Você está na página 1de 17

6710

Brazilian Journal of health Review


A enfermagem no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico: a
modernização da terapia

Nursing in the treatment of systemic lúpus erithematosus: modernizing


therapy
DOI:10.34119/bjhrv3n3-213

Recebimento dos originais: 20/04/2020


Aceitação para publicação: 21/06/2020

Thamires Soares dos Reis


Graduada em Enfermagem
Faculdade Anhaguera de Brasília-DF
Endereço: QS 1, rua 212 – lotes 11,13 e 15, Pistão Sul - Taguatinga Sul, 71950-550
E-mail: thamsoares20@gmail.com

RESUMO
O objetivo geral da presente pesquisa foi entender a importância do enfermeiro frente às novas
formas de terapias medicamentosas e melhora na qualidade de vida em pacientes com LES.
Realizou-se revisão de bibliografia sistematizada. Foram levantados artigos em busca online na
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Google Acadêmico, usando os seguintes descritores: Lúpus
Eritematoso Sistêmico; Qualidade de vida; e Doença sistêmica. Os levantamentos foram realizados
nos meses de julho a dezembro de 2019. Os critérios de inclusão foram: textos nacionais e
internacionais escritos em português, disponíveis na íntegra e publicados nos últimos seis anos
(2015 2020). O estudo demonstrou que por ser uma doença multissêmica, o profissional de
enfermagem deve levar em conta as características próprias de cada paciente, ofertando um cuidado
individual. Destaca-se a Sistematização da Assistência de Enfermagem como ferramenta de
intervenção, no sentido de promover a saúde e de prevenir danos.

Palavras-chave: Lúpus Eritematoso Sistêmico, Qualidade de Vida, Sistematização de


Enfermagem.

ABSTRACT
The general objective of this research was to understand the importance of nurses in the face of new
forms of drug therapies and improvement in quality of life in patients with SLE. A systematic
bibliography review was carried out. Articles were searched online in the Virtual Health Library
(VHL) and Google Scholar, using the following descriptors: Systemic Lupus Erythematosus;
Quality of life; and Systemic disease. The surveys were carried out from July to December 2019.
The inclusion criteria were: national and international texts written in Portuguese, available in full
and published in the last six years (2015 2020). The study demonstrated that because it is a
multisemic disease, the nursing professional must take into account the specific characteristics of
each patient, offering individual care. The Nursing Care Systematization stands out as an
intervention tool, in order to promote health and prevent damage.

Keywords: Systemic Lupus Erythematosus, Quality of Life, Nursing Systematization.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6711
Brazilian Journal of health Review
1 INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende a Qualidade de Vida (QV) como sendo a
percepção do indivíduo em relação à sua posição na vida, no contexto cultural e no sistema de
valores no qual encontra-se inserido e em relação às suas expectativas, padrões, objetivos e
preocupações. Por tratar-se de um conceito amplo, dinâmico, polissêmico e subjetivo, diversos
outros termos têm sido utilizados na literatura para descrever QV, tais como bem-estar, percepção
de satisfação com a vida, entre outros.
Os custos de uma doença podem influir na QV. Em termos sociais, os custos de uma doença
dividem-se em diretos, indiretos e intangíveis. Os custos diretos levam em conta a medicação, as
consultas médicas, a monitorização e as admissões hospitalares. Os custos indiretos, por sua vez,
dizem respeito à perda da produtividade e o tempo que se perde em tarefas domésticas, familiares
ou laborais, sempre associados à doença. Os custos intangíveis impactam grandemente no indivíduo.
Tais custos incluem a incapacidade, a dor crônica e o impacto psicológico da doença.
Entre as doenças que mais impactam o indivíduo em relação aos seus custos e,
consequentemente, na sua qualidade de vida, está o lúpus eritematoso sistêmico (LES). Por lúpus
eritematoso sistêmico entende-se uma doença autoimune de patogênese complexa e heterogênea.
Caracteriza-se pela produção de autoanticorpos, lesões de órgãos terminais e decomposição de
imunocomplexos. Afeta, predominantemente, mulheres em idade reprodutiva entre os 20 e 40 anos
aparecendo mais comumente entre asiáticos e mais no sexo feminino que no masculino
(aproximadamente nove mulheres acometidas para cada homem), sendo sua incidência prevalente
entre os 15 e 45 anos.
Trata-se de uma doença potencialmente grave, pelo fato de se constituir em uma vasculite
de médios e pequenos vasos, sujeitando todos os órgãos a danos, inclusive os que desempenham
função vital à sobrevivência, como rins, pulmões, coração e sistema nervoso central.
Diante do exposto, a presente pesquisa pretende responder a seguinte problemática: “Qual
o papel da enfermagem frente à modernização da terapia quando diagnosticado o lúpus eritematoso
sistêmico (LES)? ”.
O objetivo geral foi entender a importância do enfermeiro frente às novas formas de terapias
medicamentosas e melhora na qualidade de vida em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.
A importância desta pesquisa reside no fato da doença ser complexa, mas ainda pouco
compreendida mesmo entre os próprios pacientes e profissionais de saúde. Até mesmo sua causa é
um fator desconhecido. Por afetar diversos órgãos e sistemas, o LES costuma ser riquíssima em
achados clínicos, manifestando-se de forma diferente em cada indivíduo. Sabe-se, contudo, que sua

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6712
Brazilian Journal of health Review
múltipla e recorrente sintomatologia tem influência na vida do paciente sob diferentes formas,
interferindo diretamente na qualidade de vida dos indivíduos acometidos.
Dessa forma é de grande importância que os profissionais de saúde ampliem seus
conhecimentos relacionados ao tema e identifiquem, de forma mais rápida, os pacientes com LES,
de modo a possibilitar o tratamento mais adequado, proporcionando uma melhora na qualidade de
vida desses portadores.
Assim, a abordagem da temática deste estudo, será de grande valia para a sociedade e
também para a comunidade científica em pesquisas, pois poderá oferecer mais informações
disponibilizando mais conteúdo para uma melhor orientação sobre o mais adequado tratamento da
patologia discutida na presente pesquisa.

