferramenta no auxílio da construção de conhecimentos na perspectiva
da interdisciplinaridade (Figura 05).
Amorim (2013), aponta que materiais didáticos, são facilitadores do ensino contribuindo para
a aprendizagem significativa, pois permitem a participação ativa do estudante em seu processo de
aprendizagem. Borges (2000) aponta que os recursos didáticos podem auxiliar e mediar o
desenvolvimento de diferentes atividades em sala de aula. É necessário conhecer e selecionar o
material a ser utilizado adequando ao conteúdo, ao público e aos objetivos a serem alcançados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 303

Figura 5 – Exemplos das Ilustrações da Cartilha

Fonte: Construída pelos autores, 2022.

Nessa perspectiva, encontramos a EA crítica, que questiona as questões ambientais da vida


dos sujeitos. É preciso considerar o meio ambiente como o lugar onde se faz a história (meio histórico
e social), pois o ser humano é o responsável pela crise ambiental que o mundo vive. A EA é um
processo participativo e contínuo da sociedade, fundamental para a consciência crítica da população
acerca dos problemas ambientais existentes.
Entre as possibilidades de promover a EA, está a utilização de cartilhas como recurso didático.
O uso de ilustrações nas cartilhas é útil, porque: reproduz, em vários aspectos, a realidade; facilita a
percepção de detalhes; reduz ou amplia o tamanho real dos objetos representados; torna próximos os
fatos e lugares distantes no espaço e no tempo e; permite a visualização imediata de processos muito
lentos ou rápidos.
A cartilha é um recurso didático de grande importância para facilitar o entendimento dos
contextos. As atividades remetem ao leitor um cenário mais próximo da realidade, e desta forma, ela
possui um grande potencial para a promoção da EA, se tornando um agente facilitador e um
importante instrumento educacional (SILVA, 2017). Assim, acredita-se que os materiais didáticos,
incluindo a cartilha, podem favorecer a sensibilização pelas questões socioambientais presentes na
EA e auxiliar no trabalho desenvolvido pelo educador ambiental.
A cartilha sobre a EA e o educador ambiental, produzida e apresentada aqui, teve como foco
introduzir a temática socioambiental da EA e o papel do educador ambiental para alunos de ensino
fundamental e professores que participam das ações do projeto LABINTER. Uma das vertentes do
EXTENSÃO PUC MINAS:
304 Novo Humanismo, novas perspectivas

Laboratório se dá na perspectiva de contribuir com a ampliação da visão de mundo das crianças e


estímulo a participação delas no contexto social. A EA contribui para participação cidadã dos sujeitos
e ela deve ser inserida no contexto educacional desde a Educação Infantil.
No futuro, nova etapa desse projeto será desenvolvida, com a continuidade dos estudos
relacionados a cartilha “Você quer ser um Educador Ambiental?”, utilizando-a em contexto escolar.

3 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A EA tem sido mais abordada nos últimos anos em razão das problemáticas socioambientais
existentes. Nesse momento, faz-se necessário aproximar do leitor algumas perspectivas desta área,
para auxiliar no entendimento do objetivo deste trabalho.
De acordo com Reigota (2006), o meio ambiente é um lugar determinado ou percebido, em
que os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações
implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação
do meio natural e construído.
A EA é um processo que requer novos conhecimentos para compreender processos sociais
cada vez mais complexos, que estimula os atores sociais a problematizar e pensar o meio ambiente,
ajudando a construir perspectivas críticas.
Ela deve ser entendida como um processo contínuo e longo de aprendizagem, pautado em um
estado de espírito em que escola, família e sociedade devem estar envolvidos, devendo ser mais do
que uma simples forma de transmitir conhecimentos e informações sobre recursos naturais e possíveis
formas de preservação e conservação (BRANDÃO, 2004).
Na Agenda 21, a EA é definida como o processo que busca:

(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e
com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos,
habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente,
na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (...)
(AGENDA 21, s.d, on-line).

Assim, “[a] educação, seja formal, informal, familiar ou ambiental, só é completa quando a
pessoa pode chegar nos principais momentos de sua vida a pensar por si próprio, agir conforme os
seus princípios, viver segundo seus critérios” (REIGOTA, 1998, p. 28). Tendo essa premissa básica
como referência, propõe-se que a EA seja um processo de formação dinâmico, permanente e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 305

participativo, no qual as pessoas envolvidas passem a ser agentes transformadores, participando


ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o controle social
do uso dos recursos naturais:

A EA não deve ser entendida como uma disciplina isolada no currículo escolar, mas
compreendida como uma dimensão educacional a ser trabalhada transversal e
interdisciplinarmente. A mais, a EA não é somente um conjunto de práticas de defesa do
meio ambiente, mas sim, a possibilidade de se construir uma práxis socioambiental,
comprometendo todos os envolvidos numa nova atitude de abrangência ética, social, cultural,
econômica, histórica e ecológica. Ela é, por isso, uma práxis educativa entendida como ação
humana pensada e responsável, credenciada como ação-reflexão-ação crítica. (DICKMANN,
2021, p.17).

A EA, segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), deve estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal, garantindo, assim, o direito de todos a ela. Esclarece-se que a educação formal:
envolve estudantes em geral, desde a educação infantil até a fundamental, média e universitária, além
de professores e demais profissionais envolvidos em cursos de treinamento em EA. A educação
informal envolve todos os segmentos da população, como por exemplo: grupos de mulheres, de
jovens, trabalhadores, políticos, empresários, associações de moradores, profissionais liberais, dentre
outros.
A EA promove instrumentos para a construção de uma visão crítica, estimulando os atores
sociais a problematizarem e pensarem sobre o meio ambiente diretamente associado aos valores
éticos, tendo uma visão mais crítica, buscando a melhoria do quadro atual de crise socioambiental
(JACOBI, 2005). Nesse sentido,

A EA deve procurar favorecer e estimular possibilidades de se estabelecer coletivamente uma


“nova aliança” (entre os seres humanos e a natureza e entre nós mesmos) que possibilite a
todas as espécies biológicas (inclusive a humana) a sua convivência e sobrevivência com
dignidade. (REIGOTA, 2006, p. 14).

O papel dos educadores ambientais é muito importante para impulsionar as transformações de


valores, por meio de elaboração de propostas pedagógicas que irão promover a conscientização, as
mudanças de atitude de práticas sociais, desenvolvimento de conhecimentos, capacidade de avaliação
e participação dos alunos. Assim, estes devem desenvolver práticas de EA promovendo uma
transformação de hábitos e práticas sociais além de uma formação de cidadania ambiental (JACOBI,
2005).
EXTENSÃO PUC MINAS:
306 Novo Humanismo, novas perspectivas

A EA estimula os atores sociais a problematizarem e pensarem sobre o meio ambiente, tendo


uma visão crítica. No entanto, para interferir no processo de aprendizagem e nas percepções dos
sujeitos, em relação, as representações sobre a relação entre indivíduos e meio ambiente, é necessário
que os conteúdos sejam ressignificados, uma vez que, as pressões do mundo contemporâneo exigem
um novo modelo interdisciplinar contextualizado histórico-cultural.
Os educadores ambientais precisam refletir e superar a visão fragmentada da realidade, por
meio da construção e reconstrução do conhecimento sobre a EA:

Outro argumento muito presente na educação ambiental nas suas primeiras décadas era de
relacioná-las prioritariamente, com a proteção e conservação de espécies de animais e
vegetais. Nesse sentido, a educação ambiental estava muito próxima da ecologia biológica,
sem que ela tivesse de se preocupar com os problemas sociais e políticos que provocam esse
desaparecimento de espécies. (REIGOTA, 2006, p. 12).

Para apreender a problemática ambiental, é necessária uma visão complexa do ambiente, na


qual, existem as relações naturais, sociais e culturais. O papel do educador é essencial para a
transformação de valores e práticas sociais. Por isso, é importante ampliar seu envolvimento por meio
de iniciativas que aumentem o nível de preocupação dos educadores com o meio ambiente.
Para se tornar um educador ambiental, é necessário trilhar caminhos de identificação e
construção da identidade do educador ambiental, repensando em suas atitudes e agindo de maneira
adequada aos princípios ecológicos (CARVALHO, 2004).
Segundo Carvalho (2005, p.57), o educador ambiental é um profissional que remete a uma
prática social, “ultrapassando a fronteira de conversão pessoal e reconversão profissional”. Para a
autora, o educador ambiental é um caso particular do sujeito ecológico, o qual pode ser entendido
como o conjunto de crenças e valores que serve de modelo para a identificação social e individual
dos valores ecológicos, que “configura o horizonte simbólico do profissional ambiental”
(CARVALHO, 2005, p.57). Além de expor os desafios e complexidades da temática ambiental, é
preciso que ele tenha uma postura diferenciada e integradora do homem e natureza, mostrando que a
mobilização social frente às questões ambientais só pode se dar com uma visão de mundo que englobe
uma cidadania e ética condizentes com a perspectiva ambiental.

3.1 Breve histórico da Educação Ambiental

Ainda que os primeiros registros da utilização do termo ‘EA’ datem de 1948, de um encontro
da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Paris, o primeiro registro se deu
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 307

no ano de 1962, com o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson – que alertava sobre os efeitos
danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por exemplo, o uso de pesticidas.
Em 1968 nasce o Conselho para EA, no Reino Unido. Neste mesmo ano, surge o Clube de
Roma que em 1972, produz o relatório Os Limites do Crescimento Econômico, que estudou ações
para se obter no mundo um equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas
prioridades sociais.
Os rumos da EA começam a ser realmente definidos a partir da Conferência de Estocolmo,
em 1972, onde se atribui a inserção da temática da EA na agenda internacional. Foi definida nesta
Conferência uma série de medidas e princípios para uso ecologicamente correto do meio ambiente.
Várias nações fizeram parte deste encontro, inclusive o Brasil; vários temas relacionados ao meio
ambiente foram debatidos, temas como poluição dos oceanos, ar e águas, crescimento desordenado
das cidades e o bem-estar das populações de todo o mundo.
Existem também vários artigos, capítulos e leis brasileiras com importância para a EA. Uma
das primeiras leis que cita a EA é a Lei Federal nº 6938, de 1981, que institui a ‘Política Nacional do
Meio Ambiente’ que aponta a necessidade de que a EA seja oferecida em todos os níveis de ensino.
A Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano de 1988, estabelece, em seu artigo 225,
que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”; cabendo ao Poder Público “promover
a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente” (BRASIL, 1988,s./p.).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394, de dezembro de 1996, reafirma os
princípios definidos na Constituição com relação à EA: “A EA será considerada na concepção dos
conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica, implicando
desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir
do cotidiano da vida, da escola e da sociedade” (BRASIL, 1999, s./p.).
No ano de 1997, foram divulgados os novos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN. Os
PCN foram desenvolvidos pelo MEC com o objetivo de fornecer orientação para os professores. A
proposta é que eles sejam utilizados como “instrumento de apoio às discussões pedagógicas na escola,
na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas e na reflexão sobre a prática educativa
e na análise do material didático” (BRASIL, 1997, on-line). Os PCN enfatizam a interdisciplinaridade
e o desenvolvimento da cidadania entre os educandos e sestabelecem que alguns temas especiais
EXTENSÃO PUC MINAS:
308 Novo Humanismo, novas perspectivas

devem ser discutidos pelo conjunto das disciplinas da escola, não se constituindo em disciplinas
específicas. São os chamados temas transversais, entre os quais se encontram os seguintes: ética,
saúde, meio-ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
Nesse sentido, a EA se encontra historicamente bem estabelecida no mundo e no Brasil, porém
ainda são necessários esforços para a implementação de práticas socioambientais no âmbito da
sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O LABINTER, enquanto projeto, possibilita a construção de materiais de apoio para suas


ações de extensão, e a EA é pauta presente nas discussões, nas reuniões, nas reflexões e na sua prática
extensionista. Entendemos que a EA se configura como uma necessidade para a sociedade atual e
gerações futuras.
A partir da publicação a do livro Primavera Silenciosa, há um despertar para a necessidade
de preservar o meio ambiente. Percebe-se que é preciso levar o indivíduo a reconhecer que todos
fazem parte de uma mesma comunidade e que as ações humanas afetam o ecossistema, e que por isso
deve-se agir com precaução, visando à preservação do meio ambiente. Há que se reconhecer e
incentivar novos olhares para as questões socioambiental, bem como a formação de sujeitos críticos,
comprometidos e atuantes na sociedade.
Nesse sentido, a cartilha “Você quer ser um educador ambiental?” foi elaborada na perspectiva
de sensibilizar os leitores para a área da EA. Considera-se que ela poderá, no futuro, ampliar as
discussões sobre a EA e o papel dos profissionais que trabalham nessa área, considerados educadores
ambientais, que lutam por melhores condições sociais para as pessoas, em conjunto com um ambiente
equilibrado e saudável para diferentes formas de vida, presentes no planeta.
É possível considerar ainda que a formação de educadores ambientais engloba os diferentes
âmbitos da sociedade e não precisa, necessariamente, ser feita por profissionais da educação ou com
diplomação específica em meio ambiente. Há fundamentos essenciais para a constituição desse
sujeito, que possui papel de imensa responsabilidade diante do quadro de crise no qual a sociedade
se encontra. Educadores ambientais críticos, imbuídos de um embasamento consistente sobre a
complexidade e demais características específicas das questões ambientais, podem alterar a realidade
desde os sujeitos em idade escolar até aqueles que, informalmente, devem rever sua forma de se
relacionar com a natureza.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 309

A EA transformadora e permanente requer profissionais que atuem em prol da


sustentabilidade do ser individual, do outro e das coisas, atingindo, ainda que de diferentes formas,
todos os sujeitos que habitam e dependem deste planeta.

REFERÊNCIAS

AMORIM, A.S. A influência do uso de jogos e modelos didáticos no ensino de biologia para
alunos de ensino médio. Berberibe 2013. 49f. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas)
Universidade Aberta do Brasil – UAB/UECE, 2013.
BRANDÃO, C. R. Identidade da Educação Ambiental Brasileira. Brasília, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio.
Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997.
BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Coleção de Leis da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 abr. 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília, 1988.Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
BORGES, G. L. A. Formação de professores de Biologia, material didático e
conhecimentoescolar. Tese de doutorado. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de
Educação.Campinas, 2000, p. 177-210
CARSON, R. Primavera silenciosa. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1969.
CARVALHO, I. C. M. A invenção do sujeito ecológico: identidades e subjetividade na formação
dos educadores ambientais. In: Sato, M.; Carvalho, I. C. M. (Org.) Educação Ambiental; pesquisa
e desafios. Porto Alegre, Artmed, 2005.
CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez,
2004.
DICKMANN, I. et al. Educação ambiental crítica na escola. Chapecó: Livrologia, 2021.
JACOBI, P. R. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e
reflexivo. Educ. Pesqui. [online]. 2005, vol.31, n.2, pp. 233-250. Disponível em <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022005000200007&script=sci_arttext&tlng=pt>.
REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (Org.). Educação,
meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.
REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006.
SILVA, K. A. et al. Elaboração de uma cartilha como material educativo para preservação da
tartaruga verde (chelonia mydas) em Itaipú, Niterói, Rio de Janeiro. Revista Presença, [S.l.], v. 2,
p. 35-58, aug. 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
310 Novo Humanismo, novas perspectivas

Ações de extensão com ênfase nas queixas musculoesqueléticas dos cuidadores


dos beneficiários do projeto qualidade de vida para todos: relato de experiência

Bruna Alencar Rosa Morato1


Júlia Rancanti Ribeiro2
Letícia Fernandes Fraga Leroy3
Maria Carmen Almeida de Sousa4
Ana Cássia Siqueira da Cunha5

RESUMO
Um projeto de extensão pode ser entendido como um processo educativo, cultural, científico e político que se articula de
forma indissociável ao ensino e à pesquisa. O presente estudo possui o intuito de analisar o projeto de extensão Projeto
Qualidade de Vida Para Todos (PQVT). O Projeto propõe a promoção da saúde não apenas dos beneficiários, mas também
daqueles que estão na sua rede de apoio (cuidadores/acompanhantes). A intervenção proposta pelo grupo foi desenvolvida
através de quatro encontros, em que foram ensinados e realizados exercícios e alongamentos buscando o autocuidado e a
melhora da qualidade de vida dos acompanhantes dos beneficiários do projeto. A partir da coleta de dados para especificar
as demandas dos acompanhantes dos beneficiários, identificou-se que muitos se sentem sobrecarregados fisica e
psiquicamente. Portanto, considera-se que a vivência do Projeto Qualidade de Vida para Todos, proporcionou ganhos e
experiências únicas para o grupo de estudantes.

Palavras-chaves: Projeto. Qualidade de vida. Alongamentos. Exercícios. Benefícios.

Extension actions with emphasis on musculoskeletal complaints of caregivers of


beneficiaries of the quality of life for all project: experience report

ABSTRACT
An extension project can be understood as an educational, cultural, scientific and political process that is inseparably
linked to teaching and research. This study aims to analyze the extension project Project Quality of Life for All (PQLA).
The Project proposes to promote the health not only of the beneficiaries, but also of those who are in its support network
(caregivers/companions). The intervention proposed by the group was developed through four meetings, where exercises
and stretching were taught and performed, seeking self-care and improving the quality of life of those accompanying the

1
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: brunaamorato@gmail.com.
2
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: leticia.fernandes.leroy@gmail.com.
3
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: juliarancanti@hotmail.com.
4
Discente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: mariacarmenalmeida23@gmail.com.
5
Docente do Curso Superior em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo
Horizonte/MG E-mail: anacassia.fisio@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 311

project beneficiaries. From the data collection to specify the demands of the beneficiaries' companions, it was identified
that many feel physically and psychologically overloaded. Therefore, it is considered that the experience of the Quality
of Life for All Project provided gains and unique experiences for the group of students.

Keywords: Project. Quality of life. Stretches. Exercises. Benefits.

INTRODUÇÃO

Um projeto de extensão pode ser entendido como um processo educativo, cultural, científico
e político que se articula de forma indissociável ao ensino e a pesquisa, visando a promoção da
interação transformadora da universalidade com outros setores da sociedade. Esses projetos buscam
promover ações educativas com o intuito de solucionar problemas existentes, que são de interesse e
necessidade da sociedade, tendo como objetivo ampliar a relação desta com a Universidade na qual
o mesmo se insere. Desse modo, projetos de Extensão são capazes de promover a interação da
universidade com a sociedade, em que a primeira transmite conhecimentos acadêmico-científicos e a
segunda transmite experiências vivenciais.
O presente estudo possui o intuito de analisar o projeto de extensão Projeto Qualidade de Vida
Para Todos (PQVT) no qual se busca possibilitar que pessoas com quaisquer deficiências,
historicamente excluídas da sociedade, tenham acesso à prática regular de atividade física em
ambiente aquático; ele visa á formação de hábitos saudáveis e de continuidade, e à qualidade de vida.
O Projeto propõe a promoção da saúde não apenas dos beneficiários, mas também daqueles que estão
na sua rede de apoio (cuidadores / acompanhantes). Dessa forma, buscam-se ações que devem
proporcionar o acolhimento e momentos de dinâmicas de exercícios relacionados às suas principais
queixas.
O projeto foi criado em 2014, é realizado nas dependências do complexo esportivo da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas e acontece de terça as sextas-feiras,
no período de 13h às 16:30h. A coordenadora do projeto PQVT é a Cláudia Barsand, profissional de
educação física. O projeto conta com 14 estagiários de Educação Física, 9 extensionistas deste mesmo
curso, 3 estagiários de Psicologia, 9 extensionistas de Fisioterapia e 6 monitores.
A partir dos estudos práticos analisados e os relatos apresentados pelos profissionais
envolvidos no projeto, nota-se que o problema de maior incidência relatado pelos acompanhantes dos
beneficiários foi dores na coluna lombar, cervical, além de dores nos joelhos e punhos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
312 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 METODOLOGIA

A intervenção proposta pelo grupo foi desenvolvida através de quatro encontros, em que
foram ensinados e realizados exercícios e alongamentos buscando o autocuidado e a melhora da
qualidade de vida dos acompanhantes dos beneficiários do projeto. É necessário que estes estejam
bem fisicamente para conseguirem atender as demandas propostas.
Primeiramente, no início de março de 2022, foi marcado um encontro com os coordenadores
do PQVT e os extensionistas para conhecer a docente organizadora, os coordenadores, as diretrizes
do PQVT, seu objetivo geral, os objetivos específicos, os resultados esperados e como acontecem as
atividades no projeto. A partir disso, foram passados os cuidados necessários de como realizar as
transferências e os materiais utilizados no projeto, além da promoção da qualidade de vida e inclusão
da pessoa com deficiência.
Quinze dias após o primeiro encontro, foi feito um levantamento do perfil epidemiológico dos
acompanhantes dos beneficiários do PQVT, no qual recolhemos as demandas e realizamos uma
reunião para traçar um plano de intervenção. Foi aplicado um formulário (tabela 1 e 2) nos cuidadores
com o objetivo de analisar e comparar as incidências de dores musculoesqueléticas apresentadas.
Na primeira e na terceira semanas do mês de abril de 2022, mediante as queixas relatadas,
foram propostos alongamentos da coluna cervical, torácica e lombar, alongamentos do músculo
oblíquo abdominal, paravertebrais e fortalecimento dos membros inferiores. Todos os exercícios
foram explicados detalhadamente e realizados juntamente com os acompanhantes, evitando qualquer
dúvida e corrigindo quando havia erros de execução. No final do encontro, pedimos para os
acompanhantes executassem 1 vez por dia, para que a intervenção surtisse efeito.
Na primeira semana de maio de 2022, sucedeu-se o último encontro para a coleta dos dados
resultantes dos alongamentos e dos fortalecimentos executados durante esses 14 dias. Após a coleta,
aplicou-se um novo formulário para analisar a evolução do quadro dos acompanhantes, com o
objetivo de examinar uma melhora na qualidade de vida dos avaliados.

Tabela 1 – Perguntas selecionadas para o primeiro dia de ação


1. Nome?
2. Idade? 6. Sente dores ao longo do dia?
3. Quantos filhos possui? 7. Quais situações fazem essas dores piorarem?
4. Se trabalha fora de casa ou em Home office? 8. Como é sua rotina diária?
5. Qual o tempo de dedicação diária para os filhos? 9. Possui alguma rede de apoio?
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 313

Tabela 2 – Perguntas selecionadas para o último dia de ação


1. Vocês fizeram alongamentos e exercícios passados?
2. Vocês se sentiram importantes com estas ações?
3. Vocês notaram alguma diminuição da dor e melhora da postura?
4. Vocês conseguiram realizar os alongamentos com frequência em casa
5. Notaram a importância de realizar os alongamentos diariamente para
melhora da qualidade de vida?
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

3 DISCUSSÃO

Na revisão feita por Braccialli et al. (2012), a qualidade de vida dos cuidadores é algo
preocupante, visto que afeta diretamente a condição do indivíduo que depende desses cuidados. Como
pode ser percebido ao longo do Projeto QVPT, a rotina dos cuidadores conta com amplas atividades
que requerem de sua capacidade física e mental. Pelo que foi apresentado no projeto, percebe-se que
os acompanhantes desprendem uma alta carga horária diária para os seus dependentes, e, dessa forma,
acabam abdicando do seu cuidado pessoal e, em longo prazo, isso se transforma em queixas como
dores musculoesqueléticas e problemas com a saúde mental.
A partir deste trabalho, foi realizada uma coleta de dados, através de um questionário
desenvolvido pelos presentes autores (tabela 1), para especificar as demandas dos acompanhantes dos
beneficiários. Identificou-se que muitos se sentem sobrecarregados fisica e psiquicamente. Segundo
Braccialli et al.(2012) quanto mais velha a pessoa com necessidades especiais, mais complexo é o
ato de cuidar.

4 RESULTADOS

Após a aplicação do formulário, pode-se observar que 95% dos acompanhantes dos
beneficiários não possuíam um apoio para realizar os cuidados com aqueles, sendo de maior
incidência as mães dos beneficiários. No último encontro, ocorreu a execução do segundo formulário
(anexo 2) para quantificar o ganho de qualidade de vida dos acompanhantes.
O gráfico abaixo demonstra que as principais queixas físicas são dores na coluna, nas pernas
e nos joelhos, afetando negativamente a qualidade de vida dos cuidadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
314 Novo Humanismo, novas perspectivas

Imagem 1 – Gráfico que mostra “qual a prevalência de dores ao logo


do dia” entre os pacientes (9 respostas)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Demonstra-se a frequência que os acompanhantes dos beneficiários, realizaram os exercícios


e alongamentos propostos:

Imagem 2 – Cinquenta por cento dos “acompanhantes realizaram


os exercícios” apenas uma vez por semana (10 respostas)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Demonstra se a realização dos alongamentos apresentou algum resultado benéfico:

Imagem 3 – Oitenta por cento dos participantes afirmaram que os


“exercícios trouxeram benefícios de forma significativa” (10 respostas).

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 315

O gráfico abaixo indica a satisfação dos acompanhantes ao longo do projeto com a realização
das ações propostas:

Imagem 4: Todos os avaliados aprovaram a iniciativa e se sentiram valorizados. (10 respostas)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ação de extensão universitária é uma ferramenta factível que tange à integralidade nos
diversos níveis de atenção. Foi desenvolvido a partir desta, uma prática docente, no PQVT, realizado
na PUC Minas.
Considera-se que a vivência do PQVT, proporcionou ganhos e experiências únicas para o
grupo de estudantes, pois foi possível desenvolver o contato com diversos tipos de pessoas e
realidades diferentes e aprofundar os estudos na rotina de indivíduos que dedicam suas vidas para
cuidar do próximo. O convívio semanal entre extensionistas e beneficiários / responsáveis fortalece
a estratégia de formação e promoção de saúde.
Foi possível desenvolver um trabalho para estimular a qualidade de vida para os cuidadores
dos beneficiários do projeto abordado. Percebeu-se a necessidade de uma atenção voltada aos
cuidadores, no quesito de proporcionar uma melhor condição e bem-estar. A partir disso, em nossa
prática docente, nota-se que as ações realizadas parecem contribuir positivamente para a melhora da
postura e de dores musculoesqueléticas, assim como melhor disposição para suas atividades da vida
diária (AVD).
Através das intervenções, notou-se que os acompanhantes apresentavam muitas limitações
funcionais devido à ausência de tempo para se cuidarem. Por isso, foram apresentadas algumas
dificuldades nos intervalos de tempo para realização dos exercícios e alongamentos propostos, no
entanto eles notaram diferenças significativas à medida que foram realizando-os.
EXTENSÃO PUC MINAS:
316 Novo Humanismo, novas perspectivas

No último encontro, os acompanhantes dos beneficiários demonstraram gratidão ao grupo


pelo projeto apresentado e pela melhora significativa na qualidade de vida deles através dos
exercícios. Garantiram que farão os mesmos assim que possível e tentarão se cuidar cada vez mais.

REFERÊNCIAS

BRACCIALLI, et al. Qualidade de vida de cuidadores de pessoas com necessidades especiais.


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Novo Humanismo, novas perspectivas 317

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras:


resiliência e pandemia sob a ótica do idoso1

Larissa Shirley Gomes Lima2


Mariana Batista Braga 3
Cainã de Morais Leite Almeida 4
Jade Santos Alvares 5
Evanirso da Silva Aquino 6

RESUMO
Aqui se discute uma metodologia ativa em forma de relato de experiência, cujo objetivo principal foi dar voz e
protagonismo aos idosos participantes do projeto de extensão “PUC Mais Idade - Rompendo Fronteiras”. Dessa maneira,
o objetivo deste trabalho visa descrever os achados na Oficina de Resiliência sobre os sentimentos dos idosos e
extensionistas envolvidos no retorno presencial das atividades do projeto de extensão. Foram feitas duas perguntas
principais sobre a perspectiva dos atores durante a pandemia e ao retornarem ao projeto. Os meios utilizados para a coleta
de dados foi uma oficina de escuta ativa denominada Resiliência, na qual foi exposto por cada idoso sua vivência em
relação à pandemia por SARS-COV2, cuja abrangência foi desde questões epidemiológicas e até na interação social
limitada em decorrência da população idosa ser grupos de risco. Foram coletadas falas com relevância para o meio
acadêmico ao compreender fenômenos de possibilidades interventivas acerca dos impactos gerados pela pandemia, bem
como a elucidação do sentido mais palpável do significado de resiliência.

Palavras-chave: Envelhecimento. COVID-19. Saúde Mental. Saúde do Idoso.

PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras:


resilience and pandemic from the perspective of the elderly

ABSTRACT
Here it is discussed an active methodology by an experience report that had the main objective to give voice and
prominence to the elderly participants of the extension project “PUC Mais Idade Rompendo Fronteiras”. Thus, the
objective of this work aims to describe the findings in the resilience workshop about the feelings of the elderly and
extensionists involved in the face-to-face return of the activities of the extension project. Two main questions were asked
about the perspective of the subjects during the pandemic and when they returned to the project. The means used for data
collection was an active listening workshop called Resilience, in which each elderly person exposed their experience in
relation to the pandemic by SARS-COV2, whose coverage was about epidemiological issues and even limited social

1
Projeto financiado pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas).
2
Discente do Curso de Enfermagem, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: larissasglima@gmail.com.
3
Discente do Curso de Enfermagem, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mary12braga@gmail.com.
4
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: caina.almeida@sga.pucminas.br.
5
Discente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim. E-mail: jade.alvares@sga.pucminas.br.
6
Doutor e docente do Curso de Fisioterapia, PUC Minas, Campus Betim E-mail: evanirso-aquino@uol.com.br.
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318 Novo Humanismo, novas perspectivas

interaction due to the elderly population being risk groups. Relevant testimonies were collected in the academic
environment in order to understand interventional phenomena possibilities about the impacts generated by the pandemic,
as well as the elucidation of the more palpable meaning of the meaning of resilience.

Keywords: Aging. COVID-19. Mental Health. Health of the Elderly.

INTRODUÇÃO

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de Cunha (2010), a palavra sentir


tem sua origem do latim sentire, "experimentar uma sensação ou um sentimento, quer por meio dos
sentidos, quer por meio da razão". Nesse estudo realizado com idosos, essa palavra ultrapassou a
etimologia e alcançou um âmbito mais profundo no sentido amplo de expressão dos sentimentos de
forma espontânea e tocante (CASTILHO et al., 2020).
Foi elencada a temática “Resiliência” que é a capacidade de um material voltar ao seu estado
normal depois de ter sofrido tensão (RODRIGUES; TAVARES, 2021). Transferindo esse conceito
para a resiliência humana, seria a capacidade de um indivíduo se adaptar ou superar uma adversidade
imposta no cotidiano ou nos fatores pessoais (ARMITAGE; NELLUMS, 2020; RODRIGUES;
TAVARES, 2021).
As estatísticas têm apresentado um número de idosos que cresce a cada dia e que vivem
sozinhos e/ou estão socialmente isolados. Percebeu-se uma linha crescente de isolamento obrigatório
com a COVID-19 em 2020 no Brasil, fato que afetou em destaque os idosos, por serem um grupo de
risco e necessitarem de cuidados importantes na saúde (BRASIL, 2020; CASTILHO et al., 2020).
O cenário trouxe a necessidade de ressignificar a rotina desse grupo, uma vez que possuem
suas diversidades e necessidades de interação. As mudanças advindas com a pandemia também
tornaram mais evidentes as fragilidades quanto à inclusão social dos idosos no ambiente virtual.
Como muitos possuem dificuldades com as tecnologias, acabaram aumentando ainda mais a exclusão
e a falta de contato com outras pessoas (ALVARENGA et al., 2019).
O medo das contaminações e a perseverança de um cenário melhor foram aplicados e sentidos
na tentativa de ressignificação frente às modificações ocorridas. O fundamento de 60 anos ou mais
de vida é um apuro ao demandar uma mudança tão brusca em um curto período, ou seja, reinventar
toda uma rotina pode ser extremamente traumático e demanda muita resiliência (MOURA, 2020;
ROMERO et al., 2021). Diante desse quadro, surge o questionamento sobre como estão os
sentimentos dos idosos participantes do grupo de convivência, o PUC Mais Idade, e se eles estão
abalados emocionalmente neste retorno presencial às atividades.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 319

Nesse contexto, fez-se necessária a ruptura de pressupostos cartesianos que demonstram a


razão como detentora das decisões humanas e priorizando o sentir como norteador da pesquisa.
Baseado nessas informações anteriores, esse trabalho teve como objetivo descrever os achados na
oficina de Resiliência sobre os sentimentos dos idosos e extensionistas envolvidos no retorno
presencial das atividades do projeto de extensão PUC Mais Idade - Rompendo Fronteiras.
A oficina tinha por objetivo uma abordagem geral sobre o conceito de resiliência, seus
aspectos gerais e a importância de ser resiliente, sobretudo em períodos desafiadores como a
pandemia sob a ótica do idoso.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Contexto da pandemia

A COVID-19 trata-se de uma doença sobretudo respiratória, que compromete a saúde dos
indivíduos ocasionada pelo vírus SARS-CoV 2. Dentre os grupos de riscos para o agravo da doença,
tem-se as pessoas da terceira idade, deste modo, fez-se necessária a adoção de medidas de
distanciamento social e contingenciamento. Tais ações visavam ao controle da doença como forma
de barreira da transmissibilidade nos espaços (CIOTTI et al., 2020).
No protocolo de manejo clínico do coronavírus, na Atenção Primária à Saúde (APS), destaca-
se a taxa de letalidade da doença por faixa etária. No que corresponde ao perfil dos idosos (pessoas
acima de 60 anos de idade), aponta-se um percentual 3,6% para pacientes de 60 a 69 anos, já na faixa
de 70 a 79 este valor sobe para 8,0%. Há um aumento considerável quando se fala em faixas acima
ou igual a 80 anos de idade (17,8%) (BRASIL, 2020).
Considerando todas as repercussões físicas e mentais ocasionadas pela COVID-19, muitos
idosos apresentaram sentimentos como solidão, ansiedade e tristeza neste período de isolamento
social, principalmente as mulheres. Além do mais, acabou por se tornar um momento de aumento da
vulnerabilidade social levando em consideração por serem um grupo de risco. Outro agravante foram
as condições socioeconômicas e de trabalho, visto que muitos perderam suas fontes de renda
(ROMERO et al., 2021).
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320 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.2 Resiliência como capacidade humana frente às adversidades da vida

A resiliência trata-se de um conceito da física onde diz respeito a um material ou matéria


sofrer uma força de impacto, mas consegue restabelecer as propriedades de antes com pouco ou
nenhum dano na sua composição e estrutura (RODRIGUES; TAVARES, 2021). O termo foi
apropriado na sua essência para a capacidade humana de se adaptar a ambientes e situações
desafiadoras como forma de resiliência no que cerne à psique dos indivíduos (ARMITAGE;
NELLUMS, 2020; RODRIGUES; TAVARES, 2021). Na atualidade, o termo foi aperfeiçoado e
ampliado nas mais diversas nuances. Agora, não somente a recuperação a um dano ou pressão
vivenciada, mas também a de superação ao momento passado como forma de se possibilitar o
crescimento e desenvolvimento pessoal após este processo (ARMITAGE; NELLUMS, 2020;
RODRIGUES; TAVARES, 2021).
Desse modo, tendo em vista a epidemiologia da doença e o perfil de envelhecimento dos
idosos, cada indivíduo tem a sua forma de se adaptar aos percursos do dia a dia. Um fator
extremamente presente na construção e melhoria da resiliência na terceira idade é atribuído à
espiritualidade nos idosos (LÓPEZ et al., 2020; MARGAÇA; RODRIGUES, 2019).

2.3 O papel da extensão universitária na vida dos idosos e dos discentes de graduação do PUC
Mais Idade - Rompendo Fronteiras

Ao considerar todas essas perspectivas da pandemia e a capacidade humana de ser resiliente


neste retorno, sobretudo nos idosos, a extensão universitária torna-se um espaço de acolhida e
interlocução da Universidade com a comunidade da terceira idade (PRÓ-REITORIA DE
EXTENSÃO, 2006).
Promover diálogos, ações e propostas frente a um público de atendimento torna-se o cerne de
toda a conjuntura das propostas da extensão. Em especial, o Projeto PUC Mais Idade, no qual todas
as atividades são focadas nos pilares do envelhecimento ativo como: saúde, participação social,
segurança e proteção, bem como aprendizagem (ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE, 2020;
BRASIL, 2005).
Assim, possibilita também um crescimento dos alunos extensionistas que participam do
projeto, pois permite que eles sejam atores na promoção da saúde dos idosos. Também intermedeiam
as ações, a fim de favorecer o alcance de todo o potencial dos participantes no autocuidado e
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Novo Humanismo, novas perspectivas 321

desenvolvimento pessoal. As ações dos extensionistas estão ligadas à boa condução das atividades,
dinâmicas e oficinas exercidas, bem como a de sempre dar voz ativa para os idosos no projeto.
Ademais, transforma-se em um espaço de interdisciplinaridade, pois a construção de todas as
propostas do projeto perpassa no diálogo multiprofissional com os acadêmicos dos cursos de
Enfermagem, Fisioterapia e Medicina, que fazem parte do PUC Mais Idade (SANTOS et al. 2016).

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência decorrente de uma oficina com
a temática "Resiliência" no projeto de extensão “PUC Mais Idade - rompendo fronteiras”, um grupo
de convivência de idosos por meio da modalidade Universidade Aberta ao Idoso.
Os dados qualitativos foram coletados através dos depoimentos gravados na oficina com o
consentimento de todos envolvidos como material produzido na Oficina de Resiliência, para registro
da atividade. A documentação da atividade através do registro das emoções e percepções dos idosos
tinha por objetivo descrever os sentimentos vivenciados em dois momentos. O primeiro, referente ao
período pandêmico, e o segundo, após o retorno à vida presencial, ainda com as medidas de
contingência da COVID-19, contudo com as normas flexibilizadas.
A oficina sobre o tema “Resiliência” aconteceu no dia 06 de maio de 2022 e duas perguntas
foram elencadas para a condução da coleta de dados foram: “O que você sentiu na pandemia?” e
“Como você está se sentindo agora com a volta do presencial?”. Sua divulgação foi realizada por
meio de um grupo na mídia social WhatsApp contendo o local, dia e temática da mesma como consta
na figura 1 abaixo.

Figura 1 – Flyer de divulgação da oficina

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.


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322 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A oficina foi planejada para acontecer no dia 06/06/2022 e com uma temática não diretamente
focada em depressão, mas sim na importância de ser resiliente frente às adversidades da vida. Um
dos receios era a possibilidade de fragilidade dos idosos quanto ao retorno ao presencial do projeto,
desse modo toda a proposta foi pensada para ser realizada da forma mais leve possível.
Como previamente exposto, foram apresentados aos idosos o objetivo da oficina e os
comandos quanto às perguntas que seriam respondidas em suas falas. A primeira pergunta era: "o que
você sentiu na pandemia?". Essa pergunta surgiu principalmente porque muitos dos idosos que têm
participado presencialmente não estavam no período do regime remoto do PUC Mais Idade.
De modo geral, os sentimentos relatados ao longo das falas dos participantes foram agrupados
como consta na figura 2 logo abaixo.

Figura 2 – Sentimentos relatados referentes à pandemia pelos idosos

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Os sentimentos que mais surgiram nas falas foram de maneira ampla: o medo da morte e de
todo o contexto da COVID-19 pelo desconhecimento da doença por parte da população. Também
foram mencionadas as perdas de entes queridos, a tristeza em lidar com uma situação tão desafiadora,
os altos números de óbitos apresentados nos programas midiáticos. Outro ponto relatado foi a
sensação de se sentirem presos e não poderem sair de casa, o que impactou mentalmente quanto à
solidão e a todas as repercussões mentais decorrentes ocasionadas pela pandemia do SARS-CoV 2.
Diante do cenário de pandemia e o impacto de saber que as comorbidades, como hipertensão
arterial sistêmica, diabetes mellitus e obesidade poderiam levar a complicações, acabou-se por incluir
os idosos enquanto grupo vulnerável para os quadros mais graves da COVID-19 (BRASIL, 2020).
Desse modo, muitos idosos acabam ficando sozinhos em suas casas ou Instituições de Longa
Permanência para Idosos, devido aos riscos iminentes que se conhecia sobre a doença até o momento
(WANG et al., 2020).
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A solidão do idoso ainda é um tema bastante frequente e estigmatizado na terceira idade pela
sociedade e há uma série de fatores relacionados neste tópico. Dentre eles, são: baixa renda,
escolaridade, sexo feminino e diversos outros que contribuem para tornar os idosos mais vulneráveis
quanto ao seu contexto de saúde e doença (ROMERO et al., 2021). Ademais, a sintomatologia
depressiva é um ponto importante para causas como: morbilidade clínica, mortalidade, suicídio, baixa
qualidade de vida e aumento da utilização de cuidados de saúde na velhice. Entretanto há um aumento
da resiliência psicológica com o envelhecimento, que poderá funcionar como um fator protetor da
depressão (AMARAL et al., 2018).
A segunda pergunta tinha por objetivo que os idosos relatassem seus sentimentos envolvidos
com o retorno presencial. Eles descrevem as diversas situações que vivenciaram e o quão marcante é
o presente momento. A pergunta era “como você está se sentindo agora com a volta do presencial” e
os principais resultados são os demonstrados na figura 03 logo abaixo.

Figura 3 – Sentimentos relatados referentes ao retorno presencial pelos idosos

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

É notório que alguns sentimentos ainda permaneceram, sobretudo considerando que diversos
idosos perderam entes queridos, outros ficaram hospitalizados e sentem muito receio dos sintomas da
doença. Contudo, sentimentos como a fé, o amor ao próximo, sensação de realização em finalmente
estar retornando à vida cotidiana, com todos os cuidados necessários, mas ainda assim despertam um
sentimento de segurança.
Alguns idosos atribuíram tal sensação aos cuidados com as máscaras e vacinas, responsáveis
pela tranquilidade neste retorno. Foi possível observar também a presença da espiritualidade como
um pilar de responsável pelo fortalecimento deles frente à pandemia durante as falas dos idosos.
É de extrema importância relatar o papel do projeto PUC Mais Idade enquanto grupo de
convivência entre idosos, pois pontuaram que ele se tratava de uma “injeção de ânimo”, tanto no
período remoto, quanto no presencial. Eles relatam com felicidade, realização pessoal, felicidade e
euforia como o projeto foi importante para eles se tranquilizarem ao longo da pandemia, pois viam
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324 Novo Humanismo, novas perspectivas

rostos conhecidos, podiam conversar e ver que “estavam todos bem”. Outra incerteza mencionada
envolvendo o projeto é a de que se seria possível retornar um dia e se tinha chances de o projeto
acabar considerando o cenário provocado pelo vírus SARS-CoV 2.
Em um outro trabalho, que teve por objetivo analisar a percepção de idoso sobre os desafios
do envelhecimento em grupos de convivência das modalidades de Universidade Aberta ao Idoso,
demonstra-se um achado semelhante. Dos achados decorrentes da pesquisa, os autores reforçam a
importância do convívio com outras pessoas da mesma idade nas atividades propostas, o que melhora
diversos aspectos da saúde do idoso. As propostas tornam-nos protagonistas, pois reforçam os pilares
referentes ao envelhecimento ativo e à participação social, considerando-os sujeitos ativos na
sociedade (CASTILHO et al., 2020).
Ao longo das falas, os idosos apontaram a dificuldade atrelada ao sistema remoto e aos
desafios quanto à inclusão dos idosos no ambiente virtual. Desse modo, acaba por ser mais uma forma
de exclusão social da terceira idade nos espaços virtuais tão utilizados em regime remoto. Citam
dificuldades como uso das tecnologias, resistência da família e dificuldade de encontrar alguém
disposto a ajudá-los e ensinar a utilizar as ferramentas tecnológicas.
O uso de tecnologias, sobretudo nos períodos de distanciamento social, mostrou-se de grande
valia. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta sobre a necessidade de identificar, traçar
estratégias e inclusão dos idosos no intuito de aproximá-los do ambiente virtual com o uso de internet
e celular como forma de mitigar a solidão (KÄLL et al., 2020; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2020). Contudo, considerando todo o contexto socioeconômico e demográfico do Brasil,
tal alternativa apresenta limitações. O baixo percentual de idosos alfabetizados, famílias de baixa
renda que não têm a disponibilidade de uma internet em casa e até mesmo as restrições de certos
dispositivos móveis de acordo com o último censo pode estar associada a essas dificuldades de acesso
e inclusão digital (CÂMARA et al., 2017; SILVA et al., 2020).
Um dado que corrobora as dificuldades tecnológicas de inclusão dos idosos neste período
pandêmico e a virtualização das diversas atividades do dia a dia são as métricas referentes às
presenças no próprio Projeto. Durante o regime remoto, teve-se uma média de 10 idosos participando
das oficinas no segundo semestre de 2021. Nota-se uma baixa adesão do ambiente virtual
considerando que, até aquele momento, havia 30 idosos cadastrados no projeto (MARTINS et al.,
2020). Atualmente, no retorno presencial, há cerca de 50 idosos vinculados ao PUC Mais Idade e
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Novo Humanismo, novas perspectivas 325

com uma média de 25 participantes por oficina, até o presente momento. Houve um aumento de 250%
de frequência, adesão e participação dos idosos nas oficinas realizadas no retorno presencial quanto
se compara ao momento remoto.
Ainda com todas as dificuldades, o Projeto se manteve firme tanto no período remoto quanto
agora, no presencial, demonstrando a importância da resiliência na prática, com necessidades de
inovações, de empenho dos idosos e demais envolvidos. Para isso, foi fundamental a implementação
de ações de humanização no projeto como abertura para eles relatarem seus sentimentos. Foram
adotadas diversas oficinas voltadas para a integração entre os membros, de modo que possam se
conhecer melhor, sempre trabalhadas de maneira didática, divertida e leve os mais diversos temas.
Ao final das oficinas, foram pontuadas diversas atitudes que podem aumentar a resiliência de cada
indivíduo e a valorização dos idosos neste retorno.
Mesmo com todos os percalços, os participantes mantiveram-se no projeto, sempre trazendo
algo novo e levando os ensinamentos aprendidos nas oficinas para outras pessoas, como famílias e
amigos como mencionaram. Dentre as atitudes, não somente os fatores extrínsecos como também as
capacidades intrínsecas dos idosos influenciam na qualidade de vida dos idosos mais resilientes.
Um estudo avaliou os mecanismos neurobiológicos do estresse e resiliência na população, em
que se aponta a importância de atitudes. Dentre os achados, encontraram: força, capacidade de lidar
com as adversidades, levar a vida com otimismo, experiências positivas e flexibilidade também
podem contribuir para o envelhecimento resiliente. A explicação consiste na promoção do
desenvolvimento resiliente nos eixos biopsicossociais da terceira idade, com base nas atitudes
mencionadas anteriormente. Também traz que as pessoas na terceira idade tendem a ser mais
resilientes do que as faixas etárias mais jovens (FAYE et al., 2018).
Para além da elaboração de oficinas, puramente, os discentes também promovem ações nas
quais são desafiados a exercer o papel da educação em saúde, diálogo multiprofissional, maturidade
e exercício da escuta ativa como desenvolvimento de habilidades essenciais para o crescimento
profissional.
Outro ponto de suma importância a ser destacado é que, além dos discentes, os idosos também
possuem voz ativa no projeto. Eles participam com sugestões de temáticas para as oficinas, como
também preenchem a ficha digital de avaliação enviada sempre ao final de cada dia de projeto sobre
a atividade que aconteceu. Essa ficha ajuda a nortear e traçar novas estratégias para o PUC Mais Idade
baseadas nas respostas dos idosos.
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326 Novo Humanismo, novas perspectivas

Vale ressaltar que há algumas limitações a serem reconhecidas acerca deste trabalho. Em
primeiro lugar, há a limitação metodológica, pois, por se tratar de um relato de experiência reflexivo,
não possibilita a realização de inferências válidas para toda a população idosa. Em segundo lugar, a
própria temática e os discursos podem se tornar gatilhos para alguns idosos, sobretudo os que tiveram
perdas de entes queridos.
Nesse momento, é preciso trabalhar de forma leve, dar espaço para a reflexão, mas também
seria extremamente benéfico um profissional da área de Psicologia para uma intervenção coletiva em
oficinas que trabalham mais a psiqué humana. As interlocuções multiprofissionais assumem um papel
essencial pois conseguem debater e dialogar entre as diversas áreas sobre a importância da resiliência
no dia a dia e são primordiais para a construção dos futuros profissionais que passam pela experiência
da extensão universitária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfrentar os desafios referentes à saúde mental da população em um momento pós-pandêmico


é de extrema necessidade, sobretudo em idosos. Portanto, diante dos dados supracitados e mediante
os resultados deste trabalho, demonstra-se a necessidade de se enxergar indivíduos na terceira idade
de modo holístico e considerando todas as esferas de fatores determinantes e condicionantes do
processo saúde-doença no momento de acolhimento dos idosos.
Do ponto de vista discente, a extensão universitária é fundamental pois permite trabalhar
aspectos como educação em saúde, diálogo multiprofissional com os diversos atores envolvidos na
execução do projeto, bem como a de ajudar idosos a terem autonomia para suas decisões e ter voz
ativa a todo momento. Ademais, oficinas mais discursivas também ajudam no desenvolvimento de
habilidades e competências como comunicação e escuta ativa, tão essenciais para a assistência em
saúde, em especial ao público idoso.
Além do mais, é válido destacar os ensinamentos e aprendizados dentro as mais diversas falas
a importância de se manter resiliente na vida, de enxergar a vida com leveza, buscar ajuda profissional
e pessoal, ter uma rede de convívio social fortalecida são fatores primordiais para se ter qualidade de
vida, sobretudo neste retorno presencial à vida cotidiana.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 327

REFERÊNCIAS

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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 329

Cenários diferentes do retorno presencial no Programa Apenas Humanos:


desmistificando as condições de saúde

Bárbara Úrsula Dias de Souza1


Gabriela Pâmela Fausta Vieira2
Janaina Aparecida Lourenço Nascimento3
Karina Aparecida Gois Oliveira de Jesus4
Patrícia Dayrell Neiva5

RESUMO
O Programa (A)penas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da APAC (Associação de Proteção ao
Condenado) existe desde 2006 e tem como objetivo principal prestar assistência aos recuperandos, homens, adultos,
sentenciados da justiça cumprindo pena com privação de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e trabalho externo
no Centro de Reintegração Social (CRS) em Santa Luzia (SL). O objetivo do trabalho da extensão universitária é
promover a humanização na assistência aos condenados da referida instituição prisional, com vistas à ressocialização à
sociedade, reconstruindo posições como sujeitos dignos e cidadãos de direitos e deveres para com a sociedade civil.
Apesar de as ações planejadas pelos extensionistas do Curso de Fisioterapia darem continuidade à proteção articular, por
demandas levantadas virtualmente no ano de 2021, houve a necessidade de readequação e inserção de novas ações de
acordo com as demandas em saúde desses beneficiários no retorno presencial. As extensionistas optaram pela aplicação
de um questionário para avaliar a qualidade de vida dentro do sistema fechado: o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN).
Duas extensionistas aplicaram o questionário, considerando que a população dos 140 recuperandos da APAC - SL possui
baixo nível de escolaridade, o que poderia interferir na interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos
resultados. A maior incidência de respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de sono, interação social,
dor e habilidades físicas.

Palavras Chave: Perfil de Saúde de Nottingham. Extensão Universitária. Qualidade de vida.

Different Scenarios of Presential Return in Only Human Program:


demystifyng health conditions

ABSTRACT
The Human Penalties Program: interdisciplinary interventions within the scope of APAC (Association for the Protection
of the Convicted) has existed since 2006 and its main objective is to provide assistance to inmates, men, adults, sentenced

1
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: barbaraudsouza@gmail.com
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: gabriela.pamela.v@outlook.com.
3
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
janapbel@gmail.com
4
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos e do projeto de extensão ELAS, do curso de
Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail: karina@gmail.com
5
Doutora em Ciências da Saúde (UFMG), Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
330 Novo Humanismo, novas perspectivas

to justice serving time with deprivation of liberty in closed regimes., semi-open and external work at the Social
Reintegration Center – (CRS) in Santa Luzia. The objective of the university extension work is to promote humanization
in the assistance to the convicts of the aforementioned prison institution, with a view to resocialization to society,
rebuilding positions as worthy subjects and citizens with rights and duties towards civil society. Although the actions
planned by the extensionists of the Physiotherapy Course continue joint protection, due to demands raised in the year
2021 virtually, there was a need for readjustment and insertion of a pilot project. The extension workers chose to apply a
questionnaire to assess the quality of life within the closed system: The Health Profile of Nottingham (PSN). Therefore,
the objective of this study is to analyze the health profile and quality of life of those recovering from APAC - Santa Luzia
through the PNS questionnaire. Two extension workers were chosen to apply the questionnaire, considering that the
population of the 140 recovering from APAC - SL is the majority with a low level of education, which could interfere
with the interpretation of the questions, compromising the reliability of the results. The highest incidence of responses
was related to emotional issues, followed by sleep, social interaction, pain, physical abilities.

Keywords: Nottingham Health Profile. University Extension. Quality of life.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS), na data de 31 de dezembro de 2019, tomou


conhecimento da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, após ser
informada de um grupo de casos de ‘pneumonia viral’ que havia sido declarado em Wuhan - China
(WHO, 2021). Em 11 de março de 2021, a situação de emergência de saúde pública foi elevada para
pandemia internacional. Até essa altura, muitos países já tinham começado a adotar medidas para
tentar travar a propagação do vírus, entre elas o encerramento (ou a transposição para o ambiente
virtual) das atividades dos estabelecimentos de ensino. O vírus provocou doença, muito medo e
insegurança em todos os campos da Educação. Tratava-se, portanto, de uma das muitas medidas
extraordinárias que foi necessário adotar em consequência dessa grave crise sanitária para conter a
progressão da doença e, dessa forma, contribuir para evitar o colapso do nosso sistema de saúde
(BAILEY, 2020).
Nesse contexto, as funções sociais precípuas da universidade, quais sejam, o ensino, a
pesquisa e a extensão, foram afetadas, pois ocorreram mudanças de cenário e do formato de regime

presencial para o remoto. Foram muitas as dificuldades enfrentadas nas ações empreendidas no bojo
dessa situação. No âmbito da extensão universitária, o Programa (A)penas Humanos conseguiu se
adaptar e prosseguir.
O Programa (A)penas humanos: intervenções interdisciplinares no âmbito da APAC
(Associação de Proteção ao Condenado) existe desde 2006 e tem como objetivo principal prestar
assistência aos recuperandos, homens, adultos, sentenciados da justiça cumprindo pena com privação
de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e trabalho externo no Centro de Reintegração Social
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 331

(CRS) em Santa Luzia (SL). O objetivo do trabalho da extensão universitária é promover a


humanização na assistência aos condenados da referida instituição prisional, com vistas à
ressocialização à sociedade, reconstruindo posições como sujeitos dignos e cidadãos de direitos e
deveres para com a sociedade civil. As principais ações realizadas pelos diversos cursos ora
envolvidos nesse projeto consistem em atendimentos realizados na APAC. As áreas do conhecimento
contempladas são: Direito, Psicologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia,
Publicidade e Letras.
Algumas barreiras como a inexperiência dos gestores da APAC (Associação de Proteção e
Assistência aos Condenados) com as tecnologias de informação, a rede de internet em baixa
velocidade, impossibilitando a finalização das atividades, a falta de espaços compartilhados para que
os recuperandos pudessem assistir as oficinas, foram impostas de uma forma incontrolável e
imprevisível.
Nos primeiros nove meses da pandemia, toda a produção do Programa (A)penas Humanos foi
enviada por e-mail ou WhatsApp, no formato de vídeos, podcasts, cartilhas e, muitas vezes, não era
garantido que este material seria entregue e, porventura, assimilado, o que impactou na avaliação e
monitoramento das ações em 2020. Em 2021, foi inserida a plataforma do Teams e Google Meet,
facilitando um pouco esta interação. A retomada presencial era esperada, mesmo com os criteriosos
protocolos de segurança para que pudessem garantir a segurança e a continuidade do trabalho de
extensão. Em março de 2022, as ações do programa foram reiniciadas com o deslocamento presencial
à APAC SL de 03 docentes e 24 discentes, quinzenalmente. As produções bibliográficas do Curso de
Ciências Biológicas continuaram a ser enviadas virtualmente.
Agora com novos desafios e possibilidades, depois de dois anos em que os recuperandos não
tiveram acesso regular às ações de promoção de saúde e para dar continuidade e rapidamente realizar

diagnóstico de situações problema, as extensionistas do Curso de Fisioterapia optaram pela aplicação


de um questionário para avaliar a qualidade de vida dentro do sistema fechado: o Perfil de Saúde de
Nottingham - PSN (HUNT, et al. 1985).
EXTENSÃO PUC MINAS:
332 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2012, qualidade de


vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores
nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS,
2012 apud BVS, 2013). Envolve o bem-estar espiritual, físico, mental, psicológico e emocional, além
de relacionamentos sociais, como família e amigos e, também, saúde, educação, habitação,
saneamento básico e outras circunstâncias da vida.
Percebe-se que qualidade de vida não significa ausência de doenças, é algo abrangente,
portanto, se fez pertinente realizar o levantamento do perfil da qualidade de vida dos recuperandos
da APAC Santa Luzia, que, mesmo em regime privado de liberdade, necessitam ter uma boa
qualidade de vida, dentro de sua subjetividade, contribuindo para seu processo de recuperação. Um
instrumento de avaliação de qualidade de vida não deve se limitar, simplesmente, a medir a presença
e a gravidade dos sintomas de uma doença, deve também ser capaz de mostrar como as manifestações
de uma doença ou tratamento são experimentadas pelo indivíduo (GUYATT et al. 1993).
O Perfil de Saúde de Nottingham (PSN) é constituído de 38 itens, baseados na classificação
de incapacidade descrita pela OMS, com respostas no formato sim/não. Os itens estão organizados
em seis categorias que englobam nível de energia (3), dor (8), reações emocionais (9), sono (5),
interação social (5) e habilidades físicas (8). Cada resposta positiva corresponde a um escore de um
(1) e cada resposta negativa corresponde a um escore zero (0), perfazendo uma pontuação máxima
de 38. Para a aplicação em indivíduos mais capazes funcionalmente, é recomendada a revisão da
escala e a inclusão de itens mais difíceis. Apesar de ser um perfil simples e de fácil utilização, é
fundamental a associação desse questionário com uma avaliação funcional e/ou uma entrevista
semiestruturada, tornando as informações coletadas mais úteis clinicamente (HUNT et al. 1985).
Utilizando uma linguagem compreensível, o PSN fornece uma medida simples da saúde física,
social e emocional do indivíduo sendo considerado clinicamente válido para distinguir pacientes com
diferentes níveis de disfunção e para detectar alterações importantes no quadro de saúde do paciente
ao longo do tempo (SALMELA et al. 2004). Sua consistência interna varia entre 0,90 e 0,94 e a
confiabilidade teste-reteste é boa (r = 0,75 a 0,88) além de ser sensível para discriminar. Alguns
autores reafirmaram a importância destes instrumentos em inquéritos populacionais ou como
identificadores das necessidades de saúde da população, como na prática clínica ou em experimentos
clínicos controlados (CARR et al. 1996).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 333

3 METODOLOGIA

Esta ação trata-se de um estudo piloto desenvolvido com um grupo de recuperandos do sexo
masculino realizado no período de março de 2022. A aplicação dos questionários foi realizada nas
dependências do Sistema Fechado da APAC SL, após orientações sobre como proceder. Todos os
recuperandos pertencentes ao sistema fechado responderam aos questionários e foram excluídos
aqueles que, por algum motivo, não tivessem sido preenchidos por completo.
A hipótese seria encontrar homens mais fragilizados, em virtude de questões relacionadas à
falta de assistência em saúde e às ações que sempre foram realizadas pelo Programa (A)penas
Humanos dando suporte na área da Psicologia, Enfermagem, Fisioterapia (três dos seis cursos
parceiros) que executam atividades visando a promoção da saúde.
Apesar de as ações planejadas pelos extensionistas do Curso de Fisioterapia darem
continuidade a proteção articular, por demandas levantadas virtualmente no ano de 2021, houve a
necessidade de readequação e inserção desta ação de levantamento de dados sobre o perfil de saúde
desta população, sobre a qual será desenvolvida uma pesquisa após a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Esse questionário
oferece a possibilidade de ser autoaplicável, entretanto as extensionistas optaram por conduzir,
considerando que a maioria dos recuperandos possui com baixo nível de escolaridade, o que poderia
interferir na interpretação das perguntas, comprometendo a fidedignidade dos resultados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram aplicados 81 questionários no total, no sistema fechado da APAC SL, sendo que 14
foram excluídos por não relatarem disfunções nos domínios, um excluído por duplicidade de
respostas e outro por falta de identificação, restando para análise 65 questionários.
De acordo com os domínios e número de respostas possíveis em cada um deles, foi
identificado que, quanto ao nível de energia, foram obtidas 27 das 195 respostas possíveis
relacionadas a esse domínio; no domínio dor, 62 de 520 respostas possíveis; em reações emocionais,
146 de 585 repostas possíveis; no quesito sono, 99 de 325 respostas possíveis; interação social, 93 de
325 respostas possíveis; no que tange a habilidades físicas, 48 de 520 respostas possíveis. Sessenta
por cento dessa população apresentaram queixas em três ou mais domínios, sendo que vinte e um por
EXTENSÃO PUC MINAS:
334 Novo Humanismo, novas perspectivas

cento responderam com comprometimento entre cinco a seis domínios. A maior incidência de
respostas foi relacionada às questões emocionais, seguidas de distúrbios do sono, interação social,
dor, habilidades físicas e nível de energia (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Análise de Resultados

NE = Nível de Energia; S = Sono; D = Dor; IS = Interação Social; RE = Reações Emocionais; HF = Habilidades Física.
Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

A alta incidência de respostas relacionadas às reações emocionais, domínio mais


comprometido nesta população, pode ser justificada pelas perguntas que compõem esse domínio, já
que, elas possuem considerável representatividade do ambiente em que os mesmos se encontram,
privados de liberdade. Contudo, pode-se inferir que este comprometimento se reflita também nos
domínios subsequentes que se apresentam comprometidos; portanto, esse resultado demonstra a
importância das intervenções no aspecto psicológico, além de alertar, todas as áreas de conhecimento
envolvidas no projeto, tais como Direito, Ciências Biológicas, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e
Letras, a planejarem ações baseadas no modelo biopsicossocial dos indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desses resultados, é possível planejar as ações do projeto da área da Saúde com mais
especificidade. Para a aplicação do PSN em indivíduos mais capazes funcionalmente, é recomendada
a revisão da escala e a inclusão de itens mais difíceis. Portanto, apesar de ser um perfil simples e de
fácil utilização, é fundamental a associação desse questionário com uma avaliação funcional e/ou
uma entrevista semiestruturada, de forma a tornar as informações coletadas mais úteis clinicamente.
Esta atividade de levantamento de dados no Programa (A)penas Humanos possibilitou aos
extensionistas construir novos conhecimentos, a partir dos desafios apresentados na prática, integrar
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 335

a pesquisa à extensão, reconhecer maneiras de intervir nas questões da saúde considerando sua
complexidade e refletir sobre os problemas que afetam os recuperandos para além das disfunções
fisiológicas e nas dimensões humanistas: igualdade, liberdade, autonomia, pluralidade e
solidariedade.

REFERÊNCIAS

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https://www.educationnext.org/closing-schools-to-slow-a-pandemic-coronavirus-covid-19-public-
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2021. Disponível em: https://www.who.int/es/emergencies/diseases/novel-coronavirus-
2019/question-and-answers-hub/q-a-detail/oronavirus-disease-covid-19 Acesso em: 22 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
336 Novo Humanismo, novas perspectivas

A importância de estratégias pedagógicas e de recursos de Tecnologia Assistiva


aliadas ao afeto no ensino-aprendizagem de pessoas com necessidades
educacionais especiais

Dayanne de Souza Linhares1


Lohainy Grazielle de Oliveira Santos2
Roberta Colen Linhares3
Nivânia Maria de Melo Reis4

RESUMO
O presente texto pretende ser um relato de experiência sobre as práticas extensionistas do Projeto Casa do Aprender,
projeto de extensão universitária da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da PUC Minas, que oferece oficinas de
informática, comunicação alternativa e aprendizagem funcional para jovens adultos com deficiência, a fim de lhes
proporcionar autonomia e empoderamento em atividades cotidianas. Tendo em vista o contexto atual, no qual retornamos
às atividades presenciais, buscamos relatar como se dá o trabalho com as pessoas com necessidades educacionais especiais
(NEE), considerando as estratégias pedagógicas associadas a recursos de tecnologia assistiva utilizadas nas atividades,
que são o cerne de nossa metodologia. Para tal, descrevemos quatro casos com o objetivo de compreender as dificuldades
e os avanços que foram percebidos pelos pais, coordenação e extensionistas que realizaram os atendimentos. Dessa
maneira, foi possível constatar a importância de um trabalho permeado pelo afeto que leve em conta as peculiaridades
dos alunos, promovendo assim funcionalidade no ensino-aprendizagem a partir de uma etapa de acolhimento.

Palavras-chave: Aprendizagem funcional. Tecnologia assistiva. Pessoas com deficiências. Extensão Universitária.

The importance of pedagogical strategies and technology resources assist-aps


affection in teaching people with special educational needs

ABSTRACT
The present text intends to be an experience report on the extensionist practices of Projeto Casa do Aprender, a university
extension project of the Pro-Rectory of Extension (PROEX) of PUC Minas, which offers computer workshops, alternative
communication and functional learning for young adults. with disabilities in order to provide them with autonomy and
empowerment in everyday activities. In view of the current context, in which we return to face-to-face activities, we seek
to report how we work with people with special educational needs (SEN), considering the pedagogical strategies
associated with assistive technology resources used in the activities, which are the core of our methodology. To this end,
we describe four cases in order to understand the difficulties and advances that were perceived by the parents, coordinators
and extension workers who performed the calls. In this way, it was possible to verify the importance of a work permeated
by affection that takes into account the peculiarities of the students, thus promoting functionality in teaching-learning
from a welcoming stage.

Keywords: Functional learning. Assistive technology. People with disabilities. University Extension.

1
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
dayanne.linhares04@gmail.com
2
Graduanda do Curso de Pedagogia pela PUC Minas. E-mail: lohainygraziellee@gmail.com.
3
Graduanda do Curso de Letras pela PUC Minas. E-mail: robertacolen@yahoo.com.br.
4
Terapeuta ocupacional, mestre em Educação; doutoranda em Educação, professora assistente IV e coordenadora da Área
de Ações Inclusivas do Curso de Pedagogia da PUC Minas. E-mail: nivaniameloreis@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 337

INTRODUÇÃO

O Projeto Casa do Aprender foi concebido em 2017, em conjunto com a Rede Incluir, hoje
PUC Inclusiva, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), campus Coração
Eucarístico, tendo como objetivo desenvolver alternativas mais adequadas para uma aprendizagem
funcional, para o desenvolvimento da autonomia, do empoderamento, através da utilização de
recursos de informática acessível e Comunicação Alternativa para jovens adultos com deficiência
intelectual, Transtorno do Espectro Autista (TEA), jovens com deficiências múltiplas, deficiências
neuromotoras, e outras Necessidades Educacionais Especiais (NEE) .
O projeto começou a funcionar no laboratório de Tecnologia Assistiva do Instituto de Ciências
Humanas (ICH), nos anos de 2018 e 2019. Nos anos de 2020 e 2021, os acompanhamentos
aconteceram de forma remota através do uso de plataformas digitais como WhatsApp, Google Meet
e Zoom, para que todas as Pessoas com Deficiência (PcD) e os extensionistas pudessem participar
dos atendimentos, reuniões e formações utilizado o computador, tablet, celular e demais recursos
tecnológicos, em função do contexto pandêmico vivenciado nestes anos, quando a meta maior era a
sobrevivência e, assim sendo, fazia-se necessário o isolamento social.
No primeiro semestre do ano de 2022, os atendimentos passaram a acontecer no formato
híbrido, alguns de forma presencial e outros de forma online. Dos 16 jovens, pessoas com deficiência
(jovens PcD), em acompanhamento, oito foram atendidos de forma remota, e os outros oito, de forma
presencial. Alguns familiares não puderam levar os filhos presencialmente, além disso, por haver
entre os atendidos, pessoas que moram fora de BH que iniciaram no Projeto na época da pandemia
da COVID-19, em que os encontros aconteceram de forma remota, essa adequação para o formato
híbrido foi importante para ampliar as possibilidades de atendimento.
Para o semestre, contamos com sete extensionistas, sendo duas do curso de Fonoaudiologia,
três do curso de Pedagogia, uma do curso de Letras e uma pedagoga voluntária.
O objetivo dessa produção é evidenciar as experiências e a importância do Projeto de
Extensão, que tece uma relação indissociável entre os conhecimentos teóricos adquiridos na
academia, pelas extensionistas, e o uso deles para promover a emancipação de sujeitos pertencentes
a diversas esferas sociais e especificidades, o que, a propósito, reflete o compromisso da PUC Minas
com a formação cidadã e humanística (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS
GERAIS, 2006), ou seja, o Projeto se torna uma ponte entre a universidade e a sociedade de forma
mais acessível.
EXTENSÃO PUC MINAS:
338 Novo Humanismo, novas perspectivas

No ano do Pacto Global pela educação, não podemos deixar de registrar que a campanha da
fraternidade de 2022 nos convida a refletir sobre a educação de uma forma bastante profunda e alerta-
nos sobre a importância de nos impregnarmos, como pessoas e educadores, de duas virtudes, a
sabedoria e o amor. Educar para a liberdade, para o respeito ao outro, para a promoção da cidadania,
para o afeto, “educar pelo afeto” (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS
GERAIS, 2020). Temos enfatizado o afeto no nosso trabalho, buscando iluminar e avivar as
potencialidades do público-alvo do Projeto apontando caminhos, buscando recursos, promovendo
autonomia, funcionalidade e significado na aprendizagem.

2 METODOLOGIA

A proposta de trabalho do Projeto Casa do Aprender se baseia na utilização de ferramentas de


acessibilidade em informática (REIS; SAMPAIO, 2008) e recursos de Comunicação Alternativa
(REIS; MENEZES, 2008) baseados na proposta do currículo funcional (SUPLINO, 2009), em que a
aprendizagem visa ser realmente significativa na vida de cada um. Jogos, atividades pedagógicas,
atividades de estimulação da linguagem e da aprendizagem, atividades nos programas especializados
para pessoas com deficiência são utilizados visando a promover interação, a ampliar possibilidades
de comunicação, garantindo maior qualidade e êxito no processo de ensino e aprendizagem. O
trabalho realizado em cada atendimento é registrado no Diário de Bordo (BARBIER, 2007), de forma
a manter o registro do que se faz, como se faz e da resposta obtida a partir dos encontros.
Semanalmente são promovidas reuniões para discussão de cada caso e minicursos de formação para
a capacitação da equipe de extensionistas mensalmente.
Para a realização do Projeto, foram selecionadas as seguintes metodologias: entrevistas
semiestruturadas (BOGDAN; BIKLEN, 1994) com os jovens com deficiência e seus familiares /
responsáveis, para a realização de coleta de dados significativos das especificidades e do contexto em
que este(a) estará inserido. A segunda etapa se traz no desenvolvimento do Plano de Trabalho /
Desenvolvimento Individual de cada jovem – PDI/PTI – (GLAT; VIANNA; REDIG, 2012), que é
realizado a partir das análises feitas pela extensionista em conjunto com a coordenadora, a partir dessa
entrevista e da análise dos planos anteriores. Tudo é registrado na pasta do aluno no drive do Projeto.
O registro diário das ações da extensionista é feito através do uso do diário de bordo e, ao final de
cada semestre, é preenchido um modelo de relatório final com discussão das metas e resultados
obtidos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 339

O jovem / adulto PcD recebe atendimento individual e especializado entre uma a duas vezes
na semana. Os atendimentos têm duração de 50 minutos e ocorrem de segunda à sexta, das 8h às 12h
e das 13h às 17h, durante o período de março a junho de 2022, com uma extensionista específica, que
desenvolve com o jovem PcD atividades que estimulem a sua capacidade de raciocínio, de
organização da rotina, de habilidades funcionais e de aprendizagem com recursos de informática,
Tecnologia Assistiva, Comunicação Alternativa, jogos pedagógicos, entre outras atividades.
A capacitação inicial aconteceu de forma online, onde os extensionistas puderam conhecer os
recursos disponíveis e condizentes com a proposta do Projeto no link disponibilizado no teams. As
supervisões individuais foram disponibilizadas semanalmente para as extensionistas em horários
online com a coordenadora do Projeto.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Nossa proposta, neste momento, é apresentar quatro casos atendidos de forma presencial no
Projeto, no primeiro semestre de 2022, e analisar os resultados obtidos em cada um deles, dentro
proposta do Casa do Aprender, em que se alinham a aprendizagem funcional, o uso de tecnologia
assistiva e os recursos de comunicação alternativa.
R. C. E. é uma jovem de 18 anos que tem autismo de nível 1 de suporte. Ela é uma garota
encantadora, afetuosa, educada, habilidosa com os recursos de informática, que participa atentamente
das conversas e apresenta suas opiniões dentro dos assuntos discutidos. Comunica-se muito bem, tem
ótimo vocabulário e consegue entender a perspectiva do outro. Tem uma família protetora,
incentivadora, carinhosa e parceira. R. tem um irmão mais velho que tem autismo também e ambos
se relacionam muito bem. A mãe D. é muito afetuosa e dedicada ao bem-estar da família, o pai
também é presente no cuidado com os filhos. A família tem o hábito de cozinhar junta, mantendo
uma tradição de receitas de pães, bolos e massas que passam dos pais para os filhos. Diante disso, R.
trouxe um projeto pessoal: se estruturar para comercializar os alimentos produzidos por ela.
Para atender a essa demanda, partimos do princípio de que precisávamos criar uma planilha
de custo para possibilitar que ela elaborasse o preço final dos seus produtos. Nosso objetivo foi
propiciar a ela a construção de processos de aprendizagens que colaboraram para o desenvolvimento
de maior autonomia, planejamento e execução do seu próprio projeto.
As intervenções foram iniciadas com o acolhimento a ela e a sua família, e no dia a dia fomos
nos conhecendo, nos aproximando, de forma que ela se sentisse segura, confortável e validada. Isso
EXTENSÃO PUC MINAS:
340 Novo Humanismo, novas perspectivas

proporcionou à jovem a tranquilidade para planejar cada etapa, respeitando o tempo dela, aliando
criatividade e flexibilidade cognitiva. Ela realizou de forma autônoma a coleta de todos os dados para
a construção da planilha, criou sozinha a matriz de cálculos no programa Excel pelo seu computador
em casa, e acessou o arquivo no laboratório do Casa do Aprender. Preencheu as colunas da planilha
com as informações necessárias e nós utilizamos os recursos do Excel para inserir as fórmulas a fim
de calcular o custo de cada ingrediente. Ao final de todo o processo, ela conseguiu saber o
investimento inicial e final para a confecção da receita por ela escolhida. R. ficou muito feliz com as
decisões tomadas e com seu protagonismo.
R. demonstrou interesse em realizar todas as propostas, envolvendo-se em cada etapa, a cada
encontro. As reuniões foram desenvolvidas de forma dinâmica e interativa, contando com a presença
da mãe, colaborando para o desenvolvimento dos trabalhos. As suas contribuições foram no sentido
de sanar as dúvidas de R. quanto à quantidade de cada ingrediente, separadamente, no momento da
realização da receita escolhida por elas, como também no rendimento desta.
Alcançar a meta proposta a si mesma foi muito importante para a autoestima de R, ela tem
consciência do seu protagonismo, do seu desenvolvimento por meio de habilidades de planejamento
e de execução. Para além do cumprimento das tarefas, o que a possibilitou conhecer o passo a passo
do processo, a elaboração de uma planilha de custo a partir de uma receita de família, despertou nela
a necessidade de recuperar também conhecimentos de Matemática e de Português da educação básica.
Assim, concomitantemente, trabalhamos leitura, escrita, organização, sequência, quantidades,
unidades de medida, gestão de tempo (no modo de preparo), rendimento e cálculo, pois a receita é
um gênero textual que nos oportuniza toda essa gama de aprendizados.
Os recursos utilizados com R. nessa etapa foram: uma planilha de Excel no computador, o
aplicativo SOMAR (software educacional de ensino da Matemática a jovens e adultos com
deficiência intelectual) disponível gratuitamente pelo site do Projeto Participar da Universidade de
Brasília (projetoparticipar.unb.br), que se trata de um modelo de calculadora adaptado e que facilita
a aprendizagem, além de papel e lápis. O plano de trabalho individual (PTI) foi baseado na
metodologia do currículo funcional que propõe a aprendizagem de forma interativa, baseada nos
interesses do usuário e inserido no contexto de vida da jovem, algo significativo com valor afetivo e
funcional para os jovens, público-alvo do Projeto. R. tem demonstrado estar bastante interessada na
proposta de trabalho, participa das atividades com interesse e disponibilidade; demonstra estar feliz
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 341

e bem animada com o trabalho que vem desenvolveendo junto com a extensionista, e segundo os
comentários feitos pela mãe, acreditamos que essa intervenção esteja sendo adequada e importante
para ela.
Aliado a isso, R. está estudando em casa para o Encceja (Exame Nacional para Certificação
de Competências de Jovens e Adultos) que ocorrerá no mês de agosto de 2022. Além da orientação
da mãe, ela assiste a videoaulas e estuda a apostila disponibilizada pelo INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira). A fim de contribuir para seus estudos acerca do conteúdo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação, estamos lendo e fazendo junto com ela as
questões da prova da última edição do exame.
Como dito anteriormente, R. tem um irmão mais velho, I., com diagnóstico clínico de TEA,
com nível de suporte 2. I. tem 20 anos e também tem como hiperfoco questões relacionadas à
tecnologia.
I. é bastante organizado, principalmente em relação à rotina, é carinhoso e comunica seus
sentimentos e desejos por meio de analogias a jogos digitais, principalmente o Super Mario. A sua
fala é dotada de ecolalia tardia e também imediata (em menor escala), mas consegue responder a
questões simples direcionadas a ele, desde que sejam repetidas. Possui muita facilidade com a
aprendizagem de línguas, sabendo falar mais de 10 idiomas diferentes, apesar disso, possui
dificuldade com interpretação na sua língua e nas demais. A partir da demanda apresentada pela mãe
D., o plano de trabalho foi construído e elaborado a fim de que I. compreendesse melhor a relação
intrínseca entre significante e significado de palavras e frases.
Com base nisso, e explorando o interesse do jovem com a tecnologia e o Super Mario, os
atendimentos trouxeram atividades que estimularam essa capacidade de compreensão, como
atividades de ligar objetos e palavras, completar frases, interpretação, dentre outros. Ao realizar as
atividades, I. sempre escrevia em Português e Inglês. Para ampliar os materiais com os quais o jovem
tinha contato, para além de plataformas digitais e softwares, as atividades também foram feitas
utilizando outros recursos, como papéis e colagens. Essa intervenção foi feita em continuidade com
o trabalho iniciado no Projeto no 2° semestre de 2021, e os avanços foram graduais.
Por ter bastante facilidade com a parte de significante das palavras, ou seja, o tangível,
perceptível, o trabalho foi focado no significado, pois como dito anteriormente, I. tem muita
dificuldade com o conceito. Logo, as atividades eram realizadas com intervenções da extensionista,
a qual o conduzia a entender quais eram os passos e os aspectos importantes para interpretar o texto
EXTENSÃO PUC MINAS:
342 Novo Humanismo, novas perspectivas

lido. Ao analisar as atividades realizadas pelo jovem, é possível perceber que há uma evolução em
sua habilidade de interpretação, pois a necessidade de intervenção diminuiu, e o grau de dificuldade
das atividades foi aumentado (imagens, palavras, frases e por fim parágrafos pequenos).
Constata-se que I. demonstrou evolução significativa em seu processo e desenvolvimento com
os atendimentos do Casa do Aprender e o apoio da família, e, acreditamos que com a continuidade
do trabalho e as devidas intervenções, ele manterá essa progressão. No caso de I., optamos por
escolher temas e atividades que são familiares e importantes para ele, pois dentro da metodologia do
currículo funcional, isso facilita o interesse e garante melhor interação do jovem com o processo
educacional. A mãe de I. relata seu sofrimento com o processo educacional convencional, fala da
dificuldade da escola regular em manter um ambiente interessante para o jovem, do desespero e da
alteração emocional do mesmo diante de atitudes e da falta de apoio e adaptação das atividades.
O terceiro caso a ser relatado é de uma jovem de 19 anos, que será chamada aqui de E.,
estudante do 3° ano do Ensino Médio, com o diagnóstico de TEA e TDAH (o diagnóstico de TDAH
foi realizado no 1° semestre de 2022).
E. é uma jovem com dificuldades em língua portuguesa, principalmente interpretação, além
de matemática (apresenta muita dificuldade com as operações básicas). Logo, com base nas suas
expectativas e necessidades, os atendimentos apresentavam atividades e jogos que contribuíram para
a evolução dela nesse quesito. O plano de trabalho teve como objetivo auxiliá-la na construção e na
compreensão da linguagem matemática com o apoio de material concreto e atividades lúdicas, a fim
de auxiliá-la na compreensão e na aprendizagem com o português, através de atividades significativas
e interessantes para ela. Algumas das atividades realizadas foram: resolução de problemas, jogos
matemáticos digitais (disponibilizados e também criados no aplicativo WORDWALL), escrita de
resenhas de músicas, análises de poemas (oral e escrito), discussões a partir de diversas temáticas.
Além disso, E. pediu auxílio na criação de um panfleto sobre responsabilidade menstrual para um
trabalho da escola. Essa atividade permitiu que a jovem tivesse contato com a plataforma CANVA e
aprendesse sobre suas ferramentas.
Outro aspecto que vale ser destacado, é a baixa autoestima e a insegurança da jovem. Ao
receber as propostas das atividades se mostrava insegura no começo, com medo de demonstrar o
quanto sabia e o que não sabia, mas com a construção de vínculo afetivo e de confiança, E. foi se
sentindo mais segura. Alguns dos atendimentos foram para conversar sobre assuntos relacionados à
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 343

autoestima, partindo de músicas, poesias e frases, e eram repletos de reflexões e desabafos. Além
disso, integrando a língua portuguesa a esse trabalho, foi realizada a escrita de uma carta para o futuro
para nós mesmos, no qual a jovem colocou seus sonhos e medos.
Esse trabalho com a autoestima de E. foi feito a partir da compreensão de que ela é um ser
humano completo, teoria elaborada e defendida por Henri Wallon (GALVÃO, 2014), e que a
educação deve desenvolver habilidades para além das cognitivas. Para além da insegurança e baixa
autoestima presentes em pessoas autistas e com TDAH, E. também tem depressão e passa por muita
cobrança por parte da família, que a considera “preguiçosa”; logo, esse trabalho de escuta atenta e
olhar ativo, de acolhimento, foi de suma importância para o desenvolvimento dela, pois começou a
compreender que possui direito a voz e vez, além de passar a se sentir mais confiante.
Está claro que o trabalho com E. não está encerrado, já houve ganhos e acreditamos que
conseguirá desenvolver-se ainda mais com o devido apoio e intervenção, tanto no aspecto cognitivo
quanto na segurança, autoconfiança, na visão e estima que tem de si mesma.
O quarto caso trata-se da jovem J. M., de 23 anos, que teve paralisia cerebral, afetando
aspectos do seu desenvolvimento cognitivo. Ela já havia participado do Projeto em anos anteriores,
mas fez uma pausa, devido às circunstâncias dos atendimentos remotos na pandemia.
No 1º semestre de 2022, ela voltou muito feliz, mas bem arredia, tímida e insegura de si, então
foi necessário construir um trabalho, no qual ela fosse se sentindo à vontade para participar dos
processos e que elevasse sua autoestima. Uma das poucas coisas que ela teve coragem de dizer,
quando estávamos iniciando os atendimentos, foi que adorava o campus da PUC Minas do Coração
Eucarístico, por achá-lo muito bonito; então desde aquele momento, ficou estabelecido que as
propostas dos atendimentos iriam se dar pelo espaço e assim foi feito.
Além de utilizarmos o laboratório destinado para o Projeto, fomos visitar o Museu de Ciências
Naturais da PUC Minas e também aproveitamos elementos do campus como recursos pedagógicos.
As atividades deram enfoque ao que estava previsto no PTI, o foco no desenvolvimento da
alfabetização, do letramento e nos conhecimentos matemáticos de J. M., mas também visavam
desenvolver e valorizar habilidades em outras áreas, como as artes visuais e a culinária.
Percebemos que, com os atendimentos, a jovem foi se sentindo mais à vontade em participar
das atividades, em falar sobre si, e assim, foi sendo construído um vínculo com a extensionista.
Percebemos uma melhora na sua autoconfiança, pois ela demonstra ter compreendido possuir várias
habilidades além das que estamos tentando desenvolver. Dentro da proposta do currículo funcional,
uma das metas é empoderar o aprendiz a partir da percepção de suas habilidades e a compreensão de
EXTENSÃO PUC MINAS:
344 Novo Humanismo, novas perspectivas

que é um ser capaz. J.M. demonstrou exatamente isso, que a partir de uma relação de afeto, do vínculo
com sua extensionista e das atividades realizadas, dentro do seu interesse e habilidades, pode
perceber-se um ser capaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A convocação para a construção do Pacto Educativo Global nos orienta para que a educação
no planeta passe, efetivamente, a considerar a imprescindibilidade de que se coloque a pessoa no
centro. Educar para a liberdade, para o respeito ao outro, para a promoção da cidadania, para o afeto.
Educar pelo afeto (cf. Dom Joaquim Mol, ex-reitor da PUC Minas) vai ao encontro da campanha da
fraternidade. O Projeto Casa do Aprender caminha tendo o afeto no educar como premissa principal
na transformação de vidas, na reconstrução da autoestima, em direção à aprendizagem para a vida e
para uma educação que transforma.
A aprendizagem funcional permeia a proposta de atendimentos no Projeto Casa do Aprender,
ou seja, o que há de ser aprendido precisa ter significado para quem irá aprender e, necessita ser uma
aprendizagem que agregará conhecimento na vida atual e futura desse aprendente, de forma a torná-
lo autônomo, independente e empoderado. Os casos relatados nesse texto demonstraram o quanto a
aprendizagem funcional, associada a uma condução afetiva e a recursos de Tecnologia Assistiva
fizeram a diferença na vida de jovens com deficiência atendidos nesse projeto. Ao proporcionar
ambientes acolhedores, com escutas atentas e atividades pertinentes às habilidades e interesses dos
jovens, os atendimentos proporcionaram aos jovens oportunidade para se desenvolverem em diversas
áreas de sua vida, adquirindo mais confiança, autoestima e independência.
Finalizamos na certeza de que o afeto, no nosso trabalho, tem iluminado e avivado as
potencialidades do público-alvo do Projeto e, possivelmente, tem apontado caminhos, promovendo
autonomia, funcionalidade, elevando a autoestima e proporcionando o empoderamento de jovens
adultos com necessidades educacionais especiais.

REFERÊNCIAS

BARBIER, René. A pesquisa-ação. São Paulo: Liber Livros, 2007.


BOGDAN, Robert C; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora: LB, 1994.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 345

DECÁLOGO da educação humanista da PUC Minas: refletido para uso acadêmico e cultural,
sociopolítico e econômico, pastoral e espiritual. BRUCK, Mozahir Salomão (Org.). Belo Horizonte:
Editora PUC Minas, 2020.
GALVÃO, Izabel. HENRI WALLON: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 23
ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014.
GLAT, Rosana; VIANNA, Márcia Marin; REDIG, Annie Gomes. Plano Educacional
Individualizado: uma estratégia a ser construída no processo de formação docente. Ciências
Humanas e Sociais em Revista, Rio de Janeiro, EDUR, v. 34, n. 12, p. 79-100, 2012.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-reitoria de Extensão.
Política de Extensão Universitária da PUC Minas. Belo Horizonte: 2006. Disponível em:
http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20131203153859.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2021.
REIS, Nivânia. M. M.; MENEZES, Carla. S. Utilização da comunicação alternativa na paralisia
cerebral. In: FONSECA, Luis Fernando; LIMA, César Luis (org.). Paralisia cerebral: neurologia,
ortopedia e reabilitação. Rio de Janeiro: MedBook, 2008, p. 407-415.
REIS, Nivânia. M. M.; SAMPAIO, Juliana. A utilização da informática na paralisia cerebral:
possibilidades e desafios na clínica da terapia ocupacional. In: FONSECA, Luis Fernando; LIMA,
César Luis (org.). Paralisia cerebral: neurologia, ortopedia e reabilitação. Rio de Janeiro: 2008,
MedBook, p. 417-426.
SUPLINO, Maryse. Currículo Funcional Natural: guia prático para a educação na área do
autismo e deficiência mental. 3. ed. (Revisada). Rio de Janeiro: Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; Rio de
Janeiro: CASB-RJ, 2009. (Coleção de Estudos de Pesquisa na Área da Deficiência; v. 11).
EXTENSÃO PUC MINAS:
346 Novo Humanismo, novas perspectivas

Gestão de Atividades em um Projeto de Extensão:


um relato de experiência em ações remotas1

Adrielle de Oliveira Santos2


Simone Alves Nogueira3

RESUMO
Este relato de experiência apresenta as ações realizadas no projeto PUC Mais Idade São Gabriel, para o aprimoramento
da gestão do projeto durante a execução das atividades em regime remoto. Foram desenvolvidas, pelas professoras e
extensionistas, etapas de ações objetivas e bem demarcadas, com o apoio de tecnologias e documentações colaborativas,
para ampliar a comunicação, o monitoramento e a avaliação do projeto pelos participantes, inclusive beneficiários, e obter
a entrega de melhores resultados para todos. O relato apresenta o fluxograma de trabalho, com as etapas descritas de
forma detalhada, demonstrando o processo utilizado para a gestão de atividades do projeto. A organização realizada
demonstrou eficiência na organização da equipe, no registro das atividades realizadas e nos resultados obtidos com os
professores, extensionistas e beneficiários envolvidos.

Palavras-chave: Gestão de Projeto. Regime Remoto. Terceira Idade.

Management Of Activities in An Extension Project:


an experience report in remote actions

ABSTRACT
This experience report presents the actions carried out in the PUC Mais Idade São Gabriel project, in order to improve
the project management and the execution of activities in a remote regime. Teachers and students applied objective and
well-demarcated technologies and documentation to expand, monitoring, evaluation and obtain the delivery of the best
results for all. This text presents the flowchart of activities used, demonstrating the processes for managing the work. The
organization developed in the team resulted in the registration of the activities and in the success of the results obtained
with the teachers, extensionists and beneficiaries involved.

Keywords: Project management. Remote regime. Third Age.

INTRODUÇÃO

Este relato de experiência reflexivo tem como objetivo principal apresentar de forma
detalhada a gestão do projeto PUC Mais Idade São Gabriel, que precisou ser adaptada para o sistema

1
Este relato de experiência é resultado do projeto de extensão PUC Mais Idade São Gabriel, classificado para acesso a
fomento pela PROEX PUC Minas no Edital Nº 074/2021.
2
Graduanda em Enfermagem da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail: adrielle.oliveira@sga.pucminas.br.
3
Designer Visual e de Interação. Coordenadora de extensão do curso de Engenharia de Computação PUC Minas São
Gabriel. E-mail: snogueira@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 347

letivo remoto (NOGUEIRA, 2019). Como justificativa para a elaboração do mesmo, observou-se que,
ao explicitar as etapas da gestão realizada, outros projetos de extensão poderão ser beneficiados,
obtendo um direcionamento para criarem uma gestão própria, adaptada à realidade vivenciada por
cada público-alvo e respeitando a singularidade de cada projeto.
Para que um projeto seja bem sucedido, assim como quaisquer organizações, é de suma
importância uma gestão de qualidade, o que exige uma constante evolução em busca de melhores
resultados (ISHIDA; OLIVEIRA, 2019). O PUC Mais Idade São Gabriel organizou, nos últimos anos,
uma dinâmica de ações sistematizada, composta de ambientes digitais e documentos pré-
estabelecidos pela equipe, para conduzir o projeto no formato remoto e com mais eficiência. As ações
adotadas permitiram ampliar a comunicação da equipe, trabalhar de forma mais colaborativa, mesmo
a distância, e registrar todas as atividades realizadas de forma uniformizada e coerente com os
objetivos do projeto.
Com isso, pode-se afirmar que o projeto possui uma gestão apropriada, mas que a qualquer
momento poderá ser atualizada para atender novas demandas do público-alvo ou da própria equipe
de extensionistas e professores.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conforme a International Organization for Standardization (ISO), "um sistema de gestão é a


forma como uma organização gerencia as partes inter-relacionadas de seus negócios para alcançar
seus objetivos” (ISO, 2022, tradução nossa). Vale ressaltar que o projeto visa “possibilitar a promoção
da saúde humana e o resgate da cidadania, por meio da inclusão digital, de pessoas com mais de 50
anos e idosos acima de 60 anos” (NOGUEIRA, 2019, p.4). Mas, para que haja um bom sistema de
gestão de qualidade em qualquer organização, é preciso sistematizar de forma sequencial as etapas
(ISHIDA; OLIVEIRA, 2019). Para isso, as ferramentas de gestão se mostram imprescindíveis. Por
meio delas, a equipe consegue se organizar coletivamente, mas de forma padronizada. Uma das
ferramentas que muitas organizações utilizam é o fluxograma.
O fluxograma sintético é “utilizado para a representação da sequência de vários passos de um
processo” (DAYCHOUM, 2018, p.55). E conforme Daychoum (2018), esse tipo de fluxograma
facilita a interpretação por parte daqueles que não estão acostumados com os processos daquela
organização. Por conseguinte, deve-se pensar em alguns princípios de gestão, definidos pela ISO
9001 como: Engajamento de pessoas e Abordagem do processo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
348 Novo Humanismo, novas perspectivas

O “Engajamento de pessoas” consiste em: “maior motivação por parte da equipe por meio de
uma comunicação que promova confiança e colaboração para o alcance dos objetivos da
organização”. (ISO, 2015, p. 6, tradução nossa). Além deste princípio, a “Abordagem do processo”
permite “tomar ações que venham garantir que as informações necessárias estejam disponíveis para
operar e melhorar os processos e monitorar, analisar e avaliar o desempenho do sistema geral”. (ISO,
2015, p. 9, tradução nossa).
Com isso percebe-se a importância da técnica de Brainstorming (chuva de ideias), que, para
Daychoum (2018), colabora tanto para a gestão de processos quanto para a identificação de riscos e
resolução de problemas. E cabe destacar que todas essas ações impactam positivamente na formação
do estudante/extensionista, como preconizado pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das
Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX, 2012).

3 METODOLOGIA

No primeiro semestre de 2022, o PUC Mais Idade São Gabriel teve a participação de
aproximadamente 23 idosos entre 55 a 80 anos. Com o advento da pandemia causada pela COVID-
19, as atividades do PUC Mais Idade São Gabriel precisaram ser adaptadas para o regime remoto.
Atividades que antes eram feitas presencialmente, foram adaptadas para as telas dos smartphones e
foi criado o grupo PUC Mais Idade Juntos, para a realização das atividades com os idosos.
Os processos gerenciais também foram atualizados para essa nova realidade. Extensionistas e
professores adaptaram a gestão do projeto e as ferramentas utilizadas, organizando suas ações para
ampliar a comunicação, o monitoramento e a avaliação do projeto pelos professores e extensionistas
e obter a entrega de melhores resultados para os beneficiários do projeto a partir do novo contexto
apresentado.
A forma como uma equipe em um projeto de extensão se organiza, e os meios que ela utiliza
para tal, são fundamentais para colocar em prática os objetivos e a metodologia do projeto dentro de
sua realidade. Práticas bem estabelecidas e colaborativas proporcionam um diálogo e uma
participação engajada e efetiva entre todos, além de convergir esforços em direções comuns.
Durante a reorganização do projeto no período letivo remoto, a equipe alterou a forma de
comunicar, os modelos dos documentos utilizados para implementar os objetivos e as ações do projeto
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 349

e a forma de monitorar e avaliar essas ações junto aos participantes. O fluxograma apresentado na
figura 1 demonstra o processo de Gestão de Atividades do PUC Mais Idade São Gabriel desenvolvido
nos últimos anos.

Figura 1 – Fluxograma Gestão de Atividades PUC Mais Idade São Gabriel

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.

A gestão do projeto possui três momentos bem definidos: a Preparação, o Desenvolvimento e


Monitoramento, e, por fim, a Avaliação. Para cada um desses momentos, são realizadas ações bem
específicas que proporcionam o desenvolvimento dos objetivos e metodologia do projeto. Cada etapa
do fluxo será descrita nos próximos itens deste relato, detalhando como a equipe atua considerando
este processo e como o mesmo tem garantido uma melhor gestão, consequentemente, um melhor
monitoramento e avaliação do Projeto.

3.1 Preparação

O primeiro momento, de “Preparação”, se inicia com a aprovação do projeto pelo Edital de


fomento de projetos interdisciplinares (PROEX, 2021). Após esse momento, os extensionistas e
professores fazem a primeira reunião semestral por meio da plataforma Microsoft Teams, onde
conversam sobre o projeto, relembrando os objetivos e as dimensões que se pretende trabalhar com
os idosos. São discutidas, também, as tarefas e as funções que precisam ser subdivididas entre os
extensionistas. Vale salientar que a primeira etapa de gestão do projeto ocorre também por meio de
EXTENSÃO PUC MINAS:
350 Novo Humanismo, novas perspectivas

um grupo do WhatsApp composto apenas por extensionistas e professoras. Neste grupo, intitulado
PUC Mais Idade - data do semestre vigente, são discutidas ideias de atividades, aprovação de roteiros
e slides, monitoramento, etc.
Na sequência, é realizada a “Organização e gerenciamento do processo”. Todos os
documentos elaborados são publicados em pastas no Google Drive compartilhado, para que tanto os
extensionistas quanto as professoras tenham acesso e possam editar os arquivos. As pastas deste
ambiente que merecem destaque para este trabalho são: “Dados Gerais e Materiais Produzidos”,
“Roteiro para as aulas”, “Arquivo base das atividades”, “Imagem das aulas”, “Atividades”,
“Relatórios” e “Parcerias”.
As extensionistas utilizam o Excel Online para a elaboração de planilhas, as quais se
encontram na pasta “Atividades”. A planilha central desta pasta é a de “Planejamento e
monitoramento das atividades”, dispondo das colunas: principal dimensão trabalhada, eixo temático,
responsável ou responsáveis pela sistematização da aula, data, nome da atividade, objetivos, descrição
da atividade, contribuições da atividade e avaliação da atividade. Vale ressaltar que as linhas da
planilha são coloridas; para cada mês, utiliza-se uma cor diferente, facilitando a visualização. E na
parte inferior da planilha são colocadas sugestões de atividades.
A segunda planilha é a de “Lista de presença dos idosos”. Na primeira coluna, localizam-se
os nomes de todos os beneficiários, e nas próximas colunas estão as datas de cada aula que será dada
ao longo do semestre. Na parte inferior da planilha, há uma legenda, explicando qual símbolo usar
para os idosos que estão participando da aula, para aqueles que estão apenas visualizando as
mensagens do grupo e para os outros que não estão online ou que não estejam acessando as mensagens
enviadas no grupo no momento da aula.
A terceira planilha apresenta os “Números de interações por dia”, dispondo das datas das
atividades e a divisão por cores dos meses. A quarta planilha é a de “Divisão de grupos”, onde são
dispostos os nomes dos idosos e os respectivos números telefônicos, para que cada extensionista fique
responsável por um grupo, contatando-os via WhatsApp antes do início das atividades, buscando saber
se o idoso tem interesse em continuar participando do projeto.
Um documento importante chamado “Roteiros para as aulas” é criado a cada atividade a ser
realizada com os idosos e salvo na pasta “Dados Gerais e Materiais Produzidos”. Os itens que o
compõem são: Responsável pela elaboração da aula, Responsável pelos slides, Slide 1 e na parte
inferior do documento o tópico Referências Bibliográficas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 351

Na pasta “Arquivo base das atividades” está contido o “Template PUC Mais Idade” no
formato pptx., que possui no canto inferior esquerdo a marca PUC Mais Idade, sendo os slides do
tamanho 6 x 6 cm, medida apropriada para as telas de smartphones.
Neste relato de experiência, o termo “Registro” é utilizado para definir qualquer anotação feita
nas planilhas, nos relatórios dispostos no Google Drive, após a etapa de organização e gerenciamento
do projeto. Portanto, o “Registro I” ocorre nos seguintes momentos: quando são adicionados os nomes
dos idosos principiantes do projeto nas seguintes planilhas: “Planejamento e monitoramento das
atividades” e “Lista de presença”, bem como no momento em que são registrados, na planilha central,
os nomes dos responsáveis pela sistematização das aulas, referindo tanto aos nomes das extensionistas
quanto das parcerias, em cada data de atividade do semestre.

3.2 Desenvolvimento e Monitoramento

O segundo momento de “Desenvolvimento e Monitoramento” inicia-se com a aprovação do


roteiro de produção e dos slides. A dupla de extensionistas responsáveis pela atividade acessa a pasta
do Google Drive: “Dados Gerais e Materiais Produzidos”, abrindo logo em seguida a subpasta
“Roteiros para as aulas do semestre”. Nesta subpasta, a dupla utiliza um documento do Word Online,
e escreve o nome da responsável pelo roteiro de produção da aula e o nome da outra extensionista
responsável pela elaboração dos slides. No tópico slide 1, é dado um título para a atividade, bem
como o número e este passará a ser o título do documento. Os próximos tópicos de slides do roteiro
são completados conforme os conteúdos que se pretende abordar. Vale ressaltar, que antes mesmo da
elaboração do roteiro de produção, a proposta de tema de aula foi acordada no grupo PUC Mais Idade
ou será usada alguma sugestão de atividade já disposta na parte inferior da planilha central.
Com o envio do roteiro no grupo PUC Mais Idade, são realizadas discussões sobre ele e, se
houver a necessidade de fazer modificações, a extensionista que o elaborou realiza as adaptações
necessárias. Caso não haja necessidade, a outra pessoa que compõe a dupla poderá fazer os slides.
Utiliza-se o “Template PUC Mais Idade Juntos” que está no formato pptx, na pasta “Arquivo base
das atividades”, localizada no Google Drive do projeto.
Para a elaboração dos slides, a extensionista analisa se está de fácil visualização e leitura,
respeitando possíveis limitações do público-alvo, logo utiliza um plano de fundo mais claro, letras
EXTENSÃO PUC MINAS:
352 Novo Humanismo, novas perspectivas

maiores, fontes sem serifa, imagens com boa qualidade e nítidas. Com isso, a extensionista transforma
os slides de .pptx para .jpeg, e adiciona os arquivos no Google Drive na subpasta “Imagens das aulas”.
As imagens facilitam o envio em etapas da atividade no grupo PUC Mais Idade Juntos.
O “Registro II” é quando deverão ser preenchidas, pela dupla responsável, as colunas da
“Planilha de Planejamento e Monitoramento das Atividades”, sendo elas: principal dimensão
trabalhada, eixo temático, nome da atividade, objetivos e descrição da atividade. Na principal
dimensão trabalhada, pode-se completar com uma das seguintes dimensões: corpo e movimento;
cultura, ética e cidadania; funções executivas ou funções cognitivas. Para a escolha da dimensão
trabalhada e do eixo temático é necessário analisar o tema e a abordagem que serão desenvolvidos
durante a aula. Na coluna Nome da Atividade, utiliza-se o mesmo nome que foi colocado como título
do roteiro da aula. Em Objetivos é descrito o que se pretende alcançar com o tema proposto. Já na
Descrição da atividade, é necessário explicar como foi planejado o andamento da aula da respectiva
data.
A etapa de “Execução da aula” é realizada às terças e quintas, das 14h às 17h, no grupo do
Whatsapp PUC Mais Idade Juntos. Nesse momento, todas as extensionistas devem estar participando,
apesar de apenas uma dupla ter sido responsável pela elaboração e sistematização da aula do dia.
Concomitantemente, nessa etapa ocorre o monitoramento da atividade, onde se observa a participação
dos beneficiários, se estão demonstrando interesse ou desinteresse e como está o ambiente do grupo,
animado ou desanimado. Destaca-se que, às vezes, é necessário que as extensionistas e as professoras
se comuniquem pelo outro grupo do Whatsapp durante a aula, para resolver qualquer intercorrência,
solicitar que alguma extensionista converse com algum idoso no WhatsApp privado e, neste grupo,
também são feitos comentários relativos ao monitoramento.
Embora tenha sido descrita a etapa de desenvolvimento e monitoramento, explicando o passo
a passo feito pelas extensionistas, é lícito mencionar uma particularidade: atividades realizadas pelas
parcerias do projeto, atualmente os cursos de Psicologia da unidade São Gabriel e Fisioterapia do
campus Coração Eucarístico. As parcerias com outros cursos na universidade demonstram a
interdisciplinaridade presente no projeto, o qual busca qualidade de vida constante para os idosos a
partir das diversas necessidades desse público.
Nesse caso, vale resaltar que na etapa de “Preparação”, mais especificamente na “Organização
e Gerenciamento do Projeto”, uma extensionista ficou responsável pela orientação quanto ao processo
e a dinâmica das aulas. Agora, na etapa de aprovação do roteiro de produção e dos slides, a
extensionista os ajudará na preparação e condução das atividades, de acordo com a organização já
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 353

realizada no projeto e apresentada acima. Os alunos das parcerias elaboram e enviam um roteiro para
a extensionista, que repassa para o grupo PUC Mais Idade, quando as demais extensionistas e
professoras avaliam. Após a aprovação do roteiro, o mesmo processo acontece com os slides. Quando
ambos forem aprovados, a parceria será convidada a entrar no grupo do WhatsApp PUC Mais Idade
Juntos antes da data da atividade a ser realizada por eles, para que assim possam compreender melhor
como a aula é guiada pelas extensionistas e a maneira como as interações entre os participantes são
realizadas.

3.3 Avaliação

O terceiro momento, de “Avaliação”, na execução do projeto, é um momento importante,


considerando que um projeto de extensão é desenvolvido em um ano e, no caso do PUC Mais Idade
São Gabriel, tem sido conduzido por vários anos consecutivos.
A avaliação não apenas verifica os pontos positivos e negativos do que foi realizado e os
resultados obtidos para todos os participantes do processo, mas também planeja as ações para o
próximo semestre a partir dessa avaliação. Apesar de ser apresentado como uma terceira etapa no
fluxograma, a avaliação ocorre no PUC Mais Idade São Gabriel durante toda a execução das
atividades. Após o monitoramento da realização das atividades, como o número de interações e
feedback dos idosos, é avaliado pelas professoras e extensionistas se as ações estão condizentes com
os objetivos do projeto e quais são as melhores ações para as próximas tarefas. Para isso, é realizado
um “Brainstorming” entre as professoras e extensionistas no grupo do WhatsApp a cada semana.
Outra ação importante dentro da avaliação ocorre nas atividades de encerramento do semestre com
os idosos, quando estes apresentam depoimentos sobre o que eles acharam das atividades do semestre,
o que o projeto significou para eles e o impacto na qualidade de vida dos mesmos. Os depoimentos
podem ocorrer também por meio de vídeos, áudio e textos enviados pelos idosos no grupo do
WhatsApp no fim do semestre. Todos os resultados obtidos sobre as atividades realizadas com os
idosos são registrados no relatório, etapa do “Registro III”.
Na “Reunião II”, a coordenadora do projeto e os extensionistas discutem sobre os principais
pontos que foram avaliados no projeto durante o semestre e elaboram novas estratégias para o
próximo semestre. Logo após a reunião, é compartilhado com os extensionistas também um
EXTENSÃO PUC MINAS:
354 Novo Humanismo, novas perspectivas

questionário de avaliação, onde eles respondem sobre a participação no projeto, aprendizados e


observações sobre o projeto como um todo. Os resultados obtidos nos questionários são estudados
pela coordenadora do projeto e considerados para o próximo semestre.
Vale ressaltar, que este momento de avaliação também é aquele em que todos os professores
e extensionistas possuem experiência e maturidade sobre as atividades realizadas no projeto, o que
promove discussões importantes para a produção de artigos e relatos de experiência, como o deste
texto. No início de 2022, foi elaborado o artigo “Busca por qualidade de vida por meios tecnológicos
na terceira idade”, pelas autoras deste relato, resultado dos trabalhos realizados em 2021, no projeto
PUC Mais Idade São Gabriel, o que destaca a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
O “Monitoramento - PROEX”, realizado semestralmente, é uma etapa importante no processo
de execução de um projeto de extensão. A universidade possui um sistema de gestão dos projetos que
permite o registro, acompanhamento das ações realizadas e dos resultados obtidos nos projetos. Todos
os dados são monitorados pela Pró-reitoria de Extensão e utilizados em relatórios da universidade e,
inclusive, em avaliações externas de cursos de graduação pelo INEP/MEC. O ambiente permite que
o coordenador de extensão confirme as ações realizadas e publique todos os materiais produzidos no
projeto, como materiais didáticos, publicações, divulgações, entre outros.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Durante a organização das atividades e documentações do PUC Mais Idade São Gabriel, nos
últimos anos, foi possível à equipe perceber que a gestão de um projeto não é realizada apenas com
a determinação de objetivos e funções. A gestão de um projeto de extensão é construída no dia-a-dia,
a partir de experiências e contexto em que o projeto se encontra.
O regime remoto, realizado durante o momento mais crítico da pandemia da COVID-19,
incentivou os participantes do projeto de extensão PUC Mais Idade São Gabriel a criar novas ações
que permitissem a participação dos idosos de forma segura e, ao mesmo, permanecessem ativos.
Porém, realizar atividades a distância demanda mais organização e mais comunicação da equipe por
meio de tecnologias para que o projeto permaneça ativo e promova o engajamento de todos.
A gestão realizada nos últimos anos resultou em ações práticas, organizadas e a criação de
documentos que permitem o registro claro das atividades executadas por todos. A Figura 2 apresenta
um compilado desses documentos e imagens gerados durante a organização do projeto nos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 355

últimos anos, tais como “Planilha de Planejamento e Monitoramento das Atividades", “Template das
imagens das atividades”, “Lista de Presença”, “Roteiro de Aula” e marca e integrantes do grupo do
Whatsapp.

Figura 2 - Compilação de alguns documentos e ferramentas PUC Mais Idade São Gabriel

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.

De acordo com os diálogos realizados no grupo de WhatsApp do projeto, foi possível perceber
um maior dinamismo nas discussões e tomadas de decisão a partir do andamento do semestre. Todos
os integrantes estavam informados sobre datas, atividades a serem realizadas, número e frequência
dos participantes e as metas que foram cumpridas.
Foi observado pela equipe também a facilidade em capacitar os extensionistas que entraram
após o início das atividades, considerando que rapidamente eles entendiam o projeto por meio das
documentações e ferramentas tecnológicas utilizadas. A gestão das atividades facilitou também a
realização das parcerias, as quais foram conduzidas com o apoio das planilhas e templates, fato que
foi elogiado pelos parceiros em mensagens enviadas para a coordenação do projeto. Os registros
realizados também facilitam o monitoramento realizado pela coordenação do projeto para a Proex,
sendo eles incluídos no sistema da Pró-reitoria de Extensão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
356 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste relato de experiência reflexivo, pode-se afirmar que o projeto PUC Mais Idade
São Gabriel tem buscado aprimorar a gestão, de forma a atender as demandas impostas pelo regime
letivo remoto. Para o meio acadêmico, este relato contribui fornecendo ferramentas e técnicas de
gerenciamento, de forma que outros projetos de extensão que desejem criar uma gestão própria,
possam ser beneficiados. E para a sociedade, este trabalho apresenta maneiras de pessoas com
diferentes pontos de vista, interagirem entre si, em busca de trazer melhorias para uma organização.
Por fim, sugere-se que novas técnicas de gestão sejam aprimoradas, para obter uma melhor
qualidade de organização em projetos de extensão. Sugere-se também que as etapas de “Registros”
sejam realizadas com mais detalhamento, pois só assim, ficarão perceptíveis onde se faz necessário
adaptar as técnicas e ferramentas de gestão do projeto. Ademais, pode-se concluir que uma equipe
que se dispõe a trabalhar de forma colaborativa e unânime, alcança bons resultados.

REFERÊNCIAS

DAYCHOUM, Merhi. 40 + 20 ferramentas e técnicas de gerenciamento. 7. ed. Rio de Janeiro:


Brasport, 2018. E-book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/160045/epub/0?code=lmm7EbfF7jig/erw3Tq4
VIZXHCePHAG+RFJNOOGAzD9yHIUQSAHYaFYSBCL8aOoGHu8QO1xyMZlVxgQ42oxQaw
==. Acesso em: 20 jun. 2022.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. (ISO). Quality
Management Principles ISO. 2. ed. Genebra, 2015. Disponível em:
https://www.iso.org/publication/PUB100080.html. Acesso em: 15 jun. 2022.
ISHIDA, Juliana Poschl; OLIVEIRA, Daysa Andrade. Um estudo sobre Gestão da Qualidade:
conceitos, ferramentas, custos e implantação. ETIC- Encontro de Iniciação Científica, Presidente
Prudente, v.15, n. 15, p. 1-19, 2019. Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/view/7742/67648340. Acesso em:
16 jun. 2022.
MANAGEMENT SYSTEM STANDARDS. What is a management system? In: ISO. International
Organization for Standardization. Genebra, 2022. Disponível em: https://www.iso.org/management-
system-standards.html. Acesso em: 15 jun. 2022.
NOGUEIRA, Simone Alves. PUC Mais Idade São Gabriel. Projeto de Extensão da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2019. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1aTu4_gpjJNZJqJF2HeSIylb4dBZpgv-8/view?usp=sharing. Acesso
em: 16 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 357

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-reitoria de Extensão.


Edital nº 074/2021. Belo Horizonte, 2021. Disponível em:
http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20210917151523.pdf.
Acesso em: 23 jun.2022.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Fórum de Pró-reitores de
Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária.
Manaus, 2012. Disponível em:
http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20161028115851.pdf.
Acesso em: 16 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
358 Novo Humanismo, novas perspectivas

Principais desafios enfrentados por empreendedores durante a


pandemia do COVID-19: um estudo realizado na regional do Barreiro
em Belo Horizonte-MG.

Késia Aparecida Teixeira Silva1


Rodrigo Cassimiro de Freitas2
Natália Santos dos Reis3
Júnio Silva de Araújo4
Jenifer Caroline Pinto Moreira5

RESUMO
A pandemia da COVID-19 afetou consideravelmente a vida, em sociedade, desde o seu início no ano de 2020. As
empresas, importantes instituições sociais, também sofreram consequências em decorrência da pandemia. Dessa forma,
o presente trabalho se propôs a analisar os principais desafios vivenciados por empreendedores da região do Barreiro em
Belo Horizonte-MG durante a pandemia da COVID-19. Nesse intento, o referencial teórico abordou questões sobre o
empreendedorismo e as influências da pandemia da COVID-19 na prática empreendedora. Foi realizada uma pesquisa
quantitativa-descritiva junto a empreendedores da região do Barreiro que contou com um questionário fechado distribuído
a 197 empresas. Os dados foram analisados utilizando-se o Statistic Package for Social Science (SPSS). Os resultados
demonstraram que os problemas enfrentados por micro e pequenos empresários ultrapassam questões puramente
gerenciais e se manifestam em limitações macro e microeconômicas que comprometeram o oferecimento dos bens e
serviços dos postos de emprego, da geração de renda da comunidade empresarial e de seus colaboradores.

Palavras-chave: Empreendedores. Desafios. Pandemia da COVID-19.

The Main challenges faced by entrepreneurs during the


COVID-19 pandemic: a study carried out in Barreiro region
in Belo Horizonte-MG.

ABSTRACT
The COVID-19 pandemic has considerably affected life, in society, since its beginning in 2020. Companies, important
social institutions, have also suffered consequences as a result of the pandemic. In this way, the present paper proposed
to analyze the main challenges experienced by entrepreneurs in the region of Barreiro in Belo Horizonte-MG during the
COVID-19 pandemic. With this in mind, the theoretical framework addressed issues about entrepreneurship and the
influences of the COVID-19 pandemic on entrepreneurial practices. A quantitative-descriptive survey was carried out
with entrepreneurs in the region of Barreiro, which included a closed questionnaire distributed to 197 companies. Data
were analyzed using the Statistic Package for Social Science (SPSS). The results showed that the problems faced by these

1
Drª. Em Administração. Professora do Curso de Administração, Unidade Barreiro. E-mail: kesiasilva@pucminas.br.
2
Prof. Dr. do Curso de Administração, Unidade Barreiro. E-mail: rodrigocassfreitas@pucminas.br.
3
Graduanda do Curso de Administração Puc Minas Barreiro. E-mail: nataliasdosreis@yahoo.com.br.
4
Graduando do Curso de Ciência Contábeis Puc Minas Barreiro. E-mail: juniosilva2609@gmail.com.
5
Graduanda do Curso de Administração Puc Minas Barreiro. E-mail: jenifercarolinamoreira@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 359

micro and small entrepreneurs go beyond purely managerial issues and manifest themselves in macro and microeconomic
limitations that compromised the provision of goods, services, jobs, and income generation for the business community
and its employees.

Keywords: Entrepreneurs. Challenges. COVID-19 Pandemic.

INTRODUÇÃO

O mundo todo enfrenta nos últimos anos a pandemia da COVID-19, causada pelo
Coronavírus. O Coronavírus foi descoberto no ano de 1964, em Londres, por uma pesquisadora
escocesa de nome June Almeida. Na época, uma descoberta sem muita relevância, dada a baixa
patogenicidade do microrganismo quando em contato com o corpo humano. Em 2002, uma nova
espécie da família Coronavírus desenvolveu-se na China e levou o país a uma grave epidemia que
ficou conhecida como Síndrome Respiratória Aguda Grave. Após isolado vírus, foi-lhe atribuído o
nome de Sars-Cov, sendo este o mesmo vírus que causa a COVID-19.
Em 2019, a China novamente isolou outra espécie de Coronavírus: o Sars-Cov-2 ou COVID
19, vírus dotado de alto poder letal devido à falta de resposta do seu hospedeiro aos tratamentos
recebidos, e cujas formas de disseminação ocorrem de forma extremamente rápida, retardando o
controle da sua propagação. Foi exatamente esse poder de se proliferar com extrema rapidez o que
levou o vírus a alcançar praticamente todo o globo terrestre em poucas semanas. Nesse sentido, a
OMS - Organização Mundial da Saúde - decretou, em março de 2020, estado pandêmico. Instalava-
se assim uma das maiores crises sanitárias mundiais já vivenciadas, que perdura até o momento atual.
E a instabilidade financeira que diversas nações já enfrentavam agravou-se, dadas as medidas
restritivas necessárias para a contenção da disseminação do vírus. Em busca de uma resposta a curto
prazo, as autoridades governamentais e de saúde decretaram, dentre outras medidas, o distanciamento
social.
No Brasil, tal medida trouxe como consequência a potencialização da crise financeira que já
existia. Diante disso, alavancou-se o número de demissões sem justa causa nas empresas, impactando
significativamente, em outra realidade, o aumento do desemprego das forças de trabalho, estimulando
os brasileiros ao empreendedorismo. Conforme citado por Beringuy (2020), o Brasil registrou uma
perda de aproximadamente 9% de empregos formais. Nesta mesma linha, Vialli (2020), em paralelo
aos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que, entre
março e julho do ano de 2020, houve um crescimento de 20% no número de novos empreendedores,
quando comparado ao ano anterior.
EXTENSÃO PUC MINAS:
360 Novo Humanismo, novas perspectivas

A pandemia da COVID-19 afetou consideravelmente diversas instâncias da sociedade, dentre


elas as empresas, que, devido ao isolamento social, tiveram que manter-se fechadas por um tempo,
sendo impossível a comercialização dos produtos e serviços por meios físicos. Isso causou grande
transtorno para a maioria das empresas, principalmente para os microempreendimentos, que tiveram
que se adaptar à nova realidade.
O projeto de extensão Observatório Empresarial, realizado pelo curso de Administração da
Unidade Barreiro da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como parceiro das
empresas atuantes na região, fornecendo auxílio gerencial para que essas empresas melhorem sua
gestão e tornem-se mais competitivas no mercado em que atuam.
No atual contexto pandêmico de COVID-19, ações são necessárias para redução do impacto
econômico e social no país. Neste sentido, entende-se que é importante refletir sobre os fatores de
medidas que contribuam para a sobrevivência de empreendedores, sobretudo em momentos de crise
e maior suscetibilidade à mortalidade. Diante da pandemia da COVID-19, percebeu-se que o projeto
teria muito a contribuir com as empresas. Dessa forma, realizou-se uma pesquisa que teve como
objetivo principal analisar os principais desafios vivenciados por empreendedores da Regional
Barreiro de Belo Horizonte.
A pesquisa mostrou-se relevante por demonstrar a realidade enfrentada pelos
empreendedores, considerando o isolamento social que demandou o fechamento do comércio no
início da pandemiaexigindo que as empresas modificassem sua forma de atuar. Ademais, as empresas
incorporaram novas ferramentas e técnicas gerenciais para lidar com o novo cenário. Assim, o
presente estudo se justifica também por demonstrar como a pandemia influenciou a prática desses
empreendedores, podendo contribuir com outros que enfrentam as mesmas dificuldades.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este tópico aborda duas temáticas que embasam esta pesquisa. Inicialmente, discute-se o
empreendedorismo como um fenômeno presente na sociedade e suscetível às variáveis micro e macro
ambientais. A seguir, discute os desafios enfrentados pelo empreendedorismo na pandemia da
COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 361

2.1 Empreendedorismo

O termo “empreendedor” é derivado do francês “entreprende”, que significa “alcançar /


empreender”, ou seja, aquela pessoa que se compromete a organizar, gerenciar e assumir os riscos de
um negócio. O reconhecimento dos empreendedores nos ensinamentos de Kuratko (2016) remonta à
França do século XVIII, quando começaram a associar as atividades de “risco” na economia como
empreendedorismo. No decorrer da Revolução Industrial, tomou força esse papel, uma vez que os
empreendedores da época assumiram sérios riscos com relevantes transformações de recursos.
Kuratko (2016) salienta ainda que esse conceito continuou sendo aprimorado ao longo dos
anos, sendo de grande interesse especialmente dos economistas, e no decorrer do século XX, o termo
“empreendedorismo” tornou-se intimamente relacionado com a livre-iniciativa e ao capitalismo.
Destaca-se ainda que os empreendedores servem como agentes de transformação, pessoas
fornecedoras de ideias inovadoras e criativas para empresas, auxiliando no crescimento e
rentabilidade.
Por outro lado, Tajra (2019) faz uma importante diferenciação a respeito de empreender e ser
empresário, uma vez que afirma se tratar de coisas distintas. Nesse aspecto, salienta que
empreendedor é aquela pessoa que tenha atividade focada em resultados, inovações e realizações das
atividades propostas. Tendo alto poder de mudança e de se adaptar ao novo, transformando ideias em
ações.
O empresário, por sua vez é a pessoa que providencia a abertura do seu próprio negócio e a
partir dele surge a oportunidade de ganhos monetários e/ou sociais, levando assim, a um
empreendimento adiante.
Tajra (2019) menciona ainda a criação do intraempreendorismo. Trata-se de um movimento
empresarial com o foco no desenvolvimento de colaboradores nas organizações, de tal forma que
esses colaboradores possuam uma postura empreendedora e possam alavancar novos negócios no
contexto em que atuam. Haja vista que para o crescimento contínuo da empresa, a mesma precisa
dedicar-se em continuar inovando e se atualizando conforme as mudanças exigidas pelo mercado.
Dependendo assim da necessidade de colaboradores com um perfil empreendedor.
Corroborando essa discussão, Velho e Giacomelli (2017) salientam que, diferentemente do
que muitos pensam, a educação formal é uma das principais características do empreendedor, uma
vez que pesquisas realizadas neste sentido apontam que a maioria dessas pessoas possuem formação
e valem dela para construir novas ideias e negócios. Outro aspecto levantado pelos autores é o
EXTENSÃO PUC MINAS:
362 Novo Humanismo, novas perspectivas

histórico profissional, sendo certo que as vivências profissionais da pessoa, seja como colaborador
ou outras lições vivenciadas, servem como base para tomada de decisões na nova fase
empreendedora.
A globalização e as crises vivenciadas por todo o mundo resultaram em um aumento
expressivo de novos empreendedores, especialmente no Brasil. Outro aspecto de grande relevância é
o aumento no número de desempregados e a ausência de novos investimentos por parte dos grandes
empresários, insurgindo assim o interesse dos brasileiros em empreender.

2.2 Os desafios do empreendedorismo na pandemia da COVID-19

O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da COVID-19. Desde então, o mundo
vem sendo desafiado pelo rápido contágio do coronavírus SARS-CoV-2 – COVID-19 – cujos
impactos, sem precedentes, vão desde a grave crise econômica global, até a perda em larga escala de
vidas humanas (BAUM; HAI, 2020; UNWTO, 2020). Trata-se da maior crise de saúde pública em
memória viva (OECD, 2020), a qual resultou na significativa redução e/ou bloqueio total das
operações de várias empresas em muitos países (CHINAZZI et al., 2020). Situação esta que impôs
enormes desafios às empresas em geral (BARTIK et al., 2020) e, em especial, às micro e pequenas
empresas – MPE – (DUBE, NHAMO, CHIKODZI, 2020).
Do ponto de vista conceitual, uma crise é um processo indesejado, comumente inesperado e
de limitação temporal, cujo desdobramento é, possivelmente, ambíguo (GLAESSER, 2006). Uma
crise não se resume a um evento isolado, mas a um processo que se desenvolve e evolui em fases
(MIRANDA, 2017). Quanto mais durar a crise, mais escassos se tornam os recursos financeiros
(WENZEL et al., 2020), levando a uma possível falência das empresas (BARTIK et al., 2020), o que
requer tomadas de decisão imediatas (GLAESSER, 2006) e estratégias de adaptação
(WHITTINGTON, 2002).
No Brasil, observa-se que a economia já vinha tentando se recuperar de uma crise de anos
passados. Neste sentido, Leković e Marić (2016, p. 39) declaram que, “em períodos de crise, o
ambiente empreendedor sofre mudanças significativas na forma de redistribuição econômica”.
Perante uma crise econômica atípica e inusitada, a economia fraquejou. Com isso, vieram as medidas
governamentais adotadas para tentar minimizar alguns pontos como a inadimplência, a mortalidade
das organizações, evitar uma maior desaceleração da economia, o desemprego, entre outras coisas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 363

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (2020) os


pequenos negócios têm sido fortemente afetados pela pandemia da COVID-19. O mais afetado foi o
faturamento semanal citado por 88% dos pesquisados, com queda de 69% com relação a uma semana
normal. Com quase um mês de isolamento social, a parte financeira dos pequenos negócios já está
comprometida, pois na média, o caixa suporta apenas 23 dias fechado. Alguns segmentos têm se
estabilizado em patamares inferiores ao pré-crise, e o comércio eletrônico tem crescido com a crise.
Diante da realidade de uma quarentena, as vendas online tornaram-se uma necessidade, bem
como os serviços de delivery. Em um contexto no qual nos foi vedado o contato físico, as redes sociais
passaram a ser uma maneira primordial de comunicação das empresas com seus stakeholders. A
internet se torna refúgio nas incertezas da COVID - 19.
Ainda levará um tempo para se compreender as implicações da COVID-19 para o
empreendedorismo. As empresas não devem ficar esperando que as coisas voltem “ao normal”.
Conforme menciona Giones (2020) o caminho a seguir requer equilibrar a construção de resiliência,
bem como estar pronto para novas oportunidades empresariais.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa se caracteriza como quantitativa-descritiva, em que se buscou identificar


e descrever os principais desafios vivenciados por empreendedores da região do Barreiro durante a
pandemia da COVID-19.
Os elementos da pesquisa foram selecionados por meio de um censo, que considerou a área
comercial da regional Barreiro na cidade de Belo Horizonte. O intervalo temporal de levantamento
de dados se estendeu de agosto a novembro de 2020. Foram aplicados 197 questionários, os quais
foram tabulados e analisados à luz das técnicas estatísticas descritivas. O questionário foi elaborado
pelo Google Docs e o link foi encaminhado via e-mail e grupos de WhatsApp das empresas.
Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Science) para analisar os
dados coletados. Foram testadas, inicialmente, as técnicas de estatística descritiva que colaboram em
identificar tendências, variabilidades dos fenômenos e a discrepância nos dados (HAIR et al, 2009).
EXTENSÃO PUC MINAS:
364 Novo Humanismo, novas perspectivas

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O presente tópico apresenta os dados coletados e discute os resultados alcançados pela


pesquisa. Inicialmente, tem-se o perfil das empresas que participaram da pesquisa e a seguir abordam-
se os principais desafios enfrentados pelas empresas durante a pandemia da COVID-19.

4.1 Perfil das empresas participantes

A maioria das empresas que participaram da pesquisa atuam no ramo comercial (168) e apenas
29 atuam como prestadoras de serviço na região.
Tabela 1 – Ramo de atuação
Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
Comercial 168 85,3 85,3 85,3

Válido Prestadora de Serviços 29 14,7 14,7 100,0

Total 197 100,0 100,0


Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Quanto ao número de funcionários, observa-se que 80 empresas possuem menos de três


funcionários. Outras 45 possuem de três a 10 funcionários, ou seja, 63.5% das empresas possuem até
10 funcionários, podendo ser considerados pequenos negócios atuantes na região do Barreiro. Dado
importante, tendo em vista a dificuldade desse tipo de empreendedor ter acesso a serviços de
consultoria e assessoria na gestão.

Tabela 2 – Número de funcionários contratados


Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
11 a 20 26 13,2 13,2 13,2

21 a 30 18 9,1 9,1 22,3

3 a 10 45 22,8 22,8 45,2


Válido
Mais de 30 28 14,2 14,2 59,4

Menos que 3 80 40,6 40,6 100,0

Total 197 100,0 100,0


Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 365

4.2. Principais desafios enfrentados pelos empreendedores durante a pandemia

Durante a pandemia da COVID-19, as empresas foram orientadas a fechar suas portas devido
à necessidade de isolamento social. Dessa forma, as vendas por meio físico ficaram impossibilitadas
de acontecer. A saída para as empresas foi trabalhar o e-commerce, vendas pela internet, utilizando
canais disponíveis nas redes sociais. Conforme se observa na tabela 3, 94,9% das empresas possuem
redes sociais ativas, o que permite que trabalhem o marketing digital e fomentem as vendas pela
internet.

Tabela 3 – Redes sociais ativas


Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
Não 10 5,1 5,1 5,1

Válido Sim 187 94,9 94,9 100,0

Total 197 100,0 100,0


Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Os dados mostram que a maioria das empresas, 168 das 197 participantes da pesquisa,
permaneceu com as portas fechadas durante mais de 4 semanas, devido ao isolamento social imposto
pela COVID-19. Observa-se que se trata de um longo tempo, ao se avaliar as consequências de não
faturar durante esse período, que colocou muitas empresas em situações financeiras complicadas.

Tabela 4 – Tempo em que a empresa permaneceu com


as portas fechadas devido ao isolamento social

Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
1 Semana 7 3,6 3,6 3,6

2 Semanas 6 3,0 3,0 6,6

3 Semanas 7 3,6 3,6 10,2


Válido
4 Semanas 9 4,6 4,6 14,7

Acima de 4 semanas 168 85,3 85,3 100,0

Total 197 100,0 100,0


Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
366 Novo Humanismo, novas perspectivas

No que se refere às demissões de colaboradores em decorrência da pandemia, é possível


observar que 153 empresas, o que corresponde a 77,7%, romperam contrato com colaboradores. Essa
foi uma realidade vivenciada por muitas empresas que devido ao fechamento das portas e redução
drástica do faturamento não conseguiram manter os colaboradores contratados.

Tabela 5 – Você reduziu seu quadro de pessoal em decorrência da pandemia?


Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
Não. 44 22,3 22,3 22,3
Sim. Rompi contrato
Válido 153 77,7 77,7 100,0
com colaborador (es).
Total 197 100,0 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Como já relatado, a pandemia da COVID-19 fez com que as empresas inovassem no sentido
de buscar novas formas de vendas, tendo destaque as vendas pela internet que cresceram em média
400% nesse período. A pesquisa demonstrou que dentre as formas de vendas que diferem da física,
as mais citadas foram: WhatsApp, telefone, Facebook e Instagram, opção declarada por 31,98% das
empresas, e apenas utilizando Instagram e telefone, opção de 22,84% das empresas. Ressalta-se a
forte presença das redes sociais Facebook e Instagram como forma de realizar as vendas durante a
pandemia.

Gráfico 1 – Forma com que realizou as vendas

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 367

Conforme demonstrado no gráfico 2 abaixo, a grande maioria das empresas, 89,34%,


relataram ter encontrado dificuldade para lidar com esses novos métodos de vendas. Dessa forma,
observa-se a necessidade de apoiar as empresas no que se refere à utilização das redes sociais para
divulgação e efetuação de compras por parte dos clientes.

Gráfico 2 – Dificuldade em lidar com os novos métodos de vendas

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

No que diz respeito às entregas dos produtos, observa-se que na maioria das vezes, 39,09%, a
empresa possui um entregador próprio ou os cientes buscam as mercadorias na loja tomando os
devidos cuidados referentes ao isolamento social.

Gráfico 3 – Entregas das mercadorias

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
368 Novo Humanismo, novas perspectivas

Ao serem questionados sobre as maiores dificuldades encontradas, as empresas mencionaram


a negociação com fornecedores e colaboradores e a falta de produtos em decorrência da baixa
produtividade de alguns fornecedores durante o período. Isso demonstra a possibilidade de assessoria
nas áreas de negociação tanto com os fornecedores, como com os colaboradores.

Gráfico 4 – Dificuldades encontradas.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Ao final, questionou-se às empresas sobre a contratação de serviços de consultoria gerencial


e 86% delas afirmaram que nunca contrataram esse tipo de serviço, demonstrando oportunidades de
atuação do projeto nesse sentido, principalmente com foco no atual cenário de pandemia e pós-
pandemia onde as empresas demandarão por esse serviço.

Gráfico 5 – Contratação de consultoria

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 369

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em diagnóstico realizado no decorrer do ano de 2018, suscitaram-se várias dificuldades


enfrentadas pelos micros e pequenos empresários na área comercial adensada da regional Barreiro.
Os problemas levantados estavam principalmente relacionados ao modelo de condução gerencial dos
negócios. Percebeu-se na época que a crise de 2013 deixou reflexos na realidade da comunidade
empresarial do Barreiro, que se recuperava gradativamente.
Em 2020, viu-se a pandemia da Sars-COVID-19 paralisar as atividades comerciais não
essencial em amplitude mundial. A comunidade empresarial de Belo Horizonte, especialmente do
Barreiro, precisou suspender suas atividades em um contexto de incerteza e de sucessivas perdas que
se arrastam desde marco de 2020.
Na pesquisa realizada pelo projeto Observatório Empresarial, por meio da sua equipe de
extensionistas e professores, foi possível perceber que os problemas enfrentados pela comunidade
empresarial são mais agudos comparados àqueles levantados em 2018. Conforme dados da pesquisa,
os problemas enfrentados por micro e pequenos empresários ultrapassam questões puramente
gerenciais e se manifestam limitações macro e microeconômicas. Comprometendo o oferecimento
dos bens e serviços, dos postos de emprego e da geração de renda da comunidade empresarial e de
seus colaboradores.
Conforme dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH, 2018) e do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA, 2001) a regional Barreiro já foi uma significativa colaboradora na
geração de riquezas para cidade Belo Horizonte, sendo seus tributos estaduais e municipais
suficientes para manutenção das políticas públicas da região e cooperava com as regionais
hipossuficientes. No contexto atual, a realidade econômica da região do Barreiro é muito distinta
comparada à ultima década. Percebe-se que os empresários e empreendedores da região, além de
enfrentar problemas internos na gestão de seus negócios, atualmente, amargam perdas significativas
com as paralisações constantes, intermitentes e incertas de suas atividades econômicas.
A pesquisa realizada em 2020 revelou parcela desses problemas. Acredita-se que a situação
seja mais aguda, considerando que desde a coleta dos dados, vários empresários e empreendedores
não suportaram os impactos das SARS-COVID-19.
Nesse contexto, o projeto Observatório Empresarial, em 2021, se esforça em compreender
melhor os contornos da crise vivenciada pela população empresarial. Com ampliação do diagnóstico
e a intenção de desenvolver e oferecer serviços de assessoria empresarial.
EXTENSÃO PUC MINAS:
370 Novo Humanismo, novas perspectivas

Durante a coleta de dados, observou-se dificuldade de acesso aos elementos da pesquisa.


Especialmente justificado pela suspensão e/ou encerramento das atividades econômicas dos micros e
pequenos empresários.
Torna-se premente reforçar que pesquisas sobre os efeitos da crise provocada pela Pandemia
da COVID-19 ainda merece maior atenção e replicabilidade em outras comunidades Dado que os
resultados investigados pela equipe do projeto podem ser de proveito exclusivamente ao grupo de
elementos que participaram do levantamento.

REFERÊNCIAS

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estudo de caso no Município de Nossa Senhora da Glória e Itabaiana – SE. Itabaiana:
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carreiras/noticias/redacao/2020/08/06/pnad-continua-desemprego-
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SANTOS, Maria Tereza. O novo coronavírus não é filho único. Conheça os demais membros
dessa família e entenda por que eles não provocaram pandemias de outras doenças.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 371

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microempreendedores-durante-a-quarentena.shtml>. Acesso em: 02 jun. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
372 Novo Humanismo, novas perspectivas

Perspectivas da extensão em um sistema prisional: relato de experiência

Júlio César Batista Santana1


Karina Aparecida Góis Oliveira de Jesus2
Katherin de Los Angeles Amundaray Rodriguez3
Laura de Almeida Deatherage4
Sarah de Almeida Alves5

RESUMO
O projeto de extensão permite aos universitários vivenciarem novas experiências por meio do compartilhamento de
saberes com a sociedade, não somente levando conhecimento, mas também adquirindo novas habilidades. Este relato de
experiência tem como objetivo discutir as perspectivas extensionistas no Programa Apenas Humanos da PUC/Minas pelos
acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia na Associação de Proteção e Amparo ao Condenado (APAC) do município de
Santa Luiza, no primeiro semestre de 2022. Foram realizados vários encontros de integração com temas relacionadas ao
sistema prisional e as implicações das atividades extensionistas na formação profissional, ética, humana e social. As
atividades de inserção na extensão permitiram aos extensionistas ampliarem seus conhecimentos, tornando mais
prazerosas as ações realizadas para os beneficiários, além de proporcionar a troca de saberes e experiências. Conclui-se
que é de extrema importância projetos de extensão que agregam e trazem um processo de construção do conhecimento
em contexto social. Os acadêmicos que tem a oportunidade de participar de projetos como o “Apenas Humanos”, possuem
uma vivência e uma experiência diferenciada. Esse momento, proporciona aos estudantes, que eles conheçam outra parte
da sociedade; classes sociais diferentes; estilo de vida diferente; e que contribua com a comunidade de diferentes formas.

Palavras-chave: Práticas de extensão. Promoção da saúde. Pessoas privadas de liberdade.

Perspectives of extension in a prison system: experience report

ABSTRACT
The extension project allows university students to experience new experiences by sharing knowledge with society, not
only taking knowledge, but also acquiring new skills. This experience report aims to discuss the extension perspectives
in the Just Humans Program at PUC/Minas by Nursing and Physiotherapy students at the Association for the Protection
and Support of the Convicted (APAC) of the municipality of Santa Luiza in the first half of 2022. integration meetings
with themes related to the prison system and the implications of extension activities in professional, ethical, human and
social training. The activities of insertion in the extension allowed the extension workers to expand their knowledge,
making the actions carried out for the beneficiaries more pleasant, in addition to providing the exchange of knowledge
and experiences. It is concluded that extension projects that add and bring a process of knowledge construction in a social

1
Coordenador do Curso de Enfermagem da PUC/Minas; Mestre e Doutor em Bioética.E-mail: julio.santana@terra.com.br
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Fisioterapia no campus Coração
Eucarístico. E-mail: karinaoliveiradejesus1996@gmail.com.
3
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: katherin.amundaray@sga.pucminas.br
4
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: lauraalmeidad35@gmail.com
5
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos, do curso de Enfermagem no campus Coração
Eucarístico. E-mail: sarah.alves.oficial673@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 373

context are extremely important. Academics who have the opportunity to participate in projects such as “Just Humans”,
have a different experience and experience. This moment allows students to get to know another part of society; different
social classes; different lifestyle; and that contributes to the community in different ways.

Keywords: Extension practices. Health promotion. Persons deprived of liberty.

INTRODUÇÃO

O projeto de extensão permite aos universitários vivenciarem novas experiências por meio do
compartilhamento de saberes com a sociedade, não somente levando conhecimento, mas também
adquirindo novas habilidades. Ser extensionista faz toda a diferença na formação acadêmica, pois
possibilita ao aluno o crescimento em todos os âmbitos, não somente profissional, mas também a ter
um olhar mais humanizado, priorizando a valorização humana. Neste contexto, o trabalho
interdisciplinar, envolvendo cursos diferentes, faz com que os extensionistas ampliem seus
conhecimentos tornando mais prazerosas as ações realizadas para os beneficiários, além de
proporcionar a troca de saberes e experiências (SANTANA et al, 2017).
O primeiro contato dos extensionistas com a Associação de Proteção e Amparo ao Condenado
(APAC) Santa Luzia através do projeto Apenas Humanos, foi impactante, pelo fato de ser uma
realidade completamente diferente do sistema carcerário comum, mostrando como a valorização
humana é imprescindível para o processo de recuperação e retorno do recuperando para a sociedade.
Neste contexto, a nossa expectativa para as atividades extensionistas no Programa Apenas
Humanos desenvolvidas pelos acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia na APAC SL, constituiu
um momento importante para a formação profissional, ética e humana em um contexto
multidisciplinar, além de vencer os obstáculos referente ao primeiro contato com pessoas privadas de
liberdade e abrir um espaço de reflexão sobre a contribuição social dos profissionais na área da saúde.
Segundo Santana et al, 2017, a contribuição das atividades extensionistas na formação dos
profissionais na área da saúde fica evidente, considerando a proposta da sua inserção oportuna na
realidade à promoção da saúde, em interface com a interdisciplinaridade envolvendo os cursos da
PUC Minas – Ciências Biológicas, Direito, Enfermagem, Filosofia, Fisioterapia, Letras e Direito, no
processo da construção do conhecimento e na interlocução direta com as pessoas privadas de
liberdade na APAC SL.
EXTENSÃO PUC MINAS:
374 Novo Humanismo, novas perspectivas

É importante sinalizar que a aproximação dos acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia com


o cotidiano da vida das pessoas privadas de liberdade proporciona um novo olhar sobre a atuação dos
profissionais no sistema carcerário e a integração aos diferentes saberes, ruptura de barreiras e
integração na formação profissional no contexto social.
Percebe-se que a inserção dos acadêmicos nas atividades extensionistas no Programa Apenas
Humanos na APAC do município de Santa Luiza possibilita um espaço para a construção do
conhecimento, superar estigmas sobre o sistema prisional e despertar a construção de atividades de
promoção da saúde em consonância com os pilares da formação acadêmica: ensino, pesquisa e
extensão, além de contribuir na formação integral dos acadêmicos na área da saúde. Neste sentido,
este estudo tem como objetivo discutir as perspectivas extensionistas no Programa Apenas Humanos
da PUC Minas pelos acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia, no primeiro semestre de 2022.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A extensão universitária é um processo educativo, científico e cultural que busca a articulação


entre ensino e pesquisa. É compreendida como uma construção de saberes compartilhados, em via
de mão dupla, entre acadêmicos e a comunidade. Tem-se como consequência a produção de
conhecimento, por meio da vivência com a realidade brasileira e regional. Assim, a Universidade
retorna para a comunidade o aprendizado que foi submetido à reflexão teórica (FREITAS et al, 2016).
É importante reconhecer a estratégia grupal como um espaço para realização de educação em
saúde, que não deve ser entendida somente como transmissão de conteúdo, mas também como a
adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida. Esta
estratégia ocasiona uma combinação de oportunidades: produção coletiva de conhecimento,
oportunizando a autonomia do paciente para avaliar, escolher e decidir suas atitudes, o que corrobora
para a manutenção e promoção da sua saúde (FREITAS et al, 2016).
A extensão universitária é extremamente relevante para a formação acadêmica dos
graduandos, por ser o momento no qual o extensionista interage com a sociedade, colocando em
prática o conhecimento adquirido na sala de aula. Não é somente ensinar, mas também absorver muito
aprendizado, contribuindo com a sociedade por meio das trocas de saberes. De acordo com o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), a Extensão é essencial para a construção e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 375

transferência do conhecimento produzido nas universidades, além de propiciar avaliação dos


impactos das atividades científicas, técnicas e culturais para o desenvolvimento local, regional e
nacional (PROEX, 2021).
A extensão na academia é ampliada, conforme o art. 5º da Resolução Nº 7/2018, que
estabelece as diretrizes para a extensão na educação superior brasileira, estruturam a concepção e a
prática das Diretrizes da Extensão na Educação Superior, destaca-se: a interação dialógica da
comunidade acadêmica com a sociedade por meio da troca de conhecimentos, da participação e do
contato com as questões complexas contemporâneas presentes no contexto social; a formação cidadã
dos estudantes, marcada e constituída pela vivência dos seus conhecimentos.
As atividades de extensão na APAC, que é uma entidade civil de direito privado, sem fins
lucrativos, com patrimônio e personalidade jurídica próprios e tempo de duração indeterminado. O
Método APAC caracteriza-se pelo estabelecimento de uma disciplina rígida, baseada no respeito, na
ordem, no trabalho e no envolvimento da família do recuperando. Uma das principais diferenças entre
a APAC e o sistema prisional comum é que, nesta, os próprios presos - denominados recuperandos -
são corresponsáveis por sua recuperação. (FERREIRA et al. 2016).
Pode-se destacar a Lei de Execução Penal n° 7.210/19843, que garante ao preso e ao internado
a devida assistência e outras garantias legais. No entanto, ao contrário do que estabelece a lei, os
presídios atualmente proporcionam um ambiente degradante e desumano ao preso, tendo em vista, a
superlotação, a ausência de assistência médica, a precariedade na alimentação e a falta de higiene que
desencadeiam diversas doenças. (MACHADO; GUIMARÃES, 2014).
Diante do que foi citado anteriormente, o sistema prisional, em consequência de sua realidade,
acarreta a reincidência dos presos, porém, se eles forem tratados com dignidade, se reintegrarão de
forma adequada na sociedade, com base na garantia constitucional do princípio da dignidade da
pessoa humana, atingindo assim os objetivos do sistema prisional (MACHADO; GUIMARÃES,
2014). Muitos apenados acabam esquecidos nos presídios, em virtude do abandono familiar, não
tendo assim, um alicerce. E como já vivem em um ambiente, no qual o tratamento é desumano e ainda
sem apoio familiar, estes muitas das vezes pioram seus comportamentos devido ao sofrimento por
quais são submetidos. Por isso, a importância da ressocialização ao preso (MACHADO;
GUIMARÃES, 2014).
Na Pedagogia tradicional, as ações de ensino apresentam-se centradas na transmissão de
conhecimentos pelo professor ao aluno, sendo o professor, o único responsável pela condução do
processo educativo, uma autoridade máxima no que concerne as estratégias de ensino. Já como uma
EXTENSÃO PUC MINAS:
376 Novo Humanismo, novas perspectivas

nova tendência pedagógica, surge a Pedagogia Crítica, na qual o professor assume o papel de
mediador, ao conduzir os alunos à observação da realidade e apreensão do conteúdo que extraem
dela, um processo educativo que visa a transformação social, econômica e política, além da superação
das desigualdades sociais (PRADO et al, 2012).
No contexto das novas tendências pedagógicas, a Metodologia Ativa é uma das possíveis
estratégias, para qual o aluno é o protagonista central, ou seja, corresponsável pela sua trajetória
educacional e o professor apresenta-se como coadjuvante, um facilitador das experiências
relacionadas ao processo de aprendizagem em um contexto de integração com a realidade social
(PRADO et al, 2012).
Segundo Santana et al (2017) o Programa Apenas Humanos da PUC Minas voltado para as
ações extensionistas em um contexto interdisciplinar, tem um compromisso ético de formar
profissionais capacitados, comprometidos e responsáveis com as questões éticas e sociais no processo
de formação acadêmica.

3 METODOLOGIA

As atividades extensionistas no Programa Apenas Humanos desenvolvidas pelos acadêmicos


de Enfermagem e Fisioterapia na APAC de Santa Luzia possibilita uma integração entre os cursos e
aos aspectos que se vinculam à formação dos estudantes no contexto social, conforme previstos nos
Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) e a Resolução Nº 7/ 2018 que determina as Diretrizes para
a Extensão na Educação Superior Brasileira e regulamentam as atividades acadêmicas de extensão
dos cursos de graduação. Nessa metodologia, acolhem-se as demandas de inserção dos acadêmicos
no primeiro contato com os recuperando desta instituição e, nesse contexto, foi necessária a
participação dos extensionistas em treinamentos introdutórios, visitas de acolhimento do sistema
prisional e debate das experiências da extensão pelos diversos cursos da PUC /Minas.
No Quadro 01, apresentam-se as atividades de acolhida, inserção e integração dos
extensionistas e corpo docente da PUC Minas no Programa Apenas Humanos da APAC SL no 1º
semestre/2022:
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 377

Quadro 1 – Atividades desenvolvidas


Data Tema Dinâmica Moderadores Participantes
Treinamento introdutório sobre as Roda de apresentação dos Acadêmicos de
atividades de extensão do Professores e extensionistas Professores da Enfermagem,
17/03/2022 Programa Apenas Humanos da Exposição dialogada do modelo do PUC Minas e Filosofia, Fisioterapia,
Quinta-feira PUC Minas na Associação de Sistema Prisional da APAC e da Equipe da APAC Psicologia, Direito,
Proteção e Amparo ao extensão universitária Santa Luzia Professores dos
Condenado (APAC) Debate diversos cursos
Acadêmicos de
Visita para conhecimento da Apresentação da APAC
Equipe da APAC Enfermagem e
07/04/2022 estrutura física e organizacional Acolhida pelos recuperandos com a
Santa Luzia e um Fisioterapia
Quinta-feira da APAC do município de Santa interlocução dos extensionistas e
recuperando Professor Coordenador
Luzia professor coordenador
da Enfermagem
Acadêmicos de
Reunião interdisciplinar no
Coordenadora do Enfermagem,
formato remoto do Programa
08/06/2022 Projeto Mais Filosofia, Fisioterapia,
Apenas Humanos e Elas –
Quarta-feira Ação da APAC Psicologia, Direito,
integrando conhecimentos sobre a
de Sete Lagoas Professores dos
lei da execução penal
diversos cursos
Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

4.1 Treinamento introdutório e acolhida aos extensionistas no Programa Apenas Humanos da


PUC Minas em interface com a APAC de Santa Luzia

A apresentação da proposta de trabalho na extensão no Programa Apenas Humanos na APAC


de Santa Luzia, sinaliza-se a construção de uma formação profissional voltada para os pilares da
educação: ensino, pesquisa e extensão, corroborando as premissas de um perfil de profissionais com
formação generalista, crítica, reflexiva, humanista e que atenda às necessidades da comunidade em
seu contexto social (SANTANA et al, 2017).
O treinamento introdutório possibilitou conhecer as propostas de trabalho dos extensionistas
na APAC de Santa Luzia, entender sobre o funcionamento do sistema prisional e as implicações das
atividades acadêmicas na formação profissional e na saúde e ressocialização das pessoas privadas de
liberdade.
A percepção do cuidado e da assistência prestada pela equipe de Enfermagem e Fisioterapia
aos homens em privação de liberdade, em contexto prisional, evidencia uma satisfação pessoal dos
profissionais com relação ao trabalho executado, o reconhecimento dos mesmos referente à relevância
da sua atuação. No exercício profissional, destacam-se as ações associadas à identificação da
EXTENSÃO PUC MINAS:
378 Novo Humanismo, novas perspectivas

necessidade de saúde do homem atendido, garantia da oferta de ações com o enfoque na promoção,
prevenção e recuperação da saúde, realização de intervenções próprias de Enfermagem e contribuição
para o alcance da qualidade de vida (SILVA et al, 2020).

4.2 Visita na APAC de Santa Luzia e discussão das estratégias para o desenvolvimento das
atividades extensionistas pelos cursos de Enfermagem e Fisioterapia

A visita para o conhecimento de todo o funcionamento da APAC foi importante para entender
o contexto no qual a comunidade vive, quais são os problemas de saúde, conhecer o espaço de
trabalho é um fator crucial para montar estratégias, a abordagem e os temas que serão trabalhados nas
oficinas de promoção da saúde.
Na primeira visita à APAC, através ao projeto de extensão Apenas Humanos, as extensionistas
dos cursos de Enfermagem e Fisioterapia da PUC Minas juntamente com o coordenador do projeto,
conheceram o local, todos foram acolhidos por parte da administração da APAC e posteriormente
recebidos por um dos recuperando do regime fechado, que apresentou toda a estrutura física,
explicando o funcionamento do regime fechado, bem como os horários, normas, trabalho, lazer,
alimentação, estudos, entre outros.
Em relação ao contato entre os extensionistas e as pessoas privadas de liberdade, foi
oportunizado uma acolhida de boas-vindas pelos recuperandos, e posteriormente uma breve
apresentação por parte dos extensionistas e do professor orientador, com a exposição das ações
educativas em saúde e a contribuição social universitária na formação dos futuros profissionais e na
interlocução com a APAC (SANTANA et al,2017).
Após concluir a visita, foi realizado uma reunião entre as extensionistas e o professor para
discussão do que seria realizado ao longo das práticas de extensão com uma abordagem
interdisciplinar entre os cursos de Enfermagem e Fisioterapia e os assuntos em saúde que poderiam
beneficiar a comunidade de recuperandos.
Nas visitas seguintes, as extensionistas, juntamente com o professor orientador, abordaram
temas específicos com os recuperandos da APAC, em que eles tiveram a oportunidade de tirar dúvidas
sobre diversos assuntos. Foram feitas práticas com os recuperandos, onde eles tiveram oportunidade
de interagir e de participar de um momento mais descontraído.
Conhecer a metodologia do sistema APAC e poder estar no espaço de trabalho, além da
inserção oportuna dos acadêmicos nos projetos de extensão, principalmente em instituições que visam
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 379

a ressocialização de pessoas, permite uma construção coletiva de saberes e práticas diferenciados,


reduzindo o distanciamento entre a academia e a prestação dos serviços de saúde à sociedade
(SANTANA et al,2017).

Figura 1 – Visita dos Acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia na


APAC Santa Luiza em abril/2022

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Figura 2 – Construção do painel educativos pelos Acadêmicos de


Enfermagem e Fisioterapia na APAC Santa Luiza em maio/2022

Fonte: Acervo dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
380 Novo Humanismo, novas perspectivas

4.3 Reunião interdisciplinar com os envolvidos nas atividades extensionistas no sistema


prisional

A troca de experiências sobre o Programa APAC possibilita um espaço de discussão amplo,


destacando o compromisso ético e humano de formar profissionais capacitados, comprometidos e
responsáveis com as questões sociais da promoção da saúde em uma dimensão multidisciplinar,
destacando a importância dos encontros com extensionistas, professores e profissionais que atuam no
sistema prisional no processo da construção do conhecimento e integração dos diversos saberes
(SANTANA et al,2017).
A reunião interdisciplinar online do Programa Apenas Humanos, com a participação dos
Professores, convidados e extensionistas, foi discutido o seguinte tema, “A Lei de Execução Penal”.
O assunto foi bastante interessante e agregador para os extensionistas, que se deparam com as
situações apresentadas pelo moderadora do encontro, pontuado sobre a importância do Projeto
APAC, devido seu compromisso em restabelecer os detentos à sociedade, com dignidade e
humanização, discutido sobre o conceito e contexto de pena na história, como estava ligado ao
sofrimento e a justiça sem medida sendo aplicada, ainda que haja no sistema prisional convencional
seja ligado ao sofrimento, hoje existem punições e penas devidas para cada tipo de infração, crime e
etc.
Destacam-se os avanços das discussões acerca do sistema prisional e as implicações do
Programa Apenas Humanos para a formação social e humano dos acadêmicos e a importância das
ações extensionistas para as pessoas privadas de liberdade. Foi apresentado como funciona a
execução da pena, sua classificação (regime fechado, semiaberto e aberto) e suas particularidades. O
encontro possibilitou uma discussão entre os protagonistas e trouxe experiências, conselhos e formas
dos extensionistas se posicionarem, em relação ao recuperando para garantir um cuidado/atendimento
correto e humanizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A extensão possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto
à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação
das desigualdades sociais existentes, como prática acadêmica que interliga a Universidade nas suas
atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da maioria da população.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 381

São de extrema importância projetos de extensão que agregam e trazem um processo de


construção do conhecimento em contexto ético, humano e social. Os acadêmicos que têm a
oportunidade de participar de projetos como o “Apenas Humanos”, possuem uma vivência e uma
experiência diferenciada. Essa experiência, proporciona aos estudantes, que eles conheçam outra
parte da sociedade; classes sociais diferentes; estilo de vida diferente; e que contribua com a
comunidade de diferentes formas.
Os cursos de Enfermagem, juntamente com o de Fisioterapia, fizeram uma integração durante
o projeto, proporcionando um momento único, onde o aprendizado foi construído de forma coletiva,
além de contribuir efetivamente na promoção da saúde das pessoas privadas de liberdade. Lembramos
a todo momento que as pessoas privadas de liberdade têm um difícil acesso à saúde, porém a APAC,
diferentemente de um sistema prisional tradicional, proporciona uma maior promoção a saúde aos
recuperandos.
Ser um extensionista é superar os desafios e os medos, é aprender a cada dia mais e mais, é
não cometer os mesmos erros passados e aprender a utilizar uma linguagem mais acessível à
comunidade alvo, para que tenha a total compreensão dos assuntos e garantir a conscientização em
saúde e dos meios de prevenção. São as diversas experiências pelas quais passamos em todos os
processos, que nos fazem crescer, mostrando que vale a pena todo o esforço colocado.

REFERÊNCIAS

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acadêmicos de enfermagem. Revista de Enfermagem da UFSM, 6(3), 307–316. 2016.
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.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 383

Processo de orientação vocacional e construção da identidade profissional em


grupos de alunos de Ensino Fundamental e Médio1

Fernanda Morais da Silva2


Letícia Valau Leitemberg3
Manoela Palmeiro Dornelles4
Thiago Ferreira Mucenecki5

RESUMO
O projeto de extensão “Grupos de Orientação Vocacional e Construção da Identidade Profissional”, vinculado ao edital
da Universidade Regional Integrada do Alto do Uruguai e das Missões, visa atender alunos de escolas municipais e
estaduais do município de Santiago-RS. O objetivo principal da ação extensionista descrita no presente artigo, sob a forma
de um relato de experiência, procura refletir sobre as vicissitudes inerentes ao processo de construção da identidade
profissional. O projeto consiste na realização de entrevistas individuais semiestruturadas e encontros em grupos
operativos reflexivos, com organização de dinâmicas facilitadoras de reflexão sobre questões pertinentes à escolha de
carreira. Também foi utilizada no projeto extensionista a Escala para avaliação da Maturidade para a Escolha Profissional
(EMEP) e a Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP). Após a implementação da prática extensionista e, a partir da
experiência adquirida, percebe-se a importância da construção de um espaço para que os acadêmicos das escolas possam
exteriorizar, compartilhar e elaborar inseguranças e ansiedades oriundas do processo de construção da identidade
profissional.

Palavras-chave: Grupos. Orientação vocacional ocupacional. Identidade profissional.

Vocational guidance process and construction of professional identity in


elementary and high school student groups

ABSTRACT
The extension project “Vocational Guidance and Professional Identity Construction Groups”, linked to the public notice
of the Integrated Regional University of Alto do Uruguai e das Missões, aims to serve students from municipal and state
schools in the municipality of Santiago-RS. The main objective of the extension action described in this article, in the
form of an experience report, seeks to reflect on the vicissitudes inherent in the process of building a professional identity.
The project consists of conducting individual semi-structured interviews and meetings in reflective operational groups,
with the organization of dynamics that facilitate reflection on issues relevant to career choice. The Scale for Maturity

1
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Instituição Financiadora.
2
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: fm965149@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: leticialeitemberg@gmail.com.
4
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago. E-mail: Manoelapd2002@gmail.com.
5
Me. em Psicologia da Saúde pela Universidade Federal de Santa Maria; Prof. da Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago. E-mail: thiagomucenecki@bol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
384 Novo Humanismo, novas perspectivas

Assessment for Professional Choice (EMEP) and the Assessment of Professional Interests (AIP) were also used in the
extension project. After the implementation of the extension practice and, based on the experience gained, the importance
of building a space for school students to externalize, share and elaborate insecurities and anxieties arising from the
process of building a professional identity is perceived.

Keywords: Groups. Occupational vocational guidance. Professional identity.

INTRODUÇÃO

A Universidade comunitária URI – Campus Santiago (RS), a partir de seu compromisso com
a comunidade regional, com ações de ensino, pesquisa e extensão, desenvolveu, sob a
responsabilidade do curso de Psicologia, o projeto de extensão “Grupos de Orientação Vocacional e
Construção da Identidade Profissional”. A presente ação visa contribuir, desde 2018, com o processo
de desenvolvimento da identidade profissional, usando dispositivos grupais como proposta de
reflexão no que tange às possibilidades de escolhas profissionais, em escolas municipais e estaduais
da comunidade de Santiago (RS). O projeto de extensão procura ofertar um espaço instrumentalizador
da aprendizagem da escolha de direções profissionais, oportunizando transformações pessoais nas
relações do sujeito com seus ideais e com o mundo que o cerca, diante de intervenções propostas por
bolsistas e acadêmicos vinculados às práticas de estágios.
Para Ribeiro et al. (2016), vive-se um momento em que o jovem está na busca da construção
de valores identitários em um mundo que não oferece modelos e parâmetros estáveis como ponto de
partida para a construção de um movimento subjetivo tão complexo.
Assim, as intervenções do projeto foram consideradas levando-se em conta os aspectos
mencionados anteriormente, ofertando possibilidades de construção de um espaço que, através de um
dispositivo grupal, auxilie na elaboração de conflitos inerentes ao desenvolvimento da maturidade
para escolher caminhos futuros, sendo este processo um momento que necessita de condições
oportunas para o desenvolvimento de um pensamento crítico acerca da realidade profissional.
Considera-se que as intervenções em orientação profissional devam proporcionar um momento de
reflexão envolvendo elementos mediadores como música, teatro, dramatizações, dinâmicas, entre
outros, que favoreçam a tomada de consciência dos fatores subjacentes à escolha de um projeto de
vida (ALMEIDA; PINHO, 2008).
O trabalho com grupos, descritos no presente relato de experiência, procurou contemplar as
vivências dos acadêmicos do curso de Psicologia da URI envolvidos em uma ação extensionista,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 385

tendo por compromisso atender as demandas educacionais da comunidade através da construção de


um espaço de reflexão, contemplando as variáveis múltiplas que interferem na escolha de uma
profissão.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Tupinambá e Oliveira (2006), no processo de Orientação Profissional, faz-se


necessário considerar quem é o sujeito da escolha, quais as influências que permeiam as decisões
envolvidas, o que o joven faz para construir o que deseja e como se percebe, enquanto conhecedor de
si, e entende os aspectos que dificultam escolhas de caminhos futuros. Para isso, é preciso que o
Orientador Profissional utilize técnicas fundamentadas que facilitem o processo de percepção das
variáveis citadas que influenciam na tomada de decisão.
Os adolescentes se relacionam a partir de suas identificações entre si, seja por gênero sexual,
idade, estilo, entre outros (GOUVEIA-PEREIRA et al., 2000). Neste caso, no grupo de Orientação
Profissional, os jovens compartilham, quase sempre, dos mesmos sentimentos e angústias em relação
ao futuro e suas expectativas. Sendo assim, o projeto extensionista serve como espaço para que os
alunos possam trocar experiências, reduzir a ansiedade e pensar nos objetivos e possibilidades.
Sabe-se que na adolescência existem atitudes sociais que começam a ser exigidas no mundo
contemporâneo, entre elas, pensar o futuro profissional. Por isso, além de lidarem com as mudanças
hormonais, sociais e psíquicas, os adolescentes precisam enfrentar a “morte” simbólica da infância e
entrada na vida adulta, com a exigência de se construir uma nova identidade. Sendo assim, para que
se organize um processo de escolhas a partir de um pensamento crítico à cerca do mundo, faz-se
necessário criar espaços de fala e de práticas que incentivem as reflexões frente ao universo de
marcadores sociais que influenciam futuro profissional (D´AUREA TARDELI, 2010).
Conforme Outeiral (2003), a crescente demanda contemplada pela forma de comunicação
virtual, atribuídas ao desenvolvimento tecnológico, torna-se forma de ação predominante sobre o
mundo, favorecendo a impulsividade, o imediatismo e modelos de tentativa e erro para soluções de
problemas, desconsiderando a importância da construção de espaços reflexivos para aprendizagem.
Dessa forma, a precariedade das referências coletivas apresenta-se como outro fator que pode resultar
no enfraquecimento das referências sócio-laborais prejudicando o processo de responsabilização na
busca de ações para resolução de conflitos que envolve o crescimento e envolvimento com o mundo
adulto.
EXTENSÃO PUC MINAS:
386 Novo Humanismo, novas perspectivas

Intervenções em escolas se fazem necessárias para mudar essa realidade, através da construção
de espaços individualizadas e coletivos com a finalidade de conhecer as expectativas construídas
sobre cada acadêmico das instituições a respeito das representações construídas sobre o futuro
profissional. Considera-se importante a etapa citada, visto que este momento facilita a construção de
um vínculo e relação de confiança entre orientadores profissionais e alunos, favorecendo a
organização de um espaço para que os jovens pudessem expor fantasias construídas a partir das
reflexões oriundas das temáticas desenvolvidas (ALBANESE, 2016).

