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Manual de Fundamentos:

Polícia Ostensiva e
Preservação da Ordem Pública
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Manual de fundamentos : polícia ostensiva e


preservação da ordem pública / Polícia Militar
do Estado de São Paulo. -- São Paulo : Polícia
Militar do Estado de São Paulo, 2020.

Bibliografia.
ISBN 978-65-88847-00-8

1. Direitos humanos 2. Ordem pública 3. Poder de


polícia - Brasil 4. Polícia Militar - São Paulo (SP
5. Polícia Militar - História I. Polícia Militar do
Estado de São Paulo. II. Título.

20-46272 CDD-363.098161

Índices para catálogo sistemático:

1. Ordem pública : Polícia Militar do Estado de


São Paulo : Problemas sociais 363.098161

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427


APRESENTAÇÃO

Desde a Missão Francesa do início do século passado, os conhecimentos


da atividade policial são materializados em formato de manual, dando mais
qualidade à instrução e treinamento dos policiais militares. Muito se produziu
desde então, com destaque, nos anos 1950, ao clássico “Manual Prático do
Patrulheiro”, de autoria do Coronel Teodoro Nicolau Salgado, que, com muita
maestria e arte, sintetizou os saberes de polícia ostensiva daquele período.
As gerações mais atuais foram bastante influenciadas por outro valioso
compêndio de instruções sobre o policiamento: o M-14-PM, recentemente
superado por conta das evoluções sociais das atividades de polícia ostensiva
e preservação da ordem pública, agora balizadas pelas Normas para o Sistema
Operacional de Policiamento PM (NORSOP), e seus derivados Programas de
Policiamento, e pelos Procedimentos Operacionais Padrão.
Faltava, no entanto, um elemento doutrinário que pudesse reavivar a
boa influência dos antigos manuais da Força Pública do Estado; um guia que
consolidasse as principais informações e práticas que um patrulheiro precisa
rotineiramente reafirmar no desempenho de sua atividade.
Nesse sentido, eis que apresentamos os Fundamentos de Polícia Ostensiva
e Preservação da Ordem Pública, com a pretensão de congregar boa parte dos
conhecimentos basilares da moderna atividade operacional, sem, no entanto,
aprofundar-se nos temas. Até por isso, ao final de cada um dos capítulos, há
menção aos principais documentos e elementos doutrinários relacionados aos
assuntos em evidência, de modo que o detalhamento do conteúdo exposto
carecerá de consulta a esses arquivos.
O presente compêndio se divide em questões de ordem conceitual de
polícia e outras de ordem procedimental, com destaque às ações preventivas.
Também tem por foco consolidar dois dos pilares doutrinários do Sistema
de Gestão da Polícia Militar, diretamente ligados à atividade operacional na
interface com o público destinatário dos nossos serviços: Direitos Humanos e
Polícia Comunitária.
A apresentação dos conteúdos e o designer gráfico buscam interagir
mais diretamente com os policiais militares, em especial com aqueles que
estão iniciando a honrosa carreira, chamando a atenção, por meio de caixas
explicativas, para conhecimentos que precisam estar muito bem sedimentados
na cultura organizacional. As imagens, igualmente, reforçam os conteúdos
escritos, permitindo a dimensão visual dos saberes.
Esperamos, com isso, disponibilizar aos nossos estimados patrulheiros um
material que possa auxiliar na boa prestação de serviços, com a premissa de
que a Polícia Militar atua em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo
para fazer cumprir as leis, combater o crime e levar a percepção de segurança às
pessoas, sempre se relacionando com as comunidades de acordo com a tônica
de verdadeira polícia de aproximação.
Dedicamos este trabalho às gerações de policiais militares que, no passado,
em especial nos anos da lendária Força Pública, alicerçaram conhecimentos,
procedimentos e valores essenciais para a grandeza de nossa Instituição. Muitos
sacrificaram suas vidas e outros bens imateriais em prol do propósito de SERVIR
E PROTEGER a sociedade paulista, valendo-se do profissionalismo anônimo,
objetivo e eficiente para levar a paz, a segurança e a tranquilidade a todos.

São Paulo, Outubro de 2020.


EQUIPE DE ELABORAÇÃO
Comitê de Aprovação

Cel PM Fernando Alencar Medeiros


Cel PM Marcus Vinicius Valério
Cel PM Vanderlei Ramos
Cel PM José Marcelo Macedo Costa
Cel PM Robson Cabanas Duque

Grupo Gestor

Ten Cel PM Carlos Enrique Forner


Maj PM Andreza Cristina Bérgamo
Maj PM Cibele Marsolla
Maj PM Alex Coschitz Terra
Maj PM Fabio Antunes Possato
Cap PM Ivan Panzarini Paiva
Cap PM Sylvia Kinskowski Piazza
Cap PM Marcos Douglas Guillon Pinto
Cap PM Leandro Correa de Moraes Verardino
Cap PM Fabiana Cristina Pane Colonello
Cap PM Claudia Cristina Gomes da Silva
Cap PM Everton Rodrigo dos Santos
2º Ten PM Leandro Miekusz Salgado de Vasconcellos
3º Sgt PM Fabiano Michel Francisco Pessoa
Cb PM Gislene Regina Sgrigneiro Nunes Domingues
Cb PM Kananda de Souza Amor
Sd PM Roger de Oliveira Chagas

Colaboração

Maj PM Frederico Afonso Izidoro


Maj PM Silmara Cristina Lopes
Maj PM Nicanor Barry Komata
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AISP Área de Interesse de Segurança Pública
APFD Auto de Prisão em Flagrante Delito
BCM Base Comunitária Móvel
BCS Base Comunitária de Segurança
BCSD Base Comunitária de Segurança Distrital
BOe Boletim de Ocorrência Eletrônico
BO/PM Boletim de Ocorrência da Polícia Militar
BP Batalhão Policial
BPM/M Batalhão de Polícia Militar Metropolitano
CAvPM Comando de Aviação da Polícia Militar
CEJUSC Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
CEP Curso de Especialização Profissional
CFP Comando de Força de Patrulha
CF Constituição Federal
CGP Comando de Grupo de Patrulha
Cia PM Companhia de Polícia Militar
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CNPJ Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
CONSEG Conselho Comunitário de Segurança
COP Câmera Operacional Portátil
CPF Cadastro de Pessoas Físicas
CPP Cartão de Prioridade de Patrulhamento
CPPM Código de Processo Penal Militar
DP Distrito Policial
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
EPI Equipamento de Proteção Individual
FotoCrim Base Informatizada de Fotografias Criminais
GATE Grupo de Ações Táticas Especiais
IED Artefato Explosivo Improvisado (Improvised Explosive Device)
IMEI Identificação Internacional de Equipamento Móvel
Infocrim Sistema de Informações Criminais
IPM Inquérito Policial-Militar
NUMEC Núcleo de Mediação Comunitária
ONU Organização das Nações Unidas
OPM Organização Policial-Militar
PMESP Polícia Militar do Estado de São Paulo
POP Procedimento Operacional Padrão
PPI Plano de Policiamento Inteligente
PROERD Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência
Ptr Com Patrulha Comunitária
PVS Programa Vizinhança Solidária
Rede INFOSEG Rede Nacional de Integração de Informações de Segurança Pública, Justiça e
Fiscalização
RG Registro Geral
RSO Relatório de Serviço Operacional
SAP Secretaria da Administração Penitenciária
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública
Sinesp Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública
SIOPM Sistema de Informações Operacionais da Polícia Militar
SSP Secretaria da Segurança Pública
TMD Terminal Móvel de Dados
TPD Terminal Portátil de Dados
UAS Aeronave Não Tripulada (Unmanned Aircraft System)
US Unidade de Serviço
SUMÁRIO
BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR.......................................................................... 13
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................19
DIREITOS HUMANOS.........................................................................................................21
2.1 Direitos Humanos..................................................................................................................22
2.1.1 Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão.............................................................22
2.1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos.....................................................................23
2.1.3 Direitos Humanos e suas Gerações...................................................................................23
2.1.3.1 Direitos Humanos de 1ª Geração...............................................................................................23
2.1.3.2 Direitos Humanos de 2ª Geração...............................................................................................24
2.1.3.3 Direitos Humanos de 3ª Geração...............................................................................................24
2.1.4 Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.......................................................................24
2.1.5 Aspectos da Cidadania.......................................................................................................25
2.1.6 Uso da Força e de Armas de Fogo pelos Encarregados da Aplicação da Lei....................26
2.1.6.1 Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei................................................26
2.1.6.2 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e de Armas de Fogo..................................................27
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................28
POLÍCIA COMUNITÁRIA.....................................................................................................31
3.1 Polícia Comunitária................................................................................................................32
3.1.1 Policiamento Ostensivo Comunitário................................................................................32
3.2 Ferramentas de Polícia Comunitária.....................................................................................33
3.2.1 Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG)...............................................................33
3.2.2 Programa Vizinhança Solidária (PVS).................................................................................34
3.2.3 Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) .......................... 35
3.2.4. Campanhas Humanitárias Institucionais...........................................................................36
3.2.4.1. Campanha “Doar é Legal”.........................................................................................................36
3.2.4.2. “Campanha do Agasalho”..........................................................................................................36
3.2.5 Núcleos de Mediação Comunitária (NUMEC)...................................................................37
3.2.5.1 NUMEC/PM.................................................................................................................................38
3.2.5.2 NUMEC/CEJUSC..........................................................................................................................38
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................39
CONCEITOS DE POLÍCIA.....................................................................................................41
4.1 Polícia Ostensiva....................................................................................................................42
4.1.1 Policiamento Ostensivo......................................................................................................42
4.2 Preservação da Ordem Pública..............................................................................................43
4.3 Polícia Administrativa............................................................................................................44
4.4 Polícia Judiciária.....................................................................................................................45
4.4.1 Polícia Judiciária Militar......................................................................................................49
4.5 Prevenção Primária, Secundária e Terciária..........................................................................49
4.5.1 Prevenção Primária............................................................................................................49
4.5.2 Prevenção Secundária........................................................................................................49
4.5.3 Prevenção Terciária............................................................................................................50
4.6 Poder de Polícia.....................................................................................................................50
4.7 Autoridade Policial-Militar..................................................................................................... 51
4.8 Agente de Autoridade...........................................................................................................53
4.9 Abuso de Autoridade.............................................................................................................53
4.10 Responsabilidade Administrativa, Penal e Civil...................................................................54
4.10.1 Responsabilidade Administrativa.....................................................................................54
4.10.2 Responsabilidade Penal....................................................................................................55
4.10.3 Responsabilidade Civil......................................................................................................55
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................56
USO DA FORÇA..................................................................................................................59
5.1. Preparação Psicológica ........................................................................................................60
5.2. Inteligência Emocional..........................................................................................................61
5.3. Uso da Força Legal, Necessária e Proporcional, e Emprego de Técnicas e Táticas Policiais....61
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................66
PATRULHAMENTO PREVENTIVO...................................................................................... 69
6.1 Finalidade do Patrulhamento Preventivo..............................................................................70
6.2 Modalidades, Tipos, Programas e Processos.........................................................................71
6.3 Ênfase na Atuação Preventiva...............................................................................................71
6.4 Postura do Policial Militar......................................................................................................73
6.5 Cuidados do Policial Militar Patrulheiro................................................................................ 74
6.6 Equipamentos de Proteção Individual...................................................................................76
6.7 Trato com o Público...............................................................................................................77
6.8 Abordagem Policial-Militar....................................................................................................78
6.9 Posição do Armamento.........................................................................................................79
6.10 Acompanhamento Embarcado............................................................................................82
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................84
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS................................................................................... 87
7.1 Deslocamento Policial-Militar................................................................................................88
7.2 Comunicação com o COPOM ................................................................................................89
7.3 Cuidados na Aproximação.....................................................................................................90
7.4 Cerco Policial-Militar..............................................................................................................90
7.5 Quando Pedir Apoio?.............................................................................................................91
7.6 Área de Segurança e Área de Perigo......................................................................................92
7.7 Verbalização........................................................................................................................... 93
7.8 Busca e Varredura em Ambientes..........................................................................................94
7.9 Busca Domiciliar.....................................................................................................................95
7.10 Acesso a Dados de Aparelho Celular....................................................................................96
7.11 Gestão de Incidentes Policiais Críticos.................................................................................97
7.11.1 Incidentes Policiais Dinâmicos..........................................................................................97
7.11.2 Incidentes Policiais Estáticos............................................................................................98
7.12 Ocorrências com Reféns......................................................................................................98
7.13 Ocorrências com Artefatos Explosivos..............................................................................100
7.14 Imobilização de Potenciais Agressores e Uso de Algemas.................................................101
7.14.1 Imobilização....................................................................................................................101
7.14.2 Uso de Algemas..............................................................................................................102
7.15 Direitos da Pessoa Presa....................................................................................................102
7.16 Preservação de Local de Crime..........................................................................................103
7.17 Registro e Comunicação de Ocorrências com Infração Penal............................................104
7.18 Destinação das Ocorrências...............................................................................................105
7.19 Condução de Pessoas em Viaturas....................................................................................105
7.20 Cuidados na Gestão de Vítimas.........................................................................................106
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................107
GESTÃO DE MULTIDÕES................................................................................................. 113
8.1 Aspectos Gerais sobre Multidões........................................................................................114
8.2 Gestão de Multidões...........................................................................................................115
8.3 Graduação da Força Policial em Gestão de Multidões........................................................115
8.4 Policial Mediador de Manifestação ....................................................................................119
8.5 Resiliência Policial................................................................................................................119
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................120
TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES................................................................................. 123
9.1 Rede-Rádio ..........................................................................................................................124
9.2 Codificação Internacional para Radiocomunicação............................................................124
9.2.1 Código “Q”........................................................................................................................124
9.2.2 Código Fonético Internacional.........................................................................................125
9.2.2.1 Alfabeto da ONU.......................................................................................................................126
9.2.2.2 Algarismos da ONU...................................................................................................................126
9.3 Ferramentas Inteligentes.....................................................................................................127
9.3.1 COPOM ON-LINE .............................................................................................................127
9.3.2 FotoCrim - Base Informatizada de Fotografias Criminais................................................128
9.3.3 Infocrim - Sistema de Informações Criminais..................................................................129
9.3.4 SIOPM - Sistema de Informações Operacionais da Polícia Militar..................................129
9.3.5 Sinesp - Rede INFOSEG.....................................................................................................130
9.3.6 Detecta.............................................................................................................................131
9.4 Boletim de Ocorrência Eletrônico - BOe..............................................................................131
9.5 Terminal Móvel de Dados e Terminal Portátil de Dados.....................................................132
9.6 Câmeras Operacionais Portáteis.........................................................................................133
9.7 Aeronaves Não Tripuladas (Drones).....................................................................................134
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................135
IMAGEM INSTITUCIONAL............................................................................................... 139
10.1 Imagem Institucional.........................................................................................................140
10.2 Processo de Formação da Imagem Institucional...............................................................140
10.3 Reflexo na Imagem Institucional....................................................................................... 141
10.4 Relacionamento com a Imprensa......................................................................................142
10.5 Divulgação de Notícias Positivas à Imprensa.....................................................................143
10.6 Considerações acerca da Atuação Policial Ética e Legítima...............................................143
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................146
História de muitas vitórias.
Por vezes, com o sacrifício da
própria vida.
BREVE HISTÓRICO
1

DA POLÍCIA MILITAR
BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR

Eram cento e trinta em 15 de dezembro de 1831. Cem homens a pé e


trinta a cavalo. Atendendo ao chamado do então ministro da Justiça nomeado
pela Regência, padre Diogo Antônio Feijó, o Presidente da Província de São
Paulo, brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, criou o Corpo de Guardas Municipais
Voluntários, estrutura hierarquizada e disciplinada, embrião da atual Polícia
Militar.
O Corpo tinha por missão “manter a tranquilidade pública e auxiliar a
Justiça”, destacando-se, de início, no combate a rebeliões armadas, em especial
contra rebeldes farroupilhas, e na libertação dos caminhos comerciais que
ligavam São Paulo ao Sul do Brasil, região conhecida como Campo das Palmas,
que atualmente integra o Estado do Paraná.
Na sequência, já como Corpo Policial Permanente, teve a importante tarefa
de promover o desenvolvimento social e comunitário, auxiliando na fundação de
núcleos urbanos, o que permitiu o crescimento da agropecuária e a geração de
postos de trabalho nas regiões pacificadas. Data de 1837 a primeira referência
ao ensino para tropa pronta, em carta ao Comandante do Destacamento de
Atibaia, recomendando a instrução por ser útil aos soldados, fortalecendo a
disciplina e a regularidade do serviço, e para alcançar maior respeito perante a
comunidade.
Mais tarde, no II Império, é digna de nota a participação do Corpo Policial
Permanente na Campanha do Paraguai, com a famosa passagem da Retirada
de Laguna (1867), no sul do Mato Grosso, rememorada como demonstração
extrema de qualidades militares como a constância, o valor, a disciplina e o
patriotismo.

Figura 1.1 - Retirada de Laguna, quadro de Rui Martins Ferreira.

Na República, a estrutura é reorganizada e consolida-se como Força Pública


do Estado. Os governantes reconhecem na Força a competência, a lealdade, a

14 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

isenção e a confiabilidade de que necessitava o Brasil republicano, levando-a a


papel de destaque como braço armado do poder público estadual. Nas palavras
de um dos governantes paulistas, Jorge Tibiriçá, a “polícia sem política” prestava-
se à prevenção e repressão dos delitos e à garantia da liberdade, honra, vida e
propriedade.
É do início do Período Republicano a arquitetura de alguns dos mais
célebres quartéis da Polícia Militar, como o “Quartel da Luz”, atual Batalhão
“Tobias de Aguiar”, e o “Regimento de Cavalaria”, hoje Regimento “9 de Julho”.
Muitos efetivos da Força foram mobilizados contra a Revolta da Armada
e Revolução Federalista, nesta última com protagonismo do então 2º Batalhão
de Infantaria, atual 2º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), na
retomada de Curitiba das mãos dos rebeldes e recondução do governo local.
Outra passagem importante na história da Instituição foi, no governo de
Prudente de Moraes, a convocação para integrar a quarta expedição militar a
Canudos (1897), no interior da Bahia. Por intermédio do 1º Batalhão da Força
Pública, coube aos paulistas, inicialmente, a escolta de víveres para suprir as
tropas federais, todavia, dada a sua capacidade técnica e disciplina em combate,
o 1º Batalhão liderou uma das alas no ataque derradeiro à cidadela. Doze homens
da Força tombaram em Canudos.
Em 1905, é contratada a primeira missão militar estrangeira a prestar
serviços no País. A Missão Francesa, chefiada pelos coronéis Paul Balagny e
Antoine François Nérel, alavancou a Força Pública paulista, utilizando-se de
modernos recursos didáticos, manuais para a disseminação de conhecimentos,
exercícios teóricos e práticos, além de uniformes, armamento e equipamentos
renovados. Os conhecimentos foram multiplicados entre oficiais e praças, e fez
nascer entusiastas das novas práticas, como Pedro Dias de Campos e Francisco
Júlio César Alfieri.
A Missão Francesa lançou as bases do ensino policial-militar, compondo a
célula-mãe da escola superior de formação de oficiais, hoje a Academia de Polícia
Militar do Barro Branco, e da atual Escola Superior de Sargentos, destinada à
capacitação de graduados. Destaque também para a criação da Escola de
Educação Física, em 1910, pioneira do Brasil, e relevante centro de pesquisa
relacionado ao esporte e fisiologia do exercício.
De volta ao cenário sociopolítico, a década de 1930 foi marcante pela
Revolução Constitucionalista de 1932, movimento armado contrário às
imposições antidemocráticas do governo federal. Houve grande convergência de
setores da sociedade paulista na busca por soluções para a grave crise econômica

Manual de Fundamentos 15
BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR

instalada desde 1930, ao que se somava todo o contexto de instabilidade política,


cumprindo a Força o papel de “Exército Paulista”, como espinha dorsal da luta
em todas as frentes. Foi o maior tributo de sangue da história da Polícia Militar:
metade dos mais de seiscentos mortos constitucionalistas pertencia às fileiras
da Força, incluindo seu Comandante-Geral, coronel Júlio Marcondes Salgado.

Figura 1.2 - Paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932.

Não obstante a derrota dos paulistas frente à superioridade numérica e


de recursos das forças ditatoriais, o movimento fez eclodir várias discussões
em torno da redemocratização nacional, o que culminou na convocação de
Assembleia Constituinte e promulgação de nova Constituição Federal, em 1934.
O próprio governo de Getúlio Vargas cuidou de reavaliar o peso institucional e o
valor profissional das forças estaduais, agora focadas no exercício de missões de
segurança pública. Nessa esteira, em 1935, foi criado o serviço de radiopatrulha
na Capital paulista, concorrendo efetivos da Força e da Guarda Civil.
Em 1940, para consolidar as novas atribuições, o governo federal altera a
denominação da Força Pública para Força Policial, nomenclatura que perdurou
até 1947, ocasião em que a nova Constituição paulista retoma a expressão
original de Força Pública. A partir desse ano, paralelamente, nota-se o aumento
do efetivo da Guarda Civil, com destacamentos inclusive no interior do Estado.
A Segunda Guerra Mundial contou com a participação da Guarda Civil,
no ano de 1943, convocada para integrar a Força Expedicionária Brasileira. 79
profissionais da Guarda atuaram no teatro de operações italiano na atividade de
polícia de trânsito, disciplinando o tráfego de pesadas colunas de transporte em
estradas, além da custódia de autoridades, estabelecimentos e pontes. 2 desses

16 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

profissionais foram mortos em ação. A circunstância evidenciou a necessidade


de o Exército Brasileiro criar a sua própria polícia. Portanto, foi a Guarda Civil a
gênese da Polícia do Exército.
Como baluarte do serviço de radiopatrulha, em 1948, é criado o Batalhão
Policial (BP), com uma Companhia de Radiopatrulha, a qual, em 1958, recebe
o status de Batalhão de Radiopatrulha, perfazendo parte das áreas territoriais
dos atuais 11º e 12º BPM/M — Liberdade e Aeroporto. A sociedade evoluía,
tornando-se mais urbanizada e complexa, exigindo um modelo ideal de polícia.
Uma dessas evoluções permitiu o ingresso das mulheres nas fileiras
estaduais de segurança. Em 1955, o governador Jânio Quadros cria o Corpo de
Policiamento Especial Feminino, primeiro do Brasil, como órgão anexo à Guarda
Civil. Muitos serviços relevantes foram prestados pelas mulheres, sobretudo
no amparo e proteção de outras mulheres, idosos, crianças, adolescentes e
migrantes. Digna de menção a primeira comandante do policiamento feminino,
coronel Hilda Macedo.
Um dos episódios mais tristes da saga da
Polícia Militar aconteceu no dia 10 de maio de 1970,
ocasião da morte do então tenente Alberto Mendes
Junior, aos vinte e três anos de idade, nas matas
do Vale do Ribeira. Comandante de um pelotão
do Batalhão Tobias de Aguiar, fora destacado para
combater um foco terrorista no Litoral Sul do Estado.
Surpreendido em emboscada, o oficial trocou sua
vida pelas vidas de seus subordinados, entregando-
se voluntariamente aos seus algozes. Brutalmente
executado pelo ex-capitão Carlos Lamarca e seu
grupo terrorista, Mendes Junior personifica o herói
policial-militar, que, com o sacrifício da própria vida,
garante a continuidade de outras vidas e histórias.
Por seu nobre ato foi promovido ao posto de
capitão. Seus despojos encontram-se no Mausoléu Figura 1.3 - Capitão Mendes Junior.
da Polícia Militar. O terrorismo no Vale do Ribeira foi
completamente derrotado nos anos seguintes.
1970 também marca a atual configuração da Polícia Militar, por meio da
fusão da Força Pública e Guarda Civil, estruturas com funções praticamente
idênticas no contexto de segurança pública. Anterior à unificação, a Força Pública
contava com 35.000 homens e realizava o policiamento no interior do Estado,
além das Zonas Norte, Leste e parte da Zona Centro da Capital. Já a Guarda Civil
possuía em torno de 15.000 homens, cumprindo missões de policiamento nas
Zonas Sul, Oeste e parte da Zona Centro da Capital, bem como nas principais

Manual de Fundamentos 17
BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA MILITAR

cidades do interior. Assim, por ato do Governador do Estado, Roberto Costa de


Abreu Sodré, publicado em decreto de 8 de abril, unificavam-se as estruturas
policiais fardadas que, doravante, serviriam coesas a sociedade paulista,
devotadas à segurança do cidadão e do patrimônio.
O Batalhão de Radiopatrulha é desmembrado e sua atividade passa a
ser desenvolvida em vários batalhões da Capital, até o nível de Companhia.
O exercício de atividades ostensivas de policiamento, mais e mais, torna-se a
essência da Polícia Militar, distanciando-se do papel bélico do outrora “Exército
Paulista”.

Figura 1.4 - Viaturas de Radiopatrulha.

Anos 1980, movimentos em torno da redemocratização do país, nova


Constituição Federal. Os atributos de polícia ostensiva, preservação da ordem
pública, bombeiros e defesa civil, trazidos pela Carta Magna, investem as
polícias militares de responsabilidades exclusivas no cenário de segurança
pública dos estados. Mais do que nunca o trinômio — homem fardado, viatura
e equipamento — torna-se fundamental para o reconhecimento do profissional
pelas comunidades e para a manutenção da percepção de segurança. Conselhos
Comunitários de Segurança são criados como uma interface das aspirações
e anseios dos cidadãos em relação ao trabalho de aproximação, diálogo e
reconhecimento das polícias.
São oitenta e quatro mil homens e mulheres em 2020. Muitos investimentos
e aperfeiçoamentos têm sido levados a efeito nas seguintes áreas: (i) pessoal,
com especial atenção à seleção, alistamento e capacitação, (ii) saúde física e
mental, (iii) conhecimento e inovação, (iv) comunicação social, (v) estrutura

18 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

organizacional, (vi) finanças, (vii) logística, (viii) tecnologia da informação e


comunicação e (ix) inteligência policial. Todas essas áreas — conhecidas como
atividades-meio — convergem para a atividade-fim da Polícia Militar, qual seja,
a atividade operacional de polícia ostensiva e preservação da ordem pública, na
difícil e honrosa missão de proteger as pessoas, fazer cumprir as leis e combater
o crime.