2 MATERIAL E MÉTODO
Para realização do presente trabalho, realizou-se estudo qualitativo. A pesquisa se constituiu
de revisão de literatura, com revisão de bibliografia sistematizada, por permitir o autor situar a
pesquisa e contextualiza-la conforme a linha teórica em que o trabalho se insere. Foram levantados
artigos em busca online na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Google Acadêmico, usando os
seguintes descritores: Lúpus Eritematoso Sistêmico; Qualidade de vida; e Doença sistêmica. Os
levantamentos foram realizados nos meses de julho a dezembro de 2019 e entre fevereiro e março
de 2020. Foram analisados 25 artigos e selecionados 17.
Os critérios de inclusão foram: textos nacionais e internacionais escritos em português,
disponíveis na íntegra e publicados nos últimos seis anos (2015 2020). O critério de exclusão foram:
trabalhos escritos em outro idioma (que não seja o português), publicados anteriormente ao ano de
2015 e que fizeram fuga ao tema.
Para o alcance do objetivo geral, descrever-se-á, em um primeiro momento, a fisiopatologia
do lúpus eritematoso sistêmico; identificar-se-á as ações e os diagnósticos de enfermagem visando
a qualidade de vida do paciente com LES; e descrever-se-á as novas formas de terapias
medicamentosas voltadas ao LES e de que forma estas afetam o bem-estar do paciente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hipocrates, há cerca de 400 a.C. descreveu o lúpus eritematoso sistêmico como sendo uma
doença que gerava lesões erosivas na pele, sobretudo no rosto, passando a denominar-se Herpes
esthimeonos1. Pelo fato de a presença de lesão cutânea avermelhadas na face, que cobrem bochechas
e nariz de alguns pacientes, lembrar mordidas de lobo, o médico francês Pierre Lazenave, por volta

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6713
Brazilian Journal of health Review
de 151, utilizou o termo Lúpus, derivado do latim que significa lobo, para referir-se a esta
enfermidade. O médico canadense, William Osler, em 1895, caracterizou o envolvimento de
diversos tecidos do corpo, denominando a palavra “sistêmica” ao nome da doença2.

3.1 FISIOPATOLOGIA DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO


O lúpus eritematoso sistêmico se constitui em uma doença crônica, inflamatória, recorrente
e remitente. Tem natureza autoimune e sua causa é desconhecida. Acredita-se que fatores genéticos,
hormonais, ambientais, estressores e infecciosos sejam desencadeantes e exacerbantes do LES 3,4,
bem como determinados medicamentos, que interagem provocando um estado de hiperatividade
imunológica5.
Etiologicamente provocado por fatores genéticos, o LES atinge, principalmente, a pele, o
sistema hepatológico (sangue e as articulações), o sistema neurológico, membranas serosas e os rins,
ocasionando diversos quadros clínicos, como sofrimento psicológico, incapacidade física, ou
mesmo ameaça à vida do paciente2. Sua predominância ocorre em pessoas do sexo feminino, que
encontram-se no período fértil, de raça asiática e negra6.
Embora inexistam dados oficiais, estima-se que no Brasil uma a cada 1.700 mulheres seja
acometida pela doença. Estimativas apontam que existem cerca de 65.000 pessoas com LES, cuja
maioria são mulheres7.
É atualmente incurável e caracteriza-se pela presença de diversos autoanticorpos não
específicos de órgão contra antígenos próprios, tais como DNA, componentes citoplasmáticos e
proteínas nucleares, trazendo complicações a diversos sistemas e órgãos5.
Na maioria dos casos, o LES está associado à produção exagerada de diversos anticorpos
diferenciados, que em sua maioria agem contra os antígenos nucleares (ds – DNA, Sm, RNP, Ro,
La, etc.), bem como a presença de complexos imunes que causam a inflamação crônica e lesão do
tecido6.
O desequilíbrio dos anticorpos faz com que estes se tornem reativos aos antígenos nucleares
do próprio organismo, membrana celular e citoplasma, passando, então, a atacar o núcleo das células
de forma a causar inflamação generalizada3. Caracteriza-se por períodos de exacerbação e remissão,
bem como pela produção de autoanticorpos direcionados contra diversas moléculas intracelulares e
antígenos de superfície celular8.
Conforme Enderle et al. (2019, p. 4):

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6714
Brazilian Journal of health Review
No LES, as células apoptóticas acabam apresentando um papel importante no
desencadeamento da doença, devido as alterações das funções normais das células, que
acabam comprometendo a remoção total das dos restos apoptóticos, que tem ligação com
o desenvolvimento do LES. As células B, que são as responsáveis pela produção dos auto
anticorpos, também tem contribuição para o desenvolvimento da doença. As moléculas
CD40L e BLyS, que interferem na ativação das células B, apresentam-se em valores acima
dos normais em pacientes com Lúpus. As células T reguladoras é responsável pelo controle
da autoimunidade, e também está associada ao desencadeamento do LES. Outro agente que
apresenta interferência nos casos de LES são os receptores toll-like e Fc, que estão
diretamente relacionados com a ativação das células B e com o seu controle6.

