Você está na página 1de 44

1- MOKITI OKADA: DE ATEU À LIDER RELIGIOSO

O primeiro capítulo irá apresentar a trajetória de Mokiti Okada,


fundador da Igreja Messiânica Mundial (IMM), desde sua infância até a
conversão religiosa, culminando com a fundação da instituição religiosa. Serão
abordados particularidades de sua vida como a estrutura familiar, educação,
assim como uma breve contextualização histórico-cultural do Japão, que neste
período de sua vida, passou por intensas transformações em sua sociedade.

Também iremos apresentar a história da IMM, desde sua fundação


em 1935, ainda como Dai Nippon Kannon Kai (Associação Kannon do Grande
Japão) até a instituição da Sekai Meshiya Kyo (Igreja Messiânica Mundial),
posteriormente alterado em definitivo para Sekai Kyusei Kyo. Serão abordados
as transformações e mudanças ocorridas através do tempo na instituição, bem
como as perseguições religiosas sofridas tanto por Mokiti Okada quanto pela
IMM.

1.1- A TRAJETÓRIA DO FUNDADOR

Mokiti Okada, fundador da IMM, nasceu em 23 de dezembro de


1882, ano 15 do período Meiji (1868-1912), nome dado à grande reforma
política, econômica e social que, com a pressão das grandes potências
capitalistas, derrubou o sistema feudal e instaurou o sistema capitalista japonês
dando origem à uma nação imperial moderna no ano de 1868. Dentro desse
contexto, é possível afirmar que o fundador nasceu em um período de intensa
transformação da sociedade japonesa.

Passados três séculos de isolamento e pressionado pelas grandes


potências ocidentais, principalmente os Estados Unidos da América (EUA), o
Japão viu-se obrigado a abrir seus portos, sendo que o único meio de evitar
que seu país fosse invadido e dominado pelas grandes potências, seria
alcançando e superando seu grau de desenvolvimento, principalmente,
tecnológico e industrial. Assim, o Japão precisava se modernizar e a
Restauração Meiji marca o início desse movimento.
Os japoneses permitiram que seus jovens fossem enviados à
Europa e aos Estados Unidos para estudarem em universidades voltadas para
os campos da ciência e da tecnologia. Com o passar do tempo, a população
japonesa começou a dominar o conhecimento necessário para a criação de
suas primeiras indústrias, importando os modelos ocidentais para organizar o
aparato produtivo, os transportes e a burocracia estatal e se transformando em
um belo exemplo de modernização nos campos político e industrial para todo o
Oriente. Desse modo, a presença ocidental podia ser percebida nos mais
variados campos da sociedade, alterando a vida política, os direitos civis, o
sistema educacional, os costumes e o cotidiano de uma considerável parcela
da população.

Apesar de toda a modernização e os avanços obtidos com a


restauração, uma grande parte da população ainda se encontrava na miséria,
motivando uma forte reação à ocidentalização, julgada excessiva por parte de
uma população considerada tradicionalista, avessa à cultura e ao pensamento
ocidental. Mas, mesmo com todos os obstáculos surgidos com o
desenvolvimento e a modernização, a população ainda encontrava meios de
manter a tradição e a cultura japonesa viva.

Hashiba, bairro localizado em Assakussa, local de nascimento do


fundador Mokiti Okada, não fugia às transformações e a dualidade visível em
seu dia a dia. À partir da construção do Templo Sensoji em 645, templo mais
antigo de Tóquio e posteriormente tornando-se um local de peregrinações,
Assakussa passou de uma pacata vila de pescadores para um importante polo
cultural desde o período Edo (1603-1867) até meados do século 20. Além
disso, a cidade também era um importante polo comercial e industrial, pois
estava situada às margens do rio Sumida, principal via fluvial de Tóquio.

Dentro de todo este contexto de transformações, Mokiti Okada


nasceu e cresceu em uma família composta por cinco pessoas, sendo ele, o
quarto filho de Kisaburo Okada (1852-1905) e Tori Okada (1855-1912), que
tiveram ainda duas meninas e dois meninos, sendo que a segunda filha,
faleceu ainda bem pequena, antes de Mokiti Okada nascer. Kisaburo seu pai,
herdou da família uma casa de penhores e mais de trinta imóveis para alugar.
Apesar de toda essa prosperidade, sua pouca idade (15 anos), a falta de
experiência nos negócios e as circunstâncias da época (assumiu os negócios à
véspera da Revolução Meiji, um dos períodos mais conturbados da história do
Japão) levaram-no a perder todo o patrimônio herdado em menos de treze
anos.

Tori Okada sua mãe, também foi criada com muita dificuldade pela
avó do fundador. Seu pai, médico e professor da vila de Okudo, falecera
quando ela tinha apenas seis anos de idade. Quando se casou com Kisaburo
em 1871, as condições financeiras da família Okada ainda eram razoáveis;
porém, à época do nascimento de Mokiti Okada, a família atravessava a pior
situação de suas vidas, a ponto de faltar até o que comer. Nesse período
Kisaburo, como único caminho para a subsistência sua e de sua família, se
tornou um comerciante de objetos usados. A família morava em uma casa
simples de dois cômodos, onde em um deles, funcionava a loja. Além deste
pequeno comércio, a família Okada também contava com as vendas dos
objetos usados, no Parque Assakusa, distante 1km da sua residência, onde
todas as noites com uma carroça carregada, o pai do fundador montava uma
barraca. O lucro obtido com as vendas, seria usado para a compra da refeição
do dia seguinte. Sobre esse período Mokiti Okada escreveu:

Portanto, em minha infância, e mesmo quando já tinha uma


família para cuidar, durante um bom espaço de tempo provei o
sabor da pobreza, podendo compreender o quanto o dinheiro é
motivo para gratidão. Isso me foi de grande proveito, pois ainda
hoje não consigo desperdiçar nada, nem viver no luxo, de
modo que sou até grato pela adversidade daquela época
(FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 75).

No período entre 1877 e 1896, com a modernização do Japão, o


governo planejou a organização e o aperfeiçoamento do sistema de ensino.
Foram implantadas muitas escolas primárias públicas e o reconhecimento
oficial das chamadas “terakoya”1 e os “shijuku”2, escolas públicas ou
particulares.

1
“Terakoya” – Estabelecimento particular de ensino básico voltado à população japonesa. As aulas eram
ministradas em templos budistas.
2
“Shijuku” – Estabelecimento particular de ensino instituído por especialistas em Confucionismo, de
grande importância no período Edo.
Mesmo com todas as adversidades, a família Okada não media
esforços para proporcionar uma excelente educação aos filhos e aos seis anos,
Mokiti Okada ingressou na escola Nishi, estabelecimento particular do tipo
“terakoya”. Seu esforço e dedicação nos estudos eram frutos do amor e da
esperança que seus pais lhe depositavam, pagando uma mensalidade alta
para os padrões da família (entre 25 e 50 “sen”) que às vezes, não tinham
como comprar um prato de macarrão a 1 “sen”. Todos os dias, o fundador
percorria uma distância de aproximadamente vinte minutos à pé, por uma
estrada de terra, da sua casa em Hashiba até a escola.

Com a mudança da família Okada para o bairro de Senzoku, o


fundador se transferiu para a Escola Primária Assakusa do tipo “shijuku”,
localizada no interior do Templo Seigan-ji no bairro de Tajima, próximo do
Templo Senso-ji. Mokiti Okada estudou nessa escola por quatro anos e meio,
até o término do curso, em 1896.

Mesmo com todo o esforço e empenho nos estudos, a saúde do


fundador sempre foi muito frágil, principalmente na infância, conseguindo
terminar o curso primário com muito sacrifício, o que lhe causava um
sentimento de inveja quando olhava as outras crianças saudáveis brincando e
se divertindo.

O Fundador, que era um menino doentio, não brincava nem


mesmo quando o chamavam; na maioria das vezes, ficava
lendo ou desenhando à sombra do imóvel portão do templo.
Sendo assim, ele devia olhar com inveja as crianças saudáveis
que corriam de um lado para o outro... (FUNDAÇÃO MOKITI
OKADA, 2001, p. 102).

Para suprir os constantes problemas de saúde, o fundador se


empenhava nas leituras e nos desenhos, o que motivou o desejo de ganhar a
vida com a pintura, de que tanto gostava. Assim, em março de 1896, com treze
anos de idade, Mokiti Okada termina o segundo nível da Escola Primária de
Assakusa e no ano seguinte, em 1897 ingressa na Escola de Belas-Artes de
Tóquio, feliz em poder seguir a carreira desejada.

A situação financeira na família Okada começava a melhorar e os


pais do fundador, Kissaburo e Tori, acreditavam no sonho de Mokiti Okada de
se tornar um grande artista na esperança de reerguer a família. Eles
acreditavam que a profissão de artista plástico era a profissão mais adequada
para o fundador, pois com a saúde frágil, seria possível ele trabalhar em casa.
Assim, em setembro de 1897 Mokiti Okada ingressa na Escola de Belas-Artes
de Tóquio, atual Universidade de Artes de Tóquio, graças à ajuda financeira de
sua irmã mais velha Shizu Okada (1872-1902).

A Escola de Belas-Artes de Tóquio foi fundada por Tenshin, nome


artístico de Kakuzo Okakura (1863-1913), que insatisfeito com a falta de
interesse por parte dos japoneses na excelência das belas-artes do seu país e
mais preocupados com a ocidentalização, instituiu a escola como uma forma
de restaurar este sentimento no povo japonês. O curso no qual o fundador
ingressou, era o Curso Preparatório e tinha a duração de um ano, dividido em
dois ramos: o ramo “Ko”, frequentado pelos candidatos ao campo da pintura,
desenho e trabalhos com laca, e o ramo “Otsu”, frequentado por candidatos ao
campo da escultura, inclusive escultura em metal e fundição. Após o Curso
Preparatório, o aluno ia para o Curso Normal, com duração de quatro anos.
Okakura ocupava o cargo de diretor e ministrava aula de História na escola,
época em que o fundador ingressou no curso, sendo fundamental para a
reestruturação da arte contemporânea japonesa.

O empenho que fazia para criar a arte de uma nova época,


baseada no decurso da arte tradicional do Japão e de outros
países do Oriente, moveu o coração de muitos alunos, e dessa
escola saíram vários gênios representativos das belas-artes
japonesas (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 114).

No entanto, a alegria e o entusiasmo de ser aluno da Escola de


Belas-Artes de Tóquio durou pouco tempo. Após alguns meses de início do
curso, Mokiti Okada contraiu uma doença nos olhos, que o fez sentir sua vista
embaçada e enxergar com duplicidade. Apesar de iniciar um tratamento em
uma clínica muito conceituada à época, não obteve a cura para a enfermidade,
o que o fez abandonar o curso e a Escola de Belas-Artes.

O período subsequente ao abandono do curso de pintura, foi


doloroso para Mokiti Okada, tendo enfrentado uma sequência de sofrimentos
causados por diversas doenças. Logo após a enfermidade nos olhos, foi
acometido de pleurisia, acarretando grandes despesas para a família. Sem
condições de arcar com os custos do tratamento, a única saída foi a internação
no setor de tratamento gratuito do hospital da Faculdade de Medicina da
Universidade Imperial de Tóquio. Todos os custos pela internação e tratamento
eram gratuitos, porém o fundador teria que servir de cobaia para os estudantes
de medicina. Após um ano de tratamento e aparentemente curado e com
saúde, veio uma recaída, piorando o quadro e um ano após, foi diagnosticado
com tuberculose de terceiro grau. Nesse período, com dezoito anos, procurou
um especialista na área, o qual após realizar diversos exames, informou à
Mokiti Okada que: “já não havia esperança de cura”. Segundo Okada (2001, p.
116): “Era como se eu tivesse sido condenado à morte sem dia determinado
para a execução”.

Diante da inevitável perspectiva do fim, decidiu encontrar um método


para a cura da doença. Certo dia, lendo um livro sobre plantas medicinais, e
observando as explicações sobre os efeitos terapêuticos das mesmas, decidiu
seguir uma dieta vegetariana. Após algumas experiências, teve um resultado
positivo e sob orientações médicas, passou a alimentar-se exclusivamente de
vegetais. Assim, com vinte anos, conseguiu se curar da tuberculose, apesar de
continuar por longos anos com um físico frágil e outras tantas doenças.

A lista de problemas de saúde experimentados por ele é


extensa: doença nos olhos, pleurisia, tuberculose, anemia, tifo
intestinal, crises de hemorroidas, dores de cabeça e de
estômago, reumatismo, prostração nervosa, uretrite,
amigdalite, catarro intestinal, cardiopatia, periodontite etc. Daí
suas bem-humoradas afirmações: “Tive quase todas as
doenças, exceto as de senhoras” e “Eu parecia mais um
atacadista de doenças” (RAFFO, 2010, p. 26).