REFERÊNCIAS
DE ARRUDA, L. E. P. Polícia Militar: uma crônica. A Força Policial, São Paulo, nº 13,
jan/fev/mar 1997, p. 31-84.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sistema de Gestão da
Polícia Militar do Estado de São Paulo - GESPOL. São Paulo, 2010.

Manual de Fundamentos 19
2

Na proteção, educação e
HUMANOS

promoção dos direitos humanos


DIREITOS

para preservação da vida e


dignidade das pessoas.
DIREITOS HUMANOS

No presente capítulo será abordado o tema Direitos Humanos,


contemplando suas gerações, documentos históricos, a forma como esses
direitos se incorporam ao ordenamento jurídico brasileiro e os desdobramentos
na atividade policial.
Além disso, serão apresentados temas sobre Cidadania e os princípios
normativos internacionais que regem o uso da força, proporcionando
conhecimentos fundamentais para o entendimento do importante papel da
PMESP na promoção, educação e proteção dos Direitos Humanos.
2.1 Direitos Humanos
Conjunto de direitos básicos e inerentes a todos os seres humanos,
independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião, opinião
política ou qualquer outra condição.
São direitos indispensáveis a uma vida humana pautada na liberdade,
igualdade e dignidade, que não podem ser abolidos, renunciados, alienados ou
violados.
Constituem garantias jurídicas universais, consignadas em diferentes fontes
de direito (tratados, direito consuetudinário, princípios, leis, etc.) e formalizadas
por meio de instrumentos internacionais destinados a proteger indivíduos e
grupos sociais contra ações ou omissões dos governos, prejudiciais às liberdades
fundamentais e à dignidade humana.
Seus preceitos compõem um dos pilares doutrinários da PMESP, com
ênfase na defesa da Vida, da Integridade Física e da Dignidade da Pessoa Humana
durante a atuação policial.
Usualmente os Direitos Humanos são invocados na defesa dos grupos
vulneráveis clássicos: crianças/adolescentes, idosos, pretos, índios, mulheres,
deficientes físicos e grupos LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros/
transexuais + Queer).
2.1.1 Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão

É um documento histórico, inspirado na Declaração de Independência


Americana de 1776, ratificada por Luís XVI, em 1789, e que serviu de preâmbulo
à primeira Constituição da Revolução Francesa, adotada em 1791.
Dentre seus 17 artigos, destacam-se prescrições relativas à proteção aos
direitos “naturais e imprescritíveis”, à liberdade e igualdade, e à segurança,
sendo prevista inclusive a existência de uma força de segurança, necessária à

22 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

garantia dos direitos do homem e do cidadão.


Art. 1º - Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem ter
como fundamento a utilidade comum.
Art. 2º - A finalidade de toda associação política é a preservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a
resistência à opressão.
Art. 12 - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; essa
força é, portanto, instituída para benefício de todos, e não para utilidade particular daqueles a
quem é confiada.

2.1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos

É considerada o grande marco documental da história dos Direitos


Humanos, por estabelecer, pela primeira vez, a essencialidade e imperiosidade
da proteção universal dos direitos humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi
elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas Art. 3º:
e culturais, pertencentes a todas as regiões do mundo, sendo Todo ser humano
proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, tem direito à
vida, à liberdade
no ano de 1948, como uma norma a ser observada, alcançada e à segurança
e acatada por todas as nações. Dessa feita, a DUDH inspirou pessoal.
constituições de muitos Estados e democracias recentes.
2.1.3 Direitos Humanos e suas Gerações

A evolução dos Direitos Humanos ao longo do tempo possibilitou sua


classificação, por juristas e pensadores, em gerações.
Segundo a teoria geracional de Karel Vasak, jurista tcheco-francês, publicada
no ano de 1977 e apresentada em conferência no Instituto Internacional de
Direitos Humanos, em Estrasburgo (França), os Direitos Humanos são divididos
em 3 gerações, baseados nos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade,
defendidos na Revolução Francesa.
Com a evolução dos tempos e identificação de necessidades específicas e
indispensáveis à vida moderna, com base na teoria geracional de Vasak, foram
concebidas novas gerações de Direitos Humanos, todavia ainda não pacificadas
no âmbito jurídico.
2.1.3.1 Direitos Humanos de 1ª Geração

Foram instituídos sob o ideal de liberdade, com o fim de estabelecer


limites ao poder do Estado em face da autonomia do indivíduo.

Manual de Fundamentos 23
DIREITOS HUMANOS

São os direitos civis e individuais (fundamentais), que não podem sofrer


interferência estatal. Têm como marco as Revoluções Francesa e Norte-
americana. Destacam-se o direito à vida, liberdade, propriedade e participação
política e religiosa.
2.1.3.2 Direitos Humanos de 2ª Geração

São os direitos sociais, econômicos e culturais, ligados à concepção de


igualdade. Surgem após a Primeira Guerra Mundial, diante da necessidade de
o Estado assegurar o chamado “bem-estar social”. Destacam-se os direitos à
saúde, educação, habitação, trabalho e segurança social.
2.1.3.3 Direitos Humanos de 3ª Geração

Voltados para o ideal de fraternidade ou solidariedade. Surgem após a


Segunda Guerra Mundial diante da comoção e anseio populares pela proteção
da humanidade como um todo. São aqueles em que os titulares não podem ser
determinados (difusos) ou que se destinam a um grupo de pessoas (coletivos).
Conhecidos por direitos da comunidade. Figuram entre esses a proteção ao meio
ambiente e aos grupos sociais vulneráveis, o direito à paz e ao desenvolvimento.
2.1.4 Direitos Fundamentais da Pessoa Humana

Os Direitos Fundamentais são essenciais ao ser humano e estão positivados


no ordenamento constitucional de uma nação. São aqueles que as sociedades
e os povos se baseiam para reivindicar o reconhecimento do Estado. Diferem-
se então dos Direitos Humanos, que ultrapassam as fronteiras de um país
(supranacionais) e independem de positivação ou recepção constitucional.
Tratam-se, portanto, de garantias já reconhecidas pelo Estado.
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988,
define em seu Título II os Direitos e Garantias Fundamentais, dividindo-os em 5
capítulos:
• Capítulo I - Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
Baseados no princípio de que todos são iguais perante a lei. Asseguram
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade. Estão previstos no artigo 5º da Constituição Federal de
1988.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade (...).

24 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

• Capítulo II – Dos Direitos Sociais


Asseguram o acesso à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à
moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção, à
maternidade e à infância, e à assistência aos desamparados.
• Capítulo III – Da Nacionalidade
Definem parâmetros necessários ao reconhecimento do vínculo jurídico existente
entre um indivíduo e o Estado, de modo a torná-lo um componente do povo,
sujeitando-o a direitos e obrigações perante a Nação.
• Capítulo IV – Dos Direitos Políticos
Asseveram que a soberania popular deve ser exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, definindo então critérios e garantias
para o exercício do direito da cidadania.
• Capítulo V – Dos Partidos Políticos
Visam garantir a livre criação, fusão, incorporação e extinção de partidos
políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.
2.1.5 Aspectos da Cidadania

Cidadania é tudo aquilo que faz de uma pessoa um cidadão.


Segundo o Dicionário Brasileiro de Direito Constitucional, “cidadania é a
situação ou condição do indivíduo vinculado juridicamente à vida do Estado e
participando da direção da sociedade política. Atualmente, a cidadania indica
um conjunto de práticas que outorgam ao indivíduo a qualidade de componente
ativo da sociedade”.
A cidadania, assim como a dignidade da pessoa humana, constitui-se em
um dos 5 fundamentos da República Federativa do Brasil e está prevista no
artigo 1º, inc. II, da Constituição Federal.
Art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem com fundamentos:

I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

É, portanto, o conjunto de direitos e deveres civis, sociais e políticos de um


indivíduo, que permite a este intervir nas ações do Estado e usufruir os serviços

Manual de Fundamentos 25
DIREITOS HUMANOS

ofertados pelos órgãos estatais.


Assim sendo, é a cidadania que promoverá a inclusão do indivíduo na vida
social e na tomada de decisões, em posição de igualdade dentro do grupo social.
2.1.6 Uso da Força e de Armas de Fogo pelos Encarregados da Aplicação da Lei

O policial militar é detentor da prerrogativa do uso da força. Contudo,


deve sempre obedecer aos princípios da Legalidade, Necessidade e
Proporcionalidade.
O uso de força mais contundente somente se justifica em situações de
estrita necessidade e como último recurso ao policial militar, com o fim de impor
obediência em circunstâncias que demandem pronta intervenção para assegurar
o cumprimento da lei, bem como para a proteção da vida e a da integridade física
de terceiros e dele próprio.
Existem normativos internacionais que versam especificamente sobre o
uso da força, gerando reflexos diretos no cotidiano do policial militar. Conhecê-
los, portanto, torna-se indispensável para que sejam efetivados e cumpridos:
2.1.6.1 Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei

Norma orientadora sobre fundamentos éticos que devem ser observados


pelos aplicadores da lei no que tange aos Direitos Humanos. Consolidado em oito
artigos, estabelece a natureza das funções dos encarregados da aplicação da lei
na defesa da ordem pública, e deve ser observado pelo policial militar em todas
as suas ações.

Art. 1º Os encarregados da aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que a lei lhes
impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em
conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer.
Art. 2º No cumprimento do dever, os encarregados da aplicação da lei devem respeitar e
proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas.
Art. 3º Os encarregados da aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente
necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.
Art. 4º As informações de natureza confidencial em poder dos encarregados da aplicação
da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou
necessidade de justiça estritamente exijam outro comportamento.
Art. 5º Nenhum encarregado da aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer
ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou
degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o
estado de guerra ou uma ameaça de guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade
política interna ou qualquer outra emergência pública, como justificativa para torturas
ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

26 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Art. 6º Os encarregados da aplicação da lei devem assegurar a proteção da saúde de todas


as pessoas sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para
assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.
Art. 7º Os encarregados da aplicação da lei não devem cometer quaisquer atos de corrupção.
Também devem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos.
Art. 8º Os encarregados da aplicação da lei devem respeitar a lei e este Código. Devem,
também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer
violações da lei e deste Código.
Quadro 2.1 - Código de Conduta dos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.

2.1.6.2 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e de Armas de Fogo

Adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção


do Crime e o Tratamento dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, em 1990,
regram o uso da força por parte das Instituições de Segurança.
Referidos princípios não impedem o uso da força e de armas de fogo por
parte dos policiais militares, mas estabelecem regramento mínimo, e estrita
observância aos critérios indissociáveis de legalidade, proporcionalidade,
necessidade e risco iminente à vida humana.
Dentre os princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo, destacam-
se:
• Princípio 4 - No cumprimento das suas funções, os responsáveis pela
aplicação da lei devem, sempre que possível, aplicar meios não violentos
antes de recorrer ao uso da força e armas de fogo. O uso da força e armas
de fogo só é aceitável quando os outros meios se revelarem ineficazes ou
incapazes de produzir o resultado pretendido.
• Princípio 5 - Sempre que o uso legítimo da força e de armas de fogo for
inevitável, os responsáveis pela aplicação da lei deverão:
(a) Exercer moderação no uso de tais recursos e agir na proporção da
gravidade da infração e do objetivo legítimo a ser alcançado;
(b) Minimizar danos e ferimentos, e respeitar e preservar a vida humana;
(c) Assegurar que qualquer indivíduo ferido ou afetado receba assistência e
cuidados médicos o mais rápido possível;
(d) Garantir que os familiares ou amigos íntimos da pessoa ferida ou afetada
sejam notificados o mais depressa possível.
• Princípio 9 - Os responsáveis pela aplicação da lei não usarão armas de
fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de

Manual de Fundamentos 27
DIREITOS HUMANOS

outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave, e isso


apenas nos casos em que outros meios menos extremados revelem-
se insuficientes para atingir tais objetivos. Em qualquer caso, o uso letal
intencional de armas de fogo só poderá ser feito quando estritamente
inevitável à proteção da vida.
• Princípio 10 - Nas circunstâncias previstas no Princípio 9, o responsável
pela aplicação da lei sempre deverá identificar-se como tal e avisar
prévia e claramente sua intenção de recorrer ao uso da arma de fogo,
com tempo suficiente para que o aviso seja levado em consideração. Tal
exigência somente é dispensável quando tal procedimento representar
risco indevido e iminente aos responsáveis pela aplicação da lei, ou ainda
acarretar para outrem risco de morte ou dano grave.
A atividade policial-militar está diretamente relacionada com a proteção,
educação e promoção dos Direitos Humanos. Durante o cumprimento
da missão institucional de servir e proteger as pessoas, como agente da
lei, o policial militar está compromissado com a defesa desses direitos.

REFERÊNCIAS
DEPARTAMENTO COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS. O que
são os direitos humanos? Ministério Público de Portugal. Disponível em: http://
gddc.ministeriopublico.pt/pagina/o-que-sao-os-direitos-humanos?menu=direitos-
humanos. Acesso em: 30 jul. 2020.
DIMOULIS, D. (Coord.). Dicionário Brasileiro de Direito Constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2007.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. O que são os direitos humanos?. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/. Acesso em: 30 jul. 2020.
RAMOS, A. D. C. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
RIBEIRO, A. Cidadania. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.
uol.com.br/geografia/cidadania.htms. Acesso em: 30 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual de Cidadania
da Polícia Militar (M-18-PM). São Paulo, 2020. Disponível em: http://www.intranet.
polmil.sp.gov.br/organizacao/unidades/1empm/1empm_v3/Publicacoes/Manuais/
Manuais%201%C2%AAEM/M-18-PM.pdf. Acesso em: 28 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sistema de Gestão da
Polícia Militar do Estado de São Paulo - GESPOL. São Paulo, 2010.

28 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

TORRANO, M. A. V. Quantas dimensões (ou gerações) dos direitos humanos


existem? Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4247, 16 fev.
2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/31948. Acesso em: 28 jul. 2020.

Manual de Fundamentos 29
3
Polícia acessível em comunhão
de esforços com as comunidades
— juntas pela segurança e bem-

estar de São Paulo.

COMUNITÁRIA
POLÍCIA
POLÍCIA COMUNITÁRIA

Neste capítulo será apresentado o conceito de Polícia Comunitária, sua


aplicação filosófica e estratégica, as formas de desenvolvimento do Policiamento
Ostensivo Comunitário e as principais Ferramentas de Polícia Comunitária.
3.1 Polícia Comunitária
Outro pilar doutrinário da Polícia Militar previsto no Sistema de Gestão da
PMESP, a Polícia Comunitária ou Polícia de Aproximação é tida como filosofia e,
ao mesmo tempo, estratégia institucional.
Como filosofia, permeia todos os níveis organizacionais da Instituição e seus
preceitos são absorvidos pelos policiais militares por meio da internalização de
conceitos primários relacionados à importância da mobilização da comunidade
para solução dos problemas de segurança pública.
Enquanto estratégia, a Polícia Comunitária direciona esforços, medidas,
processos e programas de policiamento da Instituição, com o fim de buscar a
permanente interação com a comunidade, visando ao desenvolvimento de ações
destinadas a alcançar níveis desejáveis e aceitáveis de segurança e melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
Trata-se da cultura de união entre comunidade e polícia, objetivando
o desenvolvimento de ações eficientes para a redução de fatores ofensivos à
segurança pública (BORGES, 2019).

Figura 3.1 - Logotipo do Policiamento Comunitário.

3.1.1 Policiamento Ostensivo Comunitário

Atuação direcionada a localidades específicas, estabelecidas conforme


critérios estratégicos, visando alcançar níveis aceitáveis de segurança pública e
de qualidade de vida, por meio do respaldo, cooperação, parceria, participação
e coleta de informações junto às respectivas comunidades.
O policiamento ostensivo comunitário poderá ser desenvolvido, de forma

32 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

exclusiva, por intermédio de Patrulha Comunitária (Ptr Com), Base Comunitária


de Segurança (BCS), Base Comunitária de Segurança Distrital (BCSD) e Base
Comunitária Móvel (BCM), ou ainda por meio de interação dos Programas
de Policiamento e Atividades Operacionais Diversas, desenvolvendo Visitas
Comunitárias, Visitas Solidárias, Campanhas Comunitárias ou Reuniões
Comunitárias, dentre outras atividades.
• Visita Comunitária - Contato periódico de policial militar, pertencente ou
não ao Programa de Policiamento Comunitário, com os integrantes da
comunidade, criando vínculos de confiança mútua, para a solução dos
problemas reais de segurança pública que os afligem.
• Visita Solidária - Contato de policial militar com vítima de delito, como forma
de acolhimento e orientação, bem como coleta de dados para elucidação
do fato, demonstrando a sensibilidade que a PMESP tem para com a sua
condição. Especial atenção deve ser direcionada às vítimas de violência
doméstica e de conflitos envolvendo pessoas vulneráveis.
• Campanha Comunitária - Evento desenvolvido pelo policiamento ostensivo
comunitário, com coordenação definida em reunião comunitária e supervisão
dos Cmt OPM, destinados a mobilizar a comunidade em geral.
• Reunião Comunitária - Atividade organizada pelo policiamento ostensivo
comunitário na qual são reunidas entidades públicas ou privadas, lideranças
comunitárias e demais partes interessadas nas questões afetas à segurança
pública local, destinada a discutir a solução dos problemas que afetam
determinada comunidade, visando à alteração do ambiente comunitário e à
melhoria da qualidade de vida das pessoas.
3.2 Ferramentas de Polícia Comunitária
A Polícia Comunitária conta ainda com o apoio de ferramentas que
passam a ter relação direta com as políticas institucionais adotadas, com o
fim de aproximar a Polícia Militar das comunidades, tais como os Conselhos
Comunitários de Segurança (CONSEG), o Programa Vizinhança Solidária (PVS),
o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) e os
Núcleos de Mediação Comunitária (NUMEC).
3.2.1 Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG)

Grupo de apoio à Secretaria da Segurança Pública (SSP) nas relações


comunitárias, constitui-se como canal de participação cidadã, cuja finalidade
é assegurar o fluxo de informações de interesse policial e auxiliar outros órgãos
públicos e privados no encaminhamento e resolução das demandas legítimas da

Manual de Fundamentos 33
POLÍCIA COMUNITÁRIA

comunidade, com foco na prevenção primária, promoção da segurança coletiva


e paz social.

Figura 3.2 - Logotipo do CONSEG.

Os CONSEGs atuam, geralmente, em uma área equivalente a uma


Companhia da Polícia Militar (Cia PM) ou uma Delegacia de Polícia, e contam
com a participação de representantes da comunidade local, das Polícias Militar
e Civil, além dos demais órgãos públicos como Poder Judiciário e Legislativo,
Ministério Público, Prefeitura, Guarda Municipal, Conselho Tutelar, etc.
3.2.2 Programa Vizinhança Solidária (PVS)

O Programa Vizinhança Solidária traduz-se na necessidade de estreitar o


vínculo solidário no combate à criminalidade, com a mobilização de esforços
conjuntos entre a comunidade e a Polícia Militar, estimulando no cidadão
— vizinho solidário — o sentimento de pertencimento social, mitigando a
indiferença com o próximo por meio da adoção de medidas de prevenção
referentes à segurança individual e coletiva.
Constitui-se, portanto, em um conjunto de medidas destinadas a estimular
os integrantes de determinada comunidade à mudança de comportamento diante
de fatos ou condutas que possam afetar a ordem pública, conscientizando-os
de sua responsabilidade nos assuntos relacionados à segurança pessoal e
coletiva (SÃO PAULO, 2013).
Dentre outras medidas previstas no PVS, destacam-se a Visita Comunitária
e a Visita Solidária. O PVS pode ser implantado em qualquer comunidade,
independentemente das peculiaridades socioeconômicas que a caracterizam,
bem como em ambiente escolar, onde a comunidade local é mobilizada por
meio de um líder comunitário, chamado de tutor, que pode ou não ser policial
da ativa.
O Programa é identificado na comunidade por meio de uma placa em
acrílico, afixada em imóveis da região abrangida, de modo a demonstrar a
parceria entre a OPM local, as entidades comunitárias, estabelecimentos de

34 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

ensino e a própria vizinhança, com o fim de inibir a ação criminosa na localidade,


bem como incentivar a participação dos moradores, estudantes e comerciantes.

Figura 3.3 - Modelo da placa em acrílico.

3.2.3 Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD)

Conjunto de lições com intervenções primárias


que a Polícia Militar aplica em escolas públicas e
particulares para alunos do ensino fundamental.
Representa um modelo de autoproteção para os
jovens, de forma a inspirá-los a se defender da
violência e das drogas. O Programa é ministrado por
policiais militares habilitados para ensinar crianças
e adolescentes, ainda em tenra idade, a tomarem
decisões seguras, responsáveis e saudáveis, diante
de situações de risco pessoal ou que possam Figura 3.4 - Símbolo do PROERD.
comprometer sua saúde.
A articulação do policial militar com a comunidade escolar viabiliza
também a disseminação dos princípios apregoados pela filosofia de Polícia de
Aproximação, semeando na sociedade a cultura da paz.
A sistemática de ensino adotada pelo PROERD conduz os futuros cidadãos
à reflexão sobre questões que sedimentarão sua vida pessoal e social, além de
estimular a boa convivência entre crianças e jovens.

Manual de Fundamentos 35
POLÍCIA COMUNITÁRIA

3.2.4. Campanhas Humanitárias Institucionais

A PMESP, enquanto polícia de aproximação, promove campanhas de cunho


humanitário, ampliando os canais de relacionamento com a sociedade, em prol
dos mais necessitados e vulneráveis. Dentre as ações humanitárias promovidas
pela PMESP, destacam-se: (i) “Doar é Legal” e (ii) “Campanha do Agasalho”.
3.2.4.1. Campanha “Doar é Legal”

Realizada em caráter permanente, objetiva intensificar as doações de


sangue por parte do efetivo policial-militar, realizando campanhas de captação
dentro de quartéis ou incentivando o comparecimento nos locais de coleta,
visando à reposição dos estoques dos bancos de sangue em hospitais.

Figura 3.5 - Doação de sangue por policiais militares.

3.2.4.2. “Campanha do Agasalho”

Atividade desenvolvida em parceria


com o Fundo Social de São Paulo (FUSSP)
e Governo do Estado, com o objetivo de
arrecadar roupas de inverno, calçados
e cobertores para ajudar pessoas mais
carentes em situação de vulnerabilidade a
atravessar os períodos de frio mais intenso.
A ação utiliza Unidades da Polícia
Militar como pontos de arrecadação.
O material arrecadado é distribuído à
população carente, hospitais, albergues,
creches e asilos.

Figura 3.6 - Cartaz da Campanha do Agasalho.

36 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

3.2.5 Núcleos de Mediação Comunitária (NUMEC)

Estruturas destinadas aos trabalhos de mediação de conflitos, onde o


policial militar capacitado e formalmente habilitado aplica técnicas para auxiliar
as pessoas na autocomposição pacífica e consensual de conflitos de interesses.
A mediação comunitária, enquanto mecanismo para a resolução de conflitos,
promove e democratiza o acesso à Justiça, alçando o cidadão e a comunidade à
condição de protagonistas para gerir seus próprios conflitos e colaborar com a
pacificação social.

Figura 3.7 - Logotipo do Núcleo de Mediação Comunitária.

Dentre os resultados esperados pelo NUMECs, destacam-se os impactos


positivos em termos de melhor aproveitamento de tempo e recursos destinados
às atividades de polícia ostensiva e preservação da ordem pública, uma vez
que reduz a incidência de conflitos recorrentes, responsáveis por demandar
a presença de policiais militares para o seu atendimento, afastando-os das
atividades preventivas.
Circunstâncias passíveis de mediação por meio dos NUMECs:
• conflitos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis, regulados por
normas de Direito Civil;
• conflitos de vizinhança;
• conflitos resultantes da perturbação de sossego público;
• conflitos familiares, desde que observadas as peculiaridades previstas na
legislação referente a criança e adolescente, idoso, mulher em situação de
vulnerabilidade e pessoa com deficiência.

Manual de Fundamentos 37
POLÍCIA COMUNITÁRIA

Se em qualquer das circunstâncias anteriores for constatada violência


ou grave ameaça, deverão ser adotadas as providências referidas na
normatização interna que regula o assunto.

Pessoas incapazes (menores ou inimputáveis), absoluta ou relativamente,


que figurem como parte da mediação comunitária, deverão ser assistidas
ou representadas por seus pais, tutores ou curadores, na forma da lei.

As atividades dos NUMECs são desenvolvidas segundo duas variáveis que


caracterizam o produto final da atuação do mediador policial-militar, sendo elas:
3.2.5.1 NUMEC/PM

Local destinado aos trabalhos do mediador policial-militar, capacitado


enquanto solucionador pacífico dos conflitos, especificamente para as atividades
de mediação extrajudicial, que tem como fundamento, além da resolução da
controvérsia em si, impactar positivamente a produtividade policial-militar (SÃO
PAULO, 2017).

Figura 3.8 - Policial militar atuando como mediador.

3.2.5.2 NUMEC/CEJUSC

Local que funciona como Centro Judiciário de Solução de Conflitos e


Cidadania (CEJUSC), onde são desenvolvidas as atividades de mediação judicial
por policial militar capacitado e cadastrado mediante parceria com o Poder
Judiciário, nos termos da Resolução CNJ nº 125/10, que instituiu a Política
Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses.

38 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS
BORGES, L. Q. Diagnóstico de Polícia Comunitária. São Paulo: Editora Biografia,
2019.
CARUSO, R. B. Proposta de Manual Básico de Vizinhança Solidária. 2014.
Dissertação. (Mestrado Profissional em Ciências Policiais de Segurança Pública e
Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos de Segurança (CAES), São Paulo, 2014.
ROCHA, J. O potencial estratégico institucional da participação qualificada
da Polícia Militar nos CONSEGs - Proposta para padronização na atuação dos
membros natos PM. 2016. Dissertação. (Mestrado Profissional em Ciências Policiais
de Segurança Pública e Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos de Segurança
(CAES), São Paulo, 2016.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz N° PM3-
002/02/13, de 13 de junho de 2013. Programa Vizinhança Solidária (PVS).
São Paulo, 2013. Disponível em: http://www5.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/
unidades/3empm/legislacao.html. Acesso em: 13 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz N° PM3-
005/02/20, de 12 de março de 2020. Programa de Policiamento Comunitário.
São Paulo, 2020. Disponível em: http://www5.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/
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2020.
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 16.771, de 18 de junho de 2018. Institui o Programa
Vizinhança Solidária. Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo I,
Volume 128, Número 111, São Paulo, SP, 19 jun. 2018. Disponível em: https://www.
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23 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM3-005/03/17, de 27 de julho de 2017. Núcleos de Mediação Comunitária, São
Paulo, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Regimento Interno da
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São Paulo, SP, 28 fev. 2018. Caderno 1, p. 8.

