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HENNEMANN, G. G.; GIL, A. M.; FERNANDES, B.; BOLINA, F. L.; TUTIKIAN, B. F. Avaliação teórico-experimental 183
da influência da espessura de alvenaria na resistência ao fogo de sistemas verticais de vedação.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 4, p. 183-195, out./dez. 2017.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212017000400192
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 4, p. 183-195, out./dez. 2017.
Introdução
Entre os requisitos dos usuários praticados pela No Brasil, apesar de sua ampla utilização
norma de desempenho das edificações, a NBR (ROSEMANN, 2011), poucos estudos foram
15575 (ABNT, 2013), destaca-se o de segurança desenvolvidos no intuito de compreender e
ao incêndio, devendo ser cumprido ainda em melhorar o comportamento desse sistema durante e
projeto. Por seu caráter qualitativo, a NBR 15575 após a exposição a altas temperaturas. Esse fato
(ABNT, 2013) se reporta às normas prescritivas repercute na inexistência de normas
para que seus requisitos sejam atendidos, como a regulamentadoras para projeto de sistemas em uma
NBR 14432 (ABNT, 2001). situação de incêndio. A Instrução Técnica nº 08 do
Na prática de projeto a NBR 14432 (ABNT, 2001) Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo
apresenta as exigências de resistência ao fogo de (SÃO PAULO, 2011) apresenta recomendações de
TRRF para diferentes geometrias e tipos de blocos,
elementos construtivos de edificações,
mas sem mencionar as alvenarias sem
estabelecendo o chamado tempo requerido de
revestimento nem as espessuras de 14 cm e 19 cm,
resistência ao fogo (TRRF), definido em função da
limitando, assim, o projeto de segurança contra
altura e uso da edificação. Segundo Silva (2012), o
TRRF é o período em que um sistema, com ou sem incêndio.
função estrutural, deve preservar as características Entre os estudos já realizados destacam-se
de estabilidade, estanqueidade e isolamento pesquisas de Chichierchio (1990), Thomaz e
térmico quando exposto a altas temperaturas. O Helene (2000), Klein et al. (2004), Rosemanm
estudo da resistência ao fogo dos sistemas (2011) e Rigão (2012), sempre em amostras
construtivos se concentra no período pós-fashover reduzidas. São necessários, portanto, estudos que
e se faz necessário para garantir a integridade da visem avaliar o comportamento desse tipo de
edificação durante o incêndio. Nesse estágio os sistema e suas variações quando expostos a altas
sistemas de vedação vertical passam a interagir temperaturas, em escala real, de modo a auxiliar no
com as chamas, o que conduz a alterações das desenvolvimento de modelos de dimensionamento
propriedades dos materiais que o constituem, adequados e compará-los com modelos já
principalmente a resistência mecânica (COSTA; existentes, para contribuir com a prática de projeto
SILVA, 2006). do setor e a coletânea do estudo do desempenho
dos materiais e sistemas construtivos nacionais.
Materiais cerâmicos são amplamente empregados
na construção civil por diversas razões, entre elas o Este estudo objetiva-se na verificação da influência
desempenho satisfatório ao fogo, devido a sua da espessura da alvenaria na resistência ao fogo de
propriedade incombustível (ROMAN, 1991). Essa sistemas de vedação vertical internos e externos,
característica, aliada à baixa condutividade utilizando dois tipos de blocos cerâmicos de
térmica, faz com que sistemas tenham capacidade vedação, com espessuras de 14 cm e 19 cm. As
de apresentar boa resistência ao fogo (INGHAM, juntas horizontais e verticais, de 1,0 cm de
2009). Sinistros históricos e ensaios laboratoriais espessura, são constituídas de argamassa composta
reforçam o bom desempenho desse material de cimento, cal, areia e água, de traço 1:1:8:0,6,
quando submetido a altas temperaturas (RUSSO; em massa, com 28 dias de cura à temperatura
SCIARRETTA, 2012), uma vez que alterações ambiente, tal como realizado na prática da
físicas, químicas e mecânicas são inerentes a esse construção. De modo a avaliar uma condição
material (INGHAM, 2009). crítica, não foi empregado revestimento nas faces
Por outro lado, o estudo do comportamento das externas ou internas. A avaliação experimental foi
feita em ensaios de resistência ao fogo de acordo
paredes de alvenarias é complexo, dadas as
com as prescrições das principais normas de
diversas combinações de blocos, juntas,
ensaio, como a NBR 10636 (ABNT, 1989), E 119
geometrias e texturas possíveis de ser usados
(AMERICAN..., 2014), AS 1530
nesses sistemas (RUSSO; SCIARRETTA, 2012).
