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Resumo: A Ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é uma técnica de emergência realizada com auxílio de compressão torácica
e ventilação artificial, sendo preconizada como um padrão de ressuscitação. Esta revisão sistemática tem por objetivo
sumarizar os resultados dos estudos realizados quanto à posição ideal das mãos durante a RCP bem como sugerir outras
opções de posicionamento das mãos, visto que há evidências científicas de que as manobras atualmente usadas não são tão
eficazes quanto se pensava. A metodologia foi conduzida conforme a Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and
Meta-Analyses (PRISMA). A busca se deu na base de dados PubMed e Cochrane, de maio a junho de 2019, conforme a
seguinte estratégia de busca, somente com termos em inglês: hands and heart massage and heart arrest, usando os filtros:
Humans; Adults e artigos dos últimos 12 anos, quando iniciaram os primeiros estudos sobre o assunto em questão. Os
critérios de inclusão utilizados foram: estudos em seres humanos; idade maior de dezoito anos; abordagem direta acerca de
que a recomendação do local ideal para massagem cardíaca atualmente preconizado nas diretrizes precisa ser revisto;
identificação de novas formas de encontrar o ponto ideal das manobras de compressão torácica; artigos em inglês. Foram
encontrados 49 artigos, sendo 24, restando 25 para leitura dos respectivos resumos. Destes foram selecionados apenas 7,
incluindo os estudos resultantes das buscas e as referências adicionais encontradas manualmente. Conclui-se que, de fato, as
estruturas intratorácicas que são comprimidas durante as manobras de ressuscitação aplicadas na linha intermamilar, são em
sua maioria a via de saída do ventrículo esquerdo e ramos da aorta (raiz ou aorta ascendente). Logo, os efeitos
hemodinâmicos para o paciente em parada cardíaca não são tão eficazes para a reversão do quadro, visto que, para tal, o ideal
seria a compressão do ventrículo esquerdo.
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Introdução
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Portanto, esta revisão sistemática tem por objetivo sumarizar os resultados dos estudos
realizados quanto à posição ideal das mãos durante a RCP, identificar quais estruturas
intratorácicas estão na topografia onde as massagens são feitas seguindo as diretrizes atuais;
sugerir outras opções de posicionamento das mãos, visto que há evidências científicas de que
as manobras atualmente usadas não são tão eficazes quanto se pensava.
Métodos
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Tabela 1 – Características dos estudos incluídos segundo ano de publicação, autor, desenho
do estudo e tamanho da amostra.
DESENHO DO N DE PARTICIPANTES/TIPO DE
AUTOR ANO
ESTUDO AMOSTRA
Shin, et al. 2007 Observacional 189
Hwang, et al. 2009 Observacional 34
Qvigstad, et al. 2013 Ensaio clínico 30
Choi, et al. 2016 Observacional 600
Cha, et al. 2016 Coorte 114
Nestaas, et al. 2016 Observacional 144
Anderson, et al. 2016 Observacional 26
Fonte: Dados da Pesquisa, 2019.
Resultados
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Os métodos citados para o estudo intratorácico dos participantes das amostras em cada
artigo foram em sua maioria exames de imagem: tomografia computadorizada (TC) de tórax,
ressonância magnética (RNM) de tórax e ecografia transesofágica (ETE). Apenas um estudo
usou somente da medição do gás carbônico na expiração (EtCO2).
Fundamentando a hipótese em relação ao porquê das recomendações atuais do local da
massagem cardíaca, na linha intermamilar (LIM), não são prontamente eficazes, Shin et al
mostrou por meio de estudo de TC de tórax em 189 pacientes, que as estruturas intratorácicas
localizadas logo abaixo da linha intermamilar são aorta ascendente (18,0%), raiz da aorta
(48,7%) ou a via de saída do ventrículo esquerdo (12,7%), e não o próprio ventrículo
esquerdo, presente em apenas 20,6% dos pacientes. Contudo, as imagens não foram obtidas
durante as RCP (SHIN, RHEE e, KIM, 2007).
Hwang et al encontrou, com o auxílio de ecografia tranesofágica, um estreitamento
significativo da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) ou da aorta nos 34 pacientes da
amostra, com o grau de compressão no ponto de máxima compressão (PMC) variando de 19%
a 83% (média ± DP = 49 ± 19%). O PMC foi encontrado na aorta em 20 pacientes (59%) e na
VSVE em 14 pacientes (41%). Um estreitamento significativo de mais de 50% do diâmetro
no final da fase de relaxamento e ocorreu em 15 pacientes (44%). Não foi investigada a
relação entre o ponto de máxima compressão e as características do corpo de cada paciente
(HWANG, ZHAO, CHOI, PARK, CHA, PARK, et al., 2009).