3 METODOLOGIA

A presente ação será descrita sob a forma de um relato de experiência. Esta, segundo Oliveira
(2012), propõe através de sua estrutura de escrita, apresentar propostas resolutivas e, ao mesmo
tempo, levantar questões diversificadas que permitam fomentar a pesquisa e contribuições para uma
temática específica, além de indicar percursos para melhoria de uma realidade específica. As práticas
descritas são decorrentes de um projeto extensionista vinculado ao Edital/PROPEPG Nº 05/2021 do
Programa Institucional de Bolsas de Extensão da URI Campus Santiago. O presente projeto está
associado à condição de ensino aprendizagem, fazendo parte do curso de Psicologia.
A proposta original teve início no segundo semestre de 2018, quando da primeira aprovação
em edital, a partir do vínculo estabelecido com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de
Santiago (SMEC). De acordo com a instituição mencionada, as escolas municipais da cidade
apresentaram interesse na proposta. As práticas se iniciaram com turmas de 9º ano de duas escolas
municipais, mediante identificação de demanda, e posteriormente o projeto continuou com uma turma
de 3º ano de uma escola estadual, mediante contatos prévios realizados através de estágios
curriculares do curso de Psicologia. Já no período do primeiro semestre de 2019, buscou-se atender
as turmas que estavam finalizando o Ensino Médio, e que, posteriormente, passariam por processos
seletivos.
No segundo semestre de 2021, após o retorno à presencialidade das aulas escolares, visto que
antes desse período o ensino ocorreu na modalidade remota em função da COVID-19, os trabalhos
presenciais foram retomados com uma Escola de Educação Básica particular e com um Instituto
Estadual de Educação. Nesses locais, as práticas foram realizadas concomitantemente. Já no primeiro
semestre de 2022, foram atendidas uma escola Escola Estadual de Ensino Fundamental e novamente
uma outra, Escola Particular.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 387

Tendo em vista os objetivos propostos pelo projeto, elaborou-se um planejamento de


atividades para 6 encontros, sendo que a proposta foi construída pensando nas variáveis complexas e
multideterminadas que influenciam a tomada de decisão em relação a escolha profissional futura.
Vale salientar que os encontros em grupo ocorreram semanalmente com duração aproximada de 50
minutos cada. Primeiramente houve a apresentação do Projeto para as direções das escolas, sendo
que posteriormente houve a realização de entrevistas individuais semiestruturadas com os alunos das
turmas. Após o processo descrito anteriormente, foram elaboradas práticas de acordo com o que era
percebido nas primeiras conversas com os alunos. Em ordem alternada, de acordo com as demandas
dos grupos, ocorreram aplicações de testes, dinâmicas, palestras, visitações e rodas de conversa.
Em função dos resultados da escala EMEP, aplicada para avaliar o processo de maturidade
profissional de cada turma, as ações foram organizadas de uma forma dinâmica, contemplando
reflexões sobre família, mercado de trabalho, influências, mídia, questões econômicas e globalização,
para que se pudesse realizar uma orientação voltada para o processo da escolha e não somente para
os resultados dos testes vocacionais. Para isso, considerou-se a realização de encontros em grupos
operativos reflexivos para mobilizar as questões que envolvem a construção da identidade
profissional, possibilitando uma articulação com os resultados quantitativos dos testes, já que os
grupos apresentam como característica principal facilitar o processo de escuta, em que o coordenador
indaga e problematiza as falas dos integrantes envolvidos, estimulando diferentes formas de pensar,
de falar e de elaborar as próprias questões (BASTOS, p. 167, 2010).
A EMEP é composta de quarenta e cinco afirmativas indicando atitudes em relação à escolha
profissional. Sendo assim, o sujeito deve considerar a frequência de cada atitude descrita pelas frases
para que seja possível identificar o nível de maturidade para a escolha profissional, detectando os
aspectos mais e menos desenvolvidos no processo. A presente escala é composta por cinco
subescalas, contemplando índices de Determinação, Responsabilidade, Independência,
Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional (NEIVA, 1999).
Na escola particular do município, o grupo era composto por alunos do 3º ano. Sendo assim,
após a realização das entrevistas individuais, foi executada a aplicação da Escala de Maturidade para
a Escolha Profissional (EMEP), sendo que na semana seguinte, foi realizada a devolutiva grupal da
presente escala para a turma. Nas semanas posteriores, foram preparadas dinâmicas que pudessem
oportunizar espaços de reflexão para aspectos deficitários percebidos a partir dos resultados do teste.
A turma solicitava que fossem apresentadas profissões dentro de uma proposta informativa.
Sendo assim, foram contatados alguns profissionais para palestrar sobre experiências de construção
EXTENSÃO PUC MINAS:
388 Novo Humanismo, novas perspectivas

de identidades profissionais. Além disso, os alunos realizaram uma visita à Universidade Regional
Integrada de Santiago, com a finalidade de conhecer, em cada setor, as peculiaridades de cada curso
oferecido na instituição. Para finalizar o processo, realizou-se a aplicação do teste Avaliação dos
Interesses Profissionais (AIP), e em seguida, cada aluno recebeu a devolutiva individualmente.
Já no Instituto Estadual, foram atendidas turmas de segundos e terceiros anos. Neste caso,
depois das conversas iniciais e entrevistas individuais, iniciaram-se as atividades com dinâmicas, para
trazer reflexões sobre o futuro e para conhecer a realidade dos adolescentes. Feito isso, os próximos
encontros tiveram o intuito de oportunizar rodas de conversa para pensar novas possibilidades,
estimulando os adolescentes a refletirem sobre suas escolhas profissionais. Em seguida, foram
aplicados os testes AIP e EMEP, e respectivamente dadas as devolutivas.
A seguir, no primeiro semestre de 2022, as atividades tiveram início com a turma ingressante
no 3º ano do ensino médio de uma Escola de Educação Básica particular. A peculiaridade desta prática
é baseada no fato de o grupo ser realizado durante um período especifico das aulas de uma disciplina
curricular denominada “Projeto de Vida”, ministrada por uma professora da instituição. Sendo assim,
esta atuação permitiu que o tempo de intervenção com o grupo fosse mais longo, durando mais de 6
encontros. Após as primeiras entrevistas, iniciaram-se as aplicações e devolutivas da escala EMEP.
Posteriormente, foram realizadas dinâmicas para trabalhar a participação dos alunos, bem como,
rodas de conversa, confecções de cartazes e bilhetes. Por fim, visto que a prática segue sendo
realizada, estão previstos encontros para aplicação e devolutivas da AIP, que se realizarão até o início
do mês de julho.
Concomitantemente, neste mesmo período, foram desenvolvidas atividades em uma Escola
Estadual de Ensino Fundamental sendo um Centro Integrado de Educação Pública – CIEP. Após
explicação do projeto à direção e turma de nono ano, aplicou-se a EMEP e em seguida realizou-se a
devolutiva da escala. As dinâmicas também fizeram parte do processo com o grupo, possibilitando
que os alunos pudessem falar sobre assuntos que em outros momentos não eram possíveis na rotina
da escola. As dinâmicas usadas foram a “Teia das Relações” e a “Caixa Curiosa”, ambas potentes no
que tange ao processo de movimentar a discussão e o protagonismo diante do movimento da fala
argumentativa.
Nos encontros grupais, priorizando a ideia de que os alunos têm condições de perceber,
analisar e compreender a sua situação passada e presente e, a partir dessa reflexão, criar um projeto
de vida futuro, foram utilizadas dinâmicas com intuito de refletir e desenvolver aspectos a serem
amadurecidos indicados na EMPE e nas entrevistas individuais. Foi desenvolvida a dinâmica
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 389

chamada “Caixa Curiosa”. Uma caixa contendo palavras relacionadas ao futuro profissional, desafios,
dinheiro, família, ENEM, mercado de trabalho, realização pessoal, influências, ansiedade, medos,
responsabilidades, entre outras. A caixa circula entre cada integrante do grupo, enquanto uma música
toca; quando esta música para de tocar, quem estiver com a caixa tira uma palavra e fala sobre ela.
As palavras foram selecionadas por acadêmicos do curso de Psicologia, amparados por literatura da
área, sendo identificados temas relevantes e potencializadores de discussões. Esta proposta costuma
envolver os participantes, funcionando de um jeito que eles interajam entre si numa troca de
experiências e confrontamento de ideias.
Outra dinâmica bastante comum é a da "Teia das Relações", geralmente usada nos primeiros
encontros, já que tem o objetivo de integrar o grupo, mostrando a importância do relacionamento
interpessoal e da contribuição de cada um. Na prática, é utilizado um rolo de fio, os integrantes devem
sentar em roda, segurar uma das pontas e a outra ponta deve ser arremessada para o próximo
integrante; quem estiver recebendo o rolo de fio fala o que deseja para o grupo. Por fim, forma-se
uma teia, onde cada um segura um ponto do fio para que a teia se ligue e se constitua
Realizadas as dinâmicas descritas nos parágrafos anteriores, a partir da especificidade da
demanda das turmas, foi realizada uma sessão de “cinema e pipoca” no CIEP, sendo utilizado o filme
“Duas vidas” com o intuito de fomentar questões inerentes ao processo de desenvolvimento da
identidade, facilitando o desenvolvimento de aspectos que envolvem o amadurecimento de variáveis
importantes para escolha profissional. Nesta atividade, os alunos elencaram os pontos “positivos e
negativos” que percebiam em suas próprias vidas, relacionando-os com o momento em que se
encontravam em relação a maturidade para fazer escolhas.
Pôde-se observar, a partir do envolvimento e amadurecimento da turma no decorrer da prática,
que estes necessitavam de um espaço de acolhida, que produzisse novas perspectivas e reflexões. Os
alunos tiveram um desenvolvimento amplo, tanto no processo de pensar quanto no agir, obtendo
mudanças na comunicação entre eles e com os professores. Como finalização do processo foram
estabelecidas relações com os resultados encontrados na escala EMEP e no AIP, oportunizando
devolutivas individuais, bem como devolutiva grupal, com uma dinâmica de encerramento.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

No segundo semestre de 2021, a prática do projeto ocorreu com 27 alunos de duas turmas de
2º ano de uma mesma escola pública e 37 alunos de duas turmas de 3º ano do ensino médio, uma
EXTENSÃO PUC MINAS:
390 Novo Humanismo, novas perspectivas

turma de escola pública e outra de escola privada. Já no primeiro semestre de 2022, o projeto
contemplou 29 alunos de uma turma de 3º ano do ensino médio de uma escola privada e 18 alunos de
9º ano de escola pública.
Dentre as atividades propostas, além de dinâmicas, foram utilizados recursos como cartazes,
tintas e canetas coloridas, onde os alunos pudessem expor nos cartazes suas aspirações de forma livre
e abstrata sobre os temas que lhes eram propostos. Desse modo, após as confecções, eram levantadas
as principais questões trazidas pelos alunos, as quais, por fim, norteavam rodas de conversa. Além
disso, a utilização de testes nas intervenções feitas, complementam o processo de Orientação
Profissional, visto que, eram utilizados dispositivos que permitem acesso a dados quantitativos e
qualitativos, que somado às subjetividades de cada sujeito, resultam em dados que auxiliam na
tomada de decisão (TUPINAMBÁ; OLIVEIRA, 2006).
Em todas as turmas atendidas, ocorreu a aplicação da Escala de Maturidade para a Escolha
Profissional – EMEP (NEIVA, 1999) com as turmas. Após o levantamento dos dados quantitativos,
foram realizadas devolutivas grupais para os alunos. Em 2021 e 2022, ao comparar os resultados das
turmas foi possível considerar os seguintes resultados:

Tabela 1 – Médias Gerais da Escala EMEP nas turmas de 2021 e 2022.


Percentil Percentil Percentil Percentil Percentil
Médio Médio Médio Médio Médio
EMEP 3º ANO 3º ANO 2º ANO 3ºANO 9º ANO
23 alunos 14 alunos 27 alunos 29 alunos 18 alunos
(2021) (2021) (2021) (2022) (2022)

Determinação 40% 40% 50% 50% 30%

Responsabilidade 50% 20% 20% 50% 10%

Independência 50% 50% 80% 50% 75%

Autoconhecimento 40% 40% 40% 40% 10%

Conhec. Realidade 50% 20% 40% 40% 40%

Total 50% 25% 50% 50% 40%


Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

Percebe-se na Tabela apresentada que a subescala “Responsabilidade” apresenta-se com


menor percentual de desenvolvimento entre os acadêmicos. As médias apresentadas sugerem que a
subescala “Responsabilidade” caracteriza-se por ser o processo integrante da maturidade para a
escolha profissional que precisa ser desenvolvido com as turmas contempladas pela proposta. Esta
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 391

subescala se refere a quanto o indivíduo está preocupado com a escolha profissional, ao mesmo
tempo, empreendendo ações concretas para a efetivação de uma possível escolha, responsabilizando-
se por esta decisão (NEIVA, p. 9, 1999).
De acordo com Levenfus e Nunes (2010), é frequente a desinformação entre os jovens sobre
questões que envolvem o futuro profissional, além de precário planejamento para uma busca ativa,
revelando escolhas mais imediatistas, além de comportamento exploratório pobre, apoiado em
elementos pouco consistentes, favorecendo visões distorcidas, idealizadas e estereotipadas. Ainda,
para as autoras, o adolescente pode recuar diante desse momento, resistindo em obter informações,
preferindo não saber, porque, permanecendo sem conhecimento sobre o tema, não escolhe, não cresce
e evita entrar em contato com um mundo novo, desconhecido, ou seja, o mundo adulto.
Percebe-se que, através das ideias descritas pelos autores mencionados anteriormente, o
processo de construção de identidade profissional envolve variáveis complexas, e conforme Uvaldo
e Fonseca da Silva (2010), o que se prioriza nas escolas são estratégias voltadas à informação, campo
ao nosso ver não prioritário conforme a tabela de dados sobre a EMEP. Eventos comuns nas escolas
como fórum de profissões e visita de profissionais à instituição, apesar de importantes, claramente
não solucionam as questões de grande parte dos alunos, visto que passam a ser uma estratégia
informativa que visa apenas à escolha de um curso superior, sendo, portanto, restrito a uma classe
social. Portanto há necessidade, conforme os autores mencionados, de resgatar o conceito de projeto
referindo-se a um homem que não se encontra plenamente determinado pelas circunstâncias passadas
e condições futuras.
Também foi aplicado o teste Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP), que tem como
objetivo avaliar os interesses profissionais a partir da escolha de atividades preferidas, sendo
composto por um caderno contendo cem pares de atividades, totalizando vinte atividades de cada um
dos dez campos avaliados. O somatório dos interesses reais e relativos é o que chamamos de interesse
total (LEVENFUS; BANDEIRA, 2009). Para finalizar o processo desenvolvido com as turmas, os
resultados da AIP proporcionaram esclarecimento em relação às áreas do conhecimento.
Por meio das correções da AIP, pôde-se perceber que os resultados correspondiam com o
curso desejado pelos alunos, embora alguns ainda não soubessem exatamente o caminho profissional
que desejavam seguir. O teste também serviu como suporte para que os acadêmicos pudessem refletir
sobre os resultados problematizando possíveis escolhas prematuras e sem o devido desenvolvimento
da capacidade crítica. Dessa forma, as análises dos fatores relevantes para discussão da construção
EXTENSÃO PUC MINAS:
392 Novo Humanismo, novas perspectivas

da identidade profissional partiram de questões oriundas dos participantes, extraídas das entrevistas
individuais, testagem quantitativa e posteriores problematizações em grupo sobre as variáveis que
interferem na construção do futuro profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como em trabalhos extensionistas desenvolvidos anteriormente sobre a presente


temática, percebe-se a necessidade de ofertar um espaço facilitador da aprendizagem que proporcione
momentos de problematização e ao mesmo tempo suporte para se pensar em todas as condições
envolvidas no processo de escolha profissional de cada estudante. Deve-se levar em conta, conforme
Ribeiro et al. (2016), que o processo a partir de trabalhos desenvolvidos em grupos reflexivos, é, em
si, mais importante do que a escolha profissional propriamente dita, porque, no âmbito do processo
de re-significação e elaboração, reside a possibilidade da apropriação e facilitação do processo de
escolha profissional futura.
Pode-se concluir que:

Há várias razões que explicam a importância da escolha vocacional. É natural às pessoas


buscar satisfazer as necessidades de reconhecimento, elogio, aceitação, aprovação, amor e
independência. Uma forma de conseguir é assumindo uma identidade vocacional, tornando-
se alguém a quem os outros podem reconhecer e valorizar. Identificando-se com uma
vocação, os sujeitos encontram a auto-realização e satisfação consigo mesmo. (D´AUREA
TARDELI, 2010, p.70).

Complementando a ideia descrita, a ação extensionista enfocada neste relato de experiência,


com intervenções em grupos de alunos nas escolas, tornou-se um dispositivo potencializador para um
processo de construção para o pensamento crítico dos jovens. Neste processo, a aprendizagem grupal
pode oportunizar uma leitura problematizadora acerca da realidade, com um viés investigativo, além
da abertura para questionamentos e inquietações.
A implementação do presente projeto favoreceu condições propícias para reflexão das
diversificadas variáveis que envolvem a escolha profissional. Através da análise dos resultados, foi
possível realizar a articulação das teorias da área de orientação vocacional ocupacional com os
sentidos trazidos nos grupos promovendo uma importante síntese entre os conteúdos aprendidos em
sala de aula e articulação dos mesmos em um espaço potencial, em que acadêmicos do curso de
Psicologia puderam aprimorar a experiência de aprendizado contribuindo ao mesmo tempo
intervenções importantes a partir demandas apresentadas pela comunidade local.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 393

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EXTENSÃO PUC MINAS:
394 Novo Humanismo, novas perspectivas

Cidade das Abelhas: legislação ambiental

Ezio Frezza Filho1


Evaldo Zappia2
Isabella Casagrande3
Lívia Torres4

RESUMO
Este trabalho aborda um projeto de extensão que se encontra em desenvolvimento, com previsão de conclusão em
dezembro de 2022. Tem como finalidade a identificação de, aproximadamente, 30 (trinta) colônias de Abelhas Sem Ferrão
(ASF), do gênero meliponídeo, que habitam a Praça Pedro Sanches, no centro da cidade de Poços de Caldas, em Minas
Gerais. Essas abelhas são nativas do Brasil e são conhecidas como abelhas indígenas, dado que eram cultivadas pelos
povos originários do nosso país; são insetos em perigo de extinção em vista da degradação do ambiente rural, de modo
que migram para as cidades em busca de locais próprios para nidificação. Todavia, no ambiente urbano também correm
riscos, sobretudo em decorrência de podas e cortes de árvores, uso de inseticidas e herbicidas para limpeza urbana, de
maneira que se faz necessária a criação de legislação especial para sua preservação. Através deste projeto, os alunos
estudam a Lei Complementar 95/98, que trata dos procedimentos para elaboração de espécies legislativas e assim poderão
apresentar à Mesa Diretora da Câmara Municipal de Poços de Caldas um Projeto de Lei - PL visando à preservação
respectiva.

Palavras-chave: Abelhas Sem Ferrão. Preservação ambiental. Projeto de lei.

Bees' City: environmental legislation

ABSTRACT
This work is about an extension project that is under development, scheduled to end in December 2022, with the purpose
of identifying the approximately 30 (thirty) colonies of Stingless Bees, of the meliponid genus, which inhabit Pedro
Sanches square, in the center of Poços de Caldas City in Minas Gerais. These bees are native to Brazil and are also known
as indigenous bees, as they were cultivated by the native peoples of our country; they are insects that are in danger of
extinction due to the degradation of the rural environment, so they migrate to cities in search of suitable places for nesting.
However, in the urban environment they are also at risk, especially as a result of indiscriminate pruning and cutting of
trees, use of insecticides and herbicides for urban cleaning, so it is necessary to create special legislation for their
preservation. Through this project, students study Complementary Law 95/98, which deals with the procedures for the
elaboration of legislative laws, and thus they will be able to present to the Board of Directors of the Poços de Caldas City
Council Local Government a Law Project - PL aiming at their respective preservation.

Keywords: Stingless Bees. Environmental preservation. Bill of Law.

1
Mestre em Direito, Professor da PUC Minas, campus Poços de Caldas/MG. E-mail ezio@pucpcaldas.br.
2
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: evaldo.zappia@sga.pucminas.br.
3
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: iduarte@sga.pucminas.br.
4
Estudante de Direito, PUC Minas campus Poços de Caldas/MG. E-mail: livia.torres2406@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 395

INTRODUÇÃO

Encontram-se cerca de 30 colmeias de Abelhas Sem Ferrão (ASF) na Praça Pedro Sanches,
localizada na cidade de Poços de Caldas em Minas Gerais. Essas consistem em abelhas nativas do
Brasil, as quais nidificam nas partes ocas de árvores das cidades, visto que, no meio rural, não
encontram locais adequados para viverem. Diante dessa informação, Poços de Caldas carece de
uma legislação que preserve as ASF no seu novo habitat; sem isso, o risco de extinção, que já é um
fato, se acentua, ainda mais.
O que se propõe é a elaboração de um Projeto de Lei, cuja pesquisa garanta a preservação
desejada, com controle de poda e corte de árvores, uso de herbicidas e inseticidas no ambiente
urbano, tal como já acontece em determinadas cidades do Brasil. A partir do pioneirismo de
Curitiba, que legisla medidas de proteção e de gestão de colônias de abelhas sem ferrão, vários
municípios, no Estado do Paraná, adotam medidas de preservação para as ASF, sobretudo em seus
parques e praças.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Brasil é um país privilegiado em matéria de ASF; visto que coexistem mais de 300
(trezentas) espécies de ASF em seu território, sendo boa parte, ainda não estudadas e sequer
catalogadas; elas também são conhecidas como abelhas indígenas, porque eram cultivadas e
protegidas, antigamente, pelos nativos das nossas terras. As mais conhecidas popularmente são: Jataí,
Tubuna, Canudo, Mandaçaia, Mandaguari, Arapuá, Guaxupé, Uruçu, Mirim Guaçu, Mirim Droryana
Mirim Preguiça, dentre outras, cujas colmeias são manejadas em meliponários urbanos e rurais. É
aqui no Brasil que se encontra a menor abelha sem ferrão do mundo, a Lambe Olhos, que, com cerca
de 1,5 mm, passa despercebida no nosso cotidiano. São insetos que têm ferrão atrofiado e se
defendem, quando atacadas, com pequenas e quase imperceptíveis mordidas, dado que suas
mandíbulas são mais reforçadas; todavia, não representam riscos para as pessoas em vista do seu
pequeno porte, diferentemente do que ocorre com as perigosas abelhas de origem europeia ou
africana, que não podem ser criadas a menos de 300 metros dos núcleos residenciais.
A degradação das áreas rurais, cada vez mais presente no Brasil, através de queimadas e
derrubadas de árvores para a expansão do agronegócio, e também com uso indiscriminado de
agrotóxicos, pesticidas e inseticidas, vem formando um ambiente hostil para a preservação e
EXTENSÃO PUC MINAS:
396 Novo Humanismo, novas perspectivas

reprodução das ASF. Desse modo, o que se verifica é que elas procuram, cada vez mais, o ambiente
urbano, em busca de árvores frondosas ou, então, de frestas de muros e paredes onde possam fazer
seus ninhos, assim como procuram, na cidade, as plantas e flores de onde possam extrair o material
alimentar, como pólen, resina e néctar, dos quais dependem para sua sobrevivência e reprodução.
É inegável, portanto, que a sobrevivência dessas espécies depende, cada vez mais, do
ambiente urbano saudável, sob diversos aspectos, sob pena de ter que se decretar a extinção das
nossas abelhas nativas. Economicamente falando, é relevante cuidar das ASF, porque são
responsáveis pela polinização das plantas em geral e diretamente responsáveis pela boa frutificação
dos alimentos consumidos pela população. Alguns plantadores de morango, por exemplo, vêm
usando colmeias dessas abelhas em suas plantações, principalmente nas produções em estufas, com
excelentes resultados na hora da colheita: os frutos são maiores e de melhor acabamento, têm maior
peso e na sua configuração são livres de reentrâncias e de pontos verdes sem amadurecimento
adequado, valorizando o produto num mercado cada vez mais exigente, conforme atestam as
divulgações feitas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (NELLA, 2015).
O artigo 225, da Constituição Federal em vigor, garante a todos o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e impõe ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações; para a consecução destas imposições, também
compete ao poder público, conforme consta dos diversos incisos do artigo citado, a proteção da fauna
e da flora, a definição de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos.
Além disso, deve-se promover ações educativas ambientais em todos os níveis de ensino, e
conscientização pública para a preservação do meio ambiente, entre tantas outras. Nessa linha de
raciocínio, a Universidade de São Paulo - USP, firmou um convênio com um grupo de colaboradores
para instituir o Projeto Tem Abelha no Meu Jardim (USP, 2022), o qual é desenvolvido por
meliponicultores voluntários e tem como principal objetivo promover encontros mensais, no parque
CIENTEC - da USP, localizado no Jardim da Saúde, em São Paulo/Capital, ocasiões em que são
ministradas palestras, abertas para a população em geral, para fins de conscientização e treinamentos
de manejos relativos às ASF.
No plano infraconstitucional, a regulamentação de manuseio e adoção de medidas educativas
em relação às ASF são objeto da Lei nº 15.613, de 24 de março de 2020, editada na cidade de Curitiba.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 397

Por essa lei, fica patente o interesse da administração pública em preservar as ASF, sobretudo nos
parques e nas praças que enfeitam a capital paranaense, com excelentes resultados, incluindo o
incremento ao turismo e respectiva geração de renda.
No Estado do Ceará, recentemente, em 11 de janeiro de 2022, foi editada a Lei 17.896/22,
para regulamentar a criação, o manejo, o comércio e o transporte das abelhas sem ferrão no âmbito
estadual; nesta lei são encontrados dispositivos que tratam, inclusive, da geração de renda para os
criadores desses insetos.
Também no Estado do Espírito Santo, semelhante preocupação das autoridades locais pode
ser verificada através da Lei 11.077, de 27 de novembro de 2019, visando atender às finalidades
socioculturais, de pesquisa científica, educação ambiental, conservação, exposição, manutenção,
criação, reprodução e comercialização de produtos, subprodutos e outras.
No Estado da Bahia, em 29 de janeiro de 2018, foi editada a Lei 13.905, dispondo sobre a
criação, o comércio, a conservação e o transporte de ASF no âmbito estadual. Assim também ocorre
em Santa Catarina, com a Lei 17.099/2017 que, de seu turno, altera a lei anterior, 16.171, de 2013.
O governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
– SEMA (WITTER; SILVA, 2014), editou um manual para boas práticas no manejo e proteção das
ASF, contendo um excelente glossário sobre as principais terminologias da área, bem como a
indicação de uma série de cuidados que devem ser devotados às abelhas nativas, incluindo o texto de
diversas legislações em vigor.
No Estado de São Paulo foi editada, em 03 de fevereiro de 2021, a Resolução SIMA -
Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente, nº 11/21, traçando os procedimentos
autorizativos para uso e controle das abelhas nativas sem ferrão; diferentemente das demais
legislações citadas, a do estado paulista se preocupou mais com a legalização dos meliponários,
transporte e comércio delas, que com a preservação e conservação propriamente ditas, gerando
reclamos dos meliponicultores em geral.
No âmbito federal, existe a Resolução CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente,
nº 496, de 19 de agosto de 2020, disciplinando o manejo sustentável das ASF em meliponicultura;
trata-se de uma legislação considerada liberal, vez que a regulamentação é dirigida para meliponários
que tenham 50 (cinquenta) ou mais colmeias, o que é um limite elástico demais.
No Estado de Minas Gerais, entretanto, ainda não se verificam leis específicas sobre a
temática, diferentemente do que já ocorre em outros estados - e isso demonstra a relevância e a
EXTENSÃO PUC MINAS:
398 Novo Humanismo, novas perspectivas

atualidade do Projeto Cidade das Abelhas - legislação ambiental. É de se afirmar, inclusive, que essa
iniciativa se encaixa em vários dos princípios da Economia de Francisco e Clara, mas, em especial,
se encaixa no Princípio 1 - Cremos na Ecologia Integral,

que reconheça as relações humanas, sociais, ambientais, políticas e econômicas, que esteja
respaldada nos valores franciscanos e clarianos, que garantam a vida em sua dignidade, e que
não seja nociva aos demais seres. Que parta do fundamento de que tudo aquilo que existe e
vive deve ser respeitado5.

3 METODOLOGIA

As instalações das ASF nas árvores da Praça Pedro Sanches e entorno, em Poços de Caldas,
refletem um fenômeno de urbanização forçada em vista da degradação ambiental nas matas
originárias. Por falta de identificação e de catalogação dessas espécies de ASF, há o risco constante
da perda desses exemplares por conta de podas e cortes de árvores, bem como o eventual uso minado
de herbicidas e inseticidas em geral, incluindo produtos químicos contra, por exemplo, o mosquito
Aedes Aegypti, disseminador da dengue.
Para a consecução dos objetivos previstos no Projeto Cidade das Abelhas - legislação
ambiental, são utilizadas metodologias ativas que trazem a problematização como estratégia de
ensino-aprendizagem. A partir da motivação diante do problema apresentado, é possível efetuar
estudos e debates na procura de novas descobertas; a ideia não é apenas levantar problemas, mas,
efetivamente, buscar soluções que possam se sustentar no mundo fático. O papel do docente, nessa
linha de raciocínio, é de facilitar a busca das soluções, colaborando com questionamentos e diretivas
necessárias para o enquadramento das questões atinentes.
O projeto está sendo viabilizado pelos trabalhos conjuntos do Professor Coordenador e de três
alunos bolsistas; é de se destacar que outros quatro alunos acompanham o desenvolvimento na
qualidade de interessados no tema, todos do Curso de Direito da PUC Minas/Poços de Caldas. Os
participantes acreditam estar plenamente sensibilizados acerca da necessidade de proteção das ASF
e, por consequência, da proteção ambiental; isto é, se acham comprometidos com os objetivos
previamente traçados.
As atividades são desenvolvidas para a identificação das espécies de abelhas existentes no
centro da cidade, bem como para identificação das árvores em que as colmeias se instalaram. Para
essa finalidade, várias são as atividades de campo, com visitas realizadas à Praça Pedro Sanches,

5
Os 10 princípios da Economia de Francisco e Clara. Vatican News, 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 399

ocasiões em que as colmeias foram observadas em suas mais variadas formas e espécies; ademais, as
árvores foram fotografadas e devidamente localizadas através do sistema de georreferenciamento -
GPS - fornecido pelo Google Maps.
Além disso, ocorrem reuniões, presencialmente ou remotamente, para os debates respectivos
e para o estudo das nomenclaturas utilizadas na área da meliponicultura, posto que, é importante,
inclusive, construir um glossário em vista da especificidade do tema. Quando há necessidade, as
tarefas são realizadas remotamente, através de mensagens no grupo formado no WhatsApp, assim
como através do Google Drive, que permite perfeita interação entre os participantes, quando é
necessário trabalhar textos e afins.
Nessas reuniões, também são discutidos os aspectos de ordem formal a respeito da correta
redação das espécies legislativas, cujos procedimentos são pormenorizados na Lei Complementar n°
95/986; em outras palavras, os alunos aprendem como redigir uma espécie legislativa, conforme o
padrão formal observado pelo Poder Legislativo em todos os níveis das unidades da federação. Como
consequência, já está em andamento a formatação de um texto de lei municipal que visa à preservação,
conservação e manejo das abelhas nativas sem ferrão que habitam as áreas públicas da cidade mineira,
tal como a regulamentação do corte e da poda de árvores, texto esse que será levado à Mesa Diretora
da Câmara Municipal de Poços de Caldas, para fins de apreciação e votação pela edilidade.
O projeto se desenvolve em parceria com a Câmara Municipal de Poços de Caldas e com a
Secretaria de Serviços Urbanos, sendo que ambas demonstraram vivo interesse por ele, o que é fruto
das sensibilizações pertinentes, inclusive para demonstrar os resultados exitosos que se verificam
através das experiências realizadas em várias cidades brasileiras.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

As questões relacionadas ao meio ambiente são tratadas em Direito Ambiental, disciplina


autônoma do currículo do Curso de Direito, ainda que optativamente; também são tratadas, de modo
transcendental ou inter/transdisciplinar em relação às demais disciplinas do currículo do curso. Esses
conteúdos são abordados na medida em que os professores têm a oportunidade de incluir, em
conteúdos específicos, temáticas periféricas sobre a questão ambiental, de modo a despertar no aluno
a disposição pela preservação ambiental.

6
BRASIL. Lei Complementar n° 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para
a consolidação dos atos normativos que menciona. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1.
EXTENSÃO PUC MINAS:
400 Novo Humanismo, novas perspectivas

Quanto ao lançamento do edital para seleção de alunos para trabalharem no projeto, foi
possível verificar a vontade da comunidade acadêmica, à proporção em que vários alunos se
inscreveram para participar das entrevistas. Desse modo, além dos três alunos com direito à bolsa,
entendeu-se que outros quatro alunos também deveriam ser agregados, sobretudo em vista do
manifesto ânimo e entusiasmo em relação ao tema.
No que diz respeito aos primeiros contatos com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos
e com a assessoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal, de Poços de Caldas, se verificou a pronta
recepção para o projeto, de maneira que a assinatura do Termo de Adesão, perante os dois órgãos, foi
obtida rapidamente e com o mesmo entusiasmo já constatado em outra ocasião. Há uma grande
expectativa pela apresentação do Projeto de Lei, inclusive com a disponibilidade da Assessoria
Legislativa, da Câmara, para promover a capacitação necessária para os alunos na redação do projeto
em questão.
O grupo teve a oportunidade de entrevistar a Dr.ª. Mariana Azevedo Rabelo, Diretora
Técnico-Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, que colocou seus
conhecimentos à disposição do trabalho; além disso, abriu as portas do jardim para o Coordenador
do Projeto e para os alunos, demonstrando interesse na formação de parcerias para desenvolvimento
mútuo de saberes na área das ASF - diga-se, ainda, que nas dependências do Jardim Botânico existe
um meliponário que precisa, segundo a Diretora Técnica, de cuidados especiais. Para isso, ela conta
com a ajuda dos componentes do Projeto Cidade das Abelhas.
Por fim, em termos de parceria, existe também a possibilidade de se obter a colaboração da
Associação dos Meliponicultores de Poços de Caldas, por meio de contatos já em andamento.
É certo que o desenvolvimento do projeto traz benefícios diretos para o meio ambiente e para
a comunidade local. No mais, estima-se que cerca de 2.000 pessoas circulam, nos fins de semana,
pela Praça Pedro Sanches e entorno, considerando os moradores da cidade, número esse que aumenta
exponencialmente devido aos eventos turísticos sediados em Poços de Caldas. E é crível que todos
os envolvidos terão a atenção despertada para os fenômenos que fazem as ASF migrarem para a
cidade, o que as torna, nos últimos tempos, abelhas urbanizadas. O deslocamento dos alunos para os
trabalhos de campo, em excursão pela Praça Pedro Sanches, permite a verificação in loco da realidade
descrita.
Por fim, também é plausível que o Projeto Cidade das Abelhas - legislação ambiental tem
boas probabilidades de se estender para outros aspectos, depois de cumpridos os objetivos iniciais.
Na cidade de Manaus, capital do Amazonas, é destaque o Projeto “Conhecendo as abelhas indígenas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 401

sem ferrão: a meliponicultura como alternativa econômica para agricultura familiar” 7, que reúne
técnicos, alunos e produtores da Zona Rural de Manaus, com a finalidade de despertar o interesse
pelo manejo das ASF, senão apenas pelos resultados ambientais e ecológicos, mas também como
atividade capaz de gerar renda extra para as famílias necessitadas, o que se realiza com a venda de
subprodutos das colmeias, como cera, própolis e, até mesmo, resultado da subdivisão delas - o que,
inegavelmente, também se alinha aos Princípios da Economia de Francisco e Clara, já citados acima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cuidados necessários com a preservação ambiental, que já se manifestam há muitas


décadas nos tratados internacionais e também nas legislações de diversos países, vêm ganhando maior
destaque nos últimos anos, sobretudo no Brasil, por força das constantes agressões que se verificam
nestes últimos anos. Causa perplexidade a atuação governamental que incentiva, a olhos vistos, as
ações perniciosas do agronegócio e das empresas de garimpo, na região norte do país, ações essas
que, na falta de fiscalização adequada, se espalham pelas demais regiões.
Diversas espécies da flora e da fauna se encontram, sob severo risco de perecimento e
extinção, como é o caso das ASF. Cada vez mais encontramos animais silvestres no meio urbano,
principalmente as abelhas nativas sem ferrão, que já estão ficando conhecidas como abelhas urbanas.
Vêm em busca de condições de sobrevivência, como último refúgio para a manutenção das espécies
e claro, contam, nessa vinda, com a ação protetiva do ser humano.
O Projeto Cidade das Abelhas - legislação ambiental, vem para sensibilizar a administração
municipal de Poços de Caldas no sentido de se editar a legislação capaz de atender às expectativas
das minúsculas abelhas que por aqui chegam, cada vez em maior número, em busca de locais
adequados para nidificação e reprodução.
É inegável a aceitação, pela casa da edilidade local, pela Secretaria de Serviços Urbanos e,
sobretudo, pelos alunos envolvidos no projeto, da ideia que ora se acha em curso; a base do texto que
comporá o Projeto de Lei que já está alinhavado conforme as regras da Lei Complementar 95/98 17,
já citado, e em breve será apresentado à Mesa Diretora da Câmara Municipal, com grandes chances
de êxito. É uma proposição que replica as boas iniciativas já verificadas em diversos estados da
federação e que, de seu turno, pode ser replicada em outras localidades do vasto estado mineiro.

7
Conhecendo as abelhas indígenas sem ferrão: a Meliponicultura como alternativa econômica para a agricultura
familiar. Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas, 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
402 Novo Humanismo, novas perspectivas

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redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da
Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona.
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praticas-para-o-manejo-e-conservacao-de-abelhas-nativas-meliponineos.pdf. Acesso em: 16 jun.
2022.
ZANELLA, Viviane. Troca de saberes sobre a criação de abelhas sem ferrão. Embrapa, 2015.
Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/3262593/troca-de-saberes-
sobre-a-criacao-de-abelhas-sem-ferrao?p_auth=N1xLJ7KD. Acesso em: 13 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
404 Novo Humanismo, novas perspectivas

Conversas Inclusivas

Ana Júlia Estevam Corrêa1


Carolina Costa Resende2
Izabella Fagundes de Almeida Cruz3
Kaylane Souza Silva4
Vitória Alves Santos5

RESUMO
Com o objetivo de disseminar o conhecimento pouco difundido acerca dos direitos das pessoas com deficiência, que são
assegurados pela legislação brasileira, foi criado o Projeto Conversas Inclusivas, o qual expande essa ideia para o meio
virtual, por meio de transmissões ao vivo, com convidados externos e especialistas em cada área abordada nos encontros.
Para discutir, ao longo do semestre, os temas propostos para esta pesquisa, foi criado um grupo de estudos entre as
extensionistas e os professores orientadores do PUC Inclusiva. Além disso, o Projeto tem contribuído de modo
significativo para a formação das alunas da extensão, tornando-as profissionais mais humanas e capacitadas. Entende-se
como um potencial a ser desenvolvido em toda a comunidade universitária, em que alunos, com orientação adequada, se
tornem protagonistas em projetos semelhantes, veiculados de forma simples e de fácil acesso para todos, em especial para
as pessoas marginalizadas pela sociedade.

Palavras-chave: Pessoas com deficiência. Inclusão. Debate.

Inclusive talks

ABSTRACT
With the aim of disseminating the little-known knowledge about the rights of people with disabilities that are guaranteed
by Brazilian legislation, the Projeto Conversas Inclusivas was created, which expands this idea to the virtual environment
through live broadcasts with external guests and experts in each area addressed in the meetings. To discuss, throughout
the semester, the themes proposed for this study, a study group was created between the extensionists and the mentoring
professors of PUC Inclusiva. In addition, the Project has contributed significantly to the training of extension students,
making them more human and capable professionals. It is understood as a potential to be developed throughout the
university community, in which students, with adequate guidance, become protagonists in similar projects, conveyed in
a simple and easily accessible for everyone, including people marginalized by society.

Palavras-chave: Disabled people. Inclusion. Debate.

1
Aluna do curso de Fonoaudiologia da PUC Minas Coração Eucarístico; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-
reitoria da PUC Minas. E-mail: ajecorrea@sga.pucminas.br
2
Pós-doutoranda em Administração. Doutora e Mestre em Psicologia. Professora da PUC Minas. Coordenadora do
Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da PUC Minas. E-mail: carolinaresende.psi@gamil.com
3
Aluna do curso de Direito da PUC Minas Praça da Liberdade; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da
PUC Minas. E-mail: ifacruz@sga.pucminas.br; izabellafagundes9@gmail.com
4
Aluna do curso de Fisioterapia da PUC Minas Coração Eucarístico; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-
reitoria da PUC Minas. E-mail: kaylane.silva.1339078@sga.pucminas.br; k988558421@hotmail.com.
5
Aluna do curso de Direito da PUC Minas Barreiro; extensionista do Projeto PUC Inclusiva da Pró-reitoria da PUC
Minas. E-mail: vitoria.santos.1334017@sga.pucminas.br; vitória.alves31@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 405

INTRODUÇÃO

O Programa PUC Inclusiva visa atender um problema social complexo, crônico e grave que
há séculos atravessa a história do Brasil e do mundo: a discriminação, a segregação e a exclusão social
da pessoa com deficiência (PcD). Esse Programa atua por meio das ações de extensão universitária
desenvolvidas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) voltadas para a
promoção da inclusão de pessoas com deficiência, desde 1999, além de objetivar a garantia de
formação dos alunos, contribuindo assim para a sociedade, a partir de cursos profissionalizantes de
alta qualidade com o foco na inserção da PcD no mercado de trabalho.
A equipe está sempre em movimento de atualização de nossa estrutura e do nosso grupo, sem
perder o foco da gestão participativa. Em 2017, sob a coordenação da professora Dr.ª Carolina Costa
Resende, o programa de capacitação para as PcD e reabilitados do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) se tornou “Rede Incluir”, em função da tônica na articulação dos diversos atores sociais
que trabalham em prol da inclusão. Já no ano de 2020, após uma completa mudança de cenário
mundial devido à pandemia de COVID-19, novos rumos foram dados ao programa, o qual passou a
se chamar PUC Inclusiva.
A luta pela inclusão social das pessoas com deficiência sofre fortes ataques por parte do
Governo Federal, desde 2019; um exemplo relevante é a nova configuração do Ministério do
Trabalho. Assim, diante de muitos retrocessos promovidos por decretos no âmbito das políticas
públicas, as extensionistas notaram a necessidade de disseminar informações para a população
deficiente, que é afetada pela falta de acesso aos seus direitos como cidadãos. Com essa atitude, as
graduandas contribuem com conhecimento próprio através de pesquisa, grupos de estudos e
elaboração de um artigo acadêmico sobre o tema.
Diante desse impasse, foi criado o Projeto Conversas Inclusivas, que é composto por grupos
de estudos internos e de lives externas. Essas reuniões foram formuladas e ministradas pelas
extensionistas do PUC Inclusiva, com auxílio da equipe técnica, de coordenadores do programa de
extensão e de palestrantes que são convidados com o intuito de debater temas acerca da inclusão de
pessoas com deficiência.
A existência dessas lives é de extrema importância para o alcance dos objetivos que
culminaram no surgimento do Projeto, isto é, a promoção dos direitos humanos e a inclusão. Além
disso, decorre da percepção da necessidade de se ter uma maior difusão de informações acerca dos
EXTENSÃO PUC MINAS:
406 Novo Humanismo, novas perspectivas

direitos que são previstos em tratados internacionais e na própria Constituição Federal de 1988. Esse
Projeto deve existir para trazer mais conhecimento a respeito do tema exposto anteriormente, para
que as PcD tenham seus direitos garantidos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O PUC Inclusiva adota uma metodologia participativa pautada pelo princípio da conjugação
de cuidado e empoderamento, baseada na perspectiva de Le Blanc (2011). Segundo ele, existem duas
opções normativas para o enfrentamento da vulnerabilidade e exclusão: cuidado de um lado e
empoderamento, de outro. Essas duas opções funcionam, majoritariamente, a serviço da lógica
neoliberal, haja vista que o processo de cooptação do neoliberalismo se expande também na
disseminação dos valores de mercado à política social, sob o slogan da inclusão. O grande desafio do
neoliberalismo hoje é fazer da política social uma peça central do mercado econômico, tornando
controláveis os indivíduos que antes não eram passíveis de controle. Em ambos os casos, há uma
culturalização do problema social (LE BLANC, 2011). Portanto, a eufemização do social pela cultura
empresarial exerce um poder encobridor da realidade.
O empoderamento é moldado pelas exigências neoliberais do cálculo do desempenho (da
performance). A vida, desde o nascimento até a morte, funciona como uma empresa própria. Nessa
perspectiva, o empoderamento exige a responsabilização dos sujeitos administrados. Os indivíduos
não devem depender do Estado, mas deles próprios. Esse apelo à responsabilidade pressupõe uma
filosofia do empoderamento onde o argumento econômico é mascarado pelo apelo ao individualismo
como forma de administrar os problemas sociais.

3 METODOLOGIA

O projeto possui um ciclo de período de um mês: as três primeiras semanas são reservadas
para o encontro interno, para a elaboração de grupos de estudo, os quais visam a capacitação nas
temáticas que serão abordadas nas lives transmitidas no canal da extensão ou da PUC Proex no
YouTube - e a partir disso, a elaboração de artigo científico e preparação para as lives. Essas ocorrerão
sempre na última semana de cada mês, após os encontros internos realizados entre as extensionistas
e os coordenadores da PUC Inclusiva. As reuniões ao vivo terão um convidado de referência sobre o
assunto trabalhado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 407

No dia destinado ao encontro com os convidados, a live terá uma apresentação do programa
de extensão em geral, da problemática que nos motivou e dos objetivos que nós queremos alcançar
com esse projeto, para orientar os nossos ouvintes sobre o que será tratado.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Até o momento da elaboração deste relato, somente uma live foi realizada. Dessa forma, será
discutido e demonstrados os resultados dela. Essa primeira transmissão ao vivo tratou de
aposentadoria e benefícios para pessoas com deficiência, tendo como convidado um advogado
referência na área de direitos das PcD.
Nessa live, ocorreu uma roda de conversa por meio da plataforma Extreme art, a qual foi
transmitida pelo canal do YouTube da extensão PUC Minas, que possui mais de dois mil inscritos e
obteve até o momento o total de 123 visualizações.

Figura 1 – Hospedagem do Projeto na página da Proex

Fonte: Acervo das autoras, 2022.

Figura 2 – Print da Live

Fonte: Acervo das autoras, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
408 Novo Humanismo, novas perspectivas

Durante o debate, as extensionistas realizaram perguntas pertinentes sobre a temática para o


convidado, com o intuito de guiar a conversa, torná-la produtiva e rica em informações para a
população. Essa roda de conversa apresentou experiências para a população que assistiu a ela no
momento exato da transmissão, ou para as pessoas que, posteriormente, possuam o interesse no
assunto, visto que o vídeo estará salvo no canal de extensão no YouTube. Além disso, teve uma grande
contribuição para as alunas que elaboraram a live, uma vez que estas utilizaram o conhecimento
absorvido pelas perguntas respondidas para redigir o artigo em construção.
Um dos principais resultados alcançados com o desenvolvimento desse projeto foi a
elaboração de uma pesquisa bibliográfica e sistemática acerca da avaliação biopsicossocial nos
processos de aposentadoria da PcD. As extensionistas se empenharam e buscaram, nos bancos de
dados, informações sobre a problemática no contexto brasileiro e os resultados foram desanimadores.
O nível de judicialização dos processos previdenciários vem aumentando exponencialmente ano após
ano, principalmente ao que tange à aposentadoria da pessoa com deficiência.
Nessa perspectiva, observa-se uma grave negligência do sistema avaliatório, em que
beneficiários são atendidos por profissionais que não são especializados dentro de suas demandas,
mostrando ineficiência apenas a preparação para aplicar o Índice de Funcionalidade brasileiro (IFBr-
A). Além disso, percebe-se uma incoerência legislativa quanto ao que é assegurado pela Constituição,
ao definir que, para os processos de aposentadoria, deve ser aplicada uma avaliação biopsicossocial,
o que na sua maioria não acontece nas perícias do INSS.
Um outro elemento de pesquisa acessório que estamos desenvolvendo para atender melhor o
público, em conjunto com as lives no Youtube, são os formulários de pesquisa social, que serão
aplicados em todos os projetos desenvolvidos pela PUC Inclusiva, com a finalidade de reunir uma
quantidade de informações necessárias para desenvolvermos trabalhos direcionados ao público que
estamos atingindo; com base nesse banco de dados criado, iremos desenvolver trabalhos científicos
para contribuir com a comunidade universitária. Esses formulários serão compostos por perguntas de
cunho social, dificuldades enfrentadas no cotidiano, avaliação das atividades desenvolvidas pela PUC
Inclusiva e demais informações que julgarmos necessárias ao longo de nossas pesquisas e trabalhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das experiências vivenciadas durante os trabalhos desenvolvidos, percebe-se uma


necessidade de a comunidade universitária atuar cada vez mais em prol da diminuição dos aspectos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 409

de marginalização da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Através da observação de


elementos e pessoas que nos foram expostas, durante os anos de trabalhos desenvolvidos pela PUC
Inclusiva, notou-se um padrão quanto ao desconhecimento dos direitos básicos delas. A partir disso,
com o objetivo de crescer a inclusão no mercado de trabalho, desenvolvemos um projeto que visa a
informação de forma acessível sobre os direitos reservados às pessoas com deficiência pela legislação
brasileira. As lives possuem essa finalidade visto que, além de informar ao público atendido pelo
Projeto, contribui para o aperfeiçoamento das extensionistas que atuam em conjunto com os
professores orientadores.
Além disso, por meio das práticas desenvolvidas, nota-se uma necessidade de desenvolver
pesquisas relacionadas a uma das principais dúvidas e queixas articulada pelo público-alvo
pretendido, que se refere aos impactos dos modelos de avaliação biopsicossocial nos processos de
aposentadoria e concessão de benefícios realizados no âmbito do INSS. Obteve-se como resultado
uma percepção acerca da crescente judicialização dos processos de aposentadoria fornecidas pelo
INSS, que são decorrentes de uma insatisfação com o serviço oferecido, descontentamento com a
política interna da instituição, com a modalidade de avaliação, que de acordo com nossas pesquisas
se apresenta como inconstitucional e sem funcionalidade para as atividades necessárias na avaliação
da deficiência.
A partir disso, o Projeto Conversas Inclusivas estreita as lacunas do desconhecimento por
todos aqueles que são atingidos ou têm interesse pela inclusão das pessoas com deficiência no âmbito
trabalhista, e visa, principalmente, atingir as fontes do direito nacional que procuram cada vez mais
marginalizar, por meio da perpetuação de uma cultura colonial, esse quadro da sociedade que há
muitos anos luta por melhorias de acesso a oportunidades.
Além de tudo o que foi exposto anteriormente, procura-se, com as novas práticas
desenvolvidas, servir de exemplo para a comunidade estudantil da PUC Minas, a ser cada vez mais
participativa nos processos de mudança dos paradigmas sociais que permeiam a vida dos
marginalizados e invisibilizados pelo sistema. Acreditamos que, com muito trabalho, pesquisa,
estudo e amor ao próximo, os estudantes em conjunto com os demais profissionais da faculdade
podem ser agentes de transformações sociais desde o início da formação acadêmica.
EXTENSÃO PUC MINAS:
410 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

BATISTA, Cristina Abranches Mota. A inclusão da pessoa portadora de deficiência no mercado


formal de trabalho: um estudo sobre suas possibilidades nas organizações de Minas Gerais.
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais: Gestão das Cidades, 2002.
BATISTA, Cristina Abranches Mota et al. Inclusão dá trabalho. Belo Horizonte: Armazém de
ideias, 2002.
FADUL, Iêda C. Profissionalização: a educação para o trabalho como caminho do deficiente. Belo
Horizonte: Ed. do Autor, 1993.
LE BLANC, Guillaume. Que faire de notre vulnérabilité? Le temps d'une question. Mon trouxe
gebayard, 2011. 213p.
PUC MINAS. Política de Extensão Universitária. Belo Horizonte, 2006.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). BRASIL. Oportunidade de
trabalho para pcd. Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_715380/lang--
pt/index.htm.
RESENDE, Carolina Costa. O trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar: sofrimento e
vulnerabilidade. Tese (doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa
de Pós-Graduação em Psicologia. 2014.

.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 411

A privação de direitos das mulheres grávidas em situação de rua:


vivências e dificuldades encontradas

Ellen Máilla de Paula1


Lucas Fernandes Alves Lages2
Sayonarha Fernanda de Salles Silva3
Bernardo Rondinelle Ramos4
Leda Lúcia Soares5

RESUMO
O contexto de rua traz grandes consequências para as pessoas que estão nele inseridas, a privação de direitos, de acesso a
recursos, a exposição à violência e a constante marginalização torna essa realidade ainda mais desafiadora para as
mulheres grávidas. Nesse cenário, o projeto (K)linica: Direitos Humanos e Cidadania, busca fazer o resgate desses direitos
negados ao trabalhar com a população em situação de rua. O seguinte trabalho trata-se de um relato de experiência a partir
do contato com mães em situação de rua e, com o Coletivo das mães órfãs. Para sua elaboração, os alunos extensionistas
participaram de rodas de conversa e atividades de formação. A história das mães órfãs, os relatos sobre mulheres grávidas
em situação de rua e o acolhimento compulsório de bebês em Belo Horizonte mostra uma realidade pouco conhecida pela
população e que demanda maior atenção. As atividades realizadas permitiram aos extensionistas um aprofundamento
acerca do assunto e também a possibilidade de um contato mais próximo com tais mulheres.

Palavras-chave: Gravidez. Situação de Rua. Mães. Abrigo. Direitos Humanos.

The deprivation of rights of pregnant woman living on streets:


experiences and difficulties encountered

ABSTRACT
The street’s context brings huge consequences to people who lives in, the deprivation of rights, the resources access, the
exposure to violence and the constant marginalization makes this reality even more defiant to the pregnant women. In
this scenarium, the project “(K)linica: Human Rights and citizenship”, seeks to do the rescue of these denied rights’ while
working with people in street situation. The following work it’s about an experience report from the contact with mothers
in street situation and with the collective of orphan mothers. To its elaboration, the extension students have participated
in circles of conversation and formation activities. The history of orphan mothers, the reports about pregnant women in
street situation and the compulsory reception of babies in Belo Horizonte shows a reality almost unknown by the
population and which demands more attention. The activities allowed the students in the project to learn more about the
theme and also gave them the possibility of having a closer contact with these women.

Keywords: Pregnancy. Street Situation. Mothers. Shelter. Human Rights.

1
Aluna do curso de Direito na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: maillaellen@gmail.com.
2
Aluno do curso de Psicologia na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: llfernandes1411@gmail.com.
3
Aluna do curso de Psicologia na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: sayonarha6@yahoo.com.br.
4
Aluno do curso de Direito na PUC Minas Praça da Liberdade. E-mail: bernardo.rondinelle@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Direito Público. Especialista em Gestão Pública. Professora da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, nos Cursos de Graduação em Direito e nos Cursos de Especialização (Pós-
Graduação) em Direito Público e em Direito Processual. E-mail: ledapuc@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
412 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

A gravidez no contexto de rua está cercada de enormes dificuldades, sejam elas de acesso a
serviços de saúde ou de condições necessárias para o desenvolvimento pleno do bebê. A rua, como
local de sobrevivência, é por si só uma violação dos direitos fundamentais, de propriedade, segurança
e igualdade, conforme a Constituição Federal (CF, 1988, art.5) e, com isso, se torna um local de risco,
para a saúde da mãe e também da criança.
A partir de vivências no projeto de extensão (K)linica: Direitos humanos e cidadania, buscou-
se compreender a temática das mães em situação de rua e, através de relatos foi possível identificar
situações em que estas encontravam dificuldades para isolarem-se de chuva, realizarem a ingestão
correta de alimentos, realizar pré-natal, e também, reduzir comportamentos de risco na gestação e
num segundo momento, manterem a guarda de seus filhos.
Foi exposto que, em Belo Horizonte, há um movimento de retirada compulsória de bebês na
maternidade quando é percebido uma inaptidão maternal. No entanto, as mulheres mais afetadas nessa
política são as negras e que estão em contexto de rua. A médica Márcia Parizzi, que esteve presente
no projeto de extensão, expôs diversos casos e, ainda, apresentou o Coletivo Mães Órfãs, que vai ao
encontro da proposta de manutenção dos direitos humanos e busca proteger mães em situação de
vulnerabilidade que têm seus filhos apartados de si.
A maternidade na rua mostra-se uma experiência que exige das mulheres grande resistência
às dificuldades. Além do não acompanhamento médico pré-natal, o momento do parto, em diversos
casos, não conta com serviço hospitalar por conta do medo das mães de terem seus bebês retirados.
À luz da Psicologia do Desenvolvimento, sabemos que o momento da gravidez é crítico para
o desenvolvimento neurológico. A gestante deve contar com rede de apoio, alimentação adequada
além de que, doenças e vícios que acometem a mulher também podem ser prejudiciais para os filhos.
A permanência na rua apresenta riscos que estão intrinsecamente relacionados à maturação
física, afetiva e cognitiva. A privação de alimentos, a exposição à violência, o adoecimento, uso de
substâncias podem afetar o desenvolvimento de importantes estruturas cerebrais, como o cortéx pré-
frontal, que tem seu amadurecimento mais lento, estando completo somente na idade adulta e, isso,
implica a realização das funções executivas, que são as habilidades relacionadas à organização de
informações, autocontrole, planejamento, solução de problemas e mudança de perspectiva e, que são,
consequentemente ligadas a melhor saúde mental, física, qualidade de vida e segurança pública.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 413

Tendo em vista esses aspectos, o projeto (K)linica, busca pensar em garantia de condições
básicas para as pessoas que se encontram em situação de rua, sendo que a questão da maternidade se
apresenta como sendo uma das mais complexas, uma vez que, há uma ausência de políticas públicas
voltadas a essa população.
A retomada dos direitos para as pessoas em situação de rua é, um dos objetivos perseguidos e
por isso, são oferecidos diversos trabalhos em parceria com os Centro de Referência da População de
Rua (Centro Pop) de Belo Horizonte, Pastoral de Rua e Cáritas, onde são oferecidos assistência
jurídica, computadores para acesso ao banco, documentos, além de pesquisa e lazer; espaços para
permanência durante o dia, locais de diálogo e busca ativa por direitos a população de rua além do
trabalho do Coletivo Mães Órfãs, que será enfoque nesse trabalho e que, oferece a assistência
necessária para que as mães que têm seus bebês retirados possam retomar o contato e proverem boas
condições para seus filhos.

2 DESENVOLVIMENTO

A saúde da mulher e das crianças foi alvo de questionamento por parte dos alunos durante a
prática de extensão. A partir das vivências com tal população, buscou-se compreender como as
pessoas em situação de rua poderiam ter acesso aos direitos humanos que lhe são negados
cotidianamente.

2.1 Metodologia

Para a realização deste trabalho foi utilizada a metodologia participativa de pesquisa-ação,


onde há o envolvimento em diferentes meios sociais e o aprendizado a partir da prática e também, da
realização de pesquisas e participação em palestras sobre o tema. Para as reflexões propostas, foram
realizadas rodas de conversas com as pessoas em situação de rua, além de discussões, participações
em palestra com especialistas da saúde, e estudo sobre os direitos humanos, com o objetivo de levar
à população vulnerável em questão, e acesso a direitos básicos. A experiência ocorreu nos espaços
frequentados pelos extensionistas como o Caritas, Centro Pop Floresta e na Pastoral de rua, além das
formações que ocorreram na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Campus
Praça da Liberdade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
414 Novo Humanismo, novas perspectivas

2.2 Discussão

Formas de proteção para as mães e também para os seus filhos são necessárias, no entanto, a
recomendação do Ministério Público (MP) de Minas Gerais, de 2014, em que as maternidades e
Unidades Básicas de Saúde comunicassem à Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte
os atendimentos de casos de mães usuárias de drogas, vai de encontro à proteção social destes
indivíduos.
Sabe-se que a utilização de drogas por parte das mães pode gerar diversas consequências para
seus filhos, como a síndrome de abstinência neonatal, graves problemas de saúde e também maior
propensão ao uso de drogas durante a vida.
No entanto, em 2016, foi publicada uma portaria reforçando essas recomendações e prevendo
penalizações aos profissionais da área da saúde que não a cumprissem e, isso gerou um aumento
exponencial no número de bebês encaminhados para abrigos, sendo 26 em 2013 e passando para 132,
em 2016. O Coletivo Mães Órfãs acompanhou que esses encaminhamentos não se davam somente
por conta de adição química das mães, diversos bebês foram retirados após o parto, sem a menor
investigação da história prévia da mãe, o que gerou / gera sofrimento psicológico para as puérperas
e, impactos para o bebê, que deixará de ser amamentado naquele momento e estará longe do
acolhimento maternal.
A história das mães órfãs e do acolhimento compulsório em Belo Horizonte aprofunda ainda
mais a temática e possibilita o entendimento acerca de como vivem estas mulheres. É possível
observar que há uma questão de difícil resolução nos casos em que há a retirada de bebês: as mães
necessitam de boas condições físicas, emocionais, de moradia e de rede de apoio e, no entanto, não
encontram formas de superar a situação de rua e por isso, encontram dificuldades tanto para
realizarem cuidados durante a gravidez quanto para parirem e, posteriormente cuidarem de seus
filhos.
Foi exposto que mulheres em situação de rua, muitas vezes, escolhem não ir aos hospitais,
durante o parto, para evitar que seus filhos sejam retirados de seu convívio. Além disso, pode-se ter
contato com um caso em que a mãe, também em situação de vulnerabilidade social, conseguiu pagar
um hospital particular para fazer o parto e, lá foi denunciado seu caso para a vara cível, que também
realizou o acolhimento compulsório desse recém-nascido.
As mulheres grávidas em situação de rua sofrem uma dupla exclusão social, já que, na rua,
elas podem experienciar a violência, o sexo em troca de favores, o risco por ser do sexo feminino, e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 415

também a negligência por parte do poder público. A maternidade pode ressignificar sua existência,
visto que o carinho e o afeto são parte da história que desejam vivenciar com seus filhos. O que ocorre
é uma dificuldade de acesso aos direitos humanos e, com isso, constrói-se um ciclo de pobreza onde
seus descendentes também permanecem em situação de rua.
Em Belo Horizonte, é possível encontrar Centros POPs que são locais de convivência onde os
moradores de rua podem passar o dia, tendo acesso ao chuveiro, TV e lanches, porém, a maioria deles
encontram-se sem vagas disponíveis. Com isso, as mulheres que já não possuem mais formas de
encontrar apoio em serviços públicos ou na família, ficam à mercê de trabalharem na rua e terem uma
fonte extremamente limitada de acesso à subsistência.
Há uma crise dos direitos humanos relacionados à população em situação de rua e, a partir da
questão abordada, é visto que nem mesmo as crianças têm acesso à proteção social. A discriminação,
juntamente com o aspecto estigmatizante sobre essas pessoas traz consequências que resultam em
ações como a recomendação do MP, onde considera-se a incapacidade dessas mães de cuidarem de
seus filhos.
O número de pessoas em situação de rua em Belo Horizonte cresce a cada dia mais, a
estimativa feita pelo projeto Polos de Cidadania da UFMG é de que haja 8.840 pessoas vivendo sem
moradia, em contraste com 2014, quando esse número era de 1.827 pessoas. É preciso pensar políticas
públicas que resultem em melhores condições de vida e acesso aos direitos humanos, que possam
assegurar as necessidades básicas, de vida, saúde e educação para que essas mães tenham acesso aos
serviços necessários de pré-natal, o acesso a alimentos, a um local de habitação e uma gravidez menos
turbulenta e, que os filhos gerados na rua possam ter novas oportunidades em suas vidas.
A necessidade de políticas públicas para esta população se torna ainda mais urgente quando
pensada dentro do contexto da Psicologia do Desenvolvimento, uma vez que o desenvolvimento
neurológico se dá desde a gravidez e, por estar na rua, essas mulheres grávidas estão mais propensas
a não terem uma alimentação correta, a adoecerem com maior facilidade, a serem violentadas, a
fazerem uso de substâncias psicoativas, e isso aumenta o risco de o bebê nascer com deficiência
intelectual ou déficit no raciocínio, de afetar aprendizado e desenvolvimento neurológico, de ter
problemas cardíacos, e no caso de mães usuárias de droga, também a síndrome de abstinência.
A pobreza e permanência na rua trazem efeitos a longo e curto prazo para essas mães e seus
filhos, as implicações afetam diversos campos da vida social. Uma delas é a privação de educação
EXTENSÃO PUC MINAS:
416 Novo Humanismo, novas perspectivas

para as crianças; estas começam a trabalhar muito cedo para conseguirem condições de subsistência
e por isso, não frequentam as escolas. A segurança pública é também uma das questões relacionadas
à temática.
Assim, há uma luta para que essas mães consigam estar com seus filhos e também tenham
condições de moradia para abrigá-los. A decisão do MP não representa uma tentativa de proteção a
esses bebês, os abrigos se mostram ineficientes para prover o cuidado necessário a essas crianças,
pois as afastam do acolhimento, do leite materno.
Segundo Freud, nesse período, o bebê tem uma necessidade maior do que somente a
nutricional, o momento da amamentação traz a criação de vínculos e, faz com que o bebê se sinta
seguro e protegido. Além disso, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a criança e
adolescente são sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento que devem ser tratados
com prioridade absoluta e é dever do estado estabelecer políticas, planos, programas e serviços para
a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando garantir o seu
desenvolvimento integral (Lei da Primeira Infância N°13.257, de 8 de março de 2016) e, essa política
de acolhimento compulsório que ocorre em Belo Horizonte vai de encontro à proposta do ECA, tendo
em vista que há uma negação de direito logo após o seu nascimento e a permanência nesses abrigos
não se mostra benéfica para essas crianças.
A retirada compulsória é uma violência contra as mães que traz consequências para sua saúde
mental. Foi relatado que há vários gritos na maternidade quando essas mães têm seus bebês tomados,
e essas, no puerpério, saem correndo pelos hospitais em busca do resgate de seus filhos. Um dos
relatos mostra ainda que uma das mães foi dopada para conseguir dormir e quando acordou já não
tinha mais seu bebê junto a ela. Isso gera dor e sofrimento às mulheres que acabaram de ter seus filhos
e, estão muito vulnerabilizadas pela própria complexidade do parto.
Essas mulheres vítimas de violência por parte do Estado, muitas vezes, não conseguem
retomar o contato com seus bebês e necessitam de aparato jurídico para realizar o pedido de devolução
de seus filhos. No entanto, essa situação se mostra ainda mais dificultada por elas estarem em situação
de rua, o difícil acesso à defensoria pública e as condições desfavoráveis da rua fazem com que a
retomada desses bebês demande de um maior período de tempo e, de um aparato de moradia, de rede
de apoio e financeiro que não é possível para elas.
A ausência e abandono do estado pode ser notada numa das frases ditas por um dos
frequentadores do Centro POP e que também está em situação de rua, quando este disse que não
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 417

concordava que as mulheres grávidas não pudessem entrar neste Centro sem ter o cadastro e, por isso,
ficavam em situações insalubres na rua, expostas a perigos e a condições climáticas desfavoráveis.
Assim, a problemática da gravidez em situação de rua expõe que a falta de moradia traz
grandes implicações e que tanto as mulheres como seus filhos podem sofrer diversas consequências,
há um afastamento com as políticas públicas; e o estado representa uma ameaça às mães e, ao
invisibilizar essa população, e por não oferecer condições para que estas superem a condição de rua,
a experiência intergeracional neste espaço se torna impossível. Assim, haverá a manutenção de um
ciclo de pobreza, o qual não traz impactos positivos nem na vida dessas pessoas nem no
desenvolvimento social de municípios como o de Belo Horizonte.
A gravidez em contexto de rua é um assunto complexo, desde o início da gestação, onde “[...]
algumas mulheres acabam utilizando o sexo como um meio para obter proteção ou mesmo amparo
financeiro para a sobrevivência” (Varanda; Adorno, 2004, p. 66) até o acompanhamento e a
concepção. Há uma dificuldade em vincular-se a um serviço que realize o pré-natal, já que além de
encontrarem dificuldades de locomoção, também têm dificuldades para encontrar nos postos de saúde
o acolhimento demandado por lei.
O momento da gravidez apresenta ainda uma série de questões para as mulheres, como
alteração hormonal, mudança de humor, aumento da fome, e, essa experiência sendo vivida na rua é
ainda mais desafiante para elas. Após a gestação também há, além da retirada compulsória, a
possibilidade de as mães criarem estes bebês na rua, o que pode desencadear uma série de fatores
desfavoráveis para a saúde e desenvolvimento dessa criança.
Uma vez que a essas mães são garantidos, pela CF 1988, direitos básicos como alimentação,
moradia e acesso a saúde e educação, esse quadro torna-se reversível e, várias crianças e mulheres
são asseguradas de uma vida com maior qualidade e possibilidade de desenvolvimento pleno. É com
essa possibilidade de seguridade social que o projeto (K)linica tenta tornar possível o acesso aos
direitos humanos e fundamentais dentro da sociedade belo-horizontina.

CONCLUSÃO

No decurso do trabalho, ficou constatado que as mulheres em situação de rua encontram


inúmeras dificuldades sejam elas de acesso a serviços de saúde ou de condições necessárias para o
EXTENSÃO PUC MINAS:
418 Novo Humanismo, novas perspectivas

desenvolvimento pleno do bebê. Há uma crise dos direitos humanos relacionados à população em
situação de rua e, a partir da questão abordada, é visto que nem mesmo as crianças têm acesso à uma
proteção social.
Assim, a problemática da gravidez em situação de rua expõe que a falta de moradia traz
grandes implicações e que tanto as mulheres como seus filhos podem sofrer diversas consequências.
Há um afastamento com relação às políticas públicas e, o Estado apresenta uma ameaça às mães,
criando situação negativa para a vida dessas pessoas e para o desenvolvimento social de municípios,
como o de Belo Horizonte.
A retirada compulsória dos bebês é uma violência contra as mães que traz consequências para
sua saúde mental. Tendo em vista esses aspectos, o projeto (K)linica, busca pensar em garantia de
condições básicas para as pessoas que se encontram em situação de rua, sendo que a questão da
maternidade se apresenta como sendo uma das mais complexas, uma vez que, há uma ausência de
políticas públicas voltadas a essa população. É preciso pensar políticas públicas que resultem em
melhores condições de vida e de acesso aos direitos humanos, que possam assegurar as necessidades
básicas, de vida, saúde e educação para que essas mães tenham acesso aos serviços necessários de
pré-natal, o acesso a alimentos, a um local de habitação e uma gravidez menos turbulenta e, que os
filhos gerados na rua possam ter novas oportunidades em suas vidas.

REFERÊNCIAS

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a um padrão de vida adequado e sobre o direito a não discriminação neste contexto. Nova
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VARANDA, Walter; ADORNO, Rubens C.F. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da
população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde Soc., v. 13, n. 1, abr. 2004.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 419

Telecentro em Belo Horizonte: mulheres em situação de rua e inclusão digital

Ricardo Guerra Vasconcelos1


Lucilene Carolina Galvão de Moraes2
Lilian Márcia Neves Haddad3
Lucas Fernandes Alves Lage 4
Sayonarha Fernanda de Salles Silva5

RESUMO
O presente trabalho versa sobre as visitas semanais realizadas ao Telecentro - Centro de Referência da População de Rua,
ao longo do mês de maio de 2022, através do Projeto Klinica: Direitos Humanos e Cidadania da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Praça da Liberdade. Neste Centro, há um espaço destinado ao atendimento digital
de forma assistida às pessoas em situação de rua, que tem participação dos alunos dos cursos de Direito e Psicologia,
tendo finalidade precípua de dar suporte ao acesso digital no manejo do uso dos computadores. Destarte, foi possível
observar que a participação do público feminino ao atendimento foi mínima. Com objetivo de identificar os motivos deste
hiato digital no uso das tecnologias da informação pelas mulheres em situação de rua, foi utilizada, neste trabalho,
metodologia hibrida, consistindo em pesquisa empírica quantitativa e revisão sistemática de literatura. Isso permitiu um
recorte intencional do material utilizado. Como resultado, compreendendo a realidade singular desta parcela da população
em situação de rua, é possível, promover discussões a fim de aprimorar, para elas, o acesso a este serviço, o acesso a
direitos.

Palavras-chave: Direito. Realidade. Acesso. Cidadania.

Telecentro in Belo Horizonte: women in street situation and digital inclusion

ABSTRACT
The present work deals with the weekly visits made to the Telecentre -Center of Reference for the Homeless Population,
throughout the month of May 2022, through the project Klinica: Direitos Humanos e Cidadania-da PUC Minas Praça da
Liberdade. In this Center, there is a space dedicated to digital assistance in an assisted way to homeless people, which has
the participation of students from Law and Psychology courses, with the main purpose of supporting digital access in the
management of the use of computers. Thus, it was possible to observe that the participation of the female public in the
service was very small. In order to identify the reasons for this digital gap in the use of information technologies by
women living on the streets, a hybrid methodology was used in this work. It consisted of quantitative empirical research
and a systematic literature review were used. Thus, it allowed an intentional clipping of the material used. As a result,
understanding the unique reality of this portion of the homeless population, it is possible to promote discussions in order
to improve for them access to this service, access to rights.

Keywords: Law. Reality. Access. Citizenship.

1
Doutor em Direito Público, professor da PUC Minas, Praça da Liberdade. E-mail: ricardo.guerrav@yahoo.com.br
2
Graduanda em Direito. PUC Minas / Praça da Liberdade. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal
do Pará (UFPA, 2001). E-mail: lcgmoraes@sga.pucminas.br
3
Graduanda em Direito pela PUC Minas; Pós-graduada em Planejamento Ambiental Urbano também pela PUC Minas
(2007). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Itaúna (UIT, 2005). E-mail:
lilian.haddad@sga.pucminas.
4
Graduando do curso de Psicologia da PUC Minas / Praça da Liberdade. E-mail: lfernandes1411@gmail.com.
5
Graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas / Praça da Liberdade. E-mail: sayonarha.fernanda@sga.pucminas.br
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420 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Este trabalho acadêmico é o resultado da prática de Extensão Universitária da Pontifícia


Universitária Católica de Minas Gerais (PUC MINAS) realizada através do projeto Klinica: Direitos
Humanos e Cidadania, PUC Minas Praça da Liberdade, que ocorre todas as quintas-feiras no espaço
do TELECENTRO situado na Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e
Cidadania (SMASAC), no Centro de Referência da População de Rua (CENTRO POP)6, pelos alunos
do Cursos de Direito e Psicologia. As atividades realizadas no espaço são de suporte à Pastoral do
Povo da Rua, através do atendimento presencial, atuando como facilitadores ao acesso digital às
pessoas em situação de rua que desejam acessar a rede mundial de computadores, chamados por
alguns de web ou internet, simplesmente.
Percebeu-se que, durante os meses de abril e maio de 2022, quando se iniciaram as atividades
naquele espaço, a busca pelo acesso digital por mulheres em trajetória de rua era mínimo, o que
levantou o questionamento: qual era o motivo pelo qual elas visitavam tão pouco aquele espaço?
Destarte, o trabalho se manifesta na proposta de conhecer as causas deste hiato digital de
gênero existente de atendimento no Telecentro, a fim de fortalecer as potencialidades do projeto e
desenvolver discussões sobre as estratégias para que se possa fomentar o acesso à inclusão digital
pelas mulheres em situação de rua a que vivem ao redor do Telecentro, no Barro Preto. E é através
do conhecimento científico e da vivência naquele espaço, que se busca explicar e compreender as
causas e as condições que produzem esta realidade de exclusão e de opressão, e por que não dizer de
violência, uma vez que restringe o acesso a direitos desta população fragilizada, marginalizada e
discriminada na sociedade. Não obstante, o conhecimento científico deve ser também capaz de
fundamentar o discernimento de atitudes práticas a serem adotadas pelos atores sociais envolvidos no
Projeto, com o propósito de superar tais circunstâncias para empreender as promoções das
transformações emancipadoras da realidade que hoje se apresenta.
Sabe-se que muitas foram as políticas públicas voltadas no Brasil para a inclusão social, por
certo porque a necessidade da inclusão digital tornou-se uma realidade que não está somente nas
escolas e espaços públicos: está nas ruas, ao céu aberto, onde um contingente de cidadãos desprovidos
de seus direitos mais básicos estão também se tornando analfabetos e marginalizados digitais.

6
CENTRO-SUL Centro de referência especializado para população em situação de rua, localizado na Avenida do
Contorno, 10.852-Barro Preto, em Belo Horizonte / MG.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 421

As pessoas em situação de rua, individualmente ou em grupos, que são produto da profunda


desigualdade social, que marca a sociedade capitalista, incluindo o Brasil, sofrendo diversas formas
de violência, como estigmas, preconceito, racismo por parte do Estado e da sociedade, que as
criminalizam e as culpabilizam por sua condição.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A prática de Extensão Universitária proporciona vivência ímpar, no processo de aprendizagem


do conhecimento científico, pois permite uma mudança qualitativa do método de ensino-
aprendizagem, e contribui para que discentes e docentes estabeleçam diálogos com atores sociais
externos à Universidade, assim alargando a percepção da realidade em que todos estão inseridos, pois
este conhecimento é realizado cooperativamente por todos os atores sociais que estão dentro e fora
das instituições de ensino.
O conhecimento é emancipador, de acordo com Paulo Freire, ele é capaz de direcionar a práxis
social na mudança da realidade, assim como também na edificação de uma realidade humana
emancipadora, na qual as pessoas encontrem as conjunções objetivas e subjetivas para terem uma
vida digna de acordo com suas tradições culturais e escolhas existenciais. Freire (1983) afirma que

o homem é um corpo consciente. Sua consciência, “intencionada” ao mundo, é sempre


consciência de em permanente desapego até a realidade. Daí seja do próprio do homem estar
em constante relações com o mundo. Relações em que a subjetividade jejue toma corpo na
objetividade, constitui, com esta, unidade dialética, onde se gera um conhecer solidário com
o agir e vice-versa. Por isto mesmo é que as explicações unilateralmente subjetivistas e
objetivista, que rompem esta dialetização, dicotomizando o indicotomizável, não são capazes
de compreendê-los. (FREIRE, 1983, p.51).

Nesse contexto, percebe-se a educação como algo que não pode ser compreendido como
transferência pura e simples de conhecimento do saber científico, assim trata-se de um processo
epistemológico, envolto pela prática da liberdade. Dessa forma, ela abrange todos os atores sociais
de maneira igualitária – e com eles se relaciona –, desfazendo a relação assimétrica universidade →
atores sociais, logo permitindo a construção de um conhecimento verdadeiro para orientação da práxis
sociais na resolução de algum problema prático enfrentado por todos os atores sociais.
Estar em trajetória de rua é algo vivenciado por milhões de pessoas ao redor do mundo, trata-
se de um problema global, que se apresenta em países considerados desenvolvidos assim como
naqueles chamados de países em desenvolvimento. Considera-se um desafio mensurar a quantidade
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422 Novo Humanismo, novas perspectivas

de pessoas que vivem nas ruas, assim como estabelecer características, designação sobre o que é estar
em situação de rua em virtude das particularidades de país. Na Europa, em junho de 2021, durante a
Conferência de Alto Nível – Europa, na qual foi emitido um Plano de Ação sobre o Pilar Europeu
dos Direitos Sociais no combate a situação de sem-abrigo, ficou evidenciado pelo órgão responsável
por Trabalho e Direitos Sociais, que mais de 700 mil pessoas dormem nas ruas da Europa.
Nos Estados Unidos da América (EUA), segundo Conselho Interinstitucional sobre Sem-
Abrigo (USICH) foi identificado que, em uma única noite em 2020, cerca de 580.000 pessoas estavam
sem-teto nos Estados Unidos. Seis em cada dez (61%) estavam em locais abrigados – abrigos de
emergência ou programas habitacionais transitórios e quase quatro em cada dez (39%) estavam em
locais não abrigados, como na rua, em prédios abandonados ou em outros locais não adequados para
habitação humana.
No Brasil, cita Dias (2021, [s./p.]) que, de “o levantamento feito pelo Observatório Brasileiro
de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG aponta que pelo menos 26.447
pessoas foram morar nas ruas em 2022. Essa população saltou de 158.191 em dezembro de 2021,
para 184.638 em maio de 2022”.
De acordo com o Relatório Técnico-Científico elaborado pelo Projeto Incontáveis, vinculado
à Plataforma Aberta de Atenção em Direitos Humanos (PADHu) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), em abril de 2021, 68% da população em situação de rua no Brasil era negra. No
Estado de Minas Gerais, a porcentagem de pessoas negras em situação de rua era de 80%. Na cidade
de Belo Horizonte, esta mesma nota técnica elaborada pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG
mostra que a população de rua da cidade teve um aumento bem alto no último ano. Em abril de 2021,
foi registrado um pico de 8.901 pessoas sem um teto para morar. Contudo, a Prefeitura de Belo
Horizonte considera, para fins de políticas públicas, as pessoas em situação de rua com dados
atualizados no último ano. Este número fica em aproximadamente 2.500 pessoas.
A população em situação de rua, inserida no contexto de extrema pobreza, habita as ruas pela
ausência do direito a morar. Embora tenha havido avanços nas políticas nacionais de habitação, pouco
atingiram esse grupo populacional. A diversidade, que cada vez mais caracteriza esse grupo
vulnerável, aumenta a complexidade de elaborar políticas públicas que respeitem a especificidade das
suas condições de vida e sobrevivência bem como reconheçam suas demandas e necessidades de
forma humanizada e eficaz. De acordo com Silva (2006),
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 423

[...] pode-se dizer que o fenômeno população em situação de rua vincula-se à estrutura da
sociedade capitalista e possui uma multiplicidade de fatores de natureza imediata que o
determinam. Na contemporaneidade, constitui uma expressão radical da questão social,
localiza-se nos grandes centros urbanos, sendo que as pessoas por ele atingidas são 4
estigmatizadas e enfrentam o preconceito como marca do grau de dignidade e valor moral
atribuído pela sociedade. É um fenômeno que tem características gerais, porém possui
particularidades vinculadas ao território em que se manifesta. No Brasil, essas
particularidades são bem definidas. Há uma tendência à naturalização do fenômeno, que no
país se faz acompanhada da quase inexistência de dados e informações científicas sobre o
mesmo e da inexistência de políticas públicas para enfrentá-lo. (SILVA, 2006, p.95).

O Decreto Presidencial nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, em parágrafo único do artigo


primeiro, define as pessoas em situação de rua, em linhas gerais, como:

o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos


familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular e
que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de
sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para
pernoite temporário ou como moradia provisória.

De acordo com Conselho Nacional dos Direitos Humanos, na resolução n°. 40 de 13.1.2020,
o Brasil é o país com a segunda maior concentração de renda do mundo, segundo o Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas em situação de pobreza
extrema subiu de 5,8%, em 2012, para 6,5% em 2018, um recorde em sete anos. Um quarto da
população brasileira, ou 52,5 milhões de pessoas vive abaixo da linha de pobreza. Esse cenário
confirma a imensa desigualdade socioeconômica do país, em curso desde a formação social do povo
brasileiro.
Em seu artigo 107 a resolução nº 40, acima supracitada dispõe: “O governo federal deve
garantir políticas de inclusão digital para pessoas em situação de rua, especialmente por meio dos
telecentros, e orientar os estados, Distrito Federal e municípios no sentido de promover o acesso dessa
população aos espaços e equipamentos públicos”. (grifo nosso)
Segundo Figueiras (2019),

O “morar na rua” não é apenas um problema social, mas também um problema público: ele
ocupa um lugar incontornável no espaço público, midiático e político (regulamentar,
legislativo) e nos espaços públicos urbanos (ruas, praças, jardins públicos, espaços
intersticiais). Sua dimensão pública associa de forma inextricável os desafios políticos e
urbanos: a presença de pessoas sem abrigo nos espaços urbanos interroga as capacidades das
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424 Novo Humanismo, novas perspectivas

nossas democracias a enfrentar a exclusão dos mais vulneráveis, seja pelas acomodações
cotidianas da urbanidade seja pela ação pública na qual estão engajados associações e poderes
públicos”. (CHOPPIN et al., 2013 apud FILGUEIRAS, 2019, p. 101).

As pessoas que vivem em situação de rua são diversificadas, encontram-se mulheres, homens,
crianças, jovens, idosos, portadores de deficiência, gays, lésbicas, LGBTQI+¹7, todos extremamente
expostos, quanto suas integridades físicas, mentais, psíquicas e sociais. Contudo há também,
singularidades, como serem em grande maioria negros ou pardos, tendo baixo nível socioeconômico
e de escolaridade.

apesar de os homens se encontrarem em maior parcela vivendo nas ruas, as dificuldades que
as mulheres encontram são mais profundas e agressivas. Esse contexto se explica devido ao
fato de estarmos inseridos em uma sociedade composta por uma estrutura social machista,
violenta e propícia às desigualdades de gênero e de direitos sociais. (BISCOTTO et al., 2016
apud PEREIRA et al., 2021, p. 3).

Logo, assim como retratado por Souza (2016), “além de sofrer com o preconceito já enraizado
na sociedade, a problemática da rua torna-se apenas mais um agravante para a violência cometida
contra essa mulher que é marginalizada, excluída e vista como não merecedora de respeito, dignidade
e direitos”.
Por essa razão, de acordo com Rosa e Brêtas (2015 apud PEREIRA et al., 2021, p. 3), “é
comum encontrar situações de mulheres que, por insegurança e medo de dormirem na rua sozinhas,
acabam procurando um homem para terem como parceiro. Assim os seguem, se submetendo a
vontade de seus companheiros, a fim de evitar sofrerem outros tipos de violência nas ruas”.
Já cientes dos preconceitos que sofrem quando estão “dentro” e mais ainda quando estão à
margem da sociedade, essas mulheres, se veem impelidas a acompanhar os seus
companheiros/parceiros para evitar sofrer mais violência dentro do meio em que vivem, se
submetendo aos caminhos que seus parceiros desejam seguir, se distanciando de espaços sociais,
como o destinado a inclusão digital.
A subalternização baseada nas relações de gênero sujeitou as mulheres à posição de
inferioridade social, além de uma dependência emocional, pois elas trazem consigo também uma
trajetória de muita fragilidade e vulnerabilidades. Segundo Oliveira, um dos participantes do encontro
no Centro POP:

7
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Identidade Queer e Intersexuais, são orientações sexuais e
identidades de gênero, distintas à orientação sexual heterossexual e identidade cisgênero, que estão associadas à
normatividade hegemônica social atribuídas ao nascimento das características masculinas / homens cisgênero
heterossexuais e femininas / mulheres cisgênero heterossexuais).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 425

o que se evidencia nas relações abusivas nas ruas, pois elas, para ter alguém para se
comunicar, permitem que aquele companheiro “escolhido”, as viole. Que para ter alguém
que as protejam, permitem agressão verbal ou psicológica; essa pessoa assim muitas vezes
responde por esta mulher a terceiros, como seu “protetor”, pondo limites a outros homens em
relação ao próprio corpo desta mulher moradora de rua.

De acordo também com a nota técnica elaborada pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG
publicada em abril de 2021, percebe-se que a maior parte das pessoas em situação de rua em Belo
Horizonte é do sexo masculino, acompanhando a tendência brasileira, ou seja, as mulheres
representam entre 1/4 e 1/3 da amostra para a série histórica, no período de setembro de 2020 a junho
de 2021. Isso explicaria o número reduzido do atendimento de mulheres no Telecentro.
Esta informação é ratificada pelos atendimentos feitos no SMASAC- CENTRO POP
CENTRO-SUL. No mês de abril/2022, em média foram atendidas 749 pessoas em situação de rua,
sendo 53 mulheres. No mês de maio/2022, foram em média 788 pessoas atendidas, sendo 58
mulheres. Conforme citado por Esmeraldo e Ximenes (2021),

no universo das ruas, as mulheres formam o grupo de menor expressividade quantitativa,


porém, esse grupo está envolto em um grande conjunto de opressões e suas vivências estão
cercadas de invisibilidades, que tanto poderiam fazer supor um espaço de proteção frente aos
olhares estigmatizados de maior parte da sociedade, quanto conduziriam a uma
intangibilidade diante de políticas públicas e intervenções assistenciais das quais necessitam.
(ESMERALDO; XIMENES, 2021, p. 3).

Destarte a essa escassez de políticas públicas que possam abranger de maneira mais amplas
as mulheres em situação e suas singularidades, identificou-se que há outras redes de apoio a estas
mulheres, na cidade de Belo Horizonte como a Casa de referência a mulher Tina Martins; abrigos
específicos, como o de acolhimento Institucional- República Maria Maria, o que contribui, para que
esta população específica esteja mais distribuída no município,

3 METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado por meio de metodologia híbrida, com pesquisa empírica
quantitativa e revisão sistemática de literatura. Permitiu um recorte intencional do material utilizado
por meio da vivência semanal dentro do projeto, onde a população de rua ao acessar o espaço do
Telecentro, tem seu nome registrado na lista de atendimento do dia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
426 Novo Humanismo, novas perspectivas

A pesquisa bibliográfica auxiliou na delimitação dos pontos mais relevantes a serem


abordados do tema escolhido. A pesquisa dos alunos foi orientada pelo professor Dr. Ricardo Guerra
Vasconcelos, da PUC Minas, da disciplina de Direitos Humanos e Fundamentais”.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O esforço das autoridades de governo diante deste imenso desafio, as pessoas em situação de
rua, no país, foram agravadas pela pandemia de COVID-19, o que faz com que até pareça invisível,
tal esforço. Contudo, esse esforço não deve ser só do Estado, deve ser de todos os atores sociais que
atuma na sociedade, assim reunir esforços no intuito de consolidar o compromisso para com os
Direitos Humanos, e associar e criar sinergias em prol de uma recuperação inclusiva, sustentável,
justa a todas as pessoas em trajetória de rua.
Identificou-se a necessidade de ações eficazes que promovam um atendimento efetivo, quanto
à integridade socioassistencial às mulheres, o que gera ações fragmentadas, pois estas não são
articuladas, o que dificulta a inclusão social destas mulheres de forma ampla no que tange aos seus
direitos de cidadãos. O que permite explorar inúmeras possibilidade de ampliação do atendimento do
projeto, como rodas de conversas, oficina de leitura e varal de poesia.
Assim o objetivo de identificar os motivos pelos quais as mulheres em situação de rua utilizam
tão pouco o serviço de acesso digital no Telecentro, foi alcançado e revelou-se que era pelo fato de
ser uma menor população e também em virtude de muitas acompanharem seus companheiros, a fim
de evitar mais violência e terem outras redes de apoio dentro do município de Belo Horizonte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática reflexiva tem sido considerada como um processo fundamental na aprendizagem e


na formação acadêmica, uma vez que “refletir implica um processo de busca interior que é um
distanciamento do senso comum” (CUNHA, 2003, p. 237). Nessa perspectiva, a literatura acrescenta
que essa busca, por compreender o que é comum como estranho, sugere um desenvolvimento crítico,
uma crescente consciência de si e do mundo.
Nas experiências de vivência no Telecentro, identifica-se que aquele espaço contido no Centro
POP Centro-sul, é muito mais do que se apresenta – um meio de as pessoas em situação de rua terem
acesso à internet. Este espaço, através de seus colaboradores exercem de fato papel de garantidor de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 427

inclusão digital, acesso à informação, desenvolvimento social e comunitário, e fortalecedor de


vínculos das pessoas em situação de rua, e daqueles que utilizam os serviços promovidos.
Ao averiguar os motivos que geram o baixo acesso das mulheres em situação de rua, ao
Telecentro ressaltasse a imenso abismo que há entre elas e a porta do espaço destinado a acolher as
pessoas em trajetória de rua, e que este abismo se constitui oportunidade de avanço de ações voltadas
para ampliação de direitos.

REFERÊNCIAS

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albergue para pernoitar. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, 2016. Revista da
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Horizonte. Minas Gerais. Disponível em: https://polos.direito.ufmg.br/nota-tecnica-sobre-o-
cadunico-em-belo-horizonte-mg/. Acesso em: 4 jun.2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 429

O acesso à justiça para os moradores de rua do Brasil

Ariadne Fernanda Martins Alves1


Carlos Henrique Brasileiro2
Ricardo Guerra Vasconcelos3
Leda Lúcia Soares4

RESUMO
O trabalho acadêmico em questão busca compreender as opiniões dos cidadãos natos sobre os moradores de rua e seu
acesso ao sistema de justiça brasileiro. Além disso, objetiva-se disseminar conhecimentos jurídicos e técnicos sobre o
assunto, de maneira simplificada, a fim de democratizar tais informações, reduzindo os preconceitos circundantes dessa
esfera social. Ademais, almeja-se espargir noções acerca de como e por quê se dá a requisição da justiça por parte das
pessoas em situação de rua, para que, dessa forma, se torne amplo o acesso ao saber acerca do tema — o que tornará
possível que mais cidadãos moradores de rua reivindiquem seus direitos. Para tal, utilizou-se da metodologia de pesquisa
quantitativa que, por sua vez, evidenciou que grande parte dos entrevistados são dotados de desconhecimento geral sobre
o assunto. Dessa maneira, este relato consolida-se como ferramenta para ajudar na promoção de uma sociedade mais
receptiva aos moradores de rua, buscando ajudá-los e diminuir as injustiças sociais sofridas pelos últimos.

Palavras-chave: Justiça. Moradores de rua. Brasil. Resolução 40. Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Access to justice for homeless people in Brazil

ABSTRACT
The academic work in question seeks to understand the opinions of native citizens about homeless people and their access
to the Brazilian justice system. In addition, the objective is to disseminate legal and technical knowledge on the subject,
in a simplified way, in order to democratize such information, reducing the prejudices surrounding this social sphere.
Furthermore, it aims to spread notions about how and why the request for justice by homeless people is given, so that, in
this way, access to knowledge on the subject becomes broad - which will make it possible for more homeless citizens to
claim their rights. To this end, the quantitative research methodology was used, which, in turn, showed that a large part
of the interviewees is endowed with a general lack of knowledge on the subject. In this way, this report is consolidated
as a tool to help promote a more receptive society to homeless people, seeking to help them and reduce the social injustices
suffered by the latter.

Keyword: Justice. Homeless people. Brazil. Resolution no. 40. Universal Declaration of Human Rights.

1
Técnica em Edificações. Graduanda em Direito/PUC Minas, Unidade Praça da Liberdade. E-mail:
ariadne.alves@sga.pucminas.br
2
Técnico em Informática. Graduando em Direito/PUC Minas, Unidade Praça da Liberdade. E-mail:
carlos.brasileiro@sga.pucminas.br
3
Doutor em Direito. Professor da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: ricardo.guerrav@yahoo.com.br.
4
Mestra em Direito. Professora da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
E-mail: ledapuc@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
430 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Dentro da disciplina de Direitos Humanos e Fundamentais, ofertada no 2º período de Direito


da PUC Minas - Praça da Liberdade, surgiu a oportunidade da prática curricular que, conforme foi
definido pelo professor Ricardo Guerra, deveria ser dentro da temática “pessoas em situação de rua”.
Assim sendo, passaram-se longos momentos de reflexão, afinal, tantos são os problemas circundantes
dentro do espectro dos moradores de rua que se tornou difícil escolher um único recorte.
Apesar disso, indagações surgiram: como uma pessoa em situação de rua acessa o sistema
judiciário? Será que são indivíduos que ao menos têm motivos para requisitar a justiça brasileira, uma
vez que, em grande maioria, são pessoas que não detém nenhum bem — até mesmo sua dignidade,
socialmente discorrendo, já foi deixada para trás. Ademais, como o sistema jurídico lida com as
pessoas em situação de rua, de maneira a acolhê-las ao invés de torná-las ainda mais isoladas no
âmbito do acesso à justiça?
Dessa forma, definiu-se o recorte a ser realizado dentro da temática proposta: o acesso à justiça
para os moradores de rua do Brasil. Por conseguinte, faz-se imprescindível destacar a Resolução 40
do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Tal resolução aborda de maneira completa e
assertiva os direitos das pessoas em situação de rua, sendo dividida em diversos capítulos, os quais
subdividem-se, por sua vez, em vários artigos. Todavia, foi possível comprovar, ao longo da prática
curricular, que existe um significativo número de pessoas que sequer têm ideia da existência de uma
legislação que protege as pessoas em situação de rua. Como garantir que os moradores de rua possam
acessar seus direitos e acessar a justiça se as pessoas ao seu redor nem mesmo conhecem sobre o
assunto?

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para nossa pesquisa e prática curricular de extensão (PCE), levamos em consideração


excepcional o Capítulo V, da Resolução 40. O Capítulo V, intitulado “Direitos Humanos e Sistema
de Justiça”, dispõe entre seus vários artigos muitas orientações sobre a temática. Outrossim,
utilizamos outros artigos para construção do saber abordado por este relatório de experiência, tais
como o artigo “Quem vocês pensam que elas são? Representação sobre as pessoas em situação de
rua”, a dissertação de TCC “A vivência dos moradores de rua frente às garantias e valores
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 431

constitucionais” e o artigo “Pessoas em situação de rua no Brasil: Estigmatização, desfiliação e


desterritorialização”. Além disso, ratificamos as ideias aqui expostas a partir da fundamentação obtida
por meio de pesquisa virtual realizada pelo grupo.

3 METODOLOGIA

Após algumas aulas expositivas do professor Ricardo Guerra, sobre a temática das pessoas
em situação de rua, pudemos escolher o nosso tema. A partir de discussões em grupo, cada membro
ficou encarregado de produzir questões para que fossem avaliadas e dali selecionadas qual seriam
mais adequadas para para o nosso público-alvo. Com as questões em mãos, todas passaram por um
crivo coletivo para que fossem analisadas e, quando necessário, adequadas para o linguajar comum.
O questionário pronto foi divulgado por meio digital pelos membros do grupo a pessoas próximas, a
fim de colher esses dados de um público comum e diverso.
As respostas obtidas com o questionário foram estudadas, e então, demos início às discussões
acerca de como poderíamos trabalhar aqueles dados a fim de produzir um material que fosse ao
mesmo tempo informativo e de fácil compreensão para o grande público. Chegamos à conclusão de
que uma cartilha caberia melhor a esse fim. Novamente, o grupo foi reunido para que, agora com os
dados em mãos e tendo um horizonte de como nosso público-alvo enxerga essa temática, fosse dado
início à cartilha. Considerando o entendimento do nosso público sobre a questão, geramos uma
cartilha de orientação contendo os principais tópicos abordados no questionário e em que se
apresentou mais carência em relação à orientação.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Conforme o Art. 71, “a população em situação de rua tem direito a amplo acesso aos órgãos
do sistema de Justiça e defesa dos direitos”. Apesar disso, pouco se veem sobre notícias ou relatos
em que um morador de rua buscou o poder judiciário para reivindicar algum de seus direitos. Não
obstante, é possível, através de uma busca nos meios eletrônicos, encontrar diversas notícias que
discorrem sobre alguma ação judicial em que a pessoa em situação de rua ocupa espaço de réu.
As pessoas em situação de rua são grandes vítimas de preconceitos, são marginalizadas e
colocadas de maneira excludente dentro da sociedade. Sob o ponto de vista aqui defendido, constata-
se que poucos são os cidadãos envolvidos em movimentos sociais em defesa das pessoas em situação
EXTENSÃO PUC MINAS:
432 Novo Humanismo, novas perspectivas

de rua. Assim sendo, as lutas em prol dos direitos desses indivíduos, que, por serem marginalizados
dentro do corpo social, precisam de um representante de seus interesses, são mínimas. Porém,
conforme Mattos e Ferreira (2004), sobre as relações sociais com pessoas moradoras de rua,

Outros logo as consideram vagabundas e que ali estão por não quererem trabalhar, olhando-
as com hostilidade. Muitos atravessam a rua com receio de serem abordados por pedido de
esmola, ou mesmo por pré-conceberem que são pessoas sujas e mal cheirosas. [...] Enfim, é
comum negligenciarmos involuntariamente o contato com elas. (MATTOS; FERREIRA.
2004, p. 47).

Torna-se perceptível, portanto, como os desprovidos de moradia são tratados pelos seus iguais
e como isso dificulta o acesso aos seus respectivos direitos. Existe um estigma que permeia as relações
humanas com os moradores de rua e isso prejudica toda uma cadeia de funcionamento da sociedade.
Ao tratar outrem de forma excludente, este fica em posição que o impede de abandonar o estado ao
qual se encontra, permanecendo sem mobilidade social e sem perspectiva futura de possíveis
melhorias da condição em que vive na atualidade. Nessa linha de raciocínio, destaca-se o pensamento
de Valencio, Pavan, Siena e Marchezini (2008)

Pessoas em situação de rua vivenciam inúmeras dificuldades. A mais evidente delas, a sua
territorialização precária. A vulnerabilidade locacional sujeita o grupo às diversas dimensões
de desamparo: desconforto face às intempéries; insalubridade; insegurança frente aos
estabelecidos que lhe dirige olhares de desconfiança. [...] As pessoas em situação de rua são
como estranhos que não participam do espetáculo social. Estes fazem o papel da “não-
pessoa”, o que implica numa relação de desrespeito e discrepância frente aos indivíduos
atuantes. (VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 53-54).

Com isso, destaca-se que dentro do corpo social, os indivíduos naturalmente são destinados
ao cumprimento de funções específicas, que desempenham de acordo com a classe social de que vêm,
bem como com a forma como se apresentam à sociedade. Por isso, existe uma expectativa ou, melhor
dizendo, uma projeção de tratamento, que se espera que ocorra de acordo com a atuação do cidadão
dentro da comunidade. Então, é aguardado que haja respeito entre os seres humanos, que haja
oportunidades e que haja projetos sociais que visem melhorar o cotidiano daqueles que enfrentam
dificuldades no dia a dia, especialmente as econômicas.
Contudo, ao descaracterizar a pessoa em situação de rua, toda essa projeção anteriormente
mencionada é abandonada e ignorada. Dessa forma, não existe integração social, não existe
acolhimento ou aceitação dessas pessoas sem locação. Tudo o que existe, em maioria, é exclusão, é
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 433

o cerceamento do ser. Logo, passam a ser pessoas separadas do corpo social, que não o integram e,
por isso, são seres que se tornam incapazes de escapar do cenário carente em que se encontram
(VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 54).
Não obstante, são indivíduos que, além de afastados da sociedade como um todo, são
distanciados e não enxergados adequadamente pelos agentes promotores da justiça. Então, torna-se
ainda mais difícil o cumprimento dos direitos dos desprovidos de moradia, na mesma medida que
impossibilitam o acesso à justiça para esses cidadãos. Nessa esteira, nota-se que

O Brasil vem apresentando duas tendências das forças coercitivas que impedem a ampliação
da cidadania da população de rua. De um lado, há a passagem de um estado de intolerância
tácita para intolerância explícita, recrudescendo a prática pública de truculência na
eliminação do sujeito vulnerável, nisso convergindo as ações do Estado e a de grupos
organizados. (VALENCIO; PAVAN; SIENA; MARCHEZINI. 2008, p. 59).

Assim, aponta-se como a desigualdade entre os indivíduos é reforçada, excluindo os


diferentes. Não é reconhecido, portanto, a maneira como o morador de rua é posto em risco pelos
cidadãos “comuns” da sociedade ou pelo próprio desamparo do Estado. Apenas é estabelecido que as
pessoas em situação de rua caracterizam um risco para o corpo social, não que o sofrem de forma um
tanto quanto incisiva e objetiva.
Nesse sentido, é notório que muitas violações circundam o dia a dia desses indivíduos.
Isolamento, exclusão, preconceitos e demais ações conjuntas da sociedade que estabelecem grandes
obstáculos para o cumprimento devido das garantias legais. Observa-se, ainda, a concepção genérica
de que os moradores de rua sequer têm bens, além da própria vida e dignidade. Logo, indaga-se: com
a ausência de bens para serem protegidos, com qual motivo precisariam acessar a justiça e os
tribunais? Por quais vias deve-se exigir a vida digna, uma vez que a própria dignidade está por um
fio? Como e por quais meios os direitos básicos das pessoas em situação de rua devem ser
reivindicados?
Tendo em vista os fatores aqui já mencionados, salienta-se que, conforme posto pela
Constituição Federal de 1988, os cidadãos brasileiros podem — e devem — ter uma série de direitos
garantidos, como o direito à liberdade, à vida, alimentação, lazer, educação, justiça, entre outros. Com
isso, é papel das autoridades legais, como do governo federal e estadual, estabelecer medidas que
democratizam o acesso à justiça, inclusive para os moradores de rua. Para Andressa Côrrea Bonin
(2019),
EXTENSÃO PUC MINAS:
434 Novo Humanismo, novas perspectivas

[...] se faz necessário a efetividade do Judiciário, tendo em vista como já explicado a inércia
do Executivo e Legislativo em garantir uma promoção em políticas públicas de bem-estar
social para essas pessoas marginalizadas. [...] No âmbito jurisdicional, a DPU é a instituição
responsável pelo oferecimento de assistência e orientação jurídica à população que se
encontra em vulnerabilidade socioeconômica. [...] (BONIN, 2019, p. 9).

Nessa esteira, torna-se importante destacar a linha de raciocínio de Andressa Bonin, em


consonância com Fernando de Souza Carvalho:

[...] um importante ponto foi a adesão da Justiça Federal com a criação de um protocolo
diferenciado e uma pauta específica no Juizado Especial Federal com imediata conclusão
para sentença nos casos envolvendo a população em situação de rua, de modo a permitir a
célere análise dos casos, muitas vezes, com sentenças e decisões de antecipação de tutela
(tutela de urgência) no mesmo dia ou em um prazo muito menor do que o usual. (BONIN,,
2019, p. 9).

Logo, percebe-se que a Defensoria Pública exerce papel fundamental e inigualável no


atendimento e auxílio às questões jurídicas que envolve as pessoas em situação de rua, pois são um
dos primeiros contatos das pessoas vulneráveis, consolidando-se em papel social de esperança para
os menos favorecidos socialmente — como é o caso daqueles que fazem das ruas a sua moradia. Por
consequência, faz-se imprescindível que haja políticas que promovam um atendimento adequado
dentro das Defensorias Públicas da União, pois estão concentrados nos defensores a expectativa de
alguma possível melhoria do cotidiano daquele que os procura.
Nota-se que diversas são as razões para que se busque a justiça por parte dos moradores de
rua, que podem, por exemplo, pedir judicialmente que seus bens não sejam violados — mesmo que
tais sejam compostos por um papelão e um cobertor —, solicitar medicamentos, reivindicar o direito
de permanecer com seus filhos e o direito de poder acessar a educação, entre outros. Dessa maneira,
para que seja democratizado o acesso à justiça para os moradores de rua, o Capítulo V, da Resolução
40, traz algumas definições importantes, que apresentaremos aqui:

Art. 71 A população em situação de rua tem direito a amplo acesso aos órgãos do sistema de
Justiça e defesa dos direitos. §1º O atendimento deve ser prioritário, desburocratizado e
humanizado, sem necessidade de agendamento. §2º A equipe de atendimento deve ser
multidisciplinar, adequada às características dessa população, com capacitação sistemática
para atuação na garantia dos direitos humanos das pessoas em situação de rua. §3º A falta
de documento pessoal, ausência de comprovação de residência ou o tipo de vestimenta não
poderão ser utilizados para vedação ao atendimento desta população.

Art. 73 O Judiciário deve estabelecer estratégia para identificar os processos judiciais


relativos à garantia dos direitos de pessoas em situação de rua, dada sua extrema
vulnerabilidade, com o objetivo de que tais processos tenham tramitação prioritária.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 435

Art. 74 A ausência de moradia ou de comprovação de residência não poderá ser utilizada


como fundamentação para decretação de prisão e/ou conversão em pena mais gravosa.
Art. 75 O Poder Judiciário deverá priorizar a aplicação de outras medidas cautelares em
regime aberto, para evitar a aplicação da monitoração eletrônica, devido à dificuldade de
acesso à energia elétrica à população de rua.

Art. 87 As Promotorias da Infância e da Juventude devem atuar para evitar as ações de


afastamento das crianças e adolescentes em situação de rua de suas famílias, inclusive de
mães com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, priorizando o
atendimento dessas famílias nos programas socioassistenciais, de saúde e habitação.

Art. 93 O sistema de justiça deve promover programas de educação em direitos com


linguagem adequada para a população em situação de rua.

Art. 94 A ausência de moradia ou de comprovação de residência não poderá ser utilizada


como obstáculo ao prosseguimento de uma ação judicial de proteção dos direitos de pessoas
em situação de rua e nem como fundamentação para sua extinção, sem resolução de mérito.

Tendo isso em vista, é inegável perceber que existe uma legislação vigente que protege as
pessoas em situação de rua, deixando-as amparadas. Contudo, a realidade se dá de forma um tanto
quanto distinta, uma vez que é possível observar no cotidiano como os moradores de rua são
abandonados pelo Estado. Não obstante, é preciso reconhecer que, além desse abandono “físico” que
os indivíduos sem moradia sofrem, eles ainda são vítimas da falta de informações. Tal empecilho os
abrange de maneira ampla: não basta somente que os desabrigados não tenham o conhecimento sobre
seus direitos, a sociedade ao seu redor também não é educada sobre o assunto.
Partindo desse pressuposto, realizamos um questionário online, enviado para pessoas de
diferentes faixas etárias e profissões. A pesquisa teve um total de 74 participantes e contou com 7
perguntas, apresentando resultados um tanto quanto significativos para conhecimento da realidade
dos cidadãos brasileiros em relação ao entendimento sobre a temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deverão ser considerados os objetivos explicitados e uma síntese dos resultados, evidenciar
análise e discussão dos dados obtidos.
A partir dos objetivos explicitados inicialmente, dos dados obtidos e de suas respectivas
análises, notamos a ratificação da ideia aqui exposta: muitos cidadãos não apresentam a devida noção
sobre as pautas voltadas para as pessoas em situação de rua, o que as isola da sociedade e as deixam
impedidas de acessar a justiça e, por conseguinte, os seus direitos.
Então, fomos capazes de identificar que 55,4% dos entrevistados sequer tinham ciência da
existência de uma legislação que expressa que a população em situação de rua tem direito a amplo
EXTENSÃO PUC MINAS:
436 Novo Humanismo, novas perspectivas

acesso aos órgãos do sistema de Justiça e defesa dos direitos, enquanto 2 pessoas afirmavam conhecer
tal legislação, porém acreditavam não ser relevante e, por isso, não se interessavam. Na mesma linha
de pensamentos, ao serem questionados se concordavam que os moradores de rua deveriam poder
acessar o sistema judiciário, 2 indivíduos selecionaram a opção “sim, mas creio que eles não têm
tanto a oferecer e por isso, não precisam tanto de acessar a justiça”.
Ademais, em uma outra pergunta do questionário, foi indagado se os entrevistados
imaginavam os motivos pelos quais as pessoas moradoras da rua precisariam acessar a justiça
brasileira. A partir disso, 9,7% dos interrogados assinalaram a opção “não há motivos. Infelizmente,
não há nada que possa ser feito para amenizar as consequências de viver na rua: as políticas
governamentais não funcionam e os sem teto não têm vontade de mudar de vida”. É importante trazer,
ainda, a informação que 16 dos entrevistados não sabiam que os bens dos moradores de rua, como
colchões, papelão e cobertores, não podem ser violados enquanto 4 pessoas acreditavam que tais bens
podem ser recolhidos pela polícia ou órgãos fiscalizadores por estarem inseridos em local público.
Conforme fundamentado anteriormente, as pessoas em situação de rua encontram obstáculos
para sua sobrevivência na sociedade a partir dos simples momentos em que não são devidamente
enxergados pelo corpo social, são isolados e excluídos por um número significativo de cidadãos que
compactuam e estimulam a consolidação de pensamentos de que os indivíduos moradores de rua nem
mesmo tem o que oferecer para a coletividade e, portanto, não têm necessidade de acessar o sistema
judiciário. Caracterizados por um grupo de alta vulnerabilidade, essa exclusão social é determinante
para que seus direitos sejam minimizados e não sejam adequadamente acessados.
Inconscientes, em grande parte, das garantias que têm, os moradores de rua permanecem
inertes e submissos a um cenário social em que são invisíveis aos olhos de seus iguais. Por outro lado,
a inconsciência sobre o assunto, advinda do restante da população, consolida um panorama de
permanente marginalização e afastamento dos indivíduos em situação de rua. Analogamente, a
sociedade passa a ser como um feudo: aqueles que estão dentro, o corpo social, conseguem viver uma
vida consideravelmente plena, apesar das diferenças sociais existentes entre si. Aqueles que estão de
fora, os bárbaros, invasores, são os moradores de rua, que representam um perigo para a coletividade
e, por isso, não devem ao menos terem a oportunidade de acessá-la.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 437

REFERÊNCIAS

BONIN, Andressa Corrêa Barcellos. A vivência dos moradores de rua frente as garantias e
valores constitucionais. Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 2019.
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. Resolução nº 40 de 13 de outubro de
2020. Dispõe sobre as diretrizes para promoção, proteção e defesa dos direitos humanos das pessoas
em situação de rua, de acordo com a Política Nacional para População em Situação de Rua. Brasília,
DF: Presidência da República, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-social/conselho-nacional-de-direitos-humanos-
cndh/copy_of_Resolucao40.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2022.
MATTOS, Ricardo Mendes; FERREIRA, Ricardo Franklin. Quem vocês pensam que elas são?
Representação sobre as pessoas em situação de rua. Psicologia & Sociedade, São Paulo, 2004.
VALENCIO, Norma Felicidade Lopes da Silva et al. Pessoas em situação de rua no Brasil:
Estigmatização, desfiliação e desterritorialização. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção. São
Paulo, v.7, 2008.
EXTENSÃO PUC MINAS:
438 Novo Humanismo, novas perspectivas

Relato de experiência: prática de exercício físico e uso de tecnologia


como forma de educar e motivar a população idosa

Arthur Cardoso Barbosa1


Larissa Maria Assumpção Moreira2
Luísa Fernanda Gomes Wenceslau3
Luiza Teixeira Niero4
Ana Cássia Siqueira da Cunha5

RESUMO
O projeto de extensão universitária “PUC Mais Idade – Coração Eucarístico” é um ambiente de integração entre ensino e
pesquisa, o qual ocorre de maneira multidisciplinar e não se limita à sala de aula ou ao ambiente acadêmico. O objetivo
geral dos presentes autores foi realizar uma ação dentro da área de saúde, junto a uma comunidade inserida na extensão
universitária. Por meio de um diagnóstico prévio, foram detectadas demandas dos idosos, sendo elas aspectos como
flexibilidade, exercícios físicos e exercícios cognitivos; desta forma, os objetivos específicos passaram a ser incentivar,
praticar e orientar quanto à prática de exercícios físicos e alongamentos. Para a execução do trabalho, foram desenvolvidas
duas ações distintas. Uma delas envolveu a criação de uma cartilha abordando atividades físicas aeróbicas, fortalecimento
muscular e alongamentos. A outra foi caracterizada por um circuito de jogos e atividades, utilizando o aparelho Xbox 360
Kinect. Os dados foram levantados por meio de um questionário. Os idosos relataram, em ambas as ações, satisfação e
contentamento com os ensinamentos recebidos e práticas desenvolvidas.

Palavras chave: Extensão. Exercícios Físicos. Exercícios Cognitivos. Idosos. Promoção da Saúde.

Experience report: physical exercise practice and use of technology as a


method to educate and motivate the elderly population

ABSTRACT
The university extension project “PUC Mais Idade – Coração Eucarístico” is an integration environment between teaching
and research, occurring in a multidisciplinary way and not limited to the classroom or the academic environment. The
general objective of the present authors was to perform an action within the health area, together with a community
inserted in the university extension. Through a previous diagnosis, the demands of the elderly were detected, those being
aspects such as flexibility, physical and cognitive exercises; that being said, the specific objectives became to encourage,
practice and guide the physical exercises and stretches practice. For the work execution, two distinct actions were

1
Discente do curso de Fisioterapia na Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
arthur.barbosa.1211684@sga.pucminas.br.
2
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lmamoreira@sga.pucminas.br.
3
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lfgwenceslau@sga.pucminas.br.
4
Discente do curso de Fisioterapia na PUC Minas. E-mail: lniero@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Bioengenharia, Docente do curso de Fisioterapia na Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: anacassia.fisio@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 439

developed. One of them involved the creation of a leaflet approaching aerobic physical activities, muscle strengthening
and stretching. The other was characterized by a games and activities circuit, using an Xbox 360 Kinect. The data was
collected through a questionnaire. The elderly reported, in both actions, satisfaction and contentment with the teachings
received and practices developed.

Keywords: Extension. Physical Exercises. Cognitive Exercises. Elderly. Health Promotion.

INTRODUÇÃO

A Extensão Universitária promove a integração entre o Ensino e a Pesquisa, além de ser um


dos lugares de exercício da função social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas). Ao possibilitar a articulação da universidade com a sociedade, trabalha em prol da promoção
da cidadania, da inclusão e do desenvolvimento social. As ações de Extensão contribuem para a
formação acadêmica, uma vez que, permitem ao aluno atuar de forma inovadora e multidisciplinar,
ultrapassando os limites da sala de aula e alcançando um público que vai além do ambiente
acadêmico. Ademais, permite a integração entre a teoria e a prática, por meio da troca de saberes e
de experiências entre as partes envolvidas.
O Projeto PUC Mais Idade se desenvolveu visando atender as demandas da população idosa,
tendo início em 2004 na PUC Arcos e, posteriormente se tornando um Programa de Extensão,
expandindo-se para todos os campi. Atualmente, o PUC Mais Idade unidade Coração Eucarístico, é
um Projeto de Extensão coordenado pela professora Patrícia Sarsur Nasser Santiago e envolve uma
equipe multidisciplinar com alunos da Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia,
Educação Física e Engenharia de Telecomunicações.
O Projeto trabalha conforme as demandas apresentadas pelo grupo de idosos que o compõem.
Dessa forma, foi realizado um diagnóstico prévio para conhecer as demandas apresentadas pelo grupo
de idosos e percebeu-se a necessidade de trabalhar aspectos como a melhora da flexibilidade e o
estímulo à prática de exercícios físicos e cognitivos, visando melhorar a saúde física e cognitiva dessa
população. Dito isso, o objetivo geral do presente trabalho foi relatar as experiências vividas pelos
discentes da disciplina Ações de Extensão Universitária no Projeto PUC Mais Idade Coração
Eucarístico, enquanto realizavam ações com os idosos inseridos no projeto.
Os objetivos específicos foram trabalhar, incentivar e promover a prática de exercícios físicos
e alongamentos, sendo realizados através de uma cartilha associada a uma palestra que explicava os
temas lá abordados, bem como um circuito que visava integrar estações de alongamento, jogos
mentais e físicos e descanso. Essa metodologia pode contribuir com as demandas apresentadas pelos
EXTENSÃO PUC MINAS:
440 Novo Humanismo, novas perspectivas

idosos do Projeto PUC Mais Idade Coração Eucarístico, garantindo maior qualidade de vida para essa
população e fornecendo uma ideia criativa de como trabalhar com grupos de idosos de forma lúdica
e divertida, visando promover saúde física e mental.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o conceito de saúde como sendo o mais
completo bem-estar biopsicossocial, cultural e espiritual. No caso dos idosos, a saúde estará
diretamente vinculada com a sua funcionalidade global, ou seja, com a capacidade de cuidarem de si
mesmos e gerirem a própria vida, mesmo que tenham doenças. Alguns parâmetros garantem ao idoso
sua funcionalidade, são eles: autonomia, independência, cognição, mobilidade e comunicação. A
perda dessas habilidades resulta nas grandes síndromes geriátricas: imobilidade, incontinência,
insuficiência familiar, incapacidade cognitiva, instabilidade postural, incapacidade comunicativa e
iatrogenia. Dessa forma, a prática de exercícios físicos é de suma importância para esta parcela da
população uma vez que trabalha todos os parâmetros da funcionalidade na vida idosa.
O entrave normalmente encontrado junto à população idosa, quanto à questão de práticas
regulares de atividade física, na grande maioria das vezes, está associado aos próprios fatores
fisiológicos do envelhecimento, o qual apresenta alterações morfológicas, funcionais, bioquímicas e
psicológicas; ou seja, é comum com o avançar da idade o desenvolvimento de fatores como alterações
no equilíbrio, sarcopenia, osteopenia, dentre outros; tais fatores aumentam o risco de queda, fraturas
e desencorajam a prática do exercício físico. Todavia, a ausência de exercícios físicos nesta faixa
etária é responsável pela criação de um ciclo vicioso, que prejudica a qualidade de vida; o indivíduo
deixa de ser uma pessoa ativa pelas alterações trazidas com a idade e a inatividade exacerba tais
alterações, levando às síndromes previamente citadas e prejudicando a qualidade de vida. Sendo
assim, estimular a prática de exercícios físicos em idosos é essencial para quebrar o ciclo e promover
o bem-estar biopsicossocial.
Souza et al. (2019) expõem, em sua revisão de literatura, que a prática de exercícios físicos
permite ao idoso a ausência de patologias como a depressão, melhora o aspecto cognitivo e estimula
um relacionamento familiar saudável, bem como é apontado pelos autores que idosos os quais
praticam atividade física e participam de programas de intervenção, ainda que irregularmente,
apresentam melhores indicadores de uma boa qualidade de vida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 441

De acordo com Guimarães et al. (2021), a hidratação adequada é extremamente importante


entre os idosos uma vez que a desidratação está fortemente associada ao número de hospitalizações e
índices de morbimortalidade desse grupo.
Meneghini et al. (2016) investigaram em sua pesquisa a percepção de adultos mais velhos
quanto a participação em programa de exercícios físicos com exergames (videogames ativos),
especificamente o Xbox 360 Kinect. O grupo avaliado pelos autores relatou benefícios psicológicos,
físicos e de interação social; concluindo que ao ter a percepção de benefícios com o uso de exergames
há uma facilitação na adesão da prática de exercícios físicos e aumento de motivação.

3 METODOLOGIA

O primeiro contato dos autores deste relato com o projeto PUC Mais Idade Coração
Eucarístico ocorreu através de uma das extensionistas, no dia 23 de fevereiro de 2022, de forma
remota, por meio da plataforma do Microsoft Teams, a fim de conhecer o projeto, as ações realizadas
e o público-alvo. Posteriormente, no dia 09 março de 2022, das 14h às 16h, foi realizado um
diagnóstico também através de um encontro online pela plataforma Microsoft Teams com os
beneficiários do projeto para conhecer as demandas e os interesses dos idosos participantes em
relação à área da saúde. Foram observados interesses em atividades físicas e principalmente
alongamentos; além disso, um interesse muito grande na área tecnológica.
Dessa forma, os extensionistas decidiram planejar duas ações. Para a primeira, foi realizada
uma cartilha com atividades físicas aeróbicas e exercícios de alongamento e força muscular, com o
objetivo de educar e motivar os participantes do projeto, reduzindo o risco de lesões e promovendo a
saúde. Já na segunda ação, visto que um dos temas escolhidos pelos participantes do projeto é
“Qualidade de Vida”, e tais participantes se mostraram muito interessados em tecnologia, foi
realizado um circuito composto por 05 estações, em que foram abordados exercícios de flexibilidade,
exercícios de aquecimento e uma atividade física simulando um esporte utilizando um Xbox com
Kinect; a utilização do videogame trouxe a tecnologia agregada à atividade física; assim, os idosos se
divertiram e se socializaram, o que engloba o biológico, o psicológico e o social dentro da qualidade
de vida.
A primeira ação foi realizada no dia 06 de abril de 2022, na sala de dança do complexo
esportivo da PUC Minas Coração Eucarístico, no horário das 14h às 16h. Neste encontro,
compareceram 07 idosos, sendo 01 homem e 06 mulheres. A quantidade de pessoas que
EXTENSÃO PUC MINAS:
442 Novo Humanismo, novas perspectivas

compareceram foi relativamente baixa por ter sido o primeiro encontro presencial pós-pandemia.
Iniciamos a ação com a distribuição das cartilhas produzida pelos autores e uma conversa explicativa
sobre a importância dos exercícios físicos e dos benefícios da respiração feita da forma correta.
Após a conversa, iniciou-se a apresentação dos exercícios descritos na cartilha de forma
simultânea. Começamos com uma série de aquecimentos, seguido pelos alongamentos e os exercícios
para força muscular. Enquanto alguns integrantes do grupo apresentavam, os outros observavam e
auxiliavam os idosos durante a realização dos exercícios para que eles os executassem da forma
correta. Não houve problemas na realização desta ação. Ao final desse encontro, obtivemos um
feedback positivo dos idosos e os convidamos para que comparecessem na segunda ação.
A segunda ação foi realizada no dia 11 de maio de 2022, na sala de dança do complexo
esportivo da PUC Minas Coração Eucarístico, no horário das 14h às 16h30. Neste encontro,
compareceram 15 idosos, sendo 02 homens e 13 mulheres. Para essa ação, propusemos um circuito
em que os idosos deveriam passar por diferentes estações. O grupo levou materiais de alongamento,
48 copos de água (220ml), uma televisão e um Xbox com Kinect, contendo os jogos de esporte e
dança, que foram utilizados.
A primeira estação era composta por um jogo cognitivo de montar palavras, organizada por
extensionistas do curso de Psicologia. A segunda estação era de alongamentos, onde duas
componentes do grupo instruíram os idosos e os ajudaram nos alongamentos propostos. A terceira
estação apresentava um jogo de Xbox com Kinect, em que duas alunas explicaram os jogos para os
idosos e os auxiliaram em caso de alguma dificuldade. Os jogos escolhidos pelo grupo eram
compostos por exercícios aeróbicos, de força e de equilíbrio, sendo eles jogos de esporte e de dança.
Na quarta estação, os idosos descansavam após o jogo; recebiam um copo de água e uma aluna
explicava a importância da ingestão de água antes, durante e após uma atividade física. A quinta
estação era de relaxamento, em que os beneficiários do projeto recebiam massagem feita por dois
alunos, com o objetivo de diminuir a tensão, utilizando técnicas de terapia manual. Nesta estação,
dois outros alunos estavam fazendo uma pesquisa sobre a opinião dos idosos sobre o circuito. Ao
longo de todo o circuito, os idosos foram acompanhados e fotografados por uma aluna e, ao final,
houve um lanche coletivo oferecido pelo nosso grupo com pizzas, suco e refrigerante.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 443

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

As duas ações apresentaram exercícios físicos devido à demanda dos participantes do projeto,
percebida através do diagnóstico. Na primeira ação, foi confeccionada uma cartilha com
alongamentos a serem realizados, de forma que os idosos pudessem fazê-los em casa.
Segundo Sousa et al. (2019), praticar exercícios físicos contribui para a melhoria na qualidade
de vida dos idosos nos aspectos de funcionalidade, melhora da dor e do estado de saúde em geral,
evitando-se, assim, doenças relacionadas a pouca mobilidade e sedentarismo, favorecendo o
fortalecimento muscular e cooperando para a preservação da autonomia. Ao final da ação, os idosos
relataram terem gostado muito da dinâmica e dos alongamentos e exercícios, bem como terem se
divertido e expressaram gratidão pelas dicas.
A segunda ação se deu através de um circuito com cinco estações, realizado pela Fisioterapia
e também pela Psicologia, sendo a primeira de alongamentos e a segunda, montada e executada pelos
extensionistas da Psicologia, de um jogo cognitivo que consistia em formar palavras em meio a letras
embaralhadas.
A terceira estação utilizou um Xbox com Kinect, já que os idosos demonstraram interesse pela
tecnologia. Os jogos disponíveis eram de dança e esportes, de forma que os idosos usassem o virtual
para praticar exercícios e se movimentarem. De acordo com Meneghini et al. (2016), a tecnologia
utilizada também pode ser chamada de exergames, jogos eletrônicos ativos que, para que sejam
alcançados os objetivos propostos por estes, requerem movimentos do jogador, que são capturados
através de sensores de movimento, como plataformas, joysticks (controles) e/ou câmeras.
A quarta estação do circuito foi a da água, escolhida pela importância de seu consumo nessa
faixa etária. Ao longo da ação, a maioria dos idosos recusou o copo oferecido e alegou não se hidratar
corretamente. De acordo com Guimarães et al. (2021), a presença de doenças crônicas pode afetar a
percepção de sede; além disso, a diminuição no interesse e na procura dos idosos pela água pode estar
relacionada com o pouco conhecimento dessa população sobre os benefícios de sua ingestão. A quinta
e última estação era a de relaxamento, na qual os idosos receberam massagens e responderam a uma
pesquisa de satisfação sobre o circuito.
No momento da realização da pesquisa, somente 12 idosos participaram, uma não quis
responder e duas precisaram sair mais cedo do encontro. Assim como visto na pesquisa, a maioria
dos idosos apresentam idade entre 60 e 80 anos (ver gráfico 1). Ao serem questionados sobre a estação
EXTENSÃO PUC MINAS:
444 Novo Humanismo, novas perspectivas

favorita de cada um, as preferidas foram a de jogos de atividade física, a de jogos cognitivos e a de
massagem, com três votos cada. Apenas um idoso escolheu a estação de alongamentos e dois não
souberam eleger uma favorita, decretando empate entre duas ou mais estações.

Gráfico 1 – Faixa etária dos participantes

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

A única estação que não recebeu nenhum voto como preferida dos participantes foi a da água
(ver gráfico 2). Todos os idosos entrevistados relataram gostar de atividades físicas, não terem tido
medo de cair e terem gostado dos jogos virtuais de exercício físico disponibilizados (esporte e dança),
além de acharem que a oficina ajudou muito para o bem-estar físico e mental deles. Sobre as
atividades propostas na ação, em uma escala numerada de zero a dez, onze idosos avaliaram o circuito
com nota máxima e apenas um avaliou com nota nove.

Gráfico 2 – Preferência de Estação

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 445

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A extensão universitária proporciona diversos benefícios não somente para quem participa
ativamente como também para toda a sociedade, mesmo que de forma indireta. Graças à participação
no Projeto PUC Mais Idade Coração Eucarístico, os extensionistas obtiveram a oportunidade de
colocar em prática ensinamentos teóricos universitários, ampliando nossa bagagem acadêmica e
sendo mais bem preparados para nossa futura área de atuação. Além disso, a convivência com pessoas
de diferentes idades, cursos, gênero, orientação sexual e ideologia nos proporcionou uma troca rica
de saberes e experiências vivenciando a articulação universidade-sociedade, a qual é um dos pilares
da extensão universitária, tornando aos profissionais em formação melhores cidadãos para lidar com
a ampla diversidade em nossa sociedade.
A demanda trazida a nós pelos próprios idosos, identificada a partir de um diagnóstico prévio,
a qual foi considerada como o objetivo da ação de extensão foi atendida com sucesso demonstrando
bons resultados, uma vez que já na primeira ação foi relatado pelos participantes um alto
contentamento com os ensinamentos e atividades passadas, estando todas elas relacionadas às
demandas dos idosos. Já na segunda ação, como demonstrado nos resultados da pesquisa de
satisfação, a maioria do grupo selecionou a estação de jogos de atividade física como a favorita,
revelando que a associação de atividade física com tecnologia é uma forma de solucionar o problema
da inatividade física ao mesmo tempo em que proporciona lazer e diversão dessa forma beneficiando
também os aspectos emocionais; além do mais, a idade não se mostrou um problema para interagir
com a tecnologia levada pelos alunos, evidenciando que na maioria das vezes os idosos não utilizam
novas tecnologias devido apenas a preconceitos enraizados na mentalidade de nossa sociedade os
quais não permitem que seja dado a eles de forma paciente as instruções sobre como usar aquele
recurso.
Quase cem por cento do grupo avaliou o circuito montado com nota máxima, comprovando
não ser necessário alto investimento financeiro ou alto grau de complexidade para agir nos três
âmbitos da saúde propostos pela OMS — biológico, psicológico e social —; basta um grupo de
pessoas, ainda que estudantes, agir trabalhando a escuta qualificada, a criação de vínculo, o trabalho
em equipe, o respeito às diferenças e o apoio às necessidades. A única estação a qual não obteve o
sucesso esperado foi a de hidratação, de acordo com os dados a maioria dos idosos recusou a água
oferecida e alegaram não se hidratarem da forma correta; algo que deve ser trabalhado dentro do
projeto em semestres futuros.
EXTENSÃO PUC MINAS:
446 Novo Humanismo, novas perspectivas

A experiência com o projeto foi enriquecedora e extremamente satisfatória, os autores deste


relato se sentem agradecidos com a oportunidade de vivenciar, não somente como observadores, mas
como parte ativa do projeto PUC Mais Idade Coração Eucarístico.

REFERÊNCIAS

GUIMARÃES, Beatrice Porta et al. O consumo de água em idosos: uma revisão. Vita et Sanitas,
Goiás, v. 15, n. 2, p. 53-69, jul. 2021.
MENEGHINI, Vandrize et al. Percepção de adultos mais velhos quanto à participação em programa
de exercício físico com exergames: estudo qualitativo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
21, n. 4, p. 1033-1041, abr. 2016.
SOUSA, Carmelita Maria Silva et al. Contribuição da atividade física para a qualidade de vida dos
idosos: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Revista Multidisciplinar e de Psicologia, Fortaleza-
CE [S.L.], v. 13, n. 46, p. 425-433, jul. 2019.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 447

Experiências Vivenciadas no Projeto de Extensão “Arte de Cuidar”:


diálogo intergeracional e acolhimento em tempos de pandemia

Beatriz Alves Sobrinho1


Shirley Maria Alencar Lopes2
Bruno Vasconcelos de Almeida3

RESUMO
O presente relato objetiva apresentar uma descrição das experiências vivenciadas por duas alunas no Projeto de Extensão
Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e trabalhadores de ILPI mineiras. Tal projeto foi gestado em 2020,
logo após o início da pandemia da COVID-19, e formalizado em 2021, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A intenção é compartilhar as experiências vivenciadas e o impacto do
projeto na formação acadêmica das autoras deste relato. A metodologia consiste em realizar acolhimentos online
utilizando a Plataforma Google Meet ou WhatsApp para fazer videochamadas com os idosos das Instituições de Longa
Permanência para Idosos: Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, e Lar dos Amigos, de Belo Horizonte,
possibilitando oferecer apoio psicológico para o público-alvo do projeto e diminuir o impacto negativo da pandemia no
isolamento social. O Projeto permite experienciar um diálogo intergeracional único e fundamental para a formação
acadêmica e cidadã dos alunos. A conclusão é que o Arte de Cuidar permite ao aluno acolher e ser acolhido, desenvolver
a habilidade de dialogar, a criatividade, a capacidade de ouvir e se solidarizar pelo outro. Assim, é possível formar
profissionais diferenciados e capazes de pensar criticamente, usar a criatividade e dialogar com públicos diversificados.

Palavras-chave: Idosos Institucionalizados. Acolhimento Psicológico. Processo Formativo. Promoção da Saúde.


Qualidade de vida.

Experiences lived in the “Arte do Cuidado” Extension Project: intergenerational


dialogue and reception in pandemic times

ABSTRACT
The present report aims to present a description of the experiences lived by two students in the Arte de Cuidar: apoio
psicológico a idosos residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras Extension Project. This project was conceived in 2020,
shortly after the beginning of the Covid-19 pandemic, and formalized in 2021 with the support of the Dean of Extension
of the Pontifical Catholic University of Minas Gerais. The intention is to share the experiences and the academic impact
of the Arte de Cuidar Project. The methodology consists of carrying out online receptions using the Google Meet or
Whatsapp platform to make video calls with the elderly from the Long-Stay Institutions for the Elderly: Casa Dona
Zulmira, in Governador Valadares, and Lar dos Amigos, in Belo Horizonte, making it possible to offer psychological
support for the project's target audience and reduce the negative impact of the pandemic on social isolation. The Project
allows students to experience a unique and fundamental intergenerational dialogue for the academic and citizen formation.
The conclusion is that the Art of Caring allows the student to welcome and be welcomed, to develop the ability to dialogue,
creativity, the ability to listen and show solidarity with others. Thus, it is possible to train differentiated professionals
capable of thinking critically, using creativity and dialoguing with diverse audiences.

Keywords: Institutionalized Elderly. Psychological Reception. Training Process. Health Promotion. Quality of life.

1
Graduanda em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: bia.da.fisio2020@gmail.com.
2
Graduanda em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: shirleymalopes@yahoo.com.br.
3
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Pós-doutor em Filosofia (UFMG), docente do curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
448 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

A extensão universitária objetiva integrar o ensino e a pesquisa, além de ser um dos ambientes
para o exercício da função social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
O Projeto de Extensão Universitária Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e
trabalhadores de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) mineiras permite ao
extensionista vivenciar experiências inovadoras e atuar em uma equipe multidisciplinar,
ultrapassando os limites da sala de aula e alcançando um público que vai além dos muros da
universidade. O Projeto, que é financiado e apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas,
atende a um dos principais objetivos da extensão universitária que é justamente preparar melhor os
profissionais para atender às demandas da sociedade, complementando sua formação por meio da
possibilidade de integração entre o ensino acadêmico e a aplicação prática.
O isolamento social foi a medida protetiva adotada para controlar o avanço da pandemia da
COVID-19 na maioria dos países, incluindo no Brasil; porém, o isolamento associado ao contexto
vivenciado pela pandemia trouxe um forte impacto psicológico para a população de modo geral,
incluindo crianças, jovens, adultos, idosos e profissionais de diferentes faixas etárias. Conforme a
cartilha “Recomendações e Orientações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19”,
incentivar e facilitar as conexões entre o idoso em isolamento e a rede de apoio, que pode acontecer
por meio de diversos recursos, como cartas, telefonemas, mensagens de texto, áudio e vídeo, gera no
idoso um sentimento de pertencimento com impactos positivos para todos os envolvidos
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2020).
Dessa forma, o Projeto Arte de Cuidar se desenvolveu com a intenção de reduzir os efeitos
psicológicos negativos do isolamento social em idosos residentes e trabalhadores das ILPIs de Minas
Gerais no período da pandemia, promovendo apoio psicológico por meio de acolhimentos on-line
realizados pelos extensionistas do projeto.
Segundo Mendonça et al. (2013), é por meio da extensão que os alunos adquirem e
transformam os conhecimentos técnicos adquiridos na universidade em ações beneficentes e
solidárias. Os conhecimentos adquiridos vão promover o aprendizado do aluno e o desenvolvimento
da população, uma vez que a extensão é a integração entre a universidade e a sociedade. Assim sendo,
o objetivo deste trabalho é descrever as experiências vivenciadas por duas extensionistas do Projeto
Arte de Cuidar e, assim, identificar a relevância e o impacto do projeto na formação acadêmica das
autoras deste relato.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 449

A motivação para o desenvolvimento deste relato e para o compartilhamento das experiências


vivenciadas na extensão universitária é contribuir para que outros alunos da universidade conheçam
o Projeto “Arte de Cuidar” e as atividades que são realizadas e, assim, se interessem em participar
dele. Dessa forma, é possível desenvolver as ações extensionistas e também agregar a formação de
outros acadêmicos da universidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A extensão universitária envolve o desenvolvimento de ações sociais direcionadas à


comunidade, assim sendo, trabalha em prol da promoção da cidadania, da inclusão e do
desenvolvimento social. Isso se reflete na formação cidadã e humanista do discente e do docente, na
perspectiva de desenvolvimento integral do ser humano, missão primeira da Universidade. A
Extensão trabalha com foco nas demandas apresentadas pela sociedade, visando habilitar os
acadêmicos, futuros profissionais, para atender as necessidades sociais. Ocorre, portanto, uma troca
de saberes, que é fundamental para a formação acadêmica do aluno.
A Extensão permite uma significativa troca de conhecimentos acadêmico e popular que tem
por consequência não só a democratização do aprendizado acadêmico, mas, igualmente, uma
produção científica, tecnológica e cultural enraizada na realidade. A Extensão deve influenciar o
ensino e a pesquisa e não ficar isolada deles, da universidade como um todo e dos anseios da
sociedade, “entrelaçando” saberes e conhecimentos (JÚNIOR, 2013).
Compreendendo a relevância do papel da extensão universitária na perspectiva do
desenvolvimento social e acadêmico, este relato busca descrever as experiências vivenciadas por duas
extensionistas do “Projeto Arte de Cuidar”, identificando os impactos da extensão universitária na
formação acadêmica das autoras, com base na experiência intergeracional vivenciada pelas alunas ao
realizar acolhimento a idosos residentes nas ILPIs mineiras no período da pandemia.

3 METODOLOGIA

O Projeto de Extensão Arte de Cuidar foi gestado em 2020, logo após o início da pandemia
da COVID-19, e formalizado em 2021, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas. No
entanto, o primeiro contato das autoras deste relato com o professor Bruno Vasconcelos, coordenador
do Projeto, e com os demais extensionistas ocorreu no dia 17 de março de 2022, de forma remota,
EXTENSÃO PUC MINAS:
450 Novo Humanismo, novas perspectivas

por meio da plataforma do Microsoft Teams. Nesta reunião, o coordenador apresentou o Arte de
Cuidar aos extensionistas, bem como as ações realizadas e o público-alvo. Cada um dos extensionistas
do projeto foi direcionado para atuar em uma ILPIs, conforme a demanda apresentada pelas
instituições. As extensionistas ficaram responsáveis de realizar acolhimento com os idosos das ILPIs:
Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, e Lar dos Amigos, de Belo Horizonte.
Na ILPI Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, a metodologia consistiu em realizar
acolhimentos on-line utilizando a plataforma Google Meet ou pelo WhatsApp para fazer chamadas de
vídeo. As reuniões aconteceram nas segundas-feiras de 16:00 às 17:00 horas. Na instituição Casa
Dona Zulmira, o atendimento se deu com apenas uma idosa de forma individual e por meio de uma
entrevista semiestruturada. As perguntas foram sendo organizadas de acordo com as respostas da
idosa, permitindo que ela falasse sobre suas angústias, seus gostos, suas alegrias e suas experiências
de vida, sempre preservando e respeitando o espaço, a vontade e o tempo dela. Nessa instituição, por
motivos internos do Lar, o atendimento teve início no mês de maio de 2022 e ocorreram apenas duas
reuniões com a idosa.
Na ILPI Lar dos Amigos, de Belo Horizonte, a metodologia consistiu em realizar
acolhimentos on-line utilizando a Plataforma Google Meet para fazer chamadas de vídeo. As reuniões
ocorreram todas as segundas-feiras e quartas-feiras com duração variável conforme a necessidade e
vontade apresentada pelas idosas, começando sempre às 15h30. Na instituição Lar dos Amigos, o
atendimento se deu com duas idosas de forma individual e privada, sendo que uma delas recebia
acolhimento na segunda-feira e a outra na quarta-feira. Diversas dinâmicas foram utilizadas para
realizar o acolhimento, como, por exemplo, uso da música, da contação de histórias, da troca de
saberes e experiências, da conversação, das lembranças e da espiritualidade para promover o
acolhimento. O acolhimento no Lar ocorreu do dia 28 de março até o dia 29 de junho de 2022.
O período de duração do Projeto e também dos acolhimentos com os idosos compreendeu os
meses de março, abril, maio, junho e a primeira semana de julho de 2022. Ademais, todas as quintas-
feiras, de 14h30 a 16h, o grupo de extensionistas se reunia com o professor Bruno Vasconcelos, de
forma on-line ou presencial, para realizar uma troca de experiências e saberes.
Os extensionistas também foram orientados a enviar relatórios mensais sobre os acolhimentos
realizados com os idosos para controle e registro pela coordenação do Projeto. Outro fato interessante
é que uma vez por mês um professor era convidado a palestrar sobre temas relevantes para os
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 451

extensionistas do projeto, os temas abordados neste semestre pelos palestrantes foram: “Saúde Mental
dos Idosos”, “Sexualidade da Pessoa Idosa” e “A Velhice na Grécia Clássica”. As palestras foram
abertas ao público.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O acolhimento na ILPI Casa Dona Zulmira, de Governador Valadares, por questões internas,
demorou para iniciar, por esta razão foram realizados apenas dois atendimentos com uma idosa da
casa. No primeiro encontro, ocorreu uma entrevista inicial para colher dados e conhecer melhor a
paciente. Nesta primeira conversa, percebeu-se que a idosa se encontrava um pouco apática, mas
falante, demonstrando estar aberta para o diálogo. No segundo encontro, ela se apresentou bem
disposta, usando batom, brincos e com um sorriso no rosto. Nesse segundo encontro, ocorreu uma
significativa troca de experiências de vida e a idosa se sentiu confortável para relatar seus gostos
dizendo que adora comer banana junto com café. A aluna, por sua vez, se propôs a experimentar
comer banana junto com café e isso fez a idosa ficar muito animada e dar risadas. Este é um exemplo
de como o acolhimento ocorre de forma natural e divertida, trazendo alegria tanto para o idoso, que
se sente acolhido, como para o aluno que vivencia este momento.
O acolhimento das duas idosas da ILPI Lar dos Amigos, de Belo Horizonte, permitiu
compreender, dentre tantas outras coisas, que a dor física tem um forte componente emocional, pois,
na grande maioria das vezes, as idosas iniciavam o encontro se queixando de dores em algumas partes
do corpo e ao final do encontro, depois de dialogar, de se expressar, de ouvir música e de dar algumas
gargalhadas, acabavam se esquecendo da dor e saindo do encontro com maior disposição. Outro fator
importante é a espiritualidade, visto que as duas idosas da ILPI Lar dos Amigos que receberam
acolhimento on-line são muito religiosas e a religiosidade para elas é um fator motivador e que
permite suportar e superar as dificuldades e os sofrimentos vivenciados. A troca intergeracional com
as idosas foi incrível e possibilitou conhecer melhor este público, suas demandas, suas experiências
e história. Os encontros frequentemente foram marcados por canções, troca de experiências e muitas
gargalhadas.
Além disso, um recurso que foi amplamente utilizado nos acolhimentos realizados com as
idosas da instituição Lar dos Amigos foi a música. E o resultado obtido com a utilização deste recurso
foi coerente com as recomendações da Associação Brasileira de Alzheimer, sub-regional São Carlos,
em parceria com o Informa SUS. Esta propõe a utilização de música durante a realização de atividades
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452 Novo Humanismo, novas perspectivas

do cotidiano, uma vez que a música é considerada uma importante aliada na melhora do humor, na
redução da ansiedade e do estresse, na melhora do sono, favorecendo o acesso as emoções e
estimulando o cognitivo, além de permitir a criação de um ambiente agradável e estimulante aos
envolvidos na atividade (BARROS; REZENDE, 2020). A música permitiu às idosas revisitar
memórias do passado, melhorar o humor, além de trazer relaxamento e satisfação.
Outro aspecto importante que foi explorado com uma das idosas da instituição Lar dos Amigos
foi o diálogo inter-religioso, entre o cristianismo católico e o cristianismo evangélico, que são duas
religiões muito semelhantes, mas que possuem suas especificidades. O diálogo inter-religioso ocorreu
de forma natural ao longo dos encontros on-line e se constituiu em um momento de troca muito
importante visto que o Brasil ainda registra grande número de casos de intolerância religiosa e,
conforme Jesus et al. (2018), no artigo Intolerância Religiosa no Brasil de acordo com a Constituição
Federal de 1988, na grande maioria dos casos de intolerância o agente intolerante desconhece o que
as outras religiões pregam. Portanto, “para atenuar a questão de intolerância, é necessário mudar a
visão das pessoas sobre crenças desconhecidas por elas, suprimindo assim o preconceito” (JESUS et
al., 2018, p. 6).
Além disso, participar de reuniões semanais com os outros extensionistas do projeto e com o
professor Bruno também contribuiu para a formação acadêmica das autoras deste relato. Nessas
reuniões, cada extensionista tinha a possibilidade de relatar suas experiências com os idosos, de ajudar
seus colegas com conselhos e de receber o conselho de outros colegas e do professor. Esses encontros,
que ocorreram de forma presencial e on-line, constituíram-se em importante troca de saberes, de
experiências, de aprendizado, permitindo aos extensionistas solucionar problemas em grupo e, assim,
garantir maior eficiência nas ações desenvolvidas.
As reuniões também foram momentos oportunos para abordar sobre temas variados que,
geralmente, eram levantados pelo grupo de extensionistas ou pelo coordenador. Dentre os temas que
foram discutidos pelo grupo, podemos citar o ‘Diálogo Intergeracional’, que consiste no diálogo entre
diferentes gerações, sendo uma possibilidade única e enriquecedora que pode ser vivenciada no
decorrer do Projeto. Nesse diálogo, duas formas diferentes de ver o mundo, separadas por décadas de
existência, interagem entre si, trocam suas experiências e vivências e ao final, ambas saem
transformadas deste processo.
A minissérie “A Sabedoria do Tempo, com Papa Francisco”, disponível na Netflix, traz à tona
uma nova forma de sabedoria, que nasce do encontro, do diálogo entre as pessoas e, principalmente,
do diálogo entre as gerações. Na minissérie, homens e mulheres com mais de 70 anos relatam histórias
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 453

emocionantes e compartilham lições importantes de vida. Assim também o Projeto Arte de Cuidar
permite ao extensionista conversar e interagir com idosos, trocando experiências, vivências e
conhecimentos.
Outro tema também trabalhado pelo grupo durante as reuniões foi ‘A Importância do
Acolhimento em Tempos de Pandemia’. Esse tema permitiu aos extensionistas compreender a
relevância das ações realizadas pelo projeto Arte de Cuidar e entender que o acolhimento permite ao
idoso, que se encontra institucionalizado e em isolamento social, interagir com jovens que estão ali
para acolher, apoiar, trazer reflexão e música para suas vidas e assim contribuir para a sensação de
alegria e bem-estar do idoso. Os temas que surgiam no decorrer das reuniões permitiram ao grupo
discutir, refletir e desenvolver um pensamento crítico.
Participar das palestras proporcionadas pelo Arte de Cuidar também contribuiu para a
formação acadêmica das autoras deste relato, uma vez que temas relevantes e atuais foram abordados
pelos palestrantes, trazendo reflexão, ampliando a visão e favorecendo o desenvolvimento de
conhecimento nos alunos. Um dos temas que foi abordado é a “Sexualidade da Pessoa Idosa”. A
palestra ocorreu de forma presencial e contou com a participação da professora Sônia Maria de Araújo
Couto. Nesse evento, o grupo discutiu e refletiu sobre a sexualidade da pessoa idosa, a vivência e a
aceitação dessa sexualidade pelos próprios idosos, por seus familiares e pela ILPI da qual eles fazem
parte. Foi um diálogo rico e que possibilitou aos extensionistas expandir o olhar sobre a sexualidade,
que perpassa todas as faixas etárias e se transforma constantemente conforme a sociedade é
remodelada.
A extensão universitária é capaz de inserir e proporcionar aos estudantes um ambiente
favorável à troca de conhecimentos teóricos e práticos, permitindo enriquecedora troca de saberes
entre os estudantes, professores, a população, e os profissionais envolvidos, além de permitir o
desenvolvimento de novas habilidades e competências, com o aperfeiçoamento de técnicas de
comunicação e a possibilidade de transferência do conhecimento acadêmico para a comunidade
(FERREIRA et al, 2018). Portanto, o resultado obtido pelas autoras deste relato, ao participar do
projeto de extensão universitária Arte de Cuidar, coincide com a literatura, uma vez que essa
experiência permitiu o desenvolvimento de novas habilidades e competências, como a capacidade de
acolher, dialogar, usar a criatividade durante a realização do acolhimento on-line, ouvir e se
solidarizar pelo outro, além do aperfeiçoamento da comunicação, permitindo ao aluno fazer a ligação
EXTENSÃO PUC MINAS:
454 Novo Humanismo, novas perspectivas

entre a teoria acadêmica com a prática voltada para a comunidade. Além disso, as reuniões em grupo
permitiram aos extensionistas desenvolver a habilidade de trabalhar em equipe e de solucionar
problemas em grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as experiências relatadas, a discussão e o resultado aqui apresentados, é possível


concluir que o projeto Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e trabalhadores de ILPIs
mineiras, é relevante e capaz de impactar positivamente na formação acadêmica dos participantes.
A extensão universitária consiste em uma experiência enriquecedora que permite aos alunos
desenvolver novas habilidades, capacitando-os para dialogar com públicos diversificados, pensar
criticamente, usar a criatividade, trabalhar em equipe, desenvolver uma escuta qualificada, além de
ser capaz de atuar na sociedade em que vive. Essas, dentre tantas outras competências que podem ser
desenvolvidas na Extensão Universitária, são essenciais na atuação de qualquer profissional e são
consideradas um diferencial importante no mercado de trabalho.
O resultado obtido, com base nas experiências vivenciadas no projeto de extensão
universitária e na literatura suplementar, é que a extensão universitária é relevante e apresenta um
impacto positivo no processo educativo, cultural, científico e formativo do aluno (COSTA et al.,
2019). Assim sendo, é possível inferir que o Projeto Arte de Cuidar pode contribuir de forma
significativa com a formação acadêmica e profissional dos alunos da PUC Minas que se interessam
pelo público-alvo, objetivos e ações realizadas pelo projeto ou que almejam experienciar algo novo e
transformador no âmbito da universidade e na sociedade.

REFERÊNCIAS

A SABEDORIA DO TEMPO, COM PAPA FRANCISCO [Minissérie]. Direção: Elias e Simona


Ercolani. Estados Unidos: Netflix, 2021.
BARROS, Ana Claudia; REZENDE, Taís. Música como forma de estimular a Saúde Mental de
Idosos durante o distanciamento social. UFSCAR, 2020. Disponível em: Música como forma de
estimular a Saúde Mental de Idosos durante o distanciamento social | InformaSUS-UFSCar. Acesso
em: 05 jun.2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 455

COSTA, Priscila et al. Ações de extensão universitária para translação do conhecimento sobre
desenvolvimento infantil em creches: relato de experiência. Rev Esc Enferm USP. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/jxdPHtGhD5CtSQ3SxnKpfct/?format=pdf&lang=pt. Acesso em:
06 jun. 2022.
FERREIRA, P. B et al. Contribuição da Extensão Universitária na formação de graduandos em
Enfermagem. Rev. Ciênc. Ext. v.14, n.3, p.31-49, 2018. Acesso em: 06 jun. 2022.
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. MINISTÉRIO DA SAÚDE, GOVERNO FEDERAL.
Recomendações e orientações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19. Brasília,
2020.
JESUS, Jovenez; et al. Intolerância Religiosa no Brasil de acordo com a Constituição Federal de
1988. Disponível em: https://www.unaerp.br/revista-cientifica-integrada/edicoes-anteriores/volume-
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JUNIOR, Alcides. A Extensão Universitária e os entre-laços dos saberes. Salvador, 2013.
MENDONÇA, Iasmin; et al. Extensão Universitária em Parceria com a Sociedade. Cadernos de
Graduação. V.1 n.16 p. 149-155. ISSN Eletrônico 2316-3143. Aracaju, 2013.
EXTENSÃO PUC MINAS:
456 Novo Humanismo, novas perspectivas

Abandono afetivo em instituições de longa permanência


para pessoas idosas - ILPIs

Esther Kevle Moreira de Lima1


Laís Catarine Ferreira2
Raquel Castro Morais Maciel3
Rosana Geralda Lima Silva4
Bruno Vasconcelos de Almeida5

RESUMO
A frequência de institucionalização de pessoas idosas tem aumentado de forma exponencial no país. Esse processo é
avassalador para o idoso e demanda suporte afetivo de suas redes de apoio. O objetivo deste trabalho é descrever o
sentimento de abandono vivenciado por pessoas idosas institucionalizadas, expresso através de desenhos, e somados às
narrativas produzidas no âmbito do projeto Arte de Cuidar pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade
Católicas de Minas Gerais (Proex PUC Minas). Os resultados mostraram a presença constante da representação do
elemento casa e o resgate de memórias em família. Conclui-se que os idosos sentem o desejo de retornar para casa, de
encontrar outros caminhos, além de apresentarem o sentimento de abandono e saudade dos parentes. Para lidarem com
os desafios dessa nova realidade no processo de institucionalização, eles utilizam a memória afetiva como um refúgio.

Palavras-chave: Envelhecimento. ILPI. Abandono afetivo. Psicologia.

Affective abandonment in long-stay institutions for the elderly

ABSTRACT
The frequency of institutionalization of elderly people has increased exponentially in the country. This process is
overwhelming for the elderly and demands an affective approach by their support networks. The objective of this work
is to describe the affective abandonment experienced by institutionalized elderly people, expressed through drawings, and
added to the narratives produced within the scope of the Arte de Cuidar project (Proex PUC Minas). The results showed
the constant presence of the element of home and the recovery of family memories. It is concluded that the elderly feels
the desire to return home, find other ways, and the feeling of abandonment and missing their relatives. To deal with the
challenges of this new reality in the process of institutionalization, they use affective memory as a refuge.

Keywords: Aging. Homes for the aged. Affective abandonment. Psychology.

1
Mestre em Ciências da Reabilitação Saúde do Idoso. Graduada em Fisioterapia, graduanda de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail: esther.lima@sga.pucminas.br.
2
Graduanda de Psicologia da PUC Minas. E-mail: lais.catarine@sga.pucminas.br.
3
Graduanda de Psicologia da PUC Minas. E-mail: raquel.maciel@sga.pucminas.br.
4
Especialista em Atenção à Saúde do Idoso. Graduada em Enfermagem, pós-graduanda em Gerontologia do Instituto
Pedagógico de Minas Gerais. Arteterapeuta de Abordagem Junguiana. E-mail: rlima@ufmg.br.
5
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP). Pós-doutor em Filosofia (UFMG), docente no curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 457

INTRODUÇÃO

O ser humano busca, por vezes, melhorar suas vivências e experiências, isso pode transformá-
lo em um ser que tende ao crescimento e à saúde. Para tanto se projeta em avanço tecnológico e
ideológico, de forma progressiva. Esses avanços tornaram possível viver por mais tempo, com maior
qualidade de vida, e tal perspectiva reflete na mudança dos papéis sociais que passam a exercer ao
longo do tempo. No período posterior à Revolução Industrial, a pessoa idosa era vista como um peso,
sem utilidade, em fase de declínio, frágil, e a velhice era interpretada como uma “fase improdutiva e
sem perspectivas” como é exposto por Vigna (2014). Embora alguns grupos ainda possuam esse tipo
de pensamento retrógrado sobre a velhice, o papel exercido pela pessoa longeva, em nosso atual
contexto cultural e político, mudou.
Hoje, os idosos são vistos sob uma perspectiva mais humanizada e sua vivência tratada com
mais dignidade. Além disso, envelhecem de forma mais ativa e participativa, e não possuem um lugar
passivo sem direito a fala como era antes. As pessoas mais velhas, na contemporaneidade, podem
contribuir de forma mais efetiva para o processo de mudanças socioculturais próprias da natureza
humana, como explicita Debert (1997, [s./p.]) “de maneira geral, a tendência das pesquisas em
Gerontologia é a substituição de uma abordagem que caracterizava o idoso como ‘fonte de miséria’
por uma perspectiva do idoso como ‘fonte de recursos”.
Mudanças como a expectativa de vida, o padrão da quantidade de integrantes em uma família
e a conjuntura político-social em que o país se apresenta refletem nas mudanças em Instituições de
Longa Permanência para Idosos - ILPI, visto que essas, ao longo do tempo, também se alteram,
visando um maior e melhor acolhimento da população mais velha. Transformações essas que
acompanham a mudança paradigmática exposta anteriormente.
As Instituições de Longa Permanência para Idosos são, de acordo com a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA (2005, [s./p.]), “instituições governamentais ou não governamentais,
de caráter residencial, destinadas ao domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60
anos, com ou sem suporte familiar e em condições de liberdade, dignidade e cidadania”.
As ILPIs eram conhecidas, antigamente, por termos pejorativos como: "asilos", "lares de
idosos", "ancionatos", "casas de repouso", dentre outros termos enraizados, frutos e produtores de
forte preconceito (PINTO; SIMSON 2012). A fim de modificar essa forma de pensar e tratar o local
onde residem os longevos, foi determinada a substituição desses nomes pela sigla ILPI. Essa alteração
objetiva humanizar o contexto institucionalizado de seus residentes, pois significa uma “nova
organização e gestão de moradia para os internos", como afirma Costa e Mercadante (2013, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
458 Novo Humanismo, novas perspectivas

Nesse novo espaço institucionalizado, o idoso é submetido às normas e leis instituídas para
aquele ambiente e que não lhe são próprias. Além disso, experimentam, continuamente, a convivência
com pessoas desconhecidas, e sofrem uma marcante perda de referência espacial (SOUZA, 2016).
Todo esse contexto de mudança pode gerar sentimentos negativos nos internos da ILPI. O presente
relato pretende analisar a sensação de não pertencimento do idoso, o qual é vinculado ao abandono
afetivo.
Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento desses sentimentos, entre eles, é possível
mencionar a dificuldade de adaptação do idoso ao novo ambiente, uma vez que ele perdeu parte
considerável de sua autonomia e tem seu círculo de relações com amigos e familiares fortemente
reduzidos, e, muitas vezes, de forma abrupta. Para a realização deste trabalho, houve conversas e
análises com idosos, em que, constantemente, afirmaram que a ILPI não é a casa deles, pois já
possuem as próprias residências e, estão ali temporariamente. Além dessas falas, na Arteterapia eles
têm a oportunidade de se expressar e demonstrar os sentimentos que estão silenciados.
Haja vista o exposto acima, esta pesquisa objetiva propor uma discussão acerca do abandono
afetivo vivenciado por idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI)
de Caeté, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse sentimento de abandono foi
percebido em uma oficina de desenho livre, realizada pelas extensionistas e estagiárias do Projeto
Arte de Cuidar da PUC-Minas, e também em outra oficina de Arteterapia realizada pela enfermeira,
especialista em atenção ao idoso, Rosana Lima. Dessa forma, para confecção deste artigo, utilizamos
os desenhos produzidos em ambas, sob a perspectiva da literatura científica dos últimos anos que
contemplam a interpretação de procedimentos de natureza artística sob a ótica daqueles que os
realizam, no caso, os idosos.
Este trabalho se justifica pela relevância do tema, principalmente no momento atual em que,
frente à pandemia da COVID-19, essa população vivenciou um isolamento ainda mais duro e intenso.
Além de se tratar de materiais produzidos de grande riqueza de informações e percepções da vivência
dos idosos institucionalizados, que estiveram presentes durante as atividades de extensão do Projeto
Arte de Cuidar. A pesquisa pode gerar grande contribuição à comunidade acadêmica, ao fornecer
novas informações que aproximam a literatura existente às experiências desse grupo amostral da
população residente em uma ILPI próxima a Belo Horizonte.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 459

2 DESENVOLVIMENTO

Nas últimas décadas, o avanço científico e tecnológico proporcionou ao ser humano uma
longevidade jamais experimentada por gerações anteriores. Em virtude do envelhecimento rápido da
população, o rearranjo familiar que leva ao menor número de filhos e a maior participação da mulher
no mercado de trabalho, as famílias se encontram menos disponíveis para cuidar de idosos. Nesse
contexto, a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) surge como uma opção ao cuidado
não familiar de idosos.
Assim, muitas famílias veem na institucionalização uma forma de garantir apoio e bem-estar
físico e social para o seu parente em idade avançada. Os serviços de geriatria caracterizam-se pela
longa permanência de seus usuários. Entretanto, para o idoso, pode ser um choque o processo de
adaptação a essa nova condição de vida. A mudança no papel social, a restrição de espaço físico, a
perda da privacidade, o distanciamento dos familiares, a retirada de objetos que lhes são caros e
importantes, muitas vezes em função do valor sentimental, podem causar um impacto negativo na
saúde mental do idoso. Apesar de sua característica limitante, para alguns, esse arranjo chega a ser
até satisfatório, pois se sentem mais protegidos e amparados do que em seu meio familiar.
O funcionamento das ILPI é regulado por normas técnicas previstas na RDC Nº 238, de 26 de
setembro de 2005, do Ministério da Saúde. Dentre as inúmeras funções da instituição, apoiar e
incentivar a relação entre familiares é uma delas. Entretanto, de acordo com a Defensoria Pública de
Minas Gerais, a realidade é bem distante. Apesar dos esforços dos Administradores e Assistentes
Sociais, muitas são as razões que explicam, embora não justifiquem, o constante abandono dos
internos nas ILPI.
Em alguns casos, não há vinculação de afeto com os mais velhos, em outros, a partir do
momento da institucionalização, as famílias, sobrecarregadas com os afazeres diários, vão
encontrando cada vez menos tempo para se dedicarem às visitas ao idoso. Há casos também em que
os familiares não veem importância em visitar o parente, pois imaginam que já pagam para que tudo
lhes seja providenciado. Independente do motivo, tal abandono gera no residente longevo uma
angústia, sentimento cada dia maior. Isso promove um reflexo direto na saúde física, emocional e
social do interno, causando alterações negativas no seu corpo, nas suas crenças e nas suas emoções.
A epidemiologia do envelhecimento no Brasil e no mundo evidencia a transição demográfica
mundial nas últimas décadas, a redução da taxa de fecundidade, o aumento da expectativa de vida e
a redução da mortalidade infantil foram determinantes para essas mudanças. De acordo com a
EXTENSÃO PUC MINAS:
460 Novo Humanismo, novas perspectivas

Organização Mundial de Saúde (OMS), idoso é toda pessoa com 65 anos ou mais, já, em países
desenvolvidos, ou, no caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, pessoas com 60 anos ou
mais.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui,
atualmente, 27 milhões de idosos, número que corresponde a 12% da população. A estimativa para
2050 é de 30%, baseados no atual crescimento anual de 700 mil novos idosos. O envelhecimento
acelerado da população (ver gráfico 1) traz consigo um grande desafio para as famílias e para a
sociedade, fazendo com que seja necessária a implementação de políticas públicas específicas para a
população idosa.

Gráfico 1 – Escala de projeção demográfica da população brasileira

Fonte: Blog Fernando Nogueira Costa6

É importante ressaltar os marcos legais das políticas públicas dirigidas à pessoa idosa.
Segundo o artigo 230 da Constituição Federal, o amparo às pessoas idosas é dever da família, da
sociedade e do Estado, e sua participação social deve ser garantida, bem como sua dignidade, bem-
estar e direito à vida.
De acordo com Morais e Azevedo (2016, p.28), na época do Brasil Império foi promulgada a
Lei Nº 3.270, de 28 de setembro de 1885, também conhecida como Lei do Sexagenário, a qual
concedia liberdade, condicionada a determinados requisitos, aos escravos a partir dos 60 anos e
àqueles com mais de 65 anos, alforria total.

6
Disponível em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/12/16/piramide-etaria-brasileira/.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 461

Na década de 1970, surge a aposentadoria para os trabalhadores rurais e a renda mensal


vitalícia para os idosos em situação de carência, sendo urbanos ou rurais, que não fossem
contemplados com benefícios da Previdência Social.
A partir de 05 de outubro de 1988, a promulgação da Constituição Federal garantiu uma
legislação específica para a pessoa idosa. Com base na Constituição, em 1993, foi aprovada a Lei
8.742, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que no Art.2º, evidencia a proteção à velhice e
garante um salário mínimo às pessoas idosas que não tenham como se manter e cujas famílias também
não puderem fazê-lo.
Também amparada na Constituição, a Lei nº 8.842 de 1994, instituiu a Política Nacional do
Idoso (PNI) com o objetivo de “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”. Em 1999, foi instituída a
Política Nacional de Saúde do Idoso, através da Portaria nº 1.395.
Com o objetivo de aumentar qualidade e a expectativa de vida saudável à população que esteja
envelhecendo, em 2005, o Ministério da Saúde, e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)
realizaram a publicação das orientações sobre o envelhecimento ativo com o título de
“Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde”.
O Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº 10.741/2004, define os direitos fundamentais da
pessoa idosa, estabelecendo que o Ministério Público é responsável pelos mecanismos de defesa
desses indivíduos, além de normatizar as instituições de abrigo e estabelecer sanções para aqueles
que desrespeitarem esses direitos. Esse é o documento formal mais completo em defesa da pessoa
idosa no Brasil.
Em 2006, com a publicação das Diretrizes do Pacto pela Saúde, através da Portaria nº 399/GM,
a saúde do idoso ganhou destaque no Pacto pela Saúde, ao ser considerado uma das seis prioridades
pactuadas entre as três esferas governamentais. Por fim, a Lei nº 11.433/2006 determinou a
comemoração do Dia Nacional do Idoso no dia 1º de outubro de cada ano.
Nesse contexto político-social, encontram-se, na Arteterapia, possibilidades de aproximação
com a realidade do idoso, sua identidade e privacidade. O uso da arte como forma de comunicação e
expressão é uma prática dos seres humanos desde os primórdios da história. Por meio da arte, é
possível estabelecer uma linha de comunicação e transmitir informações, pensamentos e sentimentos.
De acordo com Souza (2014), a arte começou a ser usada em hospitais psiquiátricos como forma de
ajudar a classificar as doenças mentais, desde o século XIX.
EXTENSÃO PUC MINAS:
462 Novo Humanismo, novas perspectivas

Posteriormente, Freud analisou algumas obras de pintores famosos como Da Vinci e


Michelangelo e percebeu que esses artistas representavam, em suas obras, sentimentos que se
relacionavam com suas próprias vidas. No entanto, na década de 1920, Jung foi o primeiro a utilizar
a arte na prática terapêutica, incentivando os pacientes a desenharem livremente, como forma de
expressar sonhos, sentimentos e conflitos. Para ele, a imagem era um símbolo do inconsciente pessoal
e também coletivo, de acordo com a cultura de cada civilização (SOUZA, 2014).
A partir dessa época, psiquiatras dos Estados Unidos e Inglaterra também se viram seduzidos
pela utilização da arte como método de psicoterapia. No Brasil, a utilização da arte com finalidade
terapêutica se deu a partir de 1925 por intermédio de Osório César e Nise da Silveira, ambos
psiquiatras que acreditavam no poder da arte como forma de expressar e trabalhar os conflitos
internos. Com o tempo, a Arteterapia saiu dos limites da psiquiatria e ganhou espaço nos atendimentos
em hospitais, consultórios, empresas e organizações.
Embora o processo de envelhecimento seja um fenômeno natural, comum a todas as pessoas,
deve-se considerar que cada indivíduo é único, com características pessoais e exclusivas, tornando
seu processo de envelhecimento muito particular. Ao ser institucionalizando, o idoso se vê
enquadrado em um sistema de rotinas e protocolos que lhe são impostas, sem levar em conta a sua
individualidade, o que pode levar a uma perda de controle de sua própria identidade.
Toda mudança traz a necessidade de uma desconstrução de paradigmas, para então, reconstruir
um novo padrão de comportamentos, os quais são fundamentais para que se possa adaptar às novas
situações e realidades. Entretanto, se para indivíduos mais jovens isso se constitui em um grande
desafio, para os idosos é ainda maior, pois aparece em um momento que já está repleto de perdas e
surpresas.
A American Art Therapy Association (AATA, 2017, [s./p.]) assevera que “o uso da arte como
terapia implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais,
como de facilitar a autopercepção e o desenvolvimento pessoal.” Dentre as diversas ferramentas
utilizadas pela Arteterapia, o desenho e a pintura são recursos que possibilitam o indivíduo entrar em
contato com o próprio inconsciente e assim apropriar-se do seu ser como um todo.
De acordo com Rabello (2015), ao envelhecer as pessoas não deixam de ter sentimentos,
emoções e desejos, logo podem retratá-los em desenhos, assim como as crianças, jovens e adultos.
Com base na produção das pessoas longevas, é possível entender como se sentem, conhecer suas
angústias e necessidades, sonhos e marcas do passado. A utilização do desenho ajuda os idosos a se
conhecerem melhor, mas também tem a capacidade de auxiliar os cuidadores das ILPI a entenderem
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 463

as dificuldades enfrentadas pelos residentes, o que lhes dá a condição de proporcionar aos idosos um
cuidado mais individualizado e voltado para suas reais necessidades. Ainda segundo a mesma autora,
não apenas os internos, mas também os colaboradores precisam trabalhar os seus sentimentos para a
melhoria das relações entre ambos.
Segundo Souza (2014, p. 17), a Arteterapia é o uso da arte como forma de estabelecer um
processo terapêutico, visando “estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a
consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência”. Com a Arteterapia, embora seja importante
trabalhar o tempo presente e todas as suas possibilidades, isso só é possível a partir do resgate da
memória, da cura de questões passadas, muitas vezes guardadas no inconsciente, para que se
vislumbre a possibilidade de fazer projeções, ainda que guardadas as devidas proporções em relação
ao tempo futuro.
Assim, a utilização dessa ferramenta com idosos residentes em ILPI é de grande importância
para o resgate de memórias, reestruturação do presente e tranquilidade e confiança em relação a
propostas para o futuro, futuro esse que, para muitos, é visto como algo inimaginável para pessoas de
idade avançada.