Mesmo com todos os problemas de saúde, que o impossibilitaram


de cursar a Escola de Belas-Artes e seguir com o sonho de ser um artista,
Mokiti Okada passou a pesquisar e estudar antiguidades, com o desejo de abrir
uma loja com seu pai. Assim, percorria as lojas noturnas da Rua Guinza e
adjacências, parando nas de objetos usados e examinando atentamente
aqueles que o chamavam atenção. Retornando para casa, conversava com
seu pai a respeito dos objetos em questão e algumas vezes adquiria-os,
precisando o valor do item posteriormente junto a ele. Interessou-se também
pelo “maki-e”, um tipo de artesanato em laca muito característico do Japão e
tradicional desde a era Nara (710-784), passando a ter aulas com um
profissional de sua vizinhança e sonhando em expor seus trabalhos na loja que
pretendia adquirir. A partir do momento que conseguiu executar todo o
processo sozinho, assimilando toda a técnica de produção, passou a
desenvolver objetos como cinzeiros e braseiros. Nesse período, participou de
uma exposição de belas-artes em Ueno, onde expôs os objetos de sua autoria,
sendo todos vendidos e tendo uma boa aceitação. Com isso, dedicou-se ainda
mais a arte do “maki-e”, colocando à venda posteriormente, os objetos
confeccionados na loja de miudezas que passaria a administrar.

A paixão pelas artes Okada herdou do pai Kissaburo, que também


tinha dons artísticos e incentivou o filho a seguir a carreira. Além disso, o
fundador costumava assistir em companhia da mãe Tori, peças de teatro e
cinema, que acabava de ser importado pelo Japão (1896), onde pequenos
produtores importavam filmes de curta duração, exibidos em salões alugados.

Além da paixão pelas artes, Okada era um grande apreciador de


livros. Costumava realizar a leitura de jornais, livros e revistas, às vezes até
tarde da noite, sendo que os livros que mais apreciava eram histórias de
homens bem sucedidos nos negócios, aprendendo sobre os sofrimentos,
princípios e ideias dos mesmos, servindo de inspiração para um futuro próximo.
Essas histórias de sucesso de grandes empresários, eram muito apreciadas
nesse período, já que o governo japonês, desde a Restauração Meiji, como um
dos caminhos para a construção de uma nova nação, incentivava a população
na busca por sucesso e poder, pois se acreditava na importância da formação
do ser humano, objetivando o surgimento de pessoas célebres que pudessem
mudar os rumos do país. Prova desse pensamento, foi o surgimento da revista
Seiko (Sucesso) e da revista Jitsugyo no Nippon (O Japão Empresarial), onde
se publicavam experiências e memórias de grandes empresários, artigos
esses, sempre lidos pelo fundador.

O interesse de Okada pelo sucesso, não era pessoal, mas sim a


possibilidade de promover a felicidade de um grande número de pessoas
através de sua posição. Segundo suas palavras:
Quando eu subir na vida, vou ajudar os que estão em
dificuldades, pois quero acabar com as pessoas que perturbam
a sociedade. É uma ideia que não sai da minha mente”
(FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 127).

Os jornais, também eram grandes fontes de informações para


Okada, sendo o mais lido o periódico Yoruzu-tyoho (Jornal matutino de
utilidade para tudo), publicado por Ruiko Kuroiwa (1862-1920), que denunciava
as fraudes e irregularidades políticas e financeiras do Japão e que se tornou
uma grande fonte de inspiração para o fundador que se identificou com as
ideias de seu redator e planejou a abertura de uma empresa jornalística com o
objetivo de combater as injustiças sociais. Quanto aos livros, Okada era
apreciador da filosofia ocidental, sendo os autores mais lidos, William James
(1842-1910) e Henri Bergson (1859-1941) com as teorias do “pragmatismo” e a
“filosofia da intuição” respectivamente. Anos mais tarde, aplicou essas teorias
em sua vida religiosa, sendo hoje, de grande importância na doutrina
messiânica.

A família Okada mantinha uma vida estável depois de períodos de


muitas dificuldades, mesmo após a morte de Shizu Okada, irmã mais velha do
fundador em 1902, em decorrência de uma pneumonia aguda. O dinheiro que
sustentava a família nesse período, era proveniente do aluguel da casa
construída com o dinheiro da venda da Pensão Seiguetsu, deixada por Shizu.
Porém essa estabilidade começou a mudar com a morte do seu pai, Kissaburo
Okada em 1905, em decorrência de uma enfermidade no coração. Se sentindo
perdido, Mokiti Okada não sabia qual caminho trilhar. O sonho de ser um
grande pintor teve que ser interrompido devido às graves doenças e a loja de
antiguidades parecia uma aventura, pois não tinha experiência para administrá-
la e não tinha mais a presença do pai para lhe apoiar.

Assim, o fundador não vislumbrava nenhuma perspectiva de


sucesso para o seu futuro, mesmo tendo o capital para abrir o seu negócio,
dinheiro que foi deixado por seu pai como herança. Contudo, sua mãe o
incentivou a adquirir uma loja de miudezas, oferecida por um conhecido da
família. A loja ficava na Rua Nishinaka no bairro de Oke, um local de grande
movimento. A referida loja comercializava batom, pó de arroz, pentes, adornos
para cabelo, etc. Okada recusou a oferta a princípio, alegando não entender
sobre o assunto, porém sua mãe ofereceu ajuda, dizendo que seria muito mais
fácil administrar uma loja pequena de miudezas do que uma loja de
antiguidades, especialmente por seu pai não estar mais presente. E assim com
a ajuda de sua mãe, o fundador adquiriu a loja dando-lhe o nome de Korin-do,
em homenagem ao pintor Korin Ogata (1658-1716), muito admirado por ele.

Em pouco tempo a Korin-do foi prosperando, passando também a


comercializar as obras de “maki-e” de sua autoria. Contudo, devido a um corte
no nervo do dedo indicador da mão direita, que o tornou rígido e sem
condições de dobrá-lo, teve de interromper o sonho de seguir a carreira como
artista de “maki-e”, pois, para se alcançar o grau de excelência nesse tipo de
técnica, a mobilidade do dedo indicador é fundamental, exigindo uma
sensibilidade manual aguçada.

Mesmo com mais esse revés, aos vinte e quatro anos, com os
negócios prosperando e com o espírito de independência e desejo de formar a
sua própria família, Okada foi apresentado à Taka Aihara (1888-1919), então
com dezenove anos, parente de Guentaro Takahashi, pai de sua funcionária
Ume Takahashi. A família de Taka era da cidade de Yokohama, estado de
Kanagawa. Seu pai era dono de uma loja de arroz e a sua experiência na
administração de um estabelecimento comercial seria fundamental para o
sucesso de Okada. Assim, em junho de 1907, eles se casaram tendo por
padrinho o Sr. Takahashi.

O movimento cada vez mais intenso da Korin-do, levou o fundador a


contratar uma funcionária para poder ajuda-los no dia a dia e em pouco mais
de dois anos, abriu uma segunda loja, desta vez, um comércio atacadista de
adornos, dando-lhe o nome de Loja Okada. Assim, em aproximadamente dez
anos, passou de um pequeno empreendedor de uma loja de miudezas para um
grande empresário de sucesso no ramo atacadista.

Graças a seu olho clínico e à sua exigência para com a


qualidade dos objetos que comercializava, à habilidade para
administrar e à sorte que teve com os empregados, os
negócios prosperaram de vento em popa. Em dez anos, seu
capital passara de 3.500 ienes antigos (aproximadamente 90
mil dólares atuais) para mais de 100 mil ienes antigos (hoje,
cerca de 3 milhões e 780 mil dólares) (RAFFO, 2010, p. 27).
Por um período, o fundador ainda manteve a loja Korin-do aos
cuidados da mãe e da funcionária Ume Takahashi. Porém com o sucesso e
crescimento da Loja Okada, decidiu ceder os direitos para Takahashi como
retribuição pelo trabalho realizado.

Toda a prosperidade de Okada, alegrava sua mãe Tori, que por um


longo período sofreu com as dificuldades financeiras enfrentada pela família,
logo após o nascimento do fundador, sendo que em seus últimos anos de vida,
não passou por nenhuma necessidade. Contudo, em maio de 1912, Tori Okada
veio à falecer em decorrência de nefrite. Apesar do sofrimento, o fundador
sentia uma enorme gratidão, pois graças ao incentivo de sua mãe, os negócios
prosperavam e ele acreditava que ela falecera sem a necessidade de se
preocupar com o futuro da família.

A Loja Okada havia se tornado referência no comércio local, e em


pouco tempo, o fundador passou a criar bijuterias e adornos destinados ao
público feminino. A originalidade de suas criações comercializadas na loja,
passou a ditar a moda, sendo imitadas por outros comerciantes e fazendo com
que a loja estivesse sempre um passo à frente das demais.

Mesmo não podendo fabricar suas peças, devido ao acidente no


dedo, Okada pesquisava e desenhava pentes e outros adornos para cabelo,
enviando seus desenhos para um profissional qualificado produzi-los,
colocando-os à venda depois de prontos. Entre 1909 e 1923, o fundador criou
inúmeras peças, em sua maioria adornos com detalhes em “Maki-e” e
“Raden”3, sendo o “Diamante Assahi” e o “Pente Bright”, seus produtos de
maior sucesso, comercializados por todo o Japão e patenteados em diversos
países.

Aos trinta e sete anos, bem sucedido e longe das dificuldades


passadas na infância, Okada via sua fortuna aumentar a cada ano, muito em
decorrência dos lucros provenientes do “Diamante Assahi”. Nesse período, seu
maior objetivo era a criação de um jornal que pudesse combater e corrigir os
males sociais e a corrupção na sociedade japonesa. Após o término da
3
“Raden” – Técnica que consiste em cortar conchas finas e brilhantes em pedaços de diversos formatos
e utilizá-los para enfeitar vasilhames de laca ou madeira crua (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 153).
Primeira Guerra Mundial, o Japão enfrentou um período de recessão, falências
e greves. A insatisfação popular aumentou, devido à alta dos alimentos
básicos, principalmente o arroz, gerando grandes motins populares. Para
completar o cenário tempestuoso, a corrupção da classe política, dirigente,
militar e financeira eram constantemente denunciadas pelo povo. Com um forte
sentimento de justiça, Mokiti Okada realizou pesquisas com o objetivo de
procurar entender o quanto de capital precisaria para criar um jornal que
pudesse atender as suas expectativas. Assim, chegou a um valor de um milhão
de ienes, quantia muito aquém do que dispunha no momento, que era
exatamente cento e cinquenta mil ienes. Decidiu então, investir o dinheiro que
dispunha no mercado de ações, que neste período estava em crescimento.
Pouco depois, através do Banco Soko, abriu uma financeira, convertendo
cheques e letras de câmbio em dinheiro e emprestando a juros. Apesar de ser
um investimento arriscado, se tornava muito rendoso, chegando o fundador a
lucrar em um período mais de cem mil ienes.

Contudo, em 1919, o Banco Soko, que atuava como uma proteção à


financeira do fundador, abriu falência e Okada se viu afundado em uma dívida
de aproximadamente cento e vinte mil ienes, dívida essa que perdurou por
vinte e dois anos, sendo saldada em 1941.

Após quinze anos de prosperidade e alegrias, o período de


sofrimento parecia retornar ao lar de Okada. Aos oito anos de casado, Taka
sua esposa, ficou grávida e o casal que já havia desistido de ter filhos sentiu
uma alegria indescritível, nunca antes saboreada. Porém, devido à uma
complicação no parto, a criança veio a falecer logo após o seu nascimento.
Pouco tempo depois, Taka engravidou novamente, mas desta vez a criança já
nasceu morta. Em 1918, grávida pela terceira vez, Taka dispensou todo
cuidado necessário para o parto juntamente com o fundador. Mesmo com
todas as precauções, próximo ao parto, Taka contraiu tifo intestinal e com
muito sofrimento, deu à luz a uma menina, que nascendo prematura não
resistiu e acabou falecendo logo em seguida. Taka, enfraquecida em
decorrência da dificuldade do parto, veio a falecer uma semana depois, em
junho de 1919.
Com a morte de Taka, a administração da loja e todas as tarefas que
envolviam o bom funcionamento da mesma se tornou árduo para o fundador e
ele sentiu a necessidade de contrair um novo matrimônio. Assim no final de
1919, Mokiti Okada se casou pela segunda vez com Yoshi Ota (1897-1962),
que mais tarde se tornaria a Segunda Líder Espiritual da IMM.