Por tratar-se de uma doença heterogênea, o LES nem sempre é de fácil diagnóstico, visto
que os sintomas desenvolvidos dependem do tipo de autoanticorpo que o indivíduo possui3. Sua
realização, baseia-se, geralmente, em dois critérios principais: Clínicos e imunológicos 9. A
produção de autoanticorpos contra DNA fita simples, DNA dupla fita e nucleossomos mostra-se útil
para o diagnóstico da doença, podendo estar relacionado à grande variedade de sintomas8.
A múltipla e recorrente sintomatologia apresentada pelo LES tem influência na vida do
paciente sob diferentes formas, quer seja pelo prejuízo da função em diversos sistemas e da
autoimagem, ou ainda pela restrição à participação social. Todas essas situações, todavia, interferem
diretamente na qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela doença 10.
Embora a sobrevida de pacientes lúpicos tenha aumentado consideravelmente nos últimos
50 anos, graças ao desenvolvimento de novos medicamentos que diminuem os surtos da doença, a
qualidade de vida deles permanece baixa, visto que o indivíduo é prejudicado em diferentes
domínios, quando comparados à população em geral, devido a sinais e sintomas como depressão,
fadiga, fibromialgia e alteração cognitiva11.
O comportamento oscilante do LES, com alternância entre períodos de acalmia e de
exacerbação dos sinais e sintomas faz com que, muitas vezes, os pacientes experimentem incertezas
a respeito da progressão da doença e, consequentemente, de como isto afetará suas vidas10.
As limitações físicas ocasionadas pela doença afetam os pacientes em seus aspectos sociais,
emocionais e laborais12. Durante sua evolução surgem manifestações como polimorfismo, com
evolução crônica, apresentando períodos de exacerbação e de remissão. Alguns sintomas sistêmicos
comuns são pneumonia, artrite, hiperatividade, serosite, reticuloendotelial, miosite, nefrite,
vasculite, manifestações mucocutâneas, hepocitopenias imunológicas e inúmeros outros quadros
neuropsiquiátricos6. Menos frequentemente pode ocorrer necrose asséptica, sobretudo do quadril,
devido a vasculite e/ou da corticoterapia13.
Devido à falta de equilíbrio na produção de anticorpos, ocorre um ataque às próprias
proteínas do organismo, culminando na inflamação de diversos órgãos. A ocorrência de infecções é

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6715
Brazilian Journal of health Review
mais elevada nos pacientes lúpicos que fazem administração de imunossupressores, em especial os
glicocorticoides6.
Pacientes com LES possuem um acréscimo no risco de adquirir infecções, tais como redução
de linfócitos T CD4+, deficiência de componentes do sistema complemento, elinfopenia e
neutropenia. Neste sentido, a fase ativa da doença se constitui num fator de risco para infecções,
sobretudo quando envolve órgãos como rim e sistema nervoso central7.
Dentro do amplo espectro de manifestações hematológicas, a anemia leve ou moderada, com
valores de hematócrito 30% abaixo do normal, se mostram frequentes, podendo classificar-se em
anemia de doença crônica (ADC), hemolítica autoimune (AHAI), por deficiência de ferro (ADF),
devido à má absorção de ferro ou à perda sanguínea crônica e devida a insuficiência renal crônica 8.
A trombocitopenia grave ou crônica costuma ocorrer em até 25% dos casos. Segundo estudos, esta
pode estar relacionada ao aumento da mortalidade. Em pacientes com contagem de plaquetas
inferior a 100.000/ml, as principais causas de trombocitopenia estão relacionadas às
trombocitopenias hipoproliferativas, à destruição periférica das plaquetas e/ou à distribuição
anormal destas plaquetas, devido à esplenomegalia. A esplenomegalia é outro achado importante,
ocorrendo em até 46% dos pacientes. Dá-se, geralmente, devido ao comprometimento da medula
óssea, sobretudo durante a atividade da doença8.
Aproximadamente metade dos pacientes apresentam leucopenia, podendo ser proveniente
de linfopenia, neutropenia ou uma combinação de ambas, que podem ser causadas por drogas ou
destruição autoimune. A neutrofenia, particularmente, pode ser, ainda, desencadeada por supressão
medular ou hiperesplenismo 8.
Alguns estudos concluíram que o LES interfere na qualidade de vida, sobretudo pelo fator
dor nas articulações, por ser uma condição limitante e desconfortável e, ainda, pelo estado
depressivo ocasionado pela doença14.
De fato, entre as principais queixas relatadas por indivíduos com LES encontra-se a dor, à
qual se constitui uma das principais causas de interferência em aspectos funcionais, ocasionando
impacto na qualidade de vida dos indivíduos15.
A maioria dos pacientes, cerca de 75%¨, costuma apresentar algum comprometimento do
Sistema Nervoso Central (SNC) podendo apresentar sintomas como hipoestesia, convulsões,
disfunção de habilidades motoras, depressão, psicose e síndrome cerebral orgânica (SCO). A SCO
caracteriza-se por uma redução abrupta ou gradual das funções cerebrais e pelo comprometimento
de habilidades cognitivas como orientação, memória e concentração. Não se trata, contudo, de um

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6716
Brazilian Journal of health Review
quadro permanente, ocorrendo geralmente em algum estágio da doença até em metade das pessoas,
que ainda assim conseguem ter um estilo de vida normal2.
Devido a sua manifestação em diversos órgãos e sistema e o fato de tratar-se de uma
patologia relacionada à alta taxa de morbidade o LES afeta toda a vida do paciente, nas esferas
pessoal, social e emocional. Com prognóstico indefinido, pode ocasionar incapacitação e aumentar
o risco de desfiguração 5.
A literatura observa, ainda, uma importante relação entre a presença de depressão e o
diagnóstico de LES. De fato, o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) no ano de 1999 propôs
a definição de 19 síndromes clínicas neuropsiquiátricas atribuídas ao LES, reconhecendo cinco
grupos de transtornos psiquiátricos: 1. Transtorno de humor; 2. Transtorno de ansiedade; 3.
Disfunções cognitivas; 4. Psicose; e 5. Estado confusional agudo 9.
Um dos grandes problemas ocasionados pela depressão é o fato de que esta, em nível
moderado ou grave, dificulta a adesão ao tratamento, levando ao agravamento dos sintomas e crises
agudas14. Uma outra problemática, apontada é o estigma associado aos pacientes acometidos por
doença crônica de que estes possuem razões para manifestarem sintomas depressivos, o que dificulta
o diagnóstico precoce2.
A maioria das crises depressivas apresentadas pelos portadores de LES é de duração curta,
ausentando-se após alguns meses. Mesmo assim, devem ser tratadas com o mesmo empenho com
que são tratadas outras expressões da crise lúpica2.
Dentre as doenças reumatológicas, o LES é a que mais compromete a reprodutividade
feminina. Durante a gravidez, ocorre um maior risco de sofrimento fetal obstétrico e perinatal,
devido à própria doença ou devido aos efeitos medicamentosos adversos utilizados no tratamento.
Se controlada, porém, a doença oferece menos riscos à gestação 2.
De tudo o que foi dito, enfatiza-se, portanto, que o lúpus se constitui em uma doença
inflamatória e autoimune, desencadeada por um desequilíbrio no sistema imunológico, o qual ao
invés de proteger o organismo contra ataques de agentes como vírus e bactérias, passa a ataca-lo. A
doença pode manifestar-se de forma cutânea, atingindo apenas a pele, ou se generalizar pelo
organismo, recebendo, assim, o nome de lúpus eritematoso sistêmico (LES).

