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Índice

Introdução...............................................................................................................................................3
O TRÁFICO DE, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO EM MOÇAMBIQUE.........................................4
Tráfico de órgãos e partes do corpo humano em Moçambique..............................................................5
Extracção de Partes do corpo e órgãos humanos....................................................................................9
Tabela de casos de extracção de partes e de órgãos.............................................................................11
Transplante............................................................................................................................................12
Fins culturais..........................................................................................................................................12
Conclusão..............................................................................................................................................13
Bibliografia.............................................................................................................................................14
Introdução
O presente trabalho do modulo interpretar e produzir enunciados escritos e participar num debate
como orador e como interveniente que fala sobre o trafico de órgãos humanos em Moçambique.

O tráfico de pessoas é um fenómeno universalmente difundido. No entanto, em algumas áreas do


contexto africano, tem sido reportado que a extracção de órgãos humanos não tem finalidades
cirúrgicas, mas se destina a prática de “rituais de feitiçaria ou magia. Há relatos de roubo de
genitais na África Central e Ocidental e de modo particular em Moçambique. Acredita-se que os
órgãos genitais masculinos roubados são vendidos aos médicos tradicionais para uso em
cerimónias. Segundo a UNESCO, a África do Sul é um mercado importante onde se acredita que
os órgãos sexuais, coração, olhos e cérebro são usados na medicina tradicional para curar
doenças decorrentes do VIH/SIDA, impotência sexual e infertilidade, e ainda, aumentar o poder
e riqueza do indivíduo, afirma-se que na base do tráfico de órgãos e partes do corpo humano está
uma forte crença que algumas partes do corpo humano magicamente tratadas podem resolver
problemas sociais, e tornar os medicamentos tradicionais mais fortes e eficazes
O TRÁFICO DE, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO EM MOÇAMBIQUE
O tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo humano, independentemente das formas que possa
revestir, constitui, sem dúvida, uma das mais graves violações dos direitos humanos, podendo ser
considerado como uma verdadeira “epidemia mundial” lesiva da dignidade humana e da
liberdade individual. Em pleno século 21, pessoas ainda são traficadas no mundo,
comercializadas como objectos de consumo e lucro. E no contexto Moçambicano o tráfico de
pessoas, órgãos e partes do corpo humano ainda é uma cruel realidade, sendo um país vulnerável
à mercantilização de pessoas, seja como fonte, trânsito ou país de destino.

O problema do Tráfico de pessoas e de órgãos humanos em Moçambique é complexo, pois


reveste-se de múltiplas facetas, que incluem a comercialização de seres humanos para fins de
exploração sexual, trabalhos forçados e determinadas práticas tradicionais que visam o
enriquecimento rápido e ilícito. Esta realidade agudiza-se pelos constantes fluxos migratórios,
aliados ao recrutamento e exploração de pessoas mais vulneráveis, sobretudo crianças, mulheres
e portadores de albinismo.

Esta comunicação pretende contribuir para um melhor entendimento e compreensão do


fenómeno do tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo humano em Moçambique,
apresentando especificamente os principais factores que contribuem para sua ocorrência. Para
responder ao objectivo proposto foi realizada uma pesquisa documental e bibliográfica, tendo
como base três projectos investigativos que versam sobre a temática. Pesquisas estas
encomendadas pela Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados –
CEMIRDE1,2 nasregiões sul, norte e centro, de Moçambique nos anos 2016, envolveram-se
cerca de trezentos e cinquenta e sete (357) informanteschave, dentre os quais: representantes de
instituições governamentais e da sociedade civil, líderes religiosos, líderes comunitários,
professores, profissionais da biomedicina e da medicina tradicional, membros das comunidades e
jovens estudantes do ensino secundário maiores de 18 anos. Foram seleccionadas para pesquisa
instituições governamentais e não governamentais que atuam na prevenção e combate ao tráfico
de pessoas, órgãos e partes do corpo humano em Moçambique. Para uma colecta segura das
informações, foi utilizado um guião de entrevistas e uma declaração de consentimento informado
de modo a assegurar as questões éticas e profissionais. Cada instituição ficou responsável por
indicar uma pessoa ou mais para ser entrevistada e que pudesse partilhar os seus conhecimentos
e experiência sobre a temática. Nas escolas, foram criados grupos focais de até 6 alunos para
participarem das entrevistas. A escolha dos informantes para a pesquisa deu preferência a
pessoas com experiência sobre a temática, seja actuandodirectamente com a questão ou
contribuindo com informações sobre as percepções populares, sociais e culturais, nas
comunidades.

