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DESENHO TÉCNICO

MECÂNICO

Everton Coelho
de Medeiros
Estado de superfície
(parâmetros de rugosidade/
acabamentos de superfície)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever os símbolos indicativos de estado superfície recomendados


pela ABNT.
 Discutir os processos de fabricação e a sua influência sobre os aca-
bamentos de superfícies das peças.
 Explicar rugosidade, classes, desvios aritméticos (Ra) e representação
nos desenhos.

Introdução
A avaliação e a determinação do estado de superfície de um componente
é uma importante propriedade de engenharia no projeto de produtos.
As superfícies devem ser adequadas ao tipo de função que exercem.
Neste capítulo, serão expostos os conceitos fundamentais de rugo-
sidade e acabamento superficial.

Simbologia segundo normas


Rugosidade, definida também como erros microgeométricos, é o conjunto de
irregularidades provenientes de algum processo de fabricação, caracterizando
uma superfície. A variação do parâmetro de rugosidade influencia em diversos
pontos, dentre eles (RIBEIRO; PERES; IZIDORO, 2013):
2 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

 qualidade do deslizamento e da resistência ao desgaste;


 variação da condição de escoamento de fluido lubrificante (Figura 1);
 aparência;
 resistência à corrosão e à fadiga.

Figura 1. Engrenagem com rugosidade ideal para escoamento de óleo e lubrificação.


Fonte: maxuser/Shutterstock.com.

A superfície de uma peça pode ser caracterizada segundo três principais


definições, ilustradas na Figura 2 (PIRATELLI FILHO, 2011):

 Superfície geométrica: é a superfície ideal, onde não existem irregu-


laridades de forma e de rugosidade, ou seja, é a superfície representada
em desenhos.
 Superfície real: é a superfície resultante dos processos de fabricação.
 Superfície efetiva: é a superfície obtida pelos instrumentos de medição
de rugosidade (rugosímetros).
Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 3

Figura 2. Tipos de superfície.


Fonte: Piratelli Filho (2011).

Para o estudo da rugosidade, sempre será considerada para estudo a su-


perfície efetiva. A indicação da rugosidade em desenhos de fabricação é feita
segundo a norma ABNT NBR 8404:2013, que determina como devem ser os
símbolos de rugosidade.
Essa indicação, parecida com um triângulo, variando o tamanho proporcio-
nalmente de acordo com h escolhido, deve ser posicionada sobre a superfície
do desenho que contém a rugosidade desejada (Figura 3).

60º
2,5 h

60º
h

Figura 3. Simbologia de rugosidade.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).
4 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

Esse símbolo pode ter três variações distintas, conforme ilustrado no


Quadro 1. Caracterizando principalmente as superfícies que devem ter o pro-
cesso de fabricação específica, ou, então, quais superfícies não devem sofrer
usinagem (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2013).
É possível serem utilizados mais de um símbolo diferente em um desenho
de fabricação. E quando se deseja indicar uma condição geral de rugosidade
de uma peça, o símbolo de rugosidade deve ser posicionado na parte superior
da folha. Caso a divisão de lugares de superfícies seja grande, é possível,
também, inserir um símbolo com uma letra e, mais embaixo, uma legenda
descrevendo quais as rugosidades nos pontos indicados.

Quadro 1. Tipos de símbolos.

Símbolo Significado

Símbolo básico; só pode ser


usado quando seu significado for
complementado por uma indicação.

Caracteriza uma superfície


usinada, sem mais detalhes.

Caracteriza uma superfície na


qual a remoção de material não é
permitida e indica que a superfície
deve permanecer no estado
resultante de um processo de
fabricação anterior, mesmo se ela
tiver sido obtida por usinagem.

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).


Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 5

As informações que podem ser inseridas no símbolo de rugosidade são


diversas, variando desde o processo de fabricação escolhido até os parâmetros
para medição com rugosímetro (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2013). A Figura 4 apresenta o símbolo básico, juntamente das
informações que podem ser adicionadas e os seus respectivos locais no símbolo.

Figura 4. Informações para símbolos de rugosidade.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).

