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Maturação e Maturadores em Cana-de-Açúcar - Série Ecofisiologia da Cana-


de-Açúcar

Conference Paper · May 2022

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Alexandrius De Moraes Barbosa


Universidade do Oeste Paulista
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SÉRIE ECOFISIOLOGIA DA CANA-DE-AÇÚCAR
N°02 – Maio de 2022

MATURAÇÃO E MATURADORES EM CANA-DE-AÇÚCAR


Prof. Dr. Alexandrius de Moraes Barbosa
alexandrius@unoeste.br

Artigo disponível também no blog: alexandriusmb.blogspot.com

1. INTRODUÇÃO

Aproximadamente 90% da área cultivada de cana-de-açúcar no Brasil está localizada na


região Centro-Sul. Mais, mais especificamente, 87% da área se dá em cinco Estados: São Paulo
(50%), Goiás (11,5%), Minas Gerais (10,5%) Mato Grosso do Sul (8%) e Paraná (6,5%), de
acordo com levantamento da Conab em novembro de 2021 (Acompanhamento da Safra
2021/22). Essa região possui condições climáticas favoráveis para o cultivo da cana-de-açúcar,
particularmente, o Estado de São Paulo é o que possui as melhores condições.
Em resumo, a região Centro-Sul possui um período de primavera/verão quente, chuvoso
e com boa luminosidade (favorece crescimento vegetativo) e um período de outono/inverno com
temperaturas amenas, poucas chuvas e baixa luminosidade (favorece maturação). Regiões com
longos períodos de estiagem no outono/inverno não são recomendadas, pois a baixa umidade
do solo reduz consideravelmente a brotação e o perfilhamento das canas colhidas nessa época.
O produto de interesse da indústria canavieira é uma molécula de 12 carbonos, a
Sacarose. Como a sacarose fica armazenada no colmo (no vacúolo das células do parênquima),
quanto maior for o rendimento de colmos, maior será o espaço de armazenamento de sacarose
possível. Em outras palavras, cada entrenó é uma "gaveta" que pode armazenar sacarose, nesse
sentido, quanto mais gavetas tiverem e maior forem, maior será o potencial de armazenamento
de sacarose. O potencial de armazenamento de sacarose é expresso pelo TCH (toneladas de
colmo por hectare) ou pela produtividade de colmos.
No entanto, não basta ter TCH, é necessário que essas "gavetas" sejam ocupadas pela
molécula de sacarose e não por água e outros açúcares. A quantidade de sacarose guardada
nos colmos é expressa pela Pol (% aparente de sacarose no caldo) ou pelo ATR (Açúcares
Totais Recuperáveis). Esses parâmetros são os indicadores de qualidade da cana-de-açúcar,

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sendo que, a remuneração ao fornecedor também se dá pelo valor do ATR, ou seja, não basta
entregar colmo, é necessário que este colmo tenha qualidade. A unidade do ATR é por tonelada
de colmo, por exemplo, se o valor do ATR for 130, isso indica que 130 kg de açúcar podem ser
recuperados por 1 tonelada de colmo.
Outro parâmetro muito utilizado é o TAH (toneladas de açúcar por hectare), que
representa a multiplicação do TCH pelo ATR (TAH = TCH * ATR). Exemplo:

TCH: 75 ton ha e ATR: 130 kg/ton --> TAH = 9,7 ton/ha


TCH: 90 ton ha e ATR: 110 kg/ton --> TAH = 9,9 ton/ha
TCH: 80 ton ha e ATR: 150 kg/ton --> TAH = 12,0 ton/ha

Portanto, o aumento do TAH se dá de duas maneiras, aumento de TCH e pelo aumento


do ATR. O ideal seria ter plantas com alto TCH e alto ATR. No entanto, essa não é uma tarefa
fácil. O acúmulo de sacarose no colmo da cana-de-açúcar é um processo complexo. Além do
clima, fatores como variedade, tipo de solo e manejo exercem influência direta no processo de
maturação da cana-de-açúcar.
Na Figura 1 é possível visualizar a curva de maturação da cana-de-açúcar ao longo da
safra na região Centro-Sul do Brasil. Nota-se, que o início da safra canavieira se dá em condições
de baixa qualidade tecnológica, e que, o maior acúmulo de açúcar na planta se dá nos meses
de julho a outubro. No fim da safra, com o retorno das chuvas de primavera, a qualidade
tecnológica é reduzida.

