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COLUNA

Augusto Nunes
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil
espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser
esquecido.
https://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/vem-ai-
um-novo-ciclo-das-commodities/

Vem aí um novo ciclo das


commodities?
Neste ano, os países latino-americanos poderão optar entre o
populismo econômico de pernas curtas ou reformas globalistas e
modernizantes na economia. REFORMA TRIBUTÁRIA, REFORMA
TRABALHISTA E REFORMA DA PREVIDÊNCIA
(CONGELAMENTO DAS DESPESAS - TETO DOS GASTOS)
Por Marcos Troyjo
access_time11 fev 2018, 23h51

Marcos Troyjo
Há exatos setenta anos, a Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (CEPAL) da ONU publicava estudo do economista argentino Raul
Prebisch. Tal texto mudaria para sempre a reflexão sobre o desenvolvimento.
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Com bastante razão, Prebisch argumentava a respeito de uma antiga divisão
internacional do trabalho em que, por exemplo, a América Latina fornecia,
com vantagens, matérias-primas a uma Europa industrializada já caducada.
A dramática ascensão dos EUA ao pináculo do poder global em fins dos anos
1940, metade do PIB mundial vinha dos EUA, maior potência industrial e
também agrícola reluzia como símbolo de transição do sistema econômico
internacional. Dali adiante, os termos de troca não podiam mais ser
considerados “mutuamente benéficos” para diferentes partes apenas pelo
conceito das “vantagens comparativas”.
A única especialização dos países de menor desenvolvimento em commodities
agrícolas e minerais deixava de ser uma opção. A tendência inexorável,
augurava Prebisch, era a progressiva diminuição do poder de troca
relativo das matérias-primas ante bens industrializados cada vez mais
valorizados.
Nestas últimas sete décadas, há muito que confirmou Prebisch, sobretudo em
seu diagnóstico sobre agregação de valor. Menos, no entanto, em suas
prescrições em prol de uma industrialização mediante substituição de
importações.
Países que realmente mudaram de patamar no período ─ a grande maioria
deles encontrada no Sudeste Asiático ─ associaram industrialização à
promoção de exportações. Os latino-americanos permaneceram focados em
suas commodities e a um esforço industrial escudado pelo Estado e voltado a
um protegido mercado interno.
O curso da história, no entanto, jamais é linear. Permite, de tempo em tempo,
um revival de chance de prosperidade alicerçada na exportação de
commodities. Este foi bem o caso da estonteante arremetida chinesa, em
especial nos últimos quinze anos, o que fez reemergir, para países como o
Brasil, lógica semelhante ao padrão Norte-Sul das vantagens comparativas do
século XIX. Exportamos matérias-primas e compramos bens industrializados
ou, no caso da economia digital, pós-industrializados.
Ainda assim, o boom de commodities da primeira década dos 2000, se serviu
para irrigar o Tesouro dos países latino-americanos, afastou-os da disciplina
fiscal e da adoção de reformas modernizantes. Passado este ciclo mais recente,
tudo fazia crer que voltávamos à validade dos diagnósticos prebischianos. Por
um lado, o revival das vantagens comparativas das matérias-primas teria sido
alvejado pela suposta desaceleração chinesa. Por outro, o alvorecer da Quarta
Revolução Industrial apenas realçaria a decrescente relevância dos países
produtores de commodities. Estes dois pressupostos, no entanto, podem ser
desafiados pelo rumo dos acontecimentos. Apesar do susto nas bolsas de
valores nos últimos dias, a economia global continua sua progressão a um
crescimento sincronizado. Todos, emergentes ou maduros, experimentarão
expansão econômica em 2018.
A propósito, uma possível leitura da recente retração nos mercados acionários
diz respeito não a problemas de fundamentos nas economias dos EUA ou
Europa, ou pelo temor de um estouro da dívida chinesa ou de uma guerra
comercial. É o prenúncio de um pacote de estímulos fiscais nos EUA, com
expansão de investimentos em infraestrutura, desregulamentação e reforma
tributária. Tudo numa economia já bastante aquecida e próxima do pleno
emprego a projetar potencial inflação e consequente aumento acelerado das
taxas de juros.
Nessa economia mundial em expansão, destacam-se o grande investimento
infraestrutural particularmente na Ásia com o projeto OBOR (One Belt, One
Road) pilotado por Pequim e a extroversão do parque industrial chinês para
seu entorno geoeconômico. Tudo isso joga para cima a demanda global por
commodities agrícolas e minerais.
E, na ponta daquelas atividades mais intensivas em tecnologia, características
da Quarta Revolução Industrial, observam-se ganhos de produtividade que
também ajudam a elevar rendas de economias mais avançadas. Nesse aspecto,
é bom lembrar que mesmo naqueles países de industrialização mais madura,
como EUA, Alemanha e Reino Unido, onde vozes se levantam contra a
globalização, a robótica e a automação ─ supostos assassinos de postos de
trabalho ─, a taxa de desemprego é relativamente baixa. Isso também
contribui para uma recuperação do preço das commodities.
Assim, nada nos impede de pensar que há um novo ciclo de apreciação
relativa dos preços das matérias-primas e dos alimentos em nível global. E,
portanto, mais uma vez os países latino-americanos disporão da possibilidade
de optar entre populismo econômico de pernas curtas ou reformas
modernizantes que permitam agregar valor em amplo escopo de setores da
economia.

As figuras abaixo não fazem parte dessa matéria, inseri para ilustrar o crescimento do PIB da China - série
histórica.
Produto Interno Bruto (PIB) - Taxa de Crescimento Real (%)
Country 1999 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2015 2016 2018 2019 2020

China 7 8 8 8 9,1 9,1 10,2 11,9 9 9,1 10,3 9,2 7,8 7,7 6,9 6,7 6,9 6,9 6,14

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