Tráfico de órgãos e partes do corpo humano em Moçambique


O tráfico de pessoas é um fenómeno universalmente difundido. No entanto, em algumas áreas do
contexto africano, tem sido reportado que a extracção de órgãos humanos não tem finalidades
cirúrgicas, mas se destina a prática de “rituais de feitiçaria ou magia. Há relatos de roubo de
genitais na África Central e Ocidental e de modo particular em Moçambique. Acredita-se que os
órgãos genitais masculinos roubados são vendidos aos médicos tradicionais para uso em
cerimónias. Segundo a UNESCO, a África do Sul é um mercado importante onde se acredita que
os órgãos sexuais, coração, olhos e cérebro são usados na medicina tradicional para curar
doenças decorrentes do VIH/SIDA, impotência sexual e infertilidade, e ainda, aumentar o poder
e riqueza do indivíduo, afirma-se que na base do tráfico de órgãos e partes do corpo humano está
uma forte crença que algumas partes do corpo humano magicamente tratadas podem resolver
problemas sociais, e tornar os medicamentos tradicionais mais fortes e eficazes. Os
medicamentos são chamados muti e são substâncias fabricadas por especialistas com o objectivo
de purificar, “fortalecer ou proteger as pessoas de forças malignas, ou podem servir os propósitos
negativos da feitiçaria, trazendo má sorte, doença e morte a outros, ou ainda, enriquecimento
ilícito, e poder ao feiticeiro.
Outra crença está relacionada ao poder atribuído às pessoas com albinismo, particularmente no
Centro e Norte do país. Acredita-se que partes dos corpos dessas pessoas possuam poderes
mágicos.

Cabelo é dinheiro, unha é dinheiro, ossos é dinheiro, sangue é dinheiro”, expunha o pai de uma
criança com albinismo, mencionando que o seu filho tem por hábito recolher o seu cabelo do
chão do barbeiro depois do corte. Uma mãe de uma criança com albinismo contou um episódio
em que o seu filho voltou para casa a chorar porque um senhor na rua lhe disse que o iria vender.
São narrativas que ilustram a exclusão social que as pessoas com albinismo enfrentam todos os
dias, sendo que os abusos e maus-tratos nem sempre são físicos. Em contextos de pobreza,

a precariedade da situação dos direitos humanos das pessoas com albinismo está igualmente
relacionada com o envolvimento dos próprios familiares das vítimas nos crimes.

Enfim, além da finalidade lucrativa, que caracteriza o Tráfico Humano em nível internacional, o
Tráfico de órgãos e partes do corpo de seres humanos em Moçambique é motivado também por
crenças populares23, o que torna ainda mais difícil o enfrentamento. De acordo com um estudo
da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH, 2016), a região Centro de Moçambique é a
que mais regista casos de tráfico no país, sendo que quase 70% dos casos de extracção de órgãos
ocorrem na região de Tete, Zambézia, Manica e Sofala.

Conforme o relatório LDH, “como parte deste projecto de pesquisa, foi perguntado a metade dos
participantes no workshop, se eles próprios acreditavam que as partes do corpo podem tornar a
medicina tradicional mais eficaz. Em Moçambique só 6% disseram acreditar enquanto que na
África do Sul esta percentagem foi de 24%. À outra metade do grupo perguntou-se se as pessoas
em geral acreditavam que as partes do corpo tornavam o muti mais eficaz. Mais de 70% dos
participantes respondeu que as pessoas acreditam que as partes do corpo melhoram a medicina
tradicional. Embora esta seja uma questão muito generalizada, indica que a crença continua forte
na população em geral o tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo humano em Moçambique.

A constituição da República de Moçambique reconhece que “todo o cidadão tem direito à vida e
à integridade física e moral, e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou
desumanos”. Merece um destaque a questão migratória. Moçambique tem sido um ponto de
trânsito de migrantes que se dirigem para a África do Sul. É, ao mesmo tempo, o destino de
pessoas atraídas pelo crescimento económico do país. Na maioria dos casos as pessoas migrantes
são oriundas do continente africano, especialmente etíopes e somalis, mas, nos últimos anos, tem
aumentado também o número de asiáticos, sobretudo paquistaneses e bengalis. Os
deslocamentos são, geralmente, irregulares e, portanto, sujeitos a todo tipo de violência (mortes,
desaparecimentos, violência sexual). É evidente como esse contexto acaba favorecendo as
práticas dos grupos criminosos envolvidos em Tráfico de pessoas, de órgãos e partes do corpo
humano.