Figura 1. Curva de maturação (evolução do ATR) da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil


(Fonte: Observatório da cana).

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2. FASES DE CRESCIMENTO

A cana-de-açúcar pode ser dividida em quatro fases de crescimento: brotação,


perfilhamento, crescimento vegetativo e maturação (Figura 2). Todas as fases são influenciadas
pelo clima, por exemplo, temperatura baixa e baixa umidade do solo reduzem a brotação e o
perfilhamento. No entanto, as fases de crescimento vegetativo e maturação são altamente
dependentes do clima, ou seja, o que define se a planta vai crescer vegetativamente ou entrar
em maturação são as condições climáticas.

Figura 2. Fases de crescimento da cana-de-açúcar.

A fase de crescimento vegetativo também é chamada de alongamento de colmo. É nessa


fase que a planta realiza o seu grande acúmulo de biomassa e possui o maior IAF (índice de
área foliar), número de folhas e maior taxa de alongamento do colmo. O acúmulo de biomassa
verde pode ser superior a 1,0 ton ha-1 dia e a planta produz de quatro a cinco entrenós por mês.
Em resumo é a fase que define a produtividade de colmos (TCH), ou em outras palavras, é a
fase que a planta produz as "gavetas". Temperatura alta, boa disponibilidade de água no solo e
alta luminosidade são os elementos climáticos responsáveis pelo crescimento vegetativo.
Por esse motivo, que a cana-de-açúcar produz aproximadamente 80% da sua biomassa
no período de outubro a março na região Centro-Sul, pois, esse período compreende as estações
da primavera/verão (dias mais longos, quentes e chuvosos). No entanto, nessa fase a qualidade

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tecnológica da planta é baixa, com baixa concentração de sacarose e maior concentração de
glicose e frutose.
Na maturação, a planta reduz consideravelmente o crescimento vegetativo e passar a
aumentar o acúmulo de sacarose nos colmos, e consequentemente, aumenta a qualidade
tecnológica da planta, com maior valor de ATR. A transição do crescimento vegetativo para a
fase de maturação se dá em função das condições climáticas e é um processo que ocorre
gradualmente ao longo dos meses, até que a planta atinja sua maturidade máxima entre os
meses de agosto e setembro. Em resumo, é necessário que a planta passe por um período de
estresse para que ela entre em maturação e passe a acumular sacarose nos colmos ao invés de
crescer vegetativamente. A redução da temperatura do ar, redução do fotoperíodo e redução das
chuvas (umidade do solo) são os fatores que promovem a maturação da cana-de-açúcar.

3. METABOLISMO DA SACAROSE

A sacarose é um dos produtos da fotossíntese, portanto, para que a planta produza