3.2 AÇÕES E DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM NO TRATAMENTO DO LÚPUS


ERITEMATOSO SISTÊMICO
As inúmeras combinações e manifestações clínicas do LES torna difícil o diagnóstico desta
enfermidade2. O diagnóstico de LES leva em conta os critérios clínicos, manifestado ao longo do

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6717
Brazilian Journal of health Review
tempo, e exames laboratoriais. O amplo diagnóstico diferencial, especialmente na fase inicial da
doença, é um dos fatores que mais complicam o correto diagnóstico 6.
O diagnóstico é facilitado, no entanto, pelo advento de inúmeros novos testes laboratoriais
conjuntamente a presença de pelo menos quatro dos onze critérios estabelecidos pelo Colégio
Americano de Reumatologia (ACR), simultaneamente ou separadamente 2. Os onze critérios
estabelecidos pelo ACR em 1982 e modificados em 1997 estão relacionados no Quadro 1:

Quadro 1 – Critérios de classificação estabelecidos pelo ACR, com a presença de, pelo menos, quatro características,
fornecem um diagnóstico positivo
1) Eritema malar: lesão eritematosa fixa em região malar, plana ou em relevo;
2) Lesão discoide: lesão eritematosa, infiltrada, com escamas queratóticas aderidas e tampões foliculares, que
evolui com cicatriz atrófica e discromia;
3) Fotossensibilidade: exantema cutâneo, como reação não usual à exposição à luz solar, de acordo com a
história do paciente ou conforme observado pelo médico;
4) Úlceras orais/nasais: úlceras orais ou nasofaríngeas, usualmente indolores, observadas pelo médico;
5) Artrite: artrite não erosiva envolvendo duas ou mais articulações periféricas, caracterizadas por dor e
edema ou derrame articular;
6) Serosite: pleuris (caracterizada por história convincente de dor pleurítica ou atrito auscultado pelo médico
ou evidência de derrame pleural) ou pericardite (documentado por eletrocardiograma, atrito ou evidência
de derrame pericárdico);
7) Comprometimento renal: proteinúria persistente (> 0,5g/dia ou 3+) ou cilindrúria anormal;
8) Alterações neurológicas: convulsão ou psicose;
9) Alterações hematológicas: anemia hemolítica ou leucopenia (menor que 4.000 leucócitos/ml em duas ou
mais ocasiões), linfopenia (menor que 1.500 linfócitos/ml em duas ou mais ocasiões) ou plaquetopenia
(menor que 100.000 plaquetas/ml na ausência de outra causa);
10) Alterações imunológicas: anticorpo anti-DNA nativo ou anti-Smith, ou presença de anticorpo
antifosfolípide baseado em: a) níveis anormais de IgG ou IgM anticardiolipina; b) teste positivo para
anticoagulante lúpico ou teste falso positivo para sífilis, por no mínimo seis meses;
11) Anticorpos antinucleares: título anormal de anticorpo anti-nuclear por imunofluorescência indireta ou
método equivalente, em qualquer época, e na ausência de drogas conhecidas por estarem associadas à
síndrome do lúpus induzido por drogas.
Fonte: SANDRI et al. (2019, p. 60-62).

Tais critérios podem ser relacionados à pele ou serem sistêmicos. Entre os critérios
relacionados à pele estão a erupção malar (vermelhidão característica no nariz e no resto do rosto);
a fotossensibilidade (reações a exposição à luz); a lesão discóide (lesões na pele); e as úlceras orais
(normalmente indolores). Entre os critérios sistêmicos estão a artrite (com presença de dor e edema
geralmente atingindo duas articulações); a presença de serosite, caracterizada por inflamação
envolta do pulmão e coração; o comprometimento renal; e as alterações neurológicas 1.
Embora raro, é possível que alguns pacientes com LES possam não apresentar quatro dos
onze critérios citados6. Os exames laboratoriais podem indicar alterações relacionadas à presença
de alterações hematológicas observadas pelas anemias hemolíticas, plaquetopenias e linfopenia. As
alterações relacionadas ao sistema imune podem indicar anticorpos anti-DNA do próprio organismo,
com níveis anormais de IgG ou IgM, podendo apresentar FAN positivo. Ainda que não sejam