3 METODOLOGIA

Este estudo foi elaborado a partir de uma abordagem qualitativa, a partir de narrativas escritas
por idosos, após interpretarem seus próprios desenhos em uma oficina do projeto Arte de Cuidar.
Houve, em média, 16 participantes, todos com mais de 60 anos, e institucionalizados em uma ILPI
em Caeté, um município da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eles realizaram um total de 65
desenhos, no período de fevereiro a agosto de 2018, e entre abril e junho de 2022. Em 2022, a convite
do professor Bruno Vasconcelos, foi iniciada a parceria entre a ILPI Lar de Idosos de Caeté e o Projeto
de Extensão Arte de Cuidar, financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PROEX - PUC Minas). Esse projeto está inserido na Rede de Apoio à
Pessoa Idosa (RAPI) e visa oferecer assistência psicossocial à população idosa institucionalizada e
não institucionalizada em diversas regiões de Minas Gerais.
A proposta de auxílio acontece no modo presencial e/ou virtual, no formato de acolhimento,
escuta, e intervenções diversas a depender da demanda e da possibilidade de oferta. O projeto conta
EXTENSÃO PUC MINAS:
464 Novo Humanismo, novas perspectivas

com o gerenciamento e supervisão do professor Bruno Vasconcelos, e atuação em campo de


estagiários do curso de Psicologia, e de extensionistas de diversos cursos de graduação da área de
humanas, saúde, comunicação, entre outros.
O montante total de desenhos foi estratificado sob uma perspectiva quantitativa. Utilizamos
uma subamostra de 7 desenhos, equivalente a 10,8% da amostra total, para realizar a descrição das
narrativas que inspiraram as ilustrações. acompanharam o desenho. Para a seleção, usamos o critério
de heterogeneidade dos elementos gráficos do desenho, a fim de evidenciar a presença do sentimento
de abandono afetivo nos trabalhos realizados pelos idosos.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Em 2018, Rosana Lima iniciou o trabalho de arteterapia em grupo com os idosos da ILPI Lar
do Idosos de Caeté, realizando a confecção dos desenhos e registrando a narrativa que eles traziam a
partir daquilo que produziam. Em 2022, as três extensionistas do projeto Arte de Cuidar, e estudantes
de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, junto a coordenadora de oficinas
de intervenção Rosana Lima, realizaram oficinas virtuais nas quais os idosos participantes seguiram
confeccionando desenhos, e posteriormente através de uma narrativa descreveram o que cada
elemento do desenho significava para eles.
No total, foram feitos 65 desenhos, sendo que 22 apresentaram, pelo menos, um elemento que
simbolizava uma casa (ver Gráfico 2), sendo apenas 5 deles mais evidentes. O restante possuía
componentes a mais, como coqueiros, flores, jardins, animais e/ou pessoas. De 43 desenhos
remanescentes, 11 não possuem itens que remetem à casa (ver Gráfico 2), mas possuem flores e
pessoas; desses, 5 têm apenas elementos que apresentam relação com flores ou algum aspecto de
folhagens. Para além, 4 apresentam algo simbolizando uma pessoa, seja exclusivamente, ou ligada a
um complemento. Por fim, apenas 1 desenhou somente uma pessoa e 1 misturou vários elementos,
sendo alguns não identificados.
De 32 desenhos,7 mostram características como linhas (ver Gráfico 2), sejam elas em espiral,
em forma alongada, em formatos circulares ou de forma desarranjada. Em uma das análises realizadas
pela própria idosa que produziu o desenho, essas linhas são identificadas como estradas ou caminhos.
Além disso, também pode representar uma casa. Os outros 25 desenhos estudados não possuem
elementos bem definidos e que se repetem (ver Gráfico 2). Alguns, encontram explicação e sentido
após serem esclarecidos pelos próprios autores das obras, tendo as mais variadas formas e conteúdo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 465

Exemplo disso é a narrativa de uma idosa que realizou o desenho de um casulo, seguido por um
lagarto e que evolui para uma borboleta. Isso posto, analisaremos alguns desses trabalhos de forma
qualitativa, para maiores discussões conforme a proposta do trabalho.

Gráfico 2 – Estratificação dos desenhos segundo os elementos contidos neles

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

No Gráfico 2, podemos observar que a maior parte dos desenhos (38,5%) contém elementos
gráficos diversos, não específicos. Seguido desses, o elemento singular, casa, é o que aparece com
maior frequência (33,8%). O elemento linha, por sua vez, aparece com menor frequência (10,8%),
enquanto os elementos flor e pessoa aparecem com um pouco mais (16,9%). Essa estratificação
reuniu todos os aspectos gráficos não específicos em um mesmo grupo, aumentando a frequência da
ocorrência desses. Nessa perspectiva, é interessante percebermos que, ainda assim, o componente
casa, unitário em seu grupo de estratificação, se apresenta em grande proporção, o que evidencia que
a sua representação é uma escolha comum para os idosos institucionalizados nesta ILPI.
Há dois fatores que influenciaram no resultado desse gráfico. O primeiro é o fato de que,
diante do processo de envelhecimento, ocorre redução progressiva das acuidades, sejam elas visuais,
auditivas ou motoras. Essa redução reflete na capacidade de alguns idosos executarem com precisão
a confecção do desenho que eles imaginaram e que gostariam de fazer, sendo por fim um fator
limitador para suas expressões artísticas na forma de desenho (MORAES; AZEVEDO, 2016).
Outro fator a ser considerado são os símbolos e a construção de significados que cada idoso
agrega ao longo de sua vida, que se dão por intercessão de fatores culturais, sociais, de subjetividade
e formas de experimentar as vivências. Seria um equívoco nos apegarmos aos elementos do desenho
em separado, já que o processo de construção simbólica acontece de forma tão subjetiva, assim a
única forma de se contemplar o desenho com aproximação da ideia trazida pelo artista compositor da
obra é perceber o grafismo do desenho junto a narrativa que o acompanha (RABELLO, 2015).
EXTENSÃO PUC MINAS:
466 Novo Humanismo, novas perspectivas

A narrativa dos idosos e a construção coletiva realizada nas oficinas permitiram perceber a
alta frequência em que os idosos trouxeram: a expressão da palavra casa, o desejo de viajar, sair,
voltar para casa e encontrar a família. Nas descrições qualitativas das narrativas, é possível perceber
que todos os desenhos, de alguma forma, apresentam elementos que possuem significado para o
artista, os quais remetem ao aconchego do lar e ao sentimento de pertença.

Figura 1 – Desenho da idosa MA contendo o elemento linha.

Fonte: Portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG.

Pode-se perceber que nesse desenho (ver figura 1), aparentemente, estão desenhadas apenas
linhas e alguns rabiscos. Contudo, a idosa que o desenhou, a Sr.ª MA. relatou que a linha vermelha
era a sua casa e que as linhas azuis significavam uma viagem, uma estrada na qual ela ficou em dúvida
se chegava hoje, ou não, mas que certamente era um caminho. Embora os elementos gráficos que a
idosa conseguiu desenhar foram rabiscos em forma de linha, durante a narrativa, o significado foi
construído, indicando o seu desejo de viajar, de seguir por um caminho, e com a pretensão de chegar
a algum lugar, ainda que esteja à mercê do tempo. Ao que tudo indica, esse lugar poderia ser a sua
casa.
Neste outro desenho (figura 2), existe a expressão gráfica, explícita, de uma casa. A Sr.ª MI.,
ao desenhar, relatou que essa era a casa da fazenda que possui, local onde acredita que irá morar um
dia com as pessoas que ama: o amor da vida dela, o seu irmão, a sua irmã e a sua sobrinha. Ela disse
que adora plantar flores e que quer ter uma horta. Ao final, ainda complementou dizendo que nessa
casa terão muitos quartos disponíveis. A expressão do desejo de reencontro com a família fica
explícita, tanto na forma figurada, quanto na forma verbal. Além disso, ao expressar que haverá
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 467

quartos disponíveis, nos leva a entender que existem espaços a serem ocupados, preenchidos. Aqui é
possível perceber a existência do sentimento de falta, ausência e desejo de preenchimento e
aproximação da família.

Figura 2 – Desenho da idosa MI contendo elementos diversos

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2022.

Existe uma grande variação dos elementos gráficos de um desenho para o outro. Este desenho,
por sua vez (figura 3), é rico na diversidade gráfica e abstrata. A Sr.ª L., autora da ilustração, expressa
em sua narrativa que o significado dos elementos do desenho são: os pontinhos pretos são estrelas, o
círculo mais escuro é a lua, e os "rabiscos" são uma estrada para chegar a sua casa. Logo, após
descrever o desenho, L. relembrou e relatou o local exato onde fica sua casa, descrevendo a rua, o
número, e a cidade, e ainda contou que dividia o espaço com a sua mãe, o seu pai, o seu irmão e a sua
irmã. Mais uma vez, a combinação do desenho junto à narrativa, revela um sentimento de falta e a
busca pelo pertencimento.

Figura 3 – Desenho da idosa L. contendo os elementos diversos

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
468 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 4 – Desenho da idosa R. contendo os elementos diversos

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2022.

A figura 4 não se diferencia muito das outras amostras de desenhos. Sr.ª. R. propôs a seguinte
narrativa para a sua arte: três desenhos na mesma folha, sendo que ela achou o primeiro parecido com
um lagarto, mas não tinha certeza. O segundo, ela disse que parecia um casulo envolvido numa
estrutura de flores, e que, por fim, virou uma borboleta. Ela apontou que se sentiu alegre ao ver o
desenho, mas não prolongou muito seu discurso. Ainda que tenha sido diferente das outras
perspectivas apresentadas, percebemos que a escolha feita pela idosa é de um inseto, no caso a
borboleta, adquire asas e assim pode voar, partir.

Figura 5 – Desenho da idosa A. contendo elementos em linha

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2022.

Esse foi o trabalho artístico proposto pela Sr.ª A, (ver Figura 5), o qual, também há elementos
em forma de listras. A autora relatou que elas se referiam a um lugar chamado Morro d’Água Quente,
distrito de Catas Altas, em Minas Gerais, onde viveu por 3 anos com sua irmã, porém, ainda que sinta
falta, não voltaria a morar no local, visto que não conhece mais ninguém que mora lá. O desenho feito
pela Sr.ª. V. (figura 6), foi confeccionado em uma oficina em 2018. Ainda hoje, a idosa permanece
repetindo e realizando desenhos similares no processo de Arteterapia. A narrativa apresentada por ela
revela que o desenho representava a casa da família, no distrito onde ela morava, e as flores cultivadas
no jardim são de sua casa. Quanto aos elementos presentes na obra, a Sra. V. conta que desenhou os
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Novo Humanismo, novas perspectivas 469

animais domésticos que lá viviam, as flores que cultivava no jardim de sua casa e a residência em que
seu irmão vive atualmente. A história de V. aponta memórias saudosas que tem desse ambiente de
lar, com aconchego da família, dos animais e das flores.

Figura 6 – Desenho da idosa V. contendo elementos de flores e pessoas.

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2018.

Figura 7– Desenho do idoso S. contendo elemento casa.

Fonte: portfólio de desenhos da ILPI, Lar de Idosos de Caeté-MG, 2022.

Esse desenho (figura 7) também explicita, graficamente, a forma de uma moradia. Após
desenhar, o Senhor S. relatou que a imagem se tratava da roça em que ele morava com sua mãe, seu
pai e seus 8 irmãos. A partir desse estímulo, ele nos contou que os seus irmãos faleceram e que eles
eram todos solteiros. Contou também que ele e um de seus primos residem na mesma ILPI.
Acerca do desenho, o Sr. S informou que desenhou dois coqueiros que ficavam em frente à
Igreja do Senhor Bom Jesus, e ao lado de sua casa. Ele se lembrou, enquanto desenhava, que tinha
outra árvore parecendo um pé de mexerica, além de um carrinho de tábua que ele usava para brincar
e escorregar. Ao perguntarmos como se sentiu ao desenhar, S. disse que se divertiu e focou nas
emoções positivas que a lembrança saudosa de sua casa lhe remeteu.
Ao analisar as narrativas que compreendem os desenhos confeccionados por esses idosos,
podemos perceber a presença do desejo de ir para casa, de estar em um ambiente familiar e o
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470 Novo Humanismo, novas perspectivas

sentimento de abandono como reflexo da realidade em que vivem. Seus desejos e sonhos foram
projetados e relatados nas oficinas de Arteterapia, bem como as memórias afetivas que lhe servem de
aconchego para lidar com essa nova realidade nas suas vivências de isolamento afetivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de envelhecimento é inerente à existência humana, mas as formas de envelhecer


são influenciadas por fatores psicossocioculturais e políticos. Dessa forma, o aumento na expectativa
de vida da população, junto à redução da natalidade, reflete em uma insuficiência sistêmica no amparo
à pessoa idosa. Frente a essa problemática, existe um número crescente de ILPIs, e aumento no
processo de institucionalização da pessoa idosa, fato que requer um olhar mais humanizado e atento
às demandas de manutenção de vínculo e fortalecimento com suas redes de apoio.
Os resultados deste relato evidenciam a forma como as idosas e os idosos residentes de uma
ILPI localizada em Caeté, uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, significam suas
vivências e as expressam através de desenhos. E, em sua maioria, elas / eles demonstram o desejo de
retornar para casa, de encontrar outros caminhos, além de indicarem o sentimento de abandono, a
falta de pertença, a saudade da família, e utilizam estratégias como a de recorrer à memória afetiva,
como lugar de aconchego, para lidar com os desafios da nova realidade em processo de
institucionalização.
Nesse âmbito, as fragilidades emocionais, as quais esse grupo está exposto, devem ser
colocadas em pauta, a fim de que estratégias sejam estabelecidas para reduzir a vulnerabilidade
afetiva e emocional dessas pessoas. Por isso, faz-se necessário maior tomada de consciência da
responsabilidade afetiva dos envolvidos, sejam eles os familiares, pessoas de referência, ou os
equipamentos de saúde e assistência social, isto é, todos que estão envolvidos no cuidado à pessoa
idosa.

REFERÊNCIAS

ANVISA. Ministério da Saúde. Resolução da Diretoria Colegiada, 283, de 26 de setembro de


2005. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2005/res0283_26_09_2005.html r. Acesso em: 02
jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 471

COSTA, Maria Carla Nunes de Souza; MERCADANTE, Elizabeth Frohlich. O Idoso residente em
ILPI (Instituição de Longa Permanência do Idoso) e o que isso representa para o sujeito idoso.
Revista Kairós-Gerontologia, v. 16, n. 1, p. 209-222, 2013.
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RABELLO, Nancy. O desenho do idoso: as marcas e o simbolismo que o tempo traz. Rio de Janeiro:
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SOUZA, Otília Rosângela. Longevidade com Criatividade: Arteterapia com Idosos - 2ª ed. Belo
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SOUZA, Shirley Ferreira de. Do Lamento à Esperança: melhorando a qualidade de vida de idosos
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VIGNA, Karen. O Papel do Idoso na Contemporaneidade: o Grupo Revivendo a Vida faz História.
Educação e Cidadania, v. 1, n. 15, 2014.
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472 Novo Humanismo, novas perspectivas

Violência contra Mulheres Trans em Situação de Rua

Ana Rita Assis Cardoso de Souza1


Marise Brostel Correa2
Bruno Vasconcelos de Almeida3

RESUMO
A realidade de mulheres trans em situação de rua no Brasil se constrói a partir de constantes violências, porém como
quantificá-las e analisá-las? Este relato de experiência — originado de questionamentos feitos após uma breve fala
realizada por uma mulher trans em situação de rua — propõe aprofundar a questão, tomando como base pesquisas e
análises encontradas anteriormente em diferentes bibliografias. Compreendendo a complexidade e transversalidade de
todas as questões sociais e epistemológicas permeadas pelo tema proposto, debateremos visando à perspectiva da
psicologia e seus atravessamentos. Verificamos, nesta experiência relatada, que houve um acolhimento por parte da rede
que atende a participante, indicando um bom atendimento, porém limitado, já que a violência institucional ocorre com
serviços pouco alinhados às suas necessidades e um tratamento que, muitas vezes, não reconhece a mulher trans em sua
feminilidade. A violência estrutural e institucional exposta neste relato se repete na bibliografia pesquisada, mostrando a
necessidade de se investir em políticas públicas, serviços e educação que respeitem as demandas e os direitos dessas
mulheres.

Palavras-chave: Pessoas em situação de rua. Violência. Mulheres Trans. Psicologia.

Violence Against Trans Women in Street Homelessness

ABSTRACT
The reality of trans women living on the streets in Brazil is built on constant violence. However, how to quantify and
analyze them? This experience report — originated from questions raised after a brief speech given by a trans woman
living on the streets — proposes to deepen the question based on research through analysis previously carried out by
different bibliographies. Understanding the complexity and transversality of all social and epistemological issues
permeated by this subject, we discuss it from the perspective of psychology and its crossings. We verified in this reported
experience that there was a welcome by the network that attends the participant, indicating a good, but limited service,
since the institutional violence that occurs with services is low-aligned with her needs and a treatment that often does not
recognize the trans woman in her femininity. The structural and institutional violence exposed in this report is repeated
throughout the researched bibliography, showing the need to invest in public policies, services and education that respect
the demands and rights of these women.

Keywords: Homeless people. Violence. Trans Woman. Psychology.

1
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas, extensionista no Projeto (K)línica: Direitos Humanos e cidadania. Email:
anaritaassis@hotmail.com.
2
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas, extensionista no Projeto K(línica): Direitos Humanos e Cidadania, graduada
em Comunicação Social/Publicidade pela UFES e pós-graduada em Gestão e produção Audiovisual pela Universidade
de La Coruña-Espanha. Email: marisebrostel@hotmail.com.
3
Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Pós Doutor em Filosofia (UFMG), docente no curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: brunovasconcelos@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 473

INTRODUÇÃO

Socialmente, construímos, a partir de relações econômicas e normativas, determinadas


maneiras de relacionamentos interpessoais. Indivíduos que exibem certas condições de gênero e
sexualidade, vistos como a normalidade, contribuem para uma maior aceitação social. Pensando na
realidade de corpos marginalizados, a relação de poder entre indivíduos que condizem com a
heterocisnormatividade — sistema dominante que dita apenas uma maneira de gênero e sexualidade
— e aqueles que são considerados ”transgressores“ dessa realidade resulta, muitas vezes, em
violências originadas em diversos âmbitos, sendo elas institucionais, psicológicas, físicas, entre
outras.
O tema que trabalharemos neste relato partiu da busca de compreender e aprofundar as
violências sofridas por mulheres trans em situação de rua, observadas durante o trabalho em campo
da extensão (K)linica: Direitos Humanos e Cidadania. Esse projeto trabalha com pessoas em situação
de rua, por meio de um método clínico, utilizando rodas de conversa, atividades grupais e uma escuta
ativa, realizando intervenções em educação de direitos e ações extrajudiciais de natureza estratégica.
Ele também parte de uma análise de casos concretos com embasamento teórico e com a participação
de todos os envolvidos, professores, alunos, parceiros e o público atendido. Um público heterogêneo,
com realidades distintas que usam a rua como moradia e sustento, em condições de pobreza extrema
e com vínculos interrompidos ou fragilizados. Dentro desse público atendido, encontram-se as
mulheres trans, com experiências particulares, relatadas nesse estudo, como o depoimento de *V.,
que se apresentou como mulher trans no evento Rua do Respeito, em abril de 2022, que nos fez
indagar sobre os tipos de violência sofrida por essas mulheres em situação de rua; mas, para isso, é
preciso compreender como mulheres transexuais, mulheres transgêneras e travestis, que são
englobados no termo “mulheres trans” como identidade de gênero, são reconhecidas e tratadas pela
sociedade? Para nós, futuros profissionais da psicologia, compreender os movimentos de violência
que marcam um indivíduo resulta em melhores capacidades de intervenções e colabora para uma
efetiva aproximação humana, questão fundamental para nosso trabalho.
É importante destacar o caráter interdisciplinar desse relato de experiência, articulando
diferentes saberes da prática científica trabalhada no projeto de extensão (K)línica, ou seja, as áreas
do direito e da psicologia. Utilizando os conhecimentos e estudos dos cursos da faculdade e o vínculo
EXTENSÃO PUC MINAS:
474 Novo Humanismo, novas perspectivas

da rede SUAS (Serviço Único de Assistência Social) e das instituições parceiras, é possível cocriar e
aprofundar o trabalho em rede, promovendo maiores ganhos e efetividade no acompanhamento dos
sujeitos moradores de rua.
Para as pessoas em situação de rua, de acordo com Antoní e Munhós (2016), “há vivências
contínuas de situações de discriminação por parte da sociedade, exposição à violência,
imprevisibilidade, adoecimento psíquico e físico e privação de necessidades básicas” (ANTONÍ;
MUNHOS, 2016, p. 642). Para mulheres trans, essa vulnerabilidade se apresenta de maneira
intensificada. Letícia Nascimento (2021) aponta que há uma forte criminalização da transgeneridade,
“nesse sentido, os corpos trans são nomeados e classificados dentro do “CIStema” colonial moderno
de gênero como patológicos, desviantes e perversos”. (NASCIMENTO, 2021, p.98).
Um indivíduo que pertença a estes dois grupos — mulheres trans e pessoas em situação de
rua — está exposto a outros tipos de violências, perpassando diversos âmbitos da própria vida. Por
este fator, torna-se necessária a investigação acerca do tema.

2 DO CONCEITO DE GÊNERO AO TRANSFEMINICÍDIO

O que define ser uma mulher? Para Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se
mulher” (BEAUVOIR, 1970 apud NASCIMENTO, 2021, p. 30), demonstrando, assim, a primeira
concepção do impacto cultural na construção do ser feminino. Também, segundo Letícia Nascimento
(2021), o conceito atual de gênero, para grande parte das feministas, é marcado por dimensões
culturais e históricas, abarcando modos distintos de viver e produzindo variadas experiências sociais,
individuais e coletivas. Mulheres, um conceito no plural, oprimidas de maneira diferente, também se
relacionam com essa opressão de maneiras distintas. A evolução do conceito de feminismo rompe a
interpretação binária de gênero com embasamento biológico e aponta a interseccionalidade como
fundamental na compreensão da pluralidade das experiências femininas e nas formas de opressão que
se cruzam em suas vivências.
É possível construir aproximações com opressões vivenciadas por mulheres lésbicas e
bissexuais, mulheres transexuais e travestis. Porém, ainda há muita controvérsia, mesmo entre
feministas, no reconhecimento de mulheres trans na busca por seus direitos. De acordo com
Nascimento (2021), a cisgeneridade vem para questionar privilégios daqueles que se enquadram em
uma “perspectiva naturalizante e essencialista de gênero”, visto que:
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 475

[u]m conceito colonial com base bioessencial das experiências que impõe um padrão binário
ao sexo (biológico) e ao gênero (cultural): Assim, o processo de patologização,
criminalização e subalternização das identidades trans fazem parte dos interesses do CIStema
colonial moderno de gênero”. (NASCIMENTO, 2021, p. 101).

Os dados do Atlas da Violência (CERQUEIRA et al., 2021), a partir do Sinam (Sistema de


Informação de Agravos de Notificação) apontam que, em 2018, foram 3.758 casos de violência contra
pessoas trans e travestis, um número que aumentou para 3.967 em 2019. No perfil por raça das
mulheres trans e travestis violentadas, 58% são negras. Essa intersecção com raça aponta para uma
necessidade ainda maior em focalizar políticas públicas para esse grupo. O relatório ainda aborda a
falta de dados por baixo preenchimento em relação à orientação sexual e à identidade de gênero, que
aprofundam a invisibilidade da violência de pessoas LGBTQIA+ e trans.

3 DA IDEOLOGIA À VIOLÊNCIA

É possível compreender que a relação de violência exercida sobre determinados grupos faz-
se presente devido à concepção social e às suas organizações políticas. De acordo com Carmo (2016),
“podemos perceber que o léxico pode carregar e carrega em sua significação aspectos importantes da
visão de mundo que os indivíduos possuem” (CARMO, 2016, p. 2010), ou seja, a forma como
denominamos os indivíduos expressa a forma como ele será tratado. Dessa maneira, denominar as
pessoas em situação de rua e as mulheres trans como “grupos minoritários” resulta em uma
movimentação política e de reconhecimento, mas também exprime uma fuga da “normalidade”.
Como debatido anteriormente, o conceito de mulher é amplo e construído de acordo com a
história e sociedade em que cada uma se insere, entendendo que cada vertente, com suas
características, é dita de um lugar político, que necessita ser ocupado a partir de cada cultura. Porém,
ser mulher é permanente e consiste em compreender o gênero como algo circundante à construção da
própria subjetividade ao longo da vida. Já a situação de rua, é um fator circunstancial e de difícil
conceituação, conforme Rosa (2005) apud Antoní e Munhós (2016):

estabelece ainda três classificações possíveis de identificação das distintas situações em


relação à rua, sendo elas o “ficar na rua”, o “estar na rua” e o “ser da rua”. O “ficar na rua”
se constitui em uma situação circunstancial, isto é, transitória e inesperada e essas pessoas
ainda têm receio de dormir e permanecer na rua. O “estar na rua” implica naqueles que
procuram a rua para pernoite, porém não há mais o receio da mesma já que existem os
primeiros indícios de estabelecimento de relações com os que também estão na rua. E a
situação de “ser de rua” daqueles que fazem dessa sua moradia praticamente definitiva
(ROSA, 2005 apud ANTONÍ; MUNHÓS, 2016, p.642).
EXTENSÃO PUC MINAS:
476 Novo Humanismo, novas perspectivas

Apesar de serem grupos distintos — mulheres trans e pessoas em situação de rua —, a


violência propagada contra elas surgem das relações de poder sociais. Visto que os indivíduos só se
constroem por meio da relação com um outro, pela diferenciação e a elaboração das relações, os
grupos minoritários existem e exigem espaço, porém, devido a fatores econômicos, quantitativos,
morais, entre outros, resulta-se em uma obrigação social em aceitar o diferente. “Sendo assim,
percebemos os dois domínios de manifestação da intolerância, que seriam o da violência simbólica e
o da violência física, sendo ambas ancoradas em relações de poder, isto é, no domínio ideológico que
as consubstanciam” (CARMO, 2016, p. 218).
Compreendemos que a violência, em grupos minoritários, parte da vontade de destruição
conforme hierarquias sociais em que cada indivíduo se apresenta. Segundo Antoni e Munhós (2016):

ao contrário do poder, a violência anula as possibilidades de ação e, por essa razão, não pode
ser tomada como princípio fundamental ou base para o mesmo. Isso porque uma condição
importante para o exercício do poder é a liberdade da pessoa que sofre sua ação. (ANTONÍ;
MUNHÓS, 2016, p. 643).

Dessa forma, a agressão exercida nada mais é do que a busca pela afirmação de si e da
necessidade de reconhecimento sobre um outro.

4 METODOLOGIA

Devido ao tema proposto por este relato de experiência e a particularidade de tempo para a
produção da investigação científica, definimos que a metodologia usada partiria da pesquisa
bibliográfica, utilizando bases como SCIELO, periódicos CAPES, Biblioteca da PUC e do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), visto que esses sites apresentam um potencial elevado
para discussões e comparações de pesquisas realizadas, produzindo e facilitando o resultado que
buscamos ao levantar a pergunta inicial de nosso trabalho:

Nesse esforço de descobrir o que já foi produzido cientificamente em uma determinada área
do conhecimento, é que a pesquisa bibliográfica assume importância fundamental,
impulsionando o aprendizado, o amadurecimento, os avanços e as novas descobertas nas
diferentes áreas do conhecimento. (PIZZANI et al., 2012. p. 56)

Logo, compreendemos a importância da revisão de literatura para o aprofundamento e


compreensão das questões levantadas na produção de conhecimento e no fazer ciência. Contudo, visto
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 477

que este texto se origina do trabalho em campo realizado a partir do projeto de extensão (K)linica:
Direitos Humanos e Cidadania, a utilização da metodologia de participação observante faz-se
presente.
Vale ressaltar a importância dos projetos de extensões para o aprofundamento de análises e
produções de ideias. Em relação à área da Psicologia e Direito, as ações concretas de trabalho são
imprescindíveis para o aprendizado e para o levantamento do fazer pesquisa. Entretanto, é uma
investigação que extrapola os estudos do projeto de extensão e demanda uma pesquisa bibliográfica
complexa e interdisciplinar sobre mulheres trans, além do conhecimento manifesto por cidadãos
comuns que integram esse grupo específico da população em situação de rua, para, assim, se
aproximar de forma mais realista deste contexto. É necessário, portanto, relatar a situação fundante
para o início de nossos questionamentos e colocações acerca do tema.
A experiência ocorreu no evento Rua de Direitos, no Centro POP Leste Unidade Floresta, em
abril de 2022. O Projeto Klínica promoveu uma roda de conversa em que tratou dos “Direitos
humanos da população em situação de rua”. Nessa roda, ocorreu o depoimento de V*, mulher trans,
moradora em situação de rua e usuária do Centro POP. Nele, conta como sofreu vários tipos de
violência em função de sua identidade de gênero, desde usuários a funcionários da rede, tanto do
Sistema Único de Saúde (SUS) como do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Durante seu relato, várias violências verbais foram proferidas por parte dos moradores em
situação de rua ali presentes. Uma questão levantada foi sobre o uso do banheiro feminino por
mulheres trans e travestis, protestado por alguns presentes. V. relata seu sofrimento e que já pensou
em autoextermínio e que a intervenção do psicólogo do Centro POP foi fundamental para sua
estabilização. É primordial a escuta das demandas específicas destas mulheres para o embasamento
de políticas e serviços que respeitem e garantam seus direitos.

5 MULHERES TRANS EM SITUAÇÃO DE RUA

Compreendemos, então, que os dois grupos — mulheres trans e pessoas em situação de rua
— trabalhados ao longo desse texto, partem de vivências e lugares diferentes, não sendo possível
analisá-los de maneira generalizada. O que nos propomos, aqui, é realizar um recorte que se cruza e
se encontra em um mesmo espaço, a rua; porém, citando Carmo (2016), “para além de qualquer
construção grupal, é relevante atentarmos para o fato de que o importante é a preservação da
EXTENSÃO PUC MINAS:
478 Novo Humanismo, novas perspectivas

dignidade humana, que é aviltada por qualquer tipo de violência física ou simbólica, por qualquer
discurso que a propague” (CARMO, 2016, p. 220).
De acordo com o censo do IPEA (2020), existiam 221.869 pessoas em situação de rua no
Brasil, mostrando notável aumento em comparação com os dados de 2019. Em Belo Horizonte, o
último censo realizado pela Prefeitura foi em 2014 e os dados se encontram defasados (BELO
HORIZONTE, 2014). Um estudo apresentado pelo Programa Polos de Cidadania da UFMG estimou
que, em 2021, existiam 8.842 pessoas em situação de rua (DIAS et al., 2021), porém, não foram
encontrados dados quantitativos a respeito de mulheres trans nessa mesma situação.
De acordo com Mendes, Jorge e Pilecco (2019), “entende-se que essas ausências prejudicam
a implementação de políticas públicas e reproduzem a invisibilidade social destas populações no
âmbito das políticas sociais” (MENDES; JORGE; PILECCO, 2019, p. 108). É possível compreender
a importância da coleta de dados quantitativos para os grupos ditos minoritários, pois, com essas
informações, tornam-se mais plausíveis ações afirmativas.
Considerando as análises feitas, assim como nossas experiências anteriores, compreendemos
os vários fatores de entrelaçamentos acerca das violências sofridas por mulheres trans em situação de
rua. Contemplando as pesquisas realizadas por Mendes, Jorge e Pilecco (2019), o movimento da saída
de casa, em sua grande maioria, ocorre devido a conflitos existentes nas próprias famílias em aceitar
o processo de transição. Apontam motivos como agressões físicas e verbais de parceiros, policiais
militares, instituições públicas e outros indivíduos em situação de rua, como violências recebidas
cotidianamente. Mesmo com Decreto Presidencial nº 8.727/2016 (BRASIL, 2016), que orienta o uso
do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da
administração pública federal, autárquica e fundacional, ainda há um grande desrespeito quanto ao
seu uso.
Funcionários ainda não reconhecem a mulher trans, tratam-na no masculino e determinam o
uso de roupas e da ala masculina em abrigos. O uso de banheiros coletivos é um fator importante que
favorece o assédio sexual e a discriminação. Como alternativa, muitas mulheres trans e travestis usam
o banheiro destinado a deficientes e quartos isolados quando disponíveis nos abrigos.
Podemos fazer uma intersecção com a violência estrutural e institucional sofrida por mulheres
cis em situação de rua, segundo Antoní e Munhóz (2016) entre as várias violências vivenciadas, a
violência emocional é evidente no tratamento humilhante e ameaçador, além da falta de acesso a uma
estrutura necessária e adequada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 479

Torna-se compreensível observar a recorrência de agressões dirigidas a corpos trans, como


exposto anteriormente. A rejeição social de indivíduos que não condizem com a lógica normativa de
gênero e sexualidade e a representação de discursos de ódio e de não aceitação de uma subjetividade
que não se ajusta ao que se espera são os fatores principais para a origem da violência.
Atrelado ao fato de viver na rua, sem uma proteção de base, a condição de vulnerabilidade
das mulheres trans aumenta consideravelmente, como ressaltado por Antoni e Munhós (2016), para
quem “esses e outras pessoas com que elas têm contato apresentam em suas práticas [...] ideologias
de descrédito e menos-valia. Parecem tratá-las como cidadãs sem direitos, desprovidas de qualidades
e não levam em conta a individualidade, desejos e necessidades das mesmas (ANTONI; MUNHÓS,
2016, p. 649).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desse relato se deu a partir de uma experiência indagadora, em que foi possível
observar violências verbais, proferidas pelos próprios sujeitos da rua e sofridas por mulheres trans ali
presentes, ao longo de sua própria fala. Com o aprofundamento das discussões e a busca por pesquisas
feitas nesta mesma área, compreendemos a complexidade da questão estabelecida. Debater a respeito
de mulheres trans em situação de rua e as diversas violências sofridas é dizer intrinsecamente das
constituições estruturais de uma sociedade.
Entendemos, a partir de uma breve análise, a construção do ser mulher e do recorte
transfeminista, na qual são levantadas indagações a respeito dos direitos e como são vistas e
consideradas dentro de um sistema, espaço este originário da moral de cada indivíduo, que resulta em
formações institucionais e individuais perpetuantes da violência diária a esses sujeitos. São evidentes
o entrelaçamento e a maior vulnerabilidade quando essas mulheres trans encontram-se nas ruas, visto
que a proteção física de um local seguro é inexistente, tornando-as mais suscetíveis às violências por
parte de qualquer indivíduo.
Acreditando nas transformações ocorridas a partir de reflexões e debates erguidos dentro de
uma universidade, espaço este responsável pela criação do fazer ciência e formação de futuros
trabalhadores da área, faz-se necessário uma maior discussão do tema, produzindo seminários,
palestras e reivindicando dados quantitativos e qualitativos concretos para que, assim, seja possível
encontrarmos e debatermos possíveis soluções para um problema estrutural. Compreendemos,
EXTENSÃO PUC MINAS:
480 Novo Humanismo, novas perspectivas

também, a importância da criação de políticas públicas efetivas para promover ações e contribuir para
a proteção a mulheres trans em situação de rua.
Citando Antoní e Munhós (2016), “reconhecer essas violências e pensar mudanças são
avanços propulsores para o desenvolvimento saudável dessas pessoas que vivem na rua, na
qualificação dos serviços que lhes atendem e na evolução da sociedade como um todo” (ANTONI;
MUNHÓS, 2016, p. 650), percebemos a necessidade de nossa aproximação com esse grupo para
contribuir com a desmistificação da imagem social criada de mulheres trans, sobretudo aquelas em
situação de rua. Trata-se de compreender o sujeito como indivíduo de desejo e pleno de busca pela
própria vida.

REFERÊNCIAS

ANTONI, Clarissa. MUNHÓS, Aline, A. R. As violências institucional e estrutural vivenciadas por


moradoras de rua. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 21, n. 4, p. 641-651, out./dez. 2016.
Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/PsicolEstud/article/view/31840/pdf. a
Acesso em: 14 jun. 2022.
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relação linguistico- discursiva e ideológica entre o desrespeito e a manifestação do ódio no contexto
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em Situação de Rua: Violações de Direitos e (de) Dados Relacionados à Aplicação do CadÚnico
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Programa-Polos-de-Cidadania-da-UFMG-sobre-o-CadUnico-em-Belo-Horizonte.pdf. Acesso em:
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MENDES, Lindalva G. JORGE, Alzira O. PILECCO, Flávia B. Proteção social e produção do
cuidado a travestis e a mulheres trans em situação de rua no município de Belo Horizonte (MG).
Sáude em Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. esp. 8, p. 107-19, dez. 2019. Disponível em:
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PIZZANI, Luciana. SILVA, Rosemary C. Bello, Suzelei F. HAYASHI, Maria Cristina P. I. A arte
da pesquisa bibliográfica na busca do conhecimento. Rev. Dig. Bibl. Ci. Inf., Campinas, v.10, n.1,
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https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1896/pdf_28. Acesso em: 13 jun.
2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 481

Relato de Experiência: de cara a cara com o meu ‘eu’

Janaina Aparecida Lourenço Nascimento1


Karina Aparecida Góis Oliveira de Jesus2
Maria Carmem Schettino Moreira3
Patrícia Dayrell Neiva4

RESUMO
Trata-se de um relato de experiência do Projeto de Extensão da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais) ELAS no âmbito da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) situada em Belo
Horizonte (BH) que envolve docentes e discentes de sete cursos de graduação da PUC Minas (Ciências Biológicas,
Direito, Enfermagem, Filosofia, Fisioterapia, Letras e Psicologia) e pessoas do sexo feminino privadas de liberdade.
O Método APAC caracteriza-se pelo estabelecimento de uma disciplina rígida, baseada no respeito, na ordem, no
trabalho e no envolvimento da família da recuperanda, onde elas próprias são corresponsáveis por sua recuperação
e assim executam tarefas em grupos. Nele, percebe-se a importância destas mulheres conhecerem a notoriedade de
seu papel no grupo e para a instituição. No retorno letivo presencial, durante a pandemia da COVID-19, como
estratégia de acolhimento e vínculo do planejamento das atividades e levantamento das demandas foi planejada e
conduzida por duas extensionistas do Curso de Fisioterapia / Coração Eucarístico, a Dinâmica do Espelho, cujo
objetivo foi provocar nas recuperandas, reflexões sobre si mesmas, permitindo despertar a necessidade do
autoconhecimento e pontuar a importância de cada uma neste contexto. A reordenação do planejamento das ações
do projeto, a partir desta dinâmica, reforça a necessidade do empoderamento feminino e as estratégias participativas
do cuidado sendo divididas com futuras atividades para outros extensionistas.

Palavras-chave: Extensão Universitária. Sistema Prisional. Autoconhecimento

Experience Report: face to face with my ‘I’

ABSTRACT
This is an experience report of the PUC Minas ELAS Extension Project within the scope of APAC (Association for the
Protection and Assistance to Convicts) located in Belo Horizonte (BH), which involves professors and students from
seven undergraduate courses at PUC Minas (Biological Sciences, Law, Nursing, Philosophy, Physiotherapy, Literature
and Psychology) and female persons deprived of their liberty. The APAC Method is characterized by the establishment
of a rigid discipline, based on respect, order, work and the involvement of the family of the recovering person, where they
are co-responsible for their recovery and thus performtasks in groups. In this method, it is important of these women
knowing the notoriety of their role in the group and for the institution. On the return to face-to-face schooling, during the
COVID-19 pandemic, as a welcoming strategy and link between the planning of activities and survey of demands, the
Dynamics of the Mirror was planned and conducted by two extensionists of the Physiotherapy / Eucharistic Heart Course,
whose objective was to provoke in the recoveries, reflections on themselves, allowing to awaken the need for self-

1
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail:
janapbel@gmail.com.
2
Discente extensionista do programa de extensão Apenas Humanos e do projeto de extensão ELAS, do curso de
Fisioterapia no campus Coração Eucarístico. E-mail: karinaoliveiradejesus1996@gmail.com.
3
Mestre, Professora Assistente IV, Departamento de Psicologia/FAPSI da PUC Minas. E-mail:
mcsm14@terra.com.br.
4
Doutora em ciências da saúde UFMG, Professora do curso de Fisioterapia, no campus Coração Eucarístico. E-mail:
pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
482 Novo Humanismo, novas perspectivas

knowledge and punctuate the importance of each one in this context. The reordering of the project's action planning, based
on this dynamic, reinforces the need for female empowerment and participatory care strategies being shared with future
activities for other extension workers.

Keywords: University Extension. Prison System. Self-knowledge.

INTRODUÇÃO

O presente texto trata-se de um relato de experiência do Projeto de Extensão da PUC Minas


(Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) ELAS no âmbito da APAC (Associação de
Proteção e Assistência aos Condenados) situada em Belo Horizonte (BH) que envolve docentes e
discentes de sete cursos de graduação da PUC Minas (Ciências Biológicas, Direito, Enfermagem,
Filosofia, Fisioterapia, Letras e Psicologia) e pessoas do sexo feminino privadas de liberdade.
O Método APAC caracteriza-se pelo estabelecimento de uma disciplina rígida, baseada no
respeito, na ordem, no trabalho e no envolvimento da família do recuperando (termo utilizado para
nomear os indivíduos privados da liberdade nas APACs). Uma das principais diferenças entre a
APAC e o sistema prisional comum é que, na APAC, os(as) próprios(as) recuperandos(as) são
corresponsáveis por sua recuperação (FERREIRA et al., 2016). Na APAC BH, as recuperandas
executam tarefas em grupos e individuais, portanto percebe-se a importância de conhecerem a
notoriedade de seu papel no grupo e na instituição, já que são corresponsáveis por sua recuperação.
A extensão universitária, compromissada com ações integradas norteadas pelos princípios que
regem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, envolvida com vários cursos de graduação e
pós-graduação, trilha ações que se voltam ao seu público-alvo – homens e mulheres que cumprem
pena privada de liberdade nas APAC. O projeto de extensão possibilita ao discente uma visão para
além da sala de aula, na qual ele tem contato diretamente com a sociedade, utilizando a
interdisciplinaridade como estratégia para compartilhar o conhecimento adquirido para fora da
universidade. Ser extensionista é doar e receber: o discente adquire um olhar diferenciado dentro
daquele grupo em que desenvolvem suas ações, proporcionando um momento de troca de
experiências e conhecimentos. O Projeto ELAS: no âmbito da APAC-BH tem como um de seus
objetivos contribuir para a efetivação dos direitos da mulher privada de liberdade, promovendo
ações que levem em consideração os processos de humanização e as especificidades do gênero, com
vistas a preparação para o retorno ao convívio social, em consonância com o método APAC (PROEX,
2021).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 483

Para concretização dos objetivos de um projeto de extensão, as ações devem ser


planejadas de acordo com as demandas do grupo de beneficiários, e o acolhimento é o primeiro passo
para estabelecimento do vínculo entre os discentes e os beneficiários. Para este acolhimento inicial
das recuperandas, foi escolhida a Dinâmica do Espelho. Essa dinâmica permite ao indivíduo realizar
uma autorreflexão sobre si mesmo, avaliando seu próprio comportamento, bem como suas
qualidades, defeitos, sentimentos e fraquezas e assim possibilitando-o o autoconhecimento e uma
breve reflexão sobre a importância para o grupo em que se encontra (OLIVEIRA, 2021).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A política institucional da PUC Minas estabelece o compromisso da Universidade com os


Direitos Humanos, sendo sua missão promover o desenvolvimento humano e social. Entre os
princípios que orientam as ações dessa instituição, podem-se destacar seu compromisso com a
inclusão, a justiça social, a dignidade humana e a promoção do bem comum (RODRIGUES et al.
2017).
A APAC BH, situada no bairro Gameleira, foi inaugurada em dezembro de 2019, e o projeto
de extensão ELAS foi implantado no segundo semestre de 2020, durante a pandemia da COVID-
19. As ações empreendidas tiveram que se adaptar em um só formato – o virtual. A retomada
presencial em março de 2022 foi lenta e cuidadosa e contou com criteriosos protocolos de segurança
para que pudessem garantir a segurança e a continuidade do trabalho de extensão aos discentes
matriculados.
Assim, aos poucos, as ações passaram a ser realizadas de forma presencial nos campos já
conhecidos, o que não aconteceu neste projeto, considerando o período do seu início. A extensão
universitária volta assim, aos campos de onde nunca se afastou, encontrando o mesmo cenário
prisional, embora novos foram os desafios e possibilidades. O retorno às atividades de extensão foi
marcado, então, pelo empenho dos cursos envolvidos.
A pandemia provocou reflexões relevantes relacionadas ao trabalho de extensão tendo em
vista as mudanças que os discentes enfrentariam – um cenário novo e inédito para alguns e modificado
para outros. As atividades remotas foram importantes para o recomeço das atividades, pois se
propuseram de algum modo, preparar os estudantes para o que já se avistava no horizonte – uma
realidade de novidades, ideias, circulação e diálogos entre todos os partícipes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
484 Novo Humanismo, novas perspectivas

O projeto ELAS iniciou com a participação dos extensionistas dos cursos de Psicologia,
Direito/COREU (Campus PUC Minas Coração Eucarístico), Fisioterapia/COREU, em 2021 foram
incluídos os cursos de Enfermagem, Filosofia e Letras e em 2022, Ciências Biológicas, totalizando
atualmente sete cursos parceiros. Além de possibilitar a integração do plano de ensino de duas
Disciplinas de Estágio Supervisionado do Curso de Psicologia/COREU, das práticas curriculares de
extensão dos Cursos de Fisioterapia e Filosofia e ações isoladas do Curso de Nutrição além da
parceria de dois projetos de Extensão da PUC Minas, Universidade Sustentável e o Projeto DEUS é
para Todos, respectivamente propostos pelos Cursos de Ciências Biológicas e Filosofia.
As ações de extensão devem ser planejadas de acordo com as demandas dos benficiários e o
planejamento é primordial para que a avaliação da ação seja satisfatória. Escolher estratégias para
estabelecimento de vínculo com os beneficiários envolve uma “arte” e a criatividade. A dinâmica do
Espelho oportuniza o conhecimento de si próprio, permite ao indivíduo controlar suas emoções, seus
pensamentos e seu agir, fazendo com que este enxergue e compreenda suas metas e objetivos de
maneira mais clara, pois ao se autoavaliar o indivíduo tem em mente o que há de melhor para
contribuir com os que os cercam, podendo alcançar seus objetivos de maneira mais confiante:

O autoconhecimento é essencialmente percebimento de si mesmo e da vida como ela é,


das situações e das coisas como elas realmente são, nos níveis subjetivo e objetivo, sem
as ideias, projeções ou preconceitos que temos a respeito delas. Esse percebimento,
quando ocorre, é o encontro com a verdade, que não é estática, mas viva. (RESENDE,
2010, p.20)

3 METODOLOGIA

As extensionistas do projeto ELAS iniciaram suas atividades na primeira semana de março de


2022, quinzenalmente, às segundas-feiras. O planejamento das ações foi diversificado em virtude do
número e da disponibilidade dos extensionistas do Curso de Fisioterapia/COREU e das recuperandas
do sistema semiaberto, considerando que um dos elementos do método é o incentivo ao trabalho e
assim todas as recuperandas realizam tarefas matinais que precedem às atividades do projeto. A ação,
executada por duas extensionistas do projeto, autoras deste relato, foi a Dinâmica do Espelho e
vinte e duas recuperandas participaram.
Antes de iniciar a dinâmica, foram explicadas as regras, para quem não obteve entendimento
ou não havia experimentado anteriormente, foram orientados os objetivos da atividade. Em seguida,
as extensionistas conduziram a dinâmica, explicando como ocorreria, apresentando a caixa com uma
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 485

foto de uma pessoa muito importante e especial para todas, portanto ao visualizar a fotografia, cada
recuperanda falaria as principais qualidades, habilidades, as características da pessoa da fotografia,
porém sem revelar sua identidade.
Foi permitida a participação das recuperandas que já conheciam ou participaram da atividade,
com o combinado de não revelarem o significado da dinâmica. Iniciou-se a dinâmica com as
recuperandas que já conheciam, por sugestão delas próprias. A primeira recuperanda levantou-se,
sentou-se na cadeira e olhou dentro da caixa, abriu um sorriso e disse: “Essa mulher, a cada dia, venho
gostando mais e mais dela”. Algumas se olharam e disseram: “UAU!”, outras se mostraram tímidas.
Algumas delas passaram a mão nos cabelos, outras olharam seriamente para imagem, uma teve crise
de risos, outras assustaram, foram reações muito diferentes. E assim, sucessivamente, uma a uma
realizou a atividade, concluindo a dinâmica proposta.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A dinâmica envolveu inúmeras emoções naquela manhã, as recuperandas decidiram por livre
e espontânea vontade participar, dizendo as qualidades daquela que estava sendo refletida no espelho.
Falar de si mesmo não é uma tarefa fácil, pois é expor o seu “eu” em palavras. Uma das recuperandas,
ao ver seu reflexo no espelho, disse: “Essa mulher está muito triste hoje”; essa frase proporcionou um
momento em que todas puderam refletir sobre seus próprios sentimentos, sentimentos nos quais são
construídos desde a infância e que estão em constante modificação. Na revisão de literatura, Miguel
(2015) aponta que as teorias psicoevolucionistas propõem que os estados emocionais existem hoje
como reflexo da evolução das espécies, ou seja, como respostas adaptativas a situações que ocorrem
no meio.
Abaixo um relato dessa recuperanda que naquele momento não enxergava nada além da
tristeza:

“Eu I. gostei muito da dinâmica do espelho, pois eu vi uma mulher triste e sofrida,
que precisa erguer a cabeça e ver que a vida continua e que posso construir uma nova
história.” (I.F.S. Recuperanda na APAC – BH)

Foi um momento reflexivo e motivacional, pois ao longo da dinâmica as recuperandas se


incentivaram, para que todas participassem dizendo: “Vai ‘fulana’ desejo ouvir o que você tem para
dizer daquela fotografia da caixa”. E assim, uma a uma foi revelando um pouco de si. Uma revelou:
“Essa mulher é amiga, por onde passa faz amizades”. Outra disse: “Essa pessoa que está na caixa é
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486 Novo Humanismo, novas perspectivas

muito verdadeira, e levará as amizades feitas aqui por toda vida”. Outra afirmou: “Essa mulher é
muito temente a Deus, e ama seu filho”. Ainda outra, revelou: “Eu amo essa mulher mesmo nos dias
ruins dela.”
Assim, confirma-se que “O autoconhecimento é um trabalho permanente de observação
de si mesmo, da vida e das relações. É uma atitude perante a vida, porque não dizer uma arte.”
(RESENDE, 2010, p.15).
No decorrer da dinâmica, quando a recuperanda finalizava sua participação, recebia os
aplausos das demais ouvintes. Essa atitude motivava-as mais a participarem da dinâmica e foi um
momento de interação significativo. As duas extensionistas foram surpreendidas com emoção e
vibração, sentindo-se extremamente recompensadas em partilhar com o grupo de recuperandas estas
vivências. Reforça-se aqui a importância do retorno presencial, em que o contato físico é
insubstituível.
Ao término da atividade, as extensionistas proporcionaram a avaliação da dinâmica proposta,
com resultados positivos, pois ocorreu de forma divertida, emocionante e reflexiva, (Figura 01).
Inclusive este momento oportunizou que duas recuperandas se desculpassem devido um
desentendimento anterior entre elas, com direito a um caloroso abraço.

Figura 1 - Círculo com as Recuperandas: momento de avaliação da ação extensionista.

Fonte: Imagens registradas pela agente de segurança da APAC-BH com consentimento prévio (2022)
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 487

Para finalizar, as extensionistas pontuaram a importância individual de cada recuperanda e a


diferença que fazem para o grupo, trazendo o reconhecimento de suas qualidades, sentimentos, e não
apenas seus defeitos, fraquezas, medos, entre outros, e que é preciso se amar, se cuidar buscando
progredir a cada dia mais. Abaixo alguns depoimentos das recuperandas sobre a dinâmica do espelho:

“Sou uma mulher guerreira, determinada, honesta e bonita. Achei a dinâmica


maravilhosa, por ser um momento de falar de você mesma” (M. J. Recuperanda na
APAC – BH)

“Eu M. A. aprendi muito com a dinâmica do espelho, naquele momento vi meus


reais valores. Vi meus defeitos, revi o meu passado e refiz o meu futuro, sabendo que
independentemente de estar presa sou capaz de fazer diferente e ultrapassar todos os
obstáculos de cabeça erguida, sem olhar para trás, ir além é a minha meta. Eu sou capaz.
Obrigada por tudo, Deus abençoe vocês e suas famílias.” (M.A. Recuperanda na APAC
– BH)

“Eu achei que olhando no espelho você se vê mais, olha mais, você vê o quanto você
é bonita.” (G. Recuperanda na APAC – BH)

“Eu achei muito bacana a dinâmica do espelho, embora não tenha participado no dia em
si, mas já participei em outra ocasião, enfim, essa dinâmica faz com que aprendemos a
nos enxergar, porque é muito fácil falar dos defeitos dos outros, mas quando se trata de
nós, apontarmos os nossos próprios defeitos as coisas se complicam. Amei de verdade
essa dinâmica especialmente as meninas que nos proporcionaram esse momento.
Agradeço a cada uma por ter nos permitido momentos únicos e especiais como esse,
pena que não estarão mais com a gente. Desejo a todos vocês grande sucesso nas suas
caminhadas, que Deus possa derramar chuva de benção sobre cada uma. Muito
Obrigada.” (G. Recuperanda na APAC – BH)

“Eu L. M. achei a dinâmica do espelho muito legal, fez com que eu me expressasse o
que estava sentindo naquele momento.” (L.M. Recuperanda na APAC – BH)

“Eu gostaria primeiramente agradecer por todos os momentos que passamos juntas, pois
cada um foi de grande valor. Nos fez crescer como pessoas, e aprender sobre nosso
corpo. Nós mulheres somos bem complicadas, então achei bem interessante cada
palestra, pois pude perceber que ainda existe sororidade e a cada desafio que nos
propuseram pude ver que eu era capaz. Teve dias de tribulação que vocês foram minha
calmaria. Principalmente no dia do espelho, que foi o dia de reflexão total, pois não há
nada mais difícil que falar bem de nós mesmas. Obrigada, Meninas por me encontrar.
Sucesso.” (L. Recuperanda na APAC – BH)

“Eu gostei muito, pois eu fiquei mais íntima de mim mesma, e a Janaína e a Karina foram
muito legais com a gente e passou uma confiança para a gente, gostei muito desse
semestre que passei com elas. Que vocês possam voltar.” (J. E. Recuperanda na APAC
– BH)

Após o levantamento dos relatos e da avaliação do grupo, a percepção foi que a dinâmica do
espelho abriu portas para escolha de instrumentos para levantamento de dados na área da autoimagem,
autoestima e autoconhecimento nesta população privada de liberdade. Fecha-se assim o tripé ensino,
EXTENSÃO PUC MINAS:
488 Novo Humanismo, novas perspectivas

extensão e pesquisa, com sugestões de ações e projetos de pesquisa a serem desenvolvidos com este
grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta ação realizada envolveu em um único encontro diversos sentimentos, bem como de
alegria, tristeza, surpresa, diversão, admiração, satisfação, empatia, apreço visual, entre outros. Para
as discentes e as recuperandas, ensinamentos vieram à tona como julgamentos antecipados e
preconceitos devem ser evitados, praticando mais a empatia e o respeito ao próximo, trouxe às
recuperandas uma oportunidade de reservarem um momento do dia, para pensarem em si mesmas, e
em seu papel no grupo, conseguindo expressar suas características e perceber que sentimentos como:
saudades, angústias, tristeza, mágoa, raiva fazem parte de suas emoções, mas que encarar as suas
limitações e a superação também é parte do processo.
O objetivo da atividade foi alcançado, pois todas se viram numa situação de se examinarem
interiormente, extraindo o que enxergavam de melhor sobre si, e a importância do seu papel na
instituição APAC como recuperandas. A reordenação do planejamento das ações a partir desta
dinâmica reforça a necessidade do empoderamento feminino e as estratégias participativas do cuidado
sendo divididas com futuras atividades para extensionistas dos cursos parceiros.
O projeto ELAS proporciona momentos de muitos aprendizados e reflexões diante as ações
desenvolvidas, desperta a motivação nas discentes para tornarem melhores como pessoas a cada dia,
empoderando-as no desenvolvimento da autonomia para planejamento e condução das ações como
na capacidade de solucionar problemas, além de descobrirem o seu relevante papel social.

REFERÊNCIAS

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de Justiça do Estado de Minas Gerais. Programa Novos Rumos. 2016.
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expressão emocional. Psico-USF, Bragança Paulista, v. 20, n. 1, p. 153-162, jan./abr., 2015.
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15 abr. 2022.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 489

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Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-
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Acesso em: 10 jun. 2022
EXTENSÃO PUC MINAS:
490 Novo Humanismo, novas perspectivas

Uso de metodologias ativas como estratégia facilitadora


de ações de educação em saúde no contexto da COVID-19

Ingryd Iolanda Siqueira Diniz1


Júlia Lara de Oliveira2
Rafaela Audina Soares Rosa3
Gisele do Carmo Leite Machado Diniz4
Isabela Maria Braga Sclauser Pessoa5

RESUMO
A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) tornou-se uma grande preocupação devido ao elevado número
de óbitos, bem como o alto índice de sequelas pós Covid. A educação em saúde é um dos componentes essenciais da
reabilitação pulmonar. O foco deste relato de experiência foi divulgar as experiências obtidas através das atividades de
educação em saúde vinculadas ao Projeto ReabilitAR por meio do uso de metodologias ativas visando à prevenção de
infecção e agravos da COVID-19. O público-alvo incluiu pacientes e familiares vinculados às disciplinas de Estágio
obrigatório em Fisioterapia (nas áreas de neurologia, ortopedia, cardiorrespiratória, saúde da mulher e saúde da criança)
que são ministradas no Centro Clínico de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas)
Betim, o que indiretamente envolveu discentes e docentes do 8º ao 10º períodos do curso. Em articulação com a disciplina
Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva, foram abordados os usuários de duas unidades básicas de saúde (UBS Angola
e Bueno Franco). Funcionários da PUC Minas Betim, comunidade jovem de crismandos vinculada à Paróquia Nossa
Senhora do Carmo, bem como alunos da Escola Municipal Maria José Campos, de Betim, também foram beneficiados.
As atividades desenvolvidas envolveram principalmente jogos e simulações, sendo realizadas durante o segundo semestre
de 2021 e primeiro semestre de 2022. Com as ações, observou-se o aprimoramento na formação dos discentes por meio
da articulação entre ensino, pesquisa e extensão, bem como o desenvolvimento do empoderamento dos beneficiários no
seu autocuidado.

Palavras-chave: COVID-19. Educação em saúde. Pandemia. Reabilitação.

Use of active methodologies as a facilitating


strategy for health education actions in the context of COVID-19

ABSTRACT
The pandemic caused by the new coronavirus (COVID-19) has become a major concern due to the high number of deaths,
as well as the high rate of post-Covid sequelae. Health education is one of the essential components of pulmonary
rehabilitation. The focus of this experience report was to report the experiences obtained through health education
activities linked to the ReabilitAR Project through the use of active methodologies aimed at preventing infection and

1
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: indgrysdiniz@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: julia.lara20@outlook.com.
3
Graduanda do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail: rafaelaaudina@gmail.com.
4
Fisioterapeuta, mestre em Ciências da Saúde. Professora do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-mail:
gisele@pucminas.br
5
Fisioterapeuta, pós-doutora em Ciências da Reabilitação. Professora do curso de Fisioterapia na PUC Minas Betim. E-
mail: isa.sclauser@terra.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 491

diseases from COVID-19. The target audience included patients and family members linked to the disciplines of
Mandatory Internship in Physiotherapy (in the areas of neurology, orthopedics, cardiorespiratory, women's health and
child health) who are taught at the Clinical Center of Physiotherapy of PUC Minas Betim, which indirectly involved
students and teachers from the 8th to 10th periods of the course. In conjunction with the discipline Supervised Internship
in Collective Health, users of two basic health units (UBS Angola and Bueno Franco) were approached. Employees of
PUC Minas Betim, a young crismandos community linked to the Parish of Nossa Senhora do Carmo, as well as students
from the Municipal School Maria José Campos / Betim were also benefited. The activities mainly involved games and
simulations, being carried out during the second half of 2021 and the first half of 2022. Through the actions, it was
observed the improvement in the formation of students through the articulation between teaching, research and extension,
as well as the development of the empowerment of beneficiaries in their self-care.

Keywords: COVID-19. Health education. Pandemic. Rehabilitation.

INTRODUÇÃO

A pandemia gerada pelo coronavírus (COVID-19) causou grande preocupação por parte da
sociedade devido ao grande número de óbitos, bem como o alto índice de sequelas pós infecção
(SMONDACK et al., 2020). Pacientes que apresentam sequelas crônicas da doença são
diagnosticados como portadores da Síndrome pós-COVID-19 (LOPEZ-LEON et al., 2021) e podem
se beneficiar da reabilitação pulmonar (CURCI et al., 2021; SIDDIQ et al., 2020; DEMECO et al.,
2020).
O programa de reabilitação pulmonar apresenta vários componentes, tais como: o treinamento
físico, a educação em saúde e a mudança de comportamento, bem como as estratégias de autocuidado
(HOLLAND et al., 2021; LANGER et al., 2009). Assim, a partir desse conceito, surgiu o Projeto de
Extensão ReabilitAR: superando os impactos da COVID-19.
O objetivo do presente relato reflexivo foi divulgar as experiências obtidas através das
atividades de educação em saúde vinculadas ao Projeto ReabilitAR por meio do uso de metodologias
ativas visando a prevenção de infecção e agravos da COVID-19.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A COVID‐19, doença causada pelo coronavírus SARS ‐CoV ‐ 2 e descoberta em Wuhan na


China em dezembro de 2019, é responsável por mais de 6,5 milhões de mortes em todo o mundo
(SMONDACK et al., 2020; WHO, 2021). No Brasil, dados atualizados durante o mês de setembro,
demonstram que 684.425 pessoas vieram a óbito e 34.477.539 foram infectadas pelo vírus (BRASIL,
2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
492 Novo Humanismo, novas perspectivas

O paciente infectado pelo SARS-CoV-2 pode apresentar variadas condições clínicas, desde
sintomas gripais a distúrbios gastrointestinais (SHEEHY, 2020). O quadro clínico pode variar de
casos assintomáticos à disfunção respiratória grave, podendo apresentar também um envolvimento
potencial de quase todos os órgãos e sistemas, incluindo os sistemas cardíaco, renal, neurológico,
cognitivo e mental (SHEEHY, 2020; SIDDIQ et al., 2020; SMONDACK et al., 2020; WIERSINGA
et al., 2020). Nos casos leves, os indivíduos frequentemente apresentam como sintomas mais comuns
febres, tosse seca, dispneia, fadiga, mialgias, vômitos/náuseas, diarreia, dor de cabeça, disfunções
olfativas e gustativas (WIERSINGA et al., 2020). Nos casos mais graves, podem apresentar
desconforto respiratório agudo grave, dano alveolar difuso, micro trombos, lesão endotelial,
inflamação e dilatação cardíaca, bem como sepse (SIDDIQ et al., 2020; SMONDACK et al., 2020;
WIERSINGA et al., 2020).
Independentemente da gravidade dos sintomas, tem sido demonstrado um aumento
significativo no risco de mortalidade e de sequelas na maioria dos sobreviventes (NEGRINI et al.,
2021). Os indivíduos recuperados podem desenvolver comorbidades advindas de complicações da
terapia intensiva, com ou sem intubação, e dos próprios efeitos do vírus no organismo (SHEEHY,
2020). Cerca de 80% dos pacientes que se recuperam da COVID-19 relatam persistência de pelo
menos um sintoma. Foi encontrado um total de 55 efeitos de longo prazo associados à infecção
(LOPEZ-LEON et al.,2021), sendo comum apresentarem declínio na função respiratória em
decorrência de lesões fibróticas, comprometimento funcional e muscular, quadros de depressão e
ansiedade, bem como prejuízos nas atividades de vida diária. Essas sequelas culminam com
absenteísmo no trabalho e redução da qualidade de vida (TOWNSEND et al., 2021; GALAL et al.,
2021; LIU et al., 2020; AL CHIKHANIE et al., 2021).
A Síndrome pós-COVID-19 é caracterizada por manifestações que se prolongam por um
período maior que 12 semanas após o início da doença e que não se relacionam a outros diagnósticos
(GREENHALGH et al., 2020). Dentre as mais comuns, destacam-se a fadiga, o declínio da função
respiratória, a fraqueza muscular, a incapacidade funcional, o tromboembolismo, os quadros de
depressão e ansiedade e os distúrbios do sono (NALBANDIAN et al., 2021; LOPEZ-LEON et al.,
2021).
Diante desse contexto, fica claro a necessidade de estratégias que reduzam a disseminação da
doença e possibilitem ao indivíduo ser corresponsável pela sua saúde. Segundo Salci et al. (2013), a
educação em saúde é definida como “Uma ferramenta de promoção de saúde de caráter participativo
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 493

e emancipatório, que perpassa vários campos de atuação e tem como objetivo sensibilizar,
conscientizar e mobilizar para o enfrentamento de situações individuais e coletivas que interferem na
qualidade de vida.” (BRASIL, 2009; DA MATTA, 2009 apud SALCI et al., 2013, p. 225).
Dessa forma, a educação em saúde desenvolve o pensamento crítico e reflexivo nas decisões
de saúde e são capazes de influenciar no autocuidado da comunidade (MACHADO et al. 2007;
SALCI et al., 2013). Para promover educação em saúde, tem-se a utilização das metodologias ativas
como forma de entrega qualificada de um conteúdo. Esse método promove a inserção do ouvinte no
processo de ensino e aprendizagem, o que o faz deixar de ser um agente passivo para ser um membro
ativo na construção do saber por meio de estímulos sobre o conhecimento e análise de problemas
(SERRANO et al, 2017).

3 METODOLOGIA

Este relato de experiência aborda as ações de educação em saúde vinculadas ao Projeto de


extensão ReabilitAR, realizadas durante o segundo semestre de 2021 e primeiro semestre de 2022. O
público-alvo incluiu pacientes e familiares vinculados às disciplinas de Estágio obrigatório em
Fisioterapia (nas áreas de neurologia, ortopedia, cardiorrespiratória, saúde da mulher e saúde da
criança) que são ministradas no Centro Clínico de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas) Betim, o que indiretamente envolveu discentes e docentes do 8º aos
10º períodos do curso.
Em articulação com a disciplina Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva, foram abordados
os usuários de duas unidades básicas de saúde (UBS Angola e Bueno Franco). Funcionários da PUC
Minas Betim, comunidade jovem de crismandos vinculada à Paróquia Nossa Senhora do Carmo, bem
como alunos da escola municipal Maria José Campos de Betim também foram beneficiados. O tempo
destinado às intervenções de educação em saúde dessas populações variou entre 1 hora a 1 hora e
meia nas quais teatros, palestras, danças, roda de conversa, simulações e jogos foram realizados com
os beneficiários. Os temas trabalhados nos encontros foram: transmissibilidade da COVID-19,
higienização das mãos, diferenças entre as máscaras e o uso correto da mesma, além da importância
da vacinação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
494 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Foram realizados sete encontros destinados às atividades educativas, no período


compreendido entre setembro de 2021 a maio de 2022, envolvendo 196 beneficiários diretos. O ponto
de partida para a elaboração das ações em educação foi a apropriação do maior conhecimento possível
por parte das extensionistas envolvidas através de capacitações para o projeto e da leitura da artigos
científicos relevantes sobre o tema. Em seguida, foi construído um referencial teórico-prático capaz
de ecoar nas necessidades de cada cenário social a ser abordado.
As ações extensionistas realizadas envolveram atividades educativas voltadas à promoção da
saúde relacionada à COVID-19 (ANVISA, 2020; ASSOBRAFIR, 2021; CREFITO, 2021). Elas
visavam empoderar o beneficiário quanto ao autocuidado para evitar infecções e reinfecções, bem
como para agirem como agentes de saúde, ou seja, multiplicadores de conhecimentos em suas
comunidades (GREENHALGH, et al., 2020; HOLLAND et al., 2021; COX et al., 2021;
ANVISA,2020).
As atividades foram desenvolvidas em pequenos grupos, para que a troca de conhecimentos e
experiências fosse facilitada. Inicialmente, foi apresentado um material demonstrativo envolvendo
subtemas como definição da doença, formas de transmissão, medidas de biossegurança, bem como a
importância da vacinação. Para melhor compreensão dos participantes, todas as atividades foram
desenvolvidas sem a utilização de termos técnicos complexos, assim como se utilizando de
metodologias ativas, envolvendo teatros, simulações, danças e jogos.
Em uma das oficinas propostas, foram realizadas inicialmente simulações, explanações e
rodas de conversa. Na sequência, foi proposto um jogo no qual as extensionistas faziam perguntas
relacionadas à COVID-19 e os beneficiários tinham que elevar placas com dizeres “Mito” ou
“Verdade” no intuito de avaliar a assimilação do conteúdo proposto. Constatou-se um percentual
maior que 90% de acertos, o que demonstra a eficácia na troca de conhecimento entre extensionistas
e beneficiários e o empoderamento dos mesmos com as metodologias ativas empregadas.
Houve participação maciça da comunidade envolvida, inclusive com tira-dúvidas e
compartilhamento de experiências vividas em relação à doença, o que também aumentou o
conhecimento das extensionistas acerca do tema, proporcionando a fundamental troca de experiências
entre comunidade e discentes através da extensão universitária.
Na sequência, encontra-se uma série de fotos apresentadas no intuito de evidenciar os
momentos compartilhados entre extensionistas e beneficiários.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 495

Imagem 2- Educação em saúde para


Imagem 1- Educação em saúde para
pacientes da Clínica escola de
funcionários da PUC-MG Betim
Fisioterapia da PUC-MG Betim

Fonte: Fotografia das autoras, 2021.

Imagem 3- Educação em saúde em parceria


Imagem 4- Educação em saúde para alunos
com a Pastoral da acolhida para a
da Escola Municipal Maria José Campos
comunidade vinculada à Paróquia Nossa
– Betim/ MG
Senhora do Carmo - Betim / MG

Fonte: Fotografia das autoras, 2021.

O Projeto ReabilitAR contemplou o terceiro objetivo da Organização das Nações Unidas


(ONU), assegurando uma vida saudável e promovendo o bem estar com foco na educação em saúde
para todos. As ações promovidas reforçaram a capacidade de saúde do país, reduzindo e gerenciando
os riscos da saúde brasileira, bem como ofertando o acesso a saúde essencial de qualidade e de forma
gratuita. A realização dessas ações junto às UBS e escolas pode favorecer a implementação de
políticas públicas mais fortes em relação à prevenção da COVID-19 no município de Betim e região,
por se tratar de ações de baixo custo e alta visibilidade.
É importante ressaltar que a Política Nacional de Extensão Universitária (2012), considera a
extensão como sendo indispensável na formação do estudante, na qualificação do professor e no
EXTENSÃO PUC MINAS:
496 Novo Humanismo, novas perspectivas

intercâmbio com a sociedade. A extensão universitária agrega a exigência da interação com a


sociedade e da democratização do saber, sendo um processo pedagógico e participativo no qual
alunos, professores e funcionários trabalham em uma relação bidirecional entre a universidade e a
sociedade tendo por objetivo melhorar sua qualidade de vida (FOREXT, 2013).
A partir das práticas de educação em saúde realizadas os alunos vinculados ao ReabilitAR
também se tornaram protagonistas do processo de aprendizagem, o que trouxe um grande impacto na
formação geral dos envolvidos. Além de ficar à par de evidências científicas atualizadas sobre o
manejo assistencial de uma pandemia sem precedentes na história da humanidade, os discentes
puderam desenvolver experiências teóricas, metodológicas e práticas, ao mesmo tempo em que
reafirmaram as atividades de ensino, pesquisa e extensão como saberes internamente produzidos e
colocados a serviço da sociedade. Os alunos passaram a produzir novos conhecimentos a partir das
experiências e necessidades dos beneficiários envolvidos, no intuito de gerar subsídios para pesquisas
futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessa experiência, destacou-se o impacto positivo das metodologias ativas como
ferramenta para fazer educação em saúde visando a prevenção de infecção e agravos da COVID-19.
As ações de educação em saúde contribuem para empoderar os beneficiários diretos e indiretos no
intuito de mitigar a contaminação pelo SARS-CoV-2. Deve-se ressaltar que a participação dos
discentes em projetos de extensão aprimora a sua formação e os desafia, no campo de sua atuação
profissional, com práticas que vão além da sua formação acadêmica de sala de aula, favorecendo a
interlocução entre ensino, pesquisa e extensão.

REFERÊNCIAS

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failure patients post-ICU. Respiratory physiology e Neurobiology, v .287, May. 2021.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 497

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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 499

Relato de experiência: Oficina de Extração de Óleos Essenciais e Hidrolato


e as possibilidades de uso com os produtos

Daiany Silva Moreira Vasconcelos1


Karla Karoline Santos Ramos2
Maria Eduarda da Silva Alcântara3
Vanessa Aparecida Vasconcelos de Freitas4
Marcus Vinicius Campos Tolentino5

RESUMO
A diversidade e abundância da flora brasileira tornam comum o uso de plantas medicinais como recurso terapêutico. A
utilização de compostos vegetais é hoje visada por muitas pessoas, em destaque, os óleos essenciais em função dos efeitos
aromaterapêuticos. Tendo em vista a procura cada vez maior da população brasileira pelo uso de plantas medicinais nos
últimos anos, o projeto de Extensão Ervas e Aromas reuniu extensionistas e membros da comunidade para a realização
da extração dos óleos essenciais e hidrolatos de capim limão e citronela em uma oficina prática. As oficinas foram
realizadas em dois dias. Os extensionistas e os participantes realizaram a coleta do material e a extração por arraste a
vapor no primeiro dia. No segundo dia de oficina, houve a confecção de velas aromáticas através do uso dos óleos
extraídos. Durante a extração, discussões foram realizadas a respeito da colheita, rendimento, formas de uso e
propriedades terapêuticas dos óleos essenciais selecionados. A extração por arraste a vapor resultou em 9 mL de óleo
essencial de capim limão e 8 mL de óleo essencial de citronela e cerca de 500 mL de hidrolatos para cada planta. Os
produtos da extração foram empregados em oficinas posteriores, nas quais os óleos essenciais foram utilizados para obter
velas aromáticas e os hidrolatos na composição de líquidos borrifadores de ambiente. A experiência prática das atividades
extensionistas desde a colheita das plantas, extração dos óleos e hidrolatos e a aplicação em produtos finais, mostrou-se
bastante atrativa, pois possibilitou compreender as etapas envolvidas no processo de extração, resultando na troca de
conhecimento e envolvimento dos participantes.

Palavras-chave: Óleo essencial. Hidrolato. Aromaterapia. Extensão. Plantas medicinais.

Experience report: Essential Oil and Hydrolate Extraction Workshop and the
possibilities of use with the products

ABSTRACT
The diversity and abundance of Brazilian flora make the use of medicinal plants as a therapeutic resource common. The
use of plant compounds is now targeted by many people, in particular, essential oils due to their aromatherapeutic effects.
In view of the growing demand of the Brazilian population for the use of medicinal plants in recent years, the Herbs and
Aromas Extension project brought together extension workers and community members to carry out the extraction of

1
Discente do curso Biomedicina na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Técnica em alimentos Universidade
Federal de Viçosa (2018). E-mail: daiany.moreira@sga.pucminas.br.
2
Discente do curso Biomedicina na PUC Minas. E-mail: karla.ramos@sga.pucminas.br.
3
Discente do curso Enfermagem na PUC Minas. Técnica em Química pelo Instituto Federal de Minas Gerais. E-mail:
maria.alcantara.1171821@sga.pucminas.br.
4
Discente do curso Enfermagem na PUC Minas. E-mail: vanessa.freitas.1142609@sga.pucminas.br.
5
Químico (Licenciatura e Bacharel / UFMG), Mestre em Ciência Tec. das Radiações, Materiais e Minerais (Centro de
Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear). Professor assistente da PUC Minas. E-mail: marcustolentino@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
500 Novo Humanismo, novas perspectivas

essential oils and hydrolates from lemongrass and citronella in a practical workshop. The workshops were held in 2 (two)
days. The extensionists and participants collected the material and extracted it by steam dragging on the first day, on the
second day of the workshop, aromatic candles were made using the extracted oils. During the extraction, discussions were
held regarding the harvest, yield, forms of use and therapeutic properties of the selected essential oils. Steam drag
extraction resulted in 9mL of lemongrass essential oil and 8mL of citronella essential oil and about 500mL of hydrolates
for each plant. The extraction products were used in later workshops, in which the essential oils were used to obtain
aromatic candles and the hydrolates in the composition of ambient spray liquids. The practical experience of extension
activities, from the harvest of plants, extraction of oils and hydrolates and application in final products, proved to be quite
attractive, as it made it possible to understand the steps involved in the extraction process, resulting in the exchange of
knowledge and involvement of the participants.

Keywords: Essential oil. Hydrolate. Aromatherapy. Medicinal Plants.

INTRODUÇÃO

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a fitoterapia é a


técnica que estuda as funções terapêuticas das plantas e vegetais para prevenção e tratamento de
doenças, sendo uma alternativa mais acessível para grande parte da população, visto a posição cultural
que as plantas medicinais exercem na sociedade. O Brasil possui uma flora com enorme
biodiversidade, muitas vezes não explorada do ponto de vista medicinal, principalmente por
profissionais da saúde, que desconhecem a capacidade terapêutica de algumas plantas (LORENZI;
MATTOS, 2002). Desde a implementação da fitoterapia dentro da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), o seu estudo e conhecimento por profissionais da saúde e
pela população e vem aumentando, mas ainda não o suficiente para suprir as demandas nacionais.
A PNPIC, no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada através da Portaria GM/MS número
27 em 3 de maio de 2006, é um conjunto de normativas e diretrizes que visam incorporar e
implementar as Práticas Integrativas e Complementares (PICS) no SUS. A política baseia-se na
perspectiva da prevenção de agravos e promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção
primária para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde. Assim, o documento normatiza
e institucionaliza as práticas integrativas e complementares de forma que possam ser fornecidas pelos
serviços básicos de saúde.
A política foi construída com base em vários encontros e debates que tiveram início no final
da década de 70. A discussão ganhou mais destaque a partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde,
realizada na metade da década de 80. Atualmente, são regulamentadas 29 práticas integrativas e
Complementares que são oferecidas através do SUS, entre elas a aromaterapia, fitoterapia e plantas
medicinais.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 501

Dessa forma, o projeto de extensão intitulado Ervas e Aromas busca aproximar alunos de
diversos cursos da área da saúde com o público em geral, para troca de conhecimentos e experiências
em relação ao uso de plantas medicinais e de proporcionar a popularização da fitoterapia.
O trabalho em questão tem como objetivo descrever a experiência vivenciada em duas oficinas
do projeto Ervas e Aromas, vinculado aos cursos de Enfermagem e Biomedicina da PUC Minas. As
oficinas abordaram de forma prática a extração de óleos essenciais por arraste a vapor e a obtenção
de hidrolatos, bem como a utilização destes produtos na confecção de velas aromáticas e líquidos
para borrifadores de ambiente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Desde muito tempo, a humanidade utiliza plantas como forma de tratamento. Hoje, várias
pesquisas conseguiram comprovar as propriedades medicinais dessas plantas e estabeleceram
indicação, dose apropriada e o modo de uso dessas plantas. Um exemplo da utilização dessas plantas
são os óleos essenciais (OE), que são compostos naturais caracterizados pelo seu aroma, através dos
metabólitos secundários de plantas medicinais, também podem ser conhecidos como óleos etéreos,
óleos voláteis ou somente como essenciais. São compostos por misturas complexas como terpenóides
voláteis, que apresentam aspectos odoríferos, líquidos e oleosos à temperatura ambiente.
(NASCIMENTO; PRADE, 2020).
Segundo Santo et al. (2020), durante a extração do OE, é possível observar a formação de um
produto secundário, o hidrolato, substância aquosa, hidrossolúvel que contém componentes também
extraídos da planta.
Segundo Oliveira et al. (2022), os hidrolatos possuem propriedades que permitem sua
utilização medicinal, suas propriedades podem agregar na indústria farmacêutica como
antimicrobianos, antioxidantes, antifúngicos e analgésicos. No entanto, os hidrolatos extraídos
juntamente com os óleos essenciais são frequentemente descartados.
Para Nascimento e Prade (2020), a utilização dos OE é importante para auxiliar no tratamento
de várias enfermidades, destacando seu uso principalmente nas Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS). Dentre as inúmeras formas de utilização dos óleos essenciais e
hidrolatos, podemos citar a aromaterapia.
A aromaterapia é utilizada desde o alívio dos sintomas de algumas doenças, como melhoria
dos sintomas de doenças respiratórias, melhorando as trocas gasosas e atuando na musculatura
EXTENSÃO PUC MINAS:
502 Novo Humanismo, novas perspectivas

brônquica, melhorando a congestão nasal e proporcionando alívio ao respirar. Ela atua também na
saúde mental do indivíduo, através do relaxamento do sistema nervoso, tendo resultados que
promovem tranquilidade, equilíbrio emocional, diminuição do estresse e ansiedade.
Os dois tipos de óleos essencial foco deste trabalho foram o de Citronela (Cymbopogon
nardus) e de Capim limão (Cymbopogon citratu). Estudos mostram uma diversidade considerável
de aplicação dos óleos, desde aromaterapia a propriedades inseticidas e antifúngicas. A Citronela
(Cymbopogon nardus) possui propriedades inseticidas e antifúngicas, sendo uma alternativa natural
na agricultura e no combate de doenças tropicais transmissíveis como no combate ao mosquito Aedes
Aegypti (BORGES et al, 2020).
O Capim limão (Cymbopogon citratu) é uma planta muito conhecida pela população brasileira
pelas suas propriedades curativas, além de ser muito aromático. Possui propriedades como calmante
diurético e inseticida. O OE extraído dessa planta tem propriedades antimicrobiano, antitérmica,
auxilia na digestão e também é utilizado para tratar a insônia (SABOIA et al, 2022).
No processo de extração por arraste a vapor, a água destilada assume um papel importante
para extrair o OE e o hidrolato, uma vez que as propriedades físico-químicas do óleo são preservadas.
No processo que utiliza solventes orgânicos, pode ocorrer a alteração da composição química e das
propriedades físicas, como o pH. Durante a extração a vapor, a água é adicionada anteriormente à
matéria-prima e ao entrar em ebulição as moléculas de água interagem com as substâncias aromáticas
voláteis da espécie vegetal arrastando-as. O vapor segue para o condensador e é resfriado, assumindo
o estado liquido. Posteriormente, ele é coletado em um recipiente onde o hidrolato, mais denso, é
depositado no fundo do recipiente, enquanto os óleos essenciais menos densos formam um
sobrenadante. (VALENTIM; SOARES, 2017)

3 METODOLOGIA

a) Extração dos óleos essenciais e hidrolato

A extração dos OEs de citronela (Cymbopogon nardus) e capim limão (Cymbopogon


citratus) foi realizada no laboratório de Análises Biomédicas no prédio 9 da PUC Minas Campus
Betim. As oficinas aconteceram nos dias 13 e 16 de abril de 2022.
Primeiramente, os participantes foram convidados pelos extensionistas a conhecer o
destilador, cuja apresentação demonstrou de forma direta cada parte do equipamento e sua respectiva
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 503

função na extração. Posteriormente, os participantes e extensionistas se reuniram para realizar a coleta


da matéria prima de forma conjunta. As folhas das plantas foram cortadas, selecionadas e
compactadas no aparato de destilação. Durante a coleta, os extensionistas e os participantes
discutiram a respeito do método de colheita adequado e do rendimento da extração.
Após a coleta, a extração foi realizada seguindo o método de arraste a vapor. A figura 1 ilustra
o esquema simplificado da extração do óleo essencial e hidrolato.

Figura 1 - Esquema ilustrativo simplificado da metodologia de extração por arraste a vapor

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Durante o tempo necessário para a extração, os extensionistas e participantes discutiram a


respeito dos principais usos e propriedades do OE e hidrolato de citronela (Cymbopogon nardus) e
do capim limão (Cymbopogon citratus).
EXTENSÃO PUC MINAS:
504 Novo Humanismo, novas perspectivas

Por fim, o hidrolato foi envasado e distribuído para os participantes e extensionistas. O OE


foi devidamente identificado e armazenado em geladeira até a utilização, que ocorreu na oficina
seguinte, com a produção de velas aromáticas.

b) Oficina de produção de velas aromáticas

A confecção das velas aromáticas foi realizada no laboratório de Físico-química, situado no


prédio 2 da PUC Minas Betim. Para a confecção das velas foram utilizados parafina obtida através
de doação, barbante como pavio, corantes e materiais decorativos, óleos essenciais de citronela e
capim limão, frasco de plástico para montagem da vela, béquer e bico de bunsen para aquecimento.
Os extensionistas passaram as informações necessárias para promover o derretimento da
parafina através do uso de béqueres, controle da temperatura para não promover a decomposição da
parafina e posterior adição do óleo essencial. Cada participante confeccionou duas velas, uma
contendo óleo de citronela e outra, de capim cidreira.
Foram disponibilizados para os participantes corantes e artigos decorativos, como glitter, para
deixar a velas mais atrativas visualmente, além das propriedades aromáticas resultantes dos óleos
adicionados nas velas.
A parafina derretida contendo o óleo e os materiais decorativos foi transferida para frascos de
plásticos para montagem da vela e endurecimento da parafina. Os frascos de plásticos por
apresentarem maleabilidade, permitiam a retirada da vela de forma facilitada.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

a) Percepção da prática de extração dos Óleos Essenciais e dos Hidrolatos

A realização da prática buscou envolver os participantes em todas as etapas do processo de


obtenção dos óleos essenciais, desde a colheita das folhas de citronela e capim-cidreira, até o
momento da destilação a vapor. E, durante a colheita, foi possível perceber o interesse e o
conhecimento dos envolvidos acerca das plantas medicinais e sua utilização no dia a dia, já que houve
uma troca de saberes entre os presentes, sobre como aquelas plantas devem ser colhidas, sobre seus
benefícios, como eles já utilizaram anteriormente e até mesmo discutiram sobre outras plantas que
possuem efeitos terapêuticos semelhantes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 505

Dessa forma, pôde-se observar durante esse processo, um dos objetivos centrais da prática
extensionista se concretizando, a troca de conhecimento entre a Universidade e a sociedade ao seu
redor, de maneira que os alunos possam aprender com eles e vice-versa.
Além disso, foi possível demonstrar para os participantes de forma prática, o motivo do valor
relativamente alto do óleo essencial, já que a quantidade de planta necessária para sua extração não é
proporcional à quantidade de óleo, de forma que uma grande quantidade de planta rende apenas
alguns mililitros (mL) de OE, como ilustram as figuras 2 e 3, em que se observa uma comparação
entre a quantidade de planta utilizada e a quantidade de óleo essencial obtido. No caso da prática,
foram gerados cerca de 8-9 mL de óleo essencial e cerca de 500 mL do hidrolato.

Figura 2 - Quantidade de óleo essencial extraída. Figura 3 - Quantidade de planta colhida

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Contudo, algumas limitações da prática devem ser apontadas, como o fato de não ter sido
pesada a quantidade de plantas utilizadas na extração dos óleos, impossibilitando a realização de
cálculos de rendimento e proporcionalidade e, também o fato de que o equipamento utilizando na
oficina é próprio de um laboratório, dificultando que a experiência seja reproduzida em casa.
De modo geral, percebeu-se a disposição dos participantes em se envolverem no processo de
obtenção do OE, fazendo perguntas e até apontamentos com base em seus conhecimentos prévios,
assim como o interesse por estarem dentro de um laboratório. Observou-se também a satisfação dos
participantes ao levarem para casa um dos produtos gerados na oficina, o hidrolato.
EXTENSÃO PUC MINAS:
506 Novo Humanismo, novas perspectivas

b) Utilização dos óleos essenciais na confecção de velas aromáticas e líquido para


borrifadores

Os óleos essenciais, assim como o hidrolato, resultante da extração do óleo, possuem um


espectro variado na sua aplicabilidade, podendo ser utilizados como aromatizadores de ambiente, na
produção de cosméticos, fitoterápicos e até mesmo em produtos de limpeza. Assim, a partir das
oficinas realizadas para a extração dos óleos e hidrolatos de capim-cidreira e citronela, utilizamos os
óleos essenciais para produção de velas aromáticas junto com os participantes do Projeto Ervas e
Aromas em uma oficina posterior.

Figura 4 – Velas aromáticas produzidas pelos participantes utilizando os óleos essenciais

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

As velas aromáticas são um dos recursos que compõem a aromaterapia, sendo esta uma prática
terapêutica que utiliza as propriedades dos óleos essenciais para recuperar o equilíbrio e a harmonia
do organismo, visando à promoção da saúde física e mental. Dessa forma, a extração realizada nos
possibilitou produzir, em conjunto com os participantes, uma ferramenta terapêutica integrativa e
fácil de ser reproduzida em casa, podendo até mesmo ser utilizada como uma alternativa de renda.
(NASCIMENTO; PRADE, 2020).
Como citado anteriormente, no dia da prática da extração, os participantes puderam levar para
casa o hidrolato resultante do experimento. No mesmo dia dessas oficinas de extração, foram
apresentadas algumas sugestões de utilização para aquele produto: aromatizador de ambiente e
repelente corporal, no caso da citronela, que é uma planta muito utilizada para esta finalidade, até
mesmo como um repelente natural eficiente contra o mosquito da Dengue (Aedes aegypti), como
apontam alguns estudos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 507

Dessa maneira, possibilitou-se que os participantes se envolvessem na criação de produtos


que poderiam ser aplicados no dia a dia, de maneira simples e que agregassem algum efeito
terapêutico, como o relaxamento e diminuição da ansiedade. Os conhecimentos adquiridos podem ser
aplicados até mesmo como uma forma de obtenção de renda pela venda dos produtos.
Vale ressaltar que, apesar de o projeto ser aberto para o público em geral interessado por
plantas medicinais, o público do projeto se tornou de mulheres, com idade variada entre 30 e 70 anos,
sendo estas mães e avós que já apresentavam algum conhecimento prévio sobre o uso das plantas. Ao
total, estiveram presentes vinte e oito mulheres (28), sendo quinze (15) mulheres nas práticas de
extração dos óleos essenciais e treze (13) nas práticas de confecção das velas.
Além disso, foi possível avaliar a aceitação das oficinas pelas participantes por meio de um
formulário distribuído ao final das práticas, em que as mulheres puderam expressar anonimamente
sua opinião sobre as práticas. Isso possibilitou que comparássemos as avaliações com as de oficinas
anteriores, predominantemente teóricas, e observássemos maior interesse nas oficinas práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar a ampla aplicabilidade dos óleos essenciais e dos hidrolatos, bem como o
processo da extração e a proporção entre a quantidade de plantas e o volume final de óleo. Além
disso, ficou evidente o quanto a interação do público com um projeto prático é mais satisfatória do
que quando este é exposto somente a atividades teóricas.
Dessa forma, ressaltamos o quanto essa vivência prática, tanto pelos alunos dos cursos da área
da Saúde, bem como pelo público em geral, é importante para ajudar nesse processo de popularização
e conhecimento da utilização de plantas e produtos naturais com foco na aplicação medicinal.

REFERÊNCIAS

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química no estado do Acre. Scientia Naturalis Scientia, v. 2, n. 1, Rio Branco-AC, 2020.
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EXTENSÃO PUC MINAS:
508 Novo Humanismo, novas perspectivas

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óleos essenciais. Observa PICS. Recife: Fiocruz-PE, 2020.
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ultrassom como pré-tratamento na obtenção do óleo essencial e hidrolato de aroeira vermelha
(Schinus terebinthifolius RADDI). Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, v. 11, p. 159-
174, 2022.
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essencial e do extrato bruto do capim limão (Cymbopogon citratus). Research, Society and
Development, v. 11, n. 7, p. e37611730064-e37611730064, 2022.
VALENTIM, João Augusto; SOARES, Elane Chaveiro. EXTRAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS
POR ARRASTE A VAPOR. PPGECN-LabPEQ/UFMT, Cuiabá-MT, 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 509

Estágio Extracurricular em Urgência e Emergência: relato reflexivo

Débora Lilian Roveron1


Ivan Luiz Gonçalves dos Santos2
Cibele Angélica de Souza Spina3

RESUMO
O Estágio Extracurricular no Pronto-Socorro de uma associação filantrópica do sul de Minas Gerais / Brasil, foi
experienciado por discentes de Medicina de uma Liga Acadêmica de Urgência e Emergência e médicos voluntários,
responsáveis pelo plantão. O objetivo deste relato é defender uma assistência baseada em cuidados paliativos, emergência
e manejo de dor em unidades hospitalares porta-aberta para pacientes oncológicos. O tratamento inadequado associado à
pormenorização do sintoma e encaminhamentos ao sistema de saúde permanecem como entraves aos diagnósticos
diferenciais e à qualidade de vida diante de uma neoplasia. Torna-se necessário o investimento em equipes teórica e
tecnicamente preparadas quanto à analgesia e diferenciação das dores crônicas e agudas nos prontos-socorros, além do
acompanhamento multidisciplinar dos pacientes com câncer.

Palavras-chave: Cuidados paliativos. Atenção à saúde. Dor. Plantão Médico.

Extracurricular Internship in Urgency and Emergency: reflective report

ABSTRACT
The Extracurricular Program in the emergency room of a philanthropic association in the south of Minas Gerais / Brazil,
was experienced by medical students from an Academic League of Urgency and Emergency and volunteers, responsible
for the planting. The purpose of the report is to advocate an emergency based on palliative care, and management of open-
door hospital units for cancer patients. The treatment appropriate to the life of a distinction and the attention to the quality
system of health detailed as the life problems of a distinct neoplasm. It is necessary to invest in theoretically anda
technically prepared teams for analgesia and acute pain in patients diagnosed with cancer.

Palavras-chave: Palliative care. Health care. Ache. Medical duty.

INTRODUÇÃO

Desde agosto de 2021, a Liga Acadêmica de Urgência e Emergência da PUC Minas,


universidade particular de Minas Gerais, é coordenada por uma diretoria que integra ensino, pesquisa
e extensão. O ensino, por intermédio de aulas ministradas, quinzenalmente, por médicos docentes de

1
Graduanda em Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: deboraroveron@hotmail.com.
2
Graduando em Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: ilgantos999@gmail.com.
3
Mestra em Hemoterapia. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: cibeleangelica@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
510 Novo Humanismo, novas perspectivas

diferentes especialidades; pesquisa, por meio da parceria com comissões científicas de congressos e
incentivo à submissão de trabalhos; e extensão, pelo estágio não obrigatório de urgência e emergência
em uma associação filantrópica no Sul do Estado.
A experiência extracurricular possibilitou a percepção da organização assistencial,
atendimento e manejo da dor de pacientes oncológicos admitidos no Pronto-Socorro de uma unidade
hospitalar considerada porta de entrada regional.
Este relato, além de defender uma assistência baseada no conhecimento teórico e prático em
cuidados paliativos e emergência, objetiva destacar a necessidade de um olhar sobre a identificação
e tratamento das dores, agudas e crônicas, pelos hospitais e escolas médicas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A dor é definida como "uma experiência sensorial e emocional desagradável relacionada com
o dano real ou potencial de algum tecido ou que se descreve em termos de tal dano" (PIMENTA,
1999, p. 11). Descrita em 66% dos pacientes com neoplasias e 80% em seu último ano de vida, pode
ser classificada, segundo o International Association for the Study of Pain (IASP, 2022) como
neuropática, se causa dano ao sistema nervoso somatossensorial; nociceptiva visceral ou somática,
devido à lesão ou ameaça aos tecidos não neurais, ou mista (FINNERUP et al., 2016; PIDGEON et
al., 2016; VAN DEN BEUKEN-VAN EVERDINGEN et al., 2016).
O padrão-ouro para avaliação é sua intensidade, sendo a Escala Numérica de Avaliação da
Dor a mais frequente (SWARM et al., 2013). Classifica-se, também, pela localização anatômica,
início, tempo e variação temporal, caráter, radiação, fatores associados de agravamento e alívio, além
da gravidade (CARACENI; SCHKODRA, 2019).
Somado a isso, um aumento transitório de intensidade da dor, definido como irruptiva, pode
ser desencadeado espontaneamente, apesar do tratamento com medicamentos opioides e quadro de
estabilidade da dor crônica. Por conseguinte, todos devem ser avaliados quanto à presença dessa,
ainda que episódica e tratados com os remédios de ação rápida ou curta em doses de resgate
(CARACENI et al., 2013; FALLON, et al., 2018; PORTENOY; HAGEN, 1990; CARACENI;
SCHKODRA, 2019).
Não existe, ainda, uma classificação da dor como prognóstico, aceita universalmente, para
pacientes com câncer (FAINSINGER et al., 2010; KNUDSEN et al., 2011; KNUDSEN;
BRUNELLI; KLEPSTAD, 2012). Nesse sentido, os Cuidados Paliativos, prática surgida no Reino
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 511

Unido na década de 1960, auxiliam quanto à prevenção e controle dos sintomas de pacientes com
doenças ameaçadoras da vida, e abordam, de forma integrativa, familiares e equipe de saúde
(MATSUMOTO et al., 2012).
Por meio das ações paliativistas, as estratégias de estratificação definem a conduta e se
classificam em cuidado paliativo precoce, complementar, predominante ou exclusivo, segundo a
doença que ameaça a vida, status funcional e prognóstico conforme Instituto de Saúde e Gestão
Hospitalar (ISCH, 2014).
A melhor analgesia e qualidade de vida em paliação oncológica dependem, portanto, de
profissionais formados em cuidados paliativos, como médicos paliativistas, enfermeiros,
fisioterapeutas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fonoaudiólogos,
psicólogos e farmacêuticos (CARDOSO et al., 2013; SAMPAIO; MOTA; CALDAS, 2019).
Entretanto, não há uma orientação curricular de inserção da temática dos Cuidados Paliativos nos
cursos de graduação em Medicina no Brasil, apesar dos pontos em comum entre as atuais Diretrizes
Curriculares Nacionais e as prerrogativas deste campo de atuação (PINELI et al., 2016).
Diante da dor irruptiva ou dor oncológica indevidamente tratada, muitos pacientes podem
necessitar dos serviços de urgência e emergência. Todavia, os Prontos-Socorros (PS) são, em sua
maioria, compostos por médicos recém-formados ou com treinamento em outras especialidades, que
buscam aumentar a renda mensal (MACHADO et al., 2016). A escassez de médicos treinados em
emergência é significativa, não sendo viável ter apenas médicos formais de medicina de emergência
nas unidades de atendimento (OLIVEIRA JUNQUEIRA E SILVA et al., 2021).
Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE, 2022), em 2020,
apenas 192 médicos eram especialistas em Medicina de Emergência e a proporção estimada de
preceptores com residência anterior ou certificação na área foi inferior a 20% dentre 35 programas de
residência em hospitais de ensino pesquisados por Herpich e colaboradores (2021). Por essa razão, o
Pronto-Socorro, campo do estágio extracurricular, reflete o panorama nacional no que tange à
composição profissional dos plantões, manejo inadequado da dor irruptiva e oncológica, além da
deficiência dos Cuidados Paliativos na orientação curricular de preceptores e ligantes.

3 METODOLOGIA

O Estágio Extracurricular pela Liga Acadêmica de Urgência e Emergência, no sul de Minas


Gerais, ocorreu no setor de urgência e emergência de uma área hospitalar porta-aberta para pacientes
EXTENSÃO PUC MINAS:
512 Novo Humanismo, novas perspectivas

oncológicos de 81 cidades, assistidos pela Rede de Alta Complexidade local. A experiência, como
prática extensionista não obrigatória, possibilitou, entre 27 de setembro de 2021 a 01 de fevereiro de
2022, o atendimento supervisionado aos pacientes dos serviços de urgência, emergência e pronto-
atendimento, no que tange aos aspectos relativos à anamnese, exame físico, diagnóstico, conduta e
ética médica.
Os discentes foram organizados em horários específicos, junto a preceptores responsáveis
que, voluntariamente, disponibilizaram seu tempo e conhecimento para acompanhá-los nos serviços
de emergência e pronto-atendimento. Concomitante à propedêutica médica, os procedimentos
realizados pelos ligantes, dentre 18 relatos, foram: acesso venoso central, acesso venoso periférico,
intubação orotraqueal, sondagem vesical de demora, cardioversão elétrica da fibrilação atrial,
eletrocardiografia e paracentese abdominal.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A literatura sobre a Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) reforça que as


demandas espontâneas da Rede de Urgência e Emergência e/ou referenciadas pelo Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) devem ter um atendimento ininterrupto pelos serviços
de saúde hospitalares habilitados como portas de entrada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Dessa
forma, a unidade hospitalar no sul de Minas Gerais é considerada porta-aberta aos pacientes
oncológicos, devendo, portanto, recebê-los por demanda espontânea e outros serviços.
Durante 4 meses de aprendizado, diferentes preceptores, de forma voluntária,
supervisionaram os discentes. O panorama nacional de composição técnica dos plantões também foi
observado no campo de estágio, em que os médicos que trabalhavam dentro do Programa de
Residência em Clínica, eram clínicos médicos ou plantonistas de outras áreas, como generalistas e
cirurgiões.
Quanto à abordagem dos pacientes oncológicos, no setor de urgência e emergência, não havia
equipes de cuidados paliativos, emergencistas ou especialistas em dor designadas especificamente
para o Pronto-Socorro. Por conseguinte, as condutas eram determinadas pelo conhecimento prévio
do profissional responsável e pela empatia desenvolvida ao sofrimento alheio.
Além disso, apesar de inúmeros profissionais atuantes nessas áreas, no nível hospitalar, e que
desempenham suas atividades de forma exemplar, humana e tecnicamente, se não contatados ou em
plantão, eram figuras inexistentes para os pacientes com câncer.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 513

Em 1986, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou seu primeiro protocolo sobre o
manejo da dor oncológica, comprovando alívio de 70% a 90% dos casos com o método. Segundo o
documento, as medicações devem ser prescritas, regularmente, em horário pré-determinado e não à
livre demanda; ademais, a via de administração deve ser oral, seguida por sublingual, subcutânea e,
por fim, venosa, não devendo ser utilizada a via intramuscular (VENTAFRIDDA et al., 1987;
MERCADANTE; FULFARO, 2005; VARGAS-SCHAFFER, 2010; OMS, 2002).
O protocolo, criado inicialmente para pacientes terminais, e, atualmente, utilizado para todos
os pacientes com dor, determinou uma escada analgésica de intensidade, classificando-a como leve
(degrau 1), moderada (degrau 2) ou severa (degrau 3) (ANEKAR; CASCELLA, 2022). No degrau 1,
o tratamento consiste em medicamentos não opioides isolados ou em associação, por via oral. No
degrau 2, ocorre a inclusão de um opioide fraco e, no degrau 3, substituição por opioides fortes, em
consonância com os não opioides. Alguns autores adicionam o degrau 4, na falha das demais
terapêuticas, por meio de fármacos pela via espinhal, bloqueios nervosos, estimulação elétrica e
cirurgias (CUOMO et al., 2019).
A dor era a queixa mais comum no PS, mas, muitas vezes, pormenorizada pelas equipes.
Alguns profissionais relataram que os pacientes se tornavam adictos em opioides, como a morfina, e,
por essa razão, baseariam a terapêutica na prescrição de analgésicos fortes, diluídos e por via
intravenosa.
No caso das admissões por possíveis doenças agudas, a principal hipótese diagnóstica
circundava, ainda, a cronicidade da dor oncológica, uma vez que a unidade hospitalar também não
tria os pacientes oncológicos nas cores amarela ou laranja, conforme gravidade e risco da
apresentação clínica, segundo Protocolo de Manchester (SACOMAN et al., 2019). Portanto, a
emergência poderia se tornar um diagnóstico diferencial e secundário.
Segundo a literatura, os PS perpetuam problemas infraestruturais e subjetivos devido ao pouco
contato dos discentes com a especialidade, durante a graduação, formação em escolas sem ensino de
Medicina de Emergência ou seu conhecimento, alunos em pronto-atendimento sem supervisão, falta
de especialistas ou equipe treinada em medicina de emergência, além de uma exposição irregular à
área (JADETE; BICUDO, 2014; RODERJAN et al., 2021; AGUIAR et al., 2011). Tais erros,
somados à deficiência na avaliação e tratamento da dor, podem contribuir para o tempo de internação
e morbidade (LAGO, 2013).
A Associação Filantrópica atende 81 cidades, assistidas pelo Centro Oncológico de Alta
Complexidade local. Muitos pacientes oncológicos, após o término do tratamento curativo para a
EXTENSÃO PUC MINAS:
514 Novo Humanismo, novas perspectivas

neoplasia, continuavam cadastrados no sistema virtual e compareciam ao setor de urgência e


emergência a fim de serem atendidos com prioridade. Somado a isso, médicos de outras localidades
encaminhavam seus pacientes por não saberem manejar a dor, para transferirem a responsabilidade e
por sentenciarem o prognóstico da doença, através de frases como “é terminal” e “paciente viciado
em opioide”. Infelizmente, ao viajarem de suas cidades, os pacientes com câncer carregavam consigo
a esperança de serem devidamente atendidos, apesar de muitos profissionais ainda não acreditarem
na dor dos pacientes ou desconhecerem a referida dor episódica.
Os cuidados paliativos deveriam ser iniciados precocemente, associados ao tratamento
curativo, a fim de manejar sintomas, melhorar as condições clínicas do paciente e se atentar aos
aspectos biopsicossociais; mas, lamentavelmente, apenas 14% das escolas médicas apresentam esta
disciplina durante a graduação (INCA, 2021; CASTRO; TAQUETTE; MARQUES, 2021). Nenhum
tratamento para dor, com horário regular e pré-estabelecido, fora prescrito para alta durante o estágio
e os pacientes não eram classificados segundo a fase do paliativismo. Os Cuidados Paliativos eram
confundidos com terminalidade, ou seja, o esgotamento do resgate das condições de saúde, sendo a
morte inevitável, irreversível e previsível (GUTIERREZ, 2001).
Cuidar, continuamente, de pacientes em sofrimento físico ou psicológico envolve um custo
emocional, baseado na empatia. O estresse gerado pela vivência das emoções alheias pode angariar
autoproteção, isolamento social e tristeza, como mecanismos de autopreservação, mas o estresse
empático pode, concomitantemente, gerar sofrimento aos profissionais da área de saúde (LAGO,
2013). Portanto, os contratantes das redes hospitalares devem se atentar tanto aos sofrimentos físicos
e psicológicos da equipe, quanto dos pacientes. Também sob esta análise, os Cuidados Paliativos
teriam finalidade, diante da ação integrativa junto às equipes de saúde.
Após os meses de estágio, foi possível avaliar o atendimento aos pacientes oncológicos diante
da dor. Sugere-se, portanto, uma proposta de intervenção quanto à estratégia de estratificação dos
pacientes, classificando-os segundo as fases de Cuidado Paliativo, a fim de assegurar um manejo
adequado e qualidade de vida. Ademais, as equipes do Pronto-Socorro devem ser direcionadas a partir
do Protocolo Manchester de classificação do risco, a ser realizado pela equipe de triagem. Por fim, o
Centro Oncológico de Alta Complexidade local pode emitir documentos de contrarreferência para
que os pacientes possam retornar às suas cidades com a segurança de serem devidamente assistidos
segundo diagnóstico e manejo da dor oncológica, a ser realizado em qualquer localidade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 515

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil se caracteriza por uma história recente em Medicina de Emergência e Cuidados


Paliativos. Apesar disso, no sul de Minas Gerais, devido à unidade hospitalar ser porta aberta para
pacientes oncológicos provenientes de 81 cidades, ressalta-se a importância da formação e seleção de
profissionais capazes de identificar e conduzir pacientes oncológicos em situações agudas e crônicas.
O manejo inadequado da dor oncológica, associado à ineficiência dos protocolos para dor e
risco permanecem como entraves aos diagnósticos diferenciais no pronto-socorro e à qualidade de
vida diante do câncer. Torna-se necessário, portanto, que escolas médicas e contratantes de serviços
hospitalares se responsabilizem pelo conhecimento teórico e prático dos profissionais que atuam nos
setores de urgência e emergência.

REFERÊNCIAS

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Novo Humanismo, novas perspectivas 517

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EXTENSÃO PUC MINAS:
518 Novo Humanismo, novas perspectivas

Intervenções educativas para prevenção de acidentes e segurança no trânsito:


relato de experiência

Juliana de Toledo Piza Soares1


Bruna Franchito Freire2
Julia Beatriz Aliscantes Silva Brito3
Joaquim Simões Neto4

RESUMO
Os traumas decorrentes de acidentes de trânsito são considerados um problema de saúde pública em virtude de sua alta
prevalência e das consequências que eles acarretam. Assim, o presente projeto de Extensão tem como objetivo a promoção
da conscientização sobre os riscos e consequências da direção junto ao consumo de álcool. O projeto é formado por equipe
interdisciplinar envolvendo docente e acadêmicos dos cursos de Medicina, Jornalismo e Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). A base do projeto é o programa P.A.R.T.Y. (Prevenção do Risco
de Trauma Relacionado ao Uso de Álcool na Juventude), que visa a realização de atividades socioeducativas para a
diminuição de fatores de risco e prevenção de traumas de trânsito entre a população jovem. Esta ação educativa foi
realizada pelo grupo extensionista em parceria com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) e
teve como público-alvo alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio e professores de escolas públicas de Campinas
- SP. A região escolhida foi a Avenida John Boyd Dunlop e as escolas foram previamente selecionadas pela empresa
EMDEC. Foram realizadas palestras educativas sobre travessia segura, cinto de segurança e uso de álcool, além de relatos
de experiências de pacientes atendidos pelos alunos extensionistas no hospital universitário da PUC-Campinas. Por fim,
ressaltou-se a importância de realizar ações semelhantes nas escolas durante projetos de extensão, visto que, após a
realização deste presente programa, observou-se entendimento dos alunos a fim de atuarem como multiplicadores do tema
na comunidade.

Palavras-chave: Projeto de Extensão. Trauma. Educação.

Educational Interventions for Accident Prevention and Road Safety:


experience report

ABSTRACT
Trauma caused by traffic accidents is considered a public health problem due to its high prevalence and consequences.
Thus, this extension project aims to raise awareness of the risks and consequences of driving with alcohol consumption.
The project is formed by a multidisciplinary team involving professors and academics from the Medicine, Journalism and
Psychology courses at the Pontifical Catholic University of Campinas (PUC-Campinas). The basis of the project is the
P.A.R.T.Y. (Prevention of the Risk of Trauma Related to the Use of Alcohol in Youth), which aims to carry out socio-
educational activities to reduce risk factors and prevent traffic trauma among the young population. This educational

1
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas).
E-mail: juliana.tps@puccampinas.edu.br.
2
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da PUC-Campinas. E-mail: bruna.ff2@puccampinas.edu.br.
3
Graduanda em Medicina. Faculdade de Medicina da PUC-Campinas. E-mail: julia.basb@puccampinas.edu.br.
4
Graduado em Medicina em 1996, Especialista em Cirurgia Geral; Especialista em Coloproctologia; Especialista em
Cirurgia do Trauma; Mestre em Ciências; Doutor em Medicina. Professor da PUC-Campinas. E-mail:
jsimoes@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 519

action was carried out by the extension group in partnership with EMDEC - Municipal Development Company of
Campinas - and had as target audience students from Elementary School II and High School and teachers from public
schools in Campinas - SP. The chosen region was John Boyd Dunlop Avenue and the schools were previously selected
by the EMDEC company. Educational lectures were held on safe crossings, seat belts and drinking alcohol, besides the
reports of experiences of patients attended by extension students at the university hospital of PUC-Campinas. Finally, the
importance of carrying out similar actions in schools during extension projects was highlighted, since, after carrying out
this present program, students' understanding was observed in order to act as multipliers of the theme in the community.

Keywords: Extension project. Trauma. Education.

INTRODUÇÃO

Os acidentes de trânsito constituem um dos principais problemas de saúde pública no Brasil.


No ano de 2020, as mortes decorrentes de traumas no trânsito totalizaram mais de 30 mil casos no
país (DATASUS, 2020). Na cidade de Campinas, os registros não diferem do cenário nacional e,
segundo o Caderno de Acidentalidades do Trânsito em Campinas, em 2020, foram registradas 57
vítimas fatais de acidentes de trânsito (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas
EMDEC, 2020). A faixa etária com o maior índice de mortalidade é a de jovens entre 18 e 23 anos,
o segmento com maior número crescente de vítimas fatais é o de pedestres (EMDEC, 2020). Dentre
os principais fatores contribuintes para os acidentes de trânsito que resultam em óbito, pode-se citar
velocidade, álcool e desrespeito à sinalização (EMDEC, 2020).
Diante desse problema e do fato de que grande parte dos acidentes de trânsito são evitáveis
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012), o presente grupo de Extensão da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas), sob a orientação de docentes da Instituição, realizou ação
educativa com alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio de escolas públicas de Campinas. O
intuito era de promover aos estudantes conscientização e educação sobre os perigos iminentes da
associação de álcool e direção, bem como um comportamento seguro no trânsito. O público-alvo –
estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio – foi escolhido pelo fato de a faixa etária ser
muito próxima da mais afetada (EMDEC, 2020). A ação foi feita em conjunto com a empresa
responsável por gerenciar a rede de transportes e pedestres na região de Campinas-SP, a EMDEC,
que possui uma ampla área de atuação: transporte, acessibilidade, cidadania, inclusão social, meio
ambiente e segurança.
Os principais objetivos da ação foram orientar, estrategicamente por meio do ensino, os alunos
sobre escolhas seguras no trânsito, de modo a favorecer um ambiente mais seguro, qualidade de vida
nas ruas e, principalmente, de atuar preventivamente contra os acidentes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
520 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 METODOLOGIA

A ação educativa promovida em parceria entre o grupo extensionista, composto por discentes
dos cursos de Medicina, Psicologia e Jornalismo da PUC Campinas, e a EMDEC ocorreu no dia 31
de maio de 2022 e recebeu o nome de Dia D de Conscientização sobre Segurança Viária. Essa
iniciativa fez parte do programa Maio Amarelo, uma campanha mundial que visa atentar a população
para a alta quantidade de óbitos e feridos no trânsito, e promover medidas com o intuito de prevenir
acidentes e promover a segurança.
A escolha da região de escolas ocorreu de forma prévia pela empresa EMDEC. Foram
considerados os critérios epidemiológicos sobre os acidentes de trânsito na região da Avenida John
Boyd Dunlop, local em que ocorreram o maior número de vítimas fatais por acidentes de trânsito na
cidade de Campinas (EMDEC, 2020). Além disso, optou-se por colégios públicos e particulares de
Ensino Fundamental II e Ensino Médio, a fim de atender a faixa etária de jovens mais afetados por
acidentes automobilísticos e que obtiveram a Carteira Nacional de Habilitação recentemente ou estão
prestes a obtê-la.
As escolas participantes da ação foram: E.E. Prof.ª Glória Aparecida Rosa Viana e E.E.
Tenista Maria Esther Bueno, no Cidade Satélite Íris; E.E. Prof. Carlos Alberto Galhiego, no Jardim
Santa Clara; EMEF EJA Prof.ª Sylvia Simões Magro, no Jardim Ipaussurama; E.E. Prof.ª Hercy
Moraes, na Vila Perseu Leite de Barros; E.E. Prof. Carlos Lencastre e Colégio Raphael di Santo, no
Jardim Garcia; E.E. Ruy Rodriguez, no Parque Itajaí; e E.E. Prof. Elcio Antonio Selmi, no
Residencial Cosmos, nos períodos da manhã, tarde e noite. Em cada uma das escolas, foram
envidados representantes da EMDEC e estudantes da PUC-Campinas (imagem 1 e 2). Ao todo, 10
alunos extensionistas participaram da ação.

Figura 1 - Ações realizadas nas escolas

Fonte: Autoria própria, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 521

Figura 2 - Ação nas escolas

Fonte: Autoria Própria, 2022.

Os representantes da empresa EMDEC e alunos extensionistas realizaram palestras


socioeducativas sobre escolhas seguras no trânsito, travessias seguras, uso do capacete, uso da
bicicleta, uso do cinto de segurança e o uso de álcool antes de dirigir. Foram apresentados também
dados epidemiológicos sobre traumas rodoviários na região metropolitana de Campinas e na Avenida
John Boyd Dunlop.
As instruções de segurança passadas visaram atender a todos os grupos participantes do
trânsito: pedestres, ciclistas, motociclistas, motoristas e passageiros (figura 3).

Figura 3 - Banner utilizado nas ações realizadas nas escolas

Fonte: EMDEC, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
522 Novo Humanismo, novas perspectivas

Dentre as recomendações para os pedestres, foram destacadas a importância do uso da faixa


de pedestres, realizar a travessia quando o semáforo estiver fechado, manter-se atento à dinâmica do
trânsito e aos sons e olhar para todos os lados da rua antes de atravessar. Os instrutores também
alertaram sobre o perigo de atravessar a rua olhando o celular, utilizando fones de ouvido ou em um
ambiente com pouca visibilidade.
As orientações passadas em relação ao uso de bicicletas foram: seguir o sentido de carros da
via, permanecer na ciclovia sempre que ela estiver presente, utilizar o braço como uma seta de carro
caso seja preciso trocar a direção, utilizar equipamento de proteção (capacete, joelheira, luvas, óculos
e cotoveleiras), dar preferência para roupas claras e instalar equipamentos de segurança na bicicleta,
tais como farol, itens refletivos e retrovisor.
Dentre as dicas passadas para os motociclistas, foi destacado: o uso de capacete, uso de roupa
adequada, uso do farol aceso mesmo durante o dia, permanência da moto atrás dos veículos sem
desviar inapropriadamente de carros e pedestres.
Em relação às orientações para os motoristas e passageiros, os instrutores ressaltaram o risco
do uso de celulares ao dirigir, orientaram os alunos a não entrar em veículos com motoristas
embriagados e a utilizar o cinto de segurança mesmo no banco traseiro. Quanto a evitar entrar em
veículos com motoristas que fizeram uso de álcool, os alunos foram instruídos também acerca de
medidas alternativas para essa situação, como o uso de transporte público ou de transportes por
aplicativo.
Além disso, os alunos extensionistas utilizaram relatos de experiências de pacientes que
sofreram trauma após acidente no trânsito e que foram atendidos no hospital universitário da PUC-
Campinas, serviço que recebe as vítimas de trauma da Avenida John Boyd Dunlop. Além disso, foram
utilizados exemplos e situações comuns que podem ocorrer após um acidente como, por exemplo, a
ruptura esplênica, traumatismo craniano, lesão medular e trauma torácico, entre outros, com o
objetivo de ilustrar as repercussões que a falta de cuidados no trânsito pode provocar na vida das
pessoas.
Todos os participantes da ação reforçaram a importância de os alunos serem multiplicadores
das boas práticas de segurança no trânsito para amigos, parentes e vizinhos, a fim de transformar o
ambiente em um lugar mais seguro para toda a população.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 523

A identidade visual do Dia D foi planejada pela EMDEC, que elaborou camisetas
personalizadas para os agentes da empresa e alunos do Projeto de Extensão e banners que foram
colocados nos arredores das escolas. Ao final da ação, foram sorteadas duas camisetas de brinde para
dois alunos de cada turma que participaram da discussão.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Dentre as contribuições da atuação dos alunos extensionistas e instrutores da EMDEC, pode-


se citar a conscientização dos alunos de escolas municipais da região da Avenida John Boyd Dunlop,
local com maior número de acidentes fatais na cidade de Campinas/SP.
Apesar de já serem realizadas outras campanhas pela EMDEC, dentro temática nesta mesma
região, como a ação “John Boyd Dunlop: Morte Zero no Trânsito”, iniciativa que tem como objetivo
zerar os acidentes com vítimas fatais na Avenida (CAMPINAS, 2022), percebe-se uma carência de
iniciativas voltadas para a população mais jovem. Evidência disso é o fato de que, em outros trabalhos
realizados pelo mesmo grupo de extensionistas da PUC-Campinas, em anos anteriores, uma
sondagem revelou que cerca de 225 (39,13%) dos 808 alunos de Ensino médio entrevistados
desconheciam o trauma como a maior causa de mortes entre os jovens. Além disso, 344 (59,82%)
dos entrevistados negligenciaram o cinto de segurança. Ao fim das palestras propostas pelo grupo
anterior, foi perceptível que o conhecimento dos alunos aumentou com relação ao risco do consumo
de álcool e outras drogas no trânsito ao realizar a sondagem pós-aula (CAMARGO, 2019).
Nesta última edição do Dia D de Conscientização sobre Segurança Viária realizada pelo
presente grupo extensionista, a campanha atingiu aproximadamente 50 turmas dos turnos da manhã,
tarde e noite das escolas e um número de 1,7 mil estudantes dos Ensinos Fundamental II e Médio.
Durante toda a ação, os alunos mostraram-se entusiasmados e questionaram pontos levantados ao
longo das palestras pelos instrutores e alunos extensionistas. Muitos jovens relataram casos pessoais
de acidentes no trânsito durante rodas de conversa e, diante dessas situações, souberam identificar as
atitudes que poderiam ter amenizado ou ainda evitado o acidente.
Nos momentos finais, ocorreu uma roda de conversa entre os estudantes das escolas e os
extensionistas, na qual os alunos puderam esclarecer todas as suas dúvidas e expor relatos pessoais.
Surgiram curiosidades sobre o atendimento e o manejo dos pacientes que chegam no hospital vítimas
EXTENSÃO PUC MINAS:
524 Novo Humanismo, novas perspectivas

de trauma automobilístico, sobre os impactos do acidente a longo prazo da vida das vítimas
sobreviventes e foram colocadas em pauta também questões sobre a falta de acessibilidade nas ruas,
evidenciando o aumento de conhecimento dos estudantes após a realização da ação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das intervenções deste projeto, evidenciou-se a importância da manutenção do tripé


pesquisa, ensino e extensão diante de uma sociedade. Após a realização do programa, observou-se
entendimento por parte dos jovens sobre a importância do tema e os impactos e repercussões que os
acidentes geram na sociedade e na vida pessoal de cada um. Dessa forma, o trabalho educativo
mostra-se decisivo para transformar a realidade e contribuir de maneira preventiva aos acidentes de
trânsito, em prol de um trânsito mais seguro e da cultura de paz.
Espera-se que os alunos das escolas municipais que participaram da campanha atuem como
multiplicadores das orientações e princípios de segurança para suas comunidades, a fim de expandir
as boas práticas no trânsito, reduzir o número de vítimas por acidente e promover um ambiente mais
seguro para a população de Campinas.

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jun. 2022.
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Lesoes.pdf. Acesso em 22 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 525

Educação ambiental híbrida: experiência extensionistas de


atendimento remoto e presencial

Erick Duarte Kiomido1


Gabriel Ferraciolli Soares2
Joyce Mariah Guimarães de Campos3
Júlia Mendes Massoud4
Myllene Guimarães Martins5

RESUMO
O projeto de extensão Click Verde da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) aborda a educação ambiental através
da fotografia utilizando como ferramenta a educomunicação em oficinas com alunos de ensino médio de escolas públicas.
Durante o período de distanciamento social da pandemia de coronavírus, o projeto manteve seus atendimentos de forma
remota ao apoderar-se de tecnologias de informação e comunicação. Com a flexibilização das normas de distanciamento,
o projeto retornou ao atendimento presencial, e uma escola em específico chamou a atenção, pois o projeto, que até então
atendia somente escolas da capital, passou a aceitar escolas de outras cidades, já que a fronteira física foi rompida através
do digital. No retorno do presencial essa mesma escola recebeu o projeto in loco, portanto, o objetivo do presente relato
é apresentar a experiência da extensão no formato híbrido, remoto e presencial, e apresentar as diferenças observadas pela
equipe tanto na parte dos estudantes quanto dos próprios extensionistas.

Palavras-chave: Educação ambiental. Educomunicação. Extensão híbrida. Fotografia. Meio Ambiente.

Hybrid environmental education: experience extensionists of


remote and in-person service

ABSTRACT
The Click Verde UCDB extension project addresses environmental education through photography using
educommunication as a tool in workshops with high school students from public schools. During the period of social
distancing of the coronavirus pandemic, the project maintained its services remotely by taking hold of information and
communication technologies. With the relaxation of distancing rules, the project returned to in-person service, and one
school in particular drew attention because the project that until then only served schools in the capital, started to accept
schools from other cities, as the physical border was broken through digital means. Upon returning from the classroom,
this same school received the project in loco, therefore, the objective of this report is to present the experience of the
extension in the hybrid, remote and classroom format, and to present the differences observed by the team both on the
part of the students and the extensionists themselves.

Keywords: Environmental education. Educommunication. Hybrid Extension. Photography. Environment.

1
Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail: Ra190589@ucdb.br
2
Professor Orientador do Projeto de extensão Click Verde da UCDB. E-mail: rf3248@acad.ucdb.br
3
Acadêmica do curso de publicidade e propaganda da UCDB. E-mail: Ra186588@ucdb.br.
4
Acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda da UCDB. E-mail: Ra189330@ucdb.br.
5
Acadêmica do curso de Design da UCDB. E-mail: Ra190347@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
526 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

As condições de distanciamento e isolamento social impostas pela pandemia que assolou o


mundo desde 2020 impactam vários serviços e atendimentos que envolvem a interação social. A
extensão universitária também foi afetada e o atendimento da universidade junto à comunidade
necessitou ser adaptado para o ambiente virtual, assim como o projeto de extensão Click Verde da
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
O projeto é idealizado pelo curso de Publicidade e Propaganda da UCDB, em parceria inter-
áreas com os cursos de Ciências Biológicas, Design e Jornalismo. O objetivo principal é utilizar a
fotografia como ferramenta na educação ambiental e valorização dos espaços públicos, seja
reconhecendo espécies da fauna e da flora, registrando de forma criativa e pessoal, divulgando os
espaços verdes ou estimulando reflexões sobre a realidade socioambiental de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul (MS).
O projeto é realizado em parceria com escolas de Ensino Médio, que viabilizam o acesso da
equipe aos estudantes por meio da realização de oficinas teóricas e práticas. Em um primeiro
momento, a equipe apresenta a teoria acerca do papel de cada indivíduo na preservação do meio
ambiente, sobre a importância da comunicação e a teoria da fotografia. A parte prática é desenvolvida
com câmeras fotográficas profissionais e smartphones que os estudantes manuseiam, com orientação
dos extensionistas, enquanto realizam trilha ecológica. A fundamentação do projeto se baseia na
Educomunicação, uma estratégia que utiliza a comunicação como recurso de educação, ou seja, no
Click Verde o manuseio das câmeras fotográficas e o uso da fotografia fazem parte da estratégia
adotada para possibilitar o aprendizado sobre meio ambiente e a compreensão de mundo (SOARES,
2012).
Dentro da proposta de trabalho, consta que, ao longo do ano letivo, o projeto atende duas
escolas por semestre, de forma presencial; porém, em meio à pandemia, as ações precisaram migrar
para o digital, atendendo, inclusive, escolas de fora da cidade de Campo Grande, com uso de
ferramentas de comunicação conectadas à internet.
O objetivo do presente relato de experiência é apresentar como foi o atendimento que se
iniciou no modelo remoto com uma escola do interior do estado de MS e teve continuidade de forma
presencial, ou seja, de forma híbrida e qual o impacto dessa convergência para os envolvidos. O relato
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 527

demonstra que com o uso da tecnologia, como computadores, aparelhos celulares e softwares
gratuitos, é possível realizar a prática extensionista além das fronteiras geográficas e atender públicos
de outras regiões, como o caso de cidades do interior.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A importância de levar conhecimento sobre meio ambiente é conscientizar desde cedo novas
gerações sobre a importância da preservação ambiental, que envolve a conscientização dos indivíduos
sobre os problemas ambientais, de como ajudar a combatê-los, conservando as reservas naturais e
não poluindo o meio ambiente:

A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das


capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais
do país, intervenham, de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais
quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja físico-
natural ou construído, ou seja, educação ambiental como instrumento de participação e
controle social na gestão ambiental pública. (QUINTAS, 2008, p. 14).

Esse tipo de educação representa um processo empregado para preservar o patrimônio


ambiental e criar modelos de desenvolvimento, com soluções limpas e sustentáveis. Na Carta de
Belgrado (1977 apud DIAS, 2012), entre as estruturas globais para educação ambiental, constam
todos os princípios norteadores e reguladores de como os educadores devem abordar os assuntos
relacionados ao meio ambiente nas mais diversas disciplinas.
A Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999) entende a educação ambiental
como construtor de valores sociais de forma individual e coletiva, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Aproveitar-se das ferramentas tecnológicas
como forma de levar a educação ambiental para os públicos jovens se mostra como uma viável
estratégia para impactar esse público que convive desde o nascimento com tecnologias acessíveis:

Melhor, então, é enxergar esse momento não como de perdas, mas como de possibilidades
de novas articulações, novas identificações, novas perspectivas de ação no mundo, pois se
amplia o limite de ação e a possibilidade de novas escolhas, com liberdade e responsabilidade
pelas consequências. (MANSOLDO, 2012, p.23).

A preservação do meio ambiente depende muito da forma de atuação das gerações presentes
e futuras, e o que estão dispostas a fazer para diminuir o impacto ambiental das suas ações. Por esse
EXTENSÃO PUC MINAS:
528 Novo Humanismo, novas perspectivas

motivo, a educação ambiental é de extrema importância e deve ser abordada nas escolas, para que
todos os membros da sociedade desenvolvam uma consciência ambiental e tenham atitudes
responsáveis em relação ao meio ambiente.

3 METODOLOGIA

Segundo Ismar Soares (2012, p. 52), a educomunicação é “um conjunto das ações inerentes
ao planejamento, implementação e avaliação de processo, programas e produtos destinados a criar e
a fortalecer ‘ecossistemas comunicativos’”. O autor entende que a estratégia é importante para o
ensino por proporcionar não somente o uso da tecnologia, mas por abrir um espaço amigável e de
convívio humano. Este recurso tem permeado as ações do Click Verde, pois, ao utilizar a fotografia
para o ensino da educação ambiental, a experiência dos educandos tende a se tornar mais receptiva.
Por conta da pandemia, os contatos com as escolas atendidas passaram a ser realizados de
forma remota, fato que facilitou a inserção de estabelecimentos de ensino de outros municípios. Foi
assim que a Escola Estadual Eduardo Batista Amorim, de Ribas do Rio Pardo, distante 97 quilômetros
de Campo Grande (MS), foi inserida.
Em 2021, o projeto atendeu a presente escola de forma remota e com atividades síncrona e
assíncrona. Primeiro, foram realizados encontros virtuais, por meio do Google Meet, em que os
estudantes participaram de maneira individual em suas residências com acompanhamento da
professora responsável. Os extensionistas, orientados pelos docentes da universidade, apresentaram
teorias sobre meio ambiente, comunicação, e manuseio de máquinas fotográficas, bem como o uso
de câmeras de celulares. Nesta etapa, os estudantes das diferentes áreas do conhecimento Ciências
Biológicas, Design, Jornalismo e Publicidade Propaganda, trabalharam de forma interdisciplinar, ou
seja, a ação foi desenvolvida de forma dialógica, envolvendo as habilidades de cada área participante.
A fase assíncrona da ação ocorreu como uma atividade prática para os alunos do ensino médio.
Foi criado um grupo no aplicativo de mensagem WhatsApp para que fossem trocadas mensagens de
forma assíncrona auxiliando os estudantes quanto à prática fotográfica.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 529

Figura 1 - Oficina remota sobre comunicação e educação ambiental com a


Escola Estadual Eduardo Batista Amorim de Ribas do Rio Pardo / MS

Fonte: Acervo dos autores, 2021.

Ao final do atendimento, cada aluno ficou com a tarefa de enviar fotos de natureza com
registros de aspectos positivos e negativos que encontrassem na região em que vivem. As fotos foram
enviadas no grupo de WhatsApp e, com elas, realizou-se exposição fotográfica virtual através do site
gratuito do Google Sites em que os alunos pudessem ver a análise do projeto com suas fotos.
Já no ano de 2022, com a liberação do atendimento presencial na comunidade, o projeto
retomou a oficina com a mesma turma e mais alguns participantes, mas de maneira in loco. O projeto
custeou com recursos próprios o translado até a cidade, cerca de 97 quilômetros.

Figura 2 - Oficina presencial sobre educação ambiental na


Escola Estadual Eduardo Batista Amorim em Ribas do Rio Pardo / MS

Fonte: Acervo dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
530 Novo Humanismo, novas perspectivas

Após a oficina presencial, a equipe do projeto acompanhou os alunos em atividade prática no


entorno da escola. Desta vez, ao registrar fotos da natureza do ambiente em que vivem, tiveram a
orientação de extensionistas e professores da universidade. Foi possível utilizar do espaço prático
para exercitar o uso das técnicas e fotografia e causar a reflexão sobre a importância de cada um
dentro do ambiente escolar e responsabilidade para com o meio ambiente em que vivem.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Ao todo a oficina envolveu 25 estudantes do Ensino Médio. Diferentemente do ano anterior,


que foi realizada remotamente, em 2022, a equipe do Click Verde pôde ter mais interação com os
alunos da Escola Estadual Eduardo Batista Amorim, e essa interação permitiu com que o desempenho
e a participação dos alunos fossem maiores e mais dinâmicos. Consequentemente, a equipe do projeto
pôde trabalhar melhor na oficina e no desenvolvimento dos relatórios internos. Tendo mais registros
da oficina, foi possível formatar uma página mais rica em informações e detalhes para o site do
projeto. Além disso, as redes sociais puderam ser melhor trabalhadas e divulgadas, atraindo mais a
atenção do público.
Além da oficina presencial ter facilitado o trabalho do projeto Click Verde, facilitou também
o desempenho e interesse dos alunos, que tiveram a chance de aprender a manusear uma câmera
digital profissional e receber um auxílio mais aprofundado na hora de tirar fotos pela câmera de seus
celulares. E claro, presencialmente, foi mais confortável e acessível para os alunos fazerem perguntas
sobre a oficina.

Figura 3 - Estudantes manuseando o equipamento na saída fotográfica da escola

Fonte: Acervo dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 531

Por último, outra importância de ter aplicado a oficina de forma presencial foi proporcionar a
oportunidade de os alunos extensionistas do projeto Click Verde de vivenciar uma experiência fora
de sua cidade e conhecer mais outras realidades, eles descobriram novidades sobre a cidade de Ribas
do Rio Pardo. Além de fazer os extensionistas sentirem na pele a responsabilidade e disciplina para
se portar em um lugar desconhecido e ter a sensação de independência.

Figura 4 - Foto tirada por uma aluna que Figura 5 - Foto tirada por uma aluna que
participou das oficinas. participou das oficinas

Fonte: Lauviah Zacarias. Latas de cerveja largadas Fonte: Raquel Longo Lacerda.
em um terreno abandonado perto de sua casa. Uma linda muda dentro de sua casa.

As figuras de número 4 e 5 são exemplos da importância de ter aplicado às oficinas de forma


presencial, pois além dos alunos terem a experiência em escola puderam aplicar em casa, com o
celular, as técnicas aprendidas nos possibilitando ter um feedback de que o projeto ajuda os alunos de
ensino médio a verem o meio ambiente de outra forma e ajudar a preservar reconhecendo o que é
bom e ruim na natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que a Extensão deve levar o conhecimento acadêmico diretamente à comunidade,


e que as ferramentas tecnológicas servem de suporte para o alcance de suas atividades. Tanto que o
atendimento pôde ser extrapolado ao âmbito regional, como o caso do presente relato de experiência.
Entretanto, a prática que se iniciou de forma remota e consolidou no presencial, teve um efeito mais
significativo ao ter o contato presencial com os estudantes na escola. Tal constatação demonstra um
EXTENSÃO PUC MINAS:
532 Novo Humanismo, novas perspectivas

ganho que não é possível quantificar, mas tem relação com a vivência, que são as conexões
estabelecidas no contato direto com os alunos que se demonstraram seguros para tirar dúvidas e
acrescentar apontamentos.
O convívio do ser humano com o meio ambiente precisa ser remediado com práticas
sustentáveis que projetam um futuro melhor para a sociedade. A extensão universitária é parte
fundamental para essa realização. As tecnologias como ferramentas de educomunicação auxiliam na
aproximação com os estudantes.
É importante destacar que o atendimento à comunidade, embora entendida como prática
presencial, é possível trabalhar de forma híbrida, ao mesclar a abordagem remota e presencial,
síncrona e assíncrona, a fim de ganhar novos públicos e expandir o alcance do trabalho da extensão
acadêmica dentro e fora da universidade, cada vez mais fora, até em outras cidades.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm Acesso em: 15 maio
2022.
DIAS, Karla F. Abordagem ambiental nos livros didáticos de química aprovados pelo
PNLEM/2007: princípios da Carta de Belgrado. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação em
Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/Seb/Arquivos/Pdf/Cbelgrado.Pdf. Acesso em: 15 maio 2022.
MANSOLDO, Ana. Educação ambiental na perspectiva da ecologia integral - Como educar
neste mundo em desequilíbrio? Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2012. E-book. ISBN
9788565381505. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788565381505/. Acesso em: 15 set. 2022.
QUINTAS, José Silva. A educação no processo de gestão ambiental. In: Educação Ambiental no
Brasil. (salto para o futuro), Ano XVIII boletim 01, 2008. (30 – 40 p.)
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação - o conceito o profissional a aplicação: contribuições
para a reforma do ensino médio. São Paulo: Paulinas, 2012. (Coleção educomunicação).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 533

Oficina de Extensão Universitária sobre manejo da dor


com o uso de ervas medicinais: um relato de experiência

Giovana Maria Almeida Moreira1


Larissa Mayra Belo Quintão2
Mariana Cavaliere Batista e Silva3
Matheus Patrick Aguiar Bragança4
Juliana Ladeira Garbaccio5

RESUMO
A extensão universitária surge com o propósito de levar o conhecimento e a vivência universitária para fora dos muros
da universidade e as oficinas são a maneira que esse conhecimento é difundido e aplicado. Este trabalho apresenta o relato
de experiência de uma oficina chamada “Ervas no manejo da dor”, do projeto Ervas e Aromas junto a um grupo de pessoas
(adultos e idosos), na intenção de discutir informações acerca da dor e do alívio dela, promovendo mais qualidade de
vida. Os relatos dos participantes acerca da oficina foram positivos e demonstraram o real potencial das ervas e aromas
no cuidado holístico da saúde e promoção de melhor qualidade de vida.

Palavras-chave: Terapias complementares. Educação em saúde. Relações Comunidade-Instituição.

Proyecto de Extensión Universitaria sobre manejo del dolor


con el uso de hierbas medicinales: relato de experiencia

RESUMEN
La extensión universitaria surge con el propósito de llevar el conocimiento y la experiencia universitaria fuera de los
muros de la universidad, los talleres son la forma en que se difunde y aplica este conocimiento. Este trabajo presenta un
relato de experiencia de un taller denominado “Hierbas en el manejo del dolor” del proyecto Hierbas y Aromas junto al
proyecto PUC Mais Age, destacando informaciones con el objetivo de promover el alivio del dolor y la calidad de vida.
Demostrando cómo se puede difundir el conocimiento de forma dinámica, con retroalimentación y resultados
satisfactorios por parte de los integrantes de las extensiones.

Palabras-llave: Terapias Complementarias. Educación en Salud. Relaciones Comunidad-Institución

1
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: giovana.maria@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: larissa.belo@sga.pucminas.br.
3
Graduando em Medicina pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: mariana.cavaliere@sga.pucminas.br.
4
Graduando em Enfermagem pela PUC Minas, Campus Betim. E-mail: matheuspatrick62@gmail.com.
5
Professora da PUC Minas, Campus Betim. E-mail: julianaladeira@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
534 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, muito tem se discutido sobre o uso de plantas e ervas medicinais e a eficácia
no tratamento de malefícios para a saúde. O uso delas vem desde os séculos antigos, sendo
considerado uma medicina tradicional. De certa forma, culturalmente, passou-se, de geração em
geração, os conhecimentos acerca dessas ervas, uma vez que o homem primitivo sempre buscou na
natureza soluções para diversos males que o assolavam. Tal assunto causa muita dúvida na população,
pois a validação do conhecimento tradicional pelo meio científico ainda está em desenvolvimento.
O uso terapêutico de plantas medicinais ainda é relativamente recente, resgatado no meio
científico, não contrapondo a medicina alopática, mas complementando as práticas de saúde, nas
décadas de 80 e 90, emergindo diante de várias mudanças políticas, econômicas e de saúde
(APARECIDA et al. 2006).

A relação entre o homo sapiens e as plantas não é catalogável em termos históricos, tal é a
profundidade da sua coexistência! Estudos arqueológicos permitiram calcular que as plantas
são utilizadas com objetivos medicinais há cerca de 60.000 anos e documentos sumérios
datados de cerca de 5000 a.C. (LIMA, 2013, p. 1).

Por isso, a utilização de plantas medicinais na saúde se relaciona com uma sabedoria antiga
com práticas legitimadas ao longo do tempo, sendo esses conhecimentos teóricos e práticos
disseminados pelo senso comum, porém fortalecidos com o saber científico. Na atualidade, as plantas
com propriedades terapêuticas estão sendo estudadas cientificamente com todo o rigor, sendo
aplicadas em pesquisas e também na atuação dos profissionais de saúde, inclusive na enfermagem.
Trazendo, assim, um grande potencial de validação desses conhecimentos. (APARECIDA et al.,
2006).
Desde o século XX, derivado do projeto tecno-científico ocorrido na época, tem-se a análise
química de componentes das plantas e as possibilidades de síntese de novas moléculas, o que
possibilitou grandes descobertas no mundo atual, como, por exemplo, a extensa cadeia dos
medicamentos alopáticos, que são a base de tratamentos da medicina convencional. Dessa forma, o
resgate de práticas tradicionais tem grande potencial em pesquisas, pois o natural tem sido mais
valorizado na comunidade, abrangendo, assim, diversas cadeias tecnológicas, incluindo o mercado
da beleza, alimentação, saúde e afins (LIMA, 2013).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 535

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (ANO), cerca de 80% da população do


mundo utiliza algum tipo de planta para sintomatologia dolorosa e/ou desagradável. Considerando
essa grande parcela da população que faz o uso das plantas medicinais, vê-se a necessidade de
pesquisas e profissionais capacitados no assunto para compreender as formas corretas de posologia,
bem como da eficácia desses compostos.
Em pesquisa realizada no mercado central em São Luís/Maranhão, observou-se que a
principal forma de conhecimento dos usos das plantas na saúde é passada pelos feirantes mais velhos
sem necessariamente fontes confiáveis (62% dos voluntários para pesquisa). Nessa mesma pesquisa,
também foi evidenciado que 71% dos entrevistados em casos de doenças recorrem primeiramente ao
uso das plantas medicinais em vez de outras formas de tratamento (CUNHA et al., 2015).
Um estudo realizado em 2013 revelou que há evidências científicas que grande parte da
população usa de ervas medicinais para o alívio da dor, resfriado e até mesmo luxações,
principalmente em chás, xaropes, compressas frias e quentes e sabonetes artesanais, contudo, muitas
famílias não têm o cultivo dessas plantas no próprio quintal, por não saber fazer o manejo para o
cuidado delas (MICHAUD, 2013).
Em cima disso, o objetivo da oficina foi consolidar novos conhecimentos dos beneficiários e
dos extensionistas sobre o uso correto das ervas medicinais comumente utilizadas em casa nos
processos de tratamento da dor, frisando possibilidades suplementares de manejá-las, sem deixar de
lado os tratamentos convencionais. Funcionando como uma medida de potencializar o cuidado dentro
das comunidades, mesmo em âmbito público, onde já há a utilização de ervas medicinais, através de
alguns medicamentos fitoterápicos dispensados na atenção básica e, consequentemente, fortalecer
também essa prática.
Diante do que foi exposto, durante as oficinas realizadas em conjunto com a comunidade,
trabalhou-se o resgate do conhecimento milenar sobre as ervas medicinais, sobre o uso embasado
cientificamente, garantindo o correto preparo e a correta utilização destas. Dividiram-se os temas das
oficinas de acordo com os sistemas do corpo humano, como, por exemplo, a oficina de manejo da
dor, em que trabalhamos o sistema nervoso e o processo de dor no organismo, em que certos tipos de
ervas ajudam no alívio e são utilizadas para o tratamento durante o período doloroso.
Notou-se que muitos cultivam variados tipos de ervas em seus quintais. No decorrer da
oficina, foram trabalhados os tipos de extração das propriedades das ervas como, por exemplo,
EXTENSÃO PUC MINAS:
536 Novo Humanismo, novas perspectivas

decocção, a adição de partes duras da planta em água natural e fervura posterior por cerca de 10
minutos, e a infusão, a fervura da água, a adição das partes sensíveis da erva e, após a retirada da
fonte de calor, abafamento por cerca de 10 minutos (MICHAUD, 2013).
Na oficina realizada sobre manejo da dor, retomaram-se conceitos importantes anteriormente
já trabalhados, além de abordar conceitos específicos para o tema proposto. Percebeu-se que os
participantes da comunidade se dispuseram a experimentar novos métodos e tivemos resultados
positivos sobre a utilização do método.

3 METODOLOGIA

Para realizar a oficina da extensão, foram utilizados artigos sobre a temática, apoiando-se na
legislação sobre o uso de ervas na saúde, em documentos como a da Secretaria de Saúde de Santa
Catarina (ANO) e a cartilha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ANO), que apresentam
informações confiáveis e validadas a partir de evidências científicas.
Já para a produção do relato de experiência, além das bibliografias utilizadas na construção
da oficina, também se buscou literatura que mobilizasse conhecimentos da área, bem como a
validação das práticas.
Diante disso, produziu-se, desde a preparação para a oficina até o relato de experiência, com
muito embasamento e cuidado em seus referenciais. Articularem-se diversas fontes, como pesquisas
quantitativas e qualitativas, dados da Organização Mundial de Saúde, recomendações de parlamentos
diferentes, entre outros, para que este fosse amplamente validado em suas afirmações e práticas, pois,
o intuito principal é o aprendizado, seja dos extensionistas, seja dos beneficiários do projeto,
agregando sempre conhecimento e novos saberes tanto para a comunidade acadêmica, como para a
comunidade externa à universidade

3.1 Projeto Ervas e Aromas

Este relato aborda um encontro promovido pelo grupo interdisciplinar do projeto de extensão
denominado “Ervas e Aromas” com o tema: “Ervas que podem auxiliar no manejo da dor”,
desenvolvendo o encontro, as percepções dos indivíduos responsáveis da oficina, bem como a
avaliação dos participantes/beneficiários.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 537

A temática escolhida para a oficina iniciou-se a partir de uma reunião dos extensionistas ao
começo do projeto, no início do primeiro semestre de 2022, por meio de um brainstorming de temas
centrais para as oficinas. Após esse encontro, durante as primeiras oficinas, os beneficiários foram
consultados, estabelecendo os eixos de assuntos a serem trabalhados ao longo do projeto. A dor é
uma sensação presente durante todas as fases de vida, seja decorrente de traumas, seja de processos
inflamatórios, por isso ocorreu aos extensionistas a importância de se trabalhar formas naturais e
acessíveis de lidar com processos dolorosos.
A oficina foi realizada em maio de 2022 em uma das salas do campus da PUC Minas Betim.
Alunos dos cursos de Biomedicina, Enfermagem e Medicina foram os idealizadores e facilitadores
do encontro multidisciplinar, mediando a discussão sobre os diversos usos de ervas com efeitos
analgésicos e contribuindo com informações baseadas em evidências científicas. Além disso, também
contou com a participação de adultos e idosos beneficiários do projeto.
A partir de uma premissa da instituição, entende-se que a extensão universitária, gênese do
grupo mediador da oficina, é “indispensável na relação com a sociedade extramuros da Universidade,
a Extensão se apresenta como uma ferramenta importante para a democratização da Universidade e
dos saberes que nela são produzidos” (PIRES DA SILVA, 2020, p. 21), por isso, a oficina foi pensada
para valorizar a participação dos beneficiários, incentivando a troca de saberes e experiências,
apoiadas nas linhas de raciocínio previamente definidas pelos idealizadores, a fim de que não
houvesse fuga do tema.
A oficina foi composta inicialmente por um momento de exposição sobre o tema, realizada
pelos alunos extensionistas, baseados nos textos: “Uso de Fitoterápicos e Plantas Medicinais Anti-
inflamatórias no Tratamento da Dor” (SUZUKI et al., 2020), e “Cartilha de Plantas Medicinais:
Indicada para Alívio de Sintomas Respiratórios” (GOUVEIA, s./d.), seguido de uma conversa entre
os extensionistas e beneficiários do projeto. Nesse momento de exposição, houve uma valorização do
retorno dos participantes da comunidade, em que abríamos o espaço para que relatassem as próprias
experiências e os conhecimentos sobre o tema. Ao final, houve o passo a passo de construção de uma
bolsa de ervas para ser usada topicamente em conjunto com uma bolsa de água quente ou gelada, com
objetivo de ajudar no alívio de dores.
Após, beneficiários foram convidados a avaliar a oficina, através de formulário impresso de
satisfação, anônimo, consistindo de diversas questões, como, por exemplo, se o tema abordado era de
interesse deles, contendo também um espaço aberto para estes deixassem sugestões e comentários de
forma livre, o que norteou a avaliação do momento e do resultado alcançado pelos idealizadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
538 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de resultados foi feita minuciosamente desde o momento da execução da oficina até
os feedbacks recebidos posteriormente. Pôde-se perceber que oficinas realizadas de maneira
interativa, envolvendo uma boa oratória, conceitos cientificamente comprovados, além de música e
dança, contribuem para um ambiente de não apenas um maior contentamento dos participantes, mas
também proporciona uma maior interação e troca de conhecimentos (FISHER, 2010).
Foi nítida a maneira como os participantes se interessaram pelo assunto e compartilharam os
seus dilemas relacionados à dor, além de movimentarem as partes do corpo de forma rítmica e
harmoniosa nos momentos de descontração, facilitando o encontro entre ação e imaginação,
explorando-as, o nível de compreensão e a execução dos participantes, sempre levando em
consideração suas limitações físicas em termos de força e agilidade, porém dando liberdade e
promovendo um espaço de liberdade e alegria (FISHER, 2010).
O público, predominantemente idoso, demonstrou grande interação e interesse durante a
oficina, dando opiniões sobre o assunto discutido, fazendo perguntas e contribuindo para que a oficina
não ocorresse de maneira restrita ou exclusivamente expositiva, em que apenas acadêmicos e
integrantes da universidade participassem; essa abordagem multidisciplinar facilita o conhecimento
e promove uma ambiência acolhedora e humana dentro da universidade (FISHER, 2010). Ao final da
oficina, foi nítida a satisfação dos presentes através dos comentários do quanto o conteúdo discutido
era de valia a questões particulares pessoais de cada idoso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise da oficina de manejo da dor, entende-se que todas as trocas de saberes
agregaram positivamente novos conhecimentos com a comunidade acadêmica, salientando os
impactos para os próprios extensionistas. Considerando o grupo heterogêneo composto pelos
organizadores, observa-se o quão proveitoso torna-se um momento de discussão de uma temática ou
caso clínico entre diferentes profissões da saúde, podendo, a partir desse ato, construir uma melhor
intervenção com o social. Pode-se também observar a importância de discussões de pessoas com
vivências diferentes sobre um tema da antiguidade e ao mesmo tempo atual, entre o próprio grupo de
extensão e destes com os beneficiários.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 539

Assim, considerando toda a prática desde o estudo, planejamento e execução da oficina,


observa-se que o objetivo dela foi devidamente cumprido e satisfatório, pois os participantes
mostraram interesse pelo assunto e interação durante os encontros, sempre compartilhando suas
experiências e queixas. Além de ter agregado aos alunos extensionistas um conhecimento maior sobre
o assunto e abrindo um leque de novas possibilidades de compreensão.

REFERÊNCIAS

APARECIDA, N; et al. O USO DE PLANTAS MEDICINAIS COMO RECURSO


TERAPÊUTICO: das influências da formação profissional às implicações ética e legais de sua
aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Revista Latino-
Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 14, n. 3, maio/jun. 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rlae/a/hDwxtF4BnxtCZx7Pg6xz85k/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22
jun.2022.
CUNHA, M.M.C. et al. Perfil etnobotânico de plantas medicinais comercializadas em São Luís,
Maranhão, Brasil. Scientia Plena, [s.l.], v. 11, n. 12, dez. 2015. Disponível em:
https://www.scientiaplena.org.br/sp/article/view/2771/1373. Acesso em: 15 jun. 2022.
PIRES DA SILVA, W. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: Um conceito em Construção. Revista
Extensão & Sociedade, [S. l.], v. 11, n. 2, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/extensaoesociedade/article/view/22491. Acesso em: 22 jun. 2022.
FISHER, J. A dança na aprendizagem, 2010. Disponível em: <
diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Arte/artigos/danca_aprend.pdf> Acesso
em: 15 jun. 2022
GOUVEIA, Gisele Damian A. Uso de fitoterápicos e plantas medicinais antiinflamatórias no
tratamento da dor. Disponível em: https://docplayer.com.br/amp/51618799-Uso-de-fitoterapicos-
e-plantas-medicinais-antiinflamatorias-no-tratamento-da-dor.html. Acesso em: 16. jun. 2022.
LIMA, J.J. F. As Plantas na História da Dor. Rev. Soc. Port. Anestesio., v. 22, n. 44, 2013.
Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/anestesiologia/article/view/3381/2702. Acesso em: 15 jun.
2022.
MICHAUD, R.L. Plantas medicinais e suas utilizações. 2013. Relatório Técnico-Científico
(Especialização em Questão Social pela Perspectiva Interdisciplinar) – Universidade Federal do
Paraná, Matinhos, Paraná, 2013. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/50902.
Acesso em: 16 jun. 2022.
SUZUKI, Akemi Larissa Moreira et al. Cartilha de plantas medicinais: indicadas para alívio de
sintomas respiratórios. Porto Alegre: UFRGS, 2020. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/213547/001118066.pdf?sequence=1. Acesso
em: 16 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
540 Novo Humanismo, novas perspectivas

O impacto da humanização no cuidado da pessoa com câncer em Projeto de


Extensão – Núcleo de Atenção Interdisciplinar à Saúde em Oncologia (NAISO)1

Dhyenyfer Bombazar2
Tainara Gonçalves Martins3
Andressa Regina Gomes4
Paula Ioppi Zugno5
Neiva Junkes Hoepers6

RESUMO
Este relato representa produção decorrente de projeto de extensão intitulado: Núcleo de Atenção Interdisciplinar à Saúde
em Oncologia (NAISO), desenvolvido em uma Organização Não Governamental (ONG) “Casa Maria Tereza” de apoio
às Pessoas com Câncer, que busca apoio para dar assistência a portadores de câncer e suas famílias. O objetivo foi
humanizar o cuidado, promover saúde e sanar as dúvidas das pessoas oncológicos e seus familiares atendidos pela “Casa
Maria Tereza”. Desenvolve atividades contínuas e pontuais na ONG, a partir de encontros, oficinas e palestras sobre
temas referentes à oncologia, autocuidado e autopercepção, além da produção de conteúdo semanal, em rede social
Instagram e Facebook e os encontros presenciais. Como metodologia, as atividades de extensão foram desenvolvidas por
um grupo de acadêmicos e docentes de uma Universidade comunitária, durante o ano de 2020 a 2022, com 97 pessoas
com câncer. As ações da extensão nos cenários de prática, em se tratando de pessoas com câncer, têm um potencial
transformador e grande importância na vida de quem está sendo acolhido e tendo suas demandas identificadas, auxiliando
no enfrentamento da situação doença e das diversas mudanças que acompanham o tratamento oncológico, com diminuição
da progressão da doença ou até mesmo cura. Destaca-se o aprendizado da escuta, ampliando o olhar sobre a saúde do
indivíduo, focado na atenção à pessoa e não à doença. A situação vivenciada, levou à necessidade de adaptação e
reinvenção de muitas situações, também do projeto de extensão NAISO.

Palavras chave: Humanização. Oncologia. Interdisciplinaridade. Enfermagem.

The impact of humanization on the person with cancer care in extension project
Interdisciplinary Health Care in Oncology (NAISO)

ABSTRACT
This report is a production resulting from an extension project entitled: Nucleus of Interdisciplinary Health Care in
Oncology (NAISO), developed in a Non-Governmental Organization (NGO) "Casa Maria Tereza" to support People with
Cancer, where it seeks support to assist cancer patients and their families. The objective is to humanize care, promote
health and solve the doubts of cancer patients and their families assisted by “Casa Maria Tereza”. It develops continuous

1
Projeto de Extensão financiado pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
2
Acadêmica do Curso Enfermagem da UNESC. E-mail: dyeneferbombazar144@gmail.com.
3
Acadêmica do Curso Medicina da UNESC. E-mail: tainaragonmar@gmail.com.
4
Acadêmica do Curso de Medicina da UNESC. E-mail: andressargomes@unesc.net.
5
Docente do Curso Enfermagem da UNESC. Especialista em Enfermagem em Oncologia; MBA em Gestão Empresarial;
Mestre em Biociências e Reabilitação (Centro Universitário Metodista); Especialista em Qualidade e Segurança no
Cuidado com o Paciente. E-mail: paula33@unesc.net.
6
Docente do Curso de Enfermagem da UNESC. Mestre em Ciências da Saúde. E-mail: neivajun@unesc.net.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 541

and occasional activities at the NGO, from meetings, workshops and lectures on topics related to oncology, self-care and
self-perception, in addition to the production of weekly content, on the social network Instagram and Facebook and in-
person meetings. As a methodology, the activities were developed by a group of academics and professors from a
community university, during the year 2020 to 2022, with 97 people with cancer. Extension actions in practice scenarios,
when dealing with people with cancer, have a transformative potential and great importance in the life of those being
welcomed and having their demands identified, helping to cope with the disease situation and the various changes that
accompany cancer treatment, with a reduction in the progression of the disease or even cure. The learning of listening is
highlighted, expanding the view on the health of the individual focused on the attention to the person and not to the
disease. The situation experienced led to the need to adapt and reinvent many situations, also in the NAISO extension
project.

Keywords: Humanization. Oncology. Interdisciplinarity. Nursing.

INTRODUÇÃO

O Projeto de Extensão Núcleo de Atenção Interdisciplinar à Saúde em Oncologia (NAISO),


da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), tem como objetivo humanizar o cuidado,
promover saúde e sanar as dúvidas dos pacientes oncológicos e seus familiares atendidos pela “Casa
de Apoio às Pessoas com Câncer Maria Tereza” (ONG), localizada em Criciúma/SC, desde o ano de
2016. Tal projeto desenvolve atividades contínuas e pontuais na ONG, a partir de encontros oficinas
e palestras sobre temas referentes à oncologia, autocuidado e autopercepção, além da produção de
conteúdo semanal, em rede social Instagram e Facebook e os encontros presenciais, elaborados pelos
estudantes envolvidos no projeto e realizados mensalmente.
Atualmente, o projeto conta com dois acadêmicos do curso de Enfermagem, duas de
Medicina, uma do curso de Nutrição e uma residente em Enfermagem, sendo coordenados por duas
professoras docentes do curso de Enfermagem, todos vinculados à universidade comunitária
(UNESC), onde o projeto é desenvolvido.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nota-se um aumento significativo das neoplasias malignas nos últimos anos. Segundo Santos
(2018), estima-se o aparecimento de 600 mil novos casos de neoplasias anualmente. Diante desse
quadro surge atenção à complexidade no atendimento desses pacientes que chegam às unidades muito
enfraquecidos, com aspectos físicos e psicológicos modificados pela doença e por seu
desenvolvimento e iatrogenias.
A maioria das neoplasias é descoberta em estágio avançado, o que torna necessário iniciar o
tratamento com intervenções mais agressivas e apesar de seus benefícios potenciais, os tratamentos
EXTENSÃO PUC MINAS:
542 Novo Humanismo, novas perspectivas

produzem efeitos colaterais importantes, que podem desaparecer gradualmente ou se tornar


irreversíveis. Podem provocar alterações consideráveis e desafiadoras ao bem-estar físico e
emocional do portador da doença (SOARES et al., 2021).
Soares et al. (2016 apud Santos, 2019), afirmam que a percepção do significado dessas
alterações dificulta a adaptação ao tratamento e a melhoria das condições de saúde, fato que requer
uma atenção dos profissionais voltada aos aspectos físicos, emocionais e socioculturais em um
processo terapêutico que vise à assistência humanizada.
Entre as diferentes intervenções em saúde necessárias para possibilitar cuidados que levem
em consideração, dentre outros, os aspectos psicológicos, estão à disponibilidade, a conduta baseada
na aceitação e na escuta e a criação e a manutenção de um ambiente acolhedor e com característica
terapêutica (LÓSS, 2019).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, s./p.), “Humanização é o valor que resgata o
respeito à vida humana, levando em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas
presentes em todo relacionamento humano”. Sendo assim, faz-se de extrema importância a presença
de pessoas, dentre elas profissionais e acadêmicos, que considerem a escuta qualificada e o
acolhimento para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar de pessoas com câncer.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um relato de caráter descritivo, realizado através de experiências vivenciadas com


pessoas diagnosticadas com câncer que frequentam a ONG “Casa de Apoio Maria Teresa” em
Criciúma/SC, durante o ano de 2020 a 2022, onde foram desenvolvidas palestras conforme as dúvidas
apresentadas por essas pessoas, como também, visamos mostrar a importância do projeto de extensão
no contexto em que estão inseridos, instigando e apostando na promoção e prevenção em saúde nas
fragilidades encontradas.
O trabalho foi desenvolvido com pessoas de ambos os sexos, que apresentavam problemas
oncológicos, que participam de tal ONG e que aceitaram participar deste projeto de extensão,
desenvolvido em tal entidade, atendendo os critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 18 anos
e participação ativa na ONG, compondo uma amostra de 97 pessoas, variando a cada semestre. As
ações tratadas nos objetivos deste projeto foram organizadas através de atividades contínuas e
pontuais com reuniões, oficinas, palestras e divulgações em redes sociais (Instagram, Facebook e
WhatsApp), sobre temas referentes aos direitos e deveres do cidadão, deveres do estado quanto a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 543

atenção à saúde, educação e cultura, entre outros, com intuito interdisciplinar e específico das áreas
envolvidas (Serviço Social, Administração, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição e
Medicina).
As atividades contínuas foram desenvolvidas através de reuniões, oficinas, palestras e
divulgações nas redes sociais, sobre temas referentes a oncologia, promoção da saúde e prevenção de
agravos ou piora no quadro clínico específicos das áreas envolvidas, conforme descreveremos no
relato.
Para a obtenção das informações requeridas pelo grupo, primeiramente foi feito um encontro
com o grupo, explanando os objetivos, ouvindo seus problemas e o que o grupo gostaria discutir,
aprender e ser esclarecido, posteriormente foi discutido sobre estratégias e temas de educação em
saúde a serem trabalhados. Assim, foram registradas todas as solicitações de temas requeridos pelo
grupo para posteriormente serem desenvolvidos pelo projeto. Em seguida, foi elaborado um roteiro
de ações que contemplou necessidades advindas do grupo e foi elaborado cronograma para o
desenvolvimento das interações por disciplinas profissionais. Posteriormente, a cada encontro, foram
realizadas oficinas e roda de discussão sobre temas já elencados pelo grupo e outros novos surgidos
com os encontros. Dessa forma, realizou-se a organização de uma estrutura condensada das
informações para permitir, especificamente, reflexões e interpretações sobre cada encontro.
Após a realização das etapas, os conteúdos foram agrupados e discutidos entre os profissionais
transformando-se em aprendizagem. Dentre as atividades, foram abordados os temas: Alimentação
Saudável; A importância do Bom Convívio Social; Saúde do Idoso; Direitos da Pessoa com Câncer;
Sexualidade: diferenças entre homem e mulher; A importância da Atividade Física, entre outros.
No cenário de prática do projeto de extensão e no seu desenvolvimento, o NAISO recebeu
convites de empresas para realizar palestras em campanhas “Outubro Rosa” e “Novembro Azul”,
onde as acadêmicas envolvidas puderam desenvolver palestras e discutir os temas, esclarecendo as
dúvidas dos funcionários das empresas solicitantes.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O desenvolvimento do projeto de extensão NAISO foi respaldado nas experiências e práticas


de troca de saberes sistematizadas entre os membros envolvidos, docente, discente e pessoas
oncológicas, promovendo discussões e reflexões críticas sobre as ações e estratégias de acolhimento,
monitoramento, autocuidado para pessoas oncológicas participantes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
544 Novo Humanismo, novas perspectivas

O papel da Universidade com a comunidade é identificar as demandas dos cenários de prática,


interagir e transformar a realidade social, com o envolvimento dos acadêmicos, mesclando ensino e
extensão, favorecendo consideravelmente a formação de profissionais e cidadãos críticos,
responsáveis, autônomos familiarizados com a realidade onde estão inseridos.
As ações da extensão nos cenários de prática, em se tratando de pessoas com câncer, têm um
potencial transformador e grande importância na vida de quem está sendo acolhido e tendo suas
demandas identificadas, auxiliando no enfrentamento da situação doença e das diversas mudanças
que acompanham o tratamento oncológico, além da adesão a este, tentando transmitir a ideia de que
o tratamento tem mais benefícios a trazer do que malefícios, em se tratamento de diminuição da
progressão da doença ou até mesmo cura.
Ao final de cada uma das atividades realizadas durante o projeto de extensão, foi possível
observar a satisfação dos participantes quanto aos temas abordados, também a construção e a troca
de conhecimento sobre os assuntos, despertando interesse na busca de ações que promovam sua
saúde. Assim sendo, as estratégias, em sua totalidade, foram satisfatórias de maneira que os objetivos
foram alcançados, tornando cada ação realizada na ONG, mais humana, visando a integralidade da
assistência, promovendo saúde e prevendo agravos.
Percebe-se, portanto, um impacto significativo da atuação do projeto de extensão, através dos
relatos dos pacientes e familiares e as vivências experimentadas. Tocante a isso, a reflexão gerada
decorrente das atividades, inevitavelmente, promove adesão a novos hábitos, bem como correção de
comportamentos nocivos, enriquecimento de educação em saúde a todos os participantes, fato que se
confirma por intermédio de relatos dos pacientes. Quanto à soma do projeto de extensão na formação
dos estudantes envolvidos, é válido registrar que acrescenta novas perspectivas nos cuidados
oncológicos. Primordialmente, auxilia na melhor compreensão da abordagem empática com tal
público e suas demandas.
Nesse sentido, Canon e Pelegrinelli (2019) afirmam que já foi muito discutido em relação ao
fato de a extensão universitária estar reduzindo a distância entre a academia e a comunidade e
deixando claro que muito acrescenta e visa práticas e saberes no cotidiano profissional; e que o ponto
de partida não é apenas no âmbito de técnicas e habilidades, mas é preciso oportunizar a formação
profissional e a importância dos discentes se reconhecerem como sujeitos de direito e de
transformação social. Ainda coloca que a extensão é um caminho de mão dupla tanto para a instituição
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 545

envolvida, que leva o conhecimento e aprende com os grupos sociais, como a comunidade que
aprende com essa prática, a qual torna-se grande aliada do crescimento e formação profissional dos
alunos.
Em suma, foi possível identificar que este projeto de extensão teve importância emergencial
na efetivação dos direitos sociais e de políticas públicas de saúde as pessoas com câncer, levando-se
em consideração as redes de articulação intersetorial em várias áreas; estas devem ser fortalecidas

para garantir todos os serviços prestados nos espaços das políticas públicas, em especial no tratamento
oncológico, bem como auxiliar na condução de novo olhar na realidade social, como também, nas
políticas públicas em saúde e no ensino da saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se, a reflexão gerada em decorrência das atividades desenvolvidas, incentivando a


adesão a novos hábitos, bem como a correção de comportamentos nocivos. Sendo assim, o projeto de
extensão viabilizou aos estudantes envolvidos novas perspectivas no ramo dos cuidados oncológicos.
Primordialmente, auxilia na melhor compreensão da abordagem empática com tal público e suas
demandas. Destaca-se o aprendizado da escuta ampliando o olhar sobre a saúde do indivíduo focado
na atenção à pessoa e não à doença.
A situação vivenciada levou à necessidade de adaptação e reinvenção de muitas estratégias,
também do projeto de extensão NAISO. Durante a Pandemia da COVID-19 e com todos os cuidados
necessários e preconizados pelos órgãos de saúde, os encontros tiveram números reduzidos de
participantes, mas a cada encontro foram convidadas novas pessoas para estarem presentes em novas
atividades realizadas na ONG. A experiência de envolver todos da equipe ao mesmo tempo no mesmo
encontro de forma presencial não foi possível, pela divisão das atividades dos temas em encontros
diferentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasil: 2001.