sacarose ela deve ter condições de realizar fotossíntese, por esse motivo, não é desejado que a
planta passe ou fique exposta por um longo período de estresses severos, pois, nessa condição,
a planta irá gastar muita energia através da respiração, de modo a se manter viva.
O início do processo da formação da sacarose nas folhas se dá nas fases fotoquímicas
e bioquímicas da fotossíntese, em que, na fase fotoquímica a planta converte energia luminosa
em energia química (ATP e NADPH) e na fase bioquímica, a planta utilizar ATP e NADPH na
presença de CO2 para produzir carboidrato, sendo que, o primeiro carboidrato produzido pela
planta na fase bioquímica (Ciclo de Calvin-Benson) é uma molécula de três carbonos
denominada Triose-Fosfato. Após a formação da Triose-Fosfato, uma série de reações
bioquímicas transformam Triose-Fosfato em sacarose, sendo que, o transporte de carboidratos
da folha para o colmo se dá principalmente na forma de sacarose. A sacarose será translocada
pelo floema até a região dreno.
Um conjunto de enzimas (invertases ácidas e neutras, sacarose-sintase e sacarose-6-
fosfato sintase) influenciam o metabolismo de açúcares no colmo da cana-de-açúcar. Quando a
sacarose é descarregada do floema ela pode ficar armazenada na forma de sacarose, ou pode
ser convertida em hexoses (glicose e frutose). De forma resumida pode-se dizer que, as hexoses
são os açúcares de crescimento, ou seja, a planta irá consumir as hexoses para a formação de
folhas e novos entrenós. Por esse motivo, que a maior concentração de glicose e frutose
(açúcares redutores) é maior nos entrenós imaturos e se dá durante o crescimento vegetativo.

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Portanto, as hexoses acabam sendo moléculas sinalizadoras de crescimento vegetativo para a
planta e sua concentração é maior em condições de alta temperatura, luminosidade e umidade
do solo.
Para que a planta armazene sacarose no colmo, é necessário alterações na atividade
das enzimas acima, sendo que, o ambiente é o principal fator que regula este processo. Em
condições desfavoráveis de crescimento, a planta passará a armazenar sacarose no colmo e é
nessa fase que inicia-se a fase de maturação. Fisiologicamente a maturação é iniciada quando
a atividade das enzimas que hidrolisam (quebram) a sacarose é superada pela atividade das
enzimas que sintetizam (formam) a sacarose.
Resumidamente: A planta produz sacarose na folha e a transloca pelo floema até as
regiões dreno. Se as condições climáticas forem favoráveis, um conjunto de enzimas promoverá
a hidrólise (quebra) da sacarose em hexoses. As hexoses são os carboidratos utilizados para o
crescimento (novas folhas e entrenós). Já quando as condições climáticas passam a ser
desfavoráveis, as enzimas promoverão o armazenamento de sacarose no colmo e reduzirá a
formação de folhas e entrenós.
Para maior compreensão do metabolismo da sacarose, recomendo a leitura do
documento IAC, 117 - O metabolismo de carboidratos em cana-de-açúcar (Ribeiro et al., 2010).

Figura 3. Metabolismo da sacarose na cana-de-açúcar (Ribeiro et al., 2020).

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4. RELAÇÃO FONTE-DRENO

A folha, independente da fase de crescimento é a fonte de produção de sacarose. Após,


a formação da sacarose na folha, o que vai acontecer em sequência se dá em função da relação
fonte-dreno da planta, que por sua vez, é influenciada pelas condições ambientais. Em resumo:
fonte é a parte da planta que produz os fotoassimilados mais do que suas necessidades; Dreno
é a parte da parte da planta que "consome" esses fotoassimilados, sendo que o dreno varia
conforme as fases de crescimento e condições climáticas.
Quando a planta está no crescimento vegetativo, ela possui dois fortes drenos: a parte
aérea (folhas e ponteiros) e o desenvolvimento do colmo. Importante ressaltar que essa sacarose
translocada para o colmo durante o crescimento vegetativo é assimilada (consumida) para a
formação dos entrenós, ou seja, o armazenamento é baixo. Já na fase de maturação, o colmo
passar a ser o principal dreno da planta, só que nessa fase, a sacarose passar a ficar
armazenada (aumentando consideravelmente a concentração de sacarose no colmo da planta).

Figura 4. Relação Fonte-Dreno em cana-de-açúcar (Barbosa AM, 2022).