Manual de Fundamentos 39
“A missão fundamental da polícia existir é
prevenir o crime e a desordem.”
Sir Robert Peel
CONCEITOS DE
4

POLÍCIA
CONCEITOS DE POLÍCIA

Neste capítulo serão abordados conceitos de polícia ostensiva e preservação


da ordem pública, polícia administrativa e polícia judiciária, prevenção criminal,
poder de polícia, autoridade policial-militar e seus derivativos, bem como
algumas das consequências da atuação do policial militar.
4.1 Polícia Ostensiva
Polícia ostensiva é a missão conferida pela Constituição Federal de 1988
às polícias militares e caracteriza-se justamente pela ação da ostensividade, ou
seja, pela presença do policial fardado ou da viatura caracterizada que inibe a
conduta delitiva.
Segundo Lazarini (1995, p. 103), "essa é a forma direta de prevenção
pois existe a indireta, resultante da atividade repressiva exercida no ciclo de
persecução criminal."
Inicialmente, é importante destacar a diferença entre polícia ostensiva,
que representa um conceito de caráter doutrinário, mais amplo e abrangente, e
policiamento ostensivo, que representa as ações cotidianas desenvolvidas pela
PMESP, conceito este que será abordado na sequência.
Essa diferença pode ser exemplificada por uma caixa de ferramentas
composta por muitos utensílios, o que representaria a “polícia ostensiva”;
na medida em que surge uma necessidade, são os agentes do “policiamento
ostensivo” que abrem a caixa, escolhem a ferramenta de acordo com as
características da situação que se apresenta e a emprega de forma específica,
buscando uma solução proporcional à necessidade.
4.1.1 Policiamento Ostensivo

Policiamento ostensivo é a atuação de fiscalização exclusiva das polícias


militares, em cujo emprego o homem ou a fração de tropa são identificados
de relance, pela farda, equipamento ou viatura, objetivando a preservação da
ordem pública e a percepção de segurança da população.
Em outras palavras, é a concretização das ações de polícia ostensiva dentro
das fases do poder de polícia, nos termos do Regulamento para as Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares (R-200).
Trata do emprego operacional dos recursos policial-militares a fim de
preservar a ordem pública em todos os seus aspectos e evitar a prática de
crimes e contravenções penais.

42 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 4.1 - Policiamento ostensivo com ação de presença.

4.2 Preservação da Ordem Pública


Ordem pública é o conjunto de regras formais que regulam as relações
sociais, estabelecendo um clima de convivência harmonioso e pacífico,
controlado a partir do exercício do poder de polícia, constituindo uma situação
ou condição que conduza ao bem comum.
De modo complementar, ordem pública é o estado de equilíbrio entre
o exercício dos direitos individuais e os interesses coletivos, refletido sob os
aspectos da tranquilidade, salubridade e segurança públicas.
(a) Tranquilidade pública: é a boa ordem e a paz pública reinante nas ruas.
Destaca-se no período noturno quando os moradores se recolhem ao
repouso. Um exemplo de garantia da tranquilidade pública é a atuação
preventiva da PMESP em eventos de perturbação de sossego;
(b) Salubridade pública: revela-se nos lugares que proporcionam um
conjunto de condições favoráveis dentro de um padrão mínimo aceitável
de qualidade de vida para a população. Atendimento preliminar de
ocorrência envolvendo parturiente, pessoa que caiu da própria altura, mal
súbito, bem como o apoio a órgãos de vigilância sanitária na fiscalização de
estabelecimentos, são exemplos de garantia da salubridade pública;
(c) Segurança pública: estado antidelitual que resulta da observação dos
preceitos contidos nas leis penais, podendo advir de ações policiais
preventivas ou repressivas, ou ainda de simples ausência, mesmo
temporária, de delitos. O atendimento de ocorrência envolvendo quaisquer
delitos (crime ou contravenção) é exemplo de atuação da PMESP para
garantir a segurança pública.
Preservação da ordem pública é, portanto, a manutenção da ordem do
Estado e do bem-estar social. De forma preventiva, ocorre através de ações que

Manual de Fundamentos 43
CONCEITOS DE POLÍCIA

visam à dissuasão de comportamentos que representem ameaça à convivência


pacífica em sociedade, sejam meras incivilidades ou crimes e contravenções
penais propriamente ditos. De forma repressiva, ou seja, havendo a perturbação
da ordem pública, dá-se o restabelecimento através da contenção, inabilitação
ou incapacitação do(s) infrator(es).
À PMESP cabe a polícia ostensiva e preservação da ordem pública,
através da prevenção e repressão imediata e mediata de infrações penais
e administrativas, com o objetivo de proteger as pessoas e aplicar a lei,
promovendo a percepção de segurança.

4.3 Polícia Administrativa


Regida por normas e princípios jurídicos de Direito Administrativo, é
calcada principalmente no poder de polícia, em suas 4 fases: ordem de polícia,
consentimento de polícia, fiscalização de polícia e sanção de polícia.
Aqui se verifica o policiamento ostensivo.

Possui caráter preventivo, proporcionado pela ação dissuasória


decorrente da presença do policial militar fardado e de seu aparato (viatura e
equipamentos), que lhe atribui visibilidade.
Pode-se citar, como exemplo, policiais militares que realizam bloqueio
policial, abordando pessoas e vistoriando veículos sob fiscalização de polícia,
coibindo, assim, a prática de infrações penais e/ou administrativas.

Figura 4.2 - Bloqueio policial.

Note-se que a polícia administrativa abrange todas as medidas policiais


adotadas antes do cometimento de ilícito penal, incluindo a manutenção do
estado de normalidade, por meio de atividades essencialmente preventivas, e

44 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

também a atuação frente às infrações de natureza administrativa, por exemplo,


na elaboração de Auto de Infração de Trânsito (multas de trânsito).
4.4 Polícia Judiciária
Decorrente da aplicação de normas e princípios do Direito Processual
Penal, abrange atividades de contenção e restauração da ordem pública por
meio da repressão imediata e mediata a ilícitos penais.
É caracterizada sempre que a PMESP precisa agir após o cometimento
de ilícito penal, seja ele contravenção ou crime, de menor ou maior potencial
ofensivo, condicionada às situações de flagrante delito definidas no artigo 302
do Código de Processo Penal.
Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;


II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer outra pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir
ser ele o autos da infração.

Figura 4.3 - Abordagem sob fundada suspeita.

A abordagem ao infrator da lei logo após ter cometido um crime é um


exemplo de ação típica de polícia judiciária, quando o policial militar atua na
sequência da efetiva perturbação da ordem pública, para que ocorra a prisão
em flagrante delito.

Manual de Fundamentos 45
CONCEITOS DE POLÍCIA

46 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 4.4 - Ciclo de Polícia e Ciclo da Persecução Criminal. (LAZZARINI, adaptada, 1996, p. 97).

Manual de Fundamentos 47
CONCEITOS DE POLÍCIA

Figura 4.5 - Abordagem a infrator da lei.

A repressão mediata comporta as ações de investigação, coleta de


evidências e construção de peças informativas, em geral feitas para dar suporte
a Inquérito Policial, que subsidiem a propositura da ação penal por parte do
Ministério Público.
No chamado ciclo de persecução criminal, a fase da repressão mediata
está localizada logo após a repressão imediata, ou seja, fora da esfera de
competência da PMESP, a não ser que a infração seja caracterizada como crime
militar.
Nos casos de infrações penais comuns, a repressão mediata cabe à Polícia
Civil, ou à Polícia Federal quando se tratar de crime cometido contra bens,
serviços e interesses da União, ou cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional, entre outras (artigo 144, § 1º, CF/88).
Assim, em que pese a PMESP exercer, prioritariamente, o papel de polícia
administrativa, também se insere na seara de polícia judiciária quando atua na
repressão à perturbação da ordem pública, em termos penais.
O que distingue a atuação do policial militar em uma esfera ou outra,
administrativa ou judiciária, é o seu objetivo, que está vinculado à decisão do
próprio policial militar, conforme os limites de sua competência legal.
Se, por exemplo, aborda-se um veículo para fins de verificação documental,
toda a atuação se dará no âmbito da polícia administrativa, fundamentada no
poder de polícia. Se, caso contrário, atua repressivamente para conter um ilícito
em andamento, de forma imediata ou mediata, a atuação se dará no âmbito da
polícia judiciária.

48 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

4.4.1 Polícia Judiciária Militar

Também por mandamento Art. 144. [...]


§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados
constitucional, a PMESP exerce de polícia de carreira, incumbem, ressalvada
atividades de repressão mediata a competência da União, as funções de polícia
nos crimes militares, chamada judiciária e a apuração de infrações penais,
Polícia Judiciária Militar: exceto as militares. (grifo nosso)

São crimes militares, em tempo de paz, os crimes previstos no Código Penal Militar e também
na legislação penal quando praticados:

(a) por militar contra militar;


(b) por militar em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, reformado ou
civil;
(c) por militar em serviço ou quando atuando em razão da função, contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;
(d) por militar contra o patrimônio sob a administração militar ou a ordem administrativa militar.

Vale dizer que, nas hipóteses de crimes militares previstos em lei, com
condutas tipificadas no Código Penal Militar ou na legislação penal extravagante
(chamados crimes militares por extensão), cabe à PMESP executar as ações
de investigação, oferecendo ao Ministério Público, nos termos do Código de
Processo Penal Militar (CPPM), a peça informativa para propositura da ação
penal, que pode ser o Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD), o Inquérito
Policial-Militar (IPM) ou o Termo de Deserção (específico para o crime de
Deserção).
4.5 Prevenção Primária, Secundária e Terciária
4.5.1 Prevenção Primária

Conjunto de ações destinadas a identificar, avaliar, remover ou reduzir, por


meio de medidas indiretas de prevenção, fatores ambientais e criminógenos
indutores da criminalidade e que favorecem o cometimento de infrações de
natureza administrativa ou penal. (CASTRO, 1998, adaptado).
São exemplos de ações de prevenção primária promovidas pela PMESP:
o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) e o
Programa Vizinhança Solidária (PVS).
4.5.2 Prevenção Secundária

Decorrente do conjunto de ações realizadas por meio do policiamento


ostensivo, especialmente onde sejam detectados focos de vulnerabilidade
social, cultural ou econômica, antecipando, desestimulando e inibindo a prática

Manual de Fundamentos 49
CONCEITOS DE POLÍCIA

de infrações de natureza administrativa ou penal, bem como contendo os danos


provocados quando da quebra da ordem pública.
Caracteriza-se por medidas de aspectos contemporâneos de polícia
ostensiva, tais como o policiamento orientado por hot spot (mancha criminal),
que procura direcionar o policiamento ostensivo para os locais e horários de
maior incidência de determinados delitos, baseado em diagnóstico situacional
com uso de ferramentas inteligentes de georreferenciamento.
Sistema que possibilita a localização espacial a partir da combinação e tratamento de dados
geográficos com demais fontes de informações.

Figura 4.6 - Mapa do COPOM ON-LINE.

4.5.3 Prevenção Terciária

Forma de prevenção indireta, por meio da qual ocorre a aplicação da lei ao


caso concreto. É voltada ao cumprimento da pena pelo infrator, inabilitando-o
à reincidência enquanto durar o seu encarceramento, ou pela sua reeducação.
De modo complementar, a prevenção terciária produz efeitos quando são
criados mecanismos para limitar a propagação dos danos que podem ocorrer na
sequência de um evento que levou à perturbação da Ordem Pública, buscando
criar barreiras para que o infrator não consiga, após a prática do crime, obter
sucesso com o fruto de seu delito.
Por exemplo, operação contra desmanche sobre o qual se tenha
informações de que ocorre a receptação de veículos.
4.6 Poder de Polícia
No que se refere à missão de polícia ostensiva e preservação da ordem
pública, poder de polícia é a faculdade que dispõe o policial militar para, durante

50 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

o exercício de sua função, impor limites ao exercício de determinados direitos


e liberdades, condicionando ou restringindo o uso e gozo de bens, atividades e
direitos individuais, com vistas à proteção do interesse público em benefício da
coletividade.
Segundo Justen Filho (2009, p. 488-489), é a competência para disciplinar
a autonomia individual com o fim de realizar os direitos fundamentais e a própria
democracia, buscando o equilíbrio entre ambos, sempre pautando as ações nos
princípios da legalidade e da proporcionalidade.
De modo mais taxativo em nossa Art. 78 do Código Tributário Nacional:
Considera-se poder de polícia atividade
legislação, o poder de polícia é o da administração pública que, limitando
poder instrumental da administração ou disciplinando direito, interesse ou
pública, previsto no artigo 78 do liberdade, regula a prática de ato ou
Código Tributário Nacional (Lei abstenção de fato, em razão de interesse
público concernente à segurança, à
federal nº 5.172, de 25 de outubro de higiene, à ordem, aos costumes, à
1966), que fundamenta a execução disciplina da produção e do mercado,
do policiamento ostensivo enquanto ao exercício de atividades econômicas
polícia administrativa, por meio de dependentes de concessão ou autorização
do Poder Público, à tranquilidade pública
seus atributos de discricionariedade, ou ao respeito à propriedade e aos
autoexecutoriedade e coercibilidade. direitos individuais ou coletivos.

(a) Discricionariedade: liberdade legal de aferir e valorar a atividade policiada,


segundo critérios de conveniência, oportunidade e justiça, inclusive quanto
à sanção de polícia a ser imposta, tudo nos limites da lei;
(b) Autoexecutoriedade: o ato de polícia independe de prévia aprovação ou
autorização do Poder Judiciário para ser concretizado;
(c) Coercibilidade: o ato de polícia é imperativo, admitindo-se o emprego de
força para concretizá-lo. Entretanto, não se confunde com situações de
arbítrio, caracterizadas pela violência ou excesso.
Dessa forma, o poder de polícia confere embasamento legal para o policial
militar efetuar, por exemplo, abordagem a pessoa(s) ou veículo(s) com o objetivo
de exercer fiscalização administrativa.
4.7 Autoridade Policial-Militar
A autoridade policial-militar é espécie do gênero autoridade policial,
conferida por lei ao policial militar no exercício de polícia ostensiva e preservação
da ordem pública, uma vez que é agente público com investidura legal para
exercer o poder do Estado para limitar certos direitos individuais.
A lei serve como fonte da autoridade do agente público, pois, segundo

Manual de Fundamentos 51
CONCEITOS DE POLÍCIA

o princípio da legalidade citado no artigo 37 da Constituição Federal, a


Administração Pública somente executa aquilo que está descrito em norma.
Para exercer sua autoridade, o policial militar precisa buscar a base legal correta,
que efetivamente dê sustento à sua atuação. Citam-se exemplos para esclarecer
a questão:
• Para atuar na repressão imediata, o artigo 3º, alínea “c”, do Decreto-lei nº
667/69, confere poder ao policial militar para exercer de forma plena a sua
autoridade, observados os limites impostos por outras leis, como o Código
de Processo Penal. Na fiscalização preventiva de trânsito, a autoridade do
policial militar decorre do artigo 3º, alíneas “a” e “b” do Decreto-lei nº
667/69;
Art. 3º do Decreto-lei nº 667/69: Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança
interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no
âmbito de suas respectivas jurisdições:

a) executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o


policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o
cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos;
b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde
se presuma ser possível a perturbação da ordem;
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual
emprego das Forças Armadas;
[...]

• Em caso de crime militar, o Comandante de Batalhão possui como fonte


de autoridade o artigo 7º, alínea “h”, do Código de Processo Penal Militar.
Os demais oficiais da ativa agem por delegação, nos termos do § 1º do
mesmo dispositivo legal.

Figura 4.7 - Autoridade policial na busca pessoal.

52 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

4.8 Agente de Autoridade


Há situações em que a PMESP atua para auxiliar a autoridade pública,
pertencente a outro órgão, que detém a competência legal para adotar
determinadas medidas administrativas ou judiciárias.
Na esfera administrativa, pode ser citada a atuação do policial militar na
elaboração de Auto de Infração de Trânsito. A competência para aplicação da
multa de trânsito ao condutor que comete a infração, tanto municipal quanto
estadual, é de autoridade que não está vinculada à PMESP, mas que assim
procede após receber a autuação elaborada pelo policial militar, que, neste
caso, é agente de sua autoridade.
Torna-se importante distinguir, então, quando o policial militar age em
nome de outra autoridade e quando exerce autoridade policial por competência
direta.
Exemplos importantes do exercício pleno da autoridade policial são as
atuações do Corpo de Bombeiros, ao elaborar autos de vistoria, e dos Batalhões
de Polícia Ambiental, que elaboram e processam os Autos de Infração Ambiental,
inclusive julgando eventuais recursos.
4.9 Abuso de Autoridade
O abuso de autoridade é crime cometido por agente público que, no
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que
lhe tenha sido atribuído com a finalidade específica de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal.
Os crimes de abuso de autoridade e suas sanções estão definidos na Lei
federal nº 13.869/19, que tipifica como crime algumas condutas peculiares à
atuação de polícia ostensiva. São alguns exemplos:
(a) constranger o preso ou detento, mediante violência, grave ameaça ou
redução de sua capacidade de resistência, a exibir-se ou ter seu corpo
ou parte dele exibido à curiosidade pública, ser submetido à situação
vexatória ou constrangimento ilegal, bem como produzir prova contra si
ou contra terceiro;
(b) deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião
de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção/prisão;
(c) expor, sem o consentimento do preso, sua imagem, principalmente à imprensa;
(d) impedir que pessoa presa em flagrante tenha entrevista pessoal e

Manual de Fundamentos 53
CONCEITOS DE POLÍCIA

reservada com advogado, mesmo antes da apresentação da ocorrência no


Distrito Policial (DP);
(e) manter presos de sexos diferentes, ou com adolescentes infratores, no
mesmo espaço de confinamento, ou mantê-los em ambiente inadequado;
(f) invadir ou adentrar em domicílio, ou nele permanecer, sem determinação
judicial, autorização dos ocupantes ou responsáveis pelo imóvel, ou sem
justa causa presente que justifique a ação policial;
(g) inovar artificiosamente o local de crime, omitir dados ou informações
ou divulgá-las de forma incompleta para desviar o curso da investigação,
diligência ou processo;
(h) obter prova por meio manifestamente ilícito.
Como possíveis efeitos da condenação por crime de abuso de autoridade,
o agente público será obrigado a indenizar o dano causado pelo crime, inabilitar-
se para o exercício de cargo ou função pública pelo período de 1 a 5 anos ou até
mesmo perder definitivamente o cargo ou função.
4.10 Responsabilidade Administrativa, Penal e Civil
De acordo com o artigo 37 da CF, a administração pública é norteada pelos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Em razão disso, eventual ofensa a esses princípios pelo policial militar
no exercício de seu cargo ou função pode sujeitá-lo, nos termos da lei, à
responsabilização administrativa, penal e civil.
Há ainda a responsabilização por improbidade administrativa, prevista na
Lei federal nº 8.429/92, aceita como uma quarta espécie de responsabilidade do
servidor público, uma vez que, apesar do processamento e julgamento na esfera
cível, produz efeitos mais amplos, como a suspensão dos direitos políticos e a
perda do cargo, além de atingir também a esfera penal e administrativa.
Incumbe ao comandante do policial militar, no âmbito de sua competência,
adotar providências para a apuração de sua responsabilidade em casos de não
conformidade de atuação, incorrendo em crime funcional se não o fizer.
4.10.1 Responsabilidade Administrativa

Resulta da violação de normas internas da Administração por parte do


servidor, ensejando sanção também de natureza administrativa, após apurada a
falta funcional pelo devido processo legal.
A apuração da transgressão disciplinar/administrativa é competência

54 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

do comandante do policial militar, decorrente do poder disciplinar, que é a


“capacidade que se confere ao administrador público de reprimir as infrações
funcionais de seus subordinados, no âmbito interno da Administração.”
A responsabilidade administrativa independe de responsabilização penal
ou civil do servidor, e não necessita aguardar a apuração de eventual processo
penal para ser levada a efeito.
A inobservância dos valores e deveres éticos policial-militares, insculpidos
nas normas disciplinares, estará sujeita à apuração administrativa, que poderá
conduzir a sanções disciplinares ou até mesmo à demissão ou expulsão das
fileiras da PMESP.
4.10.2 Responsabilidade Penal

É a responsabilidade atribuída ao policial militar quando pratica crime ou


contravenção penal, com a devida descrição da pena a ser aplicada.
Diferentemente do cidadão comum, e
Art. 42 da CF: mesmo do servidor público civil, o policial militar,
"Os membros das Polícias em razão de sua investidura pública e condição de
Militares e Corpos de
Bombeiros Militares, militar do Estado, pode cometer crime comum e
instituições organizadas contravenção penal (previstos no Código Penal e Lei
com base na hierarquia de Contravenções Penais), incluídos os chamados
e disciplina, são militares crimes funcionais (cometidos somente pelo servidor
dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios”. público), e também os crimes militares (previstos no
Código Penal Militar).
4.10.3 Responsabilidade Civil

É a responsabilidade atribuída ao policial militar por danos causados a


terceiros no exercício de suas atividades funcionais.
Quando comprovada a existência de dolo ou culpa do policial militar, este
pode ser chamado a reparar o dano ou ressarcir o prejuízo causado, que se
traduz como responsabilidade subjetiva.
Dolo: caracterizado quando o agente tem intenção em agir, ou quando, sabendo que sua
conduta pode provocar o dano, não o deseja, mas assume o risco de sua consequência.

Culpa: caracterizada por:


(a) Imprudência: comportamento sem cautela, realizado com precipitação e insensatez;
(b) Imperícia: incapacidade, inaptidão, insuficiência de conhecimento para o exercício de
determinada missão;
(c) Negligência: desatenção, justamente quando tem o dever de cuidado. Por exemplo,
inobservância de ordem ou regulamento.

Manual de Fundamentos 55
CONCEITOS DE POLÍCIA

Ao Estado cabe reparar o dano ou ressarcir o prejuízo causado pelo policial


militar a terceiros, independentemente de culpa ou dolo na ação que causou
o dano, uma vez que o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal estabelece a
responsabilidade objetiva da Administração. Nessa hipótese, nos casos de dolo
ou culpa devidamente comprovados, é assegurado o direito de regresso contra
o responsável (policial militar).

REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição Federal. Brasília,1988.
BRASIL. Decreto nº 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento
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Manual de Fundamentos 57
Fonte: Du Amorim/A2FOTOGRAFIA

Saber selecionar o nível adequado de


intervenção evidencia a maturidade e
o preparo policiais.
USO DA
5

FORÇA
USO DA FORÇA

Neste capítulo serão abordados aspectos relacionados ao uso da força


pela PMESP, diante de cenários cotidianos da atuação policial.
Antes porém de explorar a correlação do uso da força com os níveis de
comportamento das pessoas, faz-se imperioso destacar a necessária integridade
psicológica do profissional de polícia, que é quem irá selecionar a opção mais
adequada e razoável para a resolução do conflito visando ao restabelecimento
da ordem pública.
5.1. Preparação Psicológica
Focada nas interlocuções com a população e, complementarmente, no
estímulo a um clima organizacional positivo, a capacitação do policial militar
privilegia o desenvolvimento de três dimensões necessárias ao profissional
que atua na área de segurança pública, de modo a torná-lo apto a lidar com
situações complexas e estressantes, peculiares à profissão: (i) capacidade física,
(ii) conhecimento técnico e (iii) preparo psicológico.
Embora as duas primeiras dimensões sejam essenciais no processo de
amadurecimento e segurança profissional, bem como nas respostas de atuação
policial-militar, o preparo psicológico é vital na relação direta com o público
destinatário dos serviços policiais, principalmente quando o nível de intervenção
no atendimento à população foge à normalidade, requerendo do profissional
autocontrole e disciplina.
Nesse sentido, a PMESP possui seu Sistema de Saúde Mental,
regulamentado pela Lei estadual nº 9.628/97 e pelo Decreto estadual nº
46.039/01, com o intuito de promover o bem-estar biopsicossocial do efetivo
policial-militar, desenvolver programas de prevenção no campo da saúde mental
e ainda fomentar ações voltadas para a consolidação de políticas que integrem
saúde e qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Figura 5.1 - Profissional da saúde mental.

60 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

O atendimento aos policiais militares é realizado por profissionais de saúde


e, de modo espontâneo ou por indicação de policiais que exercem funções de
supervisão e comando, pode ser agendado no Centro e Núcleos de Atenção
Psicológica e Social distribuídos no Estado de São Paulo.
5.2. Inteligência Emocional
Segundo Daniel Goleman, trata-se da capacidade individual de aprender a
perceber, avaliar e compreender suas emoções e as dos outros, e assim gerenciar
esses sentimentos em benefício próprio, expressando-os de maneira apropriada
e eficiente.
A PMESP, diligente com o preparo psicológico do policial militar, introduziu
em cursos, estágios e treinamentos institucionais, de maneira específica e
também transversal a outros saberes essenciais à formação policial-militar,
estudos relativos à compreensão da origem e influência dos sentimentos nas
ações e relacionamentos interpessoais.
Para o uso da força, é imprescindível o desenvolvimento dessa capacidade,
sobretudo para melhor explorar os primeiros e mais importantes níveis de
força, os quais dependem intrinsecamente dessa relação interpessoal, que são
a presença policial, a verbalização e a negociação.
5.3. Uso da Força Legal, Necessária e Proporcional, e Emprego de
Técnicas e Táticas Policiais
Na qualidade de promotora e defensora dos Direitos Humanos e da
Cidadania, a PMESP estruturou-se ao longo dos anos em torno da criação de
um conjunto de diretrizes e procedimentos que balizam as ações policiais para o
emprego mínimo e razoável da força.
O uso da força policial deve pautar-se, dentre outros aspectos, nos
princípios da legalidade, necessidade e proporcionalidade. Assim, o nível de
força empregado em uma ação policial corresponderá necessariamente ao nível
de comportamento da pessoa.
Legalidade: deverá ocorrer somente para atingir um objetivo legítimo, e
quando todos os outros meios já tiverem sido esgotados.
Necessidade: somente se justificará quando for indispensável à proteção de
direito, equivalente àquele que se admite suprimir.
Proporcionalidade: deve ser moderado e proporcional à gravidade do delito
que se deseja evitar ou conter.