CANON, Carolina Andréa Soto; PELEGRINELLI, Gisela. Extensão Universitária: o impacto de
um projeto de extensão na formação profissional dos discentes na educação superior. Revista UFG,
Goiânia, v. 19, p.1-15, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
546 Novo Humanismo, novas perspectivas

LÓSS, Juliana et al. Estratégias de Humanização em Oncologia: Um Projeto de Intervenção.


Revista Transformar, Itapuruna, n.13 v.1, jan./jul. 2019. Disponível em:
http://www.fsj.edu.br/transformar/index.php/transformar/article/view/338. Acesso em: 19 out. 2022
SANTOS, Marceli de Oliveira. Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. Instituto Nacional
de Câncer José Alencar Gomes da Silva. RJ: INCA, 2018ª.
SANTOS, Beatriz. Humanização do Atendimento ao Paciente Oncológico: Uma Revisão de
Literatura. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnólogo em Radiologia) - Faculdade Maria Milza,
2019 – Governador Mangabeira. Disponível em:
http://famamportal.com.br:8082/jspui/bitstream/123456789/1502/1/TCC%20PRONTO%20BEATR
IZ%20PDF.pdf Acesso em 20 out 2022
SOARES, Roslaina Falcão et al. Detecção precoce do câncer, Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva. RJ: INCA, 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 547

Ação Voluntária de Arrecadação: Dia Nacional do Livro Infantil

Claudia Mara Stapani Ruas1


Eduarda Dutra de Oliveira2
Gabriel Ferraciolli Soares3
Luana Kellen Freitas de Alencar4
Nicholas Farias Batista5

RESUMO
O presente relato aborda uma campanha de comunicação desenvolvida através de ação de extensão universitária por
acadêmicos do laboratório de extensão Agência Mais Comunicação da UCDB – Universidade Católica Dom Bosco,
produzida em alusão ao Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado no dia 18 de abril, que contou com criação de
material de divulgação, campanha de arrecadação e um evento comemorativo na instituição com convidados da
comunidade acadêmica e da população em geral. Dentre as peças e propostas elaboradas, houve parceria com um projeto
do curso de Pedagogia na contação de histórias, ação de arrecadação junto com a pastoral da instituição em postos de
doações de livros, cartazes espalhados pelo campus e comunidade, spot em rádio e posts para redes sociais. Feita com o
intuito de reforçar a importância da leitura e incentivar a prática e a doação de livros parados, para melhor
desenvolvimento da criança e por mais pessoas com ideias próprias e criativas. Como resultado, a ação obteve mais de
300 livros arrecadados para um projeto social e bibliotecas de três escolas públicas de educação infantil.

Palavras-chave: Ação de extensão. Leitura na infância. Campanha de doação. Voluntariado. Campanha publicitária.

Voluntary Collection Action: National Children's Book Day

ABSTRACT
The present report deals with a communication campaign developed through university extension action by academics
from the extension laboratory Agência Mais Comunicação at UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, produced in
allusion to the National Children's Book Day, celebrated on April 18th., which included the creation of a publicity
material, a fundraising campaign and a commemorative event at the institution with guests from the academic community
and the population in general. Among the pieces and proposals made, there was a partnership with a project of the
pedagogy course in storytelling, fundraising action together with the institution's pastoral care at book donation posts,
posters spread across the campus and community, radio spot and posts for networks social. It was made with the aim of
reinforcing the importance of reading and encouraging the practice and donation of still books, for the better development
of the child and for more people with their own creative ideas. As a result, the action obtained more than 300 books
collected for a social project and libraries of three public schools for early childhood education.

Keywords: Children's book. Collection. Volunteering. Advertising campaign.

1
Orientadora do trabalho, professora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB). E-mail: claudia@ucdb.br.
2
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189507@ucdb.br.
3
Orientador do trabalho, professor do curso de Publicidade e Propaganda e coordenador do projeto de extensão Agência
Mais Comunicação. E-mail: rf3248@ucdb.br.
4
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189533@ucdb.br.
5
Estudante do 1° semestre do curso de Publicidade e Propaganda na UCDB. E-mail: ra189292@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
548 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

A prática de extensão universitária envolve a conexão direta com a comunidade, ao levar


serviços e atendimentos ao público externo. No curso de Publicidade e Propaganda da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), há ações pedagógicas, na sala de aula, e projetos e laboratórios de
extensão, como o projeto Click Verde e a Agência Experimental Mais Comunicação.
A Agência desenvolve atividades integradas, articulando ensino, pesquisa, extensão e pastoral
e, a partir da prática da atividade publicitária desenvolvida no laboratório, busca-se contribuir, além
da formação profissional, com a formação pessoal do aluno de comunicação. O espaço de
funcionamento está localizado no Laboratório de Comunicação (LabCom) da instituição.
Todas as atividades desenvolvidas buscam interferir positivamente na sociedade – educando,
informando e mobilizando, as grandes contribuições da comunicação para a extensão. O presente
relato descreve uma experiência realizada no primeiro semestre do ano de 2022 em comemoração ao
dia nacional do livro infantil através de uma campanha publicitária desenvolvida como forma de
fomentar a leitura de livros em anos iniciais.
A justificativa para o desenvolvimento está centrada na identidade salesiana da instituição que
a UCDB faz parte, que visa a formação integral dos acadêmicos, alinhada na formação científica,
profissional, humana e cristã (UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO, 2020). O objetivo do
relato é apresentar a experiência da ação voluntária de campanha de arrecadação de livros infantis e
o seu impacto nos parceiros envolvidos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O atendimento à comunidade aplicado na prática laboratorial da Agência Experimental Mais


Comunicação necessita se preocupar com o impacto social de cada campanha, que é repassada aos
acadêmicos, ao iniciarem na extensão universitária, após a leitura do plano de extensão da instituição
de ensino:

A extensão universitária, dessa forma, demonstra a preocupação e o compromisso assumido


com as questões societárias. Seu significado aponta para um processo interdisciplinar,
educativo, cultural, científico e político, por meio do qual se promove uma interação que
transforma não apenas a universidade, mas também os setores sociais com os quais ela se
relaciona. (UCDB, 2020, p.9).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 549

As questões sociais norteiam a participação nas ações, atreladas à experiência, que o


acadêmico extensionista terá ao se envolver nas atividades externas. Soares (2011) defende o
aprendizado do educando por meio de atividades em comunicação – Educomunicação –, em que o
importante é a dinâmica desenvolvida pelos participantes, como integração e busca pelo
conhecimento, ao invés do produto final.
Como o curso Publicidade e Propaganda está inserido nas grandes áreas da Comunicação e
das Ciências Humanas, é imprescindível que o envolvimento pedagógico, tanto na teoria como na
prática, esteja relacionado com os aspectos da Educomunicação, que se compreende como a
abordagem midiática e comunicativa no desenvolvimento de ações do laboratório.
Dentro da proposta de trabalho do laboratório da agência experimental, o desenvolvimento
através da educomunicação impacta na formação dos estudantes ao mobilizar sua experiência com
ferramentas de comunicação como forma de viabilizar de maneira participativa seu aprendizado:

Trata-se em suma, de um novo paradigma curricular no qual é inevitável a indissociabilidade


ensino-pesquisa-extensão enquanto eixo de formação do estudante, de uma perspectiva na
qual a graduação vai além da mera transmissão para se transformar em espaço de construção
de conhecimento, em que o estudante passa a ser sujeito, crítico e participativo, para o qual
flexibilização aparece como um meio de viabilização. (FORPROEX, 2006, p. 44).

Dentre as demandas apresentadas para as campanhas, há a comemoração do Dia Nacional do


Livro Infantil, no dia 18 de abril. A data foi escolhida em homenagem ao autor Monteiro Lobato, que
é considerado o pai da literatura infantil brasileira, pois ele criou um universo para as crianças pensado
na nacionalidade, cheio de folclore e rico em cultura, o Sítio do Pica-pau Amarelo (AGUIAR, 2022).
Esse dia foi criado para não apenas comemorar, mas relembrar a importância e incentivar a prática
da leitura na infância, já que é nesse período em que se pega o gosto pela leitura e o hábito de ler.
No Brasil, a prática da leitura é muito defasada nas idades iniciais. Para Freire (2000), a leitura
do mundo precede a da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade
da leitura daquele, ou seja, o ato de ler como forma de conhecer o mundo. Nesse sentido, o hábito de
ler deve ser estimulado culturalmente como forma de incentivo aos pequenos leitores, que necessitam
de um auxílio para entrar no mundo da leitura:

Em nosso país, muitas crianças não têm acesso à literatura de qualidade e não participam
ativamente de ações de leitura qualificadas. Seu engajamento nessa ação é muito importante,
pois sabemos que a maneira como nos relacionamos com as crianças e com os livros pode
ser determinante na formação delas enquanto sujeito leitor. (ITAÚ SOCIAL, 2020, p. 5),
EXTENSÃO PUC MINAS:
550 Novo Humanismo, novas perspectivas

Para tal realização, foi pensado o trabalho de campanha publicitária de comunicação.


Sant'Anna, Junior e Garcia (2016) destacam que as campanhas podem ser classificadas quanto à
extensão, sendo local, para bairro ou cidade; nacional, com distribuição em todo território regional;
ou grupal, quando visa um pequeno grupo consumidor.
Por se tratar de uma campanha que visa transmitir uma mensagem e gerar uma ação, ela é
classificada como campanha institucional. As campanhas institucionais diferem fundamentalmente
das de varejo. “Enquanto nestas, de uma forma ou de outra, se visa promover vendas – chamadas por
muitos como ações hard-sell – nas institucionais o objetivo é buscar propor para o público um
conceito, uma ideia sobre a empresa”. (SANT’ANNA; JUNIOR; GARCIA, 2016, p. 130). Assim,

A propaganda institucional caracteriza-se por dois pontos importantes: age mais


frequentemente sobre a sociedade e não sobre os produtos, embora o fato não seja absoluto;
tende a ser elaborada mais com base em fatos e contextos próximos à linguagem do
jornalismo do que da propaganda (o que também não é absoluto). (SANT’ANNA; JUNIOR;
GARCIA, 2016, p. 130)

Dessa forma, o desenvolvimento de uma campanha publicitária institucional foi o caminho a


ser seguido para compor as ações que fizeram parte da ação voluntária de arrecadação de livros junto
ao evento de comemoração da data.

3 METODOLOGIA

Primeiramente, os alunos se reuniram para ter ideias de trabalho na comunidade, e foi feita
uma pesquisa de datas comemorativas, que era o foco das atividades na Agência no momento e, então,
escolhido o Dia Nacional do Livro Infantil, pois os alunos enxergam a importância da leitura e os
benefícios dela para o desenvolvimento e futuro da criança. Logo foi feita uma reunião de
brainstorming6 para a troca e criação de ideias e para definição dos objetivos para a campanha e
planejamento de briefing7, chegando, então, na ideia de contação de histórias para o público infantil.
No entanto, essa ideia não era muito viável no início, pois precisava-se de um bom local e de pessoas
responsáveis pelos pequenos, o que fez com que ela mudasse para uma arrecadação de livros infantis
e infantojuvenis que seriam doados para escolas públicas.

6
Reunião feita para levantar ideias e soluções para o trabalho.
7
Texto ou coleta de informações para desenvolvimento do trabalho.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 551

Como a ideia da contação parecia uma boa forma de atingir o público infantil, os alunos foram
instruídos a conversar com outro projeto de extensão que trabalha com crianças e já possui
experiência nesse tipo de evento, LABINTER — Laboratório Interdisciplinar das Licenciaturas —,
sendo assim possível o evento. O local foi disponibilizado pela pastoral da UCDB e as crianças do
CEI – São Domingo Sávio foram levadas até o local para participar do evento.
A campanha e a contação precisavam ser divulgadas de alguma maneira, então, como forma
de divulgação, os alunos criaram posts para as redes sociais e cartazes para serem espalhados pela
universidade, além de terem distribuído caixas pintadas à mão e sinalizadas para a arrecadação.
Também foi feito um spot8 para a rádio FM Segredo, gravado e editado de forma remota e com criação
autoral do som e do texto.
Na produção do cartaz, foram várias as ideias para arte e informação, desde personagens
saindo de livros para representar a leitura como algo divertido, até fotografias de crianças lendo. A
arte final foi composta por um desenho de mãos segurando um livro ilustrado para representar alguém
lendo para uma criança, o que acabou sendo o tema da contação e da arrecadação: “Leia para uma
criança” e “Faça uma criança ler”.

Figura 1 – Cartaz da campanha de arrecadação

Fonte: Produção própria.

8
Anúncio falado de forma breve, veiculado na rádio.
EXTENSÃO PUC MINAS:
552 Novo Humanismo, novas perspectivas

O cartaz e os posts seguiam as mesmas informações e a mesma identidade visual, sendo usadas
a arte e cores claras — como o rosa e o azul — para dar um ar delicado e infantil, além de cores
diferentes para as informações do cartaz, que foram escritas com diferenciação das fontes para ser
mais atrativo à leitura. Os cartazes de sinalização das caixas foram feitos de forma diferente, com a
cor vermelha para chamar atenção e a figura de um livro em cor preta, representando uma placa de
pare.
Durante o tempo de arrecadação de livros, as doações eram recolhidas e guardadas no
laboratório, ao fim do dia, para então serem doados a escolas e ao Projeto Nova, que trabalha com
crianças e adolescentes vítimas de abuso.
As caixas para arrecadação estavam um pouco escondidas e os alunos não estavam dando
tanta atenção, pensando nisso, foi colocada uma prateleira sinalizada para as doações, marcada com
um cartaz escrito “Doe aqui” e com as placas de “pare” literárias.
Para a doação, os alunos tiveram de entrar em contato com escolas e com o projeto para
oferecer os livros e perguntar se tinham interesse, depois era firmado um termo de parceria para
oficializar as entregas e o trabalho feito pela agência.
A contação foi realizada no pátio da universidade, que foi decorado de forma a ficar colorida
e atraente para as crianças, com guarda-chuvas coloridos, livros, lâmpadas decorativas, fantoches,
brinquedos e tecidos coloridos que foram utilizados nas histórias.

Figura 2 – Contação de histórias

Fonte: Acervo dos autores.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 553

Foram espalhados tapetes para as crianças sentarem enquanto participavam da contação, logo
à frente do cenário. As histórias contadas foram feitas de maneira interativa para gerar interesse nos
pequenos, além de serem breves e de fácil compreensão. Os contadores e responsáveis pelo evento
usaram fantasias para atrair a atenção e deixar as crianças mais à vontade.
Os responsáveis por contar histórias foram alguns alunos do projeto LABINTER e duas
autoras que foram convidadas para o evento, Ariadne Cantú e Mara Calvis, que, além de contarem
histórias, levaram alguns livros autorais para doação; alguns foram dados para as crianças durante a
ação.

Figura 3 – Contação de histórias em parceria com o projeto Labinter

Fonte: Acervo dos autores.

Foram tiradas fotos do evento e da entrega dos livros, feitas pela agência juntamente com
outro projeto de extensão, o Click Verde. As fotos foram postadas no Instagram da agência
experimental: Publicidade e Propaganda UCDB (@ppucdb), em que foram acompanhadas as
interações e o alcance direto e indireto do evento, antes, durante e depois.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Durante a etapa de elaboração da campanha, a pesquisa sobre o assunto foi essencial para a
coerência dos materiais apresentados; dessa forma, a experiência de idealizar e realizar um evento
desse tipo proporcionou a oportunidade de reflexões acerca da importância da leitura na infância. Os
alunos puderam aprender organização e comprometimento com os projetos na prática enquanto
realizavam o evento. Às crianças do CEI, o evento apresentou uma maneira divertida e didática de
introduzi-las à leitura, incentivando o hábito de leitura desde cedo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
554 Novo Humanismo, novas perspectivas

O evento reuniu crianças do CEI para uma contação de histórias, em alusão ao Dia do Livro
Infantil. Na parte da manhã, foram alcançadas em torno de 70 crianças, enquanto na parte da tarde,
80. Os professores e extensionistas da Agência mais comunicação também estiveram presentes, assim
como os contadores de histórias. Ao todo, o evento alcançou aproximadamente 150 crianças.
Simultaneamente ao evento, também foi realizada uma arrecadação de livros infantis, que teve seu
alcance em toda a comunidade acadêmica da Universidade Católica Dom Bosco e nas rádios Segredo
FM e Blink 102, que foram veiculados spots publicitários divulgando a ação. Os livros foram doados
ao Projeto Nova e às escolas públicas de Campo Grande, MS.
Além da cobertura do evento ao vivo feito pela Blink, também foram publicados artigos no
site da rádio e em outros como o site da UCDB, na FM educativa, leitor beta e na Mídia Max.

Figura 4 – Extensionistas realizando a entrega dos livros arrecadados

Fonte: Acervo dos autores.

Figura 5 – Caixas de arrecadação que foram produzidas para ponto de coleta

Fonte: Acervo da produção própria.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 555

Figura 6 – Biblioteca do CEI em que os livros foram recebidos

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O evento gerou, como resultado, a arrecadação de mais de 300 livros, sendo não somente
livros infantis, como também de todos os gêneros. Por meio da ação, foi possível enviar os livros para
a Organização Projeto Nova e três escolas públicas de Campo Grande.
O objetivo foi alcançado pois houve organização, planejamento e divulgação. As caixas de
papelão serviram como mensagem e apoio para chamar atenção. Além disso, a repercussão em
veículos de mídia ajudou a levar a informação para além do campus.
Por meio desse projeto, os alunos puderam ter a experiência de organizar e planejar um evento,
desde a criação até sua execução. A ação de extensão serviu tanto para o conhecimento técnico dos
alunos, quanto para um resultado positivo para a comunidade com a entrega dos materiais. Sendo
assim, conclui-se que a ação foi uma experiência positiva, pois foi possível colocar os estudos em
prática, além de ter acompanhado de perto o desenvolvimento de cada passo. Foi possível aprender e
aprimorar suas habilidades sob os cuidados e a ajuda dos professores, logo, foi um evento muito
enriquecedor e divertido.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Maryanna. 18 de abril - Dia Nacional do Livro Infantil: no dia nacional do livro infantil,
o ministério da educação destaca as ações que contribuem para o incentivo à leitura [...] Notícias
MEC, 18 de abril 2022. Brasília, DF: MEC, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-
br/assuntos/noticias/18-de-abril-dia-nacional-do-livro-infantil. Acesso em: 27 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
556 Novo Humanismo, novas perspectivas

FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DAS UNIVERSIDADES


PÚBLICAS BRASILEIRAS (org.). Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão e a
flexibilização curricular: uma visão da extensão. Porto Alegre: UFRGS; Brasília: MEC/SESU,
2006. (Coleção Extensão Universitária).
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo,
Cortez, 2000.
ITAÚ SOCIAL. Guia para mediação de leitura. [S.l.]: Itaú Social, 2020. Disponível em:
https://www.itausocial.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Guia-de-mediacao-para-leitura.pdf.
Acesso em: 23 maio 2022.
SANT’ANNA, Armando; JUNIOR, Ismael R.; GARCIA, Luiz Fernando D. Propaganda: Teoria,
técnica e prática. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.
SOARES, Ismar Oliveira. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação – contribuições
para a reforma do Ensino Médio. São Paulo: Paulinas, 2011.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO. Política de Extensão da Universidade Católica
Dom Bosco. 2. ed. Campo Grande: Progex, 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 557

Uma Experiência com Educação de Jovens e Adultos em um Sistema Prisional

Virgínia Simão Abuhid1


Ana Clara Bernardes Silva2
Dâmaris Sarita de Marcos Neves3
Fernanda Bruna Silva4
Lorena Ferreira Oliveira5

RESUMO
Relata-se um trabalho desenvolvido na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) feminina em Belo
Horizonte, vinculado à disciplina do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas e articulado ao projeto de extensão
ELAS. A ação objetivava qualificar o ensino de Ciências e Biologia para as recuperandas matriculadas no programa de
Educação de Jovens e Adultos (EJA) e proporcionar a troca de saberes entre elas e os graduandos, futuros professores. A
primeira etapa do processo foi o diagnóstico participativo das demandas. Na sequência, foram planejadas e desenvolvidas
quatro práticas educativas, tendo como tema central o corpo humano e utilizando-se diferentes recursos didáticos. Os
resultados da experiência, com a modalidade de educação prisional, cumpriram os propósitos de formação técnica e
humanística da extensão, do curso e da APAC.

Palavras-chave: Pessoas Privadas de Liberdade. Educação Prisional. Práticas Pedagógicas. EJA.

An Experience with Youth and Adult Education in a Prison System

ABSTRACT
We report a work developed at the Women's Association for the Protection and Assistance of Convicts (APAC) in Belo
Horizonte, linked to a discipline of the Biological Sciences course at PUC Minas and articulated with the ELAS extension
project. The action aimed to qualify the teaching of Science and Biology for the recovering students enrolled in the Youth
and Adult Education (YAE) Program and to provide the exchange of knowledge between them and the graduating students
as future teachers. The first step was a participatory diagnosis of demands. Subsequently, four educational practices were
planned and developed, having the human body as the central theme and using different teaching resources. The results
of the experience with prison education fulfilled the purposes of technical and humanistic training of the extension, the
course and APAC.

Keywords: Liberty Deprived People. Pedagogical Practices, Prison Education. YAE.

1
Mestre em Geociências, Professora do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas. E-mail:
vabuhid@pucminas.br
2
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas Cursou a matéria Oficina de Extensão que mediou o trabalho
realizado na APAC. E-mail: anaclarabht23@gmail.com
3
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
damarismneves@gmail.com
4
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
fernandabruna568@gmail.com. ORCID: 0000-0002-9797-1713.
5
Graduanda em Ciências Biológicas da PUC Minas. Cursou a matéria Oficina de Extensão. E-mail:
lorenaferreira189@gmail.com
EXTENSÃO PUC MINAS:
558 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um relato da experiência sobre uma prática de extensão desenvolvida


com as recuperandas da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) feminina em
Belo Horizonte, vinculado à disciplina de Oficina de Extensão, do curso de Ciências Biológicas da
PUC Minas, no primeiro semestre de 2022.
A APAC é uma entidade civil, com personalidade jurídica, que tem como finalidade precípua
desenvolver atividades a fim de promover a recuperação dos condenados. Foram feitos, inicialmente,
trabalhos visando evangelizá-los e apoiá-los moralmente, desenvolvidos sob a liderança do advogado
Dr. Mário Ottoboni. Ademais, possui a proposta de preparar o indivíduo para o retorno ao convívio
social, provendo assistência material, jurídica, médica, educacional, social e educacional.
Nesse ponto, é possível perceber uma grande diferença do sistema presidiário tradicional, que,
de acordo com Assis (2007, [s./p.]), “A superlotação das celas, sua precariedade e insalubridade
tornam as prisões um ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças”. Todos
esses fatores estruturais contrapõem o regulamento que rege a APAC, que tem em seu contexto a
reintegração do indivíduo, a partir de uma assistência educacional gratuita como condição obrigatória
para esses centros de reintegração social, reforçando a importância de projetos que levem também a
educação não formal para dentro desses centros, despertando a curiosidade e interesse dos indivíduos
ao ensino da maneira mais ampla possível.
Nesse contexto se insere o projeto de extensão “Elas”, da PUC Minas, articulado à disciplina
de graduação Oficina de Extensão, no trabalho aqui desenvolvido. A ação objetiva qualificar o ensino
de Ciências e Biologia para as recuperandas matriculadas no programa de Educação de Jovens e
Adultos (EJA) da APAC feminina, localizada próxima à PUC Minas, no Coração Eucarístico, e
proporcionar a troca de saberes entre elas e os alunos do curso, futuros professores.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Partindo da ideia de um centro penitenciário de reparação, segundo Barcinski, Cúnico e Brasil


(2017), na legislação brasileira, a Lei de Execuções Penais (BRASIL, 1984), em seu artigo primeiro,
coloca como um dos objetivos da execução penal “proporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e do internado”. A assistência ao preso, no que se refere às suas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 559

necessidades médicas, jurídicas, educacionais, sociais e religiosas é, de acordo com a mesma lei,
dever do Estado em sua missão de proporcionar o retorno do apenado ao convívio em sociedade.
(BRASIL, 1984)
Ao mesmo tempo, na contramão dos Direitos Humanos, pesquisas constatam que o Sistema
Penitenciário Brasileiro não cumpre seu papel ressocializador, não oportuniza a individualização do
cumprimento da pena e não comporta todos aqueles que deveria. Paralelamente, grande parte da
sociedade silencia-se diante dessa realidade, por acreditar que os que ali estão merecem o sofrimento
imposto (MARTINS, 2021).
De acordo com Alberto (2021), pressupõe-se que a educação e o trabalho nas prisões visam,
nos moldes atuais, a atender aos interesses do mercado e às propostas políticas do Estado e do próprio
sistema prisional. Com a oferta de cursos fragmentados, isolados de um projeto de educação
emancipadora, reflexiva, crítica e libertadora, esses processos formativos atendem a um interesse
imediato, seja ocupar o tempo do preso dentro do sistema prisional, seja condicioná-lo ao próprio
sistema, por meio de uma política de remição da pena.
Para Onofre (2007), as prisões caracterizam-se como teias de relações sociais que promovem
violência e despersonalização dos indivíduos. Sua arquitetura e suas rotinas a que os sentenciados são
submetidos demonstram, por sua vez, um desrespeito aos direitos de qualquer ser humano e à vida.
Nesse âmbito, acentuam-se os contrastes entre a teoria e a prática, entre os propósitos das políticas
públicas penitenciárias e as correspondentes práticas institucionais, delineando-se um grave obstáculo
a qualquer proposta de reinserção social dos indivíduos condenados.
Nesse sentido, Elionaldo Fernandes Julião define que:

Levando-se em consideração que o cárcere tem como objetivo central a reinserção social do
apenado, deverá estar estruturado de forma que possibilite, a qualquer custo, garantir os
direitos fundamentais do interno (integridade física, psicológica e moral), viabilizando a sua
permanência de forma digna e capacitando-o para o convívio social e para o seu
desenvolvimento pessoal e social. (JULIÃO, 2010, s./p.).

O princípio fundamental que deve ser preservado e enfatizado é que a educação no sistema
penitenciário não pode ser entendida como privilégio, benefício ou, muito menos, recompensa
oferecida em troca de um bom comportamento. Educação é direito previsto na legislação brasileira.
A pena de prisão é definida como sendo um recolhimento temporário suficiente ao preparo do
indivíduo ao convívio social e não implica a perda de todos os direitos (JULIÃO, 2010).
Nesse ponto, observa-se a importância das Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados (APAC) na recuperação desses indivíduos. A educação está ou deveria estar presente na
EXTENSÃO PUC MINAS:
560 Novo Humanismo, novas perspectivas

formação de todo indivíduo. Tratá-la como um direito dentro do sistema prisional permite a
exploração de uma nova perspectiva de vida e de reconhecimento do seu papel social, o que facilita
essa reintegração na sociedade.
O Projeto ELAS visa a desenvolver atividades acadêmicas no Centro de Reintegração Social
Desembargador Joaquim Alves de Andrade e conta com o auxílio dos cursos: Direito, Psicologia,
Letras, Enfermagem, Fisioterapia, Filosofia e Ciências Biológicas. O projeto está vinculado à
PROEX, que acompanha a coordenação do projeto, pautando-se na gestão do Programa Apenas
Humanos, desenvolvido na APAC em Santa Luzia.
Ressalta-se que a PUC Minas, a Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio do Vicariato
Episcopal para Ação Social e Política e a Congregação dos Irmãos Marista figuram como entidades
fundadoras da APAC masculina em Santa Luzia, cujas atividades foram iniciadas no ano de 2006.
Desde então, a PUC Minas acumulou experiência em ações acadêmicas pioneiras no sistema APAC,
pautadas no envolvimento de cursos de diversas áreas do conhecimento da Universidade.

3 METODOLOGIA

O trabalho foi realizado como prática de extensão (PCE) da disciplina Oficina de Extensão do
4º período do curso de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, que
forma licenciados e bacharéis. A disciplina tem como objetivo proporcionar que os discentes
conheçam um projeto de intervenção social e contribuir atuando a partir da produção e execução de
práticas educativas para o grupo envolvido, integrando disciplinas e conteúdos do curso, bem como
projetos de Extensão da Universidade. Além disso, também apresenta objetivos para as recuperandas,
que incluem: desenvolver práticas educativas que favoreçam a inclusão, a educação para saúde e meio
ambiente; proporcionar aos participantes maiores e mais diversas oportunidades educativas em
ambientes não escolares de educação; e ampliar as possibilidades de formação a partir do contato com
outras realidades educacionais, emocionais e afetivas.
A iniciativa está articulada à EJA (Educação de Jovens e Adultos), oferecida às recuperandas,
e de responsabilidade da Escola Estadual Profª. Anair Oliveira Santana. A EJA representa uma
oportunidade de grande relevância no processo de recuperação das pessoas privadas de liberdades,
pois amplia as possibilidades de educação e trabalho, facilitando a reintegração social desses
indivíduos após a sua soltura, além de contribuir para a remição de pena.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 561

A primeira etapa do processo foi o diagnóstico participativo das demandas das recuperandas
e da docente responsável pelo do ensino de ciências e biologia junto ao EJA. Na sequência, foram
planejadas e desenvolvidas quatro práticas educativas. Elas aconteceram nos dias 18/04/2022,
02/05/2022, 09/05/2022 e 23/05/2022 e o planejamento de cada uma delas foi feito uma semana antes
e aprovado previamente pela docente da disciplina e pelos beneficiários da ação. Dessa forma, foi
possível manter a organização necessária para que o trabalho fosse bem executado.
Após a finalização das atividades práticas, cada equipe redigiu um relatório contendo
informações detalhadas sobre a experiência vividas nos quatro encontros, contendo fotos,
depoimentos das recuperandas e dos encontros, além do relato dos membros da equipe.
Posteriormente, os resultados obtidos foram socializados com todos os alunos matriculados na
disciplina e foi possível realizar a troca de experiência com outros alunos que também participaram
do projeto.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O primeiro contato foi uma visita técnica, visando a conhecer o projeto Elas, a APAC e as
recuperandas. Na oportunidade, foi realizada uma roda de conversa para que a turma pudesse
conhecer as alunas e avaliar o seu conhecimento prévio, interesses e a melhor abordagem dos assuntos
durante as aulas. Além disso, por meio dessa reunião, foi possível coletar assuntos de interesse das
recuperandas que poderiam ser ministrados durante os encontros posteriormente.
Após a primeira conversa, foram realizados um total de quatro encontros para
desenvolvimento das práticas educativas, envolvendo 87 recuperandas.
O primeiro encontro teve como tema central os sistemas do corpo humano, em especial, o
sistema digestório. Para o desenvolvimento de uma atividade dinâmica e inovadora para o grupo,
foram utilizados dois modelos anatômicos de torso de tamanhos distintos, que compõem o acervo do
Banco de materiais didáticos do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas (Figura 1). Foram
abordados temas relacionados ao sistema digestório e de relevância no cotidiano, como a importância
de uma alimentação saudável e equilibrada e de uma boa mastigação, entre outras práticas, para evitar
o surgimento de patologias. Durante a aula, observou-se grande interesse das recuperandas por
assuntos relacionados ao corpo humano, o que motivou a escolha da equipe por continuar com essa
área do conhecimento nos encontros seguintes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
562 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 1 – Explicação sobre o sistema digestório para as recuperandas

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

A segunda aula teve como tema o sistema urinário. A equipe levou novamente modelos
anatômicos disponibilizados pela PUC Minas, mas, desta vez, específicos do sistema urinário. No
decorrer da conversa, além de demonstrar o funcionamento do sistema em questão, também foram
apresentadas diversas doenças que acometem o trato urinário e as formas de prevenção, com foco no
sistema urinário feminino, visando o autoconhecimento. Além disso, também foi levado um torso de
menor tamanho para a repetição da explicação sobre o sistema digestório, uma vez que nem todas as
alunas conseguiram assistir a aula e pediram para que o assunto fosse abordado novamente.
No terceiro encontro, houve a discussão sobre o sistema respiratório e a equipe optou por levar
o mesmo torso utilizado no primeiro encontro. O foco foi demonstrar o funcionamento e a
importância da respiração e como acontece as doenças que atingem esse sistema, pois são muito
comuns entre a população brasileira. Novamente, foi possível perceber o engajamento e a curiosidade
das discentes do EJA a respeito dos temas, uma vez que fizeram inúmeras perguntas sobre diversos
assuntos relacionados ao tema central das aulas, o corpo humano.
Na última aula, o tema gravidez, parto e mudanças fisiológicas durante a gestação foi levado
para as alunas; porém, dessa vez, a estrutura da aula deu-se em forma de roda conversa (Figura 2),
pois a maior parte dos presentes eram mães, e o objetivo era ouvir as histórias delas e permitir uma
maior troca de experiência. Primeiramente, foi realizada uma breve explicação sobre o que acontece
no corpo da mulher durante esse evento, as doenças que podem atrapalhar a gravidez e o parto, com
foco na explicação sobre o que é a violência obstétrica e como se defender dela. Nessa discussão, a
explicação foi dialogada, uma vez que as recuperandas estavam muito dispostas a contar como foram
as suas experiências em cada etapa da gestação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 563

Figura 2 – Roda de conversa sobre gravidez e parto

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

Por fim, neste mesmo dia, foi realizado o encerramento das atividades na APAC e as
recuperandas relataram suas opiniões e perspectivas sobre o trabalho realizado pela turma, além de
demonstrarem sua gratidão pela realização das atividades.
A professora da EJA solicitou que as recuperandas avaliassem o trabalho realizado por meio
de cartas que seriam enviadas à PUC. Nas cartas, a exemplo da figura 3, as recuperandas mostraram
satisfação e agradecimento aos alunos pela oportunidade da troca de experiências, além de
demonstrarem interesse em continuar com o processo educacional, reforçando o cumprimento da
proposta da disciplina, que é a troca de saberes científicos e espontâneos, complementando-os sem
que haja uma hierarquia entre eles, e a realização de mudanças positivas para a sociedade.

Figura 3 – Carta de uma recuperanda participante

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
564 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentes propósitos motivaram o trabalho desenvolvido na disciplina de Oficina de


Extensão dentro do APAC: desenvolver competência para o trabalho docente em equipe, planejando
e executando atividades educativas; aplicar o conhecimento de forma a transformar a realidade; fazer
a transposição do conhecimento científico, adequando linguagens e métodos à situações da realidade
das recuperandas, pautando-se em valores de ética, de democracia, de responsabilidade e justiça
social e de respeito à diversidade.
A experiência que ocorreu dentro da modalidade de educação prisional gerou grande comoção
e aprendizado, propiciando uma formação mais humana aos graduandos do curso. Para muitos alunos
da disciplina, esse foi o primeiro contato prático com a docência, tendo sido uma oportunidade de se
conhecer enquanto futuro professor, percebendo pontos fortes e fracos, aprendendo e vislumbrando
habilidades a serem melhoradas.
Além disso, foi possível refletir sobre as questões que interferem na educação, de modo geral,
e na educação prisional, em especial, e no processo de ensino e de aprendizagem, permitindo uma
maior preparação das práticas pedagógicas e/ou de extensão. A vivência de diferentes realidades
contribui para a reflexão e o posicionamento dos futuros profissionais sobre as questões sócio-
político-ambientais nas quais estão inseridas as diferentes comunidades, favorecendo a atuação em
diferentes níveis educacionais com consciência e responsabilidade na formação de cidadãos. Ao
mesmo tempo, na articulação com o Projeto ELAS, foi possível contribuir efetivamente com uma ação
inclusiva, humanizadora e interdisciplinar, em um trabalho pedagógico que articula ensino e extensão.
Para as recuperandas/discentes, como se depreende das cartas enviadas, o momento de
aprendizado se mostrou valioso. Todas se mostraram receptivas a aprender o conteúdo ensinado pelos
graduandos, e houve um grande interesse no processo educativo. A experiência foi de grande
importância para um maior entendimento de situações da realidade das recuperandas que, apesar de
possuírem conhecimento a nível de senso comum, após o trabalho apresentado, adquiriram uma maior
percepção sobre os assuntos abordados pela equipe. Por fim, o trabalho realizado reflete e concretiza
os objetivos da extensão universitária, em uma troca de saberes que contribuem para a formação de
todos os envolvidos no processo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 565

REFERÊNCIAS

ALBERTO, Márcia de Souza Oliveira Paes Leme. Educação, trabalho e reintegração social na
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Ituiutaba/MG. 2021.
Dissertação (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal Goiano,
Goiânia, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/2039/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o_M%c3%a1rc
ia%20Paes%20Leme.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
ASSIS, Rafael Damasceno de. As prisões e o direito penitenciário no Brasil. Direito Net, 31 maio
de 2007.Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3482/Asprisoes-e-odireito-
penitenciário-no-Brasil. Acesso em: 16 jun. 2022.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diário Oficial da
União, 13 jul. 1984. Disponível em: https://www.planalto.gov.br. Acesso em: 16 jun.2022.
BARCINSKI, Mariana; CÚNICO, Sabrina Daiana; BRASIL, Marina Valentim. Significados da
Ressocialização para Agentes Penitenciárias em uma Prisão Feminina: Entre o Cuidado e o
Controle. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 25, n. 3, jul./set. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/tpsy/a/TTfTv4bYkmXbVtR8nhC7n4M/?lang=pt. Acesso em: 16 jun. 2022.
JULIÃO, Elionaldo Fernandes. Uma visão socioeducativa da educação como programa de
reinserção social na política de execução penal. Revista Vertentes, São João Del-Rei, n. 35, [s. p.]
jan./jun. 2010. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/vertentes/Vertentes_35/elionaldo.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
MARTINS, Tânia Alves. Educação na APAC: uma oportunidade de reintegração social do
recuperando. Práticas Educativas, Memórias e Oralidades, Fortaleza, v. 3, n. 3. 2021. Disponível
em: https://revistas.uece.br/index.php/revpemo/article/view/5344. Acesso em: 16 jun. 2022.
ONOFRE, Elenice Maria. Escola da prisão: espaço de construção da identidade do homem
aprisionado? In: ONOFRE, Elenice Maria (org.). Educação Escolar entre as grades. São Carlos:
EdUFSCar, 2007. p. 11-29. Disponível em:
https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/178646/mod_resource/content/1/14.%20A%20educa%C3
%A7ao%20escolar%20entre%20as%20grades.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
566 Novo Humanismo, novas perspectivas

Promoção da agroecologia através da produção de sementes crioulas

Gessymel Cristina de Oliveira Costa1


Camile Gabriele Martins Xavier2
Katia Teixeira de Paula Costa3
Richard Afonso Batista de Freitas Moreira4
Virginia Simão Abuhid5

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo abordar a agroecologia por meio do relato da criação de um banco de sementes
crioulas no Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental da PUC Minas. Sementes crioulas tem o potencial de
contribuir na manutenção da biodiversidade, além de importância econômica e valor histórico e cultural. Para integrar o
banco, as sementes selecionadas passaram por um processo de coleta, secagem, higienização e armazenamento, sempre
respeitando sua floração e deiscência do fruto. Na horta Universitária da PUC Minas, a substituição de sementes
fertilizadas teve início em 2018. Observa-se que as sementes crioulas têm atuação compatível às fertilizadas e híbridas,
além do que, não possuem prazo de validade. Elas são doadas a parceiros do projeto de extensão Universidade Sustentável
e as doações são acompanhadas de uma ação educativa, visando a sensibilização para a temática da agroecologia.

Palavras-chave: Banco de sementes. Agroecologia. Horticultura. Educação ambiental. Sustentabilidade.

Promotion Of Agroecology Through Creole Seed Production

ABSTRACT
The present work aims to approach agroecology through the report of the creation of a native seed bank at the Integration
Center for Environmental Sustainability at PUC Minas. Creole seeds have the potential to contribute to the maintenance
of biodiversity, in addition to economic importance and historical and cultural value. To integrate the bank, the selected
seeds went through a process of collection, drying, cleaning and storage, always respecting their flowering and fruit
dehiscence. In the University vegetable garden at PUC Minas, the replacement of fertilized seeds began in 2018. It is
observed that the native seeds have a performance compatible with the fertilized and hybrid ones, in addition, they do not
have an expiration date. The seeds are donated to partners of the Sustainable University extension project and the
donations are accompanied by an educational action, aimed at raising awareness of the theme of agroecology.

Keywords: Seed Bank. Agroecology. Horticulture. Environmental education. Sustainability

1
Graduando em Ciências Biológicas. Monitora e extensionista do Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental
(CISAL). E-mail: gcocosta@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Ciências Biológicas. Monitora e extensionista do CISAL. E-mail: camile.gabriele@sga.pucminas.br.
3
Graduando em Ciências Biológicas. Extensionista do CISAL. E-mail: katia.costa@sga.pucminas.br.
4
Graduado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Técnico responsável pelo Centro de
Integração para a Sustentabilidade Ambiental (CISAL) – Ciências Biológicas PUC Minas. E-mail:
rabfmoreira@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Geociências. Professora do ICBS da PUC Minas. Coordenadora do Projeto de Extensão. E-mail:
vabuhid@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 567

INTRODUÇÃO 

Com o significativo avanço dos impactos ambientais advindos das novas tecnologias contidas
na modernização da agricultura, mais do que nunca são importantes os preceitos agroecológicos na
produção dos alimentos, dialogando com as metas de diferentes objetivos de desenvolvimento
sustentável. Desde o uso dos agrotóxicos, perpassando a devastação de áreas verdes inteiras, um dos
aspectos mais polêmicos na agricultura atual é a produção de alimentos a partir de sementes
quimicamente fertilizadas e de espécies transgênicas.
Apesar de regulamentados por lei, não há segurança completa em relação ao impacto dos
produtos transgênicos e já existem estudos que apontam a perda da biodiversidade nas regiões de
plantio. No âmbito da saúde humana, mais pesquisas são necessárias para compreender melhor os
efeitos perniciosos dos produtos geneticamente modificados, porém, segundo Martinelli (2019) já é
possível notar a relação do consumo desses alimentos com alterações neurológicas e hormonais,
infertilidade, câncer e doença celíaca.
É preciso, também, levar em consideração a falta de diversidade de alimentos que esse modelo
de produção privilegia e o risco de se perder toda uma gama de conhecimentos adquiridos em relação
ao consumo de vegetais e aos saberes populares. Diante disso, as sementes crioulas, livres de
contaminação e diversas em espécies, podem contribuir para mudar este cenário, além de propiciar a
sensibilização ambiental para a importância da preservação da biodiversidade e do respeito à
ecologia.
O objetivo deste trabalho é apresentar as atividades realizadas pelo projeto de extensão
Universidade Sustentável no desenvolvimento de um banco de sementes crioulas, associado a
atividades de educação ambiental e sustentabilidade com o público externo e interno em seus espaços
de horta e sementeiras, no Centro de Integração para Sustentabilidade Ambiental (CISAL) 6 da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), no campus Coração Eucarístico.
Articulando o ensino e a pesquisa, a extensão universitária viabiliza a divulgação científica e
a educação ambiental com atividades de sensibilização, conscientização e mobilização para mudanças
de atitudes em relação ao meio ambiente. Assim, como se realiza no trabalho relatado, a extensão
permite a produção de novos conhecimentos e a formação de sujeitos que se tornam reeditores e
multiplicadores do conhecimento socializado, tanto discentes quanto parceiros e beneficiários das
ações. Tal processo é o que permite a construção das chamadas redes sustentáveis.

6
Projeto de Extensão: financiamento da PROEX/PUC-Minas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
568 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

A semente crioula é aquela cujo germoplasma vem sendo multiplicado por agricultores
através do tempo e das gerações. Diferentemente das sementes utilizadas na agricultura moderna, a
semente crioula7 não passou por nenhuma modificação genética por meio da interferência humana, e
isso garante, naturalmente, uma vasta gama de diversidade genética além da identidade da cultura de
um povo. Essas sementes são livres de agrotóxicos, pesticidas ou modificações realizadas pela ciência
ou pelo agronegócio e não são, consequentemente, patenteadas por nenhuma empresa (BLAINSKI,
2020).
Segundo Carvalho (2003), as sementes que antes possuíam valor simbólico e cultural,
contemporaneamente, são objetos de negócio que visam principalmente ao lucro. Em produções
agrícolas de base ecológica, as técnicas são vantajosas econômica e ecologicamente, como a
utilização das sementes crioulas¹, que, devido à grande variabilidade e heterogeneidade genética,
contribui na manutenção da biodiversidade.
As sementes transgênicas carregam a ideia de serem mais eficientes que as espécies
tradicionais, quando, na verdade, “demandam um número excessivo de insumos durante a produção;
ao mesmo tempo que não providenciam adubos e outros tratos naturais necessários'' (SIQUIEROLI
et al., 2020). Em tal intensidade, as variedades transgênicas tendem a apresentar desempenho
aproximado ou inferior às variedades crioulas.
A criação de banco de sementes assegura a autonomia e a transição agroecológica sobre os
cultivos, além de garantir a soberania alimentar (CORRÊAS et al., 2000). As sementes tradicionais
são adaptadas a diversas condições ambientais e são uma importante fonte genética de resistência a
pragas e doenças. (SILVA et al., 2009).
O banco de sementes contém variedades que guardam a riqueza natural das comunidades e
representa o fortalecimento da identidade das pessoas do campo, garantindo a autonomia das famílias
na produção de alimentos saudáveis e de boa qualidade, resgatando a cultura das gerações passadas
e desempenhando um importante papel na preservação e multiplicação de espécies nativas
(RODRIGUES et al.2016).

7
“São chamadas de crioulas ou nativas, porque geralmente seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais,
como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos entre outras.” (PALHANO et al, 2020).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 569

3 METODOLOGIA 

Lima (2020) estabelece a necessidade de escolha da área para produção de sementes crioulas,
levando em consideração o cumprimento dos atributos: "adubação, irrigação e controle de pragas
espontâneas e cuidado com pragas e doenças”. Esses atributos são, desde o princípio, atendidos por
meio da produção orgânica, já que não há contaminação em nenhuma das fases de produção das
horticulturas na Horta Universitária da PUC Minas, onde todo o processo se realiza.
As sementes são recolhidas no momento de floração, que diferem em cada cultura vegetal.
Assim, são utilizados métodos específicos, durante a retirada das sementes até o armazenamento,
levando sempre em consideração a deiscência de cada fruto. A secagem das sementes é feita ao sol,
como proposto por Lima (2020). Em seguida, é realizada a higienização das sementes. Vidros de
conserva devidamente rotulados são utilizados para o armazenamento. Por fim, as sementes são
armazenadas no banco de sementes, em local seco e arejado, localizado no CISAL.
Ademais, uma parcela das sementes crioulas advém da Mata da PUC Minas, a qual é
caracterizada como uma mata nativa e secundária, possuindo espécies dos Biomas Cerrado e Mata
Atlântica, que foram coletados de forma independente.
Todo o processo, bem como as próprias sementes crioulas retiradas da horta, representa
conteúdo e recursos das oficinas de Educação Ambiental oferecidas pelo projeto Universidade
Sustentável. Nos processos de formação, os participantes utilizam as sementes crioulas nas atividades
em sementeiras, além da transferência de mudas da estufa - também advindas de sementes crioulas -
para os canteiros definitivos.
Os públicos que participam destas ações são compostos de alunos da educação básica, alunos
de graduação de diferentes cursos da PUC Minas, agricultores dos Centros de Vivência
Agroecológica (CEVAE) de programa da Prefeitura de Belo Horizonte, entre outros.

Figura 1 - Oficina de Plantio realizada com alunos de Arquitetura e Urbanismo

Fonte: Acervo dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
570 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 2 - Desenvolvimento das berinjelas advindas de sementes crioulas

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS 

A utilização das sementes crioulas na Horta Universitária teve início em 2018, quando as
sementes fertilizadas com produtos químicos foram aos poucos substituídas por sementes híbridas
sem fertilizantes. A partir dessas, foi feita a retirada de novas sementes, que se tornaram as gerações
seguintes da cultura na horta. Importante ressaltar que foram coletadas também sementes das mudas
recebidas através de doações realizadas por diferentes parceiros do projeto, como funcionários da
própria Universidade, extensionistas do projeto e o público externo. Na tabela abaixo, a relação de
algumas espécies representadas no banco de sementes

Tabela 1 – Algumas espécies representadas no banco de sementes

Nome Popular: Nome Científico:

Milho Zea mays

Tomate Solanum lycopersicum

Erva-Doce (funcho) Pimpinella anisum

Mostarda Brassica nigra

Alface Lactuca sativa

Berinjela Solanum melongena

Coentro Coriandrum sativum

Pimenta dedo-de-moça Capsicum baccatum

Merthiolate Jatropha multifida L.


Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 571

A produção de mudas a partir das sementes crioulas (figura 3) tem desempenho equivalente
ao das híbridas e das quimicamente fertilizadas8, que, ao contrário daquelas, costumam ter prazo de
validade. É importante ressaltar que a qualidade do preparado para as bandejas (adubo, solo virgem,
areia, carbonato de cálcio) tem forte influência na germinação, além do plantio respeitando a época
de cada cultura.
A Horta Universitária estabelece dois modelos de doações para as sementes crioulas: a doação
direta das sementes e a indireta, pela doação de mudas produzidas na estufa. No primeiro semestre
de 2022, foram doadas aproximadamente 2.500 sementes, incluindo 1.500 distribuídas (500: erva-
doce, 500: berinjela e 500: mostarda) para a Feira de Economia Solidária realizada pela Pró-Reitoria
de Extensão da PUC Minas. Quanto à doação indireta, somam-se cerca de 500 mudas.
Além das sementes de horticultura, o banco de sementes do CISAL, privilegia também as
sementes oriundas da Mata da PUC Minas. A mata é uma área de hotspot9contendo espécies da fauna
e flora dos Biomas Cerrado e Mata Atlântica, o que amplifica ainda mais a importância do cuidado
com este espaço e das sementes dela colhidas, como forma de salvaguardar a biodiversidade desses
ambientes cada vez mais prejudicados pela exploração.
Como dito por Kuhlmann (2018), mais de 50% da vegetação nativa do Cerrado foi devastada;
nesse sentido, as sementes crioulas são de extrema valia para a recuperação e conservação da
vegetação nativa.
Sucintamente, a coleta das sementes crioulas propiciou a criação de um banco de sementes
que consta com 11 espécies de hortaliças e legumes, como também com 7 variedades de árvores da
Mata da PUC Minas. O banco de sementes, por sua vez, oportunizou a prática da Educação Ambiental
com o público externo, e, consequentemente, a disseminação, para além dos portões da Universidade,
do conhecimento de fatores importantes para o Desenvolvimento Sustentável.

Imagem 3 – Representação das diferentes etapas do processo de secagem

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

8
As sementes quimicamente fertilizadas costumam ter prazo de validade, diferentemente das sementes crioulas.
9
São áreas naturais do planeta Terra que possuem vasta diversidade ecológica e que estão em risco de extinção.
EXTENSÃO PUC MINAS:
572 Novo Humanismo, novas perspectivas

Imagem 4 – Sementes do banco

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Figura 5 - Mudas nas sementeiras

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

São realizadas diversas ações educativas visando a sensibilização para a temática de


agroecologia, a fim de que seja propagado o conhecimento crítico em relação ao modelo de produção
dos alimentos, conhecimento acerca das sementes livres e também de técnicas de manejo e cuidado
para futura extração das futuras sementes.
Entre as atividades de educação ambiental associadas, citam-se: trilhas interpretativas na horta
e mata da PUC Minas, destacando as espécies nativas e processos de coleta e cultivo de hortaliças;
oficinas de semeadura e plantio; oficinas sobre plantas alimentícias não convencionais (PANC) e
reaproveitamento de alimentos; oficinas e palestras sobre agroecologia, entre outras.
O Banco Sementes Crioulas pode ser entendido como “uma tecnologia social que promove a
sustentabilidade da agricultura familiar por meio do fortalecimento do intercâmbio de variedades
crioulas e as respectivas informações sobre o seu cultivo e usos entre as famílias de agricultores e
agricultoras”. (VIEIRA, 2009, s.p.).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 573

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cultivo e a doação de sementes crioulas, livres de contaminação e diversas em espécies,


para além dos benefícios ambientais e sociais, propiciam um trabalho de sensibilização ambiental
para a importância da preservação da biodiversidade e do respeito à ecologia. A utilização de tais
sementes prova ser de extrema importância na contribuição dos esforços para romper com o modelo
predatório na produção de alimentos.
A proposta do projeto Universidade Sustentável para produção das mudas e o cultivo a partir
das sementes crioulas representaram uma inovação exitosa e relevante na Universidade. A aceitação
do público donatário desses insumos também foi positiva, o que demonstra certa consciência e
preocupação por parte da comunidade com a temática. Por conseguinte, pretende-se seguir com os
estudos para uma avaliação mais assertiva sobre a qualidade dos cultivos (fertilizadas e crioulas),
técnicas e cuidados, ampliando e qualificando o Banco de Sementes Crioulas na PUC Minas.
Percebe-se um aumento contínuo da demanda por atividades educativas no Cisal,
especialmente no complexo da horta universitária, contemplando temas relacionados a agroecologia
e a criação de hortas urbanas. Entende-se este como um indicador da importância do trabalho que
vem sendo viabilizado no âmbito da extensão universitária, dentro da temática ambiental. Por fim, o
trabalho realizado representa uma contribuição da Universidade articulada a diferentes objetivos de
desenvolvimento sustentável, com destaque para os que consideram, conservação de biodiversidade,
saúde e bem-estar, fome zero e agricultura sustentável e educação de qualidade.

REFERÊNCIAS

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Disponível em:https://www.manejebem.com.br/novidade/sementes-crioulas-sabedoria-e-
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República, [1996]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 6 set. 2022.
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São Paulo: Expressão Popular, 2003. p. 352.
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Esperança/Cooesperança. Revista Brasileira de Agroecologia, Santa Maria, v. 4, n. 2, 2009.
Disponível em: https://revistas.aba-agroecologia.org.br/cad/article/view/4539. Acesso em: 15 jun.
2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
574 Novo Humanismo, novas perspectivas

KUHLMANN, Marcelo. Frutos e sementes do Cerrado: espécies atrativas para a fauna. 2 ed.
Brasília: Frutos Atrativos do Cerrado, 2018. p. 419.
LIMA, Erika et al. Sementes crioulas: importância e aspectos gerais de produção. In:
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RODRIGUES, Cleidianne Sousa Pereira et al. Criação de banco de sementes crioulas para
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SIQUIEROLI, Ana Carolina Silva et al. Sementes crioulas: a independência e resistência dos
agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Revista Em Extensão, Uberlândia MG,
edição especial, 2020. p.12-22. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/54366/28798. Acesso em: 16 jun. 2022.
VIEIRA, Flávia Stela. Banco comunitário de sementes crioulas. Fundação Banco do Brasil, 2009.
Disponível em: https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/banco-comunitario-de-sementes-
crioulas. Acesso em: 13 set. 2022
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Novo Humanismo, novas perspectivas 575

“Todos somos voluntários: ABC do Câncer”: guia rápido para o público de


voluntários da Fundação Antonio Dino, São Luís/MA

Melissa Silva Moreira Rabêlo1


Lorena Cavalcante Barbosa Oliveira2
Ramirio Costa Ribeiro3
Rayra Bruna Farias Guimarães4

RESUMO
Objetiva-se apresentar o II Guia Rápido: “Vamos falar sobre os cuidados paliativos?”, desenvolvido pela Liga Acadêmica
de Planejamento e Pesquisas em Relações Públicas da Universidade Federal do Maranhão (Lapp-RP / UFMA) por meio
do projeto de extensão “Todos Somos Voluntários: ABC do Câncer”, para o público de voluntários da Fundação Antônio
Dino, localizada em São Luís/ MA, onde são atendidas pessoas portadoras de câncer e suas famílias, que vivem em
situação de vulnerabilidade social. A intenção é apresentar, ainda, uma breve discussão sobre as áreas de comunicação e
saúde e comunicação institucional, que fundamentam o instrumento informativo, além de indicar a pesquisa de campo
realizada, assim como o produto final.

Palavras- chave: Comunicação. Saúde. Voluntariado. Cuidados Paliativos.

“We are all volunteers: ABC of Cancer”: quick guide for the volunteer public of
the Antonio Dino Foundation, São Luís/MA

ABSTRACT
The objective is to present the II Quick Guide: “Let's talk about palliative care?”, developed by the Academic League of
Planning and Research in Public Relations of the Federal University of Maranhão (Lapp-RP / UFMA) through the
extension project “Todos We are Volunteers: abc of Cancer”, for the audience of volunteers from the Antônio Dino
Foundation, located in São Luís/MA, where people with cancer and their families who live in socially vulnerable
situations are assisted. The intention is also to present a brief discussion on the areas of communication and health and
institutional communication, which underlie the informative instrument, in addition to indicating the field research carried
out, as well as the final product.

Keywords: Communication. Health. Voluntary. Palliative care.

1
Coordenadora do projeto de extensão e Prof.ª Dr.ª Adjunta do DCS-UFMA. E-mail: melissamoreira@yahoo.com.
2
Estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
E-mail: lorena.cavalcante@discente.ufma.br.
3
Estudante do curso de Comunicação Social - Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-
mail: ramirio.ribeiro@discente.ufma.br.
4
Estudante do curso de Comunicação Social - Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-
mail: rayra.guimaraes@discente.ufma.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
576 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

A Fundação Antonio Jorge Dino e o Hospital do Câncer Aldenora Belo, localizados em São
Luís – Maranhão (MA) e com a área hospitalar pioneira no combate ao câncer neste Estado,
inaugurada em 1958, são entidades que atendem a população portadora de câncer e prestam apoio
para famílias de pessoas que convivem com a doença, principalmente para o público carente de
conhecimento e informação verídica.
A fim de estimular o atendimento do público citado, de maneira mais eficiente e humanizada,
a Fundação desenvolve uma série de projetos, como por exemplo:

1. Acompanhante Cor de Rosa: o paciente recebe apoio do voluntário nesse papel de acompanhá-
lo.
2. Posso Ajudar? - atividade voltada para o ambulatório do Sistema Único de Saúde – SUS – onde
os voluntários dão suporte na triagem dos pacientes, ajudam na mobilização para as
enfermarias e encaminham para um consultório;
3. Leitura dinâmica: acontece leitura em leitos, através de um carrinho repleto de livros e jogos.
Os voluntários passeiam pelos leitos, distribuindo livros, lendo e brincando;
4. Brinquedoteca: são duas, uma na casa de apoio e uma no próprio hospital. Brincadeiras mais
lúdicas, mas que conseguem fazer com que os profissionais façam triagem a respeito da
situação dos pacientes;
5. Casas de Apoio: uma para idosas (senhoras) e outra para crianças e seus acompanhantes.
Recebem pacientes e familiares de pessoas vindas do interior. Recebem atendimento,
alimentação e todo o suporte necessário;
6. Projeto de Peruca: voluntários fizeram um curso de confecção de perucas fora do estado e agora
proporcionam a confecção, seguido da doação de perucas para as pacientes com câncer;
7. Brechó: o brechó se realiza através de doações da comunidade, onde se reverte tanto para os
pacientes internados nas casas de apoio, quanto para um brechó aberto ao público. O dinheiro
angariado com essa ação é destinado para suprir algumas necessidades das casas de apoio,
como alimentação e remédios;
8. Alfabetização: suporte na leitura e escrita para jovens e adultos internados nas casas de apoio.
Outro momento, é o acompanhamento escolar, dando continuidade à aprendizagem do
paciente; e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 577

9. Oficinas: São voluntários que trabalham no suporte de confecção de artesanato, voltada mais
para adultos.

As casas de apoio possibilitam que os pacientes, vindos em sua maioria do interior do estado
e sem condições de manter-se na cidade durante o tratamento, tenham um cuidado intensivo por meio
de alimentação, remédios, vestuários, transporte e suporte psicopedagógico que, além de doações, se
sustenta com a boa ação de voluntários da causa. Ademais, o hospital do câncer Aldenora Belo é o
único que possui um centro público para o tratamento do câncer em todo Estado.
O II Guia Rápido5 tem como objetivo propagar informação clara, objetiva e otimista sobre os
cuidados paliativos, como um meio de apoiar voluntários que procuram fazer parte ou já são
integrantes da Fundação Antônio Jorge Dino. Esses voluntários são participantes de um público que
tem contato direto com a comunidade carente e seus familiares, atendido pelo Hospital do Câncer
Aldenora Belo, através dos diversos projetos desenvolvidos pela Fundação de apoio ao hospital.
Esse Guia, que aborda a necessidade de explicar sobre cuidados paliativos, inicia-se com uma
coleta de dados por meio de uma aplicação de questionários para voluntários atuantes na fundação.
A pesquisa de campo, realizada em 2021, obteve 87 respostas e foi dividida nas seções sobre o perfil
sociodemográfico, atuação no voluntariado, conhecimentos acerca dos cuidados paliativos, canais de
informação em conjunto com a comunicação utilizada pelos voluntários. O objetivo inicial foi
promover informação através de instrumentos criativos e diferenciados, para a sensibilização dessas
pessoas no entendimento e abordagem da doença com os pacientes e seus familiares de forma
otimista, evitando o manejo descuidado e desnecessário de assuntos relacionados ao câncer e ao
momento da vida em que cada um está passando. Por meio da divulgação de um conhecimento de
forma didática, acessível e simples, seria possível que pacientes em cuidados paliativos pudessem ser
mais bem assistidos.
A proposta é mesclar um material textual e gráfico, mas com o aprofundamento de temas que
devem ser abordados de forma séria e responsável. O conteúdo inicia a discussão sobre a temática
junto ao grupo dos voluntários e intenciona, ainda, esclarecer dúvidas sobre os cuidados paliativos,
inicialmente propagados em formato digital, mas podendo ser adequado ao modo impresso. Por fim,
o guia foi dividido em seções para melhor abordar os conteúdos e facilitar o entendimento por parte
dos voluntários.

5
Link do Guia Rápido: https://drive.google.com/file/d/1kt_mIjr_nqDOV5IE_YtjQprVrI57xlu/view?usp=sharing
EXTENSÃO PUC MINAS:
578 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As Relações Públicas são uma área de conhecimento que estuda o envolvimento das
organizações e do público atendido. Para que haja uma relação de sucesso, deve haver uma condução
do relacionamento, por meio de estratégias comunicativas que atendam todos os públicos em
diferentes ambientes, a fim de promover uma adaptação das abordagens de acordo com o contexto
necessário.
Para a pesquisadora de Comunicação Organizacional, Margarida Kunsch (2009), a velocidade
das mudanças que ocorrem em todos os campos impele um novo comportamento institucional das
organizações diante da opinião pública. Essas passam a se preocupar principalmente com as relações
sociais, contextos políticos e fatores econômicos mundiais.
Diante da análise, as Relações Públicas são fundamentais como uma forma de auditoria social,
a fim de avaliar como a sociedade reage diante dos fatos e como, por fim, as estratégias de
comunicação devem ser traçadas conforme essas reações. Assim, as instituições devem se portar de
maneira evidente, definida e com precisão, para utilizar a comunicação como um meio de conquista
e, posteriormente, manutenção da boa reputação organizacional. Na área da Saúde, a pesquisa não é
distinta. Por isso, ao entender de que modo as táticas das relações públicas devem assumir ao
desenvolver uma ação, podemos criar um papel institucional para moldar ações destinadas a um
público específico, o público-alvo. Entre essas ações, são analisadas as reações sociais do grupo
estudado, o progresso estratégico comunicativo de acordo com o contexto, a supervisão e
coordenação de programas de comunicação, prevenção e gerenciamento de crises / conflitos que irão
surgir dentro do relacionamento de clientes, empregados, grupos envolvidos etc.
Nesse contexto, “O trabalho institucional visa, basicamente, criar uma personalidade para a
organização, por meio de alguns instrumentos e certos mecanismos que possam propiciar sua
divulgação como um todo e em si mesma”, afirma James Derriman (1968, p.53).
Neste projeto, realizado analisando a Fundação Antonio Dino, o público estratégico são os
voluntários, que seguem as diretrizes do Decreto n°389/99, emitido pelo Ministério do Trabalho e
Solidariedade. Embasado no decreto, a ação do voluntariado é solidária com o próximo e participa de
forma livre e organizada da solução de problemas que afetam a sociedade em geral, ou seja, uma
pessoa que decide livremente ser responsável por utilizar de artifícios pessoais e tempo disponível
para colaborar com um público específico por meio de atividades variadas e que exigem dedicação e
organização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 579

Através do desenvolvimento de instrumentos como o guia, é possível facultar acesso a termos,


conceitos e orientações da área da saúde para um público sem conhecimento técnico da área, como
os voluntários. Não se trata, exclusivamente, de promover bem-estar, mas também de reduzir riscos,
ao informar sobre os fatores que envolvem a temática dos cuidados paliativos. Por isso, utilizar
estratégias de comunicação é fundamental para promover a educação em saúde para públicos que
atuam junto aos pacientes e familiares que, muitas vezes, estabelecem vínculos afetivos e se tornam
ponto de apoio e de referência para dirimir dúvidas e esclarecer mitos.
O processo de compreensão e abordagem do tema aqui proposto também se fundamenta no
campo da Comunicação e da Saúde, uma vez que discorre sobre a necessidade de compreensão da
saúde não apenas como a ausência da doença, mas como o estabelecimento de vínculos indissolúveis
com a democracia e qualidade de vida da população.
O processo comunicativo estabelecido na área envolve múltiplos atores e profissionais com
conhecimentos muito específicos, científicos, assim como a necessidade de informar os usuários do
Serviço de Saúde sobre tratamentos, prevenção, medicamentos, cuidados etc. Muitas vezes, essas
informações requerem um “tratamento” para melhor compreensão, necessitando entender todo o
processo ali estabelecido, desde os contextos sociodemográficos, culturais e sociais, até a escolha dos
meios adequados para atingir os usuários. Dessa forma, a comunicação é compreendida aqui como
um ambiente de disputas, onde se busca conferir sentidos aos eventos, experiências e discursos.
Como propõe Bakthin (1988, 1992), cada palavra comporta múltiplos sentidos, é habitada por
diferentes vozes, configurando uma polifonia ancorada na alteridade como princípio ontológico, mas
também na desigual estrutura social. Nesse enfoque, os diferentes contextos - histórico, econômico,
político, institucional, mas também o textual, intertextual, o existencial e o situacional (ARAÚJO;
CARDOSO, 2007) - desempenham papel decisivo nos processos comunicacionais. Sendo assim, o II
Guia Rápido é planejado com base no entendimento da necessidade de uma comunicação
organizacional que aconteça estrategicamente, com clareza e cautela, que aborda públicos estudados
e construtores de uma imagem institucional agradável e de boa reputação, para que haja uma harmonia
no relacionamento das partes envolvidas.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um material de cunho didático, com conteúdo textual e gráfico, elaborado com o
objetivo de aprofundar temas e esclarecer eventuais dúvidas acerca dos cuidados paliativos. A partir
EXTENSÃO PUC MINAS:
580 Novo Humanismo, novas perspectivas

da renovação do projeto de extensão “Todos somos voluntários: ABC do Câncer” identificaram-se,


através de discussões internas dos extensionistas, a importância e a necessidade de abordagem da
temática “Cuidados Paliativos”.
De acordo com a pesquisa realizada em campo, cerca de 80% do grupo de voluntários utiliza
o canal virtual. Esse foi um dos motivos para que todo o conteúdo fosse divulgado em formato digital
(através do aplicativo de mensagens WhatsApp), sendo adequado ao formato impresso para
indivíduos que não tinham acesso a plataformas on-line. Junto ao Guia, foram enviadas peças de
áudios6 de até dois minutos, com o objetivo de agregar o conteúdo.
O II Guia Rápido é composto por 4 seções, sendo elas: O que são cuidados paliativos e a
importância dos benefícios; como ajudar um paciente em cuidados paliativos (dicas de como atuar de
forma humanizada); curiosidades e mitos x verdades. Todas elas foram elaboradas de forma sintética,
através de uma linguagem simples e objetiva. Esta proposta tem como objetivo promover a reflexão
e o aprendizado para melhor atuação do voluntariado, por meio da divulgação de informações acerca
da importância, de curiosidades, além de dicas para melhor atuar com paciente em cuidados paliativos
de forma humanizada.

Figura 1 - Material Guia Rápido Figura 2 - Material Guia Rápido


Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos

Fonte: Elaboração da equipe do Projeto, 2021.

6
Link dos áudios enviados ao Grupo de Voluntários da Fundação Antônio Dino:
https://drive.google.com/file/d/14KcYwGSyoV4STWx_fx4HiY6qoSaneC70/view?usp=sharing;
https://drive.google.com/file/d/1xOaAg5k4ufKYL-oMSme-O43K4gMavDaf/view?usp=sharing
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 581

O primeiro passo para a produção de instrumentos de comunicação e propostas de ação,


ocorreu entre os dias 20 e 27 de julho de 2021, com a aplicação de pesquisa qualitativa com o objetivo
de conhecer o perfil do público voluntário da Fundação Antonio Dino, bem como o melhor formato
de abordagem para o desenvolvimento da segunda fase do projeto junto ao grupo.
Os questionários no formato Google Forms foram enviados no grupo de WhatsApp, - canal
de comunicação comum aos representantes do Projeto de Extensão e grupo de Voluntários - e
buscaram analisar o grau de conhecimento dos voluntários sobre os Cuidados Paliativos, com
apuração informativa da Fundação Antonio Dino sobre a inclusão do voluntariado na rede de
cuidados paliativos.
Assim, analisou-se o quão preparado o voluntário se sente para lidar com temas sensíveis no
dia a dia, como em caso de paciente com a doença em estágio terminal ou processo de luto. Foram
aplicadas tanto perguntas abertas quanto fechadas, tendo como opções de resposta: “sim”, “não” ou
“talvez”. A pesquisa foi baseada em quatro eixos, sendo eles: perfil sociodemográfico; atuação no
voluntariado; conhecimento acerca dos cuidados paliativos; e canais de informação e comunicação
utilizados.
Para execução do II Guia Rápido propriamente dito, foi elaborada a arte de todo material no
Prezzi, além da pesquisa sobre os conteúdos na Academia Nacional de Cuidados Paliativos a serem
abordados.
O projeto conta também com a colaboração de médicos oncologistas que avaliam o material
antes de sua distribuição, assim como a aprovação da coordenadora dos voluntários da Fundação
Antonio Dino.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Foi desenvolvida a pesquisa de campo junto aos voluntários e foram obtidas, no total, 87
respostas. No que tange ao grau de conhecimento do grupo de voluntários sobre os cuidados
paliativos, identificou-se que a maioria do público já ouviu falar sobre a temática (cerca de 85,9%),
e mais da metade sabe/e ou reconhece sua importância, alegando que os cuidados paliativos podem
“Trazer bem-estar e qualidade de vida aos pacientes” e que “Os cuidados são importantes para a cura
da doença, porém não podem ser interrompidos”. Através da aplicação do questionário, observou-se
EXTENSÃO PUC MINAS:
582 Novo Humanismo, novas perspectivas

ainda que, mesmo 85,9% dos entrevistados já tendo ouvido falar sobre os cuidados paliativos, 31%
apontaram que não sabiam da importância desses cuidados para os pacientes que se encontram em
acompanhamento pela Instituição.
Por outro lado, notou-se a falta de orientação da Fundação Antonio Dino sobre a inclusão do
voluntário na rede de cuidados paliativos, antes de entrar no Programa, pois apenas 34,5% dizem ter
conhecimento dessa informação, ao passo que 56% alegam não terem sido informados. Foi possível
notar, ainda, que os voluntários se sentem mais ou menos preparados para lidar com pacientes em
estágio final da doença, assim como no auxílio aos familiares durante o processo de luto.
Em relação à contribuição do Projeto para a construção do referencial de conhecimento sobre
câncer, por parte do grupo de voluntários, é possível afirmar, com base na análise dos dados obtidos,
que o primeiro Guia Rápido de informações sobre o câncer, desenvolvido na primeira fase do Projeto
“Somos Todos Voluntários: ABC do Câncer”, contribuiu decisivamente para a atuação desse público
nos projetos desenvolvidos no interior da Fundação (em uma escala de 0 a 5, 45% atribuem nota 4,
enquanto 45% registram nota máxima).
Diante do sucesso obtido na primeira fase do Projeto, e do alcance dos objetivos predefinidos
para a primeira versão do Guia Rápido, e visando dar continuidade ao trabalho que vem sendo
desenvolvido junto ao público de voluntários, verificou-se a oportunidade de abordar novas temáticas
a respeito do câncer através de novos instrumentos de comunicação. Para tanto, mediante análise dos
resultados obtidos, e visando sanar a carência de informação sobre a temática, o projeto de extensão
propôs a continuação do desenvolvimento de alguns instrumentos informativos da primeira etapa,
como o “II Guia Rápido - Vamos falar sobre cuidados paliativos?”, além de produtos audiovisuais,
que ainda estão em fase de execução.
No que se refere aos resultados esperados, presume-se que tanto o grupo de voluntários da
Fundação Antonio Dino, como a comunidade em geral (profissionais da área de saúde, paciente em
cuidados paliativos, equipe multiprofissional e familiares) possam atuar como multiplicadores das
informações acerca da importância sobre os cuidados paliativos de forma humanizada e, da mesma
forma, estar melhor preparados para desenvolver as atividades do voluntariado, no caso do público
voluntário.
Tendo em vista que o projeto de extensão ainda está em curso, algumas etapas das ações estão
sendo realizadas, como a fase de avaliação e mensuração dos resultados obtidos, bem como a análise
do alcance dos resultados e objetivos previamente estabelecidos para o “Guia Rápido II - Vamos falar
sobre cuidados paliativos?”.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 583

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Guia Rápido de informações sobre o câncer, a Roda de Diálogo, o vídeo institucional foram
os materiais de comunicação desenvolvidos e aplicados na primeira fase do projeto de extensão
“Todos somos voluntários: ABC do Câncer”, visando a cumprir o objetivo central do Projeto:
promover informação clara, objetiva e otimista sobre o câncer para o público de voluntários atuantes
na Fundação Antonio Dino, para os possíveis interessados no trabalho voluntário, uma vez que
consideramos este um público estratégico e fundamental para a sustentabilidade dos projetos
desenvolvidos pela Fundação.
Da mesma forma, a segunda fase do projeto busca, através da continuidade das estratégias de
comunicação, promover informação clara e objetiva ao grupo de voluntários da Fundação, através do
desenvolvimento de instrumentos informacionais, capazes de apoiar os voluntários no atendimento
aos pacientes e familiares do Hospital do Câncer Aldenora Belo, lançando luz sobre a temática dos
cuidados paliativos.
É possível identificar considerável participação e interesse dos voluntários na pesquisa
realizada e, posteriormente, a interação do grupo com o material veiculado nos canais de
comunicação, com respostas que instigam a curiosidade e o debate sobre as informações repassadas
através do Guia e das peças de áudio.

Figura 3 – Interação dos voluntários com o material recebido


no Grupo de Voluntários da Fundação Antônio Dino.

Fonte: Acervo dos autores, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
584 Novo Humanismo, novas perspectivas

Tendo em vista que o projeto de extensão ainda está em curso, algumas ações propostas estão
sendo executadas, como, por exemplo, os Interprogramas, (pequenos programas de televisão, a serem
veiculados na TV UFMA) que serão exibidos no formato seriado. Dessa forma, os objetivos propostos
no projeto e nas ações estão sendo alçados à medida que as etapas de cada projeto são aplicadas.

REFERÊNCIAS

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Paliativos 2012. Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-
content/uploads/2017/05/Manual-de-cuidados-paliativos-ANCP.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
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Paliativos. Disponível em: https://www.paliativo.org.br/cuidados-paliativos/o-que-sao/. Acesso em:
20 fev.2022.
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KUNSCH, M. Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada. São Paulo:
Summus, 2003.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 585

MINIONU como instrumento de ensino e aprendizagem para a juventude

Giulia Rafaela Santos Schettini1


Hadassa Amorim Bisi2
Larissa Diniz Aguiar3
Nicolle Rodrigues Couto4
Raquel de Bessa Gontijo de Oliveira5

RESUMO
O presente relato de experiência tem por objetivo descrever as atividades realizadas no projeto de extensão universitária
de Relações Internacionais, o MINIONU. As atividades do projeto, que se encontra em sua 23° edição, serão apresentadas
como instrumentos pedagógicos de ensino e aprendizagem no MINIONU. Nesse sentido, esta edição abarca 18 comitês
de simulação que admitem diversas dinâmicas de ensino-aprendizagem, responsáveis por mobilizar discussões que
estimulem os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio a refletirem e propor resoluções para as
problemáticas internacionais relacionadas às áreas temáticas de tecnologia, atualidades, história, segurança, governança,
sustentabilidade e pautas identitárias e sociais.

Palavras-chave: Modelo das Nações Unidas; Educação; Relações Internacionais.

MINIONU as a teaching and learning tool for youth

ABSTRACT
This experience report's objective is to describe the activities carried out in the university extension project of International
Relations, MINIONU. The activities of the project, which is in its 23rd edition, will be presented as pedagogical tools for
teaching and learning in the Intercollegiate Model of Simulation of the United States (MINIONU). This edition includes
18 simulating committees that admit different teaching-learning dynamics, responsible for mobilizing discussions that
encourage students in the ninth year of elementary and high school to reflect and propose resolutions for international
problems related to the areas of technology, diplomacy and peace, history, security, governance, sustainability and identity
and social issues.

Keywords: United Nations Model. Education. International Relations.

1
Graduanda em Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Coração
Eucarístico. E-mail: giuliaschettini@pucminas.br.
2
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas /Coração Eucarístico. E-mail: bisihadassa@gmail.com.
3
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: larissadinizaguiar@gmail.com.
4
Graduanda em Relações Internacionais na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: ncouto@pucminas.br.
5
Doutora em Relações Internacionais e professora do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, campus
Coração Eucarístico e unidade Praça da Liberdade. E-mail: rgontijo@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
586 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Os Modelos de Simulação das Nações Unidas (ou MUN, sigla em inglês) são eventos
acadêmicos, geralmente protagonizados por estudantes secundaristas ou de graduação, em que esses
estudantes adotam o papel de uma delegação de determinado Estado, Organização Internacional,
Organização Não Governamental Internacional ou membro da sociedade civil, com o objetivo de
discutir algum tema no âmbito das Nações Unidas (ONU).
A criação desse modelo de evento acadêmico aconteceu antes mesmo da criação da ONU. Os
primeiros registros de simulação são de 1921, com a Oxford International Assembly, na Universidade
de Oxford, e a Harvard International Assembly, na Universidade de Harvard (OXFORD GLOBAL,
2020).
Depois da Segunda Grande Guerra e a criação da ONU, esse modelo se tornou cada vez mais
popular por seu potencial enquanto ferramenta de ensino. Os MUNs podem ser considerados
ferramentas ativas de estudo, por se tratarem de um evento em que os delegados estão imersos em
uma temática, refletindo e tomando decisões, tendo como base as mais diferentes faces sobre aquela
temática. Assim, podem ser mais efetivos do que as técnicas de estudo “passivas” mais tradicionais,
isso porque o estudo ativo propõe um maior envolvimento em relação ao conteúdo, para que mais
áreas do cérebro sejam ativadas durante o estudo (LEIB; RUPPEL, 2020). Segundo Engel et al. (2017
apud LEIB; RUPPEL, 2020), os efeitos das simulações da ONU podem ser observados em quatro
níveis diferentes de conhecimento: conhecimento factual, conceitual, processual e metacognitivo.
Tendo isso em vista, este relato de experiência é organizado em quatro seções, que visam
explorar a experiência do 23ª Modelo Intercolegial das Nações Unidas (MINIONU), evento MUN do
Departamento de Relações Internacionais (DRI) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas). A seguir, apresentamos a proposta do MINIONU como projeto de extensão vinculado
a atividades de ensino e pesquisa, os Comitês que serão simulados em sua 23ª edição, ressaltando o
seu objetivo pedagógico e encerramos com algumas considerações finais.

2 O MINIONU

Há 23 anos, as edições anuais do MINIONU ocorrem em meados de outubro e, durante quatro


dias, estudantes dos três anos do Ensino Médio (E.M) e alunos do 9º ano do Ensino Fundamental
(E.F) de escolas de todo o Brasil são recebidos na instituição. Durante este tempo, simulam
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 587

organizações e fóruns internacionais e debatem acerca de temáticas que também se mostram


relevantes para o cotidiano doméstico de cada nação e para a vida das pessoas em âmbito local. Nesse
sentido, o MINIONU se apresenta enquanto um projeto pedagógico cujo objetivo é transformar esses
jovens estudantes, durante alguns dias, em figuras centrais nas discussões para resolução de
problemas globais. A partir disso, os participantes se encontram em um ambiente diplomático, no
qual devem buscar a melhor maneira de cooperar entre si e superar as questões problemáticas ali
colocadas.
Para a produção deste ambiente, o MINIONU conta com a participação de graduandos do
curso de RI da PUC Minas e de outros cursos parceiros, além de um corpo de docentes que
supervisionam e apoiam a organização do evento. À frente do projeto tem-se a Comissão
Organizadora, formada por um Coordenador Geral - cargo composto por um docente do DRI -,
funcionários, estagiários e voluntários, sendo os dois últimos compostos por alunos do curso. Os
documentos didáticos são revisados por professores capacitados do DRI, que garantem a qualidade
pedagógica do material. Posteriormente, o material se torna a maior referência para os estudantes que
participam do MINIONU, sendo também sua fonte de informações e preparo para os debates.
Desse modo, o MINIONU exige um alto nível de pesquisa acadêmica de sua equipe de
graduandos, evidenciando a conexão entre ensino, pesquisa e extensão. Isso proporciona uma
experiência disciplinar para os alunos do DRI. Assim, enquanto de um lado alunos de RI são
desafiados a coletarem informações e sintetizá-las de modo eficiente, alunos do Ensino Médio são
estimulados a interpretar de forma crítica essas informações, analisando-as e extraindo destes dados
formas de cooperar entre si.

3 COMITÊS E ÁREAS TEMÁTICAS

Nesta seção, trataremos sobre os comitês trabalhados na 23ª edição do MINIONU, seus
escopos pedagógicos e a forma como ocorrem suas construções. Para além disso, busca-se
compreender como os temas trabalhados no 23º MINIONU podem servir como mecanismos de
ensino e aprendizado e quais os desafios para a execução destes comitês.

3.1 Tecnologia e atualidades

Dentro da área de tecnologia, observa-se o desenvolvimento do Comitê Organização para


Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que simulará o tema “Os debates sobre o avanço da
EXTENSÃO PUC MINAS:
588 Novo Humanismo, novas perspectivas

Internet das Coisas (IoT) e do 5G e suas influências no aumento de ataques cibernéticos”


(MINIONU…, 2021). Esse tópico é importante pois, atualmente, países se apoiam no mundo
cibernético para compartilhar informações, armazenar dados, cooperar entre si e, até mesmo, podem
entender o ciberespaço6 como um ambiente passível de conflitos, realizando ataques por este meio
(FRIEDMAN; SINGER, 2014).
Em relação aos jovens estudantes, a segurança cibernética e as inovações tecnológicas se
mostram relevantes ao ponto que uma boa legislação representa acesso a processos educativos,
capacitação profissional e compartilhamento de informações (NO, 2021). No entanto, a execução do
tema apresenta desafios à equipe, pois o Comitê se mostra técnico e de complexa compreensão para
leigos. O 5G, o ciberespaço e a própria internet ainda são conceitos superficiais para pessoas cuja
formação técnica não compreende a área da informática. Desse modo, para que os delegados
consigam se relacionar de forma compreensível com o Comitê, há o esforço dos organizadores em
simplificar a linguagem utilizada, explicar os processos tecnológicos e, ainda mais, buscar referências
que descompliquem o entendimento do público geral em relação ao tema.
Por outro lado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) traz em pauta o tema
“Tensões entre Rússia e Ucrânia” (MINIONU…, 2021). O conflito, caracterizado como uma questão
de longo prazo que já havia rendido tensões em 2014, quando a Federação Russa anexou a Criméia,
se agravou durante o primeiro semestre de 2022, com a invasão russa ao território da Ucrânia. Desde
o dia da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, consequências decorrentes da situação entre os dois
países atingiram todo o mundo. De acordo com o FMI, a Ucrânia deve sofrer uma retração de 35%
em seu PIB em 2022, enquanto as previsões para a Rússia apresentam retração de 8,5%. Ademais, a
inflação global crescerá e o crescimento mundial diminuirá, graças aos abalos nos mercados de
commodities proporcionados pelo conflito (KAMMER, 2022).
Ainda, de acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refúgio
(ACNUR), até primeiro de abril de 2022, mais de 10 milhões de pessoas já haviam se deslocado
graças ao conflito (CHEFE, 2022). É possível perceber, então, que a situação se conecta
profundamente ao dia-a-dia de cidadãos em todos os locais do mundo. Assim, o Comitê encontra o
seu valor pedagógico para além de trazer um tema conjuntural de extrema relevância, altamente
noticiado nos últimos meses: será simulado em 3 sub-reuniões, uma em cada estágio do conflito, no

6
De acordo com Friedman e Singer (2014), o ciberespaço compreende, para além do ambiente virtual, o próprio aparato
físico que possibilita acesso à internet, sendo ele formado por cabos, fibras ópticas, computadores e processadores, bem
como o espaço virtual decorrente desse sistema material.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 589

qual os delegados terão que lidar com as consequências das decisões tomadas a cada novo dia de
sessões. Isso torna o modelo simulado mais dinâmico, contribuindo para o aprendizado ativo dos
delegados.
Em relação ao mercado de trabalho internacional, a 23ª edição do projeto trata acerca do tema
“A exploração e precarização trabalhistas ocorridas na indústria de animes e mangás no Japão”
(MINIONU…, 2021). Mangás e animes possuem escopo pedagógico, graças aos assuntos abordados
nas histórias, que podem conter desde um plano de fundo filosófico, até conceitos geográficos e
históricos. Para além disso, mesmo que as histórias não contenham referências diretas a assuntos
abordados em salas de aula, elas possuem a habilidade de trabalhar o imaginário7 racional e crítico
dos jovens (SOUSA et al., 2021).
Neste ponto, há um esforço, por parte da organização do MINIONU, em problematizar este
tema de modo a permitir que os jovens lancem um olhar mais crítico para o trabalho na indústria de
desenhos japoneses. Por isso, os materiais como guia de estudo e os dossiês de cada delegação se
tornam elementos essenciais da construção do Comitê, pois eles indicarão onde está o problema, e
fornecerão informações úteis para que os jovens estudantes possam, por meio de sua criatividade,
buscar propostas de melhorias na área.
Ademais, destaca-se o comitê Cúpula de Amã, que propõe uma discussão acerca da
consolidação da paz nos territórios de Israel e Palestina. Este conflito abordado remonta ao processo
de criação do Estado de Israel, em 1948, que foi legitimado pela resolução n° 181 da ONU, na qual
Israel e Palestina se viram prejudicados pela decisão de repartição do território entre duas nações de
características étnico-culturais distintas (ABU-EL-HAJ, 2014). Tendo em vista que o conflito ainda
se estende na atualidade, o Comitê é responsável por mobilizar e instigar discussões a respeito da fase
atual do conflito, de modo que os delegados presentes compreendam as principais motivações, bem
como adquiram noções de geopolítica por meio da metodologia de aprendizado didática do modelo
de simulação.

3.2 Política representativa e sustentabilidade

Nesta edição, contamos com o World Youth Forum (WYF), comitê que simula um fórum entre
Estados e organizações da sociedade civil, bem como seus membros para discutir sobre a inserção da

7
“o conjunto das imagens e relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens (...), o grande
denominador fundamental onde se vêm encontrar todas as criações do pensamento humano.” (DURAND apud SOUSA,
2021, p.51).
EXTENSÃO PUC MINAS:
590 Novo Humanismo, novas perspectivas

juventude em ambientes políticos formais, com foco em governos. A simulação acerca da juventude
na política mostra-se de extrema importância uma vez que, mesmo 23% da população brasileira sendo
composta por jovens entre 15 e 25 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, 2022),
este número ainda não é refletido nos espaços políticos formais (Tribunal Superior Eleitoral /TSE,
2021). Reconhecendo esta problemática, a ONU lançou o Índice da Juventude na Política, com o
objetivo de “verificar se os países ao redor do mundo estão abrindo espaços políticos, algo que vem
sendo exigido pelas gerações mais jovens” (ONU…, 2022). Dessa forma, em comitês como o WYF,
o jovem se coloca ao mesmo tempo como objeto e como ator, ou seja, a juventude estará ali discutindo
sobre a importância e necessidade da sua própria inserção na política, o que é de extrema urgência.
Há, ainda, o Comitê “27ª Conferência das Partes” (COP 27), o órgão mais alto da Convenção-
Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, que busca a inserção de mais atores para a além dos
Estados na discussão sobre mudanças climáticas. A COP 27 também se mostra uma poderosa
ferramenta para o ensino sobre clima e pautas sociais. Com o avanço das mudanças climáticas, é
inegável que uma das formas de conscientização para mudança é a educação.
A UNESCO estabelece o importante conceito de Educação para o Desenvolvimento
Sustentável (EDS), que é a “uma educação que contribui para que as pessoas pensem criticamente,
identificando elementos insustentáveis em suas vidas e na sociedade, e ajam por mudanças sociais e
ambientais positivas” (UNESCO, 2022, p. 36). Assim, o Comitê levanta uma importante questão
neste âmbito: quem são as pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas? Essas pessoas estão
majoritariamente situadas em países em desenvolvimento e estão em grupos sociais desprivilegiados.
Por isso, a discussão sobre racismo ambiental, refugiados climáticos, ecofeminismo etc. no âmbito
das simulações promove, mais uma vez, um aprendizado ativo no âmbito das EDS.
Ademais, há um Comitê que simula uma reunião da rede de cidades metrópoles para a atuação
de cidades para as mudanças climáticas, transformando-as em cidades inteligentes. Em uma forma
inovadora de debate, os alunos representam cidades. Assim, o Comitê promove a EDS de forma muito
palpável, uma vez que a questão climática é sentida diretamente em centros urbanos, com tendência
a agravamento, uma vez que a população urbana mundial cresce cada vez mais. Isso possui um grande
potencial de mudança para as cidades, pois embora seja um problema global, a questão das mudanças
climáticas nas cidades também pode ser pensada como um problema local, fazendo com que o vetor
de mudança do MINIONU seja tangível e passível de concretização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 591

3.3 Pautas identitárias e sociais

Os Comitês que se propõem a discutir temáticas identitárias e sociais estão em conformidade


com a noção de Educação em Direitos Humanos (EDH) proposta pela UNESCO. De acordo com o
“Programa Mundial para Educação em Direitos Humanos” da UNESCO (2012), a educação é um
mecanismo responsável pela promoção e viabilização dos direitos humanos nas sociedades e deve
contribuir, portanto, para o aumento da participação da sociedade civil nos processos de barganha.
Segundo o programa, esse objetivo seria alcançado a partir de uma série de ações e princípios,
como por exemplo “fomentar o respeito e a valorização das diferenças” (UNESCO, 2012, p.6). Para
esse fim, é de extrema importância que discussões identitárias estejam presentes no currículo e no
meio escolar como um todo (UNESCO, 2012).
A raça e a etnia são objetos de discussão de dois Comitês da 23ª Edição do MINIONU, sendo
eles o AGNU (2022), que aborda a promoção da segurança étnico-racial, e a Conferência de
Guadalajara (2022), que propõe um debate sobre o racismo e suas diferentes nuances no continente
americano. Essas proposições temáticas contribuem para a disseminação de conhecimento no âmbito
escolar, o que representa um meio de “promover a compreensão, a tolerância, a igualdade entre os
sexos e a amizade entre todas as nações, os povos indígenas e os grupos raciais, nacionais, étnicos,
religiosos e linguísticos” (UNESCO, 2012, p.4).
Esses valores são também alcançados pelos projetos conduzidos nos comitês CE (2021) e
CSW (2022), que tratam sobre a perseguição contra pessoas LGBTI+ no Leste Europeu e a violência
contra mulheres cis, trans e travestis na América Latina. Essas temáticas viabilizam discussões acerca
de gênero, sexualidade e discriminações baseadas nestas categorias. Essa discussão sobre essas
questões é fundamental para reflexões sobre o local que o “diferente” ocupa na sociedade, alinhada à
ideia de “educar para mudar o status quo, para questionar as desigualdades sociais, para ocupar seu
lugar no mundo e reivindicar” (MONTEIRO, 2017, p.9).
Tais questões estão presentes também no comitê UNESCO (2022), que trata sobre a
marginalização de estilos musicais, observando como a música produzida por certos grupos sociais
pode ser perseguida e deslegitimada. Isso está diretamente relacionado ao que foi colocado dos
demais Comitês, uma vez que essa marginalização tem o racismo e o preconceito de gênero como
algumas de suas origens. Assim, essa abordagem, tendo a música como objeto, contribuem para as
percepções dos estudantes de como as questões identitárias atravessam a cultura, favorecendo
questionamentos dessas desigualdades sociais. Ademais, surge a necessidade de criar um ambiente
EXTENSÃO PUC MINAS:
592 Novo Humanismo, novas perspectivas

inclusivo e respeitoso para essas discussões, considerando o uso de termos corretos e o envolvimento
de pessoas de grupos minoritários nas equipes que estão à frente dos comitês. Isso se dá porque os
participantes destes Comitês, por vezes, possuem ligação pessoal com a temática retratada.
Há também o Conselho de Direitos Humanos (2022) com o tema “As violações aos Direitos
Humanos ocasionadas pelos megaeventos esportivos”. A partir dele, os estudantes obtêm ferramentas
para entenderem como o esporte pode promover melhores condições de direitos humanos e de que
forma as comunidades esportivas podem contribuir para o fortalecimento desses direitos, o que vai
de encontro à proposta da UNESCO. Além disso, incentiva-se também a utilização de mecanismos
de ensino participativos para garantir um melhor envolvimento e, principalmente, para estimular a
posição de responsabilidade sobre a garantia e preservação dos direitos humanos, os colocando como
atores centrais na promoção desses direitos (UNESCO, 2012).

3.4 História e segurança

No que diz respeito às temáticas que os Comitês do 23° MINIONU abarcam, entende-se que
os históricos são responsáveis por promover e facilitar a viabilização de narrativas históricas nos
espaços de aprendizagem. Nesse sentido, as problemáticas propostas acerca de acontecimentos
passados são fundamentais para a compreensão da realidade, sendo assim, o passado se estabelece
como registros históricos de princípios e valores construídos e internalizados às sociedades. Dessa
forma, a história revela acontecimentos que conferem autenticidade à realidade, bem como é
responsável por nortear sociedades, fornecendo explicações aos eventos do presente (LEE, 2011).
Nessa perspectiva, inserido a essa temática, destaca-se o Comitê Centro de Comandos
Operacionais, que aborda a Guerra do Paraguai no marco temporal correspondente ao ano de 1866.
Esse Comitê admite uma dinâmica8 que difere das atividades de moderação tradicionalmente
adotadas no MINIONU, apresentando, portanto, uma proposta de incentivo ao planejamento
estratégico por meio da projeção do cenário similar ao da guerra. Sendo assim, o CCO (1866) se
propõe a simular as batalhas do Riachuelo, Tuiuti e Curupaiti, com delegações que representarão
comandantes da Tríplice Aliança e Paraguai. Infere-se, portanto, que o Comitê, fundamentado nas
discussões movidas pelo desejo de conquista da Bacia do Rio do Prata, se insere nas dinâmicas da

8
Por adotar uma dinâmica de Jogo de Guerra, o CCO se configura como uma ponte entre o presente e o futuro, capaz de
operacionalizar informações geográficas, ordem da batalha e até mesmo o seu potencial dinâmico, ou seja, a percepção
geral que os jogadores assumem sobre o jogo. Nesse sentido, essa dinâmica fornece um planejamento da operação da
guerra que é benéfico à compreensão histórica do acontecimento (DUNNIGAN, 1992).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 593

política internacional, ultrapassando as fronteiras transnacionais e se configurando como uma


temática relevante para a compreensão dos processos históricos da América do Sul (BETHELL,
2012).
Além disso, a 23° edição contempla a reunião da Organização dos Estados Americanos, que
propõe discussões a respeito da liberdade de expressão e a censura na América Latina em 1980. Nesse
sentido, entende-se que a temática abordada nesse Comitê se faz importante nas dinâmicas da política
internacional, à medida que os movimentos antidemocráticos repercutem na atualidade,
principalmente, nos governos latinoamericanos. Por expor uma problematização a respeito do
impedimento ao exercício da liberdade de expressão dos indivíduos, sob o contexto de censura e
repressão durante os regimes militares, nota-se que quaisquer formas de tratamento que desrespeitam
e degradam a dignidade humana são consideradas violações dos direitos dos indivíduos, que são
prerrogativas intangíveis, ou seja, não admitem nenhuma forma de transgressão (ONU, 1948).
Por fim, inserido nesse escopo temático, destaca-se o Comitê UNICEF que propõe discussões
a respeito das consequências do acidente de Chernobyl às gerações atuais, com um enfoque principal
à situação da população infantojuvenil no ano de 2016, 30 anos após a explosão da usina nuclear.
Este Comitê pretende instigar estudantes do E. F e E.M a refletirem sobre estratégias de atuação da
comunidade internacional frente à disseminação de partículas radioativas no leste europeu, que ainda
são responsáveis por contaminar os solos e apresentar ameaças à saúde das populações que vivem na
região (CCI, 2019).
Dessa forma, os Comitês Históricos do MINIONU se caracterizam como mecanismos
didáticos, dinâmicos e pedagógicos que visam a promoção da conexão entre acontecimentos passados
para a compreensão da realidade presente, bem como o desenvolvimento da capacidade analítica
desses eventos. Portanto, é notória a importância da promoção de assuntos de caráter histórico para
que os estudantes do E.F e E.M sejam capazes de compreender os principais acontecimentos
internacionais por meio das simulações, que são uma forma de metodologia de ensino que difere das
estratégias tradicionalmente aplicadas em escolas.

3.5 CINI

Além dos Comitês tradicionais, o MINIONU abarca comitês que compõem a estrutura externa
do projeto. Dentre estes, destaca-se o CINI, Comitê Internacional de Imprensa, que integra assuntos
de RI e Jornalismo, sendo responsável por promover a cobertura jornalística dos principais
EXTENSÃO PUC MINAS:
594 Novo Humanismo, novas perspectivas

acontecimentos durante o evento. Nesse sentido, o CINI se propõe a estimular que os delegados que
compõem o Comitê sejam capazes de realizar produções de materiais jornalísticos que serão
distribuídos ao público durante os dias de simulação. Para a disseminação de informações, utiliza o
jornal virtual, denominado Primal Times, como o principal mecanismo de veiculação de informações
aos participantes.
Nessa perspectiva, o Comitê de Imprensa se configura como uma ferramenta pedagógica9 que
combina estudos de RI e Jornalismo à Educação. Com isso, nota-se, portanto, a importância da
mobilização das atividades do comitê de imprensa, que se apresenta como um mecanismo para a
educação que propõe o desenvolvimento de habilidades de comunicação e utilização de mídias sociais
como ferramentas didáticas (EMPINOTTI; PAULINO, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das discussões realizadas, pôde-se perceber a relevância das temáticas debatidas no
MINIONU, de acordo com suas respectivas áreas, não só no que se refere ao aprendizado de
estudantes enquanto ferramenta pedagógica, mas também na formação de uma noção crítica da
realidade social. Ao incorporar papéis, os estudantes são atores diretos com poder de tomada de
decisão e transformação, o que faz com que tenham a capacidade e a autonomia de formular soluções
práticas que servem de inspiração e contribuem para sua formação cidadã. Todos os comitês do
projeto, conforme discutido ao longo do presente trabalho, são meios de produção de conhecimento
e instrumentos inclusivos e participativos para a aproximação com novas temáticas, formas de
discussão, realidades e desafios enfrentados pela sociedade.
Nesse sentido, entende-se que o MINIONU é um projeto de extensão que tem o seu projeto
pedagógico pautado no desenvolvimento e transformação de estudantes do Ensino Fundamental e
Médio, permitindo, portanto, que os jovens desenvolvam capacidade analítica de questões
internacionais por meio de uma metodologia de aprendizagem que difere da que é tradicionalmente
aplicada em escolas.

9
O CINI possui a responsabilidade social de preservar e transmitir o conhecimento verídico, contemplando, portanto,
uma dimensão socializadora que admite um espaço propício para o exercício da cobertura jornalística por adolescentes
interessados.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 595

REFERÊNCIAS

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SOUSA, D. V. de; BRUSSIO, J. C.; BARROS, M. de S. B.; OLIVEIRA, A. C. A. O MANGÁ
COMO UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA: Fullmetal Alchemist. Infinitum, [S. l.], v. 4, n. 6,
p. 43–68, 2021. Disponível em:
https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/infinitum/article/view/16942. Acesso em: 16 jun.
2022.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Estatísticas de filiados a partidos revela baixa
participação feminina e de jovens na política. 2022. Disponível em:
https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Junho/estatisticas-de-filiados-a-partidos-revela-
baixa-participacao-feminina-e-de-jovens-na-politica. Acesso em; 16 jun. 2022.
UNESCO. Educação para o desenvolvimento sustentável na escola. Tereza Moreira; Rita
Silvana Santana dos Santos. Brasília: UNESCO Brasília, 2022. disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375076?posInSet=1&queryId=632a561b-0b6c-4a0e-
8b65-c44ce12da56c. Acesso em 16 jun 2022.
UNESCO. Programa Mundial para Educação em Direitos Humanos. Brasília, 2012. Disponível
em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000217350_por Acesso em: 14 jun, 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 597

A contribuição da prática para a formação docente

Pietra Da Ros1
Rosemari Lorenz Martins2
Lovani Volmer3

RESUMO
Este trabalho trata da vivência da união entre ensino, pesquisa e extensão por parte da autora (1), graduanda do curso de
Letras, que, sendo bolsista integrada em um projeto de extensão, expõe o ciclo em que as práticas acontecem: a partir do
ensino na graduação aplicado na extensão, surgem hipóteses de pesquisa, as quais, após estudadas, promovem novas
atividades com a comunidade e propõem a revisão de técnicas e teorias que integram a formação acadêmica. Nessa
perspectiva, o caso apresentado relaciona ações ocorridas no projeto Centro de Educação em Direitos Humanos
(CEDUCA DH), em que ocorrem oficinas semanais de língua portuguesa para refugiados e migrantes, com o estudo de
variações fonológicas percebidas pela bolsista na fala dos beneficiados. Isso levou a uma pesquisa sobre a influências das
línguas maternas dos participantes em sua produção do português brasileiro. Esse estudo resultou em uma atividade sobre
os sons da língua-alvo dos migrantes para estimular a consciência e a percepção fonológica na aquisição da língua
adicional.

Palavras-chave: Aquisição de língua adicional. Indissociabilidade. Ensino, pesquisa e extensão. Fonologia.

The contribution of practice to teacher training

ABSTRACT
This work is about the experience of the union between teaching, research and extension by the author 1, graduating from
the course of Letters, who, being a fellow integrated in an extension project, exposes the cycle which the practices take
place: it starts from the teaching experienced in the undergraduate applied in the extension, from which arise research
hypotheses which, after studied, promote new activities with the community and propose the review of theories and
techniques that integrate the academic training. From this perspective, the case presented relates actions that occurred in
the Human Rights Education Institute (HREI) project, in which weekly Portuguese language workshops are held for
refugees and migrants, with the study of phonological variations perceived by the scholarship in speech of the
beneficiaries, with the study of phonological variations perceived by the scholarship in the speech of the beneficiaries,
which led to a research on the influences of the mother languages of the participants in their production of Brazilian
Portuguese. This study resulted in an activity on the target language sounds of migrants to stimulate phonological
awareness and perception in the acquisition of additional language.

Keywords: Acquisition of additional language. Indissociability. Teaching, research and extension. Phonology.

1
Graduanda de Letras — Português/Inglês. E-mail: pietradaros@icloud.com.
2
Doutora em Letras. Professora da FEEVALE. E-mail: rosel@feevale.br.
3
Doutora em Letras. Professora da FEEVALE. E-mail: lovaniv@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
598 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

É comum que, durante a graduação, um acadêmico de licenciatura questione sua competência


como docente. A palavra competência, conforme Machado (2006), é uma derivação próxima da
palavra competito, no sentido de competir e comparar resultados, gerando uma ideia de acordo ou
rivalidade. No latim tardio, é conduzida à competentia, que "remete à proporção, à justa relação, ou
à capacidade de responder adequadamente, em dada situação" (MACHADO, 2006, p.1).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96), que regulamenta o sistema
educacional do país, da educação básica ao ensino superior, determina que os aspectos qualitativos
prevaleçam sobre os quantitativos, no processo de avaliação de desempenho dos estudantes. Assim,
a qualidade do processo de ensino-aprendizagem deve ser aproveitada e, quando se trata do ensino
superior, o acadêmico deve ter incentivo e acesso a projetos e experiências profissionalizantes. É
dessa forma que, com o tão esperado diploma em mãos, os estudantes podem sentir a segurança de
uma atuação experiente e um currículo que a comprove. Para tanto, a Constituição Federal de 1988
exprime, no artigo 207, a necessidade da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão nas
instituições universitárias (BRASIL, 1988).
Nessa perspectiva, este relato propõe uma análise não apenas da formação acadêmica, mas da
docente, compreendendo a relevância da experiência para qualificar a prática. Nas palavras de Freire
(1996, p.22), “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima
prática”. Trata-se aqui, assim, de apresentar a visão de uma acadêmica em formação e de duas
docentes, uma extensionista e uma pesquisadora, a partir de âmbitos diferentes, com relação à
experiência de um estudo indissociado, que configura uma das possibilidades de formação acadêmica.
Dessa forma, são expostas evoluções, facilidades e dificuldades vivenciadas no período de atuação
de uma discente do curso de Letras Português-Inglês em um Projeto de Extensão que, posteriormente,
constituiu um Projeto Integrado, no qual ela atuou como bolsista e voluntária, na pesquisa e na
extensão.

2 PROJETOS "O MUNDO EM NH" E "CEDUCA DH"

Em 2015, o Vale dos Sinos/RS estava recebendo muitos migrantes. Em função disso, a
Universidade Feevale criou um projeto que teve início oficialmente em 2016, intitulado "O Mundo
em NH: refugiados e migrantes — uma questão de direitos humanos". A iniciativa compreendia as
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 599

necessidades de inserção social do público-alvo, ofertando oficinas semanais de Língua Portuguesa


e, em seguida, atividades de Psicologia, Direito, Realidade Brasileira e Fotografia. Além disso, os
beneficiados receberam um Cartão Feevale, que permitia o empréstimo de materiais e livros da
biblioteca universitária, além do uso gratuito do transporte da instituição.
Essas atividades, além de seminários, participações em congressos e demais atuações da
equipe e dos beneficiados, estenderam-se até 2020, quando, no ano seguinte, “O Mundo em NH”
ganhou um novo título como projeto integrado. Tornou-se, assim, o Centro de Educação em Direitos
Humanos — CEDUCA DH, que prosseguiu com as ações do título anterior.
No decorrer dos anos, as metodologias gerais do projeto tiveram alterações: deixou-se, por
exemplo, de realizar as oficinas aos sábados, migrando para as quartas-feiras, devido à compreensão
de que alguns beneficiados, em especial os provenientes do Haiti, seguem a religião adventista e são,
portanto, sabatistas, não podendo, dessa forma, participar de aulas nesse dia.
Quando a pandemia por Coronavírus (COVID-19) afetou os encontros presenciais que
ocorriam na universidade, em março de 2020, a logística teve que ser alterada. Um grande facilitador
para a mudança de planos foi o grupo, que já existia, com beneficiados e equipe do projeto em um
aplicativo de mensagens. Os migrantes, em sua maioria, possuíam telefones celulares e conexão
frequente à internet, uma vez que utilizam aplicativos de celular para manterem contato com suas
famílias e amigos que vivem em seus países de origem. Metodologias, relatos sobre a experiência de
pesquisa e extensão são retratadas nos itens seguintes.

3 A EXTENSÃO ALIADA AO ENSINO

Quando se fala em indivíduos beneficiados em um projeto de extensão, é necessário se


considerar o público-alvo; no caso de “O Mundo em NH”, refugiados e migrantes que vivem na
região do Vale do Rio dos Sinos/RS. No entanto, um parecer adequado incluiria a instituição de
origem e demais envolvidas, o meio acadêmico, a sociedade em um geral (considerando que, em
publicações e apresentações em congressos e eventos, há trocas de experiência que promovem análise
e desenvolvimento de outros projetos), professores que vivenciam as atividades e acadêmicos, sendo
bolsistas ou voluntários.
É de um grupo de estudantes, mais especificamente da graduação, que parte a análise aqui
registrada, entendendo que, antes de integrar o projeto e durante o período de atuação extensionista,
os acadêmicos seguem participando dasaulas na faculdade. A autora (1), estudante do curso de Letras,
EXTENSÃO PUC MINAS:
600 Novo Humanismo, novas perspectivas

inserida como professora bolsista de Língua Portuguesa em “O Mundo em NH”, relembra que,
mesmo estando no início de sua formação quando aplicou para o projeto, utilizou teorias, métodos e
práticas universitárias das aulas a que assistia para planejar as atividades na extensão. Nesse sentido,
disciplinas como Currículo, planejamento e avaliação, Teorias linguísticas e Aquisição de língua
estrangeira puderam ser vividas e estudadas em consonância.
O curso de licenciatura em Letras - Português/Inglês costuma trabalhar com os estudantes
várias maneiras de se tratar diversos níveis de ensino e conteúdos. Assim, abrange a Educação
Infantil, o Ensino Fundamental e os cursos de línguas, nos quais são lecionadas língua inglesa, língua
portuguesa e suas respectivas literaturas. No entanto, ao tratar de uma língua adicional, os contextos
mais comuns são: a) ensino de língua inglesa para falantes não-nativos que não vivem em países que
falam inglês; b) ensino de língua inglesa para falantes não nativos que vivem em países que falam
inglês e c) ensino de português para falantes que vivem em países que falam português. No projeto
“O Mundo em NH”, o desafio era outro: o ensino da língua portuguesa para migrantes provenientes
de locais que não têm o idioma como oficial, mas vivem no Brasil, onde o contato com a língua é
cotidiano.
É fato que cada indivíduo tem suas particularidades, e o mesmo ocorre com as turmas: não há
receita secreta, e as necessidades de cada grupo são diferentes, o que exige uma reinvenção constante
do profissional. Vivendo esse contexto, é possível promover debates com as turmas da própria
graduação, para que estratégias sejam desenvolvidas com base nos conteúdos estudados. Há, neste
processo, um suporte essencial: a orientação das atividades. No momento de planejar novas oficinas
para o projeto, acadêmica e professora (Da Ros e Martins), integrantes do Projeto, encontravam-se
para pensar nas práticas seguintes.
A interação entre o grupo de graduandos e os professores orientadores é um vínculo
fundamental para as atividades executadas, pois é a atenção ao desenvolvimento das tarefas que
fortalece o fazer docente de ambos. A criação de uma aula necessita da ponderação sobre três fatores
cruciais: passado, presente e futuro. Logo, parte-se do último encontro com a turma e avalia-se o
envolvimento dos alunos e seu rendimento. Se há pendências no que tange ao conteúdo, esse deve
ser revisto, buscando métodos diferentes de apresentação. A aula presente, que está sendo planejada
neste cenário, deve estabelecer um diálogo com a anterior e a posterior, não quebrando o assunto já
tratado, mas reinventando-o, e mais: aliando temáticas aos conteúdos.
Os assuntos escolhidos, sejam quais forem, compõem a necessidade prática que os alunos têm.
Logo, os discentes aprenderão vocabulários e questões gramaticais a partir do uso cotidiano e real. A
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 601

aula presente deve, assim, ter uma revisão do que se passou e uma introdução ao que virá na aula
futura. Essa análise, quando feita com suporte de um professor experiente, permite um olhar para
novas práticas que é levado para a vida profissional do graduando, que carregará, depois de formado
— termo genérico, apesar de compreender-se que todos estão em constante (trans)formação — não
apenas o diploma, mas um fazer consistente e mais preparado para as complexidades da docência.

4 A PESQUISA A PARTIR DA PRÁTICA

Durante o planejamento, bolsista e orientadora puderam pensar nos passos seguintes. As aulas
poderiam ter coletas de dados que contribuíssem para estudos específicos da área. Em um desses
casos, uma fábula foi vista pela turma — cada migrante esteve responsável pela leitura de um dos
parágrafos e, com permissão, áudios desse momento foram gravados. Em uma análise, foram
selecionados três homens, de mesma faixa etária, provenientes da Turquia, da Venezuela e do Haiti,
a fim de estabelecer relações entre suas línguas maternas e as produções orais na leitura do texto em
português brasileiro (doravante PB).
Essa pesquisa foi feita, mas percebeu-se uma dificuldade de identificação dos processos
fonológicos ocorridos nas gravações por se tratarem de parágrafos diferentes, não havendo
comparação adequada entre as produções. Além disso, por ser apenas um parágrafo de leitura, os
participantes estavam mais concentrados em ter pronúncias com o sotaque amenizado e foram mais
cuidadosos com as tonicidades e sons que produziam. Nesses casos, o estudo do vernáculo não é uma
possibilidade, mas uma leitura menos criteriosa poderia gerar pesquisas mais avançadas.
Considerando esses fatores, uma nova coleta de dados foi realizada, meses depois. Para essa
segunda pesquisa, que ocorreu durante o período de pandemia, enquanto as oficinas aconteciam de
forma remota, três migrantes foram contatadas por um aplicativo que permite troca de mensagens e
ligações. As mulheres, do Haiti, da Colômbia e da Palestina, enviaram, individualmente, áudios em
que liam o mesmo texto: A foto, de Luis Fernando Veríssimo. Sendo a mesma leitura para todas e
tendo mais extensão de escrita, as duas dificuldades percebidas na análise anterior, realizada com os
homens, foram evitadas.
Os estudos que integraram a investigação foram extensos, incluindo os dados dos sistemas
fonológicos do francês, do crioulo haitiano, do espanhol e do árabe, a fim de contemplar os
conhecimentos prévios das participantes. Também ocorreu um aprofundamento nos processos da
EXTENSÃO PUC MINAS:
602 Novo Humanismo, novas perspectivas

fonologia envolvidos nas produções de som de cada leitura, fator essencial para a realização da
pesquisa. Ao final, os resultados foram publicados em parcelas, tamanha era a riqueza dos dados.

5 A PRÁTICA A PARTIR DA PESQUISA

Com base nas pesquisas realizadas, muitos fatores que dizem respeito às interferências
interlinguísticas da língua materna na produção do PB foram percebidos. Um exemplo se refere aos
sons das vogais que, são representados por sete fonemas, além de /ɐ/, quando aliado às grafias m, n
ou nh, de acordo com o alçamento vocálico de Câmara Jr. (1977), ao passo que o espanhol possui
apenas cinco representações sonoras de vogais, o que resulta na percepção do sotaque.
Ao perceber facilidades e dificuldades por meio dos estudos, foi possível criar o planejamento
de uma oficina com enfoque nos sons do PB. Em um encontro com jogos, exemplos e análises da
turma em relação à assimilação dos sons que recebiam e produziam, algumas complexidades foram
amenizadas. Em um grupo em que o ensino da língua também representa acolhimento, crianças,
adolescentes e adultos puderam brincar de construir a frase-resultado da aula: "Estou apaixonado pela
bela vela". Estas cinco palavras representam, no mínimo, quatro lições debatidas: i) um dos sons da
letra "x"; ii) a relação da neutralização ou do alçamento da vogal "e", que é diferente, por exemplo,
em pela e vela; iii) a diferença dos fonemas /p/ e /b/, em pela e bela, mais complexos para falantes
árabes; e iv) a discrepância dos fonemas /b/ e /v/, em bela e vela, que, semelhantes aos ouvidos de
hispano-falantes, foram distinguidos a partir da percepção fonética da produção.
Dessa maneira, o que foi pensado, planejado e coletado em sala de aula direcionou-se à
pesquisa que, em contrapartida, contribuiu para o processo de ensino-aprendizagem após analisada.
É assim, de maneira cíclica e indissociável, que a academia, a comunidade, os professores e os alunos
fortalecem vínculos e são beneficiados, pessoal e/ou profissionalmente. Ainda, em retorno, os alunos
expuseram o impacto do encontro: um homem da Venezuela afirmou que, a partir da percepção que
passou a ter dos sons que emitia, teve facilidades de comunicação, ideia compartilhada também por
um homem do Senegal e uma mulher da Palestina, falantes de árabe.
É relevante frisar que o chamado "sotaque" carrega consigo a identidade e a cultura de origem,
e, portanto, a intenção não é que seja inexistente, mas que as atenuações propostas facilitem as trocas
que ocorrem no dia a dia, reduzindo o número de casos de desentendimentos como o que uma mulher
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 603

colombiana afirmou ter passado ao procurar por uma loja de marcas denominada Zara — no entanto,
o som /z/ não integra o sistema fonológico do espanhol, fazendo soar como "Sara" e gerando a falta
de compreensão.
Assim, identificando influências interlinguísticas na fala de migrantes durante as atuações no
projeto de extensão, a acadêmica pode seguir suas pesquisas na área da fonologia a fim de não apenas
aprender mais sobre as questões que envolvem os processos fonológicos, mas também retornar os
resultados obtidos com a comunidade, em uma relação benéfica a todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vivência acadêmica integrada aqui exposta indica como se enlaçam os pilares universitários
de ensino, pesquisa e extensão. Nesse caso, a bolsista que vivenciou a indissociabilidade partiu do
conteúdo visto nas aulas da graduação em Letras para identificar questões que percebeu em suas
práticas extensionistas e as quais motivaram hipóteses posteriormente pesquisadas.
Esse processo é cíclico, uma vez que as questões fonológicas identificadas pela acadêmica no
projeto extensionista, em que atuava ministrando aulas de português para migrantes, não apenas
foram publicadas, contribuindo para os conhecimentos de pesquisa da graduanda e podendo embasar
outras produções científicas, como também aliaram-se novamente à extensão, quando, ao utilizar-se
de planejamentos com os quais teve contato no ensino da graduação, promoveu uma atividade com
os estrangeiros para estimular sua consciência fonológica e amenizar variações presentes na produção
do PB, possibilitando uma compreensão dos sons da língua-alvo.
Essas experiências contribuíram, nesse sentido, para a formação docente da universitária,
preparando-a para sua atuação futura a partir de uma visão integrada.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Senado Federal. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília: Senado


Federal, Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BRASIL.
CAMARA JR, Joaquim M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 197
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.
MACHADO, Nílson José. Sobre a idéia de competência. As competências para ensinar no século
XXI. Porto Alegre: Artmed, 2006.
EXTENSÃO PUC MINAS:
604 Novo Humanismo, novas perspectivas

Relato de Experiência do Projeto de Extensão Pensamento Nômade:


as interlocuções entre a arte e a extensão

Ketlin da Fonseca de Siqueira1


Fabiane Olegário2

RESUMO
Esta escrita objetiva relatar as ações de cunho artístico que são desenvolvidas por meio do Projeto de Extensão
Pensamento Nômade, vinculado ao Programa Arte, Estética e Linguagem da Universidade do Vale do Taquari – Univates.
As ações do Projeto são destinadas às crianças e aos adolescentes de três comunidades parceiras, que integram a Sociedade
Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (SLAN), localizadas no município de Lajeado / RS. Para o
desenvolvimento das ações, o projeto conta com a bolsista, os voluntários e a professora coordenadora, que juntos
elaboram oficinas envolvendo a arte, objetivando a formação ético-estética dos participantes. O Projeto utiliza como
procedimento metodológico oficinas que são desenvolvidas, uma vez a cada semana, em uma comunidade diferente. Para
a elaboração das oficinas, acolhe as demandas das comunidades e entende que, nesse processo, tanto a Universidade,
quanto as comunidades são beneficiadas pelas ações extensionistas, pois, mediante a interlocução entre essas instituições,
possibilita aos envolvidos outras formas de pensar e se relacionar com o mundo. A arte como ponto de partida das oficinas
se constitui como uma importante ferramenta pedagógica, visto que amplia percepções, proporciona ressignificações de
si e do contexto de modo crítico e sensível.

Palavras-chave: Arte. Crianças e Adolescentes. Ações de extensão. Universidade.

Experience Report of the Nomad Thought Extension Project:


the use of art as a pedagogical tool

ABSTRACT
This piece aims to report on the artistic and cultural actions that are developed through the Pensamento Nômade Extension
Project, linked to the Art, Aesthetics and Language Extension Program of the University of Vale do Taquari - Univates.
The actions are aimed at children and adolescents from three partner communities, linked to the Lajeadense Society for
Child and Adolescent Care (SLAN), located in the municipality of Lajeado / RS. For the development of actions, the
project counts on the scholarship holder, the volunteers and the coordinating professor, who together prepare workshops,
thus offering ethical-aesthetic training to those involved through the exchange of different knowledge, providing dialogue
between the University and the Community. In this way, this text shows that both the communities and the University are
benefited through extension actions, because, through the dialogue between these institutions, it allows those involved to
other ways of thinking and relating to the world. In short, the use of art as a pedagogical tool, in the classroom, broadens
perceptions, provides resignifications and strengthens social interaction, in which everyone works effectively.

Keywords: Art. Children and Adolescents. Extension Actions. University.

1
Graduanda em Psicologia, bolsista do Projeto de Extensão Pensamento Nômade. E-mail:
ketlin.siqueira@universo.univates.br.
2
Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação. Coordenadora do Projeto de Extensão Pensamento Nômade. E-mail:
fabiole@univates.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 605

INTRODUÇÃO

O Projeto de Extensão Pensamento Nômade da Universidade do Vale do Taquari – Univates


tem como objetivo contribuir para uma formação ético-estética por meio de oficinas envolvendo a
arte. Tais oficinas são desenvolvidas com crianças e adolescentes de três comunidades parceiras
localizadas no município de Lajeado/RS.
As ações extensionistas são planejadas de modo a atender as demandas das comunidades
parceiras, expressas pela via do diálogo e articuladas aos objetivos do Projeto. A prática do diálogo
entre a Universidade e as Comunidades parceiras afasta a concepção de assistencialismo, na medida
em que prima pela interlocução de saberes. Em outras palavras, através das práticas de extensão,
buscamos promover a desconstrução e construção de saberes que perpassam o campo do vivido, ou
seja, ocorrem para além do acadêmico.
Desse modo, o Projeto de Extensão reconhece a importância do diálogo entre os saberes da
comunidade e da Universidade, uma vez que a troca de saberes e experiências é fundamental na
formação dos sujeitos envolvidos nas ações extensionistas. Destacamos que o envolvimento dos
acadêmicos com as realidades locais promove atitudes de empatia, solidariedade e, sobretudo,
desenvolvem o exercício de escuta e atenção ao outro. Assim, a partir das ações de extensão, a
formação do acadêmico é ampliada, visto que à medida que o acadêmico acessa à comunidade,
desenvolve a compreensão de mundo, para além dos saberes curriculares.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As atividades desenvolvidas nas oficinas mostram que diferentes saberes acadêmicos são
articulados com os saberes das comunidades. A arte, por sua vez, toma uma dimensão central no
Projeto, pois é por meio dela que elaboramos as oficinas, partindo do princípio que o fazer artístico
mobiliza de forma genuína o pensamento, porque entendemos que “o campo da arte não existe para
produzir objetos. A arte é um campo do conhecimento onde se colocam e resolvem problemas, é o
lugar onde se pode especular sobre temas e relações que não são possíveis noutras áreas do
conhecimento” (CAMNITZER, 2011, p.34). A formação baseada em práticas artísticas só pode ser
produzida por meio de experimentações do pensar implicadas sobretudo com/na vida dos sujeitos que
priorizam o processo dialógico no fazer extensionista.
EXTENSÃO PUC MINAS:
606 Novo Humanismo, novas perspectivas

De acordo com Freire (2015, p. 47), a relação da extensão busca o “diálogo com aqueles que,
quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em
saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais”. Nesse sentido, tanto a Universidade, quanto
as comunidades são afetadas por meio da extensão, sobretudo no que tange aos processos de ensino
formal e não formal, pois a aproximação desses espaços possibilita aos sujeitos experimentarem
outras formas de dialogar e pensar o mundo no qual estão inseridos por um viés mais artístico e,
sobretudo, mais humano.
No Projeto de Extensão Pensamento Nômade, as crianças e os adolescentes têm contato com
a arte — compreendida para além da técnica e do belo —, muito importante na vida de qualquer
pessoa, especialmente na fase de formação da criança e do adolescente. Tal importância conferida à
arte se dá na medida em que ela amplia o repertório cultural do indivíduo, tornando-o mais crítico e
sensível para as situações do cotidiano.

3 O PENSAR NÔMADE

Toma-se a noção de nomadismo, a partir de Deleuze e Guattari (1997), para pensar o referido
projeto de extensão. O pensar nômade, para tais filósofos da diferença, consiste no movimento do
pensamento como uma máquina de guerra, um pensamento múltiplo que se aproxima da vida, ao
mesmo tempo em que se distancia da metafísica e da filosofia da representação. Nesse sentido, o
nomadismo é uma prática de intensidades poéticas que potencializam a vida e produzem novas
subjetividades. Contudo, só há uma postura nômade quando existe a capacidade de criar novos
territórios de agenciamento.
A imagem do nômade incide em andarilhar por terras desconhecidas, sem se fixar, sem buscar
um rumo pré-estabelecido, pois “o nômade não tem pontos, trajetos nem terra, embora evidentemente
ele os tenha” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.53). À deriva, o nômade move-se intensivamente
sem ter aonde chegar. Move-se por mover-se; move-se por compreender que a vida é movimento.
Não percorre um movimento em direção a outro lugar, mas torna esse lugar outro. “A vida do nômade
é intermezzo”, dizem Deleuze e Guattari (1997, p. 51). Dessa forma, “o nômade habita esses lugares,
permanece nesses lugares, e ele próprio os faz crescer, no sentido em que se constata que o nômade
cria o deserto tanto quanto é criado por ele” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.53).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 607

Se, por um lado, a noção de nomadismo é o que dá movimento ao projeto de extensão


Pensamento Nômade, por outro, compreende-se que nomadizar nos espaços de educação é criar
condições para fazer desse espaço um lugar aberto ao pensar, tomando-o como um território de
reinvenção. É torná-lo um espaço de experiência e movimento para além das estruturas e dos
territórios fixos no qual o pensamento costumeiramente tende a se instaurar ou para o qual as
memórias longas sedentarizaram um certo conjunto de práticas e de significações.

4 METODOLOGIA

O Projeto de Extensão Pensamento Nômade, vinculado ao Programa de Arte, Estética e


Linguagem da Universidade do Vale do Taquari – Univates, elabora oficinas envolvendo a arte, a
imaginação e o potencial criativo das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos, em três comunidades
parceiras, vinculadas à Sociedade Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (SLAN),
localizadas no município de Lajeado/RS.
Os encontros com as crianças e adolescentes se dão semanalmente, em um período de
aproximadamente duas horas, totalizando, ao final do semestre, em torno de quatro a cinco encontros
em cada comunidade. Para isso, o planejamento das ações ocorre uma vez ao mês e é aberto para os
acadêmicos interessados em participar do Projeto. As propostas são desenvolvidas pela bolsista sob
a orientação da professora coordenadora do Projeto.

Figura 1 – Oficina do desenho e o respeito às diferenças

Fonte: Acervo dos Autores.


EXTENSÃO PUC MINAS:
608 Novo Humanismo, novas perspectivas

Dentre as práticas desenvolvidas, podemos destacar as oficinas envolvendo a criatividade e


imaginação para a elaboração de desenhos e poemas, práticas corporais através do alongamento e
coreografias, brincadeiras para exercitar o espírito de equipe, colagens para demonstração de
sentimentos e emoções, manuseio de câmera fotográfica.
Na imagem 1, mostra-se um momento da oficina do desenho com as crianças e os
adolescentes. Nessa atividade, tinham que circular pela SLAN e encontrar os objetos e desenhar da
forma que queriam. Após, foi passado um vídeo sobre o respeito às diferenças e uma roda de conversa
para refletir sobre a opinião das pessoas em relação ao tema dos desenhos realizados, pois cada
criança escolheu seu desenho, diferentes em tamanho e ângulo, mas o objetivo era saber aceitar a
diversidade e viver em harmonia com ela, pois é indispensável em uma sociedade tão plural como a
nossa.

Figura 2 – Oficina da de roda de conversa sobre sentimentos e emoções

Fonte: Professora referência da SLAN Lar da Menina, 2022.

Na imagem acima, há um momento da oficina dos sentimentos com as crianças e os


adolescentes. Nessa ação, eles precisavam ver qual era seu estado de espírito, após recortar imagens
que mostravam paisagens, cidades, animais ou pessoas que demonstravam o mesmo sentimento e,
assim, recortar e colar em uma folha de desenho. Em seguida, realizamos uma roda de conversa em
que as crianças diziam o que estavam sentindo, porque escolheram a imagem e se permanecia esse
sentimento.
A bolsista, além de ministrar as oficinas com o auxílio da professora coordenadora, também
propõe atividades e desenvolve as ações do Projeto; divulga nas redes sociais dos projetos da
Universidade; participa e organiza as reuniões do Projeto para capacitação de voluntários,
planejamento das oficinas e rodas de conversa com os professores da Sociedade de Atendimento à
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 609

Criança e ao Adolescente; registra as ações do Projeto através de atas e relatórios que após devem ser
anexados no ambiente virtual dos projetos de extensão; divulga as ações do Projeto em eventos
científicos internos e externos à Universidade e contata as professoras das comunidades parceiras, no
que tange à organização da oficina.
Figura 3 – Bolsista auxiliando os adolescentes na oficina do desenho

Fonte: CARLETTO, 2022.

5 DISCUSSÃO E RESULTADOS

No projeto, enfatizamos a importância de um olhar atento para as ações desenvolvidas,


priorizando propostas em que as temáticas demandam, da criança e do adolescente, empatia, escuta e
atenção ao outro. O projeto realiza avaliações sem o intuito de mensurar o conhecimento das crianças
e sim perceber como está o impacto dessas ações. Essas avaliações são elaboradas de diferentes
formas, tais como questionário, enquetes e avaliação em forma de desenho.

Figura 4 – Exemplo de avaliação realizada após cada oficina

Fonte: Acervo dos Autores, 2022.

Além disso, ao final de cada semestre, é realizada uma roda de conversa com as professoras
dos três Centros da Sociedade Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (SLAN) para
saber sobre o que acharam das propostas realizadas ao longo dos meses, além de mudar ou acrescentar
EXTENSÃO PUC MINAS:
610 Novo Humanismo, novas perspectivas

sugestões para as próximas ações. No que tange à relevância das ações do Projeto nas comunidades,
pode-se afirmar que as práticas desenvolvidas com as crianças vão para além do que está posto no
planejamento, os encontros são permeados pela escuta e por um olhar atento às realidades de cada
comunidade.
Desse modo, o projeto reconhece a importância da interlocução entre os saberes da
comunidade e da Universidade, uma vez que essa troca é fundamental na formação dos sujeitos
envolvidos, visto que o envolvimento com as realidades locais promove atitudes de empatia e
solidariedade. Além disso, as crianças e adolescentes sempre estão dispostos a participar de qualquer
atividade sugerida para o momento.

Figura 5 – Alongamento guiado pela bolsista para trabalhar a


coordenação e equilíbrio das crianças e adolescentes

Fonte: Coordenadora do Projeto de Extensão, 2022.

Para a bolsista o Projeto de Extensão, contribui para sua trajetória acadêmica, pois consegue
colocar em prática o conhecimento aprendido durante a graduação e assim adquire experiência,
enquanto presta um serviço às comunidades parceiras. Como estudante de psicologia, a bolsista
consegue colocar em prática o acolhimento, a escuta e a empatia com o próximo, pois o projeto de
extensão articula a prática do conhecimento científico do ensino e da pesquisa com as necessidades
da comunidade onde a universidade se insere, interagindo e transformando a realidade social.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 611

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que as ações de cunho ético, estético, artístico e cultural, desenvolvidas pelo
Projeto, acarretam de maneira significativa na formação acadêmica e pessoal dos envolvidos, visto
que são compartilhados diversos saberes, tanto entre os acadêmicos (bolsistas e voluntários) e os
professores da Universidade, quanto para as crianças e aos adolescentes das comunidades parceiras,
através das oficinas desenvolvidas no Projeto.
Também acreditamos que as ações extensionistas são de extrema relevância para as
comunidades, pois consideramos que as oficinas relacionadas à expressão artística e à ampliação do
repertório cultural contribuem na formação do sujeito, que, por sua vez, refletem na comunidade e
também nos processos formativos do acadêmico.

REFERÊNCIAS

CAMNITZER, Luis. O artista, o cientista e o mágico. Tradução de George Bernard Sperber,


2011. Disponível em:
https://www.academia.edu/27476774/O_Artista_o_cientista_e_o_m%C3%A1gico. Acesso em: 05
abr. 2022.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 5. São
Paulo: Ed. 34, 1997.
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
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612 Novo Humanismo, novas perspectivas

Extensão Universitária: intercâmbios que fazem a diferença

Vinícius da Silva Martins1


Quetlin da Silva Silveira Apolinário2
Samuel Garcia da Silva Junior3
Silemar Maria de Medeiros da Silva 4
Amalhene Baesso Reddig5

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os impactos da extensão universitária sobre as pessoas a quem ela
atende, trazendo à tona a experiência de três bolsistas extensionistas unidos pelas conquistas de um projeto. Dialogando
com a extensão e com a cultura popular e evidenciando a necessidade de estabelecer contato com a comunidade, serão
apresentados três relatos de diferentes pessoas que integram hoje o projeto de extensão Boi de Mamão na Comunidade:
Intercâmbios Culturais que Fazem a Diferença da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.

Palavras-chave: Boi de Mamão. Extensão. Cultura Regional. Experiência. Formação de professor.

Education Outreach: interchanges that make the difference

ABSTRACT
The present academic work has as its goal to present impacts of the education outreach over the people it attends to,
bringing up the experience of three academics united by the success of an outreach project. Talking to the community and
the popular culture and showing the need for to have contact with the society, it will be shown three stories of three
different people who compose an outreach project called Boi de Mamão na Comunidade: Intercâmbios Culturais que
Fazem a Diferença of UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense.

Keywords: Boi de Mamão. Outreach. Regional Culture. Experience. Teacher Graduation.

INTRODUÇÃO

Como contar uma experiência de três bolsistas em um projeto de extensão que se fazem, hoje,
aprendizes de professores de arte e de cultura? Trata-se de uma escrita com muitas mãos: as que

1
Graduando do curso de licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul catarinense – UNESC. E-mail:
vinimartins@gmail.com.
2
Graduando do curso de licenciatura em Letras da UNESC. E-mail: quetysilva22@gmail.com..
3
Graduando do curso de licenciatura em Artes Visuais da UNESC. E-mail: samuel.el.jr@gmail.com.
4
Mestre em Educação, Professora do Curso de Artes Visuais e Pedagogia da UNESC. E-mail: profsila@unesc.net
5
Mestre em Educação, Professora do Curso de Artes Visuais da UNESC. E-mail: abr@unesc.net.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 613

vivenciaram as experiências aqui relatadas e as que as acompanham, orientam e aprendem com cada
parte desta história narrada em forma de relatos pessoais que se encontram na coletividade de um
grupo que se une pelo diálogo com o Boi de Mamão.
Um dos objetivos da Extensão é estar em contato com a comunidade, e Carvalho (2019) traz
a ideia de que, se a experiência é uma troca de saberes, a Extensão é uma troca de experiências e o
projeto a ser apresentado teve grandes impactos sobre as pessoas que com ele se envolveram e se
envolvem. Portanto, faz parte desta escrita, dialogar com essas experiências proporcionadas ao
público, trazendo à tona histórias de três extensionistas do projeto Boi de Mamão na Comunidade da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
Trazer os relatos de acadêmicos que fizeram opção pela licenciatura, em específico os cursos
de Letras e de Artes Visuais, da UNESC, nos permite perceber melhor o quanto a extensão é um
elemento fundamental para a formação de jovens que se fazem professores de arte e de cultura. A
extensão apresentou, para esses jovens, um mundo que até então desconheciam. Essa história passa
por momentos diferentes nas vidas de diferentes pessoas que se unem hoje a partir do projeto Boi de
Mamão. Uma escrita por muitas mãos, e que, em determinados momentos, evidencia relatos na
primeira pessoa, como os que serão apresentados, salientando a Extensão na vida dos participantes.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O trabalho vaga muito pela união entre arte e cultura popular, imprescindíveis à sociedade, e
que atuamos sem a necessidade de definições concretas sobre elas. Laraia (1932) nos apresenta um
conceito de cultura baseado na antropologia, trazendo a ideia de que a cultura é humana, mas não
biológica, pois nasce da interação entre os homens, enquanto Franklin e Aguiar (2018) analisam a
construção do conceito de cultura popular através da história e de análise do folclore.
A dúvida que nos resta é: como podemos atuar através de conceitos tão incertos ou ainda em
construção? Carvalho (2019) nos leva a pensar na extensão como uma forma de buscar, na experiência
do contato com a comunidade, respostas empíricas para essas questões, isto é, nos alegando um
conhecimento baseado em verdades a posteriori, dizendo que os projetos de extensão “retratam troca
de saberes, pelas quais o aluno aprofunda seu conhecimento, impactando a comunidade atendida ao
ofertar habilidades, e é recompensado com experiências transformadoras em seu olhar, seu sentir e
seu pensar” (CARVALHO , 2019, p. 11).
EXTENSÃO PUC MINAS:
614 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 METODOLOGIA

Quando pensamos esta escrita a qual chamamos de “Extensão Universitária: intercâmbios que
fazem a diferença”, fomos alinhando possibilidades de melhor perceber as possíveis diferenças que
iríamos trazer. Os pensamentos foram se estruturando a partir dos encontros no próprio exercício da
escrita, como um ir e vir de depoimentos que justificariam a ideia de “fazer a diferença”. O caminho
foi mostrando o percurso seguido. Nessa direção, fomos construindo uma cartografia enquanto
fazíamos opção pelos depoimentos dos bolsistas do próprio projeto, os que aqui também se fazem
autores. Optamos assim pela A/r/tografia, enquanto uma metodologia de pesquisa, uma vez que a
compreendemos como “uma forma de investigação PBR que abrange as práticas do artista, do
educador e do pesquisador” (IRWIN, 2013, p. 28).
Tomamos a experiência dos três bolsistas extensionistas como relatos que revelam o papel da
extensão em suas vidas pessoais e profissionais. Foram depoimentos que se caracterizam como “uma
forma relacional de investigação que busca a produção de significados, a compreensão e criação de
conhecimentos. As questões relacionais estão em todos os aspectos de a/r/tografia.” (idem, p. 31). Os
relatos foram produzidos pelos bolsistas, convidados pelas coordenadoras a essa contribuição, depois
de surgir a ideia no coletivo. Estes prontamente aceitaram o desafio e evidenciam a formacomo esse
projeto fez (ou faz) a diferença no seu percurso formativo.

3.1 Quetlin da Silva

Minha trajetória no Boi de Mamão começou em 2013, quando o Projeto de Extensão Boi de
Mamão na comunidade elegeu a Escola de Ensino Básico Governador Heriberto Hulse
(E.E.B.G.H.H.) para ser a primeira escola a ser contemplada. A professora Silemar incentivou várias
turmas para ajudar na criação desse folguedo. No início, parecia bem estranho, mas ela foi capaz de
nos incentivar e animar para a construção do folguedo. As próximas semanas foram de construção de
personagens e da música, mesclando todas as turmas envolvidas. Tive mais envolvimento na música
junto a outros alunos, mas foi a primeira vez que me senti uma compositora.
Desde pequena, eu amava música, adorava cantar e escrever e essa foi minha primeira
oportunidade como cantora e compositora, a semente que me plantou como produtora cultural. Ajudei
a compor alguns versos, a tocar a batida e, após algumas semanas, o boi estava vivo e dançando. Eu
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 615

era muito tímida, não sentia que tinha papel para mim, então fiquei na cantoria, sempre encolhida
atrás dos demais integrantes.
Nossa primeira apresentação foi para a escola. Os alunos se reuniram e fizemos um ensaio
aberto apresentando aquilo que levamos semanas para construir. Cada fuxico costurado, cada
lantejoula colada, tudo foi esforço de alunos empenhados em uma cultura que nem sabiam o quão
grande era. Dançar no Boi de Mamão me deixou confiante. Em 2015, comecei a me soltar mais,
participando das gincanas da escola com apresentações musicais, me envolvendo mais e ajudando
nas apresentações. Mas, em 2016, quando a turma mais velha que ajudou a criar, o Boi se formou,
novas vagas foram abertas.
Assim, eu comecei a atuar como a narradora. Nesse ano, houve poucas apresentações, pouca
movimentação dos alunos que não conheciam o boi. Então, tornou-se difícil mantê-lo dançando com
poucos integrantes; mas, no ano seguinte, em 2017, as coisas mudaram. Os alunos novos foram
incentivados pela escola a participar e logo novos integrantes chegaram, voltamos com os ensaios e
apresentações. Eu fazia o papel da narradora e me tornei uma das três pessoas que guiavam os ensaios
e organizava os materiais para as apresentações.
Com o tempo, aquilo não era mais um projeto de uma sala de aula, era a paixão dos alunos,
com as datas dos ensaios combinadas e dirigidos sem o auxílio de um professor, o que trouxe, além
do aumento de nossa paixão pela cultura o Boi de Mamão, um pouco de responsabilidade. Os ensaios
eram organizados pelos alunos, o diretor da escola confiava no grupo e permitia os ensaios frequentes
mesmo sem aviso prévio, pois sabia que podia confiar nos alunos, ou melhor, no grupo folclórico que
a escola se tornou. Ao longo de 2018, fizemos várias apresentações, participando de eventos e
representando a escola como um grupo folclórico, não mais como apenas um grupo escolar.
Recebemos convites para eventos de fora além de participar de alguns encontros de Boi de
Mamão organizados pela UNESC; um grupo que começou em uma sala minúscula de artes foi se
tornando um grande grupo folclórico, reconhecido pelas cidades da região. Já em 2019, tivemos a
oportunidade de ajudar na construção do Boi de Mamão da Casa da Fraternidade em Araranguá, em
que a música usada até hoje é de minha autoria, conseguindo encantar novas crianças como fizeram
com a gente. Minha experiência com o projeto não acabou mesmo depois que me formei. Conheci o
Vinicius da Silva Martins, meu atual marido, na escola em 2017, o incentivei a entrar no Boi de
Mamão e eu soube que fiz a coisa certa quando após formados, ele decidiu trabalhar com isso.
Em 2020, em plena pandemia, meu marido e eu criamos juntos um grupo folclórico, nosso
próprio grupo, o Cultura Mamoeira. Fomos contemplados pela lei Aldir Blanc/2020 e, ao longo de
EXTENSÃO PUC MINAS:
616 Novo Humanismo, novas perspectivas

2021, realizamos mais de 20 apresentações pelas escolas da região, mostrando as crianças uma nova
versão do Boi de Mamão, a versão em fantoches, mas utilizando o mesmo enredo convencional.
Nesse mesmo ano, iniciei a faculdade de Letras, escrevi mais 4 músicas para escolas e instituições,
além de ser voluntaria do Boi de Mamão da Casa da Fraternidade. Graças ao projeto de extensão, me
descobri artista, descobri uma paixão pela cultura popular que vou levar para o resto da vida, hoje
não imagino minha vida sem o Boi de Mamão estar fortemente presente nela.

3.2 Vinicius Martins

Em 2017, me transferi para a E.E.B.G.H.H ainda no segundo ano do Ensino Médio. Naquela
época ainda não sabia, mas isso mudaria minha vida para sempre. Além conhecer novos amigos,
acabei conhecendo a paixão pela arte. Na época, estava namorando uma colega de classe que me
chamou para participar das atividades extracurriculares da escola, e até me transferi para o Ensino
Médio Inovador (EMI). Naquele momento, não gostava muito de estudar e minha relação com a arte
era baixa, pois nunca antes ela havia me tocado de alguma forma, mas, mesmo assim, participei da
fanfarra, fui eleito presidente do Grêmio Estudantil, fiz aulas de dança e yoga.
Auxiliava os professores em quase todos eventos culturais organizados na escola como, por
exemplo, o Dia da Consciência Negra, mas o que me fez apaixonar pela arte e pela educação foi o
grupo de Boi de Mamão da escola. Nunca havia conhecido algo de que gostasse tanto de fazer parte;
era algo natural e vivo. O grupo, diferente de outros que conheceria mais para frente, não possuía um
coordenador adulto nos dizendo o que fazer, era verdadeiramente dos alunos. Os participantes se
reuniam e ensaiavam, distribuíam os papéis, ensinavam os novos integrantes a como tocar, dançar,
interpretar e improvisar, e essa liberdade foi o que mais me impressionou naquele grupo, e caí de
cabeça nisso.
No começo, era tímido e preferi pegar um personagem mascarado e mudo, me comunicando
apenas pelo corpo. Eu era o Urubu, e minha função era “incomodar” o boi, o laçador e todo mundo
que eu conseguisse gerando gargalhadas e, me animando cada vez mais com o personagem, gerou
uma percepção de movimento e de como se expressar com o corpo, muito importante na minha vida
profissional até os dias de hoje. Expressei-me tanto que a professora responsável pela criação do
grupo, inicialmente em 2014, Silemar Medeiros, a Sila, me chamou para conversar e disse que o
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 617

personagem principal do folguedo era o Boi e que eu chamava atenção demais, assustando o público
e fazendo piadas corporais. Foi então que aprendi uma grande lição sobre o que era ser artista, a
questão do ego, o trabalhar em grupo e de saber a hora de ser o centro das atenções.
Infelizmente, não aprendi o suficiente na época e fui para o papel de vaqueiro, uma das poucas
interferências que lembro de ter acontecido nos ensaios em 2018, em que estava no 3º ano do E.M.
Faltava um ano para me formar e eu ainda não sabia bem que caminho seguir, mas já possuía um
desafio: agora, no papel de vaqueiro, não teria mais minha máscara como escudo, obrigando-me a
falar, e, para a minha surpresa, adorei isso; a liberdade que o folguedo nos dá de improvisação,
alinhada com vários ensaios, foi essencial.
Uma das coisas mais importantes para essa adaptação foi estar entre amigos, o que tornava
tudo muito divertido e especial. Além disso, no folguedo do Heriberto, a nossa puxadora/cantora era
a Quet Silva, minha namorada da época e atual esposa, aquela colega que havia me chamado para
participar do grupo, além de ter ajudado a compor a música original, lá em 2014. As dinâmicas de
cena eram muito naturais e funcionavam muito bem, tanto que, nesse período, os professores e a
direção da escola começaram a incentivar cada vez mais o grupo, nos levando a diversas escolas da
região para apresentar. Logo o nome do Boi do Heriberto estava se espalhando pelo estado, e fomos
convidados para diversos encontros de Bois de Mamão e, em alguns deles, éramos apresentados como
o Grupo Folclórico do Heriberto; quase toda semana havia ensaio e apresentação. Foi naquela época
que provei a melhor sensação do mundo: a de ser artista! E eu amei senti-la.
No fim do ano, próximo à formatura, lembro-me de estar na sala de aula, ainda confuso sobre
que carreira seguir, até que entra na sala a professora Silemar com uma proposta que, mais uma vez,
mudou minha vida: uma bolsa de 20 horas semanais na UNESC para estudar sobre o Boi de Mamão
e atender as comunidades da região interessadas em montar um Boi para a comunidade. O pré-
requisito era estar cursando Artes Visuais, e, ao entender o sinal, assinando os documentos, veio-me
o susto: o que é licenciatura?
Quando descobri que estava estudando para ser professor, senti um dos maiores medos da
minha vida, ser responsável pela formação de um jovem, mas, com o tempo, me acostumei com a
ideia e amei. Assim, tive um objetivo claro de estudar a arte e educação, vinculadas ao Boi de Mamão.
Nisso, passei os quase 4 anos que estou na universidade estudando esse tema, sendo bolsista do
projeto Boi de Mamão na Comunidade, publicando artigos, construindo grupos e ministrando
oficinas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
618 Novo Humanismo, novas perspectivas

Criei um grupo de teatro de bonecos que narra a história do Boi de Mamão, além de me tornar
coordenador do grupo do boi do Heriberto Hulse durante o ano de 2019, bem como do grupo da Casa
da Fraternidade, grupo este que ajudei a construir e ministro oficinas, desde 2019 até os dias de hoje.
Com toda essa paixão pelo folguedo, que demonstrava na universidade, ganhei carinhosamente o
apelido de Menino do Boi, apelido que levo como nome artístico com muito carinho, pois fala muito
sobre mim, um eterno menino apaixonado por brincar de Boi de Mamão.

3.3 Samuel Junior

Cheguei à universidade já bastante assustado, como fruto do que eu achava ser uma medida
muito arriscada. A verdade é que sempre gostei de arte, mas eu não conhecia a educação. Posso dizer,
hoje, que ter entrado na UNESC mudou minha vida mais do que eu esperava.
Em outubro de 2021, ofertaram para os estudantes do curso de Artes Visuais uma vaga como
bolsista num projeto de Boi de Mamão; a primeira coisa que fiz foi entrar em contato com a
coordenadora, professora Silemar, perguntando o que era isso. Não sei se meu estado hoje é
recompensa da minha curiosidade ou da bondade das pessoas ao meu redor, mas, no mesmo dia, a
Professora me contratou como bolsista num projeto que eu nem imaginava ser tão grande quanto de
fato era.
Chegando no trabalho, conheci um casal, ambos bolsistas do projeto, apaixonados pelo Boi
de Mamão; me perguntei por bastante tempo de onde vinha tanto entusiasmo, até perceber que esse
sentimento já fazia parte de mim. O Vinicius e a Quetlin tinham uma história bem longa com a cultura
popular, e eu não tinha nenhuma. Comecei no projeto trabalhando com produção, sempre tive muito
interesse e diálogo com diversas áreas das artes visuais; antes de entrar no curso já trabalhava como
ilustrador, e aliar essas experiências à cultura também foi muito importante.
O projeto atendia uma escola em Turvo, Santa Catarina. Fizemos nossa primeira visita no meu
primeiro mês de projeto, na qual conheci pessoas muito importantes de fora da universidade e pude
aprender muita coisa sobre Boi de Mamão. Fizemos nossa relação com a comunidade produzindo as
peças, pude atuar como escultor, modelando algumas máscaras para a equipe de teatro com ajuda do
Vinícius, e como compositor, criando músicas para a cantoria, com ajuda da Quetlin, além de realizar
diversas atividades de extensão, como apresentar o projeto em eventos e participar de ensaios de Boi
de Mamão. Hoje, faço parte do grupo da instituição espírita Casa da Fraternidade, que é ministrado
pelo Vinícius, além de dar aula na instituição de desenho e escrita criativa.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 619

Pela primeira vez na vida, senti que talvez realmente pudesse trabalhar com arte, entrar no
projeto e conhecer pessoas tão importantes para o progresso da minha carreira me fez pensar na
satisfação que se sente ao se relacionar com a educação. Eu poderia dizer, sim, que a extensão me
atingiu. Por causa dela e das pessoas que conheci, hoje sou professor também.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Nosso diálogo com a extensão mostra como ela pode, de fato, mudar a vida de quem atende,
mas o que também importa é a natureza do nosso projeto. Assim, dialogar especificamente com o Boi
de Mamão foi o que nos gerou essa experiência inesquecível. Gonçalves (2001) salienta que as trocas
humanas são o motivo para o boi existir, isto é, as trocas de experiência, estabelecendo um diálogo
com Carvalho (2019), evidenciando que o Boi de Mamão tem, por natureza, uma relação intrínseca
com a extensão.
“Antigamente eram homens adultos que brincavam, agora eram crianças. Trocamos as
lâminas de compensado por uma armação de bambu; e as cabeças, ao invés das ossadas dos bichos,
fazíamos com papel machê”. (GONÇALVES, 2001, p. 83). Nossa relação com a comunidade se dá
em escolas públicas ou até instituições não formais de ensino, evidenciando por Gonçalves (2001)
como importante para que essa cultura não morra. Atualmente, a comunidade atendida está plantando
diversos frutos de extrema importância para a preservação de uma memória histórica e cultural de
Santa Catarina.

Figura 1 – Ações do projeto na comunidade

Fonte: Acervo dos autores, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
620 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos fatos mencionados, pode-se concluir que a Extensão Universitária dá ao


extensionista a possibilidade de aprender, reproduzir e atuar diretamente na comunidade, dessa forma,
atingindo o público-alvo e gerando novas experiências tanto para esse público quanto para a
universidade em si. Nesse relato, observamos três alunos que foram, de alguma forma, tocados por
um projeto de extensão, que se mantém na comunidade participando ativamente até os dias de hoje.
Os bolsistas têm hoje a oportunidade de atuar na comunidade e na educação, utilizando a
linguagem cultural a qual estão habituados, apresentando para os alunos um pouco sobre a cultura
regional. Tais ações podem ser de grande influência para o aluno, não só em experiência, mas também
na escolha da profissão e na linha de pesquisa. Já para as escolas, ser o espaço de um projeto de
extensão pode incentivar diversos alunos para se conectarem com a cultura popular e possivelmente
se tornar um ponto de cultura.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Luciani Coimbra de. Prefácio. In: CERETTA et al (org.). Práticas E Saberes De
Extensão. Florianópolis: Dois por Quatro Editora, 2019. p. 11– p. 13.
FRANKLIN, Ruben Maciel; AGUIAR, Antonio Sérgio Pontes. Cultura Popular, Um Conceito Em
Construção: Da Tradição Dos Românticos E Folcloristas À Emergência Política Dos Estudos
Culturais. História e Cultura, Franca, v. 7, n. 1, p. 238-257, jan./jul. 2018.
GONÇALVES, Reonaldo Manoel. Cantadores do boi de mamão: velhos cantadores e educação
popular na Ilha de Santa Catarina. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) –
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina,
2001.
IRWIN, Rita L. A/r/tografia. In: DIAS, Belidson; IRWIN, Rita L. (Org.). Pesquisa educacional
baseada em arte: A/r/tografia. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013. p. 27 a 35.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
([1935] 2001).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 621

Projeto ALEGRIA: autonomia no processo de alfabetização e letramento

Aliny Vitória Martins Cunha1


Mariana Queiroga Gomes2
Thammy Danielly Alves Domingos3
Thúllio Salgado Santos Vieira4
Arabie Bezri Hermont5

RESUMO
Este relato de experiência apresenta reflexões acerca de atividades que foram desenvolvidas no projeto de extensão
intitulado ALEGRIA - Aprendizagem de Leitura e Escrita Gerando Respeito, Inclusão e Autonomia, durante o período
de isolamento social, com oficinas realizadas na modalidade remota, e atividades desenvolvidas no retorno à modalidade
presencial, que se deu em março de 2022. A proposta é mostrar o trabalho de alfabetização e letramento atrelado à
autonomia dos sujeitos atendidos. Para tal, nos ancoramos nos pressupostos de Ferreiro (2000), Freire (1989) e Soares
(1998; 2004; 2019). As atividades desenvolvidas e que são neste texto apresentadas consistem em estudo do gênero receita
e sua realização, a produção de uma carta e o cumprimento de desafios, importantes para desencadear a autonomia dos
sujeitos atendidos no projeto e de seus pais. A demonstração de depoimentos dos pais de tais sujeitos confirma que
associar o processo de alfabetização e letramento a ações que promovam a autonomia é um caminho certo dentro deste
projeto.

Palavras-chave: Inclusão. Deficiência Intelectual. Desafios. Gêneros Textuais.

ALEGRIA Project: Autonomy in the literacy process

ABSTRACT
This experience report presents reflections on the activities that were developed in the extension project entitled
ALEGRIA - Learning How to Read and Write to Generate Respect, Inclusion and Autonomy, during the period of social
isolation, with workshops held remotely, and activities developed face-to-face, which took place after our return in March
2022. Our aim is to show the literacy work linked to the autonomy of the subjects assisted in the project. To do so, we
anchored ourselves on the assumptions of Ferreiro (2000), Freire (1989) and Soares (1998; 2004; 2019). The activities
developed in the project and presented in this text consist of the study of the genre “recipe” and its execution, the
production of a letter and the addressing of challenges, which are important to trigger the autonomy of the subjects assisted
in the project and their parents. Parents’ testimonials confirm that associating the literacy process with actions that
promote autonomy is the right path taken in this project.

Keywords: Inclusion. Intellectual Disability. Challenges. Textual genres.

1
Graduanda do curso de Pedagogia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: alinymartinsc@hotmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras-Linguística (PUC Minas) Coração Eucarístico. E-mail:
mqgomes@sga.pucminas.br.
3
Graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: tdaniellyalves@gmail.com.
4
Graduado em Letras / Licenciatura e Bacharelando em Letras pela PUC Minas. Mestrando em Linguística Aplicada e
Estudos da Linguagem (PUC-SP) Campus Monte Alegre - Perdizes. E-mail: thullio.salgado@sga.pucminas.br
5
Dra em Linguística, Professora da Graduação em Letras e da Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Letras –
Coração Eucarístico. E-mail: arabie@uol.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
622 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

O presente relato de experiência reflexivo apresenta as experiências desenvolvidas no projeto


de extensão ALEGRIA (Aprendizagem da leitura e escrita gerando Respeito, Inclusão e Autonomia),
desenvolvido pelo Departamento de Letras, em parceria com o Departamento de Educação da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e que conta com monitores de diversos cursos da
universidade. Esse projeto tem como meta principal promover oportunidades de aprendizagem da
leitura e da escrita para adultos com deficiência intelectual.
Nessa perspectiva, objetiva-se o desenvolvimento de oficinas de alfabetização, seguindo os
princípios de autonomia propostos por Paulo Freire (1989; 1994) e pelos pressupostos teóricos de
Magda Soares (1998, 2019) e Emília Ferreiro (2000), que consistem em desenvolver o processo de
alfabetização e letramento, abordando temas de nossa sociedade e, consequentemente, promovendo
a autonomia, o respeito, a inclusão e a cidadania daqueles sujeitos que normalmente são colocados à
margem da sociedade, atendendo, assim, as diretrizes mais contemporâneas de políticas públicas
relacionadas à educação inclusiva.
A participação efetiva dos monitores neste projeto de extensão proporciona uma ampliação
de conhecimentos nas mais diversas perspectivas sociais e científicas. Além de, claro, promover
inúmeras indagações no que tange ao processo de alfabetização e letramento de indivíduos com
dificuldade de aprendizado derivada de algum comprometimento cerebral/mental. Dentro da
diversidade patológica dos alunos presentes nesse projeto, encontramos indivíduos com Síndrome de
Down, Transtorno do Espectro do Autismo, além pessoas com quadro de diagnóstico não fechado.
Desse modo, temos como objetivo geral, neste relato de experiência, apresentar as narrativas
de familiares dos alunos do projeto, bem como suas reflexões quanto ao processo de autonomia dos
estudantes, durante e após o isolamento decorrente da pandemia ocasionada pela COVID-19. Sendo
assim, a partir das exposições, identificamos como o projeto ALEGRIA promove o desenvolvimento
autônomo desses indivíduos, como a realização de atividades escolares, afazeres domésticos, além
das mais diversas ações do seu cotidiano.
Este texto está organizado da seguinte forma: inicialmente, apresentaremos os pressupostos
teóricos que embasam as nossas atividades de alfabetização e letramento. Em seguida, delinearemos
a parte metodológica, explicitando a forma como as experiências aqui relatadas serão tratadas. Por
fim, exporemos as atividades e a forma como elas se deram e respectivas repercussões.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 623

2 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA PROMOVER A AUTONOMIA

Para planejar as atividades desenvolvidas no projeto ALEGRIA, priorizamos sempre


estabelecer uma parceria entre família e instituição. Desse modo, compreendemos que o processo de
autonomia do indivíduo está subjacente ao aprendizado da leitura e da escrita que, por sua vez,
envolve a atuação de campos científicos diversos. Nesse sentido, segundo Paulo Freire (1989, p. 09),

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p. 09).

Partindo desse pressuposto, assumimos que a autonomia e a leitura do mundo estão


diretamente ligadas ao processo de alfabetização. Em uma cultura altamente letrada como a nossa, o
aprendizado da leitura e da escrita é uma conquista fundamental para o desenvolvimento da
autonomia de qualquer pessoa. Assim sendo, para as pessoas com qualquer tipo de deficiência
intelectual, a aquisição de tais habilidades é bastante significativa. Além disso, o processo de
alfabetização estimula a aquisição de outras habilidades, tais como: memória, oralidade, capacidade
de abstração e de comunicação, que são, normalmente, afetadas, em maior ou menor grau, em
deficientes intelectuais. Ao destacarmos a autonomia, referimo-nos “ao conjunto de capacidades
relacionadas com a higiene, vestir/despir, alimentação e deslocação, adquiridas pelas crianças para
conseguir a sua autonomia” (BAUTISTA, 1997, p. 288). O aprendizado de tais ações, de acordo com
o autor, é considerado um processo de socialização principal que é “a base para que a pessoa possa
assumir-se como membro da sociedade” (ibidem, p. 288).
É nessa perspectiva que vinculamos as noções de autonomia às oficinas ofertadas no projeto,
promovendo uma educação de fato inclusiva, na medida em que o trabalho com a autonomia
possibilita a atuação participativa e colaborativa dos sujeitos nos diferentes setores da sociedade.
Além disso, a educação inclusiva também gera impacto na família desses alunos, bem como nos
monitores do projeto, futuros professores que terão que lidar com a inclusão na contemporaneidade.
Uma autora de reconhecimento nacional e internacional que versa sobre o tema alfabetização
e letramento é Magda Soares. Para ela,

é necessário reconhecer que, embora distintos, alfabetização e letramento são


interdependentes e indissociáveis: a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no
contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja, em um
EXTENSÃO PUC MINAS:
624 Novo Humanismo, novas perspectivas

contexto de letramento e por meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode
desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema de escrita.
(SOARES, 2004, p. 97).

Assim, o ideal é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais em que os indivíduos
estão inseridos. Aliando-se a essas concepções, trabalhamos também considerando a alfabetização
inserida em práticas de letramento que, conforme propôs Soares (2019):

surge o termo letramento, que se associa ao termo alfabetização para designar uma
aprendizagem inicial da língua escrita entendida não apenas como a aprendizagem da
tecnologia da escrita – do sistema alfabético e suas convenções -, mas também como, de
forma abrangente, a introdução da criança às práticas sociais da língua escrita. (SOARES,
2019, p. 27).

Para Soares (1998), o fundamental é que o sujeito seja alfabetizado e letrado ao mesmo tempo.
Dessa forma, o alfabetizando poderá compreender os textos que fazem parte do seu cotidiano e de
suas práticas sociais. É nessa medida que atrelamos os processos de alfabetização e letramento
àquelas habilidades já citadas, que possibilitam uma vida mais autônoma. Saber ler e escrever, dentro
das práticas discursivas, especialmente com o público a que atendemos, possibilita ao indivíduo fazer
alguma compra sozinho, locomover-se na cidade com segurança, desenvolver atividades de nosso
cotidiano com mais autonomia, libertando, portanto, o sujeito com deficiência intelectual e as pessoas
que são responsáveis por eles.
Assim, ao mesmo tempo em que desenvolvemos o letramento, criamos possibilidades de
alfabetização e isso se dá à luz de Emília Ferreiro (2000). Conforme assinala a autora, a aprendizagem
da escrita é de caráter conceitual, pois diz respeito a um sistema de representação (FERREIRO, 2000).
Isso porque, a aprendizagem, na realidade, é a apropriação de um novo objeto de conhecimento. Nessa
perspectiva, não se trata de uma mera junção de letras: B + A = BA, o que seria uma apropriação de
códigos. Em uma leitura de Ferreiro (2000) feita por Hermont (2010) temos,

Entretanto, quando solicitadas a escrever palavras de forma espontânea, não utilizam de


forma correta as sílabas que acabaram de escrever. Se solicitadas a escrever “cavalo”, podem
não utilizar o conhecimento supostamente adquirido quando estavam juntando, no exercício
proposto pela professora, as sílabas “lo” e “va”. Podem apresentar palavras como:
“RATGOPERS”, ou “GTA”, ou “KVO”, ou “CAVALO” etc. [...] Na escrita de
“RATGOPERS”, a criança demonstra ter uma escrita na fase pré-silábica. Isso porque ela
não tem nenhum regulador de ordem quantitativa (indicando quantas letras deve usar na
escrita de uma dada palavra), nem de ordem qualitativa (apontando quais letras deve usar).
Na escrita de “GTA” e de “KVO”, a criança já demonstra representar um símbolo (letra) para
cada sílaba, portanto, sua escrita parece encontrar-se na fase silábica. Em “KVO”, a criança
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 625

ainda representa cada sílaba com uma letra cujo som existe em cada sílaba. Por fim, em
“CAVALO”, a criança demonstra ter uma escrita na fase alfabética, porque escreve uma letra
para cada som existente na palavra. (HERMONT, 2010, p. 29).

