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COLÉGIO ESTADUAL DO BONITO, ______DE ________________ DE 2023

ALUNO(A)__________________________________ 2º ANO
TURMA______
PROFESSOR ODILÉSIO BARBOSA DOS REIS

ATIVIDADE DE LÍNGUA PORTUGUSA E LITERATURA BRASILEIRA – II UNIDADE

            
 
Leitura
                  

O primo Basílio
Eça de Queirós

Fragmento 1
            Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-
se para ir a casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar não. Mas estava
tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos a costura, a
toalete, algum romance... Mas de tarde!
            A hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em
torno dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
            Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga
sentimentalidade; sentava-se ao piano, e os fados tristes, as cavatinas apaixonadas gemiam
instintivamente no teclado, sob os seus dedos preguiçosos, no movimento abandonado dos
seus braços moles. O que pensava em tolices então! E à noite, só, na larga cama francesa,
sem poder dormir com o calor, vinham-lhe de repente terrores, palpites de viuvez.

Fragmento 2
            Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de
sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a
vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a
fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a
saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro
de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir [...].
            As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas
enraivece um lobo. Fez-se má; beliscava crianças até lhes enodoar a pele; e se lhe
ralhavam, a sua cólera rompia em rajadas. Começou a ser despedida. Num só ano esteve
em três casas. Saía com escândalo, aos gritos, atirando as portas, deixando as amas todas
pálidas, todas nervosas... [...]
A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas,
com um ódio irracional e pueril.
                    O primo Basílio. In Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1986. P. 585 e 597. V. 1.
Fragmento 3 (Questões de 4 a 7)
Luísa, ao voltar para casa, veio a refletir naquela “cena”. Não – pensava – já não era
a primeira vez que ele mostrava um desprendimento muito seco por ela, pela sua reputação,
pela sua saúde! Queria-a ali todos os dias, egoistamente. Que as más línguas falassem, que
as soalheiras a matassem, que lhe importava? E para quê?… Porque enfim, saltava aos
olhos, ele amava-a menos… as suas palavras, os seus beijos arrefeciam cada dia, mais e
mais!… Já não tinha aqueles arrebatamentos do desejo em que a envolvia toda numa
carícia palpitante, nem aquela abundância de sensação que o fazia cair de joelhos com as
mãos trê- mulas como as de um velho!… Já se não arremessava para ela, mal ela aparecia
à porta, como sobre uma presa estremecida!… Já não havia aquelas conversas pueris,
cheia de risos, divagadas e tontas, em que se abandonavam, se esqueciam, depois da hora
ardente e física, quando ela ficava numa lassitude doce, com o sangue fresco, a cabeça
deitada sobre os braços nus! – Agora! Trocando o último beijo, acendia o charuto, como num
restaurante ao fim do jantas! E ia logo a um espelho pequeno que havia sobre o lavatório dar
uma penteadela no cabelo com um pentezinho de algibeira. (O que ela odiava o pentezinho!)
Às vezes até olhava o relógio!… E enquanto ela se arranjava não vinha, como nos primeiros
tempos, ajudá-la, pôr-lhe o colarinho, picar-se nos seus alfinetes, rir em volta dela, despedir-
se com beijos apressados da nudez dos sues ombros antes que o vestido se apertasse. Ia
rufar nos vidros, – ou sentado, com um ar macambúzio, bamboleava a perna. E, depois,
positivamente não a respeitava, não a considerava… Trata-a por cima do ombro, como uma
burguesinha, pouco educada e estreita, que apenas conhece o seu bairro. E um modo de
passear, fumando, com a cabeça alta, falando no “espírito de madame de tal”, nas toilettes
da “condessa de tal”! Como se ela fosse estúpida, e os seus vestidos fossem trapos! Ah, era
secante! E parecia, Deus me perdoe, parecia que lhe fazia uma honra, uma grande honra
em a possuir… Imediatamente lembrava-se de Jorge, Jorge que a amava com tanto
respeito! Jorge, para quem ela era decerto a mais linda, a mais elegante, a mais inteligente,
a mais cativante!… E já pensava um pouco que sacrificaria a sua tranquilidade tão feliz a um
amor bem incerto!

O primo Basílio. In Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1986. P. 585 e 597. V. 1.

 Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=t7n0QAtniZM

RELEITURA

01 -   Considere o seguinte fragmento de uma das famosas Conferências do Cassino


Lisbonense, em que Eça de Queirós teoriza sobre o novo estilo, comparando-o com o
Romantismo:
[...] o Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do
sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos
pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.
 António José Saraiva e Óscar Lopes. História da literatura portuguesa. Porto: Porto Editora, 1975. p.
960.     
a)      O narrador caracteriza Luíza como uma personagem romântica. Que traços da
personagem, presentes no fragmento 1, nos permitem associá-la com o Romantismo?
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b)   Luísa é caracterizada por meio de uma ótica realista, na medida em que o narrador critica-
lhe o romantismo, em vez de aderir a ele. Que frase do fragmento 1 comprova essa
afirmação?
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02 -  Além da postura racional e objetiva, necessária para a “ anatomia do caráter `` pretendida


pelos escritores realistas, esse estilo, em sua vertente naturalista, vê o comportamento
humano como consequência de certos fatores que o determinam.

a)      No caso de Luísa, que no romance é casada com Jorge e tem uma vida ociosa, de classe
média abastada, a que fatores presentes no texto podemos atribuir os seus traços
românticos?
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b)      E no caso de Juliana, a segunda personagem caracterizada no fragmento 2? Qual é o fator


determinante de sua revolta, de seu ódio?
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03 - Ao ver o homem como produto de leis biológicas, o estilo naturalista o compara com os
outros animais.
a)      Transcreva o trecho do fragmento 2 que exemplifica essa característica.
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b)      Em que sentido o fragmento 2 ilustra o tema das desigualdades sociais intensamente
tratado pelos escritores realistas?
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04 - Explique o que a personagem quer exprimir com a pergunta para quê? – feita a si
mesma.
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05 - Como se pode caracterizar o comportamento de Basílio, visto por dois ângulos, o do
narrador e o da personagem feminina?
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06 - Tente explicar que sentindo pode ter a frase “O que ela odiava o pentezinho.”
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07 - Quais os elementos do texto que concorrem para que nós o classifiquemos de
antirromântico?
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