1.2- A CONVERSÃO RELIGIOSA

Apesar de reencontrar momentos de paz em sua vida, o fundador


passou a questionar o porquê de tantos sofrimentos passados até então.
Okada fora ateu até seus trinta e oito anos, embora acreditasse que o homem
era um ser que precisava de ídolos para adoração e, por isso, ia aos templos
para algumas cerimônias religiosas. Mesmo agnóstico, ele contribuía
periodicamente com o Exército da Salvação, onde questionado por não ser
cristão e praticar tal ato, respondeu:

O Exército da Salvação ajuda os ex-presidiários a se


recuperarem, transformando homens maus em homens de
bem. Por conseguinte, se ele não existisse, um ex-presidiário
poderia entrar em minha casa para me roubar. Uma vez que
ele me livra desse perigo, é natural que eu me sinta agradecido
e colabore com as suas atividades (FUNDAÇÃO MOKITI
OKADA, 2001, p. 202).

Diante dos sofrimentos vividos, passou a pesquisar diversas


religiões em busca de respostas para seus questionamentos e soluções para o
seus sofrimentos. Nesse período a religião Oomoto 4 era bem ativa em sua
difusão, promovendo conferências em diversas regiões do Japão, sendo que o
fundador participou de uma delas. Sentido uma sensação nunca antes
experimentada, enxergou uma luz diante de tanto sofrimento enfrentado e em
junho de 1920 se converteu à religião.

Entre tantos motivos que o levaram a se converter à religião


Oomoto, podemos apontar dois fatores importantes. Primeiro, o fato da religião
manifestar o propósito de reformar o mundo, segundo consta no “Ofudessaki”5.
Esse propósito ia de encontro com os ideais de Mokiti Okada, ou seja, o desejo
4
“Oomoto” - traduzido literalmente como "Grande Origem", também conhecida como Oomoto-kyo, é
uma instituição religiosa japonesa classificada como uma nova religião japonesa (NRJ), com raízes no
Xintoísmo. Foi fundada em 1892, por Nao Deguchi.
5
“Ofudessaki” - Coletânea de ensinamentos da religião Oomoto.
de se construir uma sociedade justa, pacífica e honesta. Segundo, o
ensinamento relacionado aos tóxicos contidos nos remédios. Depois de passar
por uma experiência terrível de uma dor de dente causada justamente pela
ingestão de medicamento, fortaleceu sua convicção aos constatar o mesmo
pensamento, nas páginas da coletânea de ensinamentos da religião.

Diante dessa nova experiência, tomou consciência da


existência de algo maior. O mistério presente no Ofudessaki e
os sucessivos milagres que ele vivenciou após seu ingresso na
Oomoto – como a repentina cura da sua segunda esposa, que
estava com tuberculose e recebeu a graça após Okada
peregrinar à terra santa da Oomoto – deixaram-no fascinado
(RAFFO, 2010, p. 30).

Okada passou a estudar os ensinamentos da Oomoto e se tornou


um fiel fervoroso, chegando a incentivar parentes e funcionários a participarem
dos aprimoramentos da religião. Porém, com a morte de seu sobrinho Hikoitiro,
em decorrência de um acidente, durante uma viagem de aprimoramento da
religião, decidiu abandonar a fé. Esse “abandono”, durou aproximadamente
três anos, e nesse período, aprofundou ainda mais suas pesquisas no livro de
ensinamentos “Ofudessaki” e em fenômenos parapsicológicos, retornando à
religião Oomoto em seguida. Segundo Okada, esse foi o seu segundo
nascimento nesta vida (2001, p. 236).

Mesmo tendo encontrado a “paz espiritual” através da religião


Oomoto, Okada ainda lutava materialmente para saldar a dívida contraída com
a falência do Banco Soko e a recuperação da Loja Okada. Como primeira
medida para recuperar o patrimônio perdido, instituiu a Loja Okada Sociedade
Anônima com um capital em torno de dois milhões de ienes à época, dinheiro
arrecadado por meio de empréstimos com parentes e amigos, além da venda
de ações da loja. O número de acionistas chegava a cento e treze pessoas,
relacionado no “Livro de Sinetes dos Acionistas da Loja Okada” (documento
ainda conservado), somando um total de cinquenta e um mil, cento e cinquenta
e uma ações. Mesmo com todos os esforços para a recuperação da loja, a
crise econômica americana em 1920, refletiu na Bolsa de Valores do Japão,
fazendo com que a economia japonesa entrasse em colapso, e
consequentemente uma onda de desemprego e falências, inclusive a Loja
Okada.

Nesse período, Yoshi ficou grávida do primeiro filho e devido ao


ocorrido nos três partos de Taka, sendo que o último culminou com a morte da
mesma, Okada cercou a esposa de todos os cuidados necessários e em
outubro de 1920 nasceu sua primeira filha, que recebeu o nome de Mitiko.
Posteriormente, em dezembro de 1921, Yoshi deu à luz ao primeiro filho
homem que recebeu o nome de Mitimaro.

Ainda tentando se recuperar da grande crise econômica que afetou


o Japão em 1920, a Loja Okada, foi novamente abalada. Em 1º de setembro de
1923, um grande terremoto de 7,9 graus na escala Richter, devastou as
regiões Kanto e Tokai, vitimando mais de cento e quarenta mil pessoas na
região de Tóquio. O tremor, atingiu a região onde se localizava a loja e o
Edifício Ryoun-Kaku, de doze andares, partiu-se aproximadamente no oitavo
andar. Apesar do forte abalo, as paredes do edifício, foram reerguidas e as
mercadorias da loja recuperadas. Entretanto, após o grande terremoto,
sobreveio um grande incêndio, que vitimou cerca de cinquenta mil pessoas e a
destruição de quatrocentas mil casas. Como a maioria dos clientes da Loja
Okada pediram falência, devido às perdas sofridas pelo grande terremoto e
incêndio ocorrido na região, a loja sofreu sérios abalos econômicos que
culminou com modificações em seu quadro de funcionários, sendo que Kimura,
braço direito de Okada durante dezesseis anos e Mori, diretor do Departamento
de Vendas da loja, tornaram-se independentes, abrindo seus próprios
negócios. Assim, o grande período de prosperidade e sucesso da Loja Okada
chegava ao fim, já que a cada ano, as vendas foram diminuindo e a situação
financeira da loja, cada vez pior. Além de todos esses obstáculos enfrentados
nos negócios, em outubro de 1923, Okada e Yoshi perderam Mitimaro, o
primeiro filho homem do casal, com apenas um ano e nove meses em
decorrência de cólera infantil.

Diante dos infortúnios sofridos, Mokiti Okada passa a dedicar-se, a


partir de 1923, ao “caminho da Fé”, retornando à religião Oomoto e
empenhando-se na pesquisa e estudo do “Ofudessaki”, além de participar de
grupos que realizavam pesquisas parapsicológicas. Em contato com esses
grupos, realizou a leitura de livros que discutiam a existência do “Espírito
Divino”, a relação entre Deus e o homem, os princípios fundamentais da fé,
entre outras questões. Entre os livros lidos, encontram-se “The Survival of Man”
(1917) de Sir Oliver Lodge e “Gone West: Three Narratives of After-Death
Experiences” (1925) de J.S.M. Ward. Também a prática do “Chinkon Kishin”6,
começou a ser pesquisada e praticada exaustivamente, pelo fundador.

Minha vida sofreu uma mudança de cento e oitenta graus.


Fiquei sabendo que o homem recebe a proteção de Deus e
que, se ele não reconhece a existência do espírito, não passa
de um ente vazio. Mesmo nas pregações morais, caso não o
façamos reconhecer essa existência, as pregações não
passarão de sermões sem valor (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA,
2001, p. 257).

Paralelo aos estudos do “Ofudessaki” e às pesquisas


parapsicológicas, fatos misteriosos passaram a ocorrer em torno de Okada, o
que aumentou a sua tensão diante dos mistérios espirituais. Assim, em 25 de
dezembro de 1926, o fundador entra em uma espécie de transe e vivencia uma
experiência mística denominada pelos messiânicos de “Revelação Divina”.
Essa experiência se prolonga por três meses, onde Okada, com a ajuda da
esposa Yoshi, escreve (entre trezentas a quatrocentas folhas de papel-carta)
previsões sobre o futuro, a formação do Japão, a história da humanidade no
passado, presente e futuro e sobre a sua própria vida. Algumas previsões
recebidas, posteriormente chegaram a ser concretizadas, como o Incidente da
Manchúria7 e a Segunda Guerra Mundial. Neste exato dia, o Imperador Taisho
veio a falecer, sucedido pelo então príncipe herdeiro Hirohito. Iniciava-se neste
momento a Era Showa (1925-1989).

6
“Chinkon Kishin” - Prática xamânica de respiração mística e de meditação da união dos espíritos divinos
e humanos, com raízes antigas que são referenciadas nos antigos textos xintoístas e popularizada pela
religião Oomoto. Chinkon é definido como assentar e acalmar o espírito e Kishin é definido como
retornar ao divino ou Kami, o que se refere a alcançar um profundo estado contemplativo onde se está
fundamentado no universo divino (CHINKON KISHIN - 鎮 魂 帰 神 , 2009, § 3-4, tradução nossa).
<http://benotdefeatedbytherain.blogspot.com/2009/11/chinkon-kishin.html>)
7
Incidente da Manchúria - Atentado a um trem da Ferrovia do Sul da Manchúria planejado por jovens
oficiais japoneses em 18 de setembro de 1931, em que os mesmos acabaram culpando os chineses.
Episódio que acabou se tornando um pretexto para uma ação em cadeia por parte do exército japonês
contra os nacionalistas chineses, representando um primeiro marco da Segunda Guerra Sino-Japonesa
(SAKURAI. 2007. p. 164-165).
Muitas das revelações recebidas por Okada, eram de difícil
compreensão, o que o levou a intitulá-las de “Hatena?” (“Será?”). O que era
passível de análise e comprovação, o fundador realizou experimentações.
Como muitos fatos estavam relacionados com a Família Imperial Japonesa, por
precaução, Okada decidiu guardar os escritos durante muito tempo, já que
neste período, início da Era Showa, um forte sentimento ultranacionalista
passou a imperar no Japão, sentimento este, entendido como necessário para
a manutenção da união do país, mesmo com a utilização da força, caso
contrário, a nação se renderia às pressões internacionais.

[...] os xintoístas radicalizaram o mito da ancestralidade divina


e única dos japoneses, procurando reavivar os rituais e as
práticas dos tempos passados. Criaram até o Conselho de
Pesquisa dos Rituais Xintoístas e adotaram o Dia da Nova Ásia
para celebrar a missão sagrada de estender a influência
japonesa para as outras nações asiáticas (SAKURAI. 2007. p.
163-164).

As perseguições às Novas Religiões Japonesas 8 (NRJs) se


intensificaram com pressões, prisões e interrogatórios e com toda a
rigorosidade das autoridades, Okada não foi exceção e também passou a ser
vigiado e a receber intimações. Com medo de represálias, decidiu queimar o
material revelado.

Nesse contexto, toda e qualquer ideologia, especialmente a


das NRJs, que, de alguma forma, contrariassem ou pusessem
em risco os interesses do Estado, tornaram-se alvo de rigoroso
controle. Com a criação da Polícia Especial, em 1923, e a
promulgação da Lei de Segurança, em 1925, esse controle
tornou-se ainda mais acentuado (RAFFO, 2010, p. 46).

Mesmo tendo passado por essa experiência mística e recebido a


chamada “Revelação Divina”, Mokiti Okada ainda permanecia na religião
Oomoto, ampliando as suas pesquisas, agora de forma prática, na busca por
um método, segundo o mesmo, de “salvação concreta” que pudesse libertar as
pessoas do sofrimento tanto espiritual, como material. Passou a concentrar-se
na prática do “Chinkon Kishin”, aplicando o método em muitas pessoas,
8
Novas Religiões Japonesas (NRJs) – Religiões surgidas no Japão entre os séculos XIX e XX, com
influências Xintoístas. Ex: Oomoto, Tenrikyo, Mahikari, Perfect Liberty, Seicho-no-Ie, Igreja Messiânica
Mundial, entre outras.
incluindo familiares, empregados e amigos. Ainda tentando compreender a
experiência pela qual passou, Okada procurou Onissaburo Deguti (1871-1948),
co-fundador da religião Oomoto e reverenciado por seus membros como Seishi
(Santo Mestre), o qual lhe disse:

Daqui para frente, se você se dedicar à cura de doenças,


poderá curá-las quanto quiser. Faça-o o mais possível. Se, por
acaso, você colocar água num copo e disser que a tomem,
porque é remédio, essa água se transformará em remédio,
sabia? (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 264).

Com o passar do tempo, Okada passou a não ter mais dúvidas


sobre o conteúdo recebido através da “Revelação”, e ganhou consciência de
sua missão. Como resultado, chegou à conclusão convicta de que em seu
ventre, havia uma “Bola de Luz” (Espírito de Deus) e que Ele utilizava
livremente o seu corpo. A palavra utilizada por ele para designar esse estado
era “Kenshinjitsu”, ou seja, sólida consciência de tudo e inteligência
esclarecida. Neste período, em 4 de junho de 1927, nasce sua terceira filha
Itsuki Okada que posteriormente iria se tornar a terceira Líder Espiritual da
IMM.