Cha et al, com estudo tomográfico pós manobras de RCP de 119 pacientes, avaliaram a área
das câmaras cardíacas que são comprimidas durante as massagens, medindo linha interna,
junção esternoxifoide e o ponto médio entre elas. A área ventricular esquerda foi encontrada
em 78% dos casos na junção esternoxifoide, assim como a área cardíaca total mais ampla foi
vista em 58% e em 85%, a área ventricular total neste mesmo ponto (p<0,001). Algumas
limitações foram encontradas como a existência da possibilidade de relocação das estruturas
após ventilação artificial; e a fúrcula esternal mudou-se 8,4 mm para cima na realização da
TC de tórax, devido elevação dos membros superiores (CHA, KIM, SHIN, CHA, KIM, LEE,
et al., 2013).
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Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão
siste-mática sobre a posição adequada das mãos duran-te massagem
cardíaca de, 2007 a 2019.
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durante todo o tempo da ressuscitação (p <0,05). Nove representantes deste mesmo grupo
(69%) atingiram o retorno à circulação espontânea e sobreviveram até 60 minutos em relação
a zero do grupo da raiz da aorta (p <0,001). Embora estes animais sejam bastante utilizados
em estudos de parada, ainda há diferenças quanto aos humanos (ANDERSON KL,
CASTANEDA, BOUDREAU, SHARON e BEBARTA, 2017).
Qvigstad et al mediu a capnografia (EtCO2) de 30 pacientes após 50 compressões
torácicas antes da mudança da posição entre quatro pontos determinados para o estudo. Não
houve diferença significativa de EtCO2. A mediana foi de 3,1 kPa (0,7 a 8,7 kPa) na LIM; 3,5
kPa (0,5 a 10,7) com as compressões 2 cm abaixo da LIM; 3,8 kPa (0,4-8,8 kPa) 2 cm abaixo
e à direita de LIM e 3,5 kPa (0,5 a 10,3 kPa) mudando para 2 cm abaixo e à esquerda de LIM
(p = 0,4). A diferença de EtCO2 para cada paciente usando estas diferentes posições das mãos
variou com valores máximos e mínimos de 0,2 a 3,4 kPa (mediana 0,9 kPa). Contudo, as
ventilações foram manuais e não foi feita a medição de EtCO2 nos minutos iniciais
(QVIGSTAD, KRAMER-JOHANSEN, TØMTE, SKÅLHEGG, SØRENSEN, SUNDE, et al.,
2013).
Quanto à sugestão para uma nova posição das mãos a ser utilizada, Choi et al realizou
a medição do esterno como a distância da fúrcula esternal ao apêndice xifoide de 600
pacientes jovens relacionando com o comprimento da região hipotênar da mão (obtida
arbitrariamente), sendo medido 1 cm (H1) e 2 cm (H2) distalmente à extremidade proximal
dos ossos do carpo. Encontrou então que o provedor da RCP, se estiver do lado esquerdo do
paciente deve localizar a fúrcula com o dedo mínimo direito e posicionar a região hipotênar
da mão esquerda a uma distância H2 da fúrcula. E vice-versa se estiver posicionado à direita
do paciente. (CHOI, LEE, KIM e SINGER, 2017)
Discussão
A maioria dos estudos, além de confirmar quais as estruturas intratorácicas estão sob o
local de compressão recomendado pelas diretrizes atuais, também sugeriram opções para o
posicionamento mais adequado das mãos que atingisse o ventrículo esquerdo em sua maior
área, resultando em maior eficácia da ressuscitação cardiopulmonar.
Shin et al mediram inicialmente a distância da LIM até o processo xifoide,
encontrando valores de 5,6 ± 1,9 cm para mulheres e 6,2 ± 1,8 cm para homens, acima do
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xifoide. Pela tomografia, calculou-se a localização do diâmetro máximo do coração acima do
xifoide: 2,8 ± 1,6 cm e 2,3 ± 1,6 cm cefálica ao xifóide para homem e mulher,
respectivamente. Subtraindo a média dessas duas medidas, é observado que o coração
receberia o impacto das compressões se feitas mais caudalmente ao esterno, do que na linha
intermamilar (SHIN, RHEE e, KIM, 2007).