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6718
Brazilian Journal of health Review
específicos, os testes laboratoriais são de extrema importância, pois servem como métodos de
triagem. Além disso, cerca de 95% podem descartar a hipótese da doença caso não apresente
nenhum marcador, a partir dos testes realizados1.
Com relação ao diagnóstico laboratorial, o principal exame realizado é a detecção de
anticorpos que reagem com os compostos nucleares, como ribonucleoproteína, histonas e DNA. A
técnica mais indicada nestes casos é a imunofluorescência, pelo fato desta ser capaz de detectar os
anticorpos específicos da doença, que são os anticorpos antifita dupla hélice do DNA. Embora os
anticorpos sejam as evidências mais relevantes nos exames laboratoriais para o diagnóstico do LES,
os fatores nucleares (FAN) também encontram-se presentes em quase todos os casos de doença ativa,
reagindo com componentes do núcleo e, embora não sejam específicos para LES, em nenhum outro
caso possui frequência e título tão elevado 6.
No caso dos pacientes com alterações neuropsiquiátricas, a ressonância magnética é um dos
exames mais indicados, possibilitando um diagnóstico precoce e permitindo um tratamento mais
adequado. Embora os mecanismos patológicos das lesões cerebrais ainda não serem claros nos
pacientes com LES, existem diversas teorias que os tentam explicar, para as quais as imagens por
RM também assumem importante papel6.
Nos pacientes com LES as ações de enfermagem devem promover estratégias para diminuir
os danos decorrentes da doença e redução da morbidade induzida pelo tratamento. Embora o
tratamento deva ser feito individualmente para cada paciente, conforme gravidade da doença e
necessidades de cada organismo, há diversos aspectos envolvidos5.
Diante da gravidade fisiopatológica do LES, os enfermeiros podem influir positivamente
através da execução da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), de forma a garantir
uma assistência de qualidade junto à equipe de saúde. A SAE diz respeito à organização da prática
de enfermagem e abrange os seus passos, tais como 16:
1. O histórico: Consiste em colher informações acerca do paciente, mediante anamnese e
exame físico;
2. Diagnóstico de enfermagem: Baseado no International nursing diagnoses (NANDA);
3. Planejamento: No qual o enfermeiro julga o procedimento mais adequado, a partir da
particularidade de cada paciente; bem como os resultados a serem alcançados. As metas são
estabelecidas utilizando-se o Network Operations Center (NOC);
4. Intervenção: Coloca-se em prática o planejamento utilizando-se a Classificação das
Intervenções de Enfermagem (NIC);
5. Evolução: Avalia-se e registra-se o estado geral do paciente16.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6719
Brazilian Journal of health Review
A implementação da SAE é de extrema importância por possibilitar ao paciente uma melhor
Qualidade de Vida. Destaca-se o planejamento de enfermagem, o qual tem por objetivo: 1.
Acompanhamento da evolução clínica; 2. Prevenção de complicações e infecções; 3.
Restabelecimento e manutenção do equilíbrio eletrolítico; 4. Restabelecimento e manutenção da
integridade cutânea, tissular e mucosa; 5. Promoção de apoio emocional, social e espiritual, de forma
a proporcionar segurança, higiene e educação em saúde para o paciente e seu acompanhante 4.
Estudo realizado por Santos et al. (2019)7, a partir da análise dos dados coletados através do
Histórico de Enfermagem de 16 pacientes portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico em uma
enfermaria de clínica médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) localizado na Zona
Norte do município do Rio de Janeiro entre os meses de abril de 2017 a abril de 2018, elencou
alguns principais diagnósticos de enfermagem e cuidados de enfermagem praticados a pacientes
portadores de LES, os quais estão representados nos Quadros 2 e 3:

Quadro 2 – Principais diagnósticos de enfermagem relacionados aos portadores de LES na enfermaria da clínica médica
do HUPE – Rio de Janeiro, 2017-2018
 Fadiga relacionada à falta de condicionamento físico e privação do sono;
 Dor aguda relacionada a agentes causadores de lesão;
 Integridade da pele prejudicada relacionada à alteração no metabolismo, circulação prejudicada e
imunodeficiência;
 Intolerância à atividade relacionada a estilo de vida sedentário e fraqueza generalizada;
 Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado à disfunção renal e mecanismo regulador comprometido;
 Distúrbio na imagem corporal relacionado à doença e regime de tratamento;
 Falta de adesão relacionada ao conhecimento insuficiente sobre o regime, motivação insuficiente e
duração prolongada do regime.
Fonte: SANTOS et al. (2019, p. 45).

Quadro 3 – Principais cuidados de enfermagem relacionados aos portadores de LES na enfermaria da clínica médica
do HUPE – Rio de Janeiro, 2017-2018
 Promover ambiente calmo para sono e repouso;
 Controlar rigorosamente o balanço hídrico;
 Verificar peso diariamente em jejum;
 Avaliar estado geral e nutricional;
 Manter níveis pressóricos adequados;
 Avaliar acessos venosos e outros dispositivos invasivos quanto a sinais flogísticos;
 Avaliar a dor e promover ambiente tranquilo;
 Evitar leitos com incidência direta de luz solar;
 Avaliar resultados de exames laboratoriais;
 Oferecer cremes à base de ureia para hidratação da pele;
 Incentivar e orientar sobre o autocuidado;
 Fornecer informações suficientes sobre a doença e o tratamento;
 Oferecer apoio emocional para enfrentamento das mudanças corporais.
Fonte: SANTOS et al. (2019, p. 45).

Observa-se que, em síntese, os cuidados de enfermagem direcionados aos pacientes


portadores de LES internados na enfermaria da clínica médica do HUPE (Rio de Janeiro),

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6720
Brazilian Journal of health Review
mostraram-se complexos tendo em vista a necessidade de avaliação contínua a fim de resolver ou
minimizar problemas reais e/ou potenciais identificados na clientela. A necessidade de se
implementar cuidados de enfermagem visando a melhoria da qualidade de vida dos pacientes é
imprescindível para o sucesso de adesão ao tratamento 7.
Com relação às ações e diagnóstico de enfermagem no tratamento do LES, conclui-se que é
fundamental que os profissionais da área de saúde estejam bem preparados para fornecerem o
cuidado e as informações adequadas aos pacientes. É importante, ainda, que estes realizem os
exames necessários ao tratamento de forma correta, a fim de orientar as melhores formas de
tratamento, e proporcionar aos pacientes uma melhora na qualidade de vida e menores efeitos
colaterais.