Com todas as transformações ocorridas em sua vida, o fundador


deixa as atividades da Loja Okada, no dia 4 de fevereiro de 1928, e concentra-
se exclusivamente na missão religiosa, passando a ocupar apenas a posição
de conselheiro. Na Oomoto, passou a galgar posições cada vez maiores na
hierarquia da instituição religiosa, tornando-se em 1927, diretor da filial da
Editora Meiko (editora fundada pela instituição), na Sede de Aishin, em Tóquio.
Em abril de 1928, tornou-se “semidivulgador” e em julho, “divulgador” 9,
chegando em fevereiro do ano seguinte, a membro executivo da Sede de
Tóquio. Em suas palestras, passou a atrair um enorme número de pessoas,
movidas pela sua forma de se comunicar e transmitir os ensinamentos. Neste
período, passou a dedicar-se também à caligrafia e a pintura, desenhando a
figura de Kannon com tinta carvão, em papéis próprios para caligrafia a pincel,
e oferecer aos membros como uma forma de proteção. Em 1929, iniciou a
confecção do chamado “Miteshiro”10, um leque distribuído aos fiéis para a

9
Divulgador - Qualificação sacerdotal da religião Oomoto, a qual possuía divisões hierárquicas.
prática do “Chinkon Kishin”, em cuja parte frontal continha inscrições como:
“Este leque purifica e salva todos os espíritos.”

Com todas as dedicações na Oomoto e os constantes fatos


misteriosos que surgiam em sua vida, bem como as curas milagrosas que
manifestava através das práticas religiosas, o fundador decide em 21 de janeiro
de 1931, ceder os direitos da Loja Okada à dois gerentes, recebendo aos
poucos, apenas o valor das mercadorias que ainda restavam em estoque. Uma
decisão difícil de ser tomada, pois essa era a sua única fonte de renda,
tornando mais complicada a quitação das dívidas que ainda lhe restavam.
Mesmo assim, com essa firme decisão, passa a se dedicar exclusivamente à
vida religiosa.

Em maio de 1931, Okada novamente recebe uma espécie de


“chamado” de Deus, ordenando-o a ir em 15 de junho, ao Templo Nihon-ji, no
Monte Nokoguiri, Estado de Tiba, um dos locais mais antigos de
aprimoramento utilizados por bonzos budistas. Acompanhado de vinte e oito
seguidores e de sua esposa Yoshi, o fundador partiu em 14 de junho em
direção ao templo e às três horas da manhã do dia 15, junto com sua comitiva,
atingiu o cume do monte. Voltados para o Leste, entoaram a oração Amatsu
Norito11. Este fato, ficou conhecido pelos messiânicos como a “Segunda
Revelação Divina” sendo denominada por Okada como “Revelação Divina da
Transição da Noite para o Dia no Mundo Espiritual”.

Diante dos acontecimentos vivenciados, Okada passou a se


empenhar cada vez mais em ajudar as pessoas em estado de sofrimento,
convicto da sua missão, segundo o mesmo, atribuída por Deus.
Confeccionando amuletos, considerados sagrados, para serem entregues aos
membros filiados da Oomoto e se dedicando na chamada “salvação” das
pessoas, o fundador começou a sofrer represálias e enfrentar divergências
dentro da religião. A Oomoto, enfatizava as chamadas “campanhas” de
reformulação do pensamento da sociedade para se construir um mundo novo,
10
“Miteshiro” - Corresponde ao antigo “mitegurashiro” e significa “segurar as oferendas feitas a Deus”,
ou simplesmente, “oferendas”. Entretanto, na Omoto, a palavra era usada para designar algo que
substitui a mão (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p. 287).
11
Amatsu Norito - Oração tradicional de caráter milenar entoada pelo povo japonês, principalmente os
seguidores do Xintoísmo. Consta-se que vem sendo preservada como documento histórico, desde a Era
Heian (794-1192).
dando pouca atenção ao sofrimento individual das pessoas. Em 1931, um
dirigente pelas campanhas da Oomoto, descontente com a atuação do
fundador lhe disse: “Sr. Okada, é muito bom curar doenças. Mas não é bom
que faça apenas isso. Gostaria que o senhor se empenhasse nas campanhas”.
O fundador assim respondeu:

Sei disso muito bem. Mas eu recebo pedidos de vários lugares


e por ora não tenho tempo para campanhas. Além do mais,
acho que, no momento, o mais importante é salvar as pessoas
que estão sofrendo. Com as campanhas, não é possível salvá-
las de forma direta. (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2001, p.
331).

Essas divergências aconteciam pelo fato do fundador, mesmo


citando as “campanhas” em suas palestras, utilizar-se do método do “Chinkon
Kishin” como uma forma de ajudar as pessoas em estado de sofrimento e
conseguindo resultados mais imediatos. Além disso, costumava ir à casa dos
membros e orientava os que o procuravam. A pintura e a caligrafia, tornaram-
se peças importantes em sua dedicação religiosa, juntamente com o Johrei12
(neste período, ainda sem esta denominação), tais como: amuletos de
proteção, imagens de Sakyamuni, Dharma, paisagens representando a água, a
montanha, a neve, etc., além das imagens de Kannon que eram outorgados
aos fiéis como “Imagens da Luz Divina”. Okada não enxergava essas
atividades artísticas como simples divertimento, mas sim como uma
oportunidade de “salvação” das pessoas, através das obras de caligrafia e
pintura.

Diante de tantos atritos e compreendendo que sua missão não se


enquadrava mais nas diretrizes institucionais da religião Oomoto, Okada decide
em 15 de setembro de 1934, se afastar gradualmente da religião.

1.3- A IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL

Com o seu afastamento da religião Oomoto em 1934, Mokiti Okada


começa a trilhar um novo caminho em busca de uma nova religião, onde

12
Johrei – Método de imposição das mãos que, segundo a Religião Messiânica, é capaz de levar a Luz
Purificadora de Deus às pessoas que o recebem e o ministram.
pudesse colocar em prática suas convicções a respeito de Deus e seus
métodos para amenizar o sofrimento das pessoas que o procuravam. Apesar
do desejo inabalável do fundador, as condições para a fundação de uma nova
religião neste período no Japão, não eram das mais favoráveis.

A partir da era Meiji, o Xintoísmo volta a ter um significado forte para


os japoneses, sendo que em 1882, o mesmo, passa a envolver dois aspectos:
santuários xintoístas e religiões xintoístas, ambos regulamentados pelo
governo japonês. Treze religiões são reconhecidas, sendo que as religiões com
linhagens “xinto” criadas após a regulamentação, para serem legalmente
oficializadas, teriam que pertencer a alguma das treze, passando por um
controle rigoroso da polícia. Já em 1890, os ideais nacionalistas tornam-se
mais fortes com a publicação do “Rescrito Imperial sobre a Educação”. Este
documento representava o caminho para a unidade nacional, sendo uma
mensagem dirigida à toda sociedade, memorizado pelos estudantes e lido em
voz alta em ocasiões especiais. O “Rescrito”, continha valores xintoístas que
serviram de base ideológica para um novo Japão, confirmando a origem
“divina” do imperador e o elevando ao status de “deus vivo”, além de legitimar a
supremacia do povo japonês, dando origem ao chamado “Xintoísmo de Estado”
e gerando uma tensão contra toda ideologia que fosse de encontro com os
ideais nacionalistas.

A constituição possibilitava a liberdade religiosa, mas parecia


que o Rescrito rompia com ela, ao acentuar o xintoísmo. (O
confucianismo [sic] não era problema, porque, carecendo de
divindade, era mais uma ideologia do que uma religião.) No
entanto, a crítica hipotética era contornada afirmando que o
xintoísmo era uma expressão de patriotismo, não uma religião
enquanto tal. Era o Xintoísmo de Estado” (HENSHALL. 2014.
p. 121).

Com a ascensão do regime militar no início da era Showa, esses


ideais se tornaram mais fortes, principalmente com a elaboração do Kokutai no
Hongi (Princípios Fundamentais da Nação), documento publicado pelo
Ministério da Educação em 1937, utilizando o conceito do “Rescrito” e que tinha
por objetivo doutrinar o povo japonês, dando ênfase ao caráter divino do
imperador e à sua obediência, bem como destacar a importância de abdicar-se
da própria vida (neste caso, muito mais que um dever) em favor da nação e do
próprio imperador. Com isso, houve um fortalecimento dos ideais
expansionistas, culminando posteriormente, na Segunda Guerra Mundial.

Dentro desse contexto, qualquer forma de organização que fosse de


encontro aos ideais vigentes, receberia severas punições, sendo que em 1928
foi instituída as delegacias de “Polícia Especial”, estabelecendo um controle
sobre as questões ideológicas, principalmente sobre as NRJs, já que a
expectativa sobre as mesmas aumentava por parte da população, que buscava
apoio às suas angustias, decorrentes à péssima situação financeira no início da
era Showa, além do desemprego e da intranquilidade social.

Quase todas as NRJs sofreram perseguições por parte das


autoridades, entre elas: a Tenri Kenkyu Kai (atualmente Hon’miti), que
perseguida por sustentar um idealismo radical teve quinhentas pessoas presas,
sendo cento e oitenta acusadas de desrespeito à Nação; a Hito no Miti
(atualmente Perfect Liberty), que teve a prisão de seu fundador Tokuharu Miki
(1871-1938) em 1936 e dos seus diretores em 1937, sendo dissolvida por
ordem do Ministério dos Negócios Internos; e a Oomoto Kyo, uma das mais
pressionadas que teve: uma primeira perseguição em 1921, tendo o seu Solo
Sagrado em Ayabe cercado por duzentos policiais, resultando na prisão de seu
co-fundador Onissaburo Deguti e demais dirigentes da igreja presentes, sob
suspeita de crime de desrespeito e infração das leis da imprensa; e uma
segunda perseguição em 1935, onde trezentos policiais invadiram novamente o
Solo Sagrado em Ayabe e as instalações em Kameoka, recolhendo
documentos e prendendo Onissaburo Deguti e todos os diretores. Todas as
instalações foram destruídas e Onissaburo Deguti e sua esposa Sumi
(Segunda Líder da Oomoto), permaneceram detidos por seis anos e oito
meses.

Mesmo diante de tantas perseguições, Okada inaugura em 1934 a


Casa Ojin-Do, iniciando as atividades religiosas, sob a denominação:
“Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada”. Como divulgação do
novo método, foi preparado um panfleto explicativo, sendo distribuído nas ruas
pelos discípulos que acompanhavam o fundador desde os tempos da religião
Oomoto. O tratamento consistia na ministração do Johrei através do método de
pressão dos dedos. Segundo Okada:

Ante a iminência do Fim do Mundo, recebi a grande missão de


ser o dirigente supremo da obra de salvação de toda a
humanidade e construir o Paraíso Terrestre, isento de doença,
pobreza e conflito, de acordo com o Plano de Deus. Por isso,
Ele me atribuiu absoluto poder de salvação, poder que consiste
no conhecimento e na força para solucionar o problema da
doença, que é o ponto vital para a eliminação da pobreza e do
conflito. O conhecimento diz respeito à Ciência dos erros da
Medicina e das teorias sobre a doença; a força refere-se ao
poder de cura por meio do Johrei. (FUNDAÇÃO MOKITI
OKADA, 2001, p. 354).

O Johrei (Joh = purificar / rei = espírito), era o ponto central da


“Revelação” recebida por Okada em 1926 e consiste na canalização e
transmissão da Luz Divina através das mãos. Passou por diferentes métodos
no decorrer dos tempos tais como: chinkon (assentar e acalmar o espírito),
shijutsu (técnica de aplicação), tiryo (tratamento) e okiyome (purificação);
sempre de acordo com o desenvolvimento das atividades desenvolvidas
naquele momento, até se estabelecer de maneira definitiva em 1947.

O número de pessoas que procuravam o tratamento foi aumentando


gradativamente, muito em decorrência aos milagres manifestados e à
divulgação dos panfletos explicativos, tornado o local pequeno para as
atividades e ocasionando a mudança do Ojin-do. Esses fatos, chamaram a
atenção das autoridades e Okada foi intimado a prestar esclarecimentos na
delegacia do bairro, sobre a natureza do seu trabalho, três meses após o início
das atividades. Apesar de ter sido liberado logo após os esclarecimentos,
Mokiti Okada estava ciente de que estava sendo vigiado, mesmo tendo se
deligado da religião Oomoto.