Portanto, o principal desafio atualmente gira em torno de promover a inclusão ligada à


autonomia das pessoas com deficiência (doravante PcD). Nessa perspectiva, o Projeto ALEGRIA
busca evidenciar o sujeito em detrimento da deficiência, oferecer ferramentas para estimular seu
processo de desenvolvimento, incentivar a autonomia na resolução dos exercícios e torná-los
protagonistas das suas atividades rotineiras uma vez que, como aponta Cabrito (2015, p. 25), “o
ensino de diferentes competências torna-se fundamental no processo de autonomia das pessoas com
deficiência, a sua independência é um objetivo de vida.”
Esta seção demonstrará algumas práticas realizadas durante o isolamento decorrente da
pandemia e outras, desenvolvidas quando se deu o retorno das atividades do projeto à modalidade
presencial. Como se sabe, o isolamento em virtude da pandemia iniciou-se em março de 2020. A
princípio, ficamos sem a promoção de atividades, mas, em final de abril desse mesmo ano, retornamos
na modalidade remota, primeiramente via plataforma Meet e, depois, via Teams. Ao contrário do que
muito se imagina, foi possível o desenvolvimento de muitas atividades interessantes na modalidade
virtual, ampliando o letramento digital dos sujeitos atendidos no projeto. Destacamos, neste relato de
experiência, uma atividade: o trabalho com o gênero receita, bastante interessante e adequado às
condições dos sujeitos atendidos no projeto.
Ao retornamos às atividades do projeto na modalidade presencial, em março de 2022,
surpreendemo-nos com a facilidade, observada pelos monitores, dos alunos atendidos no projeto, em
desenvolver atividades escritas em sala de aula, usando ou não o computador, ou seja, o convívio
presencial pareceu-lhes algo bem benéfico e não houve indícios de que o ensino na modalidade virtual
tivesse propiciado a regressão das habilidades já adquiridas.
Nesse contexto, destacamos duas ações realizadas no primeiro semestre de 2022, na
modalidade presencial. Uma delas foi a atividade com o gênero carta; a outra está relacionada a
desafios que foram enviados junto ao para casa. sendo, na seção seguinte, apresentaremos as ações
pedagógicas desenvolvidas nas modalidades remota e presencial e teceremos uma discussão dos
resultados de tais trabalhos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
626 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 ATIVIDADES ANTES E APÓS A PANDEMIA – A AUTONOMIA À FRENTE

Nesta seção, apresentaremos, inicialmente, as atividades desenvolvidas no ano de 2021, em


que parte se deu na plataforma Teams devido ao isolamento social necessário para proteção contra a
COVID-19; em seguida, demonstraremos aquelas que ocorreram na modalidade presencial. É
importante destacar que as propostas didáticas, virtuais ou não, são feitas a partir da realidade dos
sujeitos atendidos, já que se pretende contribuir para o desenvolvimento funcional dessas pessoas.
As tarefas solicitadas são pensadas de forma a melhorar a participação delas em seu cotidiano
e o das pessoas que as rodeiam. Dessa forma, a iniciativa de promover a autonomia dos jovens e
adultos que participam do projeto ALEGRIA demanda o planejamento de atividades que os
incentivem a realizar tarefas que nem sempre eles cumpririam sozinhos. Esses exercícios envolvem
tanto questões de alfabetização, quanto tarefas simples de casa, como arrumar a cama.
Na modalidade virtual, visando à alfabetização e ao letramento aliados à autonomia, uma das
tarefas realizadas com os jovens e adultos foi solicitar que colocassem em prática o gênero receita,
fundamental em seu dia a dia. Em um primeiro momento e virtualmente, foram trabalhados textos
para se observar a estrutura composicional e desenvolver a leitura, além da pesquisa das receitas
favoritas deles. Para mostrar que também encontramos o gênero receita em vídeos, os sujeitos
atendidos no projeto tiveram que selecionar uma receita da página @downlicia_oficial no Instagram
e escrever os ingredientes e modo de preparo. Por fim, foi enviado como para casa um texto com a
receita de bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
A partir disso, uma das propostas foi que eles realizassem em casa, com o auxílio da família,
a receita do bolo. Como produto, os responsáveis enviaram vídeos e fotos da execução da receita, que
foi consumida depois de pronta, o que rendeu um diálogo interessante posteriormente. A seguir,
apresentamos um print de um vídeo gravado em que uma moça atendida no projeto demonstra como
fez um bolo de cenoura.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 627

Figura 1 – Demonstração de uma realização de uma receita

Fonte: Imagem printada de um vídeo enviado pela mãe da participante do Projeto.

Outro depoimento interessante acerca de tal atividade foi dado pela responsável pela jovem
L., que cita o desenvolvimento da aluna quanto às noções de gêneros textuais, destacando a receita,
conforme se pode verificar no seguinte relato:

A L. desenvolveu muito o lado de querer aprender os livros de receita na cozinha. De uns


tempos para cá, está mais interessada em participar dos assuntos de adultos também e fala
com a gente que é a PUC que ensinou. (Responsável pela jovem L.)

O retorno aos encontros presenciais, após dois anos sendo realizados pela plataforma on-line
Meet e Teams, deu-se em março de 2022. Os trabalhos na modalidade presencial, especialmente na
percepção dos monitores, permitem que algumas intervenções mais eficazes sejam feitas a fim de
desenvolver ainda mais a autonomia dos jovens e adultos do projeto ALEGRIA.
Durante o período de trabalho remoto, foi percebido que as correções e as realizações das
tarefas, muitas vezes, tinham interferência das famílias, uma vez que diziam as respostas corretas para
que os sujeitos atendidos no projeto falassem para a turma, apagavam questões erradas, ditavam o
que era para ser escrito no caderno, entre outras situações. Por mais que seja compreensível a intenção
positiva por trás dessas ações, essa relação dificultava não apenas o desenvolvimento da autonomia,
mas também a falta de iniciativa dos alunos para pensar sobre as respostas. No relato da mãe de S., é
possível perceber o avanço na autonomia, conforme se verifica no depoimento seguinte:

[...] com relação ao retorno da aula presencial nós conseguimos ver aqui que tem uma
melhora no interesse dela de fazer as coisas, ela já levanta, já demonstra uma agilidade maior
para poder se arrumar, tomar um café, já arruma sozinha e arruma para poder ir na aula
presencial. Então a gente vê que com o retorno da aula presencial ela deu uma vontade maior
de participar, né? Então essa autonomia dela também acaba sendo mais presente com o
retorno da aula da aula presencial. (Responsável pela jovem S.)
EXTENSÃO PUC MINAS:
628 Novo Humanismo, novas perspectivas

Nessa perspectiva de garantir sempre o desenvolvimento da autonomia, é que traremos uma


atividade interessante que é o trabalho com o gênero textual carta. Tal atividade foi pensada porque,
na ocasião, discutia-se a temática amizade. Em um primeiro momento, foi feito um sorteio entre os
alunos para eles saberem para quem a carta seria dirigida e, após escreverem, cada aluno foi à frente
da sala e fez a leitura de sua carta.
Vejamos, como exemplo, a carta escrita pela aluna que denominaremos de aluna 1.

Figura 2– Carta escrita por uma aluna atendida no Projeto ALEGRIA

Fonte: Texto produzido pela aluna atendida no projeto ALEGRIA.

Ao analisarmos essa carta, notamos que a aluna 1 soube colocar os elementos que fazem parte
da estrutura composicional desse gênero textual. Ela apresenta local, data, vocativo, corpo do texto e
despedida. Com relação à etapa da escrita, a aluna 1 escreve uma letra para cada som da palavra,
portanto encontra-se na fase alfabética com hipótese ortográfica, já que escreve ‘saudade’ trocando
as letras e insere um ‘i’ em ‘beijos’. Pode-se sugerir ainda que a aluna precisa de avançar no que diz
respeito à quantidade de informação e mesmo na articulação das ideias.
Além das atividades relacionadas à produção do gênero carta, há aquelas que enviamos como
para casa. Neste relato de experiência, destacamos os desafios a serem cumpridos, que constituíam
de tarefas mais práticas, tais como ajudar a limpar a casa, levar o lixo para a rua, limpar os sapatos,
fazer suco ou café, lavar a louça, entre outras. Dessa maneira, espera-se que não apenas os sujeitos
atendidos, mas também os familiares, compreendam a importância da participação deles nas tarefas
de casa e que essa contribuição é, sim, possível.
A mãe da jovem S. nos enviou o seguinte retorno após a realização de vários desafios durante
o semestre:
[...] com relação à autonomia da S., podemos verificar uma melhora, um crescimento dessa
autonomia depois do projeto, tanto com relação à tarefa de casa, colocar o lixo para rua, dar
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Novo Humanismo, novas perspectivas 629

uma ajuda em casa, na tarefa de casa, né?, quanto também com relação a cozinhar, fazer
algumas receitas, isso teve início depois do projeto de vocês. (Responsável pela jovem S.)

Após a apresentação de realização de atividades, podemos assinalar que as propostas didáticas


relacionadas à alfabetização e ao letramento do Projeto ALEGRIA levam em conta a capacidade e
potencial dos sujeitos atendidos e são realizadas à luz dos pressupostos de Ferreiro (2000), Soares
(2004) e Freire (1998), à medida que avançam na perspectiva da construção da escrita, respeitando-
se a etapa da escrita em que cada pessoa se encontra, promovendo o letramento e melhoramento das
condições de vida tanto do sujeito atendido no projeto diretamente, quanto de seus familiares, os
beneficiários indiretos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste relato de experiência, assumimos a tese de que, para que o processo de autonomia dos
jovens e adultos com deficiência intelectual que participam do Projeto ALEGRIA seja desenvolvido,
as atividades podem e devem ser planejadas tendo como objetivo a contribuição no desenvolvimento
cognitivo, emocional e sociocultural desses sujeitos. Dessa maneira, é possível pensar, juntamente
com os familiares, meios de incentivar a independência deles, a fim de contribuir para o alcance de
sua autonomia.
Foi apresentado, nesse texto, o desenvolvimento de atividades relacionadas à alfabetização,
ao letramento e à autonomia dos sujeitos atendidos no projeto antes e após a pandemia. A percepção
é que o ensino virtual, realizado nos dois anos de isolamento, não propiciou impacto negativo na vida
de tais sujeitos. Antes, parece ter havido um desenvolvimento do letramento digital, ainda que
houvesse muitas interferências da família no sentido de não deixarem seus filhos ‘errarem’ as
atividades propostas. período de pandemia, foram lançados desafios que os atendidos no projeto
pudessem se envolver mesmo estando dentro de casa. Após a pandemia, os alunos aprenderam a fazer
cartas e continuam sendo incentivados a serem autônomos em sua casa, conforme verificamos
anteriormente.
A autonomia requer que a pessoa com deficiência intelectual tenha a sua voz respeitada, ou
seja, não é necessário que as pessoas façam tudo por ele, mas, sim, que forneçam meios a partir de
suas limitações, pois só é possível aprender por meio da ação e interação. É fundamental fornecer a
autonomia necessária para que esses jovens e adultos possam vivenciar as próprias experiências.
Portanto, a experimentação deve ser incentivada, direcionada e assistida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
630 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

BAUTISTA, Rafael. Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Dinalivro, 1997.


CABRITO, Cátia Isabela. Projeto Autonumus: Práticas para a vida. 2015. Relatório de Estágio
para obtenção do grau de Mestre (Mestrado em Educação Social: Crianças e Jovens em Risco).
Instituto Superior de Ciências Educativas, Odivelas, 2015. Disponível em:
http://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/30772/1/C%C3%81TIA%20CABRITO.pdf. Acesso em:
13 jun. 2022.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 25São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1989.
HERMONT, Arabie Bezri. Como analisar textos de alunos em processos de aquisição da escrita.
Pedagogia em Ação, Belo Horizonte, v. 2, n. 1, p. 27-39, fev./jun. 2010.
SOARES, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2019.
SOARES, Magda. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação,
Rio de Janeiro, n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 631

A Leitura, a Escrita e a Matemática: estreitando os laços entre


a teoria acadêmica e o cotidiano da sala de aula

Carla Angélica de Assis Medeiros1


Géssica de Fátima Silva Muniz2
Rosemilla Patrícia da Silva Oliveira3
Tainá Cristina da Silva4
Emerson Bastos Lomasso5
RESUMO
Este relato de experiência apresenta a trajetória do Projeto de Extensão em Matemática, cujo objetivo foi investigar e
atuar na formação de crianças dos anos iniciais e discentes do curso de Pedagogia da UEMG – Unidade Barbacena. O
desenvolvimento deste acontece em dois momentos. No primeiro, os discentes aprenderam sobre conceitos e
metodologias de ensino e aprendizagem, relacionadas ao número, à leitura e à escrita. No segundo momento, os mesmos
atuaram junto às crianças por meio de uma intervenção pedagógica. O embasamento teórico foi pautado na teoria
Piagetiana e Freireana. Tomou-se como metodologia a Engenharia Didática apresentada por Michèle Artigue. A proposta
inicial consistia em um trabalho a ser desenvolvido presencialmente, entretanto, diante da atual pandemia, o projeto foi
adaptado para a modalidade remota. Com a reestruturação do projeto e as dificuldades atreladas à conjuntura, entende-se
que os resultados obtidos são satisfatórios para o processo de aprendizagem inicialmente proposto. Conclui-se que o
projeto é um exemplo pioneiro para as próximas intervenções pedagógicas que unam conhecimento acadêmico às práticas
em sala de aula.

Palavras-chave: Número Natural. Engenharia Didática. Teoria Piagetiana. Teoria Freireana. Alfabetização.

1
Graduanda em Pedagogia na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)/Unidade Barbacena; membro dos grupos
Projeto de Extensão em Matemática (PROEMAT), Geografia, História, Ciências, Imagens e Mídias no Contexto
Educacional (GHIMCE), Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação e Saúde (NEPES); e bolsista de iniciação científica
pelo Grupo de Estudos sobre Linguagens, Ensino e Cognição (GELINC)/UEMG. E-mail:
carla.0793427@discente.uemg.br.
2
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro do grupo PROEMAT. E-mail:
gessica.0793130@discente.uemg.br.
3
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro dos grupos PROEMAT, GHIMCE, GELINC, NEPES
e Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Relações Étnico-Raciais (LEPER); estagiária da Rede Salesiana
Brasil Instituto Maria Imaculada; e monitora na disciplina Alfabetização e Letramento da UEMG/ Barbacena. E-mail:
rosemilla.0793279@discente.uemg.br.
4
Graduanda em Pedagogia na UEMG/Unidade Barbacena; membro dos grupos PROEMAT, do GELINC e do Projeto de
Extensão em Pedagogia Hospitalar; estagiária da Rede Sesi Barbacena Cat Oscar Magalhães Ferreira UEMG. E-mail:
taina.0793386@discente.uemg.br.
5
Doutor em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professor do
Departamento de Fundamentos e Metodologias da Educação na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) -
Unidade Barbacena; e orientador do Projeto PROEMAT UEMG. E-mail: emerson.lomasso@uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
632 Novo Humanismo, novas perspectivas

Reading, Writing and Mathematics: strengthening the bonds between


academic theory and everyday life in the classroom

ABSTRACT
This experience report presents the trajectory of the Extension Project in Mathematics, whose objective is to investigate
and act in the education of children in the early years and students of the pedagogy course at UEMG – Barbacena campus.
The development of this happens in two moments. In the first, students will learn about teaching and learning concepts
and methodologies, related to numbers, reading and writing. In the second moment, they will work with the children
through a pedagogical intervention. The theoretical basis was based on Piagetian and Freirean theory. The methodology
used was Didactic Engineering presented by Michèle Artigue. The initial proposal consisted of work to be developed in
person, however, given the current pandemic, the project was adapted for the remote modality. The project is in the third
stage of the methodology and, so far, with the restructuring of the project and the difficulties linked to the situation, the
results obtained are satisfactory for the learning process initially proposed. It is concluded that the project is a pioneering
example for the next pedagogical interventions that combine academic knowledge with classroom practices.

Keywords: Natural Number. Didactic Engineering. Piagetian theory. Freirean theory. Literacy.

INTRODUÇÃO

Este relato de experiência buscou externar o trabalho de intervenção pedagógica que foi
desenvolvido por meio do projeto de extensão voltado para alfabetização e letramento em
Matemática. Fizeram parte discentes do curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas
Gerais – Unidade Barbacena, como também crianças dos anos iniciais de uma escola parceira da
instituição. Os objetivos foram ao encontro da capacitação de graduandos em Pedagogia a lidarem
junto ao processo de ensino e aprendizagem — no que tange às áreas de Língua Portuguesa (leitura
e escrita) e de Matemática (número natural) — com crianças que apresentam dificuldades em
conceber e conceituar números e, além disso, que ainda não estavam totalmente alfabetizadas.
Para Piaget e Szeminska (1975), o número consiste na síntese da classificação e da seriação.
Ainda segundo os autores, para o número existir, ele tem que satisfazer algumas qualidades, as quais
destacam-se a conservação de quantidades (condição de todo e qualquer conhecimento), a
correspondência termo a termo (essencial para a contagem), a determinação da cardinalidade e do
princípio ordinal (aspectos indissociáveis do número).
No que tange ao processo de alfabetização, este se fundamenta na prática social dos
educandos, associando a aprendizagem da leitura e da escrita como exercício da consciência crítica
(FREIRE, 1994). A leitura, segundo Paulo Freire (1989), representa fortalecer o sujeito e sua história
como autor de linguagem, o diferenciando dentre outros, como intérprete do mundo que o rodeia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 633

Ainda de acordo com a teoria freiriana, a leitura não se finda apenas no reconhecimento da palavra
escrita, mas, sim, antevê e se estende na inteligência do mundo. O ato de ler para Freire (1989) liberta
o ser humano, oferecendo-lhe condições para ser agente de seu próprio mundo, este ativo e
principalmente transformador.
Entende-se que os objetivos supracitados são descritivos, pois buscam detalhar uma situação,
no caso desse relato de experiência, um problema envolvendo o ensino e a aprendizagem de duas
áreas do conhecimento, Matemática e Língua Portuguesa. Diante desse contexto, este trabalho visa a
particularizar e posteriormente, elencar ocorrências oriundas do cotidiano escolar, partindo esse da
coleta, registro e análise de dados (cf. CRESWELL, 2007).
Dois públicos constituem os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem desse
trabalho: as discentes em Pedagogia e as crianças dos anos iniciais. A princípio, foi ofertada, às
graduandas, uma capacitação teórica e, posteriormente, foram inseridas no cenário do magistério,
atuando diretamente com as crianças. Diante dessa concepção, instaurou-se uma tentativa de
contribuir para lidar com as dificuldades, as crenças, os temores e as inseguranças presentes na vida
escolar e acadêmica dos discentes e docentes em pedagogia, principalmente no que tange ao ensino
de Matemática. Entende-se que essa abordagem, junto ao discente de Pedagogia, contribui para suas
práticas pedagógicas, quando estiverem atuando no magistério, principalmente em Matemática.
Particularizando as crianças, elas apresentavam dificuldades em matemática, leitura e escrita.
Para estas, o projeto buscou atuar por meio de uma intervenção pedagógica, em que “[...] as discentes
em Pedagogia, após participarem da formação, atuarão como professoras junto a crianças com
dificuldades nesse componente curricular” (LOMASSO; OLIVEIRA; SOUSA, 2021, p. 144).
Entende-se que, a partir desse contexto, conciliar-se-á o conhecimento do graduando em
Pedagogia com o cotidiano do magistério em Matemática e Língua Portuguesa. Assim sendo, o
projeto de extensão, base para esse relato, atua junto a duas frentes, qualificando o discente e sanando
as dificuldades das crianças, pois entende-se que “a aproximação entre a Universidade e a Escola tem
sido objeto de estudo de muitas pesquisas sobre a formação de professores[...]” (SANTOS et al.,
2021, p. 3)
Quanto à metodologia, essa foi pautada na relação ensino e aprendizagem, priorizando a
formação acadêmica, a produção de recursos pedagógicos e a realidade da sala de aula nos anos
iniciais. Desse modo, viu-se que a Engenharia Didática condiz com os objetivos aqui elencados.
A ideia base para esse projeto foi vislumbrada para um contexto distinto ao qual se encontrava
o mundo, ou seja, sem pandemia, sem isolamento, sem aulas remotas, dentre outros. Dessa forma, a
EXTENSÃO PUC MINAS:
634 Novo Humanismo, novas perspectivas

princípio, seria inviável a sua execução. Entretanto, viu-se mais que providencial adaptar essa
proposta para um ambiente remoto de ensino e aprendizagem: essa adaptação se fez, principalmente,
junto às etapas da Engenharia Didática, transformando-as do regime presencial para o remoto.
Iniciado o projeto e diante de uma realidade totalmente desconhecida — o ensino remoto para
os anos iniciais — visou-se elucidar se a Engenharia Didática, adaptada para a modalidade remota,
produziria elementos favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem em Matemática e Língua
Portuguesa.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O referencial teórico que conduz esse projeto abrange a epistemologia genética do número
natural, segundo Piaget e Szeminska (1975), e a filosofia Freireana (1994, 1989, 2002).

2.1. A construção do número natural segundo a teoria Piagetiana

Jean Piaget (1896 – 1980) e Alina Szeminska (1907 – 1986) passaram anos pesquisando como
a criança organiza seus esquemas em nível de pensamento operatório. Conclui-se que a construção
do número pela criança se faz diante da relação entre a conservação numérica, as operações lógicas
de classificação e a seriação das relações assimétricas.
Partindo do princípio da conservação, Piaget e Szeminska (1975) salientam que um dado
conjunto só é concebível se o valor total de seus elementos continuar inalterado, independente das
relações feitas entre si. Ademais, segundo os autores, um número existe se, e somente se, satisfizer
as qualidades de: conservação de quantidades, correspondência termo a termo, determinação do valor
cardinal e determinação do princípio ordinal.

2.2. A leitura, a escrita e o trabalho docente segundo Paulo Freire

A partir de Freire (2002), é possível compreender o quanto é importante ver as crianças como
sujeitos ativos e de direitos, bem como ver as competências que um verdadeiro educador deve ter. A
leitura da palavra — alfabetização — é um processo complexo, em que se deve estar presente a leitura
do mundo, as experiências, os saberes e as vivências — letramentos — das crianças e estes não
devem, nunca, serem desperdiçados ou ignorados (FREIRE, 1989). Diante disso, objetivou-se levar
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 635

às discentes/voluntárias a relevância de uma relação dual entre professores e alunos envolvidos no


processo de ensino e aprendizagem. Partindo desse princípio, foi possível compreender a realidade
em que as crianças estão inseridas e, consequentemente, suas necessidades educacionais, dando
significação ao que elas aprendem.

3 METODOLOGIA

O projeto de extensão, base desse relato de experiência, fundamentou-se em uma proposta


metodológica voltada para a formação continuada ou paralela de graduandos em Pedagogia. Teve
como finalidade, dentre outros, atuar diretamente na realidade de sala de aula, com crianças do
primeiro ciclo do Ensino Fundamental (EF), partindo da premissa que o professor é um investigador
da sua própria prática pedagógica (VIZOLLI, 2008).
Tal atuação teve como respaldo metodológico a Engenharia Didática de Michèle Artigue
(1988), que estuda os processos de ensino e aprendizagem de um dado objeto, tendo como base as
análises, intervenções e construções em sala de aula (LOMASSO; OLIVEIRA; SOUSA, 2021). Essa
metodologia possibilita estabelecer uma ponte entre a construção do conhecimento e a prática
investigativa, tendo como respaldo a teoria das situações didáticas de Guy Brousseau (1986; 2004),
o qual evidencia que o objeto central de estudo dessa teoria não é o sujeito cognitivo, mas a situação
didática na qual são identificadas as interações entre a tríade professor, aluno e saber.

3.1 O desenvolvimento do projeto

Um levantamento bibliográfico de produção científica foi desenvolvido com as discentes


voluntárias, com intuito de elencar e analisar o conceito e as práticas pedagógicas de ensino e
aprendizagem do número natural, da leitura e da escrita. Com o objetivo de contribuir para a formação
básica das discentes em Pedagogia, a etapa da Engenharia Didática — análises preliminares—
configurou o início desse projeto. A atividade partiu de uma concepção inicial quanto ao contexto em
que está inserido. Ainda como parte dessa etapa, por meio de uma escola parceira, foram selecionadas
cerca de 20 crianças, matriculadas nos primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental (E.F), que
apresentavam dificuldades na alfabetização matemática, leitura e escrita. Diante desse contexto, nos
primeiros encontros, as voluntárias fizeram um diagnóstico com o intuito de pontuar as dificuldades
das crianças. Essa análise foi desenvolvida de forma remota, por meio de vídeo chamada no
EXTENSÃO PUC MINAS:
636 Novo Humanismo, novas perspectivas

aplicativo WhatsApp, em que, a cada momento, a interventora atuava com uma única criança.
Participaram cerca de 10 voluntárias, o coordenador e as crianças elencadas pela escola, sendo entre
2 e 3 crianças, em média, para cada colaborador(a). 
Na segunda fase — análise a priori —, diante das situações diagnósticas elencadas, foram
estabelecidas as variáveis de estudo, ou seja, a correspondência termo a termo,
o princípio de cardinalidade e o princípio ordinal, diretamente ligadas à área de matemática. No que
tange às questões de alfabetização, verificou-se que muitas crianças não dominavam a leitura,
tampouco a escrita.
Estabelecidas as variáveis, foi elaborada uma sequência didática de atividades referentes ao
tipo de situação-problema. Diante disso, e seguindo o referencial teórico adotado neste projeto, as
atividades contempladas na sequência tiveram como eixo norteador as experiências de Piaget
e Szeminska (1975), abordadas no livro A gênese do número na criança, como também, e não
menos importante, o pensamento de Paulo Freire, em especial o livro A importância do ato de ler:
em três artigos que se completam (1989).
Na terceira fase da Engenharia Didática, a experimentação, as voluntárias atuaram como
professoras interventoras, ministrando aulas em encontros remotos juntos às crianças. Estes
aconteciam uma vez por semana, com duração de 40 a 60 minutos e neles foram desenvolvidas
atividades lúdicas, por meio de materiais concretos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Resultados das práticas de intervenção seguindo as etapas da Engenharia Didática

Na análise preliminar, as discentes buscaram identificar o nível de alfabetização Matemática


das crianças, bem como o nível de alfabetização (leitura e escrita). Para tanto, foram realizadas
atividades básicas que avaliavam se a criança tinha domínio sobre a gênese do número, as operações
básicas, a leitura e a escrita; como apoio, sempre que possível, eram utilizados materiais concretos
como: contagem de objetos (noção de cardinalidade); escrita de números em ordem crescente (noção
de ordinalidade); operações de adição e subtração com materiais com ábaco e tampinhas (noção de
cardinalidade). Foram realizadas brincadeiras em que, para cada objeto apresentado pela professora
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 637

(como um cartão), a criança deveria apresentar outro (como uma tampinha de garrafa), para que,
assim, fosse possível verificar se o estudante conseguia realizar correspondência termo a termo e
conservação de quantidades ao mesmo tempo.
Ademais, um ditado diagnóstico também foi realizado. É fundamental ressaltar que, diante
dessas atividades, foi possível ter uma noção sobre quais eram as potencialidades (desenvolvimento
pleno da criatividade e senso crítico, recebendo a devida atenção), as dificuldades (gênese do número,
operações matemáticas, leitura e escrita) e os conhecimentos dominados pelas crianças. Entretanto, a
próxima etapa da metodologia era que realmente determinaria quais linhas cada professora deveria
seguir.
A partir dos resultados da análise preliminar, foi possível organizar a etapa seguinte, na qual
foi determinado pela equipe um número de variáveis a serem trabalhadas, responsáveis por nortear a
sequência didática de atividades. Ao perceber que os estudantes, por vezes, estavam em diferentes
níveis de aprendizagem, foi possível construir diferentes contextos, conforme as necessidades de cada
grupo. É importante destacar que este relato de experiência priorizou o que foi concretizado com
crianças de um único grupo (aprendizagem da gênese do número e necessidade de alfabetização).
Na etapa seguinte, foram desenvolvidas diversas atividades visando a promover a
aprendizagem, todas essas articuladas em sequências didáticas. Para a realização das aulas, que
aconteciam via chamada de vídeo no WhatsApp, priorizou-se o uso de materiais concretos a todo
momento. Por meio desses encontros, muitas dificuldades que as crianças apresentavam foram
superadas. Tais conquistas foram possíveis a partir das atividades desenvolvidas, tais como: desenho
ditado; jogo da velha com números; construção de relógio; futebol com dados; trabalho com ábaco e
material dourado; escrita de histórias para tirinhas não verbais; escrita de textos com base em
diferentes gêneros textuais; leituras deleite; bem como reforço aos letramentos com atividades que
conscientizaram os estudantes sobre a cultura e história brasileira e mundial (Proclamação da
República, Festas Juninas, Dia da Consciência Negra, Natal, aniversário de Minas Gerais).
Logo abaixo estão algumas das atividades elaboradas e desenvolvidas com um olhar atento à
alfabetização – leitura e escrita – e à alfabetização Matemática dos educandos. Reforça-se que tais
atividades buscaram aproveitar as vivências, saberes e experiências que as crianças têm, tanto na
Língua Portuguesa, quanto na Matemática.
EXTENSÃO PUC MINAS:
638 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 1 - Desenho ditado

Desenho ditado feito por aluno, que


trabalhou a gênese do número, a
coordenação motora fina e a atenção.

Fonte: Acervo dos autores (2021).

Figura 2 - Funcionamento de um relógio

Relógio feito por aluno, em que se


trabalhou o funcionamento completo do
equipamento, a noção de tempo, a
coordenação motora fina e a atenção.
Ressalta-se que os “ponteiros” foram feitos
com palitos de picolé e eram móveis e,
ainda, os minutos foram escritos fora do
relógio, para auxiliar a criança na
compreensão, trazendo o concreto.

Fonte: Acervo dos autores (2021).

Figura 3 - Rotina a partir do relógio

Desenho da rotina feito por aluno,


trabalhando a noção de tempo, a
criatividade, a coordenação motora fina, a
memória e a atenção. Desenharam-se fatos
que são comuns na rotina do aluno
(dormir, higienizar-se, alimentar-se,
brincar e estudar) e colocaram-se as horas
que correspondem a cada um dos fatos.

Fonte: Acervo dos autores (2021).


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 639

Figura 4 - Jogo da velha com números

No jogo da velha com os números,


buscou-se desenvolver o raciocínio
lógico, a estratégia, a resolução de
problemas, o “prever” movimentos do
adversário e, até mesmo, a aprendizagem
em formar sequências e a paciência

Fonte: Acervo dos autores (2021).

Figura 05 - Máquina de somar

Máquina de somar construída por uma


criança. Buscou-se despertar o interesse da
aluna pela adição. Depois de construída,
colocam-se as quantidades de bolinhas
indicadas em cada tubo e, ao final, a criança
conta o total de bolinhas que estavam dentro
da caixa.

Figura 06 - Ditado diagnóstico

Ditado diagnóstico feito com o objetivo de saber em qual


fase de alfabetização a aluna está. A partir dele, são feitas
atividades voltadas à língua portuguesa. Esta criança está no
segundo ano do Ensino Fundamental e deveria escrever:
“Rinoceronte”, “Camelo”, “Peru”, “Rã” e a frase “O camelo
vive no deserto”. Logo, a criança escreveu o que está nessa
imagem, e identificou-se que ela se encontra,
predominantemente, no nível alfabético (ela já desenvolveu
as capacidades de ler e escrever; e agora precisa consolidar
as normas da língua portuguesa, avançando para o nível
ortográfico).

Fonte: Acervo dos autores (2021).


EXTENSÃO PUC MINAS:
640 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 07 - Q.V.L. e Material Dourado

Quadro Valor de Lugar (Q.V.L.) utilizado com


aluno do 3° ano como forma de auxiliar no
processo de contagem e na consolidação dos
conceitos de unidade, dezena e centena. O
material dourado possibilita a visualização
concreta de relações numéricas abstratas.

Fonte: Acervo dos autores (2021).

Figura 08 - Interpretação de História

Desenho em interpretação da história “O


Livro dos Números de Marcelo”, de Ruth
Rocha. O desenvolvimento dessa
intervenção além de intensificar o
conhecimento quanto às quantidades,
possibilitou o trabalho de expressividade,
criatividade e coordenação motora fina.

Fonte: Acervo dos autores (2021).

4.2 Análises a posteriori/ validação

Na análise a posteriori, as discentes/interventoras, junto ao professor/orientador, analisaram


os resultados, confrontando-os com os estudos diagnósticos inicialmente desenvolvidos, ou seja,
comparando a análise a priori com a posteriori. Então, percebeu-se que foi possível ealizar avanços
e contribuir com o desenvolvimento escolar das crianças contempladas no projeto. Dentre as
conquistas alcançadas, destacaram-se a aprendizagem da existência e escrita de números maiores que
20; a facilidade ao lidar com centenas; o domínio da conservação de quantidades e da ordenação de
números em ordem crescente; a aprendizagem do que são números ímpares e pares; o domínio da
correspondência termo a termo; o domínio de operações de adição e subtração; o avanço na fase de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 641

alfabetização, saindo do nível silábico-alfabético para o nível alfabético; o desenvolvimento da


interpretação de texto; a aprendizagem da leitura e escrita. Além disso, os estudantes tiveram ganhos
que ultrapassam as áreas do conhecimento, como desenvolvimento da criatividade, do senso crítico,
da autonomia e aumento da autoestima, ou seja, o projeto conseguiu cumprir com o que se propôs:
auxiliar crianças na alfabetização matemática, além de contribuir com a leitura e a escrita dos
estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse relato de experiência faz parte de um projeto de extensão da UEMG/ Unidade Barbacena,
cujo alvo foi a formação das discentes/voluntárias em Pedagogia. Como objetivos, buscou-se
capacitar as graduandas que compõem o projeto, quanto ao ensino do número natural e ao processo
de alfabetização, colocando-as a atuarem junto às crianças — dos anos iniciais de uma escola parceira
da cidade de Barbacena/MG — como dificuldades em conceber e conceituar esse objeto matemático,
como também em ler e escrever.
Tendo como respaldo teórico a epistemologia genética Piagetiana, quanto à forma que a
criança concebe e conceitua o número, e na teoria de Paulo Freire, quanto ao processo de ler e
escrever, a execução do projeto baseou-se nos exemplos das experiências desenvolvidas por Piaget e
Szeminska (1975), bem como por Freire (1989; 1994; 2002).
A metodologia adotada nesse projeto respaldou as práticas desenvolvidas nas aulas com as
crianças e, como consequência desse processo, percebeu-se um rendimento satisfatório quanto à
aprendizagem em números naturais e ao processo de alfabetização. No que tange às discentes/
voluntárias em Pedagogia, estas sentiram-se mais seguras e autônomas ao compartilharem o cotidiano
relativo ao ensino de Matemática e alfabetização. Tal situação contribuiu, também, para a própria
formação e desempenho delas no curso de pedagogia.
Durante a execução desse projeto, tanto a análise quanto a eficácia da Engenharia Didática,
em uma modalidade remota de ensino-aprendizagem, foram bem rigorosas. Em cima disso, pode-se
afirmar que os resultados foram muito satisfatórios. Obviamente, essa modificação no processo
metodológico não pretende substituir a modalidade em sua totalidade, mas sim atender a uma
necessidade imposta a todo o contexto educacional, em se estabelecer um contato entre professor e
aluno — durante o período de pandemia.
EXTENSÃO PUC MINAS:
642 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os elementos produzidos entre conhecimento, ensino e aprendizagem, sejam esses


direcionados às discentes/voluntárias em pedagogia, sejam esses direcionados às crianças, se
mostraram eficazes e promissores dentro da modalidade remota de ensino e aprendizagem,
contribuição de suma relevância para o campo da educação matemática, leitura e escrita, direcionada
aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

REFERÊNCIAS

ARTIGUE, M. Ingénierie Didactique. Recherches En Didactique Des Mathématiques, Paris, v.9,


n.3, p.281-308, 1988.
BROUSSEAU, G. Théorisation des phénomènes d’enseignement des mathématiques. 1986.
Tese (Doutorado em Matemática) – Université Sciences et Technologies, Bordeaux, Paris, 1986.
906 f.
BROUSSEAU, G. Des dispositifs d’apprentissage aux situations didactiques em
mathematiques. Conference a L’univesite de Geneve, Geneve, 3 juin. 2004. Disponível em:
http://guy-brousseau.com/wp-content/uploads/2012/12/Des-dispositifs-dapprentissage-aux-
situations-didactiques-en-mathématiques.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019.
CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa – Métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução de
Luciana de Oliveira da Rocha. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo:
Cortez Editora, 1989.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
LOMASSO, E. B.; OLIVEIRA, R. P. S; SOUSA, M. E. L. A Engenharia didática como
metodologia no processo de ensino e aprendizagem do número natural: um intercâmbio entre
graduandos em Pedagogia e crianças do 1°ciclo do ensino fundamental no ensino remoto. ReDiPE:
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação, Marabá, v.3, n.1, p.142–156, jan./jun. 2021.
Disponível em: https://periodicos.unifesspa.edu.br/index.php/ReDiPE/article/view/1608. Acesso
em: 10 nov. 2021.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A Gênese do Número na Criança. Tradução de Christiano
Monteiro Oiticica. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SANTOS, M. G. L. S. et al. Educação Física e produção discente em um contexto de iniciação à
docência. Cadernos do Aplicação, Porto Alegre, v.34, n.2, p.1-14, jul./dez. 2021. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/index.php/CadernosdoAplicacao/article/view/106551. Acesso em: 30 out. 2021.
VIZOLLI, I. Rememorando aspectos de vivências matemáticas. Cadernos do Aplicação, Porto
Alegre, v.21, n.2, p.357-377, jul./dez. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.22456/2595-
4377.6790. Acesso em: 09 nov. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 643

Diálogos Possíveis: práticas educacionais para a Escola e a Comunidade

Ilisabet Pradi Krames1


Ana Cristina Bornhausen Cardoso2
Sabrina Silva Campos3
Maria Eduarda Policarpo4

RESUMO
O presente trabalho traduz-se em um relato de práticas vivenciadas no transcorrer de 2021, a partir do projeto de extensão
“Práticas Formativas para Escola e Comunidade”, desenvolvido pela Universidade do Vale do Itajaí. O projeto apresenta
como objetivo a promoção de práticas formativas que permitam a construção e o compartilhamento de conhecimentos
com foco no reconhecimento dos direitos das crianças e adolescentes, na diversidade étnico-racial e nas metodologias
ativas de ensino e aprendizagem. Foram desenvolvidas pautas respaldadas pelas competências e habilidades apontadas
na BNCC, assim como pela ODS, dando destaque à meta 4.5. Selecionaram-se profissionais reconhecidos da educação e
atuantes nas redes de ensino para serem entrevistados. Como resultado das intervenções, foram produzidos 30 podcasts
que foram veiculados nas plataformas digitais. Ressalta-se, ainda, que no contexto da Pandemia, a produção de podcasts
permitiu a ressignificação do projeto de extensão, dando uma outra forma de visibilidade, discussão e reflexão às práticas
educacionais.

Palavras-chave: Práticas educacionais. Extensão. Podcast. Cidadania.

Possible dialogues: educational practices for School and Community

ABSTRACT
The present work reveals an account of practices experienced during the course of 2021, from the extension project
"Formative Practices for School and Community", developed by the University of Vale do Itajaí. The project aims to
promote training practices that allow the construction and sharing of knowledge with a focus on recognizing the rights of
children and adolescents, racial ethnic diversity and active teaching and learning methodologies. Guidelines were
developed based on the competencies and skills identified in the BNCC, as well as by the ODS, with emphasis on goal
4.5. Recognized education professionals, working in education networks, were selected to be interviewed. As a result of
the interventions, 30 podcasts were produced, which were broadcast on digital platforms. It should also be noted that, in
the context of the Pandemic, the production of podcasts allowed the resignification of the extension project, giving another
form of visibility, discussion, and reflection to educational practices.

Keywords: Educational practices. Extension. Podcast. Citizenship.

1
Historiadora. Pedagoga. Doutora em Educação. Docente da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-mail:
ilisabet@univali.br.
2
Licenciada em Letras e Pedagogia. Mestre em Língua. Docente da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-
mail:anacardoso@univali.br.
3
Historiadora. Docente da Educação Básica na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Voluntária do Projeto de
Extensão Práticas Formativas para a Escola e Comunidade. E-mail: sabrinacampos@univali.br.
4
Acadêmica do quinto período do curso de História na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Voluntária do Projeto
de Extensão Práticas Formativas para a Escola e Comunidade. E-mail: mariap@univali.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
644 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

O presente relato de experiência apresenta práticas vivenciadas no período de março até


dezembro de 2021, a partir do projeto de extensão “Práticas Formativas para Escola e Comunidade”,
que nasceu no interior dos cursos de Licenciatura da Escola de Educação da Universidade do Vale
do Itajaí - UNIVALI, localizada em Santa Catarina. O projeto apresenta como eixo central a
promoção de práticas formativas para escola e comunidade, permitindo a construção e o
compartilhamento de conhecimentos, com foco no reconhecimento dos direitos das crianças e
adolescentes, na diversidade étnico-racial e nas metodologias ativas de ensino e aprendizagem. Ele
se apoia em ações de extensão pautadas em uma perspectiva integrada e interdisciplinar e no
envolvimento dos cursos de Licenciatura da UNIVALI, com a participação de acadêmicos, egressos,
professores, bolsistas da extensão e da Bolsa Integração Comunitária (BIC), Artigo 170, e voluntários,
bem como comunidades dos municípios de abrangência da universidade.
O projeto está articulado a documentos oficiais como a Proposta Curricular de Santa Catarina
(CONSELHO ESTADUAL DE SANTA CATARINA, 2019) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC, 2017), que prevê, em suas competências, “valorizar e utilizar os conhecimentos
historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a
realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e
inclusiva” (BRASIL, 2017, p.9,). Ele vai ao encontro da missão, dos valores e dos princípios da
UNIVALI, sinalizados em seus documentos oficiais, que registram compromisso com a produção e
socialização do conhecimento pelo ensino, pesquisa e extensão, “estabelecendo parcerias solidárias
com a comunidade, em busca de soluções coletivas para problemas locais e globais, visando à
formação do cidadão crítico e ético” (UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ, 2022, p.32).
Reconhecendo a interdependência entre contexto local e global, o projeto articula-se aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mais especificamente no atendimento ao ODS 4,
que aponta para a necessidade de “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos” (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 23). Nesse sentido, ganha destaque a meta 4.5, que se compromete
com a eliminação das “disparidades de gênero na educação” e com a garantia de “igualdade de acesso
a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas
com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade” (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 23).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 645

Nessa direção, o objetivo geral do projeto é a promoção de espaços de reflexão e produção de


materiais que contribuam para a formação inicial e continuada de profissionais da Educação Básica.
Para alcançar esse objetivo, o projeto se organiza a partir dos seguintes objetivos específicos: (i)
divulgar as experiências, estudos e resultados de práticas exitosas realizadas em escolas públicas; (ii)
estudar e promover práticas educativas com base nos documentos legais, nas diretrizes educacionais
e na BNCC; (iii) oportunizar, aos licenciandos e docentes da Educação Básica, espaços para discussão
e análise sobre a educação para a diversidade étnico-racial; (iv) produzir e veicular informações de
práticas formativas; (v) relacionar as diferentes concepções históricas sobre diversidade étnico-racial
com o papel da escola.
O ano de 2021 foi marcado pela pandemia decorrente do novo Coronavírus (COVID-19), a
qual impôs novas rotinas ao suspender as modalidades de estudo e trabalho presenciais. Como as
atividades de ensino, pesquisa e extensão na universidade precisaram ser repensadas, o Projeto de
Extensão foi desafiado a buscar estratégias de ação que possibilitassem dar continuidade às atividades
do grupo e, ao mesmo tempo, que respeitassem os protocolos de segurança vigentes, sem perder de
foco os objetivos aqui mencionados. A decisão, naquele momento, foi a produção de podcast,
processo iniciado no ano anterior, e que, em 2021, passou a atribuir ênfase maior à voz de professores
das redes públicas de ensino e de egressos da universidade, a fim de que fossem relatadas experiências
exitosas fomentadas a partir de práticas realizadas em sala de aula, sendo que a maioria delas ocorreu
no primeiro ano de pandemia.
A comunicação por meio de podcasts é acessível, dinâmica e eficiente, que possibilitou trocas
de saberes e experiências através do ciberespaço5. É possível compreender o podcast como um
arquivo de áudio digital, frequentemente em formato .mp3, tendo variadas funções, que vão desde o
entretenimento e a divulgação de informações até o seu uso para fins educacionais (LENHARO;
CRISTOVÃO, 2016).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Resolução n. 2, de 20 de dezembro de 2019, em seu capítulo II, trata dos fundamentos e da


política da formação docente, indicando como um dos princípios relevantes à articulação permanente
entre teoria e prática, “fundada nos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a

5
Lévy define ciberespaço “como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das
memórias dos computadores” (LÉVY, 1999. p. 92)
EXTENSÃO PUC MINAS:
646 Novo Humanismo, novas perspectivas

indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, visando à garantia do desenvolvimento dos


estudantes” (BRASIL, 2019). As práticas vivenciadas, a partir do projeto de extensão, cumprem essa
orientação, à medida que produzem conhecimentos capazes de iluminar a prática, que testa esses
conhecimentos. Esse movimento dialético qualifica os processos de ensino e aprendizagem
justamente porque ultrapassam os muros da universidade e permitem um diálogo fecundo com a
comunidade, dentro da qual a universidade se insere e com a qual é imprescindível dialogar
permanentemente. Caso esse processo não ocorra, corre-se se o risco de sucumbir ao ostracismo,
processo esse incapacitante e estéril, porque separa Universidade e Comunidade, quando o processo
deve ser exatamente o oposto: intercambiar conhecimentos e práticas para fomentar a ciência, a
cultura, os novos saberes e as práticas. Dito de outra forma, a Extensão é um caminho viável e fecundo
para a democratização da Universidade e dos saberes que nela são produzidos.
A mesma Resolução, no Capítulo III, Art. 7º, ao tratar da organização curricular dos cursos
superiores para a formação docente, elege como um dos princípios norteadores o “reconhecimento e
respeito às instituições de Educação Básica como parceiras imprescindíveis à formação de
professores, em especial as das redes públicas de ensino” (BRASIL, 2019, s./p.). Convergindo com
essa perspectiva, foi imprescindível a parceria de professores das redes públicas de ensino, bem como
de egressos, acadêmicos e docentes da universidade que compartilharam experiências exitosas, bem
como seus limites e desafios, relacionadas à implementação das competências e habilidades
apontadas na BNCC. Professores formados em História e Pedagogia, em efetivo exercício, foram os
principais entrevistados.
A pauta abordada em cada podcast buscou focar em temáticas fundamentais para o currículo
da educação básica e para a formação docente. Isso ocorreu à medida que elas enfatizaram temáticas
voltadas à “formação integral, balizada pelos direitos humanos e princípios democráticos” (BRASIL,
2017). Demerval Saviani (2011) afirma que “[...] o objeto da educação diz respeito, de um lado, à
identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie
humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das
formas mais adequadas para atingir esse objetivo” (SAVIANI, 2011, p. 13).
A troca de experiências, via podcast, buscou relatar e identificar essas “formas mais
adequadas” de organizar as atividades de ensino-aprendizagem, visto que permite que os caminhos
percorridos pelos professores sejam compartilhados, a partir de perspectivas que façam sentido e
tenham significado no currículo escolar e, também, no currículo de formação inicial dos licenciandos
participantes do projeto.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 647

A obra Extensão Universitária: trajetórias e desafios (2020) define a extensão como “o


lugar da alteridade por excelência — é onde a universidade realiza o reconhecimento da diversidade
tanto sociocultural quanto étnico-racial e permite não apenas a construção, como também o
estabelecimento dos compromissos necessários à leitura do mundo.” (DEUS, 2020, p.23). Foi
buscando essa alteridade, no sentido de perceber-se parte de um todo, de um coletivo pensante que
valoriza os saberes que estão dentro e fora da Universidade, que o projeto de extensão direcionou
suas ações.

3 METODOLOGIA

Conforme já mencionado, os podcasts foram produzidos de março até dezembro de 2021. O


processo de criação e divulgação do podcast levou à sistematização de um caminho organizado em
cinco etapas. A primeira etapa foi a divulgação do projeto nas redes sociais, o que exigiu a criação de
um perfil do projeto no Instagram, identificado como @praticasformativasunivali, bem como a
elaboração do canal de distribuição do podcast no aplicativo Anchor.
A segunda etapa foi a escolha da pauta da entrevista e a elaboração de roteiro com perguntas
que permitissem relatar práticas exitosas e seus respectivos desafios relacionadas à implementação
das competências e habilidades apontadas na BNCC. A terceira etapa envolveu a escolha da pessoa
entrevistada, o contato inicial, o envio do convite e da pauta, bem como os ajustes de agenda para a
gravação do podcast.
A quarta etapa envolveu a gravação e a edição necessária para garantir a qualidade do áudio,
respeitando o tempo estipulado para cada episódio. Concluída a edição, o arquivo era enviado à
pessoa entrevistada, para que autorizasse a divulgação da entrevista nas mídias digitais. Por fim, a
quinta e última etapa consistia na divulgação, via posts realizados semanalmente no Instagram, para
registrar as ações do projeto durante a semana, bem como a publicação de novos podcasts.
No aplicativo Anchor, foram adicionadas todas as informações do podcast, como a identidade
visual do perfil desenvolvida pela equipe do projeto, as artes de capa dos episódios e a configuração
de distribuição do podcast para a disponibilização destes em outras plataformas:

• Google Podcasts (https://podcasts.google.com/search/praticas%20formativas)


• Spotify(https://open.spotify.com/show/49SnmKxq7OqZDT1vPonTw9?si=a060cc5c72e3433
c)
EXTENSÃO PUC MINAS:
648 Novo Humanismo, novas perspectivas

Caso houvesse grande diferença entre a altura das vozes, essas eram equalizadas no programa
Audacity antes do conteúdo ser publicado nas mídias. Quando se fez necessário, houve a regravação
de algumas partes e, posteriormente, sua publicação na plataforma Anchor.
A partir da definição das temáticas a serem abordadas em cada podcast, a equipe buscou
profissionais da educação atuantes nas redes de ensino e reconhecidos pela sua expertise no tema para
serem entrevistados.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O produto final do projeto de Extensão Práticas Formativas para Escola e Comunidade


culminou com a produção de 30 podcasts, cada um com duração de 9 a 26 minutos6.
Os podcasts abordaram as seguintes temáticas: os desafios do ensino em tempos de pandemia;
patrimônio material e imaterial; uso de fontes históricas na educação básica; a história oral como
estratégia de pesquisa e ensino; o conceito de decolonidade na educação; a noção de espaço público
e privado; a importância da arte local no ensino de história; o processo de independência na América;
O ensino de História e os desafios na implantação da BNCC; a importância da música nos currículos
escolares do Ensino Fundamental; o ensino de História e Cultura Afro-brasileira no currículo escolar
dos anos finais do Ensino Fundamental; reflexões sobre os cuidados com o Meio Ambiente; a
importância da contação de histórias para a formação de leitores; o ensino lúdico; e a alfabetização
intercultural indígena. Todas as temáticas estão relacionadas a ODS 4, mais especificamente à meta
4.5 e às competências / habilidades da BNCC (BRASIL, 2017), conforme pode-se visualizar na
Figura a seguir.

6
Estes podem ser acessados no link:
https://open.spotify.com/show/49SnmKxq7OqZDT1vPonTw9?si=0V4n4sNNS5y0ZRHGOMg0Jg&utm_source=copy-
link.
Nas plataformas: Google Podcasts (https://podcasts.google.com/search/praticas%20formativas); Spotify
(https://open.spotify.com/show/49SnmKxq7OqZDT1vPonTw9?si=a060cc5c72e3433c
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 649

Figura 1 – Relação das pautas com o ODS 4 - Meta 4. 5 e a BNCC (2017)

Fonte: Elaboração das autoras, 2022.

O contato com professores da rede pública, no decorrer das produções, evidenciou que o uso
do podcast como ferramenta de veiculação de informações ainda é novidade e, por isso, um desafio.
A maioria das pessoas entrevistadas sabia o que era o podcast, mas não havia, até então, utilizado a
ferramenta de gravação. Em decorrência da pouca familiaridade dos entrevistados, houve um
processo bastante rico de orientações, por parte do Projeto de Extensão, sobre o funcionamento e uso
de ferramentas para a gravação de podcasts. Após receber o produto editado, alguns professores
entrevistados enviaram feedbacks positivos em relação à experiência vivenciada, indicando,
inclusive, o desejo de usar a ferramenta como apoio didático pedagógico para as suas aulas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
650 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os aprendizados tecnológicos alcançaram os professores entrevistados e possibilitaram pensar


o uso da tecnologia na Educação Básica; além disso, os professores relataram satisfação em poder
partilhar suas práticas educacionais em um espaço respaldado pela teoria e oportuno para reflexões e
discussões que contemplam temáticas fundamentais para a construção da cidadania.
Outro resultado interessante é que o podcast permitiu que as atividades desenvolvidas
ganhassem maior visibilidade dentro da própria escola, pois muitos professores relataram que, até
então, a experiência se limitava ao seu grupo de alunos. A partir do momento em que se transformou
em podcast, passou a ser ouvido por gestores, colegas e alunos da própria escola, valorizando e dando
maior visibilidade à experiência relatada.
Nesse movimento de compartilhar, explorar e produzir conhecimento a partir do mundo
virtual, a equipe do projeto de extensão passou a refletir sobre o público que estava sendo alcançado.
Na busca por responder esse questionamento, foi possível identificar, no aplicativo Anchor, uma
forma de acessar dados quantitativos, já que ele oferece informações sobre o gênero, a idade e a
localização dos acessos do Spotify.
Os dados extraídos em 19/06/2022 indicam que nos eixos geográficos com acessos que
surgiram, até então, estão localizados no Brasil (63%), Estados Unidos (26%), Alemanha (9%),
Portugal (2%) e Itália (1%). Sobre a faixa etária das pessoas que acessam os conteúdos, há registros
de uma maior concentração entre 18 e 22 anos, representando 26% do público. Há, ainda, registros
de 331 reproduções dos episódios. Já o perfil do projeto de extensão no Instagram contava com 27
publicações e 129 seguidores.
Entre os resultados obtidos, está o crescimento intelectual e técnico da equipe que trabalhou
no projeto como bolsistas e voluntários, visto que foi necessário que todos aprendessem a utilizar
ferramentas tecnológicas até então desconhecidas ou pouco utilizadas pelos membros do grupo.
Também foi necessário estudar com profundidade a BNCC, bem como aprender a elaborar questões
relacionadas aos objetivos estabelecidos em cada temática e descobrir formas apropriadas de conduzir
uma entrevista, o que gerou na qualificação da comunicação e da oralidade do entrevistador e do
entrevistado. Por fim, trabalhar na edição dos áudios e acompanhar sistematicamente a interação e
manutenção do Instagram do projeto. Todas essas aprendizagens vêm ao encontro da competência
de número cinco indicada na Base Nacional Comum para a formação inicial de professores da
educação básica (BNCC-formação):
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 651

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma


crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas docentes, como recurso
pedagógico e como ferramenta de formação, para comunicar, acessar e disseminar
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e potencializar as aprendizagens.
(BRASIL, 2019).

Por fim, merecem destaque a integração e a aproximação com as diversas realidades e


contextos educacionais percorridos a partir do contato com os professores das escolas. Esse contato
permitiu conhecer e compreender melhor o futuro campo de atuação dos licenciandos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olhando retrospectivamente, há evidências consistentes que indicam que foi possível


promover espaços de reflexão e produção de materiais que contribuem para a formação inicial e
continuada de profissionais da Educação Básica.
Por meio dos podcasts, foram divulgados experiências, estudos e resultados de práticas
exitosas realizadas em escolas de educação básica. Esse processo exigiu estudar possibilidades de
práticas educativas a partir do que dizem os documentos legais, como as diretrizes educacionais e a
Base Nacional Comum Curricular – BNCC. O projeto desafiou e, ao mesmo tempo, oportunizou aos
licenciandos e aos docentes de escolas públicas espaços para discussão e análise sobre a educação
para a diversidade étnico-racial e outros temas da mesma forma relevantes. Ao produzir e veicular
informações de práticas formativas, relacionando as diferentes concepções históricas sobre
diversidade, foi possível pensar sobre os papéis e funções socialmente construídos sobre a escola e
para a escola. Algo de fundamental importância em tempos em que as instituições de ensino recebem
tantas críticas que evidenciam mais os erros do que os acertos.
Apesar de tantas perdas, dificuldades, desafios e adaptações impostas pela pandemia, a equipe
do projeto de extensão vislumbrou, na produção dos podcasts, uma possibilidade de reinventar-se,
sem interromper o diálogo entre a Universidade e a comunidade, visto que produziu conhecimento e
deu visibilidade às práticas formativas exitosas produzidas pela comunidade dentro da qual a
universidade precisa estar cada vez mais inserida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
652 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP Nº 2, de
20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de
Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de
Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Brasília, DF: Ministério da Educação, 2019.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2019-pdf/135951-rcp002-19/file.
Acesso em: 18 jun. 2022.
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO (Santa Catarina). Secretaria de Estado da Educação.
Currículo Base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do território Catarinense.
Florianópolis: SED, 2019. Disponível em: http://www.cee.sc.gov.br/index.php/curriculo-base-do-
territorio-catarinense. Acesso em: 16 jun. 2022.
DEUS, Sandra de. Extensão Universitária: trajetórias e desafios. Santa Maria, RS: Ed. PRE-
UFSM, 2020. e-book. Disponível em:https://www.ufmg.br/proex/renex/images/EBOOK_-
_Sandra_de_Deus_-_Extensao_Universitaria.pdf. Acesso em: 18 jun. 2022.
LENHARO, Rayane Isadora; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. Podcast, participação social e
desenvolvimento. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 32, n. 1, p. 307-335, jan.-mar. 2016.
Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/211372. Acesso em: 20 jun. 2022.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Centro de Informação das Nações Unidas,
2015. Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso
em: 16 jun. 2022.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11. ed. rev.
Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI 2022-
2026. Itajaí: UNIVALI 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 653

O avanço da tecnologia e os desafios na formação de competências


na construção civil: um relato de experiência de dois anos do
projeto Canteiro Escola no regime remoto1

Carla Poeiras da Silva Paiva2


Elke Berenice Kölln3
Paulo Henrique Maciel Barbosa4

RESUMO
Este relato de experiência tem como objetivo falar das atividades desenvolvidas durante o período pandêmico da COVID-
19, nos anos de 2020 e 2021, em que as atividades de ensino, pesquisa e extensão, exceto as de caráter essencial, se
desenvolveram de forma online, o que também ocorreu com o Projeto de Extensão “Canteiro Escola: formação de
competências na construção civil”. O relato destaca e descreve as atividades de produção de conteúdo para as redes sociais
como principal atividade nesse período e a produção dos webinars como uma importante ação de interação com o público-
alvo. Também traz o relato de uma aluna que desenvolveu ações extensionistas no projeto por meio da parceria com o
PET Civil da PUC Minas e sua visão sobre a experiência no online. Em meio ao relato, também se propôs uma discussão
sobre os impactos da tecnologia no canteiro de obras, principalmente as tecnologias da informação, e, no caso da
construção civil, advindas com o uso da metodologia BIM cada vez mais presentes no mercado da Engenharia Civil e
demais áreas afins, por meio da pesquisa extensionista realizada. Os resultados demonstram o abismo entre a mão de obra
braçal e os demais trabalhadores da construção civil no desconhecimento dessas novas tecnologias.

Palavras-chave: Projeto de Extensão. Ensino online. Tecnologia no canteiro de obras. BIM.

The advance of technology and the challenges in training skills


in civil construction: a two-year experience report of the
Canteiro Escola project in the remote regime

ABSTRACT
This experience report aims to talk about the activities carried out during the COVID-19 pandemic, during the years of
2020 and 2021, in which teaching, research and extension activities, except those of an essential nature, were developed
online, which it was the case of the Canteiro Escola extension project: skills training in civil construction. The report
highlights and describes the activities of producing content for social networks as the main activity in this period and the
production of webinars as an important action of interaction with the target audience. It also brings the report of a student

1
Referente ao projeto de extensão 2020-Extraedital com fomento PROEX-2020/26595 com vigência de 02/03/2020 a
31/12/2020 e 2021-Edital com fomento PROEX-2021/27317 com vigência de 01/02/2021 a 31/12/2021.
2
Graduanda em Engenharia Civil na PUC Minas Coração Eucarístico. Integrante do PET – Programa de Educação
Tutorial. E-mail: cpoeirassp@gmail.com.
3
Coordenadora do Projeto – ano 2021. Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG), Professora Assistente III do
Departamento de Engenharia Civil da PUC Minas. E-mail: elkekolln@pucminas.br.
4
Coordenador do Projeto Canteiro Escola – ano 2020. Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG). Professor Assistente I
do Departamento de Engenharia Civil e Coordenador de extensão nos cursos de Engenharia Civil da PUC Minas. E-mail:
paulohenrique@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
654 Novo Humanismo, novas perspectivas

who developed extension actions in the project through the partnership with the PET Civil of PUC Minas and her vision
about the experience in the online. In the midst of the report, a discussion was also proposed on the impacts of technology
on the construction site, especially information technologies, and, in the case of civil construction, arising from the use
of the BIM methodology increasingly present in the Civil Engineering market and other areas, related through the carried-
out extensionist research. The results demonstrate the gap between manual labor and other civil construction workers in
the ignorance of these new technologies.

Keywords: Extension project. Online teaching. Technology at the site. BIM.

INTRODUÇÃO

Falar de tecnologia no campo da construção civil não é uma tarefa fácil, visto que,
historicamente, praticamente tudo que se refere a essa área perpassa, de alguma maneira, pelo
processo de desenvolvimento das técnicas, em especial as construtivas. O Canteiro Escola é um
projeto de extensão voltado para a construção civil, principalmente em ações que visam à
aproximação da teoria com a prática no conhecimento de muitas dessas técnicas. Entretanto, a
discussão aqui proposta ficará mais concentrada nas tecnologias da informação que vêm
revolucionando nosso mundo atual e tiveram papel crucial durante a pandemia da COVID-19.
Enquanto se iniciava o ano de 2020, o Projeto Canteiro Escola, preocupado em discutir como
as novas tecnologias informacionais estavam revolucionando o canteiro de obras, foi surpreendido
pelo fechamento da maioria das atividades, dentre elas o ensino superior, que passou a ser em regime
remoto e, com ele, as atividades extensionistas, com exceção das de caráter essencial, passaram a
ocorrer a distância.
Na construção civil, o BIM (Building Information Modeling) vem prometendo alterar o
processo de desenvolvimento de projetos, construção, manutenção e desconstrução de forma nunca
vista antes, por meio de uma metodologia integrativa, com forte presença das tecnologias de
informação. A partir de um modelo tridimensional computadorizado, o Projeto é pensado de forma
integrada entre as diversas disciplinas que literalmente constroem de forma virtual, usando a
modelagem das diversas disciplinas como objeto de exploração de soluções projetuais e, dessa forma,
compatibilizam todas as possíveis interferências antes da execução da obra.
O problema é que pouco se sabe sobre como essa tecnologia tem impactado o canteiro de
obras, em especial a mão de obra, pois, enquanto se observa uma parte do mercado se desenvolvendo
de forma exponencial para adentrar na nova realidade prometida pela metodologia BIM, ainda se
percebe uma boa parte dos canteiros de obras quase que artesanais, com técnicas construtivas e
processos de projeto tradicionais. Por isso, são questionamentos do projeto Canteiro Escola em
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 655

relação à revolução tecnológica proposta pela metodologia BIM: de que forma a metodologia BIM
irá chegar até o trabalhador braçal O uso das tecnologias por meio dos softwares e equipamentos
utilizados irá acarretar uma maior desigualdade social e econômica em relação aos trabalhadores da
construção civil? Quais impactos do uso da metodologia na atividade braçal da mão de obra?
Enquanto o mundo tentava descobrir maneiras de desafiar as impossibilidades de ações
promovidos pelo distanciamento físico, atividades extensionistas como as do projeto Canteiro Escola
também precisaram se reinventar.
Este relato de experiência visa registrar o que foi produzido nesse período pandêmico, bem
como explorar alguns questionamentos que já eram latentes no viés de pesquisa do Projeto, por meio
de atividades realizadas durante a pandemia e pelo relato de uma aluna extensionista. Não serão dadas
respostas conclusivas aos questionamentos expressos anteriormente, porque ainda estão presentes nas
incertezas das ações extensionistas que estão sendo propostas, demonstrando a necessidade e urgência
de mais trabalhos, pesquisas e discussões em torno desse assunto.

2 O ANO DE 2020 E O INÍCIO DO REGIME REMOTO

Após a mudança das atividades do Projeto para dentro da unidade São Gabriel, ocorreu, no
segundo semestre de 2019, uma das oficinas mais procuradas até então, que se encerrou com lista de
espera para o ano seguinte. O ano de 2019 terminou com expressivos resultados para o projeto
Canteiro Escola. Tudo estava organizado no início de 2020, com apostilas impressas e data marcada
para a oficina presencial iniciar, então chegou a pandemia da COVID-19.
De início, as incertezas sobre quanto tempo aquela situação se manteria e, apesar de a PUC
Minas ter instituído o regime de ensino remoto de imediato, ainda havia esperança de um pequeno
tempo de isolamento; porém, não levou muito tempo para se perceber que era necessária a proposição
de ações remotas para manterem os projetos de extensão em funcionamento. Dessa forma, como
ocorreu com a maioria dos projetos em desenvolvimento, o Canteiro Escola reelaborou suas
atividades para a produção de conteúdo para suas redes sociais.
O Projeto já possuía páginas como o Facebook5 e o Instagram6 para divulgação das suas
ações, e com o início das atividades remotas, as postagens passaram a ser mais frequentes e com
cunho educacional de promoção de esclarecimentos em relação a temas correlatos à construção civil.

5
Facebook: Canteiro Escola – https://www.facebook.com/canteiroescola
6
Instagram: @canteiroescola – https://www.instagram.com/canteiroescola/
EXTENSÃO PUC MINAS:
656 Novo Humanismo, novas perspectivas

A produção de conteúdo se manteve durante os anos de 2020 e 2021 até hoje, mesmo com o Projeto
tendo voltado presencialmente, por se mostrarem como mais um meio de alcance do público-alvo,
que será demonstrado mais à frente.
A partir do segundo semestre de 2020, a ação extensionista que ganhou maior peso dentro do
projeto foi a produção de webinars, uma espécie de palestra desenvolvida por meio de uma plataforma
digital, com interação síncrona entre os participantes, que se inscrevem antecipadamente e, pela sua
participação, recebem certificado. Além da interação com o público-alvo, ao vivo, no momento da
realização do webinar, a transmissão também foi gravada, o que virou material para a criação do
canal no Youtube7 do projeto no ano de 2021.

3 AS REDES SOCIAIS E OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO COM


O PÚBLICO-ALVO

Mesmo antes da pandemia, percebia-se uma necessidade do uso dos canais de comunicação e
interação obtida por meio das redes sociais, como forma de estreitar vínculos com o público
beneficiário das ações extensionistas. Para se conectar com as novas gerações, é preciso estar dentro
do mundo digital, em especial das redes sociais, pois essas fazem parte dos chamados “nativos
digitais” (PRENSKY, 2001 apud ELMÔR FILHO et al., 2019, [s./p.]. No presencial, viam-se as redes
como uma forma complementar de conexão, mas, com o início do período pandêmico, percebeu-se
que podiam ganhar um novo papel, sendo um canal de transmissão de conteúdos informativos e
formativos na área da construção civil. Assim, não se perdia o contato com o público beneficiário e
proporcionava aos extensionistas uma possibilidade de pesquisa e aprofundamento em temáticas
voltadas para a sua formação, além de uma oportunidade de treinamento de habilidades como a da
escrita e elaboração de conteúdo.
Dessa forma, uma nova metodologia de trabalho foi elaborada, que os extensionistas podiam
escrever qualquer tema de seu interesse, desde que tivesse relação com a área da construção civil.
Tais temas eram revisados pelos professores coordenadores e participantes e somente depois
publicados (ver Quadro 1). Era necessária a elaboração de textos sintéticos, com o uso de pelo menos
uma imagem ilustrativa e todas as fontes de pesquisa, de conteúdo e imagem, obrigatoriamente

7
Youtube: Canteiro Escola - https://www.youtube.com/channel/UCHA4WXsqskCeQEJ9_MtAqMA
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 657

citados. Posteriormente, grupos temáticos foram estabelecidos para focarem mais em temas
específicos e outras propostas de ações que acabaram culminando nos webinars: Matemática Básica,
Arquitetura, Elétrica e Estruturas.
No segundo ano de ações remotas, em 2021, propôs-se a elaboração de postagens do tipo
carrossel (com usos de várias imagens), que o texto deveria estar inserido na própria imagem. Com
isso, o uso de aplicativos computacionais foi estimulado, no intuito de favorecer um aperfeiçoamento
no uso de ferramentas computacionais para trabalhos profissionais e acadêmicos dos extensionistas,
como exemplo o aplicativo Canva.

Quadro 1 – Participantes do projeto Canteiro Escola nos anos de 2020 e 2021


Arquitetura
Professores -- 3 Estruturas e Construção Civil
Engenharia Elétrica
14 alunos de Engenharia Civil
3 alunos de Arquitetura e Urbanismo
Total de Extensionistas - 23 Voluntários – 23
3 alunos de Engenharia Elétrica
3 alunos da Engenharia de Energia
FIP: Desenvolvimento de tecnologia para
1º e 2º
obras civis através de um aplicativo para
semestres
planejamento físico de empreendimentos
de 2020
Projetos de Pesquisa imobiliários; Bolsista – 1
Vinculados ao Projeto PROBIC: Desenvolvimento de tecnologia Bolsistas – 2
para obras civis através de um aplicativo
para planejamento financeiro de
empreendimentos imobiliários;
16 alunos do curso de Engenharia Civil
Alunos de Disciplinas com
da unidade curricular Tecnologia das
Prática Curricular de Extensão
Construções
Arquitetura
Professores – 3 Estruturas e Construção Civil
Engenharia Elétrica
10 alunos de Engenharia Civil
2 alunos de Arquitetura e Urbanismo Bolsistas – 4
Total de Extensionistas – 14
1 aluna de Engenharia Elétrica Voluntários – 10

1 aluna de Jornalismo
semestre
Engenharia Civil
de 2021 Voluntários Externos – 2
Engenharia Elétrica
Alunos de Disciplinas com
6 alunas do curso de Fisioterapia
Prática Curricular de Extensão
3 alunos do Grupo PET – Programa de
Alunos de Parceria Educação Tutorial do curso de
Engenharia Civil
Arquitetura
Professores – 3 Estruturas e Construção Civil
Engenharia Elétrica
7 alunos de Engenharia Civil
2º 2 alunos de Arquitetura e Urbanismo Bolsistas – 5
Total de Extensionistas – 11
semestre 1 aluna de Engenharia Elétrica Voluntários – 6
de 2021 1 aluna de Jornalismo
Voluntários Externos – 1 Engenharia Elétrica
2 alunos do Grupo PET – Programa de
Alunos de Parceria Educação Tutorial do curso de
Engenharia Civil
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
658 Novo Humanismo, novas perspectivas

A atividade de elaboração de conteúdo para as redes sociais se mostrou bastante exitosa e


sempre foi muito bem avaliada por todos os participantes nas reuniões de avaliação e planejamento
realizadas todos os finais de semestre. Apesar disso, percebeu-se a dificuldade de mensurar
quantitativamente a abrangência das ações com o público-alvo beneficiado, que, devido a essa
deficiência, surgiram as propostas de realização de webinars (ver Quadro 2), tanto pelas inscrições
prévias quanto pelo acesso online no momento da realização do evento com ferramentas que
permitiam a interação com o público por meio de áudio ou chat. Foram utilizadas plataformas como
Google Meet e Zoom, para a transmissão e gravação dos webinars e Sympla, para realização das
inscrições e gerenciamento dos participantes para posterior envio dos certificados.

Quadro 2 – Principais produções acadêmicas nos anos de 2020 e 2021


Produção Observações Data/Período
Publicações de conteúdos voltados para a Atividade contínua 1 e 2º semestres de
construção civil para Facebook e Instagram De 2 a 3 publicações semanais 2020 e 2021
Participação do engenheiro e arquiteto
Live “Como planejar uma Obra do Zero”8 Fabrício Rossi idealizador do site 23/06/2020 – 21h
Pedreirão.
Webinar de Alvenarias e Revestimentos 17/09/2020 – 14h30
Oficina ofertada durante o Seminário de Extensão
intitulada: A Importância da prática para formação 22/10/2020 – 15h20
na Construção Civil9
Webinar Estruturas de Concreto Armado Projeto e
07/11/2020 – 9h30
Execução
Webinar de Leitura e Interpretação de Projetos de
28/11/2020
Instalações Elétricas 1
Webinar - INS Hidráulicas Prediais - Patologias e Em parceria com a Pós-graduação em
03/12/2020
Prevenções - Projeto Extensão Canteiro Escola Engenharia Elétrica
Webinar de Técnicas Preliminares de Orçamento
13/05/2021 – 17h
na Construção Civil
Em parceria com o projeto de extensão
Webinar Matemática Básica no Canteiro de Obras 08/07/2021 – 17h
SOS Matemática
Webinar em Leitura e Interpretação de Projetos de
30/06/2021 – 17h
Instalações Elétricas 2
Webinar na Área de Elétrica – Descargas Em parceria com a Pós-graduação em
29/11/2021 – 18h
Atmosféricas e como se proteger delas? Engenharia Elétrica
Webinar sobre Patologias na Construção Civil:
26/10/2021 – 18h
principais causas e possíveis soluções.
Webinar Regularização Urbana: principais Em parceria com o projeto de extensão
13/12/2021 – 17h30
conceitos, documentações e estudo de caso. Engenharia Civil nas Cidades
Publicação da Cartilha Projeto Arquitetônico:
Dez./2021
leitura e interpretação10 – online;
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

8
https://www.instagram.com/tv/CBzJ6bghrCs/?utm_source=ig_web_copy_link
9
https://youtu.be/mnGtle4qjr8
10
A Cartilha se encontra disponível no acervo da biblioteca da PUC Minas
(http://bib.pucminas.br:8080/pergamumweb/vinculos/000000/0000003e.pdf) e no site da PROEX
(http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20220204153834.pdf).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 659

As gravações dos webinars se tornaram materiais para a criação do canal no YouTube para o
projeto Canteiro Escola, a proposta surgiu principalmente pela oportunidade vislumbrada dos
conteúdos produzidos ficarem disponíveis por mais tempo. Durante a pandemia, percebeu-se que o
número de atividades e eventos online que ocorriam simultaneamente era grande, sendo assim, essa
seria uma forma de resgate do conteúdo.
O período de distanciamento social, caracterizado por dificuldades adaptativas de toda ordem,
logo evidenciou que inúmeras atividades mediadas pelas ferramentas computacionais foram
proporcionadas de forma satisfatória. Assim, tudo se passou a ser realizado online, reuniões, aulas,
webinars, lives, entre outros. Porém, dependia do, no mínimo, adequado acesso à internet e de um
computador, muitas vezes substituído pelo celular. Quem não tivesse acesso a esses recursos mínimos
estava de fora de tudo que estava acontecendo.

4 RELATO DA EXPERIÊNCIA DE UMA ALUNA NO REGIME REMOTO E A PARCERIA


COM O PET CIVIL

Entendendo que um dos resultados mais significativos de um projeto de extensão são os


relatos dos extensionistas e as transformações causadas na sua formação, segue o relato da experiência
vivida pela aluna Carla Poeiras da Silva Paiva. Sua jornada se iniciou junto ao grupo PET11, da
Engenharia Civil da PUC Minas, no mês de maio de 2021, e o primeiro desafio encontrado foi o de
passar por uma entrevista do processo seletivo de forma virtual, mesmo já estando com mais de um
ano de pandemia da COVID-19, tornando a situação, de certo modo, mais distante e impessoal. Após
ser aprovada, vieram alguns passos burocráticos a serem seguidos, assinatura de contrato, abertura de
conta em banco e todos os demais trâmites para que o cadastro fosse realizado de forma correta no
sistema do MEC, já que este é o órgão responsável pela execução do PET.
Dando início às atividades, o grupo PET realizou reuniões gerais semanais, que acontecem
todas as segundas-feiras no horário das 17h10, com o professor tutor responsável pelo grupo
ministrando essas reuniões. Na primeira reunião, a aluna foi apresentada aos demais “petianos” e,
após esse momento, vieram as definições de suas responsabilidades a serem seguidas dentro do
projeto. Havia algumas opções de projetos de extensão e pesquisa em andamento de projetos parceiros
do PET Civil e o escolhido pela aluna foi o projeto de extensão Canteiro Escola.

11
Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Civil da PUC Minas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
660 Novo Humanismo, novas perspectivas

A principal motivação para escolha da participação no Canteiro Escola foi saber que esse era
um projeto que envolvia atividades mais práticas, exceto no período de pandemia. Devido ao fato de
seu pai ser um profissional da construção civil e de sempre realizar, sozinho, obras em sua casa e na
casa de conhecidos influenciou o desejo da aluna de seguir a atuação junto a atividades que envolvem
vivências na prática da mesma área.
Em relação ao PET, os alunos devem cumprir 20 horas de dedicação semanais às atividades
voltadas para o projeto e, para que o tutor coordene as ações, é necessário que cada aluno envie um
cronograma semestral de seu planejamento de atividades, incluindo horas dedicadas a reuniões,
eventos e palestras acadêmicas e, até mesmo, a cursos de idiomas.
Dentro das reuniões semanais do grupo, existe um calendário de atividades gerais a serem
cumpridas pelos alunos, como, por exemplo, o PET Educa, que é uma publicação mensal que ocorre
no Instagram do PET, planejada após a definição de um tema e que seja da área de interesse da
Engenharia Civil. Outra atividade é a roda de conversa, trazida uma vez por mês para que os alunos
possam conversar sobre alguma experiência vivida, livro, filme ou passeio cultural realizado além do
curso de Engenharia Civil. Dessa forma, é possível que haja uma maior interação e trocas de ideias,
mas que teve suas dificuldades no âmbito virtual, visto que inviabilizava a troca de conhecimento
entre os participantes.
O Projeto Canteiro Escola foi apresentado como uma experiência em que os alunos teriam
mais contato com o canteiro de obras em regime presencial, o que não foi possível durante o período
de pandemia. Dessa forma, as atividades assumiram uma postura virtual e se aproximavam da melhor
forma possível de aplicações que envolveriam o campo prático da Engenharia Civil.
Na primeira atividade da extensionista, foi proposto que os alunos do PET, juntamente com
os do Canteiro Escola, realizassem uma pesquisa sobre o nível de conhecimento sobre o BIM nos
canteiros de obras, visto a existência das preocupações do projeto em relação a forma que as novas
tecnologias impactariam o canteiro de obras. Nesse intuito, foi realizada uma pesquisa, por meio de
um formulário online.
A metodologia BIM está se tornando cada vez mais popular no campo da Engenharia Civil,
se utilizando de diversos softwares permite que seus usuários consigam integrar diferentes disciplinas
de projetos, como: arquitetônico, estruturais, hidráulicos, elétricos e demais em um único modelo.
Esta metodologia vem ganhando espaço ao longo dos anos e se tornando crucial no mercado de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 661

trabalho devido às suas possibilidades de realização de trabalhos unificados e as diversas


funcionalidades que facilitam a comunicação de diversas áreas do ramo da construção durante todo
o ciclo de vida da edificação.
A chamada para a participação na pesquisa foi divulgada de forma online pelas redes sociais
e estava totalmente voltada para pessoas que trabalham diretamente no canteiro de obras, com o
intuito de entender até que ponto a utilização da metodologia BIM está impactando aqueles que de
fato executam as obras. Os resultados obtidos mostraram que 39% das pessoas não conhecem o BIM,
8% não tinham certeza e 52% conheciam. Esses dados, associados a outras informações fornecidas
na pesquisa, mostram que o grupo, mesmo inserido no mercado de trabalho, ainda precisa ter mais
contato com a metodologia BIM para que, dessa forma, sua utilização se torne cada vez mais aceita
e difundida, haja vista a existência de legislação federal que obriga obras públicas a utilizarem essa
metodologia (BRASIL, 2019a; 2020).
A partir do segundo semestre, a aluna começou a contribuir com a produção de conteúdo para
as redes sociais e sua principal contribuição foi na realização do webinar sobre Patologias na
Construção Civil, trabalho muito enriquecedor na sua formação com conteúdo produzido pelos
extensionistas, sob a orientação da então coordenadora do projeto. Esse webinar foi particularmente
desafiador, pois, além de ser ofertado de forma virtual, foi sobre um tema que ainda não havia feito
parte das unidades curriculares já estudadas pela aluna, porém outro extensionista do projeto, Artur
Caldeira, já mais adiantado no curso, ajudou muito com a produção dos conteúdos, num trabalho
colaborativo sobre cada item apresentado no webinar. O processo de montagem da apresentação foi
de grande aprendizado e exigiu muito estudo para que fosse possível apresentar o conteúdo a quem
fosse assisti-lo.
De uma maneira geral, a experiência extensionista no regime remoto foi bastante desafiadora,
desde a estabilização e dificuldade de acesso a conexões via web, até a própria adaptação de execução
das tarefas de forma não-presencial. A principal vantagem observada foi com relação a questão de
otimização do tempo e conforto de se estudar e trabalhar de casa, que tornou a carga do dia a dia mais
leve, apenas por não serem necessários os deslocamentos; por outro lado, criou-se um enorme vazio
no quesito de relações sociais, o que resultou num impacto negativo na formação no quesito
socialização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
662 Novo Humanismo, novas perspectivas

5 O AVANÇO DA TECNOLOGIA NO CANTEIRO DE OBRAS

Para compreensão da era tecnológica em que vivemos atualmente, os autores Quartiero,


Lunardi e Bianchetti (2009) desconstroem os conceitos de técnica e tecnologia, buscando suas origens
históricas, que servem de base para as discussões aqui propostas. Segundo os autores, a história da
técnica e da tecnologia está profundamente arraigada à história da própria humanidade, considerando
o fato que na Filosofia o homem é entendido “como um tipo de animal que trabalha constantemente
para transformar a natureza” (QUARTIERO; LUNARDI; BIANCHETTI, 2009, [s./p.]).
Os autores concluem o levantamento histórico trazendo o conceito de tecnologia como “a
ciência que trata da técnica”, recorrendo aos estudos de Bacon ([s./a.] apud QUARTIERO;
LUNARDI; BIANCHETTI, 2009, [s./p.]), e, o de técnica como “um saber fazer de forma eficaz”
segundo Sancho (1998, apud QUARTIERO; LUNARDI; BIANCHETTI, 2009, [s./p.]). Sendo assim,
não há como separar tecnologia do fazer humano. Mas, além de não se separar, há de se pensar como
essa tecnologia permeia a educação e, consequentemente, a formação de competências, de forma
ainda mais expressiva em formações profundamente técnicas. Para isso, os autores partem do
pressuposto que a educação é tecnológica, destacando-se que “determinadas tecnologias que
envolvem: forma simbólicas inventadas (linguagem, representações icônicas, saberes escolares),
tecnologias organizacionais (gestão, arquitetura escolar, disciplina) e tecnologias instrumentais
(quadro-verde, giz, televisão, vídeo, computador)” (QUARTIERO; LUNARDI; BIANCHETTI,
2009, [s./p.]).
O Projeto Canteiro Escola sempre teve como objetivo a formação de competências na área da
construção civil, que contempla desde a formação do extensionista e do aluno do curso de Engenharia
Civil ou de outras áreas afins, como também o beneficiário das ações, que, na sua grande maioria,
são mão de obra braçal da construção civil ou desempregados em busca de uma qualificação para
uma colocação no mercado de trabalho. Na essência, essa formação sempre foi pautada pela
aproximação da teoria com a prática e na formação ampla e humanística profissional, indo ao encontro
do que expressa o Projeto Pedagógico do curso de Engenharia Civil (PONTIFÍCIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2015) e as Diretrizes Curriculares Nacionais
(BRASIL, 2019b) sobre o perfil e as competências esperadas do egresso dos cursos de graduação em
Engenharia, no seu Art. 3º, inciso I: “ter visão holística e humanista, ser crítico, reflexivo, criativo,
cooperativo e ético e com forte formação técnica” (BRASIL, 2020, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 663

Nesse contexto, em reuniões de planejamento, mesmo antes da pandemia, os extensionistas já


expressavam interesse em também trazer a metodologia BIM, da qual a tecnologia é um dos pilares,
para o escopo de conteúdos trabalhados nas oficinas dentro do Canteiro Escola. Durante a pandemia,
enquanto o foco estavas nas discussões e nas ferramentas tecnológicas que mediavam e
possibilitavam as atividades online, pensou-se então em se tratar desse tema. E as primeiras
preocupações giraram em torno de como essa tecnologia alcançaria a mão de obra da construção civil.
No ano de 2021, um grupo de pesquisa foi montado entre os extensionistas do Canteiro Escola
e os alunos do PET Civil. Esse grupo passou a realizar reuniões de discussões sobre como o tema
BIM poderia ser abordado no projeto. Como ainda se encontrava vigente o regime de ensino remoto,
pensou-se em iniciar uma pesquisa exploratória sobre a temática.
A primeira iniciativa foi a elaboração de um questionário online com o intuito de interagir
com o público das redes sociais e descobrir quais temas eram de interesse desse público, pretendendo-
se chegar, ao final do questionário, a uma inscrição de voluntários para pesquisas mais avançadas na
área de BIM. O questionário foi montado e divulgado, e, dentre os participantes (total: 23), obteve-
se uma participação principal de 9 engenheiros(as), 3 pedreiros(as) e 1 ajudante de pedreiro(a) e o
restante: estudante de engenharia, professor(a), arquiteto(a), engenheiro eletricista e eletricista.
O primeiro objetivo foi alcançado, de listar os temas para discussão. Dentre os temas
elencados, os que mais despertam interesse do público, em ordem decrescente: orçamentação
(69,6%); técnicas construtivas (60,9%); instalações elétricas (56,5%); materiais de construção
(52,2%); instalações hidráulicas e quantitativo de obras (cada um com 43,5%); leitura e interpretação
de projeto arquitetônico (34,8%); BIM (8,7%) e execução de obras pesadas (4,3%).

CONCLUSÕES SOBRE A RELAÇÃO TECNOLOGIA E O CANTEIRO DE OBRAS

Nascimento e Toledo (2002) discutem por que “paradoxalmente, a penetração da TI na


indústria da Construção ainda é pequena em relação a outros setores.” (NASCIMENTO; TOLEDO,
2002, [s./p.]): segundo esses autores “isso se dá, em grande parte, devido a um conjunto de barreiras
ligadas aos profissionais que atuam na área, aos seus processos longamente estabelecidos, às
características do próprio setor e a deficiências da tecnologia” (NASCIMENTO; TOLEDO, 2002,
[s./p.]).
Quando se analisam os resultados individuais da pesquisa realizada, principalmente na
questão de como a metodologia BIM está impactando o canteiro de obras, verifica-se que, dos 6
EXTENSÃO PUC MINAS:
664 Novo Humanismo, novas perspectivas

participantes considerados mão de obra braçal (3 pedreiros(as), 1 mestre de obras, 1 ajudante de


pedreiro(a) e 1 eletricista), somente 1 dos(as) pedreiros(as) declarou já ter ouvido falar sobre BIM,
porém, entre os engenheiros e estudantes (9 engenheiros(as) civis, 1 engenheiro(a) eletricista, e 2
estudantes de engenharia civil), todos já tinham ouvido falar de BIM, com exceção do(a)
engenheiro(a) eletricista. Isso demonstra uma lacuna de conhecimento da mão de obra braçal da
construção civil em relação às novas tecnologias que estão entrando na área.
A formação do Engenheiro Civil e a formação para a construção civil se pautam
essencialmente por uma base profundamente técnica, e cada vez as chamadas novas tecnologias
permeiam e direcionam muitas ações dentro dos diversos meios profissionais, realidade não muito
diferente na construção civil; porém, podemos ver, a partir dos resultados, que há uma necessidade
de mais pesquisas e discussões sobre seus impactos na formação de toda a cadeia profissional que
trabalha na construção civil, em especial da mão de obra braçal para que essa não fique de fora das
mudanças.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 10.306, de 2 de abril de 2020. Estabelece a utilização do Building Information


Modelling na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos órgãos e
pelas entidades da administração pública federal, no âmbito da Estratégia Nacional de Disseminação
do Building Information Modelling- Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto nº 9.983, de 22 de
agosto de 2019. Brasília, DF: Presidência da República, 2020.
BRASIL. Decreto nº 9.983, de 22 de agosto de 2019. Dispõe sobre a Estratégia Nacional de
Disseminação do Building Information Modelling e institui o Comitê Gestor da Estratégia do
Building Information Modelling. Brasília, DF: Presidência da República, 2019a.
BRASIL. Resolução nº 2 de 24 de abril de 2019: Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Engenharia. Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em:
https://abmes.org.br/arquivos/legislacoes/Resolucao-CNE-CES-002-2019-04-24.pdf. Acesso em: 01
jun. 2020. 2019b.
ELMÔR FILHO, Gabriel et al. Uma nova sala de aula é possível: aprendizagem ativa na educação
em engenharia. Rio de Janeiro: LTC, 2019. 196 p.
NASCIMENTO. Luiz Antônio do; SANTOS. Eduardo Toledo. Barreiras para o uso da
tecnologia da informação na indústria da construção civil. São Paulo, SP: USP, 2002.
Disponível em:
https://www.academia.edu/826228/Barreiras_para_o_uso_da_tecnologia_da_informa%C3%A7%C
3%A3o_na_ind%C3%BAstria_da_constru%C3%A7%C3%A3o_civil. 1 esquema.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Projeto Pedagógico do
Curso de Engenharia Civil Unidade São Gabriel. Belo Horizonte: PUC Minas, 2015.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 665

QUARTIERO, Elisa Maria; LUNARDI, Genoveva Mendonça; BIANCHETTI, Lucídio. Técnica e


tecnologia: aspectos conceituais e implicações educacionais. In: MOLL, Jaqueline et al. (org.).
Educação profissional e tecnológica no Brasil contemporâneo: Desafios, tensões e
possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2009.
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666 Novo Humanismo, novas perspectivas

Reforço Escolar em Matemática no Ensino Fundamental:


a experiência do Projeto SOS Matemática

Paulo Henrique Maciel Barbosa1

RESUMO
Este relato apresenta a experiência ao longo de 4 anos do Projeto de Extensão Universitária SOS Matemática, do curso
de graduação em Engenharia Civil da Unidade Praça da Liberdade da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas), em Belo Horizonte MG. Ao longo deste período, com o desenvolvimento das ações do projeto inclusive
durante o período de pandemia, são apresentadas metodologias com fundamentações em forte referencial teórico, acerca
da atuação no projeto neste período. Na discussão, apresenta-se o conceito de Metodologia Ativa, onde pressupõe que o
uso de ferramentas tecnológicas vem somar com o processo de ensino e aprendizagem de crianças na faixa etária de 08 e
09 anosMatemática. Ensino e aprendizagem. Reforço escolar

Strengthening School in Mathematics in Elementary School:


the experience of the SOS Mathematics Project

ABSTRACT
This experience report presents the experience over 4 years of the SOS Mathematics University Extension Project, of the
Civil Engineering undergraduate course at the Praça da Liberdade Unit of PUC Minas, in Belo Horizonte MG. Throughout
this period, with the development of the project's actions, including during the pandemic period, methodologies are
presented based on a strong theoretical framework, about the performance in the project in this period. In the discussion,
the concept of Active Methodology is presented, which assumes that the use of technological tools adds to the teaching
and learning process of children aged between 08 and 09 years.

Key words: Mathematics. Teaching and learning. School reinforcement

INTRODUÇÃO

O alinhamento entre a teoria e a prática se constitui desafio na formação de qualquer área de


conhecimento e não seria diferente no campo da Educação Básica. Um exemplo de como anda a
educação no Brasil é baixo rendimento escolar, principalmente na educação infantil segundo o Indíce
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB, 2015), a média nacional das escolas públicas foi de

1
Engenheiro de Produção Civil (CEFET MG, 2006), Mestre em Engenharia Civil (CEFET MG 2013), e Doutorando e
Engenharia Mecânica (PUC Minas). Professor do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais e Coordenador do Projeto de Extensão SOS Matemática (2022) E-mail: paulohenrique@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 667

5,3 nos anos iniciais do fundamental e tendo uma queda nos anos finais com média de 4,2. Já no
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou-se que 81,7% das
crianças estão frequentando o ensino fundamental e 18,3% não têm acesso à Escola (IBGE,2010).
O objetivo do Projeto SOS Matemática é proporcionar, por meio das intervenções de
graduandos do curso de Engenharia Civil, da unidade Praça da Liberdade, assessoria e atendimento
individual do conteúdo programático da disciplina de matemática, a alunos da educação básica (5° e
4° anos) a escolas da comunidade do entorno da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas) – Unidade Praça da Liberdade
As preocupações com o ensino da Matemática remontam desde a antiguidade, quando surgiu
em Atenas, na antiga Grécia, por volta do ano de 389 a. C., um importante centro em excelência
matemática – a Academia Platônica – de onde decorreram os principais mestres e pesquisadores da
época. Dentre eles, destaca-se Platão, que apesar de ter poucos trabalhos originais, muito contribuiu
com valorosas observações em relação ao ensino do cálculo e da geometria (SANTALÓ, 2006).
Moll (2012) defende a ideia de que não adianta apenas criar políticas para combater a
reprovação, mas sim estimular a aprendizagem de fato dos alunos. Para que isso ocorra de fato, é
importante intensificar a recuperação dos conteúdos aplicados e não apenas das notas dos alunos. O
alto índice de distorção idade / série reforça o impacto negativo do quantitativo elevado de alunos
retidos, principalmente nas primeiras séries da Educação Básica.
Para dar conta das necessidades básicas de cada aluno, a escola levará em conta a necessidade
de criação de um ambiente de aprendizagem que inclua elementos de motivação, interesse,
funcionalidade, tratamento diferenciado e aprendizagem resolutiva (COSTA et al, 2013).
Os alunos atendidos no projeto são aqueles que, durante as aulas de Matemática que ocorrem
na sala de aula com a turma de origem, apresentam dificuldade na compreensão do conteúdo, e são
encaminhados pelo professor para o atendimento com os extensionistas do SOS Matemática em salas
de aula da escola que, no momento, encontram- se ociosas. Essa forma de intervenção tem respaldo
no artigo 23 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no 9394/96: A educação
básica poderá organizar-se em séries anuais, (...), grupos não seriados, (...), na competência e em
outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar. Serão formadas por alunos de diferentes séries/anos, levando-se
em consideração as necessidades diagnosticadas.
Com a Revolução Industrial, por volta do ano 1767, a Matemática ganha ainda maior
relevância e se torna necessária devido a fatores socioeconômicos da época e, desta forma, ela começa
EXTENSÃO PUC MINAS:
668 Novo Humanismo, novas perspectivas

a ser inserida no sistema escolar como uma disciplina do componente curricular (SANTALÓ, 2006),
chamado “Movimento da Matemática Moderna”; já nos anos de 1960 e 1970, ela é inserida no
contexto escolar de forma bastante tradicional, o que fazia dela uma via de acesso privilegiado para
o pensamento científico e tecnológico (BRASIL, 1997). Com isso, o ensino de matemática “passou
então a ter preocupações excessivas com abstrações internas à própria matemática, mais voltada à
teoria do que à prática” (BRASIL, 1997), exagerando no formalismo, na axiomática. A partir de
então, a Matemática passa também a ser fonte de pesquisa para muitos teóricos no Brasil, num
movimento que buscou aproximar a Matemática escolar da Ciência Matemática pura, porém, não se
obteve o resultado esperado, visto que isso necessitava de um estudo da matemática de maneira
estruturada o que a tornava demasiadamente complexa (BRASIL, 1997).
A Etnomatemática é um estudo de situações didáticas voltadas a fazer com que o ensino da
Matemática esteja o mais próximo do contexto sócio-histórico e cultural do educando. Desta feita,
ela busca aproximar os conceitos matemáticos informais construídos a partir da realidade dos
educandos com os conteúdos programáticos da disciplina trabalhados na escola.
Ubiratan D’Ambrósio afirma que, a Matemática é uma tática desenvolvida pelo ser humano
“para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível e perceptível, e com
o seu mundo imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural e cultural” (D'AMBRÓSIO,
2011). Para Onuchic (1999), ensinar a Matemática deve partir da resolução de problemas; as situações
problemas são fundamentais não apenas como um propósito de se aprender esta área de
conhecimento, mas como primeiro passo para se fazer isso. Um dos objetivos de se aprender
Matemática é o de poder transformar determinados problemas não habituais em habituais. Desse
modo, a aprendizagem pode ser vista com um movimento do concreto (um problema do mundo real
que serve como exemplo do conceito ou da técnica operatória) para o abstrato (uma representação
alusiva de um grupo de problemas e técnicas para operar com esses símbolos) (ONUCHIC, 1999). O
problema é visto como um componente que pode possibilitar e estabelecer um processo de aquisição
de conhecimento. Nessa perspectiva, situações problemas são propostas ou formuladas de forma a
favorecer a construção prévia de conceitos para a apresentação correta da linguagem matemática
(ANDRADE, 1998).
A modelagem matemática é compreendida como o aproveitamento da Matemática em outras
áreas do conhecimento. Por meio da modelagem, problemas do cotidiano dos educandos são
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 669

transformados em uma linguagem matemática. Para Bassanezi (2004, [s./p.]), “a modelagem consiste
essencialmente na arte de transformar problemas da realidade e resolvê-los, interpretando suas
soluções na linguagem do mundo real”.
Para a tendência de ensino que relaciona matemática e leitura, a Ciência Matemática não se
resume somente a números, regras, fórmulas e cálculos. A leitura é parte integrante da Matemática
tendo essa sua linguagem própria. Assim, integrar leitura nas aulas de matemática auxilia na
interpretação e na significação de termos e conceitos, o que torna a compreensão da matemática mais
fácil para o educando (SMOLE et al., 2001).
A resolução de situações-problema é uma perspectiva metodológica utilizada para construir
um raciocínio lógico e autônomo do educando, visto que auxilia na construção de conceitos,
procedimentos e atitudes relacionadas com a matemática apresentando dificuldades e buscando as
soluções para os problemas (DANTE, 2007).
Dante (2007) ainda ressalta que as “situações-problema são problemas de aplicação que
retratam situações reais do dia-a-dia e que exigem o uso da Matemática para serem resolvidos”. Por
sua vez, os jogos matemáticos assumem um papel importante no processo de ensino e aprendizagem
da disciplina de Matemática, uma vez que, por meio do jogo é possível inserir o lúdico no espaço
escolar como um recurso didático capaz de permitir o desenvolvimento da criatividade, como
descrevem os autores Smole et al, (2007), tornando o seu ensino mais prazeroso e estimulante. Ainda
segundo os autores “todo jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa
alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o lápis” (SMOLE et
al, 2007, [s./p.]).
Alguns processos de ensino e aprendizagem de Matemática tomam como base os conceitos
de Metodologias Ativas - MA. De acordo com Borba et al (2018), Metodologias de Ensino se referem
“[...] ao ato de ensinar. Ensinar requer um conjunto de esforços e decisões que se refletem em
caminhos propostos, as chamadas opções metodológicas. O professor organiza e propõe situações em
sala de aula a fim de apresentar um determinado conteúdo” (BORBA et al., 2018, [s./p.]).
Como pode ser observado na Figura 1, todos os aspectos em uma MA estão interligados, com
participação efetiva do estudante, centro do processo de aprendizagem e de ensino, do qual se exige
foco em: “[...] leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos
dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de
suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações [...]” (DIESEL
et al, 2017, [s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
670 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 1 – Princípios que constituem as metodologias ativas de ensino

Fonte: Diesel et al., 2017.

Já no que tange à reflexão e à problematização da realidade, Diesel et al, (2017) afirmam que:
“No contexto da sala de aula, problematizar implica em fazer uma análise sobre a realidade como
forma de tomar consciência dela” (DIESEL et al, 2017, [s./p.]). Para tal fato, é necessário que o
professor conheça as realidades a que o conteúdo está ligado, pois o desligamento entre teoria e
prática causa desmotivação nos alunos e comprometem a aprendizagem.
Um dos princípios mais interessantes das MA, ainda conforme Diesel et al (2017), é que
quanto ao trabalho em equipe. As aulas tradicionais, em que os estudantes são proibidos de se
assentarem em grupos e em que não se pode emitir opiniões, não fazem parte das MA em que é
preciso compreender a realidade dos demais estudantes e saber trabalhar com os pares. A leitura do
mundo é papel do professor, quando se trata de trabalhos em equipe e o desenvolvimento da
criticidade também.
E, por último, o princípio do professor mediador, facilitador, ativador de aprendizagens. É
fundamental que o docente compreenda que ele é formador humano. Segundo Moran (2015), o
professor que utiliza as MA deve ter o papel de:

Curador, que escolhe o que é relevante entre tanta informação disponível e ajuda a que os
alunos encontrem sentido no mosaico de materiais e atividades disponíveis. Curador, no
sentido também de cuidador: ele cuida de cada um, dá apoio, acolhe, estimula, valoriza,
orienta e inspira. Orienta a classe, os grupos e a cada aluno. Ele tem que ser competente
intelectualmente, afetivamente e gerencialmente (gestor de aprendizagens múltiplas e
complexas). Isso exige profissionais melhor preparados, remunerados, valorizados.
Infelizmente, não é o que acontece na maioria das instituições educacionais (MORAN, 2015,
[s./p.]).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 671

Dessa forma, algumas pesquisas descortinam aspectos de uma aprendizagem que pudesse
formar estudantes mais democráticos e críticos. Essas considerações têm origem nos estudos de
Dewey (1938), para o qual os alunos têm a oportunidade de pensar e refletir sobre suas próprias ações.
A aprendizagem ativa, então, tem como princípio fundamental a aprendizagem colaborativa e a
aprendizagem cooperativa. Lovato et al. (2020) apresentam a diferença entre aprendizagem
colaborativa e aprendizagem cooperativa.

Figura 2 – Diferença entre aprendizagem Colaborativa e Cooperativa

Fonte: Lovato et al., 2018

Mediante o quadro acima e ainda considerando as tendências pedagógicas, os conteúdos de


Matemática da Base Nacional Comum Curricular (BNCC; BRASIL, 2017) e as duas principais
competências já listadas no item anterior que se referem especificamente às MA é notório que as
técnicas de aprendizagem listadas pelos autores acima também podem ser aplicadas para o Ensino de
Matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental e o autor do presente trabalho vai se ater
somente às técnicas da Aprendizagem Colaborativa, por perceber que as demais estão mais
relacionadas com os alunos de idade mais avançada.
Atualmente no Projeto SOS Matemática, temos duas escolas contempladas com o projeto:
Escola Estadual Afonso Pena, e Escola Estadual Bueno Brandão, ambas na capital Belo Horizonte,
Região Centro- Sul. O projeto possui 8 alunos extensionistas alocados. Para atender a essas escolas e
com o acompanhamento dos alunos extensionistas, temos três professores coordenadores do projeto,
que proporcionam os materiais para atendimentos individuais, alusivos ao conteúdo programático da
disciplina de matemática, conforme a série escolar de cada aluno beneficiados.
Os alunos são atendidos pelos extensionistas nas escolas, em sala de aula específica, que
favorecem o atendimento individual, e são encaminhados pelos professores da disciplina de
EXTENSÃO PUC MINAS:
672 Novo Humanismo, novas perspectivas

Matemática, que, durante as aulas, detectam que um aluno, ou outro, em específico não apresenta o
rendimento esperado no desenvolvimento do conteúdo abordado na aula. Os atendimentos giram em
torno de 30 a 40 minutos por aluno, sendo que ocorre no período vespertino, duas vezes por semana
em cada escola.
Há um controle de cada aluno assistido com uma ficha de acompanhamento, com a quantidade
de atendimentos que já recebeu, e quais os conteúdos que foram abordados no atendimento individual
de cada um. Assim, torna-se propício termos um registro dos números, resultados e impactos do
Projeto, até mesmo para apresentar à Direção e Coordenação Pedagógicas das escolas contempladas.
O recurso ao reforço escolar constitui uma estratégia desenvolvida pelas famílias para
aumentar a competitividade dos seus filhos durante os percursos acadêmicos. Esse apoio foi sendo
realizado de modos diversos e por diferentes protagonistas: na própria escola, em casa pelos
familiares, por amigos e colegas, por professores. Contudo, têm vindo a ser criadas condições para o
desenvolvimento de respostas educativas alternativas como os centros de reforço escolar de tipo
presencial ou através da Internet (COSTA et al, 2013).
Na figura 2, a seguir, demonstra-se um dos atendimentos individuais realizados pelos
extensionistas do Projeto SOS Matemática na Escola Estadual Bueno Brandão, na Região Centro-Sul
de Belo Horizonte MG.

Figura 3 – Atendimento individual

Fonte: Acervo do autor, 2022.

Durante o período da pandemia da COVID-19, em que as atividades acadêmicas foram todas


desenvolvidas no formato virtual, para o SOS Matemática não foi diferente, sendo que os
extensionistas mantinham atualizado um canal na rede social Instagram, com publicação de
conteúdos alusivos a ementário que as crianças atendidas nas escolas necessitam. As figuras abaixo
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 673

apresentam um pouco do modelo de posts que eram produzidos pelos extensionistas, com a devida
orientação dos professores. Destaca-se que temos um extensionistas do curso de Letras, que tem como
principal a função de revisão gramatical e pedagógica dessas produções.

Figura 4 – Conteúdo da rede social do Projeto SOS Matemática

Fonte: Acervo do autor, 2022.

A importância atribuída pelas famílias à educação, o mundo competitivo em que vivemos, as


críticas à escola formal e tradicional e toda uma série de caraterísticas específicas dos sistemas
educativos (como, por exemplo, as provas) geram um ambiente propício ao aparecimento de respostas
educativas de reforço escolar (COSTA et al, 2013).
Durante três anos de desenvolvimento, o Projeto SOS Matemática contemplou o atendimento
de 468 alunos, somados as duas escolas assistidas, na faixa etária de 7 e 8 anos de idade,
especificamente no conteúdo de matemática para os 6º e 7º anos da Educação Básica. O
desenvolvimento do Projeto, em 3 anos, mostra que o reforço escolar é um fenômeno complexo,
impulsionado por múltiplos fatores com impacto na educação, na economia e na sociedade.
Durante o período de 2020 e 2021, o projeto atuou de forma remota e síncrona com
atualizações constantes em um canal do Instagram, e a realização de webinários com crianças até de
diferentes instituições, como o realizado dia 23 de outubro de 2021, com crianças de um Grupo de
Escoteiros em Belo Horizonte, o 07MG Grupo Escoteiro do Ar Padre Eustáquio, como demonstra o
cartão de divulgação abaixo, na figura 04, apresentado nas redes sociais do projeto.
EXTENSÃO PUC MINAS:
674 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 5 – Divulgação da oficina online com as crianças do Movimento Escoteiro

Fonte: Acervo do autor, 2022.

Parece também notório o reconhecimento, por parte dos alunos e respetivas famílias, do
impacto positivo que este tipo de assistência tem no sucesso escolar. Nesse sentido, as matérias mais
procuradas, e no nosso caso em específico a Matemática e seu conteúdo programático, são temas em
que os alunos apresentam maiores dificuldades ou então fazem parte de áreas que dão acesso a uma
interpretação que alguns conteúdos básicos ainda foram abordados e repassados aos alunos de forma
ineficiente, o que aumenta o compromisso do projeto para auxílio do trabalho do professor.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Silvânio. Ensino-aprendizagem de matemática via resolução, exploração,


codificação e descodificação de problemas. Rio Claro, 1998. Dissertação (Mestrado em Educação
Matemática). Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1998.
BORBA, M. C.et al. Pesquisa em ensino e sala de aula: diferentes vozes em uma investigação.
Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2018
BRASIL. Lei no 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes básicas da educação
nacional. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 23 dez. 1997.
BRASIL. Ministerio da Educação. Indíce deda Educação Básica IDEB, Resultados e Metas 2015.
Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/. Acesso em: 12 jun. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília, MEC/SEB, 2017.
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Novo Humanismo, novas perspectivas 675

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EXTENSÃO PUC MINAS:
676 Novo Humanismo, novas perspectivas

Democratização do Acesso à Informação: educação fiscal


por meio de orientações abertas ao microempreendedor sobre o MEI

Eder Gabriel Silveira Botelho1


Gabriel Santiago Moura Araújo2
Geislon Josias dos Santos Vieira 3
Kerolayne Lopes Brito4
Fátima Maria Penido Drumond5

RESUMO
Conhecer sobre o MEI (Microempreendedor Individual), bem como seus deveres, benefícios, cadastramento, formas de
tributação e muitos outros assuntos relacionados ao microempreendedor brasileiro é muito importante para todos,
principalmente profissionais contábeis e, claro, o próprio empreendedor. No entanto, tal conhecimento nem sempre é
facilmente difundido a todos, e muitos microempreendedores ainda possuem dificuldades para entender e conhecer esse
sistema de tributação. Diante disso, este relato, em função da realização de um trabalho extensionista, buscou ampliar a
educação fiscal ao MEI, promovendo orientações aos microempreendedores individuais, ao abordar, de forma geral, o
conceito, os benefícios, o manuseio do sistemavirtual que compõe o MEI, os aplicativos e outras peculiaridades de forma
a auxiliar os pequenos empreendedores que possuem dificuldades de compreender assuntos básicos a esse campo, como
tarifas, direitos, deveres e benefícios empregados por esse regime tributário. Além disso, após apresentar tal conhecimento
a alguns microempreendedores, também foi realizado entrevistas para melhor análise sobre a democratização do acesso
à informação.

Palavras-chave: Orientação. Conhecimento. Serviços.

Democratization of Access to Information: fiscal education through


guidelines open to microentrepreneurs on the MEI

ABSTRACT
Knowing about the MEI (Individual Microentrepreneur), as well as its duties, benefits, registration, forms of taxation and
many other matters related to the Brazilian microentrepreneur is very important for everyone, especially accounting
professionals and, of course, the entrepreneur himself. However, such knowledge is not always easily disseminated to
everyone, and many micro-entrepreneurs still have difficulties to understand and know this taxation system. In view of
this, this article, due to the realization of an Extensionist Work, sought to expand tax education to the MEI by promoting

1
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) /
campus Coração Eucarístico. E-mail: eder.botelho@sga.pucminas.br.
2
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas/ campus Coração Eucarístico. E-mail:
gabriel.araujo@sga.pucminas.br
3
Graduando do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail:
geislon.josias@sga.pucminas.br.
4
Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico. E-mail:
kerolayne.brito@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Administração; Professora do Curso de Ciências Contábeis da PUC Minas / campus Coração Eucarístico.
E-mail: fatimadrumond@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 677

guidance to individual microentrepreneurs, generally addressing the concept, benefits, handling of the virtual system that
makes up the MEI, applications and other peculiarities. in order to help small entrepreneurs that have difficulties in
understanding basic issues in this field such as tariffs, rights, duties and benefits employed by this tax regime. In addition,
after presenting such knowledge to some micro-entrepreneurs, interviews were also carried out with them for a better
analysis of the democratization of access to information.

Keywords: Guidance. Knowledge. Services.

INTRODUÇÃO

Tornar-se um grande empreendedor no Brasil é um desejo observado em muitas pessoas,


todavia, não é uma tarefa simples e exige um árduo caminho. Diante disso, surge a figura do MEI, o
Microempreendedor Individual, criado pelo governo federal com intuito facilitar e legalizar o trabalho
autônomo, bem como ajudá-lo, impondo menores tributos a serem arrecadados em relação às grandes
empresas. Contudo, esse regime de tributação ainda não é tão claro a toda a sociedade brasileira e
muitos ainda possuem dificuldades para se adequar às suas funcionalidades. Por isso, este grupo de
estudantes do Curso de Ciências Contábeis da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em
realização ao Trabalho Extensionista, desenvolvido pela coordenação do ICEG (Instituto de Ciências
Econômicas e Gerenciais), propôs-se a difundir a educação fiscal orientando a todos, em especial ao
microempreendedor, sobre o acesso à democratização de informações referentes ao MEI, através da
feira extensionista, realizada no prédio do ICEG.
Somado a isso, o grupo se dispôs a falar do tema sobre MEI, abordando, de forma geral, o
conceito, os benefícios, o manuseio do sistema virtual que compõe o MEI, os aplicativos e outras
peculiaridades, além de buscar entender como esse conhecimento tem alcançado mais pessoas. Para
isso, foi realizado um levantamento através de questionários entrevistando microempreendedores
para compreender melhor a difusão da educação fiscal e seu alcance na sociedade.
O objetivo da propagação desse conhecimento é preparar o empreendedor individual para a
efetivação das relações entre fisco-contribuinte e comunidade em geral, além de salientar os
benefícios assegurados pelo MEI que poderão auxiliar o pequeno empresário em seu ofício. A
atividade proporciona aos alunos extensionistas a convivência com a realidade social e a prática
profissional e permite, ainda, relacionar-se ativamente com esse regime de tributação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
678 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MEI e sua utilidade

O Microempreendedor Individual, cuja sigla é denominada MEI, é um programa do Governo


Federal que tem o objetivo de formalizar e regularizar os trabalhadores autônomos (pequenos
negócios), a fim de garantir benefícios, direitos e deveres de pessoa jurídica. Como MEI, os
profissionais autônomos passaram a ter seu próprio CNPJ, possibilidade na emissão de notas fiscais
e os benefícios do INSS (BRASIL, 2021).
Antes do MEI, pequenos empresários ficavam na informalidade, sem um amparo do governo
sobre a proteção de sua atividade, ou seja, não possuíam benefícios da Previdência Social
(BLOGNUBANK, 2022). O MEI vem facilitando a vida de muitos profissionais autônomos no Brasil,
entretanto, é preciso verificar as atividades permitidas pela modalidade, que são cerca de 466
atividades. Das atividades mais comuns, vale destacar: eletricista, manicure, gesseiro, motoboy e
várias outras atividades que são consideradas informais (CARRIJO, 2021).

2.2 Plataforma GOV.BR e cadastro no MEI

Antes de mencionar os métodos de abertura do MEI, que é feito de forma virtual, éimportante
declarar que a plataforma GOV.BR é um pré-requisito para a abertura do MEI (SÉRVIO, 2022).
Trata-se de uma plataforma que unifica todos os sistemas virtuais que conectam cidadãos com Estado,
de forma simples e objetiva, fornecendo serviços públicos. De forma fácil e precisa, ela reúne todos
os serviços einformações para o cidadão em um só lugar (BRASIL, 2022).
Um destes é o MEI, cuja abertura é feita em uma categoria para esse serviço. Portanto, é de
extrema importância que todo cidadão tenha um cadastro no gov.br, pois é nessa plataforma que está
toda a “vida” do cidadão e suas relações com o governo. Vale lembrar que a plataforma é totalmente
gratuita a todos (BRASIL, 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 679

Figura 1 – Página inicial do gov.br/mei

Fonte: Brasil, 2022.

Há duas maneiras para o cadastro no MEI, site e aplicativo. Além disso, há certos requisitos
para entrada. Dentre eles, estão: possuir renda bruta de até 81 mil reais por ano, ou seja, R$
6.750,00/mês; possuir somente um empregado registrado; não ter participação em nenhuma outra
empresa, como sócio ou titular; atender uma das modalidades profissionais aceitas pelo MEI, como,
por exemplo, pedreiro (CONTABILIZEI, 2022).
Para se inscrever no MEI, é necessário acessar o gov.br/mei. Após, clicar em “quero ser MEI”,
conforme figura a seguir:

Figura 2 – Página inicial do gov.br/mei

Fonte: Brasil, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
680 Novo Humanismo, novas perspectivas

Logo em seguida, clica-se em formalize, conforme figura a seguir:

Figura 3 – Subpágina do gov.br/mei, requerido para o prosseguimento do cadastro

Fonte: Brasil, 2022.

Assim, há o redirecionamento para o login no gov.br:

Figura 4 – Página de redirecionamento

Fonte: Brasil, 2022.

Após efetuado o login, o usuário é redirecionado para o cadastro, em que informações como
endereço comercial, as ocupações (primária e secundárias), capital social, regime de tributação e
outras são solicitadas para a formalização do MEI (CONTABILIZEI, 2022).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 681

2.3 Aplicativo MEI

O aplicativo do MEI, criado pelo Governo Federal do Brasil, tem a finalidade de facilitaros
serviços relacionados ao Microempreendedor Individual. É importante destacar que existem outros
aplicativos que também fornecem os mesmos serviços, porém não são oficiais. O App oficial é
desenvolvido pelo Governo do Brasil e é mais confiável para as realizações de serviços sobre o
microempreendedor (PORTAL MEI, 2022).
Na atualização de dezembro de 2021, foram acrescentados mais serviços que são
indispensáveis para os microempreendedores, como o preenchimento, a transmissão e a geração do
recibo de entrega da Declaração Anual Simplificada para o Microempreendedor Individual (DASN
SIMEI). Além disso, o app conta com vários serviços, como emissão do documento de arrecadação do
simples nacional (DAS);consulta do CNPJ e informações do SIMEI; solicitação de restituição de
valores pagos indevidamente; declaração do MEI; perguntas e Respostas para solucionar dúvidas
sobre o MEI (PORTAL MEI, 2022).

Figura 5 – Divulgação do APP MEI pelo Governo Federal

Fonte: Brasil, 2022.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa tem natureza descritiva, pois esta não teve como objetivo a explicação
dos fenômenos, e sim o estabelecimento de relações entre suas variáveis, de maneira a servir de base
para possíveis explicações (ARRUDA FILHO; FARIAS FILHO, 2015). Além disso, se classifica
ainda como qualitativa, pois, como Didio (2014) evidencia, tal pesquisa objetiva o estudo das
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682 Novo Humanismo, novas perspectivas

particularidades e dos significados do problema de pesquisa, de maneira a aprofundar em seus


conceitos. Vale destacar, tendo como base a referida autora, que os resultados foram
predominantemente em formato de texto corrido, expondo pensamentos, reflexões e análise (DIDIO,
2014).
Considerando o propósito do estudo e a fim de mensurar seu valor prático para a sociedade, o
procedimento utilizado foi o da pesquisa de campo, em que houve a coleta de uma pequena amostra
de dados de indivíduos que fazem parte da realidade pesquisada, pessoas cadastradas no MEI, por
meio de perguntas e entrevistas, contendo dificuldades enfrentadas, a fim de se chegar a respostas a
situações e/ou problemas retratados anteriormente (DIDIO, 2014).
Além da realização da Feira Extensionista, no prédio do ICEG, no Campus Coração
Eucarístico da PUC Minas, pelos alunos do curso de Ciências Contábeis, autores deste relato,
promovendo a educação fiscal e conhecimento a todos presentes, também foi desenvolvida uma
cartilha digital para alcançar um público ainda maior para difundir o conhecimento relacionado ao
MEI. Também foram realizadas entrevistas com pessoas cadastradas no MEI, por meio do WhatsApp,
para fazer uma análise quanto ao conhecimento do microempreendedor em relação ao programa, aos
benefícios e à manutenção.
Durante a Feira Extensionista, foram exibidos banners, cartazes e uma cartilha digital
facilmente acessada por meio de um QR Code. Tais materiais disponibilizados tinham informações
necessárias e de grande importância para a difusão do conhecimento sobre o MEI.

Figura 6 – Cartilha MEI

Fonte: Cartilha criada pelos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 683

A cartilha contém informações necessárias ao microempreendedor como, por exemplo, como


criar uma conta na plataforma do GOV.BR; o processo de abertura do MEI; como gerar a guia DAS;
como gerar o certificado do MEI e o cartão CNPJ; além de como emitir declarações.
Também foram questionados 10 microempreendedores através de uma entrevista para melhor
analisar o conhecimento dessa classe em relação ao MEI. Foram realizadas algumas perguntas aos
entrevistados, a saber:

1. Você, como microempreendedor, acredita conhecer todas as funcionalidades, bem como


benefícios e utilidades do MEI?
2. Acredita que mais pessoas optantes do MEI precisam de orientações para ingressar e
prosseguir como MEI agindo dentro das regularidades impostas a essa classificação?
3. Você conhece e entende como é realizado as tributações e sabe sobre o limite de faturamento
impostas ao MEI?
4. Sobre a cartilha apresentada, além dos textos e trabalhos apresentados na Feira de Extensão,
realizada na PUC Minas do Coração Eucarístico (agora apresentadas a você, entrevistado),
você acredita que pode ser benéfico quanto à conscientização sobre o MEI e suas
particularidades para os microempreendedores?
5. Na sua opinião, esses conteúdos apresentados a você foram úteis, ou poderia agregar mais
algum assunto não abordado sobre o MEI? Qual seria?
6. Você, como microempreendedor, acredita que tributos mais baixos, além de tributações em
parcelas fixas (como é o caso do MEI), sejam um incentivo ao crescimento do
Empreendedorismo Brasileiro?
7. O que achou desse trabalho, que consiste em alcançar o maior número de
microempreendedores com a finalidade de conscientizar sobre esse regime tributário?

Abaixo, segue uma tabela com algumas informações observadas através da análise dessas
entrevistas:
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684 Novo Humanismo, novas perspectivas

Tabela 1 – Respostas ao formulário de avaliação


Perguntas
Entrevistados 1 2 3 4 5 6 7
1 Não Sim Sim Sim Sim Sim Excelente
2 Sim Sim Sim Sim Sim Não Bom
3 Não Sim Não Sim Sim Sim Muito bom
4 Não Sim Não Sim Sim Sim Interessante
5 Não Sim Sim Sim - Não Razoável
6 Sim Não Sim Sim Sim Sim -
7 Não Sim Não - Sim Não Bom
8 Não Sim Sim Sim Sim Sim Ótimo
9 Sim Sim Não - Sim Sim Legal
10 Não Sim Não Sim Sim Sim Muito bom
Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

Em complemento à questão de nº 5, um dos entrevistados mencionou sobre a importância de


conscientizar a todos sobre a declaração obrigatória para o microempreendedor em relação ao Fisco,
mesmo sem ter tido de fato faturamento bruto, “[...] mesmo sem faturamento, é obrigatório declarar.
Já vi algumas pessoas que não concluíram a declaração, porque não sabiam que podia preencher o
campo com 0,00”, respondeu um dos entrevistados, além disso, destacou que “todo MEI precisa de
um contador, mesmo que anual, e não somente para abertura. É seguro e, por mais que o MEI pareça
ser uma opção simples, pode acontecer casos atípicos que somente contador pode auxiliar”,
complementou.
O gráfico abaixo mostra, em porcentagem, as respostas às questões 1, 2, 3 e 6,
respectivamente, o qual foram respondidas com “sim” ou “não”:

Gráfico 1 – Amostragem das respostas


100%

80%

60%
SIM
40% NÃO

20%

0%
Pergunta 1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 6

Fonte: Autores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 685

Foi observado que 70% dos entrevistados disseram “não” para a primeira pergunta, assim, não
conhecem todas as funcionalidades do MEI. Para a pergunta seguinte, 90% acreditam que os
microempreendedores ainda precisam de orientações para manterem seu cadastro regularizado; já
para a terceira pergunta, 50% do total de entrevistados responderam “não”, demonstrando que muitos
não sabem como é realizado a tributação e/ou sobre o limite de faturamento imposto ao
microempreendedor. Ainda é possível observar que, para a quarta pergunta, 70% do total de
microempreendedores entrevistados acreditam que os tributos de menor valor arrecadados do MEI
auxiliam no desenvolvimento e crescimento do empreendedorismo no Brasil.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grupo pesquisou maneiras de auxiliar a comunidade em geral quanto ao assunto abordado ao


oferecer orientações necessárias para a criação do MEI, incluindo o auxílio para manusear o sistema do
Governo do Brasil (GOV.BR), ainda desconhecido por parte da sociedade e requisito essencial para as
atividades correlacionadas ao microempreendedor individual de maneira digital, pois é através da
plataforma eletrônica do Governo Federal que são realizados diversos serviços públicos. Somado a isso,
com intuito de desburocratizar a legislação contribuinte e incentivar a todos empresários a se manterem
em conformidade aos órgãos tributários, o grupo se propôs ainda a difundir informações sobre valores
dos tributos a serem pagos, de modo a propiciar conhecimento sobre as taxas cobradas e valores do
faturamento do MEI, o procedimento correto quanto ao limite, caso ultrapasse o valor de faturamento,
orientações para se desenquadrar e solicitar a alteração do MEI, cancelamento da inscrição e o passo a
passo para a realização da declaração.
Outro ponto observado pelos extensionistas do curso de Ciências Contábeis é quanto às
facilidades que o aplicativo gratuito do MEI pode propiciar ao microempreendedor e que não é de
conhecimento amplo por toda a sociedade, assim, tal prática visa mobilizar e despertar nas pessoas,
principalmente nas que encontram dificuldades de acompanhar as transformações digitais, o interesse de
aprender e participar ativamente nos seus tributos de maneira virtual demonstrando as alternativas
favoráveis que facilitam a vida do microempreendedor. Assim, foi desenvolvida uma cartilha digital,
contendo as informações básicas e essenciais para o pequeno empresário se orientar quanto aos
procedimentos do MEI, de forma a fortalecer e ampliar o acesso ao conhecimento, além de contribuir,
positivamente, nas ações extensionistas na sociedade.
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686 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, foi possível realizar o desenvolvimento técnico dos integrantes quanto ao
manuseio e o conhecimento sobre o MEI, ainda obscuro para uma parcela da população. Ainda nessa
linha, destaca-se o desenvolvimento humano e solidário, em compartilhar esse conhecimento
adquirido ao longo do semestre para auxiliar autônomos que ainda não o possuem, além de acessar
os benefícios do MEI.
Faz-se necessário aplicar todo o conhecimento obtido nesse trabalho no cotidiano, a fim de
promover uma sociedade mais justa, informada e amparada pelos programas do Governo Federal.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 687

Relato de experiência sobre a influência de museus


no processo educativo não formal

Karina Fideles Filgueiras1


Fernanda Bruna Silva2
Sônia Firmato Fortes3

RESUMO
Este artigo trata-se de relato de experiência de um trabalho desenvolvido com um grupo de crianças participantes do
Projeto HEAD, de Extensão Universitária: Enriquecimento da Aprendizagem para o Desenvolvimento de Habilidades,
vinculado ao curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas. O trabalho tem por
objetivo explorar os benefícios da utilização do espaço de museus como forma de educação não formal para o
enriquecimento da aprendizagem. Participaram do grupo 34 crianças de ambos os sexos, com idades entre 7 a 12 anos.
Foram realizadas duas modalidades de encontro no dia 30 de maio de 2022, uma de forma presencial no Museu de
Ciências Naturais PUC Minas e o outra de forma virtual, com um convidado. Foram levantados, durante os encontros,
quais os interesses das crianças mediante o exposto, trabalhando o espaço dos museus como uma possibilidade de
enriquecimento da aprendizagem e estímulo à curiosidade de cada um. A experiência permitiu compreender, através das
perspectivas de monitores, convidados, crianças e dos responsáveis pelas mesmas, de que forma o museu pode influenciar
na aquisição de conhecimentos a partir de uma perspectiva de educação não-formal.

Palavras-chave: Altas Habilidades/Superdotação. Educação. Enriquecimento da aprendizagem.

Experience report on the influence of museums


in the non-formal educational process

ABSTRACT
This article is an experience report of a work developed with a group of children participating in the HEAD Project, of
University Extension: Learning Enrichment for the Development of Skills, linked to the Psychology faculty at PUC
Minas. The work aims to explore the benefits of using museum space as a form of non-formal education to learning
enrichment. Participated in the group, 34 children of both sexes, aged between 7 and 12 years. Two types of meetings
were held on May 30, 2022, one in person at the Museum of Natural Sciences PUC Minas and the other in a virtual space,
with a guest. During the meetings, the interests of the children were raised through the above, working the museum space
as a possibility of learning enrichment and stimulating each one's curiosity. The experience allowed the researchers to
understand, through the perspectives of monitors, guests, children and parents, how the museum can influence the
acquisition of knowledge from a non-formal education perspective.

Keywords: High Abilities/Giftedness. Education. Learning enrichment.

1 Doutora em Educação (FaE/UFMG), psicóloga clínica e educacional, professora no curso de Psicologia da PUC-MG
(campus Coração Eucarístico), coordenadora do projeto de extensão Enriquecimento da Aprendizagem para o
Desenvolvimento de Habilidades (HEAD). Email: kfideles@hotmail.com
2 Graduanda em Ciências Biológicas (PUC Minas), monitora do Projeto HEAD. Email: fernandabruna568@gmail.com.
3 Graduanda em Psicologia (PUC Minas), monitora do Projeto HEAD. Email: soniafirmato@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
688 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Pensar sobre o tema deste trabalho, abordando as contribuições de museus dentro do contexto
de aprendizagem é de grande importância para uma prática pedagógica não formal no ensino e
aprendizagem de indivíduos. Este estudo foi construído embasado na experiência partilhada entre
monitores e alunos do Projeto de Extensão Universitária HEAD: Enriquecimento da Aprendizagem
para o Desenvolvimento de Habilidades, no qual foi trabalhada a necessidade desse ensino e como
este esse se mostra com grande potencial para o auxílio da compreensão de inúmeras áreas do
conhecimento como, por exemplo, a Antropologia, História, Biologia e Geografia.
Tratando-se de um modelo atual de aprendizagem, observa-se a forma que o uso da tecnologia
propicia e facilita a educação não formal. Por não ser um modelo que segue um viés metódico, em
que se tem um roteiro pré-definido, essa área do conhecimento permite articular o ensino dentro de
situações cotidianas e de socialização do indivíduo em diferentes espaços físicos. Além disso, o
modelo virtual de visitação permite a quebra de barreiras físicas, econômicas, geográficas entre
outras, das quais, em um cenário presencial, poderiam impedir o acesso desses participantes ao
conhecimento nesses espaços. Desse modo, reforça-se a importância de se pensar em novas formas e
tecnologias de propiciar a aprendizagem ao maior número de pessoas, considerando a utilização de
todos os meios disponíveis, presentes no cotidiano.
Disposta a apresentação, este relato de experiência tem como objetivo esclarecer temas como
a importância dos museus no processo de aprendizagem, abordando a educação formal e não-formal
bem como ela se encaixa no contexto universitário e práticas de extensão
A educação formal é definida por Cazelli e Coimbra (2013, p. 2) como aquela promovida nas
escolas, que possui regras muito bem definidas e que determinam o conteúdo a ser aprendido nas
grades curriculares e ainda, determinam a forma de progressão. Diferentemente, na educação não
formal qualquer um pode transmitir ou trocar determinado conhecimento em diferentes espaços. Esta
última é focada na ação, na realização da troca de conhecimento entre os indivíduos daquele grupo,
operando em ambientes diversos onde essas relações sociais são desenvolvidas a partir dos gostos e
preferências que os indivíduos compartilham.
O Projeto HEAD tem como objetivo proporcionar um espaço de enriquecimento da
aprendizagem, voltado para o público de crianças entre 7 e 13 anos com perfil de Altas Habilidades /
Superdotação. Define-se como aquele que tem altas habilidades / superdotação (AH/SD), pela
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 689

Política Nacional de Educação Especial de 1994, o sujeito que apresenta elevado nível ou
potencialidade em: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo
ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora.
Renzulli (1986) afirma que a superdotação (giftedness) define-se a partir de fatores
biopsicossociais e expressa-se através de um conjunto básico de características, sendo estas (a)
habilidades gerais e/ou específicas acima da média, (b) alto nível de comprometimento com a tarefa
e (c) grande criatividade. Em suas pesquisas, Winner (2000 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013)
sugere uma excepcionalidade cerebral, a qual permitisse uma aprendizagem acelerada em um ou mais
domínios, se comparada com a maioria da população de mesma faixa etária. Não obstante, é
imprescindível o caráter socioambiental que se manifesta do desenvolvimento do sujeito, isto é, para
um melhor desempenho não basta apenas apresentar características de AH/SD.
Dentro do contexto escolar, identificam-se traços de altas habilidades / superdotação,
geralmente, em alunos cujo perfil enquadra-se no Tipo Acadêmico, por apresentarem, em grande
parte, alto desempenho escolar, boa capacidade de memória e pensamento analítico. Além disso,
existe o que os teóricos Renzulli e Reis (1997 apud ADÃO; FERNANDES; OLIVEIRA, 2013)
apontam como o Tipo Criativo-produtivo, definido por pessoas com maior desenvoltura no
pensamento criativo, imaginativo e inventivo.que se refere à motivação, especialmente no contexto
escolar, é notável a dificuldade do ensino formal em captar o interesse e estimular as habilidades
desse público (BRASIL, 2006). Frente a essa situação, é direito de crianças e adolescentes com
AH/SD o acesso a políticas de educação especial, seja por meio da aceleração escolar ou pelo acesso
a programas de enriquecimento escolar (BRASIL, 1996).
A partir dessas necessidades de ensino especial para crianças e adolescentes com AH/SD,
utiliza-se no Projeto HEAD a metodologia do Modelo Triádico de Enriquecimento proposto por
Joseph Renzulli (1994). Esse caracteriza-se pela aplicação de atividades de tipos I, II e III, cada um
referente a objetivos específicos. Como explicita Freitas (2012):

Resumidamente, o Tipo I, representa atividades de exploração geral a respeito de uma


variedade de assuntos, etc.; o Tipo II constitui-se por atividades que ofereçam métodos e
técnicas diferenciadas em relação a determinado assunto; o Tipo III, seriam as atividades
investigativas de problemas reais, individuais ou coletivas, em que o aluno assume o papel
de investigador. (FREITAS, 2012, p.49).

Assim, pretende-se aplicar esse modelo de forma a estimular o papel ativo das crianças no
processo de aprendizagem, sem que tire do educador seu papel indispensável, como afirma Piaget
EXTENSÃO PUC MINAS:
690 Novo Humanismo, novas perspectivas

(2015). O teórico suíço também defende a ideia de que, dentro do sistema tradicional na educação,
os “bons alunos” são aqueles que possuem capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhes é dado,
enquanto os “maus alunos” utilizam de outros caminhos para compreender um assunto.
Pretende-se explicitar, que, mesmo o indivíduo apresentando AH/SD, isso não implica que
seu desempenho escolar seja necessariamente acima da média ou que este não terá dificuldade no
ensino formal. De acordo com Filgueiras e Fortes (2022), a utilização de metodologias de ensino que
fogem da lógica tradicional (em que se veem atividades fragmentadas e descontextualizadas,
prejudicando tanto na motivação quanto na participação dos alunos) mostra-se eficaz no processo de
enriquecimento da aprendizagem. Portanto, dentro da proposta metodológica, o projeto de extensão
universitária ora referido busca abarcar as diferentes áreas do saber, dialogando com interesses de
seus participantes e propiciando um espaço para investigações.
Diante disso, a possibilidade da utilização de museus como espaço de diálogo com saberes e
práticas mostra-se efetiva, ao passo que corrobora a ideia do sociólogo Edgar Morin (2005, p. 54),
quando diz que “[…] o desenvolvimento da ciência não se efetua por acumulação de conhecimentos,
mas por transformação dos princípios que os organizam. A ciência não se limita a crescer, mas em
transformar-se”.
A visitação ao museu é uma das tantas outras atividades de educação não formal com as quais
o HEAD atua, com o objetivo de enriquecer o aprendizado de seus participantes da maneira recreativa
possível, despertando o envolvimento e curiosidade dos mesmos. O campo da educação não formal
deve ser utilizado em parceria com instituições de educação formal como as escolas, universidades,
colégios, a fim de sistematizar o ofício educativo no processo da aprendizagem e, ou fixação de
conteúdo (CAZELLI; COIMBRA, 2013, p. 3).
Em virtude dos apontamentos iniciais, procedeu-se à análise do teor qualitativo através de
observação participante nesta experiência, em dois encontros, em turnos distintos, sendo um pela
manhã e outro à tarde. O Projeto HEAD normalmente divide suas atividades em dois grupos de
crianças pela manhã e dois grupos na parte da tarde, para que mais crianças possam interagir de forma
efetiva entre si e com os monitores que orientam as atividades da semana. Desse modo, propicia-se o
enriquecimento da aprendizagem a complementar a educação tradicional e não a substituir.
A atividade ora apresentada contou com um grupo de crianças participantes do Projeto HEAD.
Participaram do grupo 34 crianças de ambos os sexos, com idades entre 7 a 12 anos. Como forma de
avaliação foram realizadas rodas de conversa, na semana seguinte ao encontro com as crianças, para
elas avaliarem as atividades desenvolvidas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 691

O Museu escolhido para a visitação presencial foi o de Ciências Naturais da Pontifícia


Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), onde os participantes do projeto tiveram acesso
a um espaço da Universidade que conta com uma extensão de serviços à comunidade, sendo assim,
um ótimo espaço para a aprendizagem.
Além disso, o Projeto trouxe um convidado Psicólogo e Técnico em Assuntos Educacionais
do Curso de Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ertz Clarck Melindre, para
um encontro virtual aos Museus de Recife – PE. A partir dessa interação, as crianças puderam
conhecer os museus e a cultura de Recife em um espaço virtual.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O projeto HEAD conta com monitores que são graduandos em diferentes áreas, tais como:
Psicologia, Biologia, História, Fonoaudiologia, Fisioterapia, etc. Dessa forma, conta com a interação
de diversas áreas do conhecimento que variam de acordo com a entrada e saída dos monitores a cada
semestre, sendo um espaço de aprendizado profícuo. A visitação proposta pelo Projeto HEAD ao
Museu é considerada uma educação não formal, assim como todas as demais atividades propostas,
uma vez que possuem como objetivo o enriquecimento da aprendizagem para o desenvolvimento de
habilidades e proporcionam tal enriquecimento, para além do curricular, aos participantes da maneira
mais lúdica possível.
Durante os encontros, que ocorrem às segundas-feiras, foram levantados os interesses das
crianças, trabalhando o espaço dos museus como uma possibilidade de enriquecimento da
aprendizagem e estímulo à curiosidade de cada um. A experiência das visitas, tanto presencial quanto
virtual, aos museus, permitiu compreender, através das perspectivas de monitores e crianças, de que
forma o museu pode influenciar na formação e aquisição do conhecimento a partir da perspectiva de
uma educação não formal.
O incentivo à educação não formal permite que o indivíduo se depare com situações
diferentes, novos estímulos que despertam curiosidade e interesse pelo que aquilo traz de diferencial.
Segundo Gohn (2006):

Na educação formal espera-se, sobretudo, que haja uma aprendizagem efetiva (que,
infelizmente nem sempre ocorre), além da certificação e titulação que capacitam os
indivíduos a seguir para graus mais avançados. Na educação informal os resultados não são
esperados, eles simplesmente acontecem a partir do desenvolvimento do senso comum nos
indivíduos, senso este que orienta suas formas de pensar e agir espontaneamente. (GOHN,
2006, p.30).
EXTENSÃO PUC MINAS:
692 Novo Humanismo, novas perspectivas

Observa-se também, desse contexto, o incentivo a um indivíduo mais autônomo, que não
segue um modelo preestabelecido, mas um modelo mais criativo, que se torna capaz de explorar suas
próprias percepções. Sendo assim, contribui para o incentivo da compreensão de um pensamento que
é voltado para a aceitação da existência de diferentes formas de pensar, de ensinar, de absorver
diferentes conteúdos. Conteúdos estes que podem ser explorados e compartilhados, posto que a
educação não formal ainda é considerada um modelo em construção, mas que demonstra ser
promissora e atual.
Através do relato das crianças e dos monitores participantes, foi possível compreender o
envolvimento dessas com o ambiente de aprendizagem. Percebeu-se que, durante a visita presencial,
as interações entre pares, os questionamentos e a relação com o meio ambiente fortaleceram o
aprendizado. Esta avaliação foi possível por meio da troca de experiência entre os participantes do
modelo on-line e presencial, no qual cada participante, das duas modalidades de visitas, presencial e
virtual, contou como e o que foi realizado.
A visita realizada virtualmente trouxe a cultura e os museus de Recife. Nesse sentido,
observou-se como a educação não formal permitiu que se repassasse o conhecimento utilizando
diversas ferramentas e espaços, como o espaço virtual e a tecnologia que foram os principais
facilitadores dessa experiência que despertou também o interesse e curiosidade dos participantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tratando-se os processos de aprendizagem, torna-se imprescindível considerar as questões


afetivas, indissociáveis ao desenvolvimento da inteligência (MORIN, 2000). A criação de novas
possibilidades de exploração do saber através de espaços de investigação e contemplação tornam-se,
portanto, fatores de crescimento no que diz respeito ao aprendizado. Através do levantamento de
interesses e implicações práticas do Modelo Triádico de Enriquecimento, proposto por Renzulli
(1994), essas condições podem ser alcançadas em visitas a museus, como observado nas experiências
relatadas.
Dentro desse contexto, é possível observar como a educação não formal e o usa visitação a
museus podem ser utilizados como práticas pedagógicas importantes, possibilitando o
enriquecimento da aprendizagem dos indivíduos para melhor desenvolvimento de suas habilidades.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 693

REFERÊNCIAS

ADÃO, Jorge Manuel; OLIVEIRA, Rosymari de Souza; FERNANDES, Ivoni de Souza. Altas
habilidades/superdotação: enriquecimento escolar como proposta de atendimento. XI
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EDUCERE, Anais... Curitiba, p. 20.660-20.669,
2013.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394. Brasília: MEC,
1996Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo
competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas
habilidades/superdotação. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC.- Brasília, 2006.
CAZELLI, Sibele. COIMBRA, Carlos. A. Q. Pesquisas educacionais em museus: Desafios
colocados por diferentes audiências. Workshop Internacional de Pesquisa em Educação em
Museus. 2013. Disponível em: http://www.geenf.fe.usp.br/v2/wp-
content/uploads/2013/01/Mesa1_Cazelli-protegido.pdf. Acesso em: 12 jun.2022.
FILGUEIRAS, Karina Fideles; FORTES, Sônia Firmato. A interdisciplinaridade como facilitadora
da inclusão e enriquecimento da aprendizagem: um estudo de caso. Revista Educação Pública, Rio
de Janeiro, v. 22, nº 13, 12 de abril de 2022. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/13/a-interdisciplinaridade-como-facilitadora-da-
inclusao-e-enriquecimento-da-aprendizagem-um-estudo-de-caso. Acesso em: 12 jun.2022.
FREITAS, Soraia Napoleão. Educação para alunos com altas habilidades/superdotação:
encaminhando potenciais para um programa de enriquecimento. Rev. Traj. Mult. Ed. Esp. XVI
Fórum Internacional de Educação. Ano 3, nº 7, 2012.
GOHN, Maria G. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas
escolas. Revista Ensaio Avaliação e Políticas Públicas em Educação [on-line], Rio de Janeiro, v.
14, n. 50, pp. 27-38, Set 2006. Disponível em :
https://www.scielo.br/j/ensaio/a/s5xg9Zy7sWHxV5H54GYydfQ/?lang=pt#. Acesso em: 12
jun.2022.
MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 3ª ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina
Eleonora Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2000.
PAPALIA, Diane. E. Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? 22ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.
RENZULLI, Joseph. The Three-ring conception of Giftedness: A Developmental Model for
Creative Productivity. In: RENZULLI, Joseph; REIS, Sally. The Triad Reader. Mansfield Center,
Connecticut: Creative Learning Press, 1986.
RENZULLI, Joseph. S. Schools for talent development: A practical plan for total school
improvement. Mansfield Center, CT: Creative Learning Press, 1994.
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694 Novo Humanismo, novas perspectivas

Orientações para pais e responsáveis de jovens com


Síndrome de Down durante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19)

Gabrielly Gomes Ferreira1


Danielle Alves Rodrigues2
Lucas Macedo Pereira Lima3
Natália Rezende Baraldi4
José Francisco Kerr Saraiva5

RESUMO
O presente relato objetiva descrever a elaboração de cartilha e vídeo de orientações sobre a COVID-19 para pais e
cuidadores de pessoas com síndrome de Down (SD) e deficiência intelectual. O projeto foi realizado pelo grupo de
extensão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com
discentes extensionistas das faculdades de Farmácia, Jornalismo, Medicina, Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional,
em parceria com a Fundação Síndrome de Down e a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Os participantes se dividiram
em seis frentes, cada uma abordando aspectos considerados imprescindíveis para a prevenção da COVID-19. Frente à
declaração de calamidade pública no Brasil devido à COVID-19, entende-se necessário orientar esses cuidadores, visto
as diversas repercussões no seu cotidiano, uma vez que são responsáveis por si e pelo outro. A cartilha é um forte recurso
de educação em saúde específico para esse público em complementação com o vídeo produzido. Ambos objetivam
amenizar fatores de sofrimento psíquico do cuidador por meio de estratégias que auxiliem a reorganizar a rotina e
conscientizar sobre a adoção de hábitos promotores de saúde durante o distanciamento social.

Palavras-chave: Coronavírus. Cuidador. Cartilha. Prevenção.

Orientation for parents and guardian of young people with


Down’s Syndrome during the new coronavirus pandemic (COVID-19)

ABSTRACT
The following experience report aims to describe the development of a booklet and video of guidelines on COVID-19 for
parents and caregivers of people with Down syndrome (DS) and intellectual disability. The project was developed by the
extension group of the Dean of Extension and Community Affairs of the Pontifical Catholic University of Campinas, with
extension students majoring in Pharmacy, Journalism, Medicine, Nutrition, Psychology and Occupational Therapy in
partnership with the Down Syndrome Foundation and the Brazilian Society of Cardiology. The participants were divided
into six fronts, each addressing aspects considered essential for the prevention of COVID-19. Due to the declaration of
public calamity in Brazil, it has been considered necessary to guide these caregivers, given the various repercussions in
their daily lives, since they are responsible for themselves and others. The booklet is a strong health education resource

1
Graduanda de Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail: gabrielygomes@hotmail.com.
2
Graduanda de Terapia Ocupacional na PUC-Campinas. E-mail: todaniellerodrigues@gmail.com.
3
Graduando de Psicologia na PUC-Campinas. E-mail: lucasmplima@gmail.com.
4
Graduanda de Medicina na PUC-Campinas. E-mail: nataliabaraldi@gmail.com.
5
Médico, pesquisador e professor titular de Cardiologia. PUC-Campinas. E-mail: saraiva.jfk@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 695

specifically for this audience in addition to the video produced. Both aim to alleviate factors of psychological distress of
the caregiver through strategies that help to reorganize the routine and raise awareness about the adoption of health-
promoting habits during social distance.

Keywords: Coronavirus. Caregiver. Booklet. Prevention.

INTRODUÇÃO

No Brasil, entre as medidas adotadas para a prevenção da disseminação do Coronavírus, está


o distanciamento social, uma vez que a transmissão acontece de pessoa para pessoa através de
gotículas provenientes do nariz ou boca, expelidas quando o indivíduo infectado espirra, tosse ou fala
e através do contato com objetos e superfícies contaminadas (BRASIL, 2020).
Tal estratégia implica mudanças significativas que impactam o cotidiano dos pais,
responsáveis, cuidadores e pessoas com Síndrome de Down (SD), o que traz à tona a necessidade da
orientação clara e objetiva para essa população específica. Portanto, desenvolveu-se, junto à
Fundação Síndrome de Down, uma cartilha para informar e auxiliar os pais e cuidadores dessa
população no cumprimento dos cuidados necessários de prevenção, além de amenizar o sofrimento
psíquico do cuidador nesse novo cenário, melhorar sua qualidade de vida e assegurar seu melhor
desempenho nas ações de proteção.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, identificado


pela primeira vez na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, em dezembro de 2019
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE - OPAS, 2020). Desde então, se disseminou
por vários países, considerada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em
março de 2020 (OPAS, 2020). Com quadro clínico variável, desde infecções assintomáticas a
pneumonia e síndrome respiratória aguda grave; os sintomas incluem febre, fadiga, tosse seca,
mialgia, congestão nasal, cefaleia, dor de garganta, diarreia, perda de paladar ou olfato e dispneia.
(OPAS, 2020).
As pessoas com doenças de base, como doença cardiovascular, diabetes mellitus, hipertensão
arterial sistêmica, pneumopatias, neoplasias e idosos são consideradas grupo de risco (OPAS, 2020).
EXTENSÃO PUC MINAS:
696 Novo Humanismo, novas perspectivas

O indivíduo com síndrome de Down também pode ser incluído nesse grupo devido a diversas
características da trissomia do cromossomo 21, as quais podem agravar o quadro clínico da COVID-
19 (BRASIL, 2020).
Um dos fatores de risco é a imunodeficiência característica dessa população, sendo as
infecções, principalmente pulmonares, uma das principais causas de morbidade e mortalidade em
todas as idades (NISIHARA; MASSUDA; LUPIÃNES, 2014). Outros fatores de risco são as diversas
anomalias que acometem o sistema cardiovascular, como a cardiopatia congênita, que afeta 50% da
população com síndrome de Down. Além disso, é possível notar um aumento de doenças crônicas,
como hipertensão arterial e diabetes mellitus, e aumento da obesidade nessa população, os quais são
fatores de risco para o agravamento da COVID-19 (BRASIL, 2013). Dessa forma, é de fundamental
importância a educação e orientação populacional sobre as medidas sanitárias de prevenção da
COVID-19.

3 METODOLOGIA

O projeto foi desenvolvido no período de março a abril de 2020, e está vinculado à Pró-
Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cujo
trabalho é voltado à prevenção de doenças cardiovasculares na população com SD. O grupo
extensionista é composto por docente e discentes dos cursos de Farmácia, Jornalismo, Medicina,
Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional, realizado em conjunto com a Fundação Síndrome de
Down de Campinas-SP e com o apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ademais, contou com
outros profissionais de saúde voluntários (pediatra, cardiologista, nutricionista e educadoras físicas).
O diálogo entre as disciplinas teve papel fundamental na tarefa de definir uma abordagem eficiente e
esclarecedora para os responsáveis dos indivíduos com Síndrome de Down, atingindo o público-alvo
com uma mensagem uníssona.
A cartilha foi elaborada por meio de reuniões, via plataforma on-line, e os tópicos abordados
foram: agente da doença, modo de transmissão, sintomas, grupos de risco, definição e importância de
distanciamento social, dicas, higiene pessoal, cuidados a serem tomados caso precise sair de casa, uso
de máscara, alimentação saudável e higienização dos alimentos, atividade física, vacinação e quais
medidas tomar se apresentar os sintomas.
A fim de desenvolvê-la, os alunos voluntários e profissionais de saúde foram divididos em
seis frentes. O grupo responsável pela comunicação foi encarregado de introduzir, organizar e reunir
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 697

o conteúdo dos tópicos previamente citados produzidos pelos demais, devido à importância da
diagramação das informações e ilustração do conteúdo abordado. O propósito estava em facilitar a
transmissão das mensagens necessárias, garantir a fluidez da leitura e produzir um material chamativo
ao leitor – com linguagem simples e direta. A consulta rápida às informações desejadas também foi
um cuidado tomado pela equipe.
De modo complementar à cartilha, para atender e atingir àqueles que não se identificam com
o conteúdo em formato de texto, gravou-se um vídeo rápido, para circulação por mídias sociais, com
as principais orientações e cuidados abordados na cartilha. O vídeo é protagonizado pelo docente
orientador do projeto, o que ressaltou a credibilidade das informações transmitidas. Garantiu-se,
assim, a abrangência por completo do público de familiares dos usuários da Fundação Síndrome de
Down. Para a elaboração de ambos materiais, foram realizadas pesquisas em guias da Organização
Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, além de artigos científicos qualificados.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Os tópicos abordados na cartilha tiveram como objetivo disseminar informações confiáveis,


enfatizar orientações e esclarecer a população com SD em específico, a partir de um influenciador
comunitário já conhecido pelo público-alvo (Fundação Síndrome de Down). Assim, possibilitou-se a
compreensão e engajamento comunitário, o quais são de extrema importância como resposta a esta
emergência de saúde pública (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020).
A importância da abordagem sobre os desafios e o estresse provenientes do isolamento social
veio de queixas recorrentes levadas aos psicólogos por pais e usuários da Fundação Síndrome de
Down. Uma vez que as rotinas foram quebradas e o convívio intensificado, a relação tornou-se
caótica. Para além da rotina em casa, as adaptações às novas formas de trabalho virtuais também
foram abordadas, entendendo a necessidade de auxílio desses indivíduos para se adequar aos novos
hábitos e a compreensão dessas mudanças, que não são de fácil aceitação.
Assim, na tentativa de auxiliar as famílias, foram abordadas a importância do distanciamento
social e dicas para esse período, como estabelecer uma rotina, os benefícios de manter horários das
refeições e o contato com outros familiares e amigos de modo virtual. Além de instruções para o uso
de ferramentas simples, que podem ser aplicadas facilmente por leigos do núcleo familiar visou-se à
redução dos conflitos, respeito à autonomia e deveres daqueles que convivem, resultando em uma
melhor aceitação deste novo modelo de vida.
EXTENSÃO PUC MINAS:
698 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os tópicos “hábitos de higiene” e “cuidados necessários no momento de pandemia”


consideraram as medidas que são eficazes na prevenção da COVID-19. Foram abordados os
conteúdos referentes ao agente da doença, o modo de transmissão, os cuidados a serem tomados
quando necessário sair de casa – principalmente quanto ao vestuário e à descontaminação daquilo
que potencialmente contém o vírus –, a importância do uso correto de máscara e como fazê-lo.
Enfatizou-se como e quando deve ser realizada a higienização das mãos, o tempo necessário de
lavagem, a importância de uma higiene completa e de uma secagem adequada. Ademais, atentou-se
para o cuidado com o compartilhamento de objetos.
O tema “alimentação saudável” também foi desenvolvido, com o objetivo de incluir o
consumo preferencial de alimentos in natura ou minimamente processados na dieta do público-alvo
durante esse período de isolamento, quando a tendência de consumo aponta para maior ingestão de
alimentos industrializados e menor gasto energético. Isso caracteriza um preocupante fator, ao ser
associado com a maior propensão à obesidade das pessoas com SD e a consequente influência no
risco de desenvolvimento ou agravamento de doenças cardiovasculares (BRASIL, 2013). O conteúdo
também trabalhou a forma correta de higienização dos alimentos, não só para o consumo imediato,
mas após as compras, devido a potencial contaminação em seu trajeto do fornecedor até a casa do
consumidor final.
Devido às condições anteriormente citadas, a abordagem do exercício físico durante o período
de isolamento social fez-se de suma importância. Nesse tópico, apresentaram-se os benefícios da sua
prática, exemplos de exercícios, duração recomendada e a prática segura, tanto com cuidados
relacionados ao distanciamento social, quanto ao respeito à limitação de cada indivíduo e a
importância de evitar intercorrências. Evidenciar que a prática de exercícios físicos não deve ser
suspensa, para toda a população, não apenas para aqueles com SD, foi um cuidado, já que o benefício
dessas atividades para a saúde imunológica, mental, cardiovascular e respiratória é consensual —
com sua importância redobrada em períodos de pandemia (MELO; OLIVEIRA; RAPOSO, 2014).
Por fim, foram abordados os cuidados em saúde. Enfatizou-se a importância em checar com
a equipe de saúde a carteira de vacinação, com atenção especial às vacinas Pneumocócica-23 e contra
Influenza. Ademais, orientou-se quanto à identificação dos sintomas sugestivos de COVID-19 e
medidas a serem tomadas caso apresentá-los, além de instruções sobre quando e qual o serviço de
saúde procurar. Foi abordado quais ferramentas utilizar para esclarecer as dúvidas sem a necessidade
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 699

de sair de casa, uma vez que a demanda da população com SD por assistência à saúde demonstra-se
recorrente, o que enfatiza o quão importante é evitar a exposição a ambientes com certo potencial
contaminante.
A ampla repercussão das duas formas de orientação desenvolvidas pelo projeto demonstra o
êxito e pertinência do material para o público-alvo. Todo cidadão tem direito à comunicação, uma
vez que a informação é essencial para o exercício da cidadania (SCORALICK, 2009). Assim, é
fundamental a difusão de informações para a população com SD, a qual geralmente é negligenciada
pelos veículos de comunicação, inclusive no contexto da COVID-19, uma vez que não foram
encontrados materiais abordando sua especificidade sobre o tema ou com o intuito de orientar as
pessoas com deficiência intelectual. Contribui-se para a quebra do hábito excludente, promovendo a
sua participação ativa em todas as definições e ações, promovendo sua autonomia.
Ressalta-se que o modo como a pessoa com SD é compreendida pelos outros pode implicar
ganhos ou prejuízos para o seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional (WUO, 2007). A
comum imagem de eterna criança, que necessita de ajuda e proteção constante restringe sua
permanência a ambientes controlados e seguros, o que resulta, muitas vezes, em pessoas restritas às
suas casas. Como consequência, perpetua-se a exclusão, os preconceitos e determinações errôneas
sobre a identidade do indivíduo; o que implica a esse indivíduo uma rotina de isolamento,
sedentarismo e negligência com questões de saúde, como a alimentação, de forma a propiciar o
desenvolvimento de comorbidades como diabetes e hipertensão. (CHAVES; NAVARRO; CAMPOS,
2008). Portanto, é de extrema importância evidenciar essa população, que normalmente é
invisibilizada, frisar a importância da sua participação e sua capacidade, como para escolher por uma
rotina de prevenção e combate a COVID-19. Atinge-se, por fim, o objetivo de inclusão.
O material foi publicado na página do projeto na internet. Houve também a divulgação nas
páginas da Fundação Síndrome de Down, Movimento Down, Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE) Campinas e Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Além disso, a
campanha foi transmitida entre diversos veículos de imprensa escrita, radiofônica e televisiva de
grande penetração na mídia. A ampla repercussão em fundações e sociedades, para além da Fundação
Síndrome de Down – Campinas, demonstra a carência de orientação concisa e de qualidade para essa
população, potencializador da insegurança nesse momento de pandemia, visto a sensação de estarem
informados incompletamente, por não se tratar de uma abordagem com vistas às particularidades da
síndrome.
EXTENSÃO PUC MINAS:
700 Novo Humanismo, novas perspectivas

Assim, a iniciativa pôde, de forma pioneira, orientar e acolher aqueles que convivem com a
pessoa com SD durante o período de distanciamento social. Contribuindo-se para a preservação da
integridade dessa população de maneira global, não restringido apenas a orientação médica, mas
entendendo essa pessoa de forma integral, compreendendo o contexto em que está inserida,
aproveitando-se da estrutura interdisciplinar, pois entende-se essencial na complexidade do período
vivido.
Para acessar a cartilha, aponte o leitor para a imagem 1; para acessar a página virtual da
campanha e ter acesso a todos os materiais de vídeo desenvolvidos, vá até a imagem 2.

Imagem 1: QR Code de acesso à Cartilha Imagem 2: QR Code de acesso à Campanha

Fonte: Código gerado pelos autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da cartilha possibilitou a transmissão de informações pertinentes a


respeito da COVID-19 de forma efetiva e educativa para responsáveis de indivíduos com Síndrome
de Down, garantindo-lhes maior conhecimento e segurança sobre o assunto em um momento no qual
não se identificou informações capilarizadas para essa população. Assim, além de certificar que esse
grupo tome medidas apropriadas de prevenção, foi possível disseminar estratégias e informações que
contribuem para amenizar seu sofrimento psíquico durante este período.
A ampla visibilidade e divulgação possibilitaram o protagonismo dos jovens com Síndrome
de Down, de modo a romper com a habitual exclusão social. Colocados ao centro, como agentes
capacitados para a decisão autônoma de medidas de prevenção e disseminação das orientações; para
aqueles de seu convívio, promovemos a inclusão.
Dessa forma, os alunos envolvidos no projeto conseguiram demonstrar a importância da
relação entre ensino, pesquisa e extensão, sendo que todo o trabalho de pesquisa e ensino obtido por
meio da faculdade e de profissionais envolvidos no projeto de extensão permitiu que os participantes
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 701

envolvidos compreendessem a importância de atividades extensionistas com enfoque na comunidade,


possibilitando atuar em sua essência – disseminar o conhecimento científico à comunidade geral.
O envolvimento de diversos profissionais voluntários, no âmbito de compartilhar
conhecimento sobre diferentes áreas acadêmicas, não apenas vinculadas à saúde, mas também
vinculados à comunicação e ao audiovisual, agregou conhecimento inestimável aos alunos
envolvidos. Em suma, a realização do presente trabalho foi de grande importância para os voluntários
extensionistas, assim como para o público-alvo, já que trabalhar na interdisciplinaridade, sobretudo
no contexto de uma pandemia, quando novas orientações e informações surgem todos os dias, é
crucial para a corroboração e disseminação destas como combate à desinformação, ou seja, a cartilha
possibilitou a disseminação de conhecimento confiável.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down. Brasília,
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da Saúde, 2020. Disponível em: <https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#interna>. Acesso
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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 703

Intergeracionalidade para a Promoção de Saúde em Idosos

Lilian de Souza Martins1


Eduarda Felipe Bonilha Reges2
Vinícius de Souza Silva3
Teresa Cristina Alvisi4
Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva5

RESUMO
O objetivo desse relato foi refletir sobre a importância da vivência entre gerações para a promoção à saúde em idosos,
durante o período de pandemia, bem como na formação de futuros profissionais da saúde. As ações do projeto buscavam
promover a qualidade de vida, incentivar a prática regular de exercícios físicos, e viabilizar a inclusão, possibilitando a
troca de saberes e a convivência entre diferentes gerações. As atividades realizadas no Projeto contribuíram para a
educação em saúde, a promoção à saúde, vivência intergeracional, prática de exercícios físicos, acolhimento, inclusão e
socialização. Essas ações são meios de instrumentalizar a população idosa em busca de cidadania e justiça social, visando
o empoderamento dessa população, bem como a formação mais completa dos estudantes de fisioterapia.

Palavras-chave: Idosos. Extensão comunitária. Exercício físico.

Intergenerationality for Health Promotion in the Elderly

ABSTRACT
The purpose of this report was to reflect on the importance of the experience between generations for the promotion of
health in the elderly during the pandemic, as well as in the training of future health professionals. The project’s actions
encompassed promoting quality of life, encouraging the regular practice of physical exercises, promoting inclusion,
enabling the exchange of knowledge and coexistence between different generations. The activities carried out in the
project contributed to health education, health promotion, intergenerational experience, physical exercise, reception,
inclusion and socialization. These actions are means of instrumentalizing the elderly population in search of citizenship
and social justice, aiming at the empowerment of this population, as well as the more complete training of physiotherapy
students.

Keywords: Elderly. Community extension. Physical exercise.

1
Graduando do curso de Fisioterapia da PUC Minas/Poços de Caldas. E-mail: Lilian.martins.1195190@sga.pucminas.br.
2
Graduanda do curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços de Caldas. E-mail: eduarda.bonilha@sga.pucminas.br.
3
Graduanda do curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços de Caldas, e-mail: vinicius.silva.1192024@sga.pucminas.br.
4
Orientadora, colaboradora; Mestre em Gerontologia Social; Professora do Curso de Fisioterapia da PUC Minas / Poços
de Caldas. E-mail: alvisite@pucpcaldas.br.
5
Mestre em Fisioterapia. Professora do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Poços de Caldas. Orientadora,
coordenadora do Projeto (Financiado pela PROEX PUC Minas). E-mail: imaculada@pucpcaldas.br.
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704 Novo Humanismo, novas perspectivas

INTRODUÇÃO

Uma conquista importante da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, que tem ocorrido
em conjunto com a melhoria dos parâmetros de saúde das populações, mesmo que essas conquistas
não ocorram de forma equitativa nos diferentes países e nos diferentes contextos socioeconômicos
(VERAS; OLIVEIRA, 2018). Dessa forma, o mundo enfrenta uma preocupação relativa ao aumento
da população envelhecida (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005).
O envelhecimento da população mundial não basta; é necessário, além de uma maior
expectativa de vida, agregar qualidade aos anos adicionais vividos (VERAS; OLIVEIRA, 2018). A
dualidade entre viver mais e a qualidade dos anos acrescidos, remete a uma preocupação crescente
pela promoção de saúde com a finalidade de ampliar os ganhos em funcionalidade, buscar a prevenção
de doenças e incapacidades, evitar a mortalidade prematura, reduzir fatores de risco, principalmente
aqueles associados às doenças crônicas não transmissíveis, como é o caso do sedentarismo (OMS,
2005).
O Brasil também vivencia o fenômeno do crescente envelhecimento populacional, o que
demanda mudanças e transformações na saúde da população. A Política Nacional de Promoção da
Saúde visa criar estratégias para o enfrentamento dos desafios de promoção de saúde num cenário
sócio-histórico cada vez mais complexo e que demanda a reflexão e qualificação contínua das práticas
sanitárias e do sistema de saúde (BRASIL, 2006).
Por outro lado, a Extensão Universitária representa um processo acadêmico vinculado à
formação ampliada do cidadão, à produção e ao intercâmbio de conhecimentos que visem à
transformação da realidade social. A extensão articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável,
por meio de um trabalho inter e transdisciplinar capaz de favorecer uma visão global das questões
sociais (ALVES, 2004).
Dessa forma, a Extensão Universitária tornou-se o instrumento de inter-relação da
universidade com a sociedade, democratizando o conhecimento e reprodução deste, por meio da troca
de saberes com as comunidades. Ademais, atua como um processo interdisciplinar, cultural,
educativo, científico, de interação dialógica, em uma via de mão dupla entre sociedade e universidade
(POLÍTICA NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2012). Já a promoção à saúde trata-
se de um processo que visa capacitar os sujeitos e comunidades para desenvolverem seus potenciais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 705

de saúde, pois possibilita oportunidades de conhecimento e controle sobre fatores determinantes.


Assim sendo, realizar um projeto de extensão tendo como referência a promoção de saúde de pessoas
idosas é uma estratégia que atende às diretrizes de políticas públicas (SAMPAIO et al., 2018).
Uma alternativa para atingir esse objetivo, levando em consideração o papel social das
universidades e dos cursos da área da saúde junto à comunidade, são os projetos de extensão com
foco na população idosa. Esse tipo de ação possibilita aos estudantes a oportunidade de implementar
atividades que promovam mudanças sociais importantes na vida dessa população, a partir do
conhecimento teórico-prático adquirido ao longo da graduação, ao mesmo tempo, essa prática surge
como meio de interação entre alunos, professores e comunidade, favorecendo o desenvolvimento
pessoal e profissional dos estudantes (POLÍTICA NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA,
2012).
Dentre os objetivos do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, campus Poços de Caldas, está a formação generalista do fisioterapeuta, que deverá participar
da promoção, prevenção e reabilitação da saúde individual e coletiva, com olhar humanista e visão
holística, além de conhecer e intervir em situações de saúde e doença, considerando o contexto social
e econômico da população a que presta serviço e fundamentado no perfil epidemiológico da região
em que atua.
Assim, o objetivo deste relato foi refletir sobre a importância da vivência intergeracional para
a promoção de saúde em idosos, bem como na formação de futuros profissionais da saúde.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Envelhecimento

O envelhecimento da população brasileira acompanha a tendência global, no entanto, é ainda


mais rápido do que em outros países. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
do ano de 2019, mostraram que a tendência de envelhecimento populacional vem aumentando e
estima-se, para o ano de 2060, que o número de idosos deva chegar a 25,5% da população brasileira
(IBGE,2019).
As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas. O
envelhecimento é um processo progressivo que ocorre no decorrer da vida do indivíduo, afetando
todos os sistemas do organismo, e resulta em alterações fisiológicas em nível celular e molecular,
EXTENSÃO PUC MINAS:
706 Novo Humanismo, novas perspectivas

que, com o tempo, levam a uma perda gradual nas reservas fisiológicas, a um aumento do risco de
contrair doenças e a um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo, podendo resultar na sua
morte (OMS, 2015).
O processo de envelhecimento também é influenciado por fatores sociais, culturais e
psicológicos. Assim, o conceito do envelhecer pode ser entendido como algo subjetivo e de
transformações biopsicossociais, que modificam aspectos comuns em indivíduos saudáveis, levando-
os a novas percepções de enfrentamento da vida. É importante que se diga que essas mudanças não
são lineares ou consistentes e são vagamente associadas à idade de uma pessoa em anos. (LINHARES
et al., 2019).
O envelhecer é marcado por acontecimentos de vida, perdas e ganhos, sendo de fundamental
importância que o indivíduo se ajuste a essas transições, sejam de ordem física, social e/ou ambiental.
Desse equilíbrio, resulta-se um bem-estar consciente, permitindo às pessoas o desenvolvimento das
suas capacidades física e psicológicas, reagindo ao meio físico e social que o envolve, sem sofrimento
(SILVA; ALMEIDA, 2013).
Alguns padrões de comportamento são tipicamente associados aos idosos, como a passividade
e a imobilidade, e, com reduzida atividade física, criam-se alguns estereótipos que determinam a
forma de agir desse grupo de indivíduos. De acordo com Paschoal e Figueiredo (2020), o
sedentarismo nessa população é também resultado de imposições sociais e culturais, não somente
uma incapacidade funcional.
Uma maneira eficiente de envelhecer de forma saudável e com qualidade de vida advém de
políticas públicas e de ações que visem a educação e promoção à saúde, buscando o empoderamento
dessa população, como já previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2003).

2.2 Intergeracionalidade

O termo intergeracionalidade, ou interações sociais entre pessoas de diferentes gerações, é


relativamente novo e está associado a relações entre pessoas mais novas e mais vividas, tendo como
objetivo principal a troca de histórias de vida e conhecimento. O aumento da expectativa de vida no
mundo e no Brasil está favorecendo uma convivência mais prolongada entre gerações (RABELO;
NERI, 2014).
Esse tipo de interação estimula as funções cognitivas e psicossociais em idosos, além de
reforçar seu senso de pertencimento e importância na comunidade. Enquanto que, para os jovens,
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Novo Humanismo, novas perspectivas 707

além do aprendizado com pessoas mais experientes, essa convivência aumenta a resiliência, empatia,
relacionamentos sociais e melhora a percepção sobre o processo de envelhecimento; portanto, esse
tipo de convivência traz benefícios mútuos para as gerações envolvidas.
Dessa forma, as interações intergeracionais são consideradas, pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como uma maneira eficaz de inclusão e
cooperação, relevante por priorizar o valor social da igualdade (UNESCO, 2002).