Esses fatores tornam o estabelecimento de leis e (AUSTRALIAN..., 2005) e BS 476-3 (BRITISH...,
modelos de previsão uma tarefa complexa 2004), com exposição da curva padrão de
temperatura da ISO 834-8 (INTERNATIONAL...,
(ANDREINI et al., 2015) e dificultam a
2014), verificando os parâmetros de isolamento
extrapolação de resultados experimentais obtidos
térmico, estabilidade estrutural e estanqueidade do
para outras configurações destes (NGUYEN et al.,
2009), repercutindo num reduzido número de sistema, necessário para garantir o requisito de
referências e normas regulamentadoras no assunto. compartimentação desse sistema, de forma a
determinar seu tempo de resistência ao fogo
Dentro desse cenário, o estudo de alvenaria em
(TRF). No Brasil a NBR 10636 (ABNT, 1989)
situação de incêndio apresenta maior necessidade
classifica as amostras como corta-fogo (CF),
de investigação.
184 Hennemann, G. G.; Gil, A. M.; Fernandes, B.; Bolina, F. L.; Tutikian, B. F.
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Figura 1 - Esquema de (a) gradiente de temperatura em uma parede submetida a aquecimento em uma
face; e (b) transferência de calor em um bloco
(a) (b)
Fonte: adaptada de Rosemann (2011).1
1LAWRENCE,S. J.; GNANAKRISHNAN, N. The Fire Resistance of Masonry Wallsan Overview. In: NATIONAL STRUCTURAL ENGINEERING
CONFERENCE, Belbourne, 1987. Proceedings… Melbourne, 1987.
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Figura 4 - Amostras acopladas ao forno vertical com espessura de: (a) 14 cm, e (b) 19 cm
(a) (b)
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empregado nenhum tipo de cura na amostra, tal uma parede. A verificação do isolamento térmico
como utilizado em obra, a qual foi ensaiada 28 dias consiste na análise das temperaturas registradas na
depois de sua montagem. Na sequência, o pórtico face externa (não exposta diretamente a altas
móvel foi acoplado no forno vertical para a temperaturas) da amostra. Como limite as normas
realização do ensaio. definem que a média aritmética dessas
temperaturas não pode ser superior a 140 ºC e
Procedimento de ensaio ultrapassar 180 ºC em nenhum dos termopares,
acrescidos da temperatura ambiente do início do
Durante o aquecimento, três verificações foram ensaio. Acima dessa temperatura, a vida no
realizadas, isolamento térmico, estanqueidade e cômodo adjacente ao das chamas começa a ser
estabilidade, por serem estes os parâmetros que prejudicado.
definem a capacidade de compartimentação de
(a) (b)
Figura 6 - Detalhe (a) dos queimadores do forno e (b) da disposição dos termopares internos
(a) (b)
188 Hennemann, G. G.; Gil, A. M.; Fernandes, B.; Bolina, F. L.; Tutikian, B. F.
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(a) (b)
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Foram avaliados dois sistemas de vedação vertical ANDREINI, M. et al. Mechanical Behavior of
de alvenaria, em escala real, compostos de blocos Masonry Materials at High Temperatures. Fire
cerâmicos com espessuras diferentes (14 cm e 19 and Materials, v. 39, n. 1, p. 41-57, 2015.
cm), expostos à curva de incêndio padrão da ISO
834. Para tanto foram realizados dois ensaios
experimentais de resistência ao fogo em escala
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Bruno Fernandes
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