Neste período, o fundador recebe novamente outra “Orientação


Divina” para que desenhasse a imagem de Kannon de Mil Braços. Iniciando o
esboço imediatamente e já planejando utilizar a imagem como futura “Imagem
da Luz Divina”, na nova igreja que estava prestes a ser fundada, decide
confeccioná-la em tamanho grande, medindo um metro e cinquenta
centímetros de largura por um metro e oitenta centímetros de comprimento.
Posteriormente em dezembro de 1934, Okada compõe a oração Zenguen Sanji
em forma de oração xintoísta, tendo como referência a sutra Kannon, o
vigésimo quinto dos vinte e oito capítulos do sutra Hoke kyo13. Segundo o
fundador: “A Zenguen Sanji constitui o ponto positivo do budismo adaptado ao
estilo xintoísta” (2001, p. 364). Ainda em dezembro de 1934, estudou a doutrina
xintoísta e seus rituais com o responsável pela Sede Geral Xintoísta, o
sacerdote Yoshiro Uzuki, recebendo em janeiro de 1935 a qualificação de
sacerdote xintoísta. Esse título provavelmente foi uma forma de precaução,
diante do rigoroso controle por parte das autoridades japonesas, sobre as
novas religiões. Okada passou também, a usar a assinatura Jinsai para os
textos relacionados ao Johrei e aos tratamentos médicos e Jikan para as
caligrafias. Seus seguidores, passaram a chamá-lo de Dai Sensei (Grande
Mestre).

Todos esses fatos, serviram de preparação ao propósito anunciado


por Okada, em novembro de 1934: “No dia 1º de janeiro de 1935 vou fundar
uma Igreja sob o nome de “Dai Nipon Kannon Kai”” (2001, p. 365), instituição
que se tornaria a matriz da IMM.

1.3.1- Dai Nippon Kannon Kai (Associação Kannon do Grande Japão)

Em 1º de janeiro de 1935, foi instituída a Dai Nippon Kannon Kai,


que apesar de ter a denominação de “Associação” (para evitar problemas com
as autoridades), possuía cunho religioso. A cerimônia foi realizada numa sede
provisória no bairro de Koji, após a entronização da imagem de Kannon,
pintada pelo fundador. Foram entoadas as orações Amatsu-Norito e Zenguen-
Sanji, além de outras orações e salmos e a palestra proferida por Mokiti Okada
na cerimônia denominava-se “A Construção do Mundo da Grandiosa Luz”,
objetivo da instituição religiosa, que tinha como centro de adoração e fé, a
imagem de Kanzeon Bosatsu (nome completo de Kannon). Esse “Mundo da
Grandiosa Luz”, representa, segundo a doutrina messiânica, o Paraíso
Terrestre – um mundo isento de doença, pobreza e conflito.

13
O sutra "Hoke" influenciou não só a fé e a filosofia, mas também a arte e a literatura budista. Muitas
seitas, considerando-o como uma compilação completa das últimas pregações sistematizadas de
Sakyamuni, têm-no como centro máximo de todas as escrituras budistas (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA,
2005, p. 38).
Além da sede provisória em Koji, foi inaugurado também quatro
filiais: Filial Assa-gaya, Filial Midori, Filial Nishi-ga-hara, Filial Setagaya. A
divulgação da instituição religiosa, era feita através do “boca a boca” das
pessoas que eram curadas milagrosamente por Okada e também através de
jornais e revistas que o fundador passou a publicar, com o significado e os
objetivos das suas atividades, os ensinamentos, além de críticas à sociedade,
etc. As publicações foram lançadas entre o final de janeiro e começo de
fevereiro de 1935, sendo que o jornal recebeu o nome de “Luz do Oriente” e a
revista “Mundo de Luz”. Além da divulgação das atividades, as publicações
também serviam como apoio à elevação da fé, sendo orientado por Okada, o
estudo das mesmas.

Os membros devem, na medida do possível, adquirir e ler os


Ensinamentos, revistas e boletins publicados por esta
associação, a fim de polirem a sua espiritualidade e estarem a
par da situação geral das nossas atividades (FUNDAÇÃO
MOKITI OKADA, 2005, p. 42).

Com a expansão das atividades e o aumento significativo de


pessoas desde o início das atividades na Casa Ojin-do, Okada decide renovar
o “talismã” usado por um número limitado de pessoas e sistematizar o método
de tratamento praticado por ele durante um ano. Com a sistematização do
método, é publicado um livro intitulado “Apostila da Terapia Japonesa” e o
“Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada”, passa a se chamar
“Terapia Japonesa”. Assim em junho de 1935 dá-se início ao Curso de Terapia
Japonesa, com o objetivo de formar pessoas que pudessem também realizar a
aplicação do método de tratamento, prática esta permitida apenas a treze
diretores. A aplicação consistia na utilização de um papel ou leque (Miteshiro),
confeccionado por Okada, colocado no local da enfermidade. Com a mudança,
o Miteshiro não seria mais utilizado, passando o método a ser aplicado
diretamente com as mãos, desde que a pessoa formada, utilizasse ao pescoço,
o talismã confeccionado com as caligrafias escritas por Mokiti Okada: “Poder
Kannon de Tratamento” ou “Poder Kannon de curar doenças”.

A partir desse momento, as atividades que até então, eram


realizadas com um cunho mais terapêutico, desde a fundação da Casa Ojin-do,
passaram a ter um caráter mais religioso e em julho de 1935, o Curso de
Terapia Japonesa passa a se chamar Curso Kannon. O curso ministrado pelo
próprio Okada, consistia em sete aulas, com duração de três meses, sendo que
ao final da sétima aula, a pessoa recebia a qualificação de “Sendo-shi”
(missionário). Com a formação da primeira turma, Okada designa sete pessoas
para ministrarem às futuras turmas, o curso como seus auxiliares. Com o
sucesso do Curso Kannon, o número de membros filiados, passou de duzentos
para seiscentos, e o número de filiais, de quatro para onze, tornando a sede da
Dai Nippon Kannon Kai pequena, sendo necessária a mudança para um local
maior. O lugar escolhido, situava-se às margens do rio Tamagawa no subúrbio
de Tóquio e recebeu o nome de Gyokussen-Kyo (Terra de Tamagawa),
servindo não apenas como sede geral da Dai Nippon Kannon Kai, mas também
como residência da família Okada. O Gyokussen-Kyo foi importantíssimo para
a expansão das atividades religiosas de Mokiti Okada, já que o local, mais
próximo da natureza, por se localizar no subúrbio de Tóquio, serviu como base
para a elaboração dos futuros princípios da Agricultura Natural e do Belo,
através da prática da Ikebana14, dois pilares fundamentais da doutrina
messiânica.

Com tantas mudanças e a expansão das atividades devido aos


milagres alcançados, a vigilância por parte das autoridades também aumentou,
obrigando Okada a novamente mudar o foco de seu trabalho.

1.3.2- Dai Nippon Kenko Kyokai (Associação Japonesa de Saúde)

Apesar de Mokiti Okada tentar conciliar o tratamento terapêutico


com a fé e a religião, a repressão contra as NRJs crescia exponencialmente
neste período no Japão e em maio de 1936, foi instituída a Dai Nippon Kenko
Kyokai, tendo como finalidade dissociar a terapia da religião, o tratamento da
fé. A sede da nova associação foi instalada no mesmo local da Dai Nippon
Kannon Kai em Tóquio. Para se tornar um associado, a pessoa deveria pagar
uma taxa de matricula no valor de 50 “sen” e uma mensalidade de 30 “sen”.
Neste dia, também foi publicado o folheto "Myoniti no Ijutsu" ("A Medicina do
Futuro”) uma palestra feita por Okada, explicando o Johrei de uma maneira
mais científica, evitando na medida do possível, as expressões religiosas.
14
Ikebana - Palavra de origem japonesa, utilizada para definir a arte de arranjos florais.
Posteriormente, foi publicado a revista "Kenko" ("Saúde"), contendo a
"Saudação da Editora" e o artigo "A construção de um Japão Saudável", onde
Okada usa o pseudônimo “Jinsai”.

Mesmo com todos os cuidados, com relação às questões religiosas,


a Dai Nippon Kannon Kai era alvo de diversas intervenções por parte das
autoridades, cuja maior preocupação era o crescimento rápido da instituição,
que embora pequena, poderia se tornar grande e se tornar um obstáculo para
as ambições nacionais. Com isso, no dia 1º de julho de 1936, Okada decide
dissolver a Dai Nippon Kannon Kai realizando o último ofício religioso no
Gyokussen-Kyo. A partir desse momento, todo empenho de Okada se voltou a
Dai Nippon Kenko Kyokai, cujas atividades eram realizadas na forma de
tratamento. Assim, no dia 6 de julho, iniciou-se, o "Curso Especial de Verão",
sobre a técnica do tratamento de doenças no Estilo Okada, no Gyokussen-Kyo.
Durante o curso, o fundador fez duras críticas a medicina ocidental, apontando-
lhe os erros. A Delegacia de Polícia Metropolitana foi alertada sobre a
realização do curso e, em 28 de julho, foi baixada uma ordem proibindo a
prática de tratamentos. Com esta ordem, a Dai Nippon Kenko Kai também foi
dissolvida.

Logo após o incidente do “Curso Especial de Verão”, que levou ao


fechamento da Dai Nippon Kenko Kai, seguiram-se vários problemas entre
Mokiti Okada e a Polícia Especial. O primeiro, conhecido como “Caso Omiya”,
algumas operárias doentes, de uma tecelagem do bairro de Omiya, foram
curadas através do Johrei ministrado por um dos discípulos do fundador, que
respondeu à polícia a acusação de contrariar a Lei da Medicina. O segundo,
conhecido como “Primeiro Caso Tamagawa”, Okada e outro discípulo, foram
intimados pela polícia, sob a acusação de atrapalhar os tratamentos médicos.
O discípulo foi dispensado pelas autoridades no mesmo dia, mas Okada
permaneceu detido por dez dias para investigações. Essa acusação alegada
pela polícia, era apenas um pretexto, pois o real motivo era investigar a relação
entre a Dai Nippon Kannon Kai e a religião Oomoto. Neste momento, as
atividades realizadas por Okada e seus seguidores foram interrompidas,
permanecendo apenas o discípulo Takeuti, que aproveitando-se da sua
posição de médico, passou a ministrar Johrei sob o nome de “Tratamento de
Digitopuntura no Estilo Takeuti”, desenvolvendo as atividades e sendo auxiliado
por outros terapeutas de Tóquio, que ampliaram a divulgação do Johrei.

Devido as perseguições, Mokiti Okada decide eliminar todo o


aspecto religioso das atividades exercidas. Em agosto de 1936, o Gyokussen-
Kyo (Terra de Tamagawa), sede geral da Dai Nippon Kannon Kai, Dai Nippon
Kenko Kai e residência oficial da família Okada, tem seu nome alterado para
Hozan-So (Solar da Montanha Preciosa). Em setembro de 1936, é instituída
por Okada a Kannon Hyapuku Kai (Associação dos Cem Kannon), instituição
dedicada à pintura de imagens de Kannon. Como as atividades terapêuticas e
religiosas foram interrompidas, Okada utilizou a arte, para continuar seus
trabalhos de “salvação”, confeccionando cem imagens de Kannon e
outorgando aos fiéis ao preço de cinquenta ienes cada uma e recebidas como
objetos de fé, apesar das perseguições.

Como o número de seguidores e fiéis foi aumentando, assim como o


número de pessoas doentes que procuravam o fundador em busca da cura
através do Johrei, sendo que alguns acabavam se hospedando em seu lar,
Okada decide construir uma residência particular, separada das dependências
de atendimento. Assim, em outubro de 1936 a nova residência foi concluída,
recebendo o nome de Fujimi-Tei (Solar da Contemplação do Monte Fuji),
servindo como lar da família Okada por quase dez anos, e sendo fundamental
para a construção das bases da Igreja Messiânica, já que nesse local, o
fundador passou a confeccionar as caligrafias a pincel e a escrever os
ensinamentos.

Neste período, as tensões se tornavam maiores no país, com a


ascensão dos militares ao poder e a aproximação com a Alemanha de Hitler e
a Itália de Mussolini. Em 1937, o exército japonês protagonizou um massacre
às populações chinesas em Xangai e em Nanquim, resultando em mais de
duzentos e cinquenta mil mortes, a maioria civis. Em 1941, após o ataque
japonês a Pearl Harbor, o conflito entre os países Aliados (Grã Bretanha,
Estados Unidos, União Soviética e China) e os países do Eixo (Alemanha, Itália
e Japão), que antes se concentrava na Europa, tomou proporções mundiais,
transformando-se na Segunda Guerra Mundial.
Em meio às tensões que assombravam o Japão e o mundo, Mokiti
Okada conseguiu a anulação da proibição de tratamento, graças à intervenção
de pessoas influentes na política japonesa, que haviam sido curadas de suas
enfermidades através do Johrei. Com isso, o número de adeptos e seguidores
aumentou consideravelmente, chegando ao número de quarenta pessoas
atendidas no Hozan-So por dia através do Johrei, sendo necessário distribuir
senhas devido à enorme frequência. Mesmo com toda essa expansão, as
perseguições continuavam e em novembro de 1940, acontece o chamado
“Segundo Caso Tamagawa”, onde Mokiti Okada é acusado de infringir as leis
da Medicina, sendo detido durante três dias e obrigado a abandonar as suas
atividades. Ainda gozando de uma certa influência, Okada recebia em sua
residência, políticos, militares e empresários em busca do Johrei, mesmo
sendo proibido de realizar suas funções terapêuticas. Aos poucos, foi deixando
a difusão das atividades a cargo de seus discípulos, e para fugir das
autoridades, reunia-se com os mesmos em restaurantes, onde promovia
jantares e ao mesmo tempo, transmitia as orientações e ensinamentos.

