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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

CIÊNCIAS DA VIDA E DA NATUREZA


(ILACVN)

FAL - MEDICINA

RESENHA
OS MOVIMENTOS FEMINISTAS E O PROCESSO
DA REFORMA SANITÁRIA NO BRASIL: 1975 a 1988

Discente: DIEGO SALVADOR


ANDRADES
Docente: ANIBAL ORUE POZZO

Foz do Iguaçu
2023
Este artigo discute as relações entre os movimentos feministas e o
Movimento Sanitário durante o período de 1975 a 1988 no Brasil. O Movimento Sanitário,
surgido na década de 1970, buscava a democratização da saúde e tinha como lema
"saúde é democracia". A Reforma Sanitária Brasileira (RSB) foi uma expressão desse
movimento, que buscava transformações no sistema de saúde para garantir o direito à
saúde. O texto mostra a importância do ano de 1975, reconhecido pela ONU como o Ano
Internacional da Mulher, que impulsionou a organização e reorganização dos movimentos
feministas no país. Nesse contexto, as questões relacionadas à saúde e à reprodução
foram estrategicamente deixadas de lado, devido à política do regime militar e à aliança
com a Igreja e os partidos de esquerda.

A análise da reforma sanitária do Brasil, é abordada em quatro dimensões,


específica, institucional, ideológica e das relações de produção. A dimensão específica
envolve a compreensão da dinâmica saúde/doença na população. A dimensão
institucional abrange as instituições atuantes no setor de saúde. A dimensão ideológica
diz respeito aos valores e concepções relacionados à saúde. Por fim, a dimensão das
relações de produção aborda a determinação social das necessidades de saúde.
RESENHA

Durante os anos de 1975 a 1988, o Brasil viveu um período

marcado por intensos movimentos feministas e pela busca por mudanças no

sistema de saúde. Esses movimentos buscavam transformações sociais e

políticas, lutando pela igualdade de gênero, pelo direito ao próprio corpo e por

um sistema de saúde mais justo e acessível a todos. Nesse contexto, práticas,

questões raciais e a relação entre os movimentos feministas e a Reforma

Sanitária ganharam destaque, culminando na Carta de Itapecerica, que

influenciou a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) e a nova

Constituição de 1988.

Os movimentos feministas dos anos 1970 e 1980 foram

fundamentais para trazer à tona a discussão sobre os direitos das mulheres, a

desigualdade de gênero e a violência contra a mulher. Mulheres de diferentes

classes sociais e origens se uniram para reivindicar mudanças em uma

sociedade que ainda era profundamente patriarcal. Elas buscavam o direito à

autonomia, ao trabalho, à educação e à saúde, já no campo da saúde, as

feministas questionaram o modelo médico hegemônico, que tratava as mulheres

de forma paternalista e desconsiderava suas necessidades específicas. Elas

buscavam uma saúde integral, que abordasse não apenas os aspectos físicos,

mas também os emocionais, sociais e políticos. Além disso, lutaram pelo acesso

a métodos contraceptivos, por atendimento humanizado durante a gravidez e o

parto, e pelo combate à violência doméstica e sexual.

As práticas feministas desse período também abrangeram a

reflexão sobre o controle reprodutivo e a questão racial. As mulheres negras


foram protagonistas nessa luta, enfrentando a esterilização forçada, que foi uma

forma de controle reprodutivo e racismo. Elas denunciaram essa violência,

questionando a ideia de que todas as mulheres teriam o mesmo acesso ao

planejamento familiar e ao direito de decidir sobre seus corpos.

Ao mesmo tempo em que os movimentos feministas se fortaleciam, surgia o

movimento da Reforma Sanitária. Esse movimento buscava a transformação do

sistema de saúde, lutando por uma saúde universal, integral e equânime. A

Reforma Sanitária rejeitava o modelo médico hegemônico e defendia a

participação popular na gestão da saúde, ela entendia que a saúde não poderia

ser separada das questões sociais, políticas e econômicas, sendo necessária

uma abordagem mais ampla e integrada.

Nesse contexto, a Carta de Itapecerica, elaborada em 1984, teve

grande relevância. Ela foi fruto de um encontro de vários grupos e movimentos

de saúde e trouxe à tona as desigualdades existentes no sistema de saúde,

incluindo as que afetavam diretamente as mulheres. A carta denunciava a falta

de acesso aos serviços de saúde, as práticas discriminatórias e a necessidade

de uma abordagem mais ampla da saúde, considerando as dimensões sociais e

políticas. A Carta de Itapecerica teve um impacto significativo na construção do

O SUS (Sistema Único de Saúde), que se concretizou com a promulgação da

nova Constituição em 1988, incorporou princípios e diretrizes da Reforma

Sanitária e das demandas dos movimentos feministas. O movimento feminista

foi fundamental para colocar a saúde da mulher na agenda política e influenciou

a garantia de direitos reprodutivos e ações afirmativas para enfrentar as

desigualdades de gênero e raça no campo da saúde.


A partir da Carta de Itapecerica, que defendia a universalidade,

equidade, integralidade e participação popular na saúde, consolidaram-se as

bases para a criação do SUS. Esse sistema representou uma ruptura com o

modelo de saúde anterior, centrado na lógica privatista e fragmentada. O SUS

visava garantir a saúde como direito de todos e dever do Estado, promovendo

ações de prevenção, promoção, tratamento e reabilitação de forma igualitária.

No contexto da saúde da mulher, o SUS se tornou um instrumento

importante para a implementação de políticas específicas. Foram criados

programas de saúde voltados para a promoção do pré-natal, parto humanizado,

planejamento familiar, prevenção e tratamento de doenças sexualmente

transmissíveis, além do combate à violência de gênero. Essas ações buscavam

garantir o acesso aos serviços de saúde de forma integral e respeitosa,

considerando as necessidades específicas das mulheres.

A questão racial também ganhou relevância no processo da

Reforma Sanitária e na implementação do SUS. O movimento feminista negro,

aliado aos movimentos negros em geral, trouxe à tona a discussão sobre as

desigualdades raciais no sistema de saúde. As mulheres negras enfrentavam

múltiplas formas de discriminação, incluindo a falta de acesso aos serviços de

saúde de qualidade, esterilização forçada, mortalidade materna elevada e

negligência no atendimento.

Diante desse cenário, o movimento feminista se articulou com o

movimento sanitário para promover uma abordagem interseccional, que


considerasse as interações entre gênero, raça, classe social e outras formas de

opressão. Essa articulação foi fundamental para garantir que as políticas de

saúde contemplassem as necessidades específicas das mulheres negras,

reconhecendo a importância da equidade racial na construção de um sistema de

saúde mais justo e inclusivo.

Assim, a luta feminista e o processo da Reforma Sanitária se

entrelaçaram, contribuindo para avanços significativos na garantia dos direitos

das mulheres e na transformação do sistema de saúde no Brasil. A nova

Constituição de 1988 consolidou essas conquistas ao estabelecer a saúde como

direito fundamental e ao assegurar a participação social na formulação das

políticas de saúde. Embora desafios persistam, o legado desses movimentos

continua presente na luta por uma sociedade mais igualitária e na busca por um

sistema de saúde que atenda às necessidades de todas as pessoas,

independentemente de gênero, raça ou classe social.

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