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Santos LCF, Silva SM, Silva AE, Mendoza IYQ, Pereira FM, Soares RAQ

A espiritualidade frente a terminalidade


Artigo de Pesquisa
Research Article DOI: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.49853
Artículo de Investigación

Idosos em cuidados paliativos: a vivência da espiritualidade frente à terminalidade


Older adults in palliative care: experiencing spirituality in the face of terminality
Adultos mayores en cuidados paliativos: la experiencia de la espiritualidad ante la terminalidad

Letícia Celestino Ferreira dos Santos ; Silmar Maria da Silva ; Alexandre Ernesto Silva ;
Isabel Yovana Quispe Mendoza ; Fabiano Moraes Pereira ; Rosimeire Angela de Queiroz Soares

RESUMO
Objetivo: compreender a vivência da espiritualidade de idosos em cuidados paliativos de um hospital público de Belo Horizonte.
Método: trata-se de uma pesquisa qualitativa com 11 idosos em cuidados paliativos, por meio uma entrevista a partir de três
questões norteadoras. Para análise dos dados, foram aplicadas as três etapas previstas no processo de análise de conteúdo.
Resultados: emergiram duas categorias, “A espiritualidade no idoso em cuidados paliativos” e “A percepção do idoso sobre a
abordagem da espiritualidade pela equipe de saúde”. Conclusão: os idosos em cuidados paliativos vivenciam a espiritualidade,
as relações com o transcendente, independentemente de possuir uma religião. E buscam adaptações às novas condições de
vida, dando alívio dos sintomas por meio da relação com o sagrado.
Descritores: Idoso; Cuidados paliativos; Cuidados paliativos na Terminalidade da Vida; Espiritualidade.

ABSTRACT
Objective: to understand the experience of spirituality in older adults in palliative care at a public hospital in Belo Horizonte.
Method: this qualitative study of 11 older adults in palliative care was conducted by interview based on three guiding questions.
Data were processed by three-step content analysis. Results: two categories emerged, “Spirituality in older adults in palliative
care” and “Older adults’ perceptions of the health team’s approach to spirituality”. Conclusion: the older adults in palliative
care experienced spirituality, relationships with transcendence, regardless of whether or not they had a religion. They endeavor
to adapt to the new conditions of life and relieve their symptoms through relationships with things sacred.
Descriptors: Aged; Palliative care; Hospice Care; Spirituality.

RESUMEN
Objetivo: comprender la experiencia de la espiritualidad en adultos mayores en cuidados paliativos en un hospital público de
Belo Horizonte. Método: este estudio cualitativo de 11 adultos mayores en cuidados paliativos se realizó mediante entrevista
basada en tres preguntas orientadoras. Los datos se procesaron mediante análisis de contenido de tres pasos. Resultados:
surgieron dos categorías, "Espiritualidad en adultos mayores en cuidados paliativos" y "Percepciones de los adultos mayores
sobre el enfoque de espiritualidad del equipo de salud". Conclusión: los adultos mayores en cuidados paliativos experimentaron
espiritualidad, relaciones con trascendencia, independientemente de si tenían religión o no. Se esfuerzan por adaptarse a las
nuevas condiciones de vida y aliviar sus síntomas mediante relaciones con cosas sagradas.
Descriptores: Anciano; Cuidados paliativos; Cuidados paliativos ao Final de la Vida; Espiritualidad.