Manual de Fundamentos 61
USO DA FORÇA

Nesse contexto, o policial militar é formado, especializado e


permanentemente treinado para atuar de maneira pontual, racional e moderada,
de modo a empregar o nível de intervenção policial compatível à ação originária.

Figura 5.2 - Comportamento x Níveis de Força.

Desse modo, tem-se que o uso da força para o cumprimento de


determinação legal será sempre compatível à reação da pessoa, na medida
exata para a manutenção ou restabelecimento da ordem pública:
• Normalidade: observa-se a interação da PMESP com a comunidade em
ocasiões habituais, seja prestando um auxílio, fornecendo uma informação
e pelo conjunto de ações de prevenção secundária. Nessas situações, não
se faz necessário o uso da força propriamente dito. A simples presença
policial, cuja ostensividade é exteriorizada pelo homem fardado, viatura
(caracterizada com cores e grafismos próprios) e equipamentos, é fator
inibidor de condutas irregulares.

Figura 5.3 - Presença policial.


62 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Diante dos mais variados acontecimentos diários, que interferem na


normalidade da ordem pública, qualquer pessoa pode ser submetida a uma
intervenção policial, emanada por meio de uma ordem legal, com o fim de
prevenir ou mesmo reprimir o cometimento de infrações administrativas ou
ilícitos penais.
A partir desse momento, tendo por fundamento os preceitos de polícia de
aproximação, e em estrita observância aos princípios da legalidade, necessidade
e proporcionalidade, serão empregados níveis de força compatíveis com os
níveis de comportamento da pessoa:
• Cooperação: a verbalização sempre será o primeiro procedimento a ser
adotado pela PMESP em qualquer intervenção policial, especialmente
nos casos em que há cooperação do interlocutor, como na maioria das
abordagens policiais de rotina.

Figura 5.4 - Verbalização com respeito, clareza e assertividade.

Quando, porém, o interlocutor apresenta comportamento não cooperativo,


caracterizado por (i) desobediência, (ii) resistência, (iii) agressão ou (iv) agressão
com risco à vida, o nível de força deverá ser correspondente à conduta da pessoa.
• Desobediência: comportamento refratário da pessoa envolvida sem
emprego de violência ou ameaça contra o policial militar. Nessa condição,
o nível de força empregado será a negociação, baseada em técnicas de
comunicação que visam ao convencimento da outra parte para acatar a
ordem legal emanada pelo policial militar.
Se, em hipótese alguma houver cooperação e caso as técnicas de
convencimento sejam ineficientes, o comportamento da pessoa pode vir a
desencadear a necessidade de controle físico (contato pessoal ou técnicas de
defesa pessoal) ou ainda, nos casos mais extremos, de uso de equipamentos

Manual de Fundamentos 63
USO DA FORÇA

de menor potencial ofensivo (tonfa, espargidor, etc.), quando estritamente


necessário e proporcional à reação da pessoa.

Figura 5.5 - Negociação.

• Resistência: comportamento dinâmico ou estático da pessoa envolvida,


normalmente com intuito de soltura, fuga ou para fazer valer a continuidade
de seus propósitos (interdição irregular de uma via pública, por exemplo),
sem emprego de violência ou ameaça contra o policial militar. Na
condição em que a verbalização e a negociação sejam insuficientes, o
nível de força empregado deverá ser o controle físico, caracterizado pelo
emprego de técnicas policiais ou de defesa pessoal para controlar, reduzir
a oposição e imobilizar o indivíduo, a fim de impedir o agravamento da
reação e garantir a segurança de todos (policiais militares, população e
pessoa imobilizada). A depender do comportamento ofertado, o nível
de força pode evoluir para o uso de equipamentos de menor potencial
ofensivo (tonfa, espargidor, etc.).

Figura 5.6 - Controle físico.

64 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

• Agressão: em situações mais hostis ao cumprimento da ordem legal,


caracterizadas pela oposição à ação policial com o emprego de violência
ou ameaça, podemos evoluir para a necessidade do emprego de
equipamentos de menor potencial ofensivo (tonfa, espargidor, arma
de incapacitação neuromuscular, etc.), aptos a reduzir a capacidade
combativa da pessoa. Esse nível de força somente se justifica quando a
verbalização, a negociação e o controle físico se mostrem insuficientes
para o restabelecimento da ordem.
Se entre as opções de intervenção policial, especialmente em ações
defensivas, eleger-se o uso do bastão tonfa como a mais adequada, o policial
militar deve cuidar para bem selecionar os pontos de contato e a intensidade
de uso do instrumento, minimizando riscos à vida e integridade da pessoa
oponente, de acordo com as variações da figura a seguir:

Áreas de Alto Risco:


Risco devem ser evitadas
pelo potencial de risco à vida ou por lesões
incapacitantes permanentes.

Áreas de Médio Risco:


Risco potencial de lesões
temporárias e, dependendo da força do
impacto, podem induzir lesões incapacitantes
permanentes.

Áreas de Baixo Risco:


Risco reduzem a capacidade
operativa do interlocutor, provocando lesões
temporárias recuperáveis a curto prazo.
Figura 5.7 - Áreas de contato.

• Agressão com risco à vida: em situações extremamente graves, em que


há o desencadeamento de ação criminosa com destacado potencial de
letalidade, sendo insuficiente ou inadequado o emprego dos demais níveis
de força, diante do risco iminente à vida do policial militar ou de terceiros,
pode fazer-se necessário o uso do último recurso disponível: a arma de
fogo.
Note-se que, no caso de resposta extrema, o autocontrole e a disciplina
do policial militar são essenciais para fazer cessar a injusta agressão, sem
excessos, na medida exata para impedir o agravamento da crise e propiciar o
pronto restabelecimento da ordem pública.

Manual de Fundamentos 65
USO DA FORÇA

Figura 5.8 - Uso da arma de fogo: último recurso.

Para proteger você precisa estar protegido: nas circunstâncias de


não cooperação, mantenha DISTÂNCIA DE SEGURANÇA e, sempre
que possível, FIQUE ABRIGADO em relação ao interlocutor, exceto
quando o uso das técnicas de controle físico e de equipamentos
de menor potencial ofensivo assim justifiquem uma aproximação
segura. Nesses casos, também, a SUPERIORIDADE NUMÉRICA é
condição imprescindível para a adequada resposta policial.

REFERÊNCIAS
GOLEMAN, D. Trabalhando com a Inteligência Emocional. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
MEDEIROS, F. A. Uso da Força na Polícia Militar: uma abordagem sobre os
mecanismos para redução da letalidade. 2013. (Mestrado Profissional em Ciências
Policiais de Segurança Pública e Ordem Pública) - Centro de Altos Estudos de
Segurança (CAES), São Paulo, 2013.
MEIRELLES, H. L. et al. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001.
PERÚ. Ministerio del Interior. Manual de Derechos Humanos Aplicados a la
Función Policial – Resolución Ministerial nº 952-2018-IN. Lima, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual de Controle
de Multidões da Polícia Militar (M-8-PM). 5. ed. São Paulo, 2018.

66 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Decreto estadual nº 46.039/01, de 23 agosto de 2001. Cria e


regulamenta o Sistema de Saúde Mental da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo I, Seção I, Número 111,
São Paulo, SP, 24 ago. 2001. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/norma/3436.
Acesso em: 10 set. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 9.628/97, de 6 de maio de 1997. Institui o Sistema de
Saúde Mental da Polícia Militar. Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder
Executivo I, Seção I, Número 107, São Paulo, SP, 7 maio 1997. Disponível em:
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1997/lei-9628-06.05.1997.html.
Acesso em: 10 set. 2020.

Manual de Fundamentos 67
“É melhor prevenir os crimes do que
ter de puni-los.”
Cesare Beccaria
PATRULHAMENTO
6

PREVENTIVO
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

Veremos neste capítulo os princípios que regem a atuação do policial militar


enquanto patrulheiro, para proteger as pessoas, fazer cumprir a lei, combater o
crime e preservar a ordem pública.
6.1 Finalidade do Patrulhamento Preventivo
Patrulhamento Preventivo é a ação policial-militar É a menor fração de
de policiamento ostensivo, executada rotineiramente recursos humanos,
por uma patrulha, também denominada Unidade de composta por um ou
Serviço (US), que, por meio da observação atenta em mais profissionais, a
pé ou embarcado(s),
relação ao ambiente patrulhado, visa, pela simples executando suas ações
presença, interferir positivamente na preservação em um determinado
da ordem pública e na percepção de segurança das território e integrada a
pessoas. um Centro de Operações.

Consiste basicamente na ação do policial militar em ver e ser visto,


propiciando a preservação de vidas, cuidados com o patrimônio e o combate à
criminalidade.
Quando executado de forma atenta, permite que pequenas alterações
no ambiente patrulhado sejam percebidas pelo policial militar, tais como
atitudes sob fundada suspeita ou mesmo incivilidades ou condutas inicialmente
inofensivas, mas que podem evoluir para a perturbação da ordem pública.

Figura 6.1 - Policiais militares em patrulhamento preventivo.

A partir da constatação dessas alterações no ambiente, o policial militar


pode intervir antecipadamente através da ação de presença ou da abordagem
policial (ações preventivas), dissuadindo a prática do delito por eventual infrator
da lei.
Além disso, o patrulhamento preventivo permite a repressão imediata

70 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

de delitos, uma vez que o crime será percebido pelo policial militar para, com
eficiência e profissionalismo, intervir na defesa da vida e do patrimônio.
Ainda que não haja alterações que necessitem de intervenção direta do
patrulheiro, a sua simples presença ativa garante visibilidade, o que promove a
tão almejada percepção de segurança na população.
6.2 Modalidades, Tipos, Programas e Processos
O policiamento ostensivo identificado pela tríade policial militar fardado,
viatura e equipamentos é praticado segundo critérios de organização, aqui
dispostos nas seguintes variáveis: modalidades, tipos, programas e processos.
As modalidades de policiamento referem-se ao modo peculiar de execução,
a saber: patrulhamento, postos de permanência, diligências e escoltas.
São exemplos de diligências realizadas pela Policia Militar:

• busca e apreensão de objetos;


• busca e captura de pessoas em flagrante delito;
• cumprimento de mandado judicial.

Os tipos de policiamento, por sua vez, são qualificadores das ações


policial-militares, previstos no Decreto nº 88.777/83 (R-200), com destaque ao
policiamento ostensivo geral (urbano e rural), de trânsito, ambiental, rodoviário
e de choque.
Como divisões dos tipos de policiamento existem os programas de
policiamento primários (Programa de Radiopatrulha e Programa de Força Tática),
com prioridade de desenvolvimento em relação aos demais, e os programas de
policiamento complementares (Programa de Policiamento Escolar, Programa de
Policiamento Comunitário, Programa de Policiamento de Trânsito e Programa de
Policiamento Rural).
Os processos de policiamento são os meios de locomoção através dos
quais é executado o policiamento ostensivo, a saber: a pé, motorizado (quatro e
duas rodas), montado, com cães, aéreo, em embarcação e em bicicletas.
6.3 Ênfase na Atuação Preventiva
A atuação preventiva, representada pela prevenção secundária, é a tônica
da atividade de policiamento ostensivo — é a atividade central do patrulheiro —,
por meio da qual as ações de presença da PMESP são facilmente reconhecidas
na sociedade.

Manual de Fundamentos 71
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

Assim, as patrulhas são distribuídas em setores


(parte de uma Cia PM ou áreas limítrofes entre Cias Espaços físicos territoriais
PM) e subsetores (menor fração territorial existente delimitados em um
período preestabelecido,
em uma Cia PM) de policiamento ou em Áreas de cujas características
Interesse de Segurança Pública (AISP) para agir induzem a prática de
preventivamente, através de rondas e vigilância, ações criminosas ou
em focos de vulnerabilidade social e econômica, incivilidades, gerando
intranquilidade pública e
de modo a desestimular a prática de infrações de riscos à integridade física,
qualquer natureza ou eventuais danos que possam à vida e ao patrimônio.
prejudicar a ordem pública.
A atuação preventiva, planejada de forma racional e científica, produz o
efeito de percepção de segurança na população, ou seja, as pessoas, percebendo
a ação de presença, sentem-se mais seguras em seus lares, nos comércios e nas
interações e relações comunitárias como um todo.
A PMESP, portanto, distribui seus ativos operacionais por meio do Plano
de Policiamento Inteligente (PPI), que consiste na análise crítica dos indicadores
criminais e na alocação de recursos (humanos e materiais) para atender as
peculiaridades territoriais e locais.
O PPI é estruturado por meio de Reuniões de Análise Crítica (RAC),
que, juntamente com outros fatores, tais como os indicadores demográficos e
socieconômicos, dão substância para a formulação dos Cartões de Prioridade
de Patrulhamento (CPP).
Representações gráficas resultantes do planejamento de nível operacional, consistindo na
descrição das atividades a serem desenvolvidas pelas US.

Também é necessário enfatizar que, além da ação de presença policial-


militar, a prevenção primária, dedicada à diminuição dos fatores ambientais
que podem levar ao cometimento de infrações (falta de iluminação pública,
mato crescido em terrenos e praças, etc.), atua como aliada no contexto da
segurança pública. Daí a importância do envolvimento dos vários órgãos públicos
e lideranças comunitárias na busca pela qualidade de vida das pessoas e bem-
estar social.
A atuação repressiva, embora também relevante no contexto de atuação
policial-militar, torna-se coadjuvante na atividade de policiamento ostensivo,
considerando que o policial militar atuará de forma mais responsiva no controle
da criminalidade e da paz social somente nas ocasiões em que o ilícito ou a
quebra de ordem ocorrer. Em todas as demais circunstâncias, o carro-chefe é a
atuação preventiva.

72 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

6.4 Postura do Policial Militar


A postura do policial militar nas ações rotineiras de polícia ostensiva e
preservação da ordem pública é um dos indicativos da qualidade do serviço
prestado à população, principalmente pela credibilidade e confiança transmitidas.
Assim, o patrulheiro deve adotar uma série de cuidados que vão desde a sua
apresentação pessoal, passando por aspectos relacionados à sua segurança, até
o tratamento e desfecho de circunstâncias de ordem policial. Por exemplo:
• atentar para a configuração correta e bem apresentável de seu fardamento
e dos equipamentos de proteção individual, em especial do colete de
proteção balística — ele pode salvar sua vida;
• quando em locais descobertos, utilizar sempre a cobertura policial-militar
— a imagem da Instituição depende de você;
• na atividade de policiamento ostensivo, não se distrair com conversas que
prejudiquem a plena atenção à atividade;
• quando em algum ponto de parada, não ficar de costas para a rua, tampouco
com a atenção voltada para dispositivos eletrônicos de comunicação
pessoal (smartphones);
• estar sempre atento a tudo o que ocorre ao seu redor — o perigo não
escolhe data, horário ou local;
• quando a viatura estiver estacionada, permanecer do lado de fora, em
posição marcial, sem apoiar-se no veículo ou em outros anteparos;

Figura 6.2 - Policiais militares postados de forma adequada.

• cuidar da sua comunicação no contato com a população, evitando gírias e


expressões agressivas — lembre-se: você representa a Força Pública do
Estado;
• jamais manusear a sua arma ou equipamentos de menor potencial ofensivo
a não ser em circunstâncias em que o uso da força assim justifique;

Manual de Fundamentos 73
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

REGRA:
Arma no coldre com a presilha fechada.

• no atendimento de ocorrências, colocar-se no lugar do solicitante —


ele tem um problema, espera uma solução adequada e você precisa
atendê-lo da melhor forma;
• na solução das ocorrências, observar sempre o cumprimento das leis, o
uso da melhor técnica/melhor procedimento operacional e o bom senso,
indicando o desfecho conveniente para cada conflito.
6.5 Cuidados do Policial Militar Patrulheiro
O policial militar detém grande visibilidade durante a execução do
patrulhamento preventivo e, por isso, deve tomar cuidados com a segurança
individual e dos demais integrantes da patrulha.
Reside neste ponto o conceito de segurança pessoal, que é o conjunto
de medidas, ativas ou não, adotadas pelo policial militar a fim de garantir a
proteção da vida e integridade física própria (segurança individual) e dos demais
componentes de sua equipe (segurança coletiva).
Como forma de melhor obter segurança, o patrulheiro deve procurar
superfícies onde, diante de uma emergência policial, possa buscar abrigo ou
cobertura.
Cobertura:
Superfície capaz de esconder o policial militar, mas não oferece proteção física segura.

Abrigo:
Superfície que protege o policial militar de eventuais disparos.

Também é de suma importância que o patrulheiro empregue o conceito


de Segurança 720° (ou Omnidirecional), que consiste no plano imaginário ao
redor do policial militar destinado a prevenir ameaças que possam advir de
todos os lugares ao seu redor, incluindo andares superiores, porões, sótãos,
janelas, palafitas, escadas, etc.
Recebe este nome para criar a ideia de cobertura representada por 360°
do eixo horizontal, somados aos 360° do eixo vertical, ou seja, até onde deve
alcançar o campo de observação, tanto abaixo como acima e às laterais.

74 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 6.3 - Plano imaginário da segurança 720°.

Outro fator que determina a segurança do policial militar são os chamados


níveis de alerta, correspondentes ao preparo, físico e mental, que oferecerá
capacidade de identificar corretamente os riscos da intervenção que se pretende,
caracterizados por:
(a) nível de distração: o agente se distrai com o que está ocorrendo ao redor
do sítio de atuação. Pode ocorrer em razão de fadiga física e mental;
(b) nível de atenção: estado em que o agente busca identificar riscos e perigo
durante todo o tempo. Deve ser mantido de forma permanente, em
especial durante o serviço policial-militar;
(c) nível de segurança: o agente possui plena consciência da existência de
determinado risco ou perigo. Em virtude de sua atenção, o policial é capaz
de adotar as medidas mais adequadas para enfrentar o risco percebido.
O policial militar também deve observar cuidados com sua segurança
pessoal enquanto estiver de folga, uma vez que, geralmente, está sozinho, fator
que o torna mais vulnerável às ameaças.
Os procedimentos de segurança na chegada e saída de sua residência, bem
como nos deslocamentos, são de suma importância para impedir a vitimização
do policial militar, preservar a sua vida e integridade física, bem como a de seus
familiares.
Entre as condutas que visam proteger o policial militar, destacam-se:
• avaliação das condições da rua antes de abrir os portões para entrada e
saída da residência;
• ao acessar o transporte público, observar seu interior e verificar se há algum

Manual de Fundamentos 75
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

aspecto de anormalidade, além de buscar posicionar-se, preferencialmente


em pé, em algum lugar ao fundo do veículo;
• quando dirigindo, manter distância dos outros veículos, de forma a
possibilitar a execução de manobra evasiva, se necessário.
6.6 Equipamentos de Proteção Individual
O uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é
fundamental, com destaque ao colete de proteção balística, como medida
essencial para a salvaguarda da vida e da integridade física individual.
Por definição do Ministério do Trabalho, é todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado
pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde
no trabalho.

Figura 6.4 - Policial militar ajustando o colete de proteção balística.

O Regulamento de Uniformes da Polícia Militar (R-5-PM) prevê o colete


de proteção balística como peça de uso obrigatório que compõe o uniforme de
Policiamento Motorizado Quatro Rodas e a Pé (B-1) e Policiamento Motorizado
Duas Rodas (B-2).
O seu uso correto, no tamanho apropriado e bem ajustado, sem objetos
rígidos colocados sob ele (láureas, caneta, objetos guardados nos bolsos da
camisa, etc.), representa a proteção do patrulheiro.
Também são considerados EPIs o cinturão preto com seus complementos
e, no caso específico do policial militar motociclista, o capacete e a jaqueta de
motociclista, as botas e as luvas respectivas. Igualmente, para os policiais militares
que atuam no controle de multidões, é previsto o exoesqueleto operacional.

76 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 6.5 - Exoesqueleto para o controle de multidões.

6.7 Trato com o Público


O trato do policial militar com o público, ou seja, com as pessoas
destinatárias dos serviços policiais, deve ser pautado em valores e condutas
ético-morais que vão além da profissão em si. É, antes de tudo, uma relação de
respeito mútuo e de boa educação cultuadas em todas as interações sociais.
O policial militar deve dirigir-se às pessoas com sentimento de reciprocidade
— tratá-las exatamente como gostaria de ser tratado. Ser gentil e prestativo
quando solicitado para prestar informações, agradecer o cidadão ao final de uma
abordagem policial, pronto oferecer-se para prestar apoio quando verificada
alguma necessidade ou risco à pessoa, mostrar-se solidário com aqueles que
precisam da nossa assistência, em especial nas situações complexas — são
algumas iniciativas que agregam valor à qualidade dos serviços prestados e
elevam o bom conceito da PMESP.

Figura 6.6 - Interação com o público.

Valores insculpidos em nossos regulamentos são a base da relação

Manual de Fundamentos 77
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

pretendida, a exemplo do profissionalismo, civismo, honestidade e respeito à


dignidade humana. O policial militar tem o dever de agir, sobretudo quando
do restabelecimento da ordem ou da repressão à prática de ilícitos, todavia a
atuação enérgica, necessária ao cumprimento de muitas missões, não deve ser
desrespeitosa e nem traduzida em todas as circunstâncias de interação com o
público.
Complementarmente, também se espera do policial militar em sua atividade
rotineira de policiamento ostensivo a moderação, que nada mais é que a busca pelo
equilíbrio, com total isenção de ânimos, sem precipitação ou intolerância de qualquer
ordem, sem discriminação social — com senso de responsabilidade em relação à causa
pública.
6.8 Abordagem Policial-Militar
A abordagem policial consiste na ação do policial militar direcionada a uma
pessoa ou grupo de pessoas, com o objetivo de exercer a fiscalização de polícia
(polícia administrativa), averiguação da atitude da pessoa sob fundada suspeita
ou detenção de um infrator da lei (essas últimas como atos de polícia judiciária).
A busca pessoal e a vistoria veicular são meios pelos quais o policial militar
procura por objetos ilícitos (armas, drogas ou outros que constituam produto de
crimes, tais como roubo, furto, etc.).

Figura 6.7 - Abordagem policial-militar.

A abordagem deve ser orientada, sobretudo, pelo respeito à dignidade


da pessoa humana, legalidade, proporcionalidade, necessidade e
conveniência.

78 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Podendo ser compreendida como “a hora da Refere-se aos 15


verdade”, é o momento mais crítico de interação da segundos do primeiro
PMESP com o público e, a despeito das medidas legais que encontro do cidadão
devem ser adotadas em consequência da abordagem, com o patrulheiro,
que determinará
seja em caráter de polícia administrativa ou judiciária, a impressão que
dar-se-á de forma técnica e impessoal, com respeito formará sobre toda a
à dignidade da pessoa humana, conduta que garante PMESP.
legitimidade à atuação.
A postura empática do policial militar nesse momento é essencial, pois,
percebendo a abordagem sob a ótica da pessoa abordada, compreenderá a
relevância de esclarecer que esta ação é procedimento preventivo que visa à
segurança de todos.
A PMESP, em conjunto com o Instituto Sou da Paz, desenvolveu o programa
Abordagem Legal, em que se percebeu que a abordagem policial é muito mais
do que um procedimento: trata-se de uma comunicação que se estabelece,
ainda que em um momento de tensão.
Daí a importância de esclarecer a pessoa sobre os motivos da abordagem,
tranquilizá-la durante o ato e, em especial, agradecê-la ao final pela colaboração.
“Em uma abordagem de atuação operacional, o policial prende um infrator
ou faz um amigo”.

É necessário quebrar o paradigma de que a abordagem visa tão somente


“prender bandido” ou “apreender drogas e armas”.
Trata-se, antes de tudo, de uma estratégia de prevenção, que auxilia sim
no combate à ilicitude, mas também mostra para a população que a polícia está
atenta, está nas ruas.
6.9 Posição do Armamento
A arma de fogo é uma das ferramentas do policial militar para servir e
proteger a sociedade e a si próprio, e seu emprego representa o último estágio
do uso seletivo da força.
O emprego de arma de fogo somente pode ocorrer com estrita observância
aos requisitos da legalidade, necessidade, proporcionalidade, oportunidade e
qualidade.

Manual de Fundamentos 79
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

Ainda que a decisão pelo emprego da arma de fogo caiba ao policial


militar, como última instância para a preservação da vida e integridade física,
o ato de empunhar a arma estará presente na rotina do patrulheiro, sendo que
a posição da arma deve obedecer a critérios preestabelecidos, de acordo com
as circunstâncias que se apresentarem:
(a) Posição normal:
É a regra de emprego. O armamento permanece no coldre com a presilha
abotoada, travado (nos casos de pistola), inclusive enquanto o policial militar
estiver embarcado em viatura.
Para as armas portáteis (submetralhadora, espingarda e fuzil), esta posição é
caracterizada pelo armamento preso à bandoleira e solto ao longo do corpo.
(b) Posição de saque:
Específica para a arma de porte (pistola), a arma permanece no coldre com a
presilha desabotoada, e o policial militar coloca sua mão forte sobre a coronha,
pronto para sacá-la.
Utilizada, por exemplo, durante abordagem de pessoas sob fiscalização de
polícia.

Figura 6.8 - Posição de saque.

(c) Posição “Sul”:


Empregada tanto para armamento de porte como portátil, é caracterizada
pela empunhadura da arma junto ao corpo com o cano voltado para baixo,
perpendicular ao solo. Reconhecida como uma postura intermediária,
ostensiva e inibidora, sem manifestar agressividade.
Demonstra que o policial militar está em condições de reagir rapidamente. É
utilizada, por exemplo, em abordagem de pessoas sob fundada suspeita.

80 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 6.9 - Posição "Sul".

(d) Posição de Alerta:


O cano da arma está voltado para o perigo (paralelo ao solo), mas sem
comprometer a visão periférica do policial militar. No caso de pistola, com a
arma ainda próxima ao corpo, o policial militar com os cotovelos flexionados e
formando um ângulo de aproximadamente 90°. Utilizada para deslocamentos
rápidos e, na técnica de varredura “olhada rápida”, permite que se efetue
eventual disparo a partir dessa posição.
(e) Posição de Tiro (“3º Olho”):
O aparelho de pontaria da arma fica na altura dos olhos, com o cano e olhar
voltados para o perigo, acompanhando o campo de visão do policial militar
(para onde o policial olhar, o cano da arma estará apontado). Dedo fora do
gatilho. Empregada em abordagem a infrator da lei, quando o perigo é atual
ou iminente.