2.3 Extensão Universitária

A Política de Extensão Universitária da PUC Minas busca articular ensino, pesquisa e


extensão visando a inclusão social, a formação cidadã e humanista e o desenvolvimento integral do
ser humano, como busca viabilizar uma relação transformadora entre a universidade e a sociedade.
Assim, fica clara a importância em criar ações que possam atender as demandas da população idosa,
buscando a manutenção ou a recuperação da autonomia e independência funcional, bem como
possibilitar a participação da comunidade acadêmica em demandas sociais contribuindo para a
transformação desses indivíduos.
De acordo com Plano de Desenvolvimento Institucional (POLÍTICA NACIONAL DE
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2012), a graduação, nas dimensões ensino, pesquisa e extensão,
deve possibilitar ao aluno o domínio das competências e habilidades previstas nas Diretrizes
Curriculares Nacionais. E a extensão universitária, integrada ao ensino e à pesquisa, é enfatizada
como parte do fazer acadêmico e um dos lugares do exercício da função social das Instituições de
Ensino Superior. Assim, uma ação pedagógica extensionista favorece a vocação técnico-científica e
humanizadora, assim como o compromisso social.
Dessa forma, a extensão universitária contribui para a formação profissional, pois, por meio
das dificuldades encontradas, na vivência de situações reais, há necessidade de articular a teoria e a
prática, trabalhar coletivamente incluindo pessoas e ideias, convivendo com pessoas de diferentes
saberes e gerações, mas com objetivos em comum, buscando construir uma sociedade democrática e
inclusiva (ALVES, 2004).
EXTENSÃO PUC MINAS:
708 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 METODOLOGIA

Este relato de experiência foi desenvolvido a partir da descrição das vivências dos
participantes idosos, estudantes e professores extensionistas do Projeto “Acolher uma visão
humanizada do envelhecimento”, vinculado ao curso de Fisioterapia do campus de Poços de Caldas.
O objetivo é promover a qualidade de vida, incentivar a prática regular de exercícios físicos e a
inclusão, possibilitando a troca de saberes e a convivência entre diferentes gerações.
Desde o início das atividades, no primeiro semestre de 2021, foram realizadas atividades que
compreenderam, entre as principais ações, encontros presenciais na clínica de fisioterapia, divulgação
de material educativo em redes sociais, replicação de material educativo no grupo de WhatsApp,
encontros remotos síncronos sobre temas escolhidos pelos idosos e, no início de 2022, puderam ser
realizados encontros presencias na Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) parceira,
uma vez que houve condição sanitária para isso. Os encontros presenciais na Clínica de Fisioterapia
e na ILPI foram realizados semanalmente, o material educativo foi publicado quinzenalmente nas
redes sociais e, finalmente, os encontros remotos ocorreram numa frequência mensal.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de execução do Projeto Acolher, foi possível realizar várias ações que
contribuíram para a educação em saúde, a promoção à saúde, a vivência intergeracional, a prática de
exercícios físicos, o acolhimento, a inclusão e a socialização. Ações de inclusão, aprendizagem,
acolhimento são meios de instrumentalizar a população idosa em busca de cidadania e justiça social,
visando o empoderamento dela.
Mesmo com o aumento da população idosa no Brasil, em que se estima, em 2060, um idoso
para cada três brasileiros, a longevidade, no Brasil, é inversamente proporcional à obtenção de
qualidade de vida, trazendo à tona aspectos negativos da velhice, como a fragilidade do indivíduo
senil, as doenças crônico-degenerativas, frequentes nessa faixa etária, e a sensação de dependência e
inutilidade, vivenciadas e temidas pelos idosos (MENDONÇA et al., 2021; IBGE, 2019).
As práticas intergeracionais, como as que ocorreram no projeto de extensão, procuram unir
pessoas com um propósito definido, por meio de atividades que sejam benéficas para ambos os grupos
e que promovam um melhor entendimento e respeito entre gerações, pois, mais do que juntar pessoas
jovens e idosas, importa ver a comunidade como um contexto ampliado, na interação de diferentes
gerações (PINTO; HATTON-YEO; MARREEL, 2009).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 709

A OMS (2015 p. 28) definiu o envelhecimento ativo e saudável como: “O processo de


otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade
de vida à medida que as pessoas envelhecem bem como o processo de desenvolvimento e manutenção
da capacidade funcional”.
Nesse contexto, a intergeracionalidade pode ser vista como uma estratégia do envelhecimento
ativo, capaz de provocar mudanças contínuas durante as fases da vida das pessoas. Implica a
existência de uma ou várias atividades significativas e satisfatórias, em que o idoso esteja envolvido
de forma estruturada e continuada, com impacto positivo na sua vida (ROZARIO; MORROW-
HOWELL; HINTERLONG, 2004). Estudos têm demonstrado os efeitos positivos do vínculo
estabelecido entre diferentes gerações, que, além do fortalecimento da relação entre pessoas de
diferentes idades, as atividades intergeracionais têm efeitos benéficos sobre a saúde e o bem-estar de
todas as gerações envolvidas, na inclusão, na participação, da equidade, no fomento de relações de
solidariedade e ainda na coesão social e na estruturação de vínculos sociais (MASSI et al., 2016).
Esse tipo de relação ajuda a combater a segregação e o isolamento, promovendo a inclusão
dos participantes na comunidade (PINTO; HATTON-YEO; MARREEL, 2009), como assinala o
Plano Nacional de Extensão (2012), a concepção de extensão como prática acadêmica que interliga a
universidade, nas suas atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da população. É uma
prática que possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, junto à sociedade, como
espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades
sociais existentes. Isso porque, na formação do profissional, é imprescindível sua interação com a
sociedade para situá-lo historicamente, identificá-lo culturalmente e referenciar sua formação técnica
à realidade (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2001).
A experiência vivenciada pelos estudantes em um projeto de extensão impulsiona o
aprendizado e incentiva a busca de novas possibilidades. Para o desenvolvimento das ações do
Projeto, os estudantes utilizaram conhecimentos sobre a estrutura e funcionamento dos sistemas
cardiovascular, respiratório e musculoesquelético, buscando relacionar esses conceitos aos
movimentos do corpo humano, selecionando os exercícios terapêuticos adequados para a população
idosa envolvida. Nesse processo, conhecer as funções normais do corpo humano, entender as
alterações que acontecem com o processo de envelhecimento fisiológico, bem como compreender o
que acontece com o idoso que possui uma doença cardiovascular, respiratória e/ou metabólica,
evidenciou a interdisciplinaridade entre as diversas disciplinas, tornando a aprendizagem mais
significativa. Além disso, os estudantes tiveram a oportunidade de intervir de forma positiva no
EXTENSÃO PUC MINAS:
710 Novo Humanismo, novas perspectivas

sentido de orientar atividades, visando promover uma melhora na qualidade de vida dos idosos. Outro
aspecto importante que deve ser destacado foi o desafio de propor atividades para idosos
institucionalizados, que apresentam maior vulnerabilidade, sendo muitas vezes limitados fisicamente
e com alterações cognitivas, diferindo sobremaneira do idoso não-institucionalizado, o que
proporcionou ao estudante a oportunidade de vivenciar demandas mais complexas, promovendo o
desenvolvimento de práticas colaborativas junto aos demais membros da equipe de saúde da
instituição de longa permanência para idosos (ILPI).
A integração entre os estudantes e idosos foi relatada como um facilitador do projeto, sendo
capaz de promover uma melhor socialização entre diferentes gerações, com diferentes realidades,
sendo fundamental para a formação de um profissional de saúde preocupado com o cuidar de forma
humanizada e inclusiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a experiência no projeto, os extensionistas relataram que desenvolveram competências


de liderança, comprometimento, responsabilidade social e trabalho em equipe; se tornaram menos
tímidos, tiveram uma maior facilidade para falar em público; se tornaram mais criativos e
apresentaram mais segurança na abordagem com os idosos. Destacaram, ainda, que os pontos fortes
do Projeto foram a maior integração favorecendo a troca de experiências, a interdisciplinaridade, a
intergeracionalidade e a vivência prática que ampliou o espaço da sala de aula. Além disso, outro
ponto destacado foi a inserção precoce no ambiente terapêutico e maior aproximação com a prática
clínica do fisioterapeuta.
Assim, a vivência intergeracional do Projeto de Extensão “Acolher: uma visão humanizada
do envelhecimento” contribuiu para a educação e promoção de saúde de idosos, bem como para uma
formação mais completa dos estudantes de fisioterapia, não apenas na dimensão técnica, mas também
humanística e cidadã.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 713

A importância da escuta qualificada com foco na reabilitação


em recuperandas do Projeto de Extensão ELAS

Ana Clara de Jesus Nunes1


Ana Paula Marques Silva2
Bruna Mara dos Anjos Moraes3
Izabela Cardoso Souza4
Patrícia Dayrell Neiva5

RESUMO
Trata-se de um relato de experiência de uma ação realizada pelas extensionistas do Projeto de Extensão da PUC Minas
ELAS na APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) Belo Horizonte, com objetivo de coletar a
história clínica de algumas recuperandas com queixas de dores, para orientá-las na linha de autocuidado, como promoção
e educação em saúde ou avaliar a possibilidade de encaminhá-las para Atenção Primária ou Secundária à Saúde no Sistema
Único de Saúde (SUS), a fim de proporcionar uma melhora na funcionalidade e qualidade de vida. Foram entrevistadas
quatro recuperandas, sendo utilizado como roteiro a avaliação física e funcional, no modelo de função e disfunção, que
abordam domínios como fatores pessoal, atividade, participação e ambiental, além da avaliação subjetiva da saúde.
Mediante as informações coletadas com a prática, é notório que existem relações semelhantes sobre as queixas que as
recuperandas relataram. Mesmo que sejam, pessoas diferentes, o elo mais evidente em comum é a falta de liberdade,
deixando claro, a necessidade de serem ouvidas de forma ativa, dinâmica e efetiva, principalmente, pelos profissionais de
saúde.

Palavras-chave: Classificação Internacional de Funcionalidade. Sistema Prisional. Qualidade de vida. Extensão


Universitária. Anamnese.

The importance of qualified listening with focus on rehabilitation


in retrived parties from the Extension Project Elas

ABSTRACT
This is an experience report of an action carried out by extension workers of the PUC Minas ELAS Extension Project at
APAC (Association for the Protection and Assistance to Convicts) Belo Horizonte, with the objective of collecting the
clinical history of some recoveries with complaints of pain. , to guide them in the line of self-care such as health promotion
and education or to evaluate the possibility of referring them to primary or secondary health care in the Unified Health

1
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: anacjfisio@gmail.com.
2
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: anapaulamsfisio@gmail.com.
3
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: fisiobrunamoraes@outlook.com.
4
Discente extensionista do projeto de extensão ELAS, do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: izacsfisio@gmail.com.
5
Doutora em Ciências da Saúde (UFMG), Professora do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Coração
Eucarístico. E-mail: pdayrell@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
714 Novo Humanismo, novas perspectivas

System (SUS), in order to provide an improvement in functionality and quality of life. Four recovering women were
interviewed and the physical and functional assessment was used as a script, in the function and dysfunction model, which
address domains such as personal, activity, participation and environmental factors, in addition to the subjective
assessment of health. Based on the information collected with the practice, it is clear that there are similar relationships
regarding the complaints that the debtors reported. Even if they are different people, the most evident link in common is
the lack of freedom, making it clear the need to be heard in an active, dynamic and effective way, mainly by health
professionals.

Keyword: International Classification of Functionality. Prison System. Quality of life. University Extension. Anamnesis.

INTRODUÇÃO

O Estatuto da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no capítulo I,


Art. 2º, parágrafo único, descreve que “Todas as atividades exercidas visam a aplicação da
metodologia apaqueana, através de atividades de assistência social, de forma gratuita, continuada e
planejada, para implementação dos doze elementos fundamentais, que preveem, dentre outros,
assistência à saúde” (VILAR et al., 2018).
O Projeto ELAS tem o objetivo de desenvolver atividades extensionistas com pessoas do sexo
feminino privadas de liberdade, denominadas “recuperandas”, no Centro de Reintegração Social
Desembargador Joaquim Alves de Andrade, na APAC Belo Horizonte (BH), em consonância com as
diretrizes da Política de Extensão Universitária (2006) e do Plano de Desenvolvimento Institucional
(2017) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em estreita articulação
com os projetos pedagógicos dos sete cursos de graduação parceiros internos - Enfermagem,
Fisioterapia, Filosofia, Direito, Letras, Psicologia e Ciências Biológicas.
O objetivo principal do projeto é contribuir para efetivação dos direitos da mulher privada de
liberdade, promovendo ações que levem em consideração os processos de humanização e as
especificidades do gênero, com vistas à preparação para o retorno ao convívio social, em consenso
com o método APAC. Diante disso, as primeiras ações realizadas pelas autoras deste relato, como
discentes extensionistas do Curso de Fisioterapia Coração Eucarístico no Projeto ELAS, objetivaram
coletar a história clínica de algumas recuperandas com queixas de dor, para orientá-las na linha de
autocuidado, como promoção e educação em saúde ou avaliar a possibilidade de encaminhá-las para
Atenção Primária ou Secundária à Saúde, no Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de proporcionar
uma melhora na funcionalidade e qualidade de vida.
Para desenvolver as atividades do projeto ELAS, é importante proporcionar momentos
voltados à escuta das recuperandas por parte dos extensionistas, com intuito de coletar dados e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 715

informações pertinentes que possam ser utilizados, posteriormente, como conteúdo para construção
das ações, em prol de uma abordagem voltada à integralidade do indivíduo e ao contexto em que ele
está inserido. Nesta perspectiva, a atividade proposta pelas extensionistas foi a aplicação de um
roteiro de avaliação com as recuperandas do regime semiaberto na APAC BH.
A avaliação fisioterapêutica é formada por diversos componentes fundamentais ao cuidado
clínico que incluem: a escuta empática, a capacidade de entrevistar indivíduos de qualquer idade,
humor e procedência, além de, técnicas de exame para os diferentes sistemas orgânicos, instrumentos
de avaliação qualitativos e quantitativos que facilitam o processo do raciocínio clínico. A prática de
um exame preciso é de extrema importância para que haja um vínculo com a pessoa, bem como para
obter as informações necessárias para conclusão de um diagnóstico claro e preciso. Dessa forma, a
qualidade na qual a anamnese e os exames físicos, são efetuados determinam as próximas etapas a
serem seguidas referente à interação com o paciente (SOUSA et al., 2016). A partir da avaliação
fisioterapêutica, é determinado o diagnóstico cinesiológico funcional, que está sob o impacto dos
contextos pessoal e ambiental.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo a legislação brasileira e os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, o ideal


seria que o sistema prisional fosse adaptado conforme as necessidades dos seus detentos, que as
prisões provisórias sejam utilizadas excepcionalmente, e que as penas alternativas e as penas
restritivas de liberdade fossem prioridade em determinados casos. As mulheres, no sistema prisional
brasileiro, passam por situações ainda piores, mesmo com tentativas de adaptação do espaço para o
gênero feminino por meios legislativos, como as Regras de Bangkok, pela ONU (Assembleia Geral
das Organizações das Nações Unidas), do qual o Brasil é signatário, que elaborou normas que trazem
condições mínimas ao tratamento adequado da mulher presa. Infelizmente, o país está longe de
atender a todas essas necessidades.
De acordo com os últimos dados fornecidos pelo Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN), revisados em julho de 2019, o aumento da população feminina foi de 656%, enquanto a
média de crescimento masculino, no mesmo período, foi de 293%, refletindo, assim, a curva
ascendente do encarceramento em massa de mulheres. Entre essas mulheres detidas, 79,3% são mães
e os crimes de maior incidência entre elas estão ligados ao tráfico de drogas. O aumento exacerbado
do número de mulheres encarceradas no Brasil, nos últimos anos, trouxe a certeza de que o sistema
EXTENSÃO PUC MINAS:
716 Novo Humanismo, novas perspectivas

prisional brasileiro não está preparado para recebê-las (DEPEN, 2021). Este, além de privar a
liberdade do infrator deve assegurar a reinserção social, estabelecendo ferramentas que proporcionem
o acesso ao ensino, à profissionalização e aos serviços de saúde (BRASIL, 2004).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde no Sistema Penitenciário (PNAISP), em 2014
foi normatizada e operacionalizada por meio da Portaria nº 482, cujo objetivo principal é garantir o
acesso integral ao SUS para a população privada de liberdade, através da qualificação e da
humanização da atenção à saúde no sistema prisional (BRASIL, 2014). Entretanto, diversos são os
obstáculos para a garantia desses direitos, como a falta de infraestrutura e recursos humanos
especializados, favorecendo as violações desses benefícios, inclusive o da saúde (BATISTA;
ARAÚJO; NASCIMENTO, 2019).
Diante disso, o grande desafio do sistema prisional brasileiro consiste em conseguir reabilitar
o indivíduo para que ele possa retornar à vida social recuperado. Dessa forma, o sistema tem o papel
de reconstruir a base de valores do indivíduo, que, no complexo carcerário, se encontra deturpado e
invertido (VACCARI; CARVALHO, 2005).
O método APAC é alternativa de gestão prisional com participação da sociedade civil
organizada, que desponta como opção às estruturas convencionais do sistema penitenciário brasileiro.
A metodologia qualifica a política de execução penal porque amplia as suas capacidades de atuação,
envolvendo a comunidade no processo, aproximando-a das pessoas e das realidades locais e
possibilitando a solução de problemas de forma criativa e inovadora (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
Na APAC BH, as recuperandas possuem uma rotina que inclui cuidados pessoais e com o
ambiente, direito ao acesso à saúde, à educação e ao trabalho, além das visitas de familiares
(JUSBRASIL, 2019). Na laborterapia, elas podem trabalhar com bordados e crochê, pintura de tela,
madeira, corte e costura, oficina de música e tapeçaria. Os trabalhos produzidos são comercializados,
sendo que 75% do recurso ficam para a recuperanda e 25% retornam para a cooperativa
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
Assim, como previsto na Lei de Execução Penal, as recuperandas da APAC BH possuem
direito e assistência material, cuidados médicos, odontológicos, atendimento de enfermagem, de
psicólogos e assistentes sociais, além de assistências religiosa e educacional (WEBER, 2017).
Ademais, realizam ações conjuntas às universidades e centros universitários, semanalmente, por meio
de projetos de extensão destinados a diversos cursos profissionais. Dessa forma, destaca-se a presença
das graduandas da Área de Saúde, que visam facilitar o acesso aos serviços de saúde.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 717

Os modelos de reabilitação refletem uma mudança de paradigma e definem saúde em termos


mais amplos, indicando que fatores sociais, psicológicos e ambientais contribuem para a saúde e a
qualidade de vida (OMS, 1980; OMS, OPAS, 2003). Dessa forma, a aplicação de um modelo teórico
mais adequado à atuação dos fisioterapeutas possibilitaria melhor compreensão do processo
vivenciado pelo indivíduo, desde a instalação da doença até suas consequências funcionais
(SAMPAIO, 2002)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou, em 2001, a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF (OMS, OPAS, 2003). A nova denominação reflete a
mudança de uma abordagem baseada nas consequências das doenças para uma abordagem que
prioriza a funcionalidade como um componente da saúde e considera o ambiente como facilitador ou
como barreira para o desempenho de ações e tarefas (NORDENFELT, 2003). A adoção desse modelo
possibilita ao fisioterapeuta, em seus procedimentos de avaliação e de intervenção, considerar um
perfil funcional específico para cada indivíduo (SAMPAIO, 2002). Norteado por esse modelo, o
profissional pode identificar as capacidades e as limitações nos três níveis que envolvem a saúde
(OMS, 1999) e desenvolver um plano de tratamento centrado no paciente (SAHRMANN, 1988).
A CIF transformou-se, de uma classificação de "consequência da doença" (versão de 1980)
numa classificação de "componentes da saúde". Os "componentes da saúde identificam o que
constitui a saúde, enquanto que as "consequências" se referem ao impacto das doenças na condição
de saúde da pessoa. Desse modo, a CIF assume uma posição neutra em relação à etiologia, de modo
que os investigadores podem desenvolver inferências causais utilizando métodos científicos
adequados. De maneira similar, esta abordagem também é diferente de uma abordagem do tipo
"determinantes da saúde" ou “fatores de risco". Para facilitar o estudo dos determinantes ou dos
fatores de risco, a CIF inclui uma lista de fatores ambientais que descrevem o contexto em que o
indivíduo vive (LUNA et al., 2020).
O modelo de função e disfunção preconizado na CIF pode ser utilizado como uma ferramenta
estatística – na coleta e registo de dados (ex., em estudos da população e inquéritos na população ou
em sistemas de informação para a gestão); como uma ferramenta na investigação – para medir
resultados, a qualidade de vida ou os fatores ambientais; como uma ferramenta clínica – para avaliar
necessidades, compatibilizar os tratamentos com as condições específicas, avaliar as aptidões
profissionais, a reabilitação e os resultados e como uma ferramenta de política social – no
planeamento de sistemas de segurança social, de sistemas de compensação, nos projetos e no
EXTENSÃO PUC MINAS:
718 Novo Humanismo, novas perspectivas

desenvolvimento de políticas e como uma ferramenta pedagógica – na elaboração de programas


educacionais, para aumentar a consciencialização e realizar ações sociais (LUNA et al., 2020).
Com isso, as ações destinadas à assistência à saúde iniciam-se com a coleta de informações
das recuperandas, por meio da anamnese, visto que é uma forma de resgatar a história clínica, sendo
aplicável em diversas áreas da Saúde, incluindo a Fisioterapia.
A anamnese é um instrumento para obtenção de dados muito antigo, tendo as suas origens na
Grécia antiga com o filósofo Hipócrates (460-370a.c.). Existem várias ferramentas que auxiliam
fisioterapeutas na identificação das disfunções de seus pacientes, sendo a anamnese e o exame clínico
as principais. A avaliação adequada é a pré-condição para o diagnóstico correto seja definido, com
isso, deve ser criteriosa (SOUSA et al., 2016).
O roteiro de avaliação funcional física é um instrumento utilizado para coletar a história
clínica do paciente, por meio de perguntas que se baseiam nos fatores pessoal, ambiental, atividade,
participação, além da avaliação subjetiva da saúde. Dessa forma, remete a uma avaliação em que o
indivíduo relata sua condição, visto que, a saúde percebida é a avaliação feita pelo indivíduo com
base em critérios pessoais, referenciados a valores e expectativas sociais e individuais, bem como a
mecanismos de comparação social e temporal. Prediz mortalidade e declínio funcional
independentemente de condições objetivas de saúde, além de ser indicador do nível individual de
bem-estar e pode influenciar a motivação e a qualidade de vida das pessoas (ROSA; CUPERTINO;
NERI, 2009).
A anamnese, se bem conduzida, proporciona diagnósticos e terapias corretas, além de uma
humanização na relação terapeuta-paciente (SOUSA et al. 2016). Dessa maneira, observa-se a
importância da escuta ativa de indivíduos privados de liberdade, para assim efetivar a assistência à
saúde de forma íntegra por meio do diálogo aberto com o propósito de interromper o processo saúde-
doença no ambiente prisional e propiciar a construção adequada de políticas públicas (BARSAGLINI
et al., 2015). Com isso, a saúde precisa de atenção especial no cárcere, tendo em vista que,
corriqueiramente as políticas de atenção à saúde deste segmento social, até então ainda são tratadas
sob a ótica reducionista e curativista do cuidado em saúde (ASSIS, 2007).

3 METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência, realizado a partir da vivência das extensionistas do curso


de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) no projeto de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 719

extensão ELAS, na APAC BH. As atividades iniciaram em março de 2022, com uma visita de
apresentação no regime semiaberto da APAC BH. Um dos objetivos desse encontro inicial era
conhecer a estrutura e coletar informações sobre as demandas em saúde das recuperandas. Dessa
forma, algumas delas se queixaram de dores em regiões especificas do corpo. A partir destas queixas,
as cinco extensionistas foram orientadas a iniciar uma anamnese com base no roteiro de avaliação
física e funcional das recuperandas que se manifestaram na visita inicial.
As anamneses foram realizadas em dois dias sucessivos com duração de uma hora utilizando
o roteiro de avaliação física e funcional com ênfase no modelo de função e disfunção que abordam
domínios como fatores pessoal, atividade, participação e ambiental além da avaliação subjetiva da
saúde.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas, individualmente, quatro recuperandas. Durante a coleta de dados, foram


relatados os principais sintomas que as incomodavam, o início deles, os aspectos que levaram à
exacerbação, além dos fatores pessoais e ambientais que interferiam na condição de saúde. Foram
avaliadas as limitações que a condição trazia para as atividades laborais, de autocuidado e a restrição
na participação de eventos internos na APAC e atividades em grupo (Tabela 1).

Tabela 1 - Dados coletados


Recuperanda 1 Recuperanda 2 Recuperanda 3 Recuperanda 4

Idade (anos) 48. 34. 33. 48.


9º ano do ensino
Escolaridade Não relatado. 7º ano do ensino fundamental 1º ano do ensino médio.
fundamental.
Estado Civil Não relatado. Solteira. Solteira. Casada.
Ocupação Bordado e limpeza dos
Tricô. Galeria, limpeza e tricô. Costureira e tricô.
Atual corrimões.
Vendedora de loja, moto girl,
Ocupação Catadora de recicláveis desde
Não trabalhava Não trabalhava. trabalhou com solda por
Anterior os 14 anos de idade.
aproximadamente 5 anos.
“Joelho dói muito e sai
Queixa do lugar quando desço “Dor no joelho e cotovelo “Caroço na virilha que dói “Dor no punho direito que caminha
Principal escadas, e o ombro esquerdo durante todo o dia”. quando ando". para o ombro”.
também”.
Não possui um mecanismo
Não possui um mecanismo específico. Relatou que começou a
Queda após colisão de
específico. Relatou que sentir a dor em 2014, após o
Mecanismo um carro, onde foi Não possui um mecanismo
começou a sentir a dor no nascimento de sua filha, veio a dor e
de Lesão arremessada e bateu a específico.
joelho em 2020 e no cotovelo uma fraqueza na mão e no braço que
cabeça.
a 4 meses. não conseguia lavar um copo e
pegar qualquer objeto.
continua
EXTENSÃO PUC MINAS:
720 Novo Humanismo, novas perspectivas

Recuperanda 1 Recuperanda 2 Recuperanda 3 Recuperanda 4


Consultou com uma
acadêmica de medicina na
Centro Universitário de Belo
Horizonte - UNI BH, que Consultou com um médico, que a
Tratamento
Não realizou. Não realizou. encaminhou para o centro de encaminhou para fisioterapia,
Prévio
saúde de referência. Alegou realizando 30 sessões, sem sucesso.
que também durante o banho
deixa cair água quente, mas
que não observou melhora.
Condição de
Problemas Sinusite, Bronquite e
Saúde Diabetes, sífilis e candidíase. Depressão.
psiquiátricos. Arritmia Cardíaca.
Associada
Dor no punho direito que refere
para o ombro ao movimento de
Dor localizada no joelho
extensão e circundução do polegar é
esquerdo em repouso e nos
uma dor mais no final da amplitude
movimentos de subir e descer
de movimento de extensão de
escadas, no período da
polegar. Chega a ficar edemaciado e
manhã, da tarde e da noite.
vermelho todo seu antebraço. Dor
Dor aos movimentos Dor localizada no cotovelo
no ombro ao movimento de flexão
de flexão e abdução em repouso e nos
Dor quando aperta o nódulo e com cotovelo estendido. Não
ativa do ombro movimentos de flexão e
História da quando anda, higieniza com apresenta dor ao repouso. Dor é
esquerdo. extensão.
Dor o uso da bucha e sobe e desce mais intensa no final do dia e
Dor aos movimentos Dor e espasmos nos dedos
escadas. quando está na costura, sente mais
de flexão e extensão polegar e anelar da mão
dor no ombro. Apresenta falseio ao
de joelho esquerdo. esquerda, no movimento de
pegar objetos. Dificuldade na
flexão.
preensão. Piora quando está
Relatou que a dor piorou
próxima de menstruar e quando fica
quando ingressou no regime
nervosa. Relatou que quando
semiaberto, onde início o
chegou no regime semiaberto, foi
trabalho no crochê.
para cozinha inicialmente, com
exacerbação dos sintomas.
Limitação para descer
escadas e pentear o
cabelo.
Limitação para torcer roupa,
Limitações de Limitação para todos Limitação na marcha e para Limitação para escrever por muito
lavar o cabelo, subir e descer
Atividades os movimentos com o subir e descer escadas. tempo, torcer roupa, lavar o cabelo.
escadas e rampas.
braço esquerdo, como
escovar os dentes,
vestir uma blusa.
Número de
3. 2. 0. 1.
Medicamentos
Tabagista, ex-usuária de
crack, mas relata ter medo
Utilizou crack e hoje é em voltar a fazer uso, pois
tabagista (3 cigarros mora com um irmão que faz Ex-usuária de crack. e hoje é Não fuma, bebe socialmente. Hoje é
Hábitos de
por dia), não faz uso uso. Gosta muito de comer tabagista e não faz uso de sedentária na APAC, mas antes
Vida
de bebida alcoólica. É frutas, legumes e saladas, álcool. É sedentária. fazia zumba e academia.
sedentária. toma leite. Não bebe café,
suco, chá, pois contém
açúcar.
Presa há 11 anos e já foi
Fatores
Ansiosa, agitada e otimista. presa quando era menor de Ansiosa, agitada e otimista.
Pessoais
idade.

Apoio de uma amiga,


a qual conhece desde o
1 filho de 17 anos, 2 filhas de Apoio de um amigo (traz os
sistema comum.
15 anos e 12 anos. utensílios que a recuperanda
Acesso a 1 filha de 7 anos e 1 filho de 23
Fatores Família apoia, no entanto, precisa e paga tratamento
medicamentos anos. Família presente e recebe
Ambientais mantém contato apenas pelas dentário). Irmão está preso,
psiquiátricos. apoio necessário.
ligações diárias, não faz pai é idoso não consegue
Não tem apoio da
visita. visitar.
família, ninguém vai
visitá-la.

Saúde razoável.
Avaliação Saúde em boa. Saúde em boa. Saúde em boa.
Comparação com
Subjetiva da Comparação com outras Comparação com outras Comparação com outras pessoas:
outras pessoas: Saúde
Saúde pessoas: Saúde pior. pessoas: Saúde igual. Saúde melhor.
pior.
Fonte: Elaborada pelas autoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 721

Durante a realização desta ação, as extensionistas apresentaram dificuldades em coletar a


história das recuperandas, uma vez que foi preciso cautela e empatia, para que elas não se sentissem
invadidas, constrangidas e inseguras, sendo necessário o direcionamento das perguntas que
envolviam o contexto ambiental prévio e atual, a fim de entender bem a história da disfunção e seu
impacto na funcionalidade e qualidade de vida.
Com essa experiência, foi possível desenvolver o comportamento atencioso que encoraja as
pessoas a falarem, permitindo exercer o contato visual, ou seja, olhar para a pessoa enquanto fala com
ela, graduar o tom, o volume e a velocidade do discurso para que ela se sinta acolhida, manter a
atenção no que está sendo falado, centrando nos sinais e sentimentos relatados, manter a linguagem
para encoraja-la a falar, reduzindo o tempo de intervenção. Entretanto, foi um momento enriquecedor,
em que foi possível desenvolver habilidades de escuta ativa e qualificada, acolhimento ao próximo,
além de diversificar a forma de explanar as perguntas descritas nos roteiros de avaliação
fisioterapêutica, para que elas fossem bem compreendidas pelas entrevistadas, e assim, respondidas
adequadamente, a fim de que fosse possível ajudá-las dentro das possibilidades.
No decorrer do relato de uma das recuperandas, foi perceptível que as dores queixadas
necessitavam de uma abordagem do profissional médico. Com isso, destaca-se a importância da
conscientização, escuta e esclarecimentos acerca das condições comumente apresentadas pelas
recuperandas, que não conseguem identificar e diferenciar suas condições, como visto nesse caso.
Além disso, foi identificado que, das quatro recuperandas entrevistadas, três apresentaram em
comum uma alteração estrutural que causava dor e limitações na atividade e restrição na participação.
Contudo, nenhuma delas conseguiu ser encaminhada para assistência fisioterapêutica na atenção
secundária, ainda que tenham este direito, previsto na Portaria nº 482, desde 2014, em detrimento de
limitações internas do sistema como escolta e sincronicidade de agendamento da rede.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o passar dos anos, houve avanços nas políticas públicas que garantem direitos ao acesso
à saúde dos indivíduos privados de liberdade; porém, diversas falhas no sistema dificultam a
efetividade das ações de saúde, sendo que, a falta da escuta ativa e o déficit na resolução dos
problemas são destaques para acentuar ainda mais os obstáculos na garantia de direitos a esse público.
Na prática realizada pelas autoras, é notório que existem relações semelhantes nas queixas das
recuperandas entrevistadas, e apesar de serem diferentes, o elo em comum mais evidente é a falta de
EXTENSÃO PUC MINAS:
722 Novo Humanismo, novas perspectivas

liberdade, e de singularidade na escuta, deixando claro a necessidade de serem ouvidas de forma


ativa, dinâmica e efetiva, principalmente, pelos profissionais de saúde.
Percebe-se que mediante a situação em que as mulheres privadas de liberdade se encontram,
é notório a necessidade de uma escuta ativa e cautelosa acerca dos sintomas, fatores que os exacerbam
e reduzem, além da própria percepção que elas possuem sobre as condições de saúde. Dessa forma, a
ação proporcionou às recuperandas um momento de escuta qualificada, além de, contribuir para o
crescimento pessoal e profissional das extensionistas, que tiveram a oportunidade de desenvolver
habilidades em comunicação, autonomia, resolução de situações problema e integração da teoria à
prática clínica para acolher o próximo com empatia e respeito. Assim, cumpre-se a missão
institucional da Universidade em transpor os muros e realizar o seu papel social.

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EXTENSÃO PUC MINAS:
724 Novo Humanismo, novas perspectivas

Adesão ao calendário vacinal do adulto e idoso: um relato de experiência de


acadêmicos do curso de Enfermagem em prática extensionista

Elisa de Moura Dias1


Liriel Cristina Neves Magalhães2
Juliana Mara Felisberto3

RESUMO
A vacinação é um estigma social no Brasil desde que, no século passado, Oswaldo Cruz empreendeu uma obra saneadora
que se converteu em um episódio de comoção mundial, pelo cunho impositivo e de coação populacional. Nesse sentido,
o modelo de ação do Programa Nacional de Imunização (PNI), segue esse figurino hodiernamente. Desse modo, em um
país de dimensões continentais e mais de 200 milhões de habitantes, é necessário que haja uma reformulação de
abordagem educativa sobre o calendário nacional obrigatório de vacinação. Diante disso, pretende-se neste artigo
acadêmico, descrever a experiência dos alunos do curso de Enfermagem depois de aplicarem uma abordagem educativa
sobre o Calendário Vacinal do Aulto e Idoso, em atividade do Projeto de Extensão PUC MAIS IDADE, e no Campus
PUC-MG Betim, a fim de aproximar comunidade e academia e desenvolver a prática holística e humanizada aliada ao
conhecimento técnico-teórico do futuro profissional de Enfermagem, proporcionando educação em saúde à população.

Palavras-chave: Vacinação. Adultos. Idosos. Educação em saúde.

Adherence to the vaccination schedule for adults and the elderly: an experience
report of nursing students in extension practice

ABSTRACT
Vaccination is a social stigma in Brazil since, in the last century, Oswaldo Cruz undertook a sanitation work that became
an episode of worldwide commotion, due to its imposition and population coercion. In this sense, the model of action of
the National Immunization Program (PNI) follows this pattern today. Thus, in a country of continental dimensions and
more than 200 million inhabitants, it is necessary to reformulate the educational approach regarding the mandatory
national vaccination schedule. In view of this, the aim of this academic article is to describe the experience of students of
the Nursing course after applying an educational approach on the Vaccination Calendar for Seniors and the Elderly, in
the activity of the PUC MAIS IDADE Extension Project, and on the PUC-MG Campus. Betim, in order to bring the
community and academia closer together and develop a holistic and humanized practice combined with the technical-
theoretical knowledge of the future nursing professional, providing health education to the population.

Keywords: Vaccination. Adults. Elderly. Health education.

INTRODUÇÃO

1
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas Betim.E-mail: elisaenfermagem24@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas Betim. E-mail: lirielcristina62@gmail.com.
3
Mestre em Enfermagem. Servidora pública da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH)/ Referência Técnica em
Ações de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional na Assessoria de Educação em Saúde. Tutora da Enfermagem
do Programa de Residência Multiprofissional da Secretaria Municipal de Saúde da PBH. Professora do Curso de
Enfermagem da PUC Minas. E-mail: julianamarafelisberto@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 725

A Educação em Saúde é um dos grandes desafios da Saúde Pública no Brasil, afetando pessoas
e comunidades de diferentes classes socioeconômicas. Nesse contexto, a vacinação surge como
temática importantíssima - uma vez que é crucial para barrar a propagação de diversas doenças
transmissíveis - e, ainda assim, vítima de estigmatização e hesitação vacinal por parte considerável
da população. Tal hesitação mostra-se como um conceito completo e de apresentação não uniforme
de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dependendo de diferentes fatores ao longo
da história.
Assim, a OMS desenvolveu o modelo dos “3Cs” que visava explicar a hesitação vacinal como
convergência entre os conceitos de confiança (no sistema de gestão vacinal, nos profissionais da saúde
e nas políticas públicas), complacência (pela não percepção da vacinação como importante e
necessária) e a conveniência (que abre discussão acerca da facilidade de acesso, dos recursos
disponíveis e da disponibilidade física e econômica para conseguir se vacinar).
Dessa maneira, percebe-se que o conhecimento e a adesão da população brasileira às vacinas
dependem de diversos fatores, como, por exemplo, a quantidade e qualidade de informação que o
usuário recebe, a relação profissional-paciente e as condições geográficas e socioeconômicas do país
e dos brasileiros. Além disso, o próprio desaparecimento de doenças imunopreveníveis por conta das
vacinas pode gerar certo esquecimento da gravidade dessas patologias por parte da população,
contribuindo para a queda da adesão ao calendário vacinal. Diante disso, integrar discussões sobre
saúde - nesse caso específico, sobre a vacinação - no contexto social e cotidiano das pessoas de forma
a gerar transformações significativas na promoção, prevenção e proteção em sua saúde, se mostra
uma problemática constante e de resoluções a longo prazo. Tais resoluções devem se iniciar,
claramente pela Comunicação em Saúde, que deve ser discutida, planejada e aplicada de diferentes
maneiras a fim de alcançar o maior público possível.
Há mais de um século atrás, Oswaldo Cruz empreendeu no Brasil uma obra saneadora,
estabelecendo um modelo de ação que permitiu erradicar ou manter sob controle todas as doenças
que podem ser erradicadas ou mantidas sob controle por meio de vacinas, mesmo em um país de
dimensões continentais como o Brasil. Esse fato possibilitou, não apenas o surgimento do Programa
Nacional de Imunizações, mas também o de muitas políticas públicas que assegurem o acesso à
vacinação e outros cuidados em saúde. A implementação da saúde como direito de todos, através do
EXTENSÃO PUC MINAS:
726 Novo Humanismo, novas perspectivas

Art. 196 e do Art. 198 da Constituição Federal, de 1988, e da Lei 8080 de 1990, permite que hoje
adultos de todo o território nacional, tenham acesso ao cuidado integral em saúde, inclusive à
prevenção de doenças infecciosas por meio das vacinas.
A população idosa também é beneficiária de políticas públicas que garantem seu acesso à
informação e proteção, como a Política Nacional do Idoso, promulgada em 1994 e regulamentada em
1996, que assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia,
integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de
atendimento do SUS. Apesar disso, ainda existem limitações na prática efetiva de todas essas políticas
disponíveis, sobretudo no que diz respeito à transmissão de informações sobre os imunobiológicos e
a vacinação a esses grupos populacionais. Isso acontece pois, segundo o educador americano Eduard
Lindeman, a educação de adultos precisa ser organizada através de situações, e não de disciplinas,
sendo o processo de envelhecimento um fortalecedor dessa questão.
Diante do exposto, o método utilizado para aplicar a prática de Educação em Saúde com
ênfase no calendário vacinal obrigatório do adulto e do idoso foi a Andragogia, palavra de origem
grega que significa “ensinar para adultos”. Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1833, pelo
alemão Alexander Kapp, mas se popularizou na década de 1970 com Malcolm Knowles, educador
americano que se tornou referência no tema. Assim como a Pedagogia, a Andragogia é uma ciência
que estuda a aprendizagem, mas que, diferentemente daquela, que tem foco no público infantil, esta
busca as melhores práticas e estratégias para ajudar adultos no processo de aprendizagem. Dessa
maneira, o profissional de saúde não deve reter seu foco apenas na atenção hospitalocêntrica e deve
visar, constantemente, à educação e à promoção à saúde.
Ademais, buscou-se incitar, através da Andragogia, o conceito de heutagogia, que começou a
ser utilizado em 2000 e refere-se às práticas de ensino nas quais o aluno é o próprio gestor da busca
pelo conhecimento. Na heutagogia, o aluno é o ator principal do processo e, embora a figura do
professor não seja necessária, caso exista, o seu papel é de facilitador. Na saúde, deve-se perpassar
por todas essas alegorias e formas educativas para alcançar a otimização da comunicação paciente-
promotor de saúde. Portanto, esse trabalho, desenvolvido por discentes da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC-MG), no campus Betim, orientado pela Professora Juliana Mara
Felisberto, integrante do corpo docente da PUC-MG, buscou relatar a experiência do grupo na prática
extensionista com tema “Vacinação do Adulto e Idoso”, que proporcionou uma passagem da inclusão
social à educativa, principalmente àqueles que sentem importante dificuldade nesse processo: os
adultos e idosos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 727

1.1 Tema

Este trabalho visa relatar a experiência de discentes do curso de Enfermagem da Pontifícia


Universidade Católica de Minas Gerais em Betim durante a elaboração e aplicação de uma atividade
extensionista de tema “Vacinação” que teve como beneficiários o público adulto frequentante da PUC
e o público idoso participante do Projeto de Extensão PUC MAIS IDADE. Diante dos aspectos
socioculturais e educacionais que influenciam a adesão ao Calendário Vacinal dos cidadãos
brasileiros, nesse caso, especificamente, dos cidadãos adultos e idosos, torna-se necessário um maior
investimento em ações, atividades e campanhas que propiciem a esse público uma visão ampliada a
respeito da vacinação incentivando-os, com informações seguras e adequadas, a exercerem seu direito
à saúde por meio da imunização.

1.2 Problema

A falta de adesão ao programa de imunização por parte dos adultos e idosos compromete os
indicadores de cobertura vacinal e propiciam a reemergência de doenças já controladas?

1.3 Hipóteses

Devido à maior preocupação e investimento nas ações de vacinação voltadas para crianças,
gestantes e profissionais da saúde, o público adulto e idoso tende a receber menos incentivo e
informações acerca da imunização e, portanto, tem menor aderência a seu Calendário Vacinal
obrigatório, afetando diretamente na propagação de doenças infectocontagiosas importantes
preveníveis por vacinas.

1.4 Objetivo

1.4.1 Objetivo Geral

Orientar público Adulto e Idoso sobre a vacinação e a importância da adesão ao Calendário


Vacinal obrigatório e específico dessa faixa etária.
EXTENSÃO PUC MINAS:
728 Novo Humanismo, novas perspectivas

1.4.2 Objetivos Específicos

• Planejar prática educativa sobre vacinação a ser aplicada com o público Adulto e Idoso
frequentante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Betim.
• Elaborar ferramentas educativas (panfletos) para facilitar a construção de conhecimento
sobre vacinação e reforçar o protagonismo do sujeito no cuidado à própria saúde, de
forma a corroborar com a revisão e atualização de seus cartões de vacina.
• Relatar experiência das acadêmicas do curso de enfermagem responsáveis por aplicar a
prática educativa.

1.5 Justificativa

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações, adultos e idosos têm menor adesão à
vacinação, fato que gera ameaças sérias em diferentes âmbitos. Com a baixa adesão há maior número
de casos de doenças infectocontagiosas e, portanto, aumento das mortes, culminando também na
disseminação das doenças para as demais faixas etárias. Além disso, diante da ocorrência de surtos e
grande número de hospitalizações, depara-se com um cenário de dificuldades socioeconômicas, tanto
para os cidadãos, quanto para o país (BRASIL, 2019)
Sendo assim, faz-se necessário o investimento em ações, políticas públicas, atividades,
projetos e campanhas voltados para a conscientização do público adulto e idoso a respeito da
importância da imunização adequada e incentivo a essa prática através de informações claras,
concisas e eficientes. Por isso, a atividade extensionista explicitada neste trabalho mostra-se
importante como parte de um início de mudanças nesse panorama. Ademais, o presente trabalho
atinge não apenas profissionais da saúde e usuários do SUS, mas também os estudantes de graduação
que são a gênese das principais transformações ocorridas no país e no mundo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Educação de Adultos

Para Ludojoski, “[e]ducação é um processo progressivo e intencional por parte do ser humano
em desenvolvimento, tendendo à obtenção do aperfeiçoamento integral de sua personalidade e em
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 729

diálogo com a natureza, a cultura e a história, conforme sua própria personalidade.” (LUDOJOSKI,
1972, p. 27). Dada a abrangência do tema e a variedade de ações, é possível constatar a
complexibilidade de uma descrição definitiva para a educação de adultos.
Em relação à educação de adultos, foram identificados por Lindeman (1926), cinco
pressupostos básicos: 1. adultos são motivados a aprender; 2. a orientação de aprendizagem do adulto
está centrada na vida; 3. a experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; 4. adultos têm uma
profunda necessidade de serem autodirigidos; 5. as diferenças individuais entre pessoas crescem com
a idade.
Sabe-se que adultos e crianças aprendem de forma muito diferente. Essa distinção deve levar
em conta os modelos pedagógicos e educacionais de aprendizagem. No modelo de educação de
adultos, o educando é sujeito ativo de sua própria aprendizagem, pois é uma pessoa consciente e
reflexiva, com autonomia cognitiva, emocional e volitiva, motivada pela aquisição de objetivos
específicos de aprimoramento pessoal e crescimento profissional, conhecimento, conteúdo de
aprendizagem. Mais significativo, divertido, mais perto de você. Na educação de adultos, os alunos
têm uma aprendizagem ativa e significativa, seja através de aspectos epistemológicos, interpessoais,
emocionais, motivação e ferramentas, ensino, avaliação e aspectos metodológicos (BELLAN, 2019).

2.2 Imunização

As imunidades devem ser entendidas como moduladoras no processo da doença, pois podem
reduzir significativamente a morbimortalidade por doenças infecciosas imunopreviníveis. A
imunização ativa representa o procedimento de menor custo e mais eficaz para garantir a promoção
e a proteção da saúde das pessoas vacinadas. Quando ocorre na primeira infância, constitui uma ação
relacionada à prevenção de doenças infecciosas, que podem levar à morte e graves sequelas de
crianças no Brasil e no mundo (SANTOS, 2011).
A imunização é um ato extremamente complexo que envolve laboratórios, indústria
farmacêutica, política nacional e internacional, direitos e proteção das liberdades, simbolismo do
corpo e gestão de sua durabilidade. Diante dessa complexidade, o Programa Nacional de Imunização
(PNI) mostra sua excelência, garantindo vacinas seguras e eficazes para todos os grupos
populacionais que são alvo de ações de imunização, como crianças, adolescentes, adultos, idosos e
indígenas, desde sua regulamentação em 1976. Por isso, também, faz parte do ranking dos maiores e
EXTENSÃO PUC MINAS:
730 Novo Humanismo, novas perspectivas

mais inclusivos programas de imunização no mundo. Foi em razão de sua efetiva atuação, que a
varíola e a Poliomielite puderam ser erradicadas nos anos 90 e 80, respectivamente (SOUZA, 2021).
A equidade do PNI é observada pela ampliação da oferta de vacinas nas estratégias e
campanhas de vacinação de rotina, além da área geográfica, mas sobretudo populacional, com grupos-
alvo de vacinação abrangendo todos os ciclos de vida, com 15 vacinas para crianças, 9 para
adolescentes, 5 para adultos e idosos, proporcionando proteção contra mais mais de duas dezenas de
doenças. Ainda assim, o Centro de Imunobiologia Especial (CRIE) disponibiliza vacinas para atender
grupos com condições clínicas especiais, além de diversos programas de vacinação para gestantes,
indígenas e militares (BRASIL, 2019).
O Programa segue o princípio da descentralização e atua em uma rede bem definida em
camadas e integrada que exige discussões a longo prazo, de normas, metas e resultados para
proporcionar sua operacionalidade nas três áreas de governança do SUS, que são, ajudar
desigualdades sociais e disponibilizar a vacinação para todos os brasileiros em todas as localidades,
como a estratégia de vacinação “Operação Gota”, que vacina em áreas geograficamente inacessíveis
e áreas indígenas na região norte do país (BRASIL, 2013). No que tange à vacinação dos adultos,
nota- se que existem poucos estudos voltados para esse público, sendo o maior alvo os profissionais
da saúde, as crianças, os adolescentes, os idosos e as gestantes (BALLALAI, 2018).
Quanto aos desafios para a imunização de adultos, segundo Mizuta et al. (2019), há as
questões religiosas, o medo da ocorrência dos eventos adversos, o desconhecimento sobre a gravidade
e frequência das doenças imunopreveníveis e as questões filosóficas. De acordo com Fonseca et al,
outros motivos que levam ao receio ou até recusa à vacina são: informações negativas sobre
imunização em redes sociais, a crença de que as vacinas não são seguras ou são pouco eficazes e que
as vacinas causam doenças. Dessa forma, “[é] importante facilitar o acesso às salas de vacinação. É
necessário ampliar seus horários de funcionamento, eventualmente levar o medicamento a locais não
tradicionais, e quem sabe, promover campanhas semelhantes às realizadas para crianças”
(BALLALAI, 2018).
Já em relação à vacinação do idoso, entra em questão o fator da imunossenescência, a qual,
segundo Tonet, “usualmente refere-se às disfunções do sistema imunitário relacionadas com a idade
que contribuem para uma maior incidência de doenças infecciosas ou mesmo crônico-degenerativas”
(TONET; NOBREGA, 2008, [s./p.]). Sabe-se que a redução da resposta imune observada durante o
envelhecimento, justificaram baixos níveis de proteção para várias vacinas, de acordo com Alterações
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 731

que acompanham o timo sensível. Essa alteração acaba afetando a produção de células T, impedindo
resposta imune eficiente a antígenos vacinais e/ ou contra os próprios patógenos invasores.
(ASPINALL, 2007)

3 METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência com intervenção em saúde. A


atividade de intervenção, descrita como prática extensionista, desenvolvida através da disciplina de
Prática de Enfermagem na Saúde Coletiva, foi proposta em sala pela professora e orientadora, após
exposições sobre o PNI e os calendários vacinais. A turma, que cursava o quinto período do curso de
Enfermagem na PUC Betim, foi dividida em quatro grupos para abordagem de todas as faixas etárias
descritas no Calendário Nacional de Vacinação.
O presente grupo ficou responsável por elaborar o trabalho e a prática extensionista acerca do
Calendário Vacinal do Adulto e do Idoso e os objetivos principais descritos no plano de trabalho
eram, sumariamente: compreender o PNI; reconhecer as atribuições do enfermeiro no que concerne
à atividade de imunização, bem como o Calendário Nacional vigente; descrever o calendário básico
de vacinação; e elaborar material educativo para discussão e sensibilização quanto a imunização por
ciclo de vida. Para atingir seus objetivos, o grupo esquematizou duas diferentes estratégias de
abordagem para alcançar os dois ciclos de vida selecionados: adultos e idosos.
A primeira estratégia foi organizar uma intervenção lúdica, descontraída e de abordagem não
violenta em um dos encontros semanais oferecidos pelo Projeto de Extensão PUC Mais Idade.
Desenvolvido por meio de oficinas, o PUC Mais Idade tem como objetivo possibilitar aos idosos
participantes o envelhecimento de forma mais ativa, estimulando o convívio social e o exercício da
cidadania.
Para preparo inicial da intervenção, solicitou-se, no dia 26 de abril, a permissão da diretoria
do Projeto para uma visita externa, e, após concedida, partiu-se para o agendamento de uma data para
execução, que entrou no cronograma de atividades usuais do Projeto. No dia da prática (2 de maio),
cinco alunas do grupo compareceram ao local, onde se davam as reuniões do projeto com os idosos,
para implementar a ação educativa com os idosos em 5 etapas: 1- apresentação do grupo e do objetivo
da intervenção aos idosos e extensionistas do Projeto; 2- introdução ao tema da imunização através
de abordagem rápida sobre o conceito e mecanismo fisiológico da imunidade humana; 3-
apresentação sucinta das vacinas previstas no Calendário Vacinal da pessoa idosa e suas
EXTENSÃO PUC MINAS:
732 Novo Humanismo, novas perspectivas

particularidades; 4- execução do jogo “verdadeiro ou falso” sobre a vacinação com os idosos; e 5-


entrega de recurso visual autoral reforçando a temática discutida. Cada uma dessas etapas foi
previamente planejada e desenvolvida por todas as integrantes do grupo, utilizando da referenciação
teórica também abordada neste trabalho.
Ao introduzir-se, na segunda etapa, a imunidade corporal humana e seus aspectos fisiológicos,
utilizou-se o recurso visual de um escudo artesanal construído por uma das integrantes para explicar
a ação do Sistema Imunológico Humano contra antígenos e reforçar a importância da correta adesão
às vacinas disponíveis para maior prevenção e proteção contra doenças infectocontagiosas. Já para a
execução do jogo educativo, os idosos presentes foram divididos em dois grupos ou times, para os
quais foram entregues plaquinhas com um lado vermelho e outro verde, representando os termos
“verdadeiro” e “falso”. Após, uma das apresentadoras fazia afirmações a respeito da imunidade
humana, das vacinas apresentadas, do Calendário Vacinal ou da vacinação em si e cada grupo
precisava dar sua resposta utilizando as placas.
Quanto ao recurso visual utilizado para reforçar as informações transmitidas durante a prática,
elaborou-se um minipanfleto com breve explanação sobre a imunidade e imunização e com um
quadro interativo que apresentava todas as vacinas discutidas e permitia que os idosos marcassem se
já haviam sido imunizados com cada uma delas ou não, instigando a autoresposabilização dos idosos
por sua saúde e transferindo a prática do conceito de andragogia para o de heutagogia. As vacinas
apresentadas foram: Vacina contra Hepatite B; Vacina contra Febre Amarela; Vacina Dupla Adulto;
Vacina Pneumocócica; Vacina contra Influenza; e um bônus a respeito da vacina contra o atual vírus
SARS-COV2.
Por fim, no que se refere à prática para abordagem da pessoa adulta, além da entrega de
minipanfletos similares aos entregues aos idosos, diferenciando-se apenas pelas vacinas descritas,
foram elaborados e exibidos panfletos lúdicos e mais completos sobre cada componente do calendário
vacinal do adulto. O alvo das atividades, que visavam facilitar aos adultos a construção de seu
conhecimento em saúde, foram os alunos e trabalhadores que circulavam nas imediações do campus
em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Por se tratar de uma intervenção que necessitava de um momento de atenção do ouvinte
durante seu periódo de trabalho ou estudo, a passagem de informação ocorreu de forma clara e sucinta,
dividindo-se em duas partes: 1- questionou-se o público acerca do que o mesmo entendia sobre a
temática imunização; e 2- apresentou-se o conteúdo do panfleto e as vacinas que o compunham,
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 733

enfatizando-se a importância de receber cada uma delas. Por fim, houve o momento de escuta ativa
em que o ouvinte poderia esclarecer dúvidas e alinhar suas ideias, sempre visando à comunicação
assertiva.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O grupo dividiu a ação informativa em dois momentos. No primeiro, foi priorizado o


Calendário Nacional Obrigatório da Pessoa Idosa, apresentado em uma palestra feita no projeto de
extensão PUC MAIS IDADE e no segundo momento, a abordagem foi menos ativa, em parte devido
à aceitação do público adulto a proposta de uma ação mais ampla. Montada a estrutura e o conteúdo
programático, o grupo prontamente iniciou as ações de forma assídua, com foco especial sobre a
qualidade e acessibilidade das informações imprescindíveis acerca da temática.
Após a primeira etapa da prática extensionista, durante a oficina do Projeto de Extensão
observou-se que a adesão dos idosos foi positivamente surpreendente. A percepção geral das alunas
acerca das respostas dos idosos diante das 5 etapas preconizadas para apresentação foi:

1- apresentação do grupo e do objetivo da intervenção aos idosos e extensionistas do Projeto:


os idosos se mostraram receptivos e abertos à participação ativa da prática educativa de
forma a cumprir com os objetivos da intervenção.
2- introdução ao tema da imunização através de abordagem rápida sobre o conceito e
mecanismo fisiológico da imunidade humana: os idosos mostraram compreender bem os
conceitos de imunidade e imunização, fazendo e respondendo perguntas bem relacionadas
ao tópico.
3- apresentação sucinta das vacinas previstas no Calendário Vacinal da pessoa idosa e suas
particularidades: os idosos se mostraram muito interessados em conhecer as vacinas
preconizadas para sua faixa etária, sua importância e como ter acesso as mesmas. Alguns
dos idosos trouxeram consigo seus cartões de vacina e, durante a oficina, puderam
consultar diretamente se a imunização por cada uma delas estava em dia.
4- execução do jogo “verdadeiro ou falso” sobre a vacinação com os idosos: além de
animados e descontraídos devido ao “clima” de brincadeira, os idosos se mostraram
atentos às perguntas e cientes das respostas corretas, exibindo um bom entendimento do
conteúdo apresentado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
734 Novo Humanismo, novas perspectivas

5- entrega de recurso visual autoral reforçando a temática discutida: cada um dos idosos
guardou e levou para casa os minipanfletos informativos, demonstrando interesse, respeito
e cuidado com a oficina ministrada e com a dedicação das extensionistas.

Durante a apresentação, surgiram diversas perguntas por parte dos idosos, que se mostraram
dispostos e desejosos a cuidar da própria saúde através da correta imunização. Além disso, os
momentos de interação lúdica com o jogo e entrega de panfletos foram muito descontraídos e efetivos
na intenção de fixação do conteúdo. Essa resposta positiva durante a abordagem superou as
expectativas das alunas, que se sentiram ainda mais dispostas e interessadas - conforme relatos das
mesmas em mensagens de texto e durante reuniões pós-prática - pelo tema da vacinação e pela
promoção da Educação em Saúde por parte da equipe de Enfermagem na Saúde Coletiva.
Além disso, após a oficina, o grupo recebeu alguns feedbacks otimistas dos participantes por
mensagens de texto, que relataram a revisão de seus Cartões de Vacinação para colocar em dia as
vacinas apresentadas que ainda faltavam, sendo assim, alcançou-se alguns dos principais objetivos
da ação extensionista.
Em relação à prática com o público adulto, observou-se uma maior resistência para dialogar
sobre o tema. Embora não seja possível afirmar com exatidão o motivo por trás dessa resposta,
algumas das razões apontadas em estudos teóricos para esse fato são a baixa prescrição médica e a
errônea noção de que as vacinas são necessárias apenas para crianças (BALLALAI, 2018). Realizar
a abordagem do adulto requer um método de orientação de aprendizado que seja centrado na vida
cotidiana, de forma que, quando forem abordados, não se sintam retraídos e tentem evitar a discussão
do tema por medo de demonstrar imperícia, mas, pelo contrário, se sintam confortáveis em comentar
sobre suas dúvidas (LINDERMANN, 1926).
O perfil dos adultos abordados com o informativo em panfleto, foi bem diverso, incluindo
desde acadêmicos da área da saúde e de outros cursos da universidade, até funcionários - incluindo
docentes. Um fator que pode ter prejudicado uma compreensão mais acertiva, por parte das discentes,
acerca do real impacto da abordagem no dia a dia dos adultos, é a não realização de um segundo
contato ou atividade lúdica para fixação de conteúdo assim como realizado com os idosos.
Embora o resultado esperado durante a abordagem dos adultos não tenha sido alcançado, a
experiência permanece válida, uma vez que instigou o estudo, preparo e prática das discentes, bem
como atingiu diferentes indivíduos, podendo ter influenciado beneficamente algum desses em relação
à prevenção em saúde por meio da vacinação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 735

Figura 1 - Panfletos entregues na ação extensionista com os idosos e dos adultos.

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
736 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 2 e 3 - Folders informativos elaborados sobre o


Calendário Vacinal do Adulto e do idoso

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se, pelo relatado, que a aceitação do conhecimento é significativamente discrepante


entre a pessoa adulta e a idosa, levando em conta que o método de abordagem inicial foi homólogo.
Assim como evidenciado por diferentes estudos em saúde, há uma lacuna a ser preenchida no que
concerne a Educação em Saúde no Brasil. Esta é capaz de promover estratégias que potencializam o
cuidado de Enfermagem e, por isso, deve receber especial atenção e investimento dos mesmos,
começando na graduação.
Práticas e disciplinas extensionistas podem e devem ser, cada vez mais, incentivadas durante
a graduação de estudantes de Enfermagem e de outras áreas da Saúde, a fim de ampliar suas
perspectivas profissionais e sociais, já que, futuramente, estarão em constante contato com pessoas
dos mais diversos níveis econômicos e educacionais que necessitarão de seus conhecimentos e
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 737

auxílio. Realizar a disseminação de conhecimento acerca da vacinação foi uma experiência


enriquecedora para as alunas responsáveis, pois além de serem expostas à experiência prática de uma
das importantes funções do profissional enfermeiro, que é a Educação em Saúde, através da
abordagem de públicos com diferentes níveis de conhecimento, as integrantes do grupo puderam
aprofundar seus conhecimentos em Saúde Coletiva e na temática da Imunização, bem como atualizar
suas noções a respeito do Calendário Nacional de Vacinação.
É de consenso de todas as participantes do trabalho que o contato com os idosos foi mais
exitoso. Contudo, como relatado, a experiência extensionista ainda assim foi tida como exitosa pelas
discentes, uma vez que, mesmo diante de dificuldades durante a abordagem a pessoa adulta, o
conhecimento adquirido nunca poderia ser considerado em vão.

REFERÊNCIAS

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738 Novo Humanismo, novas perspectivas

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EXTENSÃO PUC MINAS:
740 Novo Humanismo, novas perspectivas

Segurança e saúde para os trabalhadores do Centro de Convivência do Emaús

Gabriella dos Santos Andrade Souza1


João Pedro Borges Gomes2
Lara Maria Pena Gonçalves de Souza3
Lorena Bonifácio Ramos4
Adriana Silva Drumond5

RESUMO
O aumento da expectativa de vida em idosos em alguns casos vem acompanhada de declínio corporal e/ou mental levando
a necessidade de cuidados prolongados, sendo o cuidado um fator de risco para a saúde osteomuscular dos cuidadores. O
objetivo deste trabalho foi realizar treinamento de mobilizações e transferências para que os cuidadores as realizem de
modo seguro, a fim de evitar/minimizar sobrecarga sobre o sistema musculoesquelético. Houve quatro encontros com
práticas de promoção em saúde e segurança dos cuidadores do Convivium Emaús. Como resultado, neste relato de
experiência mostra-se o impacto positivo, agregando valor aos seus conhecimentos prévios.

Palavras-chave: Prática. Coletiva. Orientação. Cuidador.

Safety and health for the workers at the emaús living together center

ABSTRACT
The increase in life expectancy in the elderly in some cases is accompanied by bodily and/or mental decline leading to
the need for prolonged care, and caregiving is a risk factor for the caregivers' musculoskeletal health. The objective of
this work was to provide training in mobilizations and transfers for the caregivers to perform them safely in order to
avoid/minimize the overload on the musculoskeletal system. There has been four meetings with practices of health and
safety promotion for caregivers of the Convivium Emaús. As a result, this experience report shows the positive impact,
adding value to their previous knowledge.

Keywords: Practice. Collective. Orientation. Caregiver.

INTRODUÇÃO

Cuidado é um modo de fazer na vida cotidiana que se caracteriza pela atenção,


responsabilidade, zelo e desvelo com pessoas e coisas em lugares e tempos distintos de sua realização.

1
Graduanda em Fisioterapia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
fisiogabriellaandrade@gmail.com
2
Graduando em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: itspedroborges@gmail.com.
3
Graduanda em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: laramariap11@gmail.com.
4
Graduanda em Fisioterapia pela PUC Minas. E-mail: lorena.bonif7@gmail.com.
5
Mestre em Ciências da Reabilitação (Universidade Federal de Minas Gerais). Professora adjunta da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: adrianasilvadrumond@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 741

O cuidar em saúde é uma atitude interativa que inclui o envolvimento e o relacionamento entre as
partes, compreendendo acolhimento como escuta do sujeito, respeito pelo seu sofrimento e história
de vida.
Ao buscar por cuidadores atualmente é possível encontrar tanto profissionais formais, que são
capacitados para trabalhar com pessoas que por quaisquer motivos se encontram dependentes para
realizar seu autocuidado, quanto informais, que podem ser familiares, amigos ou pessoas de fora, que
atuam como cuidadores, mas não possuem conhecimento das demandas dos indivíduos cuidados e
capacitação para atuar como tal. De acordo com o manual “Guia Prático do cuidador” (PRATES et
al., 2014), o cuidador é definido como alguém que cuida a partir dos objetivos estabelecidos por
instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação,
higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida.
Para Duarte e Diogo (2011), é de extrema importância que os cuidadores recebam orientações
dos profissionais de saúde a respeito de doenças, tratamento e melhores formas de realizar atividades
de cuidado. Para Patrocínio (2011), a fim de realizar sua função adequadamente os cuidadores
necessitam de dois aspectos: preparo e orientação, e tempo em seu dia a dia para seu próprio
autocuidado, pois devem estar bem física e emocionalmente para poder cuidar de outrem.
Ergonomia é a ciência que observa e estuda qual a melhor maneira de se oferecer conforto e
bem-estar no local de trabalho, como a melhor postura para o funcionário lidar com alguns
equipamentos, a dimensão e posição adequadas para os maquinários e móveis, evitando-se, assim,
fadiga e desconforto e fazendo com que os colaboradores se sintam satisfeitos e motivados no
trabalho. Neste contexto, a ergonomia torna-se fundamental para que o trabalho seja fonte de saúde e
eficiência produtiva para as pessoas e organizações. Ela possibilita que o trabalho seja bem
dimensionado, otimizando sua eficácia ao mesmo tempo permitindo a saúde e prevenção de certas
doenças ocupacionais (PRATES et al., 2014).
Garantir o bem-estar do cuidador é essencial, já que o mesmo apresenta um papel fundamental
na saúde de outro indivíduo. O papel do cuidador em saúde inclui o envolvimento e o relacionamento
entre as partes, compreendendo o acolhimento como escuta do sujeito, respeito pelo seu sofrimento
e pelas suas vivências como ser humano. Se, por um lado, o cuidador pode diminuir o impacto do
adoecimento, por outro a falta de cuidado pode agravar o sofrimento dos pacientes e aumentar o
isolamento social (AYRES, 2001).
Como citado anteriormente, por não ter orientação básica sobre a realização do cuidado e as
posturas corretas, o cuidador está exposto a riscos ergonômicos que podem repercutir negativamente
EXTENSÃO PUC MINAS:
742 Novo Humanismo, novas perspectivas

na sua saúde. Nesse contexto, a atividade proposta consiste em criar um espaço para orientar,
demonstrar e treinar os cuidadores com base na biomecânica e ergonomia destas tarefas, preparando-
os para executar suas atividades com segurança, reduzindo os riscos e prejuízos à saúde.

2 METODOLOGIA

Essa atividade é uma resposta à demanda enviada para o colegiado de Fisioterapia da PUC
Minas, no primeiro semestre de 2022, para colaborar com a saúde e segurança dos cuidadores do
Convivium Emaús. No primeiro momento, foi realizado um contato com a gerente da unidade para
conhecimento do espaço, recursos, materiais e tempo disponível para a realização da atividade.
Optou-se por iniciar a atividade de promoção de saúde e segurança para o cuidador, com base nos
fundamentos de biomecânica e ergonomia, para evitar sobrecargas musculoesqueléticas no
desempenho das atividades de cuidado. A responsabilidade pela condução da atividade ficou com a
professora supervisora da disciplina Estágio Obrigatório em Fisioterapia na Saúde Coletiva e os
acadêmicos do 10° período da disciplina. Realizou-se um levantamento bibliográfico para a
elaboração da atividade prática e material educativo.
Conforme determinado, os acadêmicos chegaram ao local da atividade com uma hora de
antecedência para treino da atividade a ser realizada e organização do espaço, seguido pela acolhida
e apresentação. Os cuidadores foram convidados a relatar alguma experiência por eles vivenciada na
qual necessitaram de cuidado. Muitos deles não tiveram essa experiência e foram convidados à
primeira atividade prática: colocar-se no lugar das pessoas que necessita de cuidado, fazendo uso da
cadeira de rodas e serem conduzidos de olhos abertos, de olhos fechados, utilizando bengala
canadense regulável, andador e deambular com robofoot em um dos membros inferiores. Ao mesmo
tempo, eles foram orientados quanto ao uso correto desses equipamentos. Na sequência, foram
convidados a realizar uma reflexão do que essa prática proporcionou para eles.
A segunda atividade prática consistiu em treinar a mobilização de membros inferiores e
superiores do paciente ao leito, sua transferência para a posição sentada no leito e para a cadeira de
rodas. A técnica foi demonstrada no corpo do cuidador, e eles simularam serem os recebedores do
cuidado e em seguida praticaram em seus colegas para fixar o aprendizado.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 743

Foram realizados quatro encontros com duração de 2 horas e 30 minutos em cada dia. Cada
encontro teve a presença de pessoas diferentes devido ao horário de trabalho. As atividades eram
sempre finalizadas com espaço para manifestação dos cuidadores, reflexões e elucidação das dúvidas
apresentadas.

3 RESULTADOS

Os encontros tiveram uma média de quatro participantes, que se revezaram em duplas nas
duas atividades práticas. Ao final de cada encontro, os participantes eram convidados a falarem uma
palavra que representasse para eles o sentimento após a realização das dinâmicas, e as palavras mais
citadas foram: empatia, cuidado, dedicação, compaixão, compreensão. Todos os cuidadores relataram
que a atividade havia sido uma experiência única e muito interessante, tendo um impacto positivo e
agregando aos seus conhecimentos prévios, proporcionando a prática do “se colocar no lugar do
outro”, além de levantar uma questão pouco falada que é o cuidado para com o cuidador enquanto
este trabalha. Ao final, todos agradeceram pela atividade e se mostraram receptivos a demais
encontros com outros temas.

Imagem 1 – Deambulação Imagem 2 – Suporte


com muleta canadense. para uso da muleta canadense

Fonte: Arquivos pessoais, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
744 Novo Humanismo, novas perspectivas

Imagem 3 – Orientação para transferências Imagem 4 – Enceramento


de deitado para sentado com equipe do G4

Fonte: Arquivos pessoais, 2022.

Imagem 5 – Enceramento com equipe do G3

Fonte: Arquivos pessoais, 2022.

4 DISCUSSÃO

A rotina desgastante e a falta de estrutura adequada para quem realiza o cuidado com a pessoa
idosa pode desencadear diversos problemas de ordem física e psíquica. As principais patologias estão
relacionadas a problemas musculoesqueléticas e de ordem emocional como ansiedade, angústia e
depressão, que, na maioria das vezes, está relacionada à sobrecarga de trabalho (BRUNONI, 2015).
Pesquisas têm demonstrado que os cuidadores apresentam uma taxa significativamente
elevada de problemas relacionados à coluna, principalmente na região lombar. Esse agravo parece
estar intimamente ligado às atividades diárias de cuidado com os idosos, sendo associados
frequentemente ao esforço físico exercido pelo cuidador na adoção de posturas pouco naturais.
Exemplos disso são a flexão da coluna com extensão de joelhos por períodos considerados lesivos;
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 745

movimentos súbitos que envolvem o uso de força muscular excessiva para manipular e transferir o
idoso; além da pouca colaboração obtida por outras pessoas e pelo próprio idoso, devido ao seu grau
de comprometimento funcional associado ao déficit cognitivo (MOTTA, 2014).
E é justamente esse Guia Prático do Cuidador (BRASIL, 2009) que traz alguma perspectiva
quanto à saúde e segurança do cuidador, inclusive em relação à ergonomia, abrangendo os seguintes
temas: o cuidado; o autocuidado; o cuidador; o cuidador e a pessoa cuidada; o cuidador e a equipe de
saúde; o cuidador e a família; cuidando do cuidador; dicas de exercícios para o cuidador e a avaliação
de seu estilo de vida; serviços disponíveis e direitos do cuidador e da pessoa cuidada; Benefício de
Prestação Continuada da Assistência Social (BPC); benefícios previdenciários; legislação; órgãos de
direitos; cuidados no domicílio para pessoas acamadas ou com limitações físicas (alimentação,
higiene, cuidados bucais, banho nas cama); como transferir, mudar, deitar ou acomodar pessoa
cuidada na cama; quando o cuidador necessita de um ajudante; além da orientação sobre o que o
cuidador deve fazer diante de situações de maus tratos e quais o procedimentos em caso de óbito do
paciente (BRASIL, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profissional cuidador exerce atividades diárias de cuidado e tem um papel fundamental na


recuperação e na qualidade de vida dos indivíduos que recebem essa atenção. Entretanto, cuidar do
outro em muitas ocasiões pode acarretar uma sobrecarga musculoesquelética, portanto é fundamental
que eles saibam a melhor forma de realizar tais atividades. Sendo assim, podemos concluir que a
atividade proposta e sua execução foram de suma importância para o dia a dia dos profissionais e
como estratégia de promoção de saúde, sendo assim bem-sucedida em seu objetivo.
Visto que pouco se fala sobre a importância da ergonomia no trabalho dos cuidadores, esta
atividade constitui uma importante ferramenta para orientação e treinamento prático desta classe
profissional sobre a melhor forma de realizar suas tarefas diárias com o objetivo de evitar lesões e
consequentes dores. A atividade possui grande potencial para demais ações voltadas para este tema e
público-alvo, encontros mais frequentes e com um tempo maior de duração podem ter um impacto
ainda mais positivo.
EXTENSÃO PUC MINAS:
746 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

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em Saúde, Centro Universitário CESMAC, Maceió-AL, 2014.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 747

RESUMO EXPANDIDO

RESUMOS EXPANDIDOS
EXTENSÃO PUC MINAS:
748 Novo Humanismo, novas perspectivas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 749

Podcast Delírios Biomédicos: novas mídias na Extensão Universitária

Delírios Biomédicos Podcast: new media in University Outreach

Stella Schuster da Silva1


Jessica Boschini D’Agostin2
Marcos dos Santos Júnior3
Ivan Tsukuda4
Bruno Jacson Martynhak5

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o uso de novas tecnologias tem se destacado dada a infinidade de suas
aplicações em função da flexibilidade de produção e distribuição de diferentes conteúdos, que podem
ainda ser acessados de diferentes locais e em tempos distintos (VICENTE; CORRÊA; SENA, 2015).
O uso de plataformas como Instagram e Spotify, no processo de divulgação científica, tornam-se
potentes ferramentas de divulgação em projetos de extensão, dada a possibilidade de mobilização e
interação direta com o público-alvo (RADMANN; PASTORIZA, 2019). Desse modo, é facilitada a
democratização do conhecimento visado pela divulgação científica, levando à população informações
que antes estariam restritas à comunidade acadêmica (QUINTANA; HEATHERS, 2021).
O projeto de extensão “Podcast Delírios Biomédicos”, vinculado à Universidade Federal do
Paraná (UFPR), vem atuando na produção de episódios em formato de áudio publicados no YouTube,
Spotify e Deezer, acerca de temas voltados à área da Saúde e da Ciência, aliado a conteúdos em
formato digital, disponibilizados no Instagram. Os episódios visam à discussão de temas científicos
de maneira descontraída e informal, com a participação de especialistas.
Os principais objetivos são estabelecer uma troca de saberes com os ouvintes e pesquisadores,
incorporando ferramentas digitais, além de promover o interesse do público geral pelo processo de

1
Graduanda em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: stellaschuster@ufpr.br.
2
Graduanda em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: jessicaboschini@ufpr.br.
3
Graduando em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: marcosjunior@ufpr.br.
4
Graduando em Biomedicina. Universidade Federal do Paraná. E-mail: ivan.tsukuda@ufpr.br.
5
Graduado em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná. Professor
Adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná. E-mail: brunomartynhak@ufpr.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
750 Novo Humanismo, novas perspectivas

fazer pesquisa e, assim, conscientizá-los sobre a importância da Ciência e da Universidade Pública.


Dessa forma, o Projeto busca fomentar a reflexão do público leigo, abordados em linguagem
acessível, estabelecendo condições para o letramento científico, para que possam compreender,
avaliar e julgar diferentes informações no contexto da sociedade moderna (ALBAGLI, 1996).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Atualmente, a produção científica e o conhecimento gerado dentro do ambiente acadêmico,


muitas vezes, ficam restritos a exposições em conferências e publicações em grandes jornais e
periódicos, que implicam não só barreiras geográficas, mas também financeiras, que limitam, de
maneira geral, o acesso de toda sociedade à informação de maneira inclusiva (QUINTANA;
HEATHERS, 2021). Com o avanço tecnológico e o surgimento das redes sociais, diferentes pessoas
são conectadas e compartilham de seus interesses em comum por diferentes motivações, amizade,
relações no ambiente de trabalho ou por acesso à informação (TOMAÉL; MARTELETO, 2006).
Além de estreitar as limitações geográficas, elas viabilizam o registro e compartilhamento de
informações pelos usuários, estimulando uma cultura mais participativa, não só pelo ato de curtir,
comentar e compartilhar, mas pelas diferentes formas de posicionamento e comunicação (VICENTE;
CORRÊA; SENA, 2015; SANTAELLA, 2013).
Nesse contexto, as redes sociais e as diferentes plataformas digitais de conteúdo audiovisual,
como os podcasts, têm servido de alternativa a democratização do conhecimento, dada a sua
facilidade de produção, compartilhamento e acessibilidade (SAIDELLES et al., 2018). A utilização
desses recursos para difusão científica acaba por desmistificar o processo de construção de
conhecimento, as abordagens na extensão universitária e a divulgação científica. Além de
proporcionarem uma maior interação com o público-alvo, as redes sociais ampliam a visibilidade e o
alcance, permitindo uma infinidade de alternativas para a comunicação da ciência (OLIVEIRA, 2013)
que podem vir a ser acessadas por diferentes dispositivos móveis (celulares, tablets, etc.), por
aplicativos ou computadores tradicionais / notebooks (VICENTE; CORRÊA; SENA, 2015).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 751

3 METODOLOGIA

A produção dos episódios do Podcast Delírios Biomédicos se dá em etapas: primeiro, é feito


um formulário, divulgado amplamente através de redes sociais (Instagram, Whatsapp, Facebook),
que tem por objetivo fazer um levantamento dos temas de interesse do público-alvo, assim como o
seu perfil, incluindo gênero, idade e vínculo com a Universidade Federal do Paraná. Essa pesquisa
foi feita uma única vez no início do ano de 2022.
A partir dos resultados do formulário, são escolhidos os temas mais votados. Os episódios são
produzidos mensalmente. Antes da produção de um episódio, são disponibilizadas, nas redes sociais,
ferramentas de interação com o público, como enquetes e caixas de perguntas, para que os ouvintes
possam enviar suas dúvidas. A partir disso, é convidado um pesquisador especialista naquele tema
para contribuir com a exposição e discussão do assunto e elaborado o roteiro. Em seguida, acontece
a gravação dos episódios utilizando a plataforma Discord com o auxílio do bot Craig. Os softwares
Audacity e SonyVegas e as plataformas Anchor, Spotify, YouTube e Deezer são utilizados para editar
e distribuir os episódios.
Após finalizados e publicados, é feita a divulgação dos episódios através das redes sociais
com materiais gráficos e audiovisuais preparados pela própria equipe. Os dados analíticos dos
episódios, como número de reproduções, são obtidos pela plataforma Anchor e Youtube e fornecem
informações de alcance e engajamento diretamente com o conteúdo em áudio.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Até o momento, 5 episódios foram produzidos pelo Projeto Podcast Delírios Biomédicos
(piloto; sonhos lúcidos; vacinas e o movimento antivacina; longe de casa – o que é um projeto de
extensão?; o caso H.M. – a Dory da vida real) a partir do formulário de pesquisa de temas divulgado
pelas redes sociais. Os temas selecionados são voltados para a área da Saúde e Ciência e tratam de
assuntos diversos, como a neurobiologia do sono, dos sonhos e da memória, todos acompanhados por
especialistas convidados. Além disso, por meio das redes sociais, é encorajada a participação dos
ouvintes, através de ferramentas como enquetes, comentários, caixa de perguntas, tanto antes quanto
depois da disponibilização dos episódios.
Analisando os resultados do formulário de pesquisa de temas, observa-se que 69,5% dos
respondentes são estudantes da UFPR, em comparação com 18,3% que não possuem vínculo com a
EXTENSÃO PUC MINAS:
752 Novo Humanismo, novas perspectivas

instituição e, sondando brevemente os seguidores do perfil do Instagram do projeto, composto


majoritariamente por estudantes da UFPR, podemos observar o fenômeno conhecido como “bolha
social” (PELLIZZARI; BARRETO, 2019). Esse fenômeno consiste de um ambiente criado on-line
pelos algoritmos das plataformas on-line que entregam apenas informações de interesse do usuário e
pessoas e perfis de interesses semelhantes, de modo que alcançar um público-alvo que não seja
relacionado geograficamente, por afinidade ou pela instituição, é muito difícil. Romper com essas
bolhas e aproximar a Ciência e a Universidade de público de diferentes backgrounds educacionais,
classes sociais e faixas etárias é um dos principais desafios do projeto.
As métricas do Anchor, plataforma host de Podcasts do Spotify, mostram um total de 633
reproduções do Delírios Biomédicos nas plataformas de streaming preferidas pelos ouvintes. As
métricas do Youtube indicam um total de 270 reproduções. Esses resultados estão evidenciados na
Figura 1. Já no Instagram, considerando o período de março até junho, o perfil teve um aumento de
52,4% dos seguidores, alcançando a marca de 250 seguidores, e 982 contas alcançadas, um aumento
de 606% comparado com o período de 90 dias anterior ao analisado. Esses resultados mostram o
alcance do Podcast Delírios Biomédicos, progredindo lentamente, e a partir deles observamos, por
exemplo, quais estratégias de divulgação ou quais conteúdos têm obtido melhor resultado no
propósito de popularizar o podcast e engajar a audiência.
Dados os objetivos do projeto, de democratizar o conhecimento e instigar o interesse na
Ciência através da troca de saberes entre ouvintes e pesquisadores, a inserção do podcast e das redes
sociais como meio de comunicação apresenta várias potencialidades, como a possibilidade de acesso
ao conteúdo de forma assíncrona, o que pode ser observado na Figura 2, pois os episódios 2 e 3, os
mais populares do Podcast, continuam a ser reproduzidos mesmo meses após seu lançamento. A
possibilidade de os ouvintes enviarem perguntas e interagirem através das redes sociais também
beneficiou e facilitou a elaboração dos roteiros dos episódios, que foram norteados pelas dúvidas do
público-alvo.
Percebe-se que os três primeiros episódios, publicados no início do projeto, obtiveram maior
número de reproduções. Uma das hipóteses para explicar esse fato é a forma de divulgação,
predominantemente pelas redes sociais pessoais dos membros da equipe do que pelo perfil do próprio
podcast. Isso demonstra que a forma de divulgação usando as redes sociais impacta diretamente nos
resultados obtidos nas plataformas de streaming. Além disso, as temáticas de cada episódio também
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 753

podem ter impacto nesses resultados, visto que o episódio 3, Vacinas e o Movimento Antivacina, teve
um pico de reproduções no período de novembro a janeiro, provavelmente por ser um tópico muito
abordado nas notícias naquele momento.

Figura 1 – Reproduções totais no Youtube e plataformas de Streaming,


de julho de 2021 até maio de 2022

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

Figura 2 – Reproduções por episódio em plataformas de Streaming,


de julho de 2021 até maio de 2022

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

Postos esses resultados, é notável que o Podcast Delírios Biomédicos está em crescimento. O
projeto está tendo sucesso em propiciar diálogo entre a Universidade e a sociedade através da
implementação de novas ferramentas midiáticas no processo de divulgação científica, tendo impacto
EXTENSÃO PUC MINAS:
754 Novo Humanismo, novas perspectivas

direto na popularização da Ciência. Ao mesmo tempo, a equipe de discentes adquire novas


habilidades valiosas para o mundo digital, como produção de conteúdo audiovisual e gerenciamento
de redes sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos anos, ficou evidenciado que o uso da tecnologia se faz importante para diversas
atividades do cotidiano. Sendo assim, a divulgação científica também precisou se adaptar a novos
formatos. A criação de um podcast foi uma alternativa eficaz e acessível de fazer divulgação científica
e realizar extensão, visto que esse formato está em crescimento na internet e pode ser divulgado e
acessado gratuitamente. Além disso, a praticidade evidente do acesso aos conteúdos demonstra o
potencial dessas mídias digitais em alcançar um público maior a qualquer momento do seu dia e,
consequentemente, alcançar os objetivos da extensão.

Palavras-chave: Divulgação científica. Redes sociais. Tecnologia.


Keywords: Science communication. Social media. Technology.

REFERÊNCIAS

ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: Informação científica para cidadania. Ciência da


Informação, Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, 1996. Disponível em:
https://revista.ibict.br/ciinf/article/view/639. Acesso em: 28 nov. 2021.
OLIVEIRA, Eloísa da C. P. Comunicação científica e redes sociais. In: ALBAGLI, Sarita (org.).
Fronteiras da Ciência da Informação. Brasília: IBICT, 2013. p. 196-216.
PELLIZZARI, Bruno H. M.; BARRETO, Irineu F. J. Bolhas sociais e seus efeitos na sociedade da
informação: ditadura do algoritmo e entropia na internet. Revista de Direito, Governança e Novas
Tecnologias, Belém, v. 5, n. 2, p. 57-73, 2019. Disponível em:
https://indexlaw.org/index.php/revistadgnt/article/view/5856/pdf. Acesso em: 15 jun. 2022.
QUINTANA, Daniel S.; HEATHERS, James A. J. How Podcasts Can Benefit Scientific
Communities. Trends In Cognitive Sciences, [s. l.], v. 25, n. 1, p. 3-5, 2021.
RADMANN, T. T.; PASTORIZA, B. DOS S. Um olhar sobre as produções acerca da divulgação da
ciência. Tecné Episteme y Didaxis: TED, n. 45, p. 89-106, 5 mar. 2019.
SAIDELLES, Tiago; MINUZI, Nathalie A.; BARIN, Cláudia S.; SANTOS, Leila M. A. A
utilização do podcast como uma ferramenta inovadora no contexto educacional. Revista
Educacional Interdisciplinar, Rio Grande do Sul, v. 7, n. 1, 2018.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 755

SANTAELLA, Lucia. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo:


Paulus, 2013.
TOMAÉL, Maria I.; MARTELETO, Regina M. Redes sociais: posições dos atores no fluxo da
informação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação.
Florianópolis, v. 11, n. 11, p. 75-91, 2006. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2006v11nesp1p75. Acesso em: 10
jun. 2022.
VICENTE, Natalí I.; CORRÊA, Elisa C. D.; SENA, Tito. A divulgação científica em redes sociais
na internet: proposta de metodologia de análise netnográfica. In: ENCONTRO NACIONAL DE
PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 16., 2015, João Pessoa. Anais eletrônicos [...].
João Pessoa: UFPB, 2015. Disponível em:
http://www.ufpb.br/evento/index.php/enancib2015/enancib2015/paper/viewFile/2853/1160. Acesso
em: 8 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
756 Novo Humanismo, novas perspectivas

MEI: o melhor caminho para o trabalho de autônomos


e pequenos empreendedores

MEI: the best path for autonomous and small entrepreneurs

Alice Santos Batista1


Bruna Guimarães da Silveira Santos2
Rafael Almeida Carneiro3
Reinaldo Cardoso dos Anjos4
Fátima Maria Penido Drumond Coelho5

INTRODUÇÃO

Empreendedorismo é um termo que, a cada dia, mais vem sendo abordado e prática adotada
pelas pessoas. Possuir seu próprio negócio é uma das formas que os brasileiros buscam para driblar
os altos índices de desemprego e desigualdade social. Ao fazê-lo, esses pequenos empreendedores ou
autônomos geram valores financeiros para a economia através da comercialização e produção de bens
ou serviços.
Muitas pessoas que se enquadram no regime do microempreendedor individual (MEI) fazem
a abertura da empresa, mas não se informam sobre como mantê-la. Nesse contexto, o objetivo do
trabalho é apresentar aos profissionais autônomos e pequenos empreendedores como formalizar seu
negócio, identificando os benefícios de ser MEI e expondo a facilidade desse modelo empresarial.
Será utilizando o estudo de abordagem qualitativa para responder à pergunta do trabalho e atingir o
objetivo geral: identificar as vantagens de formalizar autônomos e empreendedores.
A relevância e a justificativa deste trabalho residem em sua motivação de ajudar os pequenos
empreendedores e autônomos a saírem de seu negócio informal e a se regularizarem, aproveitando os
benefícios de se tornarem MEI.

1
Graduanda do curso de Ciências Contábeis na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas /Coração
Eucarístico. E-mail: alice.batista.1362581@sga.pucminas.br.
2
Graduanda do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: bgssantos@sga.pucminas.br.
3
Graduando do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail: racarneiro@sga.pucminas.br.
4
Graduando do curso de Ciências Contábeis na PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail: rcanjos@sga.pucminas.br.
5
Mestre em Administração. Professora do curso de Ciências Contábeis PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail:
fatimadrumond@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 757

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Microempreendedor individual

A Lei Complementar 128/2008, que instituiu a modalidade Microempreendedor Individual


(MEI), permite que profissionais como costureiras, mecânicos, jardineiros, comerciantes,
cabeleireiros e mais de 460 atividades possam atuar de forma regular. Outros benefícios que traz a
lei, para os inscritos no MEI, é a simplificação do processo de abertura da empresa, regime unificado
de apuração e recolhimento de impostos com o Super Simples (BRASIL, 2008).
Segundo o Portal do Empreendedor (BRASIL, 2022), o autônomo ou pequeno empresário que
quer se formalizar como MEI poderá ter um faturamento anual de até R$ 81.000,00, ou proporcional
ao ano de abertura; deverá se enquadrar no Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE)
prevista no Anexo XI da Resolução Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN) n° 140 de 2018, na
qual se enquadram: comércio em geral, indústria e serviços de natureza não intelectual sem
regulamentação legal (cf. ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E DE SERVIÇOS DE
NOVO HAMBURGO, ACIN). A média de faturamento, para não ultrapassar o limite do MEI, será
de R$6.750,00 por mês, sendo proporcional ao número de meses em que a empresa exerce a atividade.
De acordo com o art. 3º da Resolução do CGSN nº. 58/2009, o desenquadramento do MEI
será realizado de ofício ou mediante comunicação ocorrerá quando:

III – obrigatoriamente, quando exceder, no ano-calendário, o limite de receita bruta previsto


no inciso I do § 1º do art. 1º, devendo a comunicação ser efetuada até o último dia útil do
mês subsequente àquele em que ocorrido o excesso, produzindo efeitos:
A partir de 1º de janeiro do ano-calendário subsequente ao da ocorrência do excesso, na
hipótese de não ter ultrapassado o referido limite em mais de 20% (vinte por cento);
IV – Obrigatoriamente, quando exceder o limite de receita bruta previsto no §2º do art. 1º,
devendo a comunicação ser efetuada até o último dia útil do mês subsequente àquele em que
ocorrido o excesso, produzindo efeitos: a) partir de 1º de janeiro do ano-calendário
subsequente ao da ocorrência do excesso, na hipótese de não ter ultrapassado o referido limite
em mais de 20% (vinte por cento); b) retroativamente ao início de atividade, na hipótese de
ter ultrapassado o referido limite em mais de 20% - vinte por cento. (CGSN / ACINH, 2021).

Segundo o site Gov.br os benefícios ao MEI são:

[...] ter um CNPJ, poder emitir nota fiscal para seus clientes, poder vender para o governo,
fazer vendas com cartão de crédito, ter benefícios previdenciários, isenção de honorários para
abertura de empresa e outros impostos, acessar serviços bancários específicos que podem
gerar empréstimo com juros baixos. (BRASIL, 2022, s./p.).
EXTENSÃO PUC MINAS:
758 Novo Humanismo, novas perspectivas

Segundo o Portal Simples Nacional “existe a opção de débito automático na sua plataforma,
que permite ao MEI pagar os valores mensais apurados de forma automática, debitando da conta
corrente de pessoa física ou jurídica” (BRASIL, 2006), com essa opção, facilita a quitação desse
tributo, o impedindo de ficar irregular. Também segundo o Portal Simples Nacional, “[a] Declaração
Anual para o Microempreendedor individual a (DASN) deverá ser entregue até o último dia de maio
de cada ano e conterá tão somente, informações referentes à receita bruta do ano calendário anterior
e as informações referente à contratação de empregado, quando houver”. (BRASIL, 2006, s./p.).

2.2 Previdência

Sérgio Pinto Martins (2002) define Seguridade Social como:

O Direito da Seguridade Social é um conjunto de princípios, de regras e de instituições


destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências
que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias, integrado
por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (MARTINS, 2002, [s./p.]).

As normas da Seguridade foram estabelecidas pela Lei 8.212/91 e uma das regras determina
que 20% do salário sejam utilizados para financiamento da seguridade social para contribuintes
individuais; porém, após o surgimento do MEI ocorreram algumas mudanças na Lei de Seguridade,
sendo elas:

§ 2º No caso de opção pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de


contribuição, a alíquota de contribuição incidente sobre o limite mínimo mensal do salário
de contribuição será de:
I - 11% (onze por cento), no caso do segurado contribuinte individual, ressalvado o disposto
no inciso II, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou
equiparado e do segurado facultativo, observado o disposto na alínea b do inciso II deste
parágrafo; II - 5% (cinco por cento). (BRASIL, 1991).

Como se vê, agora é possível que os empresários classificados como MEI contribuam com
somente 5% do salário, porém, eles não podem se aposentar por tempo de contribuição.

3 METODOLOGIA

Quanto à classificação dos objetivos, trata-se uma pesquisa de natureza descritiva, pois esta
não terá como objetivo a explicação dos fenômenos descritos, e sim o estabelecimento de relações
entre suas variáveis, de maneira a servir de base para possíveis explicações (FARIAS FILHO, 2015).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 759

A pesquisa realizada é qualitativa, pois, como Didio (2014) evidencia, tem como objetivo o
estudo das particularidades e significados do problema de pesquisa, de maneira a aprofundar em seus
conceitos. Vale destacar, tendo como base a referida autora, que os resultados serão
predominantemente em formato de texto corrido, expondo pensamentos, reflexões e análise.
Quanto aos procedimentos, será utilizada a pesquisa de campo, que coletará dados de pessoas
envolvidas na realidade pesquisada, através de questionários, a fim de se chegar em respostas a
situações e/ou problemas retratados anteriormente (DIDIO, 2014)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo um anúncio da Receita Federal, mais de 4,4 milhões de pessoas, mais de um terço
da população que está inscrita no MEI, estão irregulares. Estes correm o risco de ter o Cadastro
Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ) cancelado, ficando irregular e ter o Cadastro de Pessoa Física
(CPF) inscrito na dívida ativa, sem possibilidade de reaver o CNPJ. Nesse sentido, a pesquisa foi
desenvolvida buscando o motivo da irregularidade dos empreendedores para poder ajudá-los a se
regularizarem.
Para desenvolver o trabalho foi necessário, primeiramente, criar um formulário para obter
dados que informassem o nível de conhecimento do público-alvo, profissionais autônomos e
pequenos empreendedores, sobre o MEI. A partir disso, foram elaboradas quatro perguntas no Google
Forms e transmitidas pelo WhatsApp para que as pessoas pudessem responder. Os resultados
comprovaram que uma parcela muito pequena de empreendedores tem conhecimento básico sobre
MEI. Trinta pessoas responderam à pesquisa.
Com os resultados, foi possível descobrir que até mesmo alguns microempreendedores
individuais que responderam ao formulário estavam irregulares por falta de informação acerca do
próprio segmento. Isso ocorreu porque as instruções do MEI não são amplamente divulgadas ou
explicadas com clareza no próprio Gov.br, que resultou não somente na situação irregular da empresa,
mas também em pessoas que continuaram trabalhando de forma autônoma sem CNPJ e os benefícios
do MEI, deixando de se formalizar.
Nesse âmbito, foi necessário pensar em uma forma de divulgar de forma prática informações
que contribuíssem com o conhecimento sobre MEI. No Instagram o perfil @cartilha_mei foi criado
exclusivamente para disseminar esse conhecimento e desempenhou positivamente o papel de veículo
educacional para empreendedores. As publicações são objetivas e com linguagem clara, o que facilita
o entendimento.
EXTENSÃO PUC MINAS:
760 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 1 - Cartilha MEI

Fonte: Elaborada pelos autores,2022.

Os resultados positivos da cartilha puderam ser comprovados por meio de uma enquete
postada nos stories respondida por 36 pessoas, equivalendo a 100% de eficácia. Esse resultado foi
possível com as postagens que explicaram todas as questões anteriormente abordadas no formulário.
Também foram retratados outros assuntos sobre MEI, incluindo dúvidas recebidas na caixa de
perguntas. O story com a enquete também foi enviado diretamente a todos que responderam o
formulário, mostrando que a maioria que desconhecia noções básicas do segmento conseguiu
aprimorar os conhecimentos.
Além disso, foram recebidas mensagens diretas confirmando o aprendizado e a aplicação,
cumprindo um dos objetivos do trabalho, que é instruir os inscritos do MEI a manter sua empresa
regularizada. Isso denota que, se informações sobre o MEI fossem mais divulgadas, os
empreendedores teriam mais facilidade de manter sua empresa regular e até mesmo teriam
conhecimento de todos os benefícios proporcionados por serem formalizados.
As principais respostas foram os benefícios do INSS (26%), ter uma empresa formal (26%),
a possibilidade de emitir nota fiscal (12%) e a possibilidade de fazer compras melhores ou mais
baratas (7%). Quando agregadas todas as respostas que estão relacionadas ao benefício do registro
formal, há como exemplos: poder emitir nota fiscal, evitar problemas com a fiscalização etc. Assim,
o benefício do registro formal o principal motivador da formalização.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 761

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa foi baseada no estudo sobre os principais benefícios que os pequenos
empreendedores têm ao se classificarem como MEI. Foi importante criar um meio de divulgar
informações sobre o MEI de forma simplificada e objetiva, de maneira que atingisse esses
empreendedores e profissionais autônomos, por meio de uma cartilha divulgada pelas redes sociais,
principalmente no Instagram.
Com isso, foi atingido o objetivo do trabalho de apresentar aos pequenos empreendedores
como formalizar seu negócio, ressaltando os benefícios e expondo a facilidade desse modelo
empresarial.

Palavras-chave: Benefícios. Negócio. Cartilha.


Keywords: Benefits. Business. Primer.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E DE SERVIÇOS DE NOVO HAMBURGO,


CAMPO BOM E ESTÂNCIA VELHA - ACINH. Resolução CGSN nº 158/2021 - Emissão do
DAS do Simples Nacional de forma parcelada relativa aos meses de março, abril e maio de
2021. Estância Velha, 20 ago. 2021. Disponível em: https://www.acinh.com.br/noticia/resolucao-
cgsn-n-158-2021--emissao-do-das-do-simples-nacional-de-forma-parcelada-relativa-aos-meses-de-
marco-abril-e-maio-de-2021. Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Empresas & Negócios. Já sou MEI. Gov.br. Brasília, DF: Governo Federal, 2022.
Disponível em: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor/servicos-para-mei.
Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Empresas & Negócios. Portal do Empreendedor. Brasília, DF: Governo Federal, 2022.
Disponível em: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor. Acesso em: 25 maio
2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas
de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar
no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5
de outubro de 1999. Brasília, DF: Presidência da República., 14 dez. 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 128, 19 de dezembro de 2008. Altera a Lei Complementar no
123, de 14 de dezembro de 2006 e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República,
19 dez. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/- leis/lcp/lcp128.htm. Acesso
em: 15 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
762 Novo Humanismo, novas perspectivas

BRASIL. Lei nº 8212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social,
institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 24 jul.
1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 25
maio 2022.
DIDIO, Lucie. Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos. 1.
ed., São Paulo: Atlas, 2014.
FARIAS FILHO, Milton Cordeiro. Planejamento da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2015.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS/FGV IBRE: 19,5 milhões de empreendedores brasileiros não
têm CNPJ. Bem Pará, [S.l.], 19 abr. 2022. Disponível em:
https://amp.bemparana.com.br/noticia/fgv-ibre-195-milhoes-de-empreendedores-brasileiros-nao-
tem-cnpj-272485. Acesso em: 21 abr. 2022.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação.
Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de projetos de pesquisa,
trabalhos acadêmicos, relatórios técnicos e/ou científicos, e artigos científicos: conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 4. ed. reform. e atual. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2022. Disponível em: http://www.pucminas.br/ biblioteca. Acesso em: 10 abr. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 763

A Transição do Ensino Presencial para o Remoto na


Perspectiva da Literacia Digital

The Transition for Remote Teaching from the


Perspective of Digital Literacy

Ana Teresinha Elicker1


Débora N. F. Barbosa2
Sandra Terezinha Miorelli3

INTRODUÇÃO

A globalização, o consumo de tecnologias digitais e o acesso à internet trouxeram para dentro


dos espaços de aprendizagem a possibilidade de utilizar os recursos dos dispositivos móveis, no
processo de formação acadêmica, criando um elo entre o virtual e o não virtual.
Este trabalho, sobre o uso das tecnologias educacionais digitais inseridas em práticas
pedagógicas, apresenta informações do curso de Literacia digital e Ensino Híbrido, para formação de
professores, que aconteceu na rede pública de ensino de uma cidade do Rio Grande do Sul, no ano de
2020. O curso ocorreu como atividade no contexto do projeto de extensão: “Logicando – ensinando
lógica com as tecnologias da informação”. Considerando a peculiaridade da situação causada pela
pandemia da COVID-19, estruturamos a prática levando em conta as necessidades do momento.
Com o objetivo de orientar os professores no manejo das tecnologias digitais e a elaborar seus
planos de aulas remotos utilizando as tecnologias digitais para atender os alunos em plataformas
virtuais de aprendizagem. Assim, tendo alinhado o conteúdo curricular à Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), foram desenvolvidas atividades de construção de um plano de aula com o
envolvimento / utilização de materiais digitais e não digitais inseridos no processo de aprendizagem.
A inserção da tecnologia ou dos recursos tecnológicos nas atividades didáticas em situações
formais de aprendizagem apresenta o fato de o professor ter o conhecimento sobre os recursos
educacionais dos dispositivos móveis e ser capaz de alternar adequadamente atividades tradicionais

1
Mestre em Letras; doutoranda no PPG Diversidade Cultural e Inclusão Social. Universidade FEEVALE / RS. E-mail:
anaelicker@hotmail.com. Bolsista CAPES.
2
Doutora PPG Diversidade Cultural e Inclusão Social. Universidade FEEVALE / RS. E-mail: deboranice@feevale.com.
3
Mestre., Analista de Sistemas, Projeto Logicando Universidade FEEVALE / RS. E-mail: miorelli@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
764 Novo Humanismo, novas perspectivas

de ensino-aprendizagem e atividades que usam os recursos digitais. O professor, hoje, assume um


papel de mediador e precisa criar “ambientes educativos favoráveis a uma diversidade de situações e
de dinâmicas de aprendizagem, ao estudo, à cooperação, ao conhecimento, à comunicação e à
criação” (NÓVOA, 2020, p. 1). A situação envolveu uma adaptação abrupta, em que todos precisaram
parar e aprender novas formas e se posicionar em novos espaços de aprendizagem.
Nesse sentido, a escola deve direcionar e implementar atividades que vão desde a
alfabetização até o pleno domínio da leitura, da escrita e de códigos digitais, suprindo as necessidades
de cada grupo, sem causar prejuízos ou deixar lacunas na aprendizagem. A sociedade necessita formar
cidadãos com capacidade de agir eficazmente nas diversas situações sociais; pensando, criando e
compartilhando os saberes com todos os envolvidos.

2 A TRANSIÇÃO DO PRESENCIAL AO DIGITAL

O aluno, com o conhecimento dos códigos, desenvolve habilidades para transitar no meio
digital. O mundo rapidamente está se tornando digital, como por exemplo, o mercado de trabalho, o
que amplia a importância da literacia digital. Hoje, nossos adolescentes lidam com um grande fluxo
de informações, eles querem localizar e consumir conteúdos de forma rápida e segura e, para isso,
precisam de orientações.
Os alunos que estão adquirindo habilidades de alfabetização digital aprendem a se tornar
criadores (literacia digital) de conteúdo responsáveis e não apenas consumidores de conteúdo. Eles
lidam com a hibridização da linguagem ao organizar o fluxo de informações “devido à estrutura de
caráter hiper, não sequencial, multidimensional que dá suporte às infinitas opções de um leitor
imersivo” (SANTAELLA, 2004, p. 49). Assim, a abordagem de ensino deve se respaldar por uma
metodologia voltada ao criar, a qual deve convidar o aluno a participar de todas as etapas que
envolvem o processo de aprendizagem, desde a elaboração inicial, passando pela definição de metas
e a escolha do tema de estudo até a apresentação final dos resultados. No processo de aprendizagem,
a apropriação do conhecimento sobre o conteúdo programático é auxiliada pelas informações
disponíveis e como usá-las e reconhecendo a utilidade daquele saber.
O curso de literacia digital foi pensado e organizado de forma específica para auxiliar os
professores da rede municipal de ensino da cidade de São Leopoldo, no Vale dos Sinos/RS. A cidade
tem 238 mil habitantes e 37 escolas municipais. A SMED ofereceu diferentes cursos de formação aos
educadores da rede, logo no início da pandemia, em 2020, e o curso de literacia digital (figura 1) foi
aplicado a quatro turmas de professores das séries finais do Ensino Fundamental aos educadores.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 765

Figura 1 - Chamada para o curso – Flyer / SMEED

Fonte: SMED São Leopoldo, 2021.

Nesse contexto de novas aprendizagens, o projeto de extensão Ensinando Lógica com as


Tecnologias de Informação da Universidade Feevale, denominado Projeto Logicando, visando
contribuir de maneira efetiva para a construção de um processo de ensino-aprendizagem,
proporcionou o curso. Neste, o desenvolvimento do raciocínio lógico foi estimulado através de
práticas que abordaram as relações científicas e tecnológicas com o objetivo de contribuir para a
melhoria da aprendizagem dos alunos no contexto das ciências exatas.
O público-alvo participante do projeto consiste em alunos e professores de 8º e 9º anos do
Ensino Fundamental (E.F) e de Ensino Médio (E.M) das escolas da região do Vale do Rio dos Sinos.
As atividades do projeto consistem em oficinas ministradas pelos docentes, bolsistas e voluntários do
Logicando, com o propósito de estimular o desenvolvimento do raciocínio lógico no contexto de
questões envolvendo recursos informacionais como AppInventor, Code.org, plataformas de
colaboração, Scratch, e demais recursos informacionais, e sua relação com as ciências exatas. Os
temas trabalhados relacionam à teoria e à prática, usando recursos informacionais e ferramentas
educacionais diferenciadas, como os jogos digitais, por exemplo. Todas as atividades oferecidas
buscam também impactar na qualificação do professor das séries finais do E.F, tendo em vista a
formação científico-tecnológica do aluno, dentro do seu contexto escolar, a fim de que estes se tornem
multiplicadores dos conhecimentos desenvolvidos através das oficinas oferecidas pelo projeto.
Assim, no contexto do projeto Logicando, o curso Literacia Digital e Ensino Híbrido, foi
preparado com o objetivo de orientar os professores a elaborar seus planos de aulas remotos utilizando
as tecnologias em ambientes formais de aprendizagem, alinhado ao conteúdo curricular da BNCC. A
EXTENSÃO PUC MINAS:
766 Novo Humanismo, novas perspectivas

Literacia digital compreende o uso eficaz da tecnologia que envolve o conhecimento dos códigos
inseridos nos ambientes digitais e as habilidades e competências para o uso. O Ensino Híbrido integra
a Tecnologia à Educação, e, neste sentido, a tecnologia permeia as atividades e contempla o processo
híbrido, que é composto por elementos diferentes.
O curso foi organizado usando o ambiente Moodle disponibilizado pela SMED/SL, que
organizou a divulgação do curso e as inscrições dos professores. Este se mostrava interessado e a
secretaria o inscrevia e, por e-mail, enviava o link de acesso a plataforma Moodle e a um grupo de
WhatsApp específico aos cursistas. Um processo novo aos professores, cursos a distância de forma
síncrona. Assim, através de orientações no grupo do WhatsApp, a primeira atividade foi preencher os
dados de apresentação da plataforma Moodle, com foto, o que para muitos foi o início da
aprendizagem, no ambiente virtual.
O curso teve a participação de 80 professores e a duração de 10 dias, em 8 encontros ao vivo,
através de lives realizadas, no Meet e no Zoom, como na figura 2. No Moodle, colocamos: o fórum,
as atividades, apresentação, textos com indicação de leituras e migramos para o Google Documentos,
com o objetivo de hospedar as atividades realizadas pelos cursistas e proporcionar a interação e
contribuição, do grupo em um mesmo espaço, sendo possível acompanhar o trabalho dos colegas
cursistas e as orientações gerais. Entre as atividades: Apresentação no moodle, acompanhamento do
grupo de WhatsApp, Google documentos, Jamboard, QR Code, Mapa mental, DUO, Nuvem de
palavras, FlipGrid e para finalizar o curso os professores precisavam apresentar um plano de aula
(aplicável de forma remota à suas turmas), com o uso das tecnologias.

Figura 2 - Atividades em desenvolvimento no curso

Fonte: Acervo das autoras, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 767

Faz-se necessário, para Educação do século XXI, elaborar uma prática pedagógica com uma
Abordagem Criativa que promova a Literacia Digital alinhada à BNCC, a qual ressalta os elementos
necessários para “ampliar a compreensão de textos que pertencem a esses gêneros e a possibilitar uma
participação mais qualificada do ponto de vista ético, estético e político nas práticas de linguagem da
cultura digital” (BRASIL, 2018, p.70).
A BNCC aponta para diferentes eixos de habilidades que podem ser inseridos nas práticas de
produção de textos, o que de acordo com a BNCC, “compreende as práticas de linguagem
relacionadas à interação e à autoria (individual ou coletiva) do texto escrito, oral e multissemiótico,
com diferentes finalidades e projetos enunciativos” (BRASIL, 2018, p. 75). Nesse sentido, busca-se
“refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se produzem textos e sobre as
diferenças em termos formais, estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-
se aí a multissemiose e características da conectividade” (BRASIL, 2018, p. 75), que seria o uso de
hipertextos e hiperlinks, dentre outros, presentes nos textos que circulam em contexto digital.
O professor com literacia digital, por uma competência transversal, vai promover a literacia
digital dos aprendentes, em espaços de aprendizagem, ou seja, “enquanto a promoção de outras
competências transversais é apenas parte da literacia digital dos educadores, na medida em que as
tecnologias digitais são utilizadas para tal, a capacidade para promover a literacia digital dos
aprendentes é uma parte integrante da literacia digital dos educadores. A literacia digital, com base
na fluência e cidadania digital é o domínio dos códigos que prevalecem no ciberespaço, o que permite
ao aprendente, de acordo com Elicker (2018), ser consumidor e autor no ambiente virtual com
habilidade de criar após apropriação do conhecimento que acreditamos ser possível acontecer de
forma conjunta ao aprendizado das matérias/conteúdos de estudos.
Na perspectiva do ensino híbrido, a tecnologia permeia as atividades e contempla o processo
que é híbrido através dos recursos, espaços e movimento das atividades no processo de aprendizagem.
Dessa forma, ao integrar a tecnologia à educação, Santaella (2008) apresenta, em suas pesquisas, o
ensino híbrido como uma construção por diversas matrizes e pela dissolução de fronteiras, o que
potencializa o processo de aprendizagem.
A atualidade necessita de um método de ensino que se insira no contexto formal de
aprendizagem e seja incorporado ao ensino híbrido, para, assim, direcionar o desenvolvimento da
literacia digital (ELICKER, 2018), que busca promover a fluência digital e a postura cidadã, dos
alunos envolvidos no processo de aprendizagem. O aluno é protagonista de seu processo, sabendo
EXTENSÃO PUC MINAS:
768 Novo Humanismo, novas perspectivas

lidar com o fluxo de informação, selecionando as indispensáveis, e para isso terá que ter boas
informações, ter uma cabeça bem-feita, que “é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com
isso, evitar sua acumulação estéril” (MORIN, 2003, p.20).
A educação vem em uma crescente busca por uma abordagem de ensino que contemple a real
necessidade dos alunos deste século. Lévy (1998), no livro A Máquina Universo: criação, cognição
e cultura informática imaginava que, em um futuro próximo, ou seja, no hoje, as crianças
aprenderiam a ler e escrever usando computadores e que, para isso, seriam necessárias técnicas
pedagógicas voltadas à performance individual dos alunos.
Esses alunos, hoje, são aprendentes digitais inseridos em um contexto globalizado e com
amplo acesso às informações, por meio de recursos tecnológicos de fácil acesso. Atualmente o uso
das tecnologias digitais é parte do desenvolvimento pedagógico nas práticas docentes em ambientes
formais de aprendizagem. Há um elo entre os recursos pedagógicos e a inserção de tecnologias
digitais no processo de ensino. De acordo com Wolf, “abordagem híbrida da construção de um
cérebro duplamente letrado precisa ser muito mais cuidadosa no seu desenvolvimento” (WOLF,
2019, p. 209), levando em conta a diversidade e o ritmo de cada aprendente. Longe ainda da teoria
ciborgue de Hoquet (2019) em que o pensamento filosófico medita a respeito das relações entre a
máquina e organismo humano em uma possibilidade de combinação entre as partes.

3 RESULTADOS

No curso, os professores participaram de forma síncrona em lives interativas e de forma


assíncrona realizando as tarefas e postando-as de forma compartilhada, na página criada para o curso.
Os encontros síncronos pré-agendados eram para explicações e orientações. O momento das lives
foram divididos: um horário fixo com o grande grupo e um horário para atendimentos individuais. O
trabalho assíncrono foi acompanhado regularmente; neste percebemos que os professores
participaram e interagiram além da carga horária do curso. Eles compartilhavam e sugeriram
atividades uns aos outros, em ricas trocas. O curso, pela grande demanda, foi direcionado aos
professores das séries finais/anos finais do ensino fundamental, de diferentes disciplinas. Eles foram
orientados na elaboração de atividades síncronas e assíncronas possíveis a suas realidades docentes e
ao final do curso eles apresentaram um plano de aula híbrido, aplicável de forma remota, elaborado
pensando nos seus alunos e turmas do ano de 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 769

Após a finalização, um grupo de 56 professores respondeu um questionário com perguntas


sobre o curso. Destes professores 87,5% eram mulheres e 83,9% com mais de 10 anos de prática
docente. Os professores, no decorrer do curso, foram se apropriando das informações de uso das
tecnologias, já visando utilizá-las em suas aulas. Quando questionados sobre o conhecimento
posterior ao curso, apenas 8,9% ainda se sentiam com poucos conhecimentos acerca das tecnologias
digitais. E foi unânime a afirmação da possibilidade do formato híbrido de ensino e que o processo
auxilia na construção de aprendizado dos conteúdos didáticos com auxílio das tecnologias digitais.
Para a pergunta “Quais recursos que você aprendeu que é possível usar em suas práticas?”, os
professores, em sua maioria, concordaram ser possível aplicar na prática os recursos trabalhados no
curso. E ao serem questionados, solicitando que “Pensando em seus alunos. O uso da tecnologia os
motiva a realizar as atividades? Por quê?” todas as respostas foram positivas, destacando-se a
oportunidade de utilizar um recurso de interesse dos alunos, “pois eles são adolescentes que já fazem
uso das tecnologias através do celular”. “Hoje os alunos estão cada vez mais conectados, usar esses
recursos traz mais dinamismo às aulas. Os alunos já utilizam no seu dia a dia, por isso, quando
introduzimos nas aulas eles demonstram grande interesse.” Eles “já nasceram em um mundo em que
a internet é uma realidade e eles vivem de comunicação e interação. A sala de aula precisa se atualizar.
outra salienta que “mesmo com os parcos recursos, os alunos adoram utilizar este espaço e realizar
as atividades nos computadores. Mesmo quando estamos fazendo atividades simples os alunos se
envolvem muito mais utilizando as TIC.” No entanto, devemos remeter ao tempo, uma vez que estes
questionamentos foram feitos em tempos de afastamento social e as respostas remetem ao que os
alunos apresentavam antes da pandemia, tempos em que era pouco utilizado as tecnologias em sala
de aula.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em tempos de afastamento social e frente à urgente necessidade de alcançar os alunos, os


professores buscaram cursos de formação para aprenderem a utilizar as tecnologias digitais, na
intenção de preparar aulas remotas. A transição do espaço físico de aprendizagem para o virtual
aconteceu de forma abrupta, no entanto os educadores buscaram novas formas e novos meios para
contemplar as necessidades de seus alunos. Um momento para novos aprendizados, tanto para os
professores que foram em busca de novos saberes, quanto para os alunos, em novos espaços de
aprendizagem.
EXTENSÃO PUC MINAS:
770 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os professores, embora viessem inserindo as tecnologias digitais na rotina, não estavam


preparados para a imersão e o uso, fator que tornou o processo desafiador. Os alunos, usuários de
tecnologias restritas a games e redes sociais foram orientados a usar seus dispositivos para estudo.
Uma transição marcada fortemente pelas diferenças sociais: professores expostos a realidades
diferentes em cada escola, mesmo pertencentes à mesma rede, o que chama atenção para necessidades
de planos individuais de ensino, livrando o professor do acúmulo de tarefas. Nesse sentido, o curso
acolheu as necessidades e a formação de gradual e individual de cada grupo escolar e os professores
entre eles se ajudavam e buscavam compartilhar novos recursos possíveis de serem utilizados no
processo de aprendizagem de seus alunos.
As tecnologias digitais estão inseridas culturalmente no nosso dia a dia e utilizá-las em
ambientes formais de aprendizagem, de forma síncrona ou assíncrona é fator que contribui para
desenvolvimento de competências e habilidades necessárias aos alunos do século XXI, aprendentes
culturalmente afetados pelos avanços tecnológicos.

Palavras-chave: Tecnologias educacionais. Ensino Formal. Literacia Digital.


Keywords: Educational Technologies. Formal Education. Digital Literacy.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.


ELICKER, Ana T. Textos digitais multimodais de forma colaborativa entre os alunos. In: Base
Nacional Comum Curricular, BNCC, 2018.
HOQUET, Thierry. Filosofia ciborgue, pensar contra os dualismos. São Paulo: Editora
Perpectiva, 2019.
LÉVY, Pierre. A máquina universo. Criação, cognição e cultura informática. Trad. Bruno Charles
Magne. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
MORIN, Edgar, 1921- A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento / Edgar
Morin; tradução Eloá Jacobina. - 8a ed. -Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
NÓVOA, Antonio. E agora, Escola? Jornal da USP. 2020. Obtido on-line em 01 mar.2021.
Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/e-agora-escola/ .
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA, A CULTURA
(UNESCO). International Conference Centre, Geneva 25-28 November/2008.
SANTAELLA, Lúcia. Comunicação Ubíqua. Representação na cultura e na educação. São Paulo:
Paulus, 2013. (Coleção Comunicação).
SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo:
Paulus, 2004.
WOLF, Maryanne. O Cérebro no mundo digital. Os desafios da leitura na nossa era. São Paulo:
Editora Contexto, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 771

A titulação de terras como mecanismo de proteção de territórios quilombolas


frente aos processos de concessão de licenciamento ambiental para mineradoras

Land titling as a protection mechanism to quilombola’s territories against


environmental permitting process for mining companies

Allan José Teixeira de Barros Neto1


Anna Cecília Santos Chaves2
Tiago Geisler Moreira Costa3

INTRODUÇÃO

A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), vigente no Brasil desde


2003, determina, em seus artigos 14, 15 e 16, a inviolabilidade e proteção ao território onde se situam
povos e comunidades tradicionais. Adicionalmente, determina, em seu artigo 6º, o dever de consulta
aos povos interessados, mediante procedimentos apropriados, sempre que a interferência de terceiros
tenha o condão de produzir dano de qualquer ordem ao território dessas comunidades, impactando-
os diretamente. Nesse sentido, compreende-se, a partir daí, que tais intervenções deverão ser
imediatamente cessadas, caso não tenha sido produzida, de forma pretérita, a consulta livre, prévia,
informada e de boa-fé.
Assim, antes de tudo, como preleciona Leite (2018), um território tradicional não se configura
apenas como uma porção de terra, limitada a atender a fins econômicos, mas representa o ser de uma
comunidade tradicional, pois é ali, naquele espaço geográfico, onde vivenciam e fortificam sua

1
Graduando em Direito na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Campus Serro. Pesquisador Extensionista
no Projeto Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais. E-mail:
ajtbneto@sga.pucminas.br.
2
Professora Adjunta I no Curso de Direito da PUC Minas - Campus Serro. Pós-doutoranda e Doutora em Direito Penal,
Medicina Forense e Criminologia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Coordenadora do Projeto
Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais. E-mail: chavesacs@gmail.com.
3
Mestre em Desenvolvimento Sustentável em Povos e Terras Tradicionais pela Universidade de Brasília. Coordenador
de campo do Projeto Quilombo Vivo: Apoio e Fortalecimento dos Quilombolas do Serro - Minas Gerais da PUC Minas
- Campus Serro. E-mail: tiago.geisler@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
772 Novo Humanismo, novas perspectivas

cultura, seus ritos religiosos e seu modo de organização social. Em outros termos, é pelo vínculo com
a terra que esses povos mantêm viva a compreensão do que, para eles, sociedade e seu modo de
funcionamento.
Ainda mais, cabe apresentar que o Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) reconhece a propriedade definitiva aos remanescentes das comunidades dos quilombos,
devendo o Estado emitir-lhes a titulação atinente àquele território, o que, até então, deveria ser
protagonizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no entanto, a
consolidação desse mandado constitucional consubstancia um procedimento cujo trâmite flui, ainda,
de forma lenta e burocrática.
Por essas razões, vê-se cientificado que o direito ao território destinado às comunidades e
povos tradicionais configura-se como um direito fundamental, estando este atrelado a todas as suas
prerrogativas. Porém, isso não acontece na prática; mineradoras, em processos de licenciamento
ambiental, inobservam o direito à consulta destinado às comunidades tradicionais, que se afigura
como forma de defesa das comunidades tradicionais de não sofrerem com nenhuma ação ocasionada
por terceiros, caso antes, não tenham sido cientificados e consultados acerca desse intento de
interferência. Nesse sentido, o cerne deste estudo é a análise da importância de que é dotada a
titulação de terras como forma de promover a inviolabilidade de territórios quilombolas frente aos
procedimentos de licenciamento ambiental destinados às mineradoras, ou seja, discute-se aqui que,
ainda que exista essa inoperância do direito à consulta, a titulação territorial oferece outra forma de
defesa.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conformaram a fundamentação teórica deste estudo artigos científicos de autores que


representam referências teóricas sobre o tema, como Deborah Duprat, Matheus de Mendonça
Gonçalves Leite, Juliano Bernardes do Amaral, Alfredo Wagner Berno de Almeida, Lilian Cristina
Bernardo Gomes e Juliana Neves Barros. Se utilizou também livros e cartilhas do Centro de
Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) e do Ministério Público de Minas Gerais
(MPMG), além de leis e decretos vigentes no Brasil. Por fim, foi realizada pesquisa de campo, durante
a qual foram realizadas entrevistas individuais e coletivas e a coleta de informações na Comunidade
Quilombola de Queimadas, localizada no Município de Serro, Minas Gerais.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 773

3 METODOLOGIA

Foi realizada extensa pesquisa teórica sobre o tema, além da pesquisa a documentos técnicos
que envolvem os mais recentes procedimentos de licenciamentos ambientais a empresas de mineração
com atuação na região do Vale do Jequitinhonha, os quais terão o condão de afetar diretamente as
comunidades quilombolas tradicionais da região. Fez-se também detalhada pesquisa de campo na
Comunidade Quilombola de Queimadas, localizada no Município de Serro, a qual será,
potencialmente, uma das mais afetadas pela atividade mineradora. Ainda, realizou-se análise de
aspectos geográficos, políticos e jurídicos que caracterizam a realidade no entorno regional do Vale
do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Afigura-se de importância central neste trabalho a discussão acerca do licenciamento


ambiental destinado às mineradoras, bem como seu impacto às comunidades tradicionais
quilombolas, sobretudo considerando-se a inoperância prática do direito à consulta, a despeito de seu
caráter imperativo, na qualidade de norma, para os procedimentos de concessão do licenciamento
ambiental. Por conseguinte, demonstrou-se a importância de que é dotada a titulação de terras, emitida
pelo INCRA, destinada às comunidades quilombolas, direito que produz, como um de seus efeitos, a
possibilidade de impedir a instalação de mineradoras em território quilombola.
Por fim, sob ótica diversa, discutiu-se de que forma o Projeto de Extensão da PUC Minas /
Serro pode auxiliar na proteção aos direitos quilombolas citados. O Projeto Quilombo Vivo: Apoio e
Fortalecimento dos Quilombolas do Serro – MG, se dá em parceria com o CEDEFES, competindo à
PUC Minas, por meio da extensão, prestar apoio jurídico às comunidades, seja nos processos de
certificação quilombola, requerimento de titulação territorial, como também assessoria jurídica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O advento, em solo brasileiro, da ordem constitucional de 1988 possibilitou aos remanescentes


quilombolas a aquisição de direitos que, por tanto tempo, foram-lhes negados. Contudo, a
aplicabilidade e alcance destes se mostram, ainda, significativamente distantes da realidade. Nesse
EXTENSÃO PUC MINAS:
774 Novo Humanismo, novas perspectivas

sentido, este estudo buscou evidenciar tanto a inoperância na consolidação, propriamente dita, desses
direitos, como a busca de um mecanismo que possa assegurar-lhes maior efetividade, sendo este, a
titulação de terras.
Entretanto, as titulações de terra se mostram bastante morosas, Minas Gerais, por exemplo,
ainda não registra nenhuma titulação de terras quilombolas. Em contrapartida, enormes
empreendimentos minerários se apresentam em operação no solo mineiro, obtendo licenças
ambientais ao avesso das prescrições normativas e subjugando, novamente, classes com inegável
histórico de marginalização no Brasil.

Palavras-chave: Comunidades tradicionais. Quilombo. INCRA. Povos quilombolas.


Keywords: Traditional communities. Quilombo. INCRA. Quilombolas peoples.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terras tradicionalmente ocupadas – processos de


territorialização e movimentos sociais. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 6,
n. 1. 2004. p. 9-32. Disponível em: https://doi.org/10.22296/2317-1529.2004v6n1p9. Acesso em:
14, jun. 2022.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da
República, 2022. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14, jun. 2022.
BRASIL. Instrução Normativa n.º 01, de 25 de março de 2015. Estabelece procedimentos
administrativos a serem observados pela Fundação Cultural Palmares nos processos de
licenciamento ambiental dos quais participe. Brasília: Diário Oficial da União, 2015. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm. Acesso em: 14
jun. 2022.
BRASIL. Lei n° 10.088, de 05 de novembro de 2019. Consolida atos normativos editados pelo
Poder Executivo Federal que dispõem sobre a promulgação de convenções e recomendações da
Organização Internacional do Trabalho - OIT ratificadas pela República Federativa do Brasil.
Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 05 nov. 2019. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D10088.htm#art5. Acesso
em:14 jun. 2022
BRASIL. Portaria Interministerial n.º 60, de 24 de março de 2015. Estabelece procedimentos
administrativos que disciplinam a atuação dos órgãos e entidades da administração pública federal
em processos de licenciamento ambiental de competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Brasília: Diário Oficial da União, 2015.
Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/INSTRUCAO_NORMATIVA_001_DE_25_DE_MA
RCO_DE_2015.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 775

CEDEFES: Cidadania Quilombola: resistência e preservação de quilombos do Estado de Minas


Gerais. Belo Horizonte: CEDEFES, mar. 2020.
CEDEFES: Comunidades quilombolas de Minas Gerais no século XXI: história e resistência.
Belo Horizonte: Autêntica/CEDEFES, 2008.
CEDEFES. O Direito à consulta livre, prévia, informada e de boa fé. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2021.
CEDEFES. Vida no Quilombo: um estudo sobre as comunidades quilombolas do Alto Vale do Rio
Doce em Minas Gerais. Belo Horizonte.
DUPRAT, Deborah. A Convenção 169 da OIT e o direito à consulta prévia, livre e informada.
Revista Culturas Jurídicas, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1. 2014. p. 51-72. Disponível em:
https://doi.org/10.22409/rcj.v1i1.54. Acesso em: 14 jun. 2022.
GOMES, Lilian Cristina Bernardo. JUSTIÇA SEJA FEITA: direito quilombola ao território.
2009. Tese (Pós Graduação em Ciência Política) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2009. Disponível em: http://ppgcp.fafich.ufmg.br/defesas/226D.PDF. Acesso em: 14
jun. 2022.
LEITE, Matheus de Mendonça Gonçalves. Territórios quilombolas e mineração: reflexões críticas
sobre o direito à consulta e o consentimento prévio das comunidades quilombolas nos processos de
licenciamento ambiental. Revista de Direito da Cidade, v. 10, n. 4. p. 2106-2142. 2018.
Disponível em: https://doi.org/10.12957/rdc.2018.30093. Acesso em: 14, jun. 2022.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Direitos dos Povos e
Comunidades Tradicionais. Belo Horizonte: MPMG.
EXTENSÃO PUC MINAS:
776 Novo Humanismo, novas perspectivas

O uso das tecnologias nas atividades de Extensão Universitária com população


vulnerável na pandemia: os vídeos do Projeto Vínculos

The use of technologies in University Extension activities with a vulnerable


population in the pandemic: the videos of Project Vínculos

Isabela Oliveira da Silva1


Sarah Sales Montoia2
Camilla Marcondes Massaro3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta a solução encontrada pela equipe do Projeto Vínculos – projeto
de extensão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), derivada da
permanência da pandemia durante o ano de 2021. Neste período, o projeto atuou em parceria com o
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Jardim Novo Ângulo, em Hortolândia/SP, sendo
o público-alvo composto por familiares de pessoas privadas de liberdade. Ao longo do ano de 2021,
foram 12 famílias representadas por mulheres – esposas ou mães de pessoas privadas de liberdade –
em contato permanente e direto com a equipe do Projeto Vínculos através de um grupo montado em
um aplicativo de mensagens instantâneas de celular.
Essas famílias, assim como a maioria dos reclusos, pertencem aos extratos sociais mais
depauperados da sociedade de modo que a privação de liberdade de um familiar pode trazer graves
problemas econômicos, sociais e individuais, ainda secundários no conhecimento geral.
Devido à situação de vulnerabilidade, os participantes do Projeto Vínculos, em 2021, não
possuíam condições mínimas para participar de atividades extensionistas remotas síncronas em
plataformas virtuais.

1
Estudante de Graduação em Ciências Sociais da PUC-Campinas. Bolsista de Extensão (BEX) do Projeto Vínculos. E-
mail: isabela.os@puccampinas.edu.br.
2
Estudante de Graduação em Ciências Sociais da PUC-Campinas. Bolsista de Extensão (BEX) do Projeto Vínculos. E-
mail: sarah.sm1@puccampinas.edu.br.
3
Doutora em Ciências Sociais/Docente Extensionista da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas. PUC-Campinas. E-mail: camilla.massaro@puc-campinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 777

Buscando manter o contato com essas as famílias, junto à coordenação do CRAS parceiro, a
equipe interdisciplinar do Projeto Vínculos formada por 20 alunos voluntários de graduação de seis
faculdades da PUC-Campinas e a coordenação do projeto vislumbraram a produção de vídeos curtos,
estruturados pelos conhecimentos acadêmicos das áreas de formação dos alunos, trabalhando as
temáticas emergentes do público-alvo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Brasil é o terceiro país em população prisional no mundo. Segundo o Departamento


Penitenciário Nacional (DEPEN, 2022), em dezembro de 2021 o país possuía 670.714 pessoas
encarceradas no sistema prisional e 156.066 em prisão domiciliar, totalizando 826.780, das quais
24,56% no estado de São Paulo. Considerando os objetivos sociais do encarceramento no Brasil, é
notório que a sua rápida expansão não é acompanhada pela adequação da estrutura dos sistemas
prisionais estaduais, contribuindo para que além do desrespeito aos direitos humanos fundamentais
aconteçam inúmeras violações às condições mínimas de tratamento aos reclusos (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 1957) ratificadas pelo governo brasileiro (BRASIL, 1994).
Em relação ao perfil, a população prisional brasileira é majoritariamente masculina, negra,
jovem, com a escolarização incompleta e pertencente aos extratos sociais mais pobres (DEPEN,
2022). Como nos mostram Duarte (2009), Silvestre (2012), Godoi (2017) e Lago (2017, 2019, 2020)
entre outros, e também conforme observado no Projeto Vínculos, o pertencimento às camadas sociais
mais empobrecidas, bem como o preconceito social sobre as prisões é agravado pelo julgamento que
a sociedade faz não somente sobre essa população, mas também aos seus familiares, colocados em
situações de grande vulnerabilidade, além das dificuldades na convivência comunitária acentuadas
no contexto pandêmico.
Nesse sentido, é possível compreender que ao contrário de minimizar a violência, o
encarceramento em massa pode acarretar enormes prejuízos – tanto individuais quanto sociais – as
vezes maiores que o dano causado durante o ato criminoso.

3 METODOLOGIA

Devido à pandemia, o contato direto com o público-alvo ao longo de 2021 foi


majoritariamente realizado via grupo de mensagens do qual faziam parte 12 famílias participantes do
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projeto e as coordenadoras do CRAS Jd. Novo Ângulo e do Projeto Vínculos e que serviu para
conversas das quais vinham as demandas por informações e temas a partir dos quais os vídeos curtos
eram pensados com periodicidade semanal.
Para a elaboração dos vídeos, as alunas ficaram responsáveis pela pesquisa sobre a temática
pertinente à sua área de estudo – por curso – seguida da elaboração de roteiros escritos que, aprovados
pela coordenadora do projeto, eram gravados em home office pelo celular e enviados aos alunos do
curso de Relações Públicas para edição em aplicativos de computador e smartphone nos quais é
possível fazer cortes, inserir vinheta e legendas.
Depois de finalizados, os vídeos eram enviados às famílias via grupo de aplicativo de
mensagens em primeira mão, seguidos de descrições com telefones e endereços úteis relativos a cada
tema e posteriormente publicados no canal do YouTube do Projeto Vínculos4. Alguns vídeos também
foram publicados em páginas do Instagram e Facebook5 do projeto.
Foram produzidos 31 vídeos entre maio e dezembro de 2021 abordando os seguintes temas:
Direito: O que é e quando buscar a Defensoria Pública; quais são os direitos das pessoas
privadas de liberdade e seus familiares; quais as primeiras providências a tomar quando um familiar
for detido; O que é e quem tem direito à saída temporária; o que é o Juizado Especial Criminal; o que
é o Centro Judiciário de Solução de Conflito e Cidadania; O Estatuto da Criança e do Adolescente e
a Delegacia da Infância e Juventude.
Psicologia: Saúde mental; A importância de buscar apoio emocional; A importância do
pertencimento a grupos; O sentimento de culpa que os familiares carregam; A importância do serviço
de acolhimento em saúde mental; A importância do acolhimento psicológico oferecido pelo projeto;
as dificuldades do retorno às visitas presenciais no sistema prisional; as implicações da distância
causada pela privação de liberdade na saúde mental; a volta do ente que estava privado de liberdade
ao lar.
Serviço Social: O que é o CRAS; O que é o CREAS (Centro de Referência Especializado de
Assistência Social); O que é o auxílio reclusão; Os direitos dos adolescentes em conflito com a lei;
Quais são as medidas socioeducativas; Quais são os direitos das crianças e adolescentes com
familiares reclusos; A importância de ter o (Cadastro de Pessoa Física) CPF regularizado; O que é e
como acessar o Cadastro Único; A importância do direito à visita para quem está privado de liberdade.

4
O canal está disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCHxQGaPuvnGqLVoEr2jJ0lg/videos.
5
As páginas estão disponíveis respectivamente em: https://www.instagram.com/proj.vinculos/ e
https://www.facebook.com/proj.vinculos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 779

Pedagogia: Como lidar com as crianças que tenham algum familiar recluso; Apoio
pedagógico na decisão de contar às crianças que um familiar está privado de liberdade.
Também tivemos duas produções interdisciplinares: O que é e como solicitar a reabilitação
criminal, feito por alunas do Serviço Social e do Direito; e Justiça Restaurativa, elaborado por alunas
dos cursos de Direito e Psicologia.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A partir de conversas com a equipe do CRAS e com algumas mulheres atendidas, percebemos
que, nas famílias participantes do projeto, os conteúdos dos vídeos produzidos impactaram em dois
sentidos importantes: o acesso a informações a respeito de direitos básicos, como o que é o CRAS, o
CREAS, a Defensoria Pública, como regularizar o CPF, entre outros exemplos contribuindo para que
nosso público-alvo pudesse entender melhor a função de cada um desses órgãos e os caminhos para
acessá-los; o segundo impacto foi na abertura de espaço para discussões a respeito de temas e
situações específicas de suas condições de familiares de pessoas privadas de liberdade que
contribuíram para tanto para a escuta sobre seus anseios e desafios quanto para o reconhecimento
dessa situação enquanto um problema social, minimizando, mesmo que ainda de forma incipiente, o
sentimento de culpa e reponsabilidade individual.
O vídeo sobre o sentimento de culpa,6 produzido pelas alunas do curso de Psicologia e enviado
ao grupo de famílias participantes do projeto em 23/07/2021, foi a produção que suscitou a maior
interação no grupo. A partir dele, as mulheres passaram a relatar como viviam esse sentimento
alimentado não só por seus próprios valores, mas principalmente pela carga de responsabilidade que
parte da família e a sociedade impõem sobre elas, sejam mães ou esposas de alguém privado de
liberdade. O vídeo também produzido pelas alunas do curso de Psicologia enviado no dia 01/10/2021,
que abordou a multiplicidade de sentimentos que podem ser despertados no reencontro com os
familiares privados de liberdade, após a retomada as visitas presenciais no sistema prisional, também
resultou em bastante participação por parte das mulheres que faziam parte do grupo7.
Ao longo de 2021, as famílias participantes do Projeto Vínculos também encaminharam os
vídeos produzidos a outras pessoas para as quais as informações ali apresentadas pudessem ajudar,
ampliando a potencialidade do alcance.

6
O vídeo com o tema “culpa” está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wo4-JU26maE&t=13s.
7
O vídeo com o tema “volta da visita presencial” está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bgHR95-
FHjc&t=6s.
EXTENSÃO PUC MINAS:
780 Novo Humanismo, novas perspectivas

O canal no YouTube foi aberto com o objetivo de facilitar o acesso aos vídeos. Até o momento
de envio deste trabalho, o vídeo com maior número de visualizações, foi “Medidas socioeducativas”,
com 80, seguido do “Auxílio Reclusão”, com 49 e do “Adolescentes em conflito com a lei”, com 34,
todos relacionados ao Serviço Social. No Instagram, o vídeo com mais interações foi o “Você sabe o
que é o CRAS?” com 127 reproduções, 26 curtidas e 6 comentários.

Figura 1 - Vídeos produzidos pelo Projeto Vínculos em 2021.

Fonte: YouTube. Elaboração própria.

Apesar de não terem tido a oportunidade de estarem em nenhuma atividade presencial, os


alunos voluntários participaram ativamente do desenvolvimento do projeto, com bastante dedicação,
seriedade, comprometimento e sensibilidade acerca da complexidade da temática. Os elementos por
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 781

eles trazidos na autoavaliação individual realizada no encerramento das atividades daquele ano
demonstram que tiveram experiências muito ricas no diálogo com os conhecimentos específicos
mobilizados a partir de cada curso que integrou o projeto, para a elaboração e produção de todos os
vídeos.
Assim, é possível afirmar que a participação dos alunos no desenvolvimento das atividades e
ações propostas para o desenvolvimento do projeto, no ano de 2021, cumpriram de forma bastante
satisfatória os objetivos delineados contribuindo para a sua formação integral, possibilitando o
desenvolvimento da habilidade do trabalho em equipe multidisciplinar, do comprometimento e
seriedade em relação às atribuições a eles feitas, o amadurecimento humano, pessoal e profissional,
articulando teoria e prática a partir dos princípios dos Direitos Humanos no trato de uma temática tão
complexa e sensível da nossa sociedade, desconhecida para a maioria dos participantes no início do
projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em 2021, a pandemia, atrelada à condição de vulnerabilidade do público-alvo, trouxe grandes


desafios para o desenvolvimento do Projeto Vínculos. Todavia, tal situação não foi impeditivo para
que uma equipe multidisciplinar de 20 alunos voluntários de graduação usasse a criatividade para a
manutenção do contato com as participantes. Para tanto, a tecnologia foi essencial para ampliação
do alcance, através das mídias sociais, orientando não somente o público-alvo, mas, a comunidade
em geral. Os vídeos cumpriram importante papel na criação de vínculos, em contexto de
distanciamento social, representando acolhimento a um público vulnerável cuja situação foi agravada
pela pandemia, aumentando a necessidade de apoio assistencial, jurídico, psicológico e pedagógico
possibilitado, em partes, pelo Projeto Vínculos.
Para os alunos participantes, as atividades trouxeram crescimento pessoal e necessidade de
mobilização de diversas habilidades e conhecimentos para efetivação do projeto, contribuindo
também para a formação acadêmica e profissional.

Palavras-chave: Sistema prisional. Direitos Humanos. Familiares de pessoas privadas de liberdade.


Keywords: Prison system. Human rights. Relatives of persons deprived of their liberty.
EXTENSÃO PUC MINAS:
782 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

BRASIL. Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil. 1994.


DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias. Junho a dezembro de 2021. Disponível em: https://www.gov.br/depen/pt-
br/servicos/sisdepen. Acesso em 22 jun. 2022.
DUARTE. Thais Lemos Duarte. Além das grades: análise dos relatos sobre o sistema penitenciário
segundo os familiares de presos. Anais do 33º Encontro Anual da ANPOCS, GT08 – Crime,
Violência e Punição. Disponível em: https://www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/33-
encontro-anual-da-anpocs/gt-28/gt08-24. Acesso em: 22 dez. 2020.
GODOI, Rafael. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos. São Paulo:
Boitempo, 2017.
LAGO, Natália Bouças do. Dias e noites em Tamara – prisões e tensões de gênero em conversas
com “mulheres de preso”. Cad. Pagu, Campinas, n. 55, e195506, 2019. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
83332019000100306&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 dez. 2020.
LAGO, Natália Bouças do. Mulher de preso nunca está sozinha: gênero e violência nas visitas à
prisão. ARACÊ – Direitos Humanos em Revista. Ano 4. Número 5. Fev.ereiro de 2017.
Disponível em: https://arace.emnuvens.com.br/arace/article/view/132. Acesso em: 22 dez. 2020.
LAGO, Natália Bouças do. Na ‘linha de frente’: Atuação política e solidariedade entre ‘familiares
de presos’ em meio à COVID-19. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social,
Reflexões na Pandemia (seção excepcional), 2020. Disponível em:
https://www.reflexpandemia.org/texto-80. Acesso em 22 dez. 2020.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Regras Mínimas de Padrão para o
Tratamento de Reclusos. 1957.
SILVESTRE, Giane. Dias de visita. Uma sociologia da punição e das prisões. São Paulo: Alameda,
2012.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 783

“PSICONUTRI”: grupo educativo para mulheres com fibromialgia

“PSICONUTRI”: educational group for women with fibromyalgia

Livia Aparecida de Figueiredo Pinheiro1


Luziane de Fátima Kirchner2
Daniela Oliveira de Araújo3
Monyke Rayane Bragante Oliveira4
Paula Alessandra da Silva5

INTRODUÇÃO

As ações de extensão universitária articulam a universidade e a sociedade por meio de


atividades que respondam às necessidades sociais de uma dada comunidade, de maneira a
universalizar e democratizar os conhecimentos e as pesquisas desenvolvidos dentro dos muros da
academia. Na mesma medida, tal conhecimento avança no contato com a prática, promovendo uma
reflexão crítica da realidade, ao mesmo tempo em que ajuda a construir saberes reais mais alinhados
às necessidades da comunidade (FORPROEX, 2012). Sob o aspecto do impacto na vida do acadêmico
e a indissociabilidade da extensão, tais ações possibilitam a interação e o desenvolvimento do ensino
e da pesquisa em um processo ativo de formação, possibilitando ao estudante o contato com o meio,
além de uma visão crítica e ética de sua profissão que o capacite a ser um agente de transformação
social (FORPROEX, 2012).
O projeto de extensão guia-se sob o viés das intervenções interdisciplinares, alinhado com as
diretrizes da Extensão Universitária (FORPROEX, 2012), o que possibilita aos envolvidos uma visão
holística e mais completa sobre o usuário do serviço e os processos vivenciados na prática social. A
formação de grupos educativos, por exemplo, objetiva um cuidado mais amplo aos usuários dos

1
Acadêmica do curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:
ra179439@ucdb.br.
2
Psicóloga. Doutora em Psicologia. Docente na UCDB, Campo Grande -MS. E-mail: luzianefk@ucdb.br.
3
Acadêmica do curso de graduação em Nutrição da UCDB. E-mail: ra167247@ucdb.br.
4
Acadêmica do curso de graduação em Nutrição da UCDB. E-mail: ra189576@ucdb.br.
5
Nutricionista. Mestre em Biotecnologia. Docente na UCDB. E-mail: rf4553@ucdb.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
784 Novo Humanismo, novas perspectivas

serviços e contribuem para a troca de saberes, aprendizados e para o fortalecimento de vínculos


sociais entre os usuários e os serviços, especialmente quando são formados por equipes
multiprofissionais (AGUIAR; LENZ, [s./a.]).
O projeto de extensão descrito neste trabalho se refere ao atendimento interdisciplinar,
envolvendo as áreas de Nutrição e Psicologia, para pessoas com diagnóstico de fibromialgia. Trata-
se de uma condição crônica, que acomete majoritariamente o sexo feminino e é caracterizada pela
presença de dor musculoesquelética difusa e generalizada, apresentando também distúrbios do sono,
alterações de cognição e fadiga além de uma frequência elevada de sintomas psicológicos, como a
ansiedade e a depressão (HEYMANN et al., 2017). Diante desse cenário, os tratamentos dedicados
aos pacientes com fibromialgia têm sido direcionados para o restabelecimento da funcionalidade do
paciente e da melhora de sua qualidade de vida (CORRÊA et al., 2021).
Uma das vertentes do tratamento da fibromialgia é a mudança dos hábitos alimentares, já que
alguns alimentos podem interferir negativamente nas vias metabólicas e neurais relacionadas à
fibromialgia e, de outra sorte, podem ser positivos para um aumento na qualidade de vida dos
pacientes e redução da sintomatologia (BATISTA et al., 2016). Para trabalhar temas relacionados à
educação em hábitos nutricionais, grupos interdisciplinares de Educação em Saúde podem ser
indicados por servirem ao propósito de prevenção e promoção à saúde (AGUIAR; LENZ, [s./a.]),
além de munir os participantes com informações que possibilitam ampliação do repertório de
possibilidades comportamentais para lidar com questões relacionadas ao autocuidado alimentar e à
qualidade de vida (FRANÇA et al., 2012).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A dor crônica é uma das principais causas de procura por atendimento nos sistemas de saúde
e afeta a vida daqueles que com ela sofrem nos mais diversos aspectos, seja ele físico, emocional,
social e econômico, o que evidencia a necessidade de um tratamento integral e multidisciplinar, para
além de apenas intervenções medicamentosas (MIYAZAKI et al., 2021). Tendo em vista que o
processo de saúde-doença é multifatorial, determinado por fatores biológicos, psicológicos e sociais,
trabalhos que demandam a expertise de várias áreas do conhecimento permitem que estes sejam
interligados, promovendo a construção de cuidados ampliados e integrais acerca das práticas em
saúde (SILVA; SANTOS, 2006).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 785

Intervenções em grupo possuem uma grande efetividade por democratizar o acesso à saúde,
por atingirem um maior número de pessoas e por possuírem um menor custo envolvido,
especialmente quando confrontado com intervenções individualizadas. Sendo assim, o trabalho
interdisciplinar em grupos educativos amplia o repertório de possibilidades para a adoção de práticas
de saúde e mudança de hábitos de vida (FRANÇA et al., 2012).

3 METODOLOGIA

O presente estudo tem caráter extensionista e foi desenvolvido pelos cursos de Nutrição e
Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, para pacientes com fibromialgia. Foram
selecionadas sete participantes do sexo feminino, na faixa etária entre 31 e 61 anos, sendo um dos
critérios de seleção o Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a vinte e cinco, quando o sujeito
passa a ser considerado acima do peso.
O projeto teve início em março de 2022 e o encerramento ocorreu em 23 de junho de 2022,
totalizando oito encontros semanais em grupo, cada um com duração de 90 minutos. A intervenção
foi nomeada ‘PsicoNutri’ e estavam envolvidos na equipe uma psicóloga, uma nutricionista, dois
alunos do curso de Psicologia e quatro alunos do curso de Nutrição da referida instituição. Foram
trabalhados tanto temas de educação em bons hábitos alimentares, como a retirada do glúten e da
lactose, importante para quem sofre com a fibromialgia, a necessidade da hidratação, o
compartilhamento de receitas sem glúten, bem como orientações relacionadas aos hábitos alimentares
de cada participante, conforme se verificava a necessidade nas sessões.
A Psicologia realizava intervenções a partir da identificação das variáveis da vida das
participantes relacionadas as dificuldades para manter os cuidados alimentares (sobretudo aspectos
emocionais que tendem a ser estabelecidos como causas para a alimentação inadequada) e orientava
estratégias para o manejo do autocontrole alimentar, engajamento e cuidados pessoais. Foram
também realizadas algumas práticas de mindfulness (atenção plena), o mindful eating (comer com
atenção plena), para auxiliar as participantes a focarem a atenção ao ato de comer, saboreando os
alimentos e estando presentes para seus sentimentos e pensamentos, evitando assim o comer por
impulso.
Durante os encontros, também foram utilizados formulários para preenchimento das
participantes, levando-as a identificarem as contingências que contribuíam para a manutenção de
EXTENSÃO PUC MINAS:
786 Novo Humanismo, novas perspectivas

comportamentos problemas relacionados aos cuidados pessoais e com a alimentação. Além disso, tal
estratégia visou possibilitar o compartilhamento de experiências pessoais e estimular reflexões
importantes para a construção de novos repertórios comportamentais nas participantes.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Este trabalho teve como objetivo descrever a experiência de uma intervenção multidisciplinar
(Psicologia e Nutrição) e os efeitos observados à saúde e qualidade de vida para as sete mulheres com
fibromialgia participantes do estudo. Verificou-se que a exaustão causada pelo convívio diário com
a dor se mostrou o aspecto mais desafiador apresentado pelas participantes e o que mais as afetava e
impedia de realizar as tarefas diárias, fazendo com que abandonassem até os mais simples hábitos de
autocuidado pelo fato de se dedicarem inteiramente à dor. O desamparo relacionado à persistência da
doença foi identificado pelas participantes como um processo que se refletia de modo prejudicial nas
suas relações sociais, familiares e até médicas, fazendo com que elas se afastassem do convívio social
e se tornassem cada vez mais reclusas em função da dor. Também se verificou, por meio da
verbalização das participantes nas sessões, a tentativa de evitar sensações, pensamentos e emoções
desagradáveis, na esperança de encontrar maneiras que pudessem levar à cessação da dor e do
sofrimento.
As diversas orientações nutricionais somadas à identificação dos comportamentos que atuam
na manutenção dos hábitos alimentares inadequados, promoveram a ampliação do conhecimento das
participantes a respeito dos alimentos, de modo que elas passaram a experimentar novas receitas e a
identificar efeitos positivos na sua condição de saúde (DALEN et al., 2010). A Psicologia foi uma
grande aliada para o resgate do cuidado pessoal, que, por vezes, foi esquecido em função da dor.
Ao final do grupo, as participantes relataram que o grupo PsicoNutri contribuiu para a melhora
da condição de geral de saúde e para o resgate do autocuidado, à medida que receberam novas
informações e vivenciaram o acolhimento por parte dos alunos e profissionais envolvidos, bem como
das outras participantes do grupo. A convivência em grupo proporciona uma experiência de grande
valor terapêutico, pois pode ajudar os participantes a quebrarem as barreiras criadas por sentimentos
de solidão e isolamento, considerando que os membros deste grupo podem estar vivenciando os
mesmos problemas e desafios (COSTA, 2004).
Além disso, as relações entre os membros dos grupos, quando há o compartilhamento de
problemas similares, podem ser fortalecidas e as mudanças de comportamento individuais passam a
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 787

ter valor não somente para quem as experimenta como também para todos os envolvidos no grupo
(MARANGONI; FERREIRA, 2018). Tal efeito foi observado entre as participantes, ao descreverem
a satisfação em observar os progressos de cada uma das participantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste projeto de extensão, destacou-se a importância do trabalho multidisciplinar para a


promoção do autocuidado e hábitos alimentares saudáveis direcionado a mulheres com fibromialgia.
No decurso do projeto, foi notória a boa adesão das pacientes em comparecerem às sessões, bem
como se verificou, por meio dos relatos, que as participantes empreenderam algumas modificações
na relação com a comida e no autocuidado, e identificaram efeitos positivos na sua condição de saúde
e bem-estar ao participarem da intervenção.

Palavras-chave: Fibromialgia. Hábitos alimentares. Grupos educativos.


Keywords: Fibromyalgia. Eating habits. Educational groups.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Fabiana Flores; LENZ, Maria Lúcia. (s/d). A Participação do Psicólogo em Grupos de
Orientação para Dieta Saudável. Relatório não publicado disponível com os autores.
BATISTA, Emmanuelle Dias; et al. Avaliação da ingestão alimentar e qualidade de vida de
mulheres com fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia, vol. 56, 2, p. 105-110. São
Paulo, SP, mar 2016.
CORRÊA, Izabela Deckne et al. Contribuições da terapia de aceitação e compromisso para adultos
com fibromialgia. In: KIRCHNER, Luziane de Fátima; SOUZA, Pablo Cardoso; KANAMOTA,
Priscila Ferreira de Carvalho (Org.). Diálogos em análise do comportamento: volume II. Brasília:
Instituto Walden4, 2021. p. 79-82.
COSTA, Kemle Semerene; MUNARI Denise Buttelet. O grupo de controle de peso no processo de
educação em saúde. Revista Enfermagem UERJ, 2004; vol. 12, p. 54-59.
DALEN, Jeanne et al. Pilot study: mindful eating and living (MEAL): weight, eating behavior, and
psychological outcomes associated with a mindfulness-based intervention for people with obesity.
Complement Ther in Me, 2010, v.18, n.6, p. 260-4.
FORPROEX - Fórum de Pró-Reitores De Extensão Das Instituições De Educação Superior Públicas
Brasileiras. Plano Nacional De Extensão Universitária. Política Nacional de Extensão
Universitária. 2012. Disponível em http://www.renex.org.br/documentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
788 Novo Humanismo, novas perspectivas

HEYMANN, Roberto E. et al. Novas diretrizes para o diagnóstico da fibromialgia. Revista


Brasileira de Reumatologia, 2017, vol. 57, S2, p. 467-476
MARANGONI, C.; FERREIRA, V. R. T. Interação terapêutica e comportamento verbal em uma
compreensão analítico-comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, [s. l.], v. 20, n. 1, p. 59–71, 2018. DOI: 10.31505/rbtcc. v20i1.1137. Disponível em:
https://rbtcc.webhostusp.sti.usp.br/index.php/RBTCC/article/view/1137. Acesso em: 6 out. 2022.
MIYAZAKI, Eduardo Santos; et al., Terapia de aceitação e compromisso para dor crônica.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA, GORAYEB, Renata; MIYAZAKI, Eduardo
Santos; TEODORO, M. (orgs). PROPSICO Programa de Atualização em Psicologia Clínica e
da Saúde. Porto Alegre: Artmed Panamericana, v. 1, ciclo 5, 2021, p. 93-130.
SILVA, Luciana Maria; SANTOS, Manoel Antônio. Construindo pontes: relato de experiência de
uma equipe multidisciplinar em transtornos alimentares. Medicina (Ribeirão Preto), [S.I.], vol. 39,
n. 3, p. 415-424, 2006. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/398. Acesso
em: 14 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 789

Ações extensionistas com pessoas em situação de rua e o impacto que pode ser
gerado na vida profissional dos acadêmicos de Medicina

Extension actions with homeless people and the impact that can be generated in
the professional life of medical students

Isadora Dourado Martins1


Valeska Guimarães Rezende da Cunha2

INTRODUÇÃO

O Projeto de Extensão Street Store Amigos do Igor Lombardi Penhalver, legitimado pela
Universidade de Uberaba (UNIUBE) e executado por acadêmicos dos cursos da Área da Saúde
(Psicologia, Enfermagem e Medicina), tem por atividade principal a confecção de uma loja de rua,
na qual as pessoas em situação de marginalização podem adquirir roupas e produtos, sem qualquer
custo, de acordo com suas preferências. Além disso, recebem orientações de saúde e acolhimento
diante de suas demandas pessoais.
A partir dos questionamentos: a interação por um dia das pessoas em situação de rua com os
alunos extensionistas pode trazer algum benefício para elas? O trabalho com pessoas em situação de
rua pode trazer algum impacto na vida profissional dos acadêmicos de medicina integrantes do
projeto? E ações voluntárias direcionadas à população de rua podem colaborar para o prolongamento
do seu tempo de permanência nas ruas? Pretende-se refletir sobre a contribuição desse projeto na
formação acadêmica, profissional e humana dos acadêmicos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Vovchenco e Silveira (2019, p. 1657), “toda atitude profissional deve ser pautada
em sensibilidade, para acolher e compreender demandas, assim como deve demonstrar um respeito

1
Acadêmica de Medicina da Universidade de Uberaba (UNIUBE). E-mail: isa.dourado.mart@hotmail.com.
2
Doutora em Educação e Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia; Especialista em Educação a
Distância pela Universidade Católica de Brasília; em Metodologia do Ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira pela
Faculdade São Luís e em Educação pela Faculdade Claretianas. Graduada em Tecnologia em Processamento de Dados e
Licenciada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba. Professor titular. E-mail: valeska.guimaraes@uniube.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
790 Novo Humanismo, novas perspectivas

autêntico à vivência da rua, tendo em mente que ela é uma das produções sociais de vida do nosso
país, sendo essa uma população tão legítima quanto as outras.” Diante disso, os acadêmicos de
Medicina são levados a viver uma experiência muito diferente das que encontram dentro das
enfermarias e ambulatórios, pois são colocados em situações de extrema delicadeza, considerando
que entram em contato com demandas específicas da população de rua, que já é fortemente
sensibilizada pelas dificuldades que os levaram a se instalarem nas ruas.
O trabalho com essa população se reflete em resultados positivos para ambas as partes, tanto
para os estudantes quanto para os moradores de rua, pois com base no Guia de Atuação Ministerial
(2015, p. 33), incentivar ações educativas que contribuam para a formação de cultura de respeito,
ética e solidariedade entre as pessoas em situação de rua e os demais grupos sociais, preservam o
cumprimento dos direitos humanos.

3 METODOLOGIA

A prática extensionista do Projeto Street Store Amigos do Igor Lombardi Penhalver, conta
com a elaboração de uma loja de rua uma vez por semestre. Nesta loja, são expostos roupas adultas e
infantis, calçados, roupas de cama, mesa e banho, acessórios e produtos de higiene. Além disso, outras
atividades compõem o dia do Street, como instruções de saúde (aferição de pressão arterial e medida
de glicemia), orientação psicológica e apresentações musicais. Para a estruturação da loja de rua,
durante o semestre, os membros do projeto realizam campanhas de arrecadação dos donativos, por
meio da divulgação em mídias sociais e criação de pontos de coleta, como farmácias, escolas,
condomínios e supermercados, onde as pessoas depositam as doações.
Vale salientar que não há uma moeda de troca para a realização das compras na loja de rua,
tendo em vista que o propósito dessa atividade é restaurar o poder de escolha e evidenciar as
preferências daqueles que, devido à marginalização, vivem às custas “das sobras” da sociedade.
Sendo assim, acredita-se que a execução da compra, por mais simples que pareça, promove o resgate
da dignidade destes indivíduos.
Além disso, o Street Store conta com momentos de acolhimento e compartilhamento de
vivências e experiências, de modo que os extensionistas se colocam à escuta das pessoas em situação
de rua. Esse determinado exercício, capacita os acadêmicos a desenvolverem a habilidade de
compreender outras realidades e formar uma concepção do outro sem realizar pré-julgamentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 791

Antes da realização de tal evento, os acadêmicos recebem uma preparação, por meio da
participação de reuniões e debates online a respeito da situação dos moradores de rua em diversos
aspectos, como o tempo de permanência nas ruas, suas formas de trabalho e geração de renda, o uso
de serviços de saúde, abuso de álcool e outras drogas, entre outros temas. Tais encontros contam com
o objetivo de adentrar, mesmo que minimamente, em suas realidades e compreender de que forma
eles podem ser alcançados através do trabalho do projeto.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Diante da concepção de que a relação profissional-pessoa deve ser pensada sobre bases
epistemológicas sólidas, no sentido de se construir uma relação terapêutica e benéfica para ambas as
partes envolvidas (BRANCO et al, 2019), participar do Projeto Amigos do Igor é um convite a
renunciar seus interesses individuais e evidenciar as necessidades do outro, colocando-o como o
principal objeto de atenção e acolhimento.
Com base nos relatos de experiência dos acadêmicos de Medicina envolvidos nas atividades
propostas pelo projeto, tem-se que é desenvolvida a habilidade de uma escuta mais apurada, atenção
aos gestos e comportamentos e o que eles podem indicar, além da construção do discernimento de
não admitir como verdade toda a informação que lhes é transmitida. Tais experiências são de grande
valia, tendo em vista que uma das primeiras descobertas de Freud sobre o relacionamento entre o
médico e o paciente foi realizada quando ele se deu conta do quanto a natureza desse relacionamento
poderia bloquear ou facilitar o progresso do tratamento (BRANCO et al, 2019). Sendo assim, as
práticas extensionistas realizadas por esse projeto colaboram para a formação de profissionais mais
atentos e cuidadosos com as manifestações clínicas de seus pacientes, além de promover diagnósticos
mais precisos com base na detalhada apuração de informações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À vista do objetivo de argumentar sobre os impactos que o trabalho com pessoas em situação
de rua pode provocar na profissão dos futuros médicos ingressos no projeto, indica-se que a realização
dessas atividades revela grande importância para uma formação médica mais voltada para o contato
humano, compreensão, olhar atento e escuta sem julgamentos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
792 Novo Humanismo, novas perspectivas

Sabe-se que tais elementos se mostram cada vez mais escassos no atual cenário da Medicina,
o que indica uma redução da qualificação dos profissionais da área da saúde. Sendo assim, participar
de atividades extensionistas que promovem a interação com outras realidades diferentes das quais se
está inserido, desperta no acadêmico uma percepção diferente de si e do outro e a construção do
respeito aos diversos modos de vida e manifestações culturais, bem como a compreensão de que todos
devem receber um tratamento digno pautado na equidade e igualdade.

Palavras-chave: Moradores de Rua. Ética médica. Vulnerabilidade Social.


Keywords: Homeless people. Medical ethics. Social Vulnerability.

REFERÊNCIAS

BRANCO, Rita Francis Gonzalez y Rodrigues et al. Grupos Balint. In: GUSSO, Gustavo,
CERATTI, José Mauro Lopes, DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina da família e
comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. p. 668-686.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Guia de Atuação Ministerial: defesa dos
direitos das pessoas em situação de rua. Brasília, DF: CNMP, 2015. Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_Ministerial_CNMP_WEB_2
015.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022.
VOVCHENCO, Erika; SILVEIRA, Mariana Villiger. População em situação de rua. In: GUSSO,
Gustavo, CERATTI, José Mauro Lopes, DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina da família e
comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. p. 1657-1678
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 793

Anestesia para Todos: crescer, confiar, divulgar

Anesthesia for All: to grow, to trust and to share

Amanda Lethicia Lana Noll1


Elisa Maria de Paula Novaes2
Felipe de Brito Fernandes Pinto3
Paula dos Santos Marsico Pereira da Silva4
Pedro Luis Nogueira da Silva5

INTRODUÇÃO

Com a disseminação do coronavírus atingindo o status de pandemia em 2020, as atividades


presenciais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram suspensas, a fim de preservar a
vida e a saúde do corpo docente e discente da instituição, bem como de seus servidores. Assim, houve
a demanda por uma reestruturação da Liga de Anestesiologia (LANES – UFRJ) a fim de adaptar suas
atividades que eram, até então, presenciais.
Desse modo, buscando sempre alcançar o tripé universitário pesquisa-ensino-extensão, as
atividades semanais, presenciais, coordenadas pela Liga, foram substituídas por atividades remotas
(BRASIL, 2020) na ação de extensão “Anestesia para todos: crescer, confiar, divulgar”. Esse novo
modelo contou com atividades ministradas de forma virtual e foi executado em três edições, uma em
2020 e duas em 2021.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A partir do conteúdo teórico pesquisado, destaca-se, como objetivo primário, a adequação ao


ambiente virtual de integração acadêmica (SALLES, 2021), conforme conteúdo referenciado, visto
que as medidas restritivas, como a quarentena, fizeram com que as instituições de ensino buscassem

1
Graduanda do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: amandanlana@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: elisadepaulan@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: felipe.fernans@gmail.com.
4
Professora e orientadora do projeto Anestesia para todos na UFRJ. E-mail: paula.interfm@gmail.com.
5
Graduando do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: pedronogueira321@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
794 Novo Humanismo, novas perspectivas

uma transformação digital (BRASIL, 2020; SALLES, 2021). No entanto, a tecnologia por si só não
garante a construção do conhecimento, sendo necessário adequar às demandas da sociedade, de
maneira empática face ao momento enfrentado, considerando particularidades e buscando atender ao
tripé de ensino, pesquisa e extensão.

3 METODOLOGIA

Para captação de interessados, o projeto foi divulgado nas mídias sociais da Liga de
Anestesiologia da UFRJ (LANES) e também contou com a divulgação pelos alunos da UFRJ e alunos
externos, tendo como público-alvo estudantes da Área da Saúde e sociedade civil interessada. Assim,
foi divulgado um link para inscrição, e os inscritos foram convidados a participar de um grupo de
comunicação. Nesse grupo, semanalmente eram feitas pesquisas de demandas e publicadas
informações para a construção conjunta das próximas atividades, além dos links para as plataformas
em que seriam ministradas.
As aulas do projeto abordavam assuntos relacionados à anestesiologia, tanto no que tange à
carreira como especialista na área, discutindo questões como o passo a passo para se tornar um
anestesiologista e as oportunidades no mercado de trabalho atual, quanto aos conteúdos teóricos
envolvendo a prática anestésica dentro e fora do centro cirúrgico. Essas atividades aconteciam
semanalmente e de maneira síncrona, transmitidas no Youtube e no Facebook, de modo que a cada
aula era abordado um novo assunto por um profissional diferente.
A adesão e a participação dos extensionistas foram monitoradas através de questionários que
eram enviados ao início e ao final de cada atividade. Tanto os pré-testes quanto os pós-testes
apresentavam as mesmas questões sobre o tema abordado nas discussões, o que permitiu uma
comparação e verificação da construção de conhecimento possibilitada pela dinâmica.
Além dos desafios propostos, as ferramentas de avaliação também contemplavam espaço para
transcrição de palavras-chave, as quais eram exibidas durante a execução das atividades na
plataforma. Essa etapa foi essencial para que a presença do extensionista fosse validada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 795

4 RESULTADOS

Em 2020, a edição contou com 90 inscrições válidas, das quais 76 comprovaram participação
em, pelo menos, 75% das atividades, quantidade necessária para obter os certificados. Já na primeira
edição de 2021, visto que teve uma maior divulgação nas mídias sociais do projeto, as inscrições
alcançaram o número de 650, dos quais 221 inscritos comprovaram a participação mínima de 75%.
Outra forma de aferição de participação foi a emissão de palavras-senha durante a discussão de temas
e o envio dessas, por parte do extensionista, ao final.
Por fim, a segunda edição de 2021 e última edição da versão virtual contou com 849 inscritos,
dos quais 132 comprovaram a presença e o aproveitamento mínimo esperado. Vale ressaltar que em
todas as edições, a performance nos pós-testes superou os pré-testes.