Estamos perante a um fenómeno impulsionado pelas desigualdades sociais. Grande parte da


população em Moçambique vive em condições de extrema precariedade, facto que promove
estratégias dramáticas de sobrevivência, e a exposição a uma variedade de risco. Neste contexto
de falta de oportunidades e pouca esperança de realização individual, a pobreza vai empurrando
os mais marginalizados e vulneráveis para as redes do tráfico. Mas, como vimos, há também
outros factores de vulnerabilidade, como é o caso de determinadas crenças populares e a própria
desigualdade de género.

No que diz respeito ao acesso e à disponibilidade dos serviços, embora o país já possua uma
legislação abrangente sobre o Tráfico de pessoas e partes do corpo humano, o número de
condenações é ainda muito reduzido, por vários motivos, incluindo a dificuldade na recolha de
evidências ou provas. Os mandantes nunca são revelados e a impunidade incentiva a prática do
tráfico.

A modificação da própria vida, onde as pessoas são reduzidas à condição de mercadorias e


objectos de lucro. A percepção generalizada é que o tráfico envolve nacionais e estrangeiros,
representando uma cadeia complexa que faz com que seja muito difícil encontrar o “mandante”.
O tráfico de órgãos e partes do corpo humano é também um fenómeno transnacional, em que os
actores circulam em complexas redes como se dissolvessem as fronteiras nacionais. Mesmo as
fronteiras mais seguras, de controlo rígido e cerrado, são rompidas devido a corrupção.

O contexto marcado pela pandemia da COVID-19 desestruturou as práticas e actividades de


prevenção do fenómeno. Para além da pandemia, a situação de guerra no Norte do país, que tem
causado deslocamentos populacionais forçados e de forma descontrolada, aumenta a
vulnerabilidade ao tráfico de diferentes maneiras. Tem sido amplamente reportado que
populações deslocadas à força têm sido alvo de traficantes

O Governo de Moçambique não cumpre totalmente as normas mínimas para a eliminação do


tráfico, mas está a envidar esforços significativos para o fazer. Em geral, o governo demonstrou
esforços maiores em comparação com o período do relatório anterior, tendo em conta o impacto
da pandemia da COVID-19 na sua capacidade de combate ao tráfico; por esse motivo,
Moçambique continuou no Nível 2. Entre os esforços destacaram-se o processo judicial de todos
os casos identificados de tráfico; a formação de autoridades da linha de frente sobre o tráfico;

A realização de campanhas nacionais de sensibilização; e a actualização dos procedimentos


operacionais padrão para grupos de referência provinciais e distritais para melhorar a sua
resposta de combate ao tráfico. No entanto, o governo não cumpriu as normas mínimas em várias
áreas importantes. O governo investigou e processou menos casos de tráfico, condenou menos
traficantes e não identificou vítimas do tráfico proactivamente, além das representadas em casos
penais. Pelo quarto ano consecutivo, o governo não finalizou uma minuta de mecanismo
nacional de encaminhamento, o que limitou o acesso das vítimas a serviços de protecção e
deixou possíveis vítimas sem serem identificadas. Para além disso, pelo sexto ano consecutivo,
não finalizou a implementação de regulamentações; como resultado, as disposições de protecção
da lei anti-trafico de 2008 ainda não foram operacionalizadas. O governo também não adoptou
um plano de acção nacional, pelo oitavo ano consecutivo, prejudicando os esforços de combate
ao tráfico em geral. As autoridades moçambicanas continuaram a não ter políticas ou leis
eficazes que regulem os recrutadores de mão de obra estrangeira e os responsabilizem civil e
penalmente por recrutamento fraudulento.
Extracção de Partes do corpo e órgãos humanos
A extracção de partes e órgãos humanos constitui um fim do TP que afecta diferentes faixas
etárias. Este acto ocorre com recurso, primeiro acções não violentas em forma de dopagem e,
depois, acções violentas, que incluem sacrifício da vida para retirada de órgãos, principalmente
os órgãos genitais. Esta combinação de métodos de actuação pode ser facilitada por pessoas
próximas das vítimas, que as aliciam em programas sociais nos quais as drogas, das quais o
álcool, constitui o principal atractivo de diversão para provocar cansaço, retirar lucidez e depois
levar para o circuito da extracção de órgãos humanos.