3.3 TRATAMENTO DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO


Apesar de se tratar de uma doença para a qual ainda não existe cura, nem tratamento
específico por não existir protocolo padrão para todos os pacientes6, nos últimos anos o prognóstico
dos pacientes com LES tem melhorado consideravelmente. Em 1950, cerca de 50% dos pacientes
acometidos pela doença morriam após quatro anos do diagnóstico. Atualmente, 80% sobrevivem
até 15 anos após. Atribui-se o aumento das taxas de sobrevida a diversos fatores, como o
diagnóstico precoce, às melhores opções terapêuticas e ao controle das condições mórbidas
associadas, além do conhecimento mais amplo da doença10.
Embora os progressos na terapêutica da LES tenham gerado reduções nas lesões teciduais
e aumento na sobrevida, as complicações infeciosas ainda têm ocasionado muita preocupação,
sobretudo nos pacientes com uma maior faixa etária, tendo em vista o aumento nas doenças
cardiovasculares, o qual se constitui em outro fator que requer maior cuidado na escolha do
tratamento ideal1.
O tratamento do LES é muito variado e depende das manifestações apresentadas pelo
paciente e dos órgãos e sistemas afetados8,14,16, da gravidade da doença (agudo e/ou crônico), e dos
aspectos relacionados à adesão do próprio paciente, apoio familiar e dos profissionais qualificados
que oferecem acompanhamento para os cuidados físicos e psicológicos 5, podendo, ou não, ser
necessária a administração de medicamentos em fase ativa ou de remissão da doença3, 16.
O tratamento sempre tem por objetivo a regulação das alterações imunológicas do LES e a
regulação de possíveis efeitos secundários decorrentes da inflamação. Em alguns casos, existe a
possibilidade da realização de transplante de medula óssea1.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6721
Brazilian Journal of health Review
Por se tratar de uma doença de difícil controle, seu tratamento tem por objetivo a prevenção
de surtos agudos de vasculite, bem como se evitar a permanente lesão dos órgãos afetados, detendo
sua progressão e/ou manter sua remissão. Com o crescente advento de arsenais terapêuticos e
diagnóstico cada vez mais precoce, tende-se a controlar melhor as crises agudas, diminuindo-se as
doenças causadas pela vasculite. Neste sentido, doença vêm assumindo, cada vez mais, um caráter
mais crônico17.
Conforme Sandri et al., (2019, p. 59):

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença na qual não possui cura, mas para a
grande maioria dos pacientes, o tratamento minimiza os sintomas, reduzindo a inflamação
e ajudando a restabelecer as funções do organismo que possam estar comprometidas. O
tratamento deve ser individualizado e dependendo dos órgãos e sistemas acometidos. O
tratamento sempre inclui medicamentos para regular as alterações imunológicas do LES, e
outros medicamentos gerais para regular possíveis efeitos secundários decorrentes da
inflamação causada pela doença, como hipertensão, inchaço nas pernas, febre e dor1.

Antimaláricos e anti-inflamatórios não esteroidais vem sendo amplamente utilizados para


prevenir a artrite e manifestações cutâneas. Os antimaláricos auxiliam na manutenção da remissão
da doença17, para a redução do risco de trombose e para a melhora do quadro articular 5. A utilização
dos glicocorticoides se dá, sobretudo, no início de um surto agudo, em virtude de rápida ação. Suas
doses variam conforme o grau e o tipo de órgão acometido. Entretanto, apesar de mais de 6 anos de
experiência em seu uso, não existem, ainda, diretrizes acerca da posologia ideal deste medicamento
nas diferentes manifestações da doença, sendo tais doses escolhidas pelo médico, conforme seu
julgamento clínico da situação 17.
Também ajudam a compor o arsenal terapêutico do LES: os imunossupressores, como
metotrexato (indicado para o tratamento de manifestações como artrites, lesões cutâneas e miosite);
e a azatioprina (utilizadas na manutenção de remissão de uma nefrite e nas manifestações
hematológicas). Esses medicamentos podem, ainda, ser recomendados como poupadores de
corticoides. O micofenolato de mofetila e a ciclofosfamida, por sua vez, são utilizados nas
manifestações mais graves, como vasculites maiores e acometimento dos rins e do sistema nervoso 17.
Os imunossupressores se constituem uma importante classe de medicamentos para o
tratamento do LES grave, sobretudo em pacientes que apresentam complicações renais, atuando por
meio da inibição da replicação das células efetoras do sistema imune. Tanto a nível humoral quanto
celular5.
Com relação ao ciclofosfamida, trata-se de um novo medicamento que tem contribuído
consideravelmente para a sobrevida dos pacientes com LES, sendo este imunossupressor utilizado
em mais de 50% dos casos1.
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761
6722
Brazilian Journal of health Review
Embora a rápida e potente ação dos glicocorticoides, muitas vezes ser capaz de salvar a vida
de um paciente, inúmeros são os efeitos colaterais advindos do seu uso, tais como a maior
predisposição para a ocorrência de infecções. Os glicocorticoides, juntamente às ciclofosfamidas,
favorecem consideravelmente as infecções oportunistas, muitas delas graves, como por exemplo, a
doença invasiva pneumocócica. Não raro os glicocorticoides têm sido associados ao aparecimento
de infecções de trato geniturinário e respiratório 17. O uso de corticoides e imunossupressores podem,
ainda, ocasionar efeitos colaterais como diabetes, hipertensão arterial, neoplasias, osteoporose, entre
outras13.
É de fundamental importância que a terapia medicamentosa seja feita de forma individual,
segundo a necessidade de cada paciente e da gravidade da doença (agudo e/ou crônico), devendo-
se observar aspectos como adesão ao tratamento, apoio familiar e dos diversos profissionais de
saúde, necessidade de acompanhamento psicológico, prática de atividades físicas regulares, dieta,
etc. É importante, ainda, que o paciente em tratamento evite fontes de raios ultravioletas e exposição
ao sol, além de fazer uso de protetores e bloqueadores solares13.
Quando hospitalizado, o cliente acometido por LES necessita de uma equipe
multiprofissional, podendo esta ser constituída, em sua maioria por: médicos, enfermeiros, técnicos
de enfermagem e nutricionistas. A equipe de enfermagem deve responsabilizar-se por planejar,
implementar e avaliar os cuidados, por meio da sistematização da assistência de enfermagem, em
consonância às necessidades do cliente, detectando precocemente sinais e sintomas de complicação
e contribuindo para seu bem-estar7.
Conforme Enderle et al. (2019, p. 5):

[...] algumas medidas gerais devem ser adotadas como parte importante da abordagem
terapêutica, tais como: oferecer informações gerais sobre a doença, o seu diagnóstico e
tratamento, fornecer acompanhamento psicológico, incentivar a prática de atividade física
regular, exceto nos períodos de atividade sistêmicas da doença, no qual é aconselhável o
repouso. Ainda é de fundamental importância indicar uma dieta balanceada, evitando muito
sal, carboidrato e lipídios, bem como evitar uma exposição ao sol por um longo tempo e
também evitar o tabagismo6.