5 DISCUSSÃO

Comparativamente às aulas presenciais que ocorreram antes da pandemia, é evidente a


ampliação do alcance do projeto, não só geograficamente, mas também em relação às faixas etárias e
às classes sociais. Isso se deve, em maior parte, às plataformas virtuais, as quais permitiram a
expansão para além do campus da UFRJ e do curso de medicina, fazendo a inclusão de toda a
sociedade. Por outro lado, ao compararmos a porcentagem dos alunos que preenchiam as listas de
presenças nas atividades presenciais, com o total de alunos que aderiram ao esquema de comprovação
de participação através do preenchimento de questionários pré e pós testes, houve uma queda no
engajamento. No entanto, a manutenção do mecanismo de pré e pós-testes com os mesmos desafios
é importante, já que permite a obtenção de dados comparativos que possibilitam averiguar a
construção de conhecimento conquistado através do projeto.
Além disso, é importante destacar que esse modelo de projeto se trata de uma adaptação
construída, melhorada e expandida versão após versão. Para que seja possível melhor adequar o
projeto a demanda dos extensionistas, ao final de cada um, foi disponibilizado um espaço para que
fossem enviados críticas, sugestões e relatos, a fim de coletar o feedback e fomentar novas estratégias
de promoção e desenvolvimento da extensão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
796 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de extensão “Anestesia para todos: crescer, confiar, divulgar” é importante para
manutenção da universidade como órgão ativo em momentos delicados como o do isolamento social.
Além disso, o projeto se mostrou capaz de se adequar a demanda social e oferecer oportunidades de
construção de conteúdo teórico e prático mesmo frente à adversidade do isolamento social.
Ademais, fez parte dos objetivos deste projeto ser uma ferramenta para promoção de
benefícios à sociedade, construindo e democratizando conhecimento de forma ampla, irrestrita e
gratuita. Isso foi concretizado, contando com as atividades coordenadas pelos alunos da UFRJ que
organizaram as atividades integrando a população e a universidade com conhecimento de qualidade
na área da saúde.

Palavras-chave: Anestesiologia. Educação à distância. Capacitação acadêmica.


Keywords: Anesthesiology. Distance education. Academic qualification.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União. 18 mar. 2020. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020- 248564376. Acesso
em: 20 jun. 2022.
SALLES, Claudia Maria Sodeiro. Transformação Digital em Tempos de Pandemia. Revista
Estudos e Negócios Acadêmicos, São Paulo, v. 1, n.1, p. 91-100, jan. 2021. Disponível em:
https://portalderevistas.esags.edu.br/index.php/revista/article/view/22. Acesso em: 21 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 797

Avaliação do comportamento alimentar de acadêmicos do Centro Universitário


Vale do Iguaçu e identificação de possíveis distúrbios alimentares

Evaluation of the food behavior of Academics at Centro Universitário Vale do


Iguaçu and identification of possible food disorders

Ana Paula Rossoni1


Mateus Joélcio dos Santos2
Gislaine Balbinotti3
Vanessa Csala Smykaluk4
Lina Cláudia Sant´Anna5

INTRODUÇÃO

O comportamento alimentar é entendido como um conjunto de fatores que envolve percepções


e afetos que estão diretamente relacionados às condutas alimentares dos indivíduos e que sofrem
influências psicológicas, sociais e culturais. A partir disso, compreende-se que o ato de escolher um
alimento e ingeri-lo são resultado de uma conduta inicialmente baseada em pensamentos, crenças e
sentimentos do indivíduo, bem como no ambiente que ele está inserido (KLOTZ-SILVA et al., 2016).
Alterações no comportamento alimentar, desenvolvidos na tentativa de perder ou controlar o
peso corporal, podem se tornar deletérias à saúde do indivíduo, transformando-se em transtornos
alimentares, distúrbios psíquicos que interferem na saúde física e mental do indivíduo, além de
aumentar o risco de morbidade e mortalidade (FORTES et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2019).
Portanto, considerando os fatos expostos, o objetivo do projeto de extensão e pesquisa foi avaliar o
comportamento alimentar de acadêmicos matriculados nos primeiros períodos de todos os cursos do
Centro Universitário Vale do Iguaçu, buscando assim identificar possíveis modificações nos padrões
de alimentação e o desenvolvimento de transtornos alimentares neste grupo.

1
Acadêmica do Curso de Nutrição do Centro Universitário Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU). E-mail: nut-
anarossoni@uniguacu.edu.br.
2
Acadêmico do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: nut-mateussantos@uniguacu.edu.br.
3
Acadêmica do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: nut-gislainebalbinottii@uniguacu.edu.br.
4
Nutricionista, Orientadora, Professora do Curso de Nutrição UNIGUAÇU. E-mail: prof_vanessacsala@uniguacu.edu.br.
5
Nutricionista, Orientadora, Professora do Curso de Nutrição do UNIGUAÇU. E-mail: prof_lina@uniguacu.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
798 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica


(ABESO, 2017), “os transtornos de comportamento alimentar são caracterizados por uma perturbação
persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo
ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o
funcionamento psicossocial”.
Rodrigues et al. (2017) expoem que, dentre os transtornos alimentares cada vez mais
comumente desenvolvidos, podemos citar a anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN), vigorexia
e ortorexia, além do transtorno alimentar não especificado (TANE), no qual se inclui o transtorno da
compulsão alimentar periódica (TCAP).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATON, 2014), a anorexia é caracterizada pela restrição da ingestão calórica
em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de
idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física, indivíduos que possuem anorexia têm um
medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho
de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo.
Já a Bulimia (BN), conforme expõe Maia et al., (2018) é caracterizada pela ingestão de uma
grande quantidade de alimento em um intervalo de tempo pequeno, sendo que a percepção desse fato
leva o paciente a medidas extremas, que são os chamados episódios bulímicos.
Recentemente citado em estudos e avaliações do comportamento alimentar, pode-se citar o
Transtorno de Compulsão Alimentar, que é caracterizado pela ingestão, em um período de duas horas,
de uma quantidade de alimentos maior do que outras pessoas consumiriam em circunstâncias
análogas (DSM, 2014).
A vigorexia, que é a percepção da imagem corporal distorcida caracterizada pela depreciação
do próprio corpo (VASCONCELOS, 2013) e a Ortorexia, que é descrita como uma fixação pela saúde
alimentar caracterizada por uma obsessão doentia com o alimento biologicamente puro, acarretando
restrições alimentares significativas, onde estes apresentam uma preocupação exagerada com a
qualidade dos alimentos, a pureza da dieta (livre de herbicidas, pesticidas e outras substâncias
artificiais) e o uso exclusivo de “alimentos politicamente corretos e saudáveis” (MARTINS et al.,
2011).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 799

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa trata-se de um estudo observacional, de corte transversal, realizado com


acadêmicos do Centro Universitário Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU), no período de 01/03/2021 a
09/07/2021, realizado através da plataforma Google Meet. Foi elaborado um questionário composto
por 21 questões tipo likert, baseado no Questionário Holandês de Comportamento Alimentar (QHCA)
foi validado por Wardle (1987) e traduzido para o português por Almeida, Loureiro e Santos (2001).
Todos os acadêmicos matriculados no primeiro período de graduação de todos os cursos da
UNIGUAÇU foram convidados a participar da pesquisa de extensão, e estes receberam uma breve
explanação sobre os propósitos desta, explicações sobre a forma de preenchimento do questionário,
e posteriormente a isso foram feitas orientações nutricionais gerias e direcionadas aos
comportamentos alimentares.
Para realização do projeto, este foi dividido em duas etapas. Na primeira etapa, os alunos
foram abordados e receberam uma explicação sobre comportamento alimentar e transtornos
alimentares. Na segunda, foi encaminhado aos acadêmicos o questionário realizado através da
plataforma Google Forms, as duas etapas tiveram duração média de vinte minutos e foram realizadas
com 21 cursos da UNIGUAÇU, incluindo todas as áreas (engenharias, ciências da saúde, ciências
sociais e ciências agrarias). Contudo, antes de os participantes responderem aos questionários, foi
informado que os acadêmicos deveriam concordar com o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, e sendo necessário informar suas características pessoais como nome, idade, curso em
que está matriculado, e-mail e telefone, com o intuito de manter o contato com o acadêmico caso for
identificado qualquer alteração no comportamento alimentar, podendo assim prestar a assistência
nutricional e psicológica adequada a este. Após a coleta, as respostas foram catalogadas em tabelas
com auxílio do Microsoft Excel.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra final incluiu 452 alunos de 21 cursos da instituição com idade média de 18 anos,
sendo 38,5% (n= 174) do sexo masculino, 61,5%(n=278) do sexo feminino e 0,4%(n=2) que
preferiram não responder.
A alimentação emocional foi o comportamento alimentar de destaque entre os acadêmicos
(Tabela 1).
EXTENSÃO PUC MINAS:
800 Novo Humanismo, novas perspectivas

Tabela 1 – Fatores emocionais relacionados com o comportamento alimentar.


Muito Algumas
Frequentemente Raramente Nunca
frequentemente vezes

Quando me sinto triste,


52 (11,5%) 51 (11,3%) 95 (21%) 133 (29,4%) 126 (27,9%)
frequentemente como demais

Quando me sinto tenso, estressado


ou nervoso, frequentemente sinto 47 (10,4%) 68 (15%) 115 (25,4%) 132 (29,2%) 105 (23,2%)
que preciso comer

Quando me sinto solitário (a),


28 (6,2%) 38 (8,4%) 95 (21%) 139 (30,8%) 159 (35,2%)
me consolo comendo

Quando me sinto depressivo (a),


32 (7,1%) 47 (10,4%) 87 (19,2% 124 (27,4%) 172 (38,1%).
eu quero comer
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.

Também foram investigados comportamentos característicos de distúrbios como a Anorexia


Nervosa e Bulimia Nervosa. Quatro questionamentos realizados envolvendo comportamentos
comuns de indivíduos com anorexia nervosa, são apresentados na tabela a seguir.

Tabela 2 – Comportamentos relacionados à anorexia nervosa.


Muito Algumas
Frequentemente Raramente Nunca
frequentemente vezes
Tenho o hábito de me pesar
15 (3,3%) 27 (6%) 54 (11,9%) 126 (27,9%) 233 (51,5%)
todos os dias
Eu cozinho para os outros, mas eu
14 (3,1%) 6 (1,3%) 61 (13,5%) 86 (13,5%) 290 (64,2%)
nunca como o que preparo.
Eu conheço o teor calórico
22 (4,9%) 43 (9,5%) 111 (24,6%) 113 (25%) 170 (37,6%)
daquilo que como
Eu busco olhar o rótulo de
26 (5,8%) 43 (9,5%) 87 (19,2%) 136 (30,1%) 167 (36,9%)
tudo que eu como

Eu acho que os outros prefeririam


29 (6,4%) 43 (9,5%) 80 (17,7%) 108 (23,9%) 199 (44%)
me ver comendo mais

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2021.

No mesmo contexto, foi questionado aos entrevistados em relação ao costume de se exercitar


ou caminhar excessivamente para “queimar” calorias, aumentando assim o gasto energético corporal.
Este comportamento pode estar associado, além da anorexia nervosa, a comportamentos bulímicos
compensatórios e a vigorexia, e foi relatado por 22,6% (n=102) participantes como um hábito
frequente ou muito frequente das suas rotinas diárias, sendo assim um sinal de alerta.
Hábitos bulímicos, ou de anorexia purgatória também foram identificados entre os acadêmicos
entrevistados. Quando questionados se possuem, espontaneamente, vontade de vomitar depois das
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 801

refeições, 1,3% (n=6) relataram que sim, muito frequentemente, 1,3% (n=6) relataram que
frequentemente e 7,3% (n=33) algumas vezes. Os demais participantes 91,4% (n=413), relataram
possuir este comportamento muito raramente ou nunca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da presente pesquisa apontam que a preocupação com a imagem corporal e


alterações no comportamento alimentar foi importante no grupo avaliado, sendo a alimentação
emocional o comportamento de maior destaque observado.
Considerando os resultados encontrados na pesquisa de extensão, em que é possível observar
que grande parte dos acadêmicos possui alguma alteração no comportamento alimentar, podemos
verificar que estes devem ser acompanhados e observados com maior atenção, visto que a obsessão
por alcançar um padrão estético irreal pode levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares e de
distorção de imagem graves, como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e Compulsão Alimentar,
trazendo consequências danosas a saúde do indivíduo.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Graziela Aparecida Nogueira de; LOUREIRO, Sônia Regina; SANTOS, José Ernesto
dos. Obesidade mórbida em mulheres – Estilos alimentares e qualidade de vida. Archiv. Latinoam.
Nutr., v. 51, n. 4, p. 359-365, 2001.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATON. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais: DSM-5. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
FORTES, Leonardo de Sousa et al., Fatores associados ao comportamento alimentar inadequado
em adolescentes escolares. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 40, p. 59-64, 2013.
Disponível em: www.scielo.br/j/rpc/a/CYM5FKTmvLVQV3YFzmBNmSs/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 14 jul. 2021.
KLOTZ-SILVA, Juliana; PRADO, Shirley Donizete; SEIXAS, Cristiane Marques. Comportamento
alimentar no campo da Alimentação e Nutrição: do que estamos falando? Physis: Revista de Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, oct. /dec. 2016. Disponível em:
https://www.scielosp.org/article/physis/2016.v26n4/1103-1123/. Acesso em:14 jul 2021.
MAIA, Maria Luiza. et al. Estado nutricional e transtornos do comportamento alimentar em
estudantes do curso de graduação em nutrição do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia, Ceará, Brasil. Demetra; v. 13, n. 1, p.135-145, 2018. Disponível em: <www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/30654/24120>. Acesso em: 15 jul. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
802 Novo Humanismo, novas perspectivas

MARTINS, Márcia Cristina Teixeira et al. Ortorexia nervosa: reflexões sobre um novo conceito.
Revista de Nutrição, Campinas, v. 24, n. 2, abr. 2011. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rn/a/kvYZqHdSzVBcjZfBj3Tx66q/?lang=pt. Acesso em: 14 jul. 2021.
OLIVEIRA, Tatiane C. et al. Comportamento alimentar e imagem corporal em universitárias do
curso de nutrição. Sigmae. v. 8, n. 2, p. 771-778, 2019. Disponível em: publicacoes.unifal-
mg.edu.br/revistas/index.php/sigmae/article/view/1056/697. Acesso em: 15 jul. 2021.
RODRIGUES, Barbara Coêlho et al. Risco de ortorexia nervosa e o comportamento alimentar de
estudantes de nutrição. Scientia plena, v. 13, n. 7, 2017. Disponível em:
scientiaplena.emnuvens.com.br/sp/article/view/3687/1777. Acesso em: 15 jul. 2021.
VASCONCELOS, July Elisson Ladislau. Vigorexia: quando a busca por um corpo musculoso se
torna patologia. Revista Educação Física UNIFAFIBE, n. 2, v. 2, p. 91-97, dez./2013. Disponível
em:unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistaeducacaofisica/sumario/29/16122013151946.pd
f. Acesso em: 15 jul. 2021.
WARDLE, Jane. Eating Style: A validation study of the Dutch Eating Behavior Questionnaire in
normal subjects and women with eating disorders. Journal of Psychosomatic Research, v. 31, n.
2, p. 161-169, 1987.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 803

Clínica de Extensão: cirurgia em estomatologia

Clinical Extension: surgical interventions in stomatology

Mariana Silveira Souza1


Juliana Santos Silva 2
João Pedro Santos Nascimento3
Filipe Augusto Dutra Duarte4
Leandro Junqueira de Oliveira5

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e a Estomatologia são especialidades


reconhecidas pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), que em diversos momentos são
essenciais no tratamento multidisciplinar de um paciente a fim de fornecer diagnóstico e tratamento
adequado. São especialidades que se enquadram na atenção secundária do Sistema Único de Saúde
(SUS) e, por isso, os usuários têm acesso às mesmas nos Centros de Especialidade Odontológica
(CEO).
Exercendo e reforçando o papel da Universidade, no dever em cumprir com um papel de
impactação ativo na sociedade e contribuir para a otimização da atenção aos pacientes usuários do
SUS, a partir da verificação da necessidade de uma clínica que integre e complemente os serviços já
fornecidos no curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas) para aprimorar o diagnóstico e tratamento correto para os pacientes, foi desenvolvido, no ano
de 2019, no Departamento de Odontologia da PUC Minas, a Clínica de Extensão de Cirurgia em
Estomatologia que integra as duas áreas do conhecimento, gerando como resultado o benefício mútuo
entre estudantes e comunidade, por meio da ampliação do saber teórico, prático e prestação de
serviços.

1
Graduanda do Curso de Odontologia da PUC Minas/Coração Eucarístico. E-mail:
marianasilveirasouza18@outlook.com.
2
Graduanda do Curso de Odontologia da PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail: jsantossilva050@gmail.com.
3
Graduando do curso de Odontologia da PUC Minas / Coração Eucarístico.E-mail: nascimentojps@hotmail.com.
4
Graduando do curso de Odontologia da PUC Minas / Coração Eucarístico. E-mail: filipeadd@hotmail.com.
5
Orientador, Professor Doutor do Curso de Odontologia PUC Minas/ Coração Eucarístico. E-mail:
leojunq@hotmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
804 Novo Humanismo, novas perspectivas

De acordo com o Conselho Federal de Odontologia na resolução 63/2005, a Estomatologia é


a especialidade da odontologia responsável pela prevenção, diagnóstico, prognóstico e tratamento das
doenças do complexo maxilo-mandibular, das manifestações bucais de doenças sistêmicas e das
repercussões bucais do tratamento antineoplásico. Já a Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial é
a especialidade que tem como objetivo o diagnóstico e o tratamento cirúrgico e coadjuvante das
doenças, traumatismos, lesões e anomalias congênitas e adquiridas do aparelho mastigatório e anexos,
e estruturas crânio-faciais associadas, incluindo biópsias, diagnóstico e tratamento cirúrgico de cistos;
afecções radiculares e perirradiculares; doenças das glândulas salivares; doenças da articulação
têmporo-mandibular; lesões de origem traumática na área buco-maxilo-facial; malformações
congênitas ou adquiridas dos maxilares e da mandíbula; tumores benignos da cavidade bucal; tumores
malignos da cavidade bucal, quando o especialista deverá atuar integrado em equipe de oncologista;
e, de distúrbio neurológico, com manifestação maxilo-facial, em colaboração com neurologista ou
neurocirurgião (CFO, 2005).
A integralidade dessas duas áreas de conhecimento possibilita realizar o manejo correto do
diagnóstico, tratamento cirúrgico dessas patologias e acompanhamento do paciente. O trabalho
interdisciplinar é de suma importância para que seja oferecido um cuidado abrangente para o paciente,
possuindo boa relação custo-benefício; porém, estudos demonstram que a prática integrativa em
saúde não é uma realização comum (O´REILLY et al., 2017). Equipes multidisciplinares tendem a
ser mais eficazes, inovadoras e conseguirem realizar melhor manejo em situações de risco, comparado
com equipes puramente funcionais. Além disso, equipes integrativas possuem melhor tomada de
decisão e melhor realização de práticas baseadas em evidências (MORLEY; CASHELL, 2017).

2 METODOLOGIA

Quinzenalmente são atendidos, pelo professor orientador especialista em Cirurgia e


Traumatologia Bucomaxilofacial e 4 alunos egressos do curso de Odontologia, que já tenham cursado
as disciplinas de Estomatologia I e II e Cirurgia I e II, pacientes do SUS encaminhados pela Clínica
de Estomatologia da PUC Minas, previamente avaliados por professores especialistas na área e que
determinem que há a necessidade de avaliação complementar do cirurgião Bucomaxilofacial para o
manejo cirúrgico do paciente. É primeiramente realizada a consulta inicial e o plano de tratamento,
integrando os conhecimentos de ambas as áreas, a fim de definir se o paciente se enquadra no perfil
da Clínica ou deve ser encaminhado para outro serviço. Caso ele se inclua no perfil, podem ser
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 805

realizados procedimentos para o diagnóstico e tratamento cirúrgico da patologia, como biópsia


excisional ou incisional, enucleação, curetagem ou ressecção de lesões, acompanhamento clínico e
imaginológico.
Todos os atendimentos são registrados por meio de imagens fotográficas, incluindo o aspecto
inicial da lesão, o trans-operatório e o pós-operatório do paciente. Além do registro formal dos
procedimentos no sistema da Universidade, a Clínica de Extensão possui um sistema próprio, no qual
os procedimentos são registrados de maneira mais detalhada, por meio de uma lista para o controle e
acompanhamento dos pacientes atendidos. Além disso, as imagens e os prontuários são utilizados
para o desenvolvimento de estudos e trabalhos, como artigos e apresentações de casos clínicos em
eventos científicos. Orientados pelo professor responsável, os alunos também mantêm a obrigação do
controle da fila de espera para o atendimento na Clínica de Extensão, mantendo a ordem de
encaminhamento, mas analisando individualmente os casos, para que as prioridades, de acordo com
a gravidade da hipótese diagnóstica, sejam colocadas à frente.
Por fim, para que o projeto tenha funcionamento pleno, independentemente dos alunos e
professores que o integram, são elaborados protocolos de funcionamento da Clínica, que incluem o
passo a passo que todos os integrantes devem realizar para o manejo correto do paciente e o registro
completo das informações, o que possibilita o fluxo contínuo do projeto entre os semestres e durante
a troca de integrantes.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A Clínica de Extensão de Cirurgia em Estomatologia foi iniciada em 2019 a fim de sanar


necessidades observadas nas clínicas de Estomatologia da graduação, que envolviam a demanda de
procedimentos cirúrgicos mais complexos. Ela teve seus atendimentos interrompidos durante todo o
ano de 2020, em decorrência da pandemia do COVID-19 e o fechamento temporário da Universidade,
mas retomou suas atividades desde 2021.
A Clínica realizou até então o acolhimento de mais de 100 pacientes, os quais puderam se
beneficiar da integração do conhecimento entre as áreas de Estomatologia e Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial e a otimização da fila de espera para o atendimento em outros Centros de
Especialidades Odontológicas. Entre os anos de 2019 e o 1º semestre de 2022, foram realizados mais
de 50 procedimentos cirúrgicos, cerca de 15 encaminhamentos para serviços hospitalares médicos ou
de cirurgia bucomaxilofacial, e cerca de 15 encaminhamentos para clínicas da própria faculdade para
EXTENSÃO PUC MINAS:
806 Novo Humanismo, novas perspectivas

reabilitação oral, como por exemplo, as clínicas de endodontia, ortodontia, prótese e dentística.
Levando-se em consideração que no ano de 2020 houve uma suspensão dos atendimentos, devido à
pandemia da COVID-19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Clínica de Extensão em Cirurgia e Estomatologia impacta de maneira importante no bem-


estar e funcionamento dos usuários do SUS, visto que sua multidisciplinaridade, envolvendo cirurgia
e estomatologia, proporciona um atendimento eficiente e abrangente para os usuários, sendo mais
uma via para o acesso à atenção secundária e, por consequência, mantém a continuidade do fluxo da
fila de espera do sistema. Assim os pacientes têm acesso a diagnóstico e tratamento com maior
rapidez, contribuindo para redução de consequências mais graves geradas por essas patologias
durante o período de espera na fila de atendimentos.
Em decorrência da grande demanda por atendimentos nessa área, torna-se possível reconhecer
a importância da existência desse projeto de extensão e da integração de diferentes áreas, profissionais
e estudantes dedicados ao desenvolvimento humanizado para uma prática odontológica empática,
benéfica e tolerável, possibilitando aos envolvidos o compartilhamento do conhecimento adquirido
através do ensino e pesquisa desenvolvidos na instituição. Dessa forma, contribui para o exercício da
função social da Universidade, gerando um impacto positivo contínuo da população à sua volta.

Palavras-chave: Relações Comunidade-Instituição. Práticas Interdisciplinares. Atenção à Saúde.


Keywords: Community-Institutional Relations. Interdisciplinary Placement. Delivery of Health
Care.

REFERÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA (CFO). Resolução CFO-63/2005. Disponível em:


https://transparencia.cfo.org.br/wp-content/uploads/2018/03/consolidacao.pdf. Acesso em: 17 jun.
2022.
MORLEY, L.; CASHELL, A. Collaboration in Health Care. Journal of Medical Imaging and
Radiation Sciences, v. 48, p. 207-216, 2017.
O’REILLY, P. et al. Assessing the facilitators and barriers of interdisciplinary team working in
primary care using normalisation process theory: An integrative review. Journal Plos One, United
Kingdom, 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 807

Comunidade Indigena Warao e a importância da


realização de práticas de extensão

Comunidad Indígena Warao y la importancia de realizar práticas de extensión

Katherin de los Angeles Amundaray Rodriguez1


Patrícia Sarsur Nasser Santiago2
Ivonilde Pinto Dias3
Maria Aparecida da Silva4
Samyra Tainá Martins Jardim5

INTRODUÇÃO

Desde 2018, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem registrado a entrada no Brasil
de indígenas vindos da Venezuela. No total são 3,2 mil indígenas solicitantes de condição de
refugiados, ou seja, se enquadram legalmente como indivíduos que deixaram seu país e território,
forçadamente, devido ao temor de perseguição ou contínua violação de direitos humanos (AGÊNCIA
DA ONU PARA REFUGIADOS, 2020).
Dentre esses grupos de refugiados, destaca-se neste trabalho, o povo Warao. Segundo
Durazzo (2020), eles, tradicionalmente, são habitantes do delta do Rio Orinoco presente na
Venezuela. É um grupo étnico com formas de organização social e costumes próprios que
compartilham uma língua também chamada Warao. Totalizando, atualmente, o grupo apresenta cerca
de 49 mil indivíduos. No Brasil, há registros de sua presença migratória desde, pelo menos, 2014,
tendo se intensificado em anos recentes devido à migração do povo da Venezuela para o país.
Em 2019, as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil começaram a registrar a chegada dos
primeiros grupos Warao nos estados, o mesmo aconteceu na região Sul, em 2020. A ACNUR estima

1
Graduanda do curso de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
katherin.amundaray@pucminas.br.
2
Mestre em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: patricia.sarsur@terra.com.br
3
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: ipdias@pucminas.br.
4
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: maria.silva.958671@pucminas.br.
5
Graduanda do curso de Enfermagem da PUC Minas. E-mail: samyra.jardim@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
808 Novo Humanismo, novas perspectivas

que, até março de 2021, 5.799 refugiados e migrantes indígenas venezuelanos estavam no país. Quase
70% desse número corresponde às pessoas de etnia Warao, que estão presentes em 23 estados
brasileiros (AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS, 2021).
Inicialmente, eles entraram no país através dos estados de Roraima, Amazonas e Pará, depois
o fluxo migratório se expandiu para outras capitais (DURAZZO, 2020). Alguns Warao foram
acolhidos na Vila Pinho na região do Barreiro/BH, Minas Gerais pela Cáritas Brasileira Regional
Minas Gerais, e lá residem até terem condições de se sustentarem.
Os alunos do curso de Enfermagem do campus Coração Eucarístico, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), por meio de uma disciplina extensionista,
contataram uma comunidade para fazer um diagnóstico das necessidades de saúde das pessoas, e
assim, planejar e implementar uma ação que pudesse minimizá-las ou resolvê-las. Dessa forma, houve
a visita em um local chamado Vila Pinho, um centro de acolhimento de indígenas Warao, logo que
entraram em contato com a equipe. Após pesquisa no local, foram constatadas diversas necessidades
de saúde, tais como: moradia, alimentação, higiene, dentre outras, mas o que se destacou foi a falta
de adesão a todas as vacinas do calendário vacinal.
Em seguida, houve a realização do diagnóstico das reais necessidades de saúde daquela
população, momento no qual os alunos conversaram com a representante da equipe da Cáritas e
combinaram que seria elaborada uma prática extensionista que contribuísse para a conscientização
sobre a importância da vacinação de adultos e crianças.
Vale destacar a importância da Extensão Universitária, que não só contribui para o
conhecimento técnico científico, mas também, com os aspectos humanísticos na formação dos
acadêmicos. De acordo com Gadotti (2017), a curricularização da extensão faz parte, de um lado, da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na universidade, e, de outro, da necessária
conexão da universidade com a sociedade, realçando o papel social da universidade, bem como a
relevância social do ensino e da pesquisa.
Segundo o documento produzido pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades
Públicas (2012), é importante que o desenvolvimento das relações entre universidade e os setores
sociais seja marcado pelo diálogo e troca de saberes, superando-se, assim, o discurso da hegemonia
acadêmica e substituindo-o pela ideia de aliança com movimentos, setores e organizações sociais.
(FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 809

BRASILEIRAS, 2012). Dessa forma, o presente texto tem como objetivo relatar a ação que visou a
conscientizar os indígenas Warao que vivem na Vila Pinho, em Belo Horizonte, sobre a importância
da vacinação de adultos e crianças.
Entende-se que é de fundamental importância trabalhar com toda a comunidade,
especialmente com os indígenas Warao, que vivem na Vila Pinho, sobre os aspectos que envolvem a
vacinação de adultos e crianças como forma de prevenir as principais doenças para as quais já existem
vacinas.
Em tempos de pandemia da COVID-19 e outras doenças infectocontagiosas, é muito
importante que toda população receba as vacinas como forma preveni-las e minimizar as
complicações advindas das infecções. Espera-se que, ao desenvolver a prática educativa, possa-se
transmitir os conhecimentos sobre os benefícios da vacinação.
De acordo com Domingues et al. (2019), as estratégias para reverter a redução das coberturas
vacinais devem considerar os diversos fatores que contribuem para essa situação. A comunicação
social é fundamental para ampliar o acesso às informações baseadas em evidências, especialmente
sobre os benefícios da vacinação.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A vacinação infantil é de grande importância na proteção à saúde e na prevenção de doenças


imunopreveníveis, além de evitar a ocorrência de surtos epidêmicos. Diante disso, as autoridades de
saúde estabeleceram calendários vacinais específicos de acordo com a faixa etária infantil (SOUZA;
VIGO; PALMEIRA, 2019).
A eficácia da vacina deveria ser inquestionável, pois é considerada uma das tecnologias
médicas de prevenção mais efetivas e de menor custo benefício utilizadas em saúde pública. É
também uma das ferramentas de maior sucesso no controle e prevenção de doenças
infectocontagiosas, principalmente nos países em desenvolvimento que ainda possuem condições
sanitárias deficientes e escassez de recursos destinados às ações de saúde pública. (SLENDAK;
CAMARGO; BURG, 2021). Devido a diversos fatores, como o nível cultural e econômico do país,
causas relacionadas às crenças, às superstições, aos mitos e aos credos religiosos, muitas crianças
deixam de ser vacinadas. (SOUZA; VIGO; PALMEIRA, 2019).
EXTENSÃO PUC MINAS:
810 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os profissionais de saúde têm função fundamental ao promover informações à população


sobre a segurança e eficácia das vacinas e podem influenciar positivamente nas taxas de cobertura
vacinal, respondendo às perguntas dos pais e abordando equívocos comuns (SLENDAK;
CAMARGO; BURG, 2021).

3 METODOLOGIA

Para a realização da atividade de Educação em Saúde, foram utilizadas técnicas lúdicas e


culturais, que necessitaram a participação dos envolvidos na ação. Para mostrar a importância da
vacinação, foi elaborado um teatro, em que os alunos e indígenas (dos quais, apenas alguns
participaram) demonstraram, por meio de dramatização, como a falta da vacina pode adoecer as
pessoas e como os doentes podem transmitir os microrganismos para toda a comunidade.
Após a realização da peça, os alunos fizeram um levantamento do estado vacinal da população
daquele local e perceberam que muitos não tinham cartão de vacina e/ou não se lembravam das
vacinas que haviam tomado, e aqueles que tinham cartão de vacina estavam com o esquema vacinal
atrasado. Foram feitas novamente as reflexões sobre a importância de manter as vacinas em dia e os
participantes foram incentivados a procurar o posto de vacinação da região para tomarem as faltantes
ou atualizarem as doses.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a atividade relatada, foi percebido que os participantes ficaram interessados em receber
as doses de vacina. De um total de 12 famílias que residem na Vila Pinho, 4 foram até o posto de
saúde da região para se vacinarem. Dentre eles, havia crianças e adultos. No total, foram vacinadas
12 pessoas, das quais 3 eram gestantes com mais de 20 semanas de gestação, 3 crianças menores de
5 anos, 1 adolescente, 1 mulher não gestante e 5 homens. A vacina priorizada foi a Pneumo 23 por se
tratar de um povo indígena.
Além disso, todas as atividades foram muito proveitosas, já que a comunidade estava aberta
para aprender e conviver com os alunos do departamento de Enfermagem da PUC Minas. Os 59
indígenas Warao participaram de forma ativa do teatro e demais atividades lúdico-culturais.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 811

Durante os dias de permanência dos alunos na comunidade indígena, pode-se aprender um


pouco da cultura daquele povo e transmitir os conhecimentos científicos por meio da prática
socioeducativa. As famílias encaminhadas para a vacinação foram de forma voluntária entendendo
que ninguém as obrigariam, mas que era importante para o bem-estar de todos.
Segundo Marques e Carvalho (2016), a prática educativa é um conjunto de ações socialmente
planejadas, organizadas e operacionalizadas em espaços intersubjetivos destinados a criar
oportunidades de ensino e aprendizagem. Assim, os processos socioeducativos precisam desenvolver
nas pessoas atitudes, entre as quais a capacidade de pensar, sentir e agir de forma crítica sobre a
realidade, posicionar-se frente a ela, transformá-la e, com isso, transformar a si mesmos, ou seja, uma
educação que potencialize a atividade humana.
É importante destacar que, atualmente, a situação de refugiados e migrantes indígenas
continua apresentando importantes desafios. O elevado nível de necessidades humanitárias e a
condição de vulnerabilidade, somados às especificidades da cultura desta etnia e a imprevisibilidade
de movimentação dos grupos dentro do território brasileiro requer atenção e respostas específicas
relativas à saúde, alimentação, proteção e apoio. (ACNUR, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas socioeducativas em Saúde são de fundamental importância para garantir uma


melhoria na qualidade de vida da população. Para que uma prática educativa alcance seus objetivos,
devem ser considerados diversos fatores, mas, um dos mais importantes é conhecer a população,
ganhar a confiança dela, por meio de visitas prévias, estar sempre disposto a escutar suas dúvidas,
responder perguntas e trabalhar o medo causado pela falta de conhecimento.
Entende-se que o objetivo da prática socioeducativa realizada na comunidade da Vila Pinho
foi alcançado na medida em que os participantes compreenderam a importância e tomaram a iniciativa
de se vacinarem. Além disso, considera-se que as práticas de extensão proporcionam aos
universitários o desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva nas questões que atingem as
populações mais vulneráveis e contribuem para a autonomia dos alunos, formando profissionais
competentes tecnicamente e comprometidos com as questões humanísticas que envolvem o cuidado.

Palavras-chave: Vacinação. Ensino-Aprendizagem. Educação em Saúde.


Palabras clave: Vacunación. Enseñanza-Aprendizaje. Educación en salud.
EXTENSÃO PUC MINAS:
812 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

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rede no apoio aos indígenas venezuelanos Warao. Agência da ONU para Refugiados Brasil. São
Paulo, 08 de jun. de 2021. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2021/06/08/acnur-
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02 de out. 2022.
AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS BRASIL. Relatório do ACNUR Revela que 65% dos
indígenas venezuelanos registrados no Brasil são solicitantes de refúgio. Agência da ONU para
Refugiados Brasil. Brasília, jun. de 2020. Disponível em:
https://www.acnur.org/portugues/2020/06/03/relatorio-do-acnur-revela-que-maioria-dos-indigenas-
venezuelanos-registrados-no-brasil-sao-solicitantes-de-refugio/. Acesso em: 05 out.2022.
DOMINGUES, C. M; FANTINATO, F. F.; DUARTE, E.; GARCIA, L. P. Vacina Brasil e
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Novo Humanismo, novas perspectivas 813

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EXTENSÃO PUC MINAS:
814 Novo Humanismo, novas perspectivas

Educação em saúde nas escolas:


doenças infecto-parasitárias e suas implicações

Health education in schools: infectious and parasitic


diseases and their implications

Julia Ornellas Costa1


Ingrid Marciano Alvarenga2
José Henrique Silva Rodrigues3
Pedro Henryque de Castro4
Joziana Muniz de Paiva Barçante5

INTRODUÇÃO

Ações de Educação em Saúde são medidas fomentadas por órgãos de saúde que buscam
auxiliar na prevenção e combate de doenças, promovendo atividades de baixo custo operacional e de
fácil implementação. A união da educação em saúde com atividades de extensão promovidas por
instituições de ensino superior representa mais do que uma contribuição fundamental para a
minimização de doenças, mas é uma obrigação social, sobretudo para as instituições públicas de
ensino.
Este trabalho tem o objetivo de descrever algumas ações realizadas no contexto de prevenção
de doenças infecto-parasitárias, em escolas públicas de um município do sul de Minas Gerais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo o Ministério da Saúde (2018), são indispensáveis medidas preventivas que


considerem a disseminação do conhecimento em saúde durante o processo de educação. A

1
Bióloga pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
da Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: julia.costa10@estudante.ufla.br.
2
Mestre em Ciências Veterinárias pela UFLA. Doutoranda do Programa de PPG em Ciências Veterinárias da UFLA. E-
mail: ingrid.alvarenga1@estudante.ufla.br.
3
Graduanda em Ciências Biológicas / Licenciatura pela UFLA. E-mail: jose.rodrigues@estudante.ufla.br.
4
Biólogo pela UFLA. Mestrando do PPG em Ciências Veterinárias da UFLA. E-mail: pedro.castro2@estudante.ufla.br.
5
Doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora da UFLA. E-mail:
joziana@ufla.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 815

implementação de ações de capacitação infantil durante o enfrentamento de doenças direciona uma


reflexão crítica sobre como o meio ambiente pode interferir na saúde humana e como podem ser
implantadas medidas de prevenção (JACOB et al., 2019).
A extensão universitária compreende um processo educativo, cultural e científico que articula
a participação da comunidade no ensino e na pesquisa. A finalidade da ação extensionista é
proporcionar a troca entre o saber acadêmico e o popular, aproximando a comunidade do meio
acadêmico (MONTENEGRO; MARQUES; LEAL, 2009). Assim, a união entre atividades
extensionistas e ações de educação em saúde representam uma vertente do combate e prevenção de
doenças e vêm sendo apontadas como estratégias para a promoção do combate de doenças em escolas
(FARIA et al., 2019). Ademais, no que tange às doenças negligenciadas, como as leishmanioses, por
exemplo, as ações de educação em saúde figuram entre as mais importantes para os programas
nacionais de combate e controle (BRASIL, 2014).

3 METODOLOGIA

Com o objetivo de realizar ações de Educação em Saúde na área de doenças infecto-


parasitárias, na semana do meio ambiente, o Núcleo de Estudos em Parasitologia (NEP) e o Núcleo
de Pesquisa Biomédicas (NUPEB) da Universidade Federal de Lavras, em parceria com a Secretaria
de Educação Municipal de Lavras/MG, selecionaram duas escolas públicas municipais para
participarem de ações de educação em saúde.
A metodologia utilizada por Francisco e Silva (2019) foi adaptada para a realidade das escolas
municipais, assim a proposta consistia em uma Feira de Ciências com foco em doenças infecciosas e
parasitárias para alunos do ciclo básico ingressados no Ensino Fundamental I (E.F I). A Feira foi
exposta em 2 dias, 08 de junho de 2022 e 10 de junho de 2022, primeiro na Escola Municipal
Professor José Luiz de Mesquita, para 107 alunos do E.F.I, e segundo na Escola Municipal Umbelina
Azevedo Avellar, para cerca 70 alunos do quarto e quinto ano.
A Feira foi dividida em 3 sessões, sendo elas: “Conhecendo a Leishmaniose Visceral”,”
conhecendo outras doenças infecto-parasitárias” e “O meio ambiente e as doenças”. Com o auxílio
do Laboratório de Biologia Parasitária II (BIOPARII) da UFLA, a primeira sessão foi composta por
exposição e discussão de materiais didáticos sobre a Leishmaniose Visceral (Figura 01). Assim,
EXTENSÃO PUC MINAS:
816 Novo Humanismo, novas perspectivas

houve uma apresentação dos vetores de Leishmania spp., sendo expostos espécimes macho e fêmea
de flebotomíneos; visualização em microscópio de lâmina de Leishmania spp. para que as crianças
conhecessem o agente etiológico da infecção; a exposição e discussão de banners e livretos.

Figura 1 - Exposição de materiais sobre Leishmaniose Visceral


na sessão um da feira de ciências.

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

A segunda sessão foi composta pela exposição de artrópodes de importância médica e


helmintos (Figura 02). Foram expostos espécimes de triatomíneos, culicídeos, muscídeos e um
modelo didático que representava o ciclo biológico de pulgas e carrapatos. Além disso, também foram
expostos espécimes de áscaris e tênias. Ao final da exposição, foram discutidos métodos de prevenção
para os artrópodes e helmintos.

Figura 2 - Exposição de artrópodes e helmintos na sessão dois da feira de ciências.

Fonte: Acervo dos autores, 2022


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 817

Por último, a terceira sessão foi composta de uma maquete interativa que buscava relacionar
o meio ambiente e a infecção por diferentes patógenos (Figura 03). A maquete era composta por três
ambientes, sendo um ambiente rural, um urbano e um bosque. Nos três ambientes, eram expostos
erros que deveriam ser organizados pelos alunos, a partir do conhecimento já construído nas sessões
anteriores.
No ambiente rural, os alunos deviam tampar a caixa d’água, juntar os resíduos espalhados no
ambiente e colocar no lixo; cercar porcos e galinhas; e manter os cães dentro do cercado da residência.
No ambiente urbano, os alunos deveriam retirar os pneus velhos; tapar o lixo; manter os cachorros,
durante passeios, sempre com coleira e guia; e retirar as fezes dos cães de espaços públicos. E por
fim, no bosque, os alunos deveriam retirar resíduos do lago e jogar no lixo; e sempre passear de roupas
compridas, cabelo preso e se possível, usar repelente.

Figura 3 - Maquete didática interativa utilizada na sessão três da feira de ciências.

Fonte: Acervo dos Autores, 2022.

Ao fim da terceira sessão, foram distribuídos panfletos educacionais e interativos acerca do


material exposto. Sendo divididos em grupos de cinco a sete pessoas, os alunos caminharam pelas
três sessões da Feira. Ao fim, os professores discutiam as questões apresentadas com os alunos.
Buscando retirar os alunos do cotidiano de aula expositiva, a Feira objetivou discutir doenças
infecto-parasitárias de forma lúdica e interativa. Assim, foi priorizada uma exposição das informações
seguindo o modelo de roda de conversa, ao invés da aplicação de questionários. Dessa forma, a
atividade de extensão constituiu uma troca de experiências de cunho informal, buscando deixar o
ambiente confortável para as crianças.
EXTENSÃO PUC MINAS:
818 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Um total de 177 alunos, sendo 60% da Escola Municipal Professor José Luiz de Mesquita e
40% da Escola Municipal Umbelina Azevedo Avellar, participaram da exposição. De modo geral, os
alunos responderam de forma positiva ao material exposto na Feira de Ciências, participando das
discussões e realizando perguntas e relatos de casos. Ao longo dos dias de ação, diversos alunos
pediram para visualizar novamente as sessões.
Ao fim da primeira sessão, os discentes e os alunos discutiram algumas medidas preventivas
para leishmaniose visceral, como a importância de se realizar um manejo de cães em situação de rua,
estimular posse responsável de animais domésticos, vacinar cachorros, utilizar coleiras impregnadas
com deltametrina a 4% em cães, evitar acúmulo de matéria orgânica, dentre outros. Ao longo dessa
sessão, foram apresentados diversos relatos de crianças que já haviam tido um contato prévio com
leishmaniose por conhecerem casos de cães infectados no bairro onde residiam. Ainda, faz-se
necessário ressaltar que no início dessa primeira exposição, muitos alunos confundiram “mosquito-
palha” com “mosquito da dengue”.
Ações de Educação em Saúde direcionadas para a dengue são uma prática de grande enfoque
no Brasil, o que pode causar uma confusão na compreensão de outras infecções transmitidas por
vetores (MONZAN; SANTANA; FRANCESCHINI, 2018). Quando essa confusão foi notada pelos
voluntários do projeto, a diferença entre dengue e outras doenças passou a ser salientada para os
alunos.
Ao final da segunda sessão, a maioria dos alunos soube diferenciar os artrópodes vetores e
helmintos expostos, discutindo sobre medidas de prevenção que deveriam ser implantadas em suas
casas. Ainda, o público se mostrou interessado no material exposto, interagindo com os voluntários
da Feira.
De acordo com Andrade, Andrade e Leandro (2019), o uso de maquetes em escolas contribui
para a difusão e apropriação do conhecimento científico, incentivando a interatividade do conteúdo
ministrado. De fato, durante a terceira sessão, os alunos interagiram e brincaram com a maquete
exposta. Diversos alunos relacionaram os ambientes e as questões apresentadas, com o cotidiano de
suas residências. As crianças também discutiram sobre a importância do meio ambiente no
desenvolvimento de novas doenças, inclusive, relacionando o meio ambiente com a pandemia da
COVID-19.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 819

As práticas educativas com auxílio de projetos de extensão universitária são uma estratégia
importante no enfrentamento de doenças infecciosas e parasitárias no Brasil, cooperando com a
disseminação de medidas de prevenção na comunidade. Assim, ações de extensão em Educação em
Saúde, como a realizada, demonstram uma forma eficaz de disseminar o conhecimento e despertar o
interesse de crianças em assuntos da saúde pública. Ainda, o contato dos discentes com alunos de
escolas municipais reforça uma relação íntima dos estudantes universitários com o ensino brasileiro,
além de incentivar a busca por cursos superiores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações realizadas nas escolas se mostraram eficazes na difusão do conhecimento de doenças


que acometem a comunidade. Assim, ações de extensão em educação em saúde, em escolas, devem
ser implementadas com o intuito de auxiliar os órgãos de saúde no enfrentamento de doenças que
afetam a saúde pública.

Palavras-chave: Feira de Ciências. Prevenção às doenças. Extensão.


Keywords: Science Fair. Disease prevention. Extension.

REFERÊNCIAS

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Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília, DF: Ministério da Saúde;
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leishmaniose visceral. Série A. Normas e Manuais Técnicos, 2014.
EXTENSÃO PUC MINAS:
820 Novo Humanismo, novas perspectivas

MONTENEGRO, Antônia; MARQUES, Maria Elizabeth; LEAL, Rita de Souza. Direitos humanos:
pauta da extensão universitária na PUC Minas. Universidade e Direitos Humanos: práticas
desenvolvidas, p. 27, 2009.
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e particulares do município de Descalvado/SP. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, v. 19, n. supl,
p. 80-83, 2018.
ANDRADE, Fabio Junior do Espirito Santo; ANDRADE, Leila Nalis Paiva da Silva; LEANDRO,
Gustavo Roberto dos Santos. Pibid: o uso da maquete no ensino fundamental na escola estadual
coronel Antônio Paes de Barros na cidade de Colider/Mato Grosso. Revista Equador, v. 8, n. 3, p.
350-370, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 821

Ensino de anatomia e noções de primeiros socorros em Divinópolis-MG

Teaching anatomy and first aid notions in Divinópolis-MG

Bárbara Samelyne de Oliveira Melo1


Daniel Gonçalves Elias2
Lorrayne Evellyn Lopes Moreira3
Heber Paulino Pena4
Maira de Castro Lima5

INTRODUÇÃO

O longo percurso percorrido pelos profissionais que lidam com a vida humana propicia seu
contato com distintos campos do conhecimento, colaborando para a consolidação dos pilares
norteadores de sua conduta profissional. Nesse sentido, matérias como a Anatomia, constituem-se
como disciplinas indispensáveis à formação básica, pois compreendem o estudo de estruturas
macroscópicas da arquitetura humana e das correlações entre elas (DRAKE, 2015).
O ensino da anatomia humana é essencial na formação socorristas, pois permite o
aprimoramento das técnicas de salvamento. Além disso, noções de Primeiros Socorros (PS), os quais
são compreendidos como um atendimento temporário e imediato de uma pessoa que se encontra
ferida ou que adoece de forma repentina (HAFEN et al, 2002), também são fundamentais para
profissionais da educação. Isso porque o conhecimento das técnicas básicas possibilita uma tomada
de atitude perante uma situação de emergência (RESENDE et.al, 2017).
Tendo em vista a redução de danos e proteção da vida, é de suma importância que o socorrista
seja capaz de identificar alterações anatômicas morfofuncionais. Associada a essa ideia, noções de
PS devem ser uma realidade da população brasileira, tendo em vista que o serviço de emergência nem
sempre está a pronto atendimento (MAIA et al., 2021).

1
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: samelyne.bah14@aluno.ufsj.edu.br.
2
Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: daniel655.dga@aluno.ufsj.edu.br.
3
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: lorrayne.elm.ufsj@aluno.ufsj.edu.br.
4
Técnico de Laboratório da Universidade Federal de São João del-Rei. E-mail: heberpaulino@ufsj.edu.br.
5
-Professora Associada da Universidade Federal de São João Del-Rei. E-mail: mairacastrolima@ufsj.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
822 Novo Humanismo, novas perspectivas

Dessa forma, a partir de uma parceria entre o 10º Batalhão de Bombeiros Militar e a
Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu (UFSJ/CCO), iniciou-
se o projeto de extensão para ensino de anatomia aos bombeiros em 2015. Em 2016 e 2017, o projeto
ampliou seu público-alvo para militares do Tiro de Guerra Militar, o Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência (SAMU) e as polícias Civil, Militar e Federal.
Neste ínterim, considerando a importância do conhecimento da anatomia no contexto dos
primeiros socorros e o impacto das ações extensionistas realizadas no município de Divinópolis-MG,
o então projeto de extensão estendeu seu público-alvo, tornando-se um programa, no ano de 2019.
No início de 2020, pretendia-se atender as instituições educativas, porém, com o advento da pandemia
da COVID-19, houve a necessidade de interromper as ações presenciais, dando início às atividades
remotas.
Diante desse contexto amplo que representa as ações extensionistas e, ao considerar sua
magnitude para a sociedade, espera-se tornar possível essa difusão de conhecimentos para além da
Universidade. Nesse sentido, busca-se com este estudo descrever as ações realizadas pelo Programa
de Extensão durante todo o seu período de atuação.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Trabalhos científicos mostram que o estudo da anatomia é essencial na formação e


treinamento de socorristas e da aplicação de técnicas na prática profissional. O protocolo de
Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), deve ser adaptado para diferentes vítimas, adultos e crianças.
A estrutura corporal da criança requer mudanças da técnica descrita em adultos. Babbs e Nadkarni,
em 2004, realizaram um estudo para estimar a relação de compressões torácicas para ventilação na
RCP a fim de maximizar o aporte sistêmico de oxigênio nas crianças. Concluiu-se que, a relação
compressão/ventilação na RCP deve ser menor para as crianças do que para os adultos e aumentada
gradualmente como uma função do peso corporal. A RCP nas crianças requer relativamente mais
ventilação do que a RCP nos adultos (BABBS; NADKARNI, 2004).
O domínio do conhecimento da anatomia permite ao profissional socorrista maior capacidade
de aprendizado, realização e adaptação das técnicas de socorro, já que há questões associadas aos
posicionamentos específicos em determinadas manobras e variações conforme a faixa etária atendida,
o que demanda esse maior aprendizado sobre os sistemas orgânicos. Os desafios da prática
profissional são muitos e a formação em Ciências Morfológicas é fundamental para o currículo desses
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 823

profissionais. As situações de risco enfrentadas por policiais e militares do Exército, como aqueles
em formação do Tiro de Guerra Militar, justificam as noções de primeiros socorros para esses
profissionais.
Sobre o ensino de noções de Primeiros Socorros (OS) para professores, trabalhos mostram um
impacto relevante sobre os participantes. Professores pré-escolares na China receberam capacitação
de PS para serem realizados em crianças. Foram aplicados pré e pós-teste e um acompanhamento a
longo prazo do aprendizado e retenção das informações por dois anos. Todos os professores acertaram
mais perguntas no pós-teste. E mesmo que o acerto diminuísse ao longo do tempo, os professores
continuaram tendo conhecimento sobre Primeiros Socorros infantis. Destaca-se que o professor é o
principal alvo do programa em relação à escola, visto que ele é capaz de executar uma manobra e
salvar um estudante (LI et al. 2014).

3 METODOLOGIA

O Programa de Extensão “Ensino de Anatomia e Primeiros Socorros”, coordenado pela


docente de anatomia da UFSJ e com colaboração do Técnico de Laboratório de Habilidades e
Simulações, da Universidade, é financiado pelo Programa de Bolsas de Extensão da UFSJ, abrange
a seleção e capacitação de extensionistas bolsistas e voluntários, estudos sobre Anatomia Humana e
Primeiros Socorros, planejamento e desenvolvimento teórico-prático do conteúdo ministrado, além
da avaliação e monitoramento das atividades.
O público-alvo do programa são os Bombeiros Militares, o Tiro de Guerra, as Polícias Civil,
Militar e Federal, além de profissionais das instituições de ensino, podendo até mesmo contemplar a
população em geral. Partindo desse pressuposto, os atendimentos ocorrem conforme a demanda e
priorizam a teoria e prática com direcionamento ao grupo específico.
Para fins de avaliação do conhecimento e do impacto das ações feitas, é construído pelos
extensionistas um questionário com perguntas básicas sobre os conteúdos que serão discutidos. Ele é
aplicado antes e após as aulas, para comparar o aprendizado obtido por aquele público-alvo.
As ações acontecem após encontros teórico-práticos semanais de capacitação dos alunos
extensionistas, sendo que os encontros teóricos acontecem via plataforma digital Google Meet e os
práticos ocorrem no Laboratório de Anatomia Humana e de Habilidades e Simulações da UFSJ/CCO.
EXTENSÃO PUC MINAS:
824 Novo Humanismo, novas perspectivas

O conteúdo estudado e ministrado é preparado com base em artigos científicos e nos principais
protocolos atualizados. Após a capacitação, a ação extensionista acontece na comunidade através de
uma troca de saberes entre academia e público-alvo.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Durante o biênio 2018-2019, o programa realizou aulas para os profissionais do SAMU, Tiro
de Guerra, Bombeiros e professores do CEMEI. As aulas eram adaptadas conforme o público alvo,
visando atender às necessidades daqueles que seriam contemplados. Além disso, antes e depois de
cada aula era aplicado uma prova para comparar o conhecimento adquirido e avaliar o aprendizado e
a eficácia das ações realizadas.

Figura 1 - Ação no Corpo de Bombeiros - Divinópolis/MG,


Parte I. Parte II.

Fonte: Acervo dos autores, 2019.

A estratégia de aplicação do questionário favorece na avaliação das atividades e no


planejamento das próximas ações. Dessa maneira, beneficiou a associação entre extensão e pesquisa,
dado que já foram publicados artigos científicos, tais como: “A importância do ensino de anatomia
humana na formação de profissionais do corpo de bombeiros militar” e “Educação em saúde para
integrantes do tiro de guerra: experiência entre universidade e exército brasileiro”.
No início de 2020, devido à pandemia da COVID-19, as atividades presenciais foram
suspensas, o que gerou a necessidade da criação de novos métodos para o compartilhamento e troca
de conhecimentos. Dessa forma, iniciou-se o uso das plataformas digitais. No Instagram, foram feitas
postagens sobre os sistemas orgânicos do corpo humano, associando-os a emergências e primeiros
socorros. Esse meio midiático colaborou com a divulgação de informações para públicos diversos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 825

Quanto ao Google Meet, foi utilizado para os encontros quinzenais entre os extensionistas, por meio
dos quais eram feitos os grupos de discussões.

Figura 2 - Perfil do programa de extensão na rede social Instagram

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Atualmente, o programa retornou de maneira presencial e está ocorrendo a revisão do


conteúdo teórico necessário para o compartilhamento de saberes com as instituições associadas. O
estudo é feito nos laboratórios de Anatomia da UFSJ/CCO e no Laboratório de Habilidades, com
auxílio do técnico de laboratório e colaborador do programa, o qual tem ministrado aulas sobre os PS
e as urgências e emergências mais frequentes no cotidiano e qual a relação de cada uma delas com a
anatomia e a clínica. Além disso, as instituições estão sendo convidadas novamente, visto que se
planeja que as atividades nos respectivos locais sejam retomadas até julho de 2022.

Figura 4 - Grupos de discussões no laboratório de anatomia da UFSJ/CCO.

Fonte: Acervo doa autores, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
826 Novo Humanismo, novas perspectivas

Figura 5 - Treinamento de primeiros socorros realizado no


Laboratório de Habilidades da UFSJ/CCO.

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações desenvolvidas evidenciaram que a comunidade universitária tem a capacidade de


intervir de modo eficaz, assim como de impulsionar mudanças na sociedade. Dessa maneira, esse
programa pode ser replicado em território nacional, uma vez que possibilita uma ampla troca de
conhecimentos acerca da anatomia dos principais sistemas orgânicos do corpo humano e das
manobras de primeiros socorros. Ressalta-se que a estratégia das mídias sociais permitiu compartilhar
esses saberes com uma população leiga e diversa. Sendo assim, a manutenção dos meios digitais
associado às aulas de cunho teórico-prático são os pilares do programa de extensão.

Palavra-chave: Anatomia. Primeiros Socorros. Ensino. Educação continuada.


Keywords: Anatomy. First Aid. Teaching. Education, Continuing.

REFERÊNCIAS

BABBS, C.F.; NADKARNI, V. Optimizing chest compression to rescue ventilation ratios during
one-rescuer cpr by professionals and lay persons: children are not just little adults. Resuscitation.,
v. 61, p. 173– 181, 2004.
DRAKE, Richard L; VOGL, A. Wayne; MITCHELL, Adam W. M. Gray Anatomia clínica para
estudantes. 3. Rio de Janeiro. GEN Guanabara Koogan 2015.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 827

HAFEN, B. Q et al. Primeiros Socorros para Estudantes. 7ª.ed. São Paulo: Editora Manole Ltda:
2002.
LI, F., SHENG, X., ZHANG, J., JIANG, F., SHEN, X. Effects of pediatric first aid training on
preschool teachers: a longitudinal cohort study in china. BMC Pediatrics., 14:209, 2014.
MAIA, César Quadros; GUADALUPE, Maria Alice; SANTOS, Ingrid Morselli; RESENDE,
Karina Aparecida; PENA, Heber Paulino; LIMA, Maira de Castro. Educação em saúde para
integrantes do tiro de guerra: experiência entre universidade e exército brasileiro. Revista Extensão
& Cidadania. v. 9, n. 15, p. 119-130, jan./jun. 2021. ISSN 2319-0566; DOI: 10.22481/recuesb.
v9i15.8670
RESENDE, K.; MACHADO, D.; FARIA, K.; SENA, L.; DINIZ, M.; LIMA, M. A importância do
ensino de anatomia humana na formação de profissionais do corpo de bombeiros militar. Revista
Brasileira de Extensão Universitária., v. 8, n. 3, p. 159-165, 21 dez. 2017.
EXTENSÃO PUC MINAS:
828 Novo Humanismo, novas perspectivas

Esporotricose humana em Contagem/MG: emergência de casos

Human Sporotricosis in Contagem/MG: emergency of cases

Camila de Aguiar Lima Fernandes1


Keyla Christy Christine Mendes Sampaio Cunha2
Lavínia de Fátima Baldim Martins3
Victor Reis Rocha4

INTRODUÇÃO

A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos dimórficos pertencentes ao


complexo Sporothrix schenckii, sendo S. brasiliensis, S. globosa, S. mexicana e S. schenckii stricto
sensu as espécies mais relevantes (SCHECHTMAN et al., 2022). Os agentes encontram-se
amplamente distribuídos na natureza, sendo comumente encontrados em solos, plantas e matéria
orgânica em decomposição (SANTOS et al., 2018). A doença pode ser categorizada em afecções
cutâneo-linfáticas, cutânea localizada, disseminada (cutânea ou sistêmica) e extracutânea (PIRES,
2017). Na forma disseminada sistêmica, são afetados principalmente os sistemas nervoso central,
pulmonar e osteoarticular. Apesar de raro, indivíduos acometidos podem vir à óbito, principalmente
imunossuprimidos (TELLES et al., 2011).
A afecção é classificada como micose de implantação, uma vez que possui como rota da
transmissão a inoculação traumática dos microrganismos em tecidos subcutâneos (BELO
HORIZONTE, 2018). Trabalhadores que possuem contato direto com espinhos e lascas de madeira
possuem um maior risco para a doença, que também é conhecida como “doença do jardineiro”
(SCHECHTMAN et al., 2022; SANTOS et al., 2018).
A ocorrência tem sido frequentemente associada à arranhadura ou mordedura de animais
infectados, sendo a espécie felina a principal envolvida na transmissão zoonótica da esporotricose

1
Médica Veterinária/Aluna do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: camila.aguiar@sga.pucminas.br.
2
Médica Pediatra/Docente do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: 1073565@sga.pucminas.br.
3
Nutricionista/Aluna do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: lavinia.baldim@sga.pucminas.br.
4
Aluno do curso de Medicina da PUC Minas. E-mail: victor.rocha.1268545@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 829

(BELO HORIZONTE, 2018; SANTOS et al., 2018). Os gatos carregam o agente nas unhas e em
cavidade oral, possuindo grande quantidade da levedura em suas lesões, quando comparados a outros
animais (SILVA et al., 2017). Felinos infectados podem apresentar desde infecções subclínicas a
lesões cutâneo-mucosas múltiplas e disseminadas, podendo apresentar também sinais extracutâneos
graves (SANTOS et al., 2018). O fato da esporotricose ser transmitida por animais que vivem em
residências e possuem estreita relação com os seres humanos, faz com que esta zoonose adquira
grande importância epidemiológica na atualidade (BARROS et al., 2012).
Desde sua emergência no Brasil, a esporotricose tem sido responsável por internações e óbitos
em todo o território nacional (SCHECHTMAN et al., 2022). Em Minas Gerais, casos de esporotricose
tanto em felinos quanto em humanos têm sido comunicados ao serviço de controle de zoonoses desde
o ano de 2015 (SANTOS et al., 2018). Na cidade de Contagem, a primeira notificação em humanos
foi registrada em 2016 no distrito Ressaca e, desde então, têm-se observado uma grande expansão do
número de casos em todo o município, demonstrando a ampliação da distribuição espacial da zoonose
(CONTAGEM, 2021).
A esporotricose tem ocorrido sob a forma de surtos epidêmicos e, por ser uma doença de alto
poder zoonótico, na atualidade é considerada um problema de saúde pública (PIRES, 2017). Dada à
importância do tema, o presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento da emergência
de casos de esporotricose em humanos ocorridos em Contagem/MG, visando uma maior compreensão
acerca da dinâmica doença no município.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Os autores vivenciaram o atendimento de um caso suspeito de esporotricose durante


atendimento médico, realizado através da disciplina curricular de Semiologia do curso de Medicina
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). A consulta foi realizada uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) do distrito Ressaca, localizada em Contagem/MG. A partir da
vivência, foi realizado um estudo observacional de caráter descritivo e quantitativo, com a utilização
de dados levantados na literatura e dados secundários não nominais e de domínio público do banco
de dados do Sistema Único de Saúde, disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS) e tabulados por meio do TABNET.
Os dados foram referentes ao número de casos de esporotricose e mortalidade em humanos,
levantados de 2016 a 2020. Efetuou-se ainda uma busca na Biblioteca Virtual em Saúde, aplicando-
EXTENSÃO PUC MINAS:
830 Novo Humanismo, novas perspectivas

se o descritor "Esporotricose", onde foram obtidos 55 resultados. Estes foram filtrados por “texto
completo”, “assunto principal” e “intervalo de ano de publicação”, sendo eliminados ainda os
trabalhos publicados anteriormente a 2016. Destes, 7 artigos se adequaram aos critérios pré-
estabelecidos, os quais foram lidos integralmente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a realização da disciplina curricular de Semiologia do curso de Medicina da PUC


Minas/Contagem em uma UBS do distrito Ressaca, foi avaliada pelos autores uma criança de 3 anos,
que apresentava lesões cutâneas (erupções planas, arredondadas, escamosas e avermelhadas) de 1 a
2 cm de tamanho, dissseminadas por todo o corpo. A mãe da criança apresentava lesões similares,
informando também a presença de alterações na pele da gata da família. Esta última informação,
juntamente com a história e exame clínico do paciente foi o principal fator para considerar a suspeita
de esporotricose. Os estudantes e profissionais que atenderam a família informaram-na sobre a
doença, a importância da realização dos exames e do tratamento adequado. A mãe optou por não dar
seguimento às orientações, mesmo após visita domiciliar posterior. Como forma de intervenção, os
alunos elaboraram cartazes informativos sobre a doença, considerando a interdisciplinaridade do
tema, buscando conscientizar a população em risco assistida pela UBS sobre a saúde humana e
animal.
Em relação à evolução da notificação dos casos de esporotricose humana no município
estudado, segundo dados disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Contagem, em 2016, apenas
um caso foi registrado no município estudado. Por sua vez, foram notificados 8 casos em 2017 e 15
em 2018. Em 2019, houve a notificação de 47 casos, os quais encontravam-se distribuídos por todos
os distritos e, em 2020, foram notificados 61 casos no município (CONTAGEM, 2021). A evolução
das notificações nesses anos no município de Contagem é mostrada na Figura 01.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 831

Figura 1 – Notificações de casos de esporotricose


no município de Contagem nos anos de 2016 a 2020.

Fonte: Contagem (2021).

Em relação à mortalidade, entre 2016 e 2020, houve dois óbitos por esporotricose em
Contagem, o primeiro ocorrendo em 2018 e o segundo em 2020 (BRASIL, 2022).
A esporotricose possui distribuição mundial, sendo sua ocorrência associada à locais quentes
e úmidos de clima tropical e subtropical (MILLINGTON, 2017). No Brasil, os primeiros relatos
ocorreram a partir da década de 90 no Rio de Janeiro, onde a zoonose se instalou e expandiu para
outros estados (SCHECHTMAN et al., 2022). De acordo com Barros et al., (2011), de 1998 a 2009
foram diagnosticados mais de 2.000 casos em humanos no Rio de Janeiro e mais de 3.000 casos em
gatos. Estados de todas as regiões do país como Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Amazonas, Mato Grosso
iniciaram a notificação compulsória após o aparecimento de casos tanto em animais quanto em
humanos (SCHECHTMAN et al., 2022; FIOCRUZ, 2021; BELO HORIZONTE, 2018).
Em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde publicou uma portaria determinando a inclusão
da esporotricose na lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
pública. Entretanto, a medida foi revogada, o que juntamente com a dificuldade de identificação da
doença, favorece a subnotificação dos casos (SCHECHTMAN et al., 2022).
Segundo Silva et al. (2017), gatos de livre acesso à rua desempenham um importante papel
na epidemiologia da esporotricose. Alguns fatores podem estar contribuindo para a disseminação
desta zoonose, como questões comportamentais inerentes aos felinos (comportamento agressivo por
disputa territorial, contato direto com solo e plantas) e o fato destes animais terem uma coabitação
EXTENSÃO PUC MINAS:
832 Novo Humanismo, novas perspectivas

íntima com os seres humanos, a qual tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Assim
como o ser humano, o gato adoece e necessita de tratamento adequado (PIRES, 2017; SCHUBACH
et al., 2008).
De acordo com Pires (2017), a esporotricose atinge principalmente pessoas de classes sociais
menos privilegiadas, que vivem nas periferias. A fim de evitar um surto em animais e humanos, é
fundamental uma abordagem multidisciplinar, visando informar à população sobre o correto manejo
dos animais, a prevenção da doença e seu tratamento.
Ainda não há, em Contagem, um programa de controle robusto para a esporotricose felina.
Campanhas de conscientização poderão contribuir para a divulgação de aspectos importantes
relacionados à doença, como a separação dos animais doente e saudáveis, precaução ao manipular
animais acometidos, além do cuidado para a não ocorrência de mordidas ou arranhaduras desses
animais. É fundamental ainda a prevenção por meio da educação de tutores para a guarda responsável
de seus animais (incluindo a castração, restrição de acesso à rua, tratamento de animais doentes e
destinação correta de cadáveres), indispensável para a luta contra esta zoonose (SANTOS et al., 2018;
PIRES, 2017).
É importante destacar que, mesmo em casos humanos cujos pacientes são sintomáticos, ainda
há subnotificação, além da possibilidade de infecção subclínica ou de cura espontânea, que não são
notificados (SCHUBACH et al., 2008). Dessa forma, mesmo com a evidente emergência atual, ainda
é imprecisa a ocorrência e distribuição da doença no município de Contagem, o que requer aponta
para a urgência de uma maior atenção ao assunto. Ações mais eficazes devem ser tomadas quanto à
prevenção e ao tratamento da doença, bem como medidas educativas à população (PIRES, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A esporotricose tem apresentado comportamento emergente no município de Contagem nos


últimos anos, particularmente de 2016 (primeiro caso notificado) a 2020. Na esfera da saúde pública,
atualmente ainda faltam investimentos e informação para a população, principalmente a mais
vulnerável. Frente a estes aspectos, é de grande importância uma maior atenção para essa zoonose,
que requer adequações em sua vigilância para tratamento e acompanhamento dos casos, tanto em
humanos quanto em animais.

Palavras-chave: Saúde única. Sporothrix spp. Micoses.


Keywords: One health. Sporothrix spp. Mycoses.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 833

REFERÊNCIAS

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necessidade de prevenção à esporotricose. Disponível em:
https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisadoras-da-fiocruz-amazonia-alertam-sobre-necessidade-de-
prevencao-esporotricose. Acesso em: 14 jun. 2022.
MILLINGTON, Maria Adelaide. Esporotricose. 2017. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/cmads/apresentacoes-em-eventos/eventos-2017/26-09-17-plano-de-acao-para-
prevencao-e-combate-a-esporotricose/apresentacoes/maria-adelaide-millington/view. Acesso em:
14 jun. 2022.
PIRES, C. Revisão de literatura: esporotricose felina. Revista de Educação Continuada em
Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 15, n. 1, p.16-23, 2017.
SANTOS, Agna Ferreira et al. Guia prático para enfrentamento da esporotricose felina em Minas
Gerais. Revista V&Z em Minas, n. 137, p. 16-27, 2018.
SCHECHTMAN, Regina Casz et al. Esporotricose: hiperendêmica por transmissão zoonótica, com
apresentações atípicas, reações de hipersensibilidade e maior gravidade. Anais Brasileiros de
Dermatologia, v. 97, n. 1, p. 1-13, 2022.
SCHUBACH, Armando et al., Epidemic sporotrichosis. Current Opinion in Infectious Diseases,
v. 21, n. 2, p. 129-133, 2008.
SILVA, M.C. et al. Incidência do complexo Sporothrix schenckii nas unhas de gatos no município
de Itajubá (MG). Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do
CRMV-SP, v. 15, n. 2, p. 85-85, 2017.
TELLES, Flavio Queiroz et al., Sporotrichosis in immunocompromised hosts. Journal of Fungi, v.
5, n. 1, 2011.
EXTENSÃO PUC MINAS:
834 Novo Humanismo, novas perspectivas

Estoque de carbono em sistema silvipastoril formado com a espécie nativa


brasileira Pterodon Emarginatus

Soil carbon stock in a silvipastoral system with native


brazilian species Pterodon Emarginatus

Pedro Souto Lamas1


Ana Eliza da Silva2
Yandra Mendes Nunes3
Guilherme Lobato Menezes4
Ângela Maria Quintão Lana5
Alan Figueiredo de Oliveira6

INTRODUÇÃO

A degradação de pastagens no Brasil é um fenômeno que emite grandes quantidades de


carbono para a atmosfera e impacta negativamente a sustentabilidade. O Sistema Silvipastoril (SSP)
é um sistema integrado capaz de recuperar a produtividade do solo, reduzir a necessidade de abertura
de novas áreas agrícolas e aumentar o estoque de carbono no solo (SCS) (NAIR et al., 2009;
CÁRDENAS et al., 2018). Objetivou-se determinar o teor de carbono (TOC) e o SCS em SSP
formado por Urochloa brizantha cv. Marandu e a árvore nativa brasileira Pterodon emarginatus.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O estoque de carbono em SSP é aumentado pela menor perturbação do solo, maior deposição
de liteira, redução da erosão, maior ciclagem de nutrientes de camadas mais profundas e pela maior

1
Discente de Medicina Veterinária pela Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:
pedro.soutolamas@gmail.com.
2
Discente de Medicina Veterinária pela PUC Minas. E-mail: aeliza899@gmail.com.
3
Discente de Medicina Veterinária pela PUC Minas. E-mail: yandramendesn@gmail.com.
4
Discente de Pós-graduação do Departamento de Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail:
guilhermemenezes@vetufmg.edu.br.
5
Docente do Departamento de Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: lana@vet.ufmg.br.
6
Docente do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas. E-mail: alanfigueiredodeoliveira@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 835

proteção da matéria orgânica (VICENTE et al., 2016; CÁRDENAS et al., 2018). Os SSP mais
utilizados no Brasil apresentam diferentes arranjos entre árvores de Eucalyptus sp. e pastagens de
Urochloa sp. (TONUCCI et al., 2011). Entretanto, esses sistemas usualmente utilizam a madeira para
produção de carvão, o que retorna grande parte do carbono estocado no SSP para a atmosfera. Nesse
contexto, a utilização de árvores nativas em SSP é uma estratégia para recuperação de áreas degradas
e estocar carbono permanentemente no solo (LANA et al., 2016; CÁRDENAS et al., 2018).

3 METODOLOGIA

O estudo foi conduzido no Bioma Cerrado, Fazenda Campo Alegre, município de Itapecerica,
Minas Gerais, Brasil (20°28'24''S, 45°7'36''O, 725m altitude). O clima é classificado como temperado
úmido com inverno seco segundo classificação Köppen. Uma área de mata nativa de 61 ha foi
desmatada em 1990 e transformada em pasto de Urochloa brizantha cv. Marandu.
Desses 61ha, 26ha fotsm mantidod sem árvores por meio de corte de toda vegetação e
considerado pasto em pleno sol (PPS) e 35ha foram transformados em SSP com 156 árvores/ha de
Pterodon emarginatus. Essa conversão foi realizada por meio de corte seletivo, em que se cortaram
as plantas invasoras e se mantiveram as árvores. Não foi realizada nenhuma correção da acidez ou
adubação da pastagem nos sistemas.
Em 2016, foram abertas em locais aleatórios cinco trincheiras no SSP e quatro trincheiras no
PPF. As trincheiras tinham dimensão de 1,5m de largura, 1,5m de comprimento e 1,5m de
profundidade. Foram coletadas amostras de solo nas camadas de 0-10cm, 10-20cm, 20-40cm, 40-
100cm e 100-140cm. O TOC (g kg-1) foi determinado por combustão seca no aparelho analisador de
carbono Leco® (Nelson e Sommers, 1982). O SCS médio por camada, expresso em Mg/ha/cm de
profundidade, foi determinado multiplicando a densidade do solo pelo teor de carbono (ALMEIDA
et al., 2021).
Os dados foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilk e Barttlet para verificar os
pressupostos de normalidade e homoscedasticidade e apresentaram alta variação. Logo, foi realizada
transformação logarítmica. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado
em parcela subdividida, sendo a parcela a trincheira e a subparcela as profundidades. Utilizaram-se
nove repetições, cinco no SSP e quatro no PPS. A comparação entre SSP e PPS foi realizada pelo
teste de Fisher e entre as profundidades pelo teste de Tukey, com taxa de erro menor que 5%.
EXTENSÃO PUC MINAS:
836 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O TOC apresentou interação significativa entre sistema e profundidade (p=0.0267) (Tabela 1)


e foi superior nas camadas superficiais em comparação com as mais profundas nos dois sistemas; nas
camadas de 0-40cm foi semelhante entre os sistemas, porém, o SSP teve 35,0 e 47,3% mais TOC que
o pleno sol nas camadas de 40-100 e 100-140cm, respectivamente. O SCS apresentou interação
significativa entre sistema e profundidade (p=0.0045). De forma semelhante ao TOC, o SCS foi maior
nas camadas superiores em comparação com as mais profundas. O SCS foi semelhante entre os
sistemas nas camadas até 40cm. O SCS foi 22,2 e 35,0% maior no SSP em comparação ao pleno sol
nas camadas de 40-100cm e 100-140cm, respectivamente.

Tabela 1. Teor de carbono orgânico (g/kg) e estoque de carbono no solo (Mg/ha/cm)


em sistema silvipastoril e pleno sol

Soil depth (cm) Full sun pasture Silvopastoral system SEM

TOC (g/kg)
10 19.0Aa 20.7Aa
20 13.2Ba 16.0Ba
40 11.0Ba 14.2Ba 0.7367
100 8.00Cb 10.8Ca
140 5.65Db 8.32Da
SCS (Mg/ha/cm)
10 2.80Aa 2.77Aa
20 1.98Ba 2.11Ba
40 1.69Ba 1.84Ba 1.0206
100 1.17Cb 1.43Ca
140 0.778Db 1.05Da
SEM, standard error of mean; Médias seguidas de letras distintas,
maiúscula na coluna e minúscula na linha, diferem pelo teste de Tukey (p<0,05).

O SSP teve maior SCS nas camadas mais profundas do solo em comparação com o PPS. Esse
maior teor de carbono nas camadas mais profundas pode ser atribuído ao sistema radicular mais
robusto e profundo das árvores em comparação com o pasto (CÁRDENAS et al., 2018). Em SSP
com árvores nativas na Nicarágua, Andrade et al. (2008) observaram maior proporção de raízes
estruturais e finas nas camadas mais profundas em comparação com pastagens sem árvores. A
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 837

renovação e degradação dessas raízes em camadas mais profundas do solo aumenta a deposição de
carbono (NAIR et al., 2009). Além disso, o carbono é menos propenso a degradação microbiana
nessas camadas mais profundas, o que pode auxiliar no aumento e na manutenção desse carbono no
solo.
Nosso estudo mostrou que é preciso avaliar camadas mais profundas do solo quando se estuda
SCS em SSP. Sarto et al. (2020) não observaram diferença no SCS entre o SSP, o PPS e o Cerrado
nativo até a camada de 20cm e Almeida et al. (2021) também não observaram diferença no SCS entre
dois SSP e a PPS até 40cm. Provavelmente, se esses estudos tivessem avaliado maiores
profundidades, teriam observado maior SCS no SSP. Essa igualdade no SCS nas camadas mais
superficiais pode ser atribuída ao fato que o SSP tem maior deposição de liteira em comparação ao
pleno sol; porém, o pleno sol tem crescimento mais vigoroso da parte aérea e radicular da pastagem,
o que aumenta a ciclagem de carbono e o SCS em comparação ao SSP (SANTOS et al., 2019).
Os SSP mais utilizados no Brasil utilizam eucalipto como espécie arbórea. Porém, a maior
parte dessa madeira é utilizada em indústrias como lenha ou carvão. Essa queima retorna para a
natureza grande parte do carbono estocado na biomassa aérea do SSP (ANDRADE et al., 2008;
FIGUEIREDO et al., 2016). Portanto, a utilização de árvore nativa pode ser uma estratégia importante
para estocar carbono permanentemente no solo do SSP.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O SSP apresentou maior SCS que o PPS, principalmente nas camadas mais profundas. A
utilização de árvores nativas em SSP pode ser uma estratégia importante para aumentar o SCS
permanentemente no solo.

Palavras-chave: Agrofloresta. Efeito estufa. Manejo de carbono. Sistemas integrados. Sumidouro de


carbono.
Keywords: Agroforestry. Greenhouse effect. Carbon management. Integrated systems. Carbon sink.
EXTENSÃO PUC MINAS:
838 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L.L.S. et al. Soil carbon and nitrogen stocks and the quality of soil organic matter
under silvopastoral systems in the Brazilian Cerrado. Soil Tillage Research. v. 205, 104785, 2021.
ANDRADE, Hernán J. et al. production and carbon sequestration of silvopastoral systems with native
timber species in the dry lowlands of Costa Rica. Plant Soil. v. 308, p. 11-22, 2008.
CÁRDENAS, Aura et al. Ecological structure and carbon storage in traditional silvopastoral systems
in Nicaragua. Agroforestry Systems. v. 93, p. 229-239, 2019.
FIGUEIREDO, E. et al. Greenhouse gas balance and carbon footprint of beef cattle in three
contrasting pasture-management systems in Brazil. Journal Cleaner Production, v. 30, p. 1-12,
2016.
LANA, Â. M. Q. et al. Influence of native or exotic trees on soil fertility in decades of silvopastoral
system at the Brazilian savannah biome. Agroforestry systems, v. 92, p. 415-424, 2018.
NAIR, Ramachandran et al. Soil carbon sequestration in tropical agroforestry systems: a feasibility
appraisal. Environmental Science & Policy, v. 12, p. 1099-1111, 2009.
NELSON, D. W.; SOMMERS, L. E. Total carbon, organic carbon and organic matter, in: Page, A.L.,
Miller, R.H., Keeney, D.R., (Eds.), Methods of soil analysis: chemical and microbiological properties.
American Society of Agronomy, Madison, p. 539-579, 1982.
SANTOS, C.A. et al. Changes in soil carbon stocks after land-use change from native vegetation to
pastures in the Atlantic Forest region of Brazil. Geoderma Regional, v. 337, p. 394-401, 2019.
SARTO, Marcos V. M.; et al. Soil microbial community and activity in a tropical integrated crop-
livestock system. Applied Soil Ecology. v. 145, p. 1-11, 2020.
VICENTE, L.C. et al. Soil carbon stocks of Ultisols under different land use in the Atlantic
rainforest zone of Brazil. Geoderma Regional, v.7, p. 330-337, 2016.
TONUCCI, Rafael G. et al. Soil carbon storage in silvopasture and related land-use systems in the
Brazilian Cerrado. Journal of Environmental Quality. v. 40, p. 833-841, 2011.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 839

Fotos de Família: os sentidos a partir da imagem

Family Photos: the senses from the image

Eliane Meire Soares Raslan1


Ariane Stefanie2

INTRODUÇÃO

Este estudo é resultado parcial do Projeto de Extensão “Materialização do discurso entre


sujeitos e produções de sentidos na leitura fotográfica: histórias de família nas fotos dos alunos do 5º
ano do Ensino Básico”, com apoio do Edital PAEX/UEMG 01/2022. O objetivo geral desse projeto
extensionista é promover o diálogo com alunos do 5º ano do Ensino Básico, a partir das produções
de sentidos existentes em fotos de suas famílias, com auxílio da leitura fotográfica.
Trata-se de um projeto interdisciplinar que busca oportunizar aos discentes do curso de
Publicidade e do curso de Jornalismo uma aprendizagem diferenciada dos conteúdos programáticos,
através de prática multidisciplinar e interdisciplinar que busque integrar assuntos e conhecimentos
diversos de diferentes disciplinas, aplicando-os na resolução de um problema Interinstitucional,
intencionando, na equipe, o trabalho, a discussão, a parceria, a colaboração e a relação da imagem a
partir da sua leitura fotográfica em sala de aula.
Há, também, a discussão em torno das possibilidades de leitura cultural, social e humana entre
educador, estudantes e instituições parceiras, envolvendo instituições educacionais do Ensino básico,
nesse caso o 5º ano do Ensino Fundamental (E.F), que identificam com o projeto extensionista da
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Aqui, alunos da graduação ofertam oficinas e
colaboram diretamente com educadores do Ensino Básico, com práticas de análise de leitura
fotográfica. Compartilhar problemas, verificar as possibilidades de reflexão da foto como meio de
discutir a história familiar, experiências, interesses e objetivos comuns.

1
Doutora em Comunicação Social (PUCRS). Bacharel em Publicidade (PUC Minas). Professora e pesquisadora da
UEMG Unidade Divinópolis, curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e curso de Jornalismo.
Coordenadora do Centro CEPCCOM e Líder do Grupo de Estudos PROLIC. Editora da Revista FANDOM. E-mail:
eliane.raslan@uemg.br.
2
Estudante de Jornalismo UEMG/ Unidade Divinópolis. Membro dos alunos de estudos do Grupo de Pesquisa PROLIC
(CNPq). E-mail: ariane.1695167@discente.uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
840 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como base de análise para discussões teóricas e atividades práticas desse projeto
extensionista, partimos dos resultados de análise das leituras de imagem realizadas por Miriam Leite
(1994), já que nos permite verificar as formas de análise de uma imagem, além de contextos positivos
e negativos destas. Enquanto os estudos sobre os pensamentos e linguagens por Vygotsky (1996) nos
permitiram discutir a produção e os sentidos, já que são vários os significados presentes no processo
de leitura fotográfica.

3 METODOLOGIA

Esse projeto, na busca de contribuir com o aprendizado dos alunos de ensino superior, a partir
do processo de leitura de imagem, buscou parceiros de três escolas do 5º ano do Ensino Básico, sendo
todas localizadas em cidades nas quais a UEMG tenha unidades físicas, a saber: Divinópolis, Passos
e Belo Horizonte, sendo somente esta última ainda sem atividades. Realizamos oficinas e, em seguida,
exposição do material, no intuito de verificar os sentidos e significados presentes nas imagens para
os alunos, antes e após as discussões dos autores, aqui propostas na fundamentação teórica. As
produções de sentidos existentes em fotos de suas famílias são auxílio para discussões da leitura
dessas fotos.
Foram realizadas duas oficinas e duas exposições do material dos alunos. A primeira oficina
ocorreu no colégio Del Rey, na cidade de Passos, Minas Gerais, no dia 30 de maio de 2022, e a
exposição de 30 de maio a 06 de junho de 2022. A segunda ocorreu na cidade de Divinópolis, também
em Minas Gerais, na Escola Ar Livre, no Bairro Vila, no dia 14 de junho de 2022, com a exposição
de 14 de junho a 21 de junho de 2022.
Para a realização da oficina, cada aluno das escolas citadas anteriormente levou para o
ambiente escolar uma foto de algum momento importante com a família. Em uma folha de ofício A4,
eles fizeram a colagem da foto e escreveram, com suas próprias palavras, não só o contexto da
imagem, mas também quais sentimentos obtinham a partir daquele registro. A fim de incluir todas as
crianças no processo da oficina, aquelas que, por algum motivo, não levaram uma fotografia, podiam
desenhar algum momento com a família que as tenha marcado de alguma forma.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 841

Feito o exercício de pensar e materializar os sentidos obtidos a partir das imagens, cada aluno
teve um tempo para expor o trabalho realizado com os demais colegas, para que as vivências e
experiências entre os estudantes pudessem ser compartilhadas. Após a realização da oficina, foram
realizadas as colagens desse material em algum espaço mais amplo das escolas.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A oficina realizada no Colégio Del Rey (fig. 01), cidade de Passos – Minas Gerais, ocorreu
no dia 30 de maio, com duração de 5 horas (RASLAN; EMANUEL, 2022b), em seguida a exposição
do material produzido na oficina, com duração de uma semana (RASLAN; EMANUEL, 2022a).
Além disso, também ocorreu na Escola Ar Livre (fig. 02), na Cidade de Divinópolis – Minas Gerais,
com realização da oficina no dia 14 de junho, também com duração de 5 horas (RASLAN;
EMANUEL; MACHADO, 2022b), sendo que a exposição também foi realizada em seguida
(RASLAN; EMANUEL; MACHADO, 2022a).
Abaixo, está a fotografia da oficina (fig.01) realizada na cidade de Passos e, em seguida, a
exposição do Material fotográfico (fig.01), que contou com cerca de 30 alunos. Aqui, os alunos fazem
leitura das imagens da foto escolhida e apontam discussões sobre além da foto. Percebemos que todos
os alunos conseguem expressar sentidos e significados não presentes nos registros; o olhar vai além
do enxergado, constitui os sujeitos presentes na imagem que transpõe a palavra por meio de signos
produzidos nos sentidos dos laços familiares.

Figura 1 – Fotos tiradas dos alunos do 5º ano Colégio Del Rey, Cidade de Passos

Fonte: Fotografias de Vitor Emanuel, aluno de Publicidade da UEMG.


EXTENSÃO PUC MINAS:
842 Novo Humanismo, novas perspectivas

O impacto emocional ou estético da imagem sempre superava os esclarecimentos verbais. A


atração pela imagem é imediata e a sua comunicação, através de desdobramentos, na memória do
observador, de imagens semelhantes ou associadas, estabelece um vínculo instantâneo do que a
mensagem mediada pelas palavras ou pelo código escrito (LEITE, 1994, p. 3).
Abaixo, temos as fotos tiradas na cidade de Divinópolis, com cerca de 30 alunos, sendo a
oficina, seguida pela exposição (fig. 2).

Figura 2 – Fotos tiradas dos alunos do 5º ano Escola Ar Livre, Cidade de Divinópolis

Fonte: Fotografias de Ariane Stefanie da Silva, aluna de Jornalismo da UEMG.

Aqui, tivemos resultados similares aos da primeira oficina, mas a forma de interpretar os
elementos diferenciaram conforme a turma. Eles tiveram mais interesse em discutir a história do que
o exterior da foto, logo, sendo necessário buscá-los para discussão do significado além da imagem.

O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da


linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do
pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um
critério da ‘palavra’, seu componente indispensável. [...]. Mas... o significado de cada palavra
é uma generalização ou um conceito. E como as generalizações e os conceitos são
inegavelmente atos de pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno
do pensamento. (VYGOTSKY, 1989, p.104).

Percebemos como o pensamento verbal vai sendo transcrito no pensamento e como a


estabilização de ideias já tinha sido formada com o relato inicial.
Para os alunos extensionistas, o projeto foi de grande aprendizado. Perceber como as crianças,
a partir de suas próprias experiências, foram capazes de construir um sentido para imagens, que, em
sua maioria, foram registradas há alguns anos, quando eram muito novos, é bastante surpreendente.
Foi interessante perceber como a linguagem não-verbal foi capaz de estimulá-los a refletirem sobre
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 843

os próprios sentimentos acerca de experiências passadas e materializarem esse sentimento no papel.


Os alunos extensionistas conseguiram perceber, na prática, como a semiótica se aplica no cotidiano,
visto que os sentidos construídos pelas crianças durante a oficina foram muito além do sentido
denotativo. Durante a análise, as ideias abstratas e conceitos não tão literais nas imagens foram
percebidos por esses pequenos, graças aos signos construídos no ambiente familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se a importância das discussões dos sentidos a partir da construção da leitura


fotográfica, sendo que as interseções culturais já são inseridas automaticamente pelos alunos do 5º
ano, consequentemente, o pensamento é modificado e se interessa em construir novos significados,
ganhando novos contextos, conforme os pontos-chave de se fazer uma leitura além do que se vê, em
cima do que é mediado pelo extensionista.

Palavras-chave: Fotos de Família. Leitura da foto. Sentidos e significados.


Keywords: Family photos. Photo Reading. Senses and meanings.
Financiamento: Edital 01/2022 - PAEX – PROGRAMA DE APOIO A EXTENSÃO/UEMG

REFERÊNCIAS

LEITE, Miriam Lifchitz Moreira Leite. Leitura da Fotografia. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, n. esp., seg. sem. 1994Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16099. Acesso em: 23 jun.2022.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V.; MACHADO, C. C. Cidade de Divinópolis e a vida contada
a partir da leitura fotográfica: retratando a família a partir dos registros. Exposição de fotos e
colagem na Escola Ar Livre. 14 junho a 21 de junho de 2022. Divinópolis, 2022a.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V.; MACHADO, C. C. Cidade de Divinópolis e as Histórias:
Produções de sentidos a partir da leitura fotográfica dos alunos. Oficina realizada no Colégio
Del Rey Internacional. 14 de junho de 2022. Passos, 2022b.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V. Cidade de Passos e a vida contada a partir da leitura
fotográfica: retratando a família a partir dos registros. Exposição de fotos e colagem no Colégio
Del Rey Internacional. 30 de maio a 06 de junho de 2022. Passos, 2022a.
RASLAN. E. M. S.; EMANUEL, V. Cidade de Passos e as Histórias: Produções de sentidos a
partir da leitura fotográfica dos alunos. Oficina realizada no Colégio Del Rey Internacional. 30 de
maio de 2022. Passos, 2022b.
VYGOTSKY, Lev Semionovitch. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
EXTENSÃO PUC MINAS:
844 Novo Humanismo, novas perspectivas

Herança paterna de fertilidade de vacas doadoras da raça Gir

Paternal inheritance of fertility of donors cows of the Gir breed

Ana Eliza da Silva1


Estela Oliveira de Paula Martins2
Pedro Souto Lamas3
Yandra Mendes Nunes4
Alan Figueiredo de Oliveira5

INTRODUÇÃO

A alta demanda por produtos oriundos de bovinos, como a carne e o leite, faz com que seja
necessária a otimização de novos produtos para os rebanhos. Nesse contexto, destaca-se o
melhoramento genético que, quando bem empregado, tem o intuito de gerar acasalamentos com
proles de eficiência superior. Segundo Daya et al. (2001), são diversos os fatores que impactam a
produção de oócitos da fêmea, como: raça, idade, sazonalidade de recuperação de oócitos, entre
outros. Manter o animal ciclando e produzindo folículos tem sido um desafio que vem sendo
contornado, por meio de tratamentos hormonais e estratégias de descanso dos ovários, porém, que
são ineficazes em alguns casos.
O melhoramento genético na raça Gir ainda é escasso, sendo que a procura pelas matrizes e
touros ideais ocorre por meio da busca de bons produtores que conseguem transmitir suas
características de produção aos seus descendentes (SANTANA JÚNIOR, 2010). Contudo, tem
surgido grande necessidade de buscar características para aprimorar a fertilidade dos animais, como
data do primeiro parto, produção de leite e rusticidade. Esses são alguns dos indicadores buscados
com o objetivo de gerar maiores ganhos econômicos futuros; porém, devido ao sucesso das novas
biotecnologias, devem ser investigadas formas de promover melhoramento genético que abranja mais
características que beneficiem o produtor.

1
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: aeliza899@gmail.com.
2
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: estela.martins.depaula@outlook.com.br.
3
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: pedro.soutolamas@gmail.com.
4
Discente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: yandramendesn@gmail.com.
5
Docente de Medicina Veterinária da PUC Minas E-mail: alanfigueiredodeoliveira@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 845

Algumas características correspondentes à reprodução já foram incrementadas em índices de


programas de seleção genético com o objetivo de aprimorar os indicadores de fertilidade do rebanho.
Embora o ganho genético dessa característica seja de baixa herdabilidade, apresenta relevância
econômica significativa (EVANGELISTA et al., 2021).
O objetivo do presente estudo foi avaliar a existência de capacidade de transmissão do touro
para maior produção de oócitos de suas descendentes. Isso aumentaria o impacto das empresas
produtoras de genética, ampliando as chances de sucesso de suas progênies, como produtoras de
embriões, e melhorando as taxas de concepção.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

São diversos os fatores que podem causar problemas reprodutivos e, por isso, o ideal é buscar
por acasalamentos que tragam genes mais resistentes e produtivos. O Gir é uma antiga raça zebuína
conhecida por seu acasalamento com a raça Holandesa, para promover rusticidade a esta raça
extremamente produtiva.
Em animais de produção, a ciclicidade é um fator de grande interferência na eficiência
reprodutiva, pois não é vantajoso ao produtor manter um animal que não esteja trazendo retornos.
Nesse caso, o maior tempo de retorno a ciclicidade da vaca está em grande parte associada com o seu
estado energético, mas pode, também, estar ligada a outros fatores. O ambiente causa um desvio
significativo do fenótipo, ou seja, por mais eficiente que o melhoramento genético dos animais seja,
sua reprodução também é interferida por causas de interação com o ambiente (SANTANA JÚNIOR,
2010; p.199).

3 METODOLOGIA

O estudo foi realizado com o intuito de analisar a existência de influência do pai da doadora
sob a sua produção de oócitos, impactando diretamente em sua fertilidade. Para isso, foram utilizados
dados de produção de folículos de 2811 fêmeas bovinas da raça Gir e sua filiação paterna, de 2018 a
2021. Os folículos foram coletados por uma empresa especializada em aspiração folicular e produção
de embriões, localizada na região de Sete Lagoas-MG. Os dados referentes à paternidade dessas foi
obtido por meio do banco de dados da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Para
análise, foram utilizadas apenas doadoras que apresentavam dados de mais de uma OPU e fêmeas
EXTENSÃO PUC MINAS:
846 Novo Humanismo, novas perspectivas

cujos pais apresentavam mais de 60 filhas participativas do estudo. Foram selecionados 11 touros,
que serão denominados com letras de “A” a “K”.
As doadoras passaram por punção folicular com objetivo comercial, realizado seguindo
padrões de ética e bem estar animal comum a operação, recebendo anestesia epidural por um médico
veterinário devidamente capacitado. O processo foi imediatamente seguido pelo rastreamento dos
oócitos e os dados armazenados no programa padrão da empresa. Foram utilizados dados coletados,
durante todo o ano, de vacas ou novilhas de diferentes idades e sob diferentes condições ambientais,
para evitar a influência de características não genéticas, como o ambiente.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As filhas do touro A tiveram maior média de produção de oócito em relação aos demais (tabela
1). O touro A traz melhores indicadores para capacidade de transmissão de fertilidade, assim como
os touros B e C, que apresentaram resultados semelhantes. Já os touros I, J e K tiveram mínima
diferença e, apesar de também serem pais de grandes Produtoras de Leite, suas filhas não se
mostraram superiores em produção de oócitos.
Segundo Evangelista et al. (2021), características de herdabilidade genética para fertilidade
tem baixa magnitude e isso sugere maior interferência de fatores não genéticos nos índices, ou seja,
mudanças no ambiente podem promover maiores melhorias nessas características. Contudo, apesar
de baixa herdabilidade, os resultados mostraram impacto significativo na herança paterna para
produção de oócitos porque alguns touros se destacam em transmitir a condição, enquanto outros não
apresentaram diferença (tabela 1).

Tabela 1 - Média de produção de oócitos por touro


NOMEAÇÃO MÉDIA DE OÓCITOS SE GRUPO
A 22,1 0,026 A
B 16,5 1,96 Ab
C 16,3 1,90 ab
D 13,2 1,83 bc
E 13,1 1,82 bcde
F 12,2 1,79 bcde
G 11,2 1,74 bcde
H 10,1 1,72 bcde
I 9,05 1,70 de
J 9,24 1,66 cde
K 8,60 1,62 e
SE: desvio padrão; Grupo: estatisticamente iguais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 847

Doadoras com maiores produções de oócitos apresentam vantagens econômicas por


conseguirem gerar maior quantidade de filhos em menor tempo, gerando genética para venda e o
melhoramento genético rápido (SILVA et al., 2021). O presente estudo mostrou grande diferença
entre um touro e outro, principalmente quando comparados o reprodutor A com o K.
Ainda de acordo com os resultados do estudo de Evangelista et al. (2021) em rebanhos
leiteiros, a seleção genética voltada para aumento da produção de leite causa deficiência na fertilidade
das proles. Contudo, na pesquisa atual, tivemos resultados positivos vindos de touros selecionados
para alta produção leiteira, sugerindo que um touro pode passar para as filhas ambas as características
de produção, para fertilidade.
Os baixos valores para a herdabilidade de fertilidade descritos na literatura (EVANGELISTA
et al.,2021) evidenciam a dificuldade na seleção direta para essas características e a utilização de
touros com DPR (taxa de gestação da filha) e CCR (taxa de conceito de vaca) frequentemente aumenta
a taxa de concepção dos rebanhos. Todavia, não existe uma análise exata para se obter filhas com
melhor fertilidade (SANTOS et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O monitoramento dos genes transmitidos por um touro Gir é voltado para aprumo, produção
e, em pequena parte, voltada para a reprodução. A inclusão de sua capacidade de transmitir
características de alta fertilidade às filhas é pouco pesquisada, contudo, como demonstrado nesse, e
em outros estudos, atenção a esses aspectos na escolha do touro para acasalamento poderá gerar
notáveis resultados econômicos positivos para o proprietário.

Palavras-chave: Melhoramento. Aspiração. Touros. Indicadores.


Keywords: Improvement. Aspiration. Bulls. Indicators.

REFERÊNCIAS

ABCZ ORG. Consulta pública de animais. Identificação única. Disponível em:


https://www.abcz.org.br/produtos-e-servicos/consulta-publica-de-animais. Acessado em: 20 de
junho de 2021.
DAYA, A. Fatores que interferem na produção de embriões bovinos mediante aspiração
folicular e fecundação in vitro. REPOSITORIO UNESP, 2001.
EXTENSÃO PUC MINAS:
848 Novo Humanismo, novas perspectivas

EVANGELISTA A. F et al., Associações genéticas entre produção de leite, porcentagens de


sólidos e fertilidade em vacas da raça holandesa. Universidade Federal do Paraná. Pró- reitoria
de pesquisa e pós-graduação. Programa de pós-graduação em Zootecnia. Curitiba, PR 2021.
SANTANA JÚNIOR, M. L., Parâmetros genéticos de características reprodutivas de touros e vacas
Gir leiteiro. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, p. 1717-1722, 2010.
SANTOS, M.M et al., Impacto da seleção de touros pelo mérito genético para fertilidade na
eficiência reprodutiva de rebanhos Leiteiros. 2020. 34 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) -
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2020
SILVA, A.E et al., Aspiração folicular em bovinos- revisão. Revista Sinapse Múltipla. Betim,
jul.2021. PUC Minas Betim.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 849

Minuto da Saúde: ações extensionistas


e o uso das mídias sociais na promoção da saúde

Health Time: extensionist actions


and the use of social media in health promoting

Randerson André Fernandes de Souza1


Maurício Moraes Assis2
Laura Victória Miranda Silveira3
Gabriella Carmelita Claudino4
Joziana Muniz de Paiva Barçante5

INTRODUÇÃO

A promoção da saúde, segundo a Carta de Ottawa (1986), consiste em capacitar a comunidade


para adotar modelos de vida mais saudáveis de modo contínuo e autônomo. Nesse sentido, produzir
saúde não se restringe ao mero tratamento de doenças, mas à Educação em Saúde, a qual se torna
fundamental para garantir a autonomia dos indivíduos no contexto do autocuidado, assim como para
torná-los aptos a reconhecer e defender suas necessidades, resultando em uma atenção à saúde voltada
para as demandas do contexto biopsicossocial em que ele está inserido.
Nesse contexto, o Projeto de Extensão Minuto da Saúde surge como uma estratégia que visa
promover a saúde ao democratizar o acesso à educação sobre esse tema, levando informações do
âmbito científico, de maneira acessível, para a população e fomentando discussões sobre o assunto.
Em consequência disso, o cidadão torna-se detentor de conhecimentos em saúde e é capaz de
contribuir para a melhora da saúde na esfera coletiva.

1
Discente do curso de Nutrição da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Faculdade de Ciências da Saúde. E-mail:
randerson.souza1@estudante.ufla.br.
2
Discente do curso de Medicina da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. E-mail: mauricio.assis@estudante.ufla.br.
3
Discente do curso de Medicina da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. Email: laura.silveira@estudante.ufla.br.
4
Discente do curso de Nutrição da UFLA, Faculdade de Ciências da Saúde. Email: gabriella.claudino1@estudante.ufla.br.
5
Professora; Orientadora. Faculdade de Ciências da Saúde/ Departamento de Medicina da UFLA. Email: joziana@ufla.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
850 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A comunicação possibilita a interação de interlocutores a fim de permitir a troca de


informações por meio de mensagens verbais e não verbais. No campo da saúde, a comunicação faz-
se necessária para, além de informar, influenciar os indivíduos em decisões, práticas e hábitos que
modificam sua saúde (CORIOLANO-MARINUS et al., 2014). Ao se comunicarem, os indivíduos
têm a capacidade de esclarecer e inspirar mudanças de hábitos, decisões e práticas que podem ou não
favorecer o bem-estar. A fim de desfrutar positivamente disso, a Educação em Saúde, com o passar
dos últimos anos, dedicou-se a estabelecer um maior vínculo com o paciente e a comunidade à qual
ele pertence e, assim, entender as demandas locais e identificar o contexto biopsicossocial em que
estão inseridos. Tal panorama serve como gênese para o desenvolvimento de ações e projetos que
sejam aplicáveis e pertinentes e que visem uma melhora na qualidade de vida.
Ademais, a promoção à saúde se faz necessária para a população, e a comunicação vinculada
às mídias sociais digitais da atualidade auxiliam na propagação desse conceito. Dessa forma, Paulo
Marchiori Buss cita em sua obra Uma introdução ao conceito de promoção à saúde as conferências
internacionais que ocorreram em Ottawa, Adelaide e Sundsvall acerca desse tema, que foram eventos
cruciais para o desenvolvimento dessa prática. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-
doença e de seus determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes técnicos e
populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu
enfrentamento e resolução (BUSS, 2000).
Apesar de o avanço tecnológico permitir uma maior facilidade na questão de acesso às
informações de saúde, tem-se ainda o obstáculo que leva o nome de fake-news, já que notícias
carregadas de inverdades se espalham rapidamente. A pandemia da COVID-19 gerou uma maior
atenção para esse problema. Esta temática ainda é recente no mundo acadêmico, mas pesquisas sobre
o assunto destacam que sua ocorrência se dá devido à quebra de credibilidade da mídia de referência,
juntamente ao avanço da produção e compartilhamento de conteúdos nas redes sociais (MONARI,
FILHO, 2019).

3 METODOLOGIA

Como um instrumento de educação em saúde para a comunidade, o Projeto Minuto da Saúde


utilizou, desde sua criação em 2015, diferentes estratégias para levar informação em saúde à
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 851

população: (1) Minuto da Saúde na praça, (2) nas escolas, (3) na universidade, (4) na rádio e (5) na
Web. Nesse contexto, até 2019, o projeto realizou campanhas presenciais de promoção da saúde,
assim como disponibilizou ao público outras atividades voltadas à disseminação do conhecimento,
como distribuição de materiais informativos, desenvolvendo um ambiente favorável à troca de
experiências entre sociedade e comunidade acadêmica.
Com a pandemia da COVID-19, foram realizadas adaptações para a manutenção das
atividades frente ao cenário de distanciamento social, imposto pelos protocolos de biossegurança. As
ações foram intensificadas nas mídias sociais: Facebook, Youtube e Instagram. Foram organizadas
diversas atividades interativas, como rodas de conversa, lives, quadros como o “Desmistificando a
COVID-19”, “Atualidades em Saúde”, “Conversa com Especialista”, além de vídeos e postagens
gerais, focados em temas como doenças crônicas, Infecções sexualmente Transmissíveis (ISTs),
doenças infecto-parasitárias, saúde da mulher, saúde mental, dentre outras. Como novas estratégias
de comunicação com a sociedade, foi criado um canal de esclarecimento de dúvidas sobre a COVID-
19 por meio da ferramenta WhatsApp e o programa ComVida veiculado diariamente pela rádio
universitária.

4 RESULTADOS

A análise dos indicadores nos permitiu verificar que projeto de extensão conta com mais de
1.650 seguidores nas redes sociais, que recebem atualizações semanais através do Instagram. Com
relação ao perfil dos seguidores, as publicações têm alcance médio para cerca de 570 pessoas com
faixa etária predominante entre 18 e 34 anos, sendo 72,4% do sexo feminino, de pelo menos 10 países,
que recebem atualizações semanais sobre os diversos temas na área de saúde.
A partir de 2020, o Minuto da Saúde encontrou a necessidade de agir com mais enfoque de
forma virtual frente às demandas da pandemia de COVID-19. Dessa forma, os membros do Projeto
realizaram um plantão de esclarecimento de dúvidas via WhatsApp e criaram diversos conteúdos
sobre a COVID-19, visando elucidar questionamentos recorrentes e promover a prevenção da doença,
com informações sempre baseadas em evidências científicas. Foram elaboradas aproximadamente 70
publicações no Instagram do Projeto (@minutodasaudeufla), entre as quais se destaca o quadro
“Desmistificando a COVID-19”, o qual teve o objetivo de esclarecer informações sobre fake news
em torno da pandemia. O alcance médio dessas publicações foi de 628 pessoas, sendo o tema de
maior destaque o “CoronaVac: novos dados” com 1029 contas alcançadas, o qual abordou a eficácia
EXTENSÃO PUC MINAS:
852 Novo Humanismo, novas perspectivas

da vacina e as novas informações sobre a aplicação na população entre 3 a 17 anos. Além disso, foram
realizadas 18 aulas no YouTube sobre essa temática, em parceria com o Núcleo de Pesquisa
Biomédica (NUPEB/Universidade Federal de Lavras UFLA).
As mídias sociais também foram utilizadas para promover o conhecimento em outros assuntos
sobre saúde, por meio de ações extensionistas online, vídeos e infográficos. O Minuto da Saúde
desenvolveu junto ao Centro Acadêmico de Medicina da UFLA, a Liga Acadêmica de Neurologia e
o projeto Apoiar, uma roda de conversa online via YouTube, intitulada: “Abril Azul: o que sabemos
sobre o transtorno do espectro autista?” que contou com a participação de uma neuropediatra e duas
mães, sendo uma delas psicóloga clínica que trabalha com enfoque em crianças e adolescentes com
autismo. O principal objetivo da ação foi propagar informações técnicas sobre o assunto de maneira
prática e participativa que teve 329 visualizações e 149 inscritos na ação online. Em parceria com a
Coordenadoria de Comunicação Social e a Tv Universitária (link1), o Projeto produziu 27 vídeos,
entre eles destaca-se o “Gonorreia e Clamídia”, com 7600 visualizações. No Instagram encontram-
se 43 vídeos, sendo o de maior destaque o “reels” sobre Aleitamento Materno com 921 visualizações.
Em 2022, foi criado o quadro “Atualidades em Saúde” com objetivo de divulgar didaticamente
informações atuais sobre saúde. A primeira postagem foi “Varíola dos Macacos” que alcançou 338
contas e teve 16 compartilhamentos em outros perfis.
Além das mídias sociais, as ações do Projeto tiveram impacto social importante com a
divulgação de informações em jornais e revistas digitais e impressos. Entre elas, destaca-se uma ação
sobre a Síndrome de Tourette foi levada à Câmara Municipal de Vereadores culminando na
promulgação da Lei 4.517, de 02 de setembro de 2019, que torna a semana do dia 07 de junho como
a Semana Municipal de Conscientização da Síndrome de Tourette.
Com relação ao programa ComVida 20, ressalta-se que a rádio continua sendo um dos meios
de comunicação mais abrangente no nosso país. Foram editados 22 programas, veiculados na Rádio
Universitária da UFLA, abrangendo mais de 60 municípios nas regiões Sul, Oeste de MG e Campo
das Vertentes. O período de permanência do CoMvida no ar foi de 10 meses e contou com oito
inserções diárias. O portfólio online (link2) apresenta todo um conjunto de ações realizadas durante
estes sete anos de existência do projeto e que tem permitido elucidar dúvidas que percorrem o
imaginário social no contexto da saúde, levando informações tecnicamente corretas para a
comunidade geral, de maneira acessível e clara, tornando-a engajada no processo de promoção da
saúde e evitando a disseminação de prováveis dados de origem duvidosa, circulantes nas redes sociais
também.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 853

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de informação, apoio institucional e a inexistência de políticas públicas dificultam o


acesso democrático à informação científica. Portanto, o projeto Minuto da Saúde prossegue no intuito
de proporcionar a democratização do saber científico produzido no ambiente acadêmico junto às
necessidades da população, resultando na concepção de conhecimentos que permitem a promoção da
autonomia do indivíduo sobre a sua própria saúde e, consequentemente, ao direcionamento da ciência
e tecnologia para o atendimento das demandas locais, contribuindo tanto para o combate de notícias
falsas, quanto para o enfrentamento das desigualdades regionais e sociais do país e aplicando, assim,
a educação em saúde para a melhora do bem-estar coletivo.

Palavras-chave: Comunicação. Informação. Democratização. Autonomia.


Keywords: Communication. Information. Democratization. Autonomy.
Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG.

REFERÊNCIAS

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE, 1., 1986, Ottawa. Carta


de Otawa. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da
Saúde. As cartas da promoção da saúde. Brasília, DF, 2002.
CORIOLANO-MARINUS, M. W. L. et al. (2014). Comunicação nas práticas em saúde: revisão
integrativa da literatura. Saúde & Sociedade, 23(4), 1356-1369. Doi: 10.1590/S0104-
12902014000400019
BUSS, P. M. et al. Promoção da Saúde, 2. ed, p.19. Rio de Janeiro, Editora Fio Cruz, 2009.
MONARI, A. C. P, FILHO, C. B. Saúde sem fake news: estudo e caracterização das informações
falsas divulgadas no canal de informação e checagem de fake news do Ministério da Saúde. Revista
Mídia e Cotidiano PPGMC UFF, vol 13, n 1, 2019.
EXTENSÃO PUC MINAS:
854 Novo Humanismo, novas perspectivas

Podcast Delírios Biomédicos:


comunicação estratégica na Extensão Universitária

Delírios Biomédicos Podcast:


strategic communication in University Outreach

Gabrielle Oliveira Guilherme1


Beatriz Borba Ortiz2
Adrieli Teles Soares3
William Mattana dos Santos4
Bruno Jacson Martynhak5

INTRODUÇÃO

O conhecimento científico, geralmente detido em universidades e centros de pesquisa, pode


ter seu acesso expandido para toda a sociedade através de ferramentas cotidianas como a internet, de
forma a ajudar a solucionar problemas sociais, desmistificar assuntos de interesse geral e também
sanar curiosidades, aproximando indivíduos leigos às mais diversas áreas da ciência. Dito isso, o
Projeto de Extensão Delírios Biomédicos tem por objetivo estabelecer interações entre estudantes,
ouvintes e pesquisadores, promovendo o interesse do público como catalisador do processo de
geração de conhecimento, ao mesmo tempo que divulga a importância da Ciência e das Universidades
públicas, trazendo reflexões acerca dos temas selecionados de forma educativa e com linguagem
acessível.

1
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: gabrielle.oliveirag@ufpr.br.
2
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: beatrizborba@ufpr.br.
3
Graduanda em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: adrieliteles@ufpr.br.
4
Graduando em Biomedicina na Universidade Federal do Paraná. E-mail: william.mattana@ufpr.br.
5
Graduado em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná. Professor
Adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná. E-mail: brunomartynhak@ufpr.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 855

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A divulgação científica tem como principal objetivo expandir o conhecimento para a


sociedade, promovendo a inclusão social ao aproximar o cidadão da ciência (SANTOS 2017).
Segundo Brandão (2007), a chamada Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia deve promover
ferramentas de conexão entre ciência e convivência em sociedade, de forma a fomentar um interesse
público pela educação. A ideia principal dessa área é que dados, pesquisas, políticas públicas e
investimentos podem influenciar a qualidade de vida do indivíduo.
É válido pensar que as atividades de extensão promovem uma ideia tendenciosa de
aprendizado unidirecional? A extensão sob a visão assistencialista6 descarta a possibilidade de
construção de um conhecimento próprio, visto que o conhecimento seria imposto a uma população
(BUFFA; CANALES 2007). Por esse motivo, Baldissera (2007) propõe a comunicação estratégica,
em que a ciência da comunicação consegue focar em elementos utilizados no dia a dia de forma a
garantir melhores resultados.
Tendo em vista a expansão de plataformas acessíveis ao conhecimento, o podcast surge como
um potencial meio de comunicação, entretenimento e propagação de informações. (VASCONCELOS
2021). Dito isso, entende-se que as atividades de comunicação, como o podcasting, fomentam os
mecanismos que formam a sociedade, através da interação com dispositivos escolhidos pelos
indivíduos (RIBEIRO 2020).

3 METODOLOGIA

A construção de cada episódio do Podcast Delírios Biomédicos se dá em 4 etapas. A


comunicação com o público ocorre desde a primeira, com a divulgação de um formulário nas redes
sociais dos integrantes do projeto, que pode ser acessado a partir do Instagram, Whatsapp e Facebook.
Com as respostas, há um levantamento do perfil do público-alvo, como gênero, escolaridade, idade,
localização, relação com a Universidade Federal do Paraná e dos temas de interesse. Essa
comunicação permite a orientação para definição dos pesquisadores especialistas convidados para a
gravação para contribuir com a exposição e discussão do assunto e também é feita a elaboração de
um roteiro para cada episódio.

6
Essa visão assistencialista e unilateral reinou durante décadas, no período entre os anos 1950 a 1990. De lá para cá, tem-
se construído a visão da partilha de saberes, das aprendizagens multilaterais e da reciprocidade de coconstrução de saberes,
por meio da interação entre academia e sociedade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
856 Novo Humanismo, novas perspectivas

Na segunda etapa, a interação com o público é estabelecida novamente com a publicação de


enquetes e perguntas relacionadas ao tema escolhido, de forma que os ouvintes possam enviar
perguntas e curiosidades para as contas dos integrantes do projeto, contribuindo com o processo de
construção dialógica. Além disso, os integrantes interagem com o público-alvo dentro da
Universidade, com a realização de entrevistas com estudantes na fila do Restaurante Universitário,
onde os indivíduos abordados podem expressar suas curiosidades acerca do tema.
Na terceira etapa, o episódio é produzido a partir dos temas mais votados, onde é convidado
um pesquisador especialista para fomentar a base teórica. Por fim, após a gravação, o episódio é
postado e sua divulgação ocorre através de materiais gráficos e audiovisuais, produzidos pela equipe
do projeto, que são postados nas redes sociais, e também funcionam como ponte nesta última etapa
para que os ouvintes compartilhem dúvidas e feedbacks sobre o episódio.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O Podcast Delírios Biomédicos produziu 5 episódios até o momento, todos acompanhados


por especialistas para auxiliar no processo educativo. Cada episódio contou com temas relacionados
às áreas desses especialistas, como a neurobiologia do sono e o funcionamento da vacina. Ademais,
a interação com o público se deu por meio dos formulários, que demonstraram um bom alcance e um
número de respostas considerável, bem como através das enquetes e caixas de perguntas no
Instagram.
O formulário foi divulgado por grupos de WhatsApp, páginas pessoais do Instagram dos
membros da equipe, pelo Bionews e Portal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instagram
do Setor de Ciências Biológicas e Instagram oficial da UFPR. O formulário coletou respostas no
período de 29 de março de 2022 até 27 de abril de 2022. Foram obtidas 82 respostas, por meio das
quais se observou que a maior parte dos ouvintes possuía entre 18-24 anos (84,1%). Ainda pelo
formulário, compreende-se que 72% dos indivíduos utilizam o Instagram para se informar sobre
ciência, o que o torna uma rede social que fornece bons resultados para o crescimento do projeto.
Após a divulgação dos episódios, foi desenvolvido um segundo formulário com a intenção de
receber um feedback do conteúdo produzido até o momento. Esse formulário contou com 14 respostas
do público, em que 10 pessoas sinalizaram gostar mais do episódio relacionado ao sono e sonhos
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 857

lúcidos, e 4 tiveram preferência pelo conteúdo sobre vacinas e o movimento antivacina. Além disso,
100% dos indivíduos que participaram desta segunda pesquisa indicaram que aprenderam algo novo
com o podcast, e deixaram suas opiniões e sugestões.
Dessa forma, é possível observar que os dados obtidos estão em consonância com o objetivo
do projeto de extensão, que consiste em levar o conhecimento científico para o público externo da
UFPR, de forma simplificada e acessível. Os comentários recebidos permitem verificar que o
conteúdo chegou de fato ao público desejado e foi capaz de despertar a curiosidade e o interesse sobre
o tema, como evidenciado na Figura 1. Tais resultados vão de encontro com o preconizado por
Brandão (2007), que determinou que a Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia deve ser capaz
de promover o interesse público pela educação, pela conexão entre ciência e sociedade.

Figura 1 – Comentários recebidos através de formulários.

Fonte: Acervo dos autores

Além dos resultados dos formulários, também foi possível observar que a forma mais efetiva
de estabelecer uma comunicação com o público utilizando a tecnologia se dá por meio das redes
sociais. As questões pontuais realizadas em enquetes e caixas de perguntas no Instagram
demonstraram um número muito maior de respostas quando comparadas aos formulários (Figura 2).
Esse dado permite concluir que a utilização de ferramentas que fazem parte do cotidiano das pessoas,
como o próprio Instagram, leva a uma comunicação estratégica, que traz consigo resultados
EXTENSÃO PUC MINAS:
858 Novo Humanismo, novas perspectivas

otimizados (BALDISSERA 2002). É através dessa comunicação que o podcast encontra meios para
se difundir nas plataformas digitais e atingir públicos cada vez mais variados, cumprindo o principal
objetivo do projeto, embora possa representar muitas vezes um desafio a ser superado.

Figura 2 – Comparação das respostas recebidas no Instagram e no formulário.

Fonte: Acervo dos autores

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A divulgação científica é uma forma de expansão do conhecimento científico para a sociedade


de forma acessível e objetiva e é também um desafio de responsabilidade dos detentores do
conhecimento. A realização do projeto envolve e estimula os integrantes sobre a importância de uma
linguagem acessível para a transmissão do conhecimento para fora de uma bolha universitária,
atingindo e beneficiando com as informações o maior público possível.
A possibilidade de participação e interação com o público em praticamente todas as etapas de
construção de cada episódio do podcast, levando as demandas da sociedade como prioridade, dá o
caráter extensionista ao projeto, permitindo a troca entre comunidade científica e sociedade
estabelecida na comunicação estratégica de Baldissera. Isso é visível nos resultados obtidos nos
formulários, onde 100% das respostas afirmam ter aprendido algo novo ouvindo um episódio, além
das opiniões fornecidas acerca de quais episódios foram de maior agrado, o que pode direcionar o
projeto na realização de novos episódios.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 859

Palavras-chave: Universidade. Ciência. Internet. Ouvinte. Comunicação estratégica.


Keywords: University. Science. Internet. Listener. Strategic communication.

REFERÊNCIAS

BALDISSERA, Rudimar. Balanços sociais: entre a promoção de marketing e a


responsabilidade social. Santos, SP. Intercom, 2007. Trabalho apresentado no NP de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional da Intercom, 2007, Santos.
BRANDÃO, E. P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, Jorge. Comunicação pública:
estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas, 2007
BUFFA, E.; CANALES, P. R. Extensão: meio de comunicação entre universidade e comunidade.
EccoS, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 157-169, jan./jun. 2007
RIBEIRO, Mirian R. P. O uso do Podcast para ensino-aprendizagem: Projeto mediar extensão
universitária em escolas de ensino médio de Joinville/SC. Anais do CIET EnPED:2020 -
(Congresso Internacional de Educação e Tecnologias. Encontro de Pesquisadores em Educação a
Distância), São Carlos, ago. 2020. Disponível em:
https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2020/article/view/1731. Acesso em: 16 jun. 2022.
SANTOS, M.; SARDINHA, A. Extensão Universitária, Divulgação Científica e o Direito à
Informação Pública: A Constituição da Agência de Divulgação Científica da Universidade Federal
do Amapá. Revista Guará, [S. l.], p. 93-104, 19 set. 2017.
VASCONCELOS, Ana et al. Produção de Podcasts: uma perspectiva para continuidade da extensão
universitária. Revista de Extensão da UPE, [S. l.], p. 46-51, 21 jan. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
860 Novo Humanismo, novas perspectivas

Projeto asas da dança: reflexões sobre ensino, pesquisa e extensão


no curso de Educação Física da PUC Minas

Wings of dance project: reflections on teaching, research and extension


in the physical Education Course at PUC Minas

Bruna D´Carlo Rodrigues de Oliveira Ribeiro1


Márcia Campos Ferreira2
Camila Rodrigues Rezende3

INTRODUÇÃO

O Asas da Dança é um projeto de extensão do curso de Educação Física da Pontifícia


Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Campus Coração Eucarístico. Atendendo
desde março de 2022 cerca de 250 participantes, tem como temática central a dança, na perspectiva
social e de formação integral de crianças, jovens e adultos, por meio da inserção em grupos desta
manifestação da cultura corporal de movimento, em suas diversas modalidades.
Como prática social, o ensino da dança é uma ação ainda elitizada, sendo acessada por meio
de estúdios e academias de dança, impedindo que parte da população frua este importante elemento
de formação humana, artística e corporal. Sabemos também que o ensino da dança por meio da
Educação Física nas escolas tem sido precário e entendemos que o momento de formação
universitária é fundamental para modificar esta perspectiva, desde que os acadêmicos conhecem e
atuem em ações de ensino e aprendizagem efetivas. A prática extensionista é essencial para construir
na universidade conhecimentos em dança, articulando ensino, pesquisa e extensão como instâncias
indissociáveis. Nesta perspectiva torna- se possível construir, partilhar e operar o conhecimento
científico em uma prática viva.

1
Doutoranda em Estudos Interdisciplinares do Lazer. Mestre em Educação. Docente do curso de Educação Física da PUC
Minas e coordenadora do Projeto Asas da Dança. E-mail: brunaribeiro@pucminas.br.
2
Doutora em Educação, Mestre em Educação; docente na graduação em Educação Física, coordenadora do projeto de
extensão Asas da Dança. E-mail: marciacampos@pucminas.br.
3
Graduanda em Educação Física; Extensionista do Projeto Asas da Dança; Bailarina profissional. E-mail:
camila.rezende.416730@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 861

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para a tessitura das ações do projeto Asas da Dança, os extensionista envolvidos discutem
autores que balizam teoricamente a prática da dança. Por meio de grupos de estudo, os participantes
elaboram e reelaboram uma práxis consciente e articulada a educação. Arte e cultura. Apresentamos
os eixos estruturantes: O letramento em dança e a neuroplasticidade.

2.1O letramento em dança

Tomamos de Ann Dils et al o conceito de “Dance literacy”, que traduzimos como “letramento
em dança”. Dils et al. (2007) usam esta locução “dance literacy” afirmando que existem habilidades
corporais e intelectuais amplas e interdependentes, sensibilidades e conhecimentos a serem
aprendidos, assim como se aprende a ler e a escrever na escola. “Eu vejo a leitura e a escrita, aquelas
atividades mais associadas com o termo alfabetização, como vital para nossas habilidades de pensar,
criar e compartilhar informações, e participar da sociedade. Acredito que dançar oferece essas
mesmas possibilidades” (DILS et al., 2007, p. 2, tradução nossa).
A autora faz uma relação direta entre as atividades de letramento em dança e as de letramento
na leitura e na escrita e afirma que, como a leitura e a escrita, a dança desenvolve atividades vitais
para o desenvolvimento de habilidades de pensar, criar, compartilhar informações e participar da
sociedade. Letrar em dança “dignifica uma prática artística que tem sido tradicionalmente ignorada
dentro das escolas americanas e nos chama a fazer perguntas sobre sua contribuição potencial como
forma de conhecimento e campo de pesquisa na educação geral” (DILS et al., 2007, p. 2). Embora se
refira ao contexto de escolas americanas, nossa experiência na docência, assim como uma extensa
produção acadêmica, revela que o ensino das artes, entre elas, a dança, tem ocupado, quando muito,
espaço secundário nas escolas brasileiras (MARQUES, 2016). As linguagens são vivas, acontecem
na cultura, e, por obra dos sujeitos, que as operam (SAUSSURE, 2012).

2.2Processo de aprendizagem e a neuroplasticidade

Nossos comportamentos são aprendidos e não programados pela natureza (GUERRA, 2011).
Embora nosso cérebro esteja planejado para desenvolver certas capacidades, necessitamos de um
aprendizado mesmo para capacidades bem simples. Daí a relevância da experimentação em ambientes
EXTENSÃO PUC MINAS:
862 Novo Humanismo, novas perspectivas

estimuladores da aprendizagem serem tão importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso.


A forma como aprendemos e nos comportamos está condicionada por uma gama imensa de redes
nervosas estruturadas geneticamente e que, dentro de determinados limites, são modificáveis pela
nossa interação com o ambiente (BEAR, 2017). A neuroplasticidade:

[...] possibilita a reorganização da estrutura do SN e do cérebro e constitui a base biológica


da aprendizagem e do esquecimento. Preservamos as sinapses e, portanto, redes neurais
relacionadas aos comportamentos essenciais à nossa sobrevivência. Aprendemos o que é
significativo e necessário para vivermos bem e esquecemos aquilo que não tem mais
relevância para o nosso viver. (GUERRA, 2011, p. 5).

Essas modificações, que podem ocorrer ao longo de nossa vida social e educacional, resultam
da reorganização de nossas capacidades cerebrais e revelam a plasticidade de que nosso sistema
nervoso é capaz (COSENZA, GUERRA, 2011). A plasticidade cerebral, ou neuroplasticidade, é a
propriedade de ativar e desativar conexões entre neurônios que acontece no sistema nervoso quando
aprendemos.

3 METODOLOGIA

Percebendo a diversidade dos sujeitos interessados na vivência em dança, o projeto abraça


dois pontos: apresentar a dança como linguagem àqueles que ainda não foram inseridos neste
contexto, por meio do letramento em dança e a dança como linguagem expressiva diversa, artística e
criativa para aqueles que já pretendem avançar e conhecer distintas formas de dançar. Esta proposta
representa uma articulação com os componentes curriculares do Curso de Educação Física, que
apresenta, além da disciplina de dança, outras como corporeidade e movimento e tópicos especiais
em dança. Os estudantes têm no projeto um laboratório de práticas, em que a teoria se articula com a
prática, seja por meio de campo de estágio, obrigatório e/ou não obrigatório, campo de pesquisa para
trabalhos de conclusão de curso ou laboratório de formação profissional.
As atividades acolhem a comunidade acadêmica, a comunidade externa, e estudantes
interessados na prática das modalidades Ballet Clássico, Dança Contemporânea, Danças Urbanas ou
Danças Árabes. Há monitoramento semanal e rodas de conversa entre as docentes responsáveis e
extensionistas envolvidos, além da produção de relatórios com a periodicidade de 6 em 6 meses.
Todos são convidados a participar das Mostras Culturais semestralmente realizadas pelo Curso de
Educação Física, os extensionista desenvolvem oficinas de ritmos nas disciplinas de danças e se
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 863

envolvem em produções de videodanças, cursos e workshops para o público externo. As ações


ocorrem aos sábados, no Complexo Esportivo da universidade em espaços específicos para a prática
da dança.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

À luz do referencial teórico estudado, o projeto estabelece um diálogo em rede, com eventos
internos e externos relacionados a saberes e experiências em dança, assim como ciclos formativos
para os estudantes de Educação Física, visando à preparação para o mercado da dança.
Emergem indagações sobre como as práticas culturais são reconstruídas na dança e como estes
sujeitos tecem relações com a arte, os movimentos sociais e a cidade; em que espaços o jovem pode
mostrar-se e como o espaço reage a eles. Diante destes questionamentos buscamos refletir sobre a
relação dialógica entre o corpo, o lazer e o espaço universitário, com objetivo de compreender estes
eixos como espaços de re-existência na dimensão política e cultural a partir de práticas consideradas
marginalizadas. Nesse sentido, este projeto anseia constituir-se enquanto enunciação, num processo
de escuta sensível e atenta, para captar as implicações artísticas, éticas, estéticas, culturais e políticas
na dança consciente, ofertando um fluxo de encantamento que nos permita fazer ciência dançando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto Asas da Dança, em um entrelaçamento entre educação e cultura, que celebra a


educação a partir da experiência concreta entre os sujeitos. A oferta de oportunidades e cidadania a
partir do espaço da universidade, prepara um presente que fecunda para a cidadania futura e acesso
aos bens culturais da cidade.
Vê-se que o atendimento à comunidade acadêmica e externa propiciam a formação
profissional em dança, recreação e lazer, por meio do compartilhamento de saberes e experiências
propiciando a cultura de paz. A articulação de linguagens de diferentes repertórios, permitem o
desenvolvimento integral do extensionista e dos sujeitos atrelados à ação. Sendo assim, como
atividade-fim integrada ao Ensino e à Pesquisa, a Extensão Universitária, vislumbramos potencial
para constituir a experiência da atuação profissional futura em articulação ao conhecimento
acadêmico e as demandas da sociedade, de trabalhar para avanços na promoção da cidadania, da
inclusão e do desenvolvimento social na perspectiva crítica.
EXTENSÃO PUC MINAS:
864 Novo Humanismo, novas perspectivas

Palavras-chave: Letramento. Dança. Educação física.


Keywords: Literacy. Dance. Physical education.

REFERÊNCIAS

COSENZA, R. M.; GUERRA, L. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto


Alegre: Artmed, 2011. E-book.
DILS, A. et al. Accelerated motion: towards a new dance literacy in America. [S. l.]. Accelerated
motion, 2014. Disponível em: http://acceleratedmotion.org. Acesso em: 27 jan. 2020.
GUERRA, L. B. O diálogo entre a neurociência e a educação: euforia aos desafios e possibilidades.
Revista Interlocução, Belo Horizonte, v. 4, p. 3-12, 2011.
MARQUES, I. Revisitando a dança educativa moderna de Rudolf Laban. Sala Preta, São Paulo, v.
16, n. 2, p. 1-6, 2016.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2012.
SCIALOM, M. Laban plural: arte do movimento, pesquisa e genealogia da práxis de Rudolf
Laban no Brasil. Editora Summus, 2016.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 865

Relógio Biológico da Medicina Chinesa

Chinese Medicine Biological Clock

Samara dos Santos Spies1


Morgana Belmonte2
Roseli de Mello Farias3

INTRODUÇÃO

As plantas medicinais são utilizadas pela humanidade no decorrer da sua evolução, sendo
conhecida na China há mais de três milênios. Conhecer as plantas foi um dos fundamentos das
ciências naturais e, muito antes de sua formalização moderna, em todas as técnicas vitais e em toda
devoção à natureza, as plantas ocupam sempre um papel central (CAMARGO, 2014).
A medicina chinesa é uma ciência fundada sobre a experiência empírica acumulada e divide
os medicamentos de acordo com as suas propriedades e ações. Associando este conhecimento com a
fitoterapia, a medicina chinesa desenvolveu o horto medicinal em forma de relógio biológico do corpo
humano. O relógio biológico da medicina chinesa é um recurso onde cada órgão do corpo humano é
representado por uma planta de acordo com o seu meridiano.
Neste intuito, o trabalho teve como objetivo o cultivo de plantas medicinais em forma de
relógio biológico do corpo humano, visando a compartilhar o conhecimento acadêmico com a
comunidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Governo Federal reconhece a importância das plantas medicinais, uma vez que, por meio
do Decreto nº 5.813, de 22/06/06, aprovou a Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
e integrou esses elementos ao Sistema Único de Saúde (SUS) ao publicar a Portaria nº 971, de
03/05/06, que institucionalizou as práticas integrais e complementares. Segundo a Organização

1
Acadêmica do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).
E-mail: samara-spies@uergs.edu.br.
2
Acadêmica do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da UERGS. E-mail: morgana-belmonte@uergs.edu.br.
3
Dr.ª Engenheira Agrônoma, Professora da UERGS. E-mail: roseli-farias@uergs.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
866 Novo Humanismo, novas perspectivas

Mundial da Saúde (OMS), 80% da população dos países em desenvolvimento depende da medicina
tradicional para seus cuidados básicos de saúde e 85% destes utilizam plantas ou preparações feitas
pelas mesmas (BRASIL, 2006).
Os chás apresentam importantes funções terapêuticas, sendo eficientes no controle de algumas
doenças, tornando-se uma alternativa levando em consideração o seu custo econômico. O uso de
plantas medicinais pode ser influenciado pela questão econômica, o alto custo dos medicamentos e o
difícil acesso a consultas pelo SUS (BATTISTI et al., 2013).
O estudo de plantas medicinais para a cura de doenças e suas aplicações é conhecido como
fitoterapia, sendo uma prática milenar. A fitoterapia literalmente quer dizer terapia através das
plantas, e é conhecida na China há cerca de três mil anos. A medicina chinesa desenvolveu o Horto
Medicinal - Relógio do Corpo Humano, que busca cultivar as plantas medicinais, facilitando sua
identificação e associação aos órgãos e sistemas corporais (PEREIRA, 2014).
O relógio do corpo humano é uma metodologia de trabalho que surgiu da necessidade de
conhecer mais as plantas medicinais, livres de agroquímicos, animais e contaminantes, didaticamente
serve de suporte do conhecimento, facilita o acesso da comunidade, preserva o ambiente e as espécies
e promove a qualificação das atividades. Há um fator inovador neste horto, a união das plantas
medicinais com os principais órgãos do corpo humano, informando os horários de maior atividade de
cada órgão e quais as plantas recomendadas para tratamento de doenças específicas (FERREIRA et
al., 2017).

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), nos
anos de 2020 e 2021, como projeto de extensão.
Para o cultivo das plantas medicinais em forma de relógio, utilizou-se uma área em formato
de círculo. Inicialmente houve a limpeza da área e separação dos horários utilizando taquaras. Cada
área do relógio foi identificada com os respectivos nomes dos órgãos e das plantas medicinais
correspondentes ao seu horário. O plantio das mudas das plantas medicinais iniciou pela coordenada
norte, onde se inicia o ciclo biológico. O primeiro órgão é o fígado, sendo seu respectivo horário entre
01h e 03h, com o cultivo de alcachofra e cardo mariano. Cada órgão corresponde a duas horas, e
cultivam-se as plantas medicinais referentes a esses horários. Segundo a medicina chinesa, o melhor
horário para tratar dos problemas biológicos seria o período de pico de energia de cada órgão.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 867

Após a implantação da área do relógio biológico com as plantas medicinais, foram


confeccionados vídeos e folders explicativos em relação ao tema, bem como as etapas para o preparo
da área.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A extensão universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a


pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a
sociedade (MELLO et al., 2022).
O trabalho de extensão apresentou o conhecimento sobre as plantas medicinais cultivadas em
forma de relógio biológico do corpo humano (Figura 1). As plantas medicinais do relógio são
utilizadas para tratamentos caseiros de problemas simples de saúde. Conforme Perinazzo e Baldoni
(2022), 63,6% das plantas medicinais mencionadas em seu trabalho possuem alguma indicação
terapêutica, auxiliando no restabelecimento da saúde humana. Apesar disso, há carência de estudos
interdisciplinares que investiguem as atividades biológicas das plantas.
As plantas medicinais utilizadas no relógio biológico do corpo humano e seus respectivos
órgãos e horários estão descritas na Figura 3, ou seja, no folder utilizado como material de divulgação
do trabalho à comunidade. As plantas medicinais cultivadas na área do relógio medicinal foram:
Alcachofra; Cardo Mariano; Pulmonária; Violeta de Jardim; Linhaça; Tanchagem; Manjericão;
Hortelã; Pariparoba; Salsinha; Alecrim; Gervão; Mil em Rama; Funcho; Cavalinha; Malva; Carqueja;
Quebra-pedra; Arnica; Alcanfor; Orégano; Sálvia; Bardana; Dente de leão; Babosa e Calêndula.

Figura 1- Área utilizada para o cultivo das plantas medicinais em forma de círculo,
UERGS, Unidade em São Borja, RS.

Fonte: Acervo dos autores, 2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
868 Novo Humanismo, novas perspectivas

A Universidade promoveu a participação em eventos (Figura 2), sendo apresentado o trabalho


através de folders (Figura 3) e doação de mudas de plantas medicinais produzidas no relógio
medicinal. Houve também participação em eventos online levando o conhecimento adquirido para
colegas do meio acadêmico.

Figura 2 - Participação em eventos para divulgação do trabalho.

Fonte: Acervo dos autores, 2021.

Figura 3 - Folder confeccionado para informações sobre o relógio medicinal do corpo humano

Fonte: Acervo dos autores,2021.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 869

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a implantação do horto medicinal em forma de relógio do corpo humano, foi possível
desenvolver trabalhos elucidativos com a comunidade e acadêmicos, apresentando a importância das
plantas medicinais e suas formas de preparo e melhor momento para sua ingestão. As plantas
medicinais estão presentes desde o início dos medicamentos e possuem um papel fundamental tanto
no meio científico quanto na população em geral.

Palavras-chave: Plantas Medicinais. Produção. Horto. Saúde.


Keywords: Medicinal Plants. Production. Garden. Health.

REFERÊNCIAS

BATTISTI, Caroline. et al. Plantas medicinais utilizadas no município de Palmeira das Missões,
RS, Brasil. Revista Brasileira de Biociências. v. 11, n.3, 2013.
BRASIL. Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília, 2006. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_fitoterapicos.pdf
CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. As plantas medicinais e o sagrado: a
Etnofarmacobotânica em uma revisão historiográfica da medicina popular no Brasil. São Paulo,
Icone editora, 2014.
FERREIRA, Eduardo Garcia et al. Descobrindo o saber popular das plantas medicinais: benefícios
na preparação caseira. In: Salão Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão - Siepex, 2017.Anais –
Siepex. Tapes RS. 2017.
MELLO, Cleyson.Moraes et al. Curricularização da Extensão Universitária. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Processo, 2022.
PEREIRA, Maria Cristina Laus Horto Medicinal - Relógio do Corpo Humano como ferramenta
de aprendizagem intertranscultural. UTFPR, 2014. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_utf
pr_dtec_pdp_maria_cristina_laus_pereira.pdf
PERINAZZO, D.V.; BALDONI, D.B. A utilização de plantas medicinais como elemento de
resistência cultural e cuidado à saúde. Revista Eletrônica Científica da UERGS, v. 8, n.2, 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
870 Novo Humanismo, novas perspectivas

Salvando vidas

Saving lives

Andrini Thairini Weisheimer1


Fatima Carneiro Fernandes2
Joyce Amora Souza3
Lara Moreira Chamon4
Ruy Tamoyo Vendas Rodrigues Neto5

INTRODUÇÃO

Desde o seu aparecimento, em 2019, o coronavírus apresentou-se como uma inesperada


ameaça e resultou em proibição das atividades universitárias presenciais, tendo em vista a preservação
da vida. Em um curto intervalo de tempo, foi estabelecido o status de pandemia e o distanciamento
social foi exigido neste contexto. Desse modo, diversas atividades da Universidade Federal do Rio
de Janeiro precisaram ser adaptadas à nova realidade (BRASIL 2020), entre elas, as atividades
coordenadas pela Liga de Anestesiologia (LANES – UFRJ). A realidade foi reinventada e um
ambiente virtual foi desenvolvido para realização dos seus projetos, que eram, até então, presenciais
(SALLES 2021).
Neste novo modelo, a ação de extensão “Salvando Vidas” foi reconstruída de modo que as
atividades semanais foram ministradas remotamente, buscando sempre estabelecer o tripé
universitário de pesquisa-ensino-extensão (BRASIL 2020; SALLES 2021). Assim, a nova versão
desse projeto ocorreu nos anos de 2020 e de 2021, sendo duas edições por ano, em um total de quatro
edições.

1
Aluna do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: andriniweisheimer@gmail.com.
2
Professora e Orientadora do Projeto Salvando Vidas na UFRJ. E-mail: fatimacfernandes@gmail.com.
3
Aluna do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: joyce.0112@hotmail.com.
4
Aluna do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: larachamon@gmail.com.
5
Aluno do curso de Medicina da UFRJ. E-mail: ruytamoyo.pb@gmail.com.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 871

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uma vez que a ação de extensão acadêmica em Anestesiologia foi baseada nos princípios do
tripé universitário de ensino, de pesquisa e de extensão, esta ação não foi só dirigida aos alunos de
medicina da UFRJ, mas a toda comunidade discente da área da saúde do estado do Rio de Janeiro, e
sociedade civil interessada, construindo e compartilhando conhecimento. Assim, a demanda pela
transformação digital, imputada pela quarentena e demais ações restritivas da pandemia, implicaram
a necessidade de adequação das instituições de ensino. É observado, pelo conteúdo pesquisado e
referenciado, que essa adequação não se restringe à digitalização, mas também deve contemplar a
delicadeza do momento enfrentado e suas particularidades.

3 METODOLOGIA

A captação de extensionistas se deu pela divulgação do projeto nos perfis sociais da Liga de
Anestesiologia e por meio de divulgação orgânica entre os alunos da UFRJ e os alunos externos. Com
isso, foi disponibilizado um formulário online pelo qual os interessados poderiam se inscrever e, ao
final, os candidatos receberam um convite para um grupo de comunicação através do qual,
semanalmente, receberam os links das plataformas onde foram realizadas as atividades online. Em
cada semana, foi selecionado um tema de relevância na abordagem dos Primeiros Socorros e nos
atendimentos iniciais às vítimas para ser debatido.
Nesse sentido, a participação do público foi verificada através do preenchimento de
questionários pré e pós testes da seguinte maneira: no início da atividade, foi disponibilizado um link
contendo questões objetivas sobre o tema a ser ministrado e foi ofertado um tempo para o
preenchimento deste formulário. Ao final da discussão, outro link contendo as mesmas questões já
propostas é disponibilizado para os participantes. Esses questionários também foram o método de
análise quanto ao conhecimento construído, uma vez que foi possível comparar as respostas de antes
das atividades com as respostas após as atividades propostas.
Vale esclarecer que, além dos questionários a respeito da atividade ministrada, também eram
divulgadas palavras-senha, na plataforma, durante as discussões. Tais palavras deveriam ser
transcritas nos questionários disponibilizados aos cursistas ao final da discussão, como instrumento
de validação de presenças ao longo da atividade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
872 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 RESULTADOS

Em 2020, a primeira edição realizada contou com 458 inscrições válidas, das quais 304
tiveram participação comprovada igual ou superior a 75% nas presenças obrigatórias para emissão da
certificação. A segunda edição de 2020 contou com maior divulgação pelas mídias sociais da Liga de
Anestesiologia, com isso, o número de inscrições atingiu o número de 1848. Destes, 837
comprovaram participação igual ou superior a 75% nas presenças obrigatórias para emissão da
certificação. Ao mesmo passo em que a primeira edição de 2021 contou com 2366 inscrições válidas,
entre as quais o número de pessoas que comprovaram participação igual ou superior a 75% nas
presenças obrigatórias foi de 746.
Por fim, a segunda edição de 2021, e última edição da versão virtual do projeto, contou com
1392 inscrições válidas, das quais 415 comprovaram participação igual ou superior a 75% nas
presenças obrigatórias para emissão da certificação. É importante destacar a validade do
aproveitamento do projeto, uma vez que em 100% das edições, o número de acertos nos pós-testes
foi superior aos acertos nos pré-testes.

5 DISCUSSÃO

Analisando o alcance obtido pelo projeto, a versão virtual do projeto se mostrou mais
vantajosa em relação a versão presencial, tendo em vista que o número de inscritos foi maior. Além
de maior número absoluto, o alcance também foi estendido em relação ao tipo de público alcançado,
pois houve inscrições além do campus universitário da UFRJ e do curso de medicina, as quais eram
exceções nas edições anteriores. Por outro lado, houve queda no engajamento em relação a edição
presencial, na qual a certificação dependia da análise de listas de presenças assinadas pelos
participantes. Ainda assim, o método atual, que conta com as mesmas perguntas nos pré-testes e pós
testes, é importante para fornecer dados comparativos, o que permite mensurar a construção do
conhecimento dos participantes em relação ao conteúdo abordado nas discussões. Isso se mostra
positivo, uma vez que o percentual de acertos nos pós-testes foi maior em todas as edições.
Ademais, no encerramento das atividades, foi disponibilizado um espaço para relato dos
participantes, bem como críticas e sugestões. Através deste canal, foram descritas diversas
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 873

emergências transcorridas e os meios desenvolvidos para manejá-las com sucesso pelos


extensionistas, definitivamente consagrando a interação dialógica e o impacto positivo que essa
construção conjunta gerou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de extensão “Salvando Vidas” tem impacto importante, uma vez que modifica
realidades e, literalmente, salva, gerando segurança e autonomia com o conhecimento construído,
além de manter a universidade ativa mesmo em cenário pandêmico. É um importante serviço prestado
à sociedade, pois contribui com a redução do número de acidentes e de óbitos, oferecendo condições
para a população adquirir conhecimento e para a construção de um ambiente mais seguro.

Palavras-chave: Educação a Distância. Salvando Vidas. Covid-19.


Keywords: Distance Education. Saving Lives. Covid-19.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei número 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso
em: 20 jun 2022.
BRASIL. Portaria número 343 de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União. 2020 mar. 18. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020- 248564376. Acesso
em: 20 jun 2022.
SALLES, Claudia Maria Sodeiro. Transformação Digital em Tempos de Pandemia. Estudo e
negócios acadêmicos. São Paulo, v. 1, n.1, p. 91-100, jan. 2021. Disponível em:
http://portalderevistas.esags.edu.br:8181/index.php/revista/article/view/22/19. Acesso em: 21 jun
2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
874 Novo Humanismo, novas perspectivas

Vídeo instrucional sobre rolhas de secreção para profissionais


da saúde do hospital metropolitano Dr. Célio de Castro

Instructional video on secretion stoppers for health professionals


at the hospital metropolitan Dr. Célio de Castro

Ana Clara Mendes Campos1


Blandina Izabel Coelho de Oliveira2
Diego Santos Miranda3
Paloma Thais Duarte4
Valéria da Silva Caldeira5

INTRODUÇÃO

A traqueostomia é o procedimento cirúrgico que consiste na abertura da parede anterior da


traqueia, comunicando-a com o meio externo por meio de uma cânula, o que facilita a higiene
brônquica e possibilita a perviedade da via aérea (BUSSOLOTTI, 2020). Está indicada em
substituição ao tubo endotraqueal em paciente que necessita de ventilação mecânica e tem vias aéreas
superiores obstruídas que impeçam a intubação; para facilitar a higiene pulmonar e para maximizar a
ventilação em pacientes com debilidade na musculatura respiratória, por diminuir o espaço morto
(Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, 2020).
Manter uma via aérea pérvia é vital para a segurança do paciente hospitalizado. Um tubo ou
cânula de traqueostomia obstruído é potencialmente fatal se não for gerenciado adequadamente. O
estudo realizado por Oliveira et al. (2020) identificou que a intercorrência mais frequente em
pacientes hospitalizados e traqueostomizados é a insuficiência respiratória ocasionada pela formação
de rolhas de secreção na cânula. Estas ocorrem quando a umidificação do ar não acontece
corretamente e a secreção se torna mais espessa e difícil de ser eliminada através da tosse, aumentando

1
Discente do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) campus Coração
Eustáquio. E-mail: anaclaracampsm@gmail.com.
2
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: blamizabel@gmail.com.
3
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: diego_smiranda@yahoo.com.br.
4
Discente do Curso de Fisioterapia da PUC Minas campus Coração Eustáquio. E-mail: paloma_duarte7@hotmail.com.
5
Mestre em Ciências da Reabilitação. Docente do curso de Fisioterapia PUC Minas) campus Coração Eucarístico. E-
mail: caldeirav@yahoo.com.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 875

o risco de obstrução do tubo ou da traqueostomia. A oclusão do tubo será considerada caso haja
histórico de acúmulo de secreção espessa e formação de tampões mucosos; sangue visualizado no
tubo ou traqueostomia; sinais de esforço respiratório; diminuição do fluxo aéreo através da prótese;
diminuição do volume de ar expirado; aumento das pressões de vias aéreas; alteração do nível de
consciência do paciente; queda da saturação periférica de oxigênio; aumento da frequência cardíaca
e resistência ao passar a sonda de aspiração. Na presença de um ou mais desses sinais, a oclusão do
tubo deve ser considerada e adequadamente avaliada (UFTM, 2020). Quando o interior da cânula
parece áspero por secreções acumuladas e secas, esta pode estar parcialmente obstruída. Quando há
incapacidade de introdução da sonda de aspiração pelo tubo ou traqueostomia, a obstrução é
considerada total (BUSSOLOTTI, 2020; UFTM, 2020).
Considerando os riscos de complicações aos quais o paciente com via aérea artificial está
exposto, é de suma importância o envolvimento e sensibilização dos profissionais da saúde que atuam
nos ambientes hospitalares. A equipe multidisciplinar composta por Médicos, Enfermeiros,
Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos e Técnicos de Enfermagem deve assumir o seu papel no cuidado ao
paciente intubado ou traqueostomizado, garantindo sua segurança e visando à redução de danos
desnecessários relacionados à via aérea e sua manipulação (COSTA et al, 2019).
Os profissionais da saúde devem estar atentos à formação de rolhas de secreção nas vias
aéreas, já que estas aumentam o risco de obstrução do tubo ou cânula. Algumas medidas preventivas
podem ser adotadas para evitar a formação de rolhas de secreção, dentre elas, a monitorização
frequente da perviedade das vias aéreas; aspiração e umidificação adequadas sempre que necessário;
troca ou limpeza da cânula interna de traqueostomia, também sempre que necessárias; hidratação
adequada do paciente para favorecer que as secreções fiquem mais fluidas e fáceis de serem
eliminadas através da tosse; uso de mucolíticos quando indicado e prescrito pelo médico; tratamento
adequado do quadro infeccioso de aumento de secreção pulmonar e acompanhamento pela equipe de
fisioterapia (BUSSOLOTTI, 2020).
Um dos estágios obrigatórios do 10º período do curso de Fisioterapia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS) é realizado no Hospital Metropolitano Dr.
Célio de Castro (HMDCC). No primeiro semestre de 2022, surgiu a demanda por parte do responsável
técnico da Fisioterapia no hospital, por melhorar a informação, orientação e capacitação da equipe
multidisciplinar relacionadas à prevenção de rolhas de secreção. A informação do alto e significativo
EXTENSÃO PUC MINAS:
876 Novo Humanismo, novas perspectivas

índice de formação de rolhas no HMDCC veio do responsável técnico. A proposta de uma produção
audiovisual, um vídeo instrucional abordando o assunto, surgiu da professora preceptora do estágio,
Valéria Caldeira.
Os vídeos educativos são estratégias que podem aumentar o controle dos telespectadores sobre
o conteúdo, local e tempo de aprendizagem. São facilmente divulgados e compartilhados entre as
equipes ajudando-as a adquirir conhecimento e habilidades rapidamente. São ferramentas, muitas
vezes, superiores à aprendizagem tradicional (ELER et al, 2019).
O objetivo geral da prática extensionista proposta foi informar e orientar os profissionais da
saúde do HMDCC sobre as rolhas de secreção: conceito; processo de formação; identificação;
prevenção e abordagem adequada na condição instalada.

2 METODOLOGIA

Para construir o vídeo instrucional, foi realizada uma busca nas bases de dados eletrônicas,
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed/MEDLINE,
PEDro, SciELO e Cochrane Library, para reunir as informações teóricas sobre o que foi proposto
elucidar. Após a pesquisa foram selecionados artigos, protocolos e cartilhas atuais e que continham
informações importantes para a elaboração do texto que seria o guia para a criação do vídeo. O
arquivo criado abrangeu a definição de rolhas de secreção, classificação, sinais clínicos, medidas
preventivas e a sequência de realização das intervenções no passo a passo. Com o texto pronto, o
vídeo foi elaborado no aplicativo CANVA utilizando imagens ilustrativas da bibliografia
referenciada, pequenos textos, além de um narrador para facilitar a compreensão do conteúdo e torná-
lo mais atrativo para o ouvinte.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A atualização constante dos profissionais da Saúde garante uma qualificação do cuidado em


saúde e favorece a segurança do paciente. O processo de formação continuada é bem descrito na
Portaria Interministerial Nº 1.124, de 4 de agosto de 2015, disposto no Capítulo V, Art. 10, parágrafo
X, onde é esclarecido que a instituição deve oferecer aos profissionais da rede de serviços
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 877

oportunidades de formação e desenvolvimento que contribuam com a qualificação da assistência, da


gestão, do ensino e do controle social na saúde, com base na Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde.
Segundo Francisco et al. (2019), a utilização de ferramentas como vídeos, cartilhas e
diagramas ajudam a identificar e analisar as causas-raiz das não conformidades no cuidado em saúde,
além de propor de maneira eficaz as soluções para um problema. Mais recentemente, por meio da
Resolução Nº 2, de 25 de janeiro de 2010 da Anvisa, o gerenciamento de risco passou a ser uma
exigência aos estabelecimentos de saúde, visando a redução e a minimização da ocorrência dos
eventos adversos.
Para facilitar a compreensão desse tema de tamanha relevância, foi criado o vídeo intitulado
“Treinamento de Segurança para Rolhas de Secreção”, com duração de aproximadamente quatro
minutos. Após a visualização e aprovação pela preceptora, este foi disponibilizado para a equipe de
profissionais de saúde do HMDCC, a partir do mês de abril de 2022, através de um link que os
redirecionava para o aplicativo YouTube e atualmente o vídeo ainda se encontra disponível6.
Essa prática extensionista dentro de uma instituição de saúde acarretou diversos feedbacks
positivos a respeito do vídeo instrucional, que persistem até o momento. Os comentários da equipe
foram repassados para a preceptora pelo coordenador do serviço de Fisioterapia do HMDCC e os
elogios do colegiado do Curso de Fisioterapia da PUC Minas foram realizados de forma presencial.
Não houve ainda resultados em relação aos índices de complicações por rolhas de secreções
devido ao tempo reduzido do estágio nesse serviço, mas propomos que haja a criação de check list de
prevenção de rolhas e suas complicações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho nos permitiu identificar a necessidade de novos conhecimentos por parte dos
profissionais de saúde do HMDCC, e desenvolver uma ação educacional, contribuindo para a
ampliação dessas competências na prática de educação em saúde. Além disso, acreditamos que o
desenvolvimento de vídeos para o ensino de práticas assistenciais, de forma detalhada, pode motivar,
auxiliar e ser um recurso disseminador de conhecimentos no processo de construção do aprendizado
dos profissionais da área da saúde, tendo como principal objetivo garantir uma melhor assistência aos
pacientes traqueostomizados. Ressaltamos que a produção de vídeos educativos requer planejamento,

6
O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aqsQej1ddL4
EXTENSÃO PUC MINAS:
878 Novo Humanismo, novas perspectivas

infraestrutura, equipe multiprofissional, especialistas no conteúdo e observação de uma metodologia


que garanta a qualidade técnica fundamentada em evidências científicas para que os conteúdos sejam
apropriados para serem utilizados pelos profissionais da saúde.

Palavras-chave: Manuseio das Vias Aéreas. Obstrução das vias respiratórias. Traqueostomia.
Segurança do Paciente. Check List de Segurança do Paciente
Keyword: Airway Management. Airway Obstruction. Tracheostomy. Patient Safety. Time Out,
Healthcare.
Área de conhecimento: 4.08.00.00-8 Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

REFERÊNCIAS

BUSSOLOTTI, Raquel M. A.C. Camargo. Câncer Center. Orientações para Pacientes


Traqueostomia. 2020. Acesso em: 13 abr.2022.
COSTA, Elaine Carininy Lopes et al. Cuidados para a prevenção de complicações em pacientes
traqueostomizados. Revista de Enfermagem UFPE, Recife, v. 13, n.1, p. 169-178, jan. 2019.
ELER; Gabrielle Jacklin et al. Canal Cuidar em Enfermagem IFPR: O uso de vídeos como apoio ao
ensino de práticas de enfermagem. XVIII SEDU - Semana da Educação I Congresso
Internacional de Educação Contextos Educacionais: Formação, Linguagens e Desafios. 2019.
FRANCISCO, Andrea et al. Cartilha sobre a segurança do paciente. Material desenvolvido pelo
Projeto de Reestruturação de Hospitais Públicos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Coordenação
Geral de Atenção Hospitalar - CGHOSP. 2019.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Portaria Interministerial Nº 1.124, de 4 de agosto de 2015.
Institui as diretrizes para a celebração dos Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino-Saúde
(COAPES), para o fortalecimento da integração entre ensino, serviços e comunidade no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, n 148, p.193 -196,
5 de agosto de 2015.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Resolução N° 2, de 25 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o
gerenciamento de tecnologias em saúde em estabelecimentos de saúde. Diário Oficial da União:
Seção 1, Brasília, DF, 25 de janeiro de 2015.
OLIVEIRA, Angélica Menezes Bessa et al. Ação educacional na rotina de cuidados aos pacientes
oncológicos com cânula metálica de traqueostomia. Research, Society and Development, v. 9, n.
12, 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO (UFMT). Hospital de Clínicas.
Traqueostomia: indicações e orientações de cuidado ao paciente adulto. 2020. Disponível em:
https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hc-
uftm/documentos/protocolos-assistenciais/traqueostomia-adulto-final.pdf.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 879

Construção da docência em teatro: possibilidades


de práticas artísticas na Educação Básica

Construction of teaching in theater: possibilities


of artistic practices in basic education

Fernanda Moreno1
Tiago Martinelli Nogueira2
Marli Susana Carrard Sitta3

INTRODUÇÃO

Este projeto propõe integrar estudantes do curso de Licenciatura em Teatro, dos cursos de
Pedagogia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), alunos e professores da
educação básica, por meio de leituras cênicas dos livros Dog Day, de Fernanda Moreno (para Ensino
Médio). De forma poética, a peça retrata a fragmentação do ser humano em um universo
multifacetado, em que a coragem de ser a si mesmo é permitida apenas para alguns – e O homem do
saco, de Rogério Trezza (para Educação Infantil e Séries Iniciais) - em que a peça traz a ludicidade
em uma dramaturgia cheia de suspense e faz a criança conversar com seus medos. As leituras foram
criadas, produzidas e gravadas por dois alunos (bolsista e voluntário) do curso de Licenciatura em
Teatro da UERGS, nas duas versões anteriores deste projeto de extensão, em 2020 e 2021,
respectivamente. Objetiva a investigação e a exploração lúdica / artística da leitura desses textos
dramáticos como caminho possível para ampliar o entendimento sobre as metodologias para o ensino
e prática do conhecimento teatral na educação básicafocando na capacidade criadora das crianças e
adolescentes.
A metodologia utilizada propõe a apresentação e apreciação das leituras cênicas em formato
online pelo canal do YouTube, seguida de diálogos / reflexões, utilizando a plataforma Google Meet
como ferramenta para as discussões entre os artistas atuantes das leituras cênicas, a coordenadora e o

1
Graduanda na licenciatura em Teatro na Universidade Estadual do Rio grande do Sul (UERGS). E-mail:fernanda-
moreno@uergs.edu.br.
2
Graduando na licenciatura em Teatro da UERGS.E-mail:tiago-nogueira@uergs.edu.br.
3
Mestre em Educação. Especialista em Teatro-Educação. Professora da licenciatura em Teatro na UERGS. E-mail:marli-
sitta@uergs.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
880 Novo Humanismo, novas perspectivas

público alvo deste projeto, que são os alunos e professores das escolas de educação básica e dos
cursos de Pedagogia da UERGS. Todo o trabalho é realizado de forma remota, seu processo e
resultados ficarão registrados e disponíveis na Plataforma do YouTube e podem ser acompanhados
pelas redes sociais como o Instagram da própria Universidade.
Essas ações estão vinculadas aos propósitos da Extensão Universitária, que busca aproximar
a comunidade das produções realizadas na acadêmia, além disso, possui papel essencial, tanto na vida
dos acadêmicos, que colocam em prática o que aprenderam em sala de aula, quanto na vida das
pessoas que usufruem desse aprendizado. Torna-se muito mais gratificante para os que estão na
condição do aprender, já que contribuem para um mundo melhor, estendendo a Universidade para
uma relação mais fluída com a comunidade, visando uma troca de saberes entre todos os envolvidos.

2 FUNDAMENTAÇÃOTEÓRICA

O ensino remoto é muito mais uma estratégia para conter os danos da crise do que
propriamente uma metodologia, e se estabeleceu desde o início da pandemia do COVID-19 em 2020,
trazendo consigo uma série de desafios que precisam ser problematizados nos cursos de formação de
professores, dentre eles, nos cursos de formação de professores de teatro. Aproximar os estudantes
do conhecimento teatral por meio do uso de recursos tecnológicos passa a ser um desafio para as
instituições e para os professores (D'AVILA JUNIOR, 2021). Mas permanece a dúvida: é mesmo
possível ensinar teatro nesse formato remoto e mediado pela tecnologia?
Faz-se necessário investigar essas tecnologias, não apenas como suporte, mas como uma
metodologia que possa integrar a própria experiência teatral. Ricardo Japiassu (2001) aponta que, ao
longo do tempo, surgiram diversas metodologias para o ensino de teatro, tais como a pedagogia dos
jogos teatrais, a pedagogia do espectador, o teatro do oprimido, dentre outras. Um aspecto presente
em diversas metodologias e amplamente reconhecido pelos estudiosos é a contribuição do teatro na
formação de uma consciência reflexiva e questionadora dos estudantes.
O teatro na escola contribui para a formação de um sujeito crítico-reflexivos, que através da
contemplação da obra de arte, do fazer teatral e da contextualização histórica, têm a capacidade de se
colocar melhor no mundo, percebendo mais o seu contexto e, de forma ativa, opinar, criticar e sugerir
transformações.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 881

Flávio Desgranges (2007), em seus estudos sobre Teatro e Pedagogia, compreende que a ação
educativa proposta pela experiência teatral nos diferentes eventos e processos teatrais, a partir de
variados contextos e procedimentos, podem estimular a efetivar um ato produtivo, elaborando
reflexivamente conhecimentos tanto sobre o próprio fazer artístico-teatral, quanto acerca de aspectos
relevantes da vida social.
Partindo do que pretende o teatro na escola, é possível pensar melhor o que pode esta arte
diante de um contexto pandêmico, da exigência do distanciamento social e da estratégia do ensino
remoto. Jorge Dubatti (2020), ao estudar e escrever sobre teatro, desenvolve dois conceitos, do
convívio (teatro só existe enquanto está sendo realizado) e do tecnovívio (teatro existecom a mediação
de máquinas). Esses conceitos são importantes para discutir os híbridos de linguagens artísticas,
principalmente entre o teatro e o audiovisual, que proliferaram, e proliferam, na pandemia. Ele
acredita que o isolamento social explicitou a importância do encontro e da presença para a
humanidade, os benefícios da pluralidade de criações gerando uma ânsia por isso. Nesse sentido, o
pesquisador reforça a importância da emancipação de artistas e do público, a partir de um olhar atento
às questões do teatro relacionadas às problemáticas atuais do mundo.
Diante da realidade, propomos, inicialmente, um olhar para as relações entre leitura e teatro,
de modo a encontrar pistas sobre o potencial desta união para o enfrentamento da situação observada
na prática pedagógica teatral na atualidade. Heloise Vidor, em seu artigo “Leitura e Teatro: primeiras
aproximações”, afirma:

A relação da leitura com o teatro, até pouco tempo, era associada aos formatos de leitura de
mesa (...). Na cena contemporânea, entretanto, podemos observar uma modalidade de leitura
que ocupa uma posição de fronteira com o espetáculo propriamente dito. Esta modalidade é
denominada leitura cênica. Entre a leitura dramática e a encenação, na leitura cênica, apesar
de os atores sustentarem o “texto em mãos”, nota-se claramente uma concepção de direção,
com acabamento plástico e sonoro. (VIDOR, 2011, p. 37).

Acreditamos que investir esforço neste projeto é oferecer a cada criança e a cada jovem um
empoderamento implícito em todo o ato criativo.

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada propõe a apresentação e apreciação das leituras cênicas em formato


online pelo canal do YouTube, seguida de diálogos / reflexões, por meio do Google Meet, entre os
artistas atuantes das leituras cênicas, a coordenadora e o público alvo deste projeto, que são os alunos
EXTENSÃO PUC MINAS:
882 Novo Humanismo, novas perspectivas

e professores das escolas de educação básica e dos cursos de Pedagogia da UERGS. Todo o trabalho
é realizado de forma remota, seu processo e resultados ficamregistrados na Plataforma Youtube e
disponíveisnas redes sociais como Instagram da Universidade.
Foram previstos encontros semanais, de forma remota por meio do Google Meet, entre os
alunos bolsistas e a coordenadora, para estudos, planejamentos, avaliações e registros do processo e
resultados das atividades realizadas, disponibilizando-as em redes sociais; quinze (15) apresentações,
apreciações e diálogos das leituras cênicas no primeiro semestre de 2022 nas escolas de educação
básica em que os estágios de Docência em Teatro do curso de Graduação em Teatro: Licenciatura da
UERGS acontecem; seis (6) apresentações, apreciações e diálogos das leituras cênicas no segundo
semestre de 2022 nos cursos de Pedagogia da UERGS.