INTRODUÇÃO
Quando as terapias disponíveis já não oferecem resultados satisfatórios para aumentar a taxa de sobrevida,
recomenda-se a adoção de uma assistência pautada nos Cuidados Paliativos (CP), compreendida como uma abordagem
que objetiva a promoção da qualidade de vida do paciente e seus familiares, frente a doenças que ameaçam a
continuidade da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da dor e demais problemas de natureza física,
psicossocial e espiritual, uma vez que estas podem gerar sofrimento físico, social, psicológico e/ou espiritual1.
Visto que a dimensão espiritual não pode ser dissociada do ser, a espiritualidade/religião constitui o quinto domínio
de cuidado, dentre os oito domínios essenciais estabelecidos pelas diretrizes de prática clínica para a qualidade em CP2.
Logo, os CP transpassam a dimensão da condição física, entremeando-se com os aspectos imateriais da
espiritualidade1, pois considera que este domínio essencial contribui para o alívio da dor e do sofrimento face ao
adoecimento e finitude3, a fim de uma melhor qualidade de vida possível a ser promovida 4 ao paciente idoso em CP.
Partindo do pressuposto que a espiritualidade no paciente idoso em CP ajuda a superar os medos, auxilia o
paciente a encontrar um sentido para a vida, superando obstáculos e limitações impostas pelo agravo de doença que
ameacem a continuidade da vida, e que o cuidado deve perpassar pela integralidade do ser, questiona-se: Como é a
vivência da espiritualidade, no contexto hospitalar, de idosos em cuidados paliativos?
____________________
Autora correspondente: Silmar Maria da Silva. E-mail: silmarmaria@uol.com.br.
Editora responsável: Mercedes Neto.

Recebido em: 02/04/2020 – Aprovado em: 05/11/2020 Rev enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2020; 28:e49853
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Compreender essa vivência pode evidenciar as nuances relacionadas ao cuidado prestado e fomentar reflexões
acerca da espiritualidade na assistência ao paciente idoso em CP, com vistas a uma prática integral no ambiente
hospitalar.
Assim, o presente estudo teve como objetivo compreender a vivência da espiritualidade de idosos em cuidados
paliativos de um hospital público de Belo Horizonte.

REFERENCIAL TEÓRICO
O cuidado, de acordo com a Teoria do Cuidado Transpessoal de Jane Watson, é uma ciência humana desenvolvida
a partir de fundamentos filosóficos e sistemas de valores, e compreende que o ser humano é um todo biológico, social
e espiritual, que não pode ser fragmentado5. O cuidado envolve transcendência espiritual, intersubjetividade e
dignidade humana. Seu foco está em proteger, amparar, preservar a dignidade humana, a integralidade do ser, a
humanização da assistência para um eixo mais altruísta, espiritual fundamentado nas bases do conhecimento científico 6.
Nesse sentido, o cuidado transpessoal visa se sobrepor à valorização da tecnologia, que estima somente a cura, e
procura considerar como prioridade o próprio paciente, em todas as suas dimensões físicas, inclusive a espiritualidade 1.
A espiritualidade pode ser entendida como universal e manifesta-se a partir do íntimo do indivíduo. Está
relacionada a valores de harmonia e completude, conexão com o outro, interesse pelo próximo e por si, em unidade
com a vida, com o universo, e com fim da vida terrena. É uma busca pessoal para compreender o sentido da vida, a
relação com o sagrado ou transcendente, que pode ou não levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações
de comunidades religiosas7.
Em CP as preocupações espirituais são um elemento comum da experiência da doença, e a espiritualidade pode
influenciar na capacidade de lidar com doenças que não tem possibilidade de cura 8, uma vez que eles encontram em
suas crenças espirituais maneiras que ajudam a entender o sofrimento, a agonia e a incerteza de suas vida 9.

MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa10, realizada no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais,
em Belo Horizonte, com 11 pacientes internados que atenderam os critérios de elegibilidade: idade de 60 anos ou mais,
em acompanhamento com a equipe de CP, independentemente do tempo de acompanhamento, e que tinham
compreensão da situação de saúde no qual se encontravam. Foram excluídos os que apresentavam registro no
prontuário de alterações na cognição, incapacidade de se comunicar verbalmente, e os que não tinham conhecimento,
a pedido da família ou acompanhantes, que estavam sendo acompanhados pela equipe de CP.
A coleta de dados ocorreu entre junho e julho de 2018, na própria instituição hospitalar, em sala privada,
designada para o paciente que conseguia deambular. Para os pacientes impossibilitados de caminhar e/ou sair do leito,
as entrevistas foram realizadas a beira leito, sendo utilizados biombos para preservar a privacidade. Foram utilizadas
três questões norteadoras10: A fé é algo importante para você? Conte mais sobre isso; Como você acredita que sua fé
ajudaria nesse momento de sua vida?; Como você gostaria que a equipe de saúde abordasse a “fé” em seu atendimento?
Optou-se pelo termo fé no lugar de espiritualidade, pois na primeira entrevista percebeu-se uma dificuldade do
participante em compreender o termo espiritualidade. Contudo, o entendimento foi facilitado ao substituir por fé, sem
prejuízo no prosseguimento da entrevista.
As entrevistas foram gravadas em gravador digital e transcritos os discursos, respeitando a sequência das ideias,
a linguagem, as pausas e as repetições realizadas. Após, foram aplicadas as três etapas previstas no processo de análise
de conteúdo de Bardin: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados11.
Na pré-análise foi realizada leitura e releitura dos discursos, na exploração do material foi realizado o agrupamento
dos trechos das entrevistas que apresentavam ideias em comum, o que permitiu a codificação e posterior categorização
para a descrição analítica. Em seguida, passou-se para a interpretação inferencial, com a separação dos conteúdos com
sentidos semelhantes a partir de recortes das falas, formando assim as duas categorias: “A espiritualidade no idoso em
cuidados paliativos” e “A percepção do idoso sobre a abordagem da espiritualidade pela equipe de saúde”.
A fim de preservar o anonimato, cada participante foi identificado com a letra E, de entrevistado, seguida pelo
número de ordem da entrevista.
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerias
(parecer nº 2.650.177) e foram aplicados aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias,
em conformidade com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 11 idosos em CP, sendo a maioria (72,7%) do sexo masculino, entre 60 a 70 anos (63,6%),
casado(a)/união estável (54,4%), com ensino fundamental (72,7%) e procedentes do interior do estado de Minas Gerais
(54,5%). A maioria estava sendo acompanhada pela equipe de CP há menos de um mês, sendo 4 (45,4%) há menos de
uma semana e 3 (27,2%) entre duas a quatro semanas.
A espiritualidade no idoso em cuidados paliativos
O entendimento da espiritualidade:
A fé para mim representa esperança... e tem uma frase que diz assim: mais importante que viver é aquilo que
dá razão a vida... (E3)
Ahhh, a fé me dá mais segurança! A fé é meu escudo (E2)
A fé desencadeia a contemplação e a reflexão das experiências existenciais, além de nortear a busca do sentido
da vida7. Esta dimensão do significado da espiritualidade é um fenômeno intimamente humano, que não se adapta em
uma completa definição. É difícil encontrar um consenso na elaboração deste conceito12.
Por vezes, a fé para o idoso em CP está relacionada com Deus:
Se a pessoa não tiver fé em Deus, ela não tem fé em nada né... (E7)
Se não fosse Deus eu não estava mais aqui não... todo dia de manhã eu oro, peço a Deus para me ajudar...
(E8)
A fé pode ser compreendida como ato de crer na existência de algo superior, dispensando comprovações
materiais. E Deus pode representar este ser superior, uma força maior que rege o universo e a vida de cada pessoa 13.
A espiritualidade e religiosidade estão presentes no dia-a-dia dos pacientes idosos com doença ameaçadora da
vida, se constituem em estratégias utilizadas para enfrentar os desafios, desconfortos, sofrimentos e incertezas do
processo de adoecimento; recorrem a Deus e às suas crenças em momentos de aflição e desespero. A busca pelo