A título de exemplo, em entrevista realizada em Vínculos, foram revelados dois casos de


utilização de métodos violentos e alegado método não violento. O primeiro ocorreu em Fequete,
na localidade de Pambarra, que dista a 15Km da sede distrital. Aqui houve registo de um
assassinato de uma jovem com idade entre 20 a 25 anos, que foi encontrada pelos populares sem
órgãos genitais e com a cabeça decepada. Desconhecem-se os autores deste acto que chocou os
residentes desta zona e todos os munícipes de Vilanculos. Outro caso, recente, resultou em
tentativa de extracção de órgãos genitais de um jovem com idade compreendida entre 25 a 30
anos, que pelo que conta. Este esteve a praticarrelações sexuais com a namorada, quando
despertou viu a zona dos órgãos genitais a sangrar. Isto significa que o acto sexual serviu de
meio de sedução para extracção do órgão sexual. Acredita-se que tenha sido a namorada a
protagonista deste acto, pois ela desapareceu desde o dia deste acontecimento e não se ouviu
falar mais do caso61.

Os exemplos de Vilanculos e outros reportados pela comunicação social um pouco por todo o
país, confirmam que a extracção de partes e de órgãos humanos é uma realidade em
Moçambique.

Neste contexto, os dados das entrevistas revelaram que a sociedade está em “estado de alerta” em
relação ao problema de extracção de (partes) de órgãos humanos. Esta realidade é de tal forma
significativa ao ponto de surgirem vários rumores e especulações de extracção de órgãos
humanos, mesmo em casos aparentemente distantes como o que aconteceu, por exemplo, em
escolas e em acidentes de viação na Maxixe.
Ao nível do Distrito de Milange, Província da Zambézia, foram instaurados 4 processos no ano
passado. A Procuradora do Distrito reconheceu que os casos que mais aparecem localmente estão
ligados à extracção de órgãos humanos, porque envolvem mortes e os de TP vivas escapam às
autoridades.

De acordo com a entrevista, em 2013, 2 jovens embebedaram um amigo e mataram-no,


retirando, depois, a língua, orelhas e os órgãos genitais. Depois de presos, confessaram que tais
órgãos eram para um suposto mandante, cuja identificação não conseguiram indicar63. Do ponto
de vista legal, este é o quadro típico de tráfico de órgãos humanos mas que é antecedido de um
homicídio qualificado. Tudo indica que há dificuldades na continuidade processual, o que leva a
uma clara indefinição ou qualificação das condutas, acabando por diluir a responsabilidade penal
dos autores do ilícito criminal. Observa-se, mais uma vez, a insuficiência de meios e a fraca
qualificação dos recursos humanos adstritos a estes sectores como obstáculos sérios para este
combate.

Houve um outro caso de morte, em que um jovem foi surpreendido com um corpo de uma
criança antes de extrair os respectivos órgãos, com a ajuda de mais 2 cúmplices. Depois de preso,
veio a morrer nas celas do comando, dificultando o processo. O terceiro caso foi de um agricultor
do Malawi, que ia atravessar a fronteira de Milangecom 12 crianças, segundo ele para as
plantações de tabaco. Foram recuperadas na fronteira porque alguns dos pais sabiam do assunto.
As crianças tinham entre 9 e 16 anos. E o último caso foi um jovem que negociou a venda do seu
amigo por 75,000.00 MT. A polícia conseguiu evitar a venda que era para extracção de órgãos.
Os processos são todos enviados para Quelimane porque o tribunal local não tem competência
para julgar estes crimes64.