4 DISCUSSÃOE RESULTADOS

Na primeira e na segunda edição do projeto, foram criadas e produzidas as leituras cênicas de


Dog Day (2020), destinada ao Ensino Médio, e Anos Finais do Ensino Fundamental e O homem do
saco (2021), para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental; este foi estendido para
instituições que atendem PCD (pessoas com deficiência). Com elas, conseguimos atingir um bom
número de estudantes destes ensinos e instituições, e os mesmos puderam, além de assistir à leitura,
dialogar com os artistas e coordenadora sobre teatro e sua importância para a construção do
conhecimento artístico / criativo.
Até o momento, na edição 2022, o projeto esteve em seis (6) escolas de Ensino Médio
dialogando com alunos adolescentes, por meio da leitura cênica Dog Day, atingindo um público de
200 estudantes e em três (3) escolas de Educação Infantil e Anos Iniciais; com a leitura cênica do O
homem do saco, atingiu-se um público de 120 crianças.
Além dos impactos anteriormente citados, entendemos que os envolvidos, tanto os bolsistas
quanto os alunos e professores das Instituições participantes, puderam discutir e refletir sobre as
questões relacionadas à construção do conhecimento em Teatro, oportunizando um espaço de diálogo
sobre temáticas que foram discutidas com crianças e adolescentes. A arte, por sua linguagem
simbólica, acolhe com maior escuta e proteção assuntos latentes na em cada etapa do
desenvolvimento humano. Podemos perceber em cada encontro das crianças e jovens, que
provocados pelos os vídeos das leituras cênicas, foram estímulos para outras produções artísticas,
como desenhos, criações textuais e jogos teatrais juntamente com pequenas encenações realizadas na
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 883

escola com alunos e professores. Ao proporcionarmos esses momentos de troca, percebemos os


benefícios que projetos como este podem trazer ao contexto do teatro na educação.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

Considerando os objetivos deste projeto, até o momento a leitura cênica se mostrou como um
caminho possível para ampliar o entendimento sobre as metodologias para o ensino e prática do
conhecimento teatral na educação básica potencializando a capacidade criadora das crianças e
adolescentes.
As crianças, após assistirem a O Homem do saco, foram receptivas, conseguindo estabelecer
o diálogo do brincar. Imitaram personagens da história, com direito a poses para a câmera. Da
conversa, sempre com o entusiasmo e curiosidade inerente à criança, surgiram perguntas de como
foram desenvolvidas determinadas cenas, do porque foi escolhido fazer daquela forma e não de outra.
Falamos sobre nosso processo de criação e percebemos a receptividade e interesse das crianças.
Os adolescentes que assistiram à leitura cênica Dog Day foram muito participativos e fizeram
vários questionamentos sobre o texto e suas temáticas, mas principalmente sobre a montagem, a
criação de personagens, a escolha de figurino e outros recursos, questões mais direcionadas ao
conhecimento teatral e sua construção. Nos diálogos, foi dada ênfase à capacidade que todos temos,
não só os artistas, mas eles também, de criar, de significar o que pensamos e fazemos.

Palavras-chave: Teatro. Pedagogia. Leitura cênica. Diálogos.


Keywords: Theater. Pedagogy. Scenic reading. Dialogues.

REFERÊNCIAS

D'AVILA JUNIOR, Francisco de P. Aplicativos para o ensino remoto de teatro: Avatar, deepfake,
padlet e outras experimentações. Urdimento. Florianópolis, v.2, n.41, p.1-29, set. 2021.
DESGRANGES, Flavio. Pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. 4a. ed. São Paulo: Hucitec,
2017.
DUBATTI, Jorge. Experiência teatral, experiência tecnovivial: ni identidad, ni campeonato, ni
superación evolucionista, ni destrucción, ni vínculos simétricos. Rebento. v. 1, n. 12, p. 25, 2020.
JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do ensino do teatro. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
VIDOR, Heloise Baurich. Leitura e Teatro: primeiras aproximações. Revista Aspas. v. 1 n. 1, p.35-
41, 2011. Encontrado em:https://www.revistas.usp.br/aspas/article/view/62848/65624. Acesso em:
06 jan. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
884 Novo Humanismo, novas perspectivas

Ensino de BIM como prática extensionista na


disciplina Representação e Modelos Digitais III

BIM teaching as extensionist practice in the subject


Representation and Digital Models III

Álvaro José Paiva de Almeida1

INTRODUÇÃO

Este projeto está vinculado à área da Educação. Consiste em produção e divulgação de vídeos
de ensino de desenho digital em mídia social. Está também vinculado à área da Tecnologia e
Produção, pois o projeto é criado na disciplina de Representação e Modelos Digitais III, no Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Essa disciplina tem como objetivo a aprendizagem e capacitação na
elaboração de projetos de arquitetura com um software BIM –Building Information Modeling.
O BIM ou Modelagem da Informação da Construção é um processo criado para gerenciar
informações em um projeto de construção em todo seu ciclo de vida. Um dos principais resultados
desse processo é o Modelo de informações de construção, que se configura na descrição digital de
cada aspecto do ativo construído (EASTMAN, 2014)
O projeto teve início em 2020 e o processo de elaboração dos vídeos continua em aberto. O
período analisado é referente aos últimos 365 dias (conforme resultados apresentados pelo Canal
YouTube), e também, porque é a partir de quando o projeto passa a ser caracterizado como extensão
universitária, devido à ampliação de inscritos externos à universidade e ao retorno desta comunidade
retroalimentando o processo. Como o YouTube tem amplo acesso social, esses vídeos começaram a
ter um grande retorno, não só dos alunos da disciplina, como também de ex-alunos e, também, de
pessoas não ligadas à universidade. Nesse processo de interação entre universidade e sociedade, o
curso passou a se caracterizar então, como um curso de extensão universitária. Os vídeos passaram a
ser elaborados a partir das demandas de toda a comunidade extramuros que passou a acompanhar a
produção. Atualmente, estes vídeos possuem mais de 4.436 visualizações e 172 inscritos2.

1
Mestre em Ciências Sociais. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas. E-mail:
alvarojosepaiva@gmail.com
2
Disponíveis em: Links do canal: https://youtube.com/channel/UCyPx6yMzChXd1x2mvPSjhiw
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 885

2 OBJETIVOS

Objetivo principal deste curso é demonstrar os aspectos essenciais da tecnologia BIM na área
de modelagem de arquitetura através da interação universidade e sociedade, ampliando a relação da
universidade com a sociedade. Os objetivos secundários são a resolução de problemas de modelagem
de coberturas, estruturas, terraplenagem e arquitetura com a utilização de um software BIM.

3 JUSTIFICATIVA

Dada a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é necessário um certo grau de


aderência entre aquilo que se ensina, aquilo que se pesquisa e aquilo que se quer “entender” à
sociedade:

A primeira diretriz do Plano Nacional de Extensão diz respeito à indissociabilidade entre


ensino, pesquisa e extensão, ela ‘reafirma a Extensão Universitária como processo
acadêmico’. Nessa perspectiva, o suposto é que as ações de extensão adquirem maior
efetividade se estiverem vinculadas ao processo de formação de pessoas (Ensino) e de
geração de conhecimento (Pesquisa). No que se refere à relação Extensão e Ensino a diretriz
de indissociabilidade coloca o estudante como protagonista de sua formação técnica [...]. Na
relação entre Extensão e Pesquisa, abrem-se múltiplas possibilidades de articulação entre a
Universidade e a sociedade”. (POLÍTICA NACIONAL DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA, FORPROEX, 2012, p. 49-50).

Desenvolver esse projeto de extensão, a partir de uma prática de uma disciplina está
perfeitamente ancorado nos pressupostos das diretrizes do Plano Nacional de Extensão. As respostas
e as demandas da comunidade externa a esse curso de extensão propiciaram novas videoaulas, que
vieram a enriquecer o processo de ensino aprendizagem para os alunos da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Muitas dessas demandas eram de profissionais de Arquitetura
e Engenharia, conectando o processo de ensino, em sala, com questões da realidade profissional.

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA

“Visando à produção de conhecimento, a Extensão Universitária sustenta-se principalmente


em metodologias participativas, no formato investigação-ação (ou pesquisa-ação), que priorizam
métodos de análise inovadores, a participação dos atores sociais e o diálogo” (FORPROEX, 20212,
p. 51).
EXTENSÃO PUC MINAS:
886 Novo Humanismo, novas perspectivas

Segundo Almeida (2003), a educação a distância (EAD) se caracteriza pela distância física
entre instrutor e treinando, flexibilização do tempo e localização do treinando em qualquer espaço,
utilizando-se, para a comunicação, diferentes meios, como: correspondência, rádio, TV, telefone,
computador, entre outros. Schlosser (2010) afirma que esta deve ser entendida como uma modalidade
educativa que possibilita o desenvolvimento de habilidades capazes de construir conhecimentos,
criando novas formas de aprender e entender, apoiadas pelos recursos tecnológicos. Quanto ao e-
learning, este pode ser entendido como uma modalidade de educação a distância com suporte da
internet que, de acordo com Gomes (2005), está associado ao serviço de protocolo www (World Wide
Web), grande flexibilidade em termos de suporte a diversas mídias como texto, imagem, animações,
filmes, entre outros, independentemente do tempo e espaço, além de permitir grande rapidez na
produção, reprodução, distribuição e atualização de conteúdos.
A metodologia é a de um e-learning, curso online ou curso EAD, porém, sem contar com uma
plataforma EAD, razão de o curso se basear em um canal do YouTube. Neste caso, não há nenhum
tipo de contato físico entre aluno e tutor EAD, baseado unicamente em videoaulas. O esclarecimento
de dúvidas, bem como as avaliações também se dão pela internet. Em nenhum momento, os alunos
precisam se deslocar para qualquer tipo de atividade. A escolha desta metodologia se deu porque os
processos são mais simples pela internet, os custos mais baixos e o alcance de alunos são muito
maiores.

5 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Buscou-se uma forma de aprendizado a distância, porque é mais barata que um curso
presencial. O aluno não tem despesas diárias com transporte até a faculdade, além da flexibilidade:
O aluno EAD pode estudar na hora que for melhor para ele. Alcançou-se um maior contato com ex-
alunos que vêm acompanhando o curso, além da divulgação das atividades desenvolvidas pelo Curso
de Arquitetura da PUC Minas.
O retorno de mais de 4.436 visualizações, com mais de 172 inscritos foi além do esperado.
Nos últimos 365 dias, o percentual de não inscritos nas visualizações é de 59%. Como são vídeos
tutoriais de resoluções de problemas em um software, a prática de repetições nas visualizações é
grande, segundo retorno dos mesmos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 887

Tabela 1 - Aspectos referentes às visualizações


Status da inscrição Visualizações Tempo de exibição (horas) Duração média da visualização
Total 3348 261,9474 0:04:41
Não inscrito 1967 145,2448 0:04:25
Inscrito 1381 116,7026 0:05:04
Fonte: Elaboração do autor, 2022.

O percentual de mulheres é bem maior que homens, não só em número como de visualizações
é proporcionalmente maior.

Tabela 2. Aspectos referentes ao público dos vídeos

Gênero do Visualizações Duração média Porcentagem Tempo de exibição


espectador (%) da visualização visualizada média (%) (horas) (%)
Feminino 77,74 0:05:44 50,48 83,24
Masculino 22,26 0:04:02 34,62 16,76
Fonte: Elaboração do autor, 2022.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Houve um bom retorno para a prática de ensino aprendizagem em sala. O curso foi sofrendo
alterações em função de demandas dos alunos extensionistas, muitos deles profissionais da área da
engenharia e arquitetura. Isso proporcionou ao estudante da universidade uma proximidade maior
com a prática profissional.

Palavras-chave: Bim. Desenho Digital. Desenho Arquitetônico


Keywords: Bim. Digital Design. Architectural Drawing

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes
digitais de aprendizagem. Educação e pesquisa. São Paulo, 2003. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/ep/ v29n2/a10v29n2.pdf Acesso em 30/08/2011
FORPROEX. Política Nacional de Extensão Universitária / elaborada pelo Fórum de Pró-
Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Públicas Brasileiras. 2012.
EASTMAN, Chuck. Manual de BIM. Editora Boockman, 2014.
SCHLOSSER, R. L. “Atuação dos Tutores nos Cursos de Educação a Distância”. Revista Digital
da CVA – Ricesu, Vol. 6, nº 22, Fev. 2010. Disponível em: http://pead.ucpel.tche.
br/revistas/index.php/colabora/article/viewFile/128/112. Acesso em 10/11/2011. SUSEP, disponível
em www.susep.gov.br Acesso em 12/11/2011
EXTENSÃO PUC MINAS:
888 Novo Humanismo, novas perspectivas

Uma reflexão sobre a Extensão Universitária e ressocialização depois do


vestibular

A reflection on University Extension and resocialization after the vestibulary

Stela Cristina de Godoi1


Sara Sales Montóia2
Vera Lúcia dos Santos Placido3
Victória Bastos Ferreira Mantilha4

INTRODUÇÃO

No Brasil, as Universidades se expandiram na década de 1940 e não incluíam atividades de


extensão dentre as suas finalidades. Nesse período, o entendimento do que caracterizava a Extensão
baseava-se na premissa de que a Universidade cumpria sua função social ao divulgar suas pesquisas
para a população não instruída, ou seja, a problemática das relações de alteridade com os saberes não
acadêmicos, bem como da contribuição da experiência extensionista para a formação continuada de
discentes e docentes, ainda não estava na pauta das instituições de Ensino Superior (IES).
A Extensão, de fato, amadureceu e ganhou novas abordagens nos anos 1970-80, sob pressão
de movimentos sociais em suas lutas democráticas e de educadores comprometidos com a Educação
Popular e a transformação social das estruturas de desigualdade da sociedade brasileira (GADOTTI,
2017).
Inspirado na Pedagogia do Oprimido, desenvolvido por Paulo Freire e sua concepção de
Extensão como comunicação, o Projeto Articuladas, um projeto de extensão da PUC Campinas,
considera que a extensão universitária comunitária é um campo social privilegiado também para a
formação continuada de docentes e discentes, através da ressocialização em meio a uma ecologia de
saberes.

1
Doutora em Sociologia, professora da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) e coordenadora do Projeto Articuladas da
Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEXT) da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: stela.godoi@puc-campinas.edu.br.
2
Graduanda da Faculdade de Ciências Sociais e aluna voluntária do Projeto Articuladas da PROEXT PUC-Campinas. E-
mail: sarah.sm1@puccampinas.edu.br.
3
Geógrafa/Docente da Faculdade de Geografia e Extensionista da PUC-Campinas, desenvolvendo o projeto Inteligência
territorial para compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação. E-mail: veraplacido@puc-campinas.edu.br
4
Graduanda da Faculdade de Ciências Sociais e aluna bolsista do Projeto Articuladas da PROEXT PUC-Campinas. E-
mail: victoria.bfm@puccampinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 889

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Lea Carvalho Rodrigues, em Uma Etnografia na Universidade, pode-se observar


que os códigos e posturas dentro da Universidade compõem um ritual. Rodrigues escolheu duas
situações da vida universitária, a sala de aula e a defesa de tese, consideradas por ela como situações
ritualísticas:

A prática da observação participante, o acompanhamento das disciplinas escolhidas e a


presença junto ao público de defesas de dissertações de mestrado e teses de doutorado
ocorridas em diversos institutos, permitiu apreender o que dizem e expressam esses eventos.
Foi possível perceber que os aspectos formais, a ritualização, a postura de alunos,
professores, candidatos e membros de banca; a entonação da voz, os gestos, a obediência ou
rompimento das sequências rituais e a forma de arguição e defesa, expressam diferentes
concepções sobre o conhecimento, a ciência e a universidade; sobre a posição do intelectual,
do pesquisador, do docente e do aluno. Além do mais, revelam as relações de poder, os
conflitos e consensos que emergem nessas situações e que são também perpassados por
razões institucionais, culturais e científicas. (RODRIGUES, 1996, p. 06).

A autora problematiza o caráter e as consequências desses rituais da Universidade apontando


que, se por um lado, propiciam a formação de habilidades e competências específicas, por outro,
geram uma relação hierárquica que, muitas vezes, ocasiona uma visão ruim do estudante acerca do
seu curso. Assim, as defesas de trabalho acadêmico, processos avaliativos para a progressão do grau
e outros rituais de passagem da universidade, formam o habitus acadêmico, mas, são conflituosos e
podem, em certo sentido, inibir o engajamento dos acadêmicos com sua formação. Assim, segundo
Martins (2014), é fundamental, para as profissões que lidam com os seres humanos e suas relações
sociais, que discentes e docentes sejam permanentemente ressocializados e confrontados
reflexivamente com a vida social extramuros e suas diversas formas de saberes. Afinal, como lembra
Paulo Freire, educar e educar-se é tarefa daqueles que transformando seu pensar que nada sabem em
saber que pouco sabem, podem igualmente saber mais. (FREIRE, 2013; 2015).
Essas travessias que "desconstroem o já sabido” para aprender a aprender mais na alteridade
com o outro, são tratadas por Martins (2014) em suas incursões teórico-metodológicas sobre o fazer-
se dos estudantes depois do vestibular. O autor afirma que o material mais rico para a formação e
ressocialização dos acadêmicos “é aquele que vem do vivencial e de quanto o próprio pesquisador
possa observar e registrar da realidade que observa, nela de modo algum se inserindo” (MARTINS,
2014, p. 74).
Do ponto de vista espacial, toda ação social transforma os territórios em lugares e os lugares,
por sua vez, são percebidos e vividos na perspectiva da experiência. Territórios e lugares se cruzam
EXTENSÃO PUC MINAS:
890 Novo Humanismo, novas perspectivas

e interconectam na experiência humana e em algo que é inerente à nossa natureza: o movimento.


Partindo desses pressupostos adotamos a tese, neste trabalho, de que os estudos do meio e práticas
extensionistas nos territórios são fundamentais para a formação continuada de docentes e discentes,
pois amplia a experiência prática dos estudantes, viabilizando a sua ressocialização em movimento,
nas travessias entre os lugares e seus saberes (SANTOS, 2007; SERPA, 2011).

3 METODOLOGIA

Com essa concepção em tela, nos munimos de dois projetos de extensão em uma ação
colaborativa do “Projetos Articuladas: escuta participativa e práticas formativas em cuidado e
longevidade”, coordenado pela Prof.ª Stela Cristina de Godói, e do projeto “Inteligência Territorial
para a compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação”, de coordenação da Prof.ª Vera
Placido. Juntamente com uma equipe de alunos e alunas dos dois projetos, desenvolvemos um estudo
do meio na região do Jardim Amanda, localizado na porção sudeste do município de Hortolândia, SP,
acompanhados pela Coordenação do CRAS – Jardim Amanda.
Neste estudo do meio, passamos por diferentes pontos e, em cada ponto / aréa visitada,
percebendo como se dão a formação, a produção e a organização territorial da região, especialmente
em relação à segregação socioespacial. Ao mesmo tempo em que há áreas bem consolidadas, com
fluidez proporcionadas pelas grandes avenidas que permitem diferentes organizações produtivas, há
espaços opacos, onde as comunidades enfrentam dificuldades para acessar, inclusive, serviços básicos
de proteção social.
Assim, ao finalizar a atividade do estudo do meio, percebia-se o desejo de fazê-la novamente,
agora munidos de novas questões. Se, antes, estávamos todos muito curiosos para entender como a
região se configura espacialmente, após o campo, pudemos viver uma experiência de ressocialização,
por meio da qual nos sensibilizamos com as dificuldades enfrentadas pela população no uso desse
território.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 891

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O Jardim Amanda é a região mais densamente ocupada de Hortolândia, portanto, se trata da


porção territorial com maior tempo de organização social, no entanto com usos sociais muito
desiguais. Abaixo, na imagem, os pontos visitados foram plotados a fim de materializar a
espacialização do estudo do meio realizado.

Figura 1 – Mapa dos equipamentos públicos de saúde, educação, cultura e Assistência Social

Fonte: Elaboração dos autores, 2022.

A espacialização é um exercício prático que nos permite elaborar muitas questões a partir da
clareza de como os principais equipamentos urbanos estão distribuídos na região, portanto, como se
dão os acessos na organização da cidade.
A expedição revelou que os equipamentos públicos do território do CRAS Amanda estão
concentrados possibilitando maior aproximação entre os seus agentes públicos. No entanto, para as
pessoas que necessitam percorrer longas distâncias para acessá-los, esta concentração os impede de
romper fronteiras, às vezes, do próprio bairro em que moram. É o caso, por exemplo, do bairro
conhecido como Taquara Branca em que, na imagem, se identifica com clareza, a distância em que
se localizam serviços públicos essenciais. Assim, estudar um lugar é perceber como ele se organiza
EXTENSÃO PUC MINAS:
892 Novo Humanismo, novas perspectivas

e, tão importante quanto, se esta organização é condição e condicionante para a exclusão social –
situação que, infelizmente, milhares de famílias vivem em regiões metropolitanas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizar um estudo do meio é se munir de um saber prévio, ou seja, ao ter contato com um
lugar diferente daquele que conhecemos através das nossas experiências, imediatamente iniciamos
uma aprendizagem significativa, já que, iremos avaliar o “novo” lugar com os olhares de quem vive
um “antigo” – o nosso próprio lugar. Aqui os preconceitos afloram e, no caso dos discentes e
professores envolvidos com a extensão, uma oportunidade única de (re)significar nossos conceitos.
Dessa forma, a extensão amplia os nossos saberes porque o percebemos em conexão; ao conectar,
novas questões são elaboradas e, neste momento, identificamos que os lugares são produções sociais,
portanto, suas especificidades, demandas, potencialidades estão conectadas em redes e, mesmo
distantes, muitas características espaciais os aproximam.
Desse modo, se a extensão universitária junto aos territórios compõe os rituais de passagem
utilizados nessas instituições para a reprodução dos seus códigos, valores e hierarquias, a experiência
extensionista, por suas relações de alteridade, possibilita a transposição do teórico e do prático e o
fomento de uma ecologia de saberes transformadora, que impacta positivamente a formação
continuada de docentes e discentes, enquanto profissionais e sujeitos sociais.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013)


FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015. 127 p
GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: para quê? São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2017.
Disponível em: https://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extens%C3%A3o_Universit
%C3%A1ria_-_Moacir_Gadotti_fevereiro_2017.pdf. Acesso em: 14 abr. 2019.
MARTINS, José de Souza. Uma sociologia da vida cotidiana: ensaios na perspectiva de Florestan
Fernandes, de Wright e de Henri Lefebvre. São Paulo: Contexto, 2014.
RODRIGUES, Lea Carvalho. Uma etnografia na universidade: sobre o processo de construção e
legitimação do trabalho acadêmico. XX ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. Caxambu-MG,
outubro 1996.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.140 Ed,
Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.
SERPA, Ângelo. Lugar e mídia. São Paulo: Contexto, 2011.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 893

O brincar transforma: uma experiência do Projeto de Extensão Brincando e


Aprendendo com crianças em tratamento oncológico

Playing transforms: an experience of the Extension Project Playing and


Learning with children in oncological treatment

Gabriela Becker Stoffel1


Juliana Vargas Silva2
Vanessa Barcelos de Menezes3
Luana Lopes Bley4
Simone Moreira dos Santos5

INTRODUÇÃO

O brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, inclusive está previsto no Estatuto


da Criança e Adolescente (ECA), em seu artigo 16, quando fala sobre o direito à liberdade da criança
e os aspectos que a compreende, destacando no inciso IV a importância do brincar, praticar esportes
e divertir-se. (BRASIL, 1990). A partir disso, o Projeto de Extensão Brincando e Aprendendo (PBA),
da Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo (Universidade Feevale),
visa proporcionar um espaço lúdico e acolhedor para crianças em situação de adoecimento,
possibilitando que continuem vivenciando sua infância. Com foco interdisciplinar, envolve
acadêmicos e professores dos cursos de Medicina, Pedagogia, Psicologia e Artes Visuais. O Projeto
desenvolve suas atividades no município de Novo Hamburgo/RS, atualmente vinculado a uma
entidade de amparo às crianças e adolescentes em tratamento oncopediátrico.
Este trabalho tem como objetivo analisar as possíveis contribuições do brincar virtual com
crianças em tratamento de câncer, através de um estudo qualitativo, com base em um relato de

1
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Feevale; Extensionista do Projeto Brincando e Aprendendo (PBA).
E-mail: gabrielabstoffel@gmail.com.
2
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Feevale; Extensionista do PBA. E-mail: juvargasrs@gmail.com.
3
Acadêmica do curso de Medicina Universidade Feevale; Extensionista PBA. E-mail: vanessabdemenezes@gmail.com.
4
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Feevale; Extensionista do PBA. E-mail: luanableyy@gmail.com.
5
Graduada em Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia clínica e institucional (Feevale), Mestre em Educação
(PUCRS). Professora do curso de Pedagogia da Universidade Feevale e Líder do Projeto de Extensão Brincando e
Aprendendo. E-mail: simonemore@feevale.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
894 Novo Humanismo, novas perspectivas

experiência das extensionistas do PBA. Para tanto, pretende-se responder ao seguinte problema de
pesquisa: de que forma o brincar virtual auxilia as crianças em situação de tratamento oncológico?
Nessa perspectiva, as análises apresentam resultados surpreendentes e que vão ao encontro do
referencial teórico que sustenta este trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O adoecimento, independentemente da idade, é um processo que causa muita angústia e


desconforto, mas para a criança e adolescente, este processo tende a ser mais doloroso, uma vez que
há uma ruptura no seu processo de desenvolvimento e a necessidade de alterações na sua rotina.
Santos (2003) refere que adoecer representa um despertar do sujeito para questões que ele sempre
quis evitar: sua finitude e sua impotência diante da morte.
Em decorrência do câncer e da exigência de tratamento, a interação social da criança e do
adolescente passa por limitações em dois contextos de extrema importância: o familiar e o escolar.
(SILVA; CABRAL, 2015). O tratamento quimioterápico modifica a vida do paciente, e se evidencia
através da necessidade de afastamento do contato social, de alterações físicas e emocionais.
(CICOGNA et al, 2010).
É importante salientar que o brincar é considerado terapêutico devido à semelhança de sua
função em relação aos brinquedos e ao psicoterapeuta, que atua como ouvinte e confidente de
segredos dos pacientes. Através do brincar, a criança experimenta práticas espontâneas, interagindo
com seus brinquedos e tornando este momento terapêutico (FORTUNA, 2004). Para essa autora,
“Brincar é uma atividade dinâmica que produz e resulta de transformações” (FORTUNA, 2004,
p.188). Assim, o brincar assume o papel de linguagem, uma atividade na qual a criança expressa seus
gestos e comportamentos, enfrentando desafios, criando possibilidades e construindo sua autonomia.
Por meio do brincar, seus anseios são amenizados, contribuindo para maior adesão ao tratamento
(FORTUNA, 2004).
Brincando, a criança experimenta situações prazerosas, que permitem a ela imaginar, fantasiar
e planejar sobre as experiências que a envolve (DEL PINO, PEREIRA, 2017). Neste sentido, brincar
é aprender, permite a adaptação do indivíduo a novas situações e ambientes, possibilitando explorar
oportunidades e interagir com pessoas e objetos, libertar, explorar e ampliar seu repertório de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 895

comportamentos de modo significativo. Com isso, a brincadeira é entendida como um meio para a
aprendizagem social e comportamental. É pelo brincar que sua condição de criança é reafirmada
(FORTUNA, 2004).
Del Pino e Pereira (2017) identificaram em sua pesquisa a redução dos sentimentos negativos
como fator positivo da ludoterapia durante o tratamento oncológico. A criança vivencia sentimentos
como solidão, preocupação, angústia, dor, medo, tristeza, entre outros sentimentos negativos
decorrentes do processo de tratamento. Portanto, o brincar torna-se uma estratégia fundamental para
adaptar e encorajar a criança a enfrentar sua nova condição (RIBEIRO, [s./d.])6. Destaca-se então, a
importância da ludoterapia, pois ao brincar a criança consegue expressar seus sentimentos, bem como
desenvolver aspectos cognitivos, afetivos, sociais e psicomotores.

3 METODOLOGIA

Este estudo é de abordagem qualitativa, através do relato de experiência, relacionando com a


pesquisa bibliográfica. De acordo com Lüdke e André (2018), nesta abordagem, os dados são obtidos
no contato direto do pesquisador com a situação estudada e retrata a perspectiva dos participantes.
Dessa forma, os dados foram coletados a partir de atividades lúdicas virtuais, uma vez na semana,
realizadas com um grupo de crianças em tratamento de câncer infantil.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O Projeto Brincando e Aprendendo, através dos encontros virtuais, busca dar espaço para que
as crianças e adolescentes atendidos pelo projeto possam elaborar este momento doloroso e
traumático do tratamento médico, por meio de situações lúdicas que oportunizem a eles expressar o
que estão sentindo, sintam-se acolhidos e confiantes para enfrentar este momento de dor, medo,
angústia e de expectativa em relação a sua recuperação. Essas questões vão ao encontro do que
Fortuna (2004) e Del Pino e Pereira (2017) falam sobre os benefícios do brincar em uma situação de
adoecimento. Nesse sentido, evidenciam-se momentos de interação, socialização e reinserção social
através das mais variadas propostas de brincar, sempre levando em consideração os interesses
manifestados pelo grupo, a faixa etária e suas limitações por conta do tratamento oncológico.

6
Disponível em: http://bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/EON/EON02/RIBEIRO-aline-alves.pdf. Acesso em: 07
jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
896 Novo Humanismo, novas perspectivas

Foi possível aprender, com a prática, a necessidade da flexibilização do planejamento das


atividades, oportunizando que nos atendimentos às crianças e adolescentes, eles sejam protagonistas
desse processo. A partir disso, no decorrer das práticas extensionistas, observou-se o crescimento da
autoconfiança, que se mostrou evidente através do aumento da participação das crianças e
adolescentes durante as atividades, por meio de uma troca significativa, baseada na identificação entre
os integrantes, indo ao encontro da ideia de Ribeiro ([s./d.]). Compreende-se que o vínculo afetivo
que se estabeleceu entre participantes, professores e extensionistas durante o processo lúdico foi
fundamental para a construção de um ambiente acolhedor, que trouxe esses resultados. Nesse sentido,
ao proporcionarmos um espaço de escuta e acolhimento às crianças e aos adolescentes, por meio do
lúdico — com músicas, brincadeiras e histórias —, fizemos com que eles se sentissem seguros para
manifestar seus medos e anseios, sobretudo a questão da morte, característica presente em pacientes
oncológicos, evidenciado em Santos (2003). Portanto, o brincar possibilita vivências prazerosas que
permitem a compreensão e elaboração do momento experienciado, assim como diversão e melhora
no bem-estar, tanto físico, quanto emocional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados relatados e com base no referencial bibliográfico apresentado, torna-
se evidente a importância do brincar durante o tratamento de câncer infantil, considerando que o
mesmo auxilia na compreensão e elaboração do momento vivido, proporcionando aos envolvidos um
espaço lúdico de socialização e interação, de escuta e acolhimento para expressão dos sentimentos,
refletindo na melhora no bem-estar físico e emocional das crianças e adolescentes em processo de
tratamento e recuperação de saúde. Por isso, conclui-se ser essencial que todas as crianças em
tratamento de câncer tenham acesso ao / espaço para o brincar, independentemente da situação na
qual se encontram, afinal, o brincar faz parte do “ser criança”.

Palavras-chave: Câncer Infantil. Encontros Virtuais. Lúdico. Saúde.


Keywords: Childhood Cancer. Virtual Encounters. Ludic. Health.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 897

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Casa Civil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF, 1990.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 16 out. 2021.
CICOGNA, Elizelaine de Chico et al., Crianças e adolescentes com câncer: experiências com a
quimioterapia. Revista Latino-americana de Enfermagem. v. 18, n. 5, p. 1-9, 2010. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/rlae/a/PwZfZ37N3T6dBJQtHrg7jgw/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 04 jun. 2022.
DEL PINO, Camila; PEREIRA, Vinicius Tonollier. Ludoterapia durante o tratamento contra o
câncer infantil: revisão integrativa de literatura. Revista Psicologia em Foco. v. 9, n. 14, 2017, s/p.
Disponível
em:http://revistas.fw.uri.br/index.php/psicologiaemfoco/article/view/2132#:~:text=De%20modo%2
0geral%2C%20os%20resultados,rela%C3%A7%C3%A3o%20ao%20enfrentamento%20da%20doe
n%C3%A7a. Acesso em: 04 jun. 2022.
FORTUNA, Tânia Ramos. Brincar, viver e aprender: educação e ludicidade no hospital. Ciênc.
Let., Porto Alegre, nº. 35, p.185 – 201, mar./jul. 2004.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. 2. ed.
Rio de Janeiro: E.P.U., 2018. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-
85-216-2306-9/. Acesso em: 11 out. 2021.
RIBEIRO, Aline Alves. A importância do brincar no tratamento de criança com câncer
hospitalizadas: uma revisão de literatura. Disponível em:
http://bibliotecaatualiza.com.br/arquivotcc/EON/EON02/RIBEIRO-aline-alves.pdf. Acesso em: 07
jun. 2022.
SANTOS, N. E. Quando o corpo se faz despertar. In: QUEYLE, Julieta; LUCIA, Mara Cristina
Souza de. (Orgs.). Adoecer: as intervenções do doente com sua doença. Săo Paulo: Atheneu, 2003,
p. 3-8.
SILVA, Liliane Faria da; CABRAL, Ivone Evangelista. O resgate do prazer de brincar da criança
com câncer no espaço hospitalar. Revista Brasileira de Enfermagem. 2015. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680303i. Acesso em: 04 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
898 Novo Humanismo, novas perspectivas

Os Sentidos da Educação Quilombola como outra possibilidade epistêmica para


o Ensino Regular: uma experiência no Estágio Obrigatório de observação do
Curso de Pedagogia da UEMG

The Sense of Quilombo Community as another epistemic possibility for Regular


Education: an experience in Mandatory Internship of observation in
Education Course in UEMG.

Bruno de Sena Marçal1


Vitória Régia Izaú2

INTRODUÇÃO

Este trabalho refere-se à experiência vivenciada no Estágio Obrigatório de observação,


desenvolvido no quarto semestre letivo do Curso de Pedagogia na Faculdade de Educação — FaE —
UEMG. Pretende-se, por meio da apresentação dessa experiência, promover o diálogo acerca da
importância do programa de extensão e pesquisa Egbara Wa, pensando na minha atuação dentro do
projeto de pesquisa e extensão “Poéticas de espaço e voz: Narrativas de lideranças negras
quilombolas, ambos coordenados pela Prof.ª Drª Vitória Régia Izaú.
Trata-se de ações de cunho formativo, tendo como objetivo a reflexão acerca da educação
quilombola, enquanto possibilidade para modificação da estrutura educacional, realizadas em
colaboração com a comunidade Manzo Ngunzo Kaiango, quilombo urbano de Belo Horizonte,
situado no bairro Santa Efigênia, que é liderado por Efigênia dos Santos “Mametu Muiandê”.

1
Graduando na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Professor do Projeto Escola Integrada na Rede
Municipal de Belo Horizonte/MG Escola Municipal Julia Paraiso, e membro/pesquisador do Núcleo de Pesquisa em
Raças, Gêneros e Performances (NUPERGPE, vinculado ao Coletivo Erês - Mensageiras dos Ventos). E-mail:
bruno.0294684@discente.uemg.br.
2
Doutora e Mestre em Educação (FAE/UFMG), professora efetiva da Faculdade de Educação da UEMG, Coordenadora
do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Relações Étnico-Raciais (NEPER/UEMG/CNPQ), Coordenadora do
Programa Egbara Wa de Ensino, Pesquisa e Extensão que agrega oito projetos dentre eles, o Poéticas de Espaço e Voz:
narrativas de lideranças negras quilombolas sobre a cidade de Belo Horizonte de sua autoria, que atua diretamente com
cinco comunidades: Quilombos Manzo, Matias, Mangueiras, Arturos e Souza. E-mail: vitoria.izau@uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 899

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No que tange a mídia social, foram estudados os vídeos do projeto Educa Kilombo, que nos
apresenta o cotidiano, práticas e vivências das crianças daquele território, além de outras redes sociais
de lideranças religiosas desta comunidade. Nas referências bibliográficas, estruturamos o pensamento
sobre o território quilombola a partir do que nos é apresentado por Abdias do Nascimento (2020) e
Beatriz Nascimento (1986) sendo complementado também pela análise do território social de Milton
Santos (1959). A partir das experiências negras de mundo, pensando principalmente no que são esses
corpos-memória na diáspora africana, cita-se o Prof. Dr. Ridalvo Félix de Araújo (2013), e
contextualizando a partir das perspectivas educacionais a lei 10.639/03 (BRASIL, 2003), que fala
sobre o ensino da história das matrizes africanas e afro-brasileiras nas escolas e redes de ensino, em
confluência com o pensamento da autora Nilma Lino Gomes (2012).

3 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do estágio, foram consideradas algumas metodologias qualitativas


para observação, com o intuito de facilitar a busca para novas discussões sobre o tema. A busca por
análise desse caso se deu em razão de compreender como a criança quilombola constrói seu mundo
e de como esta leitura pode contribuir para transcender o modelo eurocêntrico e tradicional de escola
pública. Para tanto, foi realizado o estudo de referências bibliográficas, que facilitaram a compreensão
científica sobre algumas questões que apareceram no decorrer da análise. Nesse sentido, foram
utilizados os recursos de mídias sociais disponíveis na internet, com o objetivo de que a observação
e, posteriormente, a transcrição desse material possibilitasse que essas vivências estivessem
registradas no relatório e na apresentação final.
Para realizar o estudo no modo remoto, foi necessário recorrer aos materiais disponíveis na
internet. Uma alternativa foi o acesso a plataforma digital YouTube, nos vídeos do “Projeto Educa
Kilombo”, que é desenvolvido pelas lideranças negras do Manzo Ngunzo Kaiango. Esse projeto
pretende, por meio de oficinas realizadas no espaço, ensinar para as crianças práticas pedagógicas
que são fundamentais para o entendimento das filosofias que compõem a forma de viver daquela
comunidade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
900 Novo Humanismo, novas perspectivas

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Durante o processo de registro das atividades desenvolvidas no Quilombo, notou-se que existe
uma linguagem, acessada a partir da oralidade, comum em algumas comunidades negras afro-
brasileiras. Nisso, o autor Araújo (2020), em sua tese de doutorado, traz-nos uma visão ampla sobre
esse processo de formação, que garantiu a sobrevivência das tradições de matrizes africanas em solo
brasileiro, quando diz:

As tradições e expressões dos africanos e, em seguida, de seus descendentes no Brasil,


consubstanciaram memórias corporais até hoje presentes em diversas partes do país. Para
esses grupos a oralidade continuou recebendo aqui, nos universos brasileiros, a função
filosófica e cultural a ela concedida nas Áfricas negras: foi através do sistema oral que os
grupos e comunidades transmitiram seus conhecimentos, valores, crenças, símbolos e formas
de se relacionar coletivamente, garantindo, portanto, a continuidade do patrimônio cultural
nos grupos. (ARAÚJO, 2020, p. 16).

Tal performance da linguagem pode ser observada nas videoaulas e nos documentários do
projeto, uma vez que, dentro daquela comunidade, os cantos e danças são fundamentais para o acesso
aos ensinamentos dos antepassados africanos. Isso fica claro quando se percebe que, durante os
episódios, há a utilização de termos como “Ketendê”, “Kavungu”, “Intoto” e “Hunjéve”, vindos
geralmente com uma dança característica das divindades ou entidades específicas. Isso demonstra o
conhecimento adquirido pela vivência com o processo da oralidade.
A brincadeira, nesse contexto, é utilizada como projeto de construção de uma infância
africana. Podemos ver que, a partir das escolhas dos objetos utilizados, como o mapa africano ou
algumas sementes, é possível ver o ensino de termos, como diáspora e visão negra de mundo, com
uma naturalidade, a qual a escola formal ainda não consegue inserir em seu cotidiano de práticas de
educacionais. Isso é essencial de ser observado, principalmente quando vamos discutir sobre a
inserção dessas crianças no contexto escolar e sua contribuição para a mudança social e cultural desse
espaço.
Nesse sentido, foi possível perceber, através de relatos, que desde cedo é comum que essas
crianças enfrentem o racismo religioso dentro dos espaços escolares, pela sua forma de falar, pensar
e existir. Isso se manifesta quando são proibidos de utilizar os seus objetos de práticas mágico-
religiosas, ou mesmo quando sua forma de falar por vezes é ridicularizada por outros colegas.
Podemos perceber, que, apesar da institucionalização de uma lei que tem o objetivo de valorização
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 901

das tradições e culturas de matrizes africanas e afro-brasileiras (BRASIL, 2003) — a 10.639.03 —, a


escola e corpo docente ainda enfrentam dificuldades na elaboração de atividades que falam sobre essa
temática, gerando, assim, a manutenção do racismo epistêmico no ambiente escolar.
Apesar disso, quando vamos pensar sobre a contribuição dessas crianças para esse contexto,
vemos que os conhecimentos gerados dentro de suas comunidades contribuem para o entendimento
de outras realidades sociais. Esses sujeitos trazem consigo toda uma vivência específica, que lhe
ensina fundamentos que serão posteriormente abordados pela própria escola, quando pensamos nas
disciplinas da educação básica, sendo necessária a ampliação da formação discente e da comunidade
escolar, sobre a diversidade de modos de existir presentes na nossa realidade. Sobre isso, a autora
Gomes (2012), sugere que:

O ato de falar sobre algum assunto ou tema na escola não é uma via de mão única. Ele implica
respostas do “outro”, interpretações diferentes e confronto de ideias. A introdução da lei N
10.639/03- não como mais disciplinas e novos conteúdos, mas como uma mudança cultural
e política no campo curricular e epistemológico -poderá romper com o silêncio e desvelar
esse e outros rituais pedagógicos a favor da discriminação racial. (GOMES, 2012, p. 3).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do desenvolvimento de uma problemática específica, é possível se refletir acerca da


formação social e impacto na formação universitária, quando somos atravessados por temas, como o
compreendido acima. Ponderar sobre a possibilidade de formação através das experiências mantidas
pelos sistemas africanos na diáspora, nesse caso o quilombo, e dar oportunidade para que as estruturas
já estabelecidas por meio da imposição sejam transpassadas por discussões, são-nos caras.
Foi possível compreender, a partir da análise dos vídeos e leitura dos textos, além da
experiência vivida a partir da performance do corpo, como existimos em uma sociedade plural,
diversa e complexa. É nossa obrigação, enquanto educadores, buscarmos o entendimento acerca da
diversidade que nos engloba e os desafios que nos atravessam cotidianamente. Buscando uma
educação justa em direitos e de formação humanitária, tendo como base as leis previamente
estabelecidas, e a dedicação ao processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Educação. Relações Étnico-Raciais. Infância.


Keywords: Education. Ethnic-Racial Education. Childhood.
EXTENSÃO PUC MINAS:
902 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Ridálvo Felix de. Na batida do corpo, na pisada do cantá: inscrições poéticas no coco
cearense e candombe mineiro. UFMG. 2013
ARAUJO, Ridalvo Félix de. Na batida do coco na pisada do cantá: Inscrições poéticas no Coco
cearense e Candombe mineiro. Contagem: Editora Escola Cidadã, 2020.
GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo
sem Fronteiras, [s.l.], v.12, n.1, p. 98-109, jan./abr. 2012.
NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Brasil, Editora Perspectiva S/A, 2020.
NASCIMENTO, Beatriz. Daquilo que se chama cultura, Jornal IDE. No. 12. Sociedade Brasileira
de Psicanálise – São Paulo. Dezembro, 1986, p. 8.
SANTOS, Milton. A cidade como centro de região. Universidade Federal da Bahia - Laboratório
de Geomorfologia e Estudos Regionais, Imprensa Oficial, Salvador/BA, mapas e fig., 1959.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 903

Projeto de extensão Alfab&Letrar: propostas para potencializar


a alfabetização, o letramento e o letramento literário

Alfab&Letrar extension program: proposals to empowering


literacy, literacy and literary literacy

Carla Fernanda Schneider1


Danise Vivian2
Garine Andréa Keller3

INTRODUÇÃO

O Projeto de Extensão ALFAB&LETRAR faz parte do Programa intitulado Arte, Estética e


Linguagem, um dos eixos que pertence os projetos de extensão da Universidade do Vale do Taquari
(Univates), situada no município de Lajeado/RS. O projeto, em funcionamento desde 2019, visa à
promoção da alfabetização, letramento e do letramento literário através do desenvolvimento de
sequências didáticas elaboradas a partir de textos literários. Neste ano de 2022, o projeto mantém
parceria com duas escolas, uma da rede estadual de ensino situada no município de Lajeado/RS e
outra da rede municipal, da cidade de Passo do Sobrado/RS, atuando em duas turmas de 1º ano, duas
turmas de 2º ano dos anos iniciais e uma turma de pré-escola.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O projeto ALFAB&LETRAR sustenta-se, principalmente, nos conceitos de alfabetização,


letramento e letramento literário. Magda Soares (2003, 2004) compreende por alfabetização o
processo de aquisição da leitura e da escrita, como sistema convencional e, por letramento, “o
desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em

1
Graduada em Pedagogia (Univates) e graduanda em Letras. Bolsista do projeto de extensão ALFAB&LETRAR da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: cfschneider@univates.br.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Docente do curso de Pedagogia da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: dvivian@univates.br.
3
Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade pela Universidade de Caxias do Sul - UCS. Docente do Curso de Letras da
Universidade do Vale do Taquari - Univates. E-mail: gkeller@univates.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
904 Novo Humanismo, novas perspectivas

práticas sociais” (SOARES, 2004, p. 19). A atenção e o investimento a tais conceitos justificam-se
pela relevância da qualificação da aprendizagem da alfabetização e do letramento em âmbito escolar.
Diante de uma sociedade grafocêntrica, ser alfabetizado e saber fazer uso social da leitura e da escrita
configuram-se como ações que contribuem para a autonomia e a independência do sujeito na
sociedade. Essa necessidade foi estabelecendo-se na sociedade na medida em que o conceito de
alfabetização ressignificou-se ao longo do tempo.
Alfabetização e letramento são, portanto, conceitos distintos, mas indissociáveis, “[...] não se
trata de primeiro aprender a ler e a escrever para só depois usar a leitura e a escrita, mas aprende-se a
ler e a escrever por meio do uso da leitura e da escrita em práticas reais de intenção com a escrita”
(SOARES, 2003, p. 16). O processo de alfabetização precisa adquirir sentido na vida do estudante
para ser compreendido.
A literatura é vista, no projeto, como instrumento potente para a constituição de um sujeito da
escrita, pois tem o potencial de explorar a linguagem de uma forma única, de mostrar o mundo pela
força da palavra (COSSON, 2009). Ao utilizar a expressão “letramento literário”, Cosson compreende
o livro como um elemento para entender a sociedade e o próprio indivíduo a si mesmo. Não se trata
apenas de ler poesias ou histórias, mas de se apropriar dos textos por meio da experiência estética.
Acreditamos, dessa forma, que, por meio de experiências lúdicas desenvolvidas com este
projeto de extensão, o interesse dos alunos da Educação Básica sobre as aulas pode fortalecer-se,
contribuindo, assim, com a aquisição da leitura e da escrita e a qualificação da alfabetização.

3 METODOLOGIA

A elaboração das sequências didáticas, pelo grupo de extensionistas, se dá em reuniões


semanais, sempre iniciando pela busca por um livro da literatura infantil, que seja adequado à faixa
etária dos estudantes e que possa suscitar reflexões e elementos para o desenvolvimento de atividades
lúdicas voltadas à alfabetização. Cada sequência é planejada na forma de um roteiro, em que são
elencadas as habilidades desenvolvidas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
e apresenta uma descrição detalhada de cada uma das situações de aprendizagem, além de imagens
das propostas, recursos necessários e tempo estimado.
A primeira situação é uma atividade de pré-leitura, em que levantamos hipóteses sobre o
conteúdo do texto. Após a definição de como o livro será apresentado (se por imagens, vídeos ou
objetos), são planejadas atividades de compreensão do texto. Em seguida, partimos para a elaboração
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 905

de atividades referentes ao processo de alfabetização, que envolvem aspectos da consciência


fonológica, da oralidade, da leitura e da escrita e de sua funcionalidade, de acordo com os eixos
significativos do trabalho alfabetizador dissertados por Piccoli e Camini (2012).
Normalmente, essas atividades são executadas em pequenos grupos, de quatro a cinco
componentes, para que cada criança possa interagir de forma mais direta com os materiais. São jogos,
atividades de montagem, de escrita e de oralidade das aprendizagens constituídas por meio da
exploração da literatura infantil.
Durante o processo de aplicação da sequência didática, o grupo de extensionistas observa
como os estudantes interagem com as atividades jogos e/ou brincadeiras, de modo a reconhecer as
práticas que lhes interessam ou aquelas que geram maior dificuldade de compreensão. Estes aspectos
são debatidos nas reuniões semanais para qualificar a constituição de novas sequências didáticas.
Além desta observação, realizam-se conversas com os professores titulares das turmas parceiras para
que o projeto possa contribuir com algum tema específico para se trabalhar com a turma ou reformular
as suas estratégias.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

As práticas realizadas pelo projeto se estendem durante todo o ano letivo de 2022. A proposta
é acompanhar as turmas durante seu processo de alfabetização registrando as atividades em um livro,
individual, confeccionado pelos próprios estudantes. Todas as atividades realizadas serão coletadas
com o intuito da criação do livro, contemplando, as obras literárias trabalhadas e os exercícios
propostos. Este livro tem por objetivo compilar e analisar todo o processo de aprendizagem, além de
ser uma maneira de deixar uma marca do projeto na escola-parceira. Almejamos, também, realizar
uma mostra do livro para as demais turmas dos anos iniciais, para apresentar à escola e a comunidade
escolar em geral, o trabalho desenvolvido pelo projeto.
O ALFAB&LETRAR estima que, com as suas ações, contemplará cerca de 85 estudantes,
destes, aproximadamente 70 vinculados ao ciclo alfabetizador dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental e 15, da Educação Infantil. Cinco turmas da Educação Básica e seus respectivos
professores acompanham as ações. Estima-se, ainda, que, para cada uma das turmas envolvidas,
trabalhar-se-á com pelo menos seis obras de literatura infantil e, consequentemente, com a
constituição de seis sequências didáticas alfabetizadoras.
EXTENSÃO PUC MINAS:
906 Novo Humanismo, novas perspectivas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as primeiras práticas, o grupo de extensionistas, ao estar em sala de aula aplicando a


sequência didática, pode observar como os estudantes das três etapas, contempladas pelo projeto, se
mostraram participativos nos momentos das atividades, inclusive acrescentando outros elementos às
propostas, atentos às contações de histórias, ativos nos momentos de discussão e curiosos sobre as
próximas práticas.
Os professores titulares das turmas acompanhadas pelo projeto se mostram muito abertos às
propostas, relatando que muitas das nossas proposições não são contempladas em suas aulas. Nesse
contexto, é possível depreender que o projeto agrega o processo de alfabetização, pois constrói
atividades significativas e de diferentes níveis de dificuldade, como a interação entre os pares e novos
recursos, que podem ser adaptados pelos professores.

Palavras-chave: Sequência didática. Ciclo Alfabetizador. Extensão Universitária.


Keywords: Teaching steps. Literacy Cycle. University Extension program.

REFERÊNCIAS

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.
PICCOLI, Luciana; CAMINI, Patrícia. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e
corporeidade. Erechim: Edelbra, 2012.
SOARES, Magda. Alfabetização: ressignificação do conceito. In: Revista de Educação de Jovens e
Adultos, n. 16, jul/2003, p. 9-17.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento: caminhos e descaminhos. Revista Pátio. Ano VIII,
n. 29, fev./abr. 2004, P. 18-22.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 907

Quando Extensão e Graduação se encontram:


análise das redes intersetoriais em Campinas, SP

When Extension and Graduation Meet:


analysis of intersectoral networks in Campinas, SP

Vera Lúcia dos Santos Placido1


Juliano Pereira de Mello2
Matheus de Moraes Firmino3
William Martins4
Yasmin Araújo Troncon5

INTRODUÇÃO

O presente trabalho discorre a respeito da uma experiência em cima da articulação do Projeto


de Extensão: “Inteligência Territorial para a compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise
à ação”, coordenado pela professora extensionista Vera Lúcia dos Santos Placido e a Disciplina de
“Redes Técnicas no Espaço Geográfico” ministrada no 5° período da Faculdade de Geografia pelo
Prof. Juliano Pereira de Mello. A articulação entre essas duas experiências — Extensão e Graduação
na PUC-Campinas — se deu a partir dos objetivos básicos tanto do projeto extensionista quanto do
componente curricular, que se unem na perspectiva de entender a dinâmica espacial na RMC.
O espaço geográfico não é homogêneo, tampouco estático; é o resultado da produção social e
os diferentes usos coordenam a sua dinamicidade e, mais que isso, estão presentes nas diferentes
produções sociais, sejam elas altamente produtivas, relacionadas diretamente ao capital e as diferentes
formas como ele se verticaliza nos lugares, sejam elas na própria horizontalidade, no cotidiano, nas

1
Geógrafa/Docente da Faculdade de Geografia e Extensionista da PUC-Campinas, desenvolvendo o projeto Inteligência
territorial para a compreensão da dinâmica espacial na RMC: da análise à ação. E-mail: verasplacido@gmail.com.
2
Geógrafo/Docente da Disciplina Redes Técnicas no Espaço Geográfico - Faculdade de Geografia. E-mail:
juliano.pereirademello1978@gmail.com.
3
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
4
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
5
Discente da Faculdade de Geografia. Voluntário no Projeto de Extensão Inteligência territorial para a compreensão da
dinâmica espacial na RMC: da análise à ação.
EXTENSÃO PUC MINAS:
908 Novo Humanismo, novas perspectivas

diversas vulnerabilidades e potencialidades dos lugares vividos. Dessa forma, o objetivo central dessa
experiência foi materializar as potencialidades da aprendizagem quando se articula a práxis
extensionista com o exercício teórico-prático da sala de aula. Para tal, o recorte espacial se deu a
partir da regionalização da vulnerabilidade em Campinas e as redes intersetoriais prospectadas a partir
da localização dos equipamentos públicos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Essa experiência utilizou como principal pressuposto teórico as ideias de Gert Biesta (2012)
que defende a tese de que, para além das mensurações sempre presentes nas atividades acadêmicas,
a aprendizagem deve garantir a efetiva construção de valores críticos. Isso pressupõe exercícios
reflexivos constantes, inclusive questionando quanto à eficácia da aprendizagem: Eficaz por quê?
Para quem? O autor revela em poucas palavras o que sustenta a sua tese:

O aumento da cultura da mensuração na educação tem exercido um impacto profundo sobre


a prática educacional, desde os mais altos escalões das políticas educacionais em nível
nacional e supranacional até as práticas locais de escolas e professores. Em certa medida,
esse impacto tem sido benéfico, pois permitiu que as discussões se baseassem em dados
factuais em vez de apenas em suposições ou opiniões acerca do que pode se tratar. Contudo,
o problema é que a abundância de informações sobre resultados educacionais tem dado a
impressão de que as decisões acerca dos rumos da política educacional e os modelos e a
forma das práticas educacionais podem ser baseados apenas em informações factuais.
(BIESTA, 2012, p. 812)

Dessa maneira, somos instigados, através de Biesta (ibidem) a (re)posicionar o que desejamos
com a educação e a aprendizagem, entendendo que a extensão é uma excelente parceira nessa busca,
uma vez que a sua essência se dá num campo aberto e é enriquecedora por sua própria natureza. Por
outro lado, as disciplinas práticas necessitam, para além dos conteúdos, promover a autonomia do
conhecimento, emancipando os alunos para uma prática social e significativa, nos dizeres de Paulo
Freire (1996).
Também é necessário considerar que o espaço geográfico se organiza em redes e estas, por
sua vez, são fixas e fluxas, como nos esclarece os escritos de Milton Santos (1994), ao discutir que o
território é político e isso se perfaz em nossas cidades. Em outras palavras, apropriando-se dessa base
teórica, podemos afirmar que a vulnerabilidade social não é algo que devemos analisar e compreender
a partir dos dados estatísticos e modelagens matemáticas como exercícios práticos em sala de aula e
laboratórios, embora não neguemos a sua importância. Também é necessário analisar como as redes
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 909

estabelecidas a partir da fixidez dos equipamentos públicos pode ser uma condição para a
(re)produção de uma condição social que acaba, em virtude dos vários acessos, aprisionando as
pessoas aos lugares. (SANTOS, 1989). A interdisciplinaridade, então, se dá no exercício prático dos
alunos ao correlacionar o conhecimento propiciado pela disciplina e a realidade in loco permitida pela
ação extensionista, corroborando os dizeres de Fazenda (2006), quando nos diz que ela não deve se
fechar em um conceito; pelo contrário, deve se abrir no exercício prático da resolução de uma
problemática.

3 METODOLOGIA

Desde o início do 10 semestre de 2022, durante o planejamento pedagógico da Faculdade de


Geografia, foram definidas as estratégias pedagógicas e extensionistas para a articulação que aqui se
relata. O produto que permitiu essa aproximação foi a regionalização proposta pela Fundação FEAC
de Campinas com relação as regiões vulneráveis do município, denominadas REVs (Regiões de
Vulnerabilidade Social). Nela, Campinas está dividida em dezesseis REVs, a partir das condições
sociais em cada uma delas, como saneamento básico (água tratada e coleta regular de lixo), somadas
às condições de moradia e renda média mensal, que foram ranqueadas objetivando compreender, a
partir daí, as diferentes produções sociais que as envolvem. Então, está se entendendo que não basta
regionalizarmos as regiões e a denominarmos como vulneráveis; é preciso compreender como a
vulnerabilidade é produzida espacialmente. É nesse ponto que a Extensão se aproxima buscando
analisar os territórios e como os diferentes atores sociais manifestam as suas ações.
A partir desse cenário, adotaram-se as seguintes questões como problemáticas a serem
investigadas: como os equipamentos públicos estão espacializados nessas regiões? Há possibilidades
reais para o exercício da intersetorialidade entre os diferentes setores públicos, permitindo, dessa
forma, que as políticas públicas sejam mais efetivas nos diferentes territórios?
A metodologia se pautou, então, na espacialização dos equipamentos públicos considerados
essenciais à população: Saúde, Educação e Assistência Social, com base em informações coletadas
junto à Prefeitura Municipal de Campinas, nesse primeiro semestre de 2022. A partir dessas
espacializações, sobrepôs-se a regionalização realizada pela FEAC quanto às REVs, considerando a
densidade demográfica dessas regiões — todas as espacializações foram realizadas no software
ArcGis-Pro. Aliado a esse exercício prático, foram realizados encontros com apresentações parciais
dos resultados se atentando para o embasamento teórico que norteou toda a experiência apresentados
EXTENSÃO PUC MINAS:
910 Novo Humanismo, novas perspectivas

no tópico anterior. Essa etapa aqui descrita se desenvolveu ao longo do primeiro semestre; ao longo
do segundo semestre, serão realizadas ida a campo, nas diferentes comunidades, para a elaboração da
cartografia social e da identificação dos equipamentos públicos utilizados por eles.

4 DISCUSSÕES E RESULTADOS

Ao final do primeiro semestre, foi elaborado um Fascículo intitulado: “Redes e Revs:


possibilidades para a intersetorialidade em Campinas, SP”, atendendo o objetivo de materializar a
experiência em um produto, em que se percebe nitidamente os espaços em que os equipamentos
públicos se concentram, especialmente na área central da cidade; assim como os espaços opacos, com
rarefação dos equipamentos públicos nas áreas periféricas que, por serem as mais densamente
ocupadas, aumenta, mais ainda, os riscos em que a população em situação de vulnerabilidade social
se encontra, conforme figura a seguir. Nela, visualiza-se o quanto a área central concentra os
equipamentos públicos relacionados à saúde, à assistência social e à educação, e como essa
concentração se torna rarefeita à medida que se afasta da área central da cidade. Muitos podem
argumentar que a concentração dos equipamentos na área central é necessária devido ao fato de que
milhares de pessoas trabalham nessa região e não em seus bairros. Nesse caso, abre-se um debate a
respeito da posição centro x periferia urbana que, todos sabemos, envolve muitas controvérsias.

Figura 1 — Densidade dos Equipamentos Públicos x Densidade Demográfica

Fonte: Fascículo Redes e Revs: possibilidades para a intersetorialidade em Campinas, SP (2022).

Outro ponto muito discutido como resultado é a clareza de que a intersetorialidade precisa ser
pensada a partir das redes horizontais estabelecidas nos territórios. Ter equipamentos públicos é um
passo importante, mas, para além deles, que representam a fixidez, é necessário estabelecer protocolos
entre os setores, constituindo uma rede protetiva aos sujeitos sociais que se encontram em situação
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 911

de vulnerabilidade social. Entendemos essa rede protetiva como a fluidez intersetorial e, com ela,
uma possibilidade real de milhares de pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade serem
tratadas como sujeitos sociais em seus espaços de vida.
Este mapeamento foi apresentado em Fóruns com profissionais da Educação e da Assistência
Social em Campinas, permitindo amplo debate sobre a importância de se espacializar para
entendermos nosso papel enquanto cidadão territorial. Pretende-se, a partir de agora, entender como
as populações acessam os serviços e quais dificuldades elas enfrentam, através da cartografia social.
Ao final do ano, almeja-se um portfólio cartográfico apontando possibilidades para a
intersetorialidade no município de Campinas, a partir das redes geográficas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ensinar na contemporaneidade exige mais que conhecimento técnico e preocupação


conteudista. É necessário se voltar para os territórios, seus desafios e potencialidades. Nesse sentido,
aliar a Extensão Universitária à graduação nessa experiência nos permitiu perceber o espaço
geográfico em nuances a partir da produção social que é nutridora de todas as condições do dia a dia.
Assim, em relação aos equipamentos públicos, não basta a sua presença nos lugares: os elos existentes
entre esses serviços são tão importantes quanto ela, ou, em outras palavras, a integração entre eles.
Ao pensarmos em integração, estamos dando passos firmes na defesa da intersetorialidade visando
uma maior eficácia das políticas públicas.

Palavras-chave: Aprendizagem. Intersetorialidade. Regiões Vulneráveis. Políticas Públicas


Keywords: Learning. Intersectoriality. Vulnerable Regions. Public Policies.

REFERÊNCIAS

BIESTA, G. Boa educação na era da mensuração. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n.147,
p.808-825, set./dez.2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cp/a/Psv5yk47BGSXB5DDFXy59TL/?lang=pt. Acesso em: DATA jun.
2022.
FAZENDA, I.C.A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 13. ed. Campinas: Papirus,
2006.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Difel, 1989.
SANTOS, M. Por uma Economia Política da Cidade: o caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec,
1994.
EXTENSÃO PUC MINAS:
912 Novo Humanismo, novas perspectivas

O Dossiê “No Meio Do Caminho, O Rejeito...”:


Revista Engenharia de Interesse Social - REIS

The Dossier “In the Middle of the Way, the Tailing…”:


Revista Engenharia de Interesse Social - REIS

Flávia Cristina Silveira Braga1


Fernanda Emily Silva2
Júlia Granja Figueiredo Pereira3
Telma Ellen Drumond Ferreira4
Vitória de Souza Leite5

INTRODUÇÃO

A Revista Engenharia de Interesse Social (REIS) é um periódico acadêmico eletrônico,


publicado pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade de João Monlevade. O
foco do periódico é o debate acerca da atuação das Engenharias enquanto instrumentos de
desenvolvimento social.
A REIS tem procurado se constituir enquanto ferramenta de incremento e promoção das ações
de pesquisa, ensino e extensão do universo acadêmico em atendimento à perspectiva de inter e de
transdisciplinaridade fundamentada na análise crítica da função social das engenharias. Sob esse viés,
o campo da extensão universitária, no qual a revista atua desde seu início em 2016, contribui com o
aprimoramento qualitativo e quantitativo de seus mecanismos de recebimento, avaliação, editoração,
publicação, movimentação nas mídias sociais e captação de textos e avaliadores externos à UEMG.
Em 2020, após dois graves acidentes envolvendo barragens de contenção de rejeitos em Minas
Gerais — Mariana em 2015 e de Brumadinho em 2019 —, surgiu a ideia da publicação de um dossiê
temático voltado para este tipo de ocorrência na mineração, que pudesse provocar um debate crítico
e promover o conhecimento científico acerca dos problemas envolvendo mineradoras, economia,
sociedade e sustentabilidade.

1
Geóloga. Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais -UEMG/João Monlevade. E-mail: flavia.braga@uemg.br.
2
Graduanda em Engenharia de Minas da UEMG / João Monlevade. E-mail: Fernanda.0693386@discente.uemg.br.
3
Graduanda em Engenharia de Minas da UEMG/ João Monlevade. E-mail: julia.0693338@discente.uemg.br.
4
Pedagoga, Historiadora. Docente da UEMG/ João Monlevade. E-mail: telma.ferreira@uemg.br.
5
Graduanda em Engenharia Civil da UEMG / João Monlevade. E-mail: vitoria.0693975@discente.uemg.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 913

A proposta do dossiê se justifica pelo interesse da REIS de cumprir seu compromisso de


compartilhamento de saberes e de mediação entre o conhecimento científico e os interesses dos
diversos grupos e segmentos que compõem a sociedade. Nesse sentido, o objetivo principal de sua
elaboração foi fomentar a discussão sobre o tema e também promover o conhecimento científico
relacionado a uma problemática tão complexa e urgente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo o ideal de sustentabilidade exposto pela Declaração sobre os Direitos dos Povos ao
Desenvolvimento (ONU, 1993), “o desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e
político abrangente, que visa ao constante melhoramento do bem-estar de toda a população e de cada
indivíduo”. Os seres humanos não estão livres de catástrofes inerentes à própria dinâmica da Terra,
mas em relação à ação humana e suas consequências sobre o mundo natural e social, faz-se necessário
almejar um percurso sustentável, que considere o bem-estar coletivo e o equilíbrio ecológico.
Entretanto, pesam hoje sobre o planeta e o sistema vida graves ameaças vindas da atividade humana
descuidada e irresponsável.
Conforme Romero e Ferreira (2020), acidentes envolvendo barragens de rejeitos de mineração
não são novidade no Brasil. Contudo, a magnitude dos desastres de 2015 e 2019 intensificou os
debates sobre a mineração, seus impactos socioeconômicos, ecológicos e culturais. Com efeito, “[o]s
desastres causados recentemente pelo rompimento de barragens de rejeitos no estado de Minas Gerais
despertaram dúvidas quanto à segurança e ao correto monitoramento destas estruturas” (SANTOS et
al., 2020, p. 36).
Segundo Boff (2012, p. 9), “não se pode negar que em algumas regiões se logrou implantar
uma lógica sustentável nos processos de produção”. Todavia, segundo o mesmo autor, “[...] o que
frequentemente ocorre é certa falsidade ecológica ao se usar a palavra sustentabilidade para ocultar
problemas de agressão à natureza e de marketing comercial apenas para vender e lucrar” (BOFF,
2012, p. 9).

3 METODOLOGIA

Consciente da urgência do debate sobre um tema tão atual e polêmico, a REIS iniciou, ainda
em 2019, seu trabalho de captação de textos para o dossiê. Uma das ações tomadas com esse objetivo
foi o levantamento bibliográfico de trabalhos recentes dentro da temática. Após o levantamento, foi
EXTENSÃO PUC MINAS:
914 Novo Humanismo, novas perspectivas

realizado o envio de convites aos autores dessas publicações para submissão de novos textos ao
dossiê. Como exemplo, realizou-se o convite direto aos pesquisadores que haviam publicado textos
no livro Mar de Lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas, publicado em
2019 pelo Instituto Guaicuy. Outros métodos adotados foram: massiva divulgação nas redes sociais
da revista e convite a toda comunidade da UEMG.

4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Como desdobramento de um projeto extensionista da UEMG – Unidade João Monlevade, a


REIS tem o compromisso com a responsabilidade social. Em face da atual pressão mundial sobre os
governos e as empresas pela crescente degradação da natureza e pelo clamor de ambientalistas e
estudiosos acerca dos riscos que pesam sobre a vida na Terra, o tema do dossiê representou uma
oportunidade de reflexão sobre os conflitos e as contradições do cenário da mineração na atualidade.
A publicação do dossiê ocorreu no final do ano de 2020 (Ano 5 – N. 6 – ISSN 2525-60410).
Foram publicados artigos originais, uma resenha e uma entrevista. A entrevista publicada foi realizada
com Camila Leal, advogada popular do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, na qual discutiu-
se como “a dimensão catastrófica da extração mineral predatória não pode ser reduzida ao âmbito
quantitativo” (ROMERO; FERREIRA, 2020, p. 8). A resenha do livro Ideias para adiar o fim do
mundo (2019), de Ailton Krenak, importante representante das comunidades indígenas brasileiras,
“sinaliza para a necessidade de nos vermos como parte de conjunções que nos abarcam e nos
transcendem (ROMERO; FERREIRA, 2020, p. 8). O artigo “Análise da mancha de inundação da
Barragem Sul da mina de Brucutu, São Gonçalo do Rio Abaixo, MG” traz apontamentos técnicos
sobre as ações de planejamento para situações de emergência oriundas de rompimento de
barramentos. O texto “Epidemia de febre amarela na bacia do Rio Doce: análise de fatores ambientais,
epidemiológicos e efeitos indiretos do rompimento da barragem de Fundão (Samarco S/A)” relaciona
o rompimento com ocorrências de casos de febre amarela na região da bacia do Rio Doce a partir de
2017. O artigo “Análise das mudanças do uso e da cobertura da terra em municípios com áreas de
mineração na microrregião de Itabira a partir de dados do MAPBIOMAS entre 1987 e 2017” discute
sobre o monitoramento do uso do espaço geográfico em regiões mineradoras. O texto “Saberes
ambientais nos livros indígenas: uma proposta de educação ambiental a partir das árvores”: “toma as
árvores como mote para propor ações educativas que transcendam os estéreis lugares-comuns da
educação ambiental” (ROMERO; FERREIRA, 2020, p. 8).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 915

A Figura 1 ilustra a capa do dossiê “No meio do caminho o rejeito...”:

Figura 1 – Capa da edição do Dossiê

Fonte: Revista Engenharia de Interesse Social (2020)

Segundo Romero e Ferreira (2020, p. 6), “o dossiê materializa o propósito da Revista REIS
(...) de contribuir para a reflexão acerca da problemática da mineração no país e, particularmente, no
Estado de Minas Gerais”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo a Carta da Terra (Preâmbulo), “[...] estamos diante de um momento crítico da


história, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro” (apud BOFF, 2012, p. 13).
De fato, as contradições do capitalismo têm nos conduzido a um grau alarmante de acumulação
financeira, concorrência, individualismo e degradação ambiental.
EXTENSÃO PUC MINAS:
916 Novo Humanismo, novas perspectivas

Pelo comprometimento da REIS com a engenharia de interesse social, pode-se afirmar que o
dossiê cumpre seu objetivo de chamar a atenção para a responsabilidade socioambiental, segundo a
qual a produção não deve beneficiar somente as empresas e seus acionistas, mas toda uma sociedade.
Para tanto, o dossiê publicou trabalhos tanto de cunho técnico quanto de discussão social, capazes de
atingir a comunidade interna e externa à universidade.
Quando nos referimos à atividade da mineração, sabemos que não é possível um impacto
socioambiental zero, porém, o esforço deve se orientar no sentido de resguardar natureza e sociedade,
garantindo as reservas naturais e culturais indispensáveis ao bem-viver das gerações futuras.

Palavras-chave: Extensão. Periódico. Dossiê. Mineração. Barragem.


Keywords: Extension. Periodical. Dossier. Mining. Dam.
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão da Universidade do Estado de Minas
Gerais (PAEx/UEMG) – Bolsas para estudantes.

REFERÊNCIAS

BOFF, L. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis: Vozes, 2012.


ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, ONU. Declaração sobre os Direitos dos Povos ao
Desenvolvimento. Viena, 1993.
ROMERO, S. L. G. G.; FERREIRA, R. O. F. No meio do caminho, o rejeito: as problemáticas da
mineração no contexto das catástrofes de Mariana e Brumadinho. Revista Engenharia de
Interesse Social, ano 5, n. 6, p. 1-9, jul-dez, 2020. Disponível em:
https://revista.uemg.br/index.php/reis/issue/view/335. Acesso em: 7 jul. 2022.
SANTOS, C. M. et al, Análise da mancha de inundação da Barragem Sul da Mina de Brucutu, São
Gonçalo do Rio Abaixo, MG. Revista Engenharia de Interesse Social, ano 5, n. 6, p. 35-52, jul-
dez, 2020. Disponível em: https://revista.uemg.br/index.php/reis/issue/view/335. Acesso em: 6 jul.
2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 917

Batzbot: um robô desenhista

Batzbot: a designer robot

Daniel Duzzi Paulo1


Amilton da Costa Lamas2

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de habilidades motoras por crianças com paralisia cerebral (PC) é


fundamental para o processo de reabilitação (BECKUNG et al., 2007; HIMMELMANN et al., 2006),
visto que o comprometimento físico pode levar à depressão e diminuir a vontade de se exercitar. A
dificuldade em realizar tarefas manuais pode também contribuir para a baixa autoestima e o
distanciamento social das crianças, repercutindo, às vezes, no próprio ambiente familiar. Nesses
casos, o uso de artes na reabilitação de crianças com PC tem sido frequentemente utilizado
(STUCKEY E NOBEL, 2010) como recurso terapêutico.
Atenta a esta questão e trabalhando em parceria com a Therapies Reabilitação Intensiva de
Campinas Ltda (THERAPIES), a equipe do projeto de extensão universitária Promoção da
Autonomia Segura de Deficientes, definiu como objetivo para um plano de projeto de aluno a
construção de um robô lúdico que permitisse a manifestação artística por crianças com paralisia
cerebral através do uso de interfaces assistivas. O robô deve estimular a criança à prática de exercícios
de reabilitação na forma de atividades recreativas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As melhores atividades para crianças com PC são aquelas que encorajem a prática ou o
exercício das áreas afetadas pelas limitações. Idealmente estas atividades devem contribuir
simultaneamente para a promoção da autoestima e da autoconfiança. Relatos na literatura
(BLEYENHEUFT et al., 2014) têm mostrado impacto positivo de treinamentos intensivos na

1
Aluno do curso de Engenharia da Controle e Automação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. E-mail:
daniel_dp20@hotmail.com.
2
Físico, professor extensionista da Faculdade de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
E-mail: amilton@puc-campinas.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
918 Novo Humanismo, novas perspectivas

funcionalidade das mãos em crianças com paralisia cerebral, demonstrando que a combinação de
exercícios de membros inferiores e superiores pode contribuir fortemente na reabilitação física. Além
disso, estudos da Organização Mundial da Saúde (FANCOURT; FINN, 2019) evidenciaram o
potencial das artes como tratamento de apoio na promoção do bem-estar e da saúde mental de
indivíduos com comprometimentos neurológicos. Além disso, atividades artísticas permitem a
expressão não verbalizada, fazendo da arte um veículo para a expressão de emoções, especialmente
àquelas mais difíceis de falar a respeito, como medo, vergonha, raiva etc. (MAK; FANCOURT,
2019). Assim, atividades artísticas ajudam as crianças a focarem no que é possível realizar e não nas
suas limitações.
Essas observações, combinadas com os resultados de trabalhos anteriores (GUIDETTI, 2019;
BUENO; LAMAS, 2019; DOMINGUES et al., 2020; GUIDETTI et al., 2021; LAMAS, 2020;
SILVA; LAMAS, 2021; DOMINGUES et al., 2021), estimularam a proposição de um plano de
projeto de extensão com o objetivo de elaborar uma prova de conceito lúdica que simultaneamente
promovesse o desenvolvimento da motricidade fina e permitisse a expressão não verbal destas
crianças. A equipe de trabalho junto com os profissionais da instituição parceira propôs a construção
um robô desenhista que fosse controlado por interfaces assistivas baseadas em padrões internacionais.

3 METODOLOGIA

A ação relatada neste trabalho se caracteriza por ser uma intervenção social colaborativa entre
a equipe de projeto de extensão universitária da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas), o corpo técnico e os assistidos, crianças acometidas de PC com coordenação motora
fortemente comprometida, atendidas pela THERAPIES, o público-alvo do projeto.
O método utilizado baseia-se num modelo dialógico (rodas de conversa) com alto grau de
colaboração ente a equipe universitária, composta por estudantes dos cursos de Engenharia de
Controle e Automação e de Fisioterapia, e os profissionais da área da saúde, assistentes sociais,
pedagogos, terapeutas ocupacionais etc. que trabalham na instituição parceira THERAPIES.
O processo de execução é ancorado em três pilares principais: 1) apropriação de
conhecimento: fundamentado na mútua colaboração para promover a apropriação de conhecimento
pelo público-alvo através da construção de soluções tecnológicas prezando pela participação direta
deles na problematização das necessidades; 2) desenvolvimento da prova de conceito: o
desenvolvimento da prova de conceito segue um modelo cíclico de desenvolvimento de soluções de
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 919

software fundamentado em requisitos técnicos funcionais e não funcionais obtidos junto ao público-
alvo; e 3) geração de material cultural: o material cultural desenvolvido consiste em manuais relativos
à construção, uso e operação da solução desenvolvida. A colaboração intensa e frequente entre as
equipes envolvidas é garantida através da execução da metodologia na forma cíclica onde as várias
fases são revisitadas frequentemente. A forte interatividade entre as equipes assegura que os
resultados alcançados atendam aos requisitos especificados durante o desenvolvimento.
Durante a execução do projeto, os alunos do Curso de Engenharia tiveram a oportunidade de
projetar e construir soluções de controle e automação que permitem o manejo do robô através de
acionadores assistivos. A participação no projeto oportunizou a consolidação dos conhecimentos em
circuitos eletrônicos e de sistemas de transmissão e recepção de sinais e das melhores práticas para
reabilitação motora. Os alunos também tiveram a oportunidade de desenvolverem competências
transversais como trabalho em equipe, gestão de projetos e pessoas e resolução de conflitos.

4 RESULTADOS

Entrevistas realizadas junto ao público-alvo indicaram que seria ideal que o robô fosse
associável ao programa GOBABYGO existente na instituição. Assim, considerando que o nome do
robô está associado ao deus Hun Batz da mitologia Maia, relacionado com a atividades artísticas e
representado por um macaco, foi criado o projeto GOMONKEYGO para acomodar as atividades
realizadas com a prova de conceito.
Durante as rodas de conversa, foram definidos os atributos funcionais para a solução, tais
como: a) ser controlável pelo terapeuta e pelo paciente; b) os comando do terapeuta são prioritários;
c) dar respostas positivas; d) responder aos acertos de forma dinâmica por som, luzes, movimentos;
e) permitir a escolha do tipo de resposta ao acerto; f) desenhar com diferentes dispositivos de
escrita/pintura substituíveis; g) ter a pressão de escrita ajustável; h) ter os movimentos controláveis
(X,Y); i) ter um braço para escrita; j) ter o braço de escrita controlável (subida e descida); k) permitir
o uso de diferentes acionadores; l) ter entradas universais para os acionadores; etc. Similarmente os
seguintes exemplos de atributos não funcionais foram especificados: a) representar um macaco; b)
ser revestido por um tecido que seja similar a pele de um macaco, c) ter uma cauda; d) ser da cor
predominante marrom; etc. Com esses requisitos definidos, foi construída uma versão parcialmente
funcional da solução para validação dos conceitos, conforme mostrada na Figura 1.
EXTENSÃO PUC MINAS:
920 Novo Humanismo, novas perspectivas

A estrutura em madeira, no fundo da figura, representa a cauda do macaco a qual permite o


ajuste da pressão do dispositivo de escrita na tela/papel de desenho. Superposta a cauda do robô,
observa-se um catavento que roda quando acionado pela terapeuta enviando um retorno positivo a
alguma ação executada pelo assistido (criança). A parte física do robô (corpo) hospeda dois moto-
redutores com rodas para Arduino (CPU), dois ESP32, uma roda boba, uma bateria 9 V, dois
servomotores e uma ponte H de 5 A. Esta estrutura é responsável pela recepção dos sinais e execução
do manejo do robô. A unidade de controle remoto cabeado do assistido, não mostrada na figura, é
composta por um conjunto de acionadores assistivos que disparam os comandos para movimentação
do robô e a subida/descida do dispositivo de desenho. A interface do terapeuta, não apresentada na
figura, através da qual são enviadas devolutivas positivas é composta por chaves de acionamento e
entradas padrão P2 para conexão o corpo do robô.

Figura 1 – Versão conceitual do robô.

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

No estágio atual de projeto, os movimentos do robô foram validados com o uso de diferentes
acionadores desenvolvidos por outra equipe do projeto e a simulação do movimento dos braços foi
executada com sucesso estando o projeto dos braços aprovado. A devolutiva positiva para ações da
criança como acionamento do catavento no boné, acendimento das luzes e emissão de áudio foram
testadas e validadas. A variação da pressão do sistema de escrita no papel através do posicionamento
da cauda do macaco também foi testada e validada com sucesso. Espera-se que a versão final do robô
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 921

esteja pronta no fim do mês de julho, quando a versão beta será disponibilizada para a instituição
parceira coma finalidade de colher sugestões de melhoria e correções a serem incluídas na versão
final.
Simultaneamente a THERAPIES iniciou o desenvolvimento de um programa de reabilitação
de crianças com PC objetivando a promoção da autoestima e da autoconfiança com objetivo de
estimular o compartilhamento dos resultados entre os diferentes pacientes, concorrendo assim para a
inclusão social e superação das limitações físicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Batzbot é uma ferramenta com potencial de ser utilizada no processo de reabilitação de


crianças com paralisia cerebral, resultando em grave comprometimento motor. A prova de conceito
lúdica possui como objetivo desenvolver atividades como coordenação motora, estimulação cognitiva
e a criatividade por meio de acionadores assistivos. Para controlar o robô, a criança precisará trabalhar
movimentos da mão em diversos planos que consequentemente estimulará o controle motor de mãos
e dedos, resultando a longo prazo uma melhora nas atividades do dia a dia. Através da prática, a
criança terá melhor performance no controle do brinquedo e consequentemente um melhor
desempenho nos desenhos realizados.
A proposta de uso da solução é que uma criança com paralisia cerebral possa, inicialmente,
desenhar figuras simples, como formas geométricas, e, na medida em que seu desenvolvimento motor
acontece, figuras mais complexas podem ser realizadas. Dessa forma, e avaliando a destreza da
criança em realizar o desenho, a equipe da instituição parceira poderá acompanhar o impacto do uso
do robô na reabilitação física. Aspectos psicológicos, referentes à manifestação dos sentimentos
também poderão ser avaliados na medida em que a criança modifique a sua forma de comunicar suas
emoções. Uma avaliação mais assertiva da contribuição da solução no desenvolvimento motor das
crianças com paralisia cerebral poderá ser feita após a conclusão da proposta e implementação de
programa de reabilitação pela instituição parceira.
Neste trabalho, relatou-se o desenvolvimento com sucesso de um robô desenhista controlado
por diferentes formas de entrada (acionadores, joystick etc.) assistivas adequado para atividades
artísticas que promovam a autoestima e a inclusão de crianças com paralisia cerebral. A versão
conceitual da do robô foi demonstrada e aprovada pela instituição parceira. Espera-se a entrega de
uma versão final da prova de conceito em até 60 dias.
EXTENSÃO PUC MINAS:
922 Novo Humanismo, novas perspectivas

Palavras-chave: Crianças. Paralisia cerebral. Reabilitação. Robô.


Keywords: Cerebral palsy. Children. Reabilitation. Robot.
Financiamento: Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas. PROEXT – PUC-Campinas.

REFERÊNCIAS

BECKUNG, Eva et al. The natural history of gross motor development in children with cerebral
palsy aged 1 to 15 years. Developmental Medicine & Child Neurology, 2007 Oct;49(10):751-6.
doi: 10.1111/j.1469-8749.2007.00751. x. PMID: 17880644.
BLEYENHEUFT, Yannick et al. Hand and Arm Bimanual Intensive Therapy Including Lower
Extremity (HABIT-ILE) in Children with Unilateral Spastic Cerebral Palsy: A Randomized Trial.
Neurorehabiltation Neural Repair. 2015 Aug;29(7):645-57. doi: 10.1177/1545968314562109.
Epub 2014 Dec 19. PMID: 25527487.
BUENO, Rodrigo; LAMAS, Amilton, Sistema para Desenvolvimento Sensório-Motor, Primeiro
Congresso Internacional de Paralisia Cerebral - da evidência à prática, Campinas, 2019
DOMINGUES Raphael et al. Plataforma Motorizada, BTSym'20 – Brazilian Technology
Symposium 2020, Conference Proceedings, ISSN 2447-8326, pag. 114, disponível em:
DOMINGUES, Rafael S et al. Plataforma Motorizada par Mobildiade Autônoma de Crianças com
Paralisia Cerebral. Anais do Encontro Regional Câmara Sudeste, p. 57, ISBN 978-65-88963-01-
2 (e-book), FOREXT, Universidade São Francisco, Bragança Paulista, 2021. Disponível em:
https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/252/420350945847561.pdf. Acesso em: 14 ago. 2022.
FANCOURT, Daisy; FINN Saiorse. What is the evidence on the role of the arts in improving
health and well-being? A scoping review, Health Evidence Network Synthesys Report, WHO
Regional Office for Europe, 2019, Dinamarca, ISSN 2227-4316, ISBN 978 92 890 5455 3.
GUIDETTI, Bruno; LAMAS, Amilton C. Sistema para Treinamento Cognitivo, Primeiro
Congresso Internacional de Paralisia Cerebral - da evidência à prática, Campinas, 2019
GUIDETTI, Giuliana et al. Plataforma Autônoma para Pessoas com Mobilidade Reduzida. Anais
do 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (9º CBEU), p. 4944.ISBN 978-85-88221-
63-5, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021
HIMMELMANN, Kate et al. Gross and fine motor function and accompanying impairments in
cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology. 2006 Jun;48(6):417-23. doi:
10.1017/S0012162206000922. PMID: 16700930.
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=110671&opt=1. Campinas, 2020. Acesso
em: 12 ago. 2022,
LAMAS, Amilton C., Desenvolvimentos inovadores para pessoas com mobilidade comprometida.
Anais do XXVII Encontro Nacional e XXII assembleia Nacional do FOREXT. p. 41, ISBN:
978-65-87142-25-8, UNISAL, Lorena, 2020.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 923

Democratização do acesso à plataforma GOV.BR

Democratization of access to the GOV platform

Gabriela Heloisa A. Sousa1


Matheus Menezes Gonçalves2
Rafaela Helena Guedes Furiati3
Fatima Maria Penido Drumond4

INTRODUÇÃO

No ano de 2020, o mundo passou por grandes processos de transformação devido à pandemia
da COVID-19. Muitos serviços que antes eram realizados de forma presencial precisaram ser
reinventados e começaram a ser utilizados virtualmente. Como é perceptível a necessidade de
centralização de acessos, algumas organizações adotaram uma medida de unificação de cadastro e
acesso, permitindo que os usuários conectem diferentes plataformas, utilizando apenas um login e
senha para todos. Para melhorar a comunicação, é notável como a união desses softwares mostraram-
se ágeis, eficientes e práticos para seus desfrutadores, além de permitir uma primorosa integração
entre essas ferramentas.
Desse modo, foi criado o Portal Único GOV.BR, através da parceria entre o Ministério da
Economia (ME) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), uma plataforma que unifica
os canais digitais do governo. O Portal permite acesso a vários serviços públicos que são muito úteis
e importantes para a população, seja jovem ou idosa, como a consulta do Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF), obtenção da carteira de trabalho, entrega da declaração de imposto de renda através do Centro
Virtual de Atendimento ao Contribuinte (E-CAC), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
solicitação de isenção de taxa e inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), entre outros.
Entretanto, muitos cidadãos ainda não conhecem esse recurso ou não sabem da importância

1
Graduanda em Ciências Contábeis na PUC Minas campus Coração Eucarístico. E-mail:
gabriela.sousa.1353776@sga.pucminas.br.
2
Graduando em Ciências Contábeis na PUC Minas campus Coração Eucarístico. E-mail: matheus.
gonçalves.1314650@sga.pucminas.br.
3
Graduanda em Ciências Contábeis na PUC Minas Coração Eucarístico. E-mail: rafaela.furiati@sga.pucminas.br.
4
Mestre em Administração. Professora do Curso de Administração e Ciências Contábeis na PUC Minas. E-mail:
306276@sga.pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
924 Novo Humanismo, novas perspectivas

de obtê-lo, devido à falta de divulgação do serviço e à desinformação que atinge uma grande parcela
da população. Isso pôde ser notado durante os atendimentos no NAF (Núcleo de Apoio Contábil e
Fiscal da Receita Federal) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Todos
os integrantes do grupo fazem parte do NAF, Núcleo em que a maioria dos contribuintes,
principalmente os idosos, poderiam facilmente solucionar suas demandas por conta própria, sem sair
de sua residência, caso já tivessem obtido o cadastro no Portal Único.
Este trabalho tem como objetivo geral investigar e explicitar a importância da criação e
utilização do GOV.BR na rotina dos cidadãos brasileiros, e ensinar todos aqueles indivíduos que
ainda não conhecem o portal a se cadastrarem, aprender a usar, entender todos os serviços e fazer os
ajustes necessários para desbloquear todos os serviços. Este trabalho se justifica através do fato de a
plataforma do Gov.br ser uma ferramenta de extrema importância que surgiu pela necessidade
imposta pelo mundo digital nos dias de hoje, e que alcançou o conhecimento de apenas uma parcela
da população, deixando de fora, principalmente a população idosa.

2.REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Inclusão digital

Falar que este tema, quando tratado no cenário brasileiro possui grandes fronteiras pela frente,
é minimamente uma redundância. Um dos maiores desafios está nos preços que as operadoras de
internet cobram pelo serviço, que por sua vez são muito maiores aos praticados em outros países,
chegando à um número assustador de apenas 70% dos domicílios com acesso à rede. Segundo Léon
(2022) dentre os anos de 2013 e 2015 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou
um estudo onde se pesquisou sobre a relação entre renda e inclusão digital. Concluiu-se que, entre os
que ganhavam até um quarto do salário-mínimo, 32% possuíram internet pelo menos 1 vez, contudo,
aqueles cuja renda foi superior à dez salários-mínimos, 92% possuíam internet.

2.2 GOV.BR

No decorrer da pesquisa foi analisado o fato de os brasileiros não possuírem acesso à internet,
e quando possuem, se deparam com barreiras ao tentarem adaptar às mudanças tecnológicas, como
por exemplo o uso da plataforma GOV.BR. Este Portal é um projeto de unificação dos canais digitais
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 925

do governo federal. Mas ele é, acima de tudo, um projeto sobre como a relação do cidadão com o
Estado deve ser: simples e focada nas necessidades do usuário de serviços públicos. Assim dispõem
o decreto 9.756, de 11 de abril de 2019 no Art. 1°:

Art. 1º Fica instituído o portal único “gov.br”, no âmbito dos órgãos e das entidades da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo federal,
por meio do qual informações institucionais, notícias e serviços públicos prestados pelo
Governo federal serão disponibilizados de maneira centralizada. (BRASIL, 2019).

Com isso, a acessibilidade de vários serviços do governo ficou melhor pela unificação deles
em um só único lugar. Segundo Caio Mario Peas de Andrade que é secretário Especial de
Desburocratização, Gestão e Governo Digital (2021):

A construção do gov.br e sua expansão demonstram de forma inequívoca o quanto o Governo


Brasileiro aposta na inclusão digital, na entrega de serviços mais fáceis e ágeis ao cidadão, e
na confiabilidade. Desde que foi lançado, aperfeiçoamos os mecanismos de segurança dessa
que se tornou uma das maiores plataformas de governo do mundo. É um modelo bem-
sucedido, que soluciona e inclui cada vez mais. (BRASIL, 2021).

3 METODOLOGIA

Neste trabalho, foi realizada a pesquisa descritiva para estabelecer uma relação com os
objetivos. Segundo Farias Filho (2015) a pesquisa descritiva trata da descrição das características de
um determinado fenômeno. Ela visa estabelecer relações entre variáveis que se manifestam
espontaneamente e definir a sua natureza. Ela não tem o objetivo de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação.
Quanto à abordagem, a pesquisa tem natureza quali-quantitativa. Ela apresenta tanto a
pesquisa qualitativa que segundo Didio (2014) estuda as particularidades de um fenômeno em torno
de seus significados, aprofundando-se nos conceitos de determinado assunto. Quanto à pesquisa
quantitativa, de acordo com Farias Filho (2015), nela se coletam, quantificam e tratam dados obtidos
através do uso de técnicas numéricas e ou estatísticas de amostragem e ou população. Ela apresenta
resultado através de tabelas, gráficos que serão analisados posteriormente.
Em relação aos procedimentos, a pesquisa se identifica como bibliográfica e pesquisa de
campo. Didio (2014) evidencia: “A pesquisa de campo é usada para extrair dados e informações
diretamente da realidade pesquisada através do uso de técnicas de coleta de dados para dar respostas
EXTENSÃO PUC MINAS:
926 Novo Humanismo, novas perspectivas

a alguma situação ou problema abordado previamente”. Foram coletados dados por meio de um
questionário feito pelos integrantes da pesquisa e tratados, para melhor entendimento, numericamente
para obter uma analise mais profunda sobre o assunto e sobre o público.

4 RESULTADOS E DISCUSSAO

Com base nas pesquisas realizadas, pôde-se perceber que, nesta amostragem, o público
pesquisado se destaca no gênero feminino com 60,6% das respostas e o masculino 37,9% e a
porcentagem de pessoas que preferira não dizer seu gênero foi 1,5%. A idade dos usuários da
plataforma é variada, mas com uma quantidade maior na idade de 59 anos; com 7,6%; com 19 anos é
de 6,1%; na idade de 60 anos a porcentagem foi de 4,5%; já nas idades de 28, 32, 33, 50, 53, 54, 64,
65 ,67 e 70 anos a porcentagem é igual, sendo de 3% em cada uma. E nas demais idades a porcentagem
é de 1,5% em cada uma.
A análise estatística revelou que houve 63 valores que variaram de 14 anos de idade até 85 anos
de idade. Outro valor relevante apresentado foi a média das idades apresentadas na pesquisa,
equivalente à 51,8095; demonstrando que a maior parte dos participantes da pesquisa possuem mais de
50 anos de idade.
Buscou-se saber o grau de escolaridade dos indivíduos da amostragem. Pode-se perceber que:
40,9% do público pesquisado possui ensino superior; 36,4% possuem ensino médio completo; 15,2%
possuem pós-graduação; 4,5% possuem ensino fundamental completo e ensino médio incompleto e
3% possuem ensino fundamental incompleto.
Identificou-se a porcentagem das pessoas que se possuem conta no GOV.BR, conhecem todas
as funcionalidades da plataforma. Percebeu-se então que 57,6% não conhece as funcionalidades;
28,8% conhecem algumas de suas funcionalidades; e 13,6% conhecem todas as funcionalidades.
Optou-se por entender quantas pessoas, da amostragem, possuem conta no GOV.BR, inferindo-se
então que 63,6% possuem conta na plataforma e 36,4% não possui. Buscou-se compreender quantas
pessoas, que possuem conta no GOV.BR, tiveram dificuldade ao criar sua conta. Dito isso, pode-se
dizer que 50% das pessoas pesquisadas não tiveram dificuldade, mas 50% tiveram.
Procurou-se saber quantas pessoas da amostragem possuem uma conta no Instagram. Dessa
forma, pode-se afirmar que 59,5% das pessoas pesquisadas possuem uma conta no Instagram, porém
40,5% não possuem. Com esses dados, observa-se que, apesar de a grande maioria das pessoas da
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 927

amostragem possuir conta na plataforma do GOV.BR e não possuir dificuldades ao acessá-la, pôde-
se perceber que um número significativo de indivíduos, ao possuir uma conta na plataforma, não
experiencia todas as funcionalidades desta.
A maioria dos participantes cujas idade eram de 50 a 70 anos não possuíam conta na
plataforma GOV.BR; podemos então analisar o outro lado da moeda. Foi feita uma análise dos
participantes que conseguiram criar a conta no portal e se tiveram dificuldades ao criar a conta, em
outras palavras, se conseguiram se adaptar à mudança tecnológica do sistema.
Com o propósito de auxiliar o acesso, foi criada uma página na plataforma do Instagram
@auxilioaogov.br para ajudar todas as pessoas que possuem dúvidas relacionadas ao GOV.BR, já
que essa rede tem um grande número de usuários, podendo assim, alcançar mais pessoas. Dito isso,
com a disseminação da plataforma, a página do Instagram estará disponível para esclarecer toda e
qualquer dúvida em relação ao GOV.BR.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o exposto, pode-se inferir a importância de ampliar a conscientização do


acesso ao GOV.BR, e principalmente, da compreensão de todas as ferramentas que a plataforma
oferece. Além disso, também indica o papel significativo das redes sociais no âmbito da divulgação
de informações, considerando que o Instagram é uma das redes sociais mais populares no Brasil
atualmente, e durante a pandemia da COVID-19, alcançou camadas da sociedade que não eram
atingidas anteriormente, já que é mais acessível e atrativo até para quem tem dificuldade com a
tecnologia. Dessa forma, é uma das maneiras mais eficientes para se realizar o objetivo de disseminar
conhecimento sobre assuntos úteis e fundamentais para a população brasileira como o GOV.BR.
O passo a passo disponibilizado na rede social mostrou-se efetivo e cumpriu seu objetivo
como idealizado. Contudo, é necessário elaborar uma forma de abranger quem não tem acesso ao
Instagram e precisa de uma maior atenção com dúvidas específicas. Num prazo mais extenso, bem
como uma nova coleta de dados, será possível aprimorar a cartilha e direcionar o conteúdo para um
público em particular, além de expandir as fronteiras desse serviço e levá-lo de outras formas para
diferentes comunidades.

Palavras-chave: Desinformação. Conscientização. Tecnologia.


Keywords: Misinformation. Awareness. Technology.
EXTENSÃO PUC MINAS:
928 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 9.756, de 11 de abril de 2019. Institui o portal único “gov.br” e dispõe
sobre as regras de unificação dos canais digitais do Governo federal. Brasília, DF: Presidente da
República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/decreto/d9756.htm. Acesso em: 10 maio 2022.
BRASIL. Ministério da Economia. Gov.br alcança a marca de 100 milhões de usuários
cadastrados. Brasília, DF: Governo Federal, 28 abr. 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2021/abril/gov-br-alcanca-a-marca-de-100-
milhoes-de-usuarios-cadastrados. Acesso em: 10 maio 2022.
DADOS DA PESQUISA. Perguntas frequentes: módulo fundo a fundo. Belo Horizonte, 2022.
Disponível em:
https://antigo.plataformamaisbrasil.gov.br/images/manuais/M%C3%B3dulo_Fundo_a_Fundo/PER
GUNTAS_FREQUENTES_-_MFF.pdf. Acesso em: 10 maio 2022.
DIDIO, Lucie. Como produzir monografias, dissertações, teses, livros e outros trabalhos. 1ed.,
São Paulo: Atlas, 2014.
FARIAS FILHO, Milton Cordeiro Farias. Planejamento da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo:
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LEÓN, Lucas Pordeus. Brasil tem 152 milhões de pessoas com acesso à internet. Agência Brasil,
Brasília, DF: Empresa Brasil de Comunicação, 23 ago. 2021. Disponível em:
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acesso-internet. Acesso em: 10 maio 2022.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de Graduação.
Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de projetos de pesquisa,
trabalhos acadêmicos, relatórios técnicos e/ou científicos, e artigos científicos: conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 4. ed. reform. e atual. Belo Horizonte: PUC
Minas, 2022. Disponível em: http://www.pucminas.br/ biblioteca. Acesso em: 10 abr. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 929

Mercado de trabalho e os desafios da transição demográfica

Labor market and the challenges of demographic transition

Eliane Navarro Rosandiski1

INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é apresentar os resultados de um estudo temático que compartilha


com a sociedade os desafios enfrentados pela Região Metropolitana de Campinas (RMC) no processo
da transição demográfica. A ampliação da razão de dependência coloca a capacidade de atendimento
das demandas relacionadas à longevidade no centro do debate.
Considerando que o projeto de extensão desenvolvido tem como objetivo específico
democratizar o acesso aos indicadores que embasam as ações de atores sociais no território, estima-
se que as informações sistematizadas sensibilizem a sociedade quanto à urgência do planejamento de
políticas públicas e ações estratégicas. Os passos percorridos para a construção do Estudo serão
apresentados a seguir.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nos campos da demografia e da economia, muitos esforços vêm sendo depreendidos para
estabelecer as conexões entre os efeitos da transição e do bônus demográfico sobre a estrutura
produtiva e o bem-estar da população. Diniz et al. (2010) argumentam que, antes da transição
demográfica em direção à ampliação da razão de dependência, os países vivenciam o período do
bônus demográfico, no qual a razão de dependência se reduz, consequentemente, o peso econômico
da dependência diminui e a população em idade ativa, ao produzir, gera recursos adicionais que
podem ser revertidos em poupança.
A hipótese da vantagem do bônus estaria associada à geração desse excedente (poupança)
capaz de: (i) ser utilizado em favor do desenvolvimento econômico e, (ii) temporalmente, ser utilizado
para fazer frente às necessidades decorrentes do aumento da carga de dependência futura. Vieira e

1
Doutora em Economia Social e do Trabalho - Professora-extensionista da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
E-mail: eliane.rosandiski@gmailcom.
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930 Novo Humanismo, novas perspectivas

Mortari (2021) chamam esse bônus de “janela de oportunidade”, visto que seria o momento ideal para
as sociedades darem o salto qualitativo do ponto de vista econômico e social, pois a maior parte da
população em idade ativa teria o potencial de ampliar a produtividade.
No entanto, Brito (2008) aponta para o maior desafio que é o aproveitamento desse bônus,
visto que a capacidade da transição demográfica potencializar as transferências intergeracionais de
recursos está intimamente associada à implementação de políticas públicas que potencializam as
transferências sociais desses mesmos recursos. De fato, quando se tem uma parcela maior de pessoas
em idade ativa, há a possibilidade de o Estado tirar proveito dessa redução da taxa de dependência
para promover os ajustes necessários para enfrentar a fase seguinte marcada agora pelo rápido
envelhecimento demográfico. Vale reafirmar que esse novo perfil demográfico traz pressões sobre a
seguridade social, que necessitam ser equacionadas antes do final do período do bônus demográfico.
(CARMO; CAMARGO 2018).
Ademais, argumenta-se que, em função da heterogeneidade da estrutura de desenvolvimento,
a transição demográfica aparece, nitidamente, nas suas diferentes etapas, segundo as condições
sociais e econômicas da população. Isso faz com que a transição demográfica seja apreendida como
um processo social e histórico e não apenas um fenômeno demográfico. Esses pontos remetem ao
ponto de interesse do Estudo: mapear a estrutura de geração excedente nesse período de bônus ou
janela de oportunidade no âmbito local/regional, visto que os bônus demográficos, assim como os
desafios políticos, são estabelecidos segundo os diferentes níveis locais e sociais.

3 METODOLOGIA

Tomando como pressuposto que a capacidade do sistema econômico gerar e distribuir


produtividade para o enfrentamento dos desafios demográficos pode ser estimada e discutida a partir
das dinâmicas (indicadores) de mercado de trabalho, visto que refletem a composição da estrutura
produtiva. Esse trabalho estudo irá mapear condições atuais de geração de excedente na RMC a partir
da estrutura de mercado de trabalho local.
A fonte dos indicadores elaborados e compartilhados a sociedade por meio da plataforma do
Observatório Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) são as bases de
informações disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 931

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O Gráfico 1 mostra os indicadores da transição demográfica na RMC. Segundo as informações


disponíveis, organizadas para a população acima de 10 anos, a inflexão na composição da razão de
dependência está em curso; ou seja, estima-se que nessa década a participação da população de mais
de 65 anos na razão de dependência total irá superar a dos jovens até 15 anos.

Gráfico 1 – Estimativa de Razão de Dependência (RD) RMC

Fonte: Observatório PUC-Campinas, 2022.

Como amplamente abordado, essa transição demográfica, ao mudar o perfil da razão de


dependência, coloca desafios importantes, visto que vem acompanhada pela finalização do chamado
bônus demográfico. Espera-se, portanto, que, durante o período do bônus, a população em idade ativa,
que participa do mercado de trabalho, tenha gerado o excedente necessário para manutenção do bem-
estar futuro. Diante disso, faz-se necessário abordar dois pontos relacionados ao mercado de trabalho:
(i) as características estruturais do emprego alocado e, a partir daí (ii) o potencial de geração de
emprego. Tais elementos interligados sinalizam para dinâmica atual e para os desafios a serem
enfrentados na RMC.
Iniciando pelas características do emprego formal, organizados a partir dos dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS). O primeiro ponto a ser destacado diz respeito à participação
do perfil de 30 a 39 anos, seguido pela faixa etária de 40 a 49 anos, enquanto as faixas de 18 a 24
anos e mais de 50 anos têm uma participação menor no emprego
No entanto, entre 2012 e 2020, é visível a mudança nessa composição em favor de um
envelhecimento na estrutura.
EXTENSÃO PUC MINAS:
932 Novo Humanismo, novas perspectivas

Gráfico 2 – Participação dos empregados X faixa etária

Fonte: Elaboração própria. RAIS, Ministério Trabalho e Previdência, 2022.

O segundo aspecto a ser abordado diz respeito à composição setorial. Os segmentos econômicos que
se destacam na geração de emprego na RMC são, nesta ordem: Indústria de Transformação;
Comércio; Serviços de Informação, Comunicação e Atividades Financeiras e Imobiliárias; e
Administração Pública, Defesa, Educação, Saúde e Serviços Sociais. Entre 2012 e 2020, é visível a
perda de participação relativa das atividades industriais, a manutenção das atividades de comércio e
a ampliação dos segmentos de serviços na geração de emprego.
Entender o perfil do emprego gerado nessas atividades é decisivo, visto que cada um deles
apresenta especificidades na seleção do perfil etário e padrão de remuneração como reflexo da
produtividade.

Gráfico 3 – Relação emprego x setor de atividade

Fonte: Elaboração própria. RAIS, Ministério Trabalho e Previdência, 2022.


EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 933

Tabela 1 - Participação dos grupos etários nos setores selecionados na RMC

Fonte: Elaboração própria. RAIS, Ministério Trabalho e Previdência, 2022.

Os dados das tabelas 1 e 2 mostram que as atividades de Comércio alocam os trabalhadores


mais jovens e apresentam o mais baixo valor de remuneração, a despeito da maior jornada de trabalho.
Além disso, nessas atividades, o tempo médio de emprego em 2020 era de 4 anos (48 meses).
EXTENSÃO PUC MINAS:
934 Novo Humanismo, novas perspectivas

Tabela 2 Indicadores dos grupos etários nos setores selecionados na RMC


2012 2019 2020
Qtd Hora Tempo Vl Remun Qtd Hora Tempo Vl Remun Qtd Hora Tempo Vl Remun
RMC Contr Emprego Média Nom Contr Emprego Média Nom Contr Emprego Média Nom
Indústria Geral
Total 43 59 R$ 2.761,00 42 76 R$ 4.052,00 41 77 R$ 4.019,00
15 A 17 38 8 R$ 812,00 28 8 R$ 931,00 30 8 R$ 948,00
18 A 24 43 18 R$ 1.479,00 42 20 R$ 1.949,00 42 19 R$ 1.885,00
25 A 29 43 33 R$ 2.279,00 42 38 R$ 3.044,00 42 38 R$ 2.969,00
30 A 39 43 54 R$ 3.016,00 42 65 R$ 4.283,00 41 65 R$ 4.254,00
40 A 49 43 89 R$ 3.443,00 41 99 R$ 4.972,00 41 99 R$ 4.993,00
50 A 64 43 119 R$ 3.709,00 42 141 R$ 4.967,00 41 141 R$ 4.781,00
65 OU MAIS 43 155 R$ 2.059,00 41 211 R$ 3.252,00 40 219 R$ 2.827,00
Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas
Total 44 30 R$ 1.562,00 42 46 R$ 2.514,00 42 48 R$ 2.563,00
15 A 17 42 6 R$ 827,00 35 6 R$ 1.000,00 36 7 R$ 1.012,00
18 A 24 44 15 R$ 1.137,00 43 18 R$ 1.647,00 42 18 R$ 1.588,00
25 A 29 44 24 R$ 1.516,00 43 32 R$ 2.154,00 43 33 R$ 2.115,00
30 A 39 44 34 R$ 1.823,00 42 48 R$ 2.878,00 42 50 R$ 2.930,00
40 A 49 44 46 R$ 1.932,00 42 65 R$ 3.161,00 42 66 R$ 3.295,00
50 A 64 44 57 R$ 1.817,00 42 85 R$ 3.012,00 42 88 R$ 3.121,00
65 OU MAIS 43 84 R$ 1.367,00 42 123 R$ 2.286,00 42 129 R$ 2.261,00
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas
Total 42 35 R$ 2.115,00 41 47 R$ 3.145,00 41 47 R$ 3.177,00
15 A 17 39 5 R$ 737,00 32 6 R$ 936,00 34 7 R$ 928,00
18 A 24 41 13 R$ 1.236,00 41 15 R$ 1.685,00 40 14 R$ 1.620,00
25 A 29 42 23 R$ 1.982,00 41 27 R$ 2.558,00 41 27 R$ 2.555,00
30 A 39 42 34 R$ 2.511,00 41 43 R$ 3.621,00 40 43 R$ 3.612,00
40 A 49 42 52 R$ 2.471,00 41 61 R$ 3.790,00 40 60 R$ 3.920,00
50 A 64 42 64 R$ 2.306,00 41 84 R$ 3.479,00 41 86 R$ 3.492,00
65 OU MAIS 43 88 R$ 1.770,00 41 126 R$ 3.095,00 41 133 R$ 3.032,00
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais
Total 36 91 R$ 3.010,00 36 102 R$ 4.241,00 35 108 R$ 4.482,00
15 A 17 33 9 R$ 609,00 29 7 R$ 868,00 29 10 R$ 869,00
18 A 24 39 16 R$ 1.239,00 37 17 R$ 1.588,00 36 18 R$ 1.591,00
25 A 29 37 29 R$ 2.008,00 36 34 R$ 2.595,00 36 35 R$ 2.505,00
30 A 39 35 58 R$ 2.641,00 35 60 R$ 3.794,00 35 63 R$ 3.951,00
40 A 49 36 117 R$ 3.521,00 36 111 R$ 4.588,00 35 113 R$ 4.818,00
50 A 64 37 165 R$ 4.183,00 36 176 R$ 5.629,00 36 181 R$ 5.896,00
65 OU MAIS 37 190 R$ 4.342,00 36 232 R$ 5.889,00 36 240 R$ 6.286,00
TOTAL RMC
Total RMC 42 49 R$ 2.250,00 41 63 R$ 3.311,00 40 65 R$ 3.351,00
15 A 17 38 7 R$ 766,00 31 7 R$ 939,00 33 8 R$ 946,00
18 A 24 43 15 R$ 1.271,00 42 17 R$ 1.709,00 41 17 R$ 1.647,00
25 A 29 42 26 R$ 1.916,00 42 32 R$ 2.515,00 41 33 R$ 2.451,00
30 A 39 42 43 R$ 2.446,00 41 52 R$ 3.527,00 40 54 R$ 3.546,00
40 A 49 42 73 R$ 2.781,00 40 81 R$ 3.974,00 40 82 R$ 4.093,00
50 A 64 42 100 R$ 2.967,00 40 121 R$ 4.197,00 40 124 R$ 4.219,00
65 OU MAIS 41 132 R$ 2.420,00 40 180 R$ 3.822,00 39 191 R$ 3.855,00

Fonte: Elaboração própria. RAIS, Ministério Trabalho e Previdência, 2022.

No outro extremo, estão os serviços de Administração Pública, Defesa, Educação, Saúde e


Serviços Sociais. Nessas atividades, há incorporação de trabalhadores mais maduros, melhores
padrões de remuneração e menores indicadores de rotatividade: tempo médio serviço 9 anos (108
meses).
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 935

As atividades industriais se destacam pelos melhores perfis de remuneração, pelo emprego de


pessoas maduras e um tempo médio de permanência de 6,4 anos (77 meses).
Por fim, o segmento de Serviços de Informação, Comunicação e Atividades Financeiras e
Imobiliárias, que vem sendo o mais dinâmico na geração de emprego na RMC, se caracteriza pela
seleção de trabalhadores mais jovens, em padrão de remuneração intermediário, próximo à média dos
salários médios da RMC, e tempo médio de permanência de 4 anos (47 meses).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, cabe enunciar os desafios. O primeiro ponto está relacionado à


permanência de segmentos com maior produtividade capazes de sustentar um melhor padrão de
remuneração, como visto estas atividades são os setores industriais e os serviços administração
pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais.
Num segundo momento, os setores que mais empregam jovens merecem atenção. Atualmente,
de um lado, a dinâmica do setor de comércio confirma sua baixa capacidade de pagamento e alta
rotatividade, por outro, o segmento de serviços mais especializados aparece como uma alternativa de
alocação de jovens adultos com melhor padrão de remuneração. No entanto, cabe destacar que esses
segmentos, a despeito da especialização requerida, ainda remuneram cerca de 20 a 30% menos do
que os salários pagos nos setores industriais e nos serviços administração pública, defesa, educação,
saúde e serviços sociais, respectivamente.
Em síntese, para avaliar/enfrentar os desafios da transição demográfica e, consequentemente,
da ampliação da razão de dependência alguns pontos a serem observados na estrutura produtiva:

• Sua capacidade de remunerar;


• Sua capacidade de incluir pessoas mais maduras;
• Sua capacidade de incluir jovens; e
• Identificar o padrão de produtividade dos vetores de desenvolvimento local.

Os elementos acima, articulados de forma estratégica, serão capazes de gerar os fundos


necessários para organizar e democratizar a estrutura de serviços adequados ao envelhecimento digno.
EXTENSÃO PUC MINAS:
936 Novo Humanismo, novas perspectivas

Palavras-chave: Desenvolvimento local. Política pública. Bônus demográfico.


Keywords: Local development. Public policy. Demographic bonus

REFERÊNCIAS

BRITO, F. Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil. Revista Brasileira de


Estudos Populacionais, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 5-26, jan./jun. 2008.
CARMO, R. L.; CAMARGO, K.C.M. Dinâmica demográfica brasileira recente: padrões regionais
de diferenciação. In: Texto para discussão 2415. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -
Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, 2018.
DINIZ, J. E. et al. Estrutura etária, bônus demográfico e população economicamente ativa no
Brasil: cenários de longo prazo e suas implicações para o mercado de trabalho. In: Textos para
Discussão CEPAL-IPEA, 10. DF: CEPAL. Escritório no Brasil/IPEA, 2010.
VIEIRA, J. M.; MORTARI, A.C. Transição demográfica, “janelas de oportunidades” e os
compromissos do Brasil para erradicação do trabalho infantil. In: BAENINGER, Rosana et al.
(Coord.); ETULAIN, Carlos R. et al. (Org.). Populações Vulneráveis: UNICAMP e Ministério
Público do Trabalho. NEPO / Unicamp, 2021. Disponível em:
https://www.nepo.unicamp.br/publicacao/populacoes-vulneraveis/. Acesso em: 10 maio 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 937

Piso salarial nacional profissional do magistério, financiamento da educação,


FUNDEB e lei de responsabilidade fiscal: vamos entender suas implicações?

Piso salario nacional del profesional docente, financiamiento de la educación,


FUNDEB y ley de responsabilidad fiscal: ¿entendemos sus implicaciones?

Gilberto de Oliveira Paulino1


Márcia Prímola de Faria2

INTRODUÇÃO

O ano de 2022, no que diz respeito à educação, está marcado pela discussão sobre o Piso
Salarial Profissional Nacional do Magistério (PSPN) em função do índice de reajuste deste piso ter
sido estabelecido ainda no ano de 2021 em 33,24%, valor altamente significativo diante dos reajustes
salariais de outras categorias. Um debate tem se estabelecido desde o anúncio do percentual com
posicionamentos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), dos executivos e dos legislativos de todos os âmbitos de
governo, dos sindicatos de profissionais da educação e dos Tribunais de Contas.
Este debate envolvendo várias instituições e temas como Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) e o financiamento da educação aparece constantemente nos
noticiários e nos variados informes que chegam à sociedade. Percebe-se que grande parte do público
envolvido diretamente nesta discussão, chamado de comunidade escolar (professores, estudantes,
coordenadores, secretários, pais de alunos, etc.) desconhece os aspectos técnicos sobre os temas
suscitados no debate em torno do PSPN. Embora tais temas tenham impacto direto na vida de todos
envolvidos, uma vez que têm relação com a qualidade da educação pública.

1
Estudante. da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: gilbertopaulino@yahoo.com.br.
2 Mestre em Ciências Sociais, Contadora, Advogada. Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-
mail: mprimolafaria@pucminas.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
938 Novo Humanismo, novas perspectivas

Sendo assim, este trabalho teve por objetivo levar o conhecimento técnico a respeito dos temas
suscitados em torno do PSPN aos atores sociais interessados, qualificando o debate e aumentando o
grau de consciência dos envolvidos. A entidade parceira para alcance dos objetivos foi o Sindicato
dos Professores de Juiz de Fora (SINPROJF) e o público alvo deste trabalho foi a base do magistério
municipal representada por esta entidade. O contato com o público-alvo foi por meio das assembleias
da categoria convocadas no período de desenvolvimento do projeto.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O PSPN do magistério público da educação básica foi instituído na Lei 11.738, de 16 de julho
de 2008, sendo o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não
poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica, para a
jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais, obedecendo-se a proporcionalidade em casos
de jornada diferenciada. Esta Lei também fixou limites para o trabalho de interação com os alunos na
composição da jornada docente: professores devem passar no máximo dois terços (2/3) da carga
horária em sala de aula e no mínimo um terço (1/3) da jornada de trabalho deve ser destinado às
chamadas atividades extraclasse, tais como planejamento de aulas, coordenação, reuniões
pedagógicas, correção de atividades.
A mencionada Lei determina que a atualização de que trata o valor inicial do piso será
calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente
aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente. Na cartilha do Novo Fundeb
(2021, p.15), publicada pelo Ministério da Educação, pode-se compreender que o índice para reajuste
do piso é igual ao reajuste aplicado ao valor aluno-ano que é o valor mínimo estabelecido para o
repasse do Fundeb para cada matrícula de aluno na educação básica por ano. Para calcular esse valor
aluno-ano, cabe ao Ministério da Educação apurar o quantitativo de matrículas que será a base para a
distribuição dos recursos (o que é feito pelo Censo Escolar da Educação Básica); e com o Tesouro
Nacional fica a responsabilidade de estimar as receitas da União e dos Estados que compõem o Fundo.
As consequências financeiras para o orçamento público gerado pelo PSPN devem ser arcadas
pelos mecanismos de financiamento da educação e, nos casos em que o ente federativo, a partir da
consideração dos recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade
orçamentária para cumprir o valor fixado na Lei 11.738/2008, poderá haver complementação da
União.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 939

O financiamento da Educação provém de recursos tanto da União quanto dos Estados, Distrito
Federal e Municípios. A Constituição da República exige que, no mínimo, 25% da receita de impostos
arrecadados pelos Estados, DF e Municípios sejam destinados à educação pública. Desse total, 20%
de alguns impostos listados pela Constituição da República compõem a receita do Fundeb. (Novo
Fundeb, 2021). Quando esses 20% não são suficientes para garantir a oferta de uma educação de
qualidade, conceituada por indicadores nacionais, a União complementa esse caixa para assegurar os
padrões mínimos de manutenção e desenvolvimento da educação básica. Dessa maneira, o Fundeb
atua como um mecanismo de redistribuição de recursos, levando em consideração o tamanho das
redes de ensino e, dessa forma, buscando equalizar as oportunidades educacionais do país. (Novo
Fundeb, 2021).
Há também as transferências voluntárias do governo federal, que passam pelo MEC
(Ministério da Educação) e pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) aplicadas
na educação de Estados e Municípios. Diante da demanda de cumprirem com o reajuste de 33,24%,
para o ano de 2022, no valor do piso, os governos de diversos entes federados têm apresentado como
entraves as determinações de outra Lei, a LRF. Trata-se da Lei Complementar 101, de 4 de maio de
2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal.
No que diz respeito ao controle de despesa com pessoal, esta Lei determina que a despesa total
com pessoal, no ambito do poder executivo em cada período de apuração e em cada ente da federação,
não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: União (40,9%),
Estados (49%) e Municípios (54%). Para apuração da despesa total com pessoal, deve-se aplicar tais
percentuais sobre a receita corrente líquida.
A LRF também determina que, quando for ultrapassado 90% do limite das despesas totais
com pessoal, os Tribunais de Contas devem emitir um alerta informando ao poder público que este
superou esse limite, como forma de manter informada a gestão pública e, ao mesmo tempo, tomar os
devidos cuidados para não ultrapassar o que se chama de limite prudencial estabelecido em 95%.
Se ainda assim, o poder público ultrapassar o limite prudencial, serão impostas vedações ao
Poder ou órgão, tais como: a criação de cargo, emprego ou função; alteração da estrutura de carreira
que implique aumento de despesa; concessão de vantagem, aumento ou reajuste ou adequação de
remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou
contratual, ressalvada a revisão geral anual.
A LRF estabelece que o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois qudrimestres
seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras providências a redução
EXTENSÃO PUC MINAS:
940 Novo Humanismo, novas perspectivas

das despesas com cargos em comissão e funções de confiança, mediante redução temporária da
jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária ou extinção dos cargos e
funções, ainda, é possível a exoneração dos servidores não estáveis e até de servidores estáveis, em
situações mais graves.
Se não conseguir reduzir as despesas, o ente não poderá receber transferências voluntárias,
obter garantia, direta ou indireta, de outro ente, contratar operação de crédito, ressalvadas às
destinadas ao pagamento da dívida mobiliária e as que visem à redução de despesa com pessoal. Estes
mecanismos são controles que o gestor público deve ter para não ser responsabilizado pela má gestão
dos recursos públicos.
Essa série de imposições tem colocado estados e municípios confrontados por um lado pela
Lei do PSPN e por outro pela LRF. Como exemplo de processo onde os Tribunais de Contas se
manifestam quando da extrapolação dos limites de alerta e prudencial da despesa total com pessoal,
é possível citar os autos de n. 1.114.601 do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Nesses
autos, foi ressaltado ao chefe do Poder Executivo Estadual que a vedação prevista no inciso I do
parágrafo único do art. 22 da LRF, que trata das imposições ao ultrapassar o limite prudencial, não
alcança o pagamento e a atualização anual do piso nacional do magistério, assegurados pela Lei
11.738/2008.
É neste contexto que este trabalho se apresentou com intuito de levar informação aos usuários
interessados descomplicando ideias e conceitos técnicos ligados à gestão orçamantaria, financeira e
contábil.

3 METODOLOGIA

A metodologia para realização da prática de extensão consistiu em realizar uma pesquisa sobre
os temas envolvidos em torno da Lei 11.738/2008, para subsidiar a construção de um texto e arte em
formato de cartilha expondo os conteúdos para o público-alvo deste trabalho, ou seja, o magistério
municipal de Juiz de Fora representado pelo SINPROJF.
Cartilhas são materiais informativos e educativos que abordam diferentes assuntos, por esta
razão, é necessário atender aos seguintes critérios em sua elaboração: adequação ao público-alvo;
linguagem objetiva e clara; com visual leve e atraente e, principalmente, fidedignidade das
informações (GIORDANI, 2020). A estratégia utilizada para articular os variados temas foi colocar
a Lei do Piso como eixo central e, a partir dela, articular as discussões sobre Fundeb, financiamento
da educação e LRF.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 941

Foi realizado um teste prévio, mediante a distribuição da cartilha a um grupo menor, após a
leitura do usuário da informação, investigou-se por um questionário a compreensão e a pertinência
do referido material. Diante dos resultados, foram realizados ajustes na cartilha proposta inicialmente
e a versão final foi confeccionada, para a entrega ao público-alvo como um todo.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O primeiro resultado do trabalho que merece ser mencionado é a pertinência em se articular


temas da gestão pública e da contabilidade governamental em torno de um eixo motivador. O tema
do PSNP se mostrou adequadamente estimulante para abordar outros temas como o financiamento da
educação pública, o Fundeb e a LRF. Essa articulação foi elogiada pelo público-alvo, ao tomarem
contato com o material produzido. A cartilha teve uma boa receptividade em função do interesse do
público com o tema central abordado.
Como segundo resultado, cabe destacar que o material desenvolvido contemplou o objetivo
proposto de criar um modelo de cartilha simplificada tendo como eixo central o PSPN e articulando
outros temas correlatos para a discussão e esclarecimentos técnicos.
O modelo de cartilha apresentou informações atualizadas e fidedignas de forma didática e
dinâmica, o que possibilitou sua entrega para profissionais da educação que frequentaram as
assembleias convocadas pelo SINPROJF ao longo de sua campanha salarial no primeiro semestre de
2022, cuja pauta era a reivindicação do reajuste de 33,24% previsto para o PSPN. O desfecho da
campanha foi positivo com o atendimento da pauta pela Prefeitura de Juiz de Fora. Os profissionais
que receberam a cartilha manifestaram que ela contribuiu para a compreensão de temas que
corriqueiramente eram mencionados nas assembleias, tais como Fundeb e LRF. A compreensão de
tais temas e da legislação, permitiu a criação de uma solução de pagamento escalonada, levando em
consideração os aspectos orçamentários e os limites impostos pela LRF.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cartilha “Piso Salarial Nacional Profissional do Magistério, Financiamento da Educação,


Fundeb e Lei de Responsabilidade Fiscal: vamos entender suas implicações?” se mostrou como uma
EXTENSÃO PUC MINAS:
942 Novo Humanismo, novas perspectivas

ferramenta adequada, uma vez que levou aos atores sociais interessados o conhecimento técnico a
respeito do tema principal, PSPN do Magistério, e de outros correlatos, como o Fundeb, a LRF, o
financiamento da educação.
A elaboração da cartilha foi um desafio e proporcionou um aprendizado sobre os assuntos
debatidos no seio da comunidade escolar, além do entendimento do processo de elaboração de tal
material. Possibilitou uma aproximação com o SINPROJF e toda a categoria que este representa.
Enfim, a cartilha foi uma estratégia adequada que aproximou os atores sociais, agregando
conhecimentos.

Palavras-chave: Piso Salarial. Profissional do Magistério. Fundeb. Lei de Responsabilidade Fiscal.


Palabras-clave: Piso Salarial Profesional Docente. Fundeb. Ley de Responsabilidad Fiscal.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 11.738, 16 de julho de 2008. Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Brasília:
Câmara Federal, (2008). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 20 abr. 2022.
BRASIL. Lei Complementar nº 101, 4 de maio 2000. Estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília: Câmara Federal,
(2000).
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃ; MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÂO. Cartilha Novo Fundeb. Disponível em: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-
informacao/acoes-e programas/financiamento/fundeb/CartilhaNovoFundeb2021.pdf. Acesso em: 20
abr. 2022.
GIORDANI, A. T. Normas editoriais, orientação aos autores: cartilhas. Editora UENP, 2020. 16
p.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 943

Alternativas para a continuidade das atividades de extensão


durante a pandemia: o uso do streamyard

Alternatives for continuing extension activities


during the pandemic: the use of the streamyard

Cláudia Pinheiro Nascimento1


Jonathan Rosa Moreira2

INTRODUÇÃO

A portaria nº 343, publicada no Diário Oficial da União em 17 de março de 2020, dispõe sobre
a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia
do COVID - 19 (BRASIL, 2020). As medidas de distanciamento social sugeridas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e adotadas na maioria dos países causaram o fechamento das escolas e
suspensão das aulas presenciais da rede pública e privada em nível básico e superior (ALMEIDA;
ALVES, 2020).
A suspensão das atividades presenciais em todo o mundo impôs aos gestores da educação o
desafio de uma adaptação e transformação do sistema educacional, obrigando todos a um novo
modelo educacional pautado nas tecnologias educacionais e nas metodologias de educação online.
Em um primeiro momento, essas trasnformações alcançaram os professores, que necessitaram
migrar para as aulas online, transferindo e transpondo as metodologias das aulas presenciais para o
ensino online síncrono; porém, logo depois as demais atividades de pesquisa e extensão também

1
Doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido. Mestre em Geografia. Graduação em Geografia e
Pedagogia. Professora universitária do Centro Universitário UniPROJEÇÃO. Coordenadora Institucional do Programa
Residência Pedagógica - CAPES. Coordenadora da CAPE (Pesquisa e Extensão) do centro Universitário UniPROJEÇÃO.
Líder de grupo de Pesquisa com ênfase na construção de recursos tecnológicos para o ensino da Geografia e ênfase na
formação continuada de Professores. E-mail: claudia.nascimento@projecao.br.
2
Pós-Doutor em Ciência da Informação. Doutor em Ciência da Informação. Mestre em Gestão do Conhecimento e da
Tecnologia da Informação. Possui várias Especializações. Pró-Reitor e Diretor Acadêmico da Educação Superior do
Grupo Projeção e Diretor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. Coordenador Institucional do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência da CAPES. Editor Científico e Avaliador de Periódicos Científicos; Membro de Órgãos
Colegiados e Estruturantes; e do Pacto Universitário para Direitos Humanos e Diversidade. E-mail:
jonathan.moreira@projecao.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
944 Novo Humanismo, novas perspectivas

precisaram ser continuadas, e a alternativa encontrada pelo Centro Universitário UniPROJEÇÃO foi
a utilização dos meios digitais disponiveis que propiciaram uma maior flexibilização espaço-
temporal.
Sendo assim, a Coordenação de Pesquisa e Extensão do grupo Projeção repensou o
desenvolvimento das suas atividades de extensão por intermédio do YouTube utilizando o
StreamYard, onde foram organizadas palestras, simpósios, visitas técnicas, colóquios, aulas magnas,
debates e congressos.
O StreamYard é um estúdio virtual que permite que os usuários façam lives com mais de uma
pessoa ao mesmo tempo. A ferramenta transmite os vídeos nas principais redes sociais, como
Facebook, YouTube, LinkedIn, Twitch e Periscop, facilita a realização de entrevistas, rodas de
discussões e eventos online. O software está disponível em uma versão gratuita, com recursos
limitados, mas também oferece planos pagos.
Este resumo expandido tem como objetivo discutir sobre a inserção das tecnologias digitais
como alternativa para a continuidade das atividades de extensão do Centro Universitário
UniPROJEÇÃO através do uso do Stream Yard demonstrando que foi possivel dar continuidade as
atividades, porém, se fez necessário o processo de mudança de paradigma quanto ao uso das
Tecnologias da informação e comunicação (TIC) tanto pelos docentes quanto pelos discentes.

2 DESCRIÇÃO DO CASO

Diante das demandas por parte dos alunos e professores pela realização de atividades de
extensão, buscou-se uma alternativa, uma vez que, os encontros presenciais estavam suspensos. O
primeiro passo se constituiu em abrir um canal da CAPE no YouTube para que fossem transmitidas
as atividades, logo depois fomos a escolha de uma plataforma para a realização das atividades virtuais,
a escolha se deu pela StreamYard na versão gratuita, pois suas funcionalidades são as mais completas
e não tem custo para o uso de até 20 horas mensais.
O segundo passo foi criar os fluxos para o desenvolvimento das atividades, uma vez que havia
restrição de horas e a demanda era muito grande, pois a proposta era atender aos mais de quarenta
cursos existentes na IES. O fluxo incluia o preenchimento de um formulário do Núcleo de Extensão
(NEX) com as informações da atividade, horário, palestrante, data, lançamento de horas
complementares, após o recebimento das informações, eram criados os cards de divulgação e os links
de acesso para os palestrantes e para os participantes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 945

A terceira etapa consistiu na realização das atividades com o auxílio do StreamYard no


YouTube. O grande diferencial desta forma de realização das atividades de forma online é que todos
os eventos ficam gravados para acesso futuro.
Foram realizadas, no ano de 2020, cerca de trinta e cinco atividades de extensão pelo canal
CAPEM no YouTube (figura 1), das mais diversas áreas de atuação, sendo que no ano de 2021
também foram realizadas trinta e cinco atividades (figura 2).

Figura 1 – Formação Continuada Canal CAPE Projeção – 2020

Fonte: Elaborada pelos autores, 2021.

Figura 2 – Formação Continuada Canal CAPE Projeção – 2021

Fonte: Elaborada pelos autores, 2022.

O diferencial do StremYard é que ele possui ferramentas que deixam as lives mais
profissionais, como a possibilidade de exibição dos convidados, criação de banners com o título de
transmissão e o compartilhamento de telas.
EXTENSÃO PUC MINAS:
946 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 DISCUSSÃO COM REVISÃO DE LITERATURA

No mês de fevereiro do ano de 2020, o Brasil teve o primeiro diagnóstico de caso da COVID-
19 e, em 17 de março do mesmo ano, o Ministério da Educação aprovou a substituição das aulas
presenciais por aulas remotas emergenciais com o apoio dos meios digitais devido às medidas de
distanciamento social declaradas em diversos estados do país (Brasil, 2020). Com a instauração das
aulas remotas, fez-se necessário procurar mecanismos para que as aulas continuassem, e com as TIC
na educação, foi possível mostrar ou demonstrar aos alunos o que antes não se podia com o uso de
imagens, vídeos, softwares e outros.
A partir da evolução das TIC, as aulas online em tempo síncrono receberam um impulso
expressivo, pois alargam-se as possibilidades de ensinar e aprender. A solução alcançada se adaptou
à resolução do problema da continuidade das aulas, porém, as demais atividades das instituições de
Ensino Superior, como pesquisa, extensão e estágios também precisavam continuar, foi necessário
buscar alternativas que viabilizassem a sua continuidade.
Segundo Miranda (2007), o termo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) está
associada à junção da tecnologia computacional com a tecnologia das telecomunicações, tendo a
internet como ponto central. No caso, quando essas tecnologias são utilizadas para apoiar o processo
de ensino aprendizagem dos alunos, as TIC podem ser um subdomínio da Tecnologia Educativa.
A tecnologia educativa utilizada pelo UniPROJEÇÃO para a continuidade das atividades de
extensão de forma online foi o StreamYard, pois se apresentou como a melhor alternativa com o
melhor custo benefício.
O grande desafio era a continuidade das atividades de extensão da universidade, que tem por
objetivo promover o desenvolvimento social, fomentar ações de extensão que levam em conta os
saberes e fazeres populares e garantir valores democráticos de igualdade de direitos, respeito à pessoa
e sustentabilidade ambiental e social. Os cursos e atividades de extensão universitária são grandes
aliados nos trabalhos dos professores universitários, que têm a oportunidade de aliar os
conhecimentos teóricos às atividades práticas mostradas e ensinadas aos estudantes. No período da
pandemia, tiveram sua importância intensificada em virtude da necessidade de manter o engajamento
dos alunos e, a manutenção das atividades práticas no âmbito dos cursos.
No caso do Centro Universitário UniPROJEÇÃO, a classificação dos cursos de extensão
segue a Política Nacional de Extensão incluindo a área de: 1) Comunicação, 2) Cultura, 3) Direitos
Humanos e Justiça, 4) Educação, 5) Meio Ambiente, 6) Saúde, 7) Tecnologia e Produção e, 8)
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 947

Trabalho, caracterizando como atividade de extensão: simpósios, palestras, eventos, oficinas,


atividades de conscientização, cursos, congressos, workshops, ações sociais, visitas técnicas,
campanhas solidárias e campanhas educativas.
A escolha pelo Stream Yard se deu por ser uma plataforma que interage com as principais
redes sociais e alguns outros canais de mídia semelhantes, além de não exigir uma internet sofisticada,
um dos principais problemas enfrentados no início da pandemia, principalmente por parte dos alunos.
É preciso salientar que os alunos do Centro Universitário UniPROJEÇÃO são alunos da classe C e
D, os denominados alunos-trabalhadores que sofreram de forma direta com a pandemia.
A ferramenta roda bem tanto em smartphones quanto em computadores, e para os convidados
é necessário apenas ter o código de acesso composto por 6 dígitos, geralmente enviado por e-mail.
Quem organiza e faz a moderação do evento online pode reunir ao vivo na live até 10 convidados,
porém, apenas 6 poderão ser visualizados no quadro de tela. Além disso, quem conduz a transmissão
tem total autonomia para determinar o posicionamento da imagem para cada convidado.
Outro recurso disponível na plataforma é o compartilhamento de tela, em que é possível
apresentar slides, imagens e até vídeos, o chat permite a interação com o público e está organizado
em dois chats distintos, um usado pelo público e o outro acessível apenas para os convidados. A
ferramenta apresenta uma opção gratuita que já contempla as principais funcionalidades para fazer a
transmissão ao vivo de eventos de menor amplitude ou de baixa carga horária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As adaptações criadas com o uso das tecnologias da informação em plataformas online


permitiram a continuidade das atividades de extensão com a mesma qualidade de quando aconteciam
de forma presencial.
As novas tecnologias utilizadas para a realização das atividades permitiram com que fossem
implantadas mudanças que favoreceram o processo, sobretudo, relacionada à questão do acesso às
atividades que agora ficam gravadas no canal do YouTube da CAPE, podendo ser acessadasr quantas
vezes forem necessárias, além de permitir a participação de pesquisadores e técnicos de outros estados
e até mesmo de fora do País sem custos adicionais com transporte e hospedagem.
Houve a possibilidade da continuidade das atividades de extensão com a mesma qualidade
das realizadas de forma presencial, além da oportunidade do desenvolvimento de novas habilidades
EXTENSÃO PUC MINAS:
948 Novo Humanismo, novas perspectivas

e competências relacionadas as tecnologias educacionais, tanto por parte dos professores quanto dos
alunos.
Palavras-chave: Pandemia. Extensão. StreamYard.
Keywords: Pandemic. Extension. Stream Yard

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, B. O.; ALVES, L. R. G. (2020). Letramento digital em tempos de COVID-19: uma


análise da educação no contexto atual. Debates em Educação, 12(28). Disponível em:
https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/10282. Acesso em: 3 ago. 2021.
BRASIL. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a Substituição das Aulas
Presenciais por Aulas em Meios Digitais Enquanto Durar a Situação de Pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Ministério da Educação, 2020. Disponível em:
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso
em: 03 jun. 2020. http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-
248564376. Acesso em: 3 jun. 2020
MIRANDA, L. G. Limites e possibilidades das TIC na educação. Revista de Ciência da
Educação. n. 03, p. 41-50, 2007. Disponivel em:
http://sisifo.ie.ulisboa.pt/index.php/sisifo/article/view/60/76. Acesso em: 3 ago. 2021.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 949

Ensino de Xadrez com Amor na Escola Espirita Chico Xavier

Teaching Chess with Love at Escola Espirita Chico Xavier

Elias Vidal Bezerra Junior1

INTRODUÇÃO

A prática do jogo de xadrez como suporte pedagógico valoriza a imaginação e a criatividade


dos alunos, enriquece o cotidiano escolar e passa a ser uma opção a mais para a integração na escola
(BOUWMAN, 2004).
O xadrez é uma atividade primordial por excelência, não só por atender as características do
desporto, estimulando entre outros o espírito competitivo, autoconfiança, concentração, socialização,
e isso faz com que a modalidade se enquadre nas exigências da educação moderna. Por isso, é
importante utilizar o xadrez como objeto comum entre as diversas disciplinas: Matemática, História,
Geografia, Línguas Estrangeiras, Educação Artística, Artes, Informática e a Educação Física
(CALIXTO, 2004).
Acredita-se que o jogo de xadrez contribui, e muito, no processo de formação da personalidade
na fase escolar, tornando-se um excelente instrumento educativo multidisciplinar, buscando como
referencial o desenvolvimento de um pensamento organizado. Atenção e concentração, julgamento e
planejamento, autocontrole, paciência, criatividade, lógica matemática e o raciocínio são elementos
constitutivos que permitem ao xadrez ser nomeado como membro importante no contexto escolar.
Trabalhos em Psicopedagogia demonstram que o xadrez é um precioso coadjuvante escolar e
psicológico. Assim, pode-se utilizar inicialmente a motivação espontânea do aluno em relação ao
xadrez, visando provocar ou facilitar a sua compreensão em outras disciplinas (REZENDE, 2005).
Verifica-se que o xadrez desempenha um importante papel de socialização, por ensinar a lidar
com a derrota e a vitória, mostrando melhoras em suas atitudes impensadas levando ao hábito de

1
Mestre em Ciência da Computação. Professor do Instituto Federal do Tocantins campus Palmas E-mail:
eliasvidal@ifto.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
950 Novo Humanismo, novas perspectivas

refletir antes de agir. Por outro lado, vimos que, enquanto os alunos que participam do Projeto xadrez
na Escola estão livres da violência, sendo sociabilizados e preparados para um futuro melhor,
podendo enfrentar as dificuldades do mundo adulto.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O xadrez possui uma história dúbia e ainda é um mistério para os historiadores. Fato é que o
registro mais antigo que se tem desse jogo é uma pintura mural da câmara mortuária de Mera, em
Sakarah – Egito com aproximadamente 3 000 anos antes da era cristã e que supostamente retrata duas
pessoas jogando xadrez. Contudo, acredita-se, atualmente, que ele tenha surgido na Índia como o
nome de “jogo do exército”, por volta do século VI d.C. É, na verdade, uma dentre várias suposições.
Apesar de, muitas vezes, o xadrez ser visto apenas como uma forma de entretenimento, Blanco
(2012) nos diz que se trata de um jogo capaz de organizar a esfera cognitiva do cérebro, ao estimular
o desenvolvimento do pensamento lógico matemático. Para além dessa potencialidade, Rezende
(2002) também ressalta que o xadrez atende as características do desporto, ao propiciar o espírito
competitivo e a autoconfiança. Aprender xadrez é estar em uma contínua e intensa atividade de
reflexão e de tomada de decisão, capazes de promover uma educação ativa, crítica, de conscientização
tanto individual quanto coletiva.

3 METODOLOGIA

O ensino do xadrez tem um caráter teórico-prático, em que o conteúdo é apresentado através


de aulas expositivas, seguidas de exercícios práticos envolvendo jogos pré-enxadrísticos e o jogo de
xadrez propriamente dito. Além disso, é utilizada, como recurso didático, a apresentação de filmes
que abordem a temática. Como forma de motivar os discentes a testarem seu nível de aprendizagem
em relação ao xadrez, será promovido um torneio interno. Caso haja alguma competição externa de
xadrez, os discentes que se interessarem e tiverem conhecimento técnico serão inscritos e
incentivados a participar.
Para desenvolvimento do Projeto, os temas e conteúdos enfocados foram: História do Xadrez
no mundo e no Brasil; Conceitos fundamentais do jogo de Xadrez; Regras básicas (tabuleiro, peças,
movimentos e capturas, xeque e xeque-mate, movimentos especiais, empates); Anotação algébrica;
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 951

Vocabulário técnico. Os materiais e recursos são: tabuleiros e peças de xadrez; relógios; troféus e
medalhas para premiação do torneio. Preveem-se as seguintes etapas ou módulos: História (2
encontros); Tabuleiro (5 encontros); Jogo/Vivência (9 encontros); Torneio (4 encontros).
A avaliação da prática se dará ao longo do processo, observando a participação e o nível de
aprendizagem dos discentes mediante a realização de jogos durante as aulas. São objetivos: contribuir
para permanência e êxito do estudante no âmbito da Escola Espirita Chico Xavier, em Palmas, Estado
do Tocantins; favorecer a assimilação das características do xadrez que contribuem com o harmonioso
desenvolvimento intelectual, moral e ético da personalidade; propiciar autonomia cognitiva, poder de
concentração, tomadas de decisões e capacidade de raciocínio.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Ao final, os discentes demonstraram a capacidade de jogar com autonomia, desenvolvendo


seu pensamento lógico-dedutivo, sua capacidade de concentração e de resolução de problemas. O
projeto despertou nos discentes o interesse em aprofundar o estudo do xadrez.

Figura 1 – Crianças jogando xadrez Figura 2 – Crianças ao redor do


com disciplina tabuleiro de xadrez

Fonte: Acervo do autor

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto Ensino de Sadrez com Amor na Escola Espírita Chico Xavier surgiu pela minha
paixão por este jogo e pelo desejo de divulga-lo através de um projeto. A prática do jogo de xadrez
pode colaborar no desenvolvimento dos quatros saberes necessários para o desenvolvimento das
competências ditas do futuro. Essas competências são as aprendizagens fundamentais, que ao longo
EXTENSÃO PUC MINAS:
952 Novo Humanismo, novas perspectivas

de toda a vida formam os quatro pilares do conhecimento (DELORS et al., 1998). A presença do
xadrez na grande maioria dos centos educativos é hoje uma realidade. Seja por meio das associações
de pais, de clubes esportivos, escolas municipais e estaduais, de algum professor com interesse pelo
xadrez, ou inclusive através de academias privadas, raramente há um colégio que não tenha algum
tipo de aula de xadrez de forma extracurricular. É uma situação de feito e não de direito.
Esses projetos de xadrez na escola justificam sua existência por estar demonstrando que o
xadrez:

• É cultura: uma atividade lúdica de origem milenar que se tem distribuído por todos os países
do mundo e que encerra um corpo de conhecimentos e experiência que constituem patrimônio
cultural da humanidade.
• Tem uma base matemática: a Matemática é um instrumento e linguagem da ciência, da técnica
e do pensamento organizado.
• Estimula o desenvolvimento de habilidades cognitivas tais como: atenção, memória,
raciocínio lógico, inteligência, imaginação, etc., capacidades fundamentais no
desenvolvimento futuro do indivíduo.
• Estimula a autoestima, a competição saudável e o trabalho em equipe.
• Pode ser utilizado como elemento estruturante do tempo livre do indivíduo.
• Proporciona prazer em seu estudo e prática.
• Por ser um jogo de regras, dita uma pauta ética em um momento propício para a aquisição de
valores morais.
• Devido às suas múltiplas virtudes, contribui para a formação de melhores cidadãos.
• O jogo de xadrez é uma atividade que através do tempo, conquistou cultura e costumes de
povos e países em todo mundo durante milênios.

O xadrez é o segundo esporte mais praticado no mundo, é um grande impulsionador da


imaginação, que também contribui para o desenvolvimento da memória da capacidade de
concentração e da velocidade de raciocínio. Foi constatado que o xadrez desempenha um papel social
por ensinar a lidar com a derrota e com a vitória, mostrando que "derrota não é sinônimo de fracasso
nem vitória é sinônimo de sucesso". O xadrez é capaz de mostrar consequências de atitudes
displicentes, que não tenham sido previamente calculadas, por conseguinte, estimular o hábito de
refletir antes de agir, além de ensinar a arcar com as próprias responsabilidades dos próprios atos.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 953

Por exemplo, Stephenson (1979), trabalhando com programas intensivo de xadrez provou o
aumento do rendimento escolar nas atitudes, esforço, concentração e autoestima em, pelo menos,
50% de seus estudantes. Além disso, é importante aprender que as peças no xadrez não têm valores
absolutos, que se deve controlar as posições das demais peças, tanto as próprias como as do
adversário, para armar uma estratégia, bem como ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade
do pensamento que ordena o jogo.
Devemos conseguir que nossos alunos encontrem seus próprios sistemas de ação e para isso
teremos que evitar, sempre que possível, as soluções mecanizadas. Assim, na escola secundária, com
os dados de um teorema e sua ideia, a demonstração pode ser encontrada pelo aluno, porém para que
isso aconteça é importante um certo treinamento na escola fundamental.
Sentindo a importância que o jogo de xadrez tem hoje no âmbito escolar no mundo e no Brasil,
foi executado esse projeto xadrez na escola na Escola Espírita Chico Xavier em Palmas - TO.

Palavras-chave: Xadrez. Ensino. Aprendizagem.


Keywords: Chess. Teaching. Learning.

REFERÊNCIAS

BLANCO HERNÁNDEZ, U. J. Por que xadrez nas escolas? 2. ed. Curitiba: Ed. I. Scherer Ltda,
2012.
BOUWMAN, M. W. O Xadrez Educativo. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em 20 de dez. De 2005.
CALIXTO, R. Ensino do Xadrez nas Escolas. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em: 20 de mai. de 2004.
DELORS, J. (1998). Learning: The Treasure within. Paris: UNESCO.
REZENDE, A. C. Ensino do Xadrez. Disponível em <http:/www.clubedexadrez.com.br>
Acessado em 15 de maio de 2005.
REZENDE, Sylvio. Xadrez na escola: uma abordagem didática para principiantes. Rio de Janeiro:
Ciência Moderna, 2002
STEPHENSON, 1979. Estética no Xadrez. Disponível em:<http://www.clubexadrez.com.br>.
Acesso em: 21 maio 2002.
EXTENSÃO PUC MINAS:
954 Novo Humanismo, novas perspectivas

Pílulas de Neurociências para um cérebro melhor: ensino de Neuroanatomia e


aprendizado/memória no Centro-Oeste Mineiro

Neuroscience Pills for a better brain: teaching Neuroanatomy and


learning/memory in the Mid-western Region of Minas Gerais

Ana Julia Lacerda de Faria1


Ariana Amaral Silva2
Bruna da Silva Calderaro3
Rafael Fernando da Silva4
Maira de Castro Lima5

INTRODUÇÃO

A crescente demanda de aprimoramento dos processos de aprendizado dos estudantes, tanto


em nível escolar, quanto universitário, frente à grande quantidade de conteúdos que precisam ser
vistos e compreendidos, traz à tona a necessidade de se repensar a maneira como esses indivíduos
exercem e pensam seus processos de estudo. Inseridos em um cenário marcado por rotinas exaustivas
de estudos, principalmente em decorrência da alta concorrência para se adquirir uma vaga no ensino
superior público, nota-se a necessidade de se implantar novas estratégias para aperfeiçoar esses
processos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Compreender a forma como o sistema nervoso opera e seus principais mecanismos,


principalmente aqueles envoltos no funcionamento do cérebro, tornou-se algo importante e, portanto,
houve uma grande evolução nos últimos anos. Isso se torna notório à medida que grandes centros de

1
Graduanda em Bioquímica na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ). E-mail:
anajulialacerda@aluno.ufsj.edu.br
2
Graduanda em Enfermagem na UFSJ. E-mail: ariana.amarall@aluno.ufsj.edu.br.
3
Graduanda em Enfermagem na UFSJ. E-mail: bcalderaro3011@aluno.ufsj.edu.br.
4
Graduando em Farmácia UFSJ. E-mail: rafa_f28@outlook.com.
5
Fisioterapeuta. Professora Associada de Anatomia da UFSJ. E-mail: mairacastrolima@ufsj.edu.br.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 955

pesquisa e universidades mundo a fora passaram a voltar seus olhares para o estudo das Neurociências
(SWETT, 2016). Com grande destaque na área, podemos citar a pesquisadora Suzana Herculano -
Houzel, que possui grandes obras publicadas dentro da temática das neurociências e da divulgação
desta para pessoas leigas nesta área. Publicado em 2009 pela Editora Sextante, o livro Pílulas de
Neurociência Para uma Vida Melhor, é uma das obras da autora que, posteriormente, foi a principal
fonte utilizada como referência para o Programa. (HERCULANO-HOUZEL, 2007). Esta oferece
grande embasamento e auxilia a fomentar a ideia de que é possível traduzir conhecimentos científicos
complexos em informações de fácil compreensão. Esse pressuposto vai ao encontro do que propõe a
Extensão, que permite que o conhecimento vá além dos muros da universidade.
É neste contexto que o Programa implementa suas ações, buscando partilhar os
conhecimentos, não apenas dentro da universidade, mas também com a comunidade escolar e os
habitantes da região. Com isso, existem diversos assuntos relacionados ao sistema nervoso e ao
funcionamento fisiológico do nosso corpo que podem ser utilizados para ampliar aqueles
conhecimentos que ajudam a melhorar a forma como os estudantes assimilam inúmeras quantidades
de conteúdo, aprimorando o aprendizado e a memória. Ademais, essas referências podem ser
repassadas para a comunidade, o que pode influenciar de forma positiva na forma como desenvolvem
suas atividades diárias.
Alguns exemplos práticos podem ser citados: o sono está relacionado a mecanismos
fisiológicos do aprendizado e da memória, portanto é necessário que o indivíduo possua uma boa
noite de sono, já que é nesse momento que todo o conteúdo assimilado durante o dia é transmitido de
uma área de armazenamento transitório da memória para outra área em que se torna permanente
(MAQUET, 2001). Outra questão essencial a ser discutida é a prática de esportes, que precisa ser
mantida durante o período escolar, já que a mesma é responsável pela promoção de alterações na
estrutura e na função do cérebro, alterações essas que serão potencializadoras da memória humana
(NIELSEN et al, 2013; ROBERT 2013). A ansiedade e o estresse são outras temáticas que podem
ser correlacionadas às duas anteriores. A pessoa que não possui o descanso adequado e não participa
de atividades que sejam prazerosas para si mesmo prejudica o aprendizado (PACKARD, 2009;
CATTARJI, 2009). Essas informações são alguns dos pontos que podem ser utilizados na otimização
dos processos que o Programa vem buscando melhorar junto à comunidade.
EXTENSÃO PUC MINAS:
956 Novo Humanismo, novas perspectivas

3 METODOLOGIA

Os discentes da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), dos cursos de Bioquímica,
Enfermagem, Farmácia e Medicina passam por um processo de qualificação a respeito do ensino de
Neurociência, aprofundando no mecanismo de aprendizado/memória e também nas definições
neuroanatômicas envolvidas. Os encontros de estudo são semanais, incluindo prática e teoria. Essas
aulas capacitam os extensionistas a serem fontes de informações de qualidade para o público-alvo,
além de ser uma forma de aprofundar os conceitos aprendidos sobre os temas, o que reflete de forma
positiva na futura prática clínica como profissionais da saúde. Além disso, há a produção de um
material didático provindo dessas reuniões de estudos, que posteriormente é utilizado para a
divulgação nas redes sociais e em outras ações desenvolvidas, assim, todo esse conhecimento é
repassado.
Em uma primeira ação, o Programa promove um encontro em escolas e cursinhos, visando
abordar os assuntos de forma mais teórica. Posteriormente, os alunos e professores são convidados a
ter uma experiência prática sobre o tema no Laboratório de Anatomia Humana da UFSJ Campus
Centro Oeste Dona Lindu (CCO). A ação extensionista com o público geral ocorre via Instagram,
@pilulasdeneurociencias, Facebook e Spotify, com a elaboração de um podcast e por meio de eventos
como o “Neurociência na Praça”. Em uma praça pública de Divinópolis, os extensionistas vão ao
encontro da comunidade. Todas essas atividades possuem como objetivo principal promover a
aproximação do meio acadêmico com a comunidade, seja de forma presencial ou virtual, o que
proporciona uma troca de saberes entre ambos.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O Programa de Extensão já atendeu mais de 3.000 estudantes desde 2016. Espera-se que os
estudantes atendidos comecem a estudar de maneira correta e eficiente colocando em prática todos
os conhecimentos adquiridos sobre os mecanismos de aprendizado/memória. Já com relação aos
professores das instituições contempladas com o Programa, é sugerido que sejam ministradas aulas e
elaborados planos de ensino de acordo com os mecanismos e potencialidades do cérebro.
No que diz respeito aos alunos, professores e a comunidade do Centro-Oeste mineiro, é
desejada uma maior proximidade destes com a UFSJ/CCO, de uma forma que a instituição possa
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 957

atuar como parceira da região e seja uma opção real para continuação dos estudos no nível superior.
Para os escolares envolvidos, é esperado que valorizem a continuação dos estudos, aspirando a uma
qualificação profissional e acadêmica e que ambicionem uma vaga no ensino superior.
Com relação aos discentes da UFSJ, é proporcionada uma qualificação em Neuroanatomia e
Neurofisiologia, portanto trata-se de um período de grande aprendizado teórico e prático nessas
disciplinas. Para os alunos extensionistas, é esperado despertar o interesse pela carreira de ensino e
pesquisa em Neurociência, para que possam desenvolver a capacidade de traduzir ciência em
informação clara e correta para o público geral. Por fim, ao público geral, tanto aqueles abordados
nas praças, quanto aqueles alcançados pela rádio, redes sociais, dentre outros, almeja-se o
aprendizado sobre o cérebro, de forma a modificarem seus hábitos para posteriormente possuírem a
capacidade de potencializar o aprendizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observando o quadro geral e analisando criteriosamente todas as informações, nota-se a


importância deste Programa e o seu impacto na sociedade. Ele encontra-se inserido na comunidade
de forma ativa, trazendo inovação e informações de qualidade, baseando-se no conhecimento
científico desenvolvido com seriedade. A disseminação do conhecimento é de suma importância,
expandindo-o para além dos muros da Universidade.
Analisando a história, é possível notar que um salto da sociedade só foi possível com a
evolução do pensamento e da educação, portanto, levar esse Programa adiante significa auxiliar
ativamente na construção de uma sociedade melhor e mais capacitada. Espera-se também, impactar
a realidade das pessoas, apresentando um novo mundo para aqueles que ainda não tiveram a
oportunidade de conhecê-lo. Todos do Programa, de alguma forma sairão transformados. A
multiplicação do saber é capaz de alterar, de forma positiva, a realidade das pessoas.

Palavras-Chave: Extensão. Sistema Nervoso. Anatomia. Fisiologia.


Keywords: Extension. Nervous System. Anatomy. Physiology.
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958 Novo Humanismo, novas perspectivas

REFERÊNCIAS

CHATTARJI, S. et al. Stress, memory and the amygdala. Nature Reviews/Neuroscience, 10: 423
– 433, 2009.
HERCULANO-HOUZEL, S. Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor. 1. Ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2007, 184p.
MAQUET, P. The Role of Sleep in Learning and Memory. Science, 294: 1048-1052, 2001.
NIELSEN, J.B. et al. The effects of cardiovascular exercise on human memory: A review with
meta-analysis. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 37: 1645–1666, 2013.
PACKARD, M.G. Anxiety, cognition, and habit: A multiple memory systems perspective, BRAIN
RESEARCH, 1293: 121-128, 2009.
RODER, B; HOTTING, K. Beneficial effects of physical exercise on neuroplasticity and cognition.
Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 37: 2243–2257, 2013.
SWEATT, D. J. Neural Plasticity & Behavior - Sixty Years of Conceptual Advances, Journal of
Neurochemistry. Feb-2016.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 959

Quem são os beneficiários da Extensão Universitária?


Os desafios da delimitação de beneficiários diretos e indiretos em questão

¿Quiénes son los beneficiarios de la extensión universitaria?


Los desafíos de delimitar los beneficiarios directos e indirectos en cuestión

Arthur Fernandes dos Reis1


Carolina Costa Resende2
Jane Carmelita das Dores Garandy de Arruda Barroso3

INTRODUÇÃO

A delimitação de beneficiários diretos e indiretos, dentro de projetos de extensão universitária,


revelou-se um indicador significativo em termos de gestão. Ao analisar a história do ensino, pesquisa
e extensão no contexto universitário brasileiro, é possível constatar disparidades evolutivas
importantes. Alguns aspectos gerenciais, como o fato de haver pró-reitorias separadas, objetivos
específicos e alvos distintos, acrescentam camadas de complexidade à gestão no meio acadêmico.
Diante desse cenário, modulado por subprocessos, juntamente da diversidade de intervenções
extensionistas, foi realizada uma breve pesquisa de levantamento para analisar alguns indicadores
relativos à gestão dos projetos de extensão universitária no âmbito da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com um enfoque acerca dos critérios declarativos dos
beneficiários diretos (BD) e beneficiários indiretos (BI), considerando o recente emprego das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) nas metodologias de trabalho e de
intervenção dos projetos de extensão universitária.

1
Graduando em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Estagiário do setor de Programas e
Projetos da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas. E-mail: arthureisproex@gmail.com.
2
Doutora em Psicologia (PUC Minas). Professora do Departamento de Psicologia. Pró-reitora de Extensão da PUC Minas.
. E-mail: carolinaresende.psi@gmail.com.
3
Mestre em Ensino da Matemática (PUC Minas). Professora e Coordenadora do setor de Programas e Projetos da Pró-
Reitoria de Extensão da PUC Minas. E-mail: janebarroso@pucminas.br.
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960 Novo Humanismo, novas perspectivas

2 METODOLOGIA

O presente trabalho é fruto de um levantamento qualitativo, realizado por meio de uma


pesquisa documental na plataforma denominada Gestão de Projetos e Convênios (GPC) de registro
dos projetos de extensão aprovados e monitorados pela Pró-reitoria de Extensão da PUC Minas
(PROEX), com intuito de identificar os critérios utilizados pelos professores coordenadores de
projetos de extensão ao registrar a estimativa de BD e BI.
A análise dos resultados, por sua vez, seguiu os princípios da análise de conteúdo qualitativa
definida por Bardin (2004) como ‘um conjunto de técnicas de análise das comunicações’ (BARDIN,
2004, p.27) cuja principal finalidade, é interpretar tais comunicações através da construção de
categorias de análise. Nesta pesquisa, as categorias de análise foram depreendidas de núcleos de
sentidos categorizados com base nos analisadores encontrados em fontes secundárias. A interpretação
se deu por meio de um exercício reflexivo dialético, seguindo a proposição de Laville e Dionne (1999)
para quem a construção do saber, especialmente em ciências humanas, se dá na relação dinâmica
entre o pesquisador e seu campo.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Andrade et al. (2019) a evolução da extensão universitária é atravessada por
um caráter assistencialista próximo aos moldes dos atuais projetos sociais, de onde advém a noção de
beneficiários diretos e beneficiários indiretos. Para Stephanou et al. (2003),

Um projeto quase sempre envolve populações de duas formas: direta e indireta. A população
diretamente envolvida é aquela que se relaciona de forma concreta e imediata com o trabalho
[...]. Mas, há também um público indireto, mais distante que se relaciona de forma mais
passiva com o projeto. É uma parcela que, indiretamente, também usufrui dos benefícios do
projeto. (STEPHANOU et al. 2003, p. 59)

Ainda segundo Campos et. al (2002), o público-alvo representa o intuito e o direcionamento


do projeto, que é descrito em uma série de nichos4 e correlato às demandas contextuais.
O atual meio da gestão universitária no Brasil, tem exigido cada vez mais transparência e

4
Justificativa, público alvo, objetivo, meta, metodologia, plano de ação, orçamento.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 961

evidência dos resultados alcançados por meio de projetos de extensão universitária. Na PUC Minas,
ao submeter este documento, o professor coordenador deve quantificar e caracterizar o público
beneficiado diretamente ou indiretamente pela ação extensionista em questão.
Do ponto de vista gerencial, tais marcadores confirmam a necessidade de cada projeto de
extensão, a priori, no momento do planejamento, e uma clareza organizacional sobre os dados
declarados, a posteriori, ao longo do monitoramento, de forma que estes sejam mensuráveis.
(DALBEN; VIANNA 2008 p.1).

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

O cálculo de público favorecido pelos projetos de extensão precisa ser embasado, lógico e
rastreável. O banco de dados digital GPC da PUC Minas, permite a declaração de BD e BI de duas
formas:

● Qualitativa: contendo justificativas e pontuações detalhadas dos envolvidos diretamente e


indiretamente pelo projeto.
● Quantitativa: estabelecida por meio de uma memória de cálculo vinculada ao GPC.

Dentre os 60 projetos analisados nesta base, foi possível categorizar o cálculo de BD e BI em


quatro categorias. A primeira delas, enquadra os projetos de ‘Demandas Institucionais’, estes são
delimitados por possuírem os BD representados pelos colaboradores e BI o público atendido pela
instituição. A segunda categoria é representada pelos projetos com ‘Público Difuso’ que é
correspondente a um grande e inespecífico número de BD e BI declarados, como é o caso de um
projeto que realiza planos de reformas e manutenções dos patrimônios arquitetônicos urbanos,
detendo os BD como usuários responsáveis por zelar pelos ambientes e os BI toda a população do
município.
A terceira categoria é representada pelos projetos de ‘Intervenção Direta’ em que o trabalho
realizado envolve o atendimento ao público de forma presencial, como é o caso do projeto voltado
para melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa, que atende aproximadamente 20 participantes.
EXTENSÃO PUC MINAS:
962 Novo Humanismo, novas perspectivas

Neste caso, a estimativa de BD se restringe às 20 vagas abertas para a inscrição da comunidade e


ocálculo de BI, segue a lógica do impacto positivo sobre o ambiente familiar5 para, desta forma,
quantificá-lo.
Os limites desse modelo de declaração de BD e BI emergem, sobremaneira, a partir da
vinculação com as TDIC. Geralmente, a quantificação de BD e BI aumentam exponencialmente em
decorrência da amplitude de alcance do digital e a qualificação destes diminui em decorrência da
indisponibilidade de ferramentas específicas que possibilitem a sua coleta. Para ilustrar essa situação,
foi identificado um grupo de projetos cujo lócus de intervenção compreende eventos intermediados
pelo ‘streaming’6 de dados; essas propostas serão representadas conjuntamente pelo pseudônimo
Projeto A, na quarta categoria denominada de Projetos de Intervenção Indireta:

● Projeto A: Utilizando as TDIC, têm o intuito de sensibilizar a sociedade para determinadas


temáticas, democratizando o conhecimento, favorecendo a reflexão crítica e a transformação
social por meio da mudança de perspectivas e de visão de mundo.

O Projeto A apresenta uma estimativa de BD baseado no cálculo médio-inercial de audiência


do veículo de comunicação utilizado, considerando sua totalidade. Já os BI incluem uma somatória
aparentemente superestimada e sem margem de erro do cerco potencial qual o projeto se encontra7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação complexa entre a gestão e as mudanças aceleradas no acesso às informações,


trouxeram novas implicações para a práxis extensionista. O princípio da gestão focada em resultados,
muitas vezes entra em contraste com o princípio participativo cujo pressuposto tende a extrapolar o
plano de trabalho em um curso ramificado, autônomo e espontâneo da prática extensionista.
Dessa forma, faz-se necessário realizar novos estudos que permitam uma revisão sistemática
dos conceitos para se chegar a uma definição constitutiva que viabilize a gestão operacional de forma
consistente, abrangente e eficaz da extensão universitária, em especial, no que se refere ao impacto
social pretendido, tendo em vista também a constituição dialógica por parte do discente.

5
Para estimar o número de pessoas por família, são utilizados dados do último censo demográfico realizado pelo IBGE
em termos de número de pessoas por domicílio (média de 4 pessoas por família, IBGE 2010).
6
Programas de rádio, temporadas de ‘podcast’, ‘posts’, ‘lives’.
7
Quantificação da população de um município, ou do público total atendido por uma Unidade Básica de Saúde ou da
quantidade de seguidores na rede social utilizada.
EXTENSÃO PUC MINAS:
Novo Humanismo, novas perspectivas 963

Palavras-chave: Extensão universitária. Gestão de programas e projetos. Beneficiários diretos e


indiretos. Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC)
Palabras clave: Extensión Universitaria. Gestión de programas y proyectos. Beneficiarios directos e
indirectos. Tecnologías Digitales de la Información y la Comunicación (TDIC)

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Rubya et al. Desafios contemporâneos da extensão universitária: da invisibilidade


a curricularização. Editora PUCRS 2018. Disponível em:
https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre//anais/cidu/assets/edicoes/2018/arquivos/177.pdf.
Acesso em: 6 jun. 2022.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.
CAMPOS, Arminda et al. O planejamento de Projetos Sociais: dicas, técnicas e metodologias.
Disponível em:
http://www.abdl.org.br/filemanager/download/574/O%20Planejamento%20de%20Projetos%20Soci
ais:%20dicas,%20t%C3%A9cnicas%20e%20metodologias.pdf. Acesso em: 3 jun. 2022.
DALBEN, Ângela; VIANNA, Paula. Gestão e avaliação da extensão universitária: a construção de
indicadores de qualidade. Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 13, p. 31-39, jan./dez.
2008. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/interagir/article/view/1669.
Acesso em: 13 jun. 2022
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Amostra-Famílias.
Brasil. 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/23/24161. Acesso em: 20
jun. 2022.
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa
em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999. 340 p.
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO PUC Minas. Edital Nº 074/2021. Minas Gerais, 2021.
Disponível
em:<https://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20210917151523.
pdf> Acesso em: 1 jun. 2022
STEPHANOU, Luis; MÜLLER, Lúcia; CARVALHO, Isabel. Guia para elaboração de projetos
sociais. São Leopoldo, RS: Sinodal, Porto Alegre/RS: Fundação Luterana de Diaconia, 2003.
Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/guia-para-elaboracao-de-
projetos-sociais.pdf. Acesso em: 6 jun. 2022.
EXTENSÃO PUC MINAS:
964 Novo Humanismo, novas perspectivas
CONTRA CAPA

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