É muito importante que os profissionais de saúde orientem os pacientes com relação à


necessidade de minimizar a exposição solar e a utilização dos fotoprotetores. É fundamental que o
produto seja aplicado diariamente em todas as áreas expostas à claridade e reaplicado, ao longo do
dia, a fim de assegurar seu efeito protetor. Em alguns casos podem ser recomendados o uso de
cremes com ou sem corticoides ou com tacrolimus a ser aplicado nas lesões cutâneas1.
Lesões cutâneas decorrentes da LES, que possuem mais de três meses e já estiverem sido
tratadas com antimaláricos, podem ser tratadas com talidomida (100-200 mg/dia), cujo tratamento
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761
6723
Brazilian Journal of health Review
mostrou-se eficaz em 75% dos casos. No entanto, está contraindicado para pacientes que possuam
riscos de gravidez. Nestes casos, indica-se a metotrexate (10-20 mg/semana). Para tratar o
comprometimento hematológico decorrente do LES indica-se a prednisona em doses altas e muito
altas, para as anemias hemolíticas. Nos casos de imunoglobulinas intravenosas, esse medicamento
vem se mostrando eficaz apenas em alguns pacientes, tanto para o tratamento da anemia, quanto
para a plaquetopenia decorrente do LES. Seu custo elevado, porém, tem inviabilizado tal opção para
muitos pacientes cutâneos1.
A fisioterapia também se constitui em importante fator no tratamento do paciente com LES,
tendo em vista que por meio de exercícios e manobras específicas, é possível obter manutenção e
melhora das funções cardiorrespiratórias e musculares. Os exercícios fisioterápicos devem sempre
visar a melhora da funcionalidade dos pacientes, minimizando os sintomas apresentados pela
doença6.
Pacientes que fazem uso dos fármacos associados a exercícios físicos e terapias apresentam,
além de medidas preventivas e reabilitadoras, quadro mais estável da doença, mantendo as funções
corporais normais e reduzindo as crises5. Em geral, a melhora dos sintomas somente é notada após
vários dias de tratamento. Na maior parte, os antiinflamatórios são os únicos medicamentos
necessários para o controle da doença6.
No que refere-se ao tratamento não farmacológico, a importância dos pacientes com LES
em obter informações acerca da doença e de sua evolução. Conforme os autores, é necessário
esclarecer que o tratamento indicado a maioria dos pacientes contribui para uma vida longa,
produtiva e com boa qualidade. No entanto, para a melhora da doença e de seu prognóstico, é
fundamental acompanhamento médico e adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico5.
Neste sentido, algumas medidas terapêuticas são recomendadas para os pacientes com LES,
tais como5:
1. Educação: o paciente e seus familiares devem ser informados acerca da doença, seus riscos,
evolução e recursos disponíveis para o diagnóstico e tratamento;
2. Apoio psicológico: é preciso que tanto os profissionais de saúde quanto os familiares
transmitam otimismo e motivação para o paciente em tratamento;
3. Atividade física: é muito importante a realização de atividades físicas, bem como o
descanso nos períodos de atividade sistêmica da doença, e prevenção para melhoria do
condicionamento físico;
4. Dieta: recomenda-se uma dieta balanceada, evitando-se excessos de sal, carboidratos e
lipídios;

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6724
Brazilian Journal of health Review
5. Proteção: deve-se evitar a exposição à luz solar e aos raios ultravioletas;
6. Tabagismo: deve-se evitar o tabagismo a fim de reduzir os efeitos dos antimaláricos,
favorecendo assim a manutenção ou o agravamento das lesões cutâneas.
De tudo o que foi dito relacionado ao tratamento do LES, percebe-se a relevância das novas
estratégias de tratamento para a diminuição dos danos decorrentes da doença e redução da
morbidade induzida pelo tratamento, através da correta avaliação do risco/benefício da utilização
de determinados medicamentos.

4 CONCLUSÃO
O Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença grave que não tem cura, requerendo diversos
cuidados e tratamento adequado pelo fato de ser uma doença multissistêmica e que atinge diversos
órgãos ocasionando o desenvolvimento de inúmeras complicações. Não possui uma causa
específica, apenas alguns fatores que contribuem para o seu desencadeamento.
Por ser multissêmico, o LES se manifesta de forma diferente em cada pessoa, e dependendo
dos aspectos físicos, psíquicos e sociais envolvidos, a doença interfere mais ou menos na
exacerbação dos sintomas e, consequentemente, na qualidade de vida dos pacientes.
Neste sentido, o profissional de enfermagem deve levar em conta as características próprias
de cada paciente, ofertando um cuidado individual. Destaca-se a Sistematização da Assistência de
Enfermagem como ferramenta de intervenção, no sentido de promover a saúde e de prevenir danos,
como é o caso dos pacientes crônicos.
Por tratar-se de doença crônica incurável, o objetivo do tratamento consiste em melhorar a qualidade
de vida através do controle dos sintomas e diminuição das crises. O uso de fármacos, como anti-
inflamatórios e esteroides são utilizados, sobretudo, quando há comorbidades associadas. Além do
tratamento medicamentoso, o paciente com LES necessita de suporte, tais como orientação acerca
da doença, apoio dietoterápico e psicossocial, evitar exposição solar e atividade física.
É preciso que o paciente com lúpus saiba que os tratamentos atuais possibilitam uma
expectativa de vida igual à da população em geral e que a adesão do tratamento contribui para uma
vida mais longa, produtiva e com boa qualidade. Nesse sentido, o cuidado constante aliado às
avaliações médicas periódicas fazem toda a diferença.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6725
Brazilian Journal of health Review
REFERÊNCIAS

1 Sandri, JB, Vargas, GC, Araújo, CIF, Silva, ER, Mildemberger, TS, Navarro, SD, et al. Aspectos
gerais do lúpus eritematoso sistêmico. Caderno Saúde e Desenvolvimento. 2019; 5(8):51-66.
Avaiable from: https://www.uninter.com/cadernosuninter/index.php/saude-e-
desenvolvimento/article/view/1233/996.