sagrado ocorre diariamente diante do vazio existencial instalado 14:
Eu entendo a minha doença...eu não me curvo diante da doença também.... eu busco forças no imprevisível,
no impossível, porque eu já vi ele acontecer... (E4)
Face à finitude, podem emergir as incertezas, principalmente, quando há dificuldades em encontrar respostas
para as novas demandas. Esta situação pode pôr em risco a relação do idoso com o transcendente e a busca pela
esperança.
Eu frequentava a Igreja [...] sabe, mas aí, eu até conversei com rapaz ali hoje e eu tô até esmorecido com a
doutrinação deles lá, sabe? Tô começando a procurar uma outra coisa que me toque mais... (E3)
Diante da notícia de um prognóstico ruim, o idoso sugere sutilmente a ideia de negociação com Deus, na busca de
estabelecer um acordo e obter ou ampliar a busca pela esperança.
Apesar dos pacientes reagirem de diferentes formas à morte, todos vivenciam o luto antecipatório, um processo
composto por cinco fases: 1) negação e isolamento, 2) raiva, 3) negociação/barganha, 4) depressão e 5) aceitação 15.
A espiritualidade auxilia na condução à aceitação:
Vocês estudam, analisam, fazem isso, faz aquilo, mas quem manda é Ele lá em cima... é Ele quem vai
determinar, não vai ser o médico....... Aí não tem como eu reclamar alguma coisa, só viver e aceitar isso bem,
sem sofrer e chorar (E1)
Nas situações em que as doenças não têm possibilidade de cura, a dimensão espiritual possibilita aos pacientes o
desenvolvimento da esperança, de um significado para a doença e de um propósito e sentido para a vida, o que favorece
o amadurecimento pessoal, a integridade e o enfrentamento da situação vivenciada 16.
A espiritualidade e a religiosidade são recursos capazes de proporcionar alívio nos momentos difíceis e ajudam a
buscar o bem-estar e ressignificação do sentido da vida, diante daquilo que não pode ser modificado 14:
“Eu oro antes de sair pra pedir a Deus para melhorar as dores que sinto...pensei que nunca mais iria andar...E
Deus me ajudou.... E como não tem cura, e só vai piorando, Deus é o melhor remédio, peço a Deus tudo e a
dor passa!!” (E9)
“A fé que eu tenho é que eu vou andar! E Deus está no poder! E a fé que eu tenho, de acabar todas essas dores
no meu corpo, porque eu mesmo na cadeira de rodas eu vou mexer! Se você põe na sua vida você vai vencer!”
(E10)
A partir da espiritualidade, é atribuído sentido ao sofrimento, aliviando-o17. Logo, o ser humano sente-se
estimulado a buscar sentido para vida, e a vida tem sentido como um todo, e o sofrimento inevitável tem igualmente
seu sentido e faz parte da vida18.
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Praticar a espiritualidade diante das situações que promulguem a finitude do ser humano torna-se essencial para
o seguimento da vida e a instalação da esperança dos idosos em CP, sendo essa prática considerada essencial para
responder aos ensejos desses indivíduos quanto a sua própria existência. Pois a esperança é um sentimento que
estimula o ser humano no seu existir, permitindo um futuro otimista. É acreditar que algo é possível mesmo quando há
fortes evidências do contrário13.
Os profissionais de enfermagem que compreendem o momento vivido pelos pacientes e familiares, favorecem a
construção de um sentido em meio à dor e o medo, aliviam a culpa, recuperam a esperança, relembram o paciente dos
seus sonhos e desejos e oferecem à família acolhimento em seu sofrimento 19.
A percepção do idoso sobre a abordagem da espiritualidade pela equipe de saúde
Kübler-Ross20 compartilha que, quando começou a abordar assuntos como transcendência, plenitude e vida após
a morte com os pacientes, foi alvo de inúmeras críticas negativas pela própria equipe de saúde, pois para muitos a morte
e o contato com forças superiores eram assuntos que nunca deveriam ser tocados, e a espiritualidade era vista como
algo que somente igrejas, padres e doutrinadores poderiam retratar 20.
Alguns idosos expressaram esse entendimento acerca da abordagem da espiritualidade pela equipe de saúde:
Chegar alguém aqui e perguntar como eu tô, e vem falando que sabe que Deus te ama né... eu não quero isso
não, entendeu?... (E1)
A bíblia explica pra gente... não gente de hospital... Porque a salvação não vem do homem, vem só de Deus.
Então alguém aqui no hospital falar disso, não mudaria em nada para mim... (E5)
Confundir o significado de espiritualidade com religiosidade pode prejudicar nas intervenções direcionadas ao