Figura 6.10 - Armamento em posição de tiro.

Manual de Fundamentos 81
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

6.10 Acompanhamento Embarcado


Acompanhamento é o ato do policial militar que segue no encalço de
infrator da lei ou pessoa sob fundada suspeita que, em geral por cometimento de
crime ou por irregularidade administrativa na condução do veículo, empreende
fuga.
Nesse ponto é imperioso destacar que nem sempre quem empreende
fuga é um criminoso em potencial. Muitas vezes, o motivo da evasão dá-se
por circunstâncias administrativas mais simples, como não estar portando
a Carteira Nacional de Habilitação ou pelo não pagamento do licenciamento
do veículo, o que reforça ainda mais os cuidados dos patrulheiros durante o
acompanhamento.
O policial militar deve comunicar durante todo o tempo, via rádio,
informações mínimas (características do veículo e dos ocupantes, sua localização
e sentido tomado) que possam subsidiar os demais patrulheiros a promover o
cerco, com a devida coordenação.
Ser patrulheiro exige técnica, conhecimento e treinamento, para que
a atuação do policial militar seja sempre orientada, com segurança,
pela preservação da vida e dignidade da pessoa humana, legalidade,
proporcionalidade, necessidade e conveniência.

O procedimento é mais ainda imprescindível nos casos de acompanhamento


a motocicletas, considerando-se que o risco de acidentes nessas situações é
extremamente elevado.

Figura 6.11 - Policiais militares durante acompanhamento embarcado.

É terminantemente proibido o disparo de arma de fogo nessas condições,


ainda que os policiais militares tenham sido agredidos, devendo o condutor

82 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

da viatura aumentar a distância do veículo acompanhado se houver disparo


efetuado pelos infratores.
Além de não haver fundamentação técnica, o disparo de arma de fogo
contra pessoa em fuga não faz com que ela pare ou se entregue. Ao contrário,
induzirá o infrator a adotar comportamento ainda mais evasivo.
O disparo a partir de um veículo em movimento enfrentará inúmeras
variáveis que não dependem do policial militar, mas que interferem diretamente
em sua qualidade e efetividade, tais como:
(a) não há controle ou previsibilidade sobre o pavimento em que a viatura se
desloca, existindo buracos, lombadas, irregularidades, etc.;
(b) não há controle ou previsibilidade sobre as ações tomadas pelo motorista
da viatura durante sua condução em velocidade, podendo frear, acelerar
ou efetuar outras manobras bruscamente;
(c) não há controle ou previsibilidade sobre as ações tomadas pelo motorista
do veículo em fuga.
Nas figuras 6.12 e 6.13, temos a variação aproximada da trajetória do
projétil representada por uma viatura em acompanhamento.
Note-se como se comporta o projétil após um disparo efetuado sob
a variação de cerca de 11° no cano da arma (2 metros para qualquer um dos
lados e alturas, após 10 metros percorridos), o que pode ser provocado por um
pequeno solavanco da viatura.
Seguindo o raciocínio, na medida em que a distância a ser percorrida pelo
projétil aumenta, o desvio também aumentará.

Figura 6.12 - Possível variação vertical do projétil.

Manual de Fundamentos 83
PATRULHAMENTO PREVENTIVO

Figura 6.13 - Possível variação lateral do projétil.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento
para as polícias militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Brasília, 1983.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO. Norma Regulamentadora 6 (NR 6).
Equipamento de Proteção Individual. Brasília, 1978. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 20 jul.
2020.
CARLZON, J. A hora da verdade. São Paulo: Sextante, 2008.
MIGUEL, M. A. A. Polícia e Direitos Humanos: Aspectos Contemporâneos. 2006.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Centro Universitário Eurípides de Marília,
Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, Marília, 2006.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. A abordagem policial-
militar sob a ótica do abordado. (Súmula ICC nº 275). Instrução Continuada do
Comando. São Paulo, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Abordagem de
Pessoa(s) a Pé. (Processo 1.01.00). Procedimento Operacional Padrão. São Paulo,
2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Abordagem policial... E
se fosse com você. (Súmula ICC nº 274). Instrução Continuada do Comando. São
Paulo, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Acompanhamento de
motocicleta. (Súmula ICC nº 262). Instrução Continuada do Comando. São Paulo,
2019.

84 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Acompanhamento e


cerco a veículo. (Processo 4.01.01). Procedimento Operacional Padrão. São Paulo,
2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz N° PM3-
001/02/20, de 6 de março de 2020. Normas para o Sistema Operacional de
Policiamento PM - NORSOP. São Paulo, 2020. Disponível em: http://www5.intranet.
policiamilitar.sp.gov.br/unidades/3empm/legislacao/diretrizes/PM3_005_02_20.
pdf. Acesso em: 28 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Disparo de arma
de fogo em acompanhamento. (Súmula ICC nº 14). Instrução Continuada do
Comando. São Paulo, 2009.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual do “Tiro
Defensivo na Preservação da Vida – Método Giraldi” (M-19-PM). São Paulo,
2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM4-001/1.2/18, de 22 de agosto de 2018. Utilização de armas portáteis. São
Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Procedimentos de
segurança pessoal do policial militar de folga. (Súmula ICC nº 223). Instrução
Continuada do Comando. São Paulo, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Regulamento de
Uniformes da PMESP (R-5-PM). São Paulo, 2018.

Manual de Fundamentos 85
Atender com seriedade, profissionalismo
e receptividade. Exatamente como você
gostaria de ser atendido.
ATENDIMENTO DE
7

OCORRÊNCIAS
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

Neste capítulo estudaremos a prestação dos serviços de segurança


pública na sua forma mais conhecida, qual seja, no atendimento de ocorrências
despachadas pelo COPOM, quando da solicitação proveniente do telefone de
emergência "190".
7.1 Deslocamento Policial-Militar
Todo deslocamento com viatura policial-militar (4 ou 2 rodas), seja em
patrulhamento, deslocamento para atendimento de ocorrência de qualquer
gravidade ou deslocamento de emergência, deve obedecer a critérios de direção
preventiva (identificar, prever e evitar acidentes).
Use sempre o cinto de segurança quando estiver embarcado. No
caso de acidentes, comprovadamente, ele diminui a incidência de
lesões graves ou mortes. Se bem treinado pelo policial, o uso em
nada prejudica o desembarque da viatura.
Seu uso é ainda mais importante nos casos de viaturas equipadas
com dispositivo "air bag" e blindagem nos vidros dianteiros, pois
esses equipamentos possuem eficácia somente quando atuam em
conjunto. Em caso de uma colisão frontal, por exemplo, o choque
dos policiais contra o vidro blindado (irrompível) potencializa o risco
a lesões e morte.

Entende-se por direção policial preventiva o ramo da direção defensiva


que se destina a otimizar os processos de condução de veículo de emergência,
visando ao comportamento técnico e seguro do policial militar, de caráter
duradouro e permanente, capaz de disseminar a cultura de segurança.

Figura 7.1 - Unidade de Serviço em deslocamento com motocicletas.

Em patrulhamento, o deslocamento deve ser realizado com velocidade


compatível com a via, entre a velocidade máxima e mínima permitidas (que

88 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

consiste na metade da velocidade máxima), de forma a possibilitar que os


patrulheiros observem atentamente o ambiente patrulhado ao seu redor e
percebam qualquer alteração. Não se pode esquecer também da obediência às
normas de trânsito, tais como o respeito à sinalização horizontal e vertical, bem
como a cordialidade, cedendo passagem aos demais usuários da via.
O deslocamento para ocorrência deve ser precedido de identificação da
origem da informação e o local aonde se deseja chegar, fazendo-se um esboço
mental do itinerário a ser percorrido.
Ainda que a viatura policial-militar goze
Nos termos do artigo 29, de prioridade no trânsito, livre circulação,
VII, do Código de Trânsito estacionamento e parada quando em serviço
Brasileiro, a prioridade se de urgência, o motorista deve conduzi-la com
justifica somente quando em profissionalismo e razoabilidade, executando
serviço de urgência e com a
identificação por dispositivos manobras sob os critérios de conveniência,
regulamentares de alarme oportunidade e segurança (COS), além do uso
sonoro e iluminação vermelha obrigatório e ininterrupto dos sinais luminosos,
intermitente. de dia ou à noite, em todos os deslocamentos e
estacionamentos preventivos.
Os demais integrantes da patrulha devem auxiliar o motorista quanto à
segurança do deslocamento.
7.2 Comunicação com o COPOM
A comunicação do patrulheiro com o COPOM é feita pela rede-rádio, que
permite o uso da frequência por somente um interlocutor de cada vez, de forma
que todos os sintonizados naquela frequência tenham condições de ouvi-la.

Figura 7.2 - Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM) da Capital.

Manual de Fundamentos 89
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

Em virtude disso, a comunicação deve ser clara, objetiva e concisa,


primando pela agilidade, sem prejudicar o conteúdo e compreensão da
mensagem, deixando a rede de comunicações livre o quanto antes para outras
emergências.
Especialmente em situações complexas e urgentes, o policial militar deve
manter a calma durante a comunicação, evitando elevar o tom de voz, para
que a mensagem seja audível, permitindo o nível de alerta dos demais policiais,
porém sem gerar comoção ou desespero.
O uso do alfabeto fonético da Organização das Nações Unidas (ONU) e do
Código “Q” são ferramentas que padronizam e auxiliam a comunicação.
7.3 Cuidados na Aproximação
A chegada ao local da ocorrência é uma das fases mais críticas do
atendimento, independentemente da classificação de gravidade inicialmente
relacionada ao fato. A premissa da segurança individual e coletiva assume
caráter fundamental nesse momento, e deve nortear todas as ações dos policiais
militares.
Desse modo, algumas medidas de mitigação do risco devem ser adotadas,
tais como:
• a parada da(s) viatura(s) antes do local propriamente dito;
• o aguardo das demais patrulhas em reforço permitindo resposta com
superioridade de numérica e/ou de meios;
• estabelecimento preliminar da área de segurança e área de perigo.
Também devem ser levados em consideração os conceitos de perigo
imediato e cone da morte.
Espécie de perigo imediato, em geral Ponto, local ou superfície de um
portas e janelas, por onde possa surgir ambiente de onde possa surgir uma
ameaça física contra o policial. ameaça física contra o policial.

7.4 Cerco Policial-Militar


Cerco policial é a operação policial-militar que, programada ou emergencial,
visa conter de forma legal, técnica e eficiente a fuga de infrator da lei ou pessoa
que tenha o propósito de impedir a fiscalização de polícia.
O cerco policial programado é aquele para o qual, anteriormente à ação,

90 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

é executado planejamento baseado em levantamento de dados do sítio onde


poderá ocorrer o cerco. Por exemplo, no caso de operação bloqueio, em que o
planejador estabelece previamente onde as viaturas deverão ser dispostas para
evitar que a pessoa obtenha sucesso em eventuais tentativas de fuga.
Também pode haver o cerco ocasional durante uma ação policial rotineira,
quando, por exemplo, infratores se homiziam em edificações ou se escondem
em matagais, ou ainda em acompanhamento de veículo.
É imprescindível em uma operação de cerco policial-militar que haja
coordenação por parte do CFP ou CGP, com comunicação via rádio que possibilite
o posicionamento adequado das equipes, segurança dos policiais militares e
proteção de pessoas inocentes.
7.5 Quando Pedir Apoio?
Uma das diretrizes básicas do sistema operacional é a autonomia
operacional. A atuação como polícia ostensiva exige alta capacidade de
adaptação às circunstâncias contingenciais, sazonais e emergenciais, para que a
PMESP esteja sempre presente, de forma dinâmica, onde e quando for preciso.
Diante das mais variadas ocorrências atendidas pela PMESP, o policial deve
analisar pontualmente cada uma delas e avaliar a necessidade de solicitar apoio,
bem como qual o tipo de apoio necessário.
Por regra, a solicitação de apoio deve ocorrer quando:
(a) houver inferioridade numérica por parte dos policiais militares;
(b) os meios materiais e os equipamentos não forem suficientes ou forem
inexistentes para a devida atuação;
(c) a patrulha se deparar com ocorrências críticas;
(d) a equipe no local dos fatos entender necessário.
Os escalões de supervisão, principalmente CFP e CGP, também deverão
decidir pelo apoio coordenado nas circunstâncias complexas com envolvimento
dos efetivos supervisionados.
Circunstâncias muito comuns que obrigam o policial militar a solicitar apoio
são aquelas em que ele se encontra “de folga”, estando fardado ou em trajes
civis, seja ou não na condição de envolvido, quando presencia ou é acionado por
outras pessoas para dar resposta ao evento.
Nessas situações, o policial militar deve procurar um ponto estratégico

Manual de Fundamentos 91
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

para observar os fatos, estando protegido enquanto aciona o COPOM. Deverá


oferecer reação como exceção, ou seja, somente quando não houver outra
alternativa e riscos à vida ou integridade física sua ou de outrem.
7.6 Área de Segurança e Área de Perigo
São áreas que devem ser estabelecidas, ainda que mentalmente, pelo
policial militar sempre que houver intervenção policial e o escalonamento da
força for atual ou iminente.
(a) Área de Segurança:
Local mediato onde os policiais militares estão mais protegidos de riscos
e posicionados a uma distância segura em relação ao suposto agressor, com
ampla visibilidade, de modo a possibilitar intervenções coordenadas. Possui
algumas características essenciais: é isolada, afastada, segura e própria para a
verbalização. Nas figuras a seguir, a área de segurança está demarcada na cor
verde:

Figura 7.3 - Infrator sai do veículo após colisão.

Figura 7.4 - Infrator segue orientações dos patrulheiros.

92 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 7.5 - Infrator sai de ambiente confinado.

(b) Área de Perigo:


Local em que o suposto agressor está localizado ou confinado, havendo
possibilidade de contato físico ou visual com o policial militar e, por isso, com
grau de risco elevado e possível comprometimento à segurança do agente da
lei.
O policial militar deve evitar ao máximo adentrá-la, optando pela
verbalização como recurso para convencer o infrator a deixar a área de perigo e
abandonar a arma (se houver), seguindo as orientações para estar em condições
adequadas para abordagem e detenção.
7.7 Verbalização
A verbalização é recurso fundamental na intervenção policial, que garante
a autoridade do policial militar pelo emprego da comunicação verbal (podendo
haver o auxílio de gestos).
Possui especial relevância como uma das fases iniciais do uso seletivo da
força, sendo empregada logo após a presença física do policial militar, e anterior
às ações que levem ao contato físico com a pessoa interlocutora ou o uso de
equipamentos de menor potencial ofensivo.
Em regra, numa abordagem policial, a verbalização deve ser iniciada com uma das frases:

"Cidadão! É a Polícia!" ou "Cidadão! Pare! É a Polícia!."

Ao término do contato com o abordado, não havendo nenhuma decorrência, o policial deve
agradecer pela colaboração, reforçando com os dizeres:

"Sou (Posto/Graduação e Nome). Conte sempre com a Polícia Militar."

Manual de Fundamentos 93
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

Por meio da verbalização, com respeito, clareza e assertividade, o policial


militar inibe ações ou reações de pessoas, infratoras ou não, que podem significar
ameaça ao próprio policial militar e aos demais cidadãos.
Quando a interação for com pessoa que ofereça cooperação às instruções
do policial militar, a comunicação deve ser pausada, educada, clara e objetiva.
Ao contrário, se a pessoa oferece resistência ou se trata de infrator da lei, a
firmeza e a energia utilizadas na linguagem devem ser suficientes para persuadi-
la a cooperar com as instruções. Quando corretamente utilizada, a verbalização
minimiza os riscos e amplia a efetividade da intervenção.
7.8 Busca e Varredura em Ambientes
Têm o objetivo de identificar visualmente um determinado ambiente
(aberto ou fechado) ou local, a fim de manter seu controle quando a observação
direta não for suficiente ou quando a situação for considerada de elevado risco.
Por isso, devem ser executadas, preliminarmente, sem que o patrulheiro adentre
ao ambiente ou local de forma definitiva.

Figura 7.6 - Simulação de varredura.

Para os ambientes ou locais fechados, as principais técnicas de varredura


utilizadas na PMESP são:
(a) tomada de ângulo (fatiamento): abertura do campo visual, distanciando-
se das paredes, a fim de dominar a área não visualizada anteriormente,
mantendo-se abrigado ou embarricado;
(b) olhada rápida: rápida olhada do local, retornando imediatamente para o
local de proteção. Utilizada quando não for possível realizar a tomada de
ângulo, normalmente em função do espaço reduzido onde se encontra o
policial militar;
(c) emprego de espelho: espelho fixado em uma haste, por meio do qual o

94 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

policial militar visualiza o interior do ambiente, enquanto permanece


embarricado/abrigado, sem se expor ao perigo.
Essas técnicas devem ser utilizadas em todos os tipos de terreno e em
todas as situações de intervenção, como progressão no terreno, transposição
de obstáculos e deslocamento em ambientes diversos (local aberto, fechado
ou íngreme, incluindo suas possíveis particularidades, como muros e escadas),
priorizando sempre a atenção aos pontos de perigo existentes (perigo imediato e/
ou cone da morte), observando-se os procedimentos operacionais padronizados
no Processo 5.13.00.
Para as buscas e varreduras feitas em ambiente ou local aberto e de
alto risco, o patrulheiro deve empregar, também, as técnicas de Conduta de
Patrulha, com deslocamento por lanços, aproveitando os locais de proteção
existentes para cobertura e abrigo, de forma sistêmica e atrelada à ação dos
demais componentes da patrulha, como pode ser verificado no Manual de
Conduta de Patrulha em Local de Alto Risco (M-21-PM).
É importante destacar que, ao se iniciar um procedimento de busca
e varredura, pressupõe-se uma condição precedente de perigo, ou com
expectativa de risco à integridade do patrulheiro em um nível mais elevado.
Por isso, a forma de emprego da arma de fogo deve ser condizente com tal
circunstância, motivo pelo qual é indicada a utilização da arma na posição 3º
olho (figura 6.10) enquanto perdurar o procedimento.
Um exemplo típico de busca e varredura é o adentramento a locais de
chamado emergencial, com a notícia de cometimento de infração penal,
especialmente se o delito pressupõe o emprego de arma de fogo, como o roubo
a residência;
7.9 Busca Domiciliar
O domicílio é asilo inviolável, protegido pela Constituição Federal de 1988,
sendo que ninguém pode nele adentrar ou permanecer sem o consentimento
do morador, com exceção às situações de flagrante delito, desastre, prestação
de socorro ou determinação judicial.
Como regra, a busca domiciliar deve ser precedida de determinação
judicial expedida por autoridade competente, cabendo aos policiais militares,
mesmo em situações emergenciais, manter o cerco ou monitoramento do local
até sua expedição, salvo nas circunstâncias previstas expressamente em lei.

Manual de Fundamentos 95
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

Nos casos de flagrante delito, a entrada do


policial militar no domicílio, sem mandado judicial, Note-se que não podem
estará amparada somente se estiverem presentes ser consideradas
fundadas razões, também denominadas pelo Supremo justas causas as provas
sabidamente ilícitas,
Tribunal Federal como justas causas, baseadas em denúncias anônimas,
fatos observados pessoalmente, registradas com afirmações recebidas
auxílio de equipamentos de gravação, ou relatadas por por “informantes” e
outros elementos que
testemunhas idôneas, tudo previamente registrado em não possuem força
BOe (ou BO/PM), antes do desencadeamento da ação probatória em juízo.
policial-militar.
O consentimento do morador, desde que seja plenamente capaz, também
autoriza a busca domiciliar sem mandado judicial, devendo o policial militar
atentar para o registro prévio da autorização, com assinatura em BOe do
responsável pelo domicílio, e por áudio ou vídeo, se possível. No entanto, este
consentimento é retratável, e o policial militar deve se retirar imediatamente
do interior da residência se o morador manifestar sua revogação.
Se houver mais de uma pessoa responsável pelo consentimento, a
autorização deve ser conferida por todas elas, optando-se por não ingressar na
moradia se houver divergência. O mesmo ocorre para as moradias plurifamiliares
(cortiços ou pensões), quando a autorização concedida deve restringir-se ao
espaço privativo ocupado pela pessoa que consentiu.
Sem justificativa prévia, possível de ser demonstrada após a busca
domiciliar, ainda que o objeto ilícito seja encontrado, a diligência é
arbitrária e ilegal, e por isso todas as provas nela colhidas ou que
decorram da ação serão consideradas ilícitas, tornando o trabalho e
esforço dos policiais militares infrutíferos, além da responsabilidade
penal e administrativa que recairá sobre eles.

7.10 Acesso a Dados de Aparelho Celular


Os dados e informações obtidas por acesso a aparelho de telefonia celular
e conversas em aplicativos de mensagens eletrônicas só serão lícitos quando
houver ordem judicial ou consentimento do proprietário, nos termos da Lei nº
9.296/96.
O sigilo das informações pessoais também é garantido pela Constituição
Federal de 1988, e, por isso, todas as informações ou provas obtidas em razão
do acesso não autorizado do policial ao aparelho celular, mesmo que pertença
a infrator da lei, não possuirão valor probatório, além de incorrer em crime o
policial militar que o faz.

96 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Também são consideradas provas ilícitas as informações colhidas por


conversa telefônica ouvida pelo policial com recurso do viva-voz, sem que haja
consentimento do proprietário do aparelho.
O procedimento adequado, quando houver suspeita de que o aparelho
contenha informações importantes à elucidação do crime, é a sua apreensão
junto ao DP para que seja periciado durante a fase investigatória.
Contudo, a Identificação Internacional de Equipamento Móvel (IMEI) não
é considerada dado pessoal, mas sim do aparelho, sendo possível, portanto,
extrair o número correspondente sem a necessidade de prévia autorização
judicial. Nesse aspecto, cabe lembrar que o detentor do aparelho não é obrigado
a fornecer sua senha de acesso.
Atuação legalista e técnica são a essência da prestação de serviço da Polícia
Militar.

7.11 Gestão de Incidentes Policiais Críticos


Crise é um episódio grave, desgastante, conflituoso, de elevado risco, em
que a perturbação da ordem social pode ameaçar ou causar danos a indivíduos
ou a grupos integrados na coletividade, exigindo, para tanto, atuação célere e
racional dos organismos policiais.
O incidente policial crítico coloca em risco as vidas das pessoas, o
patrimônio e o meio ambiente, impactando na percepção de segurança da
sociedade. É classificado em dinâmico ou estático, a seguir conceituados.
Ambos necessitam do gerenciamento técnico e profissional para identificar,
obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e gestão do
incidente, tendo como objetivo a preservação das vidas e a aplicação da lei.
7.11.1 Incidentes Policiais Dinâmicos

São aqueles eventos cujos impactos não se limitam a um espaço geográfico


determinado, e os atores se encontram em movimento, dificultando medidas
iniciais de controle como contenção e isolamento. (RACORTI, 2019).
Por sua natureza, são frequentes na realidade das cidades paulistas,
podendo ser citados, como exemplo, a ocorrência de “roubo em andamento”
e o acompanhamento de veículo, exigindo gerenciamento e coordenação por
parte dos policiais militares em função de comando e supervisão.
Necessitam de medidas rápidas e imediatas, a serem implementadas pelos

Manual de Fundamentos 97
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

policiais militares que oferecem o primeiro atendimento. Nesta fase, figura como
gerente da crise o policial militar de maior posto ou graduação mobilizado,
frequentemente o CFP ou CGP.
7.11.2 Incidentes Policiais Estáticos

São eventos que se limitam a um espaço geográfico determinado,


permitindo a adoção de medidas iniciais de contenção e isolamento a serem
levadas a efeito pelos primeiros policiais militares que atenderem a ocorrência.
Não há necessidade, a priori, de implementação de uma alternativa tática
emergencial para sua solução. (RACORTI, 2019).
São exemplos desses incidentes as ocorrências com reféns, com artefatos
explosivos, envolvendo pessoas com propósitos suicidas, etc.
De toda forma, espera-se que o policial militar, ao se deparar com um
incidente policial estático, analise o fato de modo a colher o maior número
possível de informações, tais como número e características dos infratores e
sua motivação, número e características dos reféns, local de confinamento,
armas de fogo/brancas, e adote as medidas de resposta imediata de controle e
condução da crise, que são conter, isolar e iniciar a primeira intervenção.
Neste sistema de gerenciamento de crise, o emprego de alternativas táticas
somente será levado a efeito pelo GATE: negociação, uso de técnicas de
menor potencial ofensivo, tiro de comprometimento e invasão tática.

7.12 Ocorrências com Reféns


Refém é a pessoa tomada e mantida cativa, sob ameaça ou violência, como
segurança para o preenchimento de certos termos, e representa um valor real
ao seu tomador.
Ocorrências com reféns são complexas e imprevisíveis, apresentam
compressão de tempo (urgência) para as medidas iniciais, entre outras
características peculiares.
Por isso devem receber tratamento diferenciado por parte da PMESP com
o objetivo de preservar as vidas das pessoas envolvidas (policiais militares, reféns
e infratores), bem como promover a aplicação da lei e o restabelecimento da
normalidade.

98 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 7.7 - Simulação de ocorrência com refém.

