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História da Arte 1 – PROVA 1

Nome: Heloísa Manduca

RA: 101170498

Curso: Ciências Econômicas

Realização de trabalho – Arte Grega – Storytelling – Jornada do Herói

Arquétipos

Heroína: Personagem principal e narradora 1 pessoa (sem nome mencionado)

Mentor: Daniel

Guardião do Limiar: o medo de ser uma artista que não tem como se manter se decidir viver
de arte.

Arauto: cirurgia que faz com que o herói tenha dificuldade de enxergar e a impossibilita
seguir com seu hobby de arte visual.

Sombra: medo de ser incapaz de produzir arte novamente.

Camaleão: Mariana

Narrativa em primeira pessoa.

Partes da jornada do herói

Mundo comum:

Não aguento mais esse trabalho, oito horas por dia dentro de uma sala com essa mulher
que fica me olhando e me julgando internamente. Sentada em uma cadeira branca e
desconfortável olhando para a tela de um notebook que superaquece quando eu abro mais
de duas planilhas no Excel.
Mariana é minha gerente, trabalhamos literalmente na mesma mesa. Quando entrei nesse
emprego ela me ajudou, me ensinou a usar o sistema, me ensinou praticamente tudo que
eu faço hoje, não me via como uma ameaça. Inicialmente ela foi legal comigo, não parecia
me odiar igual hoje, tive até uma queda por ela por um tempo, não resisto a uma mulher
com cara de brava e olhos claros. Mas depois que ela perdeu o posto de favorita do dono
da empresa ela começou a ficar hostil comigo, passou a melhorar com raiva e a fazer
comentários ácidos sobre mim, demorava para responder meus e-mails, atrasando
minhas coisas intencionalmente.
Então eu passava a maior parte do meu dia com ela, percebia que me olhava de canto de
olho as vezes, nunca conseguia entender o que se passava pela mente dela, mas sinto que
não era algo bom.
Depois desse dia de trabalho incrível, que se repetia 5 vezes por semana eu ia para a
faculdade, uma forma de tortura diferente, onde eu ficava sentada por varias horas
olhando para uma lousa, onde algum professor falava várias coisas com as quais eu não
me importava sobre assuntos que eu não queria saber.
O que fazia com que meu dia ficasse melhor era o fato de que enquanto eu fingia prestar
atenção nas aulas eu estava na verdade desenhando no meu caderno, ou lendo algum livro
de poesia. Isso fazia com que tudo aquilo valesse a pena, em pelo menos alguns instantes
tudo aquilo sumia e eu estava criando algo, ou vivenciando algo criado por alguém,
aprendendo a pensar pela perspectiva de outros artistas ou criando a minha própria.
Então eu recebi um e-mail enquanto olhava uma foto de referência para um desenho que
estava terminando durante a aula de Econometria. Era um aviso do meu plano de saúde
dizendo que minha cirurgia oftalmológica tinha sido liberada e estava pronta para ser
agendada.

Chamado à aventura:
Sempre usei óculos, antes mesmo de aprender a falar eu já usava óculos, sempre tive em
mente que um dia quando tivesse a idade certa, poderia fazer uma cirurgia que me livraria
da necessidade de escolher uma armação nova a cada vez que meu grau mudava, que faria
com que eu não precisasse mais ir a cada 6 meses no oftalmologista dilatar minha pupila
e ficar tentando enxergar aquelas letrinhas na parede: “E, N, não M, P .....?”, eu odiava esse
exame, porque eu nunca conseguia ver todas, nem as maiores, mas com o óculos eu
conseguia ver todas.
Recusa do chamado:
Então quando eu recebi o e-mail pensei em marcar a cirurgia, mas fiquei com medo de que
alguma coisa poderia dar errado. Fui ver alguns vídeos de pessoas falando como foi o
procedimento para elas e decidi que era melhor esperar um pouco.
Encontro com mentor:
Conversei com Daniel, meu amigo que tem uma banda cover de Led Zeppelin que sempre
fala para eu treinar e ir com eles nos shows porque ele sabe que eu já tive banda, mas
sempre arrumo uma desculpa de que tenho muito trabalho e não tenho tempo agora. Ele
me deu um violão para eu tocar enquanto estivesse me recuperando da cirurgia, me
incentivando há marcar o procedimento e a voltar a estudar música.