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5. RELAÇÃO AMBIENTE vs MATURAÇÃO

Como visto acima, a maturação da cana-de-açúcar é o resultado da interação do


ambiente com o metabolismo fisiológico e bioquímico da planta. Conforme as condições
climáticas da região Centro-Sul, a relação ambiente x planta é bem definida em dois períodos:
dezembro a fevereiro e julho a setembro.
Dezembro a fevereiro: Período de crescimento vegetativo devido a alta temperatura,
umidade no solo e luminosidade.
Julho a setembro: Período de maturação devido a baixa temperatura, baixa umidade
do solo e pouca luminosidade.
Portanto, o manejo da maturação torna-se desafiador principalmente nos meses de
transição entre esses períodos bem definidos (março a junho - outubro a novembro). Na Figura
5 é possível observar o efeito das condições climáticas na maturação da cana-de-açúcar. Os
valores abaixo representam uma média da região Centro-Sul. A variação anual pode alterar o
processo de maturação da cana-de-açúcar, principalmente em anos extremos de estiagem (La
Niña) ou excesso hídrico (El Niño).
Crescimento Vegetativo (Out, Nov, Dez, Jan e Fev): As condições climáticas desses
meses favorecem o crescimento vegetativo da cana-de-açúcar (menor acúmulo de
sacarose). Obs.: Anos com atraso no início das chuvas de primavera favorecem a manutenção
do ATR até outubro/novembro.
Maturação Inicial (Mar,e Abr): Nesse período ocorre uma gradual mudança nas
condições climáticas. Os dias passam a ficar mais curtos (menor radiação), as temperaturas mais
baixas e a umidade do solo menor. Nesse período ainda é observado um ganho no TCH e inicia-
se o aumento gradativo do ATR (principalmente a partir de abril).
Maturação Intermediária (Mai, Jun e Set): De maio a junho praticamente não há mais
ganho em TCH, e a planta passar a direcionar toda a sacarose produzida para o colmos
(maturação dos entrenós mais novos e armazenamento nos entrenós mais velhos). Em setembro
inicia-se o processo inverso, as primeiras chuvas da primavera fazem com que a planta saia da
maturação final e inicie um lento processo de retomada do crescimento vegetativo.
Maturação Final (Jul e Ago): Julho e agosto são os meses mais desfavoráveis para o
cultivo da cana e o mais favorável para maturação (menor temperatura e radiação e o período
mais seco). É a fase de maior acúmulo de ATR e de estresse para a planta).

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(Períodos longos de estiagem entre a maturação intermediária e final prejudicam o acúmulo de ATR. A
planta além de praticamente não produzir sacarose, passa a consumir a sacarose armazenada no colmo através da
respiração. O consumo da sacarose é uma estratégia de produzir energia visando a manutenção do seu
metabolismo).

Figura 5. Fases da maturação da cana-de-açúcar (Efeito das condições climáticas) (Barbosa AM, 2022).

Importante: A Figura representa o efeito de cada mês no processo de maturação da


cana-de-açúcar, e não a curva de maturação. O tempo entre a ocorrência do fator climático com
a resposta da planta é de 20 a 40 dias, ou seja, a resposta da planta à um período de estiagem
demora de 20 a 40 dias. Por isso que normalmente setembro é o mês de maior ATR, pois agosto
é o mês mais seco da região Centro-Sul. Portanto, os efeitos da estiagem de agosto são
observados principalmente na primeira quinzena de setembro.
A Figura 6 ilustra um resumo da discussão acima. O metabolismo da sacarose é
dependente das condições climáticas. O principal efeito do clima se dá nas enzimas presentes
no metabolismo dos carboidratos (SPS, SPP, Susy, IN, IA e IAV). A atividade dessas enzimas é
o que regula o balanço de carboidratos na planta. Em condições climáticas favoráveis a planta
priorizará a produção de hexoses, que por sua vez serão utilizadas para o crescimento (TCH).
Em condições intermediárias, mantém um pequeno ganho de TCH e inicia o acúmulo de
sacarose no colmo. Em condições desfavoráveis, interrompe a produção de TCH e passa a
acumular sacarose no colmo, aumentando consideravelmente os valores de ATR.

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Figura 6. Metabolismo da sacarose em função das condições climáticas (Barbosa AM, 2022).