A extracção de (partes) de órgãos humanos incide, supostamente, sobre os adolescentes e adultos


do sexo masculino pelos relatos dos entrevistados. Esta constatação não significa que as
raparigas e as mulheres não sejam igualmente vítimas de extracção de (partes) de órgãos como
ilustra o caso de uma vítima do sexo feminino, em Vilanculo.Em relação as crianças, não foram
reveladas casos de extracção de (partes) de órgãos. Assim, em termos comparativos, a proporção
indica uma maior incidência de extracção de (partes) de órgãos sobre o sexo masculino.
Contudo, a preferência por órgãos genitais de adolescentes e adultos do sexo masculino em
detrimento de outras faixas etárias e género é uma incógnita.
Na opinião dos inquiridos, a extracção de partes e de órgãos de adolescentes está associado a fins
comerciais (42.6%), medicinais (28.0%) e supersticiosos (17.5%). Além disso, 11.1% de
inquiridos referem que existem outras finalidades. Quanto a extracção de (partes) de órgãos de
mulheres, os inquiridos tem a mesma percepção sobre a sua finalidade, mas diferem na
proporção percentual. Isto significa que 39.4% dos inquiridos acreditam que a extracção de
(partes) de órgãos de mulheres tem um fim comercial,14.4% referem que o fim é medicinal,
13.8% pensam que o fim é supersticioso. Entretanto, 29.3% afirma que não sabe sobre a
finalidade da extracção de partes e de órgãos de mulheres.

Tabela de casos de extracção de partes e de órgãos


Finalidade de órgãos extraídos Inquiridos %
Fins medicinais 183 17,4
Fins supersticiosos 145 13,8
Fins comerciais 414 34,4
Não sabem 308 29,3
Total 1050 100

Por seu turno, a maioria dos entrevistados acreditam que a superstição constitui a principal
finalidade da extracção de partes e de órgãos. Entretanto, a explicação sobre a utilização dos
órgãos indica que o fim é obtenção de dividendos económicos. Dentre os beneficiários constam,
primeiro, os curandeiros/feiticeiros/médicos tradicionais. Segundo, as pessoas que são enganadas
com promessas de sucessos na vida financeira bastando, para o efeito, levarem algumas partes do
corpo humano para os curandeiros. Neste contexto, acredita-se que os órgãos humanos são
usados para a prática de feitiçaria e curandeirismo, associada à obtenção de sorte na vida. Na
opinião de alguns entrevistados, o crime é praticado moçambicanos, por incitamento de falsos
curandeiros estrangeiros que enganam as pessoas com promessas de enriquecimento, usando
órgãos humanos.
Transplante
O transplante pode, eventualmente, ser uma finalidade da extracção de órgãos humanos. Esta
finalidade não é explorada na realidade moçambicana, pois ainda não é uma prática na medicina
de Moçambique. No entanto, o transplante é praticado na África do Sul e, por conseguinte, o TP
pode, igualmente, fazer uso de outros órgãos como, por exemplo, os rins que são mundialmente
procurados.

A hipótese de transplante é relevante para análise abrangente sobre a problemática do TP e da


extracção de partes e de órgãos humanos. Contudo, esta hipótese carece de certa ponderação,
pois a maioria doscasos de extracção de partes e de órgãos, revelados nas entrevistas, bem como
na comunicação social, apenas indicam a procura por órgãos genitais que, aparentemente, não
exigem cuidados especializados para extracção, conservação e transporte. No caso de outros
órgãos como, por exemplo, os rins, exige-se um tratamento mais especializado e sob condições
médicas apropriadas. Sabe-se que na Europa e na América, existe a cultura de doação de órgãos
humanos, porém, desconhece-se a única dúvida é se a oferta satisfaz a procura.

Fins culturais
Segundo os entrevistados, não há, em Moçambique, uma prática cultural cuja manifestação, quer
pública, quer privada, exige a apresentação de órgãos humanos, principalmente retirados sem o
consentimento das vítimas. Estes casos tratam-se, segundo os entrevistados, de pessoas
gananciosas e de má-fé que enganam outras pessoas inocentes e/ ou vulneráveis sob promessa de
enriquecimento fácil e rápido
Conclusão
Chegando ao fim da pesquisa sobre o trafico de órgãos humanos constatamos que o trafico de
órgãos humanos no contexto Moçambicano o tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo
humano ainda é uma cruel realidade, sendo um país vulnerável à mercantilização de pessoas, seja
como fonte, trânsito ou país de destino.

O problema do Tráfico de pessoas e de órgãos humanos em Moçambique é complexo, pois


reveste-se de múltiplas facetas, que incluem a comercialização de seres humanos para fins de
exploração sexual, trabalhos forçados e determinadas práticas tradicionais que visam o
enriquecimento rápido e ilícito
Bibliografia
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