A ocorrência com reféns pode ser provocada por 3 principais tipos de


causadores:
(a) criminoso profissional: criminalmente motivado, toma o refém quando
tem o roubo frustrado, em geral, pelo cerco policial;
(b) emocionalmente perturbado: indivíduo que pode não apresentar conduta
criminosa até então, mas em razão de ter experimentado forte estresse,
causa uma crise, em geral, contra a pessoa que seja, em sua concepção, a
causadora de seus problemas;
(c) terrorista: pode possuir motivação política, étnica, social ou religiosa,
pretendendo dar publicidade à sua causa com o ato.
Ao atender uma ocorrência com refém, o patrulheiro deve atentar para
três medidas a serem adotadas no primeiro momento. São elas:
• Conter. Consiste em evitar que a crise se alastre, impedindo que o causador
tome mais reféns, tenha acesso a mais armas ou aumente a área de seu
domínio. O ato é realizado pelos primeiros policiais militares que acessam
o local da ocorrência;
• Isolar. Ato determinado pelos policiais militares que chegam logo em
seguida, sob coordenação do Oficial ou Subten/Sgt PM. Consiste em
estabelecer o perímetro de atuação para os policiais envolvidos na
operação, delimitando o que é ponto crítico, perímetro interno e externo,
além da área de imprensa. Nesse momento, a organização é fundamental.
Não se deve permitir que pessoas ou mesmo policiais estranhos à operação
permaneçam no perímetro interno, sob pena de influenciar a tomada de
decisões;
• Iniciar a primeira intervenção. Realizada por policial militar escolhido
pelo gerente da crise, terá como missão estabelecer comunicação com o

Manual de Fundamentos 99
ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

causador, sem fazer concessões. Esta fase não consiste, ainda, na chamada
negociação, que terá início somente quando estiver presente o negociador
do GATE, que possui capacitação e habilitação para tal.
O atendimento de ocorrências com reféns será de competência da PMESP
(atribuída pela Resolução SSP 13/10) quando o fato decorrer da atividade de
polícia ostensiva e preservação da ordem pública, como, por exemplo, cerco
policial em consequência ao atendimento de ocorrência despachada pelo
COPOM. Nos casos de tomada de reféns em decorrência de atuação de polícia
judiciária, como a execução de mandado de prisão levada a efeito pela Polícia
Civil, a competência é conferida àquela instituição.
Incumbe ao GATE o gerenciamento de ocorrências com reféns nos casos
em que o atendimento couber à PMESP. No entanto, o sucesso das operações
está atrelado, diretamente, à eficiência dos atos de conter, isolar e iniciar a
primeira intervenção.
7.13 Ocorrências com Artefatos Explosivos
Bomba é todo dispositivo ou artefato confeccionado para causar danos,
lesões ou mortes, de forma voluntária ou não, e pode ser classificada como
explosivo industrializado e comercializado (Explosive Ordinance Disposal - EOD)
ou artefato explosivo improvisado (Improvised Explosive Device - IED).
Ao localizar um artefato explosivo, ou objeto que se presuma ser
uma bomba, o policial militar deve tomar todas as medidas antibomba (ou
preliminares), uma vez que a origem do objeto e a pessoa que o transportou são
desconhecidos.
As ações policial-militares antibomba são os procedimentos de caráter
preventivo, para atender a uma ameaça ou suspeita da existência de artefato
explosivo, ou ainda de reação imediata a um atentado, quando o artefato é
deflagrado.
Assim, desocupar o local de modo ordeiro e isolá-lo de acordo com sua
potencialidade lesiva são as primeiras medidas a serem tomadas pelos policiais
militares patrulheiros, além de acionar o GATE, que é a unidade da PMESP
com treinamento e equipamento apropriado para as ações contrabomba (ou
efetivas).
As ações contrabomba são os procedimentos de reação ao objeto danoso,
incluindo sua identificação, remoção, desativação e neutralização. Por serem
procedimentos extremamente técnicos e com alto risco à vida e integridade
física dos policiais militares, somente poderão ser realizadas por equipe do GATE.

100 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

7.14 Imobilização de Potenciais Agressores e Uso de Algemas


7.14.1 Imobilização

A imobilização tem o objetivo de fazer o infrator cessar sua resistência à


aplicação da lei, por meio de técnicas de acesso a pontos sensíveis e de defesa
pessoal, e deve ser empregada de modo proporcional à resistência, somente
quando houver a falência das técnicas de verbalização e negociação.
Mesmo durante a situação de normalidade, em que o ambiente se
apresenta em condições rotineiras de patrulhamento e que não haja necessidade
de intervenção com uso seletivo da força, é importante que o policial militar se
mantenha em condições físicas e mentais de utilizá-la quando for necessária,
vez que as ocorrências policiais possuem características imprevisíveis.
Quando a pessoa que recebe a intervenção policial estiver cooperativa, ou
seja, receptiva às instruções do policial militar, podendo ser abordada para busca
pessoal e algemada facilmente, os princípios e técnicas de defesa pessoal devem
estar em alerta, especialmente quanto às posições de defesa e antecipação à
possível mudança de comportamento.
No entanto, havendo resistência passiva, quando o infrator ofereça
relativo nível de insubmissão mediante resistência física apenas para impedir os
procedimentos dos policiais, sem contudo agredi-los (simplesmente fica parado,
prende-se em objeto imóvel ou cruza os braços), as técnicas a serem empregadas
devem ser suficientes, proporcionais e na medida para cessar a resistência.

Figura 7.8 - Exemplo de imobilização.

Nos casos em que haja resistência ativa por parte do infrator, ou seja,
o indivíduo tornou-se agressivo (empurra, chuta, desfere socos, tenta segurar
a arma dos policiais), o nível de risco exige forte desafio físico dos policiais
militares, que estarão na condição de legítima defesa. Esta condição permite

Manual de Fundamentos 101


ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

que os policiais usem técnicas mais efetivas de defesa pessoal e imobilização,


atentando para a proporcionalidade das ações.
7.14.2 Uso de Algemas

Conforme a Súmula Vinculante nº 11, o uso de algemas tem por objetivo


conduzir infrator preso em flagrante delito ao DP ou em operações de transporte
de presos.
Somente será admitido o uso de algemas se a pessoa detida ou o preso
a ser transportado tiver oferecido resistência ou se houver fundado receio
de fuga ou de perigo à integridade física própria, dos policiais militares ou de
terceiros, devendo seu uso ser justificado por escrito, sendo, portanto, condição
de exceção.

Figura 7.9 - Exemplo de condução de infrator algemado.

O uso de algema é vedado em mulheres durante o trabalho de parto e no


período subsequente de sua internação em estabelecimento de saúde.
7.15 Direitos da Pessoa Presa
Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade competente. Este é o enunciado do artigo 5º,
inciso LXI, da Constituição Federal de 1988, que garante direitos à pessoa presa,
entre eles o respeito à integridade física e moral.
Consequentemente, o policial militar somente poderá tomar medidas
contra pessoa presa quando estritamente necessárias ao propósito da detenção
ou para preservação da ordem pública no local da detenção.

102 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

No que corresponde à atuação legalista, é essencial ao policial militar informar à


pessoa detida direitos a ela garantidos:

(a) permanecer calada e somente falar em juízo;


(b) entrar em contato com seus familiares;
(c) ser assistida por advogado;
(d) ter sua prisão comunicada ao juiz de direito;
(e) receber, em até 24 horas após a prisão, a nota de culpa (na qual será identificado
o responsável por sua prisão).

Importante também que o patrulheiro atente à situação de adolescentes


apreendidos por ato infracional, em especial quando cometido em concurso com
adulto. Além de possuir as mesmas garantias do adulto, o adolescente deve ser
mantido em separado, garantindo-se que não seja transportado em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou
mental.
7.16 Preservação de Local de Crime
Local de crime é todo sítio onde tenha ocorrido uma infração penal que
necessite de providência de polícia técnico-científica, para busca de vestígios
produzidos ou deixados durante a prática do delito, indispensável à persecução
criminal, representando o início da cadeia de custódia das provas colhidas.
Tão logo esteja presente em local de crime, além das medidas próprias
de polícia ostensiva e preservação da ordem pública, o policial militar deve
isolar e preservar o local adequadamente, impedindo o acesso de qualquer
pessoa, ainda que de outros policiais (exceto autoridade competente e peritos),
familiares da vítima e imprensa, permanecendo nessa condição enquanto
perdurar a necessidade de o local ser preservado.
Deve proceder à avaliação do local a ser isolado, dimensionando suas
proporções de forma a preservar o local imediato (aquele onde ocorreu a infração
penal) e, se possível, também o local mediato (adjacente ao local imediato, ou
até mesmo mais distante), que também pode conter vestígios deixados pelo
autor da infração.
Por regra, a apresentação de ocorrência que envolva local de crime se
dará no local dos fatos ao delegado de polícia, nos termos da Resolução SSP
57/15 (comunicação verbal).
Caso o delegado de polícia ou seu representante não compareça ao local
de crime, uma vez periciado e não comportando mais qualquer medida por parte
da PMESP, os policiais militares deverão proceder ao registro da ocorrência em
BOe e retornar ao patrulhamento preventivo.

Manual de Fundamentos 103


ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

A alteração do local de crime, seja pela mudança de lugar, retirada ou


colocação de objeto, bem como pela mudança de suas características gerais,
constitui crime de fraude processual.
7.17 Registro e Comunicação de Ocorrências com Infração Penal
Todo fato que necessite de atuação da PMESP, independentemente da
maneira como se deu seu conhecimento, é considerado ocorrência policial-
militar, e, por isso, deve ser objeto de registro em um dos formulários previstos
na PMESP.
As infrações penais, ocorrências de dano patrimonial ou que envolvam
preservação de direitos serão registradas em BOe (ou BO/PM) ainda no local
dos fatos, exceto quando a segurança dos policiais militares e/ou das partes não
permita, ou nos casos em que a ocorrência deva ser apresentada em DP.
Para todos os demais casos, é dispensado o registro em BOe, devendo o
policial militar anotar os principais dados da ocorrência em Relatório de Serviço
Operacional (RSO) ou similar, tais como local e horário do fato e a qualificação
das pessoas envolvidas.
As ocorrências que serão conduzidas ao DP (caracterizadas como de
comunicação pessoal pela Resolução SSP 57/15) são:
(a) prisão e apreensão em flagrante delito;
(b) crimes de menor potencial ofensivo, para elaboração de termo
circunstanciado;
(c) infração penal com violência ou grave ameaça, desde que subsista alguma
medida da PMESP, como prestação de socorro à vítima e apreensão de
objetos.
(d) necessidade de imposição de medida protetiva de urgência nas ocorrências
de violência doméstica.
Para os demais casos, a comunicação da ocorrência ao delegado de
polícia ou seu representante será verbal (realizada no local de crime), formal
(encaminhamento de cópia do BOe à unidade policial-civil) ou prévia (realizada
imediatamente após a constatação do fato pela patrulha, através de mensagem
simples por rádio ao COPOM/CAD, que transmitirá a ocorrência à Polícia Civil).
As ocorrências que, embora caracterizadas como infração penal, não
demandem comunicação pessoal ao delegado de polícia, são classificadas como
ocorrência criminal de mera transmissão de dados. São elas:

104 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

(a) ocorrências policiais passíveis de registro na delegacia eletrônica;


(b) infrações penais que requeiram somente medidas da Polícia Civil.
Por exemplo: crimes que não necessitem de prestação de socorro, apreensão de objetos,
preservação do local de crime, entrada de pessoas vítimas de crime em hospitais (quando
não for caso de prisão em flagrante delito), pessoa presa em flagrante por qualquer do povo,
ocorrências de trânsito, ou nas hipóteses de preservação do local de crime em que o delegado de
polícia ou seu representante não compareçam ao local (após periciado o sítio).

Para essas ocorrências, o policial militar deverá lavrar BOe e Notificação de


Ocorrência (NOc), podendo apoiar a condução ao DP, retornando, ato contínuo,
ao patrulhamento preventivo.
7.18 Destinação das Ocorrências
Além do registro policial feito pelo patrulheiro, e a comunicação verbal,
pessoal ou formal do fato criminoso, a ocorrência policial pode obter outros
desfechos, vez que nem sempre constituem infração penal. São eles:
(a) condução a outros órgãos: transmissão de informações e/ou condução de
pessoas/objetos a órgãos públicos ou particulares, não pertencentes às
organizações policiais, nas situações em que não haja a constatação da
prática, ou indícios, de infração penal;
(b) parte(s) orientada(s): ocorrência que não configura crime ou infração
administrativa que imponha ação da PMESP, em que as partes envolvidas
são orientadas sobre alternativas para a resolução do problema que
originou a presença da patrulha;
(c) nada constatado: no local indicado pelo solicitante os policiais militares
verificam que a situação informada não existiu, sem, no entanto, configurar
trote, estando intacta a ordem pública;
(d) orientação das pessoas ao DP: ocorrência em que a vítima, ao noticiar a
COPOM/CAD fato já ocorrido, criminoso ou não, é orientada a dirigir-se,
por meios próprios, ao órgão policial competente para registro, uma vez
que não há campo para a atuação de polícia preventiva ou de repressão
imediata. Exemplo: atendimento de ocorrência de roubo de veículo já
ocorrido.
7.19 Condução de Pessoas em Viaturas
Nas situações em que o patrulheiro necessite transportar pessoas em
viatura, seja na condição de vítima de crime ou mal súbito, testemunha, preso
ou adolescente apreendido, ele avoca para si a responsabilidade pela segurança
pessoal dos ocupantes, devendo atentar para a cautela no deslocamento e

Manual de Fundamentos 105


ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

também para a sua própria segurança.


Por isso, toda pessoa deve ser submetida a busca pessoal antes de entrar
em viatura policial-militar, impedindo que seja transportada em posse de objeto
que represente risco de qualquer gravidade ou natureza.
Nos deslocamentos, faz-se necessária a estrita observância ao Código de
Trânsito Brasileiro (CTB), começando pelo uso do cinto de segurança por todos
os ocupantes da viatura.
Quanto ao transporte de presos e adolescentes infratores, a lei veda a
condução de pessoas em compartimento de proporções reduzidas, com
ventilação deficiente ou ausência de luminosidade, e ainda em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou
mental.
7.20 Cuidados na Gestão de Vítimas
Considerando a proteção à vida, à integridade física e à dignidade como
premissas principais da atividade policial-militar, é fundamental também dedicar
atenção especial às vítimas do delito propriamente dito ou mesmo às vítimas de
acidentes de trânsito, até que o socorro se efetive.
Vale lembrar que o apoio incondicional do policial militar no momento
crítico revela a cordialidade, o profissionalismo e a presteza que se esperam
dos serviços de excelência.
Seguem alguns cuidados a serem observados:
(a) quando se tratar de ocorrência policial, preocupar-se em cessar o perigo
antes de dar atenção à vítima;
(b) identificar se há feridos e providenciar, por meio do acionamento imediato
do serviço local de emergência ou do Corpo de Bombeiros, o pronto e
imediato socorro;
(c) realizar o monitoramento constante da vítima, no que se refere aos
aspectos físicos (sinais vitais) e psicológicos, adotando sempre uma
postura empática e, acima de tudo, profissional. É necessário estar junto,
sobretudo nas circunstâncias de acidente;
(d) em ocorrências de violência doméstica ou envolvendo pessoas vulneráveis,
os cuidados devem ser redobrados, considerando os aspectos psicológicos
e traumáticos envolvidos;
(e) deslocar-se para a repartição pública competente conduzindo o infrator
em viatura policial diversa da vítima.

106 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 7.10 - Policial Militar prestando apoio a vítima de acidente de trânsito.

REFERÊNCIAS
AGUILAR, P. A. MACTAC - Multi-Assalut Counter-Terrorist Action Capabilities:
Capacidade de Resposta Contraterrorista Frente a Múltiplos Ataques. A Força
Policial, v. 1, n. 2. São Paulo, jun. 2016.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição Federal. Brasília, 1988.
BRASIL. Decreto nº 8.858, de 26 de setembro de 2016. Regulamenta o disposto
no art. 199 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal. Brasília,
2016.
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo
Penal. Brasília, 1941.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1969. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990.
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BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito
Brasileiro. Brasília, 1997.
DA SILVA, C. E. de J. G. Proposta de Diretiva: Técnica de Deslocamentos de
Viaturas em Comboio Policial. 2014. Dissertação (Mestrado Profissional em
Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública) - Centro de Altos Estudos de
Segurança (CAES), São Paulo, 2014.

Manual de Fundamentos 107


ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

DE JESUS, D. Direito Penal - Parte Especial: crimes contra a fé pública a crimes


contra a administração pública. vol. 4. 20. ed. Atualização: André Estevam. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
DE ROVER, C. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para Forças
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DE SOUZA, W. M. Ações do Policial Negociador nas Ocorrências com Reféns.
2002. Tese (Doutorado Profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem
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DE SOUZA, W. M. Gerenciamento de Crises: Negociação e atuação de Grupos
Especiais de Polícia na solução de eventos críticos. 1995. Dissertação (Mestrado
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NUCCI, G. de S. Código de Processo Penal Comentado. 19. ed. Rio de Janeiro:
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PERU. MINISTERIO DEL INTERIOR. Manual de Derechos Humanos Aplicados a la
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RACORTI, V. S. Proposta estratégica para atualização, difusão e emprego da
doutrina de gerenciamento de incidentes na Polícia Militar do Estado de São
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SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 57.783, de 10 de fevereiro de 2012. Veda o uso
de algemas em presas parturientes, nas condições que especifica. São Paulo, 2012.
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 17.260, de 30 de março de 2020. Dispõe sobre a
criação do programa da Polícia Militar "Patrulha Maria da Penha", que visa ao
monitoramento da segurança das mulheres vítimas de violência doméstica no
Estado de São Paulo. São Paulo, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Abordagem de
Pessoa(s) a Pé (Processo 1.01.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São
Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Acompanhamento de
motocicleta. (Súmula ICC nº 262). Instrução Continuada do Comando. São Paulo,
2020.

108 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Acompanhamento e


Cerco de Veículo. (Processo 4.01.00). Procedimento Operacional Padrão (POP).
São Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Atendimento de
ocorrência em horário de folga. (Processo 3.04.00). Procedimento Operacional
Padrão (POP). São Paulo, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Atendimento de
ocorrências com reféns. (Súmula ICC nº 021). Instrução Continuada de Comando.
São Paulo, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Defesa Pessoal.
(Súmula ICC nº 123). Instrução Continuada de Comando. São Paulo, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Deslocamento de
viatura. (Processo 5.05.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São Paulo,
2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Deslocamento para o
local do fato. (POP 1.01.02) Procedimento Operacional Padrão (POP). São Paulo,
2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Deslocamento para
ocorrência. (Súmula ICC nº 228-A). Instrução Continuada de Comando. São Paulo,
2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Despacho nº PM3-
005/02/19, 22 de julho de 2019. Acesso a dados armazenados em aparelho de
telefonia celular sem autorização judicial. São Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Direção Policial
Preventiva. (Súmula ICC nº 198). Instrução Continuada de Comando. São Paulo,
2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz nº PM3-
001/02/13, de 19 de março de 2013. Ocorrências que exijam a intervenção do
Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE). São Paulo, 2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz N° PM3-
001/02/20, de 6 de março de 2020. Normas para o Sistema Operacional de
Policiamento PM - NORSOP. São Paulo, 2020. Disponível em: http://www5.intranet.
policiamilitar.sp.gov.br/unidades/3empm/legislacao/diretrizes/PM3_005_02_20.
pdf. Acesso em: 28 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Instrução Provisória
(IP-1-PM). Atendimento de ocorrências envolvendo artefatos explosivos (ou
bombas). São Paulo, 1996.

Manual de Fundamentos 109


ATENDIMENTO DE OCORRÊNCIAS

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Instruções para
Transportes Motorizados da PMESP (I-15-PM). 6. ed. São Paulo, 2006.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Instruções sobre
o explosivo TATP (Triperóxido de Triacetona). (Súmula ICC nº 203). Instrução
Continuada de Comando. São Paulo, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual de
Codificação de Ocorrências da PMESP (M-16-PM). São Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual de Conduta
de Patrulha em Local de Alto Risco (M-21-PM). 1. ed. São Paulo, 2009.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual do “Tiro
Defensivo na Preservação da Vida - Método Giraldi” (M-19-PM). São Paulo, 2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM1-001/02/15, de 3 de setembro de 2015. Sistemática de atuação da PMESP no
atendimento e registro de ocorrências - Resolução SSP-57/2015. São Paulo, 2015.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM3-007/03/17, de 14 de dezembro de 2017. Boletim de Ocorrência Eletrônico.
São Paulo, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ocorrência envolvendo
autoridade. (Processo 3.02.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São
Paulo, 2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ocorrência com
bombas e explosivo. (Processo 3.06.00). Procedimento Operacional Padrão (POP).
São Paulo, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ordem de Serviço nº
PM3-002/02/18, de 24 de abril de 2018. Busca domiciliar. São Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ordem de Serviço nº
PM3-011/02/18 - CIRCULAR. Uso dos dispositivos luminosos (faróis/giroflex) e/ou
sonoros (sirenes/buzinas) pelas viaturas. São Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Policiamento com
motocicleta. (Processo 1.10.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São
Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Preservação de local
de crime. (Processo 2.05.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São Paulo,
2013.

110 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Progressão,


transposição de obstáculos, entrada em ambientes fechados e varreduras.
(Processo 5.13.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Transporte, Escolta e
Guarda de Preso. (Processo 3.03.00). Procedimento Operacional Padrão (POP).
São Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Uso de Algemas.
(Processo 5.03.00). Procedimento Operacional Padrão (POP). São Paulo, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Uso de Algema -
Reedição. (Súmula ICC nº 189). Instrução Continuada de Comando. São Paulo,
2017.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SSP 57, de 8 de maio de 2015. Dispõe sobre o
atendimento e registro de ocorrências e dá outras providências. São Paulo, 2015.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SSP-13, de 5 de fevereiro de 2010. Disciplina
o procedimento para atendimento de ocorrências com reféns no Estado de São
Paulo por parte das Polícias Militar e Civil. São Paulo, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SSP-382, de 1 de setembro de 1999. Dispõe sobre
diretrizes a serem seguidas no atendimento de locais de crime. São Paulo, 1999.
STF. Súmula Vinculante nº 11. Diário da Justiça Eletrônico (DJE) nº 157, de 21 ago
de 2008. Brasília, 2008.

Manual de Fundamentos 111


"As grandes conquistas da humanidade
foram obtidas conversando, e as grandes
falhas pela falta de diálogo."
Stephen Hawking
GESTÃO DE
8

MULTIDÕES
GESTÃO DE MULTIDÕES

Este capítulo dedica-se a apresentar os aspectos jurídicos, comportamentais


e procedimentais relacionados à atuação da PMESP na gestão de multidões.
8.1 Aspectos Gerais sobre Multidões
Multidão é o agrupamento de pessoas psicologicamente unificadas por
um interesse comum, presente normalmente em manifestações, protestos,
bem como em outras ações coletivas, geralmente dotadas de uma pauta de
reivindicações sociais, como saúde, educação, moradia, entre outros.

Figura 8.1 - Multidão.

A presença de uma multidão, nas ruas, exteriorizando seus anseios


e necessidades, é uma ação coletiva, prevista e garantida pelo texto
constitucional.
Fundamentada no artigo 5º da CF, a liberdade de pensamento e expressão,
configura-se como um dos direitos fundamentais do cidadão brasileiro.
Art. 5º da CF:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.


XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

Se por um lado as pessoas possuem o direito constitucional de reunir-


se pacificamente em prol de interesses comuns, fazendo-se ver e ouvir por
toda a sociedade, há que se considerar a existência de outras pessoas ou
agrupamentos com pensamentos contrários, que queiram dar voz aos seus
anseios, igualmente tutelados pelo mandamento constitucional.
Nesse aspecto, para mediar interesses distintos, ou mesmo antagônicos,

114 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

foi outorgado às forças de segurança o poder de polícia, a quem cabe exercê-lo


nos limites da lei.
Incumbe assim aos policiais militares empregados em ações de gestão de
multidão, em qualquer circunstância, agir com imparcialidade, profissionalismo
e isenção de ânimos, de modo a assegurar o direito constitucional de livre
manifestação a todos os grupos e segmentos da sociedade brasileira, ainda
que os interesses e anseios exteriorizados no ato sejam contrários à atuação ou
existência da PMESP.
8.2 Gestão de Multidões
É o conjunto de processos destinados à administração e controle de
multidões:
• administração de multidões: são as ações relacionadas às atividades de
planejamento e execução operacional, realizadas por meio de coleta
e análise de informações acerca da multidão, a fim de definir as ações
preventivas necessárias à atuação policial-militar;
• controle de multidões: é o conjunto de procedimentos destinados à
restauração da ordem pública, nas situações em que é necessária a
intervenção direta ou indireta da PMESP.
8.3 Graduação da Força Policial em Gestão de Multidões
Em uma reunião de pessoas, apesar da aparente coesão de pensamentos e
ideais, podem ocorrer divergências e desentendimentos, por força de interesses
e pautas incompatíveis (entre os próprios participantes ou em relação a terceiros,
não envolvidos com o evento), ocasionando ações hostis.
Dessa inquietação e alteração de ânimos, as emoções podem ser
exteriorizadas em palavras e sinais de desaprovo, atitudes estas que por si não
contrariam a lei, mas também podem acarretar atos de vandalismo, saques ou
incitação à violência, estes sim ilegais.
Nesses casos, a multidão deixa de ter caráter pacífico e torna-se um
tumulto (cenário de quebra da ordem), principalmente quando manifesta “um
nível importante e generalizado de violência, que represente uma ameaça
iminente para a segurança física dos participantes ou bens materiais”. (ACNUDH,
2016, p.13).
Ao tornar-se um agrupamento violento, a PMESP passa a atuar
objetivamente no controle da multidão, a fim de que o ato retome a condição
ordeira e pacífica esperada.

Manual de Fundamentos 115


GESTÃO DE MULTIDÕES

Para restabelecer a ordem pública, faz-se necessário que a PMESP, pautada


obrigatoriamente nos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade
e razoabilidade, avalie o grau de intervenção a ser empregado, em resposta à
agressão sofrida pela sociedade, a fim de definir a graduação do uso da força.
Conjunto de técnicas e procedimentos que representam a atuação dos agentes fiscalizadores da
lei, na garantia dos direitos humanos e da ordem pública.

A graduação da força policial na gestão de multidões caracteriza-se,


portanto, pela adoção progressiva de técnicas e táticas de intervenção policial,
a depender da animosidade ofertada pelo grupo (pacífica ou hostil).
Pode ocorrer de maneira indireta, a partir de um simples contato com os
manifestantes, ou direta, em que é necessária a adoção de ações mais enérgicas,
com efetivo emprego da força.
Intervenção Indireta: é aquela realizada através de (i) ação de presença,
(ii) contenção, (iii) acompanhamento ou (iv) negociação com os manifestantes:
• ação de presença: caracterizada pela presença física e visibilidade
do policial fardado e identificado no local da operação, com o fim de
transmitir percepção de segurança e desestimular atitudes inadequadas
dos participantes.

Figura 8.2 - Ação de presença.

• contenção: consiste em concentrar a multidão em uma área delimitada,


por meio de efetivo policial-militar balizador ou estruturas físicas, como
grades, viaturas, etc.

116 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 8.3 - Concentração em área delimitada.

• acompanhamento: é a ação policial-militar de deslocamento do efetivo


policial-militar junto aos participantes, a fim de ofertar proteção contra
ameaças ou assédio de pessoas não simpatizantes às reivindicações.

Figura 8.4 - Acompanhamento realizado pela PMESP.

• negociação: é o ato de dialogar com as lideranças da multidão, em busca


de uma solução mutuamente satisfatória.