6. MATURAÇÃO vs TEMPERATURA, RADIAÇÃO E UMIDADE DO SOLO

Ainda em relação a relação ambiente x maturação, vale a pena entender o papel de cada
elemento no processo de maturação da cana-de-açúcar.

6.1 Temperatura
A temperatura do ar é um importante "elemento maturador" da cana-de-açúcar.
Temperaturas acima de 30 °C favorecem o crescimento vegetativo da cana-de-açúcar.
Temperaturas abaixo de 23 °C reduzem em mais de 50% a fotossíntese da cana-de-açúcar, e
por isso, já são valores que promovem o início da maturação. No entanto, a maturação é
promovida em condições de temperatura abaixo de 18-20 °C.

6.2 Umidade do solo (precipitação)


A umidade associada a temperatura são os dois principais fatores de maturação da cana-
de-açúcar. A redução gradativa da umidade no solo durante as estações do outono-inverno
favorece a maturação da cana-de-açúcar. No entanto, considerar apenas o volume de chuvas é
perigoso, pois, cada tipo de solo possui uma capacidade de armazenamento. Nesse sentido, em

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se tratando de água, fisiologicamente trabalha-se com o conceito de potencial de água na planta
(ler artigo de relações hídricas em cana-de-açúcar).
Através da avaliação do potencial de água na planta é possível caracterizar o real estado
hídrico da planta (Figura 7). O processo de maturação é iniciado quando as plantas estão sob
estresse hídrico moderado e acelerado quando as plantas estão em estresse severo. No entanto,
as plantas não podem passar longos períodos no estresse severo, muito menos em condições
de ponto de murcha permanente, pois nessas condições, a planta não conseguirá produzir
sacarose, e pelo contrário, a respiração de manutenção da planta é aumentada o que acaba
aumentando o consumo de sacarose.
Esse é um dos motivos que o Estado de São Paulo possui as condições climática mais
favoráveis para o cultivo da cana. As chuvas que ocorrem durante o outono e inverno, auxiliam
a planta na manutenção do seu estado hídrico, ficando em condições de estresse moderado e
algumas vezes em estresse severo. Diferente do que ocorre em MT, por exemplo, a estiagem
que ocorre por vários meses, faz com que a planta fique em estresse severo e no ponto de
murcha permanente.
Obs.:
- Só há produção de sacarose se tiver água disponível no solo;
- Plantas cultivadas em solos arenosos iniciam o processo de maturação mais rapidamente devido a menor
capacidade de armazenamento de água, ou seja, o estresse moderado ocorre mais rápido.

Figura 7. Estado da planta em função do potencial hídrico (Barbosa AM, 2022).

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6.3 Radiação Solar
Antes de iniciar a discussão da interação radiação solar x maturação, é importante
lembrar que: só há formação de sacarose na presença de luz. A radiação solar tão necessária
na fase de crescimento vegetativo também é de extrema importância na fase de maturação. Os
maiores valores de radiação solar são registrados no verão (18 a 20 MJ m-2 dia). De março a
junho ocorre a gradativa redução da radiação solar, até atingir seus menores valores em junho
e julho (10-12 MJ m-2 dia).
Antes de detalhar a relação, é importante ressaltar também: a mesma radiação que
promove o crescimento da cana, pode acelerar a morte da planta em condições de estresse
severo. A cana é uma espécie C4, e por isso, é muito exigente em radiação. Em condições de
boa disponibilidade de água no solo, a cana consegue aproveitar grande parte da radiação que
incide sobre as folhas. No entanto, em condições de déficit hídrico, a presença de grande
quantidade de radiação solar pode aumentar o estresse da planta, causando o efeito de
fotoinibição (o excesso de luz associado a falta de água causa sérios danos na estrutura
fotossintética - degradação de enzimas, degradação celular, etc).

Nesse sentido, qual seria a relação ideal da radiação solar com as fases de
maturação da cana?