Impedido de realizar suas atividades e sofrendo perseguições por


parte das autoridades, Okada novamente passou a enfrentar dificuldades
financeiras somadas a um período de guerra, com escassez de alimentos,
roupas, etc. Como alternativa à falta de alimentos, passou a cultivar legumes e
verduras em sua residência, utilizando a princípio o método convencional (sem
bons resultados) e posteriormente, o método preconizado por ele no Curso
Kannon, denominado “Princípios da Agricultura Natural”.

Este período foi de extrema importância para o desenvolvimento das


bases da IMM, pois impossibilitado de exercer as atividades, Okada passou a
realizar pesquisas e experiências na área da agricultura, como a não utilização
de adubos e fertilizantes, obtendo excelentes resultados e constituindo o que
iria se tornar o “Método da Agricultura Natural”, a partir de 1950, além claro,
dos trabalhos de caligrafia, pintura e Ikebana, que juntamente com o Johrei, se
tornariam posteriormente as chamadas “Colunas de Salvação” da IMM (Johrei,
Agricultura/Alimentação Natural e o Belo).
1.3.3- Nippon Joka Ryoho Fukyu-Kai (Associação de Divulgação da
Terapia Japonesa de Purificação)

Apesar de ter consciência de sua missão, despertada através das


chamadas “Revelações Divinas”, Okada ainda alternava suas atividades, de
acordo com a situação que lhe configurava. Ora as atividades exerciam um
caráter religioso, ora terapêutico. Com a intensificação da perseguição às
religiões, as atividades terapêuticas se tornaram um caminho mais suave para
o exercício de seus trabalhos e o fundador nesse período, acabou encontrando
um pouco mais de liberdade para seguir com suas atividades.

Assim, em fevereiro de 1947, sob a luz de uma nova Constituição e


um Japão mais democrático, é instituída a Nippon Joka Ryoho Fukyu-Kai
(Associação de Divulgação da Terapia Japonesa de Purificação), unificando as
atividades, até então desenvolvidas por cada discípulo sob o nome de
“Tratamento de Digitopuntura no Estilo X”. Desse modo, mesmo com o fim da
Segunda Guerra Mundial em 1945 e com a promulgação da Lei da Liberdade
Religiosa em dezembro do mesmo ano, o fundador preferiu nomear a nova
instituição com um caráter mais terapêutico.

Com a expansão da Associação recém instituída, e o aumento de


pessoas curadas de suas enfermidades através do Johrei, abriram-se cursos
em diversas regiões do Japão com o objetivo de despertar as pessoas para o
caminho da fé, tornando-se também terapeutas e difundindo o método para o
máximo de pessoas possíveis. Entretanto, ainda houve casos de denúncias às
autoridades sob a alegação de que a Nippon Joka Ryoho Fukyu-Kai, infringia
as leis da Medicina, sendo que diversos terapeutas foram detidos e submetidos
a interrogatórios.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, o Japão estava


devastado e o sentimento que pairava sobre o povo era de incerteza quanto ao
futuro e a necessidade de reconstrução do país. A ocupação americana
liderada pelo general Douglas McArthur (1880-1964), visava mostrar ao país
um novo caminho, de respeito aos direitos humanos e da democracia,
preconizando a liberdade de expressão e de religião como instrumentos para
extinguir o militarismo. Desse modo, valores universais ocidentais, tais como,
amor, direito e justiça, passaram a reforçar essas novas mudanças. Aqueles
que pensavam de forma diferente ou tentavam continuar com o mesmo ideal
de antes da guerra, eram censurados. Tropas de ocupação americanas
passaram a investigar as ideologias existentes no Japão e a Nippon Joka
Ryoho Fukyu-Kai não foi exceção. No entanto, ficou concluído que a
Associação não pregava nenhuma ideologia que pudesse ir de encontro com
os novos valores impostos ao país.

1.3.4- Nippon Kannon Kyodan (Igreja Kannon do Japão)

Diante desse contexto, alicerçado pela Lei das Pessoas Jurídicas de


Natureza Religiosa e pela nova Constituição15 promulgada em 1947, Mokiti
Okada sentiu segurança em instituir oficialmente uma nova religião e
finalmente colocar em prática as atividades religiosas que até então eram
reprimidas pelas autoridades. Assim, em agosto de 1947 é instituída a Nippon
Kannon Kyodan (Igreja Kannon do Japão), oficialmente uma entidade religiosa.

O fundador ocupou o cargo de Conselheiro na nova instituição e


estabeleceu o sistema matriz/filiais independentes, onde a princípio, contou
com oito filiais e posteriormente em 1948, a instituição da nona, sendo a sede
da Nippon Kannon Kyodan, localizada no Hozan-So. Todas as atividades foram
reformuladas de acordo com a nova organização que neste momento, assumia
o caráter religioso. O “Tratamento” passa a chamar-se de “Purificação” e
posteriormente de Johrei, o “Talismã” passou a ter as palavras Hikari (Luz),
Komyo (Luz intensa) e Dai Komyo (Luz muito intensa) escritas verticalmente e
em janeiro de 1948 passou a se entoar a oração Zenguen-Sanji e os salmos.
Outras reformulações mais profundas ocorreram, consumando a mudança das
atividades terapêuticas para as atividades religiosas.

Foi nessa ocasião também que, por determinação do


Fundador, os fiéis passaram a dirigir-se a Deus, diante de Sua
Imagem, pelo nome Miroku Omikami. Na Imagem de Deus
estava escrito "Dai-Komyo Nyorai" ("Divindade de Luz Muito
Intensa"); mais tarde, na época da Segunda Líder Espiritual,
15
O artigo 20 da Constituição japonesa, garante a liberdade de religião e estabelece o princípio da
separação entre religião e Estado. Liberdade de religião consiste na liberdade para professar ou não
uma fé, liberdade de engajar-se em atividades religiosas, e liberdade de associação para este fim. (A
CONSTITUIÇÃO DO JAPÃO, 2012, p. 3) <https://www.br.emb-japan.go.jp/cultura/pdf/constituicao.pdf>
essas palavras foram mudadas para "Dai-Komyo-Shinshin"
("Deus Verdadeiro de Luz Muito Intensa"). Isso significa que,
desejando a salvação da humanidade, Deus, Criador do
Universo, que descera até a posição de Bossatsu e se
manifestara sob o nome de Kanzeon Bossatsu, finalmente
retornava à sua posição original e começava a atuar para
desenvolver a grande obra da salvação (FUNDAÇÃO MOKITI
OKADA, 2005, p. 183).

Com as mudanças promovidas por Okada, muitas pessoas que


enxergavam o Johrei apenas como um tratamento terapêutico, se sentiram
enganadas após a efetivação da Nippon Kannon Kyodan como uma
organização religiosa e acabaram se afastando. Outras, não queriam ter o seu
nome e sua imagem vinculadas a uma nova religião. Assim, muitas pessoas
associadas a Nippon Joka Ryoho Fukyu-Kai, acabaram se afastando.
Entretanto, ao mesmo tempo que muitos se afastaram, houve também um
crescimento extraordinário, onde em apenas dois anos, o número de fiéis
passou de algumas centenas para dezenas de milhares, atingindo o número de
cem mil pessoas em 1949 e expandindo as atividades por todo o Japão.

Apesar da grande expansão, os olhares desconfiados novamente se


voltaram à Igreja. Com a liberdade religiosa garantida pela Constituição,
começaram a surgir diversas religiões novas, amparadas pela Lei das Pessoas
Jurídicas de Natureza Religiosa, onde através de um ato muito simples de
entrega de documentos às autoridades locais, era possível a criação dessas
novas instituições. Com isso, abriu-se margem à criação de organizações com
finalidades desonestas, já que as mesmas se aproveitaram do fato de
entidades religiosas serem isentas de pagamentos de impostos.

A Nippon Kannon Kyodan passou a ser observada pelas


autoridades, que desconfiadas, realizaram por parte do Ministério da Fazenda,
inspeções em cinco instalações da Igreja por suspeita de sonegação de
impostos. O caso foi resolvido, através da comprovação de um erro na
declaração de imposto de renda, não intencional e no pagamento de uma
multa. No entanto, a imagem da Igreja continuava sendo manchada por parte
da imprensa que tecia críticas fervorosas, tanto em jornais como nas rádios,
acusando-a de supersticiosa.
As denúncias e investigações continuaram, culminando com a prisão
de Mokiti Okada em 29 de maio 1950, sob a acusação de infração da Lei dos
Assuntos Econômicos e de suborno.

Mesmo com as denúncias, acusações e a imagem desgastada por


parte da mídia, a Igreja continuava se expandindo e crescendo, levando Mokiti
Okada a fundir as duas maiores organizações independentes até então, a
Nippon Kannon Kyodan (matriz) e a Nippon Miroku Kyodan (filial), dando início
a uma nova página na história da Igreja.

1.3.5- Sekai Meshiya Kyo (Igreja Messiânica Mundial)

A década de 50, torna-se um marco, tanto para a nação japonesa


como para a IMM. Em junho de 1950, inicia-se a Guerra da Coréia, que por
ironia acabou favorecendo a reestruturação da economia japonesa, até então
fragilizada em decorrência da derrota na Segunda Guerra Mundial. Em abril do
mesmo ano, ocorre outro grande incêndio em Atami destruindo uma boa parte
da cidade. Em 1952, é assinado o Tratado de Paz de São Francisco, colocando
um fim à ocupação americana em solo japonês e recuperando o status de
nação independente.

Dentro da Igreja, também ocorreram fatos marcantes. Em janeiro de


1950 faleceu Issai Nakajima (1899-1950), um dos grandes discípulos de Mokiti
Okada. Em maio do mesmo ano, a sede provisória da Igreja em Atami e a
residência do fundador, além de outros prédios pertencentes à Igreja foram
revistados inesperadamente, culminando logo em seguida com a prisão de
Mokiti Okada.

Como que preconizando os acontecimentos, Mokiti Okada escreveu


em janeiro de 1950 na revista “Tijo Tengoku”, editada pela Igreja:

Finalmente, entramos no ano de 1950. Para as pessoas


comuns, é um ano como outro qualquer; no nosso ponto de
vista, é um ano muito importante, porque corresponde a um nó
no desenrolar da transição do Mundo da Noite para o Mundo
do Dia, preconizado por nós (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA,
2005, p. 198).
Uma das datas mais importantes da Igreja, é o dia 4 de fevereiro de
1950. Neste dia, é instituída a Sekai Meshiya Kyo, a partir da unificação das
Igrejas Nippon Kannon Kyodan (matriz) e a Nippon Miroku Kyodan (filial),
instituições que durante um ano e três meses, foram a força propulsora para a
expansão da Igreja. A estrutura da nova instituição também mudou, passando
a vigorar o sistema de grandes, médias e pequenas Igrejas. Assim, inicialmente
criou-se três grandes Igrejas, Tengoku, Miroku e Taissei, posteriormente sendo
acrescentada a Igreja Koho. Ligadas a elas, haviam setenta e seis igrejas
médias e filiadas a estas, setecentas e dez pequenas igrejas. Mokiti Okada que
ocupava o cargo de Conselheiro desde a instituição da Nippon Kannon
Kyodan, passa a ocupar a posição de Kyoshu (Líder Espiritual) e a ser
chamado por seus discípulos e seguidores de Meishu-Sama (Senhor da Luz),
tornando-se o responsável da Igreja tanto no âmbito jurídico, como no âmbito
espiritual.

Antes da instituição da Igreja Messiânica Mundial (IMM), do


ponto de vista jurídico, cada igreja regional ligada à Igreja
Kannon do Japão constituía uma pessoa jurídica diferente.
Consequentemente, cada uma delas possuía um responsável
jurídico diferente. Apesar de todos esses responsáveis terem
Mokichi Okada – que até então, ainda era chamado de Dai
Sensei (Grande Mestre) – como orientador, do ponto de vista
jurídico, ele não estava à frente da Igreja. Ao instituir a IMM,
Meishu-Sama assume, do ponto de vista jurídico, a posição de
responsável, de representante principal da Igreja e, do ponto
de vista religioso, o papel de Líder Espiritual de uma instituição
que, a partir daquele momento, dava início a uma nova fase do
seu trabalho de salvação da humanidade (RAFFO, 2010, p.
67).