Hwang et al corrobora a informação de Shin quando afirma que as estruturas que são
comprimidas durante a RCP padrão são aorta e via de saída do ventrículo esquerdo. Também
mostraram o grau de estreitamento ocasionado nesses locais através de imagens de ecografia
transesofágica (ETE) a 135° no corte longitudinal. O diâmetro médio no ponto de máxima
compressão na fase final de relaxamento foi 2,1 ± 0,5 e 1 ± 0,4 no final da fase de
compressão. O grau de compressão neste ponto ficou em torno de 19 a 83%. Em 44% dos
pacientes foi observado um estreitamento de mais de 50% no final da fase de relaxamento.
Quanto mais próximo o ponto de máxima compressão do ventrículo esquerdo, maior seu
volume sistólico (R2 = 0,165, p = 0,017) (HWANG, ZHAO, CHOI, PARK, CHA, PARK, et
al., 2009).
Nestaas et al com o auxílio de imagens de RNM, identificaram a melhor área
compressível dos ventrículos direito e esquerdo a 3 cm do local recomendado. Eles mediram
também o diâmetro anteroposterior externo (AP-externo) de cada paciente e o diâmetro
interno das estruturas cheias de sangue (AP-sangue) que ficam abaixo do ponto na linha
intermamilar. A medida do AP-externo para as mulheres foi de 22 cm e 25 cm para homens.
Já o AP-sangue foi de 4,7 cm e 6,5 cm, respectivamente. A profundidade recomendada para a
realização da massagem cardíaca excedeu AP-sangue em mais de metade das mulheres
(NESTAAS S, STENSÆTH KH, ROSSELAND V, KRAMER-JOHANSEN, 2016).
Choi et al encontraram a maioria dos resultados semelhantes ao atual em um estudo
anterior feito com uma amostra menor (n=200). No presente estudo, com 600 participantes, os
achados ganharam maior confiabilidade. Objetivando facilitar o aprendizado, eles observaram
que o ponto de referência para encontrar o local das compressões deve ser a fúrcula esternal e
não o processo xifoide, como anteriormente. Quanto à medida do comprimento do esterno,
viu-se que havia boa correlação com a altura, além desta ser facilmente estimada numa
situação emergencial. Os sujeitos mais altos que a média apresentaram o esterno ligeiramente
mais longo (0.5 cm) (CHOI, LEE, KIM e SINGER, 2016).
Cha et al também afirmam que o ponto de compressão deva ser mais próximo da
junção esternoxifoide, para atingir uma maior área do ventrículo esquerdo. Contudo, há uma
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certa preocupação quanto à segurança desta manobra, visto que existe um aumento no risco de
trauma abdominal superior contuso. Logo, esta questão deve ser resolvida antes da
implementação desta técnica na prática (CHA, KIM, SHIN, CHA, KIM, LEE, et al., 2013).
Embora Qvigstad et al não tenha encontrado nenhuma posição de mão na metade
inferior do esterno que produzisse maior valor na capnografia (EtCO2), Anderson et al foi o
primeiro a demonstrar, usando também a medição da eliminação do gás carbônico durante a
RCP e observando variáveis hemodinâmicas, que o ETCO2 (p=0.0004) e o retorno à
circulação espontânea podem ser melhorados pela colocação de compressões diretamente
sobre o ventrículo esquerdo.
Esta revisão sistemática encontrou algumas limitações em relação aos artigos como a
determinação de valores de P em vez de intervalo de confiança, que são mais fidedignos. Pode
ter ocorrido viés de relato nos estudos ou existirem outros artigos que não foram encontrados
pelos descritores e bases de dados utilizados.
Conclusão
Diante dos achados desta revisão sistemática, conclui-se que, de fato, as estruturas
intratorácicas que são comprimidas durante as manobras de ressuscitação aplicadas na linha
intermamilar, são em sua maioria a via de saída do ventrículo esquerdo e ramos da aorta (raiz
ou aorta ascendente). Logo, os efeitos hemodinâmicos para o paciente em parada cardíaca não
são tão eficazes para a reversão do quadro, visto que, para tal, o ideal seria a compressão do
ventrículo esquerdo.
Vários dos estudos pesquisados sugeriram novos locais para se realizar a massagem
cardíaca. Todos chegaram ao consenso de que se deve massagear mais caudalmente à linha
intermamilar, próximo à junção esternoxifoide. Contudo, é necessário que as associações
mundiais responsáveis pelas diretrizes aprofundem os estudos em relação à mudança da
posição das mãos, avaliando riscos e benefícios, para que futuramente, possam ser
implementadas novas práticas que otimizem o tratamento ao paciente em parada cardíaca.
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Recebido: 12/09/2019;
Aceito: 13/09/2019.
375 Id on Line Rev. Mult. Psic. V.13, N. 47 p. 366-375, Outubro/2019 - ISSN 1981-1179
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