Caso uma superfície da peça não possa ter nenhuma usinagem, mas, ainda sim, deve
ter um grau mínimo de acabamento desejado, o terceiro símbolo ilustrado no Quadro 1
(Triângulo com círculo) pode ser utilizado junto do valor médio de rugosidade. Esse
valor pode ser alcançado por meio de uma limpeza feita com escova de aço, ou
outros processos que não sejam de fabricação, mas que irão garantir uma melhor
qualidade superficial.
6 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

Influência dos processos de fabricação na


rugosidade
Os diversos tipos de processos de fabricação geram diferentes condições
de acabamento superficial. Além disso, um mesmo processo de fabricação,
dependendo das condições de operação (como, por exemplo, velocidade de
corte, taxa de avanço e lubrificação), pode também alterar a rugosidade de
um material trabalhado. A Figura 5 apresenta uma peça montada em um
torno CNC, onde é possível ver claramente a diferença entre os acabamentos
superficiais da região da ponta e do meio da peça.

Figura 5. Peça usinada em um torno.


Fonte: Pixel B/Shutterstock.com.

As indicações de rugosidade podem ser divididas em grupos menores,


apenas com o tipo de processo que será feito e a rugosidade média esperada
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2013). A Figura
6 apresenta essa divisão de grupos de rugosidade mediante as operações feitas
(desbaste, alisar e polir). Para ficar mais fácil essa divisão, à medida que o
grau de acabamento aumenta, aumentam também os números de triângulos.
Caso se deseja uma rugosidade específica, utiliza-se, então, do mesmo símbolo
apresentado nas Figuras 3 e 4.
Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 7

Figura 6. Indicação prática de rugosidade segundo usinagem.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).

Medição de rugosidade
No entanto, até o momento, tratamos a rugosidade como propriedade relacio-
nada à qualidade superficial. E, dessa forma, quando vemos uma superfície
mais “lisa” do que outra, ou mais “clara” do que outra superfície, significa que
a rugosidade é menor. Porém, essa definição acaba sendo qualitativa, afinal
de contas, o que pode ser mais “liso” para uma pessoa, pode ser diferente
para outra. É por isso que é necessária a medição para, assim, quantificar a
propriedade de rugosidade de uma peça.
A rugosidade, como dito anteriormente, é um conjunto de erros micro-
geométricos, e, para realizar essa avaliação, é necessário um instrumento
específico chamado de rugosímetro (Figura 7) (TELECURSO 2000, 1998).
Este instrumento de medição possui uma agulha bem pequena em sua
ponta, onde, conforme caminha sobre a superfície, o perfil de rugosidade é
percebido pela agulha. Esse movimento da agulha é passado para um transdutor
de deslocamento, que irá, assim, medir a rugosidade.
8 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

Figura 7. Rugosímetro.
Fonte: oYOo/Shutterstock.com.

A Figura 8 apresenta o perfil de rugosidade medido com um rugosímetro.


Nesse perfil, as partes iniciais e finais devem ser descartadas da medição,
devido à acomodação da agulha sobre a superfície e a região de saída da
agulha (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002).
As parcelas centrais possuem um comprimento de amostragem selecionado
de acordo com o rugosímetro. Esse comprimento é chamado de cut-off e
determinado de acordo com o tipo de rugosidade a ser medida ou, então, já
especificado no desenho de fabricação.
Em seguida, sabendo o cut-off, seleciona-se quantas divisões devem ter
na parte central da amostragem para, assim, realizar o cálculo da rugosidade.
Normalmente, caso não sejam determinados esses parâmetros, os rugosímetros
vêm com condição padrão de 0,8 mm de cut-off e 5 amostras.
Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 9

Z2

Rmáx
Z5
Z4
Z1

Z3
Linha
média

le

lv 5 x le = lm ln

lt

Figura 8. Perfil de medição obtido do rugosímetro.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).

Procure em websites de fabricantes de instrumentos de medição (Mitutoyo, Starrett,


Mahr, entre outros), para saber mais de rugosímetros, suas operações e os diferentes
modelos usados na indústria e em laboratórios de metrologia.

Classes, desvios aritméticos e representação


Após obter o perfil de rugosidade por meio de um rugosímetro, diversos pa-
râmetros podem ser retirados. O Quadro 2 contém alguns desses parâmetros,
juntamente com sua definição em relação ao perfil medido.
Caso o símbolo de rugosidade no desenho de fabricação ou, então, no pedido
de inspeção do cliente não incluam o parâmetro desejado, é uma prática comum
determinar a rugosidade como sendo a de rugosidade aritmética ou média (Ra).
10 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

Quadro 2. Parâmetros de rugosidade.