Figura 8.5 - Diálogo com as lideranças.

Manual de Fundamentos 117


GESTÃO DE MULTIDÕES

Intervenção Direta: caracteriza-se pelo o uso de táticas, para controle de


multidão, visando repelir ou dispersar os manifestantes quando da quebra da
ordem:
• repelir: é a ação consistente em afastar temporariamente a multidão para
restabelecer a ordem pública.

Figura 8.6 - Ação de afastar temporariamente uma multidão.

• dispersar: é a ação utilizada para deslocar uma massa, dividindo-a,


desagregando-a, enfraquecendo-a e, com isso, impedindo-a de se
reagrupar, dissolvendo-a.
O objetivo é a retirada da massa, de forma definitiva, do local.

Figura 8.7 - Ação de dispersar uma multidão.

De todos os procedimentos descritos, a negociação (mediação) é a principal


ferramenta empregada para administrar uma multidão, buscando consenso
entre os interesses individuais e/ou coletivos envolvidos, proporcionando,
quando possível, acesso a espaço público que ofereça ao grupo segurança e

118 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

visibilidade para o exercício das garantias constitucionais.


8.4 Policial Mediador de Manifestação
Policial mediador de manifestação é a denominação ofertada ao policial
militar que, sem poder de decisão, exerce a função de estabelecer vínculo de
negociação com a(s) liderança(s) de uma manifestação, protesto, passeata ou
demais formas de ação coletiva. A fim de garantir visibilidade na multidão, o
policial militar mediador de manifestação traja, sobre o uniforme operacional
específico de sua OPM, um colete com a inscrição “MEDIADOR”.

Figura 8.8 - Policial militar mediador.

Valendo-se de técnicas de comunicação Técnica de comunicação


assertiva, o policial mediador de manifestação que capacita o policial
procura compreender os interesses que permeiam militar a expressar ideias
e informações de maneira
determinada multidão e definir, conjuntamente, clara e objetiva, sem ser
opções que viabilizem benefícios para ambos os agressivo ou evasivo.
lados.
Agindo com respeito, objetividade e empatia, busca garantir que as ações
desencadeadas estejam sempre pautadas nos princípios de Direitos Humanos e
Cidadania, com igual atenção à segurança e garantia dos direitos constitucionais
das pessoas envolvidas direta ou indiretamente no ato.
8.5 Resiliência Policial
Resiliência é um conceito oriundo da física que explica a capacidade
dos materiais sofrerem ações externas e permanecerem com seus elementos
estruturantes inalterados.
Na psicologia, significa a capacidade de o indivíduo lidar com dificuldades
e mudanças, adaptando-se e superando obstáculos, e ainda resistindo às
Manual de Fundamentos 119
GESTÃO DE MULTIDÕES

adversidades geradas por causas estressantes (choque, estresse, algum tipo de


evento traumático, entre outros).
Todas as ocorrências envolvendo reunião de pessoas em espaços públicos
exigem, além de um planejamento técnico-operacional da Instituição, constante
preparação técnica e psicológica do policial militar, a fim de possibilitar a
correta tomada de decisões, frente ao cansaço físico e mental decorrente do
longo período de exposição a condições adversas.

Figura 8.9 - Resiliência policial-militar.

No campo da atuação
Para tanto, a PMESP investe na atualização policial-militar, pode-se dizer
e treinamento do efetivo, de modo a manter seus que se refere ao profissional
profissionais aptos ao desempenho de atividades capaz de manter-se
que requeiram espírito de trabalho em equipe e controlado emocionalmente
apesar da situação ou
resiliência policial. circunstância estressante na
qual está inserido.

Ações coordenadas e bem pensadas, além de contribuírem para a


segurança e legitimidade da atuação policial, propiciam o fortalecimento
da cidadania, bem como o reconhecimento público da capacidade
institucional.

REFERÊNCIAS
ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS DIREITOS HUMANOS
(ACNUDH). Diretrizes para a Observação de manifestações e Protestos Sociais.
São Paulo, 2017. Disponível em: https://acnudh.org/pt-br/acnudh-regional-lancou-
versao-em-portugues-de-diretrizes-para-a-observacao-de-manifestacoes/. Acesso
em: 22 jul. 2020.

120 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

MEIRELLES, H. L. et al. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Revista dos


Tribunais, 2001.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual de Controle
de Multidões da Polícia Militar (M-8-PM). 5. ed. São Paulo, 2018.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. O papel da Polícia
Militar em manifestações Públicas – reedição. (Súmula ICC nº 182). Instrução
Continuada de Comando. Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.
br/. Acesso em 22 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Promoção e Proteção
dos Direitos Humanos no contexto de manifestações pacíficas. (Súmula ICC nº
250). Instrução Continuada de Comando. Disponível em: http://www.intranet.
policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em 22 jul. 2020.

Manual de Fundamentos 121


Informação de qualidade a serviço da
segurança pública, num piscar de olhos.
TECNOLOGIAS E
9

COMUNICAÇÕES
TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

Neste capítulo serão apresentados os principais sistemas de comunicação


e ferramentas tecnológicas desenvolvidos e implementados na Instituição,
destinados a simplificar e otimizar padrões de trabalho, potencializar o emprego
de recursos na atividade operacional e aprimorar a qualidade dos serviços
prestados à sociedade paulista.
9.1 Rede-Rádio
No âmbito institucional, pode-se definir rede-rádio como o conjunto
de estações ou aparelhos de telecomunicação sintonizados em uma mesma
frequência de rádio, por meio do qual é realizada a comunicação de emergência
na Polícia Militar.
É o canal de telecomunicação que possibilita a transmissão segura e
instantânea dos dados e informações essenciais à realização da atividade
operacional.
Na Capital e Grande São Paulo, a transmissão e o recebimento de
mensagens pela rede-rádio é gerenciada pelo COPOM central, enquanto os
COPOM regionais administram as comunicações originadas no interior do
Estado.
9.2 Codificação Internacional para Radiocomunicação
A PMESP adota codificações internacionais na comunicação via rede-
rádio, com a finalidade de padronizar a linguagem utilizada para a transmissão
das mensagens, tornando-a mais objetiva, proporcionar redução do tempo de
utilização dos equipamentos, e ainda minimizar distorções e interferências no
fluxo da informação.
9.2.1 Código “Q”

A codificação internacional intitulada Código “Q” constitui-se de uma lista


de siglas, usualmente iniciadas pela letra “Q”, empregadas em circunstâncias e
com significados específicos.
Tem a finalidade de simplificar a mensagem, proporcionar agilidade e
confiabilidade à informação, além de poupar o funcionamento dos equipamentos
de radiocomunicação.

124 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

CÓDIGO SIGNIFICADO
QAP Escuta, escutar
QRA Prefixo da estação / Nome do operador
Intensidade dos sinais:
1- Apenas perceptível
QSA 2- Muito fraca
3- Um tanto fraca
4- Boa
5- Ótima
QRM Interferência de outra estação
QRQ Transmitir mais depressa
QRS Transmitir mais devagar
QRT Parar transmissão
QRU Tens algo para mim? Qual é a novidade?
QRV Pronto para receber / À disposição
QRX Espere, aguarde (por novo contato)
QSJ Dinheiro
QSL Confirmação, compreendido
QSO Contato direto entre duas estações
QSP Ponte entre duas estações
QTA Cancelar mensagem, última forma
QTC Mensagem
QTH Posição ou localização atual
QTR Hora exata
QTI Rumo verdadeiro / itinerário
TKS Grato, obrigado
NIHIL Nada, nenhum(a)
Quadro 9.1 - Código “Q” - siglas mais utilizadas.

9.2.2 Código Fonético Internacional

Método de comunicação internacional que associa cada letra do alfabeto


a uma palavra-chave específica, necessariamente iniciada pela respectiva letra
a que se refere.

Manual de Fundamentos 125


TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

Da mesma forma, aplica-se tal regramento à transmissão de mensagens


contendo algarismos, de modo que os números e valores possam ser
pronunciados e compreendidos em mensagens de voz, por rádio ou telefone,
independentemente da língua nativa.
Desse modo, considerando as características de uma transmissão via
rede-rádio, visando à inteligibilidade da comunicação, foram convencionados na
Polícia Militar a utilização do (i) Alfabeto e dos (ii) Algarismos da ONU, a seguir:
9.2.2.1 Alfabeto da ONU

Conhecido como alfabeto fonético, consiste em transformar letras em


códigos fonéticos, com o fim de tornar clara a mensagem e evitar imprecisão
na comunicação, especialmente em razão da similaridade da pronúncia de
determinadas letras (como “P” e “B”, “T” e “D”, “M” e “N”).

LETRA FONÉTICO LETRA FONÉTICO LETRA FONÉTICO


A Alfa J Juliet S Sierra
B Bravo K Kilo T Tango
C Charlie L Lima U Uniform
D Delta M Mike V Victor
E Echo N November W Whiskey
F Foxtrot O Oscar X X-ray / Xingu
G Golf P Papa Y Yankee
H Hotel Q Quebec Z Zulu
I Índia R Romeo
Quadro 9.2 - Alfabeto da ONU.

9.2.2.2 Algarismos da ONU

Também chamados de numerais fonéticos, têm por objetivo, de maneira


similar ao Alfabeto da ONU, proporcionar a correta compreensão da mensagem,
evitando ruído e incorreção na transmissão da mensagem.
Indica-se que a comunicação seja sempre precedida das palavras
“algarismo” ou “número”, sendo recomendado o uso do numeral ordinal (ex.:
para o número “193”, deve-se utilizar a expressão “número primeiro, nono,
terceiro”).

126 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

NÚMERO CARDINAL ORDINAL


0 zero negativo
1 uno primeiro
2 do-is segundo
3 três terceiro
4 qua-tro quarto
5 cin-co quinto
6 seis ou meia-dúzia sexto
7 se-te sétimo
8 oi-to oitavo
9 no-ve nono
Quadro 9.3 - Algarismos da ONU.

9.3 Ferramentas Inteligentes


Consistem em programas e sistemas informatizados capazes de
analisar dados produzidos ou captados de fontes diversas, organizando-os
em uma sequência lógica, com o fim de identificar determinados padrões de
comportamento.
Dotadas de informações georreferenciadas, tornam-se eficientes na criação
de mapas customizados (personalizados), auxiliando o gestor no planejamento,
gerenciamento e racionalização dos recursos disponíveis.
O Estado de São Paulo tem investido na criação e aperfeiçoamento de
suas bases de dados digitais, que auxiliam sobremaneira a análise criminal e o
planejamento operacional.
Dentre as Ferramentas Inteligentes utilizadas pela PMESP, podemos
destacar:
9.3.1 COPOM ON-LINE

Sistema de Georreferenciamento de Ocorrências Policiais que possibilita


a integração dos dados oriundos dos registros de ocorrências recebidas pela
PMESP com os recursos de geoprocessamento (informações e coordenadas
cartográficas).

Manual de Fundamentos 127


TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

Dentre os vários recursos disponíveis, podemos destacar:


• visualização em tempo real das viaturas na área de atuação territorial de
uma OPM;
• ronda e monitoramento eletrônico das Unidades de Serviço (US);
• elaboração de relatórios estatísticos, considerando a incidência de
ocorrências;
• localização de Cartão de Prioridade de Patrulhamento (CPP), Áreas de
Interesse da Segurança Pública (AISP) e Pontos de Interesse;
• acompanhamento das ocorrências irradiadas pelo setor de controle e
despacho do COPOM.
• rastro da US: permite visualizar o trajeto em tempo real;
• replay da US: descreve o trajeto realizado pela US.

Figura 9.1 - Tela do COPOM ON-LINE.

9.3.2 FotoCrim - Base Informatizada de Fotografias Criminais

A Base Informatizada de Fotografias Criminais (FotoCrim) configura-se


como importante ferramenta para monitoramento da atividade criminosa, pois
possibilita o armazenamento de fotografias de pessoas com registro na esfera
criminal.
A partir do trabalho operacional diário de policiais militares, os infratores
da lei autuados em flagrante delito, principalmente nos casos de crimes graves
contra a vida e o patrimônio, e ainda aqueles conduzidos a um órgão policial, por
motivo de cometimento de ilícito penal ou por ser procurado pela justiça, são
fotografados e qualificados, tendo seus dados inseridos e auditados na FotoCrim.

128 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Figura 9.2 - Figura da tela de consulta.

Com o início do convênio estabelecido entre PMESP e Secretaria de


Administração Penitenciária (SAP), em 2007, a FotoCrim passou a receber a
inserção e atualização de registros de todos os infratores da lei ingressos nas
unidades prisionais do sistema penitenciário do Estado de São Paulo.
9.3.3 Infocrim - Sistema de Informações Criminais

Principal ferramenta de pesquisa criminal disponibilizada pela Secretaria


da Segurança Pública, caracteriza-se como um instrumento fundamental para
análises criminais e planejamento operacional por parte das polícias estaduais e
Órgãos de Segurança.

Figura 9.3 - Logotipo do Infocrim.

Com informações oriundas da Polícia Civil e da Polícia Militar, permite


pesquisas de boletins de ocorrência por natureza, logradouros, envolvidos,
histórico, ocorrências, mapas em determinada área e em determinado período.
9.3.4 SIOPM - Sistema de Informações Operacionais da Polícia Militar

Sistema criado com o propósito de registrar as ocorrências atendidas pela


PMESP em suas diversas áreas de atuação, permitindo ao COPOM o controle
informatizado de todas as chamadas para o telefone de emergência 190, as
ocorrências geradas, viaturas despachadas, outros atendimentos, bem como o
encerramento ofertado.
Dotado de uma base de dados informatizada, denominada SIOPM Corp,
o sistema é composto por uma série de tabelas disciplinadas pelo Manual
de Codificação de Ocorrências da Polícia Militar (M-16-PM), que permite
interligação das ações do atendente de emergência com a do despachador
do COPOM, fornecendo, ao policial militar, informações a respeito de armas,

Manual de Fundamentos 129


TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

veículos, logradouros, telefones e pessoas, assim como a elaboração de relatórios


estatísticos decorrentes das ocorrências atendidas pela PMESP no Estado de
São Paulo.
O SIOPM Corp, por meio do painel de supervisão, permite ainda aos policiais
militares nas funções de comando e supervisão a localização, em tempo real,
do posicionamento de uma viatura, o rastreamento das ocorrências atendidas,
serviços e operações executadas, bem como as pesquisas realizadas nas Bases
de Pessoas, Armas e Veículos por determinada US.
O SIOPM Web é um módulo de sistema informatizado que possibilita
às OPMs acesso às funcionalidades do SIOPM, permitindo o cadastramento e
encerramento de ocorrências, composição das patrulhas por turnos de serviço,
alteração dos status das patrulhas, ou mesmo a elaboração de BO/PM em base
eletrônica.

Figura 9.4 - Figura da tela de acesso ao SIOPM Web.

9.3.5 Sinesp - Rede INFOSEG

O Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais,


de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e
de Drogas (Sinesp), associado à Rede Nacional de Integração de Informações
de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização (Rede INFOSEG), é um Sistema
pertencente à Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), que permite
a integração dos dados de indivíduos criminalmente identificados, de armas
de fogo, de veículos, de condutores, do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e
do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) entre os órgãos de segurança
pública pertencentes à esfera federal, estadual e municipal.

Figura 9.5 - Figura da tela de acesso ao Sinesp.

130 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

9.3.6 Detecta

Sistema de monitoramento inteligente de crimes, implantado pelo Governo


do Estado de São Paulo, integra os bancos de dados da Polícia Militar, Polícia Civil
e Secretaria Administração Penitenciária.
Idealizado inicialmente para ações de contraterrorismo pelo Departamento
de Polícia da cidade de Nova Iorque, com o tempo passou a ser utilizado na
identificação de outros tipos de crimes.
A ferramenta possibilita a criação de alarmes automáticos no sistema,
que auxiliam no trabalho policial e permitem a visualização e detecção de uma
ocorrência em tempo real, sem que seja necessário operar o sistema a todo
momento.
O Detecta possui 5 tipos de alertas:
• do 190 (furtos, roubos e outros crimes);
• área de crime recorrente;
• leitor automático de placa por meio de câmeras com Reconhecimento
Óptico de Caracteres (OCR);
• pessoa de interesse (envolvido em crime);
• veículo de interesse (envolvido em crime).
Por meio de tabelas, relatórios ou mapas de incidentes interativos, subsidia
as forças de segurança na definição da ação e atuação com maior eficiência.

Figura 9.6 - Figura da tela de acesso ao Detecta.

9.4 Boletim de Ocorrência Eletrônico - BOe


Trata-se de um formulário eletrônico em que são registradas todas as
ocorrências atendidas pela PMESP.
Sua implantação, em 2017, teve como princípios valorizar o trabalho
policial- militar, reduzir o tempo de envolvimento das US, otimizar os recursos

Manual de Fundamentos 131


TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

humanos e materiais, bem como tornar mais célere o atendimento à população,


permitindo que os policiais militares permaneçam maior tempo em atividades
de patrulhamento ostensivo.

Figura 9.7 - Logotipo do BOe.

Em substituição aos formulários impressos e preenchidos manualmente, o


BOe é disponibilizado aos policiais militares por meio de dois sistemas on-line:
um deles, para uso em Terminais Móveis de Dados - TMD (equipamento de uso
embarcado) e Terminais Portáteis de Dados - TPD (equipamento portátil utilizado
em dispositivos móveis - versão mobile); o outro, para uso em computadores
(versão web).
Desta forma, por meio de formulário eletrônico, interligado ao banco de
dados do SIOPM, o policial militar pode efetuar o registro dos fatos de interesse
policial (infrações penais ou casos de preservação de direitos) ainda no local do
ocorrido, ou ainda nas instalações de qualquer OPM do Estado.
9.5 Terminal Móvel de Dados e Terminal Portátil de Dados
São equipamentos eletrônicos que permitem a consulta e alimentação
direta às bases de dados utilizadas pela PMESP, sem a necessidade de se
corresponder, pela rede-rádio, com o operador do COPOM.

Figura 9.8 - TMD. Figura 9.9 - TPD.

132 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Tais equipamentos permitem manter a rede-rádio disponível para


emergências, uma vez que a ocorrência gerada pelo COPOM é direcionada,
preenchida e finalizada diretamente nesses dispositivos.
Os dois dispositivos eletrônicos são providos de ícones digitais que,
sincronizados com as ferramentas inteligentes disponíveis na PMESP, permitem,
por exemplo, a pesquisa de informações pessoais por meio da consulta ao nome
e numeração do Registro Geral (RG) e ao Título de Eleitor. Permite também
acesso aos dados de um veículo (modelo, cor, ano, placas, numeração de chassis,
falta ou atraso de licenciamento, roubo, furto, apropriação indébita, etc.), armas
(nome do proprietário e respectiva situação legal do armamento e eventuais
licenças), bem como de celulares ou smartphones por meio dos respectivos IMEI.
Os TMD e TPD configuram-se como os principais equipamentos para a
confecção do BOe, permitindo que o policial militar o elabore no local dos fatos,
sem ter que se deslocar para uma OPM.
Dotados de tecnologia touchscreen, possuem diversos ícones que, uma vez
selecionados, inibem outros campos não relacionados ao fato em si, permitindo,
dessa maneira, que o sistema conduza prontamente à sequência do registro,
garantindo a efetiva escrituração das informações consideradas essenciais para
cada natureza de ocorrência atendida. Também possibilitam incluir a declaração
dos envolvidos, graças ao recurso que captura a voz da pessoa, transcrevendo-a,
automaticamente, em texto editável no dispositivo.
9.6 Câmeras Operacionais Portáteis
As Câmeras Operacionais Portáteis (COP - body cams) são equipamentos
tecnológicos que, acoplados ao colete de proteção individual do policial militar,
permitem a captação de fotos, vídeos e sons nas circunstâncias de intervenção
policial e de interação com o público destinatário dos serviços de polícia ostensiva
e preservação da ordem pública.

Figura 9.10 - Policial militar utilizando a COP.


Manual de Fundamentos 133
TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

As evidências digitais captadas pelas As evidências digitais produzidas pelas


câmeras são armazenadas em nuvens COP deverão ser classificadas pelo
próprio policial militar usuário, no
artificiais de alta confiabilidade, com respectivo equipamento, logo após o
certificação internacional de segurança, encerramento da gravação, conforme
permitindo o acesso remoto por escalões de etiquetas eletrônicas preestabelecidas:
comando e supervisão para fins de auditoria, (i) teste, (ii) vídeo acidental, (iii)
polícia judiciária (em que se incluem
controle e pesquisa, o que se dá por os flagrantes), (iv) polícia judiciária
intermédio do Sistema de Gerenciamento e militar, (v) polícia administrativa, (vi)
Custódia das Evidências Digitais. treinamento e (vii) drone.

São exemplos de circunstâncias em que o policial militar deverá acionar


intencionalmente o mecanismo de gravação: atendimento de ocorrência,
abordagem policial, fiscalização de trânsito, condução de pessoas a outros
órgãos (pelo tempo em que perdurar a custódia policial-militar), operações
policiais, acompanhamentos a veículos e perseguição a pessoas a pé.
Dentre os benefícios do uso da tecnologia, destacam-se: (i) maior
transparência e reforço à legitimidade da atuação policial-militar, (ii)
fortalecimento da prova judicial, (iii) afirmação da cultura profissional,
(iv) efeito apaziguador na solução de conflitos (a lente sendo usada
dos dois lados), (v) resguardo à boa atuação policial e (vi) reforço às
atividades de treinamento.

9.7 Aeronaves Não Tripuladas (Drones)


Os UAS (Unmanned Aircraft Systems), ou drones, consistem em
equipamentos de apoio aéreo em operações policial-militares programadas ou
emergenciais, os quais agregam as aeronaves não tripuladas a dispositivos de
pilotagem (radiocontrole), telemetria e operação remota de câmeras digitais ou
outros sensores e mecanismos.

Figura 9. 11- Drone.

134 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

As aeronaves não tripuladas são capazes de sustentar-se na atmosfera


por meio de rotores verticais, horizontais ou híbridos (utilizam ambos os tipos),
podendo variar de pequenos drones, com poucos gramas, até grandes drones
de asa fixa e, por isso, são extremamente versáteis, gerando normalmente um
custo operacional bastante inferior quando comparadas às aeronaves tripuladas.
Sua aplicabilidade pode ser variada, mas os UAS empregados na PMESP
são mais conhecidos por produzirem imagens de interesse da segurança
pública, em forma de fotografias ou vídeos de alta resolução, no espectro visível
ou invisível ao olho humano (infravermelho, radar, entre outros), que podem
ser captadas e transmitidas em tempo real, compartilhadas junto ao Sistema de
Gerenciamento e Custódia das Evidências Digitais, gerando também mapas ou
mosaicos fotográficos georreferenciados em 2D ou 3D (2 ou 3 dimensões).
A PMESP, acompanhando a tendência mundial de utilização de UAS nas
atividades de segurança pública, de bombeiros e de defesa civil, normatizou
a criação e o funcionamento dos Núcleos de Operação, tendo o Comando de
Aviação da Polícia Militar (CAvPM “João Negrão”) como seu órgão central de
doutrina e controle operacional.
Os UAS da PMESP foram distribuídos para todo o Estado de São Paulo, de
forma a permitir o fluxo de imagens, em tempo real, entre todos os COPOM e,
consequentemente, a composição de estruturas de Comando e Controle em
qualquer intervenção policial.
Para realizar as operações, os pilotos remotos, devidamente autorizados,
serão os responsáveis por conduzir o voo da aeronave de maneira segura,
devendo respeitar as suas limitações bem como todas as condições impostas
pela legislação aeronáutica — altura, visibilidade, distância de outras aeronaves,
afastamento de obstáculos — respondendo por quaisquer manobras irregulares
ou eventuais danos que possam causar a bens e terceiros.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto Legislativo nº 07, de 25 de maio de 1964. Aprova a Convenção
Internacional de Telecomunicações, firmada pelo Brasil em 21 de dezembro de
1959, por ocasião da Conferência Plenipotenciária Internacional, realizada em
Genebra, Suíça. Brasília, 1964.
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. 2ª Camada
de Segurança e Novas Regras de Cadastramento - Manual do usuário. Brasília:
Rede INFOSEG, DF, 2013.

Manual de Fundamentos 135


TECNOLOGIAS E COMUNICAÇÕES

DUQUE, R. C. A Câmera de Gravação de Vídeo Individual como Estratégia Para


o Incremento da Transparência e Legitimidade das Ações Policiais e Afirmação
da Cultura Profissional: Uma Proposta de Sistematização na Polícia Militar do
Estado de São Paulo. 2017. Tese. (Doutorado Profissional em Ciências Policiais de
Segurança Pública e Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos de Segurança (CAES),
São Paulo, 2017.
RAMOS, V. Uso de Microcâmeras - Estratégia Operacional na Busca da
Excelência das Provas Produzidas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo.
2014. Tese. (Doutorado Profissional em Ciências Policiais de Segurança Pública e
Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos de Segurança (CAES), São Paulo, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. As ferramentas
informatizadas de pesquisa operacional. (Súmula ICC nº 134). Instrução
Continuada de Comando. Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.
br/. Acesso em: 22 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Câmeras Operacionais
Portáteis (COP). (Processo nº 5.16.00). Procedimento Operacional Padrão (POP).
São Paulo, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. COPOM ON-LINE -
manual do usuário - versão V1. São Paulo: Centro de Processamento de Dados,
2015.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. COPOM ON-LINE - uso
móbile. São Paulo: Centro de Processamento de Dados, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz n° PM3-
001/02/19, de 21 de outubro de 2019. Obtenção e emprego operacional de
sistemas de aeronaves não tripuladas - UAS (drones) pela Polícia Militar. São Paulo,
2019.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz N° PM3-
010/02/06, de 21 de agosto de 2006. COPOM – Regionalização, organização e
funcionamento geral. São Paulo, 2006.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Funcionalidades e
sincronização do TMD com viaturas. (Súmula ICC nº 173). Instrução Continuada de
Comando. Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em:
22 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Implantação do
Boletim de Ocorrência Eletrônico na PMESP. (Súmula ICC nº 212). Instrução
Continuada de Comando. Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.
br/. Acesso em: 22 jul. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Manual INFOSEG. São
Paulo: Seção de Treinamento e Qualidade do COPOM, s.n..