Este período, também foi marcado por intensas investigações e


perseguições por parte das autoridades à Igreja. A partir de 1946, as atividades
de difusão se tornaram mais fortes, consequentemente aumentando o número
de fiéis e “milagres” atribuídos à Mokiti Okada e seus seguidores. Porém,
segundo fontes da Igreja, as explicações transmitidas nesta época por
discípulos e seguidores de Okada sobre o Johrei e Agricultura Natural
(principais atividades de difusão), às pessoas de diferentes partes do Japão,
eram insuficientes em determinados aspectos e confusas, levando a possíveis
exageros. Com isso, as críticas e calúnias contra a Igreja aumentava, levando
as pessoas que não simpatizavam com a nova religião, a denunciar suas
atividades. Além de Mokiti Okada, outros dois diretores foram alvos de
investigações e posteriormente detidos e levados a julgamento.

A sentença final do julgamento ocorreu em 24 de dezembro de 1952,


sendo que Okada e os demais réus, foram condenados a prestar serviços na
prisão, sendo que o cumprimento da pena foi adiado para três anos. Em 1954,
todos os envolvidos foram absolvidos e posteriormente declarados inocentes.

Mesmo passando por todas essas adversidades, este foi o período


em que a IMM passou a expandir suas atividades mundialmente, não ficando
restrita apenas ao Japão. A começar pela mudança do nome, antes Nippon
Kannon Kyodan (Igreja Kannon do Japão), tornando-se Sekai Meshiya Kyo
(Igreja Messiânica Mundial), posteriormente em 1957, alterado em definitivo
para Sekai Kyusei Kyo.

Michael Pye, professor emérito da Universidade de Marburg


(Alemanha), questionou a tradução do nome Sekai Kyusei Kyo
(世界救世教) como Igreja Messiânica Mundial, já que kyusei (救
世), literalmente, significa salvação e não está necessariamente
relacionado a messias. A referência ao messias encontrada na
tradução do termo kyusei (救世) como messiânica se origina de
um recurso linguístico utilizado por Mokichi Okada quando
nomeou a nova instituição religiosa que estava fundando em
1950. Na ocasião, ele utilizou os ideogramas 救 世 (kyusei)
referentes à salvação, mas utilizando o sistema de escrita
katakana (usado, principalmente, para grafar palavras
estrangeiras, com exceção das chinesas) forçou a leitura do
ideograma kyusei como meshiya (messias), estabelecendo
uma relação definitiva entre messias e salvação no contexto da
religião fundada por ele (RAFFO, 2010, p. 43).

A divulgação das atividades, que antes contava com o Johrei e as


publicações em revistas da própria Igreja, passou a contar também com as
palestras realizadas por Mokiti Okada em grandes auditórios, por todo o país.
Também neste período, a construção dos Solos Sagrados de Atami (iniciada
em 1945) e Hakone (iniciada em 1944), bem como suas diversas instalações,
se desenvolveram de forma intensa. A expansão mundial da Igreja, iniciou-se
em 1953 com a viagem da missionária Kiyoko Higuchi e seu assistente,
Haruhiko Ajiki para os Estados Unidos. Em 1954, Teruko Sato, jovem
missionária ligada à Igreja Zuiun, recebeu a permissão de Okada e partiu rumo
ao Brasil, desembarcando em Belém – PA, em 4 de novembro.

Antes mesmo da chegada dos primeiros ministros missionários


em junho de 1955, imigrantes japoneses portadores de
omamori outorgados pelo Fundador teriam aportado em solo
brasileiro. Não há registros formais, mas segundo Katsumi
Yamamoto, um messiânico chamado Nakata teria migrado ao
Brasil, em janeiro de 1953 ((TOMITA, 2014, p. 56).

Com a morte de Mokiti Okada em 10 de fevereiro de 1955, a


responsabilidade de dar continuidade à sua obra e guiar seus discípulos e
missionários pelo caminho da fé, ficou a cargo de sua esposa Yoshi Okada
(Nidai-Sama), que assumiu o cargo de Segunda Líder Espiritual (Kyoshu-
Sama) e inaugurou um novo capítulo na história da IMM.

2- A LUZ VEM DO ORIENTE: A BIOGRAFIA DO FUNDADOR

O segundo capítulo irá apresentar um breve relato sobre a trajetória


de Yoshi Okada e Itsuki Okada, Segunda e Terceira Líder Espiritual da IMM
respectivamente, cujos fatos, são importantes para a compreensão da história
da Igreja, as transformações sofridas pela instituição neste período, bem como
a intenção de se produzir a biografia de Mokiti Okada intitulada “Luz do
Oriente”, além de tentar compreender os motivos que levaram a publicação da
obra, somente 20 anos após o seu planejamento.

Também iremos abordar, como o fundador Mokiti Okada é


apresentado em sua biografia, bem como as figuras de linguagens e seus
significados mencionados sobre o mesmo, os momentos dentro da biografia
que justificam o seu status extraordinário, as ações e eventos extraordinários
que são narrados e as características atribuídas a ele na biografia.

2.1- OS CAMINHOS DA IMM APÓS A MORTE DE SEU FUNDADOR


Mokiti Okada faleceu no dia 10 de fevereiro de 1955 e sua morte foi
anunciada aos órgãos de comunicação pelo presidente da IMM na ocasião
Naoyoshi Okussa, às 18 horas do mesmo dia. Muitos fiéis não acreditaram
quando ouviram a notícia, achando que se tratava de um boato, mas ao
constatarem a veracidade da informação ficaram desolados.
Os fiéis reagiram das formas mais diversas. Ao tomarem
conhecimento da notícia, expressaram sua dor, e não apenas
sua tristeza, e seus corações ficavam sombrios. Os que
acreditavam que o Mestre era eterno e, sem saber desde
quando, encaravam-no como um ser que havia superado a
morte, jamais poderiam supor que teriam de encarar sua
Ascensão (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2015, p. 237).

A diretoria da IMM se reuniu para decidir os rumos da instituição


após a morte do fundador e Yoshi Okada, então esposa de Mokiti Okada, não
assumiu imediatamente o cargo de Líder Religiosa após a sua morte. Neste
momento, se estabeleceu um grande alvoroço, comum quando ocorre a morte
do fundador de uma religião, pois muitos não concordavam com a perspectiva
da esposa do fundador assumir a posição. Quem seguir neste momento? Os
grandes discípulos ou os parentes de sangue? Porque acreditar que apenas
pelo fato dele ser da mesma linhagem ou porque ele é discípulo e o seguiu,
será um grande líder?
Antes de sua morte, Mokichi Okada não deixou claramente
definido quais deveriam ser os critérios escolhidos para definir
seus sucessores. Às pessoas mais íntimas, teria dado a
entender que a pessoa mais indicada para sucedê-lo seria a
esposa. Todavia, isso não era oficial e, dentre os discípulos
mais próximos que ocupavam posições elevadas na hierarquia,
começou a surgir um clima de tensão acerca de quem seria o
próximo Líder Espiritual. (RAFFO, 2010, p. 69).

O fato é que nessa reunião criou-se uma espécie de “lei canônica”,


ou seja, o estatuto da família Okada no qual a família obedece todas as
condições que a movem em relação ao “Trono de Kyoshu”. A palavra Kyoshu
significa, em sua origem, “Senhor dos Ensinamentos”. Na IMM, ela ganhou o
significado de “Líder Espiritual”. Assim, “Trono de Kyoshu” é a expressão que a
Igreja utiliza para designar a posição do Líder Espiritual.
Dessa forma, ficou decidido que a família Okada é quem escolhe o
próximo “Kyoshu”, portanto, a partir desta reunião de diretores, Yoshi Okada,
acabou assumindo a posição de Segunda Líder Espiritual da IMM.
Trazendo Max Weber para a nossa contextualização, podemos
perceber claramente nesta transição de poder, o conceito de rotinização do
carisma, onde segundo Weber, é o processo pelo qual a comunidade tenta
manter a nova ordem interna estabelecida já na ausência de seu líder, visando
a expansão e estabelecimento para uma nova ordem também externa de si
própria.
O caminho tomado pelo carisma deixado por Mokiti Okada, foram
dois: O da preservação do mesmo, por meio da burocratização, ou
institucionalização, onde Yoshi Okada conquista o direito de portabilidade do
carisma não por seus méritos pessoais, mas pela posição em que ocupa na
hierarquia da instituição, ou seja, o carisma de cargo; E o da indicação de
Yoshi Okada pelo fundador, portador do carisma original, apesar da atual
diretoria da IMM não considerar este último caminho como legítimo, afirmando
que na literatura messiânica, não consta nenhum registro sobre a utilização da
expressão “Trono de Kyoshu” por Mokiti Okada, muito menos como seria sua
sucessão. O único registro encontrado, onde podemos deduzir uma indicação
por parte de Mokiti Okada, para seu substituto, consta no segundo volume de
sua biografia.
Com efeito, alguns dias antes de sua Ascensão, o Fundador
dissera a Yoshi: “Se, por desígnio Divino, eu vier a ascender,
estarei protegendo-a do Mundo Espiritual. Por isso, aqui no
Mundo Material, você deve dedicar-se à sagrada obra de
salvação do mundo - a construção do Paraíso Terrestre”
(FUNDAÇÃO MOKITI OKADA, 2015, p. 254).

Assim, Yoshi Okada tornou-se a Segunda Líder Espiritual da IMM,


assumindo o “Trono de Kyoshu” em 30 de março de 1955, em uma cerimônia
de investidura realizada no Templo Messiânico de Atami. Seus dois primeiros
anos no cargo foram extremamente turbulentos, confirmando a teoria de Weber
sobre o destino de uma religião recém-fundada após a morte de seu fundador,
ou seja, muitos membros se afastaram, grandes reverendos foram aos poucos
deixando a Igreja por não concordarem com as mudanças e atitudes tomadas
por ela, como por exemplo, a venda de imóveis e terrenos pertencentes à
Igreja com o objetivo de sanar as contas, levando muitos membros ainda
incrédulos com a morte do fundador, não saberem qual caminho trilhar.
De acordo com relatos informais de alguns representantes da Igreja,
Yoshi Okada revolucionou a IMM, se tornando uma grande personagem dentro
da história da instituição, pois ela assumiu uma instituição que estava em plena
expansão no Japão, que tinha como Líder Espiritual, uma pessoa com a
denominação de Meishu-Sama (Senhor da Luz) onde os membros da Igreja o
viam como um “Deus Vivo” e tinham a convicção que ele não morreria antes
dos 120 anos. Mesmo com os questionamentos, por parte de alguns membros,
ministros e reverendos, de como uma pessoa que não viajava com o intuito de
difundir a religião e que não era chefe de uma Igreja, poderia liderar um grupo
de pessoas devotas que engloba desde aqueles que ficavam 24 horas
ministrando Johrei, até os que andavam a pé quilômetros de distância para
realizar assistências religiosas. Soma-se a isso o fato da liderança ser uma
figura feminina, o que em uma sociedade extremamente machista como a
japonesa, era algo inadmissível para algumas pessoas.
Segundo Matsuoka (2007 apud KUMAMOTO, 2018), alguns dos
líderes da Igreja que estavam contra a nova líder Yoshi Okada, devido às
novas políticas adotadas por ela, abandonaram a IMM e fundaram os seus
próprios grupos. Como esta separação poderia ter causado uma ruptura do
movimento, a IMM deixou este sistema descentralizado, em 1973. Esses novos
grupos que surgiram a saber, foram: Sekai Meishu Kyo (atualmente Shin
Kenko Kyokai) e Hikari Kyokai (atualmente Omoto Hikari no Michi), ambas
fundadas em 1955 e a comunidade Kyusei Shukyo, fundada em 1956.
Mesmo com todos os obstáculos, Yoshi Okada transformou a
organização doutrinária da IMM, definindo a liturgia da Igreja, baseando-se na
liturgia xintoísta da religião Oomoto; Caligrafou a imagem Dai Komyo Shin Shin
(Deus Verdadeiro da Grande Luz do Dia). Essa caligrafia é a imagem oficial
dos altares da IMM até hoje; Criou o Ofício Religioso de Assentamento e
Sagração dos Antepassados (Sorei Saishi); Compilou alguns ensinamentos de
Mokiti Okada em uma coletânea chamada Alicerce do Paraíso; Mudou o
conceito do Johrei de “terapia” pra “oração em ação”, objetivando mostrar aos
fiéis que este, é um ato sagrado, e não apenas uma terapia para a cura de
doenças.
Em 1961, Yoshi Okada forma uma comissão com o desejo de se
publicar uma biografia do fundador da IMM, coletando os dados e compilando-
os na forma de um livro. Hayashi Nakai, discípulo de Mokiti Okada e servidor
do fundador nos três últimos anos de sua vida, exerceu a função de secretário
executivo da comissão editorial que elaborou não somente a biografia “Luz do
Oriente”, como também a coletânea “Reminiscências sobre Meishu-Sama”.
Não se tem muitas informações sobre o motivo de se realizar tal
empreendimento, mas o que podemos constatar é que a publicação de uma
biografia do fundador, perpetuaria ainda mais, a imagem de um “Enviado de
Deus” ou “Messias” assim defendido pelos membros da Igreja, através da sua
trajetória de vida, desde o seu nascimento até a sua morte, sendo a biografia,
uma espécie de guia espiritual, principalmente para aquelas pessoas que não
conheceram ou dedicaram ao lado do fundador. Segundo Itsuki Okada:

Aprender com Meishu-Sama e dele nos aproximar é, para nós,


que seguimos o caminho traçado por ele em seus
Ensinamentos, um grande desejo e também a meta de todo o
nosso esforço. O livro Luz do Oriente é um bom orientador para
isso. Desejo que, daqui para a frente, o tenham sempre em
mãos e o utilizem como guia, para corresponderem ainda mais
à Vontade de Meishu-Sama. (FUNDAÇÃO MOKITI OKADA,
2001, p. 18)

Os fatos e episódios narrados na biografia aumentariam ainda mais


a mística por trás da figura do fundador, trazendo elementos misteriosos e
desconhecidos para a grande maioria dos membros. Uma espécie de proteção
do carisma enraizado nestes mistérios e segredos, técnicas que iremos
abordar mais adiante.
Com a morte de Yoshi Okada em 24 de janeiro de 1962, o projeto
teve que ser interrompido, ficando a cargo de Itsuki Okada, Terceira Líder
Espiritual da IMM, dar continuidade.