2 Guerreiro, MGU, Sousa, MNA. Qualidade de vida e sofrimento psíquico em mulheres com lúpus
eritematoso sistêmico. Revista Saúde e Desenvolvimento. 2019; 13(16):72-85. Avaiable from:
https://www.uninter.com/revistasaude/index.php/saudeDesenvolvimento/article/view/1046/604.

3 Almeida, CS, Mendes, ALRF, Cavalcante, ACM, Arruda, SPM, Silva, FR. Perfil antropométrico
e consumo alimentar de mulheres com lúpus eritematoso sistêmico. Arq. Catarin Med. 2017;
46(4):103-117. Avaiable from:
http://www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos/article/view/215/209.

4 Carvalho, AE, Almeida, HS. Cuidados de enfermagem em pacientes com lúpus eritematoso
sistêmico (LES). Goiás: Centro Universitário de Goiás, 2019. Trabalho de Conclusão de Curso em
Enfermagem. Avaible from:
http://repositorio.anhanguera.edu.br:8080/bitstream/123456789/237/1/TCC%20ALEXANDRA%
20E%20HELOIZA%20CORRIGIDO.pdf.

5 Costa, LM, Coimbra, CCBE. Lúpus erimatoso sistêmico: incidência e tratamento em mulheres.
Revista Uningá Rewiel, 2018; 20(1):81-86. Avaiable from:
http://revista.uninga.br/index.php/uningareviews/article/view/1562. Acesso em: 15 ago. 2018.

6 Enderle, DC, Machado, DS, Mendes, KN, Costa, FM, Carvalho, ANG. Manifestações clínicas do
lúpus eritematoso sistêmico (LES). Facider Revista Científica, Colider. 2019; (12):1-9. Avaiable
from: http://sei-cesucol.edu.br/revista/index.php/facider/article/view/182/210. Acesso em: 18 mar.
2020.

7 Santos, SCD, Thiengo, PCS, Gallasch, CH, Pires, AS, Gomes, HF, Pérez Júnior, EF. Principais
cuidados de enfermagem aos pacientes portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico: relato de
experiência. Revista Pró-univerSUS. 2019; 10(2):39-47. Avaiable from:
http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/RPU/article/view/1949.

8 Matos, MBP, Dias, EP, Arruda, AC, Aguiar Junior, NA, Galera, MF, Leite, CA. Alterações
eritrocitárias em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Medicina (Ribeirão Preto. Online).
2016; 49(1):45-51. Avaiable from: http://revista.fmrp.usp.br/2016/vol49n1/AO6-Alteracoes-
eritrocitarias-em-pacientes-com-Lupus-Eritematoso-Sistemico.pdf. Acesso em: 16 ago. 2019.

9 Santos, LMO, Vilar, MJ, Maia, EMC. Mulheres com lúpus erimatoso sistêmico, sintomas
depressivos e apoio social. Psicologia, Saúde & Doenças. 2017; 18(1):39-54. Avaiable from:
http://www.scielo.mec.pt/pdf/psd/v18n1/v18n1a04.pdf.

10 Corrêa, RD, Oliveira, LP, Santana Junior, WB, Telles, RW, Fereira, GA, Lanna, CCD. “O que
você sempre quis saber sobre lúpus e nunca teve coragem de perguntar”: proposta de programa de
educação do paciente. Rev Med Minas Gerais. 2015; 25(3): 387-392. Avaiable from:
http://rmmg.org/exportar-pdf/1849/v25n3a13.pdf.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761


6726
Brazilian Journal of health Review

11 Furlan, FLS, Lemes, MA, Pires, CTF, Azevedo, G, Bernardi, GF, Simões, YS, et al. Qualidade
de vida em tratamento de lúpus eritematoso sistêmico com antimaláricos. Rev Soc Bras Clin Med.
2018; 16(2): 2-6. Avaiable from: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/06/884974/1612-6.pdf.

12 Pinto MA, Spessiritis, ÉS, Caldas, CAM. Perda de produtividade no trabalho relacionada ao
lúpus eritematoso sistêmico e à artrite reumatoide. Rev Soc Bras Clin Med. 2017; 15(3): 161-165.
Avaiable from: http://www.sbcm.org.br/ojs3/index.php/rsbcm/article/view/287/262.

13 Lima, PS, Carvalho, DMB, Leitão, JMSR, Costa, CLS, Moura, HN, Santos, LM, et al. O lúpus
eritematoso sistêmico e seu processo de adoecimento: uma concepção feminina. Revista Eletrônica
Acervo Saúde. 2019; Supl 18:e115: 1-9. Avaiable from:
https://www.acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/115/49.

14 Neder, PRB, Ferreira, EAP, Carneiro, JRM. Relação entre ansiedade, depressão e adesão ao
tratamento em pacientes com lúpus. Revista Paraense de Medicina. 2015; 29(2):7-16. Avaiable
from: http://files.bvs.br/upload/S/0101-5907/2015/v29n2/a4976.pdf.

15 Jorge, MSG, Garbin, K, Müller, PL, Wibelinger, LM. Atuação fisioterapêutica em um indivíduo
com lúpus eritematoso sistêmico associado à artrite reumatoide e à fibromialgia. ABCS Health
Sciences. 2017; 42(1):60-64. Avaiable from:
https://www.portalnepas.org.br/abcshs/article/viewFile/952/764.

16 Andrade, MJT, Santos, NA, Feitosa, MM, Ribeiro, AT. Sistematização da assistência de
enfermagem em um paciente com lúpus: um relato de experiência. II SIEPS; XX ENFERMAMAIO;
I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM, 2016. Avaiable from:
http://www.uece.br/eventos/seminarioppcclisenfermaio/anais/trabalhos_completos/256-31470-
29042016-213535.docx.

17 Skare, TL, Dagostini, JS, Zanardi, PI, Nisihara, RM. Infecções e lúpus eritematoso sistêmico.
einstein. 2016; 14(1):47-51. Avaiable from: http://www.scielo.br/pdf/eins/v14n1/pt_1679-4508-
eins-14-1-0047.pdf.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 6710-6726 jun. 2020. ISSN 2525-8761

Você também pode gostar