Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS PETROLINA
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

MARIA LUIZA PEREIRA DOS REIS MOURA

DISSERTAÇÃO
“Por qual razão educar para a democracia pressupõe uma educação contra a
barbárie? Ao repensar as memórias da experiência escolar, o processo formativo
aproxima-se mais de qual polo: o democrático ou o da barbárie?”.

Dissertação apresentada para avaliação


da disciplina Fundamentos Sociológicos
da Educação, ministrada pelo Prof.
Amarildo Mavelzzi, do curso de História
da UPE.

PETROLINA
DEZEMBRO, 2022
Na antiguidade clássica bárbaro era ‘’o outro’’ aquele que não era participante e
não se integrava no mesmo grupo que a maioria ou que se designava de outra terra e
outros costumes. Também era chamado de bárbaro os que não se submetiam sobre
determinada subjugação, como os índios na américa. Entretanto no mundo moderno isso
foi se modificando, a barbárie não se consistia mais no ‘’diferente’’ ou no ‘’selvagem’’
mas naquele que não respeitava os direitos humanos. Depois de anos conturbados como
as duas guerras mundiais, nazismo e golpes militares cresceu o sentimento que a
barbárie havia desaparecido, só que por meio de indícios reais e visíveis hoje –
intolerância religiosa, tentativa de assassinatos, feminicídios... – é possível ver essa
volta acontecendo. A educação, por causa do capitalismo, se transformou num sistema
em que trata o aluno como mercadoria, preocupação econômica com o custo do fracasso
é uma das maneiras de se observar essa barbárie, de acordo com Charlot (2019, p. 178)
‘’O antônimo de barbárie é educação’’, sendo assim acontece uma estranha contradição
pois o sistema concorda e é o atual incentivador de tudo.
Por isso, a escola como espaço público e democrático deveria pensar a educação
para todos os alunos, democracia é exatamente a forma de governo do povo, ou seja,
trabalhar para todos e em prol disso. Educar para a democracia significa atribuir valores
voltados para toda a sala de aula e pensando na situação de cada pessoa ali presente que
são realidades completamente diferentes. Ao tratar o espaço educacional como algo
homogêneo, constante e permanente gera um empobrecimento da experiencia, Theodor
Adorno em seu texto ‘’educação após Auschwitz’’ atribui exatamente essa razão
moderna que em vez de libertar o ser humano aprisiona-o em seu próprio sistema.
Uma parente me confidenciou que quando fazia universidade de pedagogia teve
uma experiencia com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID) que a marcou consideravelmente, uma das alunas da sala de aula que ela estava
ajudando não tinha a coordenação e nem a atenção que os outros alunos tinham,
contudo em nenhum momento a escola se prontificou em parar um pouco e tentar
inclui-la, continuou os assuntos e a entrega de atividades em sequência como se nada
tivesse acontecendo, e foi quando percebeu que a educação básica não se preocupa tanto
com o aprendizado, mas sim com o principio de uma qualidade baseado em notas. Por
meio da antiguidade, do mundo moderno e do mundo contemporâneo percebe-se como
a barbárie continua nos nossos dias e de modo bastante suscinto, só precisamos aprender
a observar melhor a notoriedade do espaço que ela está ocupando nas nossas vidas.
A igreja na idade média era a personificação da escola nos nossos dias, aqui no
Brasil foi possível visualizar uma questão quase pedagógica dos jesuítas com os índios,
claro que voltada para uma questão religiosa. O iluminismo prometeu acabar com esse
projeto de catequese, contudo os meios não mudaram, trocaram o pecado pela
indisciplina e a escola começou a exercer esse papel de moldar o ser humano a uma
sociedade capitalista e a uma qualidade na educação que via o aluno como mercadoria.
E essa educação voltada para a barbárie, como já foi citado aqui várias vezes, criou uma
romantização do sofrimento. Assim, quanto mais você se esforça e se obriga a deixar o
seu lazer pelos estudos, mais rápido você terá uma vida nesta sociedade e de alguma
forma esse pensamento conseguiu se introduzir até na mente dos professores.
No meu ensino médio os professores colocaram um desejo de vencer no meio de
todos os alunos, como se fosse uma competição, conosco e com os outros. O professor
de matemática sempre dizia ‘’aqui vocês podem ser amigos, mas quando chegarem no
dia do ENEM vocês estarão competindo uns com os outros por essa vaga’’. O exame
nacional do ensino médio (ENEM) sempre causou um terror no meio dos alunos
brasileiros, pré-vestibulandos vivem uma pilha de nervos só de pensar nessa prova,
parece que toda a nossa vida é baseada naquela nota e não deveria ser assim, a nossa
vida e o nosso esforço por todo o ensino médio não deveria ser medido por 5 horas de
prova dentro de uma sala num dia que a pessoa pode nem estar bem. Por isso é
necessário que essa educação para a barbárie seja controlada e os estudos sociológicos
estão aqui exatamente para essa melhor humanização no meio da educação.
Finalizando, a barbárie não desapareceu junto com os governos controladores,
entretanto nos fez perceber como muito desses governos, como o nazismo, está
introduzido dentro de nós, ainda que julguemos os precursores que obedeceram às
ordens sem questionar, como Eichman que foi um dos ajudantes de Hitler, é possível
que se estivéssemos no lugar dele fizéssemos o mesmo. A educação é a diferença nesse
mundo tão vil e bárbaro apesar das nuances que foi discutida no texto, ainda é por meio
dos educadores e da educação que esse mundo poderá mudar de alguma forma e
podemos começar através da democracia e do pensamento em todos na sala de aula. No
final precisamos que aqueles que são diferentes e aprendem de formas diferentes ou até
aquele que não sabe tanto de matemática, mas sabem desenhar como ninguém sejam
introduzidos na sala de aula como também inteligente e que vai fazer a diferença no
planeta, as vezes penso que o mundo precisa de mais sentimento e menos texto e
números.
Referências bibliográficas

CHARLOT, Bernard. A questão antropológica da educação quando o tempo


da barbárie está de volta. In: Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 35, n. 73, p. 161-
180, 2019.

Você também pode gostar