O ideal é que na fase inicial da maturação se tenha altos valores de radiação, pois, nessa
fase a planta inicia o processo de maturação, portanto, boa disponibilidade de radiação favorece
a produção e acúmulo de sacarose no colmo.
Já na fase de maturação intermediária, o ideal é que ocorra uma redução gradual na
radiação solar, pois, nessa fase o volume de chuvas é menor, e consequentemente, a umidade
do solo é reduzida. Dessa maneira, uma redução gradual da radiação solar mantém a planta em
estresse moderado, com capacidade de produção de sacarose através da fotossíntese. Caso
ocorra um excesso de radiação nessa fase, devido a menor umidade de água no solo, a planta
entraria em estresse severo mais rapidamente, fato este que prejudicaria a produção de
sacarose.
Por fim, na fase final da maturação, o ideal é que ocorra uma significativa redução da
radiação solar. Essa é a fase com menor umidade de água no solo (período de déficit hídrico), e
deste modo, se houver uma menor quantidade de radiação, o estresse na planta é amenizado,
permitindo que ela continue acumulando sacarose no colmo. Do contrário, se houver grande

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quantidade de radiação, as plantas entrarão em estresse severo/ponto de murcha permanente,
devido a falta de água no solo.
E por providência divina, é exatamente isso o que acontece na região Centro-Sul
(principalmente em São Paulo, Sul de MS e Norte do PR). Os altos valores de radiação entre
março a abril favorece o início da maturação, como também, a redução graduação da radiação
e da umidade do solo entre maio e junho favorece a maturação intermediária, e a baixa radiação
solar de junho/julho favorece a maturação final, não levando a planta a uma situação de estresse
severo.
De maneira geral, a região Centro-Sul possui condições climáticas naturalmente muito
favoráveis para a maturação da cana-de-açúcar, como também, para a fase de crescimento
(Figura 8)..

Figura 8. Condições favoráveis para a maturação da cana-de-açúcar (Barbosa AM, 2022).

Além dos fatores discutidos acima, outros fatores também influenciam na maturação da
cana-de-açúcar:
Idade da planta: o acúmulo de sacarose na planta é aumentando conforme a idade da
planta aumenta. Mesmo em condições favoráveis para o crescimento vegetativo, a planta
aumenta gradativamente o acúmulo de sacarose em canas mais velhas (superior a 12 meses),
principalmente nos entrenós do terço inferior e médio da planta.
Nutrição da planta: o manejo nutricional pode potencializar o acúmulo de sacarose no
colmo. Em condições de deficiência ou em cultivos em solos de baixa fertilidade, o potencial
fotossintético da planta é reduzido, dessa maneira, o acúmulo de sacarose também é afetado.

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Se a planta for cultivada em solos mais férteis ou se tiver em uma condição nutricional melhor, a
fotossíntese irá aumentar, logo, a produção e acúmulo de sacarose também. Esse é um dos
motivos, que o manejo com pré-maturadores ou maturadores nutricionais vem aumentando
consideravelmente na cultura da cana-de-açúcar.

7. MATURADORES QUÍMICOS

Com discutido acima, a safra canavieira é iniciada em condições de baixa qualidade


tecnológica. Mas se a qualidade tecnológica é baixa, por que colher a cana? O principal motivo
é devido ao grande volume de cana que a usina tem que processar. Do ponto de vista
tecnológico, o período de colheita se daria de junho a outubro. No entanto, devido a grande
quantidade de área a ser colhida e pela capacidade de processamento, a colheita é realizada
em meses de baixa qualidade tecnológica.
Todavia, através do manejo com maturadores químicos é possível promover ganhos em
ATR com o aumento da qualidade tecnológica. Esse manejo é posicionado principalmente na
fase inicial da maturação e também no final da safra. Na fase inicial da maturação o objetivo do
uso de maturadores é promover o aumento de ATR nas canas colhidas no início de safra. Já no
fim da safra, o manejo de maturadores tem por objetivo promover a manutenção dos valores de
ATR, ou seja, evitar a redução do ATR, já que as condições climáticas passam a estimular o
crescimento vegetativo da planta. Na Figura 9 é possível visualizar o efeito dos maturadores. A
cor laranja representa o ganho em ATR após o manejo com maturadores químicos.