Travessia do primeiro limiar:


Entrei na sala de espera, tinham mais umas 3 pessoas com toucas cirúrgicas e aquele
roupão igual ao que me deram. Uma senhora com cabelos brancos e salto alto, um homem
com uma barba aparada que parecia ter sido feita a algumas horas, cabelo escuro e um
perfume forte, uma menina com um vestido rosa e meias brancas que parecia ter no
máximo 6 anos.
Esperamos enquanto as enfermeiras vinham pingar colírio nos nossos olhos, era
anestesia. Demorou meia hora para entrar na sala de cirurgia, a espera durou mais que o
tempo do procedimento.
Deitei-me em uma maca onde tinha uma máquina com um laser, e no final do laser meu
olho. Colocaram um aparelho para fazer com que meu olho permanecesse aberto, igual
aquele da cena de tortura em laranja mecânica, mas eu não senti nada. Um cheiro de
queimado, uma espátula no meu olho direito, depois a mesma coisa no esquerdo. O
procedimento todo deve ter durado uma meia hora, não muito mais que isso.
Assim que eu me levantei eu já enxergava, parecia que eu nunca tinha usado óculos, como
se eu tivesse acordado algum dia e sido mordida pela mesma aranha do Peter Park e agora
eu conseguia ver tudo em HD.

Ventre da baleia: onde o herói vai ser testado e conhece aliados e inimigos
Apesar da sensação de incômodo nos olhos, parecia que tinha areia nos dois, eu estava
enxergando perfeitamente, e era isso que importava. Precisei ficar alguns dias com uma
proteção nos olhos e sem forçar a vista, lendo ou assistindo muita tv.
Conforme os dias foram passando e meus olhos começaram a cicatrizar, parar de doer e
foram voltando ao normal percebi que minha visão estava ficando menos nítida, então dia
após dia na próxima semana fui sentindo minha visão piorar, as coisas estavam
começando a ficar desfocadas.
A cada dia, quando eu acordava percebia que estava enxergando pior, e cada vez que isso
acontecia a sensação de desespero e agonia aumentava. Agora eu não tinha nem como
resolver isso, porque meu grau estava mudando conforme meu olho cicatrizava e nenhum
óculos resolveria um grau instável assim. Quando assinei o termo de autorização da
cirurgia não prestei atenção, mas tinha uma cláusula que dizia que havia 1% de chance da
cirurgia não dar certo, eu lembrei disso depois...
Aproximação da caverna oculta:
Fui consumida pela raiva, pela frustração, pela sensação de ser uma falha, de não ser capaz
de enxergar, por culpar a mim mesma por ter um corpo que não funcionava como ele
deveria. Tudo que antes me irritava e que me deixava com tédio como meu trabalho e a
faculdade agora eram desafios que me esgotavam porque tentar enxergar era exaustivo,
doloroso e frustrante. Saí da faculdade por um semestre, estava tão irritada, e triste com a
minha incapacidade de ler o que estava na lousa ou de conseguir ler um texto sem sentir
dor que eu resolvi sair de lá.
Não aguentava mais passar por essa frustração todas as noites, não depois de passar o dia
inteiro, oito horas por dia, de frente a um notebook com tanto zoom na tela que era
impossível fazer algo rápido, na mesma sala com a Mariana, mas que agora me olhava com
pena e me tratava como se eu fosse doente.
Aprovação suprema:
Então agora eu tinha um “tempo livre” para fazer o que eu gostava de fato, depois do
trabalho, agora eu poderia me dedicar a arte, poderia desenhar e pintar, eu pensei por um
momento, tentando encontrar o lado bom do que estava acontecendo, já que eu não
gostava mesmo da faculdade.
Então um dia, quando eu não estava muito cansada pensei em desenhar uma paisagem.
Separei meu material de desenho; lápis HB, lápis 2B, cavalete e caderno A3, escolhi uma
foto de referência, tundras e um lago. Quando fiz o primeiro traço no papel senti um calor,
como se fosse um arrepio, subiu da base da minha coluna até minha têmpora, minha
respiração mudou, senti meu rosto ficar quente e meus dedos ficaram gelados, comecei a
tremer, o ódio tomou conta da minha mente e eu queria gritar, queria destruir tudo, joguei
o cavalete no chão do outro lado da sala não conseguia enxergar o que eu estava tentando
desenhar direito, estava tudo borrado.
Comecei a me culpar, senti raiva de mim mesma por ter me iludido, por ter achado q eu
seria capaz de ver e fazer algo de qualidade. Quem eu estava querendo enganar?
Sentei-me no chão do lado das coisas que eu tinha jogado com força para longe de mim e
comecei a chorar, chorei tanto naquele momento, estava perdendo minha esperança de
que algum dia conseguiria fazer algo relacionado a arte novamente, me culpei, me achei
incapaz. Tive medo de sempre que eu tentasse fazer algo eu me frustraria e me magoaria
como naquele momento.
Então me lembrei que meu amigo, um professor de guitarra que conheci em uma
exposição Daniel, tinha me dado um violão de presente uma semana antes de eu fazer o
procedimento, tinha comentado que durante a recuperação eu não poderia desenhar
então como ele sabia que eu já tinha feito aula quando era adolescente ele comentou que
seria uma ótima oportunidade para eu voltar a tocar.
Fui para o quarto e peguei meu violão, um modelo Strinberg marrom escuro, escolhi uma
música que eu não parava de escutar e comecei a tentar tocar, no início foi meio difícil
adivinhar os acordes de ouvido, mas quanto mais eu tentava mais fácil ficava.
Nos próximos dias, sempre que chegava em casa ficava horas, e horas tocando violão,
comecei até a fazer aula de teoria musical com o Daniel, tinha descoberto uma nova forma
de me expressar, através da música. Quando tocava era como se eu estivesse desenhando,
tudo ao meu redor parava, nada mais importava, nenhum problema, mágoa, frustração,
culpa ou medo, só aquele momento.
Ressureição: Como o herói mudou

