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* O autor é mestre e doutor em Teologia Sistemática pela PUC-Rio, pároco da Paróquia Santa
Clara de Assis, Duque de Caxias, RJ, e professor do Instituto Teológico Franciscano, Petrópolis, RJ.
Endereço: Rua Batista de Oliveira, Q. 68, L. 04; Vila Ema; 25.266-210 Duque de Caxias – RJ/BRASIL;
e-mail: <frreinert@yahoo.com.br>.
REB, Petrópolis, volume 79, número 313, p. 264-292, Maio/Ago. 2019 265
Introdução
Anualmente, a Igreja do Brasil nos brinda com uma temática ecle-
siológica, no intuito de iluminar a reflexão pastoral e a prática evan-
gelizadora no país. São tentativas de respostas e propostas aos desafios
pastorais que a atualidade apresenta. A riqueza das reflexões, fruto da
Assembleia anual dos bispos, nos é apresentada em forma de documen-
tos eclesiais (série: Documentos da CNBB). Três desses documentos são
objeto de reflexão do presente artigo. Trata-se dos documentos 100,
105 e 107, respectivamente intitulados “Comunidade de comunidades:
uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia”; “Cristãos leigos
e leigas na Igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo”; e “Inicia-
ção à vida cristã: itinerário para formar discípulos missionários”.
Sem a pretensão de fazer uma análise de tais documentos, queremos
dialogar com os temas aí tratados, captar a relação entre eles, evidenciar
o que há em comum entre essas três realidades eclesiológico-pastorais.
Se uma imagem serve de inspiração para melhor captar a inter-relação
entre comunidade de comunidades, sujeito eclesial e iniciação à vida cristã,
podemos fazer uso do triângulo. No triângulo, os segmentos de reta se
encontram nas extremidades, se sustentam mutuamente. Analogamen-
te, as três realidades pastorais aqui estudadas dependem uma das outras,
se enriquecem mutuamente, se triangulam, formando uma unidade
eclesiológica orgânica.
Comunidade de comunidades, sujeito eclesial e iniciação à vida cristã
não somente estão inter-relacionados, como também trazem em si o
DNA da relação. O que melhor caracteriza cada uma dessas realidades
eclesiais é a relação.
Outro aspecto relevante que será trabalhado no artigo, a partir
do fio condutor da relacionalidade, é a ampliação de compreensão e
de concretização de cada uma dessas realidades, ou seja, comunidade
de comunidades se efetiva não somente na relação entre comunidade
e matriz, mas entre os vários os sujeitos eclesiais. A título de exemplo,
o corpo presbiteral forma entre si comunidade de comunidades. Su-
jeitos eclesiais são todos os batizados, mas igualmente são sujeitos as
266 J.F. Reinert. Paróquia: casa da iniciação e comunidade de sujeitos eclesiais
1. FRANCISCO, Papa. Carta do Papa Francisco ao Cardeal Ouellete, Presidente da Pontifícia Co-
missão Para a América Latina.
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Conclusão
Partimos da afirmação de que o elemento primordial em comum
entre os três temas pastorais aqui estudados é a relacionalidade. Elas
são realidades comunionais, relacionais. A eclesiologia que sustenta cada
uma dessas realidades é a da comunhão. Elas serão tanto mais fiéis à sua
identidade quanto mais avançarem na cultura do encontro.
A estrutura paroquial comunidade de comunidades é essencialmente
relação. Diversas são as formas através das quais se concretiza essa reali-
dade intercambiante: relação entre comunidade e os vários ministérios e
serviços, relação entre pastorais e movimentos, relação entre comunida-
des e matriz, relação entro corpo presbiteral e as diversas instâncias ecle-
siais etc. Causa e, ao mesmo tempo, consequência de relacionalidade é a
descentralização. Descentralização, sinodalidade, comunhão são termos
que permitem melhor captar o caminho de renovação a ser percorrido
pela nova paróquia.
Ser sujeito eclesial é direito de todo batizado. É nas relações eclesiais
autênticas que se consolida a cidadania eclesial de cada fiel. Fora das
relações não há sujeito eclesial. Comunidade de comunidades, por aquilo
que ela significa, é, portanto, o espaço para a pontencialização do prota-
gonismo eclesial de todo batizado. Dialeticamente, somente autênticos
sujeitos eclesiais terão condições para sustentar uma configuração que
pretende ser comunidade de comunidades. Iniciação à vida cristã é relação
com Jesus Cristo e inserção na comunidade de fé; é encontro pessoal
com Jesus Cristo. Também aqui, portanto, habita a dinâmica da relação.
Não bastasse toda essa riqueza relacional em cada um dos três temas,
a densidade da comunhão dessas realidades está igualmente no fato de
ser ela, a relação, o elo que as une e o fio que costura os temas entre
si. Longe de serem realidades independentes, elas existem na lógica da
interrelacionalidade e da complementariedade, ou seja, cada uma dessas
realidades ajuda a desvelar a natureza mais profunda das outras. Cada
uma dessas temáticas eclesiológico-pastorais sustenta e exige a outra.
Referências
CELAM. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulus, 2007.
CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conver-
são pastoral da paróquia. São Paulo: Paulinas, 2014 (Documentos da
CNBB 100).
292 J.F. Reinert. Paróquia: casa da iniciação e comunidade de sujeitos eclesiais