Figura 9. Curva de maturação e ganhos de ATR com uso de maturadores.

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Mas afinal, como o maturador químico promover aumento de ATR?

O maturador químico atua na relação fonte-dreno da planta, forçando a planta a ter uma
resposta diferente do que o ambiente está promovendo. O maior exemplo se dá na fase de
maturação inicial. As condições climáticas nesse período favorecem tanto o ganho em TCH como
em ATR. A aplicação do maturador químico forçará a planta a direcionar os fotoassimilados
produzidos na folha para acúmulo de sacarose no colmo, ou seja, ganho de ATR.
Fisiologicamente, os maturadores influenciam a atividades das enzimas presentes no
metabolismo da sacarose, as plantas ao invés de produzirem as hexoses, passarão a armazenar
sacarose.

Figura 10. Metabolismo da sacarose em função do uso de maturadores.

Se o maturador altera o balanço de sacarose, há efeito sobre o TCH?

Sim! O uso de maturador altera a relação fonte-dreno, portanto, o carboidrato que seria
direcionado para o desenvolvimento do colmo será armazenado no colmo. Dessa maneira, o
desenvolvimento do colmo é comprometido. E é esse efeito que tem sido observado com o
manejo de maturadores, a planta deixar de acumular TCH, no entanto, aumentar a concentração
de sacarose no colmo, resultado em aumento de ATR e TAH.

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De que maneira o maturador influencia no metabolismo da sacarose?

Como discutido acima, o metabolismo da sacarose é influenciado por um grupo de


enzimas. O uso do maturado indiretamente altera o metabolismo dessas enzimas. A atividade
dessas enzimas é influenciada pelo balanço de hormônios. Hormônios são moléculas orgânicas
produzidas pela própria planta e são responsáveis em regular o crescimento da planta. O
ambiente, por exemplo, influencia no balanço de hormônios nas plantas.
Em condições naturais de desenvolvimento, a maior concentração de auxina, promoverá
maior crescimento vegetativo, já o etileno, é o hormônio da senescência (maturação). Quando
as condições ambientais passam a ficar desfavoráveis (início da maturação), a concentração de
auxina é reduzida e a de etileno aumentada. A maior presença de etileno, promoverá a atividade
de enzimas que aumentam a concentração de sacarose no colmo.
De maneira geral, a maioria dos maturadores químicos influenciam no balanço hormonal,
aumentando a concentração de etileno, que por sua vez promoverá a atividade das enzimas de
acúmulo de sacarose, tendo como consequência, a antecipação da maturação, e redução do
crescimento vegetativo. Em resumo, o maturador químico promove um "estresse" na planta,
promovendo alterações no balanço de carboidratos.

Figura 11. Relação maturadores e etileno na cana-de-açúcar.

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Os maturadores basicamente podem ser classificados em dois grupos: reguladores e
estressantes.
Maturadores Reguladores:
Esses reguladores atuam na regulação hormonal das plantas, retardando o crescimento
da planta, que por sua vez, promoverá alterações no metabolismo da sacarose. A alteração no
metabolismo dos carboidratos é temporária, passando o efeito do regulador, a planta voltará a
responder às condições ambientais. Por esse motivo, é importante planejar o tempo entre
aplicação e colheita.
Os dois principais reguladores utilizados no Brasil, são:
- Trinexapac-etílico (Moddus-Syngenta)
- Etefom (2-chloroethylphosphonic acid) - (Ethrel-Bayer)

Maturadores Estressantes:
Esses maturadores são herbicidas com baixas doses, que promovem um estresse leve
a moderado nas plantas, aumentando a concentração de etileno. Esses maturadores em doses
maiores são utilizados como herbicidas, por esse motivo, devido à sua ação herbicida, o efeito
na planta acaba sendo mais rápido.
Os quatro principais maturadores estressantes:
- Sulfometurom-Metílico (Curavial-DuPont)
- Bispiribaque-Sódico (Riper-Ihara)
- Fluasifope-p-Butílico (Fusilade-Syngenta)
- Sub-doses de Glifosato