136 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM3-007/03/17, de 14 de dezembro de 2017. Boletim de Ocorrência Eletrônico.
São Paulo, 2017.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Rede de dados
InfoCrim. Boletim Geral PM 50, de 3 de março de 2003. Disponível em: http://
www.bg.polmil.sp.gov.br/boletim/htdocs/bg2003/bg03050.htm. Acesso em: 22 jul.
2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sistema de
computação embarcada, Terminais Móveis de Dados (TMD) e Terminais Portáteis
de Dados (TPD). (Súmula ICC nº 88). Instrução Continuada de Comando.
Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em: 22 jul.
2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sistemas Inteligentes
de Policiamento. (Súmula ICC nº 86). Instrução Continuada de Comando.
Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em: 22 jul.
2020.
SILVA, C. A. Sistemas de Gestão de Segurança Operacional para Aeronaves
Remotamente Pilotadas na PMESP. 2018. Dissertação. (Mestrado Profissional em
Ciências Policiais de Segurança Pública e Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos
de Segurança (CAES), São Paulo, 2018.
TERRA, A. C. Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas: procedimentos
gerais para aquisição, certificação, autorização de voo e operação. 2016.
Dissertação. (Mestrado Profissional em Ciências Policiais de Segurança Pública e
Ordem Pública) - Centro de Alto Estudos de Segurança (CAES), São Paulo, 2016.
UNION, International Telecommunication. Radio Regulations. General Secretariat
of the Internacional Telecommunication Union. Geneva: ITU, 1959. Disponível em:
https://www.itu.int/en/history/Pages/RadioRegulationsC.aspx?reg=1.8. Acesso em:
21 jul. 2020.

Manual de Fundamentos 137


“Pessoas influenciam pessoas.”
Mark Zuckerberg
IMAGEM
INSTITUCIONAL
10
IMAGEM INSTITUCIONAL

Neste capítulo, serão apresentados os principais aspectos relacionados


ao processo de construção e consolidação da imagem institucional da PMESP,
assim como considerações sobre a atuação policial-militar pautada em valores e
preceitos éticos, e na disciplina.
10.1 Imagem Institucional
A imagem institucional da PMESP é constituída a partir da percepção
e opiniões individuais ou coletivas da sociedade em relação aos serviços de
segurança pública.
Uma imagem positiva e favorável é formada quando os anseios da
população em relação ao trabalho policial-militar são alcançados ou mesmo
suplantados. Isso amplia a relação de confiança entre população e PMESP e
fortalece a Instituição.

Figura 10.1 - Populares demonstram apreço pela Instituição em manifestação pública.

Diante do significativo interesse pelo tema “segurança pública”, verifica-se


a importância de promover a divulgação de notícias positivas, que representam
a essência do trabalho policial-militar, junto aos canais de comunicação e, desses,
na intermediação das notícias com o público.
Para isso, a PMESP regulou a maneira pela qual seus integrantes
devem publicar ou replicar informações relacionadas ao serviço policial-
militar, estabelecendo aspectos legais e cuidados na utilização de aplicativos
e mídias sociais, assim como vedação de postagens, divulgação, difusão e
compartilhamento pessoal de ocorrências policiais geradas ou produzidas pelos
próprios policiais, sem anuência prévia do setor de comunicação social da OPM.
10.2 Processo de Formação da Imagem Institucional
São várias as maneiras pelas quais pessoas e grupos sociais estabelecem
140 Manual de Fundamentos
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

opiniões e criam uma imagem em relação a uma marca ou instituição.


No processo de formação da imagem da PMESP, podem-se destacar as
seguintes circunstâncias:
• contato direto: é uma das principais maneiras pela qual uma opinião
pessoal sobre a Instituição é formada. Ocorre quando uma pessoa
relaciona-se com um integrante da PMESP, seja durante uma ligação ao
telefone de emergência “190” ou no momento do atendimento de uma
ocorrência;
• opinião e comentários de terceiros: a imagem institucional é construída a
partir de comentários relacionados a experiências vivenciadas ou narradas
por terceiros. Tal circunstância pode ser potencializada em razão da
legitimidade atribuída ao difusor desses relatos;
• notícias da imprensa: com o advento da tecnologia, as notícias divulgadas
pela grande imprensa ou publicadas nas mídias sociais refletem diretamente
na percepção da população, influenciando o processo de formação da
opinião pública sobre a Instituição.

Figura 10.2 - Formação da Imagem Institucional.

10.3 Reflexo na Imagem Institucional


O policial militar é a personificação do Estado. Por essa condição, seja pela
farda que enverga, pela viatura que conduz ou pelo equipamento e armamento
que ostenta, é facilmente identificado e notado em qualquer ambiente.

Manual de Fundamentos 141


IMAGEM INSTITUCIONAL

O policial militar é um agente público. No exercício da função pública, pode ser filmado e
fotografado por qualquer do povo, independentemente de prévia autorização para uso de
sua imagem.

Essa visibilidade acentuada faz com que sua postura, suas ações e
declarações sejam criteriosamente observadas pela população e pela mídia. E
não há como dissociar a imagem pessoal de um policial militar em relação à
Instituição que representa. Toda ação individual afeta diretamente a imagem
institucional da PMESP, positiva ou negativamente.

Figura 10.3 - Ato de PM repercute nas redes sociais (PATRIARCA, P., 2014).
Foto de: BRITTO, O.

Tal circunstância revela a necessidade de que todos tenham consciência


do seu papel na Instituição e na sociedade.
Com a capilaridade da internet, e ainda com o estreitamento e ampliação
das relações interpessoais nas mídias sociais, não se pode negligenciar
responsabilidades e deveres intrínsecos aos regramentos disciplinares, princípios
e valores fundamentais instituídos em normas que delineiam a função policial-
militar.
10.4 Relacionamento com a Imprensa
Os meios de comunicação exercem uma grande influência sobre a opinião
pública. Portanto, a PMESP deve estar preparada para ampliar os canais de
relacionamento com a imprensa, a fim de demonstrar transparência em suas
ações e bem informar a população.
Para ampliar a participação nos canais de comunicação, possibilitar a
devida divulgação do trabalho policial-militar e fortalecer a relação de confiança
com a população, há que se promover maior aproximação entre os profissionais
de imprensa e a PMESP.

142 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

O policial militar deve ser um promotor de boas notícias e contribuir para o aprimoramento
da imagem institucional.

Todo policial militar é um porta-voz da PMESP. Por isso, deve estar apto a
fornecer dados básicos de fatos comunicáveis, conforme normatização expedida
pelo CComSoc:
• fatos comunicáveis: são todos os acontecimentos que contenham
interesse institucional e jornalístico para divulgação: eventos, ocorrências
policiais, apreensões de mercadorias ilegais, investimentos, inaugurações,
etc.;
• dados básicos do fato: são aqueles fornecidos pelo policial militar no
local da ocorrência, contendo informações essenciais sobre o ocorrido,
como natureza da ocorrência, quantidade de vítimas, número de detidos
e materiais apreendidos.
10.5 Divulgação de Notícias Positivas à Imprensa
É fundamental que o policial militar, diante de um fato ou notícia
positivos, informe-o imediatamente à Sala de Imprensa do CComSoc ou setor
de comunicação social da OPM (P/5) onde trabalha, para sua pronta divulgação
pelos canais de comunicação.
Todo policial militar é um agente de comunicação social. Suas ações e comportamentos
refletem na construção de sua imagem pessoal e, consequentemente, no processo de
formação da imagem institucional. Preservar a imagem institucional é dever de todo
policial militar.

Diante da necessidade de adotar medidas acauteladoras quanto à


divulgação de imagens e informações de ocorrências e fatos de interesse
midiático, o policial militar deve conhecer e cumprir os regramentos institucionais
e normativos jurídicos que regulam a veiculação e postagem desse conteúdo em
redes sociais e imprensa em geral.
10.6 Considerações acerca da Atuação Policial Ética e Legítima
Segundo nos ensina Ricardo Balestreri, ao discorrer sobre a visibilidade
moral da Polícia e a importância do exemplo, constata-se que a atuação policial-
militar pode ser, por regra, pedagógica (educadora), a depender da gravidade do
momento em que se encontra o cidadão.
Na maioria dos atendimentos realizados pela polícia, as pessoas envolvidas
estão fragilizadas, física ou emocionalmente, e portanto suscetíveis “ao impacto
psicológico e moral da ação realizada. Por essa razão é que uma intervenção

Manual de Fundamentos 143


IMAGEM INSTITUCIONAL

incorreta funda marcas traumáticas por anos ou até pela vida inteira, assim
como a ação do ‘bom policial’ será sempre lembrada com satisfação e conforto”.
(BALESTRERI, 1988).
Por esse motivo, todos os policiais militares, indistintamente, devem pautar
suas atitudes em preceitos deontológicos e regras comportamentais éticas,
para que as “experiências” propiciadas à população durante o atendimento de
uma ocorrência ou quando em contato com membros da comunidade possam
fortalecer e consolidar a boa imagem institucional.
Segundo disposto no artigo 6º da Lei Complementar estadual nº 893,
de 9 de março de 2001 (institui o Regulamento Disciplinar da Policia Militar
– RDPM), “a deontologia policial-militar é constituída pelos valores e deveres
éticos, traduzidos em normas de conduta, que se impõem para que o exercício
da profissão policial-militar atinja plenamente os ideais de realização do bem
comum, mediante a preservação da ordem pública."
Dispõe ainda o mesmo ordenamento que a deontologia policial-militar é
aplicada indistintamente a todos os policiais, reunindo “valores úteis e lógicos a
valores espirituais superiores, destinados a elevar a profissão policial-militar à
condição de missão."
Ser policial militar é missão sublime, é dedicação incansável, é colocar os
interesses da sociedade acima de suas próprias vontades. É sacerdócio.
Para que essa missão seja desempenhada com êxito, todo policial militar
deve praticar os seguintes princípios básicos, insculpidos no RDPM e ratificados
nas Instruções para o Novo Policial Militar (I-46-PM):
(a) agir sempre em defesa da vida, da integridade e da dignidade da pessoa
humana, independentemente de provocação ou circunstância;
(b) pautar suas ações sempre na educação, zelo e respeito às pessoas;
(c) praticar sempre a excelência nos serviços;
(d) pautar as relações humanas, no ambiente de trabalho, pelo respeito
à disciplina, à fraternidade, à justiça, à lealdade e à participação,
desenvolvendo, permanentemente, o espírito de cooperação;
(e) amar a verdade e a responsabilidade como fundamentos de dignidade
humana;
(f) demonstrar dedicação e fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e
instituições devem ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida;
(g) preservar a natureza e o meio ambiente;
(h) agir sempre com honestidade de propósitos, eficiência e probidade em

144 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

todas as circunstâncias.
A atuação policial-militar deve ser segura, eficiente, respeitosa e contínua.
O policial militar representa o Estado e a Instituição. Por isso, deve agir de
maneira exemplar e sempre em prol do bem comum, seja nas circunstâncias de
serviço, seja na condução de sua vida particular, o que implica a escolha de seu
círculo de amizades, a opção por locais e eventos bem frequentados e seguros e
a condução salutar e digna de seu ambiente familiar.

Figura 10.4 - Imagem representativa do Projeto Painel, desenvolvido no CPA/M-7.

O quadro a seguir reforça os valores e princípios que devem estar incutidos


na conduta do policial militar:

1º Proteger e promover os Direitos Humanos.


2º Cumprir e fazer cumprir a lei.
3º Proteger e servir à sociedade, tratando as pessoas com respeito,
profissionalismo e dignidade.
4º Manter e garantir a excelência da prestação do serviço policial-militar.
5º Praticar e incentivar boas condutas, incentivando a convivência pacífica
entre as pessoas.
Usar a força apenas quando estritamente necessário e de maneira
6º proporcional, para proteger as pessoas e salvar vidas.
7º Respeitar as diversidades, combatendo toda e qualquer discriminação.
8º Demonstrar humanidade em todos os momentos.
9º Praticar atos de aproximação com a sociedade, atuando como um
agente de transformação social.
10º Agir como um policial cidadão, protegendo e promovendo a cidadania.
Quadro 10.1 - Preceitos básicos para uma atuação policial ética e legítima.

Manual de Fundamentos 145


IMAGEM INSTITUCIONAL

REFERÊNCIAS
BALESTRERI, R. B. Direitos Humanos: coisa de polícia. Passo Fundo: Pater, 1988.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição Federal. Brasília,1988.
BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a
informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no
§ 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro
de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº
8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso em 27
jul. 2020.
MARSOLLA, C. O Media Training como ferramenta estratégica no
fortalecimento da imagem institucional. 2016. Dissertação (Mestrado Profissional
em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública) - Centro de Altos Estudos de
Segurança (CAES), São Paulo, 2016.
PATRIARCA, P. Ato de PM repercute nas redes sociais. Jornal da Cidade Digital
(JCNET). Disponível em: https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2014/06/412217-
ato-de-pm-repercute-nas-redes-sociais.html. Acesso em 12 jul. 2020
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Aspectos legais e
cuidados na utilização de aplicativos e mídias sociais pelos policiais militares
(Súmula de ICC nº 166). Instrução Continuada do Comando. Disponível em: http://
www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em 7 ago. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Diretriz nº PM5-
001/55/06, de 14 de fevereiro de 2016. Aperfeiçoamento do relacionamento
com a mídia e normatização do serviço de porta-voz. Disponível em: http://www.
intranet.policiamilitar.sp.gov.br/organizacao/unidades/ccomsoc/siteNovo/normas/
imprensa/DtzPM5-001-55-06-Portavoz-com-Alteracoes.pdf. Acesso em 7 ago.
2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Instruções para o
novo policial militar (I-6-PM). 2. ed. São Paulo, 2013.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Lei Complementar
nº 893, de 9 de março de 2001. Institui o Regulamento Disciplinar da PMESP. São
Paulo, 2001.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
CComSoc-002/106/18, de 20 de setembro de 2018. PMESP nas mídias sociais.
Disponível em: http://www.intranet.polmil.sp.gov.br/organizacao/unidades/
ccomsoc/arquivo/NOTA_CCOMSOC002_106_18.pdf. Acesso em 7 ago. 2020.

146 Manual de Fundamentos


POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Nota de Instrução nº
PM5-001/55/07, de 2 de julho de 2007. Notícias positivas. Disponível em: http://
www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/organizacao/unidades/ccomsoc/siteNovo/
normas/imprensa/noticias_positivas.html. Acesso em 7 ago. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ordem de Serviço
nº CoordOpPM-040/03/14, de 16 de abril de 2014. Proibição de divulgação de
imagens de ocorrências policiais. São Paulo, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Portaria nº
CComSoc-1/103/18. Dispõe sobre as normas procedimentais para coleta e
difusão de vídeos com depoimentos e fotografias de ocorrências policiais a serem
difundidos como fatos comunicáveis. Publicada no Boletim Geral PM 100, de
30 de maio de 2018. Disponível em: http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/
organizacao/unidades/ccomsoc/siteNovo/normas/pubpro/Port%20CComSoc%20
1_103_18%20COLETA%20E%20DIFUS%C3%83O%20DE%20V%C3%8DDEOS%20
E%20FOTOS%20-%20BG%20100_18.pdf. Acesso em 7 ago. 2020.
SÃO PAULO (Estado). Polícia Militar do Estado de São Paulo. Relacionamento com
integrantes da imprensa e postura do PM frente a registro de imagem por cidadãos
(Súmula de ICC nº 181). Instrução Continuada do Comando. Disponível em: http://
www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/. Acesso em 7 ago. 2020.
YAMAMOTO, M. A. C. Manual de Relacionamento do Policial Militar com o
Profissional de Imprensa. 2004. Tese (Doutorado Profissional em Ciências Policiais
de Segurança e Ordem Pública) - Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES). São
Paulo, 2004.

Manual de Fundamentos 147


ÍNDICE REMISSIVO
A

“A Hora da Verdade”, 79
Abordagem Policial-Militar, 78
Abordagem Legal, 79
Abuso de Autoridade, 53
Acesso a Dados de Aparelho Celular, 96
Acompanhamento Embarcado, 82-84
Aeronaves Não Tripuladas (Drones), 134-135
Agente de Autoridade, 53
Apoio, 91-92
Área de Perigo, 93
Área de Segurança, 92-93
Áreas de Interesse de Segurança Pública (AISP), 72
Arma de Fogo, 62, 65, 79-80
Atividade-Fim, 19
Atividades-Meio, 19
Autoridade Policial-Militar, 51-52

Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe), 131-132


Busca Domiciliar, 95-96

Câmeras Operacionais Portáteis, 133-134


Evidências Digitais, 134
Campanha do Paraguai, 14
Campanha Humanitárias Institucionais, 36
Campanha do Agasalho, 36
Campanha "Doar é Legal", 36
Canudos, 15
Capitão Alberto Mendes Junior, 17
Cartões de Prioridade de Patrulhamento (CPP), 72
Cerco Policial-Militar, 90-91
Cerco Ocasional, 91
Cerco Policial Programado, 78-79
Código “Q”, 124-125
Código Fonético Internacional, 125-126
Alfabeto da ONU, 126
Algarismos da ONU, 126-127
Comportamento, 62
Comunicação com o COPOM, 89-90
Comunicação de Ocorrência, 104-105
Formal, 104
Prévia, 104
Verbal, 104
Condução de Pessoas em Viaturas, 105-106
Considerações acerca da Atuação Policial Ética e Legítima, 145-146
Controle Físico, 62-63
Corpo de Guardas Municipais Voluntários, 14
Corpo Policial Permanente, 14
Criação do Batalhão Policial (BP), 17
Criação do Corpo de Policiamento Especial Feminino, 17
Cuidados do Policial Militar, 74-76
Abrigo, 74
Cobertura, 74
Níveis de Alerta, 75
Nível de Atenção, 75
Nível de Distração, 75
Nível de Segurança, 75
Segurança 720° ou Omnidirecional, 74
Segurança Coletiva, 74
Segurança Individual, 74
Segurança Pessoal, 74
Cuidados na Aproximação, 90
Cone da Morte, 90
Perigo Imediato, 90
Cuidados na Gestão de Vítimas, 106

Deslocamento Policial-Militar, 88-89


Direção Preventiva, 88
Destinação das Ocorrências, 105
Condução a outros órgãos, 105
Nada Constatado, 105
Orientação das Pessoas ao DP, 105
Parte Orientada, 105
Diligências, 71
Direitos da Pessoa Presa, 102-103
Direitos Humanos, 22
Aspectos da Cidadania, 25-26
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, 22-23
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 23
Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, 24-25
Direitos Humanos de 1ª Geração, 23
Direitos Humanos de 2ª Geração, 24
Direitos Humanos de 3ª Geração, 24

Equipamento de Proteção Individual (EPI), 76-77


Equipamento de Menor Potencial Ofensivo, 62-64
Ênfase na Atuação Preventiva, 71-72

Ferramentas Inteligentes, 127-131


Copom ON-LINE, 127-128
Detecta, 131
FotoCrim, 128-129
Infocrim, 129
Sinesp - Rede INFOSEG, 130
SIOPM, 129-130
Flagrante Delito, 45, 96
Força Pública do Estado, 14
Força Policial, 16

Georreferenciamento, 50
Gerente da Crise, 98
Gestão de Incidentes Policiais Críticos, 97-98
Gestão de Multidões, 115
Administração de Multidões, 115
Controle de Multidões, 115
Graduação da Força Policial, 116
Intervenção Direta, 118
Dispersar, 118
Repelir, 118
Intervenção Indireta, 116
Ação de Presença, 116
Acompanhamento, 117
Contenção, 116
Negociação, 117
Graduação do Uso da Força, 116

Inteligência Emocional, 61
Imagem Institucional, 142-144
Divulgação de Notícia Positiva à Imprensa, 145
Processo de Formação da Imagem Institucional, 142-143
Contato Direto, 143
Opinião e Comentários de Terceiros, 143
Notícias da Imprensa, 143
Reflexo na Imagem Institucional, 143-144
Relacionamento com a Imprensa, 144-145
Dados Básicos do Fato, 145
Fatos Comunicáveis, 145
Imobilização, 101-102
Indivíduo Cooperativo, 101
Resistência Ativa, 101
Resistência Passiva, 101
Situação de Normalidade, 101
Improbidade Administrativa, 54
Incidente Policial Crítico, 97-98
Incidente Policial Dinâmico, 97-98
Incidente Policial Estático, 98

Justas Causas, 96

Modalidade de Policiamento, 71
Diligências, 71
Multidão, 114

Negociação, 62-63
Níveis de Força, 62

O
Ocorrências com Artefatos Explosivos, 100
Ações Antibomba, 100
Ações Contrabomba, 100
Bomba, 100
Ocorrências com Reféns, 98-99
Conter, 99
Isolar, 99
Primeira Intervenção, 99
Tipos de Causadores, 99
Criminoso Profissional, 99
Emocionalmente Perturbado, 99
Terrorista, 99

Patrulhamento Preventivo, 70
Unidade de Serviço (US), 70
Plano de policiamento Inteligente (PPI), 72
Poder de Polícia, 42, 50, 115
Autoexecutoriedade, 51
Coercibilidade, 51
Discricionariedade, 51
Polícia Comunitária, 32
Campanha Comunitária, 33
Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG), 33-34
Núcleos de Mediação Comunitária (NUMEC), 37
NUMEC/CEJUSC, 38
NUMEC/PM, 38
Polícia de Aproximação, 32, 63
Policiamento Ostensivo Comunitário, 32-33
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), 35
Programa Vizinhança Solidária (PVS), 34-35
Reunião Comunitária, 33
Visita Comunitária, 33
Visita Solidária, 33
Polícia Administrativa, 44, 48, 51
Polícia Judiciária, 45-48
Repressão Mediata, 46
Polícia Judiciária Militar, 49
Crimes Militares, 49
Polícia Ostensiva, 42
Policial Mediador de Manifestação, 119
Comunicação Assertiva, 119
Policiamento Ostensivo, 42, 49-50
Posição do Armamento, 79-80
Posição de Alerta, 81
Posição de Saque, 80
Posição de Tiro (3º Olho), 81
Posição Normal, 80
Posição Sul, 80
Postura do Policial Militar, 73-74
Preparação Psicológica, 60-61
Preservação da Ordem Pública, 43-44
Ordem Pública, 43
Salubridade Pública, 43
Segurança Pública, 43
Tranquilidade Pública, 43
Preservação de Local de Crime, 103
Prevenção Primária, 49, 72
Prevenção Secundária, 49-50, 62
Prevenção Terciária, 50
Primeira Intervenção, 99
Prioridade de Trânsito, 89
Processos de Policiamento, 71
R

Radiopatrulha, 16, 17
Batalhão de Radiopatrulha, 17
Companhia de Radiopatrulha, 17
Criação do Serviço, 16
Rede-Rádio, 124
Registro de Ocorrência, 104
Resiliência, 119
Resiliência Policial, 119-120
Responsabilidade Administrativa, 54-55
Poder Disciplinar, 55
Responsabilidade Civil, 55-56
Culpa, 55
Dolo, 55
Responsabilidade Objetiva, 56
Responsabilidade Subjetiva, 55
Responsabilidade Penal, 55
Militar do Estado, 55
Retirada de Laguna, 14
Reuniões de Análise Crítica (RAC), 72
Revolta da Armada, 15
Revolução Constitucionalista de 1932, 15
Revolução Federalista, 15

Terminal Móvel de Dados, 132-133


Terminal Portátil de Dados, 132-133
Tipos de Policiamento, 71
Programas de Policiamento Complementares, 71
Programas de Policiamento Primários, 71
Trato com o Público, 77

Unidade de Serviço, 70
Unificação Força Pública e Guarda Civil, 17
Uso da Força Legal, Necessária e Proporcional, e Emprego de Técnicas e Táticas Policiais, 61
Legalidade, 61
Necessidade, 61
Proporcionalidade, 61
Normalidade, 62
Cooperação, 63
Desobediência, 63
Resistência, 64
Agressão, 65
Agressão com risco à vida, 65
Uso da Força e de Armas de Fogo, 27
Código de Conduta, 26-27
Princípios Básicos, 27-28
Princípios da Legalidade, Necessidade e Proporcionalidade, 26, 61
Uso de Algemas, 102
Uso do Bastão Tonfa, 65
Uso Seletivo da Força, 79, 93

V
Varredura, 94-95
Conduta de Patrulha, 95
Técnicas de Varredura, 94
Emprego de Espelho, 94
Olhada Rápida, 94
Tomada de Ângulo (Fatiamento), 94
Verbalização, 62-63, 93-94
CANÇÃO DA POLÍCIA MILITAR
Letra: Guilherme de Almeida
Música: Maj PM Músico Alcides Jacomo Degobbi

Sentido! Frente, ordinário, marcha!


Feijó conclama, Tobias manda.
E, na distância, desfila a marcha -
Nova Cruzada, nova Demanda,
Um só por todos, todos por um
Dos cento e trinta de trinta e um

Legião de idealistas,
Feijó e Tobias
Legaram-na aos seus,
Tornando-os vigias
Da lei, e Paulistas
"Por mercê de Deus"!

Ei-los que partem! Na paz, na guerra


Brasil Império, Brasil República
Seus passos deixam, fundo, na terra
Rastro e raízes: é a Força Pública
Multiplicando por mil e um
Os cento e trinta de trinta e um!

Legião de idealistas ...

Missão cumprida em Campos das Palmas;


Laguna, heroísmo na "Retirada";
Glória em Canudos; e, de armas e almas,
Ao nosso Julho da Clarinada
Sob as Arcadas vêm, um a um,
Os cento e trinta de trinta e um!

Legião de idealistas...
CANÇÃO DO PATRULHEIRO
Letra e música: Cap PM Luiz Eduardo Pesce de Arruda
Arranjo: 2º Ten QAOPM PM Gildo Antonio Vendramini

Voluntários bandeirantes,
nobre é a nossa vocação!
Defender a nossa terra
e auxiliar o cidadão

Pela força do direito


pelejamos sem cessar
e a paz da sociedade
responsáveis, iremos preservar

A grandeza está em servir


a São Paulo e à Lei!
Do povo, protetor e amigo,
Sou Patrulheiro! Os crimes deterei!

Respeitado é o Patrulheiro
pelo exemplo e retidão
e jamais se vê sozinho
todos, nas ruas, são irmãos

Com acerto e rapidez


sabe agir com decisão
enfrenta qualquer problema
leva sempre a melhor solução

A grandeza está em servir...

Confiante e audaz
seu trabalho o Bem constrói
dá sua vida, se preciso
da Justiça, é o herói

Sem descanso e sem temor


dia e noite, sempre alerta!
a paz e a ordem manteremos
nas cidades, estradas e florestas

A grandeza está em servir...

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