Parâmetro Definição

Ra Rugosidade aritmética ou média

Rt ou Ry Rugosidade máxima

Rz ou Rmax Rugosidade total

Rq Rugosidade quadrática média

Rp ou Rv Máxima do pico/vale

Rsk ou Rsu Fator de assimetria/fator de achatamento

Rsm Largura média de um elemento de perfil

RΔq Inclinação média quadrática do perfil

Fonte: ????

Além da rugosidade aritmética, a rugosidade também pode ser dividida em


classes (SILVA et al., 2006; TELECURSO 2000, 1998), variando de 1 a 12,
onde 1 é a de superfície mais lisa e 12 é a mais rugosa, conforme apresentado
no Quadro 3.
Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 11

Quadro 3. Comparação entre classes e rugosidade Ra.

Classe de rugosidade Desvio aritmético (Ra) μm

N 12 50

N 11 25

N 10 12,5

N9 6,3

N8 3,2

N7 1,6

N6 0,8

N5 0,4

N4 0,2

N3 0,1

N2 0,05

N1 0,025

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).

A Figura 9 apresenta uma tabela que relaciona todas as classificações


usuais de rugosidade, também comparando com os possíveis processos de
fabricação envolvidos.
12 Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície)

Grupos de
rugosidades
Rugosidade máxima
50 6,3 0,8 0,1
valores em Ra(µm)
Classes de (GRANDE)
N12 N11 N10 N9 N8 N7 N6 N5 N4 N3 N2 N1
rugosidade
Rugosidade máxima
valores em Ra(µm) 50 25 12,5 6,3 3,2 1,6 0,8 0,4 0,2 0,1 0,05 0,025

Informações sobre os resultados de usinagem


Serror
Limar
Ploinor
Torneor
Furar
Rebaixar
Alargar
Fresor
Brochar
Raspar
Retificar (frontal)
Retificar (l;ateral)
Alisor
Superfinish
Lapidar
Polir
Faixa para um desbaste superior
Rugosidade realizável com usinagem comum
Rugosidade realizável com cuidados e métodos especiais

Figura 9. Comparação entre diferentes tipos de indicação de rugosidade e processos


de fabricação envolvidos.
Fonte: Telecurso 2000 (1998).

Por fim, as direções de estrias de rugosidade também podem ser divididas


em tipos diferentes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2013). Essas direções são importantes para se perceber, por exemplo, em qual
sentido de usinagem deve ser feito, e, assim, prover uma condição ideal de
operação da peça montada no conjunto mecânico. A Figura 10 apresenta os
principais tipos de estrias e suas representações a serem incluídas no símbolo
da rugosidade.
Estado de superfície (parâmetros de rugosidade/acabamentos de superfície) 13

Figura 10. Direção das estrias de rugosidade.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013).
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Acesse o link para saber mais de rugosidade por meio do material criado pelo Prof.
Sergio, da UNICAMP, para utilização no curso de Engenharia Mecânica.

https://goo.gl/qDt8rW

No link a seguir, pode ser verificada a utilização de um cabeçote de medição de


rugosidade juntamente de uma máquina de medição por coordenadas (MMC) CNC
da fabricante Mitutoyo.

https://goo.gl/9dsUpd

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 8404:2013. Indicação do


estado de superfícies em desenhos. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 4287:2002. Especi-
ficações geométricas do produto (GPS) – Rugosidade: Método do perfil – Termos,
definições e parâmetros da rugosidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.
PIRATELLI FILHO, A. Rugosidade superficial. In: SEMINÁRIO METROLOGIA, 3., Brasília,
2011. Trabalho apresentado... Brasília: UnB, 2011. Disponível em: <http://www.posgrad.
mecanica.ufu.br/metrologia/arquivos/palestra_ufu_17_05_2011.pdf>. Acesso em:
03 fev. 2018.
RIBEIRO, A. C.; PERES, M. P.; IZIDORO, N. Curso de desenho técnico e AUTOCAD. São
Paulo: Pearson, 2013.
SILVA, A. et al. Desenho técnico moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
TELECURSO 2000. Parâmetros de rugosidade. [S.l.]: Telecurso 2000, 1998. Aula 19. Dis-
ponível em: <http://www.grima.ufsc.br/capp/rugosidade/aula19_ParametrosDeRu-
gosidade.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2018.

Leitura recomendada
PROVENZA, F. Projetista de máquinas. São Paulo: F. Provenza, 1986.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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