8. PRÉ-MATURADORES NUTRICIONAIS

Nos últimos anos tem aumentando a discussão do uso de pré-maturadores nutricionais,


ou seja, o uso de nutrientes aplicados via foliar visando promover a maturação da cana-de-
açúcar. Esse manejo tem provocado bastante discussão e algumas dúvidas quanto ao uso e
posicionamento.
Apesar de serem classificados como pré-maturadores, o manejo nutricional por si só não
tem a capacidade de promover a maturação fisiológica da cana-de-açúcar, os ganhos obtidos
em ATR estão relacionados a outros fatores fisiológicos. Basicamente o manejo nutricional via
foliar irá potencializar a atividade fisiológica e metabólica da planta.

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Todos os processos envolvidos na fotossíntese e metabolismo dos carboidratos são
influenciados por nutrientes. Dessa maneira, a falta de um determinado nutriente, irá
comprometer tal processo, da mesma maneira que, uma planta bem equilibrada e bem nutrida,
terá esses processos fisiológicos e bioquímicos potencializados.
Portanto, o manejo nutricional irá potencializar os processos fisiológicos e bioquímicos
da planta, no entanto, ainda é o ambiente que promove o balanço de carboidratos na planta. Por
exemplo, se a planta está em pleno crescimento vegetativo, o manejo nutricional irá promover
ganhos em TCH. Se a planta está na fase inicial da maturação, o manejo nutricional irá promover
ganhos em TCH e ATR e quando a planta está na maturação intermediária, o manejo nutricional
irá promover ganhos em ATR.

O manejo nutricional pode influenciar a relação fonte-dreno?

De certa maneira sim. Por exemplo, considerando a fase de crescimento vegetativo. O


manejo nutricional nessa fase aumentará a produção de fotoassimilados na folha. Esse
fotoassimilados serão direcionados para as regiões dreno (folhas novas e entrenós imaturos).
Caso, a planta produza mais fotoassimilados do que esses drenos estão consumindo, ela
passará a armazenar esses fotoassimilados, ou seja, aumentará o armazenamento de sacarose
no colmo. Todo açúcar produzido em "excesso" pela planta será armazenado no colmo. Como
grande parte dos solos apresentam algum desequilíbrio ou deficiência de determinados
nutrientes, o manejo nutricional tem promovido ganhos tanto em TCH, como em ATR.
Dessa maneira, tem sido frequente a associação de maturadores químicos com pré-
maturadores, onde, o maturador químico irá promover alteração no metabolismo e o pré-
maturador irá potencializar esse metabolismo. Por exemplo, a associação desses dois
manejos na fase de maturação inicial. O maturador químico irá alterar o metabolismo da planta,
fazendo com que ela passe a acumular sacarose ao invés de produzir as hexoses. Já o
maturador nutricional irá promover o aumento da produção e translocação da sacarose.

Universidade do Oeste Paulista • Presidente Prudente-SP


9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto acima, a maturação da cana-de-açúcar se dá em função da interação planta


e ambiente. Compreender o metabolismo da planta e também, de que maneira podemos
influenciar esse balanço através do manejo agronômico, nos permite maximizar o rendimento da
planta, tanto em TCH, quanto em ATR e principalmente na tomada de decisão frente às variações
climáticas ao longo da safra, em alguns anos o início da safra se dá em condições de muita
chuva, em outros, em condições de intenso déficit hídrico, sendo que, cada situação, demandará
um manejo diferente.

Prof. Dr. Alexandrius de Moraes Barbosa


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia
Atualmente é docente na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)
e líder do grupo de pesquisa Fito-Cana (Pesquisas Fitotécnicas em Cana-de-Açúcar)

Universidade do Oeste Paulista • Presidente Prudente-SP

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