Sabe aquela sensação de quanto você sabe que esqueceu algo, mas não lembra exatamente
o que? Aquela paralisia momentânea de saber que algo está errado e que precisa tomar
uma ação, mas não faz ideia de por onde começar. Sempre senti algo parecido, uma
sensação de que algo não estava completo ou que faltava algo que eu ainda não sabia o que
era. Como se eu soubesse que um dia alguma coisa alguma ação teria que ser tomada, eu
só ainda não tinha ideia do que seria.
Era com essa sensação que eu vivia, dia após dia, dias felizes, dias tristes, dias de puro
tédio, mas essa sensação sempre comigo, como um fantasma que te segue ao longo de sua
vida até que você resolva enfrentar coisas mal resolvidas que você decidiu que era mais
fácil ignorar, “maratonando” série ou se matando de trabalhar, para evitar pensar nisso.
Outro dia li um artigo no Psychology Today que dizia que o cigarro é um band-aid
emocional, que ele é muitas vezes usado como uma medida imediata contra algum tipo de
desconforto, contra o stress, ansiedade, mas que por ter esse caráter paliativo ele impede
que o indivíduo chegue na raiz do problema e o trate de fato. Percebi que o meu band-aid
era o fato de que eu não tinha coragem de aceitar que eu precisava da arte de alguma
forma, eu desenhar quando deveria estar fazendo algo era meu band-aid.

Recompensa:
Agora eu consigo me expressar como eu não conseguia antes só com o desenho, essa
necessidade de criar, de transformar de fazer parte de algo maior do que você aquela
sensação agora eu reconheço o que é, agora eu sei como resolver essa angústia. Agora
eu consigo viver de forma plena, como se eu fosse agora eu tivesse um propósito agora,
um sentido.

Caminho de volta:

Não fico mais oito horas na frente de um computador fazendo tarefas sem sentido para
mim, fico muito mais horas praticando com minha banda, tocando músicas que eu
realmente adoro, fazendo shows de minhas músicas e covers em festas.

Retorno com o Elixir:

Não aceitava que eu realmente precisava de alguma forma de expressão artística para
fazer minha vida ter sentido, estava omitindo alguma coisa, e quando isso foi tirado de
mim eu tive que enfrentar a verdade de que no fundo é o que eu quero fazer, é o que eu
quero viver, era a vida que eu tinha medo de aceitar que eu queria desde sempre.

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