cuidado espiritual, uma vez que a religião é apenas uma dimensão da espiritualidade, e abordar aspectos espirituais
melhora a aceitação dos pacientes idosos em CP no processo de finitude da vida 21.
Alguns entrevistados disseram preferir conversar sobre espiritualidade com pessoas mais próximas:
Eu já tô tenho a minha cunhada né... tá vindo aqui ler a bíblia... então tá bom assim... eu gosto que seja
pessoas mais próximas a mim, para falar disso... aí eu me sentiria melhor...(E6)
Cada tem uma fé diferente né... Eu acho que não faria diferença na minha vida se um profissional de saúde
viesse aqui falar de fé...mas prefiro conversar disso com minha esposa... (E11)
A discussão sobre espiritualidade exige habilidades avançadas de comunicação. Esta torna-se essencial para a
adequada relação entre profissional de saúde, paciente e família. É ferramenta vital no campo da saúde, pois fortalece
relações, amplia a autonomia do paciente e estreita o vínculo de confiança. No entanto, comunicar não é um ato
simples; envolve crenças e valores singulares que podem interferir na transmissão das informações 22.
Watson6 relaciona o “ser cuidado” com o “ser cuidador” indo além de realizações de técnicas e cumprimento de
tarefas, focando em desejos, emoções, indo ao encontro da essência do outro, respeitando sua cultura, origem e outras
situações que possam interferir no processo do cuidado6.
Assim, para facilitar a abordagem da espiritualidade com o paciente, deve-se evitar utilizar regras rígidas e
inflexíveis, o que pode aumentar a complexidade da dimensão espiritual ou remeter somente a ideia de religião. Incluir
termos religiosos e não religiosos, traçar ações que sejam definidas pelo próprio paciente podem facilitar este processo.
É importante que o maior número de pacientes tenha oportunidade de ter suas necessidades espirituais identificadas,
sem importar da forma como eles a entendam.
A construção da comunicação terapêutica depende do grau de comprometimento do paciente. O profissional
pode iniciar a comunicação passando informações que confortam, esclarecem e dignificam a finitude humana.
Posteriormente, a relação interpessoal que acontece entre o profissional-paciente-familiar depende das habilidades de
comunicação23.
Mas, por vezes, muitos profissionais, por estarem com excesso de demandas gerenciais e pelo quantitativo
elevado de pacientes que acompanham, não conseguem estabelecer uma comunicação adequada, porque não dão
espaço para o paciente falar sobre suas questões24. Em muitos casos o profissional de saúde, no primeiro encontro com
o paciente aborda, precocemente, questões existenciais e espirituais, gerando sentimentos de exposição e invasão da
privacidade no paciente.
Para o profissional de saúde que trabalha no campo dos cuidados paliativos, faz-se necessário priorizar as relações
interpessoais de pacientes frente a finitude e de seus familiares, conhecendo expectativas, desejos, medos e anseios.
Por meio da escuta e do diálogo é possível conduzir cada caso, promovendo o acolhimento embasado na compaixão 6.

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CONCLUSÃO
Os idosos em CP vivenciam a espiritualidade, as relações com o transcendente, independentemente de possuir
uma religião. E buscam adaptações às novas condições de vida, dando alívio dos sintomas por meio da relação com o
sagrado. A espiritualidade, por vezes, foi a fonte de esperança para o enfrentamento das fases do luto antecipatório e
força motriz para superar as notícias de um prognóstico ruim.
Embora reconhecessem os benefícios da espiritualidade, manifestaram não serem favoráveis à abordagem da
espiritualidade pela equipe de saúde. Com vistas a uma prática integral no ambiente hospitalar, esse achado cabe uma
reflexão das equipes de saúde com vista a um cuidado humanizado, integral, holístico, abarcando também a dimensão
espiritual dos pacientes.
Frente a isso, e diante da limitação de estudos específicos para o idoso que vivenciam a espiritualidade diante a
terminalidade, é possível identificar a necessidade de novos estudos a fim de subsidiar ações que auxiliem os
profissionais de saúde a prestarem um cuidado idoso em CP baseada no amor, compaixão e dignidade humana.
Em relação a limitação da pesquisa apresentada, por ser tratar de um estudo qualitativo, não se pode generalizar
os resultados encontrados em uma amostra, para uma população.

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