2.2- A GRANDE REFORMA ORGANIZACIONAL


Após a morte de Yoshi Okada, quem assume o cargo de Terceira
Líder Espiritual no Trono de Kyoshu é Itsuki Okada, terceira filha do fundador e
de Yoshi.
As estruturas organizacionais da Igreja continuaram com a sua
administração, mas por um breve período de tempo. A Igreja tinha um sistema
de difusão feita através da chamada “afinidade”. Tinha-se um mestre e seus
discípulos. Esse mestre tinha uma Igreja, formava seus discípulos e ia
enviando eles para várias partes do Japão e assim, cada um realizava sua
difusão criando as chamadas filiais. Este tipo de organização aos poucos foi
dando lugar a uma centralização, o que levou a uma maior expansão da IMM
tanto no nível nacional quanto no nível internacional.
Em junho de 1962, com a chegada do primeiro grupo de
ministros enviados pela direção da IMM do Japão, a
configuração da difusão no país passa a ter efetiva
interferência da Sede Geral, deixando de ser tida como uma
iniciativa exclusiva das igrejas japonesas Daijo, Seiko e Kiko.
Do grupo de 1962, posteriormente, tornaram-se diretores da
IMMB, os ministros integrantes Tetsuo Watanabe, Hitoshi
Nishikawa e Noboru Kanbe. Os demais ministros voltaram ao
Japão por diferenciados motivos ou se desligaram da IMM.
(TOMITA, 2014, p. 71)

Não existia na IMM uma centralização da organização, e as Igrejas


eram autônomas, com pessoas jurídicas, estatutos, registros, presidente e
conselhos diferentes. A sede era apenas a “Igreja Mãe” onde Mokiti Okada
reunia os diretores e cada um respeitava a relação entre mestre e discípulo,
que era muito forte, comumente chamado de “sistema de afinidade”. A Igreja
crescia não porque se reunia um grupo, mas sim porque tinha um mestre que
orientava seus discípulos a fazerem difusão. Assim uma Igreja tinha várias
difusões em várias localidades, formando outros discípulos, e os mandando pra
locais diferentes. Dessa forma a expansão da organização dependia de cada
Igreja autônoma. A ligação com a “Igreja Mãe” era mais uma ligação direta com
Mokiti Okada do que uma ligação jurídica.

Esse tipo de estrutura organizacional, perdurou até a prisão do


fundador em Junho de 1950, onde a Igreja precisou se reestruturar.

Em junho de 1950, a Igreja deu início à reforma de sua


organização, pois ficara claro que a perseguição religiosa fora
motivada pela falta de estruturação necessária à expansão da
Igreja e pelo desconhecimento das leis. Paralelamente,
refletindo-se sobre a prisão do fundador, concluiu-se que ela
ocorrera por ser ele o Líder Espiritual e, ao mesmo tempo, o
Responsável e o Representante da entidade jurídica
denominada Igreja Messiânica Mundial. (FUNDAÇÃO MOKITI
OKADA, 2005, p. 224)

Após a libertação de Mokiti Okada por parte das autoridades, todos


os cargos foram extintos e, em seu lugar, foi instalada a chamada “Comissão
Organizadora da Reconstituição da Igreja Messiânica Mundial”, que, acatando
as ideias do fundador, estabeleceu-se:

- Abolir o sistema em que o Líder Espiritual acumula o cargo de representante


legal e adotar o sistema de Presidência do Conselho Administrativo;

- Estabelecer o sistema de diretores, em número fixo de onze pessoas (entre


os quais, o Presidente do Conselho Administrativo e três diretores executivos);

- Criar o cargo de fiscal, em número de três pessoas;

- Implantar o sistema de diversos conselheiros.

Dessa maneira, o fundador deixou a posição de responsável legal da


IMM, sendo substituído por Naoyoshi Okussa, que assumiu como presidente
da Igreja.

Em 1955, com a morte de Mokiti Okada, as divisões na IMM, se


mostraram mais claramente. Toda esta estrutura ficou estremecida e a
pergunta que se fez foi: “quem realmente iremos seguir? O que a instituição vai
direcionar? Eles seguiam Mokiti Okada, não enxergavam a instituição; não era
o presidente quem falava, era Mokiti Okada, o líder carismático.

Para Max Weber, uma vez que o líder carismático morre, o carisma
por ele deixado pode tomar diferentes caminhos: 1) permanecer em um
substituto indicado pelo portador do carisma original, ou que conquiste por
meios de provas a legitimidade de ser o substituto enviado para terminar a
missão do primeiro; 2) ser preservado por meio da burocratização, ou
institucionalização, através do qual os substitutos do líder inicial conquistam o
direito de portabilidade do carisma não por seus méritos pessoais, mas pela
posição em que ocupam na hierarquia da instituição (caso do carisma de
cargo); 3) desaparecer, e junto com ele os seguidores, tornando extinto tanto o
carisma, quanto os adeptos, como também a própria missão para a qual o líder
foi supostamente enviado.

“O carisma, em vez de atuar conforme seu sentido genuíno, de


forma revolucionária, diante de tudo que seja tradicional ou se
fundamente na aquisição ‘legítima’ de direitos, como acontece
in statu nascendi, atua exatamente no sentido contrário, como
fundamento de ‘direitos adquiridos’. E precisamente nesta
função alheia à sua índole torna-se ele um componente da vida
cotidiana, pois a necessidade, à qual ele assim atende, é
universal [...] exatamente neste ponto situa-se, inevitavelmente,
a entrada no caminho do estatuto e da tradição”. (WEBER,
2015, p. 333)

Porém, os conflitos enfrentados pela IMM, sobretudo após a morte


do fundador, se intensificaram sobretudo com a administração de Itsuki Okada
envolvendo fatores como: gestão de recursos humanos e financeiros no Solo
Sagrado e principalmente pela centralização da organização e do patrimônio.
Essa centralização ou unificação da Igreja, ficou conhecido como
Kyodan Ichigenka. Com isso, acabou-se o sistema de afinidade e cada região
possuía sua área, existindo apenas uma única pessoa jurídica e todas Igrejas
menores se tornam filiais da “Igreja Mãe” (Sede Geral). Nesta nova
organização, as Igrejas filiais, tinham que entregar os seus registros como
pessoa jurídica e se filiar a então “Igreja Mãe”, Sekai Kyusei Kyo (Igreja
Messiânica Mundial), sediada no Solo Sagrado de Atami, centralizado na figura
de Itsuki Okada, e do presidente Teruaki Kawai.
O projeto do presidente Kawai era de que a IMM deveria se voltar
mais para a sociedade, sendo o Johrei, o grande carro chefe dessa expansão,
mas incentivando também as outras duas colunas, chamadas de “Colunas da
Salvação” pelos messiânicos, a saber, a coluna da Agricultura Natural e a
coluna do Belo, conforme o fundador Mokiti Okada em vida havia preconizado.
Foi então que se criou a M.O.A (MOKITI OKADA ORGANIZATION).
Claro que estas medidas não foram unânimes entre diretores,
ministros e reverendos da IMM, provocando novas dissidências de Igrejas que
não aderiram à este novo sistema de organização e administração. Uma das
dissidências criadas neste período e uma das mais conhecidas, é o Templo
Luz do Oriente, fundado por Minoru Nakahashi em 15 de junho de 1973, tendo
sua sede no bairro de Perdizes em São Paulo. De acordo com o site da
Instituição:
Após esse período, começaram as interferências da cúpula
administrativa do Japão, tanto na parte material quanto na
espiritual e não houve mais jeito de continuar a divulgação
como era feita antes. Nessa época, foram escolhidos alguns
Ensinamentos, mais ou menos cinco por cento do total, que
foram estabelecidos como oficiais para a Messiânica. Não
aceitando essa orientação, alguns adeptos, entre eles o Rev.
Nakahashi, desligaram-se da administração central japonesa e
adotaram um segmento independente. (TEMPLO LUZ DO
ORIENTE, 2020, § 6)

Apesar de toda a controvérsia com relação ao sistema centralizado


Kyodan Ichigenka, o mesmo proporcionou à IMM um controle administrativo
muito maior, permitindo dessa maneira a contagem de seus membros através
de relatórios enviados pelas Igrejas afiliadas (o que não existia antes, pelo
menos de uma forma organizada) e também um controle financeiro, já que todo
o donativo monetário que as Igrejas afiliadas recebiam, eram repassados à
“Igreja Mãe”.
Na década de 80, no auge das comemorações do centenário do
fundador, apesar da grande euforia por parte dos membros, nos bastidores da
IMM, havia uma grande tensão, pois alguns diretores achavam que a Igreja
estava focando muito mais o setor cultural e artístico, do que na difusão da
religião. Posteriormente em 1984, esta tensão acabou gerando uma nova
ruptura na IMM, gerando a divisão da organização em três grupos: Saiken
(Reconstrução), Shinsei (Renascimento) e Goji (Preservação). Esses grupos só
iriam se reunificar novamente em 1998, quando Yoichi Okada, Quarto Líder
Espiritual, assume o cargo.
Mesmo com todos os conflitos, Itsuki Okada conseguiu em sua
gestão realizar importantes feitos, tais como: a reconstrução do Templo de
Atami, a construção do Museu de Belas Artes de Atami, a construção do
Templo Komyo, de Hakone e a construção dos Protótipos do Paraíso Terrestre
no Brasil e na Tailândia. Além disso, nesse período a expansão internacional
da Igreja cresceu de maneira considerável (principalmente no Brasil, com a
criação do seminário sacerdotal) com a criação de atividades extra religiosas
(principalmente no setor cultural e educacional), como o lançamento da
coletânea “Reminiscências sobre Meishu-Sama” em 1965, a Academia Kado
Sanguetsu em 15 de junho de 1971, estabelecendo o estilo Ikebana Sanguetsu
de vivificação floral e o livro “Luz do Oriente” em 1982, por parte do setor
comercial da Igreja a MGC (MESSIANIC GENERAL CORPORATION), que
depois se transformou na M.O.A.

Toda essas realizações, faziam parte não só do projeto de expansão


da IMM, como também, o de levar o nome do fundador Mokiti Okada para fora
dos limites do Japão. Isso fica claro com as palavras do Reverendo Tetsuo
Watanabe:

As pessoas presentes no Culto da Gratidão do mês de


fevereiro, realizado na Sede Central, viram com alegria em
seus corações o retorno do Reverendo Tetsuo Watanabe,
Presidente da Igreja Messiânica Mundial do Brasil, após
permanecer no exterior durante vários meses. Em sua palestra
disse: “Queremos que o nome de Mokiti Okada, seja conhecido
em todo o mundo” – contando o êxito de sua viagem
principalmente quando participou da apresentação oficial da
M.O.A. (Mokiti Okada Association). (Jornal Messiânico, 1981,
p. 1)

Neste sentido, podemos entender que o livro Luz do Oriente,


publicado em 1982, desempenhou um papel importante na consolidação da
imagem do fundador, principalmente para os novos adeptos que não o
conheceram, legitimando os “poderes ou qualidades sobrenaturais” e
reforçando o carisma em seus “milagres”, bem como os eventos e ações
presentes no livro e que iremos abordar a